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1. CONCEITO
A expressão “improbidade administrativa” é a terminologia/designativo técnico para definir a corrupção
administrativa, que se apresenta como um desvirtuamento da função pública somado à violação da
ordem jurídica.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
DESVIRTUAMENO DA FUNÇÃO PÚBLICA
VIOLAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA
Normas que tratem de direito civil, eleitoral e processual: A competência é privativa da União
(art. 22, I da CF).
Normas procedimentais de direito processual civil: Nessa hipótese, a competência é concorrente
da União, Estados e DF (Municípios não).
Normas de direito administrativo: A competência será de cada ente político, sendo possível que
os Estados, DF e Municípios tratem de maneira diversa.
4. NATUREZA DO ATO DE IMPROBIDADE
Julgando a ADI 2797, o STF entendeu que o ilícito de improbidade tem natureza JURÍDICA CIVIL (apesar
de algumas sanções acabarem atingindo a esfera política).
Contudo, nada impede que uma mesma conduta seja submetida a diferentes esferas de responsabilidade
(penal, administrativa, etc.). Essas responsabilidades são reguladas por diplomas distintos:
Se o sujeito for absolvido, no processo penal, por insuficiência de provas, não haverá qualquer
comunicação (não há consequências nas outras instâncias), podendo vir a ser condenado nos
demais processos (insuficiência de provas não gera comunicação).
O mesmo ocorre se o sujeito que foi absolvido no processo criminal, em razão da ausência de
dolo (o agente praticou o ato apenas na forma culposa, o que não era exigido pelo tipo), pois nas
outras esferas pode ser exigida apenas a culpa, por exemplo.
Se, no processo penal, ficar configurada uma excludente, essa matéria faz coisa julgada para os
demais processos. Observe-se que isso não significa a absolvição automática; o que se reconhece
é a existência da excludente, mas ainda podem remanescer as consequências jurídicas do ato,
como por exemplo, a obrigação de reparar os danos civis.
A jurisprudência admite prova emprestada aproveitada pelas demais esferas (inclusive
interceptação telefônica), sempre respeitando a ampla defesa e o contraditório. Isso é muito
comum na via administrativa.
Não há obrigatoriedade de suspensão dos processos nas outras esferas enquanto não advém a
decisão criminal.
4.2. AÇÃO DE IMPROBIDADE X CRIMES DE RESPONSABILIDADE – AGENTES POLÍTICOS
Atualmente, “a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente quanto à aplicação da Lei de
Improbidade Administrativa aos agentes políticos. ” (STJ, AgRg nos EREsp 1294456/SP, DJ 13/05/2015).
Essa é a regra geral.
O STJ e o STF, todavia, possuem precedentes que afastam das ações de improbidade administrativa dois
agentes sujeitos a crimes de responsabilidade em regime especial: o Presidente da República (STF, AC
3585 AgR/RS, DJ 02/09/2014) e os Ministros do STF (STJ, REsp 1168739/RN, DJe 11/06/2014).
5. SUJEITO PASSIVO DO ATO DE IMPROBIDADE
Como explica CARVALHO FILHO, sujeito passivo do ATO de improbidade é a pessoa jurídica que a lei
indica como vítima do ato de improbidade. Nem sempre essa pessoa se qualifica como pessoa
eminentemente administrativa (a lei ampliou a noção, a fim de alcançar também algumas entidades que,
sem integrar a Administração, guardam algum tipo de conexão com ela).
É possível concluir que pode figurar como sujeito passivo (vítima) do ato de improbidade:
A) A ADMINISTRAÇÃO DIRETA: Entes políticos: União, Estados, Municípios e DF.
B) A ADMINISTRAÇÃO INDIRETA: Autarquias, fundações públicas, empresa pública e sociedade de
economia mista (quanto às empresas estatais, é irrelevante saber se são prestadoras de serviço ou não,
pois a lei não faz distinção). O motivo pelo qual o legislador destacou a “administração fundacional”
justifica-se por razões históricas, já que, ao tempo da promulgação da Lei, ainda não havia consenso
acerca da fundação pública. Os territórios também podem sofrer ato de improbidade, caracterizando-se
como autarquias.
C) EMPRESAS INCORPORADAS PELO PODER PÚBLICO: São as empresas compradas pelo Poder Público.
D) ENTIDADE PARA CUJA CRIAÇÃO OU CUSTEIO O ERÁRIO HAJA CONCORRIDO OU CONCORRA AINDA
COM MAIS DE 50% DO PATRIMÔNIO OU DA RECEITA ANUAL : São as pessoas jurídicas de direito privado
que estão fora da administração, mas que Estado participa com mais de 50% do patrimônio/receita
anual. Ex: entidade cujo imóvel doado pelo Poder Público equivalha a 70% de seu patrimônio.
E) ENTIDADE QUE RECEBA SUBVENÇÃO, BENEFÍCIO OU INCENTIVO, FISCAL OU CREDITÍCIO DE ÓRGÃO
PÚBLICO, BEM COMO AQUELAS ENTIDADES PARA CUJA CRIAÇÃO OU CUSTEIO O ERÁRIO HAJA
CONCORRIDO OU CONCORRA COM MENOS DE 50% DO PATRIMÔNIO OU DA RECEITA ANUAL :
Exemplos: instituição filantrópica que receba tais benefícios; pessoa jurídica de direito privado que está
fora da administração, mas que o Estado participa com menos de 50%. Nestes casos, a sanção
patrimonial é limitada à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. Além disso, se o
ato não se relacionar com o patrimônio, o agente não estará sujeito às sanções da Lei 8.429/92.
F) CONSELHOS DE CLASSE OU AUTARQUIA PROFISSIONAL: Podem sofrer ato de improbidade porque são
autarquias profissionais (estão abrangidos pelo caput). Apesar de a OAB ser considerada uma pessoa
jurídica sui generis pelo STF, permanece com todos os benefícios das autarquias, de modo que também
poderá ser sujeito passivo de ato de improbidade.
G) PARTIDO POLÍTICO: Também pode sofrer ato de improbidade, pois recebe repasse de dinheiro
público por meio do fundo partidário (deve realizar prestação de contas).
H) PESSOAS DE COOPERAÇÃO GOVERNAMENTAL (SERVIÇO SOCIAL AUTÔNOMO): Normalmente,
enquadram-se no caput, pois quase a totalidade de seu custeio decorre do Estado.
I) ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS DE ENTIDADES DO 3º SETOR (OS, OSCIP, ENTIDADE DE
APOIO): São entes de cooperação e podem sofrer atos de improbidade administrativa, estando sujeitas
ao caput ou ao parágrafo único do art. 1º, conforme a extensão das vantagens.
J) OS TEMPLOS RELIGIOSOS: podem ser sujeitos passivos do ato de improbidade (podem ser sujeitos
ativos como terceiros beneficiários). (Lordelo)
L) SINDICATO: o sindicato, apesar do caráter privado, pode ser sujeito passivo de ato de improbidade
porque o sindicato recebe contribuição sindical.
ATENÇÃO! Observa-se que BASTA QUE HAJA DINHEIRO PÚBLICO ENVOLVIDO para configurar ato de
improbidade, importe esse dinheiro público na totalidade, na maioria ou apenas em parte do patrimônio
ou receita anual da entidade.
AGENTES PÚBLICOS COM ATRIBUIÇÃO CONSULTIVA: Alguns agentes são responsáveis pela
elaboração de pareceres, que são atos enunciativos, em cujo conteúdo se consigna apenas a
opinião pessoal e técnica do parecerista. Em razão disso, José dos Santos diz que, como o parecer
não contém densidade para a produção de efeitos externos; ao contrário, depende sempre do ato
administrativo decisório final, em regra, o parecerista não responde por ato de improbidade.
Contudo, ressalta JOSÉ DOS SANTOS que se a sua atuação for calcada em DOLO, CULPA
INTENSA, ERRO GRAVE OU INESCUSÁVEL, servindo como suporte para o ato final, será ela
caracterizada como ato de improbidade. Neste caso, pode também a autoridade que aprova o
parecer ser enquadrada, se agir em conluio.
PERGUNTA-SE: NA AÇÃO DE IMPROBIDADE, O AGENTE PODE SE VALER DO CORPO JURÍDICO DO
ÓRGÃO PARA SE DEFENDER (EXPENSAS DO ERÁRIO), OU DEVE CONTRATAR ADVOGADO?
Segundo JOSÉ DOS SANTOS, se o ato foi praticado pelo agente como representante do órgão
público, é lícito que se socorra daquelas providências, porque a defesa será a do próprio órgão
estatal. É o caso, v.g., do agente que é acusado de contratação com dispensa indevida de licitação
ou do Promotor de Justiça acusado de violar a legalidade ou a imparcialidade.
Se a improbidade decorrer de ato do agente em benefício próprio, não poderá provocar gastos
ao erário, devendo então arcar com as despesas com sua defesa.
PODE USAR O CORPO JURIDICO DO ÓRGÃO Se o ato foi praticado como representante do
órgão.
NÃO PODE USAR O CORPO JURIDICO DO ÓRGÃO Se a improbidade decorrer de ato do agente em
benefício próprio
ESTAGIÁRIOS: Em 2015, decidiu a Segunta Turma do STJ que “o estagiário que atua no serviço
público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não, está (SIM) sujeito a responsabilização
por ato de improbidade administrativa (Lei 8.429/1992)”. REsp 1.352.035- RS, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 18/8/2015, DJe 8/9/2015 (Informativo 568).
7. O ATO DE IMPROBIDADE
7.1. NATUREZA DO ATO
O ato de improbidade não precisa necessariamente ser ato administrativo (embora possa sê-lo).
Encontramos atos de improbidade em meras condutas administrativas; nas omissões; em atos
administrativos etc.
Certamente, muitos atos de improbidade são também atos administrativos. É o que ocorre, v.g., com os
atos praticados durante o processo licitatório.
7.2. MODALIDADES
Originariamente, a Lei rotulava 3 modalidades diferentes de atos de improbidade, em ordem de
gravidade. Isso está nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei 8.429/92, que traz um rol exemplificativo enorme.
A CONCESSÃO OU
ENRIQUECIMENT DANO VIOLAÇÃO ESTATUTO DA APLICAÇÃO
O ILÍCITO AO AOS CIDADE INDEVIDA DE
ERÁRIO PRINCÍPIOS BENEFÍCIO
FINANCEIRO OU
TRIBUTÁRIO
SE
SE EU GANHO ALGUÉM SE NÃO SOU
GANHA CORRETO
E/OU
ESTADO
TEM
PREJUÍZO
Perceber Frustrar a Deixar de
vantagem licitude de prestar
econômica para processo contas
intermediar a seletivo quando esteja
liberação de para a obrigado a
verba pública de celebração fazê-lo
qualquer de
natureza. parcerias
com
entidades
sem fins
lucrativos.
Inciso III: Questão interessante diz respeito à doação de patrimônio público fora das exigências
legais.
Inciso X: Do mesmo modo, o administrador que é omisso no que diz respeito à administração
tributária também pode praticar ato de improbidade administrativa.
A negligência na fiscalização e cobrança quanto à execução do contrato administrativo também
importa em ato de improbidade por gerar prejuízo ao erário.
A omissão da Administração na cobrança das dívidas em geral também pode gerar danos ao
erário.
O administrador que utiliza o dinheiro público para fazer promoção pessoal realiza ato de
improbidade por lesão ao erário.
3. ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ART. 11) (DOLO)
A lista prevista no art. 11 da LIA prevê atos que estão sujeitos a sanções mais leves.
Exemplo clássico de ato de improbidade por violação a princípio da Administração ocorre quando é
negada a devida publicidade dos atos administrativos. Relembre-se que, com a desculpa de publicar
determinado ato administrativo, não poderá o agente público fazer promoção pessoal.
Também merece atenção a situação de administradores públicos que se utilizam de terceiros -
contratados com dinheiro público – para fazer promoção pessoal. Neste caso, o fato de o agente público
se utilizar de terceiros não impede a punição por ato de improbidade administrativa.
Exemplos:
Violaçã Concessão
Enriquecimento Dano ao
o a Indevida de
ilícito (art. erário
princípi Benefício
9º) (art. 10)
os (art. Financeiro ou
11) Tributário
(Art. 10-A)
Devolução
Devolução daquilo
Não há
1 acrescido
daquilo acrescido acréscimo
ilicitamente pelo
ilicitamente (por de bens.
TERCEIRO
parte do AGENTE e de
TERCEIRO)
Ressarcimento Ressarcimento Ressarcimento
2
de danos de danos de danos pelo
terceiro
Perda de função Perda de função
Perda de função Perda de função
(pena (pena
3 (pena aplicada (pena aplicada
apenas ao agente apenas ao agente aplicada apenas aplicada apenas
público) público) ao agente público) ao agente público)
Suspensão de Suspensão de Suspensão Suspensão
4 direitos políticos no direitos políticos no
prazo de 8 a 10 anos prazo de 5 a 8 anos de direitos de direitos
políticos no prazo políticos no prazo
de 3 a 5 anos de 5 a 8 anos
Multa civil de até Multa civil de até
Multa civil de até 3x
Multa civil de até 2x 100x o valor 3x o valor do
5 o valor
o valor do dano ao da benefício
erário remuneração financeiro
acrescido ilicitamente
mensal do agente
ou tributário
concedido
Proibição de Proibição
Proibição de
contratar e de
6 receber
contratar e de
benefícios fiscais e de contratar e de
receber benefícios
creditícios, no prazo receber
fiscais e creditícios,
de 5 anos. benefícios fiscais
no prazo de 10 anos. e creditícios, no
prazo de 3 anos.
Requer DOLO
7 Requer DOLO ou Requer DOLO Requer DOLO
CULPA
Tem que comprovar
Dano Presumido
8 o Dano Dano Presumido
CUIDADO!! A pena aplicável por ato de improbidade administrativa é a SUSPENSÃO dos direitos
políticos, e não a PERDA ou CASSAÇÃO!! A cassação é vedada no Brasil em qualquer hipótese.
Nos casos de PERDA o cidadão ficará sem seus direitos por prazo indeterminado, diferentemente, da
suspensão, que ocorre em caso de improbidade administrativa, quando a pessoa ficará privada de seus
direitos políticos por prazo determinado. Informativo STF nº 910
Registre-se que o magistrado, considerando cada caso concreto, não precisa aplicar todas as sanções
previstas para cada ato (nesta mesma linha: STJ), não se podendo falar em aplicação de “pena em
bloco”. Apesar disso, o magistrado, embora não seja obrigado a aplicar todas as sanções de cada lista,
não poderá misturá-las para um mesmo ato.
ATENÇÃO: A perda de função e a suspensão de direitos políticos são sanções que somente podem ser
aplicadas em caso de trânsito em julgado da decisão, embora o servidor possa ser afastado durante o
processo (afastamento preventivo, de natureza cautelar e não sancionatória).
8.1. APLICAÇÃO DAS SANÇÕES
Segundo o art. 21 da Lei de improbidade, seja qual for o ato de improbidade, é possível a aplicação das
sanções, que:
a) Independe da efetiva ocorrência do dano ao patrimônio público (em sentido econômico), salvo
quanto à pena de ressarcimento – Em relação a ela, inclusive, há quem entenda que não se trata
de sanção. Nos casos em que não houver o efetivo prejuízo, será possível aplicar outras
penalidades, mas não o ressarcimento.
b) Independe da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou pelo tribunal
ou conselho de contas – Isso se justifica no fato de que o Tribunal de Contas faz fiscalização por
amostragem, não conferindo todas as contas do administrador. Por conta disso, é possível que
determinado ato de improbidade passe sem ser percebido, o que legitima a sua punição.
ATENTE: nos casos de rejeição de contas ou aprovação com ressalva pelo Tribunal de Contas, há
evidente indício de ato de improbidade, impondo-se a comunicação dessa decisão ao órgão competente,
para apuração.
Obs.: a respeito dos Tribunais de Contas, já decidiu o STJ pela possibilidade de coexistência de títulos
extrajudicial (acórdão do TCU) e judicial (sentença), devendo apenas haver o abatimento quando da
execução.
DIREITO ADMINISTRATIVO. POSSIBILIDADE DE DUPLA CONDENAÇÃO AO RESSARCIMENTO AO ERÁRIO
PELO MESMO FATO.
Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e
sentença condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o
ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do
valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título
remanescente.
8.2. AS SANÇÕES
1. PERDA DE BENS E VALORES: Cuida-se da perda dos bens ilicitamente acrescidos com a prática do ato
de improbidade.
2. RESSARCIMENTO INTEGRAL DO DANO: Para fins de ressarcimento, até mesmo os bens do agente
anteriores ao ato de improbidade ficam sujeitos à penhorabilidade. Além disso, a indenizabilidade do
dano moral no caso de improbidade é admitida por quase toda a doutrina.
3. PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA: A punição se aplica exclusivamente aos agentes públicos, não se
estendendo a terceiro. Ela abrange não só servidores, como também empregados públicos. Para parte da
doutrina, essa sanção não incidiria sobre os aposentados, cuja vinculação jurídica já sofreu prévia
extinção, eis que a relação previdenciária somente se extingue por meio da cassação de aposentadoria. O
STJ, no entanto, entende possível a cassação da aposentadoria: “A Lei 8.429/92 não comina,
expressamente, a pena de cassação de aposentadoria a agente público condenado pela prática de atos de
improbidade em sentença transitada em julgado. Todavia, é consequência lógica da condenação à pena
de demissão pela conduta ímproba infligir a cassação de aposentadoria a servidor aposentado no curso
de Ação de Improbidade.” (STJ, MS 20444/DF, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, DJe 11/03/2014). Tal entendimento
foi reiterado pela Segunda Turma, em março de 2018 (AgInt no REsp 1628455/ES).
A perda da função é gênero que envolve: perda de mandato (cassação), cargo (demissão), emprego
(rescisão do contrato com culpa do empregado) e função (revogação da designação).
Visa garantir a solvência do Réu para arcar com os prejuízos causados e demais sanções
pecuniárias a serem aplicadas.
Esta medida pode ser aplicada a contas fora do país.
C) INDISPONIBILIDADE DOS BENS:
É uma garanta de devolução em caso de aplicação de penalidade de perda dos bens acrescidos
ilicitamente.
ATENÇÃO! O STJ tem entendimento de que basta a simples demonstração de fumus boni iuris.
Isso porque, o periculum in mora é presumido, nas ações de improbidade.
O STJ, também, tem entendimento de que a indisponibilidade de bens pode incidir sobre todos
os bens do patrimônio, inclusive aqueles adquiridos antes da prática do ato ilícito.
D) SEQUESTRO DE BENS:
O art. 16, § lº, Lei 8.429/92 normatiza que para tratar das disposições do sequestro aplica-se o
Código de Processo Civil.
CAUTELARES PREPARATÓRIAS
São ações autônomas propostas previamente às Ações de Improbidade.
Tem como objeto principal a indisponibilidade dos bens, afastamento preventivo do agente, sequestro
ou investigação de bloqueio de contas.
A ação de improbidade deve ser intentada no prazo máximo de 30 dias, a contar da efetivação da
cautelar requerida pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica lesada, sempre nos mesmos autos
processuais.
10.6. VEDAÇÃO PARA A TRANSAÇÃO
Na ação civil pública, é muito comum o chamado termo de ajustamento de conduta (TAC), que consiste
em verdadeira transação. Para o posicionamento clássico, na literalidade da LIA (em sua origem – art.
17), tal acordo não é possível na ação de improbidade. Para a concepção tradicional, não se admite
qualquer acordo/transação/composição nas ações de improbidade, por expressa previsão legal.
Esse entendimento, todavia, tem sido flexibilizado nos dias atuais, em atenção à tutela específica e à
melhor proteção do patrimônio público.
10.6. PEDIDOS NA AÇÃO DE IMPROBIDADE
Na ação de improbidade, há dois pedidos:
a) PEDIDO ORIGINÁRIO, DE NATUREZA DECLARATÓRIA: O reconhecimento da conduta de
improbidade;
b) PEDIDO SUBSEQÜENTE, DE NATUREZA CONDENATÓRIA: A aplicação das sanções e ressarcimento
do prejuízo. Para a doutrina, o autor deve ser específico na formulação dos pedidos, salvo o
ressarcimento do prejuízo, que pode ser genericamente formulado. Apesar disso, há precedentes
do STJ admitindo, até mesmo, a aplicação de sanções que não foram requeridas pela parte autora.
Para o STJ, o juiz não está adstrito aos pedidos do autor, mas sim aos fatos.
É possível cumular outros pedidos, como a nulidade do ato administrativo, obrigação de fazer, não fazer
etc.
Dica prática: em peças processuais, caso seja exigida uma AIA, é importante narrar a conduta do agente
ímprobo com base nos artigos 9º e 10, mas, ao final, sempre, fazer um pedido subsidiário, com base no
art. 11.
ATENÇÃO! O STJ entende que as sanções previstas em lei são pedidos implícitos da ação de
improbidade.
ATENÇÃO! A lei estipula que, em caso de morte do agente, as sanções pecuniárias se estendem aos
herdeiros e sucessores do réu falecido, até o limite da herança transferida.
A violação de um princípio já configura ato de improbidade, sendo possível, mesmo após a aprovação
das contas pelo Tribunal de Contas, a propositura da ação de improbidade.
10.7. DEFESA PRELIMINAR
O procedimento judicial da lei de improbidade é especial e comporta defesa preliminar. Assim,
inicialmente o réu é notificado para oferecer manifestação escrita e apresentar documentos, no prazo
de 15 dias. Essa fase ainda não forma a relação processual.
Em seguida, o magistrado, no prazo de 30 dias, decidirá se recebe ou não a inicial (caso receba a inicial,
essa decisão está atacável por agravo de instrumento - art. 17, §10, LIA; rejeitando, cabe apelação).
Somente após recebida a petição inicial, o réu é citado para apresentar contestação.
Obs.: o não recebimento da ação em relação a alguns dos réus é uma decisão parcial, atacável por agravo
de instrumento (art. 354, parágrafo único, NCPC). Contudo, o STJ admite a fungibilidade, na hipótese de
ser apresentada apelação (AgRg no REsp 1.305.905-DF, Rel.Min. Humberto Martins, julgado em
13/10/2015, DJe 18/12/2015 - Informativo n. 574).
10.8. DESTINAÇÃO DO RECURSO
A destinação dos valores na ação de improbidade também é diferente da ação civil pública. Na ação civil
pública, quando há ressarcimento, normalmente o dinheiro é destinado a um fundo com finalidade
específica. Na ação de improbidade, o dinheiro angariado é destinado à pessoa jurídica lesada.
10.9. PRESCRIÇÃO
O decurso do tempo extingue o poder que a Administração Pública tem de sancionar os atos ímprobos
praticados por seus agentes ou até mesmo por particulares em concorrência com aqueles, a fim de punir
a inércia estatal, bem como evitar a insegurança nas relações jurídicas com o ente público.
A lei de improbidade administrativa prevê o prazo prescricional a depender do agente ímprobo:
A) SERVIDOR EM MANDATO, CARGO EM COMISSÃO OU FUNÇÃO DE CONFIANÇA: 5 anos do fim do
mandato ou cargo em comissão (a fluência do prazo fica suspensa até o termo final da atividade
temporária).
Pergunta-se: e no caso de mandatos sucessivos?
Neste caso, segundo entendimento do STJ, o prazo de 5 anos é contado do término do último mandato,
respeitando-se a ratio do dispositivo.
B) SERVIDOR EFETIVO OU EMPREGO PÚBLICO: Será o prazo que disciplina a lei específica para as faltas
punidas com demissão a bem do serviço públicos. Este prazo deve ser conferido no estatuto dos
servidores. Detalhe: no caso da demissão, os estatutos geralmente preveem o prazo de 5 anos, contados
do conhecimento da infração (Lei 8.112, art. 142, parágrafo único). Na hipótese de o fato também
constituir crime, a Lei 8.112 prevê a aplicação da prescrição penal (art. 142, §2º).
Obs.1. Para a doutrina majoritária, o artigo 37, § s2, da Constituição Federal, traz que a ação de
ressarcimento ao erário é imprescritível. Insta ressaltar que somente é imprescritível a ação de
ressarcimento ao erário por danos causados por agentes públicos ao patrimônio público. Assim,
eventual AIA ajuizada pode seguir unicamente em relação ao pleito de ressarcimento, caso haja a
prescrição relativamente às outras sanções, sendo desnecessário ajuizar outra demanda.
Obs.2. Observe que a LIA não cuida da hipótese de o mesmo agente praticar ato ímprobo no exercício
cumulativo de cargo efetivo e de cargo comissionado. Neste caso, entende o STJ que por interpretação
teleológica, há de prevalecer o prazo previsto para o cargo/emprego efetivo, pelo simples fato de o
vínculo entre agente e Administração Pública não cessar com a exoneração do cargo em comissão.
Obs.3. Segundo entendimento doutrinário, o mesmo prazo deverá ser analogicamente aplicado aos
servidores públicos temporários, em razão da omissão legislativa.
Obs.4. O STJ tem jurisprudência pacífica no sentido de que a prescrição interrompe com a propositura da
ação, não importando quando e como ocorra a citação.
C) TERCEIRO QUE ATUA EM CONJUNTO COM AGENTE PÚBLICO: Neste caso, há divergência na doutrina.
No STJ, prevalece que se aplica o mesmo prazo prescricional aplicável ao agente envolvido (AgRg no
REsp 1510589/SE, DJE 10/06/2015).
D) AS ENTIDADES PRIVADAS QUE RECEBEM BENEFÍCIO FISCAL OU AQUELAS EM QUE O DINHEIRO
PÚBLICO CONCORRE COM MENOS DE 50% DA FORMAÇÃO DO CAPITAL: Em até 5 anos da data da
apresentação à administração pública da prestação de contas final.
10.9.1. PRECEDENTES IMPORTANTES SOBRE PRESCRIÇÃO:
STJ, 2T, AgRg no REsp 1326220 / AL – DJ 02.10.2014. “4. Não há falar em prescrição, pois a
pretensão de ressarcimento dos prejuízos causados ao erário é imprescritível, "mesmo se
cumulada com a ação de improbidade administrativa (art. 37, § 5º, da CF)" (AREsp 79268/MS, Rel.
Ministra ELIANA CALMON)”.
STJ, S1, MS 17535 / DF, DJ 10.09.2014 – “2. Prescrição. O prazo prescricional é de cinco anos em
relação às infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e
destituição de cargo em comissão, a teor do disposto no art. 142, I, da Lei nº 8.112/90. Todavia,
nas hipóteses em que as infrações administrativas cometidas pelo servidor forem objeto de AÇÕES
PENAIS EM CURSO, observam-se os prazos prescritivos da lei penal, consoante a determinação
do art. 142, § 2º, da Lei nº 8.112/90”.
Se o ato ímprobo for imputado a terceiro, pessoa jurídica ou natural, estranho ao serviço
público, o prazo prescricional para a propositura da ação destinada a levar a efeitos as sanções
previstas na Lei de Improbidade Administrativa é, em princípio, o mesmo aplicável ao servidor
público ou agente político envolvido, porquanto se supõe que não haveria como o ilícito ocorrer
sem o seu concurso ou na condição de beneficiário de seus atos (STJ REsp 704.323)
Não se admite prescrição intercorrente na AIA.
A eventual prescrição das sanções decorrentes dos atos de improbidade administrativa não
obsta o prosseguimento da demanda quanto ao pleito de ressarcimento dos danos causados ao
erário, que é imprescritível (art. 37, § 5º da CF) (STJ, AgRg no AREsp 663951/MG, DJE
20/04/2015).
Em 2014, a Lei nº 13.019 criou um regramento específico para a prescrição, nos casos de
repasse de recursos sujeitos a prestação de contas (ex.: recursos repassados pelo FUNDEB aos
municípios). Esse prazo prescricional é de “cinco anos da data da apresentação à administração
pública da prestação de contas final pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1o
desta Lei”.
Essa indisponibilidade dos bens pode ser decretada sem ouvir o réu.
Pode ser decretada a indisponibilidade dos bens ainda que o acusado não esteja se
desfazendo de seus bens.
Pode ser decretada a indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía antes da
suposta prática do ato de improbidade.
Caiu assim: De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, caso uma ação de improbidade
administrativa seja julgada improcedente, a respectiva sentença deverá sujeitar-se à remessa
necessária. (Certo)
11.4. Prescrição
“O prazo prescricional em ação de improbidade administrativa movida contra prefeito reeleito
só se inicia após o término do segundo mandato, ainda que tenha havido descontinuidade
entre o primeiro e o segundo mandato em razão da anulação de pleito eleitoral, com posse
provisória do Presidente da Câmara, por determinação da Justiça Eleitoral, antes da reeleição
do prefeito em novas eleições convocadas. De fato, a reeleição pressupõe mandatos
consecutivos.
11.5. Competência
“Compete à Justiça Estadual – e não à Justiça Federal – processar e julgar ação civil pública de
improbidade administrativa na qual se apure irregularidades na prestação de contas, por ex-
prefeito, relacionadas a verbas federais transferidas mediante convênio e incorporadas ao
patrimônio municipal, a não ser que exista manifestação de interesse na causa por parte da
União, de autarquia ou empresa pública federal. STJ, 1ª Seção - CC 131.323-TO, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/3/2015, DJe 6/4/2015 - Informativo 559).
A doutrina que defende o tema ainda informa, ainda, que o § 4Q do art. 37 da Constituição Federal
não autoriza esta suposta violação do pacto federativo, sendo a Lei 8.429/92 aplicável à esfera
federal, não nacional.
Esta alegação de inconstitucionalidade material sofre erro de premissa posto que a Lei 8.429/92 não
prevê sanções administrativas a servidores públicos, mas, sim, estipula penalidades civis a todos
aqueles que praticarem atos violadores da moralidade pública ou danosa ao patrimônio público, seja
agente público, seja particular. Ou seja, a lei respeita a CF/88, que estabelece em seu art. 22, I, a
competência privativa da União para legislar sobre direito civil.
Ainda, o art. 37, § 4Q, da CF prevê somente as sanções mínimas a serem aplicadas, nos moldes da lei,
pela prática de atos de improbidade administrativa. Com efeito, o texto legal não poderia suprimir
nenhuma das penalidades expressas na Carta Magna, no entanto, o acréscimo de sanções, no bojo
do diploma infraconstitucional, encontra amparo constitucional.
INSCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
Suposta inconstitucionalidade formal, na produção da referida lei não houve a devida observação ao
princípio bicameral previsto no art. 65 da Constituição.
Ocorre que, na Câmara dos Deputados, após esta receber o substitutivo do Senado, iniciando-se a
tramitação em segundo turno com a leitura e publicação do substitutivo do Senado Federal. O
projeto foi então aprovado pela Câmara sem as alterações feitas pelo Senado e encaminhado para
sessão, não tendo retornado à casa anterior.
Novamente, esta alegação de inconstitucionalidade, desta vez formal, não merece prosperar posto
que o STF já enfrentou a matéria e afastou a inconstitucionalidade formal por meio da ADI 2182 / DF.
Instituto jurídico do direito penal, previsto no art. 159, § 4ª, do Código Penal e, principalmente, nos
arts. 13 e 14 da Lei 9.807/1999, que visa auxiliar o poder público no esclarecimento dos fatos e
punição do responsável pelo delito.
O art. 17, §1ª da Lei 8.429/92, veda expressamente a transação, acordo ou qualquer espécie de
conciliação em ações de improbidade administrativa, ensejando a discussão acerca da utilização do
instituto da delação premiada.
Tendo em vista que a ação de improbidade administrativa, ainda que regida pelo processo de
Improbidade Administrativa civil, se aproxima mais da processualística penal e que a delação
premiada seria uma forma de auxiliar o poder público no combate a condutas violadoras da
moralidade pública, esta obra entende pela possibilidade de utilização de tal instituto.
Ademais, não há óbice legal à aplicação analógica do instituto da delação premiada, uma vez que a
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei n. 4.657/42) estabelece, no seu artigo
4º, que "quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito".