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AULA SOBRE A AULA

Pierre Bourdieu

QUESTÕES E PONTOS PARA A DISCUSSÃO

TAKE 1

1. “Com que direito ‘ministrar’ uma aula qualquer e mesmo uma Aula Inaugural?

Como atua a instituição em relação a essa pergunta e a que fenômeno Bourdieu se refere
como relacionado a ela? (4)

2. Quais as funções sociais de uma Aula Inaugural (AI) como a que Bourdieu dirigiu? (4)

3. Sobre o que repousa a eficácia mágica do ritual da AI? (3-4)

4. Quais os efeitos da sociologia em relação às instituições e aos indivíduos que nela atuam?
(4)

5. Qual a propriedade da sociologia exercitada no jogo da aula sobre a aula proposto por
Bourdieu? (4)

6. Qual propriedade epistemológica é exercitada por Bourdieu na sua ‘Aula sobre a Aula’? (4)

7. Quais os efeitos de se entrar na sociologia, segundo Bourdieu? (5)

8.Como pode um sociólogo oriundo do que se chama ‘povo’, alçado ao que se chama ‘elite’
atingir a lucidez especial associada a qualquer desterritorialização social? (5)

9. Como Bourdieu contra-argumenta em relação à tese de que o(a) socióloga(o) teria como
obstáculo insuperável para a construção de uma abordagem cientifica sua inserção social? (5-
6)

10. O que Bourdieu sugere como necessário para o conhecimento das categorias impensadas
do pensamento? (6-7)

TAKE 2

1. O que Bourdieu quer dizer que fazemos sociologia em função de nossa formação e
contra ela? (6)
2. Qual a condição para que a história social da ciência social não funcione como um
supressor da História? (6)
3. Qual a proposta de Durkheim, apresentada em Evolução Pedagógica na França, e não
praticada pelo próprio? (7)
4. Quais os resultados do sono dogmático em relação a teóricos canônicos das ciências
sociais? (8)
5. Quando o sociólogo usurpa/assume as funções do rex arcaico? (9-10)
6. O que o sociólogo deve fazer com a luta pelo monopólio da representação legítima do
mundo social, pelas classificações? (11)
7. Em que se diferencia a classificação antropológica das taxonomias zoológicas ou
botânicas? (11)
8. Comente a frase de Bourdieu: “o sociólogo é aquele que se esforça por dizer a verdade
das lutas que têm como objeto – entre outras coisas – a verdade” e apresente os
exemplos
 da divisão entre os afirmam e negam a existência de uma classe
 da atitude de Duby sobre o esquema das três ordens. (14-15)
9. O que Bourdieu quer dizer quando afirma que “à medida que a ciência social progride
e progride sua divulgação, os sociólogos devem esperar encontrar realizada a ciência
social do passado”? (16)
10. Os riscos de prescrição e de proscrição implicados na atividade de descrever
desempenhada pelo sociólogo dedicado e a comparação dessa atividade quando
executada na linguagem ordinária. (16-17)
11. Os efeitos de enunciar uma lei social e de revelar os mecanismos de funcionamento
das sociedades (18-20)

TAKE 3

1. O campo científico e a tentação regalista e a dificuldade de escapar à lógica da luta na


qual cada um se faz sociólogo dos seus adversário e ideólogo de si mesmo (20-21)
2. A percepção do jogo
 objetos, bloqueios, as regras ou regularidades que lhe são próprias
 do ponto de vista como estratégia para romper a illusio que torna a
objetivação parcial
 O sistema de posições e as visões a partir delas possível
 Percepção das estratégias simbólicas destinadas a impor a verdade parcial de
um grupo como a verdade objetiva das relações entre grupos (21-22)
3. Deixar ignorado o jogo e o acordo entre concorrentes cúmplices para manter
mascarado o essencial – os interesses ligados ao fato de se participar do jogo (22-23)
4. A sociologia da ciência e a reflexão sore os determinantes sociais do pensamento
sociológico – a possibilidade da crítica que se pode fazer desses determinantes sobre a
prática do sociólogo e dos seus concorrentes (23)
5. A luta no campo científico e a posse de capital científico -as revoluções científicas não
são para os mais carentes desse capital (24)
6. Se há uma verdade é que a verdade é o resultado de lutas – nas quais se empregam as
armas da ciência para objetivar a ciência (25)
7. A quem interessa uma ciência autônoma do mundo social (que não é para os pobres
em capital científico)? (25)
8. Compreende-se que a existência da sociologia como disciplina científica seja
ameaçada sempre (26)
9. O peso das demandas sociais à sociologia – talvez o maior serviço que se pode prestar
à sociologia é não lhe pedir nada (27)
10. As gratificações do profetismo cotidiano – a ciência social só pode constituir-se
recusando a demanda social por legitimação ou manipulação (28)
11. Os que, por usurpação pretendem falar pelo povo – em seu favor ou em seu lugar –
falam para si mesmos (28)
12. A sociologia ensina a associar os atos e discursos considerados mais “puros” com suas
condições sociais de produção e aos interesses específicos de seus produtores (29)
13. A sociologia como arma de reflexividade da sociedade e dos agentes sociais – a
possibilidade de entender mais sobre o que são e o que fazem (30)
14. Muito do que os sociólogos trabalha para descobrir não está escondido – Lacan e a
carta roubada – mas está denegado (no sentido Freudiano) atendendo aos interesses
coletivos pela proteção do recalque, do desconhecimento (31)
15. Os exemplos: a relação entre preferências culturais e o nível de educação recebida; a
reação dos detentores do capital cultural ao verem reveladas as condições de
produção e de reprodução, os mitos do talento único/inato (31-32)
16. Kant: o conhecimento de si como a descida para o inferno (32)
17. Os adversários da sociologia podem achar que uma atividade que nega uma
denegação coletiva deve existir, mas não por duvidarem de sua cientificidade (33)
18. Não há demanda social pelo saber total/completo sobre o mundo social
19. Descartes, citado por Martial Guéroult: “vale mais ser menos alegre e ter mais
conhecimento” (34)
20. “A sociologia revela a mentira para si mesmo coletivamente empreendida e
encorajada e que em toda sociedade está no fundamento de todos os mais sagrados
valores e de toda a existência social” (34)
21. Mauss: “a sociedade sempre se paga com a moeda falsa do seu sonho” (34)
22. A sociologia como ciência iconoclasta que tem como tarefe revelar os mecanismos de
todas as formas de fetichismo (34)
 Aron e o exemplo da “religião secular” – o culto ao estado e seus ritos, o
nacionalismo e seus efeitos de racismo, xenofobia (Olimpíadas)(35)
 O culto à ciência e à arte – ídolos vicários – e a legitimação de uma ordem
social que distribui tão desigualmente o capital cultural (35)
23. Expectativa de que a ciência social faça recuar no mundo social a magia (35)

TAKE 4

1. A dificuldade particular da sociologia tornar-se uma ciência: nela a recusa do saber e a


ilusão do saber difundido coexistem perfeitamente entre os indivíduos da ciência e os
de fora dela (36)
2. Disposição crítica rigorosa para fazer face à névoa das palavras que se interpõe entre
pesquisadores e o mundo social (36-37)
3. As palavras dizem mais sobre as coisas do que sobre relações mais sobre os estados do
que sobre os processos (37)
4. A ilusão coisificante e a ilusão personalizante andam lado a lado (38)
5. A oposição entre o nominalismo que reduz as realidades sociais a artefatos teóricos
sem realidade objetiva e um realismo substancialista que reifica as abstrações (38)
6. É mais fácil tratar os fatos sociais como coisas do que como relações (39)
7. A proposta de superação da antítese entre a história infraestrutural e a história
factual; entre a macrossociologia e a microssociologia, entre os lentos e sutis
movimentos da infraestrutura econômica/demográfica e a agitação da superfície
registradas pelas crônicas do cotidiano da história política e artística (39-40)
8. O princípio da ação histórica não está nem na consciência, nem nas coisas, mas na
história encarnada nos corpos – sob a forma de sistemas de disposições duráveis que
chamo de habitus (41)
9. O corpo está no mundo social mas o mundo social está no corpo (41)
10. Para entender as séries de protagonistas em cada campo é necessário conhecer as
condições sociais de sua produção – de suas disposições duráveis (habitus) e por outro
lado a lógica específica de cada campo em que atuam (campo) (42)
11. Campos como configurações entre outras de uma estrutura de relações (43)
12. A sociologia como a arte de pensar coisas fenomenicamente diferentes como
semelhantes em sua estrutura e funcionamento e de transpor esquemas analíticos de
um campo para outro (44)
13. A indução teórica (diferente da indução empíica) como possibilidade de se apreender
um número cada vez mais vasto de fenômenos com um número cada vez mais
reduzido de conceitos e hipóteses teóricas (45)
14. O conceito de campo como uma proposta de ruptura com a representação realista que
tende a reduzir o efeito do meio ao efeito da ação direta que se efetua em uma
interação – pensar em termos de estrutura de relações para entender como os
indivíduos que se relacionam experimentam e significam as relações que estabelecem
(46)
15. Os erros da subjetivação de entidades coletivas como o estado, a burguesia, o
proletariado, a família, a escola etc. – Elias e o conceito de figuração, que pressupõe
um funcionamento que depende e transcende aos sujeitos que dela participam, em
agonística constante (47-48)
16. Os dominantes são mais a expressão do das forças imanentes dos campos do que os
que as produzem ou dirigem (49)
17. O sistema de posições , a designação dos lugares, das propriedades para os ocupar e as
relações de conflitos e concorrência que os opõem – a taxis (ordem instituída) e o
tagma (do grego, sistema de classificação ou agrupamento) (50)
18. Os campos sociais são campos de forças e de luta para transformá-los ou os conservar
(51)
19. Os campos só podem existir na medida em que se reproduza a crença no jogo neles
em curso e no investimento que os jogadores nele fazem – a adesão ao jogo, a illusio
(51)
20. A crença no jogo e seu poder de construção e sustentação dos sentidos do jogo – o
fetichismo que está na base de toda ação social (53)
21. O motor da ação está na relação entre habitus e o campo que se interdeterminam
(53)
22. Através dos jogos sociais que propõe o mundo social procura muito mais nos
jogadores – e, na verdade, outra coisa – que os objetivos aparente e os fins manifestos
da ação – a busca de uma missão social a ser cumprida por cada indivíduo – A DIVISÃO
DO TRABALHO SOCIAL (54)
23. As funções sociais são ficções sociais – a atribuição de um nome, de um título que
intima quem o recebe a neles se transformar (55)
24. Confúcio e o apelo ao respeito dos ritos institucionais de nomeação dos lugares sociais
que os indivíduos ocupam – que cada um se conforme com sua função na sociedade
(55)
25. A sociedade produz os atos e os atores como importantes para si mesmos e para os
outros e assim subtraídos à insignificância (57)
26. Jogo de palavras com o título do livro de Marx – A miséria da filosofia - a filosofia da
miséria e o espectro da morte simbólica, da insignificância social (Beckett) (57)
27. “Deus não é nada mais do que a sociedade” – depositária monopolista do poder de
consagrar, de subtrair à fatuidade, á contingência, ao absurdo. (558)
28. O julgamento dos outros como a possibilidade de salvação ou danação – é porque o
homem é um Deus para o homem que ele é o lobo para outro homem (Sartre e a frase
de entre quatro paredes – o inferno são os outros) (58)
29. Sociólogos quando adeptos de uma missão escatológica se tornam incapazes de
compreender
 A miséria dos homens sem qualidade sociais – os velhos abandonados à morte
social nos asilos, hospitais ou hospícios;
 A submissão silenciosa dos desempregados (e dos empregados);
 A violência dos adolescentes como forma de adquirir identidade social (a
ostentação da marginalidade)
 O poder exorbitante das bugigangas simbólicas – condecorações, medalhas,
cruzes, títulos, missões, vocações ministérios e magistérios
30. O que fazer com a visão lúcida da verdade de todas as missões e consagrações – jogar
o jogo com níveis diferentes de ilusões (60)
31. A aversão dos que têm algo a ver com o poder estabelecido à sociologia é porque ela
introduz uma certa liberdade em relação à conformidade
32. A insolência de uma aula sobre a aula:
 o potencial de quebra do encanto do charme da instância de consagração e do
ato de consagração por ela possibilitado
 chama a atenção para o fato de que o fazer puro e simples implica em
esquecer e fazer esquecer
 faz estremecer a crença que torna possível o funcionamento feliz da
instituição (61-62)
33. A liberdade em relação às instituições como condição sine qua non da sociologia,
definida como a ciência das instituições – uma ciência mal amada e sem garantias (62)
34. Paradoxos finais:
 A ciência da crença na ciência pressupõe a crença na ciência;
 Usar de uma posição de autoridade para dizer com autoridade o que é dizer
com autoridade
 Dar uma aula sobre a liberdade em relação a todas as aulas
35. O sociólogo que assume o risco de destruir o discreto véu de fé ou de má fé que
constitui o substrato obsceno de toda devoção institucional para universalizar a
liberdade em relação a qualquer instituição que a sociologia procura (63)
36. A fé na ciência que resulta em potencialização da liberdade em relação a
transcedências que o desconhecimento não para de criar (63)

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