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II
Cala-se Flávia…
Ao longe, na alameda,
Cantam pavões, à luz da lua merencória…
E Salomé, cerrando as pálpebras de seda,
Adormece a pensar na sua glória…
A infanta sonha...
N’um perfumador,
Arde a mirra, e em seu fumo de safiras,
Passa o espectro da filha de Cíniras,
Que assim fala n’um ritmo embalador:
Salomé, assombrada,
Cerra as convulsas mãos, rasga os ricos vestidos,
Solta um ai, que reluz como desnuda espada,
E, açoitada p’la dor, cai no chão, sem sentidos…
III
IV
A princesa estremece:
«O que dizes, matá-lo?
«Fazê-lo mergulhar no enregelado sono?
«Oh! não… tomara eu, minha mãe, libertá-lo,
«Vesti-lo como um rei, sentá-lo sobre um trono!»
Eugénio de Castro, “Salomé”, Salomé e Outros Poemas. Coimbra: Livraria Moderna de Augusto
d’Oliveira - Editor, 1896.