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Neste artigo
1. Antes do debate
2. Como organizar o debate
3. 1. Escolhendo um problema
4. 2. Formando grupos
5. 3. Explicando os objetivos
. 4. Definindo as regras
7. 5. Preparando argumentos
. 6. No dia do debate
9. Conclusão
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É necessária uma série de condições para organizar um debate formal em sala de aula. No
clima de polarização e tensão que vive a sociedade brasileira, um debate pode ser mais um
motivo para conflitos entre os estudantes. O resultado disso será uma experiência ruim e a
associação, já presente em seu imaginário, entre debate e briga, e não é isso que desejamos
como professores.
Um debate bem organizado pode ser uma oportunidade única para desenvolver
competências e habilidade importantes na formação integral dos estudantes. Se
considerarmos as dez competências gerais que a nova BNCC propõe para a educação
brasileira, o uso do debate está relacionado diretamente a pelo menos 5 delas:
1. Ele contribui para que o estudante use os conhecimento adquiridos para entender a
realidade e participar da construção de uma sociedade mais justa (competência 1).
2. É uma ocasião para os estudantes usarem uma abordagem própria da ciência para
investigar, discutir hipóteses e propor soluções para questões polêmicas (competência 2).
3. Mais do que qualquer outra atividade escolar, essa é uma oportunidade para os estudantes
argumentarem “com base em fatos, dados e informações confiáveis, formular, negociar e
defender ideias” (competência 7).
4. Por fim, para além do aspecto cognitivo, o debate também possui uma dimensão afetiva,
pois uma das dificuldades que essa atividade provoca é manter certo controle emocional e
o entendimento de que a diferença de opinião é parte normal da existência humana e
merece respeito. Por isso o debate em sala de aula está relacionado ao que propõe as
competências 8 e 9 da BNCC.
A questão é como fazer para tirar proveito dela o melhor possível, sem que resulte em
conflitos entre colegas. O esquema abaixo propõe algumas etapas a serem seguidas pelo
professor para que tudo corra bem.
Antes do debate
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É importante não perder de vista, ao propor aos estudantes um debate, o objetivo desse
trabalho e que conhecimentos prévios eles devem ter para que esses objetivos sejam
alcançados.
Seja qual for a disciplina em que esse debate irá ocorrer, alguns conceitos mínimos de
argumentação já devem ter sido construídos pelos alunos. Entre eles, o que é um
argumento é o que é um bom argumento. Isso não significa que devam dominar os
conceitos da lógica aristotélica e proposicional, além de uma lista de vinte falácias. Um
debate produtivo pode ser feito com recursos mais modestos.
Saiba Mais
Tendo em vista a forma como os adolescentes argumentam antes de terem alguma instrução
sobre argumentação, é importante que tenham claro principalmente os seguintes pontos:
Alguns pontos dessa lista são mais importantes, outro menos. Gosto de dar atenção especial
aos ataques pessoais. Eles são bastante frequentes nos debates dos alunos e especialmente
prejudiciais. Na maioria dos casos, já existe uma tensão no ar quando dois grupos de
estudantes são colocados frente a frente para discutir um tema polêmico. Caso ataques
pessoais sejam usados, essa tensão só aumenta e o debate corre o risco de se tornar um
vale-tudo. Para evitar esse problema, mostre porque um ataque pessoal é um argumento
ruim e porque acaba gerando conflitos desnecessários.
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Como organizar o debate
Depois que os alunos estiverem familiarizados com algumas noções mínimas de
argumentação já é possível propor um debate produtivo com a turma.
1. Escolhendo um problema
O primeiro passo na organização de uma debate é a definição de um problema. Nesse caso,
você pode adotar uma dessas alternativas:
Caso opte por deixar que os estudantes escolham, peça para que sugiram temas, anote no
quadro e depois faça uma votação. O problema mais votado será debatido pela turma.
A alternativa mais adequada das três acima irá depender dos seus objetivos com o debate.
As únicas precauções necessárias, em qualquer caso, é garantir que o problema escolhido
seja polêmico, com duas posições claramente conflitantes. Além disso, ambas devem ser
passíveis de serem defendidas racionalmente.
Saiba Mais
Vários candidatos a debate propostos pelos estudantes não atendem a essas condições.
“Desigualdade de gênero” é um exemplo. Quando os estudantes propõem debater esse
tema, geralmente pensam defender que existe desigualdade de gênero e isso não deveria
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acontecer. O problema com esse tema é que dificilmente alguém defende abertamente que
não existe desigualdade de gênero ou que isso não deveria ser mudado. Nesse caso é
impossível haver debate.
Ainda assim, a desigualdade de gênero pode levar a questões interessantes para debate. Por
exemplo:
Deveria haver cotas para mulheres em cargos eletivos, de modo que um número X de
cadeiras fossem ocupadas por elas?
Nesse caso, há um problema polêmico e que tem mais chances de receber apoio e críticas
bem argumentadas.
Portanto, ao escolher um problema com a turma cuide para que ele seja polêmico e com
duas posições defensáveis.
2. Formando grupos
Depois de definido um problema para o debate é necessário formar os grupos e escolher
quem vai defender qual posição.
Abrir
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Cinco alunos em cada grupo já é um número suficiente. No entanto, geralmente as turmas
têm mais de dez alunos, o que gera um problema. A solução para fazer debates em turmas
grandes é escolher mais de um tema e fazer duas ou mais rodadas de debate. Nesse caso, no
momento em que uma parte da turma discute o problema proposto, a outra observa e
avalia. Depois de um tempo os papéis se invertem.
3. Explicando os objetivos
Agora que já temos grupos formados, o próximo passo é fazer com que todos saibam os
objetivos pedagógicos do debate.
Geralmente faço isso iniciando com uma pergunta: o que é um debate ou discussão?
Procuro sondar com os estudantes não apenas sua definição, mas sobretudo trazer para a
aula as experiências que cada um teve com esse tipo de prática, negativas e positivas.
É importante lembrar nesse ponto que o debate não se resume a discussões formais. Ele
também ocorre entre amigos, casais, pais e filhos sobre uma variedade muito grande de
assuntos.
São essas práticas sociais que desempenhamos em várias situações em nossas vidas que
devem servir de pano de fundo para a apresentação dos objetivos do debate. É tendo em
vista aprender a lidar com elas de maneira mais satisfatória que sua simulação em sala de
aula é praticada.
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4. Definindo as regras
Antes de qualquer coisa, ao definir algumas regras básicas para um debate é fundamental
que elas não pareçam arbitrárias para os estudantes. É necessário que eles percebam sua
necessidade para o bom andamento do debate.
A formulação dessas regras pode partir dos próprios alunos, através da reflexão sobre suas
experiências negativas em atividades como essa. Uma pergunta pode guiar essa reflexão:
Que regras estabelecer para que o debate corra bem e não repita os exemplos negativos?
Em relação a isso, o que não deve faltar no debate é definir um tempo de fala para cada
grupo e escolher uma pessoa para controlar o tempo e mediar o debate. Geralmente essa
pessoa será o professor.
Por que é tão importante que cada grupo tenha um tempo específico para falar? Na falta
disso, a tendência natural é haver uma competição entre os grupos para falar. O resultado é
um aumento do tom de voz, respostas imediatas, sem grande reflexão, falas cortadas pelos
colegas, enfim, tudo o que não deve ser um debate.
Saiba Mais
Alguns alunos têm certa resistência a aceitar o tempo de fala na prática. Reclamam que, se
não responderem o colega imediatamente, irão esquecer o que gostariam de falar. Sugira
que tenham papéis para fazer anotações ou tentem memorizar. Além de garantir um debate
organizado, sem gritaria, isso tem a vantagem adicional de fazer com que as réplicas sejam
mais refletidas e qualificadas.
5. Preparando argumentos
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A qualidade do debate irá depender em grande medida da capacidade dos estudantes de
buscarem e utilizarem informações de diferentes fontes e com base nisso construir
argumentos. Ou seja, para ter um bom debate é necessário pesquisa e reflexão.
Vale lembrar que essa não é uma capacidade inata nos seres humanos nascidos depois da
invenção do Google. Na verdade, muitas vezes os alunos consultam textos superficiais e
com informações de origem duvidosa quando fazem suas pesquisas.
Para ajudá-los com a pesquisa, você pode dar alguns auxílios. Entre eles:
6. No dia do debate
Depois de tudo organizado, não há muito a ser feito no dia do debate. Agora o trabalho é
com os alunos.
Antes de começar, apenas relembre as regras combinadas com a turma e que será o
mediador. Insista na importância de respeitar o tempo de fala dos colegas e ouvir o que têm
a dizer.
Por fim, explique que no debate não é realista querer que nossos interlocutores mudem de
opinião. Muitos estudante tem essa expectativa e isso irá gerar frustração, já que na maioria
das vez o debate encerra sem consenso.
Sugira que tenham como objetivo pessoal no debate fazer o melhor para mostrar que a tese
que estão defendendo é forte, pois é sustentada por bons argumentos. Esse objetivo
depende apenas do próprio aluno para ser alcançado e é mais realista.
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Conclusão
Depois que o debate for concluído, é o momento da autoavaliação. É importante uma
reflexão coletiva para perceber os erros e acertos. Essas são algumas questões para guiar
essa reflexão:
Quanto à avaliação somativa dessa prática, é difícil para o professor atribuir uma nota
minimamente objetiva à participação de cada estudante. Nesse caso, as opções mais viáveis
são a autoavaliação ou um conceito único por participação.
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