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Histologia e fisiologia do enxerto ósseo autógeno

revisão de literatura
Histology and physiology of the autogenous bone graft
review of the literature

Álida Lúcia Cardoso1 , José Cassio de Almeida Magalhães2, Gabriela Traldi Zaffalon3, Henrique Smanio Neto4,
Rafael Antonio5 e Sílvia Maria Anselmo6

Resumo
Inúmeras técnicas de reconstrução óssea são propostas, seja pela necessidade de quantidade e qualidade
óssea, ou por melhor estética para a colocação de implantes.
O enxerto autógeno de áreas doadoras intra-bucais, entre elas, é comprovadamente uma das técnicas mais
realizadas hoje em Implantodontia (Triplett & Schow, 1996, Widmark et. 1996, Dinato & Polido, 2001).
Assim, é de suma importância conhecer as estruturas básicas do desenvolvimento biológico e função do
tecido ósseo.
Concluindo, o objetivo será estudar a literatura científica a respeito da histologia e fisiologia do osso, bem
como a incorporação dos enxertos ósseos autógenos.

Unitermos: osso; histologia; fisiologia; enxerto autógeno.

Abstract
A lot of techniques of reconstruction bone are propose, device the necessity or because the quality and
quantitative bone, or to improve the esthetic in the place of implantations.
The autogenous bone of the intra-oral gift area, between then, one of the main techniques today in Im-
plantology (Triplett & Schow23, 1996, Widmark et al. 199624, Dinato & Polido, 20016).
So, is very important to know the basic estructures of biology desenvelopment and the function of
bone tissue.
Concluding, the purpose will be study the cientific literature of histology and bone physiology, as well the
incorporation mechanisms of the autogenous grafts.

Keywords: bone; histology; physiology; grafts autogenous.

1 Especialista em Prótese pela ABO-Uberlândia, Mestranda em Implantodontia pelo CPO-São Leopoldo Mandic
2 Mestre e Doutor em Diagnóstico Bucal pela USP
3 Mestre e Especialista em Periodontia pela CPO São Leopoldo Mandic
4 Coordenador dos Cursos de Mestrado e Especialização - CPO São Leopoldo Mandic
5 Prof do Curso de Especialização da UNINGA de Passo Fundo, Mestrando em Implantodontia da CPO São Leopoldo Mandic
6 Especialista, Mestre e Doutora em Prótese Dental pela Unicamp

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INTRODUÇÃO Para Knington et al. (1981)12, Marx (1992)17 os
enxertos ósseos têm como objetivo principal restaurar
a continuidade mandibular, a elevação do seio maxilar

A
implantodontia é uma realidade incontestável,
entretanto para que o resultado esperado seja ou quando é colocado num “espaço morto” preenchido
obtido, alguns aspectos devem ser respeitados. de coágulo sanguíneo. Este espaço morto é hipóxico,
Entre esses: o devido planejamento, o cuidado com ácido, contendo plaquetas, leucócitos, células da linha
o leito receptor e a correta seleção de fixação que será vermelha e fibrina, numa complexa rede em torno aos
colocada. É importante observar que tanto a qualidade osteócitos, osteoblastos do endósteo, além das células
quanto a quantidade óssea são fatores fundamentais do enxerto.
para o tratamento (Dinato & Polido, 20016).
Em vista disso, é devido um estudo e conhecimento B. Fisiologia do enxerto ósseo autógeno
aprofundado da histologia e fisiologia óssea e os Lindhe (1999)16 explica:
mecanismos de incorporação dos enxertos autógenos Embora o tecido ósseo mostre um grande potencial
para um melhor planejamento e execução da colocação de regeneração e possa restaurar completamente a sua
de implantes. estrutura e função originais, os defeitos ósseos podem
Quando um dente é perdido, a estimulação intra-óssea freqüentemente falhar em cicatrizar com tecido ósseo.
que mantém o osso alveolar desaparece e este entra em um Admite-se que os mecanismos biológicos que formam
processo de reabsorção. A altura do alvéolo pode chegar o princípio básico para os enxertos ósseos incluem três
a 40 a 60% do original, e essa alteração morfológica processos: osteogênese, osteocondução e osteoindução.
ocorre entre seis meses a dois anos subsequentes. A osteogênese ocorre quando osteoblastos ou células
Assim, é de fundamental importância aprofundar nos precursoras de osteoblastos são transplantados com o
conceitos e funções do osso, tendo em vista que a falta material de enxerto para dentro do defeito, onde podem
de osso nos rebordos alveolares tem sido um grande estabelecer centros de formação óssea. Osso autógeno
problema na recuperação estético-funcional em pacientes do Ilíaco e enxertos de osso medular são exemplos de
que tenham sofrido traumatismos dentoalveolares, transplantes com propriedades osteogênicas.
extrações dentárias traumáticas, ausência congênita, A osteocondução ocorre quando o material de enxerto
patologias que envolvam maxila e mandíbula, além não vital serve como um arcabouço para o crescimento
de infecções, sendo esta uma das limitações para a de células precursoras dos osteoblastos para o interior do
reabiltação com implantes (Toledo Filho, 200122). defeito. Osso cortical autógeno ou osso alógeno de bancos
de tecidos podem ser citados como exemplo de materiais
de enxerto com propriedades osteocondutoras.
REVISÃO DE LITERATURA A osteoindução envolve a formação de um novo osso
pela diferenciação local das células mesenquimais
A. Conceito e objetivo dos enxertos ósseos autógenos indiferenciadas em células formadoras de osso sobre a
B. Fisiologia do enxerto ósseo autógeno influência de um ou de mais agentes indutores. A matriz
C. Considerações sobre o enxerto ósseo autógeno óssea desmineralizada (DMB) ou proteínas ósseas
D. Diferença entre transplantes esponjosos e corticais morfogenéticas (BMP) são exemplos de tais materiais
de enxerto.
A. Conceito e objetivo dos enxertos Para Dinato & Polido (2001)6, ocorre freqüentemente o
ósseos autógenos envolvimento dos três mecanismos de formação óssea.
Segundo Lindhe (1999)15, enxertos ósseos autógenos são A osteogênese sem a osteocondução e a osteoindução é
enxertos transplantados de um lugar para outro em um improvável de ocorrer, já que quase nenhuma das células
mesmo indivíduo. Os tipos de enxerto podem ser: osso transmitidas do enxerto de osso medular autógeno
cortical ou osso trabeculado e medular, e são colhidos sobrevive ao transplante. Assim, o material do enxerto
em regiões intra-orais ou extra-orais dos doadores. funciona predominantemente como mantenedor de

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espaço para a invasão das células do hospedeiro. Além osso necrótico com osso novo viável, e o complexo se
disto, os osteoblastos e os osteóciotos ao redor do osso desenvolve através da reabsorção do tecido necrótico e
não tem habilidade para migrar e se dividir, significando crescimento interno de novo osso (incorporação).
que o transplante é invadido por células mesenquimais
indiferenciadas, que se diferenciam em osteoblastos. D. Diferença entre transplantes
Segundo Lindhe (1999)16, os pré-requisitos para esponjosos e corticais
regeneração óssea são: Para Burchardt (1983) 3 a diferença entre
• Uma fonte de células formadoras de osso ou células transplantes autógenos esponjosos e corticais têm
com a capacidade de se diferenciar em células formadoras três diferenças histológicas:
de osso; • Os enxertos esponjosos são revascularizados mais
• Presença de estímulo osteoindutor para iniciar a rapidamente e completamente que os enxertos corticais;
diferenciação das células mesenquimais indiferenciadas • A substituição de osso de esponjoso inicialmente
em osteoblastos; envolve uma aposição (fase de formação óssea),
• Presença de um meio osteocondutor formando uma seguida por uma fase de reabsorção, considerando
matriz sobre a qual o tecido invasor possa proliferar que os enxertos corticais sofrem um processo de
e no qual células progenitoras estimuladas possam substituição inversa;
diferenciar-se em osteoblastos e formar osso. • Os enxertos esponjosos tendem a ser completamente
recuperados com o tempo, considerando que enxertos
C. Considerações sobre o enxerto corticais permanecem como misturas de osso necrótico
ósseo autógeno e viável.
Dinato & Polido (2001)6, expõe que a implantodontia Para Hardesty & Marsh (1990)9, Gordh & Alberius
é uma realidade incontestável, entretanto para que o
(1999)8, o mais importante não é se o enxerto é mono
resultado esperado seja obtido alguns aspectos devem
ou bicortical, mas sim a dimensão total do enxerto em
ser respeitados. Entre esses: o devido planejamento,
relação ao índice cortical e esponjoso. De um modo
o cuidado com o leito receptor e a correta seleção de
geral, os melhores resultados são obtidos com os enxertos
fixação que será colocada. É importante observar que
monocorticais com a porção esponjosa posicionada em
tanto a qualidade quanto a quantidade óssea são fatores
contato com o leito receptor.
fundamentais para o tratamento.
Devem ser considerados também: Para Souza Pinto (2002) 21, o osso esponjoso,
• Estabilidade do enxerto nas cirurgias de enxerto ósseo quando comparado ao osso cortical, apresenta-
em bloco: se mais vascularizado, mais celularizado e é
Conforme Dinato & Polido (2001)6, a estabilidade do metabolicamente mais ativo, favorecendo os
enxerto autógeno ao leito receptor é crucial. Imobilização processos iniciais de osseointegração.
absoluta é exigida para a completa cicatrização do enxerto O osso cortical apresenta uma maior densidade de
ósseo sem a presença de um componente fibroso. matriz inorgânica, permitindo uma maior ancoragem
Burchardt (1983)3, também coloca que o sucesso do de um implante (estabilidade primária).
enxerto ósseo autógeno depende do contato íntimo do
mesmo com o tecido receptor vascular. DISCUSSÃO
• Mecanismo de vascularização:
Para Burchardt (1983)3, o osso transplantado morre, Analisando o mecanismo de incorporação dos enxertos
porém sobrevivem algumas células e o periósteo, o qual ósseos autógenos, para Toledo Filho et al. (2001)22,
conserva o seu poder osteogênico. O osso necrótico será Lindhe (1999)16, Souza Pinto et al. (2002)21, Dinato
substistituído por novo tecido que iria se formar ao longo & Polido (2001)6, os processos associados com sucesso
dos canais deixados pelos vasos sanguíneos invasores. dos mesmos são: a osteogênese, a osteoindução e a
Durante um período de tempo ocorre a mistura do osteocondução e quanto a diferença dos ossos corticais

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e esponjosos destes enxertos, Burchard (1983)3 e Souza Referências Bibliográficas
Pinto et al. (2002)21 colocam:
1. Avery JK. Development of Cartilages and Bones of The Facial Ske
• O osso esponjoso apresenta-se mais vascularizado, mais
Leton. In Avery JK, Editors. Oral Development and Histology.
celularizado e metabolicamente mais ativo que o cortical, New York: Thi Eme Medical Publishers; 1994 p.42-56.
favorecendo os processos iniciais de osseointegração
e a estabilidade secundária de um implante. E, o osso 2. Burchard H, Enneking MD. Transplantation of bone. Surg. Clin.
North Am. 1980; 58 : 1-12.
cortical tem maior densidade de matriz inorgânica,
permitindo maior resistência para a ancoragem de um 3. Burchardt H. The biology of bone graft repair. Clin Orthop.
implante (estabilidade primária); (Souza Pinto et al. United States; 1983 Apr; n. 174, p.28-42.
1998)21. 4. Carranza Junior FA. Osso Alveolar. In: Periodontia Clínica de
• Além disto, os enxertos esponjosos tendem a ser Glickman. 5. ed. Rio de Janeiro: Interamericana; 1983. cap. 4,
completamente recuperados, considerando que os p.53-64.
corticais permanecem como misturas de osso necrótico 5. Cormack DH. Ham Histologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
e viável. Koogan; 1991.
E, para Hardesty & Marsh (1990)9 e Souza Pinto
(2002)21: 6. Dinato JC. Implantes Osseointegrados. 1. ed., Editora Artes
Médicas; 2001, p. 261-313.
• De um modo geral, os melhores resultados são obtidos
com enxertos monocorticais com a porção esponjosa 7. Gartner LP, Hiatt J. Cartilagem e Osso. In: Tratado de Histologia.
posicionada em contato com o leito receptor; (Hardesty Rio de Janeiro: Guanabara Knoogan; 1997. cap. 7, p.103-23.
& Marsh, 19909, Souza Pinto, 200221). 8. Gordh M, Alberius P. Some basic factors essential to autogeneic
O osso cortical apresenta uma maior densidade de nonvascularized onlay bone grafting to the craniofacial skeleton.
matriz inorgânica, permitindo uma maior ancoragem Scand. J. Plast. Reconstr. Hand. Surg 1999;. (33): 129-46.
de um implante (estabilidade primária). 9. Hardesty RA, Marsh JL. Craniofacial onlay bone grafting: a
prospective evaluation of graft morphology orientation, and
embryonic origin. Plast. Reconstr. Surg.; 1990. v. 85, p. 5-14.
CONCLUSÃO
10. Jee WSS. The Skeletal Tissue. In: Weiss L. Cell and Tissue Biology.
6. Ed. Baltimore: Urban & Schwarzenberg; 1988. chapter 7,
Analisando a histologia óssea, existem três diferentes p. 211-54.
processos associados ao sucesso dos enxertos ósseos: a
11. Junqueira LC, Carneiro J. Tecido Ósseo. In: Histologia Básica. 9.
osteogênese, a osteoindução e a osteocondução; ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. cap. 8, p. 211-54.
Quanto aos mecanismos de incorporação os enxertos
esponjosos reabsorvem menos que os corticais, 12. Knighton D et al. Regulation of wound healing angiogenesis-
effects of oxygen gradients and inspired oxygen concentration.
pela maior vascularização, apresentam estabilidade
Surgery 1981; 90: 262-70.
secundária e recuperam-se completamente. Enquanto
o osso cortical, estes participam da ancoragem do 13. Kusiak JK, Zins JE, Whitaker LA. The early revascularization of
implante por apresentarem maior densidade de matriz membranous bone. Plast Reconstr Surg 1985 Oct; 76(4): 510-516.

inorgânica, permitindo a estabilidade primária. 14. Lameira AG, Afonso Filho AC, Miranda JES. Enxerto ósseo
Assim, de um modo geral, os melhores resultados são autógeno onlay. 3i Inovations Jornal 2002; (2): 55-59.
obtidos com enxertos monocorticais com a porção
15. Lindhe J. Tratamento Periodontal Regenerativo. In: Tratado de
esponjosa posicionada em contato com o leito receptor. Periodontia Clínica e Implantodontia Oral. 3. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 1999, cap. 20, p. 430.

16. Lindhe J. Formação do Osso Alveolar. In: Tratado de Periodontia


Clínica e Implantodontia Oral. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1999, cap. 32, p.665-688.

17. Marx RE. Clinical application of bone biology to mandibular and

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