1) A subjetividade é um componente primordial na pesquisa qualitativa, mas
contraindicado na pesquisa quantitativa. Nos moldes do paradigma quantitativo experimental, o pesquisador deve adotar uma postura de neutralidade e imparcialidade perante o objeto, considerando apenas o comportamento passível de ser observado, quantificável e, em seguida, generalizado. Em relação ao objeto de estudo, que é um ser humano, qualquer atitude subjetiva, como espontaneidade e expressão de sentimentos, é negligenciada, uma vez que não podem ser sintetizadas em dados estatísticos e não compõem a objetividade que esse paradigma procura- de padrões absolutos e generalizáveis. Na perspectiva qualitativa, o pesquisador é convidado a explorar profundamente a dimensão da subjetividade, principalmente a do objeto de estudo. Os aspectos que englobam a subjetividade do objeto de estudo, como suas emoções, crenças, valores, motivações e singularidades no comportamento, são legitimados e estudados. Nesse sentido, por se tratar de conteúdos abstratos e subjetivos, o pesquisador, na coleta e na análise de dados, adquiri um caráter indutivo e interpretativo. Da mesma forma, entende-se que a subjetividade do pesquisador sempre o acompanhará, ou seja, não é possível haver uma investigação e contato com objeto de estudo sem ser parcial. Em relação ao objeto de estudo, assim como já apontado, a subjetividade é altamente estimulada. A forma de pensar, sentir, agir e se relacionar, a relatividade do contexto que está inserido, as aspirações pessoais e a imprevisibilidade são alguns dos aspectos que caracterizam a subjetividade do indivíduo e que são investigados no estudo qualitativo.
2) As pesquisas qualitativas conduzem a investigação a partir do raciocínio indutivo e
interpretativo, investigando, observando e analisando sistematicamente os dados obtidos do objeto de estudo. Nessa perspectiva, entendendo que a linguagem permeia a estruturação desses dados, o pesquisador, por intermédio de uma análise segmentada, tem a função de interpreta-los, de modo que se atribua significados fidedignos- na medida do possível- dos aspectos abordados pelo objeto de estudo. Além disso, nas pesquisas qualitativas em que a coleta de dados não é oriunda da observação -como nos casos que se investiga processos internos e reflexivos- a linguagem torna-se ainda mais substancial. Isso porque passa a ser necessária a utilização de instrumentos orais e discursivos que exponham tais camadas internas, como entrevistas e questionários. Portanto, independente da técnica utilizada, o pesquisador qualitativo deve adotar uma postura inclinada a interpretar os segmentos de linguagem do objeto de estudo, ou seja, os sinais verbais e não verbais, a fim de produzir significados que irão embasar os resultados. Para organizar os diferentes significados atribuídos na análise segmentada, o pesquisador registra todo material, manipula iterativamente e, por fim categoriza-o, seja pela categorização top-down ou bottom-up. Dessa forma, compreendendo suscintamente o processo de coleta e análise de dados da pesquisa qualitativa, percebe-se que linguagem é uma ferramenta básica que unida as técnicas rigorosas e ao sistema de interpretação possibilita explorar dimensões subjetivas e objetivas do ser humano profundamente.
3) A amostra intencional, sendo característica em estudos qualitativos, é um tipo de
amostragem na qual a escolha de participantes, por parte dos pesquisadores, é restritamente alinhada ao foco da pesquisa e do contexto que ela será realizada. Ou seja, ao contrário das pesquisas quantitativas e experimentais nas quais a amostragem segue critérios de aleatoriedade e de representatividade, organizando geralmente amostras grandes e genéricas, nas pesquisas qualitativas o recrutamento é desenhado e preciso, a fim de explorar profundamente as problemáticas levantadas na proposta do estudo.
4) As entrevistas em profundidade possuem diferentes tipos, que se organizam a
partir de três dimensões: a dimensão temporal, a dimensão espacial e a dimensão estrutural. A dimensão espacial se refere a especificidade da entrevista em relação ao ambiente que ela é realizada, podendo ter como modalidades o presencial ou a distância. Na entrevista presencial a interação entre o pesquisador e o entrevistador normalmente é face-a-face. Dessa forma, o pesquisador, tendo um contato direto com todas informações que englobam o contexto da entrevista, possui maior alcance na captação de qualquer tipo de conteúdo expresso pelo o entrevistado, seja verbal, seja não-verbal; e consegue conduzir melhor a interlocução, dando mais profundidade ao estudo. As entrevistas a distância têm como característica a grande facilidade e/ou a flexibilidade espaço temporal, colaborando para agilização dos encontros e desconsiderando aspectos localizacionais que são pontos comumente problemáticos no agendamento das entrevistas presenciais. A entrevista a distância é uma alternativa efetiva para estudos que investigam questões delicadas e/ou se o participante antes do encontro se mostra desconfortável, passando-o segurança e motivação para participar da pesquisa. Além disso, vale ressaltar que as entrevistas a distância podem ser feitas pela linguagem oral e com vídeo, ou pela linguagem escrita. A utilização do vídeo e a possibilidade de gravação contribuí para o processo de transcrição. Já a entrevista escrita, mesmo que a transcrição faça parte do encontro, evidentemente diversos aspectos subjetivos são omitidos e há a perda das expressões não-verbais. Nesse sentido, é importante mencionar que a entrevista face-a-face tende a gerar mais profundidade no que diz respeito a coleta de dados. Portanto, a escolha de qual tipo de entrevista usar deve levar em consideração tais particularidades de cada modalidade.