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Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6339-0
Com esse intento, seu início está voltado para noções gerais de
introdução ao Direito, de forma a refletir sobre o conceito de Direito,
a relação entre Direito e Estado e apresentar a estrutura do ordena-
mento jurídico brasileiro. Na sequência, passa-se às noções de Direito
Empresarial, para explicar a atividade empresarial, segundo a legisla-
ção pátria. Considerando que a legislação empresarial tem como sujeito
o empresário, faz-se uma análise acerca de sua figura e da relação entre
o empresário e os consumidores.
2 Direito Empresarial 23
2.1 Atividade empresarial 24
2.2 O empresário, as obrigações das empresas, o estabelecimento
e o nome empresarial 27
2.3 O empresário e o direito dos consumidores
(desconsideração da personalidade jurídica) 29
3 Direito Societário 37
3.1 Sociedades empresárias: conceito e elementos 38
3.2 Distinção das sociedades empresárias 40
3.3 Classificação e constituição das sociedades empresárias 43
6 Legislação empresarial
Sumário
5 Contrato Social 65
5.1 Natureza jurídica do ato constitutivo da sociedade contratual 66
5.2 Requisitos legais do Contrato Social 68
5.3 Sociedades contratuais 71
6 Metamorfoses societárias 79
6.1 O que são transformações societárias 80
6.2 Distinção entre transformação, incorporação, fusão e cisão 83
6.3 Legislação aplicável às metamorfoses societárias 86
Legislação empresarial 7
1
Noções gerais de
introdução ao Direito
Introdução
Neste primeiro capítulo, o objetivo é fornecer aos indivíduos que iniciam seus
estudos jurídicos uma visão ampla do Direito, trazendo-lhes conceitos gerais, como o
que se entende por Direito, a relação entre Direito e Estado e o que é e como funciona
o ordenamento jurídico.
Tais saberes são importantes para que aqueles que não conhecem o Direito de
maneira mais profunda possam compreendê-lo e aplicá-lo, não só em sua vida pes-
soal, mas especialmente em seu cotidiano profissional.
Considerando que o público para o qual o presente livro está voltado busca conhe-
cimentos acerca do Direito Empresarial, as explicações servirão de sustentação para
que compreendam que tal área do Direito faz parte do ordenamento jurídico brasileiro
e tem seus alicerces na Teoria Geral do Direito.
Legislação empresarial 9
1 Noções gerais de introdução ao Direito
Definir o que é direito não é tarefa fácil, considerando que o vocabulário da língua por-
tuguesa é bastante rico e uma mesma palavra pode possuir diferentes sentidos, dependendo
do contexto em que está inserida. Por exemplo, quando alguém afirma “Tenho o direito de
receber pelo trabalho que realizo”, isso significa dizer que “é justo” receber pelo trabalho.
Por outro lado, ao falar que “O direito brasileiro nem sempre é respeitado”, já temos outro
sentido para o vocábulo, o qual significa norma jurídica. Ainda é possível dizer “Eu tenho
o direito de ajuizar uma ação de indenização contra quem me caluniou”, contexto no qual
a acepção da palavra direito é voltada para a faculdade do uso da norma jurídica existente.
Cabe à Filosofia Jurídica tratar das várias acepções da palavra direito. Para os fins a
que se propõe este texto, empregaremos o entendimento do Direito como um conjunto de
normas que, emanadas de poderes competentes, disciplina a conduta em sociedade, usando
para isso a coercitividade, ou seja, o poder do Estado de impor às pessoas o cumprimento
das regras por ele estabelecidas.
Só ao Estado cabe usar da força para obrigar os indivíduos a adotar, por meio da norma
jurídica, o comportamento capaz de evitar conflitos, numa sociedade em que os seres huma-
nos se tornam cada vez mais individualistas e competitivos.
Vivendo em sociedade, lutando por sua sobrevivência, o homem necessita de regras
que assegurem a ordem e impeçam a discórdia. Já afirmou o grande jurista Paulo Nader: “O
Direito está em função da vida social” (NADER, 2005, p. 27).
É verdade que existem outros meios de controle social além do Direito, tais como a reli-
gião e a moral, que também determinam regras de convívio social. A religião, ao propagar a
ideia de amor ao próximo, nada mais faz do que, por meio de dogmas específicos, propagar
a ideia de respeito ao outro e, consequentemente, propiciar a harmonia social. E a moral, ao
designar o que é certo ou errado, bom ou mau, busca aprimorar a essência humana e, assim,
ensina a melhor forma de se comportar em sociedade. Entretanto, nenhum desses meios
de controle social tem a característica de coercitividade que tem o Direito. Além disso, en-
quanto os primeiros, religião e moral, almejam aperfeiçoar o indivíduo como ser humano,
o Direito, por meio de suas regras, volta-se para o comportamento do homem no convívio
social, as ações que este venha a praticar. Em outras palavras, o Direito se interessa pelo que
o homem faz ou deixa de fazer na vida social, e não com seu foro íntimo, como ocorre com
a religião e a moral.
O Direito como regra jurídica, formado por códigos e leis, é denominado de Direito
Positivo, ou seja, um sistema de normas jurídicas que regula as relações entre as pessoas em
dado momento histórico.
O Direito como conjunto de normas jurídicas, primeiramente, pelo critério romano, foi
dividido em direito público e direito privado. Tal distinção é útil do ponto de vista da didá-
tica, pois facilita a pesquisa e, consequentemente, o aperfeiçoamento e a sistematização dos
princípios que compõem o Direito.
10 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
Nesse sentido, as normas jurídicas de Direito Público, chamadas de cogentes ou taxa-
tivas, regulam as relações jurídicas em que o interesse do Estado é predominante. Assim,
para muitos doutrinadores, tais como Brancato (2011), Venosa (2016) e Palaia (2012), fa-
zem parte do Direito Público o Direito Constitucional, o Direito Tributário, o Direito Penal,
o Direito Administrativo, o Direito Processual, o Direito Internacional Público e o Direito
Internacional Privado, enquanto o Direito Civil é predominantemente formado por normas
de Direito Privado. Não é pacífico, no entanto, o entendimento quanto à natureza jurídica
do Direito do Trabalho. Para Miguel Reale (2005), o Direito do Trabalho apresenta-se como
“um Direito eminentemente público”, por ser o Estado a disciplinar as formas de prestação
de trabalho e os contratos coletivos. Já para Martins (2005), por preponderar a autonomia da
vontade das partes no Direito do Trabalho, ele se trata de um ramo do Direito Privado. Mas
a corrente predominante é a de que o Direito do Trabalho é um ramo do Direito Privado,
haja vista que os contratantes (empregador e empregado) são livres para estipular as regras
de seu pacto de emprego.
Há também o “Direito Misto”, quando uma mesma área do Direito possui normas ta-
xativas (e, portanto, de Direito Público) e normas dispositivas (de Direito Privado), como o
Direito de Família e o próprio Direito do Trabalho, conforme Venosa (2016).
Ao tratar do Direito, é preciso lembrar que ele surge com base em algumas fontes, sen-
do uma delas as fontes históricas. Para captar a finalidade do instituto jurídico, é necessário
conhecer em que momento e em que circunstâncias foram criadas as normas. O estudo de
tais fontes compete a uma disciplina específica denominada História do Direito.
Há, ainda, as fontes materiais do Direito, também chamadas de fontes de produção do
Direito, que são constituídas pelos fatores jurídicos, tais como a geografia e a economia, sen-
do, assim, fontes materiais indiretas. E existem também as fontes materiais diretas, as quais
são identificadas como sendo os próprios órgãos responsáveis pela produção da lei (Poder
Legislativo) e pela produção da jurisprudência (Poder Judiciário).
Interessa-nos, entretanto, uma terceira categoria de fontes jurídicas, chamadas de fontes
formais do Direito, que são as formas de expressão do Direito: a lei, o costume, a jurispru-
dência e a doutrina.
A lei, no Brasil, é a principal fonte formal do Direito, uma vez que adotamos a norma
escrita como diretriz essencial de conduta na sociedade brasileira, seguindo o sistema ro-
manista. Observe-se que a própria Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL,
1988), lei máxima de nosso ordenamento jurídico, determina em seu artigo 5°, inciso II, que
todos são obrigados a fazer o que está previsto em lei. Já no sistema adotado em países de
língua inglesa, como Inglaterra e Austrália, a lei é apenas mais uma fonte entre tantas outras.
A lei, elaborada com base em critérios específicos e por um órgão competente para fazê-
-lo, é regra geral e abstrata, que deve ser obedecida por todos, uma vez que é dotada de coa-
ção. O órgão responsável por elaborá-la é o Poder Legislativo, e, em situações excepcionais,
conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, artigo 62, o Poder Executivo, na pessoa
do presidente da república, pode editar medidas provisórias com força de lei. Por exemplo,
quando foi criada a contribuição provisória sobre movimentações financeiras (CPMF), isso
Legislação empresarial 11
1 Noções gerais de introdução ao Direito
ocorreu por meio de medida provisória, que teve efeitos legais imediatos por 60 dias, pror-
rogáveis por mais 60, mas foi enviada imediatamente ao Congresso Nacional para que este
votasse se ela deveria ou não se transformar em lei.
Outra fonte formal do Direito é o costume. Um exemplo de costume jurídico foi o che-
que pré-datado, uma criação brasileira. Sendo aplicada somente no caso de omissão da lei, a
norma costumeira ou consuetudinária resulta de, segundo Miguel Reale (2005, p. 157), uma
conduta praticada de maneira consciente e que se repete socialmente até que os indivíduos
acabam por concebê-la como obrigatória.
O Direito costumeiro possui um requisito subjetivo, que é a crença da obrigatoriedade
da conduta, e um requisito objetivo, a constância do ato.
Para que seja fonte do Direito, o costume precisa ser reconhecido como tal pelo ordena-
mento jurídico, conforme ocorre no Brasil, em que a Lei de Introdução às Normas de Direito,
no artigo 4° (BRASIL, 1942), prevê: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.
A jurisprudência, palavra que designa a aplicação do Direito com sabedoria (jus = Direito;
prudentia = sabedoria), resulta de reiteradas decisões dos tribunais numa mesma direção in-
terpretativa. Por não ter força vinculativa, a jurisprudência é tida como fonte secundária do
Direito. Um exemplo claro de jurisprudência é quando duas pessoas do mesmo sexo convi-
vem por certo tempo numa relação conjugal, uma delas vem a falecer e a que permaneceu
viva requer pensão por morte ao INSS, mas este não a concede. O “cônjuge sobrevivente”
move então uma ação judicial requerendo seu direito. Como é um caso raro, não existe con-
ceito já estabelecido. O juiz analisa, julga e dá sua decisão favorável. Quando surge outra
situação igual a ser julgada, fica mais fácil a decisão, porque já existe um caso semelhante.
Por fim, a doutrina, também considerada fonte do Direito, é resultado do estudo das
leis por parte de juristas, estudiosos e operadores jurídicos em geral, que geram teses, com-
pêndios, tratados, pareceres capazes de mostrar caminhos aos magistrados e sugerir modi-
ficações aos legisladores.
Outra classificação para as fontes do Direito é, segundo Venosa (2016):
a. Diretas, imediatas ou primárias – lei e costume, porque têm, por elas mesmas, po-
tencialidade suficiente para gerar a regra jurídica.
b. Indiretas, mediatas ou secundárias – doutrina, jurisprudência, analogia, princípios
gerais do Direito e equidade. Essas fontes servem para esclarecer a aplicação global
do Direito.
Os princípios gerais do Direito, assim como a analogia e os costumes, são considerados,
segundo a Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942), em seu artigo 4°, proces-
sos de preenchimento de lacunas existentes na lei, pois esta nem sempre consegue regular
todas as situações sociais e o legislador não tem como prever todos os acontecimentos.
Assim, os princípios gerais do Direito servem de base ao ordenamento jurídico, por
trazerem em seu bojo valores sociais dos quais se serve o legislador. Esses princípios são
comuns a todas as áreas do Direito, tais como viver honestamente, dar a cada um o que é
seu e não causar danos a outrem (todos espelhando valores sustentados socialmente). Têm
12 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
função informadora, quando servem de base ao legislador para a criação de preceitos legais,
função normativa, ao serem aplicados nas lacunas da lei, e, por fim, função interpretativa,
ao auxiliarem na compreensão exata da norma. Por serem aplicados na lacuna da lei, que é
norma jurídica, também são os ditos princípios normas jurídicas.
Nader (2005, p. 194) explica que a “analogia é um recurso técnico que consiste em se
aplicar, a uma hipótese não prevista pelo legislador, a solução por ele apresentada para
outra hipótese fundamentalmente semelhante à não prevista”. Para a aplicação da analo-
gia jurídica, alguns requisitos devem ser respeitados, tais como: inexistência de dispositivo
legal prevendo ou disciplinando a hipótese do caso concreto a ser julgado; identidade de
fundamento jurídico no ponto comum às duas situações; semelhança entre o caso concreto
e a situação não regulada.
Como exemplo de aplicação analógica, pode-se citar o caso do reconhecimento, pelo
Supremo Tribunal Federal, da família homoafetiva, conferindo aos casais homossexuais o
direito à união estável: uma vez que as leis brasileiras ainda não previam o casamento entre
casais homossexuais, coube a uma decisão judicial, tomando por base a legislação acerca de
união entre heterossexuais, decidir sobre a matéria. Para tal, foi usada a analogia.
Por fim, faz-se necessário alertar que no Direito Penal não se aplica a analogia, uma vez
que o princípio da legalidade (“não há crime ou pena sem lei penal que expressa e previa-
mente os estabeleça”) impede sua utilização.
O Direito emana do Estado, que é responsável não só pela produção das leis, mas pelo
controle de sua aplicação. Mas o Estado depende do Direito, que organiza sua atuação e
delimita seus poderes.
Sob o ponto de vista jurídico, o Estado deve sua existência ao fato de possuir uma
Constituição. Pode-se conceituar o Estado como a pessoa jurídica formada por uma socieda-
de que vive em determinado território e é subordinada a uma autoridade soberana.
O Estado atua tanto no plano externo quanto no interno. No interno, cabe-lhe garantir a
ordem pública, e o faz ao criar o Direito e buscar garantir a aplicação da justiça. Já no plano
externo, o Estado tem de fazer valer sua soberania.
Há várias teorias que buscam explicar a relação entre Direito e Estado.
Segundo a teoria monista, Direito e Estado se confundem, ou seja, o Estado é fonte úni-
ca do Direito, fazendo com que sejam considerados como uma única realidade, formando
uma só entidade. Os defensores de tal teoria – Hans Kelsen, Hegel, Thomas Hobbes e Jean
Bodin – não admitem a possibilidade de qualquer norma jurídica que não esteja atrelada
ao Estado. Já a teoria dualística ou dualista, criada por Otto Von Gierke e Georges Gurvith,
preconiza a total separação entre Direito e Estado, ao afirmar que o Direito é uma criação
estritamente social e, nesse caso, cabe ao Estado apenas elaborar normas jurídicas que ad-
venham da consciência social. No caso da teoria do paralelismo, defendida por Giorgio Del
Legislação empresarial 13
1 Noções gerais de introdução ao Direito
Vecchio, há a ideia de que Direito e Estado se completam em sua atuação, ainda que sejam
realidades diferentes.
Se o Estado cria o Direito por meio dos poderes constituídos e o Direito determina como
deve ser a atuação do Estado, não há como se negar a interligação entre eles.
Neste ponto é fundamental tratar do Estado de Direito. Ele é formado pelo Direito,
como conjunto de normas que regem o funcionamento de uma sociedade, e pelo Estado,
forma de organização política.
Entende-se que ocorre o Estado de Direito a partir do momento em que há a participa-
ção do povo na administração pública, por meio de seus representantes, como a Constituição
Federal de 1988 (BRASIL, 1988) determina em seu artigo 1°, parágrafo único. E é com o desen-
volvimento do Estado de Direito que surge a divisão dos poderes que compõem a estrutura
político-administrativa do Estado: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.
A divisão dos Poderes, com suas funções específicas bem delineadas pela Lei Maior
(Constituição), afasta o Estado absolutista, no qual todas as funções eram centralizadas na
figura do rei, situação em que o Estado de Direito não podia ser reconhecido, uma vez que
o soberano exercia sobre o povo um poder incontrolado.
Entretanto, o Estado de Direito ainda não foi plenamente alcançado no Brasil, ainda que
haja no país a distribuição de poderes, posto que os representantes escolhidos pelo povo de-
vem por ele e para ele trabalhar, o que nem sempre tem acontecido. Ainda se permite, assim,
muita injustiça social e a falta de um serviço público eficaz para a população, impedindo-lhe
a garantia da dignidade.
14 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
Segundo Kelsen (1987), todas as leis estão subordinadas a uma “lei maior” e a ela têm de ser
adequadas. Portanto, se uma lei contrariar a dita “lei maior”, ela pode ser contestada.
Havendo conflitos entre as leis em sua aplicação em decisões judiciais, para Hans
Kelsen a lei somente poderá ser anulada pelo próprio tribunal que a proferiu ou, ainda, por
tribunal superior. Quando a lei for contrária à Constituição, diz-se então que tal lei é incons-
titucional. No entanto, Kelsen (1987, p. 287) afirma que “enquanto, porém, não for revogada,
tem de ser considerada como válida; e enquanto for válida, não pode ser inconstitucional”.
No Brasil, a validade de todo o ordenamento jurídico depende de uma norma “maior”,
que é a Constituição da República Federativa do Brasil. Submetem-se a ela todas as demais
normas jurídicas.
Trata-se de uma Constituição rígida, que organiza o país em uma república federativa
formada pela união indissolúvel dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. Os 26
estados federados têm autonomia para elaborar suas próprias constituições estaduais e leis.
No entanto, a competência legislativa destas é limitada pelos princípios estabelecidos na
Constituição Federal.
A Carta Maior brasileira dispõe, ainda, sobre os instrumentos legais do nosso ordena-
mento jurídico: emendas à Constituição, que consistem em mudanças no texto constitucio-
nal; leis complementares, que complementam a Constituição ao detalhar uma questão sem
interferir no texto constitucional (tais leis são admissíveis apenas em casos expressamente
autorizados na constituição); leis ordinárias, que lidam com todas as matérias, à exceção
daquelas reservadas às leis complementares; e medidas provisórias, que são editadas pelo
presidente da república em situações importantes e urgentes e têm natureza temporária e
força de lei, devendo, assim, ser submetidas ao Congresso Nacional para possível aprovação
legislativa. Após serem examinadas pelo Congresso Nacional, as medidas provisórias deve-
rão ser convertidas em lei ordinária, caso aprovadas. Se rejeitadas, tácita ou expressamente,
perdem a eficácia ex tunc, e o Congresso Nacional deverá regular as relações jurídicas que
surjam a partir de então.
Quando a Pirâmide de Kelsen foi criada, nela não constavam os tratados internacionais,
mas apenas o Direito interno. Entretanto, atualmente, é inegável a influência do Direito
Internacional no ordenamento jurídico interno dos países, o que gerou a necessidade de se
pensar sobre qual é a posição dos tratados internacionais em tal “pirâmide”, ou seja, quais
as normas jurídicas que se subordinam a esses tratados.
A Constituição Federal brasileira (BRASIL, 1988), em seu artigo 5°, inciso LXXVIII,
§3°, ao tratar dos direitos e garantias fundamentais, prevê que, se os tratados internacio-
nais dispuserem acerca de direitos humanos e forem votados como emendas constitucio-
nais, estarão acima das demais leis.
Nessa direção, o Supremo Tribunal Federal entendeu, no julgamento do habeas cor-
pus 79.785, de 2000, majoritariamente, que os tratados internacionais de direitos humanos,
antes equiparados às normas ordinárias federais, apresentam status de norma supralegal,
isto é, estão acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição. Tal posicionamento
Legislação empresarial 15
1 Noções gerais de introdução ao Direito
admite a hipótese de tais tratados adquirirem hierarquia constitucional, desde que obser-
vado o procedimento previsto no parágrafo 3°, artigo 5°, da CF, acrescentado pela Emenda
Constitucional n. 45/2004.
Desse modo, o Supremo Tribunal Federal alterou, por meio de uma decisão, a pirâmide
criada por Kelsen, que ainda possui em seu topo a Constituição Federal, porém acrescenta
logo abaixo os tratados internacionais de direitos humanos, desde que aprovados, como
ocorre com as emendas constitucionais.
Além das relações entre os tipos de normas jurídicas (tratados internacionais,
Constituição Federal, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provi-
sórias, decretos legislativos e resoluções), estabelecendo a prevalência de umas sobre as ou-
tras, o ordenamento jurídico também traz a hierarquia das normas relativas aos domínios
geográficos das leis, uma vez que leis federais predominam sobre as leis estaduais e ambas
não podem ser contrariadas por lei municipal.
Mas, se por um lado existe uma hierarquia entre as normas jurídicas nacionais no que se
refere à sua aplicação ao caso concreto, por outro, quanto aos aspectos de validade, vigência
e eficácia, elas se submetem aos mesmos critérios.
Após sua elaboração pelo órgão competente, e segundo o procedimento determinado
pelo próprio ordenamento jurídico, a lei é publicada nos órgãos de impresa oficial (Diário
Oficial) para sua publicidade e passa a ser obrigatória a partir de sua vigência, ou seja, da
data em que entra em vigor. Tornada pública a lei, todos devem respeitá-la, conforme dita
o artigo 3° da Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942): “Ninguém se escusa
de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.
A data de início da vigência da lei normalmente vem descrita na própria norma, a exem-
plo do que ocorreu com a Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008 (Lei de Estágio) (BRASIL,
2008), que descreve, em seu artigo 21: “Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”.
Se a lei não dispuser em seu texto qual a data de sua vigência, ela entrará em vigor 45 dias
após sua publicação dentro do país e três meses se for aplicada em Estado estrangeiro, con-
forme prevê a Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942), artigo 1°, caput e §1°.
O espaço de tempo entre a publicação da lei e sua entrada em vigor denomina-se
vacacio legis, que é o período dado pelo legislador para que a sociedade se adapte à nova
lei. Temos vários exemplos de leis brasileiras que tiveram vacatio legis, tais como o Código
de Trânsito Brasileiro – Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997 (120 dias após a publicação)
–, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor – Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990
(120 dias após a publicação) – e o Código Civil – Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (1
ano após a publicação).
Após entrar em vigor, a lei gera efeitos imediatos, respeitando o direito adquirido (é o
que integra o patrimônio jurídico da pessoa por meio da lei até então vigente), o ato jurídico
perfeito (entendido como o ato já consumado segundo a lei vigente no momento em que o
ato se consumou) e a coisa julgada (decisão judicial irrecorrível concedida com base na lei
vigente à época de sua sentença definitiva).
16 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
A lei nova terá vigência até que outra lei que regule a mesma matéria a modifique ou
revogue. A lei revogadora deve ser do mesmo nível ou superior hierarquicamente à lei re-
vogada. Por exemplo, uma lei ordinária só pode revogar outra lei ordinária ou de hierarquia
inferior a ela.
A eficácia da lei no espaço refere-se ao local onde a norma jurídica será aplicada e re-
gula a conduta não só dos brasileiros, mas dos estrangeiros que estiverem em território na-
cional, segundo o princípio da territorialidade. Há ainda casos específicos de leis brasileiras
que têm eficácia em outros países.
Também é importante considerar a aplicação da lei no espaço, o que determina o artigo
9° da Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942):
Art. 9° Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem.
§ 1° Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de for-
ma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira
quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
§ 2° A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que
residir o proponente.
Por fim, além de compreender como se dá a vigência da lei no tempo e no espaço, é
necessário ressaltar que, para que tenha validade, a lei deve preencher alguns requisitos
extremamente importantes, tais como legitimidade do órgão para elaborá-la, competência
em relação à matéria da lei que será elaborada e respeito ao procedimento técnico para sua
criação. As normas básicas que regulam tais requisitos estão na Constituição Federal e nas
Leis Complementares n. 95/1998 (BRASIL, 1998) e n. 107/2001 (BRASIL, 2001).
Para a eficácia da norma jurídica, é necessário, ainda, observar o cumprimento efetivo
da lei por parte da sociedade. Uma vez que o Direito deve ser criado com base nos valores e
nas instituições sociais, a lei que não atende a tais requisitos, ou seja, que não tem nenhum
vínculo com a sociedade na qual está sendo inserida ou não considera a cultura do povo,
não terá eficácia.
Muitas vezes, a lei não atinge seus objetivos porque não existe fiscalização suficiente ou
estrutura estatal para colocá-la adequadamente em prática, o que não lhe permite ter eficácia.
A ação do Direito
(NADER, 2005, p. 27)
Legislação empresarial 17
1 Noções gerais de introdução ao Direito
A sociedade sem o Direito não resistiria, seria anárquica, teria o seu fim.
O Direito é a grande coluna que sustenta a sociedade. Criado pelo homem
para corrigir a sua imperfeição, o Direito representa um grande esforço
para adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida.
18 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
Atividades
1. Acerca da relação entre Direito e sociedade, assinale a opção correta:
Em Curitiba (PR), por meio da Lei n. 9.493, de 15 de abril de 1999, que foi votada pela
Câmara de Vereadores, aprovada e entrou em vigor 60 dias após sua publicação, é
obrigatório que cães de raças consideradas violentas usem focinheira ao transitarem
em vias públicas. Porém, é comum encontrar animais sem o equipamento pelas ruas
da cidade.
Legislação empresarial 19
1 Noções gerais de introdução ao Direito
Referências
BRASIL. Decreto-Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, 9
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______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
27 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp95.htm>. Acesso em: 3
maio 2017.
______. Lei Complementar n. 107, de 26 de abril de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 abr.
2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp107.htm>. Acesso em: 3 maio
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______. Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 set. 2008.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm>. Acesso
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BRANCATO, Ricardo Teixeira. Instituições de Direito Público e de Direito Privado. São Paulo:
Saraiva, 2011.
KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. São Paulo: Saraiva, 1987.
MACHADO, Hugo de Brito. Uma introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Dialética, 2000.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Forense, 2005.
PALAIA, Nelson. Noções essenciais de Direito. São Paulo: Saraiva, 2012.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2005.
VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito: primeiras linhas. São Paulo: Atlas, 2016.
Resolução
1. A − O Direito não é uma abstração, solto no espaço e no tempo, mas um fenômeno
imerso na vida humana, ou seja, o Direito é algo que está no processo existencial do
indivíduo e da coletividade.
O Direito faz parte do cotidiano de todas as pessoas, pois, como conjunto de normas
que é, determina o comportamento dos seres humanos em sociedade em quase todos
os momentos de sua existência.
b. A ação do Direito não opera em um único sentido, pois, ao mesmo tempo que busca
evitar o conflito, cabe ao Direito resolvê-lo por meio da atuação do Estado (Poder
Judiciário), caso ele se estabeleça.
c. A convivência social sem a existência do Direito não é possível, pois, devido às di-
ferenças de valores, à competitividade entre as pessoas e à defesa de interesses par-
ticulares, é necessário que exista um conjunto de normas jurídicas que determinem
como viver em sociedade.
20 Legislação empresarial
Noções gerais de introdução ao Direito 1
d. O Direito não existe apenas para aplicar penalidades. Ao contrário, o Direito existe
para determinar o que é lícito e o que é ilícito e para evitar os conflitos sociais.
O não cumprimento da lei por parte da população demonstra que a lei não possui
efetividade social.
a. A lei possui vigência, uma vez que foi publicada e já se passou o período de vacatio
legis de 60 dias.
b. A lei n. 9.493, de 15/4/1999, tem legitimidade, uma vez que foi elaborada pela Câ-
mara de Vereadores, que tinha competência para elaborá-la.
d. A lei não possui efetividade, uma vez que não é respeitada socialmente, mas possui
vigência, conforme explicado anteriormente.
Legislação empresarial 21
2
Direito Empresarial
Introdução
Legislação empresarial 23
2 Direito Empresarial
Para viver nós precisamos, diariamente, de bens e serviços, que são fornecidos por or-
ganizações econômicas, estruturadas e desenvolvidas por pessoas que têm como objetivo
ganhar dinheiro – os empresários. Pode-se entender que a atividade empresarial é a articu-
lação de fatores de produção (capital, mão de obra, insumo e tecnologia) com a finalidade
de produzir bens e serviços.
Os empresários surgem quando, por meio do capital (próprio ou alheio), organizam-se,
adquirem matéria-prima, contratam mão de obra especializada e desenvolvem ou adquirem
tecnologia, visando a produzir bens ou serviços para determinado público, na perspectiva
de lucro.
A atividade empresarial consiste, nesses termos, em juntar os recursos financeiros, hu-
manos, materiais e tecnológicos, com o objetivo de fornecer ao mercado de consumo bens
e serviços de qualidade e com preço competitivo e, em contrapartida, obter mais recursos
financeiros.
A empreitada desenvolvida pelo empresário é uma ação de risco, visto que por mais
que ele tenha cuidado, por mais inovador que o bem ou serviço possa parecer ser, pode sim-
plesmente não agradar aos consumidores, ou, ainda, o desenvolvimento da empresa pode
ser afetado por crises econômicas ou outras hipóteses alheias à sua vontade.
Quando a empresa não realiza as expectativas do empresário e não gera os lucros de-
vidos, os investimentos são perdidos. Para que o risco de insucesso de qualquer atividade
econômica seja minimizado, é necessário que o empresário tenha capacidade de planejar
suas atividades, identificando as possíveis fragilidades da empresa frente ao mercado, com
a finalidade de atenuar os prováveis riscos.
Em suma, para que uma empresa desenvolva bens e serviços, é necessária a presença
do empresário. De acordo com o artigo 966 do Código Civil, “considera-se empresário quem
exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação
de bens ou de serviços” (BRASIL, 2002a). De tal definição podem-se extrair algumas caracte-
rísticas importantes, que são:
• profissionalismo;
• atividade econômica organizada;
• produção ou circulação de bens ou de serviços.
Sobre o profissionalismo, em consonância com Coelho (2016), ele está ligado a três or-
dens, que são: habitualidade, pessoalidade e monopólio das informações.
Nesse sentido, para que seja considerada uma atividade profissional, esta não pode ser
esporádica. Logo, quando uma pessoa se organiza para produzir um bem, mesmo que seja
com a finalidade de venda, porém por um pequeno lapso de tempo, não será considerado
um empresário. Um exemplo muito comum são as pessoas que não estão trabalhando, que
desenvolvem algum produto com a finalidade de sanar problemas financeiros emergenciais,
produzem docinhos em casa e, assim que arranjam um emprego, param de produzi-los.
24 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
No que diz respeito à pessoalidade, refere-se à realização da atividade pelo empresário
de forma pessoal, ou seja, por mais que a empresa contrate diversos empregados, para a pro-
dução ou a circulação de bens e serviços, esses realizam as ações em nome do empresário.
Por fim, sobre o monopólio das informações, é a ordem mais importante no que se
refere ao profissionalismo, visto que, para ser considerado um profissional empresário, é
necessário que este concentre todas as informações de seu empreendimento, ou seja, que
o empresário detenha o conhecimento sobre as condições de uso, os atributos, as matérias-
-primas, os riscos que o produto ou o serviço podem causar no seu potencial consumidor.
Em suma, para que seja considerado profissional, o empresário deverá desenvolver sua
atividade de forma permanente, de forma pessoal, e principalmente ter todas as informa-
ções pertinentes aos bens ou serviços desenvolvidos em sua empresa.
Sobre a segunda característica para ser empresário (atividade empresarial), quando o
legislador prevê que o empresário “exerce profissionalmente uma atividade econômica or-
ganizada”, quer dizer que a empresa é uma atividade de produção ou, ainda, de circulação
de bens ou serviços. É importante destacar que a empresa não é sinônimo de estabelecimento
empresarial, visto que empresa é uma atividade desenvolvida e estabelecimento é o local onde
é desenvolvida a atividade empresarial. Todavia, pode ser também considerado o complexo
de bens organizados, para o exercício da empresa, segundo o Código Civil (BRASIL, 2002a),
que prevê estabelecimento empresarial, no artigo 1.142, como “todo complexo de bens orga-
nizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”.
Na concepção do Direito Empresarial moderno, a ideia central está no princípio da
preservação da empresa, ou seja, de manter a atividade empresarial ativa, visto os interes-
ses oriundos da relação empresarial, como é o caso dos postos de trabalho, dos impostos
arrecadados pelo Fisco ou, ainda, do desenvolvimento econômico trazido pela atividade
empresarial em determinada sociedade.
Essa atividade é desenvolvida com o objetivo de lucro, porém existem outras atividades
que são consideradas empresariais, mas não têm a finalidade básica de aferir lucro, como
no caso das escolas religiosas. Todavia, quando essas empresas prestam serviços, os valores
das mensalidades devem ser superiores aos dos gastos com insumos, pois numa sociedade
capitalista, nenhuma empresa se manteria sem lucratividade. O lucro, nesse caso, é um meio
de esses religiosos empresários realizarem suas demais finalidades. Logo, o lucro é um meio
para obtenção da finalidade dessa empresa.
Outro atributo importante derivado do conceito de empresa é o da organização, que
se refere à manipulação dos quatro elementos de produção: capital, mão de obra, insumos
e tecnologia, que o empresário realiza com a finalidade de estruturar a sua organização
econômica. Logo, podemos entender que, quando uma pessoa compra bens para reven-
der, sem a presença desses quatro elementos de produção não pode ser considerado em-
presário, pois não organiza a mão de obra, visto que não contrata nenhum funcionário, e
não depende de tecnologia.
E, por fim, a quarta característica importante é a produção de bens ou serviços, que
corresponde à industrialização de bens. Logo, toda atividade de fabricação é empresarial.
Legislação empresarial 25
2 Direito Empresarial
A atividade empresária também pode permear a prestação de serviços, uma vez que
aquele que intermedeia a relação de consumo entre o fabricante e o consumidor final, ou
seja, o atacadista, o varejista, exerce a profissão prevista no artigo 966 do Código Civil, como
é o caso das agências de turismo, que vendem a passagem aérea, porém não prestam o ser-
viço de transporte aéreo. Ressalta-se, aqui, que a prestação de serviço é uma atividade eco-
nômica que não resulta em um bem tangível, como, por exemplo, a atividade de transporte.
Os bens e serviços se distinguem, visto que os bens são coisas materiais, ou seja, cor-
póreas, já os serviços são uma obrigação de fazer. Entretanto, com a utilização da internet
ocorreu uma dificuldade de conceituar os objetos de consumo, como no caso da assinatura
de jornal virtual. Contudo, mesmo no âmbito virtual, o ato de fornecer bens ou serviços
também é considerado uma atividade empresarial.
A legislação que conceitua o empresário também apresenta quem não pode ser consi-
derado legalmente como tal, visto que de alguma forma não tem as quatro características es-
senciais. Por exemplo, não são considerados empresários os indivíduos que não organizam
uma empresa. Por mais que sua atividade gere lucro e seja consistente, não será considerado
empresário. Entre essas atividades, o artigo 966 do Código Civil, parágrafo único, prevê que
“Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, lite-
rária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício
da profissão constituir elemento de empresa” (BRASIL, 2002a).
No que diz respeito à profissão intelectual, encontram-se os profissionais liberais, como
é o caso de médicos, dentistas, arquitetos, entre outros, bem como os escritores e artistas
de qualquer expressão, como músicos e atores, que não são considerados empresários.
Contudo, esses profissionais intelectuais podem exercer atividade empresarial quando o
exercício de sua profissão seja um elemento da empresa.
Exemplificando, será considerado empresário o médico que administrar e contratar um
rol de médicos e vários funcionários para atender os pacientes. Nesse caso, mesmo que o
médico continue a cuidar de seus pacientes, sua função é também a de exercer profissional-
mente atividade econômica organizada que tem a finalidade de atender vários pacientes.
No que se refere ao empresário rural, são considerados empresários as pessoas que
têm sua atividade econômica desenvolvida principalmente fora do centro da cidade. São
considerados exemplos de atividade econômicas rurais a agricultura, o extrativismo vegetal,
entre outros. Todavia, essas atividades devem ser desempenhadas de forma profissional.
Ressalta-se que a atividade rural não necessariamente ocorre fora dos perímetros da cidade,
visto que muitas vezes a área de cultivo (sítios, fazenda) pode estar dentro da zona urbana,
assim como as atividades em prédios rústicos dentro da cidade.
Essas atividades, no Brasil, são desenvolvidas de duas formas: ou pela agroindústria,
ou pela agricultura familiar. Na primeira, verifica-se a presença de tecnologia avançada,
grandes áreas de cultivo e vários empregados. Entretanto, na segunda, o dono da terra e
seus familiares são os que trabalharam diretamente na atividade, pequena área de produ-
ção, com tecnologia mais simples.
26 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
A legislação brasileira permite ao profissional rural que escolha se quer ou não ser con-
siderado empresário, em conformidade com o artigo 971 do Código Civil, que diz:
O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, ob-
servadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer
inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em
que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário
sujeito a registro (BRASIL, 2002a).
Logo, se esse profissional rural requerer sua inscrição no registro das empresas na Junta
Comercial, será considerado um empresário. De acordo com Coelho (2016), os donos de
pequenas empresas que desenvolvem profissionalmente de forma organizada as atividades
rurais familiares, na sua maioria, optam por não se registrarem na Junta Comercial.
Legislação empresarial 27
2 Direito Empresarial
Sobre a terceira obrigação, o artigo 1.179 do Código Civil adverte que o empresário é
obrigado a levantar, anualmente, dois balanços: o balanço patrimonial e o balanço de re-
sultado econômico. A falta desses balanços pode ser considerada, conforme artigo 178 do
mesmo Código, um ato criminoso gerado pelo empresário.
O empresário também está obrigado a manter outros documentos essenciais para o
exercício da empresa, conforme a legislação própria de cada atividade empresarial, como é
o caso do laudo de vistoria e a liberação do estabelecimento pelo Corpo de Bombeiros, que
tem como finalidade que o estabelecimento empresarial não corra risco de acidentes por
causa de possíveis incêndios. A falta desse documento poderá gerar o pagamento de multa
ou interdição da empresa.
Além dos já expostos, existem vários documentos obrigatórios, dependendo do ramo
da atividade empresarial, como é o caso da autorização da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) para as empresas que comercializam medicamentos – farmácias e dro-
garias, de acordo com a Lei n. 9.782/99 (BRASIL, 1999) e a Resolução da Anvisa 238/01
(BRASIL, 2002b).
Ressalta-se que o estabelecimento empresarial é o conjunto de bens – corpóreos e
incorpóreos – que tem a finalidade empresarial. Logo, pode-se entender esse tipo de esta-
belecimento como um instrumento empregado pelo empresário para o funcionamento de
sua atividade.
O empresário dispõe seus bens que integrem e desenvolvam da melhor maneira a ati-
vidade empresarial. Esse complexo racional de bens tem um valor agregado, ou seja, bens
quando ordenados para o trabalho empresarial adquirem um valor no mercado. Contudo,
os bens empresariais não podem ser confundidos com o patrimônio pessoal do empresário.
No caso do empresário individual (que é sempre pessoa física), todos os bens são con-
siderados seu patrimônio, tanto os bens particulares, quanto os bens utilizados na atividade
empresarial. Todavia, o estabelecimento empresarial se equivale a todos os bens (materiais
ou imateriais) que são utilizados no desenvolvimento da atividade com fins lucrativos.
O estabelecimento empresarial possui dois elementos relevantes:
• o conjunto de bens;
• a organização.
O complexo de bens é o instrumento que o empresário tem para exercer suas funções
empresariais. Entretanto, esse conjunto de bens deve ser organizado, conectado entre si de
forma a realizar a atividade empresarial. Essa forma organizada pelo empresário é que o
diferencia das demais empresas. Todas as ações que o empresário realiza para constituir sua
empresa também são consideradas estabelecimento empresarial dessa sociedade.
Em suma, o estabelecimento empresarial é o conjunto de bens corpóreos (como é o caso
das instalações, dos equipamentos, entre outros), bem como de bens incorpóreos (marcas,
patentes, entre outros). E as legislações penal e civil disciplinam normas para proteção des-
ses bens. Todavia, o Direito Comercial tem como finalidade tutelar bens incorpóreos da
relação empresarial.
28 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
Um dos elementos do estabelecimento empresarial é o seu nome, que é definido como
uma palavra que o designa. Logo, é uma expressão que a identifica na função empresarial.
Segundo o artigo 1°, caput, da IN/DREI 15/2013: “nome empresarial é aquele sob o qual o
empresário individual, empresa individual de responsabilidade Ltda. – EIRELI, as socie-
dades empresárias, as cooperativas exercem suas atividades e se obrigam nos atos a elas
pertinentes” (BRASIL, 2013a).
O nome tem duas funções importantes, sendo: a subjetiva (que individualiza e iden-
tifica a pessoa jurídica como um sujeito de direito) e a objetiva (que garante a essa pessoa
jurídica sua fama, reputação).
É importante destacar que o nome empresarial não é sinônimo de marca nem do nome
fantasia, nome do domínio ou, ainda, os chamados sinais de propaganda. Verificam-se as se-
guintes diferenças:
• Segundo o artigo 122 da Lei n. 9.279/1996 (BRASIL, 1996), marca é “aquela usada
para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de ori-
gem diversa”. Logo, pode-se entender marca como uma representação simbólica
que identifica o produto ou o serviço do empresário. Sua tutela é feita pelo direito
de propriedade industrial.
• O nome fantasia é um “apelido” que a empresa possui, ou seja, é um termo pelo
qual a empresa é chamada – pode ser considerado como um nome popular, pelo
qual a empresa é conhecida por seus consumidores.
• O nome de domínio é uma identificação eletrônica da página em que o produto
se encontra ou, ainda, um endereço eletrônico, que tem como finalidade a me-
morização do endereço do site empresarial na internet pelos usuários. Segundo
o Enunciado 7, da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “O nome de domínio
integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de
direito” (BRASIL, 2013b).
• Os sinais de propaganda têm a finalidade de chamar atenção dos consumidores.
A Lei n. 9.279/1996 não manteve o dispositivo que tutelava esse objeto. Todavia,
existe o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), o qual fiscaliza
os sinais de propagandas e impõe normas aos seus associados.
Legislação empresarial 29
2 Direito Empresarial
polo, deve se encontrar o fornecedor, que o artigo 3° traz como a “pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que de-
senvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, impor-
tação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”
(BRASIL, 1990).
Nesse contexto, sempre que houver uma relação entre quem exerce a atividade de for-
necer bens ou serviços, seja para o mercado ou para o consumidor final, está se falando de
uma relação de consumo. Logo, o Código do Consumidor deve ser a fonte para sanar possí-
veis controvérsias nesta relação jurídica ou nas derivadas dela.
Os contratos de compra e venda podem ser caracterizados como uma relação de con-
sumo quando em um dos polos da relação se encontra o consumidor final. Como quando
alguém compra um carro diretamente da fábrica ou da concessionária. A mercadoria – o
carro – será entregue para a pessoa que usufruirá do bem.
Porém, quando a concessionária compra o carro da fábrica para revenda, encontra-se
diante de uma relação mercantil, pois nessa situação não se encontra o consumidor final.
Outro exemplo de relação mercantil ocorre quando você compra um carro usado de seu
vizinho. Em tal exemplo, verifica-se a falta do fornecedor. Nesses dois casos, o dispositivo
legal para pautar possíveis conflitos é o Código Civil, e não o Código do Consumidor, como
nos primeiros exemplos.
O conceito de fornecedor está abarcado no conceito de empresário; nesse sentido o for-
necedor é um empresário, que deve se pautar nas suas relações pelo Código do Consumidor.
Observa-se ainda que a relação ou o contrato de consumo traz diversos direitos aos consu-
midores, em vários aspectos – entre eles, podem-se citar os prazos, a qualidade do bem etc.
Um dos temas que o Código do Consumidor disciplina é a qualidade do produto e do
serviço. Com essa finalidade essa lei prevê três conceitos importantes: fornecimento perigo-
so, defeituoso e viciado (BRASIL, 1990).
O fornecimento perigoso é aquele que expõe o consumidor a risco, devido ao produto
ou serviço sofrer por falta ou inconformidade das informações prestadas pelo fornecedor.
Logo, pode-se entender que o fornecimento é perigoso, não porque o produto ou o serviço
esteja com defeito, mas porque, por falta de informação, o consumidor gerou o dano e, por
consequência, colocou sua vida, ou sua saúde, sua integridade física em risco. Exemplo de
fornecimento perigoso é o produto de limpeza que não tem nenhum defeito e nenhum vício,
porém não traz nenhuma informação na embalagem ou no rótulo sobre sua composição
química ou acerca de possíveis efeitos nocivos.
Conforme o artigo 8° do Código do Consumidor, o fabricante está dispensado de fornecer
informações somente nos casos em que o consumidor tenha conhecimento prévio de possíveis
danos, ou seja, os “riscos considerados normais e previsíveis” (BRASIL, 1990). Como é o caso
dos fabricantes de copo de vidro, que não precisam informar que, caso o produto quebre, pode
o consumidor se cortar, pois essa informação é difundida entre os consumidores.
Nesse caso de fornecimento perigoso, o problema seria sanado caso as informações
fossem suficientes e adequadas para os consumidores. Todavia, o artigo 10 da mesma lei
30 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
adverte que é proibido o fornecimento de produtos e bens que sejam altamente nocivos ou
perigos para a saúde e para a segurança do consumidor, logo, o fornecedor não consegue,
por meio de informações de rótulo ou de embalagem, fornecer todas as precauções que o
consumidor necessita tomar para manusear o produto ou o serviço.
Os fornecedores (o fabricante, o produtor, o construtor, o importador e o prestador de
serviço) respondem por dano causado por fornecimento perigoso de forma objetiva, ou seja,
caso ocorra dano por falta de informação no rótulo e na embalagem, os sujeitos que forne-
cem o bem e o serviço serão considerados culpados, independentemente da vontade (ou
não) de prejudicar alguém.
O fornecimento defeituoso ocorre quando os produtos ou serviços apresentam incon-
gruência, ou seja, o produto ou o serviço tem um problema no seu fornecimento. Perceba
que, nesse caso, por mais que haja informação adequada no rótulo ou na embalagem, o dano
foi causado porque o produto estava com problemas.
Exemplo de fornecimento defeituoso, por erro de fábrica, é quando a bateria do celular
esquenta demais, ocasionando uma pequena explosão, enquanto o celular está no bolso e,
consequentemente, queima a pele do consumidor. Nesse caso, o erro foi de fábrica, pois o
consumidor não utilizou de modo errado o produto em questão.
A responsabilidade do fabricante, produtor, construtor e importador dos produtos ou
do prestador de serviços, nas hipóteses de fornecimento defeituoso, é objetiva, ou seja, inde-
pendentemente de culpa por parte do fabricante, este deverá indenizar o consumidor.
A legislação atual expõe que existem algumas hipóteses em que o dano derivado do
consumo não será de responsabilidade do fabricante, conforme o artigo 12, § 3°: a) quando
o fabricante, na sua linha de produção, verificou possível defeito no produto e o descar-
tou, porém alguém furtou esse produto e o comercializou, b) quando não existe defeito no
produto, sendo caso fortuito ocorrido após o fornecimento; c) quando a culpa do defeito é
exclusiva do consumidor.
Por fim, o fornecimento viciado corresponde ao serviço ou o produto que possui vício
ou defeito de fábrica, porém é detectado pelo consumidor. Por exemplo, no caso de um
carro que tem problema no motor, mas em que tal problema é descoberto pelo consumidor
antes de qualquer tipo de acidente, estamos falando de um vício. Todavia, se o problema do
motor não for descoberto antes do acidente, trata-se de uma coisa defeituosa.
Ressalta-se, ainda, que os defeitos podem ser redibitórios ou aparentes. No primeiro
caso, os defeitos são ocultos, sendo revelados somente mediante testes e exames técnicos,
enquanto o segundo refere-se aos vícios que podem ser vistos com uma simples análise
do adquirente.
Quando ocorre o fornecimento por coisa com defeito, o fabricante pode solucionar a
situação de três modos: a) devolver o dinheiro corrigido; b) diminuir o preço; ou c) substituir
o produto ou reexecutar o serviço. Todavia, quando a coisa for viciada, só se poderá utilizar
as duas primeiras hipóteses para resolver a questão.
A legislação prevê que o direito do consumidor de reclamar de um produto ou serviço
não durável é de 30 dias, porém, quando o produto ou serviço for considerado durável, esse
Legislação empresarial 31
2 Direito Empresarial
período sobe para 90 dias, começando esse tempo, nas duas hipóteses, na entrega do produ-
to ou na realização do serviço.
Conforme o Código do Consumidor, o fornecedor não pode fazer publicidade simula-
da, enganosa ou, ainda, abusiva (BRASIL, 2002a). Publicidade simulada contempla os anún-
cios feitos de forma a ocultar seu caráter de propaganda. Exemplos disso são as reportagens
que, na verdade, tem intuito de fazer propaganda.
A publicidade enganosa é aquela que leva o consumidor ao erro, ou seja, são publicida-
des que não têm todas as informações, ou estas são falsas. Por exemplo, as propagandas do
castelo da Barbie que não informam que os bonecos não estão inclusos no briquedo. Muitas
mães, ao irem à loja, verificam que o produto é vendido separadamente, gerando assim
muitos transtornos.
A publicidade abusiva é aquela que agride os valores sociais, como é o caso das propa-
gandas de cigarro que não tenham nenhum tipo de alerta de que o cigarro faz mal à saúde.
Também são considerados abusivos os anúncios racistas, sexistas, discriminatórios e lesivos
ao meio ambiente.
Os empresários que promoverem publicidade enganosa ou abusiva podem ser respon-
sabilizados civil e penalmente, bem como deverão indenizar o consumidor. No caso das
propagandas enganosas, o consumidor poderá solicitar a aquisição dos produtos e serviços
nas condições apresentadas.
Em suma, o Código do Consumidor tem como objetivo coibir ações dos fabricantes que
sejam danosas aos consumidores, bem como responsabilizar a pessoa do empresário pelo for-
necimento de produtos ou serviços que coloquem em risco a vida da pessoa ou a sua saúde.
Um dos dispositivos legais que essa lei prevê é a desconsideração da personalidade
jurídica, no seu artigo 28, nos casos em que o empresário fraudar ou abusar do seu direito
para satisfazer seu interesse econômico em detrimento do consumidor.
[...]
32 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
de que ela poderia ser utilizada para fins ilícitos. Assim, a desconsidera-
ção da personalidade jurídica contribui para o aperfeiçoamento da pessoa
jurídica, pois permite afastar os efeitos da personificação para um caso
específico, sem extingui-la.
Legislação empresarial 33
2 Direito Empresarial
[...]
Atividades
1. Sobre o empresário, assinale a alternativa correta:
a. fornecimento perigoso.
b. fornecimento defeituoso.
c. fornecimento viciado.
d. propaganda enganosa.
34 Legislação empresarial
Direito Empresarial 2
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Resolução
1. C – Empresário é quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada
para a produção ou circulação de bens ou serviços.
Legislação empresarial 35
2 Direito Empresarial
36 Legislação empresarial
3
Direito Societário
Introdução
Legislação empresarial 37
3 Direito Societário
O conceito de empresário, elencado no artigo 966 do Código Civil (BRASIL, 2002), refere-
-se a uma pessoa física ou jurídica. Logo, pode-se entender que a pessoa física é o empresá-
rio. Entretanto, a pessoa jurídica diz respeito à sociedade empresarial. É oportuno observar
que, conforme o artigo 980-A do Código Civil, existe uma nova estrutura de empresário, que
é a EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada.
No panorama empresarial, verifica-se que 73% do PIB (Produto Interno Bruto), no ano
de 2011, em contrapartida ao empresário individual, movimentaram 599 bilhões de reais do
mesmo período, em conformidade com os dados do Sebrae (2014). Logo, pode-se entender
que as sociedades empresariais têm um desempenho muito relevante na economia.
Pode-se compreender que essa atuação mais importante da sociedade empresarial no
panorama econômico ocorre, conforme Coelho (2016), porque as pessoas jurídicas buscam
em suas ações diminuir os riscos empresariais, haja vista que os empresários constituem
uma sociedade, uma vez que, neste modelo, ocorre a separação do patrimônio da empresa,
que é desvinculada da pessoa do empresário, e, ainda, a possibilidade de limitação de res-
ponsabilidade. Com o surgimento da EIRELI, na visão de Bertoldi e Ribeiro (2016), ocorrerá
a diminuição de sociedades empresárias.
A sociedade empresária é conceituada, conforme Fazzio Júnior (2016, p. 112), como
“pessoa jurídica de direito privado, implementada por um contrato, cujo objeto social é a
exploração de atividade empresarial, ou que, independentemente de seu objeto, adota a for-
ma societária por ações”. Em suma, pode-se entender que a sociedade é uma pessoa jurídica
que deriva de um contrato – Contrato Social ou estatuto da sociedade.
Nesse contexto, é importante destacar que a sociedade empresária se fundamenta na
condição de ser consequência de um contrato plurilateral de organização, bem como é uma
pessoa jurídica de direito privado. Conquanto o artigo 44 do Código Civil (BRASIL, 2002)
considere as sociedades como pessoas jurídicas de direito privado, juntamente com as as-
sociações, as fundações, as sociedades, os partidos políticos, as organizações religiosas e a
EIRELI, nem toda sociedade possui personalidade jurídica, como é o caso das sociedades
em comum (sociedade transitória) e da sociedade em conta de participação, regulamentada
pelos artigos 986 a 996 do Código Civil.
Consoante ao artigo 981 do Código Civil (BRASIL, 2002), o conceito de sociedade é o
“contrato em que pessoas reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços,
para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Logo, pode-se
perceber algumas características presentes:
• Contrato: conforme Negrão (2016, p. 24), é instrumento público ou particular, re-
gistrado (todas as sociedades personificadas) ou não levado a registro (sociedade
em comum e em conta de participação).
• Pessoas: refere-se a todas as possibilidades previstas na legislação, lembrando que
a sociedade em nome coletivo, conforme o artigo 1.039 do Código Civil, só pode
38 Legislação empresarial
Direito Societário 3
ser formada por pessoas naturais. Entretanto, a sociedade subsidiária integral será
constituída somente por pessoa jurídica, segundo o artigo 251 da LSA, e a socieda-
de em comandita simples terá sua composição de pessoas naturais na qualidade
de sócios comanditados, no entendimento do artigo 1.045 do Código Civil, pes-
soas naturais ou jurídicas como sócios comanditários.
• Contribuição com bens e/ou serviços e partilha dos resultados: a sociedade tem
como essência a junção do capital ou dos esforços das pessoas que contribuem
para sua constituição, sendo que todos os resultados são divididos entre os parti-
cipantes da sociedade.
É importante, ainda, destacar que as sociedades são pessoas jurídicas que exercem ati-
vidade empresarial, cujo objetivo é o lucro, e têm o seu objetivo negocial. Logo, pode-se
entender que a sociedade se difere das demais pessoas jurídicas de direito privado, elencada
no artigo 44 do Código Civil, por possuir a finalidade lucrativa, bem como por ser o empre-
sário uma pessoa jurídica ou física que exerce profissionalmente uma atividade econômica
organizada (artigo 966 do Código Civil).
Nesse contexto, é importante observar que nem toda a atividade econômica pode ser con-
siderada atividade empresarial, visto que, para ser uma atividade empresarial, deve ter a or-
ganização dos fatores de produção. As sociedades podem ser classificadas em duas categorias:
• Sociedades simples: são as constituídas por uniprofissionais. Exemplo: sociedades
compostas por contadores.
• Sociedades empresárias: são as que exploram a atividade empresarial, em confor-
midade com o artigo 966 do Código Civil, que ressalta que o empresário exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circula-
ção de bens ou de serviços.
As sociedades são organizações econômicas, constituídas juridicamente por mais de
uma pessoa física ou jurídica. Possuem patrimônio próprio e têm como finalidade a explo-
ração empresarial, cujo fim é a produção de bens ou serviços visando ao lucro. Os requisitos
da sociedade empresarial são:
• agente capaz;
• objeto lícito;
• pluralidade de sócios;
• constituição de capital;
• conformidade com a lei.
A sociedade empresarial nasce da produção de um contrato. Nesse sentido, pode-se
entendê-la como uma sociedade contratual, cuja personalidade jurídica deriva do registro
da Junta Comercial. No entanto, esse contrato pode ser considerado como um pacto que
tem a finalidade de constituir uma pessoa jurídica. Logo, pode-se perceber que a sociedade
empresarial é a união de várias pessoas físicas ou pessoas jurídicas, com o objetivo de lucro,
por meio de exploração de atividade econômica, a qual possui como escopo a produção e
circulação de bens e/ou serviços.
Legislação empresarial 39
3 Direito Societário
Pode-se entender ainda que o estatuto da empresa tem essência contratual, visto que é
considerado um contrato institucional, no qual mais de duas pessoas, por meio de escritu-
ra pública ou deliberação assemblear, colaboram com a concepção do capital social e, por
consequência, recebem o direito de auferir lucros pela exploração da atividade empresarial.
É oportuno ressaltar que, nas sociedades anônimas, os acionistas são partícipes de capital;
logo, essa sociedade não está vinculada aos sócios, todavia os acionistas firmam o capital
para criar a companhia.
De acordo com o artigo 982 do Código Civil (BRASIL, 2002): “salvo as exceções expres-
sas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria
de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”. Logo, pode-se entender
que o que conceitua uma sociedade empresarial é seu objetivo social, que deve ser a explo-
ração da empresarialidade.
Entretanto, na concepção de Fazzio (2016), para que seja uma sociedade empresária, deve
ser formalizada essa união de pessoas, ou seja, deve ser materializada por meio de Contrato
Social, que deverá ser celebrado por todos os sócios e conforme o dispositivo 45 do Código
Civil. A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começará com a inscrição de
seus contratos, atos constitutivos, estatutos ou compromissos em seu registro peculiar.
O artigo 982 do Código Civil (BRASIL, 2002) traz duas hipóteses em que a sociedade
é empresarial, independentemente do seu escopo, pois traz em seu contexto que: “inde-
pendentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a
cooperativa”. Em suma, a sociedade por ações, como é o caso da sociedade anônima, será
considerada uma sociedade empresária, mesmo que seu objetivo não seja o exercício de
empresa. E a sociedade cooperativa vai ser sempre sociedade simples.
Observe que as sociedades simples, também denominadas sociedades uniprofissionais,
são as que têm como objeto a exploração da profissão intelectual dos seus sócios. Nesse tipo
de sociedade, a presença da organização dos fatores de produção nem sempre está presente,
porém existe uma hipótese em que pode existir a organização citada, que são os casos em
que os sócios são elementos da empresa, ou seja, exploram seu objeto social com organiza-
ção dos fatores de produção.
A presença da organização dos fatores de produção na empresa uniprofissional faz que
o profissional intelectual seja entendido como empresário. Esse entendimento também se
expande para a sociedade de profissionais intelectuais.
O artigo 983 do Código Civil (BRASIL, 2002) traz que “a sociedade empresária deve
constituir-se segundo um dos tipos regulados nos artigos 1.039 a 1.092; a sociedade simples
pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às
normas que lhe são próprias”. Nesse sentido, as sociedades empresariais, em conformidade
com o Código Civil, podem ser organizadas como:
• sociedade em nome coletivo (artigos 1.039 a 1.044);
40 Legislação empresarial
Direito Societário 3
• sociedade em comandita simples (artigos 1.045 a 1.051);
• sociedade anônima (artigos 1.088 a 1.089 c/c a Lei n. 6.404/1976);
• sociedade limitada (artigos 1.052 a 1.087);
• sociedade em comandita por ações (artigos 1.090 a 1.092);
• sociedade simples.
Primeiramente, é importante observar que a sociedade simples não está elencada nos
tipos descritos no artigo 983, porém pode ser organizada no formato de tipos empresariais,
com exceção da modalidade de sociedade por ações, conforme o artigo 982, parágrafo único,
do Código Civil. Nesse contexto, uma sociedade simples pode ser classificada em:
• sociedade simples pura (artigos 997 a 1.038);
• sociedade em nome coletivo (artigos 1.039 a 1.044);
• sociedade em comandita simples (artigos 1.045 a 1.051);
• sociedade limitada (artigos 1.052 a 1.087);
Observa-se ainda que, conforme o artigo 982, parágrafo único, do Código Civil (BRASIL,
2002), uma sociedade cooperativa sempre será considerada uma sociedade simples, inde-
pendentemente de seu objeto social.
A sociedade simples, segundo os artigos 981 e 982 do Código Civil, refere-se a uma
sociedade uniprofissional. Logo, são sociedades constituídas por profissionais intelectuais,
cuja finalidade social é a realização de atividades intelectuais de seus sócios. Apesar de esse
tipo societário ser considerado uma pessoa jurídica, não pode sofrer falência. Seu registro
deve ser realizado no Cartório, e não na Junta Comercial, conforme estabelecido no artigo
984 do Código Civil.
Sobre as demais sociedades previstas no Código Civil, é importante destacar que as
modalidades de sociedades se diferenciam segundo a sua atividade econômica. No que se
refere à sociedade em nome coletivo, essa só pode ser constituída por pessoas físicas, tendo
como responsável pelas obrigações sociais todos os sócios de forma ilimitada e solidária.
Todavia, é facultado aos membros da sociedade em nome coletivo, limitar, no ato constitu-
tivo, a responsabilidade dos sócios.
A sociedade limitada tem surgimento previsto no Decreto 3.708/1919. Porém, atual-
mente, está sendo regulamentada pelo Código Civil de 2002, nos artigos 1.052 a 1.087. Essa
sociedade também é chamada de sociedade por Cotas de Responsabilidade Limitada, deno-
minação adotada antes do Código Civil atual, haja vista que é constituída por sócios que se
responsabilizam pela empresa na proporção da cota do seu investimento.
Nessa sociedade podem-se verificar duas características básicas: a contratualidade e a
limitação de responsabilidade dos sócios. A contratualidade refere-se à liberdade dos sócios
em compactuar. Todavia, essa liberdade vem sido diminuída com a edição do Código Civil
de 2002. A limitação da responsabilidade dos sócios significa que, integralizado todo o ca-
pital, não será possível cobrar do patrimônio pessoal dos sócios as dívidas contraídas pela
sociedade, excetuando-se o caso da desconsideração da personalidade jurídica, já explicado
no capítulo anterior.
Legislação empresarial 41
3 Direito Societário
Outra modalidade de sociedade é a sociedade anônima, que, conforme Fazzio (2016, p. 179),
é a pessoa jurídica de direito privado, empresária por força de lei, regida por um
estatuto e identificada por uma denominação, criada com o objetivo de auferir
lucro mediante o exercício da empresa, cujo capital é dividido em frações trans-
missíveis, composta por sócios de responsabilidade limitada ao pagamento das
ações subscritas.
Logo, pode-se entender que essa sociedade é uma sociedade de capital, na qual os títu-
los que a representam (ações) são negociáveis de forma livre. Assim, é possível compreender
a sociedade anônima como uma empresa que tem seu capital dividido em cotas, que são
representadas por ações. Existem dois tipos de sociedade anônima:
• capital aberto;
• capital fechado.
Perceba que nenhum acionista pode impedir que uma pessoa entre no quadro asso-
ciativo, bem como, no caso de falecimento, não poderá ser impedido o sucessor de assumir
seu lugar no quadro associativo. Nesse tipo de sociedade, o capital social é fragmentado
em ações e a responsabilidade social corresponde ao valor das ações que o acionista possui.
As ações da sociedade anônima são negociadas no mercado de capitais, que são enten-
didas como um rol de meios e instrumentos que propiciam a negociação entre os investido-
res e as empresas. Logo, pode-se compreender o mercado de valores como uma instituição
operacional de natureza financeira, cuja finalidade é de operacionalizar a liquidez dos títu-
los da empresa e viabilizar sua capitalização.
As sociedades anônimas são identificadas por seu nome empresarial, que contém as
expressões sociedade anônima ou companhia, podendo ser utilizadas de forma abreviada
S/A ou Cia. Entretanto, o termo companhia deverá estar no início ou no meio do nome em-
presarial, conforme a previsão legal do artigo 1.160 do Código Civil.
A sociedade em comandita simples, outra sociedade empresária, é também conside-
rada híbrida, visto que tem algumas características da comandita e outras da sociedade
anônima. Nessa modalidade societária, o sócio denominado comanditado tem suas obriga-
ções sociais ilimitadas e os outros sócios, chamados de comanditários, ao contrário, têm as
obrigações limitadas.
A regulamentação desse tipo está elencada nos artigos 1.045 a 1.051 do Código Civil, o
qual prevê que somente os sócios comanditados devem ser os administradores da empresa e
devem ser pessoa física. Já os sócios comanditários podem ser pessoa jurídica e não atuarão
como gestores da empresa. O artigo 1.028 prevê que, no falecimento de um dos sócios co-
manditados, o sucessor só poderá assumir o seu lugar na empresa caso isso esteja expresso
no Contrato Social.
A Carta Magna de 1988 trouxe no artigo 170, parágrafo único, e no 170, inciso IV, ex-
pressamente, o entendimento de que o mercado brasileiro é um regime capitalista, visto que
prevê os princípios da livre-iniciativa e da livre concorrência. Porém, no mesmo dispositivo
42 Legislação empresarial
Direito Societário 3
que prevê a livre-iniciativa, há algumas atividades que têm como objetivo o interesse públi-
co. Por esse motivo devem ser autorizadas, controladas e fiscalizadas pela Administração
Pública. Nesse contexto, pode-se verificar que o legislador disciplinou no Código Civil as
regras pertinentes às sociedades dependentes de autorização.
Entre as normas que regem essas sociedades que dependem de autorização para fun-
cionar, destaca-se o artigo 1.124 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê que, após a
publicação do ato administrativo ou da lei que aprova a constituição da sociedade, o prazo
para que essa comece seu funcionamento é de 12 (doze) meses. A lei prevê ainda que, no
caso de tal tipo de empresa “infringir disposição de ordem pública ou praticar atos contrá-
rios aos fins declarados no seu estatuto”, sua autorização pode ser anulada.
Algumas sociedades nacionais devem ter seu exercício empresarial autorizado pelo
Poder Público, visto que, conforme o artigo 1.126 do Código Civil (BRASIL, 2002), “é nacio-
nal a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede
de sua administração”. Logo, mesmo que todos os sócios sejam de nacionalidade brasileira,
essa pode ser considerada uma empresa estrangeira, pois o que faz a empresa ser nacional
é a origem do capital social.
Outra empresa que necessita de autorização para exercer função empresarial no país
é a sociedade estrangeira, como prevê o artigo 1.126 do Código Civil. Porém, os acionistas
de sociedade anônima não precisam de autorização, de acordo com o artigo 1.134. Após a
autorização do Poder Público, a empresa estrangeira deverá se registrar formalmente na
Junta Comercial de sua região. Lembrando, ainda, que essa empresa deverá ser regida pela
legislação vigente no Brasil.
Legislação empresarial 43
3 Direito Societário
meio do Contrato Social e se desfazem conforme as normas estabelecidas pelo Código Civil.
Entretanto, as institucionais são formadas por ato institucional ou estatutário e se dissolvem
por meio da Lei n. 6.404/1976.
Percebe-se que a sociedade contratual difere da sociedade institucional também pela
autonomia da vontade dos sócios, visto que na contratual os sócios têm liberdade para nor-
matizar suas relações como julgarem mais conveniente, sem modificarem o tipo societário
escolhido. Já nas sociedades institucionais, o elo entre os sócios é o estatuto. Nesse sentido,
os interesses são limitados aos da instituição.
Por fim, a terceira classificação corresponde à composição da sociedade, ou seja, ela
pode ser formada por: 1) um conjunto de pessoas (sociedades intuitu personae) ou 2) um
rol de capital e de pessoas (sociedades intuitu pecuniae). É importante, na visão de Coelho
(2016), que nas sociedades formadas por pessoas, ou seja, nas intuitu personae, exista um
elo psicológico entre os sócios, affectio societatis, que contribui para o sucesso da empresa.
Perceba que nesses casos a presença de um estranho como sócio pode gerar conflitos. Logo,
para que um novo sócio seja inserido na empresa, precisa, nesse tipo de sociedade, do con-
sentimento dos demais sócios.
Em contrapartida, as sociedades que são formadas por capital e pessoas, as chamadas
sociedades por capital, têm o capital como força para a empresa, e não o elo entre as pessoas.
Nesse sentido, a entrada de pessoas estranhas não necessita do consentimento dos demais
sócios.
A relevância dessa classificação – sociedades de pessoas e sociedades de capital – está
pautada no problema que cerca a penhorabilidade das quotas sociais, visto que, para Negrão
(2016, p. 170),“atualmente não se pode mais afirmar categoricamente que toda sociedade
anônima é necessariamente uma sociedade de capital”.
No Brasil, atualmente, pode-se verificar que existem sociedades limitadas constituídas
por capital, bem como sociedades anônimas com feição personalista. Por exemplo: existem
empresas familiares que, por meio de normas estatutárias, limitam suas ações normativas,
em conformidade com o artigo 36 da Lei de Sociedades Anônimas (LSA), e assumem uma
feição personalista.
Nesse contexto, para saber se uma empresa tem vínculo intuitu pecuniae ou vínculo
intuitu personae é necessária uma análise do estatuto ou do contrato que constitui a empresa.
Sobre a constituição da empresa, é importante destacar que essa pode ser feita de duas
formas: contratual ou institucional. Todavia, as sociedades institucionais são, somente, as
sociedades por ações e cooperativas.
Para a constituição de uma empresa, contratual ou institucional, devem existir alguns
requisitos mínimos que precisam constar do contrato: agente capaz, objeto lícito, possível,
determinado ou determinável e forma prescrita em lei.
Sobre o agente capaz, é importante destacar que, em caso de morte ou de perda da ca-
pacidade de alguns dos sócios, a legislação – artigos 3°, 4° e 974 do Código Civil – permite
que a atividade empresarial seja realizada por meio de representação ou assistência legal.
44 Legislação empresarial
Direito Societário 3
Observa-se que a incapacidade do sócio se refere à impossibilidade de este exprimir
sua vontade, que pode ser de forma transitória ou não. Tal incapacidade pode ser decor-
rente de enfermidade, doença ou desenvolvimento mental, por discernimento reduzido
decorrente de vício em tóxico ou ebriedade habitual. Nesses casos, o incapaz pode con-
tinuar sua atividade empresária, desde que assistido por representante, bem como pelos
seus pais ou autor da herança.
No que diz respeito ao requisito objeto lícito, pode ser entendido como tudo que está em
conformidade com a lei ou, ainda, conforme o artigo 35 da Lei n. 8.934/94 – Lei de Registro
Público de Empresas Mercantis (BRASIL, 1994), que não apresenta “matéria contrária aos
bons costumes ou à ordem pública”. Logo, pode-se entender que o objeto da sociedade não
pode afrontar a moral vigente nas relações sociais.
A empresa não pode ter também um objeto social que não seja possível, determinado
ou determinável, visto que, para que seja constituída uma sociedade, é necessário que o
objetivo dessa união de pessoas e de capital seja definido.
Os contratos e estatutos de constituição de sociedade devem ser formalizados, confor-
me a previsão da lei, ou seja, de forma solene, expressa e plural. Lembrando que, para ser
registrado na Junta Comercial, ou no Registro Civil, o Contrato Social deve seguir a forma
escrita. No que diz respeito à característica plural do Contrato Social, refere-se a não existir
uma única forma para a elaboração desse ato constitutivo.
Os contratos de constituição também possuem requisitos específicos que devem estar
presentes, como é o caso de: pluralidade de sócios, constituição de capital social, affectio
societatis e, por fim, coparticipação nos lucros e perdas.
Sobre a pluralidade de sócios, a legislação prevê que, para ser considerada uma socieda-
de, é necessário que seja um conjunto de duas ou mais pessoas. Logo, não se considera uma
sociedade unipessoal. No entanto, existem quatro exceções, em conformidade com Negrão
(2016): 1) companhia subsidiária integral – constituída mediante escritura pública, tendo
como única acionista uma sociedade brasileira; 2) empresa pública – criada por lei; 3) socie-
dade que perde a pluralidade de sócio, por um período; 4) sociedade por ações com apenas
um acionista.
A sociedade também deve possuir um patrimônio formado de recurso financeiro, ad-
vindo do ingresso do sócio no quadro social. Apesar de o capital ser expresso em moeda na-
cional, a contribuição do sócio pode ser feita por meio de bem que possua valor de mercado.
Outro requisito que deve estar presente é o affectio societatis, ou seja, a vontade que os
sócios têm de participar da sociedade, visando ao lucro. Na visão de Coelho (2016), a affectio
societatis possui quatro elementos essenciais, que são: 1) colaboração ativa, 2) consciente,
3) igualitária dos contratantes e, por fim, 4) para realização de um lucro a partilhar.
Conforme o artigo 1.008 do Código Civil, são proibidas as cláusulas no Contrato Social
que proíbam a participação do sócio nos lucros ou nas perdas, pois cada sócio tem direito
aos lucros da empresa, na proporção de sua cota, bem como tem deveres quanto às perdas
também na mesma proporção da sua parcela da empresa.
Legislação empresarial 45
3 Direito Societário
(RIBEIRO, 2017)
A despeito dos fatores que têm obstado uma maior adoção do instituto,
conforme já aferido no presente trabalho – ausência de bibliografia sobre o
46 Legislação empresarial
Direito Societário 3
tema, o desconhecimento do instituto por muitos empreendedores e ope-
radores do Direito, e a existência de questões controvertidas –, o número de
EIRELI´s registradas nas Juntas Comerciais tem crescido continuamente,
tanto em termos absolutos quanto proporcionais, quando comparado
às outras formas de organização da empresa, demonstrando a presença
deum mercado interessado em sua adoção como instrumento de adminis-
tração do negócio e de segurança jurídica do empreendedor, conferindo
ao empresariado nacional um importante fator de competitividade.
Atividades
1. As sociedades são organizações econômicas constituídas juridicamente por mais de
uma pessoa física ou jurídica, possuem patrimônio próprio, têm como finalidade a
exploração empresarial, cujo escopo é a produção de bens ou serviços, visando ao
lucro. Os requisitos da sociedade empresarial são:
Legislação empresarial 47
3 Direito Societário
3. “É a pessoa jurídica de direito privado, empresária por força de lei, regida por um
estatuto e identificada por uma denominação, criada com o objetivo de auferir lucro
mediante o exercício da empresa, cujo capital é dividido em frações transmissíveis,
composta por sócios de responsabilidade limitada ao pagamento das ações subscri-
tas”. Essa definição refere-se a qual tipo de sociedade?
Referências
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______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Lei n. 8.934, de 18 de novembro de 1994. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
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______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
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BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS, SERVIÇO E TURISMO. Estatística.
Disponível em: <http://empresometro.cnc.org.br/estatisticas>. Acesso em: 14 jun. 2017.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
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RIBEIRO, Marcia Carla Pereira; CARAMÊS, Guilherme Bonato Campos. EIRELI – empresa indi-
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Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Estudos%20e%20Pesquisas/
Participacao%20das%20micro%20e%20pequenas%20empresas.pdf>. Acesso em: 4 maio 2017.
48 Legislação empresarial
Direito Societário 3
Resolução
1. A − As sociedades são organizações econômicas constituídas juridicamente por mais
de uma pessoa física ou jurídica, possuem patrimônio próprio, têm como finalidade
a exploração empresarial, cujo escopo é a produção de bens ou serviços, visando ao
lucro. Os requisitos da sociedade empresarial são:
Legislação empresarial 49
4
Sócios e sociedade:
previsões legais
Introdução
Legislação empresarial 51
4 Sócios e sociedade: previsões legais
52 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
Caso um sócio, por algum motivo, retire-se voluntariamente, por exclusão ou por fale-
cimento da sociedade, os antigos sócios ou seus sucessores deverão responder por dívidas
existentes, no prazo de dois anos após o arquivamento da alteração da sociedade que retira o
sócio. Em conformidade com o artigo 1.032 do mesmo Código (BRASIL, 2002), que prevê: “A
retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade
pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade;
nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer
a averbação.”
Quando se tratar de dívidas contraídas após a retirada do sócio, por motivo de faleci-
mento, as dívidas posteriores a esse fato não serão de responsabilidade dos sucessores desse
sócio, somente as anteriores a esse acontecimento, pelo prazo de dois anos. Entretanto, se
a alteração no Contrato Social for proveniente da retirada ou exclusão de um sócio, a res-
ponsabilidade desse sócio afastado da empresa será de todos os atos que decorrerem até o
Contrato Social ser levado à Junta Comercial.
Lembre-se de que quando a empresa for de responsabilidade ilimitada, se o ativo desta
não for suficiente para sanar as dívidas perante os seus credores, os sócios responderão com
o seu patrimônio pessoal, isto é, os sócios deverão utilizar de seus bens pessoais para quitar
dívidas que a empresa não consiga satisfazer. Nos casos de substituição de sócios, isso ocor-
re no período de dois anos.
Em suma, podem ocorrer as seguintes situações, no que se refere às obrigações dos só-
cios, conforme Negrão (2016, p. 40):
• Os sócios remanescentes deverão responder solidariamente pelas dívidas que
permanecerem.
• O sócio que entrar no lugar de outro sócio deverá ter as mesmas responsabilida-
des no mesmo aspecto que os sócios retirantes, de acordo com o artigo 1.025 do
Código Civil.
• Os sócios que se afastarem da sociedade responderão solidariamente pelos ônus
que existirem até a data do arquivamento da alteração contratual, em conformida-
de com o dispositivo 1.032 do Código Civil.
Quando a sociedade for limitada, a responsabilização do sócio que ingressa na sociedade
será diferente do sócio que se retira desta, visto que o acionista, o sócio cotista de sociedade
limitada e o sócio comanditário são classes diferentes de sócios dentro da mesma sociedade.
Se o cotista e o sócio comanditário se retiram da sociedade, recebem os fundos sociais
que lhes pertencem e respondem apenas pelas obrigações já existentes, até o prazo de dois
anos após sua retirada, em conformidade com a regra do artigo 1.032 do Código Civil.
Contudo, se o cotista e o sócio comanditário se retirarem da sociedade motivados por
cessão das cotas em nome de terceiro, ambos responderão solidariamente, conforme o artigo
1.003 da mesma lei. Nesse caso, verifica-se que a responsabilização será idêntica tanto para
o sócio transmissório quanto para o sócio cedente, pelo prazo de dois anos a partir do arqui-
vamento da alteração contratual na Junta Comercial.
Legislação empresarial 53
4 Sócios e sociedade: previsões legais
A sociedade empresária é uma pessoa jurídica que nasce da vontade dos sócios e se
constitui por meio de Contrato Social. Por conseguinte, o Contrato Social estabelece as obri-
gações que o sócio assumirá perante os demais sócios e a própria sociedade.
54 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
Essas obrigações começarão a ter validade no momento da assinatura do Contrato Social
ou na data que esse documento estabelecer e só terminará com a dissolução da sociedade,
em conformidade com o artigo 1.001 do Código Civil (BRASIL, 2002), que estabelece: “as
obrigações dos sócios começam imediatamente com o contrato, se este não fixar outra data,
e terminam quando, liquidada a sociedade, se extinguirem as responsabilidades sociais”.
Entre as principais obrigações dos sócios, destaca-se o artigo 1.007 do Código Civil
(BRASIL, 2002), que prevê: “Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e
das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em
serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas”.
Nesse cenário, as principais obrigações dos sócios são, conforme Fazzio Junior (2016,
p. 174), “contribuir para a formação do capital social, subscrevendo e integralizando suas
respectivas quotas, e a de participar dos resultados sociais, nos termos estabelecidos no con-
trato social ou, na omissão deste”.
A sociedade simples pura, ou seja, aquela constituída por pessoas físicas, possui como
característica o affectio societatis entre os sócios, ou seja, um elo de motivação que impulsiona
a empresa para frente. Entretanto, a sociedade possui outro vínculo, que é o contratual. O
conjunto desses vínculos formam o intuitu personae entre os sócios, razão essa pela qual uma
pessoa estranha não poderá entrar no quadro de sócios sem a anuência dos demais.
Esse pensamento está respaldado no artigo 1.002 do Código Civil (BRASIL, 2002), que
prevê que “o sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consenti-
mento dos demais sócios, expresso em modificação do contrato social”. Corrobora essa ideia
o artigo 1.003 da mesma lei (BRASIL, 2002), que traz: “a cessão total ou parcial de quota, sem
a correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios,
não terá eficácia quanto a estes e à sociedade”.
É importante destacar ainda que, nos casos em que o sócio se retira da sociedade pois
cedeu a sua quota para terceiro, mesmo com a anuência dos demais sócios, não está abdica-
do de possíveis obrigações com terceiros ou com a própria sociedade, tendo previsão legal
no artigo 1.003, parágrafo único, e no artigo 1.032 do Código Civil.
Existem alguns direitos e deveres destinados aos sócios que são comuns a todas as mo-
dalidades societárias. Entre elas, pode-se destacar:
• O dever de contribuir, que se refere ao valor com que o sócio se obriga a colaborar
para formar o capital inicial, conforme a configuração e o prazo estabelecido no
Contrato Social ou no estatuto social, sob pena de ser considerado remisso, bem
como aos efeitos:
◦◦ cobrança de indenização por dano causado ao patrimônio social, bem como a
integralização subscrita;
◦◦ redução do capital inicial pela exclusão do sócio remisso da sociedade;
◦◦ redução do capital inicial pela diminuição da participação do sócio remisso.
• Dever de probidade nas deliberações e na gestão social. Esse dever está estabeleci-
do no artigo 1.011 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê que “O administrador
Legislação empresarial 55
4 Sócios e sociedade: previsões legais
56 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
proporção das quotas de que sejam titulares. À cessão do direito de preferência,
aplica-se o disposto no caput do art. 1.057. Decorrido o prazo da preferência, e
assumida pelos sócios, ou por terceiros, a totalidade do aumento, haverá reunião
ou assembleia dos sócios, para que seja aprovada a modificação do contrato.
• Direito de retirada. Refere-se à possibilidade de o sócio se retirar da sociedade que
está constituída por tempo indeterminado, a qualquer tempo. Quando a sociedade
está sendo regida pelo Código Civil, o sócio que tem a pretensão de se retirar deverá
notificar os demais sócios, com uma antecedência mínima de trinta dias. Contudo,
nas sociedades com prazo determinado, a saída do sócio só poderá ocorrer com a
aceitação unânime dos demais sócios ou ser analisada pelo Poder Judiciário.
Legislação empresarial 57
4 Sócios e sociedade: previsões legais
Conforme o artigo 1.019 do Código Civil (BRASIL, 2002): “São irrevogáveis os poderes
do sócio investido na administração por cláusula expressa do Contrato Social, salvo justa
causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios”. É admissível separar os
poderes dos sócios administradores dos demais sócios. Entretanto, no parágrafo único do
mesmo dispositivo, o legislador previu que: “são revogáveis, a qualquer tempo, os poderes
conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio”. Em conformidade com o
artigo 1.013 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê que “a administração da socieda-
de, nada dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios”. Logo,
quando estiver por escrito, no Contrato Social, a administração da sociedade poderá ser feita
por meio dos sócios de forma conjunta ou separada, bem como por pessoas que não façam
parte do quadro social, independentemente da presença de um sócio. Nesse contexto, veri-
fica-se que a legislação faculta a possibilidade de atribuir a pessoas fora do quadro social o
poder de gerenciar a sociedade.
Em relação à sociedade em nome coletivo, de acordo com o artigo 1.042 do Código Civil
(BRASIL, 2002): “A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios, sendo o
uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes”.
Verifica-se que somente os sócios podem fazer uso da firma. Esse é o mesmo entendimento
para as sociedades em comandita simples e em conta de participação, de acordo com os
dispositivos dos artigos 1.045, 1.046 e 991 do Código Civil.
Nas sociedades limitadas, o artigo 1.061 do Código Civil (BRASIL, 2002) prevê: “A de-
signação de administradores não sócios dependerá de aprovação da unanimidade dos só-
cios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a
integralização”. Nesse sentido, a legislação estabelece que o Contrato Social traga a possibi-
lidade da nomeação de administradores estranhos à sociedade.
Existe, ainda, a possibilidade de alguns sócios serem impedidos de ser administradores
da sociedade, conforme o artigo 1.011, § 1°, do Código Civil (BRASIL, 2002), que traz:
Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial,
os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos
públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão,
peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional,
contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé
pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.
Nesse contexto, existem dois tipos de impedimentos para o exercício da administração
da sociedade por parte dos sócios: 1) a incompatibilidade profissional e 2) a de ordem geral.
Os impedimentos profissionais são aqueles casos em que a lei proíbe o sujeito de exer-
cer a administração de uma sociedade ou manter a atividade empresarial, por exercer uma
função em outro lugar, como é o caso dos membros do Ministério Público e os magistrados
ou, ainda, os deputados e senadores em empresa que goze de favor decorrente de contra-
to com pessoa jurídica de direito público, entre outros. Em contrapartida, os impedimen-
tos gerais são aqueles em que, por motivo diverso, a pessoa não pode exercer a função de
58 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
administrador de uma sociedade, como os estrangeiros que estão no país com visto tempo-
rário, de turista ou de trânsito.
Os artigos 1.013 e 1.014 do Código Civil (BRASIL, 2002) trazem as modalidades de exer-
cício da administração, que são:
• Disjuntiva: os sócios exercem atos da administração da sociedade, de forma sepa-
rada, e possuem o direito de refutar o ato exercido por outro sócio.
• Conjunta: os atos são realizados mediante o consenso dos sócios, salvo nos casos
urgentes, em que a decisão pode ser apenas de um ou de alguns sócios.
• Conjunta com limitação: os atos advêm de deliberação dos sócios, que decidem
por maioria.
Conforme Negrão (2016), existem deveres atribuídos ao administrador, que são:
• diligência;
• lealdade;
• informação e prestação de contas.
Em suma, o administrador deverá ter cuidado quando exercer a função de adminis-
trador da sociedade, trabalhando com lealdade aos interesses da empresa. E, por fim,
deverá prestar informação e contas a todos os sócios, visto que esses têm o direito de fis-
calizar seu empreendimento.
Quando o administrador estiver exercendo suas funções, não pode ser substituído, po-
rém a lei permite que sejam constituídos, mediante procuração, mandatários para executar
atos específicos.
Nos casos das sociedades simples, em nome coletivo e em comandita simples, o poder
do administrador é irrevogável quando estiver expressamente escrito no Contrato Social,
só podendo ser revogado por justa causa, por morte do administrador, sua interdição ou
inabilidade por decisão judicial. Conforme o artigo 1.019, caput, do Código Civil (BRASIL,
2002): “são irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula expres-
sa do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos
sócios”. Porém, nos casos em que os poderes do administrador forem conferidos fora do
Contrato Social, podem ser revogado os poderes deste, a qualquer momento, por delibera-
ção da maioria dos sócios.
Os poderes dos administradores referem-se aos atos exercidos na gestão da sociedade,
exceto, conforme Fazzio Júnior (2016), os de alienação, imposição de ônus sobre os bens
imóveis, operação a título gratuito, com ônus ao patrimônio social ou aplicação de créditos
ou bens sociais em proveito próprio ou de terceiros.
Nesse contexto, pode-se entender que os poderes do administrador, em regra geral, são:
• a prática dos atos estabelecidos no Contrato Social;
• emissão, endosso e circulação dos títulos de crédito, oriundos da atividade
empresarial;
• conservação e manutenção dos bens sociais;
Legislação empresarial 59
4 Sócios e sociedade: previsões legais
(PEREIRA, 2017)
60 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
Somente no caso concreto é possível verificar se a sociedade ou empresá-
rio se vincularão aos atos praticados por administradores e prepostos que
descumprem seus poderes ou, até mesmo, atuam fora do objeto social. E
para isso, alguns fatores devem ser observados: i) se o ato é ou não contrá-
rio ao objeto social, tendo em vista a atividade econômica desenvolvida,
ou se houve excesso por parte do administrador, analisando se trata de
ato de administração ordinário ou extraordinário; ii) se o terceiro contra-
tante é pessoa do ramo empresarial configurando relação paritária ou se é
parte vulnerável, caso típico de relação de consumo e, por isso, não estaria
obrigado a conhecer o ato constitutivo; iii) se o terceiro agiu de boa-fé, se
houve confiança; e iv) o vulto do negócio envolvido.
Atividades
1. A sociedade empresária pode ser desconstituída por:
Legislação empresarial 61
4 Sócios e sociedade: previsões legais
Referências
BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/hand-
le/id/70327/C%C3%B3digo%20Civil%202%20ed.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.
NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial: estudo unificado. 5. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2016.
PEREIRA, Paula Moura Francesconi de Lemos. A responsabilidade da sociedade empresária e do
empresário pelos atos dos administradores. Disponível em: <http://www.publicadireito.com.br/arti-
gos/?cod=b986700c627db479>. Acesso em: 4 maio 2017.
Resolução
1. A − O Código Civil, no artigo 50, dispõe que: “em caso de abuso da personalidade
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial,
pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios
da pessoa jurídica”.
62 Legislação empresarial
Sócios e sociedade: previsões legais 4
dois casos, quando o credor comprovar que está sendo prejudicado, poderá ocorrer
a desconsideração da personalidade jurídica e os sócios responderão ilimitadamente.
Direito de fiscalização: todo sócio tem o direito de verificar o andamento de sua em-
presa. Nesse sentido, é facultado a todos os sócios examinar os livros e documentos
sociais, bem como os créditos e os débitos da empresa. Na hipótese de que o sócio
não sinta segurança com os documentos examinados, ele pode solicitar ainda uma
prestação de contas, pelas vias judiciais ou extrajudiciais.
Legislação empresarial 63
5
Contrato Social
Introdução
Legislação empresarial 65
5 Contrato Social
A sociedade empresária surge com o encontro de várias pessoas com a mesma vontade,
ou seja, de exercer uma função empresarial. Essa união, dependendo da modalidade da so-
ciedade que os sócios criarem, definirá as regras que a disciplinarão, bem como dependerá
dessa decisão a adequação do ato constitutivo, ou seja, por meio de Contrato Social ou esta-
tuto, para que essa sociedade seja efetivada juridicamente.
O Contrato Social é instrumento de constituição das sociedades em nome coletivo, em
comandita simples e limitada. Essas três modalidades de empresa têm como parâmetro o
próprio contrato como base para sua dissolução, bem como o Código Civil.
O Contrato Social, na visão de Fazzio Júnior (2016), é “bastante peculiar”, visto que as
regras dos contratos em geral não podem simplesmente ser utilizadas no Contrato Social,
pois este é entendido como plurilateral. Logo, é um contrato que emerge da vontade de
várias pessoas cuja finalidade é exercer uma atividade comercial, visando ao lucro. Como o
Contrato Social é um contrato plurilateral, cada sócio contrai a responsabilidade pertinente
à empresa, diante de todos os demais sujeitos do contrato.
A celebração da união dos sócios, mediante o Contrato Social, faz nascer um novo su-
jeito de direito, que é a sociedade empresária. Por meio dessa pessoa jurídica, os sócios
adquirem obrigações. Como relaciona Fazzio Júnior (2016), o dever do sócio em integralizar
a quota do capital social decorre do Contrato Social.
Nas sociedades de regime contratual, os sócios têm natureza jurídica sui generis, visto
que se submetem a um regime jurídico próprio, o qual é constituído por um rol de direitos
e deveres que a legislação ou o Contrato Social prevê.
No que se refere às obrigações, podem-se verificar dois casos legais, que são a obrigação
da constituição do capital social e a responsabilidade subsidiária, de acordo com a moda-
lidade da sociedade que constituiu. Um sócio pode ser considerado remisso quando não
integralizar o valor das cotas.
No contrato podem ser estabelecidos os prazos para a integralização das cotas do capital
social. Quando ocorrer atraso no cumprimento da integralização do capital social, conforme
acordado no Contrato Social, o sócio que estiver inadimplente terá sua mora decretada, bem
como deverá indenizar a sociedade por qualquer tipo de dano. Nos casos em que o sócio
se mantenha inadimplente, a sociedade poderá cobrá-lo judicialmente e, ainda, afastá-lo da
sociedade. Os sócios podem ainda optar por diminuir as cotas do sócio inadimplente no
montante integralizado.
Quando a sociedade for limitada, outra opção reservada aos sócios, com o intuito de
que a sociedade não diminua o capital social por consequência do afastamento do sócio re-
misso, é introduzir um terceiro na sociedade, que ficará com a cota do sócio descumpridor,
em conformidade com os artigos 1.004 e 1.058 do Código Civil (BRASIL, 2002).
66 Legislação empresarial
Contrato Social 5
Os sócios das sociedades de regime contratual possuem os seguintes direitos:
• Participação nos resultados sociais: todo o lucro derivado da sociedade, depen-
dendo do que for acordado mediante o contrato, terá como destino a capitalização,
a constituição de reserva ou a distribuição entre os sócios. No que se refere à dis-
tribuição do lucro entre os sócios, cada um terá sua parte do lucro proporcional-
mente à sua participação no capital social, salvo convenção anterior diversa. Outra
probabilidade de participação dos sócios ocorre quando a sociedade se dissolve.
Nesse momento, os sócios recebem sua parte no acervo social, também conforme
sua cota na empresa.
• Administração da sociedade: sócio da empresa contratual pode interferir no co-
mando da sociedade, por meio da escolha do administrador ou, ainda, pela defi-
nição da missão, da visão e da estratégia da empresa, entre outros atos. Todavia,
essas interferências acontecerão sempre que o sócio seja maioria na sua vontade,
nas deliberações sociais.
• Fiscalização da administração: outro direito do sócio é a fiscalização dos atos da
empresa, por meio de exame (análise dos documentos da empresa e da movimen-
tação financeira), de acordo com o artigo 1.021 do Código Civil (BRASIL, 2002), e
por meio de prestação de contas, em conformidade com o artigo 1.020 do Código
Civil (BRASIL, 2002).
• Direito de retirada: o sócio pode se retirar da sociedade. Nesse caso terá o direi-
to a receber a sua parte da empresa. Logo, perceberá o montante equivalente à
sua parte do patrimônio líquido da sociedade. Nas sociedades com prazo inde-
terminado, o sócio pode se retirar sem motivo aparente. Porém, conforme o artigo
1.029 (BRASIL, 2002), deverá avisar os outros sócios com pelo menos 60 dias de
antecedência, porque haverá a necessidade de se realizar a alteração contratual.
Entretanto, nos casos em que a sociedade tem a previsão de prazo determinado, o
sócio só pode se retirar caso tenha um real motivo comprovado em juízo.
Nos casos de sociedade limitada com prazo, o sócio pode sair da sociedade quando hou-
ver modificação no contrato, por incorporação ou fusão, em conformidade com o artigo 1.077.
Os lucros e dividendos pertencem à sociedade. Caso essa venha a ser extinta, no enten-
dimento do Fazzio Júnior (2016), os sócios serão credores da própria sociedade, e, portanto,
podem cobrar seus dividendos, inclusive por meio da justiça, salvo em caso de a sociedade
entrar em falência.
É importante destacar que a participação nos lucros a que os sócios têm direito não é
o mesmo que a remuneração que os sócios percebem pelo trabalho prestado na empresa.
Nesse sentido, o Contrato Social poderá prever a possibilidade de pro labore para os sócios
que desenvolvam algum tipo de atividade na empresa, bem como para o sócio administra-
dor. Logo, pode-se entender que o lucro é direto do sócio que integrou o capital investido e
o pro labore é a remuneração do sócio que exerce uma função na empresa.
Legislação empresarial 67
5 Contrato Social
A legislação brasileira prevê alguns requisitos para que o Contrato Social tenha valida-
de jurídica. Sem essas condições, pode ser considerado nulo ou anulável. É importante des-
tacar que a invalidação não corresponde à dissolução da sociedade, visto que a invalidação
e a dissolução se distinguem por três aspectos, em consonância com Coelho (2016):
68 Legislação empresarial
Contrato Social 5
1. Quanto aos sujeitos: a dissolução pode ser resultado da vontade das partes ou de
decisão judicial; em contrapartida, a invalidação é resultado de um ato do Poder
Judiciário.
2. Quanto aos motivos: a invalidação do Contrato Social decorre da falta de um cum-
primento legal. Entretanto, a dissolução se baseia nas demais desconformidades,
como é o caso do artigo 1.034, que traz a inviabilidade do objeto social, ou, ainda, o
artigo 1.077, que se refere à dissidência dos sócios, entre outros motivos.
3. Quanto aos efeitos: a dissolução não retroage, porém, a invalidação pode ser mo-
dificada. Logo, pode-se entender que, após o ato da dissolução, a pessoa jurídica
que é a sociedade não pode ser retomada. No entanto, no caso da invalidação do
ato constitutivo, a sociedade será considerada inválida e seu exercício empresarial
será irregular.
Para que o Contrato Social seja considerado válido, deve estar em acordo com duas or-
dens de requisitos: os comuns a todos os negócios jurídicos (genéricos) e os especiais do ato
constitutivo da sociedade empresária.
Os requisitos genéricos, que dão validade ao Contrato Social, estão elencados no artigo
104 do Código Civil (BRASIL, 2002), ou seja, “a validade do negócio jurídico requer: I –
agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita
ou não defesa em lei”.
Sobre o agente capaz, é relevante destacar que, nas sociedades limitadas, o menor de idade
poderá ser sócio. Entretanto, somente quando devidamente representado ou assistido. Porém,
não poderá administrar a sociedade, e o capital social deverá estar por inteiro integralizado.
O Contrato Social não poderá ter como objeto social a exploração de atividades que a
legislação brasileira considere ilegal, como é o caso do jogo do bicho ou a venda de entor-
pecente. E, por fim, no que diz respeito à forma, o Contrato Social deverá ser expresso por
instrumento particular ou público.
Além dos requisitos previstos no artigo 104 do Código Civil, existem os requisitos es-
pecíficos aos Contratos Sociais, como é o caso da hipótese de que todos os sócios deverão
formar o capital social por meio de bens, créditos ou dinheiro; por consequência, todos os
sócios participarão do resultado da sociedade, seja esse positivo ou negativo.
Essas condições têm como parâmetro o próprio conceito de Contrato Social, que está
previsto no artigo 981 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Celebram contrato de sociedade
as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exer-
cício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Nesse contexto, pode-se
entender que uma sociedade empresária não é válida quando um dos sócios não contribui
para a formação do capital social ou, ainda, quando não permita que um dos sócios perceba
o lucro ou as perdas da empresa.
Outra hipótese em que a sociedade será considerada nula é quando o Contrato Social
prever que um dos sócios será indenizado em caso de falência, visto que isso seria o mesmo
Legislação empresarial 69
5 Contrato Social
que considerar a exclusão do sócio nos casos de perdas da sociedade. A legislação brasileira
proíbe a repartição de forma desigual dos lucros, bem como do capital social.
Como visto anteriormente, a pluralidade de sócios tem como parâmetro a inexistência
da sociedade unipessoal na legislação. Contudo, existem duas exceções: a subsidiária in-
tegral e a unipessoalidade incidental temporária. Toda vez que uma sociedade contratual
se tornar unipessoal por motivo de falecimento de um dos sócios, ocorrerá a sucessão inter
vivos. Conforme o artigo 1.033, IV, do Código Civil (BRASIL, 2002), a pluralidade de sócios
deverá ser restaurada em 180 dias. Caso não seja possível restabelecer esse pressuposto, a
sociedade empresária deverá ser dissolvida.
O Contrato Social deverá possuir algumas cláusulas contratuais que regulamentem a
vida da pessoa jurídica denominada sociedade empresária. Todas as diretrizes pertinentes
aos sócios e à sociedade devem ser acordadas pelos sócios da empresa. Todavia, muitas si-
tuações podem não estar previstas no Contrato Social. Nesse sentido, algumas cláusulas so-
ciais são importantes para a harmonia de uma sociedade empresária. A legislação traz o ar-
tigo 35, III, da Lei n. 8.934/1994, que determina algumas circunstâncias para que o Contrato
Social seja registrado na Junta Comercial. Caso o Contrato Social não traga as cláusulas
previstas na lei, não poderá ser registrado e, por consequência, será uma sociedade empre-
sária irregular.
O artigo 997, I a IV e VI, do Código Civil (BRASIL, 2002) traz as cláusulas consideradas
essenciais ao Contrato Social e que, portanto, são exigidas. São elas:
• A qualificação dos sócios: de acordo com o artigo 997, I, do Código Civil (BRASIL,
2002), deverá constar “nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência
dos sócios, as pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede
dos sócios, se jurídicas”. Outros dados pertinentes são o número de inscrição no
cadastro de pessoas físicas ou no cadastro nacional de pessoas jurídicas, depen-
dendo do caso.
• Objeto social: a atividade que a sociedade deverá explorar economicamente deve
estar prevista de forma detalhada e de forma explícita.
• Nome empresarial: a expressão que identifica a empresa.
• Sede: o local em que a empresa estará situada, ou o seu representante legal.
• Prazo de duração: a sociedade pode ser constituída por um prazo determinado ou
indeterminado, que deve ser acordado pelos sócios.
• Capital social e quotas dos sócios: deverá constar o capital social da sociedade,
bem como a forma e o prazo da integralização e as cotas pertencentes a cada um
dos sócios.
• Nomeação do administrador: deve constar no Contrato Social quem deve ser o
representante legal da sociedade. Lembrando que, em muitas sociedades contra-
tuais, o administrador deve ser do quadro associativo. Contudo, a sociedade limi-
tada pode ser representada por um não sócio.
70 Legislação empresarial
Contrato Social 5
Existem outras formalidades que devem ser verificadas para que o Contrato Social seja
registrado na Junta Comercial. Entre elas, destaca-se, conforme o Decreto 1.800/96, art. 36,
que um advogado deverá dar vista aos atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas.
O Contrato Social deve ser escrito, porém o artigo 987 do Código Civil (BRASIL, 2002)
prevê que: “Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem
provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo”.
Consequentemente, verifica-se a hipótese de o Contrato Social ser informal, pois sua
existência será verificada por meio de testemunhas, cartas, perícia em contas bancárias.
Entretanto, essa sociedade será considerada irregular, pois não é possível seu registro na
Junta Comercial.
O Contrato Social pode ser alterado pela vontade dos sócios, bem como por decisão
judicial. Quando a regras não são satisfatórias para o bom andamento da sociedade em-
presária, os sócios de comum acordo podem alterar as disposições contratuais. Contudo, a
alteração só pode ser feita por deliberação social, a qual deve ter maioria de votos.
É importante destacar que os votos representam o capital social, e não a quantidade de
sócios. Nesse contexto, o voto corresponde à cota social. Logo, um sócio pode ter a maioria
dos votos, pois possui mais que a metade do capital social. Havendo o empate de votos, o
número de sócios decidirá a lide. No entanto, continuando o impasse após a votação por
cota e pelo número de sócios, as cláusulas do contrato poderão ser utilizadas como subsídio
para que o impasse seja resolvido. Porém, se o contrato for omisso, no intuito de solucionar
tal problema, os sócios deverão entrar com processo via judicial, para que o juiz de direito
resolva a questão.
Nas sociedades em nome coletivo e em comandita simples, para que ocorra a mudança
em cláusulas essenciais do Contrato Social, em conformidade com o artigo 999 do Código
Civil (BRASIL, 2002), deverá haver a unanimidade dos sócios. Nesse contexto, quando um
dos sócios não seja a favor da mudança, independentemente da sua cota social, não poderá o
Contrato Social ser alterado. Entretanto, as cláusulas não essenciais podem ser modificadas
por mais da metade do capital social.
No que diz respeito à alteração das cláusulas (essencial ou acidental) do Contrato Social
da sociedade limitada, conforme os artigos 1.071, V, e 1.076, I, do Código Civil (BRASIL,
2002), ela só pode ocorrer quando aprovada por mais de três quartos do capital social.
Além da sociedade limitada, existem três tipos de sociedade constituídas por contrato
entre os sócios, conhecidas como sociedades contratuais, conforme o Código Civil. São elas:
em nome coletivo, em comandita simples e em conta de participação – conforme Coelho
(2016), também chamadas de sociedades de contratuais menores, visto sua pouca presença na
economia do país.
Sobre a sociedade em nome coletivo e a comandita simples, podem-se verificar algumas
peculiaridades em comum:
Legislação empresarial 71
5 Contrato Social
72 Legislação empresarial
Contrato Social 5
ingressará na sociedade, segundo o artigo 1.050 do Código Civil (BRASIL, 2002). Porém, so-
mente no caso de o Contrato Social trazer expressamente, os sobreviventes poderão liquidar
as quotas do comanditário falecido.
Os artigos 991 a 996 do Código Civil (BRASIL, 2002) trazem a normatização da socieda-
de em conta de participação. Essa sociedade refere-se ao conjunto de duas ou mais pessoas
que se integram com a finalidade de desenvolver um empreendimento em comum, na qual
há um ou mais sócios em posição ostensiva e outro, ou outros, em posição oculta.
Esse tipo societário não tem personalidade jurídica e, por consequência, são os sócios
ostensivos que assumem as obrigações da sociedade, como sua responsabilidade pessoal, de
forma conjunta ou separadamente. Logo, os sócios ostensivos responderão de forma ilimita-
da pelas obrigações da empresa. No entanto, os sócios participantes responderão apenas da
forma estabelecida no Contrato Social e somente para os sócios ostensivos. Nesse contexto,
os sócios participantes não têm nenhuma relação de obrigação com os credores da empresa.
Nesse âmbito, a sociedade em conta de participação é uma sociedade despersonalizada,
porém também pode ser considerada secreta, visto que o Contrato Social não pode ser re-
gistrado no registro das empresas. No entanto, esse Contrato Social pode ser registrado no
Registro de Títulos e Documentos, com a finalidade de resguardar os interesses dos sócios.
Essa instituição não confere à sociedade em conta de participação personalidade jurídica.
Devido à despersonalização dessa sociedade, bem como por ela ser secreta, não possui-
rá nenhum nome empresarial. Os bens que compõem o desenvolvimento empresarial desse
tipo de sociedade serão considerados um patrimônio especial.
As obrigações pessoais dos sócios ostensivos que nada tiverem com o desenvolvimento
da sociedade em conta de participação serão pagas com parte do seu patrimônio, se o cre-
dor ignorava a existência da sociedade. E, no caso de falência do sócio ostensivo, a conta de
participação será quitada. Entretanto, caso o sócio participante venha a falir, os direitos de
contratos da sociedade ingressarão na massa.
É oportuno observar que, em 1996, o Direito Tributário equiparou a sociedade em
conta de participação com as demais sociedades e, por consequência, essa deve pagar
os impostos de renda. Logo, esse tipo societário permanece despersonalizado somente
para o Direito Comercial.
Tratando agora da sociedade limitada, ela tem como atributos a limitação da respon-
sabilidade dos sócios e a contratualidade. Logo, pode-se entender que os sócios só poderão
responder de acordo com o capital social integralizado, ou seja, não poderão os credores
executar seus créditos mediante o patrimônio particular dos sócios. Sobre a contratualidade,
refere-se à vontade de os sócios serem estabelecidos por meio de Contrato Social.
Os artigos 1.052 a 1.087 do Código Civil (BRASIL, 2002) trazem a normativa da socieda-
de limitada. Todavia, existem outros dispositivos legais que disciplinam esse tipo societário.
Caso exista ainda algum tipo de lacuna legal para disciplinar essa sociedade, deverá ser feita
a analogia com as regras das sociedades simples. No Contrato Social das sociedades limi-
tadas, deve estar, expressamente, vinculada nas cláusulas a determinação da não utilização
das normas das sociedades simples que não se aplicam.
Legislação empresarial 73
5 Contrato Social
Em resumo, se o Contrato Social da sociedade limitada for omisso, deverão ser utili-
zadas as regras das sociedades simples, que estão disciplinadas nos artigos 997 a 1.032 do
Código Civil. Todavia, os sócios podem compactuar expressamente no Contrato Social que
sejam utilizadas por regime de regência as normas das sociedades anônimas, cujos disposi-
tivos legais são os artigos 1.052 a 1.087 do Código Civil.
É importante destacar que, se a legislação, no que se refere à sociedade limitada, não for
omissa, não caberá analogia, nem pelas normas das sociedades simples ou das anônimas.
Por fim, é importante destacar que a constituição e a dissolução desse tipo societário
deverão ser conduzidas pelos artigos 1.033 a 1.038 e 1.102 a 1.112 do Código Civil, mesmo
que no Contrato Social esteja estabelecido que ocorrerá a regência supletiva das regras das
sociedades anônimas.
(CZELUSNIAK, 2014)
74 Legislação empresarial
Contrato Social 5
para constituição e sustento, constrangem o futuro empreendedor. Quer
dizer, há vantagem em a sociedade anônima por poder versar sobre os
mais variados objetos, entretanto, tem-se a desvantagem da complexi-
dade para a sua constituição. Quanto à sociedade limitada, além de tam-
bém ter como objeto qualquer atividade empresária, sua criação é menos
burocrática que a anterior.
Atividades
1. Os sócios das sociedades de regime contratual possuem os seguintes direitos:
2. Para que o Contrato Social seja considerado válido, deve estar de acordo com duas
ordens de requisitos: os comuns a todos os negócios jurídicos (genéricos) e os espe-
ciais do ato constitutivo da sociedade empresária. Nesse contexto, analise as afirma-
ções e assinale a alternativa correta:
I. Nas sociedades limitadas, o menor de idade poderá ser sócio, mas somente
quando devidamente representado ou assistido. Porém não poderá administrar
a sociedade e o capital social deverá estar por inteiro integralizado.
II. O objeto social de uma sociedade pode ser a venda de entorpecente.
Legislação empresarial 75
5 Contrato Social
III. O Contrato Social só pode ser oral, visto as pessoas que não sabem escrever.
a. Todas as alternativas estão corretas.
b. Todas as alternativas estão incorretas.
c. Somente a alternativa I está correta.
d. Somente a alternativa II está correta.
3. Além da sociedade limitada, existem três tipos de sociedade constituídas por con-
trato entre os sócios, conhecidas como sociedades contratuais, conforme o Código
Civil. São elas:
Referências
BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/hand-
le/id/70327/C%C3%B3digo%20Civil%202%20ed.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Decreto n. 1.800, de 30 de janeiro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/decreto/d1800.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
CZELUSNIAK, Vivian Amaro; PONTES, Isabella. Direito societário e empreendedorismo. E-Civitas,
Belo Horizonte, v. 7, n. 1, jun. 2014.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.
Resolução
1. A − Os sócios das sociedades de regime contratual possuem os seguintes direitos:
participação nos resultados sociais; administração da sociedade; fiscalização da
administração; direito de retirada.
76 Legislação empresarial
Contrato Social 5
2. C − Para que o Contrato Social seja considerado válido, deve estar de acordo com
duas ordens de requisitos: os comuns a todos os negócios jurídicos (genéricos) e os
especiais do ato constitutivo da sociedade empresária.
Os requisitos genéricos, que dão validade ao Contrato Social, estão elencados no ar-
tigo 104 do Código Civil (BRASIL, 2008), ou seja, “a validade do negócio jurídico
requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III
– forma prescrita ou não defesa em lei”.
Sobre o agente capaz, é relevante destacar que nas sociedades limitadas o menor
de idade poderá ser sócio, todavia, somente quando devidamente representado ou
assistido. Porém, não poderá administrar a sociedade, e o capital social deverá estar
por inteiro integralizado.
O Contrato Social não poderá ter como objeto social a exploração de atividades que
a legislação brasileira considere ilegal, como é o caso do jogo do bicho ou da venda
de entorpecente. E, por fim, no que diz respeito à forma, o Contrato Social deverá ser
expresso por instrumento particular ou público.
3. A − Além da sociedade limitada, existem três tipos de sociedade constituídas por con-
trato entre os sócios, conhecidas como sociedades contratuais, conforme o Código Ci-
vil. São elas: em nome coletivo, em comandita simples e em conta de participação.
Legislação empresarial 77
6
Metamorfoses societárias
Introdução
Legislação empresarial 79
6 Metamorfoses societárias
80 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
• Quando ocorrer a criação de nova sociedade, será observada a modalidade so-
cietária escolhida, conforme o artigo 223, § 1°, da LSA (BRASIL, 1976), que prevê:
“Nas operações em que houver criação de sociedade serão observadas as normas
reguladoras da constituição das sociedades do seu tipo”.
• As metamorfoses societárias serão submetidas à deliberação da Assembleia-Geral
das empresas societárias interessadas, segundo o artigo 225 da LSA (BRASIL, 1976):
As operações de incorporação, fusão e cisão serão submetidas à deliberação da
assembleia-geral das companhias interessadas mediante justificação, na qual se-
rão expostos:
I – os motivos ou fins da operação, e o interesse da companhia na sua realização;
II – as ações que os acionistas preferenciais receberão e as razões para a modifi-
cação dos seus direitos, se prevista;
III – a composição, após a operação, segundo espécies e classes das ações, do
capital das companhias que deverão emitir ações em substituição às que se de-
verão extinguir;
IV – o valor de reembolso das ações a que terão direito os acionistas dissidentes.
• O acionista desistente tem o direito de afastamento, com o reembolso de suas
ações, conforme o artigo 137 da LSA (BRASIL, 1976): “A aprovação das matérias
previstas nos incisos I a VI e IX do art. 136 dá ao acionista dissidente o direito de
retirar-se da companhia, mediante reembolso do valor das suas ações (art. 45)”.
• O instrumento de protocolo é projeto de contrato que deverá ter as informações
elencadas no artigo 224 da LSA (BRASIL, 1976), que são:
I – o número, espécie e classe das ações que serão atribuídas em substituição dos
direitos de sócios que se extinguirão e os critérios utilizados para determinar as
relações de substituição;
II – os elementos ativos e passivos que formarão cada parcela do patrimônio, no
caso de cisão;
III – os critérios de avaliação do patrimônio líquido, a data a que será referida a
avaliação, e o tratamento das variações patrimoniais posteriores;
IV – a solução a ser adotada quanto às ações ou quotas do capital de uma das
sociedades possuídas por outra;
V – o valor do capital das sociedades a serem criadas ou do aumento ou redução
do capital das sociedades que forem parte na operação;
VI – o projeto ou projetos de estatuto, ou de alterações estatutárias, que deverão
ser aprovados para efetivar a operação;
VII – todas as demais condições a que estiver sujeita a operação. Parágrafo único.
Os valores sujeitos a determinação serão indicados por estimativa.
Perceba que muitas vezes, quando há metamorfose societária, o mercado econômico
se transforma e irradia efeitos à concorrência, principalmente quando a finalidade desse
Legislação empresarial 81
6 Metamorfoses societárias
82 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
A Constituição da República do Brasil (BRASIL, 1988) elenca como princípio a livre
concorrência. Nesse aspecto, pode parecer estranho que exista um órgão que tenha como
objetivo analisar as metamorfoses societárias ou, ainda, coibir algum tipo de modificação
societária cuja finalidade seja absorver o máximo de mercado possível. Porém, é necessário
entender que o Cade busca evitar abusos de poder econômico e, por consequência, crimes
econômicos, garantindo, dessa forma, a livre concorrência prevista na Lei Maior.
Legislação empresarial 83
6 Metamorfoses societárias
acionistas, salvo se prevista no estatuto ou no contrato social, caso em que o sócio dissidente
terá o direito de retirar-se da sociedade”. O Código Civil (BRASIL, 2002), no artigo 1.114,
traz que “a transformação depende do consentimento de todos os sócios, salvo se prevista
no ato constitutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-se da sociedade, aplicando-se,
no silêncio do estatuto ou do contrato social, o disposto no art. 1.031”.
No caso de ocorrer a transformação, os credores não serão afetados, visto o disposto no
artigo 222 da LSA (BRASIL, 1976), que determina que “a transformação não prejudicará, em
caso algum, os direitos dos credores, que continuarão, até o pagamento integral dos seus
créditos, com as mesmas garantias que o tipo anterior de sociedade lhes oferecia”.
Perceba que a transformação é uma operação que muda apenas a modalidade societária,
sem que ocorra a liquidação ou a dissolução da pessoa jurídica (sociedade empresarial). Logo,
não há nenhum motivo para que os credores sejam atingidos. O artigo 1.115 do Código Civil
(BRASIL, 2008) estabelece que “a transformação não modificará nem prejudicará, em qual-
quer caso, os direitos dos credores”.
Em suma, a transformação, em consonância com Negrão (2016, p. 81), é a operação de
mudança do tipo societário ou de modalidade de constituição da empresa, independente-
mente de dissolução e liquidação”. Nessa operação é necessário o consentimento unânime
dos acionistas ou sócios, salvo se estiver previsto no ato constitutivo, porém o sócio dissi-
dente terá o direito de retirar-se da sociedade.
Outra operação societária que modifica a situação da empresa é a incorporação. De
acordo com o artigo 227 da LSA (BRASIL, 1976), “a incorporação é a operação pela qual
uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e
obrigações”. Reforça esse entendimento o artigo 1.116 do Código Civil (BRASIL, 2002), que
relata que “na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que lhes
sucede em todos os direitos e obrigações, devendo todas aprová-la, na forma estabelecida
para os respectivos tipos”.
Na incorporação, ocorrerá o desaparecimento de uma ou mais sociedades empresariais
que serão incorporadas, porém não existirá o surgimento de uma nova sociedade. Logo, os
direitos e as obrigações da sociedade incorporada passarão para a incorporadora, em conso-
nância com o § 3° do art. 227 da LSA (BRASIL, 1976), que traz: “aprovados pela assembleia-
-geral da incorporadora o laudo de avaliação e a incorporação, extingue-se a incorporada,
competindo à primeira promover o arquivamento e a publicação dos atos da incorporação”.
Resumidamente, a incorporação, segundo Fazzio Junior (2016, p. 256), é “a operação
pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os
direitos e obrigações”.
A terceira operação societária é a fusão, que tem seu conceito elencado no artigo 228 da
LSA (BRASIL, 1976): “a fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para
formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações”. Reforça esse
conceito o artigo 1.119 do Código Civil (Brasil, 2002) que traz: “a fusão determina a extinção
das sociedades que se unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos
e obrigações”.
84 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
Nessa operação, ocorre o surgimento de uma nova sociedade, que é a decorrência da
junção das sociedades fundidas. Porém, os sócios da sociedade fusionada passam a inte-
grar o corpo associativo da incorporadora ou da nova sociedade resultante. Perceba que,
na fusão, não ocorre apenas a passagem patrimonial de uma sociedade para outra, mas a
absorção do corpo associativo.
Em conclusão, a fusão é, concomitantemente, a extinção de duas ou mais sociedades e
a forma de constituição de outra sociedade, visto que as sociedades participantes desapare-
cem em prol do surgimento de uma nova.
Por fim, a quarta operação é a cisão. Seu conceito é trazido pelo artigo 229 da LSA
(BRASIL, 1976): “a cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patri-
mônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguin-
do-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o
seu capital, se parcial a versão”.
Por consequência desse artigo, pode-se entender que cisão é a passagem de patrimônio
de uma sociedade para outra. Quando ocorre a transferência de apenas alguns bens para a
outra sociedade, chama-se cisão parcial. Entretanto, quando todos os bens da sociedade cin-
dida passam para as mãos da outra sociedade, denomina-se cisão total. Perceba que, quando
ocorre a cisão total, a sociedade cindida (a que entrega os bens) se extingue.
Sobre os direitos e as obrigações da sociedade cindida, a LSA dispõe, no § 1° do artigo
229 (BRASIL, 1976): “Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver
parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacio-
nados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que absorverem parcelas
do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líqui-
dos transferidos, nos direitos e obrigações não relacionados”.
Logo, pode-se compreender que, quando ocorre a extinção da companhia cindida, as
sociedades que tiverem recebido parte do patrimônio dessa empresa responderão pelas
obrigações da empresa que passou esses bens. No entanto, caso a empresa que cedeu seu
patrimônio (cindida) se mantenha no mercado, as empresas que receberam o patrimônio
responderão solidariamente pelas obrigações existentes até o momento da cisão parcial. É
importante destacar que cláusulas do contrato de cisão que disponham ao contrário podem
ser questionadas judicialmente.
A sociedade empresária que recebe o patrimônio da outra sociedade cindida pode ser
uma sociedade constituída somente com essa finalidade. Ou seja, não é necessário que a
sociedade que vai receber os bens já exista. Todavia, se a empresa já estiver no mercado, a
situação é disciplinada pelo § 3° do art. 229 da LSA (BRASIL, 1976), que traz: “a cisão com
versão de parcela de patrimônio em sociedade já existente obedecerá às disposições sobre
incorporação (artigo 227)”.
Por fim, destaca-se o artigo 234 da LSA, o qual determina que a certidão, expedida pelo
Registro de Empresas Mercantis, das operações societárias – da incorporação, da cisão ou
da fusão – será competente para que ocorra a averbação nos órgãos públicos competentes.
Legislação empresarial 85
6 Metamorfoses societárias
Como dito, quando uma metamorfose societária ocorre – transformação, cisão, incor-
poração e fusão –, a legislação a ser utilizada depende da presença ou não de uma socieda-
de anônima nesse procedimento. No caso dessa modalidade de empresa (sociedade anôni-
ma), as regras devem ser as que estão elencadas na LSA (Lei 6.404/76), que dispõe sobre as
Sociedades por Ações. Entretanto, nas hipóteses em que a presença da sociedade anônima
não ocorra, a legislação a ser usada é o Código Civil.
Na transformação, ocorre a modificação da natureza da empresa societária. Perceba que
o ente a ser transformado deve possuir natureza societária, visto que os procedimentos de
transformação mantêm o ente transformado, no que se diz respeito aos sócios que ela possui.
No que se refere ao empresário individual, a Lei complementar n. 128/08 traz o §3°
do artigo 968 do Código Civil (BRASIL, 2002), que prevê: “Caso venha a admitir sócios, o
empresário individual poderá solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a trans-
formação de seu registro de empresário para registro de sociedade empresária, observado,
no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código”.
Essa transformação de empresário individual em sociedade, também chamada de ordi-
nária, não tem capital social, pois o empresário individual não possui uma distinção entre o
patrimônio aplicado à empresa e o patrimônio pessoal. Verifica-se, no entanto, que de fato
existe uma criação de sociedade empresarial.
O capital da nova sociedade transformada será o resultado da soma dos patrimônios
do empresário individual e dos demais sócios que adentrarem na sociedade empresarial.
A avaliação dos bens que compõem o patrimônio da sociedade e a responsabilização do
empresário da sociedade é regida pelo artigo 1.055, §1°, do Código Civil (BRASIL, 2002): “O
capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada só-
cio. § 1° Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente
todos os sócios, até o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade”.
Após a definição do capital social, os novos sócios da sociedade deverão alterar o
Contrato Social, que será apresentado ao Registro Público de Empresas Mercantis. Nesse
momento, a sociedade empresarial sucederá o antigo empresário individual. No entanto,
perceba que isso ocorre quando a sociedade societária modifica a sua natureza empresarial.
O artigo 1.113 do Código Civil (BRASIL, 2002) prevê que “a administração da sociedade, nada
dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios”. Logo, o novo sócio – o
empresário individual – integrará a nova sociedade, independentemente de sua liquidação.
A sociedade empresarial que surge após a transformação responderá a todos os débitos
da empresa individual. O empresário individual também responderá, pessoalmente, por
todas as dívidas que existirem antes da transformação e solidariamente após a metamorfose
de transformação. Conforme o artigo 1.115 do Código Civil (BRASIL, 2002), “a transforma-
ção não modificará nem prejudicará, em qualquer caso, os direitos dos credores”.
86 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
Outro tipo de transformação imprópria refere-se à metamorfose por meio da qual uma
sociedade se transforma em uma empresa individual, ou seja, o quadro societário diminui a
ponto de se tornar apenas um integrante, sem que tenha recuperado a pluralidade antes dos
180 dias. Em consonância com o parágrafo único do artigo 1.033 do Código Civil (BRASIL,
2002), observa-se que: “Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente,
inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade,
requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da socie-
dade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada,
observado, no que couber, o disposto nos artigos 1.113 a 1.115 deste Código”.
Nesse caso, o sócio remanescente será o sucessor da sociedade, sem liquidação. A uni-
versalidade do ativo e do passivo passará para o sócio único, que assumirá o papel de empre-
sário individual e, por consequência, assumirá toda a responsabilidade de forma ilimitada.
Esse sócio remanescente deverá firmar o instrumento social e o apresentar no Registro
Público de Empresa, com a finalidade de declarar a condição de sucessor da sociedade.
Perceba que a transformação imprópria está baseada na teoria da empresa, a qual colo-
ca a unidade produtora, ou seja, a empresa, acima da titularidade, com o objetivo de manter
a organização produtiva.
As operações societárias (incorporação, fusão e cisão) têm um propósito de reorganiza-
ção empresarial, visto que as duas primeiras são procedimentos de concentração e a terceira
é de desconcentração societária. Nesses casos de metamorfose societária, quando não estiver
presente uma sociedade anônima, os artigos 1.116 a 1.122 normatizarão esses procedimentos.
Borba (2015) ressalta que esses dispositivos são insuficientes para todas as questões
que essas metamorfoses podem gerar. Nesse sentido, deve ser usada como analogia a Lei n.
6.404/76, que dispõe sobre as sociedades de ações.
Resumidamente, na transformação um tipo societário é alterado, adquirindo as caracte-
rísticas de outro tipo societário. Na incorporação, ocorre a absorção de uma sociedade em-
presarial pela outra. Na fusão, duas ou mais sociedades se extinguem, para que, da união do
patrimônio destas, surja uma nova sociedade. E, por fim, na cisão a sociedade se subdivide,
dando lugar a uma nova sociedade, ou, ainda, há a integração de partes de uma sociedade
em outra sociedade já existente. Nessas operações societárias, o acionista é conduzido, mes-
mo que não aprove, a participar da nova sociedade, salvo no caso de recesso.
É importante destacar que, quando a sociedade é uma companhia aberta, deverá resul-
tar também em companhia aberta, visto que conforme o artigo 223, § 3°, da Lei n. 9.457/97
(BRASIL, 1997):
Se a incorporação, fusão ou cisão envolverem companhia aberta, as sociedades
que a sucederem serão também abertas, devendo obter o respectivo registro e,
se for o caso, promover a admissão de negociação das novas ações no mercado
secundário, no prazo máximo de cento e vinte dias, contados da data da assem-
bleia-geral que aprovou a operação, observando as normas pertinentes baixadas
pela Comissão de Valores Mobiliários.
Legislação empresarial 87
6 Metamorfoses societárias
Esse dispositivo reflete a ideia de que uma sociedade aberta possui um sistema de in-
formação e de proteção mais eficiente que a sociedade fechada, bem como uma condição de
liquidez mais eficiente, principalmente no que se refere à alienação.
Esse artigo traz também o § 4°, que observa: “O descumprimento do previsto no pará-
grafo anterior dará ao acionista direito de retirar-se da companhia, mediante reembolso do
valor das suas ações (art. 45), nos trinta dias seguintes ao término do prazo nele referido,
observado o disposto nos §§ 1° e 4° do art. 137”. Logo, conforme é possível notar, é criado o
direito de recesso, em 120 dias após a assembleia-geral.
Nesse sentido, o acionista adquiriu dois direitos, que são o de manter a companhia
aberta e o de recesso, observando o prazo de 120 dias. Perceba que o artigo 223, nos §§ 3° e
4°, traz uma obrigação para a sociedade e uma prerrogativa para ao acionista. Logo, o reces-
so é facultativo ao sócio e pode ou não ser exercido nos 120 dias após a assembleia.
Dito isso, é importante destacar que essas três modalidades começam com a elaboração
de um protocolo, em conformidade com o artigo 224 do Código Civil, o qual deve ser firma-
do entre os órgãos das sociedades interessadas e aprovado por assembleia das respectivas
empresas societárias. Nesse protocolo são definidas as condições da operação societária.
O valor a ser estabelecido do patrimônio líquido das empresas deverá ser feito por va-
lores contábeis. Todavia, nos casos de incorporação de controladas, será determinado pelo
preço de mercado, segundo o artigo 203 do Código Civil.
Após a metamorfose da sociedade, os atos de transformação, incorporação, fusão e cisão
deverão ser arquivados na Junta Comercial e, ainda, publicados. Como essas operações envol-
vem transmissão de patrimônio, deverá ser feito o registro de imóvel, segundo o artigo 234.
É importante mencionar que os estabelecimentos comerciais, após a transformação, in-
corporação, cisão ou fusão, não sofrem nenhum tipo de alteração, continuam a funcionar,
inclusive com os mesmos alvarás. Somente os cadastros fiscais devem ser ajustados.
Cabe ainda destacar que artigo 10 da Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1943)
prevê que: “Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos ad-
quiridos por seus empregados”, buscando assim resguardar os direitos dos trabalhadores
empregados que atuam nas sociedades que venham a sofrer metamorfoses.
88 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
acesso ao mercado decapitais, formar volumes de capital suficiente para
atender ã atualização tecnológica, obter um aumento de produção com
economia de mão de obra, racionalizar a produção, reorganizar as estru-
turas, aumentar a clientela, evitar a concorrência, separar os sócios ou
acionistas que não têm mais interesse em continuar trabalhando juntos
ou separar as atividades da empresa para determinar um melhor foco nos
negócios, utilizar-se-á de uma operação ou outra.
Legislação empresarial 89
6 Metamorfoses societárias
Atividades
1. As metamorfoses societárias são as alterações na constituição, na modalidade ou na
composição de uma sociedade empresária, que podem ocorrer de quatro formas:
a. A transformação.
b. A incorporação.
90 Legislação empresarial
Metamorfoses societárias 6
c. A fusão.
d. A cisão.
Referências
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
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______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
______. Lei n. 12.529, de 30 de novembro de 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.
NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 2016.
Legislação empresarial 91
6 Metamorfoses societárias
Resolução
1. A − As metamorfoses societárias são as alterações na constituição, na modalidade ou
composição de uma sociedade empresária, que podem ocorrer de quatro formas: a
transformação, a incorporação, a fusão e a cisão.
92 Legislação empresarial
7
Dissolução e liquidação das
sociedades empresárias
Introdução
Legislação empresarial 93
7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias
94 Legislação empresarial
Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 7
O prazo de duração de uma empresa societária pode ser determinado ou indeterminado, o
que deve estar expresso no seu ato constitutivo. E, conforme essa normativa, a sociedade pode
ter seu prazo prorrogado para indeterminado. Caso não ocorra a manifestação dos sócios, a
empresa continuará ativa e, por consequência, não entrará em situação de liquidação. Esse
artigo tem como finalidade a preservação da sociedade empresarial pelo legislador.
Outro aspecto a ser analisado é que, nos casos de sociedades por prazo indeterminado,
o consenso unânime ou deliberação deve ser por maioria absoluta. Em consonância com os
artigos 997, II, 999 e 1.033, III, do Código Civil (BRASIL, 2002), no caso de sociedades simples
ou sociedades personalíssimas, é obrigatório o consenso unânime, quando constar nos seus
atos constitutivos o prazo determinado. Todavia, os artigos 1.076, I, e 1.071, VI, do mesmo
código preveem que, nas sociedades limitadas, independentemente do prazo estabelecido,
a dissolução será por votação de, no mínimo, três quartos do capital social.
Quando todos os sócios estiverem de comum acordo, independentemente da modali-
dade de sociedade constituída, para que ocorra a dissolução é necessário o arquivamento
do instrumento de distrato no órgão de registro público competente, por escritura pública
ou particular, segundo o artigo 53 da Lei n. 8.934/94. Lembrando que, em caso de não haver
concordância, pode ser utilizada a via judicial.
A falta de pluralidade de sócios é outra hipótese que pode levar à dissolução de uma
sociedade. Todavia, a sociedade pode continuar caso seja reconstituída essa pluralidade no
prazo de 180 dias da data da ocorrência da perda da pluralidade, que pode ser por:
• decisão judicial, ou seja, a data do trânsito em julgado da sentença;
• morte do sócio, sendo a data do óbito o começo do prazo;
• declaração de ausência, ou seja, a data em que se declarou a ausência do sócio,
conforme o artigo 28 do Código Civil, devendo-se abrir provisoriamente a suces-
são de bens;
• extinção por cassação de autorização ou de concessão pela Administração Pública.
Nesse contexto, assim que ocorre o ato de dissolução da sociedade, por meio da disso-
lução ou ordem judicial, a empresa não perde automaticamente sua personalidade jurídica,
visto que esse ato de dissolução deve ser registrado na Junta Comercial. Após essa averba-
ção, começa uma nova fase, chamada de liquidação.
Para a proteção de terceiros de boa-fé, a empresa liquidante deverá, nessa fase de li-
quidação, acrescentar no seu nome empresarial a expressão “em liquidação”, bem como
nomear o referente liquidante, visando à proteção desses terceiros que estejam em contrata-
ção com essa sociedade empresarial, em conformidade com o artigo 1.036 do Código Civil
(BRASIL, 2002), que traz: “ocorrida a dissolução, cumpre aos administradores providen-
ciar imediatamente a investidura do liquidante, e restringir a gestão própria aos negócios
inadiáveis, vedadas novas operações, pelas quais responderão solidária e ilimitadamente”.
Observa-se, ainda, o parágrafo único desse mesmo dispositivo, que observa: “dissolvida de
pleno direito a sociedade, pode o sócio requerer, desde logo, a liquidação judicial”.
Legislação empresarial 95
7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias
96 Legislação empresarial
Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 7
7.2 Aspectos legais da dissolução das
sociedades nacionais e estrangeiras
A dissolução é a ação que determina a extinção da sociedade empresarial, seja por von-
tade dos sócios, seja por decorrência do ato constitutivo, de determinação legal ou judicial,
conforme os artigos 206 e 207 da Lei n. 6.404/1976.
Analisando o artigo 206 da Lei n. 6.404/1976, verifica-se que a dissolução pode ocorrer
de três maneiras:
1. de pleno direito;
2. por decisão judicial; ou
3. por decisão de autoridade administrativa competente.
Conforme o Frazzio Junior (2016), a dissolução da sociedade empresária pode ocorrer:
• por deliberação unânime dos sócios (art. 1.033, inciso II, do Código Civil);
• expirado o prazo determinado de duração, sem prorrogação expressa ou tácita
(art. 1.033, inciso I, do Código Civil);
• pelo encerramento da falência (art. 1.044 do Código Civil);
• pela extinção da autorização para funcionar (art. 1.033, inciso V, do Código Civil); e
• por condição contratual (art. 1.035 do Código Civil).
Nos casos em que a empresa seja constituída de apenas dois sócios, com a redução
desse número a empresa se torna unipessoal. Logo, por força do artigo 1.033, inciso IV, do
Código Civil, o sócio que permanecer na empresa tem o prazo de 180 dias para recompor
a pluralidade social ou, ainda, transformá-la em empresa individual de responsabilidade
limitada. Se o sócio não promover nenhuma das hipóteses legais, será considerado que a
sociedade está em situação de dissolução de pleno direito.
Nas sociedades anônimas, são caso de dissolução de pleno direito, conforme Frazzio
Junior (2016):
• término do prazo de duração (art. 206, inciso I ,“a”, LSA);
• causas estipuladas no estatuto (art. 206, inciso I, “b”, LSA);
• deliberação da assembleia-geral (art. 206, inciso I, “c”, LSA);
• unipessoalidade, quando não restaurada, no prazo, a pluralidade social (art. 206,
inciso I, “d”, LSA);
• extinção de autorização para funcionar (art. 206, inciso I, “e”, LSA);
• decisão de autoridade administrativa (art. 206, inciso III, da LSA).
Legislação empresarial 97
7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias
98 Legislação empresarial
Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 7
dissolução da sociedade por meio do Contrato Social. Todavia, essas hipóteses não podem
violar a legislação pertinente.
Outro fato que pode gerar a dissolução de uma empresa é a falência, conforme o artigo
206, II, “c”, da Lei das Sociedades Anônimas, que traz essa opção como uma dissolução
judicial, contrapondo-se ao artigo 1.044 do Código Civil, o qual estabelece essa dissolução
como de pleno direito.
Por meio de uma análise mais cuidadosa do tema, percebe-se que a dissolução é um dos
efeitos que a falência pode gerar. Mas a dissolução nem sempre é consequência da falência.
Ela ocorre, inclusive, antes do ato falimentar, ou seja, no processo de liquidação da socie-
dade, quando o liquidante solicita a autofalência. Portanto, pode-se entender que aplica-se,
portanto, a dissolução de pleno direito.
No artigo 206 da Lei n. 6.404/76, verifica-se que as sociedades de capitais podem ser
dissolvidas em três prognósticos:
1. dissolução de pleno direito;
2. dissolução judicial;
3. por ato administrativo.
No primeiro caso – a dissolução de pleno direito –, ocorrerá pelo término do prazo
de duração, ou seja, quando a empresa é constituída com prazo determinado, o qual está
expresso no estatuto. Nesse contexto, somente a passagem da data de término da pessoa
jurídica estabelece a dissolução da sociedade empresarial.
A dissolução judicial está prevista no artigo 206, I, “b”, do Código Civil, que traz os ca-
sos estabelecidos no estatuto social, por vontade dos acionistas. E, por fim, a dissolução por
ato administrativo decorre da deliberação da assembleia-geral.
Sobre as empresas, é importante destacar que, conforme o artigo 1.126 do Código Civil
(BRASIL, 2002), é “nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira
e que tenha no País a sede de sua administração”. Complementado pelo parágrafo único,
que observa: “quando a lei exigir que todos ou alguns sócios sejam brasileiros, as ações da
sociedade anônima revestirão, no silêncio da lei, a forma nominativa”.
Em contrapartida, o artigo 1.134 do mesmo Código traz que a sociedade, quando for
estrangeira, não pode exercer suas atividades sem autorização do Poder Executivo, bem
como estabelece que, em determinados casos, os estrangeiros não podem ser acionistas de
sociedade anônima brasileira. Quando as empresas estrangeiras estiverem no Brasil, deve-
rão se sujeitar às leis e aos tribunais pátrios, no que se refere aos atos cometidos no território
nacional, bem como devem preservar um representante no país, para resolver qualquer lide
que possa ocorrer, e também receberão citação judicial, em consonância com os artigos 1.137
e 1.138 do Código Civil.
Quando ocorre o ato de dissolução da sociedade, a sociedade empresarial não perde
sua personalidade jurídica. Nesse ato, seja por meio de distrato ou decisão judicial, os sócios
deverão registrar o fato na Junta Comercial.
Legislação empresarial 99
7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias
Lembre-se de que, quando a empresa realiza o ato de dissolução, ela não perde a per-
sonalidade automaticamente. O ato da dissolução deve ser registrado na Junta Comercial.
Nesse momento, dá-se início à fase da liquidação, que se refere ao conjunto de atos que a
sociedade deve executar com a finalidade de realizar o ativo, liquidar o passivo, bem como
repartir os saldos que sobraram com os sócios da empresa, conforme o estabelecido no ato
constitutivo da empresa. Em suma, pode-se entender a liquidação como a etapa em que os
acionistas devem concluir todos os contratos negociados com a empresa liquidante.
Reitera-se que, nessa fase (liquidação), a empresa societária tem personalidade jurídica,
pois necessita praticar ações de liquidação até a sua extinção definitiva, ou seja, até não ter
mais nenhum assunto pendente com terceiros.
No momento em que o ato de dissolução é registrado na Junta Comercial e começa
a liquidação, a empresa deverá acrescentar a expressão em liquidação e, simultaneamente,
designar um liquidante. Conforme está previsto no artigo 1.036 do Código Civil (BRASIL,
2002), “ocorrida a dissolução, cumpre aos administradores providenciar imediatamente a
investidura do liquidante, e restringir a gestão própria aos negócios inadiáveis, vedadas no-
vas operações, pelas quais responderão solidária e ilimitadamente”. Nesse mesmo contexto,
estabelece o parágrafo único que, “dissolvida de pleno direito a sociedade, pode o sócio
requerer, desde logo, a liquidação judicial”. Em suma, a sociedade dissolvida que está “em
liquidação” continua a existir, todavia, apenas para a finalidade de resolver suas obrigações.
Para que a empresa possa resolver as suas obrigações, assim que ocorrer a dissolução e
esse ato for registrado, os seus administradores devem estabelecer quem será o liquidante e
sua gestão deve ser apenas de realizar os processos para findar os negócios já estabelecidos,
sendo vedada a realização de novos empreendimentos em nome da sociedade liquidante.
Destaca-se, ainda, que o liquidante poderá sofrer responsabilização solidária e ilimitada nos
atos realizados pela sociedade.
Os liquidantes podem ser pessoas que não estão previstas no quadro social, todavia,
apenas quando não houver disposição em contrário no Contrato Social. Quando se tratar de
dissolução de pleno direito – quando o prazo de duração da empresa se finda, por exemplo –,
o sócio pode solicitar que a liquidação seja judicial. Todavia, quando a dissolução for por
extinção da autorização governamental para funcionar a sociedade, o Ministério Público
poderá executar a liquidação, ou seja, quando os sócios se omitirem do ato de liquidar a
sociedade, nos 30 dias seguintes à extinção. Nos casos em que o MP não se manifeste, a
autoridade competente deverá constituir um interventor, que administrará a sociedade até
a nomeação do liquidante. Nos casos de dissolução judicial, o juiz poderá, na sentença, no-
mear o liquidante, em consonância com o ato constitutivo da sociedade.
(RODRIGUES, 2017)
Note-se, portanto, que a dissolução não pode ser confundida com a extin-
ção da sociedade. Conforme ensina Hernani Estrela: “Dissolução é ato
tendente a extinguir a sociedade, mas esse efeito extintivo só se produzirá
em fase ulterior”.
[...]
Atividades
1. Sobre a dissolução e a liquidação das sociedades empresárias, analise as afirmações
e assinale a alternativa correta:
2. Outro solicitante pode ser o Ministério Público, que realizará o comunicado às auto-
ridades quando:
Referências
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
BRASIL. Código civil Brasileiro. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
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______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
______. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Lei n. 8.934, de 18 de novembro de 1994. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L8934.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 3 maio 2017.
COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FRAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.
NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial: estudo unificado. 5. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2016.
RODRIGUES, Luiz Felipe Ribeiro. Aspectos da dissolução da Sociedade Limitada no Código Civil.
Disponível em: <http://www.mcampos.br/REVISTA%20DIREITO/PRODUCAOCIENTIFICA/artigos/
luizfeliperibeirorodriguesaspectosdadissolucaosociedadelimitadacodigocivil.pdf>. Acesso em: 4 maio
2017.
Introdução
Neste capítulo, o objetivo é conhecer a Lei n. 11.101, de 2005, que regula a recupe-
ração de empresas e a falência. Além disso, objetiva-se compreender o que é e como
funciona a recuperação de empresas, bem como entender o que é falência e quando
ocorre sua decretação.
A Lei n. 11.101/2005 prevê que os empresários devedores podem sofrer falência ou,
ainda, recuperações. A recuperação é um procedimento que tem a finalidade de recuperar a
empresa que está em situação transitória de crise econômico-financeira, visando à importân-
cia das sociedades empresariais para a estrutura social brasileira, bem como a preservação
de postos de trabalho. Resumidamente, a recuperação da empresa tem como finalidade im-
pedir que a empresa sofra falência. Ela pode ocorrer em duas modalidades:
• recuperação extrajudicial; e
• recuperação judicial.
Entende-se por recuperação extrajudicial a possibilidade de o devedor, sem a ajuda do
Poder Judiciário, propor um plano de recuperação aos credores e negociar a melhor forma
de obter essa recuperação da empresa. Esse tipo de recuperação empresarial tem caracte-
rística preventiva. Nesse processo, a fase introdutória consiste em uma livre negociação.
Todavia, a segunda etapa deve estar em conformidade com a formalização judicial. É im-
portante destacar que o acordo celebrado entre os credores e o devedor só tem validade com
a homologação judicial.
De acordo com a Lei n. 11.101/2005, a recuperação extrajudicial refere-se ao procedi-
mento em que o devedor promove uma convocação dos seus credores para expor um proje-
to de recuperação da sua empresa. Perceba que pode o devedor tomar o primeiro passo para
reunir o credor e os devedores para um plano de recuperação extrajudicial.
O simples acordo recuperatório entre o credor e os devedores não descarta a possibili-
dade da falência da empresa, visto que, se o devedor não satisfazer os seus débitos, poderá
gerar uma situação liquidatária que tentava afastar.
Somente com a homologação judicial a recuperação terá sua característica de um ne-
gócio irretratável, ou seja, que não pode ser revogado. Essa modificação da recuperação
extrajudicial em irretratável ocorre quando o devedor solicita a homologação do plano de
recuperação, com a aprovação dos credores que compõem mais de 3/5 (três quintos) dos cré-
ditos de cada espécie. Perceba que, nesse momento, o plano de recuperação impõe as regras
nele contidas a todos os credores que ela envolver.
A lei também prevê que, quando ocorre o despacho de processamento, ocorre uma sus-
pensão, de no máximo 180 (cento e oitenta) dias, de todas as ações ou execuções contra o
devedor, menos as de natureza trabalhista e de execuções fiscais. Assim que o prazo decor-
re, o direito dos devedores se reinicia e, por consequência, as ações e execuções podem ser
iniciadas ou continuadas das do momento da suspensão.
Na assembleia, os credores poderão aprovar ou rejeitar o plano de recuperação judicial
do devedor. No caso de a decisão da assembleia ser favorável ao plano de recuperação, será
indicado um comitê. E, assim que a assembleia notificar o juiz de sua decisão de aprovação
do plano, o magistrado converterá a sentença de recuperação judicial em título executivo.
Após a aprovação do plano da recuperação judicial, o devedor terá dois anos para cum-
prir todas as obrigações estabelecidas no plano de recuperação judicial. Caso o devedor não
consiga cumprir o plano de recuperação, o juiz pode decretar a falência do devedor. Caso
isso ocorra, os direitos e as garantias dos credores voltarão às condições originais e, caso
estes tenham recebido pagamentos, serão descontados dos seus direitos.
sem deixar procurador para negociar possível acordo. Existe, assim, uma tentativa de fuga
da responsabilidade de pagar as dívidas existentes.
Após o credor entrar com a solicitação de falência, o devedor tem o prazo de 10 dias
para se manifestar nos autos, ou seja, fazer sua contestação. O artigo 96 da Lei n. 11.101/2005
(BRASIL, 2005) traz um rol de alegações que o devedor poderá utilizar, entre elas, a alegação
de prescrição dos títulos executivos.
Em outra hipótese, o devedor também pode requerer, nesse momento, a elisão da falên-
cia, que é feita por meio de depósito em juízo do montante financeiro da dívida reclamada
no processo falimentar, segundo o artigo 98, parágrafo único, da LRE. O montante financei-
ro a ser depositado, em conformidade com a Súmula 29 do STJ, deverá considerar o valor da
correção monetária, os juros e os honorários de advogado.
Caso o devedor efetue o deposito elisivo, mesmo que ele não apresente defesa no pro-
cesso, a falência não será decretada. Porém, o valor do depósito judicial será levantado pelos
credores e, assim, as dívidas serão consideradas pagas.
A falência será decretada quando o juiz julgar o pedido procedente e não tenha sido
realizado o depósito elesivo pelo devedor. Assim que a sentença da falência for decretada,
será instaurado o processo de execução concursal do empresário falido. Nesse momento,
encerrará a fase pré-falimentar e iniciará o processo falimentar.
A partir do momento em que ocorre a decisão judicial decretando a falência, de acordo
com o artigo 99, a Junta Comercial deverá ser comunicada, fazendo constar nos atos cons-
titutivos da empresa devedora a expressão falido, bem como a data da sentença. Esse artigo
ainda traz que seja expedida aos diversos órgãos públicos a solicitação de informações de
possíveis bens do devedor. E, por fim, será obrigatório que o juiz publique a sentença de
falência em diário oficial ou, ainda, em jornais de grande circulação.
A sentença que decreta a falência traz a habilitação dos créditos, uma vez que eles não são
iguais entre si. Essa é apenas uma das consequências do processo de execução concursal do ati-
vo, o qual gera efeitos múltiplos a todos os envolvidos direta ou indiretamente com a empresa.
Atividades
1. Sobre a falência, analise as afirmações e assinale a alternativa correta:
Referências
ARAUJO, Aloisio; FUNCHAL, Bruno. A nova lei de falências brasileira: primeiros impactos. Revista
de Economia Política, v. 29, n. 3, p. 191-212, 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0101-
31572009000300011>. Acesso em: 4 maio 2017.
BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de Direito Comercial. 10.
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BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/hand-
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______. Decreto-Lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
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______. Lei n. 6.830, de 22 de setembro de 1980. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/leis/L6830.htm>. Acesso em: 4 maio 2017.
______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017.
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COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,
2016.
Resolução
1. A − A insolvência é um dos princípios para a solicitação da falência, porém os credo-
res devem solicitar a execução da empresa de forma conjunta, ou seja, todos os cre-
dores deverão se juntar num único processo para executar o devedor, em obediência
ao princípio condicio creditorum, visando a um tratamento igualitário. É necessário
destacar que, no processo contra os devedores, se todos os credores entrarem juntos,
esses credores serão atendidos conforme a qualificação que possuam.
• recuperação extrajudicial; e
• recuperação judicial.
3. A − Os credores podem unir seus valores e solicitar juntos (por meio de litiscon-
sórcio) o pedido de falência do devedor, caso o valor passe de 40 salários mínimos.
Caso os credores utilizem os títulos de crédito para embasar o processo de falência,
a legislação traz, no artigo 94, § 3°, que o credor deverá juntar ao processo o título
executivo, bem como o instrumento de protesto. Logo, podemos entender que a úni-
ca forma de demonstrar a impontualidade injustificada é por meio do protesto do
título executivo.