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TEXTO DE APOIO DE MUNDO LUSÓFONO/2020 – Compilado por António Cossa

1. Génese e Formação (História) da Língua Portuguesa

Porque se fala português em tanto mundo?

A língua portuguesa foi transportada para os territórios colonizados durante a expansão


extra-europeia, sendo um dos principais instrumentos desse processo.
Quando a expansão começou no início do séc. XV, a língua acabava de sair de uma
outra fase de expansão territorial, que a transportara até ao Algarve desde o seu berço:
as terras galegas e nortenhas.
O português é uma língua nascida no norte e que cresceu para sul. Tal como aconteceu
com o castelhano e com o francês, começou por ser um conjunto de dialectos
provinciais (galego-portugueses), passou a língua de uma nação e depois a veículo de
um império. Distinguem-se, neste percurso, dois ciclos sucessivos:

I. o da elaboração da língua, desenvolvido entre os sécs. IX e XIV na esteira da


Reconquista territorial. Conquistado o Algarve e fixadas as fronteiras, foi o
território repovoado por povos do norte, que transplantaram a sua língua para o
sul, onde se falava árabe e havia ainda vestígios de antigos dialectos românicos
meridionais. A língua ocupante transforma-se pelo contacto com os substratos
locais e pela mistura, nas novas terras, de dialectos que no norte se achavam
separados. Os dialectos a sul do Mondego são por isso mais homogéneos que os
seus parentes mais velhos do norte.

II. o da expansão da língua: a transferência do poder para o centro do reino, com


a capital em Lisboa, fez que a partir do séc. XV os novos dialectos falados nesta
região ganhassem ascendente sobre os do norte e fornecessem a base para a
elaboração de uma norma culta de características meridionais, que está na
origem do moderno padrão linguístico. Neste período, enquanto se consolida e
estrutura dentro de portas, a língua portuguesa expande-se para fora das
fronteiras europeias.

Esta divisão em dois grandes momentos, em que uma dimensão espacial tempera e
naturaliza o conceito geralmente fictício de período histórico, é proposta em termos
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muito semelhantes por Paul Teyssier, na sua clara História da Língua Portuguesa.
Geografia e história da língua estão entrelaçadas. O motivo por que se fala português no
Rio de Janeiro é o mesmo motivo por que se fala português em Elvas e não se fala em
Badajoz. A geografia de uma língua reflecte a geografia política e humana da nação que
a fala. Mas é uma geografia projectada no tempo, que permite descobrir realidades que
já não estão à vista. Quem sentiria, em Malaca, a presença dos portugueses que
abandonaram a cidade há 400 anos, se não se encontrassem famílias de nome
português, rezando em português e falando o papiá cristão, um crioulo onde despontam
palavras e expressões reconhecíveis, reveladoras de uma descendência portuguesa?

Ciclo da Elaboração da Língua

As origens do romance galego-português

O português antigo

O português médio

Ciclo da Expansão da Língua

A partir do séc. XVI, a história da língua portuguesa deixa de decorrer exclusivamente


no território europeu.

O português europeu

O português extra-europeu
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As origens do romance galego-português

Depois das invasões germânicas (que no séc. V chegaram à Península Ibérica), a


Europa fragmentou-se politicamente, sendo o ano de 476 o marco que assinala a queda
do Império Romano do Ocidente. A diferenciação do latim vulgar, que já era uma
realidade linguística na época da unidade política, acentua-se cada vez mais. Pensa-se
que por volta do ano 600 o latim vulgar não fosse falado em nenhuma região do Império.
Por essa época falar-se-iam novas línguas na Gália, na Ibéria, na Récia, na Itália, na
Dalmácia e na Dácia: eram os romances. Um romance é uma língua medieval resultante
da evolução do latim numa antiga província do Império Romano.
A autonomização de um romance galego-português a partir do séc. VII na antiga
província Gallaecia et Asturica (Galiza, norte de Portugal, ocidente de Astúrias) é
denunciada por dois fenómenos de mudança fonética que afectam o seu léxico.

1º fenómeno: palatalização dos grupos iniciais latinos pl-, kl-, fl- na africada palatal
surda tš

Forma portuguesa
Latim Galego-português
contemporânea

plicare tšegar chegar

clamare tšamar chamar

flagrare tšeirar cheirar

Esta evolução terá ocorrido no noroeste da Península durante os séculos de


permanência dos invasores germânicos, suevos (411-585) e visigodos (585-711).

2º fenómeno: lenição das soantes intervocálicas latinas -n- e -l-


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Latim Forma portuguesa


Galego-português
contemporânea

manu mão-o mão

mala maa má

Este segundo fenómeno terá ocorrido durante a permanência árabe, logo no seu início.
Ele aparece pela primeira vez atestado no séc. IX (para -n-> Ø: elemosia) e no séc. X
(para -l-> Ø: Froia) e admite-se que tenha sido posterior a pl-, kl-, fl->tš por se
encontrar menos difundido no território português.

Quando se iniciou a Reconquista cristã, promovida no ocidente peninsular pela


monarquia asturiana a partir do séc. IX, já se falaria no canto noroeste da Península
Ibérica o romance galego-português.

O português antigo

Depois de afirmada a independência de Portugal no séc. XII e de estabelecidas as


fronteiras do reino em meados do séc. XIII, estavam reunidas condições para que
aquele romance galego-português fosse promovido a língua nacional.
O primeiro passo era tornar-se língua escrita (da documentação oficial, da literatura e
também do uso diário). O mais antigo documento oficial, datado, escrito em português,
que chegou até nós (o Testamento de Afonso II, de 1214) prova, devido às suas
convenções gráficas mais ou menos estáveis, que no ambiente da corte já se escrevia
em português há algum tempo. Com isso se harmoniza a datação da mais antiga
cantiga trovadoresca, Ora faz ost’o senhor de Navarra, de João Soares de Paiva: o ano
de 1196. E a Notícia de Torto, um documento privado sem data, mas situável à volta de
1214, atesta como a língua portuguesa era já usada, pontualmente, para registar
apontamentos informais e efémeros; esta prática foi recentemente comprovada por uma
Notícia de Fiadores de 1175. Mas é a partir de 1255 que começa a produção regular de
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documentos escritos em português, primeiro na chancelaria régia, depois por toda a


parte.
A abundante produção escrita em português torna possível, desde então, observar com
mais pormenor as mudanças que a língua vai sofrer entre os sécs. XIII e XV e que, por
graduais transições, a levarão a transformar-se de língua medieval em língua clássica.
Destacam-se as seguintes ordens de mudanças:

a) mudanças da estrutura da língua:

no plano fonético, eliminação de hiatos (sequências vocálicas que eram muito


abundantes no português antigo), convergência no ditongo –ão das terminações
nasais em –õ, em –ã e em –ão hiático dos verbos e dos nomes, elevação para –
u do –o final átono dos nomes (muito abundante como morfema masculino),
queda do –d– intervocálico na segunda pessoa plural dos verbos
(amades>amaes>amais), início da transformação do sistema medieval de
sibilantes (2 fricativas apicais, s e ss, e 2 africadas predorsais, ts e dz> 2
fricativas apicais e 2 fricativas predorsais, ç e z> 2 fricativas (ou apicais ou
predorsais);

no plano morfológico, regularização de paradigmas verbais (substituição de


formas irregulares por formas analógicas) e nominais (mudanças de género);

no plano lexical, entrada de cultismos por relatinização.

b) mudanças sociolinguísticas:

a língua de cultura transfere a sua base dialectal do norte para o centro do reino
(assim, o futuro padrão não se baseará nos dialectos fundadores da língua, mas
em dialectos que nasceram devido à Reconquista);

agrava-se o distanciamento em relação ao galego, entretanto impedido pelo


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domínio castelhano de existir como língua de cultura.

Todos estes fenómenos coincidem com profundas transformações sociais no reino: a


diminuição da população devido à peste no reinado de D. Fernando, as invasões
castelhanas, a crise dinástica e a substituição da classe nobre, o início das conquistas
ultramarinas. É intuitivo que, apesar da sua diferente natureza, os factos linguísticos e
os históricos se acham interrelacionados. Mais difícil será determinar se essas relações
são de coincidência ou de causalidade e, neste caso, qual o sentido em que as
motivações actuaram

O português médio

O período que vai de finais do séc. XIV a inícios do séc. XVI é, devido à acção
conjugada de todos estes fenómenos de mudança, aquele em que a língua mais rápida
e radicalmente se transfigurou. Sendo um período de transição, em que se sobrepõem
os processos terminais da elaboração da língua nacional com os esboços da sua
expansão imperial, possui no entanto características próprias, o que leva muitos autores
a tratá-lo como um período autónomo.

Os anos entre 1425 e 1450 parecem ter assistido às transformações mais acentuadas.

O português europeu

Não se sabe exactamente em que medida o português europeu terá sido influenciado,
na sua evolução, pelo fenómeno da expansão ultramarina (para além dos vocabulários
exóticos acolheu um número considerável de arabismos, por contactos no Oriente e no
norte de África). Prossegue o movimento de regularização das estruturas gramaticais
que vinha do português medieval, a língua da corte (entenda-se: de Lisboa) é
apresentada pelos gramáticos como padrão linguístico, a língua de grandes escritores
(Camões, p. ex.) adquire uma projecção exemplar, o léxico enriquece-se com
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importações do latim e do grego, vindas directamente ou através do castelhano.

No plano oral, os dialectos desenham um mapa muito semelhante ao moderno:


dialectos mais diferenciados e conservadores a norte das Beiras, mais nivelados no sul
do país e nos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Enquanto no norte se mantém o
sistema das quatro sibilantes, prevalece no sul (e na pronúncia padrão) o sistema
simplificado de duas sibilantes predorsais; esta oposição é reforçada por algumas
diferenças de comportamento a nível do vocalismo.

É pelo séc. XVII que se generaliza em Portugal um fenómeno de elevação das vogais
fechadas e e o em posição pretónica, que passam a ser pronunciadas respectivamente
como e mudo [@] e como [u] e que, modernamente, chegam mesmo a desaparecer.
Pode ser que esta elevação tivesse raízes medievais; afinal, já ocorrera com o –o em
posição final. Mas quando se generaliza no reino, já estava instalada no Brasil uma
variedade anterior a esta evolução, razão por que palavras como metodologia soam
diferentemente em bocas portuguesas e brasileiras, sendo estas as mais
conservadoras.

Mantém-se viva a distinção antiga entre a fricativa palatal surda [š], representada pela
grafia x, e a africada correspondente [tš], escrita com ch. Só no séc. XVIII, e apenas nos
dialectos do sul, esta africada desapareceria.

É neste mesmo século que o –s em posição final (de sílaba ou enunciado) adquire a sua
actual pronúncia palatal, a qual parece ter sido levada para o Brasil pela corte de D.
João VI, onde afectou apenas o dialecto da capital.

O som do português europeu não sofreu, depois disto, alterações significativas, para lá
de uma tendência, que talvez não seja tão moderna como parece, para articular
fracamente as vogais átonas, o que tem efeitos sobre a estrutura das sílabas e o remate
dos vocábulos.
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O português extra-europeu

Fora da Europa, o português teve dois tipos específicos de actuação:

a) ainda no séc. XVI, instalou-se com dialectos transplantados de Portugal em


territórios como o Brasil e a Índia, onde teve desenvolvimentos próprios, com
grande autonomia em relação à variedade europeia, chegando aos nossos dias
com plena vitalidade no primeiro caso e em estado de relíquia no segundo;

b) ao longo do litoral africano e asiático, associou-se a línguas locais para


produzir pidgins e crioulos, possivelmente segundo uma matriz única (um
protocrioulo português) que explicaria as semelhanças entre línguas que nunca
tiveram contacto. Este processo deu, como resultados modernos, a situação
linguística de Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e certas áreas do Índico.

Este processo de crioulização também ocorreu no Brasil, mas uma maciça imigração
europeia, constante desde o séc. XVI até ao XX, levou a que prevalecesse o primeiro
tipo. O mesmo aconteceu ao Angola e em Moçambique, com a imigração do séc. XIX e
XX.

2. Expansão da Língua Portuguesa pelo Mundo

Das cerca de sete mil línguas conhecidas do mundo e das duzentas


e vinte e cinco da Europa, o Português, originário do latim vulgar lusitânico
nasceu na velha Galácia romana, foi levado a dois terços do planeta pelos
portugueses, com os descobrimentos, é hoje falada por mais de 200 milhões de
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locutores espalhados pelos cinco continentes, sendo a segunda língua românica


do mundo, a terceira europeia, mais falada no planeta, a sexta com maior número
de locutores e a quinta com maior número de países que a têm como língua
oficial. O Português, que já foi língua franca, é hoje uma língua culta de dimensão
internacional e intercontinental, falada nos cinco continentes e – como havia
predestinado Fernando Pessoa – é uma das poucas línguas potencialmente
universais do século XXI. É língua materna dos habitantes de Portugal e do Brasil
e de parte significativa das populações de Angola, Moçambique, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Lorosae, países que a têm como
língua oficial. O Português é também falado nos antigos territórios de Goa e
Macau. Como língua materna ou segunda é falada pelos membros das várias
comunidades de emigrantes, com um número significativo, na Europa (França,
Alemanha e Luxemburgo), América do Norte (Canadá e Estados Unidos),
América do Sul (Venezuela) e África (África do Sul), num total de cerca de quatro
milhões e meio de locutores. O Português é a quarta língua mais usada na
Internet e a segunda na “blogosfera”. Num outro quadro de estudo linguístico
pode considerar-se que a língua portuguesa pertence a uma das oito grandes
famílias de línguas do mundo, a família indo-europeia, proveniente dos tempos
anteriores à escrita, que compreende mais de 200 línguas, que vão das línguas
latinas, às germânicas, das eslavas às do norte da Índia.
Para além destes dados há ainda a considerar a existência de
crioulos de base lexical portuguesa, resultantes do contacto do Português com
outras línguas da Índia, da Ásia Oriental, da América Central e do Sul, de África e,
fora dos países que adoptaram o Português como língua oficial: o Fa d’Ambu, na
Guiné Equatorial, o Bioco das Ilhas do Ano Bom e Fernando Pó, os crioulos da
Alta Guiné (Casamansa), os da Índia (de Diu, Damão, Bombaim, Korlai, Quilom,
Cananor, Tellicherry, Cochim e Vaipim e da Costa de Coromandel e de Bengala),
os do Sri-Lanka, antigo Ceilão (Trincomalee e Batticaloa, Mannar e zona de
Puttallam), os da Malásia (Malaca, Kuala Lumpur e Singapura) e os de algumas
ilhas da Indonésia (Java, Flores, Ternate, Ambom, Macassar), conhecidos sob a
designação de Malaio-portugueses e, finalmente os crioulos Sino-portugueses
(Macau e Hong-Kong), sem esquecer os crioulos Papiamento de Curaçau, Aruba
e Bonaire, nas Antilhas e o Saramacano do Suriname.
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Hoje, a língua portuguesa é uma língua de trabalho em Organizações


Internacionais: União Europeia (EU) , Mercosul, Unidade Africana (UA), União
Latina (UL) e poderá, ainda, tornar-se um dos idiomas de trabalho da
Organização Mundial do Turismo.

A diáspora da língua portuguesa, ou seja, a sua expansão pelo


mundo principiou com a conquista de Ceuta (1415), seguida pouco depois a
colonização da Madeira (cerca de 1425) e dos Açores, ultrapassado o Cabo
Bojador (1434) e logo depois aberta a rota do cabo para o Indico (1497);
descoberto o Brasil (1500) e povoadas as ilhas atlânticas, Cabo Verde e S. Tomé
e Príncipe; chega ao Congo e Angola. Contornou África, estabeleceu-se em
Sofala e em Moçambique (1505/1506), representando importante base de apoio
para a carreira da Índia; continuando para Oriente estabelecendo boas relações
com Cochim e Ceilão. Goa foi realidade em 1510 e em 1511 Malaca é
conquistada.
A língua portuguesa foi, nos séculos XVI, XVII e XVIII, a língua
franca desde o Atlântico, passando pelas costas do Indico às do Pacífico em
função da expansão colonial e comercial portuguesa.
Desde que os Portugueses passaram o Cabo Bojador estes
começaram, numa primeira fase, a praticar o chamado “comércio silencioso”,
descrito de forma bem expressiva pelas palavras de Luís de Cadamosto.
Assim que os portugueses tocaram o continente africano, e
principalmente após o descobrimento do caminho marítimo para a Índia, entraram
em contacto com um mundo totalmente diferente, novo e exótico; mundo
igualmente complexo a nível linguístico. A África, a Índia e a Ásia apresentavam-
se como autênticos mosaicos linguísticos, onde se falavam um emaranhado de
línguas e centenas de dialectos. De resto, ainda hoje estes continentes
apresentam fenómenos linguísticos de difícil explicação. A variedade de dialectos
em uso, muitas vezes em concisos espaços geográficos, torna-os riquíssimos
linguisticamente, pelo menos quando nos referimos à variedade quântica dos
dialectos que usufruem.
Este terá sido um dos permanentes problemas com que os
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portugueses tiveram de lidar durante toda a expansão desde o século XV.


Num primeiro momento, os portugueses recorreram a
intermediários locais que adoptavam como intérpretes, verdadeiros
descodificadores civilizacionais. O transporte, voluntário ou não, de africanos para
Portugal e a sua aculturação acelerada parece ter sido prática frequente e eficaz.
De volta a África serviam de mediadores de contactos. Um outro método
igualmente eficaz foi o recurso aos inúmeros portugueses que por vários motivos
se estabeleciam por conta própria em territórios africanos.

Carlos Alberto Medeiros aponta dois factores principais que


determinam a extraordinária difusão da língua portuguesa à escala planetária:
- A expansão marítima e colonial, a partir da segunda metade do século XV
e a emigração com ela relacionada;
- A emigração progressivamente solicitada por estímulos de diferente
natureza na segunda metade do século XIX, até 1973/1975, no âmbito da
politica colonial levada a cabo até ao 25 de Abril.
Um facto que não podemos dissociar para a expansão da língua
portuguesa foi o contributo essencial das missões religiosas e missionárias. À
medida que a expansão marítima prosseguia, com ela movia-se uma importante
acção evangelizadora.
Outro factor determinante para o desenvolvimento da língua
portuguesa deriva da politica oficial de casamentos entre portugueses e mulheres
locais convertidas ao cristianismo, principalmente durante o século XVI. Estes
casamentos tiveram como efeito desenvolver rapidamente uma população
mestiça que constituiu suporte fundamental para o desenvolvimento de crioulos
de base portuguesa.
Será não só, mas também, devido a este factor que surgem as
primeiras gramáticas e dicionários. As primeiras gramáticas publicadas são as de
Fernão de Oliveira e de João de Barros em 1536 e 1540 respectivamente.
Destinavam-se, segundo os próprios autores a ensinar aos colonizados a língua
portuguesa, traduzindo a necessidade de uma colonização cultural a par da
colonial e comercial que vai espalhar o português um pouco por tudo o mundo.
Fernão de Oliveira dizia que "os homens fazem a língua e não a língua os
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homens" e afirma que fez a sua gramática para ser ensinada "em África, na
Guiné, no Brasil e na Índia". João de Barros, referia que a sua língua estaria ao
serviço da expansão.
Em 1956, os holandeses assinaram um tratado de paz em Java em língua
portuguesa. Também os ingleses, à semelhança dos holandeses levavam nos
seus navios pessoas que falavam a nossa língua por ser esta a única forma de
estabelecerem contacto com os autóctones. David Lopes in “A Expansão da
Língua Portuguesa no Oriente Durante os Séculos XVI, XVII e XVIII” afirma que
não era possível a missionários, mercadores e políticos estrangeiros ignorar o
português que foi a língua franca por excelência em todo o oriente até ao século
XVIII.
Ainda na obra citada, David Lopes justifica com precisão, a
importância do português no Oriente com exemplos concretos. Relata como o
celebre missionário jesuíta, Padre Alexandre de Rodes, ficou admirado, em 1647,
com o governador de Makassar, Celebes, achando que ele dominava tão bem o
português que "dir-se-ia que era português quando falava a língua desta nação”.
O mesmo se passava com príncipes e imperadores das mais diversas paragens,
do Ceilão à Birmânia.
A língua portuguesa quando não adoptada completamente foi, no
mínimo, notória a sua influência em várias línguas... Muitas palavras foram
incorpora em vários idiomas orientais por toda a África, Índia e Ásia: no Suahili,
malaico, indonésio, bengali, os vários do Ceilão, o tentum de Timor, africanês da
África do Sul ou mesmo no japonês. Se hoje, o que restou em alguns locais é
muito pouco, noutros nem tanto. É interessante notar neste sentido que existem
gigantes países que continuam a usar o português, alguns como língua oficial, e
noutros casos em antagonia, apenas utilizado aqui e ali, em pequenas
comunidades, que continuam a utilizar o crioulo português, ainda que, em muitos
casos, não tenham tido contactos com Portugal desde há muitos séculos.
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3. O papel das instituições de Lusofonia (CPLP; Instituto Camões)


3.1.Lusofonia – Conjunto das identidades culturais e
linguísticas existentes entre os sete países de língua oficial portuguesa.
A comunidade LUSÓFONA encontra-se distribuída por vários continentes como
resultado do processo histórico dos Descobrimentos e da formação do Império
Colonial Português, e compreende cerca de 200 milhões de falantes naturais.
Exprime as identidades culturais existentes entre os países unidos por um
passado vivido em comum e por uma língua que, enriquecida na sua diversidade,
se reconhece como una. Esses países (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique,
Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) fazem do
Português uma das línguas mais faladas do mundo.

3.2.CPLP– Comunidade de Países de Língua Portuguesa:Brasil,

Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo


Verde e Timor Leste. São oito as nações em quatro continentes que têm como
factor comum a língua portuguesa que para uns é Língua Materna e, para outros,
é simplesmente um modo de vida ou Língua Oficial. É um organismo oficial que
envolve os Governos dos 8 países na defesa da (i) Promoção; (ii) Disseminação e
(iii) Preservação através: (i) do Ensino e Investigação; (ii) da Comunicação Social
e(iii) da Arte.

A CPLP congrega representes dos Governos de cada país em diferentes


categorias: investigadores; políticos; artistas e/ou escritores; professores; agentes
económicos e a sociedade civil.

Os principais mecanismos usados para a consumação dos seus objectivos


são: congressos; conferências; palestras, debates, etc. O primeiro Congresso
Bienal da Língua Portuguesa na CPLP (Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa), realizado em Portugal, entre 19 e 21 de abril, teve lugar no Instituto
Piaget, em Viseu.
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3.3.INSTITUTO CAMÕES – tem por fim a promoção da língua e


da cultura portuguesas no exterior. A sua missão e actividade diferem das da
CPLP pelo facto de esta ser praticamente uma instituição de representação
cultural e linguística de Portugal não só nos outros países da CPLP, como
também nas diásporas, isto é, em todos os países do mundo onde haja falantes
do (ou interessados pelo) Português, cujo papel será essencialmente de
promover, disseminar e manter a língua e a cultura portuguesas.

3.4.Os escritores e os Prémios Literários


Osistema Literário, através das obras literárias de escritores e dos
prémios literários concedidos às obras apuradas como de uma grandiosidade e
representatividade estético-artístico-cultural; os sistemas e manuais de ensino,
são outras instâncias de promoção, valorização e preservação da língua e da
cultura de um país.
É na língua, usada quer para o ensino, quer para a prática de escrita
artística, que se procura textos que se consideram como linguisticamente
exemplares e representativos de uma identidade cultural que se pretende apurar
como legítima. É isto que vai originar aquilo que se chama de CÂNONE, que se
pode definir como «elenco de autores e obras incluídos em cursos básicos e
cursos de Literatura, por se acreditar que representam um legado cultural e uma
consciência nacional de um país.
Em cada país, normalmente existe um grupo de gente especializada e
experiente em matéria de arte literária que exerce a Crítica Literária – avaliação
criteriosa do conjunto das obras literárias produzidas num país, ou numa
comunidade de países que partilham a mesma língua, baseada em (i) aspectos
do uso correcto da língua, (ii) criatividade artística e (iii) valor sociocultural do
conteúdo da obra, a fim dedecidir pelo valor das obras. As obras cujo valor é
apurado pela Crítica Literária, por um lado, são integradas nos programas e
manuais de ensino como exemplares de um legado cultural e linguístico; por outro
lado, são atribuídas Prémios Literários. Tudo isto contribui para o estímulo e
valorização da escrita literária na língua em causa.
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3.5.Acordo Ortográfico
A ortografia da língua portuguesa é regida por um conjunto de normas
oficiais sob a forma de acordos ortográficos. No início do século XX surgiu em
Portugal e no Brasil a intenção de estabelecer um modelo de ortografia que
pudesse ser usado como referência nas publicações oficiais e no ensino em
ambos os países, iniciando-se assim um longo processo de tentativas de
convergência das ortografias usadas em cada país.
No ano de 1943, realizou-se em Lisboa um encontro entre os dois países, com o
objectivo de uniformizar os vocabulários já publicados, o da Academia das
Ciências de Lisboa, de 1940, e o da Academia Brasileira de Letras, de 1943.
Deste encontro resultou o Acordo Ortográfico de 1945, que, no entanto, apenas
entrou em vigor em Portugal, não tendo sido implementado no Brasil, que
continuou a reger-se pelas regras expostas no Vocabulário Ortográfico de 1943.
Em 1986, foi feita, no Brasil, uma nova uniformização da ortografia, sem que
se tivesse chegado a consenso. Nos anos seguintes, fruto de um longo trabalho
desenvolvido pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia das Ciêcias de
Lisboa, os representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe assinaram o Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa de 1990, ao qual adere também, depois da sua independência
em 2004, Timor-Leste. O Acordo Ortográfico de 1990 entrou em vigor, no início de
2009 no Brasil e em 13 de maio de 2009 em Portugal. Tudo indica que os
restantes países da CPLP o implementarão em brevemente.

Antecedentes

É prohibido collocar annuncios (É proibido colocar anúncios): aviso anterior a


1911 na parede da Igreja do Carmo, na cidade do Porto.

Até ao início do século XX, tanto em Portugal como no Brasil, seguia-se uma
ortografia que, por regra, se baseava nos étimoslatino ou grego para escrever
cada palavra (exemplos: architectura, caravella, diccionario, diphthongo, estylo,
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grammatica, lyrio, parochia, kilometro, orthographia, pharmacia, phleugma,


prompto, psychologia, psalmo, rheumatismo, sanccionar, theatro etc.).

Em 1911, no seguimento da implantação da república em Portugal, foi levada a


cabo uma profunda reforma ortográfica — a Reforma Ortográfica de 1911 — que
modificou completamente o aspecto da língua escrita, aproximando-o muito do
actual. No entanto, esta reforma foi feita sem qualquer acordo com o Brasil,
ficando os dois países com duas ortografias completamente diferentes: Portugal
com uma ortografia reformada, o Brasil com a ortografia tradicional (dita pseudo-
etimológica).

Ao longo dos anos, a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira


de Letras foram protagonizando sucessivas tentativas de estabelecimento de uma
grafia comum a ambos os países. Em 1931 foi feito um primeiro acordo, no
entanto, como os vocabulários que se publicaram, em 1940 (em Portugal) e 1943
(no Brasil), continuavam a conter algumas divergências, realizou-se um novo
encontro que deu origem ao Acordo Ortográfico de 1945. Este acordo tornou-se
lei em Portugal, pelo Decreto 35.228/45.[8] No Brasil, o Acordo de 1945 foi
aprovado pelo Decreto-Lei 8.286/45,[9] mas não foi ratificado pelo Congresso
Nacional, sendo por fim revogado pela Lei 2.623/55,[10] continuando os brasileiros
a regular-se pela ortografia do Formulário Ortográfico de 1943.

Novo entendimento entre Portugal e o Brasil — efectivo em 1971 no Brasil e em


1973 em Portugal — aproximou um pouco mais a ortografia dos dois países,
suprimindo-se os acentos gráficos responsáveis por 70% das divergências entre
as duas ortografias oficiais e aqueles que marcavam a sílaba subtónica nos
vocábulos derivados com o sufixo -mente ou iniciados por -z- (ex.: sòmente,
sòzinho, pèzão). Novas tentativas de acordo saíram goradas em 1975 — em
parte devido ao período de convulsão política que se vivia em Portugal, o PREC
— e em 1986 — devido à reacção que se levantou em ambos os países,
principalmente a propósito da supressão da acentuação gráfica nas palavras
esdrúxulas (ou proparoxítonas).
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No entanto, como, segundo os proponentes da unificação, a persistência de duas


ortografias oficiais da língua portuguesa — a luso-africana e a brasileira —
impede a unidade intercontinental do português e diminui o seu prestígio no
mundo, foi elaborado um "Anteprojecto de Bases da Ortografia Unificada da
Língua Portuguesa"[11] em 1988, atendendo às críticas feitas à proposta de 1986,
que conduziu ao novo Acordo Ortográfico em 1990.

Acordo Ortográfico de 1990

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 é um tratado


internacional firmado em 1990 que tem por objectivo criar uma ortografia unificada
para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa.
Foi assinado por representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-
Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe em Lisboa, em 16 de
Dezembro de 1990. Depois de obter a sua independência, Timor-Leste aderiu ao
Acordo em 2004. O processo negocial que resultou no Acordo contou com a
presença de uma delegação de observadores da Galiza.

Razões do fracasso dos acordos ortográficos

O grande motivo do malogro do Acordo Ortográfico de 1945 e da tentativa de


acordo de 1986 residiu na tentativa de imposição de uma unificação ortográfica
absoluta.

Historial do processo

Acordo e protocolos modificativos

Reunião dos chefes de Estado e de governo da CPLP.

No artigo 3.º, o "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)" previa a sua


entrada em vigor a 1 de Janeiro de 1994, mediante a ratificação de todos os
membros. No entanto, como apenas Portugal (em 23 de Agosto de 1991[15]), o
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Brasil (em 18 de abril de 1995[16]) e Cabo Verde[17] ratificaram o documento, a sua


entrada em vigor ficou pendente.

Assim, em 17 de Julho de 1998, na cidade da Praia, Cabo Verde, foi assinado um


"Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa" que retirou
do texto original a data para a sua entrada em vigor, embora continuasse a ser
necessária a ratificação de todos os signatários para o Acordo de 1990 entrar em
vigor. Uma vez mais, apenas os parlamentos do Brasil, Portugal e Cabo Verde
aprovaram este protocolo.

Em Julho de 2004, os chefes de Estado e de governo da Comunidade dos Países


de Língua Portuguesa (CPLP), reunidos em São Tomé e Príncipe, aprovaram um
"Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico"[18] que, para além de
permitir a adesão de Timor-Leste, previa que, em lugar da ratificação por todos os
países, fosse suficiente que três membros da CPLP ratificassem o Acordo
Ortográfico para que este entrasse em vigor nesses países.[19]

O Brasil ratificou o "Segundo Protocolo Modificativo" em Outubro de 2004 e, em


Abril de 2005, Cabo Verde também. A 17 de Novembro de 2006, de uma
assentada, São Tomé e Príncipe ratificou o Acordo e os dois protocolos
modificativos,[21] cumprindo-se o estabelecido por este Protocolo.

Apesar de, na prática, as novas normas já poderem ter entrado em vigor nos três
países que ratificaram o Acordo e os protocolos modificativos, considerou-se
inviável avançar sem que Portugal também desse por concluído todo o processo.
Após alguns adiamentos, a Assembleia da República acabou por ratificar o
Segundo Protocolo Modificativo em 16 de Maio de 2008,[22] sendo o texto
promulgado pelo presidente da república Cavaco Silva a 21 de Julho de 2008.[23]

Reunidos em Lisboa no dia 25 de julho de 2008, na Declaração sobre a Língua


Portuguesa os chefes de Estado e de governo da CPLP manifestaram "O seu
regozijo pela futura entrada em vigor do Acordo Ortográfico, reiterando o
compromisso de todos os Estados membros no estabelecimento de mecanismos
de cooperação, com vista a partilhar metodologias para a sua aplicação
prática".[24] Na declaração final da reunião dos ministros da Cultura e Educação
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havida em Lisboa em 15 de novembro de 2008 apelou-se "aos Estados Membros


que ainda o não fizeram para que ratifiquem os protocolos modificativos e
implementem o Acordo Ortográfico e aos que já ratificaram os protocolos
modificativos para que estabeleçam no mais curto espaço de tempo uma data
comum para implementar a sua utilização nos documentos e publicações
oficiais".[25] Paralelamente, o ministro português José António Pinto Ribeiro
afirmou que "assim que tivermos o Acordo ratificado por todos os membros da
CPLP, temos o instrumento necessário para avançar na ONU e fazer com que o
Português seja uma das línguas de trabalho".[26]

A 3 de setembro de 2009, o ministro timorense da Educação, João Câncio


Freitas, informou o ministro português da Cultura, José António Pinto Ribeiro, que
a ratificação do Acordo Ortográfico já se tinha efetuado, "conforme Resolução do
Parlamento Nacional da República Democrática de Timor-Leste".[27]Timor-Leste
tornou-se, assim, o quinto Estado membro da CPLP a ratificar o documento. A 24
de novembro foi a vez dos deputados da Assembleia Nacional Popular da Guiné-
Bissau também ratificarem, por unanimidade, o Acordo Ortográfico.[28]

Ficam apenas a faltar Angola e Moçambique. Em Angola, o Ministério da


Educação começou também a preparar a ratificação do Acordo Ortográfico,
afirmando que o mesmo entrará em vigor logo que seja ratificado.[29] Moçambique,
por seu lado, nas palavras do vice-ministro moçambicano da Educação e Cultura,
Luís Covane, está já na "fase final" da apreciação do Acordo Ortográfico que, em
breve, deverá ser submetido à análise pelo Conselho de Ministros.[30]

Vocabulário comum

O texto original do Acordo Ortográfico de 1990 previa a elaboração «de um


vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo quanto
desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias
científicas e técnicas» até 1 de Janeiro de 1993.

Para que haja uma ortografia oficial comum é necessária a existência de um


Vocabulário Comum que inclua as grafias consideradas correctas para todos os
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povos da lusofonia. É, por exemplo, necessário que esse vocabulário tenha


duplas entradas nos casos de dupla grafia (ex.: académico e acadêmico, facto e
fato, receção e recepção, etc.), bem como delibere sobre o aportuguesamento de
palavras estrangeiras, a adopção de neologismos e as terminologias científicas e
técnicas.

Segundo algumas opiniões, a publicação de um Vocabulário Ortográfico Comum,


a elaborar conjuntamente pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia
das Ciências de Lisboa, deveria preceder a entrada em vigor das normas do
Acordo Ortográfico.[32]

No entanto, em março de 2009, a Academia Brasileira de Letras publicou uma


nova edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) com 381
mil entradas,[33] obedecendo às regras do Acordo Ortográfico. Este VOLP não
contou com a colaboração de instituições portuguesas, alegadamente porque a
entrada em vigor do Acordo em Portugal tem um prazo mais dilatado do que no
Brasil.[34] Num parecer elaborado em 2005, a Academia das Ciências de Lisboa
manifestou-se preparada e disponível para efectuar, num prazo de seis meses,
uma primeira versão do Vocabulário, com cerca de 400 mil entradas lexicais. [35]
Recentemente, o ministro da Cultura português, José António Pinto Ribeiro,
levantou a possibilidade da edição portuguesa do VOLP vir a ser feita por outra
entidade, por alegada incapacidade da Academia das Ciências de Lisboa para o
fazer.[36]

Em janeiro de 2010 é publicado[37], no Portal da Língua Portuguesa, de acesso


gratuito, o Vocabulário Ortográfico do Português, com cerca de 150 mil entradas
com informação flexional e derivacional, de forma a responder a dúvidas
frequentes com a formação de plurais e conjugação de verbos. A obra foi apoiada
e financiada pelo Fundo da Língua Portuguesa, sob a alçada de seis ministérios
portugueses, e desenvolvida no Instituto de Linguística Teórica e Computacional,
de Lisboa, contando com um número alargado de consultores de diversas
instituições científicas portuguesas.
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Entretanto, apesar das ambiguidades do texto do Acordo Ortográfico e das


dúvidas que levanta em diversos pontos, tanto em Portugal,[38] como no Brasil[39]
têm-se dado à estampa sucessivos dicionários de língua portuguesa observando
as normas do Acordo Ortográfico.

Bases

• Base I - Do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus derivados:


• Base II - Do h inicial e final.
• Base III - Da homofonia de certos grafemas consonânticos:
• Base IV - Das sequências consonânticas
• Base V - Das vogais átonas:
• Base VI - Das vogais nasais:
• Base VII - Dos ditongos:
• Base VIII - Da acentuação gráfica das palavras oxítonas
• Base IX - Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas:
• Base X - Da acentuação das vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das
palavras oxítonas e paroxítonas:
• Base XI - Da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas
• Base XII - Do emprego do acento grave
• Base XIII - Da supressão dos acentos em palavras derivadas
• Base XIV - Do trema:
• Base XV - Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos
vocabulares
• Base XVI - Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e
sufixação
• Base XVII - Do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver:
• Base XVIII - Do apóstrofo
• Base XIX - Das minúsculas e maiúsculas:
• Base XX - Da divisão silábica
• Base XXI - Das assinaturas e firmas:.

Estrutura do novo texto

O texto do Acordo Ortográfico de 1990 foi organizado seguindo o modelo das


Bases Analiticas da Ortografia Simplificada, de 1986, reunindo numa mesma base
matéria afim, dispersa por diferentes bases em textos anteriores. Através de um
título sucinto dá-se conta do conteúdo consagrado em cada base, optando-se por
um sistema de numeração tradicional que permite uma melhor e mais clara
arrumação da matéria aí contida. Para facilitar a compreensão e aprendizagem
das propostas do Acordo, o mesmo foi alegadamente (como se lê no próprio
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texto) redigido de acordo as normas que preconiza. Assim, o preâmbulo e os


quatro artigos do tratado estão escritos na ortografia portuguesa de 1945/1973, o
Anexo I (que contém as bases da nova ortografia) está escrito de acordo com as
novas convenções, sem cês ou pês mudos — "adjetivo" — e com grafias duplas
separadas por barras — "topônimo/topónimo" —, entre outras coisas, e o Anexo II
(a Nota Explicativa) está escrito na ortografia portuguesa oficial de 1945/1973 (ou
seja, "adjectivo" e "topónimo").

Principais alterações

O Acordo Ortográfico prevê alterações na maneira de escrever das pessoas que


falam a língua portuguesa. No Brasil as alterações serão mais ao nível da
acentuação e nos restantes países terá mais efeito nas consoantes designadas
mudas.

Mudanças no Brasil

No Brasil, aproximadamente 0,5%[3] das palavras sofrerão modificações. Estas


alterações incidem, nomeadamente, na eliminação dos acentos em terminações -
éia e -ôo, como em assembléia e enjôo, passando a escrever-se assembleia e
enjoo, respectivamente.

Outra regra consiste na completa eliminação da diérese (mais conhecida por


trema) em palavras formadas por qü e gü em que o u é pronunciado, como em
freqüência e lingüiça, passando a escrever-se frequência e linguiça
respectivamente.

FO 1943 AO 1990

Linguiça linguiça

Pinguim pinguim

Frequência frequência
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Qüinqüênio quinquênio

Assembleia assembleia

Ideia ideia

Europeia europeia

Abençoo abençoo

Baiuca baiuca

Enjoo enjoo

Voo voo

Cingapura
Singapura
ou Singapura

Mudanças nos restantes países lusófonos

Segundo os promotores do Acordo,[3] nos países lusófonos que não o Brasil, as


mudanças afectarão cerca de 1,6% do vocabulário total, não tendo sido
quantificada a frequência das palavras cuja grafia é alterada, as quais são
bastante frequentes. As alterações mais significativas consistem na eliminação
sistemática das consoantes c e p em palavras em que estas letras sejam
invariavelmente não-articuladas nas variantes cultas da língua, como óptimo e
correcto, passando a escrever-se ótimo e correto, respectivamente. Elimina-se
também o hífen nas formas verbais hão-de e há-de.

É frequentemente dada como exemplo a eliminação do h em certas palavras


como humidade e húmido passando a escrever-se como no Brasil, umidade e
úmido respectivamente. No entanto, o texto do Acordo é omisso nestes casos. No
texto vem que é suprimido o h inicial "quando, apesar da etimologia, a sua
supressão está inteiramente consagrada pelo uso" (Base II, art. 2, al. a). Como os
usos diferem de país para país, haverá de facto dupla grafia no caso destas
palavras.
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AO 1945 AO 1990

Acção ação

Acto ato

Afecto afeto

Aspecto aspeto

Objectivo objetivo

Detectar detetar

Respectivo respetivo

Infecção infeção

Óptimo ótimo

Concepção conceção

Recepção receção

Intersecção interseção

Intercepção interceção

Asséptico assético

Egipto Egito

Adoptar adotar

há-de há de

hão-de hão de

Mudanças em todos os países lusófonos


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Alteram-se as regras do hífen e suprimem-se alguns acentos agudos como nas


paroxítonas (palavras graves) que têm "ói" na sílaba tônica. Por exemplo, jóia,
heróico e andróide passam a joia, heroico e androide, tal como já acontecia com
comboio ou dezoito.

Exemplos:

FO 1943 e AO 1945 AO 1990

contra-regra contrarregra

extra-escolar extraescolar

anti-semita Antissemita

anti-religioso antirreligioso

fim-de-semana fim de semana

co-ordenar (dif. coordenar) Coordenar

Lêem Leem

Dêem Deem

Vêem Veem

Pára para (verbo parar)

Pêlo pelo (de pilosidade)

Pólo Polo

Jóia Joia

Exemplos de introdução de hífen:

FO 1943 e AO 1945 AO 1990

Microondas micro-ondas
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Arquiinimigo arqui-inimigo

De forma a contemplar as diferenças fonéticas existentes, existem abundantes


casos de excepções previstas no Acordo, admitindo-se assim a dupla grafia em
muitas palavras. (ex.: António/Antônio, facto/fato, secção/seção, aspeto/aspecto,
amnistia/anistia).

Argumentos a favor do Acordo

1. Insustentabilidade (económica e científica)da situação presente


2. Assegurar a unidade da língua
3. Simplificação da escrita
4. Difusão internacional do português
5. Inevitabilidade da sua aplicação

Argumentos contra o Acordo

1. Necessidade e custo da proposta

• Adaptação do corpo literário já existente pelas editoras. O custo médio de


preparação e revisão de um único livro é, no Brasil, de cinco mil reais.[87]
• Súbita obsolescência de dicionários, gramáticas e livros escolares, que
terão que ser substituídos.
• Reaprendizagem ortográfica por parte de uma grande massa de pessoas,
incluindo crianças.

2. Projecção internacional e abrasileiramento da língua


3. Possibilidade de múltiplas grafias (facultatividades)
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4. Interesses políticos

Situação nos países e regiões lusófonos

Angola

Tendo participado na redacção do Acordo Ortográfico, firmado pelo Secretário de


Estado da Cultura de Angola, José Mateus de Adelino Peixoto, e nas reuniões da
CPLP onde os dois protocolos modificativos foram aprovados, o governo
angolano ainda não ratificou nenhum desses documentos.

Brasil

O Congresso Nacional promulgou o Acordo Ortográfico em 18 de abril de 1995,


após a data em que, conforme o próprio Acordo, deveria ter entrado em vigor, i.e.,
1 de janeiro de 1994. Dez anos mais tarde, em outubro de 2004, seria ratificado o
Segundo Protocolo Modificativo, três meses após a sua aprovação pelos chefes
de estado e de governo na V cimeira da CPLP realizada em São Tomé.

O plenário da Câmara dos Deputados do Congresso Nacional do Brasil, em


Brasília.

A ratificação do Segundo Protocolo também por Cabo Verde (2005) e São Tomé
e Príncipe (2006) abriu caminho à efectivação do Acordo Ortográfico no Brasil. No
entanto, numa reunião da Comissão para Definição da Política de Ensino-
Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip) no dia 14 de
setembro de 2007, foi decidido recomendar ao governo brasileiro que esperasse
por Portugal e não aplicasse o Acordo em 2008, pois uma unificação ortográfica
sem Portugal já nasceria desunida.[110]

No governo brasileiro, a notícia da aprovação do Segundo Protocolo em Portugal


foi recebida com muita satisfação, começando-se a preparar um cronograma para
a implantação do Acordo Ortográfico. O Ministério da Educação preparou uma
minuta de decreto que enviou para o Palácio do Planalto para ser avaliada e
posteriormente assinada pelo presidente Lula, prevendo que os termos do novo
acordo comecem a vigorar em 2009.[111]
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Em maio de 2008, o governo publicou no Diário Oficial a determinação do


Ministério da Educação de que os livros didáticos, que irão ser distribuídos para
os alunos em 2010, deverão estar com as todas as mudanças ortográficas
previstas no novo Acordo, embora o governo pretenda introduzir as modificações
já no ano letivo de 2009.[112] A previsão é que até 2012 todos os livros didáticos
brasileiros estejam adaptados às novas regras. A partir de 2013, as novas regras
ortográficas serão obrigatórias no Brasil.[113]

Segundo o decreto,[115] as novas regras entraram em vigor no Brasil no dia 1º de


janeiro de 2009. Ressalte-se que até o dia 31 de dezembro de 2012 as regras
antigas também são válidas.Como previsto, o Acordo Ortográfico entrou
oficialmente em vigor em 1° de janeiro de 2009, sendo imediatamente adotado
pelos principais jornais brasileiros, como a Folha de S. Paulo e O Estado de S.
Paulo.

Cabo Verde

Cabo Verde participou nos trabalhos de elaboração do Acordo Ortográfico de


1990 — com uma delegação constituída pelo linguista Manuel Veiga[122] e pelo
escritor Gabriel Moacyr Rodrigues — e ratificou o documento. Em 1998 foi o
anfitrião da II Cimeira da CPLP, realizada na Praia, onde foi assinado o primeiro
"Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa" que retirou
do texto original a data para a sua entrada em vigor (1994). Cabo Verde ratificou
este documento, bem como o "Segundo Protocolo Modificativo" (em abril de
2005), sendo o segundo país (após o Brasil) a concluir toda a tramitação para a
entrada em vigor do Acordo Ortográfico.

Apesar do anúncio, a 26 de Março de 2009, de que Portugal e Cabo Verde


deveriam iniciar a implementação do Acordo Ortográfico — a título indicativo — a
5 de Maio, o Dia da Cultura da CPLP,[127] o Acordo só veio a ser adotado
oficialmente a 1 de outubro de 2009, com a ratificação do Protocolo Modificativo
pelo Conselho de Ministros.[128]
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Galiza

A Galiza que, em conjunto com o Norte de Portugal, foi o berço da língua


portuguesa, é hoje uma comunidade autónoma dentro do Reino de Espanha.
Uma delegação de observadores de galegos, constituída por António Gil
Hernández e José Luís Fontenla, assistiram aos trabalhos de elaboração do
Acordo Ortográfico de 1990. A Galiza, não sendo membro da CPLP, não tomou
parte nas reuniões onde os protocolos modificativos foram discutidos, aprovados
e assinados.

Embora do ponto de vista científico alguns considerem o galego como uma


variedade dialetal do português,[133] a posição oficial da Real Academia Galega e
do governo, no entanto, é a de que são línguas próximas, mas diferentes. A não
ser que haja uma alteração desta política — como parece ser vontade de certos
partidos,[134] como o Bloco Nacionalista Galego — a adoção do Acordo Ortográfico
na Galiza não se afigura possível.

Entretanto, em 2008 foi fundada a Academia Galega da Língua Portuguesa,


defendendo a convergência do falar galego com a Língua Portuguesa e a
implementação do Acordo Ortográfico.[135] Entre outras atividades, a AGLP
elaborou já um vocabulário de léxico galego a incorporar no Vocabulário
Ortográfico Comum.[136] O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto
Editora, lançado em outubro de 2009, incorpora esse léxico.[137]

Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau participou nos trabalhos de elaboração do Acordo Ortográfico de


1990 — com uma delegação constituída por João Wilson Barbosa e pelo poeta e
jornalista António Soares Lopes Júnior, mais conhecido pelo pseudónimo Toni
Tcheka e firmado por Alexandre Brito Ribeiro Furtado, secretário de estado da
Cultura –, bem como nas reuniões da CPLP onde os dois protocolos modificativos
foram aprovados.
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No dia 23 de novembro de 2009, os deputados da Assembleia Nacional Popular


da Guiné-Bissau ratificaram o acordo ortográfico de língua portuguesa por
unanimidade. O deputado do PAIGC Augusto Olivais considerou que a aprovação
do acordo é «boa para o mundo falante de português».[141]

Macau

Em 1990, Macau era um território sob administração portuguesa, pelo que não
participou diretamente na elaboração do Acordo Ortográfico. Não obstante a sua
integração na China, desde 20 de dezembro de 1999, Macau mantém o
português como idioma cooficial, a par do chinês.

Apesar de não ser membro da CPLP, a questão do Acordo Ortográfico tem sido
seguida com atenção na Região Administrativa Especial de Macau, levando os
jornais locais de língua portuguesa — como o Tai Chung Pou,[142] o Hoje
Macau[143] e o Jornal Tribuna de Macau[144] — a dedicarem-lhe grande atenção e o
consulado-geral de Portugal em Macau a organizar um "Grande Debate sobre o
(Des)Acordo Ortográfico", em maio de 2008.[145]

Até ao momento, desconhecem-se posições oficiais do governo macaense sobre


a implementação do Acordo Ortográfico no território. "Imagino que (…) Macau
manterá o vínculo com o português europeu", opina Baxter.[144] O que significa
que é provável que Macau avance apenas quando Portugal também avançar.

Moçambique

Moçambique participou nos trabalhos de elaboração do Acordo Ortográfico de


1990 — com uma delegação constituída por João Pontífice e Maria Eugénia Cruz
e firmado pelo ministro da Cultura, o escritor Luís Bernardo Honwana –, bem
como nas reuniões da CPLP onde os dois protocolos modificativos foram
aprovados. No entanto, o governo moçambicano ainda não ratificou nenhum
destes documentos.[148]

Em abril de 2008, o presidente da RepúblicaArmando Guebuza afirmou:


"Moçambique está a analisar o acordo ortográfico e, como é óbvio, um dia vai
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assiná-lo"[149] e, em novembro, o governo moçambicano reafirmou o desejo de


ratificar o acordo, assim que estivesse concluída a avaliação técnica que,
entretanto, decidiu levar a cabo.[152]

Portugal
Ratificação do Segundo Protocolo

Apesar de Portugal ter sido o primeiro país a ratificar o Acordo Ortográfico, logo
em 1991, o Governo da República Portuguesa protelou durante vários anos a
ratificação do Segundo Protocolo Modificativo de 2004, apesar de alegadas
pressões do Brasil[153]. A 6 de março de 2008, coincidindo com a visita do
presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, ao Rio de Janeiro[154] para as
comemorações dos 200 anos da transferência da Corte para o Brasil, o Conselho
de Ministros aprovou, em Lisboa, uma proposta de resolução sobre o Segundo
Protocolo Modificativo.

No dia 17 de setembro de 2010 é publicado no Diário da República n.º182, I


Série, pág. 4116, o aviso n.º 255/2010 do Ministério dos Negócios Estrangeiros
que torna público que “O depósito do respectivo instrumento de ratificação foi
efectuado em 13 de Maio 2009, tendo o referido Acordo entrado em vigor para
Portugal nesta data.”

São Tomé e Príncipe

São Tomé e Príncipe participou nos trabalhos de elaboração do Acordo


Ortográfico de 1990 — com uma delegação constituída pelo professor João
Hermínio Pontífice e pelo escritor Albertino dos Santos Bragança e firmado pela
ministra da Educação e Cultura, Lígia Silva Graça do Espírito Santo Costa –, bem
como nas reuniões da CPLP onde os dois protocolos modificativos foram
aprovados. Em julho de 2004 foi o anfitrião da V Cimeira da CPLP, realizada em
São Tomé, onde foi assinado o "Segundo Protocolo Modificativo" que admitiu
Timor-Leste e deliberou que seria suficiente a ratificação do Acordo Ortográfico
por três países para que entrasse em vigor.
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A 17 de novembro de 2006, de uma assentada, São Tomé e Príncipe ratificou o


Acordo e os dois protocolos, sendo o terceiro país (após o Brasil e Cabo Verde) a
concluir toda a tramitação para a entrada em vigor do Acordo Ortográfico.[201][202]

Timor-Leste

Timor-Leste não participou nos trabalhos do Acordo Ortográfico de 1990 porque,


na época, o território encontrava-se ocupado pela Indonésia, tendo recuperado a
independência somente em 2002. Em julho de 2004 esteve presente na V Cimeira
da CPLP, realizada em São Tomé, onde foi assinado o "Segundo Protocolo
Modificativo" que, para além de deliberar que seria suficiente a ratificação por três
países para que o Acordo Ortográfico entrasse em vigor, também admitiu Timor-
Leste ao Acordo.

Em setembro de 2009, uma resolução do Parlamento Nacional da República


Democrática de Timor-Leste acabou por ratificar o Acordo Ortográfico, segundo
informou o ministro timorense da Educação, João Câncio Freitas.[27] Timor-Leste
tornou-se, assim, o quinto Estado membro da CPLP a ratificar o documento.

Bibliografia

• AMARAL, Andrey do.Novo (e Divertido) Acordo Ortográfico, Rio de Janeiro:


Ciência Moderna, 2009, ISBN 9788573938258.
• CASTELEIRO, João Malaca (coord. científica). Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2009, 688 p., ISBN
9789720319432
• CASTELEIRO, João Malaca e CORREIA, Pedro Dinis. Atual: O Novo
Acordo Ortográfico — O que vai mudar na grafia do português. Lisboa:
Texto Editores, 2007, 32 p., ISBN 9789724737645
• CASTRO, Ivo, DUARTE, Inês e LEIRIA, Isabel. A Demanda da Ortografia
Portuguesa: Comentário do Acordo Ortográfico de 1986 e subsídios para a
compreensão da Questão que se lhe seguiu, Lisboa: Sá da Costa, 1987,
281 p.
• Dicionário Editora da Língua Portuguesa 2009 - Acordo Ortográfico. Porto:
Porto Editora, 2008. 1728 p., ISBN 9789720014238
• EMILIANO, António. Foi Você que Pediu um Acordo Ortográfico?Lisboa:
Guimarães Editores, 2008, 30 p., ISBN 9789726655244
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• EMILIANO, António. O Fim da Ortografia. Lisboa: Guimarães Editores


(Opúsculos), 2008, 28 p., ISBN 9789726655275
• ESTRELA, Edite. A Questão Ortográfica - Reformas e acordos da língua
portuguesa. Lisboa: Editorial Notícias, 1993, 220 p., ISBN 9789724606118
• GOMES, Francisco Álvaro. O Acordo Ortográfico - Exercícios práticos com
propostas de soluções. Porto: Edições Flumen e Porto Editora, 2008, 255
p., ISBN 9789728895204
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FICHA DE EXERCÍCIOS DE MUNDO LUSÓFONO

1. Imagine-se professor(a) de Língua Portuguesa, da 8ª classe, na sala de


aulas, querendo abordar o tema “Origem da Língua Portuguesa”.
a) Como explicaria aos seus alunos, de forma breve, numa linguagem ao
nível deles, a Origem da Língua Portuguesa?
b) Destaque os factores que considera cruciais para a afirmação da
Língua Portuguesa como uma variedade autónoma.
c) Diferencie o Português Antigo do Português Médio através de exemplos
concretos.

2. “O português é uma língua nascida no norte e que cresceu para sul. Tal
como aconteceu com o castelhano e com o francês, começou por ser um
conjunto de dialectos provinciais (galego-portugueses), passou a língua de
uma nação e depois a veículo de um império. Distinguem-se, neste
percurso, dois ciclos sucessivos: (I) o da elaboração da língua ( sécs. IX -
XIV); (ii) o da expansão da língua ( a partir do Séc. XV)”

a) Diferencie os dois ciclos.

3. “A língua Portuguesa é: (i) a 2ª língua românica do mundo; (ii) a terceira


língua europeia do planeta; (iii) a sexta com maior número de locutores; (iv)
a 5ª com maior número de países que a tem como língua oficial e (v)
pertence a uma das 8 grandes famílias de línguas do mundo.”
a) Como esta língua inundou o mundo inteiro, assim?
b) Que estratégias os portugueses usaram para disseminar a sua língua
pelo mundo?
c) Que países a falam como língua oficial?
d) Em que outros países é falada como língua estrangeira?
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e) Que instituições e/ou asseguram a promoção, disseminação,


manutenção e unidade/inteligibilidade (fónica e gráfica) desta língua
pelo mundo? Caracterize, de forma breve, cada uma delas?
f) Acha Moçambique deve ou não assinar o Acordo Ortográfico. Porquê?
4. A Língua Portuguesa apesar de ser diversa, os seus falantes concordam
que ela seja homogénea.
a) Comente.
b) Relacione a Língua e a Variedade Padrão.

5. Identifique as razões para as quais se pode dizer que a Língua Portuguesa


é Símbolo de Unidade entre diferentes povos existentes em 4 continentes.
6. Aceitaria que um dia a Língua Portuguesa fosse chamada Moçambicana
(ou também Língua Moçambicana?
7. Como relaciona a Língua Portuguesa e as línguas Bantu de Moçambique?

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