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RESUMO – PRÁTICA JURÍDICA CIVIL I

INTRODUÇÃO
Nesse bimestre, o professor tratou em aula do seguinte problema:
Rodolfo da Silva conduzia seu veículo Volkswagen UP!, ano de fabricação 2015, placa
FYK 6543, branco, pela Rua das Figueiras, município e comarca de Santo André, SP,
quando, no cruzamento com a rua das caneleiras, foi violentamente abalroado pela
Caminhonete S10, placa DOE 2358, ano de fabricação 2010, da prefeitura de São
Bernardo do Campo, na oportunidade conduzida por Francisco Ramos, funcionário
público, fora do seu horaro de serviço e sem autorização dos seus superiores. A via
pela qual transitava a caminhonete é secundária em relação à via utilizada pelo
automóvel, conforme sinalização de solo e placas existente no local. Os danos na
caminhonete orçaram R$ 25.000,00 e o UP! não teve como ser reparado, estando
avaliado em R$ 42.000,00. Os dois veículos eram objeto de seguro facultativo de
dano, o automóvel pela Porto Geral Cia. de Seguros e a caminhonete pela Aliança
Seguros S.A., sendo certo que a apólice que cobria o veículo da Prefeitura de São
Bernardo do Campo não contemplava cláusula de cobertura de danos contra terceiros
e a franquia era de R$ 4.000,00. Ambas as seguradoras tem sede em São Paulo,
Capital, foram acionadas e cumpriram rigorosamente com suas obrigações. Rodolfo
da Silva reside em Mauá, SP. O acidente ocorreu no dia 17 de novembro de 2015.
Assim, do bimestre, são as matérias a serem estudadas:
 Responsabilidade civil
 Contrato de seguro
 Contrato de mandato
 Relação advogado-cliente

RESPONSABILIDADE CIVIL
Responsabilidade civil não é a mesma coisa que obrigação.
Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir
do devedor o cumprimento de determinada prestação economicamente
aferível. Quando não ocorre o cumprimento espontâneo e livre da obrigação,
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sobrevindo o inadimplemento, surge a responsabilidade, sendo esta uma
conseqüência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional.

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A responsabilidade no direito civil brasileiro funda-se na culpa do agente,
ou seja, de uma conduta voluntária violadora da prática de um ato jurídico,
conforme prescreve o artigo 186, CC, ao dizer que “aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Em conseqüência,
quem comete o ato ilícito e causa dano a outrem, fica obrigado a repará-lo (art.
927, CC).

ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL


Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito (art 186, CC)
Assim, são elementos da responsabilidade civil:
a) Ação ou omissão – a responsabilidade deve derivar de ato
próprio, de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente
(art. 932, CC) ou por danos causados por coisas e animais
que lhe pertençam
b) Culpa ou dolo do agente
c) Nexo causal – é a relação de causa e efeito entre a ação ou
omissão do agente e o dano verificado. Excluem o nexo causal
o caso fortuito, a força maior e a culpa de terceiros
d) Dano – sem a prova do dano, ninguém pode ser
responsabilizado civilmente

RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL


A responsabilidade pode ser contratual ou extracontratual (aquiliana).
A responsabilidade contratual é aquela gerada pelo descumprimento de
uma obrigação contratual. Por exemplo, quem toma um ônibus celebra um
contrato de adesão com a empresa de transporte. Esta, implicitamente,
assume a obrigação de conduzir o passageiro a seu destino em segurança. Se,
no trajeto, o passageiro se fere, dá-se o inadimplemento contratual, que
acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos. Está disciplinada
pelos artigos 389 e seguintes e pelos artigos 395 e seguintes, do CC. 2

A responsabilidade extracontratual nasce pelo pressuposto que todo


aquele que causa dano a outrem, por culpa ou dolo, fica obrigado a repará-lo.

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Nesse caso, o agente infringe um dever legal (não lesar o outro), mas não
havia nenhum vínculo jurídico prévio entre as partes. Está disciplinada pelos
artigos 186 a 188 e 927 a 954, CC.
Tanto em um caso como em outro, configura-se a responsabilidade por
essas três condições: dano, ato ilícito e nexo causal.

RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA


A responsabilidade subjetiva se esteia na culpa, de modo que a prova
desta passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. É a regra geral
que deve presidir a responsabilidade civil.
A lei impõe, no entanto, que certas pessoas, em determinadas
situações, repararão o dano independentemente de culpa. Quando isso ocorre,
vemos a responsabilidade objetiva, a qual prescinde da culpa e sua prova,
bastando o dano e o nexo causal.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO PELOS ATOS DE SEUS AGENTES


Nas ações de indenização, proposta pela vítima, pode-se ter como
sujeito passivo tanto o próprio agente público, quanto o Estado, podendo ser
admitida a denunciação da lide pelo Estado ao seu funcionário.
No caso em tela, em face da responsabilidade do Estado em acidentes
de veículos, há responsabilização do Estado, quando da utilização dos veículos
da Administração Pública, fazendo gerar uma culpa presumida ao servidor-
motorista. Basta a prova do dano e da relação de causalidade entre ele e a
ação ou omissão do funcionário público.
O Estado pode tentar provar a culpa da vítima, mas, se nada provar,
arcará com a responsabilidade integral reclamada.
É importante ressaltar que o Estado tem direito de ação de regresso
contra o seu funcionário (art. 37, §6º, CF)

RESPONSABILIDADE DECORRENTE DOS TRANSPORTES


Sendo um contrato de adesão, no contrato de transporte, alguém se
obriga a transportar, de um lugar para o outro, mediante retribuição, pessoas
ou coisas (art. 730, CC).
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Dispõe o artigo 734, CC, que o transportador responde pelos danos
causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força
maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade. Deve ser

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excluída também a responsabilidade do transportador por culpa de terceiros ou
por culpa da vítima.
Quanto ao transporte gratuito, de mera cortesia, que não traz benefícios
ao transportador, a Súmula 145 do STJ afirma que o transportador só será
responsabilizado por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo
ou culpa grave. Ao passo que o artigo 736, CC, afirma que o transporte gratuito
não se subordina às regras do contrato de transporte.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO


O mandato judicial impõe responsabilidade de natureza contratual do
advogado perante os clientes. As obrigações do advogado são obrigações de
meios, não de resultados.
A responsabilidade civil do advogado significa que este deverá, quando
culpado, arcar com aquilo que seria razoavelmente ganho na demanda, ou
ainda com os prejuízos que, comprovadamente, a parte perdedora sofrer em
função da má atuação profissional.
A quantificação do dano será feito por arbitramento (art 946, CC), que
deverá partir do resultado útil esperado e fazer incidir sobre ele o percentual de
probabilidade de obtenção da vantagem esperada.

CONTRATO DE SEGURO
Considera-se o contrato de seguro aquele pelo qual uma das partes,
denominada segurador, se obriga, mediante o recebimento de um prêmio, a
garantir interesse legítimo de outra, intitulada segurado, relativo a pessoa ou a
coisa, contra riscos predeterminados. Assim, o segurador assume, perante o
segurado, a obrigação do pagamento de uma prestação, se ocorrer o risco a
que está exposto.
É um contrato bilateral e sinalagmático (gera obrigações para as duas
partes). Para o segurado é um contrato certo, mas para o segurador é um
contrato aleatório, que depende ou não da ocorrência do sinistro. É também um
contrato de adesão. Sua forma escrita tem serventia apena ad probationem, ou
seja, como prova pré-constituída (art. 758, CC). 4
O instrumento do contrato de seguro se chama apólice, o qual também
pode ser, em casos específicos, feito por bilhete de seguro. Tanto a apólice,

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quanto o bilhete de seguro mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim
de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o
nome do segurado e do beneficiado (art. 760, CC).
A principal obrigação do segurado é pagar o prêmio, ou seja, o valor
que, ao ser pago, garante o pagamento da indenização. Valor este que não se
confunde com franquia, que é o valor pago pelo segurado quando há prejuízo.
Por outro lado, a obrigação primordial do segurador é pagar em dinheiro,
se outra forma não foi convencionada, o prejuízo resultante do risco assumido.
A seguradora pode entrar com ação regressiva perante terceiro causador de
dano, quando se sub-roga nos direitos de credora de seu segurado.
Estando o segurado inadimplente, em princípio, a mora afasta a
indenização, como estatui o artigo 763, CC. No entanto, esta disposição não é
justa, principalmente, quando o segurado paga sempre o prêmio. Não seria
certo que apenas um dia de mora determine a perda da indenização. Assim, o
entendimento jurisprudencial é que o atraso no pagamento do prêmio não
resolve, de pleno direito, o contrato de seguro, pois, exige-se, ao menos, a
prévia constituição em mora do contratante pela seguradora, mediante
interpelação (REsp 76.362-MT), tese corroborada pelo Enunciado 376 da IV
Jornada de Direito Civil.

RELAÇÃO ADVOGADO-CLIENTE
Geralmente a relação advogado-cliente é formada por um contrato de
consumo, salvo no que tange a defensoria pública, cuja relação é institucional.
Ademais, é uma obrigação de meio, ou seja, se o advogado não tiver
êxito na causa, o cliente não pode processar o advogado alegando que o
causídico não ganhou a causa, nem pode deixar de pagá-lo. Nada impede, no
entanto, o acordo de cláusula quota litis no contrato de prestação de serviços,
ou seja, a remuneração do advogado dependerá de seu sucesso. Esta cláusula
deve ser por escrito e, na hipótese de sua adoção, os honorários devem ser
representados por pecúnia e, quando acrescidos dos honorários de
sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas em favor do
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cliente (art 50, Código de Ética e Disciplina da OAB).
Diz o artigo 48, do Código de Ética e Disciplina da OAB, que a prestação
de serviços profissionais por advogado será contratada, preferentemente, por
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escrito. Assim, o caráter do contrato de prestação de serviços é não solene, por
não exigir a lei forma específica.
É, no entanto, contrato bilateral e oneroso. Mas, pode ser feito a título de
gratuidade, conforme a advocacia pro bono, encontrada no artigo 30, Código
de Ética e Disciplina da OAB. Advocacia pro bono é aquela prestação gratuita,
eventual e voluntária de serviços jurídicos em favor de instituições sociais sem
fins econômicos ou em favor de pessoas naturais, sempre que os beneficiários
não puderem, sem prejuízo do próprio sustento, contratar advogado. Não deve
ser feita com fins político-partidários, nem com objetivo de angariar clientela.
Diz o artigo 9º da Código de Ética e Disciplina da OAB, que o advogado
deve ser claro quanto aos eventuais riscos da pretensão ao cliente, e as
possíveis conseqüências da demanda, pois atua como patrono da parte,
cumprindo a ele dar à causa a orientação que parecer melhor, sem se
subordinar às intenções contrárias do cliente, mas procurando sempre
esclarecê-lo, conforme as disposições do artigo 11 do mesmo código.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Diz o artigo 22 do Estatuto da Advocacia e da OAB (não confundir com o
Código de Ética e Disciplina da OAB), que a prestação de serviço profissional
assegura ao inscrito na OAB o direito aos honorários convencionados, aos
fixados por arbitramento e aos de sucumbência. Assim, o honorário é a forma
de remuneração do advogado, que se divide em:
a) Honorários convencionais – também chamados de honorários
contratuais. São aqueles fixados no contrato entre o advogado
e o cliente, sendo pago por este.
b) Honorários de sucumbência – são fixados pelo juiz e pagos
pela parte vencida.
Até 1994, o advogado precisava contratar expressamente
com o cliente que os honorários de sucumbência seriam seus.
Com a vigência do Estatuto da Advocacia e da OAB, em 1994,
agora, os honorários de sucumbência pertencem ao advogado
(art. 23, Estatuto da Advocacia e da OAB). De tal modo, a falta 6
de acordo entre as partes, na omissão do cliente, o advogado
se beneficia. Ratificando essa posição, veio o artigo 85, caput,

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NCPC, que afirma que “A sentença condenará o vencido a
pagar honorários ao advogado do vencedor.”
Ressalta-se que na hipótese de falecimento ou
incapacidade civil do advogado, os honorários de
sucumbência são recebidos por seus sucessores ou
representantes legais (art 24, §2º Estatuto da Advocacia e da
OAB).
Se a sucumbência for devida pelo beneficiário de justiça
gratuita, ainda assim este deverá pagar os honorários
advocatícios, conforme o artigo 98, §2º, NCPC. No entanto, a
exigibilidade do pagamentos destes ficarão suspensos pelo
prazo de cinco anos a contar do trânsito em julgado da
sentença, ou, antes disso, cessando a situação de
hipossuficiência, conforme o disposto no artigo 98, §3º, NCPC.
c) Honorários por arbitramento (art. 22, §2º, Estatuto da
Advocacia e da OAB) – é uma subespécie do honorário
convencional, que se aplica quando há divergência entre os
contratantes, principalmente se o contrato é verbal.
A ação de arbitramento será movida autonomamente para
que se torne líquido o valor da remuneração, sendo o árbitro,
geralmente, um juiz mais experiente.
Tal ação nasce em decorrência de uma maior fragilidade
quanto ao crédito do advogado, pois sua natureza é
constitutiva e tem capacidade executória.
Se o direito do advogado for menos frágil e mais sólido,
pode entrar com uma ação de cobrança, cuja natureza é
condenatória.
A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que
o estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência,
concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial,
conforme artigo 24 Estatuto da Advocacia e da OAB.
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Ademais, o acordo feito pelo cliente do advogado e a parte contrária,
salvo aquiescência do profissional, não lhe prejudica os honorários, quer os

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convencionados, quer os concedidos por sentença (art 24, §5º Estatuto da
Advocacia e da OAB).

MANDATO E PROCURAÇÃO
O mandato é um instrumento ao que foi acordado no contrato de
prestação de serviço, já que ninguém outorga poderes sem algum motivo
concreto. Assim, o advogado é, concomitantemente, um mandatário e um
prestador de serviços.
O vínculo jurídico é de mandato, um contrato típico no Código Civil. O
mandato implica na representação, que é o objeto do mandato. A procuração
nada mais é que a materialização documental do mandato, ou seja, enquanto o
mandato é a relação jurídica, a procuração é sua instrumentalização.
Quanto à representação, esta é gênero, cujas espécies são:
a) Representação legal – decorrente da lei, como é com os pais e filhos
b) Representação judicial – decorrente de uma sentença, como é o
caso do inventariante
c) Representação convencional/contratual – decorrente do contrato de
mandato

MANDATO JUDICIAL E MANDATO EXTRAJUDICIAL


O mandato judicial é o outorgado a pessoa legalmente habilitada, para a
defesa de direitos e interesses em juízo, o qual, conforme o artigo 692, CC, fica
subordinado às normas que lhe dizem respeito, constantes na legislação
processual, e, de modo supletivo, o Código Civil. A cláusula usada aqui é a
cláusula que outorga poderes para o foro geral, ou seja, ad judicia.
O mandato extrajudicial é aquele que permite ao mandatário exercer os
atos da vida civil, não se destinando à atividade postulatória. A cláusula da
procuração será ad negotia.

PROCURAÇÃO
O mandato extrajudicial não exige requisito formal para a sua validade,
nem para a sua prova, podendo ser tácito ou expresso, verbal ou escrito.
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Esta regra, no entanto, em face dos artigos 104 e 105, NCPC, não se
aplica à procuração ad judicia, pois quando o ato deve ser praticado por escrito
(como é o caso das petições), não pode o mandato ser verbal (art. 657, CC).

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Ademais, a atuação do advogado demanda a procuração, de modo que
a ausência deste instrumento acarreta a não habilitação do advogado, salvo
nas hipóteses de preclusão, decadência, prescrição do direito ou na urgência
da prática do ato. Nesses casos, o advogado deve comprovar as hipóteses
objetivas indicadas na lei e justificar a urgência que dispensa a apresentação
de procuração da prática do ato processual.

FORMA DO MANDATO JUDICIAL


MANDATO VERBAL OU MANDATO ESCRITO?
Diz o artigo 657, CC:
“A outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a
ser praticado. Não se admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado
por escrito.”
Assim, o verbal só vale nos casos em que não se exija o escrito.
O mandato escrito é, então, o mais comum, e o único admitido para a
representação em juízo.

INSTRUMENTO PARTICULAR OU INSTRUMENTO PÚBLICO?


Deverá ser outorgado por instrumento público quando a lei assim o
exigir, ou quando o negócio também for de natureza pública.
Em regra, utiliza-se do instrumento particular, o qual pode ser dado por
todas as pessoas capazes e tem validade desde que tenha a assinatura do
outorgante (art. 654, CC).

RECONHECIMENTO DE FIRMA
Até 1994, era imprescindível o reconhecimento de firma. O entendimento
jurisprudencial, no entanto, mudou. Agora não se faz mais necessário o
reconhecimento de firma na procuração de cláusula ad judicia, a não ser para
os demais poderes, vez que são questões de direito material. Nos casos de
procedimento administrativo, também se exige o reconhecimento de firma.

SUJEITOS DO CONTRATO
Geralmente, só há, em evidência, a relação entre mandante-mandatário.
Todavia, implicitamente, há a presença de um terceiro, em face de quem a 9
representação ocorrerá. No caso da procuração ad judicia, o mandante será o
cliente, o mandatário o advogado e o terceiro perante quem os atos serão
praticados será o juiz.
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PODERES E FINALIDADE
Poderes e finalidade são conceitos distintos.
A finalidade é para que serve ou vai servir a procuração. Por exemplo,
comprar e vender o imóvel, casar, etc. No caso da procuração ad judicia, a
finalidade é representar em juízo.
Os poderes são os atos que o mandatário pode executar para poder
chegar à finalidade desejada. Os poderes dividem-se em poderes gerais e
especiais. Os poderes gerais são os poderes de administração (encontrados,
principalmente, nas procurações ad negotia) e os poderes da cláusula geral
para o foro (cláusula ad judicia), encontrados no artigo 105, CPC, e são
específicos da procuração ad judicia.
Certos atos demandam poderes especiais dados pelo mandante ao
mandatário (receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido,
transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber,
dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência
econômica), demandando de cláusula específica.

SUBSTABELECIMENTO
Embora o mandato tenha natureza personalíssima, inexiste impedimento
a que o mandatário se valha se auxiliares, ou que transfira a outrem os poderes
recebidos do mandante. Esse ato de transferência é chamado de
substabelecimento. O substabelecimento pode ser feito por instrumento
particular, mesmo que a procuração originária seja feita por instrumento
público.
Pertencente ao instituto da cessão contratual (natureza jurídica), o
substabelecimento trata de uma variação específica do contrato, em que tal
cessão contratual se dará na posição contratual do mandatário, e poderá
ensejar até mesmo o desligamento do advogado, no caso de
substabelecimento sem reservas de poderes.
O mandatário que substabelecer será chamado de substabelecente,
enquanto o terceiro que receber poderes será conhecido por substabelecido.
O instituto do substabelecimento pode ser proibido na procuração.
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O substabelecimento pode ser com reserva de poderes ou sem reserva
de poderes.

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Quando for com reserva de poderes, o mandatário transferirá os poderes
que recebeu, mas ainda assim os terá, ou seja, não estará abrindo mão deles,
permanecendo diretamente vinculado ao contrato. Trata-se de um instrumento
de agilidade, e nessa toada, pode ser destinado à produção de apenas um ato
dentro do processo. O substabelecente só pode entregar os poderes que tem,
mas nunca poderá dar mais poderes ao advogado substabelecido. Diz o artigo
26 do Código de Ética e Disciplina da OAB, que o substabelecimento com
reserva de poderes é ato pessoal do advogado da causa. No §2º desse mesmo
dispositivo, afirma-se que o substabelecido, nesse caso, deve ajustar
antecipadamente seus honorários com o substabelecente.
Quando for ser reserva de poderes, implicará o substabelecimento na
saída do antigo advogado do processo, de modo que seja uma medida que
demanda negociação entre o advogado, cliente e o novo advogado. Implica na
continuidade do mandato original que deu origem à transferência de poderes.
O substabelecimento sem reservas de poderes é uma medida bem mais
econômica, pois tem a mesma natureza que a renúncia tem, mas é automático.
No caso da renúncia, o advogado continua responsável pelo processo durante
10 dias ainda.
Tanto o substabelecente, quanto o substabelecido podem juntar o
substabelecimento sem reservas. No entanto, o mais indicado é que o
substabelecido o junte, pois a aceitação do mandato é mostrada pela
manifestação de vontade. A juntada pelo substabelecido demonstra a vontade
deste em começar a representar a parte em juízo. Se quem juntar for o
substabelecente, ainda não se caracterizou a aceitação do substabelecido, e
assim fica até que pratique este algum ato.
Se o substabelecente estiver com a inscrição na OAB suspensa e
substabelecer novo advogado, o substabelecimento pode ser válido, pois a
representação não é ato privativo de advogado, apenas a representação em
juízo.

NOVA PROCURAÇÃO DE MANDATO


A apresentação de nova procuração implica a revogação imediata da 11
procuração anterior, renunciado o mandante aos advogados anteriormente
constituídos.

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Em regra, essa conduta gera sanções administrativas ao novo
advogado, podendo ele até mesmo ser suspenso perante a OAB. No entanto, o
artigo 14 do Código de Ética e Disciplina da OAB afirma que embora o
advogado não deva aceitar procuração de quem já tenha patrono constituído,
ele o pode fazer por motivos plenamente justificáveis ou para adoção de
medidas judiciais urgentes ou inadiáveis.

EXTINÇÃO DO MANDATO
Diz o artigo 682, CC, que o mandato cessa:
“I - pela revogação ou pela renúncia;
II - pela morte ou interdição de uma das partes;
III - pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os
poderes, ou o mandatário para os exercer;
IV - pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio.”

REVOGAÇÃO E RENÚNCIA
A revogação é feita pelo mandante, enquanto a renúncia é feita pelo
mandatário. Dispõe o artigo 112, NCPC, que o advogado poderá renunciar ao
mandato a qualquer tempo, devendo provar que comunicou a renúncia ao
mandante, a fim de que este nomeie sucessor, devendo o mandatário
renunciante, durante os dez dias seguintes, representar o mandante, se for
necessário para lhe evitar prejuízo, e salvo se for substituído por novo
advogado (art. 5º, §3º, Estatuto da Advocacia e da OAB).
A renúncia ao mandato não exclui responsabilidade por danos
eventualmente causados ao cliente ou a terceiro (art. 16, §1º, Código de Ética
e Disciplina da OAB).
Quanto à revogação, esta na desobriga o cliente do pagamento das
verbas honorárias contratadas, assim como não retira o direito do advogado de
receber o quanto lhe seja devido em eventual verba honorária de sucumbência,
calculada proporcionalmente em face do serviço efetivamente prestado (art. 17,
Código de Ética e Disciplina da OAB). É sempre bom que a parte comunique a
revogação do mandato ao advogado anterior e obtenha uma declaração de que
já recebeu os honorários devidos. 12

Em ambos os casos, o terceiro deverá ser notificado. Se o instrumento


for público, geralmente notifica-se o tabelião.

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CLÁUSULA DE IRREVOGABILIDADE DO MANDATO
Diz o artigo 683, CC:
“Quando o mandato contiver a cláusula de irrevogabilidade e o
mandante o revogar, pagará perdas e danos.”
Em regra, não pode ter o mandato cláusula de irrevogabilidade, uma vez
que o mandato é uma relação de confiança entre o mandante e o mandatário,
salvo na hipótese em que os poderes do mandato são outorgados para o
interesse do mandatário, e não do mandante.
Assim, sempre que beneficiar o mandante, a cláusula de
irrevogabilidade não será eficaz. Assim, no mandato judicial nunca será eficaz
a cláusula de irrevogabilidade.

RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL


O processo é um instrumento útil ao direito material. Sem relação
jurídica, não há processo, sendo aquela prévia a este.
Se antes existia uma relação jurídica material (por exemplo, o dever de
indenizar), com o processo, surge uma nova relação jurídica, de cunho
processual, que subsiste à relação prévia. Ambas as relações existem até o fim
do processo.
Se o juiz não apreciar previamente a relação processual, não poderá
analisar a relação material. Por isso existe a fase de saneamento no processo.
Tal relação de direito processual é regida pelo direito público e introduz uma
nova parte à relação, o Estado, na figura do juiz.

TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO PRÉ-PROCESSUAL


No entanto, antes de levar ao conhecimento do Estado da existência de
uma lide, devem as partes tentar uma conciliação pré-processual, por ser mais
proveitosa às partes, não as desgastando, e dirimindo o clima de competição
entre as partes.
A existência de um acordo prévio entre as partes impede a lide, bem
como a falta de tentativa deste acordo prévio descaracteriza a lide (lide é 13

conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida, de modo que a


falta de acordo prévio demonstra que a pretensão não foi resistida). Assim, ir

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direto à via judicial descaracteriza a lide, fazendo com que o processo seja
extinto sem julgamento de mérito, pela falta de condições da ação (interesse de
agir).

TIPOS DE PROCESSO
Após a tentativa frustrada de acordo judicial deve-se escolher o tipo de
processo a ser usado. Na vigência do código antigo, existiam três tipos de
processos: de conhecimento, de execução e cautelar. O novo código trás
apenas os processos de conhecimento e execução, prevendo as tutelas
cautelares como incidentes do processo de conhecimento.

TIPOS DE PROCEDIMENTO
Após escolher o tipo de processo, deve-se definir o tipo de
procedimento. O procedimento subdivide-se em comum e especial. O
procedimento comum é residual. Então, para definir o procedimento a ser
utilizado, a análise sempre terá início pelos procedimentos especiais. Não
havendo previsão da tutela jurisdicional querida pelo procedimento especial,
usa-se o procedimento comum.
No antigo Código de Processo Civil, havia, no procedimento comum,
tanto o rito ordinário, quanto o rito sumário. O Novo Código de Processo Civil
unificou os ritos, havendo agora apenas o rito comum.

PROCESSO SINCRÉTICO
A tendência do NCPC é o sincretismo processual, ou seja, um único
processo que verse sobre as prestações jurisdicionais que as partes buscam,
pois a visão agora é a simplificação, a busca de uma prestação efetiva, e não
meramente a formalidade dos atos.

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