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INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 1

Prof: Leonardo Ribeiro, pr.


INTRODUÇÃO
Para iniciar nosso estudo sobre Filosofia poderíamos tentar obter uma definição de sua
essência a partir do significado da palavra. O termo Filosofia provém da língua grega “filov” +
“sofia” e significa literalmente “amigo da sabedoria”.
A filosofia é um conhecimento, uma forma de saber que, como tal, tem uma esfera própria
de competência, a respeito da qual procura adquirir informações válidas, precisas e ordenadas.
A filosofia antiga nasceu na Grécia com o objetivo de explicar o mundo através da própria
realidade, sem buscar explicação mitológica e incompreensível. Assim o mito foi derrubado para
introduzir um saber mais “científico” e uma nova forma de analisar e compreender o mundo e
seus fenômenos.

Definição de filosofia em várias visões:


Para Sócrates a filosofia é “a capacidade de admirar ou de se deixar afetar por coisas ou
acontecimentos que se dão à sua volta”.
Aristóteles, que foi o primeiro a fazer uma pesquisa rigorosa e sistemática em torno desta
disciplina, diz que a filosofia estuda “as causas últimas de todas as coisas”.
Cícero define a filosofia como “o estudo das causas humanas e divinas das coisas”.
Descartes afirma que a filosofia “ensina a raciocinar o bem”.
Hegel entende-a como “o saber absoluto”.
No dizer dos filósofos, a filosofia “estuda todas as coisas”. Conclui-se que a filosofia
estuda tudo por duas razões:
1. Primeiro porque todas as coisas podem ser examinadas no nível científico e objeto também
da indagação filosófica;
2. Em segundo porque enquanto as ciências estudam o aspecto particular a filosofia estuda o
aspecto universal.

Quais as partes mais importantes da filosofia?


Lógica, epistemologia, metafísica, cosmologia, ética, política, estética.
- Lógica se ocupa do problema da exatidão do raciocínio;
- Epistemologia, do valor do conhecimento;
- Metafísica, do fundamento último das coisas em geral, do ser enquanto ser;
- Cosmologia, da constituição essencial das coisas materiais, de sua origem e de seu vir-a-ser;
- Ética, da origem e da natureza da lei moral, da virtude e da felicidade;
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- Política, da origem e da estrutura do Estado; a estética, do problema do belo e da natureza e
função da arte.

O SURGIMENTO DA FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA


O surgimento da filosofia é caracterizado pela passagem do pensamento mítico par o
filosófico-científico1. Nasceu na Grécia antiga por volta do séc. VI a.c.. Aristóteles no seu livro
Metafísica chega a definir Tales de Mileto (séc. VI a.c.) como o primeiro filósofo e o ponto de
partida para a filosofia2. Danilo Marcondes nos diz que mesmo havendo outros povos como os
assírios, babilônicos, chineses, indianos, egípcios, persas e hebreus que valorizavam o
pensamento e tiveram definições próprias sobre o inicio de tudo, mas somente os gregos fizeram
“ciência”. Essa ciência é caracterizada pela busca do homem em tentar entender o mundo em
contraste com o pensamento mítico. Essa fase inicial é caracterizada como fase filosófico-
científico (2006, p. ¹9).
Esse filosófico-científico quer dizer que o homem tenta compreender o mundo que o cerca
de uma forma racional e não mais mística.

O Mito
O mito (Gr. μυθος) significa um tipo bastante especial de discurso, pois é uma narrativa de
caráter simbólico de uma cultura. O mito procura explicar a realidade, os fenômenos naturais, a
origem do Homem e Mundo por meio de deuses, semi-deuses e heróis.. Podendo ser considerado
fictício ou imaginário e às vezes mentiroso3.
O mito, portanto é a produção cultural de um povo que o leva a enxergar a realidade
através desta “visão de mundo”. A explicação mitológica não aceita ser discutida. O elemento
central do mito é a tentativa de explicar as coisas pela vertente sobrenatural, mistério, sagrado e
mágico4.
A insatisfação com a explicação mitológica sobre a existência do mundo através do
sobrenatural e divino leva ao rompimento com o mito, ou seja, a filosofia nasce justamente na
tentativa de explicar o mundo fora da visão religiosa ou mítica, mas apenas pela razão humana 5.
É abandonada a visão sobrenatural ou divina e adotam-se critérios através da razão para explicar
o mundo natural (Gr. φύσις), pelas causas naturais6.

1
MARCONDES, Danilo. Iniciação a história da Filosofia dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. ¹0ª ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed, 2006, p. ¹9.
2
Idem, p. ¹9
3
Idem, p. 20.
4
Idem, p. 20.
5
Idem, p. 2¹.
6
Idem, p. 2¹.
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Noções fundamentais do pensamento filosófico-científico


Os primeiros pensadores contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento da
filosofia com os primeiros conceitos para as teorias sobre a causa primeira. São elas: Physis;
Causalidade; Arqué; Cosmos; Logos; Caráter crítico7.
a) Physis – Esses primeiros filósofos são chamados de “physiólogos”, ou seja, estudiosos ou
teóricos da natureza. O objeto das pesquisas é o mundo natural. A explicação dos processos e
fenômenos é puramente natural e não fora deste mundo como no aspecto sobrenatural ou
divino. Explicar a realidade pela realidade.
b) Causalidade – Essa primeira explicação é um apelo a noção de causalidade. É a conexão
causal entre os fenômenos naturais. Explicar é relacionar ou apresentar o nexo causal de um
efeito a uma causa que o antecede e o determina. Tem sempre o caráter regressivo. Assim
surge a idéia de uma causa primeira, ou o ponto de partida de todo o processo racional, surge
assim à noção de “arqué”.
c) Arqué – O termo significa “principal, começo, raiz”. É considerado o “elemento
primordial”. A fim de evitar a regressão ao infinito para a explicação causal é postulado a
existência de um elemento primordial que seria o ponto de partida do processo.
d) Cosmos – O termo para os gregos naquele período dava a idéia de ordem, harmonia e
mesmo de beleza. Opõe ao conceito de caos. A idéia básica de cosmos é de uma ordenação
racional, uma ordem hierárquica, em que certos elementos são mais básicos e constituem a
forma determinada.
e) Logos – Logos significa literalmente discurso. É oposta a concepção de mito por ser de
narrativa poética. Então discurso é ciência por ser uma explicação racional, argumentativa e
justificada. Enquanto o mito é apenas poesia e não passível de discussão.
f) Caráter crítico – É o aspecto mais fundamental das primeiras escolas. As teorias
formuladas não eram dogmáticas, não eram apresentadas como absolutas. Eram passiveis de
debate, divergências e discordâncias e permitiam propostas alternativas. Era estimulado o
debate e a formulação de novas hipóteses.

Questões para fixação:


1. Aponte as principais características do pensamento mítico.
2. Em que sentido e por que razões pode-se dizer que o pensamento filosófico-científico
rompe com o pensamento mítico no contexto da Grécia antiga?

7
Idem, p. 24.
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3. Por que o pensamento mítico passa a ser considerado insatisfatório?

FILOSOFIA ANTIGA – OS PRÉ-SOCRÁTICOS


A designação “filósofos pré-socráticos” é utilizada apenas como um termo cronológico.
Por ser Sócrates (470-399 a.c) um marco na filosofia. Sócrates introduziu as questões ética-
política (problemática humana-social) na filosofia8.
Esse período também é conhecido como Período Naturalista. As especulações dos filósofos
são voltadas para o mundo exterior, em que se julga também achar o princípio unitário de todas
as coisas. Ou seja, concebem a existência de apenas um elemento primordial para existência do
mundo. Surge e desenvolve-se fora da Grécia propriamente dita, nas florescentes colônias gregas
da Ásia Menor (Jônia) e da Magna Grécia (Itália do Sul), onde nasce a civilização grega.
Os “pré-socráticos” são dividido em duas fases, a primeira são aqueles mais originais, que
desenvolveram os primeiros pensamentos, e a segunda fase é uma reflexão a partir do que já foi
proposto anteriormente.

As Escolas
a) Escola Jônica – Floresceu em Mileto durante todo o século VI a.c. Fundador da escola jônica
é considerado Tales de Mileto (585? a.C.) e juntamente com seus discípulos ficaram
conhecidos como a Escola de Mileto. Caracterizavam-se sobretudo pelo interesse pala Physis.
Outros filósofos desta escola foram Anaximandro (6¹0-547 a.c); Anaxímenes (585-528 a.c);
Xenófanes de Colofon (580-480 a.c); Heráclito de Éfeso (500 a.c).
b) Escola Italiana – Caracterizava-se por uma visão de mundo mais abstrata. Pitágoras, fundador
da escola pitagórica, nasceu em Samos (530 a.C.). Segundo o pitagorismo, a essência da
realidade é representado pelo número, isto é, pelas relações matemáticas. Outros filósofos
desta escola foram Alcmeon de Crotona (início séc. V a.c); Filolau de Crotona (final séc. V
a.c); Parmênides de Eléia (500 a.c); Zenão de Eléia (464 a.c) e Melisso de Samos (444 a.c);

Principais pensadores pré-socráticos da primeira fase


Considerado como primeiro filósofo no sentido real do termo foi Tales de Mileto (585?
a.C.). Ele e seus discípulos ficaram conhecidos como a Escola Jônica ou Escola de Mileto, que
se caracterizava, sobretudo pelo interesse pala “Physis”. Assim visavam “explicar a realidade
pela realidade”9.

8
Idem, p. 30.
9
Idem, p. 32.
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Outros filósofos da Escola Jônica foram Anaximandro (6¹0-547 a.c) o principal discípulo
de Tales. Segue Anaxímenes (585-528 a.c) discípulo de Anaximandro. Xenófanes de Colofon
(580-480 a.c) que não era grego, mas viajou para Grécia para estudar. Outro filósofo importante
deste período foi Heráclito de Éfeso (500 a.c) que viveu entre o VI e o V século. Pode-se resumir
a sua doutrina nos princípios seguintes:
1. a essência da realidade é o vir-a-ser, o fogo, pois tudo muda, tudo está sujeito a um fluxo
eterno.
2. o vir-a-ser é luta, revezar-se de vida e de morte.
3. este vir-a-ser e esta oposição são reconduzidos à estabilidade e à unidade pela harmonia,
pela sabedoria, universais, que determinam o acordo entre as oposições.
Outra Escola que se destacou foi a Italiana. Esta se divide em Pitagorismo e Eleática. Seu
representante mais importante do Petagorismo foi Pitágoras, que representa a permanência de
elementos míticos e religiosos no pensamento filosófico10. Sendo a principal contribuição dessa
escola foi a doutrina em que o número é o elemento básico explicativo da realidade11.
Já na Escola Eleática tem-se como maior expoente Parmênides, também de Eléia; viveu na
primeira metade do século V. Ele distingue a ciência (gr. gnwsiv) que nos dá a verdade e é
construída pela razão da opinião (gr. δόξα) donde provém o erro e é dependente do sentido.

Principais pensadores pré-socráticos da segunda fase


Esta segunda fase se distingue pela influência dos primeiros filósofos sobre as novas
reflexões. Essa segunda fase se caracteriza pela aceitação de mais de um elemento na
constituição das coisas.
Anaxágoras (500-428 a.C.) concebe a realidade como constituída por uma multiplicidade
de partículas mínimas, eternas e imutáveis (homeomerias = partes homogêneas)12.
Empédocles (492-432 a.C.) é conhecido por sua doutrina dos quatro elementos
fundamentais (terra, água, ar e fogo)13.
Demócrito (460-370 a.C.) é o maior expoente da escola atomística. A doutrina atomista
sustenta que a realidade consiste em átomos e no vazio, os átomos se atraindo e se repelindo, e
gerando com isto os fenômenos naturais e o movimento14.
Dois dos Principais pensadores pré-socráticos: Heráclito e Parmênides

10
Idem, p. 32.
11
Idem, p. 33.
12
Idem, p. 34.
13
Idem, p. 34.
14
Idem, p. 34.
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Esse dois são representantes de duas doutrinas importantes para o desenvolvimento da
segunda parte do pensamento grego, o Monismo (Há apenas átomos e pelo movimento deles as
coisas vieram a existência) e o Mobilismo (concepção segundo a qual a realidade natural se
caracteriza pelo movimento, considera todas as coisas estando em fluxo). Além de formarem a
maior controvérsia da filosofia antiga foram base para desenvolvimento da filosofia platônica.
Heráclito de Éfeso (540?-470 a.C.) tem uma famosa frase que diz “tudo passa” (gr. πάντα
ῥεῖ)15. Então julga como real a mudança, ou seja, considera todas as coisas estando em fluxo.
Considera o elemento primordial o fogo, porém utiliza como ilustração de movimento a figura
do rio. Ele afirma que “não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é
mais o mesmo... e nós também não somos mais os mesmos”16.
Já Parmênides Eleia (530-460 a.C.) como já foi dito distingue a ciência (gr. gnwsiv) que
nos dá a verdade e é construída pela razão da opinião (gr. δόξα) donde provém o erro e é
dependente do sentido. Para ele a substância primordial das coisas é o ser uno, idêntico,
imutável, eterno, determinado.
A doutrina de Parmênides tem uma concepção monista (concebe uma realidade única)17 em
que há necessidade de que toda mudança deixe algo essencial que permaneça para identificar o
objeto. O esboço da doutrina sustenta o seguinte:
1. Unidade e a imobilidade do “Ser”;
2. O mundo sensível é uma ilusão;
3. O “Ser” é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável.
4. Não se confia no que vê (a essência é o que permanece).
Essas ideias de Parmênides são consideradas como início da “ontologia” (é a parte da
filosofia que trata da natureza do ser). Parmênides fundou a metafísica ocidental com sua
distinção entre o Ser e o Não-Ser (“positiva” e “negativa”). Utiliza usa os termos metafísicos de
“ser” e “não-ser”. O não-ser era apenas uma negação do ser. Para demonstrar isto utilizou de um
poema onde afirmou “o ser é e o não-ser não é”. Isto demonstra que a realidade em seu sentido
mais profundo é imutável e se houver a mudança o que era deixa de ser e passa a ser outra
coisa18.
É de suma importância a questão do “Ser” de Parmênides. Pois toda concepção filosófica
sobre Deus é analisada a partir do “Ser” de Parmênides.
Questões para fixação:

15
Idem, p. 35.
16
Idem, p. 36.
17
Idem, p. 36.
18
Idem, p. 36.
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1. Qual o sentido e a importância da contribuição dos filósofos pré-socráticos para a
formação e o desenvolvimento da tradição filosófica?
2. Como se caracteriza a distinção entre a escola jônica e as escolas italianas?
3. Quais os principais argumentos de Parmênides e dos monistas contra Heráclito e os
mobilistas?

SOCRÁTES E OS SOFISTAS - PERÍODO SISTEMÁTICO


Esse momento da filosofia grega é conhecido como período Sistemático ou Antropológico.
Devido à importância e o lugar de destaque dados ao homem e ao espírito no sistema do mundo,
limitado antes à natureza exterior.
Sócrates é um marco da tradição filosófica. Pois com ele o interesse filosófico passa da
natureza e da metafísica para o homem e o espírito. É superada a questão da natureza e é
introduzido à problemática Ético-político.
É neste período que surge a física, astronomia e a medicina. Pois o mito (religião) não
responde mais a necessidade do homem e passa-se a ver o homem dentro do contexto físico. Ou
seja, os fenômenos que atuam no homem são analisados dentro do contexto natural do homem e
não mais atribuído aos deuses ou demônios19. A ciência elimina o mito.

Contexto Histórico
Neste novo período grego, depois das grandes vitórias gregas, atenienses, contra o império
persa, houve um triunfo político da democracia. Então o pensamento de Sócrates e dos Sofistas
devem ser entendidos dentro deste contexto histórico e Sócio-político20. Houve um progressivo
enriquecimento proveniente do comércio marítimo produzindo assim uma classe mercantil
politicamente muito influente. Neste contexto não apenas os aristocratas (gr. αριστοκρατία, de
άριστος - melhores; e κράτος - poder), literalmente poder dos melhores, é uma forma de governo
na qual o poder político é dominado por um grupo elitista. Assim há uma ascensão ao governo
de um grupo que não fazia parte da elite21.
Então o regime democrático propõe um entendimento mútuo e leis iguais para todos, além
de dar possibilidade de outras pessoas façam parte do governo grego. Era necessário um preparo
para se estar no governo, pois as decisões são tomadas por consenso, o que acarreta persuadir,
convencer, justificar e explicar22. Para isto compreende-se a importância em se adquirir a
oratória, eloquência e a capacidade de persuasão. Os sofistas se encaixam neste contexto.
19
Idem, p. 42.
20
Idem, p. 40.
21
Idem, p. 4¹.
22
Idem, p. 4¹.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 8
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Os sofistas
Os sofistas aparecem dentro do contexto da mudança a Tirania e Oligarquia (gr. ολιγαρχία,
de oligoi – poucos; e arche – governo. Significa literalmente “governo de poucos”) para a
democracia (gr. de demov – povo; kratov - força - regime de governo em que o poder de
tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, direta ou indiretamente, por meio de
representantes eleitos).
O termo “sofista” significava “sábio”. Eles eram filósofos e educadores, além de mestres
da eloquência e retórica, sendo largamente retribuídos (os antigos mestres não cobravam pelo
ensino)23. O termo sofista e sofisma acabaram por adquirir uma conotação pejorativa.
Os maiores sofistas foram quatro: Protágoras, Górgias, Hípias e Pródicos.
A ideia do Sofista Protágoras que afirma “o homem é a medida de todas as coisas” quer
dizer que as coisas são como ao indivíduo em particular (subjetividade) e um relativismo prático,
demolidor da moral (assunto a ser tratado em Gnosiologia).
Já o Sofista Górgias afirma que “nada existe; e se algo existisse, seria incognoscível; e
mesmo se fosse cognoscível, seria incomunicável”.
Compreende-se neste ceticismo que não há conhecimento. Essas concepções são
combatidas por Sócrates, Platão e Aristóteles.
Se é relativa a verdade, logo posso satisfazer o sentimento, impulso, paixão, sensualismo,
dando lugar ao utilitarismo ético. A moral é um empecilho que mortifica o homem.

Sócrates
Sócrates nasceu em Atenas (470-399 a.C.), sua mãe era parteira, ideia que permeará
grandemente sua filosofia, que é considerada o nascimento da filosofia clássica, posteriormente
desenvolvida por Platão (seu discípulo) e Aristóteles24. Sócrates é acusado em 399 por crimes
contra o Estado, de corromper a mocidade e alterar a religião nacional. Vê-se claramente
conotação política por suas críticas contra o governo. Sócrates os acusava de desvirtuamento da
democracia ateniense (grande parte dos deputados e senadores eram alunos dos Sofistas).
Preferiu morrer do que negar duas idéias ou viver numa terra estranha, pois fugir seria renegar
suas idéias e princípios25.

23
Idem, p. 42.
24
Idem, p. 44.
25
Idem, p. 45.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 9
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A introspecção é a característica dominante da personalidade socrática, e se exprime no
famoso “conhece-te a ti mesmo” além da celebra frase que sintetiza toda sua filosofia “só sei que
nada sei”.
Sócrates não deixou escrito algum, mas estabeleceu um método de análise conceitual para
o conhecimento. Sua ênfase era o debate e o ensinamento oral. Porém sua filosofia chegou até
nós através de Platão. Este é um ponto de controvérsia, nos diálogos platônicos chamados
“socráticos” a filosofia que Platão diz ser de Sócrates na realidade é uma interpretação Platônica
do ensino socrático26.
Através do debate Sócrates buscava a definição de uma determinada coisa, geralmente uma
virtude ou qualidade moral. Mesmo alcançando diversas respostas prosseguia com seu método
de análise conceitual para sair da opinião-senso comum (gr. δόξα) para a ciência (episteme) na
busca pelo universal. Trata-se de um exercício intelectual em que a razão humana deve descobrir
por si própria àquilo que busca. O mestre deve apenas indicar um caminho a ser percorrido pelo
próprio individuo27.Esse método é conhecido como “maiêutica” (dar a luz, parto), tem seu nome
inspirado na profissão de sua mãe, que era parteira. Sócrates entendia que a verdade estava no
interior do Homem. Era dividido em dois momentos:
1. No primeiro levava os seus discípulos ou interlocutores a duvidar de seu próprio
conhecimento a respeito de um determinado assunto;
2. No segundo os levava a conceber, de si mesmos, uma nova idéia, uma nova opinião sobre
o assunto em questão.
Geralmente os diálogos socráticos são aporéticos (gr. aporia – impasse) ou inconclusivos.
Pois concebia que a função do filosofo não é transmitir um saber pronto e acabado, mas fazer
que o indivíduo através da dialética (método de diálogo cujo foco é a contraposição e
contradição de idéias que leva a outras idéias) dê a luz as suas próprias idéias28. Neste ponto que
se encaixa a frase “só sei que nada sei”, pois somente o reconhecimento da ignorância nos
permite buscar o saber. Ou seja, ser sábio e reconhecer sua ignorância.

Questões para fixação:


1. Caracterize o contexto do surgimento da sofística.
2. Qual a importância da se saber debater e argumentar nesse contexto?
3. Quais os elementos centrais da concepção filosófica de Protágoras?

26
Idem, p. 45.
27
Idem, p. 47.
28
Idem, p. 48.
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4. Quais as contribuições dada pelos sofistas ao desenvolvimento do pensamento e da
cultura dos gregos?
5. Como podemos situar Sócrates nesse mesmo contexto em oposição aos sofistas?
6. Qual é objetivo de análise conceitual socrático e como a maiêutica se encaixa no
processo?

Platão
Platão (428-347 a.C.) nasceu em Atenas e foi discípulo de Sócrates. Era de uma família da
aristocracia ateniense29. Os seus pensamentos estão voltados para a reflexão e do saber além do
conhecimento científico. Era de origem nobre e aos vinte anos passou a receber o ensino de
Sócrates, este duraram dez anos30. Fundou uma Escola chamada de Academia com vertente à
especulação metafísica.
A filosofia platônica tem um fim prático, moral. Porém estende sua investigação ao campo
metafísico e cosmológico, quer dizer, a toda a realidade. Mantém a distinção entre o
conhecimento sensível, a opinião, e um conhecimento intelectual, a ciência; particular e mutável
o primeiro, universal e imutável o segundo. Concebe o conhecimento oriundo do conhecimento
intelectual, ou seja, do mundo ideal, universal e imutável.
A questão do conhecimento (Gnosiologia) é o aspecto central da filosofia de Platão. Pois
para ele a principal tarefa da filosofia é estabelecer como podemos avaliar determinadas
pretensões ao conhecimento e a filosofia oriunda disto seria a legisladora da cultura de uma
sociedade estabelecida com uma função crítica31.
Para Platão a o conhecimento é a posse de uma representação correta do real32.

Mundo das idéias de Platão


O mundo das Idéias é um sistema metafísico Platônico que se centraliza e culmina no
mundo divino das idéias (mundo inteligível), a que é contraposta a matéria, obscura e incriada.
Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo (arquiteto do universo) e as almas, donde desce das
idéias para a matéria o tanto de racionalidade que nela aparece.
As idéias são conceitos personificados, transferidos da ordem lógica à ordem ontológica,
terão consequentemente as características dos próprios conceitos: transcendentes à experiência,
universais, imutáveis, e ordenados logicamente, sistematicamente entre si (dialética).

29
Idem, p. 55.
30
Idem, p. 56.
31
Idem, p. 50.
32
Idem, p. 51.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 11
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A alma tem uma função mediadora entre as idéias e a matéria, a que comunica ordem e
vida. Platão distingue três espécies de almas: concupiscível (vegetativa), irascível (sensitiva),
racional (inteligente), que são próprias, respectivamente, da planta, do animal e do homem. A
alma racional está no corpo humano como em prisão, em exílio, a que é condenada por uma
culpa cometida quando estava no mundo das idéias, sua pátria verdadeira, donde, em
conseqüência dessa culpa, decaiu.
O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de dois princípios opostos: as
idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o caos da matéria sobre o modelo das idéias eternas,
introduzindo-lhe a alma, princípio de ordem e de vida.
A natureza do homem é racional e na sua racionalidade que o homem realiza a sua
humanidade. Entretanto, esta natureza racional do homem encontra no corpo não um
instrumento, e sim um obstáculo. A moral platônica, portanto, é uma moral de renúncia ao
mundo (ascética), e o homem realiza o seu destino além deste mundo, na contemplação do
mundo das idéias. Nesta ascese moral, Platão distingue quatro virtudes cardeais (fundamentais):
a sabedoria, a fortaleza, a temperança, a justiça.
A morte para Platão é uma libertação inteiramente da sensibilidade e uma volta para o
mundo ideal; as dos homens mergulhados inteiramente na matéria, vão para um lugar de
danação.
Segundo “A República” Platão estabelece o estado ideal a ser dividido em três classes
sociais: (1) Os filósofos, conhecedores da realidade, aos quais cabe o governo da república; (2)
Os guerreiros, a quem cabe a defesa interna e externa do estado, de conformidade com a ordem
estabelecida pelos filósofos; (3) Os produtores - agricultores e artesãos - submetidos às duas
classes precedentes, cabendo-lhes a conservação econômica do estado. Chamado comunismo
platônico, que não é materialista, econômico, e sim espiritual, ascético.

O Mito da Caverna
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 12
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SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância, sob a forma
alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada
livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que
permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto.
Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho
escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os
espectadores para ocultar-lhes as molas dos bonecos maravilhosos que lhes exibem.
GLAUCO - Imagino tudo isso.
SÓCRATES - Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos que se elevam acima
dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais
objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio.
GLAUCO - Similar quadro e não menos singulares cativos!
SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver de si mesmos e de seus
companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica fronteira?
GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.
SÓCRATES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras?
GLAUCO - Não.
SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das sombras que vêem, lhes
dariam os nomes que elas representam?
GLAUCO - Sem dúvida.
SÓRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não julgariam certo que
os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos?
GLAUCO - Claro que sim.
SÓCRATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram.
GLAUCO - Necessariamente.
SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que
laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar,
a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 13
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deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. Que te parece agora que ele
responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade
e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que
lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se
persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados?
GLAUCO - Sem dúvida nenhuma.
SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor?
Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?
GLAUCO - Certamente.
SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando
estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz
do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos
homens tem por serem reais?
GLAUCO - A princípio nada veria.
SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior. Primeiramente, só
discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente
erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor
do dia.
GLAUCO - Não há dúvida. SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol,
primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.
GLAUCO - Fora de dúvida.
SÓCRATES - Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que produz as estações e o
ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na
caverna.
GLAUCO - É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões.
SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da idéia que lá
se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos
que lá ficaram?
GLAUCO - Evidentemente.
SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente
distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou
marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que
falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vezes, como o
herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a
vida que antes vivia?
GLAUCO - Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da maneira
antiga.
SÓCRATES - Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se
em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos como
submersos em trevas?
GLAUCO - Certamente.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 14
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SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que os olhos se
afizessem de novo à obscuridade -- tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este respeito entrasse em
discussão com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter
subido à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e que assim, se alguém quisesse fazer com eles o
mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto?
GLAUCO - Por certo que o fariam.
SÓCRATES - Pois agora, meu caro GLAUCO, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o
que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que
sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é
este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a coisa é como passo a
dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a idéia do bem, a qual só com muito esforço se pode
conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz
e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo,
cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos.
- Extraído de "A República" de Platão. 6ª ed. Ed. Atena, 1956, p. 287-291

Dialética
O diálogo é o meio pelo qual a reflexão ocorre. Tem o objetivo de desmascarar os sofismas
e encontrar a realidade. Assim a filosofia corresponderia a um método para atingir o ideal em
todas as áreas, sendo este pelo rompimento e superação do senso comum, estabelecendo o que
deve ser aceito universalmente, independente de origem, classe ou função. É o abandono do
mundo sensível (passageiro e mutável) e uma busca pelo mundo das idéias (eterno, imutável)33.
A dialética é assim também um processo de abstração, que permite com que se chegue à
definição de conceitos. Não há respostas prontas, mas um processo de radicalização da discussão
que nos conduz a reconhecer nossa fragilidade e ver além do físico, a essência34.
Isto através das seguintes oposições:
OPINIÃO × VERDADE
DESEJO × RAZÃO
INTERESSE PARTICULAR × INTERESSE UNIVERSAL
SENSO COMUM × FILOSOFIA
Então a verdade é atingida pela filosofia através da razão35.
Para Platão a filosofia é um projeto Político. Pois ela tem como objetivo a transformação
da Realidade. Não como a tirania, mas como uma aristocracia do saber36. É um processo de
conhecimento que se dá pela doutrina da reminiscência ou anamnese (hipótese inatista –

33
Idem, p. 51.
34
Idem, p. 53.
35
Idem, p. 52.
36
Idem, p. 52.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 15
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conhecimento é inato). Assim conhecer é achar o universal, isso se faz em abandonar o sensível
através da reminiscência (recordação). É olhar para dentro da alma e relembrar as coisas antes de
encarnar no corpo material e mortal37.

Questões para fixação:


1. Como podemos entender a relação entre o pensamento de Platão e de Sócrates seu
mestre?
2. Como se pode interpretar o sentido e a importância da doutrina da reminiscência?
3. Qual o sentido do dualismo platônico?
4. Qual o papel da teoria das idéias no pensamento de Platão?

ARISTÓTELES E O SISTEMA ARISTOTÉLICO


Filósofo grego nasceu em Estágira (384-332 a.C.). Foi discípulo da Academia Platônica
por 19 anos38. Fundou em Atenas sua Escola filosófica chamada Liceu em 335 a.C., também
chamada escola peripatética (gr. peripatov, o caminho).
A filosofia Aristotélica desenvolveu-se a partir de uma crítica tanto à filosofia dos pré-
socráticos quanto do Platonismo, sobretudo a teoria das Idéias. Tendo na Metafísica sua principal
obra filosófica39. Sua filosofia é extremamente sistemática. Seu sistema divide-se em três partes e
abrange todo o saber humano: (1) Saber teórico, (2) Saber prático, (3) Saber produtivo.
(1) Saber teórico - Divide-se em (a) Ciência Geral (É a Metafísica ou ontologia e analisa as
características mais genéricas da realidade); (b) Ciência Natural (conhecimento da realidade
natural).
(2) Saber prático – Divide-se em (a) Ética (estudo da virtude, é uma busca do bem. Achar meio
termo. Agir de forma equilibrada); (b) Política (o homem é um animal político).
(3) Saber produtivo – – Divide-se em (a) Estética que integram a Poética e Retórica; (b) Lógica.

Crítica a Platão
A principal crítica consiste na rejeição do dualismo representado pela teoria das Idéias.
Centra-se na suposição de Platão de existir relação o mundo inteligível e o sensível. Há dois
tipos de relações, interna e externa. Vejamos exemplo:

a b a b

37
Idem, p. 59.
38
Idem, p. 69.
39
Idem, p. 69.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 16
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Figura 1 Figura 2
Na figura 1 se claramente que existem elementos em comum entre (a) e (b) então é
considerada uma relação interna e possível de ser explicada. Já na figura 2 não existem
elementos em comum entre (a) e (b) então é considerada uma relação externa. E necessita de
inúmeros pontos externo para tenta-la explicar. Mas na concepção de Aristóteles nenhuma das
duas figuras pode explicar a relação entre o mundo sensível e o inteligível. Para evitar esse tipo
de problema o filosofo propõe um novo ponto de partida (caminho) para sua metafisica, sua
concepção de real evitando dualismo dos dois mundos.40.

A metafisica de Aristóteles como concepção de realidade


Metafísica (filosofia primeira ou teologia) é o título de uma obra de Aristóteles composta
por quatorze livros sobre filosofia geral. Andrônico de Rodes (século I a.C.) designou os livros
de “Metafísica”. Diz-se que após os oito livros que tratavam da Física, vinha os tà metà tà
physiká biblia, ou seja, “os livros que estão após (os livros da) física”.
A Metafísica é uma das principais obras de Aristóteles. O objeto de investigação da
Metafísica não é qualquer ser, mas do ser enquanto ser. Examina o que pode ser afirmado sobre
qualquer coisa que existe por causa de sua existência e não por causa de alguma qualidade
especial que se tenha. Tratam de questões mais gerais e mais abstratas que os da física, e de seres
que transcendem o mundo empírico.
É um novo ponto de partida que consistirá em substância individual que é considerado
como individuo concreto. E a realidade é composta por indivíduos materiais concretos41.
A composição desses indivíduos é de matéria (gr. hule) e forma (gr. eidov). A matéria é
o princípio de individuação e a forma a maneira como, em cada individuo, a matéria se organiza.
São indissociáveis e constituem uma unidade. Isso é justamente contrário a Platão que
considerava a existência das formas ou ideias sem matéria. É o intelecto do homem que abstrai,
ou seja, separa a matéria da forma no processo do conhecimento da realidade. “O cavalo” não
existe (no sentido platônico), mas “este cavalo e aquele cavalo”. O cavalo enquanto tipo geral é
apenas o resultado do processo de abstração que separa a forma do cavalo em cada cavalo
individual42.
Existem ainda três distinções adicionais na visão aristotélica em relação ao ser: (1)
Essência e acidente; (2) Necessidade e contingência; (3) Ato e potência.

40
Idem, p. 71.
41
Idem, p. 72.
42
Idem, p. 72.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 17
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(1) Essência e acidente - Essência é aquilo que faz com que a coisa seja o que é; e acidente são as
características mutáveis e variáveis da coisa.
Essência – “Sócrates é um ser humano”
Acidente - “Sócrates é calvo”
(2) Necessidade e contingência – As características essenciais são necessárias, ou seja, a coisa
não pode deixar de tê-la ou deixa de ser o que é.
Necessidade – É necessário que Sócrates seja ser humano.
Contingência – É contingente que seja calva.
(3) Ato e potência – Permite explicar a mudança e a transformação. A semente é, em ato,
semente, mas contém em potencia a árvore. A árvore é árvore em ato, mas tem potencia de ser
lenha.

Causalidade
Aristóteles apresenta a noção de causalidade, concebendo quatro causas: (1) Causa formal;
(2) Causa material; (3) Causa eficiente; (4) Causa final;
(1) Causa formal — é a forma ou modelo das coisas (um objeto se define pela sua forma), o que
é x?
(2) Causa material — é a matéria de que é feita uma coisa (a matéria na qual consiste o objeto),
de que é feito x?
(3) Causa eficiente — consiste na causa primária da mudança (aquilo ou aquele que tornou
possível o objeto), por que x é x?
(4) Causa final — é a razão de algo existir (a finalidade do objeto), para que x? A visão
aristotélica é teleológica (gr. telov – finalidade)43.

Categorias
Categorias (gr. Κατηγοριαι) é o texto que abre o “Corpus aristotelicum” (conjunto de
textos lógicos de Aristóteles). As categorias
As categorias são: substância (gr. οὐσία), o que; quantidade (gr. ποσόν), o quanto;
qualidade (gr. ποιόν), relação (gr. πρός τι), com o que se relaciona; lugar (gr. ποῦ), onde está;
tempo (gr. ποτέ), quando; estado (gr. κεῖσθαι), como está; hábito (gr. ἔχειν), circunstância; ação
(gr. ποιεῖν), atividade; paixão (gr. πάσχειν), passividade. Algumas vezes, as categorias são
também chamadas de classes. Explicando: exemplos de substância, homem, cavalo; de
quantidade, de dois côvados de largura, ou de três côvados de largura; de qualidade, branco,

43
Idem, p. 74.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 18
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gramatical; de relação, dobro, metade, maior; de lugar, no Liceu, no Mercado; de tempo, ontem,
o ano passado; de estado, deitado, sentado; de hábito, calçado, armado; de ação, corta, queima;
de paixão, é cortado, é queimado.

Questões para fixação:


1. Qual o sentido da critica de Aristóteles à teoria da idéias de Platão?
2. Explique a visão de Aristóteles no que se refere às formas que é contrária a visão
platônica.
3. Quais as três distinções adicionais na visão aristotélica em relação ao ser? Explique
cada uma delas.

PERÍODO ÉTICO – Estoicismo, Epicurismo, Ceticismo.


Após a morte de Aristóteles a filosofia se volta para os problemas morais. O pensamento
grego não se encontram mais alguns poucos e grandes pensadores, como no período precedente,
mas o importante neste período o importante era a vinculação do pensamento a uma determinada
tradição filosófica ou as escolas filosóficas.
É um período “helênico”. É um período de grande influência da cultura grega na região do
Mediterrâneo44. O que chamamos hoje de “Globalização”. O império de Alexandre o Grande
tentou criar a primeira hegemonia não só militar, mas cultural e linguística. Mesmo tendo derrota
bélica a influência cultural permaneceu. Alexandria no Egito era o centro político e cultural da
época. Ptolomeu II fundou o Museum, uma celebre biblioteca em Alexandria e contava com
templo, anfiteatro, escola, pesquisas, jardim zoológico, observatório etc45. Foi um período
extremamente eclético, aproximando varias linhas filosóficas como o estoicismo do platonismo,
platonismo ao aristotelismo. O helenismo foi relevante e auxiliar para transição entre a
Antiguidade Clássica e a Idade Média Cristã46.

Estoicismo
Escola fundada em 300 a.C. por Zenão Cítio (332-262 a.C.). Estoicismo (gr. stoá, pórtico)
é assim chamado por causa do costume de reunirem para ensinar num dos pórticos da cidade. A
filosofia estóica é composta por três partes fundamentais: Física (metafísica), lógica
(gnosiologia), e a ética (moral, juntamente com a política).

44
Idem, p. 84.
45
Idem, p. 85.
46
Idem, p. 86.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 19
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Na filosofia estóica a felicidade (gr. eudaimonia) consiste na tranquilidade (gr.
ataraxia) e é encontrada através do autocontrole, contenção, austeridade, aceitando o curso da
vida. A verdadeira virtude é a indiferença e a renúncia a todos os bens do mundo, os quais não
dependem de nós, porquanto nos podem ser tirados e nos amargurar. Com tais ensinos muitos
afirmam que o cristianismo lançou mão dos pensamentos estóicos para formar sua ética47.

Epicurismo
Escola fundada por Epicuro (341-270 a.C.), nasceu em Atenas. Como no estoicismo divide
a filosofia em lógica, física e ética. A filosofia é a arte de bem viver. A ética do epicurismo é um
caminho para felicidade. Assim como a estóica postula que a felicidade (gr. eudaimonia) é
obtida pela tranquilidade ou imperturbabilidade (gr. ataraxia). Porém divergiam na forma de
encontrar essa tranquilidade. Para os estóicos se encontra a felicidade pela ausência de
perturbação, pois tudo está pré-determinado. Já para os epicureus a felicidade está no uso
equilibrado dos apetites (necessidades naturais) com austeridade e moderação (gr. Hedoné)48.

Ceticismo
O ceticismo clássico começa com Pirro de Elis (362-275 a.C.) e é a doutrina que afirma
que não se pode obter nenhuma certeza absoluta a respeito da verdade, o que implica numa
condição intelectual de questionamento permanente e na inadmissão da existência de fenômenos
metafísicos, religiosos e dogmas. Essa posição já é em si contraditória, pois nega aquilo que
afirma.
O ceticismo visa alcançar a paz almejada negando não apenas a ação, mas também o
pensamento que implica na pesquisa, na escolha, na responsabilidade, na perturbação.
Sexto Empírico define assim o ceticismo:
O resultado natural de qualquer investigação é que aquele que investiga ou bem
encontra o objeto de sua busca, ou bem nega que seja encontrável e confessa ser
ele inapreensível, ou ainda, persiste na sua busca... Clitômaco, Carnéades e
outros acadêmicos consideram a verdade inapreensível, e os céticos continuam
buscando (Marcondes, 2006, p. 94).

Duas vertentes são apresentadas de cético. O cético acadêmico e pirrônico. Os acadêmicos


afirmam ser impossível encontrar a verdade, já o pirrônico suspende o juízo. Assim a
tranquilidade para a alma está na suspensão do juízo (gr. époche). E não na possibilidade ou não

47
Idem, p. 92.
48
Idem, p. 92.
INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FILOSOFIA I 20
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de algo ser falso49. A noção de époche (suspensão do juízo) é o aspecto central do argumento
cético.
Segundo Pirro três questões fundamentais desenvolvem o ceticismo:
(1) Qual a natureza das coisas? Nem os sentidos nem a razão nos permitem conhecer as coisas
como são, e todas as tentativas resultam em fracasso;
(2) Como devemos agir em relação à realidade que nos cerca? Mais exatamente: porque não
podemos conhecer a natureza das coisas, devemos evitar assumir posições acerca disto;
(3) Quais as consequências dessa nossa atitude? O distanciamento que mantemos leva-nos à
tranquilidade.
Com essa postura, segundo Pirro, pode-se alcançar a ataraxia ou impertubabilidade, e
alcançando assim a felicidade (eudaimonia). Essa postura é um Modus Vivendi, pois não rompe
com a vida prática, mas apenas um modo de vivê-la com moderação e tranquilidade 50. Assim
diante da impossibilidade de decidir, se suspende o juízo e ao fazer isto se descobre livre as
inquietações.

BIBLIOGRAFIA
BLACKBURN, Simon. Dicionário e filosofia. Trad. Desidério Murcho. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar editora, ¹997.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: Ser, saber e fazer. ¹4 ed. São Paulo: Saraiva, ¹999.
HESSEN, Johannes. Teoria do Conhecimento. Trad. João Vergílio Gallerani Cuter. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4 ed. Atual. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar editora, 2006.
LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. Trad. Álvaro Oppermann e Marcelo Brandão Cipolia.
Edição revista e ampliada. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
LLANO, Alejandro. Gnosiologia Realista. Trad. Fernando Marquezini. São Paulo: Instituto
Brasileiro de Filosofia e Ciência. 2004.
MARCONDES, Danilo. Iniciação a história da Filosofia dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. ¹0ª
ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2006.
MONDIN, Batista. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. Trad. J. Renard.
São Paulo: Paulus, ¹980.

49
Idem, p. 95.
50
Idem, p. 95.

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