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cartilha “Tombamento participação

popular”

DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Tombamento: O que você precisa saber e entender

1. O que é tombamento?
O tombamento significa um conjunto de ações realizadas
pelo poder público com o objetivo de preservar, através da
aplicação de legislação específica, bens culturais de valor
histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de
valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser
demolidos, destruídos ou mutilados. O tombamento
municipal é regido pela Lei n0 10.032, de 27 de dezembro
de 1985, e pela Lei n0 10.236, de 16 de dezembro de 1986.

2. O que pode ser tombado?


O tombamento pode ser aplicado a bens móveis e imóveis,
quais sejam: acervos arquivísticos, livros, mobiliário, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas,
praças e bairros, ou seja, a quaisquer artefatos produzidos pela sociedade, desde um simples
documento até uma cidade. Atualmente, também estão sendo considerados passíveis de
preservação os chamados bens intangíveis, como festas e cultos.

3. O ato do tombamento é igual à desapropriação de um imóvel?


Não. São atos totalmente distintos. O tombamento não altera a propriedade de um bem; apenas
proíbe que venha a ser demolido ou mutilado.

4. Um bem tombado pode ser alugado ou vendido?


Sim. Desde que o bem tombado continue sendo preservado, não existe qualquer impedimento
para sua venda ou locação.

5. O tombamento preserva?
Sim. O tombamento é a primeira medida a ser tomada para a preservação dos bens culturais,
visto que impede juridicamente a sua destruição. Esta é uma questão polêmica, pois a
preservação somente torna-se visível para todos quando um bem cultural encontra-se em bom
estado de conservação, propiciando sua plena utilização.

6. O tombamento de edifícios ou bairros inteiros “congela” a cidade, impedindo sua


modernização?
Não. A proteção do patrimônio ambiental urbano está diretamente vinculada à melhoria da
qualidade de vida da população, pois a preservação da memória é uma demanda social tão
importante quanto qualquer outra atendida pelo serviço público. O tombamento não tem por
objetivo “engessar” ou “congelar” a cidade: esse termo, aliás, é um instrumento de pressão,
largamente utilizado para contrapor interesses individuais ao dever que o poder público tem em
direcionar as transformações urbanas necessárias. Tombar não significa cristalizar ou perpetuar
edifícios ou áreas urbanas, inviabilizando qualquer obra que venha contribuir para a melhoria da
cidade. Preservação e renovação são ações que se complementam e, juntas, podem revalorizar
imóveis ou bairros que se encontrem deteriorados.

7. O tombamento é um ato autoritário?


Não. Em primeiro lugar o tombamento, como qualquer outra lei, estabelece limites aos direitos
individuais, com o objetivo de resguardar e garantir direitos e interesses comuns do conjunto da
sociedade. A definição de critérios para intervenções físicas em bens culturais tombados objetiva
assegurar sua integridade, considerando-se o interesse da coletividade. Não é autoritário porque
sua aplicação é avaliada e deliberada por um conselho de representantes da sociedade civil e de
órgãos públicos, com poderes estabelecidos pelo Legislativo Municipal.

8. Qual é o órgão responsável pela preservação dos bens culturais paulistanos?


No âmbito municipal é o CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio
Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) que tem por atribuição deliberar sobre os
pedidos de tombamentos de bens culturais. Também o DPH (Departamento do Patrimônio
Histórico) tem essa atribuição na medida em que, além de ser o órgão técnico de apoio do
CONPRESP, mantém sob sua responsabilidade a salvaguarda de diversos acervos, como
edifícios, documentos, fotografias, mobiliário, obras de arte, etc.

9. Por que um edifício é tombado tanto pelo CONPRESP como pelo CONDEPHAAT, ou pelo
IPHAN?
De acordo com a Constituição Brasileira cabe concorrentemente às três esferas do governo a
proteção dos bens culturais. Assim, de acordo com a importância e representatividade de um
bem, este pode ser tombado no âmbito federal pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional), no estadual pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) e no municipal pelo
CONPRESP.
O reconhecimento da importância e do valor cultural de um bem por essas instituições depende
de suas características, sua história e do valor afetivo que apresenta, bem como dos critérios e
políticas de preservação, próprias a essas instâncias administrativas. As legislações municipal e
estadual prevêem, também, o chamado tombamento “ex-officio”, ou “de ofício”, que corresponde
a um reconhecimento obrigatório, de decisões de tombamento tomadas em outras esferas
administrativas, sem a necessidade dos estudos e discussões que se realizam nos
procedimentos comuns de tombamento. Ou seja, o município reconhece decisões de
tombamento efetuadas pelo Estado (CONDEPHAAT) e pelo Governo Federal (IPHAN); e o
Estado (CONDEPHAAT) reconhece aquelas tomadas pelo Governo Federal (IPHAN).

10. É possível a qualquer cidadão pedir o tombamento de um bem cultural?


Sim. Qualquer pessoa física ou jurídica pode pedir a preservação de bens culturais localizados no
Município de São Paulo. O pedido é feito por meio de correspondência endereçada à Presidência
do CONPRESP e deverá conter as seguintes informações:
- Endereço e localização do bem;
- Justificativa do pedido esclarecendo a importância da preservação do bem;
- Nome e endereço do interessado;
Caso seja possível, o interessado deverá indicar nome e endereço do proprietário e fornecer
documentação sobre o bem, tais como dados históricos, desenhos e fotografias. Esse material
facilitará a análise do pedido, agilizando a avaliação e deliberação do CONPRESP.

11. O que é um processo de tombamento?


O tombamento é uma ação que se inicia com o pedido de abertura de processo de tombamento,
por iniciativa de qualquer cidadão, do DPH e de qualquer membro do CONPRESP. Este pedido,
dependendo das informações disponíveis sobre o bem, poderá ou não ser preliminarmente
instruído pelo DPH. Após instrução preliminar, o pedido é submetido à deliberação do
CONPRESP. Se o Conselho considerar o bem cultural importante, expedirá uma resolução de
abertura de processo de tombamento. Nesta situação são proibidas as demolições e as reformas
sem prévia autorização do CONPRESP e do DPH.
Caso o CONPRESP delibere que o bem não apresenta interesse, o pedido de abertura de
processo de tombamento será arquivado.
Após a publicação da resolução de abertura de processo de tombamento, são realizados estudos
mais aprofundados sobre o bem para, então, o CONPRESP emitir a deliberação final pelo
tombamento ou arquivamento do processo.
12. Qualquer pessoa pode opinar sobre um processo de tombamento?
Sim. O interessado deverá encaminhar seu parecer através de correspondência para a
Presidência do CONPRESP. Todos os documentos e pareceres serão anexados ao processo
administrativo de tombamento para análise, tanto do DPH, como do CONPRESP.

13. Existem prazos determinados para a deliberação final de um processo de tombamento?


Não. Por tratar-se de uma decisão importante e criteriosa, muitos estudos devem ser realizados
para a instrução do processo e, conforme sua complexidade, cada caso demandará prazos
diferenciados.

14. Por que muitos edifícios tombados podem ser totalmente reformados internamente?
Porque na decisão final de tombamento são estabelecidos níveis de preservação para bens
arquitetônicos. De acordo com a importância, estado de conservação e grau de alteração de um
edifício, na resolução final pode estar indicado que o imóvel deve ser preservado integralmente,
ou seja, interna e externamente, ou parcialmente, preservando-se, por exemplo, somente suas
fachadas e cobertura.
Existem casos em que a importância do edifício está apenas em sua volumetria, qual seja,
implantação e gabarito de altura. Por exemplo, no caso do tombamento dos bairros projetados
pela Cia. City (como o Pacaembú), o tombamento foi aplicado nas áreas verdes e permeáveis, na
vegetação de porte arbóreo e na densidade construída das edificações. Portanto, alguns edifícios
podem até ser demolidos, mas a nova construção deverá respeitar o padrão urbanístico
estabelecido na resolução de tombamento.

15. O que é área ou espaço envoltório de um bem tombado?


Na resolução final de tombamento, o CONPRESP também aprova um perímetro em torno do bem
tombado, delimitado para propiciar a proteção de sua ambiência. No caso do CONPRESP, essa
área, denominada de espaço envoltório ou área envoltória, é definida caso a caso; em algumas
situações, pode se limitar ao próprio lote do edifício tombado.
Toda e qualquer intervenção que venha a ser feita dentro desse perímetro, como novas
construções, reformas, demolições, instalação de anúncios, colocação de mobiliário urbano,
dentre outras, deverá ser previamente aprovada. No caso dos bens tombados pelo
CONDEPHAAT essa área de proteção é delimitada por um raio de 300 metros em torno do bem
tombado, salvo quando a resolução de tombamento definir outro critério.

16. Um imóvel tombado ou em processo de tombamento pode ser reformado?


Sim. Toda e qualquer obra deverá ser previamente analisada pelo DPH e CONPRESP. A
aprovação depende do nível de preservação do bem e está sempre vinculada à obrigatoriedade
de serem preservadas as características construtivas que justificaram seu tombamento. O DPH
fornece, gratuitamente, assessoria aos interessados em restaurar ou conservar edificações
tombadas.

17. Um imóvel tombado pode mudar de uso?


Sim. O que será considerada, para aprovação dessa mudança, é a adequação entre a
preservação das características do edifício e as adaptações necessárias ao novo uso.

18. Como um interessado deve pedir a aprovação de obras em imóvel protegido?


Inicialmente o interessado deve informar-se no CONPRESP ou DPH quanto à proteção legal
incidente no imóvel, às diretrizes de preservação definidas na resolução de tombamento desse
bem e à documentação necessária para a análise do projeto e emissão de parecer técnico. Além
disso, se o bem for protegido pelo CONDEPHAAT ou pelo IPHAN, também deverá solicitar prévia
aprovação dessas intervenções nesses órgãos.

19. Caso sejam realizadas obras em um bem protegido sem prévia autorização, haverá
alguma penalidade?
Sim. Além das penalidades previstas na legislação edilícia, o responsável pelo imóvel protegido,
seja tombado, em processo de tombamento ou localizado em área de proteção do bem tombado,
pode sofrer as sanções previstas na Lei n0 10.032/85, que criou o CONPRESP, bem como as
penalidades previstas em outros instrumentos legais aplicáveis à preservação do patrimônio
cultural.

20. Qual é o órgão responsável pela aplicação de multas e interdição de obras irregulares?
No caso da Prefeitura do Município de São Paulo a aplicação de multas e a interdição de obras é
feita através das Administrações Regionais. O DPH realiza vistorias em bens protegidos mas,
para interceder na execução de obras irregulares, deve acionar as Administrações Regionais.

21. Qualquer pessoa pode denunciar a existência de obras irregulares em bens


protegidos?
Sim. A experiência demonstra que a população tem sido a mais eficiente fiscal da preservação
dos bens culturais paulistanos. Quando qualquer pessoa tiver conhecimento da execução de
demolições e obras irregulares em bens protegidos deverá comunicar o fato à Administração
Regional, ao DPH, ao Ministério Público, bem como à Delegacia de Policia Civil.

22. O custo de uma obra de restauração e conservação é elevado?


Não. O termo restauração é utilizado para denominar qualquer obra executada em edifício
histórico, tombado ou não. Na maioria dos casos, o custo de uma obra de conservação é
semelhante a qualquer obra convencional, utilizando-se inclusive a mesma mão-de-obra e
materiais construtivos.
Obras de conservação e restauração tornam-se onerosas quando o imóvel encontra-se em
péssimo estado de conservação. Outra situação é a dos edifícios que contém muitos elementos
decorativos e artísticos e técnica construtiva excepcional, o que requer mão-de-obra
especializada, elevando o custo dos serviços. Contudo, esses exemplares são raros e
correspondem, geralmente, a edifícios públicos.

23. Existe algum incentivo fiscal para proprietários de bens tombados?


Sim. No âmbito municipal, foi instituída legislação que estabelece isenções do IPTU (Imposto
Predial e Territorial Urbano) para os imóveis que forem restaurados. As chamadas “Operações
Urbanas” também dispõem de mecanismo, como a possibilidade de venda do potencial
construtivo excedente, cujos recursos devem ser destinados à execução de obras de restauro.
Além desses mecanismos, existe ainda a chamada Lei Mendonça, de incentivo a projetos
culturais no âmbito municipal, e a Lei Rouanet no âmbito federal. O DPH oferece informações
sobre os procedimentos a serem adotados para a obtenção desses incentivos.

Estas perguntas e respostas não esgotam a discussão sobre o tombamento.


Somente com a efetiva participação da população é que o objetivo da preservação dos bens de
valor cultural será alcançado.
O CONPRESP e o DPH estão à disposição para maiores esclarecimentos sobre estas e outras
questões relativas à política de preservação do nosso patrimônio cultural.

DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Etapas do Processo de Tombamento

1. O pedido de abertura do processo de tombamento deve ser feito através de uma carta dirigida
à Presidência do CONPRESP, contendo a localização do bem e justificativa do pedido. Se
possível deverá ser encaminhada documentação sobre o bem, tais como dados históricos,
fotografias, plantas, etc. Esta documentação auxilia a análise do pedido.

2. O interessado deve protocolar o pedido junto ao CONPRESP.


3. Este pedido será previamente analisado pelo DPH que encaminhará o material para suas três
divisões técnicas. A Divisão Técnica do Arquivo Histórico trata dos documentos textuais, a
Divisão Técnica de Iconografia a Museus trata dos bens móveis históricos e do patrimônio
iconográfico, e a Divisão Técnica de Preservação trata do patrimônio ambiental urbano.

4. Após análise do pedido pelo DPH, este é encaminhado ao CONPRESP para deliberação sobre
a abertura do processo de tombamento.

5. Recebido pela Presidência, o pedido é encaminhado a um dos conselheiros para que seja
relatado.

6. Após relato do conselheiro, caso a documentação seja suficiente, o pedido de abertura de


processo de tombamento é votado pelo Conselho. A votação tem que se dar em reunião com a
presença de maioria dos representantes.

7. Caso o CONPRESP delibere contrariamente pela abertura de processo de tombamento, o


pedido inicial será arquivado.

8. Caso o CONPRESP delibere favoravelmente pela abertura de processo de tombamento, esta


resolução será publicada no Diário Oficial do Município e em jornal de grande circulação. Além
disso, o proprietário do bem e o interessado são notificados. A partir desse momento o bem já
está protegido legalmente.

9. Após deliberação, o pedido é autuado e torna?se um processo. É encaminhado novamente


para o DPH que, através de suas divisões técnicas, deverá aprofundar os estudos e pesquisas
sobre o bem.

10. A instrução final do processo de tombamento corresponde à fase de estudos mais detalhados
e definidores dos valores do bem a ser preservado. No caso de imóveis, são definidos os níveis
de preservação; um edifício pode ser tombado na sua totalidade ou parcialmente. Nesta fase
define?se, também, a área envoltória do bem, delimitada por um perímetro de proteção de sua
ambiência. Os imóveis localizados nesta área deverão receber autorização para execução de
obras.

11. O processo contendo a instrução final é encaminhado novamente para a Presidência do


CONPRESP que, por sua vez, designa um conselheiro relator.

12. Após o relato, se todos os estudos já forem suficientes, o processo é colocado em votação
para deliberação final. Nesta reunião devem estar presentes a maioria dos conselheiros.

13. Caso o CONPRESP delibere contra o tombamento, o processo é arquivado.

14. Caso o CONPRESP delibere a favor do tombamento definitivo, esta resolução é publicada em
forma de edital no Diário Oficial do Município e em jornal de grande circulação. Os proprietários
do bem e o interessado pelo pedido inicial também serão notificados.

Maiores informações sobre o procedimento adotado poderão ser obtidas junto à Secretaria
Executiva do CONPRESP, à Praça Coronel Fernando Prestes, 152, bairro da Luz, São Paulo/SP,
CEP 01124-060, ou pelo telefone (11) 3326-2490.

TOMBAMENTO E PARTICIPAÇÃO POPULAR

Segunda Edição - SÃO PAULO / 2001


PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA
DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
CONPRESP
Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo

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