Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Nº 02 / 2018
Índice
Introdução ........................................................................ 2
Diagnóstico ...................................................................... 3
• Clínico ....................................................................... 3
• Laboratorial e por imagem ......................................... 3
Manejo terapêutico inicial .................................................. 5
Referências bibliográficas .................................................. 5
DIRETRIZES PARA O MANEJO INICIAL DA NEUTROPENIA FEBRIL, APÓS QUIMIOTERAPIA, EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM CÂNCER
A maioria das infecções nesses pacientes são de etiolo- No exame físico, o pediatra deve ter atenção especial
gia bacteriana, pelo mecanismo de translocação através à avaliação da pele, mucosas, fâneros, região genital,
do trato gastrointestinal para a corrente sanguínea. A anal, oral e locais de inserção de cateteres, visando a
percentagem de identificação de bactérias gram-positi- identificação do foco infeccioso2,5. Os sinais inflama-
vas ou gram-negativas varia em diferentes países, sen- tórios e os possíveis focos de infecção podem estar
do fundamental o conhecimento da epidemiologia local ausentes nos pacientes com neutropenia devido a res-
para escolha racional da terapia antibiótica empírica, posta diminuída à inflamação. A presença de dor, ou
como já apontado por diversos estudos5,11. Outros mi- eritema local, mesmo que discretos, podem sinalizar a
crorganismos, entretanto, podem ser responsáveis pela possibilidade de infecção. Os sinais visuais de inflama-
febre, sendo importante assim, além da investigação mi- ção podem se tornar evidentes somente quando hou-
crobiológica com pesquisa de bactérias, a inclusão de ver a recuperação da contagem de neutrófilos. Assim,
fungos, micobactérias atípicas e infecções virais, quan- a realização de exame físico seriado é essencial nesses
do pertinente5. pacientes2.
colaboradores demonstraram resultados similares quan- – Realizar tomografia computadorizada (TC) de pul-
do as amostras foram coletadas simultaneamente, den- mões: forte recomendação, baixa qualidade de evi-
tro de duas horas ou em 24 horas, não havendo então, dência. Os pulmões são frequentemente o sítio de
necessidade de intervalo na coleta das amostras7,29. infecção e os sinais radiológicos característicos são
frequentemente observados.
A hemocultura deve ser repetida caso a criança perma-
– Exames de imagem de abdome, em pacientes sem
neça febril após o início da antibioticoterapia empírica,
sinais ou sintomas de localização: fraca recomenda-
ou se houver mudança do quadro clínico, ou se a febre
ção, baixa qualidade de evidência. Achados consis-
retornar após a defervescência inicial em resposta à an-
tentes com doença fúngica invasiva foram observa-
tibioticoterapia empírica8,21.
dos em muitos pacientes sem sinais ou sintomas de
localização. O exame de imagem ideal é desconhe-
As recomendações e a qualidade de evidência publica-
cido. Porém, a ultrassonografia é um exame pronta-
das por Lehrnbecher e colaboradores23 para os exames
mente disponível, usualmente não requer sedação e
laboratoriais e de imagem considerados úteis na apre-
não está associado a exposição à radiação, sendo
sentação inicial da neutropenia febril, visando avaliar a
assim preferível na avaliação inicial.
causa e guiar o tratamento são:
– Considerar não realizar rotineiramente TC dos seios
– Hemocultura (HMC) de todos os lumens do CVC:
da face em pacientes sem sinais ou sintomas de lo-
forte recomendação científica e baixa qualidade de
calização: fraca recomendação e baixa qualidade de
evidência.
evidência. As imagens dos seios da face são frequen-
– Hemocultura do sangue periférico concomitante com temente anormais nos pacientes com neutropenia fe-
a do CVC: fraca recomendação e moderada qualida- bril, e as imagens não parecem distinguir entre aque-
de de evidência. A proporção estimada de episódios les com ou sem doença fúngica invasiva nos seios
de verdadeira bacteremia detectada pela cultura do da face. A recomendação é fraca, pois os estudos
sangue periférico, quando a cultura do cateter cen- avaliando a utilidade do uso rotineiro da TC dos seios
tral é negativa foi 12% (IC 95%: 8-17%)31,32. Assim, da face são limitados.
as culturas periféricas aumentam a identificação da
verdadeira bacteremia comparada com a cultura co- No que se refere aos biomarcadores, visando guiar a
letada somente do CVC, podendo estar relacionada terapia antifúngica empírica na neutropenia prolongada
ao tempo ou volume coletado. A recomendação é (≥ 96 horas) em pacientes de alto risco para doença
fraca porque o impacto deste aumento é desconhe- fúngica invasiva, as recomendações são:23
cido e deveria ser contrabalanceado com a dor e o
– Considerar não utilizar galactomanana sérica (GM):
isolamento de contaminantes23. Na hemocultura, a
fraca recomendação e moderada qualidade de evi-
observação de Candida sp não deve ser interpretada
dência. A galactomanana é um polissacarídeo da pa-
como contaminação, devendo sempre ser pesquisa-
rede celular do fungo Aspergillus spp. Esse antígeno
da a fonte da fungemia33.
é liberado na circulação sanguínea durante o cres-
– Coleta de urina pela técnica do jato médio com uro- cimento das hifas nos tecidos, podendo ser encon-
cultura: fraca recomendação e baixa qualidade de trado em diferentes tipos de amostras, como líquor,
evidência. A utilização do exame qualitativo de urina urina e lavado bronco-alveolar. A base para fraca re-
anormal, para solicitação da urocultura não é reco- comendação durante a neutropenia febril foi seu po-
mendada porque a piúria está presente em somente bre valor preditivo positivo, e a limitada utilidade do
4% das infecções do trato urinário durante episódios alto valor preditivo negativo, pois a GM não descarta
de neutropenia, enfatizando assim, que a solicitação formas não-Aspergilus.
de urocultura somente para os pacientes sintomáti-
– Não utilizar β-D-glucano sérica (antígeno da parede
cos é inadequada34.
celular dos fungos, liberado quando do seu cresci-
– Radiografia de tórax somente para os pacientes com mento): forte recomendação, baixa qualidade de evi-
sinais e sintomas respiratórios: forte recomendação e dência. Sua presença pode ser detectada em grande
moderada qualidade de evidência. As crianças assin- parte das espécies fúngicas, assim, este método aca-
tomáticas que não realizaram Rx de tórax não apre- ba falhando no estabelecimento de um diagnóstico
sentaram eventos adversos clínicos significantes35. específico, como a Aspergilose pulmonar invasiva,
servindo apenas para constatação de que há uma
Em relação aos exames de imagem para os pacientes infecção fúngica estabelecida. Estudo realizado por
com neutropenia febril com elevado risco para infecção Zhao e colaboradores revelou que valor preditivo po-
fúngica invasiva as recomendações são:23 sitivo da β-D-glucano foi de 49% (IC 95%: 32-66%) e
o valor preditivo negativo de 96% (IC 95%: 89-99%), b) Considerar coletar HMC periférica ao mesmo tempo
prejudicando sua utilidade clínica36. Outro estudo pu- que culturas de cateter venoso central;
blicado por Koltze e e colaboradores, avaliando pa-
c) Considerar exame qualitativo de urina (EQU) e urocul-
cientes pediátricos submetidos ao transplante alogê-
tura em paciente que consegue realizar a coleta de
nico de medula óssea mostrou baixo valor preditivo
jato médio de forma limpa imediatamente;
positivo, tornando sua utilidade limitada37.
d) Radiografia de tórax somente em pacientes com si-
– Não utilizar Reação de Polimerase em Cadeia (PCR)
nais ou sintomas respiratórios.
para fungos no sangue: forte recomendação, mode-
rada qualidade de evidência. Com a PCR é possível
As análises laboratoriais devem também abranger a ava-
detectar o DNA do agente causador da doença por
liação de sintomas presentes no paciente.
meio da replicação in vitro de uma sequência alvo
característica do microrganismo pesquisado. A base • Antibioticoterapia empírica
para forte recomendação contra seu uso são os po-
bres valores preditivo positivo e preditivo negativo, os 1) Neutropenia febril de alto risco:
quais não são suficientemente altos para serem cli-
a) Monoterapia com um β−lactâmico antipseudomo-
nicamente úteis. Outro problema a ser considerado
nas, cefalosporina de quarta geração ou carbape-
neste exame é a falta de padronização da técnica,
nêmico como terapêutica empírica;
atribuída principalmente à grande quantidade de al-
vos moleculares e amostras biológicas que podem b) Reservar o acréscimo de um segundo agente anti-
ser utilizadas. Além disso, o tipo de plataforma mo- -gram negativos ou glicopeptídeo para pacientes
lecular escolhida e as variações quanto aos métodos que estão clinicamente instáveis, quando se sus-
de extração e purificação das amostras também afe- peita de uma infecção resistente ou em centros
tam diretamente a análise dos resultados obtidos. com alta taxa de germes patogênicos resistentes.
• Estratificação de Risco:
Adotar uma estratégia de estratificação de risco validada
Referências bibliográficas
e incorporá-la à prática clínica. As escalas de risco de- 1. Silva DB, Andrea MLM de, Lins AGN. Emergências
vem ser validadas em cada hospital conforme sua capa- oncológicas. In: Burns DAR, Campos Júnior D, Silva
cidade localmente instalada. Por este motivo, não existe LR, Borges WG organizadores. Tratado de pediatria.
internacionalmente uma escala que seja recomendada 4ª ed. São Paulo: Manole; 2017. p.1564-70.
de forma universal.
2. Ardura MI, Koh AY. Infectious complications in
pediatric cancer patients. In: Pizzo PA, Poplack
• Coleta de exames e análises laboratoriais:
DG editors. Principles and practice of pediatric
a) Hemoculturas (HMC) no início da neutropenia febril de oncology. 7th ed. Philadelphia: Lippincott-Williams
todos os lumens dos cateteres venosos centrais; & Wilkins; 2016. p.1010-57.
3. Castagnola E, Fontana V, Caviglia I, Caruso S, 14. Lucas KG, Brown AE, Armstrong D, Chapman D,
Faraci M, Fioredda F, et al. A prospective study Heller G. The identification of febrile, neutropenic
on the epidemiology of febrile episodes during children with neoplastic disease at low risk for
chemotherapy-induced neutropenia in children with bacteremia and complications of sepsis. Cancer.
cancer or after hemopoietin stem cell transplantation. 1996;77:791-98.
Clin Infect Dis. 2007; 45:1296-1304.
15. Rackoff WR, Gonin R, Robinson C, Kreissman SG,
4. Pizzo PA. Current concepts: Fever in Breitfeld PB. Predicting the risk of bacteremia in
immunocompromised patients. N Engl J Med. 1999; children with fever and neutropenia. J Clin Oncol.
341: 893-900. 1996;14:919-24.
5. Mendes AVA, Sapolnik R, Mendonça N. Novas 16. Hakim H, Flynn PM, Knapp KM, Srivastava DK, Gaur
diretrizes na abordagem clínica da neutropenia febril AH. Etiology and clinical course of febrile neutropenia
e da sepse em oncologia pediátrica. J Ped. 2007; in children with cancer. J Pediatr Hematol Oncol.
83(suppl 2):S54-63. 2009;31(9):623-9.
6. Bodey GP, Buckley M, Sathe YS, Freireich EJ. 17. Agyeman P, Kontny U, Nadal D, Agyeman P, Kontny
Quantitative relationships between circulating U, Nadal D, et al. A prospective multicenter study of
leukocytes and infection in patients with acute microbiologically defined infections in pediatric cancer
leukemia. Ann Intern Med. 1966; 64:328-40. patients with fever and neutropenia. Swiss Pediatric
Oncology Group 2003 fever and neutropenia study.
7. Pasqualotto AC. Neutropenia Febril. Rev Bras Oncol Pediatr Infect Dis J. 2014;33:e219-25.
Clín. 2004;1(3):9-21.
18. Ahmed N, El-Mahallawy HA, Ahmed IA, Nassif S, El-
8. Freifeld AG, Bow EJ, Sepkowitz KA, Boeckh MJ, Beshlawy A, El-Haddad A. Early hospital discharge
Ito JI, Mullen CA, et al. Clinical practice guideline versus continued hospitalization in febrile pediatric
for the use of antimicrobial agents in neutropenic cancer patients with prolonged neutropenia: A
patients with cancer: 2010 Update by The Infectious randomized, prospective study. Pediatr Blood
Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2011; Cancer. 2007;49(6):786-92.
52:e56-93.
19. Roguin A, Kasis I, Ben-Arush MW, Sharon R,
9. Lehrnbecher T, Foster C, Vazquez N, Mackall CL, Berant M. Fever and neutropenia in children with
Chanock SJ. Therapy-induced alterations in host malignant disease. Pediatr Hematol Oncol. 1996;
defense in children receiving therapy for cancer. J 13:503-10.
Ped Hematol Oncol. 1997;19:399-417.
20. Agyeman P, Aebi C, Hirt A, Niggli FK, Nadal D, Simon
10. Auletta JJ, O’Riordan MA, Nieder ML. Infections A. Predicting bacteremia in children with cancer and
in children with cancer: a continued need for the fever in chemotherapy-induced neutropenia: results
comprehensive physical examination. J Pediatr of the prospective multicenter SPOG 2003 FN study.
Hematol Oncol. 1999;21:501-8. Pediatr Infect Dis J. 2011;30(7):e114-19.
11. Lehrnbecher T, Phillips R, Alexander S, Alvaro 21. Doganis D, Asmar B, Yankelevich M, Thomas R,
F, Carlesse F, Fisheret B, et al. Guideline for the Ravindranath Y. Predictive factors for blood stream
Management of fever and neutropenia in children infections in children with cancer. Pediatr Hematol
with cancer and/or undergoing hematopoietic Oncol. 2013;30:403-15.
stem-cell transplantation. J Clin Oncol.
2012;30(35):4427-38. 22. Stevens DL, Bisno AL, Chambers HF, Dellinger EP,
Goldstein EJ, Gorbach SL, et al. Practice guidelines
12. Freifeld AG, Bow EJ, SepkowitzKA, Boeckh MJ, for the diagnosis and management of skin and soft
Ito JI, Mullen CA, et al. Clinical practice guideline tissue infections: 2014 update by the infectious
for the use of antimicrobial agents in neutropenic diseases society of America. Clin Infect Dis.
patients with cancer: 2010 Update by the Infectious 2014;59(2):147-59.
Diseases Society of America. Clin Infect Dis.
2011;52(4):e56-93. 23. Lehrnbecher T, Robinson P, Fisher B, Alexander
S, Ammann RA, Beauchemin M, et al. Guideline
13. Hughes WT, Armstrong D, Bodey GP, Bow EJ, for the management of fever and neutropenia in
Brown AE, Calandra T, et al. 2002 guidelines for the children with cancer and hematopoietic stem-cell
use of antimicrobial agents in neutropenic patients transplantation recipients: 2017 update. J Clin
with cancer. Clin Infect Dis. 2002;34(6):730–51. Oncol. 35:2082-94.
24. Orgel E, Ji L, Pastor W, Schore RJ. Infectious 33. Groll AH, Castagnola E, Cesaro S, Dalle JH,
morbidity by catheter type in neutropenic children Engelhard D, Hope W et al. Fourth European
with cancer. Pediatr Infect Dis J. 2014;33(3):263-6. Conference on Infections in Leukaemia (ECIL-4):
guidelines for diagnosis, prevention, and treatment
25. Doganis D, Asmar B, Yankelevich M, Thomas R, of invasive fungal diseases in paediatric patients
Ravindranath Y. How many sources should be with cancer or allogeneic haemopoietic stem-cell
cultured for the diagnosis of a blood stream infection transplantation. Lancet Oncol. 2014;15(8):e327-40.
in children with cancer? Pediatr Hematol Oncol.
2013;30(5):416-24. 34. Klaassen IL, de Haas V, van Wijk JA, Kaspers GJ,
Bijlsma M, Bökenkamp A. Pyuria is absent during
26. Franklin JA, Gaur AH, Shenep JL, Hu XJ, Flynn PM. urinary tract infections in neutropenic patients.
In situ diagnosis of central venous catheter-related Pediatr Blood Cancer.2011;56:868-70.
bloodstream infection without peripheral blood
culture. Pediatr Infect Dis J. 2004;23(7):614-8. 35. Renoult E, Buteau C, Turgeon N, Moghrabi A, Duval
M, Tapiero B. Is routine chest radiography necessary
27. Adamkiewicz TV, Lorenzana A, Doyle J, Richardson for the initial evaluation of fever in neutropenic
S. Peripheral vs. central blood cultures in patients children with cancer? Pediatr Blood Cancer. 2004;
admitted to a pediatric oncology ward. Pediatr Infect 43:224-8.
Dis J. 1999; 18(6):556-8.
36. Zhao L, Tang JY, Wang Y, Zhou YF, Chen J, Li BR,
28. Robinson JL. Sensitivity of a blood culture drawn Xue HL. Value of plasma -glucan in early diagnosis
through a single lumen of a multilumen, long-term, of invasive fungal infection in children. Zhongguo
indwelling, central venous catheter in pediatric Dang Dai Er Ke Za Zhi. 2009;11(11):905-8.
oncology patients. J Pediatr Hematol Oncol. 2002;
24:72-4. 37. Koltze A, Rath P, Schöning S, Steinmann J,
Wichelhaus TA, Bader P, Bochennek K, Lehrnbecher
29. Li J, Plorde JJ, Carlson LG. Effects of volume and T. β-D-Glucan screening for detection of invasive
periodicity on blood cultures. J Clin Microbiol. fungal disease in children undergoing allogeneic
1994;32:2829-31. hematopoietic stem cell transplantation. J Clin
Microbiol. 2015; 53:2605-10.
30. Neemann K, Yonts AB, Qiu F, Simonsen K, Lowas
S, Freifeld A. Blood cultures for persistent fever in 38. Delebarre M, Macher E, Mazingue F, Martinot A,
neutropenic pediatric patients are of low diagnostic Dubos F. Which decision rules meet methodological
yield. J Pediatric Infect Dis Soc. 2016; 5(2):218-21. standards in children with febrile neutropenia?
Results of a systematic review and analysis. Pediatr
31. Handrup MM, Møller JK, Rutkjaer C, Schrøder H. Blood Cancer. 2014;61(10):1786-91.
Importance of blood cultures from peripheral veins in
pediatric patients with cancer and a central venous
line. Pediatr Blood Cancer. 2015;62:99-102.