Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Este poema que foi citado acima, onde Gregório relata sobre a época de fome
que o estado da bahia passava, ele usa várias de suas palavras satíricas, tanto para
os de alta sociedade como para os mais pobres, que eram representados por negros,
mestiços e mulatos, onde neste trecho destacado, eles levam a culpa por tudo que a
bahia estava passando, pois esses buscavam uma melhoria social, e faltavam com a
verdade, não tinam honra e nem vergonha, ou seja, o autor afirmava que eles eram
prejudiciais a sociedade baiana, como afirma no poema, só queriam saber de
“negócio”, “ambição” e “usura”.
Mas como o barroquismo é marcado pela dualidade, em suas poesias não era
diferente, por exemplo: enquanto o homem era representado como uma criatura
selvagem e nojenta, a mulher negra era representada com erotismo, ela era sensual
e desejada pelos homens, fossem eles escravos ou senhores, a mulata era tratada
somente como objeto sexual. No poema a seguir, podemos ver a sexualização da
mulher negra nas obras de Gregório de Matos:
MULATA ANICA
Achei Anica na fonte – lavando roupa
sobre uma pedra
Mais corrente, que a mesma água –
mais limpa que a fonte mesma(...)
Conchavamos que eu voltasse – na
segunda e quarta-feira,
Que fosse à costa da ilha – e não
pusesse o pé em terra,
Que ela viria buscar-me – com
segredo e diligência,
Para na primeira noite – lhe dar uma
sacudidela.
Depois de feito o conchavo – passei o
dia com ela,
Eu deitado a uma sombra – ela
batendo na pedra.
Tanto deu, tanto bateu - co’a abarriga
e co’as cadeiras,
Que me deu a anca fendida – mil
tentações de fedê-la! (...)
Outro autor que relatou a face de cor foi Padre Antônio Vieira, figura
fundamental na conversão dos índios para o catolicismo, não foi diferente com o
negro, o padre dizia que havia uma vantagem para esses homens em virem para o
Brasil, estavam sendo escravizados, mas aquilo os deixava mais próximos da palavra
do senhor.
Passando desapercebido pelo século XIII, o negro volta a aparecer no período
do romantismo, tanto na poesia quanto na prosa, um dos autores mais conhecidos
deste período é o poeta Castro Alves, que foi considerado o “poeta dos escravos”,
sempre demonstrou em suas obras não concordar com a escravidão dos negros,
porém, como o restante do autores da época, ele também mencionava os negros a
partir de esteriótipos, fato que notamos nestas estrofes da obra “O navio negreiro”:
[...]
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas Rega
o sangue das mães.
[...] ( ALVES, 1997, p. 280)
Segundo Brookshaw (1983), Castro Alves ainda via os negros como a raça
maldita, os descendentes de Caim que tinham sido expulsos do paraíso para as areias
ardentes da África; reproduziu o mito europeu que considerava a África um continente
pobre e sem civilização.
Castro Alves, apesar de lutar contra o tráfico de negros e a favor da abolição,
também não deu a voz aos negros, mencionava-os com um certo distanciamento, sem
o reconhecimento do negro como um sujeito que pode ter valor cultural, seus próprios
heróis e sua voz no mundo, onde todos esses aspectos foram deixados de lado por
Castro Alves, um exemplo disso, podemos ver também no poema “O navio Negreiro”,
onde ele coloca os negros a
pedirem socorro aos “heróis” do novo mundo, sendo que esses mencionados
não representam em nada o negro e sua cultura, pelo contrário só traz a tona a
colonização e escravidão.
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca! esse pendão dos
ares!
Colombo! fecha a porta dos teus
mares! (ALVES, 1997, p. 283)
Na prosa, o negro não aparece como protagonista nas histórias, ele é sempre
tratado como uma figura que está inserida no cotidiano da burguesia, um servente
para eles, podemos encontrar o negro Caracterizado como subalterno e serviçal, é o
estereótipo que o coloca como incapaz. Presente em obras como O demônio
familiar(1857), de José de Alencar, que conta a história de um escravo chamado
Pedro, cujo sonho é ser cocheiro e para isso ele promoverá encontros e desencontros.