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em EJA I
Autor
Luis Oscar Ramos Corrêa
ano de publicação
2009
Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,
mais informações www.videoaulasonline.com.br
© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
ISBN: 978-85-7638-692-6
CDD 374
N
esta aula, será abordada uma possível organização estrutural e pedagó-
gico-curricular de uma escola para jovens e adultos, na perspectiva da
gestão do cuidado e da cultura do acolhimento. Primeiramente vejamos
um exemplo concreto de uma capital brasileira, cuja experiência é parâmetro para
outros municípios na organização de uma proposta de Ensino Fundamental em 1 Segundo o documento
consultado, seus prin-
cípios são: (1) a construção
uma escola para jovens e adultos. plena da cidadania; (2) a
transformação da realidade;
e (3) a construção da autono-
Desde 1989, a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (RS) ofe- mia. Seus objetivos são: (1)
rece, em algumas escolas, uma modalidade de ensino com o nome de SEJA, sigla proporcionar aos educandos
a reflexão sobre a cidadania,
que se refere ao Serviço de Educação de Jovens e Adultos. Inspirada na educação favorecendo a formação de
um cidadão crítico e cons-
popular, e com uma proposta de escola para trabalhadores, sua organização é deli- ciente dos seus direitos e
neada por objetivos e princípios políticos e pedagógicos1. Das noventa e duas esco-
deveres, capaz de se tornar
um agente transformador
da realidade; (2) possibilitar
las municipais existentes, trinta e seis (40%) contemplam o SEJA, com aproxima- aos educandos a vivência
damente 8 000 alunos (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, 1997). de uma ação participativa e
democrática na prática efeti-
Vejamos o que diz a professora Liana Borges (2005, p. 98), uma das fun-
dadoras desta política pública, sobre as dificuldades de se “criar uma Escola para
Jovens e Adultos”:
Esta criação considera este aluno enquanto trabalhador que busca um complemento à
reflexão de sua prática social. Os conteúdos são referenciados na experiência de vida do
jovem e do adulto, que são produtores de conhecimento, e de hipóteses que explicam a
realidade. O objetivo da metodologia é, na relação dialógica, favorecer uma análise mais
profunda sobre este saber, o acesso a outras informações e a reelaboração e recriação
destes conhecimentos.
Do ingresso e matrícula
O acesso a este modelo escolar deveria ser diário, não por períodos determina-
dos, como de ano em ano ou de semestre em semestre. A maioria das propostas de EJA
desenvolvidas no Brasil não trabalha com a idéia de seriação no Ensino Fundamental
de adultos, e por isso não haveria prejuízos pedagógicos com a matricula diária.
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Uma possível organização de uma escola para adultos
que este adulto já dirige sua vida, isto é, trabalha, tem filhos, enfim, já possui uma
vida própria. Sendo assim, ele possui, de alguma maneira, estratégias de sobrevi-
vência, e isso é conhecimento na concepção da EJA.
Portanto, uma organização curricular para EJA tem, necessariamente, que
levar em consideração a realidade vivida pelos alunos, a geração de trabalho e
renda, a cultura, as condições de vida, as relações sociais etc. A realidade vivida
é complexa, não fragmentada em áreas do conhecimento – em disciplinas –, e por
isso deve-se trabalhar com um planejamento coletivo, interdisciplinar.
Sendo assim, na maioria dos municípios brasileiros que adotam esta con-
cepção de EJA, a organização seriada dá lugar às totalidades do conhecimento
(isto é, o conhecimento é visto como complexo) e a interdisciplinaridade torna-se
a base para o desenvolvimento do planejamento coletivo.
Elas podem ser assim organizadas:
Totalidade 1 – construção dos códigos escritos (exemplo: alfabético-
numérico).
Totalidade 2 – construção dos registros dos códigos.
Totalidade 3 – construção das sistematizações dos códigos.
Totalidade 4 – aprofundamento das sistematizações por meio...
Totalidade 5 – ... das generalizações dos códigos e
Totalidade 6 – ... das transversalidades entre os códigos, trabalhando
com conceitos que envolvem as relações homem–natureza, conforme os
campos de saber abaixo descritos:
as totalidades de conhecimento 1, 2 e 3 correspondem ao processo de
alfabetização (escola regular: de primeira à quarta séries). As turmas
são atendidas por um professor;
as totalidades de conhecimento 4, 5 e 6 abrangem todas as áreas do
currículo de quinta à oitava série: Português, Matemática, História,
Geografia, Ciências Físicas e Biológicas, Língua Estrangeira Moder-
na, Educação Física e Educação Artística, com um professor para cada
disciplina.
As totalidades de conhecimento constituem os instrumentos conceituais a
partir dos quais a interdisciplinaridade poderá se efetivar, e não representam eta-
pas estanques nem uma seqüência linear, de tal forma que não se precisa partir de
uma para se chegar a outra. Nessa concepção curricular, a pesquisa socioantro-
pológica torna-se um elemento fundamental para que se consiga trabalhar com a
idéia de totalidades de conhecimento e realizar um planejamento interdisciplinar.
A carga horária é idêntica para cada disciplina, o que se justifica nas teorias
do conhecimento de Piaget e Vygotsky, nas quais se afirma que o objeto cog-
noscível nunca está solto no espaço ou fragmentado em “gavetas” conceituais.
Qualquer fração do conhecimento está em inter-relação ativa com outras de igual
importância, onde uma ajuda as demais a se constituir: cada conceito traz consigo
uma totalidade (o conceito de espaço, por exemplo, não existe só na Geografia,
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Fundamentos Metodológicos em EJA I
Pontos importantes
Trabalho com a idéia de acolhimento, a sintonia entre escola e a vida dos
alunos.
O acesso deveria ser diário, e não por períodos determinados, como de
ano em ano ou de semestre em semestre.
O adulto não é obrigado a estudar como a criança; não existe uma lei que
o obrigue a freqüentar a escola, portanto deve ser aceito.
Uma organização curricular para EJA tem, necessariamente, que levar
em consideração a realidade vivida pelos alunos.
Trabalho com um planejamento coletivo, interdisciplinar.
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Uma possível organização de uma escola para adultos
movimento de renovação pedagógica do qual a educação popular e a EJA fazem parte, exatamen-
te neste momento, a própria EJA é estruturada, é repensada como modalidade de ensino. Que
preço pagará por essa estruturação? Terá de recuar ou abandonar sua história de reencontro com
concepções perenes de formação humana?
As propostas educativas escolares sabem que para incorporar concepções ampliadas de educa-
ção têm de violentar a estrutura escolar. Mas a EJA não vem dessa tradição, pois aprendeu a educar
fora das grades. Podemos supor que sucumbirá atrás das grades e dos regimentos escolares e curri-
culares se neles for enclausurada. Dará conta ela de manter a concepção ampliada de educação que
aprendeu em sua tensa história?
A educação popular e a EJA enfatizaram uma visão totalizante do jovem e adulto como
ser humano, com direito a se formar como ser pleno, social, cultural, cognitivo, ético, estético,
de memória [...]
Não seria mais aconselhável para avançarmos na garantia de todos a essa concepção moderna,
universal, incorporar a universalidade das dimensões formadoras e estimular formas de educar os
jovens e adultos que continuem ou assumam essa concepção ampliada? Estimular o diálogo com
experiências nas escolas e redes de educação básica que tentam abrir os rígidos sistemas de ensino
para incorporar essa concepção e prática educativa?
Entretanto, esse diálogo fecundo somente será possível se a EJA não for forçada a se encaixar
em modelos e concepções de educação próprios das clássicas modalidades de ensino.
A história nos mostra que as experiências mais radicais de educação de jovens e adultos não
aconteceram à margem dos sistemas de ensino pelo anarquismo de grupos de educadores pro-
gressistas, mas porque a concepção de jovem e de adulto popular e de seus processos educativos,
culturais, formadores não cabiam nas clássicas modalidades de ensino. Tratam-se de matrizes pe-
dagógicas diferentes que por décadas se debatem fora e dentro dos sistemas de ensino.
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Fundamentos Metodológicos em EJA I
Recomendamos a leitura do livro Pedagogia da Esperança, de Paulo Freire (Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1992). Neste livro, Freire realiza um reencontro com a Pedagogia do Oprimido.
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Gabarito
Uma possível organização de uma escola para adultos
1. D
2. B