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Capa e Diagramação
Jéssica Macedo
1ª edição
Livro digital
Damasceno, Aline
Selo segredo
Sinopse: 7
Prólogo 9
Capítulo Um 16
Capítulo Dois 23
Capítulo Três 30
Capítulo Quatro 37
Capítulo Cinco 43
Capítulo Seis 49
Capítulo Sete 57
Capítulo Oito 66
Capítulo Nove 72
Capítulo Dez 79
Capítulo Onze 87
Capítulo Doze 95
Capítulo Treze 102
Capítulo Quatorze 111
Capítulo Quinze 120
Capítulo Dezesseis 126
Capítulo Dezessete 135
Capítulo Dezoito 140
Capítulo Dezenove 154
Capítulo Vinte 159
Capítulo Vinte e um 165
Capítulo Vinte e dois 180
Capítulo Vinte e três 188
Capítulo Vinte e quatro 194
Capítulo Vinte e cinco 202
Capítulo Vinte e seis 209
Capítulo Vinte e sete 213
Capítulo Vinte e Oito 218
Capítulo Vinte e nove 228
Capítulo Trinta 232
Capítulo Trinta e um 239
Capítulo Trinta e dois 247
Capítulo Trinta e três 254
Capítulo Trinta e quatro 260
Capítulo Trinta e cinco 266
Capítulo Trinta e seis 277
Capítulo Trinta e sete 289
Capítulo Trinta e oito 296
Capítulo Trinta e nove 304
Capítulo Quarenta 311
Capítulo Quarenta e um 317
Capítulo Quarenta e dois 322
Capítulo Quarenta e três 328
Capítulo Quarenta e quatro 334
Capítulo Quarenta e cinco 340
Capítulo Quarenta e seis 346
Epílogo 354
Agradecimentos 357
Sobre a autora: 358
Conheça outros livros da autora: 359
Sinopse:
Mas esse acordo selado por meio de cláusulas contratuais poderia ser
a ruína de ambos, principalmente a dele.
Para minha leitora Adelle, com amor
Prólogo
Seis meses atrás
Matias Barbosa
— Não posso negar que tudo aqui parece um conto de fadas com o
felizes para sempre. Mesmo não os conhecendo, posso ver que eles se amam
profundamente — comentou com uma voz embargada, como se estivesse
emocionada com o fato, revelando um pouco o anseio do seu coração. E foi
somente ali que me dei conta de que ela não era tão diferente das outras
mulheres que acreditavam no amor, e essa nova imagem dela me
desconcertou momentaneamente, deixando-me sem reação, e eu olhei
imediatamente para Adelle, que continuava encarando o casal na pista. Não
sabia que minha secretária nutria esse tipo de sonho romântico. Mas parte
disso era culpa minha, já que eu via o mundo com certo cinismo. Tudo para
mim se resumia a poder e dinheiro.
— Você vai encontrar um príncipe também e vai morar com ele num
castelo. — Soltou uma risadinha com o próprio comentário.
Ciúmes? Andrea Della Torre não sentia ciúmes e nem perdia tempo
com tais frivolidades.
— Sei.
— Pode ir. — Controlei minha voz para que ela não revelasse meus
sentimentos confusos. — Cuidarei dele.
— Eu o quê?
— Você não vai se apaixonar por uma rainha? Minha irmã disse que
você é tipo um rei.
— Disse é?
Não sabia quem era esse, então apenas assenti, concordando, e vi que
o menino sorriu para mim, como se soubesse de algo que eu não sabia.
Nova York
Merda!
— Não estava esperando pelo seu retorno, já que não recebi nenhuma
instrução para adiantar o voo para sua chegada — comentei, estranhando o
fato de não ter ciência do fato, já que eu era responsável por cuidar dos
aspectos operacionais das viagens que ele realizava pelo mundo.
— Certo.
— Sua mãe também ligou querendo falar com você, já que não
conseguiu contatá-lo no seu número. Ela parecia desesperada — repreendi-o
suavemente ao me lembrar da risada gostosa da senhora, bem como do seu
sotaque forte ao falar inglês.
— Okay.
Passei a mão pelo meu cabelo, jogando os fios que caiam sobre meus
olhos para trás, assim que adentrei no meu escritório. Suspirei fundo
enquanto caminhava até a janela que dava vista para o edifício onde operava
a bolsa de valores de Nova York e fiquei o contemplando por alguns minutos.
***
— Na copa.
— Não, não. Não posso ceder à tentação logo pela manhã, embora um
pouco de chocolate seja sempre sedutor para mim. — Maneou a cabeça e
olhou para o conteúdo dentro da caixa. Segundos depois, deu de ombros,
pegou um pedaço do donuts e o colocou na boca, deixando-me hipnotizado
pelos seus movimentos. — Posso lidar com isso depois.
— Para você é fácil falar, Andrea. — Fez uma careta e uma sombra
pairou em seus olhos verdes. — Além de tirar tempo, não sei de onde, para se
cuidar, já que é um grande viciado em trabalho, tem a genética familiar ao
seu favor. — Deu uma pausa e mordeu mais um pedaço do donut,
terminando-o. — Qualquer um morreria de inveja.
— Não consigo ver nada de mau em você, mia cara[5]. Na verdade…
Como ela não disse mais nada, ficamos em silêncio por alguns
minutos enquanto terminávamos de comer e, após olhar seu relógio, Adelle
se levantou com a caneca em mãos e caminhou até a pia. Por hábito, vi as
horas no meu, constatando que em cinco minutos teria a reunião com o meu
principal sócio.
— Claro.
— Senhor…
— Ele não fará nada — a voz do meu chefe ecoou do outro lado da
linha e eu pude ouvir Tahiro engolir em seco. — Independente do que tenha a
me dizer, você pode esperar até a semana que vem, isso se eu não decidir te
atender só daqui a um mês. Agora preciso da minha secretária. — Sentenciou
friamente, e mesmo que não tenha sido comigo, senti os pelos da minha nuca
se arrepiarem.
— Como está quase na hora de você sair, peça meu jantar e mande
entregar aqui no escritório. Hoje irei trabalhar até tarde.
— Posso fazer algo mais por você antes que eu vá embora? — Lancei
o meu olhar para o relógio, constatando que estava quase na hora de buscar o
William na creche, que ficava a poucos quilômetros dali.
— Pode deixar que o farei. Amanhã pela manhã já terei algo a discutir
com você.
— Ótimo, Adelle.
— Oi, meu amor, como foi o seu dia hoje? — Agachei-me para ficar
na sua altura assim que ele saiu pelo portão com a pequena mochila nas
costas, a fim de ser envolvida pelos seus bracinhos que eram o meu refúgio.
— Eu adoro a lua, mas tanto, Del, que dicidi que vou vira astonauta
— comentou enquanto caminhávamos até o meu carro.
— Sim, mas todo mundo riu de mim. — Sua voz soou fraquinha e eu
quis parar o carro e abraçá-lo.
— Por quê?
— Oh, querido. — Fiz de tudo para suprimir a risada que quis brotar
na minha garganta. — Ele não é um rei.
— Hm…
Não falou mais nada e, minutos depois, quando estava no sinal nas
proximidades da ponte Verrazano, olhei para trás e vi que ele tinha caído no
sono, seus lábios formando um biquinho lindo. Assim, durante o resto do
percurso fiquei em silêncio, pensando no que ainda teria que fazer hoje e
torcendo para que meu menininho conseguisse dormir logo depois do jantar
para que eu pudesse trabalhar.
Capítulo Quatro
— Mas isso não é motivo para você não atender as ligações di sua
madre[11]. Seu pai e seu irmão nunca deixaram de retornar meus telefonemas.
— Fez uma pausa. — Eu te amo, mio figlio, e fico preocupada com você. —
Sua voz soou maternal e senti um pouco de culpa por tê-la ignorado
deliberadamente.
Eu tinha sorte em ter uma família que me amava e deveria ser grato
por isso. O simples pensamento fez com que eu me achasse um merda.
Engoli em seco, sabendo o que eu deveria dizer.
— Tudo bem, mio figlio, como foi a viagem? Aquela menina doce
disse que você tinha ido para a China.
— Foi ótima…
— Madre!
— Não foi para isso que você me ligou, não é, mammina? — mudei
de assunto, sentindo-me desconfortável. — Para falar da minha secretária?
— Vou fingir que acredito. Bem, vou deixar você voltar a fazer o que
estava fazendo. — Pareceu desanimada e novamente senti uma pontada de
culpa.
— Ligo depois.
— Claro, meu amor. — Não deveria estar permitindo que ele comesse
tanto açúcar pela manhã, mas queria animá-lo. — Achocolatado para
acompanhar?
Servi nós dois e sentei ao seu lado, puxando assunto sobre algum
desenho que ele assistia junto com os coleguinhas de classe.
— Vamu logo, Del. — Olhou para mim com uma cara sapeca e eu
olhei o relógio, constatando que se eu não saísse logo, iríamos nos atrasar.
— Oi, querido?
Seus olhos azuis brilhavam com irritação e, sob meu escrutínio, tirou
o blazer do terno, jogando-o na cadeira, para depois retirar a gravata e abrir
os primeiros botões da sua camisa social, deixando à mostra parte do seu
peitoral definido. Tive que fazer um esforço sobre-humano para não engolir
em seco e manter minha expressão neutra perante a ânsia que me assolou,
não deixando evidente o desconserto momentâneo que senti. Forcei-me a
olhar para o seu rosto enquanto bebericava um pouco mais de café.
Fiquei surpresa pelo seu comentário, pois Andrea Della Torre não
costumava revelar seus sentimentos, ainda mais aqueles que estavam no
extremo oposto da postura implacável que sempre apresentava. Mas por trás
do magnata, existia um homem de carne e osso, sujeito à exaustão. Como eu,
provavelmente ele passou a madrugada inteira trabalhando.
— Tenho uma série de reuniões das seis até as dez, por conta do fuso
horário… — continuou.
— Certo.
— Parece que precisarei fazer uma viagem para o sul da Itália nos
próximos dias, mesmo que a contragosto. Aconteceu um probleminha com os
vinhedos da família e preciso ver com os meus próprios olhos — a voz
autoritária e gelada retornou.
— Só vou resolver alguns assuntos que ainda preciso por aqui e irei.
— Sirva-se de um pouco.
Fiz uma careta e assenti, mesmo que ele tenha soado rude. Pelo jeito,
estava escondendo muito mal meu cansaço e o fato me incomodou um pouco.
Servi-me uma xícara com uma dose de açúcar e sentei-me à sua frente,
pousando a louça na mesa para passar a unha pintada sobre a borda do
recipiente.
— Porque sempre que você está fazendo sua refeição aqui, eu acabo
roubando algo de você? — Ele franziu o cenho de leve com o meu
comentário, porém não disse nada, apenas bebericou seu café. — É estranho
e antiprofissional, por ser sua secretária.
— Me parece…
Ficamos em silêncio por algum tempo até que ele o quebrou enquanto
eu terminava minha dose de café.
— Promissor, não é?
— A primeira leitura que fiz diz que sim. Tenho algumas ponderações
sobre o assunto, mas preciso de mais tempo para analisar tudo com calma.
Quando ia abrir a boca para falar algo, o som do meu celular começou
a ecoar no bolso do meu blazer. Franzi o cenho, pois poucas pessoas tinham o
meu número e eu era bem severa no uso do aparelho no trabalho.
— Senhorita Beckett?
— Sim.
— Fique calma, senhorita. William apenas não se sente bem. Pode ter
sido algo que ele comeu… A enfermeira o está avaliando e…
William já tinha ficado doente outras vezes, porém todas as vezes que
acontecia eu me desesperava até ter a certeza que ele ficaria bem. Eu sempre
fazia tempestade em copo d’água perante a sua saúde. Meu irmão era tudo o
que eu tinha, e a possibilidade de perdê-lo me deixava sem chão. Sem me
importar com o meu chefe, caminhei para fora da cozinha e do escritório
dele, pegando a minha bolsa.
— Preciso pegar um táxi, meu carro está estragado, como você sabe
— continuei mecanicamente, pois em algum lugar da minha mente ouvia
Andrea me seguindo. — Tomara que encontre um logo.
Sem que eu me desse conta, uma lágrima sorrateira escorreu pelo meu
rosto, extravasando o meu cansaço, frustração e, principalmente, o medo.
Capítulo Sete
Cazzo!
Mas o que de fato me surpreendeu era ter me aberto para ela, falando
pelos cotovelos, revelando minha fraqueza. Estava sentindo um misto de
sentimentos, que iam do cansaço por andar trabalhando mais de doze horas
por dia, passando pela frustração por não conseguir controlar o desejo que
sentia pela minha secretária toda vez que a via ou lembrava-me dela, e
culminando na raiva de alguns funcionários incompetentes que tinha sob meu
comando, mas aos poucos minha ira foi arrefecendo.
Mas agora, depois da ligação, deixei-me levar pela angústia que senti
perante a reação de pânico da Adelle ao receber a notícia que o irmão não
estava passando bem, o que definitivamente não queria sentir. Mas ver a
mulher sempre controlada perdida, presa no próprio medo, fez com que eu
agisse por impulso e oferecesse ajuda, algo que nunca fazia. Até mesmo a
toquei nos ombros tentando acalmá-la, indo contra todo o meu bom-senso,
suportando a corrente elétrica que me percorreu ao aproximar-me tanto dela,
sentindo o calor que emanava de seu corpo transpassando o tecido fino da sua
blusa social. Meu intento de consolá-la não fez nenhum efeito enquanto ela
terminava a ligação.
Não pensei nos relatórios que teria que ler antes das reuniões de mais
tarde e nos documentos que teria que assinar, jogando-os às favas. Tudo que
senti durante o dia veio à tona, e eu acabei explodindo, soando mais severo
que deveria com alguém estando tão frágil. Não seria hipócrita em afirmar
que se fosse qualquer outra pessoa eu não me importaria de ter sido rude.
Mas Adelle era a Adelle, o meu braço direito, a mulher que eu respeitava e
uma funcionária que não poderia ser substituída facilmente. E diferente de
mim, ela tinha apenas o irmão...
— Vai ficar tudo bem, tesoro [15] — obriguei-me a dizer e o olhar dela
encontrou o meu, vazios e preocupados. — Pode ser algo que costuma
acometer as crianças. Todos nós sofremos com um mal-estar qualquer…
— Eu sei disso… — Sua voz soou fraca e tive que desviar minha
atenção para o trânsito quando uma buzina soou. — Não é a primeira vez que
isso acontece e não será a última, mas… Toda vez sinto um medo absurdo,
por mais banal que seja. Eu não gosto nem de pensar em perdê-lo, Andrea.
— Não precisa pensar assim — disse o mais suave que pude, embora
eu não fosse bom nisso.
— Você deve me achar uma fraca por fazer uma tempestade com algo
que pode acabar sendo somente um mal-estar passageiro. — Uma risada
amarga escapou de sua garganta e eu não gostei nada de ouvi-la, fazendo com
que eu apertasse o volante com força. — E sei o quanto você reprova isso.
Céus, nem quero imaginar o que você está pensando de mim agora. — Pelo
retrovisor pude ver suas unhas bem-pintadas deslizando pelo painel do meu
carro, distraidamente.
— E o senhor?
— Não.
— Não estou aqui para julgá-la, senhorita. Mas recomendo que faça
uma sopa de legumes ou canja para ele, ajudará. Melhor não o trazer para a
escola esses dias, para que não transmita as outras crianças, caso seja algo
contagioso.
— Certo.
Sob seu olhar, caminhei até Adelle e pousei as mãos em seus ombros,
ignorando o desejo que senti ao tocá-la novamente, deixando bem claro por
quem eu me interessava. A única mulher que me incendiava só por existir,
minha futura amante.
— Vamos, tesoro? — falei em voz alta e Adelle soltou o irmãozinho
e olhou para mim com seus olhos verdes que pareciam mais aliviados, nem se
dando conta de que eu a tocava. De alguma forma, preferia vê-la mais serena
e tranquila. O porquê disso, eu morreria antes de analisar.
— Banheiro.
— Certo.
— Obrigada, senhora.
Para minha surpresa, Andrea riu alto, seus olhos azuis brilhando com
diversão. Aproximou-se de Will, mexendo nos cabelos dele.
— Quanto tiver idade suficiente e tirar carteira, por que não? — Foi a
vez dele dar de ombros e desencostar da lataria.
— Eeeeeeee.
— Ebaaaa.
Eu poderia deixar Will com a minha vizinha mais de idade, que fazia
as vezes de babá e sair para curtir, conhecer homens interessantes em bares e
boates, ou até mesmo dar uma oportunidade para alguns dos caras que me
cantavam no trabalho, porém não encontrava nada dentro de mim que ansiava
por algo assim, então sempre desistia. Eles provavelmente só queriam transar,
não dividir tal fardo. Eu não era boba por pensar tal coisa, não era a primeira
e nem a última mulher com uma criança para cuidar a ser encarada pela
sociedade dessa forma…
— Essa eu passo…
— Faz sentido.
— Que merda foi essa? — Falei o mais frio que pude e o ouvi
engolindo em seco. — Não posso admitir erros dessa magnitude, muito
menos passar tal constrangimento perante meus sócios ao enviar uma
planilha com dados que não batem. — Rosnei. — E eu odeio que me façam
passar por idiota.
— Senhor…
***
Será que Adelle era tão sedosa quanto o chocolate mais puro?
— Eu sei, mas…
— Ele vai ficar bem… — Não sabia o que dizer, e duvidava que
tivesse algo que pudesse oferecer alento.
— Mesmo assim, sou bastante grata por isso. Principalmente por você
me fazer reagir.
Sem dizer mais nada, ela desligou a chamada e por poucos segundos
senti o vazio me preencher. Fiquei olhando para o aparelho na mão e, depois
de travá-lo, coloquei-o em cima da mesa de cabeceira. Esquecendo-me das
notícias que eu tanto apreciava, apaguei as luzes e fitei o quarto escuro pelo
que me pareceu longos minutos enquanto repassava a breve conversa. E foi
com a risada e a voz de Adelle ecoando na minha mente que me permiti,
pouco a pouco, a sucumbir ao sono e ao cansaço.
Capítulo Dez
Mas o que importava para mim era que o meu irmãozinho se sentia
bem melhor e pôde voltar a sua rotina. Embora ainda não parecesse estar cem
por cento recuperado, podia ver mais animação em seu semblante quando o
deixava na escola e buscava, diferentemente daquele fatídico dia.
Provavelmente a dor de barriga foi realmente causada pela calda de chocolate
que tinha dado a ele.
— Tem dedo seu nessa história, não é? — rosnou para mim e eu não
entendi tamanha hostilidade.
A vida estava boa demais para ser verdade, mas não iria me deixar
abalar por aquele absurdo sem sentido. Tinha um feriado inteiro pela frente,
apesar de estar sempre a postos caso Andrea precisasse de mim. Além disso,
tinha prometido a William que faríamos a noite de cinema e sanduíche, sua
programação favorita, e tinha que admitir que a minha também. Adorava
nossos momentos irmãos, repleto de gargalhadas e diversão.
***
— Hm…
Essa última frase fez com que eu abrisse os olhos de súbito e desse
um saltinho na cama, assustada. Acendendo a luz no interruptor que ficava
próximo a minha cama, encarei o menininho a minha frente, que tinha uma
expressão de dor em suas feições, seus lábios formando um biquinho trêmulo.
Isso fez com que uma sensação de alerta me invadisse mesmo que estivesse
sob o torpor do sono.
— Dói, Del — choramingou e pude ver uma lágrima escorrer pelo seu
rostinho, seguida de outras. Seus lábios tremiam, fazendo com que meu
coração se apertasse instantaneamente.
Coloquei também água para ferver, iria preparar um chá de erva doce
que era bom para diminuir um pouco os gases e a cólica que ele poderia estar
sentindo.
— Ah não, Del. Chá não — sua voz fraquinha ecoou pela cozinha
quando o cheiro da infusão tomou o ambiente.
— Certo.
Merda!
— Claro.
Sua voz calma me ofereceu certo conforto, pois pude ver que ela não
era aquele tipo de profissional que costumava escarnecer das possíveis
dúvidas que uma mãe ou um pai teria, ou que trataria com desdém nosso
desespero. Infelizmente tinham pediatras que deveriam ter escolhido outra
área de atuação, tamanho descaso.
Falei os nomes dos remédios que dei a ele e a médica assentiu, sem
me recriminar por ter automedicado o menininho. Contei também sobre o
pequeno mal-estar que Will sentiu na semana passada e ela registrou no
computador.
— Quando foi a última vez que ele fez exames de sangue, urina e
fezes? — perguntou clinicamente.
— Alguma anormalidade?
— Não, não.
— Pode ficar.
— Obrigada, doutora.
Com esse pensamento, respirei fundo e tentei não revelar meu pavor
ao meu irmãozinho, que já estava sofrendo.
— Sim.
— Certo.
— Não sei se cobre todas as despesas, mas dou meu jeito. — Contive
um tremor que percorreu o meu corpo.
Eu não ganhava mal, pelo contrário, meu salário era muito melhor do
que muitas secretárias recebiam por aí, porém pagando hipoteca, a escolinha
do meu irmão e algumas dívidas da minha mãe, não sobrava muito dinheiro.
Contudo, por sorte, a empresa que eu trabalhava oferecia um seguro saúde
que cobria alguns custos dos funcionários e familiares, não todos, mas alguns
exames e consultas. Mas eu sabia que não tinha cobertura para cirurgias desse
porte, então realmente tinha que começar a ver a possibilidade de pegar um
empréstimo. Pelo que ouvi falar, era inevitável não ficar um pouco cética
quanto ao tratamento somente com antibióticos se caso ele tivesse apendicite,
mas quem era eu para contestar uma médica?
— Obrigada, doutora Shutz. — Sorri, não era todo o médico que dava
tanta atenção a um paciente.
— De nada, senhorita Beckett.
***
Tive que me segurar para não desmoronar ainda mais quando comecei
a sondar com os bancos a possibilidade de financiamento para o
procedimento menos invasivo, que ele poderia precisar fazer e estava
marcado. Todos os pedidos negados pelas dívidas que eu já possuía e pela
pouca flexibilidade que eu tinha no meu orçamento como mulher solteira
com uma criança para cuidar. E eu precisava, mesmo que ele não fosse fazer
a cirurgia, pagar um sinal por ter alocado funcionários, sala e medicamentos.
Suspirei fundo olhando mais uma rejeição por parte de uma financeira
famosa da cidade, e não contive mais as lágrimas que se assomavam em
meus olhos, me sentindo derrotada, o cansaço pesando feito chumbo sobre
meus ombros mesmo que a necessidade da cirurgia não fosse uma certeza.
Não me importei com o fato do choro, pois não tinha ninguém mais para ver
meu sofrimento. Eram pouco mais de dez da noite e William já tinha ido
dormir fazia algum tempo.
— Deus, o que eu vou fazer? — disse em meio às lágrimas, soluçando
baixinho, o desespero me consumindo por dentro como o mais puro ácido.
***
Merda!
Mas não me martirizaria por isso, nem sei se era por não o ter
atendido. Tinha problemas mais reais para lidar do que o possível
descontentamento dele. Pensar na minha situação e nas negativas da
possibilidade de empréstimo, fez com que um aperto surgisse no peito e uma
ânsia de cair no choro me invadisse, porém não desmoronaria mais, não
agora, no telefone com o meu chefe.
— Entendo…
— Eficiente como sempre, tesoro. — Sua voz saiu bem mais suave
dessa vez, como se fosse uma carícia, e não contive o arrepio que percorreu o
meu corpo, meus pelos se eriçando. Estava acostumada a ele me chamando
de várias coisas em italiano, inclusive de tesoro, mas nunca o seu tom me
pareceu tão íntimo, tão pessoal. Mas tratei de ignorar. Eu estava sensível
demais, vulnerável e cheia de problemas e ele furioso, uma combinação
perigosa para maus entendidos.
— Faz parte das minhas obrigações — soei o mais casual que pude,
enquanto passava para outra folha do bloco, rabiscando algumas palavras sem
sentido.
— Sim, Andrea?
Não teria Ana Della Torre que me impediria de esganar o meu irmão
se eu o visse na minha frente, por não ter ido pessoalmente ver os danos
causados em uma pequena parte da safra por uma praga que estava difícil de
controlar.
Dei mais uma volta na piscina, com a raiva ainda fluindo em minhas
veias, pois o exercício em nada estava me ajudando, e ao aproximar-me da
borda, com um impulso dos braços, saí da água, balançando meus cabelos
molhados.
Cazzo!
E ouvir a voz rouca e sonolenta dela uma hora atrás foi o meu
estopim.
Nus, seríamos muito bons juntos, com certeza. A vez que a amparei
em meus braços era a prova viva disso. Não deveria ter guardado o incidente
corriqueiro na minha mente, mas vez ou outra a lembrança do fato de que o
seu corpo era perfeito contra o meu me invadia, atormentando-me e
enchendo-me de lascívia e luxúria.
Mas a minha mente tinha outros planos para mim e, mesmo eu não
querendo, meus pensamentos se voltavam para ela, como um maldito
obcecado que eu estava. Trinquei os dentes com força quando uma das
fotografias dela de biquíni verde, completamente comportado e malditamente
sexy, que ela postou nas redes sociais veio à minha mente, fazendo com que
meu pau ficasse ainda mais duro de desejo. Maldito foi o dia em que abri
meu perfil, em uma crise anormal de “curiosidade”, e resolvi acessar o dela
para ver se ela tinha fotos com algum namorado e deparei-me com a selfie
inocente que se tornou o combustível das minhas mais variadas fantasias. Por
mais imperfeita que ela se achasse, de fato seu corpo apresentava pequenas
celulites e estrias, na minha visão não diminuíam em nada sua beleza aos
meus olhos, pelo contrário, me sentia ainda mais atraído por ela. Suas curvas,
suas coxas grossas e sua pele morena exposta pelo traje de banho mexiam
completamente com a minha libido. Mas eram seus cabelos longos e
castanhos soltos sobre os ombros, os olhos verdes brilhantes e o sorriso suave
em seus lábios de aparência apetitosa e convidativa eram que roubavam
completamente a minha capacidade de raciocínio.
Sim, tornar Adelle minha amante seria a melhor escolha para acabar
de vez com a frustração sexual que sentia por não a ter. Não me deixei levar
novamente pelas minhas fantasias, pois como um insano, senti meu pau
começar a crescer novamente. Cielo[20].
— Tá. — Fiz uma careta que a fez soltar uma gargalhada alta. —
Qualquer coisa me liga, ok?
— Tá, Del.
— Vou garantir que ele coma tudo antes de ganhar um dos meus
famosos cookies — Ash comentou e meu irmãozinho pareceu mais favorável
a ideia de comer as tão odiadas leguminosas.
— Tenho certeza que sim, meu Come-Come. Mas não abuse, só um.
— Fiz cócegas nele que se encolheu, rindo. Era assim que eu gostava de vê-
lo, sorrindo e brincalhão. — Agora tchau, antes que eu realmente me atrase
para bater o ponto.
***
Era quase horário de almoço quando resolvi abrir meu e-mail pessoal
no celular, mesmo temendo fazê-lo, pois tinha medo de ver que a minha
solicitação tinha sido rejeitada por outro banco. E dito e feito, mais uma
financeira me enviava a resposta padrão de que infelizmente não tinham o
crédito disponível para empréstimo para mim, e quem sabe em um futuro o
teria. Sorte, se é que eu poderia chamar assim, era que estava sentada na
cadeira da copa, pois não sabia se minhas pernas me segurariam em pé
perante o tremor que percorreu o meu corpo. Meus olhos lacrimejaram,
porém, como tinha prometido a mim mesma que não choraria e que seria
forte, não deixei que caíssem. Eu tinha um plano B, e por mais perigoso que
fosse, eu o levaria a cabo sem pestanejar. Imersa em meus pensamentos,
tentando dizer a mim mesma que eu iria conseguir, que no fim, tudo daria
certo e que meu irmãozinho ficaria bem, ouvi passos se aproximando da
copa.
— Apenas não tomei a dose necessária de café que meu corpo exige
para funcionar direito — menti e ele arqueou uma sobrancelha, porém não
disse nada, apesar de que o relâmpago que cruzou seu olhar me indicava que
ele sabia muito bem a sensação que despertava em mim. Merda! Talvez eu
fosse mais legível do que gostaria. — E não aconteceu nada além daquilo que
te informei por telefone. Como foi o voo? — perguntei por educação.
— Se você diz…
Sorri e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, gesto que
não passou despercebido por Andrea. Não podia negar que ter alguém atento
ao que eu gostava era bom, mesmo que não tivesse nenhum significado, pois,
afinal, meu chefe estava sendo apenas cordial, embora não tivesse nenhuma
obrigação de sê-lo.
— Claro.
Sem dizer mais nada, sem deixar de me fitar com um brilho predador,
sentou-se à minha frente e me fitou por um bom tempo, como se conseguisse
invadir cada um dos meus pensamentos. Como eu não era uma pessoa que
fugia, elevei o meu queixo e não desviei meu olhar, porém fracassei no meu
intento segundos depois, pois o medo de expor-me era maior.
Levantei meu rosto e fitei seus olhos azuis intensos, e sem saber como
reagir, mordi levemente meus lábios, acabando chamando a atenção dele, que
me olhava com uma intensidade de tirar o fôlego. Levei as mãos ao seu peito,
sentindo seu coração bater cada vez mais acelerado, e mesmo que eu quisesse
e muito ser beijada por ele, presa na teia sensual que nos unia, eu o empurrei
de leve, fazendo com que ele me soltasse e desse um passo para trás. Meu
corpo sentiu falta instantaneamente do seu, da sua mão que segurava com
força minha cintura, mas eu não podia ceder a aquele homem. Eu precisava
daquele emprego mais do que nunca, e se realmente minha única alternativa
fosse pegar dinheiro emprestado com agiotas, o necessitava ainda mais.
Porém o que me dava a certeza de que algo estava fora do lugar era o
fato da minha secretária não ter comido toda a comida que eu tinha comprado
para ela, comportamento pouco habitual e, principalmente, por ter se
recusado a experimentar algumas peças que pedi com salmão, polvo e
tamboril à moda asiática que tinha certeza de que ela apreciaria tanto quanto
eu. Mesmo que eu insistisse para que provasse um pouco, como ela sempre
acabava fazendo mesmo depois de relutar, por considerar isso inapropriado
para uma funcionária, dessa vez de nada adiantou.
Não deveria estar me sentindo incomodado com isso nem dado tanta
importância ao fato dela não o querer, mas me sentia. Compartilhar minha
comida com Adelle, ver o prazer cintilando em seus olhos ao conhecer novos
sabores, e ouvir o gemido de deleite escapar pelos seus lábios aumentava
ainda mais o ardor que eu sentia por ser eu a proporcionar essas experiências.
Dividir essa intimidade com ela era algo que não sabia que precisava até
agora. Mas não buscaria explicações para a ânsia que sentia, pelo contrário,
eu a massacrei como se não existisse. E a reunião com Bernard me ajudou a
afastar, momentaneamente, Adelle e o nosso quase beijo da minha mente.
***
Afaguei seus ombros e a virei para mim, encontrando seus olhos que
pareciam, pela primeira vez, uma incógnita para mim.
— Certo.
Tola! Mais do que ninguém ela deveria saber que aqueles que
tentavam obter algo de Andrea Della Torre sempre sofreriam as
consequências.
Apertei o meu braço com mais força em torno do meu corpo, sentindo
a frieza da sua voz e seu olhar gelado me cortar como mil navalhas,
dilacerando-me. Nunca imaginei que um dia eu seria alvo de tamanho
desdém por parte dele e aquilo me machucou mais do que deveria. Levada
pelo carinho e ternura presente na voz de Andrea e também em seu toque,
sentindo uma espécie de conforto, revelei aquilo que me incomodava sem
pensar nas consequências e em como aquilo poderia ser interpretado pelo
meu chefe. Mas a necessidade de ter o dinheiro em mãos, mesmo que não
fosse gastá-lo, era maior. E isso foi o meu maior erro. Todo o respeito
profissional que eu cultivei ao longo do tempo que eu trabalhava para ele foi
massacrado pelas minhas próprias palavras, me deixando completamente sem
reação. Uma raiva surda emanava dele e, pela primeira vez, eu senti meu
corpo tremer.
Porém nada poderia ter me preparado para a condição imposta por ele
para me dar o dinheiro. Eu não deveria ter ouvido direito no meu nervosismo
e por saber que minha carreira estava por um fio.
— Você não pode negar para mim o quanto você também me deseja,
tesoro — sua voz saiu rouca e perigosamente aveludada, causando em mim o
efeito que ele queria. — Seu corpo e seu olhar te traem…
Como que para provar a sua teoria, com um olhar que exalava pura
luxúria e arrogância masculina, embora um respingo de raiva ainda ardesse
em sua expressão, aproximou-se de mim novamente, segurando as minhas
duas mãos com as suas e as ergueu acima da minha cabeça, deixando-me
indefesa e a sua mercê. Com o seu peitoral musculoso e pernas fortes,
prensou-me contra a janela, fazendo com que ficássemos tão próximos um do
outro que podia sentir sua respiração quente tocando o meu pescoço,
arrepiando-me. O volume se formando no meio das suas pernas enviava uma
onda de calor líquido para o centro da minha feminilidade, e precisei de todo
meu autocontrole para não mover meu quadril em direção ao seu, em uma
resposta instintiva a um mero contato.
Porém, antes que eu dissesse qualquer coisa, senti sua barba por fazer
roçando a pele sensível da região da minha clavícula e ele inspirou fundo,
soltando um gemido rouco que me fez ficar mole de excitação. Nunca
nenhum homem se aproximou de mim dessa forma, querendo sentir o cheiro
que emanava de mim, como se precisasse disso para continuar vivendo.
Era assim que as mocinhas dos livros que eu amava ler se sentiam?
Como se toda a determinação que tínhamos em não nos deixarmos levar por
um mero momento de prazer sucumbisse ao mero toque? Fazendo-nos querer
mais? Eu não sabia ao certo, a única certeza que tinha era que, diferentemente
de mim, elas acabariam tendo o seu final feliz.
Quando ele demandou mais e mais de mim, levei minhas mãos aos
seus ombros, sentindo a sua força e autocontrole. Obriguei-me a corresponder
seus movimentos cada vez mais vorazes, revelando minha inexperiência e ele
toda a fome que sentia, todo o desejo insatisfeito, arrancando gemidos de nós
dois cada vez mais altos. Ele me devorou com a boca até que ficássemos sem
ar e me soltou, a perda me assolando instantaneamente. Precisei me apoiar no
vidro para não cair, minhas pernas completamente bambas.
— Não tem por que você negar que somos bons juntos — fez uma
pausa —, você consegue o que quer, e eu também.
Sua última frase soou como um balde de água fria em mim, matando
as sensações deliciosas provocadas pelo beijo, e fez com que minha
racionalidade voltasse completamente.
— Você não me quer, Andrea, não uma…
— Eu… — Estava sem jeito de dizer por que ele não iria me querer.
— Você deve ter notado que eu…
Não tinha por que esconder a minha inexperiência dele. Ele era um
homem muito mais vivido do que eu e deve ter percebido isso.
— Será bom para nós dois, mio ciocolato. — Passou um dedo pelos
meus lábios, e estremeci em resposta. — Seu corpo anseia por isso tanto
quanto o meu. — Deu-me um leve selinho que reacendeu o fogo que me
consumiu durante o beijo, porém o controlei.
Eu disse a mim mesma que estava disposta a tudo para cuidar de Will,
não disse? Até mesmo fazer um pacto com o diabo, não é mesmo? Então o
que eu tinha a perder em aceitar a proposta do meu chefe? Perderia o
emprego que eu gostava, minha dignidade, mas a vida do meu irmão não era
mais importante do que isso? O preço poderia ser alto, mas o dinheiro que eu
receberia bancando a amante inexperiente dele me era ainda mais precioso no
momento, mesmo que para ele fosse apenas uma esmola. A quantia
significava além do bem-estar do pequeno, a nossa segurança, pois não
precisaria negociar com pessoas barra pesada.
Sim. Eu venderia meu corpo ao magnata apenas para ter a certeza que
eu poderia custear o tratamento cirúrgico do meu irmão se ele precisasse.
— Obrigada.
— Vá para casa, já está tarde — sua voz soou mais suave do que eu
poderia imaginar.
— Andrea…
— Tá.
Ainda sentia meus lábios formigando pelo beijo suave que foi ficando
cada vez mais intenso que ele me deu, fazendo-me ansiar por mais, por sentir
o gosto da sua boca e a pressão dos seus lábios nos meus. O calor que o seu
corpo, bem maior do que o meu, me proporcionava, mexeu com todas as
minhas terminações nervosas.
A vida tinha me ensinado que não podíamos ter tudo, então ter a
segurança financeira que precisava me bastava.
Não podia falar para a mulher na minha frente que tinha acabado de
me vender ao meu chefe em troca de muito dinheiro. Não suportaria que
Ashley me julgasse pelo que eu tinha feito no meu desespero, e nem que ela
tentasse me demover da minha decisão, me convencendo que poderia existir
outra solução e que ainda a cirurgia estava apenas no papel, nem sabendo se
iria ocorrer. Que poderia estar agindo com certa precipitação. Preferia ter um
pássaro na mão do que dois voando.
— Obrigada.
— Bem, Del, apenas sentiu um leve incômodo, mas depois que dei o
antibiótico do horário, ele pareceu bem. Está um pouco cansado de tanto
brincar e mexer nas minhas coisas. — Riu baixinho.
Senti meu coração se apertar um pouco, mas a médica disse que era
natural que ele sofresse algum desconforto durante os dez dias de tratamento.
— Desculpe por isso, Ash… Eu falo para ele não ficar mexendo, que
é feio...
— Certo.
— Me siga.
E saber que se ele precisava fazer a cirurgia e que o dinheiro não seria
um empecilho para tal, fizeram com que a emoção me tomasse forte e as
lágrimas rolassem ainda mais. Sem que me desse conta, soltei uma prece de
agradecimento e depois de alguns minutos, maneei a cabeça e encostei a
porta, caminhando em direção ao banheiro.
Além da quantia estipulada, que era bem mais do que eu podia sonhar
em ter um dia, três itens me chamaram a atenção: uma que dizia respeito ao
emocional, estabelecendo que o relacionamento se restringiria apenas aos
aspectos físicos, o que não me era uma surpresa vindo de Andrea. Mas não
dei tanta importância a isso, pois era algo que eu não pretendia fazer mesmo,
pois sentia que se eu me deixasse levar pelos sentimentos, embora não
pudesse controlá-los, além de terminar desempregada, eu acabaria de coração
partido. Mas o que me fez realmente hesitar em assinar foi a cláusula que eu
aceitaria sem pestanejar todas as suas ordens e desejos. Eu não era uma
especialista em direito, mas podia ver que o item claramente era bastante
amplo e ambíguo, me fazendo duvidar se dizia somente respeito ao sexo.
— Andrea?
— Hmm...
Sem responder e consciente que não poderia mais negar nada que ele
solicitasse, mesmo achando pouco profissional, tirei a presilha que prendia os
meus cabelos no lugar, deixando que as mechas caíssem pelas minhas costas.
Um sorriso lento de aprovação se formou em seus lábios.
— Hm…Vamos ver.
— Certo.
Adelle
Oi, Ash, você pode ficar com Will sábado o dia todo, e um pedaço do
domingo também?
Ashley
Adelle
Nada :)
Fiquei curiosa rs
Adelle
É…
Ashley
— Sim.
— Oi, Jonas, como vai? — Ele era um dos funcionários mais velhos
da companhia e uma das pessoas mais gentis e carismáticas que conheci.
Embora o edifício contasse com uma recepção moderna, com vários
funcionários, aquele senhor era responsável exclusivamente por receber as
cartas de Andrea e por avisar se algum visitante viria para aquele andar, o que
incluía seguranças e entregadores.
Me surpreenda, tesoro.
ADT
Surpreendê-lo? Ignorando as outras palavras e deixando-me levar pela
ânsia de saber logo o que tinha ali, removi o embrulho da primeira sacola,
sentindo-me incrédula ao olhar para o conjunto de uma espécie de top bordô
rendado com manguinhas, que não cobriria absolutamente nada dos meus
seios, e uma calcinha tão pequena com amarração lateral que me fez
questionar se de fato serviria. Deixando-as de lado, peguei outro embrulho e
franzi o cenho quando vi outro conjunto tão pequeno e sensual, só que de um
modelo completamente diferente. Fiz o mesmo com todos os conteúdos da
sacola, arregalando os olhos à medida que os olhava um por um.
Não podia negar que achava cada uma mais bonita do que a outra e
que, embora os tecidos e rendas fossem de excelente qualidade, me indicando
que deveriam terem sido extremamente caras e de bom gosto, confesso que
só de olhá-las me fez hesitar. Nunca tinha usado algo tão provocante quanto
essas lingeries, estava acostumada a usar apenas aquelas feitas para o dia a
dia, então foi inevitável não me sentir insegura. Mas não era eu que ditava as
regras do contrato, então atenderia ao desejo de Andrea de ver-me amanhã
vestindo algo mais sexy e sofisticado. Só não sabia qual delas escolheria.
— Claro que não. Apenas se divirta e não pense em mais nada. Você,
mais do que ninguém, Del, merece um tempinho só para si, ainda mais com
um homem bonito como aquele. — Riu, me dando uma piscadela. —
Qualquer coisa, te ligo. Agora vá, antes que se atrase.
— Obrigada.
— Tesoro.
— Sì?
Assenti, sem saber o que responder. Era aquilo que eu queria, não é
mesmo? Saciar minha fome por ela até que eu estivesse completamente
satisfeito e seguir minha vida, sem precisar dar nada em troca além do
dinheiro e presentes caros. Era o que nós desejávamos, certo?
***
— Pena que está escuro para ver o Central Park. — Pareceu absorta, o
significado dúbio da minha frase passando despercebido.
Mas o que me fez ficar desconcertado foi olhar o seu sexo coberto por
uma calcinha verde-escura de renda floral com um pequeno lacinho a
enfeitando, maior do que as que eu havia comprado, mas ainda mais sensual
do que aquelas, combinando com um sutiã meia-taça sem bojo da mesma cor,
que ressaltava seus seios perfeitos e arfantes com a respiração acelerada.
Adelle era uma verdadeira deusa, ainda mais bella, seminua com os cabelos
soltos, e um meio sorriso pairando em seus lábios pintados de vermelho.
Quase não percebi a pequena correntinha de ouro que destacava ainda mais o
seu busto.
Sentindo a boca cada vez mais seca, meu coração acelerado e meu
pênis rígido contra o tecido da minha cueca e calça, aproximei-me novamente
dela e a abracei, tocando a pele nua das suas costas, acariciando-a, apreciando
o calor e a suavidade de Adelle. Com uma ternura que não sabia existir em
mim, dei um beijo em sua testa quando ela se encolheu contra o meu corpo,
como se fosse uma gatinha.
— Entendo…
Para acabar de vez com a hesitação que via na minha amante, peguei a
sua mão e aproximei-a da minha carne rígida.
Com uma paciência e ternura que não sabia que existia dentro de
mim, capturei sua boca novamente com lentidão, desfrutando das sensações
que sua língua enroscada na minha me proporcionava. Estava cada vez mais
inebriado por aquela mulher que, mesmo sendo virgem e comprada, se
entregava a mim com intensidade, o arquear da sua pélvis contra a minha, o
modo como seus lábios se moviam contra os meus, cada vez mais confiantes,
e os gemidos que emitia me indicavam o quanto Adelle estava totalmente
rendida ao prazer que eu proporcionava. E, embora eu tentasse negar para
mim mesmo, minha secretária exigia de mim o mesmo, o que eu concedia
sem pensar que eu deveria me manter distante emocionalmente. Ela
arrancava de mim, apenas com o seu beijo e calor, tudo que eu não estava
disposto a dar a ninguém. Cazzo, eu estava fodido, mas só o agora me
importava, só o meu desejo por aquela mulher.
— Sì, tesoro[25]? — Friccionei meu dedo no tecido fino que cobria sua
entrada, percebendo o quanto ela já estava excitada, quase pronta para mim.
Segurando novamente sua mão, fiz ela roçar os próprios dedos contra
a sua feminilidade e abrir seus grandes lábios, apenas para conduzir
lentamente seu indicador pelo seu canal, arrancando dela um arfar. Guiando-a
até o seu centro, fiz ela se masturbar para mim através dos círculos lentos que
eu a conduzia sobre seu clítoris.
— Por favor — gemeu contra os meus lábios pedindo por algo que
nem mesmo sabia o que era, mas eu podia ver pela sua expressão que estava
perdida de desejo.
Assentiu.
— Eu confio em você…
Não esperava que meu chefe fosse um amante tão atencioso, delicado
e paciente, principalmente por ter me comprado e ter se sentido
decepcionado. Mas ele o tinha sido, e mesmo assim continuava a me tocar
com carinho, fazendo-me desmoronar ainda mais. Provavelmente não tinha
entregado apenas a minha virgindade a ele, mas também minhas emoções, o
que ele não desejava. Eu não sobreviveria com o coração intacto como eu
queria, pois algo dentro de mim me dizia que eu já havia dado um pedacinho
a ele em meio ao sexo. Mas deixaria para juntar meus cacos depois,
aproveitaria para desfrutar dele enquanto ele me quisesse.
— Não precisa fazer isso, Andrea — falei, sem jeito, tocando sua mão
para que ele parasse. — Eu mesma faço.
Uma grande tola, já que ele tinha deixado bem claro no contrato que
não haveria nada além de sexo e prazer. Mas, como uma maldita idiota, dizia
para mim mesma que um homem que só queria me usar como a prostituta
que me tornei ao me vender, não me beijaria, não me tocaria daquela forma.
Parecendo preocupado com o meu bem-estar, como nenhum outro homem se
preocupou antes. Mergulhando no sabor da sua boca, deixei-me levar pelo
seu gosto enquanto ele me alisava, deixando um rastro de fogo por onde sua
palma percorria. Interrompendo o beijo apenas para me dar a mão, entrei na
banheira junto com ele, que se acomodou e me fez sentar entre suas pernas,
colando minhas costas no seu peitoral. A água quente, de fato, relaxou os
meus músculos, deixando-me cada vez mais em um estado de torpor.
Pegando o sabonete líquido do suporte, despejou um pouco na banheira e em
suas mãos, e começou a me ensaboar.
Fazendo o que ele pediu, deixei que ele segurasse a minha mão e a
deslizasse por toda sua extensão em um primeiro reconhecimento, sentindo
lentamente as texturas do seu pênis que parecia pulsar ao meu toque. Quando
minha mão chegou na sua extremidade, fez com que eu tocasse com a ponta
do dedo a sua glande, friccionando suavemente a sua fenda, arrancando um
espasmo involuntário do seu corpo, a água morna que nos envolvia
oferecendo pouca resistência ao meu toque.
— Cazzo! — Arfou, jogando uma mecha dos seus cabelos escuros
para trás, e conduzindo nossas mãos, deslizou-as até a sua base, e ajustando
meus dedos, fez com que eu o rodeasse. Curiosa, apertei-o com certa pressão
e vi um relâmpago cruzar o seu olhar, um gemido escapando pelos seus
lábios. — Isso, tesoro, agora comece a movimentar de cima a baixo.
— Andrea…
— Parece ótimo para mim. — Virei-me nos seus braços e deixei que
ele me beijasse novamente. — Agora é melhor pedir logo, antes que fique
muito tarde e o restaurante do hotel feche.
— Andrea…
Deixou-me ali, com a certeza de que tudo que era bom não durava
muito…
Capítulo Vinte e três
Eu estava agindo que nem um tolo em deixar-me levar por Adelle. Ela
sempre tinha sido uma combinação perigosa para mim: linda, determinada,
focada no trabalho e uma inteligência e sagacidade que rivalizava com a
minha. Eram poucas as pessoas que eu respeitava, e ela, mesmo querendo o
que eu poderia oferecer, ainda a tinha. E eu era mais idiota ainda por
considerá-la em pé de igualdade comigo, admirando-a, embora não pudesse
mais confiar plenamente nela. Tinha aplacado momentaneamente minha
fome descomunal por Adelle, mas depois de nos tocarmos no banho e de
compartilhar com ela um jantar à luz do luar nessa mesma sacada, sabia que
se eu não tomasse cuidado, poderia cair na minha própria armadilha. O que
era inadmissível!
Quando minha secretária adentrou com a mão por baixo da toalha que
me cobria e envolveu o meu pênis em seus dedos finos, começando a
massagear-me, despertou o meu lado predador, a minha fome, o meu desejo,
que não se importavam com nada além da satisfação.
Sua língua macia explorava cada canto da minha boca enquanto com
minhas mãos eu fazia o mesmo com o seu corpo, gravando com o meu tato
cada pedaço dela, suas imperfeições, suas curvas e pontos erógenos. Quão
patético estava sendo, pois nosso caso tinha prazo de validade e eu que
estipularia nosso término. Irritado comigo mesmo por estar me deixando
levar por sentimentalismos baratos, aprofundei ainda mais o beijo, tomando o
controle para mim, aumentando e diminuindo a velocidade que nos
movíamos fazendo ela choramingar e arquear sua pelve contra o meu pau.
— Atenda — falei com voz suave ao estender o celular para ela que
pegou com os dedos trêmulos. Definitivamente, algo estava muito errado. A
sensação que tive quando a vi depois de retornar da Itália voltou com
intensidade. E depois dessa reação, eu teria a minha resposta. Ninguém ficava
pálido e rígido apenas com uma ligação, ainda mais sem saber o que era.
Dio, algo dentro de mim odiava ver essa mulher sofrer, mesmo
sabendo que isso era extremamente ridículo. Soltei-a apenas para puxá-la
para os meus braços logo em seguida, envolvendo-a, tentando oferecer algum
conforto enquanto ela molhava o meu peito com suas lágrimas. Plantei um
beijo suave em seus cabelos.
— Adelle…
Como eu pude ser tão tolo? Como estive tão cego pelo desejo ao
ponto de não perguntar o motivo?
Ela não disse nada, apenas procurou o seu vestido, que estava jogado
no chão.
Ashley tinha me falado que ele tinha ido dormir logo depois que saí
do apartamento e não viu nada de anormal nele. Porém, ao acordar, ele sentiu
uma dor próxima ao umbigo, reclamando que estava doendo demais, aos
prantos, e ela constatou que ele tinha um pouco de febre. E assim tive a
certeza que o tratamento com antibióticos receitados pela médica não
funcionou, e o aperto no peito que senti quando Ash me contou me
confirmava isso. E eu sentia-me completamente quebrada. Eu não estava com
ele quando precisava e o sentimento de impotência me tomou. Sentia que de
algum modo eu tinha falhado, embora tivesse feito o meu melhor, mas não
sabia onde tinha errado. Soltei um suspiro profundo e senti a mão quente e
grande de Andrea, que tinha percorrido todo o meu corpo com ternura há
poucas horas, apertar a minha, seu polegar acariciando meu dorso com
delicadeza. Mas não me deixaria levar pela ilusão de conforto que ele parecia
me proporcionar, mas também não o afastaria. Tinha certeza de que quando
sua fúria e raiva passasse, Andrea colocaria fim no nosso relacionamento, se
podíamos chamar o que tínhamos assim. O que definitivamente não queria. E
com isso, o meu emprego deve ter ido pro espaço.
— Vai ficar tudo bem, Adelle. — Apertou minha mão com mais força
enquanto dirigia com a outra. Assenti, não dizendo nada, embora ele não
pudesse ver, concentrado no trânsito.
Ficamos em silêncio por alguns minutos até que sua voz soou ríspida,
mas não direcionada a mim, mas como se fosse a ele mesmo.
— Então ele quer roubar a minha funcionária? — Sua voz soou fria.
— Nada mudou entre nós, tesoro. Você é uma boa funcionária, meu braço
direito e uma peça fundamental na companhia, não só por organizar a minha
vida, mas pelos seus conselhos financeiros e ideias. Definitivamente, não a
deixaria escapar. E ainda será a minha amante pelo tempo que eu quiser.
— Obrigada, Andrea.
— Oh, meu amor, estou aqui — passei meu dorso pelo seu rosto
molhado e dei um beijo nele —, desculpe a demora.
Meu coração apertado dizia que eu não tinha mais nenhum minuto a
perder.
Capítulo Vinte e cinco
Desliguei a ligação sob o olhar atento da mulher mais velha que tinha
um ar surpreso em meio a preocupação. Colocando o aparelho no bolso,
caminhei novamente para perto da criança que chorava forte, depois que a tal
de Ashley o pousou no sofá, sentindo um certo incômodo me dominando. Eu
não queria me importar com ele, mas só de olhá-lo algo se retorcia dentro de
mim. O que só poderia ser culpa. Isso.
Sem querer pensar nas razões das atitudes que estava tomando, parei
perto dele e ele me olhou com seus olhos verdes tão parecidos com o da sua
irmã, brilhantes pelas lágrimas derramadas.
— Andrea… — Choramingou.
— Oi, garotão...
Ela era apenas a minha melhor funcionária e queria vê-la bem, disse
para mim mesmo. Porém outra parte de mim bombardeava que Adelle ainda
era a mulher que eu desejava, que eu respeitava, e que hoje passei a admirar
ainda mais. O meu braço direito, a minha igual. A única, além da minha mãe,
que conseguia arrancar algo de mim que não estava disposto a dar. A mulher
perfeita para mim, lembrei-me da fala tola da minha mãe, porém ignorei-a
nesse momento. Éramos apenas amantes, não um casal, e ficaríamos assim.
— Estou.
— Peguei.
— Você quer que eu vá com você, querida? — Ashley perguntou,
solicita.
Não queria criar laços, não queria que ela acreditasse que eu seria o
homem atencioso que ofereceria a ela mais do que sexo e luxo. Mas algo
dentro de mim me passava a sensação de que eu deveria auxiliá-la,
provavelmente era apenas um lapso da educação dada pelos meus pais que
me impelia a fazê-lo.
Nada mudará entre nós dois, repeti várias vezes enquanto a via
hesitar, buscando convencer a mim mesmo disso.
— Obrigada.
— Então vamos.
— Agora vamos, não queremos deixar sua irmã mais preocupada, não
é mesmo?
— Tá.
Fechei a porta e olhei por alguns segundos Adelle, que observava o
nosso pequeno diálogo com uma expressão abatida, embora pudesse ver uma
chama arder em seus olhos verdes, que me indicava que eu deveria ter mais
cuidado, não queria que ela se enganasse. Tomando o controle da situação,
pousei as mãos nas suas costas, e fiz com que ela caminhasse até o outro lado
do veículo, abrindo a porta para ela. Esperei que se acomodasse próximo à
criança, que chorava baixinho, deitando a cabeça dele sobre seu colo, e fui
assumir a direção, colocando o cinto, programando a rota. Dei partida no
motor, sem perder mais tempo.
— Estamos indo para o hospital onde sou atendido. Já liguei para meu
médico pedindo a ele para me encontrar no Mount Sinai. Quero que William
seja avaliado por ele e a equipe de lá.
— Andrea…
Mesmo que eu estivesse agindo pela emoção, e não com a razão fria
que sempre tinha, minha última frase não era uma mentira. Nesse mais de um
ano que ela trabalhava para mim, sempre peguei-me dividindo os meus
problemas de natureza mais financeira, meus investimentos e meus projetos
com ela, como nunca fiz com nenhum outro funcionário e, às vezes, nem
mesmo com os meus pais. Sem medo dela me enganar, dela vender meus
segredos e informações para os meus concorrentes, compartilhando
estratégias e dados confidenciais que eram restritos a função de secretária.
Sem saber, eu compartilhava um pouco do peso que sentia por gerir um
grande império, como o meu, com ela. Apenas ela. Ela conhecia como
ninguém cada ponto fraco meu, cada frustração, quase todas as ânsias, e
nunca pediu nada em troca. E constatar aquilo naquele momento foi como
levar uma série de socos no estômago.
— Tudo bem, Andrea. — Sua voz tinha um tom que nunca ouvi
antes, porém que foi quebrada pela sua voz sussurrada para si mesma: — Só
dessa vez.
— Irmã.
— Não.
Foi instintivo para mim tocar seus ombros quando a senti estremecer
ao fitar o homem mais velho, que tinha uma expressão extremamente grave
no rosto. A dor dela me incomodava, sufocava de uma forma que nunca
imaginei ser possível. Apenas sabia que queria tomá-la toda para mim, pois
não suportava vê-la dessa maneira. Quebrada, desamparada, como se ela
assistisse o seu mundo desabar todo de uma vez sem poder fazer nada.
— Diga — ordenei.
— Essa mulher deveria ter a licença médica dela caçada, isso sim —
o cirurgião comentou baixinho, para si mesmo, mas soou audível mesmo
assim. — A irresponsabilidade dela poderia ser fatal. Além de colocar a
credibilidade de uma pesquisa séria a perder.
— Desculpe, meu amor, desculpe por ter colocado você em risco sem
saber. — Deu outro beijo nele. — Espero que um dia você possa me perdoar,
pois eu não irei. Eu te amo tanto, Will… Meu Deus, o que foi que eu fiz?
Enterrou a mão no rosto e seu choro ficou mais forte, convulsivo, que
me atingiu diretamente, fazendo meu coração se apertar como nunca. Apenas
desejei poder tomar toda a sua dor para mim.
Não sei quanto tempo continuei a repetir isso no ouvido dela até que
ela pareceu se acalmar um pouco, erguendo o queixo para me fitar. Toquei o
seu rosto, limpando o rastro de lágrimas que umedecia sua pele.
— Obrigada.
— Me perdoe, querido…
— Sei que sim. — Beijei o seu rosto com a barba por fazer. —
Obrigada por isso, Andrea. — Aninhei-me de encontro o seu peito, pouco a
pouco as lágrimas secando nos meus olhos. — Por estar aqui, me apoiando e
dando consolo. Não sei o que estaria sendo de mim agora… — Estava sendo
sentimental, novamente quebrando a cláusula do nosso acordo, porém eu
precisava dizer isso a ele, mesmo correndo o risco de irritá-lo.
Ficamos assim por vários minutos, seu calor e toque nos meus cabelos
me acalentando, seus lábios quentes e macios pousando na pele do meu rosto
em carícias suaves. Deus, como era bom ficar assim… Sem que eu pudesse
conter, uma lágrima teimosa escapou dos meus olhos chorosos e senti seu
polegar limpando-a.
***
Fazia pouco mais de quarenta minutos que Will tinha sido levado para
a sala de cirurgia e tudo se revirava dentro de mim com a expectativa. Será
que estava correndo tudo bem? Ou teria tido alguma complicação? Eu dizia
para mim mesma confiar nos médicos que falaram que, apesar da urgência,
era uma cirurgia com baixo risco e que daria tudo certo, porém precisava ver
com meus próprios olhos.
Também não sabia quantos dias ou semanas Will precisaria para ficar
completamente curado, mas me dedicaria a ele até que estivesse bem o
suficiente. Só que não sabia se as leis trabalhistas existentes me permitiriam
algumas semanas, embora soubesse que tinha direito de alguns dias de folga
não remuneradas. Se não fosse esse o caso, teria que deixar o meu emprego
que tanto gostava. Mesmo pagando a conta do hospital caríssimo, acreditava
que sobraria algum dinheiro para cuidar do meu irmão.
— E se eles…
— Não irá acontecer nada com o seu emprego, Adelle. Sou o dono de
tudo aquilo ali e você me é indispensável. — Fez uma pequena pausa. —
Muito mais do que você imagina... — Sua voz saiu rouca, aveludada, e eu
não contive o arrepio que me varreu ao assimilar o duplo sentido das suas
palavras. Andrea me envolvia cada vez mais com suas palavras doces e,
completamente vulnerável, me deixava levar cada vez mais por elas, me
fazendo acreditar que era valiosa como mulher. Única. Embora isso fosse um
grande erro, pois não era nada disso. Eu era apenas uma funcionária, mas
agora também a sua amante. A mulher que ele desejava…
— Eu…
Deu um sorriso e eu senti que fiquei mole pelo alívio, tanto que senti
Andrea envolver minha cintura, me dando suporte.
— Certo, doutor.
— Okay.
— Então é isso, mais tarde passarei para ver como ele está se
recuperando.
Fiquei ali por um bom tempo, até que uma mão gentil apertou os
meus ombros, fazendo com que um calor bom se espalhasse pelo meu corpo.
— Adelle? — Sua voz rouca era o suficiente para fazer os meus pelos
se arrepiarem como uma tola. Era surreal a forma como reagia a sua voz, ao
seu cheiro, a sua presença.
— Tenho certeza de que você não irá querer deixar seu irmão
enquanto ele estiver em observação. — Colocou uma mecha atrás da minha
orelha. — Então você e ele precisarão de algumas coisas.
— Obrigada.
Tolo.
— Andrea.
Sem dizer nada, abaixou sua cabeça e aproximou seus lábios dos
meus, beijando-me suavemente, explorando-me ternamente, apenas com um
toque gentil. Sua boca cálida e morna brincava com a minha sem de fato
provar-me.
Aprumando meu corpo, tentei manter uma postura mais séria, porém
sob o olhar de Andrea e pelos efeitos do beijo, provavelmente falharia
miseravelmente.
— Oi, tesoro.
William riu uma gargalhada gostosa, e agora eu que tinha ficado sem
entender ao que os dois se referiam. Dei de ombros, e sorri enquanto via eles
interagirem. Porém não demorou muito e ele se virou para mim, tocando o
meu rosto.
— Ele foi despertando aos poucos e conseguiu comer toda a sopa que
o hospital enviou. Pensei que iria ser muito mais difícil pelos efeitos da
anestesia geral, mas Will passou quase o tempo todo dormindo. Acho que o
mais difícil será mantê-lo quieto estando acordado.
— O que é?
— Um videogame.
— Andrea?
— Sim, dolcezza?
— Você não tinha uma reunião daqui — olhei para o relógio fixado
na parede e involuntariamente franzi o cenho —, dez minutos?
— Tenho.
— Então?
— Ele pode tentar marcar outra na semana que vem.
— De fato, tesoro.
— Ganhei!
— Olá, piccolo.
— Andrea?
Eu não conseguia acreditar naquilo que tinha ouvido dele, era surreal
demais para acreditar.
E o pior, eu não conseguia entender a razão para ele querer tal coisa.
Andrea sempre foi um homem que prezou a solidão, detestando interações de
cunho pessoal. Então por que ele desejava, da noite para o dia, que alguém
invadisse seu espaço? Que tirasse a sua liberdade? Éramos amantes por
contrato, não um casal de apaixonados vivendo uma vida a dois, por isso eu
previa dor para mim. Fiquei observando seus olhos, tentando compreender o
motivo, porém não o conseguia.
— Por que isso, Andrea? — Tive que perguntar, algo dentro de mim
queria saber a razão, por mais que, no fim, eu não gostasse do motivo.
Assenti.
— Andrea…
— Posso ajudá-la no que for preciso, tesoro. Você mesmo disse que
vigiá-lo e mantê-lo quieto será a parte mais difícil do tratamento.
— Ashley poderá…
— Eu…
— Não te darei escolha, tesoro… — Disse com uma voz tão suave
que tive que conter o sorriso bobo.
Não tinha tanta certeza disso, mas optei por não expor o meu receio e
com isso todos os motivos pela qual aquilo não acabaria bem.
— Eu… — Minha boca ficou seca perante suas últimas palavras, que
atingiram diretamente o meu peito, meu ego feminino se derretendo por ser
essa mulher.
— Não para mim — disse tão baixinho que quase não ouvi.
— Certo.
— Obrigado.
— Pensei que eram bem mais coisas. — Era inegável que ele estava
contrariado pela quantidade de malas. — Esperava umas cinco ou seis
bagagens…
Olhei para o relógio, constatando que era quase meio-dia e que estava
próximo do horário em que Will costumava almoçar, e eu tinha me esquecido
completamente disso. E novamente senti a culpa pesando em meus ombros,
mesmo que por uma coisa à toa. Embora meu irmão não mais corresse risco
de vida, eu não tinha conseguido me perdoar completamente pelo fato de que,
por eu não ter ido buscar uma segunda opinião com outro profissional,
mesmo tendo estranhado a recomendação da médica, eu fiz meu irmãozinho
sofrer ainda mais. O sentimento deve ter transparecido em meu rosto, pois
Andrea se levantou e com passos largos se aproximou de mim, suas mãos
grandes tocando meus ombros em um gesto gentil.
— Posso sair para comprar alguma coisa para ele comer — ofereceu
gentilmente e eu apenas neguei com a cabeça.
— Tenho, sim.
— Você precisará fazer uma lista com os itens que você deseja para a
alimentação do Will, que vou mandar providenciar. Ainda hoje, contratarei
uma cozinheira, já que sempre faço minhas refeições fora, e não tenho uma
trabalhando para mim.
— Hm...
— Não posso negar que imaginava que seria moderna, com cores
mais clean e sem vida, como aquelas que as revistas de design de interiores
dizem que os homens ricos e solteiros apreciam. Então me surpreende que
você seja um apreciador do clássico e que o lugar seja bastante acolhedor. —
Fez uma pausa e virou-se para mim. — E nem imaginava que teria tantas
fotos de família, algumas até mesmo bastante íntimas.
— Hmph…
Não podia negar que me incomodou o fato de ela achar que minha
casa seria fria e genérica, mas parte disso eu sabia que era culpa minha.
Todos me conheciam como um homem desprovido de emoção, exigente, frio
e arrogante, e de fato, eu não me preocupava em mudar essa imagem, pelo
contrário, eu alimentava ainda mais essa percepção dos outros por isso ser
favorável aos meus objetivos. Mas, estranhamente, senti um aperto no peito
ao pensar que ela poderia pensar o mesmo.
— É lindo, e tenho que confessar que invejo você, sempre quis ter
algumas peças assim — deu de ombros —, são seus pais? — Pegou o porta-
retrato com a foto dos meus pais se beijando em um dos aniversários de
casamento deles, e contemplou o retrato com curiosidade. — Desculpe, estou
agindo como uma menina bisbilhoteira, mexendo nas suas coisas.
— Sim, essa foto foi tirada quando eles completaram trinta anos
juntos. Tem um tempinho já.
— Oh!
— Agradeço por pensar nisso, tudo está acontecendo tão rápido que
eu…
— Então vamos.
— Posso brincar?
Como ele poderia esconder tão bem esse lado generoso dele? Algo
que eu achava completamente apaixonante? Ou ele estava querendo apenas
me agradar por eu ser sua amante? Duvidava muito que fosse a última, pois
não via aquele homem bajulando ninguém. Ele não precisava fazê-lo, já que
tinha o mundo inteiro aos seus pés, inclusive eu, que era dele por contrato.
Mas não importavam as razões, apenas que ele o tinha feito.
— Quero que conheça o nosso quarto, tesoro — sua voz saiu rouca e
eu estremeci.
— Um banheiro e um armário.
— Certo. — Assenti.
— Não, é linda, não mudaria em nada. Por que eu faria tal coisa? —
antes que ele respondesse minha pergunta, comecei a fazer outra por impulso,
mas logo me arrependi: — Você já…
Não, não queria saber do passado dele e muito menos que alguém já
esteve ali. Realmente o que ele fez tempos atrás não me importava e nem era
da minha conta.
— É mesmo, schianto?
— Sim?
— Obrigada.
Movida por essas imagens mentais e pelo fato de saber que ele estava
em um cômodo próximo, completamente nu, pois tomava banho, soltei o
leitor digital no móvel de cabeceira, ergui-me, tranquei a porta do quarto para
que Will não entrasse de surpresa e caminhei até o banheiro da suíte, que
mais parecia um spa. Eu precisava saber a razão de ele não me tocar e não
fazer-me sua outra vez, ainda mais que sabia que Andrea me queria também.
Assim que abri a porta, Andrea se virou para mim e eu percorri todo o
seu corpo nu com o olhar, da mesma maneira que ele fazia comigo. Fui dos
seus ombros largos ao peitoral definido, admirando cada gominho do seu
abdômen trincado. Porém foi a mão grande que rodeava o pênis ereto e se
acariciava lentamente que me deixou com a boca seca, o desejo que senti por
ler cenas picantes e pela minha imaginação intensificou-se ainda mais no
meio das minhas pernas, um fogo de antecipação correndo por todo o meu
corpo. Eu sabia que tinham homens que se masturbavam, principalmente
vendo pornografia ou pensando nisso, mas não pensei que Andrea fizesse
parte desse rol. Soltei um som de surpresa que não passou despercebido para
ele, que arqueou a sobrancelha, afastando a mão da sua ereção.
Senti uma emoção me dominar ao saber que ele tinha tal deferência
por mim, a umidade se formando em meus olhos, e não me importando com a
lágrima de felicidade que escorreu pelos meus olhos nem com a água do
chuveiro, o abracei, sentindo seus braços fortes me envolvendo. Não sei
quanto tempo permaneci assim, com a sua pele colada à minha, mas o que
começou inocente se tornou necessidade quando, por instinto, eu me
esfreguei na sua ereção, que estava mais do que pronta e que eu ansiava por
sentir dentro de mim. Porém, antes que eu fizesse qualquer coisa, Andrea deu
um passo para trás, grudando suas costas na parede, e pude vê-lo lutando pelo
controle de si mesmo.
Sem esperar uma resposta dele, puxei o seu rosto de encontro ao meu
e o beijei, sentindo a suavidade dos seus lábios deliciosos contra os meus.
Andrea não era o único que apreciava o encontro das nossas bocas. Foi
instintivo para ele envolver minha cintura com um braço trazendo o meu
corpo mais para si. Estávamos tão próximos um do outro que faltava apenas
ele encaixar-se em mim para virarmos um só.
Envolvida por ele e me sentindo cada vez mais mole, finquei minhas
unhas nos seus ombros tentando manter a duras penas meu equilíbrio, e
arqueei minha pelve contra seu membro rígido, cada vez mais ansiosa por ser
penetrada. Parecia que apenas a proximidade do seu corpo, o contato da sua
boca, e a carícia suave era tudo o que eu precisava para ficar pronta para ele.
Porém Andrea parecia não concordar comigo, pois ele não me preencheu
como eu gostaria. Pelo contrário, ele não parecia ter pressa nenhuma, seu
autocontrole era admirável.
— Por favor — minha voz saiu quase inaudível, pois enquanto falava,
meu chefe lambia a extensão do meu pescoço, mordiscando e chupando o
ponto onde podia sentir minha pulsação acelerada.
Não consegui dizer uma palavra, apenas emiti um som rouco quando
sua boca tomou o outro mamilo, sua língua quente e sedosa traçando
pequenos círculos no bico do meu seio. Era tão bom, que eu segurei seus
cabelos com força e o obriguei a continuar com seus movimentos deliciosos.
Porém, para a minha surpresa, Andrea soltou meu mamilo e se ajoelhou na
minha frente, levando suas mãos aos meus quadris, segurando-o. Um brilho
de prazer cruzou seu olhar e, soltando um gemido, aproximou sua boca
novamente da minha pele, traçando um caminho de beijos pela minha barriga
que não era tão lisa quanto gostaria, beijando a pintinha que eu tinha próxima
ao umbigo. Sua língua adentrou a pequena cavidade, imitando o movimento
que eu tanto queria que seu pênis fizesse em mim, até que, dando-se por
satisfeito, aproximou a sua boca do meu monte e eu arfei.
— Andrea… Você…
— Estou louco para te provar, tesoro. Quero saber se seu sabor é tão
gostoso quanto me parece… — A voz rouca denunciava todo o seu desejo,
mas mesmo assim, me senti sem jeito, por mais que eu quisesse saber como
era receber um oral.
Sem esperar que eu dissesse algo, levou uma mão a minha vagina e,
com delicadeza, abriu meus grandes lábios com os dedos. Senti sua língua
invadindo pouco a pouco o meu canal, que contraiu instintivamente perante a
doce penetração. Sua barba roçando na pele sensível da minha coxa arrancava
de mim estremecimentos involuntários.
— Adelle…
Sem dizer mais nada, removeu os meus braços das suas costas e
ergueu-os contra a parede, colocando-os acima da minha cabeça. Me
penetrou com mais vitalidade e, graças a força com que ele me pressionava
contra o box, eu não caí, pois minhas pernas não me davam mais sustentação.
Eu era sua cativa, e não mentia ao dizer que a racionalidade tinha me
abandonado por completo.
Eu era de Adelle, do mesmo modo como ela era minha, tanto que,
sem pensar direito, quase me esvaí dentro dela. Tive um relâmpago de juízo
quando estava prestes a gozar, embora soubesse que o método não era
completamente eficaz. Tinha me esquecido completamente de usar camisinha
durante o ato, e isso poderia trazer consequências que não previmos. Mas não
podia negar que sentir seus músculos internos me apertando enquanto eu
deslizava dentro dela sem nenhuma barreira era completamente delicioso.
Nunca tinha sentido tal sensação de carne contra carne, pois jamais me
permiti isso. Pude ter sido o primeiro dela, mas ela era a primeira em várias
coisas na minha vida.
— Hm…
— Entendo, Andrea…
— Podemos? Nós?
— Andrea…
— Apenas diga que sim, tesoro. Você melhor do que ninguém sabe
qual a necessidade dessas pessoas. — Deslizei minha mão da sua bochecha
até o seu pescoço, tocando a curva suave e delicada. Eu amava sentir sua pele
contra o meu tato. Como resposta, ela se acomodou melhor sobre mim e
minha ereção roçou em sua barriga; não contive o gemido. Não queria que
aquele momento fosse interrompido pelo sexo, embora tendo ela tão próxima,
duvidasse que não acabaríamos nos amando novamente. Todo o meu corpo
estava consciente dela e eu estava faminto.
— Tenho certeza que dará conta de tudo. Não conheço pessoa mais
capaz do que você Adelle, nem mesmo eu. Não há nada que você não consiga
fazer. Você é eficiente, inteligente, determinada, não se rende perante as
dificuldades. E muito menos deixa de correr atrás daquilo que você precisa. É
uma mulher admirável, mio amore.
— Andrea — sussurrou meu nome tão baixinho que quase não ouvi.
Sem deixar de me olhar, jogou seus cabelos para trás, que caíram
como uma cascata pelas suas costas, e tombou contra o meu corpo. A
sensação de ter os seus seios macios esmagados contra o meu peitoral era
completamente delicioso.
Deixando-me levar pelo fascínio que ela exercia sobre mim, desci
minha mão da sua nuca e percorri toda a linha da sua coluna até encontrar a
fenda entre as nádegas perfeitas, o que fez com que a mulher inclinasse um
pouco o corpo para trás, sua boca afastando da minha, quando gentilmente
brinquei com seu buraco enrugado apenas para provocá-la. Como dois
podiam jogar esse jogo, sem dizer nada, ela se ajeitou sobre meu pau e,
apoiando as duas mãos no meu peito, mordeu os lábios e cravou-me dentro
de si. Um som alto escapou da minha garganta enquanto observava seus
olhos brilhantes, em uma mistura de desejo e travessura.
— Bom, tesoro?
Sem dizer nada, puxei uma Adelle mole para os meus braços e a
envolvi, não resistindo a beijar seus lábios vermelhos pela intensidade com
que a devorei.
— Spettacolare, dolcezza[33]. — Beijei sua testa suada.
Mas não podia negar que em partes o mérito era de Adelle. Além dos
conselhos valiosos, também tinha sido ela quem deu a ideia de atravessar
essas negociações do transporte de milho, agendando as reuniões com os
meus contatos sem demora. Sua eficiência e inteligência agindo ao meu
favor. Poderia parecer pouco para muitos, porém saber que ela tinha sido
minha companheira nisso, deixava minha vitória ainda mais saborosa.
Nunca pensei que eu poderia ser esse tipo de homem, daqueles que
diminuía sua carga de trabalho para ficar na companhia da mulher que
gostava, que interagia com uma criança pequena, brincando, vendo filmes,
até mesmo ajudando-o nos deveres da escola. Um homem presente, mais
caloroso, menos egoísta. Embora ainda continuasse o mesmo arrogante,
exigente e frio com os outros, pois, na minha posição, eu precisava dessas
qualidades para continuar prosperando, em casa era outro homem.
— Você não pode ser tão ruim com quebra-cabeças, tesoro — falei,
curvando-me em direção a ela, dando um beijo suave em seus lábios.
— Mas eu caí aos prantos de emoção, por saber que você me ama.
— Tá.
Para dar ênfase no que dizia, fez um gesto com os dedos, indicando
que estava nos vigiando, fazendo-nos rir enquanto pegávamos mais uma peça
e a encaixava naquelas já montadas.
Capítulo Trinta e oito
— Também, mamma.
— Se você o diz. — Dei de ombros mesmo que ela não pudesse ver.
Não era um homem romântico e tal coisa não me interessava em absoluto.
— Falei para o seu irmão estender a lua de mel e levar Justine até lá.
Existem muitas praias desertas ótimas para fazer amor. Descobrimos algumas
enquanto...
Eu sabia que meus pais tinham uma vida amorosa muito ativa, porém
não me interessava nem um pouco discutir as proezas sexuais dos dois. Sexo,
definitivamente, era um assunto que eu não falava com ninguém, e não o
começaria a fazer com a minha mãe. Nesse aspecto, eu era um homem muito
conservador. A única pessoa com quem estava realmente disposto a
conversar sobre isso era com Adelle, pois a mulher era capaz de realizar todas
as fantasias que tinha com ela.
— Tenho certeza que não me ligou apenas para discutir minha vida
sexual, madre… — falei com a voz aveludada, escondendo minha
impaciência. Mas ela me conhecia bem o suficiente, afinal, ela era minha
mãe.
— A verdade é que você não tem como negar isso, mamma. — Sorri
para o telefone.
— Claro, tesorino[36]. Por mais que odeie essas festas, é o meu irmão.
— Não julgue uma mãe que só quer a felicidade do filho, Andrea. Sei
que você é adulto, mas sempre me preocuparei com você, como se fosse o
menino pequeno que buscava consolo em meus braços depois de se
machucar. Porque eu te amo e sinto que você se preocupa demais com coisas
que não têm tanta importância e esquece de que a vida passa rápido demais.
Não quero que você se arrependa de não ter vivido quando ficar mais velho.
— Ah...
— Claro que não, ela está de licença. O irmão dela teve apendicite e
precisou fazer uma cirurgia de urgência — comecei a contar, mas minha mãe
me interrompeu com o seu falatório.
— Madre…
— Uma mulher tão doce e batalhadora. Queria que ela tivesse alguém
para ajudá-la… Se eu não estivesse tão longe, eu mesma iria.
— Eu…
— Ela deveria sair mais, encontrar uma pessoa para ajudar a cuidar do
pequeno. Deve existir um homem nesse mundo que aceite a responsabilidade
para si, que queira oferecer auxílio para educar uma criança.
Não sei por que, mas uma raiva surda me invadiu. O ciúme, em
pensar na minha mulher com outro homem que não fosse eu, me corroeu por
dentro, e antes que eu pudesse pensar racionalmente, falei de súbito:
— Você o quê, Andrea? — Seu tom ficou alterado como nunca tinha
visto, beirando a histeria.
— Eu não posso acreditar que você fez algo do tipo, bambino. — Sua
voz foi diminuindo alguns tons, a raiva sendo substituída pela decepção,
fazendo-me sentir um gosto amargo na boca, só então me dando conta de
que, na minha irritação, tinha falado mais do que era prudente. — Me diz que
é mentira, Andrea.
Fiquei em silêncio sem saber o que dizer, já que tinha feito merda.
Porém o arfar alto que minha mãe soltou me indicava que ela tinha
compreendido e muito bem que eu não estava mentindo sobre o assunto.
— Meu filho — soltou um suspiro longo —, por mais que você tenha
poder e dinheiro, e não nego que isso atrai pessoas ruins, não pode julgar
todas elas da mesma maneira. — Fez uma pausa. — E sua secretária é um ser
humano, Andrea, não um objeto que você usa e joga fora. Que você pode
comprar. Ela é uma mulher, e tem sentimentos como qualquer outra, não uma
máquina de eficiência que você queria que fosse.
— Madre, eu…
Na noite passada, eu pude ver nos olhos azuis de Andrea que algo
estava errado, mesmo que ele tenha me dito que não havia acontecido nada,
que estava apenas com um pouco dor de cabeça e que logo passaria. Mas
senti através do seu beijo, na forma como ele me tocava e no modo como ele
fez amor comigo, demandando minha resposta como se precisasse dela mais
do que qualquer outra coisa, que algo o incomodava. Teve algo de
animalesco, uma raiva contida de si mesmo.
Deu uma risada gostosa, me fazendo sorrir. Era muito bom saber que
a gente poderia proporcionar tal felicidade a uma criança com uma coisa tão
banal.
— Adoro cachorro-quente.
— Ah, Del.
***
Era o fim!
Tinha sido tola em acreditar que eu era única e especial para ele, e
ainda mais idiota por amar o homem que tinha me comprado e que tinha
deixado claro que queria apenas o meu corpo. Nada mais.
Pensar no carinho que meu irmão nutriu por ele e o sofrimento que
iria passar por não ter mais o homem amoroso que agia como um irmão mais
velho, amigo e às vezes fazia o papel de pai, fez com que mais lágrimas
deslizassem pela minha face e me sentisse ainda pior. Deveria o ter evitado,
mas nada fiz, apenas me deixei levar pelas minhas ilusões tolas. Caminhei até
o banheiro colocando alguns objetos pessoais em uma frasqueira, deixando o
maldito hidratante que eu acreditava nunca mais conseguir usar, e arrastei
minhas coisas até o corredor, deixando-a no meio do caminho enquanto
entrava no quarto de William.
— Mas por quê? — Seu choro ficou mais convulsivo. — Ele não
gosta mais de mim? É por isso?
— Não, meu amor, não tem nada a ver com você. Só não damos mais
certo — tentei soar firme e não deixar transparecer o quanto doía em mim
nosso relacionamento ter acabado. Mas teria que lidar com a minha dor de
outra forma, já tinha desesperado o pequeno demais. — E isso não significa
que ele não goste de você.
— Hm.. Não vejo por que não, já que ele te deu. Escolha os que mais
gostar, querido. — Não seria hipócrita em negar tal coisa ao pequeno, acharia
muita infantilidade da minha parte não o deixar levar seus presentes só
porque meu caso com Andrea tinha terminado. Não ganharia nada com
aquilo.
— O videogame também?
— Oba. — Sua voz não era um poço de animação, mas com o tempo,
eu torcia para que nós dois conseguíssemos superar a ausência de Andrea nas
nossas vidas. Talvez para o pequeno seja mais fácil, mas para mim, eu tinha
certeza que duraria muitos dias e noites, de pura solidão. Eu estava
completamente perdida.
Parei para pensar por alguns minutos. Não havia um motivo grande
para não voltar para o meu apartamento, sabia que Andrea não me procuraria,
mas, no fundo, no fundo, não estava preparada para ouvir um eu te disse da
Ashley. Neste momento, não precisava de ninguém me dizendo o quanto eu
tinha sido tola e que homens ricos só usavam mulheres como eu. Estava
ferida demais, e eu já me culpava o suficiente. Por mais boa vontade que Ash
tivesse, não queria julgamentos e nem nada do tipo.
Mas quando deixei a chave com o porteiro, tive que me conter ainda
mais para não desmoronar e cair em lágrimas. Tinha que ser forte, por Will e
por mim mesma.
Capítulo Quarenta
Sim, eu amava aquela mulher e tinha sido um completo tolo por não
ter enxergado isso antes, precisando da minha mãe jogar a verdade na minha
cara para que eu percebesse que há muito tempo estava apaixonado pela
inteligência, pelo sorriso, pela mulher que Adelle era. Eu não a tinha ajudado
por ter sentido culpa pelo meu ato, mas simplesmente por amá-la tanto que
não queria vê-la sofrendo, compartilhando com ela o peso que carregava em
seus ombros. Queria ser o seu homem não só como amante, mas como seu
companheiro, seu protetor, seu confidente. Que fôssemos um casal de
verdade, compartilhando todos os aspectos da vida, bons e ruins, como os
meus pais.
Furioso comigo mesmo por ter demorado a perceber isso, e com medo
da rejeição, embora uma parte de mim alimentasse a esperança de que
ficaríamos bem, pois a entrega dela a mim tinha sido de corpo e alma, peguei
o contrato que eu tinha visto que estava na mala dela e, junto com a minha
cópia, os rasguei, sentindo um alívio me tomar por saber que isso não estaria
mais entre a gente. Pena que eu tinha essa maldita reunião torturante, que
tinha se prolongado por mais tempo do que eu poderia imaginar. Eu queria
ter ficado no meu apartamento esperando por ela, e assim que chegasse do
passeio no parque, tomá-la em meus braços e dizer de uma vez como eu me
sentia, me declarar, dizendo que a amava e que, se ela me aceitasse e me
correspondesse, que eu queria passar por cada passo com ela.
O que eu tinha feito, mio Dio? Ela tinha ido embora sem ao menos dar
uma chance para que eu fizesse a coisa certa, para dizer a intensidade do
amor que sentia por ela, que queria ela para sempre em minha vida. Era tarde
demais para nós? Foi o que pareceu, e uma dor ainda maior se apossou de
mim, cortando-me por dentro.
Diziam que o amor doía, mas nunca poderia imaginar que seria dessa
maneira. Senti um amargor na boca, e me odiei ainda mais por não ter ficado,
por ter rasgado o maldito contrato antes de conversar com Adelle. Ela poderia
não ter aceitado o meu pedido, mas pelo menos eu teria tido a chance de
tentar argumentar.
Meu querido,
Por mais que me doa, escrevo essa carta com o meu pedido de
demissão. Depois encaminharei meus documentos ao departamento de
recursos humanos.
Nos seus braços, mesmo sabendo que não era sua intenção, eu me
senti amada, quista, única. Senti que você foi o meu companheiro, meu
amigo, meu amante. Nunca foi apenas sexo para mim, era mais do que você
poderia imaginar, e todas as vezes eu me entreguei de corpo e alma para
você porque eu te amo.
E é com lágrimas nos olhos que digo que não posso mais trabalhar
para você, pois não aguentaria a dor de saber que nunca mais me sentirei a
mulher amada que você me fazia sentir.
Ps: Obrigada por me fazer sentir que era a mulher mais especial do
mundo, mesmo que inconscientemente.
Coglione di merda[38].
— Tesoro — sussurrou com a voz tão baixa e rouca, que quase não o
ouvi.
— Andrea, eu…
— Pensei que você tinha voltado para casa e quando não te encontrei,
eu pensei que ficaria ainda mais despedaçado. — Fez uma pausa e continuou:
— Dio, Adelle, esperei você por horas na frente da sua porta, fui até a Ashley
e não a encontrei lá, eu endoideci. E a cada minuto que passava sem que os
detetives particulares que contratei tivessem notícias suas, parecia um
verdadeiro inferno.
— Hum…
— É lindo…
— Me lembra a cor dos seus olhos, tesoro. Mas você é muito mais
bella.
— Obrigada…
Ainda me era surpreendente ver que o homem que nunca aparecia nas
reuniões, agora mostrava o seu rosto coberto por ferimentos nas conferências.
Diferente do que muitos poderiam pensar, ele não tinha uma expressão
severa, mas estranhamente feliz consigo mesmo. Provavelmente se devia ao
casamento e ao nascimento do filho. Acho que, meses atrás, eu pensaria que
ele era um tolo, mas depois que descobri os prazeres de amar e dividir uma
vida com alguém, não conseguia mais julgá-lo. Adelle tinha mudado não
apenas minha rotina, onde diminuí significativamente minha carga de
trabalho, mas minha percepção sobre várias coisas. E depois de ficar quase
dois dias sem notícias dela e de sentir na pele a dor da distância por conta de
um mal-entendido há duas semanas, percebi que não havia nada mais
importante do que ela.
Podia entender muito melhor como ele se sentia agora, afinal, eu, a
mulher que amo e o seu irmãozinho formávamos uma família. E, hoje, não
podia imaginar minha vida sem os pequenos momentos cotidianos com os
dois. Como um menino ansioso, mal podia esperar para levá-los mês que vem
para Itália para que os dois pudessem conhecer os meus pais. Minha mãe
pareceu me perdoar pela merda que eu tinha feito quando disse a ela que pedi
Adelle em namoro e que, futuramente, a tornaria minha esposa. Embora eu
tenha que admitir que ainda estava um pouco temeroso em reencontrá-la, por
mais que minha mãe parecesse exultante com a notícia. Dona Ana disse que
não poderia estar mais feliz em ouvir a mim confessando meus sentimentos
por uma mulher tão doce, inteligente e bem-humorada quanto sua nova nora.
Como mammina já tinha dito uma vez, Adelle era perfeita para mim.
— Mas necessito de mais tempo para ler todos os relatórios que você
enviou, Pedro — continuou e obriguei-me a voltar minha atenção para a
reunião.
— Pode até ser, mas é uma soma considerável para investir sem estar
cem por cento certo. Não me agrada perder dinheiro.
— É da minha mulher que você está falando. — Sua voz era fria,
cortante, mas o tolo pareceu ignorar e continuou a dizer um monte de merda:
— Tenho certeza que não irá querer nada com um idiota com você, é
inteligente demais para isso. Fora que ela já é comprometida… E…
— Nunca brinque com a mulher dos outros — falei com uma voz
baixa e aveludada. — Nenhum de nós viu graça nenhuma na sua
brincadeirinha. — Fiz uma pausa. — E eu não vou ser complacente com
você, pelo contrário, irá me pagar por isso. Quando se referiu a Adelle,
mexeu com a pessoa errada.
— Eu, eu… Ela é apenas sua secretária.
— Mesmo que fosse, não toleraria que você falasse assim de uma
funcionária minha. — Arreganhei meus dentes, deixando meu sorriso ainda
mais frio. — Mas você estava dizendo coisas infames sobre a futura senhora
Della Torre. E isso, mio caro, não deixarei barato. Vou querer sua cabeça em
uma bandeja.
Antes que ele pudesse dizer qualquer outra merda, fechei o aplicativo
por onde fazíamos as reuniões e, diferentemente do que eu achava, a fúria
cega que senti quando ele faltou com respeito com Adelle foi se
transformando em satisfação ao perceber que eu agora teria uma boa
justificativa para derrubar aquele porco. Não que de qualquer forma minha
amada ficasse sabendo de algo, claro. Mas nunca me pareceu tão satisfatório
a perspectiva de perder milhões só para foder com aquele cara.
— Sim — disse com uma voz suave, ao dar alguns passos até parar
sob a luz de um lustre —, está tarde e você já trabalhou demais.
Antes que eu dissesse qualquer coisa, Adelle levou a mão ao laço que
prendia o robe e o abriu, deixando à mostra a camisola preta transparente e
diáfana, que não deixava nada para imaginação, com uma calcinha tão
pequena do mesmo tecido, que, sob a luz da luminária, deixava ver os pelos
do seu sexo. Enquanto observava-a novamente de cima a baixo, mexendo-me
desconfortável na cadeira ao sentir uma ereção se formando no meio das
minhas pernas, ela caminhou com um sorriso provocante até a minha mesa,
contornou-a, e girou minha cadeira na sua direção.
— Hm…
— Tesoro…
— Não foi assim que planejei a noite — continuou com a voz rouca e
agarrou meus ombros.
— Hum… E o que você queria fazer, tesoro? — obriguei-me a
perguntar, mesmo que o fio de racionalidade que mantinha estava quase
desfeito em meio ao nosso contato.
— De fato, tesoro.
Não falei mais nada, apenas desfrutei da sensação que sua boca
quente e úmida provocava em minha pele. Foi deslizando lentamente pelo
meu queixo, pela lateral da minha garganta, mordiscando o local onde podia
sentir minha pulsação. Se curvou para passar a língua pelo meu tórax
enquanto suas unhas percorriam meu abdômen nu, subindo e descendo,
deixando-me cada vez mais tenso, mas sem me tocar onde eu desejava.
Quando me arqueei involuntariamente contra ela, Adelle se levantou,
arrancando de mim um gemido de protesto que morreu quando a olhei, vendo
os bicos rígidos dos seus seios, bem como a umidade que se formou na sua
calcinha, revelando-me o estado da sua excitação. Aquela mulher seria minha
completa perdição.
Com uma ousadia que não imaginava ser possível, levou a ponta do
indicador até a minha glande e a pressionou, traçando círculos lentos, até que
um líquido saísse pela fenda, apenas para levar seu dedo à boca, provando-
me, enquanto com a outra mão continuava a me masturbar, aumentando e
diminuindo o ritmo e a pressão que exercia na minha carne.
— Gostoso — comentou com um tom que achei tão sexy, que foi
inevitável não gemer.
Sabendo que tinha toda a minha atenção para si, removeu a pequena
calcinha lentamente, jogando-a depois em minha direção. Mesmo trêmulo e
sob os efeitos que ela tinha me proporcionado, peguei a peça e a levei ao meu
nariz, aspirando o cheiro almiscarado da excitação da minha mulher. Senti-lo,
fez com que meu pênis começasse a voltar a vida. Aquela mulher me deixava
completamente insano.
— Adelle…
Sem deixar que ele falasse mais nada, trouxe sua boca até a minha e
me fundi a ele, mordiscando os seus lábios para que minha língua bailasse
com a sua. E não precisou de mais nenhum incentivo para que ele se
encaixasse em mim e me penetrasse, meus músculos internos comprimindo-o
com a invasão. Um gemido rouco escapou das nossas gargantas ao sentir
novamente carne contra carne, sem nenhuma barreira entre nós. A
necessidade de usar camisinha nublado pelo desejo de senti-lo.
Com a respiração cada vez mais acelerada, sentia que algo estava
estilhaçando dentro de mim, intensificado quando senti Andrea tenso sob
meu tato. A sensação aumentou exponencialmente quando sua mão deixou a
minha bunda e trilhou o caminho até o meu sexo, seu dedo encontrando o
meu clitóris enquanto me penetrava, estimulando-me, ora com pressão, ora
tão lentamente que me fazia gemer e emitir resmungos de protesto contra a
sua boca. Senti-me cada vez mais lânguida até que, ao deixar de me estocar,
mas massageando meu ponto de prazer com movimentos circulares, fui
arrebatada pelo clímax avassalador. Meus olhos pareciam sem foco enquanto,
com um controle admirável, ele continuava a me acariciar, prolongando meu
orgasmo.
Ele franziu o cenho com a minha fala e por um momento senti meu
coração apertar no peito, o que deve ter transparecido no meu semblante.
— A ideia de ser a mãe dos meus filhos te parece tão ruim assim,
tesoro? — sussurrou com a voz arrastada.
— Eu não menti quando disse que queria tudo com você, Adelle. —
Tocou o meu rosto com suavidade. — E se nosso filho nascer antes do
planejado, eu serei o homem mais feliz do mundo da mesma maneira. Você
me fez ansiar por ter a minha própria família. Melhor, você e Will já me
deram uma e adoraria ter mais integrantes nela.
Sorri para ele e o beijei, selando ainda mais o nosso amor e também o
nosso futuro, juntos.
Capítulo Quarenta e cinco
Um mês depois
Eu não poderia estar mais feliz com tudo que estava vivendo.
— Não precisa ficar nervosa, tesoro. Minha mãe a adora antes mesmo
de te ver — disse em um tom suave, tentando me tranquilizar, me tirando dos
devaneios. Aquele homem me conhecia bem, mesmo sem olhar para mim. —
Vocês já conversaram muitas vezes por telefone.
— Mas é diferente, Andrea. — Coloquei uma mecha de cabelo que
voava pelo vento atrás da orelha e pousei minha mão sobre a sua. — Antes
eu era apenas sua secretária, que informava sobre como andava o filho à uma
mãe desesperada por notícias dele. — Provoquei-o e ele e William deram
uma risada. — Agora sou sua namorada, e isso muda muita coisa. Fora que
não sei muito como me comportar nessa situação.
— Seja você mesma, tesoro. Não tem nada com que se preocupar,
dona Ana é uma mulher simples e afetuosa. — Fez uma pausa. — Sabe? Ela
sempre achou que você era perfeita para mim.
— Sì. E tenho que concordar que ela estava mais que certa. Só deveria
ter escutado ela antes e ter tentado te conquistar há muito mais tempo.
— Hm…Então tenho que agradecê-la por isso. Mas acho que se fosse
em circunstâncias normais, eu não teria coragem de envolver-me com o meu
chefe.
Foi nesse clima descontraído que, quase meia hora depois, paramos
próximo a uma enorme casa no estilo da região, coberta por trepadeiras que
pareciam se integrar perfeitamente ao jardim de arbustos altos repletos de
flores roxas. O mar azul ao fundo coroava ainda mais a beleza do local.
— É lindo! — exclamei.
— Bambina mia[40], você não sabe a felicidade que estou sentindo por
finalmente conhecê-la pessoalmente — seu inglês tinha um grande sotaque
—, me abrace direito pois estava doida para conhecer a mulher que mudou
toda a vida di mi figlio. Já a considero como uma figlia mia[41].
— Estou tão feliz que teremos mais uma criança nessa família —
comentou e eu não tive palavras para expressar o quanto aquilo me
enterneceu e deixou-me feliz. Nunca poderia imaginar que ela aceitaria meu
irmão tão bem em sua família. — Eu adoro ter a casa cheia, pena que os
filhos crescem rápido demais, não é, Loreto?
— Obrigada, senhor…
— Claro.
— Ela é uma bela mulher, mio figlio. Nós dois somos homens de sorte
por elas terem escolhido nos amar.
— Que romântico, mio figlio. Mas vamos entrar, vocês devem estar
com fome e cansados da viagem — Ana disse, solícita. — Ou preferem tomar
um banho e descansarem primeiro?
— Não posso deixar o piccolo com fome. Tenho uma bela foccacia
recheada esperando por vocês.
Perante sua confissão, não pude fazer nada além de ser sincera com
Ana, contando toda história do início, revelando o meu desespero a cada vez
que me era negado o crédito e do alívio que senti ao saber que aquele acordo
me daria dinheiro o suficiente para pagar todas as despesas médicas, algo que
não se mostrou necessário, já que Andrea cuidou de tudo. E, com nós duas
aos prantos e de mãos dadas, eu disse que nunca poderia me arrepender de o
ter feito e que o faria mil vezes se fosse preciso.
— Sim?
— Vamos, Adelle?
— Já disse que você está linda essa noite, tesoro? — parou para
sussurrar em meu ouvido quando estávamos longe dos convidados. Com seus
olhos percorrendo todo o meu corpo, pude sentir minha pele arder com o
mero escrutínio, parecendo totalmente consciente daquele homem, e eu me
derretia todas as vezes que ele parecia me despir com o olhar.
— Andrea…
Não disse mais nada, apenas provou-me a força do seu amor com seus
lábios, sua boca se movendo sobre a minha com tanta calma, tanta ternura,
que eu fechei os olhos, entregue as sensações que ele me proporciona. Abri a
boca para emitir outro suspiro e Andrea aproveitou a abertura para envolver a
minha língua com a sua em uma dança lenta e embriagante. Levei meus
dedos aos seus cabelos e puxei os fios macios, sua boca era completamente
viciante.
— Sim.
Não falei nada, apenas peguei as suas mãos e as levei até a minha
barriga, que ainda não tinha nenhum sinal da gravidez. Seus olhos brilharam
de emoção e vi uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
Assenti.
— Certo.
Caminhei até onde ela estava e a abracei por trás, envolvendo sua
cintura mais arredondada por estar se recuperando da gravidez. Mas, mesmo
assim, seu corpo ainda me era completamente atraente. Adorava as novas
formas que ela tinha adquirido durante a gestação e cada nova marca, mesmo
que Adelle não concordasse comigo.
— E eu amo você por ter me dado uma família e por me amar, tesoro.
Agradecimentos
Jéssica Macedo, Lizzie e Mari Sales gratidão por todo apoio de vocês,
pelos palpites e torcida.
E a você meu leitor, obrigada por chegar até aqui. Sem vocês, não
teria sentido escrever!
Sobre a autora:
Sinopse:
Sinopse:
[1]
Mamãe.
[2]
Meu caro.
[3]
Pequeno.
[4]
Deus.
[5]
Minha cara.
[6]
Caralho.
[7]
Mamãe ou mãezinha.
[8]
Minha mãe.
[9]
Pai.
[10]
Meu filho.
[11]
De sua mãe.
[12]
Meu menino.
[13]
Deus, mãe.
[14]
Mãe, eu te amo muito.
[15]
Tesouro.
[16]
Mãe.
[17]
Sou um completo idiota.
[18]
Maldição.
[19]
Mãe de Deus.
[20]
Céus.
[21]
Meu chocolate.
[22]
Sim, meu chocolate.
[23]
Perfeita para mim, meu chocolate. E minha.
[24]
Gostosa...
[25]
Sim, tesouro?
[26]
Amor.
[27]
Imbecil
[28]
Meu amor.
[29]
Amor.
[30]
Doçura.
[31]
Amor meu.
[32]
Com muito prazer, tesouro.
[33]
Espetacular, doçura.
[34]
Linda.
[35]
Rapazinho mal-criado.
[36]
Querida.
[37]
Amor.
[38]
Estúpido de merda.
[39]
Minha vida.
[40]
Minha menina.
[41]
Filha minha.
[42]
Rapaz mal-educado.
[43]
Tesouro do papai.