e Custos Hospitalares
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS....................................................................... 11
CAPÍTULO 1
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO................................................................................................... 11
CAPÍTULO 2
A CONTABILIDADE E A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ADMINISTRATIVA..................................... 25
CAPÍTULO 3
FORMAÇÃO DE PREÇOS....................................................................................................... 36
UNIDADE II
FINANÇAS E ANÁLISE DE..................................................................................................................... 43
INVESTIMENTOS................................................................................................................................... 43
CAPÍTULO 1
FINANÇAS............................................................................................................................. 43
CAPÍTULO 2
ANÁLISE DE INVESTIMENTOS.................................................................................................... 53
UNIDADE III
PLANEJAMENTO.................................................................................................................................. 68
TRIBUTÁRIO......................................................................................................................................... 68
CAPÍTULO 1
DISPOSIÇÕES GERAIS E COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA.................................................................. 68
CAPÍTULO 2
O SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL.......................................................................................... 74
CAPÍTULO 3
O PROCESSO DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO DE PESSOA JURÍDICA......................................... 77
UNIDADE IV
PLANEJAMENTO.................................................................................................................................. 83
TRIBUTÁRIO......................................................................................................................................... 83
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO AO MERCADO DE CAPITAIS.............................................................................. 83
CAPÍTULO 2
MERCADO DE DERIVATIVOS................................................................................................... 94
UNIDADE V
CUSTOS............................................................................................................................................ 103
HOSPITALARES................................................................................................................................... 103
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTOS BÁSICOS DA ANÁLISE DE CUSTOS.................................................................. 103
CAPÍTULO 2
AVALIAÇÃO DE ESTOQUES.................................................................................................... 115
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DA FOLHA DE PAGAMENTO..................................................................................... 117
CAPÍTULO 4
APURAÇÃO DOS CUSTOS..................................................................................................... 120
CAPÍTULO 5
CUSTOS NO SETOR HOSPITALAR............................................................................................ 133
UNIDADE VI
FINANÇAS........................................................................................................................................ 143
CORPORATIVAS................................................................................................................................ 143
CAPÍTULO 1
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS.................................................................................................. 143
CAPÍTULO 2
ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS........................................................................................... 155
UNIDADE VII
GESTÃO DE...................................................................................................................................... 166
CONVÊNIOS..................................................................................................................................... 166
CAPÍTULO 1
CONVÊNIOS E CONTRATOS.................................................................................................. 166
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
Saiba mais
6
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
7
Introdução
Uma boa gestão financeira agrega importante valor no processo decisório das
organizações, possibilitando que o gestor adquira conhecimento dos custos
hospitalares para a elaboração de futuros planejamentos estratégicos e na
formulação dos preços de seus produtos e serviços.
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Uma boa gestão financeira hospitalar é o produto dos esforços e intelectos de um grupo de indivíduos
organizados, que fornece mecanismos para distribuir responsabilidades e canalizar esforços para
que todo o trabalho seja coordenado e controlado para atingir os objetivos do hospital de maneira
mais eficiente e eficaz.
A gestão financeira hospitalar exige conhecimento para tomada de decisão em áreas técnicas, a fim
de oferecer um serviço de qualidade.
Sob esse enfoque, a boa gestão financeira tem-se destacado como instrumento de apoio mais
adequado às necessidades de gerenciamento das informações no ambiente hospitalar, sendo
considerada uma área da empresa que fornece, tempestivamente, ao processo decisório o recurso
da informação em um mercado altamente competitivo.
Controlar e fiscalizar custos, analisar os resultados e formular corretamente os gastos dos serviços
prestados são fatores que levam a um melhor gerenciamento das informações para que as diversas
alternativas sejam adequadamente conhecidas e mensuradas.
Bons estudos!
Objetivos:
»» Compreender a importância da Ciência Contábil para aprofundar o conhecimento
gerencial e para a formação de preços.
8
»» Compreender aspectos importantes sobre finanças e análise de investimentos.
9
10
CONTABILIDADE
GERENCIAL E FORMAÇÃO UNIDADE I
DE PREÇOS
CAPÍTULO 1
Sistemas de Informação
“A informação não pode custar mais do que ela pode valer para a administração da
entidade”
PADOVEZE (2009)
É importante ressaltar que, para que essa informação contábil seja utilizada no processo
administrativo, é mister que se faça desejável, útil e a um custo adequado e aceitável para os CEOs
(Chieff Executive Officer).
11
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Como vimos, a Contabilidade Gerencial está voltada para os usuários internos da organização
(diretores, gerentes, adminstradores), munindo-os de informações para que possam tomar suas
decisões de dirigir e controlar a organização, enquanto que a Contabilidade Financeira tem a
preocupação de fornecer informações aos usuários externos, acionistas, credores, entre outros.
Segundo Garrison, “a Contabilidade Gerencial provê as informações essenciais com que as empresas
são efetivamente geridas, enquanto a Contabilidade Financeira proporciona os parâmetros
(scorecards) pelos quais o desempenho passado de uma empresa é avaliado.”
O Balanço Patrimonial
É o relatório que demonstra a situação patrimonial e financeira da empresa em um determinado
momento. Por esse motivo, todos os resultados das operações da organização e das transações que
terão realização futura são direcionados para ele.
12
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
a. a empresa deve manter seus estoques no mais baixo nível possível, objetivando
reduzir os impactos financeiros de manutenção de investimentos no capital de giro
e, principalmente, reduzir os desperdícios futuros com obsolescência tecnológica
de itens;
a. o baixo nível de estoques e, consequentemente, sua alta rotação farão com que os
valores dos estoques no balanço patrimonial terminem por ficar avaliados a preços
próximos da data do encerramento do exercício;
Pelas observações de Padoveze (2009), concluímos que, se dermos adequado tratamento aos valores
de materiais e estoques, principalmente demonstrando corretamente seus resultados, obteremos
uma correta mensuração do lucro nas vendas. Por esse motivo, é de fundamental importância a
construção de contas no Sistema de Informação Contábil para termos essa correta avaliação.
Na construção de cada relatório, deve-se planejar tudo em detalhes, pois uma estética inadequada
pode prejudicar sensivelmente o conteúdo. Esse conteúdo deve possibilitar o entendimento do
usuário a quem se destina o relatório, que é o cliente da informação contábil; por esse motivo deve
conter características de clareza, precisão, rapidez e direção.
13
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Tais informações não deverão ser evidenciadas nos relatórios finais emitidos aos usuários;
constituem um banco de dados com o objetivo de se integrar aos futuros relatórios do sistema de
informação.
Os Planos de Contas Contábeis devem ser construídos visando à geração de relatórios futuros
originados deles, e à integração de todo o sistema de informação contábil, por meio da navegabilidade
dos dados.
Para tanto, é necessário obedecer a dois aspectos fundamentais na elaboração dos planos de contas
gerenciais, partindo do plano de contas fiscal: segmentação dos planos por áreas afins dos principais
relatórios e criação de contas adicionais para integração do sistema.
Contrastando com essa visão, entra em cena a Contabilidade Gerencial, que vem fornecer
informações econômicas para operadores, funcionários, gerentes intermediários e executivos
seniores. Os CEOs (Chieff Executive Officer), assim chamados aqueles que decidem dentro da
organização, dentro da discreção peculiar de seus cargos, devem desenhar sistemas de informação
que auxiliem os funcionários a tomar boas decisões, indo além dos controles sobre recursos
organizacionais (financeiros, físicos e humanos), chegando também a decisões sobre os produtos,
serviços, processos, fornecedores e clientes. Com isso, utilizam-se das informações gerenciais,
possibilitando aos funcionários melhorarem a qualidade das operações, reduzirem os custos
operacionais e aumentarem a adequação das operações às necessidades dos clientes.
Contabilidade Financeira
A Contabilidade Financeira é obrigatória, sujeita às normas e imposições legais. É altamente
normatizada e padronizada, podendo se submeter à posterior auditoria.
14
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
Foi formatada e executada para atender ao público externo, principalmente a vontade da legislação
do Imposto de Renda, tendo regras próprias, como, por exemplo, a escrituração do Livro de
Apuração do Lucro Real (LALUR).
Contabilidade Gerencial
A Contabilidade Gerencial tem seu foco principal na tomada de decisão. Não está sujeita às restrições
e imposições legais, sendo mais dinâmica e ágil, e específica para cada negócio.
A Contabilidade Gerencial não existe como os outros campos de aplicação da Ciência Contábil, tais
como Contabilidade Financeira, Contabilidade de Custos etc. A Contabilidade Gerencial é uma ação.
Para que se tenha Contabilidade Gerencial em uma organização é necessário que se tenham pessoas
que possam traduzir as informações contábeis em dados gerenciais para a tomada de decisão, isto
é, utilizar os dados contábeis como instrumento de administração. De acordo com Padoveze (2009)
“dessa forma, fica claro que a Contabilidade Gerencial deve utilizar-se das técnicas já desenvolvidas
por outras disciplinas, porque nelas o estudo específico é mais aprofundado.”
A Contabilidade Gerencial abrange várias áreas da organização devendo suprir a todas por meio
do sistema de informação contábil gerencial. Dessa forma, tem-se um grupo de informações
que suprirá a alta administração com dados mais sintéticos, em grandes agregados, chamado de
gerenciamento contábil global, com o objetivo de controlar e planejar a empresa dentro de
uma visão de conjunto.
O segundo grupo de informações irá suprir a média administração, ou, caso necessário, as divisões
ou linhas de produtos. Essas informações utilizam o conceito de contabilidade por responsabilidade,
que se denomina gerenciamento contábil setorial.
Por fim, existe um terceiro grupo de informações para gerenciar cada um dos produtos da organização
isoladamente – o gerenciamento contábil específico, que trata a informação de forma bem
mais detalhada em nível operacional.
Padoveze (2009) persevera que, para todos esses segmentos, serão trabalhadas informações para
planejamento estratégico e orçamentário, já que o segundo fundamento da Contabilidade Gerencial
é seu enfoque para o futuro. Assim, as áreas fundamentais do sistema de informação contábil são os
orçamentos e a gestão estratégica.
Clientela Externa: acionistas, credores, autoridades tributárias. Interna: funcionários, administradores, executivos.
15
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Escopo Muito agregada; reporta-se a toda a empresa. Desagregada; informa as decisões e ações locais.
Fonte: Adaptado de Atkinson, 2000
Conceitos e Terminologias
O ambiente empresarial sofreu profundas modificações nas últimas décadas. Com a globalização,
as indústrias têm um novo estímulo no cenário dos negócios. A competição tornou-se universal e o
ritmo de inovação em produtos e serviços foi acelerado, fato que beneficiou os consumidores, pois
a grande competitividade reflete em menores preços e qualidade mais elevada com muito mais
opções. Com tantas mudanças, de grande impacto para muitas empresas, os administradores foram
aprendendo que as tradicionais formas de se fazer negócio já não funcionavam mais e, por isso,
deveriam fazer uma reviravolta no modo de administrar e executar o trabalho; vista por alguns
como uma segunda revolução industrial.
16
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
mas apresenta efeitos mais profundos nestas últimas, que mantêm três espécies de estoque:
matérias-primas, produtos semiacabados e produtos acabados.
Para auxiliar os funcionários na resolução dos problemas existe uma grande variedade de ferramentas,
dentre elas o benchmarking, que envolve o estudo das melhores organizações mundiais na execução
de uma determinada tarefa.
O ciclo PDCA aplica o método científico da resolução de problemas em que na fase planejar
são analisados os dados, para identificação das causas do problema, para, em seguida, se propor
uma solução. Na fase seguinte, executar, testa-se a solução proposta. Os resultados obtidos são
avaliados na fase checar que, sendo positivos, passam para a fase implantar, dando sequência ao
plano; caso contrário, volta-se à estaca zero, reiniciando o processo.
2 Garrison comenta que o Dr. W. Edwards Deming, pioneiro da TQM, introduziu muitos dos seus elementos na indústria
japonesa, após a Segunda Guerra Mundial. Mais tarde, a TQM foi aprimorada e desenvolvida por companhias japonesas como
a Toyota.
17
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Implantar Checar
Se obtiver sucesso, tornar a alteração permanente.
Avaliar os dados coletados durante o teste.
Se os resultados não forem bons, tentar
A melhoria esperada ocorreu?
novamente.
O principal foco da TQM é o cliente. Diversas empresas, entre elas a KPMG, faz pesquisas
periodicamente sobre a satisfação de seus clientes com os seus serviços.
Conforme Madonna e Ion (apud GARRISON, 1992), “para cada queixa que você escuta, há cinquenta
outras que você desconhece. Se não acompanhar a satisfação dos clientes, você pode descobrir a sua
insatisfação somente quando eles já estiverem saindo porta afora” .
Reengenharia de Processo
Esta abordagem de melhoria é bem mais radical se comparada à TQM. Cada processo da empresa
é esmiuçado e, em seguida, inteiramente redesenhado com a finalidade de eliminar etapas
desnecessárias, reduzir possibilidades de erro e diminuir custos. Está voltada para a simplificação
e a eliminação do esforço desperdiçado, tendo como ideia central que todas as atividades que não
agregam valor ao produto ou serviço devem ser eliminadas.
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CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
Em nossa vida cotidiana, poderemos encontrar alguns exemplos disso, tais como: precisamos fazer
uma viagem de avião com a família, que são cinco pessoas, mas, no voo, existem apenas três lugares;
ou, então, a FIFA marca um jogo de futebol entre Brasil e Argentina, no estádio do Beira Rio,
esperando um público de 80.000 torcedores, no entanto, a capacidade desse estádio é de 56.000;
neste caso, sua restrição está na capacidade do estádio em termos de público.
Nesse sentido, a Teoria das Restrições sustenta que a chave do sucesso é o gerenciamento eficaz da
restrição. No caso do jogo entre Brasil e Argentina, a FIFA deve procurar outro estádio que possa
comportar o público esperado para não ter de reduzir a renda a ser atingida.
Uma informação contábil tem de ser explicada no menor prazo possível. Uma
informação morosa ou atrasada perderá toda sua validade e fará parte do
arquivo morto de dados. Por isso, a força de um sistema de informação contábil
está em que tudo seja feito rigorosamente dentro dos prazos estipulados pelos
usuários e no menor tempo possível (PADOVEZE, 2009).
Apesar de a informação contábil ter como marca registrada sua exatidão e veracidade, é de suma
importância, muitas vezes, cumprir os prazos para prestá-la. Uma informação aproximada dentro
do prazo é muito mais importante do que uma informação precisa, mas atrasada.
O Administrador e a Contabilidade
Em qualquer tipo de organização, seja de grande porte ou mesmo uma pequena empresa, vemos a
presença de gerentes, afinal, alguém precisa ser responsável pelo planejamento, pela organização
dos recursos, pela direção do pessoal e pelo controle das operações.
19
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Caso a empresa esteja estudando a abertura de novas lojas no decorrer do ano, os gestores terão
de decidir sua viabilidade, analisando e examinando o volume de vendas, as margens de lucro e os
custos das lojas instaladas em mercados similares. Esses dados, fornecidos pelo contador gerencial,
são combinados com a projeção das vendas para os locais desejados, a fim de estimar os lucros
a serem gerados. Em geral, todas as alternativas importantes consideradas pela administração
durante o planejamento têm algum efeito sobre as receitas e os custos, e as informações contábeis
gerenciais são essenciais para a estimativa de tais efeitos (GARRISON, 2009).
Entretanto, além de planejar o futuro, também cabe aos administradores, gestores ou gerentes
supervisionar as atividades do dia a dia e manter a organização funcionando harmoniosamente,
motivando e conduzindo as pessoas de modo eficiente.
Finalidade do SIC
Podemos entender “sistema” como um conjunto de elementos que se interelacionam, dependentes
uns dos outros, que fazem um todo organizado, único e complexo. No entanto, é muito comum
vermos sistemas, que se dizem sistemas de informação contábil, serem construídos em partes que
não são trabalhadas de forma integrada efetivamente.
A informação gerencial contábil é composta por dados financeiros e operacionais sobre atividades,
processos, unidades operacionais, produtos, serviços e clientes da empresa (ATKINSON, 2000).
20
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
Sempre que precisarmos tomar uma decisão estaremos diante de pelo menos duas alternativas. Por
esse motivo, devemos levar em consideração os custos e os benefícios de cada uma das alternativas.
Segundo Garrison, os custos que se comportam de modo diferente nas alternativas são chamados
custos relevantes. A distinção entre os dados de custos e de benefícios relevantes e irrelevantes é
fundamental por dois motivos: primeiro, os dados irrelevantes podem ser ignorados e não precisam
ser analisados, o que pode poupar tempo e trabalho a quem decide; segundo, más-decisões
podem ter origem na inclusão errônea de dados irrelevantes de custos e benefícios na análise das
alternativas. O sucesso do administrador no ato de decidir está na sua capacidade de diferenciar os
dados relevantes e irrelevantes, utilizando corretamente os dados relevantes na análise.
Devem, portanto, os objetivos contábeis ter relação estreita implícita ou explicitamente com aquilo
que o usuário considera como elementos importantes para seu processo decisório.
Somente os custos e os benefícios que se comportam de modo diferente nas alternativas interessam
à decisão. Se o custo permanecer o mesmo, independentemente da alternativa escolhida, a escolha
não tem qualquer efeito sobre o custo e ele pode ser ignorado.
Para E. Martins é a diferença entre o preço de venda e o custo variável de cada produto é o valor que
cada unidade efetivamente traz à empresa de sobra entre sua receita e o custo que de fato provocou
e que lhe pode ser imputado sem erro.
21
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Portanto, a análise do CVL busca a combinação mais lucrativa de custos variáveis, custos fixos e de
preços e volume de vendas.
Por esse motivo, todo demonstrativo contábil apresenta valores que utilizam unidades monetárias
diferentes, considerando ao mesmo tempo valores do passado, do presente e do futuro, tais como:
disponibilidades, estoques, contas a receber, contas a pagar etc.
Além desses valores se mostrarem em defasagem com relação ao tempo, também podemos verificar
que nas demonstrações financeiras estão evidenciados cálculos que contêm uma certa subjetividade,
como: a avaliação dos estoques e sua movimentação; o cálculo da depreciação, amortização ou
exaustão dos ativos imobilizados; o cálculo das provisões; a imputação dos custos indiretos.
22
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
qualitativos (espécie, tempo de uso etc.). A contabilidade deve reconhecer que alguns gastos ou
custos se concretizam de forma duradoura (imobilizado), enquanto outros são continuamente
repostos (mercadorias, matérias primas etc.) (SILVA, 2005).
Correção Monetária
O Brasil conviveu por longos anos, desde a década de sessenta, com altas taxas de inflação, passando
por várias mudanças no seu padrão monetário até a chegada do Real em 1994.
Convivemos, ainda, por mais alguns anos, com a taxa de inflação acima de dois dígitos até que se
estabilizou, podendo, assim, efetuar um processo geral de desindexação e suprimindo, em 1996, os
processos de correção monetária automática, obrigatória e legal, dos preços, salários e contratos.
23
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Conforme demonstra Padoveze, os relatórios para gestão global dos impostos devem conter os
seguinte dados.
c. Alíquota(s) básica(s).
Os relatórios deverão evidenciar as principais transações geradoras dos impostos, com a finalidade
de dar condições de análise e planejamento, visando à minimização do impacto de cada imposto
para a empresa.
Garrison descreve que as empresas, assim como as pessoas, têm de pagar imposto de renda. No
caso das empresas, o valor do imposto de renda a pagar é determinado pelo lucro líquido tributável
da empresa. As despesas dedutíveis do imposto (deduções) reduzem o lucro líquido tributável da
companhia e, por conseguinte, o imposto que ela tem de pagar. Por esse motivo é que as despesas
são, frequentemente, especificadas pós-tributação. Por exemplo, se uma companhia paga aluguel
de R$10 milhões por ano e essa despesa produz uma redução de R$3 milhões no imposto de renda,
o custo do aluguel pós-tributação é de R$7 milhões. Uma despesa após a tributação do imposto de
renda é conhecida como custo pós-tributação ou pós-imposto.
Aplicando essa fórmula, obtemos o valor real do desembolso após o efeito do imposto, que deverá
ser levado em consideração nas decisões de investimento.
Podemos utilizar o mesmo raciocínio com relação às receitas e outros recebimentos tributáveis para
calcularmos o benefício pós-tributação, ou entradas líquidas de caixa geradas por um determinado
recebimento.
Situações Especiais
A depreciação não é um item monetário, portanto não considerada como desembolso nos fluxos de
caixa. Entretanto, influencia o imposto a pagar, causando um efeito indireto sobre o fluxo de caixa
da empresa.
24
CAPÍTULO 2
A Contabilidade e a Estrutura
Organizacional Administrativa
Presidente
Auditoria Interna
A Contabilidade Gerencial abrange várias áreas da organização, devendo suprir a todos por meio do
sistema de informação contábil gerencial. Dessa forma, tem-se um grupo de informações que suprirá
a alta administração com dados mais sintéticos, em grandes agregados, chamado gerenciamento
contábil global, com o objetivo de controlar e planejar a empresa dentro de uma visão de conjunto.
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UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Análise de Contabilidade
Sistema Sistema de custo
fluxo de societária e fiscal orçamentário
caixa Preços de venda
Consolidação de balanços
Análise de custos
Contabilidade por
Controle patrimonial responsabilidade
Sistema de entrada
Sistema de inventário e produção Sistema de saída faturamento
compras
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CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
Controller
Subgerente
Subgerente Subgerente
Objetivos e
Métodos Contábeis Comunicações
Organização
Subgerente
Chefe
Operações de
Publicação
Informática
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UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
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CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
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UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Art Shaw, consultor de uma firma internacional de contabilidade, foi entrevistado pelo Controller
da Greens’s Grocery, uma cadeia regional de supermercados do sudoeste norte-americano. A Green’s
Grocery vem dominando uma parcela do mercado em sua região com vendas que excedem $4
milhões por ano. Bill Fuller, seu presidente, esteve reunido com Art recentemente, oportunidade na
qual o consultor descreveu alguns sistemas de contabilidade gerencial que foram implantados
em empresas de fabricantes de artigos eletrônicos e de automóveis. Fuller despendeu várias horas
explicando porque deseja um novo tipo de Controller para sua empresa varejista de alimentos:
A Green’s Grocery tem margem de lucro estreita, apesar de ser uma das mais lucrativas cadeias de
supermercados dos Estados Unidos. Obtemos uma taxa de retorno sobre vendas antes do imposto
de renda de 4%, quase duas vezes a média do setor, porém estamos diante dos maiores desafios.
Algumas das maiores cadeias varejistas, tipo Wal-Mart, têm construído lojas de alimentos com
desconto, em nossa área, com preços significativamente abaixo dos nossos. Essas lojas de descontos
não oferecem a grande variedade de produtos, de marcas, de sabores e de tamanhos que a Green’s
oferece, porém, seus preços absurdamente baixos estão atraindo muitos de nossos clientes.
Tenho várias opções para mudar a maneira como a Green’s negocia, tornando-a mais lucrativa
e mais competitiva, porém, não tenho uma base sólida para tomar tais decisões. Realmente, não
conheço muito sobre minha estrutura de custos, a ponto de descobrir onde minhas operações
podem ganhar ou perder dinheiro. Nossos relatórios financeiros parecem ser bons – as receitas
e as despesas são registradas com precisão, e os auditores ficam mais do que satisfeitos quando
verificam nossos registros, confrontando-os com nossos ativos físicos. Contudo, não entendo os
custos relevantes para a tomada de decisão sobre a quantidade de diferentes itens e marcas que
devemos oferecer a nossos clientes, às novas relações com os fornecedores, aos preços, à expansão
da oferta de nossos rótulos reservados e quanto ao tamanho de nossos estoques.
Por exemplo, embora os consumidores valorizem nossa grande variedade, acho que o custo dessa
variedade pode estar nos onerando muito. Os 40.000 itens existentes em uma de nossas lojas, que
geram uma receita anual de vendas no valor de $20 milhões, devem ser mais dispendiosos do que
os 5.000 itens oferecidos pelas lojas de desconto que geram uma receita anual de vendas no valor
de $20 milhões. A maior variedade que oferecemos vai exigir a construção e a operação de maiores
lojas, a fim de expor cada item. Seremos forçados, também, à compra de muitos fornecedores
diferentes. Indubitavelmente, teremos os maiores custos de almoxarifado, de mercadorias e de
transporte devido à maior variedade. Como posso avaliar os benefícios, pela maior variedade,
para os consumidores, se não conheço os custos associados ao maior sortimento que oferecemos?
Alguns de nossos melhores clientes têm, também, solicitado nossa permissão para planejarem seus
programas de produção e distribuição, baseados em informação comunicada eletronicamente
pelos nossos terminais de ponto de venda – uma prática conhecida como intercâmbio eletrônico
de dados, ou EDI (Eletronic Data Interchange). A sincronização entre a produção do fornecedor e
30
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
o suprimento baseado nas compras efetivas dos consumidores pode produzir economias enormes
em despesas operacionais, de estocagem e de necessidade de espaço para ambas as partes. Se
pudermos quantificar essas economias de custos, os fornecedores poderão nos vender seus
produtos a preços menores. Podemos oferecer, então, produtos com margens menores por causa
de nossas despesas operacionais menores. Isso reduziria substancialmente e até eliminaria a
diferença de preço entre nossos supermercados e as lojas de descontos.
Além dessas potenciais economias de custos, temos outra oportunidade a considerar. Alguns
dos fornecedores exclusivos de marcas de alta qualidade têm desenvolvido produtos de várias
categorias importantes para nós, tais como bebidas da linha cola, bolinhos, alimentos para
animais e molhos. Esses fornecedores afirmam que seus produtos não são distintos das melhores
marcas propagadas nacionalmente. Os fornecedores de rótulos exclusivos desejam nos vender
a preços bem mais baixos do que os fabricantes de marcas nacionais, o que nos permitirá obter
uma margem de lucro maior em seus produtos, ao oferecê-los aos consumidores a preços mais
baixos do que as marcas nacionais. Muitos dos fabricantes de marcas nacionais, entretanto, já
operam conosco de maneira eficiente. Coca-Cola, Pepsi-Cola, por exemplo, entregam diretamente
em nossas lojas. Seus vendedores dirigem-se a cada uma de nossas lojas e estocam os produtos
nas prateleiras, de modo que não temos qualquer trabalho para arrumar seus produtos para a
venda. Os fornecedores de marcas exclusivas, por sua vez, entregam seus produtos em nossos
almoxarifados, onde recebemos, inventariamos, estocamos, programamos sua entrega nas lojas,
entregamos e colocamos em suas prateleiras. Apreciaria se as margens de lucro aparentemente
maiores, que obtemos com produtos de rótulos exclusivos, não fossem consumidas pelos custos de
executar todas essas atividades extras.
Além do mais, devo decidir sobre que departamentos devo ter em nossas lojas. Cada loja deve ter
espaço para a venda de mercadorias tradicionalmente acondicionadas em latas, caixas, jarras
e recipientes de plástico; um departamento de laticínios que requer prateleiras refrigeradas e
gera estragos e frequentes devoluções de clientes; e o departamento de bens congelados, que
consomem muita energia elétrica e congeladores dispendiosos. Recentemente, criamos seções que
vendem produtos de saúde e beleza; uma padaria; uma mercearia e uma lanchonete. Embora
nosso excelente sistema de relatórios financeiros nos informe, precisamente, o total das despesas
operacionais da loja, não tenho a menor ideia de como relacionar o total dessa despesa a cada
um dos departamentos. Estamos ganhando dinheiro nas seções de padaria e de mercearia?
Precisamos saber onde podemos prover melhorias para aumentar a produtividade e a eficiência.
Precisamos, também, de um bom sistema de gestão de custos para ajudar meus gerentes a
administrarem, mais eficientemente, suas operações diárias. Que espécies de relatórios o sistema
pode produzir para ajudar meus gerentes de loja a monitorar e controlar suas políticas de pessoal,
disponibilidade de mercadorias, eficiências de inventário e o consumo de serviços públicos?
Se as melhorias operacionais não forem suficientes para gerar lucro, talvez possamos terceirizar
alguns de nossos departamentos para contratantes mais eficientes e permitir que operem esses
departamentos nos espaços que alugaremos para eles. Talvez possamos eliminar, inteiramente,
algumas categorias não críticas, o que capacitaria a construir lojas menores no futuro. Os
gerentes de loja refletirão, também, sobre as novas categorias de produtos que podemos colocar
31
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
em nossas lojas – flores frescas, vinho, cerveja, licor, artigos de papelaria, livros, revistas e
pequenos brinquedos. Enquanto tudo isso parece uma boa ideia, baseando-se nas margens brutas
sobre vendas (preço de venda menos preço de compra dos itens), pode não ser lucrativo quando os
custos de todos os recursos da loja, incluindo espaço, inventário de mercadorias e pessoal da loja,
forem alocados acuradamente a essas categorias.
Nosso atual Controller veio da mesma firma em que você trabalha agora, porém, sua experiência
estava toda na parte de auditoria e ele parece ter pouco conhecimento sobre as necessidades de
informação que os gerentes têm para tomada de decisão e controle. Poderemos, agora, aplicar
as ideias da contabilidade gerencial, que estão sendo usadas nas empresas automotivas e nas de
componentes eletrônicos, no ramo de supermercados?
Art Shaw queria saber se os novos conceitos de contabilidade gerencial, introduzidos com sucesso
em muitas empresas industriais, poderiam ser aplicados ao ramo de serviços do tipo varejo. Deixaria
ele o negócio de consultoria, em crescimento, com seus clientes do setor industrial, para ser um
inovador em aplicar abordagens recentes de custos e de mensuração de desempenho no ramo de
serviços?
Esses desafios que Bill Fuller propôs a Art Shaw são exemplos de como os gerentes, nas empresas,
precisam de informações gerenciais contábeis para tomada de decisão e controle. O sistema de
contabilidade gerencial capacita a empresa a coletar, processar e relatar informações para uma
variedade de decisões operacionais e administrativas vitais.
Análise de Valor
Podemos encontrar a descrição original de análise de valor em Miles (1995), da seguinte forma:
“sistema para solucionar problemas por meio do uso de um conjunto específico de técnicas, um
corpo de conhecimentos e um grupo de pessoas especializadas. É um enfoque criativo e organizado
que tem como propósito a identificação e remoção de custos desnecessários”.
A Análise do Valor teve origem durante a 2a Guerra Mundial, como resultado da aplicação de
conceitos desenvolvidos por Lawrence D. Miles que, na época, era engenheiro do Departamento de
Compras da General Eletric Co.
Durante a guerra, o governo dos Estados Unidos determinou que a disponibilidade das
matérias-primas “nobres”, como níquel, cromo e platina, ficasse reservada exclusivamente para
uso da indústria de material bélico ou de interesse militar. Isso fez com que a indústria, em geral,
sentisse a necessidade de encontrar materiais alternativos para mantê-la em funcionamento.
Lawrence D. Miles, aplicando o seu raciocínio lógico e os conceitos por ele desenvolvidos, obteve
grandes resultados, pois, além de conseguir redução de custos, notou melhorias tanto na qualidade
como no desempenho dos produtos analisados.
Terminada a guerra, Miles estende a aplicação desses conceitos para a concepção de um produto,
com o intuito de substituir as soluções tradicionais por outras mais econômicas.
32
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
Ampliando o conceito original, podemos dizer, na opinião de Possamai (1997), que “análise do
valor é um conjunto sistematizado de esforços e métodos destinados a reduzir o custo total de um
produto, processo ou serviço, mantendo ou melhorando sua qualidade”.
Já na visão de Csillag (1995), “Um esforço organizado dirigido à análise das funções e sistemas,
produtos, especificações, padrões, práticas e procedimentos com a finalidade de satisfazer às funções
requeridas ao menor custo total”.
Valor Agregado
Todo processo de criação de valor empresarial está fundamentado na produção e na venda dos
produtos e serviços. Conforme nos esclarece Padoveze, cada unidade de produto ou serviço traz
dentro de si seu valor agregado (VA), que é a diferença entre o preço de venda obtido no mercado,
menos o preço de compra dos insumos e serviços adquiridos de terceiros também no mercado.
Para isso, a organização empresarial precisa desenvolver uma série de atividades internas, para alcançar
a máxima eficiência e eficácia, possibilitando a criação de valor traduzido no lucro operacional; isto é
chamado de processo de apropriação de valor agregado, como veremos na figura a seguir.
Custos Venda
40 60 100
Custo + VA Custo + VA
Apropriação de VA
Criação de Valor
33
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
O estágio da Contabilidade Gerencial, que abarca todos os estágios evolutivos anteriores, centra-
se no processo de criação de valor por meio do uso efetivo dos recursos empresariais. Essa
função-objetivo está declarada no Relatório Revisado de março de 1998, emitido pelo Comitê de
Contabilidade Financeira e Gerencial da Federação Internacional de Contadores (International
Federation of Accountants – IFAC), sobre os Conceitos de Contabilidade Gerencial.
Padoveze destaca a evolução pela qual passou a Contabilidade Gerencial ao longo do tempo, que
contou com quatro estágios:
Estágio 1 – Antes de 1950, o foco era na determinação do custo e controle
financeiro, por meio do uso das tecnologias de orçamento e contabilidade de
custos.
Estágio 4 – Por volta de 1995, a atenção foi mudada para a geração ou criação
de valor através do uso efetivo dos recurso, por meio do uso de tecnologias,
tais como exame dos direcionadores de valor ao cliente, valor para o acionista,
e inovação organizacional.
Padoveze afirma que a informação deve ser tratada como qualquer outro produto que esteja
disponível para consumo. Ela deve ser desejada para ser necessária e, para ser necessária, deve
ser útil. Ele acredita que cabe aos contadores gerenciais construir essa mercadoria com qualidade
e custos competitivos, já que temos plena consciência de sua utilidade e, portanto, de sua extrema
necessidade para o gerenciamento dos negócios.
Quem determina essa necessidade são os usuários finais, os consumidores dessa informação e,
portanto, deve ser construída para atender a esses consumidores e não aos contadores.
34
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
1. Níveis empresariais
a. Estratégico
b. Tático
c. Operacional
2. Ciclo administrativo
a. Planejamento
b. Execução
c. Controle
a. Estruturada
b. Semiestruturada
c. Não estruturada
Para que essas informações sejam válidas por anos e perpetuem dentro da organização, é necessário
que, em primeiro lugar, sejam coletadas, armazenadas e processadas de forma operacional, que
sejam dados práticos e objetivos para uma utilização real, segura – isso significa operacionalidade e
suas características básicas são:
a. relatórios concisos;
d. que não permitam uma única dúvida sequer, ou possibilitem pergunta indicando
falta de alguma informação do objeto do relatório;
Em segundo lugar, é de extrema importância que esses dados sejam tratados de forma integrada,
isto é, “quando todas as áreas necessárias para o gerenciamento da informação contábil estejam
abrangidas por um único sistema de informação contábil” (PADOVEZE).
35
CAPÍTULO 3
Formação de Preços
»» Otimizar o capital empregado: por meio da correta fixação e mensuração dos preços
de venda.
Formação de Preços
O custo de fabricação deve ser observado, sendo muito valorizado, pelo fato de a empresa não poder
vender seus produtos abaixo do preço de mercado.
São fatores levados em conta na venda dos produtos: características da demanda; existência ou não
de concorrentes; haver ou não acordo entre os produtores.
Ressalta-se também o estudo dos comportamentos da oferta e da procura por bens e serviços, que
estão interligados à formação dos preços.
»» Custo de transformação:
36
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
›› Vantagens:
›› Desvantagens:
»» Participação no mercado.
»» Enfrentamento da concorrência.
37
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Apuração de custos
Consiste na agregação de todos os fatores para a obtenção do custo total do produto, mercadoria ou
serviço.
Markup
Consiste no valor acrescentado ao custo de um produto para determinar o preço de venda final.
(1 – Custo) x 100%
Percentual de Markup =
Preço de Venda
(Custo) x 100
Preço =
100 % – Percentual de Markup
(12) x 100
Preço =
100 % – 50 %
Preço = $ 24,00
Lembrando que, dentro da política de preços, deve ser considerado também o comportamento do
mercado.
A Função do Mercado
A fórmula tradicional de custo e preço deve ser invertida para:
38
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
Fixação de margem
A margem de lucro é a diferença entre o preço de venda e o custo por unidade.
Exemplo: Qual é o preço de um produto Y, sabendo-se que gera um custo de $12 e se deseja uma
margem de 50 %.
Preço = (1 + 50 %) x 12
Preço = (1,50) x 12
Preço = $ 18,00
A experiência afirma que as despesas operacionais representam cerca de 40% dos custos e a PLENO
deseja obter um lucro, antes dos impostos, de 30% sobre o total de custos e despesas.
39
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Exemplo:
$1.000.000 + $150.000
Preço de Venda: = $1.150
1.000
ROI x Investimento
Preço =
Quantidade Vendida
40
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I
ROI = 40 %;
Investimento = $ 50.000.
0,40 x $ 50.000
Preço =
200
Preço = $ 100,00
1. pelo custo total = custo básico adicionado dos custos administrativos e de venda.
2. pela margem de contribuição = custo unitário variável adicionado dos custos fixos.
Exemplo:
Para obtenção do preço de venda desejado, acrescenta-se 50% ao custo total por unidade ou 100%
ao custo unitário variável.
Matéria-prima 6
Mão de Obra direta 4
Despesas gerais de produção (fixas e variáveis) 10
Custo Total por unidade 20
50% do custo total da unidade para cobrir despesas administrativas e de
10
vendas e o lucro desejado
Preço de Venda desejado 30
41
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS
Matéria-prima 6
Mão de Obra direta 4
Custos variáveis (despesas gerais, despesas administrativas e de vendas) 5
Custo variável por unidade 5
100% do custo variável da unidade para cobrir os custo fixos e o lucro
15
desejado
Preço de venda desejado 30
CERVANTES, Miguel
É fácil perceber quanto o valor dos tributos oneram o preço de venda da empresa. Na maior parte
dos casos, para conseguir vender seus produtos no mercado nacional (retraído e sem condições
econômicas e financeiras para que a população tenha condições de adquirir determinadas
mercadorias, produtos ou serviços) a empresa é obrigada a reduzir, violentamente, sua margem
de lucro e, consequentemente, seu preço de venda, em razão da excessiva carga tributária e das
condições peculiares e particulares da economia nacional.
Sem dúvida, em razão da situação em que se encontra o mercado nacional, talvez a única saída
possível seja a exportação, ou seja, a venda de mercadorias, produtos e serviços para o mercado
externo. Nessa hipótese, nossa política de exportação, também, conta com um agravante que é a
sistemática adotada pelos países estrangeiros que incentivam a exportação mediante créditos de
tributos sobre o valor exportado. No Brasil, onera violentamente o preço de venda dos bens, pela
incidência de tributos. Para exemplificar, podemos decompor o preço de venda da seguinte forma:
42
FINANÇAS E ANÁLISE DE UNIDADE II
INVESTIMENTOS
CAPÍTULO 1
Finanças
O campo de Finanças está estreitamente relacionado ao da Economia. Visto que a maioria das
empresas opera dentro da economia, é importante compreender o arcabouço econômico e estar atento
às consequências dos vários níveis de atividade econômica e das mudanças na política econômica.
Uma parte significativa de análises e estudos feitos rotineiramente em finanças faz referência às
discussões e análises sobre dinheiro e tempo. A análise da evolução do dinheiro no tempo costuma
ser feita pelo estudo das taxas de juros.
Taxas
a. dinheiro pago pelo uso de dinheiro emprestado, ou seja, custo do capital de terceiros
colocado à nossa disposição;
43
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Os juros são fixados por meio de uma taxa percentual que sempre se refere a uma unidade de tempo:
ano, semestre, trimestre, mês, dia.
Exemplo:
4% ao semestre = 4% a.s.
1% ao mês = 1% a.m.
A obtenção dos juros do período, em unidades monetárias, será feita mediante a aplicação da taxa
de juros sobre o capital considerado. Exemplo: um capital de R$10.000,00, aplicado a uma taxa de
8% ao ano, proporcionará, no final de um ano, um total de juros equivalentes a:
É importante observar que nesse cálculo, a taxa de juros de 8% foi transformada em fração decimal
(8/100 = 0,8) para permitir a operação.
Exemplo:
a. Percentagem 8% ao ano.
Taxa de juros nominal – é aquela em que a unidade de referência de seu tempo não coincide
com a unidade de tempo dos períodos de capitalização. A taxa nominal é quase sempre fornecida
em termos anuais, e os períodos de capitalização podem ser semestrais, trimestrais ou mensais. São
exemplos de taxas nominais:
A taxa nominal representa a taxa de juros contratada (ou declarada) numa operação financeira
(ativa ou passiva).
Taxa de juros real – é a taxa efetiva corrigida pela taxa inflacionária do período da operação.
Em contextos inflacionários, uma taxa nominal de juros é definida em função de dois componentes:
a. taxa real, que indica a parcela de juros que está realmente empenhada (excluída a
inflação) como custo ou rendimento da operação;
44
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
Relação entre as taxas de juros nominal e real – Suponha que um determinado capital P é
aplicado por um período de tempo unitário, a uma certa taxa nominal in.
S1 = P(1 + in).
Consideremos agora que, durante o mesmo período, a taxa de inflação (desvalorização da moeda)
foi igual a j. O capital corrigido por essa taxa acarretaria um montante.
S2 = P (1 + j).
A taxa real de juros, indicada por r, será aquela que, aplicada ao montante S2 , produzirá o montante
S1. Poderemos então escrever:
S1 = S2 (1 + r).
Substituindo S1 e S2 , vem:
Dessa forma:
Onde:
Observe que se a taxa de inflação for nula no período, isto é, j = 0, teremos que as taxas nominal e
real são coincidentes.
Taxas equivalentes
São as que geram montantes idênticos (equivalentes) quando capitalizadas sobre um mesmo capital
e prazo.
Ia = (1+Ib)nb/na – 1.
45
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Onde:
Exemplo:
Calcular a taxa equivalente semestral. Sendo: taxa mensal = 4% a.m., Ib= 0,04.
Ia = ?
na=1 semestre.
Ib= 0,04.
nb= 6 meses.
Solução:
Ia = (1+Ib)nb/na – 1.
É típica do sistema de capitalização linear (juros simples), sendo o prazo da taxa geralmente igual
ao período de capitalização dos juros. Assim, duas taxas expressas em diferentes unidades de tempo
são definidas como proporcionais quando enunciam valores iguais numa mesma unidade de tempo.
Por exemplo, 3% a.m. e 36% a.a. são consideradas proporcionais em juros simples por expressarem
valores iguais em quaisquer que sejam as unidades de tempo definidas. Supondo-se trimestre a
unidade de tempo escolhida, tem-se 36%a.a./4 trimestres = 9%a.t e 3% a.m.x 3 meses = 9% a.t.
Capitalização Simples
Sendo juros a remuneração recebida pela aplicação de um capital C a uma taxa de juros i durante
um certo tempo t, podemos dizer que o regime dos juros simples, ou regime de capitalização simples,
caracteriza-se pelo fato de os juros ao período serem iguais, já que incidem sobre o mesmo valor
presente. O valor futuro cresce linearmente no tempo.
46
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
J = C x i x n.
Onde:
i = taxa.
n = prazo.
Capitalização Simples.
M = C (1+in)
Onde:
M = montante final
C= principal
i= taxa
n= prazo
Exemplos de Aplicação.
dados:
C = 10.000,00.
n = 15 meses.
i = 3% a.m.
j=?
solução:
j = C x i x n.
47
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Dados:
M = 80.000,00.
C = 40.000,00.
n = 12 meses.
i=?
Solução:
M = C (1 + i.n) 2 = (1 + i x 12).
80.000,00 = 40.000,00 (1 + i x 12) 2 – 1 = (i x 12).
80.000,00 = (1 + i x 12) i = 1 / 12.
40.000,00 i = 0,0833, ou 8,33% ao mês.
Taxa anual = 8,33 x 12 = 100%.
Capitalização Composta
Chamamos de capitalização composta ou regime de juros compostos à remuneração que o capital
C recebe após n períodos de aplicação, quando, a cada período, a partir do segundo, os juros são
calculados sobre o montante do capital C no período anterior. Assim, capitalização composta é
aquela em que a taxa de juros incide sobre o principal acrescido dos juros acumulados até o período
anterior. Nesse regime de capitalização, a taxa varia exponencialmente em função do tempo.
O conceito de montante é o mesmo definido para capitalização simples, ou seja, é a soma do capital
aplicado ou devido mais o valor dos juros correspondentes ao prazo da aplicação ou da dívida.
M = C (1 + i)n.
Exemplos de Aplicação.
Dados:
C = 1.000,00.
n = 5 meses.
48
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
i = 4% ao mês.
M=?
Dados:
C=?
n = 1 semestre = 6 meses.
i = 2% ao mês.
M = 225.232,40.
M = C (1+i)n.
C = M / (1+i)n.
C= 225.232,40 / (1,02)6.
C= 200.000,00.
Para efetuar uma comparação, é indicado utilizar um indicador (benchmark) apropriado e ter
consciência do horizonte de tempo da aplicação.
Benchmark – é o processo por meio do qual uma empresa adota e/ou aperfeiçoa as melhores práticas
de gestão de outras empresas em determinada atividade. Aplicado a produtos de investimentos,
busca comparar os resultados e performances dos gestores.
49
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Os fundos de Renda Fixa costumam ter como ponto de referência o Certificado de Depósito
Interbancário (CDI). Já os fundos de Renda Variável possuem como principal benchmark o Índice
Bovespa. Os fundos de ações buscam alcançar rentabilidade anual igual ou maior que IBOVESPA,
dependendo do perfil e composição do fundo.
Volatilidade (Conceito)
É entendida como as mudanças ocorridas nos preços do título em razão de modificações verificadas
nas taxas de juros de mercado. Quanto maior a volatilidade de um título, mais elevadas apresentam-
se as mudanças em seus preços diante de alterações nas taxas de juros.
Suponha que o histórico da variação de preços de uma posição acionária esteja entre R$20,00 e
R$50,00 no período de um mês. Você dispõe de 30 (trinta) dias para investir uma quantia, sendo
obrigado a resgatá-la após o término do mês para honrar um compromisso. No quarto dia, você
compra um lote de ações a R$37,00 cada ação. No entanto, até o 30o dia após a compra o preço
oscilou entre R$40,00 e R$21,00 e no momento limite do resgate você precisou vender o lote a
R$27,00, assumindo um prejuízo de R$10,00 por ação. O ganho máximo esperado seria a venda
a R$50,00 (R$13,00 reais de lucro por ação), e a perda máxima esperada seria a venda a R$20,00
(R$17,00 reais de perda por cada ação do lote). Se a volatilidade aumentasse, os lucros ou os
prejuízos esperados seriam maiores. Se o preço pudesse variar entre -R$50,00 e R$100,00, você
poderia perder tudo o que tinha investido ou ainda sair da transação devendo R$50,00. Neste caso,
o risco seria muito maior.
Exemplo:
1. Calcular o PMPS dos títulos que estaremos encaminhando ao banco para desconto.
50
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
Então:
30 x R$200.000,00 = R$6.000.000,00.
60 x R$200.000,00 = R$12.000.000,00.
90 x R$200.000,00 = R$18.000.000,00.
180 x R$200.000,00 = R$36.000.000,00.
R$72.000.000,00.
R$72.000.000,00 / R$800.000,00 = 90 dias.
O prazo médio de 90 dias significa que os diversos títulos, no valor nominal de R$800.000,00,
vencem em média dentro de 90 dias. Se a taxa de juros bancária for de 4% a.m., o valor descontado
por antecipação seria calculado da seguinte forma:
Na análise dos produtos de investimentos, quanto maior o prazo médio de uma carteira maior sua
vulnerabilidade em relação às oscilações do mercado.
Tem como principal objetivo evitar a transferência de riquezas entre os diversos cotistas de um fundo
de investimento, sendo um procedimento essencial para a identificação dos verdadeiros valores dos
ativos, ou seja, a obtenção do valor de um ativo pelo qual ele pode ser negociado no mercado.
51
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
VIII – Consistência: O mesmo ativo não pode ter preços diferentes, salvo nos
casos previstos por regulamentação específica.
Uma vez ocorrido o lançamento inicial no mercado, as ações passam a ser negociadas no mercado
secundário, que compreende mercados de balcão, organizados ou não, e bolsas de valores. Nesse
estágio, as transações são realizadas entre os investidores, não havendo aporte de recursos para a
empresa. A Bovespa é o maior mercado secundário de ações do Brasil.
Para operar no mercado secundário, é necessário que o investidor se dirija a uma sociedade
corretora, membro de uma bolsa de valores, na qual funcionários especializados poderão fornecer os
mais diversos esclarecimentos e orientação na seleção do investimento, de acordo com os objetivos
definidos pelo aplicador. Se pretender adquirir ações de emissão nova, ou seja, no mercado primário,
o investidor deverá procurar um banco, uma corretora ou uma distribuidora de valores mobiliários,
que participem do lançamento das ações pretendidas.
52
CAPÍTULO 2
Análise de Investimentos
Assim, serão abordadas as técnicas do Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno
(TIR) e o método do Tempo de Retorno ou Payback. Ressalta-se também que esses métodos
de análises geralmente levam em consideração a taxa de desconto denominada taxa mínima de
atratividade (TMA).
Na condição de Custo de Oportunidade, a TMA pode ser considerada também a taxa de juros que
remuneraria um determinado capital investido caso ele tivesse sido aplicado em uma alternativa
diferente da oportunidade selecionada. Dessa forma, a TMA passa a ser o valor da diferença entre
duas ou mais taxas de juros, que se refiram a diferentes alternativas de investimento.
Assim, se há uma determinada aplicação bancária com pequeno índice de risco e que paga 18% a.a.,
deixar o capital parado equivale a incorrer em um custo de oportunidade de 18% ao ano que esse
dinheiro deixa de render. O custo de oportunidade depende das alternativas em estudo e acaba
sendo o percentual que se paga por não se preferir a oportunidade de maior rendimento.
Para Lapponi (2000), existem três tipos de taxas de juros que são analisadas pelos investidores em
projetos:
53
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
»» taxa esperada, taxa essa originária da projeção dos fluxos de caixa do projeto;
Como se trata de projeção futura de aplicação de recursos, a TMA serve de parâmetro para
cotejamento entre as taxas obtidas pelos projetos durante os períodos de análise.
Para alternativas em que haja o uso de capital próprio e de terceiros, enquanto fonte de financiamento,
indica-se como TMA o Custo Médio Ponderado de Capital (WACC).
Payback Simples
Trata-se do mais antigo método formal para avaliação de projetos de investimento. É também o meio
mais simples de se usar a aritmética para a análise de um investimento. O nome payback vem do
inglês e em tradução livre significaria pagar de volta. Representa o número de anos necessários para
recuperar o investimento original, que será compensado pelos fluxos de caixa positivos esperados
pelo investidor. Em algum momento numa linha do tempo, após um determinado número de anos
a partir do primeiro desembolso, espera-se que o investimento original seja totalmente recuperado.
Em outras palavras, quando o lucro (resultado) do investimento pagará (retornará) o que foi
investido.
Trata-se de um tipo de cálculo do ponto de equilíbrio. Isso porque indicará em que momento as
receitas e as depesas do projeto se equivalem. Quanto mais rápido isso acontecer, melhor.
3. passo: identifica-se o período em que a soma dos retornos iguala ou supera o total
do investimento.
1o Ano: R$1.000,00.
2o Ano: R$2.500,00.
3o Ano: R$2.500,00.
4o Ano: R$2.500,00.
5o Ano: R$3.500,00.
6o Ano: R$4.500,00.
54
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
Período Valor Valor Acumulado 100 2500 2500 2500 3500 4500
0 R$(10.000,00) R$(10.000,00)
1 R$1.000,00 R$(9.000,00)
2 R$2.500,00 R$(6.500,00)
3 R$2.500,00 R$(4.000,00)
4 R$2.500,00 R$(1.500,00)
5 R$3.500,00 R$2.000,00
10.000,00
6 R$4.500,00 R$6.500,00
No exemplo 1, a inversão de sinal no valor acumulado ocorre entre o 4o e 5o ano. Dessa maneira, diz-se
que o payback simples desse investimento é entre o 4o e 5o ano.
O payback simples é popular porque até mesmo pessoas sem conhecimento em finanças podem
calculá-lo e o compreendem com facilidade. No entanto, pode levar o investidor a tomar uma
decisão errada, visto que não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo (o que é uma
inconsistência teórica) e também não informa quanto irá retornar e nem a rentabilidade do retorno.
Esse método é bastante simples, mas deve ser evitado por aqueles que possuem conhecimentos de
matemática financeira. Estes devem priorizar o payback descontado.
50.000
55
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Terceiro Passo: Calcular o número de anos necessários para se recuperar o investimento inicial.
Se os fluxos de caixa líquidos de um projeto de investimento são aqueles indicados no quadro a seguir ,
quantos anos precisaremos esperar até que os fluxos de caixa acumulados desse investimento se igualem
ou superem seu custo?
20.000 90.000
60.000
Nesse caso, o tempo de recuperação do investimento não é exato. O payback simples se deu entre
o 1o e 2o anos. Se exigíssemos um período de recuperação do investimento de 2 anos ou menos, o
investimento seria aceitável.
Se o período de corte é de 2 anos, quais dos projetos a seguir deverão ser aceitos?
Ano A B C D E
0 -100 -200 -200 -200 -50
1 30 40 40 100 100
2 40 20 20 101
56
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
3 50 10 10 -200
4 60
A Companhia Alfa pretende investir $525.000 hoje em um novo projeto de expansão. O projeto
gerará fluxos anuais de caixa de $75.000 durante 15 anos. Qual é o período de payback simples do
projeto? Supondo que a Cia Alfa deseje um período de recuperação do investimento de 13 anos, deve
o projeto ser aceito?
75.000
525.000
Terceiro Passo: Calcular o número de anos necessários para se recuperar o investimento inicial. O
Projeto da companhia Alfa precisa de sete anos para recuperar os $525.000 mil de investimento
inicial. Veja o quadro seguinte.
Resposta: O projeto deve ser aceito, pois o período de payback (7 anos) é inferior ao período desejado
de recuperação do investimento (13 anos).
57
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Payback Descontado
É similar ao payback simples. A diferença reside no fato de, neste método, o fluxo de caixa ser
descontado. Assim, os valores recebidos ao longo da linha do tempo serão ajustados a valor presente.
Considera-se, portanto, o custo de capital ou uma taxa de desconto.
Assim, o payback descontado é o número de anos necessários para recuperar o investimento original
considerando-se fluxos de caixa líquidos descontados pelo custo de capital do projeto.
3o passo: desconta-se cada parcela a valor presente com auxilio da taxa de desconto;
4o passo: identifica-se o período em que a soma dos retornos a valor presente se iguala ou supera o
total do investimento.
Exemplo 2 – Para o mesmo exemplo 1, teremos um resultado diferente para o payback descontado.
Vejamos:
10.000
Para o payback descontado, só acontecerá a inversão de sinal no valor acumulado entre 5o e o 6o ano.
E esse resultado é mais confiável do que o resultado do payback simples. É comum e frequente que
haja diferenças entre os resultados do Payback simples e do Payback descontado. Isso evidencia
a importância da correção dos valores dos fluxos de caixa a partir de uma taxa de desconto. Outro
detalhe é que a correção dos valores ao valor presente torna o payback descontado teoricamente
consistente.
58
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
Apesar de tais limitações, o payback dá uma estimativa de tempo no qual o capital estará preso a
um projeto.
Utilizando o mesmo enunciado do Exercício Resolvido (4), considere uma taxa anual de desconto
apropriada para o projeto igual a 10%. Calcule o período de payback descontado do projeto.
Terceiro Passo: Descontar cada parcela a valor presente com auxílio da taxa de desconto e calcular
o número de anos necessários para se recuperar o investimento inicial.
O projeto da companhia Alfa precisa entre doze e treze anos para recuperar os $525.000 mil de
investimento inicial, tendo em vista que o payback descontado é o número de anos necessários para
recuperar o investimento original considerando-se fluxos de caixa líquidos descontados pelo custo
de capital do projeto.
Resposta: O projeto deve ser aceito, pois o payback descontado ocorreu entre o 12o e 13o anos,
inferior ao período desejado de recuperação do investimento (13 anos).
59
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Suponha que um investimento exige um gasto inicial de $5 milhões e tenha fluxos de caixa esperados
de $1 milhão, $3,5 milhões e $2 milhões para os três primeiros anos, respectivamente. Qual é o
payback descontado desse investimento se a taxa de retorno exigida é 10%?
Período Fluxo
0 ano - 5.000.000
o 1.000.000
1 ano
o 3.500.000
2 ano
o 2.000.000
3 ano
5.000.000
Terceiro Passo: Descontar cada parcela a valor presente com auxílio da taxa de desconto e calcular
o número de anos necessários para se recuperar o investimento inicial.
O Projeto precisa entre dois e três anos para recuperar os $5.000.000 de investimento inicial, tendo
em vista que o payback descontado é o número de anos necessários para recuperar o investimento
original considerando-se fluxos de caixa líquidos descontados pelo custo de capital do projeto.
60
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
2. passo: calcula-se o valor presente de cada fluxo de caixa, sejam eles fluxos positivos
ou negativos, descontando pelo custo de capital do projeto ou pela taxa de desconto
definida para o projeto;
No caso de um VPL ser positivo, o projeto é considerado viável. Significa que se está recebendo mais
dinheiro enquanto retorno do que o que foi investido.
Se for negativo o VPL, o projeto deve ser rejeitado. Significa que estamos colocando mais dinheiro
em termos de investimento do que o que se tem enquanto retorno.
Se o VPL é nulo, significa que os fluxos de caixa do projeto são somente suficientes para pagar o
custo do capital investido.
Ao compararmos projetos mutuamente excludentes de VPL positivo, o de VPL mais elevado deve
ser escolhido. Quando os valores forem negativos, o VPL de menor valor em módulo deverá ser
elegido.
R$
O resultado mostra que esse projeto gera fluxos de caixa suficientes para “pagar” o custo do projeto
à 2% a.m. e deixa um resultado líquido (VPL) de $5.461,83 para os investidores. O VPL denota que
é viável esse projeto de investimento.
Digitar visor.
ON.
61
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Obs: o comando g Nj pode ser utilizado para não se repetir por 4 vezes a entrada do fluxo de caixa
R$8.000,00. Nesse caso, teríamos a seguinte sequência de passos.
Digitar visor.
ON.
f CLEAR REG 0,00.
25000 CHS g CF0 -25.000,00.
8000 g CFj 8.000,00.
4 g Nj 4,00.
8000 g CFj 8.000,00.
2i 2,00.
f NPV 5.461,83.
Determine o VPL, considerando uma taxa de desconto de 8% ao ano, do Projeto Y, cujo fluxo de
caixa é mostrado a seguir.
500.000
400.000
200.000
62
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
1.000.000
Utilizando a HP 12C.
Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
1000000 CHS g CF0 -1.000.000,00.
200000 g CFj 200.000,00.
3 g Nj 3,00.
400000 g CFj 400.000,00.
500000 g CFj 500.000,00.
8i 8,00.
f NPV 149.722,94.
Determine o VPL, considerando uma taxa de desconto de 12% ao ano, dos Projetos A e B, cujos
fluxos de caixa são mostrados a seguir.
Projeto A
13.000
10.000
40.000
63
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Projeto B
16.000
12.000
50.000
VPLA = – 40.000/ (1,12)0 + 10.000/ (1,12)1 + 10.000/ (1,12)2+ 13.000/ (1,12)3 + 13.000/ (1,12)4
+13.000/ (1,12)5 = 1.791,94.
VPLB = – 50.000/ (1,12)0 + 12.000/ (1,12)1 + 12.000/ (1,12)2+ 16.000/ (1,12)3 + 16.000/ (1,12)4
+ 16.000/ (1,12)5 = 916,22.
Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
40000CHS g CFO -40.000,00.
10000 g CFj 10.000,00
2 g Nj 2,00.
13000 g CFj 13.000,00.
3 g Nj 3,00.
12 i 12,00.
f NPV 1.791,94
Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
50000 CHS g CF0 -50.000,00.
12000 g CFj 12.000,00
2 g Nj 2,00.
16000 g CFj 16.000,00.
3 g Nj 3,00.
12 i 12,00.
f NPV 916,220
64
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
O cálculo da TIR, diferentemente do cálculo do VPL, é feito por tentativa e erro (iteração). Quando
auxiliado por calculadora financeira ou planilha eletrônica, passa a ser um processo rápido, eficaz
e simples.
A ideia por detrás da TIR é similar à do VPL. Define-se enquanto taxa de referência o custo de
capital a ser investido. Se a TIR de um projeto for superior à referência, haverá um excedente (após
a remuneração desse capital) que será revertido para os acionistas. Portanto, quando uma empresa
implementa um projeto com TIR superior ao custo de capital aumenta a riqueza de seus acionistas.
Por outro lado, implementar um projeto com TIR inferior ao custo de capital impõe perda aos
acionistas.
R$ 6.000,00
(20000) 6000 6000 6000 6000 6000
VPL = + + + + +
(1+ TIR)0
(1+ TIR)1
(1+ TIR)2
(1+ TIR)3
(1+ TIR)4
(1+ TIR)5
Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
20000CHS g CFO -20.000,00.
6000 g CFj 6.000,00
5 g Nj 5,00.
f .IRR 15,24
O maior inconveniente apresentado pela TIR é que poucas calculadoras e poucas planilhas
eletrônicas resolvem o problema de mais de uma inversão de sinal que venha a ocorrer em um
projeto. Não é incomum que os projetos passem a ter novos investimentos ao longo de uma mesma
linha do tempo. O que acaba ocorrendo é o sistema passar a apresentar uma TIR diferente para cada
inversão de sinal.
65
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS
Calcule a taxa interna de retorno dos projetos com os seguintes fluxos de caixa.
Fluxos de Caixa($)
Ano Projeto A Projeto B
0 -4.000 -8.000
1 3.000 6.000
2 2.000 4.000
Projeto A
3.000 2.000
4.000
Projeto B
6.000 4.000
8.000
Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
40000CHS g CFO -4.000,00.
3000 g CFj 3.000,00
2000 g CFj 2.000,00
f .IRR 17,54
Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
8000CHS g CFO -8.000,00.
6000 g CFj 6.000,00
66
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II
4000 g 4.000,00
f .IRR 17,54
A empresa WAM tem uma oportunidade de investimento com o seguinte fluxo de caixa.
Calcule a TIR do projeto. Supondo que a taxa mínima de atratividade do projeto é 8%, deve o projeto
ser aceito pela WAM?
Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de
investimentos e de retornos ano a ano.
12.000
Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
12000CHS g CFO -12.000,00.
4000 g CFj 4.000,00
5000 g.CFJ 5.000,00
4500.g CFJ 4.500,00
f .IRR 6,01
Resposta: A TIR do projeto é igual a 6,01%. Com uma taxa mínima de atratividade de 8%, o projeto
deve ser rejeitado pela WAM.
67
PLANEJAMENTO UNIDADE III
TRIBUTÁRIO
CAPÍTULO 1
Disposições Gerais e Competência
Tributária
Malkowski, (1999)
Disposições Gerais
O Planejamento Tributário pode ser caracterizado como o conjunto de ações lícitas realizadas pelos
contribuintes com o propósito de diminuir ou programar, de uma forma mais compatível com a sua
realidade, a carga de tributária que precisaria normalmente pagar. Tal conduta está fundamentada
na possibilidade de se pagar menos tributos, porém respeitando as leis vigentes.
Entendido como um tipo de planejamento empresarial, que tem como propósito os tributos e os
reflexos de seus pagamentos na organização, o planejamento tributário tem por objetivo economizar
impostos a partir da adoção de procedimentos estritamente legais.
Segundo Fabretti (2001), os contadores, nos dias de hoje, não só necessitam de ter sólidos
conhecimentos de Contabilidade mas, também, boas noções de Legislação Tributária, incluindo as
normas de vigência e as maneiras corretas de interpretar essa legislação.
68
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III
No Planejamento Tributário, vemos que há o caráter preventivo do planejamento, que seria oriundo
do fato de não ser possível escolher alternativas a não ser antes de se concretizar os pagamentos ou
os fatos. Dessa forma, pode-se deduzir que somente pode haver alternativa para o sujeito passivo
jurídico-tributário, e ela se simplifica no fato de pagar ou não pagar o tributo, o qual pode ser
decorrente de uma previsão legal denominada fato gerador do tributo.
Assim, os tributos podem ser fiscais ou extrafiscais. Os tributos fiscais objetivam apenas propiciar a
arrecadação de recursos financeiros às pessoas jurídicas de direito público. Os tributos extrafiscais
não têm apenas o objetivo de arrecadação de recursos financeiros, mas, também, o intuito de
minimizar ou corrigir anomalias em situações econômicas ou sociais.
O cuidado que a atividade de planejamento tributário deve ter decorre do simples fato de que, se não
se pagar algum tributo, pode ser caracterizado como uma prática ilícita, o que sujeita a empresa às
ações punitivas do Estado, quando do conhecimento dessa prática.
Assim, o planejamento tributário tem como principais finalidades: evitar a incidência do imposto
(onde são tomadas várias providências a fim de evitar a ocorrência do fato gerador do tributo);
reduzir o montante do tributo (que enseja providências no sentido de que se possa reduzir a alíquota
ou, mesmo, influir para a redução das bases de cálculo de um tributo); retardar o pagamento dos
tributos (onde o contribuinte faz uso de medidas a fim de adiar/postergar o pagamento de um ou
mais tributos, sem que possa incidir algum tipo de multa).
Segundo Latorraca (1972, p. 20), a prática de atos lícitos com o objetivo de evitar a concretização de
fato gerador de tributo é denominada tecnicamente de “elisão fiscal”.
Para Carvalho (1991, pp. 345 e 346), tal técnica difere diametralmente da evasão fiscal, que é
decorrente do uso de atos ilícitos que caracterizam a fraude ou a sonegação fiscal.
A sonegação fiscal pode ser descrita como uma ação ou omissão dolosa, por parte do contribuinte,
que tenta impedir ou retardar, de forma total ou parcial, o conhecimento por parte da autoridade
fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou
circunstâncias materiais; ou as condições pessoais do contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação
tributária principal ou o crédito tributário correspondente.
A Lei no 4.729/1965 define, em seu artigo primeiro, o crime da sonegação fiscal como sendo a
prestação de declaração falsa ou omissão; a inserção de elementos inexatos ou a omissão de
rendimentos ou operações de qualquer natureza em documentos ou livros exigidos pelas leis fiscais,
com o intuito de exonerar-se do pagamento de tributos devidos à Fazenda Pública; a alteração
de faturas e quaisquer documentos relativos a operações mercantis com o propósito de fraudar
a fazenda pública; o fornecimento ou a emissão de documentos falsos ou alteração de despesas,
majorando-as, com o objetivo de ser obtida a dedução de tributos devidos à Fazenda Pública, sem
69
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Competência Tributária
Competência é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade ou a um órgão
ou agente do Poder Público para emitir decisões.
A Competência Tributária é outorgada pela Constituição Federal à União, aos Estado, ao Distrito
Federal e aos Municípios para criar, modificar e extinguir tributos, por meio de lei.
Podemos dizer que a competência para legislar sobre Direito Tributário é concorrente, uma vez que
inclui a União, os estados e o Distrito Federal, segundo o artigo 24 da Constituição Federal, onde
está registrado que a União, os estados e o Distrito Federal podem legislar concorrentemente sobre:
Direito Tributário, Financeiro, Penitenciário, Econômico e Urbanístico.
Assim, caso não existam leis federais sobre as normas gerais, os estados poderão exercer a
competência legislativa plena, a fim de atender a suas peculiaridades. Porém, a superveniência de
lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia das leis estaduais, no que for contrário.
Podemos dizer que a Constituição Federal adota a competência concorrente não cumulativa ou
vertical, de forma que a competência da União está afeta ao estabelecimento de normas gerais,
tendo os estados e o Distrito Federal uma competência suplementar, onde suas respectivas leis (dos
estados e do Distrito Federal) devem se caracterizar pela especificação de tais normas (estabelecidas
pela União), segundo as suas peculiaridades. Assim, uma mesma matéria pode ser regulada por
mais de uma entidade federativa, contudo, tendo a primazia da União no que concerne à fixação de
suas normas gerais.
A Competência Tributária corresponde à aptidão de criar tributos em abstrato, por meio de lei,
que possua todos os requisitos essenciais. Tais requisitos essencias podem ser, basicamente,
caracterizados como os sujeitos ativo e passivo da obrigação, a base de cálculo e a alíquota. Dessa
70
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III
forma, tal competência abrange, também, a aptidão para que o tributo possa ser aumentado,
parcelado, diminuído, isentado, modificado e, até mesmo, perdoado.
Assim, a competência tributária pode ser caracterizada como sendo a aptidão da União, dos estados,
do Distrito Federal e dos municípios para criarem tributos. Tal competência enseja amplos poderes
sobre as decisões relativas aos tributos do agente estatal, apesar de que existirem algumas limitações
de tal competência presentes no texto da Constituição Federal.
Dessa forma, podemos afirmar que a Constituição Federal apenas outorga competência para que os
órgãos estatais possam criar os seus tributos, não estabelecendo os tributos em si. Tal atribuição é
delegada às leis ordinárias ou complementares, conforme o caso do tributo.
Assim, podemos inferir que a competência tributária, em seu exercício, seria o de proporcionar o
nascimento, no plano abstrato, dos tributos.
Apenas as pessoas políticas, que são a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, têm
a competência tributária, uma vez que apenas eles detêm o poder de fazer as leis (atribuição
legislativa).
Normalmente, aquele que tem a competência é conhecido como o sujeito ativo da relação jurídica
tributária, pois ele tem capacidade tributária ativa, que é a aptidão, também, para cobrar o tributo.
Porém, não há impedimento de que a pessoa política, por meio de lei, possa delegar sua capacidade
tributária ativa a terceiros, sendo que estes passam a ser sujeitos ativos desses tributos.
»» Incaducável: a competência tributária não tem prazo final para ser realizada, uma
vez que se trata de competência legislativa e, assim, não pode haver prazo para que
esta possa ser exercida. Contudo, de forma adversa da competência tributária, a
capacidade tributária ativa pode prescrever em 5 anos, ou seja, as ações para que
sejam cobrados os créditos tributários prescrevem em 5 anos, conforme o Código
Tributário Nacional, em seu artigo 174.
»» Inampliável: não pode ser ampliada por meio de decisão unilateral da própria pessoa
política tributante, sendo que a competência tributária pode apenas ser ampliada
por meio de Emenda Constitucional.
71
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
»» Irrenunciável: a pessoa política não pode abrir mão da competência tributária a ele
atribuída em caráter definitivo.
»» Indelegável: cada pessoa política tem a sua própria competência tributária e esta
não pode ser traslada nem mesmo por meio de lei. Se as pessoas tributam por
delegação constitucional não podem delegar aquilo que já lhes foi delegado.
Todavia, no Código Tributário, em seu artigo 7o, é prescrito que a competência tributária é
indelegável, salvo nos casos de atribuição das funções de arrecadação ou fiscalização de tributos, na
execução de leis, atos ou decisões administrativas em matérias tributárias. Dessa forma, podemos
confirmar que a capacidade tributária ativa pode ser delegada.
»» Privativa ou Exclusiva: refere-se aos impostos, sendo que o Direito Tributário não
distingue entre a competência privativa e a exclusiva.
No que se refere aos impostos, a Constituição Federal fez uso de dois critérios para caracterizar a
competência tributária como privativa:
Competência Residual
Por competência residual, conforme o artigo 154 da Constituição Federal, a União pode, via lei
complementar, instituir outras contribuições de cunho social, a fim de expandir a Seguridade Social
ou, ainda, outros impostos, desde que não sejam cumulativos e não possam ter fato gerador ou base
de cálculo que seja a mesma dos impostos já existentes.
72
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III
Competência Cumulativa
A chamada competência cumulativa, conforme descrito no artigo 32 da Constituição Federal, decorre
do fato de ser de atribuição da União, em território federal, a cobrança dos impostos estaduais, se
esse território não estiver subdividido em municípios, apresentando de forma cumulativa também
os impostos municipais. Dessa forma, compete ao Distrito Federal a cobrança dos impostos de
caráter estadual e municipal.
Repartição de Competências
A autonomia das Entidades Federativas, no exercício e desenvolvimento de suas atividades,
pressupõe a repartição de suas competências.
73
CAPÍTULO 2
O Sistema Tributário Nacional
O Sistema Tributário Nacional é o conjunto de princípios gerais, das limitações do
poder de tributar, de atribuição da competência tributária privativa (discriminação
de rendas) entre União, estados, Distrito Federal e municípios e da repartição das
receitas tributárias.
Cassone (2008)
Definições
Podemos entender como sendo o Sistema Tributário Nacional o conjunto das disposições contidas
na Constituição Federal, nos artigos 145 a 162. Além desses, existem outras citações constitucionais
que aludem aos tributos, como o artigo 195.
Essas disposições citam os aspectos estruturais básicos desse ordenamento jurídico e tributário
brasileiro, que apresentam regras que devem ser observadas pelos legisladores, pelo Poder Judiciário
e pela administração tributária, a fim de exercerem suas funções. Desse modo, o Poder Fiscal,
corresponde à atribuição que o Estado apresenta de poder criar tributos e exigi-los das pessoas que
se estejam dentro de sua Soberania Nacional.
Assim, o Sistema Tributário Nacional está baseado na coexistência de quatro outros sistemas
tributários, de funcionamento autônomo, que são o Federal, o Estadual, o Municipal e o do Distrito
Federal. Dessa forma, a consolidação dos impostos apresenta naturezas semelhantes, em suas
formas unitárias e quando levamos em conta suas bases econômicas.
Podemos dizer que o Sistema Tributário Nacional é composto pela instituição de taxas, impostos e
contribuições especiais, parafiscais, especiais, de melhoria e os empréstimos compulsórios.
Taxas
As taxas são atribuídas mediante um serviço prestado pelo Estado ou, simplesmente, por esse ter
sido deixado à disposição do contribuinte, ou o exercício regular do poder de polícia, sendo que
poderão ser criadas pela União, pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios, desde que
limitados às suas atribuições.
Impostos
Os impostos são os tributos em que sua obrigação tem por fato gerador uma situação independente
de qualquer atividade estatal. Eles podem ser, por exemplo, sobre produção e circulação de
mercadorias, comércio exterior, sobre a renda e o patrimônio, sobre combustíveis fósseis, energia
elétrica, minerais, extraordinários.
Como vimos, a Constituição Federal concede uma permissão para criar novos impostos, a chamada
competência residual.
74
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III
Contribuições Parafiscais
As contribuições parafiscais apresentam como característica o fato de serem tributos que, às vezes,
têm o comportamento de uma taxa ou de um imposto e, outras vezes, podem ser um misto de taxa e
imposto. São, por delegação, arrecadados por algumas entidades beneficiárias, tais como sindicatos
e entidades profissionais ou econômicas, contribuições do INSS etc.
Contribuições de Melhoria
As contribuições de melhoria são as que podem ser exigidas e criadas pela União, pelos estados, pelo
Distrito Federal e, também, pelos municípios, considerando que ocorra algum tipo de obra pública
e da qual possa decorrer algum tipo de benefício para os proprietários dos imóveis.
Empréstimos Compulsórios
Os empréstimos compulsórios são os tipos de tributo que podem ser criados no caso de incorrerem
investimentos públicos. Tal tributo, dessa forma, possui uma natureza contratual.
Fato Gerador
O fato gerador corresponde à concretização da hipótese da incidência tributária prevista em abstrato
na lei que cria a obrigação tributária.
Contribuinte ou Responsável
O contribuinte é o sujeito passivo da obrigação tributária que tem relação pessoal e direta com o fato
gerador. Assim, denomina-se responsável a pessoa que a lei escolher para responder pela obrigação
tributária, em substituição ao contribuinte de fato, dada a maior complexidade para alcançá-lo.
Os responsáveis não arcam com o ônus tributário, que é suportado pelo contribuinte de fato. Atua
como uma espécie de agente arrecadador do fisco e como seu depositário. Cabe-lhe recolher as
importâncias descontadas ou cobradas do contribuinte de fato, ao Fisco, nos prazos de lei. Não o
fazendo, será declarado depositário infiel, sujeito à pena de prisão (Lei no 8.866/1994).
75
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Base de Cálculo
Corresponde ao valor sobre o qual se aplica o percentual, com a finalidade de apurar o montante
a ser recolhido. A base de cálculo, segundo a Constituição Federal, precisa ser definida em lei
complementar, estando sua alteração sujeita aos princípios Constitucionais da legalidade (que se
refere à mudança somente por outra lei), de anterioridade (no qual a lei deve estar vigente antes de
iniciada a ocorrência do fato gerador) e da irretroatividade (de que a norma não pode atingir fatos
passados).
Dessa forma, lei complementar deverá definir claramente quais os critérios para a determinação da
base de cálculo.
Elementos Complementares
“[Alíquota] é o percentual definido em lei que aplicado sobre a base de cálculo
determina o montante do tributo a ser pago”.
Alíquota
Após ser conhecida a base de cálculo, o contribuinte deverá aplicar sobre esse valor encontrado as
alíquotas tributárias referentes ao tributo a ser pago por ele, sabendo-se que cada tributo apresenta
sua própria alíquota. Alguns tributos, porém, podem ter alíquotas diferentes para o mesmo produto.
A alíquota corresponde ao fator definido em lei, que é aplicado sobre a base de cálculo. Ele determina
o montante do tributo a ser pago.
Assim, a lei pode estabelecer uma tabela progressiva em que a alíquota vai sendo elevada, incidindo
sobre faixas de valores cada vez maiores. As alterações de alíquotas também estão sujeitas aos
princípios constitucionais da legalidade, da anterioridade e da irretroatividade.
Adicional
A lei poderá determinar o pagamento de mais um valor, sob o nome de adicional, que incide sobre
determinada base de cálculo que ela fixar.
Prazo de Pagamento
O prazo de pagamento pode ser fixado pelo ente competente para arrecadar o tributo, por lei
ordinária.
76
CAPÍTULO 3
O Processo de Planejamento Tributário
de Pessoa Jurídica
Assim, tal departamento poderia viabilizar estudos relacionados ao impacto dos tributos sobre as
operações da empresa, bem como do setor em que ela atua, com proposição de alternativas lícitas
de redução da carga tributária.
As melhores práticas, nesse caso, estariam baseadas em análises das perspectivas feitas de forma
permanente e ao mesmo tempo flexível, de modo a permitir que as decisões empresariais mais
relevantes sejam tomadas, levando-se em consideração os custos tributários diretos ou indiretos.
Para Machado (2006), a competitividade nos negócios requer cada vez mais esforços criativos,
inovadores e dinâmicos de estratégia das empresas. É sob esse aspecto que o planejamento tributário
deve ser visto pelos empresários e gestores de negócios, cabendo ao empresário, auxiliado por seu
advogado, administrador e contador, observar as limitações previstas na legislação tributária e
delinear as estruturas e formas legítimas para suas operações industriais e mercantis.
Nas atividades gerenciais, o administrador muitas vezes tem o tributo como variável de
grandes reflexos nos preços. Os impostos como o ICMS e as contribuições para o PIS/COFINS
destacam-se por ter alíquotas médias de grande repercussão nos preços finais, dependendo da
extensão da cadeia produtiva. Nesse sentido, torna-se importante para o gestor tributário tomar
providências buscando alternativas por meios legais, a fim de poder desonerar ao máximo
possível essa variável.
77
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Assim, o gerenciamento contábil e financeiro dos impostos e dos demais tributos corresponde a um
dos fatores que penalizam a maioria das empresas com grandes dispêndios e demandam desgaste
de recursos em seu gerenciamento. Dessa forma, aumenta a responsabilidade dos gestores da
empresa que, além das preocupações inerentes ao negócio, precisam se preocupar com os prazos e
dispêndios em seus fluxos de caixa.
Os profissionais que irão realizar o planejamento tributário precisam conhecer mais que outros
empregados das áreas administrativas ou financeiras, pois devem conhecer a Legislação Tributária,
suas particularidades e se preocupar com a eficácia dos controles e agendamentos utilizados para
exercer esse gerenciamento (PEREZ, 2003).
Entende Fabretti (2004) que a elisão fiscal ou elisão tributária corresponde a uma forma de
“economia lícita de tributos”, na qual o contribuinte prescinde de realizar determinadas operações
ou as executa de forma menos onerosa ou racional, em consonância com alguma lacuna na lei ou
dispositivo legal.
Segundo Oliveira (2005, p. 182), para se adotar um sistema de economia de tributos é necessário
que as empresas possam se utilizar de alguns meios ou de instrumentos. A partir daí, poderiam agir,
conforme o caso, segundo estas análises.
»» Econômico-Financeira.
78
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III
à empresa, pois, além do desencaixe do valor, a empresa não poderá deduzir como
despesas operacionais; entretanto, o rendimento produzido pelo depósito deverá
ser contabilizado como receitas financeiras, que servirão de base de cálculo do
PIS/COFINS.
»» Jurídica.
»» Fiscal.
»» Fiscos-Contábeis.
Para Oliveira (2005), ao serem considerados os efeitos fiscais no tempo, existem três tipos de
Planejamento Tributário.
79
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
A partir daí, podemos citar os seguintes passos, constantes de uma metodologia básica de
planejamento tributário.
Esta etapa é composta de elementos primordiais que facilitam a sua correta elaboração
e, assim, permitam a efetividade do planejamento, os quais são:
2. Premissas
80
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III
Levando em consideração o plano estratégico a ser adotado pela empresa para o ano em
que irá se iniciar, a equipe de planejamento precisa mapear as atividades operacionais de
todos os departamentos de uma forma mais detalhada, ou pelo menos revisá-los, para,
assim, ter subsídios na formulação de estratégias tributárias a serem aplicadas no ano
vindouro. Importante lembrar que, se os processos estiverem com problemas, alguns
impostos, taxas e tributos podem estar sendo superestimados ou, mesmo, subestimados
(ocasionando futuras multas ou problemas com fiscalização).
4. Escopo do planejamento
81
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Para Almeida (1998), se a empresa for, por exemplo, uma indústria, uma alternativa que
deverá ser considerada no processo de planejamento são as ações que possam reunir
possíveis configurações da empresa e simulações, sobretudo considerando o mercado e
seu produto.
Riscos
Outro fator que sempre precisa ser considerado é o risco, que pode ser caracterizado como
a possibilidade de ocorrência de um acontecimento incerto ou eventual, o qual pode ocorrer
independente da vontade dos realizadores do planejamento, e, assim, representa um dos aspectos
mais fortes do planejamento.
Pode-se afirmar que, em todo planejamento, incorrem riscos e que pode haver falha em sua
elaboração ou execução. Assim, os profissionais que elaboram o planejamento tributário devem
considerar tais possibilidades e, sobretudo, estar atualizados com a legislação vigente, pois existe
a possibilidade de questionamentos por parte das autoridades fiscais, principalmente quando uma
empresa consegue uma boa compensação que possa ser desfavorável aos cofres públicos, ensejando
uma fiscalização mais enérgica sobre ela.
82
PLANEJAMENTO UNIDADE IV
TRIBUTÁRIO
CAPÍTULO 1
Introdução ao Mercado de Capitais
Os padrões do atual Sistema Financeiro Nacional foram estabelecidos por meio da Lei no 4.595, de
1964, denominada Lei de Reforma Bancária, e basearam-se no Sistema Financeiro Americano, em
que as instituições são separadas pelas funções que atendem.
83
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
SUBSISTEMA NORMATIVO
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
SUBSISTEMA DE INTERMEDIAÇÃO
Subsistema Normativo
BANCO CENTRAL
SUBSISTEMA NORMATIVO
Responsável pelo
funcionamento do mercado
financeiro INSTITUIÇÕES ESPECIAIS BNDES
Subsistema Normativo
84
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV
Atribuições Principais:
»» Banqueiro do Governo.
85
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Entre os valores mobiliários mencionados na Lei no 6.385/76 (versão consolidada pela Lei no
10.303/2004), estão as emissões de responsabilidade das empresas como, por exemplo, as ações,
debêntures e bônus de subscrição.
Atuação da CVM
INVESTIDORES
Banco do Brasil
O Banco do Brasil (BB) é uma sociedade de economia mista, controlada pela União. Até 1986 foi
considerada uma autoridade monetária, atuando na emissão de moeda. O privilégio foi revogado
por decisão do CMN.
Atribuições Principais:
86
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV
BNDES
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma empresa pública
vinculada ao Ministério do Planejamento. É o principal instrumento de médio e longo prazos para
a execução da política de financiamento do Governo Federal.
Atua por meio de seus agentes financeiros, pagando uma comissão chamada del credere. Esses
agentes são corresponsáveis na liquidação da dívida junto ao BNDES.
BNDES
FUSÃO
BNDES PARTICIPAÇÕES
A Caixa Econômica Federal (CEF) é uma empresa pública que executa atividades características
dos bancos comerciais e múltiplos. É o principal agente do Sistema Financeiro de Habitação (SFH),
atuando no financiamento da casa própria.
O SFH foi criado em 1964 e, com a extinção do BNH, a CEF se transformou no seu órgão executivo.
Os recursos para o SFH são originados do FGTS, de cadernetas de poupança e de fundos próprios
dos agentes financeiros.
»» Ter o monopólio das operações de penhor, que são empréstimos garantidos com
bens de valor e alta liquidez como joias, metais preciosos, pedras preciosas etc
87
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Subsistema de Intermediação
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
INSTITUIÇÕES AUXILIARES
SUBSISTEMA DE INTERMEDIAÇÃO
SISTEMA BRASILEIRO DE POUPANÇA E EMPRÉSTIMO
Subsistema de Intermediação
Instituições Financeiras
Bancos Múltiplos
Os Bancos Múltiplos surgiram em 1988, a partir da Resolução no 1.524 do Banco Central, e são
formados com base nas atividades de quatro instituições: banco comercial, banco de investimento
e desenvolvimento, sociedade de crédito, financiamento e investimento e sociedade de crédito
imobiliário.
Para ser configurada como Banco Múltiplo, uma instituição deve operar pelo menos duas das
carteiras mencionadas, sendo uma delas a de Banco Comercial ou de Banco de Investimento.
Sua criação foi uma evolução do mercado, que mostrava que a segregação de operações impunha
restrições ao setor financeiro. A vantagem é o ganho de escala que tais bancos alcançam.
»» Descontar títulos.
6 Os depósitos bancários permitem que os bancos tenham recursos para emprestar aos seus correntistas, em um mecanismo que
acaba multiplicando os meios de pagamento de um país. O efeito multiplicador nada mais é do que o coeficiente que mede a taxa
de expansão dos meios de pagamento da moeda criada pelos depósitos bancários.
88
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV
»» Obter recursos junto às instituições oficiais para repasse aos clientes etc.
Instituições Auxiliares
INSTITUIÇÕES AUXILIARES
Bolsa de Valores: proporcionam liquidez aos títulos negociados, atuando por meio de pregões
contínuos. Têm responsabilidade pela fixação de preços justos, formados pelo mecanismo da oferta
e da demanda. Obrigam-se a divulgar todas as operações realizadas no menor tempo possível
(tempo real).
»» À vista.
»» A termo.
»» Opções.
»» Futuros.
Sociedades Corretoras: operam com títulos e valores mobiliários por conta própria e de terceiros
e têm exclusividade para executar a intermediação nos pregões das bolsas de valores.
São instituições que dependem do Bacen para constituírem-se e da CVM para o exercício de suas
atividades. Elas também podem:
»» Operar em câmbio.
89
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Sociedades Distribuidoras: seus objetivos são semelhantes aos das Sociedades Corretoras.
Entretanto, tais instituições não têm acesso às bolsas como as Sociedades Corretoras e suas
principais funções são:
SBPE
ASSOCIAÇÕES
SOCIEADES DE CRÉDITO
CEF DE POUPANÇA E BANCOS MÚLTIPLOS
IMOBILIÁRIO
EMPRÉSTIMO
A captação de recursos dessas instituições é feita por meio das cadernetas de poupança e dos fundos
provenientes do FGTS.
Empresas Seguradoras: são consideradas parte do sistema financeiro porque têm a obrigação
de aplicar parte de suas reservas no mercado de capitais.
Política Fiscal
É a ação do Governo no que concerne às receitas e despesas.
»» Receitas: todos os recursos que ingressam nos cofres públicos num determinado
período de tempo. As principais fontes de receita são:
90
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV
›› arrecadação de tributos; e.
A Política Fiscal pode ser contracionista ou expansionista. Uma política contracionista reduz a
quantidade de moeda em circulação, enquanto que uma política expansionista aumenta a quantidade
de moeda em circulação.
Para fazer política fiscal, o governo conta com alguns instrumentos, como por exemplo:
»» quanto maior a carga tributária, menos recursos terão os agentes econômicos7 para
consumir e investir.
»» quanto menor o gasto público, menos empregos são gerados e menos recursos terão
os agentes econômicos para consumir.
»» quanto menor a carga tributária, mais recursos terão os agentes econômicos para
consumir e investir.
»» quanto maior o gasto público, mais empregos são gerados e mais recursos terão os
agentes econômicos para consumir.
7 Um agente econômico é um indivíduo, conjunto de indivíduos, instituição ou conjunto de instituições que, por meio das suas
decisões e ações, influenciam de alguma forma a economia.
91
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Política Monetária
É o conjunto de medidas que têm como objetivo controlar o volume de moeda disponível e as taxas
de juros do mercado. O objetivo final da política monetária é o controle da liquidez global do sistema
econômico.
a. taxa de redesconto
O controle da oferta monetária, por meio do redesconto, se dá por meio da alteração das
taxas cobradas, do estabelecimento dos prazos de liquidação da operação, da fixação dos
limites permitidos de redesconto e pela restrição aos títulos aceitos como garantia.
Nas operações de mercado aberto, o Governo regula diretamente o volume dos meios
de pagamento. O Bacen muitas vezes entra no mercado para comprar ou vender títulos.
Essa política é chamada de mercado aberto.
Situação contrária ocorre quando o Bacen coloca títulos à venda. Ao vender títulos, o
Bacen recolhe dinheiro que estava em poder do público.
8 A Base Monetária é usualmente entendida como a quantidade de moeda que circula na economia. Esse conceito não é totalmente
correto. O Banco Central é o responsável pela criação e destruição da Base Monetária. Portanto, a Base Monetária é igual ao
estoque de moeda emitida pelo Banco Central desde seu início. Na prática, porém, essa emissão não ocorre voluntariamente em
benefício de um agente econômico, mas sim em resposta a uma operação em que o Banco Central receberá algo em troca.
92
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV
c. depósitos compulsórios
É o mecanismo utilizado pelo Bacen para aumentar ou reduzir o total da base monetária
existente na economia, uma vez que os bancos comerciais são obrigados a manter no
Banco Central parte de seus depósitos. O depósito compulsório é uma taxa fixada. A
autoridade monetária pode aumentar ou reduzir a taxa do depósito compulsório de
acordo com seus interesses. Mas a mudança só vale para novos depósitos.
93
CAPÍTULO 2
Mercado de Derivativos
Derivativos
Apresentação
Desde o início da crise internacional, em 2008, muito se fala do mercado de derivativos.
Para tentar esclarecer o funcionamento do mercado de derivativos, vamos iniciar nosso estudo
conhecendo os principais conceitos e características desse mercado.
John Hull (1998, p. 1) conceitua derivativos como instrumentos financeiros cujo valor depende dos
valores de outras variáveis básicas que o referenciam. Normalmente, as variáveis que referenciam
os derivativos são os preços dos títulos negociados.
Exemplos:
O mercado de derivativos pode ser utilizado como uma Ferramenta de Hedge (Proteção) contra o
risco da oscilação de preço dos ativos, bem como para especular. Algumas companhias brasileiras
que fizeram operações com derivativos acima do limite necessário para a proteção do caixa da
companhia tiveram pesados prejuízos. No ano de 2008 (início da crise financeira internacional),
o aumento da cotação do dólar causou perdas para as companhias que tinham operações em
aberto com expectativa oposta em relação à moeda americana, ou seja, esperavam que tivesse um
decréscimo na cotação do dólar (ex. Sadia).
»» Opções.
»» Swaps.
9 Existem outros derivativos, mais complexos, porém, não serão objeto da nossa discussão.
94
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV
(*) No Brasil, é comum a designação genérica de contratos futuros para esses dois tipos de derivativos.
Entretanto, como será visto a seguir, existem muitas diferenças entre eles.
»» Contratos a Termo
Você talvez tenha negociado contratos a termo durante toda a sua vida, sem sabê-lo.
Vejamos o exemplo a seguir adaptado do livro Corporate Finance (Ross, Westerfield and
Jaffe):
Perceba que o acordo é fechado em 1o de fevereiro. O preço é fixado e as condições de venda são
estabelecidas nessa data. Nesse caso, a venda ocorrerá quando o livro chegar. Em outros casos, seria
95
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
fixada uma data exata de venda. No entanto, não há qualquer transferência de dinheiro em 1o de
fevereiro; isso só ocorre quando da chegada do livro.
De maneira semelhante, esse tipo de operação ocorre nas companhias. Cada vez que uma companhia
encomenda uma mercadoria que não pode ser entregue imediatamente, há um contrato a termo.
É importante salientar que um contrato a termo não é uma opção. Tanto o comprador quanto o
vendedor estão obrigados a cumprir sua parte em conformidade com os termos do contrato.
a. Negociação em balcão, eis que são acordos particulares entre duas partes.
b. Os contratos são não padronizados, ou seja, não têm que seguir os padrões da bolsa.
f. Não ocorrem ajustes diários, nem mesmo depósitos de margem ou garantias nos
contratos a termo, a não ser que definidos entre as partes.
»» Contratos Futuros
Além disso, diferentemente dos contratos a termo, os contratos futuros são negociados
em bolsa. Com a finalidade de possibilitar a negociação, a bolsa especifica algumas
características padronizadas para o contrato.
96
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV
A padronização dos contratos é condição imprescindível para que a negociação possa ser
realizada em bolsa. Imagine um pregão no qual cada um dos participantes negociasse
determinado tipo de boi ou café com cotações e unidades de negociação diferentes.
A negociação de pregão seria inviável. Por conta da padronização, os produtos em
negociação se tornam completamente homogêneos, tornando indiferente quem está
comprando ou vendendo a mercadoria.
Dessa maneira, os investidores recebem seus lucros e pagam seus prejuízos diariamente.
Veja a comparação entre contratos futuros e a termo – extraído do livro Opções, Futuros
e Outros Derivativos (JOHN HULL).
A Termo Futuro
Contrato particular entre duas partes. Negociação em bolsa.
Não padronizado. Padronizado.
Uma data de entrega acordada. Várias datas de entrega acordadas.
Ajustado apenas no vencimento. Ajustado diariamente.
Entrega ou liquidação financeira final. Geralmente encerrado antes do vencimento.
Opções
Negocia-se o direito de comprar ou de vender um bem por um preço fixo numa data futura. Quem
adquirir o direito deve pagar um prêmio ao vendedor, tal como num acordo de seguro.
Características:
97
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
»» Dia de exercício: Data limite para os titulares exercerem seu direto. Esse dia
ocorre nas terceiras segundas-feiras dos meses pares.
Tipos de Exercício:
»» americano: As opções têm validade até uma data predeterminada, e podem ser
exercidas no período compreendido entre seu lançamento e seu vencimento.
Quem atua:
»» Lançador X Titular: O lançador de uma opção tem uma posição bem mais
arriscada. O prejuízo potencial referente a uma posição vendida em opção de
compra ou posição vendida em opção de venda é ilimitado quando o preço do
ativo-objeto se movimenta em direção contrária às expectativas, aumentando
para uma opção de compra ou diminuindo para uma opção de venda. No caso
do titular de uma opção o prejuízo máximo é limitado. A situação pode mudar
quando a posição é combinada, processo conhecido como lançamento de opção
“coberta”. Nesse caso, a posição vendida em uma opção de compra com uma
posição comprada no ativo-objeto, ou posição vendida em uma opção de venda
com uma posição vendida no ativo-objeto. O lançador de uma opção de compra
acredita que o preço das ações no mercado à vista irá cair a um nível abaixo do
preço de exercício, assim o titular não irá exercer a opção e o lançador ganhará o
valor do prêmio.
98
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV
Valor intrínseco da opção é dado pela diferença entre o preço à vista de um ativo e o preço de
exercício da opção desse mesmo ativo. Se esse valor for positivo, este será o valor intrínseco de uma
opção de compra; se for negativo, será o valor intrínseco de uma opção de venda.
Swap
É a negociação da troca de rentabilidade entre dois bens (mercadoria ou ativo financeiro). O contrato
de swap é um acordo, entre duas partes, que estabelecem a troca de fluxo de caixa tendo como base
a comparação da rentabilidade entre dois bens.
Exemplo:
Considere que a companhia Delta possua ativo de R$10 milhões prefixado a uma taxa de 17% ao
ano para receber dentro de 21 dias úteis e que quer transformar seu indexador em dólar + 10% sem
movimentação de caixa. Para tanto, contrata um swap com uma instituição financeira.
99
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Após acertarem o contrato (negócio), a companhia Delta fica ativa em dólar + 10% e passiva em 17%,
ao mesmo tempo em que a instituição financeira, que negociou o swap com a companhia, fica ativa
a uma taxa prefixada de 17% ao ano e passiva em dólar + 10% ao ano.
SWAP
Ativo em dólar
Pode-se concluir que a companhia Delta receberá da instituição financeira o valor líquido de
(R$10.285.000 – 10.131.696,11) = R$153.303,89, tendo em vista que a variação cambial + 10% ficou
acima dos 17% da taxa prefixada.
Conforme material da Série Introdutória: Mercado de Derivativos (BM&F), não existem números
exatos sobre esse mercado mundial. No entanto, o Bank for International Settlements (BIS), com
sede na Suíça, divulga trimestralmente os valores referenciais dos contratos negociados em bolsa e
no mercado de balcão (fora da bolsa).
O Boletim disponível em março de 2007 indica o valor referencial de derivativos US$ 57,80 trilhões
em bolsas (base setembro de 2006) e US$ 369 trilhões no mercado de balcão.
Derivativos agropecuários: têm como ativo-objeto commodities agrícolas como café, arroz, boi,
milho, soja.
Derivativos financeiros: têm seu valor de mercado referenciado em alguma taxa ou índice
financeiro como taxa de juros, taxa de inflação, taxa de câmbio, índice de ações.
Derivativos de energia e climáticos: têm como objeto de negociação a energia elétrica, o gás
natural, os créditos de carbono, entre outros.
100
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV
Finalidades
Hedge (proteção)
A preocupação aqui é com o risco de variações adversas de taxas, moedas ou preços. Equivale a
ter uma posição em mercado de derivativos oposta à posição assumida no mercado à vista, para
minimizar o risco de perda financeira decorrente de alteração adversa de preços.
Se uma companhia, por exemplo, tem dívidas a pagar em dólar, que vencerão no longo prazo e, caso
tema que a cotação dessa moeda venha a subir, o que aumentaria o valor da dívida, pode realizar
uma operação no mercado futuro com contratos cambiais (derivativo de câmbio) para garantir a
cotação dessa moeda em data futura, minimizando os riscos de variações adversas de preço.
Alavancagem
Os derivativos têm grande poder de alavancagem, já que a negociação com esses instrumentos
exige menos capital do que a compra do ativo à vista. Assim, ao adicionar posições de derivativos
a seus investimentos, o investidor pode aumentar a rentabilidade total destes a um custo mais
baixo. O inverso também é verdadeiro, caso a expectativa do investidor não se confirme, o que pode
potencilizar o prejuízo.
Especulação
Lembre-se que não há nada de errado em especular no mercado financeiro. O derivativo é
instrumento bastante utilizado entre os investidores que aceitam correr mais riscos de perdas em
troca da possibilidade de aumentar os ganhos.
Arbitragem
Aqui a estratégia visa tirar proveito da diferença de preços de um mesmo ativo negociado em
mercados diferentes. O objetivo, segundo o livreto introdutório da BM&FBOVESPA, é aproveitar
as discrepâncias no processo de formação de preços dos diversos ativos e mercadorias e entre
vencimentos. Essa ferramenta é utilizada em fundos multimercados e long and short.
101
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
»» O produtor agrícola que participa do mercado futuro para travar o preço de venda e
não correr o risco de queda acentuada de preços.
Arbitrador
Os arbitradores compram no mercado A e vendem no B. Aumentam a procura (e, consequentemente,
os preços) no mercado A e a oferta no mercado B (causando, consequentemente, queda de preços).
Em determinado momento, os dois preços tendem a se equilibrar em um valor intermediário entre
os dois preços iniciais. O arbitrador acaba agindo exatamente como um árbitro, por acabar com as
distorções de preços entre mercados diferentes.
Especulador
A atuação dos especuladores consiste na compra e na venda de contratos futuros apenas para ganhar
o diferencial entre o preço de compra e o de venda, não tendo nenhum interesse pelo ativo. A sua
presença é fundamental no mercado futuro, pois é o único que toma riscos e assim viabiliza a outra
ponta da operação (hedger), fornecendo liquidez ao mercado. Os especuladores não permanecem
por muito tempo no mercado e dificilmente carregam suas posições até a data de liquidação do
contrato. A operação de especulação mais conhecida é a day trade, que consiste na abertura e no
encerramento da posição no mesmo dia.
Conforme material da Série Introdutória: Mercado de Derivativos (BM&F), segue quadro contendo
as principais diferenças entre as modalidades de derivativos.
102
CUSTOS UNIDADE V
HOSPITALARES
CAPÍTULO 1
Fundamentos Básicos da Análise de
Custos
Aspectos Introdutórios
Custos, uma única palavra que apresenta inúmeros significados. Quando dizemos “esta motocicleta
custa $15.000,00”, para quem compra, fica claro o conceito, custo é igual a preço, mas, para
quem produz, seria tão simples conceituar?
Evidentemente teríamos um grande número de adjetivos, tais como: custos fabris, custos diretos,
custos variáveis, custos indiretos, custos de oportunidade etc., portanto, vamos viajar ao passado
para tentarmos entender a origem dos custos e podermos, então, compreender o significado da
palavra custos, saber distinguir a contabilidade financeira da contabilidade gerencial e
compreender a terminologia geral dos gastos.
Estoques iniciais
(+) Compras
103
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
A eficácia procura considerar o grau em que os objetivos e as finalidades são alcançados. Trata-se
de medir o progresso alcançado dentro da programação de realizações empresariais (GIACOMONI,
2007).
Otimização é tornar ótimo. Aproveitar, utilizar ou realizar melhor, ou de forma mais produtiva.
Determinação do valor ótimo de uma grandeza. Aperfeiçoar um programa a fim de que realize sua
função no menor tempo ou no menor número de passos possível (FERREIRA, 2002).
As informações relativas aos custos de produção e/ou comercialização, desde que corretamente
organizadas, resumidas e relatadas, constituem uma ferramenta administrativa altamente relevante.
Assim, as informações de custos transformam-se, gradativamente, num verdadeiro sistema de
informações gerenciais, de vital importância para a administração das organizações empresariais.
Essas informações constituem um subsídio básico para o processo de tomada de decisões, bem
como para o planejamento e controle das atividades empresariais.
104
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
a. Fornecer dados de custos para a medição dos lucros e avaliação dos estoques.
Contabilidade financeira
A contabilidade financeira é obrigatória, sujeita às normas e imposições legais. É altamente
normatizada e padronizada, podendo se submeter a posterior auditoria.
Contabilidade Gerencial
A Contabilidade Gerencial tem o seu foco principal na tomada de decisão. Não está sujeita às
restrições e imposições legais, é mais dinâmica e ágil e específica para cada negócio.
Para podermos estruturar os dados em Contabilidade de Custos é necessária uma perfeita integração
com a terminologia utilizada e desenvolvida pelas Ciências Contábeis. É preciso compreender e
entender os principais termos utilizados para a apuração de custos, conforme figura abaixo, que
são: Gasto, Investimento, Custo, Despesa, Custos Diretos, Custos Indiretos, Custos Fixos, Custos
Variáveis, Despesa Fixa e Despesa Variável.
105
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
106
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
É necessário saber quais informações serão tratadas (Princípio), como será a operacionalização,
como obter a informação (Método), quais os custos – Fixos, variáveis, ideais, desperdício (Princípio),
cálculo dos Custos Indiretos (Método), Custeio, Variável, Custeio por Absorção Integral, Custeio por
Absorção Ideal ou Custo Padrão (Princípios), RKW, ABC, UEP etc, (Métodos).
Por esse motivo, os valores agregados de gastos, relativos aos fatores produtivos, são acumulados na
forma de estoque, sendo considerados, futuramente, como despesas.
Na prestação de serviços, os custos são transferidos de duas formas: de uma só vez, ao final de sua
execução, ou de forma contínua (Auditoria, Consultoria, serviços de telecomunicação etc.).
107
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Essas despesas podem ser especificamente incorridas para à consecução das receitas que estão
sendo reconhecidas (Custo de produção do bem vendido, ou a despesa de comissão relativa à sua
venda), ou despesas incorridas para a obtenção de receitas genéricas (Despesas de administração,
gastos com propaganda etc.).
Na utilização desse princípio nos defrontamos com algumas situações não muito lógicas. Por
exemplo, por que o gasto com o salário do chefe da fábrica é apropriado a um produto estocado e
só se torna despesa por ocasião da venda, enquanto o salário do chefe de vendas vira, de imediato,
despesa?
Numa economia inflacionária, o uso de valores históricos não faz muito sentido. Quando somamos
todos os custos de produção de determinado item, estocamos e levamos a balanço pelo valor original,
demonstramos um ativo que espelha o quanto custou produzi-lo na época em que foi elaborado,
nada tendo a ver com o valor atual de reposição do estoque, nem com o valor histórico inflacionado
(deflacionado) e muito menos ainda com seu valor de venda.
Os estoques são avaliados em função do custo histórico de sua obtenção, sem correção por inflação
ou por valores de reposição.
Em 1987, surge no Brasil, para as companhias abertas, a Correção Integral, sendo aplicada a
demonstrações complementares às exigidas pela legislação societária e fiscal, surgindo aí uma
contabilidade em moeda constante.
Nesse caso, é mantido o Custo Histórico Como Base de Valor, mas, em moeda forte. Entretanto,
a partir de 1996, entra em vigor a Lei no 9.249/1995 e a comissão de Valores Mobiliários cria a
Unidade Monetário Contábil (UMC), exatamente para esse fim.
Martins (2008) acredita que, quando se acumulam custos de dois, três ou mais meses para
se produzir um bem ou serviço, tem-se no puro custo histórico um instrumento paupérrimo de
informações. Continuando seu raciocínio, Martins (2008) persevera que o correto, tecnicamente,
seria transformar esses diversos custos originados em momentos diferentes em quantidades de
moeda constante, o que é a mesma coisa que se efetuar a correção desses valores.
108
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
Ainda muito há que evoluir nosso ordenamento jurídico relativamente às legislações societária e
fiscal para que se tenha um melhor entendimento da realidade empresarial, de tal sorte que, hoje, as
empresas se vêm obrigadas a trabalhar com sistemas paralelos à contabilidade oficial para manter
suas informações de custos (entre outras) em valores que possam ser utilizados para fins gerenciais.
Outro aspecto muito relevante relacionado a esse princípio é o de que só são admitidos para
registro, na contabilidade, os fatos relativos a gastos efetivos da entidade, tais como, pagamentos ou
promessas de pagamentos pelos bens e serviços recebidos.
Assim, o Custo de Oportunidade deixa de ser contabilizado e também de ser englobado no custo de
produção, pois os estoques não podem ser avaliados com a inclusão desses itens. Em raras exceções
são aproveitados por empresas concessionárias de serviço público (Cias de Eletricidade, telefonia
etc.), que contam com legislação especial.
Consistência ou uniformidade
A empresa, ao se deparar com várias alternativas para o registro contábil de um mesmo evento, sendo
todas válidas dentro dos princípios geralmente aceitos, deve adotar uma delas de forma consistente.
Isso significa que a alternativa adotada deve ser utilizada sempre, não podendo mudar o critério em
cada período. Quando houver interesse ou necessidade dessa mudança de procedimento, deve a
empresa se reportar ao fato em nota explicativa, demonstrando o reflexo ocorrido no resultado em
relação ao que seria obtido caso não houvesse quebra de consistência.
Materialidade ou relevância
Essa outra regra contábil, também muito importante para Custos, desobriga de um tratamento mais
detalhado itens cujo valor monetário seja irrelevante com relação aos gastos totais.
Alguns pequenos materiais de consumo industrial, por exemplo, precisam ir sendo tratados
como custo na proporção de sua efetiva utilização; mas, por consistirem em valores irrisórios,
costumeiramente são englobados e totalmente considerados como custo no período de sua aquisição,
simplificando o procedimento por se evitar seu controle e baixa por diversos períodos.
109
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Além disso, esse cálculo do custo por produto irá propiciar o estabelecimento do preço final, o custo
unitário por produto (para se conhecer a rentabilidade unitária), o custo por item que compõe o
produto (matéria-prima, mão de obra...) para se comparar com o orçado etc.
Antes de se iniciar o cálculo dos custos, é necessário separar os custos das despesas. Numa indústria,
geralmente, os custos mais comuns são: Matéria-Prima, Mão de Obra, Depreciação das Máquinas
da Fábrica, Aluguel da Fábrica, Imposto Predial da Fábrica etc.
Portanto, não entram como Custo os gastos de escritório (Despesas), tais como: salário do pessoal
de vendas, administrativo e financeiro, aluguel do escritório, depreciação de bens do escritório,
imposto predial do escritório etc.
Custos
Segundo Padoveze C. L. (2009), Custos “são os gastos, não investimentos, necessários para fabricar
os produtos da empresa. São gastos efetuados pela empresa que farão nascer os seus produtos”.
Na visão de Mota (2002), Custo é o “Gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros
bens ou serviços”.
Despesas
»» Calcule o custo
–– Matéria-Prima: $ 500,00
–– Compra de máquina: $ 400,00
–– Salário da Fábrica: $ 200,00
–– Salário administrativo: $ 300,00 $ 1.400,00
–– Depreciação Industrial: $ 700,00
Fonte: Bruni, Adriano Leal.
Entretanto, se o objeto de custo for o produto final, os custos diretos são os gastos industriais que
podem ser alocados direta e objetivamente a tal produto.
110
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
Conforme podemos deduzir da sua própria definição, os Custos Indiretos só podem ser apropriados
de forma indireta aos produtos, isto é, mediante estimativas, critérios de rateio, previsão de
comportamento de custos etc. Todas essas formas de distribuição contêm, em menor ou maior grau,
certo subjetivismo; portanto, a arbitrariedade sempre vai existir nessas alocações, sendo que às
vezes ela existirá em nível bastante aceitável, e em outras oportunidades só a aceitamos por não
haver alternativas melhores. (Há recursos matemáticos e estatísticos que podem ajudar a resolver
esses problemas, mas nem sempre é possível sua utilização)
A primeira medida a ser tomada é a separação entre Custos e Despesas, iniciando aí o surgimento
de aspectos subjetivos inerentes aos processos de rateio. Vamos imaginar que a empresa tenha suas
instalações em imóvel alugado, portanto, necessitando separar a parte que cabe à produção (custo)
da parte que cabe aos setores administrativos e de vendas (despesa). O critério de rateio que vai ser
primeiramente lembrado será o de área ocupada por cada um.
Nessa linha de raciocínio podemos, ainda, levantar um segundo problema: suponhamos que o
imóvel esteja situado em uma quadra inteira e que a frente da empresa esteja voltada para uma rua
de grande importância tendo um alto valor de locação e os fundos para uma rua secundária de valor
comercial inferior. Na frente, vão estar posicionados a exposição de vendas, a diretoria etc., e nos
fundos as instalações fabris. Em função dessa disposição, o valor locativo da parte Administrativa
e de vendas pode ser várias vezes superior ao valor locativo da parte Fabril; se dividirmos o aluguel
inteiro com base em área ocupada, estaremos atribuindo o mesmo montante por metro quadrado
à fábrica e à exposição de vendas. Talvez houvesse necessidade então de se fazer uma ponderação
baseada num valor estimado de locação de cada setor para se proceder a uma distribuição “menos
injusta”.
Além dos critérios observados acima, com relação ao aluguel, há inúmeros outros, como exemplo:
111
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Custos Despesas
Indiretos Diretos
Rateio
Produto A Vendas
Produto B
Produto C
Estoques
Resultado
Para se determinar o melhor critério rateio, ou pelo menos minimizar erros, seria necessária uma
análise dos itens que compõem o total dos Custos Indiretos de Fabricação.
a. Os maiores itens dos Gastos Gerais de Fabricação (GGF) são Energia Elétrica,
depreciações de máquinas, manutenção e lubrificantes, que respondem por 80%
daquele total; o restante é Mão de Obra direta (MOD) e outros custos irrelevantes.
Logo, já que o fator mais relevante dos Gastos Gerais de Produção é a existência e
utilização de máquinas, sem dúvida poderíamos eleger o rateio com base no número
de horas-máquinas como o mais adequado.
b. Se, por outro lado, verificarmos que o mais importante item é Mão de Obra Indireta
e seus encargos sociais, pelo fato de haver uma supervisão cara, e esta supervisão
se devesse basicamente ao controle do pessoal direto de produção, não haveria,
também nessa hipótese, dúvida em se fazer a distribuição com base na Mão de Obra.
c. Imaginando, entretanto, num caso bastante especial, que o peso maior dos Gastos
Gerais de Fabricação fosse devido à existência de uma Câmara Frigorífica destinada
à manutenção da Matéria-Prima (MP) em determinada temperatura até o momento
de sua utilização; os GGF seriam basicamente depreciação dessa Câmara Frigorífica,
energia e manutenção, e mesmo a Mão de Obra indireta poderia estar quase que
totalmente vinculada a ela. Assim, a apropriação com base no volume de Matéria-Prima
seria uma prática aceitável.
112
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
Desse modo, para haver uma alocação mais adequada dos Gastos Gerais de Fabricação é mister que
se faça uma análise de seus componentes e se verifique quais critérios de rateio melhor relacionam
esses Custos com os Produtos.
Portanto, é necessário também que o profissional que decide normalmente sobre a forma
de apropriação de custos (Contador de Custos, Controller, Diretor Financeiro etc.) conheça
detalhadamente o sistema de produção. O desconhecimento da tecnologia de produção pode
provocar aparecimento de impropriedades de vulto na apuração dos Custos. Por esse motivo, é
altamente recomendável que profissionais da área de produção participem ativamente do processo
de identificação das bases de rateio.
A mais importante de todas as classificações leva em consideração a relação entre o valor total de
um custo e o volume de atividade numa unidade de tempo. Divide basicamente os custos em Fixos
e Variáveis.
Podemos citar como exemplo: o valor total dos materiais diretos, consumido por mês, depende
diretamente do volume de produção. Quanto maior a quantidade produzida, maior seu consumo.
Dentro, portanto, de uma unidade de tempo (mês, nesse exemplo), o valor do custo com tais materiais
varia de acordo com o volume de produção; logo, materiais diretos são Custos Variáveis.
A separação em Custos Fixos e Variáveis também tem outro aspecto importante: considerando a
relação entre período e volume de atividade, não se está comparando um período com o outro.
Essa conclusão tem muita importância na prática para não se confundir Custo Fixo com Custo
recorrente (repetitivo). Por exemplo, se a empresa adota um sistema de depreciação com base em
quotas decrescentes e com isso atribui para cada período um valor diferente desse custo, continua
tendo na depreciação um Custo Fixo, mesmo que a cada período ele seja de montante diferente. Isso
ocorre porque a depreciação não depende do volume produzido.
Podemos citar outros exemplos da mesma natureza: a conta de telefone da fábrica – pode ter seu
valor diferente em cada mês, mas não é um custo variável, pois seu montante não está variando em
função do volume de produtos feitos, da mesma forma, a Mão de Obra indireta pode variar de um
período para o outro, independente do volume produzido.
113
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Martins (2008) alerta para o fato de que os Custos Fixos não são, mesmo os repetitivos, eternamente
do mesmo valor. Sempre há pelo menos duas causas para sua modificação: mudança em função de
variação de preços, de expansão da empresa ou de mudança de tecnologia. Continuando, Martins
(2008) cita como exemplo o valor da Mão de Obra Indireta, que pode subir em determinado mês
em função de um dissídio; o aluguel pode crescer em virtude da adição de mais um imóvel; e a
depreciação pode também aumentar pela substituição de uma máquina velha por outra moderna e
mais cara.
Alguns tipos de custos têm componentes das duas naturezas. A Energia Elétrica é um exemplo, já
que possui uma parcela que é fixa e outra variável; aquela independente de volume de produção,
e é definida em função do potencial de consumo instalado, e esta, que depende diretamente do
consumo efetivo.
Todos os custos podem ser classificados em Fixos ou Variáveis e em Diretos ou Indiretos ao mesmo
tempo. Assim, a matéria-prima é um custo Variável e Direto; o seguro é Fixo e Indireto, e assim por
diante. Os custos variáveis são sempre diretos por natureza, embora possam, às vezes, ser tratados
como indiretos por razões de economia.
114
CAPÍTULO 2
Avaliação de Estoques
O Custo Médio
Se a empresa adquire matéria-prima especificamente para uso em uma ordem de produção
ou encomenda, não existirá dúvidas do quanto lhe atribuir – o preço de aquisição. No entanto,
quando se adquire diversos materiais iguais, por preços diferentes, em diferentes datas, e sendo
intercambiáveis entre si, se nos deparam algumas alternativas, vejamos:
»» Custo Médio Ponderado Móvel: Utilizado pelas empresas que mantêm o controle
permanente dos estoques, atualizando seu custo médio a cada operação de compra.
»» Custo Médio Ponderado Fixo: Esta forma de cálculo é utilizada para avaliar o
custo médio apenas no final do período ou se a empresa decidir apropriar todos
os produtos fabricados no período a um único custo por unidade. Nesse caso, seria
necessário primeiro calcular o custo médio global do período e então apropriar o
custo da matéria-prima consumida. No exemplo acima podemos calcular o Custo
Médio Global $11,10 ($33.300/3.000) e aplicá-lo à quantidade consumida, que
nos resultaria em um Custo de $19.980 (1.800 x $11,10), portanto maior do que o
calculado pela Média Móvel. Por esse motivo, essa forma de cálculo não é aceita
pela legislação fiscal brasileira.
Podemos concluir, portanto, que mesmo com a utilização do Custo Médio, os valores de materiais
podem variar dependendo da forma utilizada para o cálculo.
115
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Nesse caso não faz diferença avaliar os estoques durante ou apenas no final do período. A observação
mais importante que podemos depreender é o efeito fiscal que, por atribuir custos mais antigos aos
produtos, ocasiona, naturalmente pela tendência crescente dos preços de mercado, um Lucro Maior
e, consequentemente, tributação maior do resultado. Não será nenhuma surpresa afirmar que esse
método é aceito pela legislação fiscal brasileira.
O risco que se corre na utilização desse método e que, observando o exemplo anterior podemos
verificar que o estoque de materiais está avaliado por preços antigos. Quando houver a utilização
desse estoque sem que tenha havido compras adicionais, ele será apropriado ao produto, que estará
subavaliado em comparação aos preços recentes, aparecendo nesse momento o resultado não
apresentado anteriormente.
116
CAPÍTULO 3
Análise da Folha de Pagamento
Mão de Obra Direta é aquela relativa ao pessoal que trabalha diretamente sobre o produto em
elaboração, desde que seja possível a mensuração do tempo despendido e a identificação de quem
executou o trabalho, sem necessidade de qualquer apropriação indireta ou rateio. Se houver qualquer
tipo de alocação por meio de estimativas ou divisões proporcionais, desaparece a característica de
“direta” (MARTINS, 2008).
Em decorrência da nossa Legislação Trabalhista é preciso calcular para cada empresa ou para cada
departamento, qual valor a ser atribuído por hora de trabalho, incluindo os repousos semanais
remunerados, as férias, o 13° salário, a contribuição ao INSS, a remuneração dos feriados, as faltas
abonadas por gala, nojo etc., além de vários outros direitos garantidos por acordos ou convenções
coletivas de trabalho das diversas categorias profissionais. Mas quanto monta esse total?
A maneira mais fácil de calcular esse valor é a empresa apurar o gasto que lhe cabe por ano e dividi-lo
pelo número de horas em que o empregado efetivamente se encontra à sua disposição. Por exemplo:
Vamos admitir que um operário seja contratado por $10,00/h. A jornada máxima permitida pela
Constituição brasileira é de 44 horas semanais (Sem considerar horas extras). Em uma semana de
seis dias, sem a compensação do sábado, a jornada máxima diária será de 7,3333 horas ( 44 ÷ 6),
que equivalem a 7 horas e 20 minutos.
Dessa forma, pode-se estimar o número máximo de horas que um trabalhador pode oferecer à
empresa:
117
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Esses encargos sociais, mínimos, tendo em vista não estarem sendo computados outros gastos, tais
como: Aviso-prévio, Multa do FGTS (40,00%) na despedida, Indenização compensatória, tempo
de dispensa na despedida, faltas abonadas etc., como também foi considerada a jornada máxima
permitida de 44 horas semanais, ocasionam um acréscimo de (20,14 ÷ 10,00) – 1 = 101,4% sobre
o salário contratado. Portanto, o valor a ser atribuído por hora trabalhada será de $20,14 e não os
$10,00 contratuais.
Os valores apresentados nesse exemplo são apenas uma indicação de raciocínio; cada empresa deve
elaborar seus próprios cálculos, já que há variações caso a caso.
Nessa linha de raciocínio poderíamos subclassificar a Mão de Obra Indireta sempre como:
118
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
»» Aquela que pode, com menor grau de erro e arbitrariedade, ser alocada ao produto,
como a de um operador de grupo de máquinas.
Com a evolução tecnológica há uma tendência de que se reduza, cada vez mais, a proporção de Mão
de Obra Direta no custo dos produtos; Martins (2008) persevera que “a mecanização e a robotização
reduzem o número global de pessoas, especialmente daquelas que operam diretamente sobre o
produto”.
Cita ainda Martins (2008) alguns exemplos mais comuns de Mão de Obra Direta: torneiro,
prensista, soldador, cortador, pintor etc. e de Mão de Obra Indireta: supervisor, encarregado de
setor, carregador.
119
CAPÍTULO 4
Apuração dos Custos
6. Passo: Atribuição dos Custos Indiretos, que agora só estão nos Departamentos de
Produção, aos produtos, segundo critérios fixados.
Depart. Serviço B
Depart. Serviço C
R Produto X
Depart. Serviço D
R
Produto Y
Estoques
Custos de Produção
R = Rateio RESULTADO
120
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
Departamentalização
Conforme nos demonstra o ilustre Professor Dr. Antonio Gustavo da Mota, podemos entender o seguinte:
Centros de Custos: Na maioria das vezes um departamento é um Centro de Custos, ou seja, nele
são acumulados os custos indiretos para posterior alocação aos produtos ou a outros departamentos.
Podem receber a classificação de produtivos, não produtivos/serviços/auxiliares etc.
Para uma racional distribuição dos custos indiretos, pois a simples alocação aos produtos em
determinadas empresas, não espelha a correta apropriação dos custos aos produtos.
Sistema de Custeio
Custeio por Absorção Ideal: Todos os custos são identificados com os produtos de acordo com
sua utilização eficiente. Os custos ineficientes (desperdícios) são do período. Tem como objetivos
principais o apoio ao controle e ao processo de melhoria contínua da empresa, como também a
Quantificação do Desperdício.
Esse método foi derivado do sistema desenvolvido na Alemanha no início do século 20 conhecido
por RKW (Reichskuratorium fur Wirtschaftlichtkeit).
Consiste na apropriação de todos os custos (diretos e indiretos, fixos e variáveis) causados pelo uso de
recursos da produção aos bens elaborados, e só os de produção, isso dentro do ciclo operacional interno.
Todos os gastos relativos ao esforço de fabricação são distribuídos para todos os produtos feitos.
É útil em empresas que têm processo de produção pouco flexível e com poucos produtos.
A auditoria externa tem-no como base. Dessa forma, são perfeitamente inventariáveis e tratados
como custos dos produtos acabados e em elaboração. Apesar de não ser totalmente gerencial, é
aceito para fins de avaliação de estoques (para apuração do resultado e para o próprio balanço).
121
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Características:
5. É útil nas empresas que têm processo de produção pouco flexível e poucos produtos.
Vantagens:
Desvantagens:
A aplicação do custeio por absorção pode ser feita levando-se em conta a departamentalização ou
não. Isso após de feita uma avaliação criteriosa da composição dos custos, para verificar o volume
dos custo indiretos, conforme a convenção da materialidade. Vejamos os exemplos abaixo:
Uma fábrica produz dois produtos (1 e 2). Em tem a composição dos seus custos formada por:
122
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
MO Indireta 3.000,00
Manutenção 3.000,00
Total 12.000,00
Os custos diretos são transferidos aos produtos por meio do consumo efetivo e pelo tempo de
produção de cada produto, não havendo grandes dificuldades nesses cálculos.
*a MP foi alocada aos produtos com base no sistema de controle de estoques que a empresa dispõe.
**a MOD é foi alocada com base nas apontações das horas trabalhadas para cada produto.
Já os custos indiretos, como o próprio conceito exprime, não têm uma identificação clara para com
os portadores finais, necessitando de critérios de rateio para sua alocação.
O processo mais simples é alocar tais custos tendo uma única base, como, por exemplo, a proporção
de custos diretos que cada produto consome ou o valor da Mão de Obra direta, entre outros critérios.
Quando da opção pelo cálculo com base na departamentalização devem-se seguir alguns
passos básicos. O exemplo abaixo descreve todos os passos partindo do levantamento
dos dados até a contabilização.
123
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
A prestação de serviços por parte dos centros auxiliares ocorre para os centros de
produção, de vendas, de distribuição e para próprios centros auxiliares.
Para evitar que ocorra no esquema o chamado RATEIO RETROATIVO (rateio para trás),
é importante ordenar adequadamente a sequência dos centros de custos auxiliares.
Essa ordenação deve ser processada de forma que, sempre, centros anteriores prestem
serviços para centros posteriores e seja evitado o contrário.
124
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
O OITAVO consiste no cálculo dos custos setoriais unitários. Está concluída a etapa de
cálculo dos custos setoriais indiretos, com auxílio do Mapa de Localização de Custos.
A partir daí, inicia o cálculo do custo dos produtos propriamente dito, em que os
custos e despesas indiretos são apropriados aos produtos ou serviços produzidos (no
período de referência) com auxilio de boletins de apropriação de custos aos produtos
(individualizados) ou de mapa de apropriação de custos aos produtos (grupalizados).
O NONO consiste na determinação dos insumos físicos por produto, seja quanto aos
materiais básicos (diretos) e Mão de Obra direta utilizados, seja quanto aos custos
setoriais consumidos.
125
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
(=) C. V. P.
Mátéria-Prima
S.I.
Compras VALOR A
S.F.
S.F.
G.G.F. 3
SALDO 2
VALOR C
1 Custo Fabril
1
2 Custo dos Produtos Fabricados
3 C.P.V.
O Método de Custeio Direto, ou Variável, propõe que os embarques de custos, classificados por
espécie (natureza) de custos, sejam analisados e reclassificados em custos fixos e custos variáveis.
2. atribuir ao custo final dos produtos somente as cargas variáveis, obtendo-se, assim,
um custo final variável dos produtos.
126
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
Os usuários do custeio direto ou variável (direct costing) sugerem que, no cálculo dos custos finais
por produto, sejam considerados apenas os custos variáveis e que os custos fixos sejam levados em
sua totalidade ao resultado do período, por não serem considerados como elementos componentes
do custo dos produtos, conseguindo-se, assim, o custo variável final dos produtos.
As cargas de custos fixos não são consideradas custos do período, isto é, contabilmente, despesas
operacionais.
Essa metodologia pode ser justificada pelo conceito de custo do período, isto é, os custos de produção
fixos e as despesas de comercialização, distribuição e administração fixas são custos (contabilmente,
despesas operacionais) do período e não do produto.
A aplicação de um ou de outro método para o cálculo do custo dos produtos incide, de maneira
direta, em duas questões:
No Brasil, o Método de Custeio Direto ou Variável não é aceito para fins contábeis e fiscais, de valoração
de estoques e de determinação do resultado do período, por ferir os Princípios Fundamentais de
Contabilidade.
Ele somente pode ser utilizado para fins gerenciais, de tomada de decisão, sobretudo a curto prazo.
Os dois métodos de custeio global (full costing) e o variável (direct costing) são irreconciliáveis
formalmente, isto é, não podem ser aplicados concomitantemente, numa só vez.
Para finalizar, com base no custeio variável, só são alocados aos produtos os custos variáveis, sendo
os custos fixos separados e considerados como despesas do período, lançados diretamente para o
resultado do exercício; no estoque só serão considerados, consequentemente, os custos variáveis
(indiretos e/ou diretos), motivo que leva a legislação a não o aceitar, ou ainda, dentro desse método,
os custos variáveis são considerados como atribuíveis aos produtos e, por conseguinte, debitados
na produção e incluídos no custo dos estoques – é o caso de materiais e Mão de Obra direta. Já
os custos fixos são tratados como despesas do período e, portanto, não são ativados na conta de
estoques.
Características:
127
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Vantagens:
1. enfoque gerencial;
3. permite uma análise da contribuição direta de cada produto para com os resultados,
pela análise da margem de contribuição;
Desvantagens:
3. deve ser avaliado com detalhe em empresas de elevado Ativo Imobilizado, pois não
considera a depreciação, quando esta for calculada pelo método linear ou outro
método que a transforme num custo fixo;
4. a exclusão dos CFs indiretos para a valoração do estoque causa subavaliação. Fere
os princípios contábeis.
Custeio ABC10
O método de custeio ABC tem como objetivo identificar os recursos disponíveis na organização
e associá-los, por meio de geradores de direcionadores de custos (cost-drivers) primários, às
atividades executadas. Em seguida, essas atividades são associadas a outras atividades ou a objetos
de custo por meio de geradores de custo secundários. Objetos de custo constituem os produtos,
os clientes, os mercados ou qualquer outra entidade interna ou externa à empresa que consome
atividades e que gera custos e/ou receitas.
10 Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/4161/1/a-metodologia-abc-na-estrategia-de-custos/pagina1.html>.
128
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
Como exemplo, podemos citar um evento empresarial que demanda recursos multifuncionais e
recursividade de atividades, como é o caso da venda de um produto. Esse evento requer a execução
das seguintes atividades principais: identificação e conquista do cliente, contato e contratação da
venda, identificação da disponibilidade de produtos, emissão do pedido de vendas, preparação do
produto e embalagem, expedição e transporte do produto, emissão da nota fiscal e cobrança do
cliente, recebimento da fatura, assistência técnica ao cliente e garantias do produto. Como podemos
notar, vários departamentos estão envolvidos num mesmo evento, que no caso são os departamentos
de marketing, vendas, expedição, financeiro, produção, logística e assistência técnica.
Outro complicador diz respeito aos efeitos temporais, pois um evento atual envolve atividades
muitas vezes desenvolvidas hoje, atividades já desenvolvidas em meses anteriores e atividades a
serem desenvolvidas em meses seguintes. Como fazer para analisar se esse evento trouxe ou não
rentabilidade para a empresa se o sistema de custo atual é baseado em regime de competência
de exercícios e, portanto, é rígido quanto à temporalidade dos custos? Portanto, o sistema de
custos tradicional nos moldes atuais está muito mais orientado à análise funcional de custos e ao
acompanhamento orçamentário por centro de custos do que às análises para tomada de decisões
estratégicas e operacionais.
Mas como o ABC pode ajudar? Os principais benefícios do ABC residem na sua linguagem, que
se aproxima das áreas operacionais, da possibilidade de rastreamento dos custos por meio dos
departamentos/atividades, da criação de uma sistemática de análise de resultado por evento, o que
independe do aspecto temporal das atividades complementares a esse evento, da criação de objetos
de custo novos como clientes e mercados (diferentemente do sistema tradicional que visa somente
à apuração de custos do produto), do entendimento de que tudo que se gasta é custo, e, portanto
deve agregar valor ao cliente, e, finalmente, pela alocação mais precisa de custos de overhead,
normalmente apropriado ao produto por critérios de rateio pouco racionais.
O objetivo principal do sistema ABC é a alocação racional dos gastos indiretos aos bens e serviços
produzidos, proporcionando um controle mais apurado dos gastos da empresa e melhor suporte nas
decisões gerenciais, além de:
›› Frequência de Cálculo.
›› Custos de Preparação.
›› Ordens de Produção.
129
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
O custo por atividades registra o consumo dos recursos na execução de atividades, visto que os
produtos consomem atividades e materiais.
O sistema de custeio por atividades distribui materiais e todas as atividades são rastreáveis aos
produtos com base no consumo de cada uma.
A base do funcionamento do sistema de Custo ABC pode ser classificada em duas categorias:
O produto de uma atividade deverá estar sempre ligado à satisfação de uma necessidade de um
cliente interno (outro setor da empresa) ou de um cliente externo (consumidor final).
O custo por atividades representa uma grande mudança em relação ao sistema tradicional de
contabilidade de custos.
O sistema ABC se diferencia dos custos tradicionais no momento em que os custos começam a
ser computados. Por exemplo, em um processo industrial, os custos gerados pelo recebimento
da matéria-prima são considerados na formação do custo do produto. Nos custos tradicionais, a
acumulação dos custos dos produtos inicia-se somente com o processamento da matéria-prima.
No ABC são computadas, também, as despesas que irão decorrer de garantia e atendimento ao
consumidor após o momento da entrega do produto. Nos sistemas tradicionais, não existe esse tipo
de preocupação, sendo o custo do produto encerrado no momento da sua passagem ao estoque de
produtos acabados.
A Mão de Obra direta é debitada à atividade (processo) e não ao produto. Essa abordagem elimina
a necessidade de apropriar a Mão de Obra ao produto.
A identificação ou rastreamento direto das atividades aos produtos reduz o valor das despesas
indiretas de fabricação a ser distribuído aos produtos.
O rastreamento direto das atividades aos produtos não distingue os custos diretos dos indiretos.
130
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
O custo é atribuído diretamente sempre que pode ser estabelecida uma relação de causa e efeito
entre a atividade e o produto.
Os custos rastreáveis de marketing, vendas, engenharia e outros custos de suporte são também
debitados diretamente aos produtos. Assim, enfocamos o custo total da empresa e não apenas o
custo de produção.
Muitos custos incorridos durante o ciclo de vida do produto, que tradicionalmente são considerados
despesas, serão agora rastreados aos produtos e distribuídos ao longo de sua existência.
O custo do ciclo de vida propicia à administração uma visão da lucratividade em longo prazo,
permite combinar melhor as estratégias de preços ao custo dos produtos nos diferentes estágios
do ciclo de vida e torna possível a quantificação do impacto no custo das alternativas de projeto do
produto e do processo.
O impacto das variações de volume das atividades no custo do produto também pode ser quantificado.
Medidas não financeiras de desempenho são incorporadas para avaliação global do desempenho do
produto.
Podemos inferir que o sistema ABC pode ser adotado nas áreas administrativas e comerciais da
empresa da mesma forma que é empregada na área de produção, iniciando pela análise da estrutura
dos gastos dessas áreas com a determinação dos fatores que deram origem à demanda, de acordo
com as funções desempenhadas.
O sistema de Custo ABC tenta sanar um problema crônico existente nos sistemas tradicionais, que
é o rateio dos custos indiretos da fabricação, baseado em critério arbitrariamente selecionado. O
sistema ABC diminui alocações de custos com base em rateios, pois por meio de pesquisas em
processos procura localizar as origens dos custos, podendo, assim, alocá-los com mais exatidão aos
bens e serviços produzidos.
131
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
132
CAPÍTULO 5
Custos no Setor Hospitalar
Conceito
A Contabilidade de Custos apresenta uma série de informações para o controle dos gastos internos.
Para o levantamento dos custos hospitalares é necessário conhecer os elementos que constituem
tais custos.
Martins (2003, p. 25) define custo como um gasto relativo a um bem ou serviço utilizado na produção
de outros bens e serviços.
O gasto é reconhecido como custo no momento da utilização dos fatores de produção (bens e
serviços) para a fabricação de um produto ou execução de um serviço.
Para Martins (2000), a gestão dos custos hospitalares apresenta os seguintes objetivos:
Finalidade
Auxiliar os gestores no processo decisório.
Segundo Falk (2001), o foco da contabilidade de custos hospitalares é maximizar os custos para
aumentar a receita obtida, mediante reembolso baseado em custos.
A elevação dos gastos com saúde levou o governo, seguradoras e organizações privadas voltadas para
convênios médicos, a conduzirem esforços para conter esses custos, considerando que variavam por
pacientes, dependendo, por exemplo, da severidade da doença e do prazo médio de permanência
no hospital.
133
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Como o produto hospitalar é um produto único, sem similar, a contabilidade de custos hospitalares
necessita de ferramentas próprias e de definições específicas. O produto hospitalar é diversificado,
com múltiplas alternativas, pois os procedimentos, além de numerosos, apresentam evolução técnica
contínua. O produto médico-hospitalar apresenta alto grau de instabilidade e de imprevisão e as
estatísticas, em termos de procedimentos, revelam variações muito grandes, no consumo de materiais
e medicamentos, por exemplo, que dificultam as previsões. A atividade médico-hospitalar apresenta
alto grau de risco quanto ao seu êxito final e o óbito é uma realidade quotidiana. Finalmente, por ser
a medicina mais arte que ciência, em que a subjetividade supera a objetividade, obriga o hospital,
para sua avaliação de desempenho, a elaborar um programa de contabilidade de custos próprio, que
ultrapasse as limitações de uma simples avaliação de custos, necessitando desenvolver uma técnica
que procure evidenciar os resultados.
134
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
Teoria e Princípios
O custo total da produção das empresas pode ser levantado diretamente pela contabilidade
geral. Cada produto da empresa tem os seus custos medidos proporcionalmente a todos
os recursos, onde a soma dos custos de todos os produtos representa o custo total dos
produtos das empresas. A contabilidade geral não alcança o custo de cada atividade
porque diversas atividades utilizam recursos comuns a outras atividades. Em outras
palavras, existem atividades dependentes de outras de modo não exclusivo.
2. Centro de custo: é o setor, seção, ponto de referência que gera despesas. Os centros
de custos produtivos, além de despesas, geram receitas. São chamados também de
centro de custos principais, contrapondo-se aos centros de custos auxiliares que
fornecem a infraestrutura para os centros de custos principais trabalharem.
4. Custos fixos: são os custos que se mantêm iguais mesmo quando existe variação
de volume de atividade, ao contrário dos custos variáveis que oscilam em função
da produção. As noções de custos fixos e custos variáveis são importantes para a
análise do desempenho mais do que para a elaboração da contabilidade de custo,
sendo um conceito de gerenciamento e não técnico.
135
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Preliminares
PRIMEIRO PASSO: A definição dos diversos centros de custos do hospital é o primeiro passo
para iniciar o trabalho. Antes de tudo, há necessidade de se definir a extensão de cada centro de
custo. Precisa-se agrupar dentro do mesmo centro de custo as atividades próprias e específicas
que permitem desenvolver as atividades do centro de custo, como também fatos que permitem
caracterizar o centro de custos como tal.
SEGUNDO PASSO: O hospital inteiro deve ser preparado na base da definição dos centros
de custos para que cada serviço, setor, seção, possa fornecer as informações necessárias para o
perfeito funcionamento da contabilidade de custos. As informações necessárias dizem respeito à
contabilidade geral e à estatística geral do hospital. Cada setor deve fornecer informações em função
de todos os centros de custos do hospital.
Contabilidade geral
O plano de conta do hospital deve ser elaborado em função dos centros de custos do hospital; isso
significa que cada conta deve ser subdividida em subcontas em função dos centros de custos, tanto
para as receitas como para as despesas.
Isso significa que a contabilidade geral, para ser instrumento funcional da contabilidade de custos,
tem necessidade de receber informações de diversos setores em formato de contabilidade de
136
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
custos. Assim sendo, o faturamento precisa apresentar relatórios contábeis por centro de custo.
O faturamento precisa se adaptar ao sistema de competência de modo rigoroso. Como é a alta
do paciente que provoca o fechamento da conta hospitalar, devem ser computados no relatório
mensal de faturamento todas as contas de pacientes que receberam alta no mês de competência. O
faturamento deverá levar em consideração as transferências internas de pacientes. Para paciente de
longa permanência, deverá ocorrer fechamento parcial de conta.
O controle de materiais deverá fornecer relatórios contábeis de consumo por centro de custos. A
administração fornecerá relatórios de consumo por centro de custos que dê os detalhes do consumo:
especificação de materiais, preço unitário, quantidade consumida, preço total. O gerenciamento dos
custos precisa desses tipos de informações.
Estatística geral
Todos os setores do hospital deverão apresentar mapas estatísticos discriminando os dados em
função da contabilidade de custos. Os setores produtivos de serviços para outros centros de custos
deverão especificar os beneficiados pelos serviços recebidos. Na contabilidade de custos, cada centro
de custo se situa numa relação de cliente e prestador de serviço com os demais centros de custos.
Essa relação deve ser levada em consideração na hora de aplicar os mapas estatísticos aos setores
do hospital.
TERCEIRO PASSO: Os centros de custos devem ser ordenados dentro de um plano de centros de
custos. A elaboração do plano de centros de custos deve respeitar a ordem seguinte: começar pelo
centro de custo que mais trabalha para outros centros de custo e que menos recebe dos demais. O
último centro de custo do plano deve ser aquele que mais recebe serviços e menos presta serviço a
outros centros de custo.
Com a finalidade de facilitar a interpretação e a manipulação dos dados, os centros de custos podem
ser classificados em diferentes grupos, como, por exemplo:
›› edificações.
›› administração.
›› transporte próprio.
137
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
›› almoxarifado.
›› limpeza.
›› manutenção.
›› caldeiras.
›› SND.
›› Lactário.
›› Gerência de enfermagem.
›› Serviço social.
›› SPP.
›› alojamentos e utilidades.
»» Grupo B: centros de custos usados para apuração do custo da diária por tipo de
aposentos:
›› refeições a paciente.
›› berçário.
»» Grupo C: centros de custos que isolam os custos dos materiais usados diretamente
para o paciente, como:
›› gasoterapia.
138
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
»» Grupo D:
›› os SADTs do hospital.
›› centro cirúrgico.
›› centro obstétrico.
»» Grupo F: centros de custos que permitem apurar os custos finais assim como a
receitas e resultados: são as unidade de internação, unidades gerais e especializadas,
isto é, unidades de onde os pacientes recebem alta.
Os demais grupos de centros de custos reúnem centros de custos que influenciam diretamente nos
custos do hospital, como, por exemplo:
›› Pronto socorro.
›› Ambulatório.
›› Hemodiálise.
»» Grupo H: centros de custos cujos custos não são apropriados de outros centros de
custos e que não afetam o grupo F:
›› Honorários médicos.
›› Lanchonete.
›› Velório.
›› Remoção de pacientes.
QUARTO PASSO: Devem ser escolhidas em função do plano de custos, elaborado para o hospital,
as unidades de mensuração de cada centro de custos como também os critérios de rateios entre
centros de custos.
139
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES
Como exemplo, as unidades de mensuração podem ser as seguintes (chamamos Fonte, o elemento
básico que permite realizar a mensuração):
Quanto mais complexo o hospital, mais necessário será não considerar a administração como um
bloco compacto. Nesse caso, para cada departamento, devem ser definidos os critérios próprios
baseados na ideia de que cada setor presta serviço a diversos centros de custos do hospital de modo
variado.
140
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV
oriundas de prestação de serviços externos e, ainda, diversos itens que foram objeto de análises
preliminares baseadas em rateios, como despesas financeiras, água, luz, telefone, taxas e impostos,
depreciações e amortizações.
Num segundo grupo de mapas, cada um por cada grupo de centro de custos, que apresenta uma
estrutura idêntica à do primeiro mapa, os custos indiretos são transferidos na base de rateio para os
centros produtivos, seguindo a estrutura do plano de centros de custos. A título de exemplo, o custo
de centro de custo Edificações é transferido para cada centro de custo que o utiliza e na proporção
em que ele é usado. O segundo centro de custo, após integralização dos seus custos próprios e dos
custos porventura recebidos, tem o seu custo total distribuído entre os demais centros de custo em
função dos pesos de cada um. A operação se repete até terminar as apropriações dos custos aos
centros de custos produtivos, passando por cada grupo de centro de custos.
Pelo segundo grupo de mapas, temos conhecimento do custo global de cada centro de custo. O
terceiro mapa elabora os custos unitários de cada centro de custo, mapa elaborado a cada fechamento
de mapa do grupo anterior. É necessário o fechamento de cada mapa do segundo grupo e o seu
mapa de custo unitário porque muitas vezes o preço unitário é usado em mapas posteriores, como,
por exemplo, o preço das refeições, o preço de intervenções de manutenção, o preço do km rodado,
o preço do kg de roupa lavada.
De posse dos mapas, podem ser emitidos relatórios explicativos para análises dos resultados e apoio
gerencial:
A gestão pelos custos, ou a gestão dos resultados, necessita de análises microscópicas mais do que
de visão de conjunto.
A gestão dos resultados se preocupa em analisar dois fatos e a partir dessa análise propõe ações
específicas:
141
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Para redução de custos, ou seja, para adequar os custos à produção, cada centro de custo deve ser
analisado, a começar pelos que proporcionam o maior déficit, aqueles que têm a menor margem
de lucro e aqueles que têm o maior custo. Cada item da composição do custo deve ser analisado de
modo crítico e em conjunto com as chefias envolvidas no sentido de eliminar o desperdício de Mão
de Obra, materiais e outros itens que compõem a despesa.
Aumentar a receita não significa apenas aumentar produção, deve-se levar em consideração vários
aspectos. O aumento de produção permite diluir os custos fixos. É importante verificar se uma
atividade com resultados financeiros negativos pode se tornar lucrativa com aumento de produção.
Há necessidade de se fazer um teste teórico de custos baseado em aumento de produção. Aumentar
produção além de certo patamar pode obrigar o hospital a aumentar custos fixos, o que obrigará a
revisar a contabilidade de custos inteira para dispor de novos dados para nova avaliação. O efeito
dominó nem sempre é o desejado.
142
FINANÇAS UNIDADE VI
CORPORATIVAS
CAPÍTULO 1
Aspectos Introdutórios
A criação de valor para a empresa ocorre quando a geração de caixa é superior ao dispêndio, ou seja,
a empresa deve gerar mais caixa do que consome.
A figura que se segue (adaptada de ROSS; WESTERFIELD; JAFFE, 2002) apresenta uma
estrutura organizacional da área financeira de uma empresa. O tesoureiro e o controlador estão
subordinados ao diretor financeiro. O tesoureiro é responsável pela gestão de caixa, tomadas de
decisão de investimentos e elaboração do planejamento financeiro. O controlador gere a função da
contabilidade, incluindo as questões fiscais, a contabilidade de custos e financeira e os sistemas de
informação.
11 Empregados, clientes, fornecedores, credores e outros que possuem vínculo econômico direto com a empresa.
12 Conflitos entre o administrador e os proprietários.
143
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
Diretor Financeiro
Tesoureiro Controlador
As companhias utilizam diversas fontes de financiamento, que podem derivar tanto da retenção de
lucros, caracterizando o designado financiamento interno, quanto do endividamento e lançamento
de ações, caracterizando o denominado financiamento externo.
Segundo Ross, o financiamento interno que é denominado, também, de autofinanciamento pode ser
definido pela expressão:
144
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
Na mesma direção do estudo retromencionado, dados recentes do Flow of Funds Accounts14 apontam
que nos Estados Unidos, primeira potencial mundial, apenas 25% do financiamento provêm de
novos recursos de terceiros (endividamento e emissão de ações). O mesmo banco de dados aponta
que entre as economias mais desenvolvidas do globo, o Japão, a França e a Itália são exceções, tendo
preferido o financiamento externo ao financiamento interno.
Se, por exemplo, a companhia passar por dificuldades financeiras, os credores poderão reivindicar
judicialmente o pagamento das exigibilidades, levando-a à liquidação e à falência. Destarte, o
financiamento externo por meio de endividamento tem o que Brigham e Houston designaram de
altos custos de falência.
Entretanto, apesar dos altos custos de falência, os autores consideram que o custo do capital é
mais barato quando se utiliza capital de terceiros no lugar de capital acionário, pois aquele goza
de benefícios fiscais. O modelo WACC15 ilustra isso. Quanto maior a alíquota do Imposto de Renda
Pessoa Jurídica (IRPJ) maior será a vantagem da utilização de capital de terceiros em detrimento do
capital próprio. Em outras palavras, o aumento do IRPJ diminui o custo de oportunidade, tornando
a opção de endividamento bem mais interessante do que a opção de utilização de capital próprio.
É importante notar que esse modelo só é realista, coeteris paribus, mantendo-se todas as demais
variáveis do modelo constantes.
»» Modelo WACC:
Onde:
V capital total.
145
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
Tc alíquota IRPJ.
Zatta e Nossa (2003) apontam que o custo de capital tem sido menor no Japão em relação
à Inglaterra e aos Estados Unidos devido à maior dependência das companhias japonesas
ao financiamento na forma de dívida. Os Estados Unidos e a Inglaterra, conforme já
salientado, são países que se utilizam, sobretudo, de autofinanciamento. Dessa forma,
Zatta e Nossa asseguram que a dívida é preferível ao capital próprio.
Segundo dados da OEDC financial statistics (1995), o quociente estimado entre capital
de terceiros e valor contábil total de companhias não financeiras no Japão é de 72%.
Segue o Gráfico, com a média dos quocientes capital de terceiros e capital total (D/V) das
companhias não financeiras dos três países do G7 que mais utilizam capital de terceiros.
Os dados do gráfico foram extraídos de OEDC financial statistics (1995).
80%
72%
70%
59% 58%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Por meio de emissões primárias de ações, particulares ou públicas, as companhias captam recursos,
que figuram no passivo não exigível admitindo, em contrapartida, novos sócios. É considerada,
com dadas restrições, uma forma “ilimitada” de captação de recursos. A oferta primária é a
primeira negociação das ações, em que a companhia oferece suas ações aos investidores a fim de
captar recursos. A demarcação do preço da ação é fundamental para o sucesso de uma emissão. A
Lei no 6.404/1976, conhecida popularmente como lei das SAs, prevê que o preço da emissão seja
146
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
Os países, ditos emergentes, vêm aumentando, em regra, a participação dessa fonte de recursos
para fomentar os investimentos produtivos das companhias. Exemplos de países na América Latina
são o México, o Chile e o Brasil.
Segundo dados da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), no Brasil, em 2007, de todos os
recursos captados pelas companhias que abriram o capital por meio de emissão de ações, 85%
foram canalizados para investimentos produtivos. Apenas 8% foram utilizados para quitar passivos
exigíveis e cerca de 7% foram para o capital de giro16 (vide GRÁFICO a seguir).
8% 0,4%
Dívida Outros
7% 85%
Capital de Giro Investimento
Ross, Westerfield e Jaffe destacam que, às vezes, não fica claro se um dado título é de dívida ou de
participação acionária. Por exemplo, suponhamos que seja emitida uma obrigação com prazo de
50 anos, juros a serem pagos somente com base no lucro da empresa, desde que exista, e resgate
subordinado a todas as outras dívidas da empresa. As sociedades por ações são muito hábeis na
criação de títulos híbridos que parecem ações, mas são títulos de dívida. Obviamente, a distinção
entre dívida e capital próprio é importante para fins tributários. Quando as sociedades por ações
procuram criar um título de dívida que, na verdade, é um título de participação acionária, elas
estão procurando obter os benefícios fiscais do uso de capital de terceiros ao mesmo tempo em que
eliminam os custos de falência.
16 Convenciona-se chamar o ativo circulante de capital de giro. Logo o capital de giro aparece no curto prazo. Em contabilidade
considera-se curto prazo o período de 12 meses ou o ciclo operacional, valendo o maior.
147
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
Essa preferência é consequência de fatores históricos, segundo Zysman (1983). A preferência pela
utilização de recursos próprios e emissão de ações está ligada a países em que o mercado de capitais
nasceu com a finalidade de financiar o desenvolvimento industrial. Nesses países, os empréstimos
bancários ficam restritos à utilização no curto prazo. Nos países em que o mercado de capitais não
se desenvolveu de forma adequada surgiram instituições financeiras com o fito de preencher esse
espaço. Nesse (1998), caso, os países preferem utilizar empréstimos bancários de longo prazo.
O trabalho de Zonenschain (1999), que se lastreia no estudo de Zysman (1983), aponta três tipos de
sistemas financeiros:
2. Qual o modelo seria mais dinâmico para os países em desenvolvimento, entre eles o
Brasil, o baseado em crédito ou em mercado?
148
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
De forma análoga, é possível listar os seguintes argumentos favoráveis aos modelos baseados em
crédito, em detrimento daqueles baseados em mercado:
2. Liquidez – A liquidez do mercado de ações não provê incentivo para que se possa
despender recursos na aquisição de informações sobre as empresas, nem para
que se exerça corporate governance, porque o próprio mercado de ações revela
informações sobre as empresas por meio do mecanismo de preços. Ademais, a
liquidez, que é vista como uma virtude para o acionista, pode ser um aspecto
negativo para a empresa que emite ações, porque está associada a um horizonte de
mais curto prazo para o investidor.
149
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
as empresas operam com maior alavancagem financeira, viabilizando uma taxa mais
elevada de investimento. O risco que se poderia criar com essa situação é reduzido pelo
estabelecimento de relações estreitas entre empresas e credores. Os bancos são acionistas
das empresas, o que os leva a se preocuparem com o seu desempenho e a preferirem uma
política de dividendos estáveis para se beneficiarem com o retorno sobre dividendos com
maior ênfase do que com os ganhos decorrentes da valorização das ações.
Segundo Zonenschain, a avaliação dos prós e contras dos dois modelos não chega a ser conclusiva,
principalmente porque o desempenho dos países que adotam cada um dos modelos não é uniforme
150
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
ao longo do tempo. O caso recente mais evidente é a crise financeira dos países do leste asiático,
atribuída pela maior parte dos analistas ao excesso de alavancagem financeira presente nessas
economias, fruto do padrão de financiamento baseado em crédito.
Logo, observa-se que a interrogação de qual o modelo que seria mais dinâmico para o Brasil,
aquele baseado em crédito ou em mercado ainda persistirá. Apenas a experiência do país poderá
responder tal questão, pois não existe desempenho invariável entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento. Um modelo bom para um país em desenvolvimento não será necessariamente
interessante para outro com as mesmas características.
Porém, uma inferência pode ser feita por meio dos resultados obtidos no estudo de Zonenschain.
Os resultados encontrados nos cálculos de Zonenschain (1998), para o Brasil durante o período
1989/1996, confirmam que os países em desenvolvimento baseiam seu financiamento em emissões,
em uma proporção mais elevada do que se imaginaria, dado o porte reduzido e o caráter incipiente
dos seus mercados acionários, tanto primários como secundários, adotando, por conseguinte, o
modelo de mercado de capitais. Essa alternativa atenderia a 48% do financiamento das companhias
da amostra para o período 1989/1996. Para a alternativa do autofinanciamento, o resultado foi
da ordem de 25%. Quanto à percentagem do financiamento das companhias que decorre de
endividamento de longo prazo, junto a instituições de crédito, o resultado foi de, aproximadamente,
27%.
<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/revista/rev1003.pdf>.
»» Debêntures
Segundo Lima et al (2006), debêntures são papéis de renda fixa de médio e longo prazos,
emitidos por sociedades anônimas, que conferem ao seu detentor um direito de crédito
contra a companhia. As companhias emitem debêntures com a finalidade de captação de
recursos, especialmente, para:
151
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
»» Commercial Papers
As notas promissórias comerciais (commercial paper) são títulos de curto prazo, emitidos
por companhias de capital fechado e companhias de capital aberto, com o fito de captação
de recursos para capital de giro.
A regulamentação das notas promissórias comerciais é objeto das Instruções 134 e 155
da CVM.
»» Empréstimos Bancários
O empréstimo bancário, no seu conceito clássico, nada mais é do que o repasse dos
recursos captados pelos bancos às companhias tomadoras, qualificadas como agentes
deficitárias. Tais companhias necessitam de recursos financeiros a fim de realizarem seus
investimentos produtivos.
Segundo Fortuna (2001, p. 166), existe uma enorme variedade de produtos disponíveis
que se diferenciam em prazos, taxas, formas de pagamento, garantias, com o limite sendo
a criatividade do banco diante das limitações impostas pelo BC.
152
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
»» Securitização
»» Ações
São títulos negociáveis de renda variável que representam a menor parcela do capital
social da companhia que os emitiu. Por isso, quando alguém adquire ações de uma
companhia é como se possuísse pedaços dessa companhia. As companhias precisam de
dinheiro para financiar suas compras, ampliar instalações, negócios etc. Para não tomar
dinheiro emprestado, em que os juros são altos e exigíveis no período do empréstimo,
as companhias emitem ações a fim de captar recursos sem o pagamento de juros altos e
exigibilidade. A contrapartida da companhia é o pagamento aos acionistas de participação
nos lucros (dividendos). As ações podem ser de dois tipos:
›› Ações ordinárias: São ações que dão ao seu detentor direito a voto nas
assembleias. Cada ação ordinária representa um voto. Os detentores de ações
ordinárias somente receberão seus dividendos depois de satisfeitos os direitos
dos acionistas detentores das ações preferenciais.
153
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
›› Blue chips – são ações de grande liquidez e procura no mercado, por parte dos
investidores, em geral de companhias tradicionais e de grande porte.
›› De Segunda linha – são ações com boa qualidade, porém menos líquidas que as
blue chips, em geral de companhias de grande e médio portes, tradicionais ou não.
›› De Terceira linha – são ações com pouca liquidez, em geral de médio e pequeno
portes. A negociação caracteriza-se pela descontinuidade.
17 Lei das SAs: § 1o – As ações são ordinárias e preferenciais. As ações preferenciais são das classes "A" e “especial”. .... § 4o – As
ações preferenciais das classes "A" e especial terão os mesmos direitos políticos das ações ordinárias, com exceção do voto para
a eleição dos membros do Conselho de Administração.
154
CAPÍTULO 2
Administração de Recursos
Um ponto importante a destacar é que é sempre muito difícil fazer estimativas sobre a quantidade
necessária de capital de giro de uma empresa. O capital de giro depende do volume de vendas e dos
prazos obtidos/concedidos a fornecedores e clientes, assim como o giro de estoque.
Há negociações em que o fornecedor dá prazo para pagamento das compras. Quanto menor for o
prazo concedido, mais difícil é a gestão do capital de giro. Na outra ponta, quanto menor for o prazo
concedido ao cliente, mais fácil fica administrar o capital de giro. O que deve ser balanceado é que
quanto menos prazo se dá ao cliente, mais dificil se torna vender a mercadoria. Quanto mais rápido
o estoque girar, menos capital de giro a empresa terá.
O ciclo operacional de uma empresa é geralmente iniciado com um pedido de mercadoria para
revenda ou para ser usada como matéria-prima dos produtos acabados. O fornecedor dos produtos,
ou da matéria-prima, pode entregar de imediato ou pode solicitar um período para entregá-los à
empresa. Há também um prazo, concedido pelo fornecedor, para pagamento. Dessa maneira, o
pagamento que a empresa fará ao fornecedor acontecerá algum período após o recebimento.
A empresa, por sua vez, permanece com os produtos por um período de tempo antes de serem
vendidos, salvo em casos de compra com venda casada. Na maioria das vezes, a empresa mantém
um nível de estoque dos produtos para revenda que exige que as mercadorias fiquem armazenadas
durante algum período. No caso das empresas industriais, antes mesmo da estocagem dos produtos
prontos, há o período de industrialização, que compreende o tempo necessário para transformar as
matérias-primas em produtos acabados.
155
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
Ciclo Econômico
É o período em que a mercadoria permanece nas dependências da empresa, ou seja, inicia-se com
a compra da mercadoria e encerra-se com a sua venda. Esse ciclo é o giro de estoques, ele nos diz
quanto tempo a empresa está demorando para girar o seu estoque. Quanto maior for o estoque, mais
lento será o seu giro, acasionando, inclusive, uma possível insuficiência crônica de caixa, forçando-a
a captação sistemática de recursos de terceiros, comprometendo a saúde financeira da empresa.
Ciclo Financeiro
Tem início com o desembolso de numerários para a aquisição da mercadoria que será revendida
pela empresa e encerra-se com o recebimento relativo à sua venda. Esse é o ciclo de caixa. O reflexo
do Ciclo Econômico se dará nesse ciclo. Se o giro do estoque é lento, primeiro a empresa pagará para
após receber, ocasionando em desembolso desnecessário. Cabe salientar que além de compromissos
com fornecedores a empresa também deve honrar outros compromissos mensais, que são os Custos
Fixos ou Despesas Operacionais. São gastos necessários para que a empresa possa operar.
Ciclo Operacional
Representa os dois ciclos juntos, iniciando-se quando da compra da mercadoria e encerrando-se
quando da venda ou do recebimento dos recursos da venda. O Ciclo Operacional inicia-se junto
com o Ciclo Econômico ou Ciclo Financeiro, o que ocorrer primeiro, e encerra-se junto com o
encerramento do Ciclo Econômico ou Financeiro, o que ocorrer por último.
156
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
É possível criar estimativas sobre os prazos médios em cima dos demonstrativos contábeis de uma
empresa. Seguem as equações:
Fornecedores x 360
PMPC=
Compras
Estoques x 360
PMRE=
Custo das Mercadorias Vendidas
A precisão dos índices de prazos médios está diretamente ligada à uniformidade das vendas
e compras. Se a empresa tem vendas e compras aproximadamente uniformes durante o ano, os
índices de prazos médios calculados a partir dos dados do Balanço e da Demonstração do Resultado
refletirão satisfatoriamente a realidade. Porém, se as vendas flutuarem, tiverem picos e vales
ou concentração em determinadas épocas do ano, os índices de prazos médios poderão estar
completamente distorcidos.
Exemplo 1: Uma distribuidora de Gás GLP vende por semana 3000 botijas de gás de 13kg. Ela
compra a botija a R$25,00 e a revende a R$ 35,00. Aos clientes é permitido o pagamento em cartão
de crédito e em cheque para 4 semanas. Eis os dados:
Nesse exercício, observa-se que no instante inicial a distribuidora compra e paga as botijas de gás.
Não há PMPC. Em média, as vendas ocorrem em 7 dias, onde ocorre todo o giro de estoque (PMRE).
Já aqui é evidente que há necessidade de capital de giro, porque os pagamentos a fornecedores
sempre ocorrerão antes dos recebimentos das vendas. Ao final de cada semana, tem-se um prazo
médio de 4 semanas para recebimento das vendas (PMRV).
Vamos analisar para o caso dessa distribuidora a reserva de capital de giro a ser feito. Vamos
considerar que há a retirada de 100% do Lucro gerado.
157
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
Exemplo 2: Calcule o custo financeiro de uma empresa que capta recursos a 4% ao mês, compra
mercadorias com prazo médio de 30 dias para pagamento, mantém mercadorias em estoque em
média por 30 dias, e trabalha com recebimentos em 30/60 dias de seus clientes.
PMPC = 30 dias.
PMRE = 30 dias.
Assim, o período no qual a empresa financiará a operação é de 45 dias. O custo financeiro será:
(1+ia)b + (1+ib)a.
(1+0,04)45 + (1+ib)30.
45
ib =1,004 =1
30
ib =6,06%.
158
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
Exemplo 3: A partir das demonstrações financeiras de uma empresa foram extraídos os seguintes
dados:
2008
Estoques 25.000
Fornecedores 22.000
Compras 100.000
Sabe-se que o custo das mercadorias vendidas é, em média, 65% do valor das vendas. Calcule os
prazos médios PMPC, PMRV e PMRE:
22.000 x 360
PMPC= = 79,2 dias
100.000
25.000 x 360
PMRE= = 76,9 dias
0,65 x 180.000
40.000 x 360
PMRV= = 80 dias
180.000
A administração do capital de giro está relacionada aos problemas de gestão dos ativos e passivos
circulantes e às interrelações entre esses grupos patrimoniais. Destaca-se aqui a importância
de análise do efeito tesoura como demonstrativo capaz de apresentar o nível de liquidez das
organizações.
As análises da estrutura financeira das empresas serão desenvolvidas por meio de índices como
Necessidade de Capital de Giro (NCG), Capital Circulante Líquido (CCL) e Saldo em Tesouraria (ST).
Tais parâmetros permitem ao gestor financeiro uma correta tomada de decisão e que contribuem
positivamente para a valorização das empresas, para a preservação da saúde financeira e para a
projeção de suas perspectivas futuras.
159
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
A vinda do professor Michel Fleuriet para o Brasil, em 1974, foi fruto de uma parceria entre a fundação
Dom Cabral e o Centre d’Enseignement Superieur des Affaires (CESA). As duas instituições tinham
um ponto em comum, importante para a conjunção de esforços: buscavam ajustar e criar métodos
e processos próprios de gestão, com raízes na realidade de seus países, e não importar tecnologias
estranhas às suas especificidades.
Propondo uma reestruturação da análise contábil tradicional, dois conceitos básicos foram
utilizados nas pesquisas e na formulação desse modelo. O primeiro é a Necessidade de Capital de
Giro (NCG) e o segundo é o Efeito Tesoura. Esses conceitos são eficazes na elaboração de políticas
de distribuição de dividendos, visto que a decisão do quanto distribuir e do quanto reter na empresa
é o que determina a “forca do motor da empresa”, e foi definido pelo autor como Autofinanciamento.
As contas do ativo e do passivo devem ser consideradas em relação à realidade dinâmica das
empresas, em que as contas são classificadas de acordo com o seu ciclo, ou seja, o tempo que leva
para se realizar uma rotação.
As contas operacionais ou cíclicas estão assim denominadas devido à sua relação ao ciclo operacional
das empresas, estão diretamente relacionadas com as atividades primárias da organização, e
representam os bens, direitos e obrigações da empresa, que são necessários para a manutenção das
margens de retorno esperadas.
160
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
Assim como os ativos operacionais, os passivos são as obrigações geradas pela compra de bens e
serviços necessários para a manutenção da atividade fim da empresa tais obrigações são geralmente
com fornecedores, salários a pagar e impostos.
As contas financeiras ou erráticas não estão diretamente relacionadas com o ciclo operacional das
organizações e sim com a gestão de disponíveis por parte das operações de tesouraria. Tais contas
são, em geral, compostas pela disponibilidade de caixa e por investimentos que são mantidos para
minimizar os riscos de falta de disponíveis pela incerteza dos fluxos diários de recebimentos e
pagamentos.
Os passivos financeiros ou erráticos possuem a mesma natureza conceitual dos ativos e são
geralmente compostas pelos empréstimos de curto prazo e, portanto, não estruturais e que visam a
manutenção do capital de giro necessário para a manutenção do fluxo operacional diário.
As contas não circulantes ou não cíclicas são todas as demais que não se enquadram nas classificações
e que, em teoria, não estão relacionadas diretamente ao ciclo operacional das empresas.
Ativo Passivo
Errático
Ativo Circulante
Passivo Circulante
Errático
Cíclíco
Cíclíco
Não Cíclico
Permanete
Não Circulante
Exigível de Longo Prazo
Realizável de Longo Prazo Não Cíclico
Patrimônio Líquido
O modelo Fleuriet, com base nas segmentações expostas no subitem anterior, apresenta três
conceitos-base para a avaliação das empresas: I) Necessidade de Capital de Giro (NCG); II) Capital
Circulante Líquido (CCL); e Saldos de Tesouraria (TS).
A Necessidade de Capital de Giro (NCG) é gerada quando, no ciclo financeiro, as saídas de caixa
ocorrem antes das entradas de caixa. A operação da empresa cria, portanto, uma necessidade de
aplicação permanente de fundos, que se evidencia no balanço por uma diferença positiva entre
o valor das contas cíclicas do ativo e as contas cíclicas do passivo. Conceitualmente, necessidade
de capital de giro corresponde à necessidade líquida de investimento permanente de fundos para
garantir o giro normal das operações de uma empresa.
O caso específico em que uma empresa possua NCG negativa reflete o ciclo financeiro em que as
saídas de caixa são posteriores às entradas e, portanto, o passivo cíclico torna-se maior que o ativo
cíclico.
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UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
O ativo errático e o passivo errático são as contas circulantes que não estão diretamente ligadas ao
ciclo operacional e cujos valores se alteram de forma aleatória. O Saldo de Tesouraria (ST) define-se
como a diferença entre o ativo e o passivo erráticos.
O Capital Circulante Líquido (CCL) é o excesso ou insuficiência das origens de recursos em relação
às aplicações. O Capital Circulante Líquido é a diferença das contas do Ativo Circulante e do Passivo
Circulante.
Ou
A diferença entre o CCL e a NCG determina a situação da tesouraria de uma empresa. Se o CCL for
maior que a NCG então o Saldo de Tesouraria (ST) será positivo, o que significa que haverá sobra
de Passivos não circulantes para fortalecer ST. Onde o CCL for menor que a NCG, os Saldos de
Tesouraria serão negativos, indicando que necessitam de recursos de terceiros de curto prazo para
financiar o giro. Saldos de Tesouraria positivos indicam que as empresas dispõem de fundos de
curto prazo que podem ser aplicados, por exemplo, em títulos de liquidez imediata, aumentando a
margem de segurança financeira da empresa e gerando ainda receitas não operacionais.
Um ST positivo e elevado não é, em todos os casos, uma condição desejável para as empresas.
Muitas vezes reflete que a empresa não está aproveitando as oportunidade de investimentos ou,
ainda, que a empresa não possui uma estratégia dinâmica de investimentos.
O Efeito Tesoura
As empresas que operam com ST crescente e negativa, em sua maioria, apresentam uma estrutura
financeira inadequada, revelando uma dependência de empréstimos de curto prazo para saldar suas
obrigações e deveres. Essas empresas enfrentam sérias dificuldades para resgatar seus empréstimos
em curto prazo, quando os bancos, por qualquer motivo ou contexto econômico, se recusem a
renová-los devido à possibilidade de insolvência.
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FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
É comum o efeito tesoura ocorrer na fase inicial das pequenas empresas. Para evitar o Efeito Tesoura,
as empresas devem planejar a evolução dos Saldos de Tesouraria. As alterações do ST dependem
das variáveis que afetam o Autofinanciamento: A NCG e o CCL.
As empresas tipo III são arriscadas e de alto Risco de Insolvência. Tais Empresas apresentam o CCL
negativo, indicando que todo o financiamento da NCG será efetuado com recursos de curto prazo de
terceiros e que investimentos em ativos não cíclicos também estão sendo executados e financiados
com esses recursos. A avaliação dessas empresas deve ser cuidadosa porque o retrato inicial
demonstra incapacidade de autofinanciamento e impossibilidade de cumprimento de obrigações
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UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS
cíclicas de curto prazo; contudo pode refletir uma situação momentânea em função de programas
de expansão ou aquisições.
As empresas do tipo IV são classificadas como insatisfatórias, por possuírem resultados incapazes
de autofinanciar de forma saudável a empresa. Tais empresas ainda apresentam o CCL positivo,
contudo, esse CCL é insuficiente para as demandas por NCG em proporções positivamente maiores.
Empresas enquadradas nesse seguimento necessitam permanentemente de capital de terceiros
de curto prazo para o suprimento de suas atividades operacionais, o que revela ineficiência no
atingimento de sua atividade fim.
As empresas do tipo V são classificadas como muito ruins. Tais empresas também apresentam o
CCL negativo, indicando que todo o financiamento da Necessidade de Capital de Giro é efetuado
com recursos de curto prazo de terceiros e que investimentos em ativos não cíclicos também estão
sendo executados e financiados com esses recursos.
As empresas do tipo VI são classificadas como péssimas. As empresas péssimas possuem CCL negativo,
indicando que elas não possuem recursos próprios para investimento, financiam investimentos não
cíclicos com recursos custosos de terceiros e não possuem mais um ciclo operacional que autofinancie
suas atividades-fins, o que agrava muito sua estrutura de financiamento. Empresas nessa situação
não conseguem mais honrar seus compromissos cíclicos e não cíclicos, necessitam para sobreviver
de mudanças estratégicas no negócio.
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FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI
Nas análises vistas, fica evidente que uma situação financeira sólida implica na manutenção de
CCL positivo e maior que a NCG. Dessa forma, ocorrendo NCG positiva, o CCL seria suficiente para
financiá-la e ainda gerar um saldo positivo de tesouraria (ST>0), garantindo a liquidez da empresa.
Exemplo 4: Classifique a empresa WYX conforme o modelo de Fleuriet, calculando a NCG, o CCL e
o ST:
Dados da Empresa
Ativo Corrente
Caixa 20.000.
Estoques 76.800.
Contas a Receber 50.000.
Ativo Fixo – líquido 100.000.
Fornecedores 150.000.
Exigibilidade de Longo Prazo nenhuma.
Patrimônio Líquido 96.800.
CCL = Ativo Não Cíclico – Passivo Não Cíclico = 100.000 – 96800 = 3200.
A empresa apresenta ST positivo (20.000), NCG negativa (-23.200) e CCL positivo (3200). A
empresa pode ser classificada como excelente.
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GESTÃO DE UNIDADE VII
CONVÊNIOS
CAPÍTULO 1
Convênios e Contratos
Convênios
Conceito
De acordo com o Decreto no 6.170, de 25 de julho de 2007, que regulamenta os convênios, contratos
de repasse e termos de cooperação celebrados pelos órgãos e entidades da administração pública
federal com órgão sou entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos, assim se define convênio,
conforme contido no § 1o, I, do seu Art 1o:
§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos a pessoa jurídica
de direito privado que não distribui, entre os seus sócios ou associados,
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GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII
»» Não existe penalidade por rescisão, há a denúncia somente pela aplicação irregular
do recurso.
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UNIDADE VII │ GESTÃO DE CONVÊNIOS
Termo de Parceria:
Documento destinado à vinculação de cooperação entre o Poder Público e as entidades qualificadas
como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), para o fomento e a execução
de atividades consideradas de interesse público, previstas no art. 3o da Lei Federal no 9.790/1999:
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GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII
[...].
art. 20. A comissão de avaliação de que trata o art. 11, § 1o, da Lei no 9.790, de
1999, deverá ser composta por dois membros do respectivo Poder Executivo,
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UNIDADE VII │ GESTÃO DE CONVÊNIOS
Contrato de Gestão:
Contrato firmado entre o Poder Público e Organizações Sociais, para a formação de parceria, visando
o fomento e a execução de atividades relativas às OS’s.
Do Contrato de Gestão.
[...].
art. 5o Para os efeitos desta Lei, entende-se por contrato de gestão o instrumento
firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social,
com vistas à formação de parceria entre as partes para fomento e execução de
atividades relativas às áreas relacionadas no art. 1o.
Parágrafo único. O contrato de gestão deve ser submetido, após aprovação pelo
Conselho de Administração da entidade, ao Ministro de Estado ou autoridade
supervisora da área correspondente à atividade fomentada.
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GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII
Seção IV
art. 10. Sem prejuízo da medida a que se refere o artigo anterior, quando assim
exigir a gravidade dos fatos ou o interesse público, havendo indícios fundados
de malversação de bens ou recursos de origem pública, os responsáveis pela
fiscalização representarão ao Ministério Público, à Advocacia-Geral da União
ou à Procuradoria da entidade para que requeira ao juízo competente a
decretação da indisponibilidade dos bens da entidade e o sequestro dos bens
dos seus dirigentes, bem como de agente público ou terceiro, que possam ter
enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.
[...].
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UNIDADE VII │ GESTÃO DE CONVÊNIOS
Contratos
Conceito:
É todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da administração pública e particulares, em que
haja um acordo de vontade para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja
qual for a denominação utilizada.
Tipos:
Considerações Gerais:
»» Necessidade de procedimento licitatório de acordo com a Lei no 8.666/1993.
I – advertência;
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GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII
Novidades de implantação:
Contrato Único: a ser implementado pela SES que busca desenvolver no SUS uma cultura orientada
para Resultados, que contemplará os hospitais contratualizados e as instituições beneficiadas com
programas estaduais.
O Instrumento
Pro-Hosp
Contratualização
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UNIDADE VII │ GESTÃO DE CONVÊNIOS
[...]
§ 1o A multa a que alude este artigo não impede que a Administração rescinda
unilateralmente o contrato e aplique as outras sanções previstas nesta Lei.
I – advertência;
§ 2o As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste artigo poderão ser aplicadas
juntamente com a do inciso II, facultada a defesa prévia do interessado, no
respectivo processo, no prazo de 5 (cinco) dias úteis.
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GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII
art. 88. As sanções previstas nos incisos III e IV do artigo anterior poderão
também ser aplicadas às empresas ou aos profissionais que, em razão dos
contratos regidos por esta Lei:
[...]
CONTRATO CONVÊNIO
1.Interesses divergentes e contrapostos para as partes. 1.Interesses convergentes e comuns entre os partícipes.
2.Partes: uma que pretende o objeto do ajuste(a obra, o serviço etc.); 2.Partes: no convênio têm-se partícipes (convenentes não vinculados
a outra que visa a contraprestação correspondente (a remuneração ou contratualmente) com as mesmas pretensões, ainda que haja
outra vantagem). prestações específicas e individualizadas, a cargo de cada partícipe.
3.Vontade: são antagônicas e se compõem, e não se adicionam, 3.Vontade: são convergentes, somam-se e não dão origem a uma
delas resultando uma terceira espécie de vontade – a contratual. terceira espécie.
4.Objetivo: Cada parte quer atingir um fim que não é compartilhado 4.Objetivo: As partes buscam o mesmo e idêntico objetivo, unindo-se
pela outra. para a satisfação do interesse comum.
5.Preço/remuneração: constitui cláusula inerente aos contratos. 5.Preço/remuneração: não existe no convênio; nele há uma
Passa a integrar o patrimônio da entidade que recebeu pelos conjugação de esforços, sob várias formas, como repasse de verbas,
serviços executados, sendo irrelevante para o órgão/entidade público uso de equipamentos, de recursos humanos e materiais, de imóveis,
repassador a sua utilização. de know-how e outros.
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Referências
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