Antitruste do CADE
Módulo
3 Benefícios do Programa de
Leniência Antitruste
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Conteudista/s
Amanda Athayde (conteudista, 2019)
Enap, 2019
Sugerimos que você veja o conteúdo dos módulos e responda às questões na ordem em que
estão dispostas. Você é livre para cursar os módulos na ordem que achar melhor - dentro do
período de duração do curso, mas as questões devem sempre ser respondidas para que você
possa avançar dentro de cada módulo. Tenha certeza de que fez tudo, módulos e questões, para
não ter problemas com a obtenção do certificado ao final do curso!
Lembrando: você navegará por todo o conteúdo e atividades em sequência, podendo avançar e/
ou retornar sempre que achar necessário.
Bons estudos!
Diante do fato de que o cartel é tanto um ilícito administrativo (art. 36, §3º, da Lei nº 12.529/2011)
quanto um ilícito criminal (art. 4º, II, da Lei nº 8.137/1990), o Programa de Leniência Antitruste
brasileiro oferece benefícios, tanto administrativos quanto criminais, aos infratores. Veja quais
são os benefícios administrativos.
Cartéis são reprimidos administrativamente pelo Cade, nos termos do artigo 36 da Lei nº
12.529/2011.
XVI - reter bens de produção ou de consumo, exceto para garantir a cobertura dos custos
de produção;
XVII - cessar parcial ou totalmente as atividades da empresa sem justa causa comprovada;
As penas aplicáveis aos infratores da Lei nº 12.529/2011 estão previstas nos artigos 37 e 38, de modo
que são, portanto, aplicáveis aos participantes de cartel ou de influência de conduta comercial
uniforme. Mas não só com multas se penaliza um infrator da Lei de Defesa da Concorrência no
Brasil, existem outras sanções que podem ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, na esfera
administrativa, conforme imagem abaixo.
Existe, porém, relevância na distinção entre Acordo de Leniência Antitruste Total e Acordo de
Leniência Antitruste Parcial.
O Acordo de Leniência Total consiste na hipótese de acordo em que há a extinção da ação punitiva
da administração pública, nos termos do artigo 86 da Lei nº 12.529/2011 junto com o artigo 208
do RICade.
Nesse caso, como a SG/Cade não tem “conhecimento prévio” da infração, a empresa e/ou pessoa
física automaticamente receberá, com a declaração de cumprimento do Acordo de Leniência
Saiba mais
O Guia do Programa de Leniência do Cade expõe o seguinte a respeito
da noção de “conhecimento prévio”: “Apesar de não haver, na legislação
brasileira, o conceito expresso de ‘conhecimento prévio’ da conduta pela
Superintendência-Geral do Cade, entende-se que o conhecimento prévio
apenas ocorre na hipótese de haver, à época da apresentação da proposta de
Acordo de Leniência, procedimento administrativo aberto (arts. 66 e 69 da
Lei nº 12.529/2011) com indícios razoáveis de prática anticompetitivas para
apurar a infração objeto da proposta de Acordo de Leniência. Representações
feitas por meio do ‘Clique Denúncia’, notícias na mídia ou informação sobre
a existência de investigação em outro órgão da Administração Pública ainda
não apuradas pelo Cade, dentre outras situações, em regra, não configuraram
‘conhecimento prévio’ por parte da Superintendência-Geral do Cade, exceto
se trouxerem elementos probatórios suficientes para ensejar a abertura de
procedimento administrativo”.
É aplicável em casos nos quais a SG/Cade já tinha conhecimento prévio da conduta, mas não
dispunha de “provas suficientes para assegurar a condenação dos proponentes”. Assim, a empresa
e/ou pessoa física poderá celebrar um Acordo de Leniência com benefícios parciais e receberá,
com a declaração de cumprimento do Acordo de Leniência pelo Plenário do Tribunal do Cade, o
benefício da redução de um a dois terços da penalidade aplicável, a depender da efetividade da
colaboração prestada e da boa-fé do infrator no cumprimento do Acordo de Leniência.
Resposta
Não há, no RICade ou no Guia do Programa de Leniência do Cade, previsão nesse
sentido. O Tribunal do Cade deve estar atento para manter a consistência interna
do Processo Administrativo e também a consistência externa do Programa de
Leniência. A fim de manter a consistência interna, o Tribunal não deve conceder
menores benefícios ao signatário do Acordo de Leniência Antitruste do que já foi
concedido a um compromissário em sede de TCC, por exemplo.
Se o caso foi oriundo, por exemplo, de um Acordo de Leniência Parcial e, após, foram celebrados
TCCs, sendo que o primeiro obteve um desconto de 50%, o Tribunal não deve conceder benefício
ao signatário que seja menor que este, sob pena de desincentivar futuras colaborações ao
Programa de Leniência.
Saiba mais
As regulamentações do Banco Central (BC) e da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) são interessantes e promovem a previsibilidade aos administrados
quanto ao que se considera ser “conhecimento prévio”. Ademais, o BC e a CVM
objetivam os critérios para a avaliação dessa margem de desconto no caso de
uma Leniência Parcial.
Por sua vez, a segunda alteração legislativa necessária diz respeito ao termo inicial de contagem
da prescrição. Nesse sentido, seria necessária uma alteração legislativa para estabelecer que o
termo inicial da prescrição seria a ciência inequívoca do ilícito concorrencial, que se daria no
momento do julgamento da infração pelo Tribunal do Cade.
Em 2016, foi apresentado ao Senado Federal o Projeto de Lei do Senado – PLS, nº 283/2016,
propondo alterações à Lei nº 12.529/2011, “para aprimorar o caráter dissuasório da multa
imposta pelo [Cade] em condenações de empresas por infrações à ordem econômica, estimular
o ajuizamento de ações privadas para cessação das infrações, bem como ressarcimento dos
danos dela decorrentes” O PLS propõe alterações ao artigo 37 e ao artigo 47, da Lei 12.529/2011.
A proposição foi aprovada no Senado e ganhou o número 11.275/2018 em sua tramitação na
Câmara dos Deputados, onde foi aprovada na Comissão de Desenvolvimento Econômico,
Indústria, Comércio e Serviço. Atualmente pende apreciação da Comissão de Constituição e
Justiça e de Cidadania.
Importante
Para compreender o assunto é importante que você faça uma leitura do item
4. Propostas regulamentares, legislativas e de advocacy na articulação entre as
persecuções pública e privada a condutas anticompetitivas no Brasil da Nota
Técnica nº 24/2016/CHEFIA GAB-SG/SG/CADE. Acesse a biblioteca do curso
para baixar o documento.