Você está na página 1de 83

CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE SANTARÉM

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

DALTINO CARDOSO DA SILVA


MANOEL YAN LIRA E SILVA

DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIA: CASO DE DESAGREGAÇÃO DO CONCRETO


EM RESIDÊNCIA NO MUNICÍPIO DE MONTE ALEGRE-PA

SANTARÉM - PA
2020
DALTINO CARDOSO DA SILVA
MANOEL YAN LIRA E SILVA

DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIA: CASO DE DESAGREGAÇÃO DO CONCRETO


EM RESIDÊNCIA NO MUNICÍPIO DE MONTE ALEGRE-PA

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado


como requisito para obtenção de grau de bacharelado do
Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário
Luterano de Santarém.

Orientador: Professor Eng. Esp. Nadir Pires Martins

SANTARÉM - PA
2020
DALTINO CARDOSO DA SILVA
MANOEL YAN LIRA E SILVA

DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIA: CASO DE DESAGREGAÇÃO DO CONCRETO


EM RESIDÊNCIA NO MUNICÍPIO DE MONTE ALEGRE-PA

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado


como requisito para obtenção de grau de bacharelado do
Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário
Luterano de Santarém.

Orientador: Professor Esp. Eng. Nadir Pires Martins

Data da Apresentação: ____/____/______

____________________________________ ___________
Prof. Eng. Civil NADIR PIRES MARTINS Conceito
Orientador

____________________________________ ___________
1º Membro Avaliador Conceito

Instituição de Ensino:___________

____________________________________ ___________
2º Membro Avaliador Conceito
Instituição de Ensino:___________

___________
Média
“Em todas as causas eficientes ordenadas,
em primeiro lugar está a causa do que se
encontra no meio, e o que se encontra no
meio é causa do que está em último lugar,
tanto se os intermediários forem muitos,
quanto se for um só; tiradas as causas, tira-
se o efeito; logo, se não for primeiro nas
causas eficientes, não será nem em último,
nem no meio. Se, porém, procedermos de
forma indefinida nas causas eficientes, não
haverá primeira causa eficiente e, portanto,
não haverá também nem efeito último nem
causas intermediárias, o que é
evidentemente falso. Logo, é necessário
admitir alguma causa eficiente primeira, à
qual todos chamam de Deus.” (São Tomás
de Aquino)I

I Suma Teológica-I. I-I, questão. 2, Art. 3. editora Ecclesiae. 2018


RESUMO

O presente trabalho realizou a avaliação das patologias manifestadas em uma


edificação residencial no município de Monte Alegre-Pará, objetivando o diagnóstico
das origens dos processos patológicos envolvidos a partir de metodologia baseada na
análise visual das ocorrências e ensaios tecnológicos, adaptada de ANDRADE
PERDRIX (1992). O diagnóstico constatou a incidência de fissuras longitudinais
paralelas aos elementos estruturais em diferentes estágios de evolução,
posteriormente constatada do mesmo modo a corrosão generalizada das armaduras
com a consequente desagregação do concreto em formato de placas ou
desplacamento. O prognóstico da estrutura apontou como causa das manifestações
a não conformidade normativa na elaboração, execução e utilização da edificação
aliada a atuação ambiental externa que favorecia o surgimento de patologias em
estruturas de concreto armado em decorrência de fatores climáticos e geográficos.

Palavras chave: Patologia, Diagnóstico, Concreto Armado, Desplacamento, Corrosão.


ABSTRACT

The present work carried out the evaluation of the pathologies manifested in a
residential building in the municipality of Monte Alegre-Pará, aiming at the diagnosis of
the origins of the pathological processes involved from a methodology based on the
visual analysis of the occurrences and technological tests, adapted from ANDRADE
PERDRIX (1992 ). The diagnosis found the incidence of longitudinal cracks parallel to
the structural elements at different stages of evolution, later found to be similarly the
generalized corrosion of the reinforcement with the consequent disintegration of the
concrete in the form of plates, debarking. The prognosis of the structure pointed out as
a cause of the manifestations the normative non-conformity in the elaboration,
execution and use of the building combined with the external environmental
performance that favored the appearance of pathologies in reinforced concrete
structures due to climatic and geographic factors.

Keywords: Pathology, Diagnosis, Reinforced Concrete, Debarking, Corrosion.


AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus Eterno e Todo Poderoso, Criador de todas as


coisas visíveis e invisíveis, Alpha et Ômega. Que nos deu a vida, a sabedoria e a
ciência necessárias para realizar este feito.

Aos nossos Pais e familiares que nos apoiaram durante todo este período de trabalho
árduo e de inúmeros sacrifícios, que sua paciência não seja em vão e que Deus possa
recompensá-los com Graças em abundância.

Ao professor Nadir Pires Martins, por nos ter aceito como seus orientandos e ter nos
instruídos e movido a realizar este trabalho com empenho e dedicação, apesar das
circunstancias calamitosas deste ano de 2020.

A todos os professores, colaboradores e colegas do Ceuls/Ulbra que direta ou


indiretamente contribuíram para a efetivação deste trabalho, a todos o nosso Muito
Obrigado.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 – Aqueduto Romano de Segóvia, Spa Stock Photo ................................. 15


Figura 2.2 - Vida Útil de Projeto (VUP) – NBR 15575-1 (ABNT, 2013a) ................... 18
Figura 2.3 - Configurações Gerais de Fissuras Devido ao Esforço Solicitante ......... 19
Figura 2.4 - Proteção química das armaduras .......................................................... 22
Figura 2.5 - Pilha eletroquímica................................................................................. 23
Figura 2.6 - Atuação do cloreto na corrosão das armaduras .................................... 24
Figura 2.7 – Armação com oxidação superficial ........................................................ 27
Figura 2.8 – Barras de aço armazenadas incorretamente ........................................ 28
Figura 2.9 – Frente de Carbonatação do concreto .................................................... 29
Figura 2.10 – Indicação de carbonatação no concreto por fenolftaleína ................... 30
Figura 2.11 – Rede de poros do concreto ................................................................. 31
Figura 2.12 - Fissuração por expansão interna ......................................................... 32
Figura 2.13 - Caso de desplacamento em residência de Monte Alegre - Pará ......... 33
Figura 2.14 - Pilar com armadura exposta ................................................................ 33
Figura 3.1 – fluxograma do Roteiro de Pesquisa ...................................................... 35
Figura 3.2 - Indicação de Carbonatação em Corpo-de-Prova ................................... 39
Figura 3.3 – Testemunho de concreto estrutural ....................................................... 40
Figura 3.4 – Perfurador Rotativo e Serra Copo Diamantada ..................................... 41
Figura 3.5 - Schmidt Hammer HT-225 (Esclerômetro) .............................................. 44
Figura 3.6 – Área de ensaio e pontos de impacto ..................................................... 45
Figura 3.7 – Gabarito em folha A4 ............................................................................ 46
Figura 3.8 - Configuração do circuito para determinação do potencial de corrosão
(ASTM c876-15) ........................................................................................................ 50
Figura 3.9 - Eletrodo de Referência - Sulfato de Cobre (ASTM c876-15) ................. 50
Figura 3.10 - Mapa de potencial de corrosão conforme ASTM c876-15 ................... 51
Figura 4.1 – Croqui da Residência ............................................................................ 58
Figura 4.2 - Desplacamento ...................................................................................... 59
Figura 4.3 - Fissuração longitudinal em vigas-II ........................................................ 59
Figura 4.4 - Manchas por umidade............................................................................ 60
Figura 4.5 – Óxidos Aparentes ................................................................................. 60
Figura 4.6 - Fissuração longitudinal em vigas ........................................................... 60
Figura 4.7 – Óxidos Aparentes .................................................................................. 60
Figura 4.8 - Fachada Norte ....................................................................................... 61
Figura 4.9 - Fachada Leste ....................................................................................... 61
Figura 4.10 – Croqui de Amostragem no Pav. Térreo ............................................... 62
Figura 4.11 – Croqui de Amostragem no Pav. Térreo ............................................... 63
Figura 4.12 – Retirada do Emboço............................................................................ 64
Figura 4.13 – Desbaste do Concreto ......................................................................... 64
Figura 4.14 - Ensaio de Esclerometria ...................................................................... 65
Figura 4.15 – Pontos de Leitura ................................................................................ 66
Figura 4.16 – Leitura do potencial de corrosão (ASTM c876 - 2015) ........................ 67
Figura 4.17 – Aferição do Pilar P1-Sup. com Paquímetro ......................................... 68
Figura 4.18 – Aferição do Cobrimento das Armaduras ............................................. 69
Figura 4.19 – Profundidade de carbonatação no Pilar P1 ......................................... 69
Figura 5.1 – Potencial de Corrosão – Leitura individual ............................................ 72
Figura 5.2 - Armadura longitudinal ............................................................................ 73
Figura 5.3 - Armadura Transversal............................................................................ 74
Figura 5.4 – Cobrimento das Armaduras .................................................................. 74
LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 - Requisitos de durabilidade para fissuração .......................................... 20


Quadro 2.2 – Classificação da Fissuração ................................................................ 21
Quadro 3.1 – Mapeamento da estrutura e formação de lotes ................................... 42
Quadro 3.2 –valores k1 (NBR 7680-1:2015) ............................................................. 43
Quadro 3.3 - Valores de k2 em função do efeito do broqueamento .......................... 43
Quadro 3.4 – avaliação da porosidade do concreto .................................................. 49
Quadro 3.5 – Probabilidade de ocorrência de corrosão da armadura em função do
potencial, para diversos tipos de eletrodo. ................................................................ 51
Quadro 3.6- Limites máximos para teores de cloretos e sulfatos em agregados ...... 52
Quadro 3.7 - Teor máximo de íons cloreto ................................................................ 53
Quadro 4.1 – Planilha de Amostragem ..................................................................... 65
Quadro 5.1 - Fck Concreto – Esclerometria (NBR 7584 – 2012) .............................. 71
Quadro 5.2 -Média de Leituras - Potencial de Corrosão ........................................... 72
LISTA DE SIGLAS

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS


ACI – AMERICAN CONCRETE INSTITUTE
ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS
CP – CORPO-DE-PROVA
NBR – NORMA BRASILEIRA
PH - POTENCIAL HIDROGENIÔNICO
VU – VIDA ÚTIL
VUP – VIDA ÚTIL DE PROJETO
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 14
2.1 PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO 14
2.1.1 Histórico 14
2.1.2 Desempenho das Estruturas 17
2.1.3 Fissuração 19
2.1.4 Corrosão 21
2.1.4.1 Mecanismos de corrosão 21
2.1.4.2 Corrosão eletroquímica 22
2.1.4.3 Despassivação por cloretos 23
2.1.4.4 Contaminação por sulfatos 25
2.1.4.5 Água de amassamento 25
2.1.4.6 Corrosão química 26
2.1.4.7 Corrosão durante a estocagem 27
2.1.4.8 Carbonatação 28
2.1.4.9 Umidade 30
2.1.5 Desagregação do Concreto 32
2.1.5.1 Desagregação por Corrosão das Armaduras 32
2.1.6 Projeto, Execução e Utilização 34
3 DIAGNÓSTICO 35
3.1 NÍVEIS DE INVESTIGAÇÃO 35
3.2 INSPEÇÃO PRELIMINAR 36
3.3 PLANO DE TRABALHO 37
3.4 INSPEÇÃO DETALHADA 38
3.5 ENSAIOS 39
3.5.1 Profundidade da Carbonatação 39
3.5.2 Resistência a compressão 40
3.5.3 Esclerometria 44
3.5.4 Porosidade do concreto 48
3.5.5 Potencial de corrosão 49
3.5.6 Redução da seção da armadura 52
3.5.7 Determinação de Cloretos 52
3.5.7.1 Concentração de Cloretos no Concreto 52
3.5.7.2 Determinação de cloretos solúveis em água (ASTM C1218 – 99) 54
3.5.8 Determinação de Sulfatos (NBR 9917-2009) 55
4 METODOLOGIA 57
4.1 TIPO DE PESQUISA 57
4.2 ESTUDO DE CASO 57
4.3 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA 59
4.3.1 Registros de Patologias 59
4.3.2 Mapa de Patologias 60
4.3.3 Plano de Amostragem 62
4.3.4 Previsão de meios auxiliares 63
4.3.5 Preparação das Regiões de Ensaios 63
4.3.6 Ensaios Realizados 64
4.3.6.1 Esclerometria ( NBR 7584 - 2012) 65
4.3.6.2 Potencial de corrosão ( ASTM c876-15) 66
4.3.6.3 Redução da seção da armadura 67
4.3.6.4 Espessura do Cobrimento das Armaduras 68
4.3.6.5 Profundidade de Carbonatação 69
5 DISCUSSÕES E RESULTADOS 70
5.1 INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR E DETALHADA 70
5.2 ENSAIOS 70
5.2.1 Esclerometria 70
5.2.2 Potencial de Corrosão 71
5.2.3 Redução da seção da armadura 72
5.2.4 Espessura do Cobrimento das Armaduras 74
5.2.5 Carbonatação 75
5.3 OBSERVAÇÕES 75
6 CONCLUSÃO 77
REFERÊNCIAS 78
ANEXO A – CERTIFICADO DE CALIBRAÇÃO DE ESCLEROMETRO DE
REFLEXÃO HT-225 81
12

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por Tema “O Diagnóstico das manifestações


patológicas em uma edificação residencial no município de Monte Alegre-Pará”, tendo
como objetivo a determinação dos fatores que contribuíram para o comprometimento
da edificação em questão e o surgimento de patologias. Dadas as circunstantes
evidências de corrosão das armaduras e desplacamento da camada de recobrimento
do concreto da referida edificação. Ao se optar pela metodologia mais adequada para
a correta avaliação dos impactos das mencionadas manifestações patológicas na
edificação, recorreu-se à metodologia de diagnóstico de patologias adaptada de
ANDRADE PERDRIX (1992).
A aplicação da metodologia de investigação se deu por meio de avaliação
superficial das patologias durante visita técnica e, com a obtenção de informações via
anamnese com o proprietário da edificação e conforme avaliação própria dos Autores.
Após a prévia revisão bibliográfica, partiu-se para a elaboração de um Plano de
Trabalho através do qual realizou-se a Inspeção Detalhada com a parte experimental
de ensaios tecnológicos, o que possibilitou a complementação com os dados iniciais
e assim, a otimização das informações disponíveis que irão nortear a avaliação dos
processos envolvidos e garantir a emissão do prognóstico.
Sabendo-se da fundamental importância no que se refere ao conhecimento dos
fenômenos envolvidos nos processos deletérios em estrutura de concreto armado, e
de uso de todas as informações pertinentes para sua prevenção e possível
remediação, é possível fazer uma previsão do impacto causado por patologias na vida
útil da edificação bem como definir métodos de intervenção de modo a diminuir o seu
alcance. Dentro dessa perspectiva, pode-se evitar tal risco fazendo-se uso da correta
implementação das exigências normativas que venham a contribuir para o
cumprimento da funcionalidade da edificação, da sua vida útil de projeto, da sua
segura utilização e para minimizar gastos elevados com futuras manutenções
reparatórias de modo a não causarem maiores danos ao fator econômico da
edificação.
Por impactar diretamente nos fatores segurança e economia, o estudo das
patologias em concreto armado, suas causas e processos de ação, são de suma
importância na prevenção e remediação de tais ocorrências. A partir da emissão do
diagnóstico das patologias manifestas na edificação, é possível traçar o quadro
13

evolutivo que levará a um consenso em qual método de intervenção mais apropriado


e menores custos envolvidos serão necessários (FIGUEIREDO; MEIRA, 2013).
Porém, mesmo havendo estudos muito relevantes no Brasil nesta área, os dados
ainda são poucos (RIBEIRO, 2014).
Em relação ao caso avaliado em particular, ficou constatado tratar-se de um
caso típico de obra empreendida sem apoio técnico, constituindo assim uma série de
falhas que repercutiu por todo o seu processo construtivo: a falta de um
acompanhamento técnico em seus primeiros anos de implantação foi suficiente para
não evitar uma série de manifestações patológicas, as quais geraram transtornos e
necessidade de sucessivas manutenções reparatórias. Evidentemente, estas
edificações sem aporte técnico estarão mais propensas a apresentarem processos
patológicos (SOUZA; RIPPER, 1998). De conhecimento dessas intervenções, as
patologias do estudo de caso puderam ser explicadas inicialmente, a partir de duas
hipóteses básicas: a não conformidade com as exigências normativas e a utilização
de material inadequado como matéria prima.
Com a implementação da Metodologia de Diagnóstico, constatou-se a condição
ativa do processo de corrosão das armaduras evidenciada pela despassivação das
mesmas. Verificou-se também a ocorrência de sucessivas falhas no processo
construtivo por estarem em desacordo com recomendações normativas,
comprometendo a estrutura da edificação pela vulnerabilidade à corrosão e criando
um ambiente favorável com pré-disposição ocasionado pela umidade, insolação e
vento.
De acordo com as constatações oriundas deste caso, é notória a importância
de se recorrer às exigências normativas em todo e qualquer empreendimento de
construção (reforçando a sua importância junto ao seu corpo técnico), que vise a
efetiva funcionalidade de uma estrutura de edificação em concreto armado, tomando
por base as medidas necessárias de combate à prevenção de patologias e suas
consequências.
14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Patologias em Estruturas de Concreto Armado

2.1.1 Histórico

O homem construiu por séculos estruturas que atendessem as suas


necessidades a curto, médio e longo prazo. Durante este período de desenvolvimento
, grande foi a experiência acumulada para a construção civil nas suas inúmeras áreas
de atuação e especialização, levando a melhorias continuas dos materiais e técnicas
empregadas, além de proporcionar os desenvolvimentos de novas (SOUZA; RIPPER,
1998). O surgimento do concreto armado seguiu em decorrência da extensa utilização
da pedra natural como principal material da construção durante milênios, a qual
conferiu edificações robustas e confiáveis. Entretanto, as limitações inerentes ao
processo, principalmente a baixa resistência da rocha natural a tração e seu peso
específico considerável, fez com que se optasse por um material compósito eficaz em
unir a alta capacidade de resistência de esforços de compressão da rocha com a
capacidade de absorver esforços de tração, no caso a liga de aço. Tais capacidades
levaram ao uso massificado do concreto armado tornando-o como fundamental
material na construção civil atualmente.

O concreto armado tem sido utilizado como principal material de construção,


superando o aço e, principalmente, o bloco cerâmico (ou tijolo) e a madeira.
Um dos fatores que levaram a essa preferência do setor construtivo foi a
maior durabilidade dos componentes, uma vez que o aço estaria protegido
do ambiente externo e, consequentemente, de uma agressividade mais
intensa (RIBEIRO, 2014).

O concreto armado possibilitou a execução de estruturas menos robustas e


igualmente eficientes, além de possibilitar vencer vãos cada vez maiores sem a
obrigatoriedade da utilização de arcos (Figura 2.1), como outrora (TRINDADE, 2015).
15

Figura 2.1 – Aqueduto Romano de Segóvia, Spa Stock Photo

Fonte: (PEREZ, 2005)2

O desenvolvimento científico condicionou tais aprimoramentos, em especial a


análise de falhas oriundas de erros nos processos construtivos que acarretaram a
ineficiência das estruturas e da consequente redução da sua vida útil. Como
consequência, surge um ramo específico na engenharia civil conhecido por Patologias
das Estruturas, cuja finalidade é o aprimoramento como um todo do processo
construtivo a partir da análise das origens, manifestações, consequências e
mecanismos de degradação das estruturas (SOUZA; RIPPER, 1998).

Tais considerações, aplicadas à Engenharia de Estruturas e associadas à


análise de todos os fatos expostos, implicaram, dentro dos meios técnicos,
necessidade de se promover a indispensável alteração de métodos, a
começar pela sistematização dos conhecimentos nesta área, apontando,
então, para o desenvolvimento de um novo campo, cujo objetivo é abordar,
de maneira científica, o comportamento e os problemas das estruturas
(SOUZA; RIPPER, 1998).

Por Patologia entende-se, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa3, “Ramo


da medicina que se dedica ao estudo das doenças, de suas causas, seus sintomas e
suas alterações no organismo”, termo também empregado na engenharia para
descrever ocorrências presentes em estruturas de concreto armado e
concomitantemente o ramo de estudos do processo destas ocorrências patológicas.

2 PEREZ, E. freeimages. freeimages, 2005. Disponivel em:


<https://pt.freeimages.com/photo/roman-aqueduct-of-segovia-spa-1562335>.
3 DICIO, Dicionário Online de Português. Patologia. Disponível em:

<https://www.dicio.com.br/patologia/>. Acesso em: 07 fev. 2020.


16

Para TRINDADE (2015) “Entende-se por patologia do concreto armado a


ciência que estuda os sintomas, mecanismos, causas e origens dos problemas
patológicos encontrados nas estruturas de concreto armado”. A demanda por reparos
e aprimoramentos em estruturas acarretaram a maior procura e estudo desta área de
análise de processos patológicos, contribuindo profundamente na fixação do concreto
armado como material majoritário na construção civil devido aos aperfeiçoamentos
contínuos que este viera a receber nas últimas décadas.

A construção civil começou a se confrontar com um grande aumento dos


danos causados pela deterioração das estruturas a partir da segunda metade
do século XX, quando os gastos com reparos foram significativamente
acentuados” ANDRADE (2005)4 apud (RIBEIRO, 2014).

De acordo com a NBR 15575-1 (ABNT, 2013), a vida útil de projeto é


recomendada para 50 anos, recebendo manutenção regular, conforme também
especificado pela mesma norma, para que não ocorra o comprometimento da sua vida
útil, e consequentemente o aparecimento de patologias.
A prevenção quanto ao aparecimento de patologias de suma importância na
conservação da vida útil de projeto das edificações, entretanto conforme (RIBEIRO,
2014) há um elevado número de ocorrências de patologias em obras de concreto
armado pelo Brasil, sendo as fissuras no concreto e corrosão das armaduras as
principais delas, onde a corrosão sozinha corresponde a 27% dos casos analisados
por CARMONA FILHO (1988)5 apud RIBEIRO (2014) com base em 700 relatórios
técnicos. Este fato ocorre por diversos fatores, entre eles, também o mais
preocupante, a falta de acompanhamento técnico que abrange desde a concepção do
projeto até a execução em obras de pequeno e médio porte. As estruturas destas
obras sem respaldo técnico pecam por não dispor de confiabilidade no cumprimento
da sua finalidade, compreendida por SOUZA; RIPPER (1998) pela observância do
biônimo segurança-economia.
Os altos custos envolvidos na recuperação de estruturas afetadas por
patologias são alarmantes, segundo o estudo de CARMONA FILHO (1988)6 apud

4 ANDRADE, T. Tópicos sobre Durabilidade do Concreto. In:______. Concreto: Ensino,


Pesquisa e Realizações. 1.ed. São Paulo: IBRACON, 2005. cap. 25, p. 753-92.
5 CARMONA FILHO, A.; MAREGA, A. Retrospectiva da patologia no Brasil; estudo

estatístico. In: Jornadas en Español y Português sobre Estructuras y Materiales, Madrid,


1988. Colloquia 88. Madrid, CEDEX, IET, mayo 1988. p. 325-48
6 Conforme 5.
17

RIBEIRO (2014), no ano de 1987, foram 28 milhões de dólares os investimentos em


obras de recuperação e reforço no Brasil. Observando quanto a importância da
prevenção, FONTANA (1986)7 apud GENTIL (1996), enfatiza que cerca de 30 bilhões
de dólares seriam economizados, caso as medidas viáveis de proteção, contra a
corrosão fossem efetivadas na integra em grandes instalações industriais, estas,
muito susceptíveis ao ataque de agentes corrosivos, principalmente gases.
As intervenções se fazem necessárias, quando as edificações apresentam
defeitos estéticos, causando desconforto aos usuários, e em casos mais graves, o
risco à integridade estrutural.
Por impactar diretamente nos fatores segurança e economia, o estudo das
patologias em concreto armado, suas causas e processos de ação, são de suma
importância na prevenção e remediação de tais ocorrências. Porém, mesmo havendo
estudos muito relevantes no Brasil nesta área, os dados ainda são poucos (RIBEIRO,
2014).

2.1.2 Desempenho das Estruturas

Toda estrutura de uma edificação possui uma vida útil (VU) que segundo a NBR
15575-1: Edificações Habitacionais — Desempenho (ABNT, 2013), pode ser definida
como a medida temporal da durabilidade de partes ou do seu todo, enquanto a
projeção matemática desta durabilidade é conhecida por vida útil de projeto (VUP).
Segundo a NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimento (ABNT, 2014)
no item 5.1.2.3, durabilidade refere-se a permanência da capacidade estrutural frente
as solicitações oriundas das interações ambientais previstas para o uso desta, tendo
a estrutura que apresentar ao longo da sua vida útil a estabilidade e segurança mínima
determinada para o seu uso, sem todavia abrir mão da manutenção regular e
periódica.
A implicação destes fatores condiciona a durabilidade de uma estrutura em
concreto armado como o produto da correlação entre as características físicas do
concreto e o meio de trabalho que se encontra, conforme LOTTERMANN (2013) “A
durabilidade não é simplesmente uma característica dos materiais, mas um resultado
da interação de um material ou componente com o meio ambiente”. Segundo HELENE

7 FONTANA, M.G. Corrosion Engineering, 3rd., McGraw-Hill, NY, 1986. págs. 1-5.
18

(1993)8 apud RIBEIRO (2014), há uma disposição tradicional que estabelece


condicionantes a uma estrutura de concreto armado durável, são elas:

• Composição ou traço do concreto;


• Compactação ou adensamento efetivo do concreto na estrutura;
• Cura efetiva do concreto na estrutura e;
• Cobrimento ou espessura do concreto de cobrimento das armaduras.

Esta correlação em parâmetros atuais, também levaria em consideração a


estimativa de resistência mínima necessária ao material, o tempo de utilização e o tipo
de ambiente a qual estaria exposto (RIBEIRO, 2014). Para a obtenção de estrutura
que atendam às exigências de projeto, deve-se considerar também os fatores
humanos preponderantes à qualidade final da estrutura e atuantes na etapa de
construção, segundo NUNES; SANTOS (2016) são o nível de qualificação profissional
da mão-de-obra, escolha da qualidade dos materiais empregados e o tempo hábil na
execução das etapas de construção. Ou seja, a soma das contribuições das diferentes
etapas do processo construtivo, além da constituição do ambiente externo formam a
vida útil da edificação.
A NBR 15575-1 (ABNT, 2013b) no item 14.2.1, preconiza que a vida útil de
projeto (VUP) para a estrutura de edificações (Figura 2.2) sejam de valor maior que
cinquenta anos em acordo com o tempo de atuação no Estado Limite de Serviço (ELS)
estabelecido segundo a NBR 8681 (ABNT, 2003).

Figura 2.2 - Vida Útil de Projeto (VUP) – NBR 15575-1 (ABNT, 2013a)

Fonte: NBR 15575-1 (ABNT, 2013)

8HELENE, P. Contribuição ao estudo da corrosão em armaduras de concreto armado.


São Paulo: USP, 1993. Tese (Livre Docência). Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, 1993. 271 p.
19

2.1.3 Fissuração

Em função da natureza do concreto de apresentar baixa resistência a tração, a


ocorrência de fissuração se torna comum em certos aspectos e sob certas condições.
De acordo com GONÇALVES (2015) “Fissuras são aberturas que afetam a superfície
do elemento estrutural tornando-se um caminho rápido para a entrada de agentes
agressivos à estrutura”.
Conforme SOUZA; RIPPER (1998), as fissuras podem ser consideradas como
uma das mais correntes manifestações patológicas em estruturas de concreto,
atraindo de imediato a atenção de usuários em geral e do proprietário por ser
instintivamente associada a possíveis problemas na estrutura. A ocorrência de
fissuração no concreto pode estar ou não associada à efeitos danosos e patológicos
na estrutura, com esta constatação dependendo das suas causas e morfologia, onde
as suas características contribuem profundamente para a juízo de cada situação. “A
posição das fissuras nos elementos estruturais, sua abertura, sua trajetória e seu
espaçamento, podem indicar a causa ou as causas que as motivaram” (GONÇALVES,
2015)
Na Figura 2.3, estão destacados alguns dos padrões mais comuns de
fissuração em elementos estruturais em concreto armado devido a ação de esforços
solicitantes. Destacam-se na fissuração os esforços de: Flexão (a), Tração (b),
Cortante (c); Torção (d); Perda de Aderência (e); Cargas Concentradas (f).

Figura 2.3 - Configurações Gerais de Fissuras Devido ao Esforço Solicitante

Fonte: (SOUZA; RIPPER, 1998), Adaptado


20

Por lidar com esforços mútuos de tração e compressão nos seus estados-
limites, as estruturas de concreto armado poderão apresentar fissuras em condições
de serviço que não caracterizam patologias, mas apenas evidenciando o trabalho das
armaduras.

Há que se destacar que fissuras são também ocorrências inerentes ao


concreto armado, visto que as seções são dimensionadas nos Estádios II
(seção fissurada) ou Estádios III (ruptura), não sendo, portanto, sempre,
manifestação patológica (LOTTERMANN, 2013).

Desta forma, por se tratar de um efeito inevitável em estruturas de concreto


armado visto que são produto das ações de serviço (utilização) que atuam na
estrutura, contudo, a presença de fissuração acarreta no risco à vida útil da estrutura
pelo aparecimento de efeitos deletérios, fazendo com o que as fissuras recebam
limites normatizados. Segundo ANDRADE PERDRIX (1992), as normas
internacionais que estabelecem critérios para projeto e desempenho de estruturas de
concreto armado estabelecem um valor máximo de abertura por fissuração que varia
de 0,3 a 0,4 mm para classe de agressividade ambiental não agressiva, tendo este
critério corroborado por estudos que apontam como um valor limite de 0,4mm que não
venha a comprometer a vida útil da estrutura.
A NBR 6118 (ABNT, 2014) no item 13.4.1, estabelece limites para a fissuração
em estruturas, “Visando obter bom desempenho relacionado à proteção das
armaduras quanto à corrosão e à aceitabilidade sensorial dos usuários, busca-se
controlar a abertura dessas fissuras” NBR 6118 (ABNT, 2014). Na tabela 13.4 da
referida norma (Quadro 2.1), apresentam-se os valores de abertura característica para
concreto estrutural simples ou armado, estando este no estado-limite de serviço para
combinação frequente.

Quadro 2.1 - Requisitos de durabilidade para fissuração


Classe de
Tipo de agressividade Exigências Combinação de
concreto ambiental (CAA) relativas à ações em serviço a
estrutural e tipo de fissuração utilizar
protensão
Concreto simples CAA I a CAA IV Não Há -
CAA I ELS-W wk ≤ 0,4 mm
Concreto armado CAA II e CAA III ELS-W wk ≤ 0,3 mm Combinação frequente
CAA IV ELS-W wk ≤ 0,2mm
Fonte: NBR 6118 (ABNT, 2014), adaptado
21

Os valores obtidos na tabela 13.4 (Quadro 2.1), determinam que para classe
de agressividade IV (Muito Forte) seja de abertura máxima de 0,2 mm, que
corresponde a áreas propensas a respingo de maré ou industriais; 0,3 mm para classe
II (Moderada) e III (Forte) de agressividade que compreende áreas Urbana e Marinha,
ou industrial, respectivamente; e 0,4 mm para classe I (Fraca) de agressividade, áreas
rurais ou submersas.
Quanto à constatação, diagnóstico e tratamento de ocorrências de fissuração,
as fissuras devem ser classificadas quanto ao seu estado de constância, quando a
fissura apresenta mudanças de tamanho e espessura em relação tempo, diz-se que
esta é ativa, ou viva, por exemplo as causadas por movimentações hidrotérmicas e
similares. Quando a fissura se conserva estável no decorrer do tempo, esta será
classificada como passiva, ou morta, considerando-a como estável (LOTTERMANN,
2013).
Segundo OLIVARI (2003), na análise de patologias relacionadas a fissuração
faz-se necessária primeiramente a classificação de estabilidade assim como da
gravidade e urgência de intervenção, no qual a abertura característica torna-se o
indicativo para ambos, recebendo classificação nominal própria para cada faixa de
abertura possível conforme exposto no Quadro 2.2.
Esta nomenclatura serve para a classificação de fissuras em elementos
estruturais assim como alvenaria.

Quadro 2.2 – Classificação da Fissuração


Fissura capilar menos de 0,2 mm
Fissura 0,2 mm a 0,5 mm
Trinca 0,5 mm a 1,5 mm
Rachadura 1,5 mm a 5,0 mm
Fenda 5,0 mm 10,0 mm
Brecha mais de 10,0 mm
Fonte: (OLIVARI, 2003)

2.1.4 Corrosão

2.1.4.1 Mecanismos de corrosão

Numa perspectiva geral, pode-se entender por corrosão a deterioração de um


determinado material, geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica que
podem estar ou não associadas a esforços solicitantes (GENTIL, 1996). O processo
22

de corrosão nada mais é do que o retorno natural do metal a sua forma mais estável,
aquela à qual é encontrado na natureza na forma de óxidos e hidróxidos (RIBEIRO,
2014a).
No concreto armado, as armaduras estão protegidas pelo recobrimento que as
envolve garantindo proteção física do ambiente externo (Figura 2.4), além de proteção
química a partir de um pH elevado, próximo a 13, como forma de evitar possíveis
diferenças de potencial, responsável direto pela reação de corrosão eletroquímica em
meio aquoso ((ANDRADE PERDRIX, 1992).

Figura 2.4 - Proteção química das armaduras

Fonte: (ANDRADE PERDRIX, 1992), adaptado

2.1.4.2 Corrosão eletroquímica

Como visto, a corrosão é “um processo de deterioração do material devido à


ação química ou eletroquímica do meio ambiente, resultando na perda de massa do
material” (RIBEIRO, 2014). Em objetos metálicos, esse fenômeno é de redução e
oxidação. Segundo (RIBEIRO, 2014):

A corrosão, na verdade, é causada pela ação de um agente oxidante como o


oxigênio e o hidrogênio que, ao entrar em contato com a superfície do metal,
passa a receber elétrons, ocorrendo, assim, a reação de redução. Os elétrons
consumidos na reação de redução, que ocorre no cátodo, são fornecidos pela
reação de oxidação do metal que ocorre no ânodo, sendo transferidos para o
cátodo através do metal, que atua como um eletrodo (material no qual o
ocorre a transferência de elétrons). Quando o metal sofre oxidação, perde
elétrons e se transforma em um cátion, que se desprende da estrutura
metálica passando, assim, a ocorrer a dissolução do metal (RIBEIRO, 2014).
23

Esse fenômeno também é caracterizado pela formação de pilhas


eletroquímicas (Figura 2.5), que “em uma superfície metálica está presente um grande
número de microrregiões anódicas e catódicas, há a formação de uma grande
quantidade de pilhas eletroquímicas” (RIBEIRO, 2014). Em relação ao aço, “as
heterogeneidades são causadas principalmente pela diferença de concentração de
íons como cloreto, oxigênio e álcalis” (RIBEIRO, 2014).

Figura 2.5 - Pilha eletroquímica

Fonte: (SOUZA; RIPPER, 1998)

O funcionamento da pilha eletroquímica depende de componentes específicos


para o seu funcionamento, segundo GENTIL (1996), são: anodo; eletrólito; catodo e
circuito metálico. Neste sistema, o anodo é região que sofre o processo de oxidação
correspondente à região de atingida pela patologia de corrosão, com o
desprendimento do íon ferroso (Fe++) que se dissolve em um eletrólito contendo íons
capazes de realizar o transporte de corrente elétrica do catodo até o anodo que ao
receber esses elétrons sofre redução. Por ser o circuito metálico, o responsável pela
condução de elétrons entre anodo e catodo, a falta de um destes componentes pode
remediar o processo de corrosão (GENTIL, 1996).

2.1.4.3 Despassivação por cloretos

Durante o preparo do concreto, pode ocorrer a contaminação do mesmo por


agentes nocivos seja por meio da sua presença nos agregados ou na incorporação
24

de aditivos que possuam teores altos dessas substâncias, ou mesmo na


contaminação da água utilizada (RIBEIRO, 2014). O mais comum nestes casos é o
cloreto (íon 𝐶𝑙 − ), por possuir propriedades que atuam na deterioração das armaduras,
sendo a sua ação despassivadora e definida pela NBR 6118 (ABNT, 2014).

Consiste na ruptura local da camada de passivação, causada por elevado


teor de íon-cloro. As medidas preventivas consistem em dificultar o ingresso
dos agentes agressivos ao interior do concreto. O cobrimento das armaduras
e o controle da fissuração minimizam este efeito, sendo recomendável o uso
de um concreto de pequena porosidade. O uso de cimento composto com
adição de escória ou material pozolânico é também recomendável nestes
casos (NBR 6118:2014, Item 6.3.3.2 Despassivação por ação de cloretos).

A presença de cloretos no concreto, assim como outros íons despassivantes,


acarretam corrosão localizada pelo efeito de “micro-regiões” ou “micro-pilhas”
eletrolíticas, que evolui para uma corrosão do tipo generalizada, devido a degradação
da camada passivadora, relacionada à redução do Ph do concreto. De maneira geral,
este efeito é mais susceptível em concretos de baixa qualidade, ou seja, que possuem
baixo fck e alta porosidade, pois a reação que leva a formação de pilhas
eletroquímicas, como já dito, necessita de umidade para a formação do eletrólito, e
como o cloreto é um poderoso condutor elétrico, em meio aquoso, eleva a
condutividade elétrica aumentando, desta forma, o potencial de corrosão das
armaduras.

Figura 2.6 - Atuação do cloreto na corrosão das armaduras

Fonte: (ANDRADE PERDRIX, 1992)


25

A Figura 2.6 apresenta a formação de corrosão do tipo localizada, ocasionada


por cloretos presentes no concreto em teores acima do permitido e especificado por
norma, sua presença é notada, a partir do surgimento de pontos isolados de corrosão
e a presença de pite (corrosão por picadas). Concomitantemente, tem-se a
carbonatação que avança em velocidade pela camada de cobrimento das armaduras,
ao alcançar o aço, a despassivação total da proteção química do aço, somada à
presença de cloretos no concreto, permite que a corrosão acelere ocasionando na
corrosão generalizada (ANDRADE PERDRIX, 1992).
Segundo ANDRADE PERDRIX (1992), “Uma vez atingida a armadura, os
fatores que interferem para que o período de propagação seja mais ou menos rápido
são o conteúdo de umidade e oxigênio (fatores acelerantes) que rodeiam a armadura”.

2.1.4.4 Contaminação por sulfatos

A presença excessiva de sulfatos no concreto gera duas fontes patológicas: a


redução do pH do concreto e a reação álcalis-agregado. Mesmo não sendo tão
agressiva como os cloretos, a presença de sulfatos deve ser um fator considerado na
prevenção da corrosão, e para isto, a NBR 7211 (ABNT, 2019) determina o teor de
sulfatos (SO4 2-) de 0,1% para agregados e acrescenta.

Agregados que excedam o limite estabelecido para sulfatos podem ser


utilizados em concreto, desde que o teor total trazido ao concreto por todos
os seus componentes (água, agregados, cimento, adições e aditivos
químicos) não exceda 0,2% ou que comprovado o uso do cimento Portland
resistente a sulfatos, conforme a ABNT NBR 5737, no concreto. (NBR
7211:2019)

Para que seja cumprido os requisitos de conformidade normativa quanto à


concentração de sulfatos, é necessária a confirmação da presença de sulfatos não
apenas nos agregados, mas também em outros itens constituintes do concreto e
garantir que a somas destes não ultrapassem o limite total estabelecido por norma.

2.1.4.5 Água de amassamento

O critério de avaliação para a água de amassamento do concreto usualmente


é definido em função da potabilidade ao consumo humano, ou seja, a água
26

proveniente da rede pública de abastecimento está adequada para o uso e sem


necessidade de ensaios comprobatórios de qualidade, assim indica a NBR 15900-1
Água para amassamento do concreto. Parte 1: Requisitos (ABNT, 2009). Porém, o
consumo humano tolera componentes presentes na água, que em situações
convencionais, são nocivos e potenciais favorecedores da corrosão na armadura de
aço, onde se pode destacar os sulfatos e cloretos.
A presença de sulfatos em concentrações nocivas podem ser encontradas em
águas de origem natural (águas sulfurosas), ou industrial, sendo sua composição mais
comum na forma de gipsita (CaSO4.2H2O), conhecida por gesso, que não representa
grande risco devido a sua baixa concentração, ou em sulfatos de magnésio, sódio e
potássio (RIBEIRO, 2014). Por consequência, a utilização de águas provenientes de
poços, segundo a NBR 15900-1 (ABNT, 2009), deve ser ensaiada apresentando teor
de SO42- que não exceda 2000 mg/L.
Por sua vez, os cloretos (𝐶𝐿− ) possuem a restrição de 1000mg/L para o uso no
concreto armado, sendo as situações de análise as mesmas citadas anteriormente.

2.1.4.6 Corrosão química

A corrosão química surge devido à composição atmosférica que apresenta


gases nocivos, característica de ambientes industriais e urbanos com frotas
consideráveis de veículos. De modo geral, a capacidade corrosiva destes gases à
temperatura ambiente não é capaz de depreciar os metais, entretanto produzem o
fenômeno da carbonatação do concreto GENTIL (1996).
Para além das indústrias, porém ainda relacionado à elas, têm-se as chamadas
“chuvas ácidas” que surgem em ambientes de atividade industrial, uma vez que os
óxidos ácidos e compostos por enxofre utilizados em combustíveis são lançados na
atmosfera, se fundem com água e formam ácido sulfúrico ou ácido sulfuroso que se
precipita em forma líquida com elevada acidez (FOGAÇA, 2019) 9. A reação de
formação da chuva ácida é descrita como:

9FOGAÇA, Jennifer Rocha Vargas. "O que é chuva ácida?"; Brasil Escola, 2019. Disponível
em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/quimica/o-que-e-chuva-acida.htm.
27

S (s) + O2 (g) —˃ SO2 (g) (Dióxido de Enxofre)


SO2 (g) + H2O (l) —˃ H2SO3 (aq) (Ácido Sulfuroso)

SO2 (g) + ½ O2 (g) —˃ SO3 (g) (Trióxido de Enxofre)


SO3 (g) + H2O (l) —˃ H2SO4 (aq) (Ácido Sulfúrico)

A ocorrência da chuva ácida é de grande preocupação, uma vez que


desencadeia por si só diversas patologias, que “Além desse estrago ambiental, as
chuvas ácidas reagem (...). Reagem também com metais, destruindo estruturas
metálicas de prédios e pontes” (FOGAÇA, 2019)10.

2.1.4.7 Corrosão durante a estocagem

É comum no canteiro de obra que o aço possua pequenos sinais de oxidação


superficial (Figura 2.7), nestes casos o seu uso não representa problema algum para
a edificação, pois esta ferrugem não acarreta a corrosão das barras e nem a perda de
seção. Porém, é recorrente a negligência no armazenamento deste item essencial,
principalmente em obras de pequeno e médio porte, muitas das vezes por falta de
orientações por parte de um engenheiro civil. Logo, é comum a observação de
empreendimentos que acumulam os estoques de aço expostas ao ambiente,
recebendo as intempéries assim como também apoiadas diretamente sobre o solo
(Figura 2.8).

Figura 2.7 – Armação com oxidação superficial

Fonte: Autores, 2019

10 Conforme 9.
28

E nestes locais inadequados (Figura 2.8), as barras permanecem por tempo


indeterminado à espera da sua utilização. Essa prática representa um alto risco uma
vez que compromete a função estrutural do aço considerando que este adquiriu um
estágio avançado de corrosão antes mesmo de ser empregado no concreto, também
existindo a possibilidade da contaminação do concreto por meio do acúmulo de
materiais estranhos e resíduos acumulados nas barras, fator diretamente responsável
pela precariedade da estrutura e consequentemente redução de sua vida útil.

Figura 2.8 – Barras de aço armazenadas incorretamente

Fonte: Autores, 2019

2.1.4.8 Carbonatação

Um frequente causador da corrosão generalizada em armaduras é a chamada


“carbonatação”, sendo o processo de perda de alcalinidade da camada de
recobrimento de concreto, devido a mudança do hidróxido de cálcio em carbonato de
cálcio. O carbonato de cálcio (CaCO3) gerado pela reação hidróxido de cálcio
(Ca(OH)2), com gases provenientes da queima de combustíveis fósseis (CO2 e CO),
possui pH mais neutro (TOKUDOME, 2009). Esta perda de alcalinidade, quando
alcança a armadura no interior da estrutura, implica na destruição da camada
passivadora que envolve toda a barra de aço, tornando-a susceptível a corrosão por
processo eletroquímico. Esse processo pode ser descrito como:

(𝐻2𝑂)
Ca(OH)2 +CO2 ⟶ CaCO3 +H2O
29

A NBR 6118 (ABNT, 2014) no item 6.4.2 delibera a classificação da


agressividade do ambiente em Fraca (I); Moderada (II); Forte (III) e Muito Forte (IV).
A partir do qual define a correspondência entre a classe de agressividade e o
cobrimento nominal necessário as armaduras, atribuindo um recobrimento mínimo,
sendo o cobrimento nominal acrescido de tolerância de execução (Δc=10mm),
adotando (Δc=5mm) em casos especiais, que deverá ser adotado para garantir o
cumprimento dos critérios de durabilidade da estrutura. O requisito da Norma NBR
6118 (ABNT, 2014) exposto está relacionado à proteção mecânica e química das
armaduras e, referente a carbonatação, ela se justifica devido a velocidade que este
processo se apresenta no concreto que segundo (ANDRADE PERDRIX, 1992), é
caracterizado por uma “frente de avanço” (Figura 2.9) que possui pH < 9 na zona
atingida e pH > 13 na zona sã. Ainda segundo ANDRADE PERDRIX (1992) os fatores
que determinam a velocidade da frente de carbonatação são: a qualidade do concreto;
consumo de cimento; porosidade; tipo de cimento; umidade do ambiente e uma
extensa gama de outras variáveis correspondentes e de igual importância.

Figura 2.9 – Frente de Carbonatação do concreto

Fonte: (ANDRADE PERDRIX, 1992), adaptado

O indicativo desta frente de carbonatação é realizada usualmente pela


utilização de uma solução de fenolftaleína (C20H14O4) dissolvida a 1% em álcool etílico
(CH3CH2OH ou C2H6O), que deve ser aspergida sobre o corte ortogonal da seção do
30

concreto que em seguida deve apresentar mudança para cor na região sã (Figura
2.10), e incolor na região carbonatada (ANDRADE PERDRIX, 1992).

Figura 2.10 – Indicação de carbonatação no concreto por fenolftaleína

Fonte:(GONÇALVES, 2017)

Uma vez conhecida a frete de carbonatação e a idade do concreto, pode-se


calcular a velocidade da carbonatação aplicando na seguinte formula:

𝑋 = 𝐾√𝑡

Onde:

X= capa carbonatada em mm
t= tempo em anos ou meses
k= constante

A constante K está relacionada com a qualidade do concreto, incluindo


constituintes da sua fabricação, agressividade do meio, umidade relativa e etc.
(ANDRADE PERDRIX, 1992).

2.1.4.9 Umidade

O concreto endurecido possui uma rede de poros interligados onde flui gases
e água provenientes do ambiente externo (Figura 2.11), nestes poros situa o ambiente
onde ocorrem as reações causadoras da carbonatação. A umidade ótima para ocorrer
31

a carbonatação situa-se entre 50% e 80%, neste percentual a estrutura adquire um


filme de água onde o acesso do CO2 ao interior é facilitado, porém na ocorrência de
níveis extremos de saturação, ou seja, valores próximos a 0% e 100%, onde a
ausência de um meio aquoso (água) impede a corrosão eletroquímica do aço ou a
saturação total, que dificulta o acesso do CO2 ao interior da estrutura (ANDRADE
PERDRIX, 1992).

Figura 2.11 – Rede de poros do concreto

Fonte:(ANDRADE PERDRIX, 1992)

A permeabilidade, ou seja, a capacidade do concreto em transportar fluidos


está diretamente ligada à sua vida útil, assim define SOUZA; RIPPER (1998).

Não é difícil entender que quanto mais permissivo um concreto for ao


transporte interno de água, gases e de outros agentes agressivos, maior será
a probabilidade da sua degradação, bem como da do aço que deveria
proteger. Também não deve ser difícil concluir que, nestes casos, a
degradação dependerá, diretamente, de dois fatores: porosidade do concreto
e condições ambientais da superfície. Como, em geral, não se poderá lidar
com a melhoria das condições ambientais, a única saída, neste sentido, para
se evitar a degradação dos concretos, é a redução, ao menor nível possível,
da sua porosidade (SOUZA; RIPPER, 1998).

Deste modo, pode-se concluir que fatores preponderantes para o processo de


corrosão das armaduras são: a qualidade total do concreto, recobrimento e o nível de
agressividade que a estrutura venha a ser exposta. Onde a umidade do ambiente
desempenha papel fundamental no processo, no qual sua ausência impossibilitaria a
ocorrência deste processo eletroquímico (corrosão eletroquímica).
32

2.1.5 Desagregação do Concreto

2.1.5.1 Desagregação por Corrosão das Armaduras

Souza & Ripper (1998), conceitua a desagregação do concreto como sendo “a


própria separação física de placas ou fatias de concreto, (…) da capacidade de
engrenamento entre os agregados e da função ligante do cimento”. A comprometida
capacidade de união do material o torna incapaz de suportar os esforços e as tensões
que atuam sobre ele.
Dentre as formas de desagregação, há a que ocorre no interior da
estrutura. Essa desagregação se origina do interior para o exterior, na progressiva
corrosão da armadura. Desse processo resulta a fraturação e destruição do concreto,
pois a oxidação da armadura gera uma forte expansão volumétrica no núcleo do
concreto armado (Figura 2.12). Pela continuidade da ação corrosiva, resulta em
fissuração do concreto, que pode ser agravado por fatores combinados da atmosfera
ou da água (SOUZA; RIPPER, 1998).

Figura 2.12 - Fissuração por expansão interna

Fonte: (ANDRADE PERDRIX, 1992)

Resumidamente, o processo que leva ao desplacamento da camada de


recobrimento do concreto inicia pela corrosão das armaduras, longitudinais e/ou
transversais (estribos), onde se acumula óxido de ferro como produto principal da
oxidação. Esse óxido de ferro (ferrugem), acumulado no interior do concreto, possui
volume maior que o estado original, ocasionando tensões radiais que fraturam o
concreto por tração. Neste estágio, surgem fissura paralelas às barras de aço (Figura
33

2.13), em casos mais graves, levando ao completo desprendimento do recobrimento


e a exposição total das armaduras (Figura 2.14).

Figura 2.13 - Caso de desplacamento em residência de Monte Alegre - Pará

Fonte: Autores, 2019

Figura 2.14 - Pilar com armadura exposta

Fonte: (ANDRADE PERDRIX, 1992)

Uma vez fissurado, a velocidade do processo se intensifica, isso devido a


contaminação com agentes externos que ingressam e se tornam como um catalizador
na oxidação das armaduras.
34

2.1.6 Projeto, Execução e Utilização

Em estruturas de concreto armado, a concepção estrutural fica a critério do


projetista em questão que busca atender a demanda da arquitetura, locando e
dimensionando peças (pilares e vigas) de forma racional, segura e econômica. Para
assegurar os critérios de desempenho e segurança durante este procedimento,
existem exigências normativas da Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT),
que devem ser aplicadas para que sirvam de respaldo técnico para o engenheiro e
cliente. A norma em destaque é a NBR 6118 estruturas de concreto armado –
procedimento (ABNT, 2014), que visa gerenciar os projetos de estruturas de concreto
armado em geral, consoante à utilização de outras normas para a aplicação em
projetos de obras específicas, conforme o caso.
Para a execução, a NBR 14931 Execução de Estruturas de Concreto-
Procedimentos (ABNT, 2004) estabelece os detalhes necessários para a execução de
obras de concreto armado, cujo projeto tenha sido elaborado seguindo a norma NBR
6118:2014, sejam elas permanentes ou temporárias. Da mesma forma, na etapa de
utilização a NBR 6120 - Ações para o cálculo de estruturas de edificações (ABNT,
2019), estabelece as cargas padrões a serem consideradas em projeto que atuarão
na estrutura ao longo da sua vida útil, estas cargas são aplicadas a partir de
combinações de ações por ponderações preconizadas pela NBR 6118 (ABNT, 2014)
e NBR 8681 Ações e Segurança nas Estruturas – procedimentos (ABNT, 2003) em
função da probabilidade de sua ocorrência.
Em via de que os critérios preconizados pelas normas citadas são extensos,
compreendendo todas as etapas construtivas nas minúcias de detalhes e regendo os
procedimentos cabíveis em cada caso, não serão destacadas as principais falhas de
conformidade correntes neste trabalho, pois suas características assim como vícios
construtivos variam em local e profissional, tornando incoerente preceituar as
principais falhas ou tentar prever os possíveis erros construtivos para a situação em
análise. Para este fim, cabe a inspeção da obra específica determinar com a exatidão
requerida.
35

3 DIAGNÓSTICO

3.1 Níveis de Investigação

A morfologia das patologias manifestas em uma estrutura leva em


consideração uma gama de fatores e variáveis que podem estar ou não visíveis por
sintomas externos, o que pode tornar árdua uma avaliação técnica a respeito da
natureza e extensão do problema. Em função desta circunstância complexa, é
recomendada a divisão da investigação entre inspeção preliminar, ou visual, e
Inspeção detalhada, ou profunda (ANDRADE PERDRIX, 1992).
Segundo LÓPEZ (2007)11 apud SILVA (2017) “Não é possível listar todos os
caminhos possíveis para se chegar no diagnóstico. Mas é possível fazer um checklist
agregando diferentes informações [...]”. Desta forma, optou-se em empregar o roteiro
de proposto por ANDRADE PERDRIX (1992) em virtude da sua simplificada
metodologia e corrente aplicação em diversos outros estudos. O processo referido
está expresso em forma de fluxograma na Figura 3.1.

Figura 3.1 – fluxograma do Roteiro de Pesquisa

Inspeção
Prévia

Previsão de
Plano de Documentação
Meios
Trabalho (Antecedentes)
Auxiliares

Instrumentos;
Tipos de
Reagentes; Esquemas e Plano de
Ensaios -
Ferramentas e Desenhos amostragem
Fichas
Máquinas

Inspeção
Inspeção
Detalhada
Detalhada

Fonte: (ANDRADE PERDRIX, 1992), adaptado pelos Autores, 2020

11
LÓPEZ, C. A. Orientación para la Estrategia de Rehabilitación. In: Rehabilitación y
Mantenimiento de Estructuras de Concreto. 1a. ed. São Paulo: EPUSP, 2007
36

3.2 Inspeção Preliminar

A finalidade da investigação preliminar é de fornecer informações iniciais sobre


a situação da estrutura, espécie e a gravidade dos problemas que a afetam e a
viabilidade da sua reabilitação, também aferindo a necessidade de um detalhamento
mais aprofundado na investigação. Abrangido na metodologia, para a inspeção
preliminar, está a revisão de projetos e registro de construção; observação do local;
aferição geométrica de danos aparentes; ensaios não destrutivos; remoção
exploratória do recobrimento do concreto; amostragem e testes (ACI, 1994).
Segundo ANDRADE PERDRIX (1992), a inspeção preliminar deverá ser
realizada com verificações visuais da estrutura com auxílio de levantamento
fotográfico da extensão dos sintomas; identificação da gravidade do ambiente;
visualização da situação interna da estrutura pela retirada do cobrimento em uma
pequena faixa, nesta registrando a espessura do cobrimento, quantidade e coloração
dos óxidos existentes e aparência do concreto. Também são necessários ensaios
complementares para a caracterização de certos atributos do concreto, sendo os
ensaios:

I. Profundidade de carbonatação;
II. Presença de cloretos, determinando se o concreto já os possuía ou se
eles penetraram desde o exterior;
III. Qualidade do concreto.

A determinação dos locais adequados e representativos para a retirada de


testemunhos oportunos à realização destes ensaios é feita conforme a experiencia
empírica do responsável, norteado por critérios básicos preestabelecidos. Segundo
ANDRADE PERDRIX (1992) “Esta é uma decisão arriscada que depende primeiro de
qual seja a causa da deterioração e do tipo de estrutura e depois da experiência prévia
que tenha o técnico em problemas similares”. Para ANDRADE PERDRIX (1992), os
critérios básicos que favorecem a escolha do local para a retirada de testemunhos em
função do ambiente externo são:
37

• Identificação das zonas expostas a atmosfera mais agressiva;


• Zonas aparentemente mais afetadas com presença visível de sinais de
corrosão;
• Zonas de máximo trabalho mecânico;
• Zonas de ventos predominantes e expostas ao sol.

3.3 Plano de Trabalho

O plano de trabalho é um relatório inicial que contêm as informações oriundas


dos ensaios e avaliações da inspeção preliminar e da análise dos antecedentes da
edificação tais como documentações, projetos, disposição geográfica e demais
informações análogas. Devendo também determinar a necessidade ou não de uma
inspeção detalhada e seus respectivos ensaios tecnológicos, cuja composição mínima
deve ser conforme ANDRADE PERDRIX (1992):

• Elaborar um plano de amostragem com indicações de quais elementos


estruturais serão analisados, incluindo a sua localização e o número de
ensaios a realizar;

• Listagem dos tipos de ensaios que deverão ser realizados por elemento
estrutural com suas respectivas fichas individuais;

• Confeccionar croquis e desenhos de cada elemento analisado com a


determinação dos pontos de realização de amostragem e ensaios.

• Detalhamento dos meios auxiliares necessários, tais como ferramentas,


reagentes, aparelhos e similares, com a devida verificação ou
calibração.
38

3.4 Inspeção Detalhada

O intuito da Inspeção Detalhada na investigação é de ampliar o conhecimento


acerca das manifestações patológicas da estrutura por meio de ensaios tecnológicos
onde, segundo SILVA (2017) “a etapa de investigação profunda é uma
complementação da investigação preliminar”, desta forma possibilita a melhor
compreensão do processo de desenvolvimento das patologias e portanto indicando
suas possíveis origens. A necessidade da investigação detalhada está vinculada a
extensão e a gravidade das patologias identificadas na inspeção preliminar.

A inspeção detalhada, que nem sempre é necessária, tem por objetivo


quantificar a extensão da deterioração e caracterizar todos os elementos da
estrutura. Seu desenvolvimento exige uma ampla campanha de ensaios
(ANDRADE PERDRIX, 1992b).

A estrutura da inspeção detalhada pode ser definida em cinco trabalhos


principais, conforme metodologia adaptada de ACI Committee 364 (ACI, 1994), que
são:

I. Obtenção de documentação referente a estrutura da edificação;


II. Observações de campo e levantamento de condições patentes nas
documentações contidas no item anterior e avaliada a conformidade nos
aspectos físico, geométrico e a condição atual que se encontra a
estrutura;
III. Amostragem e teste de material obtido em corpos-de-prova (CP) e
amostras de concreto triturado extraídos em pó;
IV. Avaliação da estrutura que poderá ser por métodos Analíticos, Carga
e/ou Empírico12;
V. Relatório final, que deve constar os resultados referentes a todas as
fases da investigação profunda incluindo testes, ensaios e observações
pertinentes.

12“The typical choices are 1) evaluation by analysis, 2) evaluation by analysis and full-scale
load testing, or 3) evaluation by analysis and structural modeling (ACI 437R)”. ACI Committee
364. Guide for Evaluation of Concrete Structures Prior to Rehabilitation, 1994.
39

Os detalhes referentes as etapas da Inspeção Detalhada encontram-se no


Plano de trabalho, no qual estão listados os ensaios necessários, plano de
amostragem, croquis e meios auxiliares de investigação. Em conformidade com as
conclusões da Inspeção Preliminar.

3.5 Ensaios

3.5.1 Profundidade da Carbonatação

A detecção da carbonatação é usualmente feita aspergindo uma solução de


fenolftaleína (C20H16O4) dissolvida a 1% em álcool etílico (CH3CH2OH ou C2H6O).
Onde, a região íntegra adquire coloração purpura (Figura 3.2), indicando o valor de
pH acima de 9, enquanto a região incolor caracteriza a região carbonatada do concreto
(ANDRADE PERDRIX, 1992). A amostra aspergida pela solução pode ser retirada em
forma cilíndrica da estrutura, ou sobre fraturas feitas para este fim na peça desejada.

Figura 3.2 - Indicação de Carbonatação em Corpo-de-Prova

Fonte: Autores, 2020

Usualmente, para a aplicação da fenolftaleína é feita com a retirada de um


corpo-de-prova cilíndrico sem o uso de água para refrigeração com a intenção de evita
ao máximo a contaminação da região testada. Após a retirada do CP, se dá a sua
ruptura por flexão e aplicada imediatamente a solução sobre a área fraturada. A
indicação de carbonatação da fenolftaleína se encontra no intervalo de pH 8 e 10, e
pode ser identificado visualmente com o resultado da profundidade de carbonatação
40

sendo transcrito para uma planilha para posterior avaliação e apresentação dos
dados.

3.5.2 Resistência a compressão

Segundo a NBR 7680 (ABNT, 2015), a verificação da resistência do concreto a


partir do método de retirada de corpos de prova cilíndricos de estruturas (Figura 3.3),
os “testemunho”, são usuais para os casos onde: houver a necessidade de
comprovação da resistência do concreto; a verificação da segurança estrutural de
obras em execução e a avaliação estrutural de obras que passaram por situações
especificas onde o conhecimento da resistência do concreto seja necessária por
motivos diversos, como a mudança de uso e ocupação, incêndios, explosões,
terremotos, colapsos parciais da estrutura, reforma e etc.

Figura 3.3 – Testemunho de concreto estrutural

Fonte: (FILHO, 2019)13

É de praxe, conforme a NBR 6118 (ABNT, 2014), a verificação da resistência


do concreto pela moldagem e cura de corpos-de-prova seguindo o prescrito na NBR
5738 (ABNT, 2015) e levados ao ensaio de compressão de corpos de prova conforme
a NBR 5739 (ABNT, 2018) que devem ser moldados no ato de entrega do concreto
para o posterior lançamento, garantindo assim o correto controle tecnológico do

13FILHO, H. R. D. P. revista ad normas. Os testemunhos de estruturas de concreto, 2019.


Disponivel em: <https://revistaadnormas.com.br/2019/03/12/os-testemunhos-de-estruturas-
de-concreto/>.
41

concreto. Entretanto, existem situações excepcionais que fazem necessário o


conhecimento da resistência do concreto já lançado, com idade de cura diversa, para
isso a NBR 7680-1 (ABNT, 2015) estabelece os procedimentos para a extração, o
preparo, ensaio, análise de testemunhos de concreto estrutural.
Em função da não rastreabilidade do concreto pela confecção e rompimento de
corpos-de-prova, o mapeamento do concreto pode ser efetuado conforme descrito na
NBR 7680-1 (ABNT, 2015) “Os lotes não identificados por mapeamento durante a
concretagem (lotes sem rastreabilidade) podem ser mapeados por meio de ensaios
não destrutivos”. Sendo adotado para este trabalho o ensaio de dureza superficial pelo
esclerômetro de reflexão conforme preconizado na norma NBR 7584 (ABNT, 2012).
A retirada dos testemunhos de concreto deverá ser realizada por equipamento
de perfuração rotativa equipada com serra copo diamantada capaz de obter o cilindro
integro e homogêneo sem que haja danos excessivos a estrutura (Figura 3.4),
devendo também ser operado sem o uso de vibrações, exclusivamente por rotação, e
também refrigerado com a circulação de água no local do corte (NBR 5738:2015).

Figura 3.4 – Perfurador Rotativo e Serra Copo Diamantada

Fonte: (CONCRELAB, 2018), adaptado

Para a definição da quantidade representativa de testemunhos de concreto


deve seguir o plano de amostragem contido no plano de trabalho prevendo os
elementos que serão ensaiados e o número de amostras que devem compor o lote.
Os critérios de mapeamento, criação de lotes e o número de testemunhos que
devem ser extraídos podem ser consultados na (Quadro 3.1). Vale ressaltar, que o
local de extração deve ser pensado para que não seja realizado em locais sensíveis
ou inadequados. Para o caso analisado foram identificados os pilares e vigas com
menor carga atuante para a realização da extração dos testemunhos
42

Quadro 3.1 – Mapeamento da estrutura e formação de lotes


Tipo de Mapeado (rastreabilidade)
Quantidade
controle Por
de
(conforme No ensaios Formação de lotes
testemunhos
ABNT NBR lançamento não
por lote a
12655) destrutivos
Aplicado
em um
2
elemento
Cada lote corresponde
estrutural
ao volume de uma
Sim opcional Aplicado
betonada ou de um
em mais
caminhão-betoneira
do que um 3
elemento
Amostragem estrutural
total
Conforme o
mapeamento. Cada Até 8 m3 3c
lote
deve corresponder ao
Não Sim Maior que 8
conjunto contido em
m3 e
um intervalo restrito de 4
menor que
resultados dos ensaios
50 m3
não destrutivos b
Conforme o Até 8 m3 4
mapeamento. Cada
lote
Maior que 8
Amostragem deve corresponder ao
Indiferente Sim m3 e
parcial conjunto contido em 6
menor que
um intervalo restrito de
50 m3
resultados dos ensaios
não destrutivos b
Casos Vale o critério de amostragem parcial conforme ABNT NBR 12655 (concreto
excepcionais preparado na obra).
a Ver seção 6.
b Para o índice esclerométrico e velocidade de propagação de onda ultrassônica, recomenda-se que

seja adotado como dispersão


máxima do conjunto de resultados o intervalo de •} 15 % do valor médio.
c Em se tratando de um único elemento estrutural, a quantidade de testemunhos deve ser reduzida a

dois, de forma a evitar danos


desnecessários.
Fonte: NBR 7680-1 (ABNT, 2015), adaptado

A dimensão longitudinal do testemunho utilizado para aferir a resistência a


compressão deve ser pelo menos três vezes a dimensão máxima característica do
agregado graúdo, preferencialmente sendo superior ou igual a 100 mm. Para casos
onde houver impedimento, pode-se realizá-los com diâmetro de 75mm, e sempre
tendo uma razão comprimento sobre diâmetro(h/d) maior igual a 1 e menor igual a 2.
Casos especiais onde se opte pela retirada com o diâmetro mínimo permitido (50 mm)
o número amostral de testemunhos deve ser o dobro do preconizado pela Tabela 1
(Quadro 3.1) contido na norma NBR 7680-1 (ABNT, 2015). A extração deve ser
antecipadamente vistoriada para a identificação do posicionamento das armaduras,
podendo ser pelo processo de retirada do recobrimento ou com auxílio de
equipamento apropriado, como o Pacômetro.
43

Segundo a NBR 7680-1 (ABNT, 2015) “Para a aceitação do concreto a partir


dos resultados de testemunhos extraídos de uma estrutura, é necessário estabelecer
critérios de comparação que corrijam as interferências dos processos construtivo (...)”
A completude dos fatores intervenientes está listada no item 5.1 da referida norma,
que correspondem aos fatores de correção aplicáveis aos resultados do ensaio de
compressão axial descrito na NBR 5739:2018 partir dos coeficientes k1, k2, k3 e k4.
Onde k1, corresponde a corpos de prova que não atendam a condição h/d = 2 (Quadro
3.2).

Quadro 3.2 –valores k1 (NBR 7680-1:2015)


h/d 2,00 1,88 1,75 1,63 1,50 1,42 1,33 1,25 1,21 1,18 1,14 1,11 1,07 1,04 1,00

k1 0,00 -0,01 -0,02 -0,03 -0,04 -0,05 -0,06 -0,07 -0,08 -0,09 -0,10 -0,11 -0,12 -0,13 -0,14
Fonte: NBR 7680-1 (ABNT, 2015), adaptado

Com k2 correspondendo ao efeito deletério resultante da ação mecânica de


broqueamento, conforme Quadro 3.3 da respectiva norma.

Quadro 3.3 - Valores de k2 em função do efeito do broqueamento


Diâmetro do
≤ 25 50ª 75 100 ≥ 150
testemunho (dt) mm
Não
K2 0,12 0,09 0,06 0,04
permitido
ª Neste caso, o número de testemunhos deve ser o dobro daquele estabelecido na
Tabela1.
Fonte: NBR 7680-1 (ABNT, 2015), adaptado

E k3 ao sentido do lançamento do concreto em relação ao sentido longitudinal


do testemunho retirado, adotando-se k3=0,05 para peças cujo lançamento tenha se
dado no sentido ortogonal à retirada (Ex. Vigas e Pilares) e k3=0 para elementos com
lançamento de concreto no mesmo sentido da extração dos testemunhos (Ex. Lajes).
E k4 para a correção da umidade de ruptura de testemunhos sendo k4=-0.04 para
testemunhos secos, caso este esteja saturado o valor de k4 poderá ser tomado como
k4=0.
44

3.5.3 Esclerometria

O ensaio de dureza superficial do concreto estabelecido conforme a norma


brasileira NBR 7584 (ABNT, 2012) se trata da categoria de ensaios não-destrutivos
que realizam a aferição da dureza aparente do concreto in loco gerando parâmetros
para o estabelecimento da sua resistência. Este ensaio serve de método
complementar aos ensaios destrutivos não substituindo-os em definitivo. Devido a sua
praticidade e economia, é um dos métodos mais difundidos e utilizados atualmente
(CONCRELAB, 2018).
Seu princípio de funcionamento está na aplicação de um impacto com energia
de percussão padronizada variando de 0.75 N.m a 30 N.m dependendo do modelo do
equipamento, esta energia é acumulada na peça sólida denominada “martelo” que é
disparado impulsionado por mola e transfere sua energia sobre a superfície do
concreto que em função do seu módulo de elasticidade, reflete parte de essa energia
de volta gerando um retorno que é medido na escala do aparelho (Figura 3.5),
denominada Índice esclerométrico ( NBR 7584, 2012).

Figura 3.5 - Schmidt Hammer HT-225 (Esclerômetro)

Fonte: Autores, 2020

O procedimento para a realização do ensaio conforme a NBR 7584 (ABNT,


2012) se dá em concretos estruturais, posicionando-se o aparelho perpendicular à
direção com maior inercia da peça ensaiada, devendo haver uma espessura mínima
de 100 mm para a realização do impacto, caso não seja possível deve-se ter um
cuidado extra, que segundo a referida a referida norma seria a escora da superfície
oposta ao ensaio evitando assim a perda de energia por dissipação e ressonância. As
45

superfícies devem ser secas ao ar, limpas e o mais planas possíveis com o mínimo
de imperfeições para que os resultados possuam maior homogeneidade.
O ensaio de áreas que apresentem carbonatação não é recomendada,
usualmente sendo polida ou retirada a camada carbonatada, porém quando houver a
pretensão de conferir-lhe a resistência pode-se aplicar o teste desde que sejam
atribuídos fatores de correção para a mesma. (NASCIMENTO; NASCIMENTO;
LOPES, 2018)
Conforme a NBR 7584 (ABNT, 2012), a área de ensaios deve conter um
mínimo de dezesseis impactos, espaçados entre si a 30 mm na horizontal e vertical
com a área de impacto não estando a menos de 50 mm da aresta da peça ensaiada.
Para este fim, a NBR 7584 (ABNT, 2012) disponibiliza um gabarito para a realização
dos impactos conforme Figura 3.6.

Figura 3.6 – Área de ensaio e pontos de impacto


Fonte: NBR 7584:2012, adaptado

Para a correta aplicação dos impactos com o aparelho, foi impresso em escala
em papel ABNT A4 o gabarito contido na norma NBR 7584 (ABNT, 2012) que deverá
sobrepor a região de ensaio delimitando as posições ensaiadas (Figura 3.7).
46

Figura 3.7 – Gabarito em folha A4

Fonte: Autores, 2020 (NBR 7584:2012)

Para a correta utilização do esclerômetro, a NBR 7584 (ABNT, 2012) exige que
o equipamento deva ser aferido antes da utilização ou a cada 300 impactos realizados
na mesma inspeção. Para tal, as condições de calibração são a utilização de uma
bigorna de aço especial, com guia e massa aproximada de 16kg, nivelada sobre uma
base rígida e possuindo uma superfície de impacto de dureza Brinell de 5000 MPa
que deve corresponder no aparelho o índice esclerométrico de 80. O procedimento de
calibração deve possuir no mínimo a execução de 10 impactos sobre a bigorna, caso
o índice esclerométrico médio apresentado for inferior a 75, o equipamento não
poderá ser utilizado tendo que ser calibrado, com o mesmo ocorrendo para o caso
onde o índice esclerométrico varie mais ou menos o valor de 3 do índice médio. Para
a formulação do coeficiente de correção (k) aplicável ao índice esclerométrico, deve-
se adotar a seguinte equação:

𝒏 ∗ 𝑰. 𝑬𝒏𝒐𝒎
𝒌=
∑𝒏𝒊=𝟏 𝒍. 𝑬𝒊

Onde:

k – é o coeficiente de correção do índice esclerométrico;


n – é o número de impactos na bigorna de aço;
I.Enom – é o índice esclerométrico nominal do aparelho na bigorna de aço, fornecido
pelo fabricante;
I.Ei – é o índice esclerométrico obtido em cada impacto do esclerômetro na bigorna
de aço.
47

Uma vez calibrado, o equipamento pode ser utilizado e os resultados obtidos


na forma de índice esclerométrico devem ser processados conforme o item 5 da NBR
7584 (ABNT, 2012). Inicialmente, calcula-se a média aritmética dos 16 impactos
correspondentes à área ensaiada. De todos os impactos, aqueles que apresentar um
desvio superior em 10% ao valor médio deve ser descartado e recalculada a média.
Com o índice esclerométrico médio final devidamente determinado, com um mínimo
de cinco valores individuais, deve ser corrigido quando necessário a partir do
coeficiente de correção obtido na verificação do aparelho, aplicando-se a formula a
seguir:

𝐼𝐸𝛼 = 𝑘 ∗ 𝐼𝐸

Onde:

IEα – é o índice esclerométrico médio efetivo;


K – é o coeficiente de correção do índice esclerométrico do aparelho
IE – é o índice esclerométrico médio

Em função da utilização de um esclerômetro de reflexão com fator de correção


conhecido, no qual se obteve a prévia calibração comprovada por certificado emitido
pelo fabricante (Anexo A), foi dispensada a calibração prévia e utilizado os fatores
prescritos pelo fabricante no manual do equipamento para as devidas correções de
resultados dos índices esclerométricos.
A elaboração do relatório técnico com os resultados obtidos nos ensaios
esclerométricos devem conter, segundo a NBR 7584 (ABNT, 2012) no item 6:

• Modelo, marca, tipo e número de fabricação do esclerômetros de


reflexão utilizados;
• Índices esclerométrico individuais da verificação do aparelho e de cada
área de ensaio, obtidos retamente;
• Descrição ou, de preferência, croquis da estrutura e localização das
áreas de ensaio;
• Posição do aparelho para a obtenção de cada índice esclerométrico para
cada área do ensaio;
48

• Coeficientes utilizados nas eventuais correções, em função de umidade,


cura, idade, carbonatação e outros;
• Valor obtido do índice esclerométrico médio efetivo (IEα) de cada área
de ensaio; todas as demais informações que os profissionais envolvidos
no estudo considerem necessárias.

3.5.4 Porosidade do concreto

Conforme DURAR CYTED (2000) apud SILVA (2017) “O ensaio de porosidade


tem como objetivo determinar a absorção capilar, além da porosidade da argamassa
e do concreto como medida de suas compacidades”. Para a determinação da
porosidade de uma amostra de concreto endurecido pode-se aplicar a norma NBR
9778 Argamassa e concreto endurecidos - Determinação da absorção de água, índice
de vazios e massa específica (ABNT, 2019).
O ensaio consiste na separação de pelo menos duas amostras de 1 500 cm³
de amostras do concreto endurecido em corpos-de-prova, testemunhos extraídos
segundo a norma NBR 7680 (ABNT, 2015). A amostra deve permanecer em estufa
por 72 horas na temperatura de 105 +/- 5 ºC e posterior aferição de sua massa seca
(ms), em seguida emerge-se a amostra em água a temperatura de 23+/-2 ºC por
durante 72 horas. A amostra será levada a recipiente com água para a progressiva
ebulição com período total de 5 horas em volume constante de água. Em seguida
deixar a amostra esfriar espontaneamente até atingir a temperatura de 23 +/- ºC e
pesada em balança hidrostática (mi). Na temperatura adequada, a amostra é retirada
da água e enxugada com pano, em seguida é aferida sua massa saturada (m sat).
A porosidade do concreto, ou índice de vazios, pode ser calculado a partir da
equação preconizada pela NBR 9778 (ABNT, 2019):

𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑠𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑑𝑎(𝑚𝑠𝑎𝑡) − 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑠𝑒𝑐𝑎(𝑚𝑠)


Í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝑑𝑒 𝑉𝑎𝑧𝑖𝑜𝑠 (𝐼𝑣)% = ∗ 100
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑠𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎𝑑𝑎 (𝑚𝑠𝑎𝑡) − 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑖𝑚𝑒𝑟𝑠𝑎 (𝑚𝑖)

A avaliação da porosidade do concreto segundo ANDRADE PERDRIX (1992)


pode ser apresentada conforme disposto no quadro 3.4.
49

Quadro 3.4 – avaliação da porosidade do concreto


Valores de Porosidade Avaliação
indicam um concreto de boa qualidade e bem
inferiores a 10%
compacto.
indicam um bom concreto, porem permeável e não
Valores entre 10 e 15%
adequado para ambientes agressivos.
caracterizam concretos muito impermeáveis e
Valores superiores a 15% inadequados para proteger a armadura por longos
períodos.
Fonte: (ANDRADE PERDRIX, 1992), adaptado pelos Autores, 2020

3.5.5 Potencial de corrosão

O Potencial de corrosão é um ensaio não destrutivo aplicável em estruturas


para determinação da probabilidade de corrosão imediata das armaduras no interior
da estrutura, podendo ser utilizado também para o monitoramento da estrutura ao
longo do tempo. Sua utilização é normatizada pela ASTM C876 (ASTM, 2015)
“Standard Test Method for Corrosion Potentials of Uncoated Reinforcing Steel in
Concrete” e atualmente é uma das técnicas mais simples e eficaz para a verificação
de situações de risco de corrosão, seu mecanismo de detecção se baseia no efeito
de oxidação e redução, onde o aço da armadura estrutural oxida enquanto que o
oxigênio dissolvido nos poros saturados do concreto sofrem o processo de redução
(MEDEIROS et al., 2017).
Dessa forma, é possível realizar a aferição da diferença de potencial entre
regiões da peça analisada aplicando dois polos, um positivo e outro negativo,
conforme o esquema do equipamento (Figura 3.8), onde um voltímetro digital de alta
impedância é conectado pela sua conexão positiva à armadura de aço enquanto a
sua conexão negativa é conectada a um eletrodo de referência, geralmente composto
por solução de sulfato de cobre (Cu/CuSO4, Cu2+), que se apoia em cima de uma
esponja molhada com água não desmineralizada para garantir a condução elétrica
com o concreto na face externa da estrutura (RIBEIRO, 2014).
50

Figura 3.8 - Configuração do circuito para determinação do potencial de corrosão (ASTM c876-15)

Fonte: ASTM c876 (ASTM, 2015)

O eletrodo de referência (Figura 3.9), na maioria das vezes de sulfato de cobre,


é uma peça composta por um tubo de plástico ou vidro contendo no seu interior uma
haste de cobre puro em solução saturada de água destilada e sulfato de cobre
(Cu/CuSO4, Cu2+), com este último estando o suficiente a ponto de haver acumulo
no fundo do eletrodo. Na sua extremidade superior está um terminal para que receba
a conexão do voltímetro, enquanto na sua extremidade inferior está um material
poroso capaz de proporcionar condução elétrica entre o eletrodo e a superfície
ensaiada (MEDEIROS et al., 2017).

Figura 3.9 - Eletrodo de Referência - Sulfato de Cobre (ASTM c876-15)

Fonte: Autores, 2020


51

A partir das medições realizadas, pode-se determinar o potencial de corrosão


não apenas geral da estrutura, mas também mapeá-la por regiões movendo o eletrodo
sobre a superfície de estudo, assim pode-se determinar locais com maior e menor
atuação de corrosão (Figura 3.10).

Figura 3.10 - Mapa de potencial de corrosão conforme ASTM c876-15

Fonte: ASTM c876 -15

A correspondência entre a leitura obtida e a probabilidade da ocorrência de


corrosão nas armaduras pode ser consultado no Quadro 3.5 correspondentes ao
eletrodo de referência de sulfato de cobre (Cu/CuSO4, Cu2+).

Quadro 3.5 – Probabilidade de ocorrência de corrosão da armadura em função do potencial, para


diversos tipos de eletrodo.
Probabilidade de ocorrer corrosão
Tipo de eletrodo
≤ 10% 10% - 90% ≥ 90%
ENH* >0,1 0,118 V a -0,032 V < -0,032 V
Cu/CuSO4, Cu2+
> -0,200 V -0,200 V A -0,350 V < -0,350 V
(ASTM C 876)
Hg,Hg2Cl2/KCl
> -0,124 V -0,124 V a -0,274 V < -0,274 V
(sol.saturada)**
Ag.AgCl/KCl (1M) > -0,104 V -0,104 V a -0,254 V < -0,254 V
* Eletrodo Normal de Hidrogênio, padrão.
** Eletrodo de calomelano saturado.
Fonte:(RIBEIRO, 2014), adaptado
52

3.5.6 Redução da seção da armadura

Esta verificação consiste, segundo MIRANDA et al. (2015)14 apud (SILVA,


2017) “Além do mapeamento eletromagnético da armadura, é importante medir por
intermédio de um paquímetro, a perda de seção da armadura. Caso essa perda
ultrapasse 10%, deve ser feita a recomposição da armadura “.

3.5.7 Determinação de Cloretos

3.5.7.1 Concentração de Cloretos no Concreto

O controle do ingresso de cloreto no concreto a partir de agregados é


necessário conforme expresso na NBR 7211 (ABNT, 2019) “Em gentes agregados
provenientes de regiões litorâneas, ou extraídos de águas salobras ou quando houver
suspeita de contaminação natural (...)”, os teores permitidos estão contidos no Quadro
3.6 extraído e adaptado da referida norma:

Quadro 3.6- Limites máximos para teores de cloretos e sulfatos em agregados


Determinação Método de Ensaio Limites
< 0,2% concreto simples
ABNT NBR 9917
Teor de Cloretosª (CL-) < 0,1% concreto armado
ABNT NBR 14832b
<0,01% concreto protendido
Teor de Sulfatos (SO42-) ABNT NBR 9917 <0,1%
aAgregados que excedam os limites estabelecidos para cloretos podem ser utilizados em
concreto, desde que o teor total trazido ao concreto por todos os seus componentes (água,
agregados, cimento, adições e aditivos químicos), verificado por ensaio realizado pelo método
ABNT NBR 14832 (determinação no concreto) ou ASTM C 1218, não exceda os seguintes limites,
dados em porcentagem sobre a massa de cimento:

- concreto protendido ≤ 0,06 %;


- concreto armado exposto a cloretos nas condições de serviço da estrutura ≤ 0,15 %;
- concreto armado em condições de exposição não severas (seco ou protegido da umidade nas
condições de serviço da estrutura) ≤ 0,40 %;
- outros tipos de construção com concreto armado ≤ 0,30 %.

bO método da ABNT NBR 14832 estabelece como determinar o teor de cloretos em clínquer e
cimento Portland. Neste caso específico, o método pode ser utilizado para o ensaio de agregados.

cAgregados que excedam o limite estabelecido para sulfatos podem ser utilizados em concreto,
desde que o teor total trazido ao concreto por todos os seus componentes (água, agregados,
cimento, adições e aditivos químicos) não exceda 0,2 % ou que fique comprovado o uso de
cimento Portland resistente a sulfatos, conforme a ABNT NBR 5737, no concreto.
Fonte: NBR 7211(ABNT, 2019), adaptado

14MIRANDA, D. et al. Retrofit da Estrutura de Concreto Armado de um Edifício em São


Paulo com mais de 50 anos de idade. Lisboa: CONPAT, 2015.
53

Conforme expresso no Quadro 3.6 oriunda da NBR 7211 (ABNT, 2019), o teor
de cloretos em agregados para concreto armado deve ser inferior a 0,1% em relação
a massa de agregado. Na nota (a) da Tabela 4 (Quadro 3.6) se refere que em caso
de agregados que excedam o teor prescrito na tabela 4 (Quadro 3.6), podem ser
utilizados desde que o total de cloretos em massa no concreto não exceda os valores
de 0,15% para concreto exposto a cloretos em condições de serviço e 0,4% para
concreto armado em condições de exposição não severa, ensaios pelos métodos
ABNT NBR 14832 (ABNT, 2002) ou C1218 (ASTM, 1999).
A NBR 12655 (ABNT, 2015) delimita o limite de concentração de íons cloretos
em concreto para que não ocasione a corrosão as armaduras considerando a soma
das contribuições de todos os constituintes do concreto (Quadro 3.7), os valores
devem ser aferidos segundo a mesma norma, a partir do método na norma ASTM
c1218 (ASTM, 1999).

Quadro 3.7 - Teor máximo de íons cloreto


Teor máximo de íons
Classe de cloreto (Cl-) no
agressividade Condições de serviço da estrutura concreto
(5.2.2) % sobre a massa de
cimento
Todas Concreto protendido 0,05
Concreto armado exposto a cloretos nas
III e IV 0,15
condições de serviço da estrutura
Concreto armado não exposto a cloretos nas
II 0,30
condições de serviço da estrutura
Concreto armado em brandas condições de
I exposição (seco ou protegido da umidade nas 0,40
condições de serviço da estrutura)
Fonte: adaptado, NBR 12655 (ABNT, 2015)

Conforme o Quadro 3.7, a concentração máxima permitida para estruturas


usuais de concreto armado em classe de agressividade II é de 0,3% em relação a
massa de cimento. Sendo um valor complementar para os valores expressos na NBR
7211 (ABNT, 2019) como demonstra o Quadro 3.6.
Segundo (ANDRADE PERDRIX, 1992b), os cloretos situam-se em duas formas
no concretos, em “livres”, ou solúveis em água, e “cloretos combinados” que estão
formando partes de fases hidratadas do cimento, encontrado geralmente na forma de
cloroaluminatos, a soma de todos os cloretos presentes no concreto denomina-se
“Cloretos totais”, onde segundo a norma americana ASTM C 1152 / C 1152M (ASTM,
54

2003), “Na maioria dos casos, o cloreto solúvel em ácido é equivalente ao cloreto
total”15 (tradução nossa). A presença de cloretos solúveis ou livres é de contribuição
imediata para o processo de corrosão, enquanto os cloretos em forma combinada
podem passar a ser efetivos na corrosão por efeitos externos como temperatura e
carbonatação.
Para a avaliação da presença de cloretos solúveis ou livres será adotada a
metodologia recomendada ASTM C 1218/C 1218M (ASTM, 1999). “Standard Test
Method for Water-Soluble Chloride in Mortar and Concrete” e complementando pelo
método de íon seletivo seguindo os procedimentos preconizados na NBR 14832
(ABNT, 2002), como forma de aprimoramento e acurácia dos resultados, devido a
possibilidade da obtenção de valores diversos entre métodos distintos de
determinação de cloretos solúveis em concreto, conforme contido na norma ASTM
C1218 - 99 (ASTM, 1999) “As condições de teste são capazes de afetar os solúveis
em água determinações de cloreto16” (tradução nossa).

3.5.7.2 Determinação de cloretos solúveis em água (ASTM C1218 – 99)

A norma ASTM-C1218 (ASTM, 1999) fornece o procedimento necessário para


a realização da amostragem e analise de argamassa e concreto de cimento hidráulico
solúveis em água. A amostragem pode ser realizada a partir da retirada de amostras
de concreto com auxílio de furadeira de impacto esquipada com broca para concreto,
onde amostras com mais de 25mm devem ser trituradas, coletadas e armazenadas
em recipiente de tal forma que não ocorra contaminação do material. em seguida
deve-se levar as amostras à trituração feita em aparelho de moagem com disco
rotativo ou pulverizador de disco, ou almofariz e pilão. A amostra deverá passar pela
peneira Nº 20 (ABNT), de 850-µm.
O procedimento consiste na seleção de uma amostra de concreto com amassa
aproximada de 10g com precisão de 0,01g que é colocada em uma Becker de 250ml
e adicionado água destilada e homogeneizada. O Becker será coberto com vidro
relógio e lavado à fervura por 5min. Após a fervura terá um descanso por 24hrs e será

15 “In most cases, acid-soluble chloride is equivalent to total chloride.” ASTM-C1152 (ASTM,
2003a).
16 3.1.1 “Test conditions are capable of affecting water-soluble chloride determinations”. ASTM

C1218/1218M - 99
55

filtrado por gravidade em papel filtro classe G textura fina. Em seguida o material
filtrado será transferido para um Becker de 250ml e adicionados 3 +/- 0,1 mL de ácido
nítrico e 3 +/- 0,1mL de peróxido de hidrogênio (solução a 30%) ao material filtrado. O
Becker será coberto com vidro relógio e permanecerá em repouso por 2 minutos. O
Becker será novamente aquecido coberto até ferver não deixando mais do que alguns
segundos. O material será transferido ao equipamento de análise conforme ASTM-
C114 (ASTM, 2002).

3.5.8 Determinação de Sulfatos (NBR 9917-2009)

O ingresso de sulfatos no concreto a partir de ambientes externos ou por


ingresso involuntário durante o preparo, pode servir de agente patológico que
culminam na degradação do concreto e corrosão das armaduras. Os limites
normativos quanto ao total de sulfatos presentes nos agregados constituintes do
concreto são: inferior a 0,1% em porcentagem sobre a massa do cimento, conforme a
NBR 7211 (ABNT, 2019), tendo em valores máximos de 0,2% quando utilizado
Cimento Portland resistente a sulfatos conforme NBR 5737 (ABNT, 1992).
A Determinação de sulfatos solúveis em concreto pode ser obtida pela
metodologia encontrada na NBR 9917 (ABNT, 2009) e devidamente adaptada para
amostras de concreto endurecido.
A metodologia consiste no preparo da solução base para determinação de sais,
cloretos e sulfatos solúveis (Item 4.3.1.3) e retirada desta 200ml que deve ser
transferida para um Becker e adicionada gotas de vermelho-de-metila de solução
ácido de clorídrico até a mudança de cor para vermelho, e mais quatro ou cinco gotas
de ácido clorídrico e água até que se complete aproximadamente 250ml. A solução
deve ser aquecida até a ebulição e posteriormente adicionar lentamente gotas até
10ml da solução de cloreto de bário e manter em ebulição por 5 min, deixado digerir
durante 30 min a solução em seguida permanecer em repouso com duração de 12h a
24h em temperatura ambiente (NBR 9917:2009).
O material precipitado deve ser filtrado e lavado com agua quente para a
eliminação dos cloretos, o papel deve ser colocado em cadinho para uma queima lenta
do papel e posterior calcinação à temperatura de 800 ºC e 900 ºC durante 1 hr,
esfriado deve ser pesado e obtido o valor de SO 4-2 (NBR 9917:2009). A partir da
seguinte equação:
56

(𝑚2∗2,5∗0,412)
SO4-2 = ∗100
𝑚1

Onde:

m1 e a massa da amostra original (4.3.1.1), expressa em gramas (g);


m2 e a massa de BaSO4, expressa em gramas (g);
2,5 e o fator de alíquota;
0.412 e o fator estequiométrico para a transformação de BaSO 4 em SO4-2.

Conforme a NBR 9917 (ABNT, 2009), os resultados obtidos dos ensaios devem
ser oriundos de ao menos duas determinações vindas de duas soluções
independentes. Os valores devem constar em porcentagem para sais, cloretos (CI-) e
sulfatos ( SO4) solúveis. Estes valores precisam estar com um desvio de no máximo
10% do valor médio para que seja efetivo, caso contrário deve ser refeito.
57

4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de pesquisa

Em função da condição particular das manifestações patológicas contidas no


caso analisado, conforme (RIBEIRO, 2014) “Raríssimas são as vezes que um
problema de corrosão se manifesta a curto prazo (< 2 anos), ou mesmo durante a fase
de execução de uma estrutura”. Torna-se necessária além da inspeção visual padrão,
uma investigação mais profundada da estrutura, sendo, pois, aplicável a oque
ANDRADE PERDRIX (1992) define como inspeção detalhada:

Quando o técnico tem uma larga experiência anterior em corrosão de


armaduras, a inspeção preliminar pode ser suficiente para definir uma
reparação ou solução do problema. Em outros casos será necessária uma
inspeção pormenorizada para caracterizar a extensão do dano. Em certas
ocasiões esta inspeção detalhada é efetuada juntamente com a reparação
(ANDRADE PERDRIX, 1992).

Para a realização racional e sistemática da Inspeção detalhada, é necessária a


elaboração de um Plano de Trabalho a partir das informações coletadas em conjunto
da inspeção preliminar. Estas informações e a definição dos ensaios a serem
realizados serão apresentados em forma de: Plano de Amostragem; Relação de tipos
de ensaios; Croquis e Detalhamento de meios auxiliares (ferramentas, reagentes,
aparelhos e outros, com a verificação de sua colocação em condições de trabalho ou
calibragem prévia) (ANDRADE PERDRIX, 1992).

4.2 Estudo de Caso

O objeto de investigação das manifestações patológicas é uma edificação


residencial familiar de 2 pavimentos localizada no Município de Monte Alegre - Pará
possuindo uma área construída de 57.00 m², cujas obras foram concluídas no ano de
1994. Segundo informações obtidas por Anamnese do proprietário, a obra se deu sem
acompanhamento técnico especializado durante o período de construção assim como
na etapa de concepção, que acarretou na falta de qualquer projeto ou documentação
pertinente à etapa de concepção estrutural. Em função de fatores desconhecidos, a
58

superestrutura da residência começou a apresentar os primeiros sintomas patológicos


em menos de 5 anos após o início da sua utilização.
Conforme relatos, as fissurações de elementos estruturais (vigas e pilares) foi
se intensificando com o tempo onde também houveram posteriormente episódios de
desagregação superficial do concreto em forma de placas (Desplacamento do
Concreto). Tais ocorrências levaram ao proprietário a recorrer a inúmeras
intervenções que não apresentaram solução efetiva, uma vez que novamente surgiam
fissuras e consequentemente o desplacamento do concreto.

Figura 4.1 – Croqui da Residência

Fonte: Autores, 2020

Na Figura 4.1 encontra-se a representação da estrutura em croqui cotada com


as dimensões e identificação dos elementos estruturais (Pilares e Vigas). Sua
orientação em relação ao eixo normal da fachada Norte está a 21º azimute Norte e
com área máxima de exposição ao vento predominante Leste17, com incidência direta,
porém em área inferior, na fachada Leste que se encontra a 111º azimute Norte.

17WEATHER SPARK. Condições meteorológicas médias de Monte Alegre Brasil:


Ventos. Weather Spark. Disponível em: <https://pt.weatherspark.com/y/29538/Clima-
caracter%C3%ADstico-em-Monte-Alegre-Brasil-durante-o-ano>.
59

4.3 Aplicação da Metodologia

4.3.1 Registros de Patologias

A aplicação da metodologia proposta por (ANDRADE PERDRIX, 1992) e


apresentada anteriormente em forma de roteiro, iniciou-se na avaliação da edificação
a partir do levantamento preliminar das patologias em visita técnica realizada no dia
22 de Abril de 2020, na ocasião foi realizado o levantamento de informações da
edificação com os proprietários, assim como a vistoria com medição dos cômodos e
identificação da superestrutura e suas respectivas dimensões. Para a realização da
inspeção preliminar, foi necessária a utilização de alguns equipamentos de apoio,
sendo eles:

• Escada;
• Paquímetro;
• Câmera fotográfica digital;
• Trena a laser e convencional;
• Lápis;
• EPI´s
• Prancheta e
• Lanterna.

Em seguida foram registradas em natureza e número as patologias, as quais


foram catalogadas em fotos, vídeos e transcritas para a emissão do relatório
preliminar. As patologias mais aparentes estão expostas nas Figuras a seguir.

Figura 4.2 - Desplacamento Figura 4.3 - Fissuração longitudinal em vigas-II

Fonte: Autores, 2020 Fonte: Autores, 2020


60

Figura 4.4 - Manchas por umidade Figura 4.5 – Óxidos Aparentes

Fonte: Autores, 2020 Fonte: Autores, 2020


Figura 4.6 - Fissuração longitudinal em vigas Figura 4.7 – Óxidos Aparentes

Fonte: Autores, 2020 Fonte: Autores, 2020

4.3.2 Mapa de Patologias

Para a avaliação das localidades da edificação mais propensas aos processos


ligados ao desencadeamento da corrosão eletroquímica, obedecendo em particular
ações cíclicas de umidade propiciadas pela precipitação, vento e insolação
(BERTOLINI, 2010)18 apud (RIBEIRO, 2014). Procurou-se identificar tais áreas e
priorizá-las na aquisição de regiões de ensaio, para isto foi utilizado o Software Sol-
Ar para a geração da carta solar correspondente a edificação no Município de Monte
Alegre-Pará, Latitude -2.001, e locada a edificação para o Azimute Norte 21º (Fachada
Norte) e Azimute 111º (Fachada Leste), respetivamente, demonstradas nas Figuras
4.8 e 4.9.

18BERTOLINI, L. Materiais de construção: patologia, reabilitação e prevenção. Leda


M.M.D. Beck (tradução). São Paulo: Oficina de Textos, 2010, 414 p.
61

Figura 4.8 - Fachada Norte

Fonte: Software SOL-AR, modificado

Figura 4.9 - Fachada Leste

Fonte: Software SOL-AR, modificado

Em função da obstrução das Fachadas Sul e Oeste, estas acabam por receber
menor insolação e ação do vento predominante Leste19, logo supõem-se menor

19 Conforme 17.
62

variação de umidade e por consequência menor probabilidade da ocorrência de


patologias, em destaque a corrosão.

4.3.3 Plano de Amostragem

O plano de amostragem buscou obter amostras representativas de concreto


estrutural nas regiões de maior ciclagem de umidade na estrutura onde, conforme
descrito em 4.3.2, foram as regiões Norte e Leste da edificação. O número de
amostras que correspondem ao lote segue o monitoramento do lote de concreto
prescrito para o ensaio de Esclerometria (NBR 7680-1, 2015), onde foram separados
em lote de concreto do pavimento térreo e lote de concreto do pavimento superior,
supondo a sequência racional ascendente de lançamento e concretagem. Desta
forma, cada pavimento obteve três regiões amostrais de representatividade
distribuídos de forma ponderada em função da probabilidade de ocorrência de
patologias (Figuras 4.10 e 4.11).

Figura 4.10 – Croqui de Amostragem no Pav. Térreo

Fonte: Autores, 2020


63

Figura 4.11 – Croqui de Amostragem no Pav. Térreo

Fonte: Autores, 2020

4.3.4 Previsão de meios auxiliares

No dia 26 de Maio, iniciaram-se a segunda etapa de investigação profunda. Os


equipamentos para inspeção detalhada foram:

• Solução de fenolftaleína (C20H16O4) dissolvida a 1% em álcool etílico;


• Esmerilhadeira com disco para desbaste para concreto;
• Esclerômetro de Reflexão HT-225 (Schmidt);
• Multímetro digital de alta impedância;
• Eletrodo de referência em sulfato de cobre modelo (ASTM c876-15);
• Martelete Bochhammer de impacto rotativo com seletor;
• Talhadeira Irwin para concreto tipo SDS;
• Marreta;
• Talhadeira;
• Escova de aço e lixa.

4.3.5 Preparação das Regiões de Ensaios

As regiões de ensaio foram preparadas para oferecer as condições necessárias


à realização dos ensaios determinados, tendo cada um suas respectivas exigências
64

de execução. Desta forma, a região de ensaio foi marcada em sentido transversal de


uma borda à outra do elemento estrutural com extensão de 40 cm no sentido
longitudinal. Em seguida foi feito um corte superficial com Serra Mármore na
delimitação da área, em seguida a área teve o seu emboço retirado de modo a
descobrir totalmente o concreto da estrutura (Figura 4.12) na região especificada.
Após a retirada do emboço, o concreto aparente passou por desbaste por disco
diamantado tornando-o plano e sem rugosidades (Figura 4.13).

Figura 4.12 – Retirada do Emboço Figura 4.13 – Desbaste do Concreto

Fonte: Autores, 2020 Fonte: Autores, 2020

4.3.6 Ensaios Realizados

Em razão da natureza e número de patologias encontradas na inspeção visual


foi determinado uma série de ensaios tecnológicos que possibilitem uma melhor
compreensão dos processos preponderantes à corrosão das armaduras.

• Dureza superficial do concreto – Esclerometria;


• Profundidade de Carbonatação;
• Espessura do Cobrimento das Armaduras;
• Potencial de Corrosão;
• Redução da Seção da Armadura.

Os ensaios foram dispostos para os elementos estruturais definidos no plano


de amostragem conforme Quadro 4.1.
65

Quadro 4.1 – Planilha de Amostragem


Planilha de Amostragem CROQUI
Obra: Residência em Estudo
Lote: 01 Conteúdo: Ensaios Destrutivos;
Data: 22/04 Não-Destrutivos e amostragem.
Fração A Fração B Fração C
Elementos: Elementos: Elementos:
Ensaios a realizar V101;V102 e P1; P3 e V202.
P6.
Elementos Elementos Elementos
POROSIDADE E MASSA
- - -
ESPECÍFICA
RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO X X -
CLORETOS - - -
PROFUNDIDADE DE
X X -
CARBONATAÇÃO
CLORETOS EXTERNOS - - -
ESPESSURA DO COBRIMENTO X X - Observações:
POTENCIAL DE CORROSÃO X X -
REDUÇÃO DA SEÇÃO DA
X X -
ARMADURA
Fonte: Autores, 2020

4.3.6.1 Esclerometria ( NBR 7584 - 2012)

Sobre a superfície de concreto regularizada foi preparado o gabarito com a


indicação das regiões de impacto e distâncias preconizadas pela NBR 7584 (ABNT,
2012). Seguiram-se os impactos a inclinação de 90º do aparelho com a respectiva
anotação do índice esclerométrico (Figura 4.14).

Figura 4.14 - Ensaio de Esclerometria

Fonte: Autores, 2020


66

As leituras foram registradas em planilha e posteriormente calculadas conforme


tratamento de dados prescrito pela NBR 7584 (ABNT, 2012) com a utilização
expressão a seguir.

𝐼𝐸𝛼 = 𝑘 ∗ 𝐼𝐸

Onde:

IEα – é o índice esclerométrico médio efetivo;


K – é o coeficiente de correção do índice esclerométrico do aparelho;
IE – é o índice esclerométrico médio.

4.3.6.2 Potencial de corrosão ( ASTM c876-15)

Para a realização do ensaio de potencial de corrosão, a região de ensaio foi


demarcada em pontos de leitura com 2 colunas e 6 linhas onde 11 pontos
correspondem a leitura do eletrodo de referência e 1 para receber o polo positivo do
multímetro de alta impedância (Figura 4.15), diretamente na armadura exposta e limpa
com escova de aço e lixa.

Figura 4.15 – Pontos de Leitura

Fonte: Autores, 2020


67

Para a correta obtenção do potencial de corrosão, a superficie do concreto foi


saturada com água não desmineralizada proveniente da rede publica de
abastecimento durante 30 min atecedendo a realização do ensaio (Figura 4.16).

Figura 4.16 – Leitura do potencial de corrosão (ASTM c876 - 2015)

Fonte: Autores, 2020

Aplicando as leituras obtidas dos ensaios de potencial de corrosão a Média


Aritmética Simples (𝑋̅) e avaliadas conforme limites estabelecidos pela c876 (ASTM,
2015) correspondem ás conclusões para os efeitos globais de corrosão nas regiões
dos elemento analisado.

∑ 𝑋𝑖
𝑋̅ =
𝑛

Onde:

𝑋̅ – Média Aritmética Simples;


𝑋𝑖– Valores das Leituras do Multímetro de alta impedância;
𝑛 – Número de leituras.

4.3.6.3 Redução da seção da armadura

A verificação das bitolas disponíveis nos elementos estruturais foi realizada a


partir de pequenas fraturas localizadas nas regiões de ensaio de modo que ao menos
uma barra longitudinal e uma barra transversal fossem aferidas com o paquímetro
(Figura 4.17).
68

Figura 4.17 – Aferição do Pilar P1-Sup. com Paquímetro

Fonte: Autores, 2020

Os valores obtidos foram transcritos em planilha e posteriormente calculada as


áreas de aço originais (As) e resultantes do processo de corrosão (As’), conforme
fórmulas abaixo.

𝜋 ∗ 𝛷𝐿2
𝐴𝑠 = (𝑚𝑚2 )
4

𝜋 ∗ 𝛷𝑇 2
𝐴𝑠′ = (𝑚𝑚2 )
4

Onde:

As – Área de aço original;


As’ – Área de aço resultante;
𝛷𝐿 – diâmetro da barra longitudinal (mm)
𝛷𝑇 – diâmetro da barra transversal (mm)

4.3.6.4 Espessura do Cobrimento das Armaduras

A partir das pequenas fraturas realizadas no concreto para o descobrimento


das armaduras, foram realizadas as medições da profundidade destas em relação a
facie mais próxima do elemento estrutural com auxílio de régua milimetrada (Figura
4.18).
69

Figura 4.18 – Aferição do Cobrimento das Armaduras

Fonte: Autores, 2020

4.3.6.5 Profundidade de Carbonatação

A frente de carbonatação ao alcançar as armaduras no interior do concreto


implica na despassivação desta armadura e na sua susceptibilidade a corrosão, com
o agravante da presença de umidade retida no interior poroso do concreto (ANDRADE
PERDRIX, 1992).
A utilização do indicador de pH , Fenolftaleína, nas regiões recém fraturadas
do concreto possibilitou a averiguação da condição do concreto em proteger as
armaduras, caracterizando-as pela chegada ou não da frente de carbonatação ao seu
interior. O ensaio foi reproduzido conforme Plano de Amostragem nas regiões de
ensaio (Figura 4.19).

Figura 4.19 – Profundidade de carbonatação no Pilar P1

Fonte: Autores, 2020


70

5 DISCUSSÕES E RESULTADOS

5.1 Investigação Preliminar e Detalhada

A avaliação realizada na estrutura conforme a metodologia para diagnóstico de


patologias proposta por ANDRADE PERDRIX (1992) e adaptada para o estudo de
caso presente neste trabalho, angariou informações superficiais da estrutura por meio
de uma investigação preliminar durante visita técnica e que culminou posteriormente
em um levantamento aprofundado baseado em ensaios tecnológicos. A partir dos
dados processados da avaliação superficial e dos ensaios tecnológicos, obteve-se o
prognóstico das manifestações patológicas corroborada pelas exigências normativas
e levantamento bibliográfico.
A Investigação Preliminar (4.3.1) constatou a presença de fissuras em diversos
elementos estruturais dispostas em áreas susceptíveis conforme apresentado no
Mapa de Patologias (4.3.2), obedecendo padrões não condizentes com os
reconhecidos por trabalho mecânico de Vigas e Pilares (2.1.3), com as fissuras
estando dispostas em sentido longitudinal paralelo aos elementos estruturais, porém
compatível com os padrões reconhecidos de corrosão generalizada das armaduras e
subsequente desagregação do concreto em formas de placas (2.1.5.1) ou chamado
“Desplacamento”.
Ainda durante a Investigação Preliminar, encontraram-se pontos com manchas
por umidade próximas a estrutura com predominância na fachada Norte Pavimento
Superior da edificação. Do mesmo modo, foram localizados pontos de desplacamento
espontâneo do concreto com o aparecimento de óxidos oriundos da corrosão das
armaduras da estrutura (4.3.1).

5.2 Ensaios

5.2.1 Esclerometria

Procedendo com a Investigação Detalhada e respectivos ensaios tecnológicos,


constatou-se por ensaio de dureza superficial do concreto NBR 7584 (ABNT, 2012) a
heterogeneidade da resistência do concreto entre os elementos estruturais avaliados,
71

com um caso avaliado apresentando inconformidade com a resistência mínima


requerida pela NBR 6118 (ABNT, 2014) sendo de 20 Mpa.
O ensaio apresentou valores diversos de resistência superficial do concreto do
qual variam de 18.9 Mpa a 35 Mpa para o índice esclerométrico efetivo conforme
Quadro 3.8, tal fato demonstra a heterogeneidade da resistência superficial média à
compressão do concreto, utilizado na superestrutura da edificação em diferentes
componentes estruturais por conta da falta do devido controle tecnológico. Os valores
de índice esclerométrico nominal (IE), fator de correção (K) e Índice efetivo (IEα) estão
listados no Quadro 5.1, assim como a avaliação dos valores em função das exigências
previstas na NBR 6118 (ABNT, 2014).

Quadro 5.1 - Fck Concreto – Esclerometria (NBR 7584 – 2012)


ESCLEROMETRIA
Elemento IE K IEα (Mpa) Avaliação
V101 28.0 0.714 20.5 Conforme
V102 29.0 0.758 22.0 Conforme
V202 31.0 0.800 24.8 Conforme
P1-Sup. 34.8 0.919 32.0 Conforme
P3-Sup. 37.0 0.945 35.0 Conforme
P6- Não
27.4 0.690 18.9
Térreo Conforme
Fonte: Autores, 2020

Sendo a resistência característica do concreto fator contribuinte para a


proteção da armadura à corrosão (RIBEIRO, 2014), não pode ser negligenciado a
risco de ser ter impacto negativo na durabilidade da estrutura e consequentemente na
sua vida útil.

5.2.2 Potencial de Corrosão

O ensaio de potencial de corrosão apresentou percentuais elevados para


ocorrência de corrosão conforme critérios normativos e bibliográficos (3.5.5), no qual
fica demonstrado a não estabilidade eletroquímica das armaduras no interior do
concreto tornando-as propensas à corrosão eletroquímica. Esta constatação é
reforçada pelo ensaio de carbonatação do concreto que apontou a despassivação das
armaduras nas regiões das peças avaliadas com apenas uma exceção (4.3.6.5). Os
resultados individuais estão apresentados em forma de gráfico na Figura 5.1, onde
72

demonstram a probabilidade elevada à corrosão com tendência elevada devido a


bruscas diferenças entre pontos aferidos.

Figura 5.1 – Potencial de Corrosão – Leitura individual


V202 P1/sup. P3/sup.
V101 V102 P6/térreo
< 10% ESTÁVEL > 90% CORROSÃO 10%< INCERTO <90%
-150
1A 2A 3A 4A 5A 6A 1B 2B 3B 4B 5B

-200
POTENCIAL (MV)

-250

-300

-350

-400
PONTO DE LEITURA

Fonte: Autores, 2020

As conclusões expostas no Quadro 5.2 correspondem aos efeitos globais de


corrosão nas regiões de ensaio dos elementos analisados.

Quadro 5.2 -Média de Leituras - Potencial de Corrosão


Potencial de Corrosão
Elemento Média das Leituras Situação
V202 -329 Incerto
P1/Sup. -314 Incerto
P3/Sup. -352 Corrosão
V101 -313 Incerto
V102 -212 Incerto
P6/térreo -340 Incerto
Fonte: Autores, 2020

5.2.3 Redução da seção da armadura

O processo de corrosão das armaduras que ocasionou o desplacamento


acentuado nos elementos estruturais foi avaliado pelo ensaio de perda de área de aço
73

conforme critério de MIRANDA et al. (2015)20 apud SILVA (2017), onde perdas de
área de aço (As’) que superem a ordem de 10% da área original (As) são necessitárias
de reforço estrutural.
Constatou-se que a perda de área de aço nas barras longitudinais avaliadas
(Figura 5.2), com exceção do Pilar P6 e Viga V102, foram maiores que o limite de
10%, enquanto nas barras transversais (Figura 5.3), da mesma forma para o Pilar P6
e Viga V102, e uma perda de 9,24% para a Viga V101, também excedem o limite de
10%. O que respalda a necessidade de reforço estrutural conforme MIRANDA et al.
(2015)21 apud SILVA (2017).
Os resultados estão dispostos em forma de gráfico ilustrado que correspondem
as armaduras Longitudinal e Transversal, nas Figuras 5.2 e 5.3, respectivamente.

Figura 5.2 - Armadura longitudinal

PERDA DE ÁREA DE AÇO - LONGITUDINAL


As - Área Original As' - Área Reduzida

150.00

120.00 122.71
AS POR BARRA (MM²)

90.00
78.54 78.54
50.26
60.00 50.26
63.62 50.26 50.26

30.00 38.48 38.48

0.00
P1 -SUP. P3 -SUP. V202 P6 -TÉRREO V102 V101
ELEMENTOS

Fonte: Autores, 2020

20 Conforme 14.
21 Conforme 14.
74

Figura 5.3 - Armadura Transversal

PERDA DE ÁREA DE AÇO - TRANSVERSAL


As - Área Original As' - Área Reduzida

15.00
14.00 13.85 13.85 13.85 13.85 13.85 13.85
13.00
AS' POR BARRA (MM²)

12.57
12.00
11.00
10.00
9.62 9.62
9.00
8.00
7.55
7.00
6.00
5.00
P1 -SUP. P3 -SUP. V202 P6 -TÉRREO V102 V101
ELEMENTOS

Fonte: Autores, 2020

5.2.4 Espessura do Cobrimento das Armaduras

Realizada a verificação da profundidade das barras, os valores foram


transcritos para planilha e apresentados em forma de gráfico ilustrado na Figura 5.4.

Figura 5.4 – Cobrimento das Armaduras

COBRIMENTO DAS ARMADURAS


35
COBRIMENTO (MM)

30
25
20
15
10
5
0
P1 - P6 - P3 -
V102 V202 V101
Sup. térreo Sup.
Cobrimento da
25 3 2 25 4 2
armadura
C. Mín.Pilar/Viga -
Classe Agressividade II 30 30 30 30 30 30
(NBR 6118:2014)
Δc - Tolerância de 10
20 20 20 20 20 20
mm

Fonte: Autores, 2020

Segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014) no item 7.4.7.2, o cobrimento mínimo


(Cmín) necessário para Pilares e Vigas devem atender ao cobrimento nominal (C nom)
75

acrescido de um valor em relação a tolerância de execução (Δc=10mm). O cobrimento


nominal varia em relação a classe de agressividade ambiental que se encontra a
edificação, neste caso identificada como Classe II (Moderada), Ambiente Urbano,
conforme estabelece a NBR 6118 (ABNT, 2014) no item 6.4.2. Portanto o valor
mínimo de cobrimento de pilares e vigas seria 30 mm, com tolerância de 10 mm, valor
somente alcançado em duas das regiões de ensaio, P1 e V102, caracterizando
proteção insuficiente aos demais elementos nos pontos aferidos.

5.2.5 Carbonatação

Por avanço da carbonatação e seu alcance às armaduras, o ensaio de


cobrimento do concreto apontou a insuficiência deste com apenas a exceção de dois
casos, conforme preconizado pela NBR 6118 (ABNT, 2014) o que contribuiu para o
início prematuro da despassivação das armaduras por processo de carbonatação
(ANDRADE PERDRIX, 1992, p. 23).
A aplicação do ensaio constatou que, com exceção do Pilar P1-Sup, todas as
demais regiões de ensaio apresentaram carbonatação avançada e despassivação da
armadura no ponto examinado. Verifica-se que a qualidade inferior do concreto é fator
determinante nestes casos conforme BICZÓK (1972)22 apud SILVA (2017), “quando
a qualidade do concreto é satisfatória, a carbonatação não passa de profundidades
maiores que 1 mm, independente do tipo de cimento utilizado”.

5.3 Observações

O ambiente que se encontra a edificação foi identificado sendo critérios da NBR


6118 (ABNT, 2014) como classe de agressividade ambiental moderada , Classe II,
que corresponde ao ambiente urbano não industrializado e sem influência de
respingos de maré. Por se tratar de uma edificação localizada na região amazônica
de clima tropical úmido, encontra-se exposta a ambiente particularmente favorável à
corrosão eletroquímica por apresentar elementos necessários a formação de pilhas

22BICZÓK, I. La Corrosion del Hormigon y su Proteccion. 6a. ed. Bilbao: Urmo, 1972.
BSI. EN 206-1 - Concrete - Part 1: Specification, performance, production and conformity. p.
69, 2005.
76

eletroquímicas, sendo: carbonatação; umidade; precipitação; insolação acentuada e


vento.
77

6 CONCLUSÃO

Este trabalho teve por objetivo a determinação das origens das manifestações
patológicas em uma edificação residencial no município de Monte Alegre-Pará a partir
da avaliação superficial e aprofundada da estrutura da edificação com auxílio de
ensaios tecnológicos. A partir das hipóteses levantadas para o caso, puderam-se
traçar as estratégias de investigação que nortearam este trabalho que foi dividido em
Levantamento Bibliográfico; Inspeção Preliminar; Plano de Trabalho; Inspeção
Detalhada; aplicação de ensaios tecnológicos; apresentação dos resultados; emissão
de prognóstico.
Conforme o levantamento bibliográfico, constatou-se que as manifestações
patológicas em estruturas de concreto armado são empecilhos que ocorrem devido a
falhas durante o processo construtivo, no uso de materiais inadequados e/ou na
utilização da edificação. Esta soma de fatores ocasiona na redução significativa da
vida útil da edificação, portanto a maior apelo a manutenções que acabam por se
tornar mais onerosas devido a gravidade potencializada das patologias, o que culmina
em impactos econômicos drásticos. Os tipos de patologias que afetam as estruturas
de concreto armado e suas respectivas causas são inúmeras, entretanto as patologias
mais correntes são as fissuras, corrosão e desagregação.
As patologias com predominância constatadas no caso avaliado, durante a
investigação preliminar, foram a desagregação do concreto (Desplacamento) em
consequência à corrosão generalizada das armaduras em elementos estruturais da
edificação. A partir do plano de trabalho, foram realizados diversos ensaios in situ que
comprovaram a gravidade da corrosão na maioria dos pontos avaliados e indicaram
um processo ativo de corrosão, ou seja, o quadro patológico continua em evolução
caracterizando a necessidade de intervenção com o objetivo de estabilizar o processo
e reabilitar a estrutura nos pontos necessitários.
As conclusões sobre o início prematuro do comprometimento da estrutura são
de ordem técnica, uma vez que as exigências normativas necessárias para a
durabilidade da estrutura como controle o tecnológico do concreto não foram
implementados corretamente, criando assim uma cadeia sucessivas de falhas que
comprometeram a vida útil da edificação e ao surgimentos das patologias
mencionadas.
REFERÊNCIAS

ABNT. NBR 5737: Cimento Portland resistentes a sulfatos.Rio de Janeiro, 1992.

ABNT. NBR 14832. Cimento Portland e Clínquer - Determinação pelo Método do


íon Seletivo.Rio de Janeiro - RJ, 2002.

ABNT. NBR 8681: Ações e Segurança nas Estruturas – Procedimentos.Rio de


Janeiro, 2003.

ABNT. NBR 14931. Execução de Estruturas de Concreto – Procedimento.Rio de


Janeiro, 2004.

ABNT. NBR 15900-1: Água para Amassamento do Concreto. Parte 1:


Requisitos.Rio de Janeiro, 2009.

ABNT. NBR 9917. Agregados para concreto - Determinação de sais, cloretos e


sulfatos solúveis.Rio de Janeiro - RJ, 2009.

ABNT. NBR 7584. Concreto endurecido — Avaliação da dureza superficial pelo


esclerômetro de reflexão — Método de ensaio.Rio de Janeiro, 2012.

ABNT. NBR 15575-1. Edificações Habitacionais — Desempenho Parte 1:


Requisitos gerais.Rio de Janeiro - RJ, 2013.

ABNT. NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto - Procedimento.Rio de


Janeiro, 2014.

ABNT. NBR 7680-1. Concreto - Extração, preparo, ensaio e análise de


testemunhos de estruturas de concreto. Parte 1: Resistência à compressão
axial.Rio de janeiro, 2015.

ABNT. NBR 12655. Concreto de cimento Portland — Preparo, controle,


recebimento e aceitação — Procedimento.Rio de Janeiro, 2015.

ABNT. NBR 5738. Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos de


prova Versão Corrigida:2016.Rio de Janeiro, 2015.

ABNT. NBR 5739. Concreto - Ensaio de compressão de corpos de prova


cilíndricos.Rio de Janeiro, 2018.

ABNT. NBR 6120: Ações Para o Cálculo de Estruturas de Edificações.Rio de


Janeiro, 2019.

ABNT. NBR 9778 Argamassa e concreto endurecidos - Determinação da


absorção de água, índice de vazios e massa específica. Versão Corrigida
2:2009.Rio de Janeiro, 2019.

ABNT. NBR 7211: Agregados para concreto –Especificações - Versão


Corrigida:2019.Rio de Janeiro, 2019.
ACI. ACI Committee 364. Guide for Evaluation of Concrete Structures Prior to
Rehabilitation.Farmington Hills, 1994.

ANDRADE PERDRIX, M. DEI C. Manual para diagnóstico de obras deterioradas


por corrosão das armaduras. Tradução: Antonio Carmona; Tradução: Paulo Helene.
1a ed. São Paulo: PINI, 1992.

ASTM. C 1218/C 1218M – 99. Standard Test Method for Water-Soluble Chloride
in Mortar and Concrete.Philadelphia, 1999.

ASTM. C 1152/C 1152M – 03. Standard Test Method for Acid-Soluble Chloride in
Mortar and Concrete.Philadelphia, 2003.

ASTM. c876-15. Standard Test Method for Corrosion Potentials of Uncoated


Reinforcing Steel in Concrete.Philadelphia, 2015.

CONCRELAB. EXTRAÇÃO DE TESTEMUNHOS DE CONCRETO. CONCRELAB.


Disponível em: <http://www.concrelab.com.br/avaliacao-do-concreto-pelo-
esclerometro/>. Acesso em: 25 fev. 2020.

Evaluación del concreto por el esclerómetro. CIVILGEEKS. Disponível em:


<https://civilgeeks.com/2011/12/10/evaluacion-del-concreto-por-el-esclerometro/>.
Acesso em: 27 fev. 2020.

FIGUEIREDO, E. P.; MEIRA, G. Corrosão das armaduras das estruturas de


concreton: BRASIL, Alconpat. Boletim Técnico. Mérida: Alconpat Internacional,
2013. Disponível em: <http://alconpat.org.br/wp-content/uploads/2012/09/B6-
Corros%C3%A3o-das-armaduras-das-estruturas-de-concreto.pdf>. Acesso em: 1 jun.
2020.

GENTIL, V. Corrosão. 3. ed. Rio de Janeiro - RJ: LTC, 1996.

GONÇALVES, A. P. A. investigando o concreto armado das empenas da


FAUUSP- teste de profundidade de carbonatação utilizando fenolftaleína.
conservafau. Disponível em:
<https://conservafau.wordpress.com/2017/03/10/investigando-o-concreto-armado-
das-empenas-da-fauusp-teste-de-profundidade-de-carbonatacao-utilizando-
fenolftaleina/>. Acesso em: 13 fev. 2020.

GONÇALVES, E. A. B. ESTUDO DE PATOLOGIAS E SUAS CAUSAS NAS


ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO DE OBRAS DE EDIFICAÇÕES. Rio de
Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015.

LOTTERMANN, A. F. PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO: ESTUDO


DE CASO. Ijuí-RS: UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL, 2013.

M. H. F. MEDEIROS et al. Potencial de corrosão: influência da umidade, relação


água/cimento, teor de cloretos e cobrimento. Revista IBRACON de Estruturas e
Materiais, v. 10, 2017.
NASCIMENTO, B. A.; NASCIMENTO, A. R. D.; LOPES, A. A. Ensaio de esclerometria
para estimativa da resistencia à compressão do concreto em obras da cidade de
maringá. Revista Técnico-científica do CREA-PR, v. 19, n. 1, p. 20–25, set. 2018.

NUNES, D. F.; SANTOS, R. G. D. ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PATOLOGIAS


E DIAGNÓSTICO ESTRUTURAL EM EDIFICAÇÃO DE CONCRETO ARMADO.
Brasília-DF: Universidade Católica de Brasília, 2016.

OLIVARI, G. PATOLOGIA EM EDIFICAÇÕES. SÃO PAULO: Universidade Anhembi


Morumbi, 2003.

ONO, E. T. SOL-AR. Versão 6.2. SC: Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

RIBEIRO, D. V. (ED.). Corrosão em estruturas de concreto Armado: teoria,


controle e métodos de análise. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

SILVA, S. S. E. Diagnóstico de Estruturas de Concreto em Ambientes Marinhos:


Estudo de Caso de uma Plataforma de Pesca. Monografia—GOIÂNIA:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, 2017.

SOUZA, V. C. M. DE; RIPPER, T. Patologia, Recuperação e Reforço de Estruturas


de Concreto. 1a ed. São Paulo: PINI, 1998.

TOKUDOME, N. Cimento Itambe. Cimento Itambe. Disponível em:


<https://www.cimentoitambe.com.br/carbonatacao-do-concreto/>. Acesso em: 1 mar.
2020.

TRINDADE, D. DOS S. DA. Patologia Em Estruturas De Concreto Armado.


Trabalho de conclusão de curso—Santa Maria - RS: UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SANTA MARIA, 2015.
ANEXO A – CERTIFICADO DE CALIBRAÇÃO DE ESCLEROMETRO DE
REFLEXÃO HT-225

Você também pode gostar