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GESTÃO E LEGISLAÇÃO

AMBIENTAL

autor do original
RAFAEL ALTAFIN GALLI

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
Conselho editorial  regiane burger, modesto guedes júnior

Autor do original  rafael altafin galli

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  fabrico

Revisão linguística  aderbal torres bezerra

Imagem de capa  shutterstock

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Meio ambiente 10

Meio ambiente 10
Educação ambiental 14
Política nacional do meio ambiente 18

2. Responsabilidade ambiental 32

A crise ambiental 32
Direito ambiental 37
Dano ambiental 39
Da responsabilidade penal, civil e administrativa 40
Crimes Ambientais 43

3. Licenciamento ambiental 52

Princípio do poluidor pagador 52


O licenciamento ambiental no controle das atividades poluidoras 54
Estudos ambientais 57
Indicadores 61
Avaliação de impacto ambiental 61
Estudo de impacto ambiental 62
Relatório de impacto ambiental 66
4. Auditoria ambiental 76

Histórico 76
ISO 14000 80
Conceito de auditoria ambiental 81
Aplicação das auditorias ambientais 82
Sistema de gestão ambiental – I 84
Ecologia e economia 86

5. Sistema de gestão ambiental 98

Conceituação 98
Princípios definitivos de um sistema de gestão ambiental 99
ISO 14000 102
Prefácio
Prezado(a) aluno(a)

A disciplina Gestão e Legislação Ambiental visa transmitir ao estudante no-


ções fundamentais sobre a gestão ambiental, bem como conhecimentos espe-
cíficos sobre o Direito Ambiental.
A disciplina trabalha sob enfoques humanísticos, ético, político, jurídico e
histórico acerca das regras referentes ao direito ambiental.
Assim, esta disciplina tem o objetivo de fornecer ao estudante, uma visão
global de Gestão e Legislação Ambiental, pautada em teoria e prática, que auxi-
liará o estudante em sua vida profissional.
Desse modo, dividimos esse material de apoio em cinco partes: A primeira,
pautada no estudo do meio ambiente e do direito ambiental. Estudaremos no
primeiro e no segundo capítulos, os conceitos de meio ambiente, educação am-
biental e a legislação ambiental, em especial a lei de política nacional do meio
ambiente e a lei de crimes ambientais.
A partir do terceiro capítulo, estudaremos temas que envolvem a gestão am-
biental. Analisaremos as regras referentes ao licenciamento ambiental no con-
trole das atividades poluidoras, a avaliação do impacto ambiental, o estudo do
impacto ambiental (EIA) e o relatório de impacto ambiental (RIMA).
No quarto capítulo, analisaremos as regras referentes à auditoria ambien-
tal. Conheceremos as suas definições, aplicações e o sistema de gestão ambien-
tal. Por fim, no quinto e último capítulo estudaremos especificamente os siste-
mas de gestão ambiental, em especial, a ISO 14000 e ISO 14001.
Com isso, esta disciplina procura analisar as noções fundamentais referen-
tes à gestão e legislação ambiental, bem como as questões práticas que envol-
vem o tema.
Este estudo é de suma importância ao gerenciamento de qualquer ramo de
atividade, servindo, pois, como alicerce para todo desenvolvimento profissional.

Bons estudos e boa sorte!

7
1
Meio ambiente
1  Meio ambiente
Neste primeiro capítulo, analisaremos o Meio Ambiente. Vamos estudar o con-
ceito de meio ambiente, conforme o posicionamento de diversos autores, bem
como a importância da educação ambiental para o Brasil e o mundo. Em um
segundo momento, estudaremos a política nacional do meio ambiente, seus
princípios e objetivos. Vamos aos estudos!!!!

OBJETIVOS
•  Entender o conceito de meio ambiente;
•  Conhecer a importância da educação ambiental;
•  Estudar a política Nacional do meio ambiente;
•  Compreender os princípios e objetivos da política nacional do meio ambiente.

REFLEXÃO
Você conhece o correto conceito de meio ambiente? O significado de educação ambiental?
Neste capítulo, estudaremos estas questões, bem como a política nacional do meio ambiente,
seus princípios e objetivos.

1.1  Meio ambiente

A consciência ambiental vem envolvendo parcelas significativas das socieda-


des de todo o mundo e as questões ambientais, mais do que nunca, apresen-
tam-se em níveis globais.
A evolução histórica do meio ambiente se inicia na Antiguidade, se conso-
lidando com a formação dos Estados nacionais e, atualmente, desborda das
fronteiras nacionais, passando a ser uma preocupação de toda a humanidade,
estampada em declarações e tratados internacionais.
Documentos como o Código de Hamurabi e a Lei Mozaica já demonstravam
uma preocupação dessas antigas civilizações com o respeito à natureza, sendo
que, tais preocupações foram se arrastando ao tempo, em pequenas propor-
ções, mas nunca esquecida pela humanidade.

10 • capítulo 1
Segundo o autor Jorge Alberto de Oliveira Marum (2002, pg. 92):

A Magna Carta, outorgada por João Sem – Terra em 1215, também continha minucio-
sos dispositivos sobre a utilização das florestas, que foram divididos em dois diplomas:
a Carta da Floresta e a Carta da Liberdade, hoje tão reverenciada em todos os sistemas
jurídicos.

A partir do século XVIII, a natureza passou a perder um pouco do seu caráter


divino e intocável e, passou a ser um mecanismo de exploração do homem, em
busca de um desenvolvimento científico e econômico.
© WISCONSINART | DREAMSTIME.COM

Segundo a observação de Heisenberg (Apud. NAZO, G. N.; MUKAI, T, pg.


111, 2002):

A consideração da natureza como algo distinto do mundo divino só começou a firmar-


se a partir do século XVIII. A natureza, não mais cenário participante da vida divina e hu-
mana, tornou-se objeto indiferente e homogêneo das experiências científicas. O termo
natureza passou a designar muito mais uma descrição científica da natureza, do que ela
mesma. As montanhas, as plantas, os rios, as fontes, os astros celestiais e os próprios
animais foram morrendo e desaparecendo aos poucos do cenário humano, reduzidos
a equações matemáticas, fórmulas científicas, esquemas racionais e pragmáticos, ele-
mentos físicos do universo.

capítulo 1 • 11
A expressão “meio ambiente” (milieuambient) foi, ao que parece, utilizada
pela primeira vez, pelo naturalista francês Geoffroy de Saint – Hilaire na obra
Étudesprogressives d’unnaturaliste, de 1835, tendo sido perfilhada por Au-
gusto Comte em seu Curso de filosofia positiva (MILARÉ, 2009).
Contudo, foi a partir do século XX, mais precisamente, após a 2ª Guerra
Mundial, que o meio ambiente e a sua preservação, passou a ser visto como
uma preocupação mundial.

Segundo José Afonso da Silva (1997, pg. 2), “O meio ambiente é, assim, a interação do
conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento
equilibrado da vida em todas as suas formas.”

Para muitos doutrinadores, a expressão “meio ambiente” é redundante, pois


a palavra ambiente engloba a palavra meio, uma vez que a palavra ambiente “in-
dica a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca, em que vivemos (SILVA, 1997).
Neste diapasão, a proteção do meio ambiente traduz a proteção à vida. O
meio ambiente é o pressuposto para o exercício de todos os demais direitos,
visto que representa, em última análise, a preservação da vida em todas as suas
formas, sendo que, somente aqueles que possuírem uma boa qualidade de
vida, terão condições de exercitarem os demais direitos humanos.
© SERBANENACHE | DREAMSTIME.COM

12 • capítulo 1
Maurício Lilster (Apud FREIRE, 2000) defende que, no conceito de ambiente
e seus estudos, o homem se apresenta em sua natureza de ser social e tem como
ponto de partida a sua atuação modificadora dos componentes físicos naturais
que o circundam, quando essas modificações alteram, de algum modo, o equi-
líbrio dos ecossistemas ou atentem contra seu restabelecimento.
No Brasil, o conceito de meio ambiente, surgiu com a Lei n. 6.938, de 31 de
agosto de 1981 (BRASIL, 2014), que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, a qual definiu o que é meio ambiente, nos seguintes termos:
Art. 3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I – meio ambiente o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas.

CONEXÃO
Para maiores informações referentes à lei n. 6.938/81, o aluno pode acessar o site <www.
planalto.gov.br>, onde terá acesso a todo o nosso ordenamento jurídico.

Segundo Celeste Leite dos Santos Pereira Gomes (1999, pg. 3), a questão am-
biental se endereça à proteção dos bens singulares e à recuperação da degrada-
ção global, destacando-se:

o ciclo natural da água; o ciclo climático natural; a camada de ozônio; a termoregulação


das florestas tropicais e dos grandes bosques; a diversidade biológica; o patrimônio
genético; a função da autodepuração dos mares e do solo; o sistema de alimentação e
reprodução do ecossistema marinho e zonas úmidas; a composição da água; o equilí-
brio térmico da atmosfera; o equilíbrio termogenético e o equilíbrio radioativo.

A Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo 225, “caput”,


(BRASIL, 2014) dispõe sobre o meio ambiente enunciando que, Todos têm direi-
to ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

capítulo 1 • 13
Com isso, a definição de meio ambiente é ampla, abrangendo vários aspec-
tos da vida humana, onde o legislador brasileiro, optou por trazer um conceito
jurídico indeterminado, a fim de criar um espaço positivo de incidência da nor-
ma. (FIORILLO, 2000).
Verificando a própria terminologia, podemos concluir que meio ambiente
relaciona-se a tudo aquilo que circunda o ser humano. É o universo natural que
exerce influência sobre os seres vivos. Neste sentido, o meio ambiente não deve
ser visto como o espaço em que vivemos, mas o espaço do qual vivemos.

1.2  Educação ambiental


© GODFER | DREAMSTIME.COM

A problemática ambiental é uma das principais preocupações da socieda-


de moderna, desencadeando, por isso, uma série de iniciativas no sentido de
reverter a situação atual de consequências danosas à vida na terra. Uma dessas
iniciativas é a Educação Ambiental que as instituições de educação básica estão
procurando implementar, na busca da formação de cidadãos conscientes e com-
prometidos com as principais preocupações da sociedade (SERRANO, 2003).
A década de 70 assistiu às primeiras experiências e implementações pionei-
ras da Educação Ambiental, sempre reservada a seus aspectos ecológicos.
A primeira definição internacional da Educação Ambiental foi adotada pela
International Union for the Conservation of Nature (IUCN, 1971), que enfatizou
os aspectos ecológicos da Conservação. Basicamente, a Educação Ambiental
estava relacionada à conservação da biodiversidade e dos sistemas de vida. A
Conferência de Estocolmo (1972) ampliou sua definição e outras esferas do co-

14 • capítulo 1
nhecimento e, finalmente, a Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977),
internacionalmente mais aceita, definiu que:
A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e cla-
rificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modi-
ficando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-rela-
ções entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação
Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a
ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida. (SATO, 2004).
Segundo Cecília Galvão (PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 2007), o
conceito de Educação Ambiental (EA) é relativamente recente, tem pouco mais
de trinta anos, e foi evoluindo, desde as conferências promovidas pela Unesco,
realizadas em Belgrado, em 1975 e em Tbilisi, em 1977, de acordo com uma
consciência cada vez mais colectiva de intervenção positiva na natureza (UNES-
CO, 1989). A EA começou por assumir um caráter naturalista, ingênuo, de elo-
gio de regresso ao passado e recusa do progresso, visto como intrinsecamente
antiambiental. O conceito foi evoluindo no sentido de assumir características
de maior realismo, pensando o futuro com outra lógica de desenvolvimento e
de progresso, nos termos do chamado desenvolvimento sustentável. [...]
© STARBLUE | DREAMSTIME.COM

No Brasil, no final da década de 80, iniciou-se em São Paulo um interessante


processo de organização dos militantes ambientalistas, preocupados mais es-
pecificamente com as questões relacionadas com a educação ambiental. Nesse
período, mais precisamente em 1989, realizou-se o I Fórum de Educação Am-
biental. Organizado conjuntamente por várias ONG’s, esse encontro teve a ca-
racterística de aglutinar as mais diversas concepções ambientalistas e os mais
variados princípios ou idéias sobre educação ambiental. (CASCINO, 2003).

capítulo 1 • 15
A partir desse primeiro encontro entre educadores e ambientalistas, ou-
tros três fóruns foram realizados: o II Fórum, pré ECO – 92, em abril de 1992;
o III, na PUC – SP, em agosto de 1994, e o IV, nos dias 5 e 8 de agosto de 1997,
em Guarapari, Espírito Santo. Nos quatro Fóruns realizados, a marca registra-
da foi a tentativa de se criarem novas formas de ler os processos de formação
das cidadanias, das maneiras de instruir, informar, educar as futuras gerações,
procurando recriar as falas e comportamentos sustentados por uma ética de
preservação e desenvolvimento com harmonia. (CASCINO, 2003).

Com relação à legislação, a Educação Ambiental aparece na Lei n. 6.938/81, que


instituiu a “Política Nacional do Meio Ambiente”. Embora esteja inserida nas formas
Educação Formal e Não Formal, ela é limitada em seus aspectos ecológicos e de con-
servação. A Constituição de 1988 assimilou a legislação ordinária e estabeleceu como
incumbência do poder público: “promover a Educação Ambiental em todos os níveis
de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (art. 225,
parágrafo 1º, VI). (SATO, 2004).

Depois disso, mais precisamente em 27 de abril de 1999, o então Presidente


Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei 9.795, regulamentada pelo Decreto
4281/02, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de
Educação Ambiental (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC, 2007).
Além da Constituição Federal de 1987, cujo artigo 225 assegura um ambiente
saudável a todos, em 1999, o Governo Federal decretou a Lei 9795/99, declaran-
do que a EA deve ser implementada em
todos os níveis e idades. Somado às le-
gislações, o Tratado de EA para as socie-
dades sustentáveis e responsabilidade
© NAGY-BAGOLYILONA | DREAMSTIME.COM

global, formulado pelas organizações


não governamentais, durante a Rio – 92,
também representa um excelente docu-
mento de apoio à EA (SATO, 2004).
Esse foi um grande passo rumo a uma sociedade sustentável, pois definiu
estratégias de implantação da Educação Ambiental na educação em geral e na
educação escolar, envolvendo, em sua esfera de ação, além dos órgãos e enti-

16 • capítulo 1
dades integrantes do SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente, institui-
ções educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públi-
cos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações
não governamentais com atuação em educação ambiental. (ANTUNES, 2005).
Diferente de outras legislações, a Lei 9.795/99, não estabelece regras ou san-
ções, mas estabelece responsabilidades e obrigações. Em seu Capítulo I, arti-
go 3º, item VI (MEC, 2007), ela incumbe à sociedade, como um todo, “manter
atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propi-
ciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e
a solução de problemas ambientais”, ou seja, não se deve esperar que as ações
partam somente do setor público, é preciso engajamento do cidadão nas ques-
tões ambientais, como em qualquer questão referente ao seu desenvolvimento
e ao da comunidade em que está inserido.
Nesse sentido, há muitas maneiras de definir a educação ambiental:

•  Educação ambiental é a preparação de pessoas para a vida enquanto


membros da biosfera;

•  Educação ambiental é o aprendizado para compreender, apreciar, saber


lidar e manter os sistemas ambientais na sua totalidade;

•  Educação ambiental significa aprender a ver o quadro global que cerca


um problema específico – sua história, seus valores, percepções, fatores
econômicos e tecnológicos, e os processos naturais ou artificiais que o
causam e que sugerem ações para saná-lo;

•  Educação ambiental é a aprendizagem de como gerenciar e melhorar


as relações entre a sociedade humana e o ambiente, de modo integrado
e sustentável;

•  Educação ambiental significa aprender a empregar novas tecnologias,


aumentar a produtividade, evitar desastres ambientais, minorar os da-
nos existentes, conhecer e utilizar novas oportunidades e tomar decisões
acertadas.

•  Educação ambiental é fundamentalmente uma educação para a resolução


de problemas, a partir das bases filosóficas do holismo, da sustentabilida-
de e do aprimoramento. (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 1997).

capítulo 1 • 17
© RFISCHIA | DREAMSTIME.COM

Educação Ambiental é um processo de educação política que possibilita a


aquisição de conhecimentos e habilidades, bem como a formação de atitudes
que se transformam necessariamente em práticas de cidadania que garantem
uma sociedade sustentável. (JÚNIOR, PELICIONI, 2002).

1.3  Política nacional do meio ambiente

Em 1981 foi criada a lei 6.938 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus objetivos, princípios e mecanismos de formulação e aplicação
no país, bem como, dispõe sobre o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNA-
MA), e o Cadastro de Defesa Ambiental.
© ALDORADO10 | DREAMSTIME.COM

18 • capítulo 1
ATENÇÃO
Essa lei incorporou e aperfeiçoou normas estaduais já vigentes e instituiu o Sistema Nacional
do Meio Ambiente, integrado pela União, por Estados e Municípios, e atribuiu aos Estados
a responsabilidade maior na execução das normas protetoras do meio ambiente (MILARÉ,
2009, pg. 328).

Segundo o autor Luís Paulo Srvinskas (2010, pg. 198), o objeto de estudo da
política nacional do meio ambiente é a qualidade ambiental propícia à vida das
presentes e futuras gerações. Segundo o autor:

É através do estudo deste objeto, que o direito ambiental vai traçar sua política nas di-
versas esferas da Federação. Nesse sentido, preservar é impedir a intervenção humana
na região, procurando manter o estado natural dos recursos ambientais. Melhorar é
permitir a intervenção humana no ambiente com o objetivo de melhorar a qualidade dos
recursos ambientais, realizando o manejo adequado das espécies animais e vegetais.
Recuperar, por fim, é permitir a intervenção humana, buscando a reconstituição da área
degradada e fazer com que ela volte a ter as mesmas características da área original.

1.3.1  Princípios da política nacional do meio ambiente

Em seu artigo 2º, a lei n. 6938/81, traz os princípios que regem a política na-
cional do meio ambiente. Seja porque faltasse uma assessoria legislativa espe-
cializada, seja porque o assunto a ser regulamentado fosse novidade para a so-
ciedade e o próprio legislador, a formulação desses princípios resultou muito
ambígua, visto que vários itens apresentados como princípios são, na realida-
de, programas, metas ou modalidades de ação. (MILARÉ, 2009).

capítulo 1 • 19
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Nesse sentido, temos os seguintes princípios:

I. Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, con-


siderando o meio ambiente como um patrimônio público a ser ne-
cessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

No teor do artigo 225 da Constituição Federal, o Poder Público é es-


pecialmente qualificado para a implementação do preceito constitu-
cional relativo ao meio ambiente, incumbindo-lhe uma série de res-
ponsabilidades e ações. Por tratar-se de patrimônio da coletividade
e de “bem de uso comum do povo”, e por envolver nítidos interesses
sociais, o meio ambiente encontra no Poder Público uma espécie de
“fiel depositário”, que deve zelar por ele, tutelá-lo de várias maneiras
e fomentá-lo. Mais que todos os outros capitais, este não pode ser de-
preciado, dilapidado, descurado – antes, esse “patrimônio” deve ser
muito incrementado em seu acervo e em sua qualidade. O uso correto
do meio ambiente tem a ver com os direitos difusos, que superam os
direitos individuais para alcançar os direitos e interesses maiores da
coletividade (MILARÉ, 2009);

II. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III. Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV. Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas repre-


sentativas;

V. Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente


poluidoras;

20 • capítulo 1
VI. incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o
uso racional e a proteção dos recursos ambientais;

© BIBIDESIGN | DREAMSTIME.COM

VII. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII. Recuperação de áreas degradadas;

IX. Proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X. Educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educa-


ção da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa
na defesa do meio ambiente.

Destaca-se com relação a este último princípio que, a educação ambiental


em todos os níveis de ensino e aprendizado, e sob qualquer forma de transmis-
são de conhecimentos e experiências, deve ser assegurada como direito consti-
tucional. O mesmo refere-se à capacitação da comunidade para sua participa-
ção ativa, na defesa do meio ambiente, através de segmentos organizados, quer
na fase de elaboração de políticas públicas, quer nas várias formas de imple-
mentação de planos, programas e projetos, desde o âmbito local até o nacional
(MILARÉ, 2009, pg. 333).

CONEXÃO
Este princípio é de tal magnitude que a Lei Fundamental o consagrou explicitamente (art.
225, parágrafo 1º, VI), resultando daí uma política nacional de amplo alcance e longo prazo,
disciplinada pela Lei 9.795/1999.

capítulo 1 • 21
É de se observar também que, nem todos os princípios anteriormente ci-
tados podem ser considerados verdadeiros princípios, pois muitos deles apre-
sentam-se como mera orientação da ação governamental. É possível ainda
haver eventual contradição entre os supostos princípios e, nesse caso, deve pre-
valecer aquela mais favorável ao meio ambiente (SIRVINSKAS, 2010).

1.3.2  Objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente


© JAN WACHALA | DREAMSTIME.COM

O objetivo geral da política nacional do meio ambiente é a preservação, me-


lhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegu-
rar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana (art. 2º, caput,
lei 6.938/81).
Não obstante, além dos objetivos gerais, a lei n. 6.938/81, em seu artigo 4º ,
traz os objetivos específicos da Política Nacional do Meio Ambiente, sendo estes
(BRASIL, 2014):

I.  À compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a pre-


servação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

Segundo o professor Édis Milaré (2009, pg. 334):

22 • capítulo 1
Nesse encontro de demanda e de oferta, há que se levar em conta dois fatores: a qua-
lidade ambiental e o equilíbrio ecológico. A qualidade ambiental é um conjunto de re-
quisitos e condições que atestam a saúde do meio ambiente, ou seja, fatores propícios
à vida tal se encontra nos sistemas vivos do mundo natural, principalmente daqueles
elementos que entram no metabolismo dos processos essenciais à vida: ar, água, ali-
mentos, componentes do solo, microclima, entre outros. Nunca é demais insistir em que
a qualidade ambiental é pressuposto da qualidade de vida. Já o equilíbrio ecológico é
a permanência dos ecossistemas em suas características próprias e essenciais – uma
vez que cada ecossistema ou hábitat ou meio tem as suas peculiaridades. Em síntese, o
equilíbrio ecológico, que é dinâmico, consiste na capacidade que os ecossistemas pos-
suem de manter-se iguais a si mesmos apesar de todas as ações e reações que neles
se processam, principalmente aquelas provocadas pela intervenção antrópica.

II.  À definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à quali-


dade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
© CARLOSCASTILLA | DREAMSTIME.COM

III.  Ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de


normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV.  Ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orienta-


das para o uso racional de recursos ambientais;

V.  À difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de


dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pú-
blica sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do
equilíbrio ecológico;

capítulo 1 • 23
VI.  À preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua
utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a
manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII.  À imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/


ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela uti-
lização de recursos ambientais com fins econômicos.
© NVNKARTHIK | DREAMSTIME.COM

Tais objetivos têm por escopo dar efetivi-


dade ao desenvolvimento sustentável previsto
constitucionalmente, garantir o desenvolvi-
mento socioeconômico e os interesses da segu-
rança nacional e proteger a dignidade da vida
humana previstos na lei infraconstitucional
(SIRVINSKAS, 2010, pg. 199).
Destaca-se por fim que, as diretrizes da Polí-
tica Nacional do Meio Ambiente serão formula-
das em normas e planos, destinados a orientar
a ação dos Governos da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municí-
pios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manuten-
ção do equilíbrio ecológico (art. 5º, lei 6.938/81).

ATENÇÃO
Importante relembrar, por mais custosa que seja a recuperação ou vultosa a compensação,
jamais se reconstituirá a integridade ambiental ou a qualidade plena do meio que foi afetado.
Isto se deve à impossibilidade de valorar financeira ou economicamente os danos, porquanto
a estrutura sistêmica do meio ambiente dificulta ser até onde e até quando se estendem as
sequelas do estrago; por isso, indenizações e compensações, inobstante seu valor pecuniá-
rio, são mais simbólicas do que reais, se comparadas ao valor intrínseco da biodiversidade, do
equilíbrio ecológico ou da qualidade ambiental plena.

Da mesma forma, as atividades empresariais públicas ou privadas serão


exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Am-
biente (parágrafo único, art. 5º, lei 6938/81).

24 • capítulo 1
ATIVIDADE
1. Como você define a expressão “meio ambiente”?

2. O que dispõe a Constituição Federal sobre o meio ambiente?

3. A Constituição Federal traz regras referentes à educação ambiental no nosso país?


Explique.

REFLEXÃO
O estudo deste primeiro capítulo permitiu entender questões essenciais que envolvem o conceito
de meio ambiente e educação ambiental. Analisamos a importância de um meio ambiente ecolo-
gicamente equilibrado, bem como, de uma política de educação ambiental, para que as presentes
e futuras gerações se atentem à necessidade de preservação do meio ambiente. Em um segundo
momento, analisamos uma das principais normas referentes ao Direito Ambiental, sendo esta a Lei
n. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. Compreendemos, em espe-
cial nesta norma, o objetivo e os princípios que estruturam a Política Nacional do Meio Ambiente.

LEITURA RECOMENDADA
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

CAPÍTULO VI
DO MEIO AMBIENTE

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à co-
letividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - reservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;

capítulo 1 • 25
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fis-
calizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus com-
ponentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de im-
pacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos
e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscienti-
zação pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam
os animais a crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Panta-
nal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização
far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do
meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por
ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização defi-
nida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

Disponível em http://www.planalto.gov.br/

26 • capítulo 1
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VALLE, Cyro Eyer. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6. ed. São Paulo: Senac, 2006.

28 • capítulo 1
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, estudaremos o direito ambiental. Analisaremos o conceito de direito am-
biental, bem como, a responsabilidade penal, civil e administrativa, diante de danos ambien-
tais. Por fim, estudaremos as normas existentes em nosso ordenamento jurídico, referentes
aos crimes ambientais.

capítulo 1 • 29
2
Responsabilidade
ambiental
2  Responsabilidade ambiental
Neste segundo capítulo, analisaremos a Responsabilidade frente aos danos
ambientais. No início, realizaremos um breve panorama histórico da crise am-
biental no Brasil e no mundo. Em seguida, estudaremos o direito ambiental,
bem como as regras referentes à responsabilidade penal, civil e administrativa,
frente aos danos ambientais. Por fim, analisaremos a lei de crimes ambientais.
Vamos aos estudos!!!!

OBJETIVOS
•  Entender o conceito de Direito Ambiental;
•  Conhecer a responsabilidade frente aos danos ambientais;
•  Estudar a lei de crimes ambientais.

REFLEXÃO
Você conhece a legislação de proteção ao meio ambiente? A responsabilidade das pessoas
físicas ou jurídicas pelos danos causados ao meio ambiente? Neste capítulo, estudaremos
estas questões, bem como a lei de crimes ambientais.

2.1  A crise ambiental

Desde os primórdios da civilização, o ser humano nunca se preocupou com


a preservação do meio ambiente. Por todo o mundo, pessoas devastaram o
meio ambiente em busca de riquezas, do desenvolvimento econômico e so-
cial, sem se preocupar com o caráter irreversível de suas ações, para as pre-
sentes e futuras gerações.
Florestas foram devastadas, rios foram poluídos, o ar fora contaminado, ou
seja, houve uma degradação global do meio ambiente, tudo prosseguido numa
perspectiva puramente econômica, fatos estes que levaram o homem à evidên-
cia de que os recursos naturais não são inesgotáveis.
Mas, foi no fim do século XX, principalmente depois da 2ª Guerra Mundial,
que a crise ecológica tomou proporções significativas e o ser humano passou a
se preocupar com o meio ambiente, com a sua escassez e sobrecarga.

32 • capítulo 2
Segundo Roxana Cardoso Brasileiro Borges (1999), a peculiaridade que há
nesta crise ecológica que acomete a sociedade no final do século XX é o fato
de ser ela provocada por um processo civilizatório que pode estar levando-a à
sua própria destruição. E se tal ameaça pode parecer distante, de imediato já se
percebem perdas na qualidade de vida das gerações atuais.
Grandes devastações ambientais deram força a este questionamento. Na
Inglaterra, em 1952, centenas de pessoas morreram em poucos dias em con-
sequência de um episódio agudo de poluição do ar na cidade de Londres. No
Japão, o “desastre de Minamata”, relacionado à poluição das águas da baía
desse nome, por mercúrio, causara a morte ou lesões nervosas irreversíveis a
milhares de pessoas. Na Alemanha, o Rio Reno, cujo nome significa puro (rein)
transformara-se no esgoto da Europa, receptáculo dos detritos das indústrias e
siderúrgicas. (BORGES, 1999)

A conscientização sobre os graves problemas ambientais mobilizou as sociedades civis


dos países do primeiro mundo, levando-os a debater o problema da poluição na Confe-
rência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo, em 1972.

O primeiro grande texto a respeito das questões ambientais e dos limites


para o desenvolvimento humano foi publicado em Roma, em 1968. Os limites
do crescimento, esse texto faz um amplo estudo sobre o consumo e as reservas
dos recursos minerais e naturais e os limites de suporte/capacidade ambiental,
ou a capacidade de o planeta suportar desgastes e crescimento populacional.
(CASCINO, 2003).
Segundo Guido Fernando da Silva Soares (2001),

A Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, adotada em Estocolmo pela Conferên-


cia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, de 5 a 16-6-1972, pode ser
considerada como um documento com a mesma relevância para o Direito Internacional
e para a Diplomacia dos Estados que teve a Declaração Universal dos Direitos do ho-
mem (adotada pela Assembléia Geral da ONU em 10-12-1945). Na verdade, ambas as
Declarações têm exercido o papel de verdadeiros guias e parâmetros na definição dos
princípios mínimos que devem figurar tanto nas legislações domésticas dos Estados,
quanto na adoção dos grandes textos do Direito Internacional da atualidade.

capítulo 2 • 33
Por outro lado, tal como os grandes textos de natureza constitucional, ora petrificaram,
em textos escritos, aqueles valores que já se encontravam estabelecidos nos sistemas
jurídicos da maioria das Nações e nas relações internacionais, ora declararam outros
novos, de conformidade com a emergente consciência da necessidade de preservação
do meio ambiente global.

Após a Conferência de Estocolmo, a opinião pública mundial tornou-se mais


sensível às questões ambientais e, consequentemente, mais exigente. Os desas-
tres ambientais passaram a ser divulgados instantaneamente em nível global,
acelerando a formação de uma consciência ambiental. O movimento ambienta-
lista se organizou política e tecnicamente, ganhando legitimidade e endossando
produtos ecologicamente corretos, estudos de impactos ambientais entre outros.
Continuando pela história, em 1977, realizou-se em Tblisi, na Geórgia, ex
-União Soviética, o Primeiro Congresso Mundial de Educação Ambiental. Nesse
primeiro encontro, ainda na URSS totalitária, foram apresentados os primeiros
trabalhos que estavam sendo desenvolvidos em vários países. (CASCINO, 2003).
Na década de 80, apesar do crescimento da pressão ambientalista e do apri-
moramento da legislação ambiental, a recessão que a economia brasileira atra-
vessou não estimulou novos investimentos em controle ambiental, pois a grande
maioria das empresas defrontou-se com a escassez de recursos financeiros.
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Nesse sentido, foram surgindo vários movimentos sociais e políticos, fó-


runs de debates e congressos, com o intuito de focalizar o problema ambiental
e forçar a criação de legislações severas sobre a proteção do meio ambiente.

34 • capítulo 2
Há de se destacar também na década de 70 e 80, no que tange a realidade
brasileira, os movimentos ecológicos populares, principalmente os movimen-
tos dos seringueiros, liderados por Chico Mendes, que tomou relevância nacio-
nal, após a sua morte.
Passados quinze anos, em 1987, algo de novo pairou no ar, com a publica-
ção de nosso futuro comum. E a realização da Conferência Internacional sobre
Desenvolvimento e Meio Ambiente, a Rio-92 marcaria uma profunda mudança
nos paradigmas que orientam a leitura das realidades sociais e dos problemas
que envolvem a produção e o consumo de bens e serviços, a exploração de re-
cursos naturais, a reforma e/ou substituição de instituições de representação
e participação política, a transformação dos espaços de formação e educação
das futuras gerações. Concretizando um movimento de construção de novas
referências sociais e políticas, houve um salto qualitativo nas relações entre as
sociedades e seu meio. (CASCINO, 2003).
Com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento – Rio-92, as questões ambientais passaram a focar temas globais, que
dizem respeito, sobretudo à saúde do planeta e à sobrevivência e à qualidade de
vida de toda a humanidade, com destaque ao desenvolvimento sustentado, mu-
danças climáticas, proteção da biodiversidade e proteção da camada de ozônio.

CONEXÃO
Para maiores informações referentes à Rio-92, o aluno pode acessar o site <www.onu.org.br>

O desenvolvimento sustentável tornou-se um requisito fundamental para


se pensar a problemática ecológica, como, também, uma meta a ser buscada e
respeitada por todos os países.
O conceito de desenvolvimento sus-
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tentado encontra-se expresso no “caput”


do artigo 225 da Constituição Federal, sen-
do que, pode ser entendido como o tipo
de desenvolvimento que visa a atender as
necessidades das presentes gerações, sem
afetar às necessidades das futuras.

capítulo 2 • 35
Segundo o professor Edis Milaré (2009, pg. 36):

Compatibilizar meio ambiente e desenvolvimento significa considerar os problemas am-


bientais dentro de um processo contínuo de planejamento, atendendo-se adequadamen-
te às exigências de ambos e observando-se as suas inter-relações particulares a cada
contexto sociocultural, político, econômico e ecológico, dentro de uma dimensão tempo/
espaço. Em outras palavras, isto implica dizer que a política ambiental não se deve erigir
em obstáculo ao desenvolvimento, mas sim em um de seus instrumentos, ao propiciar a
gestão racional dos recursos naturais, os quais constituem a sua base material.

A Conferência Rio-92 procurou trazer ao mundo a ideia de que o desenvolvi-


mento econômico deve vir de maneira planejada e sustentada (trata-se do fun-
damento da função socioambiental da propriedade rural), com vistas a assegu-
rar a compatibilização com a proteção do meio ambiente. E a proteção do meio
ambiente não cabe tão somente ao poder Público, mas sim, a toda a coletivida-
de, que tem o dever também de fiscalizar e preservar o meio ambiente para as
presentes e futuras gerações.
A partir disso, as empresas, sobretudo as multinacionais, passaram a se pro-
nunciar mais intensamente, porém, não o suficiente, sobre suas responsabili-
dades ambientais, contando com os estímulos do debate sobre a modernidade,
do liberalismo econômico, das certificações de qualidade, dentre outras.
No Brasil, esse novo enfoque nas discussões dos problemas ambientais ga-
nhou espaço cada vez maior na mídia, a qual, passou a transmitir ao público
menos informado, os inúmeros problemas ambientais que cercam o país.
No entanto, ainda há muito que fazer. Enquanto empresas premiadas pelos
seus programas de controle ambiental ganham espaço nos noticiários, perdu-
ram a destruição da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica, a exploração irre-
gular dos solos, os processos erosivos, a destruição dos mananciais, a poluição
dos rios e tantas outras ambiental.
Não só o Brasil, como todo o mundo, tem que tomar consciência de que a
preservação do meio ambiente é um dever de todos e, é um elemento essen-
cial para a preservação da vida. Se esperamos pelo bom funcionamento dos
ecossistemas, da vida humana e animal, temos de colocar o desenvolvimento

36 • capítulo 2
econômico e social em consonância com o mundo natural, onde as ações do
homem devem ser compatíveis com a manutenção do meio ambiente e, con-
sequentemente, do próprio planeta.

2.2  Direito ambiental


ZIMMYTWS | DREAMSTIME.COM

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é fruto da evolução


dos direitos, e seu conteúdo identifica-o como um direito fundamental do ser
humano. A consciência ambientalista propiciou o surgimento e o desenvolvi-
mento de uma legislação ambiental em todos os países.
As expressões mais utilizadas para designar a
nomenclatura desta disciplina jurídica são Direi-
to do Meio Ambiente, Direito do Ambiente, Direito
Ambiental, Direito Ecológico e Direito de Proteção
da Natureza. Porém, o desenvolvimento dos estudos
sobre a disciplina conduziu a maioria dos autores
© ROCHAKRED | DREAMSTIME.COM

à utilização da expressão Direito Ambiental.


Nesse sentido, muitas são as definições para a
disciplina jurídica Direito Ambiental.
Para William Freire (2000, pg. 23), Direito Ambiental é uma especialização
do Direito Administrativo que estuda as normas que tratam das relações do ho-
mem com o espaço que o envolve. É o conjunto de normas que regem as rela-
ções do homem com o meio ambiente.

capítulo 2 • 37
CONCEITO
O professor Edis Milaré (2009, pg. 93) considera Direito do Ambiente como o complexo de
princípios e normas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, pos-
sam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à sua sustentabilidade
para as presentes e futuras gerações.

Segundo José Afonso da Silva (1997, pg. 41),

Pode-se dizer que se trata de uma disciplina jurídica de acentuada autonomia, dada a natu-
reza específica de seu objeto – ordenação da qualidade do meio ambiente com vista a uma
boa qualidade de vida – que não se confunde, nem mesmo se assemelha, com o objeto
de outros ramos do Direito. Pode-se declarar também que o Direito Ambiental é hoje um
ramo do Direito Público, tal é a forte presença do Poder Público no controle da qualidade
do meio ambiente, em função da qualidade de vida concebida como uma forma de direito
fundamental da pessoa humana; especialmente é o Direito Ambiental Constitucional.

Finalizando, Paulo Bessa Antunes define o Direito Ambiental (2005, pg. 09)
como sendo:

[...] um direito que se desdobra em três vertentes fundamentais, que são constituídas pelo
direito ao meio ambiente, direito sobre o meio ambiente e direito do meio ambiente. Tais
vertentes existem, na medida em que o Direito Ambiental é um direito humano fundamen-
tal que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, ao desenvolvi-
mento econômico e à proteção dos recursos naturais. Mais do que um direito autônomo, o
Direito Ambiental é uma concepção de aplicação da ordem jurídica que penetra, transver-
salmente, em todos os ramos do Direito. O Direito Ambiental, portanto, tem uma dimensão
humana, uma dimensão ecológica e uma dimensão econômica, que se devem harmonizar
sob o conceito de desenvolvimento sustentado.

No entanto, independentemente dos conceitos anteriormente descritos, é


pacífico para a maioria da doutrina que, o Direito Ambiental, é um direito fun-
damental e difuso, considerado de terceira geração.

38 • capítulo 2
© PAVARS | DREAMSTIME.COM
Isso porque, o Direito Ambiental não
é um direito individual, como os tradicio-
nais, nem um direito social, corresponden-
te à Segunda geração de direitos, mas sim,
um direito difuso, de Terceira Geração,
consistente num direito – dever, na medida
em que a pessoa, ao mesmo tempo em que
é titular do direito ao meio ambiente eco-
logicamente equilibrado, tem também a
obrigação de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.

2.3  Dano ambiental


© WIN NONDAKOWIT | DREAMSTIME.COM

Entende-se por dano toda lesão a um bem jurídico tutelado. Dano ambien-
tal, por sua vez, é toda agressão contra o meio ambiente causada por atividade
econômica potencialmente poluidora, por ato comissivo praticado por qualquer
pessoa ou por omissão voluntária decorrente de negligência (SIRVINSKAS, 2010).
A lei 6938/81, em seu artigo 3º, conceitua poluição como a degradação da
qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente
(BRASIL, 2014):
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;

capítulo 2 • 39
Destaca-se também que a lei de Política Nacional do Meio Ambiente consa-
gra como um de seus objetivos a imposição ao poluidor e ao predador da obri-
gação de recuperar e/ou indenizar os danos causados. Além disso, possibilita
o reconhecimento da responsabilidade do poluidor em indenizar e/ou reparar
os danos causados ao meio ambiente e aos terceiros afetados por sua atividade,
independentemente da existência de culpa (MACHADO, 2003).

2.4  Da responsabilidade penal, civil e administrativa


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A lei 6938/81, em seu parágrafo 3º, inciso IV, define poluidor como a pessoa
física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indireta-
mente, por atividade causadora de degradação ambiental (BRASIL, 2014).
Ato contínuo, em seu artigo 4º, inciso VII, dispõe quanto à responsabiliza-
ção do agente causador de dano ambiental, destacando que a Política Nacional
do Meio Ambiente visará à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação
de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, da contribuição
pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.
Em seu artigo 14 também destaca a responsabilidade ambiental, ao dispor
que, sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual
e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou
correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade
ambiental sujeitará os transgressores:

I.  à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10


(dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Na-
cional – ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme

40 • capítulo 2
dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido
aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios.

II.  à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo


Poder Público;

III.  à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em


estabelecimentos oficiais de crédito;

IV.  à suspensão de sua atividade.

E mais, nestes casos, é o poluidor obri-


© GRAZVYDAS | DREAMSTIME.COM

gado, independentemente da existência


de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade. O Ministério
Público da União e dos Estados terá legiti-
midade para propor ação de responsabili-
dade civil e criminal, por danos causados
ao meio ambiente (parágrafo primeiro).
Já a Constituição Federal, em seu artigo
225, define também a responsabilidade das
pessoas físicas e jurídicas quanto à preser-
vação do meio ambiente, quando dispõe
que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Públi-
co e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações (BRASIL, 2014).
Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público (pará-
grafo primeiro, art. 225, CF):

I.  preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o ma-


nejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II.  preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do


País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;

III.  definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus


componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a su-

capítulo 2 • 41
pressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV.  exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencial-


mente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estu-
do prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V.  controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, méto-


dos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida
e o meio ambiente;

VI.  promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a cons-


cientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII.  proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que colo-
quem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade.

Nesse sentido, quanto à responsabilidade


© XXZOEXX | DREAMSTIME.COM

dos infratores, dispõe também a Constituição


Federal, no parágrafo terceiro, do artigo 225, que
as condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente, sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e adminis-
trativas, independentemente da obrigação de re-
parar os danos causados.

A legislação brasileira consagrou a Responsabilidade Objetiva aos sujeitos causadores


de danos ambientais, visto que, o agente que causar um dano ambiental, responde
pelo mesmo, independentemente da existência de dolo ou culpa, bastando somente, a
existência do nexo causal, ou seja, a relação entre o ato cometido pelo agente, e o dano
causado ao meio ambiente.

Destaca-se, por fim, que a pessoa jurídica de direito público interno tam-
bém é responsável pelos danos que diretamente causar ao meio ambiente por
meio de suas funções típicas. Aplica-se neste caso, a responsabilidade objetiva
pelo risco integral. Não há que apurar a culpa, bastando a constatação do dano
e o nexo causal entre este e o agente responsável pelo ato ou fato lesivo ao meio
ambiente (SIRVINSKAS, 2010).

42 • capítulo 2
2.5  Crimes ambientais

Em 1998, foi criada a lei 9.605 que


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dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de con-
dutas e atividades lesivas ao meio
ambiente.
A lei trata, especialmente, de
crimes contra o meio ambiente e
de infrações administrativas am-
bientais. Dispõe, também, sobre
processo penal e cooperação inter-
nacional para a preservação do meio ambiente. Esta lei teve como inovações
marcantes a não utilização do encarceramento como norma geral para as pes-
soas físicas criminosas, a responsabilização penal das pessoas jurídicas e a
valorização da intervenção da Administração Pública, através de autorizações,
licenças e permissões (MACHADO, 2003).

2.5.1  A Lei de Crimes Ambientais

A Lei 9.605/98, que dispõe sobre os crimes


ambientais, logo em seu artigo 2º, informa que,
quem, de qualquer forma, concorre para a prá-
tica dos crimes previstos nesta Lei, incide nas
penas a estes cominadas, na medida da sua cul-
pabilidade, bem como o diretor, o administra-
dor, o membro de conselho e de órgão técnico,
o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário
© OLEG DOROSHIN | DREAMSTIME.COM

de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta


criminosa de outrem, deixar de impedir a sua
prática, quando podia agir para evitá-la.
E mais, as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade (art. 3º, lei 9.605/98).

capítulo 2 • 43
© KAREN ROACH | DREAMSTIME.COM

A responsabilidade das pessoas jurídi-


cas nesse sentido, não exclui a das pessoas
físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do
mesmo fato (parágrafo único).
Poderão ser incriminadas penalmente
tanto a pessoa jurídica de Direito Privado
como a de Direito Público. No campo das
pessoas jurídicas de Direito Privado estão,
também, as associações, fundações e sindicatos. A administração pública di-
reta como a administração indireta podem ser responsabilizadas penalmente.
A lei brasileira não colocou nenhuma exceção. Assim, a União, os Estados e os
Municípios, como as autarquias, as empresas públicas, as sociedades de eco-
nomia mista, as agências e as fundações de Direito Público poderão ser incri-
minados penalmente (MACHADO, 2003).
Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente obser-
vará (art. 6º, lei 9.605/98):
I.  a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conse-
quências para a saúde pública e para o meio ambiente;
II.  os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de
interesse ambiental;
III.  a situação econômica do infrator, no caso de multa.

Destaca-se também que, as penas restritivas de direitos são autônomas e


substituem as privativas de liberdade quando (art. 7º, lei 9.605/98):
I.  tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade
inferior a quatro anos;
II.  a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indi-
carem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e
prevenção do crime.
Nesse sentido, são consideradas penas restritivas de direito (art. 8º, lei
9.605/98):
I.  prestação de serviços à comunidade;
II.  interdição temporária de direitos;
III.  suspensão parcial ou total de atividades;
IV.  prestação pecuniária;
V.  recolhimento domiciliar.

44 • capítulo 2
A responsabilidade penal descrita na lei de crimes ambientais está estrutu-
rada essencialmente, sobre o princípio da culpabilidade. A lei 9.605/98 contém
tipos penais punidos a título de dolo e de culpa. Diante disso, há necessidade
de distinguir entre dolo e culpa. Alguns dos tipos penais só se consumam se o
crime foi praticado dolosamente, ou seja, se o indivíduo tinha vontade e cons-
ciência de querer praticar o delito. A intenção subjetiva deve estar em harmonia
com a conduta exterior. Já a culpa subjetiva, mais frequente, caracteriza-se pela
imprudência, imperícia ou negligência. Todos os tipos penais dessa lei são pra-
ticados a título de dolo, exceto quando a lei admite expressamente a modalida-
de culposa (SIRVINSKAS, 2010).

ATIVIDADE
1. Em que consiste a Responsabilidade Objetiva por danos ambientais?

2. As pessoas jurídicas de direito público e privado podem responder penalmente pelos
danos ambientais praticados? Fundamente.

REFLEXÃO
O estudo deste segundo capítulo permitiu analisarmos as principais normas de proteção ao
meio ambiente. Iniciamos com uma análise da crise ambiental no Brasil e no mundo, bem
como, do conceito de direito ambiental. Ato contínuo, estudamos a responsabilidade civil,
penal e administrativa das pessoas físicas e jurídicas frente aos danos ambientais causados,
bem como os principais aspectos referentes à lei de crimes ambientais.

capítulo 2 • 45
LEITURA RECOMENDADA
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998

CAPÍTULO V
DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE
Seção I
Dos Crimes contra a Fauna

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em
rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente,
ou em desacordo com a obtida:
Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas:
I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo
com a obtida;
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou
depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa
ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de
criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da
autoridade competente.
§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada amea-
çada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar
a pena.
§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies
nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo
ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro,
ou águas jurisdicionais brasileiras.
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente
no local da infração;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;

46 • capítulo 2
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição
em massa.
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça
profissional.
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.
Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto,
sem a autorização da autoridade ambiental competente:
Pena – reclusão, de um a três anos, e multa.
Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável
e licença expedida por autoridade competente:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domés-
ticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em
animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recur-
sos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o pe-
recimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes,
lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras:
Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:
I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aquicultura de
domínio público;
II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licen-
ça, permissão ou autorização da autoridade competente;
III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre
bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica.
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interdita-
dos por órgão competente:
Pena – detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulati-
vamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:
I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos in-
feriores aos permitidos;

capítulo 2 • 47
II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de apa-
relhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;
III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da
coleta, apanha e pesca proibidas.
Art. 35. Pescar mediante a utilização de:
I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito se-
melhante;
II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente:
Pena – reclusão de um ano a cinco anos.
Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar,
extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes,
crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento
econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas
oficiais da fauna e da flora.
Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:
I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;
II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destrui-
dora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade
competente;
III – (VETADO)
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm>

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derna na Produção e Comercialização de Hortaliças. Editora UFV, 2005.

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FRANCISCO NETO, João. Manual de Horticultura Ecológica: Guia de Auto Suficiência


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FREIRE, Willian. Direito Ambiental Brasileiro: com legislação ambiental atualizada. 2. ed.
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Formação de Professores de Ciências (UFScar); Grupo Temática Ambiental e o Processo Educa-
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PETERS, Edson Luiz. Meio Ambiente & Propriedade Rural. Curitiba: Juruá, 2003.

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SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: Rima; 2004

SERRANO, C. M. L. Educação Ambiental e consumerismo em unidades de ensino


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SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 6. ed. São Paulo: Revista
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SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

SOARES, Guido Fernando da Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente: emergên-


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TESSARIOLI NETO, João; GROPPO, Gerson Antonio; BLANCO, Maria Claudia Silva Garcia;
Hortas. Campinas, SP: CATI, Ago. 2004.

VALLE, Cyro Eyer. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6. ed. São Paulo: Senac, 2006;

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, estudaremos o licenciamento ambiental. Analisaremos o licenciamento
ambiental no controle das atividades poluidoras. Vamos compreender as regras referentes à
avaliação e estudo do impacto ambiental, bem como o relatório de impacto ao meio ambiente
(RIMA). Bons estudos!!!!

50 • capítulo 2
3
Licenciamento
ambiental
3  Licenciamento ambiental
Neste terceiro capítulo, analisaremos o licenciamento ambiental no controle
das atividades poluidoras. Estudaremos o princípio do poluidor pagador, bem
como os estudos ambientais relacionados ao meio ambiente integrado. Anali-
saremos, por fim, as normas referentes à avaliação de Impacto Ambiental e ao
Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA).

OBJETIVOS
•  Entender o princípio do poluidor pagador;
•  Compreender o licenciamento ambiental;
•  Analisar a avaliação de impacto ambiental;
•  Conhecer o relatório de impacto ao meio ambiente.

REFLEXÃO
Você conhece o significado das siglas EIA e RIMA? O princípio do poluidor pagador? Neste
capítulo, estudaremos estas questões, bem como o licenciamento ambiental no controle das
atividades poluidoras.

3.1  Princípio do poluidor pagador


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52 • capítulo 3
O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar pru-
dentemente o patrimônio representado pela flora e pela fauna silvestres. Não
obstante, devido à escassez dos recursos naturais, e à necessidade de prevenir
catástrofes, pode-se cobrar pelo uso dos recursos naturais, bem como, cabe ao
poluidor, o custo social da poluição por ele gerada.
No Brasil, a Lei n. 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) dis-
põe em seu artigo 4º, inciso VII:
Art. 4º. A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar


os danos causados, e ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais
com fins econômicos.
Em reforço a isso, dispõe a Constituição Federal, em seu artigo 225, §3º, que as con-
dutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pes-
soas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.

Assim, temos dois princípios interligados, o princípio usuário – pagador e


o princípio poluidor – pagador, isto é, aquele que obriga o poluidor a pagar a
poluição que pode ser causada ou que já foi causada. O uso gratuito dos recur-
sos naturais tem representado um enriquecimento ilegítimo do usuário, pois
a comunidade que não usa do recurso ou que o utiliza em menor escala fica
onerada. O poluidor que usa gratuitamente o meio ambiente para nele lançar
os poluentes invade a propriedade pessoal de todos os outros que não poluem,
confiscando o direito de propriedade alheia (MACHADO, 2003).
A Declaração do Rio, de 1992, agasalhou a matéria em seu Princípio 16, dis-
pondo que “as autoridades nacionais devem procurar promover a internaliza-
ção dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista
a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em primeiro, arcar com o custo
da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distor-
ções no comércio e nos investimentos internacionais” (MILARÉ, 2009).

capítulo 3 • 53
ATENÇÃO
Vê-se, que o poluidor deverá arcar com o prejuízo causado ao meio ambiente da forma mais
ampla possível. Impera, em nosso sistema, a responsabilidade objetiva, ou seja, basta a com-
provação do dano ao meio ambiente, a autoria e o nexo causal, independentemente da exis-
tência de culpa (SIRVINSKAS, 2010).

3.2  O licenciamento ambiental no controle das atividades poluidoras

O licenciamento ambiental obedece a


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preceitos legais, normas administrativas


e rituais claramente estabelecidos e cada
dia mais integrados à perspectiva de em-
preendimentos que causem, ou possam
causar, significativas alterações do meio,
com repercussões sobre a qualidade am-
biental (MILARÉ, 2009).
O Conselho Nacional do Meio Ambien-
te (CONAMA), em sua resolução n. 237,
define licenciamento ambiental, como
sendo o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente
licencia a localização, instalação, ampliação e a operaçãode empreendimentos
e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou po-
tencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar
degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e
as normas técnicas aplicáveis ao caso (art. 1º, inciso I).
Em seu inciso II, define licença ambiental como sendo o ato administrativo
pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e
medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreende-
dor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empre-
endimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas
efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, pos-
sam causar degradação ambiental.

54 • capítulo 3
A licença ambiental é a outorga concedida pelo Poder Público a quem pretende exercer uma
atividade potencialmente nociva ao meio ambiente. Assim, todo aquele que pretende cons-
truir, instalar, ampliar e colocar em funcionamento estabelecimentos e atividades utilizadoras
de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, deverá requerer
perante o órgão público competente a licença ambienta (SIRVINSKAS, 2010).

CONCEITO
A audiência pública tem por objetivo assegurar o cumprimento do princípio democrático ou
da participação. Essa audiência poderá ser marcada de ofício pelo órgão público ambiental,
se julgar necessária a pedido do Ministério Público, por solicitação de entidade civil ou por
requerimento subscrito por no mínimo cinquenta interessados (SIRVINSKAS, 2010).

A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação


de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais conside-
radas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos
capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de
prévio licenciamento do órgão ambiental competente, sem prejuízo de outras
licenças legalmente exigíveis (art. 2º, res. 237, CONAMA).
Segundo o artigo 8º da resolução n. 237 do CONAMA, o Poder Público pode-
rá expedir três espécies de licenças:
I.  Licença Prévia (LP) – concedida na fase preliminar do planejamento
do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e con-
cepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisi-
tos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de
sua implementação;

II.  Licença de Instalação (LI) – autoriza a instalação do empreendimento ou


atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, pro-
gramas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambien-
tal e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;

III.  Licença de Operação (LO) – autoriza a operação da atividade ou em-


preendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que
consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental
e condicionantes determinados para a operação.

capítulo 3 • 55
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Ao contrário do licenciamento tradicional, marcado pela simplicidade, o li-


cenciamento ambiental é ato uno, de caráter complexo, em cujas etapas podem
intervir vários agentes dos diversos órgãos do Sistema Nacional do Meio Am-
biente (SISNAMA), e que deverá ser precedido de estudos técnicos que subsi-
diem sua análise, inclusive de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Im-
pacto Ambiental, sempre que constatada a significância do impacto ambiental
(MILARÉ, 2009).
A resolução n. 237 do CONAMA, em seu artigo 10, determina que o procedi-
mento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas:
I.  Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do
empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, ne-
cessários ao início do processo de licenciamento correspondente à
licença a ser requerida;

II.  Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanha-


do dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dan-
do-se a devida publicidade;

III.  Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA,


dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a rea-
lização de vistorias técnicas, quando necessárias;

IV.  Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão am-


biental competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em de-
corrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais
apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma
solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham
sido satisfatórios;

V.  Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação


pertinente;

56 • capítulo 3
VI.  Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão am-
biental competente, decorrentes de audiências públicas, quando cou-
ber, podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimen-
tos e complementações não tenham sido satisfatórios;

VII.  Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer


jurídico;

VIII.  Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a


devida publicidade.

É importante ressaltar que, o órgão ambiental competente poderá esta-


belecer prazos de análise diferenciados para cada modalidade de licença, em
função das peculiaridades da atividade ou empreendimento, bem como para a
formulação de exigências complementares, desde que observado o prazo má-
ximo de 6 (seis) meses a contar do ato de protocolar o requerimento até seu
deferimento ou indeferimento, ressalvados os casos em que houver EIA/RIMA
e/ou audiência pública, quando o prazo será de até 12 (doze) meses (Art. 14,
resolução n. 237, CONAMA).

CONEXÃO
Para maiores informações referentes ao licenciamento ambiental, o aluno pode acessar o
link <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html>, onde encontrará
na íntegra, a Resolução n. 237 do Conselho Nacional do Meio Ambiente.

3.3  Estudos ambientais

A resolução n. 237 do CONAMA, em seu artigo 1º, inciso III, conceitua es-
tudos ambientais como todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos am-
bientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma
atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da
licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle
ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de
manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco.

capítulo 3 • 57
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O estudo prévio de impacto ambiental (EPIA) é um dos instrumentos da po-


lítica nacional do meio ambiente, tão importante quanto o zoneamento para a
proteção do meio ambiente. É um instrumento administrativo preventivo. Por
tal razão é que foi elevado a nível constitucional (art. 225, parágrafo 1º, IV da CF).
Incumbe, pois, ao Poder Público “exigir, na forma da lei, para instalação de obra
ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”. As-
sim, o procedimento de licenciamento ambiental deverá ser precedido do EPIA
e do seu respectivo relatório de impacto ambiental (RIMA). Exigir-se-á o EPIA
quando a atividade for potencialmente causadora de significativa degradação
ambiental. Entende-se por significativa degradação ambiental toda modifica-
ção ou alteração substancial e negativa do meio ambiente, causando prejuízos
extensos à flora, à fauna, às águas, ao ar e à saúde humana (SIRVINSKAS, 2009).
A resolução n. 01 do CONAMA, em seu artigo 1º, considera impacto am-
biental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do
meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante
das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I.  a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II.  as atividades sociais e econômicas;
III.  a biota;
IV.  as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V.  a qualidade dos recursos ambientais.

58 • capítulo 3
Dentre os estudos ambientais, é muito importante conhecer o estudo de
Avaliação de Impacto Ambiental chamado de Estudo de Impacto Ambiental/
Relatório de Impacto ao Meio Ambiente, ou EIA/RIMA.

3.3.1  Política Nacional do Meio Ambiente

A avaliação de impactos ambientais também é considerado um instrumento


da Política Nacional do Meio Ambiente. Nesse sentido, dispõe o artigo 9º, da
lei n. 6.938, que são considerados instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente:
I.  o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II.  o zoneamento ambiental;

III.  a avaliação de impactos ambientais;

IV.  o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente


poluidoras;

V.  os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou ab-


sorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI.  a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder


Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção
ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;

VII.  o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII.  o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa


Ambiental;

IX.  as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimen-


to das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação
ambiental.

X.  a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divul-


gado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recur-
sos Naturais Renováveis – IBAMA;

XI.  a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,


obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;

capítulo 3 • 59
XII.  o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras
e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.

XIII.  instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão am-


biental, seguro ambiental e outros.
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Destaca-se também que, em seu artigo 10, dispõe sobre a necessidade de


licenciamento ambiental, em se tratando de construção, instalação, ampliação
e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos am-
bientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer for-
ma, de causar degradação ambiental.

3.3.2  Meio Ambiente Integrado

A necessidade de estudos de impacto


ambiental, bem como o processo de licen-
ciamento ambiental, para realização de
qualquer construção ou obra que utilize
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recursos naturais, demonstra que a nossa


legislação busca uma integração do meio
ambiente, impondo a sua importância e
necessidade de preservação, para as pre-
sentes e futuras gerações.
Destaca-se, assim, o comprometimento da legislação com o chamado de-
senvolvimento sustentável, ou seja, a evolução da sociedade que concilia a pre-
servação dos recursos ambientais e o desenvolvimento econômico.

60 • capítulo 3
Trata-se de um princípio constitucional, implíci-
to no artigo 225 da Constituição Federal, quando o
mesmo descreve o dever de preservar o meio ambien-
te para as presentes e futuras gerações.
Segundo informa Luís Roberto Gomes (Apud VA-
LERI, 2003, pg. 6):

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A exploração econômica do meio ambien-
te deve se dar, assim, dentro dos limites da
capacidade de suporte dos ecossistemas,
entendida esta como aquela que resguarde a
renovação dos recursos renováveis e a exploração não predatória dos re-
cursos não renováveis, de forma que possam servir às gerações futuras.

3.4  Indicadores

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, reconhecendo o di-


reito à qualidade do meio ambiente como manifestação do direito à vida, pro-
duziu um texto capaz de orientar uma política ambiental no Brasil e de induzir
uma mentalidade em prol da preservação do meio ambiente. Com efeito, con-
siderando o meio ambiente “bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida”, impôs ao Poder Público, para assegurar a efetividade desse
direito, entre outros, a incumbência de “exigir na forma da lei, para instalação
de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do
meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental”. (MILARÉ, 2009).
Nesse sentido, os principais indicadores de atividades ou obras potencial-
mente causadoras de danos ambientais compreendem a Avaliação de Impacto
Ambiental, o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambien-
tal, os quais, passamos a estudar especificamente cada um deles.

3.5  Avaliação de Impacto Ambiental

Além da Constituição Federal, já anteriormente descrita, a resolução n. 237 do


CONAMA dispõe sobre a Avaliação de Impacto Ambiental.
Logo no art. 1º, III, deixa claro que a Avaliação de Impacto Ambiental, que
ela chama de “Estudos Ambientais”, é gênero, de que são espécies todos e

capítulo 3 • 61
quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais apresentados como subsí-
dio para a análise da Licença Ambiental, tais como: relatório ambiental, plano
e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico
ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise
preliminar de risco (MILARÉ, 2009).
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A avaliação do impacto ambiental, também está disposta no artigo 3º de re-


ferida resolução, quando dispõe que, a licença ambiental para empreendimen-
tos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de signifi-
cativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental
e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual
dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando
couber, de acordo com a regulamentação.
Referida licença poderá ser de competência da União, através do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais, quando se tratar de obras
localizadas em dois ou mais Estados, ou ainda, de caráter federal; dos Estados
e do Distrito Federal, quando se tratar de obras em um ou mais municípios, ou
ainda, em áreas de preservação permanente e reserva legal; e dos Municípios,
em se tratando de licenciamento ambiental de atividades de impacto local.

3.6  Estudo de impacto ambiental

Como modalidade de Avaliação do Impacto Ambiental (AIA), o Estudo de Im-


pacto Ambiental (EIA) é hoje considerado um dos mais notáveis instrumentos
de compatibilização do desenvolvimento econômico e social com a preserva-

62 • capítulo 3
ção da qualidade do meio ambiente, já que deve ser elaborado antes da instala-
ção de obra ou de atividade potencialmente causadora de significativa degrada-
ção, nos termos do artigo 225, parágrafo primeiro, IV, da CF/88 (MILARÉ, 2009).

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O Estudo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), na forma de um EIA/


RIMA, é obrigatório para algumas atividades de alto potencial poluidor ou im-
pacto ambiental. No âmbito do processo de licenciamento ambiental, temos
órgãos licenciadores competentes (estadual, municipal e o IBAMA) e a legisla-
ção pertinente. Resolução CONAMA n. 001 de 1986.
Segundo a resolução n. 01 de 1986 do CONAMA, dependerá de elaboração
de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental
– RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do
IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do
meio ambiente, tais como (art. 2º):
I.  Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;

II.  Ferrovias;

III.  Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;

IV.  Aeroportos;

V.  Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários


de esgotos sanitários;

VI.  Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230 KV;

VII.  Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como:


barragem para fins hidrelétricos, acima de 10 MW, de saneamento ou

capítulo 3 • 63
de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação,
retificação de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, trans-
posição de bacias, diques;

VIII.  Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);

IX.  Extração de minério;

X.  Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos


ou perigosos;

XI.  Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de ener-


gia primária, acima de 10 MW;

XII.  Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos,


siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e
cultivo de recursos hídricos);

XIII.  Distritos industriais e zonas estritamente industriais– ZEI;

XIV.  Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100


hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos
percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;

XV.  Projetos urbanísticos, acima de 100 ha. ou em áreas consideradas de


relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos munici-
pais e estaduais competentes;

XVI.  Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior


a dez toneladas por dia.
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O estudo de impacto ambiental,


além de atender à legislação, em es-
pecial os princípios e objetivos ex-
pressos na Lei de Política Nacional
do Meio Ambiente, obedecerá às se-
guintes diretrizes gerais (art. 5º, reso-
lução n. 01, CONAMA):
I.  Contemplar todas as alternativas
tecnológicas e de localização de pro-
jeto, confrontando-as com a hipótese
de não execução do projeto;

64 • capítulo 3
II.  Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gera-
dos nas fases de implantação e operação da atividade;

III.  Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afe-


tada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, con-
siderando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza;

IV.  Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em


implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.

Segundo o artigo 6º, de referida resolução, o estudo de impacto ambiental


desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas:
I.  Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, completa des-
crição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como
existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da
implantação do projeto;

II.  Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas,


através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da im-
portância dos prováveis impactos relevantes;

III.  Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre


elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despe-
jos, avaliando a eficiência de cada uma delas.

IV.  Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os


impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a
serem considerados.

O estudo de impacto ambiental será realizado por equipe multidisciplinar


habilitada, não dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto
e que será responsável tecnicamente pelos resultados apresentados (art. 7º. re-
solução n. 01, CONAMA).

CONCEITO
A audiência pública tem por objetivo assegurar o cumprimento do princípio democrático ou
da participação. Essa audiência poderá ser marcada de ofício pelo órgão público ambiental,
se julgar necessária a pedido do Ministério Público, por solicitação de entidade civil ou por
requerimento subscrito por no mínimo cinquenta interessados (SIRVINSKAS, 2010).

capítulo 3 • 65
3.7  Relatório de impacto ambiental

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Segundo o artigo 9º, da resolução n. 01, do CONAMA, o relatório de impac-


to ambiental (RIMA) refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental e
conterá, no mínimo:
I.  Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade
com as políticas setoriais, planos e programas governamentais;

II.  A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais,


especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação
a área de influência, as matérias primas,e mão de obra, as fontes de
energia, os processos e técnicas operacionais, os prováveis efluentes,
emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a se-
rem gerados;

III.  A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambientais da


área de influência do projeto;

IV.  A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e ope-


ração da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os hori-
zontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos,
técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e
interpretação;

V.  A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência,


comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alter-
nativas, bem como com a hipótese de sua não realização;

66 • capítulo 3
VI.  A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em
relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não pude-
ram ser evitados, e o grau de alteração esperado;

VII.  O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;

VIII.  Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e co-


mentários de ordem geral).

O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreen-


são. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas
por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual,
de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem
como todas as consequências ambientais de sua implementação (parágrafo
único, art. 9º, res. 01, CONAMA).

CONCEITO
Qual a função do EIA/RIMA? São dois documentos que avaliam os impactos ambientais
decorrentes da instalação de um empreendimento e estabelecem programas para monitora-
mento e o abrandamento desses impactos.

Respeitado o sigilo industrial, assim solicitado e demonstrado pelo interes-


sado, o RIMA será acessível ao público. Suas cópias permanecerão à disposição
dos interessados, nos centros de documentação ou bibliotecas da SEMA e do
orgão estadual de controle ambiental correspondente, inclusive o período de
análise técnica (art. 11, res. 01, CONAMA).
Segundo o autor Paulo Affonso Leme Machado (2003, pg. 215):

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) apre-


sentam algumas diferenças. O estudo é de maior abrangência que o relatório e o en-
globa em si mesmo. O EIA compreende o levantamento da literatura científica e legal
pertinente, trabalhos de campo, análises de laboratório e a própria redação do relatório.
Por isso, diz o art. 9º da Resolução 1/86 – CONAMA, que o “Relatório de Impacto
Ambiental – RIMA refletirá as conclusões do Estudo de Impacto Ambiental”, ficando
patenteado que o EIA procede o RIMA e é seu alicerce de natureza imprescindível.

capítulo 3 • 67
O relatório transmite – por escrito – as atividades totais do EIA, importando se acentuar
que não se pode criar uma parte transparente das atividades (o RIMA) e uma parte não
transparente das atividades (o EIA). Dissociado do EIA, o RIMA perde a validade.

Por fim é importante destacar que temos, também, o relatório ambiental


preliminar (RAP), previsto no artigo 1º, IIII, da resolução n. 237/97 do CONAMA.
Esse relatório é mais sucinto e menos complexo do que o EIA e o RIMA e pode ser
exigido nas hipóteses em que as atividades ou obras não forem potencialmente
causadoras de significativa degradação ambiental (SIRVINSKAS, 2010).

ATIVIDADE
1. Explique o princípio do poluidor pagador.

2. Qual a diferença entre o EIA e o RIMA? Fundamente.

REFLEXÃO
O estudo deste terceiro capítulo permitiu analisarmos o licenciamento ambiental no controle
das atividades poluidoras. Iniciamos o capítulo estudando o princípio do poluidor pagador,
o licenciamento ambiental e os estudos de impacto ambiental. Em um segundo momento,
estudamos as normas referentes à avaliação do impacto ambiental, bem como, as resoluções
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), referentes ao Estudo de Impacto Am-
biental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA).

68 • capítulo 3
LEITURA RECOMENDADA
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.
CAPÍTULO V
DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE
Seção II
Dos Crimes contra a Flora

Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo


que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:
Pena. detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 38-A. Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avan-
çado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringên-
cia das normas de proteção:
Pena. detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativa-
mente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem
permissão da autoridade competente:
Pena. detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de
que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente
de sua localização:
Pena. reclusão, de um a cinco anos.
§ 1º Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações
Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais
e os Refúgios de Vida Silvestre.
§ 2º A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior
das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância
agravante para a fixação da pena.
§ 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 40-A. (VETADO)
§ 1º Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de Pro-
teção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais,

capítulo 3 • 69
as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento
Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural.
§ 2º A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das
Unidades de Conservação de Uso Sustentável será considerada circunstância agra-
vante para a fixação da pena.
§ 3º Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Pena. reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um
ano, e multa.
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios
nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de
assentamento humano:
Pena – detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Art. 43. (VETADO)
Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação per-
manente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do
Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração,
econômica ou não, em desacordo com as determinações legais:
Pena – reclusão, de um a dois anos, e multa.
Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão
e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, ou-
torgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o
produto até final beneficiamento:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em
depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem
vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, ou-
torgada pela autoridade competente.
Art. 47. (VETADO)
Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de
vegetação:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

70 • capítulo 3
Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de
ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas cumulati-
vamente.
Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou multa.
Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de
dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou
nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão com-
petente:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.
§ 1º Não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata
pessoal do agente ou de sua família.
§ 2º Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), a pena será aumen-
tada de 1 (um) ano por milhar de hectare.
Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de
vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instru-
mentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais,
sem licença da autoridade competente:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto a um
terço se:
I. do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a modificação
do regime climático;
II. o crime é cometido:
a) no período de queda das sementes;
b) no período de formação de vegetações;
c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra so-
mente no local da infração;
d) em época de seca ou inundação;
e) durante a noite, em domingo ou feriado.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm>

capítulo 3 • 71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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biental: planejamento, avaliação, implantação, operação e verificação. 2. ed. Rio de Janeiro:
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BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. São


Paulo: LTR, 1999.

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Acesso em 13/10/2014 às 20:00.

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de Hortaliças n. 18-1998. Lavras, MG.

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ma. 2. ed. Guaíba: Agropecuária, 1999.

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derna na Produção e Comercialização de Hortaliças Editora: UFV, 2005.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 4. ed. São
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FRANCISCO NETO, João; Manual de Horticultura Ecológica: Guia de Auto Suficiência


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72 • capítulo 3
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capítulo 3 • 73
TESSARIOLI NETO, João; GROPPO, Gerson Antonio; BLANCO, Maria Claudia Silva Garcia;
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VALLE, Cyro Eyer. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6. ed. São Paulo: Senac, 2006;

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, estudaremos as regras pertinentes à auditoria ambiental. Analisaremos
as normas concernentes à ISO 14000, bem como o sistema de gestão ambiental (SGA).
Vamos aos estudos!!!!

74 • capítulo 3
4
Auditoria ambiental
4  Auditoria ambiental
Neste quarto capítulo, estudaremos as regras pertinentes à auditoria ambiental.
Analisaremos a ISO 14000, e os requisitos para a sua obtenção, bem como o siste-
ma de avaliação ambiental (SGA). Por fim, compreenderemos também a diferen-
ça entre ecologia e economia, com o foco no desenvolvimento sustentável.

OBJETIVOS
•  Entender uma auditoria ambiental;
•  Conhecer a ISO 14000;
•  Compreender o Sistema de Avaliação Ambiental (SGA);
•  Estudar a diferença entre ecologia e economia.

REFLEXÃO
Você já se deparou com uma auditoria ambiental? Conhece a certificação chamada ISO
14000? Neste capítulo estudaremos estas questões, bem como o conceito de sistema de
avaliação ambiental (SGA).]

4.1  Histórico

No período da Revolução Industrial,


não havia um estímulo à prática de
ações sociais por parte das empresas.
Isso porque predominava no século
XVIII, o chamado Estado Liberal (ou
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Sistema Liberal), onde o Estado não se


opunha na relação de trabalho, tendo o
empregador total liberdade para esti-
pular as condições de trabalho.
Pelo liberalismo, a interferência do Estado na economia seria um obs-
táculo à concorrência, elemento essencial ao desenvolvimento econômico
e cujos benefícios seriam repartidos por toda a sociedade. O Estado seria o
responsável pelas ações sociais, pela promoção da concorrência e pela pro-

76 • capítulo 4
teção da propriedade. Já as empresas deveriam buscar a maximização do
lucro, a geração de empregos e o pagamento de impostos. Atuando dessa
forma, as companhias exerciam sua função social (TENÓRIO, 2006).
A abordagem da atuação social empresarial surgiu no início do século XX,
com o filantropismo. Em seguida, com o esgotamento do modelo industrial e
o desenvolvimento da sociedade pós-industrial, o conceito evoluiu, passando
a incorporar os anseios sociais no plano de negócios das corporações. Assim,
além do filantropismo, desenvolveram-se conceitos como voluntariado empre-
sarial, cidadania corporativa, responsabilidade social corporativa e, por último,
desenvolvimento sustentável (TENÓRIO, 2006).
A partir do século XX, diversos fatores de ordem política, econômica e social
levaram ao reconhecimento e legitimação de algumas necessidades e deman-
das sociais decorrentes de diversas mudanças ocorridas no mundo do trabalho
como, por exemplo, a revolução tecnológica, informacional e produtiva.
O próprio desenvolvimento da organização dos trabalhadores nas primei-
ras décadas do século XX contribuiu para reavaliar a perspectiva de atuação do
empresariado perante as questões sociais. A pressão da classe trabalhadora
concretizada em inúmeras greves aliada a fatores de ordem econômica e políti-
ca levaram diversos capitalistas a atuar no sentido de modelar o sistema formal
de proteção social.
Diante da desigualdade econômica e social, oriunda da Revolução Indus-
trial e do sistema liberal adotado à época, os trabalhadores passaram a se unir
e protestar em busca de melhores condições de trabalho, culminando, assim,
com o surgimento dos sindicatos. Passaram a reivindicar, perante o Estado, a
criação de normas de proteção ao trabalho, bem como sua oposição frente às
injustiças sociais.
Por serem importantes agentes de promoção do desenvolvimento econô-
mico e do avanço tecnológico, a qualidade de vida da humanidade passou a
depender cada vez mais de ações cooperativas de empresas que foram incorpo-
rando de maneira progressiva o conceito de responsabilidade social empresa-
rial, tornando-o um comportamento, muitas vezes, formalizado em projetos de
atuação na sociedade civil.
A ética e a cidadania passaram a permear discussões sobre o que é ser politi-
camente correto no mundo empresarial com maior frequência. Nesta pauta de
discussão, as relações do homem com o meio ambiente e suas responsabilida-
des com o futuro da humanidade face as desigualdades sociais ganharam força.

capítulo 4 • 77
As primeiras manifestações sobre o tema Responsabilidade Social descri-
tas estão em um manifesto subscrito por 120 industriais ingleses no início do
século XX. Tal documento definia que a responsabilidade dos que dirigem a
indústria é manter um equilíbrio justo entre os vários interesses dos públicos,
dos consumidores, dos funcionários, dos acionistas.
Outro momento histórico importante para a disseminação do conceito de
responsabilidade social empresarial foi a década de 1960. Os movimentos jo-
vens e estudantis desta época questionavam com veemência o capitalismo ex-
cludente. Neste período, o tema se manifestou na pauta de grandes empresas
de diversos países da Europa e dos Estados Unidos.
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Já na década de 1970, período marcado, dentre outros fatos, pela aguda cri-
se econômica mundial, os países de economia avançada na Europa e na Amé-
rica do Norte orientaram-se na direção de políticas destinadas a minimizar as
consequências sociais decorrentes do colapso das atividades econômicas. Foi
criado então, um conjunto de medidas que respondia ao descontentamento
social crescente, assegurando razoáveis condições básicas de subsistência aos
grupos marginalizados, ou que se encontravam precariamente inseridos nas
relações produtivas. Este movimento ficou conhecido como WelfareState1 , ou
Estado do Bem Estar. O Estado assumia a responsabilidade social total e plena
sobre a sociedade (MARASSEA, PIMENTEL, 2004).

1 WelfareState: Conjunto de políticas da década de 1970 que procuraram conter a elevação do desemprego, proteger
os salários submetidos à corrosão inflacionária e multiplicar as leis sociais (seguro desemprego, aposentadorias, pro-
gramas estatais de saúde etc.) para garantir o bem estar da população.

78 • capítulo 4
Com o desenvolvimento de novos setores industriais, principalmente o de
tecnologia de ponta, os anos 80 produziram uma nova reviravolta no jogo po-
lítico e econômico europeu e norte-americano. O cerne dessa alteração esteve
na decadência das políticas orientadas para o WelfareState e na ascensão das
políticas chamadas “neoliberais” (MARASSEA, PIMENTEL, 2004).
No fim da década de 1980, impulsionadas pelos problemas causados por aci-
dentes, pelos crescentes custos do controle da poluição e plo aumento das pressões
sociais com os movimentos ambientalistas, muitas empresas internacionais inicia-
ram programas de prevenção. Começaram a ser difundidos conceitos como tecno-
logias limpas e segurança inerente, que denotam preocupação com as característi-
cas ambientais e de segurança dos processos. O Programa de Atuação Responsável
das indústrias químicas foi um dos produtos dessa evolução do pensamento indus-
trial sobre o meio ambiente. Nessa época, intensificou-se o interesse pelas audito-
rias ambientais; muitas normas de gestão ambiental e códigos de conduta passa-
ram a incluir as auditorias ambientais em sua estrutura. (PHILIPPI, JR., 2003).
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O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável abriu


espaço para o questionamento da relação entre empresa e cidadão. Gradativa-
mente as empresas incorporam práticas e dinâmicas voltadas aos anseios da
comunidade na qual a empresa está inserida, assumindo, desta forma, o atri-
buto da responsabilidade social como mais um requisito indispensável para as
organizações empresariais.
A divulgação do balanço social também foi uma prática originada das de-
mandas éticas envoltas na discussão sobre a responsabilidade social empre-
sarial desenvolvida mundo afora. A transparência como valor agregado às mu-
danças do mundo globalizado passou a exigir das empresas, a publicação dos
relatórios anuais de desempenho das atividades sociais e ambientais desenvol-

capítulo 4 • 79
vidas, além dos impactos de suas atividades e as medidas tomadas para preven-
ção ou compensação de acidentes. Esta diferenciação se inicia com a própria
noção de que estas ações de RSE devem envolver ações planejadas que vislum-
bram resultados, além de que o melhor desempenho nos negócios está além da
relação com a lucratividade.
Por causa de pressões sociais, comerciais e das lições aprendidas na década
de 1980, a International Organization for Standartization (ISO) anunciou, no
Rio de Janeiro, em 1992, a decisão de desenvolver uma série de normas sobre
gestão ambiental. Essa série viria a ser a ISO 14000, que inclui normas com dire-
trizes para sistemas de gestão ambiental e auditorias. Foi uma evolução impor-
tante, porque as normas não se concentravam em padrões técnicos específicos
e características desejáveis de produtos, mas sim em como a empresa se orga-
niza para tratar da gestão ambiental de suas atividades, produtos e serviços.
Também foi desenvolvida uma estrutura para certificação dos sistemas de ges-
tão ambiental, por meio de auditorias (PHILIPPI, JR., 2003).

4.2  ISO 14000


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A ISO 14000 é o padrão internacional utilizado para auditoria ambiental. Esta


auditoria realiza uma análise crítica de forma documentada e aponta para a em-
presa a necessidade de alterações em sua política ou objetivos orientando para
um sistema de gestão ambiental comprometido com uma melhoria contínua.
Esta é uma especificação da ISO14000 para que o sistema de gestão ambiental
adotado pela empresa seja avaliado pela própria empresa periodicamente no
sentido de identificar problemas ou possíveis melhorias visto que o ambien-
te econômico também sofre influências circunstanciais, é preciso relacionar
o plano de gestão ambiental com as realidades tanto microambientais quanto
macroambientais.

80 • capítulo 4
A ISO 14000 é uma norma elaborada pela International Organization for
Standardization, com sede em Genebra, na Suíça, que reúne mais de 100 pa-
íses com a finalidade de criar normas internacionais. Cada país possui um ór-
gão responsável por elaborar suas normas. No Brasil, o órgão responsável é a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Para a empresa receber um certificado ISO 14000, é preciso primeiramen-
te que ela possua o Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA). Por isso, na
verdade, o certificado não é pela ISO 14000, mas sim na ISO 14001, pois é esta
norma que dá as especificações para ter o certificado SGA.

CONEXÃO
Para maiores informações referentes a ISO 14000, o estudante poderá acessar o site
<www.abnt.org.br>

4.3  Conceito de auditoria ambiental

As auditorias ambientais são procedimentos que têm seu objetivo ligado às


questões ambientais. Trata-se de um processo sistemático e formal de verifi-
cação, por uma parte auditora, se a conduta ambiental e/ou desempenho am-
biental de uma entidade auditada atendem a um conjunto de critérios especifi-
cados (PHILIPPI, JR., 2003).
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capítulo 4 • 81
O objetivo básico da auditoria ambiental é avaliar o grau de conformidade
de estabelecimento com a legislação e a política ambiental da organização, in-
corporada a seu Sistema de Gestão Ambiental, se já estiver implantado. São três
os alvos fundamentais de investigação nas auditorias ambientais: a situação do
licenciamento, a competência para o controle dos riscos ambientais e a confia-
bilidade do monitoramento que é realizado (VALLE, 2006).
As auditorias podem ser chamadas de primeira, segunda ou de terceira par-
te (PHILIPPI, JR., 2003):

a) Auditoria ambiental de primeira parte: é aquela realizada por equipe for-


mada por membros da própria organização auditada. Nesse caso, para
manter a independência dos auditores, áreas ou departamentos da em-
presa, são auditados por funcionários de outras áreas. O cliente da audi-
toria é, em geral, a própria alta administração da organização;

b) Auditoria ambiental de segunda parte: é aquela realizada por uma equipe


formada por membros ou representantes de uma parte interessada dire-
tamente na gestão ambiental da organização auditada. Como exemplos,
podem-se citar as auditorias realizadas por clientes em fornecedores ou
aquelas conduzidas por possíveis compradores em processos de aquisi-
ção e fusão de empresas, ou ainda realizadas por membros da comunida-
de afetada pelos impactos ambientais produzidos por uma organização;

c) Auditoria ambiental de terceira parte: é aquela feita por uma instituição


isenta, que não tem interesse direto nos impactos ambientais das ativi-
dades da organização auditada. É o caso, das auditorias de certificação
dos sistemas de gestão ambiental ISO 14001.

4.4  Aplicação das auditorias ambientais

A auditoria ambiental por ser voluntária, por decisão da empresa em conformi-


dade com sua política ambiental, ou imposta por legislação local, ou resultante
de circunstâncias que afetem a empresa, como a ocorrência de acidentes am-
bientais graves, ou ainda como exigência de eventuais responsabilidades por
passivos ambientais. Pode ainda, ser interna, realizada por pessoal da própria

82 • capítulo 4
organização de forma rotineira dentro do que estatui sua política ambiental,
ou externa, realizadas por organismos especializados, quando houver motivos
legais ou políticos que o justifiquem (VALLE, 2006).
Segundo o autor Arlindo Philippi Jr. (2003, pg. 816):

Em tempos de globalização, uma das principais aplicações das auditorias ambientais


tem sido a de servir como fonte de informações para a avaliação de passivos ambien-
tais em processos de fusões e aquisições. Nesse caso, a auditoria orienta a eventual
avaliação dos custos de remediação e reparação dos danos, que pode estar associada
à empresa.

ATENÇÃO
Uma organização pode realizar auditorias ambientais por outros motivos, tais como: preocu-
pação com futuras ações indenizatórias, exigências de companhias seguradoras, exigência
de clientes (especialmente de importadores), desejo de melhorar a transparência da imagem
da organização e ainda a obtenção de uma certificação do estabelecimento de acordo com
um sistema de gestão ambiental específico (VALLE, 2006).

O autor Josimar Ribeiro de Almeida, em sua obra Gestão Ambiental (2004,


pg. 104), define os principais tipos de auditoria, como sendo:
1.  Conformidade legal;
2.  Risco Ambiental;
3.  Pré-aquisição;
4.  Resíduos;
5.  Energia;
6.  SGA – Certificação;
7.  SGA – Autodeclaração.

Em apertada síntese, podemos ter auditorias ambientais como requisito


em uma relação econômica (fusão, transformação etc.); para controle geren-
cial, das práticas ambientais adotadas por toda a empresa ou grupo econômi-
co; para certificação (ISO 14001, por exemplo) e ainda como instrumento de
gestão em políticas públicas.

capítulo 4 • 83
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Como objetivos que podem ser alcançados por uma auditoria ambiental,
podemos destacar (VALLE, 2006):
• Verificar a conformidade das instalações do estabelecimento com
todas as legislações aplicáveis (municipais, estaduais, federais, tra-
balhistas, de segurança etc.);

• Informar a direção da empresa sobre a eficácia do Sistema de Ges-


tão Ambiental implantado, indicando correções e recomendando
eventuais modificações;

• Avaliar o estabelecimento levando em conta os passivos ambientais


identificados e os custos eventuais de sua reabilitação;

• Melhorar as condições de diálogo da empresa com a comunidade,


os órgãos ambientais de licenciamento e controle, seguradoras,
ONGs etc.;

• Identificar possíveis melhorias na gestão dos gastos destinados à


correção de problemas ambientais;

• Verificar se a destinação e o eventual transporte dos resíduos gera-


dos estão sendo feitos de forma legal e correta.

4.5  Sistema de Gestão Ambiental – I

Gestão ambiental é a forma pela qual a empresa se mobiliza interna e externa-


mente, na conquista da qualidade ambiental desejada. Para atingir a meta, ao
menor custo, de forma permanente, o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é a
estratégia indicada (ALMEIDA, 2004).

84 • capítulo 4
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O Sistema de Gestão Ambiental, conforme as normas ISO 14001 e ISO 14004,


prevê a adoção de ações preventivas e corretivas à ocorrência de impactos adver-
sos ao meio ambiente. Trata-se de assumir posturas proativas e criativas com
relação às questões ambientais. O objetivo do SGA é assegurar a melhoria con-
tínua do desempenho ambiental da empresa. Empresas comprometidas com a
conquista da melhoria contínua do seu desempenho ambiental, proporcionada
pelo SGA, buscam continuamente soluções para três questões fundamentais:
onde estamos? onde queremos chegar? E como chegar? (ALMEITA, 2004)
Alguns compromissos inerentes à política ambiental devem ser assumidos
pela organização ao estruturar seu SGA (VALLE, 2006):
• Manter um sistema de gestão ambiental que assegure que suas
atividades atendam à legislação vigente e aos padrões estabele-
cidos pela organização;

• Estabelecer e manter um diálogo permanente com seus colabo-


radores e a comunidade, visando ao aperfeiçoamento de ações
ambientais conjuntas;

• Educar e treinar seus colaboradores para que atuem sempre de


forma ambientalmente correta;

• Exigir de seus fornecedores produtos e componentes com qua-


lidade ambiental compatível com a de seus próprios produtos;

• Desenvolver pesquisas e patrocinar a adoção de novas tecnolo-


gias que diminuam os impactos ambientais e contribuam para
a redução do consumo de matérias-primas, água e energia, esti-
mulando a melhoria contínua de seu desempenho;

capítulo 4 • 85
• Assegurar-se de que seus resíduos são transportados e destina-
dos corretamente e em segurança, de acordo com as boas práti-
cas ambientais, a legislação e as normas aplicáveis.

CONCEITO
O SGA deve ter como um de seus objetivos o aprimoramento contínuo das atividades da
organização, em harmonia com o meio ambiente. A formalização de um SGA constitui um
primeiro passo obrigatório para a certificação da empresa nas normas da série ISO 14000,
que possibilitará incorporar a gestão ambiental na gestão integrada da organização.

4.6  Ecologia e Economia


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Ao comentarmos sobre ecologia e economia, devemos estudar o chamado


desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento sustentável tornou-se um re-
quisito fundamental para se pensar a problemática ecológica, como também
uma meta a ser buscada e respeitada por todos os países.

CONCEITO
O que significa desenvolvimento sustentável?
O conceito de desenvolvimento sustentado encontra-se expresso no “caput” do artigo 225 da
Constituição Federal, sendo que pode ser entendido como o tipo de desenvolvimento que visa
a atender as necessidades das presentes gerações, sem afetar às necessidades das futuras.

86 • capítulo 4
Compatibilizar meio ambiente e desenvolvimento significa considerar
os problemas ambientais dentro de um processo contínuo de planejamento,
atendendo-se adequadamente às exigências de ambos e observando-se as suas
inter-relações particulares a cada contexto sociocultural, político, econômico
e ecológico, dentro de uma dimensão tempo/espaço. Em outras palavras, isto
implica dizer que a política ambiental não se deve erigir em obstáculo ao desen-
volvimento, mas sim em um de seus instrumentos, ao propiciar a gestão racio-
nal dos recursos naturais, os quais constituem a sua base material (MILARÉ).
© MARTINMARK | DREAMSTIME.COM

Quando se associa o conceito de sustentabilidade à noção de desenvolvimen-


to, imediatamente ele remete ao desafio da colaboração. A sustentabilidade pode
ser interpretada de diversas maneiras, entre as quais: (MACHADO FILHO, 2006)

•  O desenvolvimento econômico, que assegura a renovação e perenida-


de dos recursos naturais e, portanto, a sustentabilidade da vida e da
biodiversidade;

•  A mesma definição anterior, ampliando para a garantia das condições de


vida e sociabilidade para os recursos humanos, isto é, com um foco que
abrange as pessoas e sua sobrevivência social no contexto ambiental;

•  Ou ainda, que esse processo de desenvolvimento sustente a vida natural


e social, mas que seja também sustentado, ou seja, que produza resulta-
dos de ação transformadora sobre os atores sociais, reformulando-se em
uma dinâmica de aperfeiçoamento contínuo.

capítulo 4 • 87
A Conferência Rio-92, procurou trazer ao mundo a ideia de que o desenvol-
vimento econômico deve vir de maneira planejada e sustentada, com vistas a
assegurar a compatibilização com a proteção do meio ambiente.
Ao lado do desenvolvimento do direito ao meio ambiente, uma nova for-
ma de cidadania parece surgir. O direito a um meio ambiente ecologicamente
equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, amplia o conteúdo dos direi-
tos humanos e o próprio conceito de cidadania. Um dos valores fundamentais a
esse direito é a igualdade. Todos têm direito ao meio ambiente sadio; o cidadão
passa a ser todo ser humano, inclusive as futuras gerações, que tem na equida-
de intergeracional a busca da garantia de um meio ambiente propício ao seu
desenvolvimento (BORGES, 1998).
© PETER DE KIEVITH | DREAMSTIME.COM

Certamente o desenvolvimento sustentável é um dos maiores ideais surgi-


dos no século passado, somente comparável à idéia de justiça social (VEIGA,
2005). É um tema, ainda, bastante discutido e com várias divergências e ambi-
guidades que se tornou alvo de discussões.
Para alguns parece ser um conceito utópico, já para outros se mostra uma
questão difícil, porém possível de ser aplicada ao meio ambiente. Toda a huma-
nidade e as gerações futuras, sem pôr em risco a estabilidade dos ecossistemas,
demonstram a necessidade de um novo paradigma como alternativa ao modelo
atual de desenvolvimento econômico, o que chamamos de “desenvolvimento
sustentável”.

88 • capítulo 4
O desenvolvimento sustentável exige as seguintes medidas:

• Limitar as descargas de resíduos em meio natural ao nível


da capacidade de carga ecológica, isto é, a quantidade má-
xima assimilável pelo meio durante um período que varia
consoante à nocividade dos resíduos.

• Assegurar a reprodução dos recursos por meio de uma


adaptabilidade das necessidades a esses recursos, em fun-
ção da sua potencialidade de se renovarem naturalmente.

• Explorar os recursos esgotáveis a um ritmo tal que o efeito so-


bre as reservas seja neutralizado pelo jogo combinado do pro-
gresso técnico, compensando por meio de novos produtos, o
desaparecimento planificado dos produtos saídos dos recur-
sos não renováveis (BACHELET, Apud CAVEDON, 2003).
© ALEKSEY TELNOV | DREAMSTIME.COM

A necessidade de integrar os projetos


econômicos com o desenvolvimento e o
meio não é mais nova, o termo “sustenta-
bilidade” foi usado pela primeira vez por
Carlowite, em 1713, em uma referência
à exploração de florestas na Alemanha.
Porém, a sustentabilidade não é uma in-
venção da atividade florestal: ela signifi-
ca uma atitude, um posicionamento em
relação ao trato do ambiente em que vi-
vemos como um bem renovável. Portanto, assimilar a sustentabilidade como
expressão dominante significa envolver-se com as questões de meio ambiente
e de desenvolvimento social em sentido amplo.
A qualidade do ambiente em que vivemos tem sido nos dois últimos séculos
um dos maiores desafios da humanidade. O mundo empresarial vem gradati-
vamente utilizando-se de modelos de gestão econômicos criteriosos quanto ao
meio ambiente, assim como vem dispensando uma preocupação maior com as
comunidades envolvidas direta ou indiretamente com a empresa.

capítulo 4 • 89
ATIVIDADE
1. Qual o conceito de ISO 14000?

2. O que significa desenvolvimento sustentável?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Neste capítulo, estudamos em um primeiro momento as regras referentes à auditoria am-
biental. Analisamos a sua importância e as suas principais peculiaridades e características.
Ato contínuo, analisamos o conceito de ISO 14000 e de Sistema de Gestão Ambiental. Por
fim, analisamos a relação entre ecologia e economia, com foco no chamado desenvolvimento
sustentável.

LEITURA RECOMENDADA
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.
Seção III
Da Poluição e outros Crimes Ambientais

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam
resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou
a destruição significativa da flora:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º Se o crime é culposo:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
§ 2º Se o crime:
I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;
I - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos
habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;
III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento
público de água de uma comunidade;
IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;

90 • capítulo 4
V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos
ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
regulamentos:
Pena – reclusão, de um a cinco anos.
§ 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar,
quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de
risco de dano ambiental grave ou irreversível.
Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente
autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pes-
quisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou
determinação do órgão competente.
Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, trans-
portar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica,
perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as
exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacor-
do com as normas ambientais ou de segurança;
II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá desti-
nação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regula-
mento.
§ 2º Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de
um sexto a um terço.
§ 3º Se o crime é culposo:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Art. 57. (VETADO)
Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as penas serão aumentadas:
I - de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível à flora ou ao meio ambiente
em geral;
II - de um terço até a metade, se resulta lesão corporal de natureza grave em outrem;
III - até o dobro, se resultar a morte de outrem. Parágrafo único. As penalidades pre-
vistas neste artigo somente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais grave.
Art. 59. (VETADO)

capítulo 4 • 91
Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do
território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores,
sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as
normas legais e regulamentares pertinentes:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricul-
tura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm>

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VALLE, Cyro Eyer. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6. ed. São Paulo: Senac, 2006;

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, estudaremos novamente o Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Ana-
lisaremos novos conceitos de SGA, bem como os princípios definitivos de um sistema de
gestão ambiental. Em um segundo momento, analisaremos os demais aspectos que envol-
vem a ISO 14000, bem como o benefício da certificação ISO 14001 para as empresas. Bons
estudos!!!!!

capítulo 4 • 95
5
Sistema de gestão
ambiental
5  Sistema de gestão ambiental
Neste quinto e último capítulo, estudaremos o sistema de gestão ambiental.
Analisaremos o seu conceito, bem como os princípios definitivos de um siste-
ma de gestão ambiental. Em um segundo momento, estudaremos a ISO 14000,
bem como os benefícios da ISO 14001 para as empresas.

OBJETIVOS
•  Conhecer um sistema de gestão ambiental;
•  Analisar os princípios definitivos de um sistema de gestão ambiental;
•  Estudar a ISO 14000;
•  Entender os benefícios da ISO 14001 para as empresas.

REFLEXÃO
Você conhece o significado de ISO 14000? E ISO 14001? Neste último capítulo, estudare-
mos estas questões, bem como o sistema de gestão ambiental.

5.1  Conceituação
© NATALIA MERZLYAKOVA | DREAMSTIME.COM

A gestão ambiental consiste em um conjunto de medidas e procedimentos bem


definidos que, se adequadamente aplicados, permitem reduzir e controlar os
impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente. O ci-
clo de atuação da gestão ambiental, para que esta seja eficaz, deve cobrir desde a

98 • capítulo 5
fase de concepção do projeto até a eliminação efetiva dos resíduos gerados pelo
empreendimento depois de implantado e durante todo o período de seu funcio-
namento. A gestão ambiental deve contribuir também para a melhoria contínua
das condições ambientais , de segurança e saúde ocupacional de todos os seus
colaboradores e para um relacionamento sadio com os segmentos da sociedade
que interagem com o empreendimento e a organização (VALLE, 2006).
A gestão ambiental requer, como premissa fundamental, um comprometi-
mento da alta administração da organização em definir uma política ambiental
clara e objetiva, que norteie as atividades da organização com relação ao meio
ambiente e que seja apropriada à finalidade e à escala da organização, e aos
impactos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços (VALLE, 20060).

5.2  Princípios definitivos de um sistema de gestão ambiental

Temos como princípios definitivos de um sistema de gestão ambiental:


1.  Política Ambiental
2.  Planejamento
3.  Implementação e operação
4.  Verificação e ação corretiva
5.  Análise crítica

A política ambiental é o primeiro prin-


cípio fundamental para a criação de um
sistema de gestão ambiental.
A política de meio ambiente da empre-
© FILATA | DREAMSTIME.COM

sa é o seu “temo, de compromisso ambien-


tal”. Este compromisso está condicionado
às metas globais da empresa, de acordo
com seu porte e natureza de suas ativida-
des, com as tendências ambientais do mercado em que atua, além das caracte-
rísticas peculiares à sua região (ALMEIDA, 2004).
A fase de planejamento deve estabelecer as prioridades e metas a serem
atingidas e definir os montantes de recursos que deverão ser alocados a cada
uma das atividades. Nessa fase devem ser levantados os aspectos ambientais
da organização e os requisitos legais aplicáveis, definidos os objetivos e me-
tas a serem alcançados e os Programas de Gestão Ambiental (PGAs) a serem
implantados (VALLE, 2006).

capítulo 5 • 99
A fase de implementação e operação do SGA deve definir estruturas e respon-
sabilidades, prover conscientização e treinamento, assegurar a comunicação
interna e externa entre as partes interessadas, manter o controle da documen-
tação e assegurar a preparação e o atendimento de emergências (VALLE, 2006).
A fase de verificação assegura o monitoramento e a medição dos resultados,
identifica não conformidades, avalia os registros e audita o SGA. A fase de rea-
valiação estabelece as ações corretivas necessárias e as revisões requeridas, que
definem as alterações necessárias no curso do SGA (VALLE, 2006).
Por fim, temos a fase de análise crítica, que deve ser feita, periodicamente,
pela alta administração da organização, para assegurar a conveniência, ade-
quação e eficácia contínuas do SGA implantado. Essa análise crítica pode re-
sultar na decisão de serem introduzidas alterações na política ambiental, nos
objetivos e em outros elementos do SGA, para que fique assegurada a manuten-
ção do compromisso com a melhoria contínua no desempenho ambiental da
organização (VALLE, 2006).
Sintonizado com todas estas transformações, em 31 de janeiro de 1999, o
secretário-geral das Nações Unidas, Kofi A. Annan, desafiou os líderes empre-
sariais mundiais a “apoiar e adotar” o Global Compact.
O Global Compact, traduzido para a lín-
gua portuguesa como Pacto Global, foi um
pacto proposto pela Organização das Na-
ções Unidas com diretrizes voltadas para a
promoção do desenvolvimento sustentável
e cidadania a serem adotados pelos líderes
empresariais de maneira voluntária.
O Pacto Global visa mobilizar a comuni-
© ROCHAKRED | DREAMSTIME.COM

dade empresarial internacional para a pro-


moção de valores fundamentais nas áreas de
direitos humanos, trabalho e meio ambiente
como afirma Ponchirolli (2007 p. 89).
Não é possível caracterizar o Pacto Global como um código de conduta le-
galmente obrigatório, instrumento regulatório ou fórum de verificação e po-
liciamento de políticas ou práticas gerenciais. Na verdade, este pacto é uma
iniciativa voluntária no sentido de que visa conscientizar e estimular o cresci-
mento sustentável e de cidadania por lideranças corporativas que se mostrem

100 • capítulo 5
comprometidas e inovadoras. A força deste pacto está justamente na força
institucional e apelo da sua própria instituição propositora, a Organização
das Nações Unidas.
O pacto, além de dar complementaridade às práticas de responsabilidade
social empresarial, é visto como um compromisso mundial e suas diretrizes es-
tão embasados na ISO 26000.
ISO 26000 será a norma internacional de Responsabilidade Social e está pre-
vista para ser concluída em 2010. O Grupo de Trabalho de Responsabilidade So-
cial da ISO (ISO/TMB WG) – responsável pela elaboração da ISO 26000 – é lidera-
do em conjunto pelo Instituto Sueco de Normalização (SIS – Swedish Standards
Institute) e pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Assim, em de-
cisão histórica, o Brasil, juntamente com a Suécia, passou a presidir de maneira
compartilhada o grupo de trabalho que está construindo a norma internacional
de Responsabilidade Social. Disponível em: (<http://www.inmetro.gov.br>).

CONEXÃO
Para maiores informações com relação ao Pacto Global, o estudante poderá acessar o site
<www.inmetro.gov.br>, que traz normas específicas quanto à elaboração da ISSO 26000.

Para o Pacto Global foram escolhidas quatro áreas de atuação que possuem
forte apelo mundial e potencial para mudanças efetivas e positivas, sendo elas:
direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção A partir
das quatro áreas surgiram dez princípios fundamentais que orientam o pacto.
(Vide Figura 1).
Uma empresa que queira aderir ao Pacto Global deverá preencher uma carta
modelo que serve como termo de adesão além de cadastramento organizacional.
A partir deste cadastramento no site http://www.unglobalcompact.org, a em-
presa deverá informar aos acionistas, funcionários e consumidores sobre sua
adesão ao pacto. Desta forma ela deverá declarar os princípios na missão da
empresa e em diversos documentos oficiais da empresa. O compromisso deve-
rá se tornar público, para isso deverá emitir comunicado à imprensa e, a partir
destas ações, deverá assumir os dez princípios nos programas de desenvolvi-
mento corporativo da empresa.

capítulo 5 • 101
Figura 1 – 10 Princípios do Pacto Global.
Adaptado de: www.endesabrasil.com.br

5.3  ISO 14000

5.3.1  Conceituação

A história ISO começou em 1946, quando delegados de 25 países reuniram-


se no Instituto de Engenheiros Civis, em Londres, e decidiram criar uma nova
organização internacional para facilitar a coordenação internacional e unifi-
cação dos padrões industriais. Em fevereiro de 1947, a nova organização, ISO,
iniciou oficialmente suas operações. Desde então, foram publicadas mais de
19500 Normas Internacionais abrangendo quase todos os aspectos da tecno-
logia e manufatura. Hoje a ISO é composta por membros de 165 países e 3368
órgãos técnicos trabalham em tempo integral para a Secretaria Central da ISO,
em Genebra, na Suíça (disponível em www.iso.org.br).

102 • capítulo 5
© NATALIYAKOSTENYUKOVA | DREAMSTIME.COM
Com o intuito de uniformizar as ações
que deveriam ser tomadas para proteger o
meio ambiente, a Organização Internacio-
nal para a Normalização (ISO), criou um sis-
tema de normas que convencionou designar
pelo código ISO 14000. Essa série de normas
trata basicamente da gestão ambiental e
não deve ser confundida com um conjunto
de normas técnicas (VALLE, 2006).
A família ISO 14000 aborda vários aspectos da gestão ambiental. Ele fornece
ferramentas práticas para as empresas e organizações que buscam identificar e
controlar o seu impacto ambiental e melhorar constantemente o seu desempe-
nho ambiental (disponível em www.iso.org).
Um dos méritos do sistema de normas ISO 14000 é a uniformização das rotinas
e dos procedimentos necessários para uma organização certificar-se ambiental-
mente, cumprindo um mesmo roteiro-padrão de exigências válido internacional-
mente. A norma da série que orienta para essa certificação ambiental da organiza-
ção é a ISO 14001, denominada Sistemas de Gestão Ambiental (VALLE, 2006).
Em sua concepção, a série de normas ISO 14000 tem como objetivo cen-
tral um sistema de gestão ambiental que auxilia a organização a cumprir seus
compromissos assumidos em prol do meio ambiente. Como os objetivos de-
correntes, as normas criam sistemas de certificação, tanto das organizações
como de seus produtos e serviços, que possibilitam distinguir as empresas que
atendem à legislação ambiental e cumprem os princípios do desenvolvimento
sustentável (VALLE, 2006).
Tomando sempre por base o Sistema de Gestão Ambiental, as normas da
série ISO 14000 estabelecem diretrizes para as Auditorias Ambientais, Avalia-
ção do Desempenho Ambiental da organização, Rotulagem Ambiental e Análi-
se do Ciclo de Vida dos produtos, tornando possível, assim, a total transparên-
cia da organização e de seus produtos com relação aos aspectos ambientais. As
normas servem, portanto, de modelo para a implantação desses programas no
campo de ação da organização, permitindo harmonizar procedimentos e dire-
trizes aceitos internacionalmente com a experiência e a tradição empresarial
local (VALLE, 2006).

capítulo 5 • 103
© NAGY-BAGOLYILONA | DREAMSTIME.COM

A implementação da ISO 14000 e da certificação ISO 14001, para uma em-


presa, é considerada uma prática de responsabilidade social empresarial.
Cada vez mais, com o mercado competitivo, as empresas devem estar aten-
tas ao público que gera e sofre impacto nos negócios. No âmbito empresarial,
quando se fala em responsabilidade social, a empresa age de forma estratégica
através de metas que são traçadas para atender às necessidades sociais de for-
ma que o lucro da empresa seja garantido, assim como a satisfação do cliente e
o bem-estar social. Portanto é possível dizer que há envolvimento e comprome-
timento sustentável.
Empresas que demonstram sintonia com as atuais mudanças organizacio-
nais realizam ações de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) para atender
aos seus stakeholders, sejam eles, seus proprietários, sócios ou acionistas, di-
retores, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, clientes, governo, o
meio ambiente e a comunidade. Estas empresas devem desenvolver a capacida-
de de ouvir os diferentes interesses das partes envolvidas para incorporá-los no
planejamento de suas atividades, promovendo, assim, a melhoria da qualidade
de vida da comunidade como um todo.
Há ainda um diferencial nestas ações. Em sociedades altamente amadure-
cidas quanto a RSE, este conceito é assimilado não apenas como gestão estraté-
gica de algumas empresas, mas como um comportamento econômico adquiri-
do, ou seja, como postura empresarial de quem atua na esfera coletiva e social
exigindo, antes de qualquer resultado, um compromisso efetivo com estas
ações. Estas são empresas que assumem uma administração de dimensão ética
e política, tendo clareza de que o desenvolvimento social é responsabilidade e
compromisso de um Estado democrático e de uma sociedade civil organizada.

104 • capítulo 5
A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de
que a ação empresarial deve, necessariamente, buscar trazer benefícios para a
sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover bene-
fícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os inves-
tidores. A adoção de uma postura clara e transparente no que diz respeito aos
objetivos e compromissos éticos da empresa fortalece a legitimidade social de
suas atividades, refletindo-se positivamente no conjunto de suas relações (INS-
TITUTO ETHOS Apud MACHADO FILHO, 2006).
Os mercados fortemente protegidos da concorrência e consumidores habi-
tuados a pagar o ônus do defeito, sem direitos assegurados e nem mesmo reco-
nhecidos é um cenário que há muito não faz mais parte da realidade dos mer-
cados globalizados. A mudança é percebida nitidamente no comportamento
dos consumidores que aprendem gradativamente que seu papel é legalmente
assistido e que sua postura pode levar a perda de credibilidade de uma empresa
e consequentemente trazer dificuldades na comercialização de seus produtos
para concorrentes mais ajustados às exigências atuais.
© SHEVS | DREAMSTIME.COM

Conscientes de que seu papel na realidade atual deve assumir uma postu-
ra diferenciada, algumas empresas saem à frente assumindo novos modelos
de gestão, tanto nas relações externas quanto internas, são novos padrões de
pensamento, comportamento, postura, habilidade e até mesmo sentimentos.
Para Ashley (2005,p.110), a empresa começa a ser vista como uma rede de re-
lacionamentos entre stakeholders, contextualizada no tempo e no espaço , e
que se encontra diante de desafios éticos e da busca pela congruência entre
discurso e prática empresarial.

capítulo 5 • 105
O impacto que uma empresa exerce sobre a sociedade pode ser percebido
não apenas quando ela abre uma nova planta industrial, modificando o espaço
urbano e o meio ambiente, gerando mais empregos ou pagando impostos que
se revertem em benefícios sociais. A publicidade de seus produtos ou serviços
influencia pessoas, porque é condutora de valores e padrões de consumo. Al-
guns dados comprovam que, muitas vezes, o poder de influência das empresas
é superior até mesmo ao dos próprios estados (MARASSEA, PIMENTEL, 2004).
Obviamente é necessário destacar que o conceito de responsabilidade social
empresarial não tem como objetivo central servir de instrumento de relações pú-
blicas ou marketing, apesar de claramente desempenhar este papel também. Mas,
muito mais do que uma onda politicamente correta, a responsabilidade social está
estabelecendo suas bases em razões estratégicas de negócios, já que atualmente
encontramos uma sociedade globalizada extremamente competitiva com consu-
midores mais bem informados e que possuem amplo poder de escolha.
© SHEVS | DREAMSTIME.COM

Está se tornando hegemônica a visão de que os negócios devem ser feitos de


forma ética, obedecendo a rigorosos valores morais, de acordo com comporta-
mentos cada vez mais universalmente aceitos como apropriados. As atitudes e
atividades de uma organização precisam, desse ponto de vista, caracterizar-se
por: (ASHLEY, 2006)

•  Preocupação com atitudes éticas e moralmente corretas que afetam to-


dos os públicos/stakeholders envolvidos (entendidos da maneira mais
ampla possível);

106 • capítulo 5
•  Promoção de valores e comportamentos morais que respeitem os pa-
drões universais de direitos humanos e de cidadania e participação na
sociedade;

•  Respeito ao meio ambiente e contribuição para sua sustentabilidade em


todo o mundo;

•  Maior envolvimento nas comunidades em que se insere a organização,


contribuindo para o desenvolvimento econômico e humano dos indiví-
duos ou até quando diretamente na área social, em parceria com gover-
nos ou isoladamente.

CONEXÃO
Visite o site do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) e conheça a primeira as-
sociação da América do Sul a reunir empresas, institutos e fundações de origem privada ou
instituídos que praticam investimento social privado – repasse de recursos privados para fins
públicos por meio de projetos sociais, culturais e ambientais, de forma planejada, monitorada
e sistemática http://www.gife.org.br/

5.3.2  Benefícios da ISO 14001 para as empresas


© MNSANTHOSHKUMAR | DREAMSTIME.COM

As primeiras normas da série ISO 14000 são justamente as que tratam do


Sistema de Gestão Ambiental, objetivo fundamental de toda a série. A norma
ISO 14001 é uma especificação para um SGA. Essa certificação ambiental inter-

capítulo 5 • 107
nacional beneficia, em especial, as organizações que são obrigadas a comprovar
a adequação de seus produtos e processos aos novos paradigmas ambientais,
cumprindo exigências distintas em cada país para onde exportam. A conformi-
dade com uma norma reconhecida internacionalmente, como a ISO 14001, ten-
de a reduzir o número de auditorias ambientais independentes exigidas, seja
por clientes, agências ambientais ou organismos de certificação (VALLE, 2006).
Para alcançar a certificação ambiental, uma organização deve cumprir três
exigências básicas expressas na norma ISO 14001, que é a norma certificadora
da série ISO 14000 (VALLE, 2006):
•  Ter implantado um Sistema de Gestão Ambiental;
•  Cumprir a legislação ambiental aplicável ao local da instalação;
•  Assumir um compromisso com a melhoria contínua de seu desempenho
ambiental.

Importante destacarmos também, os fundamentos e principais elementos


que a norma ISO 14001, estabelece como requisitos para um sistema de gestão
ambiental (PHILIPPI JR., 2004):
•  O motor do sistema é a política ambiental, que é uma declaração da em-
presa a respeito de suas diretrizes de gestão ambiental. A norma exige
que a política inclua o compromisso com o cumprimento dos requisitos
legais aplicáveis;

•  O sistema é baseado no ciclo de melhoria contínua PDCA, sigla das


iniciais em inglês dos verbos planejar (PLAN), executar (DO), verificar
(CHECK) e agir corretamente (ACT). Por um lado, isso se traduz na ne-
cessidade de haver objetivos e metas para melhorias. Por outro, as ações
preventivas e corretivas devem ser planejadas e realizadas em função das
deficiências encontradas no sistema. As auditorias fazem parte do con-
junto de instrumentos de melhoria previstos pela norma;

•  O sistema é documentado, ou seja, deve haver certa burocracia interna


que garanta a existência de certas normas e procedimentos, constante-
mente atualizados, e tudo tem de ser registrado. Sem os procedimentos
e registros, não seria possível auditar o sistema para comprovar sua con-
formidade com a norma;

108 • capítulo 5
•  A organização deve selecionar entre os aspectos ambientais da empresa
– elementos das atividades, produtos ou serviços que interagem com o
meio ambiente – aqueles que possam causar impacto significativo sobre
ele. As ações de gerenciamento são necessárias somente para os aspec-
tos ambientais considerados significativos.
© JEFF WHYTE | DREAMSTIME.COM

Vem a seguir a fase da efetiva certificação que deve ser contratada com uma
entidade credenciada para emitir o correspondente certificado de conformida-
de com a norma ISO 14001. Nessa fase, a organização submete-se a uma audi-
toria ambiental, que deve comprovar sua conformidade com os padrões de qua-
lidade exigidos pela legislação ambiental, tanto nacional como local, e pelos
manuais de qualidade instituídos e utilizados pela própria organização. A fim
de eliminar ou reduzir os impactos causados por suas atividades sobre o meio
ambiente, a organização que pleiteia certificação da norma ISO 14001, compro-
mete-se a melhorar continuamente seu desempenho ambiental (VALLE, 2006).
A decisão de uma organização de aderir às normas da série ISO 14000 cons-
titui certamente um importante passo para a conscientização ambiental de to-
dos os seus colaboradores, influenciando, dessa forma, seus fornecedores e
clientes. Essas vantagens e esses diferenciais interessarão, em especial, às orga-
nizações que tem uma imagem ambiental negativa ou precisam recuperar sua
imagem desgastada por acidentes ou incidentes recentes. Também as empre-
sas emergentes que trabalham para criar uma boa imagem que as equipare a
competidores conceituados, já estabelecidos no mercado, podem beneficiar-se
dessa certificação (VALLE, 2006).
Destaca-se, por fim, a preocupação das empresas com a responsabilidade social.

capítulo 5 • 109
A preocupação dos empresários decorre da crescente exposição das empre-
sas à opinião pública, pelos veículos de comunicação, que transmitem infor-
mações aos locais mais remotos em tempo real, ajudando a disseminar uma
boa reputação ou a destruí-la em um curtíssimo período de tempo. O empre-
sário que desconsiderar o papel da reputação em um mercado exigente poderá
cometer erros irreparáveis. Em consequência, um dos mecanismos mais im-
portantes de controle do oportunismo é o desenvolvimento da reputação, me-
dida como o valor presente de um fluxo futuro de recursos advindos do valor da
marca e da imagem pública (MACHADO FILHO, 2006).
Ponchirolli (2007) afirma que as empresas por serem como “organismos
vivos” incorporam mudanças e adotam procedimentos adaptados à nova rea-
lidade, e diante das novas transformações a empresa deve assumir um papel
mais amplo, transcendente ao de sua vocação básica de geradora de riquezas.
A essa crescente demanda da sociedade oferecem-se várias respostas e
vários entendimentos, pois este novo papel pode estar associado não só a mo-
tivos de obrigação social, mas também a sugestões de natureza estratégica ou,
ainda, a uma postura verdadeiramente ética e cidadã da empresa. O exercício
da cidadania empresarial pressupõe uma atuação eficaz da empresa com todos
aqueles que são afetados por sua atividade, sejam diretos sejam indiretos, pos-
suindo um alto grau de comprometimento com seus colaboradores internos e
externos. (PONCHIROLLI, 2007, p. 49).
Ponchirolli (2007) introduz sua obra, Ética e Responsabilidade Social Em-
presarial, realizando um levantamento de fatos marcantes que sinalizam a
mudança de paradigma da atualidade. Estas mudanças segundo o autor trou-
xeram o tema ética na pauta dos ambientes corporativos para um reexame da
compreensão da responsabilidade do executivo.
Entre as proposições destacadas por Ponchirolli (2007, p.12-13) estão: o
crescimento econômico global, ocorridos entre a década de 90 e 2000, o renas-
cimento em massa das artes, a emergência do socialismo de livre mercado fa-
zendo brotar uma nova política e economia devido às transformações após a
queda do socialismo oriental, o surgimento de um novo estilo de vida globaliza-
do e ao mesmo tempo regionalizado, o surgimento de uma forte economia dos
países da região do Pacífico, a liderança das mulheres em cargos de alto nível
de responsabilidade, a ideologia da biotecnologia provocando grandes debates
éticos, o renascimento religioso do terceiro milênio desempenhando um pa-
pel crescente de busca da espiritualidade como regulador das condutas morais

110 • capítulo 5
e da reflexão ética, o triunfo do indivíduo como ser criativo e propositivo que
busca qualidade de vida, e a transferência de algumas responsabilidades para
as empresas privadas.
© BAMBI L. DINGMAN | DREAMSTIME.COM

A prática da ética nas organizações vem se caracterizando por manifesta-


ções concretas, dentre as quais destacamos a Filosofia Empresarial, o Comitê
de Ética, as auditorias éticas, a figura do Ombudsman, Linhas Diretas, Progra-
mas Educacionais e o Balanço Social.
A ética na era tecnológica é a estratégia para tolher males que vêm minando
as organizações, como a robotização social, sociedade estressada, desemprego e
violência. Esta tendência se faz necessária atualmente justamente porque as for-
ças globais de mudança têm alterado significativamente o processo de gestão das
organizações, o que demonstra um salto qualitativo na inter-relação entre insti-
tuições e comunidades, revelando que uma precisa da outra para prosperarem.

A implementação de um projeto de responsabilidade social, bem como de uma certifi-


cação como a ISO 14001, pressupõe que a diretoria da empresa tenha esta vontade,
e exprimir este desejo para os demais membros é fundamental para transformar esta
vontade na própria missão social da empresa.

Após todo o processo de implementação, temos a sistematização da política


de responsabilidade social, fator essencial para criar uma cultura organizacio-
nal focada nas estratégias de responsabilidade social e ambiental.

capítulo 5 • 111
O título de empresa cidadã, por exemplo, outorgado pela sociedade, pode
trazer uma série de benefícios para a empresa, tais como (ASHLEY, 2006):
•  Fortalecimento de sua imagem;

•  Capacidade de atrair e reter talentos;

•  Maior comprometimento e lealdade dos empregados, que passam a se


identificar melhor com a empresa;

•  Maior aceitação pelos clientes, que a cada dia se tornam mais exigentes;

•  Maior facilidade de acesso a financiamento, pois é real a tendência de os


fundos de investimentos passarem a financiar apenas empresas social-
mente responsáveis;

•  Contribuição para sua legitimidade perante o Estado e a sociedade.

ATIVIDADE
1. O que significa Pacto Global?

2. Do seu ponto de vista, qual a importância para uma empresa quanto à obtenção da
certificação ISO 14001?

REFLEXÃO
Neste último capítulo, estudamos o Sistema de Gestão Ambiental. Analisamos os princípios
definitivos de um sistema de gestão ambiental, bem como as regras referentes à certificação
ISO 14000. Por fim, conhecemos os benefícios da ISO 14001 para as empresas, bem como
os aspectos positivos referentes à responsabilidade social empresarial.

112 • capítulo 5
LEITURA RECOMENDADA
Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável

Os 16 princípios seguintes compõem Carta de Negócios da ICC para o Desenvolvimento


Sustentável. Eles fornecem às empresas em nível mundial com uma base para a boa gestão
ambiental.

Princípios

1.  Prioridade corporativa


Reconhecer a gestão ambiental como uma das mais altas prioridades corporativas e
como um fator determinante para o desenvolvimento sustentável; estabelecer políticas,
programas e práticas para a realização de operações de uma forma ambientalmente
correta.

2.  Gestão integrada


Integrar essas políticas, programas e práticas em cada negócio como um elemento es-
sencial da gestão em todas as suas funções.

3.  Processo de melhoria


Continuar a melhorar as políticas corporativas, os programas e desempenho ambiental,
tendo em conta a evolução técnica, o conhecimento científico, as necessidades dos
consumidores e as expectativas da comunidade, com as normas legais como ponto de
partida; e aplicar os mesmos critérios ambientais internacionalmente.

4.  Formação de Pessoal


Educar, treinar e motivar os funcionários a conduzir suas atividades de uma maneira
ambientalmente responsável.

5.  Avaliação prévia


Avaliar os impactos ambientais antes de iniciar uma nova atividade ou projeto e antes de
desativar uma instalação ou abandonar um local.

6.  Produtos e serviços


Desenvolver e fornecer produtos ou serviços que não tenham um impacto ambiental
indevido e que sejam seguros em seu uso a que se destinam, que sejam eficientes no

capítulo 5 • 113
consumo de energia e recursos naturais, e que possam ser reciclados, reutilizados ou
eliminados de forma segura.

7.  Conselhos aos Clientes


Aconselhar e, se necessário educar, clientes, distribuidores e público no uso seguro,
transporte, armazenamento e disposição dos produtos fornecidos; e aplicar considera-
ções semelhantes à prestação de serviços.

8.  Instalações e operações


Desenvolver, projetar e operar instalações e atividades de conduta, levando em consideração
o uso eficiente de energia e materiais, o uso sustentável de recursos renováveis, a minimi-
zação dos impactos ambientais adversos e geração de resíduos, e a eliminação segura e
responsável dos materiais residuais.

9.  Pesquisas
Realizar ou apoiar a investigação sobre os impactos ambientais das matérias-primas,
produtos, processos, emissões e resíduos associados com a empresa e sobre os meios
de minimizar os efeitos nefastos.

10.  Princípio da precaução


Modificar a fabricação, comercialização ou utilização de produtos ou serviços ou a rea-
lização de atividades, de acordo com o conhecimento científico e técnico, para evitar a
degradação ambiental grave ou irreversível.

11.  Empreiteiros e fornecedores


Promover a adoção destes princípios pelos empreiteiros que atuam em nome da em-
presa, incentivando e, quando necessário, exigindo a melhoria de seus procedimentos
para torná-los compatíveis com os da empresa; e incentivar a adoção mais generaliza-
da destes princípios por parte dos fornecedores.

12.  Planos de Emergência


Desenvolver e manter, onde existam riscos significativos, planos de preparação de
emergência em conjunto com os serviços de emergência, as autoridades competentes
e a comunidade local, reconhecendo os potenciais impactos transfronteiriços.

114 • capítulo 5
13.  Transferência de tecnologia
Contribuir para a transferência de tecnologia e métodos de gestão que respeitem o
meio ambiente, tanto nos setores industriais como nos setores públicos.

14.  Contribuir para o esforço comum


Contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e de negócios, programas go-
vernamentais e intergovernamentais e iniciativas educacionais que permitam melhorar
a consciência e proteção ambiental.

15.  Abertura ao Diálogo


Promover a abertura ao diálogo com os empregados e o público em geral, antecipar
e responder às suas preocupações sobre os riscos potenciais e os impactos das ope-
rações, produtos, resíduos ou serviços, incluindo os de significado transfronteiriço ou
global.

16.  Cumprimento de regulamentos e informação


Mdir o desempenho ambiental; realizar auditorias ambientais regulares e avaliações
de conformidade com os requisitos da empresa, requisitos legais e destes princípios; e
periodicamente para fornecer informações adequadas para o Conselho de Administra-
ção, acionistas, funcionários, autoridades e ao público.

Disponível em http://www.iccwbo.org

capítulo 5 • 115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ASHLEY, Patrícia A. Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed. São Paulo:
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Paulo: LTR, 1999.

CASCINO, F. Educação Ambiental: princípios, história, formação dos professores. 3. ed.


São Paulo: Senac São Paulo, 2003.

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polis: Visualbooks, 2003.

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EHLERS, Eduardo. Agricultura Sustentável: origens e perspectivas de um novo paradig-


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FILGUEIRA, Fernando Antonio Reis. Novo Manual de Olericultura – Agrotecnologia Moder-


na na Produção e Comercialização de Hortaliças. Editora: UFV, 2005.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 4. ed. São
Paulo: Saraiva, 2003.

FRANCISCO NETO, João. Manual de Horticultura Ecológica: Guia de Auto Suficiência


em pequenos espaços. São Paulo. Nobel, 1995.

FREIRE, Willian. Direito Ambiental Brasileiro: com legislação ambiental atualizada. 2. ed.
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116 • capítulo 5
GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas). Guia sobre Investimento Social
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GOMES, Celeste Leite dos Santos Pereira. Crimes contra o meio ambiente: responsa-
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118 • capítulo 5
EXERCÍCIO RESOLVIDO
Capítulo 1

1.  Como você define a expressão “meio ambiente”?


A expressão “meio ambiente” pode ser vista por muitos como redundante, à medida que
as palavras “meio” e “ambiente” têm significados semelhantes. Ambas podem indicar o
âmbito que nos cerca, além de abarcarem o conjunto de interações entre elementos
naturais, artificiais e culturais que propiciam a vida em todas as suas formas. No Brasil,
o conceito de meio ambiente pode ser extraído da Política Nacional de Meio Ambiente,
que o define como “o conjunto de condições, leis, influências e inter-relações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Preservar o meio ambiente significa, portanto, preservar a vida em todas as suas formas.
Trata-se de um pressuposto fundamental à condição de exercício dos demais direitos
humanos.

2.  O que dispõe a Constituição Federal sobre o meio ambiente?


Na CF, em seu artigo 225, seu caput dispõe que “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá
-lo para as presentes e futuras gerações”. Meio ambiente relaciona-se a tudo aquilo que
circunda o ser humano. É o universo natural que exerce influência sobre os seres vivos.
Nesse sentido, o meio ambiente não deve ser visto como o espaço em que vivemos, mas
o espaço do qual vivemos.

Além de definir o termo, a CF dispõe sobre princípios, objetivos, mecanismos de formu-


lação e aplicação no país de políticas voltadas ao tema, por meio da Política Nacional do
Meio Ambiente, ou lei 6.938, de 1981. O objeto de estudo da política nacional do meio
ambiente é a qualidade ambiental propícia à vida das presentes e futuras gerações.

3.  A Constituição Federal traz regras referentes à educação ambiental no nos-


so país? Explique.
Com relação à legislação, a Educação Ambiental aparece na Lei n. 6.938/81, que insti-
tuiu a “Política Nacional do Meio Ambiente”. Embora esteja inserida nas formas Educa-

capítulo 5 • 119
ção Formal e Não Formal, ela é limitada em seus aspectos ecológicos e de conservação.
A Constituição de 1988 assimilou a legislação ordinária e estabeleceu como incumbên-
cia do poder público: “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e
a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (art. 225, parágrafo 1º,
VI). (SATO, 2004).

Capítulo 2

1.  Em que consiste a Responsabilidade Objetiva por danos ambientais?


A legislação brasileira consagrou a Responsabilidade Objetiva aos sujeitos causadores
de danos ambientais, visto que o agente que causar um dano ambiental responde pelo
mesmo, independentemente da existência de dolo ou culpa. Isso significa que basta so-
mente a existência do nexo causal, ou seja, a relação entre o ato cometido pelo agente
e o dano causado ao meio ambiente.

2.  As pessoas jurídicas de direito público e privado podem responder penal-


mente pelos danos ambientais praticados? Fundamente.
As pessoas jurídicas, sejam elas de Direito Privado ou Direito Público, serão responsa-
bilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto na lei 9,605/98, nos
casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou con-
tratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Além
de empresas, no campo das pessoas jurídicas de Direito Privado, estão, também, as
associações, fundações e sindicatos. Do outro lado, no campo das pessoas jurídicas de
Direito Público, a União, os Estados e os Municípios, como as autarquias, as empresas
públicas, as sociedades de economia mista, as agências e as fundações de Direito Pú-
blico poderão também ser incriminados.

Capítulo 3

1.  Explique o princípio do poluidor pagador.


O princípio do poluidor pagador, ao lado do princípio do usuário pagador, determinam
a obrigatoriedade de que o poluidor ou usuário arquem com o custo social da poluição
e do desgaste ambiental por eles gerada. Esses princípios estão explicitados no artigo

120 • capítulo 5
4º da PNMA (lei 6.938/81). Além disso, a própria CF, no artigo 225, dispõe que as
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.

2.  Qual a diferença entre o EIA e o RIMA? Fundamente.


EIA e RIMA são dois documentos diferentes, que avaliam os impactos ambientais decor-
rentes da instalação de um empreendimento ou estabelecem programas para monitora-
mento e abrandamento desses impactos. O Estudo de Avaliação de Impacto Ambiental
(AIA), na forma de um EIA/RIMA, é obrigatório para algumas atividades de alto potencial
poluidor ou impacto ambiental. O estudo é de maior abrangência que o relatório e o
engloba em si mesmo. O EIA compreende o levantamento da literatura científica e legal
pertinente, trabalhos de campo, análises de laboratório e a própria redação do relatório.
Por isso, diz o art. 9º da Resolução 1/86 – CONAMA, que o “Relatório de Impacto Am-
biental – RIMA refletirá s conclusões do Estudo de Impacto Ambiental”, ficando paten-
teado que o EIA procede o RIMA e é seu alicerce de natureza imprescindível. O relatório
transmite – por escrito – as atividades totais do EIA, importando se acentuar que não se
pode criar uma parte transparente das atividades (o RIMA) e uma parte não transparente
das atividades (o EIA). Dissociado do EIA, o RIMA perde a validade.

Capítulo 4

1.  Qual o conceito de ISO 14000?


ISO 14000 é a série que abrange normas como a ISO 14001, que orienta sobre a im-
plantação de um Sistema de Gestão Ambiental. A implantação segundo a norma exige
certificação, realizada com auxílio de auditorias ambientais. A ISO 14000 é elaborada
pela International Organization for Standardization, com sede em Genebra, na Suíça,
que reúne mais de 100 países com a finalidade de criar normas internacionais.

2.  O que significa desenvolvimento sustentável?


Pode ser entendido como a evolução da sociedade que concilia a preservação dos re-
cursos ambientais e o desenvolvimento econômico. O conceito de desenvolvimento sus-
tentado encontra-se expresso no “caput” do artigo 225 da Constituição Federal. Pode

capítulo 5 • 121
ser entendido como o tipo de desenvolvimento que visa a atender as necessidades das
presentes gerações, sem afetar às necessidades das futuras.

Capítulo 5

3.  O que significa Pacto Global?


Foi um pacto proposto pela Organização das Nações Unidas com diretrizes voltadas para
a promoção do desenvolvimento sustentável e cidadania a serem adotados pelos líderes
empresariais de maneira voluntária. O Pacto Global visa mobilizar a comunidade empresa-
rial internacional para a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos huma-
nos, trabalho e meio ambiente. A força deste pacto está justamente na força institucional e
apelo da sua própria instituição propositora, a Organização das Nações Unidas.

4.  Do seu ponto de vista, qual a importância para uma empresa quanto à ob-
tenção da certificação ISO 14001?
Essa certificação ambiental internacional beneficia, em especial, as organizações que
são obrigadas a comprovar a adequação de seus produtos e processos aos novos pa-
radigmas ambientais, cumprindo exigências distintas em cada país para onde exportam.
A conformidade com uma norma reconhecida internacionalmente, como a ISO 14001,
tende a reduzir o número de auditorias ambientais independentes exigidas, seja por
clientes, agências ambientais ou organismos de certificação. Além disso, a certificação
ISO 14001 tende a abrir novos mercados à organização, bem como otimizar processos
de gestão ambiental que a empresa busca internalizar, em razão de diversas motivações.

122 • capítulo 5

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