Você está na página 1de 8

109 110

Os estudos de antropologia da saúde/doença Introdução ra de Antropologia (ABA) e Associação Brasi-


no Brasil na década de 1990 leira de Pós-Graduação em Ciências Sociais
Este texto revê o que fizeram no Brasil, na últi- (ANPOCS). Ela quer estudar a construção das
ma década do século 20, os antropólogos e pessoas, do corpo ou das emoções, associados
Health and illness’ antrophological studies profissionais de saúde que incorporaram os re- aos fenômenos da “doença” ou perturbações
in the 90’s in Brazil ferenciais teórico-metodológicos da antropo- (Duarte, 1998), sem ser compartilhada igual-
logia nas suas pesquisas e reflexões, enquadra- mente por todos os pesquisadores, tal como se
das numa especialização em constituição de- evidenciará na bibliografia disponível.
signada de antropologia da Saúde/Doença, que A busca de identidade de uma antropolo-
vem alcançando visibilidade e maior legitimida- gia especializada na saúde e doença gera ten-
de acadêmica. sões entre as distintas vocações intelectuais e
Na década de 1980 essa produção acadêmi- disputas entre os agentes, segundo as suas pre-
ca foi objeto de análise, quanto a um conjunto ferências intelectuais, fazendo ou não seus alia-
de temas, perspectivas conceituais e metodoló- dos, sendo que algumas posturas, sob diferen-
gicas adotadas pelos pesquisadores; origens e tes argumentos, são mais cautelosas quanto à
influências recebidas (Canesqui, 1994). Outras partilha ou especialização dos objetos discipli-
recentes revisões e reflexões sobre as ciências nares (Duarte, 1994; Carrara, 1994), enquanto
sociais no campo da saúde ou específicas de al- outros preferem a singularidade e identidade
guns temas foram feitas (Canesqui, 1998; Nu- da nova especialidade.
Ana Maria Canesqui 1 nes, 2000; Alves, 1998), sendo agora pertinente O fato é que esse embate intelectual não dis-
nova análise dos estudos, na década de 1990, pensa alianças e não foi casual a observação de
devido a sua forte expansão e amadurecimento. Russo (1998) sobre o meio parentesco de afini-
A preocupação com o que somos, nossos te- dade entre a saúde coletiva e a “antropologia
Abstract This article reviews and comments Resumo Este texto revê e comenta os estudos mas e origens, quantos somos, para onde va- da saúde”. É salutar a convivência de vários ti-
the anthropological and qualitative studies antropológicos e qualitativos sobre as dimen- mos foi uma das marcas das ciências sociais no pos de pesquisa – a básica, estratégica e opera-
about the sociocultural dimensions of health sões socioculturais da saúde/doença, engloban- campo da saúde durante a década de 1990, cu- cional –, sugeridos por Minayo (1998), à medi-
and illness. It focus the different intellectuals do os seus subtemas, conceitos e metodologias jos registros estão na bibliografia e nos eventos, da que os dois primeiros podem atender às de-
positions, the concepts and methodologies and adotadas a partir de diferentes vocações intelec- patrocinados pela Associação de Pós-Gradua- mandas setoriais da saúde, sem ser desprezada
includes the theme sexuality, disease and gen- tuais. Inclui ainda a sexualidade, doença e re- ção em Saúde Coletiva, que revelam a estreita a enorme relevância da pesquisa básica na an-
ders relations. The article discuss some factors lações de gênero.Traça alguns fatores que con- interlocução daquelas ciências (sociologia, an- tropologia social. Confirma-se a importância
and its contributions to the academic produc- tribuíram para a expansão daquela produção tropologia e ciência política) com o campo da da interdisciplinaridade na saúde coletiva/saú-
tion expansion, and is concerned only to the acadêmica e circunscreve-se somente à publica- saúde coletiva/saúde pública. Essa busca de de pública, bem ao contrário das posturas crí-
publications which its examination showed the da, cujo exame permitiu a seleção dos temas identidade deu-se ainda na trajetória da antro- ticas e mais reflexivas, que predominaram as
main themes for selection. abordados, devido aos seus predomínios. pologia, marcada pela “volta sobre si mesma” contribuições das ciências sociais, nos estudos
Key words Anthropology of health/disease; Palavras-chave Antropologia da saúde/doen- (Rubim, 1999). na década de 1970.
Qualitative research in health; Concepts, ça; Pesquisa qualitativa em saúde; Conceitos Apesar da insistente busca da interdisci- Um conjunto crescente de agentes respon-
methodologies and themes. e metodologias e assuntos plinaridade, entre as próprias ciências sociais sabilizou-se pelo volume significativo de pu-
e destas com a Saúde Coletiva, a antropologia blicações no assunto pesquisado (livros, cole-
médica ou antropologia da saúde buscam iden- tâneas e artigos de revistas de saúde públi-
tidades segundo as preferências e vocações de ca/saúde coletiva e de antropologia social), que
alguns proponentes, sejam dos mais preocu- motivaram este tipo de revisão, a qual padece
pados em estabelecer fronteiras e limites mais de parcialidade. Uma parte dos agentes está
nítidos e precisos para estes empreendimentos nos ambientes “híbridos” em interlocução com
disciplinares, ou que reorganizam uma rede de as ciências biomédicas, saúde pública, psiquia-
estudiosos no assunto, sejam dos que preser- tria, gineco-obstetrícia e pediatria.
vam os espaços disciplinares mais pragmáti- A outra se liga às áreas básicas das ciências
cos, mediante forte interlocução interdiscipli- sociais dos institutos de filosofia e ciências hu-
nar com a epidemiologia, o planejamento de manas e às linhas de pesquisas em antropolo-
serviços de saúde e psiquiatria (Uchoa et al., gia, sociologia ou nas ciências sociais e saúde,
1 Departamento 1994; Minayo, 1998; Alves, 1998; Sevalho et al., através de alguns cursos de pós-graduação dos
de Medicina Preventiva
e Social, Faculdade de 1998). departamentos universitários, ou de centros e
Ciências Médicas, Unicamp. A estratégia mais “antropológica” e “holis- núcleos de pesquisas (Núcleo de Antropologia
Rua Copaíba 167, ta” associou-se à contínua convocação, na dé- do Corpo, Saúde e Doença da Universidade Fe-
Alphaville, 13098-347,
Campinas SP. cada de 1990, de grupos de trabalho sobre pes- deral do Rio Grande do Sul ou Núcleo de Ciên-
canesqui@mpc.com.br soa, corpo e doença, pela Associação Brasilei- cias Estudos de Sociais e Saúde da Universidade
111 112

Federal da Bahia), ao lado de outros multidis- Essas críticas favoreceram os microestu- lição importante. Enfatizou o quanto a ativida-
ciplinares mais antigos e não só circunscritos às dos, sempre caros às abordagens antropológi- Representações: conceitos de do pensamento coletivo é mais simbólica do
pesquisas no assunto. Agentes ainda estão nas cas. Trata-se da abordagem fenomenológica, e metodologia que a do pensamento individual e as condutas
fundações e organizações não governamentais. da retomada de correntes etnometodológicas, individuais não são simbólicas em si mesmas e
Outros fatores concorreram positivamente do interacionismo simbólico, das orientações O emprego da noção de representação fez- ganham sentido em relação a uma dada socie-
para a expansão da produção bibliográfica a ser “qualitativas”, que permeiam os estudos a ser se, às vezes, de maneira frouxa e apenas referida dade. Admite que as representações coletivas
analisada, tais como: 1) a maior flexibilidade, comentados adiante. Certamente este não é um a certas “imagens” da realidade. Em outro ex- podem adotar formas concretas ou abstratas.
na saúde coletiva e nas ciências sociais, para fato localizado entre nós e as “novas sociolo- tremo confundiu-se na pesquisa, com a trans- No estudo sobre a magia, uma das primeiras
abrir-se a novos objetos que suscitam mudan- gias” (não tão novas muitas das correntes), parência dos discursos dos agentes sociais, cu- expressões das representações coletivas, cha-
ças ou permanências nas visões de mundo e va- junto com a maior interlocução entre filosofia, jas condições de inserção social as determina- mava a atenção para a sua composição: os
lores de nossa sociedade (a exemplo do gênero sociologia, antropologia, história, psicologia, va. Numa outra vertente, a busca de signos, dos agentes, atos e representações. O mago é o in-
e sexualidade, a extensão dos direitos de cida- delinearam-se como tendência em alguns seus múltiplos sentidos e das profundas estru- divíduo que conduz a magia, mesmo que não
dania); a emergência da Aids; os processos de meios acadêmicos na França (Concurff, 1995) turas fechou a análise dos discursos, sem escla- seja um profissional. As representações mági-
desinstitucionalização da loucura, junto com a e no Brasil. recer as condições e o contexto de sua produ- cas são as idéias e crenças que correspondem
atuação de alguns movimentos sociais; 2) a re- A pluralidade e heterogeneidade nas diver- ção. As reações contrárias resvalaram-se para a aos atos mágicos e os ritos mágicos são atos
corrente ênfase nos processos não biológicos sas orientações teóricas e metodológicas são “devolução das falas aos oprimidos” (Magna- que definem os demais elementos da magia e
das enfermidades; 3) os novos critérios de ava- visíveis e reportadas pelos organizadores e co- ni, 1986). O conceito de representação foi ain- distintos das demais práticas sociais, e as técni-
liação dos cursos de pós-graduação que estimu- mentaristas das várias coletâneas produzidas da utilizado em substituição ao de simbolismo, cas disponíveis podem ou não ser acompanha-
laram o mercado editorial com novas revistas, no assunto. Não se trata de uma única antro- detentor de grande tradição de análise no cam- das da magia (Mauss, 1971).
ampliação de edições de livros e artigos no as- pologia, mas de várias orientações teóricas, que po da antropologia. Derivou-se ainda das in- Com o autor aprendemos que as repre-
sunto, dando vazão à crescente produção aca- ora bebem nas fontes de autores franceses, ora terlocuções entre disciplinas como a psicologia sentações mágicas não se restringem ao pensa-
dêmica; 4) o apoio às pesquisas pelas agências nos norte-americanos, ora nos autores nacio- social, antropologia e sociologia, na busca do mento ou às idéias exclusivamente. Elas se ex-
nacionais e o estímulo ao financiamento de es- nais, sinalizando, por um lado, as múltiplas pos- sentido e como forma de conhecimento. pressam nos atos mágicos e se geram nos vários
tudos antropológicos por algumas fundações sibilidades de apreensão dos objetos etnográ- O emprego dessa noção, entre nós, parece campos da vida social, incluindo os sistemas
internacionais na promoção de temas como: ficos e, por outro, refletem bem as peculiari- movido por interesses bem similares aos pos- filosóficos esotéricos. Para desvendar as pri-
gênero, sexualidade; saúde e reprodução, en- dades da antropologia feita entre nós. Apesar tos por Herzlich (1991): a crise profunda dos meiras categorias lógicas utilizadas pelo pen-
volvendo a academia e organizações não gover- de ela preocupar-se com a sociedade nacional, esquemas globais de explicações, fundados nas samento humano, tanto Mauss quanto Dur-
namentais, sendo que os estudos sobre a Aids não deixa de ser universal, como antropologia, determinações socioeconômicas; o retorno do kheim voltaram-se para a análise da organiza-
estimularam-se por financiamentos interna- na interlocução com seus ancestrais e diferen- sujeito, de sua experiência, “sentido” ou “vivi- ção social das sociedades primitivas. Em mo-
cionais e vigência do Programa Nacional de tes vocações internacionais, sofrendo contudo do”; a intensificação dos processos de partici- mentos de sua obra Mauss desvencilhou-se do
DST/Aids do Ministério da Saúde que incluiu transformações na “periferia” (Oliveira, pação social e a interrogação do pesquisador positivismo durkeimiano e trouxe aportes im-
muitas pesquisas. Outros temas se estimularam 1994a). sobre a sua posição em relação ao objeto de portantes para a moderna antropologia.
acadêmica e politicamente, devido ao longo A seguir destacamos seletivamente os temas pesquisa. O conceito de representações sociais Da observação dos vários estudos interna-
processo de reorganização dos processos de de- pesquisados. tornou-se uma metanoção e, em certos cam- cionais sobre as representações de saúde e do-
sinstitucionalização da loucura, como a saúde pos, foi objeto de empreendimentos inter ou ença, Adam & Herzlich (2000) apontam que,
mental, cujas pesquisas, de interesse a este tra- transdisciplinares. na interpretação dos fenômenos orgânicos, as
balho, mobilizaram redes multicêntricas na- Diferentes perspectivas A assimilação desse conceito foi um pou- pessoas se apóiam em conceitos, símbolos e es-
cionais e internacionais. nas abordagens da saúde/doença co tardia entre nós, uma vez que desde a déca- truturas interiorizadas, conforme os grupos so-
No plano do conhecimento, a maior des- da de 1960 Mocovici (na psicologia social) e ciais a que pertencem. Certas doenças firmam-
confiança das dicotomias conceituais (material/ Não é peculiar à década de 1990 a centralidade depois Herzlich (na sociologia), ambos ligados se no imaginário coletivo, enquanto outras, os
imaterial; objetivo/subjetivo; coletivo/indivi- dos estudos etnográficos sobre as representa- à escola francesa, resgataram da teoria dur- indivíduos, em função de suas experiências e
dual; estrutura/ação) abriu flancos, nas teorias ções de saúde e doença em geral, ou do corpo, kheimeana as representações coletivas, tidas contexto, podem elaborar ou reelaborar inter-
e metodologias das ciências sociais em geral saúde e doença ou de doenças específicas (tu- como categoria de pensamento social coerciti- pretações, apoiando-se em recursos coletivos.
e nas instadas no campo da saúde, para postu- berculose, Aids e hanseníase), em busca dos sig- va às consciências individuais. Moscovici mol- Entre nós, Minayo percorreu criticamen-
ras que buscam compreender os fenômenos na nificados detidos para os grupos pesquisados e dou-o, sob a denominação de representações te as correntes do pensamento sociológico
multiplicidade de seus domínios, ultrapassan- que refletem ainda sobre os limites das inter- sociais, articulando o coletivo ao individual, en- clássico, sem que o conceito de representações
do aquelas oposições. Se por um lado a abor- venções médicas, sempre tidas em dissonância quanto Herzlich se declara seguidora de Dur- fora assimilado por todas elas, e foi posta por
dagem do sujeito ou da ação passaram a ser com o universo cultural das classes trabalhado- kheim e dos antropólogos ingleses que estuda- Durkheim e seus seguidores, sempre preocu-
privilegiados, seja na construção da realidade, ras urbanas, que se tornaram o fulcro das pes- ram o simbolismo (Mary Douglas), tendo pro- pados com as idéias que os “povos primitivos”
sempre em busca dos sentidos na intersubjeti- quisas realizadas. Dos estudos feitos, uma par- porcionado maior calibragem entre o indiví- detinham sobre si e sobre o mundo ao redor. A
vidade, seja para desprovê-lo de sua automáti- cela aprofundou conceitos e metodologias, en- duo e a sociedade, ambos impregnando as no- objetividade do tratamento dos fatos sociais e
ca submissão às estruturas, por outro busca- quanto outros se valeram de procedimentos et- ções de saúde e doença nos distintos grupos so- de sua coerção sobre os indivíduos (incluindo
ram-se mediações entre as estruturas e a ação, nográficos ou apenas do emprego de técnicas ciais franceses, por ela estudados, na década de as representações coletivas) despertou críticas
mediante abordagens que procuram um cons- qualitativas para estudar o tema. 1960. ao autor, por outras correntes de pensamento:
trutivismo menos radical. Na antropologia, Marcel Mauss deixou uma pelo marxismo, por não ceder às contradições
113 114

e lutas; e pela fenomenologia e correntes com- gerar questões a serem aprofundadas qualitati- zidas e socializadas na longa duração, que per- beres e práticas ligadas às estruturas sociais, às
preensivas, por descurar-se do sujeito ou da vamente e vice-versa. A discussão de técnicas mite a maior compreensão dos modelos atuais. instituições, às representações, às mentalidades.
ação social (Minayo, 1992). qualitativas para as pesquisas em saúde foi feita Demonstrou Laplantine (1986), sob ângulo A história cultural das doenças abre um leque
No marxismo as representações remetem à por Minayo e por outros que se interessaram da abordagem estruturalista, a existência de di- muito fértil às pesquisas, que não se restringem
ideologia e a autora toma as vertentes que não no seu emprego nos estudos sobre representa- ferentes lógicas que presidem os modelos etio- aos saberes eruditos.
a concebem como mero reflexo das estruturas. ções sociais de saúde e doença (Rigotto, 1998). lógicos e terapêuticos na sociedade contempo- Rodrigues (1999) fornece um outro bom
Junta a dimensão cultural e o historicismo, que Argumentos favoráveis à complementa- rânea, irredutíveis a uma única lógica. O resga- exemplo da história das sensibilidades que pas-
oferece espaço à criatividade do sujeito, sem ridade dos métodos fundam-se na necessária te da historicidade dos sentidos ou significados sa nas fronteiras disciplinares, incluindo a com-
descurar-se dos elementos estruturais, engen- discussão de vários pontos de vista na pesquisa das doenças, no longo alcance, é bastante plau- preensão da sensorialidade dos processos cor-
dradores da sociedade capitalista. Destaca a im- (Ramos, 1993). Acautelam-se os que admitem sível de ser tentada, retirando dos estudos o seu porais, dos modos de sentir, do uso dos senti-
portância dos estudos e representações sociais a impossibilidade de aplicá-la generalizada- caráter meramente sincrônico e o atrelamento dos que não se restringem ao orgânico e são
para a análise do social e a ação pedagógico- mente, deixando intocadas as questões epistê- exclusivo às perspectivas dos adoecidos, desde históricos, sempre remetidos na trama das re-
política transformadora. Elas retratam a reali- micas da objetividade/subjetividade, nas tenta- que são múltiplas as fontes produtoras de repre- lações sociais que lhes atribuem sentidos. Res-
dade, sem reduzir-se às concepções dos atores tivas interdisciplinares da epidemiologia com sentações sobre saúde e doença na sociedade. gata as continuidades e rupturas dessa história
sociais. as ciências sociais (Reichenhein, 1993; Santos, São lembradas, nesse sentido, as aborda- na constituição da sociedade ocidental.
Toma as representações sociais como senso 1993). gens da história das doenças, aproximando-se Alves & Rabelo (1998) reconhecem a con-
comum, idéias, imagens, concepções e visões Para potencializar o registro, obtenção e ou não de correntes antropológicas. Não se tra- tribuição dos estudos de representações e prá-
de mundo. A representação social de indiví- análise de dados etnográficos são adequados os ta de retomar a produção dos estudos históri- ticas de saúde e doença para o entendimento de
duos e grupos, nas palavras da autora, está pen- usos de tecnologias eletrônicas e softwares. Na cos, que foge dos propósitos deste texto. Os es- matrizes culturais dos grupos sociais, que per-
sada em relação às bases materiais que a engen- sistematização dos dados obtidos, os descrito- tudos de Carrara (1994; 1996) exemplificam mitem ultrapassar a objetividade dos estudos
dram: de um lado temos o homem que é produto res conceituais e discursivos dos softwares per- como a sífilis (mal coletivo e ameaça) mobili- epidemiológicos e apontam as limitações de
de seu produto: as estruturas da sociedade criam mitem observar as recorrências de categorias e zou vários discursos e práticas, cujo desenrolar seu uso: 1) a determinação das representações
o seu ponto de partida; de outro, temos que este conceitos nos depoimentos dos informantes foi acompanhado desde os finais do século 19 sobre as práticas; 2) a ênfase nos modelos fe-
homem constrói a história dentro das condições (Fachel et al., 1995; Victora et al., 2000). O em- até os meados da década de 1940. Em torno de- chados de significação (corpo, saúde e doen-
recebidas ultrapassando-as e inscreve sua signifi- prego da análise fatorial por correspondência, la os médicos especialistas sifilógrafos, diz o au- ça); 3) a necessidade de deslocar a atenção da
cação sobre toda a parte, em todo o tempo e a or- uma técnica estatística, permitiu às autoras tor, souberam com maestria fazer com que, pela doença como fato (como dado empírico ou
dem das coisas (Minayo, 1992). identificarem várias correlações tais como: en- sífilis, passassem não apenas o destino dos doen- signo) para a doença como experiência. Resga-
Queiroz (2000) também refletiu critica- tre “visão de mundo” e decisões sobre recursos tes, mas o de uma série de entidades que trans- tam as perspectivas fenomenológica e pragmá-
mente sobre o conceito, a partir de diferentes de saúde e estratégias reprodutivas; as relações cendiam o indivíduo: a família.... mas também a tica, associadas à interpretação hermenêutica.
perspectivas sociológicas e antropológicas, no entre gênero e recursos de cura; as causas atri- sociedade, a raça, a nação, a humanidade, a es- Colocam em relação o pensamento e a ação, a
estudo das doenças endêmicas. Juntando Mos- buídas à doença, entre outras. Não se trata de pécie (Carrara, 1996). consciência e o corpo, a cultura e individuali-
covici com Schultz toma-o como um tipo de substituir o trabalho etnográfico e nem de des- Ele mostra a articulação dos discursos mé- dade, cuja retomada dos estudos, sob esta pers-
saber socialmente organizado, contido no sen- cartar o esforço da análise antropológica, mas dicos com outras forças e campos sociais, que pectiva, será feita adiante.
so comum e na dimensão cotidiana, que per- de buscar novas formas de sistematizá-las. engendram resoluções para o problema ve-
mite ao indivíduo uma visão de mundo e o ori- Cardoso & Gomes (2000) advertem sobre o néreo e todos eles geram representações sobre Representações do corpo, saúde
enta nos projetos de ação e nas estratégias que risco da incorporação acrítica, pelos estudos a doença. A sugestão do autor de se fazer uma e doença
desenvolve em seu meio. Afirma que as repre- sociais em saúde, do conceito de representações antropologia da ciência, pela via do desenvol-
sentações sociais são, portanto, conceitos cultu- sociais. Afirmam que o seu emprego não pode vimento conceitual da sífilis ou de sua constru- Reportando-se a autores nacionais e inter-
ralmente carregados, que adquirem sentido e sig- ignorar o já estabelecido por vários autores li- ção social, requer o recurso a inúmeras fontes nacionais (Mauss; Durkheim; Bourdieu; Herz-
nificado pleno no contexto sociocultural e situa- gados à psicologia social e à sociologia no cam- disponíveis, tais como: manuais clínicos, rela- lich; Boltanski; Auge; Montero; Loyola; Duar-
cional onde manifestam (Queiroz, 2000). po da saúde. Ao reverem o conceito nas teo- tórios de pesquisa laboratoriais, livros didáti- te), várias etnografias (Knauth, 1992; 1992; Vic-
Minayo & Sanchez (1993) propuseram a rias, discutem os limites da perspectiva cons- cos, dentre outros que podem oferecer fontes tora, 1995; Oliveira, 1998) abordaram as repre-
complementaridade dos métodos qualitati- trutivista e a necessária articulação da pesquisa mais teóricas para o estudo dos aspectos noso- sentações do corpo e doença ou do seu funcio-
vos e quantitativos na pesquisa. Os primeiros com a abordagem histórica, dado o enraiza- lógicos da doença e sua terapêutica. namento e estrutura, a partir dos pressupostos:
se interessam pelo “nível mais profundo” em mento simultâneo das representações nas rea- Na abordagem histórica das representa- 1) cada sociedade ou grupo social dispõe de
constante interação com o ecológico. Este nível lidades social e histórica, conforme posto per- ções sociais da doença, Sevalho (1993) percor- maneiras específicas de conceber e lidar com o
comporta significados, motivos, aspirações, tinentemente por Herzlich (1991). re um conjunto de autores como Foucault, Ta- corpo, sendo que o saber biomédico contri-
crenças e valores, expressos na linguagem da Recomendam o uso de múltiplas fontes (do- mayo, Le Goff, Capra, Rosen, Canguilhen e ou- buiu, ao longo da história, na difusão de sua
vida cotidiana e, bem se aplicam aos estudos de cumentária e orais) para classificar as diferen- tros, mostrando as continuidades e desconti- naturalização, tida como universal; 2) da doen-
pessoas afetadas por doenças e a grupos deter- tes maneiras pelas quais os autores captaram o nuidades, das distintas concepções de doença, ça, como fenômeno social, que é capaz de esta-
minados, historicamente situados. Se um dado sentido do ser doente ou saudável; para esta- desde a Antiguidade até o início do século 20. belecer uma relação entre as ordens biológica e
objeto de pesquisa reclamar, sugerem a combi- belecer os nexos entre os sentidos de maneira a Concordando com as palavras de Le Goff, cita- social, atingindo concomitantemente o indiví-
nação dos métodos, que impõem, no plano do chegar à historicidade dos modelos de saúde e das pelo autor, a doença pertence não só à histó- duo, no que deve à biologia – o seu corpo –, a
conhecimento, a relação entre objetividade e doença, e para reconstituir, nas fontes, “a lógi- ria superficial dos progressos científicos e tecnoló- sociedade e as relações sociais; e 3) das muitas
subjetividade. Os estudos quantitativos podem ca” pela qual as representações foram produ- gicos, como também à história profunda dos sa- indagações e significados, suscitados pela
115 116

doença na sociedade, superando os estreitos li- de apontar o quanto as mensagens veiculadas Ferreira (1998) estudou as práticas de cui- cluem, segundo Claro, as relacionadas ao mun-
mites biológicos do corpo e as explicações bio- se transformam, através de outro referencial, dados corporais a partir da experiência social e do natural (ambiente, clima, contato com ani-
médicas. norteador das práticas cotidianas, envolvendo descartou a existência de modelos que as presi- mais e substâncias tóxicas, sujeira e coisas po-
Os estudos confirmam os achados de mui- uma visão de mundo e o sistema de representa- dem, uma vez que se embebem na ação, apro- luídas); as individuais, centradas nos compor-
tos outros: a percepção da doença dando-se ções sociais a respeito do corpo. Trata-se ainda ximando-se das posturas fenomenológicas. Es- tamentos morais, na hereditariedade e velhice;
através de alguns sinais e sensações corporais, de admitir as matrizes de significações cultu- sas práticas envolvem: o uso do médico, dos as sobrenaturais (karma, predisposição, fatali-
indicativos de que “algo” impede o funciona- rais, suas diferenças e convivências, diante da medicamentos e de outros recursos de cura dade) e as alimentares, em especial, a ingestão
mento “normal” do corpo (dor, febre, não heterogeneidade e coexistência dos sistemas de (simpatias e remédios caseiros), uma vez per- da carne de porco, relacionada à idéia de sujei-
dormir, não comer, fraqueza) e pela incapaci- significação, presentes na sociedade. cebidos os sinais corporais, junto com os cui- ra. O contágio não é mencionado como causa
dade de realizar as atividades cotidianas e de Ferreira (1995) aprofundou o significado dados com a higiene principalmente, sem que da doença e os seus riscos se potencializam,
trabalhar, em qualquer modalidade assalariada do “estar doente”. A percepção se dá através de a idéia de prevenção esteja presente, tal como diante da “fraqueza” corporal (Queiroz & Pun-
ou não, assim vista por homens e mulheres. conjunto de sensações desagradáveis e sintomas definida pela medicina. A noção de tempo, en- tel, 1997).
Essa forma de perceber a doença bem ex- (cansaço, fraqueza, dor, mal-estar, falta de ape- tre as classes populares francesas, estudadas As representações sobre a tuberculose cen-
pressa a importância do uso social do corpo co- tite, sono, febre), sendo o corpo (sígnico) vei- por Boltanski (1979) deve ser melhor explora- tram-se no “destino” e na percepção do corpo
mo meio de existência para aqueles que dele de- culador de mensagens que, ao serem apropria- da na compreensão da dissonância entre o ele- fragilizado, cujas causas incluem o desgaste
pendem para sobreviver. Assim, o significado das pelo médico ou pelo indivíduo, conduzem vado grau de previsibilidade que os comporta- físico, provocado pela exposição prolongada
da doença remete à ordem social, porque sua ao significado da doença. mentos médicos preventivos suscitam e o bai- ao frio e ao trabalho, o enfraquecimento físico-
presença tanto afeta a reprodução biológica do A seu ver, a doença é uma construção so- xo grau dessa previsibilidade, tão presentes nas moral, os efeitos da contaminação ambiental e
indivíduo, quanto a sua reprodução social, em cial, e a cultura, plena de significações, somen- práticas daquelas classes. Os estudos sobre a da hereditariedade (Gonçalves, 1998). A sus-
termos de reprodução das condições de exis- te tem valor se compartilhada pelo grupo so- Aids, como veremos, reiteram a ausência da- pensão dos tratamentos médicos ocorre quan-
tência (Knauth, 1992). cial. Os relatos sobre a dor sinalizam o sofri- quela idéia. do cessam os sinais corporais associados à do-
Além desse significado, Minayo acrescen- mento; a enfermidade e o estar doente. Diz a ença; restauram-se as “forças” do corpo, volta-
ta o peso das contradições e conflitos sociais do autora que a percepção e os relatos a respeito Representações sobre doenças se ao trabalho e são retomados os papéis e obri-
sistema de dominação que, uma vez transposto da dor são influenciados por muitos elemen- específicas gações familiares como sinalizadores da saúde,
e mediado pelas relações estabelecidas da me- tos. São eles a vivência cultural do doente, o seu embora possam não estar totalmente curados,
dicina do trabalho com as classes trabalhado- repertório lingüístico, o seu domínio ou não dos Pesquisas das representações sobre a han- segundo a concepção médica.
ras, situa a doença na incapacidade para traba- termos médicos, suas crenças e representações so- seníase e seu tratamento partem da experiência A questão do abandono do tratamento mé-
lhar produtivamente, reproduzindo, no plano bre o corpo e doença, as suas experiências indivi- da clientela com os serviços de saúde; focalizam dico, pesquisado pela autora, mostra que o ofi-
das idéias, o âmago das relações de apropria- duais e geral, e suas experiências e sua memória as relações sociais dos adoecidos e os significa- cialmente utilizado não está adequado ao mo-
ção e expropriação dos corpos dos trabalhado- específica quanto à sensação de dor (Ferreira, dos atribuídos à doença. Destacam alguns as- do de vida da clientela dos serviços de saúde. O
res na sociedade capitalista. Para os seus infor- 1995). pectos: 1) as mudanças promovidas nas insti- abandono pode ser temporário ou definitivo,
mantes “saúde é “riqueza”, “fortuna”, “tesou- Os estudos de Victora (1995) e Leal (1994) tuições médico-sanitárias na institucionaliza- entre os alcoólatras, os portadores de Aids; de
ro”, em oposição à doença, como castigo, des- ilustram as idéias que mulheres de grupos “po- ção dos adoecidos, antes excluídos e agora in- distúrbios psicológicos e indigentes. Além dis-
graça, infelicidade e miséria” (Minayo, 1992). pulares” têm do funcionamento de seu corpo, tegrados à sociedade; 2) as modificações tecno- so, os tratamentos instituídos pelo uso regular
Prossegue a autora, e a despeito do contato quanto à sobreposição do período fértil e lógicas e terapêuticas para o tratamento; 3) os e intenso de medicamentos não devem ser des-
dos trabalhadores com as idéias dominantes, eles menstrual. Explicam essa concepção a partir de seus efeitos na redução do processo de estig- cartados dos motivos do seu abandono, ainda
criam códigos próprios, conforme o lugar ocupa- uma lógica do movimento de abrir e fechar o matização, uma vez alterada a forma de classi- que uma parcela da clientela a eles se submeta
do na sociedade, traduzidos no modo de vida. As corpo e das qualidades de calor e umidade as- ficação dos doentes pela medicina; 4) a insufi- e aceite as prescrições e condutas médicas, va-
representações da saúde e doença fundam-se ain- sociadas ao sangue menstrual. Com isso o pe- ciência da presença de sinais na pele na indica- lorizando o seu poder de cura.
da nas raízes tradicionais (crenças e valores) re- ríodo fértil associa-se, na concepção das mu- ção da doença, uma vez que não impedem o Diferenças de gênero, na percepção de do-
lativos ao corpo, vida morte e nas experiências lheres, ao período menstrual, com implicações uso intenso corporal nas atividades cotidianas; enças ou de suas causas, fazem-se na hansenía-
de vida (Minayo, 1992). Outros autores confe- nas práticas contraceptivas. 5) o recurso a múltiplos tratamentos, os médi- se: as mulheres se preocupam mais com a apa-
rem maior autonomia à “cultura popular” nos Homens e mulheres percebem diferente- cos, religiosos, os dietéticos e naturais (Claro, rência corporal e com as deformidades físicas
seus modos de significação, pela via do concei- mente os seus corpos. As mulheres lhes dedi- 1995; Queiroz & Puntel, 1997). que a doença pode acarretar. Devido às razões
to de matrizes culturais de significações, como cam maiores cuidados; preocupam-se com a Apesar da incorporação, no discurso dos estéticas ocultam a doença e, ao se relaciona-
mediações capazes de re-semantizar e reorde- estética e com a apresentação pública do corpo. profissionais de saúde, da designação oficial da rem com os serviços de saúde movem-se pelos
nar os elementos culturais produzidos por ou- Os homens, observados por Jardim (1992) nas doença, os entrevistados usam ainda o termo padrões físicos e morais, com forte preconceito
tro grupo, de modo que as mensagens da mí- conversas com eles nos bares, julgam que o ex- “lepra”, acompanhado do estigma social. A re- e insatisfação com a perda de seu status na fa-
dia e o próprio discurso médico podem ser cessivo embelezamento corporal sinaliza com- dução do estigma pelos empenhos da medici- mília, embora tendam a aceitar mais facilmen-
reinterpretados nos termos daquela cultura (- portamento efeminado e compartilham o gos- na parece parcial e os estudos deixam entrever te os diagnósticos médicos e busquem na reli-
Leal, 1994). to “descuidado” e as comidas gordurosas. Ne- a persistência da autodepreciação dos adoeci- gião as soluções alternativas para se livrarem
Não se trata apenas de uma leitura que po- gociam, no cotidiano, a busca da igualdade do dos e preocupações com a preservação de sua do “castigo”, que julgam merecer. Os homens
lariza dominados e dominantes, creditando aos gosto masculino, o que torna o corpo não ape- imagem social, cuja análise não se reduz aos relutam em aceitar os diagnósticos e as conse-
primeiros resistência, conformismo ou trans- nas objeto de pensamento, mas um operador elementos de ordem subjetiva, conforme suge- qüências da doença sobre as suas atividades li-
formação criativa das idéias dominantes, mas prático. re um dos estudos. As causas da doença in- gadas à sobrevivência. Quando reconhecida a
117 118

doença, reestruturam as suas vidas e as relações dade. Se o sofrimento pode fragilizar e desinte- ção e o pânico e múltiplas relações sociais: a lósofos e lingüistas hermeneutas, interacionis-
afetivas e sociais (Oliveira, 1998). grar a pessoa, é também ponto de partida para negação, a culpabilização, o estigma, o precon- tas simbólicos e etnometodólogos. Focalizam a
Os homens se referem ao desconhecimento a construção ou reconstrução da identidade so- ceito e a discriminação, encarnando a repre- experiência da enfermidade “mental”. Empre-
das causas da “hipertensão” e, quando interro- cial. Neste caso, a análise dos rituais de cura, sentação do mal e das maledicências sobre o gam narrativas, estudos de caso ou as histórias
gados, hesitam em respondê-las. As mulheres nas casas de culto afro-brasileiro mostra a in- mal, no imaginário ocidental (Birman, 1994). de vida de adoecidos e de seus familiares, que
as associam ao “nervosismo”, ao excesso de ali- corporação de distintos modelos de realização Ela condensa um conjunto de metáforas e permitem ao pesquisador reconstituir as inter-
mentação (gordurosa) e ao alcoolismo. Ela é de pessoa que, para terem sucesso, afirmam os associa-se a outras doenças desaparecidas, lon- pretações, ambigüidades e incertezas dos discur-
mais percebida através das sensações corporais, autores, requerem a socialização prévia do gínquas, como a peste, ou as mais modernas, sos e práticas diante da doença, as escolhas dos
como “tonturas”, “zoeira na cabeça”, “cansa- adoecido ou de sua família. Assim, a adesão como o câncer. No espaço público tornou-se tratamentos e sua avaliação (Alves, 1993; 1994).
ço”, “dor de cabeça” (Carvalho et al., 1998). dos envolvidos dá-se apenas quando a ação objeto de múltiplas elaborações discursivas que Esses estudos partem da enfermidade, isto
Observa-se que popularmente o termo hiper- mágica ou força sobrenatural evocam-se como lhes deram sentido (Herzlich, 1992). Lembra a é, de sua experiência submetida à interpretação
tensão não é utilizado, e sim “pressão alta”. causas do sofrimento. autora que a Aids é também um discurso so- do senso comum – uma forma de conhecimen-
Ao cessarem essas sensações pelo uso da Vários estudos antropológicos, enquadra- bre o “outro”, o estranho, o longínquo e um to eminentemente prático, sendo sempre expe-
medicação e não se sentindo mais doentes, os dos no tema representações sobre a Aids, se discurso imputado ao outro. À medida que rimentada, vivida, manipulada e negociada de
idosos adoecidos entrevistados neste estudo aproximaram dos adoecidos, dos soropositi- ampliaram a sua incidência e disseminação, diferentes maneiras, diferindo-se do saber mé-
tendem a abandonar o uso de medicamentos, vos, das clientelas de serviços de saúde; de seg- nos grupos sociais empobrecidos, a Aids bana- dico, que concebe a doença como fenômeno
embora incorporem mais facilmente a cami- mentos populacionais diversificados ou das lizou-se; deixou de ser a doença do “outro” patológico e biológico.
nhada e a dieta com menos sal e gordura. A pri- classes trabalhadoras urbanas. longínquo, mas do “outro próximo” e “conhe- Ao rever a literatura socioantropológica
meira prescrição implica o uso corporal mais A epidemiologia, desde a emergência da cido” (Knauth et al., 1998). Gerou ainda o es- norte-americana sobre a questão da enfermi-
intenso que encontra maior ressonância nas Aids, valeu-se do conceito de grupos de risco tigma do “aidético”, deixou marcas nos seus dade, Alves (1993) sugere que a compreensão
classes trabalhadoras, enquanto o uso de dietas para classificar uma ampla variedade de pes- corpos, desconfiou dos portadores e excluiu-os da enfermidade prende-se à experiência, con-
contraria-lhes as práticas e representações ali- soas potenciais ou efetivos portadores da doen- do convívio social (Seffener, 1995). trapondo-se aos estudos de representações e às
mentares, uma vez que sal e alimentos gordu- ça e seus comportamentos e, certamente, a di- Comparando a Aids com a sífilis, afirma perspectivas sistêmica, estrutural ou histórico-
rosos são valorizados por outorgarem “força” fusão deste conceito muito contribuiu para Carrara (1994): como a Aids hoje, a sífilis envol- estrutural de análise. Nas suas palavras: é a ex-
ao corpo que trabalha. É provável que os ho- que a percepção dessa doença se associasse à veu representações sociais muito amplas, que in- periência do sentir-se mal que, por um lado, ori-
mens ativos profissionalmente resistam mais crença da “doença gay”, “dos desviantes se- cidem sobre os mesmos pontos: a sexualidade gina por si mesma as representações da doença e,
àquelas prescrições alimentares do que os apo- xuais” (Loyola, 1994). (em especial os comportamentos considerados ex- por outro, põe em movimento a nossa capacida-
sentados, que foram objetos desta pesquisa. O estudo de Paulilo (1999), através das cessivos, desviantes e promíscuos), o medo do de de transformar esta experiência em conheci-
Explorando as narrativas de pessoas ligadas narrativas dos adoecidos de homens que fazem contágio e da contaminação; a decadência ou a mento. É através das impressões sensíveis produ-
ao pentecostalismo e às casas de culto afro-bra- sexo com homens, conclui que o sentido dado possibilidade de uma morte coletiva. Morte, se- zidas pelo mal-estar físico ou psíquico que os in-
sileiro, Rodrigues et al. (1998) observam que o ao “risco” nunca coincide com as idéias de gru- xo e medo são temas associados à Aids, na di- divíduos se consideram doentes.
discurso das concepções e representações das pos ou comportamentos de risco, incluídos no vulgação feita pela imprensa e literatura médi- Portanto, a enfermidade pressupõe, em
causas das doenças envolve a ligação entre a discurso epidemiológico. A partir das expe- ca, na emergência da doença. Sua associação à parte, um processo subjetivo que é apreendido
pessoa e a moléstia, esta última como experiên- riências subjetivas, intersubjetivas, dos contex- homossexualidade, contribuiu para a estigma- a partir de um conjunto de sensações corpo-
cia física e subjetiva, enquanto as causas das do- tos socioculturais e individuais, apreendeu os tização das escolhas sexuais. rais, sendo o corpo a matéria do mundo sensí-
enças são referidas às explicações que permi- seguintes significados dados ao risco pelos in- Algumas religiões produziram um discurso vel e do próprio conhecimento e, pela constru-
tem responder por que a doença ou o sofrimen- formantes: a sua negação; a hierarquização; a de condenação dos comportamentos trans- ção do(s) significado(s) para o(s) outro(s),
to ocorreu num dado momento das trajetórias afirmação de outros valores (prazer, vínculos gressores, usando a doença como símbolo de orienta-se nas relações sociais no mundo da vi-
de vida dos informantes, tratando-se de con- afetivos, trocas ligadas ao sexo e ao uso de dro- castigo divino (Ribeiro, 1990; Fernandes, da cotidiana, naquele sentido dado por Schutz
cepção de causalidade não linear e distinta da gas); a desconfiança das afirmações da ciência 1990). O ativismo em torno da Aids muito ao senso comum. Este é capaz de fornecer có-
racionalidade médica. Assim sendo, a causali- médica versus a confiança no parceiro/parceira contribuiu para as mudanças de atitudes em digos de referência para os indivíduos, da mes-
dade para o sofrimento associa-se ao plano fí- e a idéia de invulnerabilidade pela paixão e relação aos adoecidos, através da solidariedade ma forma que as suas biografias de vida estão
sico, a partir da descrição corporal; ao plano amor. Este estudo, como muitos outros feitos e apoio e não da sua condenação e exclusão pe- eivadas de um conjunto de tipificações, que
de qualidades atribuídas à pessoa e a um plano entre segmentos populacionais “sadios” sobre lo preconceito (Galvão, 1994). lhes oferecem estoques de conhecimento à
não material remetido às relações sociais, do várias dimensões que cercam as percepções da mão.
trabalho e ao plano mágico-espiritual. Aids e dos comportamentos, chama a atenção Experiências e significados Sem que esta experiência prenda-se exclu-
Cada um desses planos engloba as catego- para os limites das estratégias, conceitos e mo- da enfermidade ou do sofrimento sivamente aos aspectos subjetivos, o autor afir-
rias “êmicas” dos discursos dos informantes, delos que ancoram as intervenções médico-sa- ma o seu caráter intersubjetivo, que fornece re-
submetidas a um esforço do pesquisador de nitárias (Corrêa, 1994; Loyola, 1994). Vários autores estudaram as doenças “men- ferências ou os padrões culturais, que são in-
construir um modelo de explicação da causali- Outras reflexões sobre as representações da tais” ou a categoria “nervoso” entre as classes ternalizados pelos indivíduos, ao mesmo tem-
dade, a partir da experiência da pessoa em sua Aids centram-se nos elementos que a configu- trabalhadoras urbanas, localizadas em vários po em que se formam os padrões nos proces-
relação com a doença. Trata-se, nesta aborda- ram simbolicamente e não apenas como doen- pontos do país. Um grupo de pesquisas reporta- sos e interpretações construídos na intersubje-
gem, de fazer prevalecer um sistema mais am- ça física, mas na sua articulação com a socieda- se a autores, oriundos da antropologia médica tividade. As análises produzidas, sob essa pers-
plo de significações, perpassando as experiên- de e a cultura. A Aids evoca, simbolicamente, a norte-americana, da corrente fenomenológica pectiva, prendem-se aos microprocessos so-
cias, as noções de pessoa, sofrimento e identi- morte, o sexo, o contágio, a punição, a acusa- (Merleau-Ponty, Hurssel, Schutz), junto com fi- ciais, atendo-se à interpretação e remontagem
119 120

dos discursos de seus entrevistados, na sua re- ainda a partir da interpretação e significação e valorizados no universo das representações ferenças.
lação com o contexto em que foram produzi- dadas por mulheres “nervosas” às múltiplas ex- e no quadro das expectativas consolidadas de O enfoque da(s) sexualidade(s) masculina
dos, incluindo o sujeito, a fala, a resposta aos periências socioafetivas e relacionais que afe- consumo por bens coletivos, dentre eles os de prevaleceu na exígua literatura antropológica
eventos, pessoas e outras falas (Rabelo, 1999). tam a construção de sua identidade (Hita, saúde, na sociedade urbano-industrial (Canes- nacional da década de 1980, que se expandiu
Por esta via os autores identificam, inter- 1998). qui, 1992). É possível que a valorização da pro- na década de 1990, seja pelo advento da Aids
pretam e demonstram como indivíduos, As reflexões de Duarte, que pesquisou os teção social coletiva ancorada nos valores so- ou pela interlocução multidisciplinar a respei-
oriundos das classes populares, lidam com a significados do “nervoso” entre as classes tra- lidários coexista em segmentos da classe tra- to. Entre as disciplinas das ciências humanas,
“doença mental”, um problema que requer so- balhadoras urbanas na década de 1980, con- balhadora, com a ideologia da autoproteção admite Loyola (1998), a antropologia está bas-
luções e a mobilização de um conjunto de de- tinuam reiterando a centralidade da noção de social, que pela via liberalizante mais intensa- tante apta para abordar a sexualidade, uma vez
cisões e de recursos terapêuticos. As inúmeras pessoa que engloba aquele fenômeno na cultu- mente disseminada quer preencher aquelas ex- que, a partir das relações sociais, a diversidade
publicações, feitas individualmente ou em co- ra ocidental moderna, comportando múltiplos pectativas. social e cultural, os sistemas cognitivos e sim-
laboração por Alves e Rabelo e seus colabora- sistemas simbólicos para explicá-la. São eles: a Apesar do persistente antagonismo feito bólicos são questões que se apresentam a partir
dores, reuniram-se, em parte, nas coletâneas biomedicina; as teorias psicologizante e socio- entre as racionalidades “popular” e “médica”, deste objeto. Ao rever os estudos antropológi-
(Alves & Rabelo 1998; Rabelo et al., 1999). logizante, junto com as configurações culturais Duarte (1999) pertinentemente sugere que é cos clássicos e contemporâneos, conclui que a
Apesar de algumas diferenças nas suas aborda- das classes populares brasileiras, latino-ameri- preciso explorar com cuidado a crença nas re- sexualidade foi abordada na sociedade e na
gens reiterarem sempre que a experiência não cana e presentes noutros grupos contemporâ- presentações populares na medicina e suas téc- cultura, dentro das normas que a regem e não
decorre apenas de modelos internalizados, sen- neos e oitocentistas (Duarte, 1994), que não nicas, especialmente nas que produzem a evi- foi segmentada como objeto em si.
do o doente um personagem capaz de comuni- individualizam ou psicologizam os “nervos”, dência empírica concreta do seu poder, tais Duas posições estão presentes em torno da
car e refletir sobre ela. integrando-os na noção de pessoa (físico-mo- como: as intervenções cirúrgicas, os aparelhos sexualidade: o essencialismo e o construtivismo
Ao libertarem os sujeitos das amarras das ral). corretivos e as próprias cicatrizes, paralela- (Vance, 1995; Heilborn, 1999; Loyola, 1998). A
determinações, estes ganham maior liberdade Através de um culturalismo radical, o autor mente ao fetichismo das radiografias, dos exa- primeira centra-se na natureza humana (o ins-
(às vezes excessiva), diante de quaisquer cons- pretende criar uma teoria abrangente capaz de mes de sangue, das receitas e dos remédios. tinto, a energia sexual), restringindo a sexua-
trangimentos que possam pesar sobre eles. Há dar conta das continuidades e permanências Argumenta que não se pode negar a capaci- lidade à fisiologia, reprodução da espécie e à
portanto, uma permanente e até excessiva flui- das diferenças culturais, na cultura ocidental dade dos discursos dos profissionais de saúde e pulsão psíquica. A segunda desconstrói, desna-
dez dos processos socioculturais e a ausência moderna, pela via comparativa. As categorias do médico de produzir sentido para as classes turaliza e desuniversaliza as categorias e rela-
de relações de força e poder, na “realidade” biomédicas, por esta e por outras abordagens populares, apesar de sua reinterpretação. O ções entre as categorias que marcam os estu-
permanentemente construída e reconstruída. etnográficas, ancoraram nos sistemas de signi- discurso do médico, na sua prática profissio- dos. Na versão radical do construtivismo, afir-
As narrativas fornecem visibilidade às co- ficação. nal, vale-se da lógica do pensamento “concre- ma Vance, prevalece a construção do desejo se-
municações, hesitações, mudanças dos signifi- As suas contribuições recuperam a designa- to” e “selvagem”, permitindo um mínimo de xual pela cultura e pela história a partir das
cados atribuídos nas interações sociais, antes ção físico-moral para qualificar as concepções mediação entre os dois mundos simbólicos energias e capacidades do corpo. Noutras ver-
muito esquecidas sob as macrodeterminações. do “nervoso”, entre as classes trabalhadoras, distintos. A necessária distinção entre as dis- tentes os significados subjetivos, os comporta-
Essas pesquisas contribuíram para evidenciar reconhecendo o caráter de vínculo ou mediação cussões paradigmáticas e a polarização dos sa- mentos, a ideologia e o próprio corpo, suas
crenças e valores, construções de conhecimen- de que esses fenômenos se cercam nas relações en- beres erudito e popular sugere o deslocamento funções e sensações, são incorporados e media-
to e a construção dos significados dados pelos tre a corporalidade em todas as demais dimen- para a produção de sentido no âmbito da prá- dos pela cultura.
indivíduos à enfermidade. Deixam de abordar, sões da vida social, inclusive e eventualmente a tica médica, em que também ocorrem formas Na introdução da coletânea Sexualidades
quando analisam os itinerários terapêuticos, espiritual ou transcendental (Duarte, 1998). de comunicação, ressocializações, aprendiza- Brasileiras, Parker & Barbosa (1996) defendem
qualquer tipo de influência que possa ter a or- Neste caso, o trabalho etnográfico oferece ma- gem, relações sociais, sem que tudo possa ser os necessários laços entre a ciência, ética e po-
ganização da produção/oferta de bens de servi- terial substantivo aos esforços comparativos, fruto exclusivo de relações de dominação e po- lítica para entender a sexualidade. Para vários
ços de cura (oficiais e não oficiais) nas escolhas sendo-lhes secundários os múltiplos arranjos der ou, sob outro ângulo, puras inadequações autores, partícipes dessa coletânea, a sexua-
terapêuticas e serviços, embora mostrem tam- ou variações que possam comportar as práticas ou reações de resistência às intervenções. lidade, as crenças e convicções a respeito são
bém em dadas experiências de cura os modelos sob outras configurações simbólicas no inte- modeladas pelos significados culturais e valo-
religiosos de doenças (Rabelo, 1993). rior de situações ideológicas mais homogêneas res, pelo sistema de poder político e social e
Pela via das narrativas, Silveira (2000) des- e que podem, em dadas esferas (no consumo, Gênero, sexualidade e doença pelos processos históricos e rede de significa-
vendou o significado do “nervoso”, analisan- por exemplo) e entre as novas gerações, vir a dos inseridos no mundo social. A sexualidade,
do-o como experiência e linguagem sobre um configurar mudanças ou a conquistar novos Com o advento da Aids, nas pesquisas biomé- como construção social, norteia os vários es-
conjunto de aflições e problemas sociais e indi- contornos, estranhos aos valores holistas pre- dicas foi ampliado o interesse em torno da dis- tudos e reflexões, opondo-se ao essencialismo,
viduais, e compreendeu as explicações sobre valentes nas classes trabalhadoras, expostas tribuição e incidência da enfermidade; dos ti- que, em função de uma razão universal, paira
suas causas e os limites da biomedicina para li- ainda a futuras pesquisas. pos de comportamentos transmissores do HIV/ sobre as condutas e os significados do que seja
dar com este fenômeno. Outra pesquisa mos- Os estudos deste autor reafirmam o quanto Aids, da mesma forma que nas ciências huma- sexual, restringindo-a às dimensões psíquicas
trou o seu caráter polissêmico, associado a vá- a ideologia individualista não está presente na nas, nos movimentos sociais (feminista, gays e e reprodutiva. Ao contrário, ela se impregna
rios signos: a violência e agressividade; a agita- cultura da classe trabalhadora, e não é casual lésbicas) combinou-se a produção de conheci- das convenções culturais que modelam a exci-
ção e impaciência; a tristeza e isolamento, que recusem o psicologismo, embora não o fa- mento de natureza mais reflexiva com aquela tação, a satisfação erótica e as sensações físi-
abarcando conjuntamente o “descontrole” e a çam em relação a todos os serviços e recursos capaz de informar, reduzir a discriminação so- cas, implicando processos de socialização
“fraqueza dos nervos” (Rabelo, 1997). O “ner- diagnósticos e terapêuticos ofertados pela me- cial e de promover valores de dignidade, igual- (Parker, 1994).
voso”, como experiência fragilizadora, foi visto dicina, que são sistematicamente demandados dade e equidade, ou o direito do cidadão às di- Parker (1994) designa de “ideologia do ero-
121 122

tismo” o sistema de representações culturais e lo de comportamentos irregulares ou desvian- sociais e políticos, ultrapassando o restrito sanitárias e psiquiatras. São emergentes temas
constructos simbólicos que moldam uma lei- tes do modelo monogâmico, gerador de des- campo científico. Posta no âmbito da experiên- como: envelhecimento e a juventude, vistas nas
tura da compreensão erótica no contexto bra- confiança do marido/companheiro ou da mu- cia aflitiva do indivíduo, na cultura e ideologia relações com a saúde, intervenções médicas e
sileiro, que se marca pela transgressão, como lher/companheira (Guimarães, 1994). A noção e no campo de lutas e contradições sociais, a com o universo sociocultural que as constitui e
particularidade da cultura sexual no Brasil, on- de familiaridade do conhecimento do outro re- doença e suas representações condensam múl- modela; as tecnologias, relações sociais e signi-
de “tudo pode acontecer” e a dicotomia ativo e ge a percepção das mulheres de proteção con- tiplas determinações. É na calibragem ou no ficados, que tanto invadem o cotidiano, as aspi-
passivo é estruturante das noções de feminili- tra o HIV, embora não desconheçam as causas percurso das mediações entre o coletivo/indi- rações, as que projetam imagens, modelam e
dade e masculinidade, servindo de princípio da doença (Guimarães, 1996). vidual e estrutura/ação que se podem encon- recriam os corpos, imprimindo novas formas
organizador de um mundo muito mais amplo As várias pesquisas de Knauth concluem trar caminhos menos polarizados e construti- ao embelezamento, maiores precisões dos diag-
de classificações sexuais da vida cotidiana bra- sobre o silêncio generalizado das mulheres so- vismos menos radicais. nósticos e alterações na reprodução humana.
sileira. Sob o argumento de aquela ideologia bre a soropositividade e Aids; a sua recusa de Não se põe dúvida, após esta exposição, na Faz sentido voltar os olhos para outros seg-
não ser generalizante e nem compartilhada por se reconhecerem doentes ou contaminadas por densidade e importância dos estudos nos temas mentos sociais que não exclusivamente as clas-
todos, Guimarães (1996) e outros autores des- seus parceiros e, nesta condição, não rompem examinados. Devido a sua abrangência faltou ses trabalhadoras, predominantes nos estudos,
locam o seu olhar para as relações sociais con- a aliança com eles e nem os culpam e julgam espaço para abordar outros que foram pesqui- como também estar atento para as transforma-
cretas e vividas; as especificidades da sexuali- ser da “natureza” do homem o experimento sados, destacando-se: a sexualidade e reprodu- ções valorativas que possam estar operando no
dade e sua ordenação por homens e mulheres das drogas e da homossexualidade (na adoles- ção humana ou corpo e reprodução humana, seu interior, em especial, na sua relação com a
das classes populares, movidas por outros có- cência) e das relações sexuais com outras mu- que dispõem de uma revisão bastante atualiza- medicina, os médicos, instituições e profissio-
digos, em especial o do valor família, postos por lheres no espaço “da rua”. Se doentes ou con- da, feita por Giffin & Cavalcanti (2000), enfati- nais de saúde e nas esferas do consumo e de ou-
Duarte (1986) e Sarti (1996) e a forte morali- taminadas, preservam ou resgatam o status de zando a maneira como os homens se incluíram tras relações sociais.
dade nas relações de gênero e sexualidade. mãe ou esposa, ou de filha perante a família, nestes estudos. Não é mais invisível a antropologia da saú-
Gênero, sexualidade e Aids foi tema de vá- desenvolvendo estratégias de enfretamento da Não foram abordados os sistemas de cura, de/doença no Brasil, e os esforços nesta dire-
rias pesquisas. Dois enfoques estão presentes doença, que reforçam a identidade de espo- imersos nos campos religioso, nas demais me- ção parecem bem-sucedidos, se forem perma-
nas análises sobre o gênero: o da construção so- sa/mãe (Knauth, 1997; 1999). Sugere a autora dicinas, sob outras racionalidades, que se tor- nentes, apesar das diferentes vocações intelec-
cial da identidade e a relacional (Leal & Boff, o reordenamento das relações de gênero diante nam cada vez mais incrementados na socieda- tuais, cujo convívio mais indica a vitalidade da
1996). A partir do segundo enfoque mostra a da Aids e da doença em geral. Entre as mulhe- de contemporânea, combinando-se com a me- nova especialidade do que a sua inviabilidade,
autora que: 1) a construção da identidade mas- res e os homens a Aids sempre se apresenta co- dicina oficial e que são objetos de estudos so- embora se espere, no âmbito da saúde coletiva,
culina requer a aprendizagem de códigos que a mo doença do “outro”, conforme constaram ciológicos e antropológicos. Agregam-se a estes que as ciências sociais dialoguem entre si per-
constroem como adulto e homem e que nor- os vários estudos. o uso de métodos qualitativos na avaliação dos manentemente e com as demais disciplinas,
teiam os papéis sexuais como ativos e passivos; serviços de saúde, juntamente com as análises sem que se apartem nos limites estreitos das rí-
2) qualidades marcam a virilidade e feminili- das instituições, intervenções médicas, médico- gidas fronteiras especializadas.
dade; 3) admite, em certos contextos, a dinâmi- Conclusão
ca de gênero na concepção de sexualidade en-
tre as classes populares através da justaposi- Em síntese, pode-se dizer que os estudos exa- Nota
ção de valores individualistas sobre os holistas, minados nos falam menos da doença em si e
de maior individualização nas masculinidades mais de sua articulação simbólica na constru- A revisão da literatura da produção acadêmica dos anos
e de menor, no universo feminino nas questões ção das identidades sociais, relações de gênero iniciais da década de 1990 foi feita graças ao apoio do
CNPq, através de bolsa de produtividade à pesquisa.
da intimidade e do desempenho sexual. e inserção nos parâmetros simbólicos estrutu-
Evidências similares foram postas por Heil- rantes da cultura. Quando resgatam as práti-
born & Gouveia (1999) na adoção de um dis- cas sociais são capazes de vislumbrar estraté-
curso “moderno” (mais individualista) em tor- gias e maiores dissonâncias entre pensamen- Referências bibliográficas
no da sexualidade e sexo, em setores daquelas to, normas e a ação social ou ainda, percorren-
classes, embora reiterem as formulações de do as experiências e o senso prático exclusiva- Adam P & Herzlich C 2000. Sociologia da doença e da me- e doença: um olhar antropológico. Fiocruz, Rio de Ja-
dicina. Editora da Universidade do Sagrado Coração, neiro.
Duarte (1986) e Sarti (1996), mostrando que mente, colocam em evidência os adoecidos, Bauru. Alves PC 1998. La antropologia médica en Brasil y el pro-
as mulheres não expõem suas vidas privadas ao suas ações e a construção dos significados dian- Alves PC & Rabelo MCM (org.) 1998. Antropologia e saú- blema de la interdisciplinariedad en los estudios so-
escrutínio público, quando se trata das relações te da doença e na busca da resolução de seus de. Traçando identidade e explorando fronteira. Fio- bre salud, pp. 187-196. In R Briceño-Leon (coord.).
sexuais e das possíveis doenças. Preservam e problemas de saúde, ocultando as regularida- cruz-Relume Dumará, Rio de Janeiro. Ciencias sociales y salud en America Latina: un balan-
reproduzem a imagem ideal feminina de “mu- des sociais ou os padrões estruturantes, sejam Alves PC & Rabelo MCM 1998. O status das ciências so- ce. Fundación Polar, Caracas.
ciais em saúde no Brasil: tendências, pp. 13-28. In Barbosa RM 1996. A trajetória feminina da Aids, pp. 17-
lher de verdade” que lhe confere dignidade os sociais e políticos, sejam os culturais e sim- PC Alves et al. (org.). Op. cit. 31. In R Parker & J Galvão (org.). Quebrando o silên-
moral (Guimarães, 1994). bólicos. Alves PC & Rabelo MCM 1998. Repensando os estudos cio. Mulheres e Aids no Brasil. ABIA-IMS-UERJ-Re-
As demais pesquisas sobre a maior vulnera- Quando percorrem a história lançam luzes sobre representações e práticas, pp. 107-121 In PC lume Dumará, Rio de Janeiro.
bilidade das mulheres diante da contaminação sobre a mutabilidade e historicidade dos signi- Alves & MCM Rabelo (org.). Op. cit. Birman J 1994. Sexualidade: entre o mal e as maledicên-
pelo HIV/Aids, pelos próprios parceiros, evi- ficados ou representações da doença ou do Alves PC 1993. A experiência da enfermidade: considera- cias, pp. 109-115. In MA Loyola (org.). Aids e a sexua-
ções teóricas. Cadernos de Saúde Pública 9(3):263- lidade. O ponto de vista das ciências humanas. Re-
denciam suas dificuldades de negociar a gestão corpo, mostrando, em certos casos, as fontes 271. lume Dumará-Uerj, Rio de Janeiro.
dos riscos, pelo uso de preservativos (Barbosa, produtoras de sentido, dentre as quais está o Alves PC 1994. O discurso sobre a enfermidade mental, Boltanski L 1979. As classes sociais e o corpo. Graal, Rio de
1996), prevalecendo nesta negociação o mode- saber médico entrelaçado com outros campos pp. 91-99. In PC Alves & MCS Minayo (org.). Saúde Janeiro.
123 124

Canesqui AM 1992. Consumo e avaliação dos serviços de Galvão J 1994. Aids e o ativismo: o surgimento e a cons- vas, pp. 127-137. In PC Alves & Minayo MCS (org.). deste de Amaralina: relatos como realizações práti-
saúde, pp. 13-28. In AW Spínola (org.). Pesquisa so- trução de novas formas de solidariedade, pp. 341- Op. cit. cas, pp. 75-87. In MCM Rabelo et al. (org.). Op. cit.
cial em saúde. Cortez Editora, São Paulo. 350. In R Parker et al. (org.). A Aids no Brasil. ABIA- Leal OF & Boff AM 1996. Insultos, queixas, sedução e se- Rabelo MCM & Alves PC 1999. Significações e metáfo-
Canesqui AM 1994. Notas sobre a produção acadêmica IMS-Relume Dumará, Rio de Janeiro. xualidade: fragmentos de identidade masculina em ras na experiência da enfermidade, pp. 171-185. In
de antropologia e saúde na década de 80, pp. 13-32. Giffin K & Cavalcanti C 2000. Revista Estudos Feministas uma perspectiva relacional, pp. 119-135. In R Parker MCM Rabelo et al. (org.). Op. cit.
In PC Alves & MCS Minayo (org.). Op. cit. 7(1,2):53-91. & RM Barbosa (org.). Op. cit. Rabelo MCM, Alves PC & Souza IMA 1999. Signos, sig-
Canesqui AM 1998. Ciências sociais e saúde: três décadas Gonçalves HD 1998. Corpo doente: um estudo acerca da Loyola MA 1994. Percepção e prevenção da Aids no Rio nificados e práticas relativos à doença mental, pp.
de ensino e pesquisa no Brasil. Ciência & Saúde Co- percepção corporal da tuberculose, pp. 105-117. In de Janeiro, pp: 19-72. In MA Loyola (org.). Aids e a 43-73. In MCM Rabelo et al. (org.). Op. cit.
letiva 3:131-168. LFD Duarte & OF Leal (org.). Op. cit. sexualidade: o ponto de vista das ciências humanas. Ramos CL 1993. Debate do artigo de Minayo e Sanchez.
Cardoso MHCA & Gomes R 2000. Representações sociais Guimarães CD 1996. “Mas eu conheço ele”: um método Relume-Dumará, Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública 9(3):257-258.
e história: referenciais teórico-metodológicos para o de prevenção do HIV/Aids, pp. 169-181.In R Parker Loyola MA 1998. Introdução, pp. 7-15. In MA Loyola Reichenhein ME 1993. Debate sobre o artigo de Minayo
campo da saúde coletiva. Cadernos de Saúde Pública & J Galvão. Op. cit. (org.). A sexualidade nas ciências humanas. Editora e Sanchez. Cadernos de Saúde Pública 9(3):252-253.
16(2):449-606. Guimarães CD 1994. Mulheres, homens e Aids: o visível UERJ, Rio de Janeiro. Rigotto RM 1998. As técnicas de relatos orais e o estudo
Carrara S 1994. Aids e doenças venéreas no Brasil, pp. e o invisível, pp. 217-230. In R Parker et al. (org.). A Loyola MA 1998. Sexo e sexualidade na antropologia, pp. das representações sociais em saúde. Ciência &
73-108. In MA Loyola (org.). Aids e a sexualidade: o Aids no Brasil. ABIA-IMS-UERJ-Relume Dumará, 17-42. In MA Loyola (org.). Op. cit. Saúde Coletiva 3(1):116-129.
ponto de vista das ciências humanas. Relume-Du- Rio de Janeiro. Magnani JGC 1986. Discursos e representação, ou de co- Rodrigues N & Caroso CA 1998. Idéia de sofrimento e
mará, Rio de Janeiro. Guimarães CD 1996. Mais merece: o estigma da infecção mo os Baloma de Kiriwina podem encarnar-se nas representação cultural na construção da pessoa, pp.
Carrara S 1994. Entre cientistas e bruxos. Ensaios sobre sexual pelo HIV/Aids em mulheres. Estudos Femi- atuais pesquisas, pp. 127-140. In RCL Cardoso (org.). 137-147. In LFD Duarte & OF Leal (org.). Op. cit.
dilemas e perspectivas na análise antropológica da nistas 2:295-318. A aventura antropológica: teoria e pesquisa. Paz e Ter- Rodrigues JC 1999. O corpo na história. Fiocruz, Rio de
doença, pp. 33-45. In PC Alves & Minayo MCS Heilborn ML & Gouveia 1999. “Marido é tudo igual”: ra, Rio de Janeiro. Janeiro.
(org.). Op. cit. mulheres populares e sexualidade no contexto da Mauss M 1971. Sociología y antropología. Editorial Tec- Rubim CR 1999. Um pedaço da nossa história. Historio-
Carrara S 1996. A luta antivenérea no Brasil e seus mode- Aids, pp. 176-198. In RM Barbosa & R Parker (org.). nos S/A, Madri. grafia da antropologia brasileira. BIB – Revista Bra-
los, pp. 17-37. In R Parker & RM Barbosa (org.). Sexua- Sexualidades pelo avesso. Direitos, identidades e poder. Minayo MCS & Sanchez 1993. O quantitativo-qualitati- sileira de Informações Bibliográficas em Ciências Sociais
lidades brasileiras. Relume-Dumará, Rio de Janeiro. IMS-Uerj-Editora 34, Rio de Janeiro. vo: oposição ou complementariedade? Cadernos de 44:31-72.
Carrara S 1996. Tributo a Vênus. A luta contra a sífilis no Heilborn ML 1999. Articulando gênero, sexo e sexuali- Saúde Pública 9(3):239. Russo JA 1998. Resenha do livro de Luiz Fernando Dias
Brasil, da passagem do século aos anos 40. Fiocruz, dade: diferença na saúde. II Congresso Brasileiro de Minayo MCS 1998. A construção da identidade da an- Duarte e Ondina Fachel Leal (org.). Doença, sofri-
Rio de Janeiro. Ciências Sociais e Saúde. Abrasco-Unifesp. (Mimeo). tropologia na área da saúde, pp. 29-46. In PC Alves mento, perturbações; perspectivas etnográficas. Hori-
Carvalho F et al. 1998. Uma investigação antropológica Herzlich C & Pierret J 1992. Uma doença no espaço pú- & MCM Rabelo (org.). Op. cit. zontes Antropológicos 9:331-316.
na terceira idade: concepções sobre a hipertensão ar- blico. A Aids em seis jornais franceses. Physis – Re- Minayo MCS 1992. O desafio do conhecimento. Pesquisa Santos RV 1993. Debate sobre o artigo de Minayo & San-
terial. Cadernos de Saúde Pública 14(3):617-621. vista de Saúde Coletiva 11(1):7-35. qualitativa em saúde. Hucitec-Abrasco, São Paulo- chez. Cadernos de Saúde Pública 9(3):258-259.
Claro LBL 1995. Hanseníase. Representações sobre a do- Herzlich CA 1991. A problemática da representação so- Rio de Janeiro. Sarti C 1996. A família como espelho. Um estudo sobre a
ença. Fiocruz, Rio de Janeiro. cial e sua utilidade no campo da doença. Physis – Re- Moscovici S 1994. Prefácio, pp. 7-16. In PA Guareschi & moral dos pobres. Editores Associados, Campinas.
Concurff P 1995. As novas sociologias. Construções da rea- vista de Saúde Coletiva 1(20):23-34. S Jovchelovitch (org.). Textos em representações soci- Seffner F 1995. Aids, estigma e corpo, pp. 391-415. In
lidade social. Editora da Universidade do Sagrado Co- Hita MG 1998. Identidade feminina e nervoso: crises e ais. Vozes, Petrópolis. JMG Fachel & OF Leal (org.). Op. cit.
ração, Bauru. trajetórias, pp. 179-213. In PC Alves & MCM Rabelo Nunes ED 2000. A doença como processo social, pp. 217- Sevalho G & Castiel LD 1998. Epidemiologia e antro-
Corrêa M 1994. Medicalização e a construção da sexuali- (org.). Op. cit. 229. In AM Canesqui. Ciências sociais e saúde para o pologia médica: a interdisciplinaridade possível, pp.
dade, pp. 117-140. In MA Loyola (org.). Op. cit. Jardim DF 1992. Corpo masculino: baixo corporal e ensino médico. Hucitec-Fapesp, São Paulo. 47-69. In PC Alves et al. (org.). Antropologia e saúde.
Duarte LFD 1986. Da vida nervosa nas classes trabalhado- masculinidade. Cadernos de Antropologia 5:24-41. Oliveira FJA 1998. Concepções de doença: o que os ser- Traçando identidade e explorando fronteira. Editora
ras urbanas. Jorge Zahar-CNPq, Rio de Janeiro. Jardim DF 1992. Espaço social e auto-segregação entre viços de saúde têm a ver com isto?, pp. 81-94. In LFD Fiocruz-Relume Dumará, Rio de Janeiro.
Duarte LFD 1994. A outra saúde mental, psicossocial, fí- homens: gostos, sonoridade e masculinidade. Cader- Duarte & OF Leal (org.). Op. cit. Sevalho G 1993. Uma abordagem histórica de represen-
sico-moral, pp. 46-57. In PC Alves & MCS Minayo nos de Antropologia 5:29-39. Oliveira RC 1994a. O movimento dos conceitos em an- tações sociais de saúde e doença. Cadernos de Saúde
(org.). Op. cit. Knauth DR 1992. Corpo, saúde e doença. Cadernos de tropologia. Revista de Antropologia 36:13-31. Pública 9(3):349-365.
Duarte LFD 1998. Investigação antropológica sobre a do- Antropologia 5:55-72. Parker R 1994. Corpos, prazeres e paixões: a cultura sexual Silveira ML 2000. O nervo cala, o nervo fala: a linguagem
ença, sofrimento e perturbação: uma introdução, pp. Knauth DR 1992. Representações sobre doença e cura no Brasil contemporâneo. Best Seller. São Paulo. da doença. Fiocruz, Rio de Janeiro.
9-27. In LFD Duarte & OF Leal (org.). Doença, sofri- entre doentes internados em uma instituição hospi- Parker R & Barbosa R 1996. Sexualidades brasileiras. Re- Souza IMA 1998. Um retrato de Rose: considerações so-
mento e perturbação: perspectivas etnográficas. Fio- talar. Cadernos de Antropologia 5:24-39. lume-Dumará, Rio de Janeiro. bre processos interpretativos e elaboração de his-
cruz, Rio de Janeiro. Knauth DR 1995. Um problema de família. A percepção Parker R & Galvão J 1996. Introdução, pp. 7-15. In R tórias de vida, pp. 115-149. In LFD Duarte & OF Leal
Duarte LFD 1998. Pessoa e dor no Ocidente. Horizontes da Aids entre mulheres soropositivas, pp. 379-390. Parker & J Galvão. Quebrando o silêncio. Mulheres e (org.). Op. cit.
Antropológicos 4(9):13-26. In JMG Fachel & OF Leal (org.). Op. cit. Aids no Brasil. Abia-IMS-UERJ-Relume-Dumará, Uchoa E & Vital JM 1994. A antropologia médica: ele-
Duarte LFD 1999. A medicina e o médico na boca do po- Knauth DR 1997. “Maternidade sob o signo da Aids”: Rio de Janeiro. mentos conceituais e metodologia para uma análi-
vo. Revista Antropológica 9:7-14. um estudo sobre mulheres infectadas, pp. 18-27. In Paulilo MAS 1999. Aids: os sentidos do risco. Veras Edito- se da saúde e doença. Cadernos de Saúde Pública 10:
Fachel JMG et al. 1995. O corpo como dado: material AO Costa (org.). Direitos tardios: saúde, sexualidade ra, São Paulo. 493-504.
etnográfico e aplicação de análise fatorial de corres- e reprodução na América Latina. Editora 34-Fun- Queiroz MS 2000. Representações sociais: uma perspec- Vance C 1995. A antropologia redescobre a sexualidade:
pondência, pp. 37-55. In JMG Fachel & OF Leal dação Carlos Chagas, São Paulo. tiva multidisciplinar em pesquisa qualitativa. In RB um comentário teórico. Physis – Revista de Saúde
(org.). Corpo e significado. Ensaios de antropologia so- Knauth DR 1999. Subjetividade feminina e soropositivi- Barata & R Briceño-León (org.). Doenças endêmicas: Coletiva 5(1):4-15.
cial. Editora da Universidade, Porto Alegre. dade, pp. 121-136. In R Parker & RM Barbosa (org.). abordagens culturais e comportamento. Fiocruz, Rio Victora CG 1995. As imagens do corpo: representações
Fernandes MEL & Arévalo EI 1990. Aids e lideranças re- Sexualidades pelo avesso: direitos, identidades e poder. de Janeiro. do aparelho reprodutor feminino e reapropriação
ligiosas no Estado de São Paulo, pp. 80-92. In IMS-Uerj-Editora 34, Rio de Janeiro. Queiroz MS & Puntel MA 1997. A endemia hansênica: dos modelos médicos, pp. 77-83. In JMG Fachel &
Ribeiro H (coord.). Aids: do preconceito à soli- Knauth DR et al. 1998. A banalização da Aids. Horizontes uma perspectiva multidisciplinar. Fiocruz, Rio de Ja- OF Leal (org.). Op. cit.
dariedade: a partir da medicina, ciência do social e Antropológicos (9):171-202. neiro. Victora CG et al. 2000. Pesquisa qualitativa em saúde.
teologia. Paulinas, São Paulo. Knauth DR 1998. Morte masculina: homens portadores Rabelo MCM et al. (org.) 1999. Experiência de doença e Uma introdução ao tema. Tomo Editorial, Porto Ale-
Ferreira J 1995. Semiologia do corpo, pp. 363-390. In do vírus da Aids sob a perspectiva feminina, pp. 183- narrativa. Fiocruz, Rio de Janeiro. gre.
JMG Fachel & OF Leal (org.). Op. cit. 198. In LFD Duarte & OF Leal (org.). Op. cit. Rabelo MCM 1993. Religião e cura: algumas reflexões so-
Ferreira J 1998. Cuidados do corpo em uma vila de classe Laplantine F 1986. Antropologia da doença. Martins Fon- bre a experiência religiosa das classes populares ur- Artigo apresentado em 3/10/2002
popular, pp. 49-56. In LFD Duarte & OF Leal (org.). tes, São Paulo. banas. Cadernos de Saúde Pública (3):316-325. Aprovado em 6/11/2002
Op. cit. Leal OF 1994. Sangue, fertilidade e práticas contracepti- Rabelo MCM 1999. Narrando a doença mental no Nor- Versão final apresentada em 12/11/2002

Você também pode gostar