Você está na página 1de 7

\\\

Proc.n.07902011499-1.
Primeira Vara de Fazenda Pública da Comarca de Contagem.
Embargos à Execução.
Embargante: Pirata Indústria e Comércio de Produtos Alimentícios Ltda.
Embargada: Fazenda Pública Nacional.

Vistos etc.,·

• I - RELATÓRIO.

Pirata Indústria e Comércio de Produtos Alimentícios


Ltda., devidamente qualificada, através de advogado constituído, interpôs os
presentes embargos à execução que lhe move a Fazenda Pública Nacional.

Aduz, preliminarmente, ser inexigível o título executivo, eis


que do mesmo não consta a forma de cálculo dos juros e demais encargos,
conforme exige o art. 202, inciso II, do CTN e inciso II, parágrafo 5°, do art. 2º
da Lei n. 6.830/80.

Afirma, ainda, que a taxa SELIC é taxa remuneratória e não (/J1


índice de atualização do poder aquisitivo, não podendo, por isso, ser considerada

• para nortear os juros em débito fiscal.

Assevera que o crédito tributário em comento foi apurado de


forma ilegal e arbitrária, não tendo o Fisco formalizado o necessário Processo
Tributário Administrativo.

Diz, mais, que a declaração feita àtravés da DCTF não se


·confunde com o lançamento mencionado no art. 147, do CTN.

Assevera, ainda que o sócio da Embargante é parte ilegítima


para figurar no pólo passivo da ação executiva.

Alega ser ilegal a cobrança dos valores estipulados pelo


Decreto-Lei n. 1.025/69.

Cód. 10.30.570-0
1
Cód. 10.25.097-2

Assinado eletronicamente por: PATRICIA DUMONT - 09/04/2021 11:41:47 Num. 500550887 - Pág. 144
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21040911414695700000494849077
Número do documento: 21040911414695700000494849077
,-------------

Por fim, afinna ter havido denúncia espontânea, motivo pelo


qual a multa não pode ser exigida. E ainda que assim não fosse, o valor da multa
é exorbitante e, por isso, possui contornos de confisco, o que é vedado.

Cita entendimentos jurisprudencíais e doutrinários e pede a


procedência dos embargos para a desconstituição da CDA em execução ou, se
assim não for entendido, sejam decotados a multa e os juros calculados com
suporte na taxa SELIC.

Com a inicial vieram os documentos de fls. 19/35.

• A Fazenda Pública, através da impugnação de fls. 38/44, aduz


que, ao contrário do que foi afirmado, da CDA consta a fonna de calcular os
juros e demais encargos.

Quanto aos juros, afirma que não há empecilho legal para a


sua contagem com base na taxa denominada SELIC, já que tal procedimento
encontra respaldo no art. 13, da Lei 9.065/95, e no art. 161, § lº, do Código
Tributário Nacional.

Diz que a multa aplicada observou o regulamento legal e, por


isso, não pode ser reduzida, não apresentando, por conseqüência, qualquer
caráter de confisco.


Pede a improcedência dos embargos .

Nova manifestação da Embargante às fls. 46/50, reiterando as


alegações iniciais.

A Embargante protestou pela produção de prova pericial


contábil a fim de verificar a exatidão da cobrança dos valores consignados na
CD~ bem como pela juntada do PTA (fl. 54).

A Fazenda Pública pediu o julgamento antecipado do feito.

Designada data para a apresentação do PTA, a Embargante


não compareceu ao ato (fl. 158).

2
Cód. 10.30.570-0
Cód. 10.25.097-2

Assinado eletronicamente por: PATRICIA DUMONT - 09/04/2021 11:41:47 Num. 500550887 - Pág. 145
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21040911414695700000494849077
Número do documento: 21040911414695700000494849077
A Embargante desistiu da produção da prova teeestemunhal .
(fl. 67).

Do necessário, é o relatório.

DECIDO.

II - FUNDAMENTOS DE FATO E DE DIREITO.

1. ·A Certidão de Dívida Ativa que instrui a inicial contém todos ·


os requisitos formais ·exigidos pelo art. 202 do CTN, necessários para.identificar
a exigência tributária e para · propiciar meios ·à Executada/Embargante de
defender-se. Ao contrário do que foi afirmado, da e.D.A. em execução consta o
valor originário da dívida e a forma de cálculo dos juros e . demais encargos,
bastando para tal conclusão QIIl rápido exame do conteúdo da parte firial do
documento de fl. 04, dos autos da execução.

Com estes argumentos, rejeito a preliminar.

2. Chamada· a comprovar a alegação de supressão do Processo


Tributário Administrativo, a Embargante quedou-se· inerte. Assim, deve
prevalecer a presunção de certeza e liquidez de que goza a dívida ativa -~
regularmente inscrita, tal como dispõe o art. 3°, da LEF.. /JI

• Daí porque também não merece prosperar a preliminar através


da qual a Embargante pretende a nulidade da CDA em função da ausência do
· Procedimento Tributário Administrativo.

3. No mérito, melhor sorte não cabe à Embargante.

De acordo com o disposto no art. 161 do Código Tributário


Nacional (Lei n. 5 .172/66), se o crédito tributário Iião for pago no vencimento,
· será acrescido de juros de mora, se a lei não dispuser de modo diverso, à taxa
de um por cento ao mês.

Dispondo de modo diverso do que consta no art. 161, do


CTN, como permite seu parágrafo primeiro, com base na Lei Federal n. 9.065/95
(art. 13), a União Federal determinou incidir sobre os débitos fiscais em atraso,

Cód.1g,~.. ~.570·0

Assinado eletronicamente por: PATRICIA DUMONT - 09/04/2021 11:41:47 Num. 500550887 - Pág. 146
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21040911414695700000494849077
Número do documento: 21040911414695700000494849077
Óf:d. erf>d~igW.Lctãoo~~Pc.<acff&~ifMSS&yáf$i 5
.
< __
\ 2
,,,_,,,,,,')',!,'-,/;('>
Justiça de 1 ª Instância

juros computados com base na taxa referencial do Sistema


Liquidação e Custódia - SELIC.

Nenhuma ilegalidade ou irregularidade há, pois, na atitude da


Fazenda Nacional, que encontra pleno apoio nas normas citadas.

Os aspectos delineados na inicial dos embargos esbarram,


ainda, nas decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que
admitiram a taxa Selic como critério de cálculo dos juros moratórios incidentes
nos créditos e débitos tributários. Senão vejamos:

"FINSOCIAL - COMPENSAÇÃO - CORREÇÃO


MONETÁRIA - APLICAÇÃO TAXA SELIC.
Reconhecido o crédito, na sua devolução, deve
ser ele reajustado com os índices oficiais que reflitam a
verdadeira inflação do período. O índice a ser aplicado é o IPC
e, a partir da promulgação da Lei n. 8.177/91, o INPC.
Os juros da taxa SELIC são devidos nos
termos do parágrafo 4° do art. 39 da Lei n. 9.250/95, desde a
vigência dessa lei (1° de janeiro de 1996)" (R. Esp. 220364-SP,
Rel. Min. GARCIA VIEIRA).
4
E também não se pode dizer em ofensa ao disposto no art.
192, § 3º, da CF, que aliás já foi revogado pela Emenda Constitucional n. 40/03.

• É que tal dispositivo carecia de regulamentação, como reiteradamente vinha


decidindo o Eg. STF e estava inserido na Carta Magna no Capítulo IV, do Título
VII, que é destinado ao Sistema Financeiro Nacional, do qual não faz parte a
Fazenda Pública.

4. A Embargante diz ter feito uso do instituto denominado


denúncia espontânea, motivo pelo qual afirma ser indevida a multa exigida pela
Fazenda Nacional.

Ora, não se pode confundir lançamento por homologação com


denúncia espontânea.

4
Gód. 10.30.570-0
Cód. 10.25.097-2

Assinado eletronicamente por: PATRICIA DUMONT - 09/04/2021 11:41:47 Num. 500550887 - Pág. 147
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21040911414695700000494849077
Número do documento: 21040911414695700000494849077
"l5d. erpd~ig~{L'Páfl6>~~Q'dcP&~j~~yJi{SiS
.·· 'e
...~ .,,_c..-.;:~"t~i.Y'~.
Justiça de 1 a lnstanc1a

A denúncia espontânea mencionada no art. 138, do CTN,


pressupõe a existência de uma infração fiscal e sua comunicação ao Fisco,
acompanhado do recolhimento do tributo, antes da ação fiscal.

ln casu, ao apresentar ao Fisco a DCTF, a Embargante não


denunciou a prática de qualquer infração. Apenas cumpriu a obrigação que a
legislação tributária lhe impõe, de apurar o montante devido e informá-lo ao
Fisco. Tal procedimento, entretanto, veio desacompanhado do recolhimento do
tributo. E o não recolhimento do tributo a tempo e modo tem como conseqüência
a imposição da multa moratória, corretamente exigida pelo Fisco.

5. Não se pode dizer que a multa exigida pela Fazenda Nacional


tenha natureza confiscatória, já que a mesma se contém no limite legal e, por isso,
representa mera pena à inadimplência do contribuinte. E estando no limite legal, a
multa moratória é irredutível, uma vez que o Judiciário somente pode alterá-la
nos casos de haver violação do gabarito legal, ou para fazê-la conter-se nele.

A doutrina defende que a disposição contida no art. 150, IV,


da CF, não se aplica à multa moratória fiscal.

Segundo o ilustre tributarista ALIOMAR BALLEEIRO, " no


exame dos efeitos confiscatórios do tributo, deve ser feita abstração de multa e
juros acaso devidos. Sanções, de modo geral, desde a execução judicial até as
multas, especialmente em casos de cumulação, podem levar à perda substancial
do pátrimônio do contribuinte, sem ofensa ao direito". E continua o acatado
Autor: "Aliás, o art. 150, IV é dirigido ao legislador, o qual não pode criar
tributo excessivamente oneroso, expropriatório do patrimônio ou renda (ou de
sua fonte). Não impede, entretanto, a aplicação de sanções e a execução de
créditos. Não se pode abrigar no princípio que veda utilizar tributo com efeito
de confisco o contribuinte omisso que lesou o fisco, prejudicando os superiores
interesses da coletividade" ("Limitações Constituições ao Poder de Tributar",
Forense, 7ª ed., p. 579).

6. Deixo de conhecer da alegação de ilegitimidade do sócio da


Embargante para o pólo passivo da ação executiva, já que de acordo com o
disposto no art. 6º, do CPC, ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito
alheio.

5
Cód. 10.30.570-0
Cód. 10.25.097-2

Assinado eletronicamente por: PATRICIA DUMONT - 09/04/2021 11:41:47 Num. 500550887 - Pág. 148
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21040911414695700000494849077
Número do documento: 21040911414695700000494849077
7. Ao contrário do qrie defende a Embargante, não .há qualquer
restrição à cobrança do encargo previsto no Decreto-Lei n. 1.025/69, que se
destina ·ao custeio da arrecadação de receitas inscritas como Dívida Ativa da.
União, conforme art. 3° da Lei. nº 7.711/88, e não à remuneraç~o dos·
Procuradores da Fazenda Nacional.

Sobre o assunto, assim ficou decidido:

"TRIBUTÁRIO - EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL


PROVA PERICIAL - ENCARGO LEGAL :-- MULTA


JUROS - CDA - REQUISITOS LEGAIS - 1. A m_atéria
debatida nos autos é unicamente de Direito, sendo desnecessária
a produção de prova pericial. 2. A partir da: edição da Lei nº
7..711/88, o encargo previsto no art. 1º do Decreto-lei nº 1025/69
não possui natureza exclusivamente identificada com honorários
advocatícios, pois destina-se ao custeio da arrecadação de
receitas inscritas como Dívida Ativa da União, conforme art. 3º
da lei acima mencionada. Dessarte, o encargo é devido e seu
percentual não pode ser reduzido. 3. As multas são previstas na
legislação. Não pode o magistrado, baseado em critérios
subjetivos de justiça, reduzi-las ou suprimi-las. Elas tem . a . ;};.
finalidade de coagir o contribuinte ao recolhimento dos tributos / 11.
dentro do prazo legal. 4. A relação jurídica entre o Estado e o
contribuinte tem origem na própria soberania .do Estado.· São

• inaplicáveis, dessarte, as regras de direito privado, tais como a


multa prevista no Código de Defesa do Consumidor.. 5. É
inaplicável no caso o princípio constitucional da vedação ao
. confisco, pois este tem relação com os tributos ou contribuições e
não com as penalidades d~correntes da inadimplência, cujo
caráter agressivo tem por escopo compelir o contribuinte a
efetuar o recolhimento dentro do prazo legal e evitar que o
mesmo pratique atos lesivos à coletividade. São, igualmente,
inaplicáveis os princípios da capacidade contributiva e da
isonomia. 6. O percentual ·de juros aplicável é o previsto na
·legislação de regência. Em matéria tributária não há óbice à
capitalização dos juros. 7. Na execução fiscal, a multa moratória, ·
os juros de mora, a correção monetária e o encargo de .20o/o do .
Decreto-lei nº 1.025/69 não se excluem. A cumulação desses

6
Cód. 10.30.570-0
Cód. '10.25.097-2

Assinado eletronicamente por: PATRICIA DUMONT - 09/04/2021 11:41:47 Num. 500550887 - Pág. 149
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21040911414695700000494849077
Número do documento: 21040911414695700000494849077
- - .·. .. 1
,, •. - _ _ 1nas . era1s .· 1 /j" _ --, ·-

. -. Justiça de 1 ª Instância . · . - · ~l:f{,_1.J"b ~}'.=":}


--
. .
. ~~
~
·J
#

acréscimos· é permitida· pela_ legislação. 8. A. Certidão -de Dfv~


Ativa contém todos os requisitos exigidos pelo art. 202 do CTN e
pelo § 5º do art. 2º da Lei nº 6.830/80.· (TRF- 4ª R . - AC
2000.04.01.147474-9 - RS - 2ª T. - Reiª Julza Tanía Terezinha
Cardoso Escobar-Dfü 02.05.2001 ~ p. 400)

III - CONCLUSÃO.

Isso posto, julgo· improcedentes os presentes embargos e


condeno a Embargante ao pagamento de honorários advocatícios ao Patrono da
Fazenda Nacional, que com base no art. -20, §. 4º, do CPC, arbitro em doze. mil
reais (R$ 12.000,00)~ bem com às custas processuais.

P.R.I.

Contagem, 25. 03 .2004.

ireito

7
Cód. 10.30.570-0
Cód. 10.25.097-2

Assinado eletronicamente por: PATRICIA DUMONT - 09/04/2021 11:41:47 Num. 500550887 - Pág. 150
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21040911414695700000494849077
Número do documento: 21040911414695700000494849077

Você também pode gostar