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No contexto da realização do Mercado Comum Europeu, foram postos a descoberto alguns

dos pontos que fragilizavam a concretização deste projeto. A título de exemplo, podemos
referir a diferenciação das taxas de câmbio entre as moedas dos Estados membros e a livre
circulação de pessoas e bens.

Em 1968, França enfrentava uma grave crise financeira que acabava por se estender por
quase toda a europa. Esta situação apontava, ainda mais, para a necessidade de intervir.
Na Cimeira de Haia, ocorrida no final do ano seguinte, é apontada a vontade de que a
Comunidade evoluísse para um verdadeira união económica, mais sólida e estável.

Neste sentido, é introduzido o Plano Barre: este plano era, então, o resultado da
necessidade de intensificar a convergência monetária entre os Estados. Era constituído por 3
etapas, estabelecidas sob a ideia de equilíbrio entre união económica e monetária.
Este visava um conjunto de objetivos considerados essenciais para a prossecução do projeto
de um mercado comum:
 Deviam ser eliminadas as flutuações entre as moedas dos Estados membros
nomeadamente através de linhas de crédito multilaterais recíprocas, a criação de uma
unidade de conta europeia e de um mecanismo de cooperação monetária;
 Era, igualmente, essencial uma coordenação de politicas económicas, por exemplo,
através da sincronização dos programas a médio prazo para cada Estado.
 Os Estados membros ficavam também incumbidos de informar a Comissão sobre os
projetos que pudessem afetar a situação conjuntural e orçamental.

No decorrer deste período, em fevereiro de 1970, dá-se a criação de um Fundo Monetário


de apoio no valor de dois mil milhões de dólares, pela mão dos bancos centrais dos estados
membros.

Ora, como quase sempre acontece quando existe a necessidade de uma tomada de decisão,
existia desacordo quanto à forma como a unificação monetária europeia devia prosseguir.
Os países presentes da Cimeira de Haia, consideravam que era necessário aprofundar a
cooperação económica e monetária entre os Estados-membros, bem como a adoção coletiva
de posições na área financeira internacional e a criação de mecanismos que permitissem a
redução de margens de flutuação das moedas nacionais.
Havia, então , a necessidade de concretizar a resposta política a essa questão. Assim, é clara
a abordagem funcional a esta questão pelas partes envolvidas, tanto governos nacionais
como instituições europeias.
É, então, nesta sequência que, no final de 1969, surge o debate sobre a forma que a
integração monetária deveria tomar. Estavam em confronto orientações monetaristas e os
economistas.
 A posição monetarista assentava na urgência da criação da união monetária. Esta, por
si só, seria conducente à convergência e coesão das economias europeias. Do lado dos
monetaristas encontravam-se França, Bélgica, Luxemburgo e a própria Comissão.
 Por outro lado, os economistas consideravam ser necessária uma aproximação
económica dos países, dando depois lugar à criação de uma moeda única. Tanto
Holanda como Alemanha integravam-se neste lado do debate.
Motivado pela falta de uma resposta una, foi constituído um comité presidido por Pierre
Werner, o primeiro-ministro luxemburguês na época. Este comité deveria preparar um
relatório que fizesse a análise das diferentes sugestões dentro da Comunidade, identificando
as questões principais tendo em vista a criação faseada de uma União Económica e
Monetária. Este objetivo baseava-se na necessidade de dar resposta à instabilidade no
sistema monetário.

Este confronto de propostas é também um reflexo do confronto de dois blocos da


Comunidade de então: França e Alemanha possuíam conceções diferentes e marcantes da
lógica da União Económica e Monetária.
Também ao nível da criação de instituições, o grupo incumbido de desenvolver este
relatório foi um reflexo de tensões nacionais. O governo alemão desejava uma forte
coordenação das políticas orçamentais nacionais a nível europeu, o que resultaria num
controlo quase autoritário por parte do Banco Central. Por sua vez, França defendia a
manutenção da soberania nacional neste aspeto, defendendo uma vez o mais o facto de a
soberania nacional poder vir a ser ameaçada.

Apesar de visões distintas, França e Alemanha eram, no início dos anos 70, crentes na ideia
de que uma integração do mercado comum seria prioritária face a uma integração
económica e monetária. Neste sentido, era necessário cimentar uma área comum de
consenso quanto às prioridades europeias entre as duas visões sobre como abordar as
políticas económicas e monetárias ao nível europeu.
Assim, o Relatório Werner foi concebido num momento de convergência tática entre os
dois atores principais no domínio europeu. Simultaneamente, estavam em curso, na época,
processos de adesão da Dinamarca, Irlanda, Reino Unido e Noruega, o que significava que
outros interesses começavam a pesar sobre o rumo da integração europeia, o que significa
que o próprio processo de construção da união é influenciado em larga escala pela defesa de
interesses estratégicos nacionais.
Esta realidade fez com que o resultado final do relatório fosse pouco auspicioso,
funcionando como um compromisso entre as duas visões existentes à época.

Os resultados deste grupo de trabalho ficaram materializados num relatório final,


apresentado ao Conselho e à Comissão a 13 de Outubro de 1970 onde era proposto um
plano – Plano Werner – para a criação da união económica e monetária que se acreditava
ser possível de implementar até ao final da década , estabelecendo desta forma um
compromisso efectivo entre a integração económica e a integração monetária.
O Plano Werner defende a criação, por etapas, de uma união económica e monetária, onde
as principais decisões de política económica e monetária seriam tomadas a nível
Comunitário, consubstanciando-se desta forma a transferência de poderes do plano nacional
para o plano supranacional, o que, por sua vez, acarretava um elevado nível de cooperação e
integração política.
A união monetária iria implicar a “total e irreversível convertibilidade das moedas, a
eliminação de margens de flutuação das taxas de câmbio, a fixação irrevogável de
coeficientes de paridade e a total liberalização de movimentos de capital” considerando-se
desejável, mas não indispensável, a adoção de uma moeda única. Em paralelo com a união
monetária deveriam ser desenvolvidos progressos no “sentido da harmonização e unificação
de políticas económicas” que conduziriam mesmo numa fase posterior à “fixação de
orientações económicas globais, à coordenação de políticas económicas de curto prazo,
através de medidas monetárias e de crédito, à implementação de medidas orçamentais e
fiscais e à adopção de políticas comunitárias em matéria de estruturas e integração de
mercados financeiros”.
Em primeiro lugar deveria, no entanto, de existir um aumento da coordenação das politicas
económicas com o objetivo de desenvolver uma efetiva troca de informações, encontrar as
orientações fundamentais da politica económica e monetária e perceber detalhadamente
quais seriam as necessidades da comunidade no geral e dos seus membros, de modo a criar
respostas adequadas às carências de cada Estado.

No âmbito do Plano Werner foi igualmente proposto a criação de um fundo europeu para a
cooperação monetária que deveria estabelecer-se como o precursor do futuro sistema
comunitário de Bancos Centrais que vigoraria na fase final da união económica e monetária.

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Em 22 de Março de 1971 o Conselho, dando acolhimento às conclusões produzidas no
grupo de trabalho, adopta uma resolução onde é expressa “a vontade política de criar, no
decurso dos próximos dez anos, uma união económica e monetária segundo um plano por
etapas com inicio a 1 de Janeiro de 1971”, tendo como objectivo assegurar “um crescimento
satisfatório, o pleno emprego e a estabilidade no interior da Comunidade” que desta forma
ganharia individualidade monetária própria no contexto do sistema monetário internacional.

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