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Astrofísica Moderna

Aula 5: Forças de maré

Prof. Aion Viana e Prof. Vitor de Souza


Referencias principais da aula:
“An introduction to modern astrophysics”, B.W.Carroll and D.A. Ostlie
“Astronomia e astrofísica”, K. de Souza Oliveira Filho e Maria de Fátima Oliveira Saraiva
Força gravitacional diferencial, forças de
maré e limite de Roche: deduções no
quadro
Forças de maré

setas pretas indicam a força gravitacional da Lua na Terra


setas vermelhas indicam a forças diferenciais em cada ponto
Efeitos da força de maré nos oceanos
Na Lua Nova e Lua Cheia, as duas forças se somam e produzem as marés cheias mais altas e marés
baixas mais baixas. Na Lua Quarto Crescente ou Minguante os efeitos da maré são atenuados.

Conforme a fase da Lua identificamos 2 tipos de marés:


• Marés vivas acontecem na fase de Lua cheia e Lua nova, Lua e Sol estão alinhados e seus efeitos
gravitacionais se somam.
• Marés mortas ou quadratura acontecem na fase de quarto crescente ou minguante.
Questão

1 - Vimos em cálculo que a altura máxima da maré (maré viva)


deveria ser ~1m. Na verdade, em algumas baías e estuários as
marés chegam a atingir 10 m de altura. Por quê?
Acoplamento de maré

 O período de rotação da Lua é igual ao período de translação (27 dias). Acredita-se que, no
passado, o período de rotação da Lua era menor do que o seu período de translação em
torno da Terra. Ao girar, ela tentava arrastar consigo os bojos de maré (da Lua), que sempre
ficavam alinhados na direção da Terra. Assim, havia um movimento relativo entre as
diferentes partes da Lua, o qual gerava atrito, que por sua vez tendia a frear a rotação.
 Devido a esse atrito a Lua foi perdendo energia de rotação até ficar com a rotação
sincronizada.
 Em conseqüência da rotação da Terra e do movimento dos oceanos, aparece uma força em
oposição a rotação que aumenta o período de rotação da Terra de 0.002 s a cada século.
Evolução do sistema Terra-Lua
A diminuição do momento angular da Terra implica em um aumento do momento angular orbital da Lua devido à
conservação do momento angular total do sistema:

O momentum angular de translação da Lua é dado por:

onde r é o raio da órbita e v a velocidade orbital. Como:

e o período P:

então:

ou seja, aumentando o raio da órbita r, aumenta o momentum angular orbital,


compensando a redução do momentum angular de rotação (spin).
Questão: Qual força está realizando o trabalho (diferença de energia potencial)?
Evolução do sistema Terra-Lua
 A força que "empurra" a Lua para fora é a gravidade
exercida pelo bojo de maré mais próximo da Lua, que fica
sempre um pouco "adiantado" em relação à Lua porque é
arrastado junto com a Terra no movimento de rotação. A
massa de água do bojo acelera a Lua , qu e ga nha
velocidade tangencial, se afastando da Terra.

 No futuro distante, daqui a cerca de 15 bilhões de anos, a


sincronização da órbita da Terra com a Lua implicará em
que o dia e o mês terão a mesma duração, que será igual a
aproximadamente 35 dias atuais!

 De fato, estudos paleontológicos indicam que 100 milhões


de anos atrás o ano tinha 400 dias, o dia tinha 18-21 horas,
e as marés eram muito mais intensas, pois a Lua estava
mais próxima.
Evolução do sistema Terra-Lua
 A rotação sincronizada vai gerar uma série de
efeitos para o ecossistema da Terra... Na
verdade o sol provavelmentr virará uma
gigante vermelha e engolfará tanto a Terra
quanto a Lua antes do acoplamento.

 Poderia a vida ser sustentada em um planeta


que tem um lado sempre de frente para o Sol
(temperaturas muito acima de 100 C, o ponto
de ebulição da água) e o outro lado mais
escuro ?
Lunar Laser Ranging Experiment
 Em conseqüência da conservação do momento angular do
sistema Terra-Lua isso implica que a distancia Terra-Lua
aumenta de quase 4 cm por ano, o que pode ser verificado
experimentalmente
 O LLRE tem o intuito de medir a distancia entre a Terra e a
Lua. Usando uma fonte LASER na Terra o feixe é apontado em
direcao da Lua onde um “retrorefletor” foi instalado pelos
astronautas do programa Apollo (EUA) e Lunokhod (Russia).
 A distancia entre a Terra e Lua é calculada da seguente forma:

distância = (velocidade da luz × tempo de reflexão da luz) / 2


 Resultado principal: atualmente a Lua está se afastando 3.8
cm por ano
Efeito de maré na Terra “solida”
 O efeito de maré não afeta somente os oceanos mas também, de forma menos importante, as terras.

 O efeito de maré causa uma variação media do raio da Terra de 25 cm, ou seja uma variação relativa de
0.25m/6370km … 0.4 partes por milhão !!

 Esse pequeno deslocamento chegou a causar “problemas” para os pesquisadores quetrabalhavam no experimento
LEP (Large Electron Positron collider), um acelerador de partículas de 27 km de circunferência, construído na
Organização Europeia para Investigação Nuclear (CERN) usado entre 1989 e 2000*.

 O efeito de maré causava também uma variação muito pequena na circunferência do acelerador de partículas. As
medidas eram tão precisas (~20ppm=parte por milhão) que uma variação tão pequena afetava o resultado, porque
gerava uma variação da mesma ordem na circunferência do acelerador de partículas.

 Demais detalhes no o artigo “Effect of tidal forces on the Beam Energy at LEP”, que se encontra no gradaluno.

*O LEP chegou a medir pela primeira vez a massa dos bosons Z e W e a medir o número de famílias (sabores) de neutrinos.
Efeitos de maré no sistema solar
 Os anéis de Saturno foram observados pela primeira vez por Galileo em 1610 e corretamente interpretados por
Huygens em 1655.

 Os anéis de Saturno estão dentro do limite de Roche de Saturno, oque significa que as pequenas partículas que
formam o anel têm forças coesivas maiores do que as forças de maré. É possível que os anéis de Saturno sejam
resultado de um satélite ou cometa que se aproximou demais do planeta e se quebrou devido às forças de maré.
Efeitos de maré no sistema solar

Satélite Pan orbitando


a divisão Encke.
Efeitos de maré no sistema solar
 Saturno não é o único planeta com anéis no sistema solar. Osdemais planetas gigantes (Júpiter, Urano e Netuno)
também têm. Os anéis são resultado da ação combinada da forca gravitacional e da força centrífuga, que é maior
mais perto do equador, e que empurra as partículas para fora.
Urano

Júpiter

Netuno
Efeitos de maré no sistema solar
 A intensa atividade volcanica de Io (satellite de Jupiter) é Io com atividade
provavelmente devida ao efeito de marés gerado pela interação vulcanica
gravitacional com o planeta e os demais satellites, entre outros
Ganimedes e Europa. Essa interação gravitacional tem uma
amplitude de ~ 100 m e gera calor por atrito.

 O cometa Shoemaker-Levy 9 descoberta em 1993 estava


composta por cerca de 20 pedaços. A analise da orbita do
cometa revelou que em 1992 S-L9 passou perto de Jupiter
(40.000 km) … a uma distância menor do limite de Roche do
planeta, fragmentando o cometa.

 A lua Tritão, de Netuno, descoberta 17 dias depois de Netruno,


têm 2700 km de diâmetro, densidade de 2061 kg/m3, é
provavelmente um asteróide capturado por Netuno, a=354 759
km, período orbital de 5d21h, e está se aproximando de Netuno,
de modo que em 3,6 bilhões de anos vai estar dentro do limite Fragmentação do cometa
Shoemaker-Levy 9
de Roche, quando se romperá, provavelmente formando um
anel.
Efeitos de maré no Universo
 Várias galáxias que observamos em colisões com outras galáxias mostram o efeito da força de maré
causando o desmembramento das galáxias.
Arp 273

Image credit: NASA, ESA and the


Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
Efeitos de maré no Universo
 Várias galáxias que observamos em colisões com outras galáxias mostram o efeito da força de maré
causando o desmembramento das galáxias.

NGC 4676 ou Galáxias dos Ratos

Image credit: NASA, ESA and the


Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
Efeitos de maré no Universo
 No centro de quase todas galáxias massivas existem buracos negros supermassivos
 Foram observadas estrelas se fragmentando quando elas passam do limite de Roche desses buracos
negros

centro da galáxia RXJ 1242-11


Efeitos de maré no Universo
 No centro de quase todas galáxias massivas existem buracos negros supermassivos
 Foram observadas estrelas se fragmentando quando elas passam do limite de Roche desses buracos
negros

centro da galáxia RXJ 1242-11


Efeitos de maré no Universo
 No centro de quase todas galáxias massivas existem buracos negros supermassivos
 Foram observadas estrelas se fragmentando quando elas passam do limite de Roche desses buracos
negros

 Ao se aproximar de um buraco negro as forças de maré aumentariam ad infinitum, e nada pode resistir a
elas. Por isso, o objeto cainte é esticado até se tornar um fino filamento de matéria. Próximo à
singularidade, as forças de maré desintegram até mesmo as moléculas. Esse processo é conhecido como
espaguetificação.

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