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mesmo diploma, com as modificações e
DECRETO-LEI Nº 47 344, os esclarecimentos constantes dos
de 25 de Novembro de 1966 artigos seguintes.
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destinados a habitação, mantém-se o pelo que respeita ao nº 2 do artigo
regime excepcional da Lei nº 2030, de 1739º.
22 de Junho de 1948, quanto a esses
arrendamentos. Artigo 16º (Doações para casamento
e entre casados. Separação e
Artigo 11º (Parceria agrícola) divórcio)
Ao contrato de parceria agrícola são 1. Sem prejuízo da regra estabelecida
aplicáveis, para o futuro, as disposições no nº 2 do artigo 2º deste decreto-lei,
que regulam o arrendamento rural. são aplicáveis aos casamentos
celebrados até 31 de Maio de 1967 as
Artigo 12º (Foros do Estado) disposições do novo Código Civil
Na determinação do quantitativo do relativas à caducidade das doações para
laudémio nos foros do Estado, para casamento, às doações entre casados, à
efeitos do disposto no artigo 1517º do separação dos cônjuges ou dos seus
novo Código Civil, atender-se-á ao valor bens e ao divórcio.
dos respectivos prédios que resulte da 2. Não pode, no entanto, ser decretada
matriz. a separação judicial de pessoas e bens
ou o divórcio de cônjuges casados até
Artigo 13º (Anulação do casamento) 31 de Maio de 1967 com fundamento
1. Os casamentos civis celebrados até em facto que não seja relevante
31 de Maio de 1967 não podem ser segundo a lei vigente à data da sua
declarados nulos ou anulados, se para verificação.
tal não houver fundamento reconhecido
tanto pela lei antiga como pela nova lei Artigo 17º (Conversão da separação
civil, a não ser que já esteja pendente, em divórcio)
naquela data, a respectiva acção. O disposto no artigo 1793º é aplicável
2. O disposto nos artigos 1639º a 1646º nas acções pendentes e nos processos
do novo código é aplicável às acções que findos à data da entrada em vigor do
forem intentadas depois de 31 de Maio novo Código Civil.
de 1967, sem prejuízo do que,
relativamente aos prazos, prescreve o Artigo 18º (Impugnação da
artigo 297º do mesmo diploma. legitimidade)
1. Até 31 de Outubro de 1967 pode o
Artigo 14º (Efeitos do casamento ) marido da mãe intentar acção de
O disposto nos artigos 1671º a 1697º do impugnação da paternidade, com
novo código é aplicável aos casamentos fundamento em qualquer dos factos
celebrados até 31 de Maio de 1967, mas referidos nas alíneas c) e d) do artigo
em caso algum serão anulados os actos 1817º do novo Código Civil,
praticados pelos cônjuges na vigência da relativamente ao filho nascido antes da
lei antiga, se em face desta não entrada em vigor deste diploma, com
estiverem viciados. prejuízo do disposto no artigo 1818º.
2. Dentro do mesmo prazo serão
Artigo 15º (Regime de bens) recebidos nos tribunais de menores os
O preceituado nos artigos 1717º a requerimentos a que se refere o artigo
1752º só é aplicável aos casamentos 1820º, seguindo-se os demais termos
celebrados até 31 de Maio de 1967 na da impugnação oficiosa, desde que o
medida em que for considerado como filho tenha menos de catorze anos de
interpretativo do direito vigente, salvo idade à data da apresentação do
requerimento.
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Artigo 19º (Acções de investigação
de maternidade ou paternidade
ilegítima) Publique-se e cumpra-se como nele se
O facto de se ter esgotado o período a contém.
que se refere o nº 1 do artigo 1854º não Paços do Governo da República, 25 de
impede que as acções de investigação Novembro de 1966. - AMÉRICO DEUS
de maternidade ou paternidade ilegítima RODRIGUES TOMAZ - António de
sejam propostas até 31 de Maio de Oliveira Salazar - António Jorge Martins
1968, desde que não tenha caducado da Mota Veiga - Manuel Gomes de
antes, em face da legislação anterior, o Araújo - Alfredo Rodrigues dos Santos
direito de as propor. Júnior - João de Matos Antunes Varela -
Ulisses Cruz de Aguiar Cortês - Joaquim
Artigo 20º (Filhos adulterinos) da Luz Cunha - Fernando Quintanilha
Os assentos secretos de perfilhação de Mendonça Dias - Alberto Marciano
filhos adulterinos, validamente lavrados Gorjão Franco Nogueira - Eduardo de
ao abrigo da legislação vigente, tornar- Arantes e Oliveira - Joaquim Moreira da
se-ão públicos mediante averbamento Silva Cunha - Inocêncio Galvão Teles -
oficioso, sempre que sejam passadas José Gonçalo da Cunha Sottomayor
certidões do respectivo registo de Correia de Oliveira - Carlos Gomes da
nascimento. Silva Ribeiro - José João Gonçalves de
Proença - Francisco Pereira Neto de
Artigo 21º (Tutela e curatela) Carvalho.
As disposições do novo Código Civil Para ser presente à Assembleia
relativas à tutela e à curatela são Nacional.
aplicáveis às tutelas e curatelas
instauradas até 31 de Maio de 1967;
porém, os tutores e os curadores já
nomeados manter-se-ão nos seus
cargos enquanto deles não se escusarem
ou enquanto não forem removidos ou
exonerados.
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CÓDIGO CIVIL
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CAPÍTULO III - Associações sem
personalidade jurídica e comissões CAPÍTULO III - O tempo e a sua
especiais repercussão nas relações jurídicas
Artigos 195º a 201º SECÇÃO I - Disposições gerais
Artigos 296º a 299º
SUBTÍTULO II - Das coisas
Artigos 202º a 216º SECÇÃO II - Prescrição
SUBSECÇÃO I - Disposições gerais
SUBTÍTULO III - Dos factos Artigos 300º a 308º
jurídicos
CAPÍTULO I - Negócio jurídico SUBSECÇÃO II - Prazos da
SECÇÃO I - Declaração negocial prescrição
SUBSECÇÃO I - Modalidades da Artigos 309º a 311º
declaração
Artigos 217º a 218º SUBSECÇÃO III - Prescrições
presuntivas
SUBSECÇÃO II - Forma Artigos 312º a 317º
Artigos 219º a 223º
SUBSECÇÃO IV - Suspensão da
SUBSECÇÃO III - Perfeição da prescrição
declaração negocial Artigos 318º a 322º
Artigos 224º a 235º
SUBSECÇÃO V - Interrupção da
SUBSECÇÃO IV - Interpretação e prescrição
integração Artigos 323º a 327º
Artigos 236º a 239º
SECÇÃO III - Caducidade
SUBSECÇÃO V - Falta e vícios da Artigos 328º a 333º
vontade
Artigos 240º a 257º SUBTÍTULO IV - Do exercício e
tutela dos direitos
SUBSECÇÃO VI - Representação CAPÍTULO I - Disposições gerais
Divisão I - Princípios gerais Artigos 334º a 340º
Artigos 258º a 261º
CAPÍTULO II - Provas
Divisão II - Representação SECÇÃO I - Disposições gerais
voluntária Artigos 341º a 348º
Artigos 262º a 269º
SECÇÃO II - Presunções
SUBSECÇÃO VII - Condição e termo Artigos 349º a 351º
Artigos 270º a 279º
SECÇÃO III - Confissão
SECÇÃO II - Objecto negocial. Artigos 352º a 361º
Negócios usurários
Artigos 280º a 284º SECÇÃO IV - Prova documental
SUBSECÇÃO I - Disposições gerais
SECÇÃO III - Nulidade e Artigos 362º a 368º
anulabilidade do negócio jurídico
Artigos 285º a 294º SUBSECÇÃO II - Documentos
autênticos
CAPÍTULO II - Actos jurídicos Artigos 369º a 372º
Artigo 295º - Disposições reguladoras
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SUBSECÇÃO III - Documentos SUBSECÇÃO VII - Resolução ou
particulares modificação do contrato por
Artigos 373º a 379º alteração das circunstâncias
Artigos 437º a 439º
SUBSECÇÃO IV - Disposições
especiais SUBSECÇÃO VIII - Antecipação do
Artigos 380º a 387º cumprimento. Sinal
Artigos 440º a 442º
SECÇÃO V - Prova pericial
Artigos 388º a 389º SUBSECÇÃO IX - Contrato a favor
de terceiro
SECÇÃO VI - Prova por inspecção Artigos 443º a 451º
Artigos 390º a 391º
SUBSECÇÃO X - Contrato para
SECÇÃO VII - Prova testemunhal pessoa a nomear
Artigos 392º a 396º Artigos 452º a 456º
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SUBSECÇÃO III - Solidariedade CAPÍTULO V - Garantia geral das
entre credores obrigações
Artigos 528º a 533º SECÇÃO I - Disposições gerais
Artigos 601º a 604º
SECÇÃO III - Obrigações divisíveis
e indivisíveis SECÇÃO II - Conservação da
Artigos 534º a 538º garantia patrimonial
SUBSECÇÃO I - Declaração de
SECÇÃO IV - Obrigações genéricas nulidade
Artigos 539º a 542º Artigo 605º - Legitimidade dos credores
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SECÇÃO IV - Penhor SUBSECÇÃO III - Privilégios
SUBSECÇÃO I - Disposições gerais mobiliários especiais
Artigos 666º a 668º Artigos 738º a 742º
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SUBSECÇÃO II - Falta de SECÇÃO V - Remissão
cumprimento e mora imputáveis ao Artigos 863º a 867º
devedor
Divisão I - Princípios gerais SECÇÃO VI - Confusão
Artigos 798º a 800º Artigos 868º a 873º
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CAPÍTULO II - Doação SUBSECÇÃO II - Pagamento da
SECÇÃO I - Disposições gerais renda ou aluguer
Artigos 940º a 947º Artigos 1039º a 1042º
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SECÇÃO II - Direitos e obrigações SECÇÃO III - Defeitos da obra
do mandatário Artigos 1218º a 1226º
Artigos 1161º a 1166º
SECÇÃO IV - Impossibilidade de
SECÇÃO III - Obrigações do cumprimento e risco pela perda ou
mandante deterioração da obra
Artigos 1167º a 1169º Artigos 1227º a 1228º
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TÍTULO II - DO DIREITO DE SECÇÃO VI - Paredes e muros de
PROPRIEDADE meação
CAPÍTULO I - Propriedade em geral Artigos 1370º a 1375º
SECÇÃO I - Disposições gerais
Artigos 1302º a 1310º SECÇÃO VII - Fraccionamento e
emparcelamento de prédios
SECÇÃO II - Defesa da propriedade rústicos
Artigos 1311º a 1315º Artigos 1376º a 1382º
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CAPÍTULO II - Direitos do CAPÍTULO IV - Exercício das
usufrutuário servidões
Artigos 1446º a 1467º Artigos 1564º a 1568º
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SUBSECÇÃO II - Inexistência do SECÇÃO III - Efeitos do registo
casamento Artigos 1669º a 1670º
Artigos 1628º a 1630º
CAPÍTULO IX - Efeitos do
SUBSECÇÃO III - Anulabilidade do casamento quanto às pessoas e aos
casamento bens dos cônjuges
Divisão I - Disposições gerais SECÇÃO I - Disposições gerais
Artigos 1631º a 1633º Artigos 1671º a 1689º
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SUBSECÇÃO I - Disposições gerais Divisão III - Averiguação oficiosa
Artigos 1773º a 1774º da paternidade
Artigos 1864º a 1868º
SUBSECÇÃO II - Divórcio por mútuo
consentimento Divisão IV - Reconhecimento
Artigos 1775º a 1778º-A judicial
Artigos 1869º a 1873º
SUBSECÇÃO III - Divórcio litigioso
Artigos 1779º a 1787º CAPÍTULO II - Efeitos da filiação
SECÇÃO I - Disposições gerais
SUBSECÇÃO IV - Efeitos do divórcio Artigos 1874º a 1876º
Artigos 1788º a 1793º
SECÇÃO II - Poder paternal
SECÇÃO II - Separação judicial de SUBSECÇÃO I - Princípios gerais
pessoas e bens Artigos 1877º a 1884º
Artigos 1794º a 1795º-D
SUBSECÇÃO II - Poder paternal
TÍTULO III - DA FILIAÇÃO relativamente à pessoa dos filhos
CAPÍTULO I - Estabelecimento da Artigos 1885º a 1887º-A
filiação
SECÇÃO I - Disposições gerais SUBSECÇÃO III - Poder paternal
Artigos 1796º a 1802º relativamente aos bens dos filhos
Artigos 1888º a 1900º
SECÇÃO II - Estabelecimento da
maternidade SUBSECÇÃO IV - Exercício do poder
SUBSECÇÃO I - Declaração de paternal
maternidade Artigos 1901º a 1912º
Artigos 1803º a 1807º
SUBSECÇÃO V - Inibição e
SUBSECÇÃO II - Averiguação limitações ao exercício do poder
oficiosa paternal
Artigos 1808º a 1813º Artigos 1913º a 1920º-A
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Divisão III - Remoção e exoneração SECÇÃO III - Direito de
do tutor representação
Artigos 1948º a 1950º Artigos 2039º a 2045º
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CAPÍTULO II - Sucessão do cônjuge CAPÍTULO V - Forma do testamento
e dos descendentes SECÇÃO I - Formas comuns
Artigos 2139º a 2141º Artigos 2204º a 2209º
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CÓDIGO CIVIL
LIVRO I
PARTE GERAL
1. Os usos que não forem contrários
TÍTULO I aos princípios da boa fé são
DAS LEIS, SUA INTERPRETAÇÃO juridicamente atendíveis quando a
E APLICAÇÃO lei o determine.
ARTIGO 1º ARTIGO 4º
(Fontes imediatas) (Valor da equidade)
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(Ignorância ou má interpretação os casos que mereçam tratamento
da lei) análogo, a fim de obter uma
interpretação e aplicação uniformes
A ignorância ou má interpretação da do direito.
lei não justifica a falta do seu
cumprimento nem isenta as pessoas ARTIGO 9º
das sanções nela estabelecidas. (Interpretação da lei)
- 20 -
ARTIGO 11º confitente a quem a lei
(Normas excepcionais) interpretativa for favorável.
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1. Se, porém, o direito internacional ARTIGO 19º
privado da lei referida pela norma de (Casos em que não é admitido o
conflitos portuguesa remeter para reenvio)
outra legislação e esta se considerar
competente para regular o caso, é o 1. Cessa o disposto nos dois artigos
direito interno desta legislação que anteriores, quando da aplicação
deve ser aplicado. deles resulte a invalidade ou
ineficácia de um negócio jurídico que
2. Cessa o disposto no número seria válido ou eficaz segundo a
anterior, se a lei referida pela norma regra fixada no artigo 16º, ou a
de conflitos portuguesa for a lei ilegitimidade de um estado que de
pessoal e o interessado residir outro modo seria legítimo.
habitualmente em território
português ou em país cujas normas 2. Cessa igualmente o disposto nos
de conflitos considerem competente mesmos artigos, se a lei estrangeira
o direito interno do Estado da sua tiver sido designada pelos
nacionalidade. interessados, nos casos em que a
designação é permitida.
3. Ficam, todavia, unicamente
sujeitos à regra do nº 1 os casos da ARTIGO 20º
tutela e curatela, relações (Ordenamentos jurídicos
patrimoniais entre os cônjuges, plurilegislativos)
poder paternal, relações entre
adoptante e adoptado e sucessão 1. Quando, em razão da
por morte, se a lei nacional indicada nacionalidade de certa pessoa, for
pela norma de conflitos devolver competente a lei de um Estado em
para a lei da situação dos bens que coexistam diferentes sistemas
imóveis e esta se considerar legislativos locais, é o direito interno
competente. desse Estado que fixa em cada caso
o sistema aplicável.
ARTIGO 18º
(Reenvio para a lei portuguesa) 2. Na falta de normas de direito
interlocal, recorre-se ao direito
1. Se o direito internacional privado internacional privado do mesmo
da lei designada pela norma de Estado; e, se este não bastar,
conflitos devolver para o direito considera-se como lei pessoal do
interno português, é este o direito interessado a lei da sua residência
aplicável. habitual.
- 22 -
ARTIGO 21º 1. Aos actos realizados a bordo de
(Fraude à lei) navios ou aeronaves, fora dos portos
ou aeródromos, é aplicável a lei do
Na aplicação das normas de conflitos lugar da respectiva matrícula,
são irrelevantes as situações de sempre que for competente a lei
facto ou de direito criadas com o territorial.
intuito fraudulento de evitar a
aplicabilidade da lei que, noutras 2. Os navios e aeronaves militares
circunstâncias, seria competente. consideram-se como parte do
território do Estado a que
ARTIGO 22º pertencem.
(Ordem pública)
SECÇÃO II
1. Não são aplicáveis os preceitos da Normas de conflitos
lei estrangeira indicados pela norma
de conflitos, quando essa aplicação SUBSECÇÃO I
envolva ofensa dos princípios Âmbito e determinação da lei
fundamentais da ordem pública pessoal
internacional do Estado português.
ARTIGO 25º
2. São aplicáveis, neste caso, as (Âmbito da lei pessoal)
normas mais apropriadas da
legislação estrangeira competente O estado dos indivíduos, a
ou, subsidiariamente, as regras do capacidade das pessoas, as relações
direito interno português. de família e as sucessões por morte
são regulados pela lei pessoal dos
ARTIGO 23º respectivos sujeitos, salvas as
(Interpretação e averiguação do restrições estabelecidas na presente
direito estrangeiro) secção.
- 23 -
1. Aos direitos de personalidade, no À tutela e institutos análogos de
que respeita à sua existência e protecção aos incapazes é aplicável
tutela e às restrições impostas ao a lei pessoal do incapaz.
seu exercício, é também aplicável a
lei pessoal. ARTIGO 31º
(Determinação da lei pessoal)
2. O estrangeiro ou apátrida não
goza, porém, de qualquer forma de 1. A lei pessoal é a da nacionalidade
tutela jurídica que não seja do indivíduo.
reconhecida na lei portuguesa.
2. São, porém, reconhecidos em
ARTIGO 28º Portugal os negócios jurídicos
(Desvios quanto às celebrados no país da residência
consequências da incapacidade) habitual do declarante, em
conformidade com a lei desse país,
1. O negócio jurídico celebrado em desde que esta se considere
Portugal por pessoa que seja competente.
incapaz segundo a lei pessoal
competente não pode ser anulado ARTIGO 32º
com fundamento na incapacidade no (Apátridas)
caso de a lei interna portuguesa, se
fosse aplicável, considerar essa 1. A lei pessoal do apátrida é a do
pessoa como capaz. lugar onde ele tiver a sua residência
habitual ou, sendo menor ou
2. Esta excepção cessa, quando a interdito, o seu domicílio legal.
outra parte tinha conhecimento da
incapacidade, ou quando o negócio 2. Na falta de residência habitual, é
jurídico for unilateral, pertencer ao aplicável o disposto no nº 2 do
domínio do direito da família ou das artigo 82º.
sucessões ou respeitar à disposição
de imóveis situados no estrangeiro. ARTIGO 33º
(Pessoas colectivas)
3. Se o negócio jurídico for
celebrado pelo incapaz em país 1. A pessoa colectiva tem como lei
estrangeiro, será observada a lei pessoal a lei do Estado onde se
desse país, que consagrar regras encontra situada a sede principal e
idênticas às fixadas nos números efectiva da sua administração.
anteriores.
2. À lei pessoal compete
ARTIGO 29º especialmente regular: a capacidade
(Maioridade) da pessoa colectiva; a constitutição,
funcionamento e competência dos
A mudança da lei pessoal não seus órgãos; os modos de aquisição
prejudica a maioridade adquirida e perda da qualidade de associado e
segundo a lei pessoal anterior. os correspondentes direitos e
deveres; a responsabilidade da
ARTIGO 30º pessoa colectiva, bem como a dos
(Tutela e institutos análogos) respectivos órgãos e membros,
perante terceiros; a transformação,
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dissolução e extinção da pessoa determinado pela lei da residência
colectiva. habitual comum e, na falta desta,
pela lei do lugar onde a proposta foi
3. A transferência, de um Estado recebida.
para outro, da sede da pessoa
colectiva não extingue a ARTIGO 36º
personalidade jurídica desta, se (Forma da declaração)
nisso convierem as leis de uma e
outra sede. 1. A forma da declaração negocial é
regulada pela lei aplicável à
4. A fusão de entidades com lei substância do negócio; é, porém,
pessoal diferente é apreciada em suficiente a observância da lei em
face de ambas as leis pessoais. vigor no lugar em que é feita a
declaração, salvo se a lei reguladora
ARTIGO 34º da substância do negócio exigir, sob
(Pessoas colectivas pena de nulidade ou ineficácia, a
internacionais) observância de determinada forma,
ainda que o negócio seja celebrado
A lei pessoal das pessoas colectivas no estrangeiro.
internacionais é a designada na
convenção que as criou ou nos 2. A declaração negocial é ainda
respectivos estatutos e, na falta de formalmente válida se, em vez da
designação, a do país onde estiver a forma prescrita na lei local, tiver
sede principal. sido observada a forma prescrita
pelo Estado para que remete a
SUBSECÇÃO II norma de conflitos daquela lei, sem
Lei reguladora dos negócios prejuízo do disposto na última parte
jurídicos do número anterior.
- 25 -
extinção dos poderes dos elementos do negócio jurídico
representativos, pela lei do Estado atendíveis no domínio do direito
em que os poderes são exercidos. internacional privado.
- 26 -
aplicável a lei do lugar onde o
responsável deveria ter agido. ARTIGO 47º
(Capacidade para constituir
2. Se a lei do Estado onde se direitos reais
produziu o efeito lesivo considerar sobre coisas imóveis ou dispor
responsável o agente, mas não o deles)
considerar como tal a lei do país
onde decorreu a sua actividade, é É igualmente definida pela lei da
aplicável a primeira lei, desde que o situação da coisa a capacidade para
agente devesse prever a produção constituir direitos reais sobre coisas
de um dano, naquele país, como imóveis ou para dispor deles, desde
consequência do seu acto ou que essa lei assim o determine; de
omissão. contrário, é aplicável a lei pessoal.
- 27 -
A forma do casamento é regulada
pela lei do Estado em que o acto é 2. Não tendo os cônjuges a mesma
celebrado, salvo o disposto no artigo nacionalidade, é aplicável a lei da
seguinte. sua residência habitual comum e, na
falta desta, a lei do país com o qual
ARTIGO 51º a vida familiar se ache mais
(Desvios) estreitamente conexa.
- 28 -
2. A nova convenção em caso 1. As relações entre pais e filhos são
nenhum terá efeito retroactivo em reguladas pela lei nacional comum
prejuízo de terceiro. dos pais e, na falta desta, pela lei da
sua residência habitual comum; se
ARTIGO 55º os pais residirem habitualmente em
(Separação judicial de pessoas e Estados diferentes, é aplicável a lei
bens e divórcio) pessoal do filho.
- 29 -
número anterior é aplicável o
disposto no artigo 57º. ARTIGO 63º
(Capacidade de disposição)
4. Se a lei competente para regular
as relações entre o adoptando e os 1. A capacidade para fazer,
seus progenitores não conhecer o modificar ou revogar uma disposição
instituto da adopção, ou não o por morte, bem como as exigências
admitir em relação a quem se da forma especial das disposições
encontre na situação familiar do por virtude da idade do disponente,
adoptando, a adopção não é são reguladas pela lei pessoal do
permitida. autor ao tempo da declaração.
- 30 -
prescrições da lei para que remeta a 2. Quando certo efeito jurídico
norma de conflitos da lei local. depender da sobrevivência de uma a
outra pessoa, presume-se, em caso
2. Se, porém, a lei pessoal do autor de dúvida, que uma e outra
da herança no momento da faleceram ao mesmo tempo.
declaração exigir, sob pena de
nulidade ou ineficácia, a observância 3. Tem-se por falecida a pessoa cujo
de determinada forma, ainda que o cadáver não foi encontrado ou
acto seja praticado no estrangeiro, reconhecido, quando o
será a exigência respeitada. desaparecimento se tiver dado em
circunstâncias que não permitam
TÍTULO II duvidar da morte dela.
DAS RELAÇÕES JURÍDICAS
ARTIGO 69º
SUBTÍTULO I (Renúncia à capacidade jurídica)
DAS PESSOAS
Ninguém pode renunciar, no todo ou
CAPÍTULO I em parte, à sua capacidade jurídica.
Pessoas singulares
SECÇÃO II
SECÇÃO I Direitos de personalidade
Personalidade e capacidade
jurídica ARTIGO 70º
(Tutela geral da personalidade)
ARTIGO 66º
(Começo da personalidade) 1. A lei protege os indíviduos contra
qualquer ofensa ilícita ou ameaça de
1. A personalidade adquire-se no ofensa à sua personalidade física ou
momento do nascimento completo e moral.
com vida.
2. Independentemente da
2. Os direitos que a lei reconhece responsabilidade civil a que haja
aos nascituros dependem do seu lugar, a pessoa ameaçada ou
nascimento. ofendida pode requerer as
providências adequadas às
ARTIGO 67º circunstâncias do caso, com o fim de
(Capacidade jurídica) evitar a consumação da ameaça ou
atenuar os efeitos da ofensa já
As pessoas podem ser sujeitos de cometida.
quaisquer relações jurídicas, salvo
disposição legal em contrário; nisto ARTIGO 71º
consiste a sua capacidade jurídica. (Ofensa a pessoas já falecidas)
- 31 -
2. Tem legitimidade, neste caso, O pseudónimo, quando tenha
para requerer as providências notoriedade, goza da protecção
previstas no nº 2 do artigo anterior conferida ao próprio nome.
o cônjuge sobrevivo ou qualquer
descendente, ascendente, irmão,
sobrinho ou herdeiro do falecido. ARTIGO 75º
(Cartas-missivas confidenciais)
3. Se a ilicitude da ofensa resultar
da falta de consentimento, só as 1. O destinatário de carta-missiva de
pessoas que o deveriam prestar têm natureza confidencial deve guardar
legitimidade, conjunta ou reserva sobre o seu conteúdo, não
separadamente, para requerer as lhe sendo lícito aproveitar os
providências a que o número elementos de informação que ela
anterior se refere. tenha levado ao seu conhecimento.
- 32 -
O disposto no artigo anterior é
aplicável, com as necessárias 1. Todos devem guardar reserva
adaptações, às memórias familiares quanto à intimidade da vida privada
e pessoais e a outros escritos que de outrem.
tenham carácter confidencial ou se
refiram à intimidade da vida privada. 2. A extensão da reserva é definida
conforme a natureza do caso e a
ARTIGO 78º condição das pessoas.
(Cartas-missivas não
confidenciais) ARTIGO 81º
(Limitação voluntária dos
O destinatário de carta não direitos de personalidade)
confidencial só pode usar dela em
termos que não contrariem a 1. Toda a limitação voluntária ao
expectativa do autor. exercício dos direitos de
personalidade é nula, se for
ARTIGO 79º contrária aos princípios da ordem
(Direito à imagem) pública.
- 33 -
profissional no lugar onde a
profissão é exercida. ARTIGO 86º
(Revogado pelo Dec.-Lei 496/77, de
2. Se exercer a profissão em lugares 25-11)
diversos, cada um deles constitui
domicílio para as relações que lhe ARTIGO 87º
correspondem. (Domicílio legal dos empregados
públicos)
ARTIGO 84º
(Domicílio electivo) 1. Os empregados públicos, civis ou
militares, quando haja lugar certo
É permitido estipular domicílio para o exercício dos seus empregos,
particular para determinados têm nele domicílio necessário, sem
negócios, contanto que a estipulação prejuízo do seu domicílio voluntário
seja reduzida a escrito. no lugar da residência habitual.
- 34 -
2. Deve igualmente ser nomeado (Relação dos bens e caução)
curador ao ausente, se o procurador
não quiser ou não puder exercer as 1. Os bens do ausente serão
suas funções. relacionados e só depois entregues
ao curador provisório, ao qual será
3. Pode ser designado para certos fixada caução pelo tribunal.
negócios, sempre que as
circunstâncias o exijam, um curador 2. Em caso de urgência, pode ser
especial. autorizada a entrega dos bens antes
de estes serem relacionados ou de o
ARTIGO 90º curador prestar a caução exigida.
(Providências cautelares)
3. Se o curador não prestar a
A possibilidade de nomeação do caução, será nomeado outro em
curador provisório não obsta às lugar dele.
providências cautelares que se
mostrem indispensáveis em relação ARTIGO 94º
a quaisquer bens do ausente. (Direitos e obrigações do
curador provisório)
ARTIGO 91º
(Legitimidade) 1. O curador fica sujeito ao regime
do mandato geral em tudo o que
A curadoria provisória e as não contrariar as disposições desta
providências cautelares a que se subsecção.
refere o artigo anterior podem ser
requeridas pelo Ministério Público ou 2. Compete ao curador provisório
por qualquer interessado. requerer os procedimentos
cautelares necessários e intentar as
ARTIGO 92º acções que não possam ser
(A quem deve ser deferida a retardadas sem prejuízo dos
curadoria provisória) interesses do ausente; cabe-lhe
ainda representar o ausente em
1. O curador provisório será todas as acções contra este
escolhido de entre as pessoas propostas.
seguintes: o cônjuge do ausente,
algum ou alguns dos herdeiros 3. Só com autorização judicial pode
presumidos, ou algum ou alguns dos o curador alienar ou onerar bens
interessados na conservação dos imóveis, objectos preciosos, títulos
bens. de crédito, estabelecimentos
comerciais e quaisquer outros bens
2. Havendo conflito de interesses cuja alienação ou oneração não
entre o ausente e o curador ou entre constitua acto de administração.
o ausente e o cônjuge, ascendentes
ou descendentes do curador, deve 4. A autorização judicial só será
ser designado um curador especial, concedida quando o acto se
nos termos do número 3 do artigo justifique para evitar a deterioração
89º. ou ruína dos bens, solver dívidas do
ausente, custear benfeitorias
ARTIGO 93º
- 35 -
necessárias ou úteis ou ocorrer a
outra necessidade urgente. e) Pela certeza da morte do ausente.
- 36 -
partilha, que esses bens lhes sejam (Caução)
entregues.
1. O tribunal pode exigir caução aos
ARTIGO 103º curadores definitivos ou a algum ou
(Entrega dos bens aos alguns deles, tendo em conta a
herdeiros) espécie e valor dos bens e
rendimentos que eventualmente
1. A entrega dos bens aos herdeiros hajam de restituir.
do ausente à data das últimas
notícias, ou aos herdeiros dos que 2. Enquanto não prestar a caução
depois tiverem falecido, só tem fixada, o curador está impedido de
lugar depois da partilha. receber os bens; estes são
entregues, até ao termo da
2. Enquanto não forem entregues os curadoria ou até à prestação da
bens, a administração deles caução, a outro herdeiro ou
pertence ao cabeça-de-casal, interessado, que ocupará, em
designado nos termos dos artigos relação a eles, a posição de curador
2080º e seguintes. definitivo.
ARTIGO 107º
- 37 -
1. Nos casos previstos nas alíneas a)
ARTIGO 110º e b) do artigo anterior, os bens do
(Direitos e obrigações dos ausente ser-lhe-ão entregues logo
curadores definitivos que ele o requeira.
e demais interessados)
2. Enquanto não for requerida a
Aos curadores definitivos a quem os entrega, mantém-se o regime da
bens hajam sido entregues é curadoria nos termos desta
aplicável o disposto no artigo 94º, subsecção.
ficando extintos os poderes que
anteriormente hajam sido conferidos SUBSECÇÃO III
pelo ausente em relação aos Morte presumida
mesmos bens.
ARTIGO 114º
ARTIGO 111º (Requisitos)
(Fruição dos bens)
1. Decorridos dez anos sobre a data
1. Os ascendentes, os descendentes das últimas notícias, ou passados
e o cônjuge que sejam nomeados cinco anos, se entretanto o ausente
curadores definitivos têm direito, a houver completado oitenta anos de
contar da entrega dos bens, à idade, podem os interessados a que
totalidade dos frutos percebidos. se refere o artigo 100º requerer a
declaração de morte presumida.
2. Os curadores definitivos não
abrangidos pelo número anterior 2. A declaração de morte presumida
devem reservar para o ausente um não será proferida antes de haverem
terço dos rendimentos líquidos dos decorrido cinco anos sobre a data
bens que administrem. em que o ausente, se fosse vivo,
atingiria a maioridade.
ARTIGO 112º
(Termo da curadoria definitiva) 3. A declaração de morte presumida
do ausente não depende de prévia
A curadoria definitiva termina: instalação da curadoria provisória ou
definitiva e referir-se-á ao fim do dia
a) Pelo regresso do ausente; das últimas notícias que dele houve.
ARTIGO 116º
- 38 -
(Novo casamento do cônjuge do encontrar, com o preço dos bens
ausente) alienados ou com os bens
directamente sub-rogados, e bem
O cônjuge do ausente casado assim com os bens adquiridos
civilmente pode contrair novo mediante o preço dos alienados,
casamento; neste caso, se o quando no título de aquisição se
ausente regressar, ou houver notícia declare expressamente a
de que era vivo quando foram proveniência do dinheiro.
celebradas as novas núpcias,
considera-se o primeiro matrimónio 2. Havendo má-fé dos sucessores, o
dissolvido por divórcio à data da ausente tem direito a ser
declaração de morte presumida. indemnizado do prejuízo sofrido.
- 39 -
impugnado, mas nunca depois de o
SECÇÃO V menor atingir a maioridade ou ser
Incapacidades emancipado, salvo o disposto no
artigo 131º;
SUBSECÇÃO I
Condição jurídica dos menores b) A requerimento do próprio
menor, no prazo de um ano a contar
ARTIGO 122º da sua maioridade ou emancipação;
(Menores)
c) A requerimento de qualquer
É menor quem não tiver ainda herdeiro do menor, no prazo de um
completado dezoito anos de idade. ano a contar da morte deste,
ocorrida antes de expirar o prazo
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de referido na alínea anterior.
25-11)
2. A anulabilidade é sanável
ARTIGO 123º mediante confirmação do menor
(Incapacidade dos menores) depois de atingir a maioridade ou
ser emancipado, ou por confirmação
Salvo disposição em contrário, os do progenitor que exerça o poder
menores carecem de capacidade paternal, tutor ou administrador de
para o exercício de direitos. bens, tratando-se de acto que algum
deles pudesse celebrar como
ARTIGO 124º representante do menor.
(Suprimento da incapacidade
dos menores) (Redacção do Dec.-Lei 496/77, de
25-11)
A incapacidade dos menores é
suprida pelo poder paternal e, ARTIGO 126º
subsidiariamente, pela tutela, (Dolo do menor)
conforme se dispõe nos lugares
respectivos. Não tem o direito de invocar a
anulabilidade o menor que para
ARTIGO 125º praticar o acto tenha usado de dolo
(Anulabilidade dos actos dos com o fim de se fazer passar por
menores) maior ou emancipado.
- 40 -
b) Os negócios jurídicos próprios da habilitado a reger a sua pessoa e a
vida corrente do menor que, dispor dos seus bens.
estando ao alcance da sua
capacidade natural, só impliquem (Redacção do Dec.-Lei 496/77, de
despesas, ou disposições de bens, 25-11)
de pequena importância;
ARTIGO 131º
c) Os negócios jurídicos relativos à (Pendência da acção de
profissão, arte ou ofício que o menor interdição ou inabilitação)
tenha sido autorizado a exercer, ou
os praticados no exercício dessa Estando, porém, pendente contra o
profissão, arte ou ofício. menor, ao atingir a maioridade,
acção de interdição ou inabilitação,
2. Pelos actos relativos à profissão, manter-se-á o poder paternal ou a
arte ou ofício do menor e pelos actos tutela até ao trânsito em julgado da
praticados no exercício dessa respectiva sentença.
profissão, arte ou ofício só
respondem os bens de que o menor ARTIGO 132º
tiver a livre disposição. (Emancipação)
- 41 -
1. Podem ser interditos do exercício
dos seus direitos todos aqueles que 2. Se o interditando estiver sob o
por anomalia psíquica, surdez- poder paternal, só têm legitimidade
mudez ou cegueira se mostrem para requerer a interdição os
incapazes de governar suas pessoas progenitores que exercerem aquele
e bens. poder e o Ministério Público.
- 42 -
d) Aos filhos maiores, preferindo o 2. Os descendentes do interdito
mais velho, salvo se o tribunal, podem, contudo, ser exonerados a
ouvido o conselho de família, seu pedido ao fim de cinco anos, se
entender que algum dos outros dá existirem outros dependentes
maiores garantias de bom igualmente idóneos para o exercício
desempenho do cargo. do cargo.
- 43 -
(Administração dos bens do
Aos negócios celebrados pelo inabilitado)
incapaz antes de anunciada a
proposição da acção é aplicável o 1. A administração do património do
disposto acerca da incapacidade inabilitado pode ser entregue pelo
acidental. tribunal, no todo ou em parte, ao
curador.
ARTIGO 151º
(Levantamento da interdição) 2. Neste caso, haverá lugar à
constituição do conselho de família e
Cessando a causa que determinou a designação do vogal que, como
interdição, pode esta ser levantada a subcurador exerça as funções que
requerimento do próprio interdito ou na tutela cabem ao protutor.
das pessoas mencionadas no nº 1
do artigo 141º. 3. O curador deve prestar contas da
sua administração.
SUBSECÇÃO IV
Inabilitações ARTIGO 155º
(Levantamento da inabilitação)
Artigo 152º
(Pessoas sujeitas a inabilitação) Quando a inabilitação tiver por
causa a prodigalidade ou o abuso de
Podem ser inabilitados os indivíduos bebidas alcoólicas ou de
cuja anomalia psíquica, surdez- estupefacientes, o seu levantamento
mudez ou cegueira, embora de não será deferido antes que
carácter permanente, não seja de tal decorram cinco anos sobre o trânsito
modo grave que justifique a sua em julgado da sentença que a
interdição, assim como aqueles que, decretou ou da decisão que haja
pela sua habitual prodigalidade ou desatendido um pedido anterior.
pelo uso de bebidas alcoólicas ou de
estupefacientes, se mostrem ARTIGO 156º
incapazes de reger (Regime supletivo)
convenientemente o seu património.
Em tudo quanto se não ache
Artigo 153º especialmente regulado nesta
(Suprimento da inabilidade) subsecção é aplicável à inabilitação,
com as necessárias adaptações, o
1. Os inabilitados são assistidos por regime das interdições.
um curador, a cuja autorização
estão sujeitos os actos de disposição CAPÍTULO II
de bens entre vivos e todos os que, Pessoas colectivas
em atenção às circunstâncias de
cada caso, forem especificados na SECÇÃO I
sentença. Disposições gerais
ARTIGO 154º
- 44 -
As disposições do presente capítulo (Capacidade)
são aplicáveis às associações que
não tenham por fim o lucro 1. A capacidade das pessoas
económico dos associados, às colectivas abrange todos os direitos
fundações de interesse social, e e obrigações necessários ou
ainda às sociedades, quando a convenientes à prossecução dos
analogia das situações o justifique. seus fins.
- 45 -
1. As obrigações e a por deliberação dos associados, sem
responsabilidade dos titulares dos prejuízo do disposto em leis
órgãos das pessoas colectivas para especiais; na falta de fixação ou de
com estas são definidas nos lei especial, o tribunal, a
respectivos estatutos, aplicando-se, requerimento do Ministério Público,
na falta de disposições estatutárias, dos liquidatários, ou de qualquer
as regras do mandato com as associado ou interessado,
necessárias adaptações. determinará que sejam atribuídos a
outra pessoa colectiva ou ao Estado,
2. Os membros dos corpos gerentes assegurando, tanto quanto possível,
não podem abster-se de votar nas a realização dos fins da pessoa
deliberações tomadas em reuniões a extinta.
que estejam presentes, e são
responsáveis pelos prejuízos delas (Redacção do Dec.-Lei 496/77, de
decorrentes, salvo se houverem 25-11)
manifestado a sua discordância.
SECÇÃO II
ARTIGO 165º Associações
(Responsabilidade civil das
pessoas colectivas) ARTIGO 167º
(Acto de constituição e
As pessoas colectivas respondem estatutos)
civilmente pelos actos ou omissões
dos seus representantes, agentes ou 1. O acto de constituição da
mandatários nos mesmos termos associação especificará os bens ou
em que os comitentes respondem serviços com que os associados
pelos actos ou omissões dos seus concorrem para o património social,
comissários. a denominação, fim e sede da
pessoa colectiva, a forma do seu
ARTIGO 166º funcionamento, assim como a sua
(Destino dos bens no caso de duração, quando a associação se
extinção) não constitua por tempo
indeterminado.
1. Extinta a pessoa colectiva, se
existirem bens que lhe tenham sido 2. Os estatutos podem especificar
doados ou deixados com qualquer ainda os direitos e obrigações dos
encargo ou que estejam afectados a associados, as condições da sua
um certo fim, o tribunal, a admissão, saída e exclusão, bem
requerimento do Ministério Público, como os termos da extinção da
dos liquidatários, de qualquer pessoa colectiva e consequente
associado ou interessado, ou ainda devolução do seu património.
de herdeiros do doador ou do autor
da deixa testamentária, atribuí-los- ARTIGO 168º
á, com o mesmo encargo ou (Forma e publicidade)
afectação, a outra pessoa colectiva.
1. O acto de constituição da
2. Os bens não abrangidos pelo associação, os estatutos e as suas
número anterior têm o destino que alterações devem constar de
lhes for fixado pelos estatutos ou escritura pública.
- 46 -
2. O notário deve, oficiosamente, a 1. O órgão da administração e o
expensas da associação, comunicar conselho fiscal são convocados pelos
a constituição e estatutos, bem respectivos presidentes e só podem
como as alterações destes, à deliberar com a presença da maioria
autoridade administrativa e ao dos seus titulares.
Ministério Público e remeter ao
jornal oficial um extracto para 2. Salvo disposição legal ou
publicação. estatutária em contrário, as
deliberações são tomadas por
3. O acto de constituição, os maioria de votos dos titulares
estatutos e as suas alterações não presentes, tendo o presidente, além
produzem efeitos em relação a do seu voto, direito a voto de
terceiros, enquanto não forem desempate.
publicados nos termos do número
anterior. ARTIGO 172º
(Competência da assembleia
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de geral)
25-11)
1. Competem à assembleia geral
ARTIGO 169º todas as deliberações não
(Revogado pelo Dec.-Lei 496/77, de compreendidas nas atribuições
25-11) legais ou estatutárias de outros
órgãos da pessoa colectiva.
ARTIGO 170º
(Titulares dos órgãos da 2. São, necessariamente, da
associação competência da assembleia geral a
e revogação dos seus poderes) destituição dos titulares dos órgãos
da associação, a aprovação do
1. É a assembleia geral que elege os balanço, a alteração dos estatutos, a
titulares dos órgãos da associação, extinção da associação e a
sempre que os estatutos não autorização para esta demandar os
estabeleçam outro processo de administradores por factos
escolha. praticados no exercício do cargo.
- 47 -
associados não inferior à quinta favorável de três quartos do número
parte da sua totalidade, se outro dos associados presentes.
número não for estabelecido nos
estatutos. 4. As deliberações sobre a
dissolução ou prorrogação da pessoa
3. Se a administração não convocar colectiva requerem o voto favorável
a assembleia nos casos em que deve de três quartos do número de todos
fazê-lo, a qualquer associado é lícito os associados.
efectuar a convocação.
5. Os estatutos podem exigir um
ARTIGO 174º número de votos superior ao fixado
(Forma de convocação) nas regras anteriores.
- 48 -
qualquer associado que não tenha a) Por deliberação da assembleia
votado a deliberação. geral;
- 49 -
2. O reconhecimento pode ser
2. Nos casos previstos no nº 2 do requerido pelo instituidor, seus
artigo precedente, a declaração da herdeiros ou executores
extinção pode ser pedida em juízo testamentários, ou ser oficiosamente
pelo Ministério Público ou por promovido pela autoridade
qualquer interessado. competente.
- 50 -
testamento, é aos executadores
deste que compete elaborá-los ou Os estatutos da fundação podem a
completá-los. todo o tempo ser modificados pela
autoridade competente para o
2. A elaboração total ou parcial dos reconhecimento, sob proposta da
estatutos incumbe à própria respectiva administração, contanto
autoridade competente para o que não haja alteração essencial do
reconhecimento da fundação, fim da instituição e se não contrarie
quando o instituidor os não tenha a vontade do fundador.
feito e a instituição não conste de
testamento, ou quando os ARTIGO 190º
executores testamentários os não (Transformação)
lavrem dentro do ano posterior à
abertura da sucessão. 1. Ouvida a administração, e
também o fundador, se for vivo, a
3. Na elaboração dos estatutos ter- entidade competente para o
se-á em conta, na medida do reconhecimento pode atribuir à
possível, a vontade real ou fundação um fim diferente:
presumível do fundador.
a) Quando tiver sido inteiramente
ARTIGO 188º preenchido o fim para que foi
(Reconhecimento) instituída ou este se tiver tornado
impossível;
1. Não será reconhecida a fundação
cujo fim não for considerado de b) Quando o fim da instituição
interesse social pela entidade deixar de revestir interesse social;
competente.
c) Quando o património se tornar
2. Será igualmente negado o insuficiente para a realização do fim
reconhecimento, quando os bens previsto.
afectados à fundação se mostrem
insuficientes para a prossecução do 2. O novo fim deve aproximar-se, no
fim visado e não haja fundadas que for possível, do fim fixado pelo
expectativas de suprimento da fundador.
insuficiência.
3. Não há lugar à mudança de fim,
3. Negado o reconhecimento por se o acto de instituição prescrever a
insuficiência do património, fica a extinção da fundação.
instituição sem efeito, se o
institutidor for vivo; mas, se já ARTIGO 191º
houver falecido, serão os bens (Encargo prejudicial aos fins da
entregues a uma associação ou fundação)
fundação de fins análogos, que a
entidade competente designar, salvo 1. Estando o património da fundação
disposição do instituidor em onerado com encargos cujo
contrário. cumprimento impossibilite ou
dificulte gravemente o
ARTIGO 189º preenchimento do fim institucional,
(Modificação dos estatutos) pode a entidade competente para o
- 51 -
reconhecimento sob proposta da ARTIGO 193º
administração, suprimir, reduzir ou (Declaração da extinção)
comutar esses encargos, ouvido o
fundador, se for vivo. Quando ocorra alguma das causas
extintivas previstas no nº 1 do
2. Se, porém, o encargo tiver sido artigo anterior, a administração da
motivo essencial da instituição, pode fundação comunicará o facto à
a mesma entidade considerar o seu autoridade competente para o
cumprimento como fim da fundação, reconhecimento, a fim de esta
ou incorporar a fundação noutra declarar a extinção e tomar as
pessoa colectiva capaz de satisfazer providências que julgue
o encargo à custa do património convenientes para a liquidação do
incorporado, sem prejuízo dos seus património.
próprios fins.
ARTIGO 194º
ARTIGO 192º (Efeitos da extinção)
(Causas de extinção)
Extinta a fundação, na falta de
1. As fundações extinguem-se: providências especiais em contrário
tomadas pela autoridade
a) Pelo decurso do prazo, se tiverem competente, é aplicável o disposto
sido constituídas temporariamente; no artigo 184º.
- 52 -
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de uma pessoa, respondem todas
25-11) solidariamente.
- 53 -
se não cumpra, por qualquer indivisíveis, principais ou acessórias,
motivo, o fim para que a comissão presentes ou futuras.
foi constituída.
ARTIGO 204º
ARTIGO 201º (Coisas imóveis)
(Aplicação dos bens a outro fim)
1. São coisas imóveis:
1. Se os fundos angariados forem
insuficientes para o fim anunciado, a) Os prédios rústicos e urbanos;
ou este se mostrar impossível, ou
restar algum saldo depois de b) As águas;
satisfeito o fim da comissão, os bens
terão a aplicação prevista no acto c) As árvores, os arbustos e os
constitutivo da comissão ou no frutos naturais, enquanto estiverem
programa anunciado. ligados ao solo;
- 54 -
abrangem, salvo declaração em
1. É havida como coisa composta, contrário, as coisas acessórias.
ou universalidade de facto, a
pluralidade de coisas móveis que, ARTIGO 211º
pertencendo à mesma pessoa, têm (Coisas futuras)
um destino unitário.
São coisas futuras as que não estão
2. As coisas singulares que em poder do disponente, ou a que
constituem a universalidade podem este não tem direito, ao tempo da
ser objecto de relações jurídicas declaração negocial.
próprias.
ARTIGO 212º
ARTIGO 207º (Frutos)
(Coisas fungíveis)
1. Diz-se fruto de uma coisa tudo o
São fungíveis as coisas que se que ela produz periodicamente, sem
determinam pelo seu género, prejuízo da sua substância.
qualidade e quantidade, quando
constituam objecto de relações 2. Os frutos são naturais ou civis;
jurídicas. dizem-se naturais os que provêm
directamente da coisa, e civis as
ARTIGO 208º rendas ou interesses que a coisa
(Coisas consumíveis) produz em consequência de uma
relação jurídica.
São consumíveis as coisas cujo uso
regular importa a sua destruição ou 3. Consideram-se frutos das
a sua alienação. universalidades de animais as crias
não destinadas à substituição das
ARTIGO 209º cabeças que por qualquer causa
(Coisas divisíveis) vierem a faltar, os despojos, e todos
os proventos auferidos, ainda que a
São divisíveis as coisas que podem título eventual.
ser fraccionadas sem alteração da
sua substância, diminuição de valor ARTIGO 213º
ou prejuízo para o uso a que se (Partilha dos frutos)
destinam.
1. Os que têm direito aos frutos
ARTIGO 210º naturais até um momento
(Coisas acessórias) determinado, ou a partir de certo
momento, fazem seus todos os
1. São coisas acessórias, ou frutos percebidos durante a vigência
pertenças, as coisas móveis que, do seu direito.
não constituindo partes integrantes,
estão afectadas por forma 2. Quanto a frutos civis, a partilha
duradoura ao serviço ou faz-se proporcionalmente à duração
ornamentação de uma outra. do direito.
- 55 -
(Frutos colhidos SUBTÍTULO III
prematuramente) DOS FACTOS JURÍDICOS
- 56 -
ARTIGO 220º presume-se, neste caso, que as
(Inobservância da forma legal) partes se não querem vincular senão
pela forma convencionada.
A declaração negocial que careça da
forma legalmente prescrita é nula, 2. Se, porém, a forma só for
quando outra não seja a sanção convencionada depois de o negócio
especialmente prevista na lei. estar concluído ou no momento da
sua conclusão, e houver fundamento
ARTIGO 221º para admitir que as partes se
(Âmbito da forma legal) quiseram vincular desde logo,
presume-se que a convenção teve
1. As estipulações verbais acessórias em vista a consolidação do negócio,
anteriores ao documento legalmente ou qualquer outro efeito, mas não a
exigido para a declaração negocial, sua substituição.
ou contemporâneas dele, são nulas,
salvo quando a razão determinante SUBSECÇÃO III
da forma lhes não seja aplicável e se Perfeição da declaração negocial
prove que correspondem à vontade
do autor da declaração. ARTIGO 224º
(Eficácia da declaração negocial)
2. As estipulações posteriores ao
documento só estão sujeitas à forma 1. A declaração negocial que tem
legal prescrita para a declaração se um destinatário torna-se eficaz logo
as razões da exigência especial da que chega ao seu poder ou é dele
lei lhe forem aplicáveis. conhecida; as outras, logo que a
vontade do declarante se manifesta
ARTIGO 222º na forma adequada.
(Âmbito da forma voluntária)
2. É também considerada eficaz a
1. Se a forma escrita não for exigida declaração que só por culpa do
por lei, mas tiver sido adoptada pelo destinatário não foi por ele
autor da declaração, as estipulações oportunamente recebida.
verbais acessórias anteriores ao
escrito, ou contemporâneas dele, 3. A declaração recebida pelo
são válidas, quando se mostre que destinatário em condições de, sem
correspondem à vontade do culpa sua, não poder ser conhecida
declarante e a lei as não sujeite à é ineficaz.
forma escrita.
ARTIGO 225º
2. As estipulações verbais (Anúncio público da declaração)
posteriores ao documento são
válidas, excepto se, para o efeito, a A declaração pode ser feita
lei exigir a forma escrita. mediante anúncio publicado num
dos jornais da residência do
ARTIGO 223º declarante, quando se dirija a
(Forma convencional) pessoa desconhecida ou cujo
paradeiro seja por aquele ignorado.
1. Podem as partes estipular uma
forma especial para a declaração; ARTIGO 226º
- 57 -
(Morte, incapacidade ou c) Se não for fixado prazo e a
indisponibilidade superveniente) proposta for feita a pessoa ausente
ou, por escrito, a pessoa presente,
1. A morte ou incapacidade do manter-se-á até cinco dias depois do
declarante, posterior à emissão da prazo que resulta do preceituado na
declaração, não prejudica a eficácia alínea precedente.
desta, salvo se o contrário resultar
da própria declaração. 2. O disposto no número anterior
não prejudica o direito de revogação
2. A declaração é ineficaz, se o da proposta nos termos em que a
declarante, enquanto o destinatário revogação é admitida no artigo
não a receber ou dela não tiver 230º.
conhecimento, perder o poder de
disposição do direito a que ela se ARTIGO 229º
refere. (Recepção tardia)
- 58 -
3. A revogação da proposta, quando concluído logo que a conduta da
dirigida ao público, é eficaz, desde outra parte mostre a intenção de
que seja feita na forma da oferta ou aceitar a proposta.
em forma equivalente.
Artigo 235º
ARTIGO 231º (Revogação da aceitação ou da
(Morte ou incapacidade do rejeição)
proponente
ou do destinatário) 1. Se o destinatário rejeitar a
proposta, mas depois a aceitar,
1. Não obsta à conclusão do prevalece a aceitação, desde que
contrato a morte ou incapacidade do esta chegue ao poder do
proponente, excepto se houver proponente, ou seja dele conhecida,
fundamento para presumir que outra ao mesmo tempo que a rejeição, ou
teria sido a sua vontade. antes dela.
- 59 -
que conduzir ao maior equilíbrio das 1. Quando sob o negócio simulado
prestações. exista um outro que as partes
quiseram realizar, é aplicável a este
ARTIGO 238º o regime que lhe corresponderia se
(Negócios formais) fosse concluído sem dissimulação,
não sendo a sua validade
1. Nos negócios formais não pode a prejudicada pela nulidade do
declaração valer com um sentido negócio simulado.
que não tenha um mínimo de
correspondência no texto do 2. Se, porém, o negócio dissimulado
respectivo documento, ainda que for de natureza formal, só é válido
imperfeitamente expresso. se tiver sido observada a forma
exigida por lei.
2. Esse sentido pode, todavia, valer,
se corresponder à vontade real das ARTIGO 242º
partes e as razões determinantes da (Legitimidade para arguir a
forma do negócio se não opuserem a simulação)
essa validade.
1. Sem prejuízo do disposto no
ARTIGO 239º artigo 286º, a nulidade do negócio
(Integração) simulado pode ser arguida pelos
próprios simuladores entre si, ainda
Na falta de disposição especial, a que a simulação seja fraudulenta.
declaração negocial deve ser
integrada de harmonia com a 2. A nulidade pode também ser
vontade que as partes teriam tido se invocada pelos herdeiros legitimários
houvessem previsto o ponto omisso, que pretendam agir em vida do
ou de acordo com os ditames da boa autor da sucessão contra os
fé, quando outra seja a solução por negócios por ele simuladamente
eles imposta. feitos com o intuito de os prejudicar.
- 60 -
ARTIGO 244º desde que o declaratário conhecesse
(Reserva mental) ou não devesse ignorar a
essencialidade, para o declarante,
1. Há reserva mental, sempre que é do elemento sobre que incidiu o
emitida uma declaração contrária à erro.
vontade real com o intuito de
enganar o declaratário. ARTIGO 248º
(Validação do negócio)
2. A reserva não prejudica a
validade da declaração, excepto se A anulabilidade fundada em erro na
for conhecida do declaratário; neste declaração não procede, se o
caso, a reserva tem os efeitos da declaratário aceitar o negócio como
simulação. o declarante o queria.
- 61 -
(Erro sobre os motivos)
2. Quando o dolo provier de terceiro,
1. O erro que recaia nos motivos a declaração só é anulável se o
determinantes da vontade, mas se destinatário tinha ou devia ter
não refira à pessoa do declaratário conhecimento dele; mas, se alguém
nem ao objecto do negócio, só é tiver adquirido directamente algum
causa de anulação se as partes direito por virtude da declaração,
houverem reconhecido, por acordo, esta é anulável em relação ao
a essencialidade do motivo. beneficiário, se tiver sido ele o autor
do dolo ou se o conhecia ou devia
2. Se, porém, recair sobre as ter conhecido.
circunstâncias que constituem a
base do negócio, é aplicável ao erro ARTIGO 255º
do declarante o disposto sobre a (Coacção moral)
resolução ou modificação do
contrato por alteração das 1. Diz-se feita sob coacção moral a
circunstâncias vigentes no momento declaração negocial determinada
em que o negócio foi concluído. pelo receio de um mal de que o
declarante foi ilicitamente ameaçado
ARTIGO 253º com o fim de obter dele a
(Dolo) declaração.
- 62 -
facto seja notório ou conhecido do razoável, faça prova dos seus
declaratário. poderes, sob pena de a declaração
não produzir efeitos.
2. O facto é notório, quando uma
pessoa de normal diligência o teria 2. Se os poderes de representação
podido notar. constarem de documento, pode o
terceiro exigir uma cópia dele
SUBSECÇÃO VI assinada pelo representante.
Representação
ARTIGO 261º
DIVISÃO I (Negócio consigo mesmo)
Princípios gerais
1. É anulável o negócio celebrado
ARTIGO 258º pelo representante consigo mesmo,
(Efeitos da representação) seja em nome próprio, seja em
representação de terceiro, a não ser
O negócio jurídico realizado pelo que o representado tenha
representante em nome do especificadamente consentido na
representado, nos limites dos celebração, ou que o negócio excluía
poderes que lhe competem, produz por sua natureza a possibilidade de
os seus efeitos na esfera jurídica um conflito de interesses.
deste último.
2. Considera-se celebrado pelo
ARTIGO 259º representante, para o efeito do
(Falta ou vícios da vontade e número precedente, o negócio
estados subjectivos relevantes) realizado por aquele em quem
tiverem sido substabelecidos os
1. À excepção dos elementos em poderes de representação.
que tenha sido decisiva a vontade
do representado, é na pessoa do DIVISÃO II
representante que deve verificar-se, Representação voluntária
para efeitos de nulidade ou
anulabilidade da declaração, a falta ARTIGO 262º
ou vício da vontade, bem como o (Procuração)
conhecimento ou ignorância dos
factos que podem influir nos efeitos 1. Diz-se procuração o acto pelo
do negócio. qual alguém atribui a outrem,
voluntariamente, poderes
2. Ao representado de má fé não representativos.
aproveita a boa fé do representante.
2. Salvo disposição legal em
ARTIGO 260º contrário, a procuração revestirá a
(Justificação dos poderes do forma exigida para o negócio que o
representante) procurador deva realizar.
- 63 -
O procurador não necessita de ter procurador ou de terceiro, não pode
mais do que a capacidade de ser revogada sem acordo do
entender e querer exigida pela interessado, salvo ocorrendo justa
natureza do negócio que haja de causa.
efectuar.
ARTIGO 266º
ARTIGO 264º (Protecção de terceiros)
(Substituição do procurador)
1. As modificações e a revogação da
1. O procurador só pode fazer-se procuração devem ser levadas ao
substituir por outrem se o conhecimento de terceiros por meios
representado o permitir ou se a idóneos, sob pena de lhes não
faculdade de substituição resultar do serem oponíveis senão quando se
conteúdo da procuração ou da mostre que delas tinham
relação jurídica que a determina. conhecimento no momento da
conclusão do negócio.
2. A substituição não envolve
exclusão do procurador primitivo, 2. As restantes causas extintivas da
salvo declaração em contrário. procuração não podem ser opostas a
terceiro que sem culpa, as tenha
3. Sendo autorizada a substituição, ignorado.
o procurador só é responsável para
com o representado se tiver agido ARTIGO 267º
com culpa na escolha do substituto (Restituição do documento da
ou nas instruções que lhe deu. representação)
- 64 -
3. Considera-se negada a (Pendência da condição)
ratificação, se não for feita dentro
do prazo que a outra parte fixar Aquele que contrair uma obrigação
para o efeito. ou alienar um direito sob condição
suspensiva, ou adquirir um direito
4. Enquanto o negócio não for sob condição resolutiva, deve agir,
ratificado, tem a outra parte a na pendência da condição, segundo
faculdade de o revogar ou rejeitar, os ditames da boa fé, por forma que
salvo se, no momento da conclusão, não comprometa a integridade do
conhecia a falta de poderes do direito da outra parte.
representante.
ARTIGO 273º
ARTIGO 269º (Pendência da condição: actos
(Abuso da representação) conservatórios)
- 65 -
2. Se a verificação da condição for ARTIGO 279º
impedida, contra as regras da boa (Cômputo do termo)
fé, por aquele a quem prejudica,
tem-se por verificada; se for À fixação do termo são aplicáveis,
provocada, nos mesmos termos, por em caso de dúvida, as seguintes
aquele a quem aproveita, considera- regras:
se como não verificada.
a) Se o termo se referir ao princípio,
ARTIGO 276º meio ou fim do mês, entende-se
(Retroactividade da condição) como tal, respectivamente, o
primeiro dia, o dia 15 e o último dia
Os efeitos do preenchimento da do mês; se for fixado no princípio,
condição retrotraem-se à data da meio ou fim do ano, entende-se,
conclusão do negócio, a não ser que, respectivamente, o primeiro dia do
pela vontade das partes ou pela ano, o dia 30 de Junho e o dia 31 de
natureza do acto, hajam de ser Dezembro;
reportados a outro momento.
b) Na contagem de qualquer prazo
ARTIGO 277º não se inclui o dia, nem a hora, se o
(Não retroactividade) prazo for de horas, em que ocorrer o
evento a partir do qual o prazo
1. Sendo a condição resolutiva começa a correr;
aposta a um contrato de execução
continuada ou periódica, é aplicável c) O prazo fixado em semanas,
o disposto no nº 2 do art. 434º. meses ou anos, a contar de certa
data, termina às 24 horas do dia
2. O preenchimento da condição não que corresponda, dentro da última
prejudica a validade dos actos de semana, mês ou ano, a essa data;
administração ordinária realizados, mas, se no último mês não existir
enquanto a condição estiver dia correspondente, o prazo finda no
pendente, pela parte a quem último dia desse mês;
incumbir o exercício do direito.
d) É havido, respectivamente, como
3. À aquisição de frutos pela parte a prazo de uma ou duas semanas o
que se refere o número anterior são designado por oito ou quinze dias,
aplicáveis as disposições relativas à sendo havido como prazo de um ou
aquisição de frutos pelo possuidor dois dias o designado por 24 ou 48
de boa fé. horas;
- 66 -
Objecto negocial. Negócios (Modificação dos negócios
usurários usurários)
- 67 -
1. Tanto a declaração de nulidade
A nulidade é invocável a todo o como a anulação do negócio têm
tempo por qualquer interessado e efeito retroactivo, devendo ser
pode ser declarada oficiosamente restituído tudo o que tiver sido
pelo tribunal. prestado ou, se a restituição em
espécie não for possível, o valor
ARTIGO 287º correspondente.
(Anulabilidade)
2. Tendo alguma das partes alienado
1. Só têm legitimidade para arguir a gratuitamente coisa que devesse
anulabilidade as pessoas em cujo restituir, e não podendo tornar-se
interesse a lei a estabelece, e só efectiva contra o alienante a
dentro do ano subsequente à restituição do valor dela, fica o
cessação do vício que lhe serve de adquirente obrigado em lugar
fundamento. daquele, mas só na medida do seu
enriquecimento.
2. Enquanto, porém, o negócio não
estiver cumprido, pode a 3. É aplicável em qualquer dos casos
anulabilidade ser arguida, sem previstos nos números anteriores,
dependência de prazo, tanto por via directamente ou por analogia, o
de acção como por via de excepção. disposto nos artigos 1269º e
seguintes.
ARTIGO 288º
(Confirmação) ARTIGO 290º
(Momento da restituição)
1. A anulabilidade é sanável
mediante confirmação. As obrigações recíprocas de
restituição que incumbem às partes
2. A confirmação compete à pessoa por força da nulidade ou anulação do
a quem pertencer o direito de negócio devem ser cumpridas
anulação, e só é eficaz quando for simultaneamente, sendo extensivas
posterior à cessação do vício que ao caso, na parte aplicável, as
serve de fundamento à anulabilidade normas relativas à excepção de não
e o seu autor tiver conhecimento do cumprimento do contrato.
vício e do direito à anulação.
ARTIGO 291º
3. A confirmação pode ser expressa (Inoponibilidade da nulidade e
ou tácita e não depende de forma da anulação)
especial.
1. A declaração de nulidade ou a
4. A confirmação tem eficácia anulação do negócio jurídico que
retroactiva, mesmo em relação a respeite a bens imóveis, ou a bens
terceiro. móveis sujeitos a registo, não
prejudica os direitos adquiridos
ARTIGO 289º sobre os mesmos bens, a título
(Efeitos da declaração de oneroso, por terceiro de boa fé, se o
nulidade e da anulação) registo da aquisição for anterior ao
registo da acção de nulidade ou
anulação ou ao registo do acordo
- 68 -
entre as partes acerca da invalidade (Disposições reguladoras)
do negócio.
Aos actos jurídicos que não sejam
2. Os direitos de terceiro não são, negócios jurídicos são aplicáveis, na
todavia, reconhecidos, se a acção for medida em que a analogia das
proposta e registada dentro dos três situações o justifique, as disposições
anos posteriores à conclusão do do capítulo precedente.
negócio.
CAPÍTULO III
3. É considerado de boa fé o terceiro O tempo e a sua repercussão nas
adquirente que no momento da relações jurídicas
aquisição desconhecia, sem culpa, o
vício do negócio nulo ou anulável. SECÇÃO I
Disposições gerais
ARTIGO 292º
(Redução) ARTIGO 296º
(Contagem dos prazos)
A nulidade ou anulação parcial não
determina a invalidade de todo o As regras constantes do artigo 279º
negócio, salvo quando se mostre são aplicáveis, na falta de disposição
que este não teria sido concluído especial em contrário, aos prazos e
sem a parte viciada. termos fixados por lei, pelos
tribunais ou por qualquer outra
ARTIGO 293º autoridade.
(Conversão)
ARTIGO 297º
O negócio nulo ou anulado pode (Alteração de prazos)
converter-se num negócio de tipo ou
conteúdo diferente, do qual 1. A lei que estabelecer, para
contenha os requisitos essenciais de qualquer efeito, um prazo mais curto
substância e de forma, quando o fim do que o fixado na lei anterior é
prosseguido pelas partes permita também aplicável aos prazos que já
supor que elas o teriam querido, se estiverem em curso, mas o prazo só
tivessem previsto a invalidade. se conta a partir da entrada em
vigor da nova lei, a não ser que,
ARTIGO 294º segundo a lei antiga, falte menos
(Negócios celebrados contra a tempo para o prazo se completar.
lei)
2. A lei que fixar um prazo mais
Os negócios celebrados contra longo é igualmente aplicável aos
disposição legal de carácter prazos que já estejam em curso,
imperativo são nulos, salvo nos mas computar-se-á neles todo o
casos em que outra solução resulte tempo decorrido desde o seu
da lei. momento inicial.
- 69 -
tribunais ou por qualquer prazo passa a ser susceptível de
autoridade. suspensão e interrupção nos termos
gerais da prescrição.
ARTIGO 298º
(Prescrição, caducidade e não SECÇÃO II
uso do direito) Prescrição
- 70 -
ser eficaz, de ser invocada, judicial
ou extrajudicialmente, por aquele a 3. Se, demandado o devedor, este
quem aproveita, pelo seu não alegar a prescrição e for
representante ou, tratando-se de condenado, o caso julgado não
incapaz, pelo Ministério Público. afecta o direito reconhecido aos seus
credores.
ARTIGO 304º
(Efeitos da prescrição) ARTIGO 306º
(Início do curso da prescrição)
1. Completada a prescrição, tem o
beneficiário a faculdade de recusar o 1. O prazo da prescrição começa a
cumprimento da prestação ou de se correr quando o direito puder ser
opor, por qualquer modo, ao exercido; se, porém, o beneficiário
exercício do direito prescrito. da prescrição só estiver obrigado a
cumprir decorrido certo tempo sobre
2. Não pode, contudo, ser repetida a a interpelação, só findo esse tempo
prestação realizada se inicia o prazo da prescrição.
espontaneamente em cumprimento
de uma obrigação prescrita, ainda 2. A prescrição de direitos sujeitos a
quando feita com ignorância da condição suspensiva ou termo inicial
prescrição; este regime é aplicável a só começa depois de a condição se
quaisquer formas de satisfação do verificar ou o termo se vencer.
direito prescrito, bem como ao seu
reconhecimento ou à prestação de 3. Se for estipulado que o devedor
garantias. cumprirá quando puder, ou o prazo
for deixado ao arbítrio do devedor, a
3. No caso de venda com reserva de prescrição só começa a correr depois
propriedade até ao pagamento do da morte dele.
preço, se prescrever o crédito do
preço, pode o vendedor, não 4. Se a dívida for ilíquida, a
obstante a prescrição, exigir a prescrição começa a correr desde
restituição da coisa quando o preço que ao credor seja lícito promover a
não seja pago. liquidação; promovida a liquidação,
a prescrição do resultado líquido
ARTIGO 305º começa a correr desde que seja feito
(Oponibilidade da prescrição por o seu apuramento por acordo ou
terceiros) sentença passada em julgado.
- 71 -
(Transmissão) (Direitos reconhecidos em
sentença ou título executivo)
1. Depois de iniciada, a prescrição
continua a correr, ainda que o 1. O direito para cuja prescrição,
direito passe para novo titular. bem que só presuntiva, a lei
estabelecer um prazo mais curto do
2. Se a dívida for assumida por que o prazo ordinário fica sujeito a
terceiro, a prescrição continua a este último, se sobrevier sentença
correr em benefício dele, a não ser passada em julgado que o
que a assunção importe reconheça, ou outro título executivo.
reconhecimento interruptivo da
prescrição. 2. Quando, porém, a sentença ou
outro título se referir a prestações
SUBSECÇÃO II ainda não devidas, a prescrição
Prazos da prescrição continua a ser, em relação a elas, a
de curto prazo.
ARTIGO 309º
(Prazo ordinário) SUBSECÇÃO III
Prescrições presuntivas
O prazo ordinário da prescrição é de
vinte anos. ARTIGO 312º
(Fundamento das prescrições
ARTIGO 310º presuntivas)
(Prescrição de cinco anos)
As prescrições de que trata a
Prescrevem no prazo de cinco anos: presente subsecção fundam-se na
presunção de cumprimento.
a) As anuidades de rendas
perpétuas ou vitalícias; ARTIGO 313º
(Confissão do devedor)
b) As rendas e alugueres devidos
pelo locatário, ainda que pagos por 1. A presunção de cumprimento pelo
uma só vez; decurso do prazo só pode ser ilidida
por confissão do devedor originário
c) Os foros; ou daquele a quem a dívida tiver
sido transmitida por sucessão.
d) Os juros convencionais ou legais,
ainda que ilíquidos, e os dividendos 2. A confissão extrajudicial só releva
das sociedades; quando for realizada por escrito.
- 72 -
c) Os créditos pelos serviços
ARTIGO 315º prestados no exercício de profissões
(Aplicação das regras gerais) liberais e pelo reembolso das
despesas correspondentes.
As obrigações sujeitas a prescrição
presuntiva estão subordinadas, nos SUBSECÇÃO IV
termos gerais, às regras da Suspensão da prescrição
prescrição ordinária.
ARTIGO 318º
ARTIGO 316º (Causas bilaterais da suspensão)
(Prescrição de seis meses)
A prescrição não começa nem corre:
Prescrevem no prazo de seis meses
os créditos de estabelecimentos de a) Entre os cônjuges, ainda que
alojamento, comidas ou bebidas, separados judicialmente de pessoas
pelo alojamento, comidas ou e bens;
bebidas que forneçam, sem prejuízo
do disposto na alínea a) do artigo b) Entre quem exerça o poder
seguinte. paternal e as pessoas a ele sujeitas,
entre o tutor e o tutelado ou entre o
ARTIGO 317º curador e o curatelado;
(Prescrição de dois anos)
c) Entre as pessoas cujos bens
Prescrevem no prazo de dois anos: estejam sujeitos, por lei ou por
determinação judicial ou de terceiro,
a) Os créditos dos estabelecimentos à administração de outrem e
que forneçam alojamento, ou aquelas que exercem a
alojamento e alimentação, a administração, até serem aprovadas
estudantes, bem como os créditos as contas finais;
dos estabelecimentos de ensino,
educação, assistência ou d) Entre as pessoas colectivas e os
tratamento, relativamente aos respectivos administradores,
serviços prestados; relativamente à responsabilidade
destes pelo exercício dos seus
b) Os créditos dos comerciantes cargos, enquanto neles se
pelos objectos vendidos a quem não mantiverem;
seja comerciante ou os não destine
ao seu comércio, e bem assim os e) Entre quem presta o trabalho
créditos daqueles que exerçam doméstico e o respectivo patrão,
profissionalmente uma indústria, enquanto o contrato durar;
pelo fornecimento de mercadorias
ou produtos, execução de trabalhos f) Enquanto o devedor for
ou gestão de negócios alheios, usufrutuário do crédito ou tiver
incluindo as despesas que hajam direito de penhor sobre ele.
efectuado, a menos que a prestação
se destine ao exercício industrial do ARTIGO 319º
devedor; (Suspensão a favor de militares
e
- 73 -
pessoas adstritas às forças (Suspensão por motivo de força
militares) maior ou dolo do obrigado)
- 74 -
3. A anulação da citação ou disposto nos nºs 1 e 3 do artigo
notificação não impede o efeito seguinte.
interruptivo previsto nos números
anteriores. 2. A nova prescrição está sujeita ao
prazo da prescrição primitiva, salvo
4. É equiparado à citação ou o disposto no artigo 311º.
notificação, para efeitos deste
artigo, qualquer outro meio judicial ARTIGO 327º
pelo qual se dê conhecimento do (Duração da interrupção)
acto àquele contra quem o direito
pode ser exercido. 1. Se a interrupção resultar de
citação, notificação ou acto
ARTIGO 324º equiparado, ou de compromisso
(Compromisso arbitral) arbitral, o novo prazo de prescrição
não começa a correr enquanto não
1. O compromisso arbitral passar em julgado a decisão que
interrompe a prescrição puser termo ao processo.
relativamente ao direito que se
pretende tornar efectivo. 2. Quando, porém, se verifique a
desistência ou a absolvição da
2. Havendo cláusula compromissória instância, ou esta seja considerada
ou sendo o julgamento arbitral deserta, ou fique sem efeito o
determinado por lei, a prescrição compromisso arbitral, o novo prazo
considera-se interrompida quando prescricional começa a correr logo
se verifique algum dos casos após o acto interruptivo.
previstos no artigo anterior.
3. Se, por motivo processual não
ARTIGO 325º imputável ao titular do direito, o réu
(Reconhecimento) for absolvido da instância ou ficar
sem efeito o compromisso arbitral, e
1. A prescrição é ainda interrompida o prazo da prescrição tiver
pelo reconhecimento do direito, entretanto terminado ou terminar
efectuado perante o respectivo nos dois meses imediatos ao trânsito
titular por aquele contra quem o em julgado da decisão ou da
direito pode ser exercido. verificação do facto que torna
ineficaz o compromisso, não se
2. O reconhecimento tácito só é considera completada a prescrição
relevante quando resulte de factos antes de findarem estes dois meses.
que inequivocamente o exprimam.
SECÇÃO III
ARTIGO 326º Caducidade
(Efeitos da interrupção)
ARTIGO 328º
1. A interrupção inutiliza para a (Suspensão e interrupção)
prescrição todo o tempo decorrido
anteriormente, começando a correr O prazo de caducidade não se
novo prazo a partir do acto suspende nem se interrompe senão
interruptivo, sem prejuízo do nos casos em que a lei o determine.
- 75 -
e ineficácia do compromisso
arbitral)
ARTIGO 329º
(Começo do prazo) 1. Quando a caducidade se referir ao
direito de propor certa acção em
O prazo de caducidade, se a lei não juízo e esta tiver sido
fixar outra data, começa a correr no tempestivamente proposta, é
momento em que o direito puder aplicável o disposto no nº 3 do
legalmente ser exercido. artigo 327º; mas, se o prazo fixado
para a caducidade for inferior a dois
ARTIGO 330º meses, é substituido por ele o
(Estipulações válidas sobre a designado nesse preceito.
caducidade)
2. Nos casos previstos na primeira
1. São válidos os negócios pelos parte do artigo anterior, se a
quais se criem casos especiais de instância se tiver interrompido, não
caducidade, se modifique o regime se conta para efeitos de caducidade
legal desta ou se renuncie a ela, o prazo decorrido entre a proposição
contanto que não se trate de da acção e a interrupção da
matéria subtraída à disponibilidade instância.
das partes ou de fraude às regras
legais da prescrição. ARTIGO 333º
(Apreciação oficiosa da
2. São aplicáveis aos casos caducidade)
convencionais de caducidade, na
dúvida acerca da vontade dos 1. A caducidade é apreciada
contraentes, as disposições relativas oficiosamente pelo tribunal e pode
à suspensão da prescrição. ser alegada em qualquer fase do
processo, se for estabelecida em
ARTIGO 331º matéria excluída da disponibilidade
(Causas impeditivas da das partes.
caducidade)
2. Se for estabelecida em matéria
1. Só impede a caducidade a não excluída da disponibilidade das
prática, dentro do prazo legal ou partes, é aplicável à caducidade o
convencional, do acto a que a lei ou disposto no artigo 303º.
convenção atribua efeito impeditivo.
SUBTÍTULO IV
2. Quando, porém, se trate de prazo DO EXERCÍCIO E TUTELA DOS
fixado por contrato ou disposição DIREITOS
legal relativa a direito disponível,
impede também a caducidade o CAPÍTULO I
reconhecimento do direito por parte Disposições gerais
daquele contra quem deva ser
exercido. ARTIGO 334º
(Abuso do direito)
ARTIGO 332º
(Absolvição e interrupção da É ilegítimo o exercício de um direito,
instância quando o titular exceda
- 76 -
manifestamente os limites impostos 1. Considera-se justificado o acto
pela boa fé, pelos bons costumes ou destinado a afastar qualquer
pelo fim social ou económico desse agressão actual e contrária à lei
direito. contra a pessoa ou património do
agente ou de terceiro, desde que
ARTIGO 335º não seja possível fazê-lo pelos meios
(Colisão de direitos) normais e o prejuízo causado pelo
acto não seja manifestamente
1. Havendo colisão de direitos iguais superior ao que pode resultar da
ou da mesma espécie, devem os agressão.
titulares ceder na medida do
necessário para que todos produzam 2. O acto considera-se igualmente
igualmente o seu efeito, sem maior justificado, ainda que haja excesso
detrimento para qualquer das de legítima defesa, se o excesso for
partes. devido a perturbação ou medo não
culposo do agente.
2. Se os direitos forem desiguais ou
de espécie diferente, prevalece o ARTIGO 338º
que deva considerar-se superior. (Erro acerca dos pressupostos
da acção directa
ARTIGO 336º ou da legítima defesa)
(Acção directa)
Se o titular do direito agir na
1. É lícito o recurso à força com o suposição errónea de se verificarem
fim de realizar ou assegurar o os pressupostos que justificam a
próprio direito, quando a acção acção directa ou a legítima defesa, é
directa for indispensável, pela obrigado a indemnizar o prejuízo
impossibilidade de recorrer em causado, salvo se o erro for
tempo útil aos meios coercivos desculpável.
normais, para evitar a inutilização
prática desse direito, contanto que o ARTIGO 339º
agente não exceda o que for (Estado de necessidade)
necessário para evitar o prejuízo.
1. É lícita a acção daquele que
2. A acção directa pode consistir na destruir ou danificar coisa alheia
apropriação, destruição ou com o fim de remover o perigo
deterioração de uma coisa,na actual de um dano manifestamente
eliminação da resistência superior, quer do agente, quer de
irregularmente oposta ao exercício terceiro.
do direito, ou noutro acto análogo.
2. O autor da destruição ou do dano
3. A acção directa não é lícita, é, todavia, obrigado a indemnizar o
quando sacrifique interesses lesado pelo prejuízo sofrido, se o
superiores aos que o agente visa perigo for provocado por sua culpa
realizar ou assegurar. exclusiva; em qualquer outro caso, o
tribunal pode fixar uma
ARTIGO 337º indemnização equitativa e condenar
(Legítima defesa) nela não só o agente, como aqueles
que tiraram proveito do acto ou
- 77 -
contribuíram para o estado de
necessidade. ARTIGO 343º
(Ónus da prova em casos
ARTIGO 340º especiais)
(Consentimento do lesado)
1. Nas acções de simples apreciação
1. O acto lesivo dos direitos de ou declaração negativa, compete ao
outrem é lícito, desde que este réu a prova dos factos constitutivos
tenha consentido na lesão. do direito que se arroga.
- 78 -
(Convenções sobre as provas) da sua existência e conteúdo; mas o
tribunal deve procurar,
1. É nula a convenção que inverta o oficiosamente, obter o respectivo
ónus da prova, quando se trate de conhecimento.
direito indisponível ou a inversão
torne excessivamente difícil a uma 2. O conhecimento oficioso incumbe
das partes o exercício do direito. também ao tribunal, sempre que
este tenha de decidir com base no
2. É nula, nas mesmas condições, a direito consuetudinário, local ou
convenção que excluir algum meio estrangeiro, e nenhuma das partes o
legal de prova ou admitir um meio tenha invocado, ou a parte contrária
de prova diverso dos legais; mas, se tenha reconhecido a sua existência e
as determinações legais quanto à conteúdo ou não haja deduzido
prova tiverem por fundamento oposição.
razões de ordem pública, a
convenção é nula em quaisquer 3. Na impossibilidade de determinar
circunstâncias. o conteúdo do direito aplicável, o
tribunal recorrerá às regras do
ARTIGO 346º direito comum português.
(Contraprova)
SECÇÃO II
Salvo o disposto no artigo seguinte, Presunções
à prova que for produzida pela parte
sobre quem recai o ónus probatório ARTIGO 349º
pode a parte contrária opor (Noção)
contraprova a respeito dos mesmos
factos, destinada a torná-los Presunções são as ilações que a lei
duvidosos; se o conseguir, é a ou o julgador tira de um facto
questão decidida contra a parte conhecido para firmar um facto
onerada com a prova. desconhecido.
- 79 -
ARTIGO 355º
SECÇÃO III (Modalidades)
Confissão
1. A confissão pode ser judicial ou
ARTIGO 352º extrajudicial.
(Noção)
2. Confissão judicial é a feita em
Confissão é o reconhecimento que a juízo, competente ou não, mesmo
parte faz da realidade de um facto quando arbitral, e ainda que o
que lhe é desfavorável e favorece a processo seja de jurisdição
parte contrária. voluntária.
- 80 -
para prestação de informações ou mesmo depois do trânsito em
esclarecimento, mas ela não julgado da decisão, se ainda não
comparecer ou se recusar a depor tiver caducado o direito de pedir a
ou a prestar as informações ou sua anulação.
esclarecimentos, sem provar justo
impedimento, ou responder que não 2. O erro, desde que seja essencial,
se recorda ou nada sabe, o tribunal não tem de satisfazer aos requisitos
apreciará livremente o valor da exigidos para a anulação dos
conduta da parte para efeitos negócios jurídicos.
probatórios.
ARTIGO 360º
ARTIGO 358º (Indivisibilidade da confissão)
(Força probatória da confissão)
Se a declaração confessória, judicial
1. A confissão judicial escrita tem ou extrajudicial, for acompanhada
força probatória plena contra o da narração de outros factos ou
confitente. circunstâncias tendentes a infirmar a
eficácia do facto confessado ou a
2. A confissão extrajudicial, em modificar ou extinguir os seus
documento autêntico ou particular, efeitos, a parte que dela quiser
considera-se provada nos termos aproveitar-se como prova plena tem
aplicáveis a estes documentos e, se de aceitar também como
for feita à parte contrária ou a quem verdadeiros os outros factos ou
a represente, tem força probatória circunstâncias, salvo se provar a sua
plena. inexactidão.
- 81 -
representar uma pessoa, coisa ou (Documentos passados em país
facto. estrangeiro)
- 82 -
SUBSECÇÃO II será estabelecida por meio de
Documentos autênticos exame feito na Torre do Tombo,
desde que seja contestada ou posta
ARTIGO 369º em dúvida por alguma das partes ou
(Competência da autoridade ou pela entidade a quem o documento
oficial público) for apresentado.
- 83 -
documento, pode o tribunal, 2. Se a parte contra quem o
oficiosamente, declará-lo falso. documento é apresentado impugnar
a veracidade da letra ou da
SUBSECÇÃO III assinatura, ou declarar que não sabe
Documentos particulares se são verdadeiras, não lhe sendo
elas imputadas, incumbe à parte
ARTIGO 373º que apresentar o documento a prova
(Assinatura) da sua veracidade.
- 84 -
3. Se o documento contiver notas (Registos e outros escritos)
marginais, palavras entrelinhadas,
rasuras, emendas ou outros vícios 1. Os registos e outros escritos onde
externos, sem a devida ressalva, habitualmente alguém tome nota
cabe ao julgador fixar livremente a dos pagamentos que lhe são
medida em que esses vícios excluem efectuados fazem prova contra o seu
ou reduzem a força probatória do autor, se indicarem
documento. inequivocamente, posto que
mediante um simples sinal, a
ARTIGO 377º recepção de algum pagamento; mas
(Documentos autenticados) o autor do escrito pode provar, por
qualquer meio, que a nota não
Os documentos particulares corresponde à realidade.
autenticados nos termos da lei
notarial têm a força probatória dos 2. Têm igual força probatória os
documentos autênticos, mas não os mesmos escritos, quando feitos e
substituem quando a lei exija assinados por outrem, segundo
documento desta natureza para a instruções do credor.
validade do acto.
3. É aplicável nestes casos a regra
ARTIGO 378º da indivisibilidade, nos termos
(Assinatura em branco) prescritos para a prova por
confissão.
Se o documento tiver sido assinado
em branco, total ou parcialmente, o ARTIGO 381º
seu valor probatório pode ser ilidido, (Notas em seguimento, à
mostrando-se que nele se inseriram margem
declarações divergentes do ajustado ou no verso do documento)
com o signatário ou que o
documento lhe foi subtraído. 1. A nota escrita pelo credor, ou por
outrem segundo instruções dele, em
ARTIGO 379º seguimento, à margem ou no verso
(Valor dos telegramas) do documento que ficou em poder
do credor, ainda que não esteja
Os telegramas cujos originais datada nem firmada, faz prova do
tenham sido escritos e assinados ou facto anotado, se favorecer a
somente assinados, pela pessoa em exoneração do devedor.
nome de quem são expedidos, ou
por outrem a seu rogo, nos termos 2. Idêntico valor é atribuído à nota
do nº 4 do artigo 373º, são escrita pelo credor, ou segundo
considerados para todos os efeitos instruções dele, em seguimento, à
como documentos particulares e margem ou no verso de documento
estão sujeitos, como tais, ao de quitação ou de título de dívida
disposto nos artigos anteriores. em poder do devedor.
- 85 -
poder do devedor, se a nota estiver probatória das certidões de que
assinada pelo credor, são aplicáveis forem extraídas.
as regras legais acerca dos
documentos particulares assinados ARTIGO 385º
pelo seu autor. (Invalidação da força probatória
das certidões)
ARTIGO 382º
(Cancelamento dos escritos ou 1. A força probatória das certidões
notas) pode ser invalidada ou modificada
por confronto com o original ou com
Se forem cancelados pelo credor, os a certidão de que foram extraídas.
escritos a que se referem os dois
artigos anteriores perdem a força 2. A pessoa contra quem for
probatória que neles lhes é apresentada a certidão pode exigir
atribuída, ainda que o cancelamento que o confronto seja feito na sua
não prejudique a sua leitura, salvo presença.
quando forem feitos por exigência
do devedor ou de terceiro, nos ARTIGO 386º
termos do artigo 788º. (Públicas-formas)
- 86 -
Prova testemunhal
2. As cópias fotográficas de
documentos estranhos aos arquivos ARTIGO 392º
mencionados no número anterior (Admissibilidade)
têm o valor da pública-forma, se a
sua conformidade com o original for A prova por testemunhas é admitida
atestada por notário; é aplicável, em todos os casos em que não seja
neste caso, o disposto no artigo directa ou indirectamente afastada.
386º.
ARTIGO 393º
SECÇÃO V (Inadmissibilidade da prova
Prova pericial testemunhal)
- 87 -
negócio dissimulado, quando compensação e, de um modo geral,
invocados pelos simuladores. aos contratos extintivos da relação
obrigacional, mas não aos factos
3. O disposto nos números extintivos da obrigação, quando
anteriores não é aplicável a invocados por terceiro.
terceiros.
ARTIGO 396º
ARTIGO 395º (Força probatória)
(Factos extintivos da obrigação)
A força probatória dos depoimentos
As disposições dos artigos das testemunhas é apreciada
precedentes são aplicáveis ao livremente pelo tribunal.
cumprimento, remissão, novação,
LIVRO II
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
ARTIGO 399º
- 88 -
2. O negócio é, porém, válido, se a Fontes das obrigações
obrigação for assumida para o caso de
a prestação se tornar possível, ou se, SECÇÃO I
estando o negócio dependente de Contratos
condição suspensiva ou de termo
inicial, a prestação se tornar possível SUBSECÇÃO I
até à verificação da condição ou até ao Dispsosições gerais
vencimento do termo.
ARTIGO 405º
3. Só se considera impossível a (Liberdade contratual)
prestação que o seja relativamente ao
objecto, e não apenas em relação à 1. Dentro dos limites da lei, as partes
pessoa do devedor. têm a faculdade de fixar livremente o
conteúdo dos contratos, celebrar
SECÇÃO II contratos diferentes dos previstos
Obrigações naturais neste código ou incluir nestes as
claúsulas que lhes aprouver.
ARTIGO 402º
(Noção) 2. As partes podem ainda reunir no
mesmo contrato regras de dois ou
A obrigação diz-se natural, quando se mais negócios, total ou parcialmente
funda num mero dever de ordem regulados na lei.
moral ou social, cujo cumprimento não
é judicialmente exigível, mas ARTIGO 406º
corresponde a um dever de justiça. (Eficácia dos contratos)
- 89 -
(Contratos com eficácia real)
2. Porém, a promessa respeitante à
1. A constituição ou transferência de celebração de contrato para o qual a
direitos reais sobre coisa determinada lei exija documento, quer autêntico,
dá-se por mero efeito do contrato, quer particular, só vale se constar de
salvas as excepções previstas na lei. documento assinado pela parte que se
vincula ou por ambas, consoante o
2. Se a transferência respeitar a coisa contrato-promessa seja unilateral ou
futura ou indeterminada, o direito bilateral.
transfere-se quando a coisa for
adquirida pelo alienante ou 3. No caso de promessa relativa à
determinada com conhecimento de celebração de contrato oneroso de
ambas as partes, sem prejuízo do transmissão ou constituição de direito
disposto em matéria de obrigações real sobre edifício, ou fracção
genéricas e do contrato de autónoma dele, já construído, em
empreitada; se, porém, respeitar a construção ou a construir, o
frutos naturais ou a partes documento referido no número
componentes ou integrantes, a anterior deve conter o reconhecimento
transferência só se verifica no presencial da assinatura do promitente
momento da colheita ou separação. ou promitentes e a certificação, pelo
notário, da existência da licença
ARTIGO 409º respectiva de utilização ou de
(Reserva da propriedade) construção; contudo, o contraente que
promete transmitir ou constituir o
1. Nos contratos de alienação é lícito direito só pode invocar a omissão
ao alienante reservar para si a destes requisitos quando a mesma
propriedade da coisa até ao tenha sido culposamente causada pela
cumprimento total ou parcial das outra parte.
obrigações da outra parte ou até à
verificação de qualquer outro evento. (Redacção do Dec.-Lei 379/86, de 11-
2. Tratando-se de coisa imóvel, ou de 11)
coisa móvel sujeita a registo, só a
cláusula constante do registo é ARTIGO 411º
oponível a terceiros. (Promessa unilateral)
- 90 -
exclusivamente pessoais transmitem-
se aos sucessores das partes. ARTIGO 416º
(Conhecimento do preferente)
2. A transmissão por acto entre vivos
está sujeita às regras gerais. 1. Querendo vender a coisa que é
objecto do pacto, o obrigado deve
(Redacção do Dec.-Lei 379/86, de 11- comunicar ao titular do direito o
11) projecto de venda e as cláusulas do
respectivo contrato.
ARTIGO 413º
(Eficácia real da promessa) 2. Recebida a comunicação, deve o
titular exercer o seu direito dentro do
1. À promessa de transmissão ou prazo de oito dias, sob pena de
constituição de direitos reais sobre caducidade, salvo se estiver vinculado
bens imóveis, ou móveis sujeitos a a prazo mais curto ou o obrigado lhe
registo, podem as partes atribuir assinar prazo mais longo.
eficácia real, mediante declaração
expressa e inscrição no registo. ARTIGO 417º
(Venda da coisa juntamente com
2. Deve constar de escritura pública a outras)
promessa a que as partes atribuam
eficácia real; porém, quando a lei não 1. Se o obrigado quiser vender a coisa
exija essa forma para o contrato juntamente com outra ou outras, por
prometido, é bastante documento um preço global, pode o direito ser
particular com reconhecimento da exercido em relação àquela pelo preço
assinatura da parte que se vincula ou que proporcionalmente lhe for
de ambas, consoante se trate de atribuído, sendo lícito, porém, ao
contrato-promessa unilateral ou obrigado exigir que a preferência
bilateral. abranja todas as restantes, se estas
não forem separáveis sem prejuízo
(Redacção do Dec.-Lei 379/86, de 11- apreciável.
11)
2. O disposto no número anterior é
SUBSECÇÃO III aplicável ao caso de o direito de
Pactos de preferência preferência ter eficácia real e a coisa
ter sido vendida a terceiro juntamente
ARTIGO 414º com outra ou outras.
(Noção)
ARTIGO 418º
O pacto de preferência consiste na (Prestação acessória)
convenção pela qual alguém assume a
obrigação de dar preferência a outrem 1. Se o obrigado receber de terceiro a
na venda de determinada coisa. promessa de uma prestação acessória
que o titular do direito de preferência
ARTIGO 415º não possa satisfazer, será essa
(Forma) prestação compensada em dinheiro;
não sendo avaliável em dinheiro, é
É aplicável ao pacto de preferência o excluída a preferência, salvo se for
disposto no nº 2 do artigo 410º. lícito presumir que, mesmo sem a
- 91 -
prestação estipulada, a venda não
deixaria de ser efectuada, ou que a 2. É aplicável neste caso, com as
prestação foi convencionada para necessárias adaptações, o disposto no
afastar a preferência. artigo 1410º.
- 92 -
só produz efeitos a partir da sua cumprimento das prestações, cada um
notificação ou reconhecimento. dos contraentes tem a faculdade de
recusar a sua prestação enquanto o
ARTIGO 425º outro não efectuar a que lhe cabe ou
(Regime) não oferecer o seu cumprimento
simultâneo.
A forma da transmissão, a capacidade
de dispor e de receber, a falta e vícios 2. A excepção não pode ser afastada
da vontade e as relações entre as mediante a prestação de garantias.
partes definem-se em função do tipo
de negócio que serve de base à ARTIGO 429º
cessão. (Insolvência ou diminuição de
garantias)
ARTIGO 426º
(Garantia da existência da posição Ainda que esteja obrigado a cumprir
contratual) em primeiro lugar, tem o contraente a
faculdade de recusar a respectiva
1. O cedente garante ao cessionário, prestação enquanto o outro não
no momento da cessão, a existência cumprir ou não der garantias de
da posição contratual transmitida, nos cumprimento, se, posteriormente ao
termos aplicáveis ao negócio, gratuito contrato, se verificar alguma das
ou oneroso, em que a cessão se circunstâncias que importam a perda
integra. do benefício do prazo.
SUBSECÇÃO V SUBSECÇÃO VI
Excepção de não cumprimento do Resolução do contrato
contrato
ARTIGO 432º
ARTIGO 428º (Casos em que é admitida)
(Noção)
1. É admitida a resolução do contrato
1. Se nos contratos bilaterais não fundada na lei ou em convenção.
houver prazos diferentes para o
- 93 -
2. A parte, porém, que, por
circunstâncias não imputáveis ao outro 1. A resolução do contrato pode fazer-
contraente, não estiver em condições se mediante declaração à outra parte.
de restituir o que houver recebido não
tem o direito de resolver o contrato. 2. Não havendo prazo convencionado
para a resolução do contrato, pode a
ARTIGO 433º outra parte fixar ao titular do direito de
(Efeitos entre as partes) resolução um prazo razoável para que
o exerça, sob pena de caducidade.
Na falta de disposição especial, a
resolução é equiparada, quanto aos SUBSECÇÃO VII
seus efeitos, à nulidade ou Resolução ou modificação do
anulabilidade do negócio jurídico, com contrato
ressalva do disposto nos artigos por alteração das circunstâncias
seguintes.
ARTIGO 437º
ARTIGO 434º (Condições de admissibilidade)
(Retroactividade) 1. Se as circunstâncias em que as
partes fundaram a decisão de
1. A resolução tem efeito retroactivo, contratar tiverem sofrido uma
salvo se a retroactividade contrariar a alteração anormal, tem a parte lesada
vontade das partes ou a finalidade da direito à resolução do contrato, ou à
resolução. modificação dele segundo juízos de
equidade, desde que a exigência das
2. Nos contratos de execução obrigações por ela assumidas afecte
continuada ou periódica, a resolução gravemente os princípios da boa fé e
não abrange as prestações já não esteja coberta pelos riscos
efectuadas, excepto se entre estas e a próprios do contrato.
causa de resolução existir um vínculo
que legitime a resolução de todas elas. 2. Requerida a resolução, a parte
contrária pode opor-se ao pedido,
ARTIGO 435º declarando aceitar a modificação do
(Efeitos em relação a terceiros) contrato nos termos do número
anterior.
1. A resolução, ainda que
expressamente convencionada, não ARTIGO 438º
prejudica os direitos adquiridos por (Mora da parte lesada)
terceiro.
A parte lesada não goza do direito de
2. Porém, o registo da acção de resolução ou modificação do contrato,
resolução que respeite a bens imóveis, se estava em mora no momento em
ou a móveis sujeitos a registo, torna o que a alteração das circunstâncias se
direito de resolução oponível a terceiro verificou.
que não tenha registado o seu direito
antes do registo da acção. ARTIGO 439º
(Regime)
ARTIGO 436º
(Como e quando se efectiva a
resolução)
- 94 -
Resolvido o contrato, são aplicáveis à prometido, o seu valor, ou o do direito
resolução as disposições da subsecção a transmitir ou a constituir sobre ela,
anterior. determinado objectivamente, à data
do não cumprimento da promessa,
SUBSECÇÃO VIII com dedução do preço convencionado,
Antecipação do cumprimento. Sinal devendo ainda ser-lhe restituído o
sinal e a parte do preço que tenha
ARTIGO 440º pago.
(Antecipação do cumprimento)
3. Em qualquer dos casos previstos no
Se, ao celebrar-se o contrato ou em número anterior, o contraente não
momento posterior, um dos faltoso pode, em alternativa, requerer
contraentes entregar ao outro coisa a execução específica do contrato, nos
que coincida, no todo ou em parte, termos do artigo 830º; se o contraente
com a prestação a que fica adstrito, é não faltoso optar pelo aumento do
a entrega havida como antecipação valor da coisa ou do direito, como se
total ou parcial do cumprimento, salvo estabelece no número anterior, pode a
se as partes quiserem atribuir à coisa outra parte opor-se ao exercício dessa
entregue o carácter de sinal. faculdade, oferecendo-se para cumprir
a promessa, salvo o disposto no artigo
ARTIGO 441º 808º.
(Contrato-promessa de compra e
venda) 4. Na ausência de estipulação em
contrário, não há lugar, pelo não
No contrato-promessa de compra e cumprimento do contrato, a qualquer
venda presume-se que tem carácter de outra indemnização, nos casos de
sinal toda a quantia entregue pelo perda do sinal ou de pagamento do
promitente-comprador ao promitente- dobro deste, ou do aumento do valor
vendedor, ainda que a título de da coisa ou do direito à data do não
antecipação ou princípio de pagamento cumprimento.
do preço.
(Redacção do Dec.-Lei nº 379/86, de
ARTIGO 442º 11-11)
(Sinal)
SUBSECÇÃO IX
1. Quando haja sinal, a coisa entregue Contrato a favor de terceiro
deve ser imputada na prestação
devida, ou restituída quando a ARTIGO 443º
imputação não for possível. (Noção)
2. Se quem constitui o sinal deixar de 1. Por meio de contrato, pode uma das
cumprir a obrigação por causa que lhe partes assumir perante outra, que
seja imputável, tem o outro contraente tenha na promessa um interesse digno
a faculdade de fazer sua a coisa de protecção legal, a obrigação de
entregue; se o não cumprimento do efectuar uma prestação a favor de
contrato for devido a este último, tem terceiro, estranho ao negócio; diz-se
aquele a faculdade de exigir o dobro promitente a parte que assume a
do que prestou, ou, se houve tradição obrigação e promissário o contraente a
da coisa a que se refere o contrato quem a promessa é feita.
- 95 -
2. Por contrato a favor de terceiro, têm 2. Quando a prestação se torne
as partes ainda a possibilidade de impossível por causa imputável ao
remitir dívidas ou ceder créditos, e promitente, têm os herdeiros do
bem assim de constituir, modificar, promissário, bem como as entidades
transmitir ou extinguir direitos reais. competentes para reclamar o
cumprimento da prestação, o direito
ARTIGO 444º de exigir a correspondente
(Direitos do terceiro e do indemnização, para os fins
promissário) convencionados.
- 96 -
São oponíveis ao terceiro, por parte do direitos e assuma as obrigações
promitente, todos os meios de defesa provenientes desse contrato.
derivados do contrato, mas não
aqueles que advenham de outra 2. A reserva de nomeação não é
relação entre promitente e possível nos casos em que não é
promissário. admitida a representação ou é
indispensável a determinação dos
ARTIGO 450º contraentes.
(Relações entre o promissário e
pessoas estranhas ao benefício) ARTIGO 453º
(Nomeação)
1. Só no que respeita à contribuição do
promissário para a prestação a terceiro 1. A nomeação deve ser feita mediante
são aplicáveis as disposições relativas declaração por escrito ao outro
à colação, imputação e redução das contraente, dentro do prazo
doações e à impugnação pauliana. convencionado ou, na falta de
convenção, dentro dos cinco dias
2. Se a designação de terceiro for feita posteriores à celebração do contrato.
a título de liberalidade, são aplicáveis,
com as necessárias adaptações, as 2. A declaração de nomeação deve ser
normas relativas à revogação das acompanhada, sob pena de ineficácia,
doações por ingratidão do donatário. do instrumento de ratificação do
contrato ou de procuração anterior à
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25- celebração deste.
11)
ARTIGO 454º
ARTIGO 451º (Forma da ratificação)
(Promessa a cumprir depois da
morte do promissário) 1. A ratificação deve constar de
documento escrito.
1. Se a prestação a terceiro houver de
ser efectuada após a morte do 2. Se, porém, o contrato tiver sido
promissário, presume-se que só depois celebrado por meio de documento de
do falecimento deste o terceiro adquire maior força probatória, necessita a
direito a ela. ratificação de revestir igual forma.
- 97 -
desde que não haja estipulação em (Promessa pública)
contrário.
1. Aquele que, mediante anúncio
público, prometer uma prestação a
quem se encontre em determinada
ARTIGO 456º situação ou pratique certo facto,
(Publicidade) positivo ou negativo, fica vinculado
desde logo à promessa.
1. Se o contrato estiver sujeito a
registo, pode este ser feito em nome 2. Na falta de declaração em contrário,
do contraente originário, com o promitente fica obrigado mesmo em
indicação da cláusula para pessoa a relação àqueles que se encontrem na
nomear, fazendo-se posteriormente os situação prevista ou tenham praticado
necessários averbamentos. o facto sem atender à promessa ou na
ignorância dela.
2. O disposto no número anterior é
extensivo a qualquer outra forma de ARTIGO 460º
publicidade a que o contrato esteja (Prazo de validade)
sujeito.
A promessa pública sem prazo de
SECÇÃO II validade fixado pelo promitente ou
Negócios unilaterais imposto pela natureza ou fim da
promessa mantém-se enquanto não
ARTIGO 457º for revogada.
(Princípio geral)
ARTIGO 461º
A promessa unilateral de uma (Revogação)
prestação só obriga nos casos
previstos na lei. 1. Não tendo prazo de validade, a
promessa pública é revogável a todo o
ARTIGO 458º tempo pelo promitente; se houver
(Promessa de cumprimento e prazo, só é revogável ocorrendo justa
reconhecimento de dívida) causa.
- 98 -
se à parte que cada uma delas teve d) Prestar a este todas as informações
nesse resultado. relativas à gestão;
- 99 -
2. Se a gestão não foi exercida nos 1. Se alguém gerir negócio alheio,
termos do número anterior, o dono do convencido de que ele lhe pertence, só
negócio responde apenas segundo as é aplicável o disposto nesta secção se
regras do enriquecimento sem causa, houver aprovação da gestão; em
com ressalva do disposto no artigo quaisquer outras circunstâncias, são
seguinte. aplicáveis à gestão as regras do
enriquecimento sem causa, sem
ARTIGO 469º prejuízo de outras que ao caso
(Aprovação da gestão) couberem.
- 100 -
Também não há lugar à restituição se, convicção de estar obrigado a
ao efectuar a prestação, o autor sabia cumpri-la)
que o efeito com ela previsto era
impossível, ou se, agindo contra a boa Aquele que cumprir obrigação alheia,
fé, impediu a sua verificação. na convicção errónea de estar obrigado
para com o devedor a cumpri-la, não
ARTIGO 476º tem o direito de repetição contra o
(Repetição do indevido) credor, mas apenas o direito de exigir
do devedor exonerado aquilo com que
1. Sem prejuízo do disposto acerca das este injustamento se locupletou,
obrigações naturais, o que for prestado excepto se o credor conhecia o erro ao
com intenção de cumprir uma receber a prestação.
obrigação pode ser repetido, se esta
não existia no momento da prestação. ARTIGO 479º
(Objecto da obrigação de restituir)
2. A prestação feita a terceiro pode ser
repetida pelo devedor enquanto não se 1. A obrigação de restituir fundada no
tornar liberatória nos termos do artigo enriquecimento sem causa
770º. compreende tudo quando se tenha
obtido à custa do empobrecido ou, se a
3. A prestação feita por erro restituição em espécie não for possível,
desculpável antes do vencimento da o valor correspondente.
obrigação só dá lugar à repetição
daquilo com que o credor se 2. A obrigação de restituir não pode
enriqueceu por efeito do cumprimento exceder a medida do locupletamento à
antecipado. data da verificação de algum dos
factos referidos nas duas alíneas do
ARTIGO 477º artigo seguinte.
(Cumprimento de obrigação alheia
na convicção de que é própria) ARTIGO 480º
(Agravamento da obrigação)
1. Aquele que, por erro desculpável,
cumprir uma obrigação alheia, O enriquecido passa a responder
julgando-a própria, goza de direito de também pelo perecimento ou
repetição, excepto se o credor, deterioração culposa da coisa, pelos
desconhecendo o erro do autor da frutos que por sua culpa deixem de ser
prestação, se tiver privado do título ou percebidos e pelos juros legais das
das garantias do crédito, tiver deixado quantias a que o empobrecido tiver
prescrever ou caducar o seu direito, ou direito, depois de se verificar algumas
não o tiver exercido contra o devedor das seguintes circunstâncias:
ou contra o fiador enquanto solventes.
a) Ter sido o enriquecido citado
2. Quando não existe o direito de judicialmente para a restituição;
repetição, fica o autor da prestação
sub-rogado nos direitos do credor. b) Ter ele conhecimento da falta de
causa do seu enriquecimento ou da
ARTIGO 478º falta do efeito que se pretendia obter
(Cumprimento de obrigação alheia com a prestação.
na
- 101 -
ARTIGO 481º 2. Só existe obrigação de indemnizar
(Obrigação de restituir no caso de independentemente de culpa nos casos
alienação gratuita) especificados na lei.
- 102 -
ilícito, todos eles respondem pelos
2. A culpa é apreciada, na falta de danos que hajam causado.
outro critério legal, pela diligência de
um bom pai de família, em face das ARTIGO 491º
circunstâncias de cada caso. (Responsabilidade das pessoas
obrigadas à vigilância de outrem)
ARTIGO 488º
(Imputabilidade) As pessoas que, por lei ou negócio
jurídico, forem obrigadas a vigiar
1. Não responde pelas consequências outras, por virtude da incapacidade
do facto danoso quem, no momento natural destas, são responsáveis pelos
em que o facto ocorreu, estava, por danos que elas causem a terceiro,
qualquer causa, incapacitado de salvo se mostrarem que cumpriram o
entender ou querer, salvo se o agente seu dever de vigilância ou que os
se colocou culposamente nesse estado, danos se teriam produzido ainda que o
sendo este transitório. tivessem cumprido.
- 103 -
nenhuma culpa houve da sua parte ou 3. Têm igualmente direito a
que os danos se teriam igualmente indemnização os que podiam exigir
produzido ainda que não houvesse alimentos ao lesado ou aqueles a
culpa sua. quem o lesado os prestava no
cumprimento de uma obrigação
2. Quem causar danos a outrem no natural.
exercício de uma actividade, perigosa
por sua própria natureza ou pela ARTIGO 496º
natureza dos meios utilizados, é (Danos não patrimoniais)
obrigado a repará-los, excepto se
mostrar que empregou todas as 1. Na fixação da indemnização deve
providências exigidas pelas atender-se aos danos não patrimoniais
circunstâncias com o fim de os que, pela sua gravidade, mereçam a
prevenir. tutela do direito.
- 104 -
1. Aquele que encarrega outrem de
ARTIGO 498º qualquer comissão responde,
(Prescrição) independentemente de culpa, pelos
danos que o comissário causar, desde
1. O direito de indemnização prescreve que sobre este recaia também a
no prazo de três anos, a contar da obrigação de indemnizar.
data em que o lesado teve
conhecimento do direito que lhe 2. A responsabilidade do comitente só
compete, embora com existe se o facto danoso for praticado
desconhecimento da pessoa do pelo comissário, ainda que
responsável e da extensão integral dos intencionalmente ou contra as
danos, sem prejuízo da prescrição instruções daquele, no exercício da
ordinária se tiver decorrido o função que lhe foi confiada.
respectivo prazo a contar do facto
danoso. 3. O comitente que satisfizer a
indemnização tem o direito de exigir
2. Prescreve igualmente no prazo de do comissário o reembolso de tudo
três anos, a contar do cumprimento, o quanto haja pago, excepto se houver
direito de regresso entre os também culpa da sua parte; neste
responsáveis. caso será aplicável o disposto no nº 2
do artigo 497º.
3. Se o facto ilícito constituir crime
para o qual a lei estabeleça prescrição ARTIGO 501º
sujeita a prazo mais longo, é este o (Responsabilidade do Estado e de
prazo aplicável. outras
pessoas colectivas públicas)
4. A prescrição do direito de O Estado e demais pessoas colectivas
indemnização não importa prescrição públicas, quando haja danos causados
da acção de reivindicação nem da a terceiro pelos seus órgãos, agentes
acção de restituição por ou representantes no exercício de
enriquecimento sem causa, se houver actividades de gestão privada,
lugar a uma ou a outra. respondem civilmente por esses danos
nos termos em que os comitentes
SUBSECÇÃO II respondem pelos danos causados pelos
Responsabilidade pelo risco seus comissários.
- 105 -
1. Aquele que tiver a direcção efectiva Sem prejuízo do disposto no artigo
de qualquer veículo de circulação 570º, a responsabilidade fixada pelo
terrestre e o utilizar no seu próprio nº 1 do artigo 503º só é excluída
interesse, ainda que por intermédio de quando o acidente for imputável ao
comissário, responde pelos danos próprio lesado ou a terceiro, ou
provenientes dos riscos próprios do quando resulte de causa de força
veículo, mesmo que este não se maior estranha ao funcionamento do
encontre em circulação. veículo.
- 106 -
eles, o disposto no nº 2 do artigo entrega da energia eléctrica ou do gás,
497º. e utilizar essa instalação no seu
interesse, responde tanto pelo prejuízo
ARTIGO 508º que derive da condução ou entrega da
(Limites máximos) electricidade ou do gás, como pelos
danos resultantes da própria
1. A indemnização fundada em instalação, excepto se ao tempo do
acidente de viação, quando não haja acidente esta estiver de acordo com as
culpa do responsável, tem como regras técnicas em vigor e em perfeito
limites máximos: no caso de morte ou estado de conservação.
lesão de uma pessoa, o montante
correspondente ao dobro da alçada da 2. Não obrigam a reparação os danos
relação; no caso de morte ou lesão de devidos a causa de força maior;
várias pessoas em consequência do considera-se de força maior toda a
mesmo acidente, o montante causa exterior independente do
correspondente ao dobro da alçada da funcionamento e utilização da coisa.
relação para cada uma delas, com o
máximo total do sextuplo da alçada da 3. Os danos causados por utensílios de
relação; no caso de danos causados uso de energia não são reparáveis nos
em coisas, ainda que pertencentes a termos desta disposição.
diferentes proprietários, o montante
correspondente à alçada da relação. ARTIGO 510º
(Limites da responsabilidade)
2. Se a indemnização for fixada sob a
forma de renda anual e não houver 1. A responsabilidade a que se refere o
culpa do responsável, o limite máximo artigo precedente, quando não haja
é de um quarto da alçada da relação culpa do responsável, tem para cada
para cada lesado, não podendo acidente, como limite máximo, no caso
ultrapassar três quartos da alçada da de morte ou lesão corpórea, um capital
relação quando sejam vários os ou uma renda anual iguais aos
lesados em virtude do mesmo estabelecidos, para a morte ou lesão
acidente. de uma pessoa, no nº 1 do artigo
508º.
3. Se o acidente for causado por
veículo utilizado em transporte 2. Quando se trate de danos em
colectivo, são elevados ao triplo os coisas, ainda que sejam várias e
máximos totais fixados nos números pertencentes a diversos proprietários,
anteriores; se for causado por caminho o limite máximo é um capital igual ao
de ferro, ao décuplo. da indemnização por morte ou lesão
de uma pessoa, nos termos no nº 1 do
(Redacção do Dec.-Lei 423/91, de 30- artigo 508º.
10)
3. Quando se trate de danos em
ARTIGO 509º prédios, o limite máximo da
(Danos causados por instalações responsabilidade pelo risco é elevado
de energia eléctrica ou gás) ao décuplo do previsto nos números
anteriores, para cada prédio.
1. Aquele que tiver a direcção efectiva
de instalação destinada à condução ou
- 107 -
(Redacção do Dec.-Lei 190/85, de 24- (Fontes da solidariedade)
06)
A solidariedade de devedores ou
CAPÍTULO III credores só existe quando resulte da
Modalidades das obrigações lei ou da vontade das partes.
- 108 -
suportar o encargo da dívida ou obter integral, ainda que esse meio já lhe
o benefício do crédito. tenha sido oposto.
- 109 -
novação, consignação em depósito ou 2. Ao credor de regresso não aproveita
compensação, produz a extinção, o benefício da repartição na medida
relativamente a ele, das obrigações de em que só por negligência sua lhe não
todos os devedores. tenha sido possível cobrar a parte do
seu condevedor na obrigação solidária.
ARTIGO 524º
(Direito de regresso) ARTIGO 527º
(Renúncia à solidariedade)
O devedor que satisfizer o direito do
credor além da parte que lhe competir A renúncia à solidariedade a favor de
tem direito de regresso contra cada um ou alguns dos devedores não
um dos condevedores, na parte que a prejudica o direito do credor
estes compete. relativamente aos restantes, contra os
quais conserva o direito à prestação
Artigo 525º por inteiro.
(Meios de defesa oponíveis pelos
condevedores) SUBSECÇÃO III
Solidariedade entre credores
1. Os condevedores podem opor ao
que satisfaz o direito do credor a falta ARTIGO 528º
de decurso do prazo que lhes tenha (Escolha do credor)
sido concedido para o cumprimento da
obrigação, bem como qualquer outro 1. É permitido ao devedor escolher o
meio de defesa, quer este seja credor solidário a quem satisfaça a
comum, quer respeite pessoalmente prestação, enquanto não tiver sido
ao demandado. judicialmente citado para a respectiva
acção por outro credor cujo crédito se
2. A faculdade concedida no número ache vencido.
anterior tem lugar, ainda que o
condevedor tenha deixado, sem culpa 2. Se o devedor cumprir perante
sua, de opor ao credor o meio comum credor diferente daquele que
de defesa, salvo se a falta de oposição judicialmente exigiu a prestação, não
for imputável ao devedor que pretende fica dispensado de realizar a favor
valer-se do mesmo meio. deste a prestação integral; mas,
quando a solidariedade entre os
ARTIGO 526º credores tiver sido estabelecida em
(Insolvência dos devedores ou favor do devedor, este pode,
impossibilidade de cumprimento) renunciando total ou parcialmente ao
benefício, prestar a cada um dos
1. Se um dos devedores estiver credores a parte que lhe cabe no
insolvente ou não puder por outro crédito comum ou satisfazer a algum
motivo cumprir a prestação a que está dos outros a prestação com dedução
adstrito, é a sua quota-parte repartida da parte do demandante.
proporcionalmente entre todos os
demais, incluíndo o credor de regresso ARTIGO 529º
e os devedores que pelo credor hajam (Impossibilidade da prestação)
sido exonerados da obrigação ou
apenas do vínculo da solidariedade. 1. Se a prestação se tornar impossível
por facto imputável ao devedor,
- 110 -
subsiste a solidariedade relativamente O credor cujo direito foi satisfeito além
ao crédito da indemnização. da parte que lhe competia na relação
interna entre os credores tem de
2. Se a prestação se tornar impossível satisfazer aos outros a parte que lhes
por facto imputável a um dos credores, cabe no crédito comum.
fica este obrigado a indemnizar os
outros. SECÇÃO III
Obrigações divisíveis e indivisíveis
ARTIGO 530º
(Prescrição) ARTIGO 534º
(Obrigações divisíveis)
1. Se o direito de um dos credores se
mantiver devido a suspensão ou São iguais as partes que têm na
interrupção da prescrição ou a outra obrigação divisível os vários credores
causa, apesar de haverem prescrito os ou devedores, se outra proporção não
direitos dos restantes credores, pode o resultar da lei ou do negócio jurídico;
devedor opor àquele credor a mas entre os herdeiros do devedor,
prescrição do crédito na parte relativa depois da partilha, serão essas partes
a estes últimos.2. A renúncia à fixadas proporcionalmente às suas
prescrição, feita pelo devedor em quotas hereditárias, sem prejuízo do
benefício de um dos credores, não disposto nos nºs 2 e 3 do artigo
produz efeito relativamente aos 2098º.
restantes.
ARTIGO 535º
ARTIGO 531º (Obrigações indivisíveis com
(Caso julgado) pluralidade de devedores)
- 111 -
entregue o valor da parte que cabia ao
devedor ou devedores exonerados. A obrigação concentra-se, antes do
cumprimento, quando isso resultar de
ARTIGO 537º acordo das partes, quando o género se
(Impossibilidade da prestação) extinguir a ponto de restar apenas
uma das coisas nele compreendidas,
Se a prestação indivisível se tornar quando o credor incorrer em mora, ou
impossível por facto imputável a algum ainda nos termos do artigo 797º.
ou alguns dos devedores, ficam os
outros exonerados. ARTIGO 542º
(Concentração por facto do credor
ARTIGO 538º ou de terceiro)
(Pluralidade de credores)
1. Se couber ao credor ou a terceiro, a
1. Sendo vários os credores da escolha só é eficaz se for declarada,
prestação indivisível, qualquer deles respectivamente, ao devedor ou a
tem o direito de exigi-la por inteiro; ambas as partes, e é irrevogável.
mas o devedor, enquanto não for
judicialmente citado, só relativamente 2. Se couber a escolha ao credor e
a todos, em conjunto, se pode este a não fizer dentro do prazo
exonerar. estabelecido ou daquele que para o
efeito lhe for fixado pelo devedor, é a
2. O caso julgado favorável a um dos este que a escolha passa a competir.
credores aproveita aos outros, se o
devedor não tiver, contra estes, meios SECÇÃO V
especiais de defesa Obrigações alternativas
- 112 -
ARTIGO 545º
(Impossibilidade não imputável às ARTIGO 549º
partes) (Escolha pelo credor ou por
terceiro)
Se uma ou algumas das prestações se
tornarem impossíveis por causa não À escolha que o credor ou terceiro
imputável às partes, a obrigação deva efectuar é aplicável o disposto no
considera-se limitada às prestações artigo 542º.
que forem possíveis.
SECÇÃO VI
ARTIGO 546º Obrigações pecuniárias
(Impossibilidade imputável ao
devedor) SUBSECÇÃO I
Obrigações de quantidade
Se a impossibilidade de alguma das
prestações for imputável ao devedor e ARTIGO 550º
a escolha lhe pertencer, deve efectuar (Princípio nominalista)
uma das prestações possíveis; se a
escolha pertencer ao credor, este O cumprimento das obrigações
poderá exigir uma das prestações pecuniárias faz-se em moeda que
possíveis, ou pedir a indemnização tenha curso legal no País à data em
pelos danos provenientes de não ter que for efectuado e pelo valor nominal
sido efectuada a prestação que se que a moeda nesse momento tiver,
tornou impossível, ou resolver o salvo estipulação em contrário.
contrato nos termos gerais.
ARTIGO 551º
ARTIGO 547º (Actualização das obrigações
(Impossibilidade imputável ao pecuniárias)
credor)
Quando a lei permitir a actualização
Se a impossibilidade de alguma das das prestações pecuniárias, por virtude
prestações for imputável ao credor e a das flutuações do valor da moeda,
escolha lhe pertencer, considera-se atender-se-á, na falta de outro critério
cumprida a obrigação; se a escolha legal, aos índices dos preços, de modo
pertencer ao devedor, também a a restabelecer, entre a prestação e a
obrigação se tem por cumprida, a quantidade de mercadorias a que ela
menos que este prefira efectuar outra equivale, a relação existente na data
prestação e ser indemnizado dos danos em que a obrigação se constituiu.
que houver sofrido.
SUBSECÇÃO II
ARTIGO 548º Obrigações de moeda específica
(Falta de escolha pelo devedor)
ARTIGO 552º
O credor, na execução, pode exigir que (Validade das obrigações de
o devedor, dentro do prazo que lhe for moeda específica)
fixado pelo tribunal, declare por qual
das prestações quer optar, sob pena O curso legal ou forçado da nota de
de se devolver ao credor o direito de banco não prejudica a validade do acto
escolha. pelo qual alguém se comprometa a
- 113 -
pagar em moeda metálica ou em valor indicado tiverem na bolsa no dia do
dessa moeda. cumprimento.
- 114 -
1. No caso de se ter convencionado o
cumprimento em moedas de um entre 2. A estipulação de juros a taxa
dois ou mais metais, a determinação superior à fixada nos termos do
da pessoa a quem a escolha pertence número anterior deve ser feita por
é feita de acordo com as regras das escrito, sob pena de serem apenas
obrigações alternativas. devidos na medida dos juros legais.
- 115 -
dentro do quantitativo que considere já
Desde que se constitui, o crédito de provado.
juros não fica necessariamente
dependente do crédito principal, ARTIGO 566º
podendo qualquer deles ser cedido ou (Indemnização em dinheiro)
extinguir-se sem o outro.
1. A indemnização é fixada em
SECÇÃO VIII dinheiro, sempre que a reconstituição
Obrigação de indemnização natural não seja possível, não repare
integralmente os danos ou seja
ARTIGO 562º excessivamente onerosa para o
(Princípio geral) devedor.
- 116 -
(Cessão dos direitos do lesado) representantes legais e das pessoas de
quem ele se tenha utilizado.
Quando a indemnização resulte da
perda de qualquer coisa ou direito, o ARTIGO 572º
responsável pode exigir, no acto do (Prova da culpa do lesado)
pagamento ou em momento posterior,
que o lesado lhe ceda os seus direitos Àquele que alega a culpa do lesado
contra terceiros. incumbe a prova da sua verificação;
mas o tribunal conhecerá dela, ainda
ARTIGO 569º que não seja alegada.
(Indicação do montante dos
danos) SECÇÃO IX
Obrigação de informação e de
Quem exigir a indemnização não apresentação
necessita de indicar a importância de coisas ou documentos
exacta em que avalia os danos, nem o
facto de ter pedido determinado
quantitativo o impede, no decurso da ARTIGO 573º
acção, de reclamar quantia mais (Obrigação de informação)
elevada, se o processo vier a revelar
danos superiores aos que foram A obrigação de informação existe,
inicialmente previstos. sempre que o titular de um direito
tenha dúvida fundada acerca da sua
ARTIGO 570º existência ou do seu conteúdo e
(Culpa do lesado) outrem esteja em condições de prestar
as informações necessárias.
1. Quando um facto culposo do lesado
tiver concorrido para a produção ou ARTIGO 574º
agravamento dos danos, cabe ao (Apresentação de coisas)
tribunal determinar, com base na
gravidade das culpas de ambas as 1. Ao que invoca um direito, pessoal
partes e nas consequências que delas ou real, ainda que condicional ou a
resultaram, se a indemnização deve prazo, relativo a certa coisa, móvel ou
ser totalmente concedida, reduzida ou imóvel, é lícito exigir do possuidor ou
mesmo excluída. detentor a apresentação da coisa,
desde que o exame seja necessário
2. Se a responsabilidade se basear para apurar a existência ou o conteúdo
numa simples presunção de culpa, a do direito e o demandado não tenha
culpa do lesado, na falta de disposição motivos para fundadamente se opor à
em contrário, exclui o dever de diligência.
indemnizar.
2. Quando aquele de quem se exige a
ARTIGO 571º apresentação da coisa a detiver em
(Culpa dos representantes legais e nome de outrem, deve avisar a pessoa
auxiliares) em cujo nome a detém, logo que seja
exigida a apresentação, a fim de ela,
Ao facto culposo do lesado é se quiser, usar os meios de defesa que
equiparado o facto culposo dos seus no caso couberem.
- 117 -
(Regime aplicável)
ARTIGO 578º
- 118 -
1. A cessão feita com quebra do extrajudicialmente, ou desde que ele a
disposto no artigo anterior, além de aceite.
nula, sujeita o cessionário à obrigação
de reparar os danos causados, nos 2. Se, porém, antes da notificação ou
termos gerais. aceitação, o devedor pagar ao cedente
ou celebrar com ele algum negócio
2. A nulidade da cessão não pode ser jurídico relativo ao crédito, nem o
invocada pelo cessionário. pagamento nem o negócio é oponível
ao cessionário, se este provar que o
ARTIGO 581º devedor tinha conhecimento da
(Excepções) cessão.
- 119 -
ao tempo da cessão, nos termos emprestada por terceiro pode sub-
aplicáveis ao negócio, gratuito ou rogar este nos direitos do credor.
oneroso, em que a cessão se integra.
2. A sub-rogação não necessita do
2. O cedente só garante a solvência do consentimento do credor, mas só se
devedor se a tanto expressamente se verifica quando haja declaração
tiver obrigado. expressa, no documento do
empréstimo, de que a coisa se destina
ARTIGO 588º ao cumprimento da obrigação e de que
(Aplicação das regras da cessão a o mutuante fica sub-rogado nos
outra figuras) direitos do credor.
- 120 -
(Disposições aplicáveis) mas consideram-se extintas as
garantias prestadas por terceiro,
É aplicável à sub-rogação, com as excepto se este conhecia o vício na
necessárias adaptações, o disposto nos altura em que teve notícia da
artigos 582º a 584º. transmissão.
- 121 -
CAPÍTULO V 1. Não existindo causas legítimas de
Garantia geral das obrigações preferência, os credores têm o direito
de ser pagos proporcionalmente pelo
SECÇÃO I preço dos bens do devedor, quando ele
Disposições gerais não chegue para integral satisfação
dos débitos.
ARTIGO 601º
(Princípio geral) 2. São causas legítimas de preferência,
além de outras admitidas na lei, a
Pelo cumprimento da obrigação consignação de rendimentos, o penhor,
respondem todos os bens do devedor a hipoteca, o privilégio e o direito de
susceptíveis de penhora, sem prejuízo retenção.
dos regimes especialmente
estabelecidos em consequência da SECÇÃO II
separação de patrimónios. Conservação da garantia
patrimonial
ARTIGO 602º
(Limitação da responsabilidade por SUBSECÇÃO I
convenção das partes) Declaração de nulidade
- 122 -
ou disposição da lei, só puderem ser impedir a satisfação do direito do
exercidos pelo respectivo titular. futuro credor;
- 123 -
de a nova transmissão ser a título tenha alienado, bem como dos que
oneroso. tenham perecido ou se hajam
deteriorado por caso fortuito, salvo se
2. O disposto no número anterior é provar que a perda ou deterioração se
aplicável, com as necessárias teriam igualmente verificado no caso
adaptações, à constituição de direitos de os bens se encontrarem no poder
sobre os bens transmitidos em do devedor.
benefício de terceiro.
3. O adquirente de boa fé responde só
ARTIGO 614º na medida do seu enriquecimento.
(Créditos não vencidos ou sob
condição suspensiva) 4. Os efeitos da impugnação
aproveitam apenas ao credor que a
1. Não obsta ao exercício da tenha requerido.
impugnação o facto de o direito do
credor não ser ainda exigível. ARTIGO 617º
(Relações entre devedor e
2. O credor sob condição suspensiva terceiro)
pode, durante a pendência da
condição, verificados os requisitos da 1. Julgada procedente a impugnação,
impugnabilidade, exigir a prestação de se o acto impugnado for de natureza
caução. gratuita, o devedor só é responsável
perante o adquirente nos termos do
ARTIGO 615º disposto em matéria de doações;
(Actos impugnáveis) sendo o acto oneroso, o adquirente
tem somente o direito de exigir do
1. Não obsta à impugnação a nulidade devedor aquilo com que este se
do acto realizado pelo devedor. enriqueceu.
- 124 -
crédito pode requerer o arresto de sem se designar a espécie que ela
bens do devedor, nos termos da lei de deve revestir, pode a garantia ser
processo. prestada por meio de depósito de
dinheiro, títulos de crédito, pedras ou
2. O credor tem o direito de requerer o metais preciosos, ou por penhor,
arresto contra o adquirente dos bens hipoteca ou fiança bancária.
do devedor, se tiver sido judicialmente
impugnada a transmissão. 2. Se a caução não puder ser prestada
por nenhum dos meios referidos, é
ARTIGO 620º lícita a prestação de outra espécie de
(Caução) fiança, desde que o fiador renuncie ao
benefício da excussão.
O requerente do arresto é obrigado a
prestar caução, se esta lhe for exigida 3. Cabe ao tribunal apreciar a
pelo tribunal. idoneidade da caução, sempre que não
haja acordo dos interessados.
ARTIGO 621º
(Responsabilidade do credor) ARTIGO 624º
(Caução resultante de negócio
Se o arresto for julgado injustificado jurídico ou
ou caducar, o requerente é determinação do tribunal)
responsável pelos danos causados ao
arrestado, quando não tenha agido 1. Se alguém for obrigado ou
com a prudência normal. autorizado por negócio jurídico a
prestar caução, ou esta for imposta
ARTIGO 622º pelo tribunal, é permitido prestá-la por
(Efeitos) meio de qualquer garantia, real ou
pessoal.
1. Os actos de disposição dos bens
arrestados são ineficazes em relação 2. É aplicável, nestes casos, o disposto
ao requerente do arresto, de acordo no nº 3 do artigo anterior.
com as regras próprias da penhora.
ARTIGO 625º
2. Ao arresto são extensivos, na parte (Falta de prestação de caução)
aplicável, os demais efeitos da
penhora. 1. Se a pessoa obrigada à caução a
não prestar, o credor tem o direito de
CAPÍTULO VI requerer o registo de hipoteca sobre os
Garantias especiais das obrigações bens do devedor, ou outra cautela
idónea, salvo se for diferente a solução
SECÇÃO I especialmente fixada na lei.
Prestação de caução
2. A garantia limita-se aos bens
ARTIGO 623º suficientes para assegurar o direito do
(Caução imposta ou autorizada por credor.
lei)
ARTIGO 626º
1. Se alguém for obrigado ou (Insuficiência ou impropriedade da
autorizado por lei a prestar caução, caução)
- 125 -
crédito não for concedido, assim como
Quando a caução prestada se torne a todo o momento o pode denunciar,
insuficiente ou imprópria, por causa sem prejuízo da responsabilidade pelos
não imputável ao credor, tem este o danos que haja causado.
direito de exigir que ela seja reforçada
ou que seja prestada outra forma de 3. É lícito ao encarregado recusar o
caução. cumprimento do encargo, sempre que
a situação patrimonial dos outros
SECÇÃO II contraentes ponha em risco o seu
Fiança futuro direito.
- 126 -
(Prescrição: interrupção,
1. Se algum devedor estiver obrigado suspensão e renúncia)
a dar fiador, não é o credor forçado a
aceitar quem não tiver capacidade 1. A interrupção da prescrição
para se obrigar ou não tiver bens relativamente ao devedor não produz
suficientes para garantir a obrigação. efeito contra o fiador, nem a
interrupção relativa a este tem eficácia
2. Se o fiador nomeado mudar de contra aquele; mas, se o credor
fortuna, de modo que haja risco de interromper a prescrição contra o
insolvência, tem o credor a faculdade devedor e der conhecimento do facto
de exigir o reforço da fiança. ao fiador, considera-se a prescrição
interrompida contra este na data da
3. Se o devedor não reforçar a fiança comunicação.
ou não oferecer outra garantia idónea
dentro do prazo que lhe for fixado pelo 2. A suspensão da prescrição
tribunal, tem o credor o direito de relativamente ao devedor não produz
exigir o imediato cumprimento da efeito em relação ao fiador, nem a
obrigação. suspensão relativa a este se repercute
naquele.
SUBSECÇÃO II
Relações entre o credor e o fiador 3. A renúncia à prescrição por parte de
um dos obrigados também não produz
ARTIGO 634º efeito relativamente ao outro.
(Obrigação do fiador)
ARTIGO 637º
A fiança tem o conteúdo da obrigação (Meios de defesa do fiador)
principal e cobre as consequências
legais e contratuais da mora ou culpa 1. Além dos meios de defesa que lhe
do devedor. são próprios, o fiador tem o direito de
opor ao credor aqueles que competem
ARTIGO 635º ao devedor, salvo se forem
(Caso julgado) incompatíveis com a obrigação do
fiador.
1. O caso julgado entre credor e
devedor não é oponível ao fiador, mas 2. A renúncia do devedor a qualquer
a este é lícito invocá-lo em seu meio de defesa não produz efeito em
benefício, salvo se respeitar a relação ao fiador.
circunstâncias pessoais do devedor que
não excluam a responsabilidade do ARTIGO 638º
fiador. (Benefício da excussão)
- 127 -
devedor, se o fiador provar que o 1. O credor, ainda que o fiador goze do
crédito não foi satisfeito por culpa do benefício da excussão, pode demandá-
credor. lo só ou juntamente com o devedor; se
for demandado só, ainda que não goze
ARTIGO 639º do benefício da excussão, o fiador tem
(Benefício da excussão, havendo a faculdade de chamar o devedor à
garantias reais) demanda, para com ele se defender ou
ser conjuntamente condenado.
1. Se, para segurança da mesma
dívida, houver garantia real constituída 2. Salvo declaração expressa em
por terceiro, contemporânea da fiança contrário no processo, a falta de
ou anterior a ela, tem o fiador o direito chamamento do devedor à demanda
de exigir a execução prévia das coisas importa renúncia ao benefício da
sobre que recai a garantia real. excussão.
- 128 -
ARTIGO 645º b) Se os riscos da fiança se agravarem
(Aviso do cumprimento ao sensivelmente;
devedor)
c) Se, após a assunção da fiança, o
1. O fiador que cumprir a obrigação devedor se houver colocado na
deve avisar do cumprimento o situação prevista na alínea b) do artigo
devedor, sob pena de perder o seu 640º;
direito contra este no caso de o
devedor, por erro, efectuar de novo a d) Se o devedor se houver
prestação. comprometido a desonerar o fiador
dentro de certo prazo ou verificado
2. O fiador que, nos termos do número certo evento e já tiver decorrido o
anterior, perder o seu direito contra o prazo ou se tiver verificado o evento
devedor pode repetir do credor a previsto;
prestação feita, como se fosse
indevida. e) Se houverem decorrido cinco anos,
não tendo a obrigação principal um
ARTIGO 646º termo, ou se, tendo-o, houver
(Aviso do cumprimento ao fiador) prorrogação legal imposta a qualquer
das partes.
O devedor que cumprir a obrigação
deve avisar o fiador, sob pena de SUBSECÇÃO IV
responder pelo prejuízo que causar se Pluralidade de fiadores
culposamente o não fizer.
ARTIGO 649º
ARTIGO 647º (Responsabilidade para com o
(Meios de defesa) credor)
- 129 -
nos termos da alínea b) do artigo ARTIGO 652º
640º. (Vencimento da obrigação
principal)
ARTIGO 650º
(Relações entre fiadores e 1. Se a obrigação principal for a prazo,
subfiadores) o fiador que gozar do benefício da
excussão pode exigir, vencida a
1. Havendo vários fiadores, e obrigação, que o credor proceda contra
respondendo cada um deles pela o devedor dentro de dois meses, a
totalidade da prestação, o que tiver contar do vencimento, sob pena de a
cumprido fica sub-rogado nos direitos fiança caducar; este prazo não termina
do credor contra o devedor e, de sem decorrer um mês sobre a
harmonia com as regras das notificação feita ao credor.
obrigações solidárias, contra os outros
fiadores. 2. Sob igual cominação pode o fiador
que goze do benefício da excussão
2. Se o fiador, judicialmente exigir a interpelação do devedor,
demandado, cumprir integralmente a quando dela depender o vencimento
obrigação ou uma parte superior à sua da obrigação e houver decorrido mais
quota, apesar de lhe ser lícito invocar de um ano sobre a assunção da fiança.
o benefício da divisão, tem o direito de
reclamar dos outros as quotas deles, ARTIGO 653º
no que haja pago a mais, ainda que o (Liberação por impossibilidade de
devedor não esteja insolvente. sub-rogação)
- 130 -
1. A consignação é voluntária ou
1. A fiança pelas obrigações do judicial.
locatário abrange apenas, salvo
estipulação em contrário, o período 2. É voluntária a consignação
inicial de duração do contrato. constituída pelo devedor ou por
terceiro, quer mediante negócio entre
2. Obrigando-se o fiador relativamente vivos, quer por meio de testamento, e
aos períodos de renovação, sem se judicial a que resulta de decisão do
limitar o número destes, a fiança tribunal.
extingue-se, na falta de nova
convenção, logo que haja alteração da ARTIGO 659º
renda ou decorra o prazo de cinco (Prazo)
anos sobre o início da primeira
prorrogação. 1. A consignação de rendimentos pode
fazer-se por determinado número de
SECÇÃO III anos ou até ao pagamento da dívida
Consignação de rendimentos garantida.
- 131 -
aplicável, equiparado ao locatário, sem
prejuízo da faculdade de por seu turno A consignação extingue-se pelo
os locar; decurso do prazo estipulado, e ainda
pelas mesmas causas por que cessa o
c) Que os bens passem para o poder direito de hipoteca, com excepção da
de terceiro, por título de locação ou indicada na alínea b) do artigo 730º.
por outro, ficando o credor com o
direito de receber os respectivos ARTIGO 665º
frutos. (Remissão)
- 132 -
(Regimes especiais)
O credor pignoratício é obrigado:
As disposições desta secção não
prejudicam os regimes especiais a) A guardar e administrar como um
estabelecidos por lei para certas proprietário diligente a coisa
modalidades de penhor. empenhada, respondendo pela sua
existência e conservação;
SUBSECÇÃO II
Penhor de coisas b) A não usar dela sem consentimento
do autor do penhor, excepto se o uso
ARTIGO 669º for indispensável à conservação da
(Constituição do penhor) coisa;
- 133 -
autor do penhor, a faculdade de a que se refere o nº 1 do artigo 669º,
proceder à venda antecipada da coisa, e ainda pelas mesmas causas por que
mediante prévia autorização judicial. cessa o direito da hipoteca, com
excepção da indicada na alínea b) do
2. Sobre o produto da venda fica o artigo 730º.
credor com os direitos que lhe cabiam
em relação à coisa vendida, podendo o ARTIGO 678º
tribunal, no entanto, ordenar que o (Remissão)
preço seja depositado.
São aplicáveis ao penhor, com as
3. O autor do penhor tem a faculdade necessárias adaptações, os artigos
de impedir a venda antecipada da 692º, 694º a 699º, 701º e 702º.
coisa, oferecendo outra garantia real
idónea. SUBSECÇÃO III
Penhor de direitos
ARTIGO 675º
(Execução do penhor) ARTIGO 679º
(Disposições aplicáveis)
1. Vencida a obrigação, adquire o
credor o direito de se pagar pelo São extensivas ao penhor de direitos,
produto da venda judicial da coisa com as necessárias adaptações, as
empenhada, podendo a venda ser feita disposições da subsecção anterior, em
extrajudicialmente, se as partes tudo o que não seja contrariado pela
asssim o tiverem convencionado. natureza especial desse penhor ou pelo
preceituado nos artigos subsequentes.
2. É lícito aos interessados
convencionar que a coisa empenhada ARTIGO 680º
seja adjudicada ao credor pelo valor (Objecto)
que o tribunal fixar.
Só é admitido o penhor de direitos
ARTIGO 676º quando estes tenham por objecto
(Cessão da garantia) coisas móveis e sejam susceptíveis de
transmissão.
1. O direito de penhor pode ser
transmitido independentemente da ARTIGO 681º
cessão do crédito, sendo aplicável (Forma e publicidade)
neste caso, com as necessárias
adaptações, o disposto sobre a 1. A constituição do penhor de direitos
transmissão da hipoteca. está sujeita à forma e publicidade
exigidas para a transmissão dos
2. À entrega da coisa empenhada ao direitos empenhados.
cessionário é aplicável o disposto no nº
2 do artigo 582º. 2. Se, porém, tiver por objecto um
crédito, o penhor só produz os seus
ARTIGO 677º efeitos desde que seja notificado ao
(Extinção do penhor) respectivo devedor, ou desde que este
o aceite, salvo tratando-se de penhor
O penhor extingue-se pela restituição sujeito a registo, pois neste caso
da coisa empenhada, ou do documento
- 134 -
produz os seus efeitos a partir do incidir sobre a coisa prestada em
registo. satisfação desse crédito.
- 135 -
Não pode ser hipotecada a meação dos
A hipoteca deve ser registada, sob bens comuns do casal, nem tão-pouco
pena de não produzir efeitos, mesmo a quota de herança indivisa.
em relação às partes.
ARTIGO 691º
ARTIGO 688º (Extensão)
(Objecto)
1. A hipoteca abrange:
1. Só podem ser hipotecados:
a) As coisas imóveis referidas nas
a) Os prédios rústicos e urbanos; alíneas c) a e) do nº 1 do artigo 204º;
- 136 -
hipotecário se vencerá logo que esses
2. Depois de notificado da existência bens sejam alienados ou onerados.
da hipoteca, o devedor da
indemnização não se libera pelo ARTIGO 696º
cumprimento da sua obrigação com (Indivisibilidade)
prejuízo dos direitos conferidos no
número anterior. Salvo convenção em contrário, a
hipoteca é indivisível, subsistindo por
3. O disposto nos números inteiro sobre cada uma das coisas
precedentes é aplicável às oneradas e sobre cada uma das partes
indemnizações devidas por que as constituam, ainda que a coisa
expropriação ou requisição, bem como ou o crédito seja dividido ou este se
por extinção do direito de superfície, encontre parcialmente satisfeito.
ao preço da remição do foro e aos
casos análogos. ARTIGO 697º
(Penhora dos bens)
ARTIGO 693º
(Acessórios do crédito) O devedor que for dono da coisa
hipotecada tem o direito de se opor
1. A hipoteca assegura os acessórios não só a que outros bens sejam
do crédito que constem do registo. penhorados na execução enquanto se
não reconhecer a insuficiência da
2. Tratando-se de juros, a hipoteca garantia, mas ainda a que,
nunca abrange, não obstante relativamente aos bens onerados, a
convenção em contrário, mais do que execução se estenda além do
os relativos a três anos. necessário à satisfação do direito do
credor.
3. O disposto no número anterior não
impede o registo de nova hipoteca em ARTIGO 698º
relação a juros em dívida. (Defesa do dono da coisa ou do
titular do direito)
ARTIGO 694º
(Pacto comissório) 1. Sempre que o dono da coisa ou o
titular do direito hipotecado seja
É nula, mesmo que seja anterior ou pessoa diferente do devedor, é-lhe
posterior à constituição da hipoteca, a lícito opor ao credor, ainda que o
convenção pela qual o credor fará sua devedor a eles tenha renunciado, os
a coisa onerada no caso de o devedor meios de defesa que o devedor tiver
não cumprir. contra o crédito, com exclusão das
excepções que são recusadas ao
ARTIGO 695º fiador.
(Cláusula de inalienabilidade dos
bens hipotecados) 2. O dono ou o titular a que o número
anterior se refere tem a faculdade de
É igualmente nula a convenção que se opor à execução enquanto o
proíba o respectivo dono de alienar ou devedor puder impugnar o negócio
onerar os bens hipotecados, embora donde provém a sua obrigação, ou o
seja lícito convencionar que o crédito credor puder ser satisfeito por
compensação com um crédito do
- 137 -
devedor, ou este tiver a possibilidade substitua ou reforce; e, não o fazendo
de se valer da compensação com uma este nos termos declarados na lei de
dívida do credor. processo, pode aquele exigir o
imediato cumprimento da obrigação
ARTIGO 699º ou, tratando-se de obrigação futura,
(Hipoteca e usufruto) registar hipoteca sobre outros bens do
devedor.
1. Extinguindo-se o usufruto
constituído sobre a coisa hipotecada, o 2. Não obsta ao direito do credor o
direito do credor hipotecário passa a facto de a hipoteca ter sido constituída
exercer-se sobre a coisa, como se o por terceiro, salvo se o devedor for
usufruto nunca tivesse sido estranho à sua constituição; porém,
constituído. mesmo neste caso, se a diminuição da
garantia for devida a culpa do terceiro,
2. Se a hipoteca tiver por objecto o o credor tem o direito de exigir deste a
direito de usufruto, considera-se substituição ou o reforço, ficando o
extinta com a extinção deste direito. mesmo sujeito à cominação do número
anterior em lugar do devedor.
3. Porém, se a extinção do usufruto
resultar de renúncia, ou da ARTIGO 702º
transferência dos direitos do (Seguro)
usufrutuário para o proprietário, ou da
aquisição da propriedade por parte 1. Quando o devedor se comprometa a
daquele, a hipoteca subsiste, como se segurar a coisa hipotecada e não a
a extinção do direito se não tivesse segure no prazo devido ou deixe
verificado. rescindir o contrato por falta de
pagamento dos respectivos prémios,
ARTIGO 700º tem o credor a faculdade de segurá-la
(Administração da coisa à custa do devedor; mas, se o fizer por
hipotecada) um valor excessivo, pode o devedor
exigir a redução do contrato aos
O corte de árvores ou arbustos, a limites convenientes.
colheita de frutos naturais e a
alienação de partes integrantes ou 2. Nos casos previstos no número
coisas acessórias abrangidas pela anterior, pode o credor reclamar, em
hipoteca só são eficazes em relação ao lugar do seguro, o imediato
credor hipotecário se forem anteriores cumprimento da obrigação.
ao registo da penhora e couberem nos
poderes de administração ordinária. ARTIGO 703º
(Espécies de hipoteca)
ARTIGO 701º
(Substituição ou reforço da As hipotecas são legais, judiciais ou
hipoteca) voluntárias.
- 138 -
1. A determinação do valor da hipoteca
As hipotecas legais resultam estabelecida a favor do menor,
imediatamente da lei, sem interdito ou inabilitado, para efeito do
dependência da vontade das partes, e registo, e a designação dos bens sobre
podem constituir-se desde que exista a que há-de ser registada cabem ao
obrigação a que servem de segurança. conselho de família.
- 139 -
A hipoteca não impede o dono dos
bens de os hipotecar de novo; neste
SUBSECÇÃO III caso, extinta uma das hipotecas, ficam
Hipotecas judiciais os bens a garantir, na sua totalidade,
as restantes dívidas hipotecárias.
ARTIGO 710º
(Constituição) ARTIGO 714º
(Forma)
1. A sentença que condenar o devedor
à realização de uma prestação em O acto de constituição ou modificação
dinheiro ou outra coisa fungível é título da hipoteca voluntária, quando recaia
bastante para o registo de hipoteca sobre bens imóveis, deve constar de
sobre quaisquer bens do obrigado, escritura pública ou de testamento.
mesmo que não haja transitado em
julgado. ARTIGO 715º
(Legitimidade para hipotecar)
2. Se a prestação for ilíquida, pode a
hipoteca ser registada pelo Só tem legitimidade para hipotecar
quantitativo provável do crédito. quem puder alienar os respectivos
bens.
3. Se o devedor for condenado a
entregar uma coisa ou a prestar um ARTIGO 716º
facto, só pode ser registada a hipoteca (Hipotecas gerais)
havendo conversão da prestação numa
indemnização pecuniária. 1. São nulas as hipotecas voluntárias
que incidam sobre todos os bens do
ARTIGO 711º devedor ou de terceiro sem os
(Sentenças estrangeiras) especificar.
- 140 -
objecto uma só coisa ou direito, desde
que a coisa ou direito seja susceptível
ARTIGO 718º de cómoda divisão.
(Modalidades)
SUBSECÇÃO VI
A hipoteca pode ser reduzida Transmissão dos bens hipotecados
voluntária ou judicialmente.
ARTIGO 721º
ARTIGO 719º (Expurgação da hipoteca)
(Redução voluntária)
Aquele que adquiriu bens hipotecados,
A redução voluntária só pode ser registou o título de aquisição e não é
consentida por quem puder dispor da pessoalmente responsável pelo
hipoteca, sendo aplicável à redução o cumprimento das obrigações
regime estabelecido para a renúncia à garantidas tem o direito de expurgar a
garantia. hipoteca por qualquer dos modos
seguintes:
ARTIGO 720º
(Redução judicial) a) Pagando integralmente aos credores
hipotecários as dívidas a que os bens
1. A redução judicial tem lugar, nas estão hipotecados;
hipotecas legais e judiciais, a
requerimento de qualquer interessado, b) Declarando que está pronto a
quer no que concerne aos bens, quer entregar aos credores, para
no que respeita à quantia designada pagamento dos seus créditos, até à
como montante do crédito, excepto se, quantia pela qual obteve os bens, ou
por convenção ou sentença, a coisa aquela em que os estima, quando a
onerada ou a quantia assegurada tiver aquisição tenha sido feita por título
sido especialmente indicada. gratuito ou não tenha havido fixação
de preço.
2. No caso previsto na parte final do
número anterior, ou no de hipoteca ARTIGO 722º
voluntária, a redução judicial só é (Expurgação no caso de revogação
admitida: de doação)
- 141 -
(Direitos dos credores quanto à O credor hipotecário pode, antes do
expurgação) vencimento do prazo, exercer o seu
direito contra o adquirente da coisa ou
1. A sentença que declarar os bens direito hipotecado se, por culpa deste,
livres de hipotecas em consequência diminuir a segurança do crédito.
de expurgação não será proferida sem
se mostrar que foram citados todos os ARTIGO 726º
credores hipotecários. (Benfeitorias e frutos)
- 142 -
ARTIGO 729º (Redacção do Dec.-Lei 163/95, de 13-
(Cessão do grau hipotecário) 7)
- 143 -
compreendem só o valor de alimentos, relativo aos últimos seis
determinados bens móveis. meses;
- 144 -
locais, inscritos para cobrança no ano
ARTIGO 740º corrente na data da penhora, ou acto
(Privilégio sobre as rendas dos equivalente, e nos dois anos
prédios urbanos) anteriores, têm privilégio sobre os
bens cujos rendimentos estão sujeitos
Os créditos por dívidas de foros àquela contribuição.
relativos ao ano corrente na data da
penhora, ou acto equivalente, e ao ano 2. Os créditos do Estado pela sisa e
anterior, gozam de privilégio sobre as pelo imposto sobre as sucessões e
rendas dos prédios urbanos doações têm privilégio sobre os bens
respectivos. transmitidos.
- 145 -
a) Os créditos por impostos, pagando- ARTIGO 750º
se em primeiro lugar o Estado e só (Privilégio mobiliário especial e
depois as autarquias locais; direitos de terceiro)
- 146 -
ARTIGO 755º
(Casos especiais) ARTIGO 756º
(Exclusão do direito de retenção)
1. Gozam ainda do direito de retenção:
Não há direito de retenção:
a) O transportador, sobre as coisas
transportadas, pelo crédito resultante a) A favor dos que tenham obtido por
do transporte; meios ilícitos a coisa que devem
entregar, desde que, no momento da
b) O albergueiro, sobre as coisas que aquisição, conhecessem a ilicitude
as pessoas albergadas hajam trazido desta;
para a pousada ou acessórios dela,
pelo crédito da hospedagem; b) A favor dos que tenham realizado
de má fé as despesas de que proveio o
c) O mandatário, sobre as coisas que seu crédito;
lhe tiveram sido entregues para
execução do mandato, pelo crédito c) Relativamente a coisas
resultante da sua actividade; impenhoráveis;
- 147 -
1. O devedor cumpre a obrigação
1. Recaindo o direito de retenção sobre quando realiza a prestação a que está
coisa imóvel, o respectivo titular, vinculado.
enquanto não entregar a coisa retida,
tem a faculdade de a executar, nos 2. No cumprimento da obrigação,
mesmos termos em que o pode fazer o assim como no exercício do direito
credor hipotecário, e de ser pago com correspondente, devem as partes
preferência aos demais credores do proceder de boa fé.
devedor.
ARTIGO 763º
2. O direito de retenção prevelece (Realização integral da prestação)
neste caso sobre a hipoteca, ainda que
esta tenha sido registada 1. A prestação deve ser realizada
anteriormente. integralmente e não por partes,
excepto se outro for o regime
3. Até à entrega da coisa são convencionado ou imposto por lei ou
aplicáveis, quanto aos direitos e pelos usos.
obrigações do titular da retenção, as
regras do penhor, com as necessárias 2. O credor tem, porém, a faculdade
adaptações. de exigir uma parte da prestação; a
exigência dessa parte não priva o
ARTIGO 760º devedor da possibilidade de oferecer a
(Transmissão) prestação por inteiro.
- 148 -
ARTIGO 765º ARTIGO 768º
(Entrega da coisa de que o (Recusa da prestação pelo credor)
devedor não pode dispor)
1. Quando a prestação puder ser
1. O credor que de boa fé receber a efectuada por terceiro, o credor que a
prestação de coisa que o devedor não recuse incorre em mora perante o
pode alhear tem o direito de impugnar devedor.
o cumprimento, sem prejuízo da
faculdade de se ressarcir dos danos 2. É, porém, lícito ao credor recusá-la,
que haja sofrido. desde que o devedor se oponha ao
cumprimento e o terceiro não possa
2. O devedor que, de boa ou má fé, ficar sub-rogado nos termos do artigo
prestar coisa de que lhe não é lícito 592º; a oposição do devedor não obsta
dispor não pode impugnar o a que o credor aceite validamente a
cumprimento, a não ser que ofereça prestação.
uma nova prestação.
ARTIGO 769º
ARTIGO 766º (A quem deve ser feita a
(Declaração de nulidade ou prestação)
anulação do
cumprimento e garantias A prestação deve ser feita ao credor ou
prestadas por terceiro) ao seu representante.
- 149 -
ARTIGO 771º Se a obrigação tiver por objecto certa
(Oposição à indicação feita pelo quantia em dinheiro, deve a prestação
credor) ser efectuada no lugar do domicílio que
o credor tiver ao tempo do
O devedor não é obrigado a satisfazer cumprimento.
a prestação ao representante
voluntário do credor nem à pessoa por ARTIGO 775º
este autorizada a recebê-la, se não (Mudança do domicílio do credor)
houver convenção nesse sentido.
Se tiver sido estipulado, ou resultar da
SUBSECÇÃO III lei, que o cumprimento deve efectuar-
Lugar da prestação se no domicílio do credor, e este
mudar de domicílio após a constituição
ARTIGO 772º da obrigação, pode a prestação ser
(Princípio geral) efectuada no domicílio do devedor,
salvo se aquele se comprometer a
1. Na falta de estipulação ou indemnizar este do prejuízo que sofrer
disposição especial da lei, a prestação com a mudança.
deve ser efectuada no lugar do
domicílio do devedor. ARTIGO 776º
(Impossibilidade da prestação no
2. Se o devedor mudar de domicílio lugar fixado)
depois de constituída a obrigação, a
prestação será efectuada no novo Quando a prestação for ou se tornar
domicílio, excepto se a mudança impossível no lugar fixado para o
acarretar prejuízo para o credor, pois, cumprimento e não houver
nesse caso, deve ser efectuada no fundamento para considerar a
lugar do domicílio primitivo. obrigação nula ou extinta, são
aplicáveis as regras supletivas dos
ARTIGO 773º artigos 772º a 774º.
(Entrega de coisa móvel)
SUBSECÇÃO IV
1. Se a prestação tiver por objecto Prazo da prestação
coisa móvel determinada, a obrigação
deve ser cumprida no lugar onde a ARTIGO 777º
coisa se encontrava ao tempo da (Determinação do prazo)
conclusão do negócio.
1. Na falta de estipulação ou
2. A disposição do número anterior é disposição especial da lei, o credor tem
ainda aplicável, quando se trate de o direito de exigir a todo o tempo o
coisa genérica que deve ser escolhida cumprimento da obrigação, assim
de um conjunto determinado ou de como o devedor pode a todo o tempo
coisa que deva ser produzida em certo exonerar-se dela.
lugar.
2. Se, porém, se tornar necessário o
ARTIGO 774º estabelecimento de um prazo, quer
(Obrigações pecuniárias) pela própria natureza da prestação,
quer por virtude das circunstâncias
que a determinaram, quer por força
- 150 -
dos usos, e as partes não acordarem diminuírem as garantias do crédito ou
na sua determinação, a fixação dele é não forem prestadas as garantias
deferida prometidas.
ao tribunal.
2. O credor tem o direito de exigir do
3. Se a determinação do prazo for devedor, em lugar do cumprimento
deixada ao credor e este não usar da imediato da obrigação, a substituição
faculdade que lhe foi concedida, ou reforço das garantias, se estas
compete ao tribunal fixar o prazo, a sofreram diminuição.
requerimento do devedor.
ARTIGO 781º
ARTIGO 778º (Dívida liquidável em prestações)
(Prazo dependente da
possibilidade ou do arbítrio do Se a obrigação puder ser liquidada em
devedor) duas ou mais prestações, a falta de
realização de uma delas importa o
1. Se tiver sido estipulado que o vencimento de todas.
devedor cumprirá quando puder, a
prestação só é exigível tendo este a ARTIGO 782º
possibilidade de cumprir; falecendo o (Perda do benefício do prazo em
devedor, é a prestação exigível dos relação aos co-obrigados e
seus herdeiros, independentemente da terceiros)
prova dessa possibilidade, mas sem
prejuízo do disposto no artigo 2071º. A perda do benefício do prazo não se
estende aos co-obrigados do devedor,
2. Quando o prazo for deixado ao nem a terceiro que a favor do crédito
arbítrio do devedor, só dos seus tenha constituído qualquer garantia.
herdeiros tem o credor o direito de
exigir que satisfaçam a prestação. SUBSECÇÃO V
Imputação do cumprimento
ARTIGO 779º
(Beneficiário do prazo) ARTIGO 783º
(Designação pelo devedor)
O prazo tem-se por estabelecido a
favor do devedor, quando se não 1. Se o devedor, por diversas dívidas
mostre que o foi a favor do credor, ou da mesma espécie ao mesmo credor,
do devedor e do credor efectuar uma prestação que não
conjuntamente. chegue para as extinguir a todas, fica
à sua escolha designar as dívidas a
ARTIGO 780º que o cumprimento se refere.
(Perda do benefício do prazo)
2. O devedor, porém, não pode
1. Estabelecido o prazo a favor do designar contra a vontade do credor
devedor, pode o credor, não obstante, uma dívida que ainda não esteja
exigir o cumprimento imediato da vencida, se o prazo tiver sido
obrigação, se o devedor se tornar estabelecido em benefício do credor; e
insolvente, ainda que a insolvência não também não lhe é lícito designar
tenha sido judicialmente declarada, ou contra a vontade do credor uma dívida
se, por causa imputável ao devedor, de montante superior ao da prestação
- 151 -
efectuada, desde que o credor tenha o
direito de recusar a prestação parcial. 1. Se o credor der quitação do capital
sem reserva dos juros ou de outras
ARTIGO 784º prestações acessórias, presume-se que
(Regras supletivas) estão pagos os juros ou prestações.
- 152 -
parcial, ou o título conferir outros vencimento do termo, é a
direitos ao credor, ou este tiver, por imposibilidade considerada
outro motivo, interesse legítimo na superveniente e não afecta a validade
conservação dele, pode o devedor do negócio.
exigir que o credor mencione no título
o cumprimento efectuado. ARTIGO 791º
(Impossibilidade subjectiva)
2. Goza dos mesmos direitos o terceiro
que cumprir a obrigação, se ficar sub- A impossibilidade relativa à pessoa do
rogado nos direitos do credor. devedor importa igualmente a extinção
da obrigação, se o devedor, no
3. É aplicável à restituição do título e à cumprimento desta, não puder fazer-
menção do cumprimento o disposto no se substituir por terceiro.
nº 2 do artigo anterior.
ARTIGO 792º
ARTIGO 789º (Impossibilidade temporária)
(Impossibilidade de restituição ou
de menção) 1. Se a impossibilidade for temporária,
o devedor não responde pela mora no
Se o credor invocar a impossibilidade, cumprimento.
por qualquer causa, de restituir o título
ou de nele mencionar o cumprimento, 2. A impossibilidade só se considera
pode o devedor exigir quitação temporária enquanto, atenta a
passada em documento autêntico ou finalidade da obrigação, se mantiver o
autenticado ou com reconhecimento interesse do credor.
notarial, correndo o encargo por conta
do credor. ARTIGO 793º
(Impossibilidade parcial)
SECÇÃO II
Não cumprimento 1. Se a prestação se tornar
parcialmente impossível, o devedor
SUBSECÇÃO I exonera-se mediante a prestação do
Impossibilidade do cumprimento e que for possível, devendo, neste caso,
mora ser proporcionalmente reduzida a
não imputáveis ao devedor contraprestação a que a outra parte
estiver vinculada.
ARTIGO 790º
(Impossibilidade objectiva) 2. Porém, o credor que não tiver,
justificadamente, interesse no
1. A obrigação extingue-se quando a cumprimento parcial da obrigação
prestação se torna impossível por pode resolver o negócio.
causa não imputável ao devedor.
ARTIGO 794º
2. Quando o negócio do qual a («Commodum» de representação)
obrigação procede houver sido feito
sob condição ou a termo, e a prestação Se, por virtude do facto que tornou
for possível na data da conclusão do impossível a prestação, o devedor
negócio, mas se tornar impossível adquirir algum direito sobre certa
antes da verificação da condição ou do coisa, ou contra terceiro, em
- 153 -
substituição do objecto da prestação, entregue; quando for suspensiva a
pode o credor exigir a prestação dessa condição, o risco corre por conta do
coisa, ou substituir-se ao devedor na alienante durante a pendência da
titularidade do direito que este tiver condição.
adquirido contra terceiro.
ARTIGO 797º
ARTIGO 795º (Promessa de envio)
(Contratos bilaterais)
Quando se trate de coisa que, por
1. Quando no contrato bilateral uma força da convenção, o alienante deva
das prestações se torne impossível, enviar para local diferente do lugar do
fica o credor desobrigado da cumprimento, a transferência do risco
contraprestação e tem o direito, se já opera-se com a entrega ao
a tiver realizado, de exigir a sua transportador ou expedidor da coisa ou
restituição nos termos prescritos para à pessoa indicada para a execução do
o enriquecimento sem causa. envio.
- 154 -
1. O devedor é responsável perante o 2. O credor não pode, todavia, resolver
credor pelos actos dos seus o negócio, se o não cumprimento
representantes legais ou das pessoas parcial, atendendo ao seu interesse,
que utilize para o cumprimento da tiver escassa importância.
obrigação, como se tais actos fossem
praticados pelo próprio devedor. ARTIGO 803º
(«Commodum» de representação)
2. A responsabilidade pode ser
convencionalmente excluída ou 1. É extensivo ao caso de
limitada, mediante acordo prévio dos impossibilidade imputável ao devedor
interessados, desde que a exclusão ou o que dispõe o artigo 794º.
limitação não compreenda actos que
representem a violação de deveres 2. Se o credor fizer valer o direito
impostos por normas de ordem conferido no número antecedente, o
pública. montante da indemnização a que
tenha direito será reduzido na medida
DIVISÃO II correspondente.
Impossibilidade do cumprimento
DIVISÃO III
ARTIGO 801º Mora do devedor
(Impossibilidade culposa)
ARTIGO 804º
1. Tornando-se impossível a prestação (Princípios gerais)
por causa imputável ao devedor, é
este responsável como se faltasse 1. A simples mora constitui o devedor
culposamente ao cumprimento da na obrigação de reparar os danos
obrigação. causados ao credor.
- 155 -
b) Se a obrigação provier de facto 1. Pelo facto de estar em mora, o
ilícito; devedor torna-se responsável pelo
prejuízo que o credor tiver em
c) Se o próprio devedor impedir a consequência da perda ou deterioração
interpelação, considerando-se daquilo que deveria entregar, mesmo
interpelado, neste caso, na data em que estes factos lhe não sejam
que normalmente o teria sido. imputáveis.
- 156 -
1. As partes podem, porém, fixar por 2. É admitida a redução nas mesmas
acordo o montante da indemnização circunstâncias, se a obrigação tiver
exigível: é o que se chama cláusula sido parcialmente cumprida.
penal.
(Redacção do Dec.-Lei 262/83, de 16-
2. A cláusula penal está sujeita às 6)
formalidades exigidas para a obrigação
principal, e é nula se for nula esta SUBSECÇÃO III
obrigação. Mora do credor
- 157 -
da sua obrigação, deve o valor do exequente os actos de disposição ou
benefício ser descontado na oneração dos bens penhorados.
contraprestação.
ARTIGO 820º
ARTIGO 816º (Penhora de créditos)
(Indemnização)
Sendo penhorado algum crédito do
O credor em mora indemnizará o devedor, a extinção dele por causa
devedor das maiores despesas que dependente da vontade do executado
este seja obrigado a fazer com o ou do seu devedor, verificada depois
oferecimento infrutífero da prestação e da penhora, é igualmente ineficaz em
a guarda e conservação do respectivo relação ao exequente.
objecto.
ARTIGO 821º
SECÇÃO III (Liberação ou cessão de rendas ou
Realização coactiva da prestação alugueres não vencidos)
- 158 -
os créditos respectivos, ou sobre as 3. Em lugar de exigir dos credores a
quantias pagas a título de restituição do preço, o adquirente pode
indemnização, o direito que tinha exercer contra o devedor, por sub-
sobre a coisa. rogação, os direitos desses credores.
- 159 -
for consideravelmente superior ao sentença que produza os efeitos da
prejuízo sofrido pelo credor. declaração negocial do faltoso, sempre
que a isso não se oponha a natureza
ARTIGO 829º-A da obrigação assumida.
(Sanção pecuniária compulsória)
2. Entende-se haver convenção em
1. Nas obrigações de prestação de contrário, se existir sinal ou tiver sido
facto infungível, positivo ou negativo, fixada uma pena para o caso de não
salvo nas que exigem especiais cumprimento da promessa.
qualidades científicas ou artísticas do
obrigado, o tribunal deve, a 3. O direito à execução específica não
requerimento do credor, condenar o pode ser afastado pelas partes nas
devedor ao pagamento de uma quantia promessas a que se refere o nº 3 do
pecuniária por cada dia de atraso no artigo 410º; a requerimento do
cumprimento ou por cada infracção, faltoso, porém, a sentença que
conforme for mais conveniente às produza os efeitos da sua declaração
circunstâncias do caso. negocial pode ordenar a modificação
do contrato nos termos do artigo 437º,
2. A sanção pecuniária compulsória ainda que a alteração das
prevista no número anterior será circunstâncias seja posterior à mora.
fixada segundo critérios de
razoabilidade, sem prejuízo da 4. Tratando-se de promessa relativa à
indemnização a que houver lugar. celebração de contrato oneroso de
transmissão ou constituição de direito
3. O montante da sanção pecuniária real sobre edifício, ou fracção
compulsória destina-se, em parte autónoma dele, em que caiba ao
iguais, ao credor e ao Estado. adquirente, nos termos do artigo 721º,
a faculdade de expurgar hipoteca a
4. Quando for estipulado ou que o mesmo se encontre sujeito,
judicialmente determinado qualquer pode aquele, caso a extinção de tal
pagamento em dinheiro corrente, são garantia não preceda a mencionada
automaticamente devidos juros à taxa transmissão ou constituição, ou não
de 5% ao ano, desde a data em que a coincida com esta, requerer, para
sentença de condenação transitar em efeito da expurgação, que a sentença
julgado, os quais acrescerão aos juros referida no nº 1 condene também o
de mora, se estes forem também promitente faltoso a entregar-lhe o
devidos, ou à indemnização a que montante do débito garantido, ou o
houver lugar. valor nele correspondente à fracção do
edifício ou do direito objecto do
(Aditado pelo Dec.-Lei 262/83, de 16- contrato e dos juros respectivos,
6) vencidos e vincendos, até pagamento
integral.
ARTIGO 830º
(Contrato-promessa) 5. No caso de contrato em que ao
obrigado seja lícito invocar a excepção
1. Se alguém se tiver obrigado a de não cumprimento, a acção
celebrar certo contrato e não cumprir a improcede, se o requerente não
promessa, pode a outra parte, na falta consignar em depósito a sua prestação
de convenção em contrário, obter
- 160 -
no prazo que lhe for fixado pelo
tribunal. 2. O devedor conserva, porém, o
direito de fiscalizar a gestão dos
(Redacção do Dec.-Lei 379/86, de 11- credores, e tem o direito à prestação
11) de contas no fim da liquidação ou, se a
cessão se prolongar por mais de um
SECÇÃO IV ano, no termo de cada ano.
Cessão de bens aos credores
ARTIGO 835º
ARTIGO 831º (Exoneração do devedor)
(Noção)
O devedor só fica liberado em face dos
Dá-se a cessão de bens aos credores credores a partir do recebimento da
quando estes, ou alguns deles, são parte que a estes compete no produto
encarregados pelo devedor de liquidar da liquidação, e na medida do que
o património deste, ou parte dele, e receberam.
repartir entre si o respectivo produto,
para satisfação dos seus créditos. ARTIGO 836º
(Desistência da cessão)
ARTIGO 832º
(Forma) 1. É permitido ao devedor desistir a
todo o tempo da cessão, cumprindo as
1. A cessão deve ser feita por escrito e obrigações a que está adstrito para
está, além disso, sujeita à forma com os cessionários.
exigida para a validade da transmissão
dos bens nela compreendidos. 2. A desistência não tem efeito
retroactivo.
2. A cessão deve ser registada sempre
que abranja bens sujeitos a registo. CAPÍTULO VIII
Causas de extinção das obrigações
ARTIGO 833º além do cumprimento
(Execução dos bens cedidos)
SECÇÃO I
A cessão não impede que os bens Dação em cumprimento
cedidos sejam executados pelos
credores que dela não participam, ARTIGO 837º
enquanto não tiverem sido alienados; (Quando é admitida)
não gozam de igual direito os
cessionários nem os credores A prestação de coisa diversa da que for
posteriores à cessão. devida, embora de valor superior, só
exonera o devedor se o credor der o
ARTIGO 834º seu assentimento.
(Poderes dos cessionários e do
devedor) ARTIGO 838º
(Vícios da coisa ou do direito)
1. Enquanto a cessão se mantiver, os
poderes de administração e disposição O credor a quem for feita a dação em
dos respectivos bens pertencem cumprimento goza de garantia pelos
exclusivamente aos cessionários. vícios da coisa ou do direito
- 161 -
transmitido, nos termos prescritos 2. A consignação em depósito é
para a compra e venda; mas pode facultativa.
optar pela prestação primitiva e
reparação dos danos sofridos. ARTIGO 842º
(Consignação por terceiro)
ARTIGO 839º
(Nulidade ou anulabilidade da A consignação em depósito pode ser
dação) efectuada a requerimento de terceiro a
quem seja lícito efectuar a prestação.
Sendo a dação declarada nula ou
anulada por causa imputável ao ARTIGO 843º
credor, não renascem as garantias (Dependência de outra prestação)
prestadas por terceiro, excepto se este
conhecia o vício na data em que teve Se o devedor tiver a faculdade de não
notícia da dação. cumprir senão contra uma prestação
do credor, é-lhe lícito exigir que a
ARTIGO 840º coisa consignada não seja entregue ao
(Dação «pro solvendo») credor enquanto este não efectuar
aquela prestação.
1. Se o devedor efectuar uma
prestação diferente da devida, para ARTIGO 844º
que o credor obtenha mais facilmente, (Entrega da coisa consignada)
pela realização do valor dela, a
satisfação do seu crédito, este só se Feita a consignação, fica o
extingue quando for satisfeito, e na consignatário obrigado a entregar ao
medida respectiva. credor a coisa consignada, e o credor
com o direito de exigir a sua entrega.
2. Se a dação tiver por objecto a
cessão de um crédito ou a assunção de ARTIGO 845º
uma dívida, presume-se feita nos (Revogação da consignação)
termos do número anterior.
1. O devedor pode revogar a
SECÇÃO II consignação, mediante declaração feita
Consignação em depósito no processo, e pedir a restituição da
coisa consignada.
ARTIGO 841º
(Quando tem lugar) 2. Extingue-se o direito de revogação,
se o credor, por declaração feita no
1. O devedor pode livrar-se da processo, aceitar a consignação, ou se
obrigação mediante o depósito da esta for considerada válida por
coisa devida, nos casos seguintes: sentença passada em julgado.
- 162 -
feito a prestação ao credor na data do
depósito. ARTIGO 850º
(Créditos prescritos)
SECÇÃO III
Compensação O crédito prescrito não impede a
compensação, se a prescrição não
ARTIGO 847º podia ser invocada na data em que os
(Requisitos) dois créditos se tornaram
compensáveis.
1. Quando duas pessoas sejam
reciprocamente credor e devedor, ARTIGO 851º
qualquer delas pode livrar-se da sua (Reciprocidade dos créditos)
obrigação por meio de compensação
com a obrigação do seu credor, 1. A compensação apenas pode
verificados os seguintes requisitos: abranger a dívida do declarante, e não
a de terceiro, ainda que aquele possa
a) Ser o seu crédito exigível efectuar a prestação deste, salvo se o
judicialmente e não proceder contra declarante estiver em risco de perder o
ele excepção, peremptória ou dilatória, que é seu em consequência de
de direito material; execução por dívida de terceiro.
- 163 -
1. Não podem extinguir-se por terceiro, salvo se este conhecia o vício
compensação: quando foi feita a declaração de
compensação.
a) Os créditos provenientes de factos
ilícitos dolosos; SECÇÃO IV
Novação
b) Os créditos impenhoráveis, excepto
se ambos forem da mesma natureza; ARTIGO 857º
(Novação objectiva)
c) Os créditos do Estado ou de outras
pessoas colectivas públicas, excepto Dá-se a novação objectiva quando o
quando a lei o autorize. devedor contrai perante o credor uma
nova obrigação em substituição da
2. Também não é admitida a antiga.
compensação, se houver prejuízo de
direitos de terceiro, constituídos antes ARTIGO 858º
de os créditos se tornarem (Novação subjectiva)
compensáveis, ou se o devedor a ela
tiver renunciado. A novação por substituição do credor
dá-se quando um novo credor é
ARTIGO 854º substituído ao antigo, vinculando-se o
(Retroactividade) devedor para com ele por uma nova
obrigação; e a novação por
Feita a declaração de compensação, os substituição do devedor, quando um
créditos consideram-se extintos desde novo devedor, contraindo nova
o momento em que se tornaram obrigação, é substituído ao antigo, que
compensáveis. é exonerado pelo credor.
- 164 -
teve notícia da novação, conhecia o 3. A remissão concedida por um dos
vício da nova obrigação. credores solidários exonera o devedor
para com os restantes credores, mas
ARTIGO 861º somente na parte que respeita ao
(Garantias) credor remitente.
1. Extinta a obrigação antiga pela
novação, ficam igualmente extintas, na ARTIGO 865º
falta de reserva expressa, as garantias (Obrigações indivisíveis)
que asseguravam o seu cumprimento,
mesmo quando resultantes da lei. 1. À remissão concedida pelo credor de
2. Dizendo a garantia respeito a obrigação indivisível a um dos
terceiro, é necessária também a devedores é aplicável o disposto no
reserva expressa deste. artigo 536º.
- 165 -
Confusão
3. Se na mesma pessoa se reunirem as
ARTIGO 868º qualidades de devedor e fiador, fica
(Noção) extinta a fiança, excepto se o credor
tiver legítimo interesse na subsistência
Quando na mesma pessoa se reúnam da garantia.
as qualidades de credor e devedor da
mesma obrigação, extinguem-se o 4. A reunião na mesma pessoa das
crédito e a dívida. qualidades de credor e de proprietário
da coisa hipotecada ou empenhada
ARTIGO 869º não impede que a hipoteca ou o
(Obrigações solidárias) penhor se mantenha, se o credor nisso
tiver interesse e na medida em que
1. A reunião na mesma pessoa das esse interesse se justifique.
qualidades de devedor solidário e
credor exonera os demais obrigados, ARTIGO 872º
mas só na parte da dívida relativa a (Patrimónios separados)
esse devedor.
Não há confusão, se o crédito e a
2. A reunião na mesma pessoa das dívida pertencem a patrimónios
qualidades de credor solidário e separados.
devedor exonera este na parte
daquele. ARTIGO 873º
(Cessação da confusão)
ARTIGO 870º
(Obrigações indivisíveis) 1. Se a confusão se desfizer, renasce a
obrigação com os seus acessórios,
1. Se na obrigação indivisível em que mesmo em relação a terceiro, quando
há vários devedores se reunirem as o facto que a destrói seja anterior à
qualidades de credor e devedor, é própria confusão.
aplicável o disposto no artigo 536º.
2. Quando a cessação da confusão for
2. Sendo vários os credores e imputável ao credor, não renascem as
verificando-se a confusão entre um garantias prestadas por terceiro, salvo
deles e o devedor, é aplicável o se este conhecia o vício na data em
disposto no nº 2 do artigo 865º. que teve notícia da confusão.
- 166 -
Compra e venda é o contrato pelo qual um ano a contar do conhecimento da
se transmite a propriedade de uma celebração do contrato, ou do termo
coisa, ou outro direito, mediante um da incapacidade, se forem incapazes.
preço.
3. A proibição não abrange a dação em
ARTIGO 875º cumprimento feita pelo ascendente.
(Forma)
ARTIGO 878º
O contrato de compra e venda de bens (Despesas do contrato)
imóveis só é válido se for celebrado
por escritura pública. Na falta de convenção em contrário, as
despesas do contrato e outras
ARTIGO 876º acessórias ficam a cargo do
(Venda de coisa ou direito comprador.
litigioso)
SECÇÃO II
1. Não podem ser compradores de Efeitos da compra e venda
coisa ou direito litigioso, quer
directamente, quer por interposta ARTIGO 879º
pessoa, aqueles a quem a lei não (Efeitos essenciais)
permite que seja feita a cessão de
créditos ou direitos litigiosos, conforme A compra e venda tem como efeitos
se dispõe no capítulo respectivo. essenciais:
- 167 -
determinado pelo tribunal, segundo
ARTIGO 881º juízos de equidade.
(Bens de existência ou titularidade
incerta) 2. Quando as partes se tenham
reportado ao justo preço, é aplicável o
Quando se vendam bens de existência disposto no número anterior.
ou titularidade incerta e no contrato se
faça menção dessa incerteza, é devido ARTIGO 884º
o preço, ainda que os bens não (Redução do preço)
existam ou não pertençam ao
vendedor, excepto se as partes 1. Se a venda ficar limitada a parte do
recusarem ao contrato natureza seu objecto, nos termos do artigo 292º
aleatória. ou por força de outros preceitos legais,
o preço respeitante à parte válida do
ARTIGO 882º contrato é o que neste figurar, se
(Entrega da coisa) houver sido discriminado como parcela
do preço global.
1. A coisa deve ser entregue no estado
em que se encontrava ao tempo da 2. Na falta de discriminação, a redução
venda. é feita por meio de avaliação.
- 168 -
1. O direito ao recebimento da
ARTIGO 887º diferença de preço caduca dentro de
(Coisas determinadas. Preço seis meses ou um ano após a entrega
fixado por unidade) da coisa, consoante esta for móvel ou
imóvel; mas, se a diferença só se
Na venda de coisas determinadas, com tornar exigível em momento posterior
preço fixado à razão de tanto por à entrega, o prazo contar-se-á a partir
unidade, é devido o preço proporcional desse momento.
ao número, peso ou medida real das
coisas vendidas, sem embargo de no 2. Na venda de coisas que hajam de
contrato se declarar quantidade ser transportadas de um lugar para
diferente. outro, o prazo reportado à data da
entrega só começa a correr no dia em
ARTIGO 888º que o comprador as receber.
(Coisas determinadas. Preço não
fixado por unidade) ARTIGO 891º
(Resolução do contrato)
1. Se na venda de coisas determinadas
o preço não for estabelecido à razão de 1. Se o preço devido por aplicação do
tanto por unidade, o comprador deve o artigo 887º ou do nº 2 do artigo 888º
preço declarado, mesmo que no exceder o proporcional à quantidade
contrato se indique o número, peso ou declarada em mais de um vigésimo
medida das coisas vendidas e a deste, e o vendedor exigir esse
indicação não corresponda à realidade. excesso, o comprador tem o direito de
resolver o contrato, salvo se houver
2. Se, porém, a quantidade efectiva procedido com dolo.
diferir da declarada em mais de um
vigésimo desta, o preço sofrerá 2. O direito à resolução caduca no
redução ou aumento proporcional. prazo de três meses, a contar da data
em que o vendedor fizer por escrito a
ARTIGO 889º exigência do excesso.
(Compensação entre faltas e
excessos) SECÇÃO IV
Venda de bens alheios
Quando se venda por um só preço uma
pluralidade de coisas determinadas e ARTIGO 892º
homogéneas, com indicação do peso (Nulidade da venda)
ou medida de cada uma delas, e se
declare quantidade inferior à real É nula a venda de bens alheios sempre
quanto a alguma ou algumas e que o vendedor careça de legitimidade
superior quanto a outra ou outras, far- para a realizar; mas o vendedor não
se-á compensação entre as faltas e os pode opor a nulidade ao comprador de
excessos até ao limite da sua boa fé, como não pode opô-la ao
concorrência. vendedor de boa fé o comprador
doloso.
ARTIGO 890º
(Caducidade do direito à diferença
de preço)
- 169 -
ARTIGO 893º b) Restituição do preço ou pagamento
(Bens alheios como bens futuros) da indemnização, no todo ou em parte,
com aceitação do credor;
A venda de bens alheios fica, porém,
sujeita ao regime da venda de bens c) Transacção entre os contraentes, na
futuros, se as partes os considerarem qual se reconheça a nulidade do
nesta qualidade. contrato;
- 170 -
(Disposições supletivas)
O vendedor é obrigado a indemnizar o
comprador de boa fé, ainda que tenha 1. O disposto no artigo 894º, no nº 1
agido sem dolo nem culpa; mas, neste do artigo 897º, no artigo 899º, no nº 1
caso, a indemnização compreende do artigo 900º e no artigo 901º cede
apenas os danos emergentes que não perante convenção em contrário,
resultem de despesas voluptuárias. excepto se o contraente a quem a
convenção aproveitaria houver agido
ARTIGO 900º com dolo, e de boa fé o outro
(Indemnização pela não estipulante.
convalidação da venda)
2. A declaração contratual de que o
1. Se o vendedor for responsável pelo vendedor não garante a sua
não cumprimento da obrigação de legitimidade ou não responde pela
sanar a nulidade da venda ou pela evicção envolve derrogação de todas
mora no seu cumprimento, a as disposições legais a que o número
respectiva indemnização acresce à anterior se refere, com excepção do
regulada nos artigos anteriores, preceituado no artigo 894º.
excepto na parte em que o prejuízo
seja comum. 3. As cláusulas derrogadoras das
disposições supletivas a que se refere
2. Mas, no caso previsto no artigo o nº 1 são válidas, sem embargo da
898º, o comprador escolherá entre a nulidade do contrato de compra e
indemnização dos lucros cessantes venda onde se encontram insertas,
pela celebração do contrato nulo e a desde que a nulidade proceda da
dos lucros cessantes pela falta ou ilegitimidade do vendedor, nos termos
retardamento da convalidação. desta secção.
- 171 -
ARTIGO 906º obrigado a indemnizar o comprador,
(Convalescença do contrato) ainda que não tenha havido culpa da
sua parte, mas a indemnização
1. Desaparecidos por qualquer modo abrange apenas os danos emergentes
os ónus ou limitações a que o direito do contrato.
estava sujeito, fica sanada a
anulabilidade do contrato. ARTIGO 910º
(Não cumprimento da obrigação de
2. A anulabilidade persiste, porém, se fazer convalescer o contrato)
a existência dos ónus ou limitações já
houver causado prejuízo ao 1. Se o vendedor se constituir em
comprador, ou se este já tiver pedido responsabilidade por não sanar a
em juízo a anulação da compra e anulabilidade do contrato, a
venda. correspondente indemnização acresce
à que o comprador tenha direito a
ARTIGO 907º receber na conformidade dos artigos
(Obrigação de fazer convalescer o precedentes, salvo na parte em que o
contrato. prejuízo foi comum.
Cancelamento dos registos)
2. Mas, no caso previsto no artigo
1. O vendedor é obrigado a sanar a 908º, o comprador escolherá entre a
anulabilidade do contrato, mediante a indemnização dos lucros cessantes
expurgação dos ónus ou limitações pela celebração do contrato que veio a
existentes. ser anulado e a dos lucros cessantes
pelo facto de não ser sanada a
2. O prazo para a expurgação será anulabilidade.
fixado pelo tribunal, a requerimento do
comprador. ARTIGO 911º
(Redução do preço)
3. O vendedor deve ainda promover, à
sua custa, o cancelamento de qualquer 1. Se as circunstâncias mostrarem
ónus ou limitação que conste do que, sem erro ou dolo, o comprador
registo, mas na realidade não exista. teria igualmente adquirido os bens,
mas por preço inferior, apenas lhe
ARTIGO 908º caberá o direito à redução do preço,
(Indemnização em caso de dolo) em harmonia com a desvalorização
resultante dos ónus ou limitações,
Em caso de dolo, o vendedor, anulado além da indemnização que no caso
o contrato, deve indemnizar o competir.
comprador do prejuízo que este não
sofreria se a compra e venda não 2. São aplicáveis à redução do preço
tivesse sido celebrada. os preceitos anteriores, com as
necessárias adaptações.
ARTIGO 909º
(Indemnização em caso de simples ARTIGO 912º
erro) (Disposições supletivas)
- 172 -
artigo 910º cede perante estipulação (Indemnização em caso de simples
das partes em contrário, a não ser que erro)
o vendedor tenha procedido com dolo
e as cláusulas contrárias àquelas A indemnização prevista no artigo
normas visem a beneficiá-lo. 909º também não é devida, se o
vendedor se encontrava nas condições
2. Não obsta à validade das cláusulas a que se refere a parte final do artigo
derrogadoras destas disposições anterior.
supletivas a anulação do contrato de
compra e venda por erro ou dolo, ARTIGO 916º
segundo as prescrições desta secção. (Denúncia do defeito)
- 173 -
são aplicáveis as regras relativas ao meses sobre a data em que a denúncia
não cumprimento das obrigações. foi efectuada.
- 174 -
3. O vendedor pode fixar um prazo (Noção)
razoável para a resolução, se nenhum
for estabelecido pelo contrato ou, no Diz-se a retro a venda em que se
silêncio deste, pelos usos. reconhece ao vendedor a faculdade de
resolver o contrato.
ARTIGO 925º
(Venda sujeita a prova) ARTIGO 928º
(Cláusulas nulas)
1. A venda sujeita a prova considera-
se feita sob a condição suspensiva de a 1. É nula, sem prejuízo da validade das
coisa ser idónea para o fim a que é outras cláusulas, a estipulação de
destinada e ter as qualidades pagamento de dinheiro ao comprador
asseguradas pelo vendedor, excepto se ou de qualquer outra vantagem para
as partes a subordinarem a condição este, como contrapartida da resolução.
resolutiva.
2. É igualmente nula, quanto ao
2. A prova deve ser feita dentro do excesso, a cláusula que declare o
prazo e segundo a modalidade vendedor obrigado a restituir, em caso
estabelecida pelo contrato ou pelos de resolução, preço superior ao fixado
usos; se tanto o contrato como os usos para a venda.
forem omissos, observar-se-ão o prazo
fixado pelo vendedor e a modalidade ARTIGO 929º
escolhida pelo comprador, desde que (Prazo para a resolução)
sejam razoáveis.
1. A resolução pode ser exercida
3. Não sendo o resultado da prova dentro de dois ou cinco anos a contar
comunicado ao vendedor antes de da venda, conforme esta for de bens
expirar o prazo a que se refere o móveis ou imóveis, salvo estipulação
número antecedente, a condição tem- de prazo mais curto.
se por verificada quando suspensiva, e
por não verificada quando resolutiva. 2. Se as partes convencionarem prazo
ou prorrogação de prazo que exceda o
4. A coisa deve ser facultada ao limite de dois ou cinco anos a partir da
comprador para prova. venda, a convenção considera-se
reduzida a esse preciso limite.
ARTIGO 926º
(Dúvidas sobre a modalidade da ARTIGO 930º
venda) (Forma da resolução)
- 175 -
ARTIGO 931º ARTIGO 935º
(Reembolso do preço e de (Cláusula penal no caso de o
despesas) comprador não cumprir)
- 176 -
SECÇÃO X SECÇÃO XI
Venda sobre documentos Outros contratos onerosos
- 177 -
1. A doação não pode abranger bens declarada ao doador, sob pena de não
futuros. produzir os seus efeitos.
- 178 -
1. Não é permitido atribuir a outrem, (Casos de indisponibilidade
por mandato, a faculdade de designar relativa)
a pessoa do donatário ou determinar o
objecto da doação, salvo nos casos É aplicável às doações, devidamente
previstos no nº 2 do artigo 2182º. adaptado, o disposto nos artigos 2192º
a 2198º.
2. Os representantes legais dos
incapazes não podem fazer doações SECÇÃO III
em nome destes. Efeitos das doações
ARTIGO 950º
(Capacidade passiva) ARTIGO 954º
(Efeitos essenciais)
1. Podem receber doações todos os
que não estão especialmente inibidos A doação tem como efeitos essenciais:
de as aceitar por disposição da lei.
a) A transmissão da propriedade da
2. A capacidade do donatário é fixada coisa ou da titularidade do direito;
no momento da aceitação.
b) A obrigação de entregar a coisa;
ARTIGO 951º
(Aceitação por parte de incapazes) c) A assunção da obrigação, quando
for esse o objecto do contrato.
1. As pessoas que não têm capacidade
para contratar não podem aceitar ARTIGO 955º
doações com encargos senão por (Entrega da coisa)
intermédio dos seus representantes
legais. 1. A coisa deve ser entregue no estado
em que se encontrava ao tempo da
2. Porém, as doações puras feitas a aceitação.
tais pessoas produzem efeitos
independentemente de aceitação em 2. A obrigação de entrega abrange, na
tudo o que aproveite aos donatários. falta de estipulação em contrário, as
partes integrantes, os frutos pendentes
ARTIGO 952º e os documentos relativos à coisa ou
(Doações a nascituros) direito.
- 179 -
a) Ter o doador assumido 2. Havendo reserva de usufruto em
expressamente a obrigação de favor de várias pessoas, simultânea ou
indemnizar o prejuízo; sucessivamente, são aplicáveis as
disposições dos artigos 1441º e 1442º.
b) Ter o doador agido com dolo;
ARTIGO 959º
c) Ter a doação carácter (Reserva do direito de dispor de
remuneratório; coisa determinada)
- 180 -
ARTIGO 962º O doador, ou os seus herdeiros,
(Substituições fideicomissárias) também podem pedir a resolução da
doação, fundada no não cumprimento
1. São admitidas substituições dos encargos, quando esse direito lhes
fideicomissárias nas doações. seja conferido pelo contrato.
- 181 -
3. Se o donatário tiver cometido contra
(Redacção do Dec.-Lei 496/77, de 25- o doador o crime de homicídio, ou por
11) qualquer causa o tiver impedido de
revogar a doação, a acção pode ser
ARTIGOS 971º A 973º proposta pelos herdeiros do doador
(Revogados pelo Dec.-Lei 496/77, de dentro de um ano a contar da morte
25-11) deste.
- 182 -
prejuízo das regras relativas ao 2. Se o contrato conceder direitos
registo; neste caso, porém, o especiais a algum dos sócios, não
donatário indemnizará o doador. podem os direitos concedidos ser
suprimidos ou coarctados sem o
CAPÍTULO III assentimento do respectivo titular,
Sociedade salvo estipulação expressa em
contrário.
SECÇÃO I
Disposições gerais SECÇÃO II
Relações entre os sócios
ARTIGO 980º
(Noção)
ARTIGO 983º
Contrato de sociedade é aquele em (Entradas)
que duas ou mais pessoas se obrigam
a contribuir com bens ou serviços para 1. Os sócios estão somente obrigados
o exercício em comum de certa às entradas estabelecidas no contrato.
actividade económica, que não seja de
mera fruição, a fim de repartirem os 2. As entradas dos sócios presumem-
lucros resultantes dessa actividade. se iguais em valor, se este não for
determinado no contrato.
ARTIGO 981º
(Forma) ARTIGO 984º
(Execução da prestação, garantia e
1. O contrato de sociedade não está risco da coisa)
sujeito a forma especial, à excepção da
que for exigida pela natureza dos bens A execução da prestação, a garantia e
com que os sócios entram para a o risco da coisa são regulados nos
sociedade. termos seguintes:
ARTIGO 985º
- 183 -
(Administração) 3. A designação de administradores
feita em acto posterior pode ser
1. Na falta de convenção em contrário, revogada por deliberação da maioria
todos os sócios têm igual poder para dos sócios, sendo em tudo o mais
administrar. aplicáveis à revogação as regras do
mandato.
2. Pertencendo a administração a
todos os sócios ou apenas a alguns ARTIGO 987º
deles, qualquer dos administradores (Direitos e obrigações dos
tem o direito de se opor ao acto que administradores)
outro pretenda realizar, cabendo à
maioria decidir sobre o mérito da 1. Aos direitos e obrigações dos
oposição. administradores são aplicáveis as
normas do mandato.
3. Se o contrato confiar a
administração a todos ou a vários 2. Qualquer sócio pode tornar efectiva
sócios em conjunto, entende-se, em a responsabilidade a que está sujeito o
caso de dúvida, que as deliberações administrador.
podem ser tomadas por maioria.
ARTIGO 988º
4. Salvo estipulação noutro sentido, (Fiscalização dos sócios)
considera-se tomada por maioria a
deliberação que reúna os sufrágios de 1. Nenhum sócio pode ser privado,
mais de metade dos administradores. nem sequer por cláusula do contrato,
do direito de obter dos administradores
5. Ainda que para a administração em as informações de que necessite sobre
geral, ou para determinada categoria os negócios da sociedade, de consultar
de actos, seja exigido o assentimento os documentos a eles pertinentes e de
de todos os administradores, ou da exigir a prestação de contas.
maioria deles, a qualquer dos
administradores é lícito praticar os 2. As contas são prestadas no fim de
actos urgentes da administração cada ano civil, salvo se outra coisa for
destinados a evitar à sociedade um estipulada no contrato, ou se for
dano iminente. inferior a um ano a duração prevista
para a sociedade.
ARTIGO 986º
(Alteração da administração) ARTIGO 989º
(Uso das coisas sociais)
1. A cláusula do contrato que atribuir a
administração ao sócio pode ser O sócio não pode, sem consentimento
judicialmente revogada, a unânime dos consócios, servir-se das
requerimento de qualquer outro, coisas sociais para fins estranhos à
ocorrendo justa causa. sociedade.
- 184 -
própria ou alheia, actividade igual à da 1. Convencionando-se que a divisão
sociedade fica responsável pelos danos dos ganhos e perdas seja feita por
que lhe causar, podendo ainda ser terceiro, deve este fazê-la segundo
excluído, nos termos da alínea a) do juízos de equidade, sempre que não
artigo 1003º. haja estipulação em contrário; se a
divisão não puder ser feita ou não tiver
ARTIGO 991º sido feita no tempo devido, sê-lo-á
(Distribuição periódica dos lucros) pelo tribunal, segundo os mesmos
juízos.
Se os contraentes nada tiverem
declarado sobre o destino dos lucros 2. Qualquer sócio tem o direito de
de cada exercício, os sócios têm direito impugnar a divisão feita por terceiro,
a que estes lhes sejam atribuídos nos no prazo de seis meses a contar do dia
termos fixados no artigo imediato, em que ela chegou ao seu
depois de deduzidas as quantias conhecimento.
afectadas, por deliberação da maioria,
à prossecução dos fins sociais. 3. Porém, a recepção dos respectivos
lucros extingue o direito à
ARTIGO 992º impugnação, salvo se anteriormente se
(Distribuição dos lucros e das protestou contra a divisão, ou se, ao
perdas) tempo do recebimento, eram
desconhecidas as causas da
1. Na falta de convenção em contrário, impugnabilidade.
os sócios participam nos lucros e
perdas da sociedade segundo a ARTIGO 994º
proporção das respectivas entradas. (Pacto leonino)
- 185 -
(Resposabilidade por factos
1. A sociedade é representada em ilícitos)
juízo e fora dele pelos seus
administradores, nos termos do 1. A sociedade responde civilmente
contrato ou de harmonia com as pelos actos ou omissões dos seus
regras fixadas no artigo 985º. representantes, agentes ou
mandatários, nos mesmos termos em
2. Quando não estiverem sujeitas a que os comitentes respondem pelos
registo, as deliberações sobre a actos ou omissões dos seus
extinção ou modificação dos poderes comissários.
dos administradores não são oponíveis
a terceiros que, sem culpa, as 2. Não podendo o lesado ressarcir-se
ignoravam ao tempo em que completamente, nem pelos bens da
contrataram com a sociedade; sociedade, nem pelo património do
considera-se sempre culposa a representante, agente ou mandatário,
ignorância, se à deliberação foi dada a ser-lhe-á lícito exigir dos sócios o que
publicidade conveniente. faltar, nos mesmos termos em que o
poderia fazer qualquer credor social.
ARTIGO 997º
(Responsabilidade pelas ARTIGO 999º
obrigações sociais) (Credor particular do sócio)
- 186 -
3. A exoneração só se torna efectiva
ARTIGO 1001º no fim do ano social em que é feita a
(Morte de um sócio) comunicação respectiva, mas nunca
antes de decorridos três meses sobre
1. Falecendo um sócio, se o contrato esta comunicação.
nada estipular em contrário, deve a
sociedade liquidar a sua quota em 4. As causas legais de exoneração não
benefício dos herdeiros; mas os sócios podem ser suprimidas ou modificadas;
supérstites têm a faculdade de optar a supressão ou modificação das causas
pela dissolução da sociedade, ou pela contratuais depende do acordo de
sua continuação com os herdeiros se todos os sócios.
vierem a acordo com eles.
ARTIGO 1003º
2. A opção pela dissolução da (Exclusão)
sociedade só é oponível aos herdeiros
do sócio falecido se lhes for A exclusão de um sócio pode dar-se
comunicada dentro de sessenta dias, a nos casos previstos no contrato, e
contar do conhecimento da morte ainda nos seguintes:
pelos sócios supérstites.
a) Quando lhe seja imputável violação
3. Sendo dissolvida a sociedade, os grave das obrigações para com a
herdeiros assumem todos os direitos sociedade;
inerentes, na sociedade em liquidação,
à quota do sócio falecido. b) Em caso de interdição ou
inabilitação;
4. Sendo os herdeiros chamados à
sociedade, podem livremente dividir c) Quando, sendo sócio de indústria,
entre si o quinhão do seu antecessor se impossibilite de prestar à sociedade
ou encabeçá-lo em algum ou alguns os serviços a que ficou obrigado;
deles.
d) Quando, por causa não imputável
ARTIGO 1002º aos administradores, se verifique o
(Exoneração) perecimento da coisa ou direito que
constituía a entrada do sócio, nos
1. Todo o sócio tem o direito de se termos do artigo seguinte.
exonerar da sociedade, se a duração
desta não tiver sido fixada no ARTIGO 1004º
contrato; não se considera, para este (Perecimento superveniente da
efeito, fixada no contrato a duração da coisa)
sociedade, se esta tiver sido
constituída por toda a vida de um sócio O perecimento superveniente da coisa
ou por período superior a trinta anos. é fundamento de exclusão do sócio:
- 187 -
b) Se o sócio entrou para a sociedade
apenas com o uso e fruição da coisa a) Por acordo dos sócios;
perdida.
b) Pelo decurso do prazo fixado no
ARTIGO 1005º contrato, não havendo porrogação;
(Deliberação sobre a exclusão)
c) Pela realização do objecto social, ou
1. A exclusão depende do voto da por este se tornar impossível;
maioria dos sócios, não incluindo no
número destes o sócio em causa, e d) Por se extinguir a pluralidade dos
produz efeitos decorridos trinta dias sócios, se no prazo de seis meses não
sobre a data da respectiva for reconstituída;
comunicação ao excluído.
e) Por decisão judicial que declare a
2. O direito de oposição do sócio sua insolvência;
excluído caduca decorrido o prazo
referido no número anterior. f) Por qualquer outra causa prevista no
contrato.
3. Se a sociedade tiver apenas dois
sócios, a exclusão de qualquer deles só ARTIGO 1008º
pode ser pronunciada pelo tribunal. (Dissolução por acordo.
Prorrogação do prazo)
ARTIGO 1006º
(Eficácia da exoneração ou 1. A dissolução por acordo depende do
exclusão) voto unânime dos sócios, a não ser
que o contrato permita a modificação
1. A exoneração ou exclusão não das suas cláusulas ou a dissolução da
isenta o sócio da responsabilidade em sociedade por simples voto maioritário.
face de terceiros pelas obrigações
sociais contraídas até ao momento em 2. A prorrogação do prazo fixado no
que a exoneração ou exclusão produzir contrato pode ser validamente
os seus efeitos. convencionada até à partilha;
considera-se tacitamente prorrogada a
2. A exoneração e a exclusão que não sociedade, por tempo indeterminado,
estejam sujeitas a registo não são se os sócios continuaram a exercer a
oponíveis a terceiros que, sem culpa, actividade social, salvo se das
as ignoravam ao tempo em que circunstâncias resultar que não houve
contrataram com a sociedade; essa intenção.
considera-se sempre culposa a
ignorância, se ao acto foi dada a ARTIGO 1009º
publicidade conveniente. (Poderes dos administradores
depois da dissolução)
SECÇÃO V
Dissolução da sociedade 1. Dissolvida a sociedade, os poderes
dos administradores ficam limitados à
ARTIGO 1007º prática dos actos meramente
(Causas de dissolução) conservatórios e, no caso de não
terem sido nomeados liquidatários, dos
A sociedade dissolve-se:
- 188 -
actos necessários à liquidação do deste suprida pelo tribunal, por
património social. iniciativa de qualquer sócio ou credor.
- 189 -
sociedade ou consignadas as quantias proporção da parte que lhes caiba nos
necessárias. lucros.
- 190 -
assentimento; se a lei exigir escritura
2. Na avaliação da quota observar-se- pública para a celebração do
ão, com as adaptações necessárias, as arrendamento, deve o assentimento
regras dos nºs 1 a 3 do artigo 1018º, ser prestado por igual forma.
na parte em que forem aplicáveis.
ARTIGO 1025º
3. O pagamento do valor da liquidação (Duração máxima)
deve ser feito, salvo acordo em
contrário, dentro do prazo de seis A locação não pode celebrar-se por
meses, a contar do dia em que tiver mais de trinta anos; quando estipulada
ocorrido ou produzido efeitos o facto por tempo superior, ou como contrato
determinante da liquidação. perpétuo, considera-se reduzida
àquele limite.
CAPÍTULO IV
Locação ARTIGO 1026º
(Prazo supletivo)
SECÇÃO I
Disposições gerais Na falta de estipulação, entende-se
que o prazo de duração do contrato é
ARTIGO 1022º igual à unidade de tempo a que
(Noção) corresponde a retribuição fixada,
salvas as disposições especiais deste
Locação é o contrato pelo qual uma código.
das partes se obriga a proporcionar à
outra o gozo temporário de uma coisa, ARTIGO 1027º
mediante retribuição. (Fim do contrato)
- 191 -
partes da coisa correspondentes às (Enumeração)
várias finalidades, ou estas forem
solidárias entre si. São obrigações do locador:
3. Se, porém, um dos fins for principal a) Entregar ao locatário a coisa locada;
e os outros subordinados, prevalecerá
o regime correspondente ao fim b) Assegurar-lhe o gozo desta para os
principal; os outros regimes só são fins a que a coisa se destina.
aplicáveis na medida em que não
contrariem o primeiro e a aplicação ARTIGO 1032º
deles se não mostre incompatível com (Vício da coisa locada)
o fim principal.
Quando a coisa locada apresentar vício
ARTIGO 1029º que lhe não permita realizar
(Exigência de escritura pública) cabalmente o fim a que é destinada,
ou carecer de qualidades necessárias a
1. Devem ser reduzidos a escritura esse fim ou asseguradas pelo locador,
pública: considera-se o contrato não cumprido:
- 192 -
extrajudicialmente, com direito ao seu
ARTIGO 1034º reembolso.
(Ilegitimidade do locador ou
deficiência do seu direito) 2. Quando a urgência não consinta
qualquer dilação, o locatário pode fazer
1. São aplicáveis as disposições dos as reparações ou despesas, também
dois artigos anteriores: com direito a reembolso,
independentemente de mora do
a) Se o locador não tiver a faculdade locador, contanto que o avise ao
de proporcionar a outrem o gozo da mesmo tempo.
coisa locada;
ARTIGO 1037º
b) Se o seu direito não for de (Actos que impedem ou diminuem
propriedade ou estiver sujeito a algum o gozo da coisa)
ónus ou limitação que exceda os
limites normais inerentes a este 1. Não obstante convenção em
direito; contrário, o locador não pode praticar
actos que impeçam ou diminuam o
c) Se o direito do locador não possuir gozo da coisa pelo locatário, com
os atributos que ele assegurou ou excepção dos que a lei ou os usos
estes atributos cessarem facultem ou o próprio locatário
posteriormente por culpa dele. consinta em cada caso, mas não tem
obrigação de assegurar esse gozo
2. As circunstâncias descritas no contra actos de terceiro.
número antecedente só importam a
falta de cumprimento do contrato 2. O locatário que for privado da coisa
quando determinarem a privação, ou perturbado no exercício dos seus
definitiva ou temporária, do gozo da direitos pode usar, mesmo contra o
coisa ou a diminuição dele por parte do locador, dos meios facultados ao
locatário. possuidor nos artigos 1276º e
seguintes.
ARTIGO 1035º
(Anulabilidade por erro ou dolo) SECÇÃO III
Obrigações do locatário
O disposto nos artigos 1032º e 1034º
não obsta à anulação do contrato por SUBSECÇÃO I
erro ou por dolo, nos termos gerais. Disposição geral
- 193 -
c) Não aplicar a coisa a fim diverso do locatário ou de procurador seu, e o
daqueles a que ela se destina; pagamento não tiver sido efectuado,
presume-se que o locador não veio
d) Não fazer dela uma utilização nem mandou receber a prestação no
imprudente; dia do vencimento.
- 194 -
locador tem o direito de recusar o 2. Presume-se que a coisa foi entregue
recebimento das rendas ou alugueres ao locatário em bom estado de
seguintes, os quais são considerados manutenção, quando não exista
em dívida para todos os efeitos. documento onde as partes tenham
descrito o estado dela ao tempo da
4. A recepção de novas rendas ou entrega.
alugueres não priva o locador do
direito à resolução do contrato ou à ARTIGO 1044º
indemnização referida, com base nas (Perda ou deterioração da coisa)
prestações em mora.
O locatário responde pela perda ou
(Redacção do Dec.-Lei 293/77, de 20- deteriorações da coisa, não
7) exceptuadas no artigo anterior, salvo
se resultarem de causa que lhe não
ARTIGO 1042º seja imputável nem a terceiro a quem
(Depósito das rendas ou alugueres tenha permitido a utilização dela.
em atraso)
ARTIGO 1045º
1. Se o locatário depositar as rendas (Indemnização pelo atraso na
ou alugueres em atraso, bem como a restituição da coisa)
indemnização fixada no nº 1 do artigo
anterior, quando devida, e requerer 1. Se a coisa locada não for restituída,
dentro de cinco dias a notificação por qualquer causa, logo que finde o
judicial do depósito ao locador, contrato, o locatário é obrigado, a
presume-se que lhe ofereceu o título de indemnização, a pagar até ao
pagamento respectivo, pondo fim à momento da restituição a renda ou
mora, e que este o recusou. aluguer que as partes tenham
estipulado, excepto se houver
2. O depósito, quando abranja a fundamento para consignar em
indemnização, envolve da parte do depósito a coisa devida.
locatário o reconhecimento de que
caíra em mora, salvo se for feito 2. Logo, porém, que o locatário se
condicionalmente; mas este preceito constitua em mora, a indemnização é
não se aplica à oferta do pagamento. elevada ao dobro.
- 195 -
correm sempre, na falta de estipulação O locatário pode resolver o contrato,
em contrário, por conta do locatário. independentemente de
responsabilidade do locador:
SECÇÃO IV
Resolução e caducidade do a) Se, por motivo estranho à sua
contrato própria pessoa ou à dos seus
familiares, for privado do gozo da
SUBSECÇÃO I coisa, ainda que só temporariamente;
Resolução
b) Se na coisa locada existir ou
ARTIGO 1047º sobrevier defeito que ponha em perigo
(Falta de cumprimento por parte a vida ou a saúde do locatário ou dos
do locatário) seus familiares.
O locador não tem direito à resolução d) Por morte do locatário ou, tratando-
do contrato com fundamento na se de pessoa colectiva, pela extinção
violação do disposto nas alíneas f) e g) desta, salvo convenção escrita em
do artigo 1038º, se tiver reconhecido o contrário;
beneficiário da cedência como tal, ou
ainda, no caso da alínea g), se a e) Pela perda da coisa locada;
comunicação lhe tiver sido feita por
este. f) No caso de expropriação por
utilidade pública, a não ser que a
ARTIGO 1050º expropriação se compadeça com a
(Resolução do contrato pelo subsistência do contrato.
locatário)
(Redacção do Dec.-Lei 321-B/90, de
15-10)
- 196 -
(Denúncia)
ARTIGO 1052º
(Excepções) 1. A denúncia tem de ser comunicada
ao outro contraente com a
O contrato de locação não caduca: antecedência mínima seguinte:
- 197 -
A liberação ou cessão de rendas ou O locatário não pode cobrar do
alugueres não vencidos é inoponível ao sublocatário renda ou aluguer superior
sucessor entre vivos do locador, na ou proporcionalmente superior ao que
medida em que tais rendas ou é devido pelo contrato de locação,
alugueres respeitem a períodos de aumentado de vinte por cento, salvo
tempo não decorridos à data da se outra coisa tiver sido convencionada
sucessão. com o locador.
- 198 -
ARTIGO 1126º
ARTIGO 1122º (Risco)
(Prazo)
1. Se os animais perecerem, se
1. Na falta de convenção quanto a inutilizarem ou diminuírem de valor,
prazo, atender-se-á aos usos da terra; por facto não imputável ao parceiro
na falta de usos, qualquer dos pensador, o risco corre por conta do
contraentes pode, a todo o tempo, proprietário.
fazer caducar a parceria.
2. Se, porém, algum proveito se puder
2. A existência de prazo não impede tirar dos animais que pereceram ou se
que o contraente resolva o contrato, se inutilizaram, pertence o benefício ao
a outra parte não cumprir as suas proprietário até ao valor deles no
obrigações. momento da entrega.
- 199 -
(Comodato fundado num direito
temporário) O comodante não responde pelos
vícios ou limitações do direito nem
1. Se o comodante emprestar a coisa pelos vícios da coisa, excepto quando
com base num direito de duração se tiver expressamente
limitada, não pode o contrato ser responsabilizado ou tiver procedido
celebrado por tempo superior; e, com dolo.
quando o seja, reduzir-se-á ao limite
de duração desse direito. ARTIGO 1135º
(Obrigações do comodatário)
2. É aplicável ao comodato constituído
pelo usufrutuário o disposto nas São obrigações do comodatário:
alíneas a) e b) do artigo 1052º.
a) Guardar e conservar a coisa
ARTIGO 1131º emprestada;
(Fim do contrato)
b) Facultar ao comodante o exame
Se do contrato e respectivas dela;
circunstâncias não resultar o fim a que
a coisa emprestada se destina, é c) Não a aplicar a fim diverso daquele
permitido ao comodatário aplicá-la a a que a coisa se destina;
quaisquer fins lícitos, dentro da função
normal das coisas de igual natureza. d) Não fazer dela uma utilização
imprudente;
ARTIGO 1132º
(Frutos da coisa) e) Tolerar quaisquer benfeitorias que o
comodante queira realizar na coisa;
Só por força de convenção expressa o
comodatário pode fazer seus os frutos f) Não proporcionar a terceiro o uso da
colhidos. coisa, excepto se o comodante o
autorizar;
ARTIGO 1133º
(Actos que impedem ou diminuem g) Avisar imediantamente o
o uso da coisa) comodante, sempre que tenha
conhecimento de vícios na coisa ou
1. O comodante deve abster-se de saiba que a ameaça algum perigo ou
actos que impeçam ou restrinjam o que terceiro se arroga direitos em
uso da coisa pelo comodatário, mas relação a ela, desde que o facto seja
não é obrigado a assegurar-lhe esse ignorado do comodante;
uso.
h) Restituir a coisa findo o contrato.
2. Se este for privado dos seus direitos
ou perturbado no exercício deles, pode ARTIGO 1136º
usar, mesmo contra o comodante, dos (Perda ou deterioração da coisa)
meios facultados ao possuidor nos
artigos 1276º e seguintes. 1. Quando a coisa emprestada perecer
ou se deteriorar casualmente, o
ARTIGO 1134º comodatário é responsável, se estava
(Responsabilidade do comodante) no seu poder tê-lo evitado, ainda que
- 200 -
mediante o sacrifício de coisa própria destes correm, salvo estipulação em
de valor não superior. contrário, por conta do comodatário.
- 201 -
(Propriedade das coisas 4. O respeito dos limites máximos
mutuadas) referidos neste artigo não obsta à
aplicabilidade dos artigos 282º a 284º.
As coisas mutuadas tornam-se
propriedade do mutuário pelo facto da (Redacção do Dec.-Lei 262/83, de 16-
entrega. 6)
- 202 -
impossível ou extremamente difícil por resultado do seu trabalho intelectual
causa não imputável ao mutuário, ou manual, com ou sem retribuição.
pagará este o valor que a coisa tiver
no momento e lugar do vencimento da ARTIGO 1155º
obrigação. (Modalidades do contrato)
- 203 -
normalmente no cumprimento do
ARTIGO 1159º contrato.
(Extensão do mandato)
ARTIGO 1162º
1. O mandato geral só compreende os (Inexecução do mandato ou a
actos de administração ordinária. inobservância das instruções)
- 204 -
O mandatário pode, na execução do obrigação expressa na alínea a) do
mandato, fazer-se substituir por artigo anterior.
outrem ou servir-se de auxiliares, nos
mesmos termos em que o procurador ARTIGO 1169º
o pode fazer. (Pluralidade de mandantes)
- 205 -
A parte que revogar o contrato deve (Morte, interdição ou inabilitação
indemnizar a outra do prejuízo que do mandante)
esta sofrer:
A morte, interdição ou inabilitação do
a) Se assim tiver sido convencionado; mandante não faz caducar o mandato,
quando este tenha sido conferido
b) Se tiver sido estipulada a também no interesse do mandatário
irrevogabilidade ou tiver havido ou de terceiro; nos outros casos, só o
renúncia ao direito de revogação; faz caducar a partir do momento em
que seja conhecida do mandatário, ou
c) Se a revogação proceder do quando da caducidade não possam
mandante e versar sobre mandato resultar prejuízos para o mandante ou
oneroso, sempre que o mandato tenha seus herdeiros.
sido conferido por certo tempo ou para
determinado assunto, ou que o ARTIGO 1176º
mandante o revogue sem a (Morte, interdição ou incapacidade
antecedência conveniente; natural do mandatário)
- 206 -
nome do mandante, é também (Obrigações contraídas em
aplicável ao mandato o disposto nos execução do mandato)
artigos 258º e seguintes.
O mandante deve assumir, por
2. O mandatário a quem hajam sido qualquer das formas indicadas no nº 1
conferidos poderes de representação do artigo 595º, as obrigações
tem o dever de agir não só por conta, contraídas pelo mandatário em
mas em nome do mandante, a não ser execução do mandato; se não puder
que outra coisa tenha sido estipulada. fazê-lo, deve entregar ao mandatário
os meios necessários para as cumprir
ARTIGO 1179º ou reembolsá-lo do que este houver
(Revogação ou renúncia da despendido nesse cumprimento.
procuração)
ARTIGO 1183º
A revogação e a renúncia da (Responsabilidade do mandatário)
procuração implicam revogação do
mandato. Salvo estipulação em contrário, o
mandatário não é responsável pela
SECÇÃO VI falta de cumprimento das obrigações
Mandato sem representação assumidas pelas pessoas com quem
haja contratado, a não ser que no
momento da celebração do contrato
ARTIGO 1180º conhecesse ou devesse conhecer a
(Mandatário que age em nome insolvência delas.
próprio)
ARTIGO 1184º
O mandatário, se agir em nome (Responsabilidade dos bens
próprio, adquire os direitos e assume adquiridos pelo mandatário)
as obrigações decorrentes dos actos
que celebra, embora o mandato seja Os bens que o mandatário haja
conhecido dos terceiros que participem adquirido em execução do mandato e
nos actos ou sejam destinatários devam ser transferidos para o
destes. mandante nos termos do nº 1 do
artigo 1181º não respondem pelas
ARTIGO 1181º obrigações daquele, desde que o
(Direitos adquiridos em execução mandato conste de documento anterior
do mandato) à data da penhora desses bens e não
tenha sido feito o registo da aquisição,
1. O mandatário é obrigado a transferir quando esta esteja sujeita a registo.
para o mandante os direitos adquiridos
em execução do mandato. CAPÍTULO XI
Depósito
2. Relativamente aos créditos, o
mandante pode substituir-se ao SECÇÃO I
mandatário no exercício dos Disposições gerais
respectivos direitos.
ARTIGO 1185º
ARTIGO 1182º (Noção)
- 207 -
Depósito é o contrato pelo qual uma mesmo contra o depositante, dos
das partes entrega à outra uma coisa, meios facultados ao possuidor nos
móvel ou imóvel, para que a guarde, e artigos 1276º e seguintes.
a restitua quando for exigida.
ARTIGO 1189º
ARTIGO 1186º (Uso da coisa e subdepósito)
(Gratuidade ou onerosidade do
depósito) O depositário não tem o direito de usar
a coisa depositada nem de a dar em
É aplicável ao depósito o disposto no depósito a outrem, se o depositante o
artigo 1158º. não tiver autorizado.
- 208 -
2. Se, porém, for proposta por terceiro ARTIGO 1196º
acção de reivindicação contra o (Despesas da restituição)
depositário, este, enquanto não for
julgada definitivamente a acção, só As despesas da restituição ficam a
pode liberar-se da obrigação de cargo do depositante.
restituir consignando em depósito a
coisa. ARTIGO 1197º
(Responsabilidade no caso de
3. Se chegar ao conhecimento do subdepósito)
depositário que a coisa provém de
crime, deve participar imediatamente o Se o depositário, devidamente
depósito à pessoa a quem foi subtraída autorizado, confiar por sua vez a coisa
ou, não sabendo quem é, ao Ministério em depósito a terceiro, é responsável
Público; e só poderá restituir a coisa por culpa sua na escolha dessa pessoa.
ao depositante se dentro de quinze
dias, contados da participação, ela não ARTIGO 1198º
lhe for reclamada por quem de direito. (Auxiliares)
- 209 -
1. A remuneração do depositário, Salvo convenção em contrário, cabe ao
quando outra coisa se não tenha depositário a obrigação de administrar
convencionado, deve ser paga no a coisa.
termo do depósito; mas, se for fixada
por períodos de tempo, pagar-se-á no SECÇÃO V
fim de cada um deles. Depósito irregular
SECÇÃO IV SECÇÃO I
Depósito de coisa controvertida Disposições gerais
- 210 -
1. O dono da obra pode fiscalizar, à transferência da propriedade para o
sua custa, a execução dela, desde que dono da obra; se os materiais foram
não perturbe o andamento ordinário da fornecidos por este, continuam a ser
empreitada. propriedade dele, assim como é
propriedade sua a coisa logo que seja
2. A fiscalização feita pelo dono da concluída.
obra, ou por comissário, não impede
aquele, findo o contrato, de fazer valer 2. No caso de empreitada de
os seus direitos contra o empreiteiro, construção de imóveis, sendo o solo ou
embora sejam aparentes os vícios da a superfície pertença do dono da obra,
coisa ou notória a má execução do a coisa é propriedade deste, ainda que
contrato, excepto se tiver havido da seja o empreiteiro quem fornece os
sua parte concordância expressa com a materiais; estes consideram-se
obra executada. adquiridos pelo dono da obra à medida
que vão sendo incorporados no solo.
ARTIGO 1210º
(Fornecimento dos materiais e ARTIGO 1213º
utensílios) (Subempreitada)
- 211 -
ao preço estipulado, com dedução do
3. Se tiver sido fixado para a obra um que, em consequência das alterações,
preço global e a autorização não tiver poupar em despesas ou adquirir por
sido dada por escrito com fixação do outras aplicações da sua actividade.
aumento de preço, o empreiteiro só
pode exigir do dono da obra uma ARTIGO 1217º
indemnização correspondente ao (Alterações posteriores à entrega
enriquecimento deste. e obras novas)
- 212 -
5. A falta da verificação ou da 1. Não sendo eliminados os defeitos ou
comunicação importa aceitação da construída de novo a obra, o dono
obra. pode exigir a redução do preço ou a
resolução do contrato, se os defeitos
ARTIGO 1219º tornarem a obra inadequada ao fim a
(Casos de irresponsabilidade do que se destina.
empreiteiro)
2. A redução do preço é feita nos
1. O empreiteiro não responde pelos termos do artigo 884º.
defeitos da obra, se o dono a aceitou
sem reserva, com conhecimento deles. ARTIGO 1223º
(Indemnização)
2. Presumem-se conhecidos os
defeitos aparentes, tenha ou não O exercício dos direitos conferidos nos
havido verificação da obra. artigos antecedentes não exclui o
direito a ser indemnizado nos termos
ARTIGO 1220º gerais.
(Denúncia dos defeitos)
ARTIGO 1224º
1. O dono da obra deve, sob pena de (Caducidade)
caducidade dos direitos conferidos nos
artigos seguintes, denunciar ao 1. Os direitos de eliminação dos
empreiteiro os defeitos da obra dentro defeitos, redução do preço, resolução
dos trinta dias seguintes ao seu do contrato e indemnização caducam,
descobrimento. se não forem exercidos dentro de um
ano a contar da recusa da aceitação da
2. Equivale à denúncia o obra ou da aceitação com reserva, sem
reconhecimento, por parte do prejuízo da caducidade prevista no
empreiteiro, da existência do defeito. artigo 1220º.
- 213 -
contar da entrega, ou no decurso do Se a execução da obra se tornar
prazo de garantia convencionado, a impossível por causa não imputável a
obra, por vício do solo ou da qualquer das partes, é aplicável o
construção, modificação ou reparação, disposto no artigo 790º; tendo, porém,
ou por erros na execução dos havido começo de execução, o dono da
trabalhos, ruir total ou parcialmente, obra é obrigado a indemnizar o
ou apresentar defeitos, o empreiteiro é empreiteiro do trabalho executado e
responsável pelo prejuízo causado ao das despesas realizadas.
dono da obra ou a terceiro adquirente.
ARTIGO 1228º
2. A denúncia, em qualquer dos casos, (Risco)
deve ser feita dentro do prazo de um
ano e a indemnização deve ser pedida 1. Se, por causa não imputável a
no ano seguinte à denúncia. qualquer das partes, a coisa perecer
ou se deteriorar, o risco corre por
3. Os prazos previstos no número conta do proprietário.
anterior são igualmente aplicáveis ao
direito à eliminação dos defeitos, 2. Se, porém, o dono da obra estiver
previstos no artigo 1221º. em mora quanto à verificação ou
aceitação da coisa, o risco corre por
4. O disposto nos números anteriores é conta dele.
aplicável ao vendedor de imóvel que o
tenha construído, modificado ou SECÇÃO V
reparado. Extinção do contrato
- 214 -
considera-se a execução da obra como (Remição)
impossível por causa não imputável a
qualquer das partes. 1. O devedor pode a todo o tempo
remir a renda, mediante o pagamento
CAPÍTULO XIII da importância em dinheiro que
Renda perpétua represente a capitalização da mesma,
à taxa legal de juros.
ARTIGO 1231º
(Noção) 2. O direito de remição é irrenunciável,
mas é lícito estipular-se que não possa
Contrato de renda perpétua é aquele ser exercido em vida do primeiro
em que uma pessoa aliena em favor de beneficiário ou dentro de certo prazo
outra certa soma de dinheiro, ou não superior a vinte anos.
qualquer outra coisa móvel ou imóvel,
ou um direito, e a segunda se obriga, ARTIGO 1237º
sem limite de tempo, a pagar, como (Juros)
renda, determinada quantia em
dinheiro ou outra coisa fungível. A renda perpétua fica sujeita às
disposições legais sobre juros, no que
ARTIGO 1232º for compatível com a sua natureza e
(Forma) com o preceituado nos artigos
antecedentes.
A renda perpétua só é válida se for
constituída por escritura pública. CAPÍTULO XIV
Renda vitalícia
ARTIGO 1233º
(Caução) ARTIGO 1238º
(Noção)
O devedor da renda é obrigado a
caucionar o cumprimento da Contrato de renda vitalícia é aquele em
obrigação. que uma pessoa aliena em favor de
outra certa soma de dinheiro, ou
ARTIGO 1234º qualquer outra coisa móvel ou imóvel,
(Exclusão do direito de acrescer) ou um direito, e a segunda se obriga a
pagar certa quantia em dinheiro ou
Não há na renda perpétua direito de outra coisa fungível durante a vida do
acrescer entre os beneficiários. alienante ou de terceiro.
- 215 -
(Decreto-Lei n.º 343/98, de 6 de O jogo e a aposta não são contratos
Novembro) válidos nem constiuem fonte de
obrigações civis; porém, quando
ARTIGO 1240º lícitos, são fonte de obrigações
(Duração da renda) naturais, excepto se neles concorrer
qualquer outro motivo de nulidade ou
A renda pode ser convencionada por anulabilidade, nos termos gerais de
uma ou duas vidas. direito, ou se houver fraude do credor
na sua execução.
ARTIGO 1241º
(Direito de acrescer) ARTIGO 1246º
(Competições desportivas)
No silêncio do contrato, sendo dois ou
mais os beneficiários da renda, e Exceptuam-se do disposto no artigo
falecendo algum deles, a sua parte anterior as competições desportivas,
acresce à dos outros. com relação às pessoas que nelas
tomarem parte.
ARTIGO 1242º
(Resolução do contrato) ARTIGO 1247º
(Legislação especial)
Ao beneficiário da renda vitalícia é
lícito resolver o contrato nos mesmos Fica ressalvada a legislação especial
termos em que é permitida a resolução sobre a matéria de que trata este
da renda perpétua ao respectivo capítulo.
beneficiário.
CAPÍTULO XVI
ARTIGO 1243º Transacção
(Remição)
ARTIGO 1248º
O devedor só pode remir a renda, com (Noção)
reembolso do que tiver recebido e
perda das prestações já efectuadas, se 1. Transacção é o contrato pelo qual as
assim se tiver convencionado. partes previnem ou terminam um
litígio mediante recíprocas concessões.
ARTIGO 1244º
(Prestações antecipadas) 2. As concessões podem envolver a
constituição, modificação ou extinção
Se as prestações se vencem de direitos diversos do direito
antecipadamente, a última é devida controvertido.
por inteiro, ainda que o beneficiário
faleça antes de completado o período ARTIGO 1249º
respectivo. (Matérias insusceptíveis de
transacção)
CAPÍTULO XV
Jogo e aposta As partes não podem transigir sobre
direitos de que lhes não é permitido
ARTIGO 1245º dispor, nem sobre questões
(Nulidade do contrato)
- 216 -
respeitantes a negócios jurídicos A transacção preventiva ou
ilícitos. extrajudicial constará de escritura
pública quando dela possa derivar
ARTIGO 1250º algum efeito para o qual a escritura
(Forma) seja exigida, e constará de documento
escrito nos casos restantes.
LIVRO III
DIREITO DAS COISAS
- 217 -
2. A posse titulada presume-se de boa
2. Se, porém, a posse do antecessor fé, e a não titulada, de má fé.
for de natureza diferente da posse do
sucessor, a acessão só se dará dentro 3. A posse adquirida por violência é
dos limites daquela que tem menor sempre considerada de má fé, mesmo
âmbito. quando seja titulada.
- 218 -
1. Se o titular do direito real, que está 2. A nova posse de outrem conta-se
na posse da coisa, transmitir esse desde o seu início, se foi tomada
direito a outrem, não deixa de publicamente, ou desde que é
considerar-se transferida a posse para conhecida do esbulhado, se foi tomada
o adquirente, ainda que, por qualquer ocultamente; sendo adquirida por
causa, aquele continue a deter a coisa. violência, só se conta a partir da
cessação desta.
2. Se o detentor da coisa, à data do
negócio translativo do direito, for um CAPÍTULO IV
terceiro, não deixa de considerar-se Efeitos da posse
igualmente transferida a posse, ainda
que essa detenção haja de continuar. ARTIGO 1268º
(Presunção da titularidade do
ARTIGO 1265º direito)
(Inversão do título da posse)
1. O possuidor goza da presunção da
A inversão do título da posse pode dar- titularidade do direito excepto se
se por oposição do detentor do direito existir, a favor de outrem, presunção
contra aquele em cujo nome possuía fundada em registo anterior ao início
ou por acto de terceiro capaz de da posse.
transferir a posse.
2. Havendo concorrência de
ARTIGO 1266º presunções legais fundadas em
(Capacidade para adquirir a posse) registo, será a prioridade entre elas
fixada na legislação respectiva.
Podem adquirir posse todos os que
têm uso da razão, e ainda os que o ARTIGO 1269º
não têm, relativamente às coisas (Perda ou deterioração da coisa)
susceptíveis de ocupação.
O possuidor de boa fé só responde
ARTIGO 1267º pela perda ou deterioração da coisa se
(Perda da posse) tiver procedido com culpa.
- 219 -
produção, desde que não sejam (Compensação de benfeitorias com
superiores ao valor dos frutos que deteriorações)
vierem a ser colhidos.
A obrigação de indemnização por
3. Se o possuidor tiver alienado frutos benfeitorias é susceptível de
antes da colheita e antes de cessar a compensação com a responsabilidade
boa fé, a alienação subsiste mas o do possuidor por deteriorações.
produto da colheita pertence ao titular
do direito, deduzida a indemnização a ARTIGO 1275º
que o número anterior se refere. (Benfeitorias voluptuárias)
- 220 -
1. No caso de recorrer ao tribunal, o esbulhador ou seus herdeiros, mas
possuidor perturbado ou esbulhado ainda contra quem esteja na posse da
será mantido ou restituído enquanto coisa e tenha conhecimento do
não for convencido na questão da esbulho.
titularidade do direito.
ARTIGO 1282º
2. Se a posse não tiver mais de um (Caducidade)
ano, o possuidor só pode ser mantido
ou restituído contra quem não tiver A acção de manutenção, bem como as
melhor posse. de restituição da posse, caducam, se
não forem intentadas dentro do ano
3. É melhor posse a que for titulada; subsequente ao facto da turbação ou
na falta de título, a mais antiga; e, se do esbulho, ou ao conhecimento dele
tiverem igual antiguidade, a posse quando tenha sido praticado a ocultas.
actual.
ARTIGO 1283º
ARTIGO 1279º (Efeito da manutenção ou
(Esbulho violento) restituição)
- 221 -
2. Os incapazes podem adquirir por
1. Cada um dos compossuidores, seja usucapião, tanto por si como por
qual for a parte que lhe cabe, pode intermédio das pessoas que
usar contra terceiro dos meios legalmente os representam.
facultados nos artigos precedentes,
quer para defesa da própria posse, ARTIGO 1290º
quer para defesa da posse comum, (Usucapião em caso de detenção)
sem que ao terceiro seja lícito opor-lhe
que ela não lhe pertence por inteiro. Os detentores ou possuidores precários
não podem adquirir para si, por
2. Nas relações entre compossuidores usucapião, o direito possuído, excepto
não é permitido o exercício da acção achando-se invertido o título da posse;
de manutenção. mas, neste caso, o tempo necessário
para a usucapião só começa a correr
3. Em tudo o mais são aplicáveis à desde a inversão do título.
composse as disposições do presente
capítulo. ARTIGO 1291º
(Usucapião por compossuidor)
CAPÍTULO VI
Usucapião A usucapião por um compossuidor
relativamente ao objecto da posse
SECÇÃO I comum aproveita igualmente aos
Disposições gerais demais compossuidores.
- 222 -
contar-se desde que cesse a violência
Havendo título de aquisição e registo ou a posse se torne pública.
deste, a usucapião tem lugar:
SECÇÃO III
a) Quando a posse, sendo de boa fé, Usucapião de móveis
tiver durado por dez anos, contados
desde a data do registo; ARTIGO 1298º
(Coisas sujeitas a registo)
b) Quando a posse, ainda que de má
fé, houver durado quinze anos, Os direitos reais sobre coisas móveis
contados da mesma data. sujeitas a registo adquirem-se por
usucapião, nos termos seguintes:
ARTIGO 1295º
(Registo da mera posse) a) Havendo título de aquisição e
registo deste, quando a posse tiver
1. Não havendo registo do título de durado dois anos, estando o possuidor
aquisição, mas registo da mera posse, de boa fé, ou quatro anos, se estiver
a usucapião tem lugar: de má fé;
- 223 -
ARTIGO 1301º O domínio das coisas pertencentes ao
(Coisa comprada a comerciante) Estado ou a quaisquer outras pessoas
colectivas públicas está igualmente
O que exigir de terceiro coisa por este sujeito às disposições deste código em
comprada, de boa fé, a comerciante tudo o que não for especialmente
que negoceie em coisa do mesmo ou regulado e não contrarie a natureza
semelhante género é obrigado a própria daquele domínio.
restituir o preço que o adquirente tiver
dado por ela, mas goza do direito de ARTIGO 1305º
regresso contra aquele que (Conteúdo do direito de
culposamente deu causa ao prejuízo. propriedade)
- 224 -
3. À propriedade sob condição é
aplicável o disposto nos artigos 272º a A restituição da coisa é feita à custa do
277º. esbulhador, se o houver, e no lugar do
esbulho.
ARTIGO 1308º
(Expropriações) ARTIGO 1313º
(Imprescritibilidade da acção de
Ninguém pode ser privado, no todo ou reivindicação)
em parte, do seu direito de
propriedade senão nos casos fixados Sem prejuízo dos direitos adquiridos
na lei. por usucapião, a acção de
reivindicação não prescreve pelo
ARTIGO 1309º decurso do tempo.
(Requisições)
ARTIGO 1314º
Só nos casos previstos na lei pode ter (Acção directa)
lugar a requisição temporária de coisas
do domínio privado. É admitida a defesa da propriedade por
meio de acção directa, nos termos do
ARTIGO 1310º artigo 336º.
(Indemnizações)
ARTIGO 1315º
Havendo expropriação por utilidade (Defesa de outros direitos reais)
pública ou particular ou requisição de
bens, é sempre devida a indemnização As disposições precedentes são
adequada ao proprietário e aos aplicáveis, com as necessárias
titulares dos outros direitos reais correcções, à defesa de todo o direito
afectados. real.
SECÇÃO II CAPÍTULO II
Defesa da propriedade Aquisição da propriedade
- 225 -
2. Provando-se, porém, que os animais
a) No caso de contrato, o designado foram atraídos por fraude ou artifício
nos artigos 408º e 409º; do dono da guarida onde se hajam
acolhido, é este obrigado a entregá-los
b) No caso de sucessão por morte, o ao antigo dono, ou a pagar-lhe em
da abertura da sucessão; triplo o valor deles, se lhe não for
possível restituí-los.
c) No caso de usucapião, o do início da
posse; ARTIGO 1321º
(Animais ferozes fugidos)
d) Nos casos de ocupação e acessão, o
da verificação dos factos respectivos. Os animais ferozes e maléficos que se
evadirem da clausura em que o seu
SECÇÃO II dono os tiver podem ser destruídos ou
Ocupação ocupados livremente por qualquer
pessoa que os encontre.
ARTIGO 1318º
(Coisas susceptíveis de ocupação) ARTIGO 1322º
(Enxames de abelhas)
Podem ser adquiridos por ocupação os
animais e outras coisas móveis que 1. O proprietário de enxame de
nunca tiveram dono, ou foram abelhas tem o direito de o perseguir e
abandonados, perdidos ou escondidos capturar em prédio alheio, mas é
pelos seus proprietários, salvas as responsável pelos danos que causar.
restrições dos artigos seguintes.
2. Se o dono da colmeia não perseguir
ARTIGO 1319º o enxame logo que saiba terem as
(Caça e pesca) abelhas enxameado, ou se decorrerem
dois dias sem que o enxame tenha
A ocupação dos animais bravios que se sido capturado, pode ocupá-lo o
encontram no seu estado de liberdade proprietário do prédio onde ele se
natural é regulada por legislação encontre, ou consentir que outrem o
especial. ocupe.
- 226 -
em benefício do Estado os direitos
2. Anunciado o achado, o achador faz conferidos no nº 1 deste artigo, sem
sua a coisa perdida, se não for exclusão dos que lhe possam caber
reclamada pelo dono dentro do prazo como proprietário.
de um ano, a contar do anúncio ou
aviso. SECÇÃO III
Acessão
3. Restituída a coisa, o achador tem
direito à indemnização do prejuízo SUBSECÇÃO I
havido e das despesas realizadas, bem Disposições gerais
como a um prémio dependente do
valor do achado no momento da ARTIGO 1325º
entrega, calculado pela forma (Noção)
seguinte: até ao valor de mil escudos,
dez por cento; sobre o excedente Dá-se a acessão, quando com a coisa
desse valor até cinco mil escudos, que é propriedade de alguém se une e
cinco por cento; sobre o restante, dois incorpora outra coisa que lhe não
e meio por cento. pertencia.
- 227 -
1. Pertence aos donos dos prédios antigo seja abandonado, é ainda
confinantes com quaisquer correntes aplicável o disposto no número
de água tudo o que, por acção das anterior.
águas, se lhes unir ou neles for
depositado, sucessiva e ARTIGO 1331º
imperceptivelmente. (Formação de ilhas e mouchões)
- 228 -
oferecer por ele; verificada a soma que
no valor oferecido deve pertencer ao 2. Se nenhum deles quiser ficar com a
outro, é o adjudicatário obrigado a coisa, será esta vendida, e cada um
pagar-lha. deles haverá a parte do preço que lhe
pertencer.
3. Se os interessados não quiserem
licitar, será vendida a coisa e cada um 3. Se ambas as coisas forem de igual
deles haverá no produto da venda a valor, observar-se-á o disposto nos
parte que deva tocar-lhe. números 2 e 3 do artigo 1333º.
- 229 -
Constituem casos de especificação a 4. Entende-se que houve boa fé, se o
escrita, a pintura, o desenho, a autor da obra, sementeira ou
fotografia, a impressão, a gravura e plantação desconhecia que o terreno
outros actos semelhantes, feitos com era alheio, ou se foi autorizada a
utilização de materiais alheios. incorporação pelo dono do terreno.
- 230 -
(Emissão de fumo, produção de
1. Quando na construção de um ruídos e factos semelhantes)
edifício em terreno próprio se ocupe,
de boa fé, uma parcela de terreno O proprietário de um imóvel pode
alheio, o construtor pode adquirir a opor-se à emissão de fumo, fuligem,
propriedade do terreno ocupado, se vapores, cheiros, calor ou ruídos, bem
tiverem decorrido três meses a contar como à produção de trepidações e a
do início da ocupação, sem oposição outros quaisquer factos semelhantes,
do proprietário, pagando o valor do provenientes de prédio vizinho,
terreno e reparando o prejuízo sempre que tais factos importem um
causado, designadamente o resultante prejuízo substancial para o uso do
da depreciação eventual do terreno imóvel ou não resultem da utilização
restante. normal do prédio de que emanam.
ARTIGO 1346º
- 231 -
2. Logo que venham a padecer danos e entulhos que elas arrastam na sua
com as obras feitas, os proprietários corrente.
vizinhos serão indemnizados pelo autor
delas, mesmo que tenham sido 2. Nem o dono do prédio inferior pode
tomadas as precauções julgadas fazer obras que estorvem o
necessárias. escoamento, nem o dono do prédio
superior obras capazes de o agravar,
ARTIGO 1349º sem prejuízo da possibilidade de
(Passagem forçada momentânea) constituição da servidão legal de
escoamento, nos casos em que é
1. Se, para reparar algum edifício ou admitida.
construção, for indispensável levantar
andaime, colocar objectos sobre prédio ARTIGO 1352º
alheio, fazer passar por ele os (Obras defensivas das águas)
materiais para a obra ou praticar
outros actos análogos, é o dono do 1. O dono do prédio onde existam
prédio obrigado a consentir nesses obras defensivas para conter as águas,
actos. ou onde, pela variação do curso das
águas, seja necessário construir novas
2. É igualmente permitido o acesso a obras, é obrigado a fazer reparos
prédio alheio a quem pretenda precisos, ou a tolerar que os façam,
apoderar-se de coisas suas que sem prejuízo dele, os donos dos
acidentalmente nele se encontrem; o prédios que padeçam danos ou
proprietário pode impedir o acesso, estejam exposto a danos iminentes.
entregando a coisa ao seu dono.
2. O disposto no número anterior é
3. Em qualquer dos casos previstos aplicável, sempre que seja necessário
neste artigo, o proprietário tem direito despojar algum prédio de materiais
a ser indemnizado do prejuízo sofrido. cuja acumulação ou queda estorve o
curso das águas com prejuízo ou risco
ARTIGO 1350º de terceiro.
(Ruína de construção)
3. Todos os proprietários que
Se qualquer edifício ou outra obra participam do benefício das obras são
oferecer perigo de ruir, no todo ou em obrigados a contribuir para as
parte, e do desmoronamento puderem despesas delas, em proporção do seu
resultar danos para o prédio vizinho, é interesse, sem prejuízo da
lícito ao dono deste exigir da pessoa responsabilidade que recaia sobre o
responsável pelos danos, nos termos autor dos danos.
do artigo 492º, as providências
necessárias para eliminar o perigo. SECÇÃO II
Direito de demarcação
ARTIGO 1351º
(Escoamento natural das águas) ARTIGO 1353º
(Conteúdo)
1. Os prédios inferiores estão sujeitos
a receber as águas que, naturalmente O proprietário pode obrigar os donos
e sem obra do homem, decorrem dos dos prédios confinantes a concorrerem
prédios superiores, assim como a terra
- 232 -
para a demarcação das estremas entre O proprietário que pretenda abrir vala
o seu prédio e os deles. ou regueira ao redor do prédio é
obrigado a deixar mota externa de
ARTIGO 1354º largura igual à profundidade da vala e
(Modo de proceder à demarcação) a conformar-se com o disposto no
artigo 1348º; se fizer valado, deve
1. A demarcação é feita de deixar externamente regueira ou
conformidade com os títulos de cada alcorca, salvo havendo, em qualquer
um e, na falta de títulos suficientes, de dos casos, uso da terra em contrário.
harmonia com a posse em que estejam
os confinantes ou segundo o que ARTIGO 1358º
resultar de outros meios de prova. (Presunção de comunhão)
- 233 -
no seu prédio desde que deixe entre o
1. O proprietário que no seu prédio novo edifício ou construção e as obras
levantar edifício ou outra construção mencionadas no nº 1 o espaço mínimo
não pode abrir nela janelas ou portas de metro e meio, correspondente à
que deitem directamente sobre o extensão destas obras.
prédio vizinho sem deixar entre este e
cada uma das obras o intervalo de ARTIGO 1363º
metro e meio. (Frestas, seteiras ou óculos para
luz e ar)
2. Igual restrição é aplicável às
varandas, terraços, eirados ou obras 1. Não se consideram abrangidos pelas
semelhantes, quando sejam servidos restrições da lei as frestas, seteiras ou
de parapeitos de altura inferior a óculos para luz e ar, podendo o vizinho
metro e meio em toda a sua extensão levantar a todo o tempo a sua casa ou
ou parte dela. contramuro, ainda que vede tais
aberturas.
3. Se os dois prédios forem oblíquos
entre si, a distância de metro e meio 2. As frestas, seteiras ou óculos para
conta-se perpendicularmente do prédio luz e ar devem, todavia, situar-se pelo
para onde deitam as vistas até à menos a um metro e oitenta
construção ou edifício novamente centímetros de altura, a contar do solo
levantado; mas, se a obliquidade for ou do sobrado, e não devem ter, numa
além de quarenta e cinco graus, não das suas dimensões, mais de quinze
tem aplicação a restrição imposta ao centímetros; a altura de um metro e
proprietário. oitenta centímetros respeita a ambos
os lados da parede ou muro onde
ARTIGO 1361º essas aberturas se encontram.
(Prédios isentos da restrição)
ARTIGO 1364º
As restrições do artigo precedente não (Janelas gradadas)
são aplicáveis a prédios separados
entre si por estrada, caminho, rua, É aplicável o disposto no nº 1 do artigo
travessa ou outra passagem por antecedente às aberturas, quaisquer
terreno do domínio público. que sejam as suas dimensões,
igualmente situadas a mais de um
ARTIGO 1362º metro e oitenta centímetros do solo ou
(Servidão de vistas) do sobrado, com grades fixas de ferro
ou outro metal, de secção não inferior
1. A existência de janelas, portas, a um centímetro quadrado e cuja
varandas, terraços, eirados ou obras malha não seja superior a cinco
semelhantes, em contravenção do centímetros.
disposto na lei, pode importar, nos
termos gerais, a constituição da ARTIGO 1365º
servidão de vistas por usucapião. (Estilicídio)
- 234 -
de cinco decímetros entre o prédio e a do prédio lhe permita fazer a apanha
beira, se de outro modo não puder dos frutos, que não seja possível fazer
evitá-lo. do seu lado; mas é responsável pelo
prejuízo que com a apanha vier a
2. Constituída por qualquer título a causar.
servidão de estilicídio, o proprietário
do prédio serviente não pode levantar ARTIGO 1368º
edifício ou construção que impeça o (Árvores ou arbustos situados na
escoamento das águas, devendo linha divisória)
realizar as obras necessárias para que
o escoamento se faça sobre o seu As árvores ou arbustos nascidos na
prédio, sem prejuízo para o prédio linha divisória de prédios pertencentes
dominante. a donos diferentes presumem-se
comuns; qualquer dos consortes tem a
SECÇÃO V faculdade de os arrancar, mas o outro
Plantação de árvores e arbustos tem direito a haver metade do valor
das árvores ou arbustos, ou metade da
ARTIGO 1366º lenha ou madeira que produzirem,
(Termos em que pode ser feita) como mais lhe convier.
- 235 -
1. A parede ou muro divisório entre (Construção sobre o muro comum)
dois edifícios presume-se comum em
toda a sua altura, sendo os edifícios 1. Qualquer dos consortes tem, no
iguais, e até à altura do inferior, se o entanto, a faculdade de edificar sobre
não forem. a parede ou muro comum e de
introduzir nele traves ou barrotes,
2. Os muros entre prédios rústicos, ou contanto que não ultrapasse o meio da
entre pátios e quintais de prédios parede ou do muro.
urbanos, presumem-se igualmente
comuns, não havendo sinal em 2. Tendo a parede ou muro espessura
contrário. inferior a cinco decímetros, não tem
lugar a restrição do número anterior.
3. São sinais que excluem a presunção
de comunhão: ARTIGO 1374º
(Alçamento do muro comum)
a) A existência de espigão em ladeira
só para um lado; 1. A qualquer dos consortes é
permitido alterar a parede ou muro
b) Haver no muro, só de um lado, comum, contanto que o faça à sua
cachorros de pedra salientes custa, ficando a seu cargo todas as
encravados em toda a largura dele; despesas de conservação da parte
alterada.
c) Não estar o prédio contíguo
igualmente murado pelos outros lados. 2. Se a parede ou muro não estiver em
estado de aguentar o alçamento, o
4. No caso da alínea a) do número consorte que pretender levantá-lo tem
anterior, presume-se que o muro de reconstruí-lo por inteiro à sua custa
pertence ao prédio para cujo lado se e, se quiser aumentar-lhe a espessura,
inclina a ladeira; nos outros casos, é o espaço para isso necessário
àquele de cujo lado se encontrem as tomado do seu lado.
construções ou sinais mencionados.
3. O consorte que não tiver contribuído
5. Se o muro sustentar em toda a sua para o alçamento pode adquirir
largura qualquer construção que esteja comunhão na parte aumentada,
só de um dos lados, presume-se do pagando metade do valor dessa parte
mesmo modo que ele pertence e, no caso de aumento de espessura,
exclusivamente ao dono da também metade do valor do solo
construção. correspondente a esse aumento.
ARTIGO 1373º
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2. Se o muro for simplesmente de (Possibilidade do fraccionamento)
vedação, a despesa é dividida pelos
consortes em partes iguais. A proibição do fraccionamento não é
aplicável:
3. Se, além da vedação, um dos
consortes tirar do muro proveito que a) A terrenos que constituam partes
não seja comum ao outro, a despesa é componentes de prédios urbanos ou se
rateada entre eles em proporção do destinem a algum fim que não seja a
proveito que cada um tirar. cultura;
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4. É aplicável ao direito de preferência
1. São anuláveis os actos de conferido neste artigo o disposto nos
fraccionamento ou troca contrários ao artigos 416º a 418º e 1410º, com as
disposto nos artigos 1376º e 1378º, necessárias adaptações.
bem como o fraccionamento efectuado
ao abrigo da alínea c) do artigo 1377º, ARTIGO 1381º
se a construção não for iniciada dentro (Casos em que não existe o direito
do prazo de três anos. de preferência)
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estabelecidos em proveito de prédios b) As águas subterrâneas existentes
determinados, constituindo servidões. em prédios particulares;
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2. Entende-se por leito ou álveo a os direitos que terceiro haja adquirido
porção do terreno que a água cobre ao uso da água por título justo.
sem transbordar para o solo natural,
habitualmente enxuto. ARTIGO 1390º
(Títulos de aquisição)
3. Quando a corrente passa entre dois
prédios, pertence a cada proprietário o 1. Considera-se título justo de
tracto compreendido entre a linha aquisição da água das fontes e
marginal e a linha média do leito ou nascentes, conforme os casos,
álveo, sem prejuízo do disposto nos qualquer meio legítimo de adquirir a
artigos 1328º e seguintes. propriedade de coisas imóveis ou de
constituir servidões.
4. As faces ou rampas e os capelos dos
cômoros, valados, tapadas, muros de 2. A usucapião, porém, só é atendida
terra, alvenaria ou enrocamentos quando for acompanhada da
erguidos sobre a superfície natural do construção de obras, visíveis e
solo marginal não pertencem ao leito permanentes, no prédio onde exista a
ou álveo da corrente, mas fazem parte fonte ou nascente, que revelem a
da margem. captação e a posse da água nesse
prédio; sobre o significado das obras é
ARTIGO 1388º admitida qualquer espécie de prova.
(Requisição de águas)
3. Em caso de divisão ou partilha de
1. Em casos urgentes de incêndio ou prédios sem intervenção de terceiro, a
calamidade pública, as autoridades aquisição do direito de servidão nos
administrativas podem, sem forma de termos do artigo 1549º não depende
processo nem indemnização prévia, da existência de sinais reveladores da
ordenar a utilização imediata de destinação do antigo proprietário.
quaisquer águas particulares
necessárias para conter ou evitar os ARTIGO 1391º
danos. (Direitos dos prédios inferiores)
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anos se abastecerem dela ou das suas 1. Consideram-se títulos justos de
águas vertentes para gastos aquisição das águas subterrâneas os
domésticos. referidos nos nº 1 e 2 do artigo 1390º.
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proporção do seu uso, podendo para de as utilizar pelo sistema de torna-
esse fim executar-se as obras torna ou outros semelhantes, mediante
necessárias e fazer-se os trabalhos de os quais a água pertença ao primeiro
pesquisa indispensáveis, quando se ocupante, sem outra norma de
reconheça haver perda ou diminuição distribuição que não seja o arbítrio; as
de volume ou caudal. águas que