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5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Psicologia escolar tem sua gênese advinda do surgimento da Psicologia


enquanto área de pesquisa e conhecimento com a prática profissional e produção de
conhecimento e também devido ao seu envolvimento com a Educação que se
passou a se configurar como um dos ramos da atuação do psicólogo. No entanto
ainda de mostra uma das áreas pouco escolhidas pelos psicólogos. Apesar da
extrema necessidade da inserção da Psicologia nas escolas.

O ato de aprender e ensinar são marcados por desejos dos sujeitos nele
envolvido, pelas teorias e práticas educativas referentes a esse ato, e é nas
relações desses sujeitos com seus desejos e nas suas inter-relações, dadas
a partir de um contexto social, em que ambos, psicólogos e pedagogos,
podem debruçar-se como educadores (SANTOS, BEZERRA e
TADEUCCI,2020).

Neste sentido o papel do psicólogo que ele vem desempenhando dentro


da profissão remete a uma abordagem de variados aspectos, e dentre estas
múltiplas áreas destacaremos a educação.
Desta forma se faz necessária uma avaliação histórica da abordagem da
Psicologia Escolar refletindo o processo de conceitualização destacando a área de
atuação e as funções a serem desenvolvidas pelos psicólogos nas áreas
educacionais.
Visando a construção de um conceito da Psicologia Escolar
destacaremos que segundo SANTOS e GONÇALVES apud MACHADO (2010):

“[...] compreende-se por Psicologia Escolar um campo de atuação do


psicólogo, caracterizado pela utilização da Psicologia no contexto escolar.
Tem o objetivo de contribuir para aperfeiçoar o processo educativo,
entendido como complexo processo de transmissão cultural e de espaço de
desenvolvimento da subjetividade foi feita, pois foge ao objetivo de analisar
a história do processo de organização profissional.

No Brasil a história da Psicologia Escolar por muitos anos concentrava-se


apenas aplicabilidade de testes psicológicos objetivando medir habilidades e
capacidades e nas tentativas de apontar uma possível patologia. Destacando neste
período uma grande preocupação com a quantificação dos fenômenos psíquicos.

Desta forma, no início do século passado o psicólogo escolar encontrava-


-se mensurando os fenômenos psíquicos junto aos laboratórios das escolas
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de educação e de filosofia (Bock, 2003; Guzzo, 2002; Marinho-Araújo &


Almeida, 2005; Patto, 1997; Souza, 2007). Sua atuação era
predominantemente associada à prática da psicometria e ao
desenvolvimento de intervenções clínicas individuais em instituições de
ensino. (PATIAS e ABAID, p.106,2014)

Conforme (PATIAS e ABAID) neste período os problemas escolares


tinham como o centro das causas o aluno e haviam uma ignorância aos fatores
externos tais como os fatores “sociais, econômicos, políticos, institucionais,
históricos e pedagógicos”. Sendo que o principal objetivo se limitava apenas a
resolver o tão “temido fracasso escolar”.
Nesse cenário a figura do psicólogo escolar se limitava “apenas um
psicometrista, que avaliava as crianças indicando em que áreas essas
apresentavam dificuldades”. Atuando apenas em cunho “clínico-terapêutico que
buscava “consertar” a criança e “adaptá-la” ao contexto escolar” (PATIAS e ABAID,
2014).
Assim neste período os laudos, testes e diagnósticos eram as principais
formas de trabalho utilizadas pelos psicólogos no ambiente escolar. Tais técnicas
limitavam o fracasso escolar apenas a figura do aluno:

Ao utilizar essas técnicas, muitas vezes o psicólogo acabava por tentar


corrigir o “aluno- -problema” (ou sua família), a fim de readaptá-lo ao
sistema escolar. Dessa forma, a responsabilidade pelas dificuldades que se
apresentavam no sistema educacional era sempre depositada no aluno e/ou
em sua família (PATIAS e ABAID,2014).

Para SANTOS e GONÇALVES (2006), por muitos anos a história da


Psicologia Escolar no nosso país se limitava ao “trabalho na aplicação de testes
psicológicos, com a finalidade de medir capacidades, habilidades e na identificação
de uma possível psicopatologia”. E que desde os tempos coloniais visava práticas
alternativas se articulando com a educação para auxiliar no processo educativo.
Entretanto muitos profissionais atuavam de maneira equivocada neste período:

[...]priorizando o foco na Psicopatologia Clínica, no aluno ou em sua família,


percebe-se que os profissionais da Educação (professores, supervisores
escolares, orientadores pedagógicos) e familiares não compreendem ou
ainda desconhecem o que faz o psicólogo escolar.

No contexto histórico a Psicologia Escola inicialmente visa “aplicar os


conhecimentos de psicologia aos problemas de aprendizagem e de comportamento
dos alunos, realizando um acompanhamento psicológico e vocacional, além do
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treinamento de professores”. E por muto tempo temos uma atuação limitante do


psicólogo no contexto escolar (PATIAS e ABAID, 2014):

De fato, por muito tempo o psicólogo inserido no contexto educacional


utilizou como principal ferramenta no contexto escolar os testes
psicológicos, com o intuito de medir as capacidades e habilidades dos
alunos e neles identificar possíveis problemas e psicopatologias.

Essa atuação limitante a medidas e diagnósticos clínicos foi motivos de


variadas críticas dentro e fora da Psicologia. Tal atuação não cabia mais no
ambiente escolar e em meados da década de 1980 efêmeras críticas foram
apresentadas a tal modelo e se fazia necessário mudanças na atuação da psicologia
educacional:
[...] pois elas apresentavam uma visão reducionista do indivíduo e dos
processos que ocorrem no contexto escolar/educacional. Por um lado, era
preciso conhecer e classificar o aluno para auxiliá-lo no melhor desempenho
da aprendizagem. Em contrapartida, era necessário ter em mente que os
problemas enfrentados pelo aluno na escola não decorriam exclusivamente
de fatores individuais ou de seu ambiente próximo. Era necessário
questionar processos, práticas, ideologias e questões políticas presentes no
contexto educacional e social que referendavam e contribuíam para o
desenvolvimento do fracasso escolar em certos grupos socioeconômicos e
culturais (PATIAS e ABAID, 2014 apud PATTO, 2004).

Neste contexto se faz necessário a figura do psicólogo incorporado no


ambiente escolar que busque o aprimoramento de suas práticas mediante
intervenções que atentem aos fatores sociais históricos, políticos e econômicos
culminando em uma contextualizada e ampla intervenção que abranjam os variados
atores envolvidos nos processos de aprendizagem.

Patto (1997, 2004), com suas ideias revolucionárias, apontou que a


Psicologia Escolar não poderia se ocupar mais com teorias e práticas
reprodutivas do status quo, sem considerar o papel social da escola na
formação do cidadão. Essa autora descreveu no livro “A produção do
Fracasso Escolar” como a Psicologia Escolar estava a serviço de uma
ideologia que servia para excluir e estigmatizar os indivíduos e suas
famílias, dividindo e classificando os alunos entre os que aprendiam e os
que não aprendiam. Essa divisão encontrava-se predominantemente
baseada na divisão de classes (PATIAS e ABAID, 2014 apud PATTO, 1997,
2004)

Sendo assim, à atuação do psicólogo escolar na equipe multidisciplinar é


indispensável, tendo em vista que embasa essa equipe com experiências e
conhecimentos científicos relacionados ao processo de aprendizagem do alunato.
Revelando que em muitas das vezes os déficits de aprendizagem são ocasionados
no âmbito familiar e por outras vezes na falta de uma base familiar sólida. Sendo
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necessário levar em consideração o relacionamento entre aluno e professor e


desenvolver estudos aprofundados pra resolução dos mais variados conflitos no
âmbito escolar e sem desconsiderar todos os fatores que externos que possam
afetar o processo de aprendizagem.
De acordo com SANTOS e GONÇALVES,2006 apud CASSINS, (2007) o
psicólogo escolar também atua nos conteúdos programáticos e seu desenvolvimento
em sala de aula:
[...]descreve que a atuação do psicólogo também visa subsidiar a
distribuição apropriada de conteúdos programáticos, que deve ser efetuada
de acordo com as fases de desenvolvimento dos alunos, seleção de
estratégias, apoio ao professor no trabalho com uma população
diversificada de alunos, desenvolvimento de técnicas inclusivas para alunos
com dificuldades de aprendizagem e/ou comportamentais, programas de
desenvolvimento de habilidades sociais e outras questões relevantes no
processo ensino-aprendizagem.

SANTOS e GONÇALVES,2006 apud ANTUNES (2008) confirmam a ideia


que “visualiza o psicólogo escolar, com a função de desenvolver, apoiar e promover
a utilização de instrumental adequado para o melhor aproveitamento acadêmico do
aluno”. Tal aproveitamento não se limita apenas ao plano escolar mais se permeia
de maneira principal no plano escolar pois “o psicólogo escolar desenvolve
atividades direcionadas com alunos, professores e funcionários”.
Visando assim uma atuação do psicólogo educacional em todo o contexto
educacional:
[...]o psicólogo deve formar parcerias com vários segmentos da escola: com
a coordenação, direção, professores, comunidade, familiares, profissionais
que acompanham os alunos fora do ambiente escolar. Buscando agir de
forma preventiva e a transformadora, que requer ajustes ou mudanças.
Desta forma agindo e contribuindo para o desenvolvimento cognitivo,
humano e social de toda a comunidade escolar (SANTOS e
GONÇALVES,p. 4, 2006).

A Psicologia Escolar foi reconhecida como uma especialidade pelo


Conselho Federal de Psicologia em 1992. Destacando um modelo atuante do
psicólogo nas instituições educacionais oportunizando a execução de pesquisas,
diagnóstico e intervenção preventiva ou corretiva, tanto em grupo, como de forma
individual (SANTOS e GONÇALVES, 2006).
Segundo (SANTOS e GONÇALVES, 2006 apud ANDALÓ,1984) o
ambiente escolar tem variadas funções e psicólogo escolar objetiva:

[...] desempenhar várias ações para o bem estar dos indivíduos imersos
nessa área. Dentre esses objetivos se destaca a prevenção do não
aprender e/ou ter dificuldades na aprendizagem; evitação e/ou fuga das
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atividades escolares; impossibilidade de promoção escolar; bem como


caráter de impedimento para que não ocorram questões problemáticas
envoltas nesse ambiente. Embora na prática exista uma grande quantidade
de conflitos e problemáticas nas instituições escolares.

Deste modo o psicólogo educacional é de extrema importância visando


contribuir para a construção do processo de educação. Contribuindo diretamente
para o desenvolvimento ético e a socialização do conhecimento histórico.
Colaborando ainda na detecção de problemas educacionais e problemas interpostos
nos próprios alunos e das relações advindas do ambiente escolar e permeadas por
diversos fatores externos.
Por fim diversos autores consideram que a Psicologia Escolar ou
Educacional se encontra em consolidação. E se faz necessário a utilização dos
conhecimentos advindos “da própria Psicologia, Educação, as Sociologia, a
Filosofia, etc., com vista a uma atuação que trabalhe com a complexidade
apresentada pelos processos de ensino-aprendizagem em suas dimensões
históricas e políticas. (SANTOS, BEZERRA e TADEUCCI,2010).
Assim o psicólogo escolar não visa trazer uma resposta pronta, acabada,
mas sim visa interação os demais atores para construir uma solução viável dentro do
contexto da Educação. E no decorrer desse processo o profissional necessita
desenvolver uma postura ética, criativa e crítica e aberto aos inúmeros desafios
advindos do contexto escolar. Se faz necessário que desde os anos iniciais da
graduação os profissionais da área de psicologia desenvolvam e promovam as
qualidades acimas mencionadas para que possam ofertar a sociedade escolar uma
melhor qualidade nos serviços profissionais desenvolvidos na comunidade escolar.

REFERÊNCIAS
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DIAS, Ana Cristina Garcia Dias; PATIAS, Naiana Dapieve e ABAID Josiane
Lieberknecht Wathier Psicologia Escolar e possibilidades na atuação do
psicólogo: Algumas reflexões Psicologia. Revista Quadrimestral da Associação
Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 18, Número 1,
Janeiro/Abril de 2014: p.105-111.Disponivel em: https:///www.scielo.br/scielo.php?
pid=S1413-
572014000100011&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em 27 agosto. 2021.

SANTOS, Evanice dos, BEZERRA, Maria do Socorro Pontes da Silva e TADEUCCI,


Marilsa de Sá Rodrigues. Educação: a importância do psicólogo no contexto
escolar Vale da Paraiba-SP: XIV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica
e X Encontro Latino Americano de Pós-Graduação, Anais p.19- 27, 2020.Disponível
em https:// www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2010/anais/arquivos/0071_0081_01.pdf
> Acesso em 27 agosto. 2021.

SANTOS, Jeovane Vieira dos e GONÇALVES, Charlisson Mendes Gonçalves.


Psicologia educacional: importância do psicólogo na escola Arquivo bras. Psic.
Rio de Janeiro.v.34, n.1, p.21-36.1982. Disponivel em:
<https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1045.pdf>
Acesso em 27 agosto. 2021.

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