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Esta divisão em dois grandes momentos, em que uma dimensão espacial tempera e
naturaliza o conceito geralmente fictício de período histórico, é proposta em termos
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muito semelhantes por Paul Teyssier, na sua clara História da Língua Portuguesa.
Geografia e história da língua estão entrelaçadas. O motivo por que se fala português no
Rio de Janeiro é o mesmo motivo por que se fala português em Elvas e não se fala em
Badajoz. A geografia de uma língua reflecte a geografia política e humana da nação que
a fala. Mas é uma geografia projectada no tempo, que permite descobrir realidades que
já não estão à vista. Quem sentiria, em Malaca, a presença dos portugueses que
abandonaram a cidade há 400 anos, se não se encontrassem famílias de nome
português, rezando em português e falando o papiá cristão, um crioulo onde despontam
palavras e expressões reconhecíveis, reveladoras de uma descendência portuguesa?
O português antigo
O português médio
O português europeu
O português extra-europeu
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1º fenómeno: palatalização dos grupos iniciais latinos pl-, kl-, fl- na africada palatal
surda tš
Forma portuguesa
Latim Galego-português
contemporânea
mala maa má
Este segundo fenómeno terá ocorrido durante a permanência árabe, logo no seu início.
Ele aparece pela primeira vez atestado no séc. IX (para -n-> Ø: elemosia) e no séc. X
(para -l-> Ø: Froia) e admite-se que tenha sido posterior a pl-, kl-, fl->tš por se
encontrar menos difundido no território português.
O português antigo
b) mudanças sociolinguísticas:
a língua de cultura transfere a sua base dialectal do norte para o centro do reino
(assim, o futuro padrão não se baseará nos dialectos fundadores da língua, mas
em dialectos que nasceram devido à Reconquista);
O português médio
O período que vai de finais do séc. XIV a inícios do séc. XVI é, devido à acção
conjugada de todos estes fenómenos de mudança, aquele em que a língua mais rápida
e radicalmente se transfigurou. Sendo um período de transição, em que se sobrepõem
os processos terminais da elaboração da língua nacional com os esboços da sua
expansão imperial, possui no entanto características próprias, o que leva muitos autores
a tratá-lo como um período autónomo.
Os anos entre 1425 e 1450 parecem ter assistido às transformações mais acentuadas.
O português europeu
Não se sabe exactamente em que medida o português europeu terá sido influenciado,
na sua evolução, pelo fenómeno da expansão ultramarina (para além dos vocabulários
exóticos acolheu um número considerável de arabismos, por contactos no Oriente e no
norte de África). Prossegue o movimento de regularização das estruturas gramaticais
que vinha do português medieval, a língua da corte (entenda-se: de Lisboa) é
apresentada pelos gramáticos como padrão linguístico, a língua de grandes escritores
(Camões, p. ex.) adquire uma projecção exemplar, o léxico enriquece-se com
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É pelo séc. XVII que se generaliza em Portugal um fenómeno de elevação das vogais
fechadas e e o em posição pretónica, que passam a ser pronunciadas respectivamente
como e mudo [@] e como [u] e que, modernamente, chegam mesmo a desaparecer.
Pode ser que esta elevação tivesse raízes medievais; afinal, já ocorrera com o –o em
posição final. Mas quando se generaliza no reino, já estava instalada no Brasil uma
variedade anterior a esta evolução, razão por que palavras como metodologia soam
diferentemente em bocas portuguesas e brasileiras, sendo estas as mais
conservadoras.
Mantém-se viva a distinção antiga entre a fricativa palatal surda [š], representada pela
grafia x, e a africada correspondente [tš], escrita com ch. Só no séc. XVIII, e apenas nos
dialectos do sul, esta africada desapareceria.
É neste mesmo século que o –s em posição final (de sílaba ou enunciado) adquire a sua
actual pronúncia palatal, a qual parece ter sido levada para o Brasil pela corte de D.
João VI, onde afectou apenas o dialecto da capital.
O som do português europeu não sofreu, depois disto, alterações significativas, para lá
de uma tendência, que talvez não seja tão moderna como parece, para articular
fracamente as vogais átonas, o que tem efeitos sobre a estrutura das sílabas e o remate
dos vocábulos.
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O português extra-europeu
Este processo de crioulização também ocorreu no Brasil, mas uma maciça imigração
europeia, constante desde o séc. XVI até ao XX, levou a que prevalecesse o primeiro
tipo. O mesmo aconteceu ao Angola e em Moçambique, com a imigração do séc. XIX e
XX.
homens" e afirma que fez a sua gramática para ser ensinada "em África, na
Guiné, no Brasil e na Índia". João de Barros, referia que a sua língua estaria ao
serviço da expansão.
Em 1956, os holandeses assinaram um tratado de paz em Java em língua
portuguesa. Também os ingleses, à semelhança dos holandeses levavam nos
seus navios pessoas que falavam a nossa língua por ser esta a única forma de
estabelecerem contacto com os autóctones. David Lopes in “A Expansão da
Língua Portuguesa no Oriente Durante os Séculos XVI, XVII e XVIII” afirma que
não era possível a missionários, mercadores e políticos estrangeiros ignorar o
português que foi a língua franca por excelência em todo o oriente até ao século
XVIII.
Ainda na obra citada, David Lopes justifica com precisão, a
importância do português no Oriente com exemplos concretos. Relata como o
celebre missionário jesuíta, Padre Alexandre de Rodes, ficou admirado, em 1647,
com o governador de Makassar, Celebes, achando que ele dominava tão bem o
português que "dir-se-ia que era português quando falava a língua desta nação”.
O mesmo se passava com príncipes e imperadores das mais diversas paragens,
do Ceilão à Birmânia.
A língua portuguesa quando não adoptada completamente foi, no
mínimo, notória a sua influência em várias línguas... Muitas palavras foram
incorpora em vários idiomas orientais por toda a África, Índia e Ásia: no Suahili,
malaico, indonésio, bengali, os vários do Ceilão, o tentum de Timor, africanês da
África do Sul ou mesmo no japonês. Se hoje, o que restou em alguns locais é
muito pouco, noutros nem tanto. É interessante notar neste sentido que existem
gigantes países que continuam a usar o português, alguns como língua oficial, e
noutros casos em antagonia, apenas utilizado aqui e ali, em pequenas
comunidades, que continuam a utilizar o crioulo português, ainda que, em muitos
casos, não tenham tido contactos com Portugal desde há muitos séculos.
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3.5.Acordo Ortográfico
A ortografia da língua portuguesa é regida por um conjunto de normas
oficiais sob a forma de acordos ortográficos. No início do século XX surgiu em
Portugal e no Brasil a intenção de estabelecer um modelo de ortografia que
pudesse ser usado como referência nas publicações oficiais e no ensino em
ambos os países, iniciando-se assim um longo processo de tentativas de
convergência das ortografias usadas em cada país.
No ano de 1943, realizou-se em Lisboa um encontro entre os dois países, com o
objectivo de uniformizar os vocabulários já publicados, o da Academia das
Ciências de Lisboa, de 1940, e o da Academia Brasileira de Letras, de 1943.
Deste encontro resultou o Acordo Ortográfico de 1945, que, no entanto, apenas
entrou em vigor em Portugal, não tendo sido implementado no Brasil, que
continuou a reger-se pelas regras expostas no Vocabulário Ortográfico de 1943.
Em 1986, foi feita, no Brasil, uma nova uniformização da ortografia, sem que
se tivesse chegado a consenso. Nos anos seguintes, fruto de um longo trabalho
desenvolvido pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia das Ciêcias de
Lisboa, os representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe assinaram o Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa de 1990, ao qual adere também, depois da sua independência
em 2004, Timor-Leste. O Acordo Ortográfico de 1990 entrou em vigor, no início de
2009 no Brasil e em 13 de maio de 2009 em Portugal. Tudo indica que os
restantes países da CPLP o implementarão em brevemente.
Antecedentes
Até ao início do século XX, tanto em Portugal como no Brasil, seguia-se uma
ortografia que, por regra, se baseava nos étimoslatino ou grego para escrever
cada palavra (exemplos: architectura, caravella, diccionario, diphthongo, estylo,
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Historial do processo
Apesar de, na prática, as novas normas já poderem ter entrado em vigor nos três
países que ratificaram o Acordo e os protocolos modificativos, considerou-se
inviável avançar sem que Portugal também desse por concluído todo o processo.
Após alguns adiamentos, a Assembleia da República acabou por ratificar o
Segundo Protocolo Modificativo em 16 de Maio de 2008,[22] sendo o texto
promulgado pelo presidente da república Cavaco Silva a 21 de Julho de 2008.[23]
Vocabulário comum
Bases
Principais alterações
Mudanças no Brasil
FO 1943 AO 1990
Linguiça linguiça
Pinguim pinguim
Frequência frequência
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Qüinqüênio quinquênio
Assembleia assembleia
Ideia ideia
Europeia europeia
Abençoo abençoo
Baiuca baiuca
Enjoo enjoo
Voo voo
Cingapura
Singapura
ou Singapura
AO 1945 AO 1990
Acção ação
Acto ato
Afecto afeto
Aspecto aspeto
Objectivo objetivo
Detectar detetar
Respectivo respetivo
Infecção infeção
Óptimo ótimo
Concepção conceção
Recepção receção
Intersecção interseção
Intercepção interceção
Asséptico assético
Egipto Egito
Adoptar adotar
há-de há de
hão-de hão de
Exemplos:
contra-regra contrarregra
extra-escolar extraescolar
anti-semita Antissemita
anti-religioso antirreligioso
Lêem Leem
Dêem Deem
Vêem Veem
Pólo Polo
Jóia Joia
Microondas micro-ondas
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Arquiinimigo arqui-inimigo
4. Interesses políticos
Angola
Brasil
A ratificação do Segundo Protocolo também por Cabo Verde (2005) e São Tomé
e Príncipe (2006) abriu caminho à efectivação do Acordo Ortográfico no Brasil. No
entanto, numa reunião da Comissão para Definição da Política de Ensino-
Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip) no dia 14 de
setembro de 2007, foi decidido recomendar ao governo brasileiro que esperasse
por Portugal e não aplicasse o Acordo em 2008, pois uma unificação ortográfica
sem Portugal já nasceria desunida.[110]
Cabo Verde
Galiza
Guiné-Bissau
Macau
Em 1990, Macau era um território sob administração portuguesa, pelo que não
participou diretamente na elaboração do Acordo Ortográfico. Não obstante a sua
integração na China, desde 20 de dezembro de 1999, Macau mantém o
português como idioma cooficial, a par do chinês.
Apesar de não ser membro da CPLP, a questão do Acordo Ortográfico tem sido
seguida com atenção na Região Administrativa Especial de Macau, levando os
jornais locais de língua portuguesa — como o Tai Chung Pou,[142] o Hoje
Macau[143] e o Jornal Tribuna de Macau[144] — a dedicarem-lhe grande atenção e o
consulado-geral de Portugal em Macau a organizar um "Grande Debate sobre o
(Des)Acordo Ortográfico", em maio de 2008.[145]
Moçambique
Portugal
Ratificação do Segundo Protocolo
Apesar de Portugal ter sido o primeiro país a ratificar o Acordo Ortográfico, logo
em 1991, o Governo da República Portuguesa protelou durante vários anos a
ratificação do Segundo Protocolo Modificativo de 2004, apesar de alegadas
pressões do Brasil[153]. A 6 de março de 2008, coincidindo com a visita do
presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, ao Rio de Janeiro[154] para as
comemorações dos 200 anos da transferência da Corte para o Brasil, o Conselho
de Ministros aprovou, em Lisboa, uma proposta de resolução sobre o Segundo
Protocolo Modificativo.
Timor-Leste
Bibliografia
2. “O português é uma língua nascida no norte e que cresceu para sul. Tal
como aconteceu com o castelhano e com o francês, começou por ser um
conjunto de dialectos provinciais (galego-portugueses), passou a língua de
uma nação e depois a veículo de um império. Distinguem-se, neste
percurso, dois ciclos sucessivos: (I) o da elaboração da língua ( sécs. IX -
XIV); (ii) o da expansão da língua ( a partir do Séc. XV)”