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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


BACHARELADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS

FALHAS DO ESTADO NOS SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

RAFAELE SILVA ABENSERRAGE


Porto Alegre, 18 de maio de 2021
INTRODUÇÃO

É cada vez mais comum, ao acompanharmos os noticiários e as redes sociais, encontrarmos


notícias relativas à violação de direitos da criança e do adolescente. Nos tempos atuais,
existem uma série de normativas que compreendem a criança e o adolescente como sujeito
de direitos, porém nem sempre foi assim. Antigamente, no período da Idade Média, se
compreendia a infância como resultado das expectativas dos adultos, não havendo o
entendimento de que são indivíduos em fase de desenvolvimento, o que acabava por
atribuir a esta população deveres que não eram compreendidos por elas. Durante este
período , crianças eram abandonadas e às vezes até mortas, logo após o nascimento com a
justificativa que, para criá-las a família teria mais um gasto. Diante de tais atitudes, foi
necessário que o Estado passasse a agir como agente regulador, intervindo nas relações
entre crianças, família e sociedade. Naquele período o Estado pouco possuía poder de
intervenção sob a sociedade, no que diz respeito à relação entre pais e filhos, os pais
considerados abusivos e negligentes, pouco se preocupavam com as consequência de seus
atos.
O Estado passa a ser entendido como interventor nas questões relativas às crianças e
adolescentes na medida em que questões sociais, como saúde, educação, delinquência e
pobreza, começam a “incomodar” a sociedade, movidos pelo temor da desordem social. No
Brasil esta mudança de compreensão chegou ainda mais tarde do que nos países europeus.
Aqui, devido a fragilidade social da sociedade crianças e adolescentes viviam nas ruas, o que
acaba por levá-las a praticar delitos e se tornarem dependentes de álcool e outras
substâncias. Foi então compreendido que o Estado passaria a se responsabilizar por crianças
e adolescentes órfãos e abandonados, sendo normatizado através do Decreto de Lei
nº17.943-A de 1927, mais conhecido como Código de Menores. A partir do marco normativo
o Estado brasileiro passa a encaminhar os menores para abrigos, onde ficavam protegidos,
recebiam orientação e eram encaminhados para o mercado de trabalho. No período, o
Poder Judiciário institui os Juizados de Menores, impondo assim obrigações estatais e
auxiliando no fortalecimento de estruturas operantes nos temas relacionados à infância.
Com o passar dos anos, mudanças no Código de Menores e novas legislações surgiram ao
longo do desenvolvimento do Brasil, porém somente em 1988, com a promulgação da
Constituição Federal de 1988, por meio do art. 227 que dispõe que: “ É dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão” é que de fato, as crianças e adolescentes
passam a ter seus direitos compreendidos.
Durante dez anos, um grupo de trabalho composto por organizações não
governamentais, ficou encarregado de elaborar uma proposta a ser apresentada na
Convenção Internacional dos Direitos da Criança, ocorrida em 20 de novembro de 1989. O
texto apresentado na convenção foi aprovado por unanimidade, sendo ratificado em 196
países, com exceção de Somália e Estados Unidos. No Brasil, após garantir os direitos da
criança e do adolescente na constituição, surge a necessidade de uma lei específica para
regulamentar as questões relacionadas à proteção da infância e da adolescência. Com o
intuito de revogar o antigo Código de Menores, que mais nada tinha haver com os
entendimentos relacionados à esta população, em 13 de julho de 1990, é instituída a lei nº
8069/90, criando o Estatuto da Criança e do Adolescente(ECA), que buscava, dentre outras
coisas, intervir nas questões relativas à violência e a omissão dos pais, da sociedade e do
Estado, frente às demandas do público infanto-juvenil.
Com o surgimento do ECA, instrumento de maior importância no que se refere à proteção
da criança e do adolescente, surge a necessidade de elaboração de políticas públicas
voltadas às necessidades da infância de forma que contemplasse as normativas já
estabelecidas. Conforme o art.86 do ECA: “ A política de atendimento dos direitos da criança
e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais, da
União,dos estados, do Distrito Federal e dos municípios”, proposta que foi desenhada pela
primeira vez no III Encontro da Rede de Centros de Defesa, ocorrido em outubro de 1992,
no Recife. Por meio do desenho de articulação em rede ficou estabelecido que os eixos
norteadores seriam baseados na promoção, na defesa e no controle dos direitos, de modo
que que crianças e adolescentes fossem reconhecidos e respeitados como sujeitos de direito
e compreendidos como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
Neste trabalho busca-se compreender as falhas cometidas pelo Estado a partir das
normativas que estabelecem os deveres dos entes públicos relacionados à saúde, educação
e assistência social. Análise feita a partir da aplicação de questionário com foco na visão da
sociedade frente a entrega de serviços para o público infanto-juvenil, que contemplam
questões como vagas em ensino regular, tempo de espera para consultas com especialistas e
ainda o tempo de espera para inserção no programa bolsa família, entre outras questões
relacionadas às políticas mencionadas. De modo que seja possível utilizar os dados para
criação de novas políticas, aperfeiçoamento daquelas existentes e avaliação dos pontos
negativos, a fim de buscar melhorias nos processos operantes do Sistema de Garantia de
Direitos da Criança e do Adolescente.

PROBLEMA DE PESQUISA :
A partir dos relatos de pais ou responsáveis, foi constatado que existe uma lacuna
entre a demanda da sociedade e a oferta de serviços para atender os direitos das crianças e
adolescentes. Problemas como a falta de vagas em escolas de Educação Infantil e Ensino
Fundamental, próximas às residências, falta de profissionais de saúde especializados na
infância e juventude (pediatras e dentistas por exemplo) nas UBS, bem como profissionais
especializados em psicologia e saúde mental, fonoaudiólogos e neurocirurgiões. Ainda, é
observado o déficit de profissionais nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS),
nos Centros de Referência Especial de Assistência Social (CREAS) e nos Serviços de
Abordagem, o que acaba por condicionar diversas situações de vulnerabilidade que
poderiam ser cessadas caso os serviços e profissionais estivessem à disposição. Assume-se
que a efetividade dos serviços destinados à garantia dos direitos das crianças e adolescentes
depende do Estado (Governos Federais, Estaduais e Municipais) entregá-los de forma
condizente às demandas da população, ou seja, a partir da contratação de profissionais e de
espaços físicos adequados, além da disponibilidade dos equipamentos necessários.

HIPÓTESE(S) (Até dois parágrafos, ou estrutura de tópicos)


O Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescenete tem apresentado muitas
dificuldades no que se refere à promoção da proteção integral de direitos propostos por
meio do Estatuto da Criança e do Adolesceste. Boa parte dos direitos estabelecidos é de
responsabilidade do Estado, que por meio de políticas públicas eficientes, têm o dever de
promover o acesso à sociedade. Ocorre que com o agravamento da crise econômica
brasileira, seguido da pandemia mundial de Covid 19, os indicadores utilizados para avaliar o
grau de eficiência das políticas públicas, são cada vez mais preocupantes, pois a medida em
que a crise econômica se agrava, os investimentos nas políticas sociais diminui, refletindo
diretamente na entrega dos serviços na ponta.
Com o corte de gastos, instrumentos básicos para atendimento à população, como EPI’s,
materiais de escritório, materiais de limpeza e ainda o número insuficiente de servidores
para efetuar as mais diversas funções no serviço público, contribuem para compreensão de
que a violação de direitos, parte, em sua grande maioria, das falhas realizadas pelo Estado.
Sendo a principal delas a centralização das políticas públicas no Governo Federal.

OBJETIVOS
Objetivo Geral:
O trabalho tem como tema central a identificação das principais falhas do Estado, na
promoção das políticas de Saúde, Assistência Social e Educação, para crianças e adolescentes
buscando compreender quais os órgãos atuantes e os meios de intervenção para que se faça
valer os direitos previstos no ECA.
Objetivos Específicos:
Identificar, por meio de questionários elaborados na plataforma Google Forms, o sentimento
dos pais ou responsáveis de crianças e adolescentes entre 0 e 17 anos e 11 meses, em
relação à entrega dos serviços nas áreas de saúde, educação e assistência social. Além disso,
busca-se avaliar o sentimento dos profissionais que atuam na implementação das políticas
públicas de saúde, educação e assistência social. Por meio da mesma plataforma, Google
Forms, serão aplicados questionários específicos para profissionais de cada uma das
políticas, sendo eles educadores sociais, técnicos( Assistentes Sociais, Psicólogos), gestores,
professores, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes de saúde, de acordo
com o grau de atuação de cada profissional.

REVISÃO TEÓRICA (Entre seis e dez parágrafos – ou até duas páginas)


(O que há de publicação sobre o tema?). Expor um levantamento inicial realizado pelo(a)
pesquisador(a) sobre o seu tema de pesquisa (até 10 referências). Uma apresentação das
fontes bibliográficas que abordam a temática em questão. A literatura indicada deverá ser
condizente com o problema em estudo. É importante conhecer, ainda que minimamente, as
obras mais relevantes e atualizadas sobre o assunto estudado. Também é fundamental apontar
alguns dos autores que serão consultados e demonstrar o interesse pela literatura existente
sobre o tema. As citações presentes no texto devem indicar a fonte consultada (AUTOR, ano)
de acordo com as regras da ABNT. Expor aqui lacunas e desafios da literatura, justificar o
porquê da escolha por determinados(as) autores(as).

MATERIAIS E MÉTODOS (Entre três e seis parágrafos, ou até uma página)


Para analisar se o Estado tem cumprido com suas responsabilidades no Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente, será realizada uma pesquisa qualitativa.
Os dados utilizados serão primários, coletados a partir de entrevistas com pais ou
responsáveis de adolescentes que utilizam ou utilizaram algum dos serviços nas áreas de
saúde, educação e assistência social, bem como com profissionais que atuam em diversas
áreas do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente entre os anos de
2020 e 2022. Por meio de pesquisa de campo, de forma virtual, serão enviados questionários
por email e whatsapp para pais e responsáveis e profissionais que residem ou atuam no
município de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul.

Quadro síntese do projeto de pesquisa:

População Pais ou responsáveis de crianças e


adolescentes de 0 a 17 anos e 11 meses.
Profissionais que atuam na implementação
das políticas de saúde, educação e
assistência social que atuam no Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do
Adolescente.
Materiais Aplicados questionário por meio da
plataforma Google Forms com perguntas
relacionadas à saúde, educação e
assistência social.
Método Análise de Conteúdo
Variável Dependente Busca-se explicar que a violação de direitos
da criança e do adolescente, está ligada à
falta de políticas públicas nos campos de
saúde, educação e assistência social.
Variável Independente (ou Variáveis Falta da entrega com integralidade dos
Independentes) serviços das áreas de saúde, educação e
assistência social, violando os direitos
estabelecidos pelo CF 88 e pelo ECA.

REFERÊNCIAS
(Quais os autores e obras utilizadas?). Apontar todo o material consultado na elaboração do
pré-projeto (livros, revistas, sites, etc.) seguindo as regras da ABNT para referências.
Exemplos:
ALDER, Celso. Urbanismo e participação. Barcelona: Maxx, 2008.
ARROYO, Marc.; FERRETTI, Claud. As relações sociais na escolar. In: FLORASCIN, Paulo. et al.
Trabalho e formação: o caminho da vida. São Paulo: Campus, 2009.
BRANCA, Carlos Pena. A avaliação em políticas públicas. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n.
108, v. 2, nov. 2012. Disponível em: < http://publicacoes.fcc.org.br/index.php >. Acesso em
11/11/2016.
BRASIL, Constituição Federal
BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Nº 8069, de 13 de julho de 1990.
Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm >. Acesso em
13/03/2021

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