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PREFÁCIO DE
João Pessoa - PB
2007
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SUMÁRIO
Apresentação .................................................................................................... 7
Prefácio ............................................................................................................... 9
Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins
***
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APRESENTAÇÃO
ste livro tem muitos significados, para cada um dos autores que
dele fazem parte. Para uns, o trabalho aqui apresentado é a
síntese de suas teses de Doutorado. Para outros, representa
somente o início de pesquisas que pretendem aprofundar. O livro é
também o resultado da consolidação de um grupo de pesquisas mas,
bem mais do que isso, em suas páginas se pode ver um pouco das
paixões que movem os historiadores que o escreveram. Economia,
política, administração, redes de poder local e arte fazem parte de um
mesmo mundo, e aqui aparecem amalgamados, tal como sempre
foram, tal como continuam a ser em nossos dias.
Dizer o que mais ao leitor? Que cada um dos artigos aqui reunidos
representa apenas parte das pesquisas que seus autores desenvolveram
nos últimos anos? Que se pretende que este livro seja apenas o primeiro
- dentre outros - organizado pelo Grupo de Pesquisas Estado e
Sociedade no Nordeste Colonial? Isso seria pouco. Queremos provocar
o leitor, fazer com que a dúvida histórica o motive a questionar as
idéias que cada um destes textos traz. Isso sim, é o que realmente
importa: sempre buscar o que ainda falta ser dito sobre cada um dos
temas que este livro reúne, dialogando, debatendo e construindo uma
paisagem possível de nossa História.
Que nossos leitores façam, conosco, o início deste percurso...
Os organizadores.
João Pessoa, abril de 2007.
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PREFÁCIO
OS BEM-VINDOS “NOVOS OLHARES
SOBRE AS CAPITANIAS DO NORTE
DO ESTADO DO BRASIL”
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Notas
1
Professor Emérito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Sócio Efetivo
do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica (IPGH), Sócio Efetivo do
Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP), Sócio Correspondente do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), do Instituto
Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP), do Instituto
Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL) e do Instituto Histórico e
Geográfico de São Paulo (IHGSP), Membro Efetivo da Academia Paraibana
de Filosofia (APF), Membro Efetivo da Academia Paraibana de Letras e Artes
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GUILHERME GOMES DA SILVEIRA D’AVILA LINS
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Capitão-Mor e Governador da Capitania, que recebeu o poder das mãos de
André de Albuquerque em sua gestão interina.
20
Que foi senhor de engenho na Paraíba e que solicitou sem sucesso o ofício de
Provedor da Fazenda de El-Rei na Paraíba.
21
Que logrou o mesmo ofício pretendido pelo anterior.
22
Primeiro Escrivão da Fazenda de El-Rei na Paraíba, denunciado à Inquisição
como bígamo, tanto ele quanto sua esposa.
23
Desafeto do anterior, que chegou a substituí-lo no mesmo ofício.
24
Que também ocupou temporariamente o mesmo ofício precedente.
25
Que recebeu a terceira carta de data em sesmaria da Paraíba e que foi Juiz
Ordinário da Câmara da Cidade.
26
Que foi Capitão do efêmero “forte das fronteiras” na Paraíba, ou seja, aquele
que dava proteção ao segundo engenho dessa terra que pertenceu a Diogo
Nunes Correia, engenho este denominado Santo André, possivelmente o
mesmo nome do forte que o protegia.
27
Que foi Vereador da Câmara da Cidade.
28
Que foi também Vereador da Câmara da Cidade.
29
Que foi Escrivão das Datas e Demarcações na Paraíba.
30
Que respondeu temporariamente pelo ofício de Escrivão das Datas e
Demarcações.
31
Que inicialmente foi Escrivão das Datas e Demarcações e a partir de 1597
passou a ser Capitão do forte do Cabedelo, até o ano de 1634. Todas as
informações constantes nestas notas são fruto de pesquisa do autor destas
linhas, em diversas fontes primárias.
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GUERRA E AÇÚCAR:
A FORMAÇÃO DA ELITE POLÍTICA NA
CAPITANIA DA PARAÍBA
(SÉCULOS XVI E XVII)
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alguns lugares e, sendo a terra tão grande e fértil (...), nem por isso vai
em aumento, antes em diminuição.
Disto dão alguns a culpa aos reis de Portugal, outros aos povoadores:
aos reis pelo pouco caso que hão feito deste tão grande estado, que nem o
título quiseram dele, pois, intitulando-se senhores de Guiné, por uma
caravelinha que lá vai e vem, como disse o rei do Congo, do Brasil não se
quiseram intitular; nem depois da morte de el-rei D. João III, que o
mandou povoar e soube estimá-lo, houve outro que dele curasse, senão
para colher as suas rendas e direitos”21.
O fato é que não apenas os problemas na península, mas também
as divergências entre os interesses da colônia, que podem ser entrevistos
nas queixas presentes nessas obras, e a política imperial metropolitana,
encontravam terreno fértil para a eclosão de conflitos em ambas as
margens do Atlântico; para não falar na guerra colonial, contra os
holandeses, que seria travada em todas as terras e mares onde o império
filipino se fizesse presente. A primeira guerra, de fato, mundial, no
dizer de Charles Boxer.
A distância física que separava metrópole e colônias, associada ao
grande número de burocratas e órgãos envolvidos na mediação entre
súditos e corte, tornava as situações de conflitos muito mais corriqueiras
nas áreas coloniais. No caso da organização e da realização das últimas
campanhas para a conquista do Paraíba, isso ficou bastante claro. A
conjunção das forças metropolitanas, que reunia soldados e autoridades
provenientes do reino (tanto espanholas quanto portuguesas),
autoridades coloniais (do Governo-Geral e das capitanias de
Pernambuco e Itamaracá), povoadores já estabelecidos nessas capitanias,
além de índios aldeiados e escravos (negros e índios), expressava bastante
claramente a divisão e a multiplicidade de interesses envolvidos na
empresa. Não poucas vezes, tais diferenças transformaram-se em
conflitos abertos que colocaram em risco o seu sucesso.
Em outubro de 1583, um apelo desesperado dos moradores de
Itamaracá e de Pernambuco chegou à Bahia, levado por Frutuoso
Barbosa. Depois do seu segundo fracasso, no ano anterior, a guerra
dos Potiguara havia chegado a um ponto em que o abandono da ilha
de Itamaracá parecia inevitável. As providências tomadas, então, pelo
governador Manoel Telles Barreto, foram, no geral, bastante eficazes e
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fazêl-os elle prover e aviar uns e outros; e era infinito isto, e ordenar o
necessário”. 46
A atividade mercantil era, sem dúvida, o principal negócio e a própria
razão de ser do império ultramarino português, e nela estavam
envolvidos inúmeros grupos, em maior ou menor escala, desde os
mercadores, especificamente, até membros da nobreza, do clero, das
corporações militares, além dos homens do mar, marinheiros e capitães
de navios. Na colônia, parcela da elite local e seus agregados e
descendentes também viriam a ter vínculos com esta atividade. No
caso de Pernambuco, número significativo de comerciantes instalados
em Olinda era, ou tinha, origem cristã-nova. Em Gente da Nação, livro
essencial para a compreensão da inserção dos judeus e cristãos-novos
em Pernambuco, e também na Paraíba, embora essa não fosse sua
preocupação, nos dois primeiros séculos da colonização, José Antonio
Gonsalves de Mello discute os motivos que os levaram a transferirem-
se para o Brasil47. Dentre eles, estava a preocupação em se afastarem
das vistas da Inquisição, com o objetivo de conservarem um pouco
da sua liberdade religiosa, e também a perspectiva de se fixarem em
uma terra em que o desenvolvimento da agromanufatura açucareira se
mostrava bastante promissor. Sendo assim, já em 1542, Mello identifica
a presença de dois deles em Pernambuco: Diogo Fernandes e Pedro
Álvares Madeira48. Esses primeiros cristãos-novos e judeus passaram,
a partir de então, a ter uma expressiva participação na economia colonial
na área açucareira,
“predominantemente como detentores de capitais: mercadores que se fazem
senhores de engenho, vários deles conservando-se nas duas atividades; uns
poucos que se fazem rendeiros da cobrança de dízimos e fazem empréstimos
às vezes onzeneiros a donos de engenhos, como é o caso de James Lopes da
Costa, João Nunes Correia e Paulo de Pina”.49
João Nunes Correia foi um dos cristãos-novos a estabelecerem
importantes vínculos com a Paraíba, tanto na fase da conquista quanto
na de implementação da produção de açúcar, tendo construído dois
engenhos, em sociedade com seus dois irmãos, Diogo Nunes Correia
e Henrique Nunes. Foi um dos mercadores que, instados por Martim
Leitão, contribuiu com os créditos necessários para a fazenda real
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Notas
1
A carta de doação da Capitania de Itamaracá a Pero Lopes de Sousa, por D. João
III, data de 1° de setembro de 1534, e, o foral, de 6 de outubro de 1534. Os
limites estabelecidos para a capitania foram os seguintes: “e as trinta léguas (...)
comessarão no rio que cerca em redondo a ilha de Tamaracá, ao qual rio eu hora puz nome
- Rio da Santa Cruz, e acabarão na Bahya da Trayção, que está em altura de seis graus
(...); e será sua [do donatário] a dita Ilha de Tamaracá e toda a mais parte do dito Rio de
Santa Cruz que vay ao norte; e bem assim serão suas quaesquer outras Ilhas que houverem
athe dez léguas ao mar na frontaria [da dita Capitania]”. Maximiano Lopes Machado,
História da Província da Parahyba. v.1 [1912] (João Pessoa: Ed. Universitária/
UFPB, 1977), p. 11-2.
2
Pero Lopes de Sousa participou da armada que foi enviada ao Brasil em 1530,
sob o comando de seu irmão, Martim Afonso de Sousa, e que tinha, entre
seus objetivos, o reconhecimento do litoral, o apresamento de navios franceses,
a exploração e descobrimento de metais preciosos e a fundação de povoações
litorâneas. Como capitão de uma parte da frota, foi bem sucedido ao expulsar
os franceses de Itamaracá e, em seguida, reconstruiu e fortificou a antiga feitoria
portuguesa que havia sido destruída pelos inimigos. Com a instituição do
sistema de capitanias, recebeu três lotes como recompensa pelos serviços
prestados à Coroa. Foram eles: Santo Amaro (com 10 léguas de costa), Santana
(com 40 léguas) e Itamaracá (com 30 léguas). Nenhuma das três alcançou
desenvolvimento.
3
Em carta de 20 de dezembro de 1546, Duarte Coelho reclama ao rei e pede
providências quanto à situação da Capitania de Itamaracá, onde, segundo ele,
havia a presença de contrabandistas de pau-brasil a carregarem a madeira, com
a anuência dos prepostos dos donatários, a quem chama de incompetentes.
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1579. “Eu, El-Rey, faço saber aos que este alvará virem que mando ora a Fructuoso
Barbosa a povoar as terras da Paraíba nas partes do Brasil e lançar do rio dellas os corsários
que ahi estão e as tem ocupado o qual leva consigo alguns moradores deste reino para
viverem nellas pelo que hei por bem que o dito Fructuoso Barbosa seja o capitão de toda dita
gente e da gente da navegação dos navios que com elle vão assim na viagem do mar como
depois que chegar às ditas terras e estar nellas todo o tempo que nellas poder estar e assim
hei por bem que elle seja capitão da fortaleza e povoação que nas ditas terras fizer e isto por
tempo de dez annos não mandando eu primeiro o contrario. E mando a todas as ditas
pessoas que hajão o dito Fructuoso Barbosa por seu capitão e acudam aos seus chamados
e cumpram seus mandados inteiramente como ao seu capitão sob as penas em que por
minhas leis e ordenações incorrerem os que desobedecem aos seus capitães. Notifico assim
a todas as ditas pessoas para que em tudo cumprão e guardem o que se nesta provisão
contem sem duvida e nem embargo algum a qual quer que valha como se fosse carta, etc. E
elle jurará em minha Chancellaria aos Santos Evangelhos que bem e verdadeiramente
sirva o dito cargo. João Siqueira o fez em Almeirim a vinte e cinco de Novembro de mil
quinhentos setenta e nove. Gaspar Rabello o fez escrever”. Registrada no livro 42, p.
382 v. da Chancellaria do D. Sebastião e D. Henrique, doações. Ver Côn.
Florentino Barbosa, “Documentos Históricos - 1579", in: Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano, v.10 (João Pessoa: Departamento de Publicidade,
1946), p. 173-4.
17
Irineu Pinto faz referência, mas não os publica, a vários outros documentos
oficiais, encontrados no Arquivo da Torre do Tombo, sobre a armada; diz que
a mesma largou do Tejo em fins do mês de janeiro de 1580, tendo chegado a
Pernambuco com ótima viagem, ou seja, cerca de cinquenta ou sessenta dias
depois. Pinto, Datas e Notas para a História da Paraíba, p. 16.
18
O cronista do Sumário omite os carmelitas que também participavam dessa
expedição. Irineu Pinto publica a Patente passada a essa ordem, que enviou
quatro religiosos ao rio Paraíba. Pinto, Datas e Notas para a História da Paraíba,
p. 15-6 (nota 2).
19
Em 16 de abril de 1581, o rei de Espanha Filipe II, foi jurado pelos três
estados, reunidos nas Cortes de Tomar, como sucessor do Cardeal D. Henrique
no trono de Portugal, onde passou a ser conhecido como Filipe I. Para uma
breve reconstituição do processo, inclusive da política matrimonial dos Avis e
dos Habsburgo, que levou à crise de sucessão em Portugal e à conseqüente
União das Coroas Ibéricas, consultar, entre outras obras: J.H.Elliot, A Europa
Dividida: 1559-1598, tradução de Conceição Jardim e Eduardo Nogueira (Lisboa:
Editorial Presença, s.d.), 199-204 e Joaquim Veríssimo Serrão, O Tempo dos
Filipes em Portugal e no Brasil (1580-1668) (Lisboa: Colibri, 1994), especialmente
o capítulo “Portugal e a Monarquia Hispânica: causas próximas e remotas da
União Ibérica em 1580”.
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20
Sousa, Tratado Descritivo do Brasil em 1587, p. 1 e p. 94.
21
Salvador, História do Brasil: 1500-1627, p. 57.
22
Sumário das Armadas, p. 40. Grifo nosso.
23
Salvador, História do Brasil: 1500-1627, p. 182.
24
Sumário das Armadas, p. 64.
25
Ambrósio Fernandes Brandão, Diálogos das Grandezas do Brasil [1617] (Recife:
Imprensa Universitária, 1962), p. 45.
26
Não há vestígios documentais que comprovem a existência de uma Câmara
Municipal imediatamente após a fundação de Nossa Senhora das Neves, que
ocorreu em novembro de 1585. Provavelmente, devido à instabilidade reinante
nos primeiros anos de existência da Capitania da Paraíba, logo após o acordo
de paz com os Tabajara, não houve essa instalação. O primeiro documento
conhecido a fazer referência a existência de uma Câmara Municipal da Filipéia
de Nossa Senhora das Neves e aos seus vereadores, sugerindo que a mesma se
encontrava em pleno funcionamento, data de 21 de junho de 1589. Ver Nonato
Nunes e Nyll Pereira, orgs., A Câmara de Filipéia (João Pessoa: LM, s.d), p. 21-
5.
27
Charles R. Boxer, com base no censo da população portuguesa de 1527, que
apontava um total que variava entre 1.000.000 e 1.400.000 habitantes, calcula
que cerca de 2.400 pessoas, em sua maioria homens válidos, jovens e solteiros,
deixavam anualmente o reino e partiam para as colônias. A maior parte desse
contingente era oriundo de Lisboa, “a Meca para os famintos e desempregados” que,
muitas vezes, se viam embarcados para as colônias, voluntariamente ou à
força. Por sua vez, as ilhas atlânticas e as províncias do Minho e do Douro,
marcadas pela tradição da pequena propriedade e da família extensa, liberavam
mão-de-obra que partia em busca de novas oportunidades, daí serem, à época,
regiões conhecidas por sua alta taxa de emigração. In: O Império Marítimo
Português: 1415-1825 (Lisboa: Edições 70, s.d.), p. 66-8. A migração portuguesa
para a colônia americana permaneceu constante durante todo o período colonial
uma vez que, nos períodos favoráveis à agromanufatura açucareira, eram criadas
oportunidades para os recém-chegados e, nos períodos de crise, sempre havia
lugar para aqueles que se dispunham a correr o risco.
28
Boxer, O Império Marítimo Português: 1415-1825, p. 98.
29
Costa Porto, Nos Tempos do Visitador. Subsídio ao Estudo da Vida Colonial
Pernambucana, nos Fins do Século XVI (Recife: Universidade Federal de
Pernambuco, 1968), p. 102.
30
Stuart B. Schwartz & James Lockhart, A América Latina na Época Colonial,
tradução de Maria Beatriz de Medina (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2002), p. 249.
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31
Evaldo Cabral de Mello, O Nome e o Sangue: Uma Fraude Genealógica no
Pernambuco Colonial (São Paulo, Companhia das Letras, 1989), p. 99.
32
Schwartz & Lockhart, A América Latina na Época Colonial, p. 277.
33
Cabral de Mello, O Nome e o Sangue, p. 109.
34
José Antonio Gonsalves de Mello, Gente da Nação: Cristãos Novos e Judeus
em Pernambuco, 1542-1654 (Recife: FUNDAJ/ Massangana, 1996), p. 185-6.
35
Antonio Vitoriano Borges da Fonseca, Nobiliarchia Pernambucana - V. II (Rio
de Janeiro: Bibliotheca Nacional, 1935), p. 405.
36
Cabral de Mello, O Nome e o Sangue, p. 11.
37
Brandão, Diálogos das Grandezas do Brasil, p. 44.
38
Schwartz & Lockhart, A América Latina na Época Colonial, p. 247-8.
39
O historiador Guilherme Gomes da Silveira D’Ávila Lins, especialista na
crítica erudita clássica da documentação sobre a história colonial da Paraíba,
busca estabelecer a identidade desse João Affonço, que teria recebido a primeira
sesmaria na Paraíba. Segundo o autor, trata-se do mesmo João Antonio
Pamplona, nomeado algumas vezes no Sumário das Armadas. Seus argumentos
são apresentados em João Afonso Pamplona: A restituição do nome daquele que
foi o primeiro proprietário de terras na Capitania da Paraíba (João Pessoa,
Empório dos Livros, 1996). Em outro trabalho, pautado nos mesmos critérios
da erudição crítica, o historiador questiona a afirmação, já consagrada pela
historiografia paraibana, de que Nossa Senhora das Neves já teria sido fundada
como cidade por ter sido fundada numa capitania real. Utilizando, entre outros
documentos, a carta de doação de sesmaria a João Affonço, Lins demonstra
que o núcleo inicial de povoamento da Paraíba foi erigido como povoação e só
teria alçado a condição de cidade no final de 1586 ou início de 1587, quando
deve ter recebido oficialmente o nome de Cidade de Nossa Senhora das Neves.
Só em 1588, durante a gestão de Frutuoso Barbosa, é que passou a chamar-se
Cidade Filipéia de Nossa Senhora das Neves, em homenagem ao rei D. Filipe
I. Sobre o assunto, consultar do mesmo autor: Revisão e Retificação dos Sucessivos
Nomes Oficiais da Capital da Paraíba ao Longo do Tempo (João Pessoa: A União,
2000).
40
João de Lyra Tavares, Apontamentos para a História Territorial da Paraíba [1909].
(Mossoró: s./ed., 1982), p. 29-31. Embora incompleta essa obra oferece a
amostragem mais importante das sesmarias doadas na Paraíba, tendo se
tornado referência obrigatória para os que estudam a questão agrária no Estado.
Não há dados precisos quanto ao número total de sesmarias que foram doadas
na Paraíba durante a vigência do sistema, sendo que Tavares registra, na íntegra,
1138 cartas emitidas entre 1586 e 1824, das quais apenas 17 no período que é
objeto de nosso estudo.
41
Tavares, Apontamentos para a História Territorial da Paraíba, p. 32-3.
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42
AHU_ACL_CU_014, cx. 1, D. 16. Essa documentação foi disponibilizada,
em CD-ROM, pelo Projeto Resgate Barão do Rio Branco, do Ministério da
Cultura do Brasil, a partir de pesquisa realizada no Arquivo Histórico
Ultramarino de Portugal, na cidade de Lisboa. As siglas que são utilizadas
neste texto para identificar esse corpus documental correspondem, conforme
o Catálogo dos Documentos Manuscritos Avulsos Referentes à Capitania da Paraíba
existentes no Arquivo Ultramarino de Lisboa (João Pessoa, Universitária/UFPB,
2002), ao seguinte: AHU - Arquivo Histórico Ultramarino (Portugal). ACL -
Administração Central. CU - Conselho Ultramarino, 014 - Série Brasil - Paraíba,
Cx - caixa, D - documento.
43
AHU_ACL_CU_014, Cx. 1, D. 16.
44
Domingos Carneiro foi morador proeminente da Capitania, onde era
proprietário do Engenho das Barreiras, na várzea do Rio Paraíba. Antes de ser
nomeado para a Casa da Índia, em data desconhecida, ocupou o cargo de
Ouvidor da Paraíba. Cf. Chancelaria de Filipe II. Livro 3, fl.170v. e
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 19. A sua intervenção na oportunidade do
pleito do irmão, Manoel, certamente se configurava como uma tentativa de
estender ainda mais sua área de influência na Capitania. Não foi bem sucedido
porque a concorrência lhe era absolutamente desfavorável tendo em vista a
folha de serviços e as indicações que foram feitas em favor de Francisco Gomes
Munis, que ocupava cargo estratégico para a segurança da Capitania, em tempos
de luta permanente contra os Potiguara.
45
AHU_ACL_CU_014, Cx. 1, D. 15.
46
Sumário das Armadas, p. 49.
47
A obra está fundamentada no exame dos processos do Santo Ofício e em
documentação de origem holandesa, relativa à comunidade judaica do Recife,
tanto nos arquivos da Companhia das Índias Ocidentais quanto no Arquivo
Municipal de Amsterdam. Parte do trabalho foi publicado, a partir de 1960, na
Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco. Utilizamos
a segunda edição, de 1996, pela FUNDAJ/ Massangana e Banco Safra.
48
Gonsalves de Mello, Gente da Nação , p. 7-9.
49
Gonsalves de Mello, Gente da Nação, p. 9.
50
Conforme as Denunciações de Pernambuco - 1593-1595, p. 69, citado por: Ronald
J. Raminelli. “Tempo de Visitações: Cultura e Sociedade em Pernambuco e
Bahia - 1591-1620” (Dissertação de Mestrado em História, Universidade de
São Paulo, 1990), p. 153-4.
51
Filipe Cavalcanti que, segundo Borges da Fonseca, era fidalgo florentino,
casou-se com a filha mais velha e, conforme o mesmo genealogista, mais
amada, de Jerônimo de Albuquerque e Maria do Espírito Santo Arcoverde,
vinculando-se, portanto, diretamente à casa donatarial. Tornou-se um dos
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60
Almeida, História da Paraíba, p. 49.
61
Gilberto Osório, O Rio Paraíba do Norte [1957] (João Pessoa: SEC-PB/ Ed.
Universitária/ UFPB, 1997), p. 106-8.
62
Por exemplo, um dos filhos legítimos de Jerônimo de Albuquerque com D.
Felipa de Mello, André de Albuquerque e Mello, além de construir engenho na
Paraíba, foi governador da capitania, na década de noventa do século XVI.
Antonio de Albuquerque Maranhão, neto do mesmo Jerônimo de
Albuquerque e da índia Maria do Espírito Santo Arcoverde, era senhor de
engenho e governador da Paraíba à época da ocupação holandesa, em 1634.
Haviam se passado cerca de cinqüenta anos, desde que Nossa Senhora das
Neves fora fundada, e os Albuquerque ainda mantinham, tanto quanto em
Pernambuco, a mesma influência da época do início da colonização. Outro
exemplo pode ser encontrado na família Silveira, que, na pessoa de Duarte
Gomes da Silveira, se tornaria, se não a mais poderosa, pelo menos uma das
mais poderosas da Paraíba até os anos quarenta do século XVII. O próprio
Duarte, senhor de engenho muito rico na capitania, casou-se com a filha de
João Tavares. Por seu lado, em Olinda, seu irmão Domingos da Silveira, que
ocupava o cargo de ouvidor de Pernambuco, casou suas filhas com homens
que também ocupavam cargos importantíssimos na burocracia local, os
Camello e os Rego Barros (seu genro era irmão do conselheiro do rei, João
Velho Barreto). Na terceira geração, já encontramos neto de Domingos da
Silveira casado com descendente das casas Hollanda e Cavalcanti, instalado
como senhor de engenho na Paraíba. Aliás, os Silveira foram, nessas décadas
iniciais da colonização, a família que, vinda de Pernambuco, mais se enraizou
na Paraíba, com seus membros se estabelecendo como senhores de engenhos
e ocupando cargos públicos importantes, como os de provedoria da Fazenda
e de Ouvidor, além de assentos na Câmara Municipal.
63
Cabral de Mello, O Nome e o Sangue.
64
João Fragoso, “A Formação da Economia Colonial do Rio de Janeiro e de sua
Primeira Elite Senhorial (séculos XVI e XVII)”, in João Fragoso, Maria Fernanda
Bicalho e Maria de Fátima Gouvêa, orgs, O Antigo Regime nos Trópicos: A
Dinâmica Imperial Portuguesa (séculos XVI-XVIII) (Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001), p. 42.
65
Vera Lúcia Amaral Ferlini, Terra, Trabalho e Poder: O Mundo dos Engenhos no
Nordeste Colônia (São Paulo: Brasiliense, 1988), p. 211-2.
66
Esta também é a apreciação que Schwartz e Lockhart fazem, especialmente ao
tratarem do caso dos cristãos-novos, pois estes “envolveram-se desde o início com
o empreendimento brasileiro, e, depois de 1537, muitos vieram para o Brasil, para evitar a
Inquisição ou por causa de sentenças de deportação e exílio penal. Se o Brasil oferecia
algum tipo de mobilidade social para portugueses em geral, seus atrativos multiplicavam-
66
GUERRA E AÇÚCAR
67
68
“MARCAR COM SINAIS PRÓPRIOS”:
AS BALIZAS DA CONQUISTA
NA MAURITS STADT
“XVII
Pera a parte do Sul, onde a pequena
Ursa se vê de guardas rodeada,
Onde o Céu luminoso mais serena,
Tem sua influição, e temperada;
Junto da nova Lusitânia ordena
A natureza, mãe bem atentada,
Um porto tão quieto, e tão seguro,
Que pera as curvas Naus serve de muro.
XVIII
É este porto tal, por esta posta,
Uma cinta de pedra, inculta e viva,
Ao longo da soberba e larga costa,
Onde quebra Netuno a fúria esquiva.
Entre a praia e pedra descomposta
O estanhado elemento se deriva,
Com tanta mansidão, que uma fateixa
Basta ter à fatal Argos aneixa.”
Descrição do Recife de Paranambuco,
Prosopopea, Bento Teixeira, 16011.
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Figura 2 - Falso rosto da História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no
Brasil, de 1647 (Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro).
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Figura 4 - Palácio Vrijburg ou “das Duas Torres”. Detalhe sobre gravura de Frans
Post, em História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil, de 1647
(Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro).
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ENTRE A CRUZ DO PATRÃO E O PALÁCIO DA LIBERDADE
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ENTRE A CRUZ DO PATRÃO E O PALÁCIO DA LIBERDADE
***
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Notas
1
Afonso Luiz Piloto; Bento Teixeira, Naufrágio & Prosopopea [1601], organizado
por Luzilá Ferreira (Recife: Ed. UFPE, 2001), p. 97.
2
Tadeu Rocha, Roteiros do Recife (3. ed., Recife: Banco Comércio e Indústria de
Pernambuco, 1967), p. 28.
3
Louis de Tollenare, Notas Dominicais [1816-17] (Recife: Secretaria de Educação e
Cultura de Pernambuco, 1978), p. 19.
4
G. Freyre; T. Maia, Recife & Olinda (2. ed., Recife: FUNDAJ; São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1978), p. 8.
5
Transcrito de <http://www.revista.cultura.pe.gov.br/novembro_2000/
trad_nov_texto.html>, acesso em 25 ago. 2005.
6
Waldemar Valente, Antecipação de Pernambuco no movimento da Independência:
testemunho de uma inglesa (Recife: Instituto Joaquim Nabuco, 1974), p. 129.
7
Patricia Seed, Cerimônias de posse (São Paulo: Editora da Unesp, 1999), p. 210.
8
Gaspar Barlaeus, História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no
Brasil sob o governo do ilustríssimo João Maurício [1647] (Belo Horizonte: Itatiaia;
São Paulo: Edusp, 1974), p. 5.
9
Seed, Cerimônias de posse, p. 238, nota 2.
10
Seed, Cerimônias de posse, p. 220.
11
Sobre a relação entre as duas, Evaldo Cabral de Mello, Rubro Veio (2. ed., Rio
de Janeiro: Topbooks, 1997), especialmente o capítulo “Inventário da
memória”, p. 31 ss.
12
“Nostalgia nassoviana” é o título do capítulo que trata da recuperação da
figura de Nassau pela historiografia oitocentista em Pernambuco em Mello,
Rubro Veio, p. 329 ss.
13
Luis Oramas, “Frans Post, invenção e ‘aura’ da paisagem” in Paulo Herkenhoff,
org., O Brasil e os Holandeses (1630-1654) (Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999),
p. 218.
14
Ao serviço de Luís XIV, presenteado com cartazes para matrizes de tapetes
pelo próprio Conde em 1678. Ana Belluzzo, coord., O Brasil dos viajantes (São
Paulo: Metalivros, 1994), p. 20. José Leite, “Período Nassau” in Arte no Brasil,
vol. I (São Paulo: Editora Abril, 1979), p. 77-81.
15
Max Guedes, “A Cartografia holandesa do Brasil” in Herkenhoff, org., O
Brasil e os Holandeses, p. 70.
16
Murilo Marx, “Olhando por cima e de frente”, Revista USP, n. 30 (1996), p.
174.
17
Guedes, “A Cartografia holandesa do Brasil”, p. 84.
84
ENTRE A CRUZ DO PATRÃO E O PALÁCIO DA LIBERDADE
18
Poema de abertura na edição traduzida por Cláudio Brandão [1974] do texto
de Gaspar Barlaeus, História dos feitos recentemente praticados, p. V.
19
Berta Ribeiro; Lúcia Van Velthem, “Coleções Etnográficas” in Manuela da
Cunha, org., História dos Índios no Brasil (São Paulo: Companhia das Letras/
FAPESP, 1992), p. 103.
20
Johanes Nieuhof, Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil [1682] (Belo
Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1981), p. 45.
21
Manoel Calado, O Valeroso Lucideno, vol. I (4. ed., Recife: Fundarpe, 1985), p.
243.
22
Calado, O Valeroso Lucideno, vol. I, p. 101, p. 127, entre outras citações.
23
Barlaeus, História dos feitos recentemente praticados, p. 151-2.
24
Reproduzida em Leonardo Silva, Holandeses em Pernambuco (Recife: L. Dantas
Silva/ Instituto Ricardo Brennand, 2005), p. 28.
25
Desenho de 1739. Original na Biblioteca do Exército/ Rio de Janeiro,
reproduzido em Nestor Reis Filho, Imagens de vilas e cidades do Brasil Colonial
(CD-ROM, São Paulo, Edusp, 2001).
26
Seed, Cerimônias de posse, p. 143 ss.
27
Na atribuição do cronista Francisco Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, vol.
VII (2. ed., Recife: FUNDARPE, 1984), p. 325. Também denominado de
“Cabo Fermoso”, em mapa de Turim datado de 1523.
28
Citado por Seed, Cerimônias de posse, p. 143.
29
Respectivamente: declarações prévias de intenções, herdadas da jihad sob a
tradição malikita da Ibéria islâmica; antigas associações entre a jardinagem
(husbandry) e o ato pelo qual o provedor (husband) define sua capacidade de
suster autonomamente uma família. Seed, Cerimônias de posse, p. 13-4.
30
Benedict Anderson, Nação e consciência nacional (São Paulo: Ática, 1989), p. 48.
31
Seed, Cerimônias de posse, p. 26.
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DOAÇÕES E CONTROLE DE CARGOS NA
PROVEDORIA DA FAZENDA REAL
DA CAPITANIA DA PARAÍBA (1647-1733)
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MOZART VERGETTI DE MENEZES
favor, no Juízo da Coroa. Porém, não foi mais possível para Bento
exercer o ofício, já que veio a falecer poucos anos depois.
Neste ínterim, seu filho mais velho, Hipólito Bandeira de Melo, tentou
manter as escrivanias sob a guarda da família, quando conseguiu ser
encartado no ofício, mas, para sua desgraça, foi tornado prisioneiro pelos
mouros em Salé, onde então combatia35.
Desta forma, a situação tinha, portanto, dois componentes principais.
Por um lado, Bento Bandeira estava morto36, com o seu filho mais
velho preso nas masmorras de Salé, sem que houvesse certeza do seu
estado. Por outro, ficava resolvida a querela sobre a quem caberia o
ofício, pois, sabendo que o mesmo fôra doado pelo mestre de campo
Francisco Barreto por apenas uma vez, isto é, durante uma vida presente, à
qual Bento não mais pertencia, o direito deveria caminhar em favor de
Cosme Marinho. Nesta situação, o genro de Lopo Garro voltou à
carga em 1694 e, enviando requerimento ao rei, solicitava ser encartado
nas escrivanias. Poderia, finalmente, usar da mercê de ofício que D.
João IV fizera37.
Mas as coisas não eram tão fáceis assim. Simultaneamente à petição
de Cosme Marinho, outros requerimentos também chegaram às mãos
de Sua Majestade. Desta feita, era a viúva de Bento Bandeira, Dona
Antônia Barbosa de Freitas, e a mulher do seu filho Hipólito Bandeira,
Dona Maria da Conceição, que entravam na disputa pela propriedade
do ofício. Se já tinha sido dispendioso para Cosme Marinho se livrar
das amarras processuais para se mostrar merecedor do ofício - pois,
anos antes, fora obrigado a pagar a estas mulheres os emolumentos
por ele recebidos durante o tempo que estivera à frente da escrivania -
, mais uma vez, via suas chances se esvaírem. Ademais, os argumentos
a favor das mulheres eram irrefutáveis e a mercê do ofício dificilmente,
tomaria outro rumo.
Ainda indeciso, o Conselho Ultramarino ordenou, em meados do
ano de 1695, que o ouvidor geral da Paraíba, Cristovam Soares
Reimão 38 , providenciasse uma averiguação, ouvindo as partes
interessadas e mais testemunhas e emitisse parecer sobre a quem caberia
o ofício. A opinião do ouvidor não foi diferente da esperada. Na
oportunidade, Cristovam Reimão disse que Cosme Marinho se
encontrava ausente da capitania pois era, já há alguns anos, morador na
94
DOAÇÕES E CONTROLE DE CARGOS
Bahia e não tivera filho homem que pudesse sucedê-lo. Já Dona Maria
da Conceição amargava, além da falta do marido preso em Salé, ter de
sustentar quatro filhos menores. Desse modo, opinava o ouvidor, no
que seria seguido pelo Conselho e sancionado pelo rei, o ofício deveria
ser passado em nome do filho mais velho de Hipólito, Bento Bandeira
de Melo [o neto], de apenas oito anos. A guarda do cargo ficaria com
a mãe, a quem caberia o poder de prover serventuário no ofício, até a
maior idade do agraciado, para ter de onde tirar o seu sustento ao
longo dos anos39.
A vitória de Bento Bandeira, ao cabo dos quarenta anos de disputa,
não representou uma mera façanha de apenas um homem em garantir
seus direitos via a bondade do seu príncipe. Os rastros deixados no
caminho não deixam dúvida de que, por dentro do Conselho
Ultramarino, seu irmão colaço, Feliciano Dourado, juntamente com o
corpo dos conselheiros, o tenham ajudado. A “armadura ministerial”,
como a denominou Faoro, que enfumaçava a “ordem monocrática” do
rei, sofreria “com os órgãos colegiados limitações drásticas, retardando as decisões,
orientando-as e distorcendo-as, ao sabor das suas deliberações”40.
Bastante sintomático, como vimos, foi o sumiço, no interior do
próprio Conselho, dos papéis enviados por Lopo Curado Garro,
incriminando Bento em sinistras simulações contra a Fazenda Real. Além
disso, o meticuloso e necessário acompanhamento do desenrolar do
pleito - saber das instâncias por onde tramitava o processo, levantar
questões precisas e nos momentos mais pertinentes -, só seria possível
com um ótimo procurador advogado e, obviamente, com dinheiro
suficiente para gastar em subornos com secretários e escrivães.
Entretanto, algo assim sairia por demais oneroso e, na situação em que
se encontrava a capitania da Paraíba, dinheiro era o que faltava.
Não fosse da forma habitual, de mal grado seriam acolhidos os
processos dos apressados. Assim aconteceu no indeferimento do pleito
da sentença de direito, dada em contrário aos interesses de Lopo Garro,
no Juízo da Coroa. Na alegação dos juízes, a sua condenação, por sub-
reptícia, dava-se por ter sido ele “mal aconselhado e, com menos acerto, [ter]
recorrido ao Conde de Óbidos que naquele tempo era vice-rei do Brasil, e sem lhe
declarar o estado em que estava o ofício lhe pediu a serventia e dele tomou-lhe posse...”41.
95
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não exigia uma contrapartida expressa e/ou imediata e, do lado do polo dominado
(do devedor), estava associada às idéias de ‘respeito’, ‘serviço’, ‘atenção’, significando
a disponibilidade para prestar serviços futuros e incertos”48. Por isso mesmo,
ainda sem completar um ano no cargo, mas já envolto em uma situação
de confronto com um outro governador, Alexandre e Souza Azevedo,
Salvador Quaresma Dourado recorreu a Lopes de Lavre pedindo
que ele intercedesse a seu favor, pois ...
“... tenho neste Conselho meus requerimentos sobre os capitães-mores
desta capitania quererem se intrometer na jurisdição destes ofícios de
provedor da Fazenda Real de que sua majestade me fez mercê da
propriedade (...) Folgarei muito que vossa mercê, como meu amo, queira
ser servido tomar-lhe muito por sua conta para que fique eu devendo ao
patrocínio de vossa mercê todo o bom sucesso que nele tiver ...” 49
Não sabemos qual a atenção dada pelo secretário a esta carta,
correspondência pessoal e curiosamente largada (intencionalmente ou
não) entre os documentos do Conselho. O certo é que a reclamação
de Salvador procedia, já que Souza de Azevedo havia mandado alguns
soldados da Infantaria entrar nos armazéns do Forte Velho e da
Fortaleza do Cabedelo - espaços estes de responsabilidade dos
almoxarifes, mas controlados pelo provedor -, para tirar algumas peças
de artilharia que lhe interessavam, e levá-las para o seu navio50. Os
autos de investigação sobre o caso se estenderam até a saída do
governador, em meados de 1684. Sentindo-se ameaçado por esta
demora no processo, Salvador Dourado buscou apoio em Lopes de
Lavre. No decorrer do ano de 1685, contudo, na residência tirada
pelo ouvidor geral de Pernambuco sobre o governo de Alexandre e
Souza, concluiu-se pela limpeza de mãos do governador. Porém, como
denunciou em carta ao rei o juiz ordinário da Paraíba, Antônio de
Souza Figueiroa, ficou revelado que o provedor da Paraíba agira
corretamente, pois havia fortes indícios de prática de suborno,
promovida pelos procuradores do ex-governador51.
Este fato, se não levou à invalidação da residência do ex-governador
Alexandre e Souza, ao menos deu asas a Salvador Dourado, fazendo-
o acreditar que, a partir desse confronto com a autoridade máxima da
capitania, poderia agir impunemente, dentro ou fora da esfera de sua
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***
Notas
1
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 37. As siglas correspondem ao seguinte: AHU
- Arquivo Histórico Ultramarino (Portugal); ACL - Administração Central;
CU - Conselho Ultramarino; 014 - Série Brasil-Paraíba; Cx. - caixa; D -
documento. As propriedades de João Fernandes Vieira na Paraíba eram os
engenhos Inhobim, São Gabriel, Garjaú, Tibiri de Cima, Tibiri de Baixo,
Santo André e São João. Além destes, possuía mais três em Recife (na Várzea),
um em Jaboatão, dois em Goiana e Igarassu e mais dois com localização
ignorada. Cf. Vera Lúcia Costa Acioli, Jurisdição e conflito: a força política do
senhor de engenho (Recife: UFPE / Departamento de História, 1989), p. 151.
2
Em carta dirigida ao rei, em 1656, diziam os oficiais da câmara da Paraíba que
“tomando as armas juntamente com os moradores da capitania de Pernambuco e vendo que
(...) nem um nem outro poderiam reduzir o grande poder do inimigo, se deliberaram como
fiéis vassalos de V. Majestade de se retirarem para Pernambuco (...) queimaram e arrasaram
suas casas, engenhos e canaviais de açúcar...”. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx. 1, D.
40.
3
O lugar de ouvidor geral da Paraíba é criado em 25 de janeiro de 1688, e nele é
provido o Bacharel Diogo Rangel de Castelo Branco. Cf. IHGP (Instituto
Histórico e Geográfico da Paraíba), Códice: 1816 - Ouvidoria, f. 2.
4
Cf. Cleonir Xavier de Albuquerque, A remuneração de serviços na guerra holandesa
(Recife: Impressa Universitária / UFPE, 1968), p. 119-132.
5
“O cargo público em sentido amplo, a comissão do rei, transforma o titular em portador de
autoridade. Confere-lhe a marca de nobreza, por um fenômeno de interpretação inversa de
valores. Como o emprego público era, ainda no século XVI, atributo do nobre de sangue
ou do Cortesão criado nas dobras do manto real, o exercício infunde o acatamento
aristocrático aos súditos”. Raimundo Faoro, Os donos do poder: formação do
patronato político brasileiro (8. ed., Rio de Janeiro: Globo, 1980), p. 175.
6
Alvará de 24 de Maio de 1647. Cf.: Irineu Ferreira Pinto, Datas e notas para a
História da Paraíba, v. 1 (2. ed., João Pessoa: Ed. Universitária. 1977), p. 62.
114
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7
AHU_ACL_CU_014, Cx. 1, D. 63. Lopo Curado Garro formou o triunvirato
que governou a Paraíba de 1645 até 1655, juntamente com Francisco Gomes
Muniz e Jerônimo Cadena, até ser passado o governo a João Fernandes Vieira.
8
O Mestre de Campo General Francisco Barreto de Menezes aportou em
Pernambuco em 1648, a mando de D. João IV, e assumiu, das mãos de
Fernandes Vieira, o comando da insurreição. Cf. Antônio José Vitoriano Borges
da Fonseca, Nobilarquia Pernambucana (Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional,
1935), p. 191. As Capitanias do Norte eram: Pernambuco, que englobava a
comarca das Alagoas que só seria separada e tornada capitania após 1817,
como castigo pela revolução; Itamaracá; Paraíba; Rio Grande e Ceará.
9
Ordem Régia de 23 de abril de 1654. Cf. Fonseca, Nobilarquia Pernambucana, p.
191. “Indo Francisco Barreto por Mestre da Campo, governador de Pernambuco, levou
provisão, para com os mais Mestres de Campo, repartirem as terras que haviam deixado os
holandeses e proverem por uma vez os ofícios que se houvessem presentes”. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 204.
10
A propriedade do ofício de almoxarife da Fazenda paraibana foi passada, por
D. Pedro II, a Simão Farinha do Amaral, em 1684, após o falecimento do seu
pai, Júlio Farinha. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 130.
11
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 63.
12
Juntamente com João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros foi um
dos homens mais ricos nas Capitanias do Norte. Governou o Estado do
Grão-Pará Maranhão, de maio de 1655 a setembro de 1656, e foi o segundo
governador de Pernambuco depois da restauração, onde cumpriu o triênio de
mandato 1657-1660. Cf. Pinto, Datas e notas para a História da Paraíba, p. 67-80.
13
Sobre os conflitos de jurisdição envolvendo esses personagens, ver: Acioli,
Jurisdição e Conflito, p. 74 -111.
14
Cf. Ângela Barreto Xavier e Antônio Manuel Hespanha, “As redes clientelares”,
in José Mattoso (dir.), História de Portugal, v. IV, Antônio Manuel Hespanha
(org.), O Antigo Regime 1621-1807 (Lisboa: Editorial Estampa, 1998), p. 339-
349. Tais considerações, em verdade, parecem configurar o universo de relações
sociais em que o poder se legitimou através de uma forma de dominação a que
Weber chamou de patrimonial. Nesta forma de dominação, a administração, ao
ser tratada como um assunto puramente pessoal do senhor e não permitir a
eclosão da distinção entre as esferas do público e do privado, levaria o cargo a
assumir a expressão privada do seu ocupante. Desta forma, o cargo seria
desejado tanto pela sua valoração simbólica - na medida em que o acesso ao
benefício se confundia com uma certa proximidade com o soberano -, como
pela expressão da reputação individual do poder, quando a racionalidade e o
valor profissional, elementos fundantes da burocracia, ficariam secundarizados
pelo valor das paixões e dos interesses pessoais. Cf. Max Weber, Economia e
115
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116
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25
Paulatinamente, a Fazenda foi se reconstituindo. Em 1655, por exemplo, o
mestre de campo João Fernandes Vieira, indo governar a Paraíba, solicitava a
D. João IV que os seus soldos vencidos e os que viessem a vencer, fossem
sendo pagos por Pernambuco, enquanto não houvesse rendimentos na
Fazenda da Paraíba. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 38. Vinte e seis anos
depois, em 1681, os capitães de infantaria e mais oficiais da milícia paraibana
requeriam que seus soldos fossem pagos dos sobejos da Fazenda Real da
Capitania da Paraíba. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.5, D. 113.
26
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 63.
27
AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 204.
28
AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 204.
29
AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 204.
30
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 63; e Cx.3, D. 204.
31
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 63; e Cx.3, D. 204.
32
AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 204.
33
AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 204.
34
“Governar significava nomear, o que constituía uma fonte substancial de poder e também
de renda, pois freqüentimente os cargos eram, por baixo do pano, literalmente comprados
pelos interessados não legalmente como na França, mas ilegalmente aos governadores”.
Mello, A fronda dos mazombos, p. 28.. Nas Ordenações Filipinas (Ord. Fil.., L. I,
t. XCVII, 3), “quando o titular não podia continuar a exercer seu posto, para que o
ofício não ficasse vago, o Governador ou outra autoridade podia, provisoriamente, concedê-
lo em serventia”. João Fragoso, “A formação da economia colonial no Rio de
Janeiro e de sua primeira elite senhorial (séc. XVI e XVII)”, in João Fragoso,
Maria Fernanda Bicalho e Fátima Govêa, O Antigo Regime nos trópicos (Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 2001), p. 56.
35
Hipólito Bandeira de Melo esteve cativo por quatorze anos e foi dado como
morto. Todavia, sua mãe conseguira, a partir da vitória do marido no pleito
contra Marinho, reaver os emolumentos ganhos pelo próprio Marinho quando
do seu exercício no cargo de escrivão. Este dinheiro serviu para o pagamento
do resgate de Hipólito, que retornará para a Paraíba em 1703, quando assumiu
a escrivania da Fazenda. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 204.
36
Nos últimos anos de vida, Bento Bandeira de Melo, já sem condições para
exercer o ofício, conseguira ainda prover alguns serventuários, pelo valor de
setenta mil réis anuais pagos a sua mulher Antônia Barbosa de Freitas, que foi
filha de um antigo lavrador de cana na Paraíba. Cf. AHU_ACL_CU_014,
Cx.3,D. 203.
37
AHU_ACL_CU_014, Cx.3,D. 203.
38
AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 204.
117
MOZART VERGETTI DE MENEZES
39
AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 204. A magnificência do rei exemplificava- se
através dessas doações, onde a simbologia buscava expressar a gratidão aos
que devotavam seus serviços a Sua Majestade. Entretanto, não eram apenas as
viúvas de oficiais que tinham seus pleitos atendidos. A política de conceder
mercês, através do canal de correspondência com o soberano, via o envio de
petições e requerimentos, ultrapassava aos que formalmente detinham o
controle do saber formal. São por demais recorrentes, na documentação,
apelações de pessoas comuns: índios, negros, brancos pobres, inclusive
mulheres, demonstrando uma crescente redescoberta do ser súdito na
Colônia. Para um brasilianista, isto “sugere o argumento de que os não europeus não
eram tão desavisados assim da natureza mais particular do sistema legal e de seus mecanismos
de funcionamento, como tem sido aventado pela historiografia”. Cf.: Russell-Wood,
“Centro e periferia no mundo luso-brasileiro”, Revista Brasileira de História 18
(36) (São Paulo, ANPUH, 1998), 202 e 203. Um outro estudo sobre a dimensão
discusiva envolta nos requerimentos está em Pedro Cardim, Cortes e cultura
política no Portugal do Antigo Regime (Lisboa: Edição Cosmos, 1998).
40
Faoro, Os donos do poder, p. 175.
41
AHU_ACL_CU_014, Cx.3, D. 203.
42
AHU_ACL_CU_014, Cx.34, D. 2476. O papel exercido pela família Bandeira
de Melo (pelo menos até ao ingresso do primeiro Hipólito) na escrivania da
Fazenda é também relatado por Alden, como exemplo de controle de um
grupo familiar sobre um ofício na Colônia. Cf. Dauril Alden, Royal goververnment
in colonial Brazil: with special reference to the administration of the Marquis of
Lavradio, Viceroy, 1769-1779 (Berkeley & Los Angeles: University of California
Press, 1968), p. 296.
43
AHU_ACL_CU_014, Cx. 4, D. 275. Seus antecedentes foram: Luís Quaresma
(proprietário) > Alberto Dourado de Azevedo (serventuário, cunhado do
proprietário) > Salvador Quaresma Dourado (por herança, proprietário).
44
No caso do parecer sobre Manuel Muniz, reconhecia Feliciano Dourado que
apesar de ser “Manuel Muniz parente seu de grau conhecido mas que ele conselheiro
pelo que deve a obrigação do posto que exercita, como pelo juramento que tomou na
Chancelaria está mais obrigado ao serviço de V. Majestade ... informar dos sujeitos que
convém para o bom governo daquela pobre capitania, a qual necessita de um capitão mor
que seja homem de respeito, de verdadeiro valor e desinteressado”. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 62; D. 70 e Cx2, D. 104. Ver, também,
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 128.
45
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 77. Luís Nunes de Carvalho, foi o primeiro
governador da Paraíba fora do grupo dos restauradores. Além disso, no seu
processo de nomeação para ir governar a Paraíba teve o infortúnio de concorrer
com Martinho Bulhões Muniz, restaurador e preferido de Feliciano Dourado,
118
DOAÇÕES E CONTROLE DE CARGOS
seu parente. Fato este que, por si só, não devia trazer bons presságios ao novo
governador, antipatizando-o com os homens principais da terra. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 62.
46
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 75.
47
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D. 128.
48
Xavier & Hespanha, “As redes clientelares”, 340. Obs: Na citação, os verbos
que não se encontram em itálico, foram propositalmente por nós
transformados do presente, como se encontra originalmente, para o pretérito
imperfeito do indicativo.
49
AHU_ACL_CU_014, Cx 2, D. 128.
50
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 121.
51
Entre os envolvidos estava João do Rego Barros, ex -governador da Paraíba.
Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx. 2, D. 133. Acresce registrar também que, após
esta denúncia, Francisco do Rego Barros, filho de João do Rego Barros
(provedor em Pernambuco), que estava servindo de ouvidor na Paraíba,
suspende o juiz ordinário, Antônio de Souza Figueiroa, por problemas na
sua eleição para o cargo que ocupava. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 135.
52
Diziam os vereadores do senado da Câmara da cidade de Nossa Senhora das
Neves da Paraíba, em 1675, que o povo padecia de justiça no “judicial e contencioso
por não haver ouvidor letrado na capitania de Pernambuco e nas mais [capitanias] daquele
estado (...). E por terem só um ouvidor de capa e espada [isto é, secular, que tem emprego
civil, sem beca] e dista nomeado pelo Governador Geral do Estado, sem ser da mesma
capitania se fazem grandes incidências como de presente estavam experimentando”. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx.1, D 91. Ver também os D. 135; 139; 142 e 144.
53
Acioli, Jurisdição e conflitos, p. 102.
54
Na consulta sobre o requerimento do capitão, opinava “o Conselho que pelos
capítulos que faz presente o requerente, fazer presente a vossa majestade o muito que
precisa de ouvidor letrado essa capitania, como tem apresentado em consulta desde 1675,
pelas muitas insolências, roubos e mortes que sucedem todos os dias naquela capitania de
que se queixa neste Conselho um Ouvidor Geral” para a Paraíba. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 142.
55
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 142.
56
Antônio Manuel Hespanha, As vésperas do Leviathan (Coimbra: Livraria
Almedina, 1994), p. 208.
57
Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 142.
58
Cf. Alden, Royal goververnment in colonial Brazil, 289.
59
“Nos despachos se pagam oitenta réis por caixa [de açúcar], aplicada as despesas e
justificações para o provedor e seu escrivão pagam duzentos e vinte réis. Pela marca deles,
que pode importar vinte ou trinta marcas, o provedor faz pagar cento e vinte e mais marcas
119
MOZART VERGETTI DE MENEZES
e ele e seu escrivão embolsam a parte deles (...) e como o recurso é longe, [os mestres] pagam
e calam”. AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 142.
60
“(...) porque se um navio leva trezentas ou quatrocentas caixas de que há de pagar oitenta
réis [por] cada uma, botam amizade e lhe abatem a metade ou o que lhe parecer e fazem
termo de que leva o navio cento e vinte caixas, embolsando o que deveria servir para as
forças”. AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 142. Grifo nosso.
61
Por sinal, noticiava-se na capitania que a falta de pagamento das tropas, pelo
provedor, tinha levado a alguns soldados a se amotinarem na cidade saindo,
na confusão, um soldado baleado por acidente, que veio a falecer tempos
depois. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 139.
62
“Sendo nesta capitania contratador dos dízimos Estevão Soares, durante os anos de
oitenta e hum e oitenta e dois, perdeu considerável Fazenda no último ano e foram seus
fiadores Manuel Lopes Pimentel e o capitão Carlos de Oliveira. O provedor que era [o
serventuário, Alberto Dourado de Azevedo] tendo segura a Fazenda Real e vendo que os
fiadores tinham que pagar pelo grande fiado mais de cinco mil cruzados, cobrou deles o que
foi possível, ficando encaminhado a se cobrar o mais no cargo do [futuro] provedor”. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx. 2, D. 142.
63
“Entrando no cargo [Salvador Dourado] logo mandou prender os ditos fiadores na
enxovia e ali lhe fizeram vender muitos escravos de suas lavouras. Fizeram na fazenda do
capitão Carlos Oliveira seqüestro e lhe deram depositário. Deixou ao Almoxarife [Simão
de Vasconcelos] que então servia, ir com o capitão Carlos de Oliveira a Pernambuco a
remediar o que devia. Para o fazer, vendeu mais de vinte mil cruzados que se lhe haviam de
dar em fazendas de raiz por menos de cinco mil cruzados em pagamentos (...) Foram
aqueles dias com rigores de calma a Pernambuco (...) e deste abalo e aflição morreu em
breve dias o capitão Carlos de Oliveira, com que o provedor, parece, ficou satisfeito”. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx. 2, D. 142.
64
O parecerista fora o ex-governador de Pernambuco João de Souza. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D 139.
65
Sobre a dubiedade nas ações da Coroa, como forma de garantir o exercício de
poder. Cf. Stuart B. Schwartz, Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial (São Paulo:
Perspectiva, 1979), p. 58.
66
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 154.
67
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 145; Em uma consulta datada de 15 de
novembro de 1685, sobre a reclamação que faziam os oficiais da câmara da
Paraíba sobre a negligência do governador, constava o parecer do ex-governador
de Pernambuco, João de Souza, onde afirmava que o “talento do capitão maior
Silva Barbosa não era o mais discursivo, porque no tempo em que fora seu súdito, o julgava
sempre mais apto dos empregos militares pelo seu valor, do que suficiente para os governos
políticos pela sua disposição”. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D 139.
68
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 142.
120
DOAÇÕES E CONTROLE DE CARGOS
69
Provisão passada a Diogo Rangel Castelo Branco, em 25 de janeiro de 1688.
IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano), Códice 1816 - Ouvidoria,
f. 4.
70
A partir desta data, abria-se a possibilidade do acúmulo dos ofícios da Fazenda
pelo ouvidor geral, não mais de forma interina mas, reconhecidamente, com
um aparato legal. AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 162.
71
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 162.
72
AHU_ACL_CU_014, Cx.2,D. 163 e D. 177.
73
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 190.
74
Pinto, Datas e notas para a história da Paraíba, 89. Para Elias, tais etiquetas eram
necessárias, pois “o povo não acredita em um poder que, embora existindo de fato, não
apareça explicitamente na figura do seu possuidor. É preciso ver para crer”. Cf. Norbert
Elias, A sociedade de Corte (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001), p. 133.
75
AHU_ACL_CU_014, Cx.4, D. 275.
76
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 166.
77
AHU_ACL_CU_014, Cx.2, D. 166. O atraso no envio desse pagamento
ultrapassava, em 1688, cinco anos, já que o bispo não aceitava ter o seu
pagamento em açúcar.
78
Tratava, na oportunidade o governador, em dar um parecer sobre a solicitação
do escrivão da Abertura da Alfândega da Paraíba, Antônio Carneiro de
Albuquerque, que pedia um ordenado de 120$000 réis anuais, valor que recebia
o mesmo oficial em Pernambuco, fora os emolumentos; Antônio Albuquerque
acabou alcançando 80$000, visto não ter como “granjear” sua vida com outras
atividades - afinal, como alegava o oficial, dedicava-se integralmente ao serviço
mesmo com um emolumento irrisório. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.6, D.
530.
79
Temos, entretanto, para outras capitanias, como, por exemplo, a da Bahia,
apenas notícia da prática de contrabando, onde oficiais da administração
portuária se prestavam a facilitar o ingresso de mercadorias importadas, as
quais eram comercializadas livremente pelas ruas da capital. Cf. José Roberto
do Amaral Lapa, A Bahia e carreira da Índia (São Paulo: Hucitec/ Editora da
Unicamp, 2000), p. 229-252.
80
Ordem Real de 04 fev. 1711. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.6, D. 519.
81
“Deste procedimento na verdade injusto intentaram agravar os capitães e além de lhes
impedir o recurso os intimidou de sorte o capitão-mor da capitania para que se espoliarem
todos os que não se satisfizessem a dar entrada naquela Alfândega, descarregando nelas
as fazendas que levavam para Pernambuco sem atender a que foram àquele porto da
necessidade e caso fortuito do contratempo que experimentavam”. AHU_ACL_CU_014,
Cx.5, D. 423.
121
MOZART VERGETTI DE MENEZES
82
AHU_ACL_CU_014, Cx.5, D. 423. Segundo Amaral Lapa, para o caso de
solicitação de franquias em Salvador, havia muita esperteza dos mestres de
navios, pois costumavam burlar o regimento da Alfândega baiana, ingressando
no porto sem autorização, alegando que o navio estava aberto. Cf. Lapa, A
Bahia e a carreira da Índia, p. 10.
83
AHU_ACL_CU_014, Cx.6, D. 501. É muito provável que esta carga fosse
despachada junto com a produção da capitania de Pernambuco para a Europa.
Segundo Amaral Lapa, “é de se lembrar ainda que as balanças de comércio de Portugal
com seus domínios ultramarinos, dado o monopólio que se praticava, poucos elementos nos
dão para verificarmos o seu montante entre uma possessão e outra, mas apenas entre a
metrópole e estas e vice-versa”. Cf. Lapa, A Bahia e a carreira da Índia, p. 230. Sobre as
balanças de comércio, ver José Jobson de A. Arruda, O Brasil no comércio colonial
(São Paulo: Ática, 1980). É oportuno, também, ressaltar que alguns estudos
hoje em dia já privilegiam exatamente as trajetórias de vida de comerciantes
que atuavam entre as possessões no Império português, como é o caso do
trabalho de João L. R. Fragoso, Homens de grossa ventura: acumulação e hierarquia
na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830) (Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 1992). Apesar de inovarem quanto à descoberta de novos parâmetros
de desenvolvimento econômico, inclusive descortinando processos de
acumulação nas áreas fora do eixo Lisboa - Europa, deslocando a relação
preponderante do exterior da colônia para seu interior, estes estudos em nada
invalidam a dimensão do monopólio que se praticava pela metrópole. Ou
seja, não excluem “a compreensão global desse processo histórico particular [que] envolve
a captação [da] interação dialética entre a condição colonial articulada a metrópole e a
formação social escravista da colônia (...) condição colonial [que] não significa, contudo,
a exclusão permanente e definitiva da ação dos homens coloniais na busca de sua
autodeterminação”. Cf. José Jobson de Arruda, “O sentido da colônia: revisitando
a Crise do Antigo Sistema Colonial”, in José Tengarrinha (org.), História de
Portugal, 2. ed. (Bauru: Edusc; São Paulo: Unesp; Lisboa: Instituto Camões,
2000), p. 248.
84
AHU_ACL_CU_014, Cx.6, D. 501.
85
Sem solução para seu pleito, o mestre e o capitão da Charrua Nossa Senhora
e Almas, Manuel João e João Gonçalves Lima, clamaram em 1728 que o rei
obrigasse ao escrivão da Fazenda, Bento Bandeira de Melo (o neto) a devolver
os emolumentos pagos a ele na vistoria que havia feito ao navio; pois já os
havia pago a quem deveria, ao escrivão da Abertura da Alfândega e meirinho
dela. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx. 7, D. 562; D. 572; D. 586; e D. 647.
86
Virgínia Rau, A Casa dos Contos (Coimbra: FLUC, 1951), p. 416 e p. 414.
87
“Ainda em 1633 os provedores da Fazenda em Lisboa declaram que ‘se não pode dar
crédito ao caderno que veio das ditas despesas da Índia por virem em algarismos’ e exigem
122
DOAÇÕES E CONTROLE DE CARGOS
que Goa remeta os livros originais, com os registros feitos segundo a norma tradicional dos
Contos: por extenso e em numeração romano peninsular”. Vitorino Magalhães
Godinho. “Finanças Públicas e estrutura do Estado”, in Joel Serrão (dir.),
Dicionário de História de Portugal (Porto: Livraria Figueirinhas, s.d.), p. 256.
88
Segundo o provedor eram seis: “a saber: um para se carregar nele ao almoxarife
todos os efeitos da Fazenda Real, outro para a saída deles, outro para se carregarem o dito
almoxarife os efeitos pertencentes às fortificações, outro para a saída deles, e outro para
se carregar o procedimento da dízima da alfândega ao tesoureiro dela e outro para se
carregarem os direitos dos contratos dos dízimos”. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx.5,
D. 338. Sobre o registro contábil, durante o século XVII, se dizia nos Contos
que, das contas que davam os almoxarifes, pelo emaranhado dos registros
contábeis, seria impossível saber o que se gastava em cada ano separadamente,
“pois as despesas estão místicas”. Cf. Godinho. “Finanças Públicas e estrutura do
Estado”, p. 256.
89
Quanto às diferenças entre um procedimento e outro, ver os pertinentes
comentários de Dauril Alden, Royal goververnment in colonial Brazil, p. 289-290.
90
Na solicitação havia a exigência de se “enviar uma relação dos últimos dez anos de
todas as letras e efeitos que dessa capitania se enviaram ao Conselho Ultramarino (...)
contanto o dia, mês e ano em que se passaram, detalhando as folhas dos livros de receita
que se carregaram e por quem foram feitas e assinadas”. Cf. AHU_ACL_CU_014,
Cx.5, D. 341.
91
AHU_ACL_CU_014, Cx.5, D. 341.
92
AHU_ACL_CU_014, Cx.5, D. 366.
93
AHU_ACL_CU_014, Cx.5, D. 366.
94
Dizia o governador Pedro de Gusmão, “achei os irmãos da Mesa da Misericórdia
desta cidade com discórdia e desunião entre si o qual os reduziu o escrivão dela o padre
Inácio Pereira de Azevedo ... [ que ] cego de sua ambição ou apossado da inimizade com
o provedor da Fazenda de V. Majestade, quis ultrajá-lo com o poder do cargo de escrivão
da Misericórdia intentando expulsar de capelão da dita Misericórdia ao padre Salvador
Quaresma Dourado, filho do dito provedor da Fazenda de V. Majestade”. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx. 8, D. 650.
95
AHU_ACL_CU_014, Cx. 7, D. 614.
96
Segundo o governador Pedro de Gusmão, “foi tão público nesta cidade... o
escandaloso procedimento com que o padre Inácio P. de Azevedo se animou .. com o fim de
se introduzir na Casa de Misericórdia como capelão pela via da expulsão que fez fazer ao
padre Salvador Quaresma Dourado”. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx. 8, D. 650.
Num outro documento dizia o padre Azevedo que “é o dito [Salvador Dourado]
pobre, sem possuir bens algum ou propriedade de que se remedeie; e se vale da Fazenda Real
de Sua Majestade com muita largueza, por vezes muito continuada com o pretexto de que
o faz a conta dos seus ordenados com a confiança de que ninguém lhe toma as contas.
123
MOZART VERGETTI DE MENEZES
Sendo estes que não chegam para sustentar uma grande família de porta a dentro e de
porta a fora”. Cf. AHU_ACL_CU_014, Cx. 7, D. 614.
97
AHU_ACL_CU_014, Cx. 8, D. 701.
98
AHU_ACL_CU_014, Cx. 8, D. 710.
99
AHU_ACL_CU_014, Cx. 8, D. 696. Isto não o livrou nem das observações
do seu amigo, o governador Francisco Pedro de Mendonça Gurjão, para quem,
apesar de reconhecer a honestidade do falecido, constava que “no decurso de
cinqüenta e um para cinqüenta e dois anos em que serviu esta ocupação houvesse peita de
retroceder ao que era lícito (...) tirando algum dinheiro a conta do seu ordenado”. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx. 8, D. 692.
100
Bento Bandeira tomou posse no cargo, mesmo que a contragosto do
governador “pois [este] não reconhecia [nele] todos os requisitos”. Cf.
AHU_ACL_CU_014, Cx. 8, D. 692.
124
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO
POMBALINO E SEUS REFLEXOS NAS
CAPITANIAS DO NORTE
DA AMÉRICA PORTUGUESA
Ricardo Pinto de Medeiros
125
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
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POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
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RICARDO PINTO DE MEDEIROS
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POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
QUADRO 1
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RICARDO PINTO DE MEDEIROS
130
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
minha ordem, feita pelo seu Escrivão, e coberta com a sua rubrica para
por ela darem parte em todo o tempo que lhe for preciso depois da
execução da referida assistência de braço militar, ao seu Oficial maior:
advertindo que todo aquele que nela se houver com alguma frouxidão e
menos expedição do que confio no zelo com que servem a Sua Magestade
não só lho estranharei, porém procederei com o castigo que for justo, e aos
que prontamente assistirem na forma expedida, e ajudarem voluntarios
a proporção das suas possibilidades com as cabeças de gado, e mantimentos
precisos a união dos Índios nos trânsitos que fizerem para o referido
efeito a fim de se consolidarem os estabelecimentos a que se dirige o dito
Ministro.”16
É interessante observar que nos sertões da região em análise, além
das aldeias existentes, havia ainda grupos indígenas que não estavam
aldeados, vivendo ou tendo voltado a viver de “corso”, tendo sido
fundamental para a ação do ouvidor geral das Alagoas na parte que
lhe coube, o trabalho anteriormente realizado pelo sargento-mor
Jerônimo Mendes da Paz, personagem fundamental no processo de
implantação da ordem pombalina nos sertões do São Francisco.
Em 23 de dezembro de 1759, o governador de Pernambuco e
capitanias anexas, Luiz Lobo Diogo da Silva expede portaria ordenando
que os capitães mores dos distritos e capitães mores das aldeias, a
quem o sargento mor Jerônimo Mendes da Paz enviasse carta sua, e
relação da gente necessária, acompanhada da dita portaria, a enviassem
com toda brevidade ao lugar destinado, para se unirem com ele e
seguirem suas ordens17.
A instrução passada ao sargento mor Jerônimo Mendes da Paz
pelo governador, no dia seis de janeiro do ano seguinte, fornece
informações preciosas de como foi pensada a implantação das
modificações do período pombalino nos sertões de Pernambuco, a
partir da situação existente. Em primeiro lugar, critica-se o sistema
missionário de administração dos índios até então vigente e, em seguida,
menciona-se cartas recebidas do comandante do Ararobá e
representação dos seus moradores, sobre as hostilidades, roubos,
mortes e outros insultos que os índios Paraquió, unidos às nações
Pipipam, Xocó, Mangueza e Guegue, tendo estas duas últimas não
131
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
132
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
133
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
20
a gente do rio de São Francisco, ou com qualquer outra bandeira.”
Dois dias depois, ordena também a Pedro Soares de Mendonça,
sargento-mor dos índios da mesma nação, que com sua gente auxiliem
no combate aos índios das nações Xocós, Oguês, Mangueses, Pipipans,
Umans e Caracuis, desde Santa Luzia e cabeceiras do Rio Piranhas, no
sertão da Capitania da Paraíba até o rio Pajau, no de Pernambuco, e
recomenda que os Icós soldados não cometam mortes, nem crueldades,
nem maltratem os presos, nem façam agravos aos moradores onde
passarem e nem causem prejuízos nos gados e lavouras21.
O processo de combate aos índios rebeldes no sertão de
Pernambuco foi acompanhado da redução dos índios não aldeados e
da transferência compulsória dos grupos aliados para as vilas que
estavam sendo erigidas nas aldeias mais populosas e da repartição de
índios pelos moradores e para trabalhar nas obras públicas como mão-
de-obra compulsória.
Em carta de seis de julho de 1760, Jerônimo Mendes da Paz relata
a entrada que mandou fazer aos índios silvestres, tendo mandado uma
bandeira aos Paraquiós com o auxílio dos Carnijós e que esta “colheu”
170 índios. Também informa que foram aprendidos alguns mangueses
pela bandeira do Piancó, composta pelos índios da nação Icozinhos,
Panatis e Oguês22.
Uma semana depois, escreve novamente ao governador relatando
a chegada de trinta índios Corema da missão do padre Frei Próspero.
Informa que no dia 07 de julho haviam chegado dezoito Tamanquiús
e seis Caracuís do Rio de São Francisco e dos índios que se tinha
“colhido” havia enviado alguns dos velhos e mulheres de volta ao sertão
para ver se convenciam os outros a descerem. Dos Manguenzes enviou
quinze ao comandante do Ararobá e catorze dos oguêz não enviou
imediatamente para tentar com eles reduzir os outros ou “colher” mais23.
Em carta do governador de Pernambuco para Jerônimo Mendes
da Paz, escrita em agosto de 1760, ficamos sabendo um pouco mais
sobre o destino dos índios que estavam sendo “colhidos” nas bandeiras
do sertão:
“Os cento e sessenta e nove índios paraquiós que chegaram a esta vila
remetidos da do Penedo, com um capitão e oito soldados da ordenança
134
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
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RICARDO PINTO DE MEDEIROS
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POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
QUADRO 2
Vilas e lugares de índios criados pelo Ouvidor das Alagoas
Manuel de Gouveia Alvares
A LD EIA S
VILA / EXISTEN TES
LOCA L FO G O S A LMA S DA TA
LUGA R OU
A GREGA DA S
Coripós,
Vila da Ilha de Inha muns, Sã o
Sertã o do
Sa nta Ma ria Felix, Ara ca pá ,
Sã o 257 668 1761
(a ntiga Ara ripe, Ponta l e
Fra ncisco
Ara puá ) índios Uma ns
tra zidos do ma to
Vila da Ilha de
Sertã o do Axa rá , Va rge,
Assunçã o
Sã o Soroba bé, Brejo 256 713 1761
(a ntiga
Fra ncisco do Ga ma
Pa mbú)
Luga r de
Sã o Bra z, Ala goa
Porto Rea l
Comprida e 407
(fa zenda
- índios da 113 ou 1762
Ur ubu Mirim
Pa lmeira e olhos 470
que foi dos
de á gua dispersos
Jesuíta s)
Missã o de N. S.
Sertã o do Vila de da s Monta nha s
- 722 1762
Ara robá Cimbres (a ldeia do
Ara robá )
Sertã o do Luga r de
Comuna ti 130 410 1762
Ara robá Água s Bela s
Beira Luga r
Una - 293 1763
Ma r Ba rreiros
Ur ucu, Sa nto
Ama ro, Ma ca co e
índios que
v iv ia m dispersos
- Vi l a At a l a i a na s pa lhoça s da 229 924 1764
Ga meleira ,
Pa lmeira ,
Ma incó,
Sa ba la ngá
139
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
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POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
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RICARDO PINTO DE MEDEIROS
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POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
143
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
principal chefe a quem sete ou oito mil almas que domina, respeitam com
inteira obediência, como por se achar condecorado com o hábito de S.
Iago, e o mesmo pratiquei com o da Parangaba, João Soares Algodão
por motivos de igual qualidade, ainda que não de tanta força por ser
menos numerosa a aldeia, que governa, aos quais dei a cada um, um
vestido, e para a mulher do primeiro um corte de seda (...)tudo por me
parecer justo distingui-los e contenta-los afim de que os outros lhes
conservassem respeito, e os povos, vendo que eu lhe atendia, os tratassem
com decência: maiormente quando ambos tem comprovado em todas as
ocasiões que se tem oferecido do Real Serviço per si, e seus antecessores,
ações qualificadas de valor e exemplares mais fortes da fidelidade.”43
Os conflitos de interesse entre as liderenças indígenas e a nova ordem
que se queria implantar, ficam claros durante a estadia no Recife. O
mestre de Campo da Serra da Ibiapaba, reinvidica direitos de cobrança
de impostos e posse de terra. É interessante observar que o governador
não cede na questão da cobrança dos impostos, mas permite uma
distribuição especial das terras, o que é um exemplo interessante da
interação entre as políticas indígena e indigenista no momento em
questão:
“O dito mestre de campo D. Felipe de Souza se houve com tal bizarria
, que na minha presença, cedeu toda a civilidade, que lhe provinha das
potaba, que cobrava como principal da Ibiapaba, as quais consistiam
em meia pataca que lhes passava cada índio, que saía a comboiar gados
por todo este continente, sem que fosse preciso mais, que dizer-lhe que não
era justo, que ele percebesse contribuições daquelas mesmas pessoas, de
quem El Rey Nosso Senhor como legítimo soberano os podia cobrar, e
não levava. O mesmo me representou que para sustentar com decoro
correspondente ao posto, e honras com que Sua Magestade Fidelíssima
o havia distinguido, se lhe fazia preciso o dito senhor lhe conservasse uma
fazenda de gado, que possuía com duzentas cabeças e lhe desse terra
para estabeleceu outra afim de que pela utilidade de ambas se pudesse
decentemente entreter e a sua família sem extorquir dos seus súditos
porção alguma de que se prevalecesse, por não querer nesta parte incorrer
na justa indignação do mesmo senhor vista a honra que lhe fazia em
determinar fossem tratados com os mais portugueses, e segundo as
144
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
graduações dos seus postos. Confesso a Vossa Excelência que esta rogativa
me pareceu tão justa, unida a reflexão da muita terra que há na Serra
da Ibiapaba, que me não pude dispensar de avisar ao Ouvidor Geral a
que lha desse, além da porção, que lhe toca pelo diretório(...)Outros acho
que me pediram o mesmo a respeito de menores porções de terra que
compraram com o seu trabalho, em que faziam as suas plantas e
entretinham algumas cabeças de gado, que ganharam nos serviços que
fizeram entre os brancos e como entendi, que pelo benefício da cultura
não deviam ser de pior condição, antes era justo premiar a atividade de
a fazerem, (...) ordenei ao dr. Ministro, que além das que tivessem bem
fabricadas, e povoadas lhes desse as que lhe tocam pelo Diretório, querendo-
as, e sendo-lhes precisas em quanto o mesmo sr. não mandar o contrário.”44
A rebeldia destes capitães mores pode ser percebida na carta do
governador de Pernambuco ao diretor da Aldeia do Panati, no sertão
da capitania da Paraíba em 04 de junho de 1761:
“fico no conhecimento da pouca obediência e grande desarranjo em que se
acham os índios desta missão, pela desordem em que estavam criados e
mau procedimento do capitão-mor, e outros oficiais seus parciais, e como
as circunstancias que pondera a respeito das conseqüências que receia, se
originam de prender os cabeças do referido desmancho, atendendo ao
estado presente em que se acham, podem servir de obstáculo a fazer-se
diligência descoberta, se faz necessário usar do caminho da indústria
para se alcançar a separação dos perturbadores, o que se facilita,
mandando a V.M. o dito capitão mor e mais os motores do seu séqüito
a esta praça com carta de recomendação em que diga são os primeiros
para os empregos e como tais vem dar juramento de suas patentes e
instruir-se das novas ordens de Sua Majestade Fidelíssima, para saber
o que há de praticar com acerto, sem que na dita carta inclua outra
alguma circunstância de que possa presumir se procura proceder contra
eles, ou deixa V.M. de se interessar verdadeiramente a seu respeito.
Para que eles não repugnem a este meio lhes lembrará que a criação das
ditas vilas que se formarem tem procedido virem receber as ditas instruções
os cabos mais distintos delas, como praticou D. Felipe de Souza Mestre
de Campo da Ibiapaba, hoje Vila Viçosa Real, Algodão e todos os
mais, o que lhe não pode deixar de ser manifesto, da mesma sorte, que a
145
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
Considerações Finais
Para ilustrar como se deu a recepção e aplicação destas novas leis e
os diversos interesses envolvidos, é interessante observar que, no
período entre fins das missões e criação das vilas, surgem rumores de
levantes entre os índios, como por exemplo na aldeia de Guajirú, na
Capitania do Rio Grande e Baía da Traição, na Paraíba. O resultado de
146
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
147
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
***
Anexo 1
Vila do Recife
Aldeia de Nossa Senhora da Escada, cita na freguesia de Ipojuca, de índios de
língua geral. Missionário religioso da Congregação do Oratório. [1]
Vila de Igarassú
Aldeia do Limoeiro, cita na freguesia de santo Antônio de Tracunhaém, de
índios de língua geral. Missionário religioso da dita congregação. [2]
Vila de Goiana
Aldeia do Aratagui, cita na freguesia da Tacoara, junto ao Rio chamado Papoca
de Baixo, invocação a Nossa Senhora da Assunção, é de índios da língua geral.
Missionário religioso dito acima.[3]
Aldeia do Ciry , cita ao pé do rio assim chamado na freguesia de São Lourenço de
Tejucupapo, invocação São Miguel, índios de língua geral. Missionário religioso
do Carmo da Obervância. [4]
Vila de Serinhaém
Aldeia de Una, cita na mesma freguesia, invocação São Miguel, índios de língua
geral. Missionário religioso dito acima. [5]
Vila das Alagoas
Aldeia de Santo Amaro, que é a sua invocação, índios da língua geral. Missionário
franciscano. [6]
148
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
149
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
Aldeia de Santo Antônio, cita na ilha do Arapuá índios da nação dita. Missionário
barbono. [23]
Aldeia de Nossa Senhora da Piedade, cita na ilha do Inhanhum. Índios Kaririz.
Missionário franciscano. [24]
Aldeia de Nossa Senhora do Pillar, cita na ilha dos Coripós, nação dos Coripós,
missionário religioso franciscano. [25]
Aldeia de Nossa Senhora dos Remédios, cita na ilha do Pontal, índios da nação
Tamaquis. Missionário religioso franciscano. [26]
Aldeia do Senhor Santo Christo no Araripe, índios da nação Ichuz. Missionário
e religioso barbadinho. [27]
Rio Grande do Sul
Aldeia do Aricobé, invocação de Nossa Senhora da Conceição. Índios da língua
geral chamados Aricobés. Missionário religioso franciscano da Bahia [28]
Capitania da Paraíba
Distrito da Cidade
Aldeia da Jacoca, invocação de Nossa Senhora da Conceição. Índios de língua
geral. Missionário religioso de São Bento. [1]
Aldeia da Utinga, invocação Nossa Senhora de Nazaré. Índios de língua geral.
Missionário religioso dito acima. [2]
Mamanguape
Aldeia da Baía da Traição, invocação São Miguel. Índios da língua geral.
Missionário religioso do Carmo da Reforma. [3]
Aldeia da Preguiça, invocação Nossa Senhora dos Prazeres. Índios da língua
geral. Missionário religioso do Carmo da Reforma. [4]
Aldeia da Boa Vista, invocação Santa Teresa e Santo Antônio, índios da nação
Canindés, e Sucurus, missionário religioso de Santa Teresa [5]
Taipú
Aldeia dos Kariris, invocação Nossa Senhora do Pilar, índios Religioso
capuchinho missionário. [6]
Cariris
Aldeia da Campina Grande, invocação São João, índios da Nação Cavalcantes.
Missionário clérigo. [7]
Aldeia do Brejo, invocação Nossa Senhora da Conceição. Índios da Nação
Fagundes. Missionário religioso capuchinho. [8]
150
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
Piancó
Aldeia dos Panatis, invocação São José, índios da nação Missionário
religioso de Santa Teresa. [9]
Aldeia do Corema, invocação Nossa Senhora do Rosário. Índios da nação
Missionário religioso capuchinho. [10]
Piranhas
Aldeia do Pega, índios da nação . Missionário. [11]
Rio do Peixe
Aldeia do Icó Pequeno índios da nação Missionário. [12]
Capitania do Rio Grande
Aldeia do Apodi, invocação São João Batista. Índios da nação Payacus. Missionário
religioso de Santa Teresa. [1]
Aldeia do Mipibu, invocação Santa Anna, índios da língua geral. Missionário
religioso capuchinho. [2]
Aldeia do Gramacio, invocação Nossa Senhora do Carmo. Índios de língua
geral. Missionário religioso do Carmo da Reforma. [3]
Aldeia do Guajarú, invocação São Miguel. Índios da língua geral, e nação Payacus.
Missionário Jesuíta.Hoje vila de Extremoz do Norte, vigário o reverendo padre
Antônio de Souza Magalhães, diretor Antonio de Barros Passos, e mestre
Antônio de Barros Passos [4]
Aldeia das Guarairas, invocação São João Batista. Índios de língua geral.
Missionário Jesuíta. Hoje vila de Arêz. Vigário reverendo padre Pantalião da
Costa. Diretor Domingos Jaques da Costa, e mestre Luiz Pereira Caldas. [5]
Capitania do Ceará Grande
Aldeia dos Tramambés, cita a beira do mar no distrito da mesma ribeira do
Acaracú, invocação Nossa Senhora da Conceição, índios Tramambez. Missionário
Clérigo [1]
Aldeia da Palma, cita na ribeira do Quixeramobim, termo da vila de dos Aquiraz,
invocação Nossa Senhora da Palma. Índios das nações Canindés e Jenipapos.
Missionário Clérigo [2]
Aldeia da Telha, cita na Ribeira do Quixelou, distrito da Vila de Icó, invocação
Santa Anna, índios das nações – Quixelôs,Quichiriú, Jucá, Candadú e
Cariú.Missionário Clérigo [3]
151
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
Aldeia do Miranda, cita nos Kariris Novos, distrito da Vila de Icó, invocação
Nossa Senhora da Penha de França, índios das nações Quicheriú, Cariú, Caruasú,
Calabaça e Icozinho. Missionário R. Capuchinho.[4]
Aldeia da Serra da Ibiapaba, cita em cima da dita serra, distrito da ribeira do
Acaracú, invocação Nossa Senhora da Assunção. Índios das quatro nações, a
primeira e principal da língua geral chamados Tabajaras, e as três chamados
Acaracú, Irariú e Anasssez. Missionário Jesuíta. Hoje vila Viçosa Real. Vigário o
Reverendo Padre Luiz do Rego Barros, diretor Diogo Rodrigues Correa, e mestre
Albano de Freitas [5]
Aldeia da Caucaia, cita no distrito da vila de Fortaleza, ribeira do Ceará, invocação
Nossa Senhora dos Prazeres, índios de língua geral. Hoje vila de Soure.Vigário
o reverendo Padre Inácio Ribeiro Maia, Diretor José Pereira da Costa e Mestre
Manoel Félix de Azevedo. [6]
Aldeia da Parangaba, cita no distrito da mesma vila, e ribeira, invocação o Senhor
Bom Jesus, índios da língua geral, e da nação Anassez. Hoje Vila Nova de
Arronches. Vigário o Reverendo Padre Antônio Coelho do Amaral. Diretor
Manuel de Oliveira Lemos, e Mestre João Dias da Conceição [7]
Aldeia do Paupina, cita no distrito da mesma vila, invocação Nossa Senhora da
Conceição , índios da língua geral. Missionário Jesuíta. Hoje vila de Messejana.
Vigário o reverendo padre Manuel Pegado de Siqueira. Diretor José de Freitas
das Neves e Mestre Elias de Souza Paes.[8]
Aldeia do Paiacú, no distrito da vila do Aquiraz, invocação Nossa Senhora da
Conceição. Índios da nação Paiacús. Missionário Jesuíta. Hoje lugar de Monte-
Mor o novo da América, vigário o Reverendo Padre Agostinho Pacheco, Diretor
Duarte Tavares do Rego e Mestre Inácio da Assunção. [9]
152
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
Anexo 2
153
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
Notas
1
Para um maior apronfudamento sobre o processo de etnogênese no Nordeste
contemporâneo, ver João Pacheco de Oliveira, “Uma etnologia dos ‘indios
misturados’? Situação Colonial, territorialização e fluxos culturais”, in João
Pacheco de Oliveira, org., A viagem da volta: etnicidade, política e reelaboração
cultural no Nordeste indígena (Rio de Janeiro: Contracapa, 1999), p. 11-39.
José Maurício Andion Arruti, “Morte e vida do Nordeste indígena: a emergência
étnica como fenômeno histórico regional”, Estudos Históricos, v. 8, n. 15 (Rio
de Janeiro, CPDOC-FGV, 1995), p. 57-94.
2
Há uma imensa bibliografia sobre este personagem e período da história
portuguesa, bastante criticado por uns e louvado por outros. Entre as obras
consultadas para este trabalho, mereceram atenção especial, pela sua abordagem
mais recente e específica em relação às conseqüências para a história político-
administrativa do Brasil: Charles R. Boxer, “A ditadura pombalina e suas
conseqüências (1755-1825)”, in Charles R. Boxer, O Império Colonial Português:
textos de cultura portuguesa (Lisboa: Edições 70, 1977); André Mansui-Diniz
Silva, “Portugal e o Brasil: a reorganização do império, 1750-1808”, in Leslie
Bethell, org., História da América Latina - vol. I (São Paulo: Edusp, 1988);
Kenneth Maxwell, Marquês de Pombal: paradoxo do iluminismo (Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1996); Francisco Calazans Falcon, “Pombal e o Brasil”, in José
Tengarrinha, org., História de Portugal (Bauru: Edusc; São Paulo: Editora da
Unesp; Lisboa: Instituto Camões, 2001).
3
Maxwell, Marquês de Pombal, p. 139.
4
Para um visão geral sobre a influência destas leis para os índios ver: Rita Heloísa
de Almeida, O Diretório dos Índios: Um projeto de “civilização” dos índios do
século XVIII (Brasília: Editora da UnB, 1997); e Beatriz Perrone-Moisés,
“Índios livres e índios escravos: os princípios da legislação indigenista do
período colonial”, in Manuela C. Cunha, org., História dos índios no Brasil (São
Paulo: Companhia das Letras, 1992). Análises mais pontuais sobre regiões
específicas podem ser encontradas em Barickman, B.J. “Tame indians, Wild
Heathens, and settlers in southern Bahia in the late eighteenth and early
nineteenth centuries”. The Americas, v. 51, n. 3, p. 325-368, january 1995;
Patrícia Maria Melo Sampaio, Espelhos partidos: etnia, legislação e desigualdade
na colônia - Sertões do Grão-Pará, c. 1755-c.1823 (Niterói: Universidade Federal
Fluminense, Tese de Doutorado, 2001); Suely Maris Saldanha, Fronteiras dos
Sertões: conflitos e resistência indígena em Pernambuco na época de Pombal
(Recife: Universidade Federal de Pernambuco, Dissertação de Mestrado, 2002);
Regina Celestino de Almeida, Metamorfoses indígenas:identidade e cultura nas aldeias
coloniais do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003); Isabelle
154
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
Braz Peixoto da Silva, Vilas de índios no Ceará Grande: dinâmicas locais sob o
diretório pombalino (Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
da Unicamp, Tese de Doutorado, 2003); Idalina Maria da Cruz Pires, Resistência
indígena nos sertões nordestinos no pós-conquista territorial: legislação, conflito e
negociação nas vilas pombalinas, 1757-1823 (Recife: Programa de Pós-
Graduação em História da UFPE, Tese de Doutorado, 2004); Fátima Martins
Lopes, Em nome da liberdade: as vilas de índios do Rio Grande do Norte sob o
diretório pombalino no século XVIII (Recife: Programa de Pós-Graduação
em História da UFPE, Tese de Doutorado, 2005).
5
Lêda Maria Cardoso Naud, “Documentos sobre o índio brasileiro”, Revista de
Informação Legislativa, Brasília, v. 8, n. 29, 1971, p. 255.
6
Francisco Augusto Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, vol. 5 (Recife:
FUNDARPE, 1983), p. 8.
7
Naud, “Documentos sobre o índio brasileiro”, p. 263.
8
Lopes, Em nome da liberdade, p. 85-89
9
“Direção com que interinamente se devem regular os índios das novas vilas e
lugares eretos nas aldeias da capitania de Pernambuco e suas anexas”, Revista
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, n. XLVI, 1883, p. 121-171.
10
“Direção com que interinamente se devem regular os índios...”, p. 129.
11
Lopes, Em nome da liberdade, p. 82-83. Almeida, Metomorfoses indígenas, p. 170-
171.
12
Lopes, Em nome da liberdade, p. 100-124.
13
Relação das aldeias que há no distrito do governo de Pernambuco, Paraíba e
mais capitanias anexas, de diversas nações de índios[1761] In: Livro Composto,
principalmente de cartas, portarias e Mapas versando sobre vários assuntos,
relacionados com a administração de Pernambuco e das capitanias anexas.
Recife, 1760-1762. BN (Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro), códice: I -
12,3,35, f. 56-64.
14
Relação das aldeias que há no distrito do governo de Pernambuco, e capitanias
anexas, de diversas nações de índios In: Devassa que mandou proceder o
governador e capitão-general de Pernambuco, acerca do assalto que o gentio
bravo, Pipaens (Pipipans) e Paraquiós, fizeram na ribeira de Moxotó no dia 28
de Agosto de 1759, e do qual resultaram algumas mortes. Arquivo Histórico
Ultramarino_ACL_CU_LIVROS DE PERNAMBUCO, Cod. 1919, f 298-
304.
15
Ano de 1761 - Relação das aldeias a que vai o dr. ouvidor geral da comarca das
Alagoas, Manuel de Gouveia Álvares, por ordem de S. Magestade Fidelíssima,
dar nova forma de vilas, e lugares, reduzindo-as ao número competente, e
estabelecendo-lhe o regime, e polícia que as leis, e bulas pontificiais transcrevem,
e reconheceu a inata piedade do mesmo senhor, ser indispensável para se
155
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
156
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
26
Carta do gov de PE ao sargento mor Jerônimo Mendes, sobre se lhe aprovar
o meio por que uniu a Ilha de Assunção os do Pambú, e mais nações do
mato, e outros para a Ilha do Aracapá e mais particulares em que entram os
vários procedimentos dos missionários do Rio de São Francisco. 8 mai. 1761
BN - I - 12,3,35, f. 33-35v.
27
Carta do governador de PE LDLS ao gov interino do Estado Thomas Ruby
de Barros Barreto sobre vários particulares a respeito dos novos
estabelecimentos a que anda o sargento-mor Jerônimo Mendes entre os quais
é o de pedir mande ordem que os índios que se acharem refugiados nas
missões daquele Estado sejam recolhidos logo à Ilha de Assunção e S. Maria.
13 mai. 1761. BN cd I-12,3,35 , f.35v-36v.
28
Relação das aldeias que há no distrito do governo de PE, Paraíba e mais
capitanias anexas, de diversas nações de índios [1761]. BN - I - 12,3,35, f.56-
64.
29
Carta do governador de Pernambuco ao sargento-mor Jerônimo Mendes da
Paz sobre varias matérias a respeito dos estabelecimentos. 24 jun. 1761 BN -
I - 12,3,35, f.70-73.
30
Carta do governador de Pernambuco ao Sargento Mor Jeronimo Mendes,
sobre se lhe dar parte do acerto que se houve ao Ouvidor das Alagoas nos
estabelecimentos das novas Vilas; cautelas com que se houve a favor dos
índios na Ilha de Pambú em rescindir a arrematação que dela se havia feito a
particulares e o mais declarado. Recife, 1° set. 1761. BN - I - 12,3,35, f.130-131.
31
Carta do governador de Pernambuco ao dr. Ouvidor geral das Alagoas sobre
os vários particulares a respeito dos novos estabelecimentos. Recife, 1° nov.
1761 BN - I - 12,3,35, f.126-129v.
32
BN f. 145/146 - Carta do governador de Pernambuco Luis Diogo Lobo da
Silva ao doutor Ouvidor das Alagoas Manoel de Govea Alvares, sobre lhe
pedir o seu parecer para se mudar a vila da Ilha de Assunção para a povoação
do Pambu pelos referidos declarados. Recife, 14 dez. 1761. BN - I - 12,3,35,
f.145-146.
33
BN f. 147v-149v Carta do governador de Pernambuco Luiz Diogo Lobo da
Silva ao dr. Ouvidor das Alagoas Manoel de Gouvea Alvares sobre várias
matérias a respeito dos novos estabelecimentos. Recife, 16 dez. 1761 BN - I -
12,3,35, f.147v-149v.
34
Relação dos novos estabelecimentos das vilas e lugares dos índios do governo
de Pernambuco da parte do sul, executados por Manuel de Gouveia Álvares,
cavaleiro professo na Ordem de Cristo, ouvidor geral da comarca de Alagoas.
Alagoas, 12 set. 1764. AHU_ACL_CU_015, Cx. 100, D. 7810 (7811).
35
IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) códice 1.1.14 -
Correspondência do Governador de Pernambuco - 1753-1770.Cartas do
157
RICARDO PINTO DE MEDEIROS
158
POLÍTICA INDIGENISTA DO PERÍODO POMBALINO
esperar dele o desempenhe com o acerto que deve. Recife, 29 dez. 1760. BN -
I - 12,3,35, f.8-8v.
48
Ver por exemplo: Ofício do [governador da capitania de Pernambuco], Luís
Diogo Lobo da Silva, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, sobre os procedimentos dos ouvidores da
Paraíba e de Pernambuco, João Rodrigues Colaço e Bernardo Coelho da Gama
Casco, e os efeitos pouco benéficos que podem resultar aos índios. Recife, 29
nov. 1762. AHU_ACL_CU_015, Cx. 99, D. 7721; Ofício do [governador da
capitania de Pernambuco], Luís Diogo Lobo da Silva, ao [secretário de estado
do Reino e Mercês], conde de Oeiras, [Sebastião José de Carvalho e Melo],
sobre uma devassa que mandou tirar referente às atitudes do ouvidor da
capitania da Paraíba, João Rodrigues Colaço, que tem procurado destruir os
novos estabelecimentos [dos índios] e tentado entrar em conflito com o dito
governo.Recife, 15/04/1763.AHU_ACL_CU_015, Cx. 99, D. 7756; Ofício do
governador da capitania de Pernambuco, Luís Diogo Lobo da Silva, ao secretário
de estado da Marinha e Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado,
sobre as práticas do ouvidor desta capitania, Bernardo Coelho da Gama Casco,
em concordância com as atitudes caluniosas do ouvidor da Paraíba, João
Rodrigues Colaço, contra este governo, e as ofensas espalhadas contra as ordens
para se fazer o estabelecimento dos índios., Recife , 18 abr. 1763. AHU_ACL_
CU_015, Cx. 99, D. 7765. Ofício do governador da capitania de Pernambuco,
Luís Diogo Lobo da Silva, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar,
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, sobre a falta de cuidado do ouvidor
da Paraíba, João Rodrigues Colaço, ao tirar a devassa das desordens ocorridas
no Açu e o temor dos índios devido ao seu procedimento dissimulado
tentando destruir os estabelecimentos criados. Recife, 19 abr. 1763. AHU_ACL_
CU_015, Cx. 99, D. 7766.
49
Ofício dos oficiais da Câmara da cidade da Paraíba, ao [secretário de estado da
Marinha e Ultramar], Francisco Xavier de Mendonça Furtado, informando ter
ficado a cidade com limitada jurisdição com o estabelecimento de novas vilas
na capitania, em imitação ao ocorrido em São José do Rio Negro, estado do
Maranhão, para republicar os índios. Paraíba, 21 jul. 1766. AHU_ACL_
CU_014, Cx. 23, D. 1800.
159
160
A “GLORIFICAÇÃO DOS SANTOS
FRANCISCANOS”: QUESTÕES SOBRE
PINTURA, ALEGORIA BARROCA E
PRODUÇÃO ARTÍSTICA1
Carla Mary S. Oliveira
161
CARLA MARY S. OLIVEIRA
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A “GLORIFICAÇÃO DOS SANTOS FRANCISCANOS”
163
CARLA MARY S. OLIVEIRA
164
A “GLORIFICAÇÃO DOS SANTOS FRANCISCANOS”
que entre 1794 e 1801 (ou 1807) estudou em Lisboa e Roma às expensas
do seu mestre16, hipótese pouco provável, tendo em vista a data
estimada para a feitura do forro, localizada entre 1765 e 1770. Por fim,
Glauce Burity foi a primeira a destacar, ainda nos anos 80 do século
passado, que o Livro dos Guardiães do Convento de Santo Antônio da Paraíba
cita, nos registros do período em que teria sido decorado o forro,
apenas o nome de José Ribeiro, pintor dum painel “das grandezas e
excelências da ordem”17 que, para a pesquisadora, só pode ser o forro da
nave da Igreja de S. Francisco18. Já Benedito Toledo preferiu não atribuir
autoria à pintura, ressaltando sua singularidade quanto aos efeitos
ilusionistas19.
A existência dessas várias hipóteses sobre a autoria do forro da
nave só reforça o entendimento de que precisar quem o pintou não é
detalhe imprescindível à análise de suas imagens, apesar de poder ajudar
a elucidar alguns aspectos alegóricos e simbólicos presentes na obra. É
possível abordar essas imagens no mesmo patamar, por exemplo, em
que são estudadas as inúmeras e anônimas cenas da iconografia religiosa
medieval européia. Ali, na nave principal da igreja conventual, o que
emerge do discurso visual é a necessidade de manter o ritual, de reforçar
o dogma, de insuflar os ânimos através da Fé: não há, necessariamente,
precisão de se saber quem fez as imagens, já que é aquilo que elas
representam o que realmente importa. Vale aqui lembrar que
normalmente a decoração interna das igrejas conventuais, no Brasil
colonial, demandava o trabalho de gerações sucessivas de religiosos,
que tentavam estabelecer relações entre as diferentes fases da construção,
fosse através de um planejamento prévio, fosse através de adaptações
sucessivas de um conceito geral que norteava o repertório iconográfico
de cada ordem ou congregação.
Um dos primeiros dilemas com que o historiador se depara, ao
analisar qualquer tipo de iconografia, certamente é aquele identificado
por Panofsky ainda na década de 40 do século XX: a imagem deve ser
considerada como um monumento ou como um documento?20 Esse
impasse permeia qualquer trabalho que pretenda discutir mais a fundo
as implicações simbólicas da produção artística barroca no Novo
Mundo. A falta de documentação e registros feitos pelos artistas -
como crônicas ou diários - ou mesmo a destruição de documentos
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CARLA MARY S. OLIVEIRA
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A “GLORIFICAÇÃO DOS SANTOS FRANCISCANOS”
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A “GLORIFICAÇÃO DOS SANTOS FRANCISCANOS”
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A “GLORIFICAÇÃO DOS SANTOS FRANCISCANOS”
171
CARLA MARY S. OLIVEIRA
Figura 6 - Medalhão
central de Glorificação
dos Santos Franciscanos
ou Glorificação de São
Francisco, pintura do
forro da nave principal
da igreja do Convento
de Santo Antônio da
Paraíba. Madeira
policromada, autoria
incerta, c. 1765.
Foto de Carla Mary S.
Oliveira (1999).
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CARLA MARY S. OLIVEIRA
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A “GLORIFICAÇÃO DOS SANTOS FRANCISCANOS”
Notas
1
Este trabalho foi apresentado, numa versão preliminar e reduzida, sob o título
“Alegoria barroca: poder e persuasão através das imagens na Igreja de São
Francisco (João Pessoa - PB)”, no IV Congresso Internacional do Barroco Ibero-
Americano: Território, Arte e Sociedade, realizado na cidade de Ouro Preto (MG),
entre os dias 31 de outubro e 3 de novembro de 2006. Agradeço a Cristiano
Amarante, ex-guia do Centro Cultural São Francisco, profundo conhecedor
daquele monumento, pelo muito que aprendi com ele acerca da simbologia e
liturgia franciscanas nas diversas vezes em que visitei o Convento de Santo
Antônio da Paraíba com meus alunos entre 2000 e 2006. Insights preciosos
surgiram a partir de suas divagações e explicações sobre detalhes da pintura do
teto da nave nessas visitas. Agradeço também às Irmãs Isabel Sofia e Valéria
Rezende, da Congregação de Nossa Senhora, amigas que me tiraram dúvidas
em relação aos paramentos religiosos de bispos, cardeais e papas e,
especialmente, aos usos e práticas conventuais coloniais quanto à penitência e
à autoflagelação.
2
“Aos pintores e poetas o poder de ousar sempre foi justo”.
3
Apesar de o orago da Igreja ser, comprovadamente, Santo Antônio de Pádua,
já que são cenas da vida e dos milagres do frade português que ilustram o teto
do altar-mor, a população pessoense, desde há muito, denomina a Igreja
como “de São Francisco”. Possivelmente isso ocorreu pelo fato de as cenas
alusivas aos milagres de Santo Antônio terem sido encobertas por tinta azul
numa desastrosa reforma que substituiu o altar-mor barroco carcomido pelos
cupins por outro, de feições neoclássicas, na primeira década do século XX e
cujo equívoco só foi corrigido na restauração do prédio pelo IPHAN, concluída
em 1989. Em 1935, o Cônego Florentino Barbosa ainda se referia à Igreja
como “de Santo Antônio” e citava, com pesar, a reforma do altar-mor e a
pintura sobre as imagens do forro, em artigo publicado na revista do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. O Convento, no entanto, sempre foi
conhecido por sua invocação original. Talvez essa “escolha” dos habitantes
locais também se explique justamente pela pintura do forro da nave, que
sempre se manteve em boas condições de conservação e onde S. Francisco de
Assis tem lugar de destaque não só no medalhão central, assim como nos
quatro medalhões menores que mostram episódios marcantes da vida do
fundador da ordem seráfica. Cônego Florentino Barbosa, “O Convento de
São Francisco”, Revista do Instituto Histórico e Geographico Parahybano, n. 8 (João
Pessoa: IHGP, 1935), p. 14.
4
Germain Bazin, A arquitetura religiosa barroca no Brasil - Vol. 1, tradução de
Glória Lúcia Nunes (Rio de Janeiro: Record, 1983), p. 149.
179
CARLA MARY S. OLIVEIRA
5
Mário de Andrade, O turista aprendiz (São Paulo: Duas Cidades/ CSST-SP,
1976), p. 313-314.
6
Elias Herckmans, “Descrição geral da Capitania da Paraíba” [1639], in José
Antônio Gonsalves de Mello, org., Fontes para a História do Brasil holandês,
Volume II: A administração da conquista (2. ed., Recife: Companhia Editora
de Pernambuco, 2004), p. 65.
7
Glauco de Oliveira Campello, “Construções franciscanas no Nordeste”, in: O
brilho da simplicidade: dois estudos sobre arquitetura religiosa no Brasil colonial
(Rio de Janeiro: Casa da Palavra/ Departamento Nacional do Livro, 2001), p.
33-91.
8
Elemento de primeiro plano em uma pintura, desenho ou gravura, de tons
mais fortes, que tem o objetivo de destacar outro elemento da composição ou
produzir, através do contraste, um efeito de profundidade.
9
Fr. Venâncio Willeke (introdução e notas), “Livro dos guardiães do Convento
de Santo Antônio da Paraíba (1589-1885)”, Stvdia, n. 19 (Lisboa: Centro de
Estudos Históricos Ultramarinos, dez. 1966), p. 192.
10
À qual se atribui, atualmente, o título de “Glorificação dos Santos Franciscanos”
ou “Glorificação de São Francisco”.
11
Cônego Florentino Barbosa, Monumentos históricos e artísticos da Paraíba (João
Pessoa: A União Editora, 1953), p. 46.
12
José Luiz da Mota Menezes, “O convento franciscano de Santo Antônio
(João Pessoa - PB)”, Revista Universitas, n. 17 (Salvador: Universidade Federal
da Bahia, 1977), p. 67.
13
Carlos Ott, Pequena história das artes plásticas na Bahia entre 1550-1900 (Salvador:
Alva, 1989), p. 20.
14
Antonio Luiz D’Araújo, Arte no Brasil colonial (Rio de Janeiro: Revan, 2000),
p. 110.
15
Octacílio Nóbrega de Queiróz, “Um enigma barroco sobre o autor do painel
da Igreja de S. Francisco”, Correio da Paraíba, João Pessoa, 13 mai. 1973.
16
Carlos Ott, “José Joaquim da Rocha”, Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, n.15 (Rio de Janeiro: SPHAN, 1961), p. 95. Clarival do Prado
Valladares, “O ecumenismo na pintura religiosa brasileira dos setecentos”,
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 17 (Rio de Janeiro: SPHAN,
1969), p. 193; D’Araújo, Arte no Brasil colonial, p. 112.
17
Willeke, “Livro dos guardiães”, p. 191.
18
Glauce Maria Navarro Burity, A presença dos franciscanos na Paraíba através do
Convento de Santo Antônio (Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1988), p. 81.
19
Benedito Lima de Toledo, “Do século XVI ao início do século XIX:
maneirismo, barroco e rococó”, in: Walter Zanini, org., História geral da arte no
Brasil - Vol. I (São Paulo: Instituto Walter Moreira Salles, 1983), p. 147.
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