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Sepse é um conjunto de manifestações graves geradas por uma No quadro abaixo estão as principais mudanças do Sepsis-2 (2012) para o

infecção. Configura diferentes estágios clínicos de um mesmo processo Sepsis-3 (2016).


fisiopatológico, tornando-se um desafio para o médico devido a necessidade de
pronto reconhecimento e tratamento precoce. Sendo assim, é fundamental que
todos os profissionais de diferentes especialidades estejam aptos à reconhecer os
sintomas e iniciar o manejo adequado.

Ocorreu um aumento da incidência da sepse nos últimos anos devido a


melhoria do atendimento na emergência fazendo com que mais pacientes
sobrevivam ao insulto inicial, ao aumento da população idosa e dos pacientes
imunossuprimidos, criando assim uma população susceptível para
desenvolvimento de infecções graves e também devido ao crescimento da
resistência bacteriana. A sepse é a principal causa de morte em UTIs não
cardiológicas com elevada taxa de letalidade.
Nos EUA o número de casos de sepse é maior que 750 mil casos por ano,
o que corresponde a 2% das internações hospitalares e cerca de 10% das
internações em UTI. Os dados nacionais sobre sepse são escassos, porém alguns
estudos mostraram que há uma elevada letalidade, sobretudo nos hospitais O diagnóstico é feito através de scores padronizados: o SOFA e o qSOFA.
públicos. Um estudo de prevalência realizado em 230 UTIs brasileiras O SOFA tem pontuação de 0 a 24 e utiliza parâmetros respiratórios,
selecionadas aleatoriamente, aponta que cerca de 30% dos pacientes internados hematológico, hepático, cardiovascular, neurológico e renal e define sepse
nessas unidades são por sepse grave ou choque séptico. quando o paciente tem 2 ou mais pontos.

 SEPSE: disfunção orgânica ameaçadora à vida causada por


uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção.
 CHOQUE SÉPTICO: presença de sepse que mesmo com
reposição volêmica adequada necessita de vasopressores
para manter PAM ≥ 65 mmHg e mantêm um nível sérico de
lactato > 2 mmol/L.
Após o lançamento do Surviving Sepsis Campaign (2016) ocorreram
mudanças nas recomendações das definições e manejo da sepse. As diretrizes
atuais priorizaram o diagnóstico da sepse clínica diminuindo o valor dos exames
complementares. O conceito de Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica
(SIRS) não é mais utilizado para o diagnóstico de sepse, mas suas informações
podem ser utilizadas na pratica clínica para suspeitar de infecções em curso.
O SOFA utiliza muitos critérios laboratoriais, não sendo adequado para pacientes na emergência. Por isso foi desenvolvido o qSOFA que possui apenas 3
critérios: cardiovascular, neurológico e respiratório. Esse score não é suficiente para determinação, mas permite que seja feita uma suspeita para iniciar as condutas
rapidamente. O que determina sepse é o SOFA maior ou igual a dois.

A sepse é uma doença grave, por isso é fundamental que o tratamento seja feito imediatamente. O pacote de 3 e 6 horas definido não é mais utilizado, atualmente é feito o
pacote de 1 hora como preconizado pelo Sepsis-3. São cinco intervenções que devem ser iniciadas na primeira hora:

1. Medir o lactato (reavaliar a cada 2-4 horas)


a. Marcador de hipoperfusão tecidual;
b. Marcador prognóstico;
c. Alvo terapêutico à queda de 20% em 2-6 horas ou <2mmol/L. – HIPOXEMIA E INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA: em caso de hipoxemia
2. Colher culturas leve pode ser usado O2 suplementar (cateter, máscara); na hipoxemia mais
a. Não atrasar a antibioticoterapia; acentuada pode ser tratada com cânula nasal de alto fluxo. Em casos mais graves
b. Foco suspeito + hemocultura; pode ser necessário a intubação orotraqueal com ventilação mecânica pode ser
3. Administrar antibioticoterapia necessária.
a. Amplo espectro; – CONTROLE DA GLICEMIA: insulina regular IV é indicada quando duas
b. Guiada por provável foco infeccioso; glicemias consecutivas são > 180 mg/Dl. Deve ser feita monitorização da glicemia
c. Remover foco infeccioso capilar a cada 1-2 horas para evitar hipoglicemia (a meta é manter < 180 mg/DL).
d. Descalonar antibioticoterapia após resultado da cultura. – CORTICOSTEROIDE: o uso rotineiro não é mais indicado. Deve ser usado
4. Administrar cristaloides apenas em casos indicados (pacientes que necessitam de doses crescentes de
a. 30 ml/kg na primeira hora; adrenalina; forte suspeita de insuficiência renal aguda). Usar hidrocortisona 200
5. Vasopressores para PAM > 65 mmHg mg/dia.
a. Noradrenalina (droga de escolha)
O choque séptico é definido como sendo uma Controlar a infecção com antimicrobianos suporte hemodinâmico,
complicação grave da sepse, em que mesmo com uso de vasopressores, controle de glicemia, correção da acidose,
a realização do tratamento adequado com a glicocorticoides (se hipotensão irresponsiva às medicações).
reposição de fluidos e antibióticos, a pessoa
continua com a pressão arterial diminuída e
níveis de lactato superior a 2 mmol/L.
As pessoas que têm maior chance de serem afetadas por uma
infecção grave e desenvolver choque séptico são as que
estão hospitalizadas, principalmente na UTI, pois são locais
onde os microrganismos podem adquirir uma maior
Hipotensão, taquipneia, resistência aos tratamentos com antibióticos, onde há
taquicardia, inconsciência, hipo a introdução de sondas e cateteres ou realização de exames,
ou hipertermia, extremidades que podem ser fontes de infecção, assim como porque o
frias e anúria ou oligúria. sistema imune do paciente pode estar diminuído devido a
alguma doença.

A ocorrência do choque séptico está relacionada com a


resistência dos microrganismos ao tratamento, além do sistema
imunológico da pessoa. Além disso, a presença de sondas e cateteres
infectados, que são dispositivos médicos que estão em contato direto
com a pessoa hospitalizada também pode favorecer o choque séptico,
isso porque o microrganismo pode espalhar-se com mais facilidade pela
corrente sanguínea, proliferar e liberar toxinas que acabam por
comprometer o funcionamento do organismo e o suprimento de
oxigênio para os tecidos.
Dessa forma, qualquer infecção pode provocar uma sepse ou um
choque séptico sendo causado principalmente por:
 Bactérias, como Staphylococcus aureus, Streptococcus
pneumoniae, Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli,
Pseudomonas aeruginosa, Streptococcus sp., Neisseria
Agressão infecciosa (exotoxinas + e endotoxinas -, linfócitos T e citocinas), Resposta
meningitidis, dentre outras;
Sistêmica (citocinas – sintomatologia: febre, hipotermia, taquicardia, taquipnéia,  Vírus, como influenza H1N1, H5N1, vírus da febre amarela
leucocitose ou leucopenia) e Resposta Sistêmica Amplificada (disfunção de células ou vírus da dengue, entre outros;
endoteliais – aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação profunda, transudação de  Fungos, principalmente do gênero Candida sp.
fluidos, disfunção orgânica e choque).

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