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Este material foi gentilmente cedido


pela"Coleção O Livro Católico" para os
colaboradores e amigos da
Associação Sagrado
Coração de Jesus.
3
4
Indice

Introdução.........................................................................04

Capítulo I
A Ordem do Carmo: do Antigo Testamento ao monacato
oriental e ocidental............................................................08

Capítulo II
Origem do Escapulário......................................................14

Capítulo III
São Simão Stock e o Escapulário.....................................23

Capítulo IV
A “Grande Promessa” e o “Privilégio Sabatino”:
sua autenticidade..............................................................35

Capítulo V
A “medalha-escapulário”...................................................46

Capítulo VI
Privilégios ligados ao Escapulário.....................................53

Capítulo VII
Os Santos e o Escapulário................................................60

Capítulo VIII
Exemplos da proteção do Escapulário..............................65

Apêndice
São José, especial protetor dos Carmelitas......................90
5
Introdução

O Escapulário ou “bentinho” do Carmo está


em moda! No metrô, na rua, em lojas, por toda
parte se vêem pessoas, sobretudo jovens, com
esse símbolo de devoção a Nossa Senhora.
Não é, porém, temerário imaginar-se que a
maioria o porta como mero “enfeite”, ou mesmo
quase como um amuleto, deixando assim de
ganhar as inúmeras graças a ele ligadas, e
sobretudo de merecer as grandes promessas a
ele vinculadas.

Realmente, “como nota o Pe. Lejeune, usar


o Escapulário só é uma prática mariana na
medida em que piedosamente o fazemos. O
estado resultante de andarmos ordinariamente
com o Escapulário, isto é, o seu uso passivo,
é um ato de piedade cuja perseverança será,
finalmente, recompensada com a vitória. Mas
não é estado no qual Satanás nos não possa
vencer com freqüência.

O uso ativo do Escapulário é um estado em


que, nos momentos de tentação, pensamos
fervorosamente na nossa filiação mariana

6
e, ao primeiro assomo do inimigo, fugimos
instintivamente para Nossa Senhora. Nesse
estado, não se cai em pecado; o Inferno é
absolutamente impotente quando aquele que
usa o Escapulário, além de praticar a devoção
silenciosa, enfrenta a tentação com uma
invocação à Mãe de Deus.

Ninguém que chame por Maria é por Ela


abandonado”1.

É com o objetivo de auxiliar as pessoas a


compreender esse verdadeiro tesouro, que
muitas vezes portam sem se darem conta,
que escrevemos este livrinho. Nele poder-se-á
encontrar praticamente tudo o que é necessário
saber para tirar do Escapulário todo o proveito.

E sobretudo para dar glória à Virgem


Imaculada, que nos pôs ao alcance esse meio
tão fácil e seguro de salvação e de proteção
contra os perigos do corpo e da alma.

* * *
1 John Mathias Haffert, “Maria na sua Promessa do Escapulário”, Edições Carmelo,
Aveiro, 1954, pp. 163-164. Esta obra será citada apenas como “Haffert”, mais o n. da
página.

7
Para tornar mais leve e atraente a leitura,
entremeamos sua parte histórica e doutrinária
com exemplos de graças alcançadas por
intermédio do Escapulário. Mas alertamos o
leitor, com Santo Afonso:

“Esses e outros exemplos, entretanto, não


devem servir para autorizar a temeridade dos
que vivem em pecado, confiados de que Maria
os haja de livrar do Inferno ainda que morram
impenitentes.

Rematada loucura seria, certamente, lançar-se


alguém para dentro de um poço, na esperança
de ver-se livre da morte porque Maria, em caso
semelhante, já preservou a vida de outro. Muito
maior loucura seria, entretanto, arriscar-se
alguém a morrer no pecado, presumindo que a
Santíssima Virgem o preservará do Inferno”2.

Os exemplos, entretanto, nos servirão de


incentivo, vendo quantos e quão grandes
benefícios esses dois simples pedaços de
lã, símbolos de nossa união com a Mãe e
Esplendor do Carmelo, trazem consigo.
2 “Glórias de Maria”, Editora Vozes Limitada, Petrópolis, 1964, p. 149.

8
Concluímos, mais uma vez com Santo Afonso:

“Ah! leitor piedoso, demos graças ao Senhor,


se vemos que nos tem dado afeto e confiança
para com a Rainha do céu. Pois, segundo São
João Damasceno, Deus só faz semelhante
graça a quem quer salvar.

Eis as belas palavras com que o Santo reanima


a sua e a nossa esperança: ‘Ó Mãe de Deus,
se em vós puser minha confiança, serei salvo.
Se estiver sob vossa proteção, nada tenho a
recear, porque a devoção para convosco é uma
segura arma de salvação, por Deus concedida
só aos que deseja salvar’”3.

3 Id. Ib., pp. 147-148.

9
Capítulo I

A Ordem do Carmo: do Antigo Testamento


ao monacato oriental e ocidental

Segundo a tradição da Ordem, os Carmelitas


tiveram sua origem nos Profetas Elias e Eliseu
e seus seguidores. Estes já venerariam a futura
Mãe do Messias, simbolizada pela nuvenzinha
que prenunciou a chuva redentora que, aos
rogos de Elias, fertilizou a terra ressequida de
Israel.

Foram continuados depois pelos “Filhos dos


Profetas” (instituição judaica surgida na época
do profeta Samuel, que tinha certa semelhança
com os institutos religiosos atuais), e mais
tarde pelos essênios. E, já, na era cristã, pelos
ermitães que povoaram o Monte Carmelo.

O carmelita Pe. P. Rushe afirma que o livro


escrito em 412 pelo patriarca João, de
Jerusalém, “Sobre a Instituição dos primeiros
monges”, mostra o parentesco da Ordem
do Carmo com Elias Profeta, reconhecida,
segundo ele, já no ano 83 de nossa era,

10
quando aqueles ermitães se converteram ao
Cristianismo. Uma capela teria sido construída
por esses seguidores de Elias, no Monte
Carmelo.

“No século III ou IV o Monte Carmelo


tornou-se concorrido centro de romarias.
Os principais padres gregos, com São
Jerônimo, representam Elias e Eliseu como
modelos de perfeição religiosa e patronos dos
monges e eremitas. Em 622 havia no Monte
Carmelo monges carmelitas (...). São Cirilo
de Constantinopla, que havia sido ermitão no
Carmelo antes de 1185, traça a história desses
ermitães desde a submissão da Palestina pelos
muçulmanos, em 639” 4.

Em 1185 um monge grego, João Focas, que


visitou os Santos Lugares, encontrou nesse
Monte um monge calabrês, São Bertoldo,
filho do conde de Limoges, com cerca de
dez eremitas que com ele viviam junto à
gruta do Profeta Elias. Ao morrer Bertoldo
(1208), Brocardo, outro santo, dirigiu a
pequena comunidade, pedindo ao patriarca de
4 Enciclopédia Espasa-Calpe, tomo 11, pp. 1118 ss.

11
Jerusalém, Santo Alberto de Vercelli (+1214),
que compusesse uma regra para a Ordem.
Essa regra foi depois confirmada pelo Papa
Honório III.

Em meados do século XIII, por causa dos


ataques muçulmanos, os eremitas tiveram que
abandonar várias vezes o Monte Carmelo,
até que em 1291, enquanto cantavam a Salve
Regina, foram martirizados e seu convento
queimado.

Mas a Ordem subsistiu. Como muitos dos


monges do Carmelo eram europeus, haviam
efetuado fundações em vários locais da
Europa: Chipre, Sicília, Valenciennes, Marselha,
Espanha e Inglaterra5. Foi nesta última que,
segundo a mesma tradição, Nossa Senhora
apareceu ao então Geral dos Carmelitas, São
Simão Stock, entregando-lhe o Escapulário.

5 Id., Ib.

12
A suicida que volta à vida

Nas primeiras décadas deste século morreu


uma superiora das Irmãzinhas dos Pobres, em
Paris. Quando viva, ela gostava de contar por
que se fizera religiosa.

Falecendo-lhe o pai no interior da França,


resolveu ir com a mãe para Paris, onde
instalou um pequeno ateliê de costura. Muito
trabalhadora e ajuizada, foi acumulando
pequena fortuna. Então a mãe, já idosa,
contraiu câncer. Para dedicar-se inteiramente
à enferma, a quem muito amava, a filha fechou
seu ateliê.

Depois de dois anos de cuidados, a mãe


faleceu santamente. A dedicada filha viu-
se então não somente só no mundo, mas
também arruinada, porque tinha gasto todas as
economias com a mãe.

Desesperada, resolveu dar cabo da vida. Numa


noite, trancou as portas e janelas de seu quarto
e acendeu um braseiro cheio de carvões, para
morrer por asfixia.

13
Pelas cinco horas da manhã, providencialmente
uma amiga do interior, que chegava a
Paris, bateu à sua porta. Como ninguém
respondesse, sentindo cheiro de fumaça, com
a ajuda de vizinhos conseguiu arrombar a porta
encontrando a jovem morta.

Nesse momento, também providencialmente,


entrava no mesmo prédio para atender um
doente o célebre Dr. Récamier, médico,
devotíssimo da Virgem Maria e um verdadeiro
apóstolo. Declarou ele que nada mais havia a
fazer, pois a jovem estava morta, e bem morta.
Mas, de repente, viu que ela portava o
Escapulário do Carmo. – Não, senhores, não –
exclamou ele.

Esta mulher não pode estar morta, pois leva


o Escapulário, e nenhum suicida logra morrer,
mesmo que se empenhe, quando traz consigo
esse valioso auxílio.

Começou então a fazer massagens no


corpo inanimado, mas tudo inútil. Pediu que
trouxessem dois bastões e fossem batendo
levemente no estômago da falecida, enquanto

14
observava se havia qualquer reação. Nenhum
sinal de vida. O Dr. Récamier, no entanto,
recusava-se a dar-se por vencido, confiando no
poder do Escapulário.

Passada uma hora desse tratamento, ilumina-


se-lhe o rosto, uma lágrima rola, e ele exclama:
– Começa a voltar a vida a este corpo! Bem
que eu dizia: Nossa Senhora do Carmo não
podia deixar morrer assim quem portava seu
escapulário!

Confusos, atônitos, espantados, os


circunstantes entreolhavam-se sem entender
nada, pois todos tinham perdido qualquer
esperança. Finalmente, a que julgavam morta
foi se recuperando, até depois alcançar perfeita
saúde. Para expiar seu tremendo pecado,
entrou em religião, bendizendo todos os dias de
sua vida aquele Escapulário que a salvara da
perdição eterna6.

6 El Siglo Futuro, Madrid, 15 de julio de 1929. Apud ENCICLOPEDIA DEL


ESCAPULÁRIO, pp. 196-198.

15
Capítulo II

Origem do Escapulário em geral

Como o escapulário (do latim scapulae,


ombros), o próprio hábito monástico e as vestes
litúrgicas se desenvolveram a partir dos trajes
dos leigos.

Já no século VI São Bento, Patriarca dos


monges do Ocidente, determinou em suas
Regras o uso de um escapulário, consistindo
em sua forma inicial numa faixa ou cinta em
forma de cruz, posta sobre o peito e costas,
para auxiliar o ajuste do hábito religioso durante
os trabalhos ordinários dos monges. Era usado
só nas horas de trabalho (scapulare propter
opera – “o escapulário é para o trabalho”, como
diz a Regra).

Um século mais tarde, escapulário mudou


de significado, e a forma atual parece ter-
se originado do cucullo, espécie de capuz
alongado para proteger a testa e os ombros da
chuva, frio e neve.

16
No tempo de São Bento de Aniane (+ 821),
essa peça já descia até os joelhos, começando
a alongar-se no início do ano mil, para
chegar até os tornozelos por volta de 1200,
quando tomou então a forma atual7. Assim, o
escapulário original dos dominicanos já tinha
como finalidade cobrir também a cabeça,
possuindo para isso um capuz.

Até o século IX não se faz menção da


imposição do escapulário nas formas de
profissão monásticas. Foi só gradualmente
que isso se deu, passando ele depois a tornar-
se parte integrante de quase todos os hábitos
religiosos.

Assim como os servos da terra portavam um


escapulário com as cores do senhor a quem
serviam, o escapulário religioso passou a ser
considerado um símbolo do jugum Christi (jugo
de Cristo) e scutum (escudo) por proteger a
cabeça e resguardar a vista da vã curiosidade.

Assim Nossa Senhora, ligando graças a essa


7 Cfr. Enciclopedia Cattólica, Città del Vaticano, Casa Editrice G.C.Sansoni, Firenze,
1953, vol. IX, pp. 15 e 16 verbete “Scapolare”.

17
peça de vestuário, quis indicar que aqueles que
a portassem estariam ao Seu serviço.

Por isso, em algumas ordens religiosas como


a dos Servitas e Carmelitas era prescrito, sob
penitência, o uso do capuz mesmo à noite8.
Tendo chegado no século XII à forma atual,
tornando-se então parte integrante dos hábitos
monásticos, inclusive Carmelita, no entanto o
Escapulário não tinha o significado que adquiriu
depois.

Extensão do Escapulário religioso também a


leigos

“Ordens Terceiras” e “Oblatos”

Com o tempo as Ordens Religiosas masculinas


foram desdobrando-se em ramos femininos
(“Ordem Segunda”) e de simples leigos vivendo
no mundo (“Ordem Terceira” ou “Oblatos”).

São extensões dessas Ordens Religiosas,


a elas ligadas por votos conforme o estado
8 Cfr. “The Catholic Encyclopedia”, Caxton Publishing Company, Limited, London,
1912, vol. XIII pp. 508 ss.

18
(solteiro ou casado), e participando de seus
bens espirituais e de alguns privilégios. Esses
“irmãos” recebiam um hábito religioso mais
simples, que usavam continuamente ou, mais
comumente, apenas nos domingos e festas
religiosas.

Era uma graça e grande privilégio poder ser


enterrado com esse hábito. Vários monarcas,
como São Luís IX, da França - irmão terceiro
franciscano - assim o foram.

No início, não se encontra menção do


escapulário no hábito dos Oblatos beneditinos,
nem é mencionado na posterior Regra da
Ordem Terceira de São Francisco de Assis, de
1221. Surgindo Ordens Terceiras em várias
outras famílias religiosas, tornou-se usual
entre seus irmãos portar, sob as vestes, um
escapulário de tamanho considerável, do
mesmo tecido que o das Ordens Primeiras.

As “Confrarias”

Para muitos leigos que, por motivos vários,


não podiam ingressar nas Ordens Terceiras,

19
foram fundadas as Confrarias9, também
uma extensão das Ordens Religiosas. Seus
confrades participavam dos bens espirituais das
Ordens a que estavam ligados, mas não tinham
votos.

A Confraria de Nossa Senhora do Monte


Carmelo, segundo tudo indica, foi das primeiras
a surgir. O Libro degli ordinamenti de la
compagnia de Sancta Maria del Carmine,
escrito em 1280, prova que nesse tempo esta já
existia.

Segundo o Pe. Simón María Besalduch10, a


Confraria de Nossa Senhora do Carmo é tão
antiga quanto seu escapulário (1251), miniatura
do escapulário monástico entregue por Nossa
Senhora a São Simão Stock. Outras confrarias
apareceram em seguida, como a dos Servitas,
Trinitários e Mercedários.

Mais tarde vieram a dos Dominicanos,

9 Pietro Siffrin, Enciclopedia Cattólica, Id., Ib.

10“Enciclopedia del Escapulario del Carmen, Luis Gili, Editor, Librería Católica
Internacional, Barcelona, 1931. Passaremos a mencionar dita obra com a sigla
“Enciclopedia del Escapulário” e o número da página.

20
Beneditinos, etc.

Alguns confrades, por serem benfeitores e


protetores dessas famílias religiosas, embora
não pertencessem à Ordem Terceira, recebiam
seu hábito ou seu grande escapulário (que é
muito menor que o ordinário dos frades, que
descia até os tornozelos; é assim chamado
só para o distinguir do pequeno, que surgiu
depois). Podiam utilizá-los in articulo mortis ou
para com eles ser enterrados.

O “pequeno Escapulário” ou “bentinho”

Para essas Confrarias surgiu então uma


miniatura do escapulário dos religiosos,
como sinal de parentesco mais remoto com a
respectiva Ordem religiosa.

Seus confrades deveriam portá-lo


continuamente, passando eles a ser como que
distintivos dessa Ordem.

Finalmente, várias Ordens religiosas


receberam da Igreja a faculdade de benzer
pequenos escapulários e impô-los aos fiéis,

21
independentemente de estarem ligados ou
não a confrarias11. Isso provocou a tão larga
divulgação de alguns desses pequenos
escapulários, como o do Carmo, que se tornou
universalmente conhecido.

Pode-se dizer que este último se tornou “o


escapulário” por excelência. E, juntamente com
o Rosário, passou a ser um dos símbolos do
católico piedoso e servo de Maria12 .

Ao longo dos séculos os Papas foram


concedendo indulgências diversas aos
escapulários das várias Confrarias. O do
Carmo, além das indulgências pontifícias,
conta, como veremos, com singular promessa
feita pela própria Mãe de Deus.

Exemplo

Durante umas missões, tocado pela graça


divina, certo jovem deixou a má vida e recebeu
o Escapulário. Tempos depois, recaiu nos
maus costumes, e de mau tornou-se pior. Mas,
11 Id., Ib.

12 Cfr. Enciclopedia Espasa-Calpe, Espasa-Calpe S.A., Bilbao,Tomo XX, p. 667

22
apesar disso, conservou o santo Escapulário.

A Virgem Santíssima, sempre Mãe, atingiu-o


com grave enfermidade. Durante ela, o jovem
viu-se em sonhos diante do justíssimo tribunal
de Deus, que, devido às suas perfídias e má
vida, o condenou à eterna danação.

Em vão o infeliz alegou ao Sumo Juiz que


portava o Escapulário de Sua Mãe Santíssima.

- E onde estão os costumes que correspondem


a esse Escapulário? - perguntou-lhe Este.
Sem saber o que responder, o desditoso voltou-
se então para Nossa Senhora.

- Eu não posso desfazer o que meu Filho já fez


- respondeu-lhe Ela.

- Mas, Senhora! - exclamou o jovem - Serei


outro.

- Tu me prometes?
- Sim.
- Pois então vive.
Nesse momento o doente despertou apavorado

23
com o que vira e ouvira, e fazendo votos de, daí
por diante, levar mais seriamente o Escapulário
de Maria. Com efeito, sarou e entrou para a
Ordem dos Premonstratenses.

Depois de vida edificante, entregou sua alma a


Deus. Assim narram as crônicas desta Ordem13.

13 Apud “Enciclopedia del Escapulário”, p. 167.

24
Capítulo III

São Simão Stock e o Escapulário

Simão nasceu no ano de 1165 no castelo de


Harford, no condado de Kent, Inglaterra, fruto
das preces de seus piedosos pais. Estes uniam
à virtude a mais alta nobreza. Alguns escritores
julgam mesmo que tinham parentesco com a
família real.

Sua mãe o consagrou desde antes de nascer


à Santíssima Virgem. Em reconhecimento a
Ela pelo feliz parto, e para pedir Sua especial
proteção para o filhinho, a jovem mãe, antes de
o amamentar, oferecia-o à Virgem, rezando de
joelhos uma Ave-Maria.

Se, por distração, esquecia-se disso,


encontrava uma resistência da parte do
pequenino Simão, que recusava-se a mamar
até que ela rezasse a Ave-Maria. Quando o
bebê, tomado de algum mal-estar próprio à
idade, começava a chorar, bastava que a mãe
lhe mostrasse uma estampa da Virgem para
que ele se acalmasse.

25
O menino aprendeu a ler com pouquíssima
idade e, a exemplo de seus pais, começou a
rezar o Pequeno Ofício da Santíssima Virgem,
e logo também o Saltério.

Embora não conhecesse ainda a língua latina,


encontrava tanto prazer nisso, que ficava
extasiado.

Esse menino precoce, um verdadeiro


geniozinho, aos sete anos de idade iniciou o
estudo das Belas Artes no colégio de Oxford,
com tanto sucesso que surpreendeu os
professores.

Isso fez com que fosse admitido à Mesa


Eucarística num tempo em que o costume
era de o fazer muito mais tarde. Foi quando
também consagrou sua virgindade à
Santíssima Virgem.

Perseguido pela inveja do irmão mais velho e


atendendo a uma voz interior que lhe inspirava
o desejo de abandonar o mundo, deixou o lar
paterno na idade de 12 anos, encontrando
refúgio numa floresta isolada.

26
Um enorme carvalho, cujo tronco apodrecido
formara uma cavidade suficiente para nele
colocar uma cruz, uma imagem de Nossa
Senhora e recostar-se, serviu-lhe de oratório e
habitação.

Empregava o tempo na contemplação das


coisas divinas, oração e austeridades. Era
vítima contínua de assaltos do demônio,
que não o deixavam em paz. Bebia água de
uma fonte que existia nas proximidades e
alimentava-se de ervas e raízes.

De vez em quando, porém, um misterioso cão


levava-lhe um pedaço de pão. Assim viveu
cerca de vinte anos.

Nossa Senhora revelou-lhe então que queria


que ele se juntasse a certos monges que viriam
do Monte Carmelo, na Palestina, à Inglaterra,
“sobretudo porque aqueles religiosos estavam
consagrados de um modo especial à Mãe de
Deus”.

Simão saiu de sua solidão e, obedecendo


também a uma ordem do Céu, estudou

27
teologia, recebendo as sagradas ordens.
Dedicou-se à pregação, até que finalmente
chegaram dois frades Carmelitas no ano de
1213, e ele pôde receber o hábito da Ordem em
Aylesford.

Em 1215, tendo chegado aos ouvidos de São


Brocardo, segundo Geral latino do Carmo, a
fama das virtudes de Simão, quis tê-lo como
coadjutor na direção da Ordem; em 1226
nomeou-o Vigário Geral de todas as províncias
européias.

São Simão teve que enfrentar uma verdadeira


tormenta contra os Carmelitas, na Europa,
suscitada pelo demônio através de homens
ditos zelosos pelas leis da Igreja. Estes
queriam, a todo custo, suprimir a Ordem
sob pretexto de ser nova, instituída sem a
aprovação da Igreja, contrariamente ao que
dispunha o IV Concílio de Latrão.

Simão enviou delegados ao Papa Honório III


para informá-lo da perseguição de que estavam
sendo vítimas, e pedindo sua proteção. O Papa
delegou dois comissários para examinarem a

28
questão. Estes, ganhos pelos adversários dos
Carmelitas, opinaram pela sua supressão. Mas
a Santíssima Virgem apareceu a Honório III,
ordenando-lhe que aprovasse as Regras do
Carmo, confirmasse a Ordem e a protegesse
contra seus adversários14.

Isso o Sumo Pontífice fez por uma bula, na


qual declarou legítima e conforme aos decretos
de Latrão a existência legal da Ordem dos
Carmelitas, e a autorizou a continuar suas
fundações na Europa.

São Simão participou do Capítulo Geral da


Ordem na Terra Santa, em 1237. Em um novo
Capítulo, em 1245, foi eleito 6 - Prior Geral dos
Carmelitas.

Se a bula papal aplacara momentaneamente


o furor dos inimigos do Carmelo, não o fizera
cessar de todo. E, depois de um período de
calmaria, as perseguições recomeçaram com
mais intensidade.

Falto de auxílio humano, São Simão recorria à


14 Cfr. Les Petits Bollandistes, “Vie des Saints”, d’aprés de Père Giry, par Mgr. Paul
Guérin, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo V, p. 588.

29
Virgem com toda a amargura de seu coração,
pedindo-lhe que fosse propícia à Sua Ordem,
tão provada, e que desse um sinal de Sua
aliança com ela.

Na manhã do dia 16 de julho de 1251,


suplicava com maior empenho à Mãe do
Carmelo Sua proteção, recitando a bela oração
por ele composta, Flos Carmeli15. Segundo ele
próprio relatou ao Pe. Pedro Swayngton, seu
secretário e confessor, de repente “a Virgem
me apareceu em grande cortejo, e, tendo na
mão o hábito da Ordem, disse-me:

“‘Recebe, diletíssimo filho, este Escapulário


de tua Ordem como sinal distintivo e a marca
do privilégio que eu obtive para ti e para todos
os filhos do Carmelo; é um sinal de salvação,
uma salvaguarda nos perigos, aliança de paz
e de uma proteção sempiterna. Quem morrer
revestido com ele será preservado do fogo
eterno’”.

15 Em latim diz esse bela oração: “Flos Carmeli, Vitis florigera, Splendor Caeli, Virgo
puerpera, Singularis; Mater mitis, sede viri nescia. Carmelitis da privilegia, Stella maris!
“Flor do Carmelo, vide florífera, Esplendor do Céu, Virgem incomparável, Singular! Ó
Mãe amável e sempre virgem, daí aos Carmelitas os privilégios de vossa proteção, Estrela
do Mar!”.

30
“E... disse-me Ela, ao desaparecer, que
bastava-me enviar uma delegação ao Papa
Inocêncio, Vigário de Seu Filho, que ele não
deixaria de me mandar remédio para nossos
males”16.

Essa graça especialíssima foi imediatamente


difundida nos lugares onde os Carmelitas
estavam estabelecidos, e autenticada por
muitos milagres que, ocorrendo por toda parte,
fizeram calar os adversários dos “Irmãos da
Santíssima Virgem do Monte Carmelo”.

“A Ordem do Carmo multiplicou-se tão


prodigiosamente sob a direção do nosso Santo,
que poucos anos depois de sua morte, cerca
do fim do século XIII, segundo a observação
de Guilherme, arcebispo de Tiro, essa Ordem
contava já até sete mil e quinhentos mosteiros
ou solidões, povoados por um grande número
de religiosos que o mesmo autor eleva ao
número de cento e vinte mil” 17.

Como Geral, São Simão procurou propagar


16 Les Petits Bollandistes, Op.Cit. p. 592.

17 Id. Ib. 593.

31
de todas as formas a Ordem pela Europa,
preferindo fundar casas em cidades onde havia
universidades. Foi o que fez em Cambridge
(1249), Oxford (1253), Paris (1254) e Bolonha
(1260).

São Simão atingiu extrema velhice e altíssima


santidade, operando inúmeros milagres, tendo
também obtido o dom das línguas.

Apesar da idade, viajou pela Europa erigindo


inúmeros mosteiros, e atribui-se-lhe também a
fundação das Confrarias do Santo Escapulário.
Enfim, já centenário chegando a Bordeaux,
na França, quando se dirigia a Tolouse para o
Capítulo Geral da Ordem, entregou sua alma a
Deus em 16 de maio de 1265.

De seu sepulcro saíram raios de luz durante


15 dias depois de sepultado, o que levou os
religiosos a comunicarem o portento ao Bispo.
Este chegou acompanhado do clero e de muito
povo. Tendo constatado o fenômeno, mandou
que se abrisse o túmulo, aparecendo o corpo
do santo emitindo raios de luz e exalando
delicada fragrância.

32
Por volta do ano 1276 o culto a Simão Stock foi
confirmado para o convento de Bordeaux pela
autoridade da Santa Sé, e mais tarde, para os
de toda a Ordem.

Exemplo

Estes extraordinários fatos acontecidos com um


engenheiro civil espanhol que viveu no começo
do século XX, foram por ele transmitidos a
um missionário carmelita, que o comunicou
ao autor da “Enciclopedia del Escapulario del
Carmen”.

Dito engenheiro era muito católico. Uma vez


viajava de trem na Espanha, para visitar uma
de suas obras, quando ouviu o apito dilacerante
da locomotiva, o arrastar-se das rodas nos
trilhos, sinais repetidos de alarme, tudo
indicando iminente perigo.

Os passageiros perceberam horrorizados que


iam de encontro a uma catástrofe inevitável: um
outro trem vinha no mesmo trilho, em sentido
contrário...

33
O choque foi formidável e horripilante,
dilacerando lataria, ferros, gente, bagagem...
transformando tudo num amálgama horrível.
Gritos de dor e de socorro ouviam-se de todas
as partes, tudo era dor, tudo era confusão. O
engenheiro, entretanto, saiu ileso em meio à
catástrofe, não sofrendo sequer um arranhão
nem perdendo a serenidade.

Era como se algo sobrenatural o mantivesse à


margem do sucedido. Abrindo então a camisa,
pegou e osculou seu Escapulário, agradecendo
à Virgem do Carmo por tê-lo salvo tão
milagrosamente.

Alguns anos depois, foi contratato para dirigir


as obras de uma mina de exploração de
minérios. Quando essa obra foi concluída do
modo mais satisfatório, em agradecimento
a Nossa Senhora do Carmo, a quem havia
dedicado o trabalho, mandou colocar no
frontispício da mina a inscrição:

“Minas da Virgem do Carmo”. Mas essa


iniciativa fora de sua alçada desagradou
os proprietários, que eram protestantes.

34
Mandaram tirar a inscrição, e colocar outra
que ofendia a Nossa Senhora e aos religiosos
sentimentos do engenheiro.

Este sentiu que devia fazer um desagravo


a Nossa Senhora. Mas qual? Como? Numa
atitude ousada, pôs-se de joelhos e pediu a
Nossa Senhora do Carmo que extinguisse
aquela mina!

Depois, dirigindo-se à mina, encontrou-se com


uma brigada de trabalhadores que dela saíam,
perplexos, porque subitamente, e sem que
ninguém pudesse explicar, todo o metal que
extraíam em regular quantidade transformara-
se em vulgar terra!

Esse piedoso engenheiro passou a dedicar


todos os dias 16 de cada mês a Nossa Senhora
do Carmo, confessando-se e comungando em
Sua honra. Também todas as manhãs, logo
ao despertar, fazia uma hora de oração, de
joelhos, aos pés de uma Sua imagem.

Com o tempo, foi ele atingido de agudas crises


de reumatismo, que o impediam de pôr-se de

35
joelhos. Entretanto, chegada a hora da oração
diante da imagem, ele podia ajoelhar-se como
se nenhuma doença tivesse. Logo depois da
oração, voltava ao estado habitual18.

18 “Enciclopedia del Escapulário”, pp. 459-460.

36
Capítulo IV

A “Grande Promessa” e o “Privilégio


Sabatino”: sua autenticidade

No que consistem a tão propalada Grande


Promessa e o Privilégio Sabatino?

A “Grande Promessa”

Como vimos, em um momento de grande


aflição para a Ordem do Carmo, São Simão
Stock suplicou à Mãe de Deus que lhe desse
um sinal de Sua proteção. E no dia 16 de
julho de 1251 Nossa Senhora apareceu-lhe
com o Menino Jesus e apresentou-lhe um
Escapulário, prometendo-lhe que, todo aquele
que com ele morresse não padeceria do fogo
eterno.

“Ele é, pois, um sinal de salvação, seguro nos


perigos; aliança de paz e de pacto sempiterno”
- disse a Mãe de Deus.

Poderia haver algo mais extraordinário do


que essa promessa de salvação eterna?

37
A esse respeito ressalta piedoso autor que
isso é tão excelso, que “nunca se poderia
descer demasiado em suas profundezas. É
só penetrando para além do sensível que se
chega a conhecer os tesouros espirituais que
esta Veste Celestial oculta”.

E continua com muita propriedade:


“Especialmente hoje, quando o poder de
Satanás ameaça sacudir os próprios alicerces
do mundo, precisamos ter um conhecimento
racional das nossas devoções e, sobretudo,
das que se relacionam com Aquela que esmaga
a cabeça da serpente infernal”19.

Ao que acrescenta outro douto autor: “Temos a


certeza de que todos aqueles que, ao morrer,
têm a felicidade de usar o Escapulário, obtêm
graça perante Deus e são preservados do
fogo do inferno, porque acreditamos que, para
manter a Sua promessa, Maria retira para eles,
dos tesouros divinos de que é depositária, as
graças necessárias para a sua perseverança
no estado de justiça, ou para a sua conversão.
E, assim fortificados e reconciliados com Deus
19 J. T. Saravia, (cônego honorário da catedral de Montreal, escritor culto e espiritual),
“Le Scapulaire”, Montréal, 1898, p. 110. Apud Haffert, pp 45-46.

38
pelos Sacramentos ou pela contrição perfeita, e
morrendo com este santo hábito, os associados
do Escapulário não caem sob os golpes de uma
justiça inexorável”20.

Sentido autêntico dessa promessa

Qual o sentido exato dessa promessa sublime


da salvação eterna? Evidentemente não
pode ser o de que uma pessoa que morra em
estado de pecado mortal venha a se salvar.
Isso seria um absurdo e anti-teológico. Então
essa promessa só pode querer dizer que
quem morrer revestido com o Escapulário não
morrerá em pecado mortal.

Por isso é que a Igreja muitas vezes insere a


palavra “piamente” na Promessa: “aquele que
com ele morrer piedosamente, não padecerá
das penas do inferno”.

O que leva os teólogos a entender que a


pessoa que morre com o Escapulário, ou
receberá de Nossa Senhora, à hora da morte,
a graça da perseverança no estado de justiça,
20 B.P. Maurel, S.J., “Die Ablasse”, (tr.) Padeborn, 1886. Sub festo. Apud Haffert, p. 47.

39
se nele estiver, ou, caso contrário, a graça da
conversão e perseverança final.

Foi o que levou o Papa Pio XI a afirmar:


“embora seja muito verdade que a Virgem
Santíssima ama todos aqueles que A amam,
não obstante, aqueles que A desejam ter como
auxiliar na hora da morte têm de merecer, em
vida, um tão assinalado favor, abstendo-se do
pecado e trabalhando em Sua honra”21.

Esta “grande promessa” é válida não somente


para os religiosos que morrerem com o
Escapulário longo, mas também para fiéis que
portarem o Escapulário pequeno ou a medalha-
escapulário.

Autenticidade da Aparição

Qual a autenticidade dessa aparição?


A esse respeito argumenta, de acordo com
Santo Agostinho, o Pe. Simão M. Besalduch22:
“Assim como as palavras exprimem a
21 Carta de S.S. Pio XI no 6 centenário do Privilégio Sabatino. Cf. E.P. Magennis in
“The Sabbatine Privilege of the Scapular”, N.Y, 1923.

22 “Enciclopedia del Escapulario del Carmen”, Luis Gili, Editor, Librería Católica
Internacional, Barcelona, 1931.

40
linguagem humana, assim os milagres
exprimem a divina”. Ora, “é contra todos os
atributos divinos que Deus aprove a mentira
com milagres”, como os que até hoje se têm
obtido por meio do Escapulário.

Os frutos benéficos do Escapulário foram


exaltados por Pio XII com estas eloqüentes
palavras: “Certamente ninguém ignora quanto
contribuiu para avivar a fé católica e emendar
os costumes o amor à santíssima Mãe de Deus,
especialmente através daquelas expressões
de devoção com as quais, preferentemente às
outras, parece que as mentes se enriquecem
de doutrina sobrenatural e as almas são
solicitadas ao cultivo da virtude cristã .

Entre estas, figura em primeiro lugar a devoção


ao santo Escapulário dos carmelitas, que,
adaptando-se por sua simplicidade à índole
de todas as pessoas, e com ubérrimos frutos
espirituais, está amplissimamente difundida
entre os fiéis cristãos”23.

23 “DOCTRINA PONTIFICIA”, IV, Documentos Marianos, Hilario Marín, S.I., BAC,


Madrid, 1954, pp. 626-627.

41
Como nota ainda o Pe. Besalduch, São Simão
pedia à Virgem “um signo, um sinal de sua
graça que fosse visível aos olhos de seus
inimigos”.

E Ela, ao entregar-lhe o Escapulário, “declara


que o entrega a ele e a todos os Carmelitas
como um signo de sua confraternidade e um
sinal de predestinação”24. Não podia haver
confirmação mais auspiciosa.

Privilégio Sabatino

A predileção de Nossa Senhora pelo Carmo


foi confirmada de modo ainda mais maternal
no século seguinte, quando, aparecendo ao
Papa João XXII, prometeu-lhe Ela especial
assistência aos que trouxessem o Escapulário
do Carmo, dizendo que os livraria do Purgatório
no primeiro sábado após sua morte.

Essa segunda promessa é conhecida como


“Privilégio Sabatino”25.

24 EE, p. 150.

25 Id. Ib., pp. de 243 a 293.

42
Falando desse privilégio, assim se expressa o
Papa Paulo V:

“É permitido pregar... que, após a morte, a


Santíssima Virgem socorrerá, com a Sua
contínua intercessão, com os Seus sufrágios
e méritos e com a Sua especial proteção,
sobretudo no sábado, dia particularmente
consagrado pela Igreja à mesma Santíssima
Virgem Maria, as almas dos Irmãos e Irmãs
da Confraria da Santíssima Virgem Maria do
Monte Carmelo que, durante a vida, tiverem
usado o hábito [Escapulário], guardado
castidade segundo o estado, e recitado o Ofício
Menor [ou a oração indicada pelo sacerdote
que o impôs]... ou, não sabendo recitar o
Ofício, tiverem observado os jejuns da Igreja
e guardado abstinência de carne nas quartas-
feiras e sábados (a menos que qualquer destes
dias coincida com a festa do Natal)”26.

O que confirma Pio XII: “Certamente a


piedosíssima Mãe não deixará de fazer com
que os filhos que expiam no Purgatório suas
culpas alcancem o quanto antes possível a
26 Analecta O. Carm., vol. IV., p. 250. Apud Haffert, p. 113.

43
pátria celestial por Sua intercessão, segundo
o chamado Privilégio Sabatino, que a tradição
nos transmitiu”27. E Bento XV: “O Escapulário
de Maria... goza do singular privilégio de
proteger, mesmo para além da morte”28.

Como vimos, concedendo depois a Igreja a


várias Ordens religiosas a faculdade de benzer
também pequenos escapulários e impô-los nos
fiéis independente de estarem ligados ou não
às Confrarias29, aos que portam o Escapulário
do Carmo estenderam-se também essas
promessas da Mãe de Deus.

Quer dizer, não há mais necessidade de estar-


se afiliado a uma Confraria do Monte Carmelo
para gozar-se desses privilégios.

Foi o que provocou a tão universal divulgação


do Escapulário do Carmo, que passou a ser
considerado “o escapulário” por antonomásia.
E, juntamente com o Rosário, um dos símbolos
mais característicos do católico piedoso e
27 “DOCTRINA PONTIFICIA”, Id., ib.

28 Apud Haffert, p. 113.

29 Cfr. Espasa-Calpe S.A., Bilbao, Tomo XX, p. 667.

44
verdadeiro servo de Maria30.

Exemplos

1 - Um homem desculpava abertamente a


sua perversa vida, jactando-se de usar o
Escapulário; reivindicava para si a certeza da
salvação, ao mesmo tempo que desedificava o
próximo com abomináveis excessos.

Perseverou nesta presunçosa crença até que


foi surpreendido pela morte. Então, aqueles a
quem tinha escandalizado foram testemunhas
de um acontecimento terrível: ao avizinhar-se a
morte, o infeliz pensou que o Escapulário era a
causa de sua angústia. Clamou dolorosamente
que o Escapulário o estava a queimar.

E num último e supremo esforço, arrancou-o


de si, atirando-o para longe... E assim,
desprotegido desse escudo de salvação, foi
30 Cfr. “The Catholic Encyclopedia”, Caxton Publishing Company, Limited, London,
1912, vol. XIII pp. 508 ss. Joseph Hilgers, autor dos verbetes Sabbatine Privilege e
“Scapular”, na “The Catholic Encyclopedia”, entre outros autores, põe em dúvida tanto
a autenticidade da “Grande Promessa” quanto do “Privilégio Sabatino”. Entretanto, o Pe.
Simón María Besalduch, em sua já citada obra, refuta sábia e sobejamente os argumentos
e autores por ele citados.

45
encontrar-se com o Divino Juiz...31.

2 - Uma jovem, filha de pais piedosos mas


fracos, insistiu com eles para deixá-la ir a um
baile de Carnaval. Estes lhe rogaram de todos
os modos que não fosse, mas ela não lhes deu
ouvidos.

Chegado o dia, toda fantasiada e mascarada, a


jovem preparava-se para sair de casa quando a
mãe a abordou:

- Minha filha, você está levando o Escapulário?

- Que coisa, mamãe! - respondeu a jovem mal-


humorada. A Sra. acha que eu iria a um baile
com o Escapulário?!... Não estou indo à igreja...

- Mas, minha filha, e se lhe acontecer algo?

- Ora, mamãe, se acontecer, aconteceu! E sem


mais, partiu.

No momento em que ela entrava no salão


de baile, houve uma troca de tiros entre dois
31 P. Huguet, “La Dévotion à Marie en exemples”, t. II, p. 62. Apude Haffert, pp. 44-45.

46
litigantes, e uma bala extraviada a atingiu
diretamente no coração...32.

32 Bloc.Cal. V. del Carmen, 1927, EE, p. 186.

47
Capítulo V

A “medalha-escapulário”

São Pio X concedeu, através de


regulamentação de 16 de dezembro de 1910
emanada pelo Santo Ofício, a permissão de
se usar, em vez de um ou mais pequenos
escapulários de diferentes Ordens, uma só
medalha de metal.

Esta deve ter em uma das faces o Sagrado


Coração, e na outra a Santíssima Virgem.
Todas as pessoas validamente investidas
com um escapulário de tecido propriamente
bento podem trocá-lo pela medalha de metal.
Esta pode ser benta com bênção simples por
qualquer sacerdote.

Tais medalhas devem ser usadas


constantemente, penduradas ao pescoço ou
“de outra maneira conveniente”, ganhando-
se com seu uso quase todas as indulgências
e privilégios concedidos aos pequenos
escapulários33.
33 Cfr. The Catholic Encyclopedia, p. 510. Cfr. Espasa-Calpe, Tomo 11, pp. 1118 ss. Veja
“Observações”.

48
Não foi para atender às exigências da
moda ou do tempo que o Papa concedeu o
mesmo privilégio do Escapulário à medalha-
escapulário. Fê-lo, depois de madura reflexão,
para atender aos apelos de missionários de
zonas tórridas, em favor dos nativos.

Os dois pedaços de lã, sujeitos às


desvantajosas condições atmosféricas locais,
e muitas vezes à falta de asseio de seus
possuidores, ficavam logo em condições
intoleráveis, inteiramente disformes, às vezes
mesmo ninho de vermes.

O que era muito adequado ao clima e


condições da Europa mostrava esses
inconvenientes em regiões mais quentes.
Essa iniciativa de São Pio X mostrar-se-ia
pouco depois providencial:

“Quatro anos mais tarde rebentou a


Grande Guerra, e se não fora a Medalha do
Escapulário, milhões de almas literalmente
teriam ido enfrentar a morte sem a garantia
mariana da salvação. Naquela terrível guerra,
não só se tornou difícil obter escapulários de

49
lã, mas deu-se ainda um fato mais trágico. Na
imundície das trincheiras, os escapulários que
os soldados nunca tiravam transformaram-se
em ninhos de vermes. E os soldados foram
oficialmente privados dos seus escapulários!
Mas, para estes casos, já havia a Medalha”34.

Observações:

1 - Para se gozar o privilégio da medalha-


escapulário do Carmo “é de todo necessário
que se receba antes a bênção e imposição do
Escapulário de lã, com a fórmula prescrita e
cumprindo com os demais requisitos. Se antes
não se impõe o Escapulário uma vez para toda
a vida, a medalha não serve, mesmo que benta
por um sacerdote com faculdade para tal e com
a intenção de que valha como Escapulário”35.

2 - A medalha-escapulário de modo nenhum


exime a pessoa das obrigações próprias ao
Escapulário de lã; deve ela cumprir estritamente
com todas as obrigações prescritas para o dito
34 John Mathias Haffert, “Maria na sua Promessa do Escapulário”, Edições Carmelo,
Aveiro, 1967, p. 38.

35 EE, p. 293.

50
Escapulário36.

3 - Os irmãos Terceiros de qualquer Ordem


ou nome não podem usar a medalha em
substituição ao Escapulário próprio.

4 - Ao contrário do que se dá com o Escapulário


de lã (ao qual basta que só o primeiro seja
bento, pois, como se diz, “esse benze os
demais”), cada medalha-escapulário que se
troca precisa ser benta.

5 - Embora condescendendo em conceder à


medalha as graças do Escapulário, São Pio X
declarou muito explicitamente “seus veementes
desejos de que todos os fiéis continuassem
levando o Escapulário da mesma forma que
antes”, e que a medalha só fosse usada
quando houvesse um inconveniente real em se
levar o Escapulário de lã.

6 - Corroborando esse desejo de São Pio X,


seu sucessor Bento XV disse ao Geral dos
Carmelitas Descalços em 8 de julho de 1916:
“Para que se veja que meus desejos são de
36 Id. p. 294.

51
que se leve o Escapulário, concedo a ele uma
graça que não tem a medalha”; e concedeu
uma indulgência ao fiel cada vez que oscule
seu Escapulário.

Exemplo

No ano de 1845 o navio King of the Ocean


deixava o porto de Londres com destino à
Austrália. Entre os passageiros encontrava-se
o pastor protestante inglês James Fisher, com
esposa e dois filhos de nove e sete anos de
idade.

O tempo esteve bom nas primeiras semanas de


viagem. Mas, quando já adiantava-se Oceano
Índico adentro, um forte tornado, vindo do
noroeste varreu o oceano. As ondas irrompiam
furiosamente, as velas rasgavam-se, e a bordo
o madeiramento não parecia mais do que
canas à mercê dos ventos e das ondas iradas
dessa noite memorável.

Ordenaram aos passageiros que descessem às


suas cabines. Não havia o que fazer. Ouviam-
se ordens de comando, gritos de desespero e

52
súplicas de misericórdia.

O Sr. Fisher com a família e mais outras


pessoas subiram ao convés e pediram que
todos se unissem em oração, suplicando
perdão e misericórdia.

Entre a tripulação havia um jovem marinheiro


irlandês natural da comarca de Louth, chamado
John McAuliffe, o qual, desabotoando a camisa,
tirou do pescoço um Escapulário. Brandiu-o
em forma de cruz e arremessou-o ao oceano.
Em breve as águas abateram seu furor, a
tempestade acalmou-se, e uma pequena
onda lançou para junto do jovem marinheiro o
Escapulário que poucos minutos antes ele tinha
lançado ao encapelado mar.

Assim o navio chegou são e salvo ao porto de


Botany.

Ora, as únicas pessoas que haviam notado


o gesto do marinheiro e o regresso do
Escapulário ao convés foram os Fisher. Com
profunda reverência, aproximaram-se então do
rapaz e pediram-lhe que lhes desse a conhecer

53
o significado daquelas peças tão simples de
pano castanho, marcadas com as letras B.V.M.
Uma vez informados, prometeram, ali mesmo,
abraçar aquela Fé, cuja protetora e advogada é
a poderosa Virgem do Carmo.

Ao desembarcarem em Sydney,
encaminharam-se para a pequenina capela de
Santa Maria, feita então de madeira no sítio
onde hoje se ergue um templo magnífico, e
foram devidamente recebidos no seio da Igreja
pelo Pe. Paulding, mais tarde Arcebispo37.

37 Carm. Rev., vol. V, p. 338. Apud Haffert, pp 152 e ss.

54
Capítulo VI

Privilégios: Observações

Resumindo os privilégios ligados ao


Escapulário, temos:

a - A “Grande Promessa”: “aquele que com ele


morrer não padecerá do fogo eterno”;

b - O “Privilégio Sabatino”: será liberto do


Purgatório no sábado seguinte à morte.

Para se gozar desses privilégios é necessário:

1 - Ter-se recebido devidamente o escapulário,


isto é, imposto por um sacerdote com poder
para tal (Atualmente qualquer sacerdote com o
uso legítimo de ordens tem esse poder).

2 - Que o escapulário seja como prescreve a


Igreja, isto é, feito de dois pedaços de lã (e
não de outro material) ligados entre si por fios,
e da forma (quadrangular ou retangular) e cor
requeridas (marrom, café ou negro).

55
3 - Que uma de suas partes caia sobre o peito
e a outra sobre as costas.

4 - Que se observe a castidade segundo o


estado (perfeita para os solteiros, e matrimonial
para os casados).

5 - E que se rezem as orações prescritas pelo


sacerdote que o impôs.

Observações úteis

* “Além da grande promessa de preservação


do inferno, do singular privilégio Sabatino e do
honroso título de Irmãos da Virgem [os frades
do Carmo são chamados “Irmãos da Bem-
aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo”]
e da salvação nos perigos, assim como do
grande número de indulgências, os que vestem
o Escapulário do Carmo gozam da participação
de todas as boas obras que se praticam em
toda a Ordem do Carmo.

Isto quer dizer que, na Ordem do Carmo,


tudo o que cai sob o comum denominador
de “boas obras” - como virtudes, satisfações,

56
Missas, orações, pregações, jejuns, disciplinas,
imolações, fruto das Missões, prática dos
votos, austeridade da vida do claustro, efeitos
saudáveis do apostolado da devoção à Virgem
do Carmo e a seu santo Escapulário, etc. -
forma um acervo comum ou um capital social
que se reparte entre todos e cada um dos
membros que, seja pela profissão (religiosa),
ou em virtude do privilégio da agregação,
pertencem à dita Ordem da Virgem do
Carmo”38.

* O Escapulário pode ser imposto mesmo em


crianças que não chegaram ao uso da razão,
pois servir-lhes-á de “defesa e salvação nos
perigos”. Além disso, quando adultos, se
tiverem tido a infelicidade de o abandonarem
e levar vida irreligiosa, tendo já recebido a
imposição anterior, bastará que qualquer um
lhes coloque o Escapulário ao pescoço para
que gozem de seus privilégios.

* Ele pode também ser imposto mesmo em


pecadores moribundos que o aceitem, pois ser-
lhes-á penhor de salvação (Vide “Exemplo”).
38 EE, p. 324

57
Por isso os sacerdotes chamados a atender
doentes graves nesse estado costumavam,
antes de mais nada, propor-lhes tão-somente
que aceitassem a imposição do Escapulário; o
resto vinha por acréscimo.

São mesmo inúmeros os casos em que


pecadores empedernidos pediram a presença
do sacerdote depois que alguém de sua família,
sem que o soubessem, pusera um escapulário
sob seus travesseiros.

* Uma prática piedosa, e que geralmente era


prescrita pelos sacerdotes em comutação da
reza do Ofício Parvo e jejuns prescritos, é a da
recitação dos Sete Padre-Nossos, Ave e Glória
em louvor das Sete Alegrias de Nossa Senhora,
outrora muito comum na Europa.

* Pelo significado que tem de uma aliança com


Nossa Senhora, recomenda-se que se oscule o
Escapulário freqüentemente. Com isso, que só
pode ser agradável à Mãe de Deus, se ganham
também indulgências.

* Quando se substitui um Escapulário, o

58
modo mais correto de eliminar o antigo é, por
respeito, queimá-lo, e nunca jogá-lo ao lixo
como traste velho.

* Uma pessoa que tenha recebido a imposição


do Escapulário, mesmo que tenha passado
muito tempo sem usá-lo, pode por si mesma
recolocá-lo ao pescoço, sem necessidade de
bênção ou imposição por sacerdote.

* Para atender a um apelo do Geral dos


Carmelitas Descalços, São Pio X concedeu
aos soldados de todo o mundo a faculdade de
impor-se (em tempo de guerra) a si próprios o
Escapulário do Carmo.

Para isso é necessário que o soldado tenha um


Escapulário propriamente bento, e que o ponha
no pescoço ou, no caso de impossibilidade, ao
menos no ombro, de maneira que uma parte
penda no peito e outra nas costas.

E que, no momento da imposição ou logo


depois, reze algumas preces à Santíssima
Virgem, como a Ave-Maria ou o Lembrai-Vos.
Deste modo ele será membro da Confraria e

59
terá direito a todos os seus privilégios39.
* O Papa Pio XI, por decreto de 8 de maio
de 1925, aprovou o que conhecemos por
escapulário protegido, isto é, os dois pedaços
de lã protegidos por plástico ou material
qualquer.

Exemplo

O Sr. Francisco Xavier Zaldúa foi presidente da


Colômbia e eminente jurisconsulto em meados
do século 19. Mas distinguira-se por seus
sentimentos anti-católicos, tendo auxiliado a
expulsar os Jesuítas de seu país.

Ora, tinha ele um filho que, terminados os


estudos no colégio americano de Roma,
ordenou-se sacerdote. Sendo muito devoto de
Nossa Senhora, a Ela rezava incessantemente
pela conversão do pai.

Este foi, enfim, atingido por sua última doença.


O filho aproximou-se dele e perguntou:

- Querido pai, esgotaram-se todos os remédios


39 Ami du Clergé, na. 30, p. 683, in Santiago Costamagna, bispo de Colônia, “Tesoro
Moral Litúrgico” 6, Mexico, Escuela Tipo-Litrografica Salesiana, 1908, 4ª edição, p. 287.

60
físicos para curá-lo. O Sr. me permite
experimentar um espiritual?

- Qual é? - perguntou Zaldúa.

- Impor-vos o Escapulário do Carmo.


Para surpresa e alegria do filho, o ex-presidente
esticou o pescoço para receber o Escapulário,
perguntando:

- Que obrigações contrairei?

- A de confessar-vos.

- Pensarei nisso - respondeu o enfermo.


Enquanto o filho lhe dava tempo para refletir,
disse-lhe o moribundo:

- Desejo confessar-me. Chame um sacerdote.


Este, que já estava prevenido, confessou
Zaldúa, o qual, não contente de declarar seus
pecados, acrescentou em alta voz que morria
na fé da Santa Igreja Católica40.

40 Narrado em “La Semana Católica”, Madrid, 22 de setembro de 1889. Apud EE, pp.
510-511.

61
Capítulo VII

Os Santos e o Escapulário

Eis aqui alguns exemplos do apreço de Santos


ao Escapulário do Carmo41.

* São Simão Stock , que teve a dita de receber


o Escapulário das mãos da Rainha do Céu, no
mesmo dia o tocou no corpo de um moribundo
impenitente, obtendo o primeiro milagre do
Escapulário com a imediata conversão do
doente.

* São João da Cruz, ao perguntar muitas vezes
ao frade que o assistia em sua última doença
que dia da semana era, explicou:

“Pergunto porque me veio agora à memória


quão grande benefício é o que faz Nossa
Senhora aos religiosos de sua Ordem que
portaram seu hábito e fizeram o que esse
privilégio pede”. Realmente faleceu na alvorada
de um sábado, 14 de dezembro de 1591.
* Santa Teresa de Jesus com freqüência se
41 Quando não mencionada a fonte, o exemplo foi tirado da já mencionada
“Enciclopedia del Escapulario del Carmen”.

62
gloriava de portar o escapulário “como indigna
Carmelita”.

E zelava para que suas religiosas não


deixassem de dormir com ele posto. Dirigindo-
se a elas, escrevia: “Só posso confiar na
misericórdia do Senhor... e nos merecimentos
de Seu Filho e da Virgem Santíssima, Sua Mãe,
cujo hábito indignamente trago e vós trazeis”42.

* Santo Afonso Maria de Ligório não só


usava o Escapulário, mas o recomendava
insistentemente aos fiéis. O Escapulário com
o qual foi enterrado permaneceu incorrupto no
sepulcro, e é hoje venerado num relicário em
Marianella, sua cidade natal.

* São Pedro Claver serviu-se incessantemente


do Escapulário do Carmo em seu apostolado
com os negros na Colômbia. Conserva-se uma
pintura representando-o no leito de morte, com
um crucifixo em uma das mãos e o Escapulário
sobre o peito; em volta à sua cama, muitos
negros com o Escapulário ao pescoço, beijando
os pés e as mãos do missionário43.
42 Moradas III, cap. I, 3. Apud Haffert, p. 155.

43 Haffert, p. 135.
63
* São João Bosco recebeu-o na infância e
o difundiu durante toda a vida. Enterrado
em 1888 com o Escapulário, em 1929 foi
encontrado o mesmo em perfeito estado
de conservação sob as vestes apodrecidas
e os restos mortais mumificados desse
grande apóstolo e incomparável educador da
juventude44.

* São Boaventura dizia: “Desafoguem o peito


diante da Virgem do Carmo os pecadores
mais empedernidos; revistam-se com seu
santo Escapulário e Ela os conduzirá ao
porto da conversão. Honrem-na com o uso do
Escapulário e demais obrigações ou obséquios
da Confraria, e Ela lhes alcançará de seu divino
Filho a salvação e a paz”.

* São Cláudio de la Colombière, confessor de


Santa Margarida Maria Alacoque, a confidente
do Sagrado Coração de Jesus, afirma: “Creio
que às vantagens que se atribuem aos devotos
de Maria se podem acrescentar outras mais
notáveis em favor dos confrades do Carmo”,

44 Il Monte Carmelo, XXI, fasc. VII, p. 147. Apud Haffert, p. 154.

64
que são todos os que usam o escapulário.

“Não; não basta dizer que o Escapulário é


um sinal de salvação. Eu pretendo que não
há outro que faça nossa predestinação tão
certa como esta do Escapulário e sob a qual
conseqüentemente nos devemos acolher com
mais zelo e constância”.

E acrescenta: “É tão unânime a crença dos fiéis


em que a devoção à Mãe de Deus é um sinal
de predestinação, que, independentemente das
razões em que esta opinião se baseia, penso
que uma concorrência tão geral devia levá-la
a ser tida como uma verdade da nossa santa
Religião...

E como nem todas as formas do nosso amor


para com a Santíssima Virgem nem todos
os modos de o expressar Lhe podem ser
igualmente agradáveis, não influindo, portanto,
de igual modo na nossa entrada no Céu, posso
asseverar, sem um momento de hesitação, que
o Escapulário é de todos o mais favorecido”45.

45 Sermon pour la fête du Scapullaire, Oeuvres, Lyon, 1702, t. III. Apud Haffert, p. 84.

65
* O Venerável Francisco de Yepes, irmão de
São João da Cruz, exercia habitualmente o seu
apostolado de leigo, induzindo muitas almas a
usarem o Escapulário.

Não só se servia desse Sinal de Maria como


de meio para se unir mais com a sua Mãe, mas
também o utilizava com o fim de dar-Lhe almas
para Ela salvar.

Conta-nos o Pe. Velasco, o seu biógrafo,


que “uma noite, enquanto Yepes rezava
pela conversão dos pecadores, os espíritos
infernais assaltaram-no com as suas mais
terríveis tentações. Ao verem que os seus
esforços eram inúteis, gritaram-lhe finalmente,
enraivecidos:

‘Que te fizemos nós para que nos atormentes


tão cruelmente? Por que persuades tão
grande número de pessoas a usar e venerar
o Escapulário do Carmo? Espera até caíres
nas nossas mãos! Pagá-lo-ás caro!”. Mas o
venerável terceiro [carmelita] não se deixou
intimidar, e terminou sossegadamente a sua
oração” 46.
46 Cfr. Savaria, p. 179. Apud Haffert. p. 134.
66
Capítulo VIII

Outros exemplos da proteção do


Escapulário

“Segundo nota São Basílio de Selêucia, se


Deus concedeu a alguns homens, que eram
apenas servos, tal poder que a sombra que
projetavam curava os doentes colocados nas
ruas expressamente com esse fim, quanto
maior poder não terá Ele concedido Àquela que
foi não só Sua escrava, mas Sua Mãe?”47.

“De que nobre personagem julgamos nós ser


libré esse Escapulário que trazemos? – É a
libré de Maria, a Rainha do Universo, Soberana
mais do que do mundo.

Que honra pertencer à Confraria do


Escapulário! É uma honra tão insigne, que
devíamos ser capazes de usar abertamente
sobre o nosso peito, e não só sob as nossas
vestes, essa insígnia celestial.

O Escapulário é honrado ainda na outra


47 Santo Afonso Maria de Ligório, Glorie, t. I. cap. III, par. 2. Apud Haffert, p.155.

67
vida, onde nada são os bens e a glória deste
mundo”48.

“Nenhuma devoção tem sido confirmada


por tantos milagres autênticos como a
do Escapulário” - diz São Cláudio de la
Colombière49.

“É natural que uma relíquia dada pela Rainha


do Céu tenha sido instrumento de maior
número de milagres do que os que se atribuem
a qualquer outra relíquia existente no mundo.

É de tal modo incomparável essa relíquia, que


todos e cada um dos filhos de Maria a podem
possuir, estando, como está, consagrada por
sete séculos de contínuas maravilhas operadas
no mundo inteiro.

Por meio do Escapulário Nossa Senhora tem


feito milagres semelhantes aos que fez Nosso
Senhor durante a Sua vida pública. E além de
prodígios tais como a ressurreição de mortos,
volta dos sentidos perdidos, libertação de
48 R.P. Meschler, S.J., “L’Année Ecclésiastique”, II, p. 180. Apud Haffert, p. 155.

49 Il Monte Carmelo, XXI, fasc. VII, p. 147. Apud Haffert, p. 154.

68
possessão diabólica, etc., há outros inerentes
ao próprio Escapulário, como seja o de ficar
intacto após ter sido lançado em violento
incêndio, ou de permanecer incorrupto no meio
da decomposição dos túmulos”50.

“Que exército de prodígios se apresenta ante


o meu olhar! Não de favores provados por uma
ou duas pessoas, de cuja palavra se poderia
duvidar, mas por muitas testemunhas – por
nações inteiras, das quais não pode haver
suspeitas de se terem combinado para enganar
o mundo!...

Mas, se dos prodígios obrados por virtude


do santo Escapulário em favor de cidades,
províncias e reinos inteiros, passarmos às
maravilhas operadas em favor dos indivíduos,
seria necessário recorrer a todas aquelas
línguas que, para celebrar as virtudes de Maria,
São Jerônimo desejava possuir.

Na realidade, a terra não passa de um vasto


palco, sobre o qual o Céu parece comprazer-se
em manifestar o poder deste Hábito da Mãe de
50 Haffert, p. 147.

69
Deus.

Conflagrações extintas! Naufrágios evitados!


Balas frustradas! Coxos e paralíticos curados!
Mortos ressuscitados!”51.

* * *

Já vimos nesta obra milagres obtidos através


do santo Escapulário. Para nos confirmar em
nossa fé e esperança nesse extraordinário meio
de salvação, vejamos aqui outros exemplos.

1 - Convertidos pelo Escapulário

* No ano de 1967, um capelão do Hospital


Bellevue, de Nova York, foi chamado uma
manhã para atender um doente.

Uma enfermeira conduziu-o para junto de


sua cama, e o capelão perguntou-lhe se
queria confessar-se. “Eu não sou católico!” -
respondeu ele.

O sacerdote disse então à enfermeira que havia


51 M. D’Arville, in The Year of Mary, sub festo; Apud Haffert, pp. 147 ss.

70
um engano.

– Mas, padre - respondeu ela - ele tem o


Escapulário.
– Se não é católico - perguntou o capelão ao
moribundo - por que tem o Escapulário?

– Porque umas religiosas católicas, que pediam


esmola perto de nossa fábrica, me pediram que
o usasse - respondeu ele.

– Gostaria, então, de ser católico? - perguntou


o sacerdote.

Resposta inesperada: – Padre, de nada tenho


maior desejo!

E morreu recém-batizado, alguns dias depois.


*Em Goiânia, agonizava um homem sem
querer se confessar. Vivia separado da esposa,
a quem nutria um ódio mortal. O Revdo. Pe.
Fernando Passos procurou por todos os meios
reconciliá-lo com Deus, mas o enfermo sempre
se recusava.

Por fim, como última tentativa, o sacerdote

71
perguntou-lhe se ao menos aceitava o
Escapulário. O doente aceitou, mas com a firme
resolução de não se confessar. Horas depois
mandou chamar o Pe. Fernando, dizendo-lhe:

- Padre, quero confessar-me e fazer o que for


necessário para me salvar.

Perdoou à mulher e recebeu os Sacramentos,


falecendo pouco depois piedosamente52.

2 - Debelador de incêndios

Inúmeros são os casos de incêndios debelados


pela ação do Escapulário. Eis alguns:

* Numa Missão pregada em Santo Aulaye,


França, às 10 horas de uma das noites da
Missão, descobriu-se que estava uma casa
a arder. Cada momento que passava era
novo combustível para a fúria das chamas.
Um missionário, lembrando-se de que havia
ouvido contar o caso de um incêndio que fora
dominado ao ser-lhe atirado um Escapulário,
resolveu invocar o auxílio de Nossa Senhora do
52 O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, Mestre Cop. Gráfica, São Paulo, 1978, p.
16.

72
Monte Carmelo.
Chamou às pressas um rapaz cuja fé e piedade
não podiam deixar de ser agradáveis à Rainha
do Céu, e disse-lhe:

- Lance este Escapulário ao fogo, e veremos


como se extinguirá, pelo poder de Nossa
Senhora.

Não duvidando das palavras do missionário,


o jovem precipitou-se imediatamente, e,
irrompendo por meio da multidão que se
afastava para lhe abrir caminho, gritou com
entusiasmo:

- Rezem à Santíssima Virgem! Vou apagar o


incêndio!

- Correndo para junto da enorme conflagração,


lançou-lhe o seu pequenino escapulário. No
mesmo instante, toda a multidão viu o fogo
erguer-se como um redemoinho de vento num
imenso braseiro, e depois, lentamente, baixar
até por fim se extinguir.

No dia seguinte, encontrou-se entre os

73
escombros o Escapulário perfeitamente intacto,
embora conservasse o cheiro acre do fumo53.
* Na madrugada de 9 de junho de 1948 um
terrível incêndio atingiu um dos pavilhões
do Hospital São Pedro, em Porto Alegre.
Destruindo-o, apesar dos esforços dos
bombeiros, ameaçava atingir os outros
pavilhões.

A Irmã Filipina, que estava no pavilhão de


Tisiologia – um dos mais ameaçados – tirou
o Escapulário e arremessou-o contra o
fogo, dizendo: “Nossa Senhora, apagai este
incêndio”. Imediatamente o fogo foi cessando,
deixando intacto o referido pavilhão54.

3. O Escapulário e os suicidas

Como Nossa Senhora prometeu que aqueles


que piamente morressem com o Escapulário
não padeceriam do fogo do inferno, vejamos
alguns casos de tentativa de suicídio e como
terminaram.

53 Carm. Rev. II, 190. Apud Haffert, pp 150-151.

54 O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, pp. 14-15.

74
* Um dia o Pe. Milleriot, zeloso missionário
francês, encontrou uma mulher terrivelmente
amargurada pelos reveses da vida. Nada
conseguia dar-lhe alento. O missionário obteve
dela pelo menos que recebesse o Escapulário.

Passados uns dias, chegou ao missionário


a notícia de que a infeliz tentara suicidar-se.
Acorreu ele pressuroso junto a ela, obtendo
a formal promessa de jamais tirar o santo
Escapulário. Feito isto, disse-lhe ele satisfeito:

– Agora te apanhei. Podes tentar matar-te. Não


o conseguirás.

Realmente a renitente jogou-se duas vezes ao


rio Sena e, embora não soubesse nadar, não
afundou, sendo resgatada. Afinal, converteu-se,
reformou sua vida (pois era seu desregramento
que a levava ao desespero), vindo a morrer
depois cristãmente55.

* Este impressionante fato ocorreu perto de


Granada, na Espanha, e mostra bem a clara
proteção da Virgem do Carmo aos que usam o
55 Sal Terrae, junho de 1913. Apud EE, p. 227.

75
Escapulário.

Num internato daquela cidade, estudava


um rapaz muito querido por seu bom
comportamento e sucesso nos estudos.

Um dia pediu licença para ir até sua cidade,


não longe de Granada. Mas, à hora combinada,
não voltou, nem no dia seguinte.

Os professores mandaram alguém até a casa


de seus parentes, para saber o que teria
ocorrido, mas ficaram surpresos em saber que
ele lá não tinha aparecido.

Apreensivos, deram uma busca em seu quarto


e só notaram a ausência da navalha com
que costumava fazer a barba. Uma terrível
suspeita levantou-se, e imediatamente os
mestres comunicaram o fato às autoridades
e começaram toda sorte de pesquisa para
encontrar ao menos o cadáver do rapaz.

Passados três dias de angústia, dois homens


faziam o percurso de Granada à cidade em que
morava o rapaz, quando sentiram um impulso

76
interior para aproximar-se de um poço artesiano
abandonado, que ficava um pouco afastado
do caminho. Depois de ter sido perfurado 80
metros, fora abandonado. A 30 metros havia
uma saliência para servir de descanso a quem
descesse. Conservava ainda um cabo, pelo
qual se podia descer até quase o fundo.

Como não se podia ver nada em seu interior,


por causa da escuridão, um dos homens jogou
dentro uma pedra. No mesmo instante ouviu
um gemido humano. Atônito, para certificar-se
do fato, atirou outra. Aí ouviu claramente uma
voz que dizia:

– Não atire mais, pois vai matar-me.


Impressionados, os dois correram à
cidadezinha para dizer o que haviam
descoberto. A notícia correu como rastilho
de pólvora, pois toda a população estava
ansiosa por ter notícias do desaparecido rapaz.
Assim, acorreu ao local o povoado todo, com
autoridades e o vigário à frente.

Um indivíduo, atado a uma corda, deslizou


para o interior do poço. Ao chegar à saliência

77
aos 30 metros de profundidade, viu um corpo
ferido que fazia esforços para não cair nas
profundezas. Pediu que descessem um cesto, e
nele colocou cuidadosamente o corpo.
Na superfície, todos viram tratar-se do
estudante desaparecido.

Apresentava tão profundo talho no lado


esquerdo do peito e do pescoço, que a cabeça
mal podia manter-se unida ao corpo. Tinha
completamente secionadas a faringe e a
laringe! Para que pudesse falar, foi necessário
pôr-lhe a cabeça de maneira que encaixasse
nas partes secionadas. Ninguém compreendia
como é que podia manter-se com vida.

Ao ver o sacerdote, o infeliz abraçou-lhe


as pernas e pediu-lhe que o atendesse
imediatamente em confissão, declarando
publicamente que, num ato de loucura, tinha
deslizado pelo cabo do poço, onde quis
suicidar-se.

Mas quando já se ferira de morte, veio-lhe


o pensamento do inferno, e pediu perdão e
misericórdia a Nossa Senhora; e passou três

78
dias e três noites naquela angústia.
Reconciliado com Deus, pouco depois falecia.

Os médicos da faculdade de Medicina não


puderam explicar como pôde viver aquele rapaz
durante três dias, materialmente degolado,
numa profundidade em que o frio de janeiro
é terrível, pois está próximo à Serra Nevada.
Quando quiseram suturar-lhe o pescoço, sua
carne estava tão endurecida pelo frio, que se
quebravam as agulhas.

O que a ciência não pôde explicar, pôde-o a


fé, pois o jovem suicida trazia consigo o santo
Escapulário do Carmo56.

* Este outro caso tremendo se passou num


pequeno povoado da província de Castellón,
diocese de Tortosa, na Espanha.

Uma velha camponesa vinha sendo vítima de


uma obsessão horripilante: decidira enforcar-
se. Sem dizer o porquê desse diabólico
propósito, ela não o ocultava nem à filha com
quem morava nem às vizinhas.
56 La Virgen Maria del Carmen, año VIII, n. 97.

79
Estas procuravam intimidá-la, falando do fogo
do inferno, que aquilo era tentação do demônio,
etc. A anciã respondia com toda a cordura
que queria enforcar-se, mas que o impedia o
Escapulário que trazia ao peito. E o mostrava
às pessoas. Recomendavam-lhe então que o
beijasse, e rezasse uma Salve Rainha à Virgem
do Carmo para passar a obsessão. A velha
parecia fazê-lo.

Entretanto a filha vivia em estado de


sobressalto, vigiando sempre para que a mãe
não desse o mau passo. Levantava-se durante
a noite, e vendo que aquela havia tirado o
Escapulário, imediatamente o recolocava na
adormecida.

Infelizmente, por fim a mãe burlou a vigilância


da filha, e despojou-se do único obstáculo que
a impedia de suicidar-se.

Quando amanheceu e a filha não a viu na


cama, sobressaltou-se: o Escapulário jazia
sobre o travesseiro... Correu à procura da
mãe, encontrando-a num aposento contíguo,
suspensa a uma corda...57
57 (Fato narrado ao autor da Enciclopédia pelo sacerdote do povoado, testemunha ocular
80
4. Proteção nas batalhas

Para o soldado católico, a melhor proteção


nas batalhas é o Santo Escapulário do Carmo.
Veremos por quê.

* Ao ir o muito devoto duque de Alba pôr-se


à frente do exército que saiu de Castela para
conquistar o reino português (1581), pensou em
proteger suas forças com o santo Escapulário.
Por meio do Pe. Gracián e da duquesa de Alba,
pediram os Escapulários necessários a Santa
Teresa.

Esta os encomendou às suas filhas de Ávila,


Sevilha e Toledo. O Pe. Gracián encarregara-se
de pagá-los, mas a santa respondeu-lhe:

– Acho graça como se faz rico! Faça Deus a


V.R. grande em riquezas eternas.

Anos depois o pendão de Castela entrava


vitorioso em Portugal.

* Quando, em 1620, ia dar-se a batalha


do fato). EE, pp. 580-81.

81
decisiva entre as forças católicas e protestantes
nos campos de Praga, o Pe. Ruzola impôs o
santo Escapulário do Carmo aos combatentes
católicos. O sucesso não podia ser mais
glorioso. A jornada terminou com a tomada de
Praga58.

* Numa trincheira dos Aliados durante a Grande


Guerra, havia uma brecha por onde o inimigo
podia fazer fogo. As tropas das forças centrais
tinham colocado de tal modo uma peça de
artilharia, que as balas davam mesmo dentro
da brecha; com tiros seguidos, mantinham a
trincheira continuamente dividida por um muro
de morte.

Tendo ouvido dizer que do outro lado da


trincheira estava a morrer um soldado ferido, o
célebre capelão militar, Pe. Guilherme Doyle,
levando o Santíssimo Sacramento, foi abrindo
caminho através da vala, até chegar ao sítio
fatal. As balas lambiam a parede fronteira.
Parou.

Atravessou-lhe a mente o pensamento


58 Bloc-Cal. V. del Carmen, 1927.

82
inquietador de que, um pouco mais adiante,
estava a morrer um homem, possivelmente
necessitado de absolvição.

Para conquistar aquela alma, sem hesitar


mais um momento, o Pe. Doyle avançou
precipitadamente por entre o que parecia
conduzir à morte certa, administrando os
Santos Sacramentos ao moribundo. O soldado
agonizante portava o Escapulário do Carmo...59.

* Na guerra do Transvaal (África do Sul), “eu


estava ocupado no santo trabalho de ajudar a
bem morrer os soldados moribundos que caíam
em uma das batalhas daquela guerra, quando
recebi aviso de que me chamava com muita
pressa um capitão de dragões mortalmente
ferido na refrega.

Cheguei voando à cabeceira do moribundo,


a quem, graças a Deus, pude confessar e
administrar também a Extrema Unção.

– Capitão – lhe disse eu – o Sr. quer que eu lhe


imponha o santo Escapulário?
59 Haffert., pp. 129/130.

83
– Louvado seja Deus, meu padre. Dá-me logo o
Escapulário que hoje é o primeiro dia de minha
vida em que me encontro sem ele. Como o
inimigo nos surpreendeu tão de repente, com
a pressa e alarme com que tivemos que nos
vestir, perdi o meu Escapulário; e precisamente
por não o ter posto, fui ferido.

Pouco depois o capitão de dragões entregava


sua alma a Deus com esperanças certas da
salvação, por morrer revestido com o santo
Escapulário”60.

* No terceiro dia da batalha de Lenef, na


Europa, um oficial recebeu ordem de recorrer o
campo e visitar os feridos, ordenando que, com
as devidas precauções, fossem trasladados
ao hospital. De repente ele observou que em
meio a um monte de soldados mortos havia um
gravemente ferido, que pedia com instâncias
um sacerdote.

Acercando-se, viu que entre outras feridas


graves tinha ele levado um balaço na cabeça,
60 (fato narrado por um capelão militar do Exército inglês e referido em Hojas sueltas,
Madri, n. 189, de 19 de agosto de 1909.

84
de tal modo que se podiam ver seus miolos.
O oficial disse aos que o seguiam que não
adiantava perder tempo com aquele, mas que
socorressem outros com chance de vida.

Ouvindo isso, o ferido suplicou


encarecidamente que não o abandonassem,
mas o pusessem no primeiro carro e o
deixassem confessar-se. Depois disso
poderiam abandoná-lo em qualquer lugar.

O oficial atendeu a tão premente apelo, e em


pouco tempo encontraram um capelão militar a
quem encaminharam o moribundo. Este, depois
de haver-se confessado e recebido a extrema-
unção, ergueu os olhos ao Céu e expirou,
murmurando o dulcíssimo nome de Maria.

Humanamente falando, o soldado não poderia


ter resistido a tão grave ferida na cabeça,
e todos foram conformes em que o ter ele
sobrevivido até poder confessar-se foi um
especial privilégio de Maria, cujo Escapulário
ele trazia ao peito61.
61 “El Santo Escapulário”, J. Marín del Campo, Apostolado de la Prensa, n. 127.
Apud EE, pp. 489-90.

85
5. Com o Purgatório abreviado

A Santíssima Virgem prometeu levar para o


Céu, no primeiro sábado depois da morte,
aqueles que piedosamente portassem seu
Escapulário. Selecionamos um caso dentre
outros que provam a veracidade das palavras
da Mãe de Deus.

* Uma mulher de Lorca, na Espanha, pouco


depois de morta apareceu a uma sua irmã, e
lhe disse: “Saiba, minha irmã, que, ao chegar
ao divino Tribunal, encontrei-me com longa
conta de responsabilidades, pelas quais deveria
estar muitos anos no Purgatório.

Mas hoje, sábado, pelas prerrogativas do santo


Escapulário, dele saí e vou gozar da glória.

Não é vã a promessa da Virgem, mas muito


verdadeira. Por isso te aconselho que portes
o Escapulário do Carmo com grande devoção,
sem descuidar a pureza nem a abstinência às
quartas e sábados..., porque é muito o que se
padece no Purgatório”62.
62 Bloc-Cal. V. del Carmen, 1927. Apud EE, p. 255.

86
6. O Escapulário salva das águas

Os exemplos da proteção do Escapulário contra


a fúria da água são inúmeros, e cada qual mais
eloqüente.

* O jornal “El Siglo Futuro”, de Madri, publicou a


seguinte notícia:

“Pontevedra, 23 de maio de 1928. – No vapor


pesqueiro Amancia, de propriedade de Luciano
Soto, estourou a caldeira quando se achava
entregue à faina da pesca na foz do rio de
Marín, próximo à ilha de Sávora.

“O vapor fundiu-se rapidamente, e os


tripulantes, feridos e maltratados, mantiveram
durante duas horas uma rudíssima luta com o
mar, logrando alguns salvar-se.

“Os feridos são doze, e os mortos três.


“Entre os mortos está o capitão do barco que
foi destroçado ao arrebentar a caldeira, e o
maquinista.

“Os sobreviventes foram salvos pelo vapor

87
pesqueiro Rio Ebro, que os conduziu a Marín,
sendo auxiliados e atendidos nas salas de
socorro do Polígono Naval.

“Um dos feridos refere que não sabe nadar,


e que se salvou lutando três quartos de hora
contra as ondas, graças às invocações à
Virgem do Carmo, cujo Escapulário leva ao
pescoço.”

* A família Cantavella Pitarch, de Villarreal, na


Espanha, fora passar um dia em sua casa de
campo, às margens do rio Acequia Mayor. Em
determinado momento a senhora da família
mandou a babá fazer algo no campo, sendo ela
seguida pelo pequeno Miguel, de apenas três
anos de idade.

Não ouvindo mais a voz da criada nem do


menino, tomada por um pressentimento, a
senhora saiu carregando ao colo sua filha de
peito. Qual não foi seu espanto ao ver seu
filhinho flutuando como uma bóia nas águas do
rio, retido como por mão invisível!

A criada havia se afastado, deixando o menino

88
perto do rio, onde caíra.

Arrojando-se à água, a mãe conseguiu dela


resgatar o filhinho. Perguntou-lhe então o
que lhe havia acontecido, e por que ele não
afundava. Em sua linguagem infantil, ele
respondeu: – A Mãe de Deus me segurava
assim, e juntava os cotovelos ao corpo,
esticando os bracinhos como segurando algo.

A feliz mãe lembrou-se então de que apenas


dois dias antes havia feito impor o Escapulário
a Miguel, e que este o portava no momento do
acidente...63.

* D. Manuel Castaños y Montijano, escritor


católico, correspondente da Real Academia
de História e Coronel do Exército Espanhol,
escreve em uma carta de 17 de maio de 1917:

“Recordo um fato também rigorosamente


histórico, ocorrido na ilha de Porto Rico, vila de
Humacao, de cujo departamento era meu pai
comandante militar.
63 EE, pp. 274-275. Relato feito ao autor por um religioso que fizera inquéritos sobre o
fato.

89
Existia na dita vila um abastado comerciante
francês chamado Sandeau (amigo íntimo de
meu pai), com sua família composta de esposa
e cinco filhas moças.

Em certo e lúgubre dia, combinaram estas ir


tomar banho de mar, convidando uma amiga,
jovem muito piedosa.

Estando todas dentro da água, observaram


as Sandeau que a amiga não havia tirado
o Escapulário da Virgem do Carmo, e dela
zombaram, dizendo:

– Nós todas vamos morrer, menos você!


De repente ocorreu algo muito freqüente
naquelas baixas latitudes: uma tromba marinha
em meio a um dia sereno e de céu límpido.

Aquele terrível fenômeno produziu uma ressaca


tão de improviso, que as seis jovens foram
arrastadas mar adentro. Um valente pescador
que presenciou o ocorrido, com heroísmo
atirou-se nas ondas e, dirigindo-se ao grupo,
só conseguiu pegar, com sua mão esquerda,
um cordão preso a um corpo, que não se

90
arrebentou sob o peso deste.

Nadando bravamente contra a ressaca,


trouxe-o para a praia. Tratava-se do cordão do
Escapulário que levava a sexta jovem, e que
havia sido objeto de mofa da parte de suas
amigas que foram pasto dos tubarões.

Os desolados pais, que perderam em um


momento suas cinco filhas, de descrentes que
eram, tornaram-se devotíssimos da Virgem do
Carmo, adotaram e fizeram sua filha adotiva e
herdeira a única sobrevivente”64.

64 Publicado sob o pseudônimo de Chafarote en “El Siglo Futuro”, Madri, 16 de julio de


1919. Apud EE, pp. 352-353.

91
APÊNDICE
São José, especial protetor dos Carmelitas

Afirma São Tomás de Aquino que “há três


coisas que Deus não poderia ter feito mais
sublimes do que fez: a Humanidade de Nosso
Senhor, a glória dos eleitos e a incomparável
Mãe de Deus, da qual se diz que Deus não
pode fazer nenhuma mãe maior.

Podeis acrescentar uma quarta coisa, em


louvor de São José. Deus não pôde fazer
um pai mais sublime do que o Pai adotivo do
Homem-Deus”65.

Ao que acrescenta o melífluo São Bernardo:


“Já que tudo o que pertence à esposa pertence
também ao esposo, podemos pensar que José
pode distribuir, como lhe aprouver, os ricos
tesouros de graça que Deus confiou a Maria,
sua casta Esposa”66.

65 Cfr. Pe. Huguet, “The Power of Saint Joseph”, Meditação 10. in Haffert, pp. 201-
202.

66 Id., Ib. Meditação 20. Apud Haffert, p. 201.

92
“Além disso, no decorrer daqueles anos
passados em Nazaré, Jesus cumulou o coração
de São José com uma tal ternura de amor
como jamais a sentiu ou sentirá qualquer pai
criado, ‘não só – como diz o Padre Huguet –
para que José O pudesse amar como Filho,
mas para que pudesse amar todos os homens
como seus filhos, pois, do mesmo modo que
todos somos filhos de Maria, assim o somos
também de José. (...)

E, depois da devoção para com Nossa


Senhora, nada há mais agradável a Deus nem
mais proveitoso para as nossas almas do que
a devoção para com o santo Patriarca São
José’”67.

“Tendo sido dado a Santa Maria Madalena de


Pazzi - uma das mais gloriosas Santas, filha de
Nossa Senhora do Escapulário - contemplar,
num êxtase, a glória de São José, exclamou
‘José, unido como está a Jesus e a Maria, é
como uma estrela resplandecente a proteger as
almas que, sob o estandarte de Maria, travam a

67 Id. Ib., Med. 21, Haffert. p. 188.

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batalha da vida’” 68.

“Assim como os Carmelitas gozam da tradição


de terem erigido a primeira igreja que, no
mundo, foi dedicada à Santíssima Virgem,
assim também é a eles que se deve a primeira
igreja que, na Europa, se erigiu em honra de
São José. ‘Quando emigraram para o Ocidente,
os Carmelitas trouxeram do Oriente o culto
público de São José’.

Foi a conclusão a que chegou esse grande


sábio, o Papa Bento XIV, e essa é a opinião
comumente sustentada por todos os eruditos”69.

“Como diz o Pe. Faber, ‘o grande Patriarca


deve a sua glória na terra especialmente a
Santa Teresa’ [e, por ela, aos Carmelitas].

Sendo filhos prediletos de Maria, aqueles


que usam o Escapulário são também,
indubitavelmente, filhos prediletos de Seu
Esposo, São José”70.
68 Id. ib., Med. 25. in Haffert, p. 200.

69 De Serv. Dei Beatif., Liberalismo. II, p. IV, XX, n. 18. Apud Haffert, pp. 186-187.

70 affert, Op. Cit., pp. 186-187.

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“Esse Sinal de Salvação, pedra de tropeço para
os vastos exércitos infernais, parece confirmar,
apregoando, aquilo que dizia o tão santo Pio IX,
num misto de admiração e temor:

“Se José e Maria retomarem o lugar que nunca


deviam ter perdido, o mundo salvar-se-á
novamente!”71.

“Foi naquilo a que se deu o nome de Reforma,


iniciada por Lutero, que se originaram, com
o afastamento da Igreja, os nossos males
presentes. Nessa altura, Nosso Senhor
apareceu à grande Santa Teresa e lhe disse:

‘Minha filha, o ardil do demônio é afastar dos


desertores tudo o que possa despertar neles
o amor de Deus, e assim, mais do que nunca,
aqueles que Me são fiéis devem seguir o
caminho diametralmente oposto’.

Santa Teresa diz: ‘Compreendi imediatamente


quanto estava obrigada a honrar a Santíssima

71 Cfr. Huguet,”La Dévotion à Maria en exemples”, t. II, Med., 30, p. 130. Apud
Haffert, p. 201.

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Virgem e São José!’”72.

“Quando Santa Teresa fundou o primeiro


mosteiro da Reforma do Carmelo, disse-lhe
Nosso Senhor:

‘Desejo que seja dedicado a São José e leve


o seu nome. Este Santo vos guardará a uma
das portas, a Santíssima Virgem à outra, e Eu
andarei entre Vós’”73

De outra vez, encontrava-se Santa Teresa


numa singela igreja dos Padres Dominicanos,
quando sentiu que alguém lhe colocava sobre
os ombros um formosíssimo manto.

Por alguns momentos, não viu quem lho punha,


mas pouco depois reconheceu a Santíssima
Virgem e Seu bendito Esposo, São José. A
Santa experimentou em seu coração uma
grande alegria. Maria falou, e enquanto Santa
Teresa escutava essa voz celestial, teve a
impressão de apertar na sua mão a de Nossa
72 Cartas, Ed. do Pe. Gregório, III, rel. IX, p. 402. Apud Haffert, p. 200.

73 Livro da Vida, cap. XXXII, Bonix I., p. 454. Apud Haffert, pp. 188-189.

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Senhora. ‘Estou tão satisfeita de que tenhas
consagrado a São José [ seu primeiro convento
da reforma carmelitana], disse a Virgem
Santíssima a essa filha do Carmelo, que podes
pedir o que quiseres para o teu convento, com
a certeza absoluta de que o receberás’ .

Os dois Santos Esposos colocaram então nas


mãos de Teresa uma pedra preciosa de grande
valor, e deixaram a Santa inundada da mais
pura alegria e do mais ardente desejo de ser
inteiramente consumida pela força do amor
divino”74.

Exemplo

“Um dia, ao saírem do seu mosteiro, dois


religiosos carmelitas encontraram um venerável
ancião que avançava em direção a eles. Pôs-se
entre os dois e perguntou-lhes de onde vinham.
O mais velho respondeu que eram Carmelitas.

- Padre – perguntou então o desconhecido –


por que é que vós, os Carmelitas, tendes tanta
devoção a São José?
74 “Opinião pública”, cap. XXXIII. Apud Haffert, p. 189.

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O religioso deu várias razões, focando
principalmente que Santa Teresa tinha tido essa
devoção e a tinha inculcado naqueles que a
seguiram. Quando o padre acabou de falar, o
desconhecido disse:

- Olhai para mim, e tende a São José a mesma


devoção que teve Santa Teresa; tudo quanto
lhe pedirdes, alcançareis’.

E dizendo isto, desapareceu”75.

75 Les Chronniques du Carmel, II p. 210. Apud Haffert, pp. 202-203.

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ORAÇÃO A NOSSA SANTÍSSIMA MÃE E
RAINHA DO CARMO

Ó Virgem do Carmo e mãe amorosa de


todos os fiéis, mas especialmente dos
que vestem vosso sagrado Escapulário,
em cujo número tenho a dita de ser
incluído, intercedei por mim ante o
trono do Altíssimo.

Obtende-me que depois duma vida


verdadeiramente cristã, expire revestido
deste santo Escapulário e, livrando-
me do fogo do inferno, conforme vós
prometestes, mereça sair quanto antes,
por vossa intercessão poderosa, das
chamas do Purgatório.

Ó Virgem dulcíssima, vós dissestes que


o Escapulário é a defesa nos perigos,
sinal do vosso entranhado amor e laço
de aliança sempiterna entre vós e os
vossos filhos.

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Fazei, pois, Mãe amorosíssima que ele
me una perpetuamente a vós e livre
para sempre minha alma do pecado.
Em prova do meu reconhecimento
e fidelidade, ofereço-me todo a vós
consagrando-vos neste dia os meus
olhos, meus ouvidos, minha boca, meu
coração e todo meu ser.

E porque vos pertenço inteiramente,


guardai-me e defendei-me como coisa
própria vossa. Amén.

“Que feliz me sinto em ver-vos revestido


do santo Escapulário do Carmo. É
um sinal seguro de predestinação e
salvaçao” (Santa Teresinha).
Nihil obstat
Pe. Brás Gomes – C.SS.R.
Aparecida, 18-2-78

(Tirada do livro: O Escapulário de Nossa Senhora do


Carmo).

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