Você está na página 1de 3

A teoria da população de Malthus é o atual modelo insustentável de produção de

alimentos
Autores: GUILHERME AUGUSTO LACERDA DUTRA¹; CAROL RODRIGUES SILVA¹; EMANUEL
SILVA MOARES¹; JÚLIA NERY VIEIRA NOBRE¹; LUANY MARCELLY SANTOS DE DEUS¹;
DIOGO DANIEL BANDEIRA DE ALBUQUERQUE².

Introdução  
A instabilidade entre as classes dos capitalistas, proprietários rurais e trabalhadores gerou grandes discussões na
Inglaterra entre os séculos XVIII e XIX. Thomas R. Malthus, um dos pensadores deste período, ao contrário de outros,
defendia exclusivamente os proprietários dos meios de produção baseada na “lei da natureza” que estabelecia
previamente o domínio intelectual, econômico e cultural de uma classe sobre a outra. Em suas obras, instaurou a Teoria
da População, argumentando que o crescimento populacional estaria sempre limitado pela produção de alimentos, uma
vez que o primeiro crescia em progressão geométrica e o segundo em progressão aritmética. Sua teoria, foi refutada
pela comunidade cientifica, mas Malthus atingiu um ponto central e de extrema importância: a elevação da produção
material e da oferta de serviços encontra um claro limite no esgotamento da capacidade de os ecossistemas continuarem
prestando os serviços de que depende a sobrevivência das sociedades humanas

Materiais e Métodos  

Pela análise bibliográfica de obras do economista Thomas R. Malthus, associação com artigos que buscam
explicar as teorias elaboradas por este pensadorrelacionadas com outros temas e interpretação sistemática de dados
apresentados pela comunidade científica, é possível desenvolver uma crítica as ideias malthusianas sobre o aumento
populacional, bem como a assuntos atuais, como a degradação acelerada do ecossistema. As referências utilizadas
demonstram a importância das ideias de Malthus para propostas e discussões de políticas públicas com impactos
sociais, ambientais e econômicos.  

Resultados e discussão  
A. A teoria populacional de Malthus
Em síntese, a Teoria Populacional de Malthus é resultado de uma conclusão simples feita por esse autor que,
segundo ele, quase todas as pessoas eram impelidas por um desejo quase que insaciável de prazer sexual e que, por
isso, as taxas de reprodução, quando incontidas, levariam a aumentos em progressão geométrica da população;
especificamente, a população duplicaria a cada geração. “Todos os animais” – argumentava ele – “têm uma capacidade
de se reproduzir em progressão geométrica”. Quanto a esse aspecto, os seres humanos não eram diferentes dos outros
animais. (HUNT, 2013)
Ainda de acordo com sua teoria, a produção de alimentos não seguiria o mesmo aumento, e possivelmente, agiria
como forma de controle populacional em função da fome que seria ocasionada por essa disparidade. Malthus reconhecia
que, com métodos mais eficazes de produção de alimentos, era possível aumentar o nível de produção de alimentos,
afirmava que em determinados territórios a taxa de crescimento conseguido seria cada vez menor ao longo de gerações.
Na melhor das hipóteses, achava que a produção de alimentos poderia aumentar em progressão aritmética, quer dizer,
cada geração só poderia aumentar a produção em quantidade mais ou menos equivalente ao aumento conseguido pela
geração anterior. (HUNT, 2013)
Como forma de solucionar a questão entre fome e desenvolvimento, autores da época como Condorcet e
Godwin, já tocavam na porta da distribuição de renda. Condorcet defendendo linhas de créditos reguladas em relação ao
que oferecido aos pobres e aos ricos, Godwin já se apresentava de maneira mais radical ou utópica, buscando a abolição
total de leis e do governo e que fosse instaurado a igualdade econômica, social e politica. Em suas obras, Malthus se
expressava totalmente contrário a distribuição das riquezas, pois para ele, seria meramente diminuir o patrimônio dos
ricos para que posteriormente os pobres voltem, novamente, a um estado de subsistência. Malthus argumentava até que
essa redistribuição nem mesmo aumentaria o bem-estar dos trabalhadores,durante o curto período em que eles ainda não
tivessem tido filhos. Em alguns momentos, a sua teoria abordava que não importando o aumento dos meios de

¹ Acadêmico do Curso de Direito da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES


² Professor da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES
subsistência, a população seria sempre limitada por esse fator, e que após feita a distribuição para o mínimo necessário a
vida, todas as crianças consideradas “excedentes” teriam que morrer. (HUNT, 2013)
Estudos que perduraram ao longo do século XX, buscaram entender a situação da fome mundial para que
pudessem propor políticas públicas para que essa situação fosse revertida. Os resultados dessas pesquisas mostraram
que a fome, na verdade, era gerada muito mais pela má distribuição de alimentos do que a produção em si. O
desenvolvimento econômico está ligado aos direitos democráticos e às liberdades. O funcionamento da democracia e
dos direitos políticos podem ajudar a evitar problemas como a fome. “Na história mundial, não existiu um único país
com uma democracia efetiva que tenha enfrentado problemas como a fome.” (SEN, 2011)
É verdade que a agropecuária e o modelo de produção atual têm plena capacidade de atender a necessidade de
consumo de alimentos do planeta, porém a má distribuição e o aumento populacional exigem cada vez o avanço das
fronteiras agrícolas e com isso a destruição do meio ambiente fica cada vez mais evidente e preocupante. De acordo
com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio serviços prestados pela própria natureza como água, o ar, o controle da
erosão e das enchentes, a oferta de alimentos, a reciclagem de nutrientes, a obtenção de madeira, energia e
medicamentos, os valores culturais e espirituais que a natureza propicia e os serviços de regulação do próprio clima
estão esgotados em alguns lugares ou degradados em outros. (ABRAMOVAY, 2010)

B. Obesidade versus Fome, as consequências da ineficiência da distribuição de recursos


Duras e corretas críticas feitas a teoria da população de Malthus provaram que a produção de alimentos pode
crescer além da taxa de crescimento populacional.No entanto essa produção não está ligada ao acesso que a população
como um todo terá a esse recurso, o que provoca uma grave disparidade que ocorre nos dias atuais, enquanto um país
como os Estados Unidos sofre com um índice de obesidade de 40% (CRAIG, 2018), a fome no mundo, segundo
relatório da FAO, atinge a marca de 821 milhões de pessoas. Por trás desse enorme índice de obesidade, encontra-se
uma cultura extremamente prejudicial a saúde, com ingestão de valores calóricos muito superiores ao recomendado, e
essa dualidade que assola a sociedade atual gera um problema ainda mais complexo. (ABRAMOVAY, 2010)
O atual sistema de alimentação mundial é considerado a fonte principal desse problema. O avanço de práticas
técnicas, adaptações de avanços tecnológicos para o campo, logística e rapidez no deslocamento de produtos
alimentícios e técnicas mais eficientes de armazenamento visando uma vida útil maior para determinado alimento
ajudaram a combater a fome mundial, entretanto, a longo prazo, gera aumento do consumo médio de cada indivíduo,
criando um sistema insustentável de produção de alimentos. (ABRAMOVAY, 2010).
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que a principal perda de anos da expectativas de vida
é a fome que atinge principalmente crianças e recém nascidos. A segunda causa, ainda de acordo com dados da OMS,
está as doenças ligadas a obesidade e sedentarismo, esses dados apontam que o número de mortes causadas pela
obesidade é o dobro daquelas causadas por doenças sexualmente transmitidas. A ingestão regular e excessiva de carne
vermelha é a fonte primária de gordura que ocasiona a obesidade e posteriormente doenças cardiovasculares, diabetes e
alguns tipos de câncer. (McMICHAEL, 2005). Por trás do aumento de consumo, há o aumento de produção, e o
consumo de carne vermelha implica em maiores áreas de pastos para alimentação do gado de corte, dados do INPE
afirmam que 60% da área desmatada da Amazônia em 2018 foi destinada a pecuária, para reafirmar esse percentual
alarmante, a área total desmatada corresponde a 7.536km².

C. O avanço das fronteiras agrícolas e danos ambientais


Para a produção animal, responsável por grande parte do desmatamento da Amazônia, é necessário que as
florestas sejam objetos de destruição, para dar lugar a áreas com enormes pastos para a alimentação do gado. Uma
primeira crítica a esse sistema é a enorme quantidade de poluentes responsáveis pelo efeito estufa, e do ponto de vista
econômico, demonstra um sistema pouco eficiente, marcado pelo enorme desperdício de recursos, que do ponto de vista
de geração de renda, poderiam criar um volume muito maior do que o gerado pela pecuária. As práticas adotadas pela
produção pecuária são contrárias a um sistema baseado no respeito a biodiversidade e conhecimento da natureza.
(ABRAMOVAY, 2010).
Agora que se entende que a natureza é tão poderosa, que é totalmente possível uma economia desenvolvida
baseada nos conhecimentos de produção da própria natureza, desde que se utilize das tecnologias e práticas adequadas.
(BECKER, 2010). Grande exemplo disso são as industrias produtoras de cosméticos que utilizam da biodiversidade
para todo o seu segmento produtivo, e seguem a tendência mundial que é a substituição do sintético. (GLENIA, 2004).
Junto com o debate sobre a sustentabilidade da produção e alimentação, há de se dizer na estimativa publicada
pela ONU, que afirma que em 2050 a população atingirá a incrível marca de 9,7 bilhões de pessoas e segundo dados da
Organização das Nações Unidas para a alimentação e a Agricultura (FAO) o número de indivíduos que passam fome no
mundo passou de 815 milhões em 2016 para 821 milhões de 2017. No entanto, o Ministério da Saúde, afirma com base
em pesquisas que o índice de obesidade no Brasil atingiu a marca de 19,8%, logo, há uma confirmação intrínseca nesses
dados da teoria de Sen de que a fome é resultado muito mais da falta de políticas do que a própria produção de
alimentos, por isso, injustificadamente, há a expansão da fronteira agrícola, sem considerar o volume de produção,
população e logística de distribuição para o acesso do alimento.
Conforme dados da FAO, a produção de alimentos apresenta dados tão alarmante, que a pecuária, por si só,
produz mais poluente que o setor de transportes, cerca de 18%. Deixando de lado a discussão sobre emissão de
poluente, outro fato de suma importância sobre a sustentabilidade do atual sistema produtivo baseado no gado de corte,
é o enorme desperdício de recursos. Para a produção de um quilo de carne de gado, necessidade de uma relação de 9:1
(nove quilos de vegetais para um de carne), para a de suínos 4:1 e para a de frango 2:1. Relacionando esses dados com o
padrão norte-americano de consumo (120 quilos por anos), há um inevitável colapso do sistema mundial de produção.
De acordo com dados da FAO, umas das principais causas da perda da biodiversidade é a manutenção desse sistema de
produção pecuária que de acordo os dados se mostram insustentável.

Conclusões  
O aumento da população e produção de alimentos abordados por Malthus no século XVIII, traz discussões
atuais, sob o tema central da relação entre esses dois fatores. O aumento da população implica na produção de
alimentos, porém os grandes problemas que acarretam uma produção insustentável são práticas alimentares nocivas à
saúde humana, péssimas políticas de distribuição de alimentos e o avanço da pecuária em áreas naturais. Somados tudo
isso, temos o imenso problema da fome e obesidade que se mostra cada vez mais complexo de se resolver e o consumo
excessivo que obriga a uma produção cada vez maior e insustentável que ocasiona nos dados alarmantes de
desmatamento.

Referências bibliográficas  
ABRAMOVAY, R. Alimentos versus população: está ressurgindo o fantasma malthusiano?. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000400013. Acesso em 22 de agosto de 2019.

BECKER, B. "Por uma economia baseada no conhecimento da natureza. Entrevista especial com Bertha Becker”. Disponível
em: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33522. Acesso em: 22 de agosto de 2019.

FAO (2018). Fome aumenta no mundo e atinge 821 milhões de pessoas. Disponível em: https://nacoesunidas.org/fao-fome-aumenta-no-mundo-e-afeta-821-milhoes-de-
pessoas/. Acesso em: 22 de agosto de 2019.

FAO (2019). Estudo inédito da FAO aponta que a biodiversidade do planeta está desaparecendo. Disponível em: http://www.fao.org/brasil/noticias/detail-
events/pt/c/1181587/. Acesso em: 22 de agosto de 2019.

HALES, Craig. Trends in Obesity and Severe Obesity Prevalence in US Youth and Adults by Sex and Age, 2007-2008 to 2015-2016. Disponível em:
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2676543. Acesso em: 01 de setembro de 2019

HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico, uma perspectiva crítica. ELSEVIER, Rio de janeiro, 3º Ed. 2013. Disponível em
<https://gremiojovenspensadores.files.wordpress.com/2017/04/historia-do-pensamento-economic-e-k-hunt.pdf> Acesso em: 20 de agosto de 2019.  

JORNAL GNN. Dados do INPE: 60% da área desmatada da Amazônia foi para a pecuária. Disponível em: https://jornalggn.com.br/agronegocio/dados-do-inpe-60-
da-area-desmatada-na-amazonia-foi-para-a-pecuaria/. Acesso em: 22 de agosto de 2019.

McMICHAEL, Anthony, BAMBRICK, Hillary. Meat consumption trends and health: casting a wider risk assessment net. Disponível em:
https://www.cambridge.org/core/journals/public-health-nutrition/article/meat-consumption-trends-and-health-casting-a-wider-risk-assessment-
net/ED65C500CEDCD9BBD6402DC10A10D77F. Acesso em: 25 de agosto de 2019

RIBEIRO, Helena. et al. Alimentação e sustentabilidade. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142017000100185. Acesso


em: 25 de agosto de 2019.

SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras. 2001.

Você também pode gostar