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DE G/ROR4BK

(Recordações da Freguesia)
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SÃO JOAQUIM DE GAROPABA

edição comemorativa dos 150 anos de criação


da Freguesia (1830-1980)

Dedicatória: — a Dom Afonso Niehues


DD. Arcebispo Metropolitano

— Ao Pe. Francisco de Assis Wloch


DD. Vigário da Paróquia.

— A Adílio Inácio de Abreu


DD. Prefeito Municipal.

— Aos caros seminaristas do Seminário


Menor Metropolitano de Azambuja, fu­
turos pastores da Comunidade Católica

— Ao povo de Garopaba, trabalhador e


fiel a seu passado religioso, que conti­
nua a edificar, sobre os alicerces da fé,
sua Comunidade.
RECORDAÇÕES DE VISITANTES

‘Garopaba, com seu mar azul, sua igrejinha ergui­


da nos seus verdes morros, sua gente simples e hospitalei­
ra, é um “muito obrigado” que se diz a Deus”.
Iria Guerra

“Ah! Há o mar quebrando na praia,


estórias de pescadores,
peixe,
arrastão,
e muito sonho!
Céu azul,
sol aberto.
Então, dá uma certa melancolia,
na alma quase choro...
Como Deus é grande!
Jô J. Gerber

‘‘O velho contrastando com o novo,


Ruas estreitas, acolhedoras,
A humildade dos habitantes,
Atraindo gente de todo o lugar,
O verde dos morros
O azul do mar!
Natureza! Aqui te encontrei!
Nesta cidade aconchegante,
Onde o tempo consegue parar,
Aqui se vive!
Como você, jamais encontrarei.
Garopaba, te adorei!
Lúcia Helena

‘Nos hemos quedado profundamente sorprendi-


dos y emocionados al conocer este pequeno pueblo y esta
iglesia que parece y nos hace sentir mas cerca de Dios.
Felicitamos al parroco y damos votos para que
sigan con tanta fé conducidos por la mirada de Dios"'.
Elia Garcia Posadas y Andulom
PREFÁCIO

“...existem muitas lacunas na documentação a


respeito do povo brasileiro: os ricos deixam farta docu­
mentação em arquivos, iconografia, monumentos e
construções, enquanto os pobres não deixam muitos ves­
tígios ao passarem pela vida. A história dos pobres é difí­
cil de ser reconstruída. Contudo, é necessário conhecê-la
para sustentar a esperança da Igre ja”. Assim se exprime
Eduardo Hoornaert, padre holandês há muito radica­
do no Brasil, professor de História da Igreja no ITER,
Instituto de Teologia do Recife, em seu livro ‘Formação
do Catolicismo brasileiro”, com o subtítulo programático
‘Ensaio de interpretação a partir dos oprimidos’, Ed. VO­
ZES, Petropolis, RJ, 1974, pág. 12.
Com essa carência sintomática de documentação
defrontou-se Pe. José Artulino BESEN, catarinense, jo­
vem professor de História da Igreja em nosso ITESC,
instituto Teológico de S. Catarina, num primeiro traba­
lho, que se Deus quiser será seguido de outros, dedicado
ao estudo do passado de uma das pequenas comunidades
da micro-região catarinense correspondente ao território
da Arquidiocese de Florianópolis.
Por que esse interesse? “Historia magistra vitae”,
a história é a mestra da vida, diriam os romanos. Não é,
pois, mera curiosidade o que o move a essa pesquisa, mas
a convicção de que o conhecimento do passado de uma
comunidade possibilita a melhor compreensão do seu
presente e viabiliza melhores projetos para o futuro.
Em Garopaba, agora sacudida em seu isolamento
secular pelas investidas do turismo, que acaba de desco­
bri-la, loma-se contacto com um povo humilde mas tenaz,
que aprendeu a aceitar a vida com suas asperezas, confi­
ante na bondade e na providência de Deus. Há um certo
<-ouforiiiisino nesta fé que se manteve acesa, apesar do
atendimento religioso precário; nesta população de ascen­
dí m in açoriana que procura preservar os dois grandes
mliin- morais do Arquipélago: a família íntegra e bem
। oiiPtiiiiidn, e a vivência religiosa.
G
I alel nas '*hnestidas” do turismo, qm* aqui ronin
i hiiiidn pui te, solapa e nivela essas tradições. I' st’ Io
hi. iiiu < ( rias praticas, classi ficadas lie “‘folclóricas”, lira

ill» s a autenticidade quando iih transforma cm espetáculo.

Pc. José Arluliiio BESEN, após brindar-nos com


um estudo sobre o Pastor (“Doni Joaquim Domingues de
nihcira. Traços biográficos; Linha de pensamentos: An-
lologin Edições do Governo do Estado de Sta. Catarina.
HUM Florianópolis, 1979), debruça-se agora sobre o
I cluinlio, sobre uma das pequenas comunidade da grei ca­
lm iiicnsc. Ao mesmo tempo que me congratulo com o
liiim por esse trabalho, faço votos para que outros apa­
reçam.. também dedicados ao conhecimento e levando ao
amor dessas humildes comunidades vanguardeiras que
constituem o embasamento cultural e moral da nossa
gente.

Florianópolis, 23 de setembro de 1980.

Pe. Ney Brasil Pereira


Professor no Inst. Teológico de SC

7
AROPABA
O INÍCIO DA HISTÓRIA DE GAROPABA
Garopaba é uma enseada que se estende da Poiilu
do I'aisca ou Gamboa até a Ponta do Ouvidor, banhada
a l<‘Mc pelo Oceano Atlântico, a oeste e norte fazendo li
miles com o Município de Paulo Lopes e ao sul com o de
Imbiiuba, com 78 km.s2. Situada a 27°58’15” de lalilu
de e n 48°39’36” de longitude.
Ao norte, sua praia, que termina na Gamboa, de­
pois de interrompida por um morrete de terras argilosas,
terras diluvianas cheias de pedras arredondadas. Os mor-
। os da Gamboa chegam a uma altitude de 400 melros, de­
les descendo os filetes de água que formarão o Siriú. A
estrada que da cidade leva ao norte, deixa a praia para
li imspor o Morro do Siriú, donde se obtém magnífico pa­
norama: daí se descortinam todas as praias e pontas do
Sol alé Imbituba, as lagoas, os campos, areias. O Siriú vai
ler no mar formando costões de íngremes ladeiras. Bem
no fundo, acompanhando a linha das praias, a constante
neblina das costas.
A leste, o Oceano Atlântico, confundindo-se com
o horizonte. Ao norte distingue-se o Rio Embaú. que cor-
ie do sudoeste ao nordeste, entre matos c banhados., tiri-
। Irns e campos. Como pano de fundo, a serraria do Cam-
hirelu e os morros da Ilha de Santa Catarina, que lhe fi-
i uni fronteiros. Na base do Siriú, terrenos cultivados por
iipi-icultura rudimentar.
O solo ao sul corresponde ao quaternário e, ao
norte, ao arqueano. Clima mesotérmico úmido, sem esta-
« no seca. Verão quente. Temperatura média anual:
IB.3OC. Vegetação tropical atlântica e litorânea.
Sua história se insere na do descobrimento do
Brasil. A primeira notícia que teríamos de Garopaba pode
n r a da expedição naval que a 24 de junho de 1525 zar­
pava da Coruna, na Espanha, com destino às Molucas, na
esteira de Fernão de Magalhães. Sete unidades navais sob
u» ordens do Piloto-mor João Sebastião Elcano. No co-
mando de um Galeão, o São Gabriel, de 130 lomlad.t
índia Dom Rodrigo de Acuna. Em meio a um terrível icm
poral, o Galeão desgarrou-se e, a 1°. de março d< lã ’<»
S)
lograva fundo em um surgidouro ao Sul da Ilha de Santa
Catarina. No sítio em que aportava, foi visitado por com­
panheiros de João Dias de Solis, Henrique Montes e Mel­
chior Ramirez, os quais levaram seu navio para fundea-
douro mais seguro e o abasteceram.
Nessa ocasião, o Capelão batizou os primeiros
índios Carijós.
Qual teria sido o lugar preciso onde esteve Dom
Rodrigo ?
A denominação “Dom Rodrigo”, ao que parece,
foi imposta por Sebastião Caboto. Oviedo y Vasquez, Lo­
pez de Velasco, Gabriel Soares, situam-no a 20 léguas ao
sul de Santa Catarina. A ponta meridional da enseada de
Garopaba tem o nome de “Ponta do Galeão”, no trecho
considerado da costa, o que nos faz desconfiar ler sido
aquele ancoradouro o primeiro surgidouro do navio de
Dom Rodrigo. A não ter sido ela, a enseada de Inibituba é
a mais provável (1). A mesma hipótese é eventada por
Osvaldo Rodrigues Cabral (2).
Verdade é que o porto de Dom Rodrigo não esca­
pou aos olhos curiosos é à pena do cronista Gabriel Soares
de Souza, no seu “Roteiro Geral”, quando afirma que ele
— o Porto Dom Rodrigo — “é suficiente para se poder
povoar, pela fertilidade da terra e pela comodidade que
tem o longo mar de pescarias e muito marisco, e por a
terra ter muita caça” (3).
Se chegou o espanhol e o português, não encon­
traram o que a historiografia colonialista chama de “ter-
ra-de-ninguém”, pelo simples fato de não ser habitada pe­
lo branco europeu. Ali vivia o índio, o índio Carijó.
Pertencia o Carijó à raça dos Guaranis. Descrito
como homem simples e de caráter pacífico. Ideal de vida:
muita alegria e pouco trabalho. Alimentava-se da caça, da
pesca e dos produtos naturais da terra. Possuía também
pequenas plantações de verduras e de raízes, de que se
ocupavam as mulheres.
Como roupa, apenas uma tanga, espécie de aven­
tal, feita de fibra vegetal, de pele ou de pluma, que des-
10
ihi dos quadris até as pernas. As mulheres andavam de
• l>< <;a descoberta e usavam no cabelo fibras tintas de
i in ias cores.
Os Carijós moravam em tabas ou aldeias, que con­
luiam de 30 a 80 cabanas. As paredes e o telhado cram
frlhts de capim ou de folhas. As portas constavam de va­
tu liuadas por meio de cipós. Como leito, esteiras cober-
|iiti <|< folhas e de plumas, e de cobertores serviam peles e
inteiras. Os seus utensílios, na maior parte, eram feitos
<li madeira (4).
Cram exímios arqueiros, aprendendo desde meni-
im« ii usar suas armas. Possuíam toscos instrumentos de
Êiipro < percussão, cantavam e dançavam durante as ceri-
m«»iiuis rituais de seu grupo, quando serviam bebidas fer­
mentadas por eles mesmos preparadas.
Sabiam trançar cestos, redes e esteiras.
Recebiam bem os navegadores que aportavam às
ÍMM* terras, fornecendo-lhes gêneros, água fresca, e su­
prindo os navios de mantimentos e lenhas.
riram cobiçosos, sendo que tais fornecimentos
primi feitos mediante a retribuição de missangas, espelhos
fi milros objetos que lhes eram desconhecidos e que lhes
ípri iam de adorno ou de utilidade. A cobiça, o desejo de
pblr-los em maior quantidade, levou-os a negociar seus
próprios irmãos, vendendo-os como escravos aos brancos.
Quando tratados com crueldade, hostilizavam os
hiiiiH iis, relraíram-se para o interior das matas, atacavam
a (b-chadas e incendiavam tudo, promovendo condições
de impossibilidade de permanência aos inimigos. Parece
que tin liam o tegumento mais claro do que o restante dos
aborígenes brasileiros (5).
Por causa de seu caráter pacífico, facilmente os
( iirijoH cairiam vítimas dos mamelucos bandeirantes e
Inniiii rapidamente extintos por completo.
P à língua indígena que devemos o nome “Garo-
piihn b -Ir nome vem grafado — Cahopapaba — na < '.ar­
ia ih Turim, em 1523, e pela primeira vez. Ou assim i
i pium llpub < Guarnpeba. Muitos vêm neste nome o dg
11
nificado de “Enseada das Garoupas”. O verdadeiro sig­
nificado está no Guarani, a língua local: Ygá, Ygara,
Ygaratá, significa Barco, embarcação, canoa; mpaba, pa-
ba, é estância, paradeiro, lugar, enseada. Garopaba, então,
significa ‘“Lugar dos Barcos”, “Enseada dos Barcos”. O
nome condiz com a primeira utilidade da enseada, recan­
to seguro para ancoradouro de embarcações.

OS NOVOS MORADORES
Inicialmente liá comunicações entre a Ilha de San­
ta Catarina e Garopaba, além de passagens esporádicas de
embarcações e expedições, como a de Dom Rodrigo de
Acuna.
Seu território estava sob a jurisdição da Vila de
Domingos de Brito Peixoto, Santo Antônio dos Anjos de
Laguna. A situação parece mudar a 23 de março de 1726,
quando o Ouvidor de Paranaguá, Dr. Antônio Laynes Pei­
xoto, atendendo às dificuldades que havia nas comunica­
ções entre Desterro e Laguna, elevou a fundação de Dias
Velho, Desterro, à categoria de Vila, demarcando os limi­
tes das duas pelos morretes existentes ao Norte de Garo­
paba. Teoricamente, pouco mudou para Garopaba, mas,
na prática, suas ligações tornaram-se naturais com Des­
terro, no campo econômico, religioso e social.
Em 1729 o braguense João de Magalhães, casado
com Ana Brito, da estirpe dos Brito Peixoto, requereu ses-
maria na Garopaba. Era um dos “homens bons” e desta­
cada figura na vida lagunense nos tempos coloniais. Foi
vereador á Câmara lagunense 5 vezes. Escrivão em 1711
(6).
O povoamento do litoral catarinense, nele incluin­
do-se Garopaba, deu-se principalmente a partir da Ilha do
Desterro. O açoriano é a figura central desta epopéia,,
pelos riscos e provações, pelos sacrifícios e coragem exi­
gidos.
Nos tempos do donatário Marquês de Cascaes, em
1.666, um Antônio Afonso, com 6 companheiros e respec­
tivas famílias, havia-se instalado na Ilha e na terra firme
fronteira. Em 1692, um João Félix Antunes, com 260
12
açorianos, teria sido enviado para a mesma região. < hi
ira leva, chefiada por Antônio Bicudo Camacho, localizou
se entre Maciambu e Araçatuba (7). Dá-se assim a pi i
meira ocupação, de certo modo eslável, de Garopaba.
Contudo, é no século XVIII que isso se dará d<
forma intensa — e até desorganizada -— com a vinda riu
grande número de casais açorianos.
Em 1722, o Governador da Capitania de São Pau
lo, Dom Rodrigo César de Menezes, fez notar a Dom João
V a grande utilidade que teria o Rio Grande do Sul <•0111
o envio de casais das Ilhas dos Açores para povoamento
da costa brasileira. Em 1728, o páraco do Desterro, Frei
Agostinho da Trindade, em carta ao Rei, refere-se aos
“habitantes que hão de ir das Ilhas”, o que mostra o inte
resse da Coroa pelo assunto.
Silva Paes, em 1712, insiste na conveniência de
serem enviados casais ilhéus para o litoral sul. E em 1745
o Conselho Ultramarino despachou permitindo que todo
navio que tocasse nos Açores, e viesse para o Brasil, pu­
desse transportar até 5 casais, que deveríam ser encami­
nhados para a referida região.
Da parte dos ilhéus açorianos, há movimentação
no mesmo sentido. Em 1746 os moradores do Arquipéla­
go pediram permissão para emigrar para o Brasil. Moti­
vo: as Ilhas encontravam-se superlotadas, havendo misé­
ria, pois não bastava a produção local para alimentar e
manter o excesso de população. E, da parte da Metrópole,
dentro da política do “Uti Possedelis”, havia o interesse
em povoar o litoral, para escon jurar o perigo espanhol e
afastar o indígena.
Finalmente, a 8 de agosto de 1746, o Conselho Ul­
tramarino decidiu-se: “resultará às ditas Ilhas grande ali­
vio em não vir padecer os seus moradores, reduzidos m
males que traz consigo a indigência em que vivem", k 31
de março do mesmo ano eram afixados os Editais, abriu
do a inscrição para os que quisessem emigrar. Dmi,(
transporte gratuito a 5 mil pessoas, ajuda de cir-io < <>0
forme o número de descendentes de cada casal. I< ■ • >m< u
tas, armas, animais e farinha necessária ao su i<mo <1. >
1?
da um, além de os homens serem isentados do serviço mi­
litar. Receberíam, ainda, terras para o cultivo.
Em fevereiro de 1748 chegaram à Ilha os primei­
ros navios, com 461 pessoas, após difícil travessia, na
qual morrera muita gente.
A viagem era uma aventura incrível: além dos pe­
rigos de uma viagem que chegava a 3 meses, doenças e
ordens excessivamente severas: as mulheres e crianças
trancafiadas, só saíam dos alojamentos para a Missa sema­
nal, e não poucos morreram, o que fez com que muita
gente já inscrita deixasse de embarcar, desistindo da via­
gem. Isto fez com que as autoridades passassem a recru­
tar imigrantes, tendo embarcado compulsoriamente pes­
soas de elevada idade, doentes e inválidos, para comple­
tar as derradeiras levas. Surgem protestos dos Governa­
dores, que não sabiam o que fazer dos elementos que não
poderíam suportar o trabalho agrícola.
Silva Paes tratou logo de acomodar os casais, dis­
tribuindo-os pelas proximidades. Seus sucessores no Go­
verno de Santa Catarina, Manoel Escudeiro Ferreira de
Souza e José de Melo Manoel receberam e colocaram as
sucessivas levas dos novos povoadorcs. Sua localização
causou muitos dissabores. Foram distribuídos não só pela
Ilha Trindade, Ribeirão, Lagoa, Ratones, Santo Antô­
nio, Canasvieiras, Rio Vermelho, Rio Tavares — como
pelo Continente — São Miguel, Enseada de Brito, São Jo­
sé, Paulo Lopes, Garopaba e Vila Nova — sucessivamen-
le lugares, alguns que eles fundaram, outros já existentes,
mas carecendo de povoadores.
Os carregamentos sucederam-se entre 1748 e
1756, totalizando, segundo Walter Vicente Piazza, 4.929
pessoas.
Temos assim o povo que transmitiu à terra catari­
nense os caracteres básicos de sua cultura, dando à gente
catarinense uma feição inconfundível.
O grande historiador catarinense, Osvaldo Rodri­
gues Cabral, num trabalho sobre a Colonização Açoriana,
publicado em 1941 (8), procura demonstrar que o aço-
riano não fracassou, afirmação tentadora nas cidades
14
oriundas das correntes imigratórias do século XIX. Mão
era incapaz, o açoriano. O qne havia nele era incapacida­
de agrícola. Fracassou, isso sim, como lavrador.
O grande erro foi distribuir-lhes terras: o açoria-
nos não era agricultor. Nem o português fizera da agri­
cultura sua principal atividade: secura excessiva dos ve­
rões, má distribuição das chuvas, clima instável. Daí bus­
cou nos recursos do Oceano — no sal, na pesca, no co­
mércio ultramarino a possil.nlidade de subsistência.
O que acontecia na Metrópole, era pior ainda nas
Ilhas dos Açores: abruptas, superpovoadas, com reduzidas
áreas para cultivo.
Inicialmente encaminhados para glebas, foram
incentivados para a produção de lindo, cânhamo, pinhei­
ro, trigo, algodão. E os colonos não tinham qualquer pen­
dor para esse trabalho!
Foram para as Vilas, trabalhar de jornaleiro nas
obras públicas, assentar praça na tropa de linha, ou em­
barcar. Pequeno número ligou-se à terra. Como não sabiam
recuperar à terra cansada, desconhecedores que eram das
técnicas agrícolas, a ruína não tardou a se apresentar. O
ponto culminante da miséria foi entre 1780 e 1790. For-
çosamente tiveram que procurar alhures e superação da
fome. Foram para o comércio marítimo, exportação de
produtos da terra, olarias, comércio, pesca de baleia, ma­
nufaturas, cerâmica. Abundam os artífices: alfaiates, sa­
pateiros, ferreiros, marcineiros. As mulheres fazem ren­
da.
O açoriano deu os homens às letras, à política, à
estruturação da sociedade. Os homens dedicados à políti­
ca, ao direito, à administração pública, às artes, ainda ho­
je são maximamente de proveniência açoriana, o que não
tende a acontecer com os descendentes da imigração il ■
lo-alemã do século passado, que trouxe homens para a in­
dústria e para a agricultura.

A ARMAÇÃO DE SÃO JOAQUIM DE GAROP UI \


Ê de 1722 a informação de que Manoel llodi íp..
de Araújo oferecia 8 a 9 mil cruzados anuais pela ...... <
15
são da pesca de baleia em Santa Catarina. Parece que a
concessão não foi obtida.
A pesca de baleia era um monopólio que o Estado
concedia a ricos comerciantes, que dela procuravam ex­
trair lucros, vendendo os produtos de sua industrializa­
ção, principalmen te o azeite e as barbatanas.
O primeiro monopólio durou de 1741 a 1764
(período de concessão de Tomé Gomes Moreira) e o se­
gundo de 1765 a 1801 (período da concessão Quintela).
A Armação de São Joaquim de Garopaba se inse­
re na concessão dos Quintela que organizaram, com ou­
tros sócios, sob a proteção do Marquês de Pombal, a
“Companhia da Pescaria das Baleias”, em 1 765. Foi o
período áureo da pesca do cetáceo: em 1772, em Santa
Catarina, fundou-se a Armação da Lagoinlia, na Ilha, se­
guida, em 1778, de outra, a de São João Batista de Itapo-
corói.
Depois de extinta a Companhia, em 1789, Joa­
quim Pedro Quintela, associado a João Ferreira Sola,
prosseguiu o monopólio por mais 12 anos, recebendo a
Coroa 120 mil cruzados anuais.
Assim, fruto da expansão da atividade, fundou-se.
em 1793-1795, a Armação de São Joaquim de Garopaba
e, em 1796, a de Imbituba.
Segundo A. Saint-Hilaire, não se podia dizer que
a Armação de Garopaba fosse sem importância. Entretan­
to, as suas construções não se comparavam com as de Ita-
pocorói. A Armação ficava no interior de uma baía es­
treita e comprida (a enseada), cercada à direita e à es­
querda de morros cobertos de florestas. A Igreja, os alo­
jamentos do Administrador, do Capelão, dos Feitores, ti­
nham sido construídos à meia encosta de um morro; o en­
genho de frigir, os reservatórios, as casas dos negros, fi­
cavam situados à margem da enseada (9).
Em 1801 foram extintos os monopólios, devendo
ser os escravos, fábricas e utensílios das Armações inven­
tariados e postos à venda, ou entregues a quem os quises­
se explorar, sem privilégio algum, mediante pagamento
16
dos direitos competentes ou, na falta, cabería às .liinl.i'. dn
f azenda administrar as Armações. A decisão importou mi
decadência da pesca baleeira. As de Santa Catarina con­
tinuaram sob a administração da Fazenda Real, entrando
em declínio, e assim permanecendo até 1816.
Neste ano tentou-se reerguer a indústria baleeira,
mas os resultados foram insatisfatórios. Começaram a
ser arrematadas, como última tentativa. Mas as ruínas as
consumiram todas. As de São Joaquim de Garopaba e de
Imbituba foram arrematadas em 1829, por Antônio Men­
des de Carvalho, que andou sofrendo prejuízos.
Em 1837 acabaram sendo comprados por Antô­
nio Claudino e Manoel Francisco de Souza Cordeiros, por
30 contos. Os rendimentos foram de tal modo reduzidos
que, em 1851, não haviam podido saldar seus débitos com
a Fazenda Nacional, de prestações relativas à compra efe­
tuada. Terminou assim a indústria da pesca baleeira em
Santa Catarina, como, aliás, no resto do Brasil, onde as
Armações ainda não abandonadas agonizavam frente às
maiores dificuldades.
Naquele tempo tinha a baleia importância máxi­
ma. Fornecia o azeite para a iluminação pública, e azeite
para ser misturado à argamassa na construção de fortale­
zas e edifícios, dando-lhes uma resistência semelhante ao
cimento, inexistente àquela época. Da baleia obtinham-se,
ainda, as barbatanas, matéria prima de grande importân­
cia, por ser a mesma utilizada na confecção de espartilhos
usados pelas mulheres grã-finas daquele tempo.
Com a descoberta do petróleo americano e subse­
quente fabricação do querosene, com o início do cimen­
to Portland, cessaram os motivos que davam importância
econômica à pesca do cetáceo.
Da ruína das Armações não escapou Garopaba
que, em 1830, devido a um já existente e mais esperado
ainda progresso, era elevada a Freguesia.

17
I
IMPRESSÕES DE UMA VIAGEM

Como seria a vida em Garopaba, no século passa­


do? Pouca coisa podemos afirmar. Entretanto, alguns
\ ia jantes por ali passaram e um, especialmente, dá-nos
notícias interessantes.
A 16 de outubro de 1797 visitou a Armação de
São Joaquim o escossês George Semple de Lisle. Partindo
da Inglaterra num navio pertencente a uni comboio de de­
gredados para a Austrália, degredado também ele, por ter
havido uma sublevação a bordo, conseguiu com 28 com­
panheiros, homens e mulheres, alcançar num escaler o
Kio Grande. Na sua travessia transpôs o Tubarão, onde
havia um posto de guarda, esteve na Laguna, onde havia
muito peixe e, passando por Vila Nova, em Garopaba
conseguiu passagem numa baleeira para o Desterro.
Mas foi o naturalista e viajante francês, Augusto
de Saint-Hilaire, que percorreu o Brasil, demorando-se
em Santa Catarina em 1820, que deixou páginas interes­
santes sobre o que observou entre nós (10).
Deixando Enseada de Brito, começando a ventar,
içaram-se as velas, prosseguindo-se viagem rumo da barra
do Sul. Anoitecia. O mar não estava calmo e a saída do
canal era, às vezes, perigosa, devido aos bancos de areia
ali existentes. Saint-Hilaire confiou na habilidade do pa­
trão. Grande susto quando sentiu-se o barco subir na
crista de uma onda e cair rapidamente, dando a impres­
são de que a embarcação estava na iminência de ser tra­
gada pelas águas. Tinha-se passado a barra.
Apesar da escuridão, podia-se distinguir, fora do
canal, diversas ilhotas, numa das quais existia uma forta­
leza.
Às 2 horas da manhã Saint-Hilaire desembarcava
na Armação de Garopaba.
Sendo frio, a convite do patrão desembarcou,
passando o resto da noite em sua casa. Deitou-se, para dor­
mir, numa esteira estendida ao chão.
Ia recomendado ao Administrador da Armação,
que estava ausente. Seu substituto instalou-o num quarto
IP
grande, misérrimo e sem móveis, onde a água penetrava
por todos os lados.
Perguntando pelas carroças solicitadas, que o
conduziríam, a ele e sua bagagem, para Vila Nova, nin­
guém soube responder. Decidiu-se, então, a levar uma car­
ta de recomendação ao Sargento-mor Manoel de Souza
Guimarães, que residia a meia légua de Garopaba e estava
encarregado de obter-lhe condução.
Passamos agora a pena ao próprio Saint-Hilaire,
que, como arguto observador, dará um retrato de como
se apresentava a Armação de São Joaquim em 1820, com
sua gente, sua terra, sua vegetação, suas plantações.
“Saindo da Armação para ir à Fazenda do Sar-
gento-mor, atravessei primeiramente um areão coberto de
relva e de arbustos, e em que abundava a mirtácea deno­
minada MYRCIA GAROPABENSIS na minha FLORA
BRASILIAE, e uma erícea vulgarmente chamada CAMA­
RINHA, cujos frutos negros, lisos, luzenles, dispostos em
radios, são refrigerantes e de gosto agradável. Em outra
época do ano talvez eu tivesse colecionado nesse areão
muitas espécies de plantas; mas, havia passado o tempo
da floração, da qual haviam somente alguns vestígios.
Apenas, como na estação outonal em França, um reduzi­
do número de espécimes tardios e enfezados tinham ainda
algumas flores.
O mais notável de todos os vegetais que se encon­
tram na singular planície de Garopaba, é uma palmeira
anã que eu ainda não conhecia e à qual deram o nome de
BUTIÁ (do guarani MBUTIÃ, que significa coqueiro).
...Após atravessar o areão que acabo de descrever, pene­
trei numa floresta virgem, passei por diante de planta­
ções de mandioca e de laranjas perfeitamente alinhadas,
o que no Brasil é de causar admiração e, enfim, cheguei
à fazenda do Sargento-mor.
Ela ficava situada no alto e daí se desvendava si­
multaneamente um trecho do mar e uma vasta planície
coberta de mato, e que é a continuação da que acabei de
referir. Essa habitação também se me afigurou outra ra­
ridade, pois em Minas e Goiás as fazendas são «eralmen-
te construídas em lugares baixos.
20
O patrão da lancha que ine convidara a Garopaba,
fora comigo à casa do Sargento-mor e este o censurou
acremente por haver posto em risco minha vida, passando
à noite a barra do canal de Santa Catarina. Entretanto, eu
não achava ter corrido tão grande perigo!
Terminada a sua repreensão, o Sargento-mor con­
vidou-me para ir jantar. Sua mulher foi para a mesa co­
nosco, o que certamente não teria feito uma senhora de
Minas ou de Goiás, e ficou encantada com os elogios que
fiz a Santa Catarina, sua terra natal.
Dissera-me o Sargento-mor que plantava princi-
palmente mandioca, por ser nessa região a cultura mais
produtiva em virtude de a mesma preferir terrenos are­
nosos. Acrescentara que após colhida a mandioca planta­
da em terreno que antes fora mato-virgem, devia-se dei­
xá-lo repousar por dois anos; mas, se as terras fossem de
capoeira, o tempo de espera seria de 4 a 5 anos, a fim de
que os arbustos e os espinheiros se achassem novamente
em condição de ser cortados e queimados.
O meu hospedeiro prometera-me, para o dia se­
guinte, três carroças, para conduzir-me à Vila Nova, situa­
da a 6 léguas somente de Garopaba. (...)
De volta à Armação, fui visitar o Administrador-
geral, que havia regressado na minha ausência. Apenas
entrei na varanda de sua casa, o Administrador pôs-se a
rezar, edificando-me com o seu aspecto devoto e humil­
de. No dia seguinte, ele ouviu duas Missas; na primeira, a
que assisti, recitou muitas orações em voz alta em lingua­
gem vulgar, tomando as mais humildes atitudes. Como já
tive ensejo de dizer, os brasileiros tratam muito superfi­
cialmente das práticas, que, por si, são, às mais das ve­
zes, a própria religião. Assim, fiquei bastante surpreen­
dido com essa ostentação devota que eu, desde que me
achava na América, testemunhava pela primeira vez. Pen­
so que ela seja, no Administrador, a expressão das mais
altas virtudes; mas, no número daquelas que tenho o pra­
zer de atribuir a esse homem, não posso incluir a da hos­
pitalidade, porque o acolhimento que ele me dispensou, à
minha chegada, foi muito frio, para não dizer desdenhoso.
Conquanto estivesse no inverno, não me convidou a eu
21
<1 ar em sua casa nem me distmguiu com o menor gesto de
gentileza. (...)
A 21 de maio parti de Garopaba com as minhas 3
carroças.
O caminho era plano, muito bom, e atravessava
uma zona de mata virgem. Encontrei, porém, nas vizi­
nhanças da Armação, muitas terras já desbravadas e, a
cada passo, diversos sítios e algumas roças de mandioca.
Em certa altura, atravessamos um rio denominado Garo­
paba, que vai lançar-se na lagoa do mesmo nome, perto
do mar. Como era dia de festa, encontrei grande núme­
ro de mulheres a cavalo, que voltavam da Missa. Elas não
usavam chapéus de homem como as de Minas, mas cha­
péus próprios do sexo e, tampouco, se esquivavam de
olhar para os lados, corresponder aos cumprimentos que
eu lhes dirigia e falar com os passantes.
Uma delas, vendo-me colher plantas, entendeu
que eu era médico e forçou-me a entrar em sua casa para
er um doente. Era um homem atacado, havia muitos me­
ses, de paralisia, e os mais hábeis talvez tivessem ficado
tão embaraçados como eu. Recomendei o doente a Deus,
aconselhei-o a ter paciência e a confiar na sua mocidade,
e escapei-me o mais depressa possível.
Após ter feito cerca de 3 léguas, parei num sitio-
zinlho denominado Encantado, pertencente ao dono de
uma das carroças que nos conduziam, e aí passei a noite.
Conversando com o meu hospedeiro, perguntei-lhe quan­
to tempo era necessário, no seu lugar, para deixar a terra
em repouso e derrubar as capoeiras. — Nós temos tanta
terra, disse-me ele, que depois de aproveitado um lugar,
abandona-se-o e vai-se plantar noutro.
Deixando o Encantado, entramos num areão co­
berto de butiás muito juntos uns dos outros, entremeados
de diversos arbustos e sub-arbustos. Para mim era um
quadro inteiramente novo o que me ofereciam essas pal­
meiras anãs, cujas folhas glaucas e agudas pareciam dos­
séis sob os quais cresciam arbustos, quase todos de folhas
verde-gaio. Começava aí uma flora verdadeiramente extra-
tropical; a do Rio de Janeiro, que eu ainda encontrava.
22
<-<>ni modificações, na Ilha de Santa Catarina, linha desa­
parecido.
Caminhavamos mais ou menos paralelamente ao
mar, que ficava a 1 légua ou 3/4 de légua de distância”.
à época da viagem de Saint-Hilaire, Garopaba
pertencia ao Termo da Vila do Desterro, que em terra fir­
me ia daí até as Garoupas (Porto Belo), com uma popula­
ção superior a 21 mil habitantes, enquanto a da Vila de
Laguna nlão ia muito além de 7 mil e a de São Francisco
pouco excedia a 6 mil.

PRIMÓRDIOS DA FÉ CRISTÃ

Ao descobrir-se o Brasil, seu território ficava sub­


misso à Vigararia de Tomar, da Ordem de Cristo, a quem
competia a catequização e administração espiritual das
terras conquistadas. Em 1514, o Brasil passa para a juris­
dição do Bispado de Funchal, na Ilha da Madeira.
Finalmente, a 25 de fevereiro de 1551, o Papa
Júlio III cria a primeira Diocese brasileira, o Bispado de
São Salvador, na Bahia. O primeiro Bispo, Dom Pero Fer­
nandes Sardinha, chega a 22 de junho de 1552.
Novo passo na administração eclesiástica foi a
criação da Prelazia de São Sebastião do Rio de Janeiro, a
19 de julho de 1575, sendo primeiro Prelado Bartolomeu
Simões Pereira. A Prelazia do Rio de Janeiro foi elevada a
Bispado em 22 de novembro de 1676, tendo como pri­
meiro Bispo Dom Manoel Pereira.
O primeiro trabalho, de conversão do gentio e de
assistência ao colonizador deve-se ao esforço dos missio­
nários franciscanos, de início e, depois, ao dos Jesuítas.
Antes da criação de Paróquias, a costa catarinense
foi visitada por missionários itinerantes, que catequiza­
vam e civilizavam o indígena. A evangelização de Santa
Catarina começa em 1537, com Frei Bernardo Armenta,
Frei Afonso Lebron e outros frades. Vias, fato insólito, um
pregador indígena, Itiguara, os auxiliou como intérprete
e catequista!
23
Aqui encontraram espanhóis, desertores alguns
da esquadra de Dom Pedro Mendonça, que serviram de
intérpretes às pregações de Frei Bernardo aos Carijós.
Parte do sucesso deveu-se também ao trabalho precursor
de Itiguara.
A continuação da obra franciscana foi entregue
aos Jesuítas, Pe. Leonardo Nunes e Irmãos Afonso Braz
e Diogo Jacorne, em 1553, que em sua companhia tra­
ziam alguns Carijós já batizados e que anteriormenle ha­
viam sido salteados pelos vicentistas.
O trabalho missionário, heróico e bem aceito,
aqui como alhures, teve como principal adversário a fú­
ria escravagista.
Os Carijós, “como se mostrassem os mais bran­
dos e humanos do Brasil e, além disso, por habitarem a
orla marítima mais facilmente abordável das terras suli­
nas, quase de todo abandonadas pelo seu donatário, fo­
ram os que, desde o início do povoamento europeu, pa­
garam o maior e o mais cruel tributo à fúria escravagista,
priiicipahncute dos moradores do litoral paulista” (11).
Sobre eles escreveu o Pe. Manoel da Nóbrega: “Além de
São Vicente estão os Carijós, e todos dizem que é o me­
lhor gentio desta costa, e entre eles estavam convertidos e
batizados muitos. Não há muito tempo que foram ensina­
dos por dois Frades franciscanos e tomaram tão bem sua
doutrina, que já têm casas de recolhimento para mulhe­
res, como freiras, e outras de homens, como de frades”.
Os padres que deviam atender a todo o litoral sul,
pouco podiam fazer de um trabalho mais organizado, com
continuidade, pois intrepidamente corriam de um lugar
ao outro, vencendo imensas distâncias, que somente imen­
sa fé tornava possíveis de serem percorridas.
Podemos dizer que tanto o colonizador como o
aborígene cristianizado estavam religiosamente em com­
pleto abandono. Para se ter uma idéia, em 1720, de Ca-
nanéia até Laguna havia só um Vigário, e havia anos que
nem um tinham.
Com a chegada dos casais açorianos há uma me­
lhora.
24
Antes, com o zelo de Frei Agostinho da Trindade,
Carmel ití^, criara-se a Paróquia de Nossa Senhora do Des­
terro, a 21 de janeiro de 1730. O primeiro Vigário: Pe.
Francisco Justo Santiago.
A Provisão Régia, de 1747, que ordenava o po­
voamento do litoral sul, mandava que se constituísse em
cada Igreja um Vigário, ao qual, no primeiro ano, dar-se-ia
o sustento e mais cômodos, 60$000 réis anuais para a Fá­
brica e alfaias. Além disso, para que não houvesse falta
de Vigários, avisava aos Bispos de Funchal e de Angra
que convidassem alguns sacerdotes daquelas Ilhas para
virem em companhia dos casais. À chegada, cada sacerdo­
te recebería 10$000 réis de ajuda de custo e 1/4 de lé­
gua em quadra para a construção de casas paroquiais. E,
para dar condizente atendimento espiritual em cada um
dos lugares, ordenava ao Governador levantar Igrejas.
Em 17 de julho de 1748 se manda edificar a Ma­
triz do Desterro. Em 1756 havia na Ilha de Santa Catari­
na 4 Vigários, 4 Clérigos e 1 religioso.
Face ao povoamento intensivo, criaram-se novas
Freguesias: Nossa Senhora das Necessidades (27-4-1750),
Nossa Senhora da Conceição da Lagoa (17-6-1750), Nos­
sa Senhora do Rosário de Enseada de Brito (8-7-17151),
São José da “terra firme” (26-10-1751), São Miguel da
‘Terra firme” (8-2-1752) e outras.
Como faltassem artífices e serventes para a cons­
trução de Igrejas, fazem-se pequenos Oratórios de pau-a-
pique.
Alguns sacerdotes dos Açores e da Madeira em­
barcaram para Santa Catarina e proveram as novas Fre­
guesias. Para a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de
Enseada de Brito veio o Pe. Antônio Alvares de Bitten­
court (12).
São Joaquim de Garopaba tem sua história ligada
à Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Enseada de
Brito: a maior parte de seu território lhe pertencia. Cer-
lamente Garopaba possui também suas ermidas de pau-a-
pique anteriores à Igreja, provavelmente edificada por
ocasião da instalação da Armação para a Pesca da Baleia.
25
A primeira notícia que temos de sua Igreja é de
1799. O Visitador Apostólico Pe. Bento Cortes assim se
refere à Freguesia de Enseada de Brito: ‘Ereta em 1775,
com 208 fogos e com 1.021 almas de confissão e comu-
idião. Esta Igreja só tem a Irmandade do Santíssimo, sem
< ompromisso. Tem a Capela da Armação de Garopaba, de
invocação de São Joaquim, distante 4 léguas”. É a mesma
capela que Saint-Hilaire conheceu em 1820. quando de
sua passagem por ali, na viagem pela Província de Santa
Catarina, em maio.
O território da Armação de São Joaquim perten­
cería à Freguesia de Vila Nova de Santana. Na realidade
estava sob a jurisdição de Enseada de Brito, conforme nos
atesta o Termo de Visita Pastoral de 1815.

A FREGUESIA DE SÃO JOAQUIM DE G AROPABA


A Paróquia foi criada por Decreto do Governo
Imperial de 9 de dezembro de 1830, sendo Presidente da
Província o Chefe de Divisão Miguel de Souza Melo e Al-
vim. Contudo, sua instalação efetivou-se somente por Alo
Legislativo de 13 de maio de 18-16, quando o General de
Divisão Antero José Ferreira de Brito foi autorizado a
contratar uma Companhia para a construção da Matriz,
casa paroquial e cemitério.
Sócio-gerenle da empresa foi o Capitão Manoel
Marques Guimarães, por alguns considerado o fundador
da Freguesia, coisa que nos parece estranha, pois foi ape­
nas um CHiefe de Empresa, e não um desbravador ou pio­
neiro.
A recém-criadá Paróquia fica aos cuidados do Vi­
gário de Enseada de Brito, que a chama de Capela-Matriz.
Seu primeiro Vigário, o de Enseada, é o Pe. Vi­
cente Ferreira dos Santos Cordeiro, grande sacerdote e
expoente político que em 1839 chegou a tomar posse no
cargo de Vice-Presidente da recéni-fundada República
Juliana, para logo após sua derrocada, retornar pacifica­
mente aos cuidados do seu rebanho.
Nascido em 1783, aceita vigariar São Joaquim de
Garopaba, o que não deixa de ser-lhe um grande saerifí-
26
< io, devido quer às distâncias, quer à solidão das viagrim
parti as quais nem sempre encontra companheiros, con­
forme lamenta em correspondência.
Seus dissabores se concentram mais em outros
sacerdotes que, à revelia das leis, fazem “incursões” pas­
torais em Garopaba, realizando batizados e casamentos
si in lançamento em Livro competente. Em 1835 queixa-se
ao Presidente da Província, pois o Vigário da Vila Nova
vem balizar na Matriz-capela de Garopaba sem remeter
os assentos.
Quando, em 29 de julho de 1839, a Câmara Mu­
nicipal de Laguna declarou o Estado Catarinense Livre e
Independente, constituindo a República Juliana, a histó­
ria começava a interromper o silêncio do Vigário de En­
seada. No dia 7 de agosto, os eleitores da nova República
dirigiram-se para a Casa da Câmara, onde se procedeu à
eleição.
Para Presidente da República foi escolhido o Co­
ronel Joaquim Xavier Neves, de São José e, para Vice-
Presidente, o Pe. Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro.

A REPÚBLICA JULI ANA


O movimento revolucionário que é conhecido sob
o nome de Revolução Farroupilha, tinha por escopo li­
bertar a Província do Sul de uni jugo político e econômi­
co considerado intolerável pelos Gaúchos. Os revolucioná­
rios combatiam por nma autonomia que lhes era negada,
por liberdades que não toleravam fossem tolhidas pelo
Governo centralizado do País,, alimentados por um ideal
republicano e federalista. Em certo momento da luta, po­
rém, surge uma atitude separatista, que levaria o Rio
Grande a abandonar a comunhão nacional e vir formar
uma República, independente do Império.
À frente dos revoltosos colocou-se o Coronel
Bento Gonçalves da Silva, que conseguiu depor o Presi­
dente da Província. Duraria a luta 10 longos e sangren­
tos anos.
As simpatias da maioria dos Catarinenses, princi-
palmente do Sul da Província, atingindo mesmo a Capital,
27
c Lages, no Planalto, inclinaram-se para os revoltosos.
Tanto na Laguna como em Lages encontravam-se
numerosos fugitivos, famílias gaúchas que haviam escapa­
do à luta e às perseguições. O Juiz da Vila de Laguna,
João Tomás de Oliveira, chegou mesmo a utilizar dinhei-
ros públicos para acudir às necessidades dos refugiados.
No Desterro e em São José as simpatias pela causa revolu­
cionária não se tornaram menores, atraindo figuras emi­
nentes da sociedade local; em São José era apontado co­
mo chefe republicano o Coronel Xavier Neves. O Vigário
de Enseada de Brito, Pe. Vicente Ferreira dos Santos
Cordeiro, era exaltado republicano.
Em março de 1836, as vanguardas republicanas
chegaram a Torres, ocupada para servir de base a qual-
quer empreendimento em Santa Catarina.
A 11 de setembro se proclamou a República Rio-
grandense, escolhendo-se a Vila de Piratini como Capital.
Os anos de 1837 e 1838, no computo geral, foram propí­
cios à causa republicana.
Em março de 1838, uma pequena incursão em
território catarinense, com a ocupação de Lages, que foi
declarada parte integrante da República Riograndense.
O ano de 1839 foi dos mais movimentados e de
grande interesse para Santa Catarina. Devido ao cerco
das tropas do Governo Imperial, a conquista de um porto
para o Atlântico tornou-se necessidade imediata. Este
porto só poderia ser o de Laguna: e ali a simpatia dos la-
gunenses seria um fator favorável ao êxito do empreendi­
mento.
Foi estabelecido o plano de invasão, cabendo a
Davi Canabarro o comando da expedição terrestre, en­
quanto José Garibaldi se encarregaria do ataque por via
marítima.
A 11 de julho, o ataque à Laguna. A 22 de'julho
era ocupada, debandando as forças governamentais. No
dia 24 de julho, a Câmara Municipal declarou o Estado
Catarinense livre e independente. Foi proclamada a Re­
pública e se constituiu o ministério. No dia 4 de agosto
28
I'rz-se a inscrição dos eleitores e a 7 foram escolhido» <>.
dirigentes da nova República. Para Presidente da Kepii
Mica foi escolhido o Coronel Joaquim Xavier Neves, dr
São José, por 17 votos, contra 4 dados ao Vigário da En­
seada de Brito, Pe. Vicente.
Como não fosse possível dar posse ao Coronel Xa-
x ier Neves, o General Canabarro sugeriu que se empossas­
se o Pe. Vicente na qualidade de Vice-Presidente até que
o Presidente eleito pudesse reunir-se aos companheiros, o
que de fato não aconteceu.
Convocado, o Pe. Vicente viajou de Enseada de
Brito, tomando posse do cargo a 28 de agosto, sendo que
a 2 de setembro assumiu o ministério.
Sob o lema LIBERDADE, IGUALDADE. IIUMA-
\IDADE, em setembro são emanados os primeiros decre­
tos da República Juliana, assinados pelo Pe. Vicente: Da-
\ i Canabarro é nomeado Comandante em chefe do Exér­
cito Catarinense; a Vila de Laguna de Santo Antônio dos
\njos é elevada à categoria de cidade, com a denominação
de Cidade Juliana de Laguna, que por ora fica sendo a
Capital do Estado; a Câmara Municipal fica autorizada a
adornar o interior de seu brazão com uma liberdade en­
costada sobre um escudo, em cujo centro brilhem as pa­
lavras — divisas do Governo — Liberdade, Igualdade,
Humanidade; as cores nacionais da República serão a
verde, branca e amarela: o verde na extremidade supe­
rior, a branca no meio e a amarela na extremidade infe­
rior; o porto de Laguna é declarado franco, sendo aboli­
dos os impostos sobre o comércio de gado e indústria pas­
toril.
A 12 de setembro, solene Te Deuni e missa solene
< m todas as Igrejas da República.
As forças republicanas não param aí. Sob o co­
mando do Coronel Teixeira Nunes avançam rumo ao Nor­
te, apossando-se sucessivamente de Imbituba, Vila Nova
<• Imaruí. Avançam sobre Garopaba, onde havia uma for­
ça sob o comando do Alferes Vilas Boas. No dia 26 de
setembro, à aproximação dos republicanos, todos entre­
garam as armas. O mesmo ocorre em Maeiambu. Aram-
29
pain oh revoltosos perto do forte de Araçatuba, que ade­
ri' à causa republicana. Em Garopaba nomeiam para Che­
fe de Polícia o Major Claudino de Souza Medeiros.
O piano de Teixeira é rumar para o Norte: abre
uma picada pelo sertão de Paulo Lopes, para atingir o
Morro dos Cavalos, caminho para a Ilha. Mas lá encon­
trará postadas as forças imperiais.
A ação imperial toma corpo. A 27 de setembro os
rebeldes são expelidos de Maeiambu. Na ponte da Pi­
nheira são batidos, sendo perseguidos até Garopaba (17
de outubro).
O plano para o ataque a Garopaba, marcado para
o dia 14, foi transformado devido à notícia de presença
dos revoltosos comandados por Garibaldi, que haviam
saído de Laguna rumo ao Norte, pelo mar.
Mas a 1.” de novembro, iniciam-se medidas para
ser cortada a força que o inimigo ainda conservava em
Garopaba.
As forças do Governo descobrem uma picada por
onde podia passai* apenas um homem a pé, a qual en­
trando na ponta da Gamboa, junto à Serra, com uma vol­
ta de 5 léguas, vinha a sair da retaguarda dos republica­
nos acampados na Encantada. Comandados pelo Capitão
Manoel Joaquim, conhecedor do terreno, foram atraves­
sando a picada, noite à dentro, todos a pé, em meio à
chuva. No segundo dia, de madrugada, surpreenderam
um piquete republicano de 5 homens sem haver um tiro.
Travouse combate: de parte revoltosa 10 mortos
no campo, 6 soldados prisioneiros e 1 capitão. O restan­
te fugiu em debandada para os matos próximos. Da par­
te imperial, 2 mortos, alguns feridos. O Coronel Teixei­
ra fugiu. No dia seguinte as forças governamentais atra­
vessam o Morro do Siriú, unindo-se ao batalhão. Vários
piquetes julianos fugiram para a serra.
O 2.° Batalhão, acampado na Encantada, destrói
qualquer resistência em Garopaba, fazendo os republica­
nos retrocederem até Imbituba, e dali para Laguna, onde
se travaria o combate decisivo que se deu a 15 de no-
30
xombro, data que marca o fim da República Juliana, l.á
combatia, ao lado de José Garibaldi, aquela que seria
apelidada de ‘Heroína de Dois Mundos”, Anita, que tro­
cara marido e filhos pelo ardor do combate ao lado do
herói italiano.
A República Catarinense, que começara sob al­
ios ideais, que emocionara e cativara os catarinenses, pra­
ticamente traíra seus objetivos. O governo despótico de
Davi Canabarro, os saques às propriedades, a incompa-
Fbilidade com os gaúchos, tudo fez com que o povo vol­
tasse aos ideais da Nação brasileira, única e indivisa.
A INSTALAÇÃO DA FREGUESIA
Quando o Pe. Vicente deixou a Paróquia, para
assumir a Presidência da República Juliana, substituiu-o
o Pe. Bernardo da Cunha Prochado Júnior, que na En­
seada permanece até 1841, ano em que retorna o antigo
Pároco. De humilde Vigário a herói republicano, de he­
rói republicano a humilde Vigário de aldeia. As andan
cas de sempre, os mesmos dissabores.
Conserva-se uma carta sua reclamando das inva­
sões pastorais em Garopaba, dirigida ao Presidente da
Província a 16 de janeiro de 1843:
limo e Exmo. Sr.:
Incluso lenho a honra de remeter um mapa,
que por ordem de V. Excia. sou obrigado a
fazer anualmente. No quanto está no meu cui­
dado, procurei a sua equação, c no que con­
tudo não deixei de encontrar alguma dificul­
dade, pelo abuso da boa ordem, praticado arbi­
trariamente pelo Capitão Manoel de Souza Me­
deiros, um destes proprietários da Fazenda da
Armação de Garopaba, onde, em seu oratório
particular de uma Capela, que ali existe, não
só manda fazer enterramentos de alguns fale­
cidos, como também batizar a muitos inocen­
tes, e ainda mesmo casar noivos, sem a iicce*
sária licença de algum Pároco; servindo-o- pn
ra isto do servilismo de um miserável mic< rd<>
te, o Pe. Bento Barbosa de Sá Freirr. im«» i<
31
metendo-se assento algum: pelas autoridades
competentes tenho procurado remediar estes
males, e fico sempre esperando; e apressando-
me justamente, haverá alguma providência.
Deus guarde a V. Excia.
Pe. Vicente também se ocupa de fatos pitorescos
em sua correspondência com o Presidente da Província,
como aquela de 16 de março de 1823, quando escreve
que não pode comparecer a uma reunião política no Des­
terro por ter o incômodo de um pé mordido por um ga­
lo, não podendo, assim calçar decentemente...
Apesar da assistência do Pe. Vicente, porém, a
Freguesia não caminha. A Igreja está em ruínas, acom­
panhando as ruínas da Armação de Pesca.
Urge instalar definitivamente a Freguesia, atuar
o Decreto Imperial de 9 de dezembro de 1830. Para sua
concretização muito contribuiu o Capitão Tomé Honó-
rio de Souza, falecido em 1878, quando ofereceu não
pouco dinheiro para a aquisição da Igreja, propriedade da
Armação. A Irmandade de São Joaquim recordou este
sen trabalho por ocasião de seu falecimento, oferecendo-
lhe gratuitamente catacumba, tanto para ele como para
sua família.
Finalmente, com data de 13 de maio de 1846,
sai a Lei n°. 231, que ordena seja instalada a Freguesia
O texto:
Antero José Ferreira de Brito, Presidente da
Província de Santa Catarina:
Faço saber a todos os seus habitantes que a
Assembléia Legislativa Provincial decretou e
eu sancionei a resolução seguinte:
Art. 1°. - O Presidente da Província fica auto­
rizado a contratar com a Companhia que in­
tenta levar a efeito a criação da Freguesia de
São Joaquim de Garopaba, decretada pela re­
solução de 9 de dezembro de 1830;
l.° — O tempo em que a Companhia deverá
aprontar a Igreja, a casa de residência do Pá­
roco e o cemitério, que terá o prazo mais cur-
32
Io possível; 2.° — O preço que terá de exigir
dos moradores da Freguesia, por meio de ta­
xas, para sua indenizarão; 3.° — O valor des­
tas, que não excederá a 3$000 réis; e os casos
em que será devido o pagamento, que não te­
rá lugar por algum ato religioso; e 4.° — O
tempo durante o qual a Companhia terá direi­
to de perceber as taxas estipuladas, que será
unicamente o preciso para que se realize a in­
denização do capital com o juízo da lei.
Art. 2.° — Ficam revogadas as disposições em
contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades, a
quem o conhecimento e execução da referida
resolução pertencer, que a cumpram, e façam
cumprir tão inleiramente, como nela se con­
tém. O Secretário desta Província a faça im­
primir, publicar e correr. Dada no Palácio do
Governo da Província de Santa Catarina, aos
13 dias do mês de maio de 1846, 25.° da In­
dependência e do Império.
Ass.: Antero José Ferreira de Brito.
Publicada e selada nesta Secretaria do Gover­
no da Província de Santa Catarina, cm 13 de
maio de 1846.
Ass.: João Francisco de Souza Coutinho

O documento não fala em criação da Freguesia,


mas em levar a efeito tal criação. Por ocasião dessa, em
1830, havia apenas uma Capela, bem como terreno, per­
tencentes à Armação. Necessário se fazia comprar os dois
a seus proprietários, para que o Estado tivesse autorida­
de sobre a Freguesia.
Faltava, ainda, a residência paroquial e o cemi­
tério. O Governo costumava contratar estas obras, para
que se encaminhassem mais ligeiramente. A Companhia
encarregada podia cobrar impostos aos moradores pela
instalação da Freguesia. À guisa de complemento anexa­
mos auui as “Condições para o Contrato de Criação da
33
Freguesia de São Joaquim de Garopaba”, assinada pelo
Presidente da Província Antero José Ferreira de Brito:
O Presidente da Província, em virtude de au­
torização que lhe confere a Lei Provincial n.°
231 de 13 de maio do corrente ano, tem con­
tratado a criação da Freguesia de São Joaquim
de Garopaba, decretada pela Resolução de 9
de dezembro de 1830. com uma Companhia
que a isso se propõe, representada por seu Ge­
rente, o Capitão Manoel Marques Guimarães,
sob as seguintes condições, a cujo cumprimen­
to se sujeita por termo por ele assinado em
nome da mesma Companhia.
Primeira Condição; Obriga-se a Compa­
nhia desde já a fazer aquisição da Capela de­
nominada de São Joaquim da Armação de Ga-
ropaba, com os ornamentos que tiver, pãrã
servir de Matriz da Freguesia da mesma invo­
cação; de uma casa aí próxima, com os cômo­
dos necessários, em estado de ser habitada,
para residência do respectivo Pároco; e do ter­
reno preciso para o cemitério da Freguesia e
sua Praça; que tudo a Companhia entregará
no prefixo prazo de 6 meses a contar desta
data.
Segunda Condição: Será a Companhia
indenizada pelos moradores dentro dos limi­
tes da Freguesia, marcados pela citada resolu­
ção de 9 de dezembro de 1830, do capital de
5:400$000 réis, que terá ela de empregar, a
saber: na compra da Capela e seus ornament,
tos, e da casa da residência do Vigário, e ter­
renos para o cemitério e Praça da Freguesia,
4:000$000; no pagamento da Sisa correspon­
dente à dita soma, escritura, e demarcação do
terreno, 480S000 réis; e nos reparos indispen­
sáveis da Igreja, e casa de residência do Páro­
co, e aquisição ou conserto dos mais indispen­
sáveis ornamentos, e compra de um sino de
920$000 réis. Outrossim, será a Companhia
34
indenizada do juro da lei, ou 6% ao ano, cor­
respondente ao seu capital na importância so-
bredita, e até completa satisfação dele.
Terceira Condição: A Companhia, para
sua indenização, fica autorizada a promover
uma subscrição dentro do tempo que decorrer
até o último dia de dezembro de 1847.
Esta subscrição se tirará dentro do Distrito da
Freguesia pelos moradores que a ela se quise­
rem prestar, e que o deverão fazer de80$000
réis segundo as posses de cada um, a juízo da
Companhia, sendo livre a qualquer o subscre­
ver maior quantia, contanto que, até o mês de
dezembro de 1848 se ache arrecadada a subs­
crição em um até 3 pagamentos. Os que, po­
rém, não subscreverem, embora não possuam
terras próprias, contribuirão com uma taxa na
razão seguinte: i SODO réis o chefe de família
que tenha em casa até 2 pessoas de trabalho,
filho ou escravo, de mais de 12 anos; 2 $000
réis o que tiver de 3 a 6; 3$000 réis o que ti­
ver mais de 6.
A arrecadação desta taxa começará a ser feita
pela Companhia impreterivelmente no mês de
julho de 1847, e consecutivamente nos anos
seguintes, no mesmo mês, até completar-se a
indenização.
Quarta Condição: Será livre à Compa­
nhia dispor do terreno que exceder do preciso
para o cemitério, e praça da Freguesia, depois
de feita a competente definitiva demarcação;
e o seu produto será também levado como ren
da ao débito da Companhia.
Quinta Condição: A Companhia exigirá
as taxas por 6 anos, que findarão em julho de
1851, se antes não estiver indenizada do capi­
tal e juros, não só pelos meios aqui estabeleci­
dos, como por outros quaisquer que lhe possa
proporcionar a Assembléia Legislativa Provin­
cial.
35
Sexta Condição: A Companhia deverá
apresentar à Presidência, no I.° de janeiro de
1848, unia conta corrente de arrecadação fei­
ta até o ultimo de dezembro antecedente, e as­
sim nos anos seguintes, mencionando de um
lado o capital desembolsado com o seu respec­
tivo juro e, do outro, os quantitativos arreca­
dados para sua indenização.
Sétima Condição: Será garantido à Com­
panhia todo o favor e proteção das autoridades
provinciais, no que delas depender, compatí­
vel com a legislação vigente, para o fim de ser
a mesma Companhia auxiliada (no caso pre­
ciso) na exata arrecadação de suas taxas.
Palácio do Governo da Província de Santa Ca­
tarina, em 17 de agosto de 1846.
Ass.: Antero José Ferreira de Brito.
Pelo exposto, a Companhia de instalação obrigou-
se a deixar a Freguesia em condições de receber Vigário
até fevereiro de 1847, podendo continuar cobrando as
taxas pelas despesas empenhadas até julho de 1851.
Será que o trabalho foi realizado a contento?
Parece que não, pois Jogo a seguir, mal a Com­
panhia terminara o serviço, começam as queixas dos Vi­
gários: Igreja em ruínas, cemitério muito pequeno, não
há acomodações para o Padre...
A Freguesia fica pertencendo, quanto ao civil,
judiciário e eclesiástico, às jurisdições do Termo da Vila
de São José e, como esta, à Comarca da Capital.
Os limites: ao sul, a Lagoa de Garopaba, pelo rio
Bartolomeu; ao norte, o rio Emhaú. Esses limites são es­
tabelecidos pela Lei n.° 253 de 5 de abril de 1846, e os
limites para o interior só saem em 6 de maio de 1851,
pela Lei n.° 328, quando se estabelece mais exatamente:
“ao sul o marco e extrema que dividem os moradores de
ibiracuera pelo lado sul; com Antônio Teixeira de Car­
valho pelo lado norte; começando à beira do mar, se­
guindo para o centro até a beira da Lagoa Ibiracuera e
36
iimveBsando-se em direitura ao Porto da Encantada, se­
guindo daí em rumo do oeste, através do Campo d’Una,
ate encontrar os pântanos e extrema de João Silveira Bor­
ge*, pelo sul; e João Silveira da Rosa, pelo norte; e daí
seguindo o mesmo rumo do oeste ate as vertentes do mor-
■ <> que dá desaguamento para o rio d’Una”.
Esses limites foram alterados pela Lei n.° 610 de
22 de abril de 1869, que altera o limite sul de Freguesia
de São Joaquim de Garopaba com a Freguesia de Sanl’
Viui do Mirim: ora em diante, em linha rela, seguirá o
। iimo de oeste desde a Costa do mar até a Serra Geral.
O PADROADO - O ARCIPRESTADO
A esta altura, talvez fosse bom explicar porque é
o Governo quem se preocupa com a criação, instalação
<l< Paróquias e nomeação de Vigários; porque é o Gover­
no que compra a Igreja, manda fazer casa paroquial c
arrumar cemitério; porque é o Governo que recebe as
queixas dos Vigários mesmo em questões pastorais?
Explicaremos aqui, brevemente, o que foi o Pa-
droado. Um pouco antes do apossamento do Brasil da
parte de Portugal, o Papa concedera aos Reis de Portu­
gal o cuidado e a administração da Igreja nas terras a
> erem ocupadas e catequizadas. Através deste Instituto a
Igreja (recursos humanos e materiais, organização e ad­
ministração) está nas mãos do Estado, que escolherá Bis­
pos, Párocos, Missionários, financiará expedições evan­
gel izadoras, construirá Templos, manterá o Culto, susten­
tará o Clero Diocesano através de côngruas e, em casos
< -peciais, fornecerá ajuda aos religiosos.
Com a Independência do Brasil, em 1822, o Pa-
dreado português passou às mãos do Imperador do Bra­
sil: a Igreja Católica era a religião oficial do Estado e por
« le era amparada, o que muitas vezes foi para a sua des­
graça, pois um Estado liberal, às vezes anti-clerical, não
estava muito a fim de gastar grandes somas em obras
i cligiosas.
Se o leitor compulsasse os relatórios, requerimen­
tos e despachos dos Vigários de Santa Catarina, percchc-
37
rá como se moviam com dificuldade num espaço de pro­
teção que às mais das vezes era oprimente. As Igrejas fi­
cam em ruínas, sem alfaias: os Párocos, mal pagos, iam
de Paróquia em Paróquia, em busca de melhores condi­
ções de vida.
Até para comprar paramentos, castiçais, o Vigário
deve dirigir-se ao Governo, e esperar que cheguem os re­
cursos; imaginemos isto numa burocracia sonolenta co­
mo a nossa!
Esta situação terminou em 1889, quando a Re­
pública declarou e adotou o princípio de separação entre
a Igreja e o Estado. Só agora a Igreja podia respirar livre­
mente e se organizar, adaptando-se às suas necessidades.
Por um lado, o fenômeno teve uma consequência
até positiva: como o Estado não se empenhasse realmen-
le em satisfazer às necessidades religiosas, como os Vigá­
rios escasseassem e fossem assaz móveis, o povo se orga­
nizou através das Irmandades, encarregando-se ele dos
cuidados espirituais, criando formas religiosas tipica­
mente leigas, como veremos em outra parte.
--------------- T ---------------

Se na parte administrativa a Igreja dependia do


Padroado, na parte propriamente espiritual estava sujei-
la ao Bispo do Rio de Janeiro. Ã época da criação da Fre­
guesia, em 1830, era Dom José Caetano da Silva Couti­
nho (1808 - 1833), que visitou pastoralmente Santa Ca­
tarina em 1815, tendo estado na Enseada de Brito. E
Dom Manoel do Monte Rodrigues de Araújo, Conde de
Irajá (1840 - 1863) o era ao tempo da instalação da Fre­
guesia. Esteve na Enseada em 1815.
Mas não eram poucas as dificuldades da adminis­
tração de uma vasta Diocese, centralizada no Rio de Ja­
neiro. Enormes distâncias e dificuldades de transporte.
Foi atendendo a isto que criaram-se os Arciprestados, que
na hierarquia católica portuguesa são fruto do Alvará
Régio de 25 de agosto de 1808. O Arciprestado de Santa
Catarina foi criado pelo Bispo Dom José Caetano da Sil­
va Coutinho, a 2 de abril de 1824, sendo o primeiro Ar-
23
< ipresle o Pe. Dr. Joaquim de Santana Campos. Os Arci-
prcslados sofrem alteração por nova Provisão, de Dom
I'rdro Maria de Lacerda, a 8 de outubro de 1867, erian-
do r renovando os Arciprestados do Espirito Santo e San-
hi Catarina. Algumas características e faculdades: os Ar-
< ।prestes residirão na Sede da Vara e usarão como dis­
tintivos o solidéu e a faixa preta. Observarão o compor­
tamento dos Vigários da Vara, poderão passar Provisão
para a exposição do Santíssimo, procissões. Provisiona-
i ao provisoriamente alguma Paróquia ou Curato vago,
por 3 meses. Poderão absolver das causas chamadas “re­
servadas sinodais”, dos pecados e censuras “de iure Or­
dinário”, do aborto “defectu animato”, habilitar “intra
con fession em ad petendum”, comutar dentro da confis-
►iío votos simples privados não reservados ao Papa, ben­
zer imagens. Poderá absolver de todas as irregularidades
«■ suspensões provenientes de delito.
Isto facilitou muito as coisas. Se antes o Vigário
de Garopaba, para benzer uma imagem ou sair em pro­
cissão, precisava escrever ao Bispo que morava no Rio
de Janeiro, agora bastava esperar a licença do Arcipreste,
que morava na Ilha de Santa Catarina. A cada ano o Arci­
preste devia prestar contas de seus atos ao Presidente da
Província.

ENCAMINHA-SE A PARÓQUIA
Instalada a Freguesia, tudo ainda faltava. E falta-
\a o Pároco. O Governo aumentava o número de Paró­
quias, que em 1849 atingia 21, em 1862, 36, em 1865,
39. Em 1862, das 36 Freguesias, 11 se achavam sem Vi­
gários.
Como não houvesse Sacerdote para paroquiar
São Joaquim de Garopaba, apelou-se a quem já a aten­
dia, ao Vigário de Enseada de Brito, Pe. Vicente Ferreira
dos Santos Cordeiro. Este, a 18 de abril de 1847 aceita
paroquiar conjuntamente Enseada e Garopaba, mas com
dificuldades “em razão dos meus 64 janeiros; contudo,
m não me dispenso no quanto posso de anuir com a von­
tade de V. Excia., pelas suas pias intenções; e fazer al­
guns sacrifícios com olhos no céu, esperando n’Aquele
39
que do fraco faz forte” (14).
Contudo, em 1848, assume como Vigário Enco­
mendado o Pe. Francisco de Assis Braga. Sua primeira
correspondência com o Governo é para reclamar do Sub-
delegado de Vila Nova, Comarca de Laguna, que arrolou
famílias da Fazenda Bartolomeu. A Paróquia é pobre, os
habitantes são poucos e assim não é possível um Vigário
aqui morar (15). E, devido a estas razões, deixa a Paró­
quia, sendo em setembro de 1849 substituído pelo Pe.
Antônio Bernal, natural do Reino de Espanha e desde 3
de julho de 1848 Vigário de Vila Nova. Assume Garopa­
ba como Vigário Encomendado.
A solução é o retorno do Pe. Vicente em 1851. A
Paróquia é muito pobre e há muito que fazer. A Igreja
está em ruínas: “a imagem do Santo está com um braço
quebrado e precisa de resplendor; bem como ser retoca­
da por ler perdido a côr. O telhado do Templo, cujo for­
ro se acha arruinado, isto é, da Capela - mor, frontal do
Altar, e Trono, carece ser tudo reparado. Necessário é
ser assoalhado o corpo da Igreja; e forrada a mesma pa­
ra conservação das luzes, e evitar a imundície dos morce­
gos. Idem fazer-se mais 2 Altares colaterais, e um coro
para maior comodidade do povo. Idem acrescentar o ce­
mitério, por ser pequeno. É necessário, igualmente, 2
credências; uma mesa; 12 castiçais; 1 esquife; 2 cruzes;
e Opas para o Santíssimo e almas: cujas despesas não se
farão com menos da quantia de 2:000$000 réis; se tan­
to chegar” (16).
O drama da “Igreja em ruína” é a dor de cabeça
dos Párocos sucessivos, sendo apenas resolvido muitos
anos depois, após reiteradas insistências e o peso político
do Pe. Rafael Faraco.
Em 1852 o Pe. Vicente Ferreira dos Santos Cor­
deiro deixa de paroquiar Garopaba, permanecendo na
Paróquia de Nossa Senhora du Rosário de Enseada de
Brito até 1860, quando falece, a 4 de janeiro. Já velhi­
nho, por alguns meses, ainda atendia Garopaba em 1856.
Enseada de Brito fica a cargo do Vigário de São José.
Para Garopaba vem, como Vigário Encomenda­
40
do, em 1852, o Pe. José Maria da Costa Rebelo, que cons­
trói o novo cemitério após as devidas licenças (17).
Foi substituído em 1855 por Frei Francisco de
Santa Isabel Ataide, que nenhuma notícia deixou. Deve
ler permanecido pouco tempo, pois já em maio Garopa­
ba é atendida pelo Missionário Apostólico Pe. Amando
Antônio Martins. Inicialmente trabalhou sem provisão.
Pe. Amando era Missionário Apostólico Leigo de
Ordem Franciscana da Itália.. Foi mandado ao Brasil pe­
lo Geral da Ordem e, no Rio de Janeiro, donde era Con­
ventual, foi ordenado Presbítero pelo Bispo Diocesano
em 1853.
Logo em seguida retirou-se para o Rio Grande,
servindo como Pároco Encomendado naquele Bispado.
Vindo para Santa Catarina paroquiou a Freguesia de Mi­
rim, donde, poi- desinteligência com o Vigário da Vara
de Laguna, veio para Garopaba, acompanhado por reco­
mendações de pessoas de mérito e probidade, dentre ou­
tras, o Capitão Miguel Francisco Pereira.
Querendo conhecê-lo melhor, o Arcipreste Macá-
rio César de Alexandria e Souza concedeu-lhe licença pa­
ra administrar os Sacramentos aos garopabenses, o que
fez deixando boa impressão. A 5 de setembro de 1856
é-lhe passada a Provisão de Pároco Encomendado (18).
Pe. Amando, pela documentação disponível, pa­
rece homem que por toda parte era perseguido por incô­
modos, suscitados alguns por ele, outros por Párocos vi­
zinhos ou fiéis que se julgavam prejudicados pela ação
do Vigário. Sua primeira contenda foi com o Vigário da
Vara de Laguna, Pe. Manoel João Luiz da Silva, pois ao
vir de Mirim para Garopaba trouxe as escrituras das ter­
ras daquela Paróquia, e só as entregaria mediante o paga­
mento de 73$000 réis, que, segundo ele, foram despesas
pessoais para a obtenção das mesmas.
As cartas do Pe. Amando, geralmente longas e
lamurientas e pitorescas, são escritas em latim, com óti­
ma caligrafia. Certamenle eram um bom exercício para
o Presidente da Província recordar os bancos escolares...
41
Conservam-se várias delas no Arquivo Público de Santa
Catarina e é uni prazer lê-las, para se ter uma idéia de
como brigas de terreiro podem chegar à ante-Sala dos
Paços governamentais.
Em Garopaba não lhe foram poupados os infor­
túnios. No dia de sua posse oficial, a 9 de dezembro, os
Fabriqueiros Miguel Francisco Pereira e João de Araújo
o ameaçaram com uma surra. Esconderam os bens da
Igreja. Como insistissem em não restituí-los, o Pe. Aman­
do suspendeu-os a 12 de dezembro, ameaçando-os com
todas as penas do arsenal eclesiástico.
O fulcro do problema esteve no enterramento de
mortos, que João de Araujo teimava fossem feitos den­
tro da Igreja. Numa queixa ao Presidente da Província,
assim se expressa o atribulado Vigário: “João de Araújo
reliquit duabus tribusque (sie) sepulturas in Ecclesia a-
pertas, et ita Ecclesia et Sachristia remamenl odoris pesti-
feri plenac; Ecclesia non est Cemiterium”. Isto é: João
de Araujo, por provocação, realizou dois sepultamentos
dentro do corpo da Igreja e, para enervar o Vigário, dei­
xou abertas as sepulturas... Logo após, o odor desagra­
dável dos cadáveres em putrefação invadiu Igreja e Sa-
cristia, deixando enojado o atribulado Sacerdote.
Deixando logo a Paróquia, é substituído pelo Pe.
José Martins do Nascimento, em maio de 1857. Dois anos
depois, em 1859, sucede-lhe o Pe. Antônio de Jesus Co­
lares.
Pe. Colares urge igualmente com o Governo, in­
tercedendo pela reforma da Matriz: reforma urgente e
alfaias. Apresenta o mesmo orçamento do Pe. Vicente:
2:000$000 réis. Em 7 de outubro de 1862 encarrega-se
da Paróquia o Vigário de Enseada de Brito, Pe. Carlos
Fernando Cardoso, que também se impressiona com o
estado da Matriz, assim se expressando': “A Igreja de Ga­
ropaba está a ruir!”
Em abril de 1862 já se encontra em Garopaba o
sacerdote italiano Pe. Rafael Faraco, o homem que con­
seguirá remediar a decadência a que esteve votada a Igre­
ja Paroquial-
42
PADRE RAFAEL FAR A CO
Nasceu em 30 de novembro de 1832 na aldeia
de Acqua Fredda, cidade de Maratéia. Província de Ba-
«dicata, ex-Reino de Nápoles. No mesmo dia foi batizado
>i.i Igreja sucursal de Santa Maria, na cidade de Mara-
iéia. O Bispo diocesano de Cassano, Dorn Miguel Bom-
l.ini, ordenou-o presbítero em l.° de setembro de 1856.
Veio para o Brasil, desembarcando na Bahia a Io. de
agosto de 1861 (19).
Pe. Rafael Faraco não deveria ser homem de
muitas pretensões para aceitar paroquiar São Joaquim
de Garopaba, pobre, desprezada, desconfortável...
Ligado à nova Pátria, em 1863 oferece ao Go-
verno, para auxílio das urgências do Estado 4 /6 de seu
pagamento como Pároco. A 23 de maio o Presidente da
Província agradece-lhe, em nome do Império.
Sua posse como Pároco Encomendado de Garo­
paba dá-se a 14 de julho de 1864: assume uma Paróquia
em completo abandono.
Em 27 de abril de 1865 lhe renovam a Provisão
de Pároco.

A REFORMA DA MATRIZ
A primeira correspondência do Pe. Faraco refe­
re-se à Matriz. Os poderes públicos não se emocionam.
A 2 de janeiro de 1864, o desabafo: “Do Altar até a
parte do Templo, não há coisa que preste”. A Igreja pre­
cisava ser retelhada, porque chovia em diversos lugares,
inclusive no Altar-nior. Não tinha forro nem assoalho.
Um abaixo-assinado de 11 de janeiro de 1865 pe­
de auxílio urgente ao Governo: “Não possui alfaias; pa­
ramentos, tem 2, um branco e outro vermelho, que por
velhos já não sabe o Vigário qual deles prefira: 1 Missal
com falta de folhas; e 1 Cálice, que só serve pela neces­
sidade”.
Tais queixas, finalmente, encontram eeo no Re­
latório do Presidente da Província sobre a situação da
43
Igreja, no mesmo ano: “‘A Igreja de Garopaba precisa
ser retelhada porque chove em diversos lugares, inclu­
sive no Altar-mor, que não tardará a desabar por já estar
podre parte do madeiramento. Não tem forro nem assoa­
lho'’.
Nada acontece. Será preciso esperar que o Vigá­
rio tenha voz ativa no campo político, para que venha o
tão solicitado socorro financeiro. Já são quase 18 anos
que a Igreja está “em ruínas”.
Data marcante na história dos Párocos de Garo­
paba é 26 de junho de 1867, quando Monsenhor Félix
Maria Freitas e Albuquerque, da Capela Imperial do Rio
de Janeiro, passa ao Pe. Faraco as letras de instituição
de Vigário Colado da Paróquia de São Joaquim de Garo­
paba, após carta de recomendação assinada por Dom Pe­
dro II a 19 de junho. O título de Vigário Colado dava ao
sacerdote a permanência vitalícia na Paróquia. (A insti­
tuição terminou, na Igreja Católica, com o Concilio Ecu­
mênico Vaticano II).
A Provisão foi lida à estação da Missa conventual,
em Garopaba, a 14 de julho (20).
E, mãos à obra na reforma da Matriz. Está em
ruínas: telhas quebradas, chove durante a Missa, não há
assoalho nem forro. Como os poderes competentes não
se comovem, o Vigário promove uma coleta entre os pa-
roquianos, que lhe rendeu 200$000 réis. Mal dá para
forrar a Igreja! (21).
A compra dos paramentos, já tentada em 1862,
está por se fazer. A 5 de abril de 1869 solicita-os nova-
mente, especificando o que necessita: 2 capas <le asper-
ges, 1 branca e outra roxa; 3 casulas, branca, roxa e pre­
ta; 1 pálio, 1 eslola paroquial, 1 cálice. Recebe, final­
mente, 300&000 réis para adquiri-los, menos o pálio.
A 13 de setembro, outra carta, que conclui: “A
igreja é, sem hipérboles, uma choupana”. A 1." de ou­
tubro recebe 675$000 réis. Com a quantia, faz as refor­
mas mais urgentes, fazendo um aumento de 15 a 18 pal­
mos na Capela-mor e outro tanto nr; Sacristia.
44
Os carpinteiros, Pedro Inácio da Silva e Luiz
luuslino da Silva, eni 1873, se comprometem a fazer
Altar-mor e Trono, por 5008000 réis (22). Dois anos
depois, a 9 de janeiro, recebe o Padre 4008000 réis em
2 prestações mensais.
Em 1877 estão concluídos os trabalhos de refor­
ma, após quase 30 anos de súplicas e sofrimentos: reali­
zaram-se os trabalhos de douramento, que importaram a
quantia de 550$000 réis (23).
Grande soma de dinheiro foi dispendida. Os co­
fres da Província pouco contribuiram. Ouase tudo foi
obtido, com muito trabalho, da piedade dos fiéis que
acudiram ao chamado do pastor, Fez-se coro e púlpito.
A Matriz foi assoalhada e forrada. Sendo acanhado o es­
paço da Capcla-mor, para nele se construir o Trono com
o competente Altar, foi aumentada em 4 metros e 84
< milímetros (24).
Após a reforma, eram estas as dimensões da igre­
ja, que conferem com as dimensões de hoje, excetuada
a sacrislia:
Corpo: 13 melros de comprimento, 7 metros de
largura, 8 metros de altura.
Capela-mor: 12 metros de comprimento, 5 me­
lros de largura, 6 metros e 20 centímetros de altura.
Sacristia: 9 metros e 24 centímetros de compri­
mento, 4 metros de largura, 4 metros e 32 centímetros
de altura.
Com 2 pequenas janelas, era pouco arejada. Pos­
suía 3 altares: o altar-mor, consagrado a São Joaquim,
o altar ao lado do Evangelho, consagrado a Nossa Senho­
ra das Dores, e o altar ao lado da Espístola, dedicado ao
Espírito Santo. Cada Altar possuía sacras, castiçais e pe­
dras d’ara. Púlpito, mas com escada por se fazer, e peque­
no confessionário. Não tem batistério. A pia batismal, de
pedra, está colocada debaixo da escada do coro. A Sacris-
tia fica ao lado do Evangelho, forrada e assoalhada.
45
Os paramentos, em número suficiente e em bom
estado, vieram, juntamente com outros objetos, da Cape­
la de Nossa Senhora dos Navegantes (atualmente perten­
centes à Paróquia de Paulo Lopes), e foram doados pelo
Capitão de Mar e Guerra José Marques Guimarães a l.°
de dezembro de 1888, cujo pai, natural de Garopaba,
quis nesta Paróquia ser sepultado.
É esta a relação dos objetos doados: 1 frontal
dourado para o Altar, 4 paramentos novos e 1 usado, 2
alvas, 1 turíbulo de prata com naveta e colher, 2 espe­
lhos com arandela, 3 tapetes usados, 4 palmas de cipreste
e 5 mangas de vidro, 1 pia de mármore com espelho, 20
castiçais de madeira, 1 cálice de prata, 4 palmas, 2 cam-
panhias de metal branco, 2 cabides para toalhas, I caixa
para hóstias, 2 Missais, 1 pedra d’ara (25).
Faltava um sino. Foi comprado no Rio de Janei­
ro, por intermédio do Tenente Coronel Virgílio José Vi­
lela, negociante na Praça do Desterro. A bênção deu-se a
4 de fevereiro de 1884. Padrinhos: Luiz Pereira da Sil­
va e Maria Antônia da Glória de Souza, esposa do Tenen­
te Carlos Honório de Souza. Foi adquirido por 401 $240
réis, dinheiro obtido com esmolas em Garopaba e Tava­
res, então Distrito da Freguesia de Enseada de Brito. Pe­
sando 127 kilos e 100 gramas, o sino recebeu o nome
de *‘São Francisco’'’.
Neste mesmo ano, a 26 de outubro, bênção da
parte nova do cemitério.
Em 1887 apareceram sinais de que o madeira-
mento estava danificado. Sendo examinado, verificou-se
que a maior parle estava danificada pelo cupim, havendo
o perigo de desabar o teto de um dia para o outro, po­
dendo acarretar alguma desgraça.
Pe. Faraco, alento ao quadro de escassez por que
passava a população, não se animou a novamente recor­
rer à boa vontade dos paroquianos.
Em 19 de maio de 1887 apresenta ao Presidente
du Província o orçamento: 2:019$000 réis, a 6 de setem
bro corrigido para 2:255$000 réis pelo Engenheiro Ur­
bano Coelho de Gouveia.
Após concorrência pública, Luiz Pereira da Silva
fica encarregado de administrar a reforma. As coisas são
lentas. Dois anos depois, a 2 de abril de 1889, o Pe. Fa-
ruco escreve ao Presidente, falando já ter comprado o
material para a reforma, confiante em que o dinheiro
logo chegaria. Pede o socorro de L:800$000 réis. A 5
de agosto o dinheiro é liberado em parte: 500$000 réis.
É na República que receberá o restante. O Go-
verno Lauro Severiano Müller, após ter-se informado de
<pie realmente o dinheiro tinha sido prometido pelo Re­
gime deposto, concede o auxílio necessário, com o que
<> Pe. Rafael Faraco deixa a Matriz em condições satisfa­
tórias.

47
OS TRÊS ALTARES DA MATRIZ: ALTAR DE NOSSA SENHORA, ALT
MOR E ALTAR DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Pe. RAFAEL FARACO,


VIGÁRIO DE GAROPABA
DE 1862 a 1917

48
A IRMANDADE DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, DO
DIVINO ESPIRITO SANTO E SÃO JOAQUIM DE
GAROPABA

Se ao Pároco competia a administração sacra-


mental da Paróquia, angariar fundos para reformas, a
vida religiosa local se movimentava em torno da Irman­
dade, que programava festas, procissões, organizava se­
ll ultamentos, encomendava Missas, Sermões, convidava
pregadores, reunia Irmãos. Dava o colorido à vida reli­
giosa.
Nos tempos da Colônia e do Império abundam as
Irmandades. São associações que se dedicam a propagar
a devoção a algum Santo, à Mãe de Deus, ao Senhor Bom
Jesus, ao Divino Espírito Santo.
Pagando taxas anuais, apresentando-se cobertos
por coloridas Opas, os Irmãos davam o tom aos grandes
momentos da vida paroquial, em muitos casos assumindo
a vida religiosa, a ponto de o sacerdote aparecer como
o contratado da Irmandade, isso mormente quando esta
cdificava a Igreja, que ficava sob seu domínio e adminis­
tração.
Isto deu azo ao surgimento de um Catolicismo ti­
picamente popular, laical. Irmãos e Armitães conduzem
o Catolicismo, num País em que o Clero, apesar de abun­
dante (o que vale especialmente para o final da Colônia
c para o Império) se concentrava nas cidades, dedican-
do-se a outros ofícios, faltando então padres para o tra­
balho propriamente pastoral.
A Irmandade tinha o seu Padre Capelão, convi­
dado para ocasiões determinadas. Não eram raras as bri­
gas entre Padre e Irmandade, pois esta dificilmente acei­
tava ingerências da autoridade eclesiástica. Isto era mais
aguçado pelo fato de as Irmandades serem aprovadas pe­
lo Governo civil quer na sua criação quer no seu Com­
promisso (estatutos). Possuem o aval público numa con­
trovérsia com o Pároco ou Bispo, sendo seu Compromis­
so a fonte do Direito.
49
Após a Questão Religiosa de 1874-1875, com a pri­
são dos Bispos de Olinda e de Belém, Dom Vital e Dom
Macedo, respectivamente, por suas lutas contra as Ir-
mandades infiltradas pela Maçonaria, percebe-se uma di­
minuição contínua na importância das Irmandades. Sob
o comando de Pio IX (1846-1878) viu-se na Igreja uma
centralização mais impositiva: na Igreja Universal em
torno do Papa; na Diocese em torno do Bispo, e na Pa­
róquia em torno do Pároco. As autoridades eclesiásticas,
escudadas na separação entre a Igreja e o Estado, na Re­
publica exigiram, um por um, a reforma dos Compromis­
sos, no intuito aberto de expurgá-los de qualquer influ­
ência leiga: tudo na Igreja está sob a orientação e deci­
são da autoridade eclesiástica.
Tal orientação significou a lenta agonia das Ir­
mandades, especialmente as mais pobres, que foram de­
finhando, perdendo o interesse e hoje, na maioria dos
casos, se resumem a decoração por ocasião de festas, mas
sem influência nas decisões eclesiais. Com elas, perdeu-se
muito do interesse tipicamente leigo pelos negócios da
Igreja.
Garopaba leve sua Irmandade. Em 1868 pede-se
ao Presidente da Província aprovação para sua criação.
A 2 de janeiro de 1873 saem aprovados seus Estatutos
definitivos.
Um fator interessante: nos centros maiores, cada
devoção erigiu sua Irmandade. Mas isto acarretava des­
pesas. Devido a isto, em Garopaba erige-se Irmandade
única, com 3 devoções: “Irmandade do Santíssimo Sa­
cramento, do Divino Espírito Santo e de São Joaquim”.
Quando a 30 de dezembro de 1876 se adquire a
imagem de Nossa Senhora das Dores, sua devoção é ane­
xada às 3 já existentes na Irmandade. Motivo: no local
faltava a devoção a Maria. Mas, como a Freguesia era
muito pobre para sustentar mais uma devoção, e para
evitar ciúmes originários de 2 devoções separadas, ane­
xa-se a nova devoção às já existentes, mas com festa pró­
pria. A primeira foi em 1878, tendo como Juizes I uiz
José do Nascimento e Manoel de Souza Batista Sobrinho,
50
e como Juízas, Ana Cândida de Souza e Luiza Carolina
Je Souza.
A pertença à Irmandade acarretava direitos e de­
veres. Folheando o Compromisso da Irmandade, compos­
to de 25 capítulos, podemos dar alguns tópicos mais sig­
nificativos :
— A festa será uma só, no dia do Santo Padroei­
ro da Paróquia. As esmolas pertencerão à mesma Irman­
dade (Cap. l.°).
— Composição da Irmandade: Presidente, Pro­
vedor, Escrivão, Tesoureiro, Procurador, 6 Mesários, 2
Juizes e 2 Juízas para a festa (Cap. 2o.).
— O Provedor contribuirá com a jóia de
I.6S000 réis, os outros Irmãos da Mesa — excepiuados o
Escrivão e o tesoureiro — 2$000 réis (Cap. 1I.°).
— Cada Irmão dará de entrada 15600 réis e anu-
almente 15000 réis; as mulheres de 50 anos, entrada de
65000 réis e anualmente l$000 réis (Cap. 14°.).
— Mensahnente celebrar-se-ão 2 Missas no Altar
do Santíssimo, aplicadas pelos Irmãos vivos e defuntos.
O mesmo ocorrerá com a Missa da festa (Cap. J5.°).
— O Irmão que falecer será acompanhado e con­
duzido o seu corpo no caixão da Irmandade, e esta assis­
tirá com 4 velas, para estarem acesas ao corpo, no tem­
po da encomendação, e lhe dará sepultura; e não a ten­
do, pagará a Fábrica da Igreja; e o mesmo também te­
rão os filhos até a idade de 14 anos, se os pais forem
Irmãos (Cap. 17.°).
— O Irmão que falecer terá direito a 6 Missas
(Cap. 18.°).
—- Durante a Quaresma, ao menos 2 Irmãos esta­
rão prontos semanalmeiite para assistirem com tochas à
Sagrada Comunhão que se dará ao povo (Cap. 20. ).
— A Irmandade encomendará os Ofícios e Ceri­
mônias da Quaresma e Semana Santa. Faltando os recur-
sos para pagar o Padre, estas não se farão (Cap. 21.").
51
— O Pároco será o Presidente da Mesa (Cap.
22.°).
— Os moradores festejam o Divino Espírito San­
to fazendo eleição por pelouro (bola de cera na qual se
incluía um papel com o voto do eleitor) de 7 pessoas,,
que tomarão a seu cargo a devoção dos 7 Domingos. Co­
mo não há Irmandade própria do Espírito Santo e os ren­
dimentos da Irmandade do Santíssimo são poucos para
suprir as despesas necessárias de azeite, cera., sufrágio
dos Irmãos e obras da Igreja, estabelece-se que o produ­
to das esmolas oferecidas ao Divino Espírito Santo se­
jam colocadas na receita da Irmandade, que se encarre­
gará da devoção ao Espírito Santo. Também haverá co­
roação no Domingo da Trindade, para a qual se elegerá
um Mordomo (Cap. 23.°).
A reunião de 8 de janeiro de 1893 resolveu con­
ceder aos Irmãos, além dos privilégios existentes no Com­
promisso, estes: 1) Sepultamento grátis no antigo Cemi­
tério contíguo à Matriz; 2) Pelas Encomendações, a Ir­
mandade pagará ao Vigário 4$000 réis e l$000 réis ao
Sacristão; 3) Quando o Vigário fôr buscar o corpo do
irmão que faleceu, a Irmandade pagará 9S000 réis ao
Vigário e 3$000 réis ao Sacristão; 4) A Encomendarão
»erá rezada; quando a família do finado Irmão exigir so­
lene, o pagamento será conforme o que se convencionou
pagar entre esta e o Vigário.
Anualmente se faziam reuniões para a escolha dos
Juizes e Juízas das festas. Normalmente estes são escolhi­
dos entre as famílias tradicionais: os Silva, os Souza,
Araújo, Ferreira, Botelho, Rosa, Silveira,, Martins... Ex­
ceção foram os anos de 1895 e 1896, quando os pesca­
dores pediram e conseguiram ser os Juizes da Festa de
São Joaquim, a grande festa!
Boa parle do dinheiro arrecadado na festa era
gasto na própria festa. Interessante: à época a festa valia
por ela mesma, não tendo aquela finalidade quase que
exclusivamente lucrativa que se lhe dá hoje. Possuímos
vários relatórios de despesas. Para citar um, apresenta­
mos o da festa de São Joaquim de 1876. A Irmandade
52
autorizou as seguintes despesas, em reunião a 23 de ju­
lho:
— para os fogos: 108:^000 réis
— para o Vigário, pelas 9 noites de novena:
18S000 réis.
— para o Sacristão: 12$000 réis
— para o Sermão: 30S000 réis
— para a música: 150$000 réis
— espórtula para a Missa cantada: 10$00()
réis.
Uma soma alta: 328$000 réis, para a qual os Jui­
zes dariam 150$000 réis e as Juízas I00S000 réis.
Para a festa de Nossa Senhora das Dores de 1885,
<>s recursos eram minguados. Em reuniões de 7 de setem­
bro de 1884 a Mesa deliberou: tirar-se da receita
60$000 réis, obrigando-se a música a tocar de graça a
festividade, menos o músico João Lino da Silva; o Vigá­
rio também aceitou proferir gratuitamente o seu Sermão.
As festas do Divino eram coloridas: o Imperador
dava boa quantia, saindo a Folia sempre acompanhada
por um dos Irmãos, endossando Opa.
A Irmandade teve sua fase áurea de atividade en-
Ire os anos de 1874 e 1899. Surge um período de crise,
de um lado pela ação da autoridade episcopal que conti­
nuam ente solicitava a reforma do Compromisso, o que
alteraria substancialmente o modo de a Irmandade ver­
se a si própria; de outro, pelo envelhecimento das lide­
ranças.
De 1899 a 1909 não há Provedores. Não se la­
vram Alas de Reuniões, havendo apenas o Presidente, o
Vigário, e, como Tesoureiro e Secretário, seu filho Da­
niel dos Reis Faraco.
O Pe. Faraco dava-lhe ainda autonomia. Com a
chegada, todavia, do Pe. João Casale, em 1913., surgem
atritos, a ponto de este negar-se a participar das delibe­
rações. Retira da Irmandade e administração, criando ,i
53
Fábrica da Matriz, isto é, um Conselho Administrativo,
que alienava a Associação de qualquer participação efeti­
va nos assuntos paroquiais. Com a saída do Pe, João Ca­
sale, no ano seguinte, a Fabrica é deposta e a Irmandade
reassume, mas já está claudicante. Podemos colocar o ano
de 1919 como o de encerramento real de sua atividade.
Antes, a l.° de julho de 1910, o Bispo Diocesant
da novel diocese de Florianópolis, Dom João Becker, em
Carta-Oficio, pedia a fundação, em todas as Igrejas e Ca­
pelas onde fosse possível, do Apostolado da Oração de
homens e senhoras e da Pia União das Filhas de Maria,
movimentos que correspondiam mais à efetiva e planeja­
da clericalização da Igreja.
PROVEDORES DA IRMANDADE:
1874-1876: Luiz Vieira Aguiar
1876-1877: José Antônio da Luz Cunha
1877-1887: Luiz Pereira da Silva
1887-1899: Manoel Antônio da Silva Cascaes
1909-1917: Domingos José Martins
1917-1919: Artur Osório de Araújo.
Dom Joaquim Domingues de Oliveira (1914-
1967), a 16 de abril de 1921, em Visita Pastoral, exara a
seguinte observação no Livro de Atas e Resoluções: “Re­
conhecemos a boa vontade da Irmandade, esperando o
projeto do Compromisso, para a competente aprovação
canônica’.
Em dezembro de 1922 assim se expressa o Vigá­
rio, Pe. César Rossi: “A Irmandade do Santíssimo Sacra­
mento, a que se refere o Termo da Visita, existe ‘nomine
lenus” (apenas de nome). A força maior da pastoral ten­
dia para o Apostolado e a Pia União das Filhas de Ma­
ria (26).

RELATÓRIOS PAROQUI AIS DO SÉCULO XIX


Anualmente os Vigários apresentavam ao Presi­
dente da Província um Relatório sobre as atividades da
Freguesia, constituindo preciosa fonte para o conheci­
mento da época. Infelizmente boa parte, a maior parte,
54
destes Relatórios, anda perdida.
Aproveitamos estas páginas para salvar o salvá-
M-l, mormente por se referirem, os Relatórios que res-
Iam, às raças qne fizeram nossa história. Os primeiros
dndos englobam Enseada de Brito e Garopaba; os ou­
tros, apenas Garopaba. Os primeiros são compilados pe­
lt* Pe. Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro; os segun­
dos, pelo Pe. Rafael Faraco.

Relatórios de Enseada e Garopaba:


183(1 — livres brancos pardos pretos total
homens 1.047 35 25 1.107
mulheres 1.138 32 31 1.201
total 2.185 67 56 2.308
escravos pardos pretos total
homens 22 441 463
mulheres 42 225 267
total 64 666 730
IH* 1 — livres brancos pardos pretos total
homens 1.091 36 28 1.155
mulheres 1.147 38 37 1.222
total 2.238 74 65 2.377
escravos pardos pretos total
homens 25 451 476
mulheres 45 240 285
total 70 691 761
livres brancos pardos negros total
homens 1.223 38 26 1.287
mulheres 1. 188 43 37 1.268
total 2.411 81 63 2 555
escravos pardos pretos total
homens 28 454 482
mulheres 48 241 289
total 76 695 771

|IO >— livres brancos pardos pretos total


homens 1.184 41 28 1.253
mulheres 1.236 45 39 1.310
total 2.420 86 67 2.563

escravos pardos pretos total


homens 30 455 485
mulheres 47 247 294
total 77 702 770

55
1844 — livres : brancos pardos pretos total
homens : 1 233 42 27 1.302
mulheres 1.284 48 38 1.360
total ; 2.517 90 65 2.662
escravos • pardos pretos total
homens : 31 457 488
mulheres : 50 249 299
total 81 706 787
1846 — livres brancos pardos pretos total
homens : 1 .338 46 29 1.413
mulheres • 1.392 52 38 1.452
total : 2.730 98 67 2.865
escravos pardos pretos total
homens : 37 471 . 508
mulheres : 55 253 308
total : 92 724 816

RELATÓRIOS DA PARÓQUIA DE SAO JOAQUIM DE


GARO PABA
nota: L = livros
E = escravos
— Batizados L E óbitos L E Casamentos
1863 — 132 16 45 15 12
1869 — 115 19 37 12 15
1870 — 124 21 31 10 18
1871 — 22
1872 — 19 5
1873 — 24 4
1874 — 18 10
1875 — 17 7
1876 — 15 7
1886 — 81 25 13
1890 — 51 10 23
total — 506 151 148 70 81

A presença escrava, negra, não deu tom signifi­


cativo à história de Garopaba. Hoje se nota esta presença,
mais sentida em um racismo latente, mas atuante, máxi-
me nos salões de baile e clubes sociais. Somente da déca­
da de 60 para cá, num trabalho lento e penoso, os pretos
foram se reunir aos brancos em termos de diversão. Eram
amigos na roça, no trabalho, na religião, mas não no la­
zer. Motivo que se aduz: “‘O preto já foi escravo do bran-
56
f*<», por isso não pode tirar moça branca para iIuih ui 1“
Houve cercas no meio do Salão, como no Mm <t
(Hit ao som da mesma orquestra — apenas separados p<
Io odioso preconceito — dançavam pretos e brancos. INo
Miicaeu e na Palhocinha o problema foi resolvido, devido
ao trabalho enérgico do então Vigário Pe. Eugênio Kiu-
í'»’ski, que a muito custo conseguiu arrancar as cordas
divisórias. Em Campo D’Una, salão particular, perdura
h separação.

Os mais antigos têm gratas recordações dos “pre­


los velhos” Ambrósio, Cirilo, Luíza, Tomé, Joana, velhi-
■hos pretos que mereciam o respeito e a veneração das
primiças, que a cada manhã iam pedir-lhes a bênção. E
H crianças pretas, por sua vez, iam pedir a bênção aos
t«*hnmcos velhos”.
Muito escravo ficou com o patrão, pois a Aboli-
■|o de 13 de maio de 1888 não dava resposta a esta per­
gunta: — “O que vamos fazer sem o nosso feijão, a nos-
=4 cume?'’
Preferiram o pão na servidão, à fome na liber-
dude.

A CRIAÇÃO DA VILA
Pouca coisa ameaçava a vida pacata na Freguesia.
Judo corria sob os desígnios dos poucos que controla-
■bin os muitos. Constatam-se aí pouquíssimas famílias do-
giiiumdo a vida local. Os documentos trazem sempre os
jglrsinos nomes.
Garopaba não ocupa muito espaço nas Falas dos
Presidentes da Província, a não ser para apresentar-se o
galado desolador da Matriz ou para anunciar alguma epi-
di mia. Ou então em 1876, quando “a preta Maria, es-
Ibltvii de Antônio da Silva Cascaes, foi fulminada por um
fido a 7 de janeiro’’, ou ainda em 1886: “Em Garopaba,
gliin lugar denominado Ambrósios, Bernardo Ponciano
■Hfccira deu um tiro de espingarda com bala e 30 bagos
th < huiiibo, em Pedro Antônio Gonçalves, que ficou mor-
lahnciite ferido e faleceu 2 dias depois”. Os Relatórios
57
sobre prisões e condenações rárissimamente se referem
a casos garopabenses.
Sobre as “coisas da terra”, o Presidente da Pro­
víncia gosta de pedir relatórios, sugestões, ao Pe. Vigá­
rio, o real detentor do poder local e pessoa de confiança.
Necessitava-se a criação do Município. Houve
unia tentativa abortada: pela Lei n.° 835, de 30 de abril
de 1877, a área geográfica de São Joaquim de Garopaba
conjuntamente com a da Freguesia de Mirim, dava ori­
gem ao Município de Garopaba. Mas a criação não foi
efetivada.
Com a proclamação da República, a 15 de no-
vembro de 1889, cresce vigore so o sonho de a Freguesia
ser elevada a Vila. Contava então 5.327 almas e tinha
seus problemas.
Os notáveis do lugar não se esquecem de escre­
ver aos membros do Governo provisório do Estado Re­
publicano, saudando-os pelo “faustoso acontecimento”.
(27), Em seguida, apresentada pelo Pe. Rafael Faraco,
é enviada uma petição local pedindo que a Freguesia fos­
se transformada em Município (28).
São atendidos. A 6 de março de 1890, assinado
pelo Governador do Estado Lauro Severiano Müller, pelo
Decreto n°. 6, a Freguesia de São Joaquim de Garopaba
c desmembrada do Termo de São José para formar o Mu­
nicípio de Garopaba, sendo a sede elevada à categoria de
Vila. Eis o Decrelo:
“O Tenente Coronel Lauro Severiano Müller,
bacharel em matemática e ciências físicas, e
governador do Estado Federal de Santa Cata-
' , rina, decreta:
Art. Io. — Fica desmembrada a Freguesia de
São Joaquim de Garopaba do Termo de São
José, para formar um novo Município com a
denominação de Município de Garopaba, e ele­
vada a dita Freguesia à categoria de Vila.
Art. 2o. — Os limites do novo Município serão
os atualmente existentes da referida Freguesia.
Art. 3“é — O novo Município fará parte da Co­
marca de São José.
Ari. 4o. — Ficam revogadas as di*pod<<tt« cm
contrário.
Dado e passado no Palácio do Governo do I ■
tado Federal de Santa Catarina, aos 7 dias do
mês de abril de 1890.
Ass.: Lauro Severiano Miiller.
Por Resolução de 8 de abril do mesmo ano, o Go-
mtijo do Estado nomeia os membros do Conselho de In-
tendência do novo Município: Manoel Álvaro de Araújo,
José Cândido das Neves Pereira, Luiz Pereira da Silva,
Pedro Inácio da Silva e João Lino da Silva Neto.
Outra Resolução, com a mesma data, divide em
♦foi- o então Distrito Policial de Garopaba, com os mes-
mo- limites da Freguesia, ficando o primeiro com a de­
nominação de Garopaba, ao qual pertenceríam os habi-
láiites que ficam a leste dos morros do Siriú e do Macacu
f|é os extremos da Freguesia de Mirim, e o segundo, com
u denominação de Paulo Lopes, ao qual pertenceríam os
■oradores de oeste.
A instalação da Intcndêiicia estava mareada para
I » de maio de 1890, o que não aconteceu por alguns
Iticmbros nomeados não aceitarem o cargo. Esta verifica-
»r, então, a 7 de junbo, cerimônia de que, por seu signi­
ficado histórico, transcrevemos a Ata de Instalação, segui-
ihi da Primeira Ala do Conselho de Intendência Munici-
I- il, realizado no mesmo dia.
A Ata também nos dá ocasião de ver os nomes sig­
nificativos na Vila, os nomes que década por década mar-
imu a história de Garopaba.
Ala de Instalação da Vila de São Joaquim de
Garopaba, aos 7 dias do mês de junho de 1890,
segundo da República, na sala principal da re­
sidência do cidadão Pedro Inácio da Silva, pre­
sentes os cidadãos seguintes: Manoel Vieira
Rodrigues, Manoel Hipólito Bento, João Vieira
Rodrigues Leal, Manoel Francisco do Nasci­
mento, Francisco Pereira Soares, José Seve­
riano de Matos, João José de Araujo Júnior.
59
João tio Amaral c Silva, Salvador Golga Parre-
lha, José Cândido da Silveira, José Maria de
Souza, Davi Pereira Rodrigues, Álvaro Agapi-
to de Araujo, Manoel José da Silva, João Fran­
cisco Ramos, Luiz Joaquim Pereira, Tibério
Cesário da Cosia, Davi Francisco Pereira, José
Maria dc Campos, Inácio Martins do Nascimen­
to, Dorval Maria de Araújo, Geraldino Amaro
de Araújo, Júlio Firmino de Araújo, Cândido
Vitorino dos Santos, Manoel Francisco do Nas­
cimento Júnior, Elizandro Antônio da Silva.
José Cândido das Neves Pereira, Pedro Inácio
da Silva, Manoel Jorge de Freitas, Jacinto Ro-
mão Benlo, Juvêncio Pereira Rodrigues, Seve­
ro Pereira Rodrigues, Bonifácio digo Tomé Bo­
nifácio Pereira, Cândido Donatildes de Araújo
Silveira, José Antônio de Araújo, Manoel Espe-
ridião da Silva e Manoel Álvaro de Araújo. Foi
instalada esta Vila de São Joaquim de Garopa­
ba, criada pelo Decreto n°. 6 de 7 de abril do
corrente ano, pelo cidadão Governador deste
Eslado Federal de Santa Catarina, o Exmo.
Doutor Lauro Severiano Müller, com os mes­
mos limites conhecidos e respeitados da ex-Fre-
guesia. Na forma da Lei cm ato continua orga­
nizado e reunido o Conselho de Intendência
Municipal, nomeado pelo exmo. Doutor Go­
vernador por Resolução n°. 170 de 8 do refe­
rido mês de abril, composto dos cidadãos Ma­
noel Álvaro de Araújo Presidente, José Cândi­
do das Neves Pereira e Pedro Inácio da Silva, e
por Resolução de 15 de maio próximo passadç^
o cidadão Elizandro Antônio da Silva. Jura­
mentado e empossado de seu respectivo cargo o
cidadão Presidente Manoel Álvaro de Araújo,
pela Intendência Municipal da Comarca de São
José, deferiu o respectivo juramento ultima­
mente adotado e mandado vigorar pelo Exmo.
Governador Doutor Lauro Severiano Müller,
aos cidadãos José Cândido das Neves Pereira,
Pedro Inácio da Silva e Elizandro Antônio da
00
Silva, membros do referido Conselho de Inlen-
dência, em cujo ato declararam e prometeram
sobre suas palavras de honra cumprirem bem e
fielmente os deveres inerentes aos seus respec­
tivos cargos de membros do Conselho de Inten-
dência Municipal da referida Vila, para que fo­
ram nomeados, os primeiros dois cidadãos, Jo­
sé Cândido das Neves Pereira e Pedro Inácio da
Silveira, pela supradita Resolução de 8 de abril
do corrente ano, e o segundo pela de 15 de
maio próximo passado. Assim empossados de
seus cargos os referidos membros, e preenchi­
das as devidas formalidades da supracitada ins­
talação desta Vila, reunião e posse do Conse­
lho de Intendência Municipal, nomeou o Pre­
sidente para servir de Secretário Interino o ci­
dadão Manoel Esperidião da Silva, que passou
logo a exercer as funções de seu cargo. E, nada
mais havendo mencionar-se, deliberou o Presi­
dente que se extraíssem duas cópias autênticas
da primeira Ala, uma para remeter-se ao Exmo.
Cidadão Governador Doutor Lauro Severiano
Midler, e a outra à Intendência Municipal da
Comarca de São José, e se oficiasse aos cida­
dãos Doutor Juiz de Direito e Juiz Municipal da
mesma Comarca, fazendo-lhes cientes achar-sc
instalada esta Vila. Sala de Instalação da Vila
de São Joaquim de Garopaba aos 7 dias do mês
de junho de 1890, segundo da República. Eu,
Manoel Esperidião da Silva, Secretário Interino
nomeado que a lavrei e assino.

Manoel Álvaro de Araújo Presidente da Inten-


dência Municipal, José Cândido das Neves Pe­
reira membro, Elizandro Antônio da Silva idem
Pedro Inácio da Silva idem. Seguem-se os cida­
dãos... (assinaturas dos presentes citados no
início).

Eu, Manoel Esperidião da Silva, Secretário In­


terino nomeado, que a escrevi e assino Manoel
Esperidião da Silva, Secretário Interino.
61
Primeira Ala do Conselho de Intendência Municipal
Primeira Ala do Conselho de Intendência Mu­
nicipal da Vila de São Joaquim de Garopaba.
Aos 7 dias do mês de junho de 1890. segundo
da República, na sala principal da residência
do cidadão Pedro Inácio da Silva, reuniu-se o
Conselho de Intendência Municipal desta Vila
de São Joaquim de Garopaba, composto dos ci­
dadãos Manoel Álvaro de Araújo Presidente,
José Cândido das Neves Pereira, Pe­
dro Inácio da Silva e Elizandro Antônio da Sil­
va, membros do referido Conselho de Intendên-
cia, foi confirmada a Instalação desta nova Vi­
la, e resolvido o fixamento do seguinte Edital:
— í:O Conselho de Intendência Municipal des­
ta Vila, nomeado por Resolução n°. 170 de 8
de abril do corrente ano, a 15 de maio último,
pelo Exmo. Cidadão Governador do Estado de
Santa Catarina, Doutor Lauro Severiano Miiller,
faz público que está instalada a Vila de São
Joaquim tie Garopaba, cujos limites são os mes­
mos da ex-Freguesia, pelo norte com o li­
mite conhecido e respeitado da Freguesia de
Nossa Senhora do Rosário de Enseada de Brito
e sul com os das Freguesias de Santa Ana de
Mirim e Vila Nova, pelo leste a costa do mar
grosso e pelo oeste a Serra Geral, ficando as­
sim presentemente discriminados os limites
desta Vila”. E nada havendo a tratar-se por
achar-se adiantada a hora, deliberou o Presi­
dente que se lavrasse a presente Ata, extraindo-
se duas autênticas, uma, para ser remetida ao
Exmo. Cidadão Governador do Estado, e outra
à Intendência Municipal da Comarca de
São José, e se oficiasse aos cidadãos Juiz de Di­
reito e Juiz Municipal da mesma Comarca, fa­
zendo-lhes cientes achar-se instalada a supra­
citada Intendência. Sala da Instalação do Con
selho de Intendência Municipal, aos 7 dias do
mês de junho de 1890. Eu, Manoel Esperidião
la c~cretário Interino nomeado, que a
63
escrevi e assino. Manoel Álvaro de Araújo Pre­
sidente da Intendência, José Cândido das Mr-
ves Pereira membro, Pedro Inácio da Silva,
Elizandro Antônio da Silva idem. Eu, Manoel
Esperidião da Silva, Secretário Interino, que a
escrevi e assino. Manoel Esperidião da Silva,
Secretário Interino.
Em 1.893 dá-se a criação do Comissariado de Ga­
ropaba, com 2 Sub-Comissariados, o da Vila de São Joa­
quim de Garopaba e o de Paulo Lopes. A Guarda Muni­
cipal, com 2 Praças, é criada em 1896.
Outro anseio da popidação local era a criação do
I ermo (subdivisão de Comarca, sob a jurisdição de um
Juiz) : possuía a Intendência 50 membros qualificados
para servirem de jurados e casa preparada para as sessões
do Juri. A 9 de outubro de 1890 segue pedido ao Gover­
nador, seguido de outro, a 19 do mesmo, ao Vice Gover­
nador, Coronel Gustavo Richard. A petição não é atendi­
da e logo depois Garopaba se alia a Palhoça na petição de
uma Comarca abrangendo os dois Municípios.
Foram organizadas Comissões de propaganda em
cada Distrito, e em Garopaba encarregaram-se Marlinia-
no Soares de Oliveira e José Lupércio Lopes (o historic-
dor de Palhoça), após entrarem em acordo com o Pe.
I araco c com o Intendente Municipal.
Atendendo às reivindicações, pela Lei n°. 693, de
19 de outubro de 1906, o Vice Governador Abdon Batis­
ta criava a Comarca de Palhoça, abrangendo os territó­
rios do Município desse nome e o de Garopaba, que são
desmenbrados da Comarca de São José. Pelo Decreto ii°.
298, de 19 de outubro, a Comarca de Palhoça é classifica,
da de Segunda Entrância. Sua instalação deu-se a 13 de
novembro de 1909, sendo Juiz de Direito Antônio Go­
mes Ramagem, e Promotor Público José Lupércio Lo­
pes (29).
PRIMEIROS PROJETOS
No dia 21 de janeiro de 1891 são aprovados, pelo
Louselho dé Intendência Municipal, os primeiros Proje­
tos, fixando vencimentos e outras medidas administrati-
\ as.
63
Alguns deles: Io. — Vencimentos do Proí n-ador:
144$000 réis; vencimentos do Secretário: 170$00l) réis.
2o. — Criação de Agências em Paulo Lopes e Pe­
nha, para cobrança de impostos. O Agente nomeado per­
ceberá 20% da arrecadação;
4o. — Os Fiscais do Io. e 2o. Distritos passam a
perceber a metade das multas que impugnarem.
No ano anterior, no dia 25 de outubro, tinha sido
encaminhado ao Governo, para competente aprovação, o
Código de Posturas do Município, muito minucioso e ori­
ginal, e que transcrevemos na íntegra, no final do traba­
lho.
Duas determinações nos chamam a atenção: a
primeira, relativa ao curandeirismo; e a segunda, refe­
rente à proteção ao produto básico da economia local, a
farinha de mandioca.
— Cap. Io., art. 3°. — Todo aquele que, a títu­
lo de feitiços ou de adivinhar, se introduzir em qualquer
casa, ou receber na sua alguém para fazer semelhantes
curas por meios supersticiosos e bebidas desconhecidas,
ou para fazer adivinhações ou embustes semelhantes, so­
frerá a multa de 20$000 réis, além das penas impostas
pelas leis do País.
— Cap. 2'\, art. 22°. — A farinha de mandioca
que mão estiver bem feita e torrada em estado de poder
conservar-se por 2 anos nos paióis, não será vendida. O
que o fizer, pagará a multa de 20S000 réis, além de ficar
obrigado a botar fora a dita farinha por ordem da Inten-
déncia Municipal ou do Fiscal; nas mesmas penas incor­
rerão os negociantes que comprarem farinha não torrada
e mal feita.
Outros capítulos dedicam-se à segurança, à higie­
ne, aos bons costumes, à proteção à pesca, outra ativida­
de básica da economia local.
ELEIÇÕES
Boa parle da documentação referente ao jovem
município anda perdida, máxime no tocante aos serviços
eleitorais. Fica mesmo difícil reconstituí»’ a lista dos Su-
Cl
'tatu iiih-ndeiiles Municipais com os Membros da Camara.
»>= Rchiiórios apresentam grandes vazios, o que impede
■Ilia i isão mais continuada da história. A memória his-
Iiiihh local ê difusa, muito difusa, para não dizer inexis-
|< m<-, c o que restava de material público em Arquivos
«I* família foi destruído ultimamente, que levou ao fogo
Ha velhos baús que guardavam as recordações do passado.
I oi ccrla casa, há poucos anos, foram queimadas várias
Diulus conteúdos documentos das administrações niunici-
|t.ic de 1890-1923. A história do pobre parece ser a sua
■llsèiicia na história pois, ou está ausente nas decisões
í|u< lhe dizem respeito ou nem toma consciência da im-
fância dos fatos que lhe dizem respeito.
Como exemplo: quando em 1879 o Governo da
l*i ovincia expedia uma Circular às Freguesias, noticiando
II Projeto que se acalentava, de organizar um Museu his­
tórico, o Pe. Faraco simplesmente respondeu: “Em Ga-
fopaba não há nenhum objeto interessante para constar
mim Museu”...
Morlância dos fatos que lhe dizem respeito.
Procurando em Relatórios e Ofícios, talvez lenha-
nos conseguido a lista dos Superintendentes do Miinicí-
pio. de sua criação em 1890 até sua supressão, em 1923
(• ntre parênteses a data da eleição).
1890 — Pedro Inácio da Silva
1891 — Luiz Pereira da Silva
1893 — Manoel Hipólito Bento (20-11-1892)
1897 — Manoel Antônio da Silva Cascaes
1899 — Pedro Claudino da Silva (eleito a
13-11-1898, falece em abril de
1900)
1900 — Bernardo de Souza Guimarães
(20-4-1900)
1903 — Bernardo de Souza Guimarães
(7-12-1902)
1904 — Zeferino Bernardino de Souza
1907 — Bernardo de Souza Guimarães
(28-7-1906)
65
1911 Antônio Inácio da Silva (4-12-1910)

1915 Dorval Maria de Araújo (2*8-1914)

1919 Dorval Maria de Araújo

1919 —
Júlio Pacheco de Souza (assume co­
mo Io. substituto a 26 de março)
1919 — Antônio Inácio da Silva (4-8-1918)
1921 — Júlio Pacheco de Souza
1923 — Protásio Nicolau dos Santos (1922)
Das eleições para o Conselho de Intendência Mu­
nicipal, conseguimos apurar o seguinte:
Eleitos em 1892: Joaquim Antônio de Souza
Júlio Pacheco de Souza
Porfírio Antônio Lopes de Aguiar
Boaventura Francisco do Nascimento
Manoel Álvaro de Araújo
Manoel Francisco do Nascimento
Eleitos em 1902: Dorval Maria de Araújo
Francisco Pereira da Silva
Antônio Inácio da Silva
Júlio Pacheco de Souza
Silvano Machado de Souza
Eleitos em 1905: Dorval Maria de Araújo
Antônio Inácio da Silva
Júlio Pacheco de Souza
j Artur de Araujo
Francisco Pereira da Silva
Eleitos em IVÍO: Geraldino Amaro de Araújo
José Luiz dos Santos
Modesto de Souza Medeiros "
Davi Pereira Rodrigues’
Osório Pio do Nascimento
Eleitos em 1914: Osório Pio do Nascimento
Cirilo Martins de Souza
Tobias da Silva Lino
João Antônio de Souza
Severo Eduardo da Costa
66
Eleitos em 1918: Bráulio Ludgério Pacheco da Silva
João Antônio de Souza
José Luiz dos Santos
Dorval Horácio de Amorim
Tobias Raupp de Sá
Em 1891 houve eleições para os representantes
tu» Congresso do Estado. A apuração, feita a 16 de março
dr 1891, deu os seguintes resultados, nas urnas do Muni­
cípio. Chamamos a atenção para o número de sacerdotes
hiM i-itos como candidatos (são 10) e à penetração de al-
feims candidatos, como o negociantes Carlos Renaux, da
llhlante Brusque, o qual consegue amealhar 41 votos!
to- Antônio Pereira da Silva e Oliveira — negociante —
13 votos.
• Artur Pereira de Melo — advogado — 46 votos.
Antônio Pinto da Costa Carneiro — capitalista —
43 votos.
Pe. Arcãngelo Ganaríni — vigário — 1 voto.
= <'.arlos Renaux — negociante — 41 votos.
==■ Pe. Cipriano Buonocor — 1 voto.
Coronel Emílio Blnm — negociante — 42 votos.
Ernesto Canac — engenheiro e industrial — 42 votos.
। Pe. Francisco Pedro da Cunha — 1 voto.
- Henrique Boiteux — oficial da Marinha — 42 votos.
I )r. Polidoro de São Tiago — engenheiro — 45 votos.
João Cabral de Melo — proprietário — 43 votos.
= < ‘ônego Joaquim Elói de Medeiros — vigário - 1 voto.
I Pr. José Monteiro do Nascimento - vigário - 1 voto.
Pe. Manoel João Luiz da Silva — vigário — 1 voto.
i Pe. Manoel Alves Soares — vigário — 1 voto.
s Pe. Pedro Gonçalves Teixeira Lopes - vigário - 1 voto.
* Pr. Rafael Faraco — vigário — 9 votos.
Pe. Sebastião Antônio Martins — vigário — 1 voto.
Em 1892 havia em Garopaba 258 eleitores. Em
67
1909, 207 eleitores para as eleições federais e 214 para
as estaduais. Interessante confrontar estes dados com os
de 1919, para se perceber o aumento mínimo no núme­
ro de eleitores: ha em Garopaba, neste ano, 2 secçõcs
eleitorais. Na primeira, em Garopaba, 127 eleitores; na
segunda, em Paulo Lopes, 13.5, totalizando 262.
A 18 de junho de 1920 o Superintendente Antô­
nio Inácio da Silva apresenta o seguinte relatório estatís­
tico:
— população: 10.700 almas
— na sede: 81 prédios
— subúrbios: 5.000 casas
— estradas de rodagem: não existem
— vias fluviais navegáveis: existem embarca­
ções, veleiros
— telégrafo: existe.

O DINHEIRO, A VIDA ECONÔMICA


O primeiro orçamento foi aprovado em 11 de
outubro de 1890 e importava na quantia de 1:2008000
reis. Houve, depois, um aditamento de 1158000 réis.
Da primeira fase do Município (1890 1927).
conseguimos apurar os seguintes orçamentos:
1890 — 1:3158000 réis
1891 — 2:2888000 réis
1904 — 3:2208000 réis
1906 — 3:4458000 réis
1912 — 6:0158000 réis
Quanto à Arrecadação, conseguiu-se apurar isto:
1894 — 5:2748592 réis -
1895 — 7:0588128 réis
1896 — 1:9658486 réis
1906 — 2:8608000 réis
1907 — 3:2808240 réis
1908 — 2:6468888 réis
1913 — 4:0228207 réis
1917 — 3:7688801 réis
1918 _ 3:9838724 réis
• X. . 68
Os artigos produzidos em Paulo Lopes eram cx
íKii lados pelo Porto da Pinheira. Enseada de Brito, en-
|fto Município de São José. Daí surgiram problemas, pois
ps comerciantes de Paulo Lopes não queriam recolher
its impostos de exportação: só aceitariam pagá-los se re-
jhilliidos em Pinheira. Ora, isto era difícil para a Inten­
dí m ia de Garopaba, que não poderia colocar postos de
cobrança em outro Município.
A 24 de maio de 1891 o Superintendente expede
pflcio ao Vice-Governador, pedindo a criação de uma
barreira para a cobrança de impostos sobre a exporta-
£áo de produtos agrícolas de Paulo Lopes para a Capital,
■raves do Porto da Pinheira.
O problema nunca conseguiu solução- Ainda em
|9|? a questão está aberta. O Superintendente de entião,
Bm-val Maria de Araújo, coloca em cobrança judicial as
■fuildões referentes à negligência no pagamento de im-
■tiKtos. Montam em mais de 1 :()00.$000 réis. Contudo.
(I Promotor de Palhoça não as faz executar! (30).
jXo ano seguinte, nova reclamação do Superin-
|fmdcute, somada à ameaça de renúncia: o Escrivão de
Í‘<iz de Paulo Lopes, Frederico Vitorino dos Santos, não
ultM-rva a Lei ir. 1039 de 31 de dezembro de 1915, re-
lillha ao pagamento de impostos. Os contribuintes lhe
UHgum, mas ele não passa a quantia ao Governo numici-
jpd. As duas irmãs só terminam a briga em 1923, quan­
do desaparece o Município. Reaparecem em 1961, cada
tiniu formando um Município...

A 4 de abril de 1913, o Governo municipal eu-


raminha ofício ao Estadual, solicitando a construção de
mo trapiche no Porto de Garopaba. Todo o embarque é
I» Ho por canoas, muito moroso.
A produção agrícola do Município atingia certa
Importância, pelo que se deduz de alguns Relatórios, co­
pio o de 7 de fevereiro de 1903:
Relação da exportação dos cereais:

69
Produto: farinha feijão café total
1900 1:0008000 5808 000 950S000 2:5308000
1901 l:200$900 7008 000 8803000 2:780S00Ü
1902 1:3608000 6808 000 9008000 2:9408000
Em 1904 a Prefeitura criou impostos de 28000
réis sobre engenhos de farinha, 58000 réis sobre alam-
biques, 2S000 réis sobre engenhos de açúcar.
Produtos básicos do Município são a agricultura
e o pescado, este último como alimento e não como pro­
duto de lucro para os cofres públicos.
Em 1908 Garopaba tinha 80.000 alqueires de
mandioca plantados, 5.000 alqueires de feijão, 15.000
de café, 3.000 de arroz, tendo produzido 3.000 arrobas
de açúcar (31). Desde 1892, atendendo à recomendação
de 1886, tentou-se cultivar, em grande escala, o arroz,
mas sem o sucesso pretendido pelo Governo.
Na grande Exposição Nacional do Rio de Janei­
ro, all de agosto de 1908, Santa Catarina obteve o 2.°
lugar entre os Estados expositores. Garopaba fez-se re­
presentar ã altura, conseguindo boas medalhas.
Farinhas e féculas
Medalha de Bronze: Domingos José Martins
Hipólito Hermes de Brito
Azeites e condimentos
Medalha de Bronze: Daniel dos Reis Faraco
Bebidas alcoólicas
Medalha de Bronze: Daniel dos Reis Faraco
Medalha de Prata: Pe. Rafael Faraco
Frutas sih-estres ~~~
Medalha de Bronze: Daniel dos Reis Faraco
Madeiras
Medalha de Bronze: Davi Machado Gomes
Produtos agrícolas
Medalha de Prata: Moisés Soares de Oliveira
Medalha de Bronze: Manoel Joaquim Rego
Daniel dos Reis Faraco
70
’■5*' í

ALTAR-MOR DE
SÃO JOAQUIM,

Obra de artistas locais,


em 1873.

NOSSA SENHORA DAS DORES,

Obra de um santeiro baiano (1876),


venerada num dos altares laterais.
Também a pecuária era significativa: em 1912,
o rebanho contava 5.080 cabeças de gado (32). Nesse
mesmo ano o rebanho foi ameaçado por uma epidemia.
Na Penha, em poucos dias, morreram 70 cabeças, E co­
mo era junho, o problema agravou-se: era época de sa­
fra e faltavam animais para o trabalho.
ESCOLAS
Não temos notícias sobre o início da instrução
pública em Garopaba. A primeira notícia de que dispo
mos, refere-se à jubilação do professor público de pri­
meiras letras, Antônio José Botelho: por ter completado
6.5 anos e padecer de enfermidade que o impossibilita de
continuar no magistério. Pelo Ato n.° 100, de 3 de janei­
ro de 1865, ficou jnbilado com o vencimento anual de
300$000 réis. Pelo Alo n.° 147, de 8 de maio de 1865.
Francisco Claudino de Souza é nomeado para reger in­
terinamente a cadeira de primeiras letras da Freguesia.
A 9 de dezembro de 1869 o Pe. Rafael Faraco é
nomeado Inspetor das Escolas do Distrito. No ano se­
guinte, o mesmo sacerdote é solicitado a angariar recur­
sos para a construção de uma escola, mas nega-se: os ha­
bitantes são pobres e ele já tem as obras da Matriz aonde
carreai’ coletas...
João Batista de Amorim é o professor público de
Garopaba cm 1872. O Relatório do Inspetor Geral das Es­
colas, apresentado a 2 de janeiro de 1877 dá elogios à
Escola masculina de Garopaba. As congêneres de São
Luiz, Rio Vermelho, Canasvieiras, São José e Santa Isa­
bel, merecem os mesmos elogios.
Notícias de Paulo Lopes lemos apenas de 1879,
quando lá é professor Manoel José Laniim.
Em 1882 deixa a Escola de Garopaba a profes­
sora Maria Amália.
A frequência à Escola do sexo masculino de Ga­
ropaba decaiu a tal ponto que a 8 de abril de 1884 foi
suprimida. Na época era regida pelo professor Davi do
Amaral e Silva, homem versado em letras, por longos
anos Secretário da Irmandade e que em 7 de setembro

72
de 1854, em São José, fez o discurso de saudação a n।
llajestades Imperiais. Como a frequência melhora loi
restaurada em 1885.
O Código de Posturas do Município assim se c\
pressa no art. 81.° do Cap. 11.°: “O ensino primário <
obrigatório no Município, para todo menino ou menina
maior de 7 anos e menor de 14, compreendido num raio
de 2 quilômetros a partir da sede da Escola”. Apesai de
lào altissonante exigência, a maioria das crianças está
fora deste raio de 2 quilômetros, pois em 1903 há ape­
nas 2 escolas: uma feminina c outra masculina.
Neste mesmo ano fez-se um recenseamento, que
apresentou os seguintes dados sobre o Município:
— sabem ler e escrever: homens — 638
mulheres — 245
total — 883
— não sabem ler nem escrever:
homens — 2.158
mulheres — 2.659
total 4.817
(33).
Em 1903 era professor efetivo da Escola mas­
culina Gustavo da Conceição Ávila, e professora vitalícia
da Escola feminina Maria Amália da Silva. No ano se­
guinte é nomeado Chefe Escolar Boaventura Claudino de
Souza, cargo que a 19 de setembro passa ao Pe. Rafael
Faraco. A 2 de abril de 1906, Josina Amália da Silveira
é nomeada professora efetiva de 3.a Classe na Escola fe­
minina de Garopaba, com o jubilamento da professora
Maria Amália da Silveira, a 2 de abril, sendo professor
interino na Escola masculina Norherto José Floriano.
O 2.° Distrito Policial, Paulo Lopes, vê a cria­
ção de uma Escola masculina em 3 de dezembro de 1907.
Situação das Escolas, no Município, em 1908:

73
Sexo Matrícula Freq. Professor(a)
na Vila Esc. Masc. 29 16 Norberto E. da Silva
Esc. Fem. 29 15 Josina A. da Silveira
cm Paulo Lopes Esc. Mista 45 39 Jorge Cristóstomo d»
Silva.
Em 1910 há uma Escola municipal, com 20 ma­
trículas e frequência de 15 alunos: situa-se na Encanta­
da, consumindo dos anêmicos cofres municipais 20$000
réis mensais.
Dorval Maria de Araújo é Chefe Escolar, em 1911.
Relatório das Escolas em 1915:
Localização Sexo Alunos Professores
na Vila 1 Masc. 30 Norberto Floriano áa Silva
1 Femin. 32 Josina Amélia da Silveira
em Paulo Lopes ,1 Masc. 42 Davi Heliodoro Barreto
1 Femin. 24 Francisco Raimunda de Farias
na Encantada 1 Mista 10 Nestor Fontoura Rego
Em 1917 os Relatórios falam em 2 Escolas mu­
nicipais, mas não funcionando, pois o Chefe Escolar exi­
ge destas as mesmas condições das Estaduais. Assim não
se encontram professores para perceber cada um
2408000 réis anuais
SAÚDE
A Freguesia de São Joaquim e, depois, Município.,
leve seus problemas no campo sanitário, agravados pela
ausência de médicos e medicamentos c insuficiente ali­
mentação. O 2.’’ Distrito, Paulo Lopes, foi o mais atin­
gido pelas doenças.
A primeira notícia que temos de epidemias refe­
re-se a 1876. Mas foi suplantada pela de 1886, que atin­
giu todo o Município: Hypoemia Intertropical (anemia
proveniente de verminose, amarelão) e Febre palustre
ç malária), doenças dos pântanos, da água contaminada,
da falia de higiene. O Governo para lá enviou o Dr. Is­
mael Pinto de Llysséia, que medicou 433 pessoas. Destas,
segundo a linguagem do Relatório, 6 faleceram, 55 me­
lhoraram, 364 se restabeleceram e 8 quase se restabele­
ceram.
Transcrevemos, do Relatório de 1886 (34), os
dados sobre os maiores focos das doenças:
74
Hipoemia Intertropical Febre Âmarela
Freguesia 16 13
*- Macacu 26 5
Paulo Lopes 46 22
► Estiva 32 18
Gamboa 46 22
■- Siriú 38 13
k»- Encantada 38 29
I» Piraquara 13 □
—- Ambrósios 24 16
— Areias 12 8
Coni a epidemia o Governo da Província gastou
t :042$660 réis.
Nova epidemia grassou pela população durante
<» meses em 1891: e não há médicos nem remédios (35) .
Em 1899 procede-se à vacinação geral da popu­
lação, contra a malária, utilizando-se Lympha Vacinica
(36).
Paulo Lopes passou por grandes problemas em
1903. Grave epidemia, a malária, em poucos meses fez
I 50 vítimas falais. Dias havia em que se sepultavam 3,
I mortos! O Município não tinha recursos, nem remé­
dios, nem médicos (37).
O problema do impaludismo e do amarelão não
para aí. A cada ano o problema, já crônico. Em forma
epidêmica atinge novamente Paulo Lopes em 1923, com
numerosas vítimas fatais (38). O refrão é sempre o
mesmo: ausência de remédios ejjde médicos, E, em Paulo
Lopes, outro problema: deficiência de alimentação. A
população vivia em extrema penúria, carente de tudo.
CONSAGRAÇÃO DA PARÓQUIA AO CORAÇÃO
DE JESUS
Por determinação do Bispo Diocesano, D. José
de Camargo Barros, todas as Paróquias deveríam ser con­
sagradas ao Sagrado Coração de Jesus. O Pe. Faraco mar­
eou o dia 21 de janeiro de 1900 para tão importante ce­
rimônia.

75
Um Tríduo solene, com pregação alusiva ao acon­
tecimento, reaviven espiritualmente os fiéis que, em
grande número, afluíram ao Sacramento da Penitência e
depois participaram devolamente da Comunhão. Não
fossem tão copiosas as chuvas, maior número de pessoas
teria concorrido às Novenas.
O dia 21, porém, amanheceu esplêndido. Missa
com a Igreja apinhada de fiéis. Após a solene consagra­
ção da Paróquia, o Vigário impartin a Bênção Papal, com
a presença emocionada dos paroquianos.
Finalidade do rito foi dilatar o culto e dovoçãq
ao Sagrado Coração de Jesus, no qual se deposita a “sal­
vação da humanidade, hoje em dia pervertida e trans-
viada da senda do justo e do honesto’-.
A cerimônia emocionou o velho Pároco, que as­
sim se expressa, nas poucas linhas que deixou escritas
de próprio punho no Livro de Tombo: “O que se passou
em tão solene conjuntura não é dado em minha vida
pensar esboçar. Apenas posso constatar que doce emo­
ção se apossou de todos os corações, deslizando-se pelas
faces de muitos lágrimas de alegria e contentamento, si­
nal sem dúvida evidente dos sentimentos que lhes iam
na alma" (39).
MISSÕES EM PAULO LOPES
Em 18 de fevereiro de 1902 saiu autorização pa­
ra a construção de uma Capela no Arraial de Paulo Lo­
pes. A construção vai devagar. Eni 1912 estava pronta
apenas a Capela-mor, existindo do corpo apenas os fun­
damentos.
De 27 de julho a 4 de agosto de 1912, o Pe. Fa-
raco chamou os missionários franciscanos Frei Burchar-
do Sasse e Frei Evaristo Schiirmaun para pregarem San­
tas Missões.
As famílias do sítio aproveitaram mais a ocasião
da graça acorrendo ás pregações, missas e confissões. Da
Vila mesmo, apenas 2 pessoas se confessaram...
Realizou-se belíssima procissão com a imagem

75
CA DA MATRIZ, VENDO-SE A CAPELA DO SENHOR
BOM JESUS, DE 1896

ÍLORIOSO PATRIARCA
J< )AQUIM A CUJOS
I NASCEU E CRESCEU
UESIA DE GAROPABA.


«I<> Padroeiro, o Sagrado Coração de Jesus. O tempo es­
lava trio c nos últimos dias chovera ininterruplamente.
Em númerosí, com aram-se 393 comunhões, 9
casamentos legalizados, I casamento regular, 2 visitas a
doentes.

OS ÚLTIMOS ANOS DO PADRE RAFAEL FARACO

Num pastoreio que se estende de 1862 a 1917,


não se pode ignorar a marca que deixa um Vigário no
coração dos paroquianos e na vida da terra. Pe. Faraco,
além de seu trabalho espiritual, exerceu forte liderança
política, nem sempre nos moldes a serem desejados em
um cura d’almas.
Candidato à Assembléia Legislativa, venceu 4 elei­
ções, sendo Deputado nas Legislaturas: 1874-1877
1876-1877
1877-1878
1898-1900
Ainda se encontra em Garopaba a recordação da
pessoa do Pe. Faraco. Os mais velhos se lembram daque­
le homem alto, enérgico, forte, decidido, que ao pedido
de “bênção" de muitos meninos, respondia, resumindo:
“Está todo mundo abençoado!”. Lembram o velho cura
podando suas videiras que, além de fornecerem o vinho
para a Missa e para a mesa paroquial, davam uvas para
a molecada em geral. Pe. Faraco, com seus vinhos, rece­
beu medalha de prata na Exposição Nacional do Rio de
Janeiro de 1908.
Também lembram, com certa amargura, o pas­
tor que admiram e o político que detestam. Pe. Rafael
era exigente e vingativo nas lides políticas. Tomando po­
sição decidida pelo Governo do Marechal Floriano na
Revolução Federalista de 1893, aceitou colaborar com
Moreira César, o Governador que com terror e cruelda­
de sufocou a resistência legalista. Teria o Pe. Fara­
co —— dizemos “teria” — aceito o papel de denun­
ciar os nomes dos federalistas, os que significava
denunciar os que seriam mortos ou presos. Muitos se es­
conderam nas matas vizinhas, outros se humilharam, de
73
joelhos pedindo perdão, e houve quem brutal mente fos­
se assassinado, sob o olhar complacente do Vigário. So­
bre este aspecto sombrio não se encontram documentos,
sondo talvez o maior testemunho a existência de paren­
tes das vitimas, que ainda hoje narram — compreenden­
do a época e o destino fatal dos perdedores — os tristes
acontecimentos. Chama a atenção o fato de o Pe. Rafael
Faraco ter recebido apenas 9 votos nas eleições de 1892.
Pe. Faraco constrói sua própria residência, cujas
ruínas ainda hoje se avistam, mas tomadas por outros,
que do terreno fizeram usucapião. Casa grande, de dois
andares, onde abrigava o serviço paroquial e sua nume­
rosa família. Sim, o Pe. Rafael Faraco teve numerosos
1'lhos, todos recebendo esmerada educação, e ainda na
i ida do pai ocupando postos de destaque na vida social
e econômica. Apesar de reiteradas ameaças episcopais,
não abandonou o convívio com a mãe de seus filhos.
Eram outros os tempos, e as pessoas que o conheceram
falam apenas que era bom Vigário e bom pai de famí­
lia. Aquela gente simples mal sabia que por obrigação o
padre deveria guardar o celibato. Valia o princípio: “e
nosso Vigário e a nós importa que seja bom Vigário!”.
Por este falo, a memória do Pe. Faraco, como de outros
sacerdotes casados, foi bastante obliterada nos ambien­
tes oficiais, para não se falar nos documentos.
Cansado pelo trabalho, adiantado em anos, pede
que seja aceita sua renúncia. Acatando seu pedido, em
2 de janeiro de 1913 sai Provisão nomeando Pe, João
( asale, pelo prazo de um ano, Vigário da Paróquia. To­
mada ile posse a 19 de janeiro.
A 2 de fevereiro o Administrador Apostólico, 1).
João Becker, então já Arcebispo de Porto Alegre, após
1 anos como l.:> bispo de FpoJis, aceita sua renúncia ale­
gando as causas canônicas de “debilitas et invalitudo eor-
l-:-ris alque actas senilis” — debilidade física e velhice.
Pe. Rafael receberá, da Diocese, a pensão anual de
I :000$000 réis, continuando com o direito de receber
n eôngrua paga pelo Governo Federal, mas renuncia ao
lilido de Vigário Colado e a todos os outros direitos.

‘ 79
Assumindo a 19 de janeiro de 1913, o Pe. João
Casale não foi muito feliz na Paróquia, togo de início
entrou em conflito aberto com a Irmandade, não acei­
tando participar de suas reuniões e nomeando uma Fá­
brica (Conselho Administrativo Paroquial) para a Ma­
triz, que exercería as incumbências antes reservadas à
Irmandade. Devido à reação que a medida provocou, lo­
go depois fixa residência em Paulo Lopes (25 de feve­
reiro), a pretexto de fiscalizar as obras de construção da
Capela, com a condição de ao menos em dois domingos
por mês celebrar Missa na Sede.
Mas, infelizmente, Pe. Casale era dado ao exces­
so da bebida, o que dava razão a infinitas queixas à au­
toridade diocesana.
A crise se acentuou e, apenas dois meses depois,
a 24 de abril, o Vigário Geral, Monsenhor Francisco
Topp, escreve ao Pe. Faraco, pedindo-lhe que reassuma
a Paróquia. Pe. Casale recebe o prazo de um mês para
fazer as malas e deixar o País... O Pe. Faraco acede ao
pedido e a 10 de maio reassume, com a condição de que
seja anulada a nomeação da Fábrica da Matriz e seja a
Irmandade reintegrada em suas antigas funções. A auto­
ridade eclesiástica aceita a condição. A 24 de dezembro
é provisionado como Vigário Encarregado.
Pe. João Casale se retira para a Paróquia de São
Sebastião do Alto Tijucas. Nascera na Itália a 27 de fe­
vereiro de 1875. Ordenação sacerdotal na Diocese de Sa-
luzzo, a 4 de junho de 1898. Se não foi bem sucedido
em Garopaba, em outras partes revelou-se infatigável
pastor: Vigário de Criciúma, de Tijucas, de São Joaquim
da Serra, da Trindade e Paróquias anexas, de Jaguarrina,
e enfim Capelão do Hospital do Bom Pastor, Araranguá,
onde faleceu a 26 de setembro de 1943.
De baixa estatura, gordo, dado a negócios e à eco­
nomia, evitava até as despesas postais: preferia ir à Es­
tação, esperar alguém que lhe pudesse servir de porta­
dor das cartas...

30
Típica sua resposta ao Sr. Bispo, uo Relatório d-
[ 1920, quando Vigário de São Joaquim da Serra: “Prar-
paratio gratiarumque actio singulis diebus perago, idem
•erotinae visitatione at tendo quando conservator SS. muni
Sacramentum (sic), ad Sacramentum Penitentiae soleo
accedere com a maior frequência possível”.
Com sua partida, o Pe. Faraco não podia fazer
muito pela sua Paróquia. Vez por outra celebrava a Mis-
sa, mas aos domingos, sempre, mesmo que lhe custasse
muitos sacrifícios. A Capela de Paulo Lopes passou a ser
atendida pelos Padres Franciscanos de Santo Amaro,
atendimento que ficou oficial a partir de 1923, quando
se passa Provisão para isso.
A 16 de março de 1917 assume a Paróquia o Vi­
gário de Mirim, Pe. João Antônio Fidalgo. Dias antes
estivera em Garopaba, para visitar o velho Vigário, ao
anoitecer da existência. Chegou em Garopaba no dia 11
de março e no dia 15 falecia, aos 85 anos de idade e 61
de sacerdócio, o Pe. Rafael Faraco. São do Pe. Fidalgo
as linhas sobre seus últimos dias: “Estive em Garopaba
por 5 dias. Saí daqui no dia 11 e o Vigário faleceu no
dia 15.
Deitou-se bom de saúde no dia 9 e no dia 10, de
manhã foram dar com ele na cama, sem fala, sem sen­
tidos e sem movimentos. Durante os 6 dias a inconsciên­
cia foi completa. Nada mais pude fazer do que executar
fielmente o Ritual. Ele havia se confessado a mim, há
pouco tempo.
A sua vida, presentemente, era a de um homem
que conheceu o seu erro e vive emendado. Tomei conta
de tudo. A Irmandade — não há Fábrica — ficou encar­
regada de cuidar de tudo e pôr tudo em ordem até eu
aí voltar, para celebrar a Missa de Requiem com algu­
ma solenidade. O povo quer associar-se a esse ato reli­
gioso fazendo, nesse dia, uma comunhão geral, sufragan­
do a alma de seu Vigário”.
Foi sepultado ao lado da Matriz. Seus restos mor­
tais foram no dia 07 de julho de 1977, transladados pa
81
ra o interior cia Igreja, Igreja que tanto sacrifício lhe
custara.
Algum devoto ainda se lembra de acender uma
vela no local onde estivera sepultado.

PADRE ANTÔNIO FIDALGO


Sacerdote que recebeu dos lábios do Pe. Faraco
o último pedido de perdão e o ungiu para a eternidade,
Pe. Fidalgo é uma figura que impressiona. Chegando a
Garopaba em março de 1917, logo conquista a popula­
ção. Recebera Provisão para Vigário de Vila Nova e Mi-
rim a 10 de fevereiro de 1916, assumindo 3 dias após.
Os habitantes de Garopaba muito desejavam que perma­
necesse entre eles. Um abaixo-assinado ao Sr. Arcebispo,
apresentado pelo Superintendente Dorval Maria de Araú­
jo, pede que ele fixe residência em Garopaba, e não em
Mirim: £í...as maneiras atrativas do Pe. Fidalgo têm ca­
tivado o povo e sabe chamar à religião aqueles que se
afastaram por ignorância. Os atos religiosos que aqui
têm sido celebrados é com o templo repleto de católi­
cos1'.
Acontece que o Pe. Fidalgo não estava cm bons
momentos em seu red acionamento com D. Joaquim, en­
tão bispo da Diocese, visivelmente irritado contra ele
Motivo: Pe: Fidalgo era dotado de dons curativos e po­
deres paranormais, além de escrever muito bem, rapida­
mente se espalhando sua fama. As pessoas acorriam de
longe para ao menos locar suas vestes, caso não pudes­
sem receber uma bênção especial. Espalhando-se a fama,
aumentavam os devotos. Mesmo na Capital do Estado sua
presença, ao ser notada, atraía as pessoas.
Dom Joaquim proibe-o de distribuir bênçãos e
exercitar os dons curativos, escrever nos jornais. Isto era
demais para o sacerdote. A Autoridade Eclesiástica su­
gere-lhe que procure outras Dioceses, Curitiba, Porto
Alegre, redigindo, inclusive, uma carta de apresentação
onde consta “nada haver que desabone a conduta do sa­
cerdote”.

82
Comove, em sua correspondência, o Pe. Fidalgo;
sinceridade a toda prova, não temendo reprovar ou es­
timular seu Bispo.
A 2 de julho de 1918 é nomeado Vigário de São
João Batista. Vem a falecer no Hospital de Caridade de
I lorianópolis a 19 de outubro de 1925. Sobre sua vida
pregressa, pouco temos. Podemos apenas dizer que nas­
ceu em Portugal em 1857, chegou a Santa Catarina em
1916, foi missionário na África e Diretor e reformador
do Colégio das Missões, em Lisboa. Dá para se alvitrar
que o motivo de sua saída de Portugal tenha sido sua
Incompatibilidade ideológica coin a República proclama-
da em 1908 e com o período de desordens que se lhe se­
guiu.
Além de sua simpatia e fascínio pessoal, nada
mais marca sua passagem por Garopaba. Foram poucos
lueses, e meses confusos.
Transcrevemos seu Testamento, onde transpare­
cí' perdão, reconciliação, fé. Foi redigido em São João
Batista, no dia 20 de julho de 1923, após ter-se recupe­
rado de uma paralisia quase total: ‘ Havendo sido fulmi­
nado por um ataque, nada vulgar, e havendo o médico
declarado (pie eu estava sujeito a uma repetição, é de
prudência dispor as cousas que tenho, de modo que tu­
do esteja bem disposto, se isso suceder. Portanto, a mi-
lllm pequena livraria, ofereço-a a V. Revma. Não pode
ficar em melhores mãos. Tenho, na Casa André VVen-
dluuiseu .& Cia. um depósito de 2:499$700 réis — de­
claro que V. Excia. Revma., por minha morte, fica se-
lilior deste depósito, assim como dos juros, se os houver,.
1’cço-lhe que reze, todos os anos, uma Missa por minha
idma. E, quando eu morrer peço a V. Excia. Revma. que
iii.uide celebrar 20 Missas por mim, destas Missas que
•nr» sacerdote celebra, quando não tem Missa especial.
I.ntas Missas são de pequena espórtula. O capital, a pie­
dade de V. Excia. Revma. gastá-lo-á em obras piedosas e
religiosas. Parece-me que não posso deparar melhor exe-
• ulor destas pias disposições. Peço que me desculpe <
perdoe. Agora fico tranquilo. Ore por mim, Senhor Bis-
83
po, para «pie Deus me leve na melhor hora. Bi íjo-lhe o
seu venerando anel, e peço-lhe de joelhos a sua bênção.
O seu Vigário, Pe. João Antônio Fidalgo”.

BISPOS E VISITAS PASTORAIS


A Igreja é uma só, espalhada por todo o mundo.
Seu Chefe é Jesus Cristo, Cabeça da Igreja. Mas, como
é formada de homens, precisa de uma organização visí­
vel, cujo Chefe universal é o Papa. Por sua vez,, esta or
ganização visível é dividida em Dioceses, regiões pasto­
rais, chamadas Igrejas particulares, presididas por um
Bispo. Este divide a Diocese em Paróquias, confiadas a
um Vigário.
De 1500 a 1314 o Brasil pertencia eclesiastica-
mente à Vigararia de Tomar, da Ordem de Cristo; de
1514 a 1551, â Diocese de Funchal, na Ilha da Madeira.
Em 1551 cria-se a Diocese de São Salvador, na
Bahia, abrangendo todo o Brasil. Em 1575 o Rio de Ja­
neiro é transformado em Prelazia, englobando em seus
limites o sul do País; em 1676 o Rio de Janeiro é ele­
vado à Diocese.
Em 1745, com a criação da Diocese de São Pau­
lo, Santa Catarina passa a pertencer-lhe, voltando em
1749 à Diocese anterior, a do Rio de Janeiro, e a ela se
subordinando até 1892, ano da criação da Diocese de
Curitiba, que abrangia os Estados do Paraná e Santa Ca­
tarina. É de 1908 a criação da Diocese de Florianópolis,
cujos limites eram os do Estado. Primeiro Bispo foi Dom
João Becker, que em. 1912 foi transferido para a Arqui­
diocese de Porto Alegre, mas continuou a governar Flo­
rianópolis na qualidade de Administrador Apostólico.
Dom Joaquim Domingues de Oliveira aqui che­
ga em 1914, permanecendo até 1967, ano de seu faleci­
mento. Em 1927, com a criação da Província Eclesiásti­
ca de Santa Catarina, Florianópolis passa a Arquidiocese
e Dom Joaquim a Arcebispo, Devido à sua idade avan­
çada (nascera em 1878), em 1965 a Santa Sé nomeia o
cotão Bispo Coadjutor de Lajes, Dom Afonso Niehues,
84
• onio Administrador Apostólico. Com a morte de Dom
Joaquim, a 18-5-1967, Dom Afonso torna-se ipso facto o
novo Arcebispo Metropolitano.
De 1957 a 1965 Doni Joaquim tivera em Dom
I'elicio César da Cunha Vasconcelos o Arcebispo Coad­
jutor com direito ã sucessão, mas D. Felício é transferi­
do a Ribeirão Preto, onde vem a falecer.
Periodicamente, no prazo ideal de 5 anos, os Bis­
pos visitam as Paróquias que compõem sua Diocese: são
tis Visitas Pastorais.
A primeira Visita Pastoral ao Estado de Santa
Catarina deu-se em 1815, quando aqui esteve o Bispo
do Rio de Janeiro, Dom José Caetano da Silva Coutinho.
Visitou, entre outras, a Paróquia de Nossa Senhora do
Rosário de Enseada de Brito.
O primeiro Bispo a visitar pastoralmen te a Pa­
róquia de São Joaquim de Garopaba foi Dom José de Ca­
margo Barros, de 11 a 14 de julho de 1892.
Saiu de Enseada de Brito a bordo do rebocador
“João Felippe”, oferecido pelo Governador do Estado.
Chegou ao Porto de Garopaba às 14,30 horas do dia 11,
recebido festivamciile pelo Pároco, Comissão, povo, é foi
saudado pelo Sr. Davi do Amaral, Secretário da Irman­
dade. A música esteve a cargo da Banda da Enseada. Dom
José veio acompanhado pelos sacerdotes Alberto José
Gonçalves, Luiz Rossi e Arcangelo Ganarini; os Padres
José Martins do Nascimento e João Batista Steiner retor­
naram no mesmo dia às suas Paróquias.
Após pequeno descanso, entrada solene na Ma­
triz, precedido de um grupo de meninas, homens reves­
tidos de Opa, banda de música e muito povo, por entre
alamedas de palmitos, bandeiras e bandeirolas multico­
res, espoucar de foguetes; 307 pessoas beijaram seu anel,
após a bênção do Santíssimo dada pelo Pe. Faraco.
Nos 3 dias de Visita afluiu muita gente dos diver-
sos bairros. Pela manhã, cada sacerdote celebrava hhi
Missa; às 8,30 horas, celebrava-se o Senhor Bispo, com
85
pregação. O Pe. Luiz Rossi se encarregava de entusias­
mar os participantes.
Quadro estatístico: 1.334 Crismas, 3-1 Casamen­
tos regulamentados.
Dom José achou a Matriz pequena e pouco are­
jada. Não apreciou o fato de haver no Alto-mor várias
imagens, sendo o Padroeiro um só, São Joaquim; criti­
cou o Tahemáculo, forrado de papel, quando deveria
sê-lo de damasco ou seda branca. Pediu que se melhoras­
se o Batistério e que fosse fechado a chave, para manter
a reverência.
No dia 14, encerramento: Missa às 10,00 horas,
celebrada pelo Vigário, e encomendação das almas. De­
pois, partida, lançando antes um Provimento Especial de
Visita no Livro de Tombo, com recomendações sobre o
trabalho pastoral paroquial (40).
Dom José de Camargo Barros retornou a Garo­
paba em 1902, aqui demorando de 23 a 26 de maio. Saiu
de Enseada de Brito às 11,00 horas, chegando às 17,30
horas. Até o passo do Rio Macambu foi acompanhado
por Frei Burchard, Caetano da Silveira c outros, depois
continuando na companhia de Artur Ramos de Souza
Moreira, José Leal, Nicolau Paulo Jordão e outros mo­
radores de Enseada. A banda veio por mar. Foi recebido
pelo Pe. Faraco, pela Irmandade e imenso povo. O dis­
curso de saudação, proferiu-o o Vigário.
A entrada solene e abertura dos trabalhos foi no
dia seguinte, às 9,00 horas, ao repicar dos sinos, espou-
car de foguetes e baterias. Partiu, processionalmente, da
Capela do Senhor Bom Jesus, acompanhado pela Irman­
dade, ao som da banda de música.
Todos os dias, Missa às 8,00 horas. Foi auxiliado
pelos sacerdotes Frei Solano e Lamartino Correia de Mi­
randa. À noite, bênção do Santíssimo. No dia 26, após a
encomendação das almas, às 17,00 horas, solene procis­
são em honra de São Sebastião, cantando-se a Ladainha
de Todos os Santos. No começo da procissão. Dom José
foi até um ponto elevado da praia e deu a bênção ao
mar.
86
Em números: 706 Crismas, <pm»< H00 < muu
tihões, e regularização de 27 Casamento
Na visita à Igreja, Tabernáeulo, \hme hmiu-
tias, Batistério, nada achou que merecesse corn «•no. m ।
aconselhou a que se melhorasse o Tabernáeulo, lascmiu
um maior, mais bonito, ou ao menos que se pinlns-e <.
aluai. Ainda aconselha que se coloque a imagem de silo
João Batista, batizando a Jesus, no Batistério e pede qm<
«e faça um inventario geral das alfaias e mais proprie
dades da Matriz.
A Visita encerrou-se no dia 26, com a bênção
solene, apos ter dado o anel a beijar a 547 pessoas (4 I ).
Dom João Becker visitou a Paróquia de 19 a 2 I
de agosto de 1909, chegando às 1 7,00 horas, saudado pe­
lo Pe. Faraco e por brilhante oração proferida pelo Sr.
Alberto Bittencourt Cotrin, Inspetor do Telégrafo Na­
cional. Durante a Visita realizaram-se 14 Batizados, 5 Ca­
samentos regularizados, 89 Confissões, 23 Comunhões.
329 Crismas. As Crismas deram-lhe uma esmola de
b0$540 réis (42).
Nova Visita aconteceu de 10 a 16 de maio de
1916. Era Bispo Dom Joaquim Domingues de Oliveira.
A Visita começou no Arraial de Patdo Lopes, cuja Cape­
la pela primeira vez recebeu um Bispo. Lá permaneceu
ute o dia 13. Concurso extraordinário de fiéis, apesar da
malária que novamenle grassava por lã. Quadro estatís­
tico: 672 Crismas, 500 Confissões, 414 Comunhões, 18
Casamentos regularizados, 24 Balizados.
Partiu para a Vila no dia 13, pela tarde, acom­
panhado de 50 para 60 cavaleiros. Ã entrada da Vila,
massa compacta de fiéis o aguardava, seguindo logo após
para a residência de Tobias de Sá, onde se paramentou
para a entrada solene. Após a saudação do Vigário, pre­
sidiu à bênção do Santíssimo e deu o anel a beijar à mul­
tidão. Houve um movimento religioso de 522 Crismas,
190 Confissões, 126 Comunhões, 10 Batizados, 7 Casa­
mentos, a maioria regularizados.

87
A noite havia bênção com pregação. Na manhã
do dia 16, encomendação dos defuntos e procissão
ao cemitério, quando pregou Frei Ivo. Secretário da
Visita foi Frei Dimas Wolf (43).
À Visita Pastoral de 1921 estendeu-se de 14 a 18
de abril pela manhã, realizada novamente por Dom Joa­
quim, que visitou Paulo Lopes e a sede do Município.
Dom Joaquim anotou a falta do l ivro de Óbitos, de Cris­
mas, de Intenções de Missas, da Tabela de Emolumentos,
de decentes e indispensáveis confessionários para ho­
mens e senhoras, penúria de alfaias na Matriz, necessi­
dade de uma máquina para confecção de hóstias, eono-
peu para o Tabernáculo, véu para o cibório, grade para
Comunhão, armários para Arquivo. No Termo de Visita
refere-se à Associação Feminina do Sagr. Coração de Je
sus, à Irmandade do Santíssimo e a uma, em projeto, de
Nossa Senhora dos Navegantes, cuja primeira festa cele­
brou-se na Visita. E seguem-se várias queixas, pois real­
mente a Paróquia dava a impressão de desorganização:
nâo há quem dela cuide, além da piedade dos fiéis, que
pouco entendem de sacras e alfaias. Movimento religio­
so: 7 práticas, 350 Confissões, 300 Comunhões (?), 8
Casamentos, 4 Catequeses, 509 Crismas (44).
Não temos outros dados sobre a seguinte Visita,
que se estendeu de 18 a 22 de outubro de 1928.
De 2 a 4 de janeiro de 1933 novamente Dom
Joaquim dirigiu-se a Garopaba, acompanhado por Frei
Norberto Tambosi e pelos seminaristas Minorista Ro­
berto Wirobeck e Rodolfo Machado, procedente de Ara-
çatuba.
Recepção solene, encabeçada pelo Vigário Pe
Dr. César Rossi. Hospedou-se, como nas vezes anteriores,
na residência da viúva Emilia Malty. Dom Joaquim dei­
xou consignados elogios referentes às melhorias havidas
na Matriz, entre as quais a mova torre e escadarias. Movi­
mentos religioso: 300 Confissões, 205 Comunhões, 2
novenas, 2 práticas, 2 Casamentos, 9 Batizados, 1 enco­
mendação; falta o número de Crismas (45).
83
Doni Joaquim retornou a (hiropaha • >n M> |lh qrti
• edente de Paulo Lopes (anexada a Santo \imno» « »ht
jando de ônibus. Auxiliares foram os padr< li«i Sur»
berto 1'ambosi, Frei Teodósio Kreuser e o -emhiHi islit
Antônio Laus. Apesar das intensas chuvas dos dia.- uh.
riores, à chegada, no dia 22 de outubro, grande mulii
dão o aguardava, tendo à frente o Pe. Dr. César Ho- i.
Novamente a hospedagem foi na casa da Viúva Emilia
Malty. Dom Joaquim percebeu os aumentos por que pu
kura a Matriz: novo assoalho e pintura, a óleo, da Capr
hi-mor. Movimento religioso: 2 novenas, 3 práticas, 200
Confissões, 160 Comunhões, 10 Batizados, 582 Crismas
No dia 24, após o encerramento solene, partiu para Ara
çatuba (46).
O Arcebispo Coadjutor, Dom Felício César da
Cunha Vasconcelos, realizou a outra Visita Pastoral, a
última de que se guarda Provimento nos Livros de Tom­
bo de Garopaba: de 31 de maio a 4 de junho de 1959,
foi auxiliado nos trabalhos de Visita pelos sacerdotes de
*Mtnto Amaro — a que Garopaba estava anexa — Frei
Ihúmundo Holte e Frei Osório Stoffel. Foi boa a frequên­
cia às funções, principalmente à noite, porém notou pou­
co interesse pela participação na doutrina. Movimento
icligioso: 592 Comunhões, 634 Crismas, 12 Casamentos
regularizados, 14 pregações e 3 Catequeses (47).
Dom Afonso Niehues, na qualidade de Adminis­
trador Apostólico, realizou Visita Pastoral em 1966, a
21 e 22 de novembro. No dia 21, pela tarde, Missa na
Capela da Encantada, com 140 Crismas. No dia 22, pela
manhã, Missa na Capela do Macacu, com 80 Crismas. De
liirde, visita à Matriz. Foram administradas 240 Crismas.
Numa reunião, os Fabriqueiros pediram muito um Vigá­
rio permanente. Janta em casa do Sr. Ernesto Nunk. À
noite, novamente Missa na Encantada, com pernoite na
H-sidência de Ezequiel Pacheco.
Como Arcebispo Metropolitano, Dom Afonso vi-
tltou pastoralmente Paulo Lopes e as Paróquias anexas
ilc Garopaba e Enseada de Brito, em 1972. A Visita rea
lÍKou-se em 3 etapas: de 2 a 5 de janeiro, visita à Ensea
89
da de Brito e Capelas; de 23 a 26 do mesmo mês, a Pau­
lo Lopes e Capelas; de 30 de janeiro a 1." de fevereiro.,
a Garopaba e Capelas. Foi auxiliado pelo Vigário, Pe
Henrique Wederhoff, pelo Coadjutor Pe. Eugênio Kin-
eeski e pelos Seminaristas do Seminário Maior de Curi­
tiba (PAULINUM), que realizavam estágio pastoral na
Paróquia.

Dom Afonso elogiou o progresso das Paróquias


e pediu que os Conselhos Administrativos das Capelas
tomassem sempre maior consciência da responsabilida­
de que lhes cabia, não só em época de construção, mas
também na manutenção constante de tudo o que interes­
sa à formação da Igreja, de uma Igreja viva. Adiantou
que, com a escassez de sacerdotes, sempre mais se dis­
tribuirão ministérios a leigos preparados e escolhidos.
Lamentou a falta de um maior desenvolvimento econô­
mico e social da população, o que influiría negativamen­
te na vitalidade religiosa do povo.
A última Visita Pastoral realizada em Garopaba
foi de 23 de julho a l.° de agosto de 1976: Dom Afonso.
A Visita englobou as Paróquias de Paulo Lopes e Garo­
paba. Além da Matriz, visita às Capelas de Encantada,
Macacu, Ambrósio. Durante a semana reinou o mau tem­
po, mas não prejudicou sensivelmente o programa da
Visita. Houve sempre Missa, Crisma e palestra aos adul­
tos, cujos temas foram a vivência cristã, o crescimento
na fé, a participação efetiva e consciente na obra da
evangelizaçào e nas outras obras da Igreja.
Como inovação pastoial, ministrou-se o Sacra­
mento da Crisma às crianças e adolescentes com 12 anos
de idade para cima, e após leita a Primeira Comunhão
e prévia preparação. Superou-se uma fase: a do Sacra­
mento da Crisma, Sacramento de confirmação, adminis­
trado a bebês de colo ou a pessoas que nem bem sabiam
de que se tratava.
O Sr. Arcebispo percebeu a vitalidade religiosa
da região, que se manifesta pela maior participação nos
Sacramentos e, sob o aspecto material, nas várias Cape-
90
I his construída^ ou em construção ou em planos. Na Pa-
lóquia a Doutrina Cristã geralmente está sendo ministra-
iia nas Escolas, e as crianças recebem instrução especial
para a Primeira Comunhão.
O desenvolvimento previsto de Garopaba leva a
M- pensar em restabelecer a antiga autonomia da Paró­
quia de São Joaquim e dar-lhe um Vigário residente. Pa­
ra tanto, já sugere providências: construção de nova Ma­
triz e, possivelmente, de Casa Paroquial.
Dom Afonso foi auxiliado, nos trabalhos da Vi­
sita, pelo Vigário, Pe. Eugênio Kinceski, e pelos neo-sa-
< erdotes que como seminaristas ali trabalhavam: Pe. Ade­
mar Paulo de Faveri e Pe. Ardnino Salami, além do se­
minarista Siro Manoel de Oliveira.

OS TEMPOS DO PADRE ROSSI

O Pe. Dr. César Rossi nasceu na Itália a 9 de ja­


neiro de 1879. Foi ordenado sacerdote a 19 de dezeni-
I bro de 1902. Era oriundo da Abadia Nullius de Subiaco
e estava encardinado na Diocese Suburbicária de Tívoli.
I’ez o exame canônico na Casa Paroquial de Tubarão, no
dia 13 de fevereiro de 1911, perante os sacerdotes Fre­
derico Tombrock, Francisco Xavier Giesberts e João
I rancisco Bertero, linha chegado ao Brasil em 1908,
i quando foi ajudar nos trabalhos da Catedral de Florianó­
polis. A 14 de fevereiro de 1911 foi provisionado como
Vigário Encomendado da Paróquia de Imaruí e Encar­
regado da de Pescaria Brava.
Com a saída do Pe. Fidalgo, Garopaba passa a
ser assistida por ele, que assume como Vigário Interino
I it 4 de maio de 1918, excluído o 2.° Distrito de Paulo
Lopes, anexo à Paróquia de Santo Amaro. Quando em
1925 é nomeado Vigário de Mirim, Garopaba é anexada
o esta Paróquia.
Devido à vasta seara que lhe foi confiada, não
m> poderia esperar dele uma assistência mais assídua. Sen
primeiro trabalho foi realizar uma reforma na Matriz.
■ reforma esta inaugurada em dezembro de 1922, com i
91
festa do Sagrado Coração de Jesus: “Se os trabalhos da
reforma não estão perfeitos, foi porque não consegui-
nios oficinas melhores, além de outras razões de econo­
mia"' (4-8). Mas, seu grande desejo era construir uma
torre para a Igreja paroquial, pois achava a existente,
adequada ao estilo colonial muito pequena e sem bele­
za. Em 1928 apresenta uma planta da torre co Arcebis­
po Metropolitano, a qual porém não é aprovada nem se
recebe outra em troca: “O material está se deteriorando
e os tijolos estão desaparecendo...” (49).
Depois, com a mesnu< planta de antes, agora apro
vada, inicia a construção, em 1930. Com muitas dificul­
dades. Além da pobreza gera!, tudo ali é difícil, por não
haver perto os materiais e custando muito caro o frete.
Mil tijolos custariam, à época, 110S000 réis.
Construiu-se uma olaria para preparar os tijolos
necessários e, embora a empresa saísse caro, a Igreja te>
ve um lucro considerável. O Engenheiro Álvaro Catão.
Gerente da Companhia Docas, de Imbiluba, doou toda a
cal. Depois de preparar os outros materiais necessários,
contratou-se a obra, que custou diversos contos de réis
Incluiu-se nova escadaria, em substituição à outra, que
descia pelo lado norte da Igreja. Foram pedreiros e car­
pinteiros: José Castro (Laguna), Tales da Silva (Vila
Nova) e Sebastião Pamado (Tmbituba).
Pouco depois de iniciados os trabalhos, Pe. Ros­
si recebe carta de Dom Joaquim: “Recebi fotografia dos
grandes melhoramentos de Garopaba. Se a escadaria se
tivesse feito obedecendo ao antigo plano, teria sido, tal­
vez, mais econômico e, certamente, mais agradável...
Penso que a torre não esteja de acordo com o resto da
Igreja, cujo estilo é belíssimo” (50).
A inauguração da torre, bem como da reforma
geral da Igreja, deu-se no Natal de 1937: novo assoalho,
vidraças, porta lateral, nova pintura a óleo da Capela-
mor, forro e altares, púlpito, confessionário e escada de
coro.

92
A PROCISSÃO DOS NAVEGANTES ONTEM E HOJE:
GERAÇÕES DIFERENTES, UNIDAS PELA MESMA
PIEDADE

93
ASSOCIAÇÃO E FESTA DE NOSSA SRA. DOS
NAVEGANTES

Pe. Rossi levou adiante o conselho dado pelo Bis­


po Dom João Becker, em 1910, de instituir o Apostola-
do da Oração. O sodalício foi, de fato, criado, mas não
temos dados específicos. Igual mente com relação à Pia
União das Filhas de Maria.
Em 1921 projeta-se a criação da Irmandade de
Nossa Senhora dos Navegantes. Nesse ano, pela primei­
ra vez, realizou-se a festa. Pe. Rossi queixa-se da “desor­
ganização do pessoal do mar”... (51). Mas, em 6 de no­
vembro de 1932, lavra-se a Ata de fundação da Devoção
ã Nossa Senhora dos Navegantes. Pe. Rossi organizou-a
nos moldes das novas devoções, mais dadas à prática dos
preceitos religiosos, talvez por isso não prosperando es­
pontaneamente nas regiões litorâneas. Para o açoriano..
religião não se confunde; com obrigações, compromissos
semanais. Muito mais, identifica-se com sentimento, fes­
ta, imponência, visuaiidade. As Irmandades ofereciam
melhor estas características.
Compromissos da Devoção: — l.°: Todo o pes­
cador devoto de Nossa Senhora dos Navegantes será obri-
gado a se confessar e comungar, pelo menos duas vezes
por ano.
Seria demais exigir estas obrigações de um ho­
mem do mar. Pois era uma devoção para levar a Mãe de
Deus ao alto mar, para protegê-lo e a seu barco, e não pa­
ra prendê-lo a desobrigas. A Devoção não prosperou.
Mas a festa, sim.
Primeira Diretoria:
Presidente: Pe. Dr. César Rossi
Secretário: Enéas Guimarães
Tesoureiro: Emílio Pedro dos Santos
Procuradores: Enéas Guimarães,
Emílio Pedro dos Santos, João Gualberto dos Santos, An­
tônio Gaspar da Silva, Menote Gonçalves dos Santos,
Bento Gonçalves dos Santos.
94
A festa de Nossa Senhora dos Navegantes cclc-
hroii-se pela primeira vez durante a Visita Pastoral de
| fdiril de 1921.
Possui uni roteiro especial: a imagem de Nossa
henhora e a de São Joaquim são conduzidas eni procis-
«no até a Prainha, a “Prainha do Sô Bento”. Lá, a de
I Nossa Senhora embarca, indo mar afora, acompanhada
por barcos e lanchas, até o Canto do Morrinho, depois
retornando. A imagem de São Joaquim é reconduzida,
t in procissão, por terra. Na praia dá se o “Encontro”,
quando um sacerdote faz o sermão.
Atualmente é celebrada a 2 de fevereiro, é a fes-
I la que mais povo reúne.
Um velho morador assim a descreve em seus iní-
Ifins: “No início, a fesla eslava ligada à pesca da tainha.
O pescador saía para o mar e pescava a tainha. Na vol-
r In, dava o seu “quinhão” a Nossa Senhora. Todo ano fi­
rm a uma pessoa encarregada de recolher o “Quinhão de
Nossa Senhora dos Navegantes”. Era o seguinte: cada
barco dava uma percentagem da pesca da tainha a Nos-
•a Senhora dos Navegantes. Esta percentagem de peixt
depois era vendida e o dinheiro aplicado na realização da
(rsla. O dinheiro que sobrava, era usado na compra de
‘ bens para a Santa”, como se dizia. E é por isso que a
Imagem de Nossa Senhora dos Navegantes possui jóias
de raro valor e terrenos escriturados em seu nome. Es-
|r* costumes se acabaram quando acabaram as tainhas.
Quer dizer, as tainhas não acabaram. Mas, ao aparecer
Hqueles barcos grandes que cercam o peixe lá fora (alto
luar), este peixe dificilmente chega à costa. Assim, os
jjescadores pobres, com seus barcos pequenos, não cer­
ium quase mais nada. Aquele tempo era bom porque
Iodos os pescadores se esforçavam para que a festa fosse
boa cada ano. Era uma grande cooperação entre os pes­
cadores” (52).
Houve também “casos interessantes” com a fes-
hi, como aquele acontecido em 1928, envolvendo o Pe.
César Rossi e Tobias Lino, Delegado de Polícia. Os Ar­
quivos trazem a documentação completa desta qiirrrlii
95
doméstica, caso de prestígio, que envolveu 11 telegramas
< itre 22 de setembro e 16 de outubro. Talvez seja mais
-original conhecer-se o relato através de um morador
que viveu e revive aqueles momentos: “Foi uma ques­
tão do Pe. Rossi com o Tobias Lino, o Delegado. Eles
se encrencaram, porque o Pe. Rossi, quando queria dizer
as coisas, ele dizia. Então falou um pouco de Tobias, o
Tobias achou ruim, e eles brigaram. Brigaram e ficaram
de mal. Então nós tínhamos a festa dos Navegantes, que
ainda tem. O que faz o falecido Tobias? Entendeu de fa­
zer a festa sem falar com o padre. Dava-se bem com o
Bispo Dom Joaquim, foi lá e falou com ele, em Florianó­
polis, pra fazer a festa. Mas ele não andou colando que
uâo tinha falado com o Pe. Rossi. Então o Bispo disse
que vinha fazer a festa. Aí o Pe. Rossi ficou sabendo: —
Ah, não! Ele não faz. Não faz, não ! Ele não falou co­
migo: como é que vai fazer a festa? O padre dizia que
ele não fazia, mas o falecido Tobias dizia que ele vinha,
porque tinha tratado. Mas não disse pro Bispo que esta­
va de mal com o Vigário. O padre disse: — Olhe, vou
dizer uma coisa: ele não faz a festa. Eu garanto! Se o
Arcebispo vier fazer a festa, eu arreio a batina e não
quero mais ser padre! E, faz-não-faz, ele veio, o Bispo.
Chegou aí, foi direto ao padre. E então o padre disse:
— Então o senhor veio fazer a festa de Nossa Senhora
dos Navegantes de que o Tobias falou? — É, ele falou
comigo, daí vim. E o Pc. Rossi: — Mas ele não falou co­
migo. E eu sou o padre da Paróquia... Como ele está de
mal comigo, brigou, foi falar com o senhor para fazer
a festa. Agora, então, eu disse mesmo aí, pro povo: —
Se o senhor vier aí fazer a festa dos Navegantes, pro seu
Fobias, então eu deixo de ser padre. Aí eu arreio a bali
na e não quero mais ser padre. Estar numa Paróquia e
não mandar... E o Bispo disse: — Não, não senhor! En­
tão eu não faço. Ele não me falou nisso. Ele só disse pra
eu vir. Então, para não desfazer o outro, também, fez
uma procissão em honra de São Joaquim. E acabou-se a
lesta. O pessoal tinha feito aquela despesa, e tudo sobrou.
Ficou ruim, pro falecido Tobias, porque ele tinha garan­
tido que fazia'1'1 (53).

96
Mas a festa sempre continuou a existir, sendo uni
giaude momento na vida dos pescadores. Devido a pro­
blemas entre os organizadores da f estividade e os Vigá
rios, nào se realizou durante 8 anos, reaparecendo em
1967, com a condição de que o dinheiro ficasse para a
Igreja: antes as esmolas depositadas no andor eram re­
tiradas para serem gastas nos festejos.

TEMPO DE ABANDONO

O periodo em que Garopaba esteve anexa à Pa­


róquia de Mirim foi de acentuada decadência na pasto­
ral. Raras as visitas paroquiais.
A calma da Vila foi violada a 11 de outubro de
1930, pelas 4 horas da tarde, quando chegou um pique­
te de civis e forças revolucionárias, 20 homens, mais ou
menos. A maioria da população tinha-se retirado, dei­
xando o lugar deserto. No dia 13, pelas 7 da manhã, um
Destróier da Marinha de Guerra bombardeou o centro
urbano. No dia 26, com a assistência de muito povo e
tropas revolucionárias, foi rezada uma Missa em ação
• le graças (54).
Permanece nebulosa a participação do Pe. Rossi
ua Revolução de 30. A 1.° de março de 1931, em O LI­
BERAL, aparece artigo assinado por um habitante dc
Mirim, Alfredo Teixeira de Melo, onde, entre outras
acusações, há estas: “Acompanhou a caravana prestis-
ta, fazendo discursos em favor de Júlio Prestes. Do púl­
pito, defendeu Prestes. Prometeu ao Dr. Calão 200 vo­
tos para Prestes. No dia 25 de outubro de 1930. se não
fosse a intervenção do Comandante das Forças Revolu
cionárias, Israel Fernandes, o Sr, Antônio Inácio lhe te-
ria quebrado a cara ’.
Uma coisa parece verdade: o Pe. Rossi não era
fiiogetulista, pois em 1942 teve de defender-se da acusa-
çiio de “ser integralista, de ter permitido reuniões de in­
tegralistas em sua casa, de ter injuriado, do Púlpito, o
Presidente da República (53).

97
iíew é verdade que o Pe. Rossi viveu coniinua-
meule em atritos com alguém das 3 Paróquias às quais
atendia (Mirim, Garopaba, Vila Nova). Em Garopaba,
brigas com o Delegado, i'obias Lino. Tudo começou na
Sexta-feira Santa ue 1927, quando, à meia-noite, um gru­
po de rapazes repicou feslivamente os sinos. Entre eles,
parentes do Delegado... E o padre chamou todos ao cum­
primento dos deveres! O Delegado desgostou-se, e vie­
ram os atritos.
Abundam os abaixo-assinados pedindo sua reti
rada de alguma de suas Paróquias. Parecia ser um pouco
destemperado nas atitudes e palavras: entrou na Igreja
de Vila Nova brandindo um chicote; em Garopaba cha­
mou a população de ‘"canibais da Africa”; disse que c'a
autoridade policial leu telegrama virado”, não entende
português...”; em Araçatuba foi insultado por Joao Ba-
dogo, que, à porta da igreja, o esperou armado de faca;
chamou as mulheres de Vila Nova de "‘■galinhas chocas,
caipiras, calças largas, bombachas”; gerou sindicância
policial em 1931...
Natural que a um abaixo-assinado pedindo a reti­
rada seguia-se outro pedindo a permanência. O Arcebis­
po equilibrava-se o melhor possível entre um e outro. No
fundo destes atritos com o povo, dá para se divisar co­
mo pano de fundo o conflito entre o sacerdote italiano
e a religiosidade popular litorânea, que ele não aceitava
por não compreender. Dificilmente os sacerdotes estran­
geiros deixavam de ver a religiosidade popular como su­
perstição, falta de fé, senlimentalismo. Pe. Rossi queria
aqui atuar as diretrizes pastorais que seriam benvindas
na Itália, mas que aqui entravam em conflito com a men­
talidade popidar, fruto de outro universo cultural.
Enquanto isso, a situação de Garopaba é de com­
pleto abandono (56).
Pe. Rossi visita a Itália em 1921 e 1938. A 21
de dezembro de 1910 é nomeado Cônego honorário do
Cabido Metropolitano de Florianópolis. Após esta data
percebe-se que a saúde entra em declínio. Surgem sin­
tomas de arterioesclerose, doença que o levará a uma
98
velhice triste e deprimente, acompanham'>o até o ui
mulo. A partir de 1946 a doença é sempre mais tirâni­
ca. Em certa época é proibido de celebrar a Eucaristia.
Em 20 de outubro de 1946, em Garopaba, batiza 6 crian ­
ças sem usar água: são rebatizadas pelo Pe. Paulo Ho-
hold em 2 de novembro. E aconselhado a retirar-se paru
-Izambuja ou Urussaiiga, sob a ameaça de lhe serem reti­
radas as honrarias eclesiásticas de que estava revestido.
íMào aceita.
Nem sempre pôde contar com a caridade cristã
para ampará-lo. Rigores rubricislas, moralizantes, fize­
ram desse velho doente um perigo para a integridade da
fé católica. Choca aquele seu telegrama: “Rogo Vossên-
cia se digne informar-me posso rezar Missa minha queri­
da Paróquia de Mirim'’, expedido a 24 de novembro de
1947. O autor não ignora os transtornos pastorais que
ele causava, tanto aos sacerdotes como ao povo. Os Ar­
quivos dão testemunha. Mas, na frieza dos Arquivos
lambem se vislumbra a frieza dos corações... Como na
quela carta da Cúria torcendo para que voltasse de uma
vez para a Itália, e não causasse mais transtornos por
aqui... Eslava nos seus últimos anos de vida...
Os 4 derradeiros anos da existência terrena, pas-
sou-os internado no Hospital de Laguna. Aii, pobre e so­
litário, falece a 11 de março de 1953. Pe. Gregório Locks
ministrara-lhc, na véspera, a Unção dos Enfermos. Pou­
co antes havia completado 74 anos de idade e 49 de sa
eerdócio.
Côn. Dr. César Rossi era defensor dos pobres em
questões de terra. O Confessionário era um verdadeiro
consultório para questões judiciais. Chegou a aconselhar
aos pobres que ocupassem terras ociosas.
Assim se expressa, agora, um velhinho da Encan­
tada, interior do Município: “Ele morreu pobre, abando­
nado, com saudade de alguém para conversar!

REVITALIZAÇÃO PASTORAL

Em socorro do enfermo Côn. Rossi, o Pe. Paulo


llobold é nomeado Vigário Coadjutor de Mirim, i-m I
99
de outubro de 1946. Deixava Orleães, onde também ser-
vira como coadjutoi, e muito bcnquisto.
Pe. Paulo deu novo impulso à vida religiosa ga-
ropahense, especialmenle revitalizando os movimentos
da Pia União das Filhas de Maria e dos Congregados Ma­
rianos e do Apostolado da Oração. A seu tempo, estes
Movimentos reuniram muitos membros. A Pia União che­
gou a contar 70 Filhas de Maria. Pe. Paulo procurava in­
cutir nos paroquiauos os deveres cristãos da participa
çào semanal na Missa, e da obediência aos preceitos da
Igreja. E que o povo participasse das Procissões, e não
i.penas ficasse nas janelas vendo a Procissão passar.
Nem sempre foi fácil conseguir isto. Ainda hoje
a mentalidade é um pouco avessa às práticas eclesiais.
Pedro Ribeiro de Oliveira tem razão ao afirmar que a
religiosidade popular pode ser sintetizada no “muita re­
za, pouca Missa, muito Santo, pouco padre”. Rezar se
reza: mas se pode rezar em casa. O padre é importante:
mas tenho os meus Santos de devoção. Lá em Garopaba,
uma senhora muito devota e dada às obras da Igreja as­
sim sc expressou em resposta à pergunta sobre a cbriga-
tonedade da Missa dominical: ‘'Obrigado é, mas Deus
pede, não obriga”.
Com relação às Procissões: é mais importante
ver a procissão de dentro de casa, pois assim se está re­
cebendo a bênção. Então, todos estão a postos à hora da
procissão, mas para vê-la passar. E também para senti-la
como espetáculo, sentimento.
Homenageando a Nossa Senhora, no ano da pro­
clamação do Dogma da Assunção, em 1950, resolve-se
construir uma Gruta entre a Ponte do Casqueiro e a do
Camarão. O terreno foi doado. Procurou-se adaptar a
Gruta ao panorama local. O panorama que se tem é belís-
mo: a norte, leste e sul acham-se morros revestidos de
um pasto sempre verde; pelo lado oeste, o olhar abrange
toda a magnífica praia de Garopaba e, ao longe, em dia
não nublado, vislumbra-se a Ponte Hercílio Luz. A água
se derrama pelo interior, logo penetrando num canal sub­
terrâneo. Para ensombrá-la, providenciou-se o plantio
100
de árvores. As imagens de Nossa Senhora de Lourdes e
de Santa Bernadele foram adquiridas na Fábrica Claas-
«em, de Curitiba. A inauguração da Gruta deu-se em fi­
nais de 1950.
E hoje, como está a Gruta? Eia continua, mas,
ui felizmente, o terreno foi cercado por gente que não
soube respeitar o local, recanto da piedade popular. Nem
a Gruta escapar-se-á da ganância de terras que por lá as­
sola, vitimando gerahnente pessoas pobres que em tem­
po não souberam providenciar a documentação tie suas
terras.
Houve, no Ano Santo de 1950, de 22 a 28 de ju­
lho, Missões populares, pregadas pelos Capuchinhos.
Quadro estatístico: 10 sermões, 15 instruções, 34 Batis­
mos, 2.156 Comunhões, 1.160 Confissões, 4 conferên­
cias e 143 Primeiras Comunhões.
No mesmo ano, em junho, Pe. Paulo pede licen­
ça à Cúria para realizar reformas na Matriz.
Concedida a licença, realizou-se: rebocamenlo
interno da parede lateral fundo, rebocamenlo em todos
os pontos avariados, seja interna, seja externamente, a-
bertura de uma janela na parede lateral norte da Sacris-
i ia, pois scnlia-se a escassez da luz, recomposição e cimen-
lação da escadaria existente diante da porta principal;
reforma geral tia escadaria que vai da Praça à Igreja; pin­
tura externa e interna da Igreja, tios altares, dos quais
os laterais passam por reformas; pintura do Passai, da
Sacristia, das colunas c parapeitos da escadaria. À época,
a obra foi orçada em Cr$ 13.000,00.
Em junho do mesmo ano, pintura externa e in­
terna da Capela do Senhor Bom Jesus.
No Domingo de Ramos de 1955, benzimento da
imagem do Senhor dos Passos, iniciativa do Sr. João
l.ogo depois se organiza a Irmandade do Senhor Bom
Jesus, de existência efêmera, ao menos na atuação.
A 31 de maio desse ano, Pe. Panlo Hobold é no­
meado Cônego Honorário do Caindo Metropolitano, pe­
los largos serviços prestados à Arquidiocese.
101
A Diocese de Tubarão foi criada a 28 de dezem­
bro de 1954: a Paróquia de Mirim, à qual estava anexa­
da a de Garopaba, passa a fazer parte do território da
novel Diocese, enquanto a de São Joaquim permanece na
Arquidiocese de Florianópolis. A L.° de setembro de
1955, com o consentimento do senhor Bispo de Tubarão,
Dom Anselmo Pietrulla, Côn. Paulo é nomeado Pároco
de Garopaba, simultaneamente com Mirim, deixando-as
em 28 de janeiro de 1956, quando é nomeado Pároco de
Araranguá, onde hoje reside.
Côn. Paulo Hobold nasceu em São Ludgero, em
11 de março de 1918, e foi ordenado Presbítero a 22 de
novembro de 1942.
GAROPABA ANEXA A PARÓQUIA DE
SANTO AMARO
Por Decreto assinado em 17 de fevereiro de
1956, a Paróquia de São Joaquim de Garopaba é anexa­
da à de Santo Amaro da Imperatriz, cujo Vigário já es­
tava encarregado da Paróquia de Enseada de Brito e da
Capela-Matriz de Paulo Lopes. Frei Raimundo Holte
OFM é o Vigário Encarregado das Paróquias anexas. A
primeira Visita já tinha sido realizada a 14 de feverei­
ro, por Frei Modestino Oechtering OFM.
Nesta nova conjuntura, a Paróquia recebe um
atendimento bem mais satisfatório, pois Frei Raimundo
normalmente passa ali alguns dias a cada mês. Novas Ca
pelas são criadas, Comunidades são formadas e realiza-
se grande trabalho nas Escolas, visando a uma melhor
Catequese nos interiores. A Catequese de Primeira Eu­
caristia, em 1956, é ministrada nas Escolas de Ibiraque-
ra, Areias de Macacu, Ambrósio, Morro da Ressacada,
Campo D’Una, Encantada, Macacn.
O pessoal não era lá muito pontual. Certa feita
Frei Florentino Barrionuevo marcou o horário da Ca­
tequese. À hora marcada, quase nenhuma criança. A so­
lução do Pastor foi buscar as ovelhas e, batendo de por­
ta em porta, reuniu mais de 180...

t02
A 12 tie março de 1956, pela primaíra vez, rea-
Hza-se a Procissão do Encontro, com a imagem do Se­
nhor dos Passos, doada e benta no ano anterior. Acorreu
gente de toda a redondeza. Banda de Música da Polícia
do Estado, com despesas pagas pelo Governo «Io Estado.
O ‘ Sermão do Encontro” foi proferido pelo Pe. Dr. Ita-
mar da Costa, Vigário de Imbituba.
Festa era o que não faltava na Paróquia de São
Joaquim. Em 1956, o povo festejava São Joaquim, Es­
pírito Santo, Senhor Bom Jesus, Sagrado Coração de Je­
sus, São José, Santa Teresinha, Nossa Senhora dos Na­
vegantes. Uma fé colorida, de expansão dos sentimentos.
Às vezes, o Pároco de Santo Amaro, de formarão bem
diversa, estranha o fenômeno, exarando comentários co­
mo estes: “É a Capela (Garopaba) mais bela e rica de
todas as Capelas à beira-mar, mas também a mais fria
cm religião (principalmente da parte dos homens)”;
“Para a festa, havia muita gente de fora e todo o povo
de Garopaba (mas este só aparece nas festas!)”; ‘‘Na
visita de maio fizeram a Coroação de Nossa Senhora çmas
não gostei, achei a cerimônia muito profana)” (57).
Penetrar a alma do povo nem sempre é empresa
fácil, pois requer o desvencilhar-se de muitas formas
e convicções que parecem ser únicas e uniformes.
Na festa de Nossa Senhora dos Navegantes, a 28
de abril de 1957, o casal de Santo Amaro, Alfredo e Ma­
ria Macedo Broering, trouxe uma imagem de Nossa Se­
nhora das Graças, doada em promessa à Matriz de São
Joaquim. Foi benta no mesmo dia. E, a 30 de maio, Co­
roação, novo símbolo para a religiosidade local.
A 10 de setembro de 1960, é encarregado das
Paróquias anexas Frei Anésio Muenchen OFM, pois, a
conselho médico, Frei Raimundo foi transferido para
Blumenau. Outros sacerdotes que exerceram as mesmas
funções: Frei Joaquim Orth OFM (1965), Frei Ervino
Girardi €■ Frei Florentino Barrionuevo (1966) .
No tocante à Matriz, esta foi acrescida de iitnn
pequena Capela dedicada à devoção do Senhor Bom Jc
sus dos Passos, em 1956.
103
Os Franciscanos de Santo Amaro realizaram um
; am’e trabalho calequélico, um trabalho de fundação
de no /as Capelas (Macacu, Encantada e Ambrosio) e Co­
munidades. Com os Vigários de Santo Amaro, Garopaba
passou a ter um atendimento mais frequente e orgânico.

NOVA SITUAÇÃO

Dom Afonso Niehues, que a 29 de dezembro de


1965 assumira as funções de Arcebispo Coadjutor e Ad­
ministrador Apostólico, procurou reorganizar a vida pas­
toral na Arquidiocese, especialmente através da criação
de novas Paróquias e da fomentação de uma pastoral de
conjunto, trabalho que intensificou quando, após a mor­
te do velho Arcebispo Dom Joaquim, a 17 de maio de
1967, foi investido da dignidade de Arcebispo Metropo­
litano.
Cria a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus,
em Paulo Lopes, a 10 de janeiro de 1967. Nomeia um
Vigário para atender conjuntamente Paulo Lopes, Garo­
paba c Enseada de Brito, primeiro passo para a reativa­
ção posterior da Paróquia de São Joaquim. É nomeado
Pe. Henrique Wederhoff, nascido em Jaraguá do Sul
a 10 de outubro de 1915 e ordenado sacerdote, na Or­
dem Franciscans, a 26 de novembro de 1939.
Pe. Henrique, então já fazendo parte do Clero
diocesano, chegou com muito entusiasmo, disposto a
paulatinamente viabilizar nas 3 Paróquias as novas dire­
trizes pastorais sugeridas pelo Concilio Ecumênico que
se realizara no Vaticano (1962-1965). No mesmo ano
dá os primeiros passos para a fundação da Assistência
Social Paroquial, auxiliado pelo Irmã Alice. Pe. Henri­
que era muito ligado aos problemas do povo, procuran­
do incentivá-lo na adoção de novas técnicas de agricul­
tura e piscicultura.
Em agosto de 1967, curso de Catequese para as
professoras do Município, curso este que se repelirá com
frequência.

104
Grande intuição sua foi a realização de um Es-
l.igio de Pastoral com os seminaristas do Seminário
Maior Catarinense de Curitiba, o Paulinum, no período
<le férias do verão. Entre 1969 e 1972 repetiu-se 4 ve­
zes a experiência. Um grupo de estudantes de Filosofia
Ir Teologia vinha à Paróquia e, dois a dois, percorriam
ii Paróquia, de comunidade em comunidade: catequese,
palestras, ensaios de canto, aconselhamento, reuniões
< om jovens e adultos.
Com este apoio Pe. Henrique forma Equipes de
Liturgia, Benfeitorias, Festas, Catequese, Zeladoras da
Vlatriz e da Capela do Senhor Bom Jesus.
Em 1968 compra o Império (sede da Irmanda­
de), edificado no final do século passado, para a Igreja.
F o transforma em Centro Social. Ao mesmo tempo re­
forma a antiga Sacristia, equipando-a com banheiro, pa­
ra servir de residência ao Pároco. O trabalho concluiu-
se em 1971.
Ainda em 1968 instituiu a Legião de Maria.
Certamente não faltaram os atritos do Vigário
< oni a população: um caráter voluntarioso e emocional­
mente pessimista frente ao caráter esportivo e descom­
prometido dos garopabenses!
Em 1973 Pe. Henrique é nomeado Pároco da
Paróquia de Santana, em Cauelinha, sendo substituído
pelo Pe. Eugênio Kinceski, que já lhe servia de Coadju­
tor desde 9 de dezembro de 1971.
Pe Henrique residira em Paulo Lopes até 13 de
abril de 1972, quando transferiu-se para Enseada de
Brito. Pe. Eugênio, que permanecera no local, recebe
Provisão de Pároco de Paulo Lopes e Garopaba cm 10
de maio de 1973. Enseada foi anexada à Paróquia de Pa­
lhoça.
Como residisse em Paulo Lopes, c sendo grande
li seara que Deus lhe confiou, Pe. Eugênio não pôde dar
continuidade aos trabalhos iniciados pelo Pe. Henrique,
mas procurou valorizar as tradições populares e a ruir
quese infantil.
105
Cabe-lhe o grande mérito de ter penetrado a cul­
tura popular e a ela se amoldado, aceitando-a corno um
valor a ser incentivado. Nasceu em Florianópolis em 6
de abril de 1941 e foi ordenado sacerdote em 17 de ju­
lho de 1971.

NOVAMENTE PARÓQUIA AUTÔNOMA

O povo de Garopaba não vira com bons olhos o


antigo 2.° Distrito de Pauio Lopes ser elevado à Paró­
quia, com Pároco residente, continuando ele a mendigar
assistência. Muito fizeram e muito prometeram ao Ar­
cebispo, para que a Paróquia fosse reativada em pleni­
tude.
Dom Afonso Niehues, acedendo a este desejo, mas
principalmente tendo em vista o bem espiritual do re­
banho, com Decreto assinado a 17 de dezembro de 1976,
recriou a Paróquia de São Joaquim de Garopaba. Eis o
Decreto:
Dom Afonso Niehues, por mercê de Deus e
da Santa Sé Apostólica, Arcebispo Metropoli­
tano.
Aos que este nosso Decreto virem, saudação,
paz e bênção em Nosso Senhor Jesus Cristo.
A Paróquia de São Joaquim de Garopa­
ba, criada por Alvará Régio de 9 de dezembro
de 1830, tendo permanecido por longos anos
sem Vigário residente, mas voltando agora a
ter condições de autonomia, lerá os seus limi­
tes definidos e fixados, como pelo presente
Decreto os definimos e fixamos, nos termos
seguintes:
A Paróquia de São Joaquim, de Garopa­
ba, terá a partir desta data, os seus limites
coincidindo com os limites do atual Municí­
pio do mesmo nome, com exclusão temporá­
ria, por motivos práticos, das localidades da
Penha e da Gamboa, as quais continuarão a
106
ser atendidas pela Paróquia de Paulo Lopes.
As Capelas, que além da Igreja Matriz, com­
põem^ no momento presente, a Paróquia de
Garopaba, são: Macacu, Encantada e Ambro­
sio, mais as comunidades em formação de:
Campo D’Una, Capão, Palhoeinha, Areias de
Macacu, Costa do Macaçu, Siriú, Prainlia do
Silveira, e outras que, no futuro, vierem a se
formar.
Todos os fiéis, compreendidos pelo ter­
ritório acima delimitado, ficarão sob a juris­
dição religiosa do Vigário de Garopaba, com
quem deverão colaborar em todos os sentidos
para o bom andamento e ó progressivo desen­
volvimento da inteira comunidade paroquial.
Florianópolis, aos 17 de dezembro de
1976.
Dom Afonso Niehues
Arcebispo Metropolitano.

No dia 14 de dezembro desse ano Pe. Francisco


de Assis Wloch recebe a Provisão de Vigário Encarrega­
do da Paróquia de São Joaquim de Garopaba, seguida de
outra, formal, no dia 15, de Vigário Cooperador de Pau­
lo Lopes.
Pe. Francisco pode ser chamado de inciador da
nova vida paroquial de Garopaba, após quase 60 anos
sem Vigário residente. Nasceu em Itajaí a 18 de novem­
bro de 1950 e foi ordenado sacerdote na mesma cidade
a 13 de dezembro de 1975.
Procurou enfrentar, simultaneamente, várias
frentes de trabalho, tanto a nível pastoral, como a nível
economic© e administrativo.
Grande obra foi a reforma completa da Matriz.
A primeira etapa teve início a 23 de maio de 1977; re­
forma das paredes, forro, assoalho, reboco interno, ilu­
minação, sistema de som. Até o final do ano.

10?
A segunda etapa começa a 18 de fevereiro de
1978. com a assinatura de contrato para restauração, re­
cuperação dos altares mor e laterais, pintura interna.,
iimanização, de que se encarregou o artista português
João Rodrigues, residente em Laguna.
Talvez João Rodrigues deu à velha Matriz de São
Joaquim um esplendor que antes nunca tivera, pois nas
páginas anteriores pudemos perceber o estado em que
ela normalmente se encontrava.
As custas da obra se elevaram a Cr$ 367.860,50,
dos quais Cr$ 209.466,50 em material e Cr$ 158.394,00
em mão de obra. Bem mais da metade foi coberta pela
generosidade do povo que muito fez para que sua Igreja
se tornasse digna da história que a marcou.
A reforma do Salão Paroquial iniciou-se em jullio
de 1979. Já se contratou e se lava avante o reboco e pin­
tura externa da Matriz, pela soma de Cr$ 80.000,00; a
pintura interna e externa do Salão, por Cr$ 30.000,00;
e o ajardinamento periférico, por Cr$ 155.600,00.
Para tamanhas quantias não está faltando a co­
laboração dos fiéis. A Sacristia, anos atrás adaptada para
residência do Pároco, voltou a ser Sacristia, coin a des­
truição do banheiro edificado em 1971. O patrimônio
paroquial foi consideravelmente aumentado com a aqui­
sição de material e máquinas de escritório, equipamento
de cozinha, equipamento pastoral.
Falta ainda a Casa Paroquial.
O Dízimo foi implantado em setembro de 1978.
Atualmente (1980) há 1.171 contribuintes inscritos,
distribuídos em 38 setores. A menor arrecadação verifi­
cou-se em outubro de 1979 (Cr$ 4.162,00) e a maior
em maio de 1980 (Cr$ 25.064,00).
Outro grande trabalho atualmente em vias de
concretização é o de atendimento a todas as aglomera­
ções residenciais, quer em Capelas, Escolas, galpões ou
<*asas particulares. São agora 6 as Capelas novas ou em
vias de construção (Kessacada, Morro da Encantada, Ca-
toa
pâo, Prainha do Silveira, Areias de Ambrósio <
(o) e 10 núcleos residenciais com atendimento m« im il
Cosia do Macacu, Encosta, Siriú, Areias de Mactu .1 I <1
raz, Ambrósio, Palhocinlia, Areias de Palhocinlia. Serrii
ria, Ibiraquera). Devido ao impulso do turismo e à vizi­
nhança de novos centros industriais (Indústria Carbo-
qiiímiea Catarinense e Sidersul), a população cresce ra­
pidamente e urge dar-lhes logo atendimento espiritual.
Na Catequese de Primeira Eucaristia acham-se
matriculadas 200 crianças. Em 1979, 140 receberam pe­
la primeira vez a Comunhão.
A Paróquia conta com Ministro Extraordinário
da Eucaristia: Vanda da Silva Lobo.
Introduziram-se os novos movimentos de pasto­
ral: Curtilhos de Cristandade (com 27 casais), Renova­
rão Carismática Católica (80 participantes). Movimento
de Irmãos (3 Casais). São sementes para a formação e
ampliação de lideranças para uma sempre mais sensível
assunção de responsabilidades por parte dos leigos que,
valorizados, se engajarão nos projetos cristãos paro­
quiais.
A Paróquia oferece outros Cursos para os Cató­
licos: — Curso de Batismo, mensal, do qual neste ano de
1980 participaram 413 pessoas: — Curso de prepara­
ção para o Casamento, trimestral, com 13 casais partici­
pantes neste ano.
De grande importância para o futuro reveste-se
a fundação da “Escola de Lideranças da Paróquia de São
Joaquim de Garopaba”, instalada no dia 27 de fevereiro
de 1980. A Escola funciona todas as quartas-feiras, aber­
ta a iodos os membros da Comunidade. Tem como obje­
tivos a formação de líderes, uma melhor formação cris­
ta, uma participação mais ativa dos leigos na vida da
(Comunidade. As aulas ficam assim distribuídas: na pri­
meira quarta-feira a encargo do Vigário; na segunda, do
mu sacerdote convidado; na terceira, de um casal do Se­
cretariado do Cursilho; na quarta, de um grupo de refle­
xão.
109
A Escola ficou assim constituída:
— Presidente: Vanda da Silva Lobo
— Vice-Presidente: Marcos Rodrigues
— Secretário: Antônio L. de Souza
— Zeladores: um grupo de senhoras
— Atendente de Livraria: Maura Nascimento
Abreu
— Atendente de Bar: Emilia e Maria Pereira
— Cronometristas: Abílio Lima e íris Lobo.
Cada participante contribui com uma taxa men­
sal para as despesas.
Aqui e ali são reanimados e renovados os movi­
mentos populares: procissões, Bandeira do Divino, no­
venas, para se redescobrir a história religiosa do povo e
revitalizá-la. É no passado que se encontra o tesouro pa­
ra a construção do futuro.
E o povo vem. Vem vindo. E virá, sempre que
se sentir membro vivo de uma Igreja viva.

110
Á MATRIZ DE SÃO JOAQUIM DE GAROPABA EM 1980

RANCISCO DÉ ASSIS WLOCH,


UO DA PARÓRIA DESDE 1976
NO ANO SANTO DE 1950

A PLANÍCIE DA ENCANTADA

lit
Histórico das Capetas
CAPELA DO SENHOR BOM JESUS

Não é somente a Matriz que faz a história da Fre­


guesia. Talvez ela apareça mais porque se situa no centro
das decisões. Há outras comunidades religiosas que dão
vida à Paróquia: as Capelas.
A primeira delas foi a do Senhor Bom Jesus,, ben­
ta a 8 de setembro de 1896. Situa-se defronte à Praça da
Matriz. Foi o cenário das devoções da Semana Santa, das
devoções populares ao Bom Jesus. Atualmente está fe­
chada para reformas.
CAPELA DE PAULO LOPES
O 2.° Distrito, por sua localização, distante da
sede, necessitava de um centro de atendimento religioso.
Em 18 de fevereiro de 1902 sai a Provisão concedendo
ao Pe. Rafael Faraco licença para fundar e erigir,, no Ar­
raial de Paulo Lopes, uma Capela sob a invocação do Se­
nhor Bom Jesus, “contanto que seja em lugar alto, livre
da humidade, desviado o quanto possível de lugares imun­
dos e casas particulares, e que tenha âmbito em roda pa­
ra passarem procissões” (58).
A bênção da pedra fundamental foi em 4 de abril
de 1902. Pouco depois, a 25 de maio, a Comisão Provi­
sória de construção da Capela (Manoel Hipólito Bento,
João Antônio de Souza, Teófilo Luiz dos Santos, Tobias
Joáo Antônio de Souza, José Cândido das Neves Pereira)
pede ao Senhor Bispo Diocesano de Curitiba, Dom José
de Camargo Barros, em Visita Pastoral, a mudança da
invocação de “Senhor Bom Jesus” para a dc “Sagrado
Coração de Jesus’’, pois o outro orago já existia em Ga
ropaba. Dom José acede ao pedido.
Em 13 de setembro de 1910, bênção do peque­
no sino da Capela. Nome: “São Luiz”. Padrinhos: Luiz
Antônio Gonçalves dos Santos e Firmina Vieira Rodri­
gues).

113
Sob o impulso do Pe. João Casale, a Capela foi
concluída em 1913. Com a saída deste naquele ano, pas­
sou a ser atendida pelos Padres Franciscano de Santo
Amaro. A 10 de janeiro de 1967 foi elevada a Paróquia.

CAPELA DE SANTA LUZIA NA ENCANTADA

A devoção a Santa Luzia, no Morro da Encanta­


da, remonta aos finais do século passado. Unia devoção
popular, com a completa ausência dos organismos ecle­
siásticos. Para o leitor ter uma idéia de como surge uma
devoção popular, pense: após tantos anos de devoção,
somente a 23 de maio de 1960 reza-se ali, na capelinha
particular, a primeira Missa, por Frei Raimundo Holte
OFM. Mais de meio século de uma devoção conduzida
apenas pela piedade popular.
Era uma casinha de madeira, sem Cruz, com a
imagem da Santa Luzia e de outros Santos “fortes”: San­
to Antônio, São Sebastião, Senhor Bom Jesus, São Ro­
que. Anualmente fazia-se a festa, muito concorrida, on­
de abundavam as “massas de promessa” (se a pessoa tem
reumatismo num braço, promete dar uma massa de trigo
em forma de braço...) O povo acorria de longe. E o Pa­
dre foi olhando o fenômeno.
Em 1960 Frei Raimundo Ilolte pede para rezar
uma Missa. A alegria foi grande naquele 23 de maio! No
ano seguinte, a 30 de abril, decide-se fazer uma Capela
maior. Procurou-se um outro terreno, mais abaixo, na
Encantada. Francisco Pereira da Silva doou o terreno.
Ezequiel Pacheco de Souza, há mais de 20 ano tesoureiro,
encarregou-se da obra. Umas 20-30 pessoas ajudaram a
preparar o chão. Quando estava pronto, se trouxe a casi­
nha, lá de cima. Veio inteirinha. Mas era muito pequena.
Sob a animação de Frei Florentino Barrionuevo inicia-se
a construção de uma nova, em alvenaria, que em 1966.
apenas inaugurada, já era pequena. A primeira Missa na
nova construção deu-se a 13 de junho de 1966.

114
Interessante notar que aqui embaixo, na nova lo­
calização, diminuíram as ‘‘massas”. Muitos acham que a
Santa só faz milagre lá encima. Cada Santo tem seu lugar,
que não pode ser mudado.
Por isso, em 25 de maio de 1980, iniciou-se tam­
bém lá a construção de uma Capela, tendo como Padroei­
ro São Luiz de Gonzaga.
A de Encantada acha-se em reformas, visando au­
mentar o espaço interno.

A CAPELA DO SENHOR BOAT JESUS DO PINGUIRITO

A Comunidade do Senhor Bom Jesus do Pinguiri-


lo, distante da Matriz 3 quilômetros, começou a ser aten­
dida pelo Vigário a 6 de agosto de 1977. A devoção tem
como centro uma pequena reprodução do Senhor Bom
Jesus de Iguape, retocada por mão inábil mas piedosa, e
protegida por simples moldura. O quadrinho era venera-
do no Morro do Pinguirito, já no final do século. Em
1911, com a mudança do zelador da devoção, Norberto
Estevani, o quadro desceu para Areias de Garopaba, que
o povo batiza de Pinguirito. Ali se encontra, numa pro­
priedade particular, guardado em Capela construída por
iniciativa particular.
Há quase cem anos realizava-se a festa, nunca
< om a presença de sacerdote. Manifestação religiosa tipi­
camente leiga.
Como dizem: 'O padre nunca linha nada a ver
com a história. Nunca vinha. Não contrariou, mas não
incentivou. Tinha um Capelão que fazia as novenas, Tem
। oiica gente que sabe puxar uma novena. Temos dois
< apelães: Olavo Pacheco è Manoel Agostinho. O Capelão
faz a novena: ele reza uma parte da Ladainha e o pessoal
i esponde com outra parte. Ladainha e os versos do San­
to”.
O terreno foi doado oralmente por Tomé Inaci-
idio, mas não se sabe a extensão, pois não foi passado do­
cumento.
A festa é a 6 de agosto, com procissão e arrema-
lução. São escolhidos 38 Juizes para a festa, onde abun-
dum as “massas de promessa”. A festa se torna sempre
mais conhecida e concorrida,

A CAPELA DO SENHOR BOM JESUS, NO MACACU

Macacu é nome de origem indígena: é uma árvo­


re tinlória que ali existia em grande quantidade.
A devoção a São Sebastião era muito intensa, ali.
Eis sua história, narrada por um morador local e confe­
rida e corrigida, na medida do possível, com base em do­
cumentos :
“O povo tinha muita fé nesse Santo (São Sebas­
tião). Tudo quanto era promessa era para ele. Pensamos
em construir uma Capela, o que era nosso sonho. O padre
vinha aqui, mas rezava Missa na Escola. Por que não fa­
zer uma Capela? Em Io. de março de 1957 decidimos
construir uma. de madeira. O Frei Raimundo dava apoio.
Não linha dinheiro. Fomos ao mato e derrubamos uma
peroba. Essa peroba apodreceu. Após um tempo derru­
bamos mais duas. Essas, puxamos para a serraria. E com
elas fizemos um Oratoriozinho. Um Oratoriozinho de
dois por dois, quadradinho. O chefe do movimento foi o
Teodoro Gabriel de Souza. Depressa ele, o Oratoriozinho,
ficou muito pequeno, pois cabia só o Santo. Passou um
homem por lá, de carro de boi. Engatou na Capela e vi­
rou a Igreja, com o Santo. Quebrou o Santo. O homem
quase deu um desmaio. Quebrou o São Sebastião todo.
Ele não era o Padroeiro, mas era o Santo que a gente mais
apreciava. Trouxemos cola, goma arábica, e colamos o
Santo. Ai o povo dizia que era muito pequenina, a Cape­
la. “Vamos fazer uma maior!”.
Fizemos outra. É aquele barraco ali (ainda se en­
contra ao lado da Igreja atual) .
Em 9 de abril de 1961 resolvemos fazer uma Ca­
pela de tijolos. Não existia tijolo aqui. Só tinha madei­
ra. E não linha estrada. Conduzir tijolo para cá era difí­
cil. Então, inventamos de fazer tijolo. Mas barro bom,
118
não tinha. Então nós tínhamos uma olaria c fizemos um
amassador de barro, ^izemos 2 formas e fomos fazer tijo­
lo. Fizemos para a torre. Mas, quando chegamos no fim
do tijolo, o barro foi ficando ruim, fraco, e a gente que­
ria um tijolo melhor.
Fomos ao Ambrósio, que dá uns 9 quilômetros,
enfrentamos com carro de boi. Cada carro trazia um cen­
to de tijolos. Puxamos tijolo para a Igreja toda. A viagem
levava 5 horas. Todo mundo que tinha carro de boi aju­
dava.
Em pouco tempo fizemos a Igreja.
Arrumamos o Padroeiro, o Senhor Bom Jesus.
Tinha um velhinho lá, com uns 80 anos, numa casa par­
ticular, e o povo tinha devoção com ele. A imagem che­
gou em I960” (59).
A Capela foi inaugurada em 1966. Como ficou
pequena, em 1979 foi desmanchada, para a construção
de uma maior, conservando-se a parte da frente, com a
torre.
CAPELA DE NOSSA SENHOR ADA GLÓRIA,
EM CAMPO D’UNA
A Capela, ainda em construção, de Nossa Senhora
da Glória, dista da Matriz 14 quilômetros e foi iniciada
em 15 de agosto de 1976. A inauguração provisória da
Capela deu-se em 15 de agosto de 1978. Possui Irmanda­
de do Santíssimo Sacramento, com 50 membros. O terre­
no onde está construída a Capela foi doado por Manoel
Balbiuo Silveira, que atualmente é Tesoureiro do Conse­
lho Administrativo. Realiza festas em outubro (Nossa Se­
nhora da Glória) e em maio (Nossa Senhora Rainha, no
Dia das Mães).
CAPELA DE SÃO SEBASTIÃO, NA RESSACA D A
A Capela de São Sebastião começou a ser atendi­
da em 19 de janeiro de 1977. \ pedra fundamental foi
lançada a 22 de julho de 1979. Dista da Matriz I I quilô­
metros.
11?
< ielebra-se ali a Festa de São Sebastião, em janei­
ro, e a de Nossa Senhora Aparecida, em outubro.
CAPELA DE SÃO LUIZ GONZAGA, NO MORRO
DA ENCANTADA
Sua origem está na devoção a Santa Luzia, quase
«ecular, que depois foi transferida para a Encantada. Dis­
tante da Matriz 13 quilômetros, a construção da Capela
teve início em 25 de maio de 1980, em terreno doado por
Inacio Rodrigues.
A festa do padroeiro realiza-se em setembro.
CAPELA DE SÃO PEDRO, NO CAPÃO
Distante da Matriz 3 quilômetros, a construção
da Capela leve início em junho de 1978, em terreno doa
do por João Tomé da Silva.
A fesla de São Pedro é realizada em janeiro.
CAPELA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS,
NA PRAINHA DO SILVEIRA
Esta Comunidade ainda não tem Capela construí­
da.
Disla da Matriz 5 quilômetros.
A festa do Padroeiro é realizada em juuho.
CAPELA DE SÃO SEBASTIÃO. EM AREIAS
DE AMBRÓSIO
Foi construída em fins dc 1978, distando da Ma­
triz 6 quilômetros. A festa de São Sebastião é realizada
em 20 de janeiro.
NÚCLEOS RESIDENCIAIS COM ATENDIMENTO
MENSAL
Uma das preocupações iniciais do atual Pároco.
Pe. Francisco de Assis Wloch, foi a de dar atendimento
a todos os núcleos residenciais, por menores que sejam.
Uma visita mensal, com Missa e instrução, seja em casas
particulares, seja em salões, seja em Escolas.
4 1 Q
Estes núcleos, incipiente-, nâo poluem ,mnl i
nem padroeiro nem feslaz o <pie suryiin pnuLif íiihiik uh
São eles:
— Costa do Macacu— distante da Matriz 12 bins.
— Encosta — 10 quilômetros.
— Siriú — 11 quilômetros.
— Areias de Macacn — 7 quilômetros.
— Ferraz — 3 quilômetros.
— Ambrósio — 6 quilômetros.
— Palhocinlia — 5 quilômetros.
—- Areias de Palhocinlia — 7 quilômetros.
— Serraria — 12 quilômetros.
— Ibiraquera — 17 quilômetros.

O PRIMEIRO SACERDOTE DE GAROPABA


Foi no dia 29 de setembro de 1979 que se orde­
nou, na igreja matriz de Garopaba, o primeiro Sacerdote
nascido na paróquia: Pe. Siro Manoel de Oliveira, pela
imposição das mãos de Dom Afonso Niehues.
Nasceu em Areias de Macacn a 22 de agosto dc
I 951, sendo filho de Manoel Joaquim de Oliveira e Nilza
Melo de Oliveira.
Ingressou no Seminário Preparatório de Antônio
Larlòs em 1964. Em 1965 matriculou-se no Seminário
Menor Metropolitano de Azambnja, onde cursou o Giná­
sio e o Secundário.
Em 1972, continuando a residir nesse Seminário,
rursou a Faculdade de Estudos Sociais, na Fundação Edu-
< acionai de Brusque (FEBE).
Cs estudos teológicos se realizaram em Florianó­
polis, no Instituto Teológico de Santa Catarina, a partir
de 1976.
A ordenação diaconal deu-se a 2 de dezembro d
1978, na Matriz de Paulo Lopes.
É atualmente Vigário Cooperador da Paróquia
do Santíssimo Sacramento, em Itajaí, com Provisão <»[>■
«lida em 10 de janeiro de 1980.
119
A BANDEIRA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

Em 12 de outubro de 1945 Dom Pedro II desem­


barcava em Florianópolis. De regresso ao Rio de Janeiro,
manda “Coroas” de prata para Santo Antônio de Lisboa.
Lagoa, Ribeirão da Ilha. Matriz do Desterro, e São José,
pois ficou bem impressionado com as Bandeiras existen­
tes.
“Bandeira do Divino” é a grande tradição religio­
sa que outrora enchia os caminhos de “Foliões”, a colhe­
rem de porta em porta as esmolas para a grande festa que
se realizaria em junho. A Bandeira agitava a vida ordina­
riamente silenciosa das localidades do interior.
Garopaba ainda mantém viva esta já secular de­
voção que, apesar de muitos quererem fazer passar por
atração folclórica, continua sendo manifestação de en-
tranhada religiosidade.
Sua origem?
Entre 1282-1336 reinaram em Portugal a Rainha
Santa Isabel e Dom Dinis, o Cancioneiro.
Em viagem diplomática, a Rainha esteve na Ale­
manha, numa época em que se faziam quermesses para
ajudar os pobres. Achou isto muito interessante, visto ha­
ver muita pobreza em Portugal.
Um filho de Dom Dinis, Dom Afonso, era Rei. A
política desandou, podendo a guerra estourar de hora
para outra. Dona Isabel, muito piedosa, procurava con­
tornar a situação. Contudo, a guerra estava iminente, as
tropas no campo de batalha. A piedosa Rainha, esposa e
mãe, faz então uma promessa ao Divino Espírito Santo:
se não viesse a acontecer a guerra entre pai e filho, ela
daria sua coroa real para com ela se fazerem as quermes­
ses que vira na Alemanha. Vai, então, ao campo de bata­
lha, e consegue amainar os ânimos. Reina a paz entre pai
e filho.
É então que manda colocar na frente da coroa
uma efígie da “Pomba sagrada”, como também nos mas-
120
Itos, guiões e estandartes. Igualmente no < <» Oi>
uma procissão coni toda a Corte. Depois da reriinoiii.i
mandou matar 2 bois e fazer pães para distribuir .1 lodo
os pobres do Reino. Decretou que estas festas fossem ínnt
bém realizadas nas regiões pertencentes a Portugal.
No arquipélago dos Açores a Festa do Divino i<-
ve muito significado, em virtude da natureza geologic.1
das Ilhas, que, por serem vulcânicas, estão sujeitas a tira­
nias imprevistos. O Espírito Santo era invocado como o
grande protetor contra possíveis calamidades.
Foi na Ilha de Santa Maria que primeiro se cele­
brou religiosamente o “Império do Divino Espírito San­
to’’. Na Ilha Terceira, já se festejava o Divino em 1492:
mais 173 anos, e iniciava-se a sua comemoração em São
Miguel. Em 1672 Faial abraçava os mesmos festejos, ini­
ciados na Ilha do Pico cem anos antes. Os rituais e as nor­
mas das festividades variam substancialmente de Ilha pa­
ra Ilha. Nas aldeias há o hábito dos “Foliões” que, para­
mentados, locam e dançam revestidos do maior respei­
to e religiosidade. Outros festejos tradicionais das Ilhas
açorianas: “Pega do Boi”, “Fogueira de São João”. São
as nossas festas populares de Sexta-feira Santa e junho
(60).
Foi esta tradição do Divino transplantada para o
litoral catarinense com a grande imigração de casais aço-
rianos 110 século XVIII.
Como é a Bandeira?
É chamada de “Cantoria do Divino Espírito San­
io” ou "Folia do Divino”. Os participantes são os “Fo­
liões”. No míniiiio 3 cantores a 3 vozes diferentes e 3 ins­
trumentos musicais: rebeca ou violino, tamborim, cava­
quinho ou violão. Aparecem frequentemente outros íuh
Irumentos, como gaita de mão ou de boca, flauta, acoi
d com, pandeiro.
A Bandeira, encarnada, é ornada de iniíim-r .i-> <
longas fitas multicores dadas em promessa, as qum .
prendem ao mastro, encimado pela Pomba -.iMiadii
121
A letra dos cantos é improvisada, aproveitando-
a inspiração do momento. A mensagem sempre tem
cunho religioso. A Cantoria se inicia com uma saudação
ao dono da casa, seguindo-se outros cantos, já no interior
da residência, onde pode-se beber aguardente, cerveja ou
vinho, conforme o dono oferecer. Ao final, recebe-se a
esmola que será aplicada na Festa do Divino e obras as-
sistenciais. À saída entoa-se um canto de agradecimento.
Para finalizar, despedida cantada, invocando sobre a casa
que deixam as bênçãos do Espírito Santo. Via de regra os
cantores são pessoas simples, muito estimadas em seu»
bairros. Constituem-se em verdadeiros representantes da
alma popular, manifestando, através da cantoria, seus
anseios e sentimentos.
A casa visitada considera uma bênção a visita dos
Foliões. Visitam-se todas as casas, sem distinção, da mais
humilde à mais abastada.

O homem que “tira” a Badeira é o “Patrão” e os


cantores são seus “Empregados”. Em outros tempos exi­
gia-se até uma certa pureza ritual para os Foliões: era
preciso que fossem trabalhadores e honestos pois, segun­
do a tradição “quem negocia ou rouba os ganhos do Divi­
no, o castigo e o insucesso o acompanharão sempre”. A
crença no castigo eslava tão enraizada no povo que se
ouvia alguém inocente assim se pronunciar em situação
difícil: “Eu não comi boi no Divino!”

Um possível roteiro para a Folia do Divino:


A Bandeira percorre as ruas, visitando as casas,
sob grande alarido de pessoas que a acompanham, princi­
palmente crianças. Levam uma Coroa, junto à qual depo­
sitam os donativos. A Folia se estende da Oitava de Páscoa
até a Festa de Pentecostes.
Chegando perto da casa, o tambor começa a res­
soar, dando aviso de chegada. O dono da casa abre a por­
ta, e todos entram. Os Foliões começam a cantar, por
exemplo, os seguintes versos:
122
Cheguemos aqui nesta casa (bis)
Quero dar o meu bom dia.
O Divino Espírito Santo (bis)
Veio trazer alegria.
ou:
Abri a vossa morada
Pro Divino Espírito Santo
A fortuna vem trazer-vos
Com seu estrelado manto.
ou:
Dê-me licença que entre
Dentro de sua morada
Uma Bandeira Divina
E a Coroa sagrada.
Aqui está este Senhor
Com sua Graça divina
E que nos cria no mundo
Até quando Deus destina.
Quando pede esmola:
Venho pedir-vos uma esmola
Prã este Senhor de verdade
Que é uma das três Pessoas
Da Santíssima Trindade.
Agradecendo:
Ó que esmola tão grande
Deram ao Deus criador
Que vos há de agradecer
O Divino Criador. (61)
Terminada a visita, e a coleta de cada dia, a Ban­
deira fica em determinada casa, entre muitas flores e ve­
las, onde, à noite, pelas 20,00 horas, é iniciada a Novena,
í' Ioda cantada, a Novena. Consta de um diálogo entre
Capelão e pequeno Coral.
Reza-se num latim adulterado:
Querliam zou (Kyrie eleison)
Parte de Ceie Deus (Paler de caeli Deus)
(a cada invocação o coral responde:) Ora pro
nobis I
Espirito Santo de Deus (Spiritus Sancte Deus)
Santa Maria (Sancta Maria)
Santa Vigon Virgem (Sancta Virgo Virginuni)
Marte divina graça (Mater divinae gratiae)
Marte castissima (Mater castíssima)
Marte intemerato (Mater intemerata)
Marte adimirabile (Mater admirabilis)
Marte Salvatoria (Mater Salvatoris)
Vigem veneranda (Virgo Veneranda)
Vigem com o Pai (Virgo Patris)
Vigem confidele (Virgo Fidelis)
Sede Sapientia (Sedis Sapientiae)
Vaso Espirituale (Vas spirituale)
Vaso signi devocione (Vas insigne devotionis)
Turre davi dica (Turris davidica)
Domina cara (Donnis aurea)
Janoa Cele (Janua caeli s)
Salo infirmado (Salus infirmorum)
Consolato aflitório (Consolatrix afflictorum)
Regina Angelório (Regina Angeloruni)
Regina Profelório (Regina Prophetarum)
Regina Marte (Regina Martyrinn)
Regina Virgem (Regina Virginuni)
às Invocações segue-se a “Salva Rainha”,
também transformada:

Salve Rainha, mãe e misericórdia


Deus vos salve, a vós bradamos
A vós suspirando, gemendo e chorando
Sois, ó Pai, advogado nosso
A nós volveis, e depois a Jesus
Bendito é o Fruto, o Poderoso e o Doce.
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus
Das promessas da Imagem de Cristo: Amém.

Podem seguir-se outros versos:


124
Divino Espírito Santo
Pai dos Pobres
Fazei que o meu coração
Em teu amor seja o primeiro.
Divino Espirito Santo
Amável Consolador
Consolai as nossas almas
Quando este mundo fôr.
Divino Espírito Santo
Fogo, amor e claridade
Nos livrai da nossa morte
Valei-nos, por piedade.
Ou estes:
Vinde, Espírito Santo
Nossa alma renovai
Sobre os peitos que criastes
Dons celestes derramai.
Fonte viva, sagrada,
Promessa de boa paz
Em vosso divino incêndio
Protegei e fervorai.
Mãe de Deus, mãe sublime
Vinde já, vinde, Senhor:
Aumentai as nossas crenças
Nossas esperanças e amor.
Ensinai-nos as virtudes
Dc que muito carecemos
Em que provém dele
Nossos bens alcançaremos.
Faz com que, ó Espírito Santo
Pai e Filho conheçamos
Um só Deus sigamos
Um só Deus, no céu vejamos.
Viva o céu e viva a terra
Tema o Inferno o Espírito
Viva a Trindade divina
Pai e Filho e Espírito Santo.
125
Terminada a Novena, segue-se a arrematação de
i ’em'as, se houver, e muito foguete.
Para o povo que participa da Folia, para alguns
deles, qual seria a origem da Bandeira do Divino? Entre­
vistando aqui e ali, chegou se a esta versão:
“O Espírito Santo veio do céu em pomhinha. En­
tão daí fizeram a imagem da pomhinha, na Bandeira. O
Espírito Santo veio do céu, em vento e fogo. Mas, em
Jesus, veio em pomhinha, quando João o batizou.
Eu vou contar como foi o início: Jesus disse quan­
do se foi: —— Daqui a 40 dias eu venho. Fazer visita aos
Apóstolos. Eles saírarn, então, com a Bandeira. E foram
com ela, cantando, em procissão. E viajando, viajando.,
Estavam desacorçoados. Estavam com vontade de voltar,
porque fazia tempo e Ele não vinha. E pararam, para vol­
tar. V eio então uma pomhinha, voando, e pousou na vara
da Bandeira. Pousou e saiu. A pomhinha foi, mas deixou
sen retrato na Bandeira. E perguntaram: — Essa pombi-
nha não seria Êle? E era. E voltaram. A pombiidia ficou
na Bandeira deles. Foi esse o “passo” que houve. Modo
disso, sai a Bandeira. Domingo do Espírito Santo é o dia
em que Ele pousou. Foram 50 dias depois da Páscoa”.
Interessante; na mente popular os significantes
adquirem significados específicos, mesmo que sejam dife­
rentes de suas finalidades originais!

CRENÇA c DEVOÇÕES DA ALMA POPULAR

Tem gente que dança na Quaresma, mas na Qua­


resma não se dança. Aí se perde a fé. Não se é religioso.
Quem viu o que Jesus passou tem que passar também. Os
mesmos passos de Deus são passos para nós. Por lealdade.
Na Sexta-feira Santa a minha casa está fechada. E se faz
jejum. Não se varre a casa, não se penteia cabelo, não se
faz comida, não se corta de faca, não se corta trato pro
gado, não se come, só se toma um cafezinho de manhã,
um ao meio-dia e um à noite. Sem nada. Até a meia-noite.
De Quinta-feira Santa ao meio-dia até Sexta-feira Santa à
126
meia-noite. Ã meia-noite se come e, no outro «lia. Sábado
d<‘ Aleluia, todo inundo pode se divertir. Às 11,00 hora*
do Sábado Sanlo se pode divertir. Às 11,00 horas de Sába­
do Santo se pode comer carne. Na Quaresma toda não
s«- come carne nem às quartas, nem às sextas. Na sexta-
feira não se come carne de boi por causa da fortaleza do
animal. E Jesus é fraqueza. Deus está sofrendo. A gente
tem de se compadecer com ele. Quem está padecendo, es­
tá fraco: não come carne. Quem come carne, não está
doente: está forte. Não está sofrendo com Deus (62).
Onde não há temor, não há respeito. Onde não
ba temor não há educação. Onde não há educação, não
há religião. Quem tem educação se lembra de Deus.
Quem tem respeito por Deus tem respeito pelos pais.
Quem tem respeito pelos pais tem respeito por Deus.
Quando eu passo pelo meu Santo (quadro, imagem), mes­
mo que ele não esteja olhando para mim, eu tiro o chapéu
da cabeça. O Santo está ali. Aqui em casa, o Santo mora:
na frente dele eu tiro o chapéu. Onde está o retrato, a ima­
gem, aí está o Sanlo. O indivíduo tem que respeitar a ima­
gem. Quem respeita a imagem, respeita a Deus. Isso s<>
acontece onde há temor. Onde não há temor, não há res­
peito, não há educação, não há religião.
— Qual a origem do nome “Encantada ’ ?
— O velho José da Rosa era meu sogro. Ia viajan­
do. Olhou e viu uma moça sentada. Chegou perto: um ba-
lainho de costura, todo de ouro. Tudo de ouro: as roupas
dela eram a coisa mais linda! Ela foi, perguntou pra ele.
Ele achegou-se e atemorizeu-se. Ela perguntou: -— De que
é que o senhor mais se agrada em mim? (Ele devia res­
ponded: — 0 qtie mais me agrada é tu!) Ele respondeu:
— O Que mais me agrada é tua tesoura. Ela disse: — Ah,
ingrato! Não quebraste o meu encantamento... Daí o lu­
gar pegou o nome de “Encantada”. Mas pouca gente sabe
donde veio o nome. Eu sei porque meus pais e meus avós
contaram. Antigamente tinha muito encantamento. Hoj<*
não tem mais porque o pessoal não acredita.
“Eu tenho o dom de Deus para trabalhar em Me-
122
HU Espirbual: agente dá um remédio para aquela criança,
aquele adulto, aquela doença. Vein aquele pensamento,
aquela oração pra gente benzer, dar o remédio, na fé de
Cristo. A minha paz ê isto. Trabalho com criança, traba­
lho com mulher, trabalho com senhor de idade, trabalho
com qualquer um. A paz é uma só: o senhor pode estar
aqui, pode estar na minha casa, pode estar aonde estiver.
Quer dizer que a minha paz não é trabalhar escondida,
em segredo: é pública.
Chega uma criança: — Fulana, eu queria que vo­
cê me desse um remedinho, estou com uma dor assim ,
assim... Eu cismo: — Ah, meu Deus, meu Deus, como é
que vou fazer aquele remédio? E logo: — Teu remédio é
esse, minha filha. Toma. Vai na Farmácia,, pega esse re­
medinho. Toma que tu ficas aliviada. Pronto. Peço pra
Deus que dê aquela graça. E é Ele que faz por mim. Deus
é que cura, não eu. A minha pessoa é uma pessoa justa.
Na paz de Cristo. Não escondo de ninguém. Abro a minha
porta, trabalho, com a graça de Deus, quarta e sexta. Da>
7 às 11 horas. Quando dá duas horas da tarde, eu entro
outra vez na minha Mcsinha, dou remédio pra todo num
do que tiver. Dali, quando dá quatro horas, saio fora do
meu serviço. Páro porque aí já é verdadeiraniente noite e,
cada um nos seus amparos. Porque, essa parte de traba­
lhar dc noite, podería ser muito bom, pra mim é capaz de
ser muito bom, mas pra outro, quem sabe que não está
bom!? Então, no meu ser, Deus manda, eu trabalho só
durante o dia. Ã noite, cada um está nos seus amparos
Quer dizer, então: às 5 horas eu estou levantada de mi­
nha cama. Mas às 7 horas é que vou para meu serviço. Na
minha casa, na minha Mesa. Entro, me concentro, meu
Santo Guia baixa, e eu trabalho ali, no meio de todo o
mundo. Então me não boto nada em cabeça de ninguém.
Incrível, como diz o caso da palavra, eu não ponho nada
em cabeça de ninguém. Quando vem com mau pensamen
to, por exemplo — se Deus der o talento pra eu entendei
— ah, esse Fulano está com má impressão, um mau pen
sarnento, eu digo: — Olha, de mim se abra! Porque Deus
nâo é da má impressão. Deus não se compra nem se ven
de. Deus é o homem da caridade. E da fé e da bondade
1?8
Então a gente vem com bondade fazer o bem. Agora, com
má impressão, não venha pra mim, que eu não sou disso.
Aquela pessoa se abra.
Santo Guia, verdadeiramente, é uma transmissão
de Jesus Cristo, em pensamento. Do dom de Deus vem
aquele pensamento pra mim ou pra vós, ou pra outro,
conforme aquela intenção que a gente tem. — Ah, mas
eu quero fazer um bem, a uma pessoa de Cristo, que ela
por mim veio pedir uma ajuda, porque vive sofrendo...
Então, se Deus der aquele, talento, eu compreender a for­
ça para eu curar, então vem aquele pensamento pra mim:
•— Olha, o remédio é este! Tu faz esta oração, o remédio
é este. A minha oração, que eu faço, é assim, quer dizer,
o indivíduo tem o seu rosário de benzer. Então, se prepa­
rou para benzer, botou a sua água benta num cálice e ben­
zeu com o “’nome do Pai, é do Filho, é do Espírito Santo
e bendito e louvado Nosso Senhor Jesus Cristo, para sem­
pre Deus seja louvado. Creio, Senhor, que nesta hora sa­
grada que eu estou benzendo forte, Jesus e a Nossa Se­
nhora estão vendo, Jesus Cristo do Altar, o que por nós
está nos valendo, Jesus chegando e nosso corpo abençoan­
do e confortando, para que mal não aconteça, os males se
afastem. Jesus, tu és o Guia, és a Força e a Defesa, purifi­
cada, que neste momento que o Padre Antônio e Nossa Se­
nhora das Graças deixando o corpo deste doente limpo e
alegre e aliviado, lodo o mal daqui será retirado pelo
n mor de Deus. Creio em Deus Padre. Que creio em Deus
Padre nos acompanhe, Jesus Cristo é forte e é uma Luz,
o Santíssimo Sacramento e o Coração de Jesus. As forças
do poder de Deus, as forças do Anjo da Guarda, da Virgem
vaiita Maria, e seja nosso Guia, nossa Proteção. Neste mo­
mento e neste santo dia, que dê as forças da pureza com
a fortaleza, que este cristão é justo e purificado, limpo e
alegre e aliviado, no amor de Cristo em paz. Na paz do
heiihor Deus, amém.” (63).
A COBERTA DO MORTO
Quando alguém morre, os vizinhos vão lá rezar
lim rosário. Alguns oferecem doces, depois do terço. O
dia da Coberta é um dia de choro para a família. \ 1'nmi
120
lia veste unia pessoa, geralmente pobre, com roupa nova, OUTRAS CONFISSÕES RELIGIOSAS
conforme o falecido apreciava. No dia do Terço da Co­ IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS
berta, a pessoa entra vestida, representando o morto. Eles
se concentram e se põem a pensar naquele defunto. E O primeiro culto da Assembléia de Deus foi reali­
choram. Com o maior respeito. Às vezes tomam a bênção zado em 1959 e o definitivo iniciou-se em 1972.
do que vestiu a Coberta: os parentes. Aquele que está Filiada à Igreja de Imbituba, seu presbítero é Ire-
com a Coberta representa o morto. mar Antônio de Souza.
RELATÓRIOS PAROQUIAIS DO SÉCULO XX
A sede está localizada à Rua Projetada S/N. Con­
A modalidade estatística dos Relatórios Paroquiais, ta com 16o adeptos. Os cidtos se realizam às 19,30 horas.
tão cuidados e minuciosos, tende a desaparecer. Não se IGREJA DO TABERNÁCULO EVANGÉLICO DE
vê com simpatia a contagem dos fiéis que participam das JESUS (T.E.J.)
funções sagradas. Porém, não deixam de ser um indica­
dor do fervor e uma possibilidade de detectar problemas
O Pastor Gidalte P. da Silva iniciou suas ativida­
na pastoral. Aproveitamos para transcrever o que sobrou
des em março de 19/6. Atualmente está sob os cuidados
dos Relatórios anuais da Paróquia de São Joaquim.
do Pastor Manoel Valentim, que construiu a sede, ainda
Batismos Confs. Com. Casam. las. Com. de madeira, à Rua Projetada S/N.
1908 — 190 55 31 40 13
1909 — 200 259 113 30 42 O Tabernáeulo Evangélico tie Jesus conta com 33
1910 — 190 90 78 25 10 membros.
1911 — 240 156 102 50 20
1912 — 230 900 950 55 30 Horário dos cultos: aos domingos, das 9,00 horas
1913 — 290 — — 32 — us 11,00 e das 14,00 as 16,00 horas. Às quintas-feiras,
1918 — 101 52 32 22 ■—
— 50
das 15,00 as 17,00 horas. Terças e sábados, das 18,00 às
1919 — 260 390 350
900 950 19 38 20,00 horas.
1921 — 187
1922 — 175 450 425 16 48
138 600 620 26 15 Fundador dessa confissão religiosa é o missioná­
1924 —
1925 — 79 750 790 14 22 rio Doriel de Oliveira, cm Minas Gerais, a 9 de junho de
1926 — 110 850 850 15 38 1964. A sede foi transferida para o Distrito Federal em
1927 — 93 900 950 36 23 15 de junho de 1970.
1928 — 128 1.100 1.100 25 42
1930 — 78 650 650 15 22
1936 — 156 1.000 81 60 80 IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA
1937 — 195 950 950 35 59
1939 — 151 1.250 1.250 25 105
28 100 Em 1960 chegaram a Garopaba dois pastores ad-
1941 — 154 950 950
152 900 950 20 90 ventistas, a pedido de Elita Santina Lino, casada com um
1943 —
1956 — 179 3.060 — 44 — católico e ali residente desde 1942. Alugaram um Salão
1957 — 210 1 500 1.600 51 21 e iniciaram a pregação e distribuição de Bíblias. Eram os
1958 — 197 1.360 — 40 — pastores Edgar e Ivan Schmidt. Aderiu a irmã de Elita,
1959 — 152 1.820 1.860 44 60
1.787 1.790 14 — I oide. Mas só em 19 75 que se dão novas adesões ao novo
1960 — 163
133 1.756 2.414 4 201 Credo, da mesma família.
1961 —
1962 — 152 2.323 3.110 20 90
1966 — 165 2.403 2.715 12 226 13!
130
Atualmente é Pastor Jairo Rego, que realiza os
cultos aos sábados, das 9,00 às 11,00 lioras, na residência
de Elita. A Igreja Advenlista de Garopaba conta com 20
membros.

SUPRESSÃO DO MUNICÍPIO
Corre entre os mais entendidos na política garo-
pabense a história de que o Governador Hercílio Pedro
da Luz nutrisse profunda antipatia pela localidade. O
motivo estaria nas eleições de 1922, quando ele teria exi­
gido que fosse eleito para Presidente do Conselho de In-
tendência João Francisco de Souza. Acontece que este ci­
dadão não gozava de muita estima na sede pois, sendo
de Paulo Lopes, era um dos líderes que faziam com que
os impostos do 2o. Distrito não chegassem aos cofres mu­
nicipais. Resultado: foi eleito, mas não com a votação
para ocupar o posto desejado. No ano seguinte, o Municí­
pio foi suprimido.
Contudo, não é provável a relação entre os dois
acontecimentos. A açáo de Hercílio Luz, grande estadista,
usufruidor da simpatia da população catarinense, que ele
conquistara por seu trabalho público, baseou-se em crité­
rios administrativos. Estava ocupado em modernizar a ad­
ministração do Estado e, neste contexto, cabia a supres­
são de Municípios que eram apenas peso aos cofres públi­
cos, podendo ser anexados, então, ou contribuir para a
formação de outros, mais viáveis administrativa e econo­
micamente.
A supressão do Município de Garopaba aconteceu
pela Lei n°. 1.451, de 30 de agosto de 1923. Por esta Lei
foram suprimidos os Municípios de Garopaba, Parati,
Porto Belo c Jaguaruna. Pela mesma Lei, o território do
Município de Garopaba e o dos Distritos de Vila Nova e
Mirim, do Município de Laguna, passam, com seus limites,
a constituir um novo Município com a denominação de
Inibituba, que ficará pertencendo à Comarca de Laguna.

132
Em 1930 também Imbituba é supre-so, e Garopa­
ba passa a Distrito do Município de Palhoça. Entra, a par­
tir de então, no rol dos lugares esquecidos pela documen­
tação oficial. Podemos apenas dizer que em 1958 possuía,
na área urbana, 775 habitantes, dos quais 406 homens e
369 mulheres; Paulo Lopes contava com 363 habitantes,
dos quais 183 homens e 180 mulheres.

PELA TERCEIRA VEZ, MUNICÍPIO

A necessidade c o jogo de forças políticas fizeram


com que se conseguisse recriar o Município de Garopaba.
Inicialmente pensava-se, como necessário, o englobamen-
to dos antigos dois Distritos Policiais: Garopaba e Paulo
•Lopes., Contudo, quer atendendo ao significado de anti­
gas e entranhadas rixas e preconceitos e, também, a inte­
resses políticos, prevaleceu a opinião de formar cada Dis­
trito uma unidade administrativa. E assim, pela Lei
n',.i798, dc 19 de dezembro de 1961, cria-se o Município
de Garopaba, e pela Lei n°. 798, de 20 de dezembro do
mesmo ano, o Município de Paulo Lopes.

O novo Município de Garopaba, com uma área de


78 quilômetros quadrados, fica integrando a Comarca de
Palhoça.

Limites: a leste, com o Oceano Atlântico, da Ponta


do Ouvidor à Ponta do Faísca; ao sul, da Ponta do Ouvi­
dor atç Araçaluba; a oeste, da Ponta do Faísca até o Siriu.
seguindo pelo mesmo até a nascente da Cova Feia, c» por
esta descendo até o Rio Araçatuba.

Pelo seu valor histórico, transcrevemos, na ínte­


gra, a referida Lei:

133
“O Deputado João Estivalet Pires, Presidente
da Assembléia Legislativa do Estado de Santa
Catarina, de conformidade com o artigo 31,
combinado com o Inciso X, Art. 22, da Cons­
tituição do Estado, faz saber que a Assembléia
Legislativa decretou e eu promulgo a seguinte
Lei:
Art. 1." — Fica, de conformidade com a Re­
solução n.n 2/61, tie 12 de dezembro de 1961,
da Câmara Municipal de Palhoça, criado o Mu­
nicípio de Garopaba.
Art. 2.” — O novo Município terá como sedé
a atual Vila de Garopaba, com os seguintes li­
mites :
a) com o Oceano Atlântico e começa na parte
Sul da Ponta do Ouvidor, seguindo pelo mar
até a Ponta do Faísca.
c) com o Município de Palhoça — começa na
Ponta do Faísca, seguindo até encontrar o
Morro do Siriú, divisor das águas, seguindo
pelo mesmo até a nascente da Cachoeira da
Cova Feia, descendo por esta até o Rio Araça-
tuba.
Art. 3." — O Município de Garopaba fica in-
tegrando a Comarca de Palhoça.
Art. 4.° — Esta Lei entra em vigor na data de
sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.
Palácio da Assembléia Legislativa do Estado
de Santa Catarina, em Florianópolis, em 19 de
dezembro de 1961.
Ass.: João Estivalet Pires, Presidente
(Publicada no Diário da Assembléia Legislati­
va n.° 936, de 22 de dezembro de 1961)
134
O Município foi instalado a 30 de dezembro <l<
1961, presente o Dr. Gervásio Nunes Pires, Juiz de l»i
reilo da Comarca.
O primeiro Prefeito e primeira Câmara Munici­
pal, assumiram seus mandatos a 31 de janeiro de 1961.
Como fizemos com a Instalação no ano de 1890,
passamos a transcrever a Instalação de 30 de dezembro
de 1961:
4íAos trinta (30) dias do mês de dezembro,
ano de mil novecentos e sessenta e um (1961),
nesta cidade de Garopaba, sede do Município
do mesmo nome, criado pela Lei n.° 795, de
11 de dezembro de 1961, com as característi­
cas e divisas mencionadas na referida Lei, pu­
blicada no Diário Oficial da Assembléia Legis­
lativa do Estado, em data de 22 de dezembro
de 1961, pertencendo à Comarca de Palhoça,
no edifício no qual funcionará a Prefeitura
Municipal, pelas dezesseis (16) boras, presen­
te o Merítíssimo Juiz de Direito da Comarca,
Dr. Gervásio Nunes Pires, autoridade compe­
tente para presidir o ato, na forma do pará­
grafo 1.", do artigo 13 e parágrafo l.° do ar­
tigo 14, ambos da Lei Orgânica dos Municí­
pios do Estado de Santa Catarina, comigo,
João Silveira, Vereador, Secretário designado
para a lavralura da Ata, presentes também as
autoridades que esta subscrevem, convidados
e o povo em geral, foi pela autoridade que
preside o ato, dado conhecimento que, pelo
Decreto n.° G E - 26 - 12 - 61 - 868, publicado
no Diário Oficial do Estado, datado de 26 de
dezembro de 1961, firmado pelo Excelentís­
simo Senhor Governador do Estado, foi fixa­
do a data de hoje para a Instalação deste Mu­
nicípio e investidura do Prefeito provisório
nomeado, sr, Jorge Pacheco de Souza, já devi­
damente compromissado perante a autoridade
competente. Após a leitura do art. 1,°, da Lei
135
SENTIDOS SUL E NORTE.

136
n.° 795, de 19 de dezembro de 1961, o Sr.
Presidente declarou legalmenle instalado o
Município de Garopaba. A seguir, usaram da
palavra os srs. Dr. Aloysio Callado — Promo­
tor Público da Comarca; Dr. \ Vil mar Philippi,
na qualidade de representante do Sr. Ari Wag­
ner, Prefeito Municipal de Palhoça; Vereador
Vivaldo Bento, representante do Município de
Imbiluba; Senhor Jorge Pacheco de Souza,
Prefeito Provisório; Sr. Robson Westphal, de
Braço do Norte, e Deputado Ivo Silveira, re­
presentante do Poder Legislativo Estadual e do
Diretório Regional do Partido Social Democrá­
tico. Todos os oradores foram entusiasticamen­
te aplaudidos. Do que, para constar, lavrou-se
a presente Ala, que lida e achada conforme.,
vai devidamente assinada. Eu, João Silveira,
Secretário designado, a escrevi e subscreví, de
vendo extrair quatro (4) cópias autênticas
desta Ata para os fins legais. .Assinado (se­
guem-se as assinaturas).
Eu, ........... datilografei a presente có­
pia da Ata de Instalação do Município de Ga­
ropaba, que vai autenticada por minha assi­
natura e com o visto de MM. Juiz de Direito
da Comarca, Dr. Gervásio Nunes Pires, aos
vinte de janeiro de mil novecentos e sessenta
e dois.
Palhoça, 20 de janeiro de 1962
Ass.: João Silveira
Visto; Dr. Gervásio Nunes Pires — Juiz de
Direito.
LISTA DOS PREFEITOS DE 1961 ATÉ 1980
João Orestes de Araújo (posse à 31 de janeiro de
1963)
Jorge Pacheco de Souza (posse a 31 de janeiro de
1969
Viee-Prefeito: João Nícomedes Lenlz
Joaquim Roque Pacheco (posse a 31 de janeiro de
1973)
13Z
Vice-Prefeito: João Batista Guimarães
— Adílio Inácio de Abreu (posse a l.° de fevereiro d<
1977)
Vice-Prefeito: Joaquim Francisco de Alexandrino
O atual Prefeito, Adílio Inácio de Abreu, nasceu
em Garopaba a 3 de abril de 1923. Tem como projetos
prioritárío.3 de sua administração a construção do Hos­
pital, a implantação do ensino do 2.° Grau e a pavimen­
tação da via que liga o Município à BR-101.
Os atuais vereadores: Aurélio Paladine, Izaldo
Silva, Jovino Piuceo, Osvaldo Santana de Souza, Irani
Feliciano, João de Sena Silveira e Benjamnii Lino da
Silva.
VEREADORES do Município de Garopaba, em sua s<>«
gimda fase:
Eleição: 7-10-1962
Período Legislativo; 31-01-1963 — 31-01-1967.
PSD — Jorge Pacheco de Souza — 140 voto*
íris Bal dança Lobo — 97 votos
Adílio Inácio de Abreu — 80 votos
An Manoel dos Santos — 62 voto •
IJDN — Ciaudino Andrade — 91 votou
Aurélio Paladme — 46 voto-1
PTB — Jovino Piucco — 80 VOlOM

Eleição: 15-11-1966.
Período: 31-01-1967 — 31-01-1970.
ARENA — Olmiro Manoel de Araújo 155 VOlOS
Jorge Pacheco de Souza — 140 VOlOã
Inácio Genuíno de Abreu — 107 VOloí
Íris Baldança Lobo — 105 votos
Pedro da Silva Lino -— 101 votos
Ari Manoel dos Santos —_ 86 votos
Isaldo Silva — 77 votos
13»
IÍLIO INÁCIO DE ABREU.
I'REFEITO MUNICIPAL

EDIFÍCIO-SEDE DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL


139
Eleição: 30-11-1969.
Periodo: 31-01-1970 — 31-01-1973.
ARENA — Teodoro Olavo Pacheco — 2 42 volo •
íris Baldança Lobo — 163 VOtOS
Jovino Piucco — 153 VOtOS
Adílio Inácio de Abreu — 141 Volo-
Irani Feliciano — 138 voto»
Teodoro Souza — 126 VOlOs
Isaldo Silva — 125 voto»
Eleição: 15-11-1972
Período: 31-01-1973 — 31-01-1977.
ARENA — Abílio Manoel de Lima — 285 voto»
Nivaldo de Abreu — 217 votos
Laertes Martins — 216 votos
André Honório Martins — 213 voto»
Sebastião Messias de Souza — 184 votos
José Adílio de Araújo — 180 votos
Djalma Inácio da Silva — 169 votos
Eleição: 15-11-1976.
Período: 31-01-77 — 31-01-1981.
ARENA — Jovino Piucco — 591 votos
Benjamin Lino da Silva — 234 votos
Irani Feliciano — 229 votos
João de Sena Silveira — 218 votos
Aurélio Paladine — 205 votos
Isaldo Silva — 193 votos
Osvaldo Santana de Souza — 192 votos
A ATIVIDADE AGRÍCOLA E PECUÁRIA
O Município de Garopaba apresenta dois tipos
de solos bein distintos. O primeiro compreende cerca de
70% do território e é constituído de terras planas exces­
sivamente arenosas, característica essa dos solos litorâ­
neos e que se alia ao uso intensivo para a agricultura e
não reposição da matéria orgânica retirada pelas cultu­
ras.
7T ' 140
Essas terras, porém, não m*cosiiani d< muiuiia
< nidados contra a erosão causada pelas águas d;i.< . Iitmia
risto possuírem grande capacidade de absorção <• oitil
tração. A erosão eólica é a mais comum.
O segundo tipo de solo compreende as formações
montanhosas com fertilidade bem superior, porém mais
sujeito à erosão das chuvas, visto que a conservação do
solo não é prática rotineira dos agricultores.
É bastante reduzido o número de agricultores
que fazem uso da adubação, mas a tendência é, a curto
prazo, aumentar esse número, à medida que a assistem
eia técnica vai divulgando os resultados obtidos com as
safras que utilizaram as novas técnicas.
O teor de acidez sc situa entre 4,0 e 6,5.
Sào 760 os agricultores garopabenses; desses./
107 estão cadastrados na ACARESC, que aí se instalou
a 8 de maio de 1979. Aceitam praticamente o trabalho
do exlensionisía rural 60% dos produtores.
Principais lavouras para o comércio são a man-,
dioca e a banana. O feijão, amendoim e milho são cul­
tivados apenas para o cultivo doméstico.
A área média das propriedades é de 10,2 hecta­
res; o Município conta com apenas 4 grandes proprie­
dades. ’ :■?
Quanto à pecuária: 3.000 cabeças de rebanho
bovino; 350 de suíno e 60 de eqiiino.
O Banco do Brasil instalou, em 14 de julho de
1980, um posto avançado em Paulo Lopes, para atender
ás populações dos dois Municípios.

A Aí B iBADE PESQUEIRA '

Constitui-se a pesca na atividade tradjgional do


litoral catarinense. Já os indígenas a praticavam como
meio de subsistência. Os açorianos extraíam-mi com n
mesma finalidade. Conseguiram comercializar produto»,
rndimentarmenlc elaborados, sob a forma de "Aidgadur
secos”.
141
A extração do pescado., após a época das Arma­
ções, torn.on-se atividade cada vez mais importante, à
medida que cresciam as populações. Por muito tempo a
pesca sc configurou dentro dos padrões de estrutura ar-
tesanal Ça tecnologia empregada na captura e industria­
lização é muito precária).
Em Garopaba, sob o impulso da ACARPESC (As-
ssociação de Crédito e Assistência Pesqueira de Santa
Catarina), procurou-se modernizar sempre mais as téc­
nicas de captura.
Há, hoje, 693 pescadores, dos quais 503 associa­
dos à ACARESC. Quatro compradores de pescado vivem
exclusivamente da pesca, juntamenle com 8 famílias em­
pregadas nos frigoríficos e postos de recepção do pes­
cado.
Neste ano de 1980 estão operando em Garopa­
ba 38 baleeiras, 13 bateiras e 19 canoas.
Em 1978 pescaram-se 3.467.711 quilogramas de
peixes, que renderam Cr$ 25.951.131,80: e 7.034 qui­
los de crustáceos, que renderam Cr$ 358.770,00.
Há 10 financiamentos em vigor, num valor de
Cr$ 415.685,00, para compra de materiais diversifica-
dos, com o objetivo de se obter maior produção. Atra­
vés do crédito, pretende-se introduzir embarcações de
maior porte, com maior capacidade de carga, maior área
de pesca e melhores condições para a conservação do
pescado.
Não vigoraram as Cooperativas de Pescadores.
Hoje se intenta a atuação de um “Projeto de Cooperati-
vismo Pesqueiro”, com as seguintes metas: Orientar a
construção de um Posto de Recepção de Pescado; orien­
tar a construção de um Posto de Revenda do Pescado: au­
mentar q número de associados.
NSo há indústrias nem de produção nem de
transformação, predominando a classe pesqueira arlesa-
nal. Seu panorama econômico está bem aquém de pro­
porcionar condições de vida satisfatórias ao pescador e
141
sua família. Muita falta de qualificação profissional c de
mão-de-obra. A arrecadação da família depende quase
única e exclusivamenle do chefe da família, do pescador,
abundando a mão-de-obra ociosa no meio pesqueiro, de­
vido à falta de qualificação profissional.

Calendário de Pesca do Município de Garopaba

Espécies Aparelho de Captura

Corvina Julho-setembro rede de caceic


Anchova outubro-dezembro rede1 de malha e traineira
Tainha maio-julho traineira e arrastão
Pescadinha janeiro-março espera e arrastão
Bagre dezembro-janeiro espinhei
Cação setembro-abril espinhei e rede de emalhar
Linguado junho-setembro rede de emalhar e feiticeira
Garoupa dezembro-março linha e espinhei
Viola junho agosto rede de emalhar
Sardinha outubro-março traineira
Abrótea junho-agosto espinhei
DUAS VISTAS QUE FAZEM O QUOTIDIANO DE GAROPABA:
A CHEGADA DO PESCADOR E A SELEÇÃO DOS PEIXES

144
O MUNICÍPIO DE GAROPABA NOS DIAS DE IIOJI
1° Vias de Comunicação:
saída para o sul, via Morro do Siriú, 16 quilôme­
tros; saída para o norte, via Araçaluba, 14 qui­
lômetros.
2.° População aproximada:
perímetro urbano: 4.500 habitantes
total do Município: 10.500 liab.
3." Saúde: ,
— média de vida: 60 anos
— causas da mortalidade infantil: carência hos-
* '■ pitahir e subnutrição.
— principal doença: verminose
— atendimento aos doentes:
1 posto de saúde e 3 ambulatórios. Há 2 far­
mácias. A 10 de fevereiro de 1979 foi lança­
da a pedra fundamental do Hospital e Mater­
nidade Sant’Ana projeto de W. L. Kau, com
' r.46-,• 33 leitos.
Não há esgotos.
4.° Alimentação:
farinha de mandioca, peixe, feijão, arroz, carne,
galinha e ovos.
5/‘ Segurança:
2 policiais e um Delegado de Polícia. Não há
guardas. Delegado; Éurides Ambrósio.
6." Comércio:
lojas de fazendas, armazém, açougue.
7.° Turismo:
2 Hotéis, 7 loteamentos. Arrecadação da última
temporada; Cr$ 30.000.000,00, dos quais ape­
nas Cr$ 100.000,00 passam à Prefeitura.
f}.° Arrecadação do Município em 1979:
Cr$ 12.102.518,52. 1CM: Cr$ 1.764.697,51.
145
9.' Escolasí
9.1. Escola Básica Prof. José Lopes
581 alunos
18 profesores
l.° Grau completo
9.2. Escola Isolada Estadual de Ambrósio
Localidade; Ambrósio
Matricula: Feminina: 25. Masculina: 30. Total: 5."
Professores: Maria das Graças Abreu Santos, Junl
ce Maria Sena Ribeiro
9.3. Escola Isolada Estadual de Areias de Ambrósio
Localidade: Areia de Ambrósio
Matricula: Feminina: 30
Masculina: 60
Total: 90
Professores: Elizabeth da Silva
Maria Nilta de Souza
Maria da Graça de Souza Gonçalve»
9.4* Escola Isolada de Areias de Macacu
Localidade: Areias de Nacacu
Matrícula: Feminina: 13
Masculina: 18
Total: 31
Professora: Ana Aguiar de Souza
9.5 Escola Isolada do Canto da Penha
Localidade: Canto da Penha
Matrícula: Feminina: 07
Masculina: 12
Total: 19
Professora: Lígia Chaves de Souza Luiz
9,6 Escola Isolada de Capão
Localidade: Capão
Matrícula: Feminina: 25
Masculina: 27
Total: 52
Professores: Ivalda Marlins de Souza
Maria de Lourdes Botelho
Marilene Rodrigues
9.7. Escola Isolada de Cova I riste
Localidade: Cova Triste
Matrícula: Feminina: 14
Masculina: 16
Total: 30
Professora: Ana Maria Lalrônico
9.8. Escola Isolada de Ibiraquera
Localidade: Ibiraquera
Matrícula: Feminina: 29
Masculina: 34
Total: 63
Professores: Maria Catarina da Silva Pereira
Maria Santana de Carvalho
9.9 Escola Isola Estadual de Macaca
Localidade: Macac u
Matrícula: Feminina: 37
Masculina: 30
Total; 67
Professores: Maria Wemgartner de Souza
Roberta Natalina Darossi
9.10 Escola Isolada Estadual do Morro da Encantada
I.ocalidade: Morro da Encantada
Matrícula: Feminina: 14
Masculina: 13
Total: 27
Professor: Francisco Domingos Pacheco
9.11 Escola Isolada Estadual de Prainha do Silveira
Localidade: Prainha do Silveira
Matricula: Feminina: 30
Masculina: 29
Total: 59
Professores: Ema Ribeiro de Abreu
Ademilde Rodrigues Ribeiro
Maria das Graças Aguiar
14?
9.12. Escola Isolada Estadual da Ressacada
Localidade; Ressacada
Matrícula: Feminina: 37
Masculina: 47
Total; 84
Professores: Gerciiia Ferreira Soares
Maria de Fátima Soares
9.13. Escola Isolada Estadual de Siriú
Localidade: Siriú
Matrícula: Feminina: 23
Masculina: 43
Total: 66
Professores: Maura Nascimento de Abreu
Maria de Lourdes Israel
9.14. Escolas Reunidas Prof. Antônio José Botelho
Localidades: Palhocinha
Matrícula: Feminina: 29
Masculina: 44
Total: 73
Professores; Jandira Luiza da Silva
Tânia de Oliveira Flor
Otília Ribeiro Rodrigues
9.15. Escolas Reunidas Maria Correa Saad
Localidade: Campo D’Una
Matrícula: Feminina: 76
Masculina: 101
Total: 177
Professores: Ari Manoel dos Santos
Maria Lucas da Silva Melo
Santina Damázio Alexandrino
Carolina da Silva Pereira
Zulma da Rosa Raquel
Valdíria Furtado Raquel
. Matia Idinete João
141
9.15. Escolas Reunidas INíorberto José Floriano «Ia Silva
Localidade: Encantada
Matricula: Feminina: 37
Masculina: 41
Total: 78
Professores: Nila Rohélia Pacheco
Maria Conceição de Oliveira
João Adelino Souza
9.17. Escolas Reunidas Febrônio Tancredo de Oliveira
Localidade: Gamboa
Matrícula; Feminina: 43
Masculina: 45
Total: 88
Professores: Cacildo Antônio Jeremias
Constância Lopes Pereira
Amilde Rodrigues
Manoel Venâncio Machado
9,18. Escola Isolada Municipal de Costa do Macacu
Localidade: Costa do Macacu
Matrícula: Feminina: 28
Masculina: 49
Total: 77
Professores: Maria Eugênia Alves
Emerenciana Aguiar de Abreu
Fiorentina Bento
9,19. Escola Isolada Municipal de Areias de Palhocinha
Localidade: Areias de Palhocinha
Matrícula: Feminina: 14
Masculina: 29
Total: 43
Professora: Pascoalina Dionísia Cardoso
149
OS VIGÁRIOS DA PARÓQUIA DE SAO JOAQUIM

Não £oi fácil elaborar uma Ii.iítx do,; Vigários '»


Freguesia. Antes do Fc. Rafael Faraco, inexislia o 15.
Io Tombo. Os Livro» de Ofícios e Provisões dos Arei,
prestes da Província silenciam. Verdade é que, pela rdnl
rotatividade de sacerdotes, vários nem receberam .
visão. Foram encarregados pelo Arcipreste ou pclc
gário da Vara, sem muita documentação. Solução foi|
em certos casos, socorrer-nos nos livros de Batizados. l!c
hunciáiuós às datas de dia e mês, por não serem d.~: çu
níveis para a maioria das casos. Durante o período d
anexação a Paróquia de Santo Amaro, não piiamo
Vigários de Santo Amaro, como seria o natural, mas pre
ferimos colocar os sacerdotes que efetivamente it btí . *a
ram nas Paróquias anexr.s, recebendo, inclusive, V -»•. i
sao dc Vigários Encarregados, quando, com relação i
Santo Amaro, eram coadiu tores.
1830 - Pe. Vicente Ferreira dos Santos Cof
deiro
1839. — Fe. Bernardo da Cunha Procha.do J
nior
1841 — Pe. Vicente Ferreira dos Santos C<
deiro
1818 — Fe. Francisco de Assis Braga
1819 — Fc. An.õnió Bernal
1851 - Pe. Vicente Ferreira dos Santos C»
deiro
1852 — Pe.. José Maria da Cosia Rcbt
1855 —■ Fc. Francisco de Santa Isabel
1855 — Pe. Amando Antônio Martins
1857 — Fc. José Martins do Nascimento
1859 — .Pe. Antônio de Jesus Cola .--cs
1862 — Pe. Carlos Fernandes Cardoso
1862 — Pe. Rafael Faraco
1913 — Pe. João Casale
1913 — Pe. Rafael Faraco
1917 — Pe. Antônio Fidalgo
1918 — Pe. César Rossi
150
1946 — Pe. Paulo Oobold
1956 — Frei Raimundo Holte OFM
1960 — Frei Anésio Muenchen OFM
1962 — Frei Florentino Barrionuevo OFM
1965 — Frei Joaquim Orth OFM
1966 — Frei Ervino Girardi OFM
196” — Pe. Henrique Wenderhoff
19 i 3 — Pe. Eugênio Kinceski
1976 — Pe. Francisco de Assis Wloch

CONSELHO ADMINISTRATIVO DA MATRIZ

Presidente Executivo — Osvaldo Santana de Souza


Vice Presidente — Marcos Rodrigues
l.° Tesoureiro — Vanda da Silva Lobo
2.° Tesoureiro — José Moisés Patrício
1.” Secretário — tnlônio Leovigildo de Souza
2.° Secretário — Djalma Maria da Silva Alves
Conselheiros — José Lobo Filho
Valter Pereira
José Pereira
Bertoldo Álvaro dos Santos
Pedro Manoel de Lima
Bráulio Araújo Silva
José Adílio de Araújo
Sebastião Messias de Souza
Ires Bardança Lobo
Abílio Manoel de Lima
Maria do Carmo Pacheco
Timóteo Manoel Pacheco
Inês Pereira
Maura Lima
Dauri Celso da Silva
José Ponciano Ribeiro
151
APÊNDICE

Transcrevemos aqui, como complemento histó­


rico, os Provimentos de Visita Pastoral e o Primeiro Có­
digo de Posturas do Município, decretado em 29 de ju­
nho de 1891.

Os Provimentos de Visita Pastoral abrangem as Visi­


tas realizadas pelos Srs. Bispos e Arcebispos entre 1895
e 1976: são documentos importantes pela análise do an­
damento religioso da Paróquia que geralmente apresen­
tam.

O Código de Posturas é significativo por revelar


os valores que à época eram tidos como sagrados pela
população local, especialmente com relação aos bons cc -
lumes e aos meios de produção.

1,2
1

PROVIMENTO DE VISITA PASTORAL (1895)

D. José Camargo Barros, por n.rcê de Deus e


da Santa Sé Apostólica, Bispo desta diocese de Curitiba
aos que este provimento virem, saúde e bênção em o Se­
nhor.
Fazemos saber que no dia onze do corrente mês,
abrimos a Visita Pastoral desta Paróquia, cujos fatos
principais vamos aqui relatar a fim de constar a todo o
tempo.
Chegada e entrada solene
Depois de excelente viagem de Enseada de Bri­
to até aqui no rebocador “João Felipe” que nos foi ob-
sequiosamente oferecido pelo Governador deste Estado,
chegamos às duas horas e meia da tarde ao porto desta
Paróquia, sendo recebido pelo Revmo. Vigário desta Pa­
róquia, Pe. Raphael Faracco, pela digna comissão de re­
cepção, por um grupo de meninas vestidas de branco e
por grande número de, populares. Ao entrarmos em nos­
sa residência fomos saudado pelo Sr. David do Amaral,
um dos membros da Comissão, que recitou uma inspira­
da poesia em cujo final pediu a bênção para todos os
seus concidadãos, ao que muito boa mente acedemos.
Até aqui fomos acompanhado pela banda de música e
por diversos amigos da Enseada, bem como pelos Pa­
dres Alberto José Gonçalves, Luiz Rossi e Archangelo Ga-
narini, que muito nos auxiliaram nos trabalhos da Visi­
ta, e pelos Padres José Martins do Nascimento e João Ba­
tista Steiner que no mesmo dia voltaram para suas paró­
quias. Depois dc um momento de repouso, tomando os
paramentos pontificais na própria residência, fizemos a
entrada solene na Matriz desta Paróquia a fim de darmos
começo aos trabalhos da Visita, sendo precedido pelo
grupo de meninas, por alguns homens revestidos de opa
e acompanhado pela banda de música e por grande mas­
sa de povo. Algumas alamedas de palmitos, bandeiras e
bandeirolas de muitas cores e o estourar de muitas bate­
rias davam um aspecto festivo e alegre a esta católica po-
153
voaçào. Depois de preenchidas todas as cerimônias e da
pratica de costume, na qual declaramos os fins e a du­
ração da Visila, demos o anel a beijar a 307 pessoas e
com a benção do SSmo. dada pelo Vigário, encerramos
a solenidade deste dia.

Funções religiosas
A Visita aqui foi de três dias cheios, pois haven­
do começado no dia 11, terminou-se ontem à noite. Du­
rante este tempo, dos diversos bairros desta Freguesia
afluiu muita gente. Além das missas celebradas de ma­
nhã pelos padres, havia também outra celebrada por nós
ãs oito horas e meia, na qual fazíamos a nossa prática.
O Revmo. Pe. Rossi manteve também aqui o louvável
costume de fazer um fervorinho nas suas missas na hora
e a propósito da comunhão. A tarde, a função religiosa
que fazíamos, ora pregava o Pe. Rossi, ora o Pe. Alberto.
Nos três dias que aqui estivemos, crismamos duas vezes
por dia, perfazendo a soma de 1334 o número de cris­
mados. Aproveitaram a oportunidade para santificar a
união em que viviam algumas senhoras, havendo 34 ca­
samentos. Também foi bem notável e consolador o nú­
mero de comunhões, de modo que lerá deixado, sem
dúvida, no meio do povo, uma impressão bem agradá­
vel esta grande graça da Visila.

Visita real
Esla Paróquia foi criada por lei provincial de 9
de dezembro de 1830 e tem como Vigário colado des­
de 26 de junho de 1867 o Pe. Raphael Faraco, sacerdote
italiano naturalizado. A igreja, forrada e assoalhada, é
muito pequena e pouco arejada e tem três altares: o al-
tar-mór, consagrado a São Joaquim, o altar do lado do
ILvangelho consagrado a N. Sra. das Dores e o altar do
lado da Epístola, dedicado ao Espírito Santo. No nicho
do altar-mór, no qual se acha a imagem de S. Joaquim,
que é de madeira, há também outras imagens; o que não
é razoável, pois o padroeiro da igreja é um só. Por isso,
recomendamos ao Revmo. que fisesse remoção dali para
154
outro lugar aquelas imagens, a fim de deixar denlro uo
nicho somente a imagem de São Joaquim. Os três alia
res têm sacras, castiçais e pedras d’ara.
O tabernáeulo, colocado no altar-mór, é amo vi­
vei, forrado interiormente de papel, o que não está de
acordo com a liturgia, que recomenda forro de damasco
ou seda branca. Icm diante de si uma lâmpada bem re­
gular. A igreja tem um só púlpito, cuja escada ainda es­
ta por fazer-se; tem também um pequeno confessionário.
Nao tem batistério. A pia batismal, que é de pedra, está
colocada debaixo da escada do coro, não tem fechadura,
o que é gravemente inconveniente, pois expõe a água ba­
tismal ao perigo de ser profanada de tantos modos. A
sacristia, do lado do Evangelho, é forrada e assoalhada,
tem arcas e diversas caixas. Os paramentos, em número
suficiente, são bons; vieram juntamente com outros ob­
jetos da capela de Nossa Sra. dos Navegantes, como dá­
diva feita pelo Capitão de Mar e Guerra José Marques
Guimarães, cujo pai, natural daqui, quis ser enterrado
nesta Paróquia e cujo retrato a óleo se conserva na sa­
cristia. Tem um pequeno campanário com um sino só.
Na povoação há dois cemitérios e um outro no distrito
chamado de Paulo Lopes. Está em construção o teatro do
Espírito Santo. Fizemos também a visita dos livros da
Paróquia, nos quais fizemos as observações que nos pa-
rcceram necessárias e oportunas.
Encerramento

Ontem fizemos o encerramento da santa Visita


da seguinte forma: acabada a missa conventual, que foi ce­
lebrada pelo Vigário às 1.0 horas da manhã, fizemos, só
na igreja, a encomendação das almas com as cerimônias
ordenadas pelo Pontificai. Durante o dia administramos
ainda duas vezes o Santo Sacramento da Crisma e à tarde
fizemos a prática da despedida renovando os nossos agra­
decimentos à digna comissão e a todo o povo e dando os
nossos últimos avisos e conselhos. Hoje, depois da noss.i
missa, às 8 horas e meia, ainda crismamos muitas pes­
soas que se apresentaram na última hora. Ao Revmo Sr.

155
Vigário recomendamos os avisos que Uie deixamos no
provimento especial e aos pais de família, mais uma vez
recomendamos muito a educação religiosa dos seus fi­
lhos, que tem sido muito descorada. E agora, de novo e
a todos damos a nossa Bênção Pastoral. Et benedictio Dei
Oiunipolenlis Patris el Eilii et Spirilus Sancti, descendat
super vos et maneai semper. Amen.
Este provimento será lido à estação da Missa em
domingo ou dia festivo logo após o seu recebimento para
que chegue ao conhecimento de todos. São Joaquim de
Garopaba, 15 de julho de 1895.
+ José Camargo Barros
E eu, o Pe. Alberto José Gonçalves, secretário da
Visita, para aqui transladei este provimento bem fiel-
menle como está no original. Do que dou fé. (64)

PROVIMENTO DE VISITA PASTORAL (1902)


Aos 26 de maio de 1902, sem termos tido tempo
de examinarmos todos os livros de batizados e casamen­
tos, examinamos somente o presente livro do Tombo.
Novamente recomendamos ao Revino. Vigário que ob­
serve os diversos capítulos do Provimento especial da
primeira visita. Recomendamos-lhe mais que registre nes­
te livro o Inventário das alfaias e todos os bens e proprie­
dades da Matriz, inclusive os livros paroquiais e tudo
<pianto possui o arquivo da Paróquia. Sendo este livro
de suma importância, é de necessidade mandar encader­
nar. Garopaba, em nossa segunda visita Pastoral, aos 25
de maio de 1902.
+ José, Bispo Diocesano.

Dom José Camargo Barros, por mercê de Deus


e da Santa Sé Apostólica, Bispo desta Diocese.
Aos que este Provimento viram, saudação e bên­
ção em o Senhor.
156
Fazemos saber que havendo, em cumprimento de
nosso munus pastoral, fazer a nossa segunda visila pasto­
ral a esta Paróquia de São Joaquim de Garopaba, have­
mos por bem registrar neste livro os fatos principais da
mesma para constar a lodo o tempo.
Chegada
Aos 23 de maio de 1902, partimos da paróquia
de N. Sra. do Rosário às onze horas da manhã e aqui che­
gamos ãs cinco e meia da tarde. Até o passo do Rio Ma-
ciambú viemos acompanhado pelo Frei Burchards, Cae­
tano da Silveira e outros homens e até aqui nos acompa­
nharam os cidadãos Arthur Ramos de Souza Moreira, Jo­
sé Leal, Nicolaii Paulo Jordão e mais outros distintos
moradores da Enseada e a banda de música da mesma,
que veio por mar, ao passo que nós viemos por terra.
Em nossa chegada fomos recebidos pelo Revtno.
Vigário da Paróquia, que continua ser o Revdo. Pe. Ra­
phael Faraco, por alguns irmãos do Ssmo. Sacramento e
N. Sra. das Dores e por um povo imenso.
lendo sido saudado por um belo discurso do
Revdo. Vigário, respondemos agradecendo ao povo a
brilhante recepção que acabava de fazer-nos e convidan­
do-o para a cerimônia de entrada solene que devia se fa­
zer e de fato se fez no dia seguinte às nove horas da ma­
nhã.
Os repiques dos sinos, o estourar dos foguetes e
baterias, a bela ornamentação das ruas e a iluminação
das casas, à noite, deram muito realce.
Entrada solene
Aos vinte e quatro deste mês, partindo processio-
nalmente da Capela do Bom Jesus, fizemos a nossa en­
trada solene na Matriz desta paróquia, observando quan­
to nos foi possível as cerimônias próprias desta solenida­
de. A lemos debaixo do pálio., precedido das Irmandade*
do Ssmo. Sacramento e de N. Sra. das Dores, acompa­
nhado da boa musica de Enseada de Brito e de muito po­
vo. No fim destas solenidades, fizemos uma boa prática.
15?
explicando a oportunidade desta Visita Pastoral pelas
consolações que há de dar ao povo nesta época em que
s mesmo povo vai passando por tantas aflições já por
cansa da falta dc recursos já por causa da epidemia rei­
nante de febres malignas e de mau caráter.
Funções religiosas
A nossa segunda visita nesta paróquia foi de três
dias cheios, a saber 24, 25 c 26 de maio corrente. Du­
rante este tempo, nós e os nossos companheiros e o Rev-
do. Vigário não poupamos trabalhos para satisfazer às
necessidades espirituais deste povo.
Celebramos a Santa Missa todos os dias às oito
horas da mauhâ depois que os padres já tinham também
celebrado. Nos dois primeiros dias crismamos às duas
iioras da tarde, no terceiro dia crismamos duas vezes, às
duas e às cinco horas lendo sido sempre auxiliado neste
trabalho pelos padres V igário, Solano e Lamartine.
Pregamos sempre, ora de manhã, ora na ocasião
da crisma, e também na entrada solene e na última no­
vena, à noite. Neste ministério da pregação, fomos au­
xiliado pelo Frei Solano. Todos os dias à tarde houve no­
venas com bênção do Ssmo. Sacramento, às quais entre­
tanto, com exceção da última, não assistimos. No último
dia fizemos a visita da Matriz, a encomendação das al­
mas e, antes da novena, às cinco iioras, houve uma pro­
cissão em honra de São Sebastião, cantando-se a ladainha
4e Todos os Santos, alguns cânticos de N. Sra. e alguns
versos de São Sebastião. No começo da procissão fomos
até um ponto elevado da praia e, a pedido do Revdo. V i­
gário, fizemos a bênção do mar.
Durante esta visita houve 706 confirmações, qua­
se 300 comunhões e 27 casamentos. O movimento reli­
gioso foi bem regular e consolador. Os Padres Vigário,
Solano e Lamartine, foram incansáveis em ouvir confis­
sões. Também auxiliamos na confissão dos homens, em
nossa residência.

158
Visita Real
Aos vinte e seis deste mês, dc acordo com as pres­
crições do Cerimonial, fizemos a visita do Tabernáciilo,
aliar e pedras d’ara, saeristia e paramentos, confissioná-
rios, balisténo e pia batismal. Deixamos de fazer a des­
crição total da Matriz, porque continua a ser o que era
em nossa primeira visita em julho de 1895. Somente de­
vemos acrescentar que o Revdo. Pe. Vigário mandou co­
locar uma boa escada para o púlpito e que não havia, fe­
chou o balislerio com um bom e sólido gradil de madeira
e boa fechadura e colocou na parede um armário para
os santos oleos. Por estes melhoramentos damos os pa­
rabéns ao zelo do mesmo Vigário. Ao mesmo Vigário
agradecemos muito a boa lembrança que teve de colocar
na parede da saeristia o nosso retrato, à crayon, comq
homenagem de seu respeito e amizade.
Encerramento
Aos vinte e seis deste mês, com uma prática de
despedida, em que demos vários conselhos aos fiéis des­
ta Paróquia e com a bênção do Ssmo. Sacramento, de­
mos por encerrada a nossa segunda Visita Pastoral a es­
ta Paróquia. Antes de sairmos da Igreja demos o anel a
beijar a quinhentas c quarenta e sete pessoas. Havia na
Igreja um povo enorme, atento e respeitoso. Do púlpito
da Matriz agradecemos ao Revdo. Pe. Raphael Faraco a
boa, larga e generosa hospitalidade que a nós e a nossos
companheiros deu-nos em sua residência. Agora quere­
mos, de novo, deixar aqui registrado, para constar a todo
o tempo, que somos muito gratos e reconhecidos pela
hospitalidade que nos dispensou e por todas as provas
de respeito e consideração que nos deu.
Continuamos a pedir sempre ao nosso bom Deus
para que o abençoe sempre e lhe dê as graças necessá­
rias ao seu espinhoso estado de cura d’almas.

Recomendações
Havemos poi bem recomendar ao digno Vigário
que melhore as condições dc tabernáciilo, mandando fa-
159
zer uni maior mais bonito e mais desconte, ou ao menos
mande pintar o atual, forrá-lo com damasco branco por
dentro, em lugar do papel que presentemente tem, e co­
locar por cima um conopéu branco em lugar do atual
respeito (pavilhão da frente) que já está muito velho e
encardido. No batislério lembre-se de colocar a imagem
de São João batizando a Jesus, e tome as providência
que lhe indicamos ou outras equivalentes a fim de que
a água batismal servida não caia na mesma pia. Também
não se esqueça de fazer o inventário completo das alfaias
e mais propriedades da Matriz conforme deixamos no
teimo de visita neste livro e também já tinha sido man­
dado no capítulo Vil do Provimento especial de nossa
Primeira Visita.
Dado em Garopaba, aos 27 de maio de 1902.
~ José, Bispo Diocesano (65).

PROVIMENTO DE VISITA PASTORAL (1909)

Dom João Becker, por mercê de Deus e da Santa


Sé apostólica, Bispo da Diocese de Florianópolis.
Aos que o presente Provimento virem, sauda­
ção, paz e bênção em N.S.J.C.
Fazemos saber que em Visita Pastoral a esta nos­
sa Diocese dc Florianópolis, chegamos no dia 19 de agos­
to à Paróquia de São Joaquim de Garopaba pelas cinco
horas da tarde. Fomos festivameiite recebido e saudado
pelo Revmo. Sr. Vigário Pe. Raphael Faraco, que em be­
lo discurso nos saudou em nome da Paróquia. Em segui­
da, o limo Sr. Alberto Bittencourt Cotrim, digno inspe­
tor do telégrafo nacional, dirigiu-nos um discurso vibran­
te, formoso na forma e belíssimo pelos seus conceitos.
Fizemos nossa visita canônica segundo as prescrições da
Santa Igreja. Apresentamos ao venerando Vigário da Pa­
róquia, às digníssimas autoridades locais, comissões de
recepção, ao distinto cavalheiro Sr. Alberto Bittencourt
teu
Cotrim, os? nossos sinceros agradecimentos por Iodas a-
atenções que nos dispensaram. Houve o seguinte mov i
mento religioso: 14 batizados, 5 casamentos, 89 cji:fis­
sões, 23 comunhões e 329 crismas. Foi entregue ao nos
so Secretário particular a importância de 80$540 réis
como produto total das esmolas oferecidas por ocasião
da crisma. É preciso que o Revmo. Vigário faça todo <>
possível para que seja nomeado o conselho de fábrica se­
gundo as determinações de nosso preclaro predecessor.,
o Exmo. Sr. Dom Duarte Leopoldo e Silva; igualniente
é necessário que as ordens do Exmo. Sr. Bispo D. José
Camargo Barros, dc saudosa memória, sejam cumpridas
O sacrário deve estar fixo e possuir um conopéu. Pe.Ii
mos também ao Revmo. Sr. Vigário que observe fit '
mente o que lhe disse relativamente à administração do
sacramento do Batismo.
Agradecendo, uma vez mais, a toda população de
Garopaba os obséquios que a nós dispensou, damos-lhe,
penhorado, nossa bênção episcopal.
Dado e passado em Visita Pastoral. Paróquia dr
São Joaquim de Garopaba, aos 21 de agosto de 1909.
+ João Becker, Bispo de Florianópolis (66).

Dom Joaquim Domingues dc Oliveira, por mer­


cê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo diocesano de
Florianópolis.
Aos que o presente Provimento de Visita virem,
saudação e bênção cm Jesus Cristo.
Fazemos saber que, em Visita Pastoral a esta nos­
sa Diocese dc Florianópolis, chegamos, no dia 10 <!*■
maio do presente ano ao arraial de Paulo Lopes, perlen
cente à Paróquia de São Joaquim de Garopaba, e lá nos
demoramos até o dia 13 do mesmo mês, hospedando ikh
na residência do Sr. José Luís dos Santos. Por ter sido

161
a primeira Visita Pastoral àquela Capela, houve sempre
uni concurso extraordinário do povo, apesar das febres
de mau caráter que então reinavam, tendo-se observado
o seguinte movimento religioso: Crismas: 672; Confis­
sões: 500; Comunhões: 414; Casamentos legalizados.
18; Batizados: 24. De tarde houve sempre a novena, a
que presidíamos, com prática, em que nos procuravamos
acomodar ás circunstâncias e capacidade deste bom po­
vo.
Inúmeras foram as consolações que aqui tivemos
e constantes as gentilezas que aqui se nos dispensaram.
— Foi, pois, com saudade que, na tarde de 13 de maio,
acompanhado de cincoenta para sessenta cavaleiros, nos
iingnnos à Vila de Garopaba, sede da Freguesia de !■ “.»
Joaquim do mesmo nome.
Aguardava-nos à entrada da Vila, uma massa com­
pacta de povo, tendo nós seguido para a residência do
Sr. Tobias de Sá, onde nos paramer tamos pontifical-
menle, e donde partimos para a entrada solene na Igre­
ja Matriz. Saudou-nos ali o muito Revdo. Vigário Pe. Ra-
iacl Faraco, que nos apresentou as boas vindas em nome
de seus paroquianos. tendo tido expressões de muito ca­
rinho e bondade, que então, e aqui, sen lidamente agra
decemos. Demos a bênção com o Santíssimo e, em segui­
da, o anel a beijar à multidão dc fiéis (pie literalmentc
enchiam a igreja.
Prolongou-se a nossa Visita ale o dia dezesseis,
pelo meio dia, tendo-sc, durante esse tempo, observado
o seguinte movimento religioso: Crismas: 522; Confis­
sões: 190; Comunhões: 126; Batizados: 10; Casamen­
tos, quase todos legalizados: 7. De noite, houve sempre
bênção com o Santíssimo Sacramento e prática, em que
davamos sempre alguns conselhos aos fiéis. Na manhã
do dia dezesseis fizemos a encomendação dos defuntos
e procissão ao cemitério, em que pregou o missionário
Frei Ivo. Manda a justiça consignar os excelentes servi­
ços que S. Revma., bem como o nosso Secretário de Vi­
sita Frei Dymas Wolff nos prestaram aqui e muito prin-
162
eipahncnle no Arraial de Paulo Lopes, onde o serviço «e
prolongava até altas horas da noite, para recomeçar ilm
de as primeiras horas da manhã. Lá, como aqui. Imn
hém ajudamos no ministério das Confissões. — No din
quinze fizemos a visita ao sacrário, sacrist ia, pia batis­
mal, e o mais que por direito está sujeito à visita. Pre­
senciamos diversos melhoramentos materiais, sentindo
que a idade provecta do muito Revdo. Sr. Vigário e a-<
suas forças, que vão se debilitando, não consinlani um
cuidado mais esmerado por esta parte do nosso rebanho
que, aliás, se mostra dócil, e sempre cheio de boa von­
tade.
Faz-se mister um novo pavilhão para cobrir a
âmbula com o Santíssimo, bem como um conopeu, se­
gundo as normas litúrgicas, para cobrir o tabernácido.
Já providenciamos quanto à remoção dos santos óleos.
Agradecemos a hospitalidade franca e generosa
que nos foi dispensada, e fazemos os mais sinceros votos
pela saúde e conservação do nosso Sr. Vigário. — Queira
o Sr. Sacristão, sob a dependência do Pároco, conservar
a melhor ordem e limpeza na Matriz em geral, velando
especialmente pelo bom estado dos paramentos e alfaia­
do culto. — Ao Revmo. Pe. Faraco e à população de São
Joaquim de Garopaba aqui deixamos, com os nosso-,
agradecimentos, uma última bênção pastoral.
Paróquia de São Joaquim de Garopaba, aos 16 d«*
maio de 1916.
+ Joaquim, Bispo diocesano (67).

PROVIMENTO DE VISITA PASTORAL (1921)


Dom Joaquim Domingues de Oliveira, por nier-
cê de Deus e da Santa Sé Apostólica Bispo Diocesano d<
Florianópolis. Aos que o presente Provimento virem
saudação, paz c bênção em NSJS.
Fazemos saber que, em Visita Pastoral, cIicjiji
mos, no dia 14 de abril do presente ano, à Paróquia •!<
163
São Joaquim de Garopaba, onde permanecemos até o
dia 18 de manhã, Lendo visitado o Distrito e Capela de
Paulo Lopes e a sede da Freguesia. — Fomos em ambos
os lugares afetuosa e festivamente recebidos, tendo co­
meçado os trabalhos de Visita Pastoral, em que sc verifi­
cou o seguinte movimento religioso: práticas: 7; Con­
fissões: 360, mais ou menos; Comunhões: 300 (?) ; Ba­
tizados:..... ; Casamentos: 8; catequeses: 4; Crismas:
509.
Na visita real e pessoal, de conformidade com
os Cânones, notamos a falia do livro de Óbitos, de Cris­
mas, das intenções de Missas, da própria Tabela de Emo­
lumentos, e, em Paulo Lopes, do cartaz com as orações
para o fim da Missa. Em ambos os lugares, há falta de
decentes e indispensáveis confessionários, para homens
e para senhoras, garantindo o decoro, suavidade e a in­
tegridade da Confissão; assim como notamos a penúria
de alfaias cm que se encontra a Matriz, à qual faltam
inna máquina para confecção de hóstias, conopeu ade­
quado para o Tabernáculo, véu para cibório, uma grade
para Comunhão, dando à Matriz, como convém, um as­
pecto de vida religiosa e eucarística, e a de alguns armá­
rios para arquivo, que não existe, e para paramentos sa­
cros, que estão em via de. arruinar-se.
Há na Paróquia, fundada pelo Revdo. Vigário
antecessor, a Associação feminina do Sagrado Coração
de Jesus, e uma Irmandade, por devoção, do SSmo. Sa­
cramento, cujos estatutos estamos dispostos a rever e ou­
tra, cm projeto, de N. Sra. dos Navegantes, cuja primei­
ra lesta se celebrou durante a Visita. Com a associação
do Coração de Jesus nos entendemos para a aquisição
de alguns objetos mais indispensáveis a que acima nos
referimos. Em toda a Paróquia não encontramos vestí­
gio da observância do Termo, de que fala o nosso Sínodo.
(c. 112, 113), e os próprios assentamentos de Casamen­
tos são irregulares e imperfeitos (vide Past. Coletiva n."s
405e 3í5).
O Termo de posse do Vigário, a comunicação da
mesma à Curia, o inventário dos bens da Matriz, etc..
164
previstos por lei, nào foram observados, nem constam
dos livros existentes. Tudo isto consignamos aqui, sem
de tudo encarregar o Revmo. Vigário atual, para desen-
cargo de nossa consciência, mas ainda para o governo
do mesmo Vigário, a quem ordenamos sane quanto an-
tec, enquanto em si estiver, as deficiências aqui aponta
das, e para o dos Vigários que lhe sucederão no cargo.
Ao Revmo. Sr. Vigário, e ao povo que por toda
a parte nos acolheu com as mesmas provas de afeto fi­
lial, renovamos, de coração, a nossa bênção de despedida.
De Araçatuba, em Visita, aos 18 de abril de 1921.
+ Joaquim, Bispo diocesano (68).

PROVIMENTO DE VISITA PASTORAL (1933)

Dom Joaquim Domingues de Oliveira, por mer-


ce de Deus e da Santa Sé Apostólica, Arcebispo Metro­
politano de Florianópolis.
Aos que o presente Termo virem, saudação, paz
e bênção eiu NSJC.
Fazemos saber que, em Visita Pastoral, acompa­
nhados do Revmo. Irei Norberto Tambosi, e seminaris­
tas Minorislas Roberto Wirobek e Rodolfo Machado e
mais uma Comissão que nos fora esperar em Araçatuba,
chegamos no dia dois de janeiro do corrente ano. pelas
dezenove horas da tarde, à sede e Freguesia de São Joa­
quim de Garopaba, de que é Vigário o esforçado Revmo.
Pe. Dr. César Rossi.
Fomos festivamenle recebidos, como nas três
Visitas Pastorais anteriores, tendo, depois de certa de­
mora, feito a nossa entrada solene, observadas todas as
formalidades do cerimonial. Na mesma ocasião presidi­
mos ã primeira novena, em que pregamos como de cos­
tume, seguindo-se as Confissões, como preparação à Co­
munhão dos dias seguintes. Ao outro dia, e ao que se­
guiu, celebramos pelas oito horas da manhã, com distri­

165
buição da sagrada Comunhão aos fiéis. Pelas onze horas
da manha e dezesseis da tarde, bem como às onze do
dia seguinte, ministramos o santo Sacramento da Con­
firmação.
Visitamos a Igreja, alfaias etc., e folgamos em
registrar aqui, com louvor merecido, os importantes me­
lhoramentos da torre da Igreja e escadaria em frente à
mesma, iniciados e levados a termo pelo mencionado Vi­
gário da Paróquia, que, aliás, projeta novos e úteis acrés­
cimos à Igreja matriz.
Pela segunda vez nos hospedamos na residência
da Exnia. Família de Da. Emilia Malty, de quem recebe­
mos as mais inequívocas demonstrações de atenção e so­
licitude.
Durante a Visita Pastoral observou-se o seguinte
movimento religioso: Crismas:..... ; Confissões: 300:
Comunhões: 205; novenas: 2; práticas: 2: Casamentos:
2; Batizados: 9; enconiendação: 1.
Recebemos e mandamos retribuir várias visitas,
tendo seguido pelas dezesseis horas rumo de Paulo Lo­
pes.
Ainda uma vez agradecemos ao Revmo. Vigário
e população de Garopaba todas as demonstrações de con­
sideração e estima que nos dispensaram, pedindo a Deus
lhes retribua com grande soma de bênçãos temporais e
eternas, em penhor das quais aqui lhes deixamos uma
derradeira e afetuosa bênção em nome do Padre e do
Filho e do Espírito Santo.
Dado e passado em São Joaquim de Garopaba.
aos 4 de janeiro de 1933.
+ Joaquim, Arcebispo Metropolitano (69).

166
PROVIMENTO DE VISITA PASTORAL (1940)

Doni Joaquim Domingues de Oliveira, por mercê


de Deus e da Santa Sé Apostólica Arcebispo Metropolita­
no de Florianópolis, Doutor em Cânones, etc.
Aos que o presente Provimento virem, saudação
e bênção em Jesus Cristo.
Fazemos saber que, em Visita Pastoral, proceden­
te da localidade de Paulo Lopes, anexa à Paróquia de San­
to Amaro, e tendo como auxiliares ao Revrnos. Padres
frei Norberto Tambosi, Frei Teodósio Kreuser, e Semi­
narista Antonio Laus, chegamos, no dia 22 de outubro
do corrente ano, de auto-ónibus, em companhia de gran­
de número de moradores da mencionada localidade, à
de São Joaquim de Garopaba, anexa, por sua vez, à de
Mirim-Vila Nova. Aguardavam-nos, à entrada da Vila, o
Revmo. Vigário, Pe. Dr. César Rossi, e Autoridades lo­
cais, a frente das Associações e numeroso povo, a despei-
lo das dificuldades de trânsito, pelas chuvas fortes e
constantes dos dois dias anteriores.
Saudações, por vários oradores. Préstito, até a re­
sidência da Exma. Viúva Emilia Malty, onde nos para-
mentamos, e donde seguimos, proccssionalmente, sob o
Túlio, até a Igreja Matriz. Na referida residência, ainda
uma vez, nos eslava reservada a hospedagem, aliás, sem­
pre faria e sumamenlc atenciosa. O templo, que ainda
ultimamente, recebeu vários melhoramentos, como o no­
vo assoalho e a pintura, a óleo, da Capela-Mor, é., senão
o mesmo, a continuação da Capela de São Joaquim da
Armação de Garopaba, anterior ao Ato de 13 de maio
de 1846, do Presidente da Província Ferreira de Brito,
que criou a Freguesia do mesmo nome. Demoramo-nos
em Garopaba, de 22 a 24, pela tarde. Durante a nossa
permanência, observou-se o seguinte movimento religio­
so: Novenas: 2; Práticas: 3; Confissões: 200; Comu­
nhões: 160; Balizados: 10; Crismas: 582.
De manhã celebramos sempre Missa de Comu­
nhão Geral, às 7 horas, presidindo, às 9,30, à Missa Can­
tada, pregando ao Evangelho, o que, aliás, se iria verifi-
167
car, como sempre, em todas as localidades a serem Csi
tadas. A 24, pois de auto-ônibus, em companhia de cres­
cido número de moradores de Garopaba, partida para a
localidade de Araçatuba, na estrada geral, entre Paulo
Lopes e Mirim. (...) (Segue Provimento de Visita a Mi­
rim e Vila Nova)-
Ao Kevmo. Sr. Vigário, Pe. Dr. César Rossi, qnc
íiá longos anos dirige os destinos da Paróquia, e a tem
dotado de contestáveis melhoramentos, somos muito
grato, pelas provas de acatamento recebidas. Os mesmos
agradecimentos ãs Autoridades locais, às esforçadas Co­
missões de Recepção, às Fábricas de Igreja, às Associa­
ções Religiosas, às F.xmas. Famílias, em cujo lar sempre
encontramos faria e carinhosa hospedagem. Formulamos
votos pelas suas melhores prosperidades, coneítando-os
a zelar o patrimônio religioso, que presidiu à sua for­
mação social, imprimindo ainda aos atos públicos um
cunho de venerável grandeza.
A todos, pois, reiteramos as seguraneas de nosso
melhor apreço; e, como testemunho destes nossos ínti­
mos sentimentos, daqui lhes enviamos uma derradeira e
afetuosa bênção.
Dado e passado em Florianópolis, aos 3 de de­
zembro de 1940.
+ Joaquim, Arcebispo Metropolitano (70).

PROVIMENTO DE VISITA PASTORAL (1959)

Às 16,00 horas de 31 de maio de 1959, fomos


festivamente recebido pela população desta Paróquia a
que fazíamos nossa primeira Visita Pastoral. Havia mui
ta gente, acrescida ainda pela grande comitiva de Penha
e Paulo Lopes, que nos quiseram honrar com seu acompa
uhamento. Dirigindo-nos à frente da Matriz, logo após as
saudações e agradecimentos, demos início imediato ao

168
trabalhos missionários da Visita. Os livros paroqui.ti- 1c
anos atrás apresentam graves senões em seus assentos qm
recomendamos encaiecidaiiionle ao Revdo. Pe. Frei Rai­
mundo, encarregado da Paróquia, procure sanar, embo­
ra nenhuma responsabilidade lhe cabe porque são ante­
riores à sua gestão. A frequência às funções, principal-
niente à noite, foi muito boa, embora pela manhã pu­
desse ser melhor ainda. Insistimos na necessidade dos
pais ensinarem os rudimentos da doutrina, bem como as
orações, aos filhos, e de mandá-los ao catecismo; infeliz-
mente temos de lamentar que o interesse em assistir à
doutrina foi aqui menor que nos outros lugares visitados.
Ajudarani-uos com muita dedicação em todos os traba­
lhos os Kevdos. Frei Raimundo e Frei Osório Stoffel
OFM, a quem agradecemos.
Quadro estatístico do movimento religioso: Co­
munhões: 392; Crismas: 634; Casamentos legitimados:
1.2; pregações: 14; catequeses: 3.
/kgradecemos a todos as atenções que nos dispen­
saram e lançamos aqui nossa bênção pastoral: Benedictio
Oei omnipoteiitis, Palris, et Filii et Spiritus Salieti, des«
cendat super vos cl maneat semper. Amen.
Garopaba, 4 de junho de 1959.
+ Frei Felicio Cesar da Cunha Vasconcelos OFM
Arcebispo Coadjutor (71).

PROVIMENTO DE VISITA PASTORAL (1972)

Nossa Visita Pastoral à Paróquia de Paulo Lopes


realizou-se em três etapas: de 2 a 5 de janeiro à Enseada
de Brito e Capelas; de 23 a 26 do mesmo mês a Paulo
Lopes e Capelas; finalinenle, de 30 de janeiro a l.° de
fevereiro, a Garopaba e Capelas. O Vigário, Pe. Henri­
que Wederhoff, e Coadjutor Pe. Eugênio Kinceski e oito
seminaristas do Paiiiinum e Azambuja, prepararam a Vi­
sita e deram sua precisa colaboração em sua execução.

169
Em ioda parle verificou-se boa afluência dc povo, c pu­
demos desenvolver o programa previamenle combinado,
isto é: recepção, missa com pregação, crismas, palestras
para os adultos e troca de idéias sobre problemas admi­
nistrativos. Na liturgia, os seminaristas assumiam a lide­
rança na parle dos comentários, leituras e cantos. Como
temas de pregação escolhemos assuntos atuais e esclare­
cimentos oportunos. Muito já se alcançou nestes últimos
anos, com o trabalho intenso do Pe. Henrique, auxiliado
nas férias pelos seminaristas, mas percebe-se que a faliu
de um maior desenvolvimento econômico e social da po­
pulação, influi negativamente ua vitalidade religiosa da­
quele bom povo. Parece que a Igreja ai deverá trabalhar
no anúncio da fé e ao mesmo tempo em obras de promo­
ção humana, de forma que se dê o desenvolvimento har­
monioso do homem, e aos poucos ele venha participar
integralmente da civilização. Aliás, a pastoral da Paró­
quia já vem se conduzindo nesta linha, num grande es­
forço de educação de base. Na esfera material existem
algumas Capelas em construção, inclusive a própria Igre­
ja Matriz. Os Conselhos Administrativos das Capelas te­
rão que tomar consciência cada vez maior da responsa­
bilidade que lhes cabe, não só em época de construção,
mas também na manutenção constante de tudo o que in­
teressa ao templo e ao progresso da comunidade viva, ou
seja, da Igreja viva. Com a escassez de sacerdotes, os mi­
nistros serão, com o tempo, distribuídos entre pessoas
da classe leiga, e previamente preparadas. Deixo aqui um
sincero e cordial agradecimento ao Pe. Henrique, ao Pe.
Eugênio, aos seminaristas, aos Conselhos Administrativos,
e às famílias que nos hospedaram, pela colaboração e pe­
la hospitalidade demonstrada nos dias da Visita Pasto­
ral. Deus abençoe a toda a Comunidade da Paróquia dc
Paulo Lopes, incluídas as comunidades de Enseada de
Brito e Garopaba, às quais desejamos a abundância da-
graças divinas.
Paulo Lopes, 1-2-1972
■■■ Afonso Niehues
Arcebispo Metropolitano (72).
170
PROVIMENTO DE VISITA PASTORAL (1976)
A partir de 23 de julho até o dia l.° de agosto dr
1976, estivemos em Visita Pastoral às Paróquias de Pau
lo Lopes e Garopaba. O início dos trabalhos se deu na
Lapela de Encantada, depois, ocupando o período da ma­
nhã e da tarde, visitamos, ua ordem, como segue: as Ca­
pelas do Ambrósio e do Macacn. a Matriz de Garopaba,
a Capela de....................... , a Escola de Campo d’Una, as
Capelas de Palhocinlia, Bom Retiro e Barrinha, a Escola
tie Gamboa, as Capelas do Sertão, do Espraiado, da Fa­
zenda de Maciambú, do Ribeirão, de Penha, da Pinhei­
ra, e finalmente a Matriz de Paulo Lopes.
Durante a semana reinou o mau tempo, mas não
chegou a prejudicar de maneira sensível a Visita. O pro­
grama traçado foi cumprido em toda parte: missa com
pregação, crisma, palestra aos adultos.
A crisma foi as crianças e adolescentes com 12
anos de idade para cima, e após feita a Primeira Comu­
nhão.
Houve também preparação prévia para o sacra­
mento da Crisma.
Como tema preferido das pregações escolhemos:
o crescimento na fé, a vivência cristã, a participarão efe­
tiva e consciente na obra de evangelização e nas obras
da Igreja e outras.
Nas palestras transmitimos informações sobre a
atual orientação da Igreja com o respeito ao Batismo, à
Crisma, à Penitência e à redistribuição dos ministérios.
Os Livros-Caixa das Capelas e Livros paroquiais foram
examinados. Em duas reuniões, na Matriz de Garopaba <
na Matriz de Paulo Lopes, fizemos uma esplanação aos
Conselhos Administrativos «obre as principais normas
contidas no Regimento dos Conselhos Administrativos
Paroquiais.
A Doutrina cristã, geralmente, está sendo minis­
trada nas escolas, e as crianças recebem instrução especial
para a Primeira Comunhão.

171
Gom a criação da Paróquia verifica-se cresce-”" r
vitalidade religiosa. Muitas capelas foram construídas ou
se acham em fase de acabamento; outras construções es­
tão sendo planejadas.
Apesar da vastidão do território da Paróquia, <•
povo vem tendo oportunidade de ser atendido espiritual
mente nos mais diversos recantos. Isto se torna viável pc-
io zelo pastoral do Vigário, o Pe. Eugênio, eficieiitemen
te auxiliado pelo Pe. Ademar Paulo de Faveri, e por al­
gum tempo, pelo Pe. Arduino Salami. Por outro lado, o
desenvolvimento previsto de Garopaba nos obriga a pen­
sar em restabelecer a antiga autonomia desta antiga Pa­
róquia e dar-lhe um Vigário residente. Para tanto haverá
necessidade de começar a tomar as primeiras providên
cias, como sejam; a construção de uma nova Igreja Ma­
triz, e, possivelmente, de Casa Paroquial.
Em breve revisão feita, presentes o Pe. Eugênio,
o Pe. Ademar e o seminarista Siro, concluímos que a Pa­
róquia está se desenvolvendo gradativamente e qne a si­
tuação aluai é de longe superior à de alguns anos atrás.
O atendimento continuado e a presença constan­
te dos objetivos da evangelização vão conduzindo ao aper­
feiçoamento da comunidade paroquial.
Ao encerrai este Termo, deixamos aqui nossa*--
felicitações ao Pe. Eugênio peio êxito que vem obtendo,
e nosso agradecimento por todo o trabalho realizado em
preparação à Visita e sua grande colaboração no decor
rer da mesma, bem como à ótima hospedagem que nos
ofereceu. Desejamos estender esses agradecimentos ao
esforçado Fe. Ademar, ao seminarista Siro, à Irmã Bri-
gida, à Dona Oda, aos Conselhos Administrativos, ao pro
íessorado das Escolas, e a todas as pessoas, enfim, que
emprestaram o seu apoio ao bom andamento dos traba­
lhos desta Visita.
Que a bênção de Deus desça sobre todos e per­
maneça para sempre.
Paulo Lopes, 1.” de agosto de 1976.
Afonso Niehues
Arcebispo Metropolitano (73).
172
CÓDIGO DE POSTURAS DA INTENDEDI CI V MUNTCI
PAL DA VILA DE GAROPABA, DECRETADO EM 29
DE JULHO DE 1891
CAPÍTULO I — Segurança Pública
ARTIGO I — Nenhum corpo será dado à sepultu­
ra sem a prévia participação do Presidente da Intêndên-
cia Municipal ou dos Subdelegados de Polícia do Io. e
IIo. Distritos desta Vila. O infrator será multado em 10
mil réis.
ARTIGO 2 — E proibido nos armazéns ou outras
quaisquer casas de negócio ler à venda pólvora em maior
quantidade do que 15 Kg. O contraventor será multado
em 10 mil réis.
ARTIGO 3 — Todo aquele que a título de curas,
feitiços ou de adiv.nhações se introduzir em qualquer ca­
sa ou receber na sua alguém para fazer semelhantes curas
por meios supersticiosos e bebidas desconhecidas, ou pa­
ra fazer adivinhação e < niios embustes semelhantes, so­
frerá a multa de 20 mil réis, além das penas impostas pe­
las leis do País.
ARTIGO 4 — É proibido dar tiros ou caçar com
armas de fogo dentro das povoações ou em suas imedia­
ções. Os infratores incorrerão na multa de 6 mil réis, du­
plicados na reincidência.
ARTIGO 5 — E defeso aos menores de quinze
anos o uso da caça com arma de fogo. Os que pratica­
rem o contrário serão multados em 3 mil réis sendo a miil-
ta paga pelo pai do menor, de cada vez que se der a in­
fração.
ARTIGO 6 — É proibido fazer armadilha com
armas de fogo para caçar nas roças, estradas ou atalhos
transitados. Os conlraventores serão multados em 4 mil
réis duplicados nas reincidências.
ARTIGO 7 — É proibido domar animais e car­
ros a cavalo nas ruas da Vila e povoações. Os contraven-
tores pagarão 4 mil réis de multa e o dano causado.

173
ARTIGO 8 —- É proibido deixar junto das eshu=
das, caminho» ou lugares habitados, gados bravos fugidos
da tropa ou de potreiros. Os donos que não prenderem
iniediatanienle o gado fugido serão multados em 10 mil
réis e o dano causado.
ARTIGO 9 — Os condutores de gado deverão
trazê-los com guias e bastante cuidado para que não can
sem dano às povoaçòes e lavouras, na sua passagem. Oh
conlraveutores pagarão, pela primeira vez, 10 mil réis, <>
nas reincidências o dobro. Nas mesmas penas incorrerão
os que percorrerem as ruas, estradas e caminhos com rm
sos bravias laçadas sem ser em dois laços, um atrás outrn
adiante.
ARTIGO 11 — Os cães bravios, que vagarem pc
las ruas, serão mortos pelos fiscais e o dono fica sujeito
ã multa de 5 mil reis.
ARTIGO 12 — Todo lavrador, a fim de evitar t
nistros, é rigorosamente obrigado a usar em seus enge
nhos de moer cana, dos chamados macacos de madeira
ou de ferro, colocando um de cada lado das moendas <
bem assim de tábuas pregadas nos travessões de cima pii
ra cobrir a dentadura dos peões. Os infratores serão ptl
nidos com a multa de 4 mil réis que será repetida em eu
da safra feita no engenho que não estiver nas condiçõc»
deste artigo.
AKliGO 13 — E proibido trazer armas denim
dos limites da Vila. Excetuam-se: as pessoas que vão ou
venham de trabalhos no mato ou de lavouras. Em caso
algum, porém, trarão as armas de fogo carregadas. <1
infratores scrao multados cm 10 mil réis.
CAPÍTUL O II — Salubridade Pública
ARTIGO 14 — Nenhum cadáver será conduzido
ã sepultura senão em caixão fechado. O contraventor si
lá multado em 3 mil réis.
ARTIGO 15 — Todo aquele que, sendo avisado
pelo Fiscal ou Inspetor de seu quarteirão, para ajudar u
conduzir um cadáver ao cemitério se negar ao cumpri
mento deste dever de Caridade, será multado em 3 mil
réis.
174
ARTIGO 16 — A Intendência estabelecerá os ce-
ir.iterios qne forem necessários, porém, todos afastados
dos povoados. Os que infligirem estas disposições, paga­
rão a multa de 10 mil réis.
ARTIGO 17 — Os enterramentos dos corpos nos
cemitérios serão feitos pelo regulamento que a Intendên-
eia Municipal publicar, observando-se:
§ I — As covas devem ter 1,54 m de profundidade
e não serão abertas antes de dois anos.
§ II — As catacumbas serão fechadas a tijolos
dobrados, rebocados e caiados e não serão abertas antes
de 3 anos, se tiverem servido à pessoa falecida de mo­
léstia contagiosa.
ARTIGO 18 — So depois de 24 horas, decorri­
das do falecimento, será dado o cadáver à sepultura, sal­
vo caso de epidemia contagiosa c se antes desse tempo o
corpo começai a decompor-se. A multa de 3 mil réis e o
dobro, nas reincidências.
ARTIGO 19 — O dono de todo e qualquer ani­
mal que morrer, logo que tiver conhecimento do fato,
por si ou por aviso do Fiscal, é obrigado a mandar en-
terrá-lo no lugar que o Fiscal indicar e não fazendo, será
multado em 4 mil réis. Se apesar disso não fizer o en-
terramento no prazo de 12 horas, sofrerá a multa de 4
mil réis e o Fiscal, neste caso, determinará o enterra-
mento no prazo de uma hora por conta da Intendência.
Também à custa da Intendência, far-se-á o enterro de to­
do animal que, encontrado morto, não se conhecer o
dono mas se for ele descoberto, será obrigado a indenizar
as despesas feitas e se rão f zer, incorrerá na multa de 6
mil réis, além do pagamento da despesas.
ARTIGO 20 — Toda a pessoa que tiver um louco
furioso será obrigada a conservá-lo em sua guarda ou re­
colhê-lo à Casa de Caridade do Estado. O contraventor se­
rá multado de 5 a 10 mil réis.
ARTIGO 21 — Ninguém poderá expor, à venda,
carne de animais pesleados ou mortos de doenças, xar-
que podre, peixe, e outros gêneros alimentícios corrom­
pidos ou inaproveitaveis à saúde. Quando tais objetos fo-

175
rem encontrados, o Fiscal fará enterrá-los iniediatamen-
le, por conta do vendedor das carnes, peixes e outros gê­
neros que se acharem corrompidos ou em estado de pu­
trefação, multando logo o infrator de 10 a 20 mil réis.
ARTIGO 22 — A farinha de mandioca que não
estiver bem feita e torrada em estado de poder conser
var-se dois anos nos paióis não será vendida. O que o fiz<i
pagará a multa de 20 mil réis além de ficar obrigado i
botar fora a dita farinha por ordem da Intendência Muní
cipal ou do Fiscal; nas mesmas penas incorrerão os nego
ciantes que comprarem farinha não torrada e mal feita.
ARTIGO 23 — O feijão, arroz, milho ou qual
quer cereal ja atacados de insetos não serão expostos ।
venda. O que fizer pagará a multa de 10 mil réis e o do
hro nas reincidências.
ARTIGO 21 — Todo aquele que sujar as praça
fontes, cujas águas a povoação precisa para beber, qnei
lançando imuadícies nelas ou em suas vizinhanças, quer
lavando o rosto, cabeça, será multado de 6 mil a 10 mil
réis.
ARTIGO 25 — Os pescadores que deixarem u i
praia da Vila ou no lago chamado “Cais” cabeça de peixe
em estado de putrefação que possa incomodar os habl
tantos, será multado em 6 mil réis e, além disso, obriga
do a enterrá-la.
ARTIGO 26 — É proibido matar, para o coma
mo público, gado cansado. O infrator sofrerá a multa <1.
? 0 mil réis.
ARTIGO 27 — É proibido lançar cisco, vidro
smundícies, materiais fecais, animais mortos nos quintais;
praças e ruas. O infrator sofrerá a multa de 5 a 10 mil
réis.
ARTIGO 28 — Toda pessoa, por cujo quintal
correr água vinda do quintal do vizinho ou passar emit
destino a seu esgoto, que obstruir este ou impedir o < n
curso, produzindo assim sua estagnação e alteração, o
írerá a multa de 5 mil réis, duplicada nas reincidência*»
176
ARTIGO 29 —- É proibido matar reses nas pra­
ças e ruas da Vila ou fora dos lugares designados para
isso pelos Fiscais. O contraventor sofrerá a multa de 1
mil réis e o dobro nas reincidências.
CAPÍTULO III —- Tranquilidade e Comedida Pública
ARTIGO 30 — É proibido fazer vozerias em ho­
ra de silêncio sem sei por motivo de necessidade. O in­
frator será multado de 2 a 8 mil réis.
ARTIGO 31 — Quem perturbar a tranquilidade
pública em casas públicas ou particulares, fazendo grita
ria ou de outra maneira alterar a ordem pública, será
multado de 2 a 10 mil réis.
ARTIGO 32 — É proibido deixar ficar varais na
praia, depois de finda a pesca das tainhas. O contraven­
tor pagará 5 a 20 mil réis de multa e será obrigado, incon-
tinenti, a remover o varal.
ARIiGO 33 — Nenhuma pessoa poderá fazer
danças de mascarados fora de tempo pelas casas e ruas,
sem prévia licença da Intendência, pela qual pagará a ta­
xa da lei. O infrator pagará a multa de 4 mil réis.
ARTIGO 34 — Ficam proibidas, daqui por dian­
te, as brigas de galo, quer por aposta, quer por diverti'
mento, sem licença da Intendência, pelo qual pagará a
taxa da lei. Os conlraventores serão multados em 10 mil
téis.
ARTIGO 35 — Fica proibido ter cavalos ou outros
quaisquer animais nas ruas, praças, atados às portas, ja­
nelas ou argolas, ou de qualquer objeto fixo para qual­
quer fim que seja, sob pena de 2 mil réis de multa.
CAPÍTULO IV — Segurança da Propriedade
ARTIGO 36 — Todos os lavradores que tiverem
engenhos de farinha ‘ão obrigados a terem a medida de
vinte litros; os que não tiverem esta medida, serão mul­
tados em 2 mil réis.
ARTIGO 37 — Os animais, porcos, cabras, que
avessados às plantações, não possa o prejudicado pegá-los.
serão atirados e mortos, procedendo licença do Presidrn
177
te da Intendência, ou da autoridade policial, ou do Fis­
cal. Mortos, serão arrematados, e, deduzida a Jiiulía c .»
prejuízo causado, será o excedente arrecadado aos cofres
municipais, para ser entregue ao dono do animal, se den­
tro de trinta dias, requerer sua entrega.
ARTIGO 38 — Todo indivíduo encontrado a ti­
rar lenha ou madeira em terras ou matas que lhe não
pertençam, sem licença do proprietário, será multado
em 5 mil ré.s pela pr.mcira vez e em 10 mil nas reinci­
dências, ficando obrigado à restituição da madeira ou
lenha tirada, além da indenização do prejuízo causado
nas terras ou matos.
ARTIGO 39 — É proibido leixar andar à solta
nos caminhos, ruas, praças e mais lugares públicos, e
bem assim em lugares onde houver lavoura, animais va-
runs, cavalares, muai es, suínos e caprinos. O infrator pa­
gará a multa de 5 mil réis pela primeira vez, 10 mil réis
pela segunda e assim por diante até 30 mil réis. Lavrado
o auto e verificada a infração, cobrar-se-á a multa. Não se
verificando quem seja o dono de tais animais, serão ven­
didos em leilão, perante o Procurador e Fiscal da Inten-
dência Municipal, deduzida a multa, danos e mais des­
pesas, o resto, se houver, será recolhido ao cofre para
ser restiluido ao dono se o requerer no prazo de seis me­
ses. Do contrário, fará parte das rendas municipais.
ARTIGO 10 — Iodo indivíduo encontrado a des­
manchar cercados dentro da sede da Vila ou outro qual­
quer lugar para roubar os paus, será multado em 10 mil
réis e conduzido à presença da autoridade policial para
proceder na forma da lei.
ARTIGO 41 — Nenhum redeiro ou camarada ]>o-
derá entrar como “Vigia’’ nos meses de Maio e Junho aos
terrenos de propriedade beira-mar, dentro dos limites da
Vila, sem licença dos donos. Os contraventores pagarão n
multa de 20 mil réis, além de serem expelidos dos terre­
nos aludidos.
ARTIGO 42 — Fica proibido qualquer pescador
dc lançar larrafa sobre cardumes de tainhas qne venham
aproximaudo-se ao lance das redes. O contraventor pa-
178
gará a niulta de 4 mil réis, dobrada em cada reincidência.
ARTIGO 43 — 'I oda e qualquer pessoa que com­
prar objetos que se julgar furtado ou achado, pelo dimi­
nuto preço de seu valor, e de pessoas que se julga não
possuírem tais objetos, será condenada na multa de 20
mil reis.
ARTIGO 44 — Ninguém poderá por fogo a coi-
varas, roças ou campo, sem ter feito suficientes aceiros é
ter antes avisado a seus vizinhos para se tomarem medidas
de cautelas. Os infratores pagarão, além do dano que te­
nham causado, 10 mil reis dc multa.
CAPÍTULO V
ARTIGO 45 — Aos condutores de carros e car­
gueiros, lhes será permitido tão somente o uso de facas,
quando andar carregando ou com cargueiro, ficando proi­
bido aos mesmos entrarem armados com tais facas nas
casas de negócio. Aqueles que forem encontrados com
tais armas dentro das casas de negócio serão multados em
6 mil réis e o dobro nas r< incidências, além de 24 horas
de prisão ordenada pela autoridade policial.
ARTIGO 46 — Os viajores, tropeiros ou hoiadei-
ros que têm de percorrer o centro do povoado, podem
usar armas de fogo, faca e mais instrumentos necessários
a seu tráfego, não podendo, porém, trazer as armas de
fogo carregadas dentro do povoado. Os infratores que
dentro do povoado forem encontrados com tais armas
carregadas, serão multados em 10 mil réis.
ARTIGO 47 — Fica proibido de ora em diante,
andarem os marinheiros ou outra qualquer pessoa pas­
seando dentro da Vila com faca na cintura. Os que forem
encontrados com tais armas serão multados em 2 mil
réis.
CAPÍTULO VI ~ Exposto
ARTIGO 48 — Aquele que tiver exposto ou
abandonado em lugar solitário uma criança de menor
idade, será multado em 20 mil réis, sem prejuízo das pe­
nas mais graves, impostas pelas leis do País.
179
ARTIGO 49 — Os que tiverem nolíeia de que al­
guém expcslo recebeu mau tratamento, deverão comini’-
cá-Io ao Juiz de Órfãos, ou a qualquer autoridade policial
que o fará apresentar à Intendência para ter o destino
conveniente. O que tiver o exposto em sua casa e sendo
avisado, não o apresentar e entregar, incorrerá na pena
de 20 mil reis de multa, além das mais em que, criminal-
mente, possa ter incorrido.

CAPÍTULO J ÍI — Abislança

ARTIGO 50 — Os que desm .tarem matos nos lu­


gares por onde passem as nascentes u’ágna para as fontes
e praças que a povoarão precisa para beber e lavar, serão
multados em 20 mil reis e no dobro, na reincidência.
ARTIGO 51 — Para exposição de gêneros que
se vêm vender na Vila, fica marcada a praça defronte da
Matriz. Desses gêneros não poderão seus donos dispor
por atacado, sem que por espaço de duas horas estejam
expostos à venda por miúdo, sob pena de serem multa­
dos na quantia de 10 mil réis. Os negociantes que atra­
vessarem gêneros comestíveis e vendáveis, fazendo mo­
nopólio para os vender ao povo, indo atravessá-los nos
subúrbios da Vila, ou depois de chegarem a ela e antes de
expostos à venda no espaço marcadc, incorre, ao na mes­
ma pena.
ARTIGO 52 — A dinamite ou qualquer outro ex­
plosivo e os tóxicos são proibidos na pesca, tanto no mar
grosso como nas lagoas.
ARTIGO 53 — Fica proibida a pesca com redes
ou tarrafas, na foz da lagoa de Garopaba, enquanto ela
conservar aberta. Os contraventores pagarão a multa de
5 mil réis e o duplo nas reincidências.
ARTIGO 54 — Fica igualmente proibido aos pes­
cadores, que lançarem suas redes dentro da referida La­
goa de Garopaba, baterem nas canoas ao recolherem seus
lances. A multa de 8 mil réis será imposta aos contraven-
lores e o duplo nas reincidências.
180
CAPÍTULO CHI — Ofensas à Moral Pública
Injúrias e Obcenidades.
ARTIGO □□ — fica proibido o uso escandaloso
de andarem os tarrafeadores sem calças ou tangas tnrra-
íeando na praia da Vila. Os qde encontradas forem deslc
modo pagarão 3 mil réis de multa, além de 24 horas de
prisão ordenada pela autoridade policial.
ARTIGO 55 E proibido qualquer pessoa andar
indecentemente vestida nas ruas da Vila ou arraial. Os
que encontrados forem deste modo serão multados em 2
mil réis por cada vez que andarem indecentes.
ARTIGO 57 — É proibido banhar-se nu de dia
na praia da Vila, qualquer pessoa maior de 10 anos. Os
que forem encontrados deste modo, serão multados em
3 mil réis e 24 horas de prisão ordenada pela autoridade
policial.
ARTIGO 58 — Toda pessoa que apresentar em
qualquer lugar público, pasquim com palavras indecen­
tes e obcenas, será multada em 4 mil réis e 24 horas de
prisão.
ARTIGO 59 -— Toda pessoa que, em qualquer lu­
gar público, injuriar a outrem com palavras infamantes e
indecentes ou com gestos da mesma natureza, será mul­
tado em 3 mil réis e 24 horas de prisão.
CAPÍTULO IX — Ruas, Estradas, Caminhos e Pontes.
ARTIGO 60 — É proibido conservar gado va­
cam, cavalos e outros animais atados nas estradas e cami­
nhos, de maneira que possam embaraçar a passagem dos
transeuntes. Os con traventores serão multados na quan­
tia de 3 mil réis por cada animal e no duplo na reinci­
dência.
ARTIGO 61 — As estradas, caminhos públicos e
pequenas pontes, situadas em terrenos dcvolnlos ou lo­
gradouros públicos, bem como todos os mais lugares de
difícil concerto e superior aos recursos de sens proprietá­
rios, serão feitos pelo povo. Para cslc fim Iodos os habi­
tantes dos lugares mais vizinhos prestarão cada ano três
181
dias de serviço. Os que forem avisados e faltarem a este
dever, pagarão por dia de serviço individual a multa de 1
mil réis. Os que tiverem carros e bois são obrigados a apre­
sentá-los, contando-se um dia de serviço individual e o
que recusar será multado em 4 mil réis.
ARTIGO 62 — A pedra e o aterro, que for neces­
sário, serão tirados dos lugares mais próximos e os seus
proprietários serão, pelas concessões destes materiais,
dispensados do serviço individual que lhes pertence.
ARTIGO 63 — Os fiscais marcarão os dias para o
serviço das estradas mandando, com antecedência de oito
dias, aviso aos concorrentes. Para direção dos trabalhos,
pode o Fiscal nomear o Inspetor de quarteirão. Os meses
de Janeiro e Fevereiro são os designados para tais servi­
ços.
ARTIGO 64 — Iodos os proprietários ou inqui­
linos são obrigados a conservar limpa as testadas de suas
casas e caminhos. O infrator será multado em 5 mil réis.
ARTIGO 65 — As ruas, que de ora em diante se
abrirem dentro dos limites da Vila, terão oito metros de
largura, as que se acharem abertas e despovoadas ou as
que admitirem melhoramentos, scrãt feitas com a mesma
largura referida.
ARTIGO 66 — As estradas públicas do litoral,te­
rão treze metros dc largura e os caminhos particulares sex
melros e sessenta centímetros de largura. Os Fiscais inti­
marão os proprietários para recuarem as cercas que fi­
quem na largura estabelecida. Os que se recusarem no
cumprimento de tal disposição serão multados em 10 mil
réis, e demolidas as cercas à sua custa, havendo mandado
da Intendência Municipal.
ARTIGO 67 — Todas as cercas de espinhos ou
arvoredos serão frequentemente aparados, para que não
embaracem seus ramos o trânsito público. O contraven-
tor será multado em 4 mil réis, além de ficar obrigado a
dobrar ou aparar as cercas dentro do prazo marcado pelo
fiscal e não o fazendo será multado em 20 mil réis.
182
ARTIGO 68 — Fica proibido o uso de cancelas nu
estrada do litoral. O infrator será multado na quantia de
10 mil réis, ficando obrigado a demolir a cancela.
ARTIGO 69 — Nas estradas ou caminhos de ser­
vidão pública ou particular que tiverem cancelas, serão
estas fáceis de abrir, de maneira que qualquer cavaleiro o
possa fazer comodamente e terão a largura precisa para
dar passagem a um carro ou earretão, livremente. O infra­
tor será multado e obrigado a cumprir a presente disposi­
ção.
ARTIGO 70 — É proibido conduzir ou arrastar
madeira pelas ruas da Vila ou estradas sem ser em carre-
tão. Os contraventorcs sofrerão a multa de 10 mil réis.
ARTIGO 71 — Fica proibido fazer-se escavações
em qualquer lugar de trânsito público. Os contravenio-
res, além da multa de 6 mil réis, encherão de novo a ter­
ra ou escavação feita.
ARTIGO 73 — Nenhum proprietário do terreno
deixara ficar nos caminhos e estradas paus ou árvores caí­
das, que embaracem o trânsito público. Aquele qne por
negligência os deixar, será multado em 64 mil réis e
obrigado a remover o dito pau ou árvore para fora do ca­
minho uii estrada.
ARTIGO 74 — Fica proibido qualquer pessoa de
abrir a barra do Rio Siriú sem licença da Intendència Mu­
nicipal. Aquele que o fizer, embaraçando, assim, o trân­
sito público, será multado em 8 mi! réis, e obrigado a dar
passagem grátis aos transeuntes.
ARTIGO 75 As cercas das lavouras, planta­
ções ou sítios deverão ser feitas de estacas fortes, distan
tes umas das outras e seguirão por varões horizontais pre­
gados ou amarrados até a altura de 2 metros.
ARTIGO 76 — Os proprietários de terrenos nas
margens de rios, caminhos, pastos e estradas públicas não
poderão privar o trânsito aos moradores centrais pelos
caminhos que forem mais pertos, para seguirem ao porto
ou saírem à estrada. Os contraventores sofrerão a multa
de 10 mil réis e o dobro nas reincidências.
163
ARTIGO 77 — Nenhum dono de terreno poderá
usurpar a servidão das estradas e caminhos públicos ta­
pando, mudando ou estreitando a seu arbítrio. O que o
contrário fizer, sera multado de 15 mil réis a 30 mil réis
e obrigado a restituir a estrada ou caminho do seu antigo
estado.
ARTIGO 78 — As pontes nas estradas deverão
ter a largura da mesma e bem assim corrimões bem fortes
dos lados.
CAPÍTULO X — Jogos e Reuniões Ilícitas
ARTIGO 79 — São proibidos todos os jogos de
paradas ou aposta por meio de cartas ou qualquer outro
que não sejam tolerados pela Intendência.
ARTIGO 80 — É também proibido a reunião de
fdhos-famílias nas tabernas. Os infratores dos artigos
acima serão multados cm 10 mil réis.
CAPÍ1 ULO XI — Do Ensino
ARTIGO 81 -— O ensino primário será obrigató­
rio no município para todo menino ou menina maior de
7 anos e menor de 14, compreendido num raio de 2 km.,
a partir da sede da escola.
ARTIGO 82 — O pai. tutor ou curador que in­
fringir as disposições do artigo precedente, sofrerá a mul­
ta de 2 mil réis.
CAPÍTULO XII — Rendas Municipais
ARTIGO 83 — Ninguém poderá abrir casa de ne­
gócio sem licença da Intendência, pela qual pagará a ta­
xa legal. O contraventor pagará a multa de 10 mil réis.
ARTIGO 84- — Os mascates de qualquer espécie,
inclusive pombeiros que forem encontrados sem licença,
além de pagarem o imposto respectivo, serão multados
em 10 mil réis.
ARTIGO 85 — Os indivíduos que em suas casas
venderem miudezas sem licença, serão multados em 10
mil réis e obrigados a tirar licença.
184
ARTIGO 86 —- Os que abrirem casa de negócio
em qualquer dia do ano serão obrigados a aferir seus pr
sos e medidas, sob pena de 6 mil réis de malta.
ARTIGO 87 — Todos os proprietários de casas
de negócio e quitandas, são obrigados a terem balanças,
pesos e medidas do sistema métrico adotados no país, os
quais deverão ser aferidos anualmente.
ARTIGO 88 — Se os pesos e medidas forem fal­
sificados depois da aferição, será seu dono multado em
10 mil réis.
ARTIGO 89 — Ninguém poderá exportar gêne­
ros do Município, que estejam sujeitos a imposto muni­
cipal, sem que o tenha previamente pago.
§ UNICO — Os mestres de barco ou os proprie­
tários não poderão receber gêneros sujeitos a impostos
municipais sem que o exportador lhes mostre a guia, com
a qual prove ter pago os ditos impostos. A infração será
punida com multa de 15 mil réis, imposta ao mestre ou
condutor da embarcação.
ARTIGO 90 — As disposições do artigo antece­
dente são extensivas a todos aqueles que conduzirem fa­
rinha, café, açúcar c mais gêneros em canoas ou lancha
para fora do município.
CAPÍTULO XIII
ARTIGO 91 — Ninguém poderá edificar, dentro
da Vila, casas de meia água. O infrator será obrigado a
destruir e pagará a multa de 15 mil réis.
ARTIGO 92 — Ninguém poderá fazer festejos a
santos em casas particulares em que haja juizes, novenas.,
leilões e arrematações sem licença da Intendência Muni­
cipal pela qual pagará, o festeiro, o imposto de 6 mil
réis, por cada festa. O contraventor será multado em 8
mil réis além do imposto.
ARTIGO 93 — Fica proibido qualquer lavrador
ou outra pessoa, trazer para dentro da Vila, farinha, fei­
jão, café, açúcar ou outros gêneros em carros ou carguei­
ros aos Domingos ou dias de festas. O infrator será mui
tado em 20 mil réis.
IBS
ARTIGO 91 — A importância dos direitos, im­
postos e licenças que devem ser pagos ao cofre da Inten-
dência Municipal, regular-se-á conforme a Lei de Orça­
mento e os que, pela dita lei, não forem taxados por es­
tas posturas.
ARTIGO 95 — Aqueles que não pagarem, no pra­
zo que for anunciado, os respectivos impostos, serão mul­
tados em 6% e findos outros tantos dias dos anunciados,
serão executados pelo Procurador, independente de au­
torização da Intendêncía.
ARTIGO 96 — O lançamento dos impostos será
feito pelo Procurador nos meses de Janeiro e Fevereiro
de cada ano, sob pena de multa do Procurador, de 5 mil
réis.
ARTIGO 97 — Quando porventura as presentes
posturas forem infringidas por pessoas menores, serão os
respectivos pais e tutores responsáveis pela multas.
ARTIGO 98 — Todos aqueles que desreispeita-
rem o Fiscal, no exercício de suas funções, serão autua­
dos e presos, de conformidade com as leis do País.
ARTIGO 99 — Para todas as obras que a Inten
dência lenha de fazer, chamará concorrentes por editais,
com declaração e instruções tais que se possa conhecer
como tais obras c consertos devem ser feitos. As propos­
tas serão recebidas em sessão e aí abertas à vista dos pro­
ponentes.
ARTIGO 100 — O Procurador da Intendêncía
não poderá fazer despesa alguma sem autorização da luv.
tendência, salvo as despesas com os ordenados dos em­
pregados autorizados pela Lei Municipal.
ARTIGO 101 — Quando os Fiscais não derem
cumprimento fiel aos seus deveres, serão advertidos pelo
Presidente da Intendêncía, na primeira vez e, na segunda,
demitidos.
ARTIGO 102 —- Fica proibida a brincadeira de
boi Itravo na vara. Os contraventores pagarão a multa
de 30 mil réis.
188
ARTIGO 103 — Os riègociaiih s oil ruh ros de
casas de negócio que as cònservareni alo t his । noite de­
pois do toque de recolher, serão multados « ui I mil rói'
e o dobro nas reincidências.
ARTIGO 104 — O Procurador que dentro do
prazo de trinta dias do recebimento do alo <hi multa, não i
tiver cobrado, ou não tiver dado principio u «na cobran­
ça, será multado em 4 mil réis.
ARTIGO 105 — O imposto da aferição cobrar-
se-á pela tabela abaixo: Por um termo de medida de ca­
pacidade para secos de 20 litros até 5 nil. I mil réis. Por
um termo de medidas de capacidade para líquidos de 10
litros até 2 ml. 1 mil réis. Por um termo de peso de 5 kg.
ou até 1 grama 1 mil réis. Por um dito de 10 kg. até 50
gramas 1 mil réis. Por metro, 1 mil réis. Por balança de
qualquer tamanho, 500 réis.
ARTIGO 106 — Todo o peso e medida será afe-
rído pelo aferidor da Intendência Municipal.
ARTIGO 107 — Da multa imposta a qualquer ci­
dadão ou empregado haverá recurso para Intendência
que anulará a multa, se conhecer que indevidamente foi
imposta.
ARTIGO 108 — É permitido à Intendência ajus-
lar as obras que houver de mandar fazer por empreitada
ou por administração que observe e guarde as instruções
da Intendência ou de seu Presidente, vencendo o admi­
nistrador a diária que lhe for marcada.
ARTIGO 109 — Os contratos de aferição poderão
ser feitos por um ano, ficando os contratados obrigados
a aferir os pesos, balanças e medidas, podendo, também
sob responsabilidade sua, delegar esse serviço a pessoas
aptas para ele.
ARTIGO 110 — O aferidor é obrigado a passar
documento aos donos dos pesos e medidas qtie aferir
anualmente, com declaração dos objetos aferidos.
ARTIGO 111 — O imposto de sepultura será co­
brado pelo orçamento da Intendência Municipal.

187
ARTIGO 112 —- Enquanto a Intendência não es­
tabelecer curral do Conselho, os fiscais designarão para
esse fim uni lugar provisório.
ARTIGO 113 —- O Procurador da Intendência te­
rá 10% de comissão das arrematações que fizer.
ARTIGO 114 -— Os fiscais terão a terça parte da
multa que promovem, a qual receberão depois de ser a
multa cobrada.
ARTIGO 115 — As sepulturas nos cemitérios se­
rão numeradas pelo coveiro.
ARTIGO 116 — É proibido fazer-se cerca à mar­
gem das estradas não deixando, pelo menos, dois metros
além da largura delas, em toda a extensão das cercas. Mul­
ta de 5 mil réis e demolição da cerca.
ARTIGO 117 — iodos os proprietários e aforei-
ros de terrenos são obrigados a extinguir as formigas exis­
tentes e consentir que seus vizinhos as exlingam. Multa de
10 mil réis.
ARTIGO 118 — A pessoa que matar ou perse­
guir, na Vila e povoações, corvos e gaivotas, pagará mul­
ta de 1 mil réis.
ARTIGO 119 — São proibidos as rifas ou ações
entre amigos. Multa de 2 mil réis a 4 mil réis.
ARTIGO 120 — Quem arrancar editais da Inten-
dência, antes de escoado o tempo de seu vigor, será mui-
lado em 20 mil réis.
ARTIGO 121 — Logo que haja vacinação no lu­
gar, toda a pessoa que ainda não esteja vacinada é obri­
gada a apresentar-se no local, dia e hora marcada, pela
Intendência, para este fim.
ARTIGO 122 — Os proprietários de armazéns,
lavernas, botequins e quitandas deverão conservar sem
pt e limpos os balcões, balanças, pesos e medidas, depósi-
los, copos e mais utensílios de que usem. O infrator será
punido com a multa de 2 mil a 4 mil réis.

188
ARTIGO 123 — Todo aquele que estiver bêba-
do em qualquer tavcrna ou outro lugar será conduzido ao
quartel da Polícia, onde permanecerá até cessar o efeito
da embriaguês.
ARTIGO 124 — É proibido vender, pelas ruas,
pão, roscas ou doces sem a competente licença da Inten-
dência pela qual pagarão 2 mil réis anuais. O infrator
será multado em 4 mil réis.
Secretaria da intendência Municipal da Vila de
Garopaba, em 25 de Outubro de 1890.

Manoel Antônio da Silva Cascaes


Presidente da Intendência Municipal

João do Amaral e Silva


Secretário da Intendência Municipal.

1HU
NOTAS
1 . Lucas A. Boitcnx: Santa Catarina no século XVI.
in Anais do Primeiro Congresso de História Catari­
nense, IOESC, 1950, p. 37-38.
2. O. R. Cabral; Santo Antônio dos Anjos de Laguna.
IOESC, 1976, p. 69.
3 . Citado em L.A. Boileux, op. cit., p. 92.
4. J. A. Rohr: Contribuição para a Etnologia Indíge­
na do Estado de Santa Catarina, in Anais do Primei­
ro Congresso de História Catarinense, IOESC. 1950
p. 337-338.
5, O.R. Cabral: História de Santa Catarina, Ed. Lan­
des, 1970, 2.a edição, p. 32.
6. O. R. Cabral: Santo Antônio dos Anjos de Laguna,
IOESC, 1976, p. 69 e 140.
7. O. R. Cabral: Historia de Santa Catarina, Ed. Lau-
des, 1970, 2.a edição, p. 61-62.
8. O. R. Cabral: A Vitória da Colonização Açoriana em
Santa Catarina, IOESC, 1941, 48 páginas.
9. A. Saint-Hilairc: Viagem à Província de Santa Ca­
tarina (1820). Tradução e Prefácio de Carlos da
Costa Pereira. Companhia Editora Nacional, S. Pau­
lo, 1936, p. 202-211.
10. A. Saint-Hilaire, op. cit., p. 201-211.
11. L. A. Boiteux: Santa Catarina no século XVI. IOESC,
1950, p. 60.
12. Confer, sobre o assunto, a obra de W. V. Piazza: A
Igreja em Santa Catarina. Notas para sua História.
IOESC, 1977, p. 21-60.
13. Henrique Boiíeux: A República Catharinense, Im­
prensa Naval, Rio de Janeiro, 1927, 324 páginas,
O.R. Cabral, História de Santa Catarina, id., p. 122-
138.
II. Ofício ao Presidente da Província, a 18 de abril de
1847.
190
15. Idem, a 30 de dezembro de 1848.
16. Idem, a 5 de dezembro de 1851.
17. Requerimento a 22 de abril de 1852.
18. Carta do Arcipreste Macário César de Alexandria e
Souza ao Presidente da Província a 18 de setembro
de 1852. Certamente tinham aportado à Ilha quei­
xas de Garopaba.
19. Dados autobiográficos extraídos de um Relatório
ao Bispo Diocesano, a 26 de fevereiro de 1909.
20. A Colação do Pe. Faraco está registrada às fls. 12
do Livro 2 das Provisões do Desterro, a 9 de julho
de 1867.
21. Carta ao Presidente da Província, a 14 de fevereiro
de 1868.
22. Idem, a 25 de janeiro de 1873.
23 . Relatório ao Presidente da Província, a 2 de janei­
ro de 1877.
24. Carla ao Presidente da Província, a 19 de maio de
1887.
25. Livro do Tombo I, folha XV.
26. Livro de Alas e Resoluções da Irmandade.
27. Carla a 25 de novembro de 1889.
28. Pelição a 20 de dezembro de 1889.
29. José Lupércio Lopes: Monographia do Município
de Palhoça, Livraria Cysne, Fpolis, 1919, p. 69-80.
30. Ofício a Fúlvio Aducci, Secretário Geral dos Negó­
cios do Estado, a 7 de fevereiro de 1917.
31 . Ofício do Superintendente ao Secretário Geral dos
Negócios do Estado, a 27 de maio de 1908.
32. Idem, a 2 7 de janeiro de 1913.
33. Relatório de junho de 1903.
34. Relatório de 1886, p. 120-121.
35. Oficio ao Vice-Governador, a 25 de outubro dc
1891.
36. Ofício do Superintendente ao Secretário dos Negó­
cios do Interior e Justiça, a 15 de outubro dc 1899.
37. Ofício ao Vice-Governador, a 20 de maio de 1903,
38. Ofício ao Governador, em 1123.
38. Livro do Tombo I, fls. 79v e 80v.
40. Livro do Tombo 1, fls. 50 a 54.
tai
41. Idem, fls. 92v a 95v.
42. Livro do Tombo II, fls. 11 e llv.
43. Idem, fls. 17v. e 18v.
44. Idem, fls. 19 e 19v.
45. Idem, fls. 23 e 23v.
46. De uni Jornal não identificável.
47. Livro do Tombo III, fls. 9 e 9v.
48. Livro do Tombo II, fls. 20 a 21v.
49 . Idem, fl. 21v.
50. Carta a 3 de agosto de 1930, em que concede licen­
ça para a venda do patrimônio de Sant’Ana.
51 . Livro do Tombo II, fl. 20v.
52. Ademar Faveri: Festa dos Navegantes, uma mani­
festação religiosa, in Revista de Pastoral de Conjun­
to, auo 12, u.3 137, p. 396.
53 . Entrevista do autor com Procópio José da Silva,
nascido a 27 de marco de 1905, realizada em ju­
lho de 1980.
54. Livro do Tombo II, fls. 22 e 22v.
55. Carta ao Dr. Nereu Ramos, a l.° de outubro de
1942.
56. Relatório Paroquial de 1946. /
57. Livro do Tombo III, fl. 18v.
58. Livro do Tombo I, fl. 92.
59. Entrevista do autor com morador local, em julho
de 1980.
60. O. Sanmartín; Síntese histórica, in Anais do Pri­
meiro Congresso de História Catarinense, IOESC,
1950, p. 496.
61. Moacír A. Mundslock: A Bandeira do Divino Espí­
rito Santo, in Revista de Pastoral de Conjunto, ano
12, n.ü 137, p. 385-388. Também Alcides Bran-
cher: "A Bandeira do Divino” — trabalho apre­
sentado em abril de 1980, ainda inédito.
62. O conteúdo expressa a entrevista feita com vários
moradores do interior do Município, em julho de
1980. A mesma coisa quanto ao restante.
63 Entrevista com Jaiiuária Barbosa Soares, da Encan­
tada, em julho de 1980.
192
64. Livro do Tombo I, fl. 50-52.
65. Livro do Tombo I, fl. 92-95 v.
66. Livro do Tombo I, fl. 11-11 v.
67. Livro do Tombo II, fl. 17-I8v.
68. Livro do Tombo II, fl. 19-19v.
69. Livro do Tombo II, fl. 23-23v.
70. Transcrito de jornal não identificável, pois não foi
lavrado no Livro do Tombo.
71. Livro do Tombo III, fi. 9-9v.
72. Livro do Tombo da Paróquia de Paulo Lopes I, fl.
48-48v.
73 Livro do Tombo da Paróquia de Paulo Lopes, I
fl 5-5v.

193
BIBLIOGRAFIA
1." Arquivos:
— Arquivo Histórico-Eclesiástico de Santa Ca­
tarina, Florianópolis.
— Arquivo Histórico da Arquidiocese de Curi­
tiba.
— Arquivo Histórico da Arquidiocese de Porto
Alegre.
— Arquivo Histórico do Rio de Janeiro.
— Arquivo Público de Santa Catarina.
— Biblioteca Pública Estadual de Santa Cata­
rina.
2o Fontes:
— Livros dc Tombo da Paróquia de Vila Nova.
— Livros dc Tombo da Paróquia de Santo Ama­
ro. /
— Livros de Tombo da Paróquia de Paulo Lopes
— Livros de lombo da Paróquia de Garopaba.
— Livro dc Correspondências do Arcipreste da
Província de Santa Catarina.
— - Ofícios e Correspondências dos Vigários.
__ Falas dos Presidentes da Província de Santa
Catarina.
— Entrevistas com moradores de Garopaba.
3.° Bibliografia:
— Cabral, Oswald© R.: História de Santa Catari­
na. Editora Landes, Rio de Janeiro, 1970, 2.a
edição.
— Cabral, Oswaldo R.: A vitória da Coloniza­
ção Açoriana em Santa Catarina. IOESC, Flo­
rianópolis.

104
— Lopes, José Lupércio: Munographia do Mu
nicípio de Palhoça. Livraria Çysne, Florianó
polis, 1919.
— Lago, Paulo Fernando: Geografia de Santo
Catarina. Florianópolis,; 19,71,
— Boiteux, Henrique: A República Catharine n-
se. Imprensa Naval, Rio de Janeiro, 1927.
— Boiteux, Lucas Alexandre: Notas para a His
tória Catharinense, Livraria Moderna, Flo
rianópolis.
— Besen, José Artulino! Dom Joaquim Dornin
gues de Oliveira. IOESC, Florianópolis, 1979
— Piazza, W. Vicente: A Igreja em Santa Cata
rina, notas para sua história. IOESC, 1977.
-— A A. VV.: Anais do Primeiro Congresso d<-
História Catarinense. IOESC, Florianópolis,
1950.

195
ÍNDICE
Recordações de Visitantes 5

Prefácio 6
0 Início da história de Garopaba 9
Os novos moradores 12
A Armação de São Joaquim de Garopaba 15

Impressões de uma viagem 19


Primórdios da fé cristã 23
A Freguesia de São Joaquim de Garopaba 26
A República Juliana 27
A Instalação da Freguesia 31
O Padroado — O Arciprestado 37
Encaminha-se a Paróquia 39
Padre Rafael Faraco 43
A Reforma da Matriz 43
A Irmandade do Santíssimo Sacramento, do Divino
Espírito Santo e São Joaquim deGaropaba 49
Relatórios Paroquiais do Século XIX 54
A Criação da Vila 57
Primeiros Projetos 63
Eleições 64
O Dinheiro, a Vida Econômica 68
Escolas 72
Saúde 74
Consagração da Paróquia ao Coração de Jesus 75

196
Missões em Paulo Lopes 76
Os últimos anos do Padre Rafael Faraco 78
Padre Antônio Fidalgo 82
Bispos e Visitas Pastorais 84
Os tempos do Padre Rossi 91
Associação e Festa de Nossa Senhorados Navegantes 94
Tempo de abandono 97
Revitalização pastoral 99
Garopaba anexa à Paróquia de Santo Amaro 102
Nova Situação 104
Novamente Paróquia autônoma 106
Histórico das Capelas 113
A Bandeira do Divino Espírito Santo 120
Crenças e Devoções da Alma popular 126
Relatórios Paroquiais do Século XX 130
Outras Confissões religiosas 131
Supressão do Município 132
Pela terceira vez, Município 133
A atividade agrícola e pecuária 140
A atividade pesqueira 141
0 município de Garopaba nos dias de hoje 145
Os Vigários da Paróquia de São Joaquim 150
Apêndice 152
Notas 190
Bibliografia 194

197
#BRS04371
'•So Joaquim de
Garopaba: recordações
da freguesia 1830-
1980

Impresso na GRÁFICA MERCÚRIO LTDA.

Rua Hercílio Luz, 45


Fones, 55 0681 e 55-0942 - Caixa Postal. 48
88 350 - BRUSQUE - ST A CATARINA

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