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Gestão Financeira

e Custos Hospitalares

Brasília-DF.
Elaboração

Rogério de Moraes Silva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 6

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS....................................................................... 11

CAPÍTULO 1
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO................................................................................................... 11

CAPÍTULO 2
A CONTABILIDADE E A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ADMINISTRATIVA..................................... 25

CAPÍTULO 3
FORMAÇÃO DE PREÇOS....................................................................................................... 36

UNIDADE II
FINANÇAS E ANÁLISE DE..................................................................................................................... 43

INVESTIMENTOS................................................................................................................................... 43

CAPÍTULO 1
FINANÇAS............................................................................................................................. 43

CAPÍTULO 2
ANÁLISE DE INVESTIMENTOS.................................................................................................... 53

UNIDADE III
PLANEJAMENTO.................................................................................................................................. 68

TRIBUTÁRIO......................................................................................................................................... 68

CAPÍTULO 1
DISPOSIÇÕES GERAIS E COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA.................................................................. 68

CAPÍTULO 2
O SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL.......................................................................................... 74

CAPÍTULO 3
O PROCESSO DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO DE PESSOA JURÍDICA......................................... 77
UNIDADE IV
PLANEJAMENTO.................................................................................................................................. 83

TRIBUTÁRIO......................................................................................................................................... 83

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO AO MERCADO DE CAPITAIS.............................................................................. 83

CAPÍTULO 2
MERCADO DE DERIVATIVOS................................................................................................... 94

UNIDADE V
CUSTOS............................................................................................................................................ 103

HOSPITALARES................................................................................................................................... 103

CAPÍTULO 1
FUNDAMENTOS BÁSICOS DA ANÁLISE DE CUSTOS.................................................................. 103

CAPÍTULO 2
AVALIAÇÃO DE ESTOQUES.................................................................................................... 115

CAPÍTULO 3
ANÁLISE DA FOLHA DE PAGAMENTO..................................................................................... 117

CAPÍTULO 4
APURAÇÃO DOS CUSTOS..................................................................................................... 120

CAPÍTULO 5
CUSTOS NO SETOR HOSPITALAR............................................................................................ 133

UNIDADE VI
FINANÇAS........................................................................................................................................ 143

CORPORATIVAS................................................................................................................................ 143

CAPÍTULO 1
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS.................................................................................................. 143

CAPÍTULO 2
ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS........................................................................................... 155

UNIDADE VII
GESTÃO DE...................................................................................................................................... 166

CONVÊNIOS..................................................................................................................................... 166

CAPÍTULO 1
CONVÊNIOS E CONTRATOS.................................................................................................. 166

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 176


Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

6
Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
Uma boa gestão financeira agrega importante valor no processo decisório das
organizações, possibilitando que o gestor adquira conhecimento dos custos
hospitalares para a elaboração de futuros planejamentos estratégicos e na
formulação dos preços de seus produtos e serviços.
<www.supertrafego.com>

“O modo como você reúne, administra e usa a informação determina se vencerá


ou perderá”
Gates, Willian (Bill) (1999)

Uma boa gestão financeira hospitalar é o produto dos esforços e intelectos de um grupo de indivíduos
organizados, que fornece mecanismos para distribuir responsabilidades e canalizar esforços para
que todo o trabalho seja coordenado e controlado para atingir os objetivos do hospital de maneira
mais eficiente e eficaz.

A gestão financeira hospitalar exige conhecimento para tomada de decisão em áreas técnicas, a fim
de oferecer um serviço de qualidade.

Portanto, faz-se necessário que os hospitais invistam, de forma constante, em tecnologia, no


aprimoramento de apuração de custos, na análise de investimentos, no planejamento tributário e
na gestão de convênios, incluindo comunicação e relacionamento humano.

Sob esse enfoque, a boa gestão financeira tem-se destacado como instrumento de apoio mais
adequado às necessidades de gerenciamento das informações no ambiente hospitalar, sendo
considerada uma área da empresa que fornece, tempestivamente, ao processo decisório o recurso
da informação em um mercado altamente competitivo.

Controlar e fiscalizar custos, analisar os resultados e formular corretamente os gastos dos serviços
prestados são fatores que levam a um melhor gerenciamento das informações para que as diversas
alternativas sejam adequadamente conhecidas e mensuradas.

Bons estudos!

Objetivos:
»» Compreender a importância da Ciência Contábil para aprofundar o conhecimento
gerencial e para a formação de preços.

»» Identificar os sistemas de informação global.

»» Conhecer os métodos de formação de preços.

8
»» Compreender aspectos importantes sobre finanças e análise de investimentos.

»» Verificar os procedimentos realizados no planejameno tributário.

»» Compreender o planejamento tributário na área hospitalar.

»» Identificar aspectos relevantes do Mercado de Capitais e de Derivativos.

»» Identificar os fundamentos básicos da análise de custos.

»» Realizar a apuração de custos hospitalares.

»» Identificar aspectos importantes de finanças corporativas.

»» Diferenciar convênios de contratos.

»» Identificar aspectos relevantes da gestão de convênios.

9
10
CONTABILIDADE
GERENCIAL E FORMAÇÃO UNIDADE I
DE PREÇOS

CAPÍTULO 1
Sistemas de Informação

“A informação não pode custar mais do que ela pode valer para a administração da
entidade”

PADOVEZE (2009)

Sistema de Informação Contábil (SIC)


Conforme a Deliberação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no 29, de 5 de fevereiro de
1986, que aprova Pronunciamento do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON),
“A Contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinado a prover seus
usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade,
com relação à entidade objeto de contabilização”.1

Sistema de Informação Gerencial (SIG)


A maioria dos assuntos tratados em Contabilidade Gerencial são oriundos de várias áreas da Ciência
Contábil e também de Administração Financeira. Entretanto, o tema nuclear da Contabilidade
Gerencial é a utilização da Informação Contábil como ferramenta para a administração.

É importante ressaltar que, para que essa informação contábil seja utilizada no processo
administrativo, é mister que se faça desejável, útil e a um custo adequado e aceitável para os CEOs
(Chieff Executive Officer).

Portanto, é de fundamental importância que se construa um Sistema de Informação Contábil


Gerencial “para que a contabilidade se torne efetivamente uma ferramenta de ação administrativa”
(PADOVEZE, 2009).

1 Disponível em: <http://www.ibracon.com.br/noticias/destaque.asp?identificador=2358>, acessado em: 20/5/2009.

11
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Objetivos e interlação do SIG-SIC


Podemos dizer que os objetivos principais da Contabilidade Gerencial são:

a. estudar a contabilidade como sistema de informação integrado ao Sistema de


Informação Global da empresa, voltado ao atendimento das necessidades de
informação;

b. entender a contabilidade como meio de expressar planos administrativos e como


instrumento de apoio às funções administrativas de planejamento, controle
operacional, controle gerencial e tomada de decisão.

Como vimos, a Contabilidade Gerencial está voltada para os usuários internos da organização
(diretores, gerentes, adminstradores), munindo-os de informações para que possam tomar suas
decisões de dirigir e controlar a organização, enquanto que a Contabilidade Financeira tem a
preocupação de fornecer informações aos usuários externos, acionistas, credores, entre outros.
Segundo Garrison, “a Contabilidade Gerencial provê as informações essenciais com que as empresas
são efetivamente geridas, enquanto a Contabilidade Financeira proporciona os parâmetros
(scorecards) pelos quais o desempenho passado de uma empresa é avaliado.”

Comunicação (Relatórios Financeiros)

O Balanço Patrimonial
É o relatório que demonstra a situação patrimonial e financeira da empresa em um determinado
momento. Por esse motivo, todos os resultados das operações da organização e das transações que
terão realização futura são direcionados para ele.

O Balanço é elaborado segundo os Princípios Fundamentais de Contabilidade, entretanto, nada


impede que, gerencial e internamente, sejam preparados balanços com critérios de avaliação
alternativa. Temos visto muita polêmica quanto a alguns critérios de avaliação, considerados
inaceitáveis por alguns, que perseveram que a informação fica prejudicada no balanço, como, por
exemplo, utilizar a avaliação dos estoques pelo custo médio de aquisição; na opinião desses críticos,
essa avaliação deveria ser pelos preços de venda, ou, no mínimo, pelos preços de reposição dos
materiais ou produtos.

A Lei no 11.638/2007, modificada em alguns aspectos pela MP no 449/2008, mormente no que


tange aos efeitos tributários, estabelecendo um Regime de Transição Tributária (RTT), vem trazer
profundas modificações nos critérios de avaliação dos itens patrimoniais. Entretanto, com relação
aos estoques, que têm o objetivo de determinar, posteriormente, o lucro na venda, ficou mantido
o critério de avaliação a preço de custo. É certo que se poderia causar alguma confusão para
determinados usuários avaliar os estoques a custo médio, dando-se uma ideia distorcida atrasada
desses valores.

12
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

Convém lembrar que, como filosofia empresarial:

a. a empresa deve manter seus estoques no mais baixo nível possível, objetivando
reduzir os impactos financeiros de manutenção de investimentos no capital de giro
e, principalmente, reduzir os desperdícios futuros com obsolescência tecnológica
de itens;

b. as novas tecnologias de administração de produção, como o Just in Time, enfatizam


a necessidade de se manterem os estoques em seu menor nível, objetivando rapidez
e flexibilidade da produção e venda;

c. os princípios de TQC (Total Quality Control), muito mais importante do que os


impactos financeiros da manutenção dos estoques, enfatizam que sua manutenção
em grande escala propicia o acobertamento de deficiências no sistema organizacional
de produção, vendas e desenvolvimento tecnológico.

Em termos de avaliação, devemos lembrar que:

a. o baixo nível de estoques e, consequentemente, sua alta rotação farão com que os
valores dos estoques no balanço patrimonial terminem por ficar avaliados a preços
próximos da data do encerramento do exercício;

b. em caso de ambiente econômico inflacionário, as técnicas de correção monetária


de balanço de correção monetária integral trazem critérios de incorporação da
atualização monetária desses itens, fazendo-os avaliados a preço de compra
corrigidos e, com isso, bem próximos dos preços de reposição.

Pelas observações de Padoveze (2009), concluímos que, se dermos adequado tratamento aos valores
de materiais e estoques, principalmente demonstrando corretamente seus resultados, obteremos
uma correta mensuração do lucro nas vendas. Por esse motivo, é de fundamental importância a
construção de contas no Sistema de Informação Contábil para termos essa correta avaliação.

Na construção de cada relatório, deve-se planejar tudo em detalhes, pois uma estética inadequada
pode prejudicar sensivelmente o conteúdo. Esse conteúdo deve possibilitar o entendimento do
usuário a quem se destina o relatório, que é o cliente da informação contábil; por esse motivo deve
conter características de clareza, precisão, rapidez e direção.

Bio (apud PADOVEZE) expressa-se sobre as características como “qualidade da informação


gerencial”, com as seguintes características: comparabilidade, confiança, gerada em tempo hábil,
nível de detalhamento adequado e relevância.

Os demonstrativos contábeis básicos


Por sua natureza, os demonstrativos contábeis básicos deverão valer-se, em primeira mão, das
informações tradicionais geradas pela Contabilidade Financeira. Eles deverão conter as informações
das contas adicionais planejadas da estruturação do Sistema de Informação Contábil Gerencial.

13
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Tais informações não deverão ser evidenciadas nos relatórios finais emitidos aos usuários;
constituem um banco de dados com o objetivo de se integrar aos futuros relatórios do sistema de
informação.

Os Planos de Contas Contábeis devem ser construídos visando à geração de relatórios futuros
originados deles, e à integração de todo o sistema de informação contábil, por meio da navegabilidade
dos dados.

Para tanto, é necessário obedecer a dois aspectos fundamentais na elaboração dos planos de contas
gerenciais, partindo do plano de contas fiscal: segmentação dos planos por áreas afins dos principais
relatórios e criação de contas adicionais para integração do sistema.

Visão Ampla x Visão Restrita


A Contabilidade Financeira, pelas suas restritividades, fornece informações elaborando
demonstrativos financeiros para propósitos externos, como acionistas, credores e autoridades
governamentais. Esse tipo de comunicação fornece a esses agentes os resultados das decisões e
das melhorias dos processos executadas por administradores e funcionários. Conforme nos mostra
Atkinson, o processo contábil-financeiro está restrito aos requisitos obrigatórios de elaboração
de relatórios por parte das autoridades regulamentadoras externas, tais como o FASB (Financial
Accounting Standard Board) e a SEC (Securities and Exchange Comission), nos Estados Unidos,
assim como pelas agências governamentais de impostos. Consequentemente, a Contabilidade
Financeira tende a ser direcionada por regras, e os estudantes de Contabilidade Financeira estudam
lançamentos no diário e procedimentos que geram os demonstrativos financeiros obrigatórios.

Contrastando com essa visão, entra em cena a Contabilidade Gerencial, que vem fornecer
informações econômicas para operadores, funcionários, gerentes intermediários e executivos
seniores. Os CEOs (Chieff Executive Officer), assim chamados aqueles que decidem dentro da
organização, dentro da discreção peculiar de seus cargos, devem desenhar sistemas de informação
que auxiliem os funcionários a tomar boas decisões, indo além dos controles sobre recursos
organizacionais (financeiros, físicos e humanos), chegando também a decisões sobre os produtos,
serviços, processos, fornecedores e clientes. Com isso, utilizam-se das informações gerenciais,
possibilitando aos funcionários melhorarem a qualidade das operações, reduzirem os custos
operacionais e aumentarem a adequação das operações às necessidades dos clientes.

Contabilidade Financeira x Contabilidade


Gerencial

Contabilidade Financeira
A Contabilidade Financeira é obrigatória, sujeita às normas e imposições legais. É altamente
normatizada e padronizada, podendo se submeter à posterior auditoria.

14
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

Foi formatada e executada para atender ao público externo, principalmente a vontade da legislação
do Imposto de Renda, tendo regras próprias, como, por exemplo, a escrituração do Livro de
Apuração do Lucro Real (LALUR).

Contabilidade Gerencial
A Contabilidade Gerencial tem seu foco principal na tomada de decisão. Não está sujeita às restrições
e imposições legais, sendo mais dinâmica e ágil, e específica para cada negócio.

A Contabilidade Gerencial não existe como os outros campos de aplicação da Ciência Contábil, tais
como Contabilidade Financeira, Contabilidade de Custos etc. A Contabilidade Gerencial é uma ação.
Para que se tenha Contabilidade Gerencial em uma organização é necessário que se tenham pessoas
que possam traduzir as informações contábeis em dados gerenciais para a tomada de decisão, isto
é, utilizar os dados contábeis como instrumento de administração. De acordo com Padoveze (2009)
“dessa forma, fica claro que a Contabilidade Gerencial deve utilizar-se das técnicas já desenvolvidas
por outras disciplinas, porque nelas o estudo específico é mais aprofundado.”

A Contabilidade Gerencial abrange várias áreas da organização devendo suprir a todas por meio
do sistema de informação contábil gerencial. Dessa forma, tem-se um grupo de informações
que suprirá a alta administração com dados mais sintéticos, em grandes agregados, chamado de
gerenciamento contábil global, com o objetivo de controlar e planejar a empresa dentro de
uma visão de conjunto.

O segundo grupo de informações irá suprir a média administração, ou, caso necessário, as divisões
ou linhas de produtos. Essas informações utilizam o conceito de contabilidade por responsabilidade,
que se denomina gerenciamento contábil setorial.

Por fim, existe um terceiro grupo de informações para gerenciar cada um dos produtos da organização
isoladamente – o gerenciamento contábil específico, que trata a informação de forma bem
mais detalhada em nível operacional.

Padoveze (2009) persevera que, para todos esses segmentos, serão trabalhadas informações para
planejamento estratégico e orçamentário, já que o segundo fundamento da Contabilidade Gerencial
é seu enfoque para o futuro. Assim, as áreas fundamentais do sistema de informação contábil são os
orçamentos e a gestão estratégica.

Quadro 1: Características básicas da Contabilidade Financeira e da Contabilidade Gerencial

Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial

Clientela Externa: acionistas, credores, autoridades tributárias. Interna: funcionários, administradores, executivos.

Informar decisões internas tomadas pelos funcionários


Reportar o desempenho passado às partes externas; contratos
Propósito e gerentes; feedback e controle sobre desempenho
com proprietários e credores.
operacional; contratos com proprietários e credores.

Data Histórica, atrasada. Atual, orientada para o futuro.

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UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial

Desregulamentada: sistemas de informações determinados


Regulamentada: dirigida por regras e princípios fundamentais
Restrições pela administração para satisfazer necessidades estratégicas
da contabilidade e por autoridades governamentais.
e operacionais.
Tipo de Mensuração física e operacional dos processos, tecnologia,
Somente para a mensuração financeira.
Informação fornecedores e competidores.
Natureza da Mais subjetiva e sujeita a juízo de valor, válida, relevante,
Objetiva, auditável, confiável, consistente, precisa.
Informação acurada.

Escopo Muito agregada; reporta-se a toda a empresa. Desagregada; informa as decisões e ações locais.
Fonte: Adaptado de Atkinson, 2000

Conceitos e Terminologias
O ambiente empresarial sofreu profundas modificações nas últimas décadas. Com a globalização,
as indústrias têm um novo estímulo no cenário dos negócios. A competição tornou-se universal e o
ritmo de inovação em produtos e serviços foi acelerado, fato que beneficiou os consumidores, pois
a grande competitividade reflete em menores preços e qualidade mais elevada com muito mais
opções. Com tantas mudanças, de grande impacto para muitas empresas, os administradores foram
aprendendo que as tradicionais formas de se fazer negócio já não funcionavam mais e, por isso,
deveriam fazer uma reviravolta no modo de administrar e executar o trabalho; vista por alguns
como uma segunda revolução industrial.

Essa modificação trouxe profundas consequências na prática da Contabilidade Gerencial, em que


organizações vêm se transformando para se tornarem mais competitivas. A partir de 1980, as
empresas passaram por diversos processos de melhoria, começando com o Just in Time, passando
pela Gestão da Qualidade Total (Total Quality Management – TQM), pela Reengenharia de Processos
e por diversos outros programas de gerenciamento – incluindo, em algumas empresas, a Teoria das
Restrições (Theory of Constraints – TOC). Garrison (2001) persevera que esses programas, quando
adequadamente implantados, podem fortalecer a qualidade, reduzir custos, aumentar a produção,
eliminar atrasos na resposta aos clientes e, finalmente, aumentar os lucros. Continuando, Garrison
acredita que o cenário atual dos negócios não pode ser entendido de modo adequado sem uma
apreciação do que cada uma das abordagens tenta atingir. Então, vejamos.

Just in time (JIT)


O conceito do JIT significa que, em se tendo condições ideais, a Companhia compraria apenas os
materiais necessários para atender às exigências diárias. No final do dia não haveria nenhum bem em
processamento e toda a produção concluída deveria ter sido despachada para os seus compradores.
JIT significa que as matérias-primas são recebidas exatamente em tempo de entrar em produção,
as partes são concluídas exatamente em tempo de serem montadas e transformadas em produtos,
e eles são acabados exatamente em tempo de serem expedidos para os clientes (GARRISON,
2009). Essa abordagem pode ser utilizada tanto em empresas comerciais quanto nas indústrias,

16
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

mas apresenta efeitos mais profundos nestas últimas, que mantêm três espécies de estoque:
matérias-primas, produtos semiacabados e produtos acabados.

Abordagem JIT do Fluxo de Produção

Fonte: Adaptado de Garrison (2001)

Gestão da Qualidade Total


O processo de melhoria contínua, popularmente conhecido como gestão da qualidade total, tem
duas características principais:

1. foco no atendimento ao cliente; e

2. resolução sistemática dos problemas por meio de equipes de empregados da linha


de produção.

Para auxiliar os funcionários na resolução dos problemas existe uma grande variedade de ferramentas,
dentre elas o benchmarking, que envolve o estudo das melhores organizações mundiais na execução
de uma determinada tarefa.

Segundo Garrison, o mais importante e penetrante instrumento de resolução de problemas de


TQM talvez seja o ciclo planejar-executar-checar-implantar (plan-do-check-act, PDCA), também
conhecido como Roda de Deming2.

O ciclo PDCA aplica o método científico da resolução de problemas em que na fase planejar
são analisados os dados, para identificação das causas do problema, para, em seguida, se propor
uma solução. Na fase seguinte, executar, testa-se a solução proposta. Os resultados obtidos são
avaliados na fase checar que, sendo positivos, passam para a fase implantar, dando sequência ao
plano; caso contrário, volta-se à estaca zero, reiniciando o processo.

2 Garrison comenta que o Dr. W. Edwards Deming, pioneiro da TQM, introduziu muitos dos seus elementos na indústria
japonesa, após a Segunda Guerra Mundial. Mais tarde, a TQM foi aprimorada e desenvolvida por companhias japonesas como
a Toyota.

17
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Analisar o processo atual.


Coletar dados.
Implementar o plano em pequena escala, se
Analisar os dados, para identificação das possíveis possível.
causas.
Coletar dados.
Desenvolver um plano para melhorar.
Decidir como avaliar a melhoria.
Planejar Executar

Implantar Checar
Se obtiver sucesso, tornar a alteração permanente.
Avaliar os dados coletados durante o teste.
Se os resultados não forem bons, tentar
A melhoria esperada ocorreu?
novamente.

O principal foco da TQM é o cliente. Diversas empresas, entre elas a KPMG, faz pesquisas
periodicamente sobre a satisfação de seus clientes com os seus serviços.

Conforme Madonna e Ion (apud GARRISON, 1992), “para cada queixa que você escuta, há cinquenta
outras que você desconhece. Se não acompanhar a satisfação dos clientes, você pode descobrir a sua
insatisfação somente quando eles já estiverem saindo porta afora” .

Resumindo, esse processo fornece instrumentos e técnicas de melhoria contínua baseado na


metodologia científica; se implantado de forma correta, evita conflitos organizacionais internos
contraproducentes.

Reengenharia de Processo
Esta abordagem de melhoria é bem mais radical se comparada à TQM. Cada processo da empresa
é esmiuçado e, em seguida, inteiramente redesenhado com a finalidade de eliminar etapas
desnecessárias, reduzir possibilidades de erro e diminuir custos. Está voltada para a simplificação
e a eliminação do esforço desperdiçado, tendo como ideia central que todas as atividades que não
agregam valor ao produto ou serviço devem ser eliminadas.

Garrison, alerta para o fato de que um problema recorrente na reengenharia de processo é a


resistência do empregado. A razão, segundo ele, da maior parte dessa resistência é o medo de ficar
sem o emprego. O raciocínio do empregado é lógico: se a reengenharia obtiver sucesso na eliminação
de atividades que não agregam valor, haverá menos trabalho a ser feito e a administração se sentirá
tentada a reduzir a folha de pagamento. Levando esse processo adiante sem levar em conta esses
temores, o processo pode fracassar no seu objetivo final, que é o aumento do lucro. Tal como em
outros projetos de melhoria, os empregados precisam estar convencidos de que o resultado final do
processo trará empregos mais seguros e não o contrário.

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CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

A Teoria das Restrições


Podemos entender restrição como uma limitação qualquer, algo que nos impeça de realizar ou obter
aquilo que desejamos.

Em nossa vida cotidiana, poderemos encontrar alguns exemplos disso, tais como: precisamos fazer
uma viagem de avião com a família, que são cinco pessoas, mas, no voo, existem apenas três lugares;
ou, então, a FIFA marca um jogo de futebol entre Brasil e Argentina, no estádio do Beira Rio,
esperando um público de 80.000 torcedores, no entanto, a capacidade desse estádio é de 56.000;
neste caso, sua restrição está na capacidade do estádio em termos de público.

Nesse sentido, a Teoria das Restrições sustenta que a chave do sucesso é o gerenciamento eficaz da
restrição. No caso do jogo entre Brasil e Argentina, a FIFA deve procurar outro estádio que possa
comportar o público esperado para não ter de reduzir a renda a ser atingida.

Postura do contador na organização


O Contador jamais deve impor sua visão da informação que está fornecendo. Sua obrigação é a de
fornecer o que o usuário pede, do jeito que pede. Se consultado, afirma Padoveze, ele pode opinar,
nunca impor. É necessário que ele respeite a posição do usuário e sua forma de enxergar e utilizar
a informação contábil.

Uma informação contábil tem de ser explicada no menor prazo possível. Uma
informação morosa ou atrasada perderá toda sua validade e fará parte do
arquivo morto de dados. Por isso, a força de um sistema de informação contábil
está em que tudo seja feito rigorosamente dentro dos prazos estipulados pelos
usuários e no menor tempo possível (PADOVEZE, 2009).

Apesar de a informação contábil ter como marca registrada sua exatidão e veracidade, é de suma
importância, muitas vezes, cumprir os prazos para prestá-la. Uma informação aproximada dentro
do prazo é muito mais importante do que uma informação precisa, mas atrasada.

O Administrador e a Contabilidade
Em qualquer tipo de organização, seja de grande porte ou mesmo uma pequena empresa, vemos a
presença de gerentes, afinal, alguém precisa ser responsável pelo planejamento, pela organização
dos recursos, pela direção do pessoal e pelo controle das operações.

Conforme nos explica Garrison, o planejamento envolve a escolha de um rumo de ação e a


determinação de como ela será implantada. A organização visa a alocar corretamente os recursos
disponíveis. Direção e motivação dizem respeito à mobilização das pessoas para executar os planos
e as operações de rotina. O controle visa a assegurar o cumprimento do plano e acompanhar se
as devidas modificações estão sendo efetuadas corretamente, de acordo com as circunstâncias. A
informação contábil gerencial desempenha papel vital nessas atividades gerenciais – porém mais
particularmente nas funções de planejamento e controle.

19
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

O planejamento primeiramente identifica as alternativas. Posteriormente, cabe aos gestores escolher


a que melhor coaduna com os objetivos da organização.

Caso a empresa esteja estudando a abertura de novas lojas no decorrer do ano, os gestores terão
de decidir sua viabilidade, analisando e examinando o volume de vendas, as margens de lucro e os
custos das lojas instaladas em mercados similares. Esses dados, fornecidos pelo contador gerencial,
são combinados com a projeção das vendas para os locais desejados, a fim de estimar os lucros
a serem gerados. Em geral, todas as alternativas importantes consideradas pela administração
durante o planejamento têm algum efeito sobre as receitas e os custos, e as informações contábeis
gerenciais são essenciais para a estimativa de tais efeitos (GARRISON, 2009).

Entretanto, além de planejar o futuro, também cabe aos administradores, gestores ou gerentes
supervisionar as atividades do dia a dia e manter a organização funcionando harmoniosamente,
motivando e conduzindo as pessoas de modo eficiente.

Finalidade do SIC
Podemos entender “sistema” como um conjunto de elementos que se interelacionam, dependentes
uns dos outros, que fazem um todo organizado, único e complexo. No entanto, é muito comum
vermos sistemas, que se dizem sistemas de informação contábil, serem construídos em partes que
não são trabalhadas de forma integrada efetivamente.

Ponto importante também é a rotinização da informação contábil gerencial


e que para se fazer contabilidade gerencial é necessário um sistema de
informação gerencial, um sistema de informação operacional que seja um
instrumento dotado de características tais que preencha todas as necessidades
informacionais dos administradores para o gerenciamento de sua entidade
(PADOVEZE, 2009).

A informação gerencial contábil é composta por dados financeiros e operacionais sobre atividades,
processos, unidades operacionais, produtos, serviços e clientes da empresa (ATKINSON, 2000).

Informação Contábil e a Tomada de Decisão

Processo Decisório (Decisões Rotineiras e Especiais)


Aprendendo com Garrison, observamos que tomar decisões é uma das funções básicas do
administrador, que está sempre se deparando com questões do tipo: quais produtos vender, quais
métodos de produção empregar, fabricar peças ou comprá-las prontas, qual preço cobrar, quais
canais de distribuição utilizar, quando aceitar pedidos especiais a preços especiais e assim por
diante. Sabemos que o processo de tomada de decisão não é uma tarefa das mais fáceis, muito pelo
contrário, já que o fato se agrava pela quantidade de alternativas e informações das quais apenas
algumas são importantes.

20
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

Sempre que precisarmos tomar uma decisão estaremos diante de pelo menos duas alternativas. Por
esse motivo, devemos levar em consideração os custos e os benefícios de cada uma das alternativas.
Segundo Garrison, os custos que se comportam de modo diferente nas alternativas são chamados
custos relevantes. A distinção entre os dados de custos e de benefícios relevantes e irrelevantes é
fundamental por dois motivos: primeiro, os dados irrelevantes podem ser ignorados e não precisam
ser analisados, o que pode poupar tempo e trabalho a quem decide; segundo, más-decisões
podem ter origem na inclusão errônea de dados irrelevantes de custos e benefícios na análise das
alternativas. O sucesso do administrador no ato de decidir está na sua capacidade de diferenciar os
dados relevantes e irrelevantes, utilizando corretamente os dados relevantes na análise.

Informações que interessam (Contábeis)


Como vimos, “A Contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinado
a prover seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de
produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização”.

Devem, portanto, os objetivos contábeis ter relação estreita implícita ou explicitamente com aquilo
que o usuário considera como elementos importantes para seu processo decisório.

Comportamento dos Custos/Despesas


A alocação de custos fixos é uma prática contábil que pode, para efeito de decisão, ser perniciosa;
por sua própria natureza, o valor a ser atribuído a cada unidade depende do volume de produção e,
o que é muito pior, do critério de rateio utilizado. Por isso, decisões tomadas com base no “lucro”
podem não ser as mais corretas (MARTINS).

Somente os custos e os benefícios que se comportam de modo diferente nas alternativas interessam
à decisão. Se o custo permanecer o mesmo, independentemente da alternativa escolhida, a escolha
não tem qualquer efeito sobre o custo e ele pode ser ignorado.

Margem de Contribuição (MC)


Segundo Padoveze, margem de contribuição é a margem bruta obtida pela venda de um produto que
excede seus custos variáveis unitários. Em outras palavras, a margem de contribuição é o mesmo
que o lucro variável unitário, ou seja, preço de venda unitário do produto deduzido de custos e
despesas variáveis necessários para produzir e vender o produto.

Para E. Martins é a diferença entre o preço de venda e o custo variável de cada produto é o valor que
cada unidade efetivamente traz à empresa de sobra entre sua receita e o custo que de fato provocou
e que lhe pode ser imputado sem erro.

21
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Relação Custo-Volume-Lucro (CVL)


Os conceitos de custos fixos e variáveis permitem uma expansão das possibilidades de análise
dos gastos da empresa em relação aos volumes produzidos ou vendidos, determinando pontos
importantes para fundamentar futuras decisões de aumento ou diminuição dos volumes de produção,
corte ou manutenção de produtos existentes, mudanças no mix de produção, incorporação de novos
produtos ou quantidades adicionais etc.

Portanto, a análise do CVL busca a combinação mais lucrativa de custos variáveis, custos fixos e de
preços e volume de vendas.

Conforme observado por Garrison, o tamanho da margem unitária de contribuição (e o da MC


percentual) terá grande influência sobre os passos que a companhia está disposta a dar para
aumentar os lucros. Quanto maior a margem de contribuição de um produto, por exemplo, maior
é o valor que a companhia terá de despender com vistas a aumentar em uma certa percentagem
o número de unidades vendidas. Para Garrison, isso explica, em parte, porque as companhias
com margens de contribuição unitárias altas (como fabricante de veículos) fazem propaganda
maciçamente, enquanto a tendência das empresas com margens de contribuição unitárias baixas
(como os fabricantes de louça) é gastar muito menos com propaganda.

Em suma, o efeito sobre a margem de contribuição é a chave de muitas decisões.

Informações Contábeis x Inflação

Medidas de Avaliação Patrimonial (Noções Básicas)


O método para se avaliar o patrimônio da organização constitui um procedimento contábil que
tem por finalidade estabelecer a medida dos bens, direitos e obrigações constantes do patrimônio e
pressupõe a adoção e o uso de uma unidade comum a ser aplicada a todo o conjunto do patrimônio,
observado sob o aspecto quantitativo, de tal forma que o conjunto patrimonial represente, em
termos homogêneos, as quantidades de coisas heterogêneas (aspecto qualitativo).

Por esse motivo, todo demonstrativo contábil apresenta valores que utilizam unidades monetárias
diferentes, considerando ao mesmo tempo valores do passado, do presente e do futuro, tais como:
disponibilidades, estoques, contas a receber, contas a pagar etc.

Além desses valores se mostrarem em defasagem com relação ao tempo, também podemos verificar
que nas demonstrações financeiras estão evidenciados cálculos que contêm uma certa subjetividade,
como: a avaliação dos estoques e sua movimentação; o cálculo da depreciação, amortização ou
exaustão dos ativos imobilizados; o cálculo das provisões; a imputação dos custos indiretos.

Essa questão se dá em decorrência, principalmente, da premissa adotada de que o sistema contábil


procede à comparação dos valores atribuídos ao patrimônio com a utilização da mesma unidade
de medida, deixando de considerar tanto os aspectos quantitativos (oscilação da moeda) como

22
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

qualitativos (espécie, tempo de uso etc.). A contabilidade deve reconhecer que alguns gastos ou
custos se concretizam de forma duradoura (imobilizado), enquanto outros são continuamente
repostos (mercadorias, matérias primas etc.) (SILVA, 2005).

Ao apresentar essas considerações, estamos tratando de demonstrações contábeis elaboradas em


função das normas legais vigentes e que representam afirmações dos gestores em relação à situação
econômica e financeira na data determinada.

Correção Monetária
O Brasil conviveu por longos anos, desde a década de sessenta, com altas taxas de inflação, passando
por várias mudanças no seu padrão monetário até a chegada do Real em 1994.

Ressalta Padoveze, que, em ambiente de inflação crônica, a necessidade de atualização monetária


das informações contábeis fica evidente e a técnica de correção monetária tende a ser mais utilizada
(pode-se utilizar, alternativamente, a avaliação a preços de mercado, por exemplo).

Convivemos, ainda, por mais alguns anos, com a taxa de inflação acima de dois dígitos até que se
estabilizou, podendo, assim, efetuar um processo geral de desindexação e suprimindo, em 1996, os
processos de correção monetária automática, obrigatória e legal, dos preços, salários e contratos.

Entretanto, gerencialmente, torna-se necessário o entendimento de todos os conceitos de “inflação”,


tendo em vista que mesmo se conseguindo manter uma estabilidade monetária sempre estarão
presentes os efeitos inflacionários decorrentes das variações de preços nos produtos e serviços.
Observa Padoveze que a inflação, como é um fenômeno natural nas economias regidas por moeda,
provoca efeitos nos elementos patrimoniais e nos resultados das operações da empresa e, por
consequência, estes devem ser entendidos, avaliados e monitorados pelo sistema de informação
contábil gerencial.

Tributação Fiscal e seu Efeito nas


Organizações

Implicações nos resultados


O sistema de informação contábil gerencial tem como um de seus segmentos o acompanhamento
dos impostos gerados pela empresa e os impactos que a evolução dos impostos dentro das operações
da companhia causam aos resultados.

Esse acompanhamento se dará por meio de quadros sintéticos apresentados à controladoria de


impostos em períodos mensais, com o objetivo de controlar e acompanhar os recolhimentos mensais
e também já preparar os recolhimentos anuais, principalmente dos impostos sobre o lucro, além de
subsídios para a realização do Balanço Social que irá demonstrar como a empresa contribui para a
sua comunidade.

23
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Conforme demonstra Padoveze, os relatórios para gestão global dos impostos devem conter os
seguinte dados.

a. Prazos de recolhimento, indexador legal, prazo de entrega das guias ou declarações.

b. Principais bases de incidência dos impostos.

c. Alíquota(s) básica(s).

d. Valor dos impostos.

Os relatórios deverão evidenciar as principais transações geradoras dos impostos, com a finalidade
de dar condições de análise e planejamento, visando à minimização do impacto de cada imposto
para a empresa.

Garrison descreve que as empresas, assim como as pessoas, têm de pagar imposto de renda. No
caso das empresas, o valor do imposto de renda a pagar é determinado pelo lucro líquido tributável
da empresa. As despesas dedutíveis do imposto (deduções) reduzem o lucro líquido tributável da
companhia e, por conseguinte, o imposto que ela tem de pagar. Por esse motivo é que as despesas
são, frequentemente, especificadas pós-tributação. Por exemplo, se uma companhia paga aluguel
de R$10 milhões por ano e essa despesa produz uma redução de R$3 milhões no imposto de renda,
o custo do aluguel pós-tributação é de R$7 milhões. Uma despesa após a tributação do imposto de
renda é conhecida como custo pós-tributação ou pós-imposto.

O custo pós-tributação de qualquer despesa dedutível pode ser determinado. Evidentemente, se


estamos falando em custo pós-tributação, está implícito que a empresa em questão está operando
com lucro – pela seguinte expressão:

custo pós – tributação (saída líquida de caixa) = (1 – alíquota) X despesa dedutível

Aplicando essa fórmula, obtemos o valor real do desembolso após o efeito do imposto, que deverá
ser levado em consideração nas decisões de investimento.

Podemos utilizar o mesmo raciocínio com relação às receitas e outros recebimentos tributáveis para
calcularmos o benefício pós-tributação, ou entradas líquidas de caixa geradas por um determinado
recebimento.

Situações Especiais
A depreciação não é um item monetário, portanto não considerada como desembolso nos fluxos de
caixa. Entretanto, influencia o imposto a pagar, causando um efeito indireto sobre o fluxo de caixa
da empresa.

24
CAPÍTULO 2
A Contabilidade e a Estrutura
Organizacional Administrativa

Tipos de Estrutura X Informação X Estrutura


Contábil
As empresas são constituídas por pessoas e, consequentemente, a administração só consegue atingir
seus objetivos por intermédio delas. Por esse motivo, deve ser criada uma estrutura organizacional
que permita a descentralização das responsabilidades administrativas.

Segundo Garrison, descentralização é a delegação de poder de decisão por meio da organização,


pela atribuição aos gerentes dos diversos níveis operacionais, do poder de tomar decisões que dizem
respeito às áreas sob sua responsabilidade.

Presidente

Auditoria Interna

Departamento de Compras Diretor Financeiro


Departamento de Pessoal

O organograma retrata igualmente as posições de linha e de apoio da organização. Uma pessoa em


uma posição de linha está diretamente envolvida na conquista dos objetivos básicos da organização.
Na posição de apoio, por outro lado, está apenas indiretamente envolvida na realização de tais
objetivos. As posições de apoio fornecem suporte ou assistência às posições de linha ou a outras
partes da organização, mas não têm autoridade direta sobre elas.

A Contabilidade Gerencial abrange várias áreas da organização, devendo suprir a todos por meio do
sistema de informação contábil gerencial. Dessa forma, tem-se um grupo de informações que suprirá
a alta administração com dados mais sintéticos, em grandes agregados, chamado gerenciamento
contábil global, com o objetivo de controlar e planejar a empresa dentro de uma visão de conjunto.

25
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Sistema de Informação Contábil Gerencial – Visão


Geral
Sistema de Informação Contábil

Análise de Contabilidade em Acompanhamento do negócio – balanced


balanço scorecard e gestão de risco (dados físicos,
outras moedas concorrentes etc.)

Análise de Contabilidade
Sistema Sistema de custo
fluxo de societária e fiscal orçamentário
caixa Preços de venda
Consolidação de balanços
Análise de custos

Contabilidade por
Controle patrimonial responsabilidade

Gestão de Centros de lucros


tributos
Sistema de valorização de Unidade de negócios
inventários

Sistemas Operacionais Integrados

Sistema de entrada
Sistema de inventário e produção Sistema de saída faturamento
compras

Recebimentos Processo Comercialização

Escrituração fiscal Engenharia Escrituração fiscal

Sistema de execução financeira Sistema de planejamento financeiro Sistema de recursos humanos

Financiamentos Folha de pagamento


Contas a receber
contas a pagar
Excedentes de caixa

Adaptado de PADOVEZE Controller

26
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

O gerente encarregado do Departamento de Contabilidade é conhecido como controller. Este


executivo, membro da alta administração, responde, segundo Garrison, por “informações
importantes e adequadas que dão suporte às atividades de planejamento e controle e elabora as
demonstrações financeiras para os usuários externos”.

Organização Típica de um Departamento de Contabilidade, adaptado de Garrison.

Controller

Assistente de Controller Assistente de Controller


Planejamento Sistemas e Computadores

Gerente de Análise Gerente de Planejamento Gerente de Serviços de


Gerente de Sistemas
Financeira e Controle Informática

Subgerente Subgerente Subgerente


Chefe de Unidade
Planejamento de Lucro Métodos Planejamento de
Analistas Seniores
e Controle Administrativos Informática

Subgerente
Subgerente Subgerente
Objetivos e
Métodos Contábeis Comunicações
Organização

Subgerente
Chefe
Operações de
Publicação
Informática

Garrison nos traz as determinações do Institute of Management Accountants (IMA), dos


Estados Unidos, que desenvolveu um código de ética denominado Padrões de Conduta Ética dos
Profissionais da Contabilidade Gerencial e Administração Financeira (Standard of Ethical Conduct
for Practitioners of Management Accounting and Financial Management). Embora tenham sido
desenvolvidos para os contadores gerenciais , essses padrões têm aplicações muito mais amplas.

Dada sua importância, transcrevemos o código de ética referido.

Competência. Os profissionais de contabilidade gerencial e administração financeira


têm a responsabilidade de:

»» manter nível adequado de competência profissional, aprimorando seus


conhecimentos e sua prática;

27
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

»» cumprir seus deveres profissionais de acordo com legislação, normas e


padrões técnicos pertinentes;

»» elaborar relatórios completos e claros e dar orientação após análise


adequada das informações pertinentes.

Sigilo. Os profissionais de contabilidade gerencial e administração financeira têm a


responsabilidade de:

»» abster-se de divulgar informações confidenciais obtidas em razão do seu


trabalho, exceto quando autorizados, a menos que estejam legalmente
obrigados a isso;

»» instruir os subordinados a respeito da adequada manutenção do sigilo


das informações por eles obtidas em razão do seu trabalho e acompanhar
as suas atividades, para assegurar que o sigilo seja mantido;

»» abster-se do uso, ou do uso aparente, de informações sigilosas obtidas


em função do seu trabalho para conseguir vantagem, antiética ou ilícita,
pessoalmente ou por intermédio de terceiros.

Integridade. Os profissionais de contabilidade gerencial e administração financeira


têm a responsabilidade de:

»» evitar conflitos de interesse aparentes ou reais e advertir as partes cabíveis


da existência de qualquer conflito potencial;

»» abster-se de se envolver em qualquer atividade que possa prejudicar sua


capacidade de executar suas tarefas de modo ético;

»» recusar qualquer presente, favor ou hospitalidade que possa influenciar,


ou aparentemente influenciar suas ações;

»» abster-se, ativa ou passivamente, de prejudicar o alcance dos legítimos e


éticos objetivos da organização;

»» reconhecer e comunicar as limitações profissionais ou outras restrições


que impeçam o julgamento responsável ou a boa execução de uma tarefa;

»» comunicar tanto as informações favoráveis quanto as desfavoráveis e os


julgamentos e as opiniões profissionais;

»» abster-se de participar ou apoiar qualquer atividade que desacredite a


profissão.

Objetividade. Os profissionais de contabilidade gerencial e administração financeira


têm a responsabilidade de:

28
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

»» transmitir as informações de maneira correta e objetiva;

»» revelar inteiramente todas as informações que, ainda que de modo apenas


razoável, possam influenciar o entendimento, por parte do possível
usuário, de relatórios, comentários e recomendações apresentados.

Resolução de Conflito Ético. Ao aplicar os padrões de conduta ética, os profissionais


de contabilidade gerencial e administração financeira podem encontrar problemas
na identificação do comportamento antiético ou na resolução de um conflito ético.
Quando diante de questões éticas importantes, tais profissionais devem seguir
as políticas estabelecidas pela organização para a resolução de conflitos. Se essas
políticas não resolverem, os profissionais devem levar em conta as seguintes linhas
de ação:

»» discutir os problemas com o superior imediato, exceto quando este


aparentemente estiver envolvido com eles, caso em que o problema deve
ser apresentado ao escalão administrativo imediatamente mais alto. Se
não puder alcançar solução satisfatória quando da apresentação inicial do
problema, submeter as questões ao nível administrativo imediatamente
superior;

»» se o superior imediato for o CEO, ou equivalente, a autoridade de


revisão aceitável pode ser um colegiado, como os comitês de auditoria
ou executivo, a diretoria, o conselho curador ou os proprietários. Os
contatos com escalões acima do escalão imediatamente superior devem
ser iniciados apenas com o conhecimento do superior imediato, se este
não estiver comprometido. Exceto quando houver exigência legal, não se
considera adequada a comunicação de tais problemas às autoridades ou
a pessoas não empregadas pela organização ou não envolvidas com ela;

»» esclarecer as questões referentes à ética por meio de discussão confidencial


com um conselheiro imparcial, para obter melhor entendimento das
possíveis linhas de ação;

»» consultar o próprio advogado a respeito de obrigações e direitos legais


relativos ao conflito ético;

»» se o conflito persistir após o esgotamento de todos os escalões internos


de revisão, pode não haver outro recurso senão deixar a organização e
oficializar o seu pedido de afastamento. Após a dispensa, dependendo
da natureza do conflito ético, pode ser apropriado notificar também as
demais partes.

29
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

A contabilidade e o controle das operações


Para tentarmos entender essa relação entre a contabilidade e o controle das operações começaremos
por estudar o caso “GREEN’S GROCERY”, citado por Atkinson:

Art Shaw, consultor de uma firma internacional de contabilidade, foi entrevistado pelo Controller
da Greens’s Grocery, uma cadeia regional de supermercados do sudoeste norte-americano. A Green’s
Grocery vem dominando uma parcela do mercado em sua região com vendas que excedem $4
milhões por ano. Bill Fuller, seu presidente, esteve reunido com Art recentemente, oportunidade na
qual o consultor descreveu alguns sistemas de contabilidade gerencial que foram implantados
em empresas de fabricantes de artigos eletrônicos e de automóveis. Fuller despendeu várias horas
explicando porque deseja um novo tipo de Controller para sua empresa varejista de alimentos:

A Green’s Grocery tem margem de lucro estreita, apesar de ser uma das mais lucrativas cadeias de
supermercados dos Estados Unidos. Obtemos uma taxa de retorno sobre vendas antes do imposto
de renda de 4%, quase duas vezes a média do setor, porém estamos diante dos maiores desafios.
Algumas das maiores cadeias varejistas, tipo Wal-Mart, têm construído lojas de alimentos com
desconto, em nossa área, com preços significativamente abaixo dos nossos. Essas lojas de descontos
não oferecem a grande variedade de produtos, de marcas, de sabores e de tamanhos que a Green’s
oferece, porém, seus preços absurdamente baixos estão atraindo muitos de nossos clientes.

Tenho várias opções para mudar a maneira como a Green’s negocia, tornando-a mais lucrativa
e mais competitiva, porém, não tenho uma base sólida para tomar tais decisões. Realmente, não
conheço muito sobre minha estrutura de custos, a ponto de descobrir onde minhas operações
podem ganhar ou perder dinheiro. Nossos relatórios financeiros parecem ser bons – as receitas
e as despesas são registradas com precisão, e os auditores ficam mais do que satisfeitos quando
verificam nossos registros, confrontando-os com nossos ativos físicos. Contudo, não entendo os
custos relevantes para a tomada de decisão sobre a quantidade de diferentes itens e marcas que
devemos oferecer a nossos clientes, às novas relações com os fornecedores, aos preços, à expansão
da oferta de nossos rótulos reservados e quanto ao tamanho de nossos estoques.

Por exemplo, embora os consumidores valorizem nossa grande variedade, acho que o custo dessa
variedade pode estar nos onerando muito. Os 40.000 itens existentes em uma de nossas lojas, que
geram uma receita anual de vendas no valor de $20 milhões, devem ser mais dispendiosos do que
os 5.000 itens oferecidos pelas lojas de desconto que geram uma receita anual de vendas no valor
de $20 milhões. A maior variedade que oferecemos vai exigir a construção e a operação de maiores
lojas, a fim de expor cada item. Seremos forçados, também, à compra de muitos fornecedores
diferentes. Indubitavelmente, teremos os maiores custos de almoxarifado, de mercadorias e de
transporte devido à maior variedade. Como posso avaliar os benefícios, pela maior variedade,
para os consumidores, se não conheço os custos associados ao maior sortimento que oferecemos?

Alguns de nossos melhores clientes têm, também, solicitado nossa permissão para planejarem seus
programas de produção e distribuição, baseados em informação comunicada eletronicamente
pelos nossos terminais de ponto de venda – uma prática conhecida como intercâmbio eletrônico
de dados, ou EDI (Eletronic Data Interchange). A sincronização entre a produção do fornecedor e

30
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

o suprimento baseado nas compras efetivas dos consumidores pode produzir economias enormes
em despesas operacionais, de estocagem e de necessidade de espaço para ambas as partes. Se
pudermos quantificar essas economias de custos, os fornecedores poderão nos vender seus
produtos a preços menores. Podemos oferecer, então, produtos com margens menores por causa
de nossas despesas operacionais menores. Isso reduziria substancialmente e até eliminaria a
diferença de preço entre nossos supermercados e as lojas de descontos.

Além dessas potenciais economias de custos, temos outra oportunidade a considerar. Alguns
dos fornecedores exclusivos de marcas de alta qualidade têm desenvolvido produtos de várias
categorias importantes para nós, tais como bebidas da linha cola, bolinhos, alimentos para
animais e molhos. Esses fornecedores afirmam que seus produtos não são distintos das melhores
marcas propagadas nacionalmente. Os fornecedores de rótulos exclusivos desejam nos vender
a preços bem mais baixos do que os fabricantes de marcas nacionais, o que nos permitirá obter
uma margem de lucro maior em seus produtos, ao oferecê-los aos consumidores a preços mais
baixos do que as marcas nacionais. Muitos dos fabricantes de marcas nacionais, entretanto, já
operam conosco de maneira eficiente. Coca-Cola, Pepsi-Cola, por exemplo, entregam diretamente
em nossas lojas. Seus vendedores dirigem-se a cada uma de nossas lojas e estocam os produtos
nas prateleiras, de modo que não temos qualquer trabalho para arrumar seus produtos para a
venda. Os fornecedores de marcas exclusivas, por sua vez, entregam seus produtos em nossos
almoxarifados, onde recebemos, inventariamos, estocamos, programamos sua entrega nas lojas,
entregamos e colocamos em suas prateleiras. Apreciaria se as margens de lucro aparentemente
maiores, que obtemos com produtos de rótulos exclusivos, não fossem consumidas pelos custos de
executar todas essas atividades extras.

Além do mais, devo decidir sobre que departamentos devo ter em nossas lojas. Cada loja deve ter
espaço para a venda de mercadorias tradicionalmente acondicionadas em latas, caixas, jarras
e recipientes de plástico; um departamento de laticínios que requer prateleiras refrigeradas e
gera estragos e frequentes devoluções de clientes; e o departamento de bens congelados, que
consomem muita energia elétrica e congeladores dispendiosos. Recentemente, criamos seções que
vendem produtos de saúde e beleza; uma padaria; uma mercearia e uma lanchonete. Embora
nosso excelente sistema de relatórios financeiros nos informe, precisamente, o total das despesas
operacionais da loja, não tenho a menor ideia de como relacionar o total dessa despesa a cada
um dos departamentos. Estamos ganhando dinheiro nas seções de padaria e de mercearia?
Precisamos saber onde podemos prover melhorias para aumentar a produtividade e a eficiência.

Precisamos, também, de um bom sistema de gestão de custos para ajudar meus gerentes a
administrarem, mais eficientemente, suas operações diárias. Que espécies de relatórios o sistema
pode produzir para ajudar meus gerentes de loja a monitorar e controlar suas políticas de pessoal,
disponibilidade de mercadorias, eficiências de inventário e o consumo de serviços públicos?

Se as melhorias operacionais não forem suficientes para gerar lucro, talvez possamos terceirizar
alguns de nossos departamentos para contratantes mais eficientes e permitir que operem esses
departamentos nos espaços que alugaremos para eles. Talvez possamos eliminar, inteiramente,
algumas categorias não críticas, o que capacitaria a construir lojas menores no futuro. Os
gerentes de loja refletirão, também, sobre as novas categorias de produtos que podemos colocar

31
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

em nossas lojas – flores frescas, vinho, cerveja, licor, artigos de papelaria, livros, revistas e
pequenos brinquedos. Enquanto tudo isso parece uma boa ideia, baseando-se nas margens brutas
sobre vendas (preço de venda menos preço de compra dos itens), pode não ser lucrativo quando os
custos de todos os recursos da loja, incluindo espaço, inventário de mercadorias e pessoal da loja,
forem alocados acuradamente a essas categorias.

Nosso atual Controller veio da mesma firma em que você trabalha agora, porém, sua experiência
estava toda na parte de auditoria e ele parece ter pouco conhecimento sobre as necessidades de
informação que os gerentes têm para tomada de decisão e controle. Poderemos, agora, aplicar
as ideias da contabilidade gerencial, que estão sendo usadas nas empresas automotivas e nas de
componentes eletrônicos, no ramo de supermercados?

Art Shaw queria saber se os novos conceitos de contabilidade gerencial, introduzidos com sucesso
em muitas empresas industriais, poderiam ser aplicados ao ramo de serviços do tipo varejo. Deixaria
ele o negócio de consultoria, em crescimento, com seus clientes do setor industrial, para ser um
inovador em aplicar abordagens recentes de custos e de mensuração de desempenho no ramo de
serviços?

Esses desafios que Bill Fuller propôs a Art Shaw são exemplos de como os gerentes, nas empresas,
precisam de informações gerenciais contábeis para tomada de decisão e controle. O sistema de
contabilidade gerencial capacita a empresa a coletar, processar e relatar informações para uma
variedade de decisões operacionais e administrativas vitais.

Análise de Valor
Podemos encontrar a descrição original de análise de valor em Miles (1995), da seguinte forma:
“sistema para solucionar problemas por meio do uso de um conjunto específico de técnicas, um
corpo de conhecimentos e um grupo de pessoas especializadas. É um enfoque criativo e organizado
que tem como propósito a identificação e remoção de custos desnecessários”.

A Análise do Valor teve origem durante a 2a Guerra Mundial, como resultado da aplicação de
conceitos desenvolvidos por Lawrence D. Miles que, na época, era engenheiro do Departamento de
Compras da General Eletric Co.

Durante a guerra, o governo dos Estados Unidos determinou que a disponibilidade das
matérias-primas “nobres”, como níquel, cromo e platina, ficasse reservada exclusivamente para
uso da indústria de material bélico ou de interesse militar. Isso fez com que a indústria, em geral,
sentisse a necessidade de encontrar materiais alternativos para mantê-la em funcionamento.

Lawrence D. Miles, aplicando o seu raciocínio lógico e os conceitos por ele desenvolvidos, obteve
grandes resultados, pois, além de conseguir redução de custos, notou melhorias tanto na qualidade
como no desempenho dos produtos analisados.

Terminada a guerra, Miles estende a aplicação desses conceitos para a concepção de um produto,
com o intuito de substituir as soluções tradicionais por outras mais econômicas.

32
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

Ampliando o conceito original, podemos dizer, na opinião de Possamai (1997), que “análise do
valor é um conjunto sistematizado de esforços e métodos destinados a reduzir o custo total de um
produto, processo ou serviço, mantendo ou melhorando sua qualidade”.

Já na visão de Csillag (1995), “Um esforço organizado dirigido à análise das funções e sistemas,
produtos, especificações, padrões, práticas e procedimentos com a finalidade de satisfazer às funções
requeridas ao menor custo total”.

Valor Agregado
Todo processo de criação de valor empresarial está fundamentado na produção e na venda dos
produtos e serviços. Conforme nos esclarece Padoveze, cada unidade de produto ou serviço traz
dentro de si seu valor agregado (VA), que é a diferença entre o preço de venda obtido no mercado,
menos o preço de compra dos insumos e serviços adquiridos de terceiros também no mercado.

Para isso, a organização empresarial precisa desenvolver uma série de atividades internas, para alcançar
a máxima eficiência e eficácia, possibilitando a criação de valor traduzido no lucro operacional; isto é
chamado de processo de apropriação de valor agregado, como veremos na figura a seguir.

Custos Venda

Fornecedores Valor Agregado do Produto / Serviço Clientes

Preço de Mercado Preço de Mercado

40 60 100

Desenvolvimento de Atividades Internas

Ativ. 1 Ativ. 2 Ativ. 3

Custo + VA Custo + VA

Apropriação de VA

Criação de Valor

As entidades empresariais têm o cumprimento de sua missão fundamentado no conceito de criação


de valor, associando a esse propósito o processo de informação gerado pela contabilidade.

A organização que conta com sistemas contábeis gerenciais bem-estruturados, efetivamente


operando, certamente agregam valor pelo fornecimento de informações apuradas cuidadosamente
sobre as atividades necessárias para o sucesso das organizações atuais.

33
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

O estágio da Contabilidade Gerencial, que abarca todos os estágios evolutivos anteriores, centra-
se no processo de criação de valor por meio do uso efetivo dos recursos empresariais. Essa
função-objetivo está declarada no Relatório Revisado de março de 1998, emitido pelo Comitê de
Contabilidade Financeira e Gerencial da Federação Internacional de Contadores (International
Federation of Accountants – IFAC), sobre os Conceitos de Contabilidade Gerencial.
Padoveze destaca a evolução pela qual passou a Contabilidade Gerencial ao longo do tempo, que
contou com quatro estágios:
Estágio 1 – Antes de 1950, o foco era na determinação do custo e controle
financeiro, por meio do uso das tecnologias de orçamento e contabilidade de
custos.

Estágio 2 – Por volta de 1965, o foco foi mudado para o fornecimento de


informação para o controle e planejamento gerencial, na qual o uso de
tecnologias, tais como análise de decisão e contabilidade por responsabilidade.

Estágio 3 – Por volta de 1985, a atenção foi focada na redução do desperdício


de recursos usados nos processos de negócios, mediante o uso das tecnologias
de análise do processo e administração estratégica de custos.

Estágio 4 – Por volta de 1995, a atenção foi mudada para a geração ou criação
de valor através do uso efetivo dos recurso, por meio do uso de tecnologias,
tais como exame dos direcionadores de valor ao cliente, valor para o acionista,
e inovação organizacional.

As organizações passam por adaptações para um novo agrupamento de condições, combinando em


cada estágio o velho e o novo, modificando e aprimorando o ambiente gerencial.
Podemos, então, dizer que a função-objetivo da contabilidade gerencial é a criação de valor para os
acionistas (proprietários da entidade).

Técnicas de Produção e a Informação


Contábil
Para que tenha validade no processo de gestão administrativa, a informação contábil deve atender
a dois pressupostos básicos:
a. sua necessidade como informação;

b. seu planejamento e controle.

Padoveze afirma que a informação deve ser tratada como qualquer outro produto que esteja
disponível para consumo. Ela deve ser desejada para ser necessária e, para ser necessária, deve
ser útil. Ele acredita que cabe aos contadores gerenciais construir essa mercadoria com qualidade
e custos competitivos, já que temos plena consciência de sua utilidade e, portanto, de sua extrema
necessidade para o gerenciamento dos negócios.

Quem determina essa necessidade são os usuários finais, os consumidores dessa informação e,
portanto, deve ser construída para atender a esses consumidores e não aos contadores.

O sistema de Informação Gerencial exige planejamento para a produção


dos relatórios, para atender plenamente aos usuários. É necessário saber

34
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

o conhecimento contábil de todos os usuários, e construir relatórios com


enfoques diferentes para os diferentes níveis de usuários. Dessa forma será
possível efetuar o controle posterior. Só poderá ser controlado aquilo que é
aceito e entendido (PADOVEZE).

O SIG deve produzir informações para atender aos seguintes aspectos.

1. Níveis empresariais

a. Estratégico

b. Tático

c. Operacional

2. Ciclo administrativo

a. Planejamento

b. Execução

c. Controle

3. Nível de estruturação da informação

a. Estruturada

b. Semiestruturada

c. Não estruturada

Para que essas informações sejam válidas por anos e perpetuem dentro da organização, é necessário
que, em primeiro lugar, sejam coletadas, armazenadas e processadas de forma operacional, que
sejam dados práticos e objetivos para uma utilização real, segura – isso significa operacionalidade e
suas características básicas são:

a. relatórios concisos;

b. elaborados de acordo com as necessidades do usuário;

c. coletados de informações objetivas e de imediato entendimento pelo usuário;

d. que não permitam uma única dúvida sequer, ou possibilitem pergunta indicando
falta de alguma informação do objeto do relatório;

e. em apresentação visual e manipulação adequadas.

Em segundo lugar, é de extrema importância que esses dados sejam tratados de forma integrada,
isto é, “quando todas as áreas necessárias para o gerenciamento da informação contábil estejam
abrangidas por um único sistema de informação contábil” (PADOVEZE).

A característica principal de um sistema de informação contábil é a navegabilidade dos dados,


ou seja, um dado coletado pelo sistema será utilizado em todos os segmentos do sistema de
informação contábil.

35
CAPÍTULO 3
Formação de Preços

Objetivos dos Preços


»» Gerar lucro por longo prazo: empresas almejam prosperidade e lançam preços
baixos para maximizar lucros.

»» Otimizar a produção: diminuir ociosidade e desperdícios operacionais e que os


preços sejam compatíveis com a clientela.

»» Otimizar o capital empregado: por meio da correta fixação e mensuração dos preços
de venda.

Formação de Preços
O custo de fabricação deve ser observado, sendo muito valorizado, pelo fato de a empresa não poder
vender seus produtos abaixo do preço de mercado.

São fatores levados em conta na venda dos produtos: características da demanda; existência ou não
de concorrentes; haver ou não acordo entre os produtores.

Ressalta-se também o estudo dos comportamentos da oferta e da procura por bens e serviços, que
estão interligados à formação dos preços.

Métodos de Formação de Preços


»» Custo pleno (custo por absorção):

›› preços baseados nos custos plenos ou integrais: custos totais de produção,


acrescidos das despesas de vendas, de administração e da margem de lucro
desejada.

»» Custo de transformação:

›› preços baseados, apenas, nos custos de transformação, sendo desprezados os


custos com materiais diretos.

»» Custo Marginal (Variável):

›› Somente são considerados os custos incrementais.

36
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

›› Vantagens:

·· representam os custos relacionados efetivamente com a fabricação;

·· os ativos fixos geram custos à medida que se depreciam – fato normalmente


associado ao tempo e não ao volume produzido;

·· facilitam as análises financeiras e econômicas, por estarem relacionados


diretamente à variação dos lucros.

›› Desvantagens:

·· a longo prazo, as receitas obtidas pela empresa devem ser capazes de


cobrir os custos integrais da empresa;

·· preços baixos para pedidos incrementais, podem provocar atos de


retaliação de competidores, resultando na fixação de baixas margens para
o produto.

Fatores que influenciam na formação do preço de


venda
»» Características do produto:

›› aspectos de elasticidade, sazonalidade, moda, ciclo de vida.

»» Situação econômico-financeira da empresa:

›› nível de estoque, grau de endividamento etc.

Objetivos básicos da Gestão de Preços


»» Retorno sobre o investimento.

»» Participação no mercado.

»» Enfrentamento da concorrência.

»» Lucratividade global compatível.

Fatores influenciadores da formação do preço de


venda:
»» Metas mercadológicas: crescimento, penetração, imagem.

»» Situação macroeconômica: recessão, excesso de oferta, excesso de demanda etc.

»» Estrutura de custos da empresa.

37
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Apuração de custos
Consiste na agregação de todos os fatores para a obtenção do custo total do produto, mercadoria ou
serviço.

preço = custo total + resultado

Markup
Consiste no valor acrescentado ao custo de um produto para determinar o preço de venda final.

(1 – Custo) x 100%
Percentual de Markup =
Preço de Venda

ou, calculando o preço de venda:

(Custo) x 100
Preço =
100 % – Percentual de Markup

Exemplo: um produto X tem um custo de $ 12 e deseja um markup de 50 %.

(12) x 100
Preço =
100 % – 50 %

Preço = $ 24,00

Lembrando que, dentro da política de preços, deve ser considerado também o comportamento do
mercado.

A gestão de preços deve estar calcada em princípios de agilidade e confiabilidade.

A Função do Mercado
A fórmula tradicional de custo e preço deve ser invertida para:

Preço de venda (–) Custo = Margem de Contribuição

Custo para Efeitos Contábeis e Gerenciais


As empresas distinguem o custo de um bem ou serviço apurado para efeitos contábeis daquele para
fins de formação do preço de venda, em que a transformação de uma matéria-prima ou a prestação
de um serviço devem gerar recursos para que a empresa reinicie o ciclo com a mesma capacidade
existente no ciclo anterior.

38
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

Fixação de margem
A margem de lucro é a diferença entre o preço de venda e o custo por unidade.

Preço = (1 + Margem) x (Custo)

Exemplo: Qual é o preço de um produto Y, sabendo-se que gera um custo de $12 e se deseja uma
margem de 50 %.

Preço = (1 + 50 %) x 12

Preço = (1,50) x 12

Preço = $ 18,00

Fixação do Preço no CUSTO POR ABSORÇÃO (CUSTO


PLENO)
Os preços de venda são iguais ao custo total da produção mais acréscimo das despesas operacionais.

Verifique o exemplo da firma PLENO, na fabricação de um produto W:

Material Direto $100


Mão de Obra Direta $70
Custos Indiretos de Fabricação $80
Custo Unitário Total $250

A experiência afirma que as despesas operacionais representam cerca de 40% dos custos e a PLENO
deseja obter um lucro, antes dos impostos, de 30% sobre o total de custos e despesas.

A fixação do preço de venda de W será:

Custo Unitário Total $250


( + ) Despesas Operacionais (40% dos Custos) $100
(=) Custo + Despesas Operacional $350
( + ) Margem de Lucro (30% de Custos + Despesas) $105
(=) Preço de Venda $455

Fixação do Preço no CUSTO DE TRANSFORMAÇÃO


A margem de lucro é calculada sobre o custo de transformação e não sobre o custo pleno.

Exemplo: produção do produto X pela empresa Y, cuja composição de custo é a seguinte:

Material Direto $60


Mão de Obra Direta $80
Custos Indiretos de Fabricação $100
Custo Unitário Total $240

39
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Utilizando o critério do custo pleno para fixação de seu preço de venda:

Custo Unitário Total $240


( + ) Despesas Operacionais (40% do Custo) $96
(=) Custo + Despesa $336
( + ) Margem de Lucro (30% de Custo + Despesa) $100,80
( = ) Preço de Venda $436,80

Fixação do Preço no CUSTO VARIÁVEL


A margem de lucro é calculada sobre a soma dos custos com as despesas variáveis.

Fixação do Preço no RENDIMENTO SOBRE O CAPITAL


EMPREGADO
A margem de lucro sobre as vendas é determinada como percentagem do capital empregado pela
empresa.

Exemplo:

Custo Total de Produção e Vendas $1.000.000


Capital Empregado $5.000.000
Margem de Lucro Desejada sobre o Investimento (30%) $150.000
Produção e Vendas estimadas 1.000 unidades

$1.000.000 + $150.000
Preço de Venda: = $1.150
1.000

Representação da Demonstração de Resultado com a venda de todos os produtos:

Vendas (1.000 x $ 1.150) $1.150.000


( – ) Custo Total de Produção e Vendas $(1.000.000)
( = ) Lucro Líquido $150.000

Fixação do ROI (Retorno sobre o Investimento)


Índice de Avaliação Financeira que indica a rentabilidade obtida por unidade monetária de
investimento e que utiliza o lucro líquido como indicador.

ROI = Receita de Vendas Preço x Quantidade Vendida


=
Investimento Investimento

Para determinar o preço:

ROI x Investimento
Preço =
Quantidade Vendida

40
CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS │ UNIDADE I

Exemplo: Calcule o preço de acordo com os dados abaixo:

ROI = 40 %;

Vendas = 200 unidades;

Investimento = $ 50.000.

0,40 x $ 50.000
Preço =
200

Preço = $ 100,00

Formação de Preços de PRODUTOS PADRÕES


O preço de venda deve ser suficiente para que, a longo prazo, cubra os custos fixos e variáveis.

Existem duas maneiras de se formar os preços:

1. pelo custo total = custo básico adicionado dos custos administrativos e de venda.

2. pela margem de contribuição = custo unitário variável adicionado dos custos fixos.

Exemplo:

Dados do custos de um produto regular da sua empresa:

Por unidade Total


Matéria-prima 6
Mão de Obra direta 4
Despesas gerais variáveis 4
Despesas gerais fixas (com base em 20.000 unidades) 6 120.000
Despesas variáveis administrativas e de vendas 1
Despesas fixas administrativas e de vendas (com base em 20.000 unidades) 2 40.000

Para obtenção do preço de venda desejado, acrescenta-se 50% ao custo total por unidade ou 100%
ao custo unitário variável.

O preço de venda será:

»» pelo custo total:

Matéria-prima 6
Mão de Obra direta 4
Despesas gerais de produção (fixas e variáveis) 10
Custo Total por unidade 20
50% do custo total da unidade para cobrir despesas administrativas e de
10
vendas e o lucro desejado
Preço de Venda desejado 30

41
UNIDADE I │CONTABILIDADE GERENCIAL E FORMAÇÃO DE PREÇOS

»» pela margem de contribuição:

Matéria-prima 6
Mão de Obra direta 4
Custos variáveis (despesas gerais, despesas administrativas e de vendas) 5
Custo variável por unidade 5
100% do custo variável da unidade para cobrir os custo fixos e o lucro
15
desejado
Preço de venda desejado 30

Influência dos Tributos na Formação do Preço de


Venda

Perde a estima o que pouco custa

CERVANTES, Miguel

É fácil perceber quanto o valor dos tributos oneram o preço de venda da empresa. Na maior parte
dos casos, para conseguir vender seus produtos no mercado nacional (retraído e sem condições
econômicas e financeiras para que a população tenha condições de adquirir determinadas
mercadorias, produtos ou serviços) a empresa é obrigada a reduzir, violentamente, sua margem
de lucro e, consequentemente, seu preço de venda, em razão da excessiva carga tributária e das
condições peculiares e particulares da economia nacional.

Sem dúvida, em razão da situação em que se encontra o mercado nacional, talvez a única saída
possível seja a exportação, ou seja, a venda de mercadorias, produtos e serviços para o mercado
externo. Nessa hipótese, nossa política de exportação, também, conta com um agravante que é a
sistemática adotada pelos países estrangeiros que incentivam a exportação mediante créditos de
tributos sobre o valor exportado. No Brasil, onera violentamente o preço de venda dos bens, pela
incidência de tributos. Para exemplificar, podemos decompor o preço de venda da seguinte forma:

»» Custo unitário total

Margem de lucro da empresa 100%;

Tributos constantes no preço de venda:

COFINS (7,6% x Preço de Venda).

IRPJ e CSLL (4% x Preço de Venda).

ICMS (18% x Preço de Venda).

PIS (1,65% x Preço de Venda).

IPI (20% x Preço de Venda).

42
FINANÇAS E ANÁLISE DE UNIDADE II
INVESTIMENTOS

CAPÍTULO 1
Finanças

Conceitos Básicos de Finanças


Podemos definir finanças como a arte e a ciência de administrar fundos. Praticamente todos os indivíduos
e organizações obtêm receitas ou levantam fundos, gastam ou investem. Finanças ocupa-se do processo,
instituições, mercados e instrumentos envolvidos na transferência de fundos entre pessoas, empresas e
governos.

O campo de Finanças está estreitamente relacionado ao da Economia. Visto que a maioria das
empresas opera dentro da economia, é importante compreender o arcabouço econômico e estar atento
às consequências dos vários níveis de atividade econômica e das mudanças na política econômica.

Uma parte significativa de análises e estudos feitos rotineiramente em finanças faz referência às
discussões e análises sobre dinheiro e tempo. A análise da evolução do dinheiro no tempo costuma
ser feita pelo estudo das taxas de juros.

Taxas

Taxa de Juros Nominal e Taxa de Juros Real


O conceito de juros pode ser introduzido por meio das expressões:

a. dinheiro pago pelo uso de dinheiro emprestado, ou seja, custo do capital de terceiros
colocado à nossa disposição;

b. remuneração do capital empregado em atividades produtivas ou, ainda, remuneração


paga pelas instituições financeiras sobre o capital nelas aplicado.

43
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Os juros são fixados por meio de uma taxa percentual que sempre se refere a uma unidade de tempo:
ano, semestre, trimestre, mês, dia.

Exemplo:

12% ao ano = 12% a.a.

4% ao semestre = 4% a.s.

1% ao mês = 1% a.m.

A obtenção dos juros do período, em unidades monetárias, será feita mediante a aplicação da taxa
de juros sobre o capital considerado. Exemplo: um capital de R$10.000,00, aplicado a uma taxa de
8% ao ano, proporcionará, no final de um ano, um total de juros equivalentes a:

8% de 10.000,00 = 8/100 x 10.000,00 = R$ 800,00.

É importante observar que nesse cálculo, a taxa de juros de 8% foi transformada em fração decimal
(8/100 = 0,8) para permitir a operação.

Assim, as taxas de juros terão duas representações:

Exemplo:

a. Percentagem 8% ao ano.

b. Fração decimal 0,08 ao ano.

A representação em percentagem é comumente utilizada; entretanto, todos os cálculos e


desenvolvimento de fórmulas serão feitos por meio da notação em fração decimal.

Taxa de juros nominal – é aquela em que a unidade de referência de seu tempo não coincide
com a unidade de tempo dos períodos de capitalização. A taxa nominal é quase sempre fornecida
em termos anuais, e os períodos de capitalização podem ser semestrais, trimestrais ou mensais. São
exemplos de taxas nominais:

a. 12% ao ano, capitalizadas mensalmente;

b. 24% ao ano, capitalizadas semestralmente;

c. 8% ao ano, capitalizadas trimestralmente.

A taxa nominal representa a taxa de juros contratada (ou declarada) numa operação financeira
(ativa ou passiva).

Taxa de juros real – é a taxa efetiva corrigida pela taxa inflacionária do período da operação.

Em contextos inflacionários, uma taxa nominal de juros é definida em função de dois componentes:

a. taxa real, que indica a parcela de juros que está realmente empenhada (excluída a
inflação) como custo ou rendimento da operação;

b. taxa de inflação, que visa à manutenção do poder aquisitivo da moeda.

44
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

Relação entre as taxas de juros nominal e real – Suponha que um determinado capital P é
aplicado por um período de tempo unitário, a uma certa taxa nominal in.

O montante S1 ao final do período será dado por:

S1 = P(1 + in).

Consideremos agora que, durante o mesmo período, a taxa de inflação (desvalorização da moeda)
foi igual a j. O capital corrigido por essa taxa acarretaria um montante.

S2 = P (1 + j).

A taxa real de juros, indicada por r, será aquela que, aplicada ao montante S2 , produzirá o montante
S1. Poderemos então escrever:

S1 = S2 (1 + r).

Substituindo S1 e S2 , vem:

P(1 + in) = (1+r). P (1 + j).

Dessa forma:

(1 + in) = (1+r). (1 + j).

Onde:

in = taxa de juros nominal.

j = taxa de inflação no período.

r = taxa real de juros.

Observe que se a taxa de inflação for nula no período, isto é, j = 0, teremos que as taxas nominal e
real são coincidentes.

Taxa de Juros Equivalentes versus Taxa de Juros


Proporcional

Taxas equivalentes

São as que geram montantes idênticos (equivalentes) quando capitalizadas sobre um mesmo capital
e prazo.

Algebricamente, para obter a taxa equivalente poderíamos usar a seguinte equação:

Ia = (1+Ib)nb/na – 1.

45
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Onde:

Ia = representa a taxa equivalente que desejamos obter;

na = número de períodos da taxa equivalente;

Ib = taxa que temos;

nb = número de períodos da taxa que temos.

Exemplo:

Calcular a taxa equivalente semestral. Sendo: taxa mensal = 4% a.m., Ib= 0,04.

Ia = ?

na=1 semestre.

Ib= 0,04.

nb= 6 meses.

Solução:

Ia = (1+Ib)nb/na – 1.

(1+ 0,04)6/1 -1 = 27%.

Taxa de juros proporcional

É típica do sistema de capitalização linear (juros simples), sendo o prazo da taxa geralmente igual
ao período de capitalização dos juros. Assim, duas taxas expressas em diferentes unidades de tempo
são definidas como proporcionais quando enunciam valores iguais numa mesma unidade de tempo.

Por exemplo, 3% a.m. e 36% a.a. são consideradas proporcionais em juros simples por expressarem
valores iguais em quaisquer que sejam as unidades de tempo definidas. Supondo-se trimestre a
unidade de tempo escolhida, tem-se 36%a.a./4 trimestres = 9%a.t e 3% a.m.x 3 meses = 9% a.t.

Capitalização Simples versus Capitalização


Composta

Capitalização Simples

Sendo juros a remuneração recebida pela aplicação de um capital C a uma taxa de juros i durante
um certo tempo t, podemos dizer que o regime dos juros simples, ou regime de capitalização simples,
caracteriza-se pelo fato de os juros ao período serem iguais, já que incidem sobre o mesmo valor
presente. O valor futuro cresce linearmente no tempo.

46
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

CÁLCULO DOS JUROS:

Valor dos juros é obtido da expressão:

J = C x i x n.

Onde:

j = valor dos juros.

C = valor do capital inicial ou principal.

i = taxa.

n = prazo.

Capitalização Simples.

M = C (1+in)

Onde:

M = montante final

C= principal

i= taxa

n= prazo

Exemplos de Aplicação.

1. Qual é o valor dos juros correspondentes a um empréstimo de R$10.000,00, pelo


prazo de 15 meses, sabendo-se que a taxa cobrada é de 3% a.m.?

dados:

C = 10.000,00.

n = 15 meses.

i = 3% a.m.

j=?

solução:

j = C x i x n.

j = 10.000,00 x 0,03 (3/100) x 15 = 4.500,00.

47
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

2. Ailton obtém R$40.000,00 emprestados de um agiota, entregando-lhe uma nota


promissória de R$80.000,00, com vencimento para 12 meses. Determinar as taxas
mensal e anual de juros cobradas pelo agiota.

Dados:

M = 80.000,00.

C = 40.000,00.

n = 12 meses.

i=?

Solução:

M = C (1 + i.n) 2 = (1 + i x 12).
80.000,00 = 40.000,00 (1 + i x 12) 2 – 1 = (i x 12).
80.000,00 = (1 + i x 12) i = 1 / 12.
40.000,00 i = 0,0833, ou 8,33% ao mês.
Taxa anual = 8,33 x 12 = 100%.

Capitalização Composta
Chamamos de capitalização composta ou regime de juros compostos à remuneração que o capital
C recebe após n períodos de aplicação, quando, a cada período, a partir do segundo, os juros são
calculados sobre o montante do capital C no período anterior. Assim, capitalização composta é
aquela em que a taxa de juros incide sobre o principal acrescido dos juros acumulados até o período
anterior. Nesse regime de capitalização, a taxa varia exponencialmente em função do tempo.

O conceito de montante é o mesmo definido para capitalização simples, ou seja, é a soma do capital
aplicado ou devido mais o valor dos juros correspondentes ao prazo da aplicação ou da dívida.

M = C (1 + i)n.

em que a expressão (1 + i)n é chamada de fator de capitalização ou fator de acumulação de capital


para pagamento simples ou único.

Exemplos de Aplicação.

1. Calcular o montante de um capital de R$1.000,00, aplicado à taxa de 4% ao mês,


durante 5 meses.

Dados:

C = 1.000,00.

n = 5 meses.

48
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

i = 4% ao mês.

M=?

M5 = C (1+i)n = 1.000,00 (1,04)5 = 1.216,65.

2. Qual é o capital que, aplicado à taxa composta de 2% a.m. durante um semestre,


gera montante igual a R$225.232,40?

Dados:

C=?

n = 1 semestre = 6 meses.

i = 2% ao mês.

M = 225.232,40.

M = C (1+i)n.

C = M / (1+i)n.

C= 225.232,40 / (1,02)6.

C= 200.000,00.

Na calculadora HP12C a simbologia é a seguinte:


PV = capital inicial
FV = montante
i = taxa
n = prazo/tempo/período

Índice de Referência (benchmark) Aplicado a


Produtos de Investimento: conceito e finalidade
Todo investidor deve acompanhar de perto seus investimentos, a fim de conhecer os possíveis riscos
envolvidos na aplicação e se eles são recompensados por um retorno compatível.

Para efetuar uma comparação, é indicado utilizar um indicador (benchmark) apropriado e ter
consciência do horizonte de tempo da aplicação.

Benchmark – é o processo por meio do qual uma empresa adota e/ou aperfeiçoa as melhores práticas
de gestão de outras empresas em determinada atividade. Aplicado a produtos de investimentos,
busca comparar os resultados e performances dos gestores.

49
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Os fundos de Renda Fixa costumam ter como ponto de referência o Certificado de Depósito
Interbancário (CDI). Já os fundos de Renda Variável possuem como principal benchmark o Índice
Bovespa. Os fundos de ações buscam alcançar rentabilidade anual igual ou maior que IBOVESPA,
dependendo do perfil e composição do fundo.

Volatilidade (Conceito)
É entendida como as mudanças ocorridas nos preços do título em razão de modificações verificadas
nas taxas de juros de mercado. Quanto maior a volatilidade de um título, mais elevadas apresentam-
se as mudanças em seus preços diante de alterações nas taxas de juros.

Suponha que o histórico da variação de preços de uma posição acionária esteja entre R$20,00 e
R$50,00 no período de um mês. Você dispõe de 30 (trinta) dias para investir uma quantia, sendo
obrigado a resgatá-la após o término do mês para honrar um compromisso. No quarto dia, você
compra um lote de ações a R$37,00 cada ação. No entanto, até o 30o dia após a compra o preço
oscilou entre R$40,00 e R$21,00 e no momento limite do resgate você precisou vender o lote a
R$27,00, assumindo um prejuízo de R$10,00 por ação. O ganho máximo esperado seria a venda
a R$50,00 (R$13,00 reais de lucro por ação), e a perda máxima esperada seria a venda a R$20,00
(R$17,00 reais de perda por cada ação do lote). Se a volatilidade aumentasse, os lucros ou os
prejuízos esperados seriam maiores. Se o preço pudesse variar entre -R$50,00 e R$100,00, você
poderia perder tudo o que tinha investido ou ainda sair da transação devendo R$50,00. Neste caso,
o risco seria muito maior.

Prazo Médio Ponderado de uma carteira de títulos:


conceitos e riscos associados
O Prazo Médio Ponderado de uma carteira de títulos de diferentes datas de vencimento é calculado
com a ponderação de valores nominais em relação a prazos. Esse dado é muito importante, pois
deveremos ter muito cuidado quando estamos negociando com fornecedores que nos oferecem
diversas opções. Nesses casos, deveremos fazer o cálculo do prazo médio para sabermos se ele está
superior ou inferior aos nossos prazos médios que estamos habituados a negociar com os nossos
clientes.

Exemplo:

1. Calcular o PMPS dos títulos que estaremos encaminhando ao banco para desconto.

Prazos de vencimentos (dias) Valores nominais


30 R$200.000,00
60 R$200.000,00
90 R$200.000,00
180 R$200.000,00
Total R$800.000,00

50
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

Então:

30 x R$200.000,00 = R$6.000.000,00.
60 x R$200.000,00 = R$12.000.000,00.
90 x R$200.000,00 = R$18.000.000,00.
180 x R$200.000,00 = R$36.000.000,00.
R$72.000.000,00.
R$72.000.000,00 / R$800.000,00 = 90 dias.

O prazo médio de 90 dias significa que os diversos títulos, no valor nominal de R$800.000,00,
vencem em média dentro de 90 dias. Se a taxa de juros bancária for de 4% a.m., o valor descontado
por antecipação seria calculado da seguinte forma:

VP = R$800.000,00 / (1,04)³ = R$711.197,09.

Na análise dos produtos de investimentos, quanto maior o prazo médio de uma carteira maior sua
vulnerabilidade em relação às oscilações do mercado.

Marcação a Mercado como Valor Presente de Um Fluxo de Pagamentos (Precificação


e Volatilidade: impactos de prazos e taxas).

A marcação a mercado é o procedimento adotado pelos investidores de estabelecer um valor para


cada um de seus títulos, com o intuito de saber quanto vale sua carteira. Essa marcação normalmente
ocorre após o horário regular de negociação, levando-se em consideração o preço de fechamento de
cada título.

Tem como principal objetivo evitar a transferência de riquezas entre os diversos cotistas de um fundo
de investimento, sendo um procedimento essencial para a identificação dos verdadeiros valores dos
ativos, ou seja, a obtenção do valor de um ativo pelo qual ele pode ser negociado no mercado.

De acordo com as Diretrizes de Marcação a Mercado, a Anbid recomenda às Instituições participantes


a utilização dos seguintes princípios de Marcação a Mercado (MaM):

I – Abrangência: Todos os ativos devem ser marcados a mercado.

II – Frequência: A MaM deve ter como frequência mínima a periodicidade de


divulgação das cotas.

III – Comprometimento: A instituição deve estar comprometida em garantir


que os preços dos ativos reflitam os preços de mercado, e na impossibilidade
de observação destes, despender seus melhores esforços para estimar quais
seriam os preços de mercado dos ativos pelos quais estes seriam efetivamente
negociados.

IV – Equidade: O critério preponderante do processo de escolha de


metodologias, fontes de dados e/ou qualquer outra decisão de MaM deve ser o
de evitar transferência de riqueza entre os cotistas.

V – Melhores Práticas: O processo e a metodologia de MaM devem seguir as


melhores práticas do mercado.

51
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

VI – Formalismo: A instituição administradora deve ter um processo


formalizado de MaM. Para tal, a metodologia de MaM deve ser formalizada em
manual e a instituição deve ter uma área ou pessoa responsável pela qualidade
do processo e metodologias.

VII – Objetividade: As informações de preços de ativos e/ou fatores a serem


utilizados no processo de MaM devem ser preferencialmente obtidas de fontes
externas independentes.

VIII – Consistência: O mesmo ativo não pode ter preços diferentes, salvo nos
casos previstos por regulamentação específica.

IX – Transparência: Os princípios das metodologias de marcação devem ser


públicos, ou seja, o manual ou uma versão simplificada que atendam aos
padrões da ANBID – preservando assim os modelos proprietários – deve estar
disponível aos clientes e à Associação.

Mercado Primário e Mercado Secundário: conceito,


finalidade e relevância para o investidor
O mercado financeiro pode ser classificado segundo diversos critérios. Uma classificação do mercado
financeiro é a que envolve o momento da negociação do título no mercado. Um lançamento de
um novo ativo financeiro ocorre no mercado primário; essencialmente, todo ativo financeiro é
colocado no mercado (negociado pela primeira vez) por meio do mercado primário. Negociações
posteriores, envolvendo compras e vendas de títulos já lançados entre investidores, são realizadas
no mercado secundário.

Para colocação de ações no mercado primário, a empresa contrata os serviços de instituições


especializadas, tais como: bancos de investimento, sociedades corretoras e sociedades distribuidoras,
que formarão um pool de instituições financeiras para a realização de uma operação, que pode ser
conceituada como sendo um contrato firmado entre a instituição financeira líder do lançamento de
ações e a sociedade anônima que deseja abrir o capital.

Uma vez ocorrido o lançamento inicial no mercado, as ações passam a ser negociadas no mercado
secundário, que compreende mercados de balcão, organizados ou não, e bolsas de valores. Nesse
estágio, as transações são realizadas entre os investidores, não havendo aporte de recursos para a
empresa. A Bovespa é o maior mercado secundário de ações do Brasil.

As operações do mercado secundário representam transferências de recursos e títulos entre


investidores e/ou instituições. O mercado secundário proporciona liquidez aos títulos; permite
que os investidores revertam suas decisões de compra e venda, transferindo, entre si, os títulos
anteriormente adquiridos no mercado primário.

Para operar no mercado secundário, é necessário que o investidor se dirija a uma sociedade
corretora, membro de uma bolsa de valores, na qual funcionários especializados poderão fornecer os
mais diversos esclarecimentos e orientação na seleção do investimento, de acordo com os objetivos
definidos pelo aplicador. Se pretender adquirir ações de emissão nova, ou seja, no mercado primário,
o investidor deverá procurar um banco, uma corretora ou uma distribuidora de valores mobiliários,
que participem do lançamento das ações pretendidas.

52
CAPÍTULO 2
Análise de Investimentos

Analisar projetos de investimentos utilizando indicadores econômicos e financeiros permite a


comparação entre diferentes fluxos de caixa e a determinação do grau de viabilidade de projetos.
Por meio de técnicas, é possível fazer a classificação de oportunidades de investimentos em vários
níveis de atratividade e com isso facilitar o processo de tomada de decisões.

As análises econômico-financeiras são abordagens quantitativas que utilizam técnicas matemáticas,


das ciências econômicas e da pesquisa operacional. Há registro na literatura de diversos modelos
de técnicas e métodos. Este Capítulo versará sobre os indicadores mais frequentemente utilizados
na classificação de projetos de investimentos em condições de certeza, bem como as respectivas
considerações sobre as vantagens e desvantagens de cada um.

Assim, serão abordadas as técnicas do Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno
(TIR) e o método do Tempo de Retorno ou Payback. Ressalta-se também que esses métodos
de análises geralmente levam em consideração a taxa de desconto denominada taxa mínima de
atratividade (TMA).

Taxa Mínima de Atratividade (TMA)


A Taxa Mínima de Atratividade (TMA) é a taxa de juros que reflete o patamar mínimo de retorno
esperado por investidores que, quando não atingido ou superado, indica que uma determinada
seleção de investimento não deverá receber a aplicação de recursos. Geralmente essa taxa de juros
está atrelada à rentabilidade das aplicações de pouco risco. Assim, ao se fazer um investimento
buscam-se alternativas cujos prováveis dividendos sejam superiores aos de outras opções. A taxa
de juros que o dinheiro investido irá proporcionar deverá ser superior a uma taxa prefixada, a qual
utilizamos como referência. A essa taxa denominamos Taxa Mínima de Atratividade.

Na condição de Custo de Oportunidade, a TMA pode ser considerada também a taxa de juros que
remuneraria um determinado capital investido caso ele tivesse sido aplicado em uma alternativa
diferente da oportunidade selecionada. Dessa forma, a TMA passa a ser o valor da diferença entre
duas ou mais taxas de juros, que se refiram a diferentes alternativas de investimento.

Assim, se há uma determinada aplicação bancária com pequeno índice de risco e que paga 18% a.a.,
deixar o capital parado equivale a incorrer em um custo de oportunidade de 18% ao ano que esse
dinheiro deixa de render. O custo de oportunidade depende das alternativas em estudo e acaba
sendo o percentual que se paga por não se preferir a oportunidade de maior rendimento.

Para Lapponi (2000), existem três tipos de taxas de juros que são analisadas pelos investidores em
projetos:

53
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

»» taxa mínima requerida, que é a TMA de um projeto, em que o investidor estipula a


taxa para aceitar ou rejeitar um determinado projeto;

»» taxa esperada, taxa essa originária da projeção dos fluxos de caixa do projeto;

»» taxa realizada, que identifica a medida exata da rentabilidade do investimento.

Como se trata de projeção futura de aplicação de recursos, a TMA serve de parâmetro para
cotejamento entre as taxas obtidas pelos projetos durante os períodos de análise.

Para alternativas em que haja o uso de capital próprio e de terceiros, enquanto fonte de financiamento,
indica-se como TMA o Custo Médio Ponderado de Capital (WACC).

Payback Simples
Trata-se do mais antigo método formal para avaliação de projetos de investimento. É também o meio
mais simples de se usar a aritmética para a análise de um investimento. O nome payback vem do
inglês e em tradução livre significaria pagar de volta. Representa o número de anos necessários para
recuperar o investimento original, que será compensado pelos fluxos de caixa positivos esperados
pelo investidor. Em algum momento numa linha do tempo, após um determinado número de anos
a partir do primeiro desembolso, espera-se que o investimento original seja totalmente recuperado.
Em outras palavras, quando o lucro (resultado) do investimento pagará (retornará) o que foi
investido.

Trata-se de um tipo de cálculo do ponto de equilíbrio. Isso porque indicará em que momento as
receitas e as depesas do projeto se equivalem. Quanto mais rápido isso acontecer, melhor.

A apuração do payback simples é feita em 3 passos:

1. passo: desenha-se o fluxo de caixa em uma linha do tempo;

2. passo: lançam-se as expectativas de investimentos e de retornos ano a ano;

3. passo: identifica-se o período em que a soma dos retornos iguala ou supera o total
do investimento.

Exemplo 1 – Uma empresa pretende efetuar um investimento de R$10.000,00 no momento inicial


de um projeto com taxa de juros de 12% a.a. O retorno projetado é o seguinte:

1o Ano: R$1.000,00.

2o Ano: R$2.500,00.

3o Ano: R$2.500,00.

4o Ano: R$2.500,00.

5o Ano: R$3.500,00.

6o Ano: R$4.500,00.

54
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

Determine o payback simples:

Período Valor Valor Acumulado 100 2500 2500 2500 3500 4500
0 R$(10.000,00) R$(10.000,00)
1 R$1.000,00 R$(9.000,00)
2 R$2.500,00 R$(6.500,00)

3 R$2.500,00 R$(4.000,00)
4 R$2.500,00 R$(1.500,00)
5 R$3.500,00 R$2.000,00
10.000,00
6 R$4.500,00 R$6.500,00

No exemplo 1, a inversão de sinal no valor acumulado ocorre entre o 4o e 5o ano. Dessa maneira, diz-se
que o payback simples desse investimento é entre o 4o e 5o ano.

O payback simples é popular porque até mesmo pessoas sem conhecimento em finanças podem
calculá-lo e o compreendem com facilidade. No entanto, pode levar o investidor a tomar uma
decisão errada, visto que não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo (o que é uma
inconsistência teórica) e também não informa quanto irá retornar e nem a rentabilidade do retorno.

Esse método é bastante simples, mas deve ser evitado por aqueles que possuem conhecimentos de
matemática financeira. Estes devem priorizar o payback descontado.

EXERCÍCIO RESOLVIDO (1)

Os fluxos de caixa líquidos de um projeto de investimento estão indicados no quadro a seguir.


Quantos anos precisaremos esperar até que os fluxos de caixa acumulados desse investimento se
igualem ou superem seu custo?

Período (anos) Fluxo


0 -50.000
1 30.000
2 20.000
3 10.000
4 5.000

Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de


investimentos e de retornos ano a ano.

30.000 20.000 10.000 5.000

50.000

55
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Terceiro Passo: Calcular o número de anos necessários para se recuperar o investimento inicial.

Conforme indicado no Diagrama de Fluxo de Caixa, o investimento inicial é de $50.000. Depois


do primeiro ano a empresa recupera $30.000, deixando $20.000 a descoberto. O fluxo de caixa
no segundo ano é exatamente igual a $20.000; ou seja, o investimento “se paga” em exatamente
2 anos. Portanto, o payback simples é de 2 anos. Se exigíssemos um período de recuperação do
investimento de 2 anos ou menos, o investimento seria aceitável.

EXERCÍCIO RESOLVIDO (2)

Se os fluxos de caixa líquidos de um projeto de investimento são aqueles indicados no quadro a seguir ,
quantos anos precisaremos esperar até que os fluxos de caixa acumulados desse investimento se igualem
ou superem seu custo?

Período (anos) Fluxo


0 -60.000
1 20.000
2 90.000

Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de


investimentos e de retornos ano a ano.

20.000 90.000

60.000

Conforme indicado no diagrama de fluxo de caixa, o investimento inicial é de $60.000. Depois do


primeiro ano a empresa recupera $20.000, deixando $40.000 a descoberto. O fluxo de caixa no
segundo ano é exatamente igual a $90.000; ou seja, o investimento “se paga” em algum momento
do segundo ano.

Nesse caso, o tempo de recuperação do investimento não é exato. O payback simples se deu entre
o 1o e 2o anos. Se exigíssemos um período de recuperação do investimento de 2 anos ou menos, o
investimento seria aceitável.

EXERCÍCIO RESOLVIDO (3)

Se o período de corte é de 2 anos, quais dos projetos a seguir deverão ser aceitos?

Ano A B C D E
0 -100 -200 -200 -200 -50
1 30 40 40 100 100
2 40 20 20 101

56
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

3 50 10 10 -200
4 60

Resposta: Deverão ser aceitos os projetos D e E.

EXERCÍCIO RESOLVIDO (4)

A Companhia Alfa pretende investir $525.000 hoje em um novo projeto de expansão. O projeto
gerará fluxos anuais de caixa de $75.000 durante 15 anos. Qual é o período de payback simples do
projeto? Supondo que a Cia Alfa deseje um período de recuperação do investimento de 13 anos, deve
o projeto ser aceito?

Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de


investimentos e de retornos ano a ano.

75.000

525.000

Terceiro Passo: Calcular o número de anos necessários para se recuperar o investimento inicial. O
Projeto da companhia Alfa precisa de sete anos para recuperar os $525.000 mil de investimento
inicial. Veja o quadro seguinte.

Período Retorno Retorno acumulado

1o ano 75.000,00 75.000,00

2o ano 75.000,00 150.000,00

3o ano 75.000,00 225.000,00

4o ano 75.000,00 300.000,00

5o ano 75.000,00 375.000,00

6o ano 75.000,00 450.000,00

7o ano 75.000,00 525.000,00

8o ano 75.000,00 600.000,00

Resposta: O projeto deve ser aceito, pois o período de payback (7 anos) é inferior ao período desejado
de recuperação do investimento (13 anos).

57
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Payback Descontado
É similar ao payback simples. A diferença reside no fato de, neste método, o fluxo de caixa ser
descontado. Assim, os valores recebidos ao longo da linha do tempo serão ajustados a valor presente.
Considera-se, portanto, o custo de capital ou uma taxa de desconto.

Assim, o payback descontado é o número de anos necessários para recuperar o investimento original
considerando-se fluxos de caixa líquidos descontados pelo custo de capital do projeto.

Pode-se calcular o payback descontado em 4 passos:

1o passo: desenha-se o fluxo de caixa em uma linha do tempo;

2o passo: lançam-se as expectativas de investimentos e de retornos ano a ano;

3o passo: desconta-se cada parcela a valor presente com auxilio da taxa de desconto;

4o passo: identifica-se o período em que a soma dos retornos a valor presente se iguala ou supera o
total do investimento.

Exemplo 2 – Para o mesmo exemplo 1, teremos um resultado diferente para o payback descontado.
Vejamos:

1000 2500 2500 2500 3500 4500

10.000

Período Valor Valor Presente Valor Acumulado


0 (10.000,00) R$(10.000,00) R$(10.000,00)

1 1.000,00 R$892,86 R$(9.107,14)

2 2.500,00 R$1.992,98 R$(7.114,16)

3 2.500,00 R$1.779,45 R$(5.334,71)

4 2.500,00 R$1.588,80 R$(3.745,91)

5 3.500,00 R$1.985,99 R$(1.759,92)

6 4.500,00 R$2.279,84 R$519,92

Para o payback descontado, só acontecerá a inversão de sinal no valor acumulado entre 5o e o 6o ano.
E esse resultado é mais confiável do que o resultado do payback simples. É comum e frequente que
haja diferenças entre os resultados do Payback simples e do Payback descontado. Isso evidencia
a importância da correção dos valores dos fluxos de caixa a partir de uma taxa de desconto. Outro
detalhe é que a correção dos valores ao valor presente torna o payback descontado teoricamente
consistente.

58
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

Há algumas desvantagens no uso do payback descontado. O método não informa a rentabilidade e


o valor do retorno. Também não leva em consideração os fluxos de caixa positivos ou negativos após
o período de payback.

Apesar de tais limitações, o payback dá uma estimativa de tempo no qual o capital estará preso a
um projeto.

EXERCÍCIO RESOLVIDO (5)

Utilizando o mesmo enunciado do Exercício Resolvido (4), considere uma taxa anual de desconto
apropriada para o projeto igual a 10%. Calcule o período de payback descontado do projeto.

Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de


investimentos e de retornos ano a ano. O diagrama de fluxo de caixa é igual ao do EXERCÍCIO
RESOLVIDO (4).

Terceiro Passo: Descontar cada parcela a valor presente com auxílio da taxa de desconto e calcular
o número de anos necessários para se recuperar o investimento inicial.

O projeto da companhia Alfa precisa entre doze e treze anos para recuperar os $525.000 mil de
investimento inicial, tendo em vista que o payback descontado é o número de anos necessários para
recuperar o investimento original considerando-se fluxos de caixa líquidos descontados pelo custo
de capital do projeto.

Veja o quadro que se segue:

Período Retorno Nominal Retorno Real Retorno Acumulado

1o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^1 = 68.181,82 68.181,82

2o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^2 = 61.983,47 130.165,29

3o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^3 = 56.348,61 186.513,90

4o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^4 = 51.226,01 237.739,91

5o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^5 = 46.569,10 284.309,01

6o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^6 = 42.335,54 326.644,55

7o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^7 = 38.486,86 365.131,41

8o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^8 = 34.988,05 400.119,46

9o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^9 = 31.807,32 431.926,79

10o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^10 = 28.915,75 460.842,53

11o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^11 = 26.287,04 487.129,58

12o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^12 = 23.897,31 511.026,89

13o ano 75.000,00 75.000,00/(1+0,10)^13 = 21.724,83 532.751,72

Resposta: O projeto deve ser aceito, pois o payback descontado ocorreu entre o 12o e 13o anos,
inferior ao período desejado de recuperação do investimento (13 anos).

59
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

EXERCÍCIO RESOLVIDO (6)

Suponha que um investimento exige um gasto inicial de $5 milhões e tenha fluxos de caixa esperados
de $1 milhão, $3,5 milhões e $2 milhões para os três primeiros anos, respectivamente. Qual é o
payback descontado desse investimento se a taxa de retorno exigida é 10%?

Período Fluxo
0 ano - 5.000.000
o 1.000.000
1 ano
o 3.500.000
2 ano
o 2.000.000
3 ano

Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de


investimentos e de retornos ano a ano.

1.000.000 3.500.000 2.000.000

5.000.000

Terceiro Passo: Descontar cada parcela a valor presente com auxílio da taxa de desconto e calcular
o número de anos necessários para se recuperar o investimento inicial.

O Projeto precisa entre dois e três anos para recuperar os $5.000.000 de investimento inicial, tendo
em vista que o payback descontado é o número de anos necessários para recuperar o investimento
original considerando-se fluxos de caixa líquidos descontados pelo custo de capital do projeto.

Veja o quadro que se segue.

Período Retorno Retorno Real Retorno Acumulado


o
1 ano 1.000.000 1.000.000/(1,1)^1 =909.090,91 909.090,91
o
2 ano 3.500.000 3.500.000/(1,1)^2 =2.892.561,98 3.801.652,89
o
3 ano 2.000.000 2.000.000/(1,1)^3 =1.502.629,60 5.304,282,49

Resposta: O projeto tem o período de Payback Descontado entre o 2o e 3o anos.

Valor Presente Líquido (VPL)


A partir do reconhecimento das limitações e desvantagens das técnicas de payback, surgiram outros
métodos mais eficazes para a análise de investimentos. Destacamos aqui a ferramenta do Valor
Presente Líquido (VPL). O método é baseado no fluxo de caixa descontado e reflete o Valor Presente
dos retornos (entradas de caixa) de um investimento menos o Valor Presente dos custos (saídas de
caixa) desse mesmo investimento.

60
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

VPL = VP das entradas de caixa (Receitas Líquidas) – VP das saídas (custos ou


investimentos).

São 3 os passos para se calcular o VPL:

1. passo: lançam-se todas as entradas e saídas de caixa ao longo de uma linha do


tempo;

2. passo: calcula-se o valor presente de cada fluxo de caixa, sejam eles fluxos positivos
ou negativos, descontando pelo custo de capital do projeto ou pela taxa de desconto
definida para o projeto;

3. passo: somam-se os fluxos de caixa descontados. O resultado é o VPL do projeto.

No caso de um VPL ser positivo, o projeto é considerado viável. Significa que se está recebendo mais
dinheiro enquanto retorno do que o que foi investido.

Se for negativo o VPL, o projeto deve ser rejeitado. Significa que estamos colocando mais dinheiro
em termos de investimento do que o que se tem enquanto retorno.

Se o VPL é nulo, significa que os fluxos de caixa do projeto são somente suficientes para pagar o
custo do capital investido.

Ao compararmos projetos mutuamente excludentes de VPL positivo, o de VPL mais elevado deve
ser escolhido. Quando os valores forem negativos, o VPL de menor valor em módulo deverá ser
elegido.

Exemplo 3 – Um projeto demanda um investimento no momento inicial de R$25.000,00. O


sistema apresentará durante 4 meses consecutivos o fluxo de caixa positivo de R$8.000,00 livre de
taxas e impostos. Ao fim do 4o mês não haverá valor residual ou valor de revenda para o projeto. O
custo de capital para o levantamento dos $25.000,00 junto aos bancos de investimento é 2% a.m.
Qual é o Valor Presente Líquido desse projeto?

R$

(25.000) 8000 8000 8000 8000


VPL = + + + +
(1 + 2%)0 (1 + 2%)1 (1 + 2%)2 (1 + 2%)3 (1 + 2%)4
VPL = (25.000) + 7.843,14 + 7.869,35 + 7.538,58 + 7.390,76
VPL = 5.461,83
R$ 25.000

O resultado mostra que esse projeto gera fluxos de caixa suficientes para “pagar” o custo do projeto
à 2% a.m. e deixa um resultado líquido (VPL) de $5.461,83 para os investidores. O VPL denota que
é viável esse projeto de investimento.

Utilizando a calculadora HP 12C.

Digitar visor.
ON.

61
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

f CLEAR REG 0,00.


25000 CHS g CF0 -25.000,00.
8000 g CFj 8.000,00.
8000 g CFj 8.000,00.
8000 g CFj 8.000,00.
8000 g CFj 8.000,00.
2i 2,00.
f NPV 5.461,83.

Obs: o comando g Nj pode ser utilizado para não se repetir por 4 vezes a entrada do fluxo de caixa
R$8.000,00. Nesse caso, teríamos a seguinte sequência de passos.

Utilizando a calculadora HP 12C.

Digitar visor.
ON.
f CLEAR REG 0,00.
25000 CHS g CF0 -25.000,00.
8000 g CFj 8.000,00.
4 g Nj 4,00.
8000 g CFj 8.000,00.
2i 2,00.
f NPV 5.461,83.

EXERCÍCIO RESOLVIDO (7)

Determine o VPL, considerando uma taxa de desconto de 8% ao ano, do Projeto Y, cujo fluxo de
caixa é mostrado a seguir.

ANO FLUXO DE CAIXA


0 -1.000.000
1 200.000
2 200.000
3 200.000
4 400.000
5 500.000

Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de


investimentos e de retornos ano a ano.

500.000
400.000
200.000

62
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

1.000.000

Terceiro Passo: Utilizando a fórmula (1):

VPL = – 1.000.000 + 200.000/(1,08)1 + 200.000/(1,08)2 + 200.000/(1,08)3 + 400.000/ (1,08)4


+ 500.000 /(1,08)5 = 149.722,94.

Utilizando a HP 12C.

Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
1000000 CHS g CF0 -1.000.000,00.
200000 g CFj 200.000,00.
3 g Nj 3,00.
400000 g CFj 400.000,00.
500000 g CFj 500.000,00.
8i 8,00.
f NPV 149.722,94.

Resposta: O VPL é igual a 149.722,94.

EXERCÍCIO RESOLVIDO (8)

Determine o VPL, considerando uma taxa de desconto de 12% ao ano, dos Projetos A e B, cujos
fluxos de caixa são mostrados a seguir.

ANO PROJETO A PROJETO B


0 - 40.000 - 50.000
1 10.000 12.000
2 10.000 12.000
3 13.000 16.000
4 13.000 16.000
5 13.000 16.000

Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de


investimentos e de retornos ano a ano.

Projeto A

13.000
10.000

40.000

63
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

Projeto B

16.000
12.000

50.000

Terceiro Passo: Utilizando a fórmula (1):

VPLA = – 40.000/ (1,12)0 + 10.000/ (1,12)1 + 10.000/ (1,12)2+ 13.000/ (1,12)3 + 13.000/ (1,12)4
+13.000/ (1,12)5 = 1.791,94.

VPLB = – 50.000/ (1,12)0 + 12.000/ (1,12)1 + 12.000/ (1,12)2+ 16.000/ (1,12)3 + 16.000/ (1,12)4
+ 16.000/ (1,12)5 = 916,22.

Utilizando a HP 12C – Projeto A.

Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
40000CHS g CFO -40.000,00.
10000 g CFj 10.000,00
2 g Nj 2,00.
13000 g CFj 13.000,00.
3 g Nj 3,00.
12 i 12,00.
f NPV 1.791,94

Utilizando a HP 12C – Projeto B.

Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
50000 CHS g CF0 -50.000,00.
12000 g CFj 12.000,00
2 g Nj 2,00.
16000 g CFj 16.000,00.
3 g Nj 3,00.
12 i 12,00.
f NPV 916,220

O VPL do projeto A é igual a 1.791,94.


Respostas:
O VPL do projeto B é igual a 916,22.

64
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

Taxa Interna de Retorno (TIR)


A Taxa Interna de Retorno (TIR) é a taxa de desconto que iguala o valor presente dos fluxos de caixa
positivos ao valor presente de seus custos. É a taxa de desconto que faz o VPL do projeto ser zero.
Assim, o VPL de um projeto, descontado a (TIR), é 0 (zero).

O cálculo da TIR, diferentemente do cálculo do VPL, é feito por tentativa e erro (iteração). Quando
auxiliado por calculadora financeira ou planilha eletrônica, passa a ser um processo rápido, eficaz
e simples.

A ideia por detrás da TIR é similar à do VPL. Define-se enquanto taxa de referência o custo de
capital a ser investido. Se a TIR de um projeto for superior à referência, haverá um excedente (após
a remuneração desse capital) que será revertido para os acionistas. Portanto, quando uma empresa
implementa um projeto com TIR superior ao custo de capital aumenta a riqueza de seus acionistas.
Por outro lado, implementar um projeto com TIR inferior ao custo de capital impõe perda aos
acionistas.

Exemplo 5 – Um projeto demanda um investimento único inicial de R$20.000,00. Tal projeto


fornece um fluxo de caixa, livre de taxas e impostos, de $6.000,00 ao mês, durante 5 meses; após esse
período, não há valor residual ou de revenda para o projeto. Calcule a Taxa Interna de Retorno (TIR).

R$ 6.000,00
(20000) 6000 6000 6000 6000 6000
VPL = + + + + +
(1+ TIR)0
(1+ TIR)1
(1+ TIR)2
(1+ TIR)3
(1+ TIR)4
(1+ TIR)5

(20000) 6000 6000 6000 6000 6000


0 = + + + + +
(1+ TIR)0 (1+ TIR)1 (1+ TIR)2 (1+ TIR)3 (1+ TIR)4 (1+ TIR)5
R$ 20.000

Utilizando a calculadora HP 12C.

Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
20000CHS g CFO -20.000,00.
6000 g CFj 6.000,00
5 g Nj 5,00.
f .IRR 15,24

O maior inconveniente apresentado pela TIR é que poucas calculadoras e poucas planilhas
eletrônicas resolvem o problema de mais de uma inversão de sinal que venha a ocorrer em um
projeto. Não é incomum que os projetos passem a ter novos investimentos ao longo de uma mesma
linha do tempo. O que acaba ocorrendo é o sistema passar a apresentar uma TIR diferente para cada
inversão de sinal.

65
UNIDADE II │ FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS

EXERCÍCIO RESOLVIDO (9)

Calcule a taxa interna de retorno dos projetos com os seguintes fluxos de caixa.

Fluxos de Caixa($)
Ano Projeto A Projeto B
0 -4.000 -8.000
1 3.000 6.000
2 2.000 4.000

Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de


investimentos e de retornos ano a ano.

Projeto A

3.000 2.000

4.000

Projeto B

6.000 4.000

8.000

Cálculo da TIR – Utilizando a HP 12C – Projeto A.

Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
40000CHS g CFO -4.000,00.
3000 g CFj 3.000,00
2000 g CFj 2.000,00
f .IRR 17,54

Cálculo da TIR – Utilizando a HP 12C – Projeto B.

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ON
f CLEAR REG 0,00.
8000CHS g CFO -8.000,00.
6000 g CFj 6.000,00

66
FINANÇAS E ANÁLISE DE INVESTIMENTOS │ UNIDADE II

4000 g 4.000,00
f .IRR 17,54

Resposta: A taxa interna de retorno dos dois projetos é igual a 17,54%.

EXERCÍCIO RESOLVIDO (10)

A empresa WAM tem uma oportunidade de investimento com o seguinte fluxo de caixa.

Ano Fluxo de Caixa ($)


0 -12.000
1 4000
2 5000
3 4500

Calcule a TIR do projeto. Supondo que a taxa mínima de atratividade do projeto é 8%, deve o projeto
ser aceito pela WAM?
Primeiro e Segundo Passos: Montar o Diagrama de Fluxo de Caixa e lançar as expectativas de
investimentos e de retornos ano a ano.

4.000 5.000 4.500

12.000

Cálculo da TIR – Utilizando a HP 12C.

Digitar visor
ON
f CLEAR REG 0,00.
12000CHS g CFO -12.000,00.
4000 g CFj 4.000,00
5000 g.CFJ 5.000,00
4500.g CFJ 4.500,00
f .IRR 6,01

Resposta: A TIR do projeto é igual a 6,01%. Com uma taxa mínima de atratividade de 8%, o projeto
deve ser rejeitado pela WAM.

67
PLANEJAMENTO UNIDADE III
TRIBUTÁRIO

CAPÍTULO 1
Disposições Gerais e Competência
Tributária

Planejamento Tributário é o processo de escolha de ação ou omissão lícita, não


simulada, anterior à ocorrência do fato gerador, que vise, direta ou indiretamente, a
economia de tributos.

Malkowski, (1999)

Disposições Gerais
O Planejamento Tributário pode ser caracterizado como o conjunto de ações lícitas realizadas pelos
contribuintes com o propósito de diminuir ou programar, de uma forma mais compatível com a sua
realidade, a carga de tributária que precisaria normalmente pagar. Tal conduta está fundamentada
na possibilidade de se pagar menos tributos, porém respeitando as leis vigentes.

Entendido como um tipo de planejamento empresarial, que tem como propósito os tributos e os
reflexos de seus pagamentos na organização, o planejamento tributário tem por objetivo economizar
impostos a partir da adoção de procedimentos estritamente legais.

O planejamento tributário corresponde a uma atividade empresarial de caráter preventivo, que


apresenta como fator de análise o tributo, buscando identificar e planejar os fatos e os atos tributários
e seus efeitos, partindo da comparação dos resultados prováveis para os diversos procedimentos
possíveis a fim de permitir escolher, do leque de alternativas, a que for menos onerosa para a
empresa.

Segundo Fabretti (2001), os contadores, nos dias de hoje, não só necessitam de ter sólidos
conhecimentos de Contabilidade mas, também, boas noções de Legislação Tributária, incluindo as
normas de vigência e as maneiras corretas de interpretar essa legislação.

68
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III

No Planejamento Tributário, vemos que há o caráter preventivo do planejamento, que seria oriundo
do fato de não ser possível escolher alternativas a não ser antes de se concretizar os pagamentos ou
os fatos. Dessa forma, pode-se deduzir que somente pode haver alternativa para o sujeito passivo
jurídico-tributário, e ela se simplifica no fato de pagar ou não pagar o tributo, o qual pode ser
decorrente de uma previsão legal denominada fato gerador do tributo.

Desta forma, o tributo corresponde à prestação pecuniária obrigatória ou compulsória, estabelecida


em lei e cobrada mediante atividade administrativa, plenamente vinculada, em moeda ou em cujo
valor nela se possa exprimir e que não se possa constituir em sanção de ato ilícito, sendo sua receita
proporcionada a partir da arrecadação do tributo.

Assim, os tributos podem ser fiscais ou extrafiscais. Os tributos fiscais objetivam apenas propiciar a
arrecadação de recursos financeiros às pessoas jurídicas de direito público. Os tributos extrafiscais
não têm apenas o objetivo de arrecadação de recursos financeiros, mas, também, o intuito de
minimizar ou corrigir anomalias em situações econômicas ou sociais.

O cuidado que a atividade de planejamento tributário deve ter decorre do simples fato de que, se não
se pagar algum tributo, pode ser caracterizado como uma prática ilícita, o que sujeita a empresa às
ações punitivas do Estado, quando do conhecimento dessa prática.

Assim, o planejamento tributário tem como principais finalidades: evitar a incidência do imposto
(onde são tomadas várias providências a fim de evitar a ocorrência do fato gerador do tributo);
reduzir o montante do tributo (que enseja providências no sentido de que se possa reduzir a alíquota
ou, mesmo, influir para a redução das bases de cálculo de um tributo); retardar o pagamento dos
tributos (onde o contribuinte faz uso de medidas a fim de adiar/postergar o pagamento de um ou
mais tributos, sem que possa incidir algum tipo de multa).

Segundo Latorraca (1972, p. 20), a prática de atos lícitos com o objetivo de evitar a concretização de
fato gerador de tributo é denominada tecnicamente de “elisão fiscal”.

Para Carvalho (1991, pp. 345 e 346), tal técnica difere diametralmente da evasão fiscal, que é
decorrente do uso de atos ilícitos que caracterizam a fraude ou a sonegação fiscal.

A sonegação fiscal pode ser descrita como uma ação ou omissão dolosa, por parte do contribuinte,
que tenta impedir ou retardar, de forma total ou parcial, o conhecimento por parte da autoridade
fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou
circunstâncias materiais; ou as condições pessoais do contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação
tributária principal ou o crédito tributário correspondente.

A Lei no 4.729/1965 define, em seu artigo primeiro, o crime da sonegação fiscal como sendo a
prestação de declaração falsa ou omissão; a inserção de elementos inexatos ou a omissão de
rendimentos ou operações de qualquer natureza em documentos ou livros exigidos pelas leis fiscais,
com o intuito de exonerar-se do pagamento de tributos devidos à Fazenda Pública; a alteração
de faturas e quaisquer documentos relativos a operações mercantis com o propósito de fraudar
a fazenda pública; o fornecimento ou a emissão de documentos falsos ou alteração de despesas,
majorando-as, com o objetivo de ser obtida a dedução de tributos devidos à Fazenda Pública, sem

69
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

prejuízo das sanções administrativas cabíveis; a exigência, o pagamento ou o recebimento, para


si ou para outro contribuinte beneficiário da paga, ou de qualquer porcentagem sobre a parcela
dedutível ou, ainda, a dedução do Imposto sobre a Renda para obter algum incentivo fiscal.

Competência Tributária
Competência é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade ou a um órgão
ou agente do Poder Público para emitir decisões.

José Afonso da Silva.

As competências são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou as entidades


estatais para realizar suas funções.

A Competência Tributária é outorgada pela Constituição Federal à União, aos Estado, ao Distrito
Federal e aos Municípios para criar, modificar e extinguir tributos, por meio de lei.

Além disso, a competência tributária apresenta as características de indelegabilidade (não poder


ser delegada a outrem), incaducabilidade (não pode caducar mesmo se não for utilizada) e a
irrenunciabilidade – (ser irrenunciável), uma vez que somente será atribuída às pessoas políticas de
forma originária pela Constituição Federal.

Podemos dizer que a competência para legislar sobre Direito Tributário é concorrente, uma vez que
inclui a União, os estados e o Distrito Federal, segundo o artigo 24 da Constituição Federal, onde
está registrado que a União, os estados e o Distrito Federal podem legislar concorrentemente sobre:
Direito Tributário, Financeiro, Penitenciário, Econômico e Urbanístico.

Contudo, no escopo da legislação concorrente, a competência da União se limita a estabelecer as


normas gerais, não excluindo a competência suplementar dos estados.

Assim, caso não existam leis federais sobre as normas gerais, os estados poderão exercer a
competência legislativa plena, a fim de atender a suas peculiaridades. Porém, a superveniência de
lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia das leis estaduais, no que for contrário.

Podemos dizer que a Constituição Federal adota a competência concorrente não cumulativa ou
vertical, de forma que a competência da União está afeta ao estabelecimento de normas gerais,
tendo os estados e o Distrito Federal uma competência suplementar, onde suas respectivas leis (dos
estados e do Distrito Federal) devem se caracterizar pela especificação de tais normas (estabelecidas
pela União), segundo as suas peculiaridades. Assim, uma mesma matéria pode ser regulada por
mais de uma entidade federativa, contudo, tendo a primazia da União no que concerne à fixação de
suas normas gerais.

A Competência Tributária corresponde à aptidão de criar tributos em abstrato, por meio de lei,
que possua todos os requisitos essenciais. Tais requisitos essencias podem ser, basicamente,
caracterizados como os sujeitos ativo e passivo da obrigação, a base de cálculo e a alíquota. Dessa

70
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III

forma, tal competência abrange, também, a aptidão para que o tributo possa ser aumentado,
parcelado, diminuído, isentado, modificado e, até mesmo, perdoado.

Assim, a competência tributária pode ser caracterizada como sendo a aptidão da União, dos estados,
do Distrito Federal e dos municípios para criarem tributos. Tal competência enseja amplos poderes
sobre as decisões relativas aos tributos do agente estatal, apesar de que existirem algumas limitações
de tal competência presentes no texto da Constituição Federal.

Dessa forma, podemos afirmar que a Constituição Federal apenas outorga competência para que os
órgãos estatais possam criar os seus tributos, não estabelecendo os tributos em si. Tal atribuição é
delegada às leis ordinárias ou complementares, conforme o caso do tributo.

Assim, podemos inferir que a competência tributária, em seu exercício, seria o de proporcionar o
nascimento, no plano abstrato, dos tributos.

Apenas as pessoas políticas, que são a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, têm
a competência tributária, uma vez que apenas eles detêm o poder de fazer as leis (atribuição
legislativa).

Normalmente, aquele que tem a competência é conhecido como o sujeito ativo da relação jurídica
tributária, pois ele tem capacidade tributária ativa, que é a aptidão, também, para cobrar o tributo.
Porém, não há impedimento de que a pessoa política, por meio de lei, possa delegar sua capacidade
tributária ativa a terceiros, sendo que estes passam a ser sujeitos ativos desses tributos.

Podemos dizer que a competência tributária tem a característica de ser privativa


ou exclusiva; incaducável; de exercício facultativo; inampliável; irrenunciável;
indelegável.

»» Incaducável: a competência tributária não tem prazo final para ser realizada, uma
vez que se trata de competência legislativa e, assim, não pode haver prazo para que
esta possa ser exercida. Contudo, de forma adversa da competência tributária, a
capacidade tributária ativa pode prescrever em 5 anos, ou seja, as ações para que
sejam cobrados os créditos tributários prescrevem em 5 anos, conforme o Código
Tributário Nacional, em seu artigo 174.

»» Exercício facultativo: a pessoa política não é obrigada a exaurir a sua competência,


sendo que o não exercício da competência tributária não difere a pessoa jurídica
de direito público diversa daquela a que a Constituição tenha atribuído. Em outras
palavras, se o órgão responsável deixou de criar, uma outra pessoa política não
poderá tratar do mesmo assunto. Contudo, a competência para criar ICMS é de
exercício obrigatório, apresentando características essencias e caráter uniforme,
independendo de convênios que possam serem firmados entre os estados.

»» Inampliável: não pode ser ampliada por meio de decisão unilateral da própria pessoa
política tributante, sendo que a competência tributária pode apenas ser ampliada
por meio de Emenda Constitucional.

71
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

»» Irrenunciável: a pessoa política não pode abrir mão da competência tributária a ele
atribuída em caráter definitivo.

»» Indelegável: cada pessoa política tem a sua própria competência tributária e esta
não pode ser traslada nem mesmo por meio de lei. Se as pessoas tributam por
delegação constitucional não podem delegar aquilo que já lhes foi delegado.

Todavia, no Código Tributário, em seu artigo 7o, é prescrito que a competência tributária é
indelegável, salvo nos casos de atribuição das funções de arrecadação ou fiscalização de tributos, na
execução de leis, atos ou decisões administrativas em matérias tributárias. Dessa forma, podemos
confirmar que a capacidade tributária ativa pode ser delegada.

»» Privativa ou Exclusiva: refere-se aos impostos, sendo que o Direito Tributário não
distingue entre a competência privativa e a exclusiva.

»» Comum: refere-se às taxas e às contribuições de melhoria.

A competência tributária é obrigatória, sendo constituídos requisitos essenciais de responsabilidade


na gestão fiscal a instituição, a previsão e a efetiva arrecadação de todos os tributos da competência
constitucional, conforme a Lei Complementar no 101/2000, em seu artigo 11.

No que se refere aos impostos, a Constituição Federal fez uso de dois critérios para caracterizar a
competência tributária como privativa:

»» critério material de repartição de competências impositivas, sendo que a Constituição


Federal estabeleceu a competência de cada uma das pessoas políticas, de tal forma
que uma não pode invadir a esfera da outra quando criar o tributo. Assim, só podem
tributar os fatos descritos na hipótese de incidência dos seus impostos, que evitam
conflitos entre União, estados, Distrito Federal e municípios;

»» critério territorial de repartição de competência impositivas, onde a pessoa política


pode tributar apenas os fatos ocorridos em seu território.

Competência Extraordinária ou Especial


A União poderá instituir impostos extraordinários ou de guerra, compreendidos diretamente ou
não em sua competência tributária, nos termos do artigo 154 da Constituição Federal.

Competência Residual
Por competência residual, conforme o artigo 154 da Constituição Federal, a União pode, via lei
complementar, instituir outras contribuições de cunho social, a fim de expandir a Seguridade Social
ou, ainda, outros impostos, desde que não sejam cumulativos e não possam ter fato gerador ou base
de cálculo que seja a mesma dos impostos já existentes.

72
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III

Competência Cumulativa
A chamada competência cumulativa, conforme descrito no artigo 32 da Constituição Federal, decorre
do fato de ser de atribuição da União, em território federal, a cobrança dos impostos estaduais, se
esse território não estiver subdividido em municípios, apresentando de forma cumulativa também
os impostos municipais. Dessa forma, compete ao Distrito Federal a cobrança dos impostos de
caráter estadual e municipal.

Repartição de Competências
A autonomia das Entidades Federativas, no exercício e desenvolvimento de suas atividades,
pressupõe a repartição de suas competências.

73
CAPÍTULO 2
O Sistema Tributário Nacional
O Sistema Tributário Nacional é o conjunto de princípios gerais, das limitações do
poder de tributar, de atribuição da competência tributária privativa (discriminação
de rendas) entre União, estados, Distrito Federal e municípios e da repartição das
receitas tributárias.
Cassone (2008)

Definições
Podemos entender como sendo o Sistema Tributário Nacional o conjunto das disposições contidas
na Constituição Federal, nos artigos 145 a 162. Além desses, existem outras citações constitucionais
que aludem aos tributos, como o artigo 195.
Essas disposições citam os aspectos estruturais básicos desse ordenamento jurídico e tributário
brasileiro, que apresentam regras que devem ser observadas pelos legisladores, pelo Poder Judiciário
e pela administração tributária, a fim de exercerem suas funções. Desse modo, o Poder Fiscal,
corresponde à atribuição que o Estado apresenta de poder criar tributos e exigi-los das pessoas que
se estejam dentro de sua Soberania Nacional.
Assim, o Sistema Tributário Nacional está baseado na coexistência de quatro outros sistemas
tributários, de funcionamento autônomo, que são o Federal, o Estadual, o Municipal e o do Distrito
Federal. Dessa forma, a consolidação dos impostos apresenta naturezas semelhantes, em suas
formas unitárias e quando levamos em conta suas bases econômicas.
Podemos dizer que o Sistema Tributário Nacional é composto pela instituição de taxas, impostos e
contribuições especiais, parafiscais, especiais, de melhoria e os empréstimos compulsórios.

Taxas
As taxas são atribuídas mediante um serviço prestado pelo Estado ou, simplesmente, por esse ter
sido deixado à disposição do contribuinte, ou o exercício regular do poder de polícia, sendo que
poderão ser criadas pela União, pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios, desde que
limitados às suas atribuições.

Impostos
Os impostos são os tributos em que sua obrigação tem por fato gerador uma situação independente
de qualquer atividade estatal. Eles podem ser, por exemplo, sobre produção e circulação de
mercadorias, comércio exterior, sobre a renda e o patrimônio, sobre combustíveis fósseis, energia
elétrica, minerais, extraordinários.

Como vimos, a Constituição Federal concede uma permissão para criar novos impostos, a chamada
competência residual.

74
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III

Contribuições Parafiscais
As contribuições parafiscais apresentam como característica o fato de serem tributos que, às vezes,
têm o comportamento de uma taxa ou de um imposto e, outras vezes, podem ser um misto de taxa e
imposto. São, por delegação, arrecadados por algumas entidades beneficiárias, tais como sindicatos
e entidades profissionais ou econômicas, contribuições do INSS etc.

Contribuições de Melhoria
As contribuições de melhoria são as que podem ser exigidas e criadas pela União, pelos estados, pelo
Distrito Federal e, também, pelos municípios, considerando que ocorra algum tipo de obra pública
e da qual possa decorrer algum tipo de benefício para os proprietários dos imóveis.

Empréstimos Compulsórios
Os empréstimos compulsórios são os tipos de tributo que podem ser criados no caso de incorrerem
investimentos públicos. Tal tributo, dessa forma, possui uma natureza contratual.

Elementos Fundamentais do Tributo

“Denomina-se fato gerador [de um tributo] a concretização da hipótese de incidência


tributária prevista em abstrato na lei, que gera (faz nascer) a obrigação tributária”.

Fabretti (1999, p. 125)

Fato Gerador
O fato gerador corresponde à concretização da hipótese da incidência tributária prevista em abstrato
na lei que cria a obrigação tributária.

Contribuinte ou Responsável
O contribuinte é o sujeito passivo da obrigação tributária que tem relação pessoal e direta com o fato
gerador. Assim, denomina-se responsável a pessoa que a lei escolher para responder pela obrigação
tributária, em substituição ao contribuinte de fato, dada a maior complexidade para alcançá-lo.

Os responsáveis não arcam com o ônus tributário, que é suportado pelo contribuinte de fato. Atua
como uma espécie de agente arrecadador do fisco e como seu depositário. Cabe-lhe recolher as
importâncias descontadas ou cobradas do contribuinte de fato, ao Fisco, nos prazos de lei. Não o
fazendo, será declarado depositário infiel, sujeito à pena de prisão (Lei no 8.866/1994).

75
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Base de Cálculo
Corresponde ao valor sobre o qual se aplica o percentual, com a finalidade de apurar o montante
a ser recolhido. A base de cálculo, segundo a Constituição Federal, precisa ser definida em lei
complementar, estando sua alteração sujeita aos princípios Constitucionais da legalidade (que se
refere à mudança somente por outra lei), de anterioridade (no qual a lei deve estar vigente antes de
iniciada a ocorrência do fato gerador) e da irretroatividade (de que a norma não pode atingir fatos
passados).

Dessa forma, lei complementar deverá definir claramente quais os critérios para a determinação da
base de cálculo.

Elementos Complementares
“[Alíquota] é o percentual definido em lei que aplicado sobre a base de cálculo
determina o montante do tributo a ser pago”.

Fabretti (1999, p. 128)

Alíquota
Após ser conhecida a base de cálculo, o contribuinte deverá aplicar sobre esse valor encontrado as
alíquotas tributárias referentes ao tributo a ser pago por ele, sabendo-se que cada tributo apresenta
sua própria alíquota. Alguns tributos, porém, podem ter alíquotas diferentes para o mesmo produto.

A alíquota corresponde ao fator definido em lei, que é aplicado sobre a base de cálculo. Ele determina
o montante do tributo a ser pago.

Assim, a lei pode estabelecer uma tabela progressiva em que a alíquota vai sendo elevada, incidindo
sobre faixas de valores cada vez maiores. As alterações de alíquotas também estão sujeitas aos
princípios constitucionais da legalidade, da anterioridade e da irretroatividade.

Adicional
A lei poderá determinar o pagamento de mais um valor, sob o nome de adicional, que incide sobre
determinada base de cálculo que ela fixar.

Prazo de Pagamento
O prazo de pagamento pode ser fixado pelo ente competente para arrecadar o tributo, por lei
ordinária.

76
CAPÍTULO 3
O Processo de Planejamento Tributário
de Pessoa Jurídica

As responsabilidades do contador quanto à contabilidade fiscal são: o registro


contábil das provisões relativas aos tributos a recolher, conforme os Princípios
Fundamentais de Contabilidade; a orientação, o treinamento e a constante supervisão
dos funcionários do setor de impostos; o controle dos prazos de recolhimento dos
diversos tributos; e a orientação fiscal para as demais unidades da empresa (filiais,
fábricas, departamentos) ou das empresas coligadas e controladas.

Oliveira (1998, p. 24)

Atividades de um Planejamento Tributário


Segundo Andrade Filho (2006), uma das maneiras de se estabelecer as bases de um bom
planejamento tributário nas empresas seria instituir uma plataforma denominada de “Inteligência
Tributária”, por meio de um departamento próprio de análise e criação.

Assim, tal departamento poderia viabilizar estudos relacionados ao impacto dos tributos sobre as
operações da empresa, bem como do setor em que ela atua, com proposição de alternativas lícitas
de redução da carga tributária.

As melhores práticas, nesse caso, estariam baseadas em análises das perspectivas feitas de forma
permanente e ao mesmo tempo flexível, de modo a permitir que as decisões empresariais mais
relevantes sejam tomadas, levando-se em consideração os custos tributários diretos ou indiretos.

Para Machado (2006), a competitividade nos negócios requer cada vez mais esforços criativos,
inovadores e dinâmicos de estratégia das empresas. É sob esse aspecto que o planejamento tributário
deve ser visto pelos empresários e gestores de negócios, cabendo ao empresário, auxiliado por seu
advogado, administrador e contador, observar as limitações previstas na legislação tributária e
delinear as estruturas e formas legítimas para suas operações industriais e mercantis.

Nas atividades gerenciais, o administrador muitas vezes tem o tributo como variável de
grandes reflexos nos preços. Os impostos como o ICMS e as contribuições para o PIS/COFINS
destacam-se por ter alíquotas médias de grande repercussão nos preços finais, dependendo da
extensão da cadeia produtiva. Nesse sentido, torna-se importante para o gestor tributário tomar
providências buscando alternativas por meios legais, a fim de poder desonerar ao máximo
possível essa variável.

77
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Principais Funções e Atividades de um


Planejamento Tributário
O Gerenciamento das Obrigações Tributárias corresponde a algo estratégico dentro das empresas de
médio e grande portes, em qualquer ramo de atividade, não sendo uma mera atividade quotidiana.

Assim, o gerenciamento contábil e financeiro dos impostos e dos demais tributos corresponde a um
dos fatores que penalizam a maioria das empresas com grandes dispêndios e demandam desgaste
de recursos em seu gerenciamento. Dessa forma, aumenta a responsabilidade dos gestores da
empresa que, além das preocupações inerentes ao negócio, precisam se preocupar com os prazos e
dispêndios em seus fluxos de caixa.

Os profissionais que irão realizar o planejamento tributário precisam conhecer mais que outros
empregados das áreas administrativas ou financeiras, pois devem conhecer a Legislação Tributária,
suas particularidades e se preocupar com a eficácia dos controles e agendamentos utilizados para
exercer esse gerenciamento (PEREZ, 2003).

Na ocorrência de alguma falha mais relevante na interpretação de uma lei ou na aplicação de


normativos tributários, poderá penalizar a empresa com multas ou causar possíveis prejuízos.

Elisão e Evasão Fiscais


A elisão fiscal é a maneira legal de uma empresa equacionar os gastos com a carga tributária ou
exercer a economia legal ou o planejamento tributário. Assim, trata-se de um conjunto de sistemas
legais que visam a minimizar legalmente o pagamento de tributos.

Entende Fabretti (2004) que a elisão fiscal ou elisão tributária corresponde a uma forma de
“economia lícita de tributos”, na qual o contribuinte prescinde de realizar determinadas operações
ou as executa de forma menos onerosa ou racional, em consonância com alguma lacuna na lei ou
dispositivo legal.

Assim, corresponde exclusivamente à utilização de mecanismos ou ferramentas lícitas, as quais


são admitidas na legislação ou, pelo menos, não exista algo expresso contra seu uso, como, por
exemplo, as opções de escolha entre o lucro presumido ou o real, no caso de empresas. Para tanto,
são necessárias simulações e cálculos anteriores que baseiem tais escolhas como sendo as melhores.
De acordo com Almeida (1998, p. 237) “[...] o controle pode ser definido como uma função do
processo administrativo que, mediante a comparação com padrões previamente estabelecidos,
procura medir e avaliar o desempenho e o resultado das ações”.

Segundo Oliveira (2005, p. 182), para se adotar um sistema de economia de tributos é necessário
que as empresas possam se utilizar de alguns meios ou de instrumentos. A partir daí, poderiam agir,
conforme o caso, segundo estas análises.

»» Econômico-Financeira.

»» Corresponde a adotar procedimentos que visem a maximizar o resultado do


planejamento. Por exemplo: na maioria das vezes o depósito judicial é prejudicial

78
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III

à empresa, pois, além do desencaixe do valor, a empresa não poderá deduzir como
despesas operacionais; entretanto, o rendimento produzido pelo depósito deverá
ser contabilizado como receitas financeiras, que servirão de base de cálculo do
PIS/COFINS.

»» Jurídica.

»» Equivale a procurar sempre a existência de um fundamento jurídico a ser alegado,


pois o CTN estabelece que somente se pode operar compensação de imposto após o
trânsito em julgado da ação.

»» Fiscal.

»» É necessário que as obrigações acessórias sejam cumpridas em ordem, a fim de não


desencadear processos de fiscalização.

»» Fiscos-Contábeis.

»» Corresponde a adotar procedimentos pelos quais seja permitida a economia de


outros tributos, buscando a maximização do lucro e a minimização do risco.

Como Elaborar o Planejamento

O planejamento não se interessa por sonhar vãs utopias, distanciadas da


ação corrente; não chega às decisões de rotina, nem resoluções apressadas.
O planejamento difere da lei, da política, da administração. Não obstante, ele
deverá estar estreitamente associado aos três para o fim de desempenhar suas
tarefas.
Almeida (1999, p. 23).

Para Oliveira (2005), ao serem considerados os efeitos fiscais no tempo, existem três tipos de
Planejamento Tributário.

»» Preventivo – quando este for desenvolvido continuadamente por meio de orientações,


manuais de procedimentos e reuniões dos especialistas contábeis e tributários,
abrangendo, principalmente, as atividades responsáveis pelo cumprimento da
Legislação Tributária.

»» Corretivo – ao serem detectadas anormalidades, inicia-se um estudo elencando as


possíveis alternativas de correção desses problemas. Dessa forma, podemos inferir
que, em empresas que possuem o tipo preventivo de Planejamento Tributário, não
deveria existir esse tipo corretivo.

»» Especial – surge de uma eventualidade, de algo novo que necessite de um


planejamento tributário adicional, como em casos de aquisição de empresas,
abertura de filiais, alienações, incorporações ou fusões e, até mesmo, no lançamento
de novos produtos.

79
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Assim, podemos desenvolver um planejamento tributário, a priori, em qualquer empresa, desde


que seja compatível com o tipo de operações que ela exerce, com o tamanho de suas receitas, com
incentivos fiscais a que tem direito (se o tiver), com pagamentos de juros sobre capital e outros
aspectos relevantes que devem ser considerados para sua elaboração.

Um planejamento tributário, segundo Oliveira (1988), apresenta como característica básica a


existência de uma estratégia e do risco. Assim, quase sempre existe a probabilidade da ocorrência
de erros ou de acertos e, para tanto, devem ser realizadas simulações diversas que garantam ao
máximo o sucesso dessa tarefa.

Assim, a realização de um planejamento tributário envolve a existência e a escolha de uma


metodologia de desenvolvimento concisa, a fim de evitar possíveis falhas.

Na opinião de Oliveira (1998), basicamente, uma metodologia compreende algumas fases as


quais devem ser observadas pelas empresas que querem realizar esse tipo de planejamento, sendo
a primeira delas a de analisar a situação atual da empresa, para que se possa determinar qual o
caminho e os passos que precisam ser seguidos para atingir os objetivos que serão estabelecidos.
A segunda fase diz respeito à definição dos objetivos estratégicos do planejamento tributário e as
concernentes metas a serem atingidas. Muitas vezes, ao ser realizada a análise da situação, alguns
objetivos são revistos ou postergados, o que leva alguns autores a colocar a fase de análise situacional
como a primeira.

A partir daí, podemos citar os seguintes passos, constantes de uma metodologia básica de
planejamento tributário.

1. Análise da Situação – procede-se a um diagnóstico da empresa

Esta etapa é composta de elementos primordiais que facilitam a sua correta elaboração
e, assim, permitam a efetividade do planejamento, os quais são:

›› elencar a Missão do Planejamento – que deve ser clara, correspondendo aos


objetivos da empresas, otimizada à satisfação das necessidades implícitas do
planejamento;

›› levantar o Cenário Econômico Atual – avaliar medidas adotadas pelas políticas


governamentais e pela legislação;

›› definir o Propósito – corresponde à explicitação dos objetivos dentro da missão,


devendo agrupar o maior número de informações do setor em que a empresa
está inserida, no intuito de servir-se delas para a análise da situação.

2. Premissas

Há também a necessidade de que a equipe que estiver envolvida nos procedimentos


de planejamento tributário possa realizar uma revisão na estrutura empresarial e

80
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO│ UNIDADE III

organizacional atual, a fim de identificar possíveis falhas em processos de apuração,


registro ou controle, que necessitem ser corrigidas.

Levando em consideração o plano estratégico a ser adotado pela empresa para o ano em
que irá se iniciar, a equipe de planejamento precisa mapear as atividades operacionais de
todos os departamentos de uma forma mais detalhada, ou pelo menos revisá-los, para,
assim, ter subsídios na formulação de estratégias tributárias a serem aplicadas no ano
vindouro. Importante lembrar que, se os processos estiverem com problemas, alguns
impostos, taxas e tributos podem estar sendo superestimados ou, mesmo, subestimados
(ocasionando futuras multas ou problemas com fiscalização).

3. Estabelecimento dos Objetivos Estratégicos

Segundo Anthony e Govindarajan (2006), são realizados levantamentos a fim de


determinar quais são os problemas atuais e futuros, e, com base neles, se estabelecer
o objetivo estratégico do planejamento tributário. Por exemplo, a necessidade de ser
equacionada a carga fiscal do PIS e do COFINS em uma indústria, ou mesmo, minimizar
as contingências tributárias a fim de aumentar a competitividade da empresa no seu
mercado.

Nessa fase, é necessário que os objetivos sejam predeterminados e controlados por


prazos e cumpridos na forma de um cronograma, com revisão periódica, a fim de que se
tenha grandes possibilidades de sucesso do planejamento.

4. Escopo do planejamento

No entender de Almeida (1998), outro aspecto primordial é o de identificar o que poderá


ser feito e em qual prazo e, principalmente, o que ainda não poderá ser realizado. Tal
esforço poderá mexer com a sinergia de diversos departamentos em uma empresa,
envolvendo-os com o intuito de ser estabelecida uma base conceitual sólida para a análise
do processo decisório com relação ao pagamento de tributos e seu controle.

Um bom planejamento permite, em seu processo, o envolvimento da maioria dos


segmentos da empresa e da revisão dos processos e, principalmente, da maneira como
estão sendo feitos os trabalhos, a fim de identificar possíveis vazamentos ou erros
contábeis ou financeiros. Além disso, a definição do escopo do planejamento (o que esse
vai fazer e o que não vai ou não pode realizar) é fundamental para o atingimento dos
resultados esperados.

A partir daí, a empresa poderá adotar os caminhos a serem trilhados e o desenvolvimento


de um plano de ação que contemple os passos necessários a atingir seus objetivos. Devido
à área fiscal ser bastante complexa, será imprescindível estudar detalhadamente a
legislação tributária. Além disso, deverá ter rigor para efetuar a apuração dos resultados
da empresa do ano que irá findar, a fim de ser possível a realização de uma projeção para
o próximo ano.

81
UNIDADE III │ PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Para Almeida (1998), se a empresa for, por exemplo, uma indústria, uma alternativa que
deverá ser considerada no processo de planejamento são as ações que possam reunir
possíveis configurações da empresa e simulações, sobretudo considerando o mercado e
seu produto.

Conforme afirma Welsch (1983), as novas potencialidades de lucro a partir desse


planejamento devem ser elencadas, bem como estabelecidos os objetivos relevantes
para a empresa. Assim, segundo esse autor, as etapas dessas tarefas de planejamento
poderiam considerar:

›› a organização – com a subdivisão das tarefas e atribuição de papéis aos


envolvidos;

›› a formação de equipe, a fim de avaliar e definir objetivos e necessidades;

›› as formas de liderança e dinâmica na implantação e execução dos planos;

›› o controle contínuo do processo, aperfeiçoando-o no que for possível.

Riscos
Outro fator que sempre precisa ser considerado é o risco, que pode ser caracterizado como
a possibilidade de ocorrência de um acontecimento incerto ou eventual, o qual pode ocorrer
independente da vontade dos realizadores do planejamento, e, assim, representa um dos aspectos
mais fortes do planejamento.

Pode-se afirmar que, em todo planejamento, incorrem riscos e que pode haver falha em sua
elaboração ou execução. Assim, os profissionais que elaboram o planejamento tributário devem
considerar tais possibilidades e, sobretudo, estar atualizados com a legislação vigente, pois existe
a possibilidade de questionamentos por parte das autoridades fiscais, principalmente quando uma
empresa consegue uma boa compensação que possa ser desfavorável aos cofres públicos, ensejando
uma fiscalização mais enérgica sobre ela.

82
PLANEJAMENTO UNIDADE IV
TRIBUTÁRIO

CAPÍTULO 1
Introdução ao Mercado de Capitais

Sistema Financeiro Nacional


Sistema Financeiro é um conjunto de instituições cuja função é promover e facilitar a transferência
de recursos dos agentes superavitários3 para os agentes deficitários4 da economia.

Os padrões do atual Sistema Financeiro Nacional foram estabelecidos por meio da Lei no 4.595, de
1964, denominada Lei de Reforma Bancária, e basearam-se no Sistema Financeiro Americano, em
que as instituições são separadas pelas funções que atendem.

O Sistema Financeiro Brasileiro é segmentado em quatro grandes mercados:

»» Mercado de Capitais: tem como principal objetivo canalizar recursos de médio


e longo prazos para os tomadores de recursos (agentes deficitários), por meio das
operações de compra e de venda de títulos e valores mobiliários, efetuadas entre
empresas, investidores e intermediários. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
é o principal órgão responsável pelo controle, normatização e fiscalização desse
mercado.

»» Mercado de Câmbio: é o mercado em que são negociadas as trocas de moedas


estrangeiras por moeda nacional. O Banco Central do Brasil (Bacen) é o responsável
pela administração, fiscalização e controle das operações de câmbio. O Bacen atua
nesse mercado por meio de instrumentos de Política Cambial.

»» Mercado Monetário: é o mercado em que se concentram as operações para


controle da oferta monetária (meios de pagamento)5 e das taxas de juros de curto
prazo. O Bacen atua nesse mercado utilizando instrumentos de Política Monetária.
3 São aqueles com recursos financeiros excedentes.
4 São aqueles com falta de recursos.
5 Os meios de pagamento são ativos de liquidez imediata. São o papel-moeda em poder do público (moeda manual) e os depósitos
a vista do público nos bancos comerciais (moeda escritural).

83
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

»» Mercado de crédito: atuam nesse mercado diversas instituições financeiras e não


financeiras prestando serviços de intermediação de recursos de curto e médio prazos
para tomadores de recursos (agentes deficitários) que necessitam de recursos para
consumo ou capital de giro. O Bacen é o principal órgão responsável pelo controle e
fiscalização desse mercado.

Estrutura do Sistema Financeiro Nacional

SUBSISTEMA NORMATIVO
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
SUBSISTEMA DE INTERMEDIAÇÃO

Subsistema Normativo

CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL COMISSÕES CONSULTIVAS

BANCO CENTRAL

SUBSISTEMA NORMATIVO

COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS BANCO DO BRASIL

Responsável pelo
funcionamento do mercado
financeiro INSTITUIÇÕES ESPECIAIS BNDES

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Subsistema Normativo

Conselho Monetário Nacional


O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o conselho de política econômica nacional, responsável
pela fixação das normas de política monetária, creditícia e cambial do País. É o órgão normativo
máximo do Sistema Financeiro Nacional. Foi criado em 1964 pela Lei no 4.595 (Lei de Reforma
Bancária).

Atualmente, o CMN é composto por três membros:

»» Ministro da Fazenda (Presidente).

»» Ministro do Planejamento Orçamento e Gestão.

»» Presidente do Banco Central.

São as atribuições principais do CMN:

»» Política Monetária – Adaptar o volume de meios de pagamento as reais necessidades


da economia.

84
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV

»» Política Creditícia – Fixar as normas da política crediticia e zelar pela liquidez e


solvência das instituições financeiras.

De que forma o CMN fixa as normas de política monetária e creditícia?

»» Autorizando a emissão de papel moeda.

»» Determinando as taxas de recolhimento compulsório.

»» Regulamentando as operações de redesconto.

»» Aprovando os orçamentos monetários do governo.

»» Disciplinando todos os tipos de crédito.

»» Regulamentando as remunerações das instituiçoes financeiras, sobretudo as taxas


de juros.

»» Política Cambial – Regular o valor da moeda nacional.

De que forma o CMN fixa as normas de política cambial?

Estabelecendo as diretrizes da política cambial e regulamentando as operações de câmbio.

Banco Central do Brasil


O Banco Central do Brasil é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda e foi criado
em 1964 pela Lei no 4.595, em substituição à Superintendencia da Moeda e do Crédito (SUMOC).
É o orgão executor das normas que regulam o Sistema Financeiro Nacional. Também é um orgão
fiscalizador do mercado financeiro.

Atribuições Principais:

»» Emitir moeda nos limites autorizados pelo CMN.

»» Banqueiro do Governo.

»» Banco dos Bancos.

»» Executor da política monetária.

»» Controlar a liquidez do mercado.

»» Controlar o fluxo de capital estrangeiro.

Comissão de Valores Mobiliários


A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é um orgão que fixa normas para o mercado de valores
mobiliários. É uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda e foi criada em 1976 pela Lei no
6.385. A CVM é administrada por um presidente e quatro diretores nomeados pelo presidente da
República, depois de terem seus nomes aprovados pelo Senado.

85
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Valor Mobiliário: Conceito


Valor mobiliário é todo investimento em dinheiro ou em bens suscetíveis de avaliação monetária,
realizado pelo investidor em razão de uma captação pública de recursos, de modo a fornecer capital
a um empreendimento, em que ele, o investidor, não tem ingerência direta, mas do qual espera
obter ganho ou benefício futuro.

Entre os valores mobiliários mencionados na Lei no 6.385/76 (versão consolidada pela Lei no
10.303/2004), estão as emissões de responsabilidade das empresas como, por exemplo, as ações,
debêntures e bônus de subscrição.

Os objetivos principais da CVM são:

»» Incentivar a poupança no mercado acionário.

»» Estimular o funcionamento das bolsas de valores e das instituições operadoras do


mercado acionário.

»» Assegurar a lisura nas operações de compra e venda de valores mobiliários.

»» Promover a expansão dos negócios do mercado acionário.

»» Proteger aos investidores do mercado acionário.

»» Assegurar a publicidade das informações prestadas pelas companhias abertas.

Atuação da CVM

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO MERCADO

CVM COMPANHIAS DE CAPITAL ABERTO

INVESTIDORES

Banco do Brasil
O Banco do Brasil (BB) é uma sociedade de economia mista, controlada pela União. Até 1986 foi
considerada uma autoridade monetária, atuando na emissão de moeda. O privilégio foi revogado
por decisão do CMN.

Atribuições Principais:

»» Agente financeiro do Governo Federal: na execução de sua política creditícia


e financeira sob a supervisão do CMN.

»» Banco Comercial: pode exercer atividades próprias dessas instituições.

»» Banco de Investimento e Desenvolvimento: financia atividades rurais,


industriais, comerciais e de serviços, além de fomentar a economia de diferentes
regiões.

86
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV

BNDES
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma empresa pública
vinculada ao Ministério do Planejamento. É o principal instrumento de médio e longo prazos para
a execução da política de financiamento do Governo Federal.

Objetivo principal: reequipar e fomentar empresas de interesse ao desenvolvimento do país.

Atua por meio de seus agentes financeiros, pagando uma comissão chamada del credere. Esses
agentes são corresponsáveis na liquidação da dívida junto ao BNDES.

Estrutura Atual do BNDES

BNDES

FINAME EMBRAMEC FIBASA IBRASA

FUSÃO

BNDES PARTICIPAÇÕES

Caixa Econômica Federal


As caixas econômicas são instituições financeiras públicas, autônomas e que apresentam um claro
objetivo social.

A Caixa Econômica Federal (CEF) é uma empresa pública que executa atividades características
dos bancos comerciais e múltiplos. É o principal agente do Sistema Financeiro de Habitação (SFH),
atuando no financiamento da casa própria.

O SFH foi criado em 1964 e, com a extinção do BNH, a CEF se transformou no seu órgão executivo.
Os recursos para o SFH são originados do FGTS, de cadernetas de poupança e de fundos próprios
dos agentes financeiros.

Outros objetivos da Caixa Econômica Federal:

»» Administrar com exclusividade os serviços de loterias federais.

»» Constituir-se no principal arrecadador do FGTS.

»» Ter o monopólio das operações de penhor, que são empréstimos garantidos com
bens de valor e alta liquidez como joias, metais preciosos, pedras preciosas etc

87
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Subsistema de Intermediação

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

INSTITUIÇÕES AUXILIARES

SUBSISTEMA DE INTERMEDIAÇÃO
SISTEMA BRASILEIRO DE POUPANÇA E EMPRÉSTIMO

INSTITUIÇÕES NÃO FINANCEIRAS


Composto pelas instituições bancárias e
não bancárias que atuam em operações de
intermediação financeira

Subsistema de Intermediação

Instituições Financeiras

Bancos Múltiplos

Os Bancos Múltiplos surgiram em 1988, a partir da Resolução no 1.524 do Banco Central, e são
formados com base nas atividades de quatro instituições: banco comercial, banco de investimento
e desenvolvimento, sociedade de crédito, financiamento e investimento e sociedade de crédito
imobiliário.

Para ser configurada como Banco Múltiplo, uma instituição deve operar pelo menos duas das
carteiras mencionadas, sendo uma delas a de Banco Comercial ou de Banco de Investimento.

Sua criação foi uma evolução do mercado, que mostrava que a segregação de operações impunha
restrições ao setor financeiro. A vantagem é o ganho de escala que tais bancos alcançam.

Características dos Bancos Comerciais e de Investimentos:

Bancos Comerciais: os Bancos Comerciais são intermediários financeiros que transferem


recursos dos agentes superavitários para os deficitários, mecanismo esse que acaba por criar moeda
por meio do efeito multiplicador6. Os Bancos Comerciais podem:

»» Descontar títulos.

»» Realizar operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente.

»» Realizar operações especiais de crédito rural, de câmbio e comércio internacional.

»» Captar depósitos à vista e a prazo fixo.

6 Os depósitos bancários permitem que os bancos tenham recursos para emprestar aos seus correntistas, em um mecanismo que
acaba multiplicando os meios de pagamento de um país. O efeito multiplicador nada mais é do que o coeficiente que mede a taxa
de expansão dos meios de pagamento da moeda criada pelos depósitos bancários.

88
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV

»» Obter recursos junto às instituições oficiais para repasse aos clientes etc.

Bancos de Investimentos: os Bancos de Investimentos captam recursos por meio da emissão


de CDB e RDB, da captação e repasse de recursos e da venda de cotas de fundos de investimentos.
Esses recursos são direcionados a empréstimos e financiamentos específicos à aquisição de bens de
capital pelas empresas ou subscrição de ações e debêntures.

Instituições Auxiliares

INSTITUIÇÕES AUXILIARES

SOCIEDADES SOCIEDADES AGENTES


BOLSA DE VALORES
CORRETORAS DISTRIBUIDORAS AUTÔNOMOS

Bolsa de Valores: proporcionam liquidez aos títulos negociados, atuando por meio de pregões
contínuos. Têm responsabilidade pela fixação de preços justos, formados pelo mecanismo da oferta
e da demanda. Obrigam-se a divulgar todas as operações realizadas no menor tempo possível
(tempo real).

Atuam em diversos tipos de mercados:

»» À vista.

»» A termo.

»» Opções.

»» Futuros.

Sociedades Corretoras: operam com títulos e valores mobiliários por conta própria e de terceiros
e têm exclusividade para executar a intermediação nos pregões das bolsas de valores.
São instituições que dependem do Bacen para constituírem-se e da CVM para o exercício de suas
atividades. Elas também podem:

»» Promover ou participar de lançamentos públicos de ações.

»» Administrar e custodiar carteiras de títulos e valores.

»» Organizar e administrar fundos e clubes de investimento.

»» Efetuar a intermediação em títulos e valores mobiliários.

»» Efetuar a compra e venda de metais preciosos.

»» Operar em bolsas de mercadorias e futuros.

»» Operar em câmbio.

»» Prestar assessoria técnica em assuntos inerentes ao mercado financeiro.

89
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Sociedades Distribuidoras: seus objetivos são semelhantes aos das Sociedades Corretoras.
Entretanto, tais instituições não têm acesso às bolsas como as Sociedades Corretoras e suas
principais funções são:

»» Intermediação em títulos e valores mobiliários de renda fixa e variável.

»» Operações no mercado aberto.

»» Participação em lançamento público de ações.

Agentes Autônomos de Investimentos: são pessoas físicas credenciadas pelas Instituições


Financeiras intermediadoras para atuarem na colocação de títulos e valores mobiliários e outros
serviços, pelo recebimento de uma comissão.

Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo

SBPE

ASSOCIAÇÕES
SOCIEADES DE CRÉDITO
CEF DE POUPANÇA E BANCOS MÚLTIPLOS
IMOBILIÁRIO
EMPRÉSTIMO

A captação de recursos dessas instituições é feita por meio das cadernetas de poupança e dos fundos
provenientes do FGTS.

Instituições Não Financeiras

Sociedades de Fomento Comercial: conhecidas como empresas de factoring, são empresas


comerciais que operam por meio da compra de duplicatas, cheques e outros títulos, de forma similar
ao desconto bancário. A empresa de factoring assume o risco do título negociado.

»» Seus recursos são provenientes de empréstimos bancários ou fundos próprios.

Empresas Seguradoras: são consideradas parte do sistema financeiro porque têm a obrigação
de aplicar parte de suas reservas no mercado de capitais.

Política Fiscal e Monetária

Política Fiscal
É a ação do Governo no que concerne às receitas e despesas.

»» Receitas: todos os recursos que ingressam nos cofres públicos num determinado
período de tempo. As principais fontes de receita são:

90
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV

›› arrecadação de tributos; e.

›› venda e concessão de serviços públicos.

»» Despesas: tudo o que o governo gasta num determinado período de tempo. As


principais despesas do governo são:

›› pagamento da folha dos funcionários;

›› manutenção da máquina administrativa;

›› gastos com investimentos públicos (gastos do governo).

A Política Fiscal pode ser contracionista ou expansionista. Uma política contracionista reduz a
quantidade de moeda em circulação, enquanto que uma política expansionista aumenta a quantidade
de moeda em circulação.

Para fazer política fiscal, o governo conta com alguns instrumentos, como por exemplo:

»» aumento/diminuição das alíquotas dos tributos;

»» aumento/diminuição dos gastos públicos;

»» aumento/diminuição da concessão de subsídios;

»» aumento/diminuição das transferências financeiras.

Exemplos de políticas fiscais contracionistas:

»» quanto maior a carga tributária, menos recursos terão os agentes econômicos7 para
consumir e investir.

»» quanto menor o gasto público, menos empregos são gerados e menos recursos terão
os agentes econômicos para consumir.

»» quanto menor a concessão de subsídios, menos recursos terão os agentes econômicos


para consumo e investimento.

Exemplos de políticas fiscais expansionistas:

»» quanto menor a carga tributária, mais recursos terão os agentes econômicos para
consumir e investir.

»» quanto maior o gasto público, mais empregos são gerados e mais recursos terão os
agentes econômicos para consumir.

»» quanto maior a concessão de subsídios, mais recursos terão os agentes econômicos


para consumo e investimento.

7 Um agente econômico é um indivíduo, conjunto de indivíduos, instituição ou conjunto de instituições que, por meio das suas
decisões e ações, influenciam de alguma forma a economia.

91
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Política Monetária
É o conjunto de medidas que têm como objetivo controlar o volume de moeda disponível e as taxas
de juros do mercado. O objetivo final da política monetária é o controle da liquidez global do sistema
econômico.

Podem-se distinguir três instrumentos clássicos de política monetária:

a. taxa de redesconto

Quando o Bacen empresta recursos para os bancos comerciais, aquele desempenha a


função de banco dos bancos. Certamente, os bancos comerciais têm outras opções
para tomar recursos emprestados, portanto esse auxílio do Bacen é considerado como
última opção, como um socorro financeiro. Essa operação é denominada de redesconto,
tendo em vista que o empréstimo é efetuado na forma de desconto de títulos, ou seja, o
Bacen aceita como garantia da operação títulos emitidos por instituições financeiras e
os desconta a uma taxa prefixada, definindo o prazo de liquidação da operação, que na
maioria das vezes se dá no dia seguinte.

O controle da oferta monetária, por meio do redesconto, se dá por meio da alteração das
taxas cobradas, do estabelecimento dos prazos de liquidação da operação, da fixação dos
limites permitidos de redesconto e pela restrição aos títulos aceitos como garantia.

Se a autoridade monetária elevar a taxa, ou restringir as condições de redesconto,


desestimulará os bancos comerciais a recorrer a esse tipo de socorro financeiro. Os
bancos comerciais aumentarão sua proporção encaixe/depósitos para diminuírem as
possibilidades de recorrerem ao redesconto e isto reduzirá a oferta monetária. Efeitos
contrários acontecerão se a autoridade monetária reduzir a taxa ou afrouxar as condições
de redesconto.

b. operações de mercado aberto

Nas operações de mercado aberto, o Governo regula diretamente o volume dos meios
de pagamento. O Bacen muitas vezes entra no mercado para comprar ou vender títulos.
Essa política é chamada de mercado aberto.

Quando a autoridade monetária tem o objetivo de expandir a base monetária8, o


Bacen entra no mercado comprando títulos. Ao fazer isso, ele coloca em circulação um
determinado montante de dinheiro que estava em seu poder.

Situação contrária ocorre quando o Bacen coloca títulos à venda. Ao vender títulos, o
Bacen recolhe dinheiro que estava em poder do público.

8 A Base Monetária é usualmente entendida como a quantidade de moeda que circula na economia. Esse conceito não é totalmente
correto. O Banco Central é o responsável pela criação e destruição da Base Monetária. Portanto, a Base Monetária é igual ao
estoque de moeda emitida pelo Banco Central desde seu início. Na prática, porém, essa emissão não ocorre voluntariamente em
benefício de um agente econômico, mas sim em resposta a uma operação em que o Banco Central receberá algo em troca.

92
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV

c. depósitos compulsórios

É o mecanismo utilizado pelo Bacen para aumentar ou reduzir o total da base monetária
existente na economia, uma vez que os bancos comerciais são obrigados a manter no
Banco Central parte de seus depósitos. O depósito compulsório é uma taxa fixada. A
autoridade monetária pode aumentar ou reduzir a taxa do depósito compulsório de
acordo com seus interesses. Mas a mudança só vale para novos depósitos.

Quando a autoridade monetária diminui a taxa do compulsório, o montante que os


bancos comerciais devem enviar para o Banco Central diminui. Com isso, eles conseguem
reter um montante maior para emprestar, ou seja, a quantidade de crédito disponível
à população aumenta e a base monetária se expande, acelerando a economia. Quando
a autoridade monetária aumenta a taxa do compulsório, ocorre situação inversa. Os
bancos comerciais vão dispor de menos recursos para emprestar. O crédito disponível
para a população diminui e a base monetária se contrai, desacelerando a economia.

93
CAPÍTULO 2
Mercado de Derivativos

Derivativos

Apresentação
Desde o início da crise internacional, em 2008, muito se fala do mercado de derivativos.

E você, caro aluno, compreende como funcionam essas operações?

Para tentar esclarecer o funcionamento do mercado de derivativos, vamos iniciar nosso estudo
conhecendo os principais conceitos e características desse mercado.

John Hull (1998, p. 1) conceitua derivativos como instrumentos financeiros cujo valor depende dos
valores de outras variáveis básicas que o referenciam. Normalmente, as variáveis que referenciam
os derivativos são os preços dos títulos negociados.

Exemplos:

»» Um contrato futuro de dólar deriva do dólar à vista, sua variável de referência; e.

»» Um contrato futuro de café deriva do café à vista.

O mercado de derivativos pode ser utilizado como uma Ferramenta de Hedge (Proteção) contra o
risco da oscilação de preço dos ativos, bem como para especular. Algumas companhias brasileiras
que fizeram operações com derivativos acima do limite necessário para a proteção do caixa da
companhia tiveram pesados prejuízos. No ano de 2008 (início da crise financeira internacional),
o aumento da cotação do dólar causou perdas para as companhias que tinham operações em
aberto com expectativa oposta em relação à moeda americana, ou seja, esperavam que tivesse um
decréscimo na cotação do dólar (ex. Sadia).

Tipos de Contratos Negociados


Os principais9 tipos de contratos de derivativos são:

»» Contratos a Termo (*).

»» Contratos Futuros (*).

»» Opções.

»» Swaps.

9 Existem outros derivativos, mais complexos, porém, não serão objeto da nossa discussão.

94
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV

(*) No Brasil, é comum a designação genérica de contratos futuros para esses dois tipos de derivativos.
Entretanto, como será visto a seguir, existem muitas diferenças entre eles.

»» Contratos a Termo

Como comprador ou vendedor, você se compromete a comprar ou vender certa


quantidade de um bem (mercadoria ou ativo) por um preço fixado na data de realização
do negócio, para liquidação em data futura. Os contratos são liquidados integralmente
no vencimento. São, normalmente, negociados fora das bolsas de valores.

Você talvez tenha negociado contratos a termo durante toda a sua vida, sem sabê-lo.

Vejamos o exemplo a seguir adaptado do livro Corporate Finance (Ross, Westerfield and
Jaffe):

Suponhamos que você entre numa livraria, digamos, em 1o de fevereiro, disposto


a comprar o best-seller Fique Rico sem Sair de Casa. O atendente lhe diz que o livro
está em falta, mas lhe pede seu número de telefone, dizendo que encomendará o livro
para você. O livro custa R$50,00. Se concordar, em 1o de fevereiro, em retirá-lo e pagar
R$50,00 pelo livro quando for avisado de sua chegada, você e o atendente terão firmado
um contrato a termo. Ou seja, você concordou em pagar e retirar o livro quando a
livraria o notificar de sua chegada. Como você está concordando em comprar o livro
numa data futura, está comprando um contrato a termo em 1o de fevereiro.

O atendente, em nome da livraria, está vendendo um contrato a termo. A livraria


concordou em entregar-lhe o livro ao preço predeterminado de R$50,00 assim que o
livro chegue.

A tabela a seguir, ilustra a compra do livro.

01 de fevereiro Data de chegada do livro


Comprador Comprador:
Comprador compromete-se a: 1. Paga o preço de compra de R$ 50,00
1. pagar o preço de compra de R$ 50,00 2. Recebe o livro.
2. Receber o livro quando chegar
Vendedor
Vendedor compromete-se a: Vendedor:
1. Entregar o livro quando chegar. 1. Entrega o livro.
2. Aceitar o pagamento de R$50,00 quando o livro chegar. 2. Aceita o pagamento de R$ 50,00

Perceba que o acordo é fechado em 1o de fevereiro. O preço é fixado e as condições de venda são
estabelecidas nessa data. Nesse caso, a venda ocorrerá quando o livro chegar. Em outros casos, seria

95
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

fixada uma data exata de venda. No entanto, não há qualquer transferência de dinheiro em 1o de
fevereiro; isso só ocorre quando da chegada do livro.

De maneira semelhante, esse tipo de operação ocorre nas companhias. Cada vez que uma companhia
encomenda uma mercadoria que não pode ser entregue imediatamente, há um contrato a termo.

É importante salientar que um contrato a termo não é uma opção. Tanto o comprador quanto o
vendedor estão obrigados a cumprir sua parte em conformidade com os termos do contrato.

Os contratos a termo se caracterizam por:

a. Negociação em balcão, eis que são acordos particulares entre duas partes.

b. Os contratos são não padronizados, ou seja, não têm que seguir os padrões da bolsa.

c. Tanto o comprador como o vendedor assumem obrigações, e não opções.

d. A data de vencimento é definida entre as partes.

e. Na data de realização do acordo (contrato) não há transferência de dinheiro.

f. Não ocorrem ajustes diários, nem mesmo depósitos de margem ou garantias nos
contratos a termo, a não ser que definidos entre as partes.

g. As partes permanecem no contrato até o vencimento. Há contratos em que o


comprador pode antecipar a liquidação.

»» Contratos Futuros

É uma evolução do mercado a termo.

Você se compromete a comprar ou vender certa quantidade de um bem por um preço


estipulado para a liquidação em data futura. A principal diferença é que, no mercado
a termo, os compromissos são liquidados integralmente nas datas de vencimento; no
mercado futuro, esses compromissos são ajustados financeiramente às expectativas
do mercado referentes ao preço futuro daquele bem, por meio do mecanismo de ajuste
diário (mecanismo que apura perdas e ganhos).

Além disso, diferentemente dos contratos a termo, os contratos futuros são negociados
em bolsa. Com a finalidade de possibilitar a negociação, a bolsa especifica algumas
características padronizadas para o contrato.

Quais são as principais especificações dos contratos (padronização)?

Objeto de Negociação – é a descrição do ativo, cuja oscilação de preços está em


negociação. Exemplo: café, soja, dólar.

Cotação – é a unidade de valor atribuída a cada unidade física da mercadoria em


negociação. Exemplo: reais por saca, reais por dólares.

96
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV

Unidade de Negociação – é o tamanho do contrato. Exemplo: o tamanho do contrato


de café é de 100 sacas de 60Kg, o do dólar é de US$50.000,00.

Meses de Vencimento – meses em que serão liquidados os contratos.

Liquidação – forma pela qual o contrato será liquidado.

A padronização dos contratos é condição imprescindível para que a negociação possa ser
realizada em bolsa. Imagine um pregão no qual cada um dos participantes negociasse
determinado tipo de boi ou café com cotações e unidades de negociação diferentes.
A negociação de pregão seria inviável. Por conta da padronização, os produtos em
negociação se tornam completamente homogêneos, tornando indiferente quem está
comprando ou vendendo a mercadoria.

Como funciona o ajuste diário?

Os preços de contratos futuros são ajustados a mercado diariamente. Ou seja, ajuste


diário é o mecanismo de equalização de todas as posições no mercado futuro, com
base no preço de compensação do dia, resultando na movimentação diária de débitos e
créditos nas contas dos clientes, de acordo com a variação negativa ou positiva no valor
das posições por eles mantidas.

Dessa maneira, os investidores recebem seus lucros e pagam seus prejuízos diariamente.

O ajuste diário é a principal diferença entre o mercado futuro e o mercado a termo. No


mercado a termo há um único ajuste na data de vencimento do contrato.

Veja a comparação entre contratos futuros e a termo – extraído do livro Opções, Futuros
e Outros Derivativos (JOHN HULL).

A Termo Futuro
Contrato particular entre duas partes. Negociação em bolsa.
Não padronizado. Padronizado.
Uma data de entrega acordada. Várias datas de entrega acordadas.
Ajustado apenas no vencimento. Ajustado diariamente.
Entrega ou liquidação financeira final. Geralmente encerrado antes do vencimento.

Opções

Negocia-se o direito de comprar ou de vender um bem por um preço fixo numa data futura. Quem
adquirir o direito deve pagar um prêmio ao vendedor, tal como num acordo de seguro.

Conforme o site: www.acionista.com, seguem os conceitos desse mercado:

Características:

»» Volatilidade: A oscilação de preço é uma das principais características das opções.


Os papéis chegam a variar mais de 50% em apenas um dia devido ao baixo valor.

97
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

»» Liquidez: O mercado de opções é sempre constituído por opções de ações de alta


liquidez no mercado, no entanto, nem todas as opções da mesma série ou papel têm
uma alta liquidez.

»» Dia de exercício: Data limite para os titulares exercerem seu direto. Esse dia
ocorre nas terceiras segundas-feiras dos meses pares.

Tipos de Exercício:

»» americano: As opções têm validade até uma data predeterminada, e podem ser
exercidas no período compreendido entre seu lançamento e seu vencimento.

»» europeu: O titular só pode exercer o direito na data de vencimento.

Quem atua:

»» Lançador: É o investidor que vende a opção e assume os compromissos de


comprar ou vender determinada quantidade da ação a um preço fixado ou até o
vencimento da opção ou em data determinada, mediante o recebimento de um
prêmio. O lançador de venda assume a obrigação de vender as ações-objeto a que se
refere a opção, após o recebimento de uma notificação de que a posição foi exercida.
O titular pode, a qualquer tempo, negociar seu direito de venda em mercado, por
meio de uma operação de natureza oposta.

»» Titular: É o investidor que compra a opção e adquire os direitos tanto de comprar


como de vender ações referentes a essa opção. O titular pode, a qualquer tempo,
negociar seu direito de compra em mercado, por meio de uma operação de natureza
oposta.

»» Lançador X Titular: O lançador de uma opção tem uma posição bem mais
arriscada. O prejuízo potencial referente a uma posição vendida em opção de
compra ou posição vendida em opção de venda é ilimitado quando o preço do
ativo-objeto se movimenta em direção contrária às expectativas, aumentando
para uma opção de compra ou diminuindo para uma opção de venda. No caso
do titular de uma opção o prejuízo máximo é limitado. A situação pode mudar
quando a posição é combinada, processo conhecido como lançamento de opção
“coberta”. Nesse caso, a posição vendida em uma opção de compra com uma
posição comprada no ativo-objeto, ou posição vendida em uma opção de venda
com uma posição vendida no ativo-objeto. O lançador de uma opção de compra
acredita que o preço das ações no mercado à vista irá cair a um nível abaixo do
preço de exercício, assim o titular não irá exercer a opção e o lançador ganhará o
valor do prêmio.

»» Prêmio: O lançador de uma opção recebe um prêmio para assumir a obrigação


de vender (opção de compra) ou comprar (opção de venda) se exercido pelo
titular. Como qualquer compromisso financeiro, ele deve honrar essa obrigação, se

98
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV

designado para tal. O prêmio é o preço da opção, negociado entre o comprador e o


vendedor no momento da operação em mercado e pago no momento da aquisição
da opção. Reflete fatores como condições de oferta e demanda, prazo de vigência
da opção, diferença entre o preço de exercício e o preço à vista da ação-objeto,
volatilidade, dentre outros.

»» Riscos: Aplicar em opções é bastante arriscado. O investidor pode perder todo


capital aplicado e deve estar ciente disso. Um dos lados pode tentar cancelar a
operação ou não ser capaz de honrá-la financeiramente. Por isso, o lançador de
uma opção deve ter capacidade financeira para cobrir eventuais prejuízos altos e
dispor de garantias suficientes para atender às exigências de margem (garantia).
Se as condições de mercado não forem favoráveis à estratégia de investimento, o
titular corre o risco de perder todo o investimento em um período de tempo curto.
A opção é um ativo esgotável que perde o valor no vencimento. Isso significa que
o comprador de uma opção que não a venda no mercado secundário nem a exerça
antes do vencimento perderá todo o investimento.

Opções no dinheiro, fora do dinheiro ou dentro do dinheiro:

»» Opção dentro do dinheiro (in the Money) – A opção de compra dentro do


dinheiro é a opção em que o preço de Exercício está abaixo do preço do ativo no
momento.

»» Opção no dinheiro (at the Money) – A opção de compra no dinheiro é a opção


em que o preço de Exercício está no preço ou próximo do preço do ativo no momento.

»» Opção fora do dinheiro – A opção de compra fora do dinheiro é a opção em que


Preço de Exercício está acima do preço do ativo no momento.

Valor Intrínseco da Opção

Valor intrínseco da opção é dado pela diferença entre o preço à vista de um ativo e o preço de
exercício da opção desse mesmo ativo. Se esse valor for positivo, este será o valor intrínseco de uma
opção de compra; se for negativo, será o valor intrínseco de uma opção de venda.

Swap

É a negociação da troca de rentabilidade entre dois bens (mercadoria ou ativo financeiro). O contrato
de swap é um acordo, entre duas partes, que estabelecem a troca de fluxo de caixa tendo como base
a comparação da rentabilidade entre dois bens.

Exemplo:

Considere que a companhia Delta possua ativo de R$10 milhões prefixado a uma taxa de 17% ao
ano para receber dentro de 21 dias úteis e que quer transformar seu indexador em dólar + 10% sem
movimentação de caixa. Para tanto, contrata um swap com uma instituição financeira.

99
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Após acertarem o contrato (negócio), a companhia Delta fica ativa em dólar + 10% e passiva em 17%,
ao mesmo tempo em que a instituição financeira, que negociou o swap com a companhia, fica ativa
a uma taxa prefixada de 17% ao ano e passiva em dólar + 10% ao ano.

»» Suponha que no período a variação do câmbio foi de 2%.

Posição original: Ativo em taxa prefixada

R$10.000.000 x (17/100 +1)21/252 = R$10.131.696,11.

SWAP

Passivo em taxa prefixada

R$10.000.000 x (17/100 +1)21/252 = R$10.131.696,11.

Ativo em dólar

R$10.000.000 x 1,02 x [(10/100 x 30/360) + 1] = R$10.285.000.

Pode-se concluir que a companhia Delta receberá da instituição financeira o valor líquido de
(R$10.285.000 – 10.131.696,11) = R$153.303,89, tendo em vista que a variação cambial + 10% ficou
acima dos 17% da taxa prefixada.

Qual é a importância dos derivativos?

Conforme material da Série Introdutória: Mercado de Derivativos (BM&F), não existem números
exatos sobre esse mercado mundial. No entanto, o Bank for International Settlements (BIS), com
sede na Suíça, divulga trimestralmente os valores referenciais dos contratos negociados em bolsa e
no mercado de balcão (fora da bolsa).

O Boletim disponível em março de 2007 indica o valor referencial de derivativos US$ 57,80 trilhões
em bolsas (base setembro de 2006) e US$ 369 trilhões no mercado de balcão.

Ou seja, esse mercado é gigantesco.

Classificação dos derivativos


A BM&F classifica o mercado de derivativos como:

Derivativos agropecuários: têm como ativo-objeto commodities agrícolas como café, arroz, boi,
milho, soja.

Derivativos financeiros: têm seu valor de mercado referenciado em alguma taxa ou índice
financeiro como taxa de juros, taxa de inflação, taxa de câmbio, índice de ações.

Derivativos de energia e climáticos: têm como objeto de negociação a energia elétrica, o gás
natural, os créditos de carbono, entre outros.

100
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO │ UNIDADE IV

Finalidades

Hedge (proteção)
A preocupação aqui é com o risco de variações adversas de taxas, moedas ou preços. Equivale a
ter uma posição em mercado de derivativos oposta à posição assumida no mercado à vista, para
minimizar o risco de perda financeira decorrente de alteração adversa de preços.

Se uma companhia, por exemplo, tem dívidas a pagar em dólar, que vencerão no longo prazo e, caso
tema que a cotação dessa moeda venha a subir, o que aumentaria o valor da dívida, pode realizar
uma operação no mercado futuro com contratos cambiais (derivativo de câmbio) para garantir a
cotação dessa moeda em data futura, minimizando os riscos de variações adversas de preço.

Alavancagem
Os derivativos têm grande poder de alavancagem, já que a negociação com esses instrumentos
exige menos capital do que a compra do ativo à vista. Assim, ao adicionar posições de derivativos
a seus investimentos, o investidor pode aumentar a rentabilidade total destes a um custo mais
baixo. O inverso também é verdadeiro, caso a expectativa do investidor não se confirme, o que pode
potencilizar o prejuízo.

Especulação
Lembre-se que não há nada de errado em especular no mercado financeiro. O derivativo é
instrumento bastante utilizado entre os investidores que aceitam correr mais riscos de perdas em
troca da possibilidade de aumentar os ganhos.

Arbitragem
Aqui a estratégia visa tirar proveito da diferença de preços de um mesmo ativo negociado em
mercados diferentes. O objetivo, segundo o livreto introdutório da BM&FBOVESPA, é aproveitar
as discrepâncias no processo de formação de preços dos diversos ativos e mercadorias e entre
vencimentos. Essa ferramenta é utilizada em fundos multimercados e long and short.

Participantes do Mercado de Derivativos


Para garantir a eficiência das operações do mercado de derivativos, é fundamental que estejam
investindo nos contratos aqueles que visam proteger o seu caixa contra oscilações de preços no
futuro, aqueles que têm como meta o lucro mas não assumem muitos riscos (arbitrador) e, ainda, o
especulador, que toma o risco garantindo liquidez.

101
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Conforme material da Série Introdutória: Mercado de Derivativos (BM&F), os participantes do


mercado de derivativos são:

Hedger (visa proteção)

»» O produtor agrícola que participa do mercado futuro para travar o preço de venda e
não correr o risco de queda acentuada de preços.

»» O importador que tem passivo em dólares e compra contratos cambiais no mercado


futuro porque teme alta acentuada da cotação dessa moeda na época em que precisar
comprar dólares no mercado à vista.

Arbitrador
Os arbitradores compram no mercado A e vendem no B. Aumentam a procura (e, consequentemente,
os preços) no mercado A e a oferta no mercado B (causando, consequentemente, queda de preços).
Em determinado momento, os dois preços tendem a se equilibrar em um valor intermediário entre
os dois preços iniciais. O arbitrador acaba agindo exatamente como um árbitro, por acabar com as
distorções de preços entre mercados diferentes.

Especulador
A atuação dos especuladores consiste na compra e na venda de contratos futuros apenas para ganhar
o diferencial entre o preço de compra e o de venda, não tendo nenhum interesse pelo ativo. A sua
presença é fundamental no mercado futuro, pois é o único que toma riscos e assim viabiliza a outra
ponta da operação (hedger), fornecendo liquidez ao mercado. Os especuladores não permanecem
por muito tempo no mercado e dificilmente carregam suas posições até a data de liquidação do
contrato. A operação de especulação mais conhecida é a day trade, que consiste na abertura e no
encerramento da posição no mesmo dia.

Conforme material da Série Introdutória: Mercado de Derivativos (BM&F), segue quadro contendo
as principais diferenças entre as modalidades de derivativos.

Mercado a termo Mercado futuro Mercado de opções Mercado de swap


Onde se negocia Balcão ou Bolsa Somente Bolsa Balcão ou Bolsa Balcão ou Bolsa
O que se negocia Compromisso de comprar Compromisso de comprar Os compradores adquirem Compromisso de troca de
ou vender um bem por ou vender um bem por o direito de comprar ou um bem por outro. Trocam-
preço fixado em data futura. preço fixado em data futura. vender por preço fixo em se fluxos financeiros.
data futura.
Posições Ausência de Intercambialidade. Intercambialidade. Ausência de
intercambialidade. intercambialidade.
Liquidação A estrutura mais comum Presença de ajuste diário. Liquidam-se os prêmios na Somente no vencimento ou
é a liquidação somente no Compradores e vendedores contratação da operação. antecipadamente, com a
vencimento. Há contratos têm suas posições ajustadas No vencimento, apura-se o concordância das partes.
em que o comprador pode financeiramente todos os valor da liquidação a partir
antecipar a liquidação. dias, com base no preço de do exercício do direito dos
fechamento da bolsa. compradores.

102
CUSTOS UNIDADE V
HOSPITALARES

CAPÍTULO 1
Fundamentos Básicos da Análise de
Custos

Aspectos Introdutórios
Custos, uma única palavra que apresenta inúmeros significados. Quando dizemos “esta motocicleta
custa $15.000,00”, para quem compra, fica claro o conceito, custo é igual a preço, mas, para
quem produz, seria tão simples conceituar?

Evidentemente teríamos um grande número de adjetivos, tais como: custos fabris, custos diretos,
custos variáveis, custos indiretos, custos de oportunidade etc., portanto, vamos viajar ao passado
para tentarmos entender a origem dos custos e podermos, então, compreender o significado da
palavra custos, saber distinguir a contabilidade financeira da contabilidade gerencial e
compreender a terminologia geral dos gastos.

Origem Histórica dos Custos


A Contabilidade de Custos tem sua origem na Revolução Industrial, e seus objetivos eram:

a. Avaliação de inventários de matérias-primas, de produtos fabricados e de produtos


vendidos, tudo ao final de um determinado período:

Estoques iniciais

(+) Compras

(-) Estoques finais

(=) Custo das Mercadorias Vendidas

103
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

b. Verificar os resultados obtidos pelas empresas como consequência da fabricação e


venda de seus produtos.

Naquela época, as empresas possuíam processos produtivos muito artesanais, e como


consequência os únicos custos produtivos considerados eram o valor das matérias-primas
consumidas e da mão de obra utilizada.

Com o crescimento das organizações, da intensificação da concorrência e da crescente


escassez de recursos, foi necessário aprimorar os mecanismos de planejamento e controle
das atividades empresariais. Além disso, as inúmeras possibilidades de utilização dos
fatores de produção determinam uma variedade quase infinita no comportamento dos
custos resultantes.

A Importância dos Custos como Instrumentos


de Controle, de Planejamento e de Avaliação
de Desempenho
Segundo Horngren, Datar e Foster (2004), “A moderna contabilidade de custos é mais que números,
trata-se de um fator essencial no processo gerencial de tomada de decisão [...]”.

No mundo empresarial moderno, com a competitividade extremamente acirrada, as empresas


buscam, cada vez mais, formas de obter dados que proporcionem a eficiência, a eficácia, a otimização
e a economicidade na tomada de decisão.

Eficiência é a maior ou menor capacidade de consumir recursos escassos, disponíveis para a


realização de uma tarefa determinada. Ou, em outras palavras, indica a justeza e a propriedade como
a forma de elaboração de determinado produto final foi selecionada, de modo a que se minimizasse
o seu custo respectivo.

A eficácia procura considerar o grau em que os objetivos e as finalidades são alcançados. Trata-se
de medir o progresso alcançado dentro da programação de realizações empresariais (GIACOMONI,
2007).

Otimização é tornar ótimo. Aproveitar, utilizar ou realizar melhor, ou de forma mais produtiva.
Determinação do valor ótimo de uma grandeza. Aperfeiçoar um programa a fim de que realize sua
função no menor tempo ou no menor número de passos possível (FERREIRA, 2002).

Economicidade trata-se da obtenção do melhor resultado estratégico possível de uma


determinada alocação de recursos financeiros, econômicos e/ou patrimoniais em um dado cenário
socioeconômico (BUGARIM; BUGARIN, PROTÁSIO, 2004).

As informações relativas aos custos de produção e/ou comercialização, desde que corretamente
organizadas, resumidas e relatadas, constituem uma ferramenta administrativa altamente relevante.
Assim, as informações de custos transformam-se, gradativamente, num verdadeiro sistema de
informações gerenciais, de vital importância para a administração das organizações empresariais.
Essas informações constituem um subsídio básico para o processo de tomada de decisões, bem
como para o planejamento e controle das atividades empresariais.

104
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

Objetivos da Análise de Custos


A Contabilidade de Custos tem por objetivo classificar, agrupar, controlar e atribuir os custos, que,
coletados, servem a três finalidades principais:

a. Fornecer dados de custos para a medição dos lucros e avaliação dos estoques.

b. Fornecer informações aos dirigentes para o controle das operações e atividades da


empresa.

c. Fornecer informações para o planejamento da direção e a tomada de decisões.

Conceitos e Terminologias Aplicados na


Análise de Custos

Contabilidade financeira
A contabilidade financeira é obrigatória, sujeita às normas e imposições legais. É altamente
normatizada e padronizada, podendo se submeter a posterior auditoria.

Formatada e executada para atender, principalmente, a vontade da legislação do Imposto de Renda,


tem regras próprias, como por exemplo, a escrituração do Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR).

Contabilidade Gerencial
A Contabilidade Gerencial tem o seu foco principal na tomada de decisão. Não está sujeita às
restrições e imposições legais, é mais dinâmica e ágil e específica para cada negócio.

Para podermos estruturar os dados em Contabilidade de Custos é necessária uma perfeita integração
com a terminologia utilizada e desenvolvida pelas Ciências Contábeis. É preciso compreender e
entender os principais termos utilizados para a apuração de custos, conforme figura abaixo, que
são: Gasto, Investimento, Custo, Despesa, Custos Diretos, Custos Indiretos, Custos Fixos, Custos
Variáveis, Despesa Fixa e Despesa Variável.

105
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

Fonte: Bruni, Adriano Leal.

1. Gasto – Sacrifício financeiro com que a entidade arca para a obtenção de um


produto ou serviço qualquer, sacrifício esse representado por entrega ou promessa
de entrega de ativos (normalmente dinheiro).

2. Investimento – Gasto ativado em função de sua vida útil ou de benefícios


atribuíveis a futuro(s) período(s).

3. Custo – Gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou


serviços. É reconhecido no momento da utilização dos fatores de produção, para a
fabricação de um produto ou execução de um serviço. Ex.: Matéria-prima, energia
elétrica.

4. Despesa – Bem ou serviço consumido direta ou indiretamente para a obtenção de


receitas. Ex.: Comissão de vendedor.

5. Desembolso – Pagamento resultante da aquisição do bem ou serviço.

6. Perda – Bem ou serviço consumido de forma anormal e involuntária.

›› Ex.: Gasto com Mão de Obra durante período de greve.

›› Material deteriorado por um defeito anormal no equipamento.

Princípios e Convenções Aplicados na Análise


de Custos
Um “Sistema de Custos” é formado por PRINCÍPIOS e MÉTODOS. Vejamos:

106
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

Fonte: Silva, Rivaldo Andrade.

É necessário saber quais informações serão tratadas (Princípio), como será a operacionalização,
como obter a informação (Método), quais os custos – Fixos, variáveis, ideais, desperdício (Princípio),
cálculo dos Custos Indiretos (Método), Custeio, Variável, Custeio por Absorção Integral, Custeio por
Absorção Ideal ou Custo Padrão (Princípios), RKW, ABC, UEP etc, (Métodos).

Princípio da realização da Receita


O reconhecimento contábil do resultado (lucro ou prejuízo) só acontece quando da realização
da receita. Por outro lado, a realização da receita ocorre pela tradição do bem ou do serviço para
terceiros.

A Contabilidade de Custos, quando aplicada no contexto da Contabilidade Financeira, também


não pode apurar resultado antes desse instante e, no máximo, pode servir como ferramenta para
previsão de crédito. Do ponto de vista econômico, o lucro já surge durante a elaboração do produto,
pois há agregação de valores nessa fase, inclusive do próprio resultado, mesmo que ainda numa
forma potencial, sem se concretizar em dinheiro, direitos a recebimento futuro ou outros ativos
(MARTINS, 2008).

Por esse motivo, os valores agregados de gastos, relativos aos fatores produtivos, são acumulados na
forma de estoque, sendo considerados, futuramente, como despesas.

Na prestação de serviços, os custos são transferidos de duas formas: de uma só vez, ao final de sua
execução, ou de forma contínua (Auditoria, Consultoria, serviços de telecomunicação etc.).

107
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

Princípio da competência ou da confrontação


entre despesas e receitas.
Como vimos, a receita é reconhecida no momento de sua realização, portanto, posteriormente, pela
competência ou confrontação, temos o reconhecimento das despesas, ou seja: reconhecida a receita,
deduzem-se dela os valores que representam os esforços para sua consecução (despesas).

Essas despesas podem ser especificamente incorridas para à consecução das receitas que estão
sendo reconhecidas (Custo de produção do bem vendido, ou a despesa de comissão relativa à sua
venda), ou despesas incorridas para a obtenção de receitas genéricas (Despesas de administração,
gastos com propaganda etc.).

Na utilização desse princípio nos defrontamos com algumas situações não muito lógicas. Por
exemplo, por que o gasto com o salário do chefe da fábrica é apropriado a um produto estocado e
só se torna despesa por ocasião da venda, enquanto o salário do chefe de vendas vira, de imediato,
despesa?

Princípio do custo histórico como base de valor


Podemos observar várias consequências a partir desse princípio. Contabilmente, os ativos são
registrados pelo seu valor de entrada, isto é, seu histórico.

Numa economia inflacionária, o uso de valores históricos não faz muito sentido. Quando somamos
todos os custos de produção de determinado item, estocamos e levamos a balanço pelo valor original,
demonstramos um ativo que espelha o quanto custou produzi-lo na época em que foi elaborado,
nada tendo a ver com o valor atual de reposição do estoque, nem com o valor histórico inflacionado
(deflacionado) e muito menos ainda com seu valor de venda.

Os estoques são avaliados em função do custo histórico de sua obtenção, sem correção por inflação
ou por valores de reposição.

Em 1987, surge no Brasil, para as companhias abertas, a Correção Integral, sendo aplicada a
demonstrações complementares às exigidas pela legislação societária e fiscal, surgindo aí uma
contabilidade em moeda constante.

Nesse caso, é mantido o Custo Histórico Como Base de Valor, mas, em moeda forte. Entretanto,
a partir de 1996, entra em vigor a Lei no 9.249/1995 e a comissão de Valores Mobiliários cria a
Unidade Monetário Contábil (UMC), exatamente para esse fim.

Martins (2008) acredita que, quando se acumulam custos de dois, três ou mais meses para
se produzir um bem ou serviço, tem-se no puro custo histórico um instrumento paupérrimo de
informações. Continuando seu raciocínio, Martins (2008) persevera que o correto, tecnicamente,
seria transformar esses diversos custos originados em momentos diferentes em quantidades de
moeda constante, o que é a mesma coisa que se efetuar a correção desses valores.

108
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

Ainda muito há que evoluir nosso ordenamento jurídico relativamente às legislações societária e
fiscal para que se tenha um melhor entendimento da realidade empresarial, de tal sorte que, hoje, as
empresas se vêm obrigadas a trabalhar com sistemas paralelos à contabilidade oficial para manter
suas informações de custos (entre outras) em valores que possam ser utilizados para fins gerenciais.

Outro aspecto muito relevante relacionado a esse princípio é o de que só são admitidos para
registro, na contabilidade, os fatos relativos a gastos efetivos da entidade, tais como, pagamentos ou
promessas de pagamentos pelos bens e serviços recebidos.

Assim, o Custo de Oportunidade deixa de ser contabilizado e também de ser englobado no custo de
produção, pois os estoques não podem ser avaliados com a inclusão desses itens. Em raras exceções
são aproveitados por empresas concessionárias de serviço público (Cias de Eletricidade, telefonia
etc.), que contam com legislação especial.

Consistência ou uniformidade
A empresa, ao se deparar com várias alternativas para o registro contábil de um mesmo evento, sendo
todas válidas dentro dos princípios geralmente aceitos, deve adotar uma delas de forma consistente.
Isso significa que a alternativa adotada deve ser utilizada sempre, não podendo mudar o critério em
cada período. Quando houver interesse ou necessidade dessa mudança de procedimento, deve a
empresa se reportar ao fato em nota explicativa, demonstrando o reflexo ocorrido no resultado em
relação ao que seria obtido caso não houvesse quebra de consistência.

Dessa forma, para a apropriação de inúmeros custos de industrialização, é necessária a adoção de


critérios escolhidos entre várias alternativas diferentes. Por exemplo, a empresa pode distribuir
os custos de manutenção em função de horas-máquina, valor do equipamento, média passada etc.
Todos são métodos aceitos, mas não podem ser utilizados indiscriminadamente em cada período.
Após a adoção de um deles deve haver consistência em seu uso, já que a mudança pode provocar
alterações nos valores dos estoques e, consequentemente, nos resultados.

Materialidade ou relevância
Essa outra regra contábil, também muito importante para Custos, desobriga de um tratamento mais
detalhado itens cujo valor monetário seja irrelevante com relação aos gastos totais.

Alguns pequenos materiais de consumo industrial, por exemplo, precisam ir sendo tratados
como custo na proporção de sua efetiva utilização; mas, por consistirem em valores irrisórios,
costumeiramente são englobados e totalmente considerados como custo no período de sua aquisição,
simplificando o procedimento por se evitar seu controle e baixa por diversos períodos.

Separação dos Custos e Despesas


A primeira preocupação da Contabilidade de Custos é o cálculo do Custo de Produto para avaliar os
estoques e para apurar o lucro por ocasião da venda do produto.

109
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

Além disso, esse cálculo do custo por produto irá propiciar o estabelecimento do preço final, o custo
unitário por produto (para se conhecer a rentabilidade unitária), o custo por item que compõe o
produto (matéria-prima, mão de obra...) para se comparar com o orçado etc.

Antes de se iniciar o cálculo dos custos, é necessário separar os custos das despesas. Numa indústria,
geralmente, os custos mais comuns são: Matéria-Prima, Mão de Obra, Depreciação das Máquinas
da Fábrica, Aluguel da Fábrica, Imposto Predial da Fábrica etc.

Portanto, não entram como Custo os gastos de escritório (Despesas), tais como: salário do pessoal
de vendas, administrativo e financeiro, aluguel do escritório, depreciação de bens do escritório,
imposto predial do escritório etc.

Custos

Segundo Padoveze C. L. (2009), Custos “são os gastos, não investimentos, necessários para fabricar
os produtos da empresa. São gastos efetuados pela empresa que farão nascer os seus produtos”.

Na visão de Mota (2002), Custo é o “Gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros
bens ou serviços”.

Despesas

As Despesas são os gastos efetuados no sentido de proporcionar condições de se obter as receitas,


geralmente ligados às áreas administrativas e comerciais, tais como: salário do pessoal de vendas,
administrativo e financeiro, aluguel do escritório, depreciação de bens do escritório, imposto predial
do escritório etc.

»» Calcule o custo

–– Matéria-Prima: $ 500,00
–– Compra de máquina: $ 400,00
–– Salário da Fábrica: $ 200,00
–– Salário administrativo: $ 300,00 $ 1.400,00
–– Depreciação Industrial: $ 700,00
Fonte: Bruni, Adriano Leal.

Apropriação dos Custos Diretos


Podemos entender como Custos Diretos aqueles que podem ser fisicamente identificados a um
objeto de custo. Dessa forma, se o objeto de custo é uma determinada Linha de Produtos, então os
materiais e a Mão de Obra envolvidos em sua fabricação seriam custos diretos.

Entretanto, se o objeto de custo for o produto final, os custos diretos são os gastos industriais que
podem ser alocados direta e objetivamente a tal produto.

110
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

Apropriação dos Custos Indiretos (Critérios de


Rateio)
Os gastos que não podemos medir objetivamente e, portanto, só podem ser alocados de maneira
estimada e muitas vezes arbitrária (como o aluguel, a supervisão, as chefias etc.), são os Custos
Indiretos com relação aos produtos.

Conforme podemos deduzir da sua própria definição, os Custos Indiretos só podem ser apropriados
de forma indireta aos produtos, isto é, mediante estimativas, critérios de rateio, previsão de
comportamento de custos etc. Todas essas formas de distribuição contêm, em menor ou maior grau,
certo subjetivismo; portanto, a arbitrariedade sempre vai existir nessas alocações, sendo que às
vezes ela existirá em nível bastante aceitável, e em outras oportunidades só a aceitamos por não
haver alternativas melhores. (Há recursos matemáticos e estatísticos que podem ajudar a resolver
esses problemas, mas nem sempre é possível sua utilização)

A primeira medida a ser tomada é a separação entre Custos e Despesas, iniciando aí o surgimento
de aspectos subjetivos inerentes aos processos de rateio. Vamos imaginar que a empresa tenha suas
instalações em imóvel alugado, portanto, necessitando separar a parte que cabe à produção (custo)
da parte que cabe aos setores administrativos e de vendas (despesa). O critério de rateio que vai ser
primeiramente lembrado será o de área ocupada por cada um.

Nessa linha de raciocínio podemos, ainda, levantar um segundo problema: suponhamos que o
imóvel esteja situado em uma quadra inteira e que a frente da empresa esteja voltada para uma rua
de grande importância tendo um alto valor de locação e os fundos para uma rua secundária de valor
comercial inferior. Na frente, vão estar posicionados a exposição de vendas, a diretoria etc., e nos
fundos as instalações fabris. Em função dessa disposição, o valor locativo da parte Administrativa
e de vendas pode ser várias vezes superior ao valor locativo da parte Fabril; se dividirmos o aluguel
inteiro com base em área ocupada, estaremos atribuindo o mesmo montante por metro quadrado
à fábrica e à exposição de vendas. Talvez houvesse necessidade então de se fazer uma ponderação
baseada num valor estimado de locação de cada setor para se proceder a uma distribuição “menos
injusta”.

Além dos critérios observados acima, com relação ao aluguel, há inúmeros outros, como exemplo:

a. Rateio com base em horas-máquinas.

b. Rateio com base na Mão de Obra Direta.

c. Rateio com base na Matéria-Prima Aplicada.

d. Rateio com base no Custo Direto Total.

111
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

Fluxo dos Custos e Despesas

Custos Despesas

Indiretos Diretos

Rateio

Produto A Vendas

Produto B

Produto C

Estoques

Custo Produtos Vendidos

Resultado

Para se determinar o melhor critério rateio, ou pelo menos minimizar erros, seria necessária uma
análise dos itens que compõem o total dos Custos Indiretos de Fabricação.

Vejamos, por exemplo, algumas hipóteses:

a. Os maiores itens dos Gastos Gerais de Fabricação (GGF) são Energia Elétrica,
depreciações de máquinas, manutenção e lubrificantes, que respondem por 80%
daquele total; o restante é Mão de Obra direta (MOD) e outros custos irrelevantes.
Logo, já que o fator mais relevante dos Gastos Gerais de Produção é a existência e
utilização de máquinas, sem dúvida poderíamos eleger o rateio com base no número
de horas-máquinas como o mais adequado.

b. Se, por outro lado, verificarmos que o mais importante item é Mão de Obra Indireta
e seus encargos sociais, pelo fato de haver uma supervisão cara, e esta supervisão
se devesse basicamente ao controle do pessoal direto de produção, não haveria,
também nessa hipótese, dúvida em se fazer a distribuição com base na Mão de Obra.

c. Imaginando, entretanto, num caso bastante especial, que o peso maior dos Gastos
Gerais de Fabricação fosse devido à existência de uma Câmara Frigorífica destinada
à manutenção da Matéria-Prima (MP) em determinada temperatura até o momento
de sua utilização; os GGF seriam basicamente depreciação dessa Câmara Frigorífica,
energia e manutenção, e mesmo a Mão de Obra indireta poderia estar quase que
totalmente vinculada a ela. Assim, a apropriação com base no volume de Matéria-Prima
seria uma prática aceitável.

112
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

d. O Gasto Geral de Fabricação poderia ter mais de um grande fator de influência, e


por isso poderiam ser aceitos critérios com base também em mais de uma referência
(Matéria-Prima mais Mão de Obra Direta, por exemplo).

Desse modo, para haver uma alocação mais adequada dos Gastos Gerais de Fabricação é mister que
se faça uma análise de seus componentes e se verifique quais critérios de rateio melhor relacionam
esses Custos com os Produtos.

Portanto, é necessário também que o profissional que decide normalmente sobre a forma
de apropriação de custos (Contador de Custos, Controller, Diretor Financeiro etc.) conheça
detalhadamente o sistema de produção. O desconhecimento da tecnologia de produção pode
provocar aparecimento de impropriedades de vulto na apuração dos Custos. Por esse motivo, é
altamente recomendável que profissionais da área de produção participem ativamente do processo
de identificação das bases de rateio.

Outra Classificação dos Custos: Fixos e Variáveis


Além de seu agrupamento em Diretos e Indiretos, os custos podem ser classificados de outras formas
diferentes.

A mais importante de todas as classificações leva em consideração a relação entre o valor total de
um custo e o volume de atividade numa unidade de tempo. Divide basicamente os custos em Fixos
e Variáveis.

Podemos citar como exemplo: o valor total dos materiais diretos, consumido por mês, depende
diretamente do volume de produção. Quanto maior a quantidade produzida, maior seu consumo.
Dentro, portanto, de uma unidade de tempo (mês, nesse exemplo), o valor do custo com tais materiais
varia de acordo com o volume de produção; logo, materiais diretos são Custos Variáveis.

Outro exemplo: o aluguel da fábrica em certo mês é de determinado valor, independentemente de


aumentos ou diminuições naquele mês do volume elaborado de produtos; portanto, o aluguel é um
Custo Fixo.

A separação em Custos Fixos e Variáveis também tem outro aspecto importante: considerando a
relação entre período e volume de atividade, não se está comparando um período com o outro.
Essa conclusão tem muita importância na prática para não se confundir Custo Fixo com Custo
recorrente (repetitivo). Por exemplo, se a empresa adota um sistema de depreciação com base em
quotas decrescentes e com isso atribui para cada período um valor diferente desse custo, continua
tendo na depreciação um Custo Fixo, mesmo que a cada período ele seja de montante diferente. Isso
ocorre porque a depreciação não depende do volume produzido.

Podemos citar outros exemplos da mesma natureza: a conta de telefone da fábrica – pode ter seu
valor diferente em cada mês, mas não é um custo variável, pois seu montante não está variando em
função do volume de produtos feitos, da mesma forma, a Mão de Obra indireta pode variar de um
período para o outro, independente do volume produzido.

113
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

Martins (2008) alerta para o fato de que os Custos Fixos não são, mesmo os repetitivos, eternamente
do mesmo valor. Sempre há pelo menos duas causas para sua modificação: mudança em função de
variação de preços, de expansão da empresa ou de mudança de tecnologia. Continuando, Martins
(2008) cita como exemplo o valor da Mão de Obra Indireta, que pode subir em determinado mês
em função de um dissídio; o aluguel pode crescer em virtude da adição de mais um imóvel; e a
depreciação pode também aumentar pela substituição de uma máquina velha por outra moderna e
mais cara.

Alguns tipos de custos têm componentes das duas naturezas. A Energia Elétrica é um exemplo, já
que possui uma parcela que é fixa e outra variável; aquela independente de volume de produção,
e é definida em função do potencial de consumo instalado, e esta, que depende diretamente do
consumo efetivo.

Todos os custos podem ser classificados em Fixos ou Variáveis e em Diretos ou Indiretos ao mesmo
tempo. Assim, a matéria-prima é um custo Variável e Direto; o seguro é Fixo e Indireto, e assim por
diante. Os custos variáveis são sempre diretos por natureza, embora possam, às vezes, ser tratados
como indiretos por razões de economia.

114
CAPÍTULO 2
Avaliação de Estoques

O Custo Médio
Se a empresa adquire matéria-prima especificamente para uso em uma ordem de produção
ou encomenda, não existirá dúvidas do quanto lhe atribuir – o preço de aquisição. No entanto,
quando se adquire diversos materiais iguais, por preços diferentes, em diferentes datas, e sendo
intercambiáveis entre si, se nos deparam algumas alternativas, vejamos:

DIA COMPRAS UTILIZAÇÃO SALDOS


Quant. Kg P. Unit. $ P. Total $ Quant. kg C. Unit. $ C. Total $ Quant. Kg C. Unit. C. Total $
4 1.000 10,00 10.000,00 – – – 1.000 10,00 10.000,00
11 – – – 500 10,00 5.000,00 500 10,00 5.000,00
14 2.000 11,65 23.300,00 – – – 2.500 11,32 28.300,00
17 – – – 300 11,32 3.396,00 2.200 11,32 24,904,00
29 – – – 1.000 11,32 11.320,00 1.200 11,32 13.584,00
SOMA 3.000 33.300,00 1.800 19.716,00
Fonte: Silva, Rivaldo Andrade

O critério do Custo Médio é o mais utilizado no Brasil, para avaliação de estoques.

Entretanto, existem pelo menos dois tipos de Custo Médio:

»» Custo Médio Ponderado Móvel: Utilizado pelas empresas que mantêm o controle
permanente dos estoques, atualizando seu custo médio a cada operação de compra.

»» Custo Médio Ponderado Fixo: Esta forma de cálculo é utilizada para avaliar o
custo médio apenas no final do período ou se a empresa decidir apropriar todos
os produtos fabricados no período a um único custo por unidade. Nesse caso, seria
necessário primeiro calcular o custo médio global do período e então apropriar o
custo da matéria-prima consumida. No exemplo acima podemos calcular o Custo
Médio Global $11,10 ($33.300/3.000) e aplicá-lo à quantidade consumida, que
nos resultaria em um Custo de $19.980 (1.800 x $11,10), portanto maior do que o
calculado pela Média Móvel. Por esse motivo, essa forma de cálculo não é aceita
pela legislação fiscal brasileira.

Podemos concluir, portanto, que mesmo com a utilização do Custo Médio, os valores de materiais
podem variar dependendo da forma utilizada para o cálculo.

115
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

O Método PEPS (FIFO)


Por este critério, vamos verificar que o material utilizado recebe os custos mais antigos e os mais
recentes permanecem no estoque. O Primeiro valor a entrar é o Primeiro a sair (First-In, First-Out).
Utilizando, ainda, os mesmos dados do Quadro 1, teríamos:

Dia 11: MP utilizada = 500 Kg X $10,00/Kg = $5.000

Dia 17: MP utilizada = 300 Kg X $10,00/Kg = $3.000

Dia 29: MP utilizada = 200 Kg X $10,00/Kg = $2.000

+ 800 Kg X $11,65/Kg = $ 9.320


$10.320
Matéria-prima Total Utilizada=$19.320

Nesse caso não faz diferença avaliar os estoques durante ou apenas no final do período. A observação
mais importante que podemos depreender é o efeito fiscal que, por atribuir custos mais antigos aos
produtos, ocasiona, naturalmente pela tendência crescente dos preços de mercado, um Lucro Maior
e, consequentemente, tributação maior do resultado. Não será nenhuma surpresa afirmar que esse
método é aceito pela legislação fiscal brasileira.

O Método UEPS (LIFO)


Pela aplicação deste método, utiliza-se a forma de que o último preço a entrar será o primeiro a
sair (Last-In, First-Out), provocando efeitos contrários ao método PEPS, anteriormente analisado,
causando uma redução no lucro pela superavaliação do custo, não sendo, portanto, admitida pela
legislação do Imposto de Renda. Entretanto, esse método é aceito pelos princípios contábeis e
utilizado para avaliações gerenciais.

O risco que se corre na utilização desse método e que, observando o exemplo anterior podemos
verificar que o estoque de materiais está avaliado por preços antigos. Quando houver a utilização
desse estoque sem que tenha havido compras adicionais, ele será apropriado ao produto, que estará
subavaliado em comparação aos preços recentes, aparecendo nesse momento o resultado não
apresentado anteriormente.

116
CAPÍTULO 3
Análise da Folha de Pagamento

Cálculo de Ordenados, Salários e dos


Encargos
Nos EUA, como em alguns outros países, não se incluem, muitas vezes, ao custo de Mão de Obra
Direta, os Encargos Sociais, pois, além de serem irrelevantes, nem sempre dependem da própria
Mão de Obra. Já no Brasil essa situação tem uma amplitude bem maior, sendo necessária a inclusão
dos encargos no custo horário da Mão de Obra Direta.

Mão de Obra Direta é aquela relativa ao pessoal que trabalha diretamente sobre o produto em
elaboração, desde que seja possível a mensuração do tempo despendido e a identificação de quem
executou o trabalho, sem necessidade de qualquer apropriação indireta ou rateio. Se houver qualquer
tipo de alocação por meio de estimativas ou divisões proporcionais, desaparece a característica de
“direta” (MARTINS, 2008).

Em decorrência da nossa Legislação Trabalhista é preciso calcular para cada empresa ou para cada
departamento, qual valor a ser atribuído por hora de trabalho, incluindo os repousos semanais
remunerados, as férias, o 13° salário, a contribuição ao INSS, a remuneração dos feriados, as faltas
abonadas por gala, nojo etc., além de vários outros direitos garantidos por acordos ou convenções
coletivas de trabalho das diversas categorias profissionais. Mas quanto monta esse total?

A maneira mais fácil de calcular esse valor é a empresa apurar o gasto que lhe cabe por ano e dividi-lo
pelo número de horas em que o empregado efetivamente se encontra à sua disposição. Por exemplo:

Vamos admitir que um operário seja contratado por $10,00/h. A jornada máxima permitida pela
Constituição brasileira é de 44 horas semanais (Sem considerar horas extras). Em uma semana de
seis dias, sem a compensação do sábado, a jornada máxima diária será de 7,3333 horas ( 44 ÷ 6),
que equivalem a 7 horas e 20 minutos.

Dessa forma, pode-se estimar o número máximo de horas que um trabalhador pode oferecer à
empresa:

Número total de dias por ano 365 dias


( – ) Repousos Semanais remunerados(*) 48 dias
( – ) Férias 30 dias
( – ) Feriados 12 dias
( = ) Dias a disposição do empregador 275 dias
X jornada máxima diária (em horas) 7,3333 horas
( = ) Horas a disposição por ano 2.016,7 horas
(*) deduzidas quatro semanas já computadas nas férias
A remuneração anual desse operário será:
Salários: 2.016,7 h X $10,00 $20.167,00

117
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

Repousos Semanais: 48 X 7,3333 = 352 h X $10,00 $3.520,00


Férias: 30 dias X 7,3333 = 220 h x $10,00 $2.200,00
13° Salário: 220 h X $10,00 $2.200,00
Adicional Constitucional de Férias: (1/3 de “Férias”) $733,33
Feriados: 12 X 7,3333 h = 88 h X 10,00 $880,00
Total $29,700,33

Sobre esse total incidem as seguintes contribuições:

Previdência Social 20,00%


Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) 8,00%
Rateio Acidentes de Trabalho 3,00%
Salário-Educação 2,50%
SESI ou SESC 1,50%
SENAI ou SENAC 1,00%
INCRA 0,20%
SEBRAE 0,60%
Total 36,80%

Cálculo da Taxa Horária da Mão de Obra


E o Custo-Hora será:

Esses encargos sociais, mínimos, tendo em vista não estarem sendo computados outros gastos, tais
como: Aviso-prévio, Multa do FGTS (40,00%) na despedida, Indenização compensatória, tempo
de dispensa na despedida, faltas abonadas etc., como também foi considerada a jornada máxima
permitida de 44 horas semanais, ocasionam um acréscimo de (20,14 ÷ 10,00) – 1 = 101,4% sobre
o salário contratado. Portanto, o valor a ser atribuído por hora trabalhada será de $20,14 e não os
$10,00 contratuais.

Os valores apresentados nesse exemplo são apenas uma indicação de raciocínio; cada empresa deve
elaborar seus próprios cálculos, já que há variações caso a caso.

Separação da Mão de Obra Direta e da Mão


de Obra Indireta
Podemos classificar como Mão de Obra Direta o gasto com o operário que trabalha na linha de
produção, manuseando um produto ou componente de cada vez. Entretanto, se um outro operário
trabalha nessa linha de produção, supervisionando várias máquinas, cada uma executando uma
operação em um produto diferente, não se tendo a possibilidade de se verificar quanto de tempo
desse supervisor cada produto consome, estaremos diante de um tipo de Mão de Obra Indireta.

Nessa linha de raciocínio poderíamos subclassificar a Mão de Obra Indireta sempre como:

118
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

»» Aquela que pode, com menor grau de erro e arbitrariedade, ser alocada ao produto,
como a de um operador de grupo de máquinas.

»» Aquela que só é apropriada por meio de fatores de rateio, de alto grau de


arbitrariedade, como os das chefias de departamentos etc.

Com a evolução tecnológica há uma tendência de que se reduza, cada vez mais, a proporção de Mão
de Obra Direta no custo dos produtos; Martins (2008) persevera que “a mecanização e a robotização
reduzem o número global de pessoas, especialmente daquelas que operam diretamente sobre o
produto”.

Cita ainda Martins (2008) alguns exemplos mais comuns de Mão de Obra Direta: torneiro,
prensista, soldador, cortador, pintor etc. e de Mão de Obra Indireta: supervisor, encarregado de
setor, carregador.

119
CAPÍTULO 4
Apuração dos Custos

Síntese do Esquema Básico Completo


1. Passo: Separação entre Custos e Despesas.

2. Passo: Apropriação dos Custos Diretos diretamente aos produtos.

3. Passo: Apropriação dos Custos Indiretos que pertencem, visivelmente, aos


Departamentos, agrupando, à parte, os comuns.

4. Passo: Rateio dos Custos Indiretos comuns e dos da Administração Geral da


produção aos diversos Departamentos, quer de produção, quer de serviços.

5. Passo: Escolha da sequência de rateio dos Custos acumulados nos Departamentos


de Serviços e sua distribuição aos demais Departamentos.

6. Passo: Atribuição dos Custos Indiretos, que agora só estão nos Departamentos de
Produção, aos produtos, segundo critérios fixados.

FLUXO DOS CUSTOS E DESPESAS EM EMPRESAS POR DEPARTAMENTO


Custos de Produção Despesas de Adm. de
Vendas e Financeira
Indiretos Diretos

R Comuns Alocáveis Diretamente


aos Depart.
Depart. Serviço A
Vendas
R

Depart. Serviço B

Depart. Serviço C

R Produto X

Depart. Serviço D

R
Produto Y

Estoques

Custos de Produção

R = Rateio RESULTADO

120
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

Departamentalização
Conforme nos demonstra o ilustre Professor Dr. Antonio Gustavo da Mota, podemos entender o seguinte:

Departamento: É a unidade administrativa para a Contabilidade de Custos, representada por


homens e máquinas desenvolvendo atividades homogêneas.

Centros de Custos: Na maioria das vezes um departamento é um Centro de Custos, ou seja, nele
são acumulados os custos indiretos para posterior alocação aos produtos ou a outros departamentos.
Podem receber a classificação de produtivos, não produtivos/serviços/auxiliares etc.

Essa técnica de departamentalizar a entidade em centros acumuladores de custos é o que


denominamos de custeamento ou custos por responsabilidade, que serve para melhor identificar
as responsabilidades, autoridade, custos, objetivos e metas dos centros específicos, possibilitando o
controle dos gastos e realizações pelos próprios responsáveis.

Por que Departamentalizar?

Para uma racional distribuição dos custos indiretos, pois a simples alocação aos produtos em
determinadas empresas, não espelha a correta apropriação dos custos aos produtos.

Sistema de Custeio

Custeio por absorção


Custeio por Absorção Integral (Total): Todos os custos são identificados com os produtos com
o objetivo de fornecer informações aos usuários externos.

Custeio por Absorção Ideal: Todos os custos são identificados com os produtos de acordo com
sua utilização eficiente. Os custos ineficientes (desperdícios) são do período. Tem como objetivos
principais o apoio ao controle e ao processo de melhoria contínua da empresa, como também a
Quantificação do Desperdício.

Custeio por Absorção é o método derivado da aplicação dos Princípios Fundamentais de


Contabilidade.

Esse método foi derivado do sistema desenvolvido na Alemanha no início do século 20 conhecido
por RKW (Reichskuratorium fur Wirtschaftlichtkeit).

Consiste na apropriação de todos os custos (diretos e indiretos, fixos e variáveis) causados pelo uso de
recursos da produção aos bens elaborados, e só os de produção, isso dentro do ciclo operacional interno.
Todos os gastos relativos ao esforço de fabricação são distribuídos para todos os produtos feitos.

É útil em empresas que têm processo de produção pouco flexível e com poucos produtos.

A auditoria externa tem-no como base. Dessa forma, são perfeitamente inventariáveis e tratados
como custos dos produtos acabados e em elaboração. Apesar de não ser totalmente gerencial, é
aceito para fins de avaliação de estoques (para apuração do resultado e para o próprio balanço).

121
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

Características:

1. Engloba os custos totais: fixos, variáveis, diretos e/ou indiretos.

2. Primeiro – faz a alocação, dos custos indiretos, no centro de custos (auxiliares e


produtivos).

3. Segundo – faz a alocação dos centros de custos para os produtos.

4. Os CIFs acabam transferindo-se, contabilmente, para a conta de estoques de


produtos acabados.

5. É útil nas empresas que têm processo de produção pouco flexível e poucos produtos.

6. Os resultados apresentados sofrem influência direta do volume de produção.

Vantagens:

1. Considera o total dos custos por produto.

2. Forma de custos para estoques.

3. Permite a apuração do custos por centro de custos.

Desvantagens:

1. Poderá elevar artificialmente os custos de alguns produtos.

2. Não evidencia a capacidade ociosa da empresa.

3. Os critérios de rateios são sempre arbitrários, portanto, nem sempre justos.

A aplicação do custeio por absorção pode ser feita levando-se em conta a departamentalização ou
não. Isso após de feita uma avaliação criteriosa da composição dos custos, para verificar o volume
dos custo indiretos, conforme a convenção da materialidade. Vejamos os exemplos abaixo:

»» Cálculo sem Departamentalização

Uma fábrica produz dois produtos (1 e 2). Em tem a composição dos seus custos formada por:

Custos Valor Total Produto 1 Produto 2


Diretos
MP * 27.000,00 8.000,00 19.000,00
MOD ** 9.000,00 4.000,00 5.000,00
Total 36.000,00 12.000,00 24.000,00
Indiretos
Depreciação 3.000,00
Seguros da fábrica 1.000,00
Materiais diversos 2.000,00

122
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

MO Indireta 3.000,00
Manutenção 3.000,00
Total 12.000,00

Os custos diretos são transferidos aos produtos por meio do consumo efetivo e pelo tempo de
produção de cada produto, não havendo grandes dificuldades nesses cálculos.

*a MP foi alocada aos produtos com base no sistema de controle de estoques que a empresa dispõe.

**a MOD é foi alocada com base nas apontações das horas trabalhadas para cada produto.

Já os custos indiretos, como o próprio conceito exprime, não têm uma identificação clara para com
os portadores finais, necessitando de critérios de rateio para sua alocação.

O processo mais simples é alocar tais custos tendo uma única base, como, por exemplo, a proporção
de custos diretos que cada produto consome ou o valor da Mão de Obra direta, entre outros critérios.

a. Com base no total dos custos diretos:

Produtos Custos de Produção Proporção Indiretos Total dos Custos


Prod. 1 12.000,00 33,33% 4.000,00 16.000,00
Prod. 2 24.000,00 66,67% 8.000,00 32.000,00
Total 36.000,00 100,00% 12.000,00 48.000,00

b. Com base na MOD:

Produtos MP MOD Proporção Indiretos Total dos Custos


Prod. 1 8.000,00 4.000,00 44,44% 5.332,80 47.332,80
Prod. 2 19.000,00 5.000,00 55,56% 6.667,20 30.667,20
Total 27.000,00 9.000,00 100,00% 12.000,00 48.000,00

»» Cálculo com Departamentalização

Quando da opção pelo cálculo com base na departamentalização devem-se seguir alguns
passos básicos. O exemplo abaixo descreve todos os passos partindo do levantamento
dos dados até a contabilização.

O PRIMEIRO passo a ser dado para a realização de uma contabilidade de Custos


consiste no LEVANTAMENTO dos gastos do período.

O SEGUNDO consiste na distinção entre CUSTOS e DESPESAS e sua classificação em


custos de produção, despesas de distribuição, de vendas, de administração etc.

De modo geral, a função PRODUÇÃO gera CUSTOS e as funções de VENDAS,


DISTRIBUIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO etc. geram DESPESAS.

O TERCEIRO, a realização de uma Contabilidade de Custos, consiste na classificação


dos Custos em DIRETOS e INDIRETOS.

123
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

O QUARTO consiste na alocação dos custos indiretos aos departamentos produtivos e


auxiliares.

Os Centros auxiliares subdividem-se em centros auxiliares comuns, que prestam serviços


a outros centros de custos, de todas as funções, e centros auxiliares da produção, que
prestam serviços apenas a centros produtivos.

Algumas espécies (ou elementos) de custos identificam-se imediata e diretamente com


determinado(s) setor(es), podendo ser alocados diretamente ao(s) centro(s) respectivo(s).
Outras espécies (ou elementos) de custos se identificam apenas indiretamente com os
respectivos setores, necessitando de uma base de rateio para sua alocação aos centros de
custos. Nesse caso, ao efetuar-se o rateio procura-se respeitar o princípio causal.

O QUINTO, o rateio dos custos indiretos auxiliares, comuns e da produção, aos


respectivos setores demandantes de seus serviços, os centros da produção, de acordo
com uma chave de rateio e uma base de rateio lógicas.

A prestação de serviços por parte dos centros auxiliares ocorre para os centros de
produção, de vendas, de distribuição e para próprios centros auxiliares.

OS CENTROS AUXILIARES prestam serviço a outros centros de custos.

PARA QUE SEJA POSSÍVEL APROPRIAR OS CUSTOS DOS CENTROS AUXILIARES


PRESTADORES DE SERVIÇOS aos centros usuários, compete a identificação de medidas
que expressem uma relação de causa e efeito, entre serviços recebidos e custos a serem
atribuídos. Essas medidas são próprias e específicas de cada centro de custos, podendo
ser simples, ou, então, compostas. Sua denominação técnica costuma ser chave de rateio.
A CHAVE DE RATEIO DOS CUSTOS dos centros auxiliares pode ser a área útil ocupada
(Manutenção de Prédios), o número ou o valor de requisições (almoxarifado), o tempo
gasto na execução do serviço (oficina mecânica), a potência instalada em cada centro de
custos (gerador de energia) ou, ainda, o número de empregados lotados em cada centro
de custos (assistência médica). Como cada centro auxiliar presta serviços a centros
de produção, distribuição, vendas e administração e aos demais centros auxiliares,
pode haver interdependência de serviços, face o que se recomenda uma adequada
operacionalização dos rateios.

A técnica recomendada para a execução do rateio é a da acumulação gradativa, da


esquerda para a direita, ordenando-se adequadamente aos centros de custos auxiliares.

Para evitar que ocorra no esquema o chamado RATEIO RETROATIVO (rateio para trás),
é importante ordenar adequadamente a sequência dos centros de custos auxiliares.

Essa ordenação deve ser processada de forma que, sempre, centros anteriores prestem
serviços para centros posteriores e seja evitado o contrário.

124
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

O SEXTO, cálculo do CUSTO FINAL dos Centros de Custos Produtivos, é o somatório


dos CUSTOS PRIMÁRIOS dos centros de produção com os CUSTOS SECUNDÁRIOS
dos centros de custos auxiliares rateados aos produtivos.

O SÉTIMO consiste na especificação dos COEFICIENTES SELETIVOS, para servir


de base de cálculo do custo unitário de cada centro de custos produtivos, bem como
dos ÍNDICES DE APROPRIAÇÃO, para o cálculo de custo unitário dos centros de
distribuição, vendas e administração ou dos respectivos percentuais de sobre-custo.

Os coeficientes seletivos mais comuns constituem-se nas HORAS-HOMENS ou


HORAS-MÁQUINAS trabalhadas nos centros de custos. Outros coeficientes seletivos
são a QUANTIDADE DE MATERIAIS INSUMIDOS (em kg) ou a QUANTIDADE DE
PRODUTOS PRONTOS ELABORADOS (em kg).

Os custos de distribuição, vendas e administração costumam ser apropriados em relação


ao CUSTO INDIRETO DE FABRICAÇÃO (CIA/CIF), ao CUSTO DE FABRICAÇÃO total
(CIA/CF) ou, menos aconselhável, em relação ao Valor das Vendas (CIA/VV).

O OITAVO consiste no cálculo dos custos setoriais unitários. Está concluída a etapa de
cálculo dos custos setoriais indiretos, com auxílio do Mapa de Localização de Custos.

A partir daí, inicia o cálculo do custo dos produtos propriamente dito, em que os
custos e despesas indiretos são apropriados aos produtos ou serviços produzidos (no
período de referência) com auxilio de boletins de apropriação de custos aos produtos
(individualizados) ou de mapa de apropriação de custos aos produtos (grupalizados).

O NONO consiste na determinação dos insumos físicos por produto, seja quanto aos
materiais básicos (diretos) e Mão de Obra direta utilizados, seja quanto aos custos
setoriais consumidos.

O DÉCIMO consiste no cálculo do custo por produto, no total e unitariamente, no


boletim de apropriação de custos.

»» Esquema para apuração do CPV

Estoque Inicial de Matéria-Prima.

(+) Compras de Matéria-Prima.

(=) Material Disponível para a Produção.

( - ) Estoque Final de Matéria-Prima.

(=) Matéria-Prima Consumida na Produção.

(+) Mão de Obra Direta.

(+) Gastos Gerais de Fabricação.

125
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

(=) Custo de Produção do Período.

(+) Estoque Inicial de Produtos em Elaboração.

(=) Custo dos Produtos em Elaboração.

( - ) Estoque Final dos Produtos em Elaboração.

(=) Custo dos Produtos Acabados.

(+) Estoque Inicial de Produtos Acabados.

(=) Custo dos Produtos Disponíveis para Venda.

( - ) Estoque Final de Produtos Acabados.

(=) C. V. P.

Mátéria-Prima
S.I.
Compras VALOR A

S.F.

M.O.D Produtos em Elaboração Produtos Acabados


SALDO S.I. VALOR D
S.I.
VALOR D
VALOR B VALOR A
VALOR B VALOR D
VALOR C
S.F.

S.F.
G.G.F. 3
SALDO 2
VALOR C
1 Custo Fabril
1
2 Custo dos Produtos Fabricados

3 C.P.V.

Custeio Direto ou Variável (DIRECT COSTING)


Custeio variável (Direto): Os custos fixos não são identificados com os produtos e seus principais
objetivos são o de dar apoio a tomadas de decisões de curto prazo e as análises de Custo-Volume-Lucro.

O Método de Custeio Direto, ou Variável, propõe que os embarques de custos, classificados por
espécie (natureza) de custos, sejam analisados e reclassificados em custos fixos e custos variáveis.

As características essenciais do método de custeio variável são:

1. realizar uma análise das cargas de custos, classificando-as em fixas e variáveis;

2. atribuir ao custo final dos produtos somente as cargas variáveis, obtendo-se, assim,
um custo final variável dos produtos.

126
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

Os usuários do custeio direto ou variável (direct costing) sugerem que, no cálculo dos custos finais
por produto, sejam considerados apenas os custos variáveis e que os custos fixos sejam levados em
sua totalidade ao resultado do período, por não serem considerados como elementos componentes
do custo dos produtos, conseguindo-se, assim, o custo variável final dos produtos.

As cargas de custos fixos não são consideradas custos do período, isto é, contabilmente, despesas
operacionais.

Essa metodologia pode ser justificada pelo conceito de custo do período, isto é, os custos de produção
fixos e as despesas de comercialização, distribuição e administração fixas são custos (contabilmente,
despesas operacionais) do período e não do produto.

A aplicação de um ou de outro método para o cálculo do custo dos produtos incide, de maneira
direta, em duas questões:

a. a valoração ou quantificação financeira dos estoques; e.

b. a determinação do resultado (lucro operacional bruto) do período ou exercício.

No Brasil, o Método de Custeio Direto ou Variável não é aceito para fins contábeis e fiscais, de valoração
de estoques e de determinação do resultado do período, por ferir os Princípios Fundamentais de
Contabilidade.

Ele somente pode ser utilizado para fins gerenciais, de tomada de decisão, sobretudo a curto prazo.

Os dois métodos de custeio global (full costing) e o variável (direct costing) são irreconciliáveis
formalmente, isto é, não podem ser aplicados concomitantemente, numa só vez.

Para finalizar, com base no custeio variável, só são alocados aos produtos os custos variáveis, sendo
os custos fixos separados e considerados como despesas do período, lançados diretamente para o
resultado do exercício; no estoque só serão considerados, consequentemente, os custos variáveis
(indiretos e/ou diretos), motivo que leva a legislação a não o aceitar, ou ainda, dentro desse método,
os custos variáveis são considerados como atribuíveis aos produtos e, por conseguinte, debitados
na produção e incluídos no custo dos estoques – é o caso de materiais e Mão de Obra direta. Já
os custos fixos são tratados como despesas do período e, portanto, não são ativados na conta de
estoques.

O custeio variável tem a finalidade de proporcionar à administração maior informação sobre a


relação existente entre custos, volume e resultado.

Características:

1. considera somente os custos variáveis, sendo diretos ou indiretos;

2. seu enfoque é no produto;

3. os resultados apresentados sofrem influência direta do volume de vendas;

127
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

4. é um critério administrativo gerencial e interno;

5. apresenta a contribuição marginal que é igual à diferença entre as receitas e os


custos diretos e variáveis dos segmentos estudáveis;

6. o custeio variável estima-se a auxiliar, sobretudo, a gerência do processo de


planejamento e tomada de decisão, principalmente a curto prazo;

7. enfoca, principalmente, o custo unitário de produção;

8. requer a separação dos custos fixos e variáveis.

Vantagens:

1. enfoque gerencial;

2. não incorre em erros de rateios;

3. permite uma análise da contribuição direta de cada produto para com os resultados,
pela análise da margem de contribuição;

4. os dados necessários para a análise da relação custo/volume/resultado são


rapidamente obtidos;

5. é totalmente integrado com o custo-padrão e orçamento flexível.

Desvantagens:

1. ao não considerar os CFs acaba tendo uma visão de curto prazo;

2. isoladamente, não se aplica para formação do preço de venda;

3. deve ser avaliado com detalhe em empresas de elevado Ativo Imobilizado, pois não
considera a depreciação, quando esta for calculada pelo método linear ou outro
método que a transforme num custo fixo;

4. a exclusão dos CFs indiretos para a valoração do estoque causa subavaliação. Fere
os princípios contábeis.

Custeio ABC10
O método de custeio ABC tem como objetivo identificar os recursos disponíveis na organização
e associá-los, por meio de geradores de direcionadores de custos (cost-drivers) primários, às
atividades executadas. Em seguida, essas atividades são associadas a outras atividades ou a objetos
de custo por meio de geradores de custo secundários. Objetos de custo constituem os produtos,
os clientes, os mercados ou qualquer outra entidade interna ou externa à empresa que consome
atividades e que gera custos e/ou receitas.
10 Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/4161/1/a-metodologia-abc-na-estrategia-de-custos/pagina1.html>.

128
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

Como exemplo, podemos citar um evento empresarial que demanda recursos multifuncionais e
recursividade de atividades, como é o caso da venda de um produto. Esse evento requer a execução
das seguintes atividades principais: identificação e conquista do cliente, contato e contratação da
venda, identificação da disponibilidade de produtos, emissão do pedido de vendas, preparação do
produto e embalagem, expedição e transporte do produto, emissão da nota fiscal e cobrança do
cliente, recebimento da fatura, assistência técnica ao cliente e garantias do produto. Como podemos
notar, vários departamentos estão envolvidos num mesmo evento, que no caso são os departamentos
de marketing, vendas, expedição, financeiro, produção, logística e assistência técnica.

Outro complicador diz respeito aos efeitos temporais, pois um evento atual envolve atividades
muitas vezes desenvolvidas hoje, atividades já desenvolvidas em meses anteriores e atividades a
serem desenvolvidas em meses seguintes. Como fazer para analisar se esse evento trouxe ou não
rentabilidade para a empresa se o sistema de custo atual é baseado em regime de competência
de exercícios e, portanto, é rígido quanto à temporalidade dos custos? Portanto, o sistema de
custos tradicional nos moldes atuais está muito mais orientado à análise funcional de custos e ao
acompanhamento orçamentário por centro de custos do que às análises para tomada de decisões
estratégicas e operacionais.

Mas como o ABC pode ajudar? Os principais benefícios do ABC residem na sua linguagem, que
se aproxima das áreas operacionais, da possibilidade de rastreamento dos custos por meio dos
departamentos/atividades, da criação de uma sistemática de análise de resultado por evento, o que
independe do aspecto temporal das atividades complementares a esse evento, da criação de objetos
de custo novos como clientes e mercados (diferentemente do sistema tradicional que visa somente
à apuração de custos do produto), do entendimento de que tudo que se gasta é custo, e, portanto
deve agregar valor ao cliente, e, finalmente, pela alocação mais precisa de custos de overhead,
normalmente apropriado ao produto por critérios de rateio pouco racionais.

O objetivo principal do sistema ABC é a alocação racional dos gastos indiretos aos bens e serviços
produzidos, proporcionando um controle mais apurado dos gastos da empresa e melhor suporte nas
decisões gerenciais, além de:

»» Realçar as diferenças entre o custeio do produto tradicional e por atividade.

»» Descrever a abordagem tradicional ao custeio do produto, incluindo suas limitações.

»» Descrever a abordagem do custeio por atividades, incluindo discussão dos elementos


rastreáveis de custo.

»» Discutir algumas considerações especiais, como:

›› Frequência de Cálculo.

›› Custos de Preparação.

›› Custos de Gargalo de Produção.

›› Ordens de Produção.

129
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

O custo por atividades registra o consumo dos recursos na execução de atividades, visto que os
produtos consomem atividades e materiais.

O sistema de custeio por atividades distribui materiais e todas as atividades são rastreáveis aos
produtos com base no consumo de cada uma.

A base do funcionamento do sistema de Custo ABC pode ser classificada em duas categorias:

1. Primárias – Atividades relacionadas com o produto.

2. Secundárias – Atividades Relacionadas com a organização e sua gestão.

O produto de uma atividade deverá estar sempre ligado à satisfação de uma necessidade de um
cliente interno (outro setor da empresa) ou de um cliente externo (consumidor final).

O custo por atividades representa uma grande mudança em relação ao sistema tradicional de
contabilidade de custos.

As diferenças são as seguintes:

O sistema ABC se diferencia dos custos tradicionais no momento em que os custos começam a
ser computados. Por exemplo, em um processo industrial, os custos gerados pelo recebimento
da matéria-prima são considerados na formação do custo do produto. Nos custos tradicionais, a
acumulação dos custos dos produtos inicia-se somente com o processamento da matéria-prima.
No ABC são computadas, também, as despesas que irão decorrer de garantia e atendimento ao
consumidor após o momento da entrega do produto. Nos sistemas tradicionais, não existe esse tipo
de preocupação, sendo o custo do produto encerrado no momento da sua passagem ao estoque de
produtos acabados.

A ênfase está na determinação do custo das atividades de produção e suporte (processos).

O custo do produto é um objetivo secundário.

A Mão de Obra direta é debitada à atividade (processo) e não ao produto. Essa abordagem elimina
a necessidade de apropriar a Mão de Obra ao produto.

Grupo de custos é sinônimo de atividade. A prática de utilizar um único ou um número limitado de


grupos de custo é eliminada.

O consumo da atividade é baseado na quantidade de medidas (unidades) da atividade consumidas


pelo produto. A medida da atividade representa a saída (produção) da atividade.

A identificação ou rastreamento direto das atividades aos produtos reduz o valor das despesas
indiretas de fabricação a ser distribuído aos produtos.

O rastreamento direto das atividades aos produtos não distingue os custos diretos dos indiretos.

130
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

O custo é atribuído diretamente sempre que pode ser estabelecida uma relação de causa e efeito
entre a atividade e o produto.

Os custos rastreáveis de marketing, vendas, engenharia e outros custos de suporte são também
debitados diretamente aos produtos. Assim, enfocamos o custo total da empresa e não apenas o
custo de produção.

O custo do produto inclui o custo total de desenvolvimento, fabricação e distribuição de um produto.

Muitos custos incorridos durante o ciclo de vida do produto, que tradicionalmente são considerados
despesas, serão agora rastreados aos produtos e distribuídos ao longo de sua existência.

O custo do ciclo de vida propicia à administração uma visão da lucratividade em longo prazo,
permite combinar melhor as estratégias de preços ao custo dos produtos nos diferentes estágios
do ciclo de vida e torna possível a quantificação do impacto no custo das alternativas de projeto do
produto e do processo.

O impacto das variações de volume das atividades no custo do produto também pode ser quantificado.

Medidas não financeiras de desempenho são incorporadas para avaliação global do desempenho do
produto.

Os dois benefícios principais do custo ABC são:

1. Acuracidade do custo do produto.

2. Visibilidade das oportunidades de redução de custos e melhorias de desempenho.

Podemos inferir que o sistema ABC pode ser adotado nas áreas administrativas e comerciais da
empresa da mesma forma que é empregada na área de produção, iniciando pela análise da estrutura
dos gastos dessas áreas com a determinação dos fatores que deram origem à demanda, de acordo
com as funções desempenhadas.

O sistema de Custo ABC tenta sanar um problema crônico existente nos sistemas tradicionais, que
é o rateio dos custos indiretos da fabricação, baseado em critério arbitrariamente selecionado. O
sistema ABC diminui alocações de custos com base em rateios, pois por meio de pesquisas em
processos procura localizar as origens dos custos, podendo, assim, alocá-los com mais exatidão aos
bens e serviços produzidos.

Custeio de Ordens e de Encomendas


Os diversos trabalhos publicados sobre Produção por Ordem e sobre Produção Contínua, nos leva
a pensar que sejam duas formas totalmente distintas de se distribuir custos. A verdade é que as
diferenças existentes entre essas duas formas são mínimas, como veremos a seguir.

131
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

Distinção entre produção por ordem e produção


contínua
Dois fatores são determinantes para o tipo de Custeio a ser utilizado, se por Ordem ou por Processo
(Contínuo):

a. A forma: quando a empresa trabalha produzindo produtos iguais de forma


Contínua (um ou vários), fundamentalmente para estoque, terá aí caracterizada
sua natureza. Se produz atendendo a encomendas dos clientes, ou então, produz
também para venda posterior, mas de acordo com determinações internas especiais,
não de forma contínua, estará incluída entre as de Produção por Ordem.

b. Conveniência Contábil-Administrativa: Segundo Martins (2008), inúmeras


vezes procedem-se algumas mudanças em função de conveniência. Por exemplo,
uma empresa pode ter uma encomenda que leve cinco meses de trabalho; em vez
de custear como se fosse uma ordem, faz um custeio como se fosse uma produção
contínua durante esse tempo.

Diferenças no tratamento contábil


Na Produção por Ordem, os custos são acumulados numa conta específica para cada ordem ou
encomenda. Essa conta só para de receber custos quando a ordem estiver encerrada.

Já na Produção Contínua, os custos são acumulados em contas representativas das diversas


linhas de produção; essas contas são encerradas sempre no fim de cada período (mês, semana,
trimestre ou ano, conforme o período mínimo contábil de custos da empresa. Não há encerramento
das contas à medida que os produtos são elaborados e estocados, mas apenas quando do fim do
período; na apuração por processo não se avaliam custos unidade por unidade, e sim à base do custo
médio do período (com a divisão do custo total pela quantidade produzida).

132
CAPÍTULO 5
Custos no Setor Hospitalar

Conceito
A Contabilidade de Custos apresenta uma série de informações para o controle dos gastos internos.

Para o levantamento dos custos hospitalares é necessário conhecer os elementos que constituem
tais custos.

Martins (2003, p. 25) define custo como um gasto relativo a um bem ou serviço utilizado na produção
de outros bens e serviços.

O gasto é reconhecido como custo no momento da utilização dos fatores de produção (bens e
serviços) para a fabricação de um produto ou execução de um serviço.

Para Martins (2000), a gestão dos custos hospitalares apresenta os seguintes objetivos:

a. demonstrar os resultados que exijam correção;

b. auxiliar na determinação do preço de venda;

c. subsidiar as decisões de investimentos de infraestrutura; e.

d. definir os volumes de estoques de materiais e equipamentos necessários.

Finalidade
Auxiliar os gestores no processo decisório.

Segundo Falk (2001), o foco da contabilidade de custos hospitalares é maximizar os custos para
aumentar a receita obtida, mediante reembolso baseado em custos.

A elevação dos gastos com saúde levou o governo, seguradoras e organizações privadas voltadas para
convênios médicos, a conduzirem esforços para conter esses custos, considerando que variavam por
pacientes, dependendo, por exemplo, da severidade da doença e do prazo médio de permanência
no hospital.

Segundo Ching (2001), a informação de custo hospitalar é útil, quando possibilita:

»» o entendimento de seu comportamento;

»» a identificação e a elaboração de estratégias de contenção dos custos;

133
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

»» o conhecimento da rentabilidade dos diversos procedimentos e serviços;

»» a identificação da rentabilidade dos diversos grupos de fontes pagadoras;

»» o estabelecimento de tabelas de preços diferenciadas;

»» a comparação e a determinação de correta alocação dos recursos entre os diversos


serviços de um mesmo hospital.

Objetivos do Sistema de Custos Hospitalares


Como a atividade hospitalar visa, na prática, a recuperação da saúde, o principal objetivo da
contabilidade de custos hospitalares procura definir o custo de cada procedimento hospitalar, sendo
que o principal procedimento é a hospedagem do paciente.

Como o produto hospitalar é um produto único, sem similar, a contabilidade de custos hospitalares
necessita de ferramentas próprias e de definições específicas. O produto hospitalar é diversificado,
com múltiplas alternativas, pois os procedimentos, além de numerosos, apresentam evolução técnica
contínua. O produto médico-hospitalar apresenta alto grau de instabilidade e de imprevisão e as
estatísticas, em termos de procedimentos, revelam variações muito grandes, no consumo de materiais
e medicamentos, por exemplo, que dificultam as previsões. A atividade médico-hospitalar apresenta
alto grau de risco quanto ao seu êxito final e o óbito é uma realidade quotidiana. Finalmente, por ser
a medicina mais arte que ciência, em que a subjetividade supera a objetividade, obriga o hospital,
para sua avaliação de desempenho, a elaborar um programa de contabilidade de custos próprio, que
ultrapasse as limitações de uma simples avaliação de custos, necessitando desenvolver uma técnica
que procure evidenciar os resultados.

Entre os objetivos do levantamento dos custos hospitalares, destacam-se:

1. permitir a comparação e avaliar a evolução dos custos, receitas e resultados;

2. oferecer à administração as informações necessárias para a tomada de decisões ou


soluções de problemas;

3. estabelecer orçamentos e tabelas de preços;

4. estabelecer metas do hospital em termos de equipamentos e instalações;

5. reduzir das despesas, evitando desperdícios de materiais e esforços improdutivos


de Mão de Obra.

134
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

Teoria e Princípios

Teorias dos custos.


»» Sistema tradicional de custeio por rateio.

O custo total da produção das empresas pode ser levantado diretamente pela contabilidade
geral. Cada produto da empresa tem os seus custos medidos proporcionalmente a todos
os recursos, onde a soma dos custos de todos os produtos representa o custo total dos
produtos das empresas. A contabilidade geral não alcança o custo de cada atividade
porque diversas atividades utilizam recursos comuns a outras atividades. Em outras
palavras, existem atividades dependentes de outras de modo não exclusivo.

A contabilidade de custos vai definir o custo de cada atividade, considerando os diversos


elementos que compõem esses custos, a partir de princípios claramente definidos:

1. Princípio de competência: despesas e receitas devem ser consideradas


exclusivamente em regime de competência. Com contabilidade em regime de caixa
é impossível elaborar contabilidade de custos coerente.

2. Centro de custo: é o setor, seção, ponto de referência que gera despesas. Os centros
de custos produtivos, além de despesas, geram receitas. São chamados também de
centro de custos principais, contrapondo-se aos centros de custos auxiliares que
fornecem a infraestrutura para os centros de custos principais trabalharem.

3. Despesas: são os recursos financeiros aplicados para alcançar determinado


objetivo. A cada centro de custo correspondem despesas diretas e despesas indiretas,
sendo que a despesa direta é aquela que é própria dele e diretamente provocada por
ele.

4. Custos fixos: são os custos que se mantêm iguais mesmo quando existe variação
de volume de atividade, ao contrário dos custos variáveis que oscilam em função
da produção. As noções de custos fixos e custos variáveis são importantes para a
análise do desempenho mais do que para a elaboração da contabilidade de custo,
sendo um conceito de gerenciamento e não técnico.

5. Custos diretos e indiretos: o custo direto é aquele ligado exclusivamente a


determinada atividade ou centro de custo. O custo indireto é aquele que é ligado a
atividades intermediárias do ciclo de produção que evolve diversas atividades.

6. Rateio: é a divisão proporcional dos valores apurados em centros de custos


auxiliares (custos indiretos) e atribuídos finalmente, como por efeito dominó, em
cascata, em centros de custos produtivos. A definição dos critérios de rateio deve ser
muito bem feita e necessita perfeito conhecimento do funcionamento do hospital.

135
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

»» Sistema ABC: custeio baseado em atividades.

O sistema tradicional de custo leva em consideração o volume das atividades


desenvolvidas, calculando o custo da produção efetivamente realizada. Na indústria,
costuma ser aplicada em unidades produtivas com alto índice de especialização, em que
o leque de produtos é muito limitado com pouca diferenciação quanto às especificações.
O sistema tradicional não leva em consideração o fato da ociosidade da empresa nem
sua eventual superprodução, pois a fixação dos preços é baseada nos custos internos da
empresa sem considerar a sua capacidade de produzir com custos menores.

O sistema ABC (Ativity-Based Costing) focaliza mais as atividades do que os recursos


envolvidos, em que os serviços ou produtos consomem atividades e são as atividades que
consomem recursos. Nessa perspectiva, a diferença entre os sistemas corre por conta de
tratamento diferenciado das despesas indiretas. A metodologia tradicional distorce os
custos unitários, pois supercusteia os produtos e serviços que apresentam alto volume de
produção e subcusteia os de pouco volume por atribuir de modo nivelado a cada grupo
os custos indiretos.

Metodologia de Cálculo (apuração de custos


por absorção)

Preliminares
PRIMEIRO PASSO: A definição dos diversos centros de custos do hospital é o primeiro passo
para iniciar o trabalho. Antes de tudo, há necessidade de se definir a extensão de cada centro de
custo. Precisa-se agrupar dentro do mesmo centro de custo as atividades próprias e específicas
que permitem desenvolver as atividades do centro de custo, como também fatos que permitem
caracterizar o centro de custos como tal.

SEGUNDO PASSO: O hospital inteiro deve ser preparado na base da definição dos centros
de custos para que cada serviço, setor, seção, possa fornecer as informações necessárias para o
perfeito funcionamento da contabilidade de custos. As informações necessárias dizem respeito à
contabilidade geral e à estatística geral do hospital. Cada setor deve fornecer informações em função
de todos os centros de custos do hospital.

Contabilidade geral
O plano de conta do hospital deve ser elaborado em função dos centros de custos do hospital; isso
significa que cada conta deve ser subdividida em subcontas em função dos centros de custos, tanto
para as receitas como para as despesas.

Isso significa que a contabilidade geral, para ser instrumento funcional da contabilidade de custos,
tem necessidade de receber informações de diversos setores em formato de contabilidade de

136
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

custos. Assim sendo, o faturamento precisa apresentar relatórios contábeis por centro de custo.
O faturamento precisa se adaptar ao sistema de competência de modo rigoroso. Como é a alta
do paciente que provoca o fechamento da conta hospitalar, devem ser computados no relatório
mensal de faturamento todas as contas de pacientes que receberam alta no mês de competência. O
faturamento deverá levar em consideração as transferências internas de pacientes. Para paciente de
longa permanência, deverá ocorrer fechamento parcial de conta.

O controle de materiais deverá fornecer relatórios contábeis de consumo por centro de custos. A
administração fornecerá relatórios de consumo por centro de custos que dê os detalhes do consumo:
especificação de materiais, preço unitário, quantidade consumida, preço total. O gerenciamento dos
custos precisa desses tipos de informações.

O departamento de pessoal deve organizar a apresentação da folha de pagamento, encargos sociais


e benefícios em função dos centros de custos do hospital. O gerenciamento do pessoal deve ser
rigoroso quanto à lotação dos funcionários: toda e qualquer modificação de lotação deve ser levada
em consideração para elaboração da folha de pagamento. Isso significa que todas as chefias devem
ser envolvidas no processo de custos para ter consciência da necessidade de aplicar o máximo de
rigor na hora de transmitir informações, inclusive a respeito do seu pessoal.

Estatística geral
Todos os setores do hospital deverão apresentar mapas estatísticos discriminando os dados em
função da contabilidade de custos. Os setores produtivos de serviços para outros centros de custos
deverão especificar os beneficiados pelos serviços recebidos. Na contabilidade de custos, cada centro
de custo se situa numa relação de cliente e prestador de serviço com os demais centros de custos.
Essa relação deve ser levada em consideração na hora de aplicar os mapas estatísticos aos setores
do hospital.

TERCEIRO PASSO: Os centros de custos devem ser ordenados dentro de um plano de centros de
custos. A elaboração do plano de centros de custos deve respeitar a ordem seguinte: começar pelo
centro de custo que mais trabalha para outros centros de custo e que menos recebe dos demais. O
último centro de custo do plano deve ser aquele que mais recebe serviços e menos presta serviço a
outros centros de custo.

Com a finalidade de facilitar a interpretação e a manipulação dos dados, os centros de custos podem
ser classificados em diferentes grupos, como, por exemplo:

»» Grupo A: centros de custos que trocam serviços entre si e trabalham


primordialmente para os centros dos outros grupos. Nesse grupo, encontramos:

›› edificações.

›› administração.

›› transporte próprio.

137
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

›› almoxarifado.

›› limpeza.

›› manutenção.

›› caldeiras.

›› SND.

›› Lactário.

›› Lavanderia, rouparia e costura.

›› Gerência de enfermagem.

›› Centro de material esterilizado.

›› Serviço social.

›› SPP.

›› alojamentos e utilidades.

»» Grupo B: centros de custos usados para apuração do custo da diária por tipo de
aposentos:

›› refeições a paciente.

›› berçário.

»» Grupo C: centros de custos que isolam os custos dos materiais usados diretamente
para o paciente, como:

›› medicamentos fornecidos a pacientes internados.

›› materiais fornecidos a pacientes internados.

›› medicamentos fornecidos a pacientes externos.

›› materiais fornecidos a pacientes externos.

›› filmes e materiais de radiologia.

›› dietas enterais e parenterais.

›› gasoterapia.

138
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

»» Grupo D:

›› os SADTs do hospital.

»» Grupo E: centros produtivos que agregam valores, mas que normalmente


dependem de outros centros de custos para que o valor agregado seja efetivo.

›› centro cirúrgico.

›› centro obstétrico.

»» Grupo F: centros de custos que permitem apurar os custos finais assim como a
receitas e resultados: são as unidade de internação, unidades gerais e especializadas,
isto é, unidades de onde os pacientes recebem alta.

Os demais grupos de centros de custos reúnem centros de custos que influenciam diretamente nos
custos do hospital, como, por exemplo:

»» Grupo G: centros que apuram custos de pacientes externos:

›› Pronto socorro.

›› Ambulatório.

›› Hemodiálise.

›› SADTs para pacientes externos.

»» Grupo H: centros de custos cujos custos não são apropriados de outros centros de
custos e que não afetam o grupo F:

›› Honorários médicos.

›› Alojamento e utilidades a funcionários.

›› Lanchonete.

›› Velório.

›› Remoção de pacientes.

›› Extraordinários a pacientes e acompanhantes.

QUARTO PASSO: Devem ser escolhidas em função do plano de custos, elaborado para o hospital,
as unidades de mensuração de cada centro de custos como também os critérios de rateios entre
centros de custos.

139
UNIDADE V │CUSTOS HOSPITALARES

Como exemplo, as unidades de mensuração podem ser as seguintes (chamamos Fonte, o elemento
básico que permite realizar a mensuração):

Centro de Custo Unidade de mensuração Fonte


Edificações Metro quadrado Planta do hospital
Transporte próprio Km rodado Estatística geral
Almoxarifado Consumo do mês Contabilidade geral
Limpeza Metro quadrado Planta do hospital
Manutenção Nº de reparos Estatística geral
Caldeira Hora de trabalho Estatística geral
SND Refeições servidas Estatística geral
Lavanderia, rouparia, costura Kg de roupa lavada Estatística geral
CME Volumes esterilizados Estatística geral
Serviço social Nº de casos atendidos Estatística geral
SPP Paciente – dia Estatística geral
SADT Exames realizados Estatística geral
Banco de sangue bolsa Estatística geral
Hemodiálise sessão Estatística geral
Centro cirúrgico Nº de cirurgias Estatística geral
Centro obstétrico Nº de partos Estatística geral
Unidades de internação Paciente – dia Estatística geral
Pronto socorro Consulta Estatística geral
Ambulatório Consulta Estatística geral
Administração Custo próprio Contabilidade geral

Quanto mais complexo o hospital, mais necessário será não considerar a administração como um
bloco compacto. Nesse caso, para cada departamento, devem ser definidos os critérios próprios
baseados na ideia de que cada setor presta serviço a diversos centros de custos do hospital de modo
variado.

Os critérios de rateio, de modo geral, obedecem às regras seguintes:

Custo da refeição Por peso de cada tipo


Custo da energia elétrica Por análise de demanda de cada setor
Custo da água Por análise de demanda de cada setor
Custo da contabilidade Por lançamento realizado
Custo do DP Por funcionário de cada centro de custo

Técnica da Contabilidade de Custos


Por meio de planilhas eletrônicas, as despesas e receitas do hospital são distribuídas, realizando os
cálculos de apropriação necessários para compor o custo de cada unidade produtiva.

A elaboração do mapa de apropriação do custo próprio é bastante simples: na forma vertical,


colocam-se todos os centros de custo do hospital e, na forma horizontal, as contas de despesas que
podem ser atribuídas diretamente a cada centro de custo e especialmente as contas de custo de
pessoal e as de consumo de materiais. Entram, também, na forma horizontal, todas as despesas

140
CUSTOS HOSPITALARES │ UNIDADE IV

oriundas de prestação de serviços externos e, ainda, diversos itens que foram objeto de análises
preliminares baseadas em rateios, como despesas financeiras, água, luz, telefone, taxas e impostos,
depreciações e amortizações.

Num segundo grupo de mapas, cada um por cada grupo de centro de custos, que apresenta uma
estrutura idêntica à do primeiro mapa, os custos indiretos são transferidos na base de rateio para os
centros produtivos, seguindo a estrutura do plano de centros de custos. A título de exemplo, o custo
de centro de custo Edificações é transferido para cada centro de custo que o utiliza e na proporção
em que ele é usado. O segundo centro de custo, após integralização dos seus custos próprios e dos
custos porventura recebidos, tem o seu custo total distribuído entre os demais centros de custo em
função dos pesos de cada um. A operação se repete até terminar as apropriações dos custos aos
centros de custos produtivos, passando por cada grupo de centro de custos.

Pelo segundo grupo de mapas, temos conhecimento do custo global de cada centro de custo. O
terceiro mapa elabora os custos unitários de cada centro de custo, mapa elaborado a cada fechamento
de mapa do grupo anterior. É necessário o fechamento de cada mapa do segundo grupo e o seu
mapa de custo unitário porque muitas vezes o preço unitário é usado em mapas posteriores, como,
por exemplo, o preço das refeições, o preço de intervenções de manutenção, o preço do km rodado,
o preço do kg de roupa lavada.

De posse dos mapas, podem ser emitidos relatórios explicativos para análises dos resultados e apoio
gerencial:

»» Relatórios de custos unitários, comparativos mensais com produtividade dos


períodos.

»» Demonstrativo de receitas e despesas com resultados por centro de custos e por


períodos.

»» Relatórios de composição de custos.

»» Relatórios de projeções de custos em função de variação de dados, visando ponto de


equilíbrio e aumento de lucratividade.

Gerenciamento dos Custos


Os relatórios fornecidos à administração devem ser devidamente analisados para tomar decisões
concretas para o melhor funcionamento possível do hospital. A confrontação dos resultados no
decorrer do tempo indica as tendências naturais do empreendimento. A partir da comparação dos
resultados pode-se prever o futuro do hospital.

A gestão pelos custos, ou a gestão dos resultados, necessita de análises microscópicas mais do que
de visão de conjunto.

A gestão dos resultados se preocupa em analisar dois fatos e a partir dessa análise propõe ações
específicas:

»» para se obter melhores resultados, quais os custos devem ser reduzidos?

»» para se obter melhores resultados, quais as receitas devem crescer?

141
UNIDADE IV │PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Para redução de custos, ou seja, para adequar os custos à produção, cada centro de custo deve ser
analisado, a começar pelos que proporcionam o maior déficit, aqueles que têm a menor margem
de lucro e aqueles que têm o maior custo. Cada item da composição do custo deve ser analisado de
modo crítico e em conjunto com as chefias envolvidas no sentido de eliminar o desperdício de Mão
de Obra, materiais e outros itens que compõem a despesa.

Aumentar a receita não significa apenas aumentar produção, deve-se levar em consideração vários
aspectos. O aumento de produção permite diluir os custos fixos. É importante verificar se uma
atividade com resultados financeiros negativos pode se tornar lucrativa com aumento de produção.
Há necessidade de se fazer um teste teórico de custos baseado em aumento de produção. Aumentar
produção além de certo patamar pode obrigar o hospital a aumentar custos fixos, o que obrigará a
revisar a contabilidade de custos inteira para dispor de novos dados para nova avaliação. O efeito
dominó nem sempre é o desejado.

142
FINANÇAS UNIDADE VI
CORPORATIVAS

CAPÍTULO 1
Aspectos Introdutórios

O Papel e as Funções do Administrador


Financeiro
A área financeira de empresas é conferida, normalmente, a um alto dirigente denominado
administrador financeiro. O papel do administrador financeiro é criar valor nas atividades de
investimento, financiamento e gestão de liquidez da empresa.

A criação de valor para a empresa ocorre quando a geração de caixa é superior ao dispêndio, ou seja,
a empresa deve gerar mais caixa do que consome.

Cumprindo o seu papel com habilidade, o administrador financeiro almeja:

»» a maximização do lucro da empresa;

»» a maximização da riqueza dos acionistas;

»» a preservação da riqueza dos stakeholders11; e.

»» a resolução dos conflitos de Agência12.

A figura que se segue (adaptada de ROSS; WESTERFIELD; JAFFE, 2002) apresenta uma
estrutura organizacional da área financeira de uma empresa. O tesoureiro e o controlador estão
subordinados ao diretor financeiro. O tesoureiro é responsável pela gestão de caixa, tomadas de
decisão de investimentos e elaboração do planejamento financeiro. O controlador gere a função da
contabilidade, incluindo as questões fiscais, a contabilidade de custos e financeira e os sistemas de
informação.

11 Empregados, clientes, fornecedores, credores e outros que possuem vínculo econômico direto com a empresa.
12 Conflitos entre o administrador e os proprietários.

143
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

Diretor Financeiro

Tesoureiro Controlador

Gerente de Gerente de Gerente de Planejamento Gerente Gerente de Gerente Gerente de TI


Caixa Crédito Capital Financeiro Fiscal Custos Contábil
Adaptada de Ross, Westerfield e Jaffe, 2002

As Principais Fontes de Financiamento


Segundo Brigham e Houston (1999), o financiamento da atividade produtiva depende do volume
de retenção de lucros, bem como da capacidade de captação de recursos de poupança do público.

As companhias utilizam diversas fontes de financiamento, que podem derivar tanto da retenção de
lucros, caracterizando o designado financiamento interno, quanto do endividamento e lançamento
de ações, caracterizando o denominado financiamento externo.

Financiamento Interno ou Autofinanciamento


A maneira mais simples de uma empresa se financiar é por meio do financiamento interno. Essa
maneira de obtenção de recursos é considerada limitada para muitos estudiosos da moderna teoria
das finanças13, haja vista que a empresa fica restrita aos recursos gerados no próprio negócio.

Segundo Ross, o financiamento interno que é denominado, também, de autofinanciamento pode ser
definido pela expressão:

Financiamento Interno = Lucro Líquido + depreciação – dividendos

Em face da “restrição” existente no autofinanciamento, sob o ponto de vista dos estudiosos da


moderna teoria das finanças corporativas, projetos interessantes com Valor Presente Líquido
(VPL) positivo e Taxa Interna de Retorno (TIR), acima da taxa mínima de atratividade, poderão ser
rejeitados devido à carência de recursos. Apesar dessa limitação, observa-se que grande parte dos
financiamentos das companhias dos países desenvolvidos é proporcionada por recursos do fluxo de
caixa gerados internamente.

Mayer (1988, p. 90) apud Moreira e Puga (2000, p. 3) destaca que:

[...] estudos já clássicos sobre a estrutura de capital, nos países desenvolvidos


(período 1970-1985), chegaram a conclusões relevantes dentre as quais
destacamos: (a) em todos os países analisados os recursos próprios são a
principal fonte de financiamento do crescimento das firmas; (b) existem,

ROSS, BRIGHAM e GITMAN são exemplos de autores dessa linha.


13

144
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

entretanto, diferenças marcantes entre os países em termos do grau de


autofinanciamento das firmas, com os EUA e o Reino Unido apresentando os
maiores índices; (c) os empréstimos são a principal fonte de financiamento
externo, particularmente em países como França, Itália e Japão.; e (d) o
papel do mercado de ações é limitado mesmo em países como o Reino Unido
e os EUA, onde esses mercados mais se desenvolveram. Corbett e Jenkinson
(1994) analisando um período mais longo (1970-1989) chegaram a conclusões
semelhantes, em particular quanto à importância do autofinanciamento para
os EUA e o Reino Unido e do crédito bancário para o Japão.

Na mesma direção do estudo retromencionado, dados recentes do Flow of Funds Accounts14 apontam
que nos Estados Unidos, primeira potencial mundial, apenas 25% do financiamento provêm de
novos recursos de terceiros (endividamento e emissão de ações). O mesmo banco de dados aponta
que entre as economias mais desenvolvidas do globo, o Japão, a França e a Itália são exceções, tendo
preferido o financiamento externo ao financiamento interno.

Financiamento Externo por meio de Endividamento


Outra maneira das companhias se financiarem é por meio de dívida para com terceiros. Nessa
modalidade de financiamento, a companhia aumenta o passivo exigível, que em determinados casos
pode prejudicar a saúde financeira da companhia, caso ela atravesse dificuldades financeiras.

Se, por exemplo, a companhia passar por dificuldades financeiras, os credores poderão reivindicar
judicialmente o pagamento das exigibilidades, levando-a à liquidação e à falência. Destarte, o
financiamento externo por meio de endividamento tem o que Brigham e Houston designaram de
altos custos de falência.

Entretanto, apesar dos altos custos de falência, os autores consideram que o custo do capital é
mais barato quando se utiliza capital de terceiros no lugar de capital acionário, pois aquele goza
de benefícios fiscais. O modelo WACC15 ilustra isso. Quanto maior a alíquota do Imposto de Renda
Pessoa Jurídica (IRPJ) maior será a vantagem da utilização de capital de terceiros em detrimento do
capital próprio. Em outras palavras, o aumento do IRPJ diminui o custo de oportunidade, tornando
a opção de endividamento bem mais interessante do que a opção de utilização de capital próprio.
É importante notar que esse modelo só é realista, coeteris paribus, mantendo-se todas as demais
variáveis do modelo constantes.

»» Modelo WACC:

WACC = (E/V) * RE + (D/V) * RD * (1-Tc)

Onde:

V  capital total.

E  capital próprio (equity).


14 http://www.federalreserve.gov ano. 2000.
15 Weighted Average Cost Of Capital

145
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

D  capital de terceiros (debt).

RE  taxa de juros referente ao custo de capital próprio.

D  taxa de juros referente ao custo do capital de terceiros.

Tc  alíquota IRPJ.

Zatta e Nossa (2003) apontam que o custo de capital tem sido menor no Japão em relação
à Inglaterra e aos Estados Unidos devido à maior dependência das companhias japonesas
ao financiamento na forma de dívida. Os Estados Unidos e a Inglaterra, conforme já
salientado, são países que se utilizam, sobretudo, de autofinanciamento. Dessa forma,
Zatta e Nossa asseguram que a dívida é preferível ao capital próprio.

Segundo dados da OEDC financial statistics (1995), o quociente estimado entre capital
de terceiros e valor contábil total de companhias não financeiras no Japão é de 72%.
Segue o Gráfico, com a média dos quocientes capital de terceiros e capital total (D/V) das
companhias não financeiras dos três países do G7 que mais utilizam capital de terceiros.
Os dados do gráfico foram extraídos de OEDC financial statistics (1995).

Gráfico – Quocientes (D/V)

80%
72%
70%
59% 58%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%

Japão Itália França


Fonte: OEDC financial statistics (1995).

Financiamento Externo – por meio de Ações


Outra opção para a captação de recursos é o financiamento externo por meio da emissão de ações.
A vantagem desse tipo de financiamento externo é o aumento do patrimônio líquido, ou seja, do
passivo não exigível, reduzindo o denominado custo de falência.

Por meio de emissões primárias de ações, particulares ou públicas, as companhias captam recursos,
que figuram no passivo não exigível admitindo, em contrapartida, novos sócios. É considerada,
com dadas restrições, uma forma “ilimitada” de captação de recursos. A oferta primária é a
primeira negociação das ações, em que a companhia oferece suas ações aos investidores a fim de
captar recursos. A demarcação do preço da ação é fundamental para o sucesso de uma emissão. A
Lei no 6.404/1976, conhecida popularmente como lei das SAs, prevê que o preço da emissão seja

146
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

fixado levando-se em conta o preço da ação no mercado, o patrimônio líquido e as perspectivas de


rentabilidade.

Os países, ditos emergentes, vêm aumentando, em regra, a participação dessa fonte de recursos
para fomentar os investimentos produtivos das companhias. Exemplos de países na América Latina
são o México, o Chile e o Brasil.

Segundo dados da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), no Brasil, em 2007, de todos os
recursos captados pelas companhias que abriram o capital por meio de emissão de ações, 85%
foram canalizados para investimentos produtivos. Apenas 8% foram utilizados para quitar passivos
exigíveis e cerca de 7% foram para o capital de giro16 (vide GRÁFICO a seguir).

8% 0,4%
Dívida Outros

7% 85%
Capital de Giro Investimento

Financiamento Externo via Instrumentos que


Mesclam Dívida e Capital Próprio
Alguns títulos combinam diversas características, não ficando patente se o título é de dívida ou de
participação acionária. Esses títulos denominados híbridos são utilizados pelas companhias com a
finalidade de minimizar os custos de falência e obter benefícios fiscais.

Ross, Westerfield e Jaffe destacam que, às vezes, não fica claro se um dado título é de dívida ou de
participação acionária. Por exemplo, suponhamos que seja emitida uma obrigação com prazo de
50 anos, juros a serem pagos somente com base no lucro da empresa, desde que exista, e resgate
subordinado a todas as outras dívidas da empresa. As sociedades por ações são muito hábeis na
criação de títulos híbridos que parecem ações, mas são títulos de dívida. Obviamente, a distinção
entre dívida e capital próprio é importante para fins tributários. Quando as sociedades por ações
procuram criar um título de dívida que, na verdade, é um título de participação acionária, elas
estão procurando obter os benefícios fiscais do uso de capital de terceiros ao mesmo tempo em que
eliminam os custos de falência.

A Preferência entre as Alternativas de Captação de


Recursos
Entre as alternativas de captação de recursos de longo prazo, alguns países se utilizam mais de
recursos de dívida enquanto outros preferem a utilização de recursos próprios e emissão de ações.

16 Convenciona-se chamar o ativo circulante de capital de giro. Logo o capital de giro aparece no curto prazo. Em contabilidade
considera-se curto prazo o período de 12 meses ou o ciclo operacional, valendo o maior.

147
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

Essa preferência é consequência de fatores históricos, segundo Zysman (1983). A preferência pela
utilização de recursos próprios e emissão de ações está ligada a países em que o mercado de capitais
nasceu com a finalidade de financiar o desenvolvimento industrial. Nesses países, os empréstimos
bancários ficam restritos à utilização no curto prazo. Nos países em que o mercado de capitais não
se desenvolveu de forma adequada surgiram instituições financeiras com o fito de preencher esse
espaço. Nesse (1998), caso, os países preferem utilizar empréstimos bancários de longo prazo.

O trabalho de Zonenschain (1999), que se lastreia no estudo de Zysman (1983), aponta três tipos de
sistemas financeiros:

»» baseado no mercado de capitais – parâmetros definidos em mercados competitivos,


sendo o exemplo de maior sucesso os Estados Unidos;

»» baseado em crédito – parâmetros mais importantes fixados pelo governo, tendo a


França e o Japão como bons exemplos; e.

»» baseado em crédito – parâmetros mais importantes fixados pelas instituições


financeiras, sendo bons exemplos a Alemanha e a Suécia.

Duas questões são mencionadas pela referida autora durante a análise:

1. Quais são os prós e os contras da atuação do mercado de capitais?

2. Qual o modelo seria mais dinâmico para os países em desenvolvimento, entre eles o
Brasil, o baseado em crédito ou em mercado?

Zonenschain fornece, de forma sistematizada, argumentos favoráveis ao modelo baseado no


mercado de capitais e aos modelos baseados em crédito.

Os argumentos favoráveis ao modelo baseado em mercado poderiam ser assim relacionados:

1. Poupança – O mercado de ações reduz o custo de mobilização de poupança e com


isso facilita o investimento em tecnologias mais produtivas, que exigem escala e
maior injeção de capital.

2. Liquidez – A liquidez do mercado de ações facilita o investimento porque o agente


que compra a ação não precisa retê-la por todo o período do investimento e, ao
mesmo tempo, a empresa consegue se financiar por meio da emissão. Existe, nesse
caso, redução do custo e do risco, viabilizando o investimento em projetos com
longo prazo de maturação.

3. Informações – O movimento de compra e venda no mercado requer que os


investidores empreendam esforços para obter informações sobre as empresas, o que
facilita o seu monitoramento por parte dos investidores e, também, dos credores,
que se beneficiam de parte das informações disponibilizadas, promovendo melhor
alocação dos recursos e o crescimento econômico.

148
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

4. Corporate control – O funcionamento eficiente do mercado de ações reduz o problema


do agente principal, estimula o corporate control, facilita a compatibilização entre
os interesses dos administradores e dos proprietários, à medida que a remuneração
dos primeiros pode ser atrelada à performance das ações da empresa.

5. Takeover – O desafio do takeover pode induzir os administradores a maximizarem


o preço das ações da empresa para se defenderem.

6. Diluição do risco – A diluição do risco entre países, quando o mercado de ações é


integrado internacionalmente, favorece a alocação de recursos e pode acelerar a
taxa de crescimento econômico. Com a diversificação do risco, tornam-se viáveis
projetos que são mais arriscados, mas que, ao mesmo tempo, possuem taxas de
retorno mais elevadas.

De forma análoga, é possível listar os seguintes argumentos favoráveis aos modelos baseados em
crédito, em detrimento daqueles baseados em mercado:

1. A possibilidade de diluir o risco internacionalmente em mercados financeiros


integrados pode reduzir as taxas globais de poupança e de crescimento econômico.
As taxas de poupança podem ser reduzidas em decorrência da redução das incertezas
geradas pela liquidez do mercado de ações.

2. Liquidez – A liquidez do mercado de ações não provê incentivo para que se possa
despender recursos na aquisição de informações sobre as empresas, nem para
que se exerça corporate governance, porque o próprio mercado de ações revela
informações sobre as empresas por meio do mecanismo de preços. Ademais, a
liquidez, que é vista como uma virtude para o acionista, pode ser um aspecto
negativo para a empresa que emite ações, porque está associada a um horizonte de
mais curto prazo para o investidor.

3. Corporate governance – O desenvolvimento do mercado de ações conduz a uma


maior pulverização na propriedade das ações, o que dificulta a efetiva corporate
governance.

4. Takeover – Existe a possibilidade de ocorrência de takeover contraprodutivo em


decorrência do desenvolvimento do mercado de ações, o que pode comprometer as
taxas de crescimento econômico. Ao simplificar os takeovers, o desenvolvimento
do mercado de ações pode induzir a perdas de bem-estar para proprietários e
administradores.

Diversos autores, na linha de Zysman (1983), relacionam modelos de sistema financeiro


a tipos distintos de estruturas de mercado, estratégias e desempenho econômico,
associando o menor dinamismo das indústrias americanas e inglesas ao padrão de
financiamento das empresas nesses países, fortemente baseado em emissão de ações,
comparado com o modelo japonês e alemão, em que as empresas apresentam relação
endividamento/emissão significativamente mais elevada. A ideia é que nesses países

149
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

as empresas operam com maior alavancagem financeira, viabilizando uma taxa mais
elevada de investimento. O risco que se poderia criar com essa situação é reduzido pelo
estabelecimento de relações estreitas entre empresas e credores. Os bancos são acionistas
das empresas, o que os leva a se preocuparem com o seu desempenho e a preferirem uma
política de dividendos estáveis para se beneficiarem com o retorno sobre dividendos com
maior ênfase do que com os ganhos decorrentes da valorização das ações.

5. Horizonte de investimento – Sistemas financeiros baseados em mercados de ações


conduzem a uma perspectiva de mais curto prazo para as decisões de investimento,
diminuindo a probabilidade de que sejam realizados projetos com prazo de retorno
mais longo ou que envolvam algum grau de risco.

6. Retorno sobre o investimento (ROI) – Muitas vezes nos mercados anglo-saxões


o comportamento dos juros é tal que o custo de oportunidade é muito elevado e
supera o retorno sobre o investimento de diversos projetos. Em decorrência disso,
uma série de oportunidades não é aproveitada.

7. Alavancagem financeira – As empresas do Japão e da Alemanha, por possuírem grau


mais elevado de alavancagem financeira, muitas vezes beneficiam-se de políticas
governamentais que reduzem as taxas de juros e trabalham com retornos menores
(o que é possível também por causa do custo inferior do capital nesses países), e
o volume de investimento acaba sendo muito mais elevado, o que favorece a sua
competitividade. O custo inferior do capital com que se defrontam as empresas
japonesas e alemãs favorece sua competitividade porque podem repassar aos
preços o custo inferior, ou podem utilizar o diferencial para investir em tecnologia
e qualidade. Ao ampliar sua posição no mercado, a empresa estará alimentando um
“círculo virtuoso”. O retorno sobre o investimento mais baixo verificado no Japão e
na Alemanha indica que esses países de fato transferem ganhos para o consumidor.

8. Competitividade – Nos Estados Unidos, os administradores estão muito mais


preocupados em maximizar a renda dos acionistas do que em incrementar a
competitividade da empresa, o que os leva a prestar pouca atenção à esfera produtiva.

9. Informações – Em um sistema baseado em bancos, estes têm mais incentivo para


despender recursos para adquirir informações e têm mais incentivo e capacidade
para sujeitar os administradores a uma supervisão rigorosa.

10. Volatilidade – Segundo Singh (1993), os mercados de ações incipientes, de países


nos quais não há sistema regulatório apropriado, padrões contábeis, informações
públicas a respeito do desempenho das empresas etc., são caracterizados por
elevado grau de volatilidade. Os preços no mercado de ações tendem a flutuar mais
do que outras variáveis econômicas. Nesse caso, os preços das ações tornam-se
menos úteis como indicadores para a alocação de recursos.

Segundo Zonenschain, a avaliação dos prós e contras dos dois modelos não chega a ser conclusiva,
principalmente porque o desempenho dos países que adotam cada um dos modelos não é uniforme

150
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

ao longo do tempo. O caso recente mais evidente é a crise financeira dos países do leste asiático,
atribuída pela maior parte dos analistas ao excesso de alavancagem financeira presente nessas
economias, fruto do padrão de financiamento baseado em crédito.

Logo, observa-se que a interrogação de qual o modelo que seria mais dinâmico para o Brasil,
aquele baseado em crédito ou em mercado ainda persistirá. Apenas a experiência do país poderá
responder tal questão, pois não existe desempenho invariável entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento. Um modelo bom para um país em desenvolvimento não será necessariamente
interessante para outro com as mesmas características.

Porém, uma inferência pode ser feita por meio dos resultados obtidos no estudo de Zonenschain.
Os resultados encontrados nos cálculos de Zonenschain (1998), para o Brasil durante o período
1989/1996, confirmam que os países em desenvolvimento baseiam seu financiamento em emissões,
em uma proporção mais elevada do que se imaginaria, dado o porte reduzido e o caráter incipiente
dos seus mercados acionários, tanto primários como secundários, adotando, por conseguinte, o
modelo de mercado de capitais. Essa alternativa atenderia a 48% do financiamento das companhias
da amostra para o período 1989/1996. Para a alternativa do autofinanciamento, o resultado foi
da ordem de 25%. Quanto à percentagem do financiamento das companhias que decorre de
endividamento de longo prazo, junto a instituições de crédito, o resultado foi de, aproximadamente,
27%.

Texto Disponível na Internet:

<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/revista/rev1003.pdf>.

ZONENSCHAIN, Cláudia Nessi. Estrutura de Capital das Empresas no Brasil. Revista


BNDES, Rio de Janeiro, v. 5, no 10, pp. 63-92, dez. de 1998.

Recursos de Captação Externa

Recursos de Captação Externa que Representam


Dívida
Os principais recursos de captação externa que representam dívida para as companhias são:

»» Debêntures

Segundo Lima et al (2006), debêntures são papéis de renda fixa de médio e longo prazos,
emitidos por sociedades anônimas, que conferem ao seu detentor um direito de crédito
contra a companhia. As companhias emitem debêntures com a finalidade de captação de
recursos, especialmente, para:

a. o financiamento de novos projetos;

b. a reestruturação do passivo; ou.

151
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

c. o aumento de capital de giro.

As debêntures são comumente negociadas em mercado de balcão. No entanto, podem ser


negociadas por meio de Bolsa de Valores. A Bovespa inaugurou, no ano de 2001, o Bovespa
Fix, segmento específico para títulos de renda fixa. O Bovespa Fix oferece uma estrutura
integrada para a negociação, custódia e liquidação desse tipo de título, com o escopo de
aprimorar os procedimentos de colocação primária, incrementar a liquidez no mercado
secundário e oferecer maior transparência aos investidores e emissores.

As debêntures podem ser divididas em três classes: simples, conversíveis em ações ou


permutáveis.

›› debêntures simples – não podem ser convertidas em ações sendo resgatáveis em


moeda.

›› debêntures conversíveis em ações – podem ser resgatáveis em moeda e podem


ser conversíveis em ações de emissão da companhia.

›› debêntures permutáveis – podem ser transformadas em ações de emissão de


outra companhia que não a emissora das debêntures.

»» Commercial Papers

As notas promissórias comerciais (commercial paper) são títulos de curto prazo, emitidos
por companhias de capital fechado e companhias de capital aberto, com o fito de captação
de recursos para capital de giro.

As notas promissórias comerciais representam uma alternativa aos empréstimos


bancários convencionais, com a vantagem de proporcionar uma taxa de juros menor, pois
são papéis que podem ser colocados diretamente ao público, não necessitando, portanto,
de intermediação bancária.

A regulamentação das notas promissórias comerciais é objeto das Instruções 134 e 155
da CVM.

»» Empréstimos Bancários

O empréstimo bancário, no seu conceito clássico, nada mais é do que o repasse dos
recursos captados pelos bancos às companhias tomadoras, qualificadas como agentes
deficitárias. Tais companhias necessitam de recursos financeiros a fim de realizarem seus
investimentos produtivos.

Há várias modalidades de empréstimos disponíveis no mercado.

Segundo Fortuna (2001, p. 166), existe uma enorme variedade de produtos disponíveis
que se diferenciam em prazos, taxas, formas de pagamento, garantias, com o limite sendo
a criatividade do banco diante das limitações impostas pelo BC.

152
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

Em regra, os empréstimos bancários, clássicos possuem taxa de juros efetivas superiores


às demais alternativas de endividamento (ROCHA, 2001). A taxa de juros é determinada
com base no risco de quem toma o recurso emprestado.

»» Securitização

A securitização de recebíveis é um processo estruturado e coordenado por uma instituição


especializada (empresa de securitização), por meio do qual créditos descontados por
companhias são transformados em títulos (Certificados de Recebíveis) a serem negociados
nos mercado de capitais.

Em outras palavras, securitização é um processo de segregar do ambiente de uma


companhia, para uma instituição especializada determinados ativos, contra os quais se
emitem títulos, vetor pelo qual se captam recursos, para a companhia.

A securitização de recebíveis tem se tornado uma excelente estratégia de captação de


recursos para as companhias brasileiras. A securitização passou a financiar as companhias
de forma rápida, ou então auxiliar na recuperação de carteira de créditos duvidosos,
ambas de maneira competitiva e segura para as companhias.

As operações de securitização têm sido estruturadas, no Brasil, por meio de duas


modalidades de entidades, a saber:

›› companhias abertas de propósito específico;

›› fundos de Investimento em Direitos Creditórios, regulados pela Instrução CVM


no 356/2001 e Instrução CVM no 393/2003.

Recursos de Captação Externa que não


Representam Dívida
Os principais recursos de captação externa que não representam dívida para as companhias são:

»» Ações

São títulos negociáveis de renda variável que representam a menor parcela do capital
social da companhia que os emitiu. Por isso, quando alguém adquire ações de uma
companhia é como se possuísse pedaços dessa companhia. As companhias precisam de
dinheiro para financiar suas compras, ampliar instalações, negócios etc. Para não tomar
dinheiro emprestado, em que os juros são altos e exigíveis no período do empréstimo,
as companhias emitem ações a fim de captar recursos sem o pagamento de juros altos e
exigibilidade. A contrapartida da companhia é o pagamento aos acionistas de participação
nos lucros (dividendos). As ações podem ser de dois tipos:

›› Ações ordinárias: São ações que dão ao seu detentor direito a voto nas
assembleias. Cada ação ordinária representa um voto. Os detentores de ações
ordinárias somente receberão seus dividendos depois de satisfeitos os direitos
dos acionistas detentores das ações preferenciais.

153
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

›› Ações preferenciais: São ações que têm preferência na distribuição de lucros e no


reembolso do capital, no caso de liquidação da companhia. Os detentores de ações
preferenciais recebem, normalmente, dividendos superiores comparativamente às
ações ordinárias, mas em regra, não possuem direito a voto.17 Caso a companhia,
durante três anos consecutivos, não distribua dividendos por qualquer motivo, as
ações preferenciais passam a ter direito a voto.

Classes de ações: as ações também podem ser diferenciadas por classes: A, B, C


ou alguma letra que apareça após o ON ou o PN. As características de cada classe são
estabelecidas pela companhia emissora da ação, em seu estatuto social. Essas diferenças
variam de companhia para companhia, e não é possível fazer uma definição geral das
classes de ações.

Podem, ainda, adotar duas formas:

›› Nominativas registradas – há um registro de controle de propriedade feito pela


companhia ou por terceiros, podendo ou não haver emissão de certificado;

›› Escriturais nominativas – há a designação de uma instituição financeira


credenciada pela CVM, que atua como fiel depositária dos títulos, administrando-
os via conta-corrente de ações.

Em relação à questão da liquidez do papel, as ações podem ser:

›› Blue chips – são ações de grande liquidez e procura no mercado, por parte dos
investidores, em geral de companhias tradicionais e de grande porte.

›› De Segunda linha – são ações com boa qualidade, porém menos líquidas que as
blue chips, em geral de companhias de grande e médio portes, tradicionais ou não.

›› De Terceira linha – são ações com pouca liquidez, em geral de médio e pequeno
portes. A negociação caracteriza-se pela descontinuidade.

›› De Privatização – são ações de companhias colocadas no mercado por meio de


leilões do Programa Nacional de Desestatização.

»» Textos referentes ao funcionamento e características do mercado de


ações e debêntures no site da Bovespa.

»» Por que seus sonhos precisam de ação? <www.bovespa.com.br/pdf/fs_


publicacao.pdf>.

»» Guia de Debêntures <http://www.bovespa.com.br/pdf/GuiaDebenturesBF.


pdf>.

17 Lei das SAs: § 1o – As ações são ordinárias e preferenciais. As ações preferenciais são das classes "A" e “especial”. .... § 4o – As
ações preferenciais das classes "A" e especial terão os mesmos direitos políticos das ações ordinárias, com exceção do voto para
a eleição dos membros do Conselho de Administração.

154
CAPÍTULO 2
Administração de Recursos

Ciclo Financeiro e Custo Financeiro


das Empresas
O planejamento do início ou da manutenção de uma empresa deve ir além das máquinas, reformas
e demais bens indispensáveis. Deve-se contemplar na análise o investimento em capital de giro.
Por não ser um item tangível, o investimento em capital de giro é muitas vezes colocado em
segundo plano.

Para Paschoarelli (2008), dependendo do empreendimento, o investimento em capital de giro chega


a ser maior que o próprio investimento em ativo imobilizado.

Um ponto importante a destacar é que é sempre muito difícil fazer estimativas sobre a quantidade
necessária de capital de giro de uma empresa. O capital de giro depende do volume de vendas e dos
prazos obtidos/concedidos a fornecedores e clientes, assim como o giro de estoque.

Há negociações em que o fornecedor dá prazo para pagamento das compras. Quanto menor for o
prazo concedido, mais difícil é a gestão do capital de giro. Na outra ponta, quanto menor for o prazo
concedido ao cliente, mais fácil fica administrar o capital de giro. O que deve ser balanceado é que
quanto menos prazo se dá ao cliente, mais dificil se torna vender a mercadoria. Quanto mais rápido
o estoque girar, menos capital de giro a empresa terá.

O ciclo operacional de uma empresa é geralmente iniciado com um pedido de mercadoria para
revenda ou para ser usada como matéria-prima dos produtos acabados. O fornecedor dos produtos,
ou da matéria-prima, pode entregar de imediato ou pode solicitar um período para entregá-los à
empresa. Há também um prazo, concedido pelo fornecedor, para pagamento. Dessa maneira, o
pagamento que a empresa fará ao fornecedor acontecerá algum período após o recebimento.

A empresa, por sua vez, permanece com os produtos por um período de tempo antes de serem
vendidos, salvo em casos de compra com venda casada. Na maioria das vezes, a empresa mantém
um nível de estoque dos produtos para revenda que exige que as mercadorias fiquem armazenadas
durante algum período. No caso das empresas industriais, antes mesmo da estocagem dos produtos
prontos, há o período de industrialização, que compreende o tempo necessário para transformar as
matérias-primas em produtos acabados.

O período de estocagem (e industrialização) termina no momento em que os produtos acabados


são vendidos. Para a maioria das empresas, normalmente, há a concessão de um prazo para que o
cliente efetue o pagamento.

Desse modo, pode-se caracterizar que a empresa possui 3 ciclos:

155
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

Ciclo Econômico
É o período em que a mercadoria permanece nas dependências da empresa, ou seja, inicia-se com
a compra da mercadoria e encerra-se com a sua venda. Esse ciclo é o giro de estoques, ele nos diz
quanto tempo a empresa está demorando para girar o seu estoque. Quanto maior for o estoque, mais
lento será o seu giro, acasionando, inclusive, uma possível insuficiência crônica de caixa, forçando-a
a captação sistemática de recursos de terceiros, comprometendo a saúde financeira da empresa.

Ciclo Financeiro
Tem início com o desembolso de numerários para a aquisição da mercadoria que será revendida
pela empresa e encerra-se com o recebimento relativo à sua venda. Esse é o ciclo de caixa. O reflexo
do Ciclo Econômico se dará nesse ciclo. Se o giro do estoque é lento, primeiro a empresa pagará para
após receber, ocasionando em desembolso desnecessário. Cabe salientar que além de compromissos
com fornecedores a empresa também deve honrar outros compromissos mensais, que são os Custos
Fixos ou Despesas Operacionais. São gastos necessários para que a empresa possa operar.

Ciclo Operacional
Representa os dois ciclos juntos, iniciando-se quando da compra da mercadoria e encerrando-se
quando da venda ou do recebimento dos recursos da venda. O Ciclo Operacional inicia-se junto
com o Ciclo Econômico ou Ciclo Financeiro, o que ocorrer primeiro, e encerra-se junto com o
encerramento do Ciclo Econômico ou Financeiro, o que ocorrer por último.

Compra de Matéria- Início de Fabricação Pagamento de Fim de Venda do Recebimento da Venda


Prima Duplicata
Fabricação Produto

PMPC Ciclo Operacional

PMRE Ciclo Econômico PMRV

Ciclo de Caixa (Financeiro)

PMPC: Prazo Médio de Pagamento de Compras.

PMRE: Prazo Médio de Rotação de Estoque.

PMRV: Prazo Médio de Recebimento de Vendas.

Podem-se obter os ciclos assim:

Ciclo de Caixa: PMRE + PMRV – PMPC.

156
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

Ciclo Operacional: PMRE + PMRV.

Ciclo Econômico: PMRE.

É possível criar estimativas sobre os prazos médios em cima dos demonstrativos contábeis de uma
empresa. Seguem as equações:

Fornecedores x 360
PMPC=
Compras

Estoques x 360
PMRE=
Custo das Mercadorias Vendidas

Duplicatas a receber x 360


PMRV=
Vendas

A precisão dos índices de prazos médios está diretamente ligada à uniformidade das vendas
e compras. Se a empresa tem vendas e compras aproximadamente uniformes durante o ano, os
índices de prazos médios calculados a partir dos dados do Balanço e da Demonstração do Resultado
refletirão satisfatoriamente a realidade. Porém, se as vendas flutuarem, tiverem picos e vales
ou concentração em determinadas épocas do ano, os índices de prazos médios poderão estar
completamente distorcidos.

Exemplo 1: Uma distribuidora de Gás GLP vende por semana 3000 botijas de gás de 13kg. Ela
compra a botija a R$25,00 e a revende a R$ 35,00. Aos clientes é permitido o pagamento em cartão
de crédito e em cheque para 4 semanas. Eis os dados:

PMPC0 A distribuidora paga o fornecedor à vista.


PMRE1 semana O estoque gira em uma semana.
PMRV4 semanas A distribuidora recebe em média a cada 28 dias.
Valor de Compra R$ 75.000,00. Resulta de 3000 botijas compradas a R$25,00.
Valor da Venda R$ 105.000,00. Resulta de 3000 botijas vendidas a R$35,00.

Nesse exercício, observa-se que no instante inicial a distribuidora compra e paga as botijas de gás.
Não há PMPC. Em média, as vendas ocorrem em 7 dias, onde ocorre todo o giro de estoque (PMRE).
Já aqui é evidente que há necessidade de capital de giro, porque os pagamentos a fornecedores
sempre ocorrerão antes dos recebimentos das vendas. Ao final de cada semana, tem-se um prazo
médio de 4 semanas para recebimento das vendas (PMRV).

Vamos analisar para o caso dessa distribuidora a reserva de capital de giro a ser feito. Vamos
considerar que há a retirada de 100% do Lucro gerado.

Semana Dia Compra Paga Vende Recebe Retira Saldo

0 0 75.000,00 75.000,00 - 75.000,00

1 7 75.000,00 75.000,00 105.000,00 - 150.000,00

157
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

2 14 75.000,00 75.000,00 105.000,00 - 225.000,00

3 21 75.000,00 75.000,00 105.000,00 - 300.000,00

4 28 75.000,00 75.000,00 105.000,00 - 375.000,00

5 35 75.000,00 75.000,00 105.000,00 105.000,00 30.000,00 - 375.000,00

6 42 75.000,00 75.000,00 105.000,00 105.000,00 30.000,00 - 375.000,00

7 49 75.000,00 75.000,00 105.000,00 105.000,00 30.000,00 - 375.000,00

8 56 75.000,00 75.000,00 105.000,00 105.000,00 30.000,00 - 375.000,00

9 63 75.000,00 75.000,00 105.000,00 105.000,00 30.000,00 - 375.000,00

10 70 75.000,00 75.000,00 105.000,00 105.000,00 30.000,00 - 375.000,00

Observa-se que a partir do momento em que iniciam os recebimentos de vendas, a necessidade de


capital de giro estabiliza em R$375.000,00.

Exemplo 2: Calcule o custo financeiro de uma empresa que capta recursos a 4% ao mês, compra
mercadorias com prazo médio de 30 dias para pagamento, mantém mercadorias em estoque em
média por 30 dias, e trabalha com recebimentos em 30/60 dias de seus clientes.

R.: Identifica-se neste problema que:

PMPC = 30 dias.

PMRE = 30 dias.

PMRV = (30+60)/2 = 45 dias.

Logo, o ciclo de caixa é:

Ciclo de Caixa = PMRE + PMRV – PMPC = 30 + 45 – 30 = 45 dias.

Assim, o período no qual a empresa financiará a operação é de 45 dias. O custo financeiro será:

(1+ia)b + (1+ib)a.

(1+0,04)45 + (1+ib)30.
45

ib =1,004 =1
30

ib =6,06%.

158
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

Exemplo 3: A partir das demonstrações financeiras de uma empresa foram extraídos os seguintes
dados:

2008

Duplicatas a receber 40.000

Estoques 25.000

Fornecedores 22.000

Vendas realizadas 180.000

Compras 100.000

Sabe-se que o custo das mercadorias vendidas é, em média, 65% do valor das vendas. Calcule os
prazos médios PMPC, PMRV e PMRE:
22.000 x 360
PMPC= = 79,2 dias
100.000

25.000 x 360
PMRE= = 76,9 dias
0,65 x 180.000

40.000 x 360
PMRV= = 80 dias
180.000

Ciclo de Caixa: 76,9 + 80 – 79,2 = 77,7.

Ciclo Operacional: 76,9 + 80 = 156,9.

Administração do Capital de Giro das


Empresas.
A análise e administração do capital de giro é uma ferramenta de grande utilidade para as empresas
em qualquer etapa de seu ciclo de vida. Vejamos os fundamentos teóricos relacionados à estrutura
financeira das empresas, bem como a necessidade de financiamentos de curto prazo para suprir
a carência de capital a ser investido no giro de suas atividades operacionais. Desenvolvemos uma
leitura da estrutura patrimonial de modo que você tenha uma visão dinâmica das capacidades de
sobrevivência e de crescimento no longo prazo das empresas.

A administração do capital de giro está relacionada aos problemas de gestão dos ativos e passivos
circulantes e às interrelações entre esses grupos patrimoniais. Destaca-se aqui a importância
de análise do efeito tesoura como demonstrativo capaz de apresentar o nível de liquidez das
organizações.

As análises da estrutura financeira das empresas serão desenvolvidas por meio de índices como
Necessidade de Capital de Giro (NCG), Capital Circulante Líquido (CCL) e Saldo em Tesouraria (ST).
Tais parâmetros permitem ao gestor financeiro uma correta tomada de decisão e que contribuem
positivamente para a valorização das empresas, para a preservação da saúde financeira e para a
projeção de suas perspectivas futuras.

159
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

Modelo Dinâmico de Capital de Giro


O Modelo Dinâmico de Capital de Giro é resultado da investigação desenvolvida pelo professor
francês Michel Fleuriet, nos anos 1970. O produto desenvolvido por sua equipe foi fruto de pesquisas
entre 1974 e 1978, em mais de 100 empresas brasileiras. Tal esforço resultou na publicação do
livro A Dinâmica Financeira das Empresas Brasileiras: Um Novo Método de Analise, Orçamento e
Planejamento Financeiro, que ainda hoje, 30 (trinta) anos depois, é atual em sua essência. O livro
se chama.

A vinda do professor Michel Fleuriet para o Brasil, em 1974, foi fruto de uma parceria entre a fundação
Dom Cabral e o Centre d’Enseignement Superieur des Affaires (CESA). As duas instituições tinham
um ponto em comum, importante para a conjunção de esforços: buscavam ajustar e criar métodos
e processos próprios de gestão, com raízes na realidade de seus países, e não importar tecnologias
estranhas às suas especificidades.

Propondo uma reestruturação da análise contábil tradicional, dois conceitos básicos foram
utilizados nas pesquisas e na formulação desse modelo. O primeiro é a Necessidade de Capital de
Giro (NCG) e o segundo é o Efeito Tesoura. Esses conceitos são eficazes na elaboração de políticas
de distribuição de dividendos, visto que a decisão do quanto distribuir e do quanto reter na empresa
é o que determina a “forca do motor da empresa”, e foi definido pelo autor como Autofinanciamento.

O Balanço Patrimonial e sua Visão Dinâmica


O principal objetivo do Modelo Fleuriet é atribuir uma visão dinâmica às contas do balanço
patrimonial. Para tanto, ele propôs uma reorganização das contas existentes no demonstrativo, do
ponto de vista dos ativos e passivos circulantes, com ênfase em suas origens e afinidades, de forma
a retratar o dinamismo das reais operações das organizações. Isso porque a classificação clássica
das contas do balanço se mostra inadequada para uma análise dinâmica da situação econômico-
financeiro das empresas.

Normalmente, certas contas do ativo e passivo renovam-se constantemente à medida que se


desenvolvem as operações da empresa. Esse fato constitui a base para uma nova classificação
horizontal, que enfatiza os ciclos econômico-financeiros sde uma empresa, fornecendo dados para a
análise dinâmica em oposição à análise estática, normalmente realizada por meio das informações
fornecidas pela classificação tradicional.

As contas do ativo e do passivo devem ser consideradas em relação à realidade dinâmica das
empresas, em que as contas são classificadas de acordo com o seu ciclo, ou seja, o tempo que leva
para se realizar uma rotação.

As contas operacionais ou cíclicas estão assim denominadas devido à sua relação ao ciclo operacional
das empresas, estão diretamente relacionadas com as atividades primárias da organização, e
representam os bens, direitos e obrigações da empresa, que são necessários para a manutenção das
margens de retorno esperadas.

160
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

Assim como os ativos operacionais, os passivos são as obrigações geradas pela compra de bens e
serviços necessários para a manutenção da atividade fim da empresa tais obrigações são geralmente
com fornecedores, salários a pagar e impostos.

As contas financeiras ou erráticas não estão diretamente relacionadas com o ciclo operacional das
organizações e sim com a gestão de disponíveis por parte das operações de tesouraria. Tais contas
são, em geral, compostas pela disponibilidade de caixa e por investimentos que são mantidos para
minimizar os riscos de falta de disponíveis pela incerteza dos fluxos diários de recebimentos e
pagamentos.

Os passivos financeiros ou erráticos possuem a mesma natureza conceitual dos ativos e são
geralmente compostas pelos empréstimos de curto prazo e, portanto, não estruturais e que visam a
manutenção do capital de giro necessário para a manutenção do fluxo operacional diário.

As contas não circulantes ou não cíclicas são todas as demais que não se enquadram nas classificações
e que, em teoria, não estão relacionadas diretamente ao ciclo operacional das empresas.

Ativo Passivo
Errático
Ativo Circulante

Disponível e aplicações de Curto Prazo Emprétimo e Duplicatas Descontadas

Passivo Circulante
Errático
Cíclíco

Contas a Receber e Estoques Fornecedores, Salários a Pagar e Impostos a Recolher

Cíclíco
Não Cíclico
Permanete

Não Circulante
Exigível de Longo Prazo
Realizável de Longo Prazo Não Cíclico
Patrimônio Líquido

O modelo Fleuriet, com base nas segmentações expostas no subitem anterior, apresenta três
conceitos-base para a avaliação das empresas: I) Necessidade de Capital de Giro (NCG); II) Capital
Circulante Líquido (CCL); e Saldos de Tesouraria (TS).

A Necessidade de Capital de Giro (NCG) é gerada quando, no ciclo financeiro, as saídas de caixa
ocorrem antes das entradas de caixa. A operação da empresa cria, portanto, uma necessidade de
aplicação permanente de fundos, que se evidencia no balanço por uma diferença positiva entre
o valor das contas cíclicas do ativo e as contas cíclicas do passivo. Conceitualmente, necessidade
de capital de giro corresponde à necessidade líquida de investimento permanente de fundos para
garantir o giro normal das operações de uma empresa.

NCG = ativo ciclico – passivo cíclico

O caso específico em que uma empresa possua NCG negativa reflete o ciclo financeiro em que as
saídas de caixa são posteriores às entradas e, portanto, o passivo cíclico torna-se maior que o ativo
cíclico.

161
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

O ativo errático e o passivo errático são as contas circulantes que não estão diretamente ligadas ao
ciclo operacional e cujos valores se alteram de forma aleatória. O Saldo de Tesouraria (ST) define-se
como a diferença entre o ativo e o passivo erráticos.

ST = ativo errático (financeiro) – passivo errático (financeiro)

O Capital Circulante Líquido (CCL) é o excesso ou insuficiência das origens de recursos em relação
às aplicações. O Capital Circulante Líquido é a diferença das contas do Ativo Circulante e do Passivo
Circulante.

CCL = Ativo Errático + Ativo Cíclico – Passivo Errático – Passivo Cíclico

Ou

CCL = Ativo Não Circulante – Passívo Não Circulante

A diferença entre o CCL e a NCG determina a situação da tesouraria de uma empresa. Se o CCL for
maior que a NCG então o Saldo de Tesouraria (ST) será positivo, o que significa que haverá sobra
de Passivos não circulantes para fortalecer ST. Onde o CCL for menor que a NCG, os Saldos de
Tesouraria serão negativos, indicando que necessitam de recursos de terceiros de curto prazo para
financiar o giro. Saldos de Tesouraria positivos indicam que as empresas dispõem de fundos de
curto prazo que podem ser aplicados, por exemplo, em títulos de liquidez imediata, aumentando a
margem de segurança financeira da empresa e gerando ainda receitas não operacionais.

Um ST positivo e elevado não é, em todos os casos, uma condição desejável para as empresas.
Muitas vezes reflete que a empresa não está aproveitando as oportunidade de investimentos ou,
ainda, que a empresa não possui uma estratégia dinâmica de investimentos.

O Efeito Tesoura

A gestão de CCL e NCG tem como resultado os Saldos de Tesouraria. A capacidade de


autofinanciamento que uma empresa é capaz de gerar determina o CCL, ao passo que a NCG é fruto
do ciclo operacional das organizações. O Efeito Tesoura decorre do desbalanceamento das variáveis.

As empresas que operam com ST crescente e negativa, em sua maioria, apresentam uma estrutura
financeira inadequada, revelando uma dependência de empréstimos de curto prazo para saldar suas
obrigações e deveres. Essas empresas enfrentam sérias dificuldades para resgatar seus empréstimos
em curto prazo, quando os bancos, por qualquer motivo ou contexto econômico, se recusem a
renová-los devido à possibilidade de insolvência.

Nos períodos de crises econômicas e de recessão, as empresas de ST crescente negativo apresentam


problemas de liquidez. Nesses momentos, a diminuição substancial das vendas provoca aumento,
também substancial, da NCG.

Nesse contexto, o Autofinanciamento não é suficiente para financiar o aumento da Necessidade de


Capital de Giro. Há então a exposição ao risco de se recorrer a fundos externos, que, quando não
obtidos, ameaçam a sobrevivência da empresa.

162
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

O crescimento do Saldo de Tesouraria negativo é denominado Efeito Tesoura, e normalmente


ocorre quando há crescimento elevado nas taxas ou quando a NCG cresce em taxa superior ao CCL.

É comum o efeito tesoura ocorrer na fase inicial das pequenas empresas. Para evitar o Efeito Tesoura,
as empresas devem planejar a evolução dos Saldos de Tesouraria. As alterações do ST dependem
das variáveis que afetam o Autofinanciamento: A NCG e o CCL.

Determinação das Estruturas Financeiras pela


Combinação de: NCG, CCL e ST
A observação cruzada das variáveis definidas no Modelo Fleuriet, Necessidade de Capital de
Giro (NCG), Capital Circulante Líquido e Saldo de Tesouraria (ST), permitem a determinação de
situações de saúde financeira específicas. Foram determinadas seis categorias de enquadramento
pela correlação direta dessas variáveis, como segue:

Tipo CCL NCG Condição ST Situação


I >0 <0 CCL>NCG >0 Excelente
II >0 >0 CCL>NCG >0 Sólida
III <0 <0 CCL>NCG >0 Arriscada
IV >0 >0 CCL<NCG <0 Insatisfatória
V <0 <0 CCL<NCG <0 Ruim
VI <0 >0 CCL<NCG <0 Péssima

As empresas do TIPO I apresentam Excelente Liquidez e Situação de Financiamento. Essas


empresas apresentam CCL positivo, evidenciando forte autofinanciamento. Tais empresas também
apresentam saldos de tesouraria positivos. Empresas com grande giro de estoque, e que financiam
suas contas de fornecedores com recursos de seus clientes, são empresas comuns nesse tipo I.

CONTAS ATIVO PASSIVO


Erráticos 40% 10%
Cíclicos 20% 30%
Não Circulante 40% 60%

As empresas do tipo II apresentam Sólidas Situações Econômicas e Financeiras. Tais empresas


apresentam CCL positivo o bastante para manter o ciclo operacional e suprir a NCG com uma
margem de sobra para manutenção dos Saldos de Tesouraria.

CONTAS ATIVO PASSIVO


Erráticos 30% 20%
Cíclicos 30% 20%
Não Circulante 40% 60%

As empresas tipo III são arriscadas e de alto Risco de Insolvência. Tais Empresas apresentam o CCL
negativo, indicando que todo o financiamento da NCG será efetuado com recursos de curto prazo de
terceiros e que investimentos em ativos não cíclicos também estão sendo executados e financiados
com esses recursos. A avaliação dessas empresas deve ser cuidadosa porque o retrato inicial
demonstra incapacidade de autofinanciamento e impossibilidade de cumprimento de obrigações

163
UNIDADE VI │ FINANÇAS CORPORATIVAS

cíclicas de curto prazo; contudo pode refletir uma situação momentânea em função de programas
de expansão ou aquisições.

CONTAS ATIVO PASSIVO


Erráticos 30% 20%
Cíclicos 10% 40%
Não Circulante 60% 40%

As empresas do tipo IV são classificadas como insatisfatórias, por possuírem resultados incapazes
de autofinanciar de forma saudável a empresa. Tais empresas ainda apresentam o CCL positivo,
contudo, esse CCL é insuficiente para as demandas por NCG em proporções positivamente maiores.
Empresas enquadradas nesse seguimento necessitam permanentemente de capital de terceiros
de curto prazo para o suprimento de suas atividades operacionais, o que revela ineficiência no
atingimento de sua atividade fim.

CONTAS ATIVO PASSIVO


Erráticos 20% 30%
Cíclicos 40% 10%
Não Circulante 40% 60%

As empresas do tipo V são classificadas como muito ruins. Tais empresas também apresentam o
CCL negativo, indicando que todo o financiamento da Necessidade de Capital de Giro é efetuado
com recursos de curto prazo de terceiros e que investimentos em ativos não cíclicos também estão
sendo executados e financiados com esses recursos.

CONTAS ATIVO PASSIVO


Erráticos 20% 30%

Cíclicos 20% 30%

Não Circulante 60% 40%

As empresas do tipo VI são classificadas como péssimas. As empresas péssimas possuem CCL negativo,
indicando que elas não possuem recursos próprios para investimento, financiam investimentos não
cíclicos com recursos custosos de terceiros e não possuem mais um ciclo operacional que autofinancie
suas atividades-fins, o que agrava muito sua estrutura de financiamento. Empresas nessa situação
não conseguem mais honrar seus compromissos cíclicos e não cíclicos, necessitam para sobreviver
de mudanças estratégicas no negócio.

CONTAS ATIVO PASSIVO


Erráticos 10% 40%

Cíclicos 30% 20%

Não Circulante 60% 40%

Os fatores determinantes e influenciadores na alteração das variáveis do Modelo Dinâmico (NCG,


ST e CCL) passam por alterações conforme o quadro abaixo:

164
FINANÇAS CORPORATIVAS │ UNIDADE VI

Indicador Origem CRESCE DIMINUI

Redução do PMPC Aumento do PMPC

Aumento do PMRV Redução do PMRV


NCG Natureza Operacional
Diminuição do PMRE Aumento do PMRE

Aumento das Vendas Redução das Vendas

Geração de Lucros Geração de Prejuízos

CCL Natureza Operacional e Estratégica Financiamento de Longo Prazo Distribuição de Lucros

Aumentos de Capital Reduções de Capital

Redução da NCG Aumento da NCG


ST Natureza Errática
Aumento do CCL Redução do CCL

Nas análises vistas, fica evidente que uma situação financeira sólida implica na manutenção de
CCL positivo e maior que a NCG. Dessa forma, ocorrendo NCG positiva, o CCL seria suficiente para
financiá-la e ainda gerar um saldo positivo de tesouraria (ST>0), garantindo a liquidez da empresa.

O modelo também aponta quando a empresa possui excessiva dependência de empréstimos a


curto prazo, fazendo com que o saldo de tesouraria da empresa figure sempre com saldo negativo,
fenômeno identificado pelo modelo como “efeito tesoura”.

Exemplo 4: Classifique a empresa WYX conforme o modelo de Fleuriet, calculando a NCG, o CCL e
o ST:

Dados da Empresa
Ativo Corrente
Caixa 20.000.
Estoques 76.800.
Contas a Receber 50.000.
Ativo Fixo – líquido 100.000.
Fornecedores 150.000.
Exigibilidade de Longo Prazo nenhuma.
Patrimônio Líquido 96.800.

ST = Ativo Errático – Passivo Errático = 20.000 – 0 = 20.000.w

NCG = (Estoques + Contas a Receber) – Fornecedores = 126.800 – 150.000 = -23200.

CCL = Ativo Não Cíclico – Passivo Não Cíclico = 100.000 – 96800 = 3200.

A empresa apresenta ST positivo (20.000), NCG negativa (-23.200) e CCL positivo (3200). A
empresa pode ser classificada como excelente.

165
GESTÃO DE UNIDADE VII
CONVÊNIOS

CAPÍTULO 1
Convênios e Contratos

Convênios

Conceito
De acordo com o Decreto no 6.170, de 25 de julho de 2007, que regulamenta os convênios, contratos
de repasse e termos de cooperação celebrados pelos órgãos e entidades da administração pública
federal com órgão sou entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos, assim se define convênio,
conforme contido no § 1o, I, do seu Art 1o:

Acordo, ajuste ou qualquer outro instrumento que discipline a transferência


de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e
da Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou
entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado,
órgão ou entidade da administração pública estadual, distrital ou municipal,
direta ou indireta, ou ainda, entidades privadas sem fins lucrativos, visando
a execução de programa de governo, envolvendo a realização de projeto,
atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em
regime de mútua cooperação.

A Lei no 9.790, de 23 de março de 1999, estabelece em seu art. 1o e § 1o:

art. 1o Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse


Público as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, desde que
os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos
instituídos por esta Lei.

§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos a pessoa jurídica
de direito privado que não distribui, entre os seus sócios ou associados,

166
GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII

conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais excedentes


operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, bonificações, participações ou
parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades,
e que os aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social.

Finalidade dos convênios:


É um regime de mútua cooperação, que tem por finalidade a execução de programas de trabalho,
tais como despesas de capital, investimento e custeio, ou seja, execução de obras, equipamentos e
custeio de ações de saúde.

Considerações gerais para os convênios:

»» As partes envolvidas almejam o mesmo interesse.

»» Não há cobrança de taxa de remuneração entre si.

»» Não existe penalidade por rescisão, há a denúncia somente pela aplicação irregular
do recurso.

»» A subcontratação é proibida para a execução do objeto.

»» Não é permitida a formalização de convênio quando cabível o contrato, uma vez


que o regramento entre ambos é diverso e a ação dos órgãos de controle é menos
intensa nos convênios, o que poderá ficar caracterizado o interesse de mitigar a ação
de controle, cabendo a responsabilização da autoridade responsável.

»» Há necessidade da elaboração do plano de trabalho, como parte integrante do


Termo de Convênio.

»» Há necessidade de o interessado comprovar que se encontra regular perante a


administração pública, com a apresentação dos documentos comprobatórios.

»» Todo convênio deverá conter obrigatoriamente cláusulas que disponham sobre:


objeto (finalidade), deveres e responsabilidades dos partícipes; prazo de vigência;
obrigação do concedente de prorrogar de ofício a vigência do convênio, mediante
justificativa, quando houver atraso na liberação do recurso ou na execução;
prerrogativa do controle e fiscalização; dotação orçamentária; liberação dos
recursos; obrigatoriedade de prestação de contas parcial e/ou anual.

»» Previsão de restituição, em 30 dias, do valor atualizado do recurso não utilizado na


forma prevista no convênio ou quando não houver prestação de contas.

»» Conta-corrente específica para o recebimento dos recursos, para cada convênio.

»» Publicação em até 20 dias após a data da assinatura.

167
UNIDADE VII │ GESTÃO DE CONVÊNIOS

»» Comprovação de despesas por meio de documentos originais e emitidos em nome


do convenente.

»» A liquidação e o pagamento da despesa somente poderão se efetivados após a


conferência dos documentos que comprovem a realização da despesa.

»» Etapas da execução da despesa: Termo assinado, Empenho prévio, Notas Fiscais,


Liquidação da despesa e Ordem de pagamento.

»» Para a Prestação de Contas será seguida a legislação vigente e cláusulas do convênio.

»» São documentos de prestação de contas: ofício, demonstrativos de receitas e


despesas, cópia de cheques emitidos, comprovantes de pagamentos, relação de
pagamentos, relatório de execução físico-financeira, planilha de medição, ordem
de serviços etc.

Termo de Parceria:
Documento destinado à vinculação de cooperação entre o Poder Público e as entidades qualificadas
como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), para o fomento e a execução
de atividades consideradas de interesse público, previstas no art. 3o da Lei Federal no 9.790/1999:

art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o


princípio da universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação
das Organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma
das seguintes finalidades:

I – promoção da assistência social;

II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e


artístico;

III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de


participação das organizações de que trata esta Lei;

IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de


participação das organizações de que trata esta Lei;

V – promoção da segurança alimentar e nutricional;

VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do


desenvolvimento sustentável;

VII – promoção do voluntariado;

VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;

168
GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII

IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de


sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito;

X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e


assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;

XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da


democracia e de outros valores universais;

XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas,


produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos
que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo.

Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às atividades nele


previstas configura-se mediante a execução direta de projetos, programas,
planos de ações correlatas, por meio da doação de recursos físicos, humanos
e financeiros, ou ainda pela prestação de serviços intermediários de apoio a
outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do setor público que atuem
em áreas afins.

Prestação de Contas Anual:


Conforme os § § 1o e 2o do art. 11, assim como do art. 20 e Parágrafo Único do Decreto Federal no
3100/1999, que regulamenta a Lei no 9.790/1999:

§ 1o As prestações de contas anuais serão realizadas sobre a totalidade das


operações patrimoniais e resultados das Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público.

§ 2o A prestação de contas será instruída com os seguintes documentos:

I – relatório anual de execução de atividades;

II – demonstração de resultados do exercício;

III – balanço patrimonial;

IV – demonstração das origens e aplicações de recursos;

V – demonstração das mutações do patrimônio social;

VI – notas explicativas das demonstrações contábeis, caso necessário; e.

VII – parecer e relatório de auditoria nos termos do art. 20 deste Decreto, se


for o caso.

[...].

art. 20. A comissão de avaliação de que trata o art. 11, § 1o, da Lei no 9.790, de
1999, deverá ser composta por dois membros do respectivo Poder Executivo,

169
UNIDADE VII │ GESTÃO DE CONVÊNIOS

um da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público e um membro


indicado pelo Conselho de Política Pública da área de atuação correspondente,
quando houver.

Parágrafo único. Competirá à comissão de avaliação monitorar a execução do


Termo de Parceria.

Contrato de Gestão:
Contrato firmado entre o Poder Público e Organizações Sociais, para a formação de parceria, visando
o fomento e a execução de atividades relativas às OS’s.

LEI no 9.637, DE 15 DE MAIO DE 1998.

Do Contrato de Gestão.

[...].

art. 5o Para os efeitos desta Lei, entende-se por contrato de gestão o instrumento
firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social,
com vistas à formação de parceria entre as partes para fomento e execução de
atividades relativas às áreas relacionadas no art. 1o.

art. 6o O contrato de gestão, elaborado de comum acordo entre o órgão ou


entidade supervisora e a organização social, discriminará as atribuições,
responsabilidades e obrigações do Poder Público e da organização social.

Parágrafo único. O contrato de gestão deve ser submetido, após aprovação pelo
Conselho de Administração da entidade, ao Ministro de Estado ou autoridade
supervisora da área correspondente à atividade fomentada.

art. 7o Na elaboração do contrato de gestão, devem ser observados os princípios


da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e,
também, os seguintes preceitos:

I – especificação do programa de trabalho proposto pela organização social, a


estipulação das metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execução,
bem como previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho
a serem utilizados, mediante indicadores de qualidade e produtividade;

II – a estipulação dos limites e critérios para despesa com remuneração


e vantagens de qualquer natureza a serem percebidas pelos dirigentes e
empregados das organizações sociais, no exercício de suas funções.

Parágrafo único. Os Ministros de Estado ou autoridades supervisoras da área


de atuação da entidade devem definir as demais cláusulas dos contratos de
gestão de que sejam signatários.

170
GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII

Seção IV

Da Execução e Fiscalização do Contrato de Gestão

art. 8o A execução do contrato de gestão celebrado por organização social


será fiscalizada pelo órgão ou entidade supervisora da área de atuação
correspondente à atividade fomentada.

§ 1o A entidade qualificada apresentará ao órgão ou entidade do Poder Público


supervisora signatária do contrato, ao término de cada exercício ou a qualquer
momento, conforme recomende o interesse público, relatório pertinente à
execução do contrato de gestão, contendo comparativo específico das metas
propostas com os resultados alcançados, acompanhado da prestação de contas
correspondente ao exercício financeiro.

§ 2o Os resultados atingidos com a execução do contrato de gestão devem


ser analisados, periodicamente, por comissão de avaliação, indicada pela
autoridade supervisora da área correspondente, composta por especialistas de
notória capacidade e adequada qualificação.

§ 3o A comissão deve encaminhar à autoridade supervisora relatório conclusivo


sobre a avaliação procedida.

art. 9o Os responsáveis pela fiscalização da execução do contrato de gestão,


ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade na
utilização de recursos ou bens de origem pública por organização social, dela
darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade
solidária.

art. 10. Sem prejuízo da medida a que se refere o artigo anterior, quando assim
exigir a gravidade dos fatos ou o interesse público, havendo indícios fundados
de malversação de bens ou recursos de origem pública, os responsáveis pela
fiscalização representarão ao Ministério Público, à Advocacia-Geral da União
ou à Procuradoria da entidade para que requeira ao juízo competente a
decretação da indisponibilidade dos bens da entidade e o sequestro dos bens
dos seus dirigentes, bem como de agente público ou terceiro, que possam ter
enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

§ 1o O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto nos arts.


822 e 825 do Código de Processo Civil.

§ 2o Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio


de bens, contas bancárias e aplicações mantidas pelo demandado no País e no
exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.

§ 3o Até o término da ação, o Poder Público permanecerá como depositário


e gestor dos bens e valores sequestrados ou indisponíveis e velará pela
continuidade das atividades sociais da entidade.

[...].

171
UNIDADE VII │ GESTÃO DE CONVÊNIOS

Contratos

Conceito:
É todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da administração pública e particulares, em que
haja um acordo de vontade para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja
qual for a denominação utilizada.

Tipos:

»» Administrativos: realizado com empresas privadas – fornecedores (compras de


materiais, medicamentos, combustível etc), terceiros e Mão de Obra.

»» Assistenciais: firmado entre os gestores do SUS e os estabelecimentos de saúde,


para a realização de serviços ambulatoriais e hospitalares.

Considerações Gerais:
»» Necessidade de procedimento licitatório de acordo com a Lei no 8.666/1993.

»» Cláusulas contratuais: do objeto, do regime de execução, do preço e as condições


de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade do reajustamento de preços,
atualização monetária, prazos, dotação orçamentária disponível para a execução
do objeto, garantias, direitos e deveres, penalidades cabíveis e multas, casos de
rescisão.

»» Vigência condicionada aos créditos orçamentários.

»» Nos contratos assistenciais a vigência é de 60 meses (inciso II do artigo 57 da Lei


no 8.666):

II – à prestação de serviços a serem executados de forma contínua, que poderão


ter a sua duração prorrogada por iguais e sucessivos períodos com vistas à
obtenção de preços e condições mais vantajosas para a administração, limitada
a sessenta meses; (Redação dada pela Lei no 9.648, de 1998).

»» Publicação, em até 20 dias, de extrato do contrato após a data de sua assinatura.

»» Rescisão contratual pela inexecução total ou parcial do contrato. art. 87 da Lei no


8.666/1993:

Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá, garantida


a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanções:

I – advertência;

II – Multa, na forma prevista no instrumento convocatório o no contrato;

172
GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII

III – Suspensão temporária de participação e impedimento de contratar com


a Adm. Pública...;

IV – Declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Adm. Pública


...;

Contratualização: (Programa de Reestruturação e


Contratualização dos Hospitais Filantrópicos)
Contrato firmado entre os gestores do SUS (municipal e/ou estadual) e hospitais filantrópicos,
visando a execução de metas quantitativas e qualitativas.

Novidades de implantação:

»» Avaliação do desempenho hospitalar e repasse do Incentivo de Adesão à


Contratualização (IAC)

»» Pagamento com Parcela Pré-fixada (repasse vinculado ao cumprimento de metas –


média complexidade).

»» Pagamento com Pós-fixada (repasse vinculado à produção – alta complexidade).

Contrato Único: a ser implementado pela SES que busca desenvolver no SUS uma cultura orientada
para Resultados, que contemplará os hospitais contratualizados e as instituições beneficiadas com
programas estaduais.

O Instrumento

Anexo Anexo Anexo Anexo Anexo


Rede Urgência e
Metas Hospitalares Programa Viva Vida Programa Mais Vida Emergência/Macro Norte Sistema de Pagamento

Pro-Hosp

Contratualização

Pro-Hosp Urgência e Emergência

Penalidades do Contrato Assistencial:


A inobservância das cláusulas ou obrigações ou do dever originado de norma legal ou regulamentar
pertinente, autorizará a CONTRATANTE, garantida a prévia defesa, a aplicar, em cada caso, as
sanções previstas nos artigos 81, 86, 87 e 88 da Lei federal no 8.666/1993 e alterações posteriores:

173
UNIDADE VII │ GESTÃO DE CONVÊNIOS

[...]

art. 86. O atraso injustificado na execução do contrato sujeitará o contratado à


multa de mora, na forma prevista no instrumento convocatório ou no contrato.

§ 1o A multa a que alude este artigo não impede que a Administração rescinda
unilateralmente o contrato e aplique as outras sanções previstas nesta Lei.

§ 2o A multa, aplicada após regular processo administrativo, será descontada


da garantia do respectivo contratado.

§ 3o Se a multa for de valor superior ao valor da garantia prestada, além da perda


desta, responderá o contratado pela sua diferença, a qual será descontada dos
pagamentos eventualmente devidos pela Administração ou ainda, quando for
o caso, cobrada judicialmente.

art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá,


garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanções:

I – advertência;

II – multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no contrato;

III – suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de


contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos;

IV – declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração


Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até
que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou
a penalidade, que será concedida sempre que o contratado ressarcir a
Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção
aplicada com base no inciso anterior.

§ 1o Se a multa aplicada for superior ao valor da garantia prestada, além da


perda desta, responderá o contratado pela sua diferença, que será descontada
dos pagamentos eventualmente devidos pela Administração ou cobrada
judicialmente.

§ 2o As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste artigo poderão ser aplicadas
juntamente com a do inciso II, facultada a defesa prévia do interessado, no
respectivo processo, no prazo de 5 (cinco) dias úteis.

§ 3o A sanção estabelecida no inciso IV deste artigo é de competência exclusiva


do Ministro de Estado, do Secretário Estadual ou Municipal, conforme o caso,
facultada a defesa do interessado no respectivo processo, no prazo de 10 (dez)
dias da abertura de vista, podendo a reabilitação ser requerida após 2 (dois)
anos de sua aplicação. (Vide art 109 inciso III).

174
GESTÃO DE CONVÊNIOS │ UNIDADE VII

art. 88. As sanções previstas nos incisos III e IV do artigo anterior poderão
também ser aplicadas às empresas ou aos profissionais que, em razão dos
contratos regidos por esta Lei:

I – tenham sofrido condenação definitiva por praticarem, por meios dolosos,


fraude fiscal no recolhimento de quaisquer tributos;

II – tenham praticado atos ilícitos visando a frustrar os objetivos da licitação;

III – demonstrem não possuir idoneidade para contratar com a Administração


em virtude de atos ilícitos praticados.

[...]

Breve distinção entre contrato e convênio:

CONTRATO CONVÊNIO

1.Interesses divergentes e contrapostos para as partes. 1.Interesses convergentes e comuns entre os partícipes.

2.Partes: uma que pretende o objeto do ajuste(a obra, o serviço etc.); 2.Partes: no convênio têm-se partícipes (convenentes não vinculados
a outra que visa a contraprestação correspondente (a remuneração ou contratualmente) com as mesmas pretensões, ainda que haja
outra vantagem). prestações específicas e individualizadas, a cargo de cada partícipe.

3.Vontade: são antagônicas e se compõem, e não se adicionam, 3.Vontade: são convergentes, somam-se e não dão origem a uma
delas resultando uma terceira espécie de vontade – a contratual. terceira espécie.

4.Objetivo: Cada parte quer atingir um fim que não é compartilhado 4.Objetivo: As partes buscam o mesmo e idêntico objetivo, unindo-se
pela outra. para a satisfação do interesse comum.

5.Preço/remuneração: constitui cláusula inerente aos contratos. 5.Preço/remuneração: não existe no convênio; nele há uma
Passa a integrar o patrimônio da entidade que recebeu pelos conjugação de esforços, sob várias formas, como repasse de verbas,
serviços executados, sendo irrelevante para o órgão/entidade público uso de equipamentos, de recursos humanos e materiais, de imóveis,
repassador a sua utilização. de know-how e outros.

6.Rescisão: É formalizada pela denúncia do convênio a qualquer


6.Rescisão: nos contratos a rescisão está prevista nos artigos 77, 78,
momento, mediante comunicação prévia de qualquer dos partícipes,
79 e 80 da Lei no 8.666/1993.
promovendo-se a respectiva prestação de contas.

7.Sanção/penalidade: nos contratos a parte infratora sujeita-se à


7.Sanção/penalidade: cabe penalidade somente pela aplicação
imposição de penalidade consoante previsto nos artigos 81 ao 99 da
irregular do recurso.
Lei no 8.666/1993.

175
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