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CORPORAIS
NA ESCOLA
AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO
ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
PRÁTICAS
CORPORAIS
NA ESCOLA
AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO
ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
Editora Clube dos Recreadores
Editor-chefe Me. Cleber Mena Leão Junior
Diagramação e capa: Editora Clube dos Recreadores
Revisores técnicos: Dr. Alexandre Paulo Loro
Comissão Editorial
Este livro foi avaliado por pares e aprovado por pareceristas ad hoc –
Pareceres anexos
Eduardo e, especialmente à minha esposa Lívia e meu filho Luiz Filipe, que dividem
Dedico este livro aos meus pais Celeste e Paulo (in memoriam). Aos meus irmãos
Nilza, Nilson e João a minha esposa, autora associada a este livro e aos meus filhos
Valdomiro de Oliveira
Dedico este livro ao meu marido Valdomiro de Oliveira (MIRO) e aos meus filhos Caio
CAPÍTULO II................................................................................................................ 25
Bandura, sua teoria de aprendizagem e conceitos........................................................... 24
A aprendizagem social .................................................................................................... 27
A percepção de autoeficácia............................................................................................ 30
A autorregulação ............................................................................................................. 34
CAPÍTULO IV .............................................................................................................. 53
A relação entre práticas corporais e desempenho acadêmico ......................................... 54
Países em que foram desenvolvidas pesquisas da relação entre práticas corporais e
desempenho escolar ........................................................................................................ 58
Tipos de estudos e análises, manifestações de práticas corporais e medidas de
desempenho escolar ........................................................................................................ 60
O que dizem os estudos sobre os resultados identificados.............................................. 61
CAPÍTULO V................................................................................................................ 69
A percepção de autoeficácia como mediadora da relação entre práticas corporais,
esportes e desempenho acadêmico.................................................................................. 70
Métodos........................................................................................................................... 72
Participantes da pesquisa................................................................................................. 72
Instrumentos e procedimentos......................................................................................... 73
Variáveis independentes.................................................................................................. 73
Variáveis dependentes..................................................................................................... 74
Procedimentos ................................................................................................................. 74
Análise estatística............................................................................................................ 75
Aspectos éticos................................................................................................................ 76
Resultados ....................................................................................................................... 76
Discussão......................................................................................................................... 79
Considerações finais........................................................................................................ 81
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 83
O DESEMPENHO
ACADÊMICO DE
ESTUDANTES DO ENSINO
MÉDIO
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
O DESEMPENHO
ACADÊMICO DE
ESTUDANTES DO
ENSINO MÉDIO
Discutir desempenho escolar não é uma tarefa simples, esse indicador é
multifatorial e multidimensional, ou seja, pode ser explicado por uma diversidade de
determinantes de variadas dimensões, tal como social, econômica, de constituição
familiar, comportamental, emocional, psicológica, de forma geral por aspectos
individuais ou externos ao sujeito (MENEZES-FILHO, 2012; SILVA, DUARTE, 2012;
MIRANDA et al., 2014).
Apresentar determinantes do desempenho escolar de estudantes do Ensino
Médio, no mundo todo e, em especial no Brasil, é uma tarefa ainda mais sensível,
observadas as particularidades da educação z país. O Ensino Médio constitui uma etapa
crítica e muito importante da formação do indivíduo e assume funções distintas ou
complementares. Nesse período de aprendizado, os estudantes têm objetivos de
consolidação de conhecimentos e habilidades básicas que serão importantes para o seu
desenvolvimento humano, a preparação para o ingresso no Ensino Superior ou no
mundo do trabalho e a formação de cidadãos capazes de engajamento em questões
relativas à sociedade em que vivem (TARTUCE et al., 2018).
Entender, ainda que parcial ou isoladamente, aspectos contributivos para
melhora no desempenho escolar de estudantes do Ensino Médio pode auxiliar no todo
do desenvolvimento acadêmico do indivíduo nessa fase de formação (GASPAROTTO
et al., 2020). Para tal, a comunidade científica se debruça sobre diversas hipóteses, na
tentativa de sugerir determinantes importantes do desempenho escolar, em sua
complexidade de entendimento.
No relatório Os Determinantes do Desempenho Escolar no Brasil,
produzido por Menezes-Filho (2012), em uma associação entre o Instituto Futuro Brasil
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Guilherme da Silva Gasparotto ● Valdomiro de Oliveira ● Gislaine Cristina Vagetti
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
Figura 1 – Fatores internos e externos que podem impactar o desempenho escolar dos
estudantes
23
Guilherme da Silva Gasparotto ● Valdomiro de Oliveira ● Gislaine Cristina Vagetti
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
Por sua vez, a percepção de autoeficácia, tratada por alguns autores como
crença de eficácia, é um construto amplamente estudado em áreas da ciência como
Educação e Psicologia, uma vez que se relaciona diretamente com a expectativa de
realização de determinada tarefa. A explicação de autoeficácia, conceito elaborado por
Bandura (1997) – autor que terá um capítulo dedicado nesta obra para explorar suas
pesquisas e, mais especificamente sobre esse fator – é dada como a convicção sobre a
própria capacidade para realizar com sucesso os comportamentos requeridos para
produzir determinado resultado. Ademais, refere-se, assim, a um julgamento pessoal das
próprias capacidades para executar as ações necessárias para atingir certo objetivo.
Nessa perspectiva, essa percepção de si, relacionada à capacidade de realizar
determinada tarefa, mostra-se de grande relevância em pesquisas que pretendem
verificar possíveis determinantes do desempenho escolar. Isso visto que, segundo a
teoria, estudantes que se percebem capazes podem, ainda que com dificuldades
relacionadas às capacidades, desempenhar bons resultados em seus estudos e demais
atividades acadêmicas.
Na pesquisa de Gasparotto et al. (2020), a percepção de autoeficácia
acadêmica em estudantes do Ensino Médio pode explicar o desempenho escolar com
valores entre 21% e 44% em 11 de 12 componentes curriculares do núcleo comum
avaliados, ou seja, os estudantes que acreditavam ter o determinado conhecimento
puderam, de fato, expressar esse conhecimento nas notas escolares. Rossi et al. (2020)
ressaltaram que uma elevada percepção de autoeficácia pode responder por bons
indicadores de motivação intrínseca entre estudantes adolescentes.
Mais adiante, neste livro, será apresentado um capítulo expondo a relação
entre autoeficácia e desempenho escolar. Diante disso, essa relação não será explorada
nesse momento. Entretanto, antes dessa abordagem, é necessário expor e dissertar um
pouco sobre a obra e os conceitos elaborados por Bandura, com vistas a entender suas
interpretações das influências possíveis da psicologia do self em diversas dimensões da
vida humana. Para tal, o próximo capítulo será dedicado a esse objetivo.
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Guilherme da Silva Gasparotto ● Valdomiro de Oliveira ● Gislaine Cristina Vagetti
02
CAPÍTULO
BANDURA,
SUA TEORIA DE
APRENDIZAGEM E
CONCEITOS
Este capítulo é destinado a apresentar a obra do idealizador do conceito de
percepção de autoeficácia, Bandura. Além de discorrer sobre esse fator, no capítulo
também é sintetizada a contribuição desse pesquisador com alguns outros de seus
estudos que podem auxiliar no entendimento da aprendizagem em ambiente escolar.
Albert Bandura é um psicólogo canadense, nascido em 1925, professor da
Universidade de Stanford, na Califórnia. Suas pesquisas apresentam abordagens social-
comportamental ou cognitiva-comportamental, e fazem contribuições em diversos
campos da ciência, entre eles na Psicologia Social e Cognitiva, na Psicoterapia e na
Educação.
Para melhor entendimento do construto que faz parte do tema deste livro, a
percepção de autoeficácia, é necessário discorrer também sobre a teoria de Bandura
(Teoria da Aprendizagem Social), o conceito de determinismo recíproco e a
autorregulação.
As informações trazidas para este capítulo são principalmente de três livros
escritos por Bandura: i) Social Foundations of Thought and Action: A Social Cognitive
Theory (1986); ii) Self-efficacy: The Exercise of Control (1997); iii) Teoria Social
Cognitiva: Conceitos Básicos (2008), este escrito por Bandura em conjunto com duas
pesquisadoras brasileiras, da Universidade de Campinas, Roberta Azzi e Soely
Polydoro.
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Guilherme da Silva Gasparotto ● Valdomiro de Oliveira ● Gislaine Cristina Vagetti
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
A aprendizagem social
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PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
contexto e área de interesse daquele que modela o comportamento. Esses fatores são
bastante importantes e influenciam no processo da modelagem das ações. De alguma
forma, o modelo a ser seguido é alguém que se encontra acima, em uma escala
hierárquica de importância social.
Com base nessa concepção, de que o modelo a ser seguido expressa algum
atributo de superioridade social, não é surpresa que os mais novos tendam a modelar o
comportamento dos adultos, ou que novatos em determinada função tentem seguir os
mais experientes, enfim, que os que têm menor status tentem seguir os que têm maior
status social, frente à característica em comum, foco da modelagem.
Aprender como se engata a marcha do carro, observando do banco do
passageiro, enquanto o adulto dirige é modelagem. Aprender que, para retirar a
assadeira quente do forno, é necessário usar uma proteção, como uma luva ou pano para
não se queimar, também é modelagem, ou seja, modelar é aprender o que fazer e o que
não fazer a partir da ação do outro.
Na década de 1960, Bandura realizou diversos estudos na área da
aprendizagem observacional e agressividade. Um desses experimentos foi bastante
difundido e reconhecido, o experimento do boneco “João Bobo” – um boneco inflável
de plástico de aproximadamente um metro e meio de altura que, ao ser atingido,
recupera novamente o equilíbrio. Bandura realizou esse estudo no intuito de respaldar
sua Teoria da Aprendizagem Social por modelagem, sendo essa pesquisa empírica
pioneira no estudo de agressividade em crianças e servindo de embasamento para o
desenvolvimento de outras perspectivas no campo da Psicologia à época.
A ideia do autor foi demonstrar que alguns comportamentos eram
aprendidos pelas crianças, ao passo que seguiam as ações de modelos adultos.
O experimento foi desenvolvido com 36 meninos e 36 meninas com idades
entre 3 e 5 anos, todos alunos de uma creche vinculada à Universidade de Stanford.
Essas crianças foram distribuídas em três grupos, sendo 24 expostas a um modelo
adulto agressivo, 24 a um modelo adulto não agressivo e as demais constituíram um
grupo de controle. Nos grupos, as crianças também foram divididas por sexo para que
se pudesse submeter a ações de adultos de mesmo sexo e de sexo oposto.
Individualmente, cada criança em uma sala era exposta ao comportamento
de um adulto em relação a um boneco “João Bobo”. No grupo de conduta agressiva, o
adulto começou brincando com os brinquedos da sala, na presença da criança, e logo
começou a expressar um comportamento agressivo com o boneco, batendo com um
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A percepção de autoeficácia
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PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
pelo menos em parte, as situações, ações ou comportamentos aos quais dará atenção e o
julgamento de valor que será realizado para tal, assim como de que forma esse
acontecimento será útil no futuro. Entretanto, a cognição não atua sozinha nesse
processo, não sendo totalmente independente do comportamento e do ambiente,
segundo Bandura.
O ambiente é descrito como o contexto que é externo à pessoa, são os
objetos, outras pessoas, locais, acontecimentos, clima, tudo o que está ao redor da
pessoa. O ambiente pode interagir com a cognição e com o comportamento.
Já o comportamento está relacionado às ações da pessoa, mas não às dos
outros indivíduos que já estão incluídos no ambiente.
Expostos os três fatores da tríade, é possível afirmar, na perspectiva de
Bandura, que as ações do sujeito são resultado da interação entre a cognição desse
indivíduo, seus comportamentos e o ambiente que o circunda.
É importante lembrar que o termo “reciprocidade” é utilizado no conceito de
reciprocidade triádica (figura 3) com base na ideia de que, ao mesmo tempo que um
fator influencia no outro, também é influenciado pelo primeiro e pelo terceiro. A pessoa
influencia no comportamento e no ambiente e o mesmo ocorre com cada um dos outros
fatores. Nessa relação, nenhum fator é autônomo ou está isolado.
Apesar de Bandura afirmar que nenhum dos três fatores tem peso superior
ao outro nessa relação triádica e recíproca, ele entende que o fator “pessoa”, ou seja, as
capacidades cognitivas do indivíduo, pode ser o que frequentemente apresenta peso
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Guilherme da Silva Gasparotto ● Valdomiro de Oliveira ● Gislaine Cristina Vagetti
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
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PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
essas metas no decorrer do percurso para garantir que estejam o mais próximo possível
do sucesso.
Já a autorreflexão é a capacidade de examinar e avaliar a todo instante o
próprio funcionamento do indivíduo, os significados das ações propostas, a motivação,
a adequação dos raciocínios e a avaliação do julgamento de outras pessoas sobre o
sujeito. Para Bandura, um dos principais mecanismos utilizados pelo ser humano para a
autorreflexão é a autoeficácia. A autoeficácia é a crença que se tem sobre a capacidade
de realização de uma ação pretendida.
O autor sugere que a decisão de agir ou não agir depende do quanto a pessoa
acredita que ela é capaz de ter sucesso na ação que se propõe. Assim, esse fator pode
influenciar nas escolhas que se faz sobre agir e como realizar a ação, quanta energia será
despendida na ação, quanto tempo será necessário investir na ação e se haverá
desistência ou não caso os resultados preliminares da ação não sejam favoráveis.
A autoeficácia é baseada em outras duas crenças do indivíduo.
Primeiramente, no quanto o ser humano é capaz de controlar o funcionamento físico e
mental. Em segundo lugar, no quanto ele acredita ser capaz de controlar o ambiente ao
qual está exposto para a ação. Quanto mais o indivíduo acredita ser capaz de se
autocontrolar física e mentalmente e quanto mais ele crê que pode controlar o ambiente
sujeito à ação, maior a percepção de autoeficácia dele, ou seja, a crença na capacidade
de realizar aquela ação com sucesso.
O conceito de percepção de autoeficácia tem especial importância em
ambiente escolar, uma vez que a escola identifique alguns fatores ou ações
favorecedoras para que o estudante se sinta capaz de se controlar e de controlar seu
ambiente para executar suas tarefas pedagógicas e, assim, perceber-se capaz de realizá-
las.
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PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
A autorregulação
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03
CAPÍTULO
A RELAÇÃO ENTRE
AUTOEFICÁCIA E
DESEMPENHO ACADÊMICO
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
A RELAÇÃO ENTRE
AUTOEFICÁCIA E
DESEMPENHO
ACADÊMICO
O objetivo deste capítulo é apresentar um panorama dos estudos
desenvolvidos ao redor do mundo, os quais abordaram a relação entre a percepção de
autoeficácia e o desempenho escolar em estudantes do Ensino Médio ou segmento
equivalente em outros países.
Para isso, foi utilizado um processo de busca sistematizada em três bases de
dados científicos: Scielo, Scopus e Eric/EBSCO. Essas bases foram definidas pela
aproximação com o tema e pelo alcance geográfico de acessos que atingem.
Para as buscas dos artigos nas bases de dados, foram seguidos alguns
critérios: i) amostra de estudantes de Ensino Médio ou segmento equivalente
internacional; ii) artigos publicados nos últimos dez anos; iii) artigos originais, sem
incluir revisões, livros ou capítulos de livros; iv) conteúdos publicados em língua
portuguesa, língua espanhola ou língua inglesa.
Para o processo de busca, foram utilizados descritores específicos das bases
que contemplaram a relação que se pretendeu, utilizando os termos Booleanos AND,
OR ou NOT. Dessa forma, na base Scielo a busca foi determinada pela combinação de
descritores: (autoeficácia) OR (psicologia do self) AND (desempenho acadêmico) OR
(aprendizado). Tais descritores foram definidos a partir de busca nos Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde. Na base Scopus, foram
utilizados os termos da própria base, com a seguinte combinação de busca: (self AND
efficacy) OR (self AND psychology) AND (academic performance) OR (learning). Já
na base Eric/EBSCO, foram utilizados os descritores da base Thesaurus, da própria
EBSCO, com a seguinte combinação: (self efficacy) AND (academic achievement) OR
(learning).
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PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
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PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
Quadro 1 – Síntese das informações contidas nos artigos selecionados para a discussão sobre a relação entre a
percepção de autoeficácia e o desempenho escolar de estudantes do Ensino Médio
Fatores de
Autores/ Ano de País da população Principais objetivos do exposição
publicação/ de estudo/ Desenho estudo/ Medida de Principais resultados analisados em
Periódico e amostra desempenho escolar conjunto com
a autoeficácia
Foi observada correlação do
Verificar a
desempenho escolar em 0,31
contribuição da
com o lócus e 0,36 com a
autoeficácia e lócus
autoeficácia.
Ogunmakin e de controle na
364 estudantes de
Akomolafe (2013) previsão do
Ensino Médio de O modelo com os dois fatores
Mediterranean desempenho escolar.
uma região da explica 36% da variação do Lócus de
Journal of Social
Nigéria. desempenho controle.
Sciences O desempenho
escolar foi avaliado
Na análise explicativa relativa,
por meio da média
somente a autoeficácia
das notas escolares.
permaneceu significativa.
Tanto os valores de
autoeficácia e de
autorregulação quanto o de
desempenho escolar são
superiores entre estudantes
sem atitudes de recusa escolar.
Comparar a
autoeficácia e a
Entre as estudantes sem
autorregulação entre
atitudes de recusa escolar, foi
estudantes com e sem
identificada correlação entre
atitudes de recusa
autoeficácia e desempenho
escolar e verificar a
escolar (r = 0,41) e da
Khanehkeshi e 120 meninas relação da
autorregulação com o
Ahmedi (2013) iranianas (60 com autoeficácia e atitude
desempenho escolar (r = 0,32)
i-Manager’s comportamento de de recusa escolar Autorregulaç
Journal on recusa escolar), com o desempenho ão.
Entre as estudantes com
Educational estudantes do escolar.
atitudes de recusa escolar, foi
Psychology Ensino Médio.
identificada correlação entre
O desempenho
autoeficácia e desempenho
escolar foi avaliado
escolar (r = 0,30) e da
por meio da média
autorregulação com o
das notas escolares.
desempenho escolar (r = 0,27).
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PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
(continua)
Fatores de
Autores/
País da população Principais objetivos do exposição
Ano de
de estudo/ Desenho estudo/ Medida de Principais resultados analisados em
publicação/
e amostra desempenho escolar conjunto com
Periódico
a autoeficácia
Correlação dos domínios de
autoeficácia para múltiplas
inteligências.
Explorar a contribuição das
facetas de personalidade, Lógico-matemática: correlações
crenças de autoeficácia e positivas com todas as
interesses que caracterizam disciplinas, menos Teatro e
os estudantes adolescentes História.
Cupani e
com alto e baixo
Zalazar- Traços de
rendimento acadêmico em Linguística: correlação positiva
Jaime 339 estudantes de personalidade
diferentes áreas do com todas as disciplinas, com
(2014) Ensino Médio de .
conhecimento. exceção de Educação Física,
Revista uma região
Teatro e Química.
Colombian Argentina. Interesses
O desempenho foi avaliado
a de profissionais.
pela média das notas em Outras correlações fracas
Psicologia
Matemática, Língua esporádicas com outros tipos de
Castelhana, Língua Inglesa, domínios.
Filosofia, Artes (Teatro),
Educação Física, Química, Na análise discriminante, a
História e Física. autoeficácia lógico-matemática
apresentou relação com o
desempenho em quase todas as
disciplinas.
Correlações moderadas do
desempenho em Matemática
com a autoeficácia e com a
ansiedade em Matemática.
Examinar as relações entre
o nível socioeconômico, A variação no desempenho em
autoeficácia em Matemática dos países pode ser
8.806 estudantes
Matemática e ansiedade respondida pelo nível
de Ensino Médio
com o desempenho em socioeconômico, autoeficácia
de diferentes Nível
Kalaycıoğlu Matemática usando em Matemática e ansiedade em
países, sendo: socioeconômi
(2015) modelagem de equações Matemática, com valores entre
Inglaterra: 1.316 co.
Educational estruturais. 31% e 43%.
Grécia: 1.582
Sciences:
China: 1.496 Ansiedade em
Theory & O desempenho foi avaliado De acordo com os coeficientes
Holanda: 1.344 Matemática.
Practice pelo escore da parte da path analysis, é aparente que
Turquia: 1.504
relacionada à Matemática o preditor mais importante do
Estados Unidos:
na avaliação do desempenho em Matemática
1.564
Programme for para todos os países é a
International Student autoeficácia em Matemática. A
Assessement (Pisa). importância das variáveis nível
socioeconômico e ansiedade em
Matemática como preditores no
desempenho em Matemática foi
diferente de país para país.
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Guilherme da Silva Gasparotto ● Valdomiro de Oliveira ● Gislaine Cristina Vagetti
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
(continua)
Fatores de
Autores/
País da população Principais objetivos do exposição
Ano de
de estudo/ Desenho estudo/ Medida de Principais resultados analisados em
publicação/
e amostra desempenho escolar conjunto com
Periódico
a autoeficácia
A autoeficácia acadêmica em
conjunto com os traços de
ansiedade explicaram 14% do
desempenho em Física, sendo a
autoeficácia responsável por
Verificar a predição do 10,4%.
desempenho escolar em
Matemática, Física, Somente a autoeficácia
Yüksel e
Química e Biologia, a acadêmica explicou o
Geban
partir das medidas de desempenho em Química, em
(2015) 207 estudantes de
autoeficácia escolar, estado 11%.
Journal of Ensino Médio Ansiedade e
de ansiedade e traços de
Education Técnico de uma traços de
ansiedade. Somente a autoeficácia
and escola da Turquia. ansiedade.
acadêmica explicou o
Training
O desempenho foi avaliado desempenho em Biologia, em
Studies
pela média das notas em 9%.
Matemática, Física,
Química e Biologia. O desempenho em Matemática
foi explicado em 14% pelo
estado de ansiedade e pela
autoeficácia acadêmica, sendo a
autoeficácia responsável por
10%.
As crenças de autoeficácia em
Verificar as inter-relações Química, as percepções dos
entre as percepções dos alunos sobre o ambiente de
alunos sobre seu ambiente aprendizagem construtivista
Boz et al. de aprendizagem, (mediada pela autoeficácia em
(2016) autoeficácia em Química, Química) e o gênero estiveram Sexo.
336 estudantes de
Research in gênero e desempenho em significativamente relacionados
Ensino Médio de
Science & Química. ao desempenho em Química. Ambiente
uma região da
Technologi construtivista
Turquia.
cal O desempenho foi avaliado Foi observada relação indireta de ensino.
Education pelo escore da nota em entre o ambiente de
Química do período aprendizagem percebido e o
avaliativo imediatamente desempenho acadêmico, sendo a
anterior. crença de autoeficácia a
mediadora entre os dois.
Baanu, Verificar a relação entre
Oyelekan e percepção de autoeficácia
Olorundare dos estudantes e seu
(2016) 1.150 estudantes desempenho acadêmico em Não se verificou correlação
The de Ensino Médio Química. entre a percepção de
Malaysian Não houve.
de uma região da autoeficácia e o desempenho em
Online Nigéria. O desempenho foi avaliado Química.
Journal of pelo escore de uma
Educational avaliação governamental
Science externa de Química.
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Guilherme da Silva Gasparotto ● Valdomiro de Oliveira ● Gislaine Cristina Vagetti
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
(continua)
Fatores de
Autores/ País da
exposição
Ano de população de Principais objetivos do estudo/
Principais resultados analisados em
publicação/ estudo/ Desenho Medida de desempenho escolar
conjunto com
Periódico e amostra
a autoeficácia
Explorar as relações entre
autoeficácia científica, sexo e
desempenho em genética nos A percepção de autoeficácia
alunos do Ensino Médio do científica teve correlação com o
Aurah Quênia e investigar desempenho em Genética em
2.139 estudantes
(2017) diferenças de gênero em 0,85.
de Ensino
Journal of autoeficácia científica e
Médio de uma Sexo.
Education desempenho acadêmico em Tanto a percepção de
região do
and Genética. autoeficácia quanto o
Quênia.
Practice desempenho na avaliação foram
O desempenho foi avaliado superiores entre as meninas.
pela nota de uma avaliação
de Genética desenvolvida
pelos pesquisadores.
No modelo 1, as dimensões de
Explorar as relações entre
atitude em relação à Física e a
Kapucu atitude em relação à Física,
autoeficácia em aprendizagem
(2017) autoeficácia da aprendizagem Atitudes
da Física contribuíram para
Asia- 301 estudantes em Física, desempenho em relacionadas à
explicar o desempenho em
Pacific de Ensino Matemática e desempenho Física.
Física em 12,5%.
Forum on Médio de uma em Física em estudantes
Science região da turcos. Conheciment
No modelo 2, o desempenho em
Learning Turquia. o em
Matemática foi introduzido na
and O desempenho foi avaliado Matemática.
equação e explicou uma
Teaching pela nota de uma avaliação
variação adicional de 18,8% no
nacional externa.
desempenho em Física.
Verificar a relação entre a
Oyelekan,
autoeficácia em Química,
Jolayemi e A autoeficácia e a metacognição
300 estudantes metacognição e desempenho
Upahi explicaram 69% da variância do
de Ensino em Química?
(2018) resultado no teste aplicado pelos Metacognição
Médio de uma
Cypriot pesquisadores. .
região da O desempenho foi avaliado
Journal of
Nigéria. por meio de um teste de
Educational
Química elaborado pelos
Science
pesquisadores.
Investigar o efeito da
mediação simultânea de Conheciment
autoeficácia e motivação na o
O conhecimento metacognitivo
relação entre conhecimento metacognitiv
exerceu seu efeito no
Tian, Fang 569 estudantes metacognitivo e desempenho o e
desempenho da Matemática pelo
e Li (2018) de Ensino em Matemática. Matemática.
caminho indireto, por meio do
Frontiers in Médio de uma
efeito mediador sequencial da
Psychology região da China. O desempenho foi avaliado Motivação
autoeficácia e da motivação
pelo resultado médio de três intrínseca da
intrínseca.
notas em um teste de aprendizagem
Matemática aplicado pela matemática.
escola.
Fonte: Autores, 2021.
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Guilherme da Silva Gasparotto ● Valdomiro de Oliveira ● Gislaine Cristina Vagetti
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
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PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
Ensino Médio. Se essa hipótese for assumida, abre-se um campo de investigação para o
entendimento dos motivos.
Um fato importante para a realidade brasileira é que nenhum estudo foi
desenvolvido nesse país com tal temática, nessa população, no período selecionado, o
que pode sugerir que as variáveis psicológicas relacionadas ao desempenho escolar ou à
aprendizagem podem estar sendo negligenciadas pela comunidade científica, em
detrimento de explorar outros fatores explicativos. Nessa perspectiva, há uma gama de
possibilidades importantes para serem exploradas por pesquisadores da área de
Educação e Psicologia da Educação.
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PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
escolar nas disciplinas correspondentes à área de atuação desejada pelo estudante. Para
os autores desse estudo, apesar de a literatura supervalorizar os fatores cognitivos (como
inteligência) relacionados ao desempenho escolar, existem inúmeros outros fatores que
o afetam, como os traços de personalidade, os interesses e a autoeficácia. Nessa
perspectiva, é necessário pensar em modelos explicativos integrados, que possam
explicar a variação no desempenho escolar.
Entre estudantes turcos, envolvidos na pesquisa de Yüksel e Geban (2015),
a percepção de autoeficácia acadêmica, em conjunto com traços de ansiedade, explicou
significativamente o desempenho escolar das disciplinas de Biologia, Química e Física.
Não somente do ponto de vista científico, mas no cotidiano escolar, entender essa
relação é algo a ser considerado no momento do planejamento e da implementação dos
processos educacionais. Os autores se atentaram para a necessidade de se abordar o
desempenho escolar e seus fatores explicativos por áreas, pois generalizar a análise para
os diversos componentes curriculares pode levar a explicações incorretas ou
insatisfatórias.
Também na Turquia, Boz et al. (2016) pretenderam, em seu estudo,
verificar inter-relações e possíveis explicações indiretas da percepção de autoeficácia na
relação entre o ensino em um ambiente construtivista e o desempenho em Química a
partir de um modelo sugerido. Os autores confirmaram o modelo, como se pode ver na
figura 7.
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conscientes de suas próprias habilidades e desempenho nas tarefas, o que pode levá-los
a dar respostas mais confiáveis e consistentes.
Por fim, o único estudo que não demonstrou relação entre a percepção de
autoeficácia com o desempenho escolar foi o de Baanu, Oyelekan e Olorundare (2016),
que pretendeu verificar a correlação entre a autoeficácia e o desempenho em Química.
Essa correlação não existiu, mesmo o estudo sendo desenvolvido com uma grande
amostra de estudantes. Entretanto, os pesquisadores alertaram que o desempenho em
Química dos estudantes envolvidos no estudo foi baixo e que, com a percepção da
autoeficácia não apresentando relação com esse desempenho, é razoável sugerir que
outros fatores impactam de forma negativa esse desempenho.
Como foi possível verificar entre as pesquisas incluídas na elaboração deste
capítulo, a percepção de autoeficácia parece ser um fator relevante no que diz respeito à
investigação do desempenho escolar. Entretanto, deve-se salientar que praticamente
todos os estudos apresentaram pelo menos mais uma variável explicativa para esse
desempenho. Isso é muito importante ao se reconhecer a complexidade e a
multidimensionalidade do desfecho do desempenho escolar, e que ele é afetado por
muitos outros fatores de ordem intrínseca e extrínseca. Foram apresentados alguns
fatores, tais como o controle do lócus (OGUNMAKIN; AKOMOLAFE, 2013), a
autorregulação (KHANEHKESHI; AHMEDI, 2013), traços de personalidade e
interesses profissionais (CUPANI; ZALAZAR-JAIME, 2014), ansiedade e traços de
ansiedade (YÜKSEL; GEBAN, 2015), sexo (BOZ et al. 2016; AURAH, 2017),
ambiente construtivista de ensino (BOZ et al. 2016), atitudes relacionadas à Física e
conhecimento em Matemática (KAPUCU, 2017), metacognição (OYELEKAN,
JOLAYEMI, UPAHI, 2018; TIAN, FANG, LI, 2018), motivação intrínseca de
aprendizagem em Matemática (TIAN; FANG; LI, 2018), nível socioeconômico e
ansiedade relacionada à Matemática (KALAYCIOĞLU, 2015).
Um fator que se acredita ter relação importante com o desempenho escolar,
e que não foi observado em conjunto com a autoeficácia nos estudos analisados, é a
prática de atividades físicas, as quais serão tratadas na forma de práticas corporais
diversas no quarto capítulo.
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04
CAPÍTULO
A RELAÇÃO ENTRE
PRÁTICAS CORPORAIS E
DESEMPENHO ACADÊMICO
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
A RELAÇÃO
ENTRE PRÁTICAS
CORPORAIS E
DESEMPENHO
ACADÊMICO
O objetivo deste capítulo é apresentar um panorama dos estudos
desenvolvidos ao redor do mundo, os quais abordaram a relação entre a participação em
atividades relacionadas às diversas práticas corporais e o desempenho escolar de
estudantes do Ensino Médio ou segmento equivalente em outros países.
Para isso, da mesma forma que no terceiro capítulo, utilizou-se um processo
de busca sistematizada nas três bases de dados científicos: Scielo, Scopus e
Eric/EBSCO. Essas bases foram definidas pela aproximação com o tema e pelo alcance
geográfico de acessos que atingem.
Para as buscas dos artigos nas bases de dados, foram seguidos alguns
critérios: i) amostra de estudantes de Ensino Médio ou segmento equivalente
internacional; ii) artigos publicados nos últimos dez anos; iii) artigos originais, sem
incluir revisões, livros ou capítulos de livros; iv) publicados em língua portuguesa,
língua espanhola ou língua inglesa.
Para o processo de busca, foram utilizados descritores específicos das bases
que contemplaram a relação a qual se pretendeu, utilizando os termos Booleanos AND,
OR ou NOT. Para delimitação de “práticas corporais”, foi levado em consideração o
conhecimento culturalmente definido como objeto de estudo da Educação Física,
tratado nos documentos brasileiros institucionais de ensino escolar como “Conteúdos
Estruturantes” (SEED, 2008).
Dessa forma, na base Scielo a busca foi determinada pela combinação de
descritores definidos a partir de busca na plataforma Descritores em Ciências da Saúde
Quadro 2 – Síntese das informações contidas nos artigos selecionados para a discussão sobre a relação entre as
práticas corporais e o desempenho escolar de estudantes do Ensino Médio.
Fatores de
País da exposição
Autores/ Ano de Principais objetivos do
população de analisados em
publicação/ estudo/ Medida de Principais resultados
estudo/ Desenho conjunto com as
Periódico desempenho escolar
e amostra práticas
corporais
Comparar o desempenho
acadêmico de um grupo de
80 meninas ginastas com outro grupo O grupo de estudo formado
Polat (2018) Não foram
estudantes da de não participantes de pelas ginastas apresentou
Educational consideradas
Turquia. Estudo qualquer esporte. O melhores resultados de
Research and outras variáveis
descritivo desempenho foi obtido por desempenho escolar que o
Reviews independentes.
comparativo. meio das médias das notas grupo não esportista.
dos anos de 2017 e 2018.
Verificar a associação de
fatores psicológicos e de
Foram
práticas corporais com o A participação em projetos
consideradas as
Gasparotto et 330 estudantes desempenho acadêmico de relacionados a práticas
variáveis
al. (2020) brasileiros. estudantes do Ensino corporais pode explicar o
autoconceito e
Journal of Estudo Médio. O desempenho desempenho acadêmico de
autoeficácia na
Physical descritivo acadêmico foi mensurado seis disciplinas e ainda a
relação com o
Education correlacional. por meio do último média dos conceitos, com
desempenho
conceito bimestral de cada valores β = 0,14 a 0,31.
escolar.
disciplina.
Idade (em
anos), sexo,
altura, peso,
índice de massa
Examinar associações entre Os resultados mostraram
corporal (IMC),
Muntaner-Mas as medidas de frequência ligeiras associações de
níveis de
et al. (2020) cardíaca durante aulas de respostas da frequência
atividade física
International 130 estudantes Educação Física e cardíaca durante as aulas de
autorreferidos,
Journal of espanhóis. desempenho acadêmico e Educação Física com
atuação dos
Environmental Estudo subdomínios de funções desempenho acadêmico
professores de
Research and descritivo executivas. O desempenho (intervalo β = 0,191 a
Educação
Public Health correlacional. escolar foi obtido por meio 0,275), mas não indicou
Física e nível
de registros escolares de associações claramente com
de escolaridade
testes institucionais. a função executiva.
dos pais foram
considerados
potenciais
confundidores.
O grupo que
Investigar os efeitos de três dobrou as aulas
Lima et al.
diferentes intervenções No geral, os alunos do grupo de Educação
(2020)
sobre o desempenho de intervenção que dobrou o Física e aliou a
International 1.200 estudantes
acadêmico dos alunos número de aulas de oficinas de
Journal of brasileiros.
matriculados no primeiro Educação Física não ensino aos
Environmental Estudo quase-
ano do Ensino Médio. O demonstraram melhoria do docentes teve
Research and experimental.
Public Health desempenho foi obtido por desempenho acadêmico. melhoras no
meio das médias das notas. desempenho
escolar.
(continua).
Fatores de
País da exposição
Autores/ Ano de Principais objetivos do
população de analisados em
publicação/ estudo/ Medida de Principais resultados
estudo/ Desenho conjunto com as
Periódico desempenho escolar
e amostra práticas
corporais
Examinar associações Comparado ao grupo que
Ishii et al.
longitudinais de atividade apresentou elevado tempo
(2020)
261 estudantes física e tempo de tela de de tela e baixo nível de Foram
International
japoneses. lazer (como TV, PC e/ou atividade física, o grupo consideradas as
Journal of
Estudo jogo) com desempenho com baixo tempo de tela e variáveis idade,
Environmental
correlacional acadêmico, calculado pela elevado nível de atividade sexo e estado
Research and
Public Health longitudinal. média de quatro notas física teve 2,75 vezes mais nutricional.
anuais de cada disciplina. chances de apresentar
melhor desempenho escolar.
Definir e contrastar um
modelo explicativo
incorporando a participação
esportiva, estresse da vida,
desempenho acadêmico e
Os principais resultados do
participação em atividades
Castro-Sánchez estudo destacam que um
físicas; analisar, por meio
et al. (2019) clima esportivo que envolve As análises
2.452 estudantes de equações estruturais
International a tarefa e o engajamento na foram
espanhóis. multigrupo, as associações
Journal of atividade física está consideradas
Estudo existentes entre
Environmental associado a níveis mais em função do
descritivo participação esportiva,
Research and baixos de estresse da vida e sexo dos
correlacional. estresse da vida,
Public Health a níveis mais altos de adolescentes.
desempenho acadêmico e
desempenho acadêmico.
participação em atividades
físicas em função do sexo
do adolescente. O
desempenho foi obtido por
meio das médias das notas.
Examinar os efeitos de um
programa de treinamento
específico de esporte
durante um ano em Nenhuma diferença
45 estudantes Não se
comparação a um grupo significativa entre os grupos
Granacher e atletas alemães. considerou
que realizou somente aulas foi encontrada após a
Borde (2017) Estudo outra variável
de Educação Física, sobre intervenção nas medidas da
Frontiers in descritivo independente,
aptidão física, composição cognição e desempenho
Psychology comparativo além da
corporal e desempenhos acadêmico (p > 0,05).
longitudinal. intervenção.
cognitivo e acadêmico,
medidos por meio de testes
específicos.
Como visto, a Espanha figurou, ainda que entre os poucos países que
publicaram, como o que mais apresentou artigos com a temática da relação entre
práticas corporais e desempenho escolar. Desses estudos, um abordou aspectos
relacionados à dança, tão presente na cultura espanhola, representada mundialmente
pelo flamenco e pelo fandango, por exemplo (GARCÍA-PEINAZO, 2020). Os outros
dois estudos espanhóis trataram de aspectos relacionados a práticas esportivas
(CASTRO-SÁNCHEZ et al., 2019; MUNTANER-MAS et al., 2020).
Ainda que a Espanha não esteja entre os grandes expoentes olímpicos, ela
considera os Jogos de Barcelona, ocorridos em 1992, como um divisor de águas no que
diz respeito ao desenvolvimento das políticas públicas relacionadas ao esporte no país.
Certamente a cidade-sede, em um primeiro momento, e o restante da Espanha, em
variáveis de confusão. No caso dos autores citados, como um programa esportivo foi
associado ao desempenho escolar.
No estudo brasileiro de Lima et al. (2020), foi possível verificar o impacto
de três diferentes intervenções no desempenho escolar. Esse tipo de estudo, de caráter
prospectivo, é aquele no qual o pesquisador, de forma intencional e controlada,
manipula (exclusão, inclusão ou modificação) o fator de exposição (intervenção) a fim
de investigar os efeitos da alteração realizada. Um estudo com desenho experimental
permite ao pesquisador controlar os efeitos de variáveis intrínsecas e extrínsecas que
possam ameaçar a validade interna dos resultados. Essas variáveis podem ser
antecedentes ou intervenientes. As variáveis antecedentes compreendem eventos
ocorridos antes do estudo e que podem afetar os resultados. A minimização dos efeitos
das variáveis antecedentes se dá no momento da randomização dos grupos, quando os
participantes são aleatoriamente distribuídos e os efeitos das variáveis antecedentes
podem ser igualmente alocados nos grupos de estudo. Já as variáveis intervenientes são
aquelas que podem interferir durante a realização do estudo, porém não é parte dele nem
é determinada pelo pesquisador.
O desempenho escolar dos estudantes também foi verificado de formas
distintas entre os trabalhos. Foram utilizadas como indicadores de desempenho escolar,
em seis estudos, as médias das notas escolares anuais ou em períodos letivos
específicos. Nos outros dois trabalhos, esse indicador foi representado pela nota em
testes específicos aplicados pelos pesquisadores.
intervenção seria a ampliação da qualidade das aulas, com oficinas para os professores
por exemplo, e o aumento da carga horária das aulas de Educação Física ou das práticas
corporais extracurriculares.
Três estudos espanhóis, com características e variáveis independentes
bastantes distintas, foram apresentados nessa busca. Na pesquisa realizada por
Muntaner-Mas et al. (2020), procurou-se identificar relação entre as medidas de
frequência cardíaca em aulas de Educação Física e o desempenho escolar, além de
outras funções executivas de 130 estudantes. Nesse estudo, os autores perceberam que a
média da frequência cardíaca máxima atingida pelos estudantes explicou
significativamente, em parte, o resultado de testes acadêmicos aplicados para as
disciplinas de Matemática (β = 0,229), Língua Catalã (β = 0,232) e Educação Física (β =
0,199) e para a média de todas as disciplinas (β = 0,275).
Para esses autores, a intensidade das atividades físicas realizadas pelas
crianças e adolescentes parece expressar algum papel sobre o desempenho acadêmico.
De acordo com eles, pode ser que exercícios mais intensos tragam benefícios extras para
a saúde cerebral, que por sua vez poderia auxiliar na melhora dos resultados
acadêmicos. Os pesquisadores apontam outros estudos que já identificaram maiores
associações entre atividades físicas moderado-vigorosas e o desempenho escolar do que
com atividades leves (ERICKSON et al., 2019; HILLMAN, LOGAN, SHIGETA,
2019). Nessa perspectiva, os autores citam que aulas de Educação Física com atividades
mais intensas, com elevação substancial da frequência cardíaca, podem ser benéficas
para o desempenho escolar de outras disciplinas, inclusive.
Em seu estudo, Higueras-Fresnillo et al. (2016) se apoiaram na prática da
dança como fator de exposição dos estudantes. Em uma amostra de 714 meninas em
fase escolar, os autores se propuseram a verificar a associação desse tipo de atividade
com o desempenho acadêmico, medido pelos registros de notas das escolas
participantes.
Esses autores constataram que, independentemente da idade, do grau de
escolaridade materna, do IMC e da participação em outros tipos de atividades físicas, as
estudantes envolvidas na prática da dança apresentaram um escore médio de
desempenho escolar significativamente superior àquelas que não praticavam. Sendo, em
uma escala de 0 a 5, para Matemática 3,58 contra 3,14, para Linguagem 3,84 contra
3,38 e, para a média das notas, 3,90 contra 3,53.
meio da modelagem de equação estrutural, que é uma análise capaz de identificar, entre
outras relações, o potencial mediador de determinada variável.
A figura 11 foi apresentada no estudo e mostra o modelo com os valores das
relações de path analysis.
CT: Clima para Tarefa; AC: Aprendizagem Cooperativa; E/M: Esforço/Melhoria; PI: Papel
Importante; CE: Clima para Ego; PE: Punição por Erros; RD: Reconhecimento Desigual; RM:
Rivalidade entre Membros; AF: Atividade Física; DA: Desempenho Acadêmico; ES: Estresse.
A PERCEPÇÃO DE
AUTOEFICÁCIA COMO
MEDIADORA DA RELAÇÃO
ENTRE PRÁTICAS
CORPORAIS, ESPORTES E
DESEMPENHO ACADÊMICO
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
A PERCEPÇÃO DE
AUTOEFICÁCIA
COMO MEDIADORA
DA RELAÇÃO ENTRE
PRÁTICAS
CORPORAIS,
ESPORTES E
DESEMPENHO
ACADÊMICO
Neste último capítulo, é apresentado um estudo original desenvolvido com
estudantes do Ensino Técnico Integrado ao Médio do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR).
Diversos trabalhos da área da Educação e da Psicologia da Educação têm
utilizado a Modelagem de Equações Estruturais (MEE), ou path analysis, para
identificar além de relações diretas entre as variáveis, pois elas também podem mostrar
potenciais variáveis mediadoras. A MEE é uma família de modelos estatísticos que
busca explicar as relações entre múltiplas variáveis. Ela examina a estrutura de inter-
relações expressas em uma série de equações, semelhantemente a uma série de equações
de regressão múltipla. Tais equações descrevem todas as relações entre construtos
envolvidos na análise. Construtos são fatores inobserváveis ou fatores latentes
representados por múltiplas variáveis. A MEE pode ser entendida como uma
Com base no que foi exposto, o propósito deste estudo foi a confirmação do
modelo teórico apresentado, da relação entre as práticas corporais e esportivas com o
desempenho escolar de estudantes de Ensino Médio, além de verificar o papel da
percepção da autoeficácia na expressão dessa relação.
MÉTODOS
Participantes da pesquisa
A população de estudo foi formada por estudantes, de ambos os sexos, do
Ensino Médio Integrado ao Técnico de diversos campi do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR). O IFPR possui 25 campi em diferentes regiões
do estado, dentre os quais, neste estudo, houve a participação de uma amostra de 330
estudantes de 15 campi, sendo 167 meninas e 163 meninos selecionados e convidados
por conveniência. A figura 13 mostra a distribuição atual dos campi do IFPR pelo
estado do Paraná, Brasil.
INSTRUMENTOS E
PROCEDIMENTOS
Variáveis independentes
A percepção de autoeficácia acadêmica foi avaliada por meio da Escala de
Autoeficácia Acadêmica, que foi construída e validada por Neves e Faria (2006), sendo
um instrumento do tipo Likert com 26 itens em uma escala de A a F (seis pontos). Esse
instrumento mede a percepção de autoeficácia acadêmica geral, em Língua Portuguesa e
em Matemática. No estudo de validação do instrumento, a escala apresentou variação do
Alpha de Cronbach de 0,88 a 0,95.
Também foi elaborado um questionário demográfico para levantar as
seguintes informações: idade, sexo, se o estudante participava de algum projeto
esportivo escolar em contraturno e se participava de algum projeto com outras práticas
Variáveis dependentes
O desfecho de desempenho acadêmico foi mensurado por meio do último
conceito bimestral, atribuído ao desempenho do aluno no decorrer desse período, em
todos os componentes curriculares pertencentes ao núcleo comum. Para efeito de
análise, levou-se em consideração o desempenho em Língua Portuguesa, em
Matemática e a média do desempenho em todas as disciplinas do chamado núcleo
comum de aprendizagem do Ensino Médio, que compreende: Artes, Educação Física,
Filosofia, Geografia, História, Sociologia, Matemática, Química, Física, Biologia,
Língua Estrangeira e Língua Portuguesa.
Na instituição participante do estudo, o IFPR, o desempenho escolar é
expresso em conceitos: A, B, C e D, em que A é o maior e D é o menor. Para efeito de
análise, foram atribuídos valores a esses conceitos: A = 4, B = 3, C = 2 e D = 1.
Procedimentos
Os dados foram obtidos em sala de aula durante o horário de aulas ou nos
dia e horário do projeto de práticas corporais em que o estudante estava envolvido. Os
estudantes participaram voluntariamente após assinarem o Termo de Assentimento e os
responsáveis assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta foi
conduzida nas diversas unidades do IFPR por pesquisadores voluntários treinados pelo
coordenador do projeto.
Análise estatística
A relação entre as variáveis foi testada por meio da determinação do
Coeficiente de Correlação de Pearson. Também foi confirmada associação entre as
variáveis independentes com os desfechos de desempenho acadêmico por meio da
regressão linear hierárquica, em três etapas: i) participação em projeto esportivo; ii)
participação em projetos de práticas corporais; e iii) domínios da Escala de Autoeficácia
Acadêmica. Essas análises foram realizadas com o auxílio do Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS).
Já para se testar o modelo, foi utilizado o SPSS AMOS, versão 24. Essa
análise apresenta alguns índices que permitem avaliar a qualidade de ajuste do modelo
proposto (BILICH, SILVA, RAMOS, 2006; BYRNE, 1989; HAIR et al., 2005;
KELLOWAY, 1998; TABACHNICK, FIDELL, 1996; VAN DE VIJVER, LEUNG,
1997), conforme destacados a seguir:
• O χ² (qui-quadrado) testa a probabilidade de o modelo teórico se ajustar aos dados;
quanto maior este valor, pior o ajustamento. Esse tem sido pouco empregado na
literatura, sendo mais comum considerar sua razão em relação aos graus de liberdade
(χ² / g · l). Nesse caso, valores até 3 indicam um ajustamento adequado.
• O Goodness-of-Fit Index (GFI) e o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI) são
análogos ao R² em regressão múltipla. Portanto, indicam a proporção de variância-
covariância nos dados explicada pelo modelo. Esses variam de 0 a 1, com valores na
casa dos 0,80 e 0,90, ou superior, indicando um ajustamento satisfatório (HAIR et
al., 2005; BILICH, SILVA, RAMOS, 2006).
• A Root-Mean-Square Error of Approximation (RMSEA), com seu intervalo de
confiança de 90% (IC 90%), é considerada um indicador de “maldade” de ajuste, isto
é, valores altos indicam um modelo não ajustado. Assume-se como ideal que a
RMSEA se situe entre 0,05 e 0,08, aceitando-se valores de até 0,10 (KELLOWAY,
1998).
• O Comparative Fit Index (CFI) compara, de forma geral, o modelo estimado e o
modelo nulo, considerando valores mais próximos de 1 como indicadores de
ajustamento satisfatório (HAIR et al., 2005; BILICH, SILVA, RAMOS, 2006).
Aspectos éticos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), sob o número de parecer: 2.327.626 e CAAE:
75760017.6.0000.0102.
RESULTADOS
Preliminarmente, foi realizada análise de correlação entre as variáveis
relativas à participação em projetos esportivos ou de práticas corporais com os domínios
da percepção da autoeficácia e o desempenho acadêmico geral, em Língua Portuguesa e
Matemática. Nessa análise, foram observados coeficientes de correlação que variaram
entre fraco e médio. De forma geral, as variáveis de participação em projetos esportivos
e de práticas corporais apresentaram correlações positivas com todas as demais
variáveis dependentes. As análises de correlação entre as variáveis estão descritas na
tabela 1.
Figura 14 – Modelo de análise das relações entre práticas corporais, esporte e percepção
de autoeficácia, desempenho escolar
DISCUSSÃO
Por meio da MEE, foi possível confirmar o modelo teórico das relações
entre as práticas corporais, práticas esportivas, percepção de autoeficácia e desempenho
escolar, além de apresentar o coeficiente de relação nas diversas associações.
As práticas corporais e esportivas apresentaram relação direta, ainda que
considerada fraca, com o desempenho escolar, expressa pelas notas em Língua
Portuguesa, Matemática e na média do desempenho escolar. A participação em
atividade extracurriculares, oferecidas pela escola, já foi apontada como
preditora do desempenho acadêmico de estudantes estadunidenses por Abruzzo et al.
(2016). Para esses pesquisadores, a prática esportiva frequente e a participação em
outras atividades organizadas pela escola em contraturno (como música e teatro)
explicaram, em conjunto com o autoconceito, mais de um terço dos resultados
acadêmicos daqueles estudantes. Os autores destacam o esporte como ambiente
favorecedor do autoconceito e, em consequência, da melhora do desempenho escolar.
Soares, Antunes e Aguiar (2015) identificaram relação da prática esportiva com o
sucesso acadêmico de estudantes secundaristas portugueses. Também puderam observar
que as meninas que praticavam esportes apresentaram melhor desempenho acadêmico
do que aquelas que não praticavam, além de menores taxas de retenção escolar.
Foi observado, no presente estudo, uma relação mais expressiva entre a
percepção de autoeficácia para as três manifestações de desempenho escolar. A
autoeficácia acadêmica foi o atributo que apresentou maior relação com o
desempenho dos estudantes. Esse resultado vai ao encontro da ideia de
Bandura (2011), que sugere que os estudantes com elevada crença de eficácia
acadêmica estão mais disponíveis para os estudos e são mais persistentes diante dos
desafios acadêmicos.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
No primeiro capítulo, o texto apresentou o desempenho escolar como um
dos indicadores de desenvolvimento acadêmico de estudantes e sua característica
multifatorial, expondo diversas variáveis de potencial impacto nesse indicador.
O segundo capítulo contribuiu ao apresentar a teoria de Albert Bandura
sobre a aprendizagem social e deu ênfase à percepção de autoeficácia como importante
fator relacionado ao desempenho escolar.
Após a apresentação desse fator, a percepção de autoeficácia como potencial
beneficiador do desempenho escolar, no terceiro capítulo, buscou apresentar como a
relação entre essas variáveis foi retratada nos últimos dez anos pela literatura, a partir de
uma busca sistematizada em três bases de dados científicos.
De forma similar, no quarto capítulo, o propósito foi demonstrar, também,
como a relação entre as práticas corporais se relacionaram com o desempenho escolar
nos últimos dez anos, a partir de buscas nas mesmas bases de dados científicos
utilizadas no terceiro capítulo.
O estudo de campo apresentado no último capítulo do livro demonstrou, por
meio de um trabalho empírico, o que os demais capítulos apresentaram em temas
separados. Nessa perspectiva, o resultado atuou como um desfecho que corrobora com o
que diversos trabalhos e teóricos abordam há algumas décadas, dentre os quais alguns
foram citados neste manuscrito, em relação à importância das práticas corporais e
esportivas como potenciais beneficiadores do desempenho escolar de estudantes do
Ensino Médio, direta ou indiretamente.
Esse desfecho é importante para a rotina pedagógica das instituições de
ensino que trabalham com esse público. O Ensino Médio é um período de inúmeros
desafios, em diferentes contextos de vida, especificamente na escola, e é o ciclo de
estudos com maiores índices de evasão, que ocorre em alguns casos por desestímulo do
estudante com a rotina escolar e pelo baixo desempenho acadêmico. Nessa perspectiva,
seja em períodos de aulas, seja em projetos extracurriculares, as atividades corporais e
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POLAT, S. C. The Examination of the link between academic and sports performance
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ROY, B. A. Exercise and the brain more reasons to keep moving brought to you by the
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exposure and school performance. Pediatrics, v. 118, n. 4, p.1061-1070, 2006.
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VAN DE VIJVER, F.; LEUNG, K. Methods and data analysis for cross-cultural
research. Thousand Oaks: Sage Publications, 1997.
atividade física moderado-vigorosa, 63 comportamentos, 22, 24, 26, 28, 31, 47, 65
atividades artísticas, 62 conceitos, 15, 24, 25, 43, 56, 65, 68. 73
atividades físicas, 20, 53, 57, 58, 61, 64, construtos, 21, 43, 69
67, 68 contexto escolar, 21, 43, 69
atividades sedentárias, 62 contraturno, 58, 62
atletas, 57, 65, 67, 68 crianças, 20, 26, 27, 28, 64
fatores cognitivos, 48, 65 dança, 59, 62, 64, 65, 72
autoconceito, 21, 22, 23, 56, 62, 63, 78 desempenho acadêmico, 117, 19, 21, 23,
autoconfiança, 70 36, 41, 51, 54, 56, 57, 62, 64, 66, 69, 70,
72, 73, 74, 75, 76, 78, 80
91
desempenho cognitivo, 68 infância, 65
desempenho escolar, 21, 23, 24, 37, 44, 45, Instituto Federal de Educação Ciência e
46, 48, 50, 53, 55, 58, 59, 60, 61, 62, 63, Tecnologia do Paraná, 69, 71
64, 66, 67, 68, 69, 73, 77, 78, 79
interdisciplinaridade, 50
desenvolvimento cognitivo, 58, 69
jogos, 54
desenvolvimento humano, 17, 43
metacognição, 51
determinismo recíproco, 25, 29
modelagem, 26, 69
educação, 17, 18, 21, 24, 25, 39, 43, 45,
54, 56, 69, 71 modelo, 27, 28, 48, 65
Educação Física, 39, 54, 56, 57, 63, 64, 67, modelos, 75
68, 72, 79 motivação, 65
ensino, 18, 21, 50 motivação intrínseca, 52
Ensino Fundamental, 18, 43, 58 nível de atividade física, 63, 79
Ensino Médio, 17, 18, 19, 21, 24, 36, 37, nível socioeconômico, 52
43, 45, 47, 50, 54, 55, 58, 71, 80
políticas públicas, 59
escola, 22, 31, 58, 61, 67, 77
prática esportiva, 65, 66, 68, 77
escolar, 43, 58
práticas corporais, 53, 54, 55, 58, 60, 62,
escolares, 65, 67, 69 68, 69, 70, 74, 75, 77, 79
escolas, 60, 64 práticas esportivas, 65
esporte, 54, 59, 61, 78 projeto esportivo, 75
estilo de vida, 19 projetos extracurriculares, 80
estudantes, 22, 45, 50, 53, 63, 67, 68, 71, Psicologia, 24, 25, 27, 36, 43, 69
80
Psicologia da Educação, 19
Exame Nacional do Ensino Médio, 19
reciprocidade triádica, 29, 30
exercício físico, 67
saúde, 19, 67
fatores psicológicos, 70
self, 21, 23, 24, 36
fatores socioeconômicos, 19
Sistema de Avaliação do Ensino Básico,
ginástica, 54 17
habilidade cognitiva, 78 sucesso acadêmico, 78
92
Termo de Assentimento, 73
testes acadêmicos, 64
93
AVALIAÇÃO DOS PARECERISTAS AD HOC
Prezada(o) parecerista(a), o objetivo é realizar um parecer crítico-construtivo a uma obra que
tem pretenção de se tornar um livro digital (formato ebook).
PARECER
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO
Título do Livro
ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
Tópicos de Avaliação Avalie de 1 a 5
1. O capítulo possui linguagem clara e correta? 5
2. Qualidade do diálogo com o referencial teórico e normas ABNT 5
3. Apresentação e discussão dos resultados frente os objetivos 5
4. Clareza e coerência nas considerações e/ou conclusões 5
5. Contribuição do trabalho para o escopo do livro 5
SOMA TOTAL DOS PONTOS 25
Nas referências falta inserir cidade do periódico e intervalo de meses do ano publicado.
Diante destas informações, sou de parecer favorável à publicação deste livro pela Editora Clube dos Rec
readores.
www.clubedosrecreadores.com.br/editora
94
PARECER
PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA: AUTOEFICÁCIA E DESEMPENHO
Título do Livro
ACADÊMICO NO ENSINO MÉDIO
Tópicos de Avaliação Avalie de 1 a 5
1. O capítulo possui linguagem clara e correta? 5
2. Qualidade do diálogo com o referencial teórico e normas ABNT 4
3. Apresentação e discussão dos resultados frente os objetivos 5
4. Clareza e coerência nas considerações e/ou conclusões 5
5. Contribuição do trabalho para o escopo do livro 5
SOMA TOTAL DOS PONTOS 24
AVALIADOR: (2)
www.clubedosrecreadores.com.br/editora
95
O livro - Práticas Corporais na Escola: Autoeficácia e Desempenho
Acadêmico no Ensino Médio, foi escrito com o maior rigor científico da
atualidade para você leitor, conhecer as Teorias que sustentam as
práticas corporais na escola e suas variantes. Autores renomados e
consagrados por suas produções científicas pensaram - O que os
profissionais que atuam no ensino- aprendizagem em contexto escolar
precisam saber além do conhecimento empírico da sua prática
pedagógica no ensino médio? O olhar rigoroso dos cientistas e a
sensibilidade pedagógica dos docentes sobre a forma como se
estabelecem essas relações estão neste livro, são elementos
imprescindíveis para a garantia do direito à aprendizagem dos alunos e
a compreensão do desenvolvimento humano por meio das práticas
corporais. Pois, o mesmo traz – a Teoria de Albert Bandura sobre a
aprendizagem social e conceitos; Pesquisas sobre a relação entre
autoeficácia e desempenho escolar; Tipos de estudos e análises;
Medidas de autoeficácia de desempenho escolar; A relação entre
práticas corporais e desempenho acadêmico. São apresentados os
principais países em que foram desenvolvidas pesquisas sobre a
relação entre práticas corporais e desempenho acadêmico, tipos de
estudos e análises desses trabalhos, sobre as manifestações das
práticas corporais e as medidas de desempenho acadêmico. Também, a
metodologia de pesquisa com todos os procedimentos de análises de
dados sobre a percepção da autoeficácia como mediadora das relações
entre as práticas corporais, esportes e desempenho acadêmico. Assim
como, resultados inéditos e significativos, que sugerem a leitura
obrigatória dessa Obra, por profissionais da Educação Física escolar e
de áreas correlatas ao movimento corporal, que contribuí decisivamente
para o desenvolvimento humano no século XXI.
Boa leitura!!!