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Por: Neide da Cunha

Psicanalista Clínica
MELANIE KLEIN

BIOGRAFIA
Sobre a vida e obra de Melanie Klein
Melanie Klein, sendo de enorme importância teórica e técnica
para os psicanalistas de crianças e adultos e para a
psicologia geral do desenvolvimento, não é autor de fácil
acesso. As suas obras completas foram reunidas
recentemente em quatro grossos volumes, publicados na
International Psycho- Analytical Library. Essa edição
ordenada cronologicamente e apresentando algumas notas
editoriais no final dos volumes, não é totalmente
esclarecedora para psicanalistas e ainda menos para o leitor
não especializado. Está ainda por publicar um trabalho
definitivo sobre a obra de Melanie Klein embora ela seja
considerada, por grande número de psicanalistas, a segunda
grande figura da Psicanálise.
As dificuldades postas pela leitura de Melanie Klein resultam
em primeiro lugar de os seus trabalhos descreverem
problemas que só podem ser corretamente avaliados por
pessoas que utilizem uma técnica semelhante à sua - é o que
se passa com os relatos referentes 1% análise de crianças.
Em segundo lugar datando os seus primeiros trabalhos da
segunda década do presente século, o avanço teórico que
existia na época tornava impossível a recapitulação de todas
as informações sobre os assuntos tratados. Desse modo as
suas obras partem de uma posição adiantada que o leitor não
especializado não está em condições de acompanhar.
Em terceiro e último lugar, por temperamento, Melanie
Klein procurava aprofundar as suas ideias de acordo com
um ângulo de visão estritamente pessoal; a sua
perspectiva era mais intuitiva, subjetiva, mesmo artística,
do que metódica e discursiva. A sua intenção não era
convencer ou conquistar adeptos para os seus pontos de
vista ao contrário de Freud que apreciava as exposições
didáticas e sistemáticas o que o levou a escrever longas
obras sobre vários assuntos. Os trabalhos de Melanie
Klein são na sua maioria curtos e condensados.
Raramente escreveu trabalhos com intuito de divulgação.
• Melanie Klein nasceu em Viena a 30 de Março de
1882. Morreu em Londres em 1960 (22 de
Setembro). Tanto do lado paterno como materno a
sua família era de origem judaica sendo o pai muito
mais velho do que a mãe. O pai, vindo de um meio
ortodoxo judeu, fora treinado para se tornar um
estudioso do Talmud. Mas aos 37 anos revoltou-se,
foi estudar na Universidade e tornou-se médico. Aos
44 anos o pai de Melanie Klein, de apelido Reizes,
casou com uma jovem de 25 anos da qual teve
quatro filhos.
Melanie era a mais nova dessas quatro crianças. A sua
infância e juventude foram entristecidas pela doença e morte
de dois dos seus irmãos. Primeiro a de uma irmã, Sidonie, que
morreu com 9 anos quando Melanie tinha 5 anos. Sidonie
esteve acamada durante 1 ano e passou grande parte desse
tempo procurando ensinar Melanie, transmitindo-lhe os
conhecimentos que tinha podido alcançar. Melanie recebeu
esta herança com gratidão e para agradar à irmã aprendeu a
ler, a escrever, antes dos 5 anos. Mais tarde fatos
semelhantes vieram a passar-se com o irmão Emmanuel,
mais velho que Melanie 5 anos. Emmanuel tinha uma doença
cardíaca e esperava-se que viria a morrer cedo.
Isto aconteceu quando tinha 25 anos. Sendo um rapaz
dotado, interessado em arte, literatura e música, com
talentos incipientes de escritor e pianista, procurou
encorajar em Melanie um interesse pelas artes, interesse
esse que de facto durou toda a vida desta. Melanie, cujo
apelido de solteira era Reizes como se disse, casou com um
engenheiro químico, Arthur Klein, quando tinha 21 anos. O
casal teve três filhos. Embora tivesse entrado para a
Universidade, primeiro com intenção de fazer estudos
médicos, depois estudando Arte e História, Melanie Klein
nunca chegou a completar um curso.
A família viajava muito devido a profissão de Arthur Klein,
tendo-se estabelecido em Budapeste um pouco antes do
eclodir da I Guerra Mundial. Tendo lido por acaso um livro de
Freud, começou a interessar-se pela Psicanálise e fez análise
com Ferenczi durante vários anos. O seu primeiro trabalho
científico foi apresentado a Sociedade Psicanalítica de
Budapeste em 1919 e publicado em 1921 (O Desenvolvimento
de uma Criança). Em 1921 Arthur Klein foi para a Suécia e
Melanie com os seus três filhos ficou em Berlim. Esta
separação acabou por levar a um divórcio em 1923, não
tendo nunca Melanie voltado a casar.
Em Berlim continuou a tratar crianças, tendo como seu
primeiro caso um rapaz de 5 anos que exprimia as suas
angústias e fantasias utilizando brinquedos. Ela tentou
interpretar o que ele dramatizava através do seu brincar,
seguindo uma técnica próxima da técnica utilizada por Freud
para a análise de sonhos. Estava assim descoberta a análise
do brincar da criança (play technique) a qual será exposta
sistematicamente no livro A Psicanálise das Crianças (1932).
A principal constatação que resulta do trabalho desta época
berlinesa é a importância do impulso agressivo na vida
mental da criança e riqueza do material simbólico que o
brincar infantil manifesta.
Em Berlim ainda fez mais análise didática com Karl Abraham,
análise que foi interrompida pela morte de Abraham em 1925. Em
1926 foi convidada por Ernest Jones para se instalar em Londres,
para divulgar entre os analistas ingleses o seu método de análise
de crianças. Por volta de 1930 começa a analisar tanto crianças
como adultos, e o seu trabalho expande-se apresentando novas
hipóteses num campo mais teórico que técnico. Propõe a opinião
de que no Eu da criança se estabelece um mundo de objetos
internalizados, que por um jogo complexo de introjecção e
projeção vai moldar as percepções do mundo externo e vai ser
moldado por elas. Devido à forte agressividade que a criança vive,
o Eu é abalado por fortes angústias de tipo psicótico, que, caso
não sejam modificadas, são o ponto de regressão das psicoses na
idade adulta da vida.
Certas figuras internas de carácter persecutório dão origem
a um Super-Eu precoce, diferente do Super-Eu, herdeiro do
Complexo de Édipo, descrito por Freud. O próprio Complexo
de Édipo é visto depois pelo estudo direto da criança, como
tendo uma instalação mais precoce do que fora indicado por
Freud. A sua aparição segue de perto o desmame, em geral
feito por volta dos 6 meses de idade, quando começam a
aparecer os primeiros dentes. Estas observações e princípios
são apresentados em trabalhos curtos e também na sua obra
mais longa e sistemática A PsicanáIise das Crianças (1932).
Resultou este livro dos cursos e seminários realizados em
Inglaterra, para os analistas que junto dela procuraram
aprender a teoria e técnica da análise precoce.
De 1935 a 1946 Klein publica três dos seus mais importantes
trabalhos, em que vai marcar uma modificação importante
dos seus pontos de vista: Uma Contribuição da Psicogénese
dos Estudos Maníaco-Depressivos (1935). O Luto e as Suas
Relações com os Estados Maníaco-Depressivos (1940) e
Notas sobre Alguns Mecanismos Esquizóides (1946). Estes
trabalhos pouco extensos (de cerca de 30 páginas cada)
embora continuando na linha das investigações de Freud e
Abraham foram considerados afrontosamente heréticos e
revolucionários. E de fato tanto pelo seu conteúdo, como pelo
modo assertório como eram propostos, vinham transtornar
os hábitos mentais de muitos analistas que, insensivelmente,
vinham transformando a teoria psicanalítica num novo
academismo.
A evolução da libido através de estádios psico-sexuais,
distingue como fundamentais duas «posições» na
evolução da criança.
O termo «posições» em vez de estádios do
desenvolvimento, é usado para indicar que se trata de
fases que não são nunca completamente
ultrapassadas - o que também era um pressuposto,
embora de modo menos explícito, da teoria
psicanalítica anterior. As duas «posições» são
marcadas por angústias específicas, por mecanismos
psíquicos bem diferenciados, que até Klein não tinham
sido claramente descritos:
a) Posição esquizo-paranóide, predominante durante
os 3 a 6 primeiros meses de vida, com impulsos
destrutivos, angústia persecutória e tendência
para a clivagem e identificação projetiva;
b) Posição depressiva, sobrepondo-se à anterior,
com integração da mãe num objeto total, angústia
de tipo depressivo, tendência para utilizar cada vez
mais o mecanismo de reparação, que está na base
das relações objetais estáveis e das sublimações
Nas «posições» descritas por Klein, como se vê, não
está só implícita a libido, mas igualmente a sua
combinação com os impulsos agressivos. Esta época
da vida de Melanie Klein, sendo a mais criadora, foi
também aquela em que esteve pessoalmente sujeita a
maior stress e desgaste. Por um lado desgostos de
natureza familiar. Em primeiro lugar morre-lhe o
segundo filho, num acidente de alpinismo (1934). A
sua filha mais velha, Melita Schmideberg, formada em
Medicina e futura psicanalista, depois de uma análise
com Edward Glover, incompatibiliza-se com a mãe.
Mais ou menos pela mesma época começam a chegar a
Londres os analistas vienenses, forçados a exilar-se
pelas perseguições anti-semitas dos nazistas. O grupo
vienense estabelecido em Londres vem a ser
encabeçado por Anna Freud, com todo o carisma do
nome paternal. Anna Freud, que também enveredara pela
análise infantil, afirmava a impossibilidade de empregar
uma técnica analítica pura para as crianças (como queria
Klein), e defendia a utilização de determinadas
influências de ordem sugestiva e educativa. Além disso
mantinha para o desenvolvimento da criança toda a
cronologia estabelecida por Freud, a partir do trabalho
executado com adultos.
Este grupo “anna-freudiano” procura retirar a Klein o
apoio que até então tinha alcançado da maioria dos
psicanalistas ingleses. E de início parece consegui-lo.
Em torno de Klein fica um grupo limitado de
«kleinianos». Contra ela constitui-se uma oposição
que procura demonstrar que as suas inovações são
«heresias» semelhantes as de Adler, Rank, Steckel e
Jung, que acabarão por arruinar o edifício da
Psicanálise se não se decretar a sua condenação
Sob as bombas do Blitzkrieg, travam-se lutas
tempestuosas no seio da Sociedade Britânica de
Psicanálise. A cisão entre «kleinianos» e anna-freudianos
é evitada, a muito custo, devido ao espírito de
compromisso de Jones e dos analistas ingleses, e
convém também acentuar, devido a serenidade, de Mrs.
Klein, que sem recuar um passo nas suas opiniões,
praticamente não responde ao grupo rival. Na verdade
nunca se sentiria em desacordo com a posição
freudiana. O seu fito nunca fora contestar as
descobertas de Freud, mas apenas se vira forçada a
alargá-las devido à aquisição de novos dados de
observação.
A controvérsia acalmou-se por volta de 1946. Depois de
amainado este torvelinho, foi possível constatar o estado
do problema: a luta travada tinha sido inglória para os
discípulos de Anna Freud, pois quase todos os analistas
ingleses tinham sido contagiados pelo «vírus» kleiniano.
Tinham-se formado analistas, que não sendo discípulos
diretos de Melanie Klein, se mostravam influenciados de
maneira importante pelas suas teorias e tinham posições
de destaque na Sociedade Britânica de Psicanálise. Para
já não falar de Ernest Jones, fundador e decano da
Sociedade Britânica, figuras de grande importância
vinham confessar a sua dívida a Melanie Klein: Winnicott,
Fairbairn, Guntrip, Brierly e muitos outros.
A própria Anna Freud em vários detalhes (maior
precocidade atribuída ao Complexo de Édipo, renuncia
as técnicas pedagógicas ou aliciadoras da criança) viria
a aproximar-se, em certo grau, das posições kleinianas,
com o decorrer dos anos. A partir de 1946 a influência de
Melanie Klein deixou de estar limitada a Grã-Bretanha.
Numerosos analistas estrangeiros vindos para trabalhar
na Inglaterra após a guerra, seguiram os ensinamentos
de Klein, e espalharam a sua influência principalmente
na América do Sul (onde todas as Sociedades
Psicanalíticas são kleinianas), nos países europeus, e
mesmo na América do Norte onde a influência dos
emigrados vienenses e alemães mais se fazia sentir.
Nos seus últimos anos Melanie Klein continuou a publicar
trabalhos importantes entre os quais salientarei Inveja e Gratidão
(1957) e Narrativa de Uma Análise Infantil (que só apareceu em
1961, depois da sua morte). Também de modo simétrico com
Freud, que encontrara a confirmação das suas teorias na tragédia
do Édipo-Rei de Sófocles, Melanie Klein através do Estudo
Psicanalítico da Oresteia de Esquilo (1963) vai encontrar
surpreendentes confirmações das suas conjecturas na obra de
outro grande poeta trágico. Antes de Melanie Klein a clínica
psicanalítica baseava-se sobre a influência exercida pelas
vicissitudes da experiência infantil no psiquismo do adulto. Mas
havendo poucas observações sistemáticas feitas em crianças, a
realidade da vivência infantil era apenas conhecida através da
recordação deixada no espírito adulto - que poderia deformar.
Melanie Klein, usando pequenos brinquedos, através dos
quais as crianças podiam manifestar os seus desejos e
fantasias, o desenhar, e de uma forma geral o brincar da
criança (play technique) tornou acessível o mundo psíquico
das crianças. A sua técnica era aplicável a partir da idade de
dois anos e meio até às épocas em que a verbalização era já
possível, como nos adultos. Não admira que nessas
circunstâncias, um grande número de analistas tivessem
procurado aprender e dominar os processos de play
technique propostos por Melanie Klein. que abriam novas
vias para a investigação psicanalítica.
Um dos resultados teóricos mais importantes que a nova
técnica trouxe, foi mostrar que a criança adoece mais
precocemente do que supusera Freud. Por exemplo, Rita,
citada no livro A Psicanálise das Crianças, tinha aos dois
anos e oito meses uma neurose obsessiva. Isto estava em
contradição com as suposições de Freud - que o núcleo de
todas as neuroses ou alterações caracteriais era o Complexo
de Édipo, desenvolvido entre os 5 e 8 anos. A partir daí se
poderiam produzir regressões a fases mais atrasadas do
desenvolvimento emocional. Mas o que seria ativado por
essas regressões, segundo Freud, seriam instintos de
carácter mais ou menos auto-erótico e narcísico e não certas
formas de relações objetais precoces.
A importância das relações precoces materno-
infantis foi mais tarde confirmada por observações
experimentais ou longitudinais diretas, realizadas por
Spitz, Bowlby e outros. Porém cabe a Klein o mérito
de ter pela primeira vez posto em relevo a vinculação
prematura da criança a mãe, independentemente das
relações que ela virá a estabelecer mais tarde com o
casal formado pela mãe e pai.
A noção da posição depressiva de Klein foi
confirmada por muitos dados de observação
recolhidos por autores não-kleinianos. As
observações de Spitz sobre a «angústia do oitavo
mês» e sobre as «depressões analíticas da criança; a
dependência que o bebé e a criança jovem mostram
em relação a mãe, a capacidade de autolimitarem a
sua agressividade ou de a voltarem contra elas
mesmas - são elementos que, como muitos outros,
mostram a realidade da “posição depressiva”.
Mais difícil é demonstrar a existência da fase esquizo-
paranóide. Não há dúvida que a criança vive inicialmente
estados afetivos desintegrados (esquizoidia); que tende a
mostrar uma agressividade e raiva por vezes intensa em
face de frustrações; que projeta sobre o mundo exterior a
causa e razão dos prejuízos sofridos. A criança
considera «maus» uma mesa, uma pedra, uma pessoa
com quem chocou ou se magoou, por inadvertência
própria. Mas poderá objetar-se que esses fenómenos não
são tão sistemáticos como Klein os descreveu, e que a
criança só vive no mundo atemorizador que esta pintou
para os primeiros meses de vida, caso lhe faltem os
cuidados maternais adequados.
Klein ela própria no trabalho de 1958, Sobre o
Desenvolvimento do Funcionamento Mental, admitiu que as
figuras terroríficas descritas para a fase esquizo-paranóide
ficariam clivadas do Eu e Super-Eu, para serem apenas
ativadas em casos em que o curso do desenvolvimento fosse
gravemente alterado, por fatores externos ou internos. Como
elementos que hoje poderíamos avaliar mais criticamente na
obra de Melanie Klein haveria a sua tendência para situar
certas constelações psíquicas em fases cada vez mais
precoces da evolução psíquica infantil. Por exemplo, a fase
depressiva tal como é descrita no livro A Psicanálise das
Crianças (1932) evolui desde o período anal até praticamente
à puberdade.
No trabalho de 1952 Algumas Conclusões Teóricas sobre a Vida
Emocional do Bebé. pelo contrário, todo o problema da posição
depressiva é resolvido no primeiro ano da vida da criança. Esta
prematuridade atribuída as suas «posições» descritas por
Klein, parece uma reconstrução um pouco arbitrária. Será esta
alteração dos seus esquemas primitivos um desafio ao
conformismo dos seus próprios discípulos, ou o reflexo de uma
audácia especulativa comparável a que Freud demonstrou no
último período da sua vida? De qualquer modo, se a
compararmos a Freud, seremos levados a admitir que Klein é
capaz de ter mais razão do que nós lhe atribuímos, em face de
opiniões (que nos parecem) menos cuidadosamente
fundamentadas.
TEORIAS
Estruturas Precursoras
Para Klein, o bebê ao nascer ainda não tem um ego, ou um self
constituído, mas apresenta estruturas precursoras deste, tornando o
capaz de sentir ansiedade e de se defender dela por meio de
projeções e introjeções. Essas estruturas precursoras (nunca
integralmente definidas por Klein) do ego do bebê podem dividir-se
ou excindir-se (split), e ser projetadas para fora. Assim, não são
apenas os estados de espírito perturbadores que são projetados para
fora, mas partes da própria personalidade. Aqui temos mais uma das
grandes novidades da psicanálise kleiniana. Isto significa que
podemos perder funções mentais, viver parte de nossas vidas
projetados (em fantasia) no mundo interno de outra pessoa. Ou
podemos ter parte de nossas vidas vividas em identificação com
aspectos da vida de outrem. Klein denomina este mecanismo
identificação projetiva.
O mundo interno
Um dos conceitos centrais da teoria de Melanie Klein é, como temos
visto, o de mundo interno. O mundo interno, é preciso dizer, não é
apenas o reflexo subjetivo do mundo externo, sua representação em
duplo. Jean Laplanche, um dos grandes mestres da psicanálise
contemporânea, comenta: “Estas imagos (internas) não são a
lembrança de experiências reais mais antigas; são o depósito
introjetado destas experiências, mas modificado pelo próprio
processo de introjeção.” Assim, a representação interna que o bebê
faz do mundo é resultado do próprio processo através do qual ela se
internalizou, sendo este, por sua vez, governado pela natureza da
ansiedade que o gerou. Aquilo que é introjetado será, por sua vez,
novamente, modificado, e assim sucessivamente.
Em síntese, o mundo inconsciente, de acordo com
Klein, é muito diferente do decalque esquecido da
nossa infância. A representação da realidade neste
contexto é permeada pela existência de fantasias
inconscientes. Estas por sua vez tem sua origem
numa determinação anterior à história e ao
desenvolvimento da linguagem. São anteriores
portanto, ao complexo de Édipo tal qual o postula
Freud.
Klein responde: “A análise de crianças pequenas
mostrou-me que uma criança de 3 anos já
atravessou a parte mais importante do
desenvolvimento de seu complexo de Édipo. Por
conseguinte, a repressão e a culpabilidade já a
distanciaram consideravelmente dos abjetos que
ela desejou originalmente. Suas relações com esses
objetos já sofreram modificações e deformações de
tal ordem que os objetos de amor atuais são imagos
dos objetos originais.”
A INVENÇÃO DA TÉCNICA DE BRINCAR
A técnica de brincar foi, de certo modo, sugerida
pelas crianças analisadas, que se ocupavam
espontaneamente com seus brinquedos. No ano
1923, Klein recebe crianças em sua própria casa a
fim de evitar a interferência da família no
tratamento; decide então fornecer-lhes brinquedos,
transformando, assim, um fenômeno espontâneo em
uma técnica planejada.
Estes brinquedos de tamanho reduzido, seu número e
sua grande diversidade, deixam o campo livre para jogos
mais variados, enquanto a simplicidade permite uma
infinidade de usos diferentes. Assim, tais brinquedos
podem exprimir com variedade e em detalhes as
fantasias e as experiências infantis. Os diversos temas
lúdicos, como os afetos que os acompanham e que
podemos, ao mesmo tempo, observar e deduzir do
conteúdo mesmo do jogo, se apresentam numa
vizinhança e num quadro estreitos; assim nada nos
escapa do encadeamento e da dinâmica dos processos
mentais em ação nem da cronologia das experiências e
das fantasias da criança.
Ela enfatizava a ideia de que os brinquedos fossem de
tamanho pequeno, “não mecânicos”, tão simples como
os do próprio quarto da criança, para poderem ser
utilizados durante o jogo. Mostrava-se atenta a
expressão da agressividade do jogo tendo um interesse
especial pelos objetos danificados. Interpretava os
elementos do brincar respeitando o valor simbólico
como os de um sonho. Utilizava uma linguagem direta e
franca como as empregadas pela criança para referir-se
a partes do corpo e a assuntos sexuais de ordem
amorosa e agressiva. Consta que era bastante ativa no
brincar com os pacientes, dispondo-se a desempenhar
papéis nas fantasias, reencenando os dramas também
representados com brinquedos.
INVEJA E GRATIDÃO
Em 1947, Melanie Klein escreve: “Há muitos anos venho me
interessando pelas fontes mais arcaicas de duas atitudes
que sempre nos foram familiares: a inveja e a gratidão.
Cheguei a conclusão de que a inveja é um fator muito
poderoso no solapamento das raízes do sentimento de amor
e gratidão, pois ela afeta a relação mais antiga de todas, a
relação com mãe.” Estas palavras dão início a um dos textos
mais significativos de Melanie Klein e também ao último dos
trabalhos teóricos de maior importância: inveja e gratidão.
A inveja é a mais radical das
manifestações do impulso destrutivo,
pois leva a atacar e destruir o objeto
bom, aquele cuja introjeção é a base da
saúde psíquica. A inveja constitui-se, em
última análise, em inveja da vida. Este
afeto inconsciente impede a introjeção
de boas experiências e, portanto,
dificulta a integração psíquica.
Separamos a inveja de frustração e afirma que
não são os elementos frustrantes da mãe ou da
situação ambiental que provocam inveja. Pelo
contrário, ela provém do sujeito e é endógena.
Propor que a inveja seja constitucional significa
sublinhar o fator interno, inato, e não originado
na situação externa que decepciona, frustra.
Trata-se de uma das ideias mais controvertidas
do pensamento Kleiniano. A maior parte dos
autores, mesmo aqueles que acreditavam na
existência de relações objetais desde o começo
da vida, resistiam a aceitar a ideia de inveja
primária.
Vínculo mãe-criança no
adoecimento infantil
Introdução
O vínculo mãe-bebê nos primeiros meses de vida da criança é
considerado por teóricos psicanalíticos como o acontecimento
mais importante no desenvolvimento do aparelho psíquico da
criança(1-4). Segundo Rivière(1), o vínculo é uma estrutura em
movimento, envolvendo sujeito e objeto e pode se desenvolver
de forma saudável ou patológica. Um vínculo é saudável quando
os envolvidos preservam sua identidade e podem fazer
escolhas individuais, e é patológico quando há delimitação
pouco precisa entre o eu e o outro. Distúrbios nesse interjogo
de dependências geram conseqüências ao desenvolvimento
emocional da criança.
Melanie Klein considera que as fantasias
inconscientes e os sentimentos vividos pelo bebê em
seus primeiros anos de vida são cruciais para o bom
desenvolvimento da estrutura psíquica. O primeiro
contato do bebê com o objeto/mãe se dá pela
amamentação, quando a criança introjeta os
aspectos positivos e negativos do mundo externo.
Sensações de gratificação são construídas quando o
bebê recebe alimento e afeto, sendo fundamental um
contato carinhoso mãe-criança.
Um envolvimento não saudável** mãe-bebê pode gerar
traumas emocionais na criança e comprometer seu
desenvolvimento. Após o nascimento, mãe e filho vivenciam
profunda reorganização, visando restabelecer a simbiose
anterior rompida pelo nascimento. O estado simbiótico inicial
é normal, e o bom desenvolvimento do vínculo mãe-bebê
depende da separação gradual do vínculo inicial.
Diversas doenças agudas ou crônicas podem se manifestar na
infância, tais como psoríase e outras dermatoses asma e outros
transtornos respiratórios, além de doenças e sintomas sem
etiopatogenia claramente elucidada, de caráter multifatorial, com
forte associação a fatores psicológicos. Relações entre
adoecimento infantil e aspectos afetivo-emocionais têm sido
discutidas por estudiosos do desenvolvimento humano, da
psicossomática e pediatria, constituindo-se em tema relevante
para a área da saúde. A compreensão das complexas
interrelações entre os fenômenos psíquicos e orgânicos pode
incrementar o desenvolvimento de abordagens integradoras e
incentivar programas de educação para a saúde e de saúde da
família, destinados a socializar os conhecimentos já obtidos
sobre condições saudáveis do desenvolvimento infantil.
A neurose obsessiva sob a ótica
de Melanie Klein
O tema ‘neurose obsessiva’ esteve como
cenário e personagem na formulação e na
posterior transformação das teorias de Klein,
isto é, das ideias que estão nos primeiros
escritos e depois aparecem em A psicanálise
de crianças (1932/1997), e nas construções
teóricas subsequentes, que enfatizam as
formulações a respeito do mecanismo chamado
‘reparação’, bem como na teoria sobre as
‘posições’.
O começo: a criação de uma técnica psicanalítica de
crianças e as primeiras considerações teóricas O que
talvez seja a primeira menção feita por Klein à neurose
obsessiva pode ser encontrada no artigo “A análise de
crianças pequenas”, de 1923. Ali, a autora procurou
esboçar seus primeiros achados — talvez ainda não
inteiramente psicanalíticos — e a compreender a
constituição de muitas inibições, especialmente as
escolares, em seus pequenos pacientes. Ao discorrer
sobre o interjogo de forças presentes na inibição, a
autora rediscute o ‘caso’ Leonardo, de Freud.
Apesar de manter muitos apontamentos de Freud
(1910/1996) em relação às inibições do gênio da
Renascença — como, por exemplo, o intenso interjogo
inconsciente, fantasístico e sexual, que seria expresso
pela fantasia/lembrança de Da Vinci sendo tocado
pela cauda de um abutre em seu berço — a autora
procurou destacar o intenso sadismo na dinâmica
psíquica das crianças desde sua mais tenra idade.
Para isso, ressaltou dois elementos propostos por
Freud que foram, depois, muito importantes para suas
formulações teóricas e conceituais.
Referimo-nos à noção metapsicológica de “pulsão
epistemofílica” (Wisstrieb) e sua conexão com o
sadismo. Tal ideia, de certa forma, já aparecia em
Freud quando buscava desmistificar a existência de
um “idílio bem-aventurado” (Freud, 1910/1996, p.131)
suposto pelos adultos acerca do universo infantil. Com
Klein, essa desmistificação toma o colorido especial
de suas descrições das fantasias inconscientes
infantis, que acabaram revelando que o universo
psíquico inicial da criança é algo ‘infernal’.
A neurose obsessiva aparece em “A análise de crianças
pequenas”, e o faz em negativo. Aparece justamente
quando a autora afirma que é muito provável que Da Vinci
tenha conseguido escapar de uma estruturação
obsessiva, pelo fato de ter uma capacidade sublimatória
tão ou mais intensa que seu sadismo — surgido
concomitantemente à pulsão epistemofílica. Para Klein, o
intenso desejo de saber sobre as coisas à sua volta,
derivava de um violento desejo de conhecer o corpo da
mãe e ser reconhecido por esta. Da Vinci era
impulsionado a conhecer o mundo e a natureza, tal como a
criança busca conhecer o corpo da mãe, em especial o
seu interior.
Essa observação de Klein tentou mostrar que esse
desejo era intensamente atravessado pelo sadismo que
derivava de frustrações iniciais sentidas pela criança
(desmame e treino ao toalete) e, também, da
impossibilidade de compreensão da criança das coisas
que aconteciam à sua volta. Segundo a autora
(1923/1996), por se tratar de um momento em que o ego
é muito incipiente, esse sadismo seria mais
intensamente sentido, o que poderia trazer marcas
posteriores, como as inibições intelectuais nas crianças
em sua fase de aprendizagem — uma neurose.
A pulsão epistemofílica seria, então, a interação entre
as forças sexuais e agressivas (sádicas). Nos casos
bem-sucedidos dessa interação, a pulsão epistemofílica
levaria o sujeito ao encontro com o outro e com o
mundo, numa relação de crescimento egóico. Klein
(1923/1996) procura mostrar que o obsessivo teria
esses impulsos (o sexual, o agressivo e/ou
epistemofílico) precocemente estimulados. Sua futura
atitude mentalmente “ruminante” (suas obsessões) seria
uma marca dessa precocidade
No entanto, a origem dessa precocidade sexual
representada pela pulsão epistemofílica do
obsessivo não é tão clara nesses primeiros
textos de Klein. Há algum aprofundamento do
tema nas relações apontadas entre mãe e filha
no caso da pequena Erna, discutido em A
psicanálise de crianças, que veremos adiante.
Ali, faremos uma discussão dessa origem a partir
da teoria da sedução generalizada de Jean
Laplanche (1992).
No entanto, a origem dessa precocidade sexual
representada pela pulsão epistemofílica do
obsessivo não é tão clara nesses primeiros
textos de Klein. Há algum aprofundamento do
tema nas relações apontadas entre mãe e filha
no caso da pequena Erna, discutido em
A Psicanálise de Crianças.
Podemos encontrar elementos parecidos e que se relacionam a
uma cena essencialmente marcada no pensamento teórico dessa
autora: a cena primitiva. Referimo-nos ao artigo “Contribuição à
psicogênese dos tiques”, de 1925, em que Klein analisou o
universo fantasístico do garoto Felix, que sofria de tiques e tinha
um caráter — muito mais do que sintomas — obsessivo. Nesse
artigo, Klein buscou destacar que as representações lúdicas do
menino — e das crianças de um modo geral — eram, no fundo,
representações da relação sexual fantasiada pela criança
derivadas da cena primária. O exemplo clínico de Felix é bastante
ilustrativo a esse respeito, pois o menino apresentava, segundo a
autora, toda uma fantasia que circulava ao redor dos sons ouvidos
por ele, quando ainda era bem pequeno, e que vinham da cama
dos seus pais.
Klein interpretou esse elemento sonoro como um dos
componentes da cena primária e que foi responsável,
mais tarde, pelo intenso interesse do menino pela música,
contraposto pela posterior inibição em relação a ela e à
arte em geral — a inibição teria surgido quando do
retorno do pai de Felix da guerra e a reprimenda que esse
dirigiu ao garoto por se interessar tanto por essas coisas
(subentendidas como femininas), ao invés de se
interessar por esportes. O menino, então, atendeu
exatamente a esse pedido do pai, mas passou a sofrer de
severos tiques e inibição escolar.
Isso, de algum modo, colocaria em
discussão o que diz Freud em “A
disposição à neurose obsessiva”
(1913/1996). Trata-se de certa precocidade
do desenvolvimento do ego em relação ao
desenvolvimento da pulsão. Diz esse autor:
“sugiro a possibilidade que uma ultrapassagem
cronológica do desenvolvimento libidinal pelo
desenvolvimento do ego deve ser incluída na
disposição à neurose obsessiva. Uma
precocidade deste tipo tornaria necessária a
escolha de um objeto sob a influência dos
instintos do ego, numa época em que os instintos
sexuais ainda não assumiram sua forma final”.
(FREUD, 1913/1996, p.348)
Nesse contexto, Klein, mais uma vez, salienta como o
universo do obsessivo era intensamente sexualizado (cena
primária e a sedução que daí se deriva) e, também, muito
agressivo. Essa agressividade, no caso de Felix, apareceu,
por exemplo, quando estava em um teatro ouvindo um
concerto e ficou bastante irritado com o desempenho do
maestro da orquestra. Klein interpretou essa cena como o
menino estando irritado com a potência sexual do pai. Uma
irritação e um desdém agressivos deslocados do pai para o
maestro, que assumiu, nas fantasias de Felix, a figura de
um pai impotente.
Dessa forma, Klein busca mostrar a existência de
uma constante e intensa interação entre o sexual
e o agressivo, não se tratando, pois, apenas de
um grau de polaridade. E todo esse sadismo
derivado das fantasias agressivas das crianças
traria um resultado pesado para elas, um forte
sentimento de culpa já experimentado desde a
mais tenra idade.
Isso levou Klein a perceber a atuação do
superego num momento muito anterior àquele
proposto pela psicanálise de então. O superego
se formaria, pois, antes do declínio do complexo
edipiano. Na verdade, Klein começa a postular
que esse complexo se instauraria a partir das
primeiras construções superegoicas — derivadas
diretamente da atividade agressiva no psiquismo
das crianças pequenas.
Estas seriam, então, uma espécie de retorno
de toda a agressividade projetada pela
criança num funcionamento parecido com a
lei de talião: a agressividade retornaria em
ataques sádicos contra ela mesma. O
superego da criança, em especial o das
obsessivas, seria tão sádico quanto suas
tendências agressivas.
A autora organiza melhor este ponto em um
texto do ano seguinte, “Princípios
psicológicos de crianças pequenas”, de
1926 — já bem próximo à proposta de A
psicanálise de crianças, tendo dado origem
ao primeiro capítulo desse livro.
Ainda em 1926, Klein apresenta, pela primeira vez, dois
de seus principais casos de neurose obsessiva: a
pequena Rita4 e o já citado caso Erna. Nessa primeira
menção, ambos os casos foram pouco detalhados no
que se referia ao cotidiano das crianças,
diferentemente do que vai ocorrer em A psicanálise de
crianças. Todavia, os elementos sádicos que Klein
queria evidenciar no universo psíquico dessas crianças
já aparecem bem destacados nesses casos, o que nos
remete diretamente à neurose obsessiva.
A autora aponta que, nas crianças da mais tenra idade,
o sadismo derivado de suas primeiras frustrações
causava intensa angústia. Aí, pode-se dizer que ela já
começa a propor, de forma mais explícita e mais bem
teorizada, o surgimento do complexo de Édipo na
criança num período bem mais precoce do que o
pensado por Freud. Isso porque Klein observava, em
crianças bastante pequenas como Rita, que
apresentavam um interjogo de desejos amorosos e
hostis típicos do complexo de Édipo.
E mais: apresentavam, segundo a autora
(1926/1996), um sentimento de culpa tão peculiar
quanto aquele que só poderia ser derivado do
superego. Ficava assim proposto que não só o
complexo de Édipo era mais precoce do que se
havia pensado, mas que, também, não aparecia
apenas em seu término, e sim ao mesmo tempo.
Tratava-se, no entanto, de um superego mais
primitivo.
Pela dimensão da tese que deriva desses
dois casos de neurose obsessiva,
percebemos que foram os mais revisitados
pela autora. A cada revisão, Klein abordava-
os com detalhes mais profundos sobre as
fantasias inconscientes dessas crianças, o
que revelava aspectos cada vez mais
arcaicos do psiquismo.
Citamos como exemplo o caso Erna. Em 1926, as
angústias sentidas por essa pequena paciente, e
que constituíam sua neurose obsessiva, foram
apontadas por Klein como caracteristicamente
anais. Em A psicanálise de crianças essa
característica anal foi colocada em segundo
plano, tendo em vista que o elemento oral — e a
correspondente inveja que começava a aparecer
associada a essa oralidade — passou a ganhar
destaque nessas angústias primitivas.
Ao final da década de 1920, Klein publicou dois textos
que aprofundariam o desenvolvimento de suas ideias
acerca das angústias infantis e do complexo de Édipo
primitivo: Estágios iniciais do complexo edipiano
(1928/1996) e Personificação no brincar das crianças
(1929/1996). O primeiro não faz apontamentos novos e
diretos sobre a neurose obsessiva, mas é um texto
importante por conter uma das teses principais da
autora — como enunciado no próprio título — e tem a
neurose obsessiva como uma das protagonistas na
formulação de seu roteiro.
Já o segundo texto desenvolve importantes
apontamentos em relação à compreensão da autora
sobre qual seria a função e o significado do brincar
para a criança. Aí, Klein afirma que a capacidade de
brincar implica pôr em ação fantasias que serão
personificadas no decurso do jogo. A inibição, derivada
da angústia e do sentimento de culpa que estão no
palco do sadismo das fantasias infantis, impediria esse
processo. Seguindo essa linha de raciocínio, a autora
percebe que, quanto maior a inibição na brincadeira,
maiores seriam os sentimentos de culpa decorrentes do
sadismo.
O grau de inibição no brincar e na personificação dos
jogos infantis passou a ser critério de avaliação da
gravidade do caso e seu diagnóstico, segundo Klein.
Quanto maior a inibição, maior a severidade da
patologia. A neurose obsessiva se mostrava, então,
como um dos casos graves dessa patologia. Ainda
nesse texto (1929/1996), Klein faz um apontamento
novo sobre essa patologia e suas características. Diz-
nos que é bastante comum que traços isolados de
características obsessivas componham o
desenvolvimento ‘normal’ das crianças.
O grau de inibição no brincar e na personificação dos
jogos infantis passou a ser critério de avaliação da
gravidade do caso e seu diagnóstico, segundo Klein.
Quanto maior a inibição, maior a severidade da
patologia. A neurose obsessiva se mostrava, então,
como um dos casos graves dessa patologia. Ainda
nesse texto (1929/1996), Klein faz um apontamento
novo sobre essa patologia e suas características. Diz-
nos que é bastante comum que traços isolados de
características obsessivas componham o
desenvolvimento ‘normal’ das crianças.
• Filha do fundador da Psicanálise, Sigmund Freud, Anna
Freud nasceu em 1895-Viena na época em que as teorias de
Freud sobre sexo e mente estavam começando a torná-lo
famoso em toda Europa. Desde nova mostrava interesse por
estudar e ao acompanhar seu pai em reuniões de
psicanálise, começou a colaborar profissionalmente com as
pesquisas. Mais tarde tornou-se professora e psicanalista,
sendo pioneira no tratamento de crianças, criando clínicas e
enfermarias para crianças que foram vítimas de guerra,
sobreviventes do holocausto ou perturbadas por traumas
diversos.
• Em seu livro de 1936 intitulado de O Ego e Mecanismos de
Defesa, Anna traz à tona, pela primeira vez, a ideia da
análise do ego como uma resposta instintiva a realidade, ou
seja, que instintivamente tentamos proteger “a imagem
aceitável do que somos’’ com uma variedade de defesas.
• O problema é que no ato de defender nós mesmos contra a
dor, acabamos prejudicando nossas chances de lidar com a
realidade a longo prazo e, portanto, de desenvolver o
amadurecimento.
Anna Freud destacou dez tipos principais de mecanismos de
defesa:
• 1- Negação: quando não admitimos que há um problema e
tentamos nos enganar justificando para nós mesmos com
pequenas ‘mentiras’ de que tudo irá ficar bem ou que
conseguiremos lidar com a situação. Se outras pessoas
tentam nos conduzir a enfrentar a problema, tendemos a
reagir muito mal. O instinto para se sentir bem consigo
mesmo recusa reconhecer a nossa necessidade de mudança.
2 – Projeção: quando atribuímos um sentimento
ruim ou nossas frustrações à alguém sem querer
olhar para nós mesmos mais a fundo e tentar
descobrir a origem desse sentimento. Você está
colocando os sentimentos negativos, que você não
quer reconhecer em si mesmo, na outra pessoa.
Isso é projeção.
3- Voltar-se contra você: quando pensamos mal de nós
mesmos como uma maneira de escapar de um
pensamento ainda pior. Anna Freud descobriu que as
crianças fazem muito isso. Uma criança abusada por um
pai vai geralmente buscar refúgio em um pensamento
que, embora desagradável, é menos terrível do que as
alternativas. A pessoa tende a pensar: “devo ser ruim e
sem valor é por isso que o meu pai está agindo dessa
maneira comigo”. Dessa forma a auto-punição dirá que
apesar de tudo: “Eu ainda tenho um bom pai”.
4- Sublimação: ocorre quando redirecionamos
pensamentos ou emoções inaceitáveis, muitas
vezes sobre sexo ou violência, em atividades ou
experiências “superiores”. Por exemplo no mundo
da música ou da arte, em que muitos autores
transformam suas dores em obras incríveis. Como
Frida Kahlo, que pintou suas angústias e tornou-se
conhecida artista.
5- Regressão: frente a situações difíceis, voltamos
a nos comportar como quando éramos mais jovens
ou fugir da responsabilidade. Na regressão
colocamos a culpa sempre em outra pessoa e é
normal para muitos adultos regredirem quando
estão sob pressão.
• 6- Racionalização: tentamos arranjar uma desculpa que soa
inteligente para nossas ações, mas é cuidadosamente
pensada/manipulada para chegar à conclusão que nós
sentimos que precisamos: que somos inocentes, agradáveis e
que não merecíamos passar por isso.
• 7- Intelectualização: ocorre quando tentamos justificar algo
ruim baseado em fatos reais do passado ou da atualidade.
Quando tentamos neutralizar a situação pensando puramente
de forma racional.
• 8- Formação de reação: fazemos exatamente o oposto dos nossos
sentimentos iniciais. Por exemplo quando você se sente atraído
por alguém e passa a ser agressivo em relação a pessoa, em vez
de admitir sua atração.
• 9- Deslocamento: quando você direciona seu desejo agressivo
para alguém mais fraco. Um exemplo é quando seu chefe grita
com você e ao chegar em casa você faz o mesmo com seu
parceiro.
• 10 – Fantasia: ao transportarmos nosso mundo real e intimidador
ao mundo da imaginação que é um mundo mais confortável de
viver.
• Anna Freud, ao escrever sobre os mecanismos de
defesa sabe que essas defesas são inerentes do ser
humano e também descreve o quanto esses
mecanismos podem interferir para melhor ou pior a
vida de cada individuo. Seu legado deixa uma forma de
ajudar-nos a ver um pouco melhor a nós mesmos para
que sejamos um pouco mais maduros e menos
egoístas.
FIM

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