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LEGISLAÇÃO EMPRESARIAL

VIRGÍNIA DE FÁTIMA DIAS


KARLA REGINA SANTOS RIBEIRO

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6339-0

56725 9 788538 763390


Legislação Empresarial

Virgínia de Fátima Dias


Karla Regina Santos Ribeiro

IESDE BRASIL S/A


2017
© 2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito
das autoras e do detentor dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D536L Dias, Virgínia de Fátima
Legislação Empresarial / Virgínia de Fátima Dias, Karla Regi-
na Santos Ribeiro. - [2. ed.] - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2017.
122 : il. ; 21 cm.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6339-0

1. Direito do trabalho - Brasil. I. Ribeiro, Karla Regina Santos.


II. Título.
17-44329 CDU: 349.2(81)

Capa: IESDE BRASIL S/A.


Imagem da capa: Rawpixel/iStockphoto

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IESDE BRASIL S/A.


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Apresentação

Este livro almeja orientar profissionais ou estudantes que tenham


interesse em obter conhecimentos da área jurídica, em especial do ramo
do Direito Empresarial, atualmente tão importante para aqueles que pro-
curam estruturar formalmente sua empresa ou atuar na área de negócios.

Com esse intento, seu início está voltado para noções gerais de
introdução ao Direito, de forma a refletir sobre o conceito de Direito,
a relação entre Direito e Estado e apresentar a estrutura do ordena-
mento jurídico brasileiro. Na sequência, passa-se às noções de Direito
Empresarial, para explicar a atividade empresarial, segundo a legisla-
ção pátria. Considerando que a legislação empresarial tem como sujeito
o empresário, faz-se uma análise acerca de sua figura e da relação entre
o empresário e os consumidores.

Este livro traz, também, uma reflexão sobre o conceito e os elementos


que compõem as sociedades segundo o ordenamento jurídico brasileiro, a
classificação e a distinção entre os vários tipos de sociedades empresárias e
a legislação que regula a relação dos sócios, bem como as normas jurídicas
aplicadas ao trato destes com terceiros e com a própria sociedade.

Em um mundo globalizado, no qual há oscilações na economia ao


mesmo tempo em que o desenvolvimento tecnológico é vertiginoso e
gera uma alta competitividade no mundo dos negócios, as metamorfoses
societárias são uma constante. Portanto, a compreensão de quais são elas
e da legislação aplicável a cada uma é de fundamental importância para
que possam ser utilizadas, permitindo às empresas a diminuição de gas-
tos e o aumento de seus lucros, com a finalidade de se manterem ativas
no mercado. A obra aborda, portanto, as mudanças em relação a essas
sociedades, buscando esclarecer como são reguladas sob a ótica do orde-
namento jurídico brasileiro.

Por fim, este livro trata da dissolução e liquidação das sociedades e


seus aspectos legais, por decisão dos sócios ou outros motivos, tais como
a decretação judicial de falência, também objeto de estudo, por meio da
análise da Lei n. 11.101/2005, a qual regula a recuperação judicial e extra-
judicial e a falência.
Este livro sobre legislação empresarial estrutura-se, pois, de maneira a
apresentar os principais tópicos legais que abrangem desde o surgimento da
atividade empresária, o seu desenvolvimento, até o seu fim. Sua contribui-
ção, nesse sentido, está em esclarecer quais normas jurídicas são aplicadas às
relações empresariais, tema de indiscutível relevância nos dias atuais.
Sobre as autoras

Virgínia de Fátima Dias

Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná


(UFPR). Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR). Especialista em Magistério Superior pelo Instituto Brasileiro de
Pós-Graduação e Extensão (IBPEX). Graduada em Letras Inglês/Português
pela PUCPR e em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba. Professora
de Direito no ensino superior e na pós-graduação.

Karla Regina Santos Ribeiro

Mestranda em Direito pela Uninter. Especialista em Gestão Pública


pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Pós-graduada
em Direito Ambiental pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Graduada em Direito pela Faculdade Dom Bosco, em Curitiba. Graduada
em Tecnologia em Gestão Pública pelo Instituto Federal Tecnológico do
Paraná (IFPR). Professora no ensino superior e autora de livros nas áreas
de Ciências Sociais, Direito e Gestão.
Sumário

1 Noções gerais de introdução ao Direito 9


1.1 Conceito de Direito 10
1.2 Direito e Estado 13
1.3 Ordenamento jurídico 14

2 Direito Empresarial 23
2.1 Atividade empresarial 24
2.2 O empresário, as obrigações das empresas, o estabelecimento
e o nome empresarial 27
2.3 O empresário e o direito dos consumidores
(desconsideração da personalidade jurídica) 29

3 Direito Societário 37
3.1 Sociedades empresárias: conceito e elementos 38
3.2 Distinção das sociedades empresárias 40
3.3 Classificação e constituição das sociedades empresárias 43

4 Sócios e sociedade: previsões legais 51


4.1 Disciplina das relações da sociedade empresária para com terceiros 52
4.2 Previsão legal da relação dos sócios entre si 55
4.3 Relação entre sócios e sociedade 57

6 Legislação empresarial
Sumário

5 Contrato Social 65
5.1 Natureza jurídica do ato constitutivo da sociedade contratual 66
5.2 Requisitos legais do Contrato Social 68
5.3 Sociedades contratuais 71

6 Metamorfoses societárias 79
6.1 O que são transformações societárias 80
6.2 Distinção entre transformação, incorporação, fusão e cisão 83
6.3 Legislação aplicável às metamorfoses societárias 86

7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 93


7.1 Diferença entre dissolução e liquidação societária 94
7.2 Aspectos legais da dissolução das sociedades nacionais e estrangeiras 97
7.3 Liquidação das sociedades nacionais e estrangeiras 100

8 Direito Falimentar 109


8.1 Lei n. 11.101, de 2005: noções básicas 110
8.2 Recuperação de empresas: o que é e como funciona 113
8.3 Falência: o que é e quando ocorre 116

Legislação empresarial 7
1
Noções gerais de
introdução ao Direito

Introdução

Neste primeiro capítulo, o objetivo é fornecer aos indivíduos que iniciam seus
estudos jurídicos uma visão ampla do Direito, trazendo-lhes conceitos gerais, como o
que se entende por Direito, a relação entre Direito e Estado e o que é e como funciona
o ordenamento jurídico.

Tais saberes são importantes para que aqueles que não conhecem o Direito de
maneira mais profunda possam compreendê-lo e aplicá-lo, não só em sua vida pes-
soal, mas especialmente em seu cotidiano profissional.

Considerando que o público para o qual o presente livro está voltado busca conhe-
cimentos acerca do Direito Empresarial, as explicações servirão de sustentação para
que compreendam que tal área do Direito faz parte do ordenamento jurídico brasileiro
e tem seus alicerces na Teoria Geral do Direito.

Legislação empresarial 9
1 Noções gerais de introdução ao Direito

1.1 Conceito de Direito

Definir o que é direito não é tarefa fácil, considerando que o vocabulário da língua por-
tuguesa é bastante rico e uma mesma palavra pode possuir diferentes sentidos, dependendo
do contexto em que está inserida. Por exemplo, quando alguém afirma “Tenho o direito de
receber pelo trabalho que realizo”, isso significa dizer que “é justo” receber pelo trabalho.
Por outro lado, ao falar que “O direito brasileiro nem sempre é respeitado”, já temos outro
sentido para o vocábulo, o qual significa norma jurídica. Ainda é possível dizer “Eu tenho
o direito de ajuizar uma ação de indenização contra quem me caluniou”, contexto no qual
a acepção da palavra direito é voltada para a faculdade do uso da norma jurídica existente.
Cabe à Filosofia Jurídica tratar das várias acepções da palavra direito. Para os fins a
que se propõe este texto, empregaremos o entendimento do Direito como um conjunto de
normas que, emanadas de poderes competentes, disciplina a conduta em sociedade, usando
para isso a coercitividade, ou seja, o poder do Estado de impor às pessoas o cumprimento
das regras por ele estabelecidas.
Só ao Estado cabe usar da força para obrigar os indivíduos a adotar, por meio da norma
jurídica, o comportamento capaz de evitar conflitos, numa sociedade em que os seres huma-
nos se tornam cada vez mais individualistas e competitivos.
Vivendo em sociedade, lutando por sua sobrevivência, o homem necessita de regras
que assegurem a ordem e impeçam a discórdia. Já afirmou o grande jurista Paulo Nader: “O
Direito está em função da vida social” (NADER, 2005, p. 27).
É verdade que existem outros meios de controle social além do Direito, tais como a reli-
gião e a moral, que também determinam regras de convívio social. A religião, ao propagar a
ideia de amor ao próximo, nada mais faz do que, por meio de dogmas específicos, propagar
a ideia de respeito ao outro e, consequentemente, propiciar a harmonia social. E a moral, ao
designar o que é certo ou errado, bom ou mau, busca aprimorar a essência humana e, assim,
ensina a melhor forma de se comportar em sociedade. Entretanto, nenhum desses meios
de controle social tem a característica de coercitividade que tem o Direito. Além disso, en-
quanto os primeiros, religião e moral, almejam aperfeiçoar o indivíduo como ser humano,
o Direito, por meio de suas regras, volta-se para o comportamento do homem no convívio
social, as ações que este venha a praticar. Em outras palavras, o Direito se interessa pelo que
o homem faz ou deixa de fazer na vida social, e não com seu foro íntimo, como ocorre com
a religião e a moral.
O Direito como regra jurídica, formado por códigos e leis, é denominado de Direito
Positivo, ou seja, um sistema de normas jurídicas que regula as relações entre as pessoas em
dado momento histórico.
O Direito como conjunto de normas jurídicas, primeiramente, pelo critério romano, foi
dividido em direito público e direito privado. Tal distinção é útil do ponto de vista da didá-
tica, pois facilita a pesquisa e, consequentemente, o aperfeiçoamento e a sistematização dos
princípios que compõem o Direito.

10 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
Nesse sentido, as normas jurídicas de Direito Público, chamadas de cogentes ou taxa-
tivas, regulam as relações jurídicas em que o interesse do Estado é predominante. Assim,
para muitos doutrinadores, tais como Brancato (2011), Venosa (2016) e Palaia (2012), fa-
zem parte do Direito Público o Direito Constitucional, o Direito Tributário, o Direito Penal,
o Direito Administrativo, o Direito Processual, o Direito Internacional Público e o Direito
Internacional Privado, enquanto o Direito Civil é predominantemente formado por normas
de Direito Privado. Não é pacífico, no entanto, o entendimento quanto à natureza jurídica
do Direito do Trabalho. Para Miguel Reale (2005), o Direito do Trabalho apresenta-se como
“um Direito eminentemente público”, por ser o Estado a disciplinar as formas de prestação
de trabalho e os contratos coletivos. Já para Martins (2005), por preponderar a autonomia da
vontade das partes no Direito do Trabalho, ele se trata de um ramo do Direito Privado. Mas
a corrente predominante é a de que o Direito do Trabalho é um ramo do Direito Privado,
haja vista que os contratantes (empregador e empregado) são livres para estipular as regras
de seu pacto de emprego.
Há também o “Direito Misto”, quando uma mesma área do Direito possui normas ta-
xativas (e, portanto, de Direito Público) e normas dispositivas (de Direito Privado), como o
Direito de Família e o próprio Direito do Trabalho, conforme Venosa (2016).
Ao tratar do Direito, é preciso lembrar que ele surge com base em algumas fontes, sen-
do uma delas as fontes históricas. Para captar a finalidade do instituto jurídico, é necessário
conhecer em que momento e em que circunstâncias foram criadas as normas. O estudo de
tais fontes compete a uma disciplina específica denominada História do Direito.
Há, ainda, as fontes materiais do Direito, também chamadas de fontes de produção do
Direito, que são constituídas pelos fatores jurídicos, tais como a geografia e a economia, sen-
do, assim, fontes materiais indiretas. E existem também as fontes materiais diretas, as quais
são identificadas como sendo os próprios órgãos responsáveis pela produção da lei (Poder
Legislativo) e pela produção da jurisprudência (Poder Judiciário).
Interessa-nos, entretanto, uma terceira categoria de fontes jurídicas, chamadas de fontes
formais do Direito, que são as formas de expressão do Direito: a lei, o costume, a jurispru-
dência e a doutrina.
A lei, no Brasil, é a principal fonte formal do Direito, uma vez que adotamos a norma
escrita como diretriz essencial de conduta na sociedade brasileira, seguindo o sistema ro-
manista. Observe-se que a própria Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL,
1988), lei máxima de nosso ordenamento jurídico, determina em seu artigo 5°, inciso II, que
todos são obrigados a fazer o que está previsto em lei. Já no sistema adotado em países de
língua inglesa, como Inglaterra e Austrália, a lei é apenas mais uma fonte entre tantas outras.
A lei, elaborada com base em critérios específicos e por um órgão competente para fazê-
-lo, é regra geral e abstrata, que deve ser obedecida por todos, uma vez que é dotada de coa-
ção. O órgão responsável por elaborá-la é o Poder Legislativo, e, em situações excepcionais,
conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, artigo 62, o Poder Executivo, na pessoa
do presidente da república, pode editar medidas provisórias com força de lei. Por exemplo,
quando foi criada a contribuição provisória sobre movimentações financeiras (CPMF), isso

Legislação empresarial 11
1 Noções gerais de introdução ao Direito

ocorreu por meio de medida provisória, que teve efeitos legais imediatos por 60 dias, pror-
rogáveis por mais 60, mas foi enviada imediatamente ao Congresso Nacional para que este
votasse se ela deveria ou não se transformar em lei.
Outra fonte formal do Direito é o costume. Um exemplo de costume jurídico foi o che-
que pré-datado, uma criação brasileira. Sendo aplicada somente no caso de omissão da lei, a
norma costumeira ou consuetudinária resulta de, segundo Miguel Reale (2005, p. 157), uma
conduta praticada de maneira consciente e que se repete socialmente até que os indivíduos
acabam por concebê-la como obrigatória.
O Direito costumeiro possui um requisito subjetivo, que é a crença da obrigatoriedade
da conduta, e um requisito objetivo, a constância do ato.
Para que seja fonte do Direito, o costume precisa ser reconhecido como tal pelo ordena-
mento jurídico, conforme ocorre no Brasil, em que a Lei de Introdução às Normas de Direito,
no artigo 4° (BRASIL, 1942), prevê: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.
A jurisprudência, palavra que designa a aplicação do Direito com sabedoria (jus = Direito;
prudentia = sabedoria), resulta de reiteradas decisões dos tribunais numa mesma direção in-
terpretativa. Por não ter força vinculativa, a jurisprudência é tida como fonte secundária do
Direito. Um exemplo claro de jurisprudência é quando duas pessoas do mesmo sexo convi-
vem por certo tempo numa relação conjugal, uma delas vem a falecer e a que permaneceu
viva requer pensão por morte ao INSS, mas este não a concede. O “cônjuge sobrevivente”
move então uma ação judicial requerendo seu direito. Como é um caso raro, não existe con-
ceito já estabelecido. O juiz analisa, julga e dá sua decisão favorável. Quando surge outra
situação igual a ser julgada, fica mais fácil a decisão, porque já existe um caso semelhante.
Por fim, a doutrina, também considerada fonte do Direito, é resultado do estudo das
leis por parte de juristas, estudiosos e operadores jurídicos em geral, que geram teses, com-
pêndios, tratados, pareceres capazes de mostrar caminhos aos magistrados e sugerir modi-
ficações aos legisladores.
Outra classificação para as fontes do Direito é, segundo Venosa (2016):
a. Diretas, imediatas ou primárias – lei e costume, porque têm, por elas mesmas, po-
tencialidade suficiente para gerar a regra jurídica.
b. Indiretas, mediatas ou secundárias – doutrina, jurisprudência, analogia, princípios
gerais do Direito e equidade. Essas fontes servem para esclarecer a aplicação global
do Direito.
Os princípios gerais do Direito, assim como a analogia e os costumes, são considerados,
segundo a Lei de Introdução às Normas de Direito (­BRASIL, 1942), em seu artigo 4°, proces-
sos de preenchimento de lacunas existentes na lei, pois esta nem sempre consegue regular
todas as situações sociais e o legislador não tem como prever todos os acontecimentos.
Assim, os princípios gerais do Direito servem de base ao ordenamento jurídico, por
trazerem em seu bojo valores sociais dos quais se serve o legislador. Esses princípios são
comuns a todas as áreas do Direito, tais como viver honestamente, dar a cada um o que é
seu e não causar danos a outrem (todos espelhando valores sustentados socialmente). Têm

12 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
função informadora, quando servem de base ao legislador para a criação de preceitos legais,
função normativa, ao serem aplicados nas lacunas da lei, e, por fim, função interpretativa,
ao auxiliarem na compreensão exata da norma. Por serem aplicados na lacuna da lei, que é
norma jurídica, também são os ditos princípios normas jurídicas.
Nader (2005, p. 194) explica que a “analogia é um recurso técnico que consiste em se
aplicar, a uma hipótese não prevista pelo legislador, a solução por ele apresentada para
outra hipótese fundamentalmente semelhante à não prevista”. Para a aplicação da analo-
gia jurídica, alguns requisitos devem ser respeitados, tais como: inexistência de dispositivo
legal prevendo ou disciplinando a hipótese do caso concreto a ser julgado; identidade de
fundamento jurídico no ponto comum às duas situações; semelhança entre o caso concreto
e a situação não regulada.
Como exemplo de aplicação analógica, pode-se citar o caso do reconhecimento, pelo
Supremo Tribunal Federal, da família homoafetiva, conferindo aos casais homossexuais o
direito à união estável: uma vez que as leis brasileiras ainda não previam o casamento entre
casais homossexuais, coube a uma decisão judicial, tomando por base a legislação acerca de
união entre heterossexuais, decidir sobre a matéria. Para tal, foi usada a analogia.
Por fim, faz-se necessário alertar que no Direito Penal não se aplica a analogia, uma vez
que o princípio da legalidade (“não há crime ou pena sem lei penal que expressa e previa-
mente os estabeleça”) impede sua utilização.

1.2 Direito e Estado

O Direito emana do Estado, que é responsável não só pela produção das leis, mas pelo
controle de sua aplicação. Mas o Estado depende do Direito, que organiza sua atuação e
delimita seus poderes.
Sob o ponto de vista jurídico, o Estado deve sua existência ao fato de possuir uma
Constituição. Pode-se conceituar o Estado como a pessoa jurídica formada por uma socieda-
de que vive em determinado território e é subordinada a uma autoridade soberana.
O Estado atua tanto no plano externo quanto no interno. No interno, cabe-lhe garantir a
ordem pública, e o faz ao criar o Direito e buscar garantir a aplicação da justiça. Já no plano
externo, o Estado tem de fazer valer sua soberania.
Há várias teorias que buscam explicar a relação entre Direito e Estado.
Segundo a teoria monista, Direito e Estado se confundem, ou seja, o Estado é fonte úni-
ca do Direito, fazendo com que sejam considerados como uma única realidade, formando
uma só entidade. Os defensores de tal teoria – Hans Kelsen, Hegel, Thomas Hobbes e Jean
Bodin – não admitem a possibilidade de qualquer norma jurídica que não esteja atrelada
ao Estado. Já a teoria dualística ou dualista, criada por Otto Von Gierke e Georges Gurvith,
preconiza a total separação entre Direito e Estado, ao afirmar que o Direito é uma criação
estritamente social e, nesse caso, cabe ao Estado apenas elaborar normas jurídicas que ad-
venham da consciência social. No caso da teoria do paralelismo, defendida por Giorgio Del

Legislação empresarial 13
1 Noções gerais de introdução ao Direito

Vecchio, há a ideia de que Direito e Estado se completam em sua atuação, ainda que sejam
realidades diferentes.
Se o Estado cria o Direito por meio dos poderes constituídos e o Direito determina como
deve ser a atuação do Estado, não há como se negar a interligação entre eles.
Neste ponto é fundamental tratar do Estado de Direito. Ele é formado pelo Direito,
como conjunto de normas que regem o funcionamento de uma sociedade, e pelo Estado,
forma de organização política.
Entende-se que ocorre o Estado de Direito a partir do momento em que há a participa-
ção do povo na administração pública, por meio de seus representantes, como a Constituição
Federal de 1988 (BRASIL, 1988) determina em seu artigo 1°, parágrafo único. E é com o desen-
volvimento do Estado de Direito que surge a divisão dos poderes que compõem a estrutura
político-administrativa do Estado: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.
A divisão dos Poderes, com suas funções específicas bem delineadas pela Lei Maior
(Constituição), afasta o Estado absolutista, no qual todas as funções eram centralizadas na
figura do rei, situação em que o Estado de Direito não podia ser reconhecido, uma vez que
o soberano exercia sobre o povo um poder incontrolado.
Entretanto, o Estado de Direito ainda não foi plenamente alcançado no Brasil, ainda que
haja no país a distribuição de poderes, posto que os representantes escolhidos pelo povo de-
vem por ele e para ele trabalhar, o que nem sempre tem acontecido. Ainda se permite, assim,
muita injustiça social e a falta de um serviço público eficaz para a população, impedindo-lhe
a garantia da dignidade.

1.3 Ordenamento jurídico

O Estado possui um ordenamento jurídico constituído de normas jurídicas diferentes


entre si, a fim de organizar a sociedade.
Ordenamento significa a ação de fazer algo de determinado modo. O vocábulo jurídico,
conforme é possível inferir pelo já exposto anteriormente, qualifica o que está de acordo com
o Direito.
Ao explicar o que é ordenamento jurídico, Venosa traz a definição de Hugo de Brito
Machado: “O ordenamento jurídico é um conjunto de prescrições, ou proposições prescri-
tivas, que podem ser entendidas como conjunto de palavras destinadas a prescrever certos
comportamentos” (VENOSA, 2006, p. 76 apud MACHADO, 2000, p. 71).
Há um “ordenamento jurídico” em cada país, formado pelas diversas fontes de Direito,
pois a realidade jurídica é concebida como um sistema de normas, desde as normas legais
até as normas negociais, entre as quais existe uma hierarquia para sua aplicação.
A hierarquia das normas jurídicas significa que no ordenamento jurídico brasileiro exis-
tem leis que suplantam as outras. A ideia de hierarquia das leis foi proposta primeiramente
por Hans Kelsen, jurista nascido em Praga em 1881, que criou a chamada Pirâmide de Kelsen.

14 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
Segundo Kelsen (1987), todas as leis estão subordinadas a uma “lei maior” e a ela têm de ser
adequadas. Portanto, se uma lei contrariar a dita “lei maior”, ela pode ser contestada.
Havendo conflitos entre as leis em sua aplicação em decisões judiciais, para Hans
Kelsen a lei somente poderá ser anulada pelo próprio tribunal que a proferiu ou, ainda, por
tribunal superior. Quando a lei for contrária à Constituição, diz-se então que tal lei é incons-
titucional. No entanto, Kelsen (1987, p. 287) afirma que “enquanto, porém, não for revogada,
tem de ser considerada como válida; e enquanto for válida, não pode ser inconstitucional”.
No Brasil, a validade de todo o ordenamento jurídico depende de uma norma “maior”,
que é a Constituição da República Federativa do Brasil. Submetem-se a ela todas as demais
normas jurídicas.
Trata-se de uma Constituição rígida, que organiza o país em uma república federativa
formada pela união indissolúvel dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. Os 26
estados federados têm autonomia para elaborar suas próprias constituições estaduais e leis.
No entanto, a competência legislativa destas é limitada pelos princípios estabelecidos na
Constituição Federal.
A Carta Maior brasileira dispõe, ainda, sobre os instrumentos legais do nosso ordena-
mento jurídico: emendas à Constituição, que consistem em mudanças no texto constitucio-
nal; leis complementares, que complementam a Constituição ao detalhar uma questão sem
interferir no texto constitucional (tais leis são admissíveis apenas em casos expressamente
autorizados na constituição); leis ordinárias, que lidam com todas as matérias, à exceção
daquelas reservadas às leis complementares; e medidas provisórias, que são editadas pelo
presidente da república em situações importantes e urgentes e têm natureza temporária e
força de lei, devendo, assim, ser submetidas ao Congresso Nacional para possível aprovação
legislativa. Após serem examinadas pelo Congresso Nacional, as medidas provisórias deve-
rão ser convertidas em lei ordinária, caso aprovadas. Se rejeitadas, tácita ou expressamente,
perdem a eficácia ex tunc, e o Congresso Nacional deverá regular as relações jurídicas que
surjam a partir de então.
Quando a Pirâmide de Kelsen foi criada, nela não constavam os tratados internacionais,
mas apenas o Direito interno. Entretanto, atualmente, é inegável a influência do Direito
Internacional no ordenamento jurídico interno dos países, o que gerou a necessidade de se
pensar sobre qual é a posição dos tratados internacionais em tal “pirâmide”, ou seja, quais
as normas jurídicas que se subordinam a esses tratados.
A Constituição Federal brasileira (BRASIL, 1988), em seu artigo 5°, inciso LXXVIII,
§3°, ao tratar dos direitos e garantias fundamentais, prevê que, se os tratados internacio-
nais dispuserem acerca de direitos humanos e forem votados como emendas constitucio-
nais, estarão acima das demais leis.
Nessa direção, o Supremo Tribunal Federal entendeu, no julgamento do habeas cor-
pus 79.785, de 2000, majoritariamente, que os tratados internacionais de direitos humanos,
antes equiparados às normas ordinárias federais, apresentam status de norma supralegal,
isto é, estão acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição. Tal posicionamento

Legislação empresarial 15
1 Noções gerais de introdução ao Direito

admite a hipótese de tais tratados adquirirem hierarquia constitucional, desde que obser-
vado o procedimento previsto no parágrafo 3°, artigo 5°, da CF, acrescentado pela Emenda
Constitucional n. 45/2004.
Desse modo, o Supremo Tribunal Federal alterou, por meio de uma decisão, a pirâmide
criada por Kelsen, que ainda possui em seu topo a Constituição Federal, porém acrescenta
logo abaixo os tratados internacionais de direitos humanos, desde que aprovados, como
ocorre com as emendas constitucionais.
Além das relações entre os tipos de normas jurídicas (tratados internacionais,
Constituição Federal, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provi-
sórias, decretos legislativos e resoluções), estabelecendo a prevalência de umas sobre as ou-
tras, o ordenamento jurídico também traz a hierarquia das normas relativas aos domínios
geográficos das leis, uma vez que leis federais predominam sobre as leis estaduais e ambas
não podem ser contrariadas por lei municipal.
Mas, se por um lado existe uma hierarquia entre as normas jurídicas nacionais no que se
refere à sua aplicação ao caso concreto, por outro, quanto aos aspectos de validade, vigência
e eficácia, elas se submetem aos mesmos critérios.
Após sua elaboração pelo órgão competente, e segundo o procedimento determinado
pelo próprio ordenamento jurídico, a lei é publicada nos órgãos de impresa oficial (Diário
Oficial) para sua publicidade e passa a ser obrigatória a partir de sua vigência, ou seja, da
data em que entra em vigor. Tornada pública a lei, todos devem respeitá-la, conforme dita
o artigo 3° da Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942): “Ninguém se escusa
de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.
A data de início da vigência da lei normalmente vem descrita na própria norma, a exem-
plo do que ocorreu com a Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008 (Lei de Estágio) (BRASIL,
2008), que descreve, em seu artigo 21: “Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”.
Se a lei não dispuser em seu texto qual a data de sua vigência, ela entrará em vigor 45 dias
após sua publicação dentro do país e três meses se for aplicada em Estado estrangeiro, con-
forme prevê a Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942), artigo 1°, caput e §1°.
O espaço de tempo entre a publicação da lei e sua entrada em vigor denomina-se
­vacacio legis, que é o período dado pelo legislador para que a sociedade se adapte à nova
lei. Temos vários exemplos de leis brasileiras que tiveram vacatio legis, tais como o Código
de Trânsito Brasileiro – Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997 (120 dias após a publicação)
–, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor – Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990
(120 dias após a publicação) – e o Código Civil – Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (1
ano após a publicação).
Após entrar em vigor, a lei gera efeitos imediatos, respeitando o direito adquirido (é o
que integra o patrimônio jurídico da pessoa por meio da lei até então vigente), o ato jurídico
perfeito (entendido como o ato já consumado segundo a lei vigente no momento em que o
ato se consumou) e a coisa julgada (decisão judicial irrecorrível concedida com base na lei
vigente à época de sua sentença definitiva).

16 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
A lei nova terá vigência até que outra lei que regule a mesma matéria a modifique ou
revogue. A lei revogadora deve ser do mesmo nível ou superior hierarquicamente à lei re-
vogada. Por exemplo, uma lei ordinária só pode revogar outra lei ordinária ou de hierarquia
inferior a ela.
A eficácia da lei no espaço refere-se ao local onde a norma jurídica será aplicada e re-
gula a conduta não só dos brasileiros, mas dos estrangeiros que estiverem em território na-
cional, segundo o princípio da territorialidade. Há ainda casos específicos de leis brasileiras
que têm eficácia em outros países.
Também é importante considerar a aplicação da lei no espaço, o que determina o artigo
9° da Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942):
Art. 9° Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem.
§ 1° Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de for-
ma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira
quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
§ 2° A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que
residir o proponente.
Por fim, além de compreender como se dá a vigência da lei no tempo e no espaço, é
necessário ressaltar que, para que tenha validade, a lei deve preencher alguns requisitos
extremamente importantes, tais como legitimidade do órgão para elaborá-la, competência
em relação à matéria da lei que será elaborada e respeito ao procedimento técnico para sua
criação. As normas básicas que regulam tais requisitos estão na Constituição Federal e nas
Leis Complementares n. 95/1998 (BRASIL, 1998) e n. 107/2001 (BRASIL, 2001).
Para a eficácia da norma jurídica, é necessário, ainda, observar o cumprimento efetivo
da lei por parte da sociedade. Uma vez que o Direito deve ser criado com base nos valores e
nas instituições sociais, a lei que não atende a tais requisitos, ou seja, que não tem nenhum
vínculo com a sociedade na qual está sendo inserida ou não considera a cultura do povo,
não terá eficácia.
Muitas vezes, a lei não atinge seus objetivos porque não existe fiscalização suficiente ou
estrutura estatal para colocá-la adequadamente em prática, o que não lhe permite ter eficácia.

Ampliando seus conhecimentos

A ação do Direito
(NADER, 2005, p. 27)

O Direito está em função da vida social. A sua finalidade é a de favore-


cer o amplo relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é
uma das bases do progresso da sociedade. Ao separar o lícito do ilícito,

Legislação empresarial 17
1 Noções gerais de introdução ao Direito

segundo valores de convivência que a própria sociedade elege, o ordena-


mento jurídico torna possíveis os nexos de cooperação e disciplina a com-
petição, estabelecendo as limitações necessárias ao equilíbrio e à justiça
nas relações.

Em relação ao conflito, a ação do Direito se opera em duplo sentido. De


um lado, preventivamente, ao evitar desinteligências quanto aos direitos
que cada parte julga ser portadora. Isto se faz mediante a exata definição
do Direito, que deve ter na clareza, simplicidade e concisão de suas regras,
algumas de suas qualidades. De outro lado, diante do conflito concreto,
o Direito apresenta solução de acordo com a natureza do caso, seja para
definir o titular do direito, determinar a restauração da situação anterior
ou aplicar penalidades de diferentes tipos.

Cenário de lutas, alegrias e sofrimentos do homem, a sociedade não


é simples aglomeração de pessoas. Ela se faz por um amplo relaciona-
mento humano, que gera amizade, a colaboração, o amor, mas que pro-
move, igualmente, a discórdia, a intolerância, as desavenças. Vivendo em
ambiente comum, possuindo idênticos instintos e necessidades, é natural
o aparecimento de conflitos sociais, que vão reclamar soluções. Os litígios
surgidos criam para o homem as necessidades de segurança e de justiça.
Mais um desafio lhe é lançado: a adaptação das condutas humanas ao
bem comum. Como as necessidades coletivas tendem a satisfazer-se, ele
aceita o desafio e lança-se ao estudo de fórmulas e meios, capazes de pre-
venirem os problemas, de preservarem os homens, de estabelecerem paz
e harmonia no meio social. A característica fundamental da sociedade é,
assim, a submissão de um agrupamento de pessoas iguais a leis ou sis-
tema jurídico, sem o que não haver entendimento e convivência.

A sociedade sem o Direito não resistiria, seria anárquica, teria o seu fim.
O Direito é a grande coluna que sustenta a sociedade. Criado pelo homem
para corrigir a sua imperfeição, o Direito representa um grande esforço
para adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida.

18 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
Atividades
1. Acerca da relação entre Direito e sociedade, assinale a opção correta:

a. O Direito não é uma abstração, solto no espaço e no tempo, mas um fenômeno


imerso na vida humana, ou seja, o Direito é algo que está no processo existencial do
indivíduo e da coletividade.
b. Em relação ao conflito, a ação do Direito se opera em um único sentido, ou seja,
preventivamente, ao evitar desinteligências quanto aos direitos que cada parte julga
ser portadora.
c. A característica fundamental da sociedade é a submissão de um agrupamento de pes-
soas iguais a leis ou ao sistema jurídico, mas é possível o convívio social harmônico
sem a existência do Direito.
d. O Direito, na sociedade, existe única e exclusivamente para aplicar penalidades de
diferentes tipos.

2. Analise as afirmações a seguir:

I. Jurisprudência é fonte estatal do Direito e se traduz a partir das decisões reitera-


das dos tribunais em um mesmo sentido, sobre uma mesma temática.
II. A lei é a fonte do Direito mais utilizada no ordenamento jurídico brasileiro.
III. Costume é fonte do Direito, embora não exista no ordenamento jurídico brasilei-
ro previsão nesse sentido.
IV. Acerca das fontes do Direito, existe uma única classificação.
a. Apenas as assertivas I e II estão corretas.
b. Apenas as assertivas I, II e III estão corretas.
c. Apenas a assertiva IV está correta.
d. Todas as assertivas estão corretas.

3. Analise a situação exposta e assinale a afirmação correta:

Em Curitiba (PR), por meio da Lei n. 9.493, de 15 de abril de 1999, que foi votada pela
Câmara de Vereadores, aprovada e entrou em vigor 60 dias após sua publicação, é
obrigatório que cães de raças consideradas violentas usem focinheira ao transitarem
em vias públicas. Porém, é comum encontrar animais sem o equipamento pelas ruas
da cidade.

a. A citada lei não possui vigência.


b. A lei em questão não tem legitimidade.
c. O não cumprimento demonstra que ela não tem efetividade social.
d. A lei citada não possui vigência nem efetividade.

Legislação empresarial 19
1 Noções gerais de introdução ao Direito

Referências
BRASIL. Decreto-Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, 9
set. 1942. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm>.
Acesso em: 3 maio 2017.
______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
27 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp95.htm>. Acesso em: 3
maio 2017.
______. Lei Complementar n. 107, de 26 de abril de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 abr.
2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp107.htm>. Acesso em: 3 maio
2017.
______. Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 set. 2008.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
BRANCATO, Ricardo Teixeira. Instituições de Direito Público e de Direito Privado. São Paulo:
Saraiva, 2011.
KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. São Paulo: Saraiva, 1987.
MACHADO, Hugo de Brito. Uma introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Dialética, 2000.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Forense, 2005.
PALAIA, Nelson. Noções essenciais de Direito. São Paulo: Saraiva, 2012.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2005.
VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito: primeiras linhas. São Paulo: Atlas, 2016.

Resolução
1. A − O Direito não é uma abstração, solto no espaço e no tempo, mas um fenômeno
imerso na vida humana, ou seja, o Direito é algo que está no processo existencial do
indivíduo e da coletividade.

O Direito faz parte do cotidiano de todas as pessoas, pois, como conjunto de normas
que é, determina o comportamento dos seres humanos em sociedade em quase todos
os momentos de sua existência.

b. A ação do Direito não opera em um único sentido, pois, ao mesmo tempo que busca
evitar o conflito, cabe ao Direito resolvê-lo por meio da atuação do Estado (Poder
Judiciário), caso ele se estabeleça.
c. A convivência social sem a existência do Direito não é possível, pois, devido às di-
ferenças de valores, à competitividade entre as pessoas e à defesa de interesses par-
ticulares, é necessário que exista um conjunto de normas jurídicas que determinem
como viver em sociedade.

20 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
d. O Direito não existe apenas para aplicar penalidades. Ao contrário, o Direito existe
para determinar o que é lícito e o que é ilícito e para evitar os conflitos sociais.

2. A − Apenas as assertivas I e II estão corretas.

As assertivas II e IV estão incorretas porque o costume é uma fonte do Direito pre-


vista pelo ordenamento jurídico, conforme artigo 4° da Lei de Introdução às Normas
de Direito (BRASIL, 1942), que determina: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá
o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de Direito”.
As fontes do Direito têm mais de uma classificação. Podem ser históricas, formais
e materiais. As fontes ainda podem ser estatais (lei e jurisprudência) e não estatais
(costumes e doutrina).

3. C – O não cumprimento demonstra que ela não tem efetividade social.

O não cumprimento da lei por parte da população demonstra que a lei não possui
efetividade social.

a. A lei possui vigência, uma vez que foi publicada e já se passou o período de vacatio
legis de 60 dias.
b. A lei n. 9.493, de 15/4/1999, tem legitimidade, uma vez que foi elaborada pela Câ-
mara de Vereadores, que tinha competência para elaborá-la.
d. A lei não possui efetividade, uma vez que não é respeitada socialmente, mas possui
vigência, conforme explicado anteriormente.

Legislação empresarial 21
2
Direito Empresarial

Introdução

Neste capítulo, o objetivo é proporcionar a compreensão dos fundamentos básicos


da relação mercantil e das obrigações decorrentes, demonstrando, assim, os principais
conceitos relacionados à atividade econômica organizada de fornecimento de bens ou
serviços, denominada empresa.

Os conhecimentos apresentados são importantes para desenvolver o entendimento


prático da legislação empresarial, observando as atividades econômicas no mercado
interno e globalizado.

Pretende-se, portanto, oportunizar um aprimoramento dos conhecimentos, das


habilidades e das atitudes no que se refere à legislação empresarial.

Legislação empresarial 23
2 Direito Empresarial

2.1 Atividade empresarial

Para viver nós precisamos, diariamente, de bens e serviços, que são fornecidos por or-
ganizações econômicas, estruturadas e desenvolvidas por pessoas que têm como objetivo
ganhar dinheiro – os empresários. Pode-se entender que a atividade empresarial é a articu-
lação de fatores de produção (capital, mão de obra, insumo e tecnologia) com a finalidade
de produzir bens e serviços.
Os empresários surgem quando, por meio do capital (próprio ou alheio), organizam-se,
adquirem matéria-prima, contratam mão de obra especializada e desenvolvem ou adquirem
tecnologia, visando a produzir bens ou serviços para determinado público, na perspectiva
de lucro.
A atividade empresarial consiste, nesses termos, em juntar os recursos financeiros, hu-
manos, materiais e tecnológicos, com o objetivo de fornecer ao mercado de consumo bens
e serviços de qualidade e com preço competitivo e, em contrapartida, obter mais recursos
financeiros.
A empreitada desenvolvida pelo empresário é uma ação de risco, visto que por mais
que ele tenha cuidado, por mais inovador que o bem ou serviço possa parecer ser, pode sim-
plesmente não agradar aos consumidores, ou, ainda, o desenvolvimento da empresa pode
ser afetado por crises econômicas ou outras hipóteses alheias à sua vontade.
Quando a empresa não realiza as expectativas do empresário e não gera os lucros de-
vidos, os investimentos são perdidos. Para que o risco de insucesso de qualquer atividade
econômica seja minimizado, é necessário que o empresário tenha capacidade de planejar
suas atividades, identificando as possíveis fragilidades da empresa frente ao mercado, com
a finalidade de atenuar os prováveis riscos.
Em suma, para que uma empresa desenvolva bens e serviços, é necessária a presença
do empresário. De acordo com o artigo 966 do Código Civil, “considera-se empresário quem
exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação
de bens ou de serviços” (BRASIL, 2002a). De tal definição podem-se extrair algumas caracte-
rísticas importantes, que são:
• profissionalismo;
• atividade econômica organizada;
• produção ou circulação de bens ou de serviços.
Sobre o profissionalismo, em consonância com Coelho (2016), ele está ligado a três or-
dens, que são: habitualidade, pessoalidade e monopólio das informações.
Nesse sentido, para que seja considerada uma atividade profissional, esta não pode ser
esporádica. Logo, quando uma pessoa se organiza para produzir um bem, mesmo que seja
com a finalidade de venda, porém por um pequeno lapso de tempo, não será considerado
um empresário. Um exemplo muito comum são as pessoas que não estão trabalhando, que
desenvolvem algum produto com a finalidade de sanar problemas financeiros emergenciais,
produzem docinhos em casa e, assim que arranjam um emprego, param de produzi-los.

24 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
No que diz respeito à pessoalidade, refere-se à realização da atividade pelo empresário
de forma pessoal, ou seja, por mais que a empresa contrate diversos empregados, para a pro-
dução ou a circulação de bens e serviços, esses realizam as ações em nome do empresário.
Por fim, sobre o monopólio das informações, é a ordem mais importante no que se
refere ao profissionalismo, visto que, para ser considerado um profissional empresário, é
necessário que este concentre todas as informações de seu empreendimento, ou seja, que
o empresário detenha o conhecimento sobre as condições de uso, os atributos, as matérias-
-primas, os riscos que o produto ou o serviço podem causar no seu potencial consumidor.
Em suma, para que seja considerado profissional, o empresário deverá desenvolver sua
atividade de forma permanente, de forma pessoal, e principalmente ter todas as informa-
ções pertinentes aos bens ou serviços desenvolvidos em sua empresa.
Sobre a segunda característica para ser empresário (atividade empresarial), quando o
legislador prevê que o empresário “exerce profissionalmente uma atividade econômica or-
ganizada”, quer dizer que a empresa é uma atividade de produção ou, ainda, de circulação
de bens ou serviços. É importante destacar que a empresa não é sinônimo de estabelecimento
empresarial, visto que empresa é uma atividade desenvolvida e estabelecimento é o local onde
é desenvolvida a atividade empresarial. Todavia, pode ser também considerado o complexo
de bens organizados, para o exercício da empresa, segundo o Código Civil (BRASIL, 2002a),
que prevê estabelecimento empresarial, no artigo 1.142, como “todo complexo de bens orga-
nizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”.
Na concepção do Direito Empresarial moderno, a ideia central está no princípio da
preservação da empresa, ou seja, de manter a atividade empresarial ativa, visto os interes-
ses oriundos da relação empresarial, como é o caso dos postos de trabalho, dos impostos
arrecadados pelo Fisco ou, ainda, do desenvolvimento econômico trazido pela atividade
empresarial em determinada sociedade.
Essa atividade é desenvolvida com o objetivo de lucro, porém existem outras atividades
que são consideradas empresariais, mas não têm a finalidade básica de aferir lucro, como
no caso das escolas religiosas. Todavia, quando essas empresas prestam serviços, os valores
das mensalidades devem ser superiores aos dos gastos com insumos, pois numa sociedade
capitalista, nenhuma empresa se manteria sem lucratividade. O lucro, nesse caso, é um meio
de esses religiosos empresários realizarem suas demais finalidades. Logo, o lucro é um meio
para obtenção da finalidade dessa empresa.
Outro atributo importante derivado do conceito de empresa é o da organização, que
se refere à manipulação dos quatro elementos de produção: capital, mão de obra, insumos
e tecnologia, que o empresário realiza com a finalidade de estruturar a sua organização
econômica. Logo, podemos entender que, quando uma pessoa compra bens para reven-
der, sem a presença desses quatro elementos de produção não pode ser considerado em-
presário, pois não organiza a mão de obra, visto que não contrata nenhum funcionário, e
não depende de tecnologia.
E, por fim, a quarta característica importante é a produção de bens ou serviços, que
corresponde à industrialização de bens. Logo, toda atividade de fabricação é empresarial.

Legislação empresarial 25
2 Direito Empresarial

A atividade empresária também pode permear a prestação de serviços, uma vez que
aquele que intermedeia a relação de consumo entre o fabricante e o consumidor final, ou
seja, o atacadista, o varejista, exerce a profissão prevista no artigo 966 do Código Civil, como
é o caso das agências de turismo, que vendem a passagem aérea, porém não prestam o ser-
viço de transporte aéreo. Ressalta-se, aqui, que a prestação de serviço é uma atividade eco-
nômica que não resulta em um bem tangível, como, por exemplo, a atividade de transporte.
Os bens e serviços se distinguem, visto que os bens são coisas materiais, ou seja, cor-
póreas, já os serviços são uma obrigação de fazer. Entretanto, com a utilização da internet
ocorreu uma dificuldade de conceituar os objetos de consumo, como no caso da assinatura
de jornal virtual. Contudo, mesmo no âmbito virtual, o ato de fornecer bens ou serviços
também é considerado uma atividade empresarial.
A legislação que conceitua o empresário também apresenta quem não pode ser consi-
derado legalmente como tal, visto que de alguma forma não tem as quatro características es-
senciais. Por exemplo, não são considerados empresários os indivíduos que não organizam
uma empresa. Por mais que sua atividade gere lucro e seja consistente, não será considerado
empresário. Entre essas atividades, o artigo 966 do Código Civil, parágrafo único, prevê que
“Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, lite-
rária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício
da profissão constituir elemento de empresa” (BRASIL, 2002a).
No que diz respeito à profissão intelectual, encontram-se os profissionais liberais, como
é o caso de médicos, dentistas, arquitetos, entre outros, bem como os escritores e artistas
de qualquer expressão, como músicos e atores, que não são considerados empresários.
Contudo, esses profissionais intelectuais podem exercer atividade empresarial quando o
exercício de sua profissão seja um elemento da empresa.
Exemplificando, será considerado empresário o médico que administrar e contratar um
rol de médicos e vários funcionários para atender os pacientes. Nesse caso, mesmo que o
médico continue a cuidar de seus pacientes, sua função é também a de exercer profissional-
mente atividade econômica organizada que tem a finalidade de atender vários pacientes.
No que se refere ao empresário rural, são considerados empresários as pessoas que
têm sua atividade econômica desenvolvida principalmente fora do centro da cidade. São
considerados exemplos de atividade econômicas rurais a agricultura, o extrativismo vegetal,
entre outros. Todavia, essas atividades devem ser desempenhadas de forma profissional.
Ressalta-se que a atividade rural não necessariamente ocorre fora dos perímetros da cidade,
visto que muitas vezes a área de cultivo (sítios, fazenda) pode estar dentro da zona urbana,
assim como as atividades em prédios rústicos dentro da cidade.
Essas atividades, no Brasil, são desenvolvidas de duas formas: ou pela agroindústria,
ou pela agricultura familiar. Na primeira, verifica-se a presença de tecnologia avançada,
grandes áreas de cultivo e vários empregados. Entretanto, na segunda, o dono da terra e
seus familiares são os que trabalharam diretamente na atividade, pequena área de produ-
ção, com tecnologia mais simples.

26 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
A legislação brasileira permite ao profissional rural que escolha se quer ou não ser con-
siderado empresário, em conformidade com o artigo 971 do Código Civil, que diz:
O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, ob-
servadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em
que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário
sujeito a registro (BRASIL, 2002a).
Logo, se esse profissional rural requerer sua inscrição no registro das empresas na Junta
Comercial, será considerado um empresário. De acordo com Coelho (2016), os donos de
pequenas empresas que desenvolvem profissionalmente de forma organizada as atividades
rurais familiares, na sua maioria, optam por não se registrarem na Junta Comercial.

2.2 O empresário, as obrigações das empresas,


o estabelecimento e o nome empresarial

O empresário é aquele indivíduo que exerce uma atividade articulando os fatores de


produção, com a finalidade de obter lucro de forma habitual.
O exercício da profissão de empresário, de acordo com a legislação, traz um conjunto de
obrigações. A não observância destas pode ocasionar consequências, inclusive penalmente.
Entre elas, destaca-se:
• registrar-se no Registro de Empresa antes de iniciar suas atividades (artigo 967 do
Código Civil);
• escriturar regularmente os livros obrigatórios;
• levantar balanço patrimonial e de resultado econômico a cada ano (artigo 1.179 do
Código Civil).
A lei trata do Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do
início de sua atividade, visto que, sem esse registro, a empresa será considerada irregular e,
por consequência, não poderá solicitar o pedido de falência ou, ainda, solicitar empréstimos
em instituições financeiras.
Outras obrigações pertinentes ao empresário são a escrituração dos livros obrigatórios –
que compreendem os livros empresariais Diário e Razão – e o levantamento anual de balanço.
O optante pelo Simples Nacional está dispensado de qualquer escrituração mercan-
til, ou escriturar o livro-caixa, porém deverá ter documentos que permitam a verificação
da movimentação financeira, inclusive o registro bancário. Os demais microempresários
e empresários de pequeno porte que não são optantes do Simples Nacional deverão es-
criturar o livro-caixa.
Sobre os livros empresariais, devem ser realizados observando-se alguns requisitos,
conforme está previsto no artigo 1.183 do Código Civil: a escrituração deverá ser feita em
idioma nacional, moeda corrente, por ordem cronológica, entre outros. Os livros podem ser
feitos exclusivamente em meio eletrônico.

Legislação empresarial 27
2 Direito Empresarial

Sobre a terceira obrigação, o artigo 1.179 do Código Civil adverte que o empresário é
obrigado a levantar, anualmente, dois balanços: o balanço patrimonial e o balanço de re-
sultado econômico. A falta desses balanços pode ser considerada, conforme artigo 178 do
mesmo Código, um ato criminoso gerado pelo empresário.
O empresário também está obrigado a manter outros documentos essenciais para o
exercício da empresa, conforme a legislação própria de cada atividade empresarial, como é
o caso do laudo de vistoria e a liberação do estabelecimento pelo Corpo de Bombeiros, que
tem como finalidade que o estabelecimento empresarial não corra risco de acidentes por
causa de possíveis incêndios. A falta desse documento poderá gerar o pagamento de multa
ou interdição da empresa.
Além dos já expostos, existem vários documentos obrigatórios, dependendo do ramo
da atividade empresarial, como é o caso da autorização da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) para as empresas que comercializam medicamentos – farmácias e dro-
garias, de acordo com a Lei n. 9.782/99 (BRASIL, 1999) e a Resolução da Anvisa 238/01
(BRASIL, 2002b).
Ressalta-se que o estabelecimento empresarial é o conjunto de bens – corpóreos e
incorpóreos – que tem a finalidade empresarial. Logo, pode-se entender esse tipo de esta-
belecimento como um instrumento empregado pelo empresário para o funcionamento de
sua atividade.
O empresário dispõe seus bens que integrem e desenvolvam da melhor maneira a ati-
vidade empresarial. Esse complexo racional de bens tem um valor agregado, ou seja, bens
quando ordenados para o trabalho empresarial adquirem um valor no mercado. Contudo,
os bens empresariais não podem ser confundidos com o patrimônio pessoal do empresário.
No caso do empresário individual (que é sempre pessoa física), todos os bens são con-
siderados seu patrimônio, tanto os bens particulares, quanto os bens utilizados na atividade
empresarial. Todavia, o estabelecimento empresarial se equivale a todos os bens (materiais
ou imateriais) que são utilizados no desenvolvimento da atividade com fins lucrativos.
O estabelecimento empresarial possui dois elementos relevantes:
• o conjunto de bens;
• a organização.
O complexo de bens é o instrumento que o empresário tem para exercer suas funções
empresariais. Entretanto, esse conjunto de bens deve ser organizado, conectado entre si de
forma a realizar a atividade empresarial. Essa forma organizada pelo empresário é que o
diferencia das demais empresas. Todas as ações que o empresário realiza para constituir sua
empresa também são consideradas estabelecimento empresarial dessa sociedade.
Em suma, o estabelecimento empresarial é o conjunto de bens corpóreos (como é o caso
das instalações, dos equipamentos, entre outros), bem como de bens incorpóreos (marcas,
patentes, entre outros). E as legislações penal e civil disciplinam normas para proteção des-
ses bens. Todavia, o Direito Comercial tem como finalidade tutelar bens incorpóreos da
relação empresarial.

28 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
Um dos elementos do estabelecimento empresarial é o seu nome, que é definido como
uma palavra que o designa. Logo, é uma expressão que a identifica na função empresarial.
Segundo o artigo 1°, caput, da IN/DREI 15/2013: “nome empresarial é aquele sob o qual o
empresário individual, empresa individual de responsabilidade Ltda. – EIRELI, as socie-
dades empresárias, as cooperativas exercem suas atividades e se obrigam nos atos a elas
pertinentes” (BRASIL, 2013a).
O nome tem duas funções importantes, sendo: a subjetiva (que individualiza e iden-
tifica a pessoa jurídica como um sujeito de direito) e a objetiva (que garante a essa pessoa
jurídica sua fama, reputação).
É importante destacar que o nome empresarial não é sinônimo de marca nem do nome
fantasia, nome do domínio ou, ainda, os chamados sinais de propaganda. Verificam-se as se-
guintes diferenças:
• Segundo o artigo 122 da Lei n. 9.279/1996 (BRASIL, 1996), marca é “aquela usada
para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de ori-
gem diversa”. Logo, pode-se entender marca como uma representação simbólica
que identifica o produto ou o serviço do empresário. Sua tutela é feita pelo direito
de propriedade industrial.
• O nome fantasia é um “apelido” que a empresa possui, ou seja, é um termo pelo
qual a empresa é chamada – pode ser considerado como um nome popular, pelo
qual a empresa é conhecida por seus consumidores.
• O nome de domínio é uma identificação eletrônica da página em que o produto
se encontra ou, ainda, um endereço eletrônico, que tem como finalidade a me-
morização do endereço do site empresarial na internet pelos usuários. Segundo
o Enunciado 7, da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “O nome de domínio
integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de
direito” (BRASIL, 2013b).
• Os sinais de propaganda têm a finalidade de chamar atenção dos consumidores.
A Lei n. 9.279/1996 não manteve o dispositivo que tutelava esse objeto. Todavia,
existe o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), o qual fiscaliza
os sinais de propagandas e impõe normas aos seus associados.

2.3 O empresário e o direito dos consumidores


(desconsideração da personalidade jurídica)

Atualmente, a relação entre consumidores é disciplinada pela Lei n. 8.078/90 (BRASIL,


1990), o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, que tem a finalidade de proteger os
consumidores contra os abusos de fornecedores de produtos e serviços.
Essa lei é acionada toda vez que, numa relação mercantil de consumo, em uma das
partes está o consumidor – que, de acordo com o artigo 2° dessa lei, é: “toda pessoa física
ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. No outro

Legislação empresarial 29
2 Direito Empresarial

polo, deve se encontrar o fornecedor, que o artigo 3° traz como a “pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que de-
senvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, impor-
tação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”
(BRASIL, 1990).
Nesse contexto, sempre que houver uma relação entre quem exerce a atividade de for-
necer bens ou serviços, seja para o mercado ou para o consumidor final, está se falando de
uma relação de consumo. Logo, o Código do Consumidor deve ser a fonte para sanar possí-
veis controvérsias nesta relação jurídica ou nas derivadas dela.
Os contratos de compra e venda podem ser caracterizados como uma relação de con-
sumo quando em um dos polos da relação se encontra o consumidor final. Como quando
alguém compra um carro diretamente da fábrica ou da concessionária. A mercadoria – o
carro – será entregue para a pessoa que usufruirá do bem.
Porém, quando a concessionária compra o carro da fábrica para revenda, encontra-se
diante de uma relação mercantil, pois nessa situação não se encontra o consumidor final.
Outro exemplo de relação mercantil ocorre quando você compra um carro usado de seu
vizinho. Em tal exemplo, verifica-se a falta do fornecedor. Nesses dois casos, o dispositivo
legal para pautar possíveis conflitos é o Código Civil, e não o Código do Consumidor, como
nos primeiros exemplos.
O conceito de fornecedor está abarcado no conceito de empresário; nesse sentido o for-
necedor é um empresário, que deve se pautar nas suas relações pelo Código do Consumidor.
Observa-se ainda que a relação ou o contrato de consumo traz diversos direitos aos consu-
midores, em vários aspectos – entre eles, podem-se citar os prazos, a qualidade do bem etc.
Um dos temas que o Código do Consumidor disciplina é a qualidade do produto e do
serviço. Com essa finalidade essa lei prevê três conceitos importantes: fornecimento perigo-
so, defeituoso e viciado (BRASIL, 1990).
O fornecimento perigoso é aquele que expõe o consumidor a risco, devido ao produto
ou serviço sofrer por falta ou inconformidade das informações prestadas pelo fornecedor.
Logo, pode-se entender que o fornecimento é perigoso, não porque o produto ou o serviço
esteja com defeito, mas porque, por falta de informação, o consumidor gerou o dano e, por
consequência, colocou sua vida, ou sua saúde, sua integridade física em risco. Exemplo de
fornecimento perigoso é o produto de limpeza que não tem nenhum defeito e nenhum vício,
porém não traz nenhuma informação na embalagem ou no rótulo sobre sua composição
química ou acerca de possíveis efeitos nocivos.
Conforme o artigo 8° do Código do Consumidor, o fabricante está dispensado de fornecer
informações somente nos casos em que o consumidor tenha conhecimento prévio de possíveis
danos, ou seja, os “riscos considerados normais e previsíveis” (BRASIL, 1990). Como é o caso
dos fabricantes de copo de vidro, que não precisam informar que, caso o produto quebre, pode
o consumidor se cortar, pois essa informação é difundida entre os consumidores.
Nesse caso de fornecimento perigoso, o problema seria sanado caso as informações
fossem suficientes e adequadas para os consumidores. Todavia, o artigo 10 da mesma lei

30 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
adverte que é proibido o fornecimento de produtos e bens que sejam altamente nocivos ou
perigos para a saúde e para a segurança do consumidor, logo, o fornecedor não consegue,
por meio de informações de rótulo ou de embalagem, fornecer todas as precauções que o
consumidor necessita tomar para manusear o produto ou o serviço.
Os fornecedores (o fabricante, o produtor, o construtor, o importador e o prestador de
serviço) respondem por dano causado por fornecimento perigoso de forma objetiva, ou seja,
caso ocorra dano por falta de informação no rótulo e na embalagem, os sujeitos que forne-
cem o bem e o serviço serão considerados culpados, independentemente da vontade (ou
não) de prejudicar alguém.
O fornecimento defeituoso ocorre quando os produtos ou serviços apresentam incon-
gruência, ou seja, o produto ou o serviço tem um problema no seu fornecimento. Perceba
que, nesse caso, por mais que haja informação adequada no rótulo ou na embalagem, o dano
foi causado porque o produto estava com problemas.
Exemplo de fornecimento defeituoso, por erro de fábrica, é quando a bateria do celular
esquenta demais, ocasionando uma pequena explosão, enquanto o celular está no bolso e,
consequentemente, queima a pele do consumidor. Nesse caso, o erro foi de fábrica, pois o
consumidor não utilizou de modo errado o produto em questão.
A responsabilidade do fabricante, produtor, construtor e importador dos produtos ou
do prestador de serviços, nas hipóteses de fornecimento defeituoso, é objetiva, ou seja, inde-
pendentemente de culpa por parte do fabricante, este deverá indenizar o consumidor.
A legislação atual expõe que existem algumas hipóteses em que o dano derivado do
consumo não será de responsabilidade do fabricante, conforme o artigo 12, § 3°: a) quando
o fabricante, na sua linha de produção, verificou possível defeito no produto e o descar-
tou, porém alguém furtou esse produto e o comercializou, b) quando não existe defeito no
produto, sendo caso fortuito ocorrido após o fornecimento; c) quando a culpa do defeito é
exclusiva do consumidor.
Por fim, o fornecimento viciado corresponde ao serviço ou o produto que possui vício
ou defeito de fábrica, porém é detectado pelo consumidor. Por exemplo, no caso de um
carro que tem problema no motor, mas em que tal problema é descoberto pelo consumidor
antes de qualquer tipo de acidente, estamos falando de um vício. Todavia, se o problema do
motor não for descoberto antes do acidente, trata-se de uma coisa defeituosa.
Ressalta-se, ainda, que os defeitos podem ser redibitórios ou aparentes. No primeiro
caso, os defeitos são ocultos, sendo revelados somente mediante testes e exames técnicos,
enquanto o segundo refere-se aos vícios que podem ser vistos com uma simples análise
do adquirente.
Quando ocorre o fornecimento por coisa com defeito, o fabricante pode solucionar a
situação de três modos: a) devolver o dinheiro corrigido; b) diminuir o preço; ou c) substituir
o produto ou reexecutar o serviço. Todavia, quando a coisa for viciada, só se poderá utilizar
as duas primeiras hipóteses para resolver a questão.
A legislação prevê que o direito do consumidor de reclamar de um produto ou serviço
não durável é de 30 dias, porém, quando o produto ou serviço for considerado durável, esse

Legislação empresarial 31
2 Direito Empresarial

período sobe para 90 dias, começando esse tempo, nas duas hipóteses, na entrega do produ-
to ou na realização do serviço.
Conforme o Código do Consumidor, o fornecedor não pode fazer publicidade simula-
da, enganosa ou, ainda, abusiva (BRASIL, 2002a). Publicidade simulada contempla os anún-
cios feitos de forma a ocultar seu caráter de propaganda. Exemplos disso são as reportagens
que, na verdade, tem intuito de fazer propaganda.
A publicidade enganosa é aquela que leva o consumidor ao erro, ou seja, são publicida-
des que não têm todas as informações, ou estas são falsas. Por exemplo, as propagandas do
castelo da Barbie que não informam que os bonecos não estão inclusos no briquedo. Muitas
mães, ao irem à loja, verificam que o produto é vendido separadamente, gerando assim
muitos transtornos.
A publicidade abusiva é aquela que agride os valores sociais, como é o caso das propa-
gandas de cigarro que não tenham nenhum tipo de alerta de que o cigarro faz mal à saúde.
Também são considerados abusivos os anúncios racistas, sexistas, discriminatórios e lesivos
ao meio ambiente.
Os empresários que promoverem publicidade enganosa ou abusiva podem ser respon-
sabilizados civil e penalmente, bem como deverão indenizar o consumidor. No caso das
propagandas enganosas, o consumidor poderá solicitar a aquisição dos produtos e serviços
nas condições apresentadas.
Em suma, o Código do Consumidor tem como objetivo coibir ações dos fabricantes que
sejam danosas aos consumidores, bem como responsabilizar a pessoa do empresário pelo for-
necimento de produtos ou serviços que coloquem em risco a vida da pessoa ou a sua saúde.
Um dos dispositivos legais que essa lei prevê é a desconsideração da personalidade
jurídica, no seu artigo 28, nos casos em que o empresário fraudar ou abusar do seu direito
para satisfazer seu interesse econômico em detrimento do consumidor.

Ampliando seus conhecimentos

Desconsideração da personalidade jurídica


da sociedade limitada e a responsabilidade
civil dos sócios administradores
(SOUZA, 2017)

[...]

A desconsideração da personalidade jurídica é instituto essencial para


combater as fraudes praticadas por meio de pessoas jurídicas afastando
a autonomia patrimonial entre sócios e sociedade; dessa forma o caráter
absoluto da autonomia patrimonial restou superado diante da constatação

32 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
de que ela poderia ser utilizada para fins ilícitos. Assim, a desconsidera-
ção da personalidade jurídica contribui para o aperfeiçoamento da pessoa
jurídica, pois permite afastar os efeitos da personificação para um caso
específico, sem extingui-la.

O resultado da pesquisa reforçou que a separação patrimonial estabele-


cida entre a sociedade empresária e seus sócios constitui um incentivo
essencial para a iniciativa privada e, consequentemente, para a propulsão
da atividade econômica. Portanto, assim como não visa extinguir a pessoa
jurídica, a desconsideração também não visa extinguir a autonomia patri-
monial, muito pelo contrário, o objetivo é assegurar que a pessoa jurídica
seja utilizada para atender ao seu objeto social, em toda sua plenitude,
sem que haja deturpação da sua finalidade por meio de fraudes.

Entretanto, ao mesmo tempo em que não se pode permitir que a auto-


nomia patrimonial decorrente da personalização seja usada de escudo
para a prática de atos ilícitos, também, não se deve permitir a aplicação
desenfreada e abusiva da desconsideração, desvinculada dos seus fun-
damentos, o que provocaria o desvirtuamento da teoria e do próprio
instituto da pessoa jurídica, motivo pelo qual no âmbito do Direito Civil
se aplica a teoria onde para desconsiderar a personalidade jurídica é
indispensável a prova de fraude, desvio de finalidade e confusão patri-
monial, ou seja, a ausência de patrimônio da sociedade, por si só, não é
motivo suficiente para ensejar a aplicação da superação da autonomia
patrimonial da pessoa jurídica e a consequente responsabilização dos
seus sócios ou administradores.

O art. 50 do Código Civil fixou expressamente a necessidade de existência


do abuso do direito para a declaração de desconsideração, e elegeu como
circunstâncias caracterizadoras deste abuso o desvio de finalidade ou a
confusão patrimonial.

Contudo, a utilização do instituto é possível quando presentes os pressu-


postos previstos em lei, ou seja, devendo ser observado se o caso concreto
é passível de desconsideração da personalidade jurídica, pois quando não
estão presentes os pressupostos para desconsideração ou quando for pos-
sível a responsabilização direta do sócio administrador por ato praticado,
não é cabível a desconsideração da personalidade jurídica.

Destaca-se ainda a importância de o instituto estar devidamente forma-


lizado processualmente, diminuindo os riscos de ser aplicado de forma
errônea e consequentemente trazendo prejuízos, seja para o credor, seja

Legislação empresarial 33
2 Direito Empresarial

para o sócio administrador atingido pela desconsideração da personali-


dade jurídica, e ainda, baseado no contraditório e ampla defesa obser-
vando o devido processo legal.

Por meio do presente estudo, se infere que o estudo da desconsideração


da personalidade jurídica aplicada à sociedade limitada é extremamente
relevante, pois este tipo societário é o mais comumente adotado, prin-
cipalmente pela responsabilidade limitada dos sócios, porém conforme
observado nas doutrinas estudadas, mesmo nas sociedades limitadas
podem os sócios responder ilimitadamente em casos de prática de atos
ilícitos mobilizados por meio da pessoa jurídica.

[...]

Atividades
1. Sobre o empresário, assinale a alternativa correta:

a. É aquele que executa atividade por um lapso de tempo.

b. É o empregado que realiza as atividades em nome do dono da empresa.

c. É quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produ-


ção ou circulação de bens ou serviços.

d. É aquele que possui mais votos na Assembleia Geral de Cotistas.

2. Os empresários devem manter, obrigatoriamente, dois livros empresariais, em boa


ordem e guarda, que são:

a. Livro Diário e Livro Razão.


b. Livro Diário e Livro-Caixa.
c. Livro-Caixa e Livro Razão.
d. Livro-Caixa e Livro de Inventário.

3. Quando o empresário expõe o consumidor a risco, devido ao produto ou serviço


sofrer por falta ou inconformidade das informações prestadas pelo fornecedor, esta-
mos diante de:

a. fornecimento perigoso.
b. fornecimento defeituoso.
c. fornecimento viciado.
d. propaganda enganosa.

34 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
Referências
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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9279.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
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______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União,
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______. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 238, de 27 de dezembro de 2001. Diário
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JORNADA DE DIREITO COMERCIAL, 1., 2012, Brasília, DF. Enunciados aprovados. Brasília, DF:
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BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 10. ed.,
rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
PALAIA, Nelson. Noções essenciais de Direito. São Paulo: Saraiva, 2008.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2005.
SOUZA, Adriana Caroline de. Desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada e a
responsabilidade civil dos sócios administradores. Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 158, mar. 2017.
Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
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VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Atlas, 2008.

Resolução
1. C – Empresário é quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou circulação de bens ou serviços.

2. A – Uma obrigação pertinente ao empresário é a escrituração dos livros obrigatórios,


que compreendem os livros empresariais Diário e Razão, bem como o levantamento
anual de balanço.

Legislação empresarial 35
2 Direito Empresarial

3. A – Fornecimento perigoso é aquele que expõe o consumidor a risco, devido ao pro-


duto ou serviço sofrer por falta ou inconformidade das informações prestadas pelo
fornecedor. Logo, pode-se entender que o fornecimento é perigoso, não porque o pro-
duto ou o serviço está com defeito, mas porque, por falta de informação, o consumidor
gerou o dano e, por consequência, colocou sua vida, sua saúde ou sua integridade fí-
sica em risco. Exemplo de fornecimento perigoso é o produto de limpeza que não tem
nenhum defeito e nenhum vício, porém não há nenhuma informação, na embalagem
ou no rótulo, sobre sua composição química e/ou possíveis efeitos nocivos.

36 Legislação empresarial
3
Direito Societário

Introdução

Neste capítulo, o objetivo é proporcionar a compreensão dos conceitos oriundos


da sociedade empresarial, demonstrando, assim, os principais temas relacionados ao
conjunto de agentes cuja finalidade é exercer a função de empresário.

Os conhecimentos são importantes para que se desenvolva o entendimento prático


da legislação empresarial, visto que no Brasil há mais de 16 milhões de empresas, que
se diferem por seu escopo, bem como pela sua formação societária, conforme dados da
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (2017).

Legislação empresarial 37
3 Direito Societário

3.1 Sociedades empresárias: conceito e elementos

O conceito de empresário, elencado no artigo 966 do Código Civil (BRASIL, 2002), refere-
-se a uma pessoa física ou jurídica. Logo, pode-se entender que a pessoa física é o empresá-
rio. Entretanto, a pessoa jurídica diz respeito à sociedade empresarial. É oportuno observar
que, conforme o artigo 980-A do Código Civil, existe uma nova estrutura de empresário, que
é a EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada.
No panorama empresarial, verifica-se que 73% do PIB (Produto Interno Bruto), no ano
de 2011, em contrapartida ao empresário individual, movimentaram 599 bilhões de reais do
mesmo período, em conformidade com os dados do Sebrae (2014). Logo, pode-se entender
que as sociedades empresariais têm um desempenho muito relevante na economia.
Pode-se compreender que essa atuação mais importante da sociedade empresarial no
panorama econômico ocorre, conforme Coelho (2016), porque as pessoas jurídicas buscam
em suas ações diminuir os riscos empresariais, haja vista que os empresários constituem
uma sociedade, uma vez que, neste modelo, ocorre a separação do patrimônio da empresa,
que é desvinculada da pessoa do empresário, e, ainda, a possibilidade de limitação de res-
ponsabilidade. Com o surgimento da EIRELI, na visão de Bertoldi e Ribeiro (2016), ocorrerá
a diminuição de sociedades empresárias.
A sociedade empresária é conceituada, conforme Fazzio Júnior (2016, p. 112), como
“pessoa jurídica de direito privado, implementada por um contrato, cujo objeto social é a
exploração de atividade empresarial, ou que, independentemente de seu objeto, adota a for-
ma societária por ações”. Em suma, pode-se entender que a sociedade é uma pessoa jurídica
que deriva de um contrato – Contrato Social ou estatuto da sociedade.
Nesse contexto, é importante destacar que a sociedade empresária se fundamenta na
condição de ser consequência de um contrato plurilateral de organização, bem como é uma
pessoa jurídica de direito privado. Conquanto o artigo 44 do Código Civil (BRASIL, 2002)
considere as sociedades como pessoas jurídicas de direito privado, juntamente com as as-
sociações, as fundações, as sociedades, os partidos políticos, as organizações religiosas e a
EIRELI, nem toda sociedade possui personalidade jurídica, como é o caso das sociedades
em comum (sociedade transitória) e da sociedade em conta de participação, regulamentada
pelos artigos 986 a 996 do Código Civil.
Consoante ao artigo 981 do Código Civil (BRASIL, 2002), o conceito de sociedade é o
“contrato em que pessoas reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços,
para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Logo, pode-se
perceber algumas características presentes:
• Contrato: conforme Negrão (2016, p. 24), é instrumento público ou particular, re-
gistrado (todas as sociedades personificadas) ou não levado a registro (sociedade
em comum e em conta de participação).
• Pessoas: refere-se a todas as possibilidades previstas na legislação, lembrando que
a sociedade em nome coletivo, conforme o artigo 1.039 do Código Civil, só pode

38 Legislação empresarial
Direito Societário 3
ser formada por pessoas naturais. Entretanto, a sociedade subsidiária integral será
constituída somente por pessoa jurídica, segundo o artigo 251 da LSA, e a socieda-
de em comandita simples terá sua composição de pessoas naturais na qualidade
de sócios comanditados, no entendimento do artigo 1.045 do Código Civil, pes-
soas naturais ou jurídicas como sócios comanditários.
• Contribuição com bens e/ou serviços e partilha dos resultados: a sociedade tem
como essência a junção do capital ou dos esforços das pessoas que contribuem
para sua constituição, sendo que todos os resultados são divididos entre os parti-
cipantes da sociedade.
É importante, ainda, destacar que as sociedades são pessoas jurídicas que exercem ati-
vidade empresarial, cujo objetivo é o lucro, e têm o seu objetivo negocial. Logo, pode-se
entender que a sociedade se difere das demais pessoas jurídicas de direito privado, elencada
no artigo 44 do Código Civil, por possuir a finalidade lucrativa, bem como por ser o empre-
sário uma pessoa jurídica ou física que exerce profissionalmente uma atividade econômica
organizada (artigo 966 do Código Civil).
Nesse contexto, é importante observar que nem toda a atividade econômica pode ser con-
siderada atividade empresarial, visto que, para ser uma atividade empresarial, deve ter a or-
ganização dos fatores de produção. As sociedades podem ser classificadas em duas categorias:
• Sociedades simples: são as constituídas por uniprofissionais. Exemplo: sociedades
compostas por contadores.
• Sociedades empresárias: são as que exploram a atividade empresarial, em confor-
midade com o artigo 966 do Código Civil, que ressalta que o empresário exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circula-
ção de bens ou de serviços.
As sociedades são organizações econômicas, constituídas juridicamente por mais de
uma pessoa física ou jurídica. Possuem patrimônio próprio e têm como finalidade a explo-
ração empresarial, cujo fim é a produção de bens ou serviços visando ao lucro. Os requisitos
da sociedade empresarial são:
• agente capaz;
• objeto lícito;
• pluralidade de sócios;
• constituição de capital;
• conformidade com a lei.
A sociedade empresarial nasce da produção de um contrato. Nesse sentido, pode-se
entendê-la como uma sociedade contratual, cuja personalidade jurídica deriva do registro
da Junta Comercial. No entanto, esse contrato pode ser considerado como um pacto que
tem a finalidade de constituir uma pessoa jurídica. Logo, pode-se perceber que a sociedade
empresarial é a união de várias pessoas físicas ou pessoas jurídicas, com o objetivo de lucro,
por meio de exploração de atividade econômica, a qual possui como escopo a produção e
circulação de bens e/ou serviços.

Legislação empresarial 39
3 Direito Societário

Pode-se entender ainda que o estatuto da empresa tem essência contratual, visto que é
considerado um contrato institucional, no qual mais de duas pessoas, por meio de escritu-
ra pública ou deliberação assemblear, colaboram com a concepção do capital social e, por
consequência, recebem o direito de auferir lucros pela exploração da atividade empresarial.
É oportuno ressaltar que, nas sociedades anônimas, os acionistas são partícipes de capital;
logo, essa sociedade não está vinculada aos sócios, todavia os acionistas firmam o capital
para criar a companhia.
De acordo com o artigo 982 do Código Civil (BRASIL, 2002): “salvo as exceções expres-
sas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria
de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”. Logo, pode-se entender
que o que conceitua uma sociedade empresarial é seu objetivo social, que deve ser a explo-
ração da empresarialidade.
Entretanto, na concepção de Fazzio (2016), para que seja uma sociedade empresária, deve
ser formalizada essa união de pessoas, ou seja, deve ser materializada por meio de Contrato
Social, que deverá ser celebrado por todos os sócios e conforme o dispositivo 45 do Código
Civil. A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começará com a inscrição de
seus contratos, atos constitutivos, estatutos ou compromissos em seu registro peculiar.
O artigo 982 do Código Civil (BRASIL, 2002) traz duas hipóteses em que a sociedade
é empresarial, independentemente do seu escopo, pois traz em seu contexto que: “inde-
pendentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a
cooperativa”. Em suma, a sociedade por ações, como é o caso da sociedade anônima, será
considerada uma sociedade empresária, mesmo que seu objetivo não seja o exercício de
empresa. E a sociedade cooperativa vai ser sempre sociedade simples.
Observe que as sociedades simples, também denominadas sociedades uniprofissionais,
são as que têm como objeto a exploração da profissão intelectual dos seus sócios. Nesse tipo
de sociedade, a presença da organização dos fatores de produção nem sempre está presente,
porém existe uma hipótese em que pode existir a organização citada, que são os casos em
que os sócios são elementos da empresa, ou seja, exploram seu objeto social com organiza-
ção dos fatores de produção.
A presença da organização dos fatores de produção na empresa uniprofissional faz que
o profissional intelectual seja entendido como empresário. Esse entendimento também se
expande para a sociedade de profissionais intelectuais.

3.2 Distinção das sociedades empresárias

O artigo 983 do Código Civil (BRASIL, 2002) traz que “a sociedade empresária deve
constituir-se segundo um dos tipos regulados nos artigos 1.039 a 1.092; a sociedade simples
pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às
normas que lhe são próprias”. Nesse sentido, as sociedades empresariais, em conformidade
com o Código Civil, podem ser organizadas como:
• sociedade em nome coletivo (artigos 1.039 a 1.044);

40 Legislação empresarial
Direito Societário 3
• sociedade em comandita simples (artigos 1.045 a 1.051);
• sociedade anônima (artigos 1.088 a 1.089 c/c a Lei n. 6.404/1976);
• sociedade limitada (artigos 1.052 a 1.087);
• sociedade em comandita por ações (artigos 1.090 a 1.092);
• sociedade simples.
Primeiramente, é importante observar que a sociedade simples não está elencada nos
tipos descritos no artigo 983, porém pode ser organizada no formato de tipos empresariais,
com exceção da modalidade de sociedade por ações, conforme o artigo 982, parágrafo único,
do Código Civil. Nesse contexto, uma sociedade simples pode ser classificada em:
• sociedade simples pura (artigos 997 a 1.038);
• sociedade em nome coletivo (artigos 1.039 a 1.044);
• sociedade em comandita simples (artigos 1.045 a 1.051);
• sociedade limitada (artigos 1.052 a 1.087);
Observa-se ainda que, conforme o artigo 982, parágrafo único, do Código Civil (BRASIL,
2002), uma sociedade cooperativa sempre será considerada uma sociedade simples, inde-
pendentemente de seu objeto social.
A sociedade simples, segundo os artigos 981 e 982 do Código Civil, refere-se a uma
sociedade uniprofissional. Logo, são sociedades constituídas por profissionais intelectuais,
cuja finalidade social é a realização de atividades intelectuais de seus sócios. Apesar de esse
tipo societário ser considerado uma pessoa jurídica, não pode sofrer falência. Seu registro
deve ser realizado no Cartório, e não na Junta Comercial, conforme estabelecido no artigo
984 do Código Civil.
Sobre as demais sociedades previstas no Código Civil, é importante destacar que as
modalidades de sociedades se diferenciam segundo a sua atividade econômica. No que se
refere à sociedade em nome coletivo, essa só pode ser constituída por pessoas físicas, tendo
como responsável pelas obrigações sociais todos os sócios de forma ilimitada e solidária.
Todavia, é facultado aos membros da sociedade em nome coletivo, limitar, no ato constitu-
tivo, a responsabilidade dos sócios.
A sociedade limitada tem surgimento previsto no Decreto 3.708/1919. Porém, atual-
mente, está sendo regulamentada pelo Código Civil de 2002, nos artigos 1.052 a 1.087. Essa
sociedade também é chamada de sociedade por Cotas de Responsabilidade Limitada, deno-
minação adotada antes do Código Civil atual, haja vista que é constituída por sócios que se
responsabilizam pela empresa na proporção da cota do seu investimento.
Nessa sociedade podem-se verificar duas características básicas: a contratualidade e a
limitação de responsabilidade dos sócios. A contratualidade refere-se à liberdade dos sócios
em compactuar. Todavia, essa liberdade vem sido diminuída com a edição do Código Civil
de 2002. A limitação da responsabilidade dos sócios significa que, integralizado todo o ca-
pital, não será possível cobrar do patrimônio pessoal dos sócios as dívidas contraídas pela
sociedade, excetuando-se o caso da desconsideração da personalidade jurídica, já explicado
no capítulo anterior.

Legislação empresarial 41
3 Direito Societário

Outra modalidade de sociedade é a sociedade anônima, que, conforme Fazzio (2016, p. 179),
é a pessoa jurídica de direito privado, empresária por força de lei, regida por um
estatuto e identificada por uma denominação, criada com o objetivo de auferir
lucro mediante o exercício da empresa, cujo capital é dividido em frações trans-
missíveis, composta por sócios de responsabilidade limitada ao pagamento das
ações subscritas.
Logo, pode-se entender que essa sociedade é uma sociedade de capital, na qual os títu-
los que a representam (ações) são negociáveis de forma livre. Assim, é possível compreender
a sociedade anônima como uma empresa que tem seu capital dividido em cotas, que são
representadas por ações. Existem dois tipos de sociedade anônima:
• capital aberto;
• capital fechado.
Perceba que nenhum acionista pode impedir que uma pessoa entre no quadro asso-
ciativo, bem como, no caso de falecimento, não poderá ser impedido o sucessor de assumir
seu lugar no quadro associativo. Nesse tipo de sociedade, o capital social é fragmentado
em ações e a responsabilidade social corresponde ao valor das ações que o acionista possui.
As ações da sociedade anônima são negociadas no mercado de capitais, que são enten-
didas como um rol de meios e instrumentos que propiciam a negociação entre os investido-
res e as empresas. Logo, pode-se compreender o mercado de valores como uma instituição
operacional de natureza financeira, cuja finalidade é de operacionalizar a liquidez dos títu-
los da empresa e viabilizar sua capitalização.
As sociedades anônimas são identificadas por seu nome empresarial, que contém as
expressões sociedade anônima ou companhia, podendo ser utilizadas de forma abreviada
S/A ou Cia. Entretanto, o termo companhia deverá estar no início ou no meio do nome em-
presarial, conforme a previsão legal do artigo 1.160 do Código Civil.
A sociedade em comandita simples, outra sociedade empresária, é também conside-
rada híbrida, visto que tem algumas características da comandita e outras da sociedade
anônima. Nessa modalidade societária, o sócio denominado comanditado tem suas obriga-
ções sociais ilimitadas e os outros sócios, chamados de comanditários, ao contrário, têm as
obrigações limitadas.
A regulamentação desse tipo está elencada nos artigos 1.045 a 1.051 do Código Civil, o
qual prevê que somente os sócios comanditados devem ser os administradores da empresa e
devem ser pessoa física. Já os sócios comanditários podem ser pessoa jurídica e não atuarão
como gestores da empresa. O artigo 1.028 prevê que, no falecimento de um dos sócios co-
manditados, o sucessor só poderá assumir o seu lugar na empresa caso isso esteja expresso
no Contrato Social.
A Carta Magna de 1988 trouxe no artigo 170, parágrafo único, e no 170, inciso IV, ex-
pressamente, o entendimento de que o mercado brasileiro é um regime capitalista, visto que
prevê os princípios da livre-iniciativa e da livre concorrência. Porém, no mesmo dispositivo

42 Legislação empresarial
Direito Societário 3
que prevê a livre-iniciativa, há algumas atividades que têm como objetivo o interesse públi-
co. Por esse motivo devem ser autorizadas, controladas e fiscalizadas pela Administração
Pública. Nesse contexto, pode-se verificar que o legislador disciplinou no Código Civil as
regras pertinentes às sociedades dependentes de autorização.
Entre as normas que regem essas sociedades que dependem de autorização para fun-
cionar, destaca-se o artigo 1.124 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê que, após a
publicação do ato administrativo ou da lei que aprova a constituição da sociedade, o prazo
para que essa comece seu funcionamento é de 12 (doze) meses. A lei prevê ainda que, no
caso de tal tipo de empresa “infringir disposição de ordem pública ou praticar atos contrá-
rios aos fins declarados no seu estatuto”, sua autorização pode ser anulada.
Algumas sociedades nacionais devem ter seu exercício empresarial autorizado pelo
Poder Público, visto que, conforme o artigo 1.126 do Código Civil (BRASIL, 2002), “é nacio-
nal a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede
de sua administração”. Logo, mesmo que todos os sócios sejam de nacionalidade brasileira,
essa pode ser considerada uma empresa estrangeira, pois o que faz a empresa ser nacional
é a origem do capital social.
Outra empresa que necessita de autorização para exercer função empresarial no país
é a sociedade estrangeira, como prevê o artigo 1.126 do Código Civil. Porém, os acionistas
de sociedade anônima não precisam de autorização, de acordo com o artigo 1.134. Após a
autorização do Poder Público, a empresa estrangeira deverá se registrar formalmente na
Junta Comercial de sua região. Lembrando, ainda, que essa empresa deverá ser regida pela
legislação vigente no Brasil.

3.3 Classificação e constituição


das sociedades empresárias

Existem três classificações das sociedades empresárias. A primeira leva em considera-


ção a responsabilidade dos sócios e, segundo esse critério elas podem ser: 1) de responsabi-
lidade ilimitada; 2) de responsabilidade limitada; ou 3) mistas.
A classificação relativa à limitação de responsabilidade dos sócios se refere à possibi-
lidade de os credores da empresa satisfazerem seus créditos com o patrimônio pessoal dos
sócios da sociedade. Nesse contexto, quando a sociedade for ilimitada, os sócios terão seu
patrimônio pessoal executado com a finalidade de satisfazer os débitos com seus credores,
quando o patrimônio da empresa não for suficiente para todos os débitos. Em contrapartida,
na sociedade empresária de responsabilidade limitada, os sócios não podem ter seu patri-
mônio pessoal executado para satisfazer os credores da empresa.
Outro critério para classificar a sociedade é o regime de constituição e dissolução da
empresa, que pode ser: 1) contratual ou 2) institucional. As contratuais são estabelecidas por

Legislação empresarial 43
3 Direito Societário

meio do Contrato Social e se desfazem conforme as normas estabelecidas pelo Código Civil.
Entretanto, as institucionais são formadas por ato institucional ou estatutário e se dissolvem
por meio da Lei n. 6.404/1976.
Percebe-se que a sociedade contratual difere da sociedade institucional também pela
autonomia da vontade dos sócios, visto que na contratual os sócios têm liberdade para nor-
matizar suas relações como julgarem mais conveniente, sem modificarem o tipo societário
escolhido. Já nas sociedades institucionais, o elo entre os sócios é o estatuto. Nesse sentido,
os interesses são limitados aos da instituição.
Por fim, a terceira classificação corresponde à composição da sociedade, ou seja, ela
pode ser formada por: 1) um conjunto de pessoas (sociedades intuitu personae) ou 2) um
rol de capital e de pessoas (sociedades intuitu pecuniae). É importante, na visão de Coelho
(2016), que nas sociedades formadas por pessoas, ou seja, nas intuitu personae, exista um
elo psicológico entre os sócios, affectio societatis, que contribui para o sucesso da empresa.
Perceba que nesses casos a presença de um estranho como sócio pode gerar conflitos. Logo,
para que um novo sócio seja inserido na empresa, precisa, nesse tipo de sociedade, do con-
sentimento dos demais sócios.
Em contrapartida, as sociedades que são formadas por capital e pessoas, as chamadas
sociedades por capital, têm o capital como força para a empresa, e não o elo entre as pessoas.
Nesse sentido, a entrada de pessoas estranhas não necessita do consentimento dos demais
sócios.
A relevância dessa classificação – sociedades de pessoas e sociedades de capital – está
pautada no problema que cerca a penhorabilidade das quotas sociais, visto que, para Negrão
(2016, p. 170),“atualmente não se pode mais afirmar categoricamente que toda sociedade
anônima é necessariamente uma sociedade de capital”.
No Brasil, atualmente, pode-se verificar que existem sociedades limitadas constituídas
por capital, bem como sociedades anônimas com feição personalista. Por exemplo: existem
empresas familiares que, por meio de normas estatutárias, limitam suas ações normativas,
em conformidade com o artigo 36 da Lei de Sociedades Anônimas (LSA), e assumem uma
feição personalista.
Nesse contexto, para saber se uma empresa tem vínculo intuitu pecuniae ou vínculo
intuitu personae é necessária uma análise do estatuto ou do contrato que constitui a empresa.
Sobre a constituição da empresa, é importante destacar que essa pode ser feita de duas
formas: contratual ou institucional. Todavia, as sociedades institucionais são, somente, as
sociedades por ações e cooperativas.
Para a constituição de uma empresa, contratual ou institucional, devem existir alguns
requisitos mínimos que precisam constar do contrato: agente capaz, objeto lícito, possível,
determinado ou determinável e forma prescrita em lei.
Sobre o agente capaz, é importante destacar que, em caso de morte ou de perda da ca-
pacidade de alguns dos sócios, a legislação – artigos 3°, 4° e 974 do Código Civil – permite
que a atividade empresarial seja realizada por meio de representação ou assistência legal.

44 Legislação empresarial
Direito Societário 3
Observa-se que a incapacidade do sócio se refere à impossibilidade de este exprimir
sua vontade, que pode ser de forma transitória ou não. Tal incapacidade pode ser decor-
rente de enfermidade, doença ou desenvolvimento mental, por discernimento reduzido
decorrente de vício em tóxico ou ebriedade habitual. Nesses casos, o incapaz pode con-
tinuar sua atividade empresária, desde que assistido por representante, bem como pelos
seus pais ou autor da herança.
No que diz respeito ao requisito objeto lícito, pode ser entendido como tudo que está em
conformidade com a lei ou, ainda, conforme o artigo 35 da Lei n. 8.934/94 – Lei de Registro
Público de Empresas Mercantis (BRASIL, 1994), que não apresenta “matéria contrária aos
bons costumes ou à ordem pública”. Logo, pode-se entender que o objeto da sociedade não
pode afrontar a moral vigente nas relações sociais.
A empresa não pode ter também um objeto social que não seja possível, determinado
ou determinável, visto que, para que seja constituída uma sociedade, é necessário que o
objetivo dessa união de pessoas e de capital seja definido.
Os contratos e estatutos de constituição de sociedade devem ser formalizados, confor-
me a previsão da lei, ou seja, de forma solene, expressa e plural. Lembrando que, para ser
registrado na Junta Comercial, ou no Registro Civil, o Contrato Social deve seguir a forma
escrita. No que diz respeito à característica plural do Contrato Social, refere-se a não existir
uma única forma para a elaboração desse ato constitutivo.
Os contratos de constituição também possuem requisitos específicos que devem estar
presentes, como é o caso de: pluralidade de sócios, constituição de capital social, affectio
­societatis e, por fim, coparticipação nos lucros e perdas.
Sobre a pluralidade de sócios, a legislação prevê que, para ser considerada uma socieda-
de, é necessário que seja um conjunto de duas ou mais pessoas. Logo, não se considera uma
sociedade unipessoal. No entanto, existem quatro exceções, em conformidade com Negrão
(2016): 1) companhia subsidiária integral – constituída mediante escritura pública, tendo
como única acionista uma sociedade brasileira; 2) empresa pública – criada por lei; 3) socie-
dade que perde a pluralidade de sócio, por um período; 4) sociedade por ações com apenas
um acionista.
A sociedade também deve possuir um patrimônio formado de recurso financeiro, ad-
vindo do ingresso do sócio no quadro social. Apesar de o capital ser expresso em moeda na-
cional, a contribuição do sócio pode ser feita por meio de bem que possua valor de mercado.
Outro requisito que deve estar presente é o affectio societatis, ou seja, a vontade que os
sócios têm de participar da sociedade, visando ao lucro. Na visão de Coelho (2016), a affectio
societatis possui quatro elementos essenciais, que são: 1) colaboração ativa, 2) consciente,
3) igualitária dos contratantes e, por fim, 4) para realização de um lucro a partilhar.
Conforme o artigo 1.008 do Código Civil, são proibidas as cláusulas no Contrato Social
que proíbam a participação do sócio nos lucros ou nas perdas, pois cada sócio tem direito
aos lucros da empresa, na proporção de sua cota, bem como tem deveres quanto às perdas
também na mesma proporção da sua parcela da empresa.

Legislação empresarial 45
3 Direito Societário

No que se refere à constituição e dissolução, as sociedades podem ser divididas em


sociedades contratuais (reguladas pelo Código Civil) e sociedades institucionais ou estatu-
tárias (Lei n. 6.404/76).
É importante destacar ainda que, após o Contrato Social estar em conformidade, ou
seja, com todas as condições estabelecidas, deve ser celebrado por todos os sócios e, em
seguida, levado para registro no órgão competente. Quando a sociedade for empresária,
seu registro será feito na Junta Comercial da localidade do estabelecimento, que procederá
com o arquivamento dos atos constitutivos, ou seja, do Contrato Social. Quando a sociedade
desenvolver atividade não empresária, sendo assim uma sociedade simples, seu ato consti-
tutivo deve ser registrado no Cartório Civil das Pessoas Jurídicas.

Ampliando seus conhecimentos

(RIBEIRO, 2017)

A partir da análise do regime do Simples Nacional, bem como da legis-


lação pertinente aos Microempresários e Empresas de Pequeno Porte,
regulamentadas pela Lei Complementar 123/2006, pode-se concluir que
a EIRELI é o modelo de organização da empresa mais apropriado para
aqueles negócios cujo faturamento se aproxima ou ultrapassa o montante
mínimo para o enquadramento na categoria de EPP.

O benefício da proteção patrimonial do empresário, somado com o regime


jurídico diferenciado positivado na Lei das Micro e Pequenas Empresas,
torna a adoção da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada viá-
vel do ponto de vista econômico e gerencial, sobremaneira, repisa-se, para
os negócios que se qualificam como Empresas de Pequeno Porte. Neste
sentido, a Lei 12.441/11 proporciona mais segurança e estabilidade para
parcela relevante do empresariado nacional, permitindo, portanto, mais
investimentos e, consequentemente, maior arrecadação estatal e geração
de empregos.

Os dados estatísticos fornecidos pelas Juntas Comerciais, complemen-


tando a reflexão desenvolvida sobre a EIRELI e os institutos a ela relacio-
nados, demonstram que a sua constituição tende a ser mais bem aceita em
economias em estágio intermediário de desenvolvimento, nas quais não
mais predomina a figura do Microempreendedor Individual, tampouco
se chegou ao nível de complexidade dos mercados financeiros, em que se
destacam as sociedades anônimas.

A despeito dos fatores que têm obstado uma maior adoção do instituto,
conforme já aferido no presente trabalho – ausência de bibliografia sobre o

46 Legislação empresarial
Direito Societário 3
tema, o desconhecimento do instituto por muitos empreendedores e ope-
radores do Direito, e a existência de questões controvertidas –, o número de
EIRELI´s registradas nas Juntas Comerciais tem crescido continuamente,
tanto em termos absolutos quanto proporcionais, quando comparado
às outras formas de organização da empresa, demonstrando a presença
deum mercado interessado em sua adoção como instrumento de adminis-
tração do negócio e de segurança jurídica do empreendedor, conferindo
ao empresariado nacional um importante fator de competitividade.

Atividades
1. As sociedades são organizações econômicas constituídas juridicamente por mais de
uma pessoa física ou jurídica, possuem patrimônio próprio, têm como finalidade a
exploração empresarial, cujo escopo é a produção de bens ou serviços, visando ao
lucro. Os requisitos da sociedade empresarial são:

a. agente capaz; objeto lícito; pluralidade de sócios; constituição de capital em confor-


midade com a lei.
b. agente capaz; objeto lícito; uma ou mais pessoas; constituição de capital em confor-
midade com a lei.
c. agente capaz; objeto lícito ou indeterminado; uma ou mais pessoas; constituição de
capital em conformidade com a lei.
d. agente capaz; objeto lícito ou indeterminado; uma ou mais pessoas; constituição de
capital, sem previsão legal.

2. Existem três classificações das sociedades empresárias. A primeira leva em conside-


ração a responsabilidade dos sócios e, segundo esse critério, podem ser: 1) de res-
ponsabilidade ilimitada; 2) de responsabilidade limitada; ou 3) mistas. Nesse contex-
to, analise as afirmações e assinale a alternativa correta:

I. A limitação de responsabilidade a que essa classificação se refere é a possibili-


dade de os credores da empresa satisfazerem seus créditos com o patrimônio
pessoal dos sócios da sociedade.
II. Quando a sociedade for ilimitada, os sócios terão seu patrimônio pessoal exe-
cutado com a finalidade de satisfazer seus débitos com seus credores, quando o
patrimônio da empresa não for suficiente para todos os débitos.
III. Na sociedade empresária de responsabilidade limitada, os sócios não podem ter
seu patrimônio pessoal executado para satisfazer os credores da empresa.

a. Todas as alternativas estão corretas.

Legislação empresarial 47
3 Direito Societário

b. Todas as alternativas estão incorretas.

c. Somente a alternativa I está correta.

d. Somente a alternativa II está correta.

3. “É a pessoa jurídica de direito privado, empresária por força de lei, regida por um
estatuto e identificada por uma denominação, criada com o objetivo de auferir lucro
mediante o exercício da empresa, cujo capital é dividido em frações transmissíveis,
composta por sócios de responsabilidade limitada ao pagamento das ações subscri-
tas”. Essa definição refere-se a qual tipo de sociedade?

a. Sociedade em nome coletivo (artigos 1.039 a 1.044).


b. Sociedade em comandita simples (artigos 1.045 a 1.051).
c. Sociedade anônima (artigos 1.088 a 1.089 c/c a Lei n. 6.404/1976).
d. Sociedade limitada (artigos 1.052 a 1.087).

Referências
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le/id/70327/C%C3%B3digo%20Civil%202%20ed.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Lei n. 8.934, de 18 de novembro de 1994. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L8934.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇO E TURISMO. Estatística.
Disponível em: <http://empresometro.cnc.org.br/estatisticas>. Acesso em: 14 jun. 2017.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.
NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial: estudo unificado. 5. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2016.
RIBEIRO, Marcia Carla Pereira; CARAMÊS, Guilherme Bonato Campos. EIRELI – empresa indi-
vidual de responsabilidade limitada no Brasil: análise de mercado e perspectiva. Disponível em:
<http://publicadireito.com.br/publicacao/ufpb/livro.php?gt=207>. Acesso em: 4 maio 2017.
SEBRAE. Participação das micro e pequenas empresas na economia brasileira. Brasília, 2014.
Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Estudos%20e%20Pesquisas/
Participacao%20das%20micro%20e%20pequenas%20empresas.pdf>. Acesso em: 4 maio 2017.

48 Legislação empresarial
Direito Societário 3
Resolução
1. A − As sociedades são organizações econômicas constituídas juridicamente por mais
de uma pessoa física ou jurídica, possuem patrimônio próprio, têm como finalidade
a exploração empresarial, cujo escopo é a produção de bens ou serviços, visando ao
lucro. Os requisitos da sociedade empresarial são:

a. agente capaz; objeto lícito; pluralidade de sócios; constituição de capital em con-


formidade com a lei.

2. A − Existem três classificações das sociedades empresárias, sendo que a primeira


leva em consideração a responsabilidade dos sócios e, segundo esse critério, podem
ser: 1) de responsabilidade ilimitada; 2) de responsabilidade limitada; ou 3) mistas.

3. A − A sociedade anônima, que, conforme Frazzio Júnior (2016, p. 179), “é a pessoa


jurídica de direito privado, empresária por força de lei, regida por um estatuto e
identificada por uma denominação, criada com o objetivo de auferir lucro mediante
o exercício da empresa, cujo capital é dividido em frações transmissíveis, composta
por sócios de responsabilidade limitada ao pagamento das ações subscritas”.

Legislação empresarial 49
4
Sócios e sociedade:
previsões legais

Introdução

Neste capítulo, o objetivo é proporcionar a compreensão de como ocorrem as rela-


ções das sociedades empresárias com terceiros, bem como quais são as normativas na
legislação que regem o relacionamento dos sócios entre si. Por fim, objetiva-se com-
preender como deve ser a relação entre sócios e sociedade.

Esses conhecimentos são importantes para o entendimento prático da legislação


empresarial, observando como a legislação prevê as relações oriundas da empresa, seja
entre os sócios, seja entre sócios com terceiros ou, ainda, com a sociedade.

Legislação empresarial 51
4 Sócios e sociedade: previsões legais

4.1 Disciplina das relações da sociedade


empresária para com terceiros

A sociedade é um conjunto de pessoas que se unem visando a um objetivo em comum.


Nesse intuito, constituem uma pessoa jurídica, que tem personalidade e, por consequência,
possui direitos e deveres, no que se refere aos bens sociais.
A legislação prevê, no artigo 1.024 do Código Civil (BRASIL, 2002), que: “os bens par-
ticulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de
executados os bens sociais”. Logo, pode-se entender que o ordenamento jurídico traz o prin-
cípio da autonomia patrimonial da sociedade. Ou seja, quando o patrimônio da empresa
é insuficiente, diante do passivo, não poderá o credor executar as dívidas para saldar os
débitos. Porém esse princípio está presente somente nas sociedades cuja responsabilidade
é limitada.
Em contrapartida, nas sociedades contratuais, como é o caso da sociedade simples pura,
a responsabilidade dos sócios é ilimitada. Por consequência, nos casos de o ativo da em-
presa ser menor que o passivo, isto é, se a situação empresarial for negativa, os credores da
sociedade poderão solicitar em juízo que o patrimônio seja utilizado para saldar os devidos
débitos. Em conformidade com o artigo 1.023 do Código Civil (BRASIL, 2002): “se os bens
da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em
que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária”.
A responsabilidade solidária, trazida pelo artigo 1.023 (BRASIL, 2002), está elencada no
art. 997, inciso VIII, dispondo que no Contrato Social pode estar estabelecido expressamente
que “os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais”. Entretanto,
caso o ato constitutivo não antever a responsabilidade dos sócios perante terceiros, no que
se refere aos débitos da empresa, valerá a regra estabelecida nos artigos 1.023 e 1.024 do
Código Civil, isto é, a responsabilidade dos sócios será subsidiária e ilimitada.
Corrobora nesse sentido o Enunciado 479 da Jornada de Direito Civil do CJF, que pre-
nuncia que “na sociedade simples pura (art. 983, parte final, do CC/2002), a responsabilida-
de dos sócios depende de previsão contratual. Em caso de omissão, será ilimitada e subsi-
diária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002”.
Outro dispositivo que também converge para esse entendimento é o Enunciado 10 da
Jornada de Direito Comercial do CJF, o qual traz: “Nas sociedades simples, os sócios podem
limitar suas responsabilidades entre si, à proporção da participação no capital social, ressal-
vadas as disposições específicas”.
Outro ponto relevante é trazido pelo artigo 1.025 do Código Civil (BRASIL, 2002), que
dispõe que “o sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das dívidas sociais
anteriores à admissão”. Logo, pode-se entender que, quando um sócio entra numa socieda-
de já estabelecida, assume a responsabilidade dos ônus que a sociedade pode ter contraído
antes de sua entrada.

52 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
Caso um sócio, por algum motivo, retire-se voluntariamente, por exclusão ou por fale-
cimento da sociedade, os antigos sócios ou seus sucessores deverão responder por dívidas
existentes, no prazo de dois anos após o arquivamento da alteração da sociedade que retira o
sócio. Em conformidade com o artigo 1.032 do mesmo Código (BRASIL, 2002), que prevê: “A
retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade
pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade;
nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer
a averbação.”
Quando se tratar de dívidas contraídas após a retirada do sócio, por motivo de faleci-
mento, as dívidas posteriores a esse fato não serão de responsabilidade dos sucessores desse
sócio, somente as anteriores a esse acontecimento, pelo prazo de dois anos. Entretanto, se
a alteração no Contrato Social for proveniente da retirada ou exclusão de um sócio, a res-
ponsabilidade desse sócio afastado da empresa será de todos os atos que decorrerem até o
Contrato Social ser levado à Junta Comercial.
Lembre-se de que quando a empresa for de responsabilidade ilimitada, se o ativo desta
não for suficiente para sanar as dívidas perante os seus credores, os sócios responderão com
o seu patrimônio pessoal, isto é, os sócios deverão utilizar de seus bens pessoais para quitar
dívidas que a empresa não consiga satisfazer. Nos casos de substituição de sócios, isso ocor-
re no período de dois anos.
Em suma, podem ocorrer as seguintes situações, no que se refere às obrigações dos só-
cios, conforme Negrão (2016, p. 40):
• Os sócios remanescentes deverão responder solidariamente pelas dívidas que
permanecerem.
• O sócio que entrar no lugar de outro sócio deverá ter as mesmas responsabilida-
des no mesmo aspecto que os sócios retirantes, de acordo com o artigo 1.025 do
Código Civil.
• Os sócios que se afastarem da sociedade responderão solidariamente pelos ônus
que existirem até a data do arquivamento da alteração contratual, em conformida-
de com o dispositivo 1.032 do Código Civil.
Quando a sociedade for limitada, a responsabilização do sócio que ingressa na sociedade
será diferente do sócio que se retira desta, visto que o acionista, o sócio cotista de sociedade
limitada e o sócio comanditário são classes diferentes de sócios dentro da mesma sociedade.
Se o cotista e o sócio comanditário se retiram da sociedade, recebem os fundos sociais
que lhes pertencem e respondem apenas pelas obrigações já existentes, até o prazo de dois
anos após sua retirada, em conformidade com a regra do artigo 1.032 do Código Civil.
Contudo, se o cotista e o sócio comanditário se retirarem da sociedade motivados por
cessão das cotas em nome de terceiro, ambos responderão solidariamente, conforme o artigo
1.003 da mesma lei. Nesse caso, verifica-se que a responsabilização será idêntica tanto para
o sócio transmissório quanto para o sócio cedente, pelo prazo de dois anos a partir do arqui-
vamento da alteração contratual na Junta Comercial.

Legislação empresarial 53
4 Sócios e sociedade: previsões legais

No que se refere ao acionista, existem duas hipóteses. São elas:


• Acionista dissidente reembolsado: quando o sócio se retira de uma sociedade de
ações por motivo de uma deliberação em que se foi derrotado, sua responsabili-
dade será apenas no caso de falência, aos credores mais antigos, conforme o artigo
45, § 4°, da Lei das Sociedades por Ações.
• Nos casos em que o acionista entrega suas ações, antes de integralizá-las, deverá
responder solidariamente com o cessionário, pelo período de dois anos a partir da
data da transferência de titulação das ações, em cumprimento ao artigo 108.
Quando ocorrer aumento do capital, de modo geral, o sócio cotista, da sociedade limi-
tada, responderá solidariamente com os demais sócios, no que se refere à integralização do
capital social. Porém, o sócio comanditário responderá pela integralização da sua cota e o
acionista pelo valor das ações subscritas.
No caso de falência da empresa, cuja responsabilidade é ilimitada, os sócios serão con-
siderados também falidos. Nesse sentido, seus bens particulares serão usados para saldar
os credores, primeiramente particulares e depois os sociais remanescentes. Quando o sócio
se retira da sociedade, a sua responsabilidade se limita às dívidas existentes até a data do
arquivamento da alteração do contrato, de acordo com o artigo 81, § 1°, da LRF. Na hipótese
da falência, na sociedade limitada e anônima, não há de se falar em responsabilidade, será
apenas vinculada ao patrimônio social.
Existe ainda a possibilidade de os sócios serem responsabilizados por atos praticados
por eles de forma abusiva, no que se refere à administração da empresa, gerando o supera-
mento da personalidade jurídica.
O Código Civil (BRASIL, 2002), no artigo 50, dispõe que,
em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finali-
dade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte,
ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos
de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens par-
ticulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Nesse contexto, verificam-se duas possibilidades: desvio de finalidade e confusão patri-


monial. O desvio de finalidade ocorre quando a empresa exerce diversas atividades, menos
a prevista no seu objeto social. No entanto, a confusão patrimonial será quando o patrimônio
particular se confunde com o patrimônio da empresa. Nesses dois casos, quando o credor
comprovar que está sendo prejudicado, poderá ocorrer a desconsideração da personalidade
jurídica e os sócios responderão ilimitadamente.

4.2 Previsão legal da relação dos sócios entre si

A sociedade empresária é uma pessoa jurídica que nasce da vontade dos sócios e se
constitui por meio de Contrato Social. Por conseguinte, o Contrato Social estabelece as obri-
gações que o sócio assumirá perante os demais sócios e a própria sociedade.

54 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
Essas obrigações começarão a ter validade no momento da assinatura do Contrato Social
ou na data que esse documento estabelecer e só terminará com a dissolução da sociedade,
em conformidade com o artigo 1.001 do Código Civil (BRASIL, 2002), que estabelece: “as
obrigações dos sócios começam imediatamente com o contrato, se este não fixar outra data,
e terminam quando, liquidada a sociedade, se extinguirem as responsabilidades sociais”.
Entre as principais obrigações dos sócios, destaca-se o artigo 1.007 do Código Civil
(BRASIL, 2002), que prevê: “Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e
das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em
serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas”.
Nesse cenário, as principais obrigações dos sócios são, conforme Fazzio Junior (2016,
p. 174), “contribuir para a formação do capital social, subscrevendo e integralizando suas
respectivas quotas, e a de participar dos resultados sociais, nos termos estabelecidos no con-
trato social ou, na omissão deste”.
A sociedade simples pura, ou seja, aquela constituída por pessoas físicas, possui como
característica o affectio societatis entre os sócios, ou seja, um elo de motivação que impulsiona
a empresa para frente. Entretanto, a sociedade possui outro vínculo, que é o contratual. O
conjunto desses vínculos formam o intuitu personae entre os sócios, razão essa pela qual uma
pessoa estranha não poderá entrar no quadro de sócios sem a anuência dos demais.
Esse pensamento está respaldado no artigo 1.002 do Código Civil (BRASIL, 2002), que
prevê que “o sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consenti-
mento dos demais sócios, expresso em modificação do contrato social”. Corrobora essa ideia
o artigo 1.003 da mesma lei (BRASIL, 2002), que traz: “a cessão total ou parcial de quota, sem
a correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios,
não terá eficácia quanto a estes e à sociedade”.
É importante destacar ainda que, nos casos em que o sócio se retira da sociedade pois
cedeu a sua quota para terceiro, mesmo com a anuência dos demais sócios, não está abdica-
do de possíveis obrigações com terceiros ou com a própria sociedade, tendo previsão legal
no artigo 1.003, parágrafo único, e no artigo 1.032 do Código Civil.
Existem alguns direitos e deveres destinados aos sócios que são comuns a todas as mo-
dalidades societárias. Entre elas, pode-se destacar:
• O dever de contribuir, que se refere ao valor com que o sócio se obriga a colaborar
para formar o capital inicial, conforme a configuração e o prazo estabelecido no
Contrato Social ou no estatuto social, sob pena de ser considerado remisso, bem
como aos efeitos:
◦◦ cobrança de indenização por dano causado ao patrimônio social, bem como a
integralização subscrita;
◦◦ redução do capital inicial pela exclusão do sócio remisso da sociedade;
◦◦ redução do capital inicial pela diminuição da participação do sócio remisso.
• Dever de probidade nas deliberações e na gestão social. Esse dever está estabeleci-
do no artigo 1.011 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê que “O administrador

Legislação empresarial 55
4 Sócios e sociedade: previsões legais

da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que


todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios
negócios”. Logo, o gestor deve conduzir seu empreendimento com cuidado e zelo.
Exemplos dessa conduta estão no Código Civil:
◦◦ Artigo 1.009: “A distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta responsa-
bilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os
receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade”. Nesse
sentido, o gestor não deve distribuir ou receber lucros fictícios.
◦◦ Art. 1.010, § 3°: “Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma
operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a
aprove graças a seu voto”. Logo, o gestor deve realizar sua administração em
consenso com a maioria dos sócios.
• Direito-dever de coparticipação nos lucros e perdas, ou seja, o sócio pode parti-
cipar pos lucros e nas perdas, na proporcionalidade de sua cota ou na previsão
do Contrato Social. No caso de omissão do Contrato Social, os lucros percebidos
serão proporcionais à média do valor das cotas. Porém, conforme o artigo 1.008
do Código Civil (BRASIL, 2002), o sócio não pode ser eximido de participar das
perdas ou atribuir com exclusividade os lucros.
• Direito de participar das deliberações. Em regra, os sócios podem decidir sobre a
sociedade, por meio de deliberações, prevalecendo a vontade da maioria dos só-
cios. Quando o administrador da sociedade realizar um ato sem o consentimento
dos sócios, ele poderá responder por perdas e danos, em conformidade com o
artigo 1.013, § 2°, do Código Civil.
• Direito de fiscalização. Todo sócio tem o direito de verificar o andamento de sua
empresa. Nesse sentido, é facultado a todos os sócios examinar os livros e docu-
mentos sociais, bem como os créditos e os débitos da empresa. Na hipótese de que
o sócio não sinta segurança com os documentos examinados, ele pode solicitar
ainda uma prestação de contas, pelas vias judiciais ou extrajudiciais.
• Direito de participar do acervo, em caso de liquidação. Logo quando ocorrer a
dissolução da sociedade, após a realização do ativo e o pagamento dos credores,
o sócio poderá receber a partilha do ativo, conforme sua cota na empresa, em con-
formidade com os artigos 1.107 e 1.108 do Código Civil e o artigo 215 da LSA.
• Direito de preferência. Nas sociedades simples, em nome coletivo e comandita sim-
ples, o capital só poderá ser aumentado com a concordância dos sócios, que delibe-
rarão, conforme os artigos 997, IV, 999, 1.040 e 1.046 do Código Civil. Nesse enten-
dimento não há o direito de preferência, pois se submetem ao consenso da maioria.
Entretanto, nas sociedades limitadas, os sócios podem exercer o direito de preferência,
conforme o artigo 1.081 do Código Civil (BRASIL, 2002):
Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as quotas, pode ser o capi-
tal aumentado, com a correspondente modificação do contrato. Até trinta dias
após a deliberação, terão os sócios preferência para participar do aumento, na

56 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
proporção das quotas de que sejam titulares. À cessão do direito de preferência,
aplica-se o disposto no caput do art. 1.057. Decorrido o prazo da preferência, e
assumida pelos sócios, ou por terceiros, a totalidade do aumento, haverá reunião
ou assembleia dos sócios, para que seja aprovada a modificação do contrato.
• Direito de retirada. Refere-se à possibilidade de o sócio se retirar da sociedade que
está constituída por tempo indeterminado, a qualquer tempo. Quando a sociedade
está sendo regida pelo Código Civil, o sócio que tem a pretensão de se retirar deverá
notificar os demais sócios, com uma antecedência mínima de trinta dias. Contudo,
nas sociedades com prazo determinado, a saída do sócio só poderá ocorrer com a
aceitação unânime dos demais sócios ou ser analisada pelo Poder Judiciário.

4.3 Relação entre sócios e sociedade

A sociedade empresária é um conjunto de pessoas que se reuniram com a finalidade de


exercer uma atividade empresarial. Nesse contexto, quando os sócios constituem o Contrato
Social, nasce a sociedade como pessoa jurídica. Com o intuito de direcionar a vida dessa
empresa, os sócios fixam no Contrato Social, ou no estatuto da empresa, algumas cláusulas
que servirão para regulamentar também a relação deles com a sociedade empresária.
Nesse sentido, cabe ao sócio contratante estabelecer cláusulas que determinem as re-
lações entre a sociedade e os sócios, até mesmo a distribuição de funções que devem ser
exercidas pelos sócios nessa sociedade. É importante destacar que, nas sociedades funda-
mentalmente personalistas, as funções estabelecidas em contrato não podem ser exercidas
por outros sócios nem por terceiros – salvo em caso de modificação do Contrato Social, por
unanimidade, em consonância com o artigo 1.002 do Código Civil (BRASIL, 2002), que pre-
vê: “O sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consentimento
dos demais sócios, expresso em modificação do contrato social”.
Existem algumas tarefas dentro da sociedade empresária que são de natureza operacional
e administrativa. Encontra-se também nesse contexto o referente à administração da socieda-
de propriamente dita. Para exercer essa função de administrador, a nomeação deste deve ser
indicada no Contrato Social. Caso esse documento de constituição seja omisso, a administra-
ção da empresa deverá ser feita por todos os sócios, de forma separada.
A sociedade simples prevê que o administrado seja sempre uma pessoa física, con-
forme o artigo 997, VI, do Código Civil (BRASIL, 2002), que diz: “A sociedade constitui-se
mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas
partes, mencionará: as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus
poderes e atribuições”. Logo, verifica-se que é proibido às pessoas jurídicas exercerem a
função de administrador.
Outra vedação expressa da lei diz que, nas sociedades simples, o administrador não
pode ser pessoa que não faça parte do quadro social, como pode ocorrer em outras modali-
dades de sociedade.

Legislação empresarial 57
4 Sócios e sociedade: previsões legais

Conforme o artigo 1.019 do Código Civil (BRASIL, 2002): “São irrevogáveis os poderes
do sócio investido na administração por cláusula expressa do Contrato Social, salvo justa
causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios”. É admissível separar os
poderes dos sócios administradores dos demais sócios. Entretanto, no parágrafo único do
mesmo dispositivo, o legislador previu que: “são revogáveis, a qualquer tempo, os poderes
conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio”. Em conformidade com o
artigo 1.013 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê que “a administração da socieda-
de, nada dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios”. Logo,
quando estiver por escrito, no Contrato Social, a administração da sociedade poderá ser feita
por meio dos sócios de forma conjunta ou separada, bem como por pessoas que não façam
parte do quadro social, independentemente da presença de um sócio. Nesse contexto, veri-
fica-se que a legislação faculta a possibilidade de atribuir a pessoas fora do quadro social o
poder de gerenciar a sociedade.
Em relação à sociedade em nome coletivo, de acordo com o artigo 1.042 do Código Civil
(BRASIL, 2002): “A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios, sendo o
uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes”.
Verifica-se que somente os sócios podem fazer uso da firma. Esse é o mesmo entendimento
para as sociedades em comandita simples e em conta de participação, de acordo com os
dispositivos dos artigos 1.045, 1.046 e 991 do Código Civil.
Nas sociedades limitadas, o artigo 1.061 do Código Civil (BRASIL, 2002) prevê: “A de-
signação de administradores não sócios dependerá de aprovação da unanimidade dos só-
cios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a
integralização”. Nesse sentido, a legislação estabelece que o Contrato Social traga a possibi-
lidade da nomeação de administradores estranhos à sociedade.
Existe, ainda, a possibilidade de alguns sócios serem impedidos de ser administradores
da sociedade, conforme o artigo 1.011, § 1°, do Código Civil (BRASIL, 2002), que traz:
Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial,
os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos
públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão,
peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional,
contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé
pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.
Nesse contexto, existem dois tipos de impedimentos para o exercício da administração
da sociedade por parte dos sócios: 1) a incompatibilidade profissional e 2) a de ordem geral.
Os impedimentos profissionais são aqueles casos em que a lei proíbe o sujeito de exer-
cer a administração de uma sociedade ou manter a atividade empresarial, por exercer uma
função em outro lugar, como é o caso dos membros do Ministério Público e os magistrados
ou, ainda, os deputados e senadores em empresa que goze de favor decorrente de contra-
to com pessoa jurídica de direito público, entre outros. Em contrapartida, os impedimen-
tos gerais são aqueles em que, por motivo diverso, a pessoa não pode exercer a função de

58 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
administrador de uma sociedade, como os estrangeiros que estão no país com visto tempo-
rário, de turista ou de trânsito.
Os artigos 1.013 e 1.014 do Código Civil (BRASIL, 2002) trazem as modalidades de exer-
cício da administração, que são:
• Disjuntiva: os sócios exercem atos da administração da sociedade, de forma sepa-
rada, e possuem o direito de refutar o ato exercido por outro sócio.
• Conjunta: os atos são realizados mediante o consenso dos sócios, salvo nos casos
urgentes, em que a decisão pode ser apenas de um ou de alguns sócios.
• Conjunta com limitação: os atos advêm de deliberação dos sócios, que decidem
por maioria.
Conforme Negrão (2016), existem deveres atribuídos ao administrador, que são:
• diligência;
• lealdade;
• informação e prestação de contas.
Em suma, o administrador deverá ter cuidado quando exercer a função de adminis-
trador da sociedade, trabalhando com lealdade aos interesses da empresa. E, por fim,
deverá prestar informação e contas a todos os sócios, visto que esses têm o direito de fis-
calizar seu empreendimento.
Quando o administrador estiver exercendo suas funções, não pode ser substituído, po-
rém a lei permite que sejam constituídos, mediante procuração, mandatários para executar
atos específicos.
Nos casos das sociedades simples, em nome coletivo e em comandita simples, o poder
do administrador é irrevogável quando estiver expressamente escrito no Contrato Social,
só podendo ser revogado por justa causa, por morte do administrador, sua interdição ou
inabilidade por decisão judicial. Conforme o artigo 1.019, caput, do Código Civil (BRASIL,
2002): “são irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expres-
sa do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos
sócios”. Porém, nos casos em que os poderes do administrador forem conferidos fora do
Contrato Social, podem ser revogado os poderes deste, a qualquer momento, por delibera-
ção da maioria dos sócios.
Os poderes dos administradores referem-se aos atos exercidos na gestão da sociedade,
exceto, conforme Fazzio Júnior (2016), os de alienação, imposição de ônus sobre os bens
imóveis, operação a título gratuito, com ônus ao patrimônio social ou aplicação de créditos
ou bens sociais em proveito próprio ou de terceiros.
Nesse contexto, pode-se entender que os poderes do administrador, em regra geral, são:
• a prática dos atos estabelecidos no Contrato Social;
• emissão, endosso e circulação dos títulos de crédito, oriundos da atividade
empresarial;
• conservação e manutenção dos bens sociais;

Legislação empresarial 59
4 Sócios e sociedade: previsões legais

• representação da sociedade, nas vias judiciais ou extrajudiciais.

Ampliando seus conhecimentos

(PEREIRA, 2017)

A responsabilidade civil do administrador ou gerente por atos contrários


ao estatuto ou contrato social é mais regulada no Direito Societário bra-
sileiro do que propriamente a responsabilidade civil da sociedade e do
empresário pelos atos por eles praticados perante terceiros.

O presente estudo pretendeu analisar a responsabilidade civil contra-


tual da sociedade empresária e do empresário perante terceiro diante de
ato ultra vires, seara em que se situa a teoria ultra vires societatis e a teo-
ria da aparência. Entretanto, antes se fez necessário analisar as pessoas
que representam a sociedade e o empresário no mundo dos negócios, os
administradores e prepostos, os limites de atuação de acordo com o objeto
social e os poderes conferidos a esses representantes.

Os gestores da sociedade empresária e os prepostos do empresário são


essenciais para o desenvolvimento da empresa, tanto internamente como
externamente e podem praticar, com cuidado e diligência, todos os atos
relacionados com o objeto social, observando eventuais especificações,
restrições ou requisitos previstos e definidos no contrato ou estatuto
social ou na lei para a prática de determinados atos. Isto porque, além dos
atos normais e usuais de administração, há operações que envolvem atos
específicos e até extraordinários para cuja competência a lei ou estatuto e
contrato social determinam certas condições ou restrições.

A sociedade empresária e o empresário, em princípio, não respondem


pelos atos praticados pelos administradores e prepostos que agem em
desacordo com o objeto social ou com excesso de poderes, pois são atos
ultra vires, consoante art. 47 e 1.015, ambos do Código Civil. Todavia, por
uma questão de necessidade de ordem social, de conferir segurança às
operações jurídicas, a complexidade das relações jurídicas, a celeridade
das contrações assim como os interesses legítimos dos que agem correta-
mente, aplica-se a teoria da aparência através da qual se permite respon-
sabilizar a sociedade pelos negócios jurídicos celebrados com terceiros de
boa-fé, resguardando à sociedade e ao empresário, o direito de regresso.

Mas quando aplicar a teoria ultra vires e a teoria da aparência?

60 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
Somente no caso concreto é possível verificar se a sociedade ou empresá-
rio se vincularão aos atos praticados por administradores e prepostos que
descumprem seus poderes ou, até mesmo, atuam fora do objeto social. E
para isso, alguns fatores devem ser observados: i) se o ato é ou não contrá-
rio ao objeto social, tendo em vista a atividade econômica desenvolvida,
ou se houve excesso por parte do administrador, analisando se trata de
ato de administração ordinário ou extraordinário; ii) se o terceiro contra-
tante é pessoa do ramo empresarial configurando relação paritária ou se é
parte vulnerável, caso típico de relação de consumo e, por isso, não estaria
obrigado a conhecer o ato constitutivo; iii) se o terceiro agiu de boa-fé, se
houve confiança; e iv) o vulto do negócio envolvido.

Observados esses fatores e com o auxílio das técnicas ponderação e da


argumentação poderá o aplicador do direito estabelecer o equilíbrio
entre a aplicação da teoria ultra vires e da aparência, de forma a evitar
a sua banalização.

Atividades
1. A sociedade empresária pode ser desconstituída por:

a. desvio de finalidade e confusão patrimonial.


b. desvio de finalidade e objeto ilícito.
c. agente capaz e confusão patrimonial.
d. agente capaz e objeto ilícito.

2. Sobre os direitos dos sócios, analise as afirmações e assinale a alternativa correta:

I. Direito-dever de coparticipação nos lucros e perdas, ou seja, o sócio pode parti-


cipar dos lucros e das perdas, na proporcionalidade de sua cota, ou na previsão
do Contrato Social. No caso de omissão do Contrato Social, os lucros percebidos
serão proporcionais à média do valor das cotas.
II. Direito de participar das deliberações. Em regra, os sócios podem decidir sobre a
sociedade, por meio de deliberações, prevalecendo a vontade da maioria dos sócios.
III. Direito de fiscalização. Todo sócio tem o direito de verificar o andamento de sua
empresa. Nesse sentido é facultado a todos os sócios examinar os livros e docu-
mentos sociais, bem como os créditos e os débitos da empresa.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.

Legislação empresarial 61
4 Sócios e sociedade: previsões legais

c. Somente a alternativa I está correta.


d. Somente a alternativa II está correta.

3. Conforme Negrão (2016), existem deveres atribuídos ao administrador, que são:

a. diligência; participação do lucro; informação e prestação de contas.


b. diligência; lealdade; informação e prestação de contas.
c. dever de probidade nas deliberações e gestão social; participação do lucro; direito de
retirada.
d. dever de probidade nas deliberações e gestão social; participação do lucro; dever de
contribuir.

Referências
BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/hand-
le/id/70327/C%C3%B3digo%20Civil%202%20ed.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.
NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial: estudo unificado. 5. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2016.
PEREIRA, Paula Moura Francesconi de Lemos. A responsabilidade da sociedade empresária e do
empresário pelos atos dos administradores. Disponível em: <http://www.publicadireito.com.br/arti-
gos/?cod=b986700c627db479>. Acesso em: 4 maio 2017.

Resolução
1. A − O Código Civil, no artigo 50, dispõe que: “em caso de abuso da personalidade
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial,
pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios
da pessoa jurídica”.

Nesse contexto, verificam-se duas possibilidades: desvio de finalidade e confusão


patrimonial. O desvio de finalidade ocorre quando a empresa exerce diversas ativi-
dades, menos a prevista no seu objeto social. Entretanto, a confusão patrimonial será
quando o patrimônio particular se confunde com o patrimônio da empresa. Nesses

62 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
dois casos, quando o credor comprovar que está sendo prejudicado, poderá ocorrer
a desconsideração da personalidade jurídica e os sócios responderão ilimitadamente.

2. A − São direitos dos sócios:

Direito-dever de coparticipação nos lucros e perdas, ou seja, o sócio pode partici-


par dos lucros e das perdas, na proporcionalidade de sua cota ou na previsão do
Contrato Social. No caso de omissão do Contrato Social, os lucros percebidos serão
proporcionais à média do valor das cotas. Porém, conforme o artigo 1.008, o Código
Civil prevê que o sócio não pode ser eximido de participar das perdas ou atribuir com
exclusividade os lucros.

Direito de participar das deliberações. Em regra, os sócios podem decidir sobre a


sociedade, por meio de deliberações, prevalecendo a vontade da maioria dos sócios.
Quando o administrador da sociedade realizar um ato sem o consentimento dos só-
cios, ele poderá responder por perdas e danos, em conformidade com o artigo 1.013,
§ 2°, do Código Civil.

Direito de fiscalização: todo sócio tem o direito de verificar o andamento de sua em-
presa. Nesse sentido, é facultado a todos os sócios examinar os livros e documentos
sociais, bem como os créditos e os débitos da empresa. Na hipótese de que o sócio
não sinta segurança com os documentos examinados, ele pode solicitar ainda uma
prestação de contas, pelas vias judiciais ou extrajudiciais.

3. B − Conforme Negrão (2016), existem deveres atribuídos ao administrador que são:


diligência; lealdade; informação; e prestação de contas.

Legislação empresarial 63
5
Contrato Social

Introdução

Neste capítulo, o objetivo é proporcionar a compreensão sobre como as sociedades


empresariais são constituídas, demonstrando assim as principais normativas relacio-
nadas à forma com que as atividades econômicas organizadas de fornecimento de
bens ou serviços, denominadas empresas, são juridicamente criadas.

Esses conhecimentos são importantes para que se desenvolva o entendimento prá-


tico da legislação empresarial, observando como tais leis preveem a criação de uma
sociedade empresária.

Legislação empresarial 65
5 Contrato Social

5.1 Natureza jurídica do ato constitutivo


da sociedade contratual

A sociedade empresária surge com o encontro de várias pessoas com a mesma vontade,
ou seja, de exercer uma função empresarial. Essa união, dependendo da modalidade da so-
ciedade que os sócios criarem, definirá as regras que a disciplinarão, bem como dependerá
dessa decisão a adequação do ato constitutivo, ou seja, por meio de Contrato Social ou esta-
tuto, para que essa sociedade seja efetivada juridicamente.
O Contrato Social é instrumento de constituição das sociedades em nome coletivo, em
comandita simples e limitada. Essas três modalidades de empresa têm como parâmetro o
próprio contrato como base para sua dissolução, bem como o Código Civil.
O Contrato Social, na visão de Fazzio Júnior (2016), é “bastante peculiar”, visto que as
regras dos contratos em geral não podem simplesmente ser utilizadas no Contrato Social,
pois este é entendido como plurilateral. Logo, é um contrato que emerge da vontade de
várias pessoas cuja finalidade é exercer uma atividade comercial, visando ao lucro. Como o
Contrato Social é um contrato plurilateral, cada sócio contrai a responsabilidade pertinente
à empresa, diante de todos os demais sujeitos do contrato.
A celebração da união dos sócios, mediante o Contrato Social, faz nascer um novo su-
jeito de direito, que é a sociedade empresária. Por meio dessa pessoa jurídica, os sócios
adquirem obrigações. Como relaciona Fazzio Júnior (2016), o dever do sócio em integralizar
a quota do capital social decorre do Contrato Social.
Nas sociedades de regime contratual, os sócios têm natureza jurídica sui generis, visto
que se submetem a um regime jurídico próprio, o qual é constituído por um rol de direitos
e deveres que a legislação ou o Contrato Social prevê.
No que se refere às obrigações, podem-se verificar dois casos legais, que são a obrigação
da constituição do capital social e a responsabilidade subsidiária, de acordo com a moda-
lidade da sociedade que constituiu. Um sócio pode ser considerado remisso quando não
integralizar o valor das cotas.
No contrato podem ser estabelecidos os prazos para a integralização das cotas do capital
social. Quando ocorrer atraso no cumprimento da integralização do capital social, conforme
acordado no Contrato Social, o sócio que estiver inadimplente terá sua mora decretada, bem
como deverá indenizar a sociedade por qualquer tipo de dano. Nos casos em que o sócio
se mantenha inadimplente, a sociedade poderá cobrá-lo judicialmente e, ainda, afastá-lo da
sociedade. Os sócios podem ainda optar por diminuir as cotas do sócio inadimplente no
montante integralizado.
Quando a sociedade for limitada, outra opção reservada aos sócios, com o intuito de
que a sociedade não diminua o capital social por consequência do afastamento do sócio re-
misso, é introduzir um terceiro na sociedade, que ficará com a cota do sócio descumpridor,
em conformidade com os artigos 1.004 e 1.058 do Código Civil (BRASIL, 2002).

66 Legislação empresarial
Contrato Social 5
Os sócios das sociedades de regime contratual possuem os seguintes direitos:
• Participação nos resultados sociais: todo o lucro derivado da sociedade, depen-
dendo do que for acordado mediante o contrato, terá como destino a capitalização,
a constituição de reserva ou a distribuição entre os sócios. No que se refere à dis-
tribuição do lucro entre os sócios, cada um terá sua parte do lucro proporcional-
mente à sua participação no capital social, salvo convenção anterior diversa. Outra
probabilidade de participação dos sócios ocorre quando a sociedade se dissolve.
Nesse momento, os sócios recebem sua parte no acervo social, também conforme
sua cota na empresa.
• Administração da sociedade: sócio da empresa contratual pode interferir no co-
mando da sociedade, por meio da escolha do administrador ou, ainda, pela defi-
nição da missão, da visão e da estratégia da empresa, entre outros atos. Todavia,
essas interferências acontecerão sempre que o sócio seja maioria na sua vontade,
nas deliberações sociais.
• Fiscalização da administração: outro direito do sócio é a fiscalização dos atos da
empresa, por meio de exame (análise dos documentos da empresa e da movimen-
tação financeira), de acordo com o artigo 1.021 do Código Civil (BRASIL, 2002), e
por meio de prestação de contas, em conformidade com o artigo 1.020 do Código
Civil (BRASIL, 2002).
• Direito de retirada: o sócio pode se retirar da sociedade. Nesse caso terá o direi-
to a receber a sua parte da empresa. Logo, perceberá o montante equivalente à
sua parte do patrimônio líquido da sociedade. Nas sociedades com prazo inde-
terminado, o sócio pode se retirar sem motivo aparente. Porém, conforme o artigo
1.029 (BRASIL, 2002), deverá avisar os outros sócios com pelo menos 60 dias de
antecedência, porque haverá a necessidade de se realizar a alteração contratual.
Entretanto, nos casos em que a sociedade tem a previsão de prazo determinado, o
sócio só pode se retirar caso tenha um real motivo comprovado em juízo.
Nos casos de sociedade limitada com prazo, o sócio pode sair da sociedade quando hou-
ver modificação no contrato, por incorporação ou fusão, em conformidade com o artigo 1.077.
Os lucros e dividendos pertencem à sociedade. Caso essa venha a ser extinta, no enten-
dimento do Fazzio Júnior (2016), os sócios serão credores da própria sociedade, e, portanto,
podem cobrar seus dividendos, inclusive por meio da justiça, salvo em caso de a sociedade
entrar em falência.
É importante destacar que a participação nos lucros a que os sócios têm direito não é
o mesmo que a remuneração que os sócios percebem pelo trabalho prestado na empresa.
Nesse sentido, o Contrato Social poderá prever a possibilidade de pro labore para os sócios
que desenvolvam algum tipo de atividade na empresa, bem como para o sócio administra-
dor. Logo, pode-se entender que o lucro é direto do sócio que integrou o capital investido e
o pro labore é a remuneração do sócio que exerce uma função na empresa.

Legislação empresarial 67
5 Contrato Social

Sobre a exclusão de um sócio da sociedade contratual, é importante destacar que ela só


pode ocorrer nos dois casos estabelecidos na legislação, que são:
• Mora na integralização, ou seja, quando o sócio deixa de integralizar sua cota, con-
forme o prazo estabelecido, em conformidade com o artigo 1.004 do Código Civil
(BRASIL, 2002), que prevê:
Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabele-
cidas no contrato social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes
ao da notificação pela sociedade, responderá perante esta pelo dano emergente
da mora. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à in-
denização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já
realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1° do art. 1.031.

• Justa causa, entendida como uma transgressão ou ausência de cumprimento das


obrigações sociais.
A exclusão de um sócio da sociedade contratual é o resultado de uma deliberação dos
demais sócios. A lei prevê as possibilidades em que tal situação possa ocorrer e a decisão a
respeito será dos demais sócios. É relevante destacar que a lei não prevê se a vontade deve
ser majoritária para que ocorra a exclusão, afinal, sócio majoritário pode ser o que atue de
forma a violar uma obrigação social.
A retirada do sócio nas sociedades em nome coletivo ou em comandita simples ocorrerá
por meio de processo extrajudicial, quando o motivo para expulsão for a mora do remisso.
Entretanto, nos casos em que a justificativa for o descumprimento de algum dever social, a
expulsão ocorrerá por meio judicial, conforme o artigo 1.030 do Código Civil (BRASIL, 2002).
No que tange às sociedades limitadas, a regra de expulsão do sócio minoritário será a
simples alteração contratual na Junta Comercial, após deliberação em assembleia de sócios,
conforme o artigo 1.085 do Código Civil (BRASIL, 2002). Todavia, quando no Contrato Social
está previsto que não pode ocorrer a expulsão do sócio minoritário, a sociedade deverá fa-
zê-lo por meio de processo judicial. Nos casos de sócio majoritário da sociedade limitada, o
Poder Judiciário deverá ser acionado, para que ocorra a expulsão desse sócio. Lembrando
que caberá aos demais sócios aprovarem a causa que gera a expulsão.
Após a expulsão do sócio, esse deverá receber todo o valor patrimonial correspondente
à sua participação societária. E, para que não ocorra a dissolução da sociedade, os demais
sócios poderão integralizar novas cotas.

5.2 Requisitos legais do Contrato Social

A legislação brasileira prevê alguns requisitos para que o Contrato Social tenha valida-
de jurídica. Sem essas condições, pode ser considerado nulo ou anulável. É importante des-
tacar que a invalidação não corresponde à dissolução da sociedade, visto que a invalidação
e a dissolução se distinguem por três aspectos, em consonância com Coelho (2016):

68 Legislação empresarial
Contrato Social 5
1. Quanto aos sujeitos: a dissolução pode ser resultado da vontade das partes ou de
decisão judicial; em contrapartida, a invalidação é resultado de um ato do Poder
Judiciário.
2. Quanto aos motivos: a invalidação do Contrato Social decorre da falta de um cum-
primento legal. Entretanto, a dissolução se baseia nas demais desconformidades,
como é o caso do artigo 1.034, que traz a inviabilidade do objeto social, ou, ainda, o
artigo 1.077, que se refere à dissidência dos sócios, entre outros motivos.
3. Quanto aos efeitos: a dissolução não retroage, porém, a invalidação pode ser mo-
dificada. Logo, pode-se entender que, após o ato da dissolução, a pessoa jurídica
que é a sociedade não pode ser retomada. No entanto, no caso da invalidação do
ato constitutivo, a sociedade será considerada inválida e seu exercício empresarial
será irregular.
Para que o Contrato Social seja considerado válido, deve estar em acordo com duas or-
dens de requisitos: os comuns a todos os negócios jurídicos (genéricos) e os especiais do ato
constitutivo da sociedade empresária.
Os requisitos genéricos, que dão validade ao Contrato Social, estão elencados no artigo
104 do Código Civil (BRASIL, 2002), ou seja, “a validade do negócio jurídico requer: I –
agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita
ou não defesa em lei”.
Sobre o agente capaz, é relevante destacar que, nas sociedades limitadas, o menor de idade
poderá ser sócio. Entretanto, somente quando devidamente representado ou assistido. Porém,
não poderá administrar a sociedade, e o capital social deverá estar por inteiro integralizado.
O Contrato Social não poderá ter como objeto social a exploração de atividades que a
legislação brasileira considere ilegal, como é o caso do jogo do bicho ou a venda de entor-
pecente. E, por fim, no que diz respeito à forma, o Contrato Social deverá ser expresso por
instrumento particular ou público.
Além dos requisitos previstos no artigo 104 do Código Civil, existem os requisitos es-
pecíficos aos Contratos Sociais, como é o caso da hipótese de que todos os sócios deverão
formar o capital social por meio de bens, créditos ou dinheiro; por consequência, todos os
sócios participarão do resultado da sociedade, seja esse positivo ou negativo.
Essas condições têm como parâmetro o próprio conceito de Contrato Social, que está
previsto no artigo 981 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Celebram contrato de sociedade
as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exer-
cício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Nesse contexto, pode-se
entender que uma sociedade empresária não é válida quando um dos sócios não contribui
para a formação do capital social ou, ainda, quando não permita que um dos sócios perceba
o lucro ou as perdas da empresa.
Outra hipótese em que a sociedade será considerada nula é quando o Contrato Social
prever que um dos sócios será indenizado em caso de falência, visto que isso seria o mesmo

Legislação empresarial 69
5 Contrato Social

que considerar a exclusão do sócio nos casos de perdas da sociedade. A legislação brasileira
proíbe a repartição de forma desigual dos lucros, bem como do capital social.
Como visto anteriormente, a pluralidade de sócios tem como parâmetro a inexistência
da sociedade unipessoal na legislação. Contudo, existem duas exceções: a subsidiária in-
tegral e a unipessoalidade incidental temporária. Toda vez que uma sociedade contratual
se tornar unipessoal por motivo de falecimento de um dos sócios, ocorrerá a sucessão inter
vivos. Conforme o artigo 1.033, IV, do Código Civil (BRASIL, 2002), a pluralidade de sócios
deverá ser restaurada em 180 dias. Caso não seja possível restabelecer esse pressuposto, a
sociedade empresária deverá ser dissolvida.
O Contrato Social deverá possuir algumas cláusulas contratuais que regulamentem a
vida da pessoa jurídica denominada sociedade empresária. Todas as diretrizes pertinentes
aos sócios e à sociedade devem ser acordadas pelos sócios da empresa. Todavia, muitas si-
tuações podem não estar previstas no Contrato Social. Nesse sentido, algumas cláusulas so-
ciais são importantes para a harmonia de uma sociedade empresária. A legislação traz o ar-
tigo 35, III, da Lei n. 8.934/1994, que determina algumas circunstâncias para que o Contrato
Social seja registrado na Junta Comercial. Caso o Contrato Social não traga as cláusulas
previstas na lei, não poderá ser registrado e, por consequência, será uma sociedade empre-
sária irregular.
O artigo 997, I a IV e VI, do Código Civil (BRASIL, 2002) traz as cláusulas consideradas
essenciais ao Contrato Social e que, portanto, são exigidas. São elas:
• A qualificação dos sócios: de acordo com o artigo 997, I, do Código Civil (BRASIL,
2002), deverá constar “nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência
dos sócios, as pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede
dos sócios, se jurídicas”. Outros dados pertinentes são o número de inscrição no
cadastro de pessoas físicas ou no cadastro nacional de pessoas jurídicas, depen-
dendo do caso.
• Objeto social: a atividade que a sociedade deverá explorar economicamente deve
estar prevista de forma detalhada e de forma explícita.
• Nome empresarial: a expressão que identifica a empresa.
• Sede: o local em que a empresa estará situada, ou o seu representante legal.
• Prazo de duração: a sociedade pode ser constituída por um prazo determinado ou
indeterminado, que deve ser acordado pelos sócios.
• Capital social e quotas dos sócios: deverá constar o capital social da sociedade,
bem como a forma e o prazo da integralização e as cotas pertencentes a cada um
dos sócios.
• Nomeação do administrador: deve constar no Contrato Social quem deve ser o
representante legal da sociedade. Lembrando que, em muitas sociedades contra-
tuais, o administrador deve ser do quadro associativo. Contudo, a sociedade limi-
tada pode ser representada por um não sócio.

70 Legislação empresarial
Contrato Social 5
Existem outras formalidades que devem ser verificadas para que o Contrato Social seja
registrado na Junta Comercial. Entre elas, destaca-se, conforme o Decreto 1.800/96, art. 36,
que um advogado deverá dar vista aos atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas.
O Contrato Social deve ser escrito, porém o artigo 987 do Código Civil (BRASIL, 2002)
prevê que: “Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem
provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo”.
Consequentemente, verifica-se a hipótese de o Contrato Social ser informal, pois sua
existência será verificada por meio de testemunhas, cartas, perícia em contas bancárias.
Entretanto, essa sociedade será considerada irregular, pois não é possível seu registro na
Junta Comercial.
O Contrato Social pode ser alterado pela vontade dos sócios, bem como por decisão
judicial. Quando a regras não são satisfatórias para o bom andamento da sociedade em-
presária, os sócios de comum acordo podem alterar as disposições contratuais. Contudo, a
alteração só pode ser feita por deliberação social, a qual deve ter maioria de votos.
É importante destacar que os votos representam o capital social, e não a quantidade de
sócios. Nesse contexto, o voto corresponde à cota social. Logo, um sócio pode ter a maioria
dos votos, pois possui mais que a metade do capital social. Havendo o empate de votos, o
número de sócios decidirá a lide. No entanto, continuando o impasse após a votação por
cota e pelo número de sócios, as cláusulas do contrato poderão ser utilizadas como subsídio
para que o impasse seja resolvido. Porém, se o contrato for omisso, no intuito de solucionar
tal problema, os sócios deverão entrar com processo via judicial, para que o juiz de direito
resolva a questão.
Nas sociedades em nome coletivo e em comandita simples, para que ocorra a mudança
em cláusulas essenciais do Contrato Social, em conformidade com o artigo 999 do Código
Civil (BRASIL, 2002), deverá haver a unanimidade dos sócios. Nesse contexto, quando um
dos sócios não seja a favor da mudança, independentemente da sua cota social, não poderá o
Contrato Social ser alterado. Entretanto, as cláusulas não essenciais podem ser modificadas
por mais da metade do capital social.
No que diz respeito à alteração das cláusulas (essencial ou acidental) do Contrato Social
da sociedade limitada, conforme os artigos 1.071, V, e 1.076, I, do Código Civil (BRASIL,
2002), ela só pode ocorrer quando aprovada por mais de três quartos do capital social.

5.3 Sociedades contratuais

Além da sociedade limitada, existem três tipos de sociedade constituídas por contrato
entre os sócios, conhecidas como sociedades contratuais, conforme o Código Civil. São elas:
em nome coletivo, em comandita simples e em conta de participação – conforme Coelho
(2016), também chamadas de sociedades de contratuais menores, visto sua pouca presença na
economia do país.
Sobre a sociedade em nome coletivo e a comandita simples, podem-se verificar algumas
peculiaridades em comum:

Legislação empresarial 71
5 Contrato Social

• São sociedades de pessoas físicas. Conforme o artigo 1.003 do Código Civil


(BRASIL, 2002), a delegação das cotas sociais será em virtude da vontade dos de-
mais sócios. Porém as cotas sociais não poderão ser penhoradas por obrigações
particulares dos sócios.
• O “termo firma” deve compor o nome empresarial, logo, na prática do negócio
jurídico, esse deve estar na assinatura. Ex.: Joana Almeida Doces Caseiros. O nome
“Joana Almeida” deve constar na assinatura do Contrato Social.
• Na firma só poderá constar o nome civil dos sócios de responsabilidade ilimitada,
visto que, quando ocorrer de ser utilizado o nome de sócios com responsabilidade
não ilimitada, esses responderão às obrigações de forma ilimitada, em conformi-
dade com as palavras de Coelho (2016, p. 175): “Sócio com responsabilidade não
ilimitada, cujo nome civil haja sido aproveitado na composição do nome empresa-
rial da sociedade, responderá ilimitadamente pelas obrigações sociais”.
• O administrador da sociedade deve ser somente o sócio com responsabilidade.
• A responsabilidade ilimitada é uma prerrogativa somente das pessoas físicas
quando sócias. Logo, pessoas jurídicas não podem integralizar a sociedade em
nome coletivo, nem ser comanditadas na sociedade de comandita simples.
A sociedade em nome coletivo é uma modalidade de sociedade em que todos os sócios
são pessoas naturais, ou seja, físicas, que respondem de forma ilimitada pelas obrigações
sociais. Qualquer sócio pode ser nomeado administrador dessa sociedade ou, ainda, ter seu
nome civil utilizado na composição do nome empresarial.
A previsão legal dessa sociedade está elencada nos artigos 1.039 a 1.044 do Código Civil.
Contudo, no caso de morte de um dos sócios, quando o Contrato Social não prever a respei-
to, ocorrerá a liquidação das quotas do falecido, consoante ao artigo 1.028 do Código Civil
(BRASIL, 2002). Lembrando que, para que os sucessores tenham direito a participar da socie-
dade, como sucessor do sócio falecido, tal situação deverá estar prevista no Contrato Social.
Sobre as sociedades em comandita simples, é importante destacar que os sócios que
possuem responsabilidade ilimitada são chamados de comanditados; em contrapartida, os
demais sócios são apontados como comanditários e sua responsabilidade perante as obriga-
ções são limitadas. Os sócios administradores serão sempre os comanditados.
A sociedade em comandita simples está regulamentada nos artigos 1.045 a 1.051 do
Código Civil. Entre as normativas, verifica-se que os sócios comanditários podem ser pes-
soas físicas ou jurídicas, porém não podem realizar atos de gestão da sociedade. Podem
realizar determinados negócios, mediante procuração por poderes especiais.
A distribuição dos lucros, as deliberações sociais e a fiscalização da administração da
sociedade serão realizadas proporcionalmente às cotas sociais, tanto para os comanditários
como para os comanditados.
Na hipótese do falecimento de um sócio comanditado, ocorrerá a dissolução parcial
da sociedade, salvo se o Contrato Social prever, explicitamente, a entrada do sucessor, em
conformidade com o artigo 1.028, I, do Código Civil (BRASIL, 2002). Entretanto, ocorren-
do a morte de um sócio comanditário, a sociedade não será desfeita, visto que o sucessor

72 Legislação empresarial
Contrato Social 5
ingressará na sociedade, segundo o artigo 1.050 do Código Civil (BRASIL, 2002). Porém, so-
mente no caso de o Contrato Social trazer expressamente, os sobreviventes poderão liquidar
as quotas do comanditário falecido.
Os artigos 991 a 996 do Código Civil (BRASIL, 2002) trazem a normatização da socieda-
de em conta de participação. Essa sociedade refere-se ao conjunto de duas ou mais pessoas
que se integram com a finalidade de desenvolver um empreendimento em comum, na qual
há um ou mais sócios em posição ostensiva e outro, ou outros, em posição oculta.
Esse tipo societário não tem personalidade jurídica e, por consequência, são os sócios
ostensivos que assumem as obrigações da sociedade, como sua responsabilidade pessoal, de
forma conjunta ou separadamente. Logo, os sócios ostensivos responderão de forma ilimita-
da pelas obrigações da empresa. No entanto, os sócios participantes responderão apenas da
forma estabelecida no Contrato Social e somente para os sócios ostensivos. Nesse contexto,
os sócios participantes não têm nenhuma relação de obrigação com os credores da empresa.
Nesse âmbito, a sociedade em conta de participação é uma sociedade despersonalizada,
porém também pode ser considerada secreta, visto que o Contrato Social não pode ser re-
gistrado no registro das empresas. No entanto, esse Contrato Social pode ser registrado no
Registro de Títulos e Documentos, com a finalidade de resguardar os interesses dos sócios.
Essa instituição não confere à sociedade em conta de participação personalidade jurídica.
Devido à despersonalização dessa sociedade, bem como por ela ser secreta, não possui-
rá nenhum nome empresarial. Os bens que compõem o desenvolvimento empresarial desse
tipo de sociedade serão considerados um patrimônio especial.
As obrigações pessoais dos sócios ostensivos que nada tiverem com o desenvolvimento
da sociedade em conta de participação serão pagas com parte do seu patrimônio, se o cre-
dor ignorava a existência da sociedade. E, no caso de falência do sócio ostensivo, a conta de
participação será quitada. Entretanto, caso o sócio participante venha a falir, os direitos de
contratos da sociedade ingressarão na massa.
É oportuno observar que, em 1996, o Direito Tributário equiparou a sociedade em
conta de participação com as demais sociedades e, por consequência, essa deve pagar
os impostos de renda. Logo, esse tipo societário permanece despersonalizado somente
para o Direito Comercial.
Tratando agora da sociedade limitada, ela tem como atributos a limitação da respon-
sabilidade dos sócios e a contratualidade. Logo, pode-se entender que os sócios só poderão
responder de acordo com o capital social integralizado, ou seja, não poderão os credores
executar seus créditos mediante o patrimônio particular dos sócios. Sobre a contratualidade,
refere-se à vontade de os sócios serem estabelecidos por meio de Contrato Social.
Os artigos 1.052 a 1.087 do Código Civil (BRASIL, 2002) trazem a normativa da socieda-
de limitada. Todavia, existem outros dispositivos legais que disciplinam esse tipo societário.
Caso exista ainda algum tipo de lacuna legal para disciplinar essa sociedade, deverá ser feita
a analogia com as regras das sociedades simples. No Contrato Social das sociedades limi-
tadas, deve estar, expressamente, vinculada nas cláusulas a determinação da não utilização
das normas das sociedades simples que não se aplicam.

Legislação empresarial 73
5 Contrato Social

Em resumo, se o Contrato Social da sociedade limitada for omisso, deverão ser utili-
zadas as regras das sociedades simples, que estão disciplinadas nos artigos 997 a 1.032 do
Código Civil. Todavia, os sócios podem compactuar expressamente no Contrato Social que
sejam utilizadas por regime de regência as normas das sociedades anônimas, cujos disposi-
tivos legais são os artigos 1.052 a 1.087 do Código Civil.
É importante destacar que, se a legislação, no que se refere à sociedade limitada, não for
omissa, não caberá analogia, nem pelas normas das sociedades simples ou das anônimas.
Por fim, é importante destacar que a constituição e a dissolução desse tipo societário
deverão ser conduzidas pelos artigos 1.033 a 1.038 e 1.102 a 1.112 do Código Civil, mesmo
que no Contrato Social esteja estabelecido que ocorrerá a regência supletiva das regras das
sociedades anônimas.

Ampliando seus conhecimentos

(CZELUSNIAK, 2014)

Por meio do estudo de doutrinas e do Código Civil, fica evidente a flexibi-


lidade, amplitude legal envolvendo as sociedades simples, ficando a crité-
rio dos sócios estabelecer em qual a melhor forma de organização, dentro
do vasto limite imposto por lei. Deve ser destacada, ainda, a mínima buro-
cracia para constituição dessa espécie societária, a começar pelo próprio
registro que deve ser feito em Cartório, o que facilita consideravelmente.

Em contrapartida, a questão da responsabilidade deixa de atrair os inves-


tidores, pois a possibilidade de separação do patrimônio pessoal e da
sociedade, que não há na sociedade simples, oferece maior segurança
para o empreendedor que assume os riscos inerentes do negócio apenas
até o limite do investimento feito. Nos moldes do Código quanto à socie-
dade simples, os bens pessoais são levados em consideração em caso de
insuficiência do patrimônio social.

Outra questão primordial é a restrição quanto à natureza, o objeto da


sociedade que, no caso da sociedade simples, restringe-se às matérias que
não se enquadram como empresárias (art. 966, parágrafo único do Código
Civil). A atividade do empresário compreende uma imensidão de pos-
sibilidades, restando poucas opções para empreender que não essas. A
flexibilidade para a constituição da sociedade simples defronta-se com as
poucas alternativas que lhe permitam aventurar nesse tipo societário.

Nesse ponto, as sociedades anônimas assemelham-se às limitadas, mas a


complexidade e burocracia para sua formação, dispêndios exacerbados

74 Legislação empresarial
Contrato Social 5
para constituição e sustento, constrangem o futuro empreendedor. Quer
dizer, há vantagem em a sociedade anônima por poder versar sobre os
mais variados objetos, entretanto, tem-se a desvantagem da complexi-
dade para a sua constituição. Quanto à sociedade limitada, além de tam-
bém ter como objeto qualquer atividade empresária, sua criação é menos
burocrática que a anterior.

Note-se, que para suprir as pretensões dos novos empreendedores, tem-


-se como melhor opção a sociedade limitada. Ademais, a tendência, obser-
vada por meio dos registros apresentados, segue nessa linha. A abrangên-
cia das possíveis naturezas do negócio, bem como a liberdade e incentivos
para o interessado, ganha espaço nas relações comerciais. Nada impede,
entretanto, que depois de constituída e firmada uma sociedade limitada,
os empresários busquem ampliar seus horizontes comercias por meio da
transformação, mudando uma espécie societária para outra. Fica a cargo
dos investidores sopesar a melhor estratégia a ser adotada em conformi-
dade com seus anseios profissionais.

Atividades
1. Os sócios das sociedades de regime contratual possuem os seguintes direitos:

a. Participação nos resultados sociais; administração da sociedade; fiscalização da admi-


nistração; direito de retirada.
b. Dever de lealdade; administração da sociedade; fiscalização da administração; direito
de retirada.
c. Dever de lealdade; administração da sociedade; fiscalização da administração; direito
de realizar o capital subscrito.
d. Dever de lealdade; realização de capitais em bens; fiscalização da administração; di-
reito de realizar o capital subscrito.

2. Para que o Contrato Social seja considerado válido, deve estar de acordo com duas
ordens de requisitos: os comuns a todos os negócios jurídicos (genéricos) e os espe-
ciais do ato constitutivo da sociedade empresária. Nesse contexto, analise as afirma-
ções e assinale a alternativa correta:

I. Nas sociedades limitadas, o menor de idade poderá ser sócio, mas somente
quando devidamente representado ou assistido. Porém não poderá administrar
a sociedade e o capital social deverá estar por inteiro integralizado.
II. O objeto social de uma sociedade pode ser a venda de entorpecente.

Legislação empresarial 75
5 Contrato Social

III. O Contrato Social só pode ser oral, visto as pessoas que não sabem escrever.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.
c. Somente a alternativa I está correta.
d. Somente a alternativa II está correta.

3. Além da sociedade limitada, existem três tipos de sociedade constituídas por con-
trato entre os sócios, conhecidas como sociedades contratuais, conforme o Código
Civil. São elas:

a. Sociedade em nome coletivo; sociedade em comandita simples; sociedade em conta


de participação.
b. Sociedade anônima; sociedade em comandita simples; sociedade em conta de parti-
cipação.
c. Sociedade anônima; sociedade EIRELI; sociedade em conta de participação.
d. Sociedade anônima; sociedade EIRELI; sociedade em nome coletivo.

Referências
BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/hand-
le/id/70327/C%C3%B3digo%20Civil%202%20ed.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Decreto n. 1.800, de 30 de janeiro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/decreto/d1800.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
CZELUSNIAK, Vivian Amaro; PONTES, Isabella. Direito societário e empreendedorismo. E-Civitas,
Belo Horizonte, v. 7, n. 1, jun. 2014.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.

Resolução
1. A − Os sócios das sociedades de regime contratual possuem os seguintes direitos:
participação nos resultados sociais; administração da sociedade; fiscalização da
administração; direito de retirada.

76 Legislação empresarial
Contrato Social 5
2. C − Para que o Contrato Social seja considerado válido, deve estar de acordo com
duas ordens de requisitos: os comuns a todos os negócios jurídicos (genéricos) e os
especiais do ato constitutivo da sociedade empresária.

Os requisitos genéricos, que dão validade ao Contrato Social, estão elencados no ar-
tigo 104 do Código Civil (BRASIL, 2008), ou seja, “a validade do negócio jurídico
requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III
– forma prescrita ou não defesa em lei”.

Sobre o agente capaz, é relevante destacar que nas sociedades limitadas o menor
de idade poderá ser sócio, todavia, somente quando devidamente representado ou
assistido. Porém, não poderá administrar a sociedade, e o capital social deverá estar
por inteiro integralizado.

O Contrato Social não poderá ter como objeto social a exploração de atividades que
a legislação brasileira considere ilegal, como é o caso do jogo do bicho ou da venda
de entorpecente. E, por fim, no que diz respeito à forma, o Contrato Social deverá ser
expresso por instrumento particular ou público.

3. A − Além da sociedade limitada, existem três tipos de sociedade constituídas por con-
trato entre os sócios, conhecidas como sociedades contratuais, conforme o Código Ci-
vil. São elas: em nome coletivo, em comandita simples e em conta de participação.

Legislação empresarial 77
6
Metamorfoses societárias

Introdução

Neste capítulo, o objetivo é compreender o que são as reorganizações societárias,


tais como transformação, incorporação, fusão e cisão, distinguindo-as. Também objeti-
va-se verificar a legislação que regula as mutações societárias.

Esses conhecimentos são importantes para que se desenvolva o entendimento


prático da legislação empresarial, observando como a legislação prevê a modifica-
ção e a transmutação da sociedade empresária, bem como a junção de duas ou mais
empresas societárias.

Legislação empresarial 79
6 Metamorfoses societárias

6.1 O que são transformações societárias

A sociedade, bem como a economia, modifica-se, principalmente com o desenvolvi-


mento tecnológico e a globalização, que geram uma alta competitividade no mundo dos
negócios. Influenciadas por essas transformações, as empresas precisam diminuir gastos e
aumentar seus lucros, com a finalidade de se manterem ativas no mercado.
Nesse contexto, as sociedades empresariais sofrem algumas metamorfoses, ou seja, mo-
dificam-se, objetivando obter vantagens econômicas e, até mesmo, fiscais. Logo, surgem as
figuras jurídicas transformação, incorporação, fusão ou cisão, que são procedimentos de
reorganização das sociedades.
Perceba que a sociedade pode, ao longo da sua vida empresarial, transmutar sua estrutura
várias vezes. Essas mudanças geram consequências jurídicas conforme a regulamentação pre-
vista na legislação brasileira. Observa-se que essas metamorfoses societárias não são exclusivas
da sociedade anônima, visto que quaisquer modalidades societárias podem se transformar.
As metamorfoses societárias são as alterações na constituição, na modalidade ou na
composição de uma sociedade empresária, que podem ocorrer de quatro formas: a trans-
formação, a incorporação, a fusão e a cisão. Essas operações são regidas pela Lei n. 6.404/76,
quando estiver presente nesse processo uma empresa anônima. Entretanto, nos casos que
não envolvam essa modalidade de empresa, as regras serão as do Código Civil de 2002.
Os procedimentos de metamorfose têm a finalidade de propiciar à sociedade empresa-
rial circunstâncias mais favoráveis para que tenha força de prosperar e adequar-se às novas
tendências do mercado. Nesse sentido, o Direito Societário coloca as quatro hipóteses de
metamorfose empresarial para que as empresas societárias se reorganizem.
As operações acontecem por várias razões, como transferência ou aquisição de empre-
sa, modificação de suas atividades empresariais, uniões econômicas de grupos empresa-
riais, planejamento tributário, diminuição de concorrência, ampliação com a finalidade de
obter novos clientes, inclusão de novas tecnologias, entre outras finalidades.
Uma das situações que leva a empresa a efetuar a metamorfose societária é o planeja-
mento tributário, por meio do qual a sociedade compensa suas perdas pelo lucro de outra
do mesmo grupo. Outro motivo para a ocorrência das metamorfoses societárias é a aliena-
ção de controle, na qual uma sociedade adquire outra, o que ocasiona uma ampliação da
sociedade adquirente no mercado de consumo.
Muitos procedimentos societários têm como finalidade a concentração ou desconcen-
tração de sociedades, ou seja, incorporação, fusão e cisão, que podem abranger empresas
societárias com o mesmo escopo ou não. Para que esses tipos de metamorfose ocorram,
depende-se de uma deliberação das sociedades participantes, que alterará o estatuto ou seu
Contrato Social.
Existem outras normas que devem ser analisadas quando ocorrer a metamorfose socie-
tária. Entre elas, destacam-se:

80 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
• Quando ocorrer a criação de nova sociedade, será observada a modalidade so-
cietária escolhida, conforme o artigo 223, § 1°, da LSA (BRASIL, 1976), que prevê:
“Nas operações em que houver criação de sociedade serão observadas as normas
reguladoras da constituição das sociedades do seu tipo”.
• As metamorfoses societárias serão submetidas à deliberação da Assembleia-Geral
das empresas societárias interessadas, segundo o artigo 225 da LSA (BRASIL, 1976):
As operações de incorporação, fusão e cisão serão submetidas à deliberação da
assembleia-geral das companhias interessadas mediante justificação, na qual se-
rão expostos:
I – os motivos ou fins da operação, e o interesse da companhia na sua realização;
II – as ações que os acionistas preferenciais receberão e as razões para a modifi-
cação dos seus direitos, se prevista;
III – a composição, após a operação, segundo espécies e classes das ações, do
capital das companhias que deverão emitir ações em substituição às que se de-
verão extinguir;
IV – o valor de reembolso das ações a que terão direito os acionistas dissidentes.
• O acionista desistente tem o direito de afastamento, com o reembolso de suas
ações, conforme o artigo 137 da LSA (BRASIL, 1976): “A aprovação das matérias
previstas nos incisos I a VI e IX do art. 136 dá ao acionista dissidente o direito de
retirar-se da companhia, mediante reembolso do valor das suas ações (art. 45)”.
• O instrumento de protocolo é projeto de contrato que deverá ter as informações
elencadas no artigo 224 da LSA (BRASIL, 1976), que são:
I – o número, espécie e classe das ações que serão atribuídas em substituição dos
direitos de sócios que se extinguirão e os critérios utilizados para determinar as
relações de substituição;
II – os elementos ativos e passivos que formarão cada parcela do patrimônio, no
caso de cisão;
III – os critérios de avaliação do patrimônio líquido, a data a que será referida a
avaliação, e o tratamento das variações patrimoniais posteriores; 
IV – a solução a ser adotada quanto às ações ou quotas do capital de uma das
sociedades possuídas por outra;
V – o valor do capital das sociedades a serem criadas ou do aumento ou redução
do capital das sociedades que forem parte na operação;
VI – o projeto ou projetos de estatuto, ou de alterações estatutárias, que deverão
ser aprovados para efetivar a operação;
VII – todas as demais condições a que estiver sujeita a operação. Parágrafo único.
Os valores sujeitos a determinação serão indicados por estimativa.
Perceba que muitas vezes, quando há metamorfose societária, o mercado econômico
se transforma e irradia efeitos à concorrência, principalmente quando a finalidade desse

Legislação empresarial 81
6 Metamorfoses societárias

processo é ampliar o controle de uma sociedade empresarial no mercado. Nesse contexto, o


Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) é acionado.
O Cade, uma autarquia federal, teve sua criação pela Lei n. 4.137/1962, reestruturada
pela Lei n. 12.529/2011.
Em conformidade com o artigo 88 da Lei n. 12.529/2011 (BRASIL, 2011):
serão submetidos ao Cade pelas partes envolvidas na operação os atos de con-
centração econômica em que, cumulativamente:

I – pelo menos um dos grupos envolvidos na operação tenha registrado, no úl-


timo balanço, faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no
ano anterior à operação, equivalente ou superior a R$ 400.000.000,00 (quatrocen-
tos milhões de reais); e

II – pelo menos um outro grupo envolvido na operação tenha registrado, no


último balanço, faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País,
no ano anterior à operação, equivalente ou superior a R$ 30.000.000,00 (trinta
milhões de reais).

É importante destacar que esses valores foram atualizados para R$ 750.000.000,00 e


R$ 75.000.000,00, respectivamente.
Observa-se, ainda sobre a metamorfose societária, o que prevê o artigo 90 dessa mesma
legislação (BRASIL, 2011):
Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza-se um ato de concentração quando:

I – 2 (duas) ou mais empresas anteriormente independentes se fundem;

II – 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou indiretamente, por compra ou


permuta de ações, quotas, títulos ou valores mobiliários conversíveis em ações,
ou ativos, tangíveis ou intangíveis, por via contratual ou por qualquer outro
meio ou forma, o controle ou partes de uma ou outras empresas;

III – 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra ou outras empresas; ou

IV – 2 (duas) ou mais empresas celebram contrato associativo, consórcio ou joint


venture.

Em suma, devem ser apresentadas ao Cade as metamorfoses societárias que tenham


conjuntamente estas situações:
• uma das sociedades empresariais tenha o faturamento bruto ou o volume de negó-
cios igual ou acima de R$ 750 milhões; e
• o outro agente econômico tenha mais de R$ 75 milhões de faturamento ou de ne-
gócios no Brasil.
A Lei n. 12.529/2011, também conhecida como antitruste, tem apenas o critério de fa-
turamento anual/volume de negócios como parâmetro para acionar o Cade. Entretanto, o
procedimento de submeter essa metamorfose societária ao Cade pode ocorrer 15 dias úteis
antes de o processo se realizar.

82 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
A Constituição da República do Brasil (BRASIL, 1988) elenca como princípio a livre
concorrência. Nesse aspecto, pode parecer estranho que exista um órgão que tenha como
objetivo analisar as metamorfoses societárias ou, ainda, coibir algum tipo de modificação
societária cuja finalidade seja absorver o máximo de mercado possível. Porém, é necessário
entender que o Cade busca evitar abusos de poder econômico e, por consequência, crimes
econômicos, garantindo, dessa forma, a livre concorrência prevista na Lei Maior.

6.2 Distinção entre transformação,


incorporação, fusão e cisão

Muitas vezes, para se manterem no mercado, as empresas se relacionam entre si e aca-


bam se transmutando, ou seja, aglomeram-se, fragmentam-se, acrescentando, ou, ainda, re-
passando parte de seu patrimônio a outras. Desse modo, firmam-se, no Direito Societário,
as modalidades por meio das quais a empresa pode se transformar, ou seja, transformação,
incorporação, fusão e cisão.
Nessas quatro situações ocorrerá uma mudança de estrutura na sociedade e, por conse-
quência, ocorrem modificações jurídicas. Nesse contexto, se ocorrer uma operação societária
na qual estiver presente uma sociedade anônima, as regras que devem ser aplicadas são as
da Lei n. 6.404/1976, que disciplina sobre as sociedades por ações. Entretanto, nos demais
procedimentos – nos quais não há a presença das sociedades anônimas – as normas utiliza-
das serão as dispostas no Código Civil.
Esse entendimento está elencado no Enunciado 70 do CJF, que traz: “As disposições
sobre incorporação, fusão e cisão previstas no Código Civil não se aplicam às sociedades
anônimas. As disposições da Lei n. 6.404/76 sobre essa matéria aplicam-se, por analogia, às
demais sociedades naquilo em que o Código Civil for omisso”.
Sobre a operação societária de transformação, o artigo 220 da LSA (BRASIL, 1976) diz
que ela “é a operação pela qual a sociedade passa, independentemente de dissolução e li-
quidação, de um tipo para outro”. Nesse mesmo sentido, corrobora o Código Civil (BRASIL,
2002), em seu artigo 1.113, que prevê que “o ato de transformação independe de dissolução
ou liquidação da sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da constituição e inscri-
ção próprios do tipo em que vai converter-se”.
Saindo desses dois dispositivos, entende-se a transformação como a mudança do tipo
societário. Logo, é possível exemplificá-la com a mudança da sociedade limitada para a anô-
nima ou da sociedade em nome coletivo para a sociedade em comandita simples. Enfim, há
a mudança da sociedade quando passa de uma modalidade empresária para outra.
Para que ocorra a transformação, é necessária uma deliberação, cujo resultado deve ser
unânime. No entanto, pode estar expresso no Contrato Social ou no estatuto a possibilidade
de ocorrer essa operação societária. Nos casos em que os atos constitutivos preveem em
cláusula, o sócio desistente pode solicitar sua retirada na sociedade, de acordo com o artigo
221 da LSA (BRASIL, 1976): “a transformação exige o consentimento unânime dos sócios ou

Legislação empresarial 83
6 Metamorfoses societárias

acionistas, salvo se prevista no estatuto ou no contrato social, caso em que o sócio dissidente
terá o direito de retirar-se da sociedade”. O Código Civil (BRASIL, 2002), no artigo 1.114,
traz que “a transformação depende do consentimento de todos os sócios, salvo se prevista
no ato constitutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-se da sociedade, aplicando-se,
no silêncio do estatuto ou do contrato social, o disposto no art. 1.031”.
No caso de ocorrer a transformação, os credores não serão afetados, visto o disposto no
artigo 222 da LSA (BRASIL, 1976), que determina que “a transformação não prejudicará, em
caso algum, os direitos dos credores, que continuarão, até o pagamento integral dos seus
créditos, com as mesmas garantias que o tipo anterior de sociedade lhes oferecia”.
Perceba que a transformação é uma operação que muda apenas a modalidade societária,
sem que ocorra a liquidação ou a dissolução da pessoa jurídica (sociedade empresarial). Logo,
não há nenhum motivo para que os credores sejam atingidos. O artigo 1.115 do Código Civil
(BRASIL, 2008) estabelece que “a transformação não modificará nem prejudicará, em qual-
quer caso, os direitos dos credores”.
Em suma, a transformação, em consonância com Negrão (2016, p. 81), é a operação de
mudança do tipo societário ou de modalidade de constituição da empresa, independente-
mente de dissolução e liquidação”. Nessa operação é necessário o consentimento unânime
dos acionistas ou sócios, salvo se estiver previsto no ato constitutivo, porém o sócio dissi-
dente terá o direito de retirar-se da sociedade.
Outra operação societária que modifica a situação da empresa é a incorporação. De
acordo com o artigo 227 da LSA (BRASIL, 1976), “a incorporação é a operação pela qual
uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e
obrigações”. Reforça esse entendimento o artigo 1.116 do Código Civil (BRASIL, 2002), que
relata que “na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que lhes
sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida
para os respectivos tipos”.
Na incorporação, ocorrerá o desaparecimento de uma ou mais sociedades empresariais
que serão incorporadas, porém não existirá o surgimento de uma nova sociedade. Logo, os
direitos e as obrigações da sociedade incorporada passarão para a incorporadora, em conso-
nância com o § 3° do art. 227 da LSA (BRASIL, 1976), que traz: “aprovados pela assembleia-
-geral da incorporadora o laudo de avaliação e a incorporação, extingue-se a incorporada,
competindo à primeira promover o arquivamento e a publicação dos atos da incorporação”.
Resumidamente, a incorporação, segundo Fazzio Junior (2016, p. 256), é “a operação
pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os
direitos e obrigações”.
A terceira operação societária é a fusão, que tem seu conceito elencado no artigo 228 da
LSA (BRASIL, 1976): “a fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para
formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações”. Reforça esse
conceito o artigo 1.119 do Código Civil (Brasil, 2002) que traz: “a fusão determina a extinção
das sociedades que se unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos
e obrigações”.

84 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
Nessa operação, ocorre o surgimento de uma nova sociedade, que é a decorrência da
junção das sociedades fundidas. Porém, os sócios da sociedade fusionada passam a inte-
grar o corpo associativo da incorporadora ou da nova sociedade resultante. Perceba que,
na fusão, não ocorre apenas a passagem patrimonial de uma sociedade para outra, mas a
absorção do corpo associativo.
Em conclusão, a fusão é, concomitantemente, a extinção de duas ou mais sociedades e
a forma de constituição de outra sociedade, visto que as sociedades participantes desapare-
cem em prol do surgimento de uma nova.
Por fim, a quarta operação é a cisão. Seu conceito é trazido pelo artigo 229 da LSA
(BRASIL, 1976): “a cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patri-
mônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguin-
do-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o
seu capital, se parcial a versão”.
Por consequência desse artigo, pode-se entender que cisão é a passagem de patrimônio
de uma sociedade para outra. Quando ocorre a transferência de apenas alguns bens para a
outra sociedade, chama-se cisão parcial. Entretanto, quando todos os bens da sociedade cin-
dida passam para as mãos da outra sociedade, denomina-se cisão total. Perceba que, quando
ocorre a cisão total, a sociedade cindida (a que entrega os bens) se extingue.
Sobre os direitos e as obrigações da sociedade cindida, a LSA dispõe, no § 1° do artigo
229 (BRASIL, 1976): “Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver
parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacio-
nados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que absorverem parcelas
do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líqui-
dos transferidos, nos direitos e obrigações não relacionados”.
Logo, pode-se compreender que, quando ocorre a extinção da companhia cindida, as
sociedades que tiverem recebido parte do patrimônio dessa empresa responderão pelas
obrigações da empresa que passou esses bens. No entanto, caso a empresa que cedeu seu
patrimônio (cindida) se mantenha no mercado, as empresas que receberam o patrimônio
responderão solidariamente pelas obrigações existentes até o momento da cisão parcial. É
importante destacar que cláusulas do contrato de cisão que disponham ao contrário podem
ser questionadas judicialmente.
A sociedade empresária que recebe o patrimônio da outra sociedade cindida pode ser
uma sociedade constituída somente com essa finalidade. Ou seja, não é necessário que a
sociedade que vai receber os bens já exista. Todavia, se a empresa já estiver no mercado, a
situação é disciplinada pelo § 3° do art. 229 da LSA (BRASIL, 1976), que traz: “a cisão com
versão de parcela de patrimônio em sociedade já existente obedecerá às disposições sobre
incorporação (artigo 227)”.
Por fim, destaca-se o artigo 234 da LSA, o qual determina que a certidão, expedida pelo
Registro de Empresas Mercantis, das operações societárias – da incorporação, da cisão ou
da fusão – será competente para que ocorra a averbação nos órgãos públicos competentes.

Legislação empresarial 85
6 Metamorfoses societárias

6.3 Legislação aplicável às


metamorfoses societárias

Como dito, quando uma metamorfose societária ocorre – transformação, cisão, incor-
poração e fusão –, a legislação a ser utilizada depende da presença ou não de uma socieda-
de anônima nesse procedimento. No caso dessa modalidade de empresa (sociedade anôni-
ma), as regras devem ser as que estão elencadas na LSA (Lei 6.404/76), que dispõe sobre as
Sociedades por Ações. Entretanto, nas hipóteses em que a presença da sociedade anônima
não ocorra, a legislação a ser usada é o Código Civil.
Na transformação, ocorre a modificação da natureza da empresa societária. Perceba que
o ente a ser transformado deve possuir natureza societária, visto que os procedimentos de
transformação mantêm o ente transformado, no que se diz respeito aos sócios que ela possui.
No que se refere ao empresário individual, a Lei complementar n. 128/08 traz o §3°
do artigo 968 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê: “Caso venha a admitir sócios, o
empresário individual poderá solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a trans-
formação de seu registro de empresário para registro de sociedade empresária, observado,
no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código”.
Essa transformação de empresário individual em sociedade, também chamada de ordi-
nária, não tem capital social, pois o empresário individual não possui uma distinção entre o
patrimônio aplicado à empresa e o patrimônio pessoal. Verifica-se, no entanto, que de fato
existe uma criação de sociedade empresarial.
O capital da nova sociedade transformada será o resultado da soma dos patrimônios
do empresário individual e dos demais sócios que adentrarem na sociedade empresarial.
A avaliação dos bens que compõem o patrimônio da sociedade e a responsabilização do
empresário da sociedade é regida pelo artigo 1.055, §1°, do Código Civil (BRASIL, 2002): “O
capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada só-
cio. § 1° Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente
todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade”.
Após a definição do capital social, os novos sócios da sociedade deverão alterar o
Contrato Social, que será apresentado ao Registro Público de Empresas Mercantis. Nesse
momento, a sociedade empresarial sucederá o antigo empresário individual. No entanto,
perceba que isso ocorre quando a sociedade societária modifica a sua natureza empresarial.
O artigo 1.113 do Código Civil (BRASIL, 2002) prevê que “a administração da sociedade, nada
dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios”. Logo, o novo sócio – o
empresário individual – integrará a nova sociedade, independentemente de sua liquidação.
A sociedade empresarial que surge após a transformação responderá a todos os débitos
da empresa individual. O empresário individual também responderá, pessoalmente, por
todas as dívidas que existirem antes da transformação e solidariamente após a metamorfose
de transformação. Conforme o artigo 1.115 do Código Civil (BRASIL, 2002), “a transforma-
ção não modificará nem prejudicará, em qualquer caso, os direitos dos credores”.

86 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
Outro tipo de transformação imprópria refere-se à metamorfose por meio da qual uma
sociedade se transforma em uma empresa individual, ou seja, o quadro societário diminui a
ponto de se tornar apenas um integrante, sem que tenha recuperado a pluralidade antes dos
180 dias. Em consonância com o parágrafo único do artigo 1.033 do Código Civil (BRASIL,
2002), observa-se que: “Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente,
inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade,
requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da socie-
dade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada,
observado, no que couber, o disposto nos artigos 1.113 a 1.115 deste Código”.
Nesse caso, o sócio remanescente será o sucessor da sociedade, sem liquidação. A uni-
versalidade do ativo e do passivo passará para o sócio único, que assumirá o papel de empre-
sário individual e, por consequência, assumirá toda a responsabilidade de forma ilimitada.
Esse sócio remanescente deverá firmar o instrumento social e o apresentar no Registro
Público de Empresa, com a finalidade de declarar a condição de sucessor da sociedade.
Perceba que a transformação imprópria está baseada na teoria da empresa, a qual colo-
ca a unidade produtora, ou seja, a empresa, acima da titularidade, com o objetivo de manter
a organização produtiva.
As operações societárias (incorporação, fusão e cisão) têm um propósito de reorganiza-
ção empresarial, visto que as duas primeiras são procedimentos de concentração e a terceira
é de desconcentração societária. Nesses casos de metamorfose societária, quando não estiver
presente uma sociedade anônima, os artigos 1.116 a 1.122 normatizarão esses procedimentos.
Borba (2015) ressalta que esses dispositivos são insuficientes para todas as questões
que essas metamorfoses podem gerar. Nesse sentido, deve ser usada como analogia a Lei n.
6.404/76, que dispõe sobre as sociedades de ações.
Resumidamente, na transformação um tipo societário é alterado, adquirindo as caracte-
rísticas de outro tipo societário. Na incorporação, ocorre a absorção de uma sociedade em-
presarial pela outra. Na fusão, duas ou mais sociedades se extinguem, para que, da união do
patrimônio destas, surja uma nova sociedade. E, por fim, na cisão a sociedade se subdivide,
dando lugar a uma nova sociedade, ou, ainda, há a integração de partes de uma sociedade
em outra sociedade já existente. Nessas operações societárias, o acionista é conduzido, mes-
mo que não aprove, a participar da nova sociedade, salvo no caso de recesso.
É importante destacar que, quando a sociedade é uma companhia aberta, deverá resul-
tar também em companhia aberta, visto que conforme o artigo 223, § 3°, da Lei n. 9.457/97
(BRASIL, 1997):
Se a incorporação, fusão ou cisão envolverem companhia aberta, as sociedades
que a sucederem serão também abertas, devendo obter o respectivo registro e,
se for o caso, promover a admissão de negociação das novas ações no mercado
secundário, no prazo máximo de cento e vinte dias, contados da data da assem-
bleia-geral que aprovou a operação, observando as normas pertinentes baixadas
pela Comissão de Valores Mobiliários.

Legislação empresarial 87
6 Metamorfoses societárias

Esse dispositivo reflete a ideia de que uma sociedade aberta possui um sistema de in-
formação e de proteção mais eficiente que a sociedade fechada, bem como uma condição de
liquidez mais eficiente, principalmente no que se refere à alienação.
Esse artigo traz também o § 4°, que observa: “O descumprimento do previsto no pará-
grafo anterior dará ao acionista direito de retirar-se da companhia, mediante reembolso do
valor das suas ações (art. 45), nos trinta dias seguintes ao término do prazo nele referido,
observado o disposto nos §§ 1° e 4° do art. 137”. Logo, conforme é possível notar, é criado o
direito de recesso, em 120 dias após a assembleia-geral.
Nesse sentido, o acionista adquiriu dois direitos, que são o de manter a companhia
aberta e o de recesso, observando o prazo de 120 dias. Perceba que o artigo 223, nos §§ 3° e
4°, traz uma obrigação para a sociedade e uma prerrogativa para ao acionista. Logo, o reces-
so é facultativo ao sócio e pode ou não ser exercido nos 120 dias após a assembleia.
Dito isso, é importante destacar que essas três modalidades começam com a elaboração
de um protocolo, em conformidade com o artigo 224 do Código Civil, o qual deve ser firma-
do entre os órgãos das sociedades interessadas e aprovado por assembleia das respectivas
empresas societárias. Nesse protocolo são definidas as condições da operação societária.
O valor a ser estabelecido do patrimônio líquido das empresas deverá ser feito por va-
lores contábeis. Todavia, nos casos de incorporação de controladas, será determinado pelo
preço de mercado, segundo o artigo 203 do Código Civil.
Após a metamorfose da sociedade, os atos de transformação, incorporação, fusão e cisão
deverão ser arquivados na Junta Comercial e, ainda, publicados. Como essas operações envol-
vem transmissão de patrimônio, deverá ser feito o registro de imóvel, segundo o artigo 234.
É importante mencionar que os estabelecimentos comerciais, após a transformação, in-
corporação, cisão ou fusão, não sofrem nenhum tipo de alteração, continuam a funcionar,
inclusive com os mesmos alvarás. Somente os cadastros fiscais devem ser ajustados.
Cabe ainda destacar que artigo 10 da Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1943)
prevê que: “Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos ad-
quiridos por seus empregados”, buscando assim resguardar os direitos dos trabalhadores
empregados que atuam nas sociedades que venham a sofrer metamorfoses.

Ampliando seus conhecimentos

(ALCANTARA, 2004, p. 94-95)

As operações de transformação, incorporação, fusão e cisão são os meca-


nismos previstos em lei para reorganização societária.

Conforme a sociedade busque adaptar sua organização interna a novas


necessidades surgidas no desenvolvimento da empresa, a mudança na
responsabilidade de seus sócios, a maior publicidade de seus atos, o

88 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
acesso ao mercado decapitais, formar volumes de capital suficiente para
atender ã atualização tecnológica, obter um aumento de produção com
economia de mão de obra, racionalizar a produção, reorganizar as estru-
turas, aumentar a clientela, evitar a concorrência, separar os sócios ou
acionistas que não têm mais interesse em continuar trabalhando juntos
ou separar as atividades da empresa para determinar um melhor foco nos
negócios, utilizar-se-á de uma operação ou outra.

Em relação ao procedimento adotado nessas quatro operações, o que se


procura é que seja ágil e flexível, sem formalidades excessivas e muitas
vezes custosas, que poderão, evidentemente, impedir sua utilização na
prática. Mas essa flexibilidade não deve ser de molde a permitir que tanto
os acionistas minoritários como os credores possam ser prejudicados.

Após o exame do processo e das medidas de proteção aos acionistas e


aos credores, pode-se dizer que o regime implantado pela Lei 6.404/76
é manifestamente superior ao do Decreto-Lei 2.627/40, pois introduziu
o protocolo e a justificativa, eliminou a assembleia geral de extinção da
incorporada e regulamentou a cisão pela primeira vez. Contudo, deixa
ainda muito ao desejar no plano do sistema de proteção aos credores e
dos critérios de reembolso dos acionistas dissidentes. Quanto ao regime
implantado pelo novo Código Civil, em pouco se afasta do já consagrado
pela Lei 6.404/76, vindo apenas a solucionar de vez a questão sobre a apli-
cação das operações de reorganização societária às sociedades de pessoas,
não as deixando apenas no âmbito das sociedades por ações.

Ainda que a tendência das legislações de direito comparado seja a de


considerar a incorporação como espécie do gênero fusão, a legislação
brasileira adota posição diversa, definindo ambas separadamente e indi-
vidualizando-as. Crê-se que esse posicionamento seja realmente o mais
adequado, pois os dois institutos têm peculiaridades que não devem ser
confundidas. Entre as duas espécies, fusão e incorporação, esta última se
dá em maior número atualmente no Brasil. É inegável que a incorporação
é um processo mais prático, que evita a constituição de nova sociedade,
reduzindo assim os gastos.

A respeito dos efeitos decorrentes da reorganização societária, tem-se


nítida uma preocupação do legislador em resguardar os direitos dos
sócios ou acionistas e dos credores. Aos acionistas dissidentes da operação
e assegurado o direito de retirada. E em relação aos credores, a tendência
mundial é limitar o seu direito de oposição, permitindo-lhes em contra-
partida, que protestem posteriormente, mesmo por via judicial, sem que

Legislação empresarial 89
6 Metamorfoses societárias

impeçam, porém, a concretização da operação de reorganização societá-


ria. O nosso sistema parece bom em relação ao direito de recesso, mas
falho em relação ao sistema de proteção aos credores, pois, quanto a estes,
não foi assegurado o direito de oposição. Assim, a forma dos credores
obterem indenização ou reforço de garantias exercita-se pela via extrema
da tentativa de anulação, o que torna incerta e insegura a operação.

Já com relação aos consumidores e empregados das sociedades envolvi-


das na reorganização, não existe um sistema efetivo de proteção dos seus
direitos no ordenamento jurídico brasileiro, sendo necessário aprimorar
essa ideia.

As operações de incorporação, fusão e cisão podem gerar o aumento de


poder econômico das sociedades envolvidas. Por isso são objeto de controle
pelo CADE, autarquia instituída na lei antitruste brasileira, Lei 8.884l94.

A acumulação de capitais os aumentos da dimensão das empresas são


decorrentes da busca e obtenção de maior lucratividade. Esse processo
conduz a fusões, incorporações, ajustes ou coalizões, que funcionam
como instrumentos de competição, por aumentar o poder econômico das
empresas envolvidas. É tarefa essencial do Estado, zelar pelo ambiente
concorrencial e, ao mesmo tempo, incentivar a economia nacional. Assim,
se a operação societária implicar concentração de poder econômico, mas
trouxer os benefícios previstos em lei, será considerada válida por confe-
rir mais vantagens que desvantagens à economia nacional.

Atividades
1. As metamorfoses societárias são as alterações na constituição, na modalidade ou na
composição de uma sociedade empresária, que podem ocorrer de quatro formas:

a. a transformação, a incorporação, a fusão e a cisão.


b. a transformação, a incorporação, a junção e a cisão.
c. a modificação, a incorporação, a junção e a cisão.
d. a modificação, a reestruturação, a junção e a cisão.

2. O conceito “é a operação pela qual a sociedade passa, independentemente de disso-


lução e liquidação, de um tipo para outro” refere-se a qual metamorfose societária?

a. A transformação.
b. A incorporação.

90 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
c. A fusão.
d. A cisão.

3. Sobre a metamorfose societária, analise as afirmações e assinale a alternativa correta:

I. Na incorporação, ocorre a absorção de uma sociedade empresarial pela outra.


II. Na fusão, duas ou mais sociedades se extinguem, para que, da união do patri-
mônio destas, surja uma nova sociedade.
III. Na cisão, a sociedade se subdivide, dando lugar a uma nova sociedade, ou, ain-
da, há integração de partes de uma sociedade em outra sociedade já existente.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.
c. Somente a alternativa I está correta.
d. Somente a alternativa II está correta.

Referências
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ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
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______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
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______. Lei n. 12.529, de 30 de novembro de 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
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COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.
NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2016.

Legislação empresarial 91
6 Metamorfoses societárias

Resolução
1. A − As metamorfoses societárias são as alterações na constituição, na modalidade ou
composição de uma sociedade empresária, que podem ocorrer de quatro formas: a
transformação, a incorporação, a fusão e a cisão.

2. A − Para a operação societária chamada transformação, o artigo 220 da LSA (BRASIL,


1976) traz que “é a operação pela qual a sociedade passa, independentemente de disso-
lução e liquidação, de um tipo para outro”. Nesse mesmo sentido, corrobora o Código
Civil, em seu artigo 1.113 (BRASIL, 2008), que prevê: “o ato de transformação indepen-
de de dissolução ou liquidação da sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da
constituição e inscrição próprios do tipo em que vai converter-se”.

3. A − Na incorporação ocorre a absorção de uma sociedade empresarial pela outra. Na


fusão, duas ou mais sociedades se extinguem, para que, da união do patrimônio des-
sas, surja uma nova sociedade. E, por fim na cisão, a sociedade se subdivide, dando
lugar a uma nova sociedade, ou, ainda, há a integração de partes de uma sociedade
em outra sociedade já existente. Nessas operações societárias, o acionista é conduzi-
do, mesmo que não aprove, a participar da nova sociedade, salvo no caso do recesso.

92 Legislação empresarial
7
Dissolução e liquidação das
sociedades empresárias

Introdução

Neste capítulo, o objetivo é distinguir dissolução e liquidação das sociedades. São


abordados os aspectos legais da dissolução das sociedades empresárias nacionais e
estrangeiras, bem como é identificado como se dá a liquidação dessas sociedades.

Esses conhecimentos são importantes para que se desenvolva o entendimento prá-


tico da legislação empresarial, observando como ocorre a dissolução e a liquidação da
sociedade empresária.

Legislação empresarial 93
7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias

7.1 Diferença entre dissolução


e liquidação societária

A dissolução da sociedade ou de uma pessoa jurídica é o procedimento adotado,


por meio da manifestação de vontade ou medida judicial, para que uma empresa so-
cietária seja encerrada. Em contrapartida, a liquidação é a fase posterior a essa, na qual
ocorrem atos com a finalidade de preparar a empresa societária para sua extinção, como
o pagamento de passivos.
Sobre a dissolução empresarial, é importante destacar que ela pode ser realizada por
procedimento extrajudicial ou judicial, em sintonia com o artigo 1.033 do Código Civil
(BRASIL, 2002), que prevê:
dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
I – o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição
de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por
tempo indeterminado;
II – o consenso unânime dos sócios;
III – a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo
indeterminado;
IV – a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oi-
tenta dias;
V – a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.
Corrobora nesse mesmo sentido o artigo 1.034 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê:
“A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando:
I – anulada a sua constituição; II – exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade”.
Saindo desses pressupostos legais, pode-se entender que a dissolução é consequência
de um direito da própria sociedade, como é o caso da dissolução por consenso ou, ainda,
por falta de pluralidade na sociedade. Perceba que a dissolução pode ser realizada por meio
extrajudicial, ou seja, quando os sócios realizam a dissolução por meio de assembleia ou
distrato. Entretanto, quando invocam o Poder Judiciário com o objetivo de dissolver a socie-
dade, fala-se então de dissolução judicial.
Conforme Negrão (2016) explica, nos casos em que a empresa seja constituída com prazo
de duração estabelecido, no ato constitutivo, os sócios podem, antes da data prevista, alterar
o prazo de duração da sociedade. Logo, devem modificar o ato constitutivo e registrá-lo no
órgão competente. Nesse contexto, a sociedade empresarial que entraria em situação de dis-
solução devido ao seu prazo preestabelecido não terá mais essa consequência, visto que por
deliberação os sócios se anteciparam ao ato de dissolução da empresa.
Segundo o artigo 1.033, I, do Código Civil (BRASIL, 2002): “Dissolve-se a sociedade quan-
do ocorrer: o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio,
não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado”.

94 Legislação empresarial
Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 7
O prazo de duração de uma empresa societária pode ser determinado ou indeterminado, o
que deve estar expresso no seu ato constitutivo. E, conforme essa normativa, a sociedade pode
ter seu prazo prorrogado para indeterminado. Caso não ocorra a manifestação dos sócios, a
empresa continuará ativa e, por consequência, não entrará em situação de liquidação. Esse
artigo tem como finalidade a preservação da sociedade empresarial pelo legislador.
Outro aspecto a ser analisado é que, nos casos de sociedades por prazo indeterminado,
o consenso unânime ou deliberação deve ser por maioria absoluta. Em consonância com os
artigos 997, II, 999 e 1.033, III, do Código Civil (BRASIL, 2002), no caso de sociedades simples
ou sociedades personalíssimas, é obrigatório o consenso unânime, quando constar nos seus
atos constitutivos o prazo determinado. Todavia, os artigos 1.076, I, e 1.071, VI, do mesmo
código preveem que, nas sociedades limitadas, independentemente do prazo estabelecido,
a dissolução será por votação de, no mínimo, três quartos do capital social.
Quando todos os sócios estiverem de comum acordo, independentemente da modali-
dade de sociedade constituída, para que ocorra a dissolução é necessário o arquivamento
do instrumento de distrato no órgão de registro público competente, por escritura pública
ou particular, segundo o artigo 53 da Lei n. 8.934/94. Lembrando que, em caso de não haver
concordância, pode ser utilizada a via judicial.
A falta de pluralidade de sócios é outra hipótese que pode levar à dissolução de uma
sociedade. Todavia, a sociedade pode continuar caso seja reconstituída essa pluralidade no
prazo de 180 dias da data da ocorrência da perda da pluralidade, que pode ser por:
• decisão judicial, ou seja, a data do trânsito em julgado da sentença;
• morte do sócio, sendo a data do óbito o começo do prazo;
• declaração de ausência, ou seja, a data em que se declarou a ausência do sócio,
conforme o artigo 28 do Código Civil, devendo-se abrir provisoriamente a suces-
são de bens;
• extinção por cassação de autorização ou de concessão pela Administração Pública.
Nesse contexto, assim que ocorre o ato de dissolução da sociedade, por meio da disso-
lução ou ordem judicial, a empresa não perde automaticamente sua personalidade jurídica,
visto que esse ato de dissolução deve ser registrado na Junta Comercial. Após essa averba-
ção, começa uma nova fase, chamada de liquidação.
Para a proteção de terceiros de boa-fé, a empresa liquidante deverá, nessa fase de li-
quidação, acrescentar no seu nome empresarial a expressão “em liquidação”, bem como
nomear o referente liquidante, visando à proteção desses terceiros que estejam em contrata-
ção com essa sociedade empresarial, em conformidade com o artigo 1.036 do Código Civil
(BRASIL, 2002), que traz: “ocorrida a dissolução, cumpre aos administradores providen-
ciar imediatamente a investidura do liquidante, e restringir a gestão própria aos negócios
inadiáveis, vedadas novas operações, pelas quais responderão solidária e ilimitadamente”.
Observa-se, ainda, o parágrafo único desse mesmo dispositivo, que observa: “dissolvida de
pleno direito a sociedade, pode o sócio requerer, desde logo, a liquidação judicial”.

Legislação empresarial 95
7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias

Existem duas modalidades de liquidação, conforme a Lei n. 6.404/1976:


• a liquidação realizada pela própria sociedade, ou seja, extrajudicial; ou
• a liquidação feita pelo Poder Público, ou seja, a liquidação judicial.
As duas hipóteses de liquidação (judicial ou extrajudicial) se diferenciam pelo procedi-
mento a ser utilizado, visto que, na extrajudicial, caso o Estatuto Social não preveja qual será
a forma em que ocorrerá a liquidação, caberá à assembleia-geral determinar o método, bem
como à liquidante e ao conselho fiscal.
Nos casos de liquidação judicial, o procedimento ocorrerá por meio de processo judi-
cial, que poderá ser solicitado por qualquer sócio quando ocorrer algum tipo de discórdia
para a realização da liquidação de pleno direito, ou simplesmente deixarem de realizar a
liquidação após a dissolução. Outro solicitante pode ser o Ministério Público, que realizará
o comunicado às autoridades quando:
• a sociedade empresarial não iniciar a liquidação após 30 dias subsequentes da
dissolução; ou
• após iniciar a liquidação, paralise-se esse processo por mais de 15 dias.
É oportuno destacar que a empresa societária dissolvida não perde sua personalidade
jurídica. Ela só continua a perseverar para honrar suas últimas obrigações. Logo, pode-se ve-
rificar que no período de liquidação a sociedade mercantil deve averiguar seu ativo, saldar
seu passivo e, no caso de existir algum tipo de saldo patrimonial, deverá realizar a partilha em
conformidade com o estatuto ou o Contrato Social, aos sócios da sociedade, na forma da lei.
Na fase de liquidação, as negociações com terceiros são suspensas, ocorrendo apenas
as já iniciadas, para serem finalizadas. Ou melhor, a fase de liquidação ocorre após a de
dissolução e tem como objetivo principal a finalização dos contratos existentes, bem como o
fechamento contábil da sociedade.
Entretanto, é conveniente observar que as obrigações fiscais, nesse período, não sofrem
interrupção nem modificação, ou seja, a empresa será tributada mesmo que esteja com sua
atividade-fim paralisada.
Nesse contexto, a sociedade empresarial liquidante deverá manter suas documentações
contábeis em dia, como é o caso dos balanços periódicos, apresentar suas declarações, bem como
realizar o pagamento de todos os tributos e cumprir com todas as exigências legais tributárias.
Após o término da liquidação, o credor, individualmente, que não esteja satisfeito só
poderá exigir dos sócios da empresa o montante correspondente à soma por eles recebida e
propor contra o liquidante uma ação de perdas e danos. Contudo, o sócio que pagar o credor
não satisfeito terá o direito de reaver dos demais sócios a parcela que corresponde à quantia
de débitos destes demais sócios, conforme o artigo 218 da Lei n. 6.404/1976.

96 Legislação empresarial
Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 7
7.2 Aspectos legais da dissolução das
sociedades nacionais e estrangeiras

A dissolução é a ação que determina a extinção da sociedade empresarial, seja por von-
tade dos sócios, seja por decorrência do ato constitutivo, de determinação legal ou judicial,
conforme os artigos 206 e 207 da Lei n. 6.404/1976.
Analisando o artigo 206 da Lei n. 6.404/1976, verifica-se que a dissolução pode ocorrer
de três maneiras:
1. de pleno direito;
2. por decisão judicial; ou
3. por decisão de autoridade administrativa competente.
Conforme o Frazzio Junior (2016), a dissolução da sociedade empresária pode ocorrer:
• por deliberação unânime dos sócios (art. 1.033, inciso II, do Código Civil);
• expirado o prazo determinado de duração, sem prorrogação expressa ou tácita
(art. 1.033, inciso I, do Código Civil);
• pelo encerramento da falência (art. 1.044 do Código Civil);
• pela extinção da autorização para funcionar (art. 1.033, inciso V, do Código Civil); e
• por condição contratual (art. 1.035 do Código Civil).
Nos casos em que a empresa seja constituída de apenas dois sócios, com a redução
desse número a empresa se torna unipessoal. Logo, por força do artigo 1.033, inciso IV, do
Código Civil, o sócio que permanecer na empresa tem o prazo de 180 dias para recompor
a pluralidade social ou, ainda, transformá-la em empresa individual de responsabilidade
limitada. Se o sócio não promover nenhuma das hipóteses legais, será considerado que a
sociedade está em situação de dissolução de pleno direito.
Nas sociedades anônimas, são caso de dissolução de pleno direito, conforme Frazzio
Junior (2016):
• término do prazo de duração (art. 206, inciso I ,“a”, LSA);
• causas estipuladas no estatuto (art. 206, inciso I, “b”, LSA);
• deliberação da assembleia-geral (art. 206, inciso I, “c”, LSA);
• unipessoalidade, quando não restaurada, no prazo, a pluralidade social (art. 206,
inciso I, “d”, LSA);
• extinção de autorização para funcionar (art. 206, inciso I, “e”, LSA);
• decisão de autoridade administrativa (art. 206, inciso III, da LSA).

Legislação empresarial 97
7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias

Observa-se o entendimento da Súmula n. 435 do STJ, que estabelece: “presume-se dis-


solvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem co-
municação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para
o sócio-gerente”. Por consequência, pode-se entender que, no caso em que a empresa não
mais funcione no seu domicilio fiscal, há a presunção da dissolução irregular.
Outro dispositivo que pode estabelecer hipóteses de dissolução é o próprio ato cons-
titutivo, conforme o artigo 1.035 do Código Civil (BRASIL, 2008): “o contrato pode prever
outras causas de dissolução, a serem verificadas judicialmente quando contestadas”.
O Código Civil elenca, no artigo 1.034, I e II, e no artigo 1.035, três hipóteses em que
pode ocorrer a dissolução judicial:
1. decorrente de decisão de anulação de sua constituição social;
2. se exaurido o fim social ou verificada sua inexequibilidade; ou
3. prevista no Contrato Social e se vier a ser contestada em juízo.
Sobre a situação de dissolução por decorrência de decisão de anulação da constituição
social da sociedade (artigo 1.034, I), é importante estabelecer que, no caso das sociedades per-
sonalizadas, o parágrafo único do artigo 45 do Código Civil (BRASIL, 2002) estabelece que:
“Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado,
por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro”.
Dessa maneira, quando o Contrato Social estiver com algum tipo de defeito, os sócios
poderão solicitar, no prazo de três anos, a anulação do ato constitutivo, o que pode ser esta-
belecido nos excepcionais casos que a lei prevê.
A lei que dispõe sobre a sociedade anônima (BRASIL, 1976) estabelece, no artigo 285,
parágrafo único: “Ainda depois de proposta a ação, é lícito à companhia, por deliberação da
assembleia-geral, providenciar para que seja sanado o vício ou defeito”. Logo, nos casos de
vício e defeito no ato constitutivo, esse pode ser sanado por deliberação da assembleia-geral.
Nesse contexto, pode-se verificar que o legislador preferiu empregar uma solução menos
radical aos defeitos constitutivos eventualmente presentes no ato constitutivo.
Sobre a opção de dissolução por exaustão do fim social ou verificação de sua inexequi-
bilidade, verifica-se que, quando não houver mais recurso financeiro, nem mesmo a possi-
bilidade de obtenção deste, o fim da sociedade se torna inevitável, visto que esse é o objeti-
vo de uma sociedade empresarial. Todavia, no caso de discordância sobre a inviabilidade
da empresa, os sócios poderão demonstrá-la, por meio do Poder Judiciário. Coelho (2016)
observa hipóteses de dissolução por inexequibilidade como sendo a ausência de mercado
e escassez do capital social. Nesse contexto, o término da sociedade pode ser por inúmeros
motivos, como nos casos dos recursos naturais explorados pela empresa se esgotarem na
reserva ou, ainda, quando seu objeto social é proibido por lei.
A respeito da dissolução cuja causa prevista no Contrato Social vier a ser contestada
em juízo, a legislação, no Código Civil, estabelece o livre intuito dos sócios de estabelecer a

98 Legislação empresarial
Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 7
dissolução da sociedade por meio do Contrato Social. Todavia, essas hipóteses não podem
violar a legislação pertinente.
Outro fato que pode gerar a dissolução de uma empresa é a falência, conforme o artigo
206, II, “c”, da Lei das Sociedades Anônimas, que traz essa opção como uma dissolução
judicial, contrapondo-se ao artigo 1.044 do Código Civil, o qual estabelece essa dissolução
como de pleno direito.
Por meio de uma análise mais cuidadosa do tema, percebe-se que a dissolução é um dos
efeitos que a falência pode gerar. Mas a dissolução nem sempre é consequência da falência.
Ela ocorre, inclusive, antes do ato falimentar, ou seja, no processo de liquidação da socie-
dade, quando o liquidante solicita a autofalência. Portanto, pode-se entender que aplica-se,
portanto, a dissolução de pleno direito.
No artigo 206 da Lei n. 6.404/76, verifica-se que as sociedades de capitais podem ser
dissolvidas em três prognósticos:
1. dissolução de pleno direito;
2. dissolução judicial;
3. por ato administrativo.
No primeiro caso – a dissolução de pleno direito –, ocorrerá pelo término do prazo
de duração, ou seja, quando a empresa é constituída com prazo determinado, o qual está
expresso no estatuto. Nesse contexto, somente a passagem da data de término da pessoa
jurídica estabelece a dissolução da sociedade empresarial.
A dissolução judicial está prevista no artigo 206, I, “b”, do Código Civil, que traz os ca-
sos estabelecidos no estatuto social, por vontade dos acionistas. E, por fim, a dissolução por
ato administrativo decorre da deliberação da assembleia-geral.
Sobre as empresas, é importante destacar que, conforme o artigo 1.126 do Código Civil
(BRASIL, 2002), é “nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira
e que tenha no País a sede de sua administração”. Complementado pelo parágrafo único,
que observa: “quando a lei exigir que todos ou alguns sócios sejam brasileiros, as ações da
sociedade anônima revestirão, no silêncio da lei, a forma nominativa”.
Em contrapartida, o artigo 1.134 do mesmo Código traz que a sociedade, quando for
estrangeira, não pode exercer suas atividades sem autorização do Poder Executivo, bem
como estabelece que, em determinados casos, os estrangeiros não podem ser acionistas de
sociedade anônima brasileira. Quando as empresas estrangeiras estiverem no Brasil, deve-
rão se sujeitar às leis e aos tribunais pátrios, no que se refere aos atos cometidos no território
nacional, bem como devem preservar um representante no país, para resolver qualquer lide
que possa ocorrer, e também receberão citação judicial, em consonância com os artigos 1.137
e 1.138 do Código Civil.
Quando ocorre o ato de dissolução da sociedade, a sociedade empresarial não perde
sua personalidade jurídica. Nesse ato, seja por meio de distrato ou decisão judicial, os sócios
deverão registrar o fato na Junta Comercial.

Legislação empresarial 99
7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias

7.3 Liquidação das sociedades


nacionais e estrangeiras

Lembre-se de que, quando a empresa realiza o ato de dissolução, ela não perde a per-
sonalidade automaticamente. O ato da dissolução deve ser registrado na Junta Comercial.
Nesse momento, dá-se início à fase da liquidação, que se refere ao conjunto de atos que a
sociedade deve executar com a finalidade de realizar o ativo, liquidar o passivo, bem como
repartir os saldos que sobraram com os sócios da empresa, conforme o estabelecido no ato
constitutivo da empresa. Em suma, pode-se entender a liquidação como a etapa em que os
acionistas devem concluir todos os contratos negociados com a empresa liquidante.
Reitera-se que, nessa fase (liquidação), a empresa societária tem personalidade jurídica,
pois necessita praticar ações de liquidação até a sua extinção definitiva, ou seja, até não ter
mais nenhum assunto pendente com terceiros.
No momento em que o ato de dissolução é registrado na Junta Comercial e começa
a liquidação, a empresa deverá acrescentar a expressão em liquidação e, simultaneamente,
designar um liquidante. Conforme está previsto no artigo 1.036 do Código Civil (BRASIL,
2002), “ocorrida a dissolução, cumpre aos administradores providenciar imediatamente a
investidura do liquidante, e restringir a gestão própria aos negócios inadiáveis, vedadas no-
vas operações, pelas quais responderão solidária e ilimitadamente”. Nesse mesmo contexto,
estabelece o parágrafo único que, “dissolvida de pleno direito a sociedade, pode o sócio
requerer, desde logo, a liquidação judicial”. Em suma, a sociedade dissolvida que está “em
liquidação” continua a existir, todavia, apenas para a finalidade de resolver suas obrigações.
Para que a empresa possa resolver as suas obrigações, assim que ocorrer a dissolução e
esse ato for registrado, os seus administradores devem estabelecer quem será o liquidante e
sua gestão deve ser apenas de realizar os processos para findar os negócios já estabelecidos,
sendo vedada a realização de novos empreendimentos em nome da sociedade liquidante.
Destaca-se, ainda, que o liquidante poderá sofrer responsabilização solidária e ilimitada nos
atos realizados pela sociedade.
Os liquidantes podem ser pessoas que não estão previstas no quadro social, todavia,
apenas quando não houver disposição em contrário no Contrato Social. Quando se tratar de
dissolução de pleno direito – quando o prazo de duração da empresa se finda, por exemplo –,
o sócio pode solicitar que a liquidação seja judicial. Todavia, quando a dissolução for por
extinção da autorização governamental para funcionar a sociedade, o Ministério Público
poderá executar a liquidação, ou seja, quando os sócios se omitirem do ato de liquidar a
sociedade, nos 30 dias seguintes à extinção. Nos casos em que o MP não se manifeste, a
autoridade competente deverá constituir um interventor, que administrará a sociedade até
a nomeação do liquidante. Nos casos de dissolução judicial, o juiz poderá, na sentença, no-
mear o liquidante, em consonância com o ato constitutivo da sociedade.

100 Legislação empresarial


Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 7
A responsabilidade do liquidante está prevista no artigo 217 da LSA (BRASIL, 1976),
que estabelece que o “liquidante terá as mesmas responsabilidades do administrador, e os
deveres e responsabilidades dos administradores, fiscais e acionistas subsistirão até a extin-
ção da companhia”. Nesse contexto, caso o liquidante não esteja cumprindo seus deveres,
pode ser destituído pelo Poder Judiciário. Entretanto, é importante destacar que essa desti-
tuição só existe quando ocorrer justa causa. No caso em que o liquidante for uma pessoa que
não consta no quadro social, essa destituição poderá ser feita a qualquer tempo, conforme o
artigo art. 1.038, § 1°, inciso I.
Conforme o artigo 210 da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), são deveres do liquidante:
• arquivar e publicar a ata da assembleia-geral, ou certidão de sentença, que tiver
deliberado ou decidido a liquidação;
• arrecadar os bens, livros e documentos da companhia, onde quer que estejam;
• fazer levantar de imediato, em prazo não superior ao fixado pela assembleia-geral
ou pelo juiz, o Balanço Patrimonial da companhia;
• ultimar os negócios da companhia, realizar o ativo, pagar o passivo e partilhar o
remanescente entre os acionistas;
• exigir dos acionistas, quando o ativo não bastar para a solução do passivo, a inte-
gralização de suas ações;
• convocar a assembleia-geral, nos casos previstos em lei ou quando julgar necessário;
• confessar a falência da companhia e pedir concordata, nos casos previstos na le-
gislação de regência;
• finda a liquidação, submeter à assembleia-geral relatório dos atos e operações da
liquidação e suas contas finais;
• arquivar e publicar a ata da assembleia-geral que houver encerrado a liquidação.
Observa-se, ainda, que o liquidante só poderá solicitar empréstimos em nome da em-
presa liquidanda com expressa autorização da assembleia-geral. Essa aprovação também
deve ocorrer quando o liquidante gravar bens. O empréstimo só não precisa ser autorizado
quando os recursos forem para pagamento de contas inadiáveis.
O liquidante assinará pela empresa nesse período em que ela se encontra em liquida-
ção. Todavia, deverá, em todos os seus documentos, mencionar o nome da empresa com a
expressão em liquidação. Os atos do liquidante, como dito, deverão ser somente os necessá-
rios para resolver as negociações pendentes.
Ainda acerca dos deveres do liquidante, é importante destacar que ele deverá convocar
a assembleia-geral a cada seis meses para prestar contas dos atos e das operações realizadas,
bem como apresentar relatórios e o balanço patrimonial do período. Entretanto, a assem-
bleia-geral poderá solicitar que a prestação de contas seja feita em períodos menores ou
maiores – porém não pode ser menor que três meses nem maior que doze meses.

Legislação empresarial 101


7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias

No que se refere à votação nas assembleias-gerais das sociedades em liquidação, to-


das as ações têm direito de voto. Na liquidação judicial, o juiz convocará e presidirá a
assembleia-geral.
No que diz respeito ao pagamento do passivo da empresa liquidada, o artigo 214 da
LSA e o artigo 1.106 do Código Civil dispõem que o liquidante deverá pagar as dívidas da
sociedade, sem diferenciação entre os débitos vencidos e os vincendos. Todavia, no que se
refere aos últimos, deverão ser feitos com desconto. Nos casos em que o ativo é superior ao
passivo, o liquidante deverá pagar integralmente as dívidas vencidas.
Sobre a partilha do ativo residual, é importante destacar que os sócios poderão, após o
pagamento de todos os credores, dividir o ativo restante, em conformidade com os haveres
sociais. Nas companhias, a assembleia-geral poderá, após o pagamento dos credores, partilhar
os ativos, por meio de distribuição dos bens aos sócios, pelo valor contábil. No entanto, se al-
gum acionista se sentir prejudicado pela partilha, ocorrerá sua suspensão, quando essa ainda
não foi efetuada. Nos casos em que a partilha tenha sido consumada e um acionista sentir-se
injustiçado, os acionistas que já receberam os bens deverão indenizar o prejuízo causado.
A prestação de contas final será realizada na assembleia-geral, por meio do liquidante,
o qual demonstrará os pagamentos do passivo e como foi partilhado o ativo remanescente.
Caso as contas apresentadas sejam aprovadas, encerra-se a fase da liquidação e a sociedade
empresarial se extingue. Se houver algum acionista dissidente, esse terá o prazo de 30 dias,
após a publicação da ata de prestação de contas, para promover uma ação.
Findado o período de liquidação, o credor que não estiver de acordo com seus recebi-
mentos poderá solicitar dos acionistas os valores que deveria receber e propor uma ação
contra o liquidante por perdas e danos. Perceba que só haverá partilha do ativo entre os
sócios se existir saldo residual.
Assim que ocorrer o término dessa fase, ou seja, a extinção da empresa, deverá ser
arquivado no Registro de Empresas Mercantis, bem como publicado o desfazimento da so-
ciedade. Para o arquivamento do distrato social ou da ata de dissolução, conforme Coelho
(2016), são necessários:
• certificado de regularidade do FGTS (emitido pela Caixa Econômica Federal);
• certidão negativa de débitos do INSS;
• certidão de quitação de tributos e contribuições federais (emitida pela Secretaria
da Receita Federal); e
• certidão negativa de inscrição de dívida ativa da União (emitida pela Procuradoria-
Geral da Fazenda Nacional).
Com o arquivamento do ato de dissolução da empresa no Registro Público de Empresas
Mercantis, ocorrerá a extinção da personalidade jurídica da sociedade, bem como todas as
associações entre os sócios, ou as intenções pactuadas, serão desfeitas.

102 Legislação empresarial


Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 7
Ampliando seus conhecimentos

(RODRIGUES, 2017)

O conceito de dissolução possui, na sua terminologia jurídica, o sentido


genérico de extinção e ruptura.

Tal como ocorre com o nascimento da sociedade, sua morte é prevista


e regulada por lei, que lhe dá motivação, as consequências e o procedi-
mento a ser adotado.

Entendida como o processo de extinção da sociedade fala-se em dissolução


lato sensu, englobando este processo um conjunto de atos, tradicionalmente
dividido em três fases distintas: a dissolução, a liquidação e a extinção.

Note-se, portanto, que a dissolução não pode ser confundida com a extin-
ção da sociedade. Conforme ensina Hernani Estrela: “Dissolução é ato
tendente a extinguir a sociedade, mas esse efeito extintivo só se produzirá
em fase ulterior”.

O que se tem, portanto, na chamada dissolução lato sensu, ou dissolução


em sentido amplo é um grupo de atos representados pelo fato causador
da dissolução, os procedimentos para sua liquidação e apuração de have-
res dos sócios e, por fim, sua extinção ocorrida com o fim do vínculo jurí-
dico, da comunhão patrimonial e da pessoa jurídica.

Já em seu sentido estrito é entendida como o ato ou acontecimento que


desencadeia o procedimento de desmontagem da estrutura social. Para
se dar início a este procedimento, é necessária a presença eficaz de uma
causa legal ou contratual de dissolução.

Assim, a dissolução prepara a sociedade para sua futura extinção, mas


não a produz verdadeiramente, apenas pontifica o momento a partir do
qual a sociedade deixa de ter atividade produtiva para empreender ativi-
dade de pura liquidação.

Já a liquidação expressa tanto o estado jurídico em que é posta a compa-


nhia, após a verificação de uma das causas de dissolução legal ou estatuta-
riamente previstas, quanto designa o procedimento instaurado voluntária
ou judicialmente, com vistas à realização do ativo, o pagamento do passivo
e a partilha do acervo remanescente entre os sócios ou acionistas.

[...]

Legislação empresarial 103


7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias

Predomina na doutrina clássica a divisão das causas de dissolução das socie-


dades em causas dissolutórias de pleno direito e causas dissolutórias judiciais.

Foi a classificação adotada pelo Código Comercial e pela Lei de Sociedades


Anônimas, respectivamente em seus artigos 335 e 336 e artigo 206, trazendo,
ainda, a Lei 6404/76, como causa de dissolução, decisão de autoridade admi-
nistrativa competente, o que o Código Civil atual acabou incorporando.

Segundo esta conceituação, causas de pleno direito são aquelas em razão


das quais a dissolução se opera, independentemente, da vontade dos
sócios e até contra ela. Ocorre, automaticamente, em virtude da preceitua-
ção legislativa, prescindido, portanto, de iniciativa do sócio ou mesmo de
recurso da via judicial. Mauro Rodrigues Penteado diverge deste enten-
dimento, pois entende que todas as causas dissolutórias se baseiam, em
última instância, na vontade dos sócios:

“Pois a lei não impõe de per si a dissolução, limitando-se a reconhecer que


ela ocorre com a verificação de um fato ou situação jurídica criada ou não
removida pelos acionistas”.

Imprecisa também tal conceituação quando se percebe a necessidade de


intervenção judicial para declaração da dissolução por uma das causas
classificadas como dissolução de pleno direito.

Outras classificações são encontradas na doutrina, como a de Rubens


Requião que reúne as causas de dissolução em dois grupos, quais sejam,
causas de dissolução total e parcial de sociedade, denominada esta última
pelo código de resolução em relação a um ou mais sócios. Ressalte-se que
essa classificação só se aplica às sociedades limitadas, eis que, no caso da
sociedade anônima, as vicissitudes pessoais de acionistas não são capazes
de gerar a dissolução parcial da sociedade.

Em razão das imprecisões supracitadas, na distinção entre dissolução de


pleno direito e dissolução judicial, opta-se, neste trabalho, por trabalhar
com a classificação como dissolução total e dissolução parcial.

Devem, assim, ser incluídas, na primeira hipótese, a dissolução por expira-


ção do prazo de duração (art. 1.033-1), em decorrência da falência da socie-
dade (art. 1044), por mútuo consenso (art. 1033-II), por inexequibilidade do
fim social (art. 1.034-II, última parte), por exaurimento do fim social (art.
1.034-II, 1ª parte) por causas previstas no contrato social (art. 1.035), em
razão da existência de um único sócio, sem reconstituição da pluralidade

104 Legislação empresarial


Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 7
social (art. 1.033-IV), por anulação de constituição (art. 1.034–I), em decor-
rência de extinção de autorização para funcionar (art. 1.033-V) e por delibe-
ração majoritária dos sócios.

Na segunda hipótese, temos a dissolução por morte de sócio (art. 1.028),


em razão de recesso de sócio (art. 1.077), em decorrência de exclusão de
sócio (art. 1.085), por vontade de um dos sócios, por falência de sócios, e
decorrente de cláusulas previstas no contrato social (art. 1.029).

Ressalte-se, como visto, que as cláusulas previstas no ato constitutivo são


comuns aos dois grupos, posto que os sócios podem fazer nele constar
causas de dissolução total ou parcial, ou ambas, ou prevê-las, por meio de
alteração posterior.

Atividades
1. Sobre a dissolução e a liquidação das sociedades empresárias, analise as afirmações
e assinale a alternativa correta:

I. A dissolução da sociedade ou de uma pessoa jurídica é o procedimento, por mani-


festação de vontade ou medida judicial, em que uma empresa societária é encerrada.
II. A liquidação é a fase posterior a essa, na qual ocorrem atos com a finalidade de
preparar a empresa societária para sua extinção, como o pagamento de passivos.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.
c. Somente a alternativa I está correta.
d. Somente a alternativa II está correta.

2. Outro solicitante pode ser o Ministério Público, que realizará o comunicado às auto-
ridades quando:

I. a sociedade empresarial não iniciar a liquidação após 30 dias subsequentes da


dissolução.
II. após iniciar a liquidação, paralise-se esse processo por mais de 15 dias.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.
c. Somente a alternativa I está correta.
d. Somente a alternativa II está correta.

Legislação empresarial 105


7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias

3. Sobre a dissolução e a liquidação das sociedades empresárias, analise as afirmações


e assinale a alternativa correta:

I. O ato da dissolução deve ser registrado na Junta Comercial e, nesse momento,


dá-se início à fase da liquidação, que se refere ao conjunto de atos que a socie-
dade deve executar com a finalidade de realizar o ativo, liquidar o passivo, bem
como repartir os saldos que sobraram com os sócios da empresa, conforme o
estabelecido no ato constitutivo da empresa.
II. A liquidação é a etapa em que os acionistas devem concluir todos os contratos
negociados com a empresa liquidante.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.
c. Somente a alternativa I está correta.
d. Somente a alternativa II está correta.

Referências
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
BRASIL. Código civil Brasileiro. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/70327/C%C3%B3digo%20Civil%202%20ed.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Lei n. 8.934, de 18 de novembro de 1994. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L8934.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FRAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.
NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial: estudo unificado. 5. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2016.
RODRIGUES, Luiz Felipe Ribeiro. Aspectos da dissolução da Sociedade Limitada no Código Civil.
Disponível em: <http://www.mcampos.br/REVISTA%20DIREITO/PRODUCAOCIENTIFICA/artigos/
luizfeliperibeirorodriguesaspectosdadissolucaosociedadelimitadacodigocivil.pdf>. Acesso em: 4 maio
2017.

106 Legislação empresarial


Resolução
1. A − A dissolução da sociedade ou de uma pessoa jurídica é o procedimento, por
manifestação de vontade ou medida judicial, em que uma empresa societária é en-
cerrada. E, em contrapartida, a liquidação é a fase posterior a essa, na qual ocorrerem
atos com a finalidade de preparar a empresa societária para sua extinção, como o
pagamento de passivos.

2. A − Outro solicitante pode ser o Ministério Público, que realizará o comunicado às


autoridades quando:

• a sociedade empresarial não iniciar a liquidação após 30 dias subsequentes da


dissolução; ou
• após iniciar a liquidação, paralise-se esse processo por mais de 15 dias.

3. A − O ato da dissolução deve ser registrado na Junta Comercial. Nesse momen-


to, dá-se o início à fase da liquidação, que se refere ao conjunto de atos que a
sociedade deve executar com a finalidade de realizar o ativo, liquidar o passivo,
bem como repartir os saldos que sobraram com os sócios da empresa, conforme
o estabelecido no ato constitutivo da empresa. Em suma, pode-se entender a li-
quidação como a etapa em que os acionistas devem concluir todos os contratos
negociados com a empresa liquidante.
8
Direito Falimentar

Introdução

Neste capítulo, o objetivo é conhecer a Lei n. 11.101, de 2005, que regula a recupe-
ração de empresas e a falência. Além disso, objetiva-se compreender o que é e como
funciona a recuperação de empresas, bem como entender o que é falência e quando
ocorre sua decretação.

Tais conhecimentos são importantes para desenvolver o entendimento prático da legis-


lação empresarial, observando o que acontece com as empresas no processo falimentar.

Legislação empresarial 109


8 Direito Falimentar

8.1 Lei n. 11.101, de 2005: noções básicas

A legislação falimentar tem sua presença no Brasil desde o período da colonização,


quando vigoraram as Ordenações Afonsinas, depois as Ordenações Manuelinas e, por fim,
as Ordenações Filipinas. Nessas ordenações, as regras familiares eram muito severas com o
devedor. A legislação da época tinha uma finalidade punitiva.
Em 1850, foi adotado o Código Comercial, que trouxe o conceito de falência. Porém,
não houve maiores proteções para o credor, o que gerou muitos debates e sua modificação,
no que se refere à falência, por meio do Decreto 917/1890, bem como pelo Decreto-lei 7.661.
Nos anos de 1990, com o advento da globalização da economia, a legislação falimentar
volta a entrar em discussão. Todavia, somente em 9 de fevereiro de 2005 é promulgada a
nova Lei de Falências (a Lei n. 11.101), que traz diversas inovações, como é o caso da ideia
da preservação da empresa, a valorização do trabalho humano e da livre-iniciativa, visto a
grande influência da Constituição de 1988, que elenca esses como princípios fundamentais.
É importante destacar que essa lei traz a responsabilização da falência vinculada ao pa-
trimônio, não admitindo mais que o devedor seja escravo de seu credor. Por consequência,
o devedor deverá procurar o patrimônio do credor para satisfazer seu crédito. Entretanto,
é importante destacar que, quando o ativo da empresa for menor do que seu passivo, essa
situação caracteriza a insolvência ou solvabilidade.
A insolvência é um dos princípios para a solicitação da falência, porém os credores devem
solicitar a execução da empresa de forma conjunta, ou seja, todos os credores deverão se juntar
num único processo para executar o devedor, em obediência ao princípio condicio creditorum,
visando a um tratamento igualitário. No processo contra os devedores, se todos os credores
entrarem juntos, esses credores serão atendidos conforme a qualificação que possuam.
A falência é um instituto particular das empresas, ou seja, só pode ser decretada falên-
cia para uma pessoa jurídica, cujo escopo é mercantil, denominado empresa.
Em suma, a falência pode ser definida como uma execução concursal do credor contra o
patrimônio do empresário. Caso o devedor não explore sua atividade econômica sem ser em-
presário, o processo será a execução concursal civil e será regido pelo Código Processual Civil.
São requisitos para a aplicação da Lei de Recuperação Judicial e Extrajudicial e Falência:
• o devedor ser empresário;
• a insolvência do devedor;
• a sentença decretando falência.
Perceba que a falência é uma execução. Nesse sentido, sua natureza é visivelmente pro-
cessual. Todavia, verifica-se que a legislação falimentar também regula norma material, por
isso tem caráter material. Logo, a natureza jurídica da falência é híbrida, visto a complexi-
dade do instituto falimentar.

110 Legislação empresarial


Direito Falimentar 8
O dispositivo legal que rege a falência é a Lei n. 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, que
traz quase 40% do seu conteúdo voltado à recuperação da empresa. Essa legislação prevê o
procedimento para a decretação da falência.
O procedimento da falência começa na fase pré-falimentar, quando o devedor empre-
sário está em estado de insolvência, conforme o artigo 94, incisos I, II e III, juntamente com
a sentença declaratória da falência. Perceba que nesse momento estão presentes os três pres-
supostos da falência.
Nesse sentido, antes do processo propriamente dito, ocorre uma fase anterior que se
inicia no pedido da falência até a decretação da sentença pelo juiz. A sentença não é neces-
sariamente declaratória, ou seja, aquela em que o juiz declara a falência, pois pode ser dene-
gatória. Na última, o processo se extingue sem a instauração da execução concursal do de-
vedor. Assim, o juiz poderá decretar duas sentenças distintas: declaratória ou denegatória.
A declaração judicial é o terceiro pressuposto para a decretação da falência. Porém, ha-
verá um caminho a ser percorrido para que a empresa seja considerada falida.
Sobre o empresário devedor, é importante destacar a definição do artigo 966 do Código
Civil (BRASIL, 2002): “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. O empresário pode ser pessoa
física, logo, empresário individual ou pessoa jurídica, ou seja, uma sociedade empresária.
Nem todas as pessoas jurídicas de direito privado que estão elencadas no artigo 44 do
Código Civil estão submetidas à falência somente as sociedades empresariais e as EIRELI
(Empresa Individual de Responsabilidade Limitada). Logo, associação, fundação, partido
político, organização religiosa, sociedade simples ou cooperativa não podem ter sua fa-
lência requerida.
As sociedades cooperativas não estão sujeitas à falência, visto que essas não possuem
natureza empresária. Os profissionais intelectuais também não podem ser considerados fa-
lidos, pois, segundo o artigo 966, parágrafo único, não são considerados empresários.
Outras empresas excluídas pelo artigo 2° da Lei de Recuperação das Empresas (LRE) são
as empresas públicas e as sociedades de economia mista, pois mesmo que tenham a finalida-
de de exploração de atividade econômica permitida pelo artigo 173, caput, da Constituição
Federal de 1988 (BRASIL, 1988), pertencem à Administração Pública Indireta.
O artigo 2° da Lei n. 11.101/2005 traz, expressamente, as empresas às quais a norma
ora analisada não se aplica, sendo elas: empresa pública e sociedade de economia mista;
instituição financeira pública ou privada; cooperativa de crédito; consórcio; entidade de pre-
vidência complementar; sociedade operadora de plano de assistência à saúde; sociedade
seguradora; sociedade de capitalização.
Em suma, somente estão sujeitas à Lei de Falência as sociedades empresárias. Todavia,
os indivíduos que podem solicitar a falência, segundo previsto no artigo 97 da Lei n.
11.101/2005, são: o próprio devedor; o cônjuge sobrevivente; qualquer herdeiro do devedor
ou o inventariante; o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo
da sociedade; além de qualquer credor.

Legislação empresarial 111


8 Direito Falimentar

Conforme o dispositivo 97 da LRE, o próprio empresário devedor pode solicitar a


falência. Esse procedimento é chamado de autofalência. Conforme o artigo 105 da Lei n.
11.101/2005 (BRASIL, 2005):
o devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos
para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, ex-
pondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresa-
rial, acompanhadas dos seguintes documentos:
I – demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais e
as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita
observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório do fluxo de caixa;
II – relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e
classificação dos respectivos créditos;
III – relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva estimati-
va de valor e documentos comprobatórios de propriedade;
IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou,
se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus
bens pessoais;
V – os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por lei;
VI – relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respecti-
vos endereços, suas funções e participação societária.
O pedido pode também ser solicitado pelo credor, porém é necessário distinguir o cre-
dor empresário do credor civil, visto que, conforme o artigo 97, § 1°, da LRE, se o credor for
empresário, quando for solicitar a falência de outra empresa, necessitará comprovar a saúde
financeira da sua empresa, ou seja, deverá juntar certidão da Junta Comercial que demons-
tre que exerce sua atividade com regularidade.
Caso o credor seja domiciliado fora do Brasil, conforme o artigo 97, § 2°, da LRE, deve-
rá depositar judicialmente uma caução para custas judiciais e pagamento de uma possível
indenização. Tal garantia será necessária quando o pedido de falência for rejeitado pelo juiz
por falta dos três pressupostos, ou seja, nos casos de denegação da falência.
Para o pedido de falência, não é necessário que a obrigação do devedor esteja vencida,
visto que o artigo 94, III, da LRE elenca várias situações suficientes para ser considerado in-
solvência. Nesse sentido, a empresa pode estar inadimplente com outras empresas e realizar
qualquer atitude elencada no artigo mencionado.
Sobre os sujeitos ativos que podem solicitar a falência da empresa insolvente, é im-
portante ressaltar o entendimento de que a Fazenda Pública não possui legitimidade ou
interesse de agir para requerer a falência da empresa devedora e insolvente, visto que

112 Legislação empresarial


Direito Falimentar 8
possui instrumento próprio para a cobrança do crédito tributário, a Lei n. 6.380/1980 – Lei
de Execuções Fiscais.
Caso a empresa devedora seja uma sociedade estrangeira, o foro competente também
será o do seu principal estabelecimento. Entretanto, só serão verificados os estabelecimentos
no território brasileiro. A legislação observa que, após a distribuição do primeiro pedido de
falência, todos os pedidos posteriores também serão acolhidos pelo mesmo juízo, visto o
artigo 6°, § 8°, da LRE.

8.2 Recuperação de empresas:


o que é e como funciona

A Lei n. 11.101/2005 prevê que os empresários devedores podem sofrer falência ou,
ainda, recuperações. A recuperação é um procedimento que tem a finalidade de recuperar a
empresa que está em situação transitória de crise econômico-financeira, visando à importân-
cia das sociedades empresariais para a estrutura social brasileira, bem como a preservação
de postos de trabalho. Resumidamente, a recuperação da empresa tem como finalidade im-
pedir que a empresa sofra falência. Ela pode ocorrer em duas modalidades:
• recuperação extrajudicial; e
• recuperação judicial.
Entende-se por recuperação extrajudicial a possibilidade de o devedor, sem a ajuda do
Poder Judiciário, propor um plano de recuperação aos credores e negociar a melhor forma
de obter essa recuperação da empresa. Esse tipo de recuperação empresarial tem caracte-
rística preventiva. Nesse processo, a fase introdutória consiste em uma livre negociação.
Todavia, a segunda etapa deve estar em conformidade com a formalização judicial. É im-
portante destacar que o acordo celebrado entre os credores e o devedor só tem validade com
a homologação judicial.
De acordo com a Lei n. 11.101/2005, a recuperação extrajudicial refere-se ao procedi-
mento em que o devedor promove uma convocação dos seus credores para expor um proje-
to de recuperação da sua empresa. Perceba que pode o devedor tomar o primeiro passo para
reunir o credor e os devedores para um plano de recuperação extrajudicial.
O simples acordo recuperatório entre o credor e os devedores não descarta a possibili-
dade da falência da empresa, visto que, se o devedor não satisfazer os seus débitos, poderá
gerar uma situação liquidatária que tentava afastar.
Somente com a homologação judicial a recuperação terá sua característica de um ne-
gócio irretratável, ou seja, que não pode ser revogado. Essa modificação da recuperação
extrajudicial em irretratável ocorre quando o devedor solicita a homologação do plano de
recuperação, com a aprovação dos credores que compõem mais de 3/5 (três quintos) dos cré-
ditos de cada espécie. Perceba que, nesse momento, o plano de recuperação impõe as regras
nele contidas a todos os credores que ela envolver.

Legislação empresarial 113


8 Direito Falimentar

A sentença que decorre do plano de recuperação extrajudicial homologada pelo juiz


é um título executivo judicial. Outro ponto importante é que os credores da mesma natu-
reza terão os mesmos critérios de pagamento. Nesse contexto, a homologação do plano de
recuperação extrajudicial de todos os créditos de cada espécie deve ter o aceite de 3/5 (três
quintos) do valor da dívida. Porém, para essa regra ser válida, precisam ser cumpridas duas
exigências legais:
• Os créditos de sócios do devedor, sociedades coligadas controladas, controladoras
e interligadas não serão computados.
• O crédito em moeda estrangeira deverá ser convertido em moeda nacional, com
base no câmbio da véspera da assinatura do plano de recuperação. (Para que não
haja controvérsias, o devedor poderá solicitar uma aprovação do valor do câmbio,
por escrito, do titular do crédito.)
O plano de recuperação extrajudicial deverá ser conduzido ao juízo pelo próprio de-
vedor, para que seja homologado, por meio de documento que contenha todos os termos e
as cláusulas acordadas com os credores, bem como a anuência destes. A empresa devedora
só poderá solicitar a recuperação extrajudicial se estiver exercendo a atividade empresarial,
como inscrito no Registro de Empresas, há mais de dois anos. Entretanto, existem, ainda, ou-
tros critérios para solicitar a homologação do plano de recuperação extrajudicial, que estão
elencados nos artigos 48 e 161, § 3°, da LRE.
A homologação do plano extrajudicial não suspende direitos, ações ou execuções, bem
como invalida o pedido de ação de falência que os credores não integrantes ao plano pos-
sam vir a solicitar. E qualquer credor que poderá ser abarcado pelo plano de recuperação
extrajudicial, em conformidade com a Lei n. 11.101/2005, poderá solicitar a impugnação do
pedido 30 dias após o edital ou a carta do devedor de ciência do plano. Caso o plano não seja
homologado, o devedor poderá fazer nova tentativa para o novo plano.
A recuperação extrajudicial pode ser frustrada pelo pedido de falência feito por credo-
res que não aderiram ao plano de recuperação extrajudicial ou, ainda, pelos credores sig-
natários que não tiveram seu acordo honrado. Logo, o plano de recuperação extrajudicial,
mesmo homologado, não afasta ações de pedido de recuperação judicial, bem como a de
falência contra o devedor.
A segunda modalidade de recuperação é a judicial. Tem a finalidade de solucionar os
problemas financeiros da empresa devedora, porém, por meio do Poder Judiciário. Outro
objetivo dessa modalidade é salvar a atividade empresarial, ou seja, livrar a empresa do pe-
rigo de falência, por meio da satisfação dos credores, sejam eles fornecedores, empregados
ou, ainda, a Administração Pública.
Porém, para que o devedor solicite a recuperação judicial, deverá estar exercendo a ati-
vidade empresarial por, no mínimo, 2 (dois) anos, com inscrição no Registro de Empresas.
Também não pode ser falido – e, se o for, deverá já ter cumprido todas as exigências do
processo transitado em julgado –, não ter sido condenado ou não ter, como administrador
ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos na Lei n. 11.101

114 Legislação empresarial


Direito Falimentar 8
e, por fim, não ter obtido concessão de recuperação judicial há menos de 5 (cinco) anos, em
se tratando de Empresa de Pequeno Porte ou Microempresa.
No caso das empresas rurais, ou seja, que exercem atividade rural por meio de pessoa
jurídica, os dois anos de exercício deverão ser comprovados por meio da DIPJ – Declaração
de Informações Econômico-Fiscais de Pessoa Jurídica.
A Lei n. 11.101/2005 traz em seu texto os requisitos que deverão constar no pedido de
recuperação judicial formulado pelo devedor. Após a formulação do pedido, o juiz deverá
recebê-lo e, não havendo sua impugnação por parte dos credores, poderá deferir. Todavia,
se houver a impugnação, o Judiciário deverá convocar a assembleia-geral dos credores, para
referendar o pedido de recuperação feito pelo devedor. Quando a assembleia não concordar
com o pedido, o juiz deverá decretar a falência da empresa em questão.
A assembleia dos credores poderá propor alterações no plano de recuperação. Todavia,
essas modificações não podem intervir nos direitos dos credores ausentes. Ocorrendo
a aprovação do plano de recuperação, a assembleia indicará os membros para compor o
Comitê de Credores.
Após esse momento, e com o plano aprovado pela assembleia, o juiz julgará proce-
dente a recuperação judicial do devedor. No entanto, se houver uma rejeição do plano de
recuperação por parte da assembleia, o juiz decretará, por meio de sentença, a falência da
empresa devedora.
O requerente da ação, no caso o devedor, deve peticionar para deflagrar a ação de re-
cuperação judicial, conforme os requisitos da Lei n. 11.101/2005, bem como o artigo 319 do
CPC. Nesse documento, devem constar a justificativa, a necessidade e a probabilidade da
recuperação da empresa. Também é necessário anexar documentos que demonstrem a situa-
ção patrimonial da empresa (demonstrações financeiras dos três últimos exercícios sociais)
e de sua regularidade (certidão de regularidade no registro de empresa, o ato constitutivo
atualizado e as atas de nomeação dos últimos administradores).
É importante destacar que as demonstrações financeiras devem ser atualizadas e pre-
cisam demonstrar a real situação da empresa, além de ser necessário justificar o pedido de
recuperação judicial. Logo, o empresário deverá evidenciar como demonstrações financeiras:
o balanço patrimonial; a demonstração de resultados acumulados; a demonstração do resulta-
do desde o último exercício social; e o relatório gerencial de fluxo de caixa, com sua projeção.
Uma vez juntando todos os documentos pertinentes à petição inicial, o devedor deverá
fazer o despacho do procedimento, momento em que começa o procedimento verificatório,
no qual se analisa a viabilidade da proposta. Nessa fase podem ocorrer modificações, a rejei-
ção ou a aprovação do plano de recuperação judicial. Caso ocorra a rejeição dessa proposta,
a consequência será a falência do devedor.
A Lei de Recuperação de Empresas prevê que, para o devedor poder exercer sua função
empresária, o juiz pode dispensá-lo de apresentar qualquer certidão negativa. Entretanto, o
devedor em recuperação deverá colocar nos seus documentos, após a firma ou denomina-
ção, o termo em recuperação judicial.

Legislação empresarial 115


8 Direito Falimentar

A lei também prevê que, quando ocorre o despacho de processamento, ocorre uma sus-
pensão, de no máximo 180 (cento e oitenta) dias, de todas as ações ou execuções contra o
devedor, menos as de natureza trabalhista e de execuções fiscais. Assim que o prazo decor-
re, o direito dos devedores se reinicia e, por consequência, as ações e execuções podem ser
iniciadas ou continuadas das do momento da suspensão.
Na assembleia, os credores poderão aprovar ou rejeitar o plano de recuperação judicial
do devedor. No caso de a decisão da assembleia ser favorável ao plano de recuperação, será
indicado um comitê. E, assim que a assembleia notificar o juiz de sua decisão de aprovação
do plano, o magistrado converterá a sentença de recuperação judicial em título executivo.
Após a aprovação do plano da recuperação judicial, o devedor terá dois anos para cum-
prir todas as obrigações estabelecidas no plano de recuperação judicial. Caso o devedor não
consiga cumprir o plano de recuperação, o juiz pode decretar a falência do devedor. Caso
isso ocorra, os direitos e as garantias dos credores voltarão às condições originais e, caso
estes tenham recebido pagamentos, serão descontados dos seus direitos.

8.3 Falência: o que é e quando ocorre

A falência é um processo de execução concursal, pelo qual é necessário demonstrar a


insolvência do devedor. Nesse sentido, é importante saber o conceito de insolvência, cuja
definição é caracterizada pela carência de ativo para saldar o passivo. Logo, o patrimônio do
devedor está negativo.
Um dos pressupostos para solicitar a falência é demonstrar que o empresário devedor
está insolvente, porém, conforme determinação do Supremo Tribunal Federal, a insolvência
econômica não é suficiente para decretar a falência de uma empresa. Devem ser analisadas
as hipóteses trazidas pela lei falimentar.
Para que o devedor seja considerado juridicamente insolvente, é necessário que existam
quatro características distintas. São elas:
• O estado patrimonial deficitário. Logo, há falta de ativo para efetuar os pagamen-
tos do passivo.
• A renúncia dos pagamentos, ou seja, quando o empresário devedor não paga suas
dívidas.
• A impontualidade dos pagamentos de justificativa relevante. Nesse caso, o empre-
sário devedor deixa de pagar suas dívidas na data acordada, sem motivo.
• Sistema de enumeração legal, ou seja, os atos previstos na legislação falimentar
que são considerados “atos de falência”.
Sobre o estado patrimonial deficitário da empresa credora, é importante destacar que
esse sistema tem como finalidade apurar a saúde financeira do devedor de forma precisa. Os
demais sistemas se baseiam em conjecturas. Perceba que o segundo sistema – a insolvência do
devedor – presume que a empresa devedora é insolvente, quando cesse os seus pagamentos,

116 Legislação empresarial


Direito Falimentar 8
sem saber, necessariamente, a real situação patrimonial da empresa. O segundo e o terceiro
sistema também deixam em dúvida se a situação patrimonial se encontra em deficit.
Nesse sentido, verifica-se por que, para abrir o processo falimentar, não se deve analisar
somente a situação econômica da empresa, mas verificar no sentido jurídico, preestabeleci-
do em lei, todos os requisitos para instauração de tal processo.
Na prática, verifica-se que a impontualidade injustificada é um dos critérios que mais
levam ao processo falimentar, principalmente na legislação anterior, que era muito severa
com os devedores e tinha um prazo para contestação pequeno, de apenas 24 horas. Com o
prazo muito curto, o devedor muitas vezes não tinha tempo hábil para demonstrar a ilegi-
timidade da dívida questionada. Logo, essa legislação era uma ótima forma de cobrança
eficaz contra empresários que passavam por uma fase transitória de crise, visto sua coação.
Em síntese, existem quatros hipóteses que determinam a insolvência do devedor,
que são: estado patrimonial deficitário; cessação de pagamento; impontualidade; e enu-
meração legal. As duas últimas estavam previstas no Decreto 7.661/1945 e mantidas na
Lei n. 11.101/2005.
O artigo 94, inciso I, da Lei de Recuperação das Empresas (BRASIL, 2005) traz a impon-
tualidade injustificada ao mencionar que “Será decretada a falência do devedor que: I – sem
relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em
título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta)
salários mínimos na data do pedido de falência”.
Perceba que, para ser decretada a falência, a dívida deverá ser superior a 40 salários
mínimos, o que desmotiva a tentativa de os credores solicitarem a falência do devedor com
dívidas com valores irrisórios, pois, conforme os legisladores, dívidas abaixo de 40 salários
não caracterizam situação de insolvência. Todavia, conforme o artigo 94, § 1°, os credores
podem unir seus valores e solicitar, juntos (por meio de litisconsórcio), o pedido de falência
do devedor, caso o valor passe de 40 salários mínimos.
Casos os credores utilizem os títulos de crédito para embasar o processo de falência, a
legislação traz no artigo 94, § 3°, que o credor deverá juntar ao processo o título executivo,
bem como o instrumento de protesto. Logo, podemos entender que a única forma de de-
monstrar a impontualidade injustificada é por meio do protesto do título executivo.
O artigo 94 da LRE, no inciso III (BRASIL, 2005), estabelece alguns atos que, se prati-
cados pelo devedor, podem ensejar o pedido de falência. Entre essas ações, está o ato de
desfazer-se do patrimônio e encerrar as atividades sem seguir a legislação. Ou, ainda, fazer
pagamentos fraudulentos. Em ambos os casos, temos atos de insolvência. A legislação ainda
prevê outras atitudes por parte do devedor que podem ser consideradas indícios de insol-
vência. Todas essas maneiras demonstram que o devedor está tentando se desfazer dos seus
bens sem fazer os pagamentos devidos aos seus credores.
Todos os atos elencados nesse artigo demonstram que o devedor está praticando ações
que resultam no não pagamento dos seus credores, seja por meio de transferência de bens
para terceiros sem o consentimento dos seus credores, seja pela de transferência da empresa

Legislação empresarial 117


8 Direito Falimentar

sem deixar procurador para negociar possível acordo. Existe, assim, uma tentativa de fuga
da responsabilidade de pagar as dívidas existentes.
Após o credor entrar com a solicitação de falência, o devedor tem o prazo de 10 dias
para se manifestar nos autos, ou seja, fazer sua contestação. O artigo 96 da Lei n. 11.101/2005
(BRASIL, 2005) traz um rol de alegações que o devedor poderá utilizar, entre elas, a alegação
de prescrição dos títulos executivos.
Em outra hipótese, o devedor também pode requerer, nesse momento, a elisão da falên-
cia, que é feita por meio de depósito em juízo do montante financeiro da dívida reclamada
no processo falimentar, segundo o artigo 98, parágrafo único, da LRE. O montante financei-
ro a ser depositado, em conformidade com a Súmula 29 do STJ, deverá considerar o valor da
correção monetária, os juros e os honorários de advogado.
Caso o devedor efetue o deposito elisivo, mesmo que ele não apresente defesa no pro-
cesso, a falência não será decretada. Porém, o valor do depósito judicial será levantado pelos
credores e, assim, as dívidas serão consideradas pagas.
A falência será decretada quando o juiz julgar o pedido procedente e não tenha sido
realizado o depósito elesivo pelo devedor. Assim que a sentença da falência for decretada,
será instaurado o processo de execução concursal do empresário falido. Nesse momento,
encerrará a fase pré-falimentar e iniciará o processo falimentar.
A partir do momento em que ocorre a decisão judicial decretando a falência, de acordo
com o artigo 99, a Junta Comercial deverá ser comunicada, fazendo constar nos atos cons-
titutivos da empresa devedora a expressão falido, bem como a data da sentença. Esse artigo
ainda traz que seja expedida aos diversos órgãos públicos a solicitação de informações de
possíveis bens do devedor. E, por fim, será obrigatório que o juiz publique a sentença de
falência em diário oficial ou, ainda, em jornais de grande circulação.
A sentença que decreta a falência traz a habilitação dos créditos, uma vez que eles não são
iguais entre si. Essa é apenas uma das consequências do processo de execução concursal do ati-
vo, o qual gera efeitos múltiplos a todos os envolvidos direta ou indiretamente com a empresa.

Ampliando seus conhecimentos

A nova lei de falências brasileira: primeiros


impactos
(ARAÚJO; FUNCHAL, 2009)

No dia 9 de junho de 2005 a nova legislação que regula o processo fali-


mentar brasileiro foi implementada. A nova lei tinha como objetivos
principais reduzir as ineficiências vigentes no antigo processo, que,
pela sua antiguidade, não se fazia mais compatível com a dinâmica

118 Legislação empresarial


Direito Falimentar 8
econômica atual, tampouco atendia aos anseios inerentes a uma legis-
lação falimentar contemporânea.

Através de testes empíricos foi possível observar o comportamento do


número de pedidos e decretos de falências, assim como o número de
pedidos de concordata/recuperação judicial. Em relação à falência, foi
observada uma forte e estatisticamente significativa tendência de queda
tanto em seu requerimento quanto no número de quebras em si, reduzin-
do-os em 50% e 46%, respectivamente, em relação ao ano anterior, con-
siderando todo o território nacional. Resultados similares foram encon-
trados para São Paulo. Dois fatores comuns a ambos os casos (pedido se
decretos) que explicam tal queda são: primeiro, o espírito da nova lei de
salvar empresas economicamente viáveis foi rapidamente captado pelos
juízes, incentivando pedidos de recuperação e reduzindo os de falência;
e segundo, a regulamentação dos acordos extrajudiciais permite que fir-
mas se reestruturem evitando suas quebras e reduzindo a necessidade
de requerer a falência. Adicionando a esses dois fatores a nova exigência
legal para a quebra do devedor, que é não pagar, no vencimento, obriga-
ções líquidas materializadas em títulos ou títulos executivos protestados
cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos na
data do pedido, claramente o número de requerimentos de falência seria
fortemente e automaticamente afetado pela nova lei, o que explica sua
reação mais rápida e intensa à implementação desta. Com relação ao com-
portamento do número de pedidos de concordata/recuperação judicial, os
resultados indicam uma redução de 60% para o Brasil. Isso ocorre porque,
primeiro, a maior participação dos credores tende a coibir pedidos des-
necessários de recuperação devido ao risco de ser decretada a falência da
empresa em caso de rejeição do plano de recuperação; segundo, devido a
algumas incertezas em relação ao novo procedimento, pois é mais com-
plexo que o anterior; e finalmente porque a regulamentação dos acordos
extrajudiciais permite que firmas se reestruturem sem os custos judiciais,
reduzindo a necessidade recorrer a corte.

Apesar da propagação dos efeitos da lei de falências sobre o mercado de


crédito ser lenta, ela já começa a ser observada. Estima-se uma expan-
são do mercado de crédito a pessoas jurídicas devido à implementação
da nova lei de falências, principalmente para os setores comercial, rural
e de serviços. Apesar de tal expansão do mercado de crédito, não ficou
evidente o efeito de uma redução nas taxas de juros médias cobradas às
pessoas jurídicas, como era esperado de acordo com o modelo teórico.

Legislação empresarial 119


8 Direito Falimentar

Finalmente, cabe destacarmos a importância da contínua busca pela


melhora do processo, tornando-o cada vez mais eficiente. Tentar redu-
zir os custos inerentes ao processo e aprimorar ainda mais a proteção
aos credores é fundamental. Com relação ao primeiro ponto destacado,
sua importância vem pela existência de uma forte relação entre os custos
do processo de bancarrota e a receita originada deste, o que permite um
aumento nos ganhos de todos os agentes envolvidos nos processos em
perda para nenhuma das partes. Com relação à proteção aos credores é
interessante ressaltar que, apesar das significativas mudanças na lei, um
objetivo importante não foi atingido: a preservação da prioridade dos cre-
dores segurados sobre os ativos do devedor que foram dados como cola-
teral no momento da criação dos contratos. A nova lei, diferente da prática
mais utilizada internacionalmente, ainda considera que os ativos dados
como garantias aos credores segurados devem pertencer ao devedor em
caso de bancarrota, ao invés de serem transferidos imediatamente aos cre-
dores, como foi definido contratualmente.

Atividades
1. Sobre a falência, analise as afirmações e assinale a alternativa correta:

I. A insolvência é um dos princípios para a solicitação da falência. Porém, os credo-


res não devem solicitar a execução da empresa de forma conjunta.
II. Todos os credores deverão se juntar num único processo para executar o deve-
dor, em obediência ao princípio condicio ­creditorum, visando a um tratamento
igualitário. É necessário destacar que, no processo contra os devedores, se todos
os credores entrarem juntos, esses credores serão atendidos conforme a qualifi-
cação que possuam.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.
c. Somente a alternativa I está correta.
d. Somente a alternativa II está correta.

2. Sobre a recuperação judicial e extrajudicial, analise as afirmações e assinale a alter-


nativa correta:

I. As recuperações judicial e extrajudicial são procedimentos que têm a finalidade


de recuperar a empresa que está em situação transitória, de crise econômico-
-financeira, visando à importância das sociedades empresariais para a estrutura
social brasileira, bem como a preservação de postos de trabalho.

120 Legislação empresarial


Direito Falimentar 8
II. A recuperação da empresa tem como finalidade impedir que a empresa sofra
falência. A recuperação pode ocorrer em duas modalidades: a recuperação ex-
trajudicial e a recuperação judicial.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.
c. Somente a alternativa I está correta.
d. Somente a alternativa II está correta.

3. Sobre a falência, analise as afirmações e assinale a alternativa correta:

I. Os credores podem unir seus valores e solicitar juntos o pedido de falência do


devedor, caso o valor passe de 40 salários mínimos.
II. Caso os credores utilizem os títulos de crédito para embasar o processo de falên-
cia, a legislação traz no artigo 94, § 3°, que o credor deverá juntar ao processo o
título executivo, bem como o instrumento de protesto.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.
c. Somente a alternativa I está correta.
d. Somente a alternativa II está correta.

Referências
ARAUJO, Aloisio; FUNCHAL, Bruno. A nova lei de falências brasileira: primeiros impactos. Revista
de Economia Política, v. 29, n. 3, p. 191-212, 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0101-
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BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/hand-
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______. Lei n. 6.830, de 22 de setembro de 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
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______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
______. Lei n. 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
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COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.

Legislação empresarial 121


8 Direito Falimentar

Resolução
1. A − A insolvência é um dos princípios para a solicitação da falência, porém os credo-
res devem solicitar a execução da empresa de forma conjunta, ou seja, todos os cre-
dores deverão se juntar num único processo para executar o devedor, em obediência
ao princípio condicio creditorum, visando a um tratamento igualitário. É necessário
destacar que, no processo contra os devedores, se todos os credores entrarem juntos,
esses credores serão atendidos conforme a qualificação que possuam.

2. A − A recuperação é um procedimento que tem a finalidade de recuperar a empre-


sa que está em situação transitória de crise econômico-financeira, visando à impor-
tância das sociedades empresariais para a estrutura social brasileira, bem como a
preservação de postos de trabalho. Resumidamente, a recuperação da empresa tem
como finalidade impedir que a empresa sofra falência. A recuperação pode ocorrer
em duas modalidades:

• recuperação extrajudicial; e
• recuperação judicial.

3. A − Os credores podem unir seus valores e solicitar juntos (por meio de litiscon-
sórcio) o pedido de falência do devedor, caso o valor passe de 40 salários mínimos.
Caso os credores utilizem os títulos de crédito para embasar o processo de falência,
a legislação traz, no artigo 94, § 3°, que o credor deverá juntar ao processo o título
executivo, bem como o instrumento de protesto. Logo, podemos entender que a úni-
ca forma de demonstrar a impontualidade injustificada é por meio do protesto do
título executivo.

122 Legislação empresarial


LEGISLAÇÃO EMPRESARIAL
VIRGÍNIA DE FÁTIMA DIAS
KARLA REGINA SANTOS RIBEIRO

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6339-0

56725 9 788538 763390

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