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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE _______________ (____).


Processo-crime nº ___________________
Objeto: defesa preliminar à luz da Lei nº 11.343/06
_______________, brasileira, solteira, enfermeira, residente e domiciliada na Rua ___________ nº
____, Bairro _______________, por seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, tempestivamente, apresentar a sua
DEFESA PRÉ VIA
com fulcro no artigo 55 da Lei n.º 11.343/06, pelas razõ es de fato e de direito a seguir
expostas:
I – DOS FATOS
A acusada foi denunciada como incursa nas penas dos artigos 33, 35, caput, ambos da Lei
de Drogas por ter, conforme denú ncia, se associado ao acusado _____ para o fim ú ltimo de
praticar trá fico ilícito de entorpecentes.
Desta feita, a denú ncia deduz que a traficâ ncia estaria evidenciado, "[...] a denú ncia levou a
polícia a casa dos acusados onde estes comercializavam drogas, deduz-se tal fato pela
considerá vel quantidade apreendida, pela venda observada pelos policiais, e da admirá vel
quantia em dinheiro advindo do pernicioso comércio".
Passaremos a demonstrar, que a presente denú ncia deve ser integralmente rejeitada pelo
MM. Juízo, vez que dos fatos supramencionados é patente a ilaçã o de que a acusada é
inocente, e que falta justa causa para a açã o penal como a seguir será demonstrado.
II – DO SUPOSTO TRÁ FICO
Segundo a regra insculpida no artigo 33, "caput" da lei 11.343/06, o crime consiste em
praticar qualquer uma dentre as dezoito formas de condutas puníveis previstas (que sã o os
nú cleos do tipo), sendo algumas permanentes e outras instantâ neas.
Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda,
oferecer, ter em depó sito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorizaçã o ou em
desacordo com determinaçã o legal ou regulamentar.
É necessá ria a vontade livre e consciente de praticar uma das açõ es previstas neste tipo
penal.
Conforme doutrina e aresto abaixo transcritos:
Vicente Greco Filho, leciona que: "[...] O elemento subjetivo é o dolo genérico em qualquer
das figuras. É a vontade livre e consciente de praticar uma das açõ es previstas no tipo,
sabendo o agente que a droga é entorpecente".
(GRECO FILHO, Vicente. Tó xicos: Prevençã o - Repressã o. 11ª ed. Sã o Paulo: Saraiva, 1996,
p. 84-85).
DOLO, portanto, é a vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta prevista no tipo
penal incriminador, ou seja é a vontade livre e consciente de praticar um crime.
Em nenhum momento pode-se dizer que a Acusada teve dolo de traficar drogas ela tã o
somente foi visitar um amigo de longa data _____, nã o tinha conhecimento de que havia um
"ponto" de drogas funcionando no interior da casa do Acusado ____.
A Acusada estava apenas NO LUGAR ERRADO, NA HORA ERRADA E COM A PESSOA
ERRADA.
A acusada estudou durante 8 anos com o acusado, firmaram amizade desde entã o; Desde a
formatura em ____ nã o tinham se visto, até que em __/__/____ encontraram-se na saída da
boate ____, nesta ocasiã o o acusado teria lhe dado o seu novo endereço e telefone,
convidando a acusada para visitá -lo.
Em __/__/____ a acusada foi fazer uma visita social ao acusado, se dirigiu até a casa do
mesmo na rua ____ e adentrando no recinto iniciaram coló quio animado sobre os tempos de
escola. Fato este incontroverso nos autos.
Na sequência, o acusado ____ recebeu "sucessivas visitas" de outras pessoas, desconhecidas
para a acusada, e para sua surpresa testemunhou a chegada de uma viatura policial.
Quando o acusado avistou a viatura, saiu em disparada. Deixando a acusada na casa,
atô nita.
O acusado foi encurralado pela polícia, conduzido para a viatura algemado. Os policiais
disseram ter encontrado as drogas dentro da residência e deram voz de prisã o aos
acusados, porém, em revista pessoal, nada foi encontrado com a acusada, apenas uma
pequena importâ ncia em dinheiro em sua bolsa.
Vimos a suprema necessidade do dolo genérico do agente, ou seja, ter a vontade livre e
consciente de praticar uma das açõ es previstas no tipo penal, restou claro que a acusada
nã o tinha a intençã o de traficar, pois sequer tinha conhecimento da existência ou nã o de
drogas no interior do residência.
Resta claro que a conduta da acusada é isenta de culpa ou dolo.
A conduta da acusada é atípica, nã o caracterizada pelo artigo 33, caput, e/ou artigo 35 da
Lei 11.343/06.
III – DO DINHEIRO APREENDIDO COM A ACUSADA
O pai da acusada, sr. ______, na data de __/__/____, pediu que sua filha recebesse sua
aposentadoria, no banco ____, fornecendo para tanto, seu cartã o bancá rio e senha.
Esta atitude era usual para a acusada, pois era frequente suas idas ao centro da cidade,
facilitando a vida de seu genitor.
A acusada, antes de fazer visita ao acusado, foi ao banco ___ e sacou a aposentadoria de seu
pai no valor de R$ ____, (um salá rio mínimo).
Quantia esta que foi apreendida pelos policiais no mesmo dia.
Dinheiro lícito, de origem comprovadíssima, e que por ter sido apreendido, causou
transtornos e aborrecimentos ao seu pai _____.
IV – DA SUPOSTA ASSOCIAÇÃ O PARA O TRÁ FICO
A conduta prevista no artigo 35, "caput" da lei 11.343/06, é inerente ao agente, a existência
de um animus associativo, ou seja, há necessidade de um ajuste prévio no sentido da
formaçã o de um vínculo associativo de fato.
Como já restou provado, e sendo fato incontroverso nos autos, a acusada apenas foi visitar
um antigo colega de escola, fato que por si só torna sua conduta atípica, nã o enquadrada,
portanto, no artigo 35 da lei 11.343/06.
Devemos ressaltar que a acusada nã o apresenta nenhum antecedente criminal, e que nã o é
conhecida no meio policial como pessoa ligada ao trá fico.
V – DOS DEPOIMENTOS E DAS PROVAS COLHIDAS QUANDO DA PRISÃ O EM FLAGRANTE
Deslindada as características mais importantes, tanto da personalidade da ora acusada,
quanto dos motivos e do objeto da relaçã o estabelecida entre esta e o senhor _____, calha
verificar os conteú dos dos depoimentos e das provas colhidas quando da prisã o em
flagrante, bem como destacar quais sã o as interpretaçõ es que podem ser extraídas dos
mesmos.
O Ministério Pú blico quer o recebimento da denú ncia, pois estaria evidenciado o "fim de
traficâ ncia", e que "pelas investigaçõ es e delaçõ es os denunciados comercializavam drogas"
e que o dinheiro apreendido com a acusada "evidencia envolvimento".
Entretanto, as alegaçõ es exordiais em relaçã o a ora acusada, nã o passam de um mero juízo
especulativo, porque nã o encontram ressonâ ncia com as provas existentes.
No Boletim de Ocorrência (BO/PM) nº. ____ (có pia anexa), elaborado pelos policiais que
efetuaram a prisã o, a acusada aparece apenas como "amiga de _____" e neste mesmo boletim
a acusaçã o de trá fico recai apenas sobre o acusado, proprietá rio e morador da casa.
Cristalino é este entendimento, no depoimento da segunda testemunha (fls. __), o também
policial militar _____ diz "(...). De imediato, reconheceram _____, CONTRA QUEM PESAVAM
VÁ RIAS DENÚ NCIAS DE TRÁ FICO DE ENTORPECENTE". Nada vindo a acrescentar ou
relatar sobre possíveis denú ncias contra, a ora acusada, ______.
Assim sendo, na versã o dos policiais, nã o há elementos incriminadores para sustentar o
recebimento da denú ncia contra a acusada. Neste diapasã o, havendo dú vida a respeito da
propriedade e da destinaçã o da droga e inexistindo qualquer outro indício incriminador da
conduta da ora acusada, a questã o só pode ser resolvida em favor desta.
Condenaçã o exige certeza absoluta, fundada em dados objetivos indiscutíveis, o que nã o
ocorre no caso em tela.
Desta feita, conclui-se que as provas sã o irrefutá veis no sentido de que a acusada nã o tinha
conhecimento da existência de ponto de venda de drogas na residência do acusado e sendo
assim nã o é possível penalizá -la, nem mesmo pelo art. 33 nem pelo art. 35 da Lei
11.343/06.
NESSE SENTIDO:
"Ex Positis", pede-se a rejeiçã o da denú ncia, e a imediata concessã o do respectivo alvará de
soltura, culminando por fim, com a liberdade da ora acusada, por ser medida de Direito e
de inteira JUSTIÇA.
Em caso de entendimento diverso, protesta-se desde já , por todos os meios de provas
admitidas em direito, notadamente pela oitiva das testemunhas, cujo rol segue anexo, e que
devidamente intimadas, inclusive por precató rias, comparecerã o à s audiências que forem
designadas.
_________, ____ de _________ de _____.
___________
OAB/

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