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A reinsercdo familiar de criancas e adolescentes: perspectiva histérica da implantagéo dos planos individuais de atendimento e das audiéncias concentradas Myrian Veras Bapeista Rita C. S. Oliveira Introdugao Nos tiltimos anos, muito se tem falado sobre mudangas da legislagao brasi- Jeira para a inffincia ¢ a juventude. Esse movimento assumi maior intensidade provagio da Lei n? 12.010, em 03/08/2009 — intitulada Lei Nacional de Adogio -, que representou a maior alteragio de artigos do Estatuto da Crianga e do Adolescente (ECA). Essa lei trata da adogiio, mas abrange também a me- dida de protegio “acolhimento institucional”, foco da discussio deste artigo. (Os desafios do trabalho nessa area tém sido fonte de atengiio e debate dos assistentes sociais ¢ demais profissionais que fazem parte do Sistema de Garan- tia de Direitos da Crianga e do Adolescente (SGD).? t IOL-VII do ECA) nig se confunde com te que comete ato infracional (art da 1 Omcolhimento institucional como medida de protec 2 internagio, que é medida socioeducativa apicdvel a9 11-VID. 0 acolhimento de crianga ou de adolescente deve ser Juventude (VI), e em situagdes emergenciais polo Conse Ta as altemativas que priv conviréncia fai igo no acolhimento instituco \lera importinda do acolhimento fumiliar como medida de protegio (ast. 10L-VIL natada pela Lei ni 12.010/2009), a ser privleyinda no caso dagueles qu retirados provisoriamente da convivéncia com sua fomiliabiokigica ou de origem. Com a aprovagio da ‘os servis de acolhimento institucional e jplexidade da Assisténcia Social ram sido esgotad recisam ser familie possaram a integra Do SGD fazem parte os Servigos de Acothimento Institucional (os abrigos) ¢ Familiar (as familias acolhesloras), as Varas da Infincia e Juventude, o Ministéio Piblica, a Defensoria Piblica, os Con- 93 ‘Myriam Veras Baptista Rita C. S. Oliveira Recentes pesquisas sobre a realidad dos servigos de acolhimento institucio- nal revelou que, apesar de o ECA estabelecer a provisoriedade ea excepcionalidade doacolhimento, milhares de criangas e adolescentes continuam sofrendo a violagio do direito & convivéncia familiar e comunitiria, conforme analisado mais adiante. Tal conhecimento impulsionou o reordenamento institucional, que focou, ini- cialmente, as mucangas na estrutura fisica dos servigos de acolhimento e a diminui- fo da quantidade de acclhidos, tendo em vista efetivar um atendimento personali- zado, passando, posteriormente, para o reconhecimento da necessidade de execugao dle um trabalho que garanta a provisoriedade do acolhimento e a reinsergao familiar. Nesse contexto, a realizagiio dos Planos Individuais de Atendimento (PIAs) ¢ das Audliéncias Concentmdas (ACs) emergitt como demanda atual de trabalho para os profissionais da rea, cuja implementagio precisa realizar-se de maneira cuidadosa, de forma que tais instrumentos no revitimizem criangas e adolescentes nfo reproduzam a culpabilizago de suas familias, em vez de promover direitos. Este texto pretende contribuir para a ampliagao da compreensio histérico- -critica do processo que engendrou o reordenamento nos servigos de acolhimento institucional ¢ a demanda pela realizagao dos PIAs e das ACs, com foco privile- giado na reinsergio da erianga e do adolescente em sua familia de origem. Familia brasileira: perversa centralidade Na historia de atengo a infancia e a juventude brasileira, 6 possfvel iden tificar uma contradigio emblemsitica, que contribui para a compreensio da dificuldade de encontrar servigos na rede de atendimento que efetivem apoio sociofamiliar compativel com a complexidade das demandas das familias em situagao de vulnerabilidade social e pessoal. ‘A instalagio da Roda dos Expostos no Brasil, quando jé tinham sido abo- lidas na Europa, evidencia uma escolha histérica em relago ao tipo de cuidado a ser exercido com criangas que nfo tinham a possibilidade de permanecer com suas familias. Essa escolha centrou-se no “fechar a porta’ para a familia, sem va- lorizar sua presenga no desenvolvimento de seu filho, sem querer conhecé-la nem compreender 0 contexto que a levara ao chamado “abandono” de sua crianga. Mesmo apés a extingao do mecanismo da Roda dos Expostos, 0 modelo que se seguiu ~ fortalecido pelas ideias higienistas da época ~ manteve o princf- sellos Tutelares e de Diteitos, as Secretarias Municipals de Asssténci mente por mio dos Coneros de Referéncia de Assisténcin Social ~ CRAS ~ e dos Centros de Referéncia Espe cializados de Assistencia Social - CREAS),além de outras secretarias e servigas, coma os de sake, habitago, educagio, trabalho etc oO A REINSERGAO FAMILIAR DE CRIANGAS E ADOLESCENTES: PERSPECTIVA HISTORICA DA IMILANTAGAO NOS INDIVIDUAIS DE ATENDIMENTO E DAS AUDIENCIAS CONCENTRADAS, pio do alijamento da familia do contato com as criangas e os adolescentes abri- gadlos em suas instituigdes ¢, ainda, revelou-se contaminado pelo preconceito, pelo desconhecimento ¢ pela nfo profissionalizagio. Ainda que, por séculos, o Brasil venha praticando a institucionalizagao de criangas e adolescentes, até recentemente inexistiam pesquisas sobre os motivos pelos quais eles ndo pociam permanecer com suas familias, sobre seu perfil e 0 ds instituigdes que os abrigavam e, especialmente, sobre a qualidade do aten- dimento oferecido e das praticas profissionais desenvolvidas. Somente em 2003, a partir das pesquisas realizadas em Ambito nacional? e em alguns municipios, como Siio Paulo} foi possivel conhecer as caracteris- ticas das criangas e dos adolescentes acolhidos, os motivos que os levaram a0 abrigamento e as condigées de vida de seus familiares A iltima pesquisa nacional, realizada em 2009, indicou a existéncia de 2.624 servigos de acolhimento institucional (governamentais ¢ no governamen- tais), que acolhiam 36.929 criangas ¢ adolescents. Essa pesquisa apontou que a maior quantichade de servigos de acolhimento situava-se nas regides Sudeste e Sul: nna Sudeste estavam 1419 servigos e 21.730 criangas e adolescentes; na Sul, 664 servigos e 8.324 eriangas e adolescentes; na regio Centro- Oeste, 264 servigas ¢ 3.710 criangas e adolescentes; na Nordeste, 180 servigos e 2.114 criangas e adoles- centes; ¢, finalmente, na regitio Norte, 97 servigos ¢ 1.051 criangas ¢ adolescentes, Considerando as informagées mais significativas obtidas pelas pesquisas, chegou-se a um perfil que se aplica & maior parte das criangas ¢ dos adolescen- tes em situagio de acolhimento: idade acima de 7 anos, abrigados com irmios, afrodescendentes, com familia em situagio socioeconémica preciria 3° No Ambito nacional, em 2003 fi realizado 0 “Levantamento Nacional dos Abrigos para Criangas © Adolescentes da Rede de Servigos de Agio Continuada (SAC)", pelo Institutn de Pesquisa Econo: ‘mica Aplicada (Ipea). Trata-se de pesquisa realizada exclusivamente nas insttuigbes que recebiam verba federal, néoatingindo, portantp, todo o universo dos abrigos brasileiros (foram pesquisadas 589 insteuigbes que abriguvam quase 20.000 criangas e adolescente 4A pesquisn “Por uma politica de abrigos em defesa de direitos das criangas e dos adolescentes na cidade de S00 Paulo” foi realizada em parceria do Nueleo de Estudes e Pesquisas sobre a Crianga e 0 Adolescente da Pontificia Universidade Catdlica de So Paulo (NCA/PUC SP) com outras instieui- Ges. Foram pesquisadas 185 instiuigies que abrigavam 4.800 criangas e adolescentes. 5 © Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), com 0 apoio do Conanda & do Conselho Nacional de Assistincia Social (CNAS), desenvolveu 0 “Levantamento Nacional das Criangas e Adolescentes em Servigos de Acolhimento". A pesquisa foi realizada pelo Centro Latino: -americano de Estudos de Violéncia e Satide Jorge Carelli, da Fundagio Oswaldo Cruz (Claves!Tio- mud. Por meio de pesquisa eletrnica€ possivellocalizar resultados divukzados como dados prelim nares que apresentam divergéncias entre si. Vale ressaltar que © préprio MDS alertou que tais dados nao tinkam sido checados pela Fiocruz nem pelo MDS, motivo pelo qual poderiam ser modificados caso fosse veriticado algum ero de preenchimento ou inconsisténeia nos questionrios. 95 ‘Myriam Veras Baptista Rita C. S. Oliveira Em relagio A familia, os poucos dados disponiveis delinearam um perfil caracterizado pela auséncia paterna e pela situagao resultante de um proceso de exclusdo social — baixa escolaridade, desemprego, subemprego, precariedade de moradia -, quadro muitas vezes agravado pela satide mental comprometida e pela dependéncia quimica®. ‘Com base nos estudos sobre a institucionalizagao de criangas e de adoles- centes no Brasil’, pode-se dizer que o abrigo ou o setvigo de acolhimento ins- titucional representa, historicamente, o espago para onde tem sido canalizada parte significativa das situagGes resultantes das faltas e das omissdes originadas na familia e na sociedade e praticadas especialmente pelo Estado. Finalmente, as pesquisas mencionadas desvelaram as contradigdes que essa realidade comportava, contribuindo para a compreenstio de que os moti- vos que levam 3 necessidade de aplicagio da medida protetiva de acclhimento nao se restringem ao Ambito individual ou familiar, mas tém por determinagdes questdes de ordem macroestrutural, que requerem respostas mais efetivas por parte do Estado e da sociedade civil. Em geral, os motivos de acolhimento referem-se direta ou indiretamente A pobreza e & precariedade de politicas pablicas que atendam A demanda dessa populagio. Nesse sentido, politicas de maior amplitude, direcionadas 4 habi- taco, A satide, ao trabalho, & educacio, incluindo nessa categoria os servigos de creche, certamente concorreriam para que grande parte dessas criangas € adolescentes permanecesse com seus familiares. Ancorada nessa engrenagem histérica e legal de “protego” que veio pri- vilegiando a atengao ptiblica nos servicos de alta complexidade, a familia pobre coube um perverso protagonismo: sem 0 apoio de programas e politicas compa- tiveis com suas necessidades, tornou-se foco do atendimento do Judicisrio, que tem privilegiado sua penalizagio e seu julgamento. E que vem sendo chamado, de “judicializagao da questo social”: sem acesso As politicas hisicas e sociais — de responsabilidade do Executivo —, as familias pobres acabam se tornando alvo de demanda legal no Judicisirio. E, nesse cendrio, ainda que aparentemente pautadas na defesa de direitos, por vezes emergem propostas de enfrentamento equivocadas, que teproduzem 0 legado histérico de desvalorizagtio da familia de origem das criangas e dos adolescentes atendidos. © Consultor Fivero, Vitale e Baptista (2008) sobre familias eujs criangas adolescentes vivem aco himento institucional 7. Para aprofundamenta, insica-se a letura de Marcio (1998), Rizzini (1997) e Silva (1996). 96 A REINSERGAO FAMILIAR DE GUANGAS E ADOLESCENTES: IERSPECTIVA HISTORICA DA IMILANTACAO [DOS PLANOS INDIVIDUAIS DE ATENDIMENTO E DAS AUDIENCIAS CONCENTRADAS Contextualizacao do processo histérico da promulgacao da Lei n° 12.010/2009 Embora desde 1990 tenham sido explicitados no ECA os indicativos fun- camentais para a implementagao de profundas mudangas no atendimento &s criangas ¢ aos adolescentes acolhidos, elas somente se evidenciaram a partir da divulgagtio das pesquisas mencionadas e do consequente debate gerado por meio de semindrios ¢ palestras, ocorridos nacionalmente. Porém, tais mudangas nio se deram de forma linear. Enquanto de um, lado se ampliava o conhecimento sobre a realidade dos abrigos ¢ daqueles que neles viviam, concluindo-se que o enfrentamento desse fendmeno implicava a efetivagio do apoio a familia de origem, de outro, ages paralelas atravessavam esse proceso histérico, resultando na apresentagio do Projeto de Lei Nacional de Adogio (PLNA) n° 1756/2003. OPLNA, contraditoriamente, propunha enfrentar essa realidade — ainda insuficientemente conhecida — com a ampliagao de facilidades para 0 encami- nhamento de criangas para familias substitutas por meio da adogio. ‘A primeira versio do PLNA colocava 0 instituto da adogao como direito da crianga e do adolescente (art.1%, § 2°), abrandava os requisitos legais para sua execugio, diminufa os prazos (art. 38) para a destituigao do poder familiar, incentivava a retirada das criangas e dos adolescentes do convivio de suas fami- lias 0 que atingiria, em especial, as familias de menor capacidade econémica ou intelectual ~ ¢ criava subsidios ¢ incentivos tributarios, fiscais e trabalhistas para quem adotasse criangas ¢ adolescentes com necessicades especiais, sem previsio igual para a familia de origem (arts. 67 ¢ 68). Identificado o equivoco desse Projeto de Lei, articulou se importante movimen- to contrério sua aprovagio que, entre os anos 2003 e 2006, delineou um ceniirio de embate entre posturas conservadoras que defendiam o PLNA e aguelas que busca- vam preservar as conquistas resultantes da Constituigo Federal e do ECA, Como resultante desse processo, foram aprovadas as regulamentagées que especificaram ¢ complementaram os principios do ECA, demarcando 0 apro- fundamento das mudangas no atendinsento realizado pelos servigos de acolhi- mento institucionais. Em 2006, 0 Conselho Nacional de Assisténcia Social (CNAS) e 0 Conse- Tho Nacional dos Direitos da Crianga e do Adolescente (Conanda) aprovaram 0 8 De autoria do depurado Jos Maros (PMDB/SC), que foi assessorado por grupos de apoio 8 adosto, pel Camissao de Apoio d Convivéncia Familiar e par alguns juzes da Infancia e da Juventud. E passive acessaro texto original por consulta elerrdnica, entificando a integra do le 97 ‘Myriam Veras Baptista Rita C. S. Oliveira Plano Nacional de Promogio, Defesa ¢ Garantia do Direito de Criangas ¢ Ado- lescentes & Convivéncia Familiar e Comunitaria (PNCFC), que tem como eixo central a defesa da convivéncia da crianga e do adolescente com sua familia de origem e trata do fortalecimento das politicas em defesa da convivéncia familiar e comunitiria, do reordenamento dos servigos de acolhimento institucional, da ampliagio dos servigos de acolhimento familiar e, também, da adogao centrada no interesse da crianga e do adolescente. Como decorréncia do PNCEC, em 2008 foram aprovadas pelo Conanda ¢ pelo CNAS as Orientagoes técnicas para os servicos de acolhimento de criancas @ adolescentes. Esse documento contém os princfpios, as metodologias e os pa- Himetros previstos para as diversas modalidades de servigos de acolhimento, representando importante subsidio operacional para as mudangas necessérias. Aoanalisar esses novos marcos regulatérios, verifica-se que cles dialogam com a Constituigio Federal, com o ECA e com a Politica Nacional de Assisténcia Social (PNAS, 2004), mas, como se pode concluir por essa breve contextualizagio, tal dlislogo foi construido por meio do enfrentamento de propostas contraditrias. Em agosto de 2009, apés seis anos e a sucessio de virios projetos de lei substitutivos ao original PLNA — n® 1.756/2003 — foi aprovada a Lei n® 12.010/2009, que alterou 54 artigos do ECA, alguns com mudangas terminolé- gicas, outros com acréscimos muito mais significativos. Tal lei dispde no apenas sobre a adogio; cla também aperfeigoa a tematica prevista no ECA, pautada na excepcionalidade e provisoriedade do acolhimento institucional, assim como no fortalecimento da familia de origem. Ao final desse processo, considera-se que o SGD obteve uma vitéria por ter sido alcangada consideravel coeréncia? entre os textos legais ¢ os regulat6- trios, contribuindo para a superagio de uma fase em que nem sequer era perce bida a “engrenagem” que tirava os filhos das familias pobres. Implantagao de instrumentos fundamentais para o trabalho de reinsercao familiar e comunitaria das criangas e dos adolescentes acolhidos ‘Amparada nos prinefpios fundamentais da excepcionalidade, da proviso- riedade e do privilégio da reinsergao na familia de origem, a Lei n? 12.010/2009 delimitou (art. 19, § 22) que a permanéncia da crianga e do adolescente em 9 Apesar disso, a Le n? 12.010/2009 ainda apresenta contradighes que metecem aamplingso do debate, lgumas, inclusive, que reforgam a exclusio da familia de origem, 98 A REINSERGAO FAMILIAR DE GUANGAS E ADOLESCENTES: IERSPECTIVA HISTORICA DA IMILANTACAO NOS INDIVIDUAIS DE ATENDIMENTO E DAS AUDIENCIAS CONCENTRADAS, programa de acolhimento institucional nfo se prolongari por mais de dois anos, salvo comprovada necessidace que atenda a seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade jucliciéria. Para atender a tal limite de tempo, a situagéio de acolhimento deve ser rea- valiada no méximo a cada seis meses (art. 19, § 19), devendo a autoridade judi- cidria competente, com base em relatério elaborado por equipe multidisciplinar, decidir, de forma fundamentada, pela possibilidade de reintegracao familiar ou pela necessidade de colocacdo em familia substituta. \Visando superar a fragilidade do monitoramento e do controle das situa- goes de criancas e adolescentes acolhidos, a referida lei determinou a elabora- io de alguns instrumentos fundamentais para esse fim: — a emissio obrigatéria de Guia de Acolhimento,” pela autoridade judi- cisria, no encaminhamento da crianga/adolescente para o servico de acolhi- mento fart. 101, § 39); —a criagio ea manutengao, por parte da autoridade judiciéria, em cada comarca ou foro regional, de um Cadastro de Criangas e Adolescentes em Re- gime de Acolhimento Familiar ¢ Institucional, com informagoes sobre sua si- tuagio juridica, as providéncias tomadas para sua reintegragao familiar ou para sua colocagao em familia substituta" fart.101, §§ LI e 12); = a claboragéio, por parte dos servigos de acolhimento, imediatamente apés a chegada da crianga ou do adolescente e sob a responsabilidade da equipe técnica, de um Plano Individual de Atendimento (art. 101, $8 4? a 6°). O Plano Individual de Atendimento (PIA) Desde 1990, 0 ECA estabeleceu a necessidade de esgotamento de todos os esforgos no sentido da reintegragao da crianga ¢ do adolescente acolhido & sua familia de origem. Embora algumas boas priticas de trabalho de reintegragio familiar vies- sem sendo efetivadas, a falta de ditetrizes mais claras sobre as responsabilidades 10 Essa Guia deve conter os dadosnevessrios para aidentifcagio da simagio: quali ou do responsi ‘040 adolescenterob guanda, eos motivos de wi retirada ou de sua no reineegragio ao conwivio familias, completa dos pais clados para sua localiaag0, nome de parentes ou terceirosinteressados em ter acrianga 11 Talcadastroé deacesso do Ministério Psblica, do Conselho Tutelar, do dg gestor da Assisténca Sociale des Canselhos Municipaisdos Drstos da Crianga eco Adolescente. ses timos tm a responsabilidad de deliberae sabre a implementagao de politica pabicas que ecuzam o riimero de criangashndolescentes asta do convivio familie fou abreviemo pesfodo de permanéncia em servigns de acolhimento 99 ‘Myriam Veras Baptista Rita C. S. Oliveira ¢ as atividades inerentes a esse trabalho contribuiu para a fragilidade © até mesmo a auséncia de iniciativas nessa diregao. A Lei n® 12.010/2009 oferece as coordenadas que balizam a realizagao des- se trabalho, entre as quais foi incluida a exigéncia de elaboragio de um Plano Individual de Atendimento,® visando a reintegracio familiar O PIA tem por funcio orientar o trabalho de intervencao durante todo © perfodo de acolhimento, buscando estabelecer a processualidade das agdes necessirias para a reintegragio da crianga/adolescente a0 meio familiar, supe- rando as situagoes que ensejaram a aplicagao da medida protetiva. Nesse documento ~ cuja claboragio deve contar com a escuta da crianga, do adolescente e de seus pais ou responsivel -, devem ser dlefinidos os objetivos, as estratégias e as ages a serem desenvolvidas para garantir 0 atendimento dos direitos fundamentais de seu destinatario e atingir a superagio dos motivos que levaram ao seu afastamento do meio familiar. Seu objetivo principal deve ser a reintegragio da crianga/adolescente a0 convivio de sua familia (dle origem ou extensa) ou, diante dessa impossibilidade, 6 encaminhamento para adogio quando essa se mostrar a alternativa que me- Ihor atenda ao superior interesse da crianga ¢ do adolescente. A realizacio dos PIAs se ancora na necessidade de planejamento continuo do trabalho ~ interdisciplinar e interinstitucional — e de articulagio direta com 68 6rgtios e sexvigos imprescindiveis para o atendimento dos direitos de crian- as, adolescentes e familias que vivem a situagio de acolhimento institucional.” Para que essa articulagio acontega, devem ser realizadas reunies periédicas para a discussao do estudo do caso pelos profissionais envolvidos, 0 acompanha- mento das etapas planejadas, a. verificagio do alcance dos objetivos acordados, a avaliagio da necessiciade de revisio do PIA e a elaboragio de estratégias de ages {que possam responder As novas situagoes surgidas chirante 0 atendimento. As con- clusGes resultantes de tais reunides setvitio, inclusive, de subsidio para a elaboragio_ de relatérios a serem enviados a autoridade judicisria e ao Ministério Piiblico. 12 Conforme o § 42 do art. 101 do ECA. Gerescentado depois da promulgucdo da Lei n® 12.010/2009), diatamente apés o acolhimenro da crianga ou do adolescence, a entidade responsive pelo pro rama de acolhimento instiucioual ou familiar deve claborar urt plano individual de atendimmento visondo & reintegragio familiar, ressalvada a existéncia de ordem escrita ¢ fundamentada em con- trdrio de autoridade judiciiria competente,casoem que também devera contemplar sun coloc familia substicua, observados os principiose regras desta li. 15 No documento Orientagdes téenicas para os sewigos de acolhimento de eviangas e adolescentes, cons tam diretrizes funcamentais para elaboracia do PIA e do estudo dingnéstico ou estudo de caso que compoe o plano. A consulta eletrdnica com as termas “Roteira de PIAS para criangas e adalescentes fem seevigos de acolhimenta” permite acessatrotetos utilizadas em varios estado. 100 A REINSERGAO FAMILIAR DE GUANGAS E ADOLESCENTES: IERSPECTIVA HISTORICA DA IMILANTACAO [DOS PLANOS INDIVIDUAIS DE ATENDIMENTO E DAS AUDIENCIAS CONCENTRADAS Em Sao Paulo, a implantagao dos PIAS nfo se deu sem criticas ou resistén- cias. Os formulérios do estudo de caso e do PIA" parecem ter se transformado numa exigéncia burocritica, em vez de servirem como facilitadores da agio profissional dos servigos de acolhimento, conforme relatam os profissionais"” A profissional “V” conta que a implementagio dos PIAs se deu “a toque de caixa”. Foi concedido 0 prazo de um més para os PIAS ficarem prontos, devendo ser elaborados em conjunto pela rede de atendimento. “Mas o grande problema foia articulagdo com a rede, porque os atores [..] no dialogam, no conversam e ficam fazendo o trabalho individualmente”, complementa. “C” aponta que, num primeiro momento, tomou como base “aquele ins- trumental que o Fértim insistia que deveria ser usado”, Analisa que esse instru- mental poderia ser mais objetivo: “cansa ler 10 folhas [...] € meio complicado [..1, quando descobri que nfo poderia mudar, comecei a deletar um monte de coisa’. “L” comenta que houve contestagdo em relagio a insisténcia do uso do. formulétio. Os profissionais argumentavam que seus relatérios davam conta daquilo que nele era pedido: “Comegamos fazer o relatdrio e, para facilitar [a compreensio do] Férum, deixamos em negrito a parte solicitada no PIA, indi- cando os eixos: da educagio, da cidadania... Foi uma estratégia para mostrar que onosso relatério poderia dar conta muito bem, porque falaria da dindmica, ultrapassando o [modelo] dos ‘xizinhos”. (O profissional “V” evidencia que a assistente social doabrigo tem se tornadoa figura central de todo o trabalho, razio pela qual precisa despender grande esforco na articulago dos diferentes 6rgios: “Para construir o PIA, eu precisei ir a varios locais, falar com virios profissionais que attany nas demais politicas puiblicas Referindo-se a articulago em rede na construgio do PIA, a profissional “J? fala que nem todos os servigos participam com 0 mesmo compromisso. Na regiio em que trabalha, o Conselho Tutelar, o CRAS, 0 CREAS e, quando acionado, servigo de satide sio os mais dispontveis, enquanto os servigos de educagio em geral no participam. ‘A participagio do adolescente na construgio do PIA é analisada pelo pro- fissional "M’: 14 Tais documentos podem ser scessados por consulta eletrtinicadirecionada 3 Coordenadoria da Infin- cia ¢ Juwentude do Tribunal de Justiga do Estado de Sao Paulo. 15. Um encontzo realizado pela NCA/PUC-SP em 2012, com a participagio de quase uma centena de profissionais que traballam em servigos de acolhimenco, possitilizou a escuta sobre a elaboragio dos PIAS e rambém a participagio nas ACs. A seguir, traremos algumas falas desses proissionais, objeti- vvando eniquecer a compreensto do pracesso de implantagia dessesinstrumentos. 101 ‘Myriam Veras Baptista Rita C. S. Oliveira Comecei a chamar o adolescente para sentar ao lado do computador para fazermos o PIA junto. Eu obtive um resul- taco surpreenclente! A forma como ele se apropriou de sua vida, de sua situagao processual e do que estava sendo de- cidido por ele, foi incrivel! Eu tive um resultado excelente! As eriticas relativas ao formato desses instrumentos ~ cuja utilizago em alguns locais foi determinada, sem abertura de dilogo para modificagio ou adaptagio—revelam que, em vez de serem facilitadores do desenvolvimento do trabalho, transformaram-se em amarras. Mais que um roteiro ou um formulério com preenchimento de informagées, © PIA deve representar um processo de trabalho de alta competéncia teérica ¢ metodolégica, qu implica, inclusive, enfrentamentos politicos e ideolégicos. A apropriagao do PIA como ferramenta qualificadora do trabalho a ser desenvolvido pelo servico de acolhimento ~ cuja expresstio deve ser a efetiva- cio dos direitos fundamentais das criangas, dos adolescentes e das familias em questo — pressupde a superagao da subalternidade historicamente presente na relagao do servigo de acolhimento com o sistema judicisrio. ‘Apesar de 0 PIA representar um processo de trabalho — obrigatorio — que se materializa num documento fundamental para 9 embasamento das defini- oes ocorridas nas audiéncias concentradas — no obrigatérias -, foi a realizagio. clas ACs que ganhou destaque na midia e nos debates profissionais. As Audiéncias Concentradas (ACs) Tais audigncias so realizadas para a discussio e aprovagao do PIA e das agées que cabertioa cada representante do SGD, com vistas 3 reinsercio familiar e comuni- tiria da crianga e do adolescente, privilegiadamente na familia de origem ou extensa Elas podem ocorrer no Forum ou nos servicos de acolhimento institucional, devendo contar com a escuta ou a participagio da propria crianga ou adolescente, a presenga dos seus familiares, do representante do servigo de acolhimento, do Ministério Pablico, da Defensoria Ptiblica, do Juiz da Infincia e da Juventude e dos servigos das dreas de satide, assisténcia, educagio, habitagdo, entre outros Se a elaboragio dos PIAs foi uma determina¢ao legal, a realizagao das Au- digncias Concentradas, embora disseminadas nacionalmente, néo foi prevista em lei, mas na Instrugio Normativa n® 2 (le junho de 2010) e, mais recente e expli- 102 A REINSERGAO FAMILIAR DE GUANGAS E ADOLESCENTES: IERSPECTIVA HISTORICA DA IMILANTACAO [DOS PLANOS INDIVIDUAIS DE ATENDIMENTO E DAS AUDIENCIAS CONCENTRADAS citamente, no Provimento n° 32 (de junho de 2013), ambos emitidos pela Cor regedoria Geral da Justiga (CGD), érgao do Conselho Nacional de Justiga (CN)). Por meio dessa Instrugao Normativa, a CG} recomendou que os tribunais se mobilizassem visando a regularizagao do controle dos servigos de execugio da medida protetiva de acclhimento (institucional ou familiar) e da situagio de criangas e adolescentes sob essa medida, Definiu como diretrizes de aco levan- tamento do perfil desses servigos, das criangas e adolescentes acolhidos nessas instituigdes e de sua situagio processual; 0 efetivo controle sobre esses servigos; € a verificacao das situagdes pessoais, processuais e procedimentais existentes nas Varas da Infincia e Juventude e em outros juizos com tal competéncia” ‘A Coordenadoria da Inffincia e Juventude do Tribunal de Justiga do Es- tado de Sao Paulo, inspirada na experiéncia carioca, desenvolven uma propos- ta de agées voltadas para a realidade paulista, compreendendo, segundo Melo (2010), que as audiéncias seriam a oportunidade processual para aprovagaio ou revisio do plano individual de atendimento, estabelecendo-se os compromis- 50s institucionais para efetivagao de direitos sociais, econémicos ¢ culturais da crianga, do adolescente ou de sua familia. CO encontro entre profissionais de diferentes jurisdigdes da cidade de Sao Paulo reveloa que, nao sendo obrigatérias, as ACS nio eram realizadas por vi- rios juizes. Muitos desses profissionais ansiavam pela realizagtio das ACs, consi- derando que poderiam favorecer a articulagao da rede. Esse foi o aspecto positivo mais ressaltado pelo grupo. Segundo a profissio- nal “Z”, “pudemos cobrar da rede o que pode ser feito [por cla). A juiza impe (© que deve (..) ser feito. Depois de um tempo, nds vemos que algumas coisas foram executadas, e outras nao... mas € um crescimento, um processo”. Entretanto, de acordo com “C”, os resultados podem nfo ser atingidos quando essa participagio é apenas formal, nfo implicando tum efetivo trabalho em rede. Ela cita situagées em que o CRAS busca saber da situagtio da crianga ou do adolescente poucos dias antes da audigneia, por vezes até no corredor, no dia da audigncia. A anilise efetivada por Lamenza (2011) aponta, por um lado, o interesse das criangas em conversar com o juiz ou a juiza e, por outro, alguns prejuizos: 16 Tal documento prope um roteiro para a realizagio das audigncias, especiticando questSes impor tantes de serem identificadus e registradas, visando 0 controle juiciis de acolhimento institucional paraa reintegragio fami acompanhamento dos procestos no menor tempo possivel 17 Ressalte-se que, por essa época, muitas VI 6 exerciam algum tipo ce monitoramento e de contiole sobre os pracessos juicais de acalhimento institucional, visto que tal responsabilidad jIhes estava atribuida desde 1990, quando da redagio primeira do ECA. No entanto, nip existiam ainda dretries nacionais para sua realisaga0, nem mesmo previsso de encaminhamento de informacoes para compor tum cadastro de criangas e adolescentes brasiletos em medida protetiva nos servigos de acolhimento, 103 ‘Myriam Veras Baptista Rita C. S. Oliveira ‘A autoridade judicidzia apresentou todas as pessoas que estavam presentes ao ato (num total de catorze) ¢ 0s it~ ios se entreolhavam, intrigados. No transcorrer da aut- digncia, a autoridade judiciéria foi alertada para o fato de os infantes estarem cansados. Determinou-se [no entanto] prosseguimento do ato. O resultado foi evidente:a crianga ais nova dormiu em plena aucigneia, sem sequer contar com um local para se amparar durante aquele sono. [.] Esse & um tipico exemplo das reagées que foram observadas durante as audigncias concentradas. Diversas criangas se mostravam ansioss para falar com a autoridade judiciéria (eum misto de curiosidade e de exibicionismo — apenas para mostrar aos demais [eriangas e adolescentes do Servigo de ‘Acolhimento] que haviafalado com um jui). Adolescentes se _ostravam apéticos e desinteressados, na maioria das vezes. O relato da profissional “D” evidencia a exposigao das familias & critica de ptofissionais e servigos que nem sequer as atendiam: “a maioria no conhecia 0 caso, mas [..J estava lé para apontar que a familia nfo fazia nada para a crian- cau. A familia se sentia acuada..”. E opina: “Eu acho que [as ACs} deveriam ser s6 para aqueles cujos encaminhamentes fossem necessdrios para nao ficar colocando a ptiblico a histéria de pessoas...”. Ja profissional “E” aponta que a adequagio das ACs depende de plane- jamento do trabalho com antecedéncia: “Houve momentos em que algumas pessoas safram da sala, outros em que o juiz falou sozinho com a crianga em uma outra sala, Acho que fa AC] ficou muito flexivel e muito bacana — mas nds tivemos tempo para construir isso com antecedéncia’. ‘A reuniio entre juiz, promotor, defensor piblica, criangas, adolescentes, familias ¢ demais integrantes da rede de atendimento, no sentido de analisar ¢ resolver ques- t6es relacionadas aqueles que vive o acolhimento institucional, tem sido enaltecida pelo seu caniter resolutivo, interdisciplinar ¢, aparentemente, mais horizontalizado. Noentanto, nfo se pode percer de vista que, como comenta a profissional “), Agora 6 moda ver as ACs como se fossem [elas que des- sem a possbilidade de desabrigamento [..] lé [em minha instituigfo] nds ndo esperamos a AC para dizer que a crianga pode retornar a9 convivio familiar... Varias vezes, 16s jf solicitamos a reintegracio familiar [...- Acssas observagées, alinhany-seas apontadas por Lamenza (2011), que conclu que os resultados aleangados poderiam ter ocorrido sem a exposigio das criangas e 104 A REINSERGAO FAMILIAR DE GUANGAS E ADOLESCENTES: IERSPECTIVA HISTORICA DA IMILANTACAO [DOS PLANOS INDIVIDUAIS DE ATENDIMENTO E DAS AUDIENCIAS CONCENTRADAS clos adolescentes, reforgando a necessidade de ampliagio do significado da escuta e da participagio da crianga, do adolescente e cle sua familia para além da “oitiva’. preciso considerar ainda que a AC perde seu potencial de eficicia no compromisso a ser assumido pela rede de atendimento se pautada num PIA bu- rocritico, repleto de informagdes sem ancoragem no conhecimento da histéria, no apenas da crianga, do adolescente e da familia, mas também da atengo & infincia e & juventude brasileiras. E importante lembrar que o foco fundamen- tal deve ser o trabalho de reintegracio familiar realizado nos “bastidores” do cotidiano profissional — um trabalho drduo, por vezes decepcionante, frente & fragilidade dos servigos da rede que deveriam atender &s complexas necessida- dles das criangas, dos adolescentes e de suas familias. Consideragées finais (Os desafios advindos das mudangas ocorridas no cenério do acolhimento institucional de criangas e de adolescentes tém exigido competéncia profissio~ nal pautada em fundamentagtio tedrica-metodolégica ¢ ético-politica dos pro- fissionais que fazem parte do SGD. CO reordenamento do atendimento desses servigos ¢ as priticas profissio- nais que se evidenciaram na segunda década de vigencia do ECA foram frutos de intenso movimento social ¢ de trabalho coletivo, nai podendo ser com- preendidos como decorréncias “naturais” do avango na garantia dos direitos fondamentais da infincia e da juventude brasileiras. Esse processo histérico deixou claro que a sistematizagao do conhecimen- to por meio da pesquisa sobre essa realidade social possibilitou uma mobilizago_ articulada que representou um divisor de Aguas, fundamental para a defesa do desenvolvimento de priticas profissionais voltadas para o fortalecimento, e no a ruptura, da convivéncia familiar e comunitéria de adultos, criangas ¢ adoles- centes expostos & vulnerabilidade social e pessoal. A prstica do acolhimento institucional de criangas ¢ adolescentes sintetiaa as contradigées da sociedade brasileira — 0 conflito de classes, a relagio capital-traba- Iho, 0 conservadorismo travestido em discurso de defesa de dlreitas — exigindo, a todo momento, uma anslise social que supere a imediaticidade do que est posto. A familia brasileira, alvo de atengao do Judiciario, vem por geragdes vi- venciando intensa violagio de seus direitos, sendo responsabilizada por essa condigao de vida. Tal legado, historicamente arraigado nas agoes dirigidas 20 atendimento dessa populagio, certamente continuara requerendo constantes embates em defesa de criangas ¢ adolescentes em seus direitos a vivéncia com seus familiares e em sua comunidade de origem. 105 ‘Myriam Veras Baptista Rita C. S. Oliveira Para que os PIAs ¢ as ACs scjam instrumentos efetivos de garantia de direitos de criangas, adolescentes e suas familias, precisam expressar um tra- balho profissional competente tedrica, metodol6gica, ética e politicamente. Embora as ACs sejam espagos de pluridisciplinaridade/institucionalidade, hi que se assumir como categoria central, norteadora das decisées, a mediagio entre particularidade/totalidade, no sentido de aprender a unidade, ou seja, a especificidade particular de cada caso analisado, a qual, por sua vez, resulta da diversidade das situagées conjunturais ¢ histéricas enfrentadas. ‘As decisoes a serem tomadas precisario ter por norte a horizontalidade das relagées, de forma a possibilitar a realizagtio de um trabalho integrado em rede, na qual deverio estar incluidlos as criangas, os adolescentes ¢ suas familias como sujeitos das agdes que Lhes dizem respeito. Concluindo, apesar de ser fundamen- tal o investimento no complexo trabalho de reintegragiio familiar, nio se pode perder de vista que o enfrentamento dos determinantes estruturais da desigual- clade social brasileira a que est exposta grande parte das familias brasileiras exige, entre outras agées, amplo investimento nas politicas sociais bisicas para que essas familias no se tornem usurias dos servigos de alta complexidade. Referéncias BRASIL. Estanuto da Crianga e do Adolescente. Lei n® 8.069/1990. Brasilia, 1990. _. Projeto de Lei Nacional de Adogao n° 1.756/2003. Brasilia, 2003. _ - Odireito @ convivéncia familiar ¢ comunitdria: os abrigos para criangas @ adolescentes no Brasil. Brasilia: Ipea/Conanda, 2004. _- Politica Nacional de Assisténcia Social. Brasilia: Ministério do Desen- volvimento Social e Combate & Fome, 2004. ____. Plano Nacional de Promocao, Protecdo e Defesa do Direito de Crian- Gas @ Adolescentes a Convivéncia Familiar ¢ Comunitdria. 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