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CÓD: SL-007JL-21

7908433207078

FUNSAÚDE-CE
FUNDAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ

Enfermeiro Assistencial
EDITAL N° 01 E 02, DE 24 DE JUNHO DE 2021
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Elementos de construção do texto e seu sentido: gênero do texto (literário e não literário, narrativo, descritivo e argumentativo);
interpretação e organização interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Semântica: sentido e emprego dos vocábulos; campos semânticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3. Emprego de tempos e modos dos verbos na Língua Portuguesa. Morfologia: reconhecimento, emprego e sentido das classes gramat-
icais; processos de formação de palavras; mecanismos de flexão dos nomes e verbos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4. Sintaxe: frase, oração e período; termos da oração; processos de coordenação e subordinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
5. Concordância nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
6. Transitividade e regência de nomes e verbos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
7. Padrões gerais de colocação pronominal na Língua Portuguesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
8. Mecanismos de coesão textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
9. Ortografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
10. Acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
11. Emprego do sinal indicativo de crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
12. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
13. Estilística: figuras de linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
14. Reescritura de frases: substituição, deslocamento, paralelismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
15. Variação linguística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
16. Norma padrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Raciocínio Lógico
1. Proposições, conectivos, equivalências lógicas, quantificadores e predicados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conjuntos e suas operações, diagramas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3. Números inteiros, racionais e reais e suas operações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4. Porcentagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5. Proporcionalidade direta e inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
6. Medidas de comprimento, área, volume, massa e tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
7. Estrutura lógica de relações arbitrárias entre pessoas, lugares, objetos ou eventos fictícios; dedução de novas informações das relações
fornecidas e avaliação das condições usadas para estabelecer a estrutura daquelas relações. Compreensão e análise da lógica de uma
situação, utilizando as funções intelectuais: raciocínio verbal, raciocínio matemático, raciocínio sequencial, reconhecimento de pa-
drões, orientação espacial e temporal, formação de conceitos, discriminação de elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
8. Compreensão de dados apresentados em gráficos e tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
9. Problemas de lógica e raciocínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
10. Problemas de contagem e noções de probabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
11. Geometria básica: ângulos, triângulos, polígonos, distâncias, proporcionalidade, perímetro e área . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
12. Noções de estatística: média, moda, mediana e desvio padrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Atualidades
1. Meio ambiente e sociedade: problemas, políticas públicas, organizações não governamentais, aspectos locais e aspectos
globais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Descobertas e inovações científicas na atualidade e seus impactos na sociedade contemporânea. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3. Mundo Contemporâneo: elementos de política internacional e brasileira; cultura internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4. Cultura brasileira (música, literatura, artes, arquitetura, rádio, cinema, teatro, jornais, revistas e televisão) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5. Elementos de economia internacional contemporânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
6. Panorama da economia brasileira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
7. Ética e cidadania. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
8. Relações humanas no trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
ÍNDICE

Legislação
1. Sistema Único de Saúde (SUS): princípios, diretrizes, estrutura e organização; políticas de saúde. Estrutura e funcionamento das insti-
tuições e suas relações com os serviços de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Níveis progressivos de assistência à saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
3. Políticas públicas do SUS para gestão de recursos físicos, financeiros, materiais e humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
4. Sistema de planejamento do SUS: estratégico e normativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Direitos dos usuários do SUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
6. Participação e controle social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
7. Ações e programas do SUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
8. Legislação básica do SUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
9. Política Nacional de Humanização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

Conhecimentos Específicos
Enfermeiro Assistencial
1. Modalidades Assistenciais: Hospital-Dia E Assistência Domiciliar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Teorias E Processos De Enfermagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Taxonomias De Diagnósticos De Enfermagem. Atuação Da Enfermagem Em Procedimentos E Métodos Diagnósticos . . . . . . 04
4. Assistência De Enfermagem Ao Adulto Portador De Transtorno Mental; Unidades De Atenção À Saúde Mental: Ambulatório De
Saúde Mental, Centro De Atenção Psicossocial E Hospital Psiquiátrico; Instrumentos De Intervenção De Enfermagem Em Saúde
Mental: Relacionamento Interpessoal, Comunicação Terapêutica, Psicopatologias, Psicofarmacologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Assistência De Enfermagem Em Gerontologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
6. Assistência De Enfermagem Ao Paciente Oncológico Nas Diferentes Fases Da Doença E Tratamentos: Quimioterapia, Radioterapia E
Cirurgias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
7. Procedimentos Técnicos Em Enfermagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
8. Assistência De Enfermagem Perioperatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
9. Assistência De Enfermagem A Pacientes Com Alterações Da Função Cardiovascular E Circulatória; Digestiva E Gastrointestinal; Me-
tabólica E Endócrina; Renal E Do Trato Urinário; Reprodutiva; Tegumentar; Neurológica; Músculoesquelética . . . . . . . . . . . . . . . . 74
10. Assistência De Enfermagem Aplicada À Saúde Sexual E Reprodutiva Da Mulher, Com Ênfase Nas Ações De Baixa E Média Complexi-
dade. Assistência De Enfermagem À Gestante, Parturiente E Puérpera. Assistência De Enfermagem Ao Recém-Nascido. Modelos De
Atenção Ao Recém-Nascido, Que Compõem O Programa De Humanização No Pré-Natal E Nascimento. Assistência De Enfermagem À
Mulher No Climatério E Menopausa E Na Prevenção E Tratamento De Ginecopatias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
11. Assistência De Enfermagem À Criança Sadia: Crescimento, Desenvolvimento, Aleitamento Materno, Alimentação; Cuidado Nas
Doenças Prevalentes Na Infância (Diarreicas E Respiratórias) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
12. Atendimento A Pacientes Em Situações De Urgência E Emergência: Estrutura Organizacional Do Serviço De Emergência Hospitalar E
Préhospitalar; Suporte Básico De Vida Em Emergências; Emergências Relacionadas A Doenças Do Aparelho Respiratório, Do Aparel-
ho Circulatório E Psiquiátricas; Atendimento Inicial Ao Politraumatizado; Atendimento Na Parada Cardiorrespiratória; Assistência De
Enfermagem Ao Paciente Crítico Com Distúrbios Hidroeletrolíticos, Ácidobásicos, Insuficiência Respiratória E Ventilação Mecânica;
Insuficiência Renal E Métodos Dialíticos; Insuficiência Hepática; Avaliação De Consciência No Paciente Em Coma; Doação, Captação E
Transplante De Órgãos; Enfermagem Em Urgências: Violência, Abuso De Drogas, Intoxicações, Emergências Ambientais . . . . . . 124
13. Gerenciamento De Enfermagem Em Serviços De Saúde: Gerenciamento De Recursos Humanos: Dimensionamento, Recrutamento E
Seleção, Educação Permanente, Liderança, Supervisão, Comunicação, Relações De Trabalho E Processo Grupal; Processo De Trabalho
De Gerenciamento Em Enfermagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
14. Gerenciamento Dos Resíduos De Serviços De Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
15. Central De Material E Esterilização; Processamento De Produtos Para Saúde; Processos De Esterilização De Produtos Para Saúde; Con-
trole De Qualidade E Validação Dos Processos De Esterilização De Produtos Para Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
16. Práticas De Biossegurança Aplicadas Ao Processo De Cuidar; Risco Biológico E Medidas De Precauções Básicas Para A Segurança Indi-
vidual E Coletiva No Serviço De Assistência À Saúde; Precaução-Padrão E Precauções Por Forma De
17. Transmissão Das Doenças: Definição, Indicações De Uso E Recursos Materiais; Medidas De Proteção Cabíveis Nas Situações De Risco
Potencial De Exposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
18. Controle De Infecção Hospitalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
19. Vigilância Epidemiológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
20. Vigilância Em Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214
21. Programas De Prevenção E Controle De Doenças Transmissíveis Prevalentes No Cenário Epidemiológico Brasileiro . . . . . . . 209
22. Doenças E Agravos Não-Transmissíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228
23. Programa Nacional De Imunizações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
ÍNDICE

24. Lei Nº 7.498/1986 (Lei Do Exercício Profissional), Regulamentada Pelo Decreto Nº 94.406/1987 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 240
25. Código De Ética E Deontologia Da Enfermagem – Análise Crítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
26. Bioética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253

Conteúdo Digital Complementar e Exclusivo


Legislação
1. Constituição Federal de 1988 - Título VIII - artigo 194 a 200 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Lei nº 8.142/90 (dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Lei nº 8.080/90 (dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
4. RDC nº 63, de 25 de novembro de 2011 (dispõe sobre os requisitos de boas práticas de funcionamento para os Serviços de Saúde)13
5. Resolução CNS nº 553/2017 (dispõe sobre a carta dos direitos e deveres da pessoa usuária da saúde) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
6. RDC nº 36, de 25 de julho de 2013 (institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências) . 21

Prezado Candidato, para estudar o conteúdo digital complementar e exclusivo,


acesse: https://www.editorasolucao.com.br/retificacoes
LÍNGUA PORTUGUESA
1. Elementos de construção do texto e seu sentido: gênero do texto (literário e não literário, narrativo, descritivo e argumentativo);
interpretação e organização interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Semântica: sentido e emprego dos vocábulos; campos semânticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3. Emprego de tempos e modos dos verbos na Língua Portuguesa. Morfologia: reconhecimento, emprego e sentido das classes grama-
ticais; processos de formação de palavras; mecanismos de flexão dos nomes e verbos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4. Sintaxe: frase, oração e período; termos da oração; processos de coordenação e subordinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
5. Concordância nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
6. Transitividade e regência de nomes e verbos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
7. Padrões gerais de colocação pronominal na Língua Portuguesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
8. Mecanismos de coesão textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
9. Ortografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
10. Acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
11. Emprego do sinal indicativo de crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
12. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
13. Estilística: figuras de linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
14. Reescritura de frases: substituição, deslocamento, paralelismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
15. Variação linguística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
16. Norma padrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
LÍNGUA PORTUGUESA

ELEMENTOS DE CONSTRUÇÃO DO TEXTO E SEU SENTI-


DO: GÊNERO DO TEXTO (LITERÁRIO E NÃO LITERÁRIO,
NARRATIVO, DESCRITIVO E ARGUMENTATIVO); INTER-
PRETAÇÃO E ORGANIZAÇÃO INTERNA

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro. Além de saber desses conceitos, é importante sabermos
A interpretação é quando você entende o que está implícito, identificar quando um texto é baseado em outro. O nome que
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto damos a este processo é intertextualidade.
ou que faça com que você realize inferências.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Interpretação de Texto
Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas
a uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz.
Percebeu a diferença? subentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
de um texto.
Tipos de Linguagem A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que prévios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
facilite a interpretação de textos. texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela uma relação com a informação já possuída, o que leva ao
pode ser escrita ou oral. crescimento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma
apreciação pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido,
afetando de alguma forma o leitor.
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analítica
e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade,
estado, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações
ortográficas, gramaticais e interpretativas;
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais
polêmicos;
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens, - Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre
fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra. qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas.

Dicas para interpretar um texto:


– Leia lentamente o texto todo.
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo.

– Releia o texto quantas vezes forem necessárias.


Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada
parágrafo e compreender o desenvolvimento do texto.

– Sublinhe as ideias mais importantes.


Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto.
– Separe fatos de opiniões.
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo
• Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e
palavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem mutável).
verbal com a não-verbal.

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LÍNGUA PORTUGUESA
– Retorne ao texto sempre que necessário. zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
enunciados das questões. se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
– Reescreva o conteúdo lido. podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
tópicos ou esquemas. outro e a parceria deu certo.

Além dessas dicas importantes, você também pode grifar Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
palavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
vocabulário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
são uma distração, mas também um aprendizado. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
compreensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
nossa imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
nosso foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além As informações que se relacionam com o tema chamamos de
de melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
do texto. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
a identificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se capaz de identificar o tema do texto!
as ideias secundárias, ou fundamentações, as argumentações,
ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-se-
apresentadas na prova. cundarias/
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um
significado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
o candidato só precisa entendê-la – e não a complementar com TEXTOS VARIADOS
algum valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e
nunca extrapole a visão dele. Ironia
Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, novo sentido, gerando um efeito de humor.
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo Exemplo:
significativo, que é o texto.
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
o assunto que será tratado no texto.
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

CACHORROS

Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma


espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-

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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos:


ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
Ironia verbal NERO EM QUE SE INSCREVE
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig- Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
intenção são diferentes. pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
Ironia de situação Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. principal. Compreender relações semânticas é uma competência
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces-
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que Busca de sentidos
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
morte. os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
apreensão do conteúdo exposto.
Ironia dramática (ou satírica) Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
A ironia dramática é um dos efeitos de sentido que ocorre nos relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
textos literários quando a personagem tem a consciência de que citadas ou apresentando novos conceitos.
suas ações não serão bem-sucedidas ou que está entrando por um Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
caminho ruim, mas o leitor já tem essa consciência. tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a Importância da interpretação
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
Humor pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- específicos, aprimora a escrita.
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa-
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor- sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi-
rer algo fora do esperado numa situação. ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto,
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti- pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico; que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
acessadas como forma de gerar o riso. presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen-
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es-
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges. tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató-
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários,
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. berdade para quem recebe a informação.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, Fato
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
Diferença entre compreensão e interpretação uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- Exemplo de fato:
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O A mãe foi viajar.
leitor tira conclusões subjetivas do texto.
Interpretação
Gêneros Discursivos É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou sas, previmos suas consequências.
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
dárias. ças sejam detectáveis.

Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente Exemplos de interpretação:
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única tro país.
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
encaminham-se diretamente para um desfecho. do que com a filha.

Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- Opinião


do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de- que fazemos do fato.
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
curto. do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para
anteriores:
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos
tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
como horas ou mesmo minutos.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha. Ela foi egoísta.
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên-
imagens. cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta-
Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a mos expressando nosso julgamento.
opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con- principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
vencer o leitor a concordar com ele. analisamos um texto dissertativo.

Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um Exemplo:


entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações. A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas com o sofrimento da filha.
de destaque sobre algum assunto de interesse.
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS
Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali- Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si
za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do
crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as
os professores a identificar o nível de alfabetização delas. ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto.
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento
e o do leitor.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Parágrafo Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. A Linguagem Culta ou Padrão
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
Outro aspecto que merece especial atenção são  os conecto- se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe- escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ríodo, e o tópico que o antecede. mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
para a clareza do texto.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér- Gíria
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro, arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
sem coerência. a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa-
Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta- gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores. Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam
Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es- o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de
trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
mais direto. novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário
NÍVEIS DE LINGUAGEM de pequenos grupos ou cair em desuso.
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”,
Definição de linguagem “mina”, “tipo assim”.
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
Linguagem vulgar
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
comida”.
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
Linguagem regional
o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa-
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala-
social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
e caem em desuso. nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos e genêros textuais Tipo textual expositivo
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.

Exemplo: Tipo textual dissertativo-argumentativo


Era uma casa muito engraçada Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
Não tinha teto, não tinha nada sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias
Ninguém podia entrar nela, não apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade,
Porque na casa não tinha chão clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in-
Ninguém podia dormir na rede tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor
Porque na casa não tinha parede (leitor ou ouvinte).
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali Características principais:
Mas era feita com muito esmero • Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento
Na rua dos bobos, número zero e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
(Vinícius de Moraes) gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
TIPO TEXTUAL INJUNTIVO enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su-
A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe, gestão/solução).
instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o • Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações
tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente
comportamentos, nas leis jurídicas. nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
Características principais: • Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali-
• Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver- zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados.
do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas). • Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o
• Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª desenvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se ro-
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc. deios.
Exemplo: Exemplo:
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito- A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol-
ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi- administração política (tese), porque a força governamental certa-
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência
que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró-
suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su- poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os
perior para formação de oficiais. traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula-
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-

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LÍNGUA PORTUGUESA
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Carta de opinião
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Resenha
cobrança efetiva (conclusão). Artigo
Ensaio
Tipo textual narrativo Monografia, dissertação de
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta mestrado e tese de doutorado
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Narrativo Romance
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Novela
Crônica
Características principais: Contos de Fada
• O tempo verbal predominante é o passado. Fábula
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- Lendas
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
onisciente). Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
prosa, não em verso. nitos e mudam de acordo com a demanda social.

Exemplo: INTERTEXTUALIDADE
Solidão A  intertextualidade  é um recurso realizado entre textos, ou
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. ambos: forma e conteúdo.
Nelson S. Oliveira Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossur- forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
reais/4835684 textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri-
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música,
GÊNEROS TEXTUAIS dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos,
Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes provérbios, charges, dentre outros.
de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro- Tipos de Intertextualidade
dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem • Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen-
funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego
passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser- (parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se-
vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante
que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís-
textuais que neles predominam. ticos.
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização
Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis),
Descritivo Diário significa a “repetição de uma sentença”.
Relatos (viagens, históricos, etc.) • Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí-
Biografia e autobiografia ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha
Notícia alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter-
Currículo mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
Lista de compras e “graphé” (escrita).
Cardápio • Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção
Anúncios de classificados textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor.
Injuntivo Receita culinária Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
Bula de remédio lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo
Manual de instruções “citação” (citare) significa convocar.
Regulamento • Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros
Textos prescritivos textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
Expositivo Seminários termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
Palestras • Outras formas de intertextualidade menos discutidas são
Conferências o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Entrevistas
Trabalhos acadêmicos ARGUMENTAÇÃO
Enciclopédia O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
Verbetes de dicionários ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,

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LÍNGUA PORTUGUESA
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
propõe. outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- Tipos de Argumento
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- mento. Exemplo:
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna Argumento de Autoridade
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos- servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur-
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto
enunciador está propondo. um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver-
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. dadeira. Exemplo:
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- cimento. Nunca o inverso.
mento de premissas e conclusões. Alex José Periscinoto.
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
A é igual a B.
A é igual a C. A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
Então: C é igual a A. tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela,
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
que C é igual a A. acreditar que é verdade.
Outro exemplo:
Todo ruminante é um mamífero. Argumento de Quantidade
A vaca é um ruminante. É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú-
Logo, a vaca é um mamífero. mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
também será verdadeira. largo uso do argumento de quantidade.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se Argumento do Consenso
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con- que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-
fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não

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LÍNGUA PORTUGUESA
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao tal por três dias.
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu-
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
carentes de qualquer base científica. tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
Argumento de Existência deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar texto tem sempre uma orientação argumentativa.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
do que dois voando”. ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- outras, etc. Veja:
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser vam abraços afetuosos.”
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
vios, etc., ganhava credibilidade. e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
Argumento quase lógico que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi- - Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am-
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá-
elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí- rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser
veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en- usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor
tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica. positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas
Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente,
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável. injustiça, corrupção).
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente - Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por
aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con- um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são
correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se o argumento.
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais - Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con-
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
indevidas. atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
Argumento do Atributo
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido,
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
outros à sua dependência política e econômica”.
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
que é mais grosseiro, etc.
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, cele-
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
bridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza, ali-
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
mentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor tende
a associar o produto anunciado com atributos da celebridade. o assunto, etc).
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani-
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men-
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social- tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente,
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
dizer dá confiabilidade ao que se diz. sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali-
de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei- dades não se prometem, manifestam-se na ação.
ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade- A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico: que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um
conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui
por bem determinar o internamento do governador pelo período a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar-
de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001. gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che-

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LÍNGUA PORTUGUESA
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo - evidência;
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se - divisão ou análise;
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - ordem ou dedução;
comportamento. - enumeração.
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro- A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
mica e até o choro. contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos caracteriza a universalidade.
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo-
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de- silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun- fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista. o efeito. Exemplo:
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis- Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia. Fulano é homem (premissa menor = particular)
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições, Logo, Fulano é mortal (conclusão)
é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve- A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia-
zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre, se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par-
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol- te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci-
ver as seguintes habilidades: dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma O calor dilata o ferro (particular)
ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total- O calor dilata o bronze (particular)
mente contrária; O calor dilata o cobre (particular)
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O ferro, o bronze, o cobre são metais
argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta- Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
ria contra a argumentação proposta;
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
ta.
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques- deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé- argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do sofisma no seguinte diálogo:
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes- - Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões - Lógico, concordo.
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co- - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio - Claro que não!
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos Exemplos de sofismas:
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a Dedução
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro Todo professor tem um diploma (geral, universal)
regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma Fulano tem um diploma (particular)
série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
da verdade:

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LÍNGUA PORTUGUESA
Indução nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
cular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
– conclusão falsa)
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são profes- sabiá, torradeira.
sores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor. Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou infun- Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
dadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise su- Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
perficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, basea- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
dos nos sentimentos não ditados pela razão.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen- Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda- tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par- uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é
classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por- indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou
pesquisa.
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
(Garcia, 1973, p. 302304.)
a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in-
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio-
síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam.
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos
o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina- de vista sobre ele.
das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então, A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua-
o relógio estaria reconstruído. gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con- espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen-
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, cia dos outros elementos dessa mesma espécie.
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo- Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
relacionadas: lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
- o termo a ser definido;
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias - o gênero ou espécie;
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação - a diferença específica.
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
lha dos elementos que farão parte do texto. O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in- ma espécie. Exemplo:
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe- Elemento especie diferença
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as a ser definido específica
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos: É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
análise é decomposição e classificação é hierarquisação. por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-

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LÍNGUA PORTUGUESA
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan- ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma
dida;d forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta-
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as que, melhor que, pior que.
diferenças). Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala- mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
vra e seus significados. bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem- corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer
pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li-
necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda- caráter confirmatório que comprobatório.
mentação coerente e adequada. Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás- cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco- caso, incluem-se
nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes, - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu- mortal, aspira à imortalidade);
rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis- dos e axiomas);
sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro- discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que parece absurdo).
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
cífico de relação entre as premissas e a conclusão. Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: cretos, estatísticos ou documentais.
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opi-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados niões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprova-
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de da, e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
virtude de, em vista de, por motivo de. dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar gumentação:
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;

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LÍNGUA PORTUGUESA
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- banos;
dadeira; - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- mais a sociedade.
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
dade da afirmação; Conclusão
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis- - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/conse-
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto- quências maléficas;
ridade que contrariam a afirmação apresentada; - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- apresentados.
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados ção: é um dos possíveis.
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con- SEMÂNTICA: SENTIDO E EMPREGO DOS VOCÁBULOS;
traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento CAMPOS SEMÂNTICOS
é que gera o controle demográfico”.
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao Significação de palavras
desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui- As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação.
da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
elaboração de um Plano de Redação. dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os
significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos
que compõem este estudo.
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
tecnológica
Antônimo e Sinônimo
- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
Começaremos por esses dois, que já são famosos.
a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
ta, justificar, criando um argumento básico;
O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras.
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o signi-
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
ficado de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la homem que é antônimo de mulher.
(rever tipos de argumentação);
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po- que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é mui-
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e conse- to importante para produções textuais, porque evita que você fi-
quência); que repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o exemplos, para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/conten-
argumento básico; tamento e homem é sinônimo de macho/varão.
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em Hipônimos e Hiperônimos
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu- Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa
mento básico; uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperôni-
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- mo designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, ca-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às chorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou domésticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido
menos a seguinte: mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com
substantivo coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das
Introdução palavras, beleza?!?!
- função social da ciência e da tecnologia;
- definições de ciência e tecnologia; Outros conceitos que agem diretamente no sentido das pala-
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. vras são os seguintes:

Desenvolvimento Conotação e Denotação


- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- Observe as frases:
vimento tecnológico; Amo pepino na salada.
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as Tenho um pepino para resolver.
condições de vida no mundo atual;
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo,
desenvolvidos; não!
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja,
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionari-
sado; apontar semelhanças e diferenças; zado.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.

Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.

EMPREGO DE TEMPOS E MODOS DOS VERBOS NA LÍNGUA PORTUGUESA. MORFOLOGIA: RECONHECIMENTO, EM-
PREGO E SENTIDO DAS CLASSES GRAMATICAIS; PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS; MECANISMOS DE FLE-
XÃO DOS NOMES E VERBOS

ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS


As palavras são formadas por estruturas menores, com significados próprios. Para isso, há vários processos que contribuem para a
formação das palavras.

Estrutura das palavras


As palavras podem ser subdivididas em estruturas significativas menores - os morfemas, também chamados de elementos mórficos: 
– radical e raiz;
– vogal temática;
– tema;
– desinências;
– afixos;
– vogais e consoantes de ligação.

Radical: Elemento que contém a base de significação do vocábulo.


Exemplos
VENDer, PARTir, ALUNo, MAR.

Desinências: Elementos que indicam as flexões dos vocábulos.

Dividem-se em:

Nominais
Indicam flexões de gênero e número nos substantivos.
Exemplos

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LÍNGUA PORTUGUESA
pequenO, pequenA, alunO, aluna. Prefixação: Formação de palavra derivada com acréscimo de
pequenoS, pequenaS, alunoS, alunas. um prefixo ao radical da primitiva.
Exemplos
Verbais CONter, INapto, DESleal.
Indicam flexões de modo, tempo, pessoa e número nos verbos
Exemplos Sufixação: Formação de palavra nova com acréscimo de um
vendêSSEmos, entregáRAmos. (modo e tempo) sufixo ao radical da primitiva.
vendesteS, entregásseIS. (pessoa e número) Exemplos
cafezAL, meninINHa, loucaMENTE.
Indica, nos verbos, a conjugação a que pertencem.
Exemplos Parassíntese: Formação de palavra derivada com acréscimo de
1ª conjugação: – A – cantAr um prefixo e um sufixo ao radical da primitiva ao mesmo tempo.
2ª conjugação: – E – fazEr Exemplos
3ª conjugação: – I – sumIr EMtardECER, DESanimADO, ENgravidAR.

Observação Derivação imprópria: Alteração da função de uma palavra


Nos substantivos ocorre vogal temática quando ela não indica primitiva.
oposição masculino/feminino. Exemplo
Exemplos Todos ficaram encantados com seu  andar: verbo usado com
livrO, dentE, paletó. valor de substantivo.

Tema: União do radical e a vogal temática. Derivação regressiva: Ocorre a alteração da estrutura fonética
Exemplos de uma palavra primitiva para a formação de uma derivada. Em
CANTAr, CORREr, CONSUMIr. geral de um verbo para substantivo ou vice-versa.
Exemplos
Vogal e consoante de ligação: São os elementos que se combater – o combate
interpõem aos vocábulos por necessidade de eufonia. chorar – o choro
Exemplos
Prefixos
chaLeira, cafeZal.
Os prefixos existentes em Língua Portuguesa são divididos em:
vernáculos, latinos e gregos.
Afixos
Os afixos são elementos que se acrescentam antes ou depois do
Vernáculos: Prefixos latinos que sofreram modificações ou
radical de uma palavra para a formação de outra palavra. Dividem-
foram aportuguesados: a, além, ante, aquém, bem, des, em, entre,
se em:
mal, menos, sem, sob, sobre, soto.
Prefixo: Partícula que se coloca antes do radical.
Nota-se o emprego desses prefixos em palavras como: 
Exemplos abordar, além-mar, bem-aventurado, desleal, engarrafar, maldição,
DISpor, EMpobrecer, DESorganizar. menosprezar, sem-cerimônia, sopé, sobpor, sobre-humano, etc.
Sufixo Latinos: Prefixos que conservam até hoje a sua forma latina
Afixo que se coloca depois do radical. original:
Exemplos a, ab, abs – afastamento: aversão, abjurar.
contentaMENTO, reallDADE, enaltECER. a, ad – aproximação, direção: amontoar.
ambi – dualidade: ambidestro.
Processos de formação das palavras bis, bin, bi – repetição, dualidade: bisneto, binário.
Composição: Formação de uma palavra nova por meio da centum – cem: centúnviro, centuplicar, centígrado.
junção de dois ou mais vocábulos primitivos. Temos: circum, circun, circu – em volta de: circumpolar, circunstante.
cis – aquem de: cisalpino, cisgangético.
Justaposição: Formação de palavra composta sem alteração na com, con, co – companhia, concomitância: combater,
estrutura fonética das primitivas. contemporâneo.
Exemplos contra – oposição, posição inferior: contradizer.
passa + tempo = passatempo de – movimento de cima para baixo, origem, afastamento:
gira + sol = girassol decrescer, deportar.
des – negação, separação, ação contrária: desleal, desviar.
Aglutinação: Formação de palavra composta com alteração da dis, di – movimento para diversas partes, ideia contrária:
estrutura fonética das primitivas. distrair, dimanar.
Exemplos entre – situação intermediaria, reciprocidade: entrelinha,
em + boa + hora = embora entrevista.
vossa + merce = você ex, es, e – movimento de dentro para fora, intensidade,
privação, situação cessante: exportar, espalmar, ex-professor.
Derivação: extra – fora de, além de, intensidade: extravasar, extraordinário.
Formação de uma nova palavra a partir de uma primitiva. im, in, i – movimento para dentro; ideia contraria: importar,
Temos: ingrato.
inter – no meio de: intervocálico, intercalado.
intra – movimento para dentro: intravenoso, intrometer.

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LÍNGUA PORTUGUESA
justa – perto de: justapor. Origem, procedência: -estre, -este, -esco.
multi – pluralidade: multiforme.
ob, o – oposição: obstar, opor, obstáculo. Verbais
pene – quase: penúltimo, península. Comuns: -ar, -er, -ir.
per – movimento através de, acabamento de ação; ideia Frequentativos: -açar, -ejar, -escer, -tear, -itar.
pejorativa: percorrer. Incoativos: -escer, -ejar, -itar.
post, pos – posteridade: postergar, pospor. Diminutivos: -inhar, -itar, -icar, -iscar.
pre – anterioridade: predizer, preclaro.
preter – anterioridade, para além: preterir, preternatural. Adverbial = há apenas um
pro – movimento para diante, a favor de, em vez de: prosseguir, MENTE: mecanicamente, felizmente etc.
procurador, pronome.
re – movimento para trás, ação reflexiva, intensidade, repetição: CLASSES DE PALAVRAS
regressar, revirar.
retro – movimento para trás: retroceder. Substantivo
satis – bastante: satisdar. São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi-
sub, sob, so, sus – inferioridade: subdelegado, sobraçar, sopé. nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen-
subter – por baixo: subterfúgio. timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata. 
super, supra – posição superior, excesso: super-homem,
superpovoado. Classificação dos substantivos
trans, tras, tra, tres – para além de, excesso: transpor.
tris, três, tri – três vezes: trisavô, tresdobro.
ultra – para além de, intensidade: ultrapassar, ultrabelo. SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/
uni – um: unânime, unicelular. apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/
sua estrutura. macaco/João/sabão
Grego: Os principais prefixos de origem grega são: SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/
a, an – privação, negação: ápode, anarquia. são formados por mais de um porta-voz/
ana – inversão, parecença: anagrama, analogia. radical em sua estrutura. pé-de-moleque
anfi – duplicidade, de um e de outro lado: anfíbio, anfiteatro.
anti – oposição: antipatia, antagonista. SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/
apo – afastamento: apólogo, apogeu. são os que dão origem a mundo/
arqui, arque, arce, arc – superioridade: arcebispo, arcanjo. outras palavras, ou seja, ela é população
caco – mau: cacofonia. a primeira. /formiga
cata – de cima para baixo: cataclismo, catalepsia. SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
deca – dez: decâmetro. são formados por outros populacional/formigueiro
dia – através de, divisão: diáfano, diálogo. radicais da língua.
dis – dualidade, mau: dissílabo, dispepsia.
en – sobre, dentro: encéfalo, energia. SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo
endo – para dentro: endocarpo. designa determinado ser /Brasil
epi – por cima: epiderme, epígrafe. entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da
eu – bom: eufonia, eugênia, eupepsia. espécie. São sempre iniciados Liberdade
hecto – cem: hectômetro. por letra maiúscula.
hemi – metade: hemistíquio, hemisfério. SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/
hiper – superioridade: hipertensão, hipérbole. referem-se qualquer ser de cachorro/prima
hipo – inferioridade: hipoglosso, hipótese, hipotermia. uma mesma espécie.
homo – semelhança, identidade: homônimo.
meta – união, mudança, além de: metacarpo, metáfase. SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
míria – dez mil: miriâmetro. nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
mono – um: monóculo, monoculista. própria. Esses seres podem /lobisomem
neo – novo, moderno: neologismo, neolatino. ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
para – aproximação, oposição: paráfrase, paradoxo. reais ou imaginários.
penta – cinco: pentágono. SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
peri – em volta de: perímetro. nomeiam ações, estados, bondade/
poli – muitos: polígono, polimorfo. qualidades e sentimentos que confiança/
pro – antes de: prótese, prólogo, profeta. não tem existência própria, ou lembrança/
seja, só existem em função de amor/
Sufixos um ser. alegria
Os sufixos podem ser: nominais, verbais e adverbial.
SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
Nominais referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
Coletivos: -aria, -ada, -edo, -al, -agem, -atro, -alha, -ama. de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
Aumentativos e diminutivos: -ão, -rão, -zão, -arrão, -aço, -astro, -az. mesmo quando empregado
Agentes: -dor, -nte, -ário, -eiro, -ista. no singular e constituem um
Lugar: -ário, -douro, -eiro, -ório. substantivo comum.
Estado: -eza, -idade, -ice, -ência, -ura, -ado, -ato. NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
Pátrios: -ense, -ista, -ano, -eiro, -ino, -io, -eno, -enho, -aico. QUE NÃO ESTÃO AQUI!

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LÍNGUA PORTUGUESA
Flexão dos Substantivos
• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculino e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou uni-
formes
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o pre-
sidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
– Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariáveis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira ma-
cho/palmeira fêmea.
b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a tes-
temunha (o testemunha), o individuo (a individua).
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente, o/a
estudante, o/a colega.
• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
– Singular: anzol, tórax, próton, casa.
– Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.

• Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau diminutivo.


– Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
– Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula. 

Adjetivo
É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substantivo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão compos-
ta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo: golpe
de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vespertino).

Flexão do Adjetivos
• Gênero:
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o feminino: homem feliz, mulher feliz.
– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria japo-
nesa, aluno chorão/ aluna chorona. 

• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:

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LÍNGUA PORTUGUESA
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela,  Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação Pronomes Indefinidos – Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa
quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, sujeito. Veja:
nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, mui- João pulou da cama atrasado
ta, muitos, muitas, pouco, pouca, poucos, – Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas
poucas, todo, toda, todos, todas, outro, ou- recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz
Variáveis tra, outros, outras, certo, certa, certos, cer- passiva analítica é formada por:
tas, vário, vária, vários, várias, tanto, tanta, Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros)
tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, +  verbo principal da ação conjugado no particípio  + preposição
quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais, por/pelo/de + agente da passiva.
um, uma, uns, umas. A casa foi aspirada pelos rapazes
quem, alguém, ninguém, tudo, nada, ou-
Invariáveis A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva prono-
trem, algo, cada.
minal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plu-
utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas. ral) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.
Classificação Pronomes Interrogativos Advérbio
qual, quais, quanto, quantos, É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro ad-
Variáveis vérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circuns-
quanta, quantas.
tância. As circunstâncias dos advérbios podem ser:
Invariáveis quem, que.
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, ama-
nhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem,
• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anterior- brevemente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-
mente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser -dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez
variáveis e invariáveis. em quando, em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém,
Classificação Pronomes Relativos perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em
cima, à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja,
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapi-
Variáveis cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quan-
damente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
tas.
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
Invariáveis quem, que, onde. – Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente,
efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc. 
Verbos – Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo al-
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos me- gum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
teorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo. – Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, as-
saz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco,
• Flexão verbal de todo, etc.
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas. – Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, por-
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na ventura, etc.
frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é
dividido em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, Preposição
subjetividade) e imperativo (ordem, pedido). É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo com-
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato ex- plete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:
presso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: pre-
sente, passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito)
e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: pre-
sente, pretérito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º
pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles ama-
ram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exer-
cem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infi-
nitivo (terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particí-
pio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação
com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma SINTAXE: FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO; TERMOS DA
oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam ORAÇÃO; PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E SUBORDI-
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que li- NAÇÃO
gam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é
determinante e o outro é determinado). Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos
estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo
• Conjunções Coordenativas da sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita
coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar al-
Tipos Conjunções Coordenativas gumas questões importantes:

Aditivas e, mas ainda, mas também, nem... • Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sen-
contudo, entretanto, mas, não obstante, no tido completo. 
Adversativas Os jornais publicaram a notícia.
entanto, porém, todavia...
Silêncio! 
já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…,
Alternativas
quer… • Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma
assim, então, logo, pois (depois do verbo), locução verbal.
Conclusivas
por conseguinte, por isso, portanto... Este filme causou grande impacto entre o público.
pois (antes do verbo), porquanto, porque, A inflação deve continuar sob controle.
Explicativas
que...
• Período Simples: formado por uma única oração.
O clima se alterou muito nos últimos dias.
• Conjunções Subordinativas
• Período Composto: formado por mais de uma oração.
Tipos Conjunções Subordinativas O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.
Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período.
Embora, conquanto, ainda que, Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
Concessivas
mesmo que, posto que, etc. • Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
Se, caso, quando, conquanto que, O problema da violência preocupa os cidadãos.
Condicionais • Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
salvo se, sem que, etc.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
Conforme, como (no sentido de con- • Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo
Conformativas
forme), segundo, consoante, etc. direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da pre-
Para que, a fim de que, porque (no posição.
Finais
sentido de que), que, etc. A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
À medida que, ao passo que, à Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
Proporcionais • Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transi-
proporção que, etc.
tivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de
Quando, antes que, depois que, até preposição. 
Temporais
que, logo que, etc. Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
Que, do que (usado depois de mais, João gosta de beterraba.
Comparativas • Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime
menos, maior, menor, melhor, etc.
determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica
Que (precedido de tão, tal, tanto), um verbo, adjetivo ou advérbio.
Consecutivas
de modo que, De maneira que, etc. O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Integrantes Que, se. Vamos sair do mar.
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem prati-
Interjeição ca a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações • Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um subs-
das pessoas. tantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação
• Principais Interjeições de um verbo.
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum! Um casal de médicos eram os novos moradores do meu pré-
dio.
Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas • Complemento Nominal: Termo da oração que completa no-
é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a mes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicio-
função de cada classe de palavras, não terá dificuldades para enten- nado.
der o estudo da Sintaxe. A realização do torneio teve a aprovação de todos.
• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao su-
jeito da oração.
A especulação imobiliária me parece um problema.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas


Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos, lan-
chamos.
Alternativas Manuela  ora  quer comer hambúrguer,  ora  quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante,  portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar,  ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto
Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de
Explicam um termo dito anteriormente. quinta, terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por
vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de reunião.
condição
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de tarde.
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de suas casas.
tempo

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL

Concordância Nominal
Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se
referem.
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amistosa.

Casos Especiais de Concordância Nominal


• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio:
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam alerta.

• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na formação de palavras compostas:


Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso.

• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de acordo com o substantivo a que se referem:
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas.

• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quando
advérbios:
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou meia dúzia de ovos.

• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:


Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.

• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o substantivo estiver determinado por artigo:
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Concordância Verbal Assistir (dar assistência) Não usa preposição
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa:
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor- Deparar (encontrar) com
mes. Implicar (consequência) Não usa preposição

Concordância ideológica ou silepse Lembrar Não usa preposição


• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne- Pagar (pagar a alguém) a
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
Precisar (necessitar) de
contexto.
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas. Proceder (realizar) a
Blumenau estava repleta de turistas. Responder a
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú-
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con- Visar ( ter como objetivo a
texto. pretender)
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau- NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
sos. QUE NÃO ESTÃO AQUI!
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
soa gramatical que está subentendida no contexto.
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
líticos. PADRÕES GERAIS DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL NA
LÍNGUA PORTUGUESA

TRANSITIVIDADE E REGÊNCIA DE NOMES E VERBOS A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono-
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma
• Regência Nominal  culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan- após o verbo – ênclise.
tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar- De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini-
-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple- cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua-
mento é estabelecida por uma preposição. gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita,
formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele.
• Regência Verbal Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas
verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido).  não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju-
Isto pertence a todos. dique a eufonia da frase.

Regência de algumas palavras Próclise


Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.
Esta palavra combina com Esta preposição
Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.
Acessível a Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa-
Apto a, para cientemente.
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise:
Atencioso com, para com
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus.
Coerente com Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui.
Conforme a, com Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada.
Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa?
Dúvida acerca de, de, em, sobre Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante-
Empenho de, em, por posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor!
Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita!
Fácil a, de, para,
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se-
Junto a, de jam reduzidas: Percebia que o observavam.
Pendente de Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
tudo dá.
Preferível a Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in-
Próximo a, de tentos são para nos prejudicarem.
Respeito a, com, de, para com, por Ênclise
Situado a, em, entre Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo.
Ajudar (a fazer algo) a
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do
Aludir (referir-se) a indicativo: Trago-te flores.
Aspirar (desejar, pretender) a Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade!

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LÍNGUA PORTUGUESA
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre- Coerência
posição em: Saí, deixando-a aflita. É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto.
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se-
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise: mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na
Apressei-me a convidá-los. linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com
outra”).
Mesóclise Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos
futuro do pretérito que iniciam a oração. elementos formativos de um texto.
Dir-lhe-ei toda a verdade. A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito
Far-me-ias um favor? aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
elementos textuais.
Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
Eu lhe direi toda a verdade. sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
Tu me farias um favor? tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de
imediato a coerência de um discurso.

Colocação do pronome átono nas locuções verbais A coerência:


Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve- - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal. tual;
Exemplos: - relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
Devo-lhe dizer a verdade. o aspecto global do texto;
Devo dizer-lhe a verdade. - estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.

Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes Coesão


do auxiliar ou depois do principal. É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
Exemplos: numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
Não lhe devo dizer a verdade. ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
Não devo dizer-lhe a verdade. fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
tem-se a coesão lexical.
Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise, A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
o pronome átono ficará depois do auxiliar. vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade. gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
nentes do texto.
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
auxiliar. que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade. néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
do infinitivo. A coesão:
Exemplos: - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
Hei de dizer-lhe a verdade. - situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
Tenho de dizer-lhe a verdade. - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
componentes do texto;
Observação - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Devo-lhe dizer tudo.
Estava-lhe dizendo tudo.
Havia-lhe dito tudo. ORTOGRAFIA

ORTOGRAFIA OFICIAL
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein-
MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL troduzidas as letras k, w e y.
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de PQRSTUVWXYZ
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são • Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a com- letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
preensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de gui, que, qui.
mobilizar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coeren-
te, além de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Regras de acentuação 2. Prefixo terminado em consoante:
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das – Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima -bibliotecário.
sílaba) – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
persônico.
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.
Como era Como fica
alcatéia alcateia Observações:
apóia apoia • Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
apóio apoio essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. • O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no rar, cooperação, cooptar, coocupante.
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. • Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
mirante.
Como era Como fica • Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
baiúca baiuca pontapé, paraquedas, paraquedista.
bocaiúva bocaiuva • Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos:
tuiuiú, tuiuiús, Piauí. Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando
muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
vamos passar para mais um ponto importante.
– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem
e ôo(s).

Como era Como fica ACENTUAÇÃO GRÁFICA


abençôo abençoo
Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
crêem creem com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/ Vejamos um por um:
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.
Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
Atenção: aberto.
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Já cursei a Faculdade de História.
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural fechado.
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as caso afundo mais à frente).
palavras forma/fôrma. Sou leal à mulher da minha vida.

Uso de hífen As palavras podem ser:


Regra básica: – Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho- -já, ra-paz, u-ru-bu...)
mem. – Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
sa-bo-ne-te, ré-gua...)
Outros casos – Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
1. Prefixo terminado em vogal:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo. As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos:
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, • São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico,
semicírculo. íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...)
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis- • São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N,
mo, antissocial, ultrassom. R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter,
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on- fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...)
das. • São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S),
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu,
dói, coronéis...)

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LÍNGUA PORTUGUESA
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...) PONTUAÇÃO

Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- Pontuação
nar e fixar as regras. Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema
de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a
organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das
pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE
funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BE-
CHARA, 2009, p. 514)
A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns
demonstrativo. sinais gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], pon-
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s) to e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reti-
cências [ ... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos
• Devemos usar crase: [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ],
– Antes palavras femininas: travessão duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses
Iremos à festa amanhã retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).
Mediante à situação.
O Governo visa à resolução do problema. Ponto ( . )
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pau-
– Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de” sa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo
Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a: reticências.
Os frangos eram feitos à moda da casa imperial. Estaremos presentes na festa.
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti-
vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase. Ponto de interrogação ( ? )
Mas... há crase, sim! Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati-
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir- va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante. Você vai à festa?

– Expressões fixas Ponto de exclamação ( ! )


Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama-
crase: tiva.
à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von- Ex: Que bela festa!
tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à Reticências ( ... )
direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon- Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou
didas, à medida que, à proporção que. porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com
• NUNCA devemos usar crase: breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor
nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
– Antes de substantivos masculinos:
Ex: Essa festa... não sei não, viu.
Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a
pé.
Dois-pontos ( : )
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída.
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação
plural) usado em sentido generalizador:
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
Depois do trauma, nunca mais foi a festas.
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva.
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho- Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa.
mem.
Ponto e vírgula ( ; )
– Antes de artigo indefinido “uma” Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o
Iremos a uma reunião muito importante no domingo. ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas,
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume-
– Antes de pronomes ração (frequente em leis), etc.
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa. Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam-
bém uma linda decoração e bebidas caras.
Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.
A quem vocês se reportaram no Plenário? Travessão ( — )
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico. Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta-
– Antes de verbos no infinitivo -men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir
A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar. vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter-
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. Brasileiros, é chegada a hora de votar.
• Separa termos repetidos.
Parênteses e colchetes ( ) – [ ] Aquele aluno era esforçado, esforçado.
Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in- • Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên- ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza- efeito, digo.
dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi- O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
rem uma nova inserção. ou seja, de fácil compreensão.
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go-
vernador) • Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-
tos).
Aspas ( “ ” ) O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para • Separa orações coordenadas assindéticas.
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain- Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
da, para marcar o discurso direto e a citação breve. ideias na cabeça...
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
• Isola o nome do lugar nas datas.
Vírgula Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes • Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
vírgula: conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor-
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti- mações comprovam, etc.
mos” o momento certo de fazer uso dela. Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em nizar o problema.
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex- ESTILÍSTICA: FIGURAS DE LINGUAGEM
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
menos importante e que pode ser colocada depois. Figuras de Linguagem
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or- As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo > valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um re-
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj). curso linguístico para expressar de formas diferentes experiências
Maria foi à padaria ontem. comuns, conferindo originalidade, emotividade ao discurso, ou tor-
Sujeito Verbo Objeto Adjunto nando-o poético.

Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor- As figuras de linguagem classificam-se em
re por alguns motivos: - figuras de palavra;
1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado. - figuras de pensamento;
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos. - figuras de construção ou sintaxe.
3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
verbo e o adjunto. Figuras de palavra: emprego de um termo com sentido dife-
rente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conse-
Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem guir um efeito mais expressivo na comunicação.
comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
é necessária: Metáfora: comparação abreviada, que dispensa o uso dos co-
Ontem, Maria foi à padaria. nectivos comparativos; é uma comparação subjetiva. Normalmente
Maria, ontem, foi à padaria. vem com o verbo de ligação claro ou subentendido na frase.
À padaria, Maria foi ontem.
Exemplos
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces- ...a vida é cigana
sário: É caravana
• Separa termos de mesma função sintática, numa enumera- É pedra de gelo ao sol.
ção. (Geraldo Azevedo/ Alceu Valença)
Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
serem observadas na redação oficial. Encarnado e azul são as cores do meu desejo.
• Separa aposto. (Carlos Drummond de Andrade)
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
• Separa vocativo.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Comparação: aproxima dois elementos que se identificam, Exemplo:
ligados por conectivos comparativos explícitos: como, tal qual, tal Sou Ana, da cama,
como, que, que nem. Também alguns verbos estabelecem a com- da cana, fulana, bacana
paração: parecer, assemelhar-se e outros. Sou Ana de Amsterdam.
(Chico Buarque)
Exemplo:
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando Paronomásia: Emprego de vocábulos semelhantes na forma ou
você entrou em mim como um sol no quintal. na prosódia, mas diferentes no sentido.
(Belchior)
Catacrese: emprego de um termo em lugar de outro para o Exemplo:
qual não existe uma designação apropriada. Berro pelo aterro pelo desterro berro por seu berro pelo seu
[erro
Exemplos quero que você ganhe que
– folha de papel [você me apanhe
– braço de poltrona sou o seu bezerro gritando
– céu da boca [mamãe.
– pé da montanha (Caetano Veloso)

Sinestesia: fusão harmônica de, no mínimo, dois dos cinco sen- Onomatopeia: imitação aproximada de um ruído ou som pro-
tidos físicos. duzido por seres animados e inanimados.

Exemplo: Exemplo:
Vem da sala de linotipos a doce (gustativa) música (auditiva) Vai o ouvido apurado
mecânica. na trama do rumor suas nervuras
(Carlos Drummond de Andrade) inseto múltiplo reunido
para compor o zanzineio surdo
A fusão de sensações físicas e psicológicas também é sineste- circular opressivo
sia: “ódio amargo”, “alegria ruidosa”, “paixão luminosa”, “indiferen- zunzin de mil zonzons zoando em meio à pasta de calor
ça gelada”. da noite em branco
(Carlos Drummond de Andrade)
Antonomásia: substitui um nome próprio por uma qualidade,
atributo ou circunstância que individualiza o ser e notabiliza-o. Observação: verbos que exprimem os sons são considerados
onomatopaicos, como cacarejar, tiquetaquear, miar etc.
Exemplos
O filósofo de Genebra (= Calvino). Figuras de sintaxe ou de construção: dizem respeito a desvios
O águia de Haia (= Rui Barbosa). em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem,
possíveis repetições ou omissões.
Metonímia: troca de uma palavra por outra, de tal forma que
a palavra empregada lembra, sugere e retoma a que foi omitida. Podem ser formadas por:
omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
Exemplos: repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
Leio Graciliano Ramos. (livros, obras) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
Comprei um panamá. (chapéu de Panamá) ruptura: anacoluto;
Tomei um Danone. (iogurte) concordância ideológica: silepse.

Alguns autores, em vez de metonímia, classificam como siné- Anáfora: repetição da mesma palavra no início de um período,
doque quando se têm a parte pelo todo e o singular pelo plural. frase ou verso.

Exemplo: Exemplo:
A cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro Dentro do tempo o universo
sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo. (singular pelo [na imensidão.
plural) Dentro do sol o calor peculiar
(José Cândido de Carvalho) [do verão.
Dentro da vida uma vida me
Figuras Sonoras [conta uma estória que fala
Aliteração: repetição do mesmo fonema consonantal, geral- [de mim.
mente em posição inicial da palavra. Dentro de nós os mistérios
[do espaço sem fim!
Exemplo: (Toquinho/Mutinho)
Vozes veladas veludosas vozes volúpias dos violões, vozes ve-
ladas. Assíndeto: ocorre quando orações ou palavras que deveriam
(Cruz e Sousa) vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem separadas por
vírgulas.
Assonância: repetição do mesmo fonema vocal ao longo de um
verso ou poesia.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo: Paciência tenho eu tido...
Não nos movemos, as mãos é (Antônio Nobre)
que se estenderam pouco a
pouco, todas quatro, pegando-se, Anacoluto: interrupção do plano sintático com que se inicia a
apertando-se, fundindo-se. frase, alterando a sequência do processo lógico. A construção do
(Machado de Assis) período deixa um ou mais termos desprendidos dos demais e sem
Polissíndeto: repetição intencional de uma conjunção coorde- função sintática definida.
nativa mais vezes do que exige a norma gramatical.
Exemplos:
Exemplo: E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas.
Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem (Manuel Bandeira)
tuge, nem muge.
(Rubem Braga) Aquela mina de ouro, ela não ia deixar que outras espertas bo-
tassem as mãos.
Pleonasmo: repetição de uma ideia já sugerida ou de um ter- (José Lins do Rego)
mo já expresso.
Hipálage: inversão da posição do adjetivo (uma qualidade que
Pleonasmo literário: recurso estilístico que enriquece a expres- pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase).
são, dando ênfase à mensagem.
Exemplo:
Exemplos: ...em cada olho um grito castanho de ódio.
Não os venci. Venceram-me (Dalton Trevisan)
eles a mim. ...em cada olho castanho um grito de ódio)
(Rui Barbosa)
Silepse:
Morrerás morte vil na mão de um forte. Silepse de gênero: Não há concordância de gênero do adjetivo
(Gonçalves Dias) ou pronome com a pessoa a que se refere.

Pleonasmo vicioso: Frequente na linguagem informal, cotidia- Exemplos:


na, considerado vício de linguagem. Deve ser evitado. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho...
(Rachel de Queiroz)
Exemplos:
Ouvir com os ouvidos. V. Ex.a parece magoado...
Rolar escadas abaixo. (Carlos Drummond de Andrade)
Colaborar juntos.
Hemorragia de sangue. Silepse de pessoa: Não há concordância da pessoa verbal com
Repetir de novo. o sujeito da oração.

Elipse: Supressão de uma ou mais palavras facilmente suben- Exemplos:


tendidas na frase. Geralmente essas palavras são pronomes, con- Os dois ora estais reunidos...
junções, preposições e verbos. (Carlos Drummond de Andrade)

Exemplos: Na noite do dia seguinte, estávamos reunidos algumas pessoas.


Compareci ao Congresso. (eu) (Machado de Assis)
Espero venhas logo. (eu, que, tu)
Ele dormiu duas horas. (durante) Silepse de número: Não há concordância do número verbal
No mar, tanta tormenta e tanto dano. (verbo Haver) com o sujeito da oração.
(Camões)
Exemplo:
Zeugma: Consiste na omissão de palavras já expressas anterior- Corria gente de todos os lados, e gritavam.
mente. (Mário Barreto)

Exemplos:
Foi saqueada a vila, e assassina dos os partidários dos Filipes. REESCRITURA DE FRASES: SUBSTITUIÇÃO, DESLOCA-
(Camilo Castelo Branco) MENTO, PARALELISMO
Rubião fez um gesto, Palha outro: mas quão diferentes.
(Machado de Assis) A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, difi-
cilmente, sobretudo para os escritores mais cuidadosos, chegamos
Hipérbato ou inversão: alteração da ordem direta dos elemen- ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que
tos na frase. observa um resultado ruim na primeira versão que escreveu terá,
na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório.
Exemplos: A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois,
Passeiam, à tarde, as belas na avenida. nesta, atemo-nos apenas aos pequenos detalhes, cuja ausência não
(Carlos Drummond de Andrade) implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Quando reescrevemos,  refazemos  nosso texto, é um proces- – se não, senão – quando se pode substituir por caso não, se-
so bem mais complexo, que parte do pressuposto de que o autor parado; quando não se pode, junto
tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente, – todo mundo – todos
possa melhorar seu texto até chegar a uma versão final, livre dos er- – todo o mundo – o mundo inteiro
ros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a desen- – não pagamento = hífen somente quando o segundo termo
volver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclarecer for substantivo
melhor seus objetivos e razões para a produção de textos. – este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo
presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando)
Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja – esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte
um processo de descoberta da escrita pelo próprio autor, que passa (tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do pre-
a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento sente, ou distante ao já mencionado e a ênfase).
do processo de escrever do aluno.
Expressões não recomendadas
Operações linguísticas de reescrita:
A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de ope- – a partir de (a não ser com valor temporal).
rações linguísticas encontradas neste momento específico da cons- Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de...
trução do texto escrito.
- Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um ele- – através de (para exprimir “meio” ou instrumento).
mento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema (...) mas tam- Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se-
bém do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de gundo...
várias frases.
- Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimi- – devido a.
do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acento, grafe- Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de.
mas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
- Substituição: supressão, seguida de substituição por um ter- – dito.
mo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um sintag- Opção: citado, mencionado.
ma, ou sobre conjuntos generalizados.
- Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por mo- – enquanto.
dificar sua ordem no processo de encadeamento. Opção: ao passo que.

Graus de Formalismo – inclusive (a não ser quando significa incluindo-se).


São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também.
como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o colo-
quial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se por – no sentido de, com vistas a.
construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, frases Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista.
curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso
de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente usado – pois (no início da oração).
entre membros de uma mesma família ou entre amigos). Opção: já que, porque, uma vez que, visto que.

As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de for- – principalmente.


malismo existente na situação de comunicação; com o modo de Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular.
expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a
sintonia entre interlocutores, que envolve aspectos como graus de
cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário espe-
cífico de algum campo científico, por exemplo). VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Expressões que demandam atenção É possível encontrar no Brasil diversas variações linguísticas,
– acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se como na linguagem regional. Elas  reúnem as variantes da língua
– aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, que foram criadas pelos homens e são reinventadas a cada dia.
aceito Delas surgem as variações que envolvem vários aspectos histó-
– acendido, aceso (formas similares) – idem ricos, sociais, culturais, geográficos, entre outros.
– à custa de – e não às custas de Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os
– à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, con- seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se
forme que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mes-
– na medida em que – tendo em vista que, uma vez que mo significado dentro de um mesmo contexto.
– a meu ver – e não ao meu ver As variações que distinguem uma variante de outra se mani-
– a ponto de – e não ao ponto de festam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico,
– a posteriori, a priori – não tem valor temporal sintático e lexical.
– em termos de – modismo; evitar
– enquanto que – o que é redundância Variações Morfológicas
– entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a Ocorrem nas formas constituintes da palavra. As diferenças en-
– implicar em – a regência é direta (sem em) tre as variantes não são tantas quanto as de natureza fônica, mas
– ir de encontro a – chocar-se com não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar:
– ir ao encontro de – concordar com

30
LÍNGUA PORTUGUESA
– uso de substantivos masculinos como femininos ou vice- – a ausência da preposição adequada antes do pronome relati-
-versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o vo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de:
champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal). de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que)
– a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e ad- eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio.
jetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os livro
indicado, as noite fria, os caso mais comum. Variações Léxicas
– o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que o Conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano do
Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições; Se léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e caracteri-
eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível que zam com nitidez uma variante em confronto com outra. São exem-
ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu. plos possíveis de citar:
– o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o – as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às
superlativo de adjetivos, recurso muito característico da linguagem vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado a
jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssimo), lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no Brasil
uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima), um carro hiperpossan- chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil, em Por-
te (em vez de possantíssimo). tugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz pequeno
– a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regula- almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que chamamos de
res: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir) suéter, malha, camiseta.
o recado, quando ele repor (repuser). – a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para
– a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregulares: formar o grau superlativo dos adjetivos, características da lingua-
vareia (varia), negoceia (negocia). gem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior difícil;
Esse amigo é um carinha maior esforçado.
Variações Fônicas
Ocorrem no modo de pronunciar os sons constituintes da pala- Designações das Variantes Lexicais:
vra. Entre esses casos, podemos citar: – Arcaísmo: palavras que já caíram de uso. Por exemplo, um bo-
– a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petró- balhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante usava-
polis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas típicas de -se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era supimpa.
pessoas de baixa condição social. – Neologismo: contrário do arcaísmo. São palavras recém-cria-
– A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das das, muitas das quais mal ou nem entraram para os dicionários. A na
regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande computação tem vários exemplos, como escanear, deletar, printar.
do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipira): – Estrangeirismo: emprego de palavras emprestadas de outra
quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, farol. língua, que ainda não foram aportuguesadas, preservando a forma
– deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar, de origem. Nesse caso, há muitas expressões latinas, sobretudo da
estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa condição social. linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus (literalmente, “tenhas
– a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem o corpo” ou, mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso facto
oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô. (“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo.
– o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me
alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, As palavras de origem inglesas são várias: feeling (“sensibilida-
hoje frequentes na fala caipira. de”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de informações
– a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, ma- básicas).
relo (amarelo), margoso (amargoso), características na linguagem – Jargão: vocabulário típico de um campo profissional como
oral coloquial. a medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. Furo é no-
tícia dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso, foi uma
Variações Sintáticas barriga.
Correlação entre as palavras da frase. No domínio da sintaxe, – Gíria: vocabulário especial de um grupo que não deseja ser
como no da morfologia, não são tantas as diferenças entre uma va- entendido por outros grupos ou que pretende marcar sua identida-
riante e outra. Como exemplo, podemos citar: de por meio da linguagem. Por exemplo, levar um lero (conversar).
– a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome – Preciosismo: é um léxico excessivamente erudito, muito raro:
“que” no início da frase mais a combinação da preposição “de” com procrastinar (em vez de adiar); cinesíforo (em vez de motorista).
o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a família – Vulgarismo: o contrário do preciosismo, por exemplo, de
dele (em vez de cuja família eu já conhecia). saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou (em vez de se deu mal,
– a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando arruinou-se).
se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com
você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz Tipos de Variação
me irrita. As variações mais importantes, são as seguintes:
– ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles che- – Sociocultural: Esse tipo de variação pode ser percebido com
gou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela se- certa facilidade.
mana muitos alunos; Comentou-se os episódios. – Geográfica: é, no Brasil, bastante grande. Ao conjunto das
– o uso de pronomes do caso reto com outra função que não características da pronúncia de uma determinada região dá-se o
a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão nome de sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque
sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de ti) gaúcho etc.
e ele. – De Situação: são provocadas pelas alterações das circuns-
– o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez de tâncias em que se desenrola o ato de comunicação. Um modo de
“o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem. falar compatível com determinada situação é incompatível com
outra

31
LÍNGUA PORTUGUESA
– Histórica: as línguas se alteram com o passar do tempo e com A Linguagem Popular ou Coloquial
o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o senti- É aquela usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mos-
do delas. Essas alterações recebem o nome de variações históricas. tra-se quase sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de
vícios de linguagem (solecismo – erros de regência e concordância;
barbarismo – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; ca-
cofonia; pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela
NORMA PADRÃO coordenação, que ressalta o caráter oral e popular da língua. A lin-
guagem popular está presente nas conversas familiares ou entre
A Linguagem Culta ou Padrão amigos, anedotas, irradiação de esportes, programas de TV e audi-
É aquela ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências tório, novelas, na expressão dos esta dos emocionais etc.
em que se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pes-
soas instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela Dúvidas mais comuns da norma culta
obediência às normas gramaticais. Mais comumente usada na lin-
guagem escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais Perca ou perda
artificial, mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas Isto é uma perda de tempo ou uma perca de tempo? Tomara
aulas, conferências, sermões, discursos políticos, comunicações que ele não perca o ônibus ou não perda o ônibus? Quais são as fra-
científicas, noticiários de TV, programas culturais etc. ses corretas com perda e perca? Certo: Isto é uma perda de tempo.
Ouvindo e lendo é que você aprenderá a falar e a escrever bem.
Procure ler muito, ler bons autores, para redigir bem. Embaixo ou em baixo
A aprendizagem da língua inicia-se em casa, no contexto fa- O gato está embaixo da mesa ou em baixo da mesa? Continua-
miliar, que é o primeiro círculo social para uma criança. A criança rei falando em baixo tom de voz ou embaixo tom de voz? Quais
imita o que ouve e aprende, aos poucos, o vocabulário e as leis são as frases corretas com embaixo e em baixo? Certo: O gato está
combinatórias da língua. Um falante ao entrar em contato com ou- embaixo da cama
tras pessoas em diferentes ambientes sociais como a rua, a escola
e etc., começa a perceber que nem todos falam da mesma forma. Ver ou vir
Há pessoas que falam de forma diferente por pertencerem a outras A dúvida no uso de ver e vir ocorre nas seguintes construções:
cidades ou regiões do país, ou por fazerem parte de outro grupo Se eu ver ou se eu vir? Quando eu ver ou quando eu vir? Qual das
ou classe social. Essas diferenças no uso da língua constituem as frases com ver ou vir está correta? Se eu vir você lá fora, você vai
variedades linguísticas. ficar de castigo!
Certas palavras e construções que empregamos acabam de-
nunciando quem somos socialmente, ou seja, em que região do Onde ou aonde
país nascemos, qual nosso nível social e escolar, nossa formação e, Os advérbios onde e aonde indicam lugar: Onde você está?
às vezes, até nossos valores, círculo de amizades e hobbies. O uso Aonde você vai? Qual é a diferença entre onde e aonde? Onde indi-
da língua também pode informar nossa timidez, sobre nossa capa- ca permanência. É sinônimo de em que lugar. Onde, Em que lugar
cidade de nos adaptarmos às situações novas e nossa insegurança. Fica?
A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas,
contida na maior parte dos livros, registros escritos, nas mídias te- Como escrever o dinheiro por extenso?
levisivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem: Os valores monetários, regra geral, devem ser escritos com al-
a linguagem regional, a gíria, a linguagem específica de grupos ou garismos: R$ 1,00 ou R$ 1 R$ 15,00 ou R$ 15 R$ 100,00 ou R$ 100
profissões. O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade R$ 1400,00 ou R$ 1400.
de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou
em nossa comunidade. O domínio da língua culta, somado ao do-
Obrigado ou obrigada
mínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais preparados
Segundo a gramática tradicional e a norma culta, o homem ao
para nos comunicarmos nos diferentes contextos lingísticos, já que
agradecer deve dizer obrigado. A mulher ao agradecer deve dizer
a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser a mes-
obrigada.
ma utilizada em uma reunião de amigos no final de semana.
Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empre-
Mal ou mau
gá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de que
participamos. Como essas duas palavras são, maioritariamente, pronunciadas
A norma culta é responsável por representar as práticas lin- da mesma forma, são facilmente confundidas pelos falantes. Qual a
guísticas embasadas nos modelos de uso encontrados em textos diferença entre mal e mau? Mal é um advérbio, antônimo de bem.
formais. É o modelo que deve ser utilizado na escrita, sobretudo Mau é o adjetivo contrário de bom.
nos textos não literários, pois segue rigidamente as regras gramati-
cais. A norma culta conta com maior prestígio social e normalmente “Vir”, “Ver” e “Vier”
é associada ao nível cultural do falante: quanto maior a escolariza- A conjugação desses verbos pode causar confusão em algumas
ção, maior a adequação com a língua padrão. situações, como por exemplo no futuro do subjuntivo. O correto é,
Exemplo: por exemplo, “quando você o vir”, e não “quando você o ver”.
Venho solicitar a atenção de Vossa Excelência para que seja Já no caso do verbo “ir”, a conjugação correta deste tempo ver-
conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima bal é “quando eu vier”, e não “quando eu vir”.
da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao
movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, “Ao invés de” ou “em vez de”
atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem “Ao invés de” significa “ao contrário” e deve ser usado apenas
se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte para expressar oposição.
violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas fun- Por exemplo: Ao invés de virar à direita, virei à esquerda.
ções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe.

32
LÍNGUA PORTUGUESA
Já “em vez de” tem um significado mais abrangente e é usado 2. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - ASSISTENTE SOCIAL -
principalmente como a expressão “no lugar de”. Mas ele também FCM - 2019)
pode ser usado para exprimir oposição. Por isso, os linguistas reco-
mendam usar “em vez de” caso esteja na dúvida. Um país do balacobaco
Mentor Neto
Por exemplo: Em vez de ir de ônibus para a escola, fui de bici-
cleta. 1. Nossa cultura popular é uma enciclopédia aberta, envolven-
te e rica em termos e frases de profundidade inquestionável. Co-
“Para mim” ou “para eu” nhecimento comum, da gente simples, do dia a dia, que resultou
Os dois podem estar certos, mas, se você vai continuar a frase em gotículas de sabedoria muitas vezes desprezadas. Ao longo dos
com um verbo, deve usar “para eu”. anos venho colecionando inúmeras. Utilizo esta enciclopédia aber-
Por exemplo: Mariana trouxe bolo para mim; Caio pediu para ta como repositório que, acredito, poderia ser de amplo emprego
eu curtir as fotos dele. por alguns brasileiros.
2. É verdade que algumas dessas expressões caíram em desuso,
“Tem” ou “têm” mas nem por isso perderam o brilhantismo. Por exemplo, no es-
Tanto “tem” como “têm” fazem parte da conjugação do verbo cândalo mais recente, o caso Intercept Brasil, o conselho “em boca
“ter” no presente. Mas o primeiro é usado no singular, e o segundo fechada não entra mosca” teria sido de profunda utilidade. 
no plural. 3. Há como descrever melhor o trabalho da Lava Jato do que
Por exemplo: Você tem medo de mudança; Eles têm medo de com um “cada enxadada uma minhoca”? Aos acusados ou suspei-
mudança. tos de corrupção, aos que se enriqueceram por meios ilícitos, um
“bobeou, dançou” cai feito uma luva.
“Há muitos anos”, “muitos anos atrás” ou “há muitos anos 4. “Entornar o caldo” me parece adequado quando nos refe-
atrás” rimos à cultura de delações premiadas na qual estamos imersos.
Usar “Há” e “atrás” na mesma frase é uma redundância, já que Por falar nisso, os delatores encontram um sábio conselho no “ajoe-
ambas indicam passado. O correto é usar um ou outro. lhou, tem que rezar” ou, quem sabe, no consagrado “colocar a boca
Por exemplo: A erosão da encosta começou há muito tempo; O no trombone”! Já aos que preferem manter o silêncio, “boca de siri”
romance começou muito tempo atrás. é o ideal.
Sim, isso quer dizer que a música Eu nasci há dez mil anos atrás, 5. Alguns personagens desse “bafafá” que tomou conta de nos-
de Raul Seixas, está incorreta. sa política são protagonistas tão importantes que merecem frases
conhecidas de aplicação exclusiva, já que “entraram numa fria”. Afi-
nal, como descrever mais precisamente o que ocorreu com aquele
que “foi pego com a boca na botija”?
EXERCÍCIOS 6. Para os destacados empresários do ramo frigorífico, um belo
“mamar na vaca você não quer, né?” é incontestável. Tenho certeza
1. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - AUXILIAR DE CONSULTÓ- de que o estimado leitor há de concordar.
RIO DENTÁRIO - FCM - 2019) 7. E os deputados e senadores? E os que infringiram acordos?
Ou aquilo está “um quiprocó”, “um perereco” do caramba mesmo.
O Sol e a Neve Alguns ministros “aparecem mais que umbigo de vedete”, mas a
real é que deveriam “sair de fininho”.
Era uma floquinha de neve que vivia no alto de uma montanha 8. A verdade é que o País está “do jeito que o diabo gosta” e
gelada. Um dia, se apaixonou pelo sol. E passou a flertar descarada- cabe a nós acabar logo com esse “lero-lero” e “partir pras cabeças”.
mente com ele. “Cuidado!”, alertaram os flocos mais experientes. Afinal, amigo, nossa situação “está mais feia que bater na mãe”.
“Você pode se derreter”. Mas a nevinha não queria nem saber e IstoÉ, n. 2581, 19 jun. 2019. Adaptado
continuava a olhar para o Sol, que com seus raios a queimava de
paixão. Ela nem percebia o quanto se derretia... e ficou ali um bom Avalie as informações sobre aspectos estilísticos e semânticos
tempo, só se derretendo, se derretendo. Quando viu, era uma goti- utilizados pelo autor do texto.
nha, uma pequena lágrima de amor descendo, com nobreza e deli- I. No período “Tenho certeza de que o estimado leitor há de
cadeza, a montanha. Lá embaixo, um rio esperava por ela. concordar...”, algumas palavras estão empregadas no sentido cono-
Disponível em: <file:///C:/Users/sosan/Downloads/2014-08a-18s- tativo.
-ep-05.pdf> Acesso em: 15 ago. 2019. II. Identifica-se a metonímia em um dos sintagmas da estrutura
frasal “... aos que se enriqueceram por meios ilícitos, um ‘bobeou,
No sentido figurado, a personificação confere características, dançou’ cai feito uma luva”. (§3)
qualidades e sentimentos de seres humanos a seres irracionais ou III. A locução adjetiva “do balacobaco”, presente no título, diz
inanimados. respeito a algo inverossímil, descontextualizado e que caiu em de-
O trecho em que a personificação NÃO aparece é suso.
(A) “Lá embaixo, um rio esperava por ela.” IV. Em “Nossa cultura popular é uma enciclopédia aberta, en-
(B) “... com seus raios a queimava de paixão.” volvente e rica em termos e frases de profundidade inquestionável”
(C) “Mas a nevinha (...) continuava a olhar para o sol”. (§1), uma das figuras de linguagem empregada é a personificação.
(D) “‘Cuidado’!, alertaram os flocos mais experientes.” V. A expressão “enciclopédia aberta” (§1) é uma metáfora, pois
nela as palavras foram retiradas do seu contexto convencional e um
novo campo de significação se instaurou por meio de uma compa-
ração implícita.

33
LÍNGUA PORTUGUESA
Está correto apenas o que se afirma em 5. (CORE-MT - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO - INSTITUTO EX-
(A) II e IV. CELÊNCIA - 2019)
(B) IV e V. Na tirinha abaixo, há dois exemplos de figura de linguagem,
(C) I, II, III. identifique-os e assinale a alternativa CORRETA:
(D) I, III e V.

3. (EMDEC - ADVOGADO JR - IBFC - 2019)

A perfeição (adaptado)

O susto de reencontrar alguém que não vemos há anos é o im-


pacto do tempo. O desmanche alheio incomoda? Claro que não,
apenas o nosso refletido na hipótese de estarmos também daquele
jeito. Há momentos nos quais o salto para o abismo do fim parece
mais dramático: especialmente entre 35 e 55. (...)
Agatha Christie deu um lindo argumento para todos nós que
envelhecemos. Na sua Autobiografia, narra que a solução de um ca-
samento feliz está em imitar o segundo casamento da autora: con-
trair núpcias com um arqueólogo (no caso, Max Mallowan), pois,
quanto mais velha ela ficava, mais o marido se apaixonava. Talvez
o mesmo indicativo para homens e mulheres estivesse na busca de
geriatras, restauradores, historiadores, egiptólogos ou, no limite, (A) Metáfora e pleonasmo.
tanatologistas. (B) Metáfora e antítese.
Envelhecer é complexo, a opção é mais desafiadora. O célebre (C) Metonímia e hipérbole.
historiador israelense Yuval Harari prevê que a geração alpha (nas- (D) Metonímia e ironia.
cidos no século em curso) chegará, no mínimo, a 120 anos se obti- (E) Nenhuma das alternativas.
ver cuidados básicos. O Brasil envelhece demograficamente e nós
poderíamos ser chamados de vanguarda do novo processo. Dizem 6. (CORE-MT - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO - INSTITUTO EX-
que Nelson Rodrigues aconselhava aos jovens que envelhecessem, CELÊNCIA - 2019)
como o melhor indicador do caminho a seguir. Não precisamos do Em “Tempos Modernos”, fez-se o uso de figuras de linguagem,
conselho pois o tempo é ceifador inevitável. (...) assinale a alternativa em que os termos destacados têm a classifi-
Como em toda peça teatral, o descer das cortinas pode ser cação corretamente:
a deixa para um aplauso caloroso ou um silêncio constrangedor,
quando não vaia estrondosa. É sabedoria que o tempo ensina, ao ”Hoje o tempo voa, amor
retirar nossa certeza com o processo de aprendizado. Hoje começa escorre pelas mãos
mais um dia e mais uma etapa possível. Hoje é um dia diferente de ...Vamos viver tudo que há pra viver .
todos. Você, tendo 16 ou 76, será mais velho amanhã e terá um dia ..eu vejo um novo começo de era
a menos de vida. Hoje é o dia. Jovens, velhos e adjacentes: é preciso de gente fina, elegante, sincera
ter esperança.  com habilidade para dizer mais sim do que não

Leia os trechos retirados do texto e assinale a alternativa (A) Prosopopeia / pleonasmo / gradação / antítese.
que não possui uma figura de linguagem em sua construção. (B) Metáfora / pleonasmo / gradação / antítese.
(A) “pois o tempo é ceifador inevitável.” (C) Metáfora / hipérbole / gradação / antítese.
(B) “deixa para um aplauso caloroso.” (D) Pleonasmo / metáfora / antítese / gradação.
(C) “É sabedoria que o tempo ensina.” (E) Nenhuma das alternativas.
(D) “Você, tendo 16 ou 76, será mais velho amanhã.”
7. (PREFEITURA DE PIRACICABA - SP - PROFESSOR - EDUCA-
4. (CORE-MT – FISCAL - INSTITUTO EXCELÊNCIA - 2019) ÇÃO INFANTIL - VUNESP - 2020)

Assinale a alternativa que contém as figuras de linguagem cor- Escola inclusiva


respondentes aos períodos a seguir:
I- “Está provado, quem ama o feio, bonito lhe parece.” É alvissareira a constatação de que 86% dos brasileiros concor-
II- “ Era a união do amor e o ódio.” dam que há melhora nas escolas quando se incluem alunos com
III- Ele foi discriminado por faltar com a verdade.” deficiência.
Uma década atrás, quando o país aderiu à Convenção sobre
IV- Marta quase morreu de tanto rir no circo.
os Direitos das Pessoas com Deficiência e assumiu o dever de uma
educação inclusiva, era comum ouvir previsões negativas para tal
(A) ironia - antítese - eufemismo - hipérbole.
perspectiva generosa. Apesar das dificuldades óbvias, ela se tornou
(B) eufemismo - ironia - hipérbole - antítese.
lei em 2015 e criou raízes no tecido social.
(C) hipérbole - eufemismo - antítese - ironia.
A rede pública carece de profissionais satisfatoriamente qualifi-
(D) antítese - hipérbole – ironia – eufemismo.
cados até para o mais básico, como o ensino de ciências; o que dizer
(E) Nenhuma das alternativas.
então de alunos com gama tão variada de dificuldades.
Os empecilhos vão desde o acesso físico à escola, como o en-
frentado por cadeirantes, a problemas de aprendizado criados por
limitações sensoriais – surdez, por exemplo – e intelectuais.

34
LÍNGUA PORTUGUESA
Bastaram alguns anos de convívio em sala, entretanto, para Em “A Guerra das Salamandras”, romance de 1936 do tcheco
minorar preconceitos. A maioria dos entrevistados (59%), hoje, dis- Karel Čapek (pronuncia-se tchá-pek), um explorador descobre na
corda de que crianças com deficiência devam aprender só na com- costa de Sumatra uma raça de lagartos gigantes, hábeis em colher
panhia de colegas na mesma condição. pérolas e construir diques submarinos. Em troca das pérolas que as
Tal receptividade decerto não elimina o imperativo de contar salamandras lhe entregam, ele lhes fornece facas para se defende-
com pessoal capacitado, em cada estabelecimento, para lidar com rem dos tubarões. O resto, você adivinhou: as salamandras se re-
necessidades específicas de cada aluno. O censo escolar indica 1,2 produzem, tornam-se milhões, ocupam os litorais, aprendem a falar
milhão de alunos assim categorizados. Embora tenha triplicado o e inundam os continentes. São agora bilhões e tomam o mundo.
número de professores com alguma formação em educação espe- Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem
cial inclusiva, contam-se não muito mais que 100 mil deles no país. se tornar as salamandras de Čapek. É que, no livro, as salamandras
Não se concebe que possa haver um especialista em cada sala de aprendem a gerir o mundo melhor do que nós. Com os micróbios
aula. no comando, nossos mares, pelo menos, estarão a salvo.
As experiências mais bem-sucedidas criaram na escola uma es- Ruy Castro, jornalista, biógrafo e escritor brasileiro. Folha de S. Paulo.
trutura para o atendimento inclusivo, as salas de recursos. Aí, ao Caderno Opinião, p. A2, 20 mai. 2019.
menos um profissional preparado se encarrega de receber o aluno
e sua família para definir atividades e de auxiliar os docentes do Os pronomes pessoais oblíquos átonos, em relação ao verbo,
período regular nas técnicas pedagógicas. possuem três posições: próclise (antes do verbo), mesóclise (no
Não faltam casos exemplares na rede oficial de ensino. Compe- meio do verbo) e ênclise (depois do verbo).
te ao Estado disseminar essas iniciativas exitosas por seus estabele- Avalie as afirmações sobre o emprego dos pronomes oblíquos
cimentos. Assim se combate a tendência ainda existente a segregar nos trechos a seguir.
em salas especiais os estudantes com deficiência – que não se con- I – A próclise se justifica pela presença da palavra negativa: “E
funde com incapacidade, como felizmente já vamos aprendendo. não se contenta em brindar os mares, rios e lagoas com seus pró-
(Editorial. Folha de S.Paulo, 16.10.2019. Adaptado) prios dejetos.”
II – A ênclise ocorre por se tratar de oração iniciada por verbo:
Assinale a alternativa em que, com a mudança da posição do
“Intoxica-os também com garrafas plásticas, pneus, computadores,
pronome em relação ao verbo, conforme indicado nos parênteses,
sofás e até carcaças de automóveis.”
a redação permanece em conformidade com a norma-padrão de
III – A próclise é sempre empregada quando há locução verbal:
colocação dos pronomes.
“Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem se
(A) ... há melhora nas escolas quando se incluem alunos com
tornar as salamandras de Čapek.”
deficiência. (incluem-se)
IV – O sujeito expresso exige o emprego da ênclise: “O ser hu-
(B) ... em educação especial inclusiva, contam-se  não muito
mano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o câncer e pro-
mais que 100 mil deles no país. (se contam)
(C) Não se concebe que possa haver um especialista em cada duzir um ‘Dom Quixote’”.
sala de aula. (concebe-se)
(D) Aí, ao menos um profissional preparado  se  encarrega de Está correto apenas o que se afirma em
receber o aluno... (encarrega-se) (A) I e II.
(E) ... que não se confunde com incapacidade, como felizmente (B) I e III.
já vamos aprendendo. (confunde-se) (C) II e IV.
(D) III e IV.
8. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - AGENTE COMUNITÁ-
RIO DE SAÚDE - FCM - 2019) 9. (PREFEITURA DE BIRIGUI - SP - EDUCADOR DE CRECHE -
VUNESP - 2019)
Dieta salvadora Certo discurso ambientalista tradicional recorrentemente bus-
A ciência descobre um micróbio adepto de um ca indícios de que o problema ambiental seja universal (e de fato
alimento abundante: o lixo plástico no mar. é), atemporal (nem tanto) e generalizado (o que é desejável). Algu-
ma ingenuidade conceitual poderia marcar o ambientalismo apo-
O ser humano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o logético; haveria dilemas ambientais em todos os lugares, tempos,
câncer e produzir um “Dom Quixote”. Só não consegue dar um des- culturas. É a bambificação(*) da natureza. Necessária, no entanto,
tino razoável ao lixo que produz. E não se contenta em brindar os como condição de sobrevivência. Há quem tenha encontrado nor-
mares, rios e lagoas com seus próprios dejetos. Intoxica-os também mas ambientais na Bíblia, no Direito grego, e até no Direito romano.
com garrafas plásticas, pneus, computadores, sofás e até carcaças São Francisco de Assis, nessa linha, prosaica, seria o santo padroeiro
de automóveis. Tudo que perde o uso é atirado num curso d’água, das causas ambientais; falava com plantas e animais.
subterrâneo ou a céu aberto, que se encaminha inevitavelmente A proteção do meio ambiente seria, nesse contexto, instintiva,
para o mar. O resultado está nas ilhas de lixo que se formam, da predeterminando objeto e objetivo. Por outro lado, e este é o meu
Guanabara ao Pacífico. argumento, quando muito, e agora utilizo uma categoria freudiana,
De repente, uma boa notícia. Cientistas da Grécia, Suíça, Itália, a pretensão de proteção ambiental seria pulsional, dado que resiste
China e dos Emirados Árabes descobriram em duas ilhas gregas um a uma pressão contínua, variável na intensidade. Assim, numa di-
micróbio marinho que se alimenta do carbono contido no plástico mensão qualitativa, e não quantitativa, é que se deveria enfrentar
jogado ao mar. Parece que, depois de algum tempo ao sol e atacado a questão, que também é cultural. E que culturalmente pode ser
pelo sal, o plástico, seja mole, como o das sacolas, ou duro, como o abordada.
das embalagens, fica quebradiço – no ponto para que os micróbios, O problema, no entanto, é substancialmente econômico. O
de guardanapo ao pescoço, o decomponham e façam a festa. Os dilema ambiental só se revela como tal quando o meio ambiente
cientistas estão agora criando réplicas desses micróbios, para que passa a ser limite para o avanço da atividade econômica. É nesse
eles ajudem os micróbios nativos a devorar o lixo. Haja estômago. sentido que a chamada internalização da externalidade negativa
exige justificativa para uma atuação contra-fática.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Uma nuvem de problematização supostamente filosófica tam- No plano econômico, a plena mobilidade da mão de obra se-
bém rondaria a discussão. Antropocêntricos acreditam que a prote- ria muito bem-vinda. Segundo algumas estimativas, ela faria o PIB
ção ambiental seria narcisística, centrada e referenciada no próprio mundial aumentar em até 50%. Mesmo que esses cálculos estejam
homem. Os geocêntricos piamente entendem que a natureza deva inflados, só uma fração de 10% já significaria um incremento da or-
ser protegida por próprios e intrínsecos fundamentos e característi- dem de US$ 10 trilhões (uns cinco Brasis).
cas. Posições se radicalizam. Uma das principais razões para o mundo ser mais pobre do
A linha de argumento do ambientalista ingênuo lembra-nos o que poderia é que enormes contingentes de humanos vivem sob
“salto do tigre” enunciado pelo filósofo da cultura Walter Benjamin, sistemas que os impedem de ser produtivos. Um estudo de 2016
em uma de suas teses sobre a filosofia da história. Qual um tigre de Clemens, Montenegro e Pritchett estimou que só tirar um tra-
mergulhamos no passado, e apenas apreendemos o que interessa balhador macho sem qualificação de seu país pobre de origem e
para nossa argumentação. É o que se faz, a todo tempo. transportá-lo para os EUA elevaria sua renda anual em US$ 14 mil.
(Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy. Disponível em: https://www. A imigração se torna ainda mais tentadora quando se considera
conjur.com.br/2011. Acesso em: 10.08.2019. Adaptado) que é a resposta perfeita para países desenvolvidos que enfrentam
o problema do envelhecimento populacional.
(*) Referência ao personagem Bambi, filhote de cervo conhe- Não obstante tantas virtudes, imigrantes podem ser maltrata-
cido como “Príncipe da Floresta”, em sua saga pela sobrevivência dos e até perseguidos quando cruzam a fronteira, especialmente
na natureza.  se vêm em grandes números. Isso está acontecendo até no Brasil,
que não tinha histórico de xenofobia. Desconfio de que estão em
Assinale a alternativa que reescreve os trechos destacados em- operação aqui vieses da Idade da Pedra, tempo em que membros
pregando pronomes, de acordo com a norma-padrão de regência e de outras tribos eram muito mais uma ameaça do que uma solução.
colocação. De todo modo, caberia às autoridades incentivar a imigração,
Uma nuvem de problematização supostamente filosófica tam- tomando cuidado para evitar que a chegada dos estrangeiros dê
bém rondaria a discussão. / Alguma ingenuidade conceitual pode- pretexto para cenas de barbárie. Isso exigiria recebê-los com inte-
ria marcar o ambientalismo apologético. ligência, minimizando choques culturais e distribuindo as famílias
(A) ... lhe rondaria ... o poderia marcar por regiões e cidades em que podem ser mais úteis. É tudo o que
(B) ... rondá-la-ia ... poderia marcar ele não estamos fazendo.
(C) ... rondaria-a ... podê-lo-ia marcar (Hélio Schwartsman. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/
(D) ... rondaria-lhe ... poderia o marcar colunas/.28.08.2018. Adaptado)
(E) ... a rondaria ... poderia marcá-lo Considere as frases:
• países desenvolvidos que enfrentam o problema do envelhe-
cimento populacional. (4º parágrafo)
10. (PREFEITURA DE CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE -
• ... minimizando choques culturais e distribuindo  as famí-
TÉCNICO EM SANEAMENTO - IBFC - 2019)
lias por regiões e cidades em que podem ser mais úteis. (6º pará-
grafo)
Vou-me embora pra Pasárgada,
lá sou amigo do Rei”.
A substituição das expressões em destaque por pronomes está
(M.Bandeira)
de acordo com a norma-padrão de emprego e colocação em:
(A) enfrentam-no; distribuindo-lhes.
Quanto à regra de colocação pronominal utilizada, assinale a (B) o enfrentam; lhes distribuindo.
alternativa correta. (C) o enfrentam; distribuindo-as.
(A) Ênclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou (D) enfrentam-no; lhes distribuindo.
pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos- (E) lhe enfrentam; distribuindo-as.
posto ao verbo.
(B) Próclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou 12. (PREFEITURA DE PERUÍBE - SP – SECRETÁRIO DE ESCOLA
pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos- - VUNESP - 2019)
posto ao verbo. Considere a frase a seguir. Como as crianças são naturalmente
(C) Mesóclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou agitadas, cabe aos adultos impor às crianças limites que garantam
pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos- às crianças um desenvolvimento saudável. Para eliminar as repeti-
posto ao verbo. ções da frase, as expressões destacadas devem ser substituídas, em
(E) Próclise: em orações iniciadas com verbos no imperativo conformidade com a norma-padrão da língua, respectivamente, por
afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado posposto ao (A) impor-nas ... lhes garantam
verbo. (B) impor-lhes ... as garantam
(C) impô-las ... lhes garantam
11. (PREFEITURA DE PERUÍBE - SP - INSPETOR DE ALUNOS (D) impô-las ... as garantam
- VUNESP - 2019) (E) impor-lhes ... lhes garantam
Pelo fim das fronteiras
13. (PREFEITURA DE BLUMENAU - SC - PROFESSOR - GEO-
Imigração é um fenômeno estranho. Do ponto de vista pura- GRAFIA – MATUTINO - FURB – 2019)
mente racional, ela é a solução para vários problemas globais. Mas, O tradicional desfile do aniversário de Blumenau, que completa
como o mundo é um lugar menos racional do que deveria, pessoas 169 anos de fundação nesta segunda-feira, teve outra data especial
que buscam refúgio em outros países costumam ser recebidas com para comemorar: os 200 anos de nascimento do Doutor Hermann
desconfiança quando não com violência, o que diminui o valor da Blumenau. __________ 15 mil pessoas que estiveram na Rua XV de
imigração como remédio multiuso. Novembro nesta manhã acompanhando o desfile, de acordo com
estimativa da Fundação Cultural, conheceram um pouco mais da
vida do fundador do município. [...] O desfile também apresentou

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LÍNGUA PORTUGUESA
aspectos da colonização alemã no Vale do Itajaí. Dessa forma, as 17. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
bandeiras e moradores das 42 cidades do território original de Blu- a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer
menau, que foi fundado por Hermann, também estiveram repre- exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
sentadas na Rua XV de Novembro. [...] orações.
Disponível em: <https://www.nsctotal.com.br/noticias/desfile-em-blu- (A) Oração coordenada assindética e oração coordenada
menau-comemora-o-aniversario-da-cidade-e-os-200-anos-do-funda- adversativa.
dor>.Acesso em: 02 set. 2019.[adaptado] (B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
(C) Oração coordenada assindética e oração coordenada
No mesmo excerto “Dessa forma, as bandeiras e moradores aditiva.
das 42 cidades do território original de Blumenau, que foi fundado (D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
por Hermann, também estiveram representadas na Rua XV de No- tiva.
vembro.”, a palavra destacada pertence à classe gramatical: (E) Oração coordenada assindética e oração coordenada
(A) conjunção adverbial consecutiva.
(B) pronome
(C) preposição 18. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) Ana-
(D) advérbio lise sintaticamente a oração em destaque:
(E) substantivo “Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen-
sados” (Machado de Assis).
14. (PREFEITURA DE BLUMENAU - SC - PROFESSOR - PORTU- (A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
GUÊS – MATUTINO - FURB – 2019) (B) oração subordinada adverbial causal.
(C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida.
Determinado, batalhador, estudioso, dedicado e inquieto. Mui- (D) oração coordenada sindética conclusiva.
tos são os adjetivos que encontramos nos livros de história para (E) oração coordenada sindética explicativa.
definir Hermann Blumenau. Desde os primeiros anos da colônia, es-
teve determinado a construir uma casa melhor para viver com sua 19. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI-
família, talvez em um terreno que lhe pertencia no morro do aipim. NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser
Infelizmente, nunca concretizou este sonho, porém, nunca deixou um processo de observação cristalina para assumir um discurso de
de zelar por tudo aquilo que lhe dizia respeito.[...] políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase
Disponível em: <https://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/funda- nada retratam as necessidades de populações distintas.”.
cao-cultural/fcblu/memaoria-digital-ao-comemoraacaao-200-anos-dr- A oração grifada no trecho acima classifica-se como:
-blumenau85>. Acesso em: 05 set. 2019. [adaptado] (A) subordinada substantiva predicativa;
(B) subordinada adjetiva restritiva;
Sobre a colocação dos pronomes átonos nos excertos: “...talvez (C) subordinada substantiva subjetiva;
em um terreno que lhe pertencia no morro do aipim.” e “...zelar por (D) subordinada substantiva objetiva direta;
tudo aquilo que  lhe  dizia respeito.”, podemos afirmar que ambas (E) subordinada adjetiva explicativa.
as próclises estão corretas, pois o verbo está precedido de palavras
que atraem o pronome para antes do verbo. Assinale a alternativa 20. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No
que identifica essas palavras atrativas dos excertos: trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são
(A) palavras de sentido negativo classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como:
(B) advérbios “Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia,
(C) conjunções subordinativas mas nunca à custa de nossos filhos...”
(D) pronomes demonstrativos (A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada
(E) pronomes relativos sindética adversativa;
(B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética
15. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração explicativa;
e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um (C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver-
(a): bial concessiva;
“A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças (D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada
americanas, entre na fila.” sindética adversativa;
(A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e (E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial
subordinadas. concessiva.
(B) Período, composto por três orações.
(C) Oração, pois possui sentido completo. 21. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No pe-
(D) Período, pois é composto por frases e orações. ríodo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um
governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a
16. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS – história.”, a oração sublinhada é classificada como:
2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não dor- (A) coordenada assindética;
miu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segunda (B) subordinada substantiva completiva nominal;
oração. (C) subordinada substantiva objetiva indireta;
(A) Oração coordenada assindética aditiva. (D) subordinada substantiva apositiva.
(B) Oração coordenada sindética aditiva.
(C) Oração coordenada sindética adversativa.
(D) Oração coordenada sindética explicativa.
(E) Oração coordenada sindética alternativa.

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LÍNGUA PORTUGUESA
22. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a (C) sábio.
série em que o hífen está corretamente empregado nas cinco pa- (D) também.
lavras: (E) lâmpada.
(A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
-vermelho. 27. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL
(B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, – 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamen-
infra-assinado. te por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
(C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiêni- (A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
co. (B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con- (C) Pretendo viajar a Paraíba.
trarregra. (D) Ele gosta de bife à cavalo.
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
-mencionado. 28. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração
“Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata-
23. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se
2003) Indique o item em que todas as palavras estão corretamente a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
empregadas e grafadas. locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o marcada com o acento, EXCETO em:
poder de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de (A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
qualquer excesso e violência. (B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata- eleitorado pelo resultado final.
mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem (C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do siste-
suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo ma.
isso, num modo de intervenção específico. (D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú-
(C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o vel.
poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violen- (E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o
to em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de sistema.
revolta que ambos possam suscitar.
(D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po- 29. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode
der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma
corpo dos supliciados. padrão na seguinte sentença:
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um (A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con- (B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua (C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
organização em delinqüência. (D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
(E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.
24. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR
– 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é: 30. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
(A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacida- DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
de extraordinária de imitar vários estilos musicais. pontuação em:
(B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti- (A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi-
mentos pessoais por meio de sua música. dados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
(C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das (B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra-
composições do músico na cultura ocidental. teiramente pela porta?
(D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compo- (C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se
sitor termina em uma cena de reconciliação entre os persona- tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
gens. (D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem
(E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se muito branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com
deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração. os irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
(E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre-
25. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alter- penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
nativa em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão. cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
(A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”.
(B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”. 31. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-
(C) “sérios”, “potência”, “após”. mente correta a pontuação do seguinte período:
(D) “Goiás”, “já”, “vários”. (A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
(E) “solidária”, “área”, “após”. pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
26. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA- sem importância, ditam o rumo de toda a história.
TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex- (B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de peque-
objetivo é a seguinte: nas providências que tomadas por figurantes, aparentemente
(A) pôr. sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(B) ilhéu.

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LÍNGUA PORTUGUESA
(C) Os personagens principais de uma história, responsáveis 35. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012)
pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações
providências, que, tomadas por figurantes aparentemente, de concordância no texto abaixo.
sem importância, ditam o rumo de toda a história. O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra-
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de peque- tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo-
nas providências, que tomadas por figurantes aparentemente ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de-
sem importância, ditam o rumo de toda a história. flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de pequenas Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan-
providências, que tomadas por figurantes, aparentemente, ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de
sem importância, ditam o rumo de toda a história. salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa
Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência
32. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital,
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF.
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase (A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de
acima, na ordem dada, as expressões: plural em “deflacionados”.
(A) a que – de que; (B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de
(B) de que – com que; plural em “Elevaram-se”.
(C) a cujas – de cujos; (C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar
(D) à que – em que; as regras de concordância com “economia”.
(E) em que – aos quais. (D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão
de singular em “fez aumentar”.
33. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008) (E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordân-
Assinale o trecho que apresenta erro de regência. cia com “relevantes”.
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil 36. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
fecha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
a maior taxa registrada na última década. o seguinte par de palavras:
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere (A) estrondo – ruído;
que serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo (B) pescador – trabalhador;
foi a conhecida Comissão Econômica para a América Latina (C) pista – aeroporto;
(CEPAL). (D) piloto – comissário;
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momen- (E) aeronave – jatinho.
to em que atingimos um bom superávit em conta-corrente,
em que se revela queda no desemprego e até se anuncia a 37. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA
ampliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma
de novas fontes de petróleo. questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continen- sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque
te, percebe-se que nossa performance é inferior a que foi tem como antônimo:
atribuída a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com (A) fortuna;
participação menor no conjunto dos bens produzidos pela (B) opulência;
América Latina. (C) riqueza;
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, (D) escassez;
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro (E) abundância.
da América Latina, o organismo internacional está atribuindo
um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior 38. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) –
do que o do Brasil. 2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo
mesmo processo de formação é:
34. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – (A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso;
2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor- (B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer;
reta. (C) deslealdade, colunista, incrível;
(A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo. (D) anoitecer, festeiro, infeliz;
(B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros. (E) reeducação, dignidade, enriquecer.
(C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que
35% deles fosse despejado em aterros. 39. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo. 2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação
de lixo. utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a
palavra primitiva foi formada respectivamente é:
(A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté-
tica (en + trist + ecer);
(B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria
(en + triste + cer);

39
LÍNGUA PORTUGUESA
(C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação paras- Leia o texto abaixo para responder a questão.
sintética (en + trist + ecer); A lama que ainda suja o Brasil
(D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi- Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)
xal (des + entristecer);
(E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti- A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
ca (des + entristecer). dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei-
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
40. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio
2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu-
formada por derivação: peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
(A) parassintética; pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela
(B) prefixal; anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica-
(C) sufixal; ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de
(D) imprópria; que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro-
(E) regressiva. funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro,
coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica,
41. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos
artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é: se tornou uma bomba relógio na região.”
(A) pronome; Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem ris-
(B) adjetivo; cos de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Se-
(C) advérbio; gundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos
(D) substantivo; 16 barragens de mineração em todo o País apresentam condições
(E) preposição. de insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar
órgãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
42. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015,
morfológica do pronome “alguém” (l. 44). do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
(A) Pronome demonstrativo. tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo marco
(B) Pronome relativo. regulatório da mineração, por sua vez, também concede priorida-
(C) Pronome possessivo. de à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos ju-
(D) Pronome pessoal. diciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz
(E) Pronome indefinido. Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
43. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+-
oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba- QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL
lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
nhados classificam-se, respectivamente, em 45. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
(A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo. I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
(B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo. fato.
(C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome. II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo. gênero textual editorial.
(E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio. III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
que se trata de uma reportagem.
44. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
é a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO se trata de um editorial.
se fundamenta em intertextualidade é:
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morri- Analise as assertivas e responda:
do há muito tempo.” (A) Somente a I é correta.
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se (B) Somente a II é incorreta.
mete onde não é chamada.” (C) Somente a III é correta
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a (D) A III e IV são corretas.
gente mesmo!”
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, 46. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que
tudo bem.” ainda suja o Brasil”:
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas
no desenvolvimento do assunto.
II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro-
blemas no uso de conjunções e preposições.
III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes
de palavras e da ordem sintática.
IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão
temática e bom uso dos recursos coesivos.

Analise as assertivas e responda:


(A) Somente a I é correta.

40
LÍNGUA PORTUGUESA
(B) Somente a II é incorreta. — Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da
(C) Somente a III é correta. baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que
(D) Somente a IV é correta. vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?
Leia o texto abaixo para responder as questões. Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca-
UM APÓLOGO beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
Machado de Assis. — Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam,
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola- fico.
da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis-
— Deixe-me, senhora. se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está muita linha ordinária!
com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
der na cabeça. 47. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona-
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique
o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os
outros. elementos dos textos:
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
daço ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o (A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto… rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?”
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a (L.06)
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en- (C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adian-
fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando te, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre faço e mando...” (L.14-15)
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há
isto uma cor poética. E dizia a agulha: pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é eles, furando abaixo e acima.” (L.25-26)
que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo (E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para
e acima… ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela de costura. Faze como eu, que não abro caminho para nin-
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe guém. Onde me espetam, fico.” (L.40-41)
o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que
ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era 48. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar outros
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli- valores semânticos além da noção de dimensão, como afetividade,
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi-
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de:
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que (A) dimensão e pejoratividade;
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para (B) afetividade e intensidade;
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da (C) afetividade e dimensão;
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, (D) intensidade e dimensão;
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, (E) pejoratividade e afetividade.
perguntou-lhe:

41
LÍNGUA PORTUGUESA
49. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co- 20 D
mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi- 21 B
vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado. 22 D
(A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de
nossa ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11) 23 B
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agu- 24 C
lha. Agulha não tem cabeça.” (L.06)
25 A
(C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13) 26 A
(D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi- 27 A
nária!” (L.43)
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pou- 28 D
co?” (L.25) 29 B

50. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo 30 E


metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente 31 A
de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre-
32 A
sente no texto:
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação 33 D
equânime em ambientes coletivos de trabalho; 34 E
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho; 35 A
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho, 36 E
cada sujeito possui atribuições próprias.
37 D
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole-
tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do 38 A
sujeito. 39 A
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho,
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais. 40 D
41 A
42 E
GABARITO 43 B
44 E
45 C
1 B
46 D
2 B
47 E
3 D
48 D
4 A
49 D
5 C
50 D
6 A
7 D
8 A
9 E
10 A
11 C
12 E
13 B
14 E
15 B
16 C
17 C
18 E
19 A

42
RACIOCÍNIO LÓGICO
1. Proposições, conectivos, equivalências lógicas, quantificadores e predicados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conjuntos e suas operações, diagramas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3. Números inteiros, racionais e reais e suas operações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4. Porcentagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5. Proporcionalidade direta e inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
6. Medidas de comprimento, área, volume, massa e tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
7. Estrutura lógica de relações arbitrárias entre pessoas, lugares, objetos ou eventos fictícios; dedução de novas informações das rela-
ções fornecidas e avaliação das condições usadas para estabelecer a estrutura daquelas relações. Compreensão e análise da lógica de
uma situação, utilizando as funções intelectuais: raciocínio verbal, raciocínio matemático, raciocínio sequencial, reconhecimento de
padrões, orientação espacial e temporal, formação de conceitos, discriminação de elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
8. Compreensão de dados apresentados em gráficos e tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
9. Problemas de lógica e raciocínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
10. Problemas de contagem e noções de probabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
11. Geometria básica: ângulos, triângulos, polígonos, distâncias, proporcionalidade, perímetro e área . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
12. Noções de estatística: média, moda, mediana e desvio padrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
RACIOCÍNIO LÓGICO

PROPOSIÇÕES, CONECTIVOS, EQUIVALÊNCIAS LÓGICAS, QUANTIFICADORES E PREDICADOS. ESTRUTURA LÓGICA


DE RELAÇÕES ARBITRÁRIAS ENTRE PESSOAS, LUGARES, OBJETOS OU EVENTOS FICTÍCIOS; DEDUÇÃO DE NOVAS
INFORMAÇÕES DAS RELAÇÕES FORNECIDAS E AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES USADAS PARA ESTABELECER A ESTRU-
TURA DAQUELAS RELAÇÕES. COMPREENSÃO E ANÁLISE DA LÓGICA DE UMA SITUAÇÃO, UTILIZANDO AS FUNÇÕES
INTELECTUAIS: RACIOCÍNIO VERBAL, RACIOCÍNIO MATEMÁTICO, RACIOCÍNIO SEQUENCIAL, RECONHECIMENTO DE
PADRÕES, ORIENTAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL, FORMAÇÃO DE CONCEITOS, DISCRIMINAÇÃO DE ELEMENTOS. PRO-
BLEMAS DE LÓGICA E RACIOCÍNIO

RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO


Este tipo de raciocínio testa sua habilidade de resolver problemas matemáticos, e é uma forma de medir seu domínio das diferentes
áreas do estudo da Matemática: Aritmética, Álgebra, leitura de tabelas e gráficos, Probabilidade e Geometria etc. Essa parte consiste nos
seguintes conteúdos:
- Operação com conjuntos.
- Cálculos com porcentagens.
- Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geométricos e matriciais.
- Geometria básica.
- Álgebra básica e sistemas lineares.
- Calendários.
- Numeração.
- Razões Especiais.
- Análise Combinatória e Probabilidade.
- Progressões Aritmética e Geométrica.

RACIOCÍNIO LÓGICO DEDUTIVO


Este tipo de raciocínio está relacionado ao conteúdo Lógica de Argumentação.

ORIENTAÇÕES ESPACIAL E TEMPORAL


O raciocínio lógico espacial ou orientação espacial envolvem figuras, dados e palitos. O raciocínio lógico temporal ou orientação tem-
poral envolve datas, calendário, ou seja, envolve o tempo.
O mais importante é praticar o máximo de questões que envolvam os conteúdos:
- Lógica sequencial
- Calendários

RACIOCÍNIO VERBAL
Avalia a capacidade de interpretar informação escrita e tirar conclusões lógicas.
Uma avaliação de raciocínio verbal é um tipo de análise de habilidade ou aptidão, que pode ser aplicada ao se candidatar a uma vaga.
Raciocínio verbal é parte da capacidade cognitiva ou inteligência geral; é a percepção, aquisição, organização e aplicação do conhecimento
por meio da linguagem.
Nos testes de raciocínio verbal, geralmente você recebe um trecho com informações e precisa avaliar um conjunto de afirmações,
selecionando uma das possíveis respostas:
A – Verdadeiro (A afirmação é uma consequência lógica das informações ou opiniões contidas no trecho)
B – Falso (A afirmação é logicamente falsa, consideradas as informações ou opiniões contidas no trecho)
C – Impossível dizer (Impossível determinar se a afirmação é verdadeira ou falsa sem mais informações)

ESTRUTURAS LÓGICAS
Precisamos antes de tudo compreender o que são proposições. Chama-se proposição toda sentença declarativa à qual podemos atri-
buir um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso, nunca ambos. Trata-se, portanto, de uma sentença fechada.

Elas podem ser:


• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.

1
RACIOCÍNIO LÓGICO
• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Proposições Compostas – Conectivos


As proposições compostas são formadas por proposições simples ligadas por conectivos, aos quais formam um valor lógico, que po-
demos vê na tabela a seguir:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

2
RACIOCÍNIO LÓGICO

Bicondicional ↔ p se e somente se q

Em síntese temos a tabela verdade das proposições que facilitará na resolução de diversas questões

Exemplo:
(MEC – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA OS POSTOS 9,10,11 E 16 – CESPE)

A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F corres-
pondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro e falso.
Com base nessas informações e utilizando os conectivos lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é igual a

( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:

R Q P [P v (Q ↔ R) ]
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V V V F F V
V F F F F F F V

3
RACIOCÍNIO LÓGICO

F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
F F F F V F V F

Resposta: Certo

Proposição
Conjunto de palavras ou símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de sentido completo. Elas transmitem pensamentos,
isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou entes.

Valores lógicos
São os valores atribuídos as proposições, podendo ser uma verdade, se a proposição é verdadeira (V), e uma falsidade, se a proposi-
ção é falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores lógicos verdade e falsidade respectivamente.
Com isso temos alguns aximos da lógica:
– PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
– PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses casos, NUNCA
existindo um terceiro caso.

“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores, que são: V ou F.”

Classificação de uma proposição


Elas podem ser:
• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.

Exemplos
r: Thiago é careca.
s: Pedro é professor.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.

Exemplo
P: Thiago é careca e Pedro é professor.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Exemplos:
1. (CESPE/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
– “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
– A expressão x + y é positiva.
– O valor de √4 + 3 = 7.
– Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
– O que é isto?

Há exatamente:
(A) uma proposição;
(B) duas proposições;

4
RACIOCÍNIO LÓGICO
(C) três proposições;
(D) quatro proposições;
(E) todas são proposições.

Resolução:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a quantidade
certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor de V ou F a sentença).
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.
Resposta: B.

Conectivos (conectores lógicos)


Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. São eles:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

5
RACIOCÍNIO LÓGICO

Bicondicional ↔ p se e somente se q

Exemplo:
2. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B.

Tabela Verdade
Quando trabalhamos com as proposições compostas, determinamos o seu valor lógico partindo das proposições simples que a com-
põe. O valor lógico de qualquer proposição composta depende UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições simples componentes,
ficando por eles UNIVOCAMENTE determinados.

• Número de linhas de uma Tabela Verdade: depende do número de proposições simples que a integram, sendo dado pelo seguinte
teorema:
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* proposições simples componentes contém 2n linhas.”

Exemplo:
3. (CESPE/UNB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições simples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da propo-
sição (A → B) ↔ (C → D) será igual a:
(A) 2;
(B) 4;
(C) 8;
(D) 16;
(E) 32.

Resolução:
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima, então teremos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Resposta D.

Conceitos de Tautologia , Contradição e Contigência


• Tautologia: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), V (verdades).
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma tautologia, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma tautologia, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), F (falsidades). A contradição é a negação da Tauto-
logia e vice versa.
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma contradição, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma contradição, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contingência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade (última coluna). Em outros termos a contingência é uma proposição
composta que não é tautologia e nem contradição.

6
RACIOCÍNIO LÓGICO
Exemplos:
4. (DPU – ANALISTA – CESPE) Um estudante de direito, com o objetivo de sistematizar o seu estudo, criou sua própria legenda, na qual
identificava, por letras, algumas afirmações relevantes quanto à disciplina estudada e as vinculava por meio de sentenças (proposições).
No seu vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Q: Cometeu o crime B.
R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclusão no regime fechado.
S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.

Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não recordar qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
A sentença (P→Q)↔((~Q)→(~P)) será sempre verdadeira, independentemente das valorações de P e Q como verdadeiras ou falsas.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
Considerando P e Q como V.
(V→V) ↔ ((F)→(F))
(V) ↔ (V) = V
Considerando P e Q como F
(F→F) ↔ ((V)→(V))
(V) ↔ (V) = V
Então concluímos que a afirmação é verdadeira.
Resposta: Certo.

Equivalência
Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, quando mesmo possuindo estruturas lógicas diferentes, apresentam a mesma
solução em suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.

Exemplo:
5. (VUNESP/TJSP) Uma negação lógica para a afirmação “João é rico, ou Maria é pobre” é:
(A) Se João é rico, então Maria é pobre.
(B) João não é rico, e Maria não é pobre.
(C) João é rico, e Maria não é pobre.
(D) Se João não é rico, então Maria não é pobre.
(E) João não é rico, ou Maria não é pobre.

Resolução:
Nesta questão, a proposição a ser negada trata-se da disjunção de duas proposições lógicas simples. Para tal, trocamos o conectivo
por “e” e negamos as proposições “João é rico” e “Maria é pobre”. Vejam como fica:

7
RACIOCÍNIO LÓGICO

Resposta: B.

Leis de Morgan
Com elas:
– Negamos que duas dadas proposições são ao mesmo tempo verdadeiras equivalendo a afirmar que pelo menos uma é falsa
– Negamos que uma pelo menos de duas proposições é verdadeira equivalendo a afirmar que ambas são falsas.

ATENÇÃO
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO
transforma: DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO

CONECTIVOS
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos.

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA EXEMPLOS


Negação ~ Não p A cadeira não é azul.
Conjunção ^ peq Fernando é médico e Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Inclusiva v p ou q Fernando é médico ou Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q Ou Fernando é médico ou João é Engenheiro.
Condicional → Se p então q Se Fernando é médico então Nicolas é Engenheiro.
Bicondicional ↔ p se e somente se q Fernando é médico se e somente se Nicolas é Engenheiro.

Conectivo “não” (~)


Chamamos de negação de uma proposição representada por “não p” cujo valor lógico é verdade (V) quando p é falsa e falsidade (F)
quando p é verdadeira. Assim “não p” tem valor lógico oposto daquele de p. Pela tabela verdade temos:

Conectivo “e” (˄)


Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:

ATENÇÃO: Sentenças interligadas pelo conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas as sentenças, ou argumen-
tos lógicos, tiverem valores verdadeiros.

Conectivo “ou” (v)


Este inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. (Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente).

8
RACIOCÍNIO LÓGICO

Conectivo “ou” (v)


Este exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca. (Se Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa).

• Mais sobre o Conectivo “ou”


– “inclusivo”(considera os dois casos)
– “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplos:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeira

Ele pode ser “inclusivo”(considera os dois casos) ou “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplo:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa

No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeiro

Conectivo “Se... então” (→)


Se p e q são duas proposições, a proposição p→q é chamada subjunção ou condicional. Considere a seguinte subjunção: “Se fizer sol,
então irei à praia”.
1. Podem ocorrer as situações:
2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)
5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não disse o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à praia).
Temos então sua tabela verdade:

Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.

9
RACIOCÍNIO LÓGICO
Conectivo “Se e somente se” (↔)
Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é con-
dição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição necessária e suficiente para p”.
Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e somente se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade). Sua tabela verdade:

Observe que uma bicondicional só é verdadeira quando as proposições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras.

ATENÇÃO: O importante sobre os conectivos é ter em mente a tabela de cada um deles, para que assim você possa resolver qualquer
questão referente ao assunto.

Ordem de precedência dos conectivos:


O critério que especifica a ordem de avaliação dos conectivos ou operadores lógicos de uma expressão qualquer. A lógica matemática
prioriza as operações de acordo com a ordem listadas:

Em resumo:

Exemplo:
(PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B

CONTRADIÇÕES
São proposições compostas formadas por duas ou mais proposições onde seu valor lógico é sempre FALSO, independentemente do
valor lógico das proposições simples que a compõem. Vejamos:
A proposição: p ^ ~p é uma contradição, conforme mostra a sua tabela-verdade:

10
RACIOCÍNIO LÓGICO

Exemplo:
(PEC-FAZ) Conforme a teoria da lógica proposicional, a propo-
sição ~P ∧ P é:
(A) uma tautologia. Propriedades
(B) equivalente à proposição ~p ∨ p. • Reflexiva:
(C) uma contradição. – P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)
(D) uma contingência. – Uma proposição complexa implica ela mesma.
(E) uma disjunção.
• Transitiva:
Resolução: – Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
Montando a tabela teremos que: Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
P ~p ~p ^p – Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R
V F F
Regras de Inferência
V F F • Inferência é o ato ou processo de derivar conclusões lógicas
F V F de proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em ou-
tras palavras: é a obtenção de novas proposições a partir de propo-
F V F sições verdadeiras já existentes.
Como todos os valores são Falsidades (F) logo estamos diante Regras de Inferência obtidas da implicação lógica
de uma CONTRADIÇÃO.
Resposta: C

A proposição P(p,q,r,...) implica logicamente a proposição Q(p,-


q,r,...) quando Q é verdadeira todas as vezes que P é verdadeira.
Representamos a implicação com o símbolo “⇒”, simbolicamente
temos:

P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...). • Silogismo Disjuntivo


ATENÇÃO: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente distin-
tos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um conec-
tivo. O segundo (“⇒”) representa a relação de implicação lógica
que pode ou não existir entre duas proposições.

Exemplo:

• Modus Ponens

Observe:
- Toda proposição implica uma Tautologia:

- Somente uma contradição implica uma contradição:

11
RACIOCÍNIO LÓGICO
• Modus Tollens Vejamos algumas formas:
- Todo A é B.
- Nenhum A é B.
- Algum A é B.
- Algum A não é B.

Onde temos que A e B são os termos ou características dessas


proposições categóricas.

• Classificação de uma proposição categórica de acordo com


o tipo e a relação
Elas podem ser classificadas de acordo com dois critérios fun-
damentais: qualidade e extensão ou quantidade.
– Qualidade: O critério de qualidade classifica uma proposição
categórica em afirmativa ou negativa.
– Extensão: O critério de extensão ou quantidade classifica
uma proposição categórica em universal ou particular. A classifica-
Tautologias e Implicação Lógica ção dependerá do quantificador que é utilizado na proposição.

• Teorema
P(p,q,r,..) ⇒ Q(p,q,r,...) se e somente se P(p,q,r,...) → Q(p,q,r,...)

Entre elas existem tipos e relações de acordo com a qualidade


e a extensão, classificam-se em quatro tipos, representados pelas
letras A, E, I e O.

• Universal afirmativa (Tipo A) – “TODO A é B”


Teremos duas possibilidades.

Observe que:
→ indica uma operação lógica entre as proposições. Ex.: das
proposições p e q, dá-se a nova proposição p → q.
⇒ indica uma relação. Ex.: estabelece que a condicional P →
Q é tautológica.

Inferências

• Regra do Silogismo Hipotético Tais proposições afirmam que o conjunto “A” está contido no
conjunto “B”, ou seja, que todo e qualquer elemento de “A” é tam-
bém elemento de “B”. Observe que “Toda A é B” é diferente de
“Todo B é A”.

• Universal negativa (Tipo E) – “NENHUM A é B”


Tais proposições afirmam que não há elementos em comum
Princípio da inconsistência entre os conjuntos “A” e “B”. Observe que “nenhum A é B” é o mes-
– Como “p ^ ~p → q” é tautológica, subsiste a implicação lógica mo que dizer “nenhum B é A”.
p ^ ~p ⇒ q Podemos representar esta universal negativa pelo seguinte dia-
– Assim, de uma contradição p ^ ~p se deduz qualquer propo- grama (A ∩ B = ø):
sição q.

A proposição “(p ↔ q) ^ p” implica a proposição “q”, pois a


condicional “(p ↔ q) ^ p → q” é tautológica.

Lógica de primeira ordem


Existem alguns tipos de argumentos que apresentam proposi-
ções com quantificadores. Numa proposição categórica, é impor-
tante que o sujeito se relacionar com o predicado de forma coeren- • Particular afirmativa (Tipo I) - “ALGUM A é B”
te e que a proposição faça sentido, não importando se é verdadeira Podemos ter 4 diferentes situações para representar esta pro-
ou falsa. posição:

12
RACIOCÍNIO LÓGICO
Em síntese:

Essas proposições Algum A é B estabelecem que o conjunto “A”


tem pelo menos um elemento em comum com o conjunto “B”. Con- Exemplos:
tudo, quando dizemos que Algum A é B, presumimos que nem todo (DESENVOLVE/SP - CONTADOR - VUNESP) Alguns gatos não
A é B. Observe “Algum A é B” é o mesmo que “Algum B é A”. são pardos, e aqueles que não são pardos miam alto.
Uma afirmação que corresponde a uma negação lógica da afir-
• Particular negativa (Tipo O) - “ALGUM A não é B” mação anterior é:
Se a proposição Algum A não é B é verdadeira, temos as três (A) Os gatos pardos miam alto ou todos os gatos não são par-
representações possíveis: dos.
(B) Nenhum gato mia alto e todos os gatos são pardos.
(C) Todos os gatos são pardos ou os gatos que não são pardos
não miam alto.
(D) Todos os gatos que miam alto são pardos.
(E) Qualquer animal que mia alto é gato e quase sempre ele é
pardo.

Resolução:
Temos um quantificador particular (alguns) e uma proposição
do tipo conjunção (conectivo “e”). Pede-se a sua negação.

O quantificador existencial “alguns” pode ser negado, seguindo


o esquema, pelos quantificadores universais (todos ou nenhum).
Logo, podemos descartar as alternativas A e E.
Proposições nessa forma: Algum A não é B estabelecem que o A negação de uma conjunção se faz através de uma disjunção,
conjunto “A” tem pelo menos um elemento que não pertence ao em que trocaremos o conectivo “e” pelo conectivo “ou”. Descarta-
conjunto “B”. Observe que: Algum A não é B não significa o mesmo mos a alternativa B.
que Algum B não é A. Vamos, então, fazer a negação da frase, não esquecendo de
que a relação que existe é: Algum A é B, deve ser trocado por: Todo
• Negação das Proposições Categóricas A é não B.
Ao negarmos uma proposição categórica, devemos observar as Todos os gatos que são pardos ou os gatos (aqueles) que não
seguintes convenções de equivalência: são pardos NÃO miam alto.
– Ao negarmos uma proposição categórica universal geramos Resposta: C
uma proposição categórica particular.
– Pela recíproca de uma negação, ao negarmos uma proposição (CBM/RJ - CABO TÉCNICO EM ENFERMAGEM - ND) Dizer que a
categórica particular geramos uma proposição categórica universal. afirmação “todos os professores é psicólogos” e falsa, do ponto de
– Negando uma proposição de natureza afirmativa geramos, vista lógico, equivale a dizer que a seguinte afirmação é verdadeira
sempre, uma proposição de natureza negativa; e, pela recíproca, (A) Todos os não psicólogos são professores.
negando uma proposição de natureza negativa geramos, sempre, (B) Nenhum professor é psicólogo.
uma proposição de natureza afirmativa. (C) Nenhum psicólogo é professor.
(D) Pelo menos um psicólogo não é professor.
(E) Pelo menos um professor não é psicólogo.

Resolução:
Se a afirmação é falsa a negação será verdadeira. Logo, a nega-
ção de um quantificador universal categórico afirmativo se faz atra-
vés de um quantificador existencial negativo. Logo teremos: Pelo
menos um professor não é psicólogo.
Resposta: E

13
RACIOCÍNIO LÓGICO
• Equivalência entre as proposições Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:
Basta usar o triângulo a seguir e economizar um bom tempo na
resolução de questões.
TIPO PREPOSIÇÃO DIAGRAMAS

TODO
A
AéB

Se um elemento pertence ao conjunto A,


então pertence também a B.

Exemplo:
(PC/PI - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - UESPI) Qual a negação NENHUM
lógica da sentença “Todo número natural é maior do que ou igual E
AéB
a cinco”?
(A) Todo número natural é menor do que cinco.
Existe pelo menos um elemento que
(B) Nenhum número natural é menor do que cinco.
pertence a A, então não pertence a B, e
(C) Todo número natural é diferente de cinco.
vice-versa.
(D) Existe um número natural que é menor do que cinco.
(E) Existe um número natural que é diferente de cinco.

Resolução:
Do enunciado temos um quantificador universal (Todo) e pede-
-se a sua negação.
O quantificador universal todos pode ser negado, seguindo o
esquema abaixo, pelo quantificador algum, pelo menos um, existe
ao menos um, etc. Não se nega um quantificador universal com To- Existe pelo menos um elemento co-
dos e Nenhum, que também são universais. mum aos conjuntos A e B.
Podemos ainda representar das seguin-
ALGUM tes formas:
I
AéB

Portanto, já podemos descartar as alternativas que trazem


quantificadores universais (todo e nenhum). Descartamos as alter-
nativas A, B e C.
Seguindo, devemos negar o termo: “maior do que ou igual a
cinco”. Negaremos usando o termo “MENOR do que cinco”.
Obs.: maior ou igual a cinco (compreende o 5, 6, 7...) ao ser
negado passa a ser menor do que cinco (4, 3, 2,...).
Resposta: D

Diagramas lógicos
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários proble-
mas. É uma ferramenta para resolvermos problemas que envolvam
argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento po-
dem ser formadas por proposições categóricas.

ATENÇÃO: É bom ter um conhecimento sobre conjuntos para


conseguir resolver questões que envolvam os diagramas lógicos.

14
RACIOCÍNIO LÓGICO
- Algum teatro é casa de cultura

ALGUM
O
A NÃO é B
Visto que na primeira chegamos à conclusão que C = CC
Segundo as afirmativas temos:
Perceba-se que, nesta sentença, a aten- (A) existem cinemas que não são teatros- Observando o último
ção está sobre o(s) elemento (s) de A que diagrama vimos que não é uma verdade, pois temos que existe pelo
não são B (enquanto que, no “Algum A é menos um dos cinemas é considerado teatro.
B”, a atenção estava sobre os que eram B,
ou seja, na intercessão).
Temos também no segundo caso, a dife-
rença entre conjuntos, que forma o con-
junto A - B

Exemplo:
(GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO
– IADES) Considere as proposições: “todo cinema é uma casa de
cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é
casa de cultura”. Logo, é correto afirmar que
(A) existem cinemas que não são teatros.
(B) existe teatro que não é casa de cultura.
(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mes-
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro.
mo princípio acima.
(D) existe casa de cultura que não é cinema.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado,
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.
a primeira proposição já nos afirma o contrário. O diagrama nos
afirma isso
Resolução:
Vamos chamar de:
Cinema = C
Casa de Cultura = CC
Teatro = T
Analisando as proposições temos:
- Todo cinema é uma casa de cultura

(D) existe casa de cultura que não é cinema. – Errado, a justifi-


cativa é observada no diagrama da alternativa anterior.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema. – Cor-
reta, que podemos observar no diagrama abaixo, uma vez que todo
cinema é casa de cultura. Se o teatro não é casa de cultura também
não é cinema.

- Existem teatros que não são cinemas

Resposta: E

15
RACIOCÍNIO LÓGICO
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
Chama-se argumento a afirmação de que um grupo de propo-
sições iniciais redunda em outra proposição final, que será conse-
quência das primeiras. Ou seja, argumento é a relação que associa
um conjunto de proposições P1, P2,... Pn , chamadas premissas do
argumento, a uma proposição Q, chamada de conclusão do argu-
mento.

Observem que todos os elementos do conjunto menor (ho-


mens) estão incluídos, ou seja, pertencem ao conjunto maior (dos
pássaros). E será sempre essa a representação gráfica da frase
“Todo A é B”. Dois círculos, um dentro do outro, estando o círculo
menor a representar o grupo de quem se segue à palavra TODO.
Exemplo: Na frase: “Nenhum pássaro é animal”. Observemos que a pa-
P1: Todos os cientistas são loucos. lavra-chave desta sentença é NENHUM. E a ideia que ela exprime é
P2: Martiniano é louco. de uma total dissociação entre os dois conjuntos.
Q: Martiniano é um cientista.

O exemplo dado pode ser chamado de Silogismo (argumento


formado por duas premissas e a conclusão).
A respeito dos argumentos lógicos, estamos interessados em
verificar se eles são válidos ou inválidos! Então, passemos a enten-
der o que significa um argumento válido e um argumento inválido.

Argumentos Válidos
Dizemos que um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem
construído), quando a sua conclusão é uma consequência obrigató-
ria do seu conjunto de premissas.
Será sempre assim a representação gráfica de uma sentença
Exemplo: “Nenhum A é B”: dois conjuntos separados, sem nenhum ponto em
O silogismo... comum.
P1: Todos os homens são pássaros. Tomemos agora as representações gráficas das duas premissas
P2: Nenhum pássaro é animal. vistas acima e as analisemos em conjunto. Teremos:
Q: Portanto, nenhum homem é animal.

... está perfeitamente bem construído, sendo, portanto, um


argumento válido, muito embora a veracidade das premissas e da
conclusão sejam totalmente questionáveis.

ATENÇÃO: O que vale é a CONSTRUÇÃO, E NÃO O SEU CON-


TEÚDO! Se a construção está perfeita, então o argumento é válido,
independentemente do conteúdo das premissas ou da conclusão!

• Como saber se um determinado argumento é mesmo váli-


do?
Para se comprovar a validade de um argumento é utilizando Comparando a conclusão do nosso argumento, temos:
diagramas de conjuntos (diagramas de Venn). Trata-se de um mé- NENHUM homem é animal – com o desenho das premissas
todo muito útil e que será usado com frequência em questões que será que podemos dizer que esta conclusão é uma consequência
pedem a verificação da validade de um argumento. Vejamos como necessária das premissas? Claro que sim! Observemos que o con-
funciona, usando o exemplo acima. Quando se afirma, na premissa junto dos homens está totalmente separado (total dissociação!) do
P1, que “todos os homens são pássaros”, poderemos representar conjunto dos animais. Resultado: este é um argumento válido!
essa frase da seguinte maneira:
Argumentos Inválidos
Dizemos que um argumento é inválido – também denominado
ilegítimo, mal construído, falacioso ou sofisma – quando a verdade
das premissas não é suficiente para garantir a verdade da conclu-
são.

16
RACIOCÍNIO LÓGICO
Exemplo:
P1: Todas as crianças gostam de chocolate.
P2: Patrícia não é criança.
Q: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate.

Este é um argumento inválido, falacioso, mal construído, pois as premissas não garantem (não obrigam) a verdade da conclusão.
Patrícia pode gostar de chocolate mesmo que não seja criança, pois a primeira premissa não afirmou que somente as crianças gostam de
chocolate.
Utilizando os diagramas de conjuntos para provar a validade do argumento anterior, provaremos, utilizando-nos do mesmo artifício,
que o argumento em análise é inválido. Comecemos pela primeira premissa: “Todas as crianças gostam de chocolate”.

Analisemos agora o que diz a segunda premissa: “Patrícia não é criança”. O que temos que fazer aqui é pegar o diagrama acima (da
primeira premissa) e nele indicar onde poderá estar localizada a Patrícia, obedecendo ao que consta nesta segunda premissa. Vemos
facilmente que a Patrícia só não poderá estar dentro do círculo das crianças. É a única restrição que faz a segunda premissa! Isto posto,
concluímos que Patrícia poderá estar em dois lugares distintos do diagrama:
1º) Fora do conjunto maior;
2º) Dentro do conjunto maior. Vejamos:

Finalmente, passemos à análise da conclusão: “Patrícia não gosta de chocolate”. Ora, o que nos resta para sabermos se este argumen-
to é válido ou não, é justamente confirmar se esse resultado (se esta conclusão) é necessariamente verdadeiro!
- É necessariamente verdadeiro que Patrícia não gosta de chocolate? Olhando para o desenho acima, respondemos que não! Pode
ser que ela não goste de chocolate (caso esteja fora do círculo), mas também pode ser que goste (caso esteja dentro do círculo)! Enfim, o
argumento é inválido, pois as premissas não garantiram a veracidade da conclusão!

Métodos para validação de um argumento


Aprenderemos a seguir alguns diferentes métodos que nos possibilitarão afirmar se um argumento é válido ou não!
1º) Utilizando diagramas de conjuntos: esta forma é indicada quando nas premissas do argumento aparecem as palavras TODO, AL-
GUM E NENHUM, ou os seus sinônimos: cada, existe um etc.
2º) Utilizando tabela-verdade: esta forma é mais indicada quando não for possível resolver pelo primeiro método, o que ocorre quan-
do nas premissas não aparecem as palavras todo, algum e nenhum, mas sim, os conectivos “ou” , “e”, “” e “↔”. Baseia-se na construção
da tabela-verdade, destacando-se uma coluna para cada premissa e outra para a conclusão. Este método tem a desvantagem de ser mais
trabalhoso, principalmente quando envolve várias proposições simples.
3º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos e considerando as premissas verdadeiras.
Por este método, fácil e rapidamente demonstraremos a validade de um argumento. Porém, só devemos utilizá-lo na impossibilidade
do primeiro método.
Iniciaremos aqui considerando as premissas como verdades. Daí, por meio das operações lógicas com os conectivos, descobriremos o
valor lógico da conclusão, que deverá resultar também em verdade, para que o argumento seja considerado válido.

17
RACIOCÍNIO LÓGICO
4º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos, considerando premissas verdadeiras e conclusão falsa.
É indicado este caminho quando notarmos que a aplicação do terceiro método não possibilitará a descoberta do valor lógico da con-
clusão de maneira direta, mas somente por meio de análises mais complicadas.

Em síntese:

Exemplo:
Diga se o argumento abaixo é válido ou inválido:

(p ∧ q) → r
_____~r_______
~p ∨ ~q

Resolução:
-1ª Pergunta) O argumento apresenta as palavras todo, algum ou nenhum?
A resposta é não! Logo, descartamos o 1º método e passamos à pergunta seguinte.

- 2ª Pergunta) O argumento contém no máximo duas proposições simples?


A resposta também é não! Portanto, descartamos também o 2º método.
- 3ª Pergunta) Há alguma das premissas que seja uma proposição simples ou uma conjunção?
A resposta é sim! A segunda proposição é (~r). Podemos optar então pelo 3º método? Sim, perfeitamente! Mas caso queiramos seguir
adiante com uma próxima pergunta, teríamos:
- 4ª Pergunta) A conclusão tem a forma de uma proposição simples ou de uma disjunção ou de uma condicional? A resposta também
é sim! Nossa conclusão é uma disjunção! Ou seja, caso queiramos, poderemos utilizar, opcionalmente, o 4º método!
Vamos seguir os dois caminhos: resolveremos a questão pelo 3º e pelo 4º métodos.

18
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução pelo 3º Método
Considerando as premissas verdadeiras e testando a conclusão
verdadeira. Teremos:
- 2ª Premissa) ~r é verdade. Logo: r é falsa!
- 1ª Premissa) (p ∧ q)r é verdade. Sabendo que r é falsa,
concluímos que (p ∧ q) tem que ser também falsa. E quando uma
conjunção (e) é falsa? Quando uma das premissas for falsa ou am-
bas forem falsas. Logo, não é possível determinamos os valores
lógicos de p e q. Apesar de inicialmente o 3º método se mostrar
adequado, por meio do mesmo, não poderemos determinar se o
argumento é ou NÃO VÁLIDO. A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª falsa,
utilizando isso temos:
Resolução pelo 4º Método O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então Fernando
Considerando a conclusão falsa e premissas verdadeiras. Tere- estava estudando. // B → ~E
mos: Iniciando temos:
- Conclusão) ~p v ~q é falso. Logo: p é verdadeiro e q é verda- 4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → ~B
deiro! = V – para que o argumento seja válido temos que Quando chove
Agora, passamos a testar as premissas, que são consideradas tem que ser F.
verdadeiras! Teremos: 3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema (V).
- 1ª Premissa) (p∧q)r é verdade. Sabendo que p e q são ver- // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que Maria
dadeiros, então a primeira parte da condicional acima também é vai ao cinema tem que ser V.
verdadeira. Daí resta que a segunda parte não pode ser falsa. Logo: 2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C → ~D
r é verdadeiro. = V - para que o argumento seja válido temos que Quando Cláudio
- 2ª Premissa) Sabendo que r é verdadeiro, teremos que ~r é sai de casa tem que ser F.
falso! Opa! A premissa deveria ser verdadeira, e não foi! 5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove (V).
// E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está estudando pode
Neste caso, precisaríamos nos lembrar de que o teste, aqui no ser V ou F.
4º método, é diferente do teste do 3º: não havendo a existência si- 1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V
multânea da conclusão falsa e premissas verdadeiras, teremos que
o argumento é válido! Conclusão: o argumento é válido! Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria foi ao
cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou F); pois temos
Exemplos: dois valores lógicos para chegarmos à conclusão (V ou F).
(DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE) Considere que as Resposta: Errado
seguintes proposições sejam verdadeiras.
• Quando chove, Maria não vai ao cinema. (PETROBRAS – TÉCNICO (A) DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO
• Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema. JÚNIOR – INFORMÁTICA – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma fada,
• Quando Cláudio sai de casa, não faz frio. então Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então Monarca
• Quando Fernando está estudando, não chove. é um centauro. Se Monarca é um centauro, então Tristeza é uma
• Durante a noite, faz frio. bruxa.
Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo
Tendo como referência as proposições apresentadas, julgue o (A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo.
item subsecutivo. (B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando. (C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro.
( ) Certo (D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
( ) Errado (E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo.

Resolução: Resolução:
A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as pre- Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Trizteza não é
missas chegamos a uma conclusão. Enumerando as premissas: bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como conclusão
A = Chove o valor lógico (V), então:
B = Maria vai ao cinema (4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo (F)
C = Cláudio fica em casa →V
D = Faz frio (3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um centauro
E = Fernando está estudando (F) → V
F = É noite (2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma bruxa(F)
A argumentação parte que a conclusão deve ser (V) →V
Lembramos a tabela verdade da condicional: (1) Tristeza não é uma bruxa (V)

Logo:
Temos que:
Esmeralda não é fada(V)
Bongrado não é elfo (V)
Monarca não é um centauro (V)

19
RACIOCÍNIO LÓGICO
Como a conclusão parte da conjunção, o mesmo só será verdadeiro quando todas as afirmativas forem verdadeiras, logo, a única que
contém esse valor lógico é:
Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
Resposta: B

LÓGICA MATEMÁTICA QUALITATIVA


Aqui veremos questões que envolvem correlação de elementos, pessoas e objetos fictícios, através de dados fornecidos. Vejamos o
passo a passo:

01. Três homens, Luís, Carlos e Paulo, são casados com Lúcia, Patrícia e Maria, mas não sabemos quem ê casado com quem. Eles tra-
balham com Engenharia, Advocacia e Medicina, mas também não sabemos quem faz o quê. Com base nas dicas abaixo, tente descobrir o
nome de cada marido, a profissão de cada um e o nome de suas esposas.
a) O médico é casado com Maria.
b) Paulo é advogado.
c) Patrícia não é casada com Paulo.
d) Carlos não é médico.

Vamos montar o passo a passo para que você possa compreender como chegar a conclusão da questão.
1º passo – vamos montar uma tabela para facilitar a visualização da resolução, a mesma deve conter as informações prestadas no
enunciado, nas quais podem ser divididas em três grupos: homens, esposas e profissões.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia
Patrícia
Maria

Também criamos abaixo do nome dos homens, o nome das esposas.

2º passo – construir a tabela gabarito.


Essa tabela não servirá apenas como gabarito, mas em alguns casos ela é fundamental para que você enxergue informações que ficam
meio escondidas na tabela principal. Uma tabela complementa a outra, podendo até mesmo que você chegue a conclusões acerca dos
grupos e elementos.

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos
Luís
Paulo

3º passo preenchimento de nossa tabela, com as informações mais óbvias do problema, aquelas que não deixam margem a nenhuma
dúvida. Em nosso exemplo:
- O médico é casado com Maria: marque um “S” na tabela principal na célula comum a “Médico” e “Maria”, e um “N” nas demais
células referentes a esse “S”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

ATENÇÃO: se o médico é casado com Maria, ele NÃO PODE ser casado com Lúcia e Patrícia, então colocamos “N” no cruzamento
de Medicina e elas. E se Maria é casada com o médico, logo ela NÃO PODE ser casada com o engenheiro e nem com o advogado (logo
colocamos “N” no cruzamento do nome de Maria com essas profissões).
– Paulo é advogado: Vamos preencher as duas tabelas (tabela gabarito e tabela principal) agora.

20
RACIOCÍNIO LÓGICO
– Patrícia não é casada com Paulo: Vamos preencher com “N” na tabela principal
– Carlos não é médico: preenchemos com um “N” na tabela principal a célula comum a Carlos e “médico”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

Notamos aqui que Luís então é o médico, pois foi a célula que ficou em branco. Podemos também completar a tabela gabarito.
Novamente observamos uma célula vazia no cruzamento de Carlos com Engenharia. Marcamos um “S” nesta célula. E preenchemos
sua tabela gabarito.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro
Luís Médico
Paulo Advogado

4º passo – após as anotações feitas na tabela principal e na tabela gabarito, vamos procurar informações que levem a novas conclu-
sões, que serão marcadas nessas tabelas.
Observe que Maria é esposa do médico, que se descobriu ser Luís, fato que poderia ser registrado na tabela-gabarito. Mas não vamos
fazer agora, pois essa conclusão só foi facilmente encontrada porque o problema que está sendo analisado é muito simples. Vamos con-
tinuar o raciocínio e fazer as marcações mais tarde. Além disso, sabemos que Patrícia não é casada com Paulo. Como Paulo é o advogado,
podemos concluir que Patrícia não é casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N N
Maria S N N

Verificamos, na tabela acima, que Patrícia tem de ser casada com o engenheiro, e Lúcia tem de ser casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N N S
Patrícia N S N
Maria S N N

21
RACIOCÍNIO LÓGICO
Concluímos, então, que Lúcia é casada com o advogado (que é Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
Paulo), Patrícia é casada com o engenheiro (que e Carlos) e Maria é
casada com o médico (que é Luís). Luiz N N N
Preenchendo a tabela-gabarito, vemos que o problema está Arnaldo N N
resolvido:
Mariana N N S N
Paulo N N
HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS
Carlos Engenheiro Patrícia Agora, completando o restante:
Luís Médico Maria Paulo viajou para Salvador, pois a nenhum dos três viajou. En-
tão, Arnaldo viajou para Fortaleza e Luiz para Goiânia
Paulo Advogado Lúcia

Exemplo: Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


(TRT-9ª REGIÃO/PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS- Luiz N S N N
TRATIVA – FCC) Luiz, Arnaldo, Mariana e Paulo viajaram em janeiro,
Arnaldo S N N N
todos para diferentes cidades, que foram Fortaleza, Goiânia, Curi-
tiba e Salvador. Com relação às cidades para onde eles viajaram, Mariana N N S N
sabe-se que: Paulo N N N S
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;
− Mariana viajou para Curitiba; Resposta: B
− Paulo não viajou para Goiânia;
− Luiz não viajou para Fortaleza. Quantificador
É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quan-
É correto concluir que, em janeiro, tificadores são utilizados para transformar uma sentença aberta ou
(A) Paulo viajou para Fortaleza. proposição aberta em uma proposição lógica.
(B) Luiz viajou para Goiânia.
(C) Arnaldo viajou para Goiânia.
(D) Mariana viajou para Salvador. QUANTIFICADOR + SENTENÇA ABERTA = SENTENÇA FECHADA
(E) Luiz viajou para Curitiba.
Tipos de quantificadores
Resolução:
Vamos preencher a tabela: • Quantificador universal (∀)
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador; O símbolo ∀ pode ser lido das seguintes formas:

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N
Arnaldo N
Mariana Exemplo:
Paulo Todo homem é mortal.
A conclusão dessa afirmação é: se você é homem, então será
− Mariana viajou para Curitiba; mortal.
Na representação do diagrama lógico, seria:
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
Luiz N N
Arnaldo N N
Mariana N N S N
Paulo N

− Paulo não viajou para Goiânia;


ATENÇÃO: Todo homem é mortal, mas nem todo mortal é ho-
mem.
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador A frase “todo homem é mortal” possui as seguintes conclusões:
Luiz N N 1ª) Algum mortal é homem ou algum homem é mortal.
Arnaldo N N 2ª) Se José é homem, então José é mortal.
Mariana N N S N A forma “Todo A é B” pode ser escrita na forma: Se A então B.
Paulo N N A forma simbólica da expressão “Todo A é B” é a expressão (∀
(x) (A (x) → B).
− Luiz não viajou para Fortaleza. Observe que a palavra todo representa uma relação de inclusão
de conjuntos, por isso está associada ao operador da condicional.

22
RACIOCÍNIO LÓGICO
Aplicando temos: – Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal.
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Agora, se escrevermos da for- – Se é cavalo, então é um animal.
ma ∀ (x) ∈ N / x + 2 = 5 ( lê-se: para todo pertencente a N temos x Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça
+ 2 = 5), atribuindo qualquer valor a x a sentença será verdadeira? de animal, pois mantém a relação de “está contido” (segunda forma
A resposta é NÃO, pois depois de colocarmos o quantificador, de conclusão).
a frase passa a possuir sujeito e predicado definidos e podemos jul- Resposta: B
gar, logo, é uma proposição lógica.
(CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposi-
• Quantificador existencial (∃) ção (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é valorada como V.
O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas:
Resolução:
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais
(R) existe um y pertencente ao conjunto dos números dos reais (R)
tal que x + y = x.
– 1º passo: observar os quantificadores.
X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos
os valores de x devem satisfazer a propriedade.
Exemplo: Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é ne-
“Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase cessário pelo menos um valor de x para satisfazer a propriedade.
é: – 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos
x e y.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais.
O elemento y pertence ao conjunto os números reais.
– 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x).
A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
Existe sim! y = 0.
X + 0 = X.
Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de
x somado a 0 será igual a x, podemos concluir que o item está cor-
O quantificador existencial tem a função de elemento comum.
reto.
A palavra algum, do ponto de vista lógico, representa termos co-
Resposta: CERTO
muns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃
(x)) (A (x) ∧ B).

Aplicando temos: CONJUNTOS E SUAS OPERAÇÕES, DIAGRAMAS


x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈
N / x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x pertencente a N tal que x Conjunto está presente em muitos aspectos da vida, sejam eles
+ 2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença cotidianos, culturais ou científicos. Por exemplo, formamos conjun-
será verdadeira? tos ao organizar a lista de amigos para uma festa agrupar os dias da
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador, semana ou simplesmente fazer grupos.
a frase passou a possuir sujeito e predicado definidos e podemos Os componentes de um conjunto são chamados de elementos.
julgar, logo, é uma proposição lógica. Para enumerar um conjunto usamos geralmente uma letra
maiúscula.
ATENÇÃO:
– A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B” Representações
é diferente de “Todo B é A”. Pode ser definido por:
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é -Enumerando todos os elementos do conjunto: S={1, 3, 5, 7, 9}
B” é a mesma coisa que “Algum B é A”. -Simbolicamente: B={x>N|x<8}, enumerando esses elementos
temos:
Forma simbólica dos quantificadores B={0,1,2,3,4,5,6,7}
Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B).
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B). – Diagrama de Venn
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B).

Exemplos:
Todo cavalo é um animal. Logo,
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo.
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal.
(C) Todo animal é cavalo.
(D) Nenhum animal é cavalo.

Resolução:
A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclu-
sões:

23
RACIOCÍNIO LÓGICO
Há também um conjunto que não contém elemento e é repre- b) finito quando é possível enumerar todos os seus elementos
sentado da seguinte forma: S = c ou S = { }. c) singular quando é formado por um único elemento
Quando todos os elementos de um conjunto A pertencem tam- d) vazio quando não tem elementos
bém a outro conjunto B, dizemos que:
A é subconjunto de B Exemplos
Ou A é parte de B N é um conjunto infinito (O cardinal do conjunto N (#N) é infi-
A está contido em B escrevemos: A ⊂ B nito (∞));
A = {½, 1} é um conjunto finito (#A = 2);
Se existir pelo menos um elemento de A que não pertence a B = {Lua} é um conjunto singular (#B = 1)
B: A ⊄ B { } ou ∅ é o conjunto vazio (#∅ = 0)

Símbolos Pertinência
∈: pertence O conceito básico da teoria dos conjuntos é a relação de perti-
∉: não pertence nência representada pelo símbolo ∈. As letras minúsculas designam
⊂: está contido os elementos de um conjunto e as maiúsculas, os conjuntos. Assim,
⊄: não está contido o conjunto das vogais (V) é:
⊃: contém V={a,e,i,o,u}
⊅: não contém A relação de pertinência é expressa por: a∈V
/: tal que A relação de não-pertinência é expressa por:b∉V, pois o ele-
⟹: implica que mento b não pertence ao conjunto V.
⇔: se,e somente se
∃: existe Inclusão
∄: não existe A Relação de inclusão possui 3 propriedades:
∀: para todo(ou qualquer que seja) Propriedade reflexiva: A⊂A, isto é, um conjunto sempre é sub-
∅: conjunto vazio conjunto dele mesmo.
N: conjunto dos números naturais Propriedade antissimétrica: se A⊂B e B⊂A, então A=B
Z: conjunto dos números inteiros Propriedade transitiva: se A⊂B e B⊂C, então, A⊂C.
Q: conjunto dos números racionais
Q’=I: conjunto dos números irracionais Operações
R: conjunto dos números reais União
Dados dois conjuntos A e B, existe sempre um terceiro formado
Igualdade pelos elementos que pertencem pelo menos um dos conjuntos a
Propriedades básicas da igualdade que chamamos conjunto união e representamos por: A∪B.
Para todos os conjuntos A, B e C,para todos os objetos x ∈ U, Formalmente temos: A∪B={x|x ∈ A ou x ∈ B}
temos que: Exemplo:
(1) A = A. A={1,2,3,4} e B={5,6}
(2) Se A = B, então B = A. A∪B={1,2,3,4,5,6}
(3) Se A = B e B = C, então A = C.
(4) Se A = B e x ∈ A, então x∈ B. Interseção
Se A = B e A ∈ C, então B ∈ C. A interseção dos conjuntos A e B é o conjunto formado pelos
elementos que são ao mesmo tempo de A e de B, e é representada
Dois conjuntos são iguais se, e somente se, possuem exata- por : A∩B. Simbolicamente: A∩B={x|x∈A e x∈B}
mente os mesmos elementos. Em símbolo:
Para saber se dois conjuntos A e B são iguais, precisamos saber
apenas quais são os elementos.
Não importa ordem:
A={1,2,3} e B={2,1,3}

Não importa se há repetição:


A={1,2,2,3} e B={1,2,3}

Classificação
Definição Exemplo:
Chama-se cardinal de um conjunto, e representa-se por #, ao A={a,b,c,d,e} e B={d,e,f,g}
número de elementos que ele possui. A∩B={d,e}

Exemplo Diferença
Por exemplo, se A ={45,65,85,95} então #A = 4. Uma outra operação entre conjuntos é a diferença, que a cada
par A, B de conjuntos faz corresponder o conjunto definido por:
Definições A – B ou A\B que se diz a diferença entre A e B ou o comple-
Dois conjuntos dizem-se equipotentes se têm o mesmo cardinal. mentar de B em relação a A.
Um conjunto diz-se A este conjunto pertencem os elementos de A que não perten-
a) infinito quando não é possível enumerar todos os seus ele- cem a B.
mentos A\B = {x : x∈A e x∉B}.

24
RACIOCÍNIO LÓGICO
Não importa se há repetição:
A={1,2,2,3} e B={1,2,3}

Relação de Pertinência
Relacionam um elemento com conjunto. E a indicação que o
elemento pertence (∈) ou não pertence (∉)
Exemplo: Dado o conjunto A={-3, 0, 1, 5}
0∈A
2∉A

Relações de Inclusão
Relacionam um conjunto com outro conjunto.
Simbologia: ⊂(está contido), ⊄(não está contido), ⊃(contém),
⊅ (não contém)
Exemplo:
A = {0, 1, 2, 3, 4, 5} e B = {5, 6, 7} A Relação de inclusão possui 3 propriedades:
Então os elementos de A – B serão os elementos do conjunto A
menos os elementos que pertencerem ao conjunto B. Exemplo:
Portanto A – B = {0, 1, 2, 3, 4}. {1, 3,5}⊂{0, 1, 2, 3, 4, 5}
{0, 1, 2, 3, 4, 5}⊃{1, 3,5}
Complementar
Sejam A e B dois conjuntos tais que A⊂B. Chama-se comple- Aqui vale a famosa regrinha que o professor ensina, boca aber-
mentar de A em relação a B, que indicamos por CBA, o conjunto ta para o maior conjunto.
cujos elementos são todos aqueles que pertencem a B e não per-
tencem a A. Subconjunto
A⊂B⇔ CBA={x|x∈B e x∉A}=B-A O conjunto A é subconjunto de B se todo elemento de A é tam-
bém elemento de B.
Exemplo
A={1,2,3} B={1,2,3,4,5} Exemplo: {2,4} é subconjunto de {x∈N|x é par}
CBA={4,5}
Operações
Representação
-Enumerando todos os elementos do conjunto: S={1, 2, 3, 4, 5} União
-Simbolicamente: B={x∈ N|2<x<8}, enumerando esses elemen- Dados dois conjuntos A e B, existe sempre um terceiro formado
tos temos: pelos elementos que pertencem pelo menos um dos conjuntos a
B={3,4,5,6,7} que chamamos conjunto união e representamos por: A∪B.
Formalmente temos: A∪B={x|x ∈A ou x∈B}
- por meio de diagrama:
Exemplo:
A={1,2,3,4} e B={5,6}
A∪B={1,2,3,4,5,6}

Quando um conjunto não possuir elementos chama-se de con-


junto vazio: S=∅ ou S={ }. Interseção
A interseção dos conjuntos A e B é o conjunto formado pelos
Igualdade elementos que são ao mesmo tempo de A e de B, e é representada
Dois conjuntos são iguais se, e somente se, possuem exata- por : A∩B.
mente os mesmos elementos. Em símbolo: Simbolicamente: A∩B={x|x ∈A e x ∈B}

Para saber se dois conjuntos A e B são iguais, precisamos saber


apenas quais são os elementos.
Não importa ordem:
A={1,2,3} e B={2,1,3}

25
RACIOCÍNIO LÓGICO
Exemplo: Exemplo
A={a,b,c,d,e} e B={d,e,f,g} (MANAUSPREV – Analista Previdenciário – FCC/2015) Em um
A∩B={d,e} grupo de 32 homens, 18 são altos, 22 são barbados e 16 são care-
cas. Homens altos e barbados que não são carecas são seis. Todos
Diferença homens altos que são carecas, são também barbados. Sabe-se que
Uma outra operação entre conjuntos é a diferença, que a cada existem 5 homens que são altos e não são barbados nem carecas.
par A, B de conjuntos faz corresponder o conjunto definido por: Sabe-se que existem 5 homens que são barbados e não são altos
A – B ou A\B que se diz a diferença entre A e B ou o comple- nem carecas. Sabe-se que existem 5 homens que são carecas e não
mentar de B em relação a A. são altos e nem barbados. Dentre todos esses homens, o número
A este conjunto pertencem os elementos de A que não perten- de barbados que não são altos, mas são carecas é igual a
cem a B. (A) 4.
(B) 7.
A\B = {x : x ∈A e x∉B}. (C) 13.
(D) 5.
(E) 8.

Primeiro, quando temos 3 diagramas, sempre começamos pela


interseção dos 3, depois interseção a cada 2 e por fim, cada um

B-A = {x : x ∈B e x∉A}.

Exemplo:
A = {0, 1, 2, 3, 4, 5} e B = {5, 6, 7} Se todo homem careca é barbado, não teremos apenas homens
Então os elementos de A – B serão os elementos do conjunto A carecas e altos.
menos os elementos que pertencerem ao conjunto B. Homens altos e barbados são 6
Portanto A – B = {0, 1, 2, 3, 4}.

Complementar
O complementar do conjunto A( ) é o conjunto formado pelos
elementos do conjunto universo que não pertencem a A.

Sabe-se que existem 5 homens que são barbados e não são


altos nem carecas. Sabe-se que existem 5 homens que são carecas
e não são altos e nem barbados

Fórmulas da união
n(A ∪B)=n(A)+n(B)-n(A∩B)
n(A ∪B∪C)=n(A)+n(B)+n(C)+n(A∩B∩C)-n(A∩B)-n(A∩C)-n(B C)

Essas fórmulas muitas vezes nos ajudam, pois ao invés de fazer


todo o diagrama, se colocarmos nessa fórmula, o resultado é mais
rápido, o que na prova de concurso é interessante devido ao tempo.
Mas, faremos exercícios dos dois modos para você entender
melhor e perceber que, dependendo do exercício é melhor fazer de
uma forma ou outra.

26
RACIOCÍNIO LÓGICO
Sabemos que 18 são altos Resolução
A nossa primeira conta, deve ser achar o número de candidatos
que não são físicos, biólogos e nem químicos.
n (F ∪B∪Q)=n(F)+n(B)+n(Q)+n(F∩B∩Q)-n(F∩B)-n(F∩Q)-
-n(B∩Q)
n(F ∪B∪Q)=80+90+55+8-32-23-16=162
Temos um total de 250 candidatos
250-162=88
Resposta: A.

NÚMEROS INTEIROS, RACIONAIS E REAIS E SUAS OPE-


RAÇÕES
Quando somarmos 5+x+6=18
X=18-11=7 Números Naturais
Os números naturais são o modelo matemático necessário
Carecas são 16 para efetuar uma contagem.
Começando por zero e acrescentando sempre uma unidade,
obtemos o conjunto infinito dos números naturais

- Todo número natural dado tem um sucessor


a) O sucessor de 0 é 1.
b) O sucessor de 1000 é 1001.
c) O sucessor de 19 é 20.

Usamos o * para indicar o conjunto sem o zero.


7+y+5=16
Y=16-12 {1,2,3,4,5,6... . }
Y=4
- Todo número natural dado N, exceto o zero, tem um anteces-
Então o número de barbados que não são altos, mas são care-
sor (número que vem antes do número dado).
cas são 4.
Exemplos: Se m é um número natural finito diferente de zero.
Nesse exercício ficará difícil se pensarmos na fórmula, ficou
a) O antecessor do número m é m-1.
grande devido as explicações, mas se você fizer tudo no mesmo dia-
grama, mas seguindo os passos, o resultado sairá fácil. b) O antecessor de 2 é 1.
c) O antecessor de 56 é 55.
Exemplo d) O antecessor de 10 é 9.
(SEGPLAN/GO – Perito Criminal – FUNIVERSA/2015) Suponha
que, dos 250 candidatos selecionados ao cargo de perito criminal: Expressões Numéricas
Nas expressões numéricas aparecem adições, subtrações, mul-
1) 80 sejam formados em Física; tiplicações e divisões. Todas as operações podem acontecer em
2) 90 sejam formados em Biologia; uma única expressão. Para resolver as expressões numéricas utili-
3) 55 sejam formados em Química; zamos alguns procedimentos:
4) 32 sejam formados em Biologia e Física;
5) 23 sejam formados em Química e Física; Se em uma expressão numérica aparecer as quatro operações,
6) 16 sejam formados em Biologia e Química; devemos resolver a multiplicação ou a divisão primeiramente, na
7) 8 sejam formados em Física, em Química e em Biologia. ordem em que elas aparecerem e somente depois a adição e a sub-
tração, também na ordem em que aparecerem e os parênteses são
Considerando essa situação, assinale a alternativa correta. resolvidos primeiro.
(A) Mais de 80 dos candidatos selecionados não são físicos
nem biólogos nem químicos. Exemplo 1
(B) Mais de 40 dos candidatos selecionados são formados ape- 10 + 12 – 6 + 7
nas em Física. 22 – 6 + 7
(C) Menos de 20 dos candidatos selecionados são formados 16 + 7
apenas em Física e em Biologia. 23
(D) Mais de 30 dos candidatos selecionados são formados
apenas em Química. Exemplo 2
(E) Escolhendo-se ao acaso um dos candidatos selecionados, 40 – 9 x 4 + 23
a probabilidade de ele ter apenas as duas formações, Física e 40 – 36 + 23
Química, é inferior a 0,05. 4 + 23

27
RACIOCÍNIO LÓGICO
27

Exemplo 3
25-(50-30)+4x5
25-20+20=25

Números Inteiros
Podemos dizer que este conjunto é composto pelos números Representação Fracionária dos Números Decimais
naturais, o conjunto dos opostos dos números naturais e o zero. 1ºcaso) Se for exato, conseguimos sempre transformar com o
Este conjunto pode ser representado por: denominador seguido de zeros.
O número de zeros depende da casa decimal. Para uma casa,
um zero (10) para duas casas, dois zeros(100) e assim por diante.

Subconjuntos do conjunto :
1)Conjunto dos números inteiros excluindo o zero

{...-2, -1, 1, 2, ...}

2) Conjuntos dos números inteiros não negativos

{0, 1, 2, ...}

3) Conjunto dos números inteiros não positivos

{...-3, -2, -1} 2ºcaso) Se dízima periódica é um número racional, então como
podemos transformar em fração?
Números Racionais
Chama-se de número racional a todo número que pode ser ex- Exemplo 1
presso na forma , onde a e b são inteiros quaisquer, com b≠0 Transforme a dízima 0, 333... .em fração
São exemplos de números racionais: Sempre que precisar transformar, vamos chamar a dízima dada
-12/51 de x, ou seja
-3 X=0,333...
-(-3)
-2,333... Se o período da dízima é de um algarismo, multiplicamos por
10.
As dízimas periódicas podem ser representadas por fração, 10x=3,333...
portanto são consideradas números racionais.
Como representar esses números? E então subtraímos:
10x-x=3,333...-0,333...
Representação Decimal das Frações 9x=3
Temos 2 possíveis casos para transformar frações em decimais X=3/9
X=1/3
1º) Decimais exatos: quando dividirmos a fração, o número de-
cimal terá um número finito de algarismos após a vírgula. Agora, vamos fazer um exemplo com 2 algarismos de período.

Exemplo 2
Seja a dízima 1,1212...
Façamos x = 1,1212...
100x = 112,1212... .

Subtraindo:
100x-x=112,1212...-1,1212...
99x=111
X=111/99
2º) Terá um número infinito de algarismos após a vírgula, mas lem-
brando que a dízima deve ser periódica para ser número racional Números Irracionais

OBS: período da dízima são os números que se repetem, se Identificação de números irracionais
não repetir não é dízima periódica e assim números irracionais, que – Todas as dízimas periódicas são números racionais.
trataremos mais a frente. – Todos os números inteiros são racionais.
– Todas as frações ordinárias são números racionais.
– Todas as dízimas não periódicas são números irracionais.
– Todas as raízes inexatas são números irracionais.

28
RACIOCÍNIO LÓGICO
– A soma de um número racional com um número irracional é Intervalo:]a,b[
sempre um número irracional. Conjunto:{xϵR|a<x<b}
– A diferença de dois números irracionais, pode ser um número
racional. Intervalo fechado à esquerda – números reais maiores que a ou
– Os números irracionais não podem ser expressos na forma , iguais a A e menores do que B.
com a e b inteiros e b≠0.

Exemplo: - = 0 e 0 é um número racional.

– O quociente de dois números irracionais, pode ser um núme-


ro racional. Intervalo:{a,b[
Conjunto {x ϵ R|a≤x<b}
Exemplo: : = = 2 e 2 é um número racional.
Intervalo fechado à direita – números reais maiores que a e
– O produto de dois números irracionais, pode ser um número menores ou iguais a b.
racional.

Exemplo: . = = 7 é um número racional.

Exemplo: radicais( a raiz quadrada de um número na- Intervalo:]a,b]


tural, se não inteira, é irracional. Conjunto:{x ϵ R|a<x≤b}

Números Reais Intervalos Ilimitados


Semirreta esquerda, fechada de origem b- números reais me-
nores ou iguais a b.

Intervalo:]-∞,b]
Conjunto:{x ϵ R|x≤b}

Semirreta esquerda, aberta de origem b – números reais me-


nores que b.

Fonte: www.estudokids.com.br Intervalo:]-∞,b[


Conjunto:{x ϵ R|x<b}
Representação na reta
Semirreta direita, fechada de origem a – números reais maiores
ou iguais a A.

Intervalo:[a,+ ∞[
Conjunto:{x ϵ R|x≥a}
Intervalos limitados
Intervalo fechado – Números reais maiores do que a ou iguais a Semirreta direita, aberta, de origem a – números reais maiores
e menores do que b ou iguais a b. que a.

Intervalo:[a,b]
Conjunto: {x ϵ R|a≤x≤b} Intervalo:]a,+ ∞[
Conjunto:{x ϵ R|x>a}
Intervalo aberto – números reais maiores que a e menores que
b. Potenciação
Multiplicação de fatores iguais

2³=2.2.2=8

29
RACIOCÍNIO LÓGICO
Casos 3) (am)n Potência de potência. Repete-se a base e multiplica-se
1) Todo número elevado ao expoente 0 resulta em 1. os expoentes.

Exemplos:
(52)3 = 52.3 = 56

2) Todo número elevado ao expoente 1 é o próprio número.

4) E uma multiplicação de dois ou mais fatores elevados a um


expoente, podemos elevar cada um a esse mesmo expoente.
(4.3)²=4².3²
3) Todo número negativo, elevado ao expoente par, resulta em
um número positivo. 5) Na divisão de dois fatores elevados a um expoente, podemos
elevar separados.

4) Todo número negativo, elevado ao expoente ímpar, resulta


em um número negativo. Radiciação
Radiciação é a operação inversa a potenciação

5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos passar o sinal


para positivo e inverter o número que está na base.

Técnica de Cálculo
A determinação da raiz quadrada de um número torna-se mais
fácil quando o algarismo se encontra fatorado em números primos.
Veja:

6) Toda vez que a base for igual a zero, não importa o valor do 64 2
expoente, o resultado será igual a zero.
32 2
16 2
8 2
4 2
Propriedades 2 2
1) (am . an = am+n) Em uma multiplicação de potências de mesma
base, repete-se a base e soma os expoentes. 1

Exemplos: 64=2.2.2.2.2.2=26
24 . 23 = 24+3= 27
(2.2.2.2) .( 2.2.2)= 2.2.2. 2.2.2.2= 27 Como é raiz quadrada a cada dois números iguais “tira-se” um
e multiplica.

2) (am: an = am-n). Em uma divisão de potência de mesma base. Observe:


Conserva-se a base e subtraem os expoentes. 1 1 1
3.5 = (3.5) = 3 .5 = 3. 5
2 2 2
Exemplos:
96 : 92 = 96-2 = 94
De modo geral, se
a ∈ R+ , b ∈ R+ , n ∈ N * ,

30
RACIOCÍNIO LÓGICO
Então:
n
a.b = n a .n b
Caso tenha:
O radical de índice inteiro e positivo de um produto indicado é
igual ao produto dos radicais de mesmo índice dos fatores do radi- Não dá para somar, as raízes devem ficar desse modo.
cando.
Racionalização de Denominadores
Raiz quadrada de frações ordinárias Normalmente não se apresentam números irracionais com
radicais no denominador. Ao processo que leva à eliminação dos
1 1 radicais do denominador chama-se racionalização do denominador.
2 2 2 2 2
2 1º Caso: Denominador composto por uma só parcela
Observe: =  = 1 =
3 3 3
32
a na
* *
De modo geral, se a ∈ R+ , b ∈ R , n ∈ N , então: n =
+
b nb
O radical de índice inteiro e positivo de um quociente indicado
é igual ao quociente dos radicais de mesmo índice dos termos do
radicando. 2º Caso: Denominador composto por duas parcelas.

Raiz quadrada números decimais

Devemos multiplicar de forma que obtenha uma diferença de


quadrados no denominador:

Operações

PORCENTAGEM

Operações Porcentagem é uma fração cujo denominador é 100, seu sím-


bolo é (%). Sua utilização está tão disseminada que a encontramos
nos meios de comunicação, nas estatísticas, em máquinas de cal-
Multiplicação cular, etc.

Exemplo Os acréscimos e os descontos é importante saber porque ajuda


muito na resolução do exercício.

Acréscimo
Divisão Se, por exemplo, há um acréscimo de 10% a um determina-
do valor, podemos calcular o novo valor apenas multiplicando esse
valor por 1,10, que é o fator de multiplicação. Se o acréscimo for
de 20%, multiplicamos por 1,20, e assim por diante. Veja a tabela
abaixo:
Exemplo

ACRÉSCIMO OU LUCRO FATOR DE MULTIPLICAÇÃO


10% 1,10
Adição e subtração
15% 1,15
Para fazer esse cálculo, devemos fatorar o 8 e o 20. 20% 1,20
47% 1,47
8 2 20 2
67% 1,67
4 2 10 2
2 2 5 5 Exemplo: Aumentando 10% no valor de R$10,00 temos:
1 1
10 x 1,10 = R$ 11,00

31
RACIOCÍNIO LÓGICO
Desconto Exemplo:
No caso de haver um decréscimo, o fator de multiplicação será: Na sala do 1º ano de um colégio há 20 rapazes e 25 moças.
Fator de Multiplicação =1 - taxa de desconto (na forma decimal) Encontre a razão entre o número de rapazes e o número de moças.
Veja a tabela abaixo: (lembrando que razão é divisão)

DESCONTO FATOR DE MULTIPLICAÇÃO


10% 0,90
25% 0,75
Proporção
34% 0,66 Proporção é a igualdade entre duas razões. A proporção entre
60% 0,40 A/B e C/D é a igualdade:
90% 0,10

Exemplo: Descontando 10% no valor de R$10,00 temos:


Propriedade fundamental das proporções
10 X 0,90 = R$ 9,00 Numa proporção:
Chamamos de lucro em uma transação comercial de compra e
venda a diferença entre o preço de venda e o preço de custo.
Lucro=preço de venda -preço de custo
Os números A e D são denominados extremos enquanto os nú-
Podemos expressar o lucro na forma de porcentagem de duas meros B e C são os meios e vale a propriedade: o produto dos meios
formas: é igual ao produto dos extremos, isto é:

AxD=BxC

Exemplo: A fração 3/4 está em proporção com 6/8, pois:

Exemplo Exercício: Determinar o valor de X para que a razão X/3 esteja


(DPE/RR – Analista de Sistemas – FCC/2015) Em sala de aula em proporção com 4/6.
com 25 alunos e 20 alunas, 60% desse total está com gripe. Se x%
das meninas dessa sala estão com gripe, o menor valor possível Solução: Deve-se montar a proporção da seguinte forma:
para x é igual a
(A) 8.
(B) 15.
(C) 10.
(D) 6.
(E) 12.
Segunda propriedade das proporções
Resolução Qualquer que seja a proporção, a soma ou a diferença dos dois
45------100% primeiros termos está para o primeiro, ou para o segundo termo,
X-------60% assim como a soma ou a diferença dos dois últimos termos está
X=27 para o terceiro, ou para o quarto termo. Então temos:
O menor número de meninas possíveis para ter gripe é se to-
dos os meninos estiverem gripados, assim apenas 2 meninas estão.

Ou
Resposta: C.

PROPORCIONALIDADE DIRETA E INVERSA

Razão Ou
Chama-se de razão entre dois números racionais a e b, com b
0, ao quociente entre eles. Indica-se a razão de a para b por a/bou
a : b.

32
RACIOCÍNIO LÓGICO
Ou Exemplo
Velocidade x Tempo a tabela abaixo:

VELOCIDADE (M/S) TEMPO (S)


5 200
Terceira propriedade das proporções 8 125
Qualquer que seja a proporção, a soma ou a diferença dos an-
tecedentes está para a soma ou a diferença dos consequentes, as- 10 100
sim como cada antecedente está para o seu respectivo consequen- 16 62,5
te. Temos então:
20 50

Quanto MAIOR a velocidade MENOS tempo??


Inversamente proporcional
Se eu dobro a velocidade, eu faço o tempo pela metade.
Ou
Diretamente Proporcionais
Para decompor um número M em partes X1, X2, ..., Xn direta-
mente proporcionais a p1, p2, ..., pn, deve-se montar um sistema
com n equações e n incógnitas, sendo as somas X1+X2+...+Xn=M e
p1+p2+...+pn=P.
Ou

A solução segue das propriedades das proporções:


Ou

Exemplo
Grandezas Diretamente Proporcionais Carlos e João resolveram realizar um bolão da loteria. Carlos
Duas grandezas variáveis dependentes são diretamente pro- entrou com R$ 10,00 e João com R$ 15,00. Caso ganhem o prêmio
porcionais quando a razão entre os valores da 1ª grandeza é igual a de R$ 525.000,00, qual será a parte de cada um, se o combinado
razão entre os valores correspondentes da 2ª, ou de uma maneira entre os dois foi de dividirem o prêmio de forma diretamente pro-
mais informal, se eu pergunto: porcional?
Quanto mais.....mais....

Exemplo
Distância percorrida e combustível gasto

DISTÂNCIA (KM) COMBUSTÍVEL (LITROS)


13 1
26 2
39 3
Carlos ganhará R$210000,00 e Carlos R$315000,00.
52 4
Inversamente Proporcionais
Quanto MAIS eu ando, MAIS combustível? Para decompor um número M em n partes X1, X2, ..., Xn inver-
Diretamente proporcionais samente proporcionais a p1, p2, ..., pn, basta decompor este número
Se eu dobro a distância, dobra o combustível M em n partes X1, X2, ..., Xn diretamente proporcionais a 1/p1, 1/p2,
..., 1/pn. A montagem do sistema com n equações e n incógnitas,
Grandezas Inversamente Proporcionais assume que X1+X2+...+ Xn=M e além disso
Duas grandezas variáveis dependentes são inversamente pro-
porcionais quando a razão entre os valores da 1ª grandeza é igual
ao inverso da razão entre os valores correspondentes da 2ª.
Quanto mais....menos...

33
RACIOCÍNIO LÓGICO
cuja solução segue das propriedades das proporções:

MEDIDAS DE COMPRIMENTO, ÁREA, VOLUME, MASSA E TEMPO

UNIDADES DE COMPRIMENTO
km hm dam m dm cm mm
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
1000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m

Os múltiplos do metro são utilizados para medir grandes distâncias, enquanto os submúltiplos, para pequenas distâncias. Para medi-
das milimétricas, em que se exige precisão, utilizamos:

mícron (µ) = 10-6 m angströn (Å) = 10-10 m

Para distâncias astronômicas utilizamos o Ano-luz (distância percorrida pela luz em um ano):
Ano-luz = 9,5 · 1012 km

Exemplos de Transformação
1m=10dm=100cm=1000mm=0,1dam=0,01hm=0,001km
1km=10hm=100dam=1000m

Ou seja, para transformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 10 e para a esquerda divide por 10.

Superfície
A medida de superfície é sua área e a unidade fundamental é o metro quadrado(m²).

Para transformar de uma unidade para outra inferior, devemos observar que cada unidade é cem vezes maior que a unidade imedia-
tamente inferior. Assim, multiplicamos por cem para cada deslocamento de uma unidade até a desejada.

UNIDADES DE ÁREA
km 2
hm 2
dam 2
m2 dm2 cm2 mm2
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado
1000000m2 10000m2 100m2 1m2 0,01m2 0,0001m2 0,000001m2

Exemplos de Transformação
1m²=100dm²=10000cm²=1000000mm²
1km²=100hm²=10000dam²=1000000m²

Ou seja, para transformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 100 e para a esquerda divide por 100.

Volume
Os sólidos geométricos são objetos tridimensionais que ocupam lugar no espaço. Por isso, eles possuem volume. Podemos encontrar
sólidos de inúmeras formas, retangulares, circulares, quadrangulares, entre outras, mas todos irão possuir volume e capacidade.

UNIDADES DE VOLUME
km 3
hm 3
dam3 m3 dm3 cm3 mm3
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico
1000000000m3 1000000m3 1000m3 1m3 0,001m3 0,000001m3 0,000000001m3

34
RACIOCÍNIO LÓGICO
Capacidade
Para medirmos a quantidade de leite, sucos, água, óleo, gasolina, álcool entre outros utilizamos o litro e seus múltiplos e submúltiplos,
unidade de medidas de produtos líquidos.
Se um recipiente tem 1L de capacidade, então seu volume interno é de 1dm³

1L=1dm³

UNIDADES DE CAPACIDADE
kl hl dal l dl cl ml
Quilolitro Hectolitro Decalitro Litro Decilitro Centilitro Mililitro
1000l 100l 10l 1l 0,1l 0,01l 0,001l

Massa

Unidades de Capacidade
kg hg dag g g dg cg mg
Quilograma Hectograma Decagrama Grama Grama Decigrama Centigrama Miligrama
1000g 100g 10g 1g 0,1g 0,1g 0,01g 0,001

Toda vez que andar 1 casa para direita, multiplica por 10 e quando anda para esquerda divide por 10.
E uma outra unidade de massa muito importante é a tonelada
1 tonelada=1000kg

Tempo
A unidade fundamental do tempo é o segundo(s).
É usual a medição do tempo em várias unidades, por exemplo: dias, horas, minutos

Transformação de unidades
Deve-se saber:
1 dia=24horas
1hora=60minutos
1 minuto=60segundos
1hora=3600s

Adição de tempo
Exemplo: Estela chegou ao 15h 35minutos. Lá, bateu seu recorde de nado livre e fez 1 minuto e 25 segundos. Demorou 30 minutos
para chegar em casa. Que horas ela chegou?

15h 35 minutos
1 minutos 25 segundos
30 minutos
--------------------------------------------------
15h 66 minutos 25 segundos

Não podemos ter 66 minutos, então temos que transferir para as horas, sempre que passamos de um para o outro tem que ser na
mesma unidade, temos que passar 1 hora=60 minutos
Então fica: 16h6 minutos 25segundos
Vamos utilizar o mesmo exemplo para fazer a operação inversa.

Subtração
Vamos dizer que sabemos que ela chegou em casa as 16h6 minutos 25 segundos e saiu de casa às 15h 35 minutos. Quanto tempo
ficou fora?

11h 60 minutos
16h 6 minutos 25 segundos
-15h 35 min
--------------------------------------------------

35
RACIOCÍNIO LÓGICO
Não podemos tirar 6 de 35, então emprestamos, da mesma for- Barra vertical
ma que conta de subtração.
1hora=60 minutos

15h 66 minutos 25 segundos


15h 35 minutos
--------------------------------------------------
0h 31 minutos 25 segundos

Multiplicação
Pedro pensou em estudar durante 2h 40 minutos, mas demo-
rou o dobro disso. Quanto tempo durou o estudo?

2h 40 minutos
x2 Barra horizontal
----------------------------
4h 80 minutos OU
5h 20 minutos

Divisão
5h 20 minutos : 2

5h 20 minutos 2

1h 20 minutos 2h 40 minutos
80 minutos
0
Histogramas
1h 20 minutos, transformamos para minutos :60+20=80minu-
São gráfico de barra que mostram a frequência de uma variável
tos
específica e um detalhe importante que são faixas de valores em x.

COMPREENSÃO DE DADOS APRESENTADOS EM GRÁ-


FICOS E TABELAS

Os gráficos e tabelas apresentam o cruzamento entre dois da-


dos relacionados entre si.
A escolha do tipo e a forma de apresentação sempre vão de-
pender do contexto, mas de uma maneira geral um bom gráfico
deve:
-Mostrar a informação de modo tão acurado quanto possível.
-Utilizar títulos, rótulos, legendas, etc. para tornar claro o con-
texto, o conteúdo e a mensagem.
-Complementar ou melhorar a visualização sobre aspectos des-
critos ou mostrados numericamente através de tabelas.
-Utilizar escalas adequadas.
-Mostrar claramente as tendências existentes nos dados.

Tipos de gráficos
Barras- utilizam retângulos para mostrar a quantidade.
Setor ou pizza- Muito útil quando temos um total e queremos
demonstrar cada parte, separando cada pedaço como numa pizza.

36
RACIOCÍNIO LÓGICO

PROBLEMAS DE CONTAGEM E NOÇÕES DE PROBABI-


LIDADE

Análise Combinatória
A Análise Combinatória é a área da Matemática que trata dos
problemas de contagem.

Princípio Fundamental da Contagem


Estabelece o número de maneiras distintas de ocorrência de
um evento composto de duas ou mais etapas.
Se uma decisão E1 pode ser tomada de n1 modos e, a decisão E2
pode ser tomada de n2 modos, então o número de maneiras de se
tomarem as decisões E1 e E2 é n1.n2.
Linhas- É um gráfico de grande utilidade e muito comum na
representação de tendências e relacionamentos de variáveis Exemplo

O número de maneiras diferentes de se vestir é:2(calças).


3(blusas)=6 maneiras

Fatorial
É comum nos problemas de contagem, calcularmos o produto
de uma multiplicação cujos fatores são números naturais consecu-
Pictogramas – são imagens ilustrativas para tornar mais fácil a tivos. Para facilitar adotamos o fatorial.
compreensão de todos sobre um tema. n! = n(n - 1)(n - 2)... 3 . 2 . 1, (n ϵ N)

Arranjo Simples
Denomina-se arranjo simples dos n elementos de E, p a p, toda
sequência de p elementos distintos de E.

Exemplo
Usando somente algarismos 5, 6 e 7. Quantos números de 2
algarismos distintos podemos formar?

Da mesma forma, as tabelas ajudam na melhor visualização de


dados e muitas vezes é através dela que vamos fazer os tipos de
gráficos vistos anteriormente.

Podem ser tabelas simples:

Quantos aparelhos tecnológicos você tem na sua casa?

APARELHO QUANTIDADE
Televisão 3
Celular 4
Geladeira 1 Observe que os números obtidos diferem entre si:
Pela ordem dos elementos: 56 e 65
Pelos elementos componentes: 56 e 67
Cada número assim obtido é denominado arranjo simples dos
3 elementos tomados 2 a 2.

37
RACIOCÍNIO LÓGICO
Indica-se A3,2 Binomiais Complementares
Dois binomiais de mesmo numerador em que a soma dos de-
nominadores é igual ao numerador são iguais:

Permutação Simples
Chama-se permutação simples dos n elementos, qualquer
agrupamento(sequência) de n elementos distintos de E. Relação de Stifel
O número de permutações simples de n elementos é indicado
por Pn.
Pn = n!

Exemplo
Quantos anagramas tem a palavra CHUVEIRO? Triângulo de Pascal
Solução
A palavra tem 8 letras, portanto:
P8 = 8! = 8 . 7 . 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 40320

Permutação com elementos repetidos


De modo geral, o número de permutações de n objetos, dos
quais n1 são iguais a A, n2 são iguais a B, n3 são iguais a C etc.

Exemplo
Quantos anagramas tem a palavra PARALELEPÍPEDO?

Solução
Se todos as letras fossem distintas, teríamos 14! Permutações.
Como temos uma letra repetida, esse número será menor.
LINHA 0 1
Temos 3P, 2A, 2L e 3 E LINHA 1 1 1
LINHA 2 1 2 1
LINHA 3 1 3 3 1
LINHA 4 1 4 6 4 1
Combinação Simples
Dado o conjunto {a1, a2, ..., an} com n objetos distintos, pode- LINHA 5 1 5 10 10 5 1
mos formar subconjuntos com p elementos. Cada subconjunto com LINHA 6 1 6 15 20 15 6 1
i elementos é chamado combinação simples.
Binômio de Newton
Denomina-se binômio de Newton todo binômio da forma (a +
b)n, com n ϵ N. Vamos desenvolver alguns binômios:
n = 0 → (a + b)0 = 1
n = 1 → (a + b)1 = 1a + 1b
Exemplo n = 2 → (a + b)2 = 1a2 + 2ab +1b2
Calcule o número de comissões compostas de 3 alunos que po- n = 3 → (a + b)3 = 1a3 + 3a2b +3ab2 + b3
demos formar a partir de um grupo de 5 alunos.
Observe que os coeficientes dos termos formam o triângulo de
Solução
Pascal.

Números Binomiais
O número de combinações de n elementos, tomados p a p,
também é representado pelo número binomial .
Experimento Aleatório
Qualquer experiência ou ensaio cujo resultado é imprevisível,
por depender exclusivamente do acaso, por exemplo, o lançamento
de um dado.

38
RACIOCÍNIO LÓGICO
Espaço Amostral Exemplo
Num experimento aleatório, o conjunto de todos os resultados Uma bola é retirada de uma urna que contém bolas coloridas.
possíveis é chamado espaço amostral, que se indica por E. Sabe-se que a probabilidade de ter sido retirada uma bola vermelha
No lançamento de um dado, observando a face voltada para é .Calcular a probabilidade de ter sido retirada uma bola que não
cima, tem-se: seja vermelha.
E={1,2,3,4,5,6}
Solução
No lançamento de uma moeda, observando a face voltada para
cima:
E={Ca,Co}

Evento São complementares.


É qualquer subconjunto de um espaço amostral.
No lançamento de um dado, vimos que
E={1,2,3,4,5,6}

Esperando ocorrer o número 5, tem-se o evento {5}: Ocorrer Adição de probabilidades


um número par, tem-se {2,4,6}. Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral E, finito e não
vazio. Tem-se:
Exemplo
Considere o seguinte experimento: registrar as faces voltadas
para cima em três lançamentos de uma moeda.

a) Quantos elementos tem o espaço amostral? Exemplo


b) Descreva o espaço amostral. No lançamento de um dado, qual é a probabilidade de se obter
um número par ou menor que 5, na face superior?
Solução
a) O espaço amostral tem 8 elementos, pois cada lançamento, Solução
há duas possibilidades. E={1,2,3,4,5,6} n(E)=6

2x2x2=8 Sejam os eventos


A={2,4,6} n(A)=3
b) B={1,2,3,4} n(B)=4
E={(C,C,C), (C,C,R),(C,R,C),(R,C,C),(R,R,C),(R,C,R),(C,R,R),(R,R,R)}

Probabilidade
Considere um experimento aleatório de espaço amostral E com
n(E) amostras equiprováveis. Seja A um evento com n(A) amostras.

Probabilidade Condicional
Eventos complementares É a probabilidade de ocorrer o evento A dado que ocorreu o
Seja E um espaço amostral finito e não vazio, e seja A um even- evento B, definido por:
to de E. Chama-se complementar de A, e indica-se por , o evento
formado por todos os elementos de E que não pertencem a A.

E={1,2,3,4,5,6}, n(E)=6
B={2,4,6} n(B)=3
A={2}

Note que

Eventos Simultâneos
Considerando dois eventos, A e B, de um mesmo espaço amos-
tral, a probabilidade de ocorrer A e B é dada por:

39
RACIOCÍNIO LÓGICO

GEOMETRIA BÁSICA: ÂNGULOS, TRIÂNGULOS, PO-


LÍGONOS, DISTÂNCIAS, PROPORCIONALIDADE, PERÍ-
METRO E ÁREA
Triângulo
Ângulos
Denominamos ângulo a região do plano limitada por duas se- Elementos
mirretas de mesma origem. As semirretas recebem o nome de la-
dos do ângulo e a origem delas, de vértice do ângulo. Mediana
Mediana de um triângulo é um segmento de reta que liga um
vértice ao ponto médio do lado oposto.
Na figura, é uma mediana do ABC.
Um triângulo tem três medianas.

Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do que 90º.

A bissetriz de um ângulo interno de um triângulo intercepta o


lado oposto

Bissetriz interna de um triângulo é o segmento da bissetriz de


um ângulo do triângulo que liga um vértice a um ponto do lado
oposto.
Na figura, é uma bissetriz interna do .
Um triângulo tem três bissetrizes internas.

Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do que 90º.

Ângulo Raso: Altura de um triângulo é o segmento que liga um vértice a um


- É o ângulo cuja medida é 180º; ponto da reta suporte do lado oposto e é perpendicular a esse lado.
- É aquele, cujos lados são semi-retas opostas.
Na figura, é uma altura do .

Um triângulo tem três alturas.

Ângulo Reto:
- É o ângulo cuja medida é 90º;
- É aquele cujos lados se apoiam em retas perpendiculares.

40
RACIOCÍNIO LÓGICO
Mediatriz de um segmento de reta é a reta perpendicular a
esse segmento pelo seu ponto médio.

Na figura, a reta m é a mediatriz de .

Quanto aos ângulos


Triângulo acutângulo: tem os três ângulos agudos

Mediatriz de um triângulo é uma reta do plano do triângulo


que é mediatriz de um dos lados desse triângulo.
Na figura, a reta m é a mediatriz do lado do .
Um triângulo tem três mediatrizes.

Triângulo retângulo: tem um ângulo reto

Classificação

Quanto aos lados


Triângulo obtusângulo: tem um ângulo obtuso
Triângulo escaleno: três lados desiguais.

Triângulo isósceles: Pelo menos dois lados iguais.

Desigualdade entre Lados e ângulos dos triângulos


Num triângulo o comprimento de qualquer lado é menor que
a soma dos outros dois. Em qualquer triângulo, ao maior ângulo
opõe-se o maior lado, e vice-versa.

QUADRILÁTEROS
Quadrilátero é todo polígono com as seguintes propriedades:
- Tem 4 lados.
- Tem 2 diagonais.
- A soma dos ângulos internos Si = 360º
- A soma dos ângulos externos Se = 360º
Triângulo equilátero: três lados iguais.
Trapézio: É todo quadrilátero tem dois paralelos.

41
RACIOCÍNIO LÓGICO

- é paralelo a
- Losango: 4 lados congruentes
- Retângulo: 4 ângulos retos (90 graus)
- Quadrado: 4 lados congruentes e 4 ângulos retos.

Número de Diagonais

Observações:
- No retângulo e no quadrado as diagonais são congruentes
(iguais)
- No losango e no quadrado as diagonais são perpendiculares
entre si (formam ângulo de 90°) e são bissetrizes dos ângulos inter-
nos (dividem os ângulos ao meio).

Áreas Ângulos Internos


A soma das medidas dos ângulos internos de um polígono con-
1- Trapézio: , onde B é a medida da base maior, b é a vexo de n lados é (n-2).180
medida da base menor e h é medida da altura. Unindo um dos vértices aos outros n-3, convenientemente es-
colhidos, obteremos n-2 triângulos. A soma das medidas dos ângu-
2 - Paralelogramo: A = b.h, onde b é a medida da base e h é a los internos do polígono é igual à soma das medidas dos ângulos
medida da altura. internos dos n-2 triângulos.

3 - Retângulo: A = b.h

4 - Losango: , onde D é a medida da diagonal maior e d


é a medida da diagonal menor.

5 - Quadrado: A = l2, onde l é a medida do lado.

Polígono
Chama-se polígono a união de segmentos que são chamados
lados do polígono, enquanto os pontos são chamados vértices do
polígono.
Ângulos Externos

Diagonal de um polígono é um segmento cujas extremidades A soma dos ângulos externos=360°


são vértices não-consecutivos desse polígono.

42
RACIOCÍNIO LÓGICO
Teorema de Tales
Se um feixe de retas paralelas tem duas transversais, então a
razão de dois segmentos quaisquer de uma transversal é igual à ra-
zão dos segmentos correspondentes da outra.
Dada a figura anterior, O Teorema de Tales afirma que são váli-
das as seguintes proporções:

Exemplo

3º Caso: LLL (lado - lado - lado)


Se dois triângulos têm os três lado correspondentes proporcio-
nais, então esses dois triângulos são semelhantes.

Semelhança de Triângulos Razões Trigonométricas no Triângulo Retângulo


Dois triângulos são semelhantes se, e somente se, os seus ân-
gulos internos tiverem, respectivamente, as mesmas medidas, e os Considerando o triângulo retângulo ABC.
lados correspondentes forem proporcionais.

Casos de Semelhança
1º Caso: AA(ângulo - ângulo)
Se dois triângulos têm dois ângulos congruentes de vértices
correspondentes, então esses triângulos são congruentes.

2º Caso: LAL(lado-ângulo-lado)
Se dois triângulos têm dois lados correspondentes proporcio- Temos:
nais e os ângulos compreendidos entre eles congruentes, então es-
ses dois triângulos são semelhantes.

43
RACIOCÍNIO LÓGICO
a: hipotenusa
b e c: catetos
h: altura relativa à hipotenusa
m e n: projeções ortogonais dos catetos sobre a hipotenusa

Relações Métricas no Triângulo Retângulo


Chamamos relações métricas as relações existentes entre os
diversos segmentos desse triângulo. Assim:

1. O quadrado de um cateto é igual ao produto da hipotenusa


pela projeção desse cateto sobre a hipotenusa.

Fórmulas Trigonométricas
2. O produto dos catetos é igual ao produto da hipotenusa pela
altura relativa à hipotenusa.
Relação Fundamental
Existe uma outra importante relação entre seno e cosseno de
um ângulo. Considere o triângulo retângulo ABC.
3. O quadrado da altura é igual ao produto das projeções dos
catetos sobre a hipotenusa.

4. O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos


catetos (Teorema de Pitágoras).

Posições Relativas de Duas Retas


Duas retas no espaço podem pertencer a um mesmo plano.
Nesse caso são chamadas retas coplanares. Podem também não
Neste triângulo, temos que: c²=a²+b²
estar no mesmo plano. Nesse caso, são denominadas retas rever-
Dividindo os membros por c²
sas.

Retas Coplanares
a) Concorrentes: r e s têm um único ponto comum

Como

-Duas retas concorrentes podem ser:


Todo triângulo que tem um ângulo reto é denominado trian-
1. Perpendiculares: r e s formam ângulo reto.
gulo retângulo.
2. Oblíquas: r e s não são perpendiculares.
O triângulo ABC é retângulo em A e seus elementos são:

44
RACIOCÍNIO LÓGICO
b) Paralelas: r e s não têm ponto comum ou r e s são coinci- Estimação
dentes. A técnica de estimação consiste em utilizar um conjunto de da-
dos incompletos, ao qual iremos chamar de amostra, e nele calcular
estimativas de quantidades de interesse. Estas estimativas podem
ser pontuais (representadas por um único valor) ou intervalares.

Teste de Hipóteses
O fundamento do teste estatístico de hipóteses é levantar su-
posições acerca de uma quantidade não conhecida e utilizar, tam-
bém, dados incompletos para criar uma regra de escolha.

População e amostra

NOÇÕES DE ESTATÍSTICA: MÉDIA, MODA, MEDIANA E É o conjunto de todas as unidades sobre as quais há o interesse de
DESVIO PADRÃO investigar uma ou mais características.

Estatística descritiva Variáveis e suas classificações


Qualitativas – quando seus valores são expressos por atribu-
O objetivo da Estatística Descritiva é resumir as principais ca-
tos: sexo (masculino ou feminino), cor da pele, entre outros. Dize-
racterísticas de um conjunto de dados por meio de tabelas, gráficos
mos que estamos qualificando.
e resumos numéricos.
Quantitativas – quando seus valores são expressos em núme-
ros (salários dos operários, idade dos alunos, etc). Uma variável
Noções de estatística
quantitativa que pode assumir qualquer valor entre dois limites
A estatística torna-se a cada dia uma importante ferramenta de
recebe o nome de variável contínua; e uma variável que só pode
apoio à decisão. Resumindo: é um conjunto de métodos e técnicas
assumir valores pertencentes a um conjunto enumerável recebe o
que auxiliam a tomada de decisão sob a presença de incerteza. nome de variável discreta.
Estatística descritiva (Dedutiva) Fases do método estatístico
O objetivo da Estatística Descritiva é resumir as principais ca- — Coleta de dados: após cuidadoso planejamento e a devida
racterísticas de um conjunto de dados por meio de tabelas, gráficos determinação das características mensuráveis do fenômeno que se
e resumos numéricos. Fazemos uso de: quer pesquisar, damos início à coleta de dados numéricos necessá-
rios à sua descrição. A coleta pode ser direta e indireta.
Tabelas de frequência — Crítica dos dados: depois de obtidos os dados, os mesmos
Ao dispor de uma lista volumosa de dados, as tabelas de fre- devem ser cuidadosamente criticados, à procura de possível falhas
quência servem para agrupar informações de modo que estas pos- e imperfeições, a fim de não incorrermos em erros grosseiros ou
sam ser analisadas. As tabelas podem ser de frequência simples ou de certo vulto, que possam influir sensivelmente nos resultados. A
de frequência em faixa de valores. crítica pode ser externa e interna.
— Apuração dos dados: soma e processamento dos dados ob-
Gráficos tidos e a disposição mediante critérios de classificação, que pode
O objetivo da representação gráfica é dirigir a atenção do ana- ser manual, eletromecânica ou eletrônica.
lista para alguns aspectos de um conjunto de dados. Alguns exem- — Exposição ou apresentação de dados: os dados devem ser
plos de gráficos são: diagrama de barras, diagrama em setores, apresentados sob forma adequada (tabelas ou gráficos), tornando mais
histograma, boxplot, ramo-e-folhas, diagrama de dispersão, gráfico fácil o exame daquilo que está sendo objeto de tratamento estatístico.
sequencial. — Análise dos resultados: realizadas anteriores (Estatística Descri-
tiva), fazemos uma análise dos resultados obtidos, através dos métodos
Resumos numéricos da Estatística Indutiva ou Inferencial, que tem por base a indução ou in-
Por meio de medidas ou resumos numéricos podemos levantar ferência, e tiramos desses resultados conclusões e previsões.
importantes informações sobre o conjunto de dados tais como: a
tendência central, variabilidade, simetria, valores extremos, valores Censo
discrepantes, etc. É uma avaliação direta de um parâmetro, utilizando-se todos os
componentes da população.
Estatística inferencial (Indutiva)
Utiliza informações incompletas para tomar decisões e tirar Principais propriedades:
conclusões satisfatórias. O alicerce das técnicas de estatística infe- - Admite erros processual zero e tem 100% de confiabilidade;
rencial está no cálculo de probabilidades. Fazemos uso de: - É caro;

45
RACIOCÍNIO LÓGICO
- É lento; 6. (TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VU-
- É quase sempre desatualizado (visto que se realizam em pe- NESP/2017) Sabe-se que 16 caixas K, todas iguais, ou 40 caixas Q,
ríodos de anos 10 em 10 anos); todas também iguais, preenchem totalmente certo compartimento,
- Nem sempre é viável. inicialmente vazio. Também é possível preencher totalmente esse
mesmo compartimento completamente vazio utilizando 4 caixas K
Dados brutos: é uma sequência de valores numéricos não or- mais certa quantidade de caixas Q. Nessas condições, é correto afir-
ganizados, obtidos diretamente da observação de um fenômeno mar que o número de caixas Q utilizadas será igual a
coletivo. (A) 10.
(B) 28.
Rol: é uma sequência ordenada dos dados brutos. (C) 18.
(D) 22.
(E) 30.
EXERCÍCIOS
7. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO ADMINISTRATIVO-
FGV/2017) Lucas foi de carro para o trabalho em um horário de
1. (CRF/MT - AGENTE ADMINISTRATIVO – QUADRIX/2017) trânsito intenso e gastou 1h20min. Em um dia sem trânsito intenso,
Num grupo de 150 jovens, 32 gostam de música, esporte e leitu- Lucas foi de carro para o trabalho a uma velocidade média 20km/h
ra; 48 gostam de música e esporte; 60 gostam de música e leitura; maior do que no dia de trânsito intenso e gastou 48min.
44 gostam de esporte e leitura; 12 gostam somente de música; 18 A distância, em km, da casa de Lucas até o trabalho é:
gostam somente de esporte; e 10 gostam somente de leitura. Ao (A) 36;
escolher ao acaso um desses jovens, qual é a probabilidade de ele (B) 40;
não gostar de nenhuma dessas atividades? (C) 48;
(A) 1/75 (D) 50;
(B) 39/75 (E) 60.
(C) 11/75
(D) 40/75 8. (EMDEC - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JR – IBFC/2016)
(E) 76/75 Carlos almoçou em certo dia no horário das 12:45 às 13:12. O total
de segundos que representa o tempo que Carlos almoçou nesse dia
2. (CRMV/SC – RECEPCIONISTA – IESES/2017) Sabe-se que é:
17% dos moradores de um condomínio tem gatos, 22% tem cachor- (A) 1840
ros e 8% tem ambos (gatos e cachorros). Qual é o percentual de (B) 1620
condôminos que não tem nem gatos e nem cachorros? (C) 1780
(A) 53 (D) 2120
(B) 69
(C) 72 09. (SESAU/RO – Enfermeiro – FUNRIO/2017) Um torneio de
(D) 47 futebol de várzea reunirá 50 equipes e cada equipe jogará apenas
uma vez com cada uma das outras. Esse torneio terá a seguinte
3. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA - MS- quantidade de jogos:
CONCURSOS/2017) O valor de √0,444... é: (A) 320.
(A) 0,2222... (B) 460.
(B) 0,6666... (C) 620.
(C) 0,1616... (D) 1.225.
(D) 0,8888... (E) 2.450.

4. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO - VUNESP/2017) 10. (IFAP – Engenheiro de Segurança do Trabalho – FUNIVER-
Se, numa divisão, o divisor e o quociente são iguais, e o resto é 10, SA/2016) Considerando-se que uma sala de aula tenha trinta alu-
sendo esse resto o maior possível, então o dividendo é nos, incluindo Roberto e Tatiana, e que a comissão para organizar
(A) 131. a festa de formatura deva ser composta por cinco desses alunos,
(B) 121. incluindo Roberto e Tatiana, a quantidade de maneiras distintas de
(C) 120. se formar essa comissão será igual a:
(D) 110. (A) 3.272.
(E) 101. (B) 3.274.
(C) 3.276.
5. (MPE/GO – OFICIAL DE PROMOTORIA – MPEGO/2017) (D) 3.278.
José, pai de Alfredo, Bernardo e Caetano, de 2, 5 e 8 anos, respec- (E) 3.280.
tivamente, pretende dividir entre os filhos a quantia de R$ 240,00,
em partes diretamente proporcionais às suas idades. Considerando 11. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) Em cada
o intento do genitor, é possível afirmar que cada filho vai receber, um de dois dados cúbicos idênticos, as faces são numeradas de 1
em ordem crescente de idades, os seguintes valores: a 6. Lançando os dois dados simultaneamente, cuja ocorrência de
(A) R$ 30,00, R$ 60,00 e R$150,00. cada face é igualmente provável, a probabilidade de que o produto
(B) R$ 42,00, R$ 58,00 e R$ 140,00. dos números obtidos seja um número ímpar é de:
(C) R$ 27,00, R$ 31,00 e R$ 190,00. (A) 1/4.
(D)R$ 28,00, R$ 84,00 e R$ 128,00. (B) 1/3.
(E) R$ 32,00, R$ 80,00 e R$ 128,00. (C) 1/2.

46
RACIOCÍNIO LÓGICO
(D) 2/3.
(E) 3/4. GABARITO

12. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA - 1. Resposta: C


MSCONCURSOS/2017) A uma excursão, foram 48 pessoas, entre
homens e mulheres. Numa escolha ao acaso, a probabilidade de se
sortear um homem é de 5/12 . Quantas mulheres foram à excursão?
(A) 20
(B) 24
(C) 28
(D) 32

13. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) Na figura


abaixo, encontra-se representada uma cinta esticada passando em
torno de três discos de mesmo diâmetro e tangentes entre si.

32+10+12+18+16+28+12+x=150
X=22 que não gostam de nenhuma dessas atividades
P=22/150=11/75

2. Resposta: B
Considerando que o diâmetro de cada disco é 8, o comprimen-
to da cinta acima representada é
(A) 8/3 π + 8 .
(B) 8/3 π + 24.
(C) 8π + 8 .
(D) 8π + 24.
(E) 16π + 24.

14. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) Na figura


abaixo, ABCD é um quadrado de lado 10; E, F, G e H são pontos
médios dos lados do quadrado ABCD e são os centros de quatro
círculos tangentes entre si.

9+8+14+x=100
X=100-31
X=69%

3. Resposta: B.
Primeiramente, vamos transformar a dízima em fração
X=0,4444....
10x=4,444...
9x=4

A área da região sombreada, da figura acima apresentada, é


(A)100 - 5π .
(B) 100 - 10π .
(C) 100 - 15π .
(D)100 - 20π . 4. Resposta: A.
(E)100 - 25π . Como o maior resto possível é 10, o divisor é o número 11 que
é igua o quociente.
11x11=121+10=131

47
RACIOCÍNIO LÓGICO
5. Resposta: E
2k+5k+8k=240
15k=240
K=16
Alfredo: 2⋅16=32 12. Resposta: C.
Bernardo: 5⋅16=80 Como para homens é de 5/12, a probabilidade de escolher uma
Caetano: 8⋅16=128 mulher é de 7/12

6. Resposta: E
Se, com 16 caixas K, fica cheio e já foram colocadas 4 caixa,
faltam 12 caixas K, mas queremos colocar as caixas Q, então vamos 12x=336
ver o equivalente de 12 caixas K X=28

13. Resposta: D
Observe o triângulo do meio, cada lado é exatamente a mesma
medida da parte reta da cinta.
Q=30 caixas
Que é igual a 2 raios, ou um diâmetro, portanto o lado esticado
7. Resposta: B. tem 8x3=24 m
V------80min A parte do círculo é igual a 120°, pois é 1/3 do círculo, como são
V+20----48 três partes, é a mesma medida de um círculo.
Quanto maior a velocidade, menor o tempo(inversamente) O comprimento do círculo é dado por: 2πr=8π
Portanto, a cinta tem 8π+24

14. Resposta: E
80v=48V+960 Como o quadrado tem lado 10,a área é 100.
32V=960
V=30km/h
30km----60 min
x-----------80

60x=2400
X=40km

8 Resposta: B.
12:45 até 13:12 são 27 minutos
27x60=1620 segundos

09. Resposta: D.
O lado AF e AE medem 5, cada um, pois F e E é o ponto Médio
X²=5²+5²
X²=25+25
X²=50
X=5√2
10. Resposta: D. X é o diâmetro do círculo, como temos 4 semi círculos, temos
2 círculos inteiros.
Roberto e Tatiana ________
São 30 alunos, mas vamos tirar Roberto e Tatiana que terão que A área de um círculo é
fazer parte da comissão.
30-2=28

11. Resposta: A. A sombreada=100-25π


Para o produto ser ímpar, a única possibilidade, é que os dois
dados tenham ímpar:

48
ATUALIDADES
1. Meio ambiente e sociedade: problemas, políticas públicas, organizações não governamentais, aspectos locais e aspectos glo-
bais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Descobertas e inovações científicas na atualidade e seus impactos na sociedade contemporânea. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3. Mundo Contemporâneo: elementos de política internacional e brasileira; cultura internacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4. Cultura brasileira (música, literatura, artes, arquitetura, rádio, cinema, teatro, jornais, revistas e televisão) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5. Elementos de economia internacional contemporânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
6. Panorama da economia brasileira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
7. Ética e cidadania. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
8. Relações humanas no trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
ATUALIDADES
Nas regiões de fronteira agrícola, ou em países de industrializa-
MEIO AMBIENTE E SOCIEDADE: PROBLEMAS, POLÍTI- ção recente, tais como os tigrinhos asiáticos, é muito comum o uso
CAS PÚBLICAS, ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMEN- de queimadas para limpar campos. Estas se dão nos meses mais se-
TAIS, ASPECTOS LOCAIS E ASPECTOS GLOBAIS cos do ano, em áreas de pastagens ou queima de coivaras, casando
acidentes em rodovias, com mortes de pessoas, animais, e sérios
A QUESTÃO AMBIENTAL problemas respiratórios em cidades circundadas por canaviais, num
dos casos mais alarmantes de poluição atmosférica.
Antes de mais nada é bom lembrar que só podemos entender A escravidão de menores e de armazém é uma constante nas
a questão ambiental, aqui no Brasil, na forma da onda da globaliza- áreas de carvoaria, como as denunciadas na região Centro Oeste e
ção neoliberal que vem promovendo uma total perda da soberania Norte do Brasil.
nacional sobre a gestão dos seus recursos naturais, coibindo assim a Neste sentido, são também graves as denuncias feitas a China
alternativa de projetos de desenvolvimento sustentáveis, aprofun- dentro da OMC, já que este país é um paraíso proletário e um dos
dando as desigualdades sociais, dilapidando os recursos naturais, principais acusados de Dunnping Social. Não se esqueça da escra-
excluindo em grande parte a população do mercado de trabalho, vidão de mulheres no mundo muçulmano e da venda de mulheres
sem que participe dos frutos propiciados pelo avanço da ciência e chinesas (Cidadania).
tecnologia.
Quanto a esta questão, não confundir, por exemplo, efeito es- Aquecimento Global
tufa, (natural, conceito da Física) com efeito de estufa (aquele pro-
vocado pela ação do homem, conceito da geografia). Lembre-se: a Iceberg passa pela costa da Nova Zelândia em função do aque-
última grande conferência sobre o clima, se deu em Kioto, Japão, no cimento global.
ano de 1997, sendo que este ano houve mais um encontro em Bohn Estudos e alertas de especialistas sobre os efeitos nefastos do
no qual ficou claro que alguns países não estão cumprindo suas re- aquecimento global no futuro do planeta chamaram a atenção da
soluções. Dois resistentes foram a Austrália e o Japão. O Governo população para o problema em 2006. Ambientalistas e pesquisado-
Bush neoliberal de direita não ratificou o acordo de Kioto mesmo
res defendem que as ações contra a mudança climática devem ser
sendo os EUA responsáveis pela emissão de ¼ dos “gases de estufa”
imediatas para evitar um verdadeiro “desastre” para a economia
do globo. Um capítulo polêmico deste encontro, foi a emissão dos
mundial, que poderia sofrer decréscimo de até 20% na produção
gases de estufa, cujas quantidades devem ser reduzidas ao nível de
em 50 anos por culpa da alta das temperaturas do planeta.
quinze anos atrás.
Os Americanos são 100 milhões de carros. Cada americano » Mudança climática ameaça alimentação dos humanos
consome energia para: 3 suíços, 4 italianos, 160 tanzanianos e 1100 » Derretimento de geleiras indica aquecimento global
ruandeses. Utilizam 40% dos recursos renováveis do globo sendo » Europa vive o outono mais quente dos últimos séculos
que suas fontes de energia são baseadas em combustíveis fósseis: » Mudança climática causa extinção de mamíferos
Carvão, Petróleo e Gás Natural. » Planeta pode entrar em colapso em 50 anos, diz estudo
A questão ambiental é uma questão global, sendo necessária » Al Gore tenta salvar a Terra em filme
uma ação conjunta de todos os países do globo. As energias carbo-
nadas, petróleo e carvão, principalmente, as queimadas*, os gases Essa é a advertência do relatório preparado pelo economista
emitidos pelas fábricas, são causas básicas do efeito de estufa, ilha Nicholas Stern, que convocou os governos de todo o mundo a fixar
de calor, chuva ácida e inversão térmica, problemas sério dos tem- um preço para as emissões de CO2 mediante o pagamento de im-
pos atuais e que reforçam uma de nossas principais contradições. postos. O relatório adverte que, com uma alta das temperaturas de
Ela reside no fato de não coadunarmos desenvolvimento científico 3ºC a 4ºC, o aumento do nível dos mares transformará centenas de
e questão ambiental. Lembre-se de que, no Brasil, estamos conhe- milhões de pessoas em vítimas de inundações a cada ano.
cendo sérios retrocessos na legislação ambiental. Os principais são As áreas litorâneas do sudeste da Ásia, sobretudo Bangladesh e
poder reflorestar com eucalípteros e o projeto de desmatamento Vietnã, assim como as pequenas ilhas do Caribe e do Pacífico terão
da amazônia em fase de discussão. O projeto da bancada ruralista que ser protegidas do mar. Grandes cidades como Tóquio, Londres,
prevê redução da área de preservação dos atuais 80% para 20% na Nova York ou Cairo também ficarão expostas ao risco de inunda-
Amazônia e de 35% para 20% no Cerrado Amazônico. ções.
Na quarta conferência mundial sobre o clima, chegou-se a con- O lançamento do documentário Uma Verdade Inconveniente,
clusão de que a temperatura da terra deve elevar-se mais 5 graus protagonizado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore,
até 2100. Os gases de estufa proveniente da queima combustíveis ajudou a dar voz para o problema em 2006. Al Gore, que visitou o
fósseis, em especial o petróleo e carvão, faz nossa necessidade de Brasil, defende que a adoção de medidas contra a emissão de gases
fontes alternativas como a solar, a eólica, a das marés, a dos gé- efeito estufa é mais uma questão “ética” e “moral” do que política.
iseres ou a de biomassa, que são as fontes da revolução técnico
científica. A agenda 21 é uma plano ambicioso que prevê a implan-
Convenção da ONU
tação de um programa de desenvolvimento sustentável para todo o
globo para o século XXI. Nela os países X se comprometem destinar
Diversos locais declarados patrimônio da humanidade podem
0,7% dos seus PIBs para aplicação neste programa. Por enquanto só
estar ameaçados pelas conseqüências da mudança climática global,
mandaram as fábricas que mais poluem. Há uma proposta de cres-
cimento zero não aceita pelos países periféricos uma vez que teriam segundo o atlas apresentado em Nairóbi na Convenção das Nações
que estagnar o seu processo de industrialização. Unidas sobre Mudança Climática, que reuniu durante duas semanas
5 mil participantes.

1
ATUALIDADES
A reunião da ONU, além de trazer dados novos sobre as con- importante que o petróleo. No Centro Oeste do Brasil, a calagem
sequências climáticas, teve o objetivo de dar prosseguimento ao de solo causa eutrofização de mananciais, constituindo-se em um
Protocolo de Kyoto, o acordo mundial fechado em 2005 que prevê grave impacto sobre recursos hídricos. Não falta água por falta de
cortes na emissão de gases estufa até 2012. O encontro acertou chuvas. A grande causa da escassez é o mau uso dos solos agrícolas
que as negociações para levar adiante e ampliar Kyoto deveriam e urbanos por compactação pelo uso de máquinas e pastoreio ou
acontecer em 2008 e alguns delegados criticaram a falta de uma ainda pela impermeabilidade de área urbana. Fala-se em taxar todo
ação firme para combater o aquecimento da Terra. e qualquer uso de água. É necessário racionalizar o uso da água e,
Apesar dos esforços para conter o avanço dos danos ambien- em caso extremo, seu racionamento. Quarenta municípios goianos
tais, o ritmo das emissões de carbono no mundo mais que duplicou já apresentam problemas crônicos com abastecimento de água. No
entre 2000 e 2005, de acordo com levantamento publicado pela município de Bom Jesus de Goiás os pivôs de irrigação chegaram a
rede mundial sobre o tema, a Global Carbon Project. As emissões ser paralisados por ordem do ministério público. Todas as grandes
vinham crescendo a menos de 1% anualmente até o ano 2000, mas cidades do mundo já se ressentem deste recurso, em especial as
aumentaram a uma taxa de 2,5% ao ano. Segundo a organização, megacidades dos países periféricos, serão palcos, mais e mais, de
a aceleração se deve sobretudo ao aumento do uso de carvão e à disputas por rios que as abastecem e de grandes epidemias. O Nilo
falta de ganhos na eficiência do uso da energia. e o Níger são dois bons exemplos destas disputas. O Brasil embora
tendo a maior reserva de água disponível do globo apresenta re-
Alimentação giões em estresse hídrico, menos de 2000 metros cúbicos de água
por habitante por ano. Este é o caso de muitas áreas do Nordeste.
A mudança climática também põe em risco a comida dos seres
ENERGIA
humanos e torna ainda mais difícil o desafio de alimentar a cres-
cente população mundial, de acordo com a Organização das Nações
O século XIX foi da máquina a vapor, um motor a combustão
Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
externa. O século XX foi do motor a combustão interna. Já o século
Um novo estudo sobre os oceanos sugeriu que o fitoplâncton
XXI será da célula de combustível que promete divorciar o automó-
- o primeiro elo na cadeia alimentar marítima - será fortemente
vel da poluição. Quanto a nossa crise energética, tanto a Petrobrás
afetado pelo aquecimento climático. A pesca nos trópicos e nas
quanto o setor energético e tudo o que é público no Brasil passaram
médias latitudes pode ser severamente afetada pela perda destes
a sofrer as conseqüências do projeto neoliberal. A receita do FMI
microorganimos como resultado de águas mais quentes, acrescenta foi retirar dinheiro das estatais para equilibrar as contas públicas.
o artigo do botânico Michael Behrenfeld, da Universidade Estadual O resultado foi que não só a Petrobrás como todo o setor energé-
do Oregon (EUA). tico sofreram com tais medidas resultando em graves “Acidentes
O acelerado derretimento das geleiras foi apontado como um Ecológicos”, ameaças, ou até mesmo, apagões. Agora dois setores
fato que mostra o imediatismo do problema. “No passado as ge- geoestratégicos estão prontos para serem privatizados. Outros se-
leiras do norte mostravam um padrão que não correspondia aos tores como saúde, transporte e educação também estão sucatea-
modelos de mudança climática (provocada pelo aquecimento glo- dos. Desta forma os meios de comunicação de massa imperam em
bal), poderiam até mesmo ser usadas como um argumento contra suas opiniões. “Achamos” que tudo no Brasil deve ser privatizado.
o aquecimento global. Mas agora, dados dos últimos anos mostram Quanto as fontes de energia, temos que analisá-las em termos
uma mudança que se encaixa perfeitamente bem com os modelos de disponibilidade, viabilidade, extração, transporte, armazena-
de mudança climática”, disse o professor de glaciologia Per Hol- mento, distribuição, poluente ou limpa, renovável ou esgotável.
mlund, da Universidade de Estocolmo. Assim, no caso do Brasil, as fontes alternativas, (biomassa, eólica
Se o aquecimento global prosseguir, o gelo do Ártico poderá ou solar) assumem uma importância fundamental por ser um país
derreter totalmente até 2080, alertou um grupo de cientistas eu- tropical. A energia solar é considerada a fonte energética do século
ropeus. “Se a situação evoluir como prevêem os físicos, os campos XXI. Na década de 70, houve o fortalecimento da OPEP e OPAEP,
de gelo do Oceano Ártico desaparecerão completamente até 2080”, (países produtores de petróleo) em reação às sete irmãs (empresas
disse Eberhard Fahrbach, do Instituto Alfred Wegner (AWI), mem- que controlam a distribuição do petróleo no globo e estão em pro-
bro do grupo Damocles de pesquisas sobre o Ártico europeu. cesso de fusões). No mundo, como um todo, os países buscaram as
fontes alternativas como forma de se prevenirem ante as crises do
Calor petróleo. Lembre-se do programa Proálcool, da tentativa ineficaz
das nucleares que Fernando Henrique acabou por quase desativar.
A Europa viveu um dos verões mais quentes da sua história, É bom lembrar dos erros de projetos, como a represa de Balbina no
com ondas de calor por todo o continente. A Europa teve também Amazonas, causando sérios problemas ao meio ambiente. Por estes
o outono mais quente em décadas, até mesmo séculos, o que põe fatores, a dédada de 70 é considerada a “década da crise energéti-
em risco o início da temporada de esportes de inverno nos Alpes. ca”, além, é claro, da variável social, com baixos salários e repres-
Na Holanda, o Instituto Real de Meteorologia informou que este ou- são militar duríssima. Lembrar da Operação Condor dos militares
tono foi o mais quente do país em 300 anos, com uma temperatura latino-americanos que trabalharam em conjunto na repressão as
média de 13,5ºC. forças revolucionárias. Já a dédada de 80 foi considerada a “década
da destruição e perdida” com problemas ambientais sérios, dentre
ÁGUA eles o acidente com o Césio em Goiânia.
Associe fontes de energia ao tipo de transporte adotado em
A água potável será um dos recursos mais caros (custo bene- cada país.
fício) do século XXI. Sendo assim, os rios internacionais são, cada Desta forma, fica mais fácil entender quais países são mais ve-
vez mais geoestratégicos, motivando conflitos entre os países en- lozes na produção, como os tigres ou tigrinhos asiáticos, e porque
volvidos. Um grande exemplo é a questão do Nilo, ou ainda, as países como o Brasil, Índia, China, Indonésia e Rússia são conside-
nascentes do rio Jordão, palco das disputas entre árabes e judeus, rados “países baleias”, por serem grandes e lentos. O modelo de
no Oriente Médio. Nestas regiões, água é, relativamente, mais transporte rodoviário é o mais caro.

2
ATUALIDADES
O ferroviário é muito viável para o Brasil. Lembre-se da Norte- Do ponto de vista das políticas públicas, ou dos direitos sociais
-Sul que vai interligar Belém (PA) a Senador Canêdo e começou, este que elas materializam, a verdadeira tarefa histórica que se impu-
ano, suas obras em nha ao Governo Lula era romper com as modificações restritivas no
espaço público da proteção social, sob forte impacto das políticas
Anápolis. neoliberais. Caberiam, então, ações decisivas para se garantir o am-
plo financiamento público para as políticas sociais, que suplantasse
A hidrovia é, sem dúvida, o transporte mais barato, em termos a lógica da restrição orçamentária.
de custo benefício. Recentemente, num total desrespeito a legis- Haveria de se superar de vez a lógica financista, que subordina
lação ambiental, barcaças de grande calado resolveram, a revelia, as decisões em termos de direitos sociais à disponibilidade de caixa,
tentar abrir uma hidrovia no rio Araguaia. Seria o Araguaia adequa- finalmente conhecidas após as decisões de cúpula a respeito das
do para se fazer uma Hidrovia? Não se esqueça das voçorocas neste taxas de juros, superávit fiscal, câmbio, política tributária, enfim,
rio. quando os grandes números do fundo público já estão comprome-
Todo país para atrair investimentos dentro da novíssima divisão tidos com as elites de sempre.
internacional do trabalho, deve ser viável, o que significa trabalhar Porém, seguem inalteradas as limitações ao processo de ex-
em Just In Time, tendo que possuir boa infra-estrutura. Será que o pansão das garantias coletivas na esfera dos direitos sociais, que
Brasil em crise energética irá atrair investimentos?. De que adianta mais do que nunca se mostram imprescindíveis para subverter as
ter minérios se não se pode extraí-lo a menor custo? Minério tem históricas estruturas de poder político e econômico próprio das
muito pouco valor agregado. Jamais houve vantagem comparativa sociedades latino-americanas, uma vez que estas, e especialmente
para países que produzem matérias primas. O gaseoduto virá da a brasileira, se estabeleceram sobre IANNI,Otávio (1996), A ideia
Bolívia chegando até Goiás, contudo, toda obra deve pautar-se em de Brasil moderno, São Paulo: Brasiliense, p.267. padrões extrema-
Eia-Rima confiável. A instalação de várias Empresas, como a per- mente injustos e assimétricos de usufruto da riqueza coletivamente
digão em Rio Verde, (Detroitização) podem causar sérios impactos construída e de processos cada vez mais excludentes de acesso ao
ambientais. Alguns bem visíveis, são os impactos na represa de trabalho digno.
Corumbá, com a matança de toneladas de peixes. Serra da Mesa, Não é a toa que o atual governo jamais pautou o debate pú-
(agora Cana Brava e Peixe também no rio Tocantins) a represa do blico sobre as propostas de superação da pobreza com o combate
Yang Tsé Kiang na China. da riqueza acumulada privada e abusivamente, como se esperava
Preste atenção nas negociações para venda da Celg e das cons- em termos de reforma tributária e fiscal, cujas iniciativas pontuais
truções da ETA e da ETE em Goiânia, que envolvem a preservação permanecem valorizando a renúncia fiscal dos setores agro-expor-
do rio Meia Ponte e sua recuperação, em 50 anos, tendo como mo- tadores, parasitas da cadeia produtiva do grande latifúndio.
delo o Tâmisa. O uso bélico da energia nuclear constitui-se num dos Mas nenhuma destas limitações e contradições pode ser reme-
graves problemas atuais. Os TNPs devem ser revistos por todos os tida ao plano da fatalidade. Todos os constrangimentos concretos
países. É lógico, (nascentes do rio Ganges e Indu) países como o decorrem de opções estratégicas, racionalmente adotadas pelo
Paquistão e a Índia, que disputam a Kashimira, fazem vista grossa Presidente Lula e sua equipe, quando se constata o aprofundamen-
as sanções da ONU, onde fica, bem visível o colonialismo do Grupo to do modelo econômico neoliberal com sua lógica recessiva e, em
dos 7 mais a Rússia, sobre os países emergentes. Estes países estão direção complementar, a destinação significativas de recursos pú-
desenvolvendo, mais e mais, armas biológicas (motivo das sanções blicos para os serviços das dívidas internas ou externas.
da OMC ao Iraque). Estas são consideradas bombas atômicas dos Devemos reconhecer que a articulação orgânica das medidas
países pobres. Será que o Taleban irá conseguir armas Atômicas? de políticas públicas redistributivistas, com investimentos impor-
tantes nas áreas da saúde, educação, assistência social, previdên-
Políticas Públicas cia, segurança alimentar, geração de emprego e renda, agricultura
familiar e reforma agrária pode ser altamente emancipadora quan-
É desnecessário registrar mais uma vez a perversidade dos his- do estas políticas públicas são asseguradas em escala de massas,
tóricos indicadores de concentração da renda e de patrimônio no com a mobilização efetiva a população para o exercício cotidiano da
Brasil, eles são gritantes demais em nosso dia-adia. participação política protagônica.
Mas é preciso alertar: todos estão perfeitamente preservados Diferentemente do esperado, não se constatou no governo
nos últimos três anos, por força da impotência das medidas sociais, Lula o compromisso real com um amplo e consistente sistema de
políticas e econômicas do Governo Lula. atenção e proteção no âmbito das necessidades humanas sociais,
A análise sobre a atuação do atual governo diante das tarefas que contemplasse a contribuição decisiva de todas as áreas sociais,
impostas pela pobreza e desigualdade social pode ser, desde a par- educacionais e político-culturais, combinadas com as outras medi-
tida, melhor compreendida se lembrarmos a advertência de Otavio das complementares de garantia do exercício do protagonismo da
Ianni sobre as contradições dos processos revolucionários brasilei- população e da emancipação dos indivíduos e grupos sociais.
ros: Nesta pátria desimportante, o quadro social de profunda de-
“como não há ruptura definitiva com o passado, a cada passo sigualdade e de extrema pobreza das maiorias segue o mesmo:
este se reapresenta na cena histórica e cobra o seu preço” desemprego, fragilização da capacidade socializadora das redes
O que ele nos lembra é que qualquer processo político efeti- familiares, falta de perspectivas para a juventude e abandono na
vamente comprometido com as causas populares deve enfrentar, velhice; trabalho infantil, exploração e abuso sexual de crianças e
sem acanhamento ou tolerância, o projeto conservador dominante adolescentes, crescimento das condutas.
em nossa história, fatalmente imobilizador das energias transfor- POCHAMAMM, Marcio demonstra que as transferências ao
madoras e democráticas. É, portanto, um libelo contra a dinâmica setor financeiro, como pagamento aos detentores dos títulos da
de conciliação com as elites que sempre predominou nos momen- dívida pública, alcançaram a seguinte tendência: anualmente o go-
tos de disputa com os sistemas de privilégios sobre os quais nossa verno Cardoso destinou R$ 71,4 bilhões; Sarney remeteu R$ 65, 5
economia capitalista dependente se ergueu. bilhões, e finalmente o Governo Lula R$ 60, 8 bilhões. Cf. Plutocra-

3
ATUALIDADES
cia do capital financeiro, disponível em: <http://agenciacartamaior. no que empreendem o velho paralelismo nas franjas dos sistemas
uol.com.br/agencia.asp?coluna=boletim&id=1251, consultado em públicos de proteção social. Não se interrompeu a tendência neoli-
05/01/2006. violentas e práticas econômicas que lucram com a beral de desconstrução da idéia-força do direito social, conquistado
criminalidade e a toxicodependência, penúria sócio-cultural, empo- na luta dos trabalhadores pelo acesso ao excedente, que deveria
brecimento político dos processos artísticos populares, a degrada- ser potencializado pelas estratégias organizativas populares e pelas
ção ambiental, morte por doenças curáveis, fome. medidas de fortalecimento subjetivo e político e de pertencimento
A proposta mais incentivada pelo governo Lula denomina-se a um projeto coletivo de classe, desta vez - como um governo de
Programa Fome-Zero, que consiste, segundo documentos oficiais, esquerda deve honrar - radicalmente democrático, portanto, revo-
“numa estratégia impulsionada pelo governo federal, para assegu- lucionário e anticapitalista.
rar o direito humano à alimentação adequada, priorizando as pes- Assim, já que o Fome Zero não é direito social nem projeto
soas com dificuldades, de acesso aos alimentos. Tal estratégia se in- de classe é mais uma vez favor, benesse, ação abnegada, doação,
sere na promoção da segurança alimentar e nutricional e contribui enfim, a repavimentação dos percursos que pretendem comprimir
para a erradicação da extrema pobreza e a conquista da cidadania o espaço público, transfigurá-lo em oposição ao projeto popular e
da população mais vulnerável à fome”. Nenhuma proposta pode- democrático. O tema da pobreza, sufocado da sua dimensão estru-
ria ser menos ambiciosa. Com toda propaganda veiculada não se tural, permanece confinado como um problema da esfera do consu-
verifica no Programa Fome Zero algo que é essencial para o povo mo e da estrutura familiar, por esta razão as medidas são tão tími-
brasileiro: a garantia do direito social, cuja ação do Estado reconhe- das. Por mais que a pobreza seja aguda e na medida em que é uma
ça o vínculo de classe, contribuindo para sedimentar uma noção fe- questão explosiva, o melhor mesmo é esterilizá-la, sobrepondo
cunda e radical de democracia popular, ao mesmo tempo libertária ações diversas e pulverizadas, que não atacam a raiz do problema.
e igualitária. O risco de se atuar na lógica do ajustamento de comportamentos
Como o passado que não quer passar, o que é perene no dese- individuais não é pequeno, haja vista o esforço em empreender e
nho dos atuais programas englobados sob a insígnia do Fome Zero é divulgar as chamadas condicionalidades para que as famílias te-
a trágica visão elitista de sempre, na qual o povo - a população sub- nham acesso aos benefícios.
-empregada e super-explorada – permanece como um indesejável Nos sombrios tempos de capitulação política do atual governo,
“resíduo social”, para o qual qualquer ajuda basta e qualquer apoio com a conhecida naturalização do estado de desigualdades, não é
serve. Não é por outra razão que as ações principais consistem no de se estranhar que a principal medida do governo Lula na área da
Programa BolsaFamília, na construção de cisternas no semi-árido previdência social tenha sido concluir a contrareforma do Governo
nordestino e uma ou outra ação pontual em termos de segurança FHC no que diz respeito aos direitos dos servidores públicos, insti-
alimentar. tuindo a cobrança de contribuição também aos aposentados e o
Nada que se assemelhe a uma potente articulação política e so- fim do regime jurídico único para os novos concursados, ou seja,
cial que seja capaz de enfrentar o mesmo pensamento conservador promovendo o cancelamento do direito à aposentadoria integral,
que naturaliza a pobreza e condena as iniciativas de investimento recém conquistada em 1988.
público no campo dos direitos sociais. Em termos de alocação orça- Empreendeu-se algo pavorosamente cínico, se considerarmos
mentária não é desprezível o redirecionamento de recursos paras que nestes anos todos o Partido dos Trabalhadores - partido do pre-
as ações de transferência de renda socioassistenciais como o Bolsa sidente Lula - foi uma trincheira no parlamento contra tal medida,
Família. Pela primeira vez, famílias miseráveis encontram alguma e que boa parte dos votos obtidos pelo Presidente Lula era fruto
medida de proteção social que seja não-contributiva. também deste compromisso, rapidamente esquecido. Mais abusivo
Mas os limites são muitos: os valores das prestações são muito ainda, se lembrarmos que a base social sindical do PT, era fortemen-
pequenos, os critérios de acesso altamente rigorosos e excludentes te apoiada no funcionalismo público e que o impacto nas contas da
e a sua implementação não se faz acompanhada ainda de um forte previdência social seria, como é, inexpressivo. No fundo esta ação
aparato político-pedagógico de emancipação política, educacional serviu apenas para provar às elites e à opinião pública conservadora
e cultural para os pais e os jovens. que o governo dos trabalhadores poderia cortar na própria carne,
Ao contrário, as ações ainda permanecem sob o império da atacando direitos consagrados, ao invés de encaminhar a luta pela
despolitização, operada, mais uma vez, pela perda de vínculo de sua extensão para o conjunto dos trabalhadores do setor privado.
classe destas políticas públicas com as disputas históricas ao fundo Boicotes explícitos ao Sistema Único de Saúde permanecem,
público. No que se oculta tais vínculos, ou seja, não se combate a assustadoramente, sob o governo Lula. A definição do percentual
destinação dos recursos públicos ao velho sistema de privilégios e de recursos financeiros federais, previstos na Constituição Federal
assegura sua alocação para as ações de redução das desigualdades para o SUS, permanece descumprida pela política econômica. Na
sociais, tudo permanece como nos modelos atuais, uma ação polí- comparação internacional nossos atuais 3,2% do PIB, destinados
tica governamental ambígua, que oscila entre o apelo eleitoreiro e à saúde, representam porcentagem menor do que da Bolívia, Co-
uma versão ainda estigmatizadora da pobreza. lômbia, África do Sul, Rússia, Venezuela, Uruguai, Argentina (cerca
Adotar o caminho salvacionista do Fome Zero pode ser um de 5.12%), Cuba (6,25%), EEUU (6,2%) Japão, Inglaterra, Austrália,
grande giro, mas de 360°. Portugal, Itália, Canadá, França, Alemanha (8,1%).
A proliferação das propostas neste campo do combate à pobre- O sub-financiamento do SUS revela-se como uma medida con-
za sem enfrentar suas causas - as estratégias macroeconômicas que creta a impossibilitar a oferta de serviços públicos, gratuitos e com
promovem a super-acumulação capitalista-rentista e do seu equi- qualidade, como reza a Constituição, e conforme as necessidades
valente, a crescente pauperização do povo – reproduz a submissão da população. Como um direito social altamente valorizado no mer-
e a docilidade que parecem condenar à mesmice os governos de cado privado, já que a saúde é uma necessidade humana vital, a
centro-esquerda, tais como o Governo Lula. disputa com o setor lucrativo não ingressou na agenda de priorida-
Tão grave quanto o pequeno investimento financeiro é cons- des do governo Lula, onde interesses e pressões de mercado dos
tatar que as ações do Governo Lula se organizam precariamente, produtores de equipamentos, de medicamentos, de tecnologias e
em nome de uma solidariedade sem sujeitos e sem projetos, reedi- de prestadores de serviços e corporações poderosas mantêm-se
tando os mecanismos de dominação e de subalternização políticas, intactos.

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ATUALIDADES
O quadro de desfinanciamento da saúde pública gera o inevitá- Organizações Não Governamentais
vel: intensa repressão de demanda, insuportável congestionamen-
to nos pronto-socorros e consultórios de especialidades, precariza- As organizações não-governamentais desempenham um papel
ção da atenção básica preventiva e o predomínio de intervenções fundamental na modelagem e implementação da democracia par-
tardias, com suas doenças preveníveis não prevenidas, com doen- ticipativa. A credibilidade delas repousa sobre o papel responsável
ças agravadas não atendidas precocemente, mortes evitáveis não e construtivo que desempenham na sociedade. As organizações
evitadas, e expansão da saúde privada, via planos de saúde para formais e informais, bem como os movimentos populares, devem
classe média. ser reconhecidos como parceiros na implementação da Agenda 21.
Como se não bastasse toda esta herança intocada, o governo A natureza do papel independente desempenhado pelas organiza-
Lula aprofunda a crise, no que atua contra a regulamentação da ções não-governamentais exige uma participação genuína; portan-
Emenda Constitucional 29, que garante a vinculação de percentuais to, a independência é um atributo essencial dessas organizações e
mínimos para aplicação orçamentária na política de saúde. Os valo- constitui condição prévia para a participação genuína.
res são expressivos, cerca de R$ 2,3 bilhões representa a diferença Um dos principais desafios que a comunidade mundial en-
acumulada pelo não cumprimento por parte do governo federal da frenta na busca da substituição dos padrões de desenvolvimento
EC. 29 nos anos de 2001 a 2005, porém só no governo Lula este insustentável por um desenvolvimento ambientalmente saudável e
déficit acumula a cifra de R$1.832.000,00. sustentável é a necessidade de estimular o sentimento de que se
Se os direitos sociais devem ser universais e a proteção social
persegue um objetivo comum em nome de todos os setores da so-
que estes suscitam deve ser pública e gratuita, ou seja, desmer-
ciedade. As chances de forjar um tal sentimento dependerão da dis-
cadorizada, como explicar que na área de Educação a medida de
posição de todos os setores de participar de uma autêntica parceria
maior impacto tenha se restringido ao Programa Universidade para
social e diálogo, reconhecendo, ao mesmo tempo, a independência
Todos que nada mais é do que organizar ampliando o abusivo re-
curso da renúncia fiscal dos encargos previdenciários, no esforço dos papéis, responsabilidades e aptidões especiais de cada um.
de subvencionar o setor privado das universidades em troca de am- As organizações não-governamentais, inclusive as organizações
pliação de vagas por fora do sistema público e gratuito? sem fins lucrativos que representam os grupos de que se ocupa esta
Após três anos de governo, ainda hoje o Governo Lula não foi seção da Agenda 21, possuem uma variedade de experiência, co-
capaz de enfrentar uma grave lacuna na regulamentação da LDB, nhecimento especializado e capacidade firmemente estabelecidos
que é o desfinanciamento da educação infantil. nos campos que serão de particular importância para a implemen-
Mesmo sendo um direito absolutamente vital para as classes tação e o exame de um desenvolvimento sustentável, ambiental-
populares, no que garantiria creche pública para todas as crianças mente saudável e socialmente responsável, tal como o previsto em
até seis anos de idade, somente por meio de uma longa e penosa toda a Agenda 21. Portanto, a comunidade das organizações não
luta, travada pelos movimentos sociais, é que o governo Lula se ma- governamentais oferece uma rede mundial que deve ser utilizada,
nifestou - através de iniciativa legislativa ainda não aprovada - com capacitada e fortalecida para apoiar os esforços de realização des-
a possibilidade de assumir parte no cofinanciamento desta área, ses objetivos comuns.
uma vez que os municípios e estados, diante da omissão do gover- Para assegurar que a contribuição potencial das organizações
no federal, têm feito o mesmo: rejeitado um direito vital e universal não governamentais se materialize em sua totalidade, deve-se pro-
à educação às crianças pequenas, mantendo o ciclo de pobreza nos mover a máxima comunicação e cooperação possível entre elas
seus níveis imorais de hoje. e as organizações internacionais e os Governos nacionais e locais
Um marcador valioso para dimensionar os insignificantes esfor- dentro das instituições encarregadas e programas delineados para
ços na direção da transformação do desmonte das políticas públicas executar a Agenda 21. Será preciso também que as organizações
pode ser obtido com a análise do financiamento federal dos gastos não-governamentais fomentem a cooperação e comunicação entre
sociais em comparação com os grandes números do orçamento pú- elas para reforçar sua eficácia como atores na implementação do
blico, como condensado nos dados abaixo, em relação ao ano de desenvolvimento sustentável.
2004:
Por fim, cabe ressaltar que o governo Lula de fato realizou mo- Objetivos
dificações importantes, sobretudo quando comparado aos feitos
desastrosos do Governo anterior.
A sociedade, os Governos e os organismos internacionais de-
Porém, isto não elide o fato de que a timidez e o continuís-
vem desenvolver mecanismos para permitir que as organizações
mo no conteúdo, na forma e no alcance das políticas sociais em
não-governamentais desempenhem seu papel de parceiras com
nada asseguram qualquer alteração na composição das estruturas
responsabilidade e eficácia no processo de desenvolvimento sus-
de poder político e econômico, imprescindíveis à recomposição das
estruturas públicas de proteção social, com clareza de propósitos tentável e ambientalmente saudável.
universalistas, para além dos alegados problemas de caixa. Para fortalecer o papel de parceiras das organizações não-go-
Uma razão de Estado comprometida com as maiorias popu- vernamentais, o sistema das Nações Unidas e os Governos devem
lares participando efetivamente, não só da produção, mas em es- iniciar, em consulta com as organizações não-governamentais, um
pecial do usufruto da riqueza socialmente produzida e também da processo de exame dos procedimentos e mecanismos formais para
socialização do poder político-decisório, constitui-se como arranjo a participação dessas organizações em todos os níveis, da formula-
institucional possível, desejável e absolutamente imprescindível ção de políticas e tomada de decisões à implementação.
para a democracia radicalmente igualitária. Infelizmente o governo Até 1995, deve-se estabelecer um diálogo mutuamente produ-
Lula, desde seu primeiro dia, abriu mão desta histórica realização. tivo no plano nacional entre todos os Governos e as organizações
não-governamentais e suas redes auto-organizadas para reconhe-
cer e fortalecer seus respectivos papéis na implementação do de-
senvolvimento ambientalmente saudável e sustentável.

5
ATUALIDADES
Os Governos e os organismos internacionais devem promover Conseguir a participação das organizações não-governamen-
e permitir a participação das organizações não-governamentais na tais nos mecanismos ou procedimentos nacionais estabelecidos
concepção, no estabelecimento e na avaliação de mecanismos ofi- para executar a Agenda 21, fazendo o melhor uso de suas capacida-
ciais procedimentos formais destinados a examinar a implementa- des particulares, em especial nos campos do ensino, mitigação da
ção da Agenda 21 em todos os níveis. pobreza e proteção e reabilitação ambientais;
Levar em consideração as conclusões dos mecanismos de mo-
Atividades nitoramento e exame das organizações não-governamentais na
elaboração e avaliação de políticas relativas à implementação da
O sistema das Nações Unidas, incluídos os organismos interna- Agenda 21 em todos os seus níveis;
cionais de financiamento e desenvolvimento, e todas as organiza- Examinar os sistemas governamentais de ensino para identifi-
ções e foros intergovernamentais, em consulta com as organizações car maneiras de incluir e ampliar a participação das organizações
não-governamentais, devem adotar medidas para: não-governamentais nos campos do ensino formal e informal e de
Examinar e informar sobre as maneiras de melhorar os proce- conscientização do público;
dimentos e mecanismos existentes por meio dos quais as organi- Tornar disponível e acessível às organizações não-governamen-
zações nãogovernamentais contribuem para a formulação de po- tais os dados e informação necessários para que possam contribuir
líticas, tomada de decisões, implementação e avaliação, no plano efetivamente para a pesquisa e a formulação, implementação e
de organismos individuais, nas discussões entre instituições e nas avaliação de programas.
conferências das Nações Unidas;
Tendo por base o inciso (a) acima, fortalecer, ou caso não exis- Meios de implementação
tam, estabelecer mecanismos e procedimentos em cada organismo
para fazer uso dos conhecimentos especializados e opiniões das or- (a) Financiamento e estimativa de custos
Dependendo do resultado dos processos de exame e da evo-
ganizações nãogovernamentais sobre formulação, implementação
lução das opiniões sobre a melhor maneira de forjar a parceria e o
e avaliação de políticas e programas;
diálogo entre as organizações oficiais e os grupos de organizações
Examinar os níveis de financiamento e apoio administrativo às
não-governamentais, haverá gastos nos planos nacional e interna-
organizações não-governamentais e o alcance e eficácia da partici-
cional, relativamente baixos, mas imprevisíveis, a fim de melhorar
pação delas na implementação de projetos e programas, tendo em
os procedimentos e mecanismos de consulta.
vista aumentar seu papel de parceiras sociais; Da mesma forma, as organizações não-governamentais preci-
Criar meios flexíveis e eficazes para obter a participação das sarão de financiamento complementar para estabelecer sistemas
organizações não-governamentais nos processos estabelecidos de monitoramento da Agenda 21, ou para melhorá-los ou contribuir
para examinar e avaliar a implementação da Agenda 21 em todos para o funcionamento deles.
os níveis; Esses custos serão significativos, mas não podem ser estimados
Promover e autorizar as organizações não-governamentais e com segurança com base na informação existente.
suas redes autoorganizadas a contribuir para o exame a a avaliação (b) Fortalecimento institucional
de políticas e programas destinados a implementar a Agenda 21, As organizações do sistema das Nações Unidas e outras organi-
inclusive dando apoio às organizações não-governamentais dos paí- zações e foros intergovernamentais, os programas bilaterais e o se-
ses em desenvolvimento e suas redes auto-organizadas; tor privado, quando apropriado, precisarão proporcionar um maior
Levar em consideração as conclusões dos sistemas de exame e apoio financeiro e administrativo às organizações não-governa-
processos de avaliação das organizações não-governamentais nos mentais e suas redes autoorganizadas, em particular para aquelas
relatórios pertinentes da Secretaria Geral à Assembléia Geral e de sediadas nos países em desenvolvimento, que contribuam ao mo-
todos os órgãos das Nações Unidas e de outras organizações e fo- nitoramento e avaliação dos programas da Agenda 21, e proporcio-
ros intergovernamentais pertinentes, relativas à implementação da nar treinamento às organizações nãogovernamentais (e ajudá-las a
Agenda 21, em conformidade com o processo de exame da Agenda. desenvolver seus próprios programas de treinamento) nos planos
Proporcionar o acesso das organizações não-governamentais a internacional e regional, para intensificar seus papéis de parceiras
dados e informação exatos e oportunos para promover a eficácia de na formulação e implementação de programas.
seus programas e atividades e de seus papéis no apoio ao desenvol- Os Governos precisarão promulgar ou fortalecer, sujeitas às
vimento sustentável. condições específicas dos países, as medidas legislativas necessá-
rias para permitir que as organizações não-governamentais esta-
Os Governos devem tomar medidas para: beleçam grupos consultivos e para assegurar o direito dessas or-
Estabelecer ou intensificar o diálogo com as organizações não- ganizações de proteger o interesse público por meio de medidas
governamentais e suas redes auto-organizadas que representem judiciais.
setores variados, o que pode servir para: (i) examinar os direitos e
responsabilidades dessas organizações; (ii) canalizar eficientemen-
te as contribuições integradas das organizações não-governamen-
tais ao processo governamental de formulação de políticas; e (iii)
facilitar a coordenação não-governamental na implementação de
políticas nacionais no plano dos programas;
Estimular e possibilitar a parceria e o diálogo entre organiza-
ções nãogovernamentais e autoridades locais em atividades orien-
tadas para o desenvolvimento sustentável;

6
ATUALIDADES
A preservação dos recursos naturais passou a ser preocupação O agir administrativo na seara ambiental é repleto de deveres
mundial e nenhum país tem o direito de fugir dessa responsabili- para conservação e a proteção do meio ambiente. A inércia, au-
dade. sência de atuação e fiscalização do Estado trazem conseqüências
nefastas aos interesses da sociedade, ao meio ambiente e à quali-
A necessidade de proteção ambiental é antiga, surgindo quan- dade de vida do ser humano, sendo necessária a conscientização da
do o homem passou a valorizar a natureza, inicialmente de forma população que deve exigir o cumprimento das leis existentes que
mais amena, e atualmente, de forma mais acentuada. Primordial- asseguram uma efetiva proteção ambiental, sendo evidente a ação
mente, se dava a importância à natureza por ser uma criação divina. coercitiva dessas garantias e, portanto, obrigatório o seu cumpri-
Depois, que o homem começou a reconhecer a interação dos com- mento pelos governantes.
ponentes bióticos e abióticos que interagem no ecossistema é que Claro que na hipótese da negação de direitos assegurados pela
efetivamente sua responsabilidade aumentou. Carta Constitucional e legislação infraconstitucional que garantem
Com a evolução da sociedade, o homem foi rapidamente de- a democracia e os direitos fundamentais ao meio ambiente sadio
gradando o meio ambiente, contaminando-o com resíduos nucle- para as gerações presentes e futuras e da saúde pública ambiental
ares, disposição de lixos químicos, domésticos, industriais, hospita- resta tão-somente, o controle judicial das Políticas Públicas através
lares de forma inadequada, pelas queimadas, pelo desperdício dos do Poder Judiciário.
recursos naturais não renováveis, pelo efeito estufa, pelo desmata-
mento indiscriminado, pela contaminação dos rios, pela degrada- A proteção constitucional do meio ambiente
ção do solo através da mineração, pela utilização de agrotóxicos,
pela má distribuição de renda, pela acelerada industrialização, pelo Na Constituição Federal, o artigo 225[3] exerce o papel nortea-
dor do meio ambiente devido a seu complexo teor de direitos, men-
crescimento sem planejamento das cidades, pela caça e pela pesca
surado pela obrigação do Estado e da Sociedade na garantia de um
predatória.
meio ambiente ecologicamente equilibrado. Importante salientar,
A preocupação com a preservação do meio ambiente é recente
ainda, que a Constituição ao longo de vários outros artigos trata do
na história da humanidade, realidade esta também no Brasil. Com o
meio ambiente e das imposições legais para preservá-lo.
acontecimento de catástrofes e problemas ambientais, os organis-
mos internacionais passaram a exigir uma nova postura, sendo mar- A vontade do legislador brasileiro em relação à proteção ao
cante a atuação da Organização das Nações Unidas (ONU) que em meio ambiente está marcada na Constituição Federal através da
1972 organizou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am- distribuição da competência em matéria ambiental que passou a
biente Humano. A partir dessa Conferência, com a elaboração da ser comum entre União, Estados e Municípios, conforme o artigo
declaração de princípios (Declaração de Estocolmo), os problemas 23, que dispõe: “VI proteger o meio ambiente e combater a polui-
ambientais receberam tratamentos diferentes, tendo repercussão ção em qualquer de suas formas; VII ­preservar florestas, a fauna e a
no Brasil. Há pouco a legislação nacional sofreu um forte impacto flora”. Restou, além disto, forte no artigo 225, que o bem ambiental
com o surgimento de novas leis e, em especial, da Lei 6.938/81, é um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
conhecida como Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, que de vida, assegurando o direito ao meio ambiente ecologicamente
reconhece juridicamente o meio ambiente como um direito próprio equilibrado como direito de todos. Portanto, a natureza jurídica do
e autônomo e terminou com as preocupações pontuais, centradas bem ambiental é bem de uso comum do povo e essencial à sadia
em problemas específicos inerentes às questões ambientais de vi- qualidade de vida, criando um terceiro gênero de bem que não é
zinhança, propriedade, ocupação do solo, utilização dos recursos público e muito menos privado. Agora cabe tanto ao Estado (Poder
minerais e apropriação das florestas, etc.. A partir desse momento, Público) como à sociedade civil (coletividade) o dever de preservar
iniciou-se no Brasil uma Política Nacional do Meio Ambiente que os bens ambientais não só para quem está vivo nos dias de hoje
estabeleceu princípios, diretrizes e instrumentos para a proteção (presentes gerações) como para aqueles que virão (futuras gera-
ambiental. Sob a influência de paradigmas internacionais, o Brasil ções) a existência real dos bens ambientais.
avança e, na Constituição de 1988, criou-se o elemento normativo Não se pode esquecer, como já referido, de que o artigo 225
que faltava para considerar o Direito Ambiental uma ciência autô- é apenas o porto de chegada ou ponto mais saliente de uma série
noma dentro do ordenamento jurídico brasileiro, a exemplo do que de outros dispositivos que, direta ou indiretamente, instituem uma
já ocorria em outros países. verdadeira malha regulatória que compõe a ordem pública ambien-
O Direito Ambiental, segundo José Rubens Morato Leite: tal baseada nos princípios[4] da primariedade do meio ambiente e
“[...] se ocupa da natureza e futura gerações nas sociedades de da explorabilidade limitada da propriedade, ambos de caráter geral
risco, admitindo que a projeção dos riscos é capaz de afetar desde e implícito.
hoje o desenvolvimento do futuro, que importa afetar, portanto, as Sobre a proteção constitucional ao meio ambiente, José Ru-
garantias do próprio desenvolvimento da vida”.[1] bens Morato Leite expressa:
Na Constituição Federal de 1988, a proteção do ambiente e “Em termos formais, a proteção do meio ambiente na Consti-
salvaguarda da sadia qualidade de vida são asseguradas através da tuição de 1988 não segue - nem seria recomendável que seguisse -
implementação de políticas públicas[2]. Apesar da existência des- um único padrão normativo, dentre aqueles encontráveis no Direito
sas garantias constitucionais e da legislação infraconstitucional, que Comparado. Ora o legislador utiliza-se da técnica do estabelecimen-
vedam a poluição sonora causada por bares, que exigem o depósito to de direito e dever gené­ricos (p. ex.. a primeira parte do artigo
do lixo em aterros, que proíbem o lançamento de esgoto sem trata- 225, caput, ora faz uso da instituição de deveres especiais (p. ex.,
mento em corpos de água, restringem o corte de árvores, que exi- todo o artigo 225, § 1º.). Em alguns casos, tais enunciados norma-
gem Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que exigem o Relatório de tivos podem ser apreciados como princípios específicos e explícitos
Impacto Ambiental (RIMA), que estabelecem diretrizes, critérios e (p. ex., os princípios da função ecológica da propriedade rural e do
procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil; etc., polui dor-pagador, previstos, respectivamente, nos arts. 186, II, e
verifica-se ausência de eficácia dessas garantias pela não aplicação 225, §§ 22 e 32), noutros, como instrumentos de execução (p. ex.,
efetiva dessas políticas públicas pelo Poder Público. a previsão do Estudo Prévio de Impacto Ambiental ou da ação civil

7
ATUALIDADES
pública). O constituinte também protegeu certos biomas hiperfrá- Dessa forma, ainda segundo Eduardo Appio:
geis ou de grande valor ecológico (p. ex., a Mata Atlântica, o Pan- “As políticas públicas podem ser conceituadas, portanto, como
tanal, a Floresta Amazônica, a Serra do Mar e a Zona Costeira)”.[5] instrumentos de execução de programas políticos baseados na in-
Na Constituição Federal, restou assegurado que todos têm di- tervenção estatal na sociedade com a finalidade de assegurar igual-
reito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso dade de oportunidade aos cidadãos, tendo por escopo assegurar as
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se condições materiais de uma existência digna a todos os cidadãos”.
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- Por sua vez, as políticas públicas devem obrigatoriamente estar
-lo para as presentes e futuras gerações (artigo 225). diretamente voltadas a realizar os desígnios constitucionais, por-
Analisando o § 1º do artigo 225 da Constituição Federal, veri- tando os programas de ação governamental devem ser balizados
fica-se que para assegurar a efetividade desse direito ao meio am- em direitos previstos, ainda que de forma genérica, na Constituição.
biente ecologicamente equilibrado na forma do disposto no inciso Importante frisar que a implementação de políticas públicas
I, deste parágrafo, compete ao Poder Público preservar e restaurar não afasta a legalidade das mesmas.
os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico Na atualidade, os governos são questionados e cobrados, para
das espécies e ecossistemas. Também é responsabilidade do Poder apresentarem soluções às crescentes demandas sociais, não só
Público exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou ativida- pelo aumento do déficit econômico, mas como resultado de uma
de potencialmente causadora de significativa degradação do meio participação cada vez maior do povo na vida política, o que é rele-
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental a que se dará pu- vante para a consolidação do processo democrático no país.
blicidade (inciso IV). Além disso, ao Poder Público cabe controlar a Promover o desenvolvimento humano, proteger o cidadão e
produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e incentivar as atividades econômicas devem ser as principais atri-
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e buições do Estado.
o meio ambiente (inciso V). No que tange ao Direito Ambiental, é forçoso reconhecer-se a
Assim, pelo que se depreende do texto constitucional, a prote- existência de suficiente legislação ordinária e capítulo constitucio-
ção ao meio ambiente e ao meio ambiente equilibrado são conside- nal para a proteção do ambiente e salvaguarda da sadia qualidade
rados direitos fundamentais, sendo que a concretização/realização de vida. Todavia, é deficiente sua implementação, uma vez que os
dos mesmos é uma diretriz, um balizamento, uma determinação, órgãos estatais estão insuficientemente equipados para sua imple-
uma responsabilidade do Poder Público que deve implementá-las mentação, ou diante das dificuldades da realidade político-adminis-
notadamente através da adoção de Políticas Públicas Estatais, no trativa ou de interesses econômicos de grupos poderosos tornam-
caso ambientais. -se tolerantes/displicentes/condescendentes.
Por sua vez, o Estado ao criar normas jurídicas com o objetivo
Políticas públicas de obter apenas méritos políticos para os parlamentares que apre-
sentam os projetos de lei sem, contudo, ter interesse na efetiva
A população tem o direito de obter determinados serviços por aplicação dessa legislação, busca, sub-repticiamente, não ferir inte-
intermédio do Governo, cabendo a este assegurar determinados di- resses de industriais, construtoras, imobiliárias, estabelecimentos
reitos aos cidadãos, notadamente os direitos fundamentais sociais comerciais, enfim, grupos[8] com atividades econômicas que costu-
como saúde, educação, segurança pública. O Poder Executivo não mam provocar impactos negativos significativos ao meio ambiente.
apenas executa as leis, mas determina suas políticas e programas Estamos diante do que Antonio Herman de Vasconcelos e Benjamin
necessários à realização dos ordenamentos legais. descreve como o Estado teatral [9]. Portanto, ainda hoje temos uma
Nas políticas públicas, o próprio planejamento estatal tem por teatralidade estatal, existindo a separação entre a lei e sua imple-
finalidade o atingimento do interesse público, assim não se trata mentação, entre a norma escrita e a norma praticada, resultante
de eleição pura e simples de prioridades governamentais e, sim, a em uma Ordem Pública Ambiental incompleta.
concretização da opção já levada a efeito pelo legislador que, ao Nas questões ambientais o Poder Público tem o papel de pre-
elaborar tais metas em planos de ação executiva, deve junto com venção ao dano, sendo esse o seu dever constitucional.
o administrador, observar os objetivos de igualdade e justiça social Em que pese à obrigação do Estado de prover e concretizar
da República, que formam a base da Ordem Social Constitucional. políticas públicas que possibilitem uma vida digna ao cidadão com
As normas constitucionais balizam o legislador, ao passo que os conforto mínimo e condições razoáveis de subsistência quer no as-
mecanismos utilizados pelo administrador são tanto os regramen- pecto da saúde, lazer, trabalho, educação e um meio ambiente sa-
tos constitucionais como os textos infraconstitucionais que estejam dio, isso não ocorre efetivamente. São constantes as denúncias na
em consonância com a ordem instituída. Com efeito, as políticas mídia nacional, sendo a omissão estatal fato corriqueiro tanto na
públicas contempladas em legislação ordinária incumbem o admi- ausência de fiscalização quando da invasão de áreas de preservação
nistrador a sua aplicação e sua regulamentação. permanentes, loteamento irregulares, lixões a céu aberto, ausência
APPIO, trazendo a idéia de Gouvêa, reporta que: de água tratada e tratamento dos resíduos líquidos e sólidos das
“As políticas públicas consistem em instrumentos estatais de cidades, saúde ineficiente, rede de ensino pública sem qualidade e
intervenção na economia e na vida privada, consoante limitações sem produtividade, todos esses fatos são veiculados tanto na mídia
e imposições previstas na própria Constituição, visando assegurar impressa, internet, rádio, e TV. Para socorrer o cidadão e a socie-
as medidas necessárias para a consecução de seus objetivos, o que dade como um todo, nessas situações, tanto o Ministério Público
demanda uma combinação de vontade política e conhecimento como o próprio cidadão individualmente têm a possibilidade de sa-
técnico”. nar a omissão do Governo e exigir o cumprimento de uma política
Assim, as Políticas Públicas viabilizam esses direitos. Os ins- pública em juízo que não se dá apenas quando se trata de poder
trumentos, utilizados pelo governo para intervir na sociedade, na discricionário, pelo contrário, a busca por controle pode ocorrer em
economia, na política, executando programas políticos em busca diferentes momentos através de controle judicial de políticas públi-
de melhores condições de vida aos seus cidadãos, são as Políticas cas sociais e através dos magistrados na condução dessas políticas.
Públicas.

8
ATUALIDADES
Para Zenildo Bodnar: Existe, ainda, o questionamento sobre a natureza jurídica da
“A dogmática processual tradicional construída apenas para responsabilidade administrativa, ou seja, se é responsabilidade ci-
resolver conflitos individuais, também não equaciona com eficácia vil objetiva por risco ou por risco integral. A responsabilidade civil
as ofensas aos bens ambientais. Deve o Estado constitucional eco- objetiva por risco administrativo admite as excludentes de culpa da
lógico facilitar o acesso do cidadão à justiça ambiental não apenas vítima, caso fortuito, força maior e fato da natureza. A responsa-
criando novos instrumentos de defesa, mas principalmente confe- bilidade civil por risco integral não admite causas excludentes de
rindo uma interpretação adequada aos instrumentos processuais já responsabilidade.
existentes como da Ação Civil Pública e a Ação Popular, para confe- No regramento constitucional, a responsabilidade civil do Es-
rir-lhes a verdadeira amplitude e potencial idade. tado por danos provocados liga a responsabilidade à ação estatal
Dentro deste contexto, o papel do Poder Judiciário é ainda através de seus agentes, não existindo na Constituição previsto
mais importante na concretização do direito fundamental, ao meio qualquer tipo de dano provocado por caso fortuito, força maior,
ambiente saudável e do dever fundamental de todos de protegê-lo fato de natureza ou atos predatórios de terceiros, tão somente da-
para a construção deste verdadeiro Estado constitucional ecológi- nos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, não
co”. [10] havendo nenhuma restrição.
Resta claro, que está no Poder Judiciário a responsabilidade Conforme disposto no artigo 225 da Constituição, é dever do
de atuar como um poder estratégico, assegurando que as políticas Estado – do Poder Público- preservar e restaurar os processos eco-
públicas garantam a democracia e assegurando, também, o cumpri- lógicos essenciais[11] e prover atuantemente, comissivamente, so-
mento dos direitos fundamentais. bre um ambiente ecologicamente equilibrado que é considerado de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impon-
Responsabilidade do Estado pela implementação de políticas do-se sua defesa ao Poder Público e à coletividade.
públicas em matéria ambiental O Estado deve agir através de seus órgãos ambientais de forma
eficaz atuando em defesa do meio ambiente para evitar sua degra-
Incontáveis são os danos causados pelo Poder Público, por dação, utilizando de todos os instrumentos à sua disposição e usar
ação ou omissão, direta ou indiretamente, ao meio ambiente, da- do poder/dever de polícia ambiental.
nos estes decorrentes da ausência da elaboração e implementação Na seara ambiental, o agir administrativo está permeado de
de políticas públicas na área ambiental, ocasionando: a) a poluição deveres de conservação do ambiente natural, impostos pela ordem
de rios e corpos d’água pelo lançamento de efluentes, esgotos ur- constitucional vigente e também pela legislação infraconstitucional
banos e industriais sem o devido tratamento; b) a degradação de recepcionada (como é o caso da Lei da Política Nacional do Meio
ecossistemas e áreas naturais de relevância ecológica; c) o depósito Ambiente, Lei Federal no. 6.938/81) e editada em conformidade
e a destinação final inadequados de lixo urbano; d) o abandono de com a Constituição de 1988. Essas previsões constitucionais e or-
bens integrantes do patrimônio cultural brasileiro. dinárias têm comando coercitivo condizente com a garantia de sua
Dispõe o § 3º, do artigo 225 da Constituição Federal, que as observância pelo governante e possibilita o controle de seus atos.
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente, sujei- Em que pese ocorrer o cumprimento espontâneo das normas
tarão os infratores, pessoas naturais ou jurídicas, a sanções penais no meio social, não se pode duvidar da possibilidade de sua ino-
e administrativas independentemente da obrigação de reparar os
bservância, surgindo a necessidade da coercibilidade disposta nas
danos causados, restando evidente que a responsabilidade das pes-
regras jurídicas de direito objetivo.
soas naturais ou jurídicas está garantida constitucionalmente.
A formulação de políticas públicas relativas ao meio ambiente
compete ao Poder Legislativo que, em síntese, representa a vonta-
Em relação à Administração Pública, o tema também é tratado,
de do povo, formulando as diretrizes a serem seguidas. Por sua vez,
no capítulo ‘Da Administração Pública’, artigo 37, § 6º da Constitui-
compete ao Poder Executivo a sua execução e a implementação.
ção Federal, ao consignar que as pessoas jurídicas de direito público
Assim, não compete ao poder Judiciário a formulação de políticas
e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responde-
públicas ambientais.
rão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a ter-
ceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos Um dos aspectos mais importantes da participação da socie-
casos de dolo ou culpa. O que a Constituição distingue, com efeito, dade na proteção do meio ambiente é o controle da Administração
é o dano causado pelos agentes da Administração pelos danos cau- Pública, por intermédio do Poder Judiciário exercido diretamente,
sados objetivamente, cobrindo o risco administrativo da atuação ou quando o cidadão ingressa com a Ação Popular ou através do Mi-
inação dos servidores públicos. nistério Público, o qual representa institucionalmente os interesses
Surgiu pela primeira vez no Brasil a responsabilidade civil obje- da sociedade, quando constatada a ineficiente implementação de
tiva por dano ambiental através do Decreto no. 79.347, de 20-03-77 políticas públicas para garantir a higidez ambiental e a saúde da
que promulgou a Convenção Internacional sobre responsabilidade população, socorrendo-se, nesta hipótese, ao Poder Judiciário para
civil em danos causados por poluição por óleo, de 1969. Em segui- garantir o exercício efetivo desse direito.
da, foi promulgada a Lei no. 6.453, de 17­10-77, que, em seu artigo Sobre a celeuma da Partição do Poderes, vem sendo supera-
4º, caput, acolheu a responsabilidade objetiva relativa aos danos da nos Tribunais, uma vez que a Constituição não estabeleceu um
provenientes de atividade nuclear. sistema radical de não interferência entre as diferentes funções do
A responsabilidade civil objetiva por danos ambientais foi con- Estado. Nesse aspecto, José Afonso da Silva:
sagrada na Lei nº. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional de “De outro lado, cabe assinalar que nem a divisão de funções
Meio ambiente, que expressa no artigo 14, parágrafo 1º. entre os órgãos do poder nem sua independência são absolutas.
“Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, Há interferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de
é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à rea­lização
a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a ter- do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o
ceiros, efetuados por sua atividade. O Ministério Público da União e desmando de um em detrimento do outro e especial­mente dos go-
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade vernados”. [12]
civil e criminal por danos causados ao meio ambiente”.

9
ATUALIDADES
Nesse sentindo, quando ocorrem omissões do Poder Público
na execução de políticas públicas relativas ao meio ambiente, a so- DESCOBERTAS E INOVAÇÕES CIENTÍFICAS NA
ciedade tem no Poder Judiciário a sua salvaguarda, significando que ATUALIDADE E SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE
compete ao Poder Judiciário, por meio de ações judiciais, determi- CONTEMPORÂNEA
nar que o Estado adote medidas de preservação ao meio ambiente,
como a implantação de sistema de tratamento de esgotos ou de Uma questão crucial e oportuna para um país emergente, que
resíduos sólidos urbanos ou, ainda, a implantação definitiva de es- busca caminhos para alcançar um nível de produção e renda com-
paço territorial protegido, já instituído por norma, ou a preservação patíveis com as necessidades da sociedade, são os processos, e os
de um bem de valor cultural. seus desafios, para gerar valor econômico a partir do conhecimen-
to. Ou seja, é a relação entre o dispêndio em pesquisa e desenvol-
Gestão de Bens Comuns vimento (DPD) e o crescimento do produto interno bruto (PIB) do
país, no presente cenário de um mundo globalizado, além da forma
Políticas Públicas são diretrizes e princípios norteadores da em que esse DPD é aplicado.
ação do poder público. Comecemos por compreender como se realiza o processo em
No tocante às questões ambientais, Esquivel afirma que, a pro- que um dado conhecimento é incorporado ao valor econômico de
posta para uma política para o ambiente, em um país, é motivada um produto ou processo.
por fatores como a conscientização dos governantes sobre o tema Esse mecanismo é complexo e variável para cada tipo de agre-
e influências externas a que seu governo está atrelado. A Política gação.
Pública Ambiental é o documento estratégico da gestão ambiental e Entretanto, é possível estabelecer algumas etapas comuns a
transcende o debate sobre os problemas de preservação ambiental, todos os processos, sistematizando-os para que possamos melhor
ou seja, dar-se-á pleno enfoque à gestão ambiental. compreendê-los e até interferir, com a formulação de políticas pú-
A gestão ambiental é regida por princípios e direcionamentos blicas para o seu pleno desenvolvimento.
gerais, de onde partem todas as ações secundárias, formulados O uso de um conhecimento científico em uma nova aplicação
para resolver problemas ambientais que afetam a sociedade. Es- determina o que vamos chamar de uma descoberta tecnológica.
quivel comenta que o poder público representa, por meio dos seus Esse conhecimento tanto pode ser já consagrado em outros usos
níveis federal, estadual e municipal, o principal agente do meio am-
(por exemplo, válvula de emissão termoiônica para fazer o cines-
biente.
cópio da televisão) ou acabado de ser descoberto (uso do cristal
líquido para fazer uma tela de calculadora). Nessa fase embrionária,
Órgãos de Gestão Ambiental
uma descoberta tecnológica é, em si mesma, essencialmente um
novo conhecimento, um conhecimento tecnológico, que se consti-
Esfera Federal
tui na própria proposta de uma aplicação criativa do conhecimento
científico.
Órgão Superior: O Conselho de Governo, formado pela Casa
Nesse estado nativo, é de muito interesse para atividade aca-
Civil e todos os Ministros; tem a função de assessorar o Presidente
da República na formulação da Política Nacional do Meio Ambiente. dêmica, principalmente para a capacitação de recursos humanos
Órgão Consultivo e Deliberativo: O Conselho Nacional do Meio para a pesquisa, e também porque pode ser objeto de publicações
Ambiente (CONAMA) reúne os diferentes setores da sociedade e e teses. Mas não tem ainda, de per se, um valor econômico, pois
tem caráter normatizador dos instrumentos da Política Ambiental. não é suficientemente robusta para competir, no mercado, com as
O CONAMA é a entidade que estabelece padrões e normas federais. alternativas tecnológicas existentes, e nem é ainda patenteável.
O CONAMA é um colegiado representativo dos setores fede- À essa descoberta tecnológica começam, então, a ser agrega-
rais, estaduais e municipais, empresarial e sociedade civil. É presi- dos inúmeros aperfeiçoamentos, ou inovações tecnológicas, con-
dido pelo Ministro do Meio Ambiente e composto pelas seguintes tadas, muitas vezes, às centenas e até milhares, tanto no produto
instâncias: Plenário, Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho. quanto no seu processo de fabricação. Essas inovações vão imple-
Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente (MMA), agente mentando a robustez da tecnologia até dar-lhe suficiente competi-
formulador de Políticas Públicas Ambientais. tividade, para que possa vir a disputar com as outras tecnologias do
Órgão Executor: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos mesmo produto ou processo, ou do seu substituto, uma parcela do
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), tem a tarefa de executar e seu mercado.
fazer executar as Políticas Ambientais. É importante notar que, em sua grande maioria, essas inova-
ções não exigem que seja gerado um novo conhecimento, mas são
Esfera Estadual simplesmente o uso criativo, para o caso específico, de conheci-
mentos já existentes. Por exemplo, fazer a tela do cinescópio plana
Em geral, Secretarias e Fundações Estaduais do Meio Ambiente ou tornar a tela de cristal líquido em matriz ativa.
com a função de executar a Política Ambiental, monitorar o meio Assim, são, em geral, patenteáveis mas não publicáveis.
ambiente e realizar educação ambiental. Desta forma, podemos conceituar uma descoberta científica
ou tecnológica como um ato acadêmico, realizado no âmbito da
Esfera Municipal universidade, destinado à capacitação de recursos humanos qua-
lificados e gerador de novos conhecimentos publicáveis nos perió-
Em geral, Secretarias e Fundações Municipais do Meio Ambien- dicos especializados, como prova de sua originalidade e valor como
te, responsáveis pelo controle e fiscalização das atividades de pro- um conhecimento.
teção e melhoria da qualidade ambiental. A inovação, ao contrário, como acima apresentado, é uma ati-
vidade econômica, executada no ambiente da produção, e que se
destina a dar mais competitividade a uma tecnologia, ou descober-
ta tecnológica, de um produto ou processo, ampliando a sua parce-
la de mercado e, assim, agregando valor econômico e lucratividade.

10
ATUALIDADES
Portanto, uma tecnologia constitui-se de uma descoberta, o A medida internacionalmente usada para avaliar o grau de
uso de algum conhecimento recente ou não em uma nova aplica- inovação é a outorga ou obtenção de patentes de invenção. Como
ção, robustecida por centenas ou milhares de inovações utilizando as patentes têm âmbito local, toma-se o mercado americano para
criativamente conhecimentos existentes. Um mesmo produto tem, comparação, por ser o maior mercado mundial, com 157 mil paten-
em geral, umas poucas descobertas amplamente conhecidas atra- tes em 2000. Apenas 12 países geram 95% dessas patentes ameri-
vés de publicações e centenas ou milhares de inovações, protegidas canas. Entre esses, só dois emergentes: Taiwan, o quarto, e Coréia,
do conhecimento e uso por terceiros através de patentes. o oitavo. A nossa posição é humilhante para a nossa criatividade, o
Como exemplo, temos a tela de monitor que, em 70 anos de tamanho e a diversidade da nossa economia e as expectativas da
existência, teve duas descobertas tecnológicas, válvula termoiônica nossa sociedade: tivemos menos de um milésimo das patentes, em
e cristal líquido, e milhares de inovações patenteadas por diversos 2000.
fabricantes, pois é óbvio que os atuais modelos no mercado só têm Mas o mais grave é que enquanto crescemos de três em três
em comum com os primeiros as descobertas tecnológicas. Outro patentes, os países acima citados agregam cerca de uma quarta
exemplo é a propulsão do avião que, em cem 130 anos, só teve parte a cada ano, dobrando a cada três anos. São países que mobili-
três descobertas: a hélice, o turbo-hélice e o jato. Mas o número de zam a sua criatividade para alcançar a autonomia tecnológica, asse-
inovações conta-se aos milhares. gurar a competitividade, elevar a renda, distribuila de forma justa e,
Note-se que as inovações podem ser desenvolvidas em desco- assim, construir o próprio futuro. E inovação tecnológica própria é
bertas tecnológicas recentes ou antigas, pelos que realizaram a des- o que não temos na medida do necessário. Veja-se o quadro abaixo.
coberta ou por outros produtores. Assim, a Coréia, embora domine Patentes outorgadas nos Estados Unidos
o mercado de monitores, não descobriu nenhuma das duas tecno-
logias usadas para telas. O mesmo ocorre com a telefonia celular,
que não é descoberta da Nokia, da Samsung ou da Motorola, os
três principais fabricantes. Assim como a Embraer não descobriu
o avião.
Como a descoberta tecnológica, em seu estado natural, não
tem viabilidade no mercado sem as inovações, fica claro que essas
é que são o real mecanismo de agregação de valor econômico, na
medida em que transformam uma descoberta em um produto ou
processo capaz de disputar o mercado, pela quase contínua incor-
poração de conhecimentos.
Um aspecto relevante é que uma descoberta tecnológica pode
consumir 10, 20 ou mais anos para alcançar suficiente robustez para Fonte: U.S. Patent and Trade Mark Office. (1) Ajuste linear.
tornar-se uma tecnologia e disputar mercado. E, por vezes, isso ja-
mais acontece e a descoberta acaba definitivamente abandonada. A consequência direta da competência na inovação é que o
O seu risco, portanto, é muito elevado. A inovação, ao contrário, na país pode disputar o mercado internacional pela via das exporta-
medida em que é o atendimento de uma demanda real do merca- ções. Isso amplia o mercado para os seus produtos e, assim, propi-
do, por ser mais objetiva, é rapidamente implementada e, por essas cia condições de um crescimento mais rápido da economia, isto é,
razões, tem baixo risco. do PIB. Veja-se, no quadro abaixo, como o nosso desempenho se
Portanto, mesmo para um país que descobre novas tecnolo- compara com países que têm uma intensiva geração de inovações,
gias, como os países do primeiro mundo, é indispensável ter uma uma vez que é no setor produtivo que se executam mais de 70% do
eficiente geração de inovações no setor produtivo, para que alcance DPD total do país.
uma agregação efetiva de valor econômico com o uso do conheci- Crescimento do PIB e do dispêndio em inovação, taxas anuais
mento. E este, entretanto, nem precisou ser gerado no próprio país, médias (%)
como é o caso de Taiwan e Coréia.
Portanto, para transformar conhecimento em valor agregado,
a geração de inovações é condição indeclinável. E a descoberta de
novas tecnologias é conveniente, desde que o setor produtivo seja
um gerador de inovações.
A posição do nosso país está muito aquém do desejável e até
do necessário para alimentar o nosso desenvolvimento sustentado.
Temos realizado, nos últimos 30 anos, o DPD de modo irregular e,
principalmente, ineficiente, para a transformação de conhecimento
em valor econômico, posto que a nossa política de fomento à pes-
quisa (ou política de ciência & tecnologia, na nomenclatura oficial)
não contempla a geração de inovações pelo setor produtivo, mas
apenas as descobertas científicas e tecnológicas, realizadas no âm-
bito acadêmico. É o que mostram a medida da nossa inventividade
e de crescimento do PIB.

Fontes: 1) Banco Mundial; 2) página Internet; 3) KITA, 2000.

11
ATUALIDADES
Temos o pior desempenho entre os países acima e nem sequer Busca
temos os dados de dispêndio em inovação do nosso país, estimados Faça sua pesquisa na Internet:
em cerca de 0,10 a 0,15 do PIB. O mais grave, porém, é que a dis-
tância entre a nossa economia e a dos EUA aumentou nos últimos A União Astronômica Internacional excluiu Plutão como um
vinte anos. Além disso, fomos ultrapassados em PIB per capita por planeta de pleno direito do Sistema Solar no dia 24 de agosto de
Taiwan (US$ 14,4 mil) e pela Coréia (US$ 13,7 mil), contra apenas 2006, após longas e intensas controvérsias sobre esta resolução.
US$ 3,5 mil do nosso país, o 81o do mundo. Em 1981, porém, o
PIB per capita da Coréia era um quarto menor e o de Taiwan só Plutão não é mais considerado planeta
5% maior do que o nosso. Ou seja, em cerca de 20 anos, o PIB per
capita de Taiwan cresceu quase quatro vezes mais do que o nosso, Com a decisão votada no plenário da XXVI assembléia geral da
e o da Coréia, cerca de cinco vezes mais. entidade, realizada em Praga, se reduziu o número de planetas no
O nosso mau desempenho em inovações deixou as indústrias Sistema Solar de nove para oito. Os mais de 2,5 mil analistas de 75
nacionais, que sobreviveram à desnacionalização dos anos noven- países reunidos na capital checa reconhecem desta forma que se
ta, sem um mínimo de competitividade, condição essencial ao cres- cometeu um erro quando se outorgou a Plutão a categoria de pla-
cimento da sua produção. Ora, sem fomento governamental para neta, em 1930, ano de sua descoberta.
inovações tecnológicas e sem tempo e capital para desenvolvê-las A definição adotada preenche um vazio que existia neste cam-
com risco próprio, as empresas foram compelidas a recorrer ao li- po científico desde os tempos do astrônomo polonês Copérnico
cenciamento de patentes e de tecnologias do exterior. Isso propi- (1473-1543). A nova definição estabelece três grupos de planetas, o
ciou um crescimento moderado de 23% do PIB, de 1992 a 1997, ao primeiro com os oito planetas “clássicos” - Mercúrio, Vênus, Terra,
custo de se elevarem as patentes licenciadas em quase cem vezes Marte, Júpiter, Netuno, Saturno e Urano -, depois um segundo, que
e os gastos diretos com licenciamentos externos em mais de nove são os asteróides, e um terceiro grupo, com Plutão e o novo objeto
vezes, no período, como se nota no quadro abaixo. UB313, descoberto no ano passado.
Plutão, além de ser reduzido a um planeta anão, agora é o as-
Gastos com licenciamentos externos (US$ milhões) teróide número 134340 do Centro de Planetas Menores, organiza-
ção oficial que coleta dados sobre asteróides e cometas.
Segundo o acordo acertado na reunião da UAI, será chamado
de planeta um corpo celeste que esteja na órbita de uma estrela,
sem ser ele mesmo uma estrela. O corpo celeste também precisa
ter massa suficiente para que sua própria gravidade molde-o numa
forma praticamente esférica, e que tenha limpado os arredores de
sua órbita.
Plutão, descoberto há 76 anos pelo cientista americano Clyde
Tombaugh (1906-1997), é objeto de polêmica há décadas, princi-
palmente devido a seu tamanho, que foi reduzido ano após ano
e que foi estabelecido agora em 2,3 mil quilômetros de diâmetro.
Assim, Plutão é muito menor que a Terra (12.750 quilômetros)
e até mesmo menor que a Lua (3.480 quilômetros) e o UB313 (3 mil
quilômetros), que no entanto está muito mais longe do Sol.
Outro argumento contra Plutão é a forma pouco ortodoxa de
Fonte: Banco Central sua órbita, cuja inclinação não é paralela à da Terra e a dos outros
sete planetas do Sistema Solar.
O desafio, portanto, é gerar no país as inovações tecnológicas Mesmo assim, centenas de cientistas dos Estados Unidos firma-
exclusivas que nos faltam para propiciar, à nossa produção, um alto ram um abaixo-assinado contra a recente decisão internacional de
valor econômico agregado e uma forte competitividade nos merca- retirar o status de planeta de Plutão. A rebelião astronômica mostra
dos internacionais. Os exemplos de Taiwan e Coréia, países emer- que o debate sobre a definição dos planetas deve prosseguir.
gentes que realmente estão crescendo pela via da inovação própria,
são os exemplos. Outros são China e Índia, que já seguem a mesma Projeto Genoma
trilha com resultados significativos. Para vencer esse desafio, preci-
samos criar políticas públicas de fomento à inovação própria gerada O Projeto Genoma Humano é um empreendimento internacio-
no setor produtivo, principalmente para tecnologias já existentes e nal, iniciado formalmente em 1990 e projetado para durar 15 anos,
comerciais. Mas, para realizá-lo, precisamos, decididamente, em- com os seguintes objetivos:
penhar-nos em mobilizar os produtores, bem como a toda a socie- Identificar e fazer o mapeamento dos 80 mil genes que se cal-
dade. cula existirem no DNA das células do corpo humano;
Determinar as sequências dos 3 bilhões de bases químicas que
Plutão deixa de ser considerado planeta compõem o DNA humano;
Armazenar essa informação em bancos, desenvolver ferramen-
AFP tas eficientes para analisar esses dados e torná - los acessíveis para
Plutão agora é um planeta-anão novas pesquisas biológicas.

12
ATUALIDADES
O PHG tem como um objetivo principal construi uma série de Com a chave do código, os cientistas vão compreender o pro-
diagramas descritivos de cada cromossomo humano, com reso- cesso que gera tais males, para então desenvolver exames de diag-
luções cada vez mais apuradas. Para isso, é necessário: dividir os nóstico e tratamentos. Há esperança de cura com a substituição de
cromossomos em fragmentos menores que possam ser propaga- genes anormais.
dos e caracterizados; e depois ordenar esses fragmentos, de forma
a corresponderem a suas respectivas posições nos cromossomos Mulher com primeiro rosto transplantado
(mapeamento).
Depois de completo mapeamento, o passo seguinte é deter- A primeira reação da mulher de 38 anos que foi submetida à
minar a sequência das bases de cada um dos fragmento de DNA já cirurgia pioneira de transplante de rosto da história foi agradecer
ordenados. O objetivo é descobrir os genes na sequência do DNA e aos médicos.
desenvolver meios de usar esta informação para estudo da biologia Segundo os cirurgiões, ela pediu uma caneta e um papel e es-
e da medicina, na cura de doenças por exemplo. creveu em francês a palavra “merci” [obrigada, em português].
Ele começou como uma iniciativa do setor público, tendo a li- De acordo com eles, a palavra foi escrita depois de ela ter se
derança de James Watson, na época chefe dos Institutos Nacionais olhado no espelho, 24 horas após a cirurgia que ocorreu no último
de Saúde dos Estados Unidos (NIH). Numerosas escolas, universida- domingo na cidade de Amiens, no norte da França.
des e laboratórios participam do projeto, usando recursos do NIH A mulher recebeu tecidos, artérias e veias de outra mulher que
e Departamento de Energia norteamericano. Ó este órgão financia havia tido morte cerebral. Em maio passado, a transplantada foi
cerca de 200 investidores separados nos EUA. atacada por seu cão, um labrador (em geral, uma raça dócil), e teve
Em outros países, grupos de pesquisadores em universidades seu rosto desfigurado.
e institutos de pesquisa também estão envolvidos no Projeto Ge- Segundo o jornal londrino “Daily Telegraph”, a mulher se cha-
noma. ma Isabelle Dinoire. É divorciada e mãe de dois adolescentes. Isa-
Além destes, muitas empresas privadas grandes e pequenas belle mora em Valenciennes (norte da França).
também conduzem pesquisa sobre o genoma humano.
Basicamente, 18 países iniciaram programas de pesquisas so- BIOTECNOLOGIA E TRANSGÊNICOS
bre o genoma humano. Os maiores programas desenvolvem- se na
Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia, Dinamarca, Es- A biotecnologia, conceitualmente, é a união de biologia com
tados Unidos, França, Holanda, Israel, Itália, Japão, México Reino tecnologia; é um conjunto de técnicas que utilizam os seres vivos
Unido, Rússia, Suécia e União Européia. no desenvolvimento de processos e produtos que tenham uma fun-
Comparando o mapeamento e seqüenciamento genético ao ção econômica e/ou social. A biotecnologia envolve várias áreas do
mapeamento de uma estrada que se estendesse, digamos, de Por- conhecimento e, em conseqüência, vários profissionais, sendo uma
to Alegre a Manaus. O Projeto Genoma Humano, conduzido pelos ciência de natureza multidisciplinar.
órgãos do governo tem obtido dados de alta qualidade e precisão, Apesar do termo biotecnologia ser novo, o princípio é muito
registrando os detalhes das células humanas - inclusive as porções antigo. Por exemplo, a utilização da levedura na fermentação da uva
do DNA que não contém gene algum e que constituem 97% do seu e do trigo para produção de vinho e pão vem de muitos anos antes
total. A iniciativa privada, porém, juntou- se ao projeto em vista do de Cristo. Com a evolução da ciência em seus diversos setores, inú-
potencial de lucro que as pesquisas podem trazer, especialmente meras metodologias biotecnológicas têm sido sistematizadas, au-
para as indústrias farmacêuticas. A rapidez na obtenção de resulta- mentando seus benefícios econômicos, sociais e ambientais. Vários
dos, que podem ser transformados em patentes, tornou- se crucial cientistas, com suas descobertas, tiveram grande importância para
para. a evolução e sistematização da biotecnologia. Por exemplo, Louis
Com a iniciativa privada ocupando- se apenas dos genes mais Pasteur com a descoberta dos microrganismos em 1861, Gregor
interessantes e os pesquisadores do governo dedicando- se ao se- Mendel com a descoberta da hereditariedade em 1865, James Wat-
quenciamento dos demais, as duas formas de trabalho podem se son e Francis Crick com a descoberta da estrutura do DNA (ácido de-
complementar, em benefício do conhecimento geral. soxirribonucléico, molécula responsável pela informação genética
Com a entrada da iniciativa privada no Projeto Genoma, dando de cada ser vivo) em 1953, entre outros.
preferência a uma abordagem dirigida apenas aos genes que apre- A partir da descoberta da estrutura do DNA, houve uma revo-
sentam interesse para a cura de doenças, o setor público passou a lução incrível na área da genética e biologia molecular, surgindo,
rever seu cronograma e espera concluir o Projeto em 2003 e não então, a chamada biotecnologia moderna, a qual consiste na ma-
em 2005, como proposto inicialmente. nipulação controlada e intencional do DNA por meio das técnicas
As tecnologia, os recursos biológicos e os bancos de dados de engenharia genética. Por meio de tais técnicas foi possível a pro-
gerados pela pesquisa sobre o genoma terão grande impacto nas dução de insulina humana em bactérias e o desenvolvimento de
indústrias relacionadas à biotecnologia, como a agricultura, a pro- inúmeras plantas transgênicas a partir da década de 80.
dução de energia, o controle do lixo, a despoluição ambiental. As várias técnicas relacionadas à biotecnologia têm trazido, via
O Projeto Genoma Humano, conseguiu até agora identificar os de regra, benefícios para a sociedade. As fermentações industriais
genes contidos em dois cromossomos , 22 e o 21. na produção de vinhos, cervejas, pães, queijos e vinagres; a produ-
A conquista do genoma promete uma revolução na medicina ção de fármacos, vacinas, antibióticos e vitaminas; a utilização de
cujos resultados brotarão aos poucos ao longo das próximas dé- biofungicidas no controle biológico de pragas e doenças; o uso de
cadas. Os genes são instruções que determinam as características microrganismos visando à biodegradação de lixo e esgoto; o uso de
físicas de cada indivíduo, como a cor dos olhos e a formação óssea. bactérias fixadoras de nitrogênio e fungos micorrízicos para a me-
Também produzem proteínas indispensáveis ao funcionamento do lhoria de produtividade das plantas; o desenvolvimento de plantas
corpo, como as que ajudam o estômago a dirigir comida ou a meta- e animais melhorados utilizando técnicas convencionais de melho-
bolizar carboidratos. Genes defeituosos desequilibram o organismo ramento genético e também a transformação genética.
e podem causar doenças.

13
ATUALIDADES
Os maiores avanços científicos no primeiro trimestre do ano. Reportado um segundo paciente curado do vírus HIV

Os cientistas e pesquisadores de todo o mundo estão sempre O segundo paciente a ser curado do vírus HIV, agente causador
procurando descobrir e criar inovações no mundo da ciência e da da aids, é informado à comunidade médica, o que demonstra que
tecnologia. Seus avanços alteram a vida na Terra e mudam nossa uma cura completa da doença é possível.
percepção da realidade. As maiores descobertas científicas são um Ambos os pacientes foram livres do vírus que causa aids após
testemunho inspirador das capacidades humanas. Todos os anos, um transplante de células-tronco de medula óssea de um doador
cientistas fazem descobertas incríveis. O que os cientistas apren- com uma mutação genética rara do gene CCR5. O primeiro paciente
deram em 2017 pode ajudá-los a fazer novos avanços em 2018, e a comprovar isso foi um homem de Berlim, Timothy Brown, que
as descobertas científicas em 2018 podem influenciar os avanços ficou conhecido na literatura médica como “o paciente de Berlim”.
científicos 2019. Ele passou pelo procedimento que eliminou o vírus da seu orga-
Esta lista de descobertas científicas 2019 apresenta avanços e nismo há mais de uma década. Brown parou de tomar os medica-
recentes divulgações que abrangem uma ampla gama de discipli- mentos anti-retrovirais utilizados para suprimir o HIV e permaneceu
nas. Desde aprender novidades sobre mundos além do nosso pla- sem vírus.
neta a até desbloquear possibilidades dentro de nossas próprias O segundo homem que teve o mesmo sucesso contra o HIV é
células, algumas descobertas provocaram uma compreensão mais um paciente que não teve o nome divulgado, identificado apenas
rica do nosso passado. como “o paciente de Londres”. Esse segundo portador do vírus a ser
Esses avanços e feitos da ciência até agora lhe darão esperança curado parou com sua medicação há dezoito meses e não mostrou
em um futuro mesmo em vezes sombrio. As mais recentes notícias sinais de o vírus ter retornado ao seu corpo.
da ciência são inspiradoras para uma nova geração de pensadores Como transplantes da medula óssea não são uma solução a ser
que continuarão a empurrar os limites da capacidade humana. aplicada em larga escala para o tratamento contra o HIV, os cientis-
Leia abaixo as maiores descobertas de 2019 e os últimos avan- tas esperam que estes sejam os primeiros passos para “uma estra-
ços científicos no balanço da Sociedade Ciência no primeiro trimes- tégia segura, econômica e fácil capaz de alcançar esses resultados
tre do ano, numeradas apenas para fins didáticos, não sendo a or- usando tecnologia de genes ou técnicas de anticorpos”. Atualmen-
dem apresentada um julgamento de importância. te, é necessário aos pacientes com HIV tomar uma pílula diária para
se manter uma pessoa com saudável e lhes assegurar uma vida nor-
Estudo Universidade de Yale reativa atividade celular em cé- mal.
rebro de porcos horas após a morte O artigo científico publicado na Nature, uma das mais respei-
tadas publicações científica do mundo, em 5 de março de 2019,
Uma equipe de pesquisa na Universidade de Yale estudou em detalha como o tratamento da célula-tronco funciona e quais as
porcos a restauração da circulação cerebral e das funções celulares possibilidades são para o que vem depois.
horas após aqueles animais terem morrido.
Os pesquisadores descobriram que “uma quantidade surpre- Genoma do tubarão branco é decodificado
endente de função celular foi preservada ou restaurada”. Isso im-
plica que nossa compreensão neurologia previa, que toda atividade Em 18 de fevereiro de 2019, cientistas anunciaram que termi-
celular pára uma vez cortado o suprimento de oxigênio, ainda é li- naram a decodificar o genoma do tubarão branco (Carcharodon
mitado. carcharias). Como o maior peixe predador da Terra, o sucesso evo-
Os pesquisadores que conduziram esse estudo, por uma ques- lutivo dos tubarões sugere uma riqueza de informações genéticas
tão de ética, tiveram cuidado evitar estimular a atividade cerebral possíveis, desde o aumento da cicatrização de feridas até uma no-
responsável pelo pensamento e a consciência, atividades essas que tável tolerância a danos no DNA. Ao dizer isso, não podemos perder
não foram nem mesmo preservadas artificialmente após a morte de vista que os tubarões evoluíram do resto do reino animal há 400
dos animais. Ainda assim, as implicações éticas da função celular milhões de anos, antes mesmo que os primeiros anfíbios aventurei-
post-mortem colocam em questão as leis em vigor sobre o bem-es- ros deixassem os oceanos para terra seca. As adaptações genéticas
tar animal e até a proteção de seres humanos que foram declarados que esses animais vêm desenvolvendo contidas em seus DNA, que
com morte cerebral. os cientistas agora decodificaram, oferecem muitas possibilidades
Usando trinta e duas cabeças de porco obtidas de abatedouros, no mundo da saúde e da medicina. Com toda essa informação ge-
a equipe limpou e isolou cada cérebro antes de ligar os principais nética, revelou o estudo, o grande tubarão branco tem um genoma
vasos sanguíneos a um dispositivo que bombeava um coquetel quí- 1,5 vezes maior do que o de humanos.
mico especialmente formulado por seis horas. O procedimento teve
início cerca de quatro horas depois que os porcos passavam. A tec- 2 – As primeiras plantas germinam na Lua
nologia usada no estudo é chamada BrainEx.
Embora estar ciente de que a restauração a nível celular da Alimentadas com ar, água e nutrientes, bem como levedura e
atividade de alguns neurônios é possível horas após a morte pos- ovos de mosca de fruta na tentativa de formar uma biosfera auto-
sa ser eticamente complicada, a pesquisa também “oferece uma -sustentável, sementes de algodão e batata germinaram seus pri-
nova maneira de estudar doenças ou lesões cerebrais”. Indepen- meiros brotos em 14 de janeiro de 2019. E esse foi um feito notável,
dentemente disso, a distinção entre um “cérebro vivo” e um “cé- já que estes plantas estão fazendo isso na Lua, embora não direta-
rebro celularmente ativo” é essencialmente a mesma diferença mente no solo lunar. Esta é a primeira vez que as plantas germinam
entre “quase completamente morto” e “completamente morto”. E na Lua, outra ótima notícia da missão chinesa Chang’e 4.
a designação “quase completamente morto” não costuma carregar Esse avanço científico com plantas brotando na Lua é impor-
consigo uma conotação positiva. tante para aprendermos qual a nossa chance cultivar alimentos na
O artigo científico descrevendo o trabalho dos pesquisadores Lua. E isso pode ser importante cada vez mais necessário à medida
da Universidade de Yale foi publicado na Nature. que exploramos o espaço.

14
ATUALIDADES
Aprender como é possível estabelecer na Lua um ponto de par- Em 10 de abril de 2019, a colaboração que reuniu importantes
tida para outros planetas é especialmente importante para a China, instituições científicas em todo chamada Event Horizon Telescope
que espera enviar missões tripuladas a Marte. (EHT) divulgou a primeira imagem bem-sucedida do horizonte de
eventos de um buraco negro. O buraco negro em questão está da
Primeiro desembarque no lado “escuro” da da Lua galáxia Messier 87: a maior e mais massiva (termo técnico da física)
galáxia do nosso superaglomerado local de galáxias. Os astrônomos
Depois de lançar o Chang’e 4 no início de dezembro de 2018, de o mundo expressaram admiração e empolgação pela primeira
a China realizou outro feito notável. O país asiático pousou de sua visão real, já que todas as outras imagens existentes até então eram
sonda no lado oculto da Lua em 03 de janeiro de 2019 às 10h26 da simulações computacionais feitas a partir de dados observacionais
manhã, horário de Pequim, tornando a sonda Chang’e 4 a primeira e matemáticos, deste misterioso devorador galáctico.
nave espacial a realizar tal façanha. No centro da Messier 87, uma enorme galáxia no aglomerado
Na foto acima, vemos uma imagem do outro lado da Lua. Regis- de galáxias de Virgem, está o buraco negro supermassivo. Designa-
trada pelo aterrissador chinês Chang’e-4, à esquerda está a borda da simplesmente de M87 (a 87ª galáxia no catálogo de Messier) e
do corpo da sonda, enquanto à direita está a parte direita da perna localizada a mais de 55 milhões de anos-luz da Terra, é nela que o
da sonda, bem como a base do pé, que afundou parcialmente no monstruoso gigantesco buraco negro está, bem no seu centro, com
regolito lunar. O vídeo com o registro o pouso do qual a imagem massa equivalente a 6,5 bilhões de vezes a massa do nosso sol. E
provem foi divulgado pela estatal chinesa CNSA (sigla para China esse é o buraco negro registrado pelos cientistas do EHT, denomi-
National Space Administration), a agência espacial chinesa, que co- nado M87*.
ordena o Chinese Lunar Exploration Program – CLEP. “Este é um grande dia para a astrofísica”, disse a diretora Na-
Já a segunda imagem deste item mostrada abaixo, também di- tional Science Foundation (NSF), France Córdova, em comunicado.
vulgada pela CNSA, é a primeira fotografia colorida retornada da “Estamos vendo o invisível. Buracos negros têm impulsionado a
superfície do outro lado da Lua. A câmera de implementação do imaginação por décadas. Eles têm propriedades exóticas e são mis-
rover da Chang’e-4 fez este registro, que mostra uma cratera cheia teriosos para nós. No entanto, com mais observações como esta,
de poeira nas proximidades, e a implantação rampa do rover no eles estão revelando os seus segredos. É por isso que a NSF existe.
topo da foto. Nós capacitamos cientistas e engenheiros para iluminar o desco-
Embora o lado “escuro” da Lua nem sempre seja verdadeira- nhecido, para revelar a majestade sutil e complexa do nosso univer-
mente escuro, o lado mais distante do satélite da Terra é relativa- so”. A NSF é uma agência governamental ligada ao governo federal
mente desconhecido, já que está constantemente voltado para lon- dos Estados Unidos que promove a pesquisa e educação fundamen-
ge do planeta. tal em todos os campos da ciência e da engenharia.
A incapacidade de ver diretamente a superfície lunar no lado
“de trás” do nosso satélite natural também aumenta a dificuldade
de pousar qualquer espaçonave nela. Embora o lado mais distante
da Lua já tenha sido completamente mapeado, o módulo Chang’e
4 é o primeiro artefato humano a realmente aterrissar nessa parte
intocada do satélite.
Além do feito ser notável no sentido da exploração em si, uma
sonda no outro lado da Lua pode abrir caminho para que possamos
observar o espaço mais claramente, graças à própria Lua bloque-
ando os sinais de rádio vindos da Terra. Como explicou Yu Guobin,
o porta-voz da missão, “esta sonda pode preencher a lacuna da
observação de baixa frequência na radioastronomia e fornecerá in-
formações importantes para o estudo da origem das estrelas e da A imagem acima é um fotografia da distante galáxia M87. A
evolução de nebulosas”. gigantesca galáxia elíptica Messier 87 aparece nesta imagem de
campo profundo, uma imagem produzida a partir do zoom em uma
Cientistas revelam a primeira imagem real de um buraco ne- pequena região do espaço. Foi o buraco negro supermassivo no co-
gro ração desta galáxia que teve sua imagem recentemente capturada
por uma equipe internacional de pesquisadores e somente reve-
lada ao mundo depois de dois anos de pesquisas e confirmações.
Apesar de seu tamanho supermassivo, o M87* está longe o
suficiente de nós para representar um enorme desafio para que
qualquer telescópio existente hoje capturasse sozinho a imagem.
De acordo com a Nature, para que isso fosse possível, exigiria algo
com uma resolução mais de mil vezes melhor do que o Telescópio
Espacial Hubble. Em vez disso, os astrônomos decidiram criar algo
maior. Muito maior.
Em abril de 2018, os astrônomos sincronizaram uma rede glo-
bal de radiotelescópios para observar o ambiente nas imediações
cósmicas do M87*. Com todos os telescópios trabalhando juntos,
as instituições de pesquisa se organizaram para formar o Event Ho-
rizon Telescope (EHT), um observatório virtual do tamanho de um
planeta capaz de capturar detalhes sem precedentes de corpos ce-
leste em grandes distâncias.

15
ATUALIDADES
Apesar de amplamente difundida, há muitos protestos e críti-
MUNDO CONTEMPORÂNEO: ELEMENTOS DE POLÍTICA cas à globalização, sobretudo ressaltando os seus pontos negativos.
INTERNACIONAL E BRASILEIRA. CULTURA INTERNA- As principais posições defendem que esse processo não é democrá-
CIONAL tico, haja vista que os produtos, lucros e desenvolvimentos ocorrem
predominantemente nos países desenvolvidos e nas elites das so-
Quando falamos em geografia politica e econômica, pensamos ciedades, gerando margens de exclusão em todo o mundo. Críticas
em globalização. também são direcionadas à padronização cultural ou hegemoniza-
Uma das características da globalização é a crescente integra- ção de valores, em que o modo de vida eurocêntrico difunde-se no
ção econômica em escala planetária, devido ao aumento das trocas cerne do pensamento das sociedades.
comerciais e financeiras, que consolida a formação de um mercado De toda forma, a Globalização está cada vez mais consolidada
mundial influenciado pelas empresas transnacionais. no mundo atual, embora existam teóricos que, frequentemente, re-
Nesse contexto, ganhou notoriedade a Organização Mundial afirmam a sua reversibilidade, sobretudo em ocasiões envolvendo
do Comércio (OMC), instituição internacional que visa fiscalizar e revoltas contra o seu funcionamento ou o próprio colapso do sis-
regulamentar o comércio mundial. tema financeiro. O seu futuro, no entanto, ainda está à mercê não
A globalização é o processo de interligação e interdependência tão somente das técnicas e da economia, mas também dos eventos
entre as diferentes sociedades e resulta em uma intensificação das políticos que vão marcar o mundo nas próximas décadas.
relações comerciais, econômicas, políticas, sociais e culturais entre O Enem apresenta uma tendência de abordar temas que pos-
países, empresas e pessoas. Esse fenômeno é possibilitado pelo suam certa atualidade, ou seja, que se relacionem com eventos ou
avanço das técnicas, com destaque para os campos das telecomuni- acontecimentos que sejam de relevância para o contexto atual da
cações e dos transportes. sociedade. Por esse motivo, além de estudar os temas básicos da
A expressão “globalização” foi criada na década de 1980. No Geografia, é preciso sempre estar informado através do acompa-
entanto, não podemos dizer que ela seja um processo recente, uma nhamento de notícias tanto na mídia televisiva quanto na impressa
vez que teria se iniciado ao longo dos séculos XV e XVI, com a ex- e, também, na internet.
pansão ultramarina europeia, que iniciava uma era de integração Nesse sentido, a Globalização emerge como um dos principais
plena entre o continente europeu e as demais partes do planeta. temas a serem abordados pela banca examinadora, haja vista que
Por outro lado, foi apenas na segunda metade do século XX que todos os seus conceitos e efeitos podem ser visualizados direta ou
esse fenômeno encontrou a sua forma mais consolidada. indiretamente nas sociedades do mundo contemporâneo. Portan-
Podemos dizer que o mundo só alcançou o nível atual de inte- to, a globalização no Enem é uma oportunidade de compreender as
gração graças aos desenvolvimentos realizados, como já dissemos, relações geopolíticas e sociais à luz dos estudos da Geografia.
no âmbito dos transportes e das comunicações. Esses meios são A globalização é, de modo geral, vista como o processo de
importantes por facilitarem o deslocamento e a rápida obtenção de integração e inter-relação mundial envolvendo a economia, a cul-
informações entre pontos remotos entre si. Tais avanços, por sua tura, a informação e, claro, os fluxos de pessoas. Esse fenômeno
vez, ocorreram graças à III Revolução Industrial, também chamada instrumentaliza-se pela difusão e avanço dos meios de transporte
de Revolução técnico-científica informacional, que propiciou o de- e comunicação, haja vista que regiões distantes, antes tidas como
senvolvimento de novas tecnologias, como a computação eletrôni- isoladas umas das outras, integram-se plenamente.
ca, a biotecnologia e inúmeras outras formas produtivas. O termo Globalização, apesar de ser considerado por muitos
Outro fator que também pode ser tido como uma das causas um processo gradativo que se iniciou com a expansão marítima eu-
da Globalização é o desenvolvimento do Capitalismo Financeiro, a ropeia, difundiu-se no meio intelectual apenas a partir da década
fase do sistema econômico marcada pela fusão entre empresas e de 1980. Assim, a sua consolidação ocorreu na segunda metade do
bancos e pela divisão das instituições privadas em ações. Hoje em século XX em diante, com a difusão do neoliberalismo, a propaga-
dia, o mercado financeiro, por meio das bolsas de valores, operam ção de tecnologias, a integração econômica e comercial entre os
em redes internacionais, com empresas de um país investindo em países, a formação e expansão dos blocos econômicos e o fortale-
vários lugares, alavancando o nível de interdependência econômi- cimento das instituições internacionais, tais como a OTAN e a ONU.
ca. Além disso, os principais agentes da globalização são, sem dúvidas,
A título de comparação, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei as empresas transnacionais, também conhecidas como multinacio-
de Portugal sobre o descobrimento do Brasil levou alguns meses nais ou globais.
para chegar ao seu destino. Em 1865, o assassinato do presidente
dos Estados Unidos, Abraham Lincon, foi informado duas semanas
depois na Europa. Já em 11 de setembro de 2001, os atentados ter-
roristas às torres gêmeas do World Trade Center foram acompanha-
dos em tempo real, com o mundo vendo ao vivo o desabamento
dos prédios.
Um dos mais notáveis efeitos da Globalização é, sem dúvidas,
a formação e expansão das multinacionais, também conhecidas
como empresas globais. Essas instituições possuem seus serviços
e mercadorias disponibilizados em praticamente todas as partes do
planeta. As fábricas, em muitos casos, migram das sociedades in-
dustrializadas para os países periféricos em busca de mão de obra
barata, matérias-primas acessíveis e, claro, maior mercado consu-
midor, isso sem falar na redução ou isenção de impostos.
Outro efeito da Globalização foi a formação dos mercados re-
gionais, por meio dos blocos econômicos. Esses acordos entre os
países facilitaram os processos de negociação para aberturas eco-
nômicas e entrada de pessoas e bens para consumo.

16
ATUALIDADES
Globalização e Economia Agropecuária

Sistemas Agrícolas

Sistemas agrícolas são classificações utilizadas para a produção


agrícola e pecuária. Há dois sistemas, o intensivo e o extensivo.
Para definir se o sistema agrícola é intensivo ou extensivo são
considerados os pontos da produção em qualquer tamanho de pro-
priedade.
O sistema é revelado por resultados como a produtividade por
hectare e o investimento na produção.

Sistema Intensivo
No modelo da agricultura brasileira, o sistema intensivo é o
mais praticado. Por ele, são aplicadas técnicas modernas de previ-
são que englobam o preparo do solo, a forma de cultivo e a colheita.
A produtividade não está somente no rendimento obtido dire-
to do solo, mas do seu redimensionamento para resultar na maior
produção possível por metro quadrado (a chamada produtividade
Os países dominam as grandes empresas ou as grandes em- média por hectare).
presas dominam os países? No período de colheita, as perdas são equacionadas para que
atinjam o mínimo. O mesmo vale para o armazenamento.
As empresas transacionais que comercializam no mundo todo Esse sistema é criticado porque agride o meio ambiente por
são os principais agentes da globalização econômica. conta de fatos como: desmatamento para implantação de mono-
É certo que ainda falamos de governo e nação, no entanto, es- culturas ou pasto, uso de agrotóxicos, erosão e empobrecimento do
tes deixaram de representar o interesse da população. Agora, os solo após sucessivos plantios.
Estados defendem, sobretudo, as empresas e bancos.
Na maior parte das vezes são as empresas americanas, euro- Sistema Extensivo
peias e grandes conglomerados asiáticos que dominam este pro- O sistema extensivo é o que menos agride o meio ambiente. É
cesso. o sistema tradicional em que são utilizadas técnicas rudimentares
que garantem a recuperação do solo e a produção em baixa escala.
Globalização e Neoliberalismo Em geral, o sistema extensivo é usado pelo modelo denomina-
A globalização econômica só foi possível com o neoliberalis- do agricultura familiar e, ainda, pela agricultura orgânica.
mo adotado nos anos 80 pela Grã-Bretanha governada por Mar- No primeiro, a produção é destinada à subsistência e somen-
garet Thatcher (1925-2013) e os Estados Unidos, de Ronald Reagan te o excedente é vendido. Há o uso de agrotóxicos, mas em baixa
(1911-2004). escala.
O neoliberalismo defende que o Estado deve ser apenas um Já o modelo de agricultura orgânica dispensa o uso de agrotóxi-
regulador e não um impulsor da economia. Igualmente aponta a cos, privilegia alimentos saudáveis e permite a exploração racional
flexibilidade das leis trabalhistas como uma das medidas que é pre- do solo.
ciso tomar a fim de fortalecer a economia de um país.
Isto gera uma economia extremamente desigual onde somente Agricultura moderna
os gigantes comerciais tem mais adaptação neste mercado. Assim, A agricultura moderna faz uso de várias tecnologias, como os
muita gente fica para trás neste processo. tratores, colhedeiras, ceifadeiras, adubo, fertilizantes, etc. Além
disso, também seleciona sementes modificadas geneticamente. No
Globalização e Exclusão entanto, ela não se limita ao uso de máquinas; há também uso de
Uma das faces mais perversas da globalização econômica é a biotecnologia.
exclusão. Isto porque a globalização é um fenômeno assimétrico e Ela se baseia no aumento da sua produção à medida em que
nem todos os países ganharam da mesma forma. incrementa tecnologia. Isso nos leva ao importante conceito de pro-
Um dos grandes problemas atuais é a exclusão digital. Aqueles dutividade agrícola, que se diferencia de produtividade industrial. O
que não têm acesso às novas tecnologias (smartphones, computa- primeiro é a relação entre a produção realizada e a área cultivada.
dores) estão condenados a ficarem cada vez mais isolados. Quando falamos de geografia agrária, podemos aumentar a produ-
tividade sem aumentar a área plantada.
Globalização Cultural Esse tipo de agricultura é capitalizada, baseada em grandes
Toda essa movimentação populacional e também financeira investimentos. Por isso, a forma mais concreta de se falar em geo-
acaba provocando mudanças culturais. Uma delas é a aproximação grafia agrária moderna é através dos famosos complexos agroindus-
entre culturas distintas, o que chamamos de hibridismo cultural. triais. Existe uma troca constante entre a indústria tecnológica e a
Agora, através da internet, se pode conhecer em tempo real agropecuária, na qual a primeira oferece tecnologia e a outra ajuda
costumes tão diferentes e culturas tão distantes sem precisar sair com capital. Por fim, ainda temos o sistema financeiro, responsável
de casa. por bancar toda essa cadeia produtiva.
No entanto, os deslocamento de pessoas pode gerar o ódio ao
estrangeiro, a xenofobia. Do mesmo modo, narcotraficantes e ter-
roristas têm o acesso à tecnologia e a utilizam para cometer seus
crimes.

17
ATUALIDADES
Agricultura tradicional Os maiores rebanhos de suínos no planeta estão na China, Es-
Ao contrário da agricultura moderna, a agricultura tradicional tados Unidos, Rússia e Brasil.
faz uso de métodos ultrapassados e de mão de obra em larga esca-
la. No entanto, há um caso particular, cujo o uso extenso de mão Tipos de criação caprina
de obra na versão moderna é necessário, que é a fruticultura. Se ti- - Extensiva - criação de cabras para a produção de carne, mais
vermos uma produção agrícola de fruticultura, nos dois casos serão comum em regiões de relevo acidentados e de climas semiáridos
empregadas muita mão de obra, uma vez que certas partes dessa ou áridos.
produção não podem ser mecanizadas, por exemplo, a colheita das - Intensiva - produção estabulada de cabritos para o aproveita-
frutas. mento da pele e da carne e de cabras fornecedoras de leite.
Outra diferença em relação à agricultura moderna, é que na A China, a Índia e a Itália são os grandes produtores.
tradicional é necessário incorporar terras para aumentar a produ-
ção. Então, tal tipo de é considerada de baixa produtividade e capaz Tipos de criação asinina
de gerar tantos impactos ambientais quanto a moderna. A agricul- - Extensiva - jumentos e jegues destinados para corte ou para o
tura tradicional é típica dos países em desenvolvimento, o que não uso na tração animal (carroças puxadas por jumentos são um exem-
significa que não seja praticada na geografia agrária dos países de- plo de tração animal).
senvolvidos. O mesmo ocorre com a moderna; embora seja pratica- - Intensiva - para selecionar reprodutores.
da mais amplamente nos países desenvolvidos, também é praticada
em menor escala em alguns países em desenvolvimento. Tipos de criação equina
- Extensiva - criação de éguas e cavalos para tração, montaria
Pecuária ou corte.
Na pecuária, o rendimento também é avaliado para definir o - Intensiva - estabulada e com o propósito de selecionar e pre-
sistema aplicado. Da mesma maneira que ocorre com a agricultura, parar éguas e cavalos para atividades esportivas (“corrida de cava-
o modo de produção intensivo é direcionado para resultados ele- lo” e “partidas de polo”).
vados.
A produção de gado pode ser a pasto ou em sistema de confi- Muares
namento e a densidade de cabeças deve ser a maior possível. Burros e bestas ou mulas originadas pelo cruzamento entre
Para melhor desempenho da produção pecuária são avaliados equinos e asininos.
os investimentos em: qualidade do solo, rendimento do pasto, con-
formação de carcaça (quando o gado de corte oferece maior quan- Avicultura
tidade de carne), oferta de leite e genética de qualidade. É a criação de aves para o corte e para a produção de ovos.
Nas áreas rurais de quase todos os países do globo são criados gali-
Tipos de pecuária nhas e frangos, gansos, marrecos, codornas, perus e patos. O mais
Denomina-se de pecuária a criação e reprodução de animais importante rebanho de aves, quantitativamente e quanto ao valor
com finalidades econômicas. Os animais assim criados e reproduzi- econômico, consiste nos galináceos (frangos e galinhas).
dos são conhecidos como gado.
Diversos são os tipos de gado: os bovinos, os ovinos, os suínos, Tipos de criação galinácea
os caprinos, os asininos, os equinos e os muares. - Extensiva - destinada ao corte sendo a carne consumida pelo
próprio produtor ou enviada para frigoríficos com a objetivo de
Tipos de criação bovina aproveitamento econômico.
- Extensiva - gado solto nas pastagens onde são criados novi- - Intensiva - criação feita em granjas e fundamentalmente vol-
lhos e engordados o “gado de corte”, bois que servem para a produ- tada para a produção de ovos.
ção de carnes para mercado. Outras atividades
- Intensiva - gado criado em estábulos, normalmente vacas Piscicultura - criação e reprodução de peixes e crustáceos em
para a produção de leite. Na criação intensiva, a utilização de rações cativeiro (no Chile, destaca-se a criação de salmão; no Brasil está
adequadas e os cuidados veterinários possibilitam a inseminação bastante difundida a criação de trutas).
artificial e a seleção de touros e de raças. Sericicultura - criação de casulos de bichos-da-seda, ampla-
Os maiores rebanhos bovinos do mundo estão localizados na mente praticada na Ásia (China, Japão, República da Coreia ou Co-
Índia, nos Estados Unidos, na Rússia, no Brasil, na Austrália e na reia do Sul e na República Democrática da Coreia ou Coreia do Nor-
Argentina. te, os maiores produtores mundiais de seda).
Um tipo de gado bovino muito produzido hoje é o búfalo, prin-
cipalmente na Índia, na China, no Paquistão e nos Estados Unidos. Estrutura agrária
A expressão estrutura agrária é usada em sentido amplo, signi-
Tipos de criação ovina ficando a forma de acesso à propriedade da terra e à exploração da
- Intensiva - criação de ovelhas para a produção de lã, principal- mesma, indicando as relações entre os proprietários e os não pro-
mente na Austrália, na Nova Zelândia e na Rússia. prietários, a forma como as culturas se distribuem pela superfície
- Extensiva - ovelhas de corte para a produção de carne. da Terra (morfologia agrária) e como a população se distribui e se
relaciona aos meios de transportes e comunicações (habitat rural).
Tipos de criação suína A estrutura agrária são as características do espaço que são:
- Extensiva - criação de porcos para a produção de banha e de Estrutura fundiária- concentração de terras(muitas terras pouco uti-
carnes para consumo do próprio produtor. Nesse tipo de criação, lizada) Produção agrícola- exportação no caso do Brasil Relações de
pouco são os cuidados técnicos e com a higiene. trabalho- mão de obra , máquinas fazendo o trabalho que um dia
- Intensiva - porcos estabulados com cuidados científicos e mui- foi feito pelo homem
ta higiene; destinados a produção de couro e carnes para indústrias
e frigoríficos.

18
ATUALIDADES
A Fome no mundo – Produção, distribuição e consumo de ali- Globalização e sua influencia na economia
mentos Acima já falamos um pouco sobre o conceito da globalização,
Em várias partes do mundo persistem os problemas de saúde então aqui, falaremos sobre o papel da globalização na economia.
ligados à falta de alimentos. Segundo a Organização Mundial de Ao longo do século XX, a globalização do capital foi conduzindo
Saúde (OMS) a subnutrição ainda é causa indireta de cerca de 30% à globalização da informação e dos padrões culturais e de consumo.
das mortes de crianças no mundo. Afetando o desenvolvimento fí- Isso deveu-se não apenas ao progresso tecnológico, intrínseco à Re-
sico e mental de milhões de crianças, a subalimentação também volução Industrial, mas - e sobretudo - ao imperativo dos negócios.
compromete seu desenvolvimento intelectual e profissional, dimi- A tremenda crise de 1929 teve tamanha amplitude justamente por
nuindo o número de cidadãos preparados para contribuir com o ser resultado de um mundo globalizado, ou seja, ocidentalizado,
desenvolvimento de seus países. face à expansão do Capitalismo. E o papel da informação mundia-
Este é o ciclo vicioso a que são condenadas regiões pobres em lizada foi decisivo na mundialização do pânico. Ao entrarmos nos
todo o mundo: falta de acesso a alimentos gera subnutrição. Esta anos 80/90, o Capitalismo, definitivamente hegemônico com a ru-
prejudica o desenvolvimento intelectual e profissional de parte ína do chamado Socialismo Real, ingressou na etapa de sua total
da população. Na falta de cidadãos preparados, o crescimento da euforia triunfalista, sob o rótulo de Neo-Liberalismo. Tais são os
economia fica comprometido e desta forma não geram-se menos nossos tempos de palavras perfumadas: reengenharia, privatização,
recursos para produzir ou comprar alimentos para toda a população economia de mercado, modernidade e - metáfora do imperialismo
– principalmente aquela mais necessitada. Por isso, é preciso que os - globalização.
países detentores de tecnologia agrícola desenvolvida atuem nes- A classe trabalhadora, debilitada por causa do desemprego,
tes países na transferência de conhecimentos. resultante do maciço investimento tecnológico, ou está jogada no
A fome ainda presente no século XXI não é por falta de alimen- desamparo , ou foi absorvida pelo setor de serviços, uma econo-
tos. A produção mundial de comida é suficiente para abastecer os mia fluida e que não permite a formação de uma consciência de
atuais 7,3 bilhões de habitantes da Terra. Se parte da população classe. O desemprego e o sucateamento das conquistas sociais de
dos países menos desenvolvidos não tem acesso a quantidades su- outros tempos, duramente obtidas, geram a insegurança coletiva
ficientes de comida, isto se deve a fatores como insuficiente pro- com todas as suas mazelas, em particular, o sentimento de impo-
dução local; falta de recursos do país para adquirir alimentos no tência, a violência, a tribalização e as alienações de fundo místico
mercado internacional; e elevação dos preços internacionais devido ou similares. No momento presente, inexistem abordagens racio-
a ações especulativas, entre outros. nais e projetos alternativos para as misérias sociais, o que alimenta
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricul- irracionalismos à solta.
tura (FAO) alerta que a população mundial deverá atingir 9 bilhões A informação mundializada de nossos dias não é exatamente
em 2050, o que incrementará a procura por alimentos. Segundo os troca: é a sutil imposição da hegemonia ideológica das elites. Cria
especialistas, para fazer frente a esta demanda, o mundo deverá a aparência de semelhança num mundo heterogêneo - em qual-
atacar este problema em três frentes principais. Primeiro, aumentar quer lugar, vemos o mesmo McDonald`s, o mesmo Ford Motors, a
a produção de produtos agrícolas, sem comprometer os recursos mesma Mitsubishi, a mesma Shell, a mesma Siemens. A mesma in-
naturais, não avançando sobre áreas de vegetação natural. Isto sig- formação para fabricar os mesmos informados. Massificação da in-
nifica que o Brasil, por exemplo, precisará investir muito mais em formação na era do consumo seletivo. Via informação, as elites (por
pesquisa e tecnologia – o que em parte já vem fazendo – para obter que não dizer: classes dominantes?) controlam os negócios, fixam
uma melhor produtividade das áreas agrícolas já existentes. regras civilizadas para suas competições e concorrências e vendem
O segundo aspecto a ser considerado é a melhoria dos sistemas a imagem de um mundo antisséptico, eficiente e envernizado.
de armazenagem e distribuição das colheitas. Dados apontam que A alta tecnologia, que deveria servir à felicidade coletiva, está
cerca de 30% dos produtos agrícolas mundiais são perdidos entre o servindo a exclusão da maioria. Assim, não adianta muito exaltar as
campo e o ponto de venda do produto. Será necessário, na maioria conquistas tecnológicas crescentes - importa questionar a que - e a
dos países produtores, construir mais silos e armazéns, ampliar a quem - elas servem. A informação global é a manipulação da infor-
rede rodoviária, ferroviária e ampliar e modernizar as instalações mação para servir aos que controlam a economia global. E controle
portuárias. é dominação. Paralelamente à exclusão social, temos o individualis-
A última providência sugerida pelos estudiosos é reduzir a mo narcisístico, a ideologia da humanidade descartável, o que favo-
perda de alimentos nos pontos de venda e entre os consumidores. rece a cultura do efêmero, do transitório - da moda.
Segundo um relatório elaborado pela FAO, depois de comprados, De resto, se o trabalho foi tornado desimportante no imagi-
aproximadamente 50% dos alimentos são jogados fora, tanto na Eu- nário social, ofuscado pelo brilho da tecnologia e das propagandas
ropa quanto nos Estados Unidos. No Brasil aproxima 70.000 tonela- que escondem o trabalho social detrás de um produto lustroso,
das (aproximadamente 2.800 carretas) de alimentos acabam no lixo pronto para ser consumido, nada mais lógico que desvalorizar o
a cada ano no Brasil. Compra de produtos em excesso, mal acon- trabalhador - e, por extensão, a própria condição humana. Ou será
dicionamento são fatores que fazem com que milhões de famílias possível desligar trabalho e humanidade? É a serviço do interesse
descartem quantidade imensas de alimentos, sem reaproveitá-las. de minorias que está a globalização da informação.
No futuro serão necessárias campanhas em todos os países – prin- Ela difunde modas e beneficia o consumo rápido do descartá-
cipalmente os ricos – incentivando e ensinando o reaproveitamento vel - e o modismo frenético e desenfreado é imperativo às grandes
de alimentos. Se os alimentos forem melhor manuseados e aprovei- empresas, nesta época pós- keynesiana, em que, ao consumo de
tados, haverá comida para todos. massas, sucedeu a ênfase no consumo seletivo de bens descartá-
veis. Cumpre à informação globalizada vender a legitimidade de
tudo isso, impondo padrões uniformes de cultura, valores e com-
portamentos - até no ser “diferente” (diferente na aparência para
continuar igual no fundo). Por suposto, os padrões de consumo e
alienação, devidamente estandartizados, servem ao tédio do urba-
nóide pós-moderno.

19
ATUALIDADES
Nunca fomos tão informados. Mas nunca a informação foi tão Essas estratégias são na verdade cada vez mais excludentes. O
direcionada e controlada. A multiplicidade estonteante de informa- raio de ação das transnacionais se concentra na órbita dos países
ções oculta a realidade de sua monotonia essencial - a democrati- desenvolvidos e alguns poucos países periféricos que alcançaram
zação da informação é aparente, tal como a variedade. No fundo, certo estágio de desenvolvimento. No entanto, o caráter setorial e
tudo igual. Estamos - e tal é a pergunta principal - melhor informa- diferenciado dessa inserção tem implicado, por um lado, na consti-
dos? Controlada pelas elites que conhecemos, a informação globa- tuição de ilhas de excelência conectadas às empresas transnacio-
lizada é instrumento de domesticação social. nais e, por outro lado, na desindustrialização e o sucateamento de
grande parte do parque industrial constituído no período anterior
Principais tendências da globalização por meio da substituição de importações.
A crescente hegemonia do capital financeiro As estratégias globais das transnacionais estão sustentadas no
O crescimento do sistema financeiro internacional constitui aumento de produtividade possibilitado pelas novas tecnologias e
uma das principais características da globalização. Um volume cres- métodos de gestão da produção. Tais estratégias envolvem igual-
cente de capital acumulado é destinado à especulação propiciada mente investimentos externos diretos realizados pelas transnacio-
pela desregulamentação dos mercados financeiros. nais e pelos governos dos seus países de origem. A partir de 1985
Nos últimos quinze anos o crescimento da esfera financeira foi esses investimentos praticamente triplicaram e vêm crescendo em
superior aos índices de crescimento dos investimentos, do PIB e do ritmos mais acelerados do que o comércio e a economia mundial.
comércio exterior dos países desenvolvidos. Isto significa que, num Por meio desses investimentos as transnacionais operam pro-
contexto de desemprego crescente, miséria e exclusão social, um cessos de aquisição, fusão e terceirização segundo suas estratégias
volume cada vez maior do capital produtivo é destinado à especu- de controle do mercado e da produção. A maior parte desses fluxos
lação. de investimentos permanece concentrada nos países avançados,
O setor financeiro passou a gozar de grande autonomia em re- embora venha crescendo a participação dos países em desenvolvi-
lação aos bancos centrais e instituições oficiais, ampliando o seu mento nos últimos cinco anos. A China e outros países asiáticos, são
controle sobre o setor produtivo. Fundos de pensão e de seguros os principais receptores dos investimentos direitos.
passaram a operar nesses mercados sem a intermediação das insti- O Brasil ocupa o segundo lugar dessa lista, onde destacam-se
tuições financeiras oficiais. os investimentos para aquisição de empresas privadas brasileiras
O avanço das telecomunicações e da informática aumentou a (COFAP, Metal Leve etc.) e nos programas de privatização, em parti-
capacidade dos investidores realizarem transações em nível global. cular nos setores de infraestrutura.
Cerca de 1,5 trilhões de dólares percorre as principais praças finan-
ceiras do planeta nas 24 horas do dia. Isso corresponde ao volume Liberalização e Regionalização do Comércio
do comércio internacional em um ano. O perfil altamente concentrado do comércio internacional tam-
Da noite para o dia esses capitais voláteis podem fugir de um bém é indicativo do caráter excludente da globalização econômica.
país para outro, produzindo imensos desequilíbrios financeiros e Cerca de 1/3 do comércio mundial é realizado entre as matrizes e
instabilidade política. A crise mexicana de 94/95 revelou as conse- filiais das empresas transnacionais e 1/3 entre as próprias trans-
qüências da desregulamentação financeira para os chamados mer- nacionais. Os acordos concluídos na Rodada Uruguai do GATT e a
cados emergentes. Foram necessários empréstimos da ordem de criação da OMC mostraram que a liberação do comércio não resul-
38 bilhões de dólares para que os EUA e o FMI evitassem a falência tou no seu equilíbrio, estando cada vez mais concentrado entre os
do Estado mexicano e o início de uma crise em cadeia do sistema países desenvolvidos.
financeiro internacional. A dinâmica do comércio no Mercosul traduz essa tendência. Na
Ao sair em socorro dos especuladores, o governo dos Estados realidade a integração do comércio nessa região, a exemplo do que
Unidos demonstrou quem são os seus verdadeiros parceiros no ocorre com o Nafta e do que se planeja para a Alca em escala conti-
Nafta. Sob a forma da recessão, do desemprego e do arrocho dos nental, tem favorecido, sobretudo a atuação das empresas transna-
salários, os trabalhadores mexicanos prosseguem pagando a conta cionais, que constituem o carro chefe da regionalização.
dessa aventura. Nos períodos “normais” a transferência de riquezas O aumento do comércio entre os países do Mercosul nos últi-
para o setor financeiro se dá por meio do serviço da dívida públi- mos cinco anos foi da ordem de mais de 10 bilhões de dólares. Isto
ca, através da qual uma parte substancial dos orçamentos públicos se deve em grande parte às facilidades que os produtos e as empre-
são destinados para o pagamento das dívidas contraídas junto aos sas transnacionais passaram a gozar com a eliminação das barreiras
especuladores. O governo FHC destinou para o pagamento de juros tarifárias no regime de união aduaneira incompleta que caracteriza
da dívida pública um pouco mais de 20 bilhões de dólares em 96. o atual estágio do Mercosul.
No mesmo período, o Mercosul acumulou um déficit de mais
Novo Papel das Empresas Transnacionais de 5 bilhões de dólares no seu comércio exterior. Este resultado re-
As empresas transnacionais constituem o carro chefe da glo- flete as consequências negativas das políticas nacionais de estabili-
balização. Essas empresas possuem atualmente um grau de liber- zação monetária ancoradas na valorização do câmbio e na abertura
dade inédito, que se manifesta na mobilidade do capital industrial, indiscriminada do comércio externo praticadas pelos governos FHC
nos deslocamentos, na terceirização e nas operações de aquisições e Menem.
e fusões. A globalização remove as barreiras à livre circulação do O empenho das centrais sindicais para garantir os direitos
capital, que hoje se encontra em condições de definir estratégias sociais no interior desses mercados tem encontrado enormes re-
globais para a sua acumulação. sistências. As propostas do sindicalismo de adoção de uma Carta
Social do Mercosul, de democratização dos fóruns de decisão, de
fundos de reconversão produtiva e de qualificação profissional têm
sido rechaçadas pelos governos e empresas transnacionais.

20
ATUALIDADES
A liberalização do comércio e a abertura dos mercados nacio- Com o crescimento expressivo da atuação do capital em nível
nais têm produzido o acirramento da concorrência. A super explo- mundial, chegou-se a questionar o papel do Estado, isto é, o Esta-
ração do trabalho é cada vez mais um instrumento dessa disputa. O do seria de fato um agente importante neste processo ou atuaria
trabalho infantil e o trabalho escravo são utilizados como vantagens como um impeditivo para a livre circulação do capital, uma vez que
comparativas na guerra comercial. poderia criar regras ou leis que inviabilizariam a livre circulação do
Essa prática, conhecida como dumping (rebaixamento) social, capital? Segundo este raciocínio, as transnacionais estariam coman-
consiste precisamente na violação de direitos fundamentais, utili- dando a dinâmica econômica mundial em detrimento dos Estados.
zando a superexploração dos trabalhadores como vantagem com- Vale destacar que muitas empresas transnacionais passaram a de-
parativa na luta pela conquista de melhores posições no mercado sempenhar papéis que antes eram oferecidos pelo Estado, como
mundial. Nesse contexto, as conquistas sindicais são apresentadas serviços ligados à infraestrutura básica (exemplo: transporte e sa-
pelas empresas como um custo adicional que precisa ser eliminado neamento básico).
(“custo Brasil”, “custo Alemanha” etc.). No entanto, as sucessivas crises geradas pelo capitalismo mos-
traram que o papel do Estado não se apagou, como pensavam al-
Blocos econômicos e comércio mundial. guns, pelo contrário, em momentos de crise financeira, o Estado é
As transformações econômicas mundiais ocorridas nas últimas chamado a ajudar as empresas em dificuldade econômica. Portan-
décadas, sobretudo no pós segunda guerra mundial, são funda- to, o papel do Estado no contexto de globalização reestruturou-se,
mentais para entendermos as dinâmicas de poder estabelecidas passando este a atuar como um salvador dos excessos e econômi-
pelo grande capital e, também, pelas grandes corporações trans- cos promovidos pelas empresas nacionais ou internacionais, con-
nacionais. Além delas, não podemos deixar de mencionar a impor- trolando taxas de juros, câmbios, manutenção de subsídios em se-
tância crescente das instituições supranacionais, que atuam como tores estratégicos, bem como fiscalizando, direta e indiretamente,
verdadeiros agentes neste jogo de interesses, como por exemplo, o os recursos energéticos.
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, entre ou-
tros. A Formação dos Blocos Econômicos
O surgimento dos blocos econômicos coincide com a mudança
exercida pelo Estado. Em um primeiro momento, a ideia dos blocos
econômicos era de diminuir a influência do Estado na economia e
comércio mundiais. Mas, a formação destas organizações suprana-
cionais fez com que o estado passasse a garantir a paz e o cresci-
mento em períodos de grave crise econômica. Assim, a iniciativa
de maior sucesso até hoje foi a experiência vivida pelos europeus.
A União Europeia iniciou-se como uma simples entidade eco-
nômica setorial, a chamada CECA (Comunidade Europeia do Carvão
e do Aço, surgida em 1951) e depois, expandiu-se por toda a econo-
mia como “Comunidade Econômica Europeia” até atingir a confor-
mação atual, que extrapola as questões econômicas perpassando
por aspectos políticos e culturais.
Além da União Europeia, podemos citar o NAFTA (North Ameri-
can Free Trade Agreement, surgido em 1993); o Mercosul (Mercado
Nova York, uma das cidades mais globalizadas do mundo Comum do Sul, surgido em 1991); o Pacto Andino; a SADC (Comu-
(Foto: Wikimedia Commons) nidade de Desenvolvimento da África Austral, surgida em 1992),
entre outros. A busca pela ampliação destes blocos econômicos
O cenário que se afigura com a chegada destes novos agentes mostra que o jogo de poder exercido pelas nações tenta garantir as
econômicos é imprescindível para compreendermos o significado áreas de influência das mesmas, controlando mercados e estabele-
da chamada globalização econômica. Esta tem como características: cendo parcerias com nações que despertem o interesse dos blocos
-A ruptura de fronteiras, ou seja, tal ruptura é atribuída à dinâ- econômicos.
mica do capital, que circula livremente pelo globo, sem respeitar a Além disso, o jogo de poder também está presente interna-
delimitação de fronteiras territoriais; mente aos blocos, ou seja, existem países líderes dentro do bloco,
-Perda da soberania local, ou seja, países, estados e cidades que acabam submetendo os outros países do acordo aos seus inte-
tem que se submeter à lógica do capital para conseguir gerar lucro resses. Assim, nem sempre a constituição de um bloco econômico é
em seus orçamentos; benéfica a todos os membros; por exemplo, a constituição do NAF-
-Expansão da dinâmica do capital, fato que se relaciona à rup- TA (México, Canadá e EUA) fez com que a frágil economia mexicana
tura de fronteiras, ou seja, o capital se dirige agora também à pe- aumentasse ainda mais sua dependência em relação aos EUA, o Ca-
riferia do capitalismo, uma vez que as transnacionais compreende- nadá, por sua vez, passou a ser considerado uma extensão dos EUA,
ram que a exploração (no sentido de explorar a força de trabalho dada sua subordinação à economia de seu vizinho.
diretamente) dos países subdesenvolvidos promoveria grandes
lucros para estes.

21
ATUALIDADES
Divisão internacional de Trabalho Mas dentro do território está inserida uma cultura que é desen-
Recebe o nome de Divisão internacional de Trabalho (DIT), a volvida pelo povo, o significado é o conjunto de pessoas que vivem
prática de repartir as atividades e serviços entre os inúmeros países em uma nação, essa é constituída pela sociedade politicamente or-
do mundo. Trata-se de uma divisão produtiva em âmbito interna- ganizada com governos e leis próprias, para elaboração e realização
cional, onde os países emergentes ou em desenvolvimento, expor- do cumprimento de tais leis caracteriza o papel do estado, o estado,
tadores de matéria-prima, com mão-de-obra barata e de industria- nesse sentido, tem sua essência no valor político, pois significa que
lização quase sempre tardia, oferecem aos países industrializados, a nação é soberana, ou seja, exerce poder sobre seu território, e
economicamente mais fortes, um leque de benefícios e incentivos também é independente e reconhecida internacionalmente pelos
para a instalação de indústrias, tais como a isenção parcial ou total outros países.
de impostos, mão-de-obra abundante, leis ambientais frágeis, entre Estado tem outro significado que difere do citado anterior-
outras facilidades. mente, se define como divisão interna do país, ou seja, os estados
Um dos principais conceitos da DIT é que nenhum país conse- que compõe a federação (ex. Goiás, Rio de Janeiro), no entanto al-
gue ser competitivo em todos os setores, e de fato, acabam por se guns países usam outras expressões como cantões, repúblicas, pro-
direcionar suas economias. No fundo, o objetivo é o mesmo da divi- víncias etc., para designar as divisões internas dos países.
são de tarefas numa fábrica, o de gerar um elevado grau de especia- Alguns povos possuem cultura independente, porém não tem
lização para que a produção seja mais eficiente, exatamente como território, são os chamados minorias nacionais, que vivem subordi-
Adam Smith em sua Riqueza das Nações já afirmava no século XVIII. nados aos regimes políticos divergentes às suas culturas, são tam-
O processo de DIT se expandiu na mesma proporção do capi- bém denominadas de sentimento nacionalista que corresponde a
talismo no mundo moderno, expressando as diferentes fases da aspiração de um povo em conquistar a sua independência política e
evolução histórica do capitalismo, desde a ligação entre metrópo- territorial, do estado ao qual está subordinado.
les e colônias, chegando às relações em que países desenvolvidos Por causa disso, vários movimentos surgiram, sendo marcados
se agregam aos subdesenvolvidos. A é geralmente dividida em três muitas vezes por lutas armadas ou pacíficas, mas na maioria das
fases, obedecendo à dinâmica econômica e política do período his- vezes o primeiro perfil predomina, os principais povos sem terri-
tórico em que elas existiram. tório que buscam sua independência territorial e político-cultural
A primeira DIT corresponde ao final do século XV e ao longo do são o povo Basco, na Espanha, os Curdos, no Oriente Médio, Ira, na
século XVI, no qual o capitalismo estava em fase inicial, chamada Irlanda, entre outros.
de capitalismo comercial. Era caracterizado pela produção manual No mundo existem várias áreas de focos de tensão provocadas
a partir da extração de matérias-primas e acúmulo de minérios e por questões de fronteiras, que são as disputas territoriais por zona
metais preciosos por parte das nações (metalismo). de fronteira, nessas podemos citar o exemplo da China, Paquistão
A segunda DIT ocorre no século XVI, mas principalmente a par- e Índia, Armênia, a Irlanda do Sul e do Norte e a Faixa de Gaza. As
tir do século XVII, com a Primeira e a Segunda Revolução Indus- disputas por territórios fazem crescer a produção bélica no mundo
trial. As colônias e os países subdesenvolvidos passaram a fornecer e aumenta os focos de possíveis confrontos armados.
também produtos agrícolas, assim como vários tipos de minerais e As lutas das minorias nacionais e as disputas por zona de fron-
especiarias. teira têm alterado a configuração das fronteiras em várias partes do
Finalmente, a terceira DIT ou “Nova DIT” surge no século XX, mundo, atualmente os cartógrafos têm encontrado muito trabalho
com a revolução técnico-científica-informacional e a consolidação para elaboração de mapas políticos, pois as questões geopolíticas
do capitalismo financeiro, que permite a expansão das grandes deixam as delimitações em constante processo de mutação, no sé-
multinacionais pelo mundo. Nesse período, os países subdesenvol- culo XX, a Europa foi a região do mundo que mais sofreu a modifi-
vidos iniciam seus processos tardios de industrialização, entre eles o cações.
Brasil. Tal acontecimento foi possível graças à abertura do mercado Indústrias consideradas poluidoras também procuram cada vez
financeiro desses países e pela instalação de empresas multinacio- mais os países subdesenvolvidos, onde seu consumo de grandes
nais ou globais, oriundas, quase sempre, de países desenvolvidos. quantidades de matéria-prima e de energia é ignorado além da far-
Uma das críticas à DIT é que seu processo se dá de maneira ta e barata mão-de-obra a disposição.
desigual, onde os países industrializados costumam levar vanta-
gem no comércio global. Além disso, as empresas transnacionais Estados Territoriais e Estados Nacionais
buscam seus próprios interesses, sem considerar as consequências
sociais, econômicas e ambientais nos países onde suas filiais estão
instaladas.

Nação e Território
Território significa os limites que delimitam ou separam um ter-
ritório do outro formando várias fronteiras em todo mundo, essas
delimitam o mundo em mais de 190 países, os territórios são con-
cebidos através de acordos ou conflitos, esses são estabelecidos de
acordo com os interesses socioeconômicos e culturais.
A partir das divisões dos países formam-se variadas culturas,
entende-se por cultura o conjunto de conhecimentos humanos ad-
quiridos a partir das relações sociais ao longo do tempo e que são
passadas para as gerações subsequentes, é o aspecto que mais ca-
racteriza os grupos humanos.
Alguns elementos são determinantes na composição de qual-
quer cultura, seja ela arcaica ou moderna, os elementos que mais
demonstram a identidade cultural são, principalmente, a língua e
a religião.

22
ATUALIDADES
As fronteiras definem a extensão geográfica da soberania do Pouco depois, o novo Estado encontrou a sua moldura jurídica.
estado. No interior do espaço que delimitam, no território nacio- A Constituição francesa de 1791 adotou a doutrina dos Três Pode-
nal, o poder do estado é soberano. É ele que estabelece as divisões res de Montesquieu, estabelecendo a separação entre os poderes
internas, realiza os censos, organiza as informações sobre a popu- básicos do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário. Em 1792, a
lação e as atividades econômicas e formulas estratégicas de desen- Revolução derrubou a monarquia e proclamou a República. Uma
volvimento ou de proteção desse território. convenção nacional, eleita pelo sufrágio universal, reunia os repre-
A noção política de fronteira foi elaborada pelo Império Roma- sentantes do povo. Definia-se, assim, o formato do Estado nacional
no. O limes – uma linha demarcatória dos limites do império – sepa- contemporâneo.
rava os romanos dos “bárbaros”. As célebres legiões romanas pro-
tegiam o império guarnecendo os limes. Estar no interior do espaço
demarcado pelo limes era fazer parte da civilização romana. Estar
no exterior desse espaço equivalia a ser bárbaro, termo depreciati-
vo que englobava em um único conjunto uma infinidade de povos.
A noção contemporânea de fronteira política internacional se-
parando Estados soberanos, porém, surgiu no final da Idade Média,
com os Estados territoriais.
O Estado territorial originou-se na Europa do Renascimento,
quando o poder político foi unificado pelas monarquias e ganhou
uma base geográfica definida, passível de ser delimitada por fron-
teiras lineares. Nessa época, foram criados exércitos regulares sob
as ordens do rei e corpos estáveis de funcionários burocráticos,
que, entre outras coisas, organizavam a coleta dos impostos. Algu-
mas cidades tornaram-se capitais permanentes, residência fixa de
monarcas e sede de aparelho administrativo. Organização do Estado Nacional
O Estado territorial correspondeu à monarquia absolutista. O Estado se manifesta por seus órgãos que são:
Nele. o território era patrimônio do monarca, fonte de toda sobe-
rania. Os súditos, ou seja, todos aqueles que viviam nos territórios a) Supremos (constitucionais) – a estes incumbe o exercício do
unificados pela soberania do monarca, deviam-lhe obediência e le- poder político. Formam o governo ou os órgãos governamentais.
aldade. São estudados pelo Direito Constitucional.
b) Dependentes (administrativos) – formam a Administração
Pública. São estudados pelo Direito Administrativo.

Administração Pública
“É o conjunto de meios institucionais, materiais, financeiros e
humanos preordenados à execução das decisões políticas”.

Conclui-se assim que:

- ela é subordinada ao poder político


- é meio (e não fim)
- é conjunto de órgãos a serviço do poder político e das ativida-
des administrativas.

Organização Administrativa
É imputada a diversas entidades governamentais autônomas,
daí porque temos:
A Revolução francesa de 1789 assinalou um momento-chave
da transformação do estado territorial absolutista em Estado nacio- - A Adm. Pública Federal (da União)
nal. A revolta da burguesia contra o poder absoluto do monarca e - A Adm. Pública Estadual (de cada Estado)
contra os privilégios da nobreza explodiu em 20 de junho de 1789, - A Adm. Pública municipal ou local (do DF e de cada Municí-
quando seus representantes exigiram que o rei convocasse uma As- pio).
sembleia Constituinte. Depois da Queda da Bastilha, a Assembleia
Constituinte revogou os privilégios da nobreza e do clero, tais como Cada uma delas pode descentralizar-se formando:
servidão, dízimos, monopólios, isenções de impostos e tribunais a) Administração Direta (centralizada) conjunto de órgãos su-
especiais. No dia 26 de agosto daquele ano, era divulgada a Decla- bordinados diretamente ao respectivo poder executivo;
ração dos Direitos do Homem. Esse documento não só previa prin- b) Administração Indireta (descentralizada) - com órgãos inte-
cípios e garantias fundamentais, como a liberdade, a segurança e a grados nas muitas entidades personalizadas de prestação de servi-
propriedade, como estabelecia o direito à rebelião contra a tirania. ços ou exploração de atividades econômicas.
A soberania era retirada das mãos do rei e transferida para o povo,
ou seja, para os cidadãos.

23
ATUALIDADES
Formam a Adm. indireta: Governo e Administração
O próprio Hely Lopes Meirelles tinha dificuldades em distinguir
- autarquias governo e de administração. Todavia, demonstrava que o governo
- empresas públicas (e suas subsidiárias) significava a totalidade de órgãos representativos da soberania e a
- sociedades de economia mista (e suas subsidiárias) administração pública, subordinada diretamente ao poder execu-
- fundações públicas (fundações instituídas ou mantidas pelo tivo, alcançava o complexo de funções que esse órgão exercitava
poder público) no desempenho de atividades, que interessam ao Estado e ao seu
povo”.
As autarquias são alongamentos do Estado. Possuem persona-
lidade de direito público e só realizam serviços típicos, próprios do Organização do Estado e da Administração
Estado. A lei 7032/82 autoriza o Poder Executivo a transformar au- A organização do Estado é matéria constitucional. São tratados
tarquia em empresa pública. sob este tema a divisão política do território nacional, a estrutura-
As empresas públicas e sociedades de economia mista são pes- ção dos Poderes, a forma de Governo, a investidura dos governan-
soas jurídicas de direito privado, criadas por lei (vide art. 37, XIX tes e os direitos e as garantias dos governados. Realizada a orga-
e XX, CF). O que as diferencia é a formação e a administração do nização política do Estado soberano, nasce por meio de legislação
capital. Na empresa pública este capital é 100% público. Na socie- complementar e ordinária, a organização administrativa das entida-
dade de economia mista há participação do Poder Público e de par-
des estatais, das autarquias e empresas estatais que realizarão de
ticulares na formação do capital e na sua administração. O controle
forma desconcentrada e descentralizada os serviços públicos e as
acionário é sempre público (a maioria das ações com direito a voto
demais atividades de interesse coletivo.
deve pertencer ao poder público). Tanto uma como outra explora
O Estado Federal brasileiro compreende a União, os Estados-
atividades econômicas ou presta serviços de interesse coletivo, ou-
torgado ou delegado pelo Estado (vide art. 173, § 1o, CF). Elas estão -membros, o Distrito Federal e os Municípios. Estas são, assim, as
sujeitas a regime jurídico próprio das empresas privadas (inclusive entidades estatais brasileiras que possuem autonomia para fazer as
quanto às obrigações trabalhistas e tributárias) e não podem gozar suas próprias leis (autonomia política), para ter e escolher gover-
de privilégios fiscais não extensivos ao setor privado (vide art. 173, no próprio (autonomia administrativa) e auferir e administrar a sua
§ 2o, CF). renda própria (autonomia financeira). As demais pessoas jurídicas
As fundações públicas, pessoas jurídicas de direito privado, são instituídas ou autorizadas a se constituírem por lei ou se constituem
universalidades de bens, personalizada, em atenção a fins não lu- de autarquias, ou de fundações, empresas públicas, ou entidades
crativos e de interesse da coletividade (educação, cultura, pesquisa paraestatais. Ou seja, estas últimas são as componentes da Admi-
científica etc.). Ex.: Funai, Fundação Getúlio Vargas, Fundação de nistração centralizada e descentralizada.
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Febem etc. A instituição A organização da Administração ocorre em um momento pos-
de fundações públicas também depende de lei (vide art. 37, XIX, terior à do Estado. No Brasil, após a definição dos três Poderes que
CF). integram o Governo, é realizada a organização da Administração, ou
O estudo da Administração Pública tem como ponto de partida seja, são estruturados legalmente as entidades e os órgãos que re-
o conceito de Estado. A partir daí é que se vislumbram as considera- alizarão as funções, por meio de pessoas físicas chamadas de agen-
ções a respeito das competências de prestação de serviços públicos tes públicos. Tal organização se dá comumente por lei. Ela somente
aos seus cidadãos. se dará por meio de decreto ou de normas inferiores quando não
implicar na criação de cargos ou aumento da despesa pública.
Estado de Direito O direito administrativo estabelece as regras jurídicas que orga-
Predominantemente vive-se hoje em Estados de Direito, ou nizam e fazem funcionar os órgãos do complexo estatal.
seja, em Estados juridicamente organizados que obedecem às suas Medauar indica que a Administração Pública é o objeto precí-
próprias leis. puo do direito administrativo e se encontra inserida no Poder Exe-
cutivo. Dois são os ângulos em que a mesma pode ser considerada,
Administração Pública funcional ou organizacional.
É necessário que se compreenda o significado de administra- No sentido funcional, Administração Pública representa uma
ção pública para o bom entendimento a respeito do que se preten-
série de atividades que trabalham como auxiliares das instituições
de estudar neste momento.
políticas mais importantes no exercício de funções de governo. Aqui
De Plácido e Silva define Administração Pública, lato sensu,
são organizadas as prestações de serviços públicos, bens e utilida-
como uma das manifestações do poder público na gestão ou exe-
des para a população. Em face da dificuldade de se caracterizar ob-
cução de atos ou de negócios políticos. A Administração Pública se
confundiria, assim, com a própria função política do poder público, jetivamente a Administração Pública, autores distintos fazem sua
expressando um sentido de governo que se entrelaçaria com o da identificação de modo residual, ou seja, as atividades administra-
administração e lembrando-se que a política pode ser compreen- tivas seriam aquelas que não são nem legislativas, nem judiciárias.
dida como a ciência de bem governar um povo constituído sob a Já sob o aspecto organizacional, por Administração Pública po-
forma de um Estado. de-se entender o conjunto de órgãos e entes estatais responsáveis
Administração pública seria, então, simples direção ou gestão pelo atendimento das necessidades de interesse público. Aqui a Ad-
de negócios ou serviços públicos, realizados por suas entidades ou ministração Pública é vista como ministérios, secretarias, etc.
órgãos especializados, para promover o interesse público. José Cretella Jr utiliza o critério residual para definir a Adminis-
A administração pública federal cuida dos interesses da União, tração Pública por aquilo que ela não é. A Administração Pública
a Estadual dos Estados, a municipal dos interesses dos municípios seria toda a atividade do Estado que não seja legislar ou julgar.
e a distrital dos mesmos assuntos do governo do Distrito Federal, Já pelo critério subjetivo, formal ou orgânico a Administração
sede da Capital Federal. seria o conjunto de órgãos responsáveis pelas funções administra-
tivas. Administração seria uma rede que fornece serviços públicos,
aparelhamento administrativo, sede produtora de serviço.

24
ATUALIDADES
O critério objetivo ou material considera a Administração uma No plano interno, o poder soberano não encontra limites ju-
atividade concreta desempenhada pelos órgãos públicos e destina- rídicos. Mas parte da doutrina entende que a soberania estatal é
da à realização das necessidades coletivas, direta e imediatamente. restringida por princípios de direito natural, além de limites ideoló-
O mesmo autor, em seu livro Direito Administrativo Brasileiro, gicos (crenças e valores nacionais) e limites estruturais da socieda-
utiliza a opinião de Laband e relembra não se poder esquecer que de (sistema produtivo, classes sociais). Já no plano internacional, a
Administração, no campo do direito público, tem o significado per- soberania estatal encontra limites no princípio da coexistência pací-
feito de “gerenciamento de serviços públicos”. fica das soberanias estatais.

Elementos do Estado Poder Global e a Nova ordem mundial


Os três elementos do Estado são o povo, o território e o go- A Nova Ordem Mundial – ou Nova Ordem Geopolítica Mun-
verno soberano. O povo pode ser entendido como o componente dial – significa o plano geopolítico internacional das correlações de
humano de cada Estado. Já o território pode ser concebido como a poder e força entre os Estados Nacionais após o final da Guerra Fria.
base física sobre a qual se estabelece o próprio Estado. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o esfacelamento
Governo soberano, por sua vez, é o elemento condutor do Es- da União Soviética, em 1991, o mundo se viu diante de uma nova
tado. Ele detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e configuração política. A soberania dos Estados Unidos e do capita-
auto-organização emanado do povo. lismo se estendeu por praticamente todo o mundo e a OTAN (Orga-
A chamada vontade estatal se apresenta e se manifesta por nização do Tratado do Atlântico Norte) se consolidou como o maior
meio dos Poderes de Estado. e mais poderoso tratado militar internacional. O planeta, que antes
1. Território: base física do Estado; se encontrava na denominada “Ordem Bipolar” da Guerra Fria, pas-
2. Povo: associação humana; sou a buscar um novo termo para designar o novo plano político.
3. Governo: comando por parte de autoridade soberana. A primeira expressão que pode ser designada para definir a
Nova Ordem Mundial é a unipolaridade, uma vez que, sob o ponto
de vista militar, os EUA se tornaram soberanos diante da impossi-
bilidade de qualquer outro país rivalizar com os norte-americanos
nesse quesito.
A segunda expressão utilizada é a multipolaridade, pois, após
o término da Guerra Fria, o poderio militar não era mais o critério
principal a ser estabelecido para determinar a potencialidade global
de um Estado Nacional, mas sim o poderio econômico. Nesse plano,
1. Território novas frentes emergiram para rivalizar com os EUA, a saber: o Japão
É a base física sobre a qual se fixa o povo e se exerce o poder e a União Europeia, em um primeiro momento, e a China em um
estatal. Cuida-se da esfera territorial de validade da ordem jurídica segundo momento, sobretudo a partir do final da década de 2000.
nacional (KELSEN). Por fim, temos uma terceira proposta, mais consensual: a uni-
multipolaridade. Tal expressão é utilizada para designar o duplo ca-
2. Povo ráter da ordem de poder global: “uni” para designar a supremacia
Conjunto das pessoas dotadas de capacidade jurídica para militar e política dos EUA e “multi” para designar os múltiplos cen-
exercer os direitos políticos assegurados pela organização estatal. tros de poder econômico.
Difere-se da população, cujo conceito envolve aspectos mera-
mente estatísticos do número total de indivíduos que se sujeitam Mudanças na hierarquia internacional
ao poder do Estado, incluindo, por exemplo, os estrangeiros, apátri- Outra mudança acarretada pela emergência da Nova Ordem
das e os visitantes temporários. Mundial foi a necessidade da reclassificação da hierarquia entre os
Povo também não se confunde com “nação”. Embora o concei- Estados nacionais. Antigamente, costumava-se classificar os países
to de nação esteja ligado ao conceito de povo, contém um sentido em 1º mundo (países capitalistas desenvolvidos), 2º mundo (países
político próprio: a nação é o povo que já adquiriu a consciência de socialistas desenvolvidos) e 3º mundo (países subdesenvolvidos e
si mesmo. emergentes). Com o fim do segundo mundo, uma nova divisão foi
O povo é o titular da soberania (art. 1º, parágrafo único, da elaborada.
CF/88). É aos componentes do povo que se reservam os direitos A partir de então, divide-se o mundo em países do Norte (de-
inerentes à cidadania. No Brasil, contudo, a regra de que os direitos senvolvidos) e países do Sul (subdesenvolvidos), estabelecendo
políticos são reservados somente a quem pertença ao povo com- uma linha imaginária que não obedece inteiramente à divisão nor-
porta exceção, por causa do regime de equiparação entre brasilei- te-sul cartográfica, conforme podemos observar na figura abaixo.
ros e portugueses, quando houver reciprocidade (art. 12, § 1º, da
CF/88).
3. Governo
É o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem
jurídica e da administração pública.
Deve ser soberano, ou seja, absoluto, indivisível e incontestá-
vel no âmbito de validade do ordenamento jurídico estatal. Todavia,
existem formas estatais organizadas sob dependência substancial
de outras (exemplos: San Marino, Mônaco, Andorra, Porto Rico),
que por isso não podem ser chamadas de Estado perfeito. Ou seja,
a soberania é uma qualidade do poder que mantém estreita ligação
com o âmbito de validade e eficácia da ordem jurídica. Trata-se da
característica de que se reveste o poder absoluto e originário do
governo, que é exercitado em nome do povo.

25
ATUALIDADES

Mapa com a divisão norte-sul e a área de influência dos principais centros de poder

É possível perceber, no mapa acima, que a divisão entre norte e sul não corresponde à divisão estabelecida usualmente pela Linha
do Equador, uma vez que os critérios utilizados para essa divisão são econômicos, e não cartográficos. Percebe-se que alguns países do
hemisfério norte (como os Estados do Oriente Médio, a Índia, o México e a China) encontram-se nos países do Sul, enquanto os países do
hemisfério sul (como Austrália e Nova Zelândia), por se tratarem de economias mais desenvolvidas, encontram-se nos países do Norte.
No mapa acima também podemos visualizar as áreas de influência política dos principais atores econômicos mundiais. Vale lembrar,
porém, que a área de influência dos EUA pode se estender para além da divisão estabelecida, uma vez que sua política externa, muitas
vezes, atua nas mais diversas áreas do mundo, com destaque para algumas regiões do Oriente Médio.

A “Guerra ao terror”
Como vimos, após o final da Guerra Fria, os Estados Unidos se viram isolados na supremacia bélica do mundo. Apesar de a Rússia ter
herdado a maior parte do arsenal nuclear da União Soviética, o país mergulhou em uma profunda crise ao longo dos anos 1990 e início dos
anos 2000, o que não permitiu que o país mantivesse a conservação de seu arsenal, pois isso custa muito dinheiro.
Em face disso, os Estados Unidos precisavam de um novo inimigo para justificar os seus estrondosos investimentos em armamentos e
tecnologia bélica. Em 2001, entretanto, um novo inimigo surgiu com os atentados de 11 de Setembro, atribuídos à organização terrorista
Al-Qaeda.

A tragédia de 11 de Setembro vitimou centenas de pessoas, mas motivou os EUA a gastarem ainda mais com armas.

Com isso, sob o comando do então presidente George W. Bush, os Estados Unidos iniciaram uma frenética Guerra ao Terror, em que
foram gastos centenas de bilhões de dólares. Primeiramente os gastos se direcionaram à invasão do Afeganistão, em 2001, sob a alegação
de que o regime Talibã que governava o país daria suporte para a Al-Qaeda. Em segundo, com a perseguição dos líderes dessa organização
terrorista, com destaque para Osama Bin Laden, que foi encontrado e morto em maio de 2011, no Paquistão.
O que se pode observar é que não existe, ao menos por enquanto, nenhuma nação que se atreva a estabelecer uma guerra contra o
poderio norte-americano. O “inimigo” agora é muito mais difícil de combater, uma vez que armas de destruição em massa não podem ser
utilizadas, pois são grupos que atacam e se escondem em meio à população civil de inúmeros países.
Fronteiras Estratégicas e os muros que dividem o mundo

A expressão Cortina de ferro refere-se à fronteira que, a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, dividiu a Europa ocidental do leste
Europeu, região dominada pela União Soviética. Em um dos discursos mais famosos do período da Guerra Fria, Winston Churchill, então
primeiro-ministro britânico, afirmou que:

26
ATUALIDADES
“De Estetino, no [mar] Báltico, até Trieste, no [mar] Adriático, Embora os tempos de Globalização apregoem a maior aproxi-
uma cortina de ferro desceu sobre o continente. Atrás dessa linha mação das diferentes partes do planeta, com a diminuição das dis-
estão todas as capitais dos antigos Estados da Europa Central e tâncias e dos obstáculos, ainda são vários os muros que dividem
Oriental. Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bu- o mundo e que continuam a difundir-se por ele. Se, de um lado,
careste e Sófia; todas essas cidades famosas e as populações em temos a facilidade do deslocamento e da comunicação, por outro
torno delas estão no que devo chamar de esfera soviética, e todas temos a adoção de políticas de contenção dessas facilidades, atra-
estão sujeitas, de uma forma ou de outra, não somente à influência vés da imposição de barreiras que visam, sobretudo, à divisão das
soviética mas também a fortes, e em certos casos crescentes, medi- pessoas e à materialização das fronteiras que existem somente na
das de controle emitidas de Moscou.” imaginação política dos governos e de alguns povos.
Era 5 de março de 1946 e a Segunda Guerra Mundial recém A seguir você poderá conferir um breve resumo dos principais
acabara. Vivia-se um período de tensão entre a comunista União muros do mundo na atualidade. Se, antes, o Muro de Berlim era
Soviética e as outras potências Aliadas, todas de economia capitalis- alcunhado pelos países ocidentais capitalistas de “Muro da Vergo-
ta. O discurso de Churchill é considerado um marco para o início da nha”, o que dizer então dos muros atuais erguidos por esses mes-
Guerra Fria, pois colocou fim à aliança que derrotara Alemanha na mos países?
Guerra e iniciou o processo de divisão da Europa e, posteriormente,
do mundo, em duas zonas de influência: capitalista e comunista. Muro de Israel
A expressão usada por Churchill era uma metáfora sobre a in- O Muro de Israel – também chamado de Muro da Cisjordânia
fluência soviética na região e a separação econômica existente en- – é um dos mais polêmicos muros da atualidade, pois se estabelece
tre o leste europeu e a Europa capitalista. No entanto, a metáfora em torno da área onde se encontram os territórios dos povos pales-
tornou-se realidade com a construção de muros militarmente pro- tinos, que perderam parte de suas áreas após a instauração do Es-
tegidos pelos soviéticos, sendo o Muro de Berlim o mais famoso tado de Israel pela ONU em 1947 e os desdobramentos posteriores
deles. a esse episódio histórico.
No mesmo discurso, Churchill disse ainda que era necessário
evitar que outra catástrofe como o nazifascismo voltasse a destruir
a Europa. Referia-se ao comunismo. Em resposta, Stálin, líder da
União Soviética, afirmou que as baixas soviéticas durante a guerra
haviam sido muito maiores que as britânicas ou norte-americanas e
que, portanto, era os soviéticos que a Europa devia agradecer pela
libertação do nazifascismo.
Em 1985, Mikhail Gorbachev assumiu a liderança da União So-
viética e deu início a um processo de abertura politica e econômica
do regime, chamadas, respectivamente, de perestroika e glasnost.
Tais reformas contribuíram para diminuir a tensão entre o bloco
capitalista e a União Soviética, mas resultaram no fim da mesma.
Em 1989, com a queda do Muro de Berlim, o mundo polarizado
começou a ruir. Com a derrubada de Gorbachev, em 1991, o regime
soviético chegou ao fim. Trinta anos depois de criada, a cortina de
ferro se abriu definitivamente.
São vários os muros que dividem o mundo. Os de maior evidên- Imagem do Muro de Israel, na Cisjordânia
cia estão no México, na Cisjordânia, em Ceuta e Melilla, no Chipre,
além de inúmeros outros casos e exemplos. A construção desse muro iniciou-se em 2002 e ainda se encon-
tra em fase de execução. Seu objetivo é isolar os povos islâmicos da
Cisjordânia do território judeu sob a alegação de que, assim, evi-
tar-se-ia a proliferação de atentados terroristas. A perspectiva é de
que, ao final, o muro da Cisjordânia tenha pouco menos de 800 km.
Existem várias críticas direcionadas ao Muro de Israel, como a
de que ele separaria famílias, isolaria os povos palestinos de suas
fontes de trabalho e de recursos naturais, além de acusações que
afirmam que esse muro estaria sendo construído em áreas para
além da fronteira, reduzindo ainda mais o território já diminuto dos
palestinos.

Os muros proliferam-se nas fronteiras políticas e atuais do


mundo

27
ATUALIDADES
Muro do México Muro do Chipre (linha verde)
O Muro do México vem sendo construído desde 1994 pelos O Muro do Chipre, também chamado de Linha Verde, é uma
Estados Unidos, principalmente com a articulação dos acordos re- barreira dentro da ilha europeia que já foi dominada por vários po-
ferentes ao NAFTA (Tratado de Livre Comércio da América do Nor- vos ao longo da história. Após a independência do país, iniciaram-se
te). Construído em várias partes da fronteira entre os dois países vários conflitos envolvendo a maioria turca e a minoria grega. Por
e contando, atualmente, com mais de mil e cem quilômetros de essa razão, foram promovidas várias tentativas de paz que culmina-
extensão, o seu objetivo é conter a onda migratória de mexicanos e ram no estabelecimento da linha verde pela ONU e na construção
outros povos em direção aos EUA. do muro na cidade de Nicósia, em 1974.

Vista do Muro do Chipe, na linha verde de Nicósia

Apesar de parte do muro ter sido destruída e de haver certa


Muro construído nos arredores da cidade mexicana de Tijuana tensão entre os dois lados, ele ainda existe. No entanto, é permitido
cruzar de um lado para outro, embora a barreira ainda sirva como
Além da barreira em si, o Muro do México conta com fiscais uma espécie de vigilância e também como uma forma de demarca-
dentro e fora de suas construções, além de equipamentos detecto- ção territorial.
res de movimento e outras formas de vigiar a fronteira. No entanto, Além de todas essas barreiras, ainda existem vários outros mu-
mesmo com a existência da barreira, são muitos os mexicanos que ros espalhados pelo mundo, como o construído pelo Egito na região
migram de uma área para outra, isso sem mencionar o número de de fronteira com a Faixa de Gaza; o que divide o Kwait do Iraque e
pessoas que morrem durante o percurso, feito muitas vezes por es- até mesmo um muro entre Índia e Paquistão na Caxemira, além de
pecialistas em tráfico de pessoas, os chamados “coiotes”. outros casos. De toda forma, a existência desses muros derruba o
Esse muro é considerado por muitos um símbolo da ordem ge- mito de que, com os avanços tecnológicos, as fronteiras estariam
opolítica atual, que é marcada pela divisão do mundo entre os paí- mais fluidas e menos fortes. Pelo contrário, a fixação dessas frontei-
ses do norte desenvolvido e do sul subdesenvolvido, expressando, ras ainda continua sendo uma tônica no contexto geopolítico global
assim, as relações de desigualdade econômica e histórica, além das contemporâneo.
relações de dependência entre as diferentes partes do planeta.
Elementos de política brasileira.
Muros de Ceuta e Melilla
As cidades de Ceuta e Melilla encontram-se no extremo nor- A primeira constatação que se pode fazer a propósito da prová-
te do continente africano, no Marrocos, e são banhadas pelo Mar vel política externa do futuro governo do presidente Luís Inácio Lula
Mediterrâneo. No entanto, elas são de domínio espanhol, sendo da Silva é a de que se tratará de uma diplomacia evolutiva, tanto
consideradas como cidades autônomas da Espanha. Por esse moti- em seus contornos conceituais como em seu modus operandi. No
vo, são muitos os imigrantes africanos que se deslocam para essas dia seguinte à sua eleição consagradora no segundo turno das elei-
áreas com vistas a alcançar o território espanhol. ções presidenciais, e não conhecido ainda o nome que integrará seu
futuro governo na qualidade de chanceler – que poderia ser tanto
um representante da diplomacia profissional, como um “civil” com
conhecimento da área –, pode-se dizer que o PT percorreu um lon-
go caminho de construção tentativa de um pensamento em política
externa, desde o programa de cunho socializante do partido criado
mais de duas décadas atrás, até o programa da campanha presiden-
cial de 2002 e, mais importante, o primeiro pronunciamento oficial
do presidente eleito, em 28 de outubro de 2002.
Com efeito, o programa fundacional do PT previa uma “política
internacional de solidariedade entre os povos oprimidos e de res-
peito mútuo entre as nações que aprofunde a cooperação e sirva
à paz mundial. O PT apresenta com clareza sua solidariedade aos
movimentos de libertação nacional...” Não constava, do primeiro
Muro construído na cidade de Melilla * programa, menção explícita à “política externa”, mas, o “plano de
ação” contemplava os seguintes pontos em seu item “VIIndepen-
Sendo assim, a Espanha também decidiu pela criação de dois dência Nacional: contra a dominação imperialista; política externa
muros, um em cada cidade. Mesmo assim, o número de imigrantes independente; combate a espoliação pelo capital internacional;
é muito alto e não são raras as pessoas que morrem partindo em respeito à autodeterminação dos povos e solidariedade aos povos
direção ao território espanhol através do Mar Mediterrâneo. A ex- oprimidos”.
tensão desses muros é de 20 km.

28
ATUALIDADES
Como se vê, uma plataforma típica dos partidos esquerdistas Em todo caso, a partir desse período, Lula passou a viajar bas-
da América Latina no período clássico da Guerra Fria e dos “movi- tante pelo Brasil e ao exterior e patrocinou em São Paulo um “foro”
mentos de libertação nacional”. de partidos de esquerda da América Latina, que depois consolidou-
Desde então, o partido e seus dirigentes evoluíram sensivel- -se como reunião periódica de formações “progressistas” da região
mente, mas o itinerário não deixou de ser algo errático, ou pelo me- e contrárias às supostas ou reais políticas “neoliberais” de estabi-
nos hesitante (ou relutante) na adesão a princípios consagrados da lização econômica no continente. A despeito de uma condenação
política externa brasileira, como poderia ser observado mediante genérica do chamado “consenso de Washington”, o candidato do
um exame perfunctório dos principais temas de relações interna- PT também desenvolveu um maior conhecimento a respeito das
cionais do Brasil selecionados como plataforma de campanha nas opções na frente externa, tendo chegado a posições definidas, em-
eleições presidenciais de 1989 até hoje. Vejamos rapidamente algu- bora nem todas explícitas, em relação aos grandes problemas inter-
mas dessas posições. nacionais enfrentados pelo Brasil.
Em 1989, a principal característica do candidato Lula era sua O PT foi também o que primeiro definiu um programa de Gover-
identificação com a luta dos oprimidos da América Latina. O can- no para as eleições de 1994, com propostas bem articuladas, mas
didato do PT apresentou um amplo e abrangente programa de go- por vezes contraditórias, que refletiam um intenso debate interno
verno e, segundo se depreendia das resoluções políticas adotadas entre as diversas correntes do partido. Alguns grupos representa-
pelo Partido em seu IV Encontro Nacional (junho de 1989), preten- tivos de “minorias” (negros, ecologistas, homossexuais e outros
dia propor uma “política externa independente e soberana, sem grupos de “excluídos” ou “marginalizados”) lograram incluir suas
alinhamentos automáticos, pautada pelos princípios de autodeter- reivindicações específicas nesse programa. Com base no programa
minação dos povos, não-ingerência nos assuntos internos de outros do Partido e em texto assinado pelo próprio candidato, quais foram,
países e pelo estabelecimento de relações com governos e nações em todo caso, os principais elementos da agenda do PT em relação
em busca da cooperação à base de plena igualdade de direitos e à política externa nacional e às relações internacionais nesse ano
benefícios mútuos”. do Plano Real (definido pelo PT como um “estelionato eleitoral”)?
Mesmo se esses princípios não diferiam muito da política ex- O problema básico da política externa brasileira, tal como de-
terna efetivamente seguida pelo Brasil, ainda assim uma vitória do tectado no programa, foi designado como sendo a ausência, “há
candidatotrabalhador, representaria uma reavaliação radical das mais de quinze anos, de um projeto nacional de desenvolvimento”,
posturas brasileiras na área, já que a “Frente Brasil Popular” prome- opinião reafirmada pelo candidato em artigo publicado no Boletim
tia adotar uma “política antiimperialista, prestando solidariedade da Associação dos Diplomatas Brasileiros.
irrestrita às lutas em defesa da autodeterminação e da soberania Lula reconhecia, também em acordo com o programa, que
nacional, e a todos os movimentos em favor da luta dos trabalhado- “durante os governos militares, mais particularmente no período
res pela democracia, pelo progresso social e pelo socialismo”. Um do general Geisel, existia um projeto nacional, politicamente auto-
hipotético Governo da Frente defenderia a “luta dos povos oprimi- ritário e socialmente excludente” que, a despeito das críticas que
dos da América Latina” e Lula chegou mesmo a propor a “decre- seu partido pode fazer, “abriu brechas para que o Brasil reorien-
tação de uma moratória unilateral para ‘solucionar’ a questão da tasse sua política externa”. Em 1994, segundo o programa, persis-
dívida externa”. tia “inercialmente a política externa daquele período, adequada
Aliás, na proposta que o PSB – um dos membros da Frente – empiricamente às novas realidades...”. Mas, em face do quadro de
apresentou de um “programa mínimo” das esquerdas para as elei- mudanças, o “Governo Democrático e Popular deveria desenvolver
ções presidenciais de 1989, se defendia a “imediata suspensão de uma política externa que buscará simultaneamente uma inserção
qualquer pagamento relacionado com a dívida externa”, a consti- soberana do Brasil na mundo e a alteração das relações de força
tuição de um “entendimento entre os diversos países devedores internacionais contribuindo para a construção de ordem mundial
com vistas a fortalecer o não-pagamento” e o estabelecimento de justa e democrática”.
“relações fraternas com todos os partidos que tenham como obje- O programa de então destacava como áreas prioritárias da
tivo a construção da democracia e do socialismo com o objetivo de “nova política externa” a América Latina e o Mercosul, referindo-se
unir esforços na preparação de uma alternativa à crise do modo de aqui, de forma equivocada, ao “Merconorte”. Ele não deixava tam-
produção capitalista”. pouco de dar ênfase às “relações de cooperação econômica e nos
Em 1994, o candidato do PT lançou-se em campanha à frente domínios científico e tecnológico, com uma correspondente agenda
de todos os demais, tendo preparado-se, aliás, para disputar no- política”, na esfera Sul-Sul, com países como a China, Índia, Rússia e
vamente a presidência praticamente desde o final das eleições de África do Sul e com os países de língua portuguesa. Algumas iniciati-
1989. Alguns meses depois dessas eleições, o líder do PT tinha com vas internacionais eram listadas, como, por exemplo, a “rediscussão
efeito anunciado, em coalizão com alguns outros partidos de es- dos problemas das dívidas externas dos países periféricos”, propos-
querda, a formação de um “governo paralelo”, seguramente um dos tas sobre a fome e a miséria no mundo ou ainda a convocação de
poucos exemplos de shadow cabinet ao sul do Equador. uma conferência internacional – “de porte semelhante à ECO92”
Infelizmente, a experiência não chegou realmente a frutificar, – para discutir a situação do trabalho no mundo e medidas efeti-
pelo menos no que se refere à atividade de um “ministro paralelo” vas contra o desemprego. O programa também prometia recuperar
das relações exteriores. o Ministério das Relações Exteriores, “cuja estrutura foi sucateada
Não se teve notícia de que o chanceler “paralelo” – designado nos últimos anos”.
na pessoa do filósofo e professor Carlos Nelson Coutinho – tivesse Em seu artigo assinado, depois de listar algumas das transfor-
avançado um programa, ou sequer elementos, de uma “política ex- mações por que passou o mundo no período recente, o candidato
terna alternativa”, com propostas concretas para o relacionamento Lula indicava alguns elementos para a formulação da “nova política
internacional do Brasil. externa para o Brasil”. “Em primeiro lugar, o Brasil só poderá ter
uma política externa consistente se tiver um claro projeto nacional
de desenvolvimento, com o correspondente fortalecimento da de-
mocracia, o que significa universalização da cidadania, do respeito

29
ATUALIDADES
aos direitos humanos, reforma e democratização do Estado”. Esse De maneira mais positiva, o programa enfatizava a intenção de
projeto nacional de desenvolvimento compreende um “modelo de fortalecer as relações do Brasil com os outros países do Sul, “em
crescimento que favoreça a criação de um gigantesco mercado de especial com os da América Latina, da África meridional e aos de
bens de consumo de massas que permita redefinir globalmente a expressão portuguesa”. O processo de integração subregional, fi-
economia, dandolhe, inclusive, novas condições de inserção e de nalmente, era visto muito positivamente, mas ficava claro o desejo
cooperatividade internacionais”. “Em segundo lugar, o Brasil não de efetuar uma “ampliação ereforma do Mercosul que reforce sua
pode sofrer passivamente a atual (des)ordem mundial. Ele tem de capacidade de implementar políticas ativas comuns de desenvolvi-
atuar no sentido de buscar uma nova ordem política e econômica mento e de solução dos graves problemas sociais da região”. Depre-
internacional justa e democrática”. endia-se, contudo, das declarações de diversos membros da coali-
Considerando que a política externa é, antes de mais nada, zão que o Mercosul era considerado como uma espécie de “bastião
uma questão de política interna, o candidato reafirmava seus pres- antiimperialista”, em contraposição ao projetos norte-americanos
supostos de atuação: “A política externa não vem depois da defini- de diluir esse esquema num vasto empreendimento livre-cambista
ção de um projeto nacional. Ela faz parte deste projeto nacional”. do Alasca à Terra do Fogo. De forma geral, a ALCA se apresentava
Parafraseando Clausewitz, o candidato do PT, portanto, também como um anátema na política externa de um Governo liderado pelo
poderia hipoteticamente dizer: “A política externa é a continuação PT, perdendo apenas em importância na escala de inimigos ideoló-
da política interna por outros meios”. gicos para o neoliberalismo e a globalização selvagem promovida
pelas grandes empresas multinacionais.
Em 1998, já em sua terceira candidatura, desta vez por uma Já em 2002, o cenário mudou substancialmente, com a expres-
coligação a “União do Povo Muda Brasil”, com PT/PDT/PCdoB/PSB/ são inédita de um novo realismo diplomático, a começar pela polí-
PCB Lula esforçou-se por colocá-la sob o signo da continuidade e tica de alianças buscada pelo candidato Lula, desta vez não unica-
da inovação, este último aspecto apresentando-se, desde o início mente à esquerda, mas envolvendo em especial o Partido Liberal,
da campanha, sob a forma de uma aliança política privilegiada com que forneceu seu candidato a vice. Ainda que partindo na frente
seu concorrente trabalhista das experiências anteriores, o líder do de todos os demais candidatos, tanto em termos de candidatura
PDT Leonel Brizola. Este antigo líder da história política brasileira oficiosa como no que se refere aos índices de aceitação eleitoral,
chegou a causar constrangimentos para o então relativamente mo- o candidato do PT e o próprio partido foram desta vez extrema-
derado candidato “dos trabalhadores”, ao defender uma postura mente cautelosos na formulação das bases da campanha política, a
intransigente em relação ao capital estrangeiro e às privatizações começar pelas alianças contraídas com vistas a viabilizar um apoio
de empresas públicas, chegando mesmo a declarar que não só esse “centrista” ao candidato.
processo seria interrompido mas que algumas das leiloadas seriam Lula foi também bastante cauteloso na exposição de sua idéias,
suscetíveis de reversão ao domínio estatal num eventual governo ainda que algumas delas, ainda no início da campanha, tenham sido
da coligação. exploradas por seus adversários (como por exemplo o apoio às polí-
ticas subvencionistas da agricultura européia ou a proposta de que
O próprio candidato à presidência defendeu uma redução das
o Brasil deveria deixar de exportar alimentos até que todos os brasi-
importações por via de medidas governamentais, embora de cará-
leiros pudessem se alimentar de maneira conveniente). Nessa fase,
ter tarifário, o que garantiria a transparência da política comercial
ele ainda repetia alguns dos velhos bordões do passado (contra o
de um Governo do PT e seus aliados partidários. As “Diretrizes do
FMI e a Alca, por exemplo), que depois foram sendo corrigidos ou
Programa de Governo” da coalizão popular acusavam o Governo
alterados moderadamente para acomodar as novas realidades e a
FHC de ter praticado uma abertura “irresponsável” da economia
coalizão de forças com grupos nacionais moderados que se pensava
e de ter desnacionalizado a “nossa indústria e nossa agricultura,
constituir de forma inédita.
provocando desemprego e exclusão social”. A ênfase na perda de
Em matéria de política externa, mais especificamente, a inten-
soberania econômica do País era aliás o ponto forte da campanha
ção – aliás partilhada com os demais candidatos e, de certa forma,
de Lula na área internacional, elemento combinado a uma política implementada pelo governo FHC – era a de ampliar as relações do
externa de tipo voluntarístico que se propunha mudar a forma de Brasil com outros grandes países em desenvolvimento, sendo in-
inserção do Brasil no mundo a partir da manifestação da vontade variavelmente citados a China, a Índia e a Rússia. No plano econô-
política, aqui ignorando aparentemente as linhas de força nas insti- mico, o compromisso – também expresso pelos demais candidatos
tuições internacionais e nas relações com os demais países, parcei- – era o de diminuir o grau de dependência financeira externa do
ros ou “adversários” na atual ordem econômica mundial. Brasil, mobilizando para tal uma política de promoção comercial ati-
O Ponto 12 dessas diretrizes, “Presença soberana no mundo”, va, com novos instrumentos para esse efeito (possivelmente uma
defendia, de forma conseqüente, uma “política externa, fundada secretaria ou ministério de comércio exterior). Segundo a “Carta ao
nos princípios da autodeterminação”, que faria — segundo o texto, Povo Brasileiro”, divulgada por Lula em 22 de junho, o povo brasilei-
“expressará nosso desejo” de ver — o Brasil atuar “com decisão vi- ro quer “trilhar o caminho da redução de nossa vulnerabilidade ex-
sando alterar as relações desiguais e injustas que se estabeleceram terna pelo esforço conjugado de exportar mais e de criar um amplo
internacionalmente”. Ainda nessa mesmo linha, um eventual Go- mercado interno de consumo de massas”.
verno liderado pelo PT lutaria “por mudanças profundas nos orga- De maneira ainda mais enfática, nesse documento, Lula afir-
nismos políticos e econômicos mundiais, sobretudo a ONU, o FMI e mou claramente que a “premissa dessa transição será naturalmen-
a OMC”. Com efeito, documento liberado quando do agravamento te o respeito aos contratos e obrigações do País”.
da crise financeira, em princípios de setembro de 1998, avançava Depois de algumas ameaças iniciais de se retirar das negocia-
a proposta de “participar da construção de novas instituições fi- ções da Alca (que seria “mais um projeto de anexação [aos EUA] do
nanceiras internacionais”, uma vez que “as atualmente existentes que de integração”), Lula passou a não mais rejeitar os pressupos-
— FMI, OMC, BIRD — são incapazes de enfrentar a crise”. De forma tos do livre-comércio, exigindo apenas que ele fosse pelo menos
ainda mais explícita, a coalizão de Lula pretendia combater o Acor- equilibrado, e não distorcido em favor do parceiro mais poderoso, o
do Multilateral de Investimentos em fase de negociação na OCDE, que constituiu notável evolução em relação a afirmações de poucas
considerado como “atentatório à soberania nacional”. semanas antes. O principal assessor econômico do candidato, de-

30
ATUALIDADES
putado Aloízio Mercadante foi bastante cauteloso na qualificação tar os desafios do mundo globalizado. Para tanto, é fundamental
das eventuais vantagens da Alca: “Esta não deve ser vista como uma que o bloco construa instituições políticas e jurídicas e desenvolva
questão ideológica ou de posicionamento pró ou contra os Estados uma política externa comum.”
Unidos, mas sim como um instrumento que pode ou não servir aos Persistia, igualmente, no programa, a atitude de princípio con-
interesses estratégicos brasileiros” (Valor Econômico, 15.07.02). Os trária à Alca e um certo equívoco quanto aos objetivos de uma zona
contatos mantidos pela cúpula do PT com industriais, banqueiros de livre-comércio, pois que se via nesse processo a necessidade do
e investidores estrangeiros tendiam todos a confirmar esse novo estabelecimento de políticas compensatórias, quando são raros os
realismo diplomático, e sobretudo econômico, do candidato. exemplos de acordos de simples liberalização de comércio que con-
De fato, os principais dirigentes do PT começaram, em plena templem tais tipos de medidas corretivas:
campanha, a se afastar cautelosamente das propostas tendentes a “Essa política em relação aos países vizinhos é fundamental
realizar um plebiscito nacional sobre a Alca (organizado pela CUT, para fazer frente ao tema da Área de Livre Comércio das Améri-
pelo MST e pela CNBB), uma vez que ele teria resultados mais do cas (ALCA). O governo brasileiro não poderá assinar o acordo da
que previsíveis, todos negativos para a continuidade dessas nego- ALCA se persistirem as medidas protecionistas extra-alfandegárias,
ciações. De modo ambíguo, porém, o assessor Mercadante parecia impostas há muitos anos pelos Estados Unidos. (…) A política de
acreditar na possibilidade de um acordo bilateral com os EUA, sem livre comércio, inviabilizada pelo governo norteamericano com to-
explicar como e em que condições ele poderia ser mais favorável das essas decisões, é sempre problemática quando envolve países
do que o processo hemisférico: “é importante que, independente- que têm Produto Interno Bruto muito diferentes e desníveis imen-
mente da Alca, o Brasil e os Estados Unidos iniciem um processo sos de produtividade industrial, como ocorre hoje nas relações dos
de negociação bilateral direcionado para a ampliação do seu inter- Estados Unidos com os demais países da América Latina, inclusive
câmbio comercial e a distribuição mais justa de seus benefícios”. o Brasil. A persistirem essas condições a ALCA não será um acor-
O PT parecia assim ter iniciado, ainda que de maneira hesitante, o do de livre comércio, mas um processo de anexação econômica do
caminho em direção ao reformismo moderado. Continente, com gravíssimas consequências para a estrutura pro-
O programa divulgado pelo candidato em 23 de julho de 2002 dutiva de nossos países, especialmente para o Brasil, que tem uma
era bastante ambicioso quanto aos objetivos de “sua” política ex- economia mais complexa. Processos de integração regional exigem
terna, uma vez que prometia convertê-la num dos esteios do pro- mecanismos de compensação que permitam às economias menos
cesso de desenvolvimento nacional: “A política externa será um estruturadas poder tirar proveito do livre comércio, e não sucumbir
meio fundamental para que o governo implante um projeto de de- com sua adoção. As negociações da ALCA não serão conduzidas em
senvolvimento nacional alternativo, procurando superar a vulnera- um clima de debate ideológico, mas levarão em conta essencial-
bilidade do País diante da instabilidade dos mercados financeiros mente o interesse nacional do Brasil.”
globais. Nos marcos de um comércio internacional que também Um certo idealismo mudancista se insinua igualmente no pro-
vem sofrendo restrições em face do crescente protecionismo, a po- grama, ao pretender um eventual governo do PT conduzir uma
lítica externa será indispensável para garantir a presença soberana “aproximação com países de importância regional, como África do
do Brasil no mundo.” Parece ter ocorrido aqui, ao contrário das oca- Sul, Índia, China e Rússia”, com o objetivo de “construir sólidas rela-
siões anteriores, uma espécie de sobrevalorização da política exter- ções bilaterais e articular esforços a fim de democratizar as relações
na, ou em todo caso, uma esperança exagerada em suas virtudes internacionais e os organismos multilaterais como a Organização
transformadoras. das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI),
Com efeito, o candidato Lula pretendia, nada mais nada menos a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial”. Por
que reorganizar o mundo e o continente sul-americano a partir de outro lado, a antiga desconfiança em relação ao capital estrangeiro
suas propostas diplomáticas, o que denota ou excesso de otimismo cedeu lugar a uma postura mais equilibrada, uma vez que se afir-
ou desconhecimento quanto aos limites impostos pela realidade in- mou no programa de 2002 que o Brasil “não deve prescindir das
ternacional a esses grandes projetos mudancistas no cenário exter- empresas, da tecnologia e do capital estrangeiro”, alertando então
no, sobretudo vindos de um país dotado de recursos externos limi- que os “países que hoje tratam de desenvolver seus mercados in-
tados como o Brasil. “Uma nova política externa deverá igualmente ternos, como a Índia e a China, não o fazem de costas para o mun-
contribuir para reduzir tensões internacionais e buscar um mundo do, dispensando capitais e mercados externos”. Mas, se advertia
com mais equilíbrio econômico, social e político, com respeito às também que as “nações que deram prioridade ao mercado externo,
diferenças culturais, étnicas e religiosas. A formação de um governo como o Japão e a Coréia, também não descuidaram de desenvolver
comprometido com os interesses da grande maioria da sociedade, suas potencialidades internas, a qualidade de vida de seu povo e as
capaz de promover um projeto de desenvolvimento nacional, terá formas mais elementares de pequenos negócios agrícolas, comer-
forte impacto mundial, sobretudo em nosso Continente. Levando ciais, industriais e de serviços.”
em conta essa realidade, o Brasil deverá propor um pacto regional O excessivo viés em favor do mercado interno foi corrigido no
de integração, especialmente na América do Sul. Na busca desse programa, que tende por outro lado a esquecer a ênfase atribuída
entendimento, também estaremos abertos a um relacionamento pelo governo FHC ao crescimento das exportações: “Sem cresci-
especial com todos os países da América Latina.” mento dificilmente estaremos imunes à espiral viciosa do desem-
Em contraposição ao candidato governista, supostamente her- prego crescente, do desarranjo fiscal, de déficits externos e da in-
deiro da política de integração do presidente FHC mas de fato cético capacidade de honrar os compromissos internos e internacionais. O
quanto a suas vantagens para o Brasil, o candidato Lula era o mais primeiro passo para crescer é reduzir a atual fragilidade externa. (…)
entusiástico promotor do Mercosul, mas ainda aqui com pouco rea- Para combater essa fragilidade, nosso governo vai montar um sis-
lismo em relação às chances de uma moeda comum no curto prazo tema combinado de crédito e de políticas industriais e tributárias.
ou a implantação de instituições mais avançadas: “É necessário re- O objetivo é viabilizar o incremento das exportações, a substituição
vigorar o Mercosul, transformando-o em uma zona de convergência competitiva de importações e a melhoria da infra-estrutura. Isso
de políticas industriais, agrícolas, comerciais, científicas e tecnológi- deve ser feito tanto por causa da fragilidade das contas externas
cas, educacionais e culturais. Reconstruído, o Mercosul estará apto como porque o Brasil precisa conquistar uma participação mais sig-
para enfrentar desafios macroeconômicos, como os de uma política nificativa no comércio mundial, o que o atual governo menosprezou
monetária comum. Também terá melhores condições para enfren- por um longo período”.

31
ATUALIDADES
Em suma, o candidato do PT realizou um notável percurso em De modo geral, a “nova diplomacia” não parece afastar-se mui-
direção de uma postura mais realista no campo da política exter- to da “velha”, com talvez uma afirmação mais enfática dos “inte-
na, assim como no terreno mais geral das políticas econômicas, resses nacionais” e da defesa da soberania: “É uma boa hora para
notadamente no que se refere ao relacionamento com o capital reafirmar um compromisso de defesa corajosa de nossa soberania
estrangeiro e com as instituições financeiras internacionais. Cabe regional. E o faremos buscando construir uma cultura de paz entre
registro, em todo caso, a seu acolhimento, não totalmente desfa- as nações, aprofundando a integração econômica e comercial entre
vorável, em relação ao acordo anunciado pelo governo de mais um os países, resgatando e ampliando o Mercosul como instrumento
pacote de sustentação financeira por parte do FMI, desta vez pela de integração nacional e implementando uma negociação soberana
soma inédita de 30 bilhões de dólares. A nota divulgada pela cam- frente à proposta da ALCA. Vamos fomentar os acordos comerciais
panha de Lula na ocasião foi bastante cautelosa no que se refere bilaterais e lutar para que uma nova ordem econômica internacio-
ao cumprimento das obrigações externas, ainda que registrando nal diminua as injustiças, a distância crescente entre países ricos e
negativamente o encargo passado ao governo futuro de manter um pobres, bem como a instabilidade financeira internacional que tan-
superávit primário na faixa de pelo menos 3,75% do PIB até 2004. tos prejuízos tem imposto aos países em desenvolvimento Nosso
Ao encontrar-se com o presidente FHC, a pedido deste, para tratar governo será um guardião da Amazônia e da sua biodiversidade.
da questão do acordo com o FMI, em 19 de agosto, o candidato do Nosso programa de desenvolvimento, em especial para essa região,
PT reiterava seu entendimento de que as dificuldades decorriam do será marcada pela responsabilidade ambiental.” Em outros termos,
“esgotamento do atual modelo econômico”, confirmando também, abandonou-se a tese da Alca “anexacionista” em favor de uma ne-
com franqueza, seu compromisso afirmado na “Carta ao Povo Bra- gociação séria dos interesses brasileiros nesses acordos de liberali-
sileiro”: o de que, “se vencermos as eleições começaremos a mudar zação comercial.
A defesa do multilateralismo não destoa, em praticamente
a política econômica desde o primeiro dia”.
ponto nenhum, das conhecidas posições defendidas tradicional-
Não obstante, Lula oferecia uma série de sugestões para, no
mente pela diplomacia brasileira:
seu entendimento, “ajudar o País a sair da crise”, muitas delas me-
“Queremos impulsionar todas as formas de integração da Amé-
didas de administração financeira, de política comercial e de reati-
rica Latina que fortaleçam a nossa identidade histórica, social e cul-
vação da economia. tural. Particularmente relevante é buscar parcerias que permitam
O PT e seu candidato das três disputas anteriores se esforça- um combate implacável ao narcotráfico que alicia uma parte da ju-
vam, dessa forma, em provar aos interlocutores sociais – eleitores ventude e alimenta o crime organizado.
brasileiros – e aos observadores externos – capitalistas estrangeiros Nosso governo respeitará e procurará fortalecer os organismos
e analistas de Wall Street – que o partido e seus aliados estavam internacionais, em particular a ONU e os acordos internacionais re-
plenamente habilitados a assumir as responsabilidades governa- levantes, como o protocolo de Quioto, e o Tribunal Penal Interna-
mentais e a representar os interesses externos do País com maior cional, bem como os acordos de não proliferação de armas nuclea-
dose de realismo econômico e diplomático do que tinha sido o caso res e químicas. Estimularemos a ideia de uma globalização solidária
nas experiências precedentes. e humanista, na qual os povos dos países pobres possam reverter
Essa evolução moderada foi confirmada, finalmente, no pri- essa estrutura internacional injusta e excludente.”
meiro pronunciamento do presidente eleito, em 28 de outubro de Em suma, atendidas algumas ênfases conceituais e a defesa
2002. Nesse texto, consciente da gravidade da crise econômica e afirmada da soberania nacional, a política externa do governo que
dos focos de tensão externa remanescente, Lula advertiu: “O Brasil inicia seu termo em janeiro de 2003 não destoará, substancialmen-
fará a sua parte para superar a crise, mas é essencial que além do te, da diplomacia conduzida de maneira bastante profissional pelo
apoio de organismos multilaterais, como o FMI, o BID e o BIRD, se Itamaraty no período recente, conformando aliás uma concordância
restabeleçam as linhas de financiamento para as empresas e para de princípio com a tradicional “diplomacia do desenvolvimento” im-
o comércio internacional. Igualmente relevante é avançar nas ne- pulsionada pelo Brasil desde largos anos. No plano operacional, pa-
gociações comerciais internacionais, nas quais os países ricos efe- rece inevitável o aumento do diálogo do Itamaraty com o Congresso
tivamente retirem as barreiras protecionistas e os subsídios que e outras forças organizadas da sociedade civil, como os sindicatos,
penalizam as nossas exportações, principalmente na agricultura.” as organizações não-governamentais e representantes do mundo
A segunda frase, particularmente, poderia, sem qualquer mudança, acadêmico. Trata-se, em todo caso, de uma saudável inovação para
ter sido pronunciada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, uma instituição cujo moto organizador parece consubstanciar-se na
por seu chanceler ou por seu ministro da economia. frase “renovar-se na continuidade”. Com talvez alguma surpresas
Também, diferentemente da “ameaça” de cessar as exporta- verbais, naturais em momentos de mudança paradigmática como
a que vive o Brasil, tanto a inovação como a continuidade parecem
ções de alimentos até que todos os brasileiros pudessem se alimen-
garantidas no futuro governo sob a hegemonia do novo centro po-
tar de maneira conveniente, Lula traçou um retrato convincente
lítico brasileiro. As gerações mais jovens do Itamaraty certamente
das possibilidades nessa área: “Nos últimos três anos, com o fim da
receberam com bastante satisfação a confirmação da mudança po-
âncora cambial, aumentamos em mais de 20 milhões de toneladas
lítica no cenário eleitoral e parecem animadas com as perspectivas
a nossa safra agrícola. Temos imenso potencial nesse setor para de- de mudança – talvez até geracional – que podem operar-se na Casa
sencadear um amplo programa de combate à fome e exportarmos de Rio Branco. A confirmar-se a “continuidade da renovação”, o Ita-
alimentos que continuam encontrando no protecionismo injusto maraty tem todas as condições de emergir, nos próximos quatro
das grandes potências econômicas um obstáculo que não poupa- anos, com uma nova legitimidade no plano societal interno, ao ser
remos esforços para remover.” Igualmente, não há nada aqui que implementada a nova diretriz de colocar, de maneira mais afirmada,
não poderia receber o endosso – e de fato já integra o discurso – da a política externa a serviço de um projeto nacional de desenvolvi-
administração atuante até o final de 2002. mento econômico e social.

32
ATUALIDADES
música erudita e instrumental, livros de arte, acervos de museus,
CULTURA E SOCIEDADE BRASILEIRA: MÚSICA, LITERA- itinerância de exposições de artes plásticas e acervos de bibliotecas
TURA, ARTES, ARQUITETURA, RÁDIO, CINEMA, TEA- públicas. É uma política fiscal generosa e adequada pois, em fun-
TRO, JORNAIS, REVISTAS E TELEVISÃO ção do conhecido déficit fiscal do Estado brasileiro e das enormes
carências de recursos para áreas prioritárias, as empresas privadas
A partir de meados da década de 90, o Brasil vem conhecendo são convidadas a se associarem ao Governo Federal e aos produto-
uma extraordinária retomada de suas atividades culturais. O cinema res culturais para garantirem o desenvolvimento da cultura.
foi a primeira área a beneficiar-se disso. O sucesso com que foram Com efeito, a partir de importantes reformas introduzidas em
recebidos pelo público filmes como Carlota Joaquina, O Quatrilho, 1995 e 1996 na legislação de incentivo fiscal à cultura, e só a nível
O Que é Isso Companheiro? e Central do Brasil indica que o cinema federal, onde o incentivo ocorre a partir de deduções no Imposto de
brasileiro poderá reconquistar, a curto prazo, o lugar de destaque Renda dos patrocinadores privados, o Governo atraiu investimen-
que havia alcançado no panorama cultural, no início dos anos 60, tos que ultrapassaram os 180 milhões de reais nos dois primeiros
com Terra em Transe e outros filmes. É um sinal de que a indústria anos de governo. E a atual política de financiamento da cultura está
cinematográfica tem futuro no país. longe de se limitar apenas a estimular os investimentos privados
Mas o cinema não é o único. Também na área do patrimônio na área. O Governo Federal reconhece que também lhe cabe papel
artístico e cultural as iniciativas são tantas e tão diferentes, toma- fundamental no financiamento a fundo perdido da cultura, particu-
das em distintas esferas de responsabilidade pública, que estão a larmente no que diz respeito às atividades que, pela sua natureza,
demonstrar que em sociedades como a brasileira, quando se logra não chegam ou não têm atrativo no mercado. Por essa razão, pela
alcançar um estágio razoável de controle da inflação e de estabilida- primeira vez em muitas décadas, aumentou-se em mais de 100%
de econômica, a energia social antes empregada pela comunidade o orçamento do Ministério da Cultura de um ano para o outro, fa-
na luta pela sobrevivência pode ser canalizada também para a pre- zendo-o passar de R$ 104 milhões, em 1995, para R$ 212 milhões,
servação das identidades culturais. em 1996.
O restauro do Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador Além disso, através de suplementações orçamentárias e de
(Bahia), a reforma e recuperação da Pinacoteca do Estado e do Mu- um acordo inédito com o BID, ao final de quatro anos, em 1998, o
Governo Federal aplicou quase 300 milhões de dólares no restauro
seu do Ipiranga (São Paulo), a retomada de cuidados com o centro
de sítios históricos e na recuperação de áreas urbanas, em vários
histórico do Rio de Janeiro e do centro colonial de cidades como São
estados do País, onde há forte interação entre a cultura e partes
Luiz (Maranhão), Ouro Preto e Diamantina (Minas Gerais), e Recife
do tecido urbano deteriorado ou em deterioração. Ainda, através
e Olinda (Pernambuco), e as celebrações, por todo o País, dos 300
de investimentos diretos, o Ministério da Cultura tem apoiado a re-
Anos de Zumbi e da Década dos Povos Indígenas, mostram que, a cuperação de arquivos públicos, fomentado produções na área das
despeito de avanços que ainda são necessários nas áreas econômi- artes cênicas, estimulado a renovação e a consolidação de orques-
ca e social, às vésperas de celebrarmos os 500 anos do Descobri- tras sinfônicas e apoiado a reforma de museus, teatros e espaços
mento, os brasileiros estão redescobindo a importância da sua pró- culturais de diferentes naturezas. São todos sinais de que o Estado e
pria memória histórica e cultural. São sinais de enorme renovação a sociedade percebem, cada vez mais, a importância da cultura para
da própria cultura. a qualidade de vida das pessoas.
A retomada cultural no Brasil pode ser percebida também na Tal política de financiamento é adequada à realidade cultural
música, na literatura e, mais importante ainda, em um extraordiná- brasileira? Para justificá-la, podemos mencionar algumas razões.
rio fenômeno de mídia, que reflete o interesse dos brasileiros pela O Brasil é um país de cultura extremamente rica e diversificada. A
produção cultural do País. origem dessa característica está no peculiar processo de formação
Certamente, a revalorização das atividades dos museus e das da sociedade brasileira, que desde o seunascimento no século XVI,
artes plásticas -com exposições de pintura e escultura de artistas recolheu a generosa contribuição de povos e etnias tão diferentes
como Rodin, Miró, Monet e Maillol, sem esquecer a própria Bienal quanto os índios autóctones, os portugueses descobridores, os afri-
de Artes de São Paulo - são reflexos desse interesse, ao mesmo tem- canos feitos escravos e, depois, franceses, espanhóis, holandeses,
po em que o criam. Desde 1994, tais eventos atraíram a atenção de italianos, japoneses, árabes e tantos outros que, como conquis-
mais de 2 milhões de pessoas, deixando para trás a percepção tra- tadores ou aventureiros, vieram deixar a sua marca cultural aqui,
dicional que creditava o interesse pela linguagem plástica apenas a acrescentando valores novos aos trazidos pelos pioneiros desbra-
parcelas eruditas do público. Na realidade, essas mostras de extra- vadores.
ordinária beleza e valor transformaram-se em manifestações cultu- Tudo isso fez da cultura brasileira um formidável e curioso ca-
rais de massa, particularmente do público mais jovem, mostrando leidoscópio, em que se mesclam raças e se misturam múltiplas con-
que o espaço está aberto para novas iniciativas semelhantes. cepções de vida, expressando uma enorme variedade de influên-
Há, evidentemente, muitas outras manifestações interessantes cias. O mais interessante, no entanto, é que toda essa diversidade
e inovadoras acontecendo na cultura brasileira. Mas o que foi dito não implica, ao contrário do que ocorre em algumas sociedades,
conflitos ou exclusões de qualquer natureza em relação ao diferen-
é suficiente para colocar em discussão um outro aspecto tão im-
te, isto é, àqueles que expressam identidades culturais distintas. Ao
portante quanto inovador. Trata-se da questão do financiamento da
contrário, uma das mais extraordinárias características da cultura
cultura.
brasileira está em seu caráter acolhedor e integrador. É um sinal de
Desde meados de 1995, o Governo Federal vem implemen-
que, no Brasil, as diferentes origens do povo brasileiro servem para
tando, na área cultural, uma vigorosa política de parceria entre o integrá-lo e não para excluí-lo ou dividi-lo.
Estado brasileiro, os produtores culturais e a iniciativa privada. Tal Por isso mesmo, é indispensável que a política de financiamen-
política se apoia na legislação de incentivo fiscal às atividades artís- to da cultura, no Brasil, seja vigorosa o suficiente para impulsionar
ticas e culturais e permite, no caso do cinema, que os investidores o seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, capaz de assegurar a
privados deduzam 100% do que aplicam e, no caso das outras áreas realização plena da riqueza e diversidade formadoras da sua ma-
culturais, entre 66 e 76%, dependendo da natureza das empresas, triz. Com efeito, o financiamento da cultura em países pluriculturais
podendo-se chegar aos mesmo 100% para o caso das artes cênicas, como este tem de ser tarefa de distintas fontes de financiamento:

33
ATUALIDADES
o Estado, os produtores culturais e as empresas privadas. Isso asse- culturalista de tradição anglo-saxônica, onde importa antes de tudo
gura tanto que o interesse público seja preservado, através da ação um ideal de “representação federada” dos grupos culturalmente
do Estado, como que a sociedade civil possa intervir no processo de definidos em uma arena pública competitiva.
criação artística, através de seus projetos e de seus investimentos. Hoje, depois de um longo período em que a célula-mater da
A política de parceria é o fundamento da atual política cultural identidade social foi a nação, forças centrífugas têm trazido para a
que se baseia na essência da cultura brasileira, isto é, a sua riqueza arena política diversos outros atores. Identidades étnicas, de gêne-
e diversidade. Identidade e diversidade são termos de forte carga ro, religiosas, sexuais, de idade, de condição social etc., entraram
emocional e política, que aparentemente apontam para campos na competição pela primazia na definição do lugar do indivíduo
opostos: o que privilegiar, o idêntico ou o diverso? Num extremo no mundo. Ao lado e freqüentemente contra a ação política ins-
estaria a idéia, cara à sociedade ocidental moderna, de que todos titucional, surgiram as ONG’s como expressão mais “pura” da so-
somos iguais (perante a lei, perante Deus). ciedade civil. No Brasil, essa tendência fragmentadora vem sendo
No outro, a liberdade, igualmente cara, de grupos comparti- temperada pela tradição do Estado central forte, tradicionalmente
lharem características e valores específicos que os diferenciam dos visto como árbitro de conflitos entre cidadãos iguais, e que passa a
demais. Neste embate, o universalismo é acusado de totalitário e ser visto também como arena onde os desiguais podem expressar
o particularismo de discriminatório e defensor das desigualdades. a sua diversidade. O Ministério da Cultura é chamado a reconhe-
O Ministério da Cultura – através da Secretaria da Identidade e Di- cer e proteger as culturas contra forças que as ameaçam por um
“neocolonialismo” interno ou externo. Tais identidades culturais
versidade Cultural e da Fundação Casa de Rui Barbosa – promoveu,
se constróem no embate concreto dos grupos em sociedade e são
ao longo de 2004, uma série de encontros para discutir os signifi-
cambiantes. Assim como o indivíduo é múltiplo e fragmentado em
cados, a história, os dilemas e as implicações político-jurídicas da
sua psique, ele partilha de múltiplas e instáveis identidades sociais,
identidade e da diversidade cultural, assim como sua relevância e
que se reafirmam e se redefinem. O grande desafio do Estado na-
aplicações ao contexto brasileiro. O propósito de tais discussões cional e da sociedade internacional organizada hoje é exercer sua
foi lançar alguma luz sobre conceitos amplamente usados e pouco função agregadora, favorecendo o diálogo em lugar do conflito, es-
entendidos e servir como subsídio à tomada de decisões sobre po- timulando a criatividade de forças centrífugas, sem permitir que o
líticas públicas. caos acabe por inviabilizar a criação.
A moderna idéia de cultura está, desde o seu surgimento, in- A reivindicação dos direitos do cidadão pode ser percebida
trinsecamente associada à idéia de diversidade. Produto do roman- como um processo de demanda por direitos universais. Universal
tismo alemão, ela passou a reunir na mesma noção, desde o início no sentido de que tais direitos e os movimentos sociais associados
do século XIX, a tradição humanista de cultivo das realizações supe- com o seu desenvolvimento tendem a reforçar um ideal capaz de
riores do espírito nas artes e ciências e a nova valorização, de raiz englobar toda a sociedade. Os direitos civis, políticos e sociais fo-
iluminista, da diversidade de costumes e crenças dos povos como ram configurados com base nessa idéia.
via para o conhecimento do humano. O que tornava possível essa Sua implementação possibilitou uma certa homogeneização
aproximação era o fato de ambas as componentes caracterizarem- social, o que está claro, por exemplo, no direito de uma educação
-se pela afirmação de valores e atribuição de sentido ao mundo. igual e gratuita para todos.
Integrados numa totalidade, costumes coletivos e obras individuais Entretanto, ao reforçarem um ideal oposto, o universal e o ho-
ganhavam um pressuposto de coerência e influência recíproca, en- mogêneo, em vez do particular e do heterogêneo, os movimentos
fatizado por sua descrição através da analogia com o organismo. sociais mais recentes dizem não ser mais possível um sistema jurídi-
Essa mesma analogia facilitava a apresentação dos povos como in- co cego a diferenças – étnicas, de cor, de gênero, etc. A questão que
divíduos coletivos, e a afirmação das identidades nacionais como se coloca para o debate é se a implementação do direito à diferença
um processo correspondente à maturação e aperfeiçoamento das representa ou não o antagonismo entre uma cidadania universal-in-
capacidades singulares de cada indivíduo. Compartilhamento de clusiva e outra particular-plural.
valores e significados e singularização diante de outros conjuntos Nesse sentido, é significativo que a Unesco tenha aprovado em
da mesma natureza são assim o verso e o reverso, as duas dimen- 2001 a sua Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. O
sões inseparáveis da idéia de cultura. documento chama a atenção para algumas questões interessantes,
Cabe lembrar que a gênese dessa idéia ocorre num contexto das quais se destaca, numa reflexão sobre o tema no Brasil, o conte-
údo do Artigo 3º: “A diversidade cultural amplia as possibilidades de
de conflito, com o significado político de oposição ao império na-
escolha que se oferecem a todos: é uma das fontes do desenvolvi-
poleônico, apoiado por sua vez no universalismo revolucionário da
mento, entendido não somente como crescimento econômico, mas
doutrina dos direitos do homem. O potencial agressivo da idéia de
também como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva,
cultura nacional não tardou a se manifestar nas lutas posteriores à
moral e espiritual satisfatória”.
unificação alemã e nas duas guerras mundiais. Concomitantemen- A diversidade de condições econômicas e sociais entre as vá-
te, os organismos internacionais comprometidos com esforços de rias regiões do Brasil, aliada ao peso de um passado histórico espe-
paz, como a Liga das Nações e a ONU, através da Unesco, desde cífico está na base da diversidade de suas manifestações culturais.
cedo se empenharam em promover o potencial de tolerância e diá- A circunstância histórica que fez com que em determinada região
logo presente naquela mesma idéia. tenha havido maior concentração de escravos, ou de imigrantes ou
Por outro lado, identidades culturais singularizantes não tarda- de populações indígenas só recentemente contatadas conforma a
ram a ser reivindicadas por outros tipos de grupos humanos, aquém fisionomia cultural do lugar; bem como o isolamento em que se
ou além do recorte nacional, com as mesmas oscilações entre for- mantiveram localidades distantes do interior foi fundamental para
mas pacíficas e conflitivas de afirmação. Todas essas variações aca- a preservação de usos e falares antigos e já desaparecidos nas gran-
baram por dar origem a diferentes modelos de articulação da diver- des cidades.
sidade cultural no seio dos Estados nacionais, desde o que inspirou Essas peculiaridades culturais locais conformam identidades
André Malraux na criação do Ministério da Cultura francês, em que culturais específicas. Elas podem se manifestar tanto nas variações
as identidades distintas tenderiam a se integrar em níveis sucessiva- de uso da língua portuguesa, quanto na de realizar determinados
mente ampliados de perspectiva universalizante, ao modelo multi- trabalhos, nos hábitos alimentares, na indumentária, na maneira de

34
ATUALIDADES
construir as habitações, nas tradições religiosas, nas festas e nas Engajamento social;
manifestações artísticas. Produzir o mapa cultural do Brasil é loca- Novas técnicas de escrita e arte;
lizá-las e identificá-las, estabelecendo a cartografia cultural do país Produção de contos e crônicas.
em sua diversidade. Ao mesmo tempo, este mapa deve identificar A literatura contemporânea é divida em duas linhas principais:
também uma espécie de bacia hidrográfica cultural que ligaria en-
tre si os grupos que compartilham características culturais indepen- TRADICIONAL
dente de sua localização física. Autores já consagrados ganham mais destaque ainda, como
O Brasil garante em sua constituição de 1988 direitos diferen- João Cabral e Drummond, além do destaque para novos artistas,
ciados para as minorias indígenas. De maneira semelhante, algu- como Dalton Trevisan e Lygia Telles.
mas políticas públicas vêm sendo implementadas com o objetivo de Esses tinham como linha de escrita o tradicional: regionalismo,
dar maior projeção social e econômica às minorias étnicas e de cor. intimismo, introspecção e psicológico.
No nosso contexto, coloca-se para discussão:
1. como a implementação desses direitos diferenciados assim ALTERNATIVO
como dessas políticas públicas fundamentadas na discriminação Porém, havia ainda aqueles que queriam romper com o tra-
positiva (ou ação afirmativa) são compatíveis com os princípios do dicional, trazendo novos estilos ou novas maneiras de exprimir
universalismo e do individualismo jurídico que definem o sistema a arte, principalmente na poesia, na qual os sentimentos que há
jurídico brasileiro; muito tempo ficaram oprimidos pela Ditadura ganham espaço, por
2. qual a melhor maneira de implementar essas políticas sem exemplo:
que grupos sociais fiquem em desvantagem em relação a outros; Concretismo;
3. quais os impactos que essas políticas virão a ter para a so- Poema processo;
ciedade (países que as adotaram podem servir de exemplo para o Poesia social;
debate). Poesia marginal.
Fonte: https://www.assisprofessor.com.br/concursos/aposti-
las/camara_deputados/3.%20Conhecimentos%20Gerais.pdf CONCRETISMO
LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: CONTEXTO HIS- Idealizado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Dé-
TÓRICO, PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS cio Pignatari, esse movimento começou na revista “Noisgrandes”,
porém ganhou destaque somente na Exposição Nacional da Arte
CONTEXTO HISTÓRICO Concreta em São Paulo.
O Brasil viveu o desenvolvimento tecnológico há poucas déca- No geral, esse tipo de poesia não possui uma forma e nem ver-
das, causando impactos tanto na indústria, quanto política e na so- sos, fugindo do lirismo, como se o poema estivesse sendo feito em
ciedade. Nos anos 60 – enquanto J.K. governava -, aconteceram vá- uma tela, podendo ser lido em qualquer direção. Veja um exemplo,
rios reflexos na sociedade disso, vide a bossa nova, o cinema novo, abaixo, para compreender melhor:
o teatro de Arena, as vanguardas, o movimento da Tropicália e o
surgimento da televisão.
Porém, com a crise causada pela renúncia de Jânio Quadros e
o golpe militar que depôs João Goulart do poder, o momento de
felicidade do país deu origem ao de descontentamento, provocado
pela censura e sensação de medo constante, principalmente pelo
fechamento do Congresso, pelos vários jornais sendo calados, pela
perseguição, pela tortura e pelo exílio de intelectuais, políticos e
artistas.
É nesse momento que a cultura precisou encontrar formas
diferentes de se expressar, mesmo que por baixo dos panos. Esse
também foi o período em que o Brasil conquistou a sua terceira
vitória na Copa do Mundo, sendo utilizada como motivo nacionalis-
ta, silenciando a população por um tempo. É nesse momento que
surge o ditado “Brasil – ame-o ou deixe-o”.
No final dos anos 70, o presidente Figueiredo sanciona a Lei da
Anistia, permitindo a volta dos exilados para o território nacional.
Isso desperta o sentimento de otimismo para aqueles que estavam
descontentes com o regime militar da época.
A ditadura militar, por sua vez, acaba em 1985, e o movimento
Diretas Já! ganha força em 1989, tendo Fernando Collor de Mello
como o novo presidente do Brasil, posteriormente deposto 2 anos
depois.

LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA: CARACTERÍSTICAS


No geral, a literatura contemporânea procura:
Diminuição das fronteiras entre a arte popular e a erudita;
Intertextualidade;
Vários estilos de narrativa;
Preocupação com o presente;
Temas cotidianos;
Metalinguagem;

35
ATUALIDADES
POESIA PROCESSO POESIA MARGINAL
No ano de 1964, Décio Pignatari e Luiz Ângelo Pinto criaram o Um exemplo da contracultura no Brasil, durante os tempos “ne-
poema código ou semiótico, geralmente visual, como se fosse um gros” da Ditadura Militar, a poesia marginal vinha com o intuito de
poema dadaísta, veja exemplo, abaixo: expressar a violência diária e ir contra o conservadorismo da época.

São marcadas principalmente por ironia, sarcasmo, gírias e hu-


mor. Os grandes nomes do movimento são Paulo Leminski, Torqua-
to Neto, Chacal e Ana Cristina Cesar.

PROSA NA LITERATURA CONTEMPORÂNEA


Há vários tipos no Brasil que ganham destaque:

ROMANCE REGIONALISTA

POESIA SOCIAL Com uma pegada ainda consequente do Romantismo, muitos


O nome mais conhecido desse tipo de poesia é Ferreira Gullar, escritores comentam sobre as zonas rurais e os problemas relacio-
que no ano de 1964 sai fora do padrão da poesia concreta e de for- nados. Alguns dos principais escritores e suas obras são:
ma lírica, impondo o verso com temas de interesse social, principal-
mente relacionados à Guerra Fria, Corrida Atômica, Neocapitalismo Mário Palmério – Vila dos Confins;
e mais. José Cândido de Carvalho – O Coronel e o Lobisomem;
Antônio Callado – Quarup;
Porém, depois do golpe militar, ela é considerada uma poesia Herberto Sales – Além dos Maribus.
de resistência, tendo grandes nomes, como Thiago de Mello, Affon-
so Romano de Sant’Ana, Chico Buarque e muito mais. ROMANCE INTIMISTA
Com linha mais de sondagem do ser humano, os autores têm
uma pegada mais angustiada, com traumas e vários problemas psi-
cológicos que envolvem tanto o campo espiritual, quanto moral e
metafísico. Os principais nomes desse estilo são:
Lydia Fagundes Telles – Ciranda de Pedra;
Autran Dourado – Ópera dos Mortos;
Lya Luft – Reunião de Família;
Fernando Sabino – O Encontro Marcado;
Chico Buarque – Estorvo.

ROMANCE URBANO/SOCIAL
Mostra os centros urbanos e seus problemas relacionados à
burguesia, luta do proletariado, violência urbana, solidão e muito
mais. Os principais nomes são:
José Conde – Um Ramo Para Luísa;
Carlos Heitor Cony – O Ventre;
Dalton Trevisan – Cemitério de Elefantes.

ROMANCE POLÍTICO
Depois do fim da Ditadura Militar, vários romances surgiram
como forma de expressão de tudo que se passou e ficou sufocado.
Esse tipo de literatura possui algumas classes variadas, como:

36
ATUALIDADES
Paródia histórica com nomes como Ariano Suassuna, com A Pe-
dra do Reino, e João Ubaldo Ribeiro, com Sargento Getúlio. ELEMENTOS DE ECONOMIA INTERNACIONAL CON-
Também, o romance reportagem surge, usando a linguagem TEMPORÂNEA
jornalística para explanar os relatos de tortura, como uma voz de
denúncia e protesto. Os grandes nomes são: A relativa sincronização do ciclo econômico nas três principais
Ignácio de Loyola Brandão – Zero, não Verás País Nenhum; regiões econômicas, evidenciada pela desaceleração nos Estados
Roberto Drummond – Sangue de Coca-Cola; Unidos da América (EUA), pela fraca atividade na área do Euro e
Rubem Fonseca – O Caso Morel. pela depressão no Japão, pode significar que a retomada da econo-
O romance policial também ganha destaque com a narrativa mia internacional será mais lenta do que inicialmente imaginado.
urbana, com autores como Marcelo Rubens Paiva, com Bala na Agu- Além disso, a ameaça de ataque norte-americano ao Iraque lança
lha, e Rubens Fonseca, com A Grande Arte. incertezas adicionais sobre o preço futuro do petróleo.
O romance histórico também traz à tona histórias com caracte- A relação entre as três principais moedas internacionais alte-
rísticas policiais e políticas. Grandes nomes dessa forma de protesto rou-se levemente em agosto, na esteira da melhora do mercado
são Ana Miranda, com Boca do Inferno, Fernando Morais, com Olga, de ações, principalmente nos Estados Unidos, ajudando, assim, a
e Rubem Fonseca, com Agosto. recompor, em parte, o valor efetivo do dólar comparativamente ao
Ainda, surge o Realismo fantástico ou Surrealismo, no qual al- iene e ao euro. Existem, contudo, dúvidas quanto à sustentabilida-
guns escritores tratam da situação do Brasil de modo metafórico, de dessa recuperação, tendo em vista que o dólar ainda se encontra
como Murilo Rubião, com O Pirotécnico Zacarias, J. J. Veiga, com A valorizado em relação à média histórica. Ademais, a forte desace-
Hora dos Ruminantes, e Érico Veríssimo, com Incidente em Antares. leração da economia norte-americana no segundo trimestre deve
frustrar as expectativas de lucros em ambiente já bastante contur-
ROMANCE MEMORIALISTA/AUTOBIOGRÁFICO bado pelas denúncias de fraudes contábeis em algumas das princi-
Um estilo que ganha força durante os anos 80, misturando-se pais corporações norte-americanas. Por fim, o déficit em transações
à autobiografia e às reflexões intelectuais de quem viveu no exílio correntes dos EUA permanece bastante significativo, associado à
ou sofreu com torturas durante o Regime Militar. Os nomes mais ampliação do déficit fiscal.
marcantes são Fernando Gabeira, com O que é isso, Companheiro?, Na América Latina, o longo processo de negociação entre o go-
Marcelo Rubens Paiva, com Feliz Ano Velho, e Érico Veríssimo, com verno argentino e o FMI ainda não permite vislumbrar solução para
Solo de Clarineta I e II. a moratória naquele país. Por outro lado, o apoio do Tesouro dos
Estados Unidos e a renovação de acordos Stand-by com Uruguai,
ROMANCE EXPERIMENTAL E METALINGUÍSTICO Paraguai e Brasil trouxeram maior alento à região, mas não foram
Marcado pela sua estrutura fragmentada e diferente, há no- suficientes para restaurar inteiramente a confiança do mercado fi-
mes marcantes como Osman Lins, com Avalovara, Ignácio de Loyola nanceiro internacional. Essa maior aversão global ao risco refletiuse
Brandão, com Zero, e Ivan Ângelo, com A Festa. em piores condições de financiamento privado para os mercados
emergentes, dificultando inclusive a rolagem integral das linhas de
CONTOS E CRÔNICAS créditos comerciais para países como o Brasil.
Nos anos 70, os contos e as crônicas ganham o mundo pela nar- Entre os países emergentes asiáticos, embora o ritmo da ati-
rativa mais simples e curta, atendendo à necessidade dos leitores vidade econômica tenha arrefecido, as projeções apontam para
que buscavam algo mais rápido de ser consumido. crescimento do produto acima da média mundial. De fato, a firme
Esse tipo de literatura é marcado por sequência anormal, relato expansão da demanda interna na região, associada à demanda ex-
pessoal, vários flashes, mistura entre poesia e prosa, além de apare- terna, sustenta taxas de crescimento mais vigorosas nessas econo-
cimento de estados emocionais com frequência. mias, frente à desaceleração observada no resto do mundo.
Os nomes mais marcantes são: Dalton Trevisan, Hilda Hist, Luís
Vilela, Marcelo Rubens Paiva, Domingos Pellegrini JR., Vinícius de Estados Unidos
Moraes, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Fernan-
do Sabino, Luís Fernando Veríssimo, além de muitos outros. A revisão da série do PIB dirimiu as dúvidas restantes quanto
à ocorrência de recessão nos EUA no ano passado. Ademais, dados
OUTROS ESTILOS preliminares indicam que a economia norte-americana apresentou
A literatura contemporânea também deu abertura a outros ti- forte desaceleração no segundo trimestre do ano corrente. Nessas
pos de literatura que envolvem multimodalidades, ou variadas for- condições, o temor de nova recessão ganhou força (double-dip),
mas composicionais, como é o caso de Valêncio Xavier e seu livro contribuindo para deteriorar ainda mais as expectativas de empre-
Mez da Grippe, no qual o autor narra uma história, valendo-se de sários e consumidores.
vários gêneros textuais para compor o livro, como notícias, entre- Dados mais recentes mostram que a demanda de consumo
vistas, poesias e propagandas. continua em expansão, ainda que em ritmo lento, influenciada por
A literatura produzida por povos quilombolas e indígenas tam- fatores extraordinários, como o financiamento sem juros na compra
bém ganha destaque, como é o caso de Daniel Munduruku, com de automóveis. Os preços dos imóveis mantiveram-se em alta, mas
Coisas de Índio, e Kaka Werá Jecupé, com A terra dos mil povos, que há o risco de que tal espiral reflita, na verdade, a realocação do por-
revelam outras formas de literatura que já existiam antes mesmo da tfólio de ativos de risco para ativos reais, movimento característico
colonização no Brasil. de ambientes de maior incerteza.
Carolina de Jesus também inova no cenário literário brasileiro As bolsas de valores e o dólar apresentaram recuperação em
com Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada lançado em 1960. agosto, compensando, em parte, as fortes baixas do ano, contri-
O livro abre espaço para a literatura feminista. buindo para que o preço das ações e o valor efetivo do dólar si-
tuem-se em níveis bem acima dos padrões históricos.

37
ATUALIDADES
Por outro lado, é ainda difícil antecipar em toda sua extensão As condições do mercado de trabalho mantiveram-se relativa-
e profundidade os efeitos negativos que o abalo da confiança nas mente inalteradas nos últimos meses. Assim, a taxa de desemprego
grandes corporações norte-americanas exercerá sobre as decisões do setor não-agrícola manteve-se estável em julho, em 5,9%, com
de investimento e seu financiamento. Nessas condições, aumentam apenas seis mil novos postos de trabalho tendo sido ocupados no
as preocupações quanto ao enorme déficit em conta-corrente dos mês. O número de horas trabalhadas na semana declinou, em julho,
Estados Unidos, cuja correção abrupta e não-coordenada faria de- para o nível mais reduzido, desde outubro do ano passado.
sencadear pressões ainda mais intensas sobre o dólar. Tendo em vista a evolução da demanda, a deterioração das
Assim, embora os indicadores econômicos e financeiros ain- condições do mercado financeiro, o clima de desconfiança em rela-
da emitam sinais parcialmente contraditórios, cresce a percepção ção às corporações e a menor robustez dos ganhos de produtivida-
entre investidores e analistas de que a economia norte-americana de, o Federal Reserve decidiu manter a meta da taxa dos fed funds
dificilmente repetirá no futuro próximo as elevadas taxas de cres- inalterada em 1,75% a.a. na última reunião, em 13 de agosto.
cimento econômico e de produtividade assinaladas nos anos no- Adicionalmente, foi adotado viés de baixa, de vez que os ris-
venta. cos de desaceleração econômica são agora percebidos como mais
De acordo com dados do PIB revisados pelo Bureau of Eco- presentes. Essa interpretação está refletida no comportamento dos
nomic Analysis (BEA) para o período 1999-2001, o crescimento da preços, que, tanto no nível do produtor quanto no do consumidor,
economia norte-americana foi consideravelmente mais fraco que apresentam trajetórias estáveis.
o esperado na maior parte do ano 2000 e na primeira metade de
2001. De fato, o PIB apresentou crescimento negativo nos três pri- Japão
meiros trimestres de 2001, de -0,6%, -1,6% e -0,3%, nessa ordem,
na série anualizada, quando na série anterior a contração havia sido No segundo trimestre de 2002, registrou-se percepção mais
restrita ao terceiro trimestre do ano. Além disso, o crescimento do favorável quanto à evolução da economia japonesa, embora, no
primeiro trimestre de 2002 foi corrigido de 6,1% para 5%, enquanto âmbito interno, persistisse o cenário deflacionário, apesar da po-
dados preliminares para o segundo trimestre do ano indicam de- lítica monetária fortemente expansionista, o consumo privado não
saceleração do crescimento para 1,1%, resultado do aumento das apresentasse sinais consistentes de recuperação e a taxa de desem-
importações e da menor expansão do consumo. prego permanecesse em patamar elevado. No setor externo, a re-
O ritmo de expansão das vendas no varejo arrefeceu levemen- cuperação das economias dos Estados Unidos e do leste asiático
te, passando de 1,5%, em junho, para 1,2%, em julho, considerada reverteu a trajetória declinante da balança comercial, a despeito da
a série dessazonalizada. Excluídas as vendas de automóveis, a taxa apreciação do iene. A economia permanece fortemente dependen-
de crescimento alcançou 0,2% em julho. te da demanda externa e da implementação de reformas estrutu-
O número de construções de novas residências iniciadas em rais, especialmente a do setor bancário.
julho, a exemplo do registrado no mês anterior, recuou 2,7%, após As encomendas às fábricas estão estacionadas desde junho de
assinalar expansão de 11,2% em maio. No trimestre encerrado em 2001, muito embora seu núcleo, que exclui encomendas voláteis,
julho, o início de construções cresceu 1,1%, ante o patamar de igual tenha crescido durante todo o primeiro semestre de 2002. O início
período do ano passado. de novas construções alcançou 102,2 mil unidades, em média, no
O déficit orçamentário no ano fiscal, que termina em setembro, segundo trimestre, ante 86,3 mil no primeiro. O consumo privado
aumentou para US$147,2 bilhões em julho. As previsões mais re- permanece estável, devido ao continuado enfraquecimento da ren-
centes indicam déficit de 1,5% do PIB no presente ano fiscal. da e às incertezas no mercado de trabalho.
No que se refere ao déficit do comércio exterior, totalizou As exportações atingiram U$104,9 bilhões no segundo trimes-
US$40,8 bilhões em junho, retrocedendo 2,2% no mês, mas ex- tre, crescendo 10,4% em relação ao primeiro trimestre e 3,4% re-
pandindo 15,2% no segundo trimestre, em relação ao período ime- lativamente a igual período de 2001. As importações alcançaram
diatamente anterior. O crescimento do déficit comercial deve-se, U$82,6 bilhões, expandindo 7,4% e decrescendo 7,1%, respectiva-
principalmente, à expansão das importações, superior à das expor- mente, nas mesmas bases de comparação.
tações, desde o início do ano. A produção industrial cresceu de fevereiro a maio de 2002, im-
A produção industrial vem crescendo de forma lenta, mas contí- pulsionada sobretudo pela demanda externa por bens de capital. A
nua, desde o início do ano. Em julho, a produção expandiu-se 0,2%, taxa de desemprego alcançou 5,4% em junho, inalterada em rela-
desacelerando um pouco em relação a junho, quando aumentou ção a maio, mas próxima ao recorde de 5,5% do pósguerra. Ressal-
0,7%. Refletindo esse crescimento continuado, a utilização da capa- te-se que a elevação do número de desempregados reflete também
cidade vem aumentando mês a mês, alcançando 75,6% em julho. o processo de reestruturação corporativa, que implicou dispensa de
Os ganhos de produtividade da economia norteamericana funcionários, como forma de redução de custos.
também foram reajustados para baixo, no período 1999-2001, as- Em primeira estimativa, o Banco do Japão divulgou que o PIB
sinalando-se que os resultados refletem não só as revisões perió- cresceu 1,4%, ou 5,7% em termos anualizados, no primeiro trimes-
dicas do PIB, efetuadas pelo BEA, como a revisão anual dos dados tre de 2002, após três trimestres consecutivos de retração. O cresci-
do mercado de trabalho, pelo Bureau of Labor Statistics (BLS). A mento foi impulsionado, em grande medida, pelo desempenho das
produtividade do setor não-agrícola sofreu forte desaceleração no exportações líquidas, responsáveis pela metade do resultado. Na
segundo trimestre de 2002, aumentando 1,7% na série anualizada. comparação com igual período do ano precedente, o PIB decresceu
No mesmo sentido, a produtividade do setor manufatureiro no se- 1,6%. Alegando crescimento insuficiente da demanda externa e bai-
gundo trimestre caiu à metade da taxa registrada no primeiro tri- xo desempenho da demanda interna, o Banco Central do Japão re-
mestre. Todavia, o ganho anualizado de 4,3% no segundo trimestre visou suas expectativas de crescimento para os anos fiscais de 2002
é o melhor resultado do setor nos últimos vinte anos, quando utili- e 2003, de -0,1% para -0,3%, e de 1,6% para 0,8%, respectivamente.
zada a mesma base de comparação. As pressões deflacionárias permaneceram, com o Índice de
Preços ao Consumidor (IPC) registrando, em junho, variação anual
negativa pelo 33º mês consecutivo. O governo credita essa tendên-
cia ao enfraquecimento da demanda, queda nos preços da terra e
concorrência de produtos importados. No mesmo sentido, o Índice

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ATUALIDADES
de Preços no Atacado (IPA) vem registrando variação anual nega- Em relação ao mesmo mês de 2001, a taxa registrou, em julho,
tiva desde setembro de 2001. Para contrarrestar tal tendência, o elevação em dez dos doze países da região.
governo vem exercendo política monetária fortemente expansio- O PIB da Área do Euro cresceu 0,6% no segundo trimestre,
nista, cuja meta de excesso de liquidez, representada pelo saldo comparativamente ao segundo trimestre de 2001, após elevar-se
na contacorrente do Banco Central, tem variado entre ¥10 trilhões 0,3% no primeiro trimestre, na mesma base de comparação. Por
e ¥15 trilhões (US$83 bilhões e US$124 bilhões). Adicionalmente, setores da economia, os maiores aumentos ocorreram em serviços
continuou comprando mensalmente ¥1 trilhão em títulos públicos financeiros e em outros serviços, 1,6% e 1,8%, respectivamente, e
como forma de manter o mercado bancário líquido. as maiores contrações na construção e na indústria, 1,7% e 0,9%,
Em abril deste ano, o governo extinguiu a garantia do seguro- seqüencialmente. A variação do PIB relativa ao trimestre anterior,
depósito para contas de poupança acima de ¥10 milhões, manten- ajustada sazonalmente e anualizada, alcançou 1,4%. O consumo
do garantia ilimitada para depósitos em conta corrente, a vigorar privado, que correspondeu a 57% do PIB, subiu 0,3% no segundo
até abril de 2003. Essa medida levou à expressiva saída de depó- trimestre, enquanto a formação bruta de capital fixo, responsável
sitos de poupança para conta-corrente, com o saldo das primeiras por 21% do PIB, contraiu 2,9%, relativamente ao mesmo trimestre
reduzindose de ¥145 trilhões para ¥93 trilhões. de 2001.
A confiança empresarial medida pelo índice Tankan, que afere
O arrefecimento da inflação no segundo semestre permitiu que
as expectativas de curto prazo das grandes indústrias, alcançou -18
o Banco Central Europeu (BCE) mantivesse a taxa básica de juros
pontos no segundo trimestre, ante -38 pontos no período anterior,
em 3,25% a.a., prevalecente desde novembro de 2001. O Índice de
registrando a primeira variação positiva desde o segundo trimestre
Preços ao Consumidor Harmonizado (IPCH), cuja variação anual se
de 2000. Embora o mesmo índice para as condições de oferta e de-
manda tenha evoluído de -45 para -36, uma provável recuperação manteve acima de 2,5% no primeiro trimestre, mudou de patamar
nos lucros corporativos no segundo semestre ocorreria devido mais nos últimos meses, registrando elevações de 2% em maio, 1,8% em
a esforços de reestruturação e outros cortes de custos do que, pro- junho e 1,9% em julho. Se confirmada a contenção das pressões
vavelmente, pelo aumento nas vendas. inflacionárias que se manifestaram no início do ano, haverá espaço
para que o BCE reduza a taxa de juros visando evitar desaceleração
Área do Euro adicional do nível de atividade econômica.
A frágil recuperação da economia ameaça comprometer as me-
O ritmo de expansão da economia permanece próximo da es- tas fiscais de alguns países da Área do Euro, tendo em vista que o
tagnação, como atestam os desempenhos do PIB e de outros in- déficit público anual deve se manter abaixo do limite de 3% do PIB,
dicadores de oferta e demanda. Produção industrial e vendas ao conforme determinado pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento,
varejo exibem desempenho frágil, ao mesmo tempo que se elevam firmado em 1997. Nesse sentido, a Alemanha, que no primeiro se-
as taxas de desemprego. A incerteza quanto à recuperação da eco- mestre apresentou déficit equivalente a 3,5% do PIB, possivelmente
nomia americana, a insegurança frente ao risco de desemprego e a excederá o teto de 3% para o ano, haja vista os gastos adicionais
deterioração dos preços de ativos de renda variável se traduzem em decorrentes dos efeitos das enchentes. Adicionalmente, a França
pessimismo por parte de empresas e consumidores, como apontam enfrentará dificuldades para se manter abaixo do valor de referên-
os principais indicadores de confiança. A única sinalização positiva, cia, em 2003, se o desempenho econômico permanecer debilitado,
quanto ao nível de atividade, provém da balança comercial, cujos assim como a Itália, que pretende reduzir a carga tributária, no pró-
elevados superávits continuaram a se ampliar ao longo do segundo ximo ano.
trimestre. As expectativas do setor empresarial e dos consumidores, que
De fato, a demanda interna tem se mostrado incapaz de sus- vinham apresentando evolução positiva desde novembro de 2001,
tentar a retomada do crescimento. deterioraram-se a partir de maio, de acordo com indicadores de
As vendas ao varejo vinham exibindo comportamento irregular confiança da Área do Euro e das principais economias da região. O
desde o final de 2001, com variações anuais pequenas, embora po- índice do Instituto de Pesquisas Econômicas (IFO), que afere expec-
sitivas. Em junho, declinaram 0,9%, após elevações de 0,8% e 0,7% tativas de negócios na Alemanha, recuou de 91,6 pontos em maio,
em abril e maio, respectivamente. As variações mensais foram de
para 91,3 e 89,9 nos meses seguintes, alcançando 88,8 pontos em
-1%, 0,3% e -0,5% em abril, maio e junho.
agosto. Na Itália, indicador equivalente estimado pelo Istituto di
Os saldos comerciais positivos prosseguiram em trajetória de
Studi e Analisi Economica (Isae) declinou de 97,2 para 93,2 pontos
expansão, a despeito da acentuada apreciação do euro em relação
de maio para julho e na França, o índice do Institut National de la
ao dólar. No segundo trimestre, essa evolução decorreu, principal-
mente, do crescimento das exportações, que se recuperaram após Statistique et des Études Économiques (Insee) passou de 101 para
atingirem, em fevereiro, o valor mais baixo desde agosto de 2000. 98 pontos em igual período. O índice para a Área do Euro, calculado
As importações vêm crescendo desde dezembro, embora ainda se pela Comissão Européia, registrou retração de -9 para -10. Compor-
mantenham abaixo do patamar observado no início de 2001. O tamento semelhante pode ser observado com relação aos indicado-
superávit comercial alcançou US$7,9 bilhões em maio e US$10,2 res de confiança do consumidor destes países. Entre esses, o índice
bilhões em junho, resultado de exportações de US$82,6 bilhões e referente aos consumidores italianos registrou o maior declínio, de
US$86,9 bilhões e de importações de US$74,7 bilhões e US$76,7 119 para 113,3 pontos, de maio a julho, ao passo que o indicador
bilhões, nos meses de maio e junho, respectivamente. para a Alemanha subiu de 89 para 92 pontos no mesmo intervalo.
A produção industrial prosseguiu apresentando variações anu- O índice da Comissão Européia recuou de -8 para -10. Economias
ais negativas ao longo do segundo trimestre, assinalando decrés- emergentes
cimos de 1,2% em maio e junho. Em termos mensais, a produção
industrial declinou 0,7% em abril, manteve-se estável em maio e China
expandiu 0,5% em junho. As indicações provenientes do mercado
de trabalho também são desfavoráveis. A taxa de desemprego man- No segundo trimestre de 2002, o PIB apresentou crescimento
tevese em 8,3% de maio a julho, após permanecer em 8,2% nos anual de 8%. Essa expansão foi impulsionada pelas altas de 8,6%
quatro primeiros meses do ano. nas vendas no varejo e de 21,5% no investimento.

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ATUALIDADES
A atividade econômica no país continuou em ritmo elevado em A inflação em doze meses, medida pelo IPC, alcançou 15% em
julho, alavancada pela expansão das exportações, que se beneficia- julho, ante 14,7% no mês precedente. Esse crescimento refletiu, em
ram do bom desempenho das vendas ao exterior de produtos elé- parte, a tendência de alta nos preços ao produtor observada desde
tricos e eletrônicos, e do investimento, impulsionado pelos maiores abril, visto que, desse mês até julho, a inflação anual no âmbito do
gastos na construção de edifícios, reflexo da adoção de pacote de produtor deslocou-se de 6,8% para 11,4%.
estímulos fiscais desde o início de 2002. Em relação ao mês anterior, Em relação ao comércio exterior, as exportações totalizaram
o crescimento com ajuste sazonal desses componentes do gasto US$8,2 bilhões e as importações, US$4,8 bilhões, em julho. A con-
agregado atingiu 5,3% e 1,9%, respectivamente. Em comparação ao tinuidade de saldos mensais positivos ao longo do ano resultou
mês correspondente em 2001, as exportações expandiram 28,1% e em superávit acumulado de US$21 bilhões no primeiro semestre
o investimento, 22,9%. de 2002. O superávit acumulado em doze meses até junho atingiu
Ainda em julho, as vendas no varejo mantiveram-se em nível US$42,4 bilhões, 2,5% abaixo do superávit acumulado até maio.
elevado, sustentadas pelas despesas com alimentação, registrando Ao final de julho, as reservas internacionais atingiram US$43,3
crescimento mensal de 0,8%, com ajuste sazonal. Na comparação bilhões, ante US$43,6 bilhões no mês anterior e US$36,5 bilhões ao
com igual mês do ano anterior, as vendas expandiram 8,6%. O IPC final de julho de 2001. O aumento paulatino do nível de reservas
apresentou variação negativa de 0,1% em julho, evidenciando me- externas tem contribuído para a estabilidade da moeda doméstica
nores preços da alimentação e relativa estabilidade do segmento de no patamar de 30 rublos por dólar, ao longo do ano. Ainda em julho,
produtos não alimentícios. a taxa interbancária de juros elevou-se para 13,4% a.a., ante 6,4%
Considerando a variação em 12 meses, o IPC registrou variação a.a., em junho, e 5,2% a.a., em maio, voltando a aproximar-se da
igualmente negativa, de 0,9%. taxa assinalada em fevereiro.

Coréia do Sul Turquia

No segundo trimestre de 2002, o PIB a preços constantes apre- A aprovação pelo Parlamento de reformas necessárias para o
sentou crescimento de 7,8%, em relação ao trimestre anterior, re- início de negociações visando o ingresso do país na União Européia
cuperando, em parte, a contração de 10,2% assinalada no primeiro (UE), a contenção da inflação e o sólido desempenho fiscal foram
trimestre do ano, comparativamente ao último trimestre do ano an- determinantes para o restabelecimento da confiança, face as incer-
terior. Em relação a igual trimestre de 2001, o PIB real expandiu-se tezas de ordem política associadas às eleições de novembro.
6,3%. A recuperação da atividade econômica decorreu da intensi- Esse quadro foi corroborado com a aprovação, pelo FMI, da ter-
ficação na produção industrial, que cresceu 8,1% no segundo tri- ceira revisão do acordo assinado em fevereiro, o que possibilitou
mestre do ano, comparativamente ao período anterior, sustentada, desembolso adicional de US$1,15 bilhão.
principalmente, pelo desempenho das exportações, que expandi- O arrefecimento da inflação contribuiu para a continuada redu-
ram 12,9% no período. Considerada a mesma base de comparação, ção da taxa de juros overnight, que foi fixada em 46% a.a. no início
a formação bruta de capital fixo elevou-se 12,4% e a atividade de de agosto. O banco central reduziu a taxa em seis ocasiões, desde
construção, 25,1%. o início do ano, acumulando contração de 13 p.p. A variação anual
A produção industrial dessazonalizada elevou-se 1,9% em ju- do índice de preços ao consumidor, que havia alcançado 52,7% em
lho, em comparação ao mês anterior, e 8,9% frente ao mesmo mês abril, declinou para 42,6% em junho, 41,3% em julho e 40,2% em
de 2001, contribuindo para que a taxa de desemprego totalizasse agosto, sugerindo o cumprimento da meta para a inflação, de 35%,
2,7%, mesmo patamar de junho, ante 3,4% em julho de 2001. para 2002.
No mesmo mês, a inflação anual, medida pelo IPC, alcançou O PIB cresceu 2,3% no primeiro trimestre, em relação ao mes-
2,1%, ante 2,6% de junho. As variações, igualmente anuais, de 0,9% mo trimestre de 2001. Na mesma base de comparação, estimati-
nos preços ao produtor e de -7,2% nos preços de importação contri- vas apontam crescimento superior a 7% no segundo trimestre,
buíram em grande parte para a desaceleração do IPC. A taxa básica sustentado sobretudo pela indústria e pelo comércio. A produção
de juros foi definida pelo Banco Central da Coréia do Sul em 4,27% industrial vem se desacelerando desde março, embora prossiga
a.a., ante 4,35% a.a. em junho, tendo como referência o ambien- mantendo elevações significativas. Após crescer 19,2% em março,
te econômico caracterizado pela expansão da produção industrial, a variação anual reduziu-se para 14,6% e 11% nos meses seguintes,
recuperação do investimento, menor variação de preços e perspec- situando-se em 6,6% em junho.
tivas de fortalecimento do won frente ao dólar, que deverão amor- A dívida pública registrou declínio de 6,1% em termos reais nos
tecer pressões inflacionárias pelo lado da demanda. sete primeiros meses do ano, declinando de US$84,4 bilhões para
O ambiente de recuperação da atividade, sinalizando condi- US$77,2 bilhões. Essa evolução permitiu que a meta de superávit
ções mais favoráveis para o desempenho da economia, foi confir- primário no primeiro semestre fosse superada em 0,4% do PIB. A
mado pelo Índice de Confiança do Consumidor (ICC), válido para o meta para 2002 é de 6,5% do PIB.
horizonte de seis meses, que se situou em 107,8 em julho, ante 98,4 A balança comercial acumulou resultados negativos desde
no mês correspondente de 2001. março, tendo registrado déficit de US$5,6 bilhões no primeiro se-
mestre. Em junho, o déficit recuou para US$1,1 bilhão, ante US$1,3
Rússia bilhão em maio, resultado de US$2,6 bilhões de exportações e de
US$3,7 bilhões de importações.
A produção industrial russa aumentou 3,3% em julho em rela-
ção a junho. A elevação na atividade industrial decorreu do cresci- América Latina
mento na produção de combustíveis, metalurgia de não-ferrosos,
química e petroquímica, máquinas para uso industrial e alimenta- A desaceleração da atividade econômica mundial, cujo cresci-
ção. Como consequência, a taxa de desemprego situou-se em 7,7%, mento declinou de 4,7% em 2000 para 2,2% em 2001, refletiu-se
permanecendo estável pelo terceiro mês consecutivo, no patamar negativamente no desempenho das economias latino-americanas,
mais reduzido do ano. traduzido em expansão lenta do PIB, em cenário de redução dos
fluxos de capitais internacionais.

40
ATUALIDADES
As projeções de crescimento econômico para a América Latina registraram U$655 milhões no fim de julho, comparativamente a
e Caribe em 2002 sofreram revisões para baixo. O FMI prevê de- U$1,47 bilhão, no fim de junho, e a U$3,1 bilhões, no final de 2001.
clínio do produto regional de 0,4%, após crescimento de 0,7% em Nesse cenário, o governo recorreu ao FMI e a agências multilate-
2001. rais, obtendo recursos da ordem de US$3,9 bilhões, dos quais U$2,8
O resultado é fortemente influenciado pelo colapso da ativi- bilhões originários do FMI, U$0,3 bilhão, do Banco Mundial (Bird), e
dade produtiva na Argentina e suas repercussões regionais. Além U$0,8 bilhão, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
da Argentina, projeta-se queda do produto no Paraguai, Uruguai e O Paraguai, seriamente afetado pela retração do comércio com
Venezuela. Os países de maior importância econômica relativa na os parceiros do Mercado Comum do Sul (Mercosul), teve aprovado
região, México e Brasil, crescerão ao redor de 1,5%, assim como a acordo Stand-by com o FMI no valor de US$200 milhões. No que
Colômbia. Para o Chile, o crescimento previsto é de 2,6%. No en- se refere às negociações da Argentina com o FMI, em agosto, o go-
tanto, essas perspectivas dependem muito dos desdobramentos verno argentino enviou esboço de carta de intenções ao Fundo es-
nas principais economias desenvolvidas. Na maioria dos países da tabelecendo projeções de variáveis macroeconômicas para 2002 e
região, as possibilidades de adoção de uma política macroeconômi- diretrizes do governo para a reestruturação do setor bancário.
ca anticíclica são limitadas, seja pela necessidade de financiamento Entretanto, observa-se entraves à assinatura de um acordo no
externo, seja pela existência de desequilíbrios fiscais, que impedem curto prazo. No entanto, no início de setembro, o FMI adiou, em um
a adoção de políticas fiscais expansionistas. ano, o pagamento de uma dívida de US$2,78 bilhões do país com
o organismo.
Apesar do menor dinamismo no comércio internacional, a re-
gião deverá apresentar superávit na sua balança comercial, fruto de
Petróleo
maiores esforços de diversos países em ganhar novos mercados e
de desvalorizações das moedas locais.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em
Segundo projeções do FMI, o saldo positivo atingirá US$9,9 bi- reunião ordinária de 26 de junho, em Viena, tendo revisto a situa-
lhões, resultado de crescimento nas exportações de bens e redução ção do mercado de petróleo, bem como as perspectivas de oferta e
das importações. Conseqüentemente, reduz-se o déficit em conta demanda do produto para o segundo semestre de 2002, observou
corrente. As exportações e importações do México, maior impor- que as medidas de redução adotadas durante 2001 e 2002, apoia-
tador e exportador da América Latina, cresceram, em julho, 8,7% e das por medidas de alguns produtores não pertencentes a essa or-
7,9%, respectivamente, ante julho de 2001, totalizando US$14 bi- ganização na primeira metade de 2002, restabeleceram o relativo
lhões e US$14,6 bilhões. equilíbrio do mercado. Contudo, observou-se que a relativa tensão
Associada à flexibilização dos regimes cambiais e à adoção de nos preços correntes do mercado é resultante, fundamentalmente,
políticas monetárias baseadas em metas para a inflação, as políti- da situação política vigente.
cas macroeconômicas nacionais têm-se mostrado mais eficientes Nesse contexto, e considerando, adicionalmente, as dúvidas
em vários países, desde a segunda metade dos anos noventa. Em quanto à recuperação econômica mundial, o crescimento modesto
contrapartida, dificuldades de ordem interna ou externa não deter- da demanda e os confortáveis níveis de estoque de petróleo ora
minaram aumento generalizado dos preços, conforme observado existentes, a Opep decidiu manter os níveis acordados de produção,
em 2001, quando a taxa média de inflação ao consumidor na re- em 21,7 milhões de barris por dia (mbd), até o final de setembro.
gião alcançou 6,1%. Para 2002, espera-se a elevação dessa taxa, em No segundo trimestre de 2002, a demanda global de petróleo,
função da aceleração do nível de preços na Argentina, Uruguai e segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), alcançou 75,41
Venezuela. Nos demais países persiste a taxa moderada assinalada mbd, ante 76,65 mbd, no primeiro trimestre, devido principalmen-
nos últimos anos. te à redução ocorrida nos países da Organização para Cooperação e
A crise de governança corporativa nos Estados Unidos, asso- Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em particular para os
ciada às incertezas das economias latino-americanas, em especial Estados Unidos, a recuperação na demanda de petróleo parece
as do Cone Sul, a partir do segundo trimestre de 2002, fizeram rea- estar ganhando momentum. Dados preliminares sugerem recupe-
parecer o movimento de fuga para qualidade (flight to quality) pre- ração em maio e junho, embora para o segundo trimestre o com-
dominante em 2001. Em diversos países da região, a superposição portamento seja de estabilidade.
de tensões políticas domésticas às incertezas associadas aos funda- Ainda de acordo com a AIE, a demanda global para o terceiro
trimestre está estimada em 76,28 mbd e para o quarto trimestre,
mentos macroeconômicos gerou aumento da percepção de risco
em 78,18 mbd, mostrando expansão em ambos os períodos, devi-
por parte do mercado financeiro internacional.
do, principalmente, ao aumento da procura nos países da OCDE.
A conjuntura internacional adversa foi particularmente agrava-
Estimativas preliminares indicam produção média para julho
da pelas preocupações dos investidores com a situação da Argenti-
de 76,5 mbd, representando aumento de 780 mil barris por dia em
na e o receio de contágio para outros países da região, que acabou relação a junho, ocasionada, em parte, pelo aumento da produção
atingindo, principalmente, Uruguai e Paraguai. O Brasil, afetado da Opep.
pela crise argentina, passou também a sofrer crescente pressão à O preço do petróleo tipo Brent no mercado à vista, final de
medida que incertezas associadas à futura política econômica eram período, aumentou de US$25,45/barril, em junho, para US$25,57/
agravadas pelo aumento generalizado da aversão global ao risco. barril, em julho, e US$27,01/barril, em agosto. O declínio nos es-
Tendo em vista a deterioração do ambiente econômico interno toques brutos dos Estados Unidos nos últimos meses e a ameaça
e externo, Uruguai, Paraguai e Brasil firmaram novos acordos Stan- de guerra deste país contra o Iraque acarretaram pressão para o
dby com o FMI. aumento dos preços, compensada, em parte, pela elevação da pro-
No caso uruguaio, o aprofundamento da crise bancária fez dução de petróleo pelos países da Opep.
com que os depósitos bancários passassem de U$13,6 bilhões no No mercado futuro, as cotações do petróleo tipo Brent mos-
início do ano para U$8 bilhões no fim de julho. Os depósitos de traram-se decrescentes para prazos subseqüentes de entrega, ne-
não residentes declinaram 60% e os de residentes, 35%, compara- gociados em mesma data. Para os contratos negociados no final
tivamente ao início de 2002. A redução dos depósitos no sistema de agosto, os níveis de preços superaram os registrados em meses
bancário determinou brusca queda das reservas internacionais, que anteriores.

41
ATUALIDADES
Conclusão serviço público, corte de direitos sociais, congelamento de salários
e aumento de impostos, entre outras medidas. Tem como efeito
Confirma-se a redução no ritmo de crescimento da economia direto o aumento do desemprego, a redução do poder aquisitivo da
mundial. população e a desaceleração da economia, provocando protestos
A retomada da economia norte-americana, variável chave para populares que enfraqueceram ou derrubaram governos.
determinar a trajetória da economia internacional, mostrou-se in- A prolongada estagnação econômica e o alto desemprego es-
suficiente para reverter o fraco dinamismo da atividade econômica tão causando um terremoto político no continente, porque os elei-
das principais economias mundiais. Por conseguinte, o crescimento tores, desiludidos com os partidos tradicionais, estão transferindo o
do comércio mundial será relativamente limitado, pela permanên- seu apoio para legendas mais radicais, tanto de esquerda, como de
cia do quadro recessivo no Japão, com repercussão nos países asiá- direita. A principal bandeira da esquerda é o fim da austeridade, en-
ticos, muito embora estes mantenham maior ritmo de crescimento, quanto a extrema direita combate a imigração e o projeto da União
e por um ritmo de crescimento bastante reduzido na Europa. Europeia. Os países com o maior avanço dos partidos extremistas
Ao recrudescimento das dificuldades externas inerentes às de direita são a Áustria, França, Reino Unido, Hungria, Alemanha,
economias emergentes, em especial às da América Latina, como a Itália e Grécia. O “Podemos”, da extrema esquerda já é a terceira
questão do efeito-contágio, veio se somar o agravamento da perda força política da Espanha. Na Grécia, a esquerda contra a austerida-
de dinamismo da economia mundial e a redução do volume global de assumiu o governo no início de 2015.
de financiamento em direção a estes países. Neste último caso, a
combinação de riscos e incertezas gerou aumento desproporcional Recuperação a passos lentos
da percepção de risco, refletido no patamar de risco país, exacer-
A economia global agora avança devagar, e aos trancos e bar-
bando a contração de fluxos de capital.
rancos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que, pelo
Ainda que no mercado financeiro globalizado as economias
menos até 2016, o ritmo de crescimento do PIB mundial não avance
mostrem estreito grau de interdependência, principalmente nas
além dos 3,5% ao ano – e com riscos de retrocesso. Compare: nos
economias emergentes, a superação da atual crise será determina- anos anteriores à crise, a média de crescimento do PIB mundial es-
da pela dinâmica da economia mundial e pela capacidade das eco- tava entre 4% e 5% ao ano.
nomias, em especial as latino-americanas, em adotar as reformas A recuperação depende de fatores como o preço das matérias-
econômicas necessárias de modo a criar o ambiente de estabilidade -primas básicas (commodities), como o ferro e os produtos agrope-
competitiva, favorável ao investimento e exportações, a fim de re- cuários, que têm preço internacional negociado em bolsas de valo-
duzir o grau de vulnerabilidade externa, elevado na maioria delas. res mundiais. Isso significa que o comércio da soja, do minério de
Diante deste contexto de incerteza, um novo conflito no Orien- ferro ou do trigo tende a ser feito pelo mesmo preço em qualquer
te Médio poderá alterar radicalmente o cenário para a economia parte do mundo, já que o mercado é articulado.
mundial, a começar por nova escalada nos preços internacionais Segundo a OMC, entre 2000 e 2012, as matérias-primas básicas
do petróleo. Dessa forma, a volatilidade no mercado de petróleo duplicaram de preço, em parte devido à maior demanda dos países
deverá ser intensa nos próximos meses, afetando negativamente a emergentes.
economia mundial no restante do ano. Mas a economia dos emergentes está freando. E as commodi-
ties começaram a cair de preço. O preço do barril de petróleo, por
Cenário Econômico Atual exemplo, que chegou a mais de 100 dólares no final de 2014, caiu
para menos de 30 dólares no início de 2016.
A atual crise econômica mundial iniciou em setembro de 2008, Essa queda beneficia os países que importam, como os Estados
com o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Sua origem Unidos, mas é ruim para os exportadores, como a Rússia.
foi o farto crédito imobiliário oferecido nos anos anteriores. Com as A economia mundial está sujeita, também, a oscilações sociais,
taxas de juros norteamericanas num patamar muito baixo, os ban- ambientais e geopolíticas. O envelhecimento da população, com a
cos fizeram empréstimos de longo prazo a clientes sem boa avalia- diminuição do contingente de jovens, reduz a capacidade de traba-
ção como pagadores – chamados de subprime. lho de diversas nações, ao mesmo tempo que aumentam as despe-
O crédito fácil intensificou a procura por imóveis, que tiveram sas dos governos com aposentadorias e pensões.
os preços elevados. Mais tarde, o governo norte-americano subiu Regiões atingidas por desastres naturais, como terremotos
os juros para combater a inflação. Com isso, as prestações dos fi- e tsunamis, param de produzir e exigem dos governos gastos em
pacotes de ajuda. As mudanças climáticas, com grandes períodos
nanciamentos ficaram mais caras e muitos compradores pararam
de seca ou inundações, afetam a produção agropecuária. O esgo-
de pagar.
tamento de recursos naturais, como a água, encarece a vida em
Os imóveis (garantias dos empréstimos) foram retomados pe-
algumas regiões do planeta. E epidemias e pandemias reduzem a
los bancos, que os colocavam à venda para cobrir os empréstimos
produtividade de uma população e aumentam as despesas em saú-
não pagos. O aumento da oferta fez os preços dos imóveis caírem. de pública.
Mesmo com a venda, os bancos não conseguiam recuperar o preju- Do ponto de vista geopolítico, os maiores riscos vêm de guerras
ízo. A quebra do banco Lehman Brothers, marco da crise, provocou e conflitos. As sanções econômicas impostas a países beligerantes,
um efeito dominó no mercado financeiro mundial. como ocorre com Ucrânia e Rússia, têm impacto no comércio inter-
A crise econômica atingiu duramente a União Europeia. Afetou nacional.
com maior intensidade os países da zona do euro, com elevada dívi-
da pública. O país mais atingido foi a Grécia. Outros países bastante Estados Unidos
afetados foram: Portugal, Irlanda, Itália, Espanha e Chipre.
Como condição para receber ajuda econômica, medidas de A economia norte-americana vem se recuperando da crise eco-
austeridade são adotadas pelos países em crise. O objetivo é o cum- nômica de 2008. O desemprego caiu para taxas baixas, o PIB está
primento de metas orçamentárias e de limite de endividamento es- crescendo e a produção industrial se recupera. O dólar, moeda dos
tabelecidos pela União Europeia. Incluem privatizações, redução do EUA, valorizou-se perante as principais moedas globais.

42
ATUALIDADES
Contribui para a recuperação econômica o aumento na produ- A Oxfam aponta especialmente as grandes empresas, acusadas
ção de petróleo e gás, com a consequente diminuição das importa- de estarem “a serviço dos mais ricos” e de se guiarem por um úni-
ções. Os Estados co objetivo: maximizar a rentabilidade de acionistas e investidores.
Unidos voltaram a ser o maior produtor mundial de petróleo. Em 2015, as dez maiores empresas do mundo obtiveram um fatura-
O aumento da produção se deve ao desenvolvimento de uma nova mento superior à receita total dos Governos de 180 países. No en-
tecnologia para a extração do óleo e do gás na rocha de xisto, a tanto, esse crescimento não foi distribuído entre todas as camadas
preços competitivos. da sociedade.
Em dezembro, o Federal Reserve, banco central dos Estados Essas empresas usam o seu poder para garantir que tanto a le-
Unidos, subiu a faixa para sua taxa de juros em 0,25 ponto percen- gislação quanto a elaboração de políticas nacionais e internacionais
tual, para entre 0,25% e 0,50% ao ano. Esta é a primeira alta do sejam feitas sob medida para proteger seus interesses, melhorar
preço do dinheiro, desde 2006. A taxa de referência estava entre sua rentabilidade e minimizar o pagamento de impostos. É um tipo
zero e 0,25% ao ano. de “capitalismo clientelista e de curto prazo” que coloca em desvan-
tagem as pequenas e médias empresas, incapazes de fazer frente às
Emergentes grandes corporações.
Entre as estratégias para pagar o mínimo de imposto possível,
As economias emergentes – incluindo os Brics (Brasil, Rússia, o relatório cita o uso de paraísos fiscais, prática que provoca preju-
Índia, China e África do Sul) – entraram numa nova fase: continuam ízos anuais de ao menos 100 bilhões de dólares para os países em
crescendo, mas não com o mesmo fôlego. O alto preço das com- desenvolvimento.
modities no mercado internacional alavancou um crescimento rá- Em comunicado, a diretora-executiva da Oxfam Internacional,
pido dos emergentes na primeira década do século XXI. Além de Winnie Byanyima, afirmou que, “quando uma em cada dez pessoas
apresentarem taxas significativas de crescimento, essas economias no mundo sobrevive com menos de US$ 2 por dia, a imensa riqueza
que acumulam apenas alguns poucos é obscena”.
passaram bem pelos problemas criados pela crise em 2009 e 2010.
“A desigualdade está prendendo centenas de milhões de pes-
No entanto a crise global terminou por afetar a todos por causa
soas na pobreza; está fraturando nossas sociedades e minando a
da queda no comércio internacional. O terremoto que atingiu os
democracia”, afirmou. Byanyima acrescentou ainda que ao mesmo
mercados financeiros levou à redução dos investimentos nos emer-
tempo que muitos salários se encontram estagnados, as remune-
gentes. Hoje, o crescimento médio do PIB dessas economias está rações dos presidentes e altos diretores de grandes empresas têm
três pontos percentuais abaixo do registrado em 2010. São três os disparado. “Os investimentos em saúde e educação são cortados,
principais fatores que refreiam o crescimento dos emergentes: enquanto as corporações e os super-ricos reduzem ao mínimo sua
• a queda no preço do petróleo e outras commodities; contribuição fiscal”.
• o recuo no comércio internacional; O ritmo no qual os mais ricos acumulam cada vez mais riqueza
• os gargalos de infraestrutura internos. poderia dar lugar ao primeiro “trilionário” do mundo em apenas 25
anos. “Com essa concentração de riqueza, esta pessoa necessitaria
Esses três fatores afetam principalmente a China. A redução no esbanjar um milhão de dólares por dia durante 2.738 anos para gas-
ritmo de crescimento chinês, de 10% para cerca de 7% nos próxi- tar toda sua fortuna”, segundo a Oxfam.
mos anos, não é preocupante, pois se mantém uma expansão forte. As mulheres sofrem maiores níveis de discriminação no traba-
No entanto, essa desaceleração afeta os países da Ásia e os demais lho e assumem a maior parte das funções não remuneradas. No
emergentes, como o Brasil, exportadores de matéria-prima para a ritmo atual, levará 170 anos para se conseguir a igualdade salarial
indústria chinesa. entre homens e mulheres.
Entre 1988 e 2011, a renda dos 10% mais pobres da população
Concentração Global da Riqueza mundial aumentou em média US$ 3 por ano, enquanto a do 1%
mais rico cresceu 182 vezes mais, a um ritmo de US$ 11.800 por
O crescimento econômico só está beneficiando aqueles que ano. Em outro relatório, em 2016, a Oxfam já havia dito que o 1%
têm mais. A superconcentração da riqueza está aumentando e ame- mais rico da humanidade tinha uma renda maior que o resto dos
açando a estabilidade e o crescimento global. Estudo divulgado pela 99% do mundo.
organização não governamental britânica Oxfam, demonstra que Para a ONG, o modelo econômico atual é baseado numa série
apenas oito pessoas são detentoras de uma riqueza equivalente ao de falsas premissas, entre as quais está a ideia de que a riqueza
acúmulo total da metade menos favorecida do mundo, ou seja, 3,6 individual extrema não é prejudicial, mas um sintoma de sucesso,
bilhões de indivíduos. ou que o crescimento do PIB deve ser o principal objetivo da ela-
Segundo o documento, intitulado “Uma economia a serviço boração das políticas. As premissas equivocadas incluem acreditar
que os recursos do planeta são ilimitados ou que o atual modelo
dos 99%”, seis dos indivíduos mais ricos do mundo são dos Estados
econômico é neutro do ponto de vista do gênero.
Unidos, um é da Espanha e um é do México. Todos são empresá-
A organização adverte que, se tais pressupostos não forem re-
rios e homens. São eles: Bill Gates, da Microsoft; Amancio Orte-
vistos, será impossível reverter a situação e defende a construção
ga, da Inditex (Zara); Warren Buffett, maior acionista da Berkshire
de uma “economia mais humana” que beneficie o conjunto da po-
Hathaway; Carlos Slim, proprietário do Grupo Carso; Jeff Bezos, da pulação. Esse novo sistema deveria se basear na cooperação entre
Amazon; Mark Zuckerberg, do Facebook; Larry Ellison, da Oracle; os Governos, privilegiar a utilização de energias renováveis, acabar
e Michael Bloomberg, da agência de informação de economia e fi- com a extrema concentração da riqueza e apoiar homens e mulhe-
nanças Bloomberg. res.
A organização atribui a responsabilidade por essa situação, que Propõe-se que os governos aumentem os impostos tanto das
qualifica de “extrema, insustentável e injusta”, ao atual modelo eco- grandes fortunas como das rendas mais altas; que cooperem para
nômico, “a serviço do 1% mais rico da população”. garantir que os trabalhadores recebam salários dignos e que freiem
a evasão e as artimanhas fiscais para reduzir ao mínimo o imposto
das grandes corporações empresariais.

43
ATUALIDADES
Além disso, recomenda que os governos apoiem as empresas A China é uma ditadura que reprime a liberdade de expressão e
que operam em benefício de seus trabalhadores e da sociedade e viola os direitos humanos. No entanto, há uma resistência interna, e
não só no interesse dos acionistas; e que assegurem que as econo- diversos dissidentes desafiam o regime.
mias sirvam de maneira equitativa a mulheres e homens. O crescimento econômico da China está desacelerando e há
temores sobre as consequências da transição para um ritmo mais
Brasil lento e sustentável. A diminuição do crescimento do PIB vem ao
encontro da mudança proposta pela China. O país passa por um
No Brasil, a desigualdade é elevada, mas já foi maior. Entre ambicioso processo de transição: quer depender menos das expor-
2004 e 2014, o índice de Gini calculado pelo Instituto Brasileiro de tações e da indústria, e mais dos serviços e do consumo interno.
Geografia e Estatística (IBGE) para os rendimentos de trabalho caiu Antes da crise econômica mundial, crescia à taxa de 10% ou
de 0,545 para 0,490 – quanto mais próximo de zero, menor a desi- mais ao ano.
gualdade. Em termos de rendimentos totais, a queda foi de 0,501 Um menor crescimento chinês afeta o ritmo da atividade eco-
para 0,497. Ambas as quedas se devem à elevação na renda das nômica no mundo, principalmente dos exportadores de commodi-
camadas mais pobres da população. No entanto, a concentração de ties como o Brasil.
renda ainda é muito grande, inclusive entre os mais ricos. A China decretou o fim da política do filho único, permitindo
Segundo a Receita Federal, 8,4% da população se apropria de que agora cada casal tenha até dois filhos. A política do filho úni-
59,4% das riquezas nacionais. E os 0,1% mais ricos detêm 6% do co entrou em vigor entre o fim de 1979 e 1980. O objetivo era de
total de riqueza e renda declaradas. Ou seja, 6% de todo o patrimô- reduzir os problemas de superpopulação da China. Segundo espe-
nio e renda declarados no Brasil estão nas mãos de apenas 26,7 mil cialistas, as medidas serviram para evitar que a população atual do
contribuintes. Essa camada no topo da pirâmide da desigualdade país fosse de 1,7 bilhão de habitantes, contra os atuais 1,3 bilhões.
tem rendimento total médio da ordem de 5,8 bilhões de reais ao O governo chinês sempre defendeu que a restrição ao número
ano. de filhos, sobretudo em áreas urbanas, contribuiu para o desenvol-
O principal indicador usado para medir a concentração de ren- vimento do país e para a saída da pobreza de mais de 400 milhões
da na população de um país ou uma região é o índice (ou coeficien- nas últimas três décadas. No entanto, também admitiu que estava
te) de Gini. É uma régua que mostra o desvio na distribuição da chegando a hora de essa política ser encerrada.
riqueza, numa escala de 0 a 1. Quanto mais próximo de zero, menor O envelhecimento rápido da população está entre os efeitos
a desigualdade. secundários mais prejudiciais da política do filho único para a China.
O índice pode ser calculado sobre diferentes parâmetros – ren- Em 2012, pela primeira vez em décadas, a população em idade ativa
da familiar, renda per capita ou renda vinda apenas do trabalho. caiu. O índice de fecundação no país, de 1,5 filhos por mulher, é
Segundo os dados do Banco Mundial, de 2013, os cinco países com muito inferior ao nível que garante a renovação geracional.
os mais baixos índices de desigualdade são Suécia (0,250), Ucrâ- A poluição atmosférica é um gravíssimo problema nas metró-
nia (0,256), Noruega (0,258), Eslováquia (0,260) e Belarus (0,265). poles chinesas. É comum o uso de máscaras para se protegerem da
O Brasil figura na lista do Banco Mundial (que realiza um cálculo névoa de poluição.
diferente do IBGE) com o índice de Gini de 0,547. Trata-se de um O país disputa com o Japão a posse das ilhas de Senkaku, para
dos mais elevados níveis de desigualdade do mundo – na compara- os japoneses, ou Diaoyu, para os chineses, localizadas no Mar da
ção com os vizinhos sul-americanos, o indicador é maior que o da China Oriental.
Argentina (0,445) e do Uruguai (0,453). Já as reivindicações de Pequim no Mar do Sul da China a co-
locam em rota de colisão com seus vizinhos no Sudeste Asiático –
China além da China, Vietnã, Filipinas, Brunei, Taiwan e Malásia disputam
a soberania nessa região. O Mar do Sul da China é fundamental para
A civilização chinesa tem mais de quatro mil anos. Após um lon- a indústria da pesca, rica em reservas de petróleo e estratégica para
go período imperial e uma breve república, uma revolução liderada o transporte marítimo.
pelo Partido Comunista Chinês (PCCh), de Mao Tsé-tung, deu ori- Mesmo com a indefinição das fronteiras, a China ampliou a
gem à República Popular da China, em 1949. O país foi reorganizado ofensiva para consolidar a ocupação da área em 2014, ao construir
nos moldes comunistas. ilhas artificiais em Spratly e instalar plataformas para a exploração
Com a morte de Mao, em 1976, a China implementou um mo- de petróleo na região. Essa iniciativa chinesa é vista como uma for-
delo, ainda vigente, chamado por seus dirigentes de socialismo de ma de impor sua hegemonia no Sudeste Asiático.
mercado. Trata-se de uma combinação de características do socia- Mas em julho deste ano, atendendo a uma reclamação das Fi-
lismo (no qual as empresas e a terra são propriedade do Estado) lipinas, a Corte Permanente de Arbitragem decidiu que a China não
com aspectos do capitalismo (a presença de empresas privadas, so- tem “direitos históricos” sobre o Mar do Sul da China. O governo de
bretudo multinacionais, em algumas áreas do país). Pequim disse que não irá acatar a decisão.
No final da década de 1970, o país começou a abrir parte de
sua produção para as multinacionais, com a criação de Zonas Eco-
nômicas Especiais. Os investimentos estrangeiros e a abundância de PANORAMA DA ECONOMIA NACIONAL
mão de obra mal remunerada alavancaram as exportações, pois os
produtos são baratos. Em três décadas, a China deixou de ser um O pau-brasil foi a primeira riqueza a ser explorada, porém essa
país pobre e agrário e tornou-se uma potência econômica. O país exploração não era lucrativa e por isso, Portugal resolve colonizar
é a segunda maior economia do mundo, respondendo por mais de o Brasil. Foi implantado o sistema de capitanias hereditárias, onde
10% do PIB mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. a nobreza portuguesa recebia posse da capitania e era obrigada a
Apesar do vertiginoso crescimento econômico, o país convive explorá-la.
com problemas que causam instabilidade ao atual modelo políti- Com isso a agricultura passa a ser a atividade econômica (cana
co-econômico: significativa desigualdade social, corrupção, degra- de açúcar). No século XVII, houve grande desenvolvimento na agri-
dação ambiental e crescente descontentamento popular. A China é cultura e por isso foi criado o primeiro tipo de sociedade colonial. A
o principal parceiro comercial e destino das exportações do Brasil. pecuária se estendeu e o povoamento começou a surgir.

44
ATUALIDADES
Com a demanda do açúcar, começaram a surgir as bandeiras Vargas trabalha para voltar à presidência e por isso, várias co-
indígenas que acabaram despovoando o interior. missões foram criadas para desenvolver a economia. Em 1954, Ge-
Com a revolução industrial na Europa, o estado passou a não túlio se suicida e os primeiros rumores de golpe surgem.
interferir na economia e o trabalho do homem foi valorizado. No Em 1956, Juscelino assume buscando a união dos empresá-
século XIX, houve uma séria queda na agricultura da cana, tabaco e rios, políticos, militares e assalariados. JK adota o recurso ao ca-
algodão pois não tinham os mesmos rendimentos anteriores, a pe- pital estrangeiro para sustentar a indústria pesada. É desta época,
cuária e a mineração também regrediram e a indústria não progre- os primeiro contatos brasileiros com o FMI. O Brasil era o terceiro
dia. Mas com a abertura dos portos, o Brasil passou a comercializar país receptor de capital de risco americano destinado a indústria
com outros países e implantou novas indústrias. manufatureira.
Na época do império, a cafeicultura era a principal atividade A industrialização da economia tinha um importante papel na
econômica, e logo após vinha, a cana, algodão, etc. No século XIX mudança de costume dos brasileiros. Jânio toma posse e encontra
o café chega ao Vale do Paraíba. As condições climáticas e da terra um país em crise deixado por JK.
eram favoráveis o que ajudou a tornar o café ainda mais importan- Porém Jânio renuncia e João Goulart assume. O crescimento
te economicamente. Mas o esgotamento das terras, abolição, altos da indústria e do PIB desabam e os investimentos sofrem uma vio-
preços, fizeram com que a cafeicultura no Vale decaísse. lenta queda. As forças armadas derrubam Goulart e Castelo Branco
Por causa da abolição do tráfico, o capital foi investido na in- assume, tornando as eleições indiretas e dividindo os partidos em
dústria e por isso de 1850 à 1864, houve inflação e crise financeira. dois (Arena e MDB).
Em 1889, acontece o golpe militar, pois conflitos entre a igreja e o Em 1964, foi criado o programa de ação econômica do governo.
governo e a abolição dos escravos, fazem com que o governo perca Criado pelo ministro da economia para reduzir a inflação. Criou-se
também a correção monetária para financiar o déficit do governo.
suas bases econômicas, militares e sociais.
Surgiu o BNH, reformas bancárias e a repressão dos valores do ser-
O café naquele momento era tão importante, que o governo
viço público, porém a inflação subiu.
iria comprar uma parte da produção para manter o preço. Mas a
Em 1966, houve um corte de dinheiro corrente, com isso a in-
crise de 29 afetou a cafeicultura, abaixando o preço do produto.
flação caiu e quando Costa e Silva assumiu, houve um aumento no
Neste momento, ocorreram muitas falências e perda de poder das PIB.
oligarquias. Com a isenção do IR e do IPI, as exportações cresceram. Foi
Logo após a posse de Vargas, a economia agrícola sofre mu- também criado o Banco
danças pois diminuíram sensivelmente as exportações, a própria Central, substituindo o Sumoc. Nesta época, o ministro da fa-
população diminuiu e muitas fábricas fecharam. zenda Delfim Neto, reduz os juros e com isso, reduz a inflação.
Por isso, um novo mercado interno foi criado e com isso, au- Costa e Silva foi substituído por Médici, que manteve Delfim
mentou a burguesia que se interessava na indústria e na vida urba- Neto a frente da economia, e este conseguiu abaixar ainda mais a
na. Em 1933, a indústria era a principal fonte econômica no país. É inflação e crescer o PIB.
a partir daí que surgem os primeiros redutos parlamentares e com Com a criação do I PND, o Brasil poderia atingir metas e resulta-
isso o Estado começa a tratar das questões do comércio exterior e dos significativos. Foram 3 anos de euforia até a guerra dos Árabes
das indústrias separadamente. A criação de organismos como o Ins- X Israel, o que aumentou o preço do petróleo e derivados, o que
tituto Nacional do Açúcar e do Álcool acabou sendo benéfica para a gerou uma crise econômica internacional e fez a produção e o PIB
indústria e influiu na política do desenvolvimento econômico. desabarem.
Neste momento, a indústria começa a crescer e São Paulo tor- A crise volta a abalar o país, a dívida externa muito alta, o défi-
na-se o maior centro industrial da América Latina. Cria-se aí o Esta- cit e outros problemas voltaram a assustar. Com a formulação do II
do Novo que controla as atividades econômicas. PND, Geisel, agora no poder, contactava com estrangeiros a possibi-
Vargas começa a investir na indústria pesada, o que desagrada lidade de se instalar usinas no país. Mas como iria ajudar um plano
os próprios industriais. baseado no endividamento ?
Mas tinha ainda a questão das siderúrgicas, pois Vargas queria Por isso, o II PND teve de ser reformulado e acabou abandona-
acabar com o monopólio da Cia. Iron Ore. Com a segunda grande do. Em 78, Geisel revogou atos de banimento, criou a lei de segu-
guerra, o crescimento econômico poderia diminuir, mas como não rança nacional e suspendeu a censura.
havia mais exportações, acabou abrindo ainda mais o mercado in- O retorno a democracia parece certo neste momento e quando
terno, o que foi bom para a economia. Figueiredo assume, promete devolver o poder aos civis, o que acon-
Com o fim da guerra e a união aos aliados, o Brasil passou a tece 6 anos mais tarde debaixo de uma crise econômica muito séria.
Em 1980, a situação econômica não era nada boa, pois as dívi-
exportar em demasia e as vezes até o que não era necessário. Países
das não deixaram a inflação baixar. O país entra em recessão. Houve
desenvolvidos se reestruturaram e por isso havia pouco interesse
queda na produção industrial em 1981 e o desemprego era grande.
na exportação de produtos nacionais. Apesar deste problema, foi
A dívida chegou a níveis absurdos e o FMI passou a mandar no
criada a Companhia Siderúrgica Nacional e a indústria se moder-
país. Em 1985, Tancredo
nizou. Neves assume, mas morre logo após. Sarney toma seu lugar já
Em 1948, cria-se o regime de licença prévia, o que funcionou em eleições diretas, que vieram logo após. Em 1986, o novo minis-
durante algum tempo. O Sumoc acabou com os paralelos criando tro da economia Dilson Funaro, cria o plano
um fundo único de cambio. Em 1949, institui o orçamento de cam- Cruzado, congelando os preços, salários, extinção da correção
bio e as operações vinculadas. monetária, criação do índice de preços e OTN.
Com a guerra da Coréia, o governo passa a fazer estoques de A inflação caiu, já que a situação internacional era favorável.
produtos com medo de escassez. As exportações foram mal. Ape- O ágil começou a aparecer e por isso foi criado o Cruzado II, o que
nas o café ainda ia bem. Em 1953, o Sumoc cria os leilões de cambio descongelou os preços e aumentou as tarifas.
e resolve o problema. Os produtos importados, foram divididos em Luís Carlos Bresser Pereira, cria o plano Bresser, para congelar
categorias segundo sua importância, o que foi bom para a econo- os preços novamente. Mas problemas como o ágil e o desabasteci-
mia, fazendo com que a balança tenha fechado em Superávit. mento voltaram a acontecer.

45
ATUALIDADES
Em 1989, foi criado o Plano Verão. Preços, salários e aluguéis do Mar do Norte, para entrega em Janeiro, valorizou-se 3,2% fixan-
foram congelados, a moeda se desvalorizou e houve privatizações. do-se no mercado de Londres em 58,80 dólares. Com a tempestade
Mas tudo foi por água abaixo, pois as aplicações no over foram de neve que se esperava para dia 16 no Norte dos Estados Unidos
grandes e com isso a inflação voltou a crescer. onde é utilizada 80% da energia para aquecimento, e com a descida
Eleito, Collor cria seu plano, com itens como por exemplo: blo- das temperaturas muito abaixo do normal noutras regiões, a procu-
queamento das contas correntes e poupanças, congelamentos, fim ra de combustível aumentou, tendo as refinarias crescido a produ-
do Cruzado Novo, e etc. ção. Prevê-se que as temperaturas possam descer mais, obrigando
Em 1991, a ministra Zélia Cardoso de Melo, cria um novo con- ao aumento da procura de combustível para aquecimento. O gás
gelamento, desindexação da economia, criação da TR., etc e como natural, subiu acima dos 9% no mesmo dia, atingindo novo recor-
era de se esperar, esse plano também fracassou. de. A Arábia Saudita, no seguimento da sua declaração no segun-
Collor é afastado e quem assume é Itamar Franco, seu vice, que do semestre do ano intensificou a produção tendo afirmado que
não faz grandes mudanças. o petróleo necessário à crescente procura mundial seria satisfeito.
O até então ministro Fernando Henrique, é chamado e começa Em conformidade os preços do barril registaram grandes descidas
a elaborar um novo plano para estabilizar a economia. FHC se des- nos principais mercados internacionais, tendo o consumo das gaso-
vincula do ministério para ser candidato e é eleito. linas diminuído em alguns mercados e as refinarias do Golfo México
O Plano Real de Fernando Henrique se divide em três fases: voltaram a subir a oferta após a passagem do furacão Katrina, ten-
do havido sinais dada comunidade internacional de que algumas
1ª.- Ajuste fiscal para equacionar o desequilíbrio orçamentário
economias emergentes devem travar a sua procura como forma de
da União.
fonte de produção de energia, como é o caso da China e Índia, que
2ª.- Eliminar a inflação através da URV.
após aumentos sucessivos na produção doméstica, devem entrar
3ª.- Transformação da URV em Real.
numa fase de maior estabilidade. A China tornou público a 21, re-
A condução do plano procura evitar o erro dos choques hetero- sultados da análise da actividade econômica tendo revisto em alta
doxos, qual seja a grande expansão do crédito e da demanda após o nível de riqueza criada internamente, situando-se na 4 maior eco-
a queda da inflação. nomia mundial. O estudo recaiu sobre os 3 mais importantes secto-
A economia a nível global apesar das crises e das incertezas res que são a agricultura, indústria e serviços prestados, o que levou
vividas teve um comportamento positivo tendo contribuído o forte a corrigir o Produto Interno Bruto (PIB) de 2004, bem como os seus
crescimento econômico e o aumento significativo da liquidez em dados históricos. O governo chinês não revelou se vai fazer alguma
termos internacionais. Os maiores importadores mundiais que são alteração corretiva aos valores anteriormente divulgados do PIB,
os Estados Unidos e a China deram o impulso necessário na área mas é de prever que este tipo de levantamento econômico avalie
comercial. Os défices públicos e da balança comercial dos Estados de forma correta a contribuição dos serviços para o crescimento da
Unidos foram financiados pelos países produtores de petróleo e pe- economia e que tem sido subestimado. A riqueza produzida a nível
los países asiáticos. A economia mundial deve terminar este ano doméstico pela China foi no ano passado de 1,649 biliões de dólares
com um crescimento muito perto dos 4%, considerando a subida cerca de 1,385 biliões de euros, altura em que a China teve a maior
dos preços do petróleo conforme previsto pelos governadores dos taxa de crescimento em 7 sete anos que foi de 9,5%. Existe na Wall
bancos centrais dos 10 países mais ricos do mundo (G-10). A Chi- Street o sentimento generalizado de que o PIB chinês de 2004 deve
na, Índia, Paquistão e diversos países de economias emergentes do ser alterado para 2 biliões de dólares, correspondente a 1,669 bili-
Sudeste asiático estão a crescer a taxas muito próximas dos 10%, ões de euros, que significa um aumento de 20%.
tendo a China apresentado um crescimento de 9,5% no primeiro tri- Confirmada esta previsão, a China passa a ser o 4 país a nível
mestre do ano, tendo provocado aumentos considerados anormais mundial com riqueza produzida, ou seja avançar 3 posições em re-
na procura de petróleo para satisfazer as necessidades de energia, lação ao lugar que neste momento ocupa. Esta análise profunda da
obrigando a uma subida dos preços do barril de crude. Os Estados economia da China tem como fim, permitir ao governo justificar a
Unidos continuam a ser o maior consumidor de petróleo do mundo, redução do investimento público e consiguir melhorar a confiança
seguidos da China que em 2003 tornou-se o segundo maior consu- dos investidores estrangeiros face às estatísticas do país, servindo
midor representando 8,1% do consumo, importando 13% de petró- ainda, como meio importante de redução da corrupção e da fraude
leo a nível mundial, representando em termos de importações 51% fiscal, numa área em que as autoridades têm extrema dificuldade
e na arrecadação dos impostos, essencialmente no sector dos ser-
do consumo mundial, face aos 59% dos Estados Unidos e aos 86%
viços. O Banco Central ou Banco Popular da China (BPC) sem qual-
do Japão, devendo atingir em 2025 cerca de 77%. Em simultâneo o
quer aviso prévio a 21 de Julho divulgou a desindexação da moeda
aumento das cotações das vendas dos produtos petrolíferos estão a
chinesa ao dólar americano, tendo criado um sistema de maior fle-
reduzir o poder de compra dos Países Desenvolvidos (PD), fazendo
xibilidade em termos de gestão dos câmbios do yuan ou renmibi,
que a inflação se possa vir a tornar uma verdadeira ameaça. A crise constituído por um cabaz de moedas ou divisas, chamado de G-4,
que vivem os PD não permite dispor de mecanismos que façam in- em que o dólar continua a ser a moeda dominante, do euro, iene e
verter esta tendência da economia mundial a curto prazo. O Banco won da Coreia do Sul. O G-4 constitui o pilar do sistema de tripé da
Central Europeu (BCE), confirmou o crescimento da economia a ní- especialização a nível internacional da China. A China como sabe-
vel global, sendo a inflação um sério perigo, uma vez que é provoca- mos em termos económicos é carente em 3 factores; a importação
do pela alta dos preços do petróleo, sendo dessa forma uma amea- de produtos considerados intermédios, provenientes de países re-
ça ao crescimento sustentável, com efeitos negativos na economia gionais de maior desenvolvimento industrial como o Japão e a Co-
e por sua vez nas respectivas políticas orçamentais. O preço do pe- reia do Sul; a compra do crude que é uma “commodity” em dólares;
tróleo deve terminar o ano muito perto dos 60 dólares o barril, ten- do mercado dos Estado Unidos, uma vez que a China é o principal
do ultrapassado esse montante dia 21 nos mercados internacionais, exportador e a Europa o destino das exportações dos produtos co-
e o gás natural atingiu um novo valor máximo, com a descida das nhecidos como “made in China”. No cabaz das ditas moedas foram
temperaturas no Norte dos Estados Unidos, tendo em Nova Iorque, incluídos o dólar canadiano, australiano e o de Singapura, o bath, a
o preço do barril para entrega em Janeiro subido 2,5%, fixando-se libra e o ringgit da Malásia, moedas correspondentes aos parceiros
em 60,69 dólares. O preço do barril de Brent, petróleo de referência comercias chineses.

46
ATUALIDADES
O BPC valorizou o yuan face ao dólar somente em 2,2%, e em relação ao euro foi em serpente até ao momento com pequenas
desvalorizações e valorizações. Esta pequena valorização do yuan veio a contrariar as previsões dos especuladores que esperavam uma
valorização de 5%. O yuan poderá ser valorizado entre 2% a 3% no final de 2006. O yuan está desvalorizado 40% em relação ao dólar e
tivemos a oportunidade de fazer o historial e consequências dessa desvalorização real e efectiva. Esta medida inclui-se adentro de uma
visão geo-estratégica a longo prazo, em que a China tem como intenção pôr a moeda chinesa como moeda mundial de topo, ficando os
mercados financeiros dependentes das suas flutuações. Vai ser inevitável nos próximos 20 anos. A China terá de esperar pelo próximo
ano e seguinte, considerados críticos, e no segundo ano em Outubro realizarse-á, o 17.º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). A
valorização pequena dos 2,2%, foi um sinal de carácter político com vista a acalmar os americanos. Mas são os factores económicos tão
importantes quanto os políticos. Esta pequena valorização levou em linha de conta o facto da economia da China estar dependente do
comércio internacional em 70%, e a exportação dos produtos chamados de “made in China” faz-se de duas formas: pelo sistema industrial
de multinacionais estrangeiras, onde os capitais americanos têm uma considerável percentagem, e por empresas controladas em termos
financeiros pelos chineses da diáspora, que representaram em 2004, cerca de 60% das exportações. Alterar o câmbio da moeda é o mesmo
que alterar os benefícios concedidos à deslocalização. Uma outra situação a levar em conta são as cerca de 30 mil empresas exportadoras
de têxteis, brinquedos e outros bens de consumo de pequenas dimensões, para as quais, os 2,2%, representam um corte dos pequenos
3% a 5% que têm de margem de lucro. O tratamento em termos de matéria cambial é extremamente sensível uma vez que segundo os
relatórios das instituições internacionais e da Reserva Federal Americana, a China tem um sistema bancário na sua maioria considerado
na bancarrota, altamente corrupto, faltando o conhecimento técnico no que diz respeito ao crédito e que é segurado pelo governo. Umas
das razões para os chineses não valorizarem significativamente e de forma rápida o yuan, que seria o colapso do sistema bancário. Mesmo
com esta alteração de 2,2% no câmbio, prevê-se que 50% dos pequenos exportadores privados se extinga, e não irá significar uma menor
dor de cabeça para os industriais americanos daqueles sectores e uma situação favorável para o défice comercial dos Estados Unidos uma
vez que os importadores e consumidores americanos vão colmatar essa lacuna chinesa, comprando produtos da América Central, e de
outros países da Ásia e da Europa de Leste. Os americanos irão comprar barato de outros mercados, pelo que é pura areia para os olhos.
Uma mudança brusca do sistema financeiro chinês causaria um tremor de terra devastador. Os bancos alimentaram uma autêntica “bolha”
de investimento no país, que tarde o cedo atingirá o topo, e uma das razões da China não valorizarem muito e de forma rápida o yuan,
seria a possibilidade de poder criar o colapso de todo o sistema como dissemos. A valorização, ainda que pequena, tem um efeito real e
efectivo no aumento da liquidez traduzida em dólares por parte dos investidores do país onde se incluem as maiores empresas estatais e
na valorização dos activos em yuan, mas traduzidos em dólares nos mercados internacionais, essencialmente no sector de empresas de
“hi-tech”. A maior liquidez em dólares significa a pressão estratégica do ir à globalização seguida pelas empresas estatais e privadas da
China. O mercado de fusões e aquisições a nível mundial está a crescer com as entradas chinesas na bolsa dos Estados Unidos, Hong Kong
e Singapura. A verdadeira loucura no Nasdaq com as chamadas “start-ups” da China é visível. A atracção pela Europa é uma falha e os
europeus vão ter de trabalhar bastante para atrair os capitais chineses

Economia do Brasil Atual

A economia brasileira atual é diversificada e abrange os três setores: primário, secundário e terciário. O País há muito abandonou a
monocultura ou o direcionamento unicamente para um tipo de indústria.

Hoje, a economia brasileira é baseada na produção agrícola, o que faz do Brasil um dos principais exportadores de soja, frango e suco
de laranja do mundo. Ainda é líder na produção de açúcar e derivados da cana, celulose e frutas tropicais.
Igualmente, possui uma importante indústria de carne, com a criação e abate de animais, ocupando o posto de terceiro produtor
mundial de carne bovina.
Confira os dados da EcoAgro, de 2012, sobre a agroindústria brasileira:

Em termos de indústria de transformação, o Brasil se destaca na produção de peças para abastecimento dos setores automotivos e
aeronáuticos.
Da mesma forma é um dos principais produtores de petróleo do mundo, dominando a exploração de petróleo em águas profundas.
Mesmo assim é destaque na produção de minério de ferro.

47
ATUALIDADES
História da Economia Brasileira A Coroa Portuguesa sobretaxou os produtos da colônia e cobra-
O primeiro mercado a ser explorado no território da América va impostos, denominados quinto, derrama e capitação eram pagos
por Portugal foi o pau-brasil (Caesalpinia echinata). nas Casas de Fundição.
A árvore era encontrada em abundância na costa e através O quinto correspondia a 20% de toda a produção. Já a derrama
dela, o Brasil recebeu este nome. Esta espécie tem porte médio, representava 1,5 mil quilos de ouro que deveriam ser pagos a cada
chega a atingir 10 metros de altura e possui muitos espinhos. ano sob pena de penhor compulsório dos bens dos mineradores.
De floração amarela, o pau-brasil tem um tronco avermelhado Por sua vez, a capitação era a taxa correspondente a cada escravo
que após o processamento era utilizado como corante para tecidos. que trabalhava nas minas.
A história econômica do Brasil pode ser estudada através de A insatisfação dos colonos com a cobrança de impostos, consi-
ciclos econômicos. Estes foram elaborados pelo historiador e eco- derada abusiva, culminou no movimento denominado Inconfidên-
nomista Caio Prado Jr.(1907-1990) como uma tentativa de explicar cia Mineira, em 1789.
os caminhos da economia brasileira. A busca pelo ouro influenciou o processo de povoamento e
ocupação da colônia, alargando os limites do Tratado de Tordesi-
Ciclo do Pau-Brasil lhas.
O pau-brasil era encontrado na maior parte da costa do litoral Este ciclo perdurou até 1785 coincidindo com o começo da Re-
brasileiro, numa faixa que ia do Rio Grande do Norte ao Rio de Ja- volução Industrial na Inglaterra.
neiro. A extração era feita por mão de obra indígena e obtida atra- Ciclo do Café
vés do escambo. O ciclo do café foi o responsável pelo impulso à economia bra-
Além do uso para a extração de corante, o pau-brasil era útil na sileira do início do século XIX. Esse período foi marcado pelo intenso
produção de utensílios em madeira, na confecção de instrumentos desenvolvimento do país, com a expansão de estradas de ferro, a
musicais e empregado na construção. industrialização e a atração de imigrantes europeus.
Três anos após o descobrimento, o Brasil já contava com um O grão, de origem etíope, era cultivado por holandeses na Guia-
complexo de extração da madeira. na Francesa e chegou ao Brasil em 1720, sendo cultivado no Pará e
depois Maranhão, Vale do Paraíba (RJ) e São Paulo. As lavouras de
Ciclo da Cana-de-Açúcar café também se espalharam por Minas Gerais e Espírito Santo.
Após o esgotamento da oferta de pau-brasil - que ficou pratica- As exportações começaram em 1816 e o produto liderou a pau-
mente extinto - os portugueses passaram a explorar a cana-de-açú- ta exportadora entre 1830 e 1840.
car na sua colônia da América. Este ciclo durou mais de um século e A grande parte da produção estava no estado de São Paulo. A
teve impacto significativo na economia colonial. elevada quantidade de grãos favoreceu a modernização de modais
Os colonizadores instalaram engenhos para a produção de açú- de transporte, notadamente ferroviário e portuário.
car no litoral que era feito através de mão de obra escrava. Os en- O escoamento era feito pelos portos do Rio de Janeiro e Santos,
genhos estavam localizados em todo nordeste, mas principalmente que receberam recursos para adequação e melhorias.
em Pernambuco. Nesse momento histórico, a mão de obra escrava havia sido
Como havia dificuldades em dominar a logística da exploração abolida e os fazendeiros não quiseram aproveitar os trabalhadores
da cana-de-açúcar, o suporte para a indústria açucareira foi obtido libertos, a maioria das vezes por preconceito.
junto aos holandeses, que passaram a responsáveis pela distribui- Assim houve necessidade de arranjar mais braços para a lavou-
ção e comercialização do açúcar ao mercado europeu. ra, condição que atraiu imigrantes europeus, com destaque para os
Entre as consequências deste cultivo está o desmatamento da italianos.
costa brasileira e a chegada de mais portugueses para participar dos Após quase cem anos de prosperidade, o Brasil começou a en-
imensos lucros gerados na colônia portuguesa. Igualmente há a im- frentar uma crise de superprodução: havia mais café para vender
portação de africanos como escravos para trabalhar nos engenhos. do que compradores.
Como monocultura, a exploração da cana era baseada na es- Do mesmo modo, ocorre o fim do ciclo cafeeiro em consequên-
trutura de latifúndios - grandes propriedades de terra - e no traba- cia da quebra da bolsa de Nova York, em 1929. Sem compradores,
lho escravo. Este era sustentado pelo tráfico negreiro, dominado a indústria cafeeira diminuiu de importância no cenário econômico
pela Inglaterra e por Portugal. brasileiro a partir dos anos 50.
Os colonizadores também se dedicavam a outras atividades A queda da produção do café também significou um marco
econômicas como buscar metais preciosos. Isto levou expedições, para o país no que tange à diversificação da base econômica.
conhecidas como entradas e bandeiras, ao interior da colônia a fim A infraestrutura, antes utilizada para o transporte de grãos, foi
de encontrar ouro, prata, diamantes e esmeraldas. o suporte para a indústria, que passa a manufaturar produtos de
elaboração simplificada, como tecidos, alimentos, sabão e velas.
Ciclo do Ouro
A busca por pedras e metais preciosos teve o ápice no século Economia e Industrialização Brasileira
XVIII, entre 1709 e 1720, na capitania de São Paulo. Nesta época, O governo de Getúlio Vargas (1882-1954) passa a incentivar a
esta região comportava o que é hoje Paraná, Minas Gerais, Goiás e instalação da indústria pesada no Brasil como a siderurgia e a pe-
o Mato Grosso. troquímica.
A exploração dos metais e pedras preciosas foi impulsionada Isso provocou o êxodo rural em vários pontos do país, sobretu-
pelo declínio da atividade canavieira, em franca decadência após os do no nordeste, onde a população fugia da decadência rural.
holandeses iniciarem o plantio de cana em suas colônias da Amé- As medidas em benefício da indústria foram favorecidas pela
rica Central. eclosão da Segunda Guerra Mundial. Ao fim do conflito, em 1945, a
Com a descoberta de minas e pepitas nos rios de Minas Gerais Europa estava devastada e o governo brasileiro investe num moder-
tem início o chamado ciclo do ouro. A riqueza que vinha do interior no parque industrial para se auto abastecer.
do País influenciou na transferência da capital, antes em Salvador,
para o Rio de Janeiro, a fim de controlar a saída do metal precioso.

48
ATUALIDADES
Metas de Kubitschek
A indústria passa a ser o centro das atenções no governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976), que implanta o Plano de Metas, bati-
zado de 50 anos em 5. JK previa que o Brasil cresceria em 5 anos o que não havia crescido em 50.
O Plano de Metas indicava os cinco setores da economia brasileira para onde os recursos deveriam ser canalizados: energia, transpor-
te, alimentação, indústria de base e educação.

Fazia parte também a construção de Brasília e, posteriormente, a transferência da capital do país.

Milagre Econômico
Durante a ditadura militar, os governos abrem o país a investimentos estrangeiros que impulsionam a infraestrutura. O Brasil vive,
entre 1969 e 1973, o ciclo denominado Milagre Econômico, quando o PIB cresce 12%.
É nessa fase que são construídas obras de grande impacto, como a ponte Rio-Niterói, a hidrelétrica de Itaipu e a rodovia Transama-
zônica.
No entanto, essas obras eram caras e também causam a tomada de empréstimos a juros flutuantes. Assim, se vivia uma inflação de
18% ao ano e o crescente endividamento do País, a despeito da geração de milhares de empregos.
O Milagre Econômico não possibilitou o desenvolvimento pleno, pois o modelo econômico privilegiou o grande capital e a concentra-
ção de renda aumentou.
Por parte do setor primário, a produção de soja já era a partir da década de 70 a principal commodity de exportação.
Ao contrário de culturas como o café, que demandavam abundante mão de obra, o cultivo da soja é marcada pela mecanização, o que
gera desemprego no campo.
Ainda na década de 70, o Brasil é fortemente impactado pela crise do mercado internacional do petróleo, que faz o preço dos com-
bustíveis subirem.
Dessa forma, o governo estimula a criação do álcool como combustível alternativo à frota de veículos nacionais.

A Década Perdida - 1980


O período é marcado pela insuficiência de recursos da União para o pagamento da dívida externa.
Ao mesmo tempo, o País precisava adaptar-se aos novos paradigmas da economia mundial, que previa inovações tecnológicas e pelo
crescimento da influência do setor financeiro.
Nesse período, 8% do PIB nacional é direcionado ao pagamento da dívida externa, a renda per capita fica estagnada e a inflação au-
menta vertiginosamente.
Há, desde então, uma sucessão de planos econômicos para tentar conter a inflação e retomar o crescimento, sem sucesso. Por isso,
os economistas chamaram os anos 80 de “década perdida”.
Observe a evolução do PIB do Brasil de 1965 a 2015:

Dívida Externa e Economia Brasileira


No final do governo militar, a economia brasileira dava sinais de desgaste por conta dos altos juros cobrados para pagar a dívida exter-
na. O Brasil, assim, passou a ser o maior devedor entre os países em desenvolvimento.
O PIB despencou de um crescimento de 10,2% em 1980 para 4,3% negativos em 1981, como atesta o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
A solução foi fazer planos econômicos que visassem estabilizar a moeda e controlar a inflação.

Planos Econômicos
Com a economia em forte recessão, dívida externa e perda do poder de compra, o Brasil lançava mãos de planos econômicos para
tentar recuperar a economia.
Os planos econômicos tentavam desvalorizar a moeda a fim de conter a inflação. Entre 1984 e 1994, o País teve várias moedas dife-
rentes:

49
ATUALIDADES
Plano Cruzado Com o passar dos anos, a cidadania no Brasil sofreu uma evolu-
A primeira medida de intervenção econômica ocorre quando ção no sentido da conquista dos direitos políticos, sociais e civis. No
assume o presidente José Sarney, em janeiro de 1986. O ministro da entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, tendo em conta
Fazenda Dilson Funaro (1933-1989) lança o Plano Cruzado no qual os milhões que vivem em situação de pobreza extrema, a taxa de
estava previsto o controle da inflação por meio do congelamento desemprego, um baixo nível de alfabetização e a violência vivida na
de preços. sociedade.
Ainda houve os planos Bresser, em 1987 e o Verão, em 1989. A ética e a moral têm uma grande influência na cidadania, pois
Ambos não conseguiram deter o processo inflacionário e a econo- dizem respeito à conduta do ser humano. Um país com fortes bases
mia brasileira seguia estagnada. éticas e morais apresenta uma forte cidadania.

Plano Collor Ética profissional é o conjunto de normas éticas que formam a


Com a eleição de Fernando Collor de Mello, em 1989, o Brasil consciência do profissional e representam imperativos de sua con-
adotaria ideias neoliberais, onde abrir a economia nacional era a duta.
prioridade. Ética é uma palavra de origem grega (éthos), que significa “pro-
Igualmente estavam previstas as privatizações de empresas priedade do caráter”.
públicas, redução com o funcionalismo público e aumento da par- Ser ético é agir dentro dos padrões convencionais, é proceder
ticipação de empresários privados em vários setores econômicos. bem, é não prejudicar o próximo. Ser ético é cumprir os valores es-
No entanto, devido aos escândalos de corrupção, o presidente tabelecidos pela sociedade em que se vive.
se viu envolvido num processo de impeachment que lhe custou o O indivíduo que tem ética profissional cumpre com todas as
cargo presidencial. atividades de sua profissão, seguindo os princípios determinados
pela sociedade e pelo seu grupo de trabalho.
Plano Real Cada profissão tem o seu próprio código de ética, que pode
O Brasil contou com 13 planos de estabilização econômica. O variar ligeiramente, graças a diferentes áreas de atuação.
último deles, o Plano Real, previa a troca da moeda para o Real a No entanto, há elementos da ética profissional que são univer-
partir de 1º e julho de 1994, durante o governo de Itamar Franco sais e por isso aplicáveis a qualquer atividade profissional, como a
(1930-2011). honestidade, responsabilidade, competência etc.
A implantação do plano ficou sob o comando do ministro da Saiba mais sobre o significado de Ética.
Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. O Plano Real previa o con-
trole efetivo da inflação, o equilíbrio das contas públicas e o esta- Código de Ética Profissional
belecimento de um novo padrão monetário, atrelando o valor do
real ao dólar. O Código de Ética Profissional é o conjunto de normas éticas,
Desde então, o Brasil entrou numa era de estabilidade monetá- que devem ser seguidas pelos profissionais no exercício de seu tra-
ria que se manteria pelo século XXI. balho.
Este código é elaborado pelos Conselhos, que representam e
fiscalizam o exercício da profissão.
ÉTICA E CIDADANIA O código de ética médica, por exemplo, em seu texto descreve:
“O presente código contém as normas éticas que devem ser segui-
das pelos médicos no exercício da profissão, independentemente
Ética e cidadania são dois conceitos fulcrais na sociedade hu- da função ou cargo que ocupem.
mana. A ética e cidadania estão relacionados com as atitudes dos A fiscalização do cumprimento das normas estabelecidas neste
indivíduos e a forma como estes interagem uns com os outros na código é atribuição dos Conselhos de Medicina, das Comissões de
sociedade. Ética, das autoridades de saúde e dos médicos em geral.
Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assun- Os infratores do presente Código, sujeitar-se-ão às penas disci-
tos morais. A palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo plinares previstas em lei”.
que pertence ao caráter. A palavra “ética” vem do Grego “ethos”
que significa “modo de ser” ou “caráter”. Ética e democracia: exercício da cidadania.
Cidadania significa o conjunto de direitos e deveres pelo qual
o cidadão, o indivíduo está sujeito no seu relacionamento com a A ética é construída por uma sociedade com base nos valores
sociedade em que vive. O termo cidadania vem do latim, civitas que históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma
quer dizer “cidade”. ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade
Um dos pressupostos da cidadania é a nacionalidade, pois e seus grupos.
desta forma ele pode cumprir os seus direitos políticos. No Brasil Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos
os direitos políticos são orquestrados pela Constituição Federal. O de ética.
conceito de cidadania tem se tornado mais amplo com o passar do Cidadão é um indivíduo que tem consciência de seus direitos e
tempo, porque está sempre em construção, já que cada vez mais a deveres e participa ativamente de todas as questões da sociedade.
cidadania diz respeito a um conjunto de parâmetros sociais. É muito importante entender bem o que é cidadania. Trata-se
A cidadania pode ser dividida em duas categorias: cidadania de uma palavra usada todos os dias, com vários sentidos. Mas hoje
formal e substantiva. A cidadania formal é referente à nacionalida- significa, em essência, o direito de viver decentemente.
de de um indivíduo e ao fato de pertencer a uma determinada na- Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder expressá-la. É
ção. A cidadania substantiva é de um caráter mais amplo, estando poder votar em quem quiser sem constrangimento. É poder pro-
relacionada com direitos sociais, políticos e civis. O sociólogo britâ- cessar um médico que age de negligencia. É devolver um produto
nico T.H. Marshall afirmou que a cidadania só é plena se for dotada estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro,
de direito civil, político e social. índio, homossexual, mulher sem ser descriminado. De praticar uma
religião sem se perseguido.

50
ATUALIDADES
Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios Direitos do cidadão
de cidadania: respeitar o sinal vermelho no transito, não jogar papel - Direito à saúde, educação, moradia, trabalho, previdência so-
na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comporta- cial, lazer, entre outros;
mento está o respeito ao outro. - O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa, mas pre-
No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra cisa assinar o que disse e escreveu;
civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego - Todos são respeitados na sua fé, no seu pensamento e na sua
na palavra politikos – aquele que habita na cidade. ação na cidade;
Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “ci- - O cidadão é livre para praticar qualquer trabalho, ofício ou
dadania é a qualidade ou estado do cidadão”, entende-se por cida- profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma para isso;
dão “o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, - Só o autor de uma obra tem o direito de usá-la, publicá-la e
ou no desempenho de seus deveres para com este”. tirar cópia, e esse direito passa para os seus herdeiros;
Cidadania é a pertença passiva e ativa de indivíduos em um - Os bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam para seus
estado - nação com certos direitos e obrigações universais em um herdeiros;
específico nível de igualdade (Janoski, 1998). No sentido atenien- - Em tempo de paz, qualquer pessoa pode ir de uma cidade
se do termo, cidadania é o direito da pessoa em participar das para outra, ficar ou sair do país, obedecendo à lei feita para isso.
decisões nos destinos da Cidade através da Ekklesia (reunião dos
chamados de dentro para fora) na Ágora (praça pública, onde se A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas
agonizava para deliberar sobre decisões de comum acordo). Dentro que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta. Tradicio-
desta concepção surge a democracia grega, onde somente 10% da nalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, cientí-
população determinava os destinos de toda a Cidade (eram excluí- fica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes
dos os escravos, mulheres e artesãos). ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a
Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade própria vida, quando conforme aos costumes considerados corre-
para melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca tos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode
se esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser ser a própria realização de um tipo de comportamento.
divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação Enquanto uma reflexão científica, que tipo de ciência seria a
para o bem estar e desenvolvimento da nação. A cidadania consiste ética? Tratando de normas de comportamentos, deveria chamar-se
desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, res- uma ciência normativa. Tratando de costumes, pareceria uma ciên-
peitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como to- cia descritiva. Ou seria uma ciência de tipo mais especulativo, que
das às outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer tratasse, por exemplo, da questão fundamental da liberdade?
obrigado, desculpe, por favor, e bom dia quando necessário... até Que outra ciência estuda a liberdade humana, enquanto tal, e
saber lidar com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas, em suas realizações práticas? Onde se situa o estudo que pergunta
o direito das crianças carentes e outros grandes problemas que en- se existe a liberdade? E como ele deveria ser definida teoricamente,
frentamos em nosso mundo. a como deveria ser vivida, praticamente? Ora, ligado ao problema
“A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre bus- da liberdade, aparece sempre o problema do bem e do mal, e o
car, para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais im- problema da consciência moral e da lei, e vários outros problemas
perioso dos deveres impostos aos cidadãos.” (Juarez Távora - Militar deste tipo.
e político brasileiro)
Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e E na Administração Pública, qual o papel da ética?
sociais estabelecidos na constituição. Os direitos e deveres de um
cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que ao cumprirmos Uma vez que é através das atividades desenvolvidas pela Ad-
nossas obrigações permitimos que o outro exerça também seus ministração Pública que o Estado alcança seus fins, seus agentes
direitos. Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos eo- públicos são os responsáveis pelas decisões governamentais e pela
brigações e lutar para que sejam colocados em prática. Exercer a execução dessas decisões.
cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais. Para que tais atividades não desvirtuem as finalidades estatais
Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos objetivos a Administração Pública se submete às normas constitucionais e às
da educação de um país. leis especiais. Todo esse aparato de normas objetiva a um compor-
A Constituição da República Federativa do Brasil foi promul- tamento ético e moral por parte de todos os agentes públicos que
gada em 5 de outubro de 1988, pela Assembleia Nacional Consti- servem ao Estado.
tuinte, composta por 559 congressistas (deputados e senadores). Princípios constitucionais que balizam a atividade administra-
A Constituição consolidou a democracia, após os anos da ditadura tiva:
militar no Brasil. Devemos atentar para o fato de que a Administração deve pau-
A cidadania está relacionada com a participação social, porque tar seus atos pelos princípios elencados na Constituição Federal, em
remete para o envolvimento em atividades em associações cultu- seu art. 37 que prevê: “A administração pública direta e indireta de
rais (como escolas) e esportivas. qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoali-
Deveres do cidadão dade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”.
- Votar para escolher os governantes; Quanto aos citados princípios constitucionais, o entendimento
- Cumprir as leis; do doutrinador pátrio Hely Lopes Meirelles é o seguinte:
- Educar e proteger seus semelhantes; “- Legalidade - A legalidade, como princípio da administração
- Proteger a natureza; (CF, art. 37, caput), significa que o administrador público está, em
- Proteger o patrimônio público e social do País. toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às
exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar,
sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade dis-
ciplinar, civil e criminal, conforme o caso. (...)

51
ATUALIDADES
- Impessoalidade – O princípio da impessoalidade, (...), nada Os princípios constitucionais devem ser observados para que
mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao admi- a função pública se integre de forma indissociável ao direito. Esses
nistrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim princípios são:
legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa – Legalidade – todo ato administrativo deve seguir fielmente os
ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal. Esse meandros da lei.
princípio também deve ser entendido para excluir a promoção pes- – Impessoalidade – aqui é aplicado como sinônimo de igualda-
soal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações de: todos devem ser tratados de forma igualitária e respeitando o
administrativas (...) que a lei prevê.
- Moralidade – A moralidade administrativa constitui, hoje em – Moralidade – respeito ao padrão moral para não comprome-
dia, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública ter os bons costumes da sociedade.
(...). Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito – – Publicidade – refere-se à transparência de todo ato público,
da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como salvo os casos previstos em lei.
“o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da – Eficiência – ser o mais eficiente possível na utilização dos
Administração” (...) meios que são postos a sua disposição para a execução do seu tra-
- Publicidade - Publicidade é a divulgação oficial do ato para balho.
conhecimento público e início de seus efeitos externos. (...) O prin-
cípio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de A GESTÃO PÚBLICA NA BUSCA DE UMA ATIVIDADE ADMINIS-
assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu conhecimento TRATIVA ÉTICA
e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através
dos meios constitucionais (...) Com a vigência da Carta Constitucional de 1988, a Administra-
- Eficiência – O princípio da eficiência exige que a atividade ção Pública em nosso país passou a buscar uma gestão mais eficaz e
administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimen- moralmente comprometida com o bem comum, ou seja, uma ges-
to funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, tão ajustada aos princípios constitucionais insculpidos no artigo 37
que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legali- da Carta Magna.
dade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satis- Para isso a Administração Pública vem implementando políti-
fatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus cas públicas com enfoque em uma gestão mais austera, com revisão
membros. (...).” de métodos e estruturas burocráticas de governabilidade.
Função pública é a competência, atribuição ou encargo para o Aliado a isto, temos presenciado uma nova gestão preocupada
exercício de determinada função. Ressalta-se que essa função não com a preparação dos agentes públicos para uma prestação de ser-
é livre, devendo, portanto, estar o seu exercício sujeito ao interesse viços eficientes que atendam ao interesse público, o que engloba
público, da coletividade ou da Administração. Segundo Maria Sylvia uma postura governamental com tomada de decisões políticas res-
Z. Di Pietro, função “é o conjunto de atribuições às quais não corres- ponsáveis e práticas profissionais responsáveis por parte de todo o
ponde um cargo ou emprego”. funcionalismo público.
No exercício das mais diversas funções públicas, os servidores, Neste sentido, Cristina Seijo Suárez e Noel Añez Tellería, em ar-
além das normatizações vigentes nos órgão e entidades públicas tigo publicado pela URBE, descrevem os princípios da ética pública,
que regulamentam e determinam a forma de agir dos agentes pú- que, conforme afirmam, devem ser positivos e capazes de atrair ao
blicos, devem respeitar os valores éticos e morais que a sociedade serviço público, pessoas capazes de desempenhar uma gestão vol-
impõe para o convívio em grupo. A não observação desses valores tada ao coletivo. São os seguintes os princípios apresentados pelas
acarreta uma série de erros e problemas no atendimento ao públi- autoras:
co e aos usuários do serviço, o que contribui de forma significativa – Os processos seletivos para o ingresso na função pública de-
para uma imagem negativa do órgão e do serviço. vem estar ancorados no princípio do mérito e da capacidade, e não
Um dos fundamentos que precisa ser compreendido é o de que só o ingresso como carreira no âmbito da função pública;
o padrão ético dos servidores públicos no exercício de sua função – A formação continuada que se deve proporcionar aos funcio-
pública advém de sua natureza, ou seja, do caráter público e de sua nários públicos deve ser dirigida, entre outras coisas, para transmi-
relação com o público. tir a ideia de que o trabalho a serviço do setor público deve realizar-
O servidor deve estar atento a esse padrão não apenas no exer- -se com perfeição, sobretudo porque se trata de trabalho realizado
cício de suas funções, mas 24 horas por dia durante toda a sua vida. em benefícios de “outros”;
O caráter público do seu serviço deve se incorporar à sua vida priva- – A chamada gestão de pessoal e as relações humanas na Ad-
da, a fim de que os valores morais e a boa-fé, amparados constitu- ministração Pública devem estar presididas pelo bom propósito e
cionalmente como princípios básicos e essenciais a uma vida equili- uma educação esmerada. O clima e o ambiente laboral devem ser
brada, se insiram e seja uma constante em seu relacionamento com positivos e os funcionários devem se esforçar para viver no cotidia-
os colegas e com os usuários do serviço. no esse espírito de serviço para a coletividade que justifica a própria
O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Po- existência da Administração Pública;
der Executivo Federal estabelece no primeiro capítulo valores que – A atitude de serviço e interesse visando ao coletivo deve ser
vão muito além da legalidade. o elemento mais importante da cultura administrativa. A mentali-
II – O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento dade e o talento se encontram na raiz de todas as considerações
ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o sobre a ética pública e explicam por si mesmos, a importância do
legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, trabalho administrativo;
o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e – Constitui um importante valor deontológico potencializar o
o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e§ 4°, orgulho são que provoca a identificação do funcionário com os fins
da Constituição Federal. do organismo público no qual trabalha. Trata-se da lealdade ins-
Cumprir as leis e ser ético em sua função pública. Se ele cum- titucional, a qual constitui um elemento capital e uma obrigação
prir a lei e for antiético, será considerada uma conduta ilegal, ou central para uma gestão pública que aspira à manutenção de com-
seja, para ser irrepreensível tem que ir além da legalidade. portamentos éticos;

52
ATUALIDADES
– A formação em ética deve ser um ingrediente imprescindí- Outra forma eficiente de moralizar a atividade administrativa
vel nos planos de formação dos funcionários públicos. Ademais se tem sido a aplicação da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº
devem buscar fórmulas educativas que tornem possível que esta 8.429/92) e da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº
disciplina se incorpore nos programas docentes prévios ao acesso à 101/00) pelo Poder Judiciário, onde o agente público que desvia sua
função pública. Embora, deva estar presente na formação contínua atividade dos princípios constitucionais a que está obrigado respon-
do funcionário. No ensino da ética pública deve-se ter presente que de pelos seus atos, possibilitando à sociedade resgatar uma gestão
os conhecimentos teóricos de nada servem se não se interiorizam sem vícios e voltada ao seu objetivo maior que é o interesse social.
na práxis do servidor público; Assim sendo, pode-se dizer que a atual Administração Pública
– O comportamento ético deve levar o funcionário público à está caminhando no rumo de quebrar velhos paradigmas consubs-
busca das fórmulas mais eficientes e econômicas para levar a cabo tanciados em uma burocracia viciosa eivada de corrupção e desvio
sua tarefa; de finalidade. Atualmente se está avançando para uma gestão pú-
– A atuação pública deve estar guiada pelos princípios da igual- blica comprometida com a ética e a eficiência.
dade e não discriminação. Ademais a atuação de acordo com o in- Para isso, deve-se levar em conta os ensinamentos de Andrés
teresse público deve ser o “normal” sem que seja moral receber Sanz Mulas que em artigo publicado pela Escuela de Relaciones
retribuições diferentes da oficial que se recebe no organismo em Laborales da Espanha, descreve algumas tarefas importantes que
que se trabalha; devem ser desenvolvidas para se possa atingir ética nas Adminis-
– O funcionário deve atuar sempre como servidor público e trações.
não deve transmitir informação privilegiada ou confidencial. O fun- “Para desenhar uma ética das Administrações seria necessário
cionário como qualquer outro profissional, deve guardar o sigilo de realizar as seguintes tarefas, entre outras:
ofício; – Definir claramente qual é o fim específico pelo qual se cobra
– O interesse coletivo no Estado social e democrático de Direito a legitimidade social;
existe para ofertar aos cidadãos um conjunto de condições que tor- – Determinar os meios adequados para alcançar esse fim e
ne possível seu aperfeiçoamento integral e lhes permita um exer- quais valores é preciso incorporar para alcançá-lo;
cício efetivo de todos os seus direitos fundamentais. Para tanto, os – Descobrir que hábitos a organização deve adquirir em seu
funcionários devem ser conscientes de sua função promocional dos conjunto e os membros que a compõem para incorporar esses va-
poderes públicos e atuar em consequência disto. (tradução livre).” lores e gerar, assim, um caráter que permita tomar decisões acerta-
Por outro lado, a nova gestão pública procura colocar à dis- damente em relação à meta eleita;
posição do cidadão instrumentos eficientes para possibilitar uma – Ter em conta os valores da moral cívica da sociedade em que
fiscalização dos serviços prestados e das decisões tomadas pelos se está imerso;
governantes. As ouvidorias instituídas nos Órgãos da Administração – Conhecer quais são os direitos que a sociedade reconhece às
Pública direta e indireta, bem como junto aos Tribunais de Contas pessoas.”
e os sistemas de transparência pública que visam a prestar infor-
mações aos cidadãos sobre a gestão pública são exemplos desses Dimensões da qualidade nos deveres dos servidores públicos
instrumentos fiscalizatórios.
Tais instrumentos têm possibilitado aos Órgãos Públicos res- Os direitos e deveres dos servidores públicos estão descritos na
ponsáveis pela fiscalização e tutela da ética na Administração Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990.
apresentar resultados positivos no desempenho de suas funções, Entre os deveres (art. 116), há dois que se encaixamno paradig-
cobrando atitudes coadunadas com a moralidade pública por parte ma do atendimentoe do relacionamento que tem como foco prin-
dos agentes públicos. Ressaltando-se que, no sistema de controle cipal o usuário.
atual, a sociedade tem acesso às informações acerca da má gestão São eles:
por parte de alguns agentes públicos ímprobos. - “atender com presteza ao público em geral, prestando as in-
Entretanto, para que o sistema funcione de forma eficaz é ne- formações requeridas” e
cessário despertar no cidadão uma consciência política alavancada - “tratar com urbanidade as pessoas”.
pelo conhecimento de seus direitos e a busca da ampla democracia. Presteza e urbanidade nem sempre são fáceis de avaliar, uma
Tal objetivo somente será possível através de uma profunda vez que não têm o mesmo sentido para todas as pessoas, como
mudança na educação, onde os princípios de democracia e as no- demonstram as situações descritas a seguir.
ções de ética e de cidadania sejam despertados desde a infância, • Serviços realizados em dois dias úteis, por exemplo, podem
antes mesmo de o cidadão estar apto a assumir qualquer função não corresponder às reais necessidades dos usuários quanto ao
pública ou atingir a plenitude de seus direitos políticos. prazo.
Pode-se dizer que a atual Administração Pública está desper- • Um atendimento cortês não significa oferecer ao usuário
tando para essa realidade, uma vez que tem investido fortemente aquilo que não se pode cumprir. Para minimizar as diferentes inter-
na preparação e aperfeiçoamento de seus agentes públicos para pretações para esses procedimentos, uma das opções é a utilização
que os mesmos atuem dentro de princípios éticos e condizentes do bom senso:
com o interesse social. • Quanto à presteza, o estabelecimento de prazos para a en-
Além, dos investimentos em aprimoramento dos agentes pú- trega dos serviços tanto para os usuários internos quanto para os
blicos, a Administração Pública passou a instituir códigos de ética externos pode ajudar a resolver algumas questões.
para balizar a atuação de seus agentes. Dessa forma, a cobrança de • Quanto à urbanidade, é conveniente que a organização inclua
um comportamento condizente com a moralidade administrativa é tal valor entre aqueles que devem ser potencializados nos setores
mais eficaz e facilitada. em que os profissionais que ali atuam ainda não se conscientizaram
sobre a importância desse dever.

53
ATUALIDADES
Não é à toa que as organizações estão exigindo habilidades Não podemos falar de ética, impessoalidade (sinônimo de
intelectuais e comportamentais dos seus profissionais, além de igualdade), sem falar de moralidade. Esta também é um dos prin-
apurada determinação estratégica. Entre outros requisitos, essas cipais valores que define a conduta ética, não só dos servidores
habilidades incluem: públicos, mas de qualquer indivíduo. Invocando novamente o or-
- atualização constante; denamento jurídico podemos identificar que a falta de respeito ao
- soluções inovadoras em resposta à velocidade das mudanças; padrão moral, implica, portanto, numa violação dos direitos do ci-
- decisões criativas, diferenciadas e rápidas; dadão, comprometendo inclusive, a existência dos valores dos bons
- flexibilidade para mudar hábitos de trabalho; costumes em uma sociedade.
- liderança e aptidão para manter relações pessoais e profis- A falta de ética na Administração Publica encontra terreno fértil
sionais; para se reproduzir, pois o comportamento de autoridades públicas
- habilidade para lidar com os usuários internos e externos. está longe de se basearem em princípios éticos e isto ocorre devido
a falta de preparo dos funcionários, cultura equivocada e especial-
Encerramos esse tópico com o trecho de um texto de Andrés mente, por falta de mecanismos de controle e responsabilização
Sanz Mulas: adequada dos atos antiéticos.
“Para desenhar uma ética das Administrações seria necessário A sociedade por sua vez, tem sua parcela de responsabilidade
realizar as seguintes tarefas, entre outras: nesta situação, pois não se mobilizam para exercer os seus direitos
- Definir claramente qual é o fim específico pelo qual se cobra e impedir estes casos vergonhosos de abuso de poder por parte do
a legitimidade social; Pode Público.
- Determinar os meios adequados para alcançar esse fim e Um dos motivos para esta falta de mobilização social se dá, de-
quais valores é preciso incorporar para alcançá-lo; vido á falta de uma cultura cidadã, ou seja, a sociedade não exerce
- Descobrir que hábitos a organização deve adquirir em seu sua cidadania. A cidadania Segundo Milton Santos “é como uma lei”,
conjunto e os membros que a compõem para incorporar esses va- isto é, ela existe, mas precisa ser descoberta, aprendida, utilizada e
lores e gerar, assim, um caráter que permita tomar decisões acerta- reclamada e só evolui através de processos de luta. Essa evolução
damente em relação à meta eleita; surge quando o cidadão adquire esse status, ou seja, quando passa
- Ter em conta os valores da moral cívica da sociedade em que a ter direitos sociais. A luta por esses direitos garante um padrão de
se está imerso; vida mais decente. O Estado, por sua vez, tenta refrear os impulsos
- Conhecer quais são os direitos que a sociedade reconhece às sociais e desrespeitar os indivíduos, nessas situações a cidadania
pessoas.” deve se valer contra ele, e imperar através de cada pessoa. Porém
Quando falamos sobre ética pública, logo pensamos em cor- Milton Santos questiona se “há cidadão neste país”? Pois para ele
rupção, extorsão, ineficiência, etc, mas na realidade o que devemos desde o nascimento as pessoas herdam de seus pais e ao longo da
ter como ponto de referência em relação ao serviço público, ou na vida e também da sociedade, conceitos morais que vão sendo con-
vida pública em geral, é que seja fixado um padrão a partir do qual testados posteriormente com a formação de ideias de cada um, po-
possamos, em seguida julgar a atuação dos servidores públicos ou rém a maioria das pessoas não sabe se são ou não cidadãos.
daqueles que estiverem envolvidos na vida pública, entretanto não A educação seria o mais forte instrumento na formação de ci-
basta que haja padrão, tão somente, é necessário que esse padrão dadão consciente para a construção de um futuro melhor.
seja ético, acima de tudo . No âmbito Administrativo, funcionários mal capacitados e
O fundamento que precisa ser compreendido é que os padrões sem princípios éticos que convivem todos os dias com mandos e
éticos dos servidores públicos advêm de sua própria natureza, ou desmandos, atos desonestos, corrupção e falta de ética tendem a
seja, de caráter público, e sua relação com o público. A questão da assimilar por este rol “cultural” de aproveitamento em beneficio
ética pública está diretamente relacionada aos princípios funda- próprio.
mentais, sendo estes comparados ao que chamamos no Direito, de
“Norma Fundamental”, uma norma hipotética com premissas ide- ÉTICA E RESPONSABILIDADE
ológicas e que deve reger tudo mais o que estiver relacionado ao
comportamento do ser humano em seu meio social, aliás, podemos Max Weber estabeleceu, em princípios do século XX, a distin-
invocar a Constituição Federal. Esta ampara os valores morais da ção entre Ética da Convicção e Ética da Responsabilidade. Para We-
boa conduta, a boa fé acima de tudo, como princípios básicos e es- ber, quanto maior o grau de inserção de determinado político na
senciais a uma vida equilibrada do cidadão na sociedade, lembran- arena política, maior é o afastamento de suas convicções pessoais e
do inclusive o tão citado, pelos gregos antigos, “bem viver”. a adoção de comportamentos orientados pelas circunstâncias. Este
Outro ponto bastante controverso é a questão da impessoali- afastamento das crenças e suposições pessoais e a adoção de me-
dade. Ao contrário do que muitos pensam, o funcionalismo público didas, muitas vezes contraditórias, são determinados pela ética da
e seus servidores devem primar pela questão da “impessoalidade”, convicção e pela ética da responsabilidade.
deixando claro que o termo é sinônimo de “igualdade”, esta sim é a A ética da convicção é, para Weber, o conjunto de normas e
questão chave e que eleva o serviço público a níveis tão ineficazes, valores que orientam o comportamento do político na sua esfera
não se preza pela igualdade. No ordenamento jurídico está claro e privada. Já a ética da responsabilidade representa o conjunto de
expresso, “todos são iguais perante a lei”. normas e valores que orientam a decisão do político a partir de sua
E também a ideia de impessoalidade, supõe uma distinção posição como governante ou legislador.
entre aquilo que é público e aquilo que é privada (no sentido do No campo da ética da responsabilidade, nos é ensinado que de-
interesse pessoal), que gera portanto o grande conflito entre os in- vemos ter em conta as consequências previsíveis da própria ação.
teresses privados acima dos interesses públicos. Podemos verificar Nesta perspectiva, o que importa são os resultados, não os princí-
abertamente nos meios de comunicação, seja pelo rádio, televisão, pios, ou a intenção.
jornais e revistas, que este é um dos principais problemas que cer- Neste caminhar, o próprio Weber não deixa de assinalar uma
cam o setor público, afetando assim, a ética que deveria estar acima tensão teórica e prática entre elas. Se levarmos ao extremo a ética
de seus interesses. da responsabilidade, podemos cair facilmente no que é assinalado
por Maquiavel: que os fins justificam qualquer meio que se usa.

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ATUALIDADES
O problema da escolha dos valores nos remete à ética da res- Entre outros valores, a responsabilidade é fundamental para
ponsabilidade (ou “ética das últimas finalidades”), que incita o ator que as transformações desejadas possam ser generalizadas. E pen-
a agir de acordo com os seus objetivos ideais, via os cálculos racio- sar na responsabilidade é pensar na ética, como aquele conjunto
nais dos meios que dispõe. Dito de outra forma consiste em uma maior de valores que a compreende. Para pensar sobre ética o pri-
ética pela qual os agentes atuam de acordo com os desejos e fins meiro cuidado é estarmos atentos às diferenças existentes entre
almejados, independentemente dos meios que devem utilizar para a ética essencial ou espontânea e a ética moralista, como bem o
alcançá-los. Em um dos exemplos utilizados por Weber (1963, p. faz Weill (1993). A primeira, aquela que flui naturalmente, está em
144): cada um, e independe de normas escritas, exige sabedoria e mais
Pode-se demonstrar a um sindicalista convicto, partidário da do que o uso da razão para nortear nossas ações, uma vez que a ra-
ética dos objetivos finais, que seus atos resultarão num aumento zão apenas complementaria as orientações do coração. A segunda,
das oportunidades de reação, na maior opressão de sua classe na entendida como necessária a todos, enquanto não podemos des-
obstrução de sua ascensão – sem causar nele a menor impressão. pertar para a primeira, é um conjunto de normas prontas, padrões
Se uma ação de boa intenção leva a maus resultados, então, aos de comportamento que são impostos através de pressão social e
olhos do agente, não ele, mas o mundo, ou a estupidez dos ho- resultantes da cultura hegemônica. Para Diskin (2000) trata-se de
mens, ou a vontade de Deus que assim os fez, é responsável pelo “normas de comportamento que devem ser capazes de assegurar
mal. a continuidade do controle e do poder e devem convencer os indi-
Como percebemos e como identificamos em nossas leituras víduos que a obediência a esses códigos é para seu bem, sustenta-
não se pode mais, neste mundo, querer impor a todos os mesmos bilidade felicidade e garantia de futuro para si e demias gerações
princípios. Sendo assim, são as consequências práticas boas para vindouras.”
todos que deveriam servir de motivo para considerar que alguém Capra (2000) considera que a responsabilidade caracteriza um
age bem, e não simplesmente a coerência mantida entre princípio e tipo de comportamento do homem, “que flui de um sentimento de
ação. O resultado bom deve ser bom também para aqueles que são pertencimento”. Para isso, continua o autor, é essencial que per-
atingidos pelo resultado, e não apenas para quem age de maneira tencemos a 2 comunidades: a) a humanidade: que deveria motivar
boa. comportamentos que refletissem valores de respeito aos direitos
Assim: humanos, justiça e dignidade; b) o planeta Terra: como nossa casa
Serão a ética e a responsabilidade elementos de um novo pa- motivaria comportamentos semelhantes aos demais habitan-
radigma, que vem substituir um outro superado, cujas leis já não tes dessa morada, “as plantas, animais e microorganismos, que
satisfazem, não são suficientes para explicar a realidade de fatos formam uma vasta estrutura de relações que chamamos rede da
observados pelos cientistas? Não se trata disso, apesar de não se vida”, sendo que esta rede, com toda sua diversidade e inter-rela-
poder negar que é crescente a atenção e o espaço em artigos, livros, ções, manteve-se em equilíbrio pelos 3 bilhões de anos anteriores.
seminários, conferências em todo o mundo, dedicados ao aprofun- O comportar-se responsavelmente, pensando em toda a rede, nos
damento sobre os temas em questão. Por outro lado, podemos afir- garantiria a sustentabilidade em toda a sua abrangência, ou seja,
mar que já ocorrem transformações de uma parte ainda pequena social, ecológica e econômica, por tempo indeterminado.
da sociedade, em diversas partes do mundo, e quase todas as áreas Encontramos também que a responsabilidade é a “noção hu-
de atuação, que adotam um novo padrão comportamento, pauta- manística ética que só tem sentido para o sujeito consciente” (Mo-
do por ações impregnadas pelo zelo, respeito e comprometimento rin, 1998). Pensar no sujeito consciente nos remete a outras defini-
com o desenvolvimento humano, com o bem-estar. ções convergentes ou complementares de responsabilidade como
Tais movimentos decorrem certamente do inquestionável des- “um gesto livre do querer voluntário” (Grajew, 2000); ou ainda do
gaste e atual fragilidade do nosso modelo de civilização, dominado que “tem a ver com o querer, com o desejo das pessoas … com o
pela “globalização perversa” (Santos, 2000), que dá sinais claros de dar-se conta de que as conseqüências de seus atos são desejáveis”
insustentabilidade não apenas ecológica ou social, como há anos (Maturana, 1999).
demonstram inúmeros relatórios, que divulgam índices de degrada- Dalai Lama (2000) dedica um capítulo completo para tratar o
ção que hoje podem ser considerados tradicionais. Paradoxalmen- que denomina “responsabilidade universal”, definindo-a como “a
te, há novos indicadores de insustentabilidade que dizem respeito consideração pelo bem-estar do outro; é pensar a dimensão social
ao próprio modelo econômico. Um dos principais aspectos da fra- dos nossos atos e do igual direito de todos à felicidade; é reorientar
gilidade do sistema econômico associa-se ao crescente volume de nossos corações e nossas mentes para os outros; é ter compromisso
operações financeiras efetivadas eletronicamente, que impõe ris- com a honestidade e com a verdade em tudo que fazemos; liga-se
cos ao capitalismo “moderno”, não somente por sua volatilidade, intimamente com a justiça, com a obrigação de agir quando se tem
mas também porque a lógica que determina seus movimentos já consciência da injustiça”.
não é a antiga e única lógica da economia, o mercado. É possível e seria desejável ocupar muito mais do que duas lau-
Temos, portanto sintomas cada vez mais abrangentes e gene- das no estudo apenas das definições, mas é urgente que pensemos
ralizados que evidenciam a gravidade da situação do nosso modelo sobre como passamos ao próximo movimento: como despertar as
civilizacional que, desde a Revolução Industrial, insistem em apre- consciências, o desejo e o querer verdadeiro, para conduzir à ação.
sentar como aquele que trará progresso e bem-estar a todos. Ao Para Maturana (1999) isso será possível quando nós nos dermos
mesmo tempo, são essas mesmas condições de miséria social, ris- conta do mundo em que vivemos, e que este mundo tem a ver com
cos à capacidade de suporte do planeta e fragilidade do modelo cada um, que não somos independentes do meio em que vivemos,
econômico, que despertam a consciência de um número cada vez tampouco o meio independe de nós. “Os indivíduos em suas intera-
maior de pessoas. Estas se indignam e têm a certeza que é preciso ções constituem o social e o social é o meio em que esses indivíduos
reverter esse quadro, e que esse processo somente será possível se realizam como tal” (op.cit.). Mais do que interdependentes trata-
através da adoção de diferentes valores e crenças, que por sua vez -se de elementos interconstituintes.
motivarão transformações na conduta da sociedade.

55
ATUALIDADES
Dessa forma, é mais fácil nos compreender enquanto os res- Dentre os setores da organização, talvez seja o que mais tenha
ponsáveis por nossa sociedade e portanto, por nossa cultura, en- sofrido mudanças nos últimos tempos.
quanto o conjunto de elementos não materiais que caracterizam E estamos aqui falando de mudanças tanto no aspecto concre-
uma sociedade, valores éticos e estéticos, ideologia, filosofia, reli- to como no aspecto conceitual.
gião, conhecimento teórico. Dado que são elementos dinâmicos, da Mudanças muito pontuais da era da Administração de Recursos
mesma forma que nós a criamos, somente nós seremos os respon- Humanos para o que hoje chamamos de Gestão de Pessoas foram
sáveis pela transformação da cultura que caracteriza a civilização fundamentais para que o processo de busca pela excelência das
atual, mais especificamente a ocidental. organizações pudesse evoluir na medida que evoluiu, passando a
Da mesma forma, Herrera (1982) acredita que a evolução cul- considerar o funcionário não mais um recurso e, sim, um valor in-
tural é possível quando entendemos que nada pode ser feito sem telectual.
nosso apoio passivo ou ativo, que nós somos a sociedade, sendo A Gestão de Pessoas é uma área muito sensível à mentalidade
cada um responsável por suas ações, sendo portanto, impossível a que predomina nas organizações. Ela é contingencial e situacional,
violência social sem a nossa colaboração. pois depende de vários aspectos, como a cultura que existe em
Cabe a nós educadores e acadêmicos responsáveis uma parte cada organização, da estrutura organizacional adotada, das carac-
essencial desta ação concreta, através de uma educação que inclua terísticas do contexto ambiental, do negócio da organização, da
crescente e constantemente a prática da reflexão sobre a ação e tecnologia utilizada, dos processos internos e de uma infinidade de
suas conseqüências, sobre si e sobre os outros. Além disso, como outras variáveis importantes.
nos ensina Santos (2000), nós acadêmicos, através da reflexão crí- O papel da Administração de RH para o de Gestão de Pessoas
tica devemos virar pelo avesso os processos atuais, para após sua tem como definição, o ato de trabalhar com e através de pesso-
compreensão, podermos revertê-los. as para realizar os objetivos tanto da organização quanto de seus
Tanta atenção à necessidade da reflexão e do pensamento crí- membros.
tico, decorre da ausência dessas práticas nas decisões cotidianas de A maneira pela qual as pessoas se comportam, decidem, age,
cada um de nós. Acomodados, necessitamos mudar hábitos, atitu- trabalham, executam, melhoram suas atividades, cuidam dos clien-
des passivas, padrões de pensamentos e comportamentos essen- tes e tocam os negócios das empresas varia em enormes dimen-
cialmente técnicos, racionais. A gravidade desse padrão torna-se sões. E essa variação depende, em grande parte, das políticas e di-
absolutamente clara com a explicação de Diskin (2000) no trecho retrizes das organizações a respeito de como lidar com as pessoas
que segue: “… toda escolha carrega uma intenção carregada de va- em suas atividades. Em muitas organizações, falava-se até pouco
lores que na sua maioria não são percebidos conscientemente, es- tempo em relações industriais, em outras organizações, fala-se em
tão incrustados na substância de nossos pensamentos a respeito do administração de recursos humanos, fala-se agora em administra-
mundo e de nós mesmos; … constituem a armação de concepções ção de pessoas, com uma abordagem que tende a personalizar e a
e categorias que não são de nossa própria criação, mas que a so- visualizar as pessoas como seres humanos, dotados de habilidades
ciedade nos entregou já pré-fabricadas e é por onde nosso pensar e capacidades intelectuais.
individual se move, mesmo quando ele é original e ousado”. Nova- Porém, a evolução não para, e chegamos ao momento em que
mente Herrera (1982) deve ser lembrado, pois nos dizia que deve- desenvolver uma gestão de pessoas já não atende às circunstancias
mos e podemos desobedecer a esta ordem, opondo nossos corpos do cenário atual, fazendo-se necessário desenvolver uma gestão
e mentes a ela. Dois dos autores mencionados acreditam que a prá- com pessoas, ou seja, significa tocar a organização juntamente com
tica responsável da educação, da ciência, ou de qualquer campo os colaboradores e parceiros internos que mais entendem dela, dos
de atuação, só é possível pelo amor. Para Maturana (1999), por ser seus negócios e do seu futuro.
a única emoção que torna possível a convivência que considera o Uma nova visão das pessoas não mais como um recurso orga-
outro como legítimo outro na convivência. E para Herrera (1982), nizacional, um objeto servil ou mero sujeito passivo do processo,
porque será através da detenção da violência, como um ato de fé mas fundamentalmente como um sujeito ativo e provocador das
em nós e nos outros, chegaremos à fraternidade de todos os seres decisões, empreendedor das ações e criador da inovação dentro
humanos e, assim, seremos capazes de redescobrir o significado do das organizações.
amor, como a base sobre a qual podemos construir uma verdadeira Estamos falando hoje de profissionais proativos, dotados de
civilização mundial. Então, e somente então, estaremos preparados visão própria e, sobre tudo, de inteligência, a maior e a mais avan-
para a grande jornada. çada e sofisticada habilidade humana.
Gestão de Pessoas atua na área do subsistema social, e há na
organização também o subsistema técnico. A interação da gestão
RELAÇÕES HUMANAS NO TRABALHO de pessoas com outros subsistemas, especialmente o técnico, en-
volve alinhar objetivos organizacionais e individuais.
As pessoas precisam ter competência para realizar as ativida-
Trata-se de um conjunto de ações integradas sobre a relação des que possam contribuir com a organização, do contrário poderia
de trabalho, ações essas que estão diretamente relacionadas ao haver inúmeras consequências negativas nas mais diferentes áreas
desempenho e à eficácia dos profissionais e aos resultados das or- (financeira, por exemplo). É também por isso que a área de gestão
ganizações. de pessoas sempre atua em parceria com outras áreas.
Se analisarmos essa relação, percebemos que, independente A seguir, veremos alguns aspectos estão envolvidos na gestão
da área ou setor da organização, o profissional que ocupa um cargo de pessoas dentro dessa proposta atual:
de liderança, gerencia ou coordenação, de uma forma direta ou in- - Comportamento
direta, é um gestor de pessoas, afinal, essa relação, que é uma via - Processo de decisão
de mão dupla, envolve um aspecto interpessoal em todas as ativi- - Ação e execução
dades envolvidas, desde um seleção de profissionais até a análise - Relacionamento interpessoal
de desempenho, mesmo havendo, dentro da organização, um setor - Comprometimento interpessoal e organizacional
específico que trate dos aspectos relacionados à Gestão de Pessoas - Perspectiva de futuro
e RH. - Envolvimento com processos

56
ATUALIDADES
- Desenvolvimento de habilidades Processos de Manter Pessoas - são os processos utilizados para
- Identificação de capacidades intelectuais – Construindo um capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional e pessoal.
patrimônio intelectual Incluem treinamento e desenvolvimento das pessoas, programas
de mudanças e desenvolvimento de carreiras e programas de co-
Como vimos acima, a Gestão de Pessoas tem sido a responsável municação e consonância.
pela excelência das organizações bem sucedidas e pelo aporte de Processos de Monitorar Pessoas - são os processos utilizados
capital intelectual que simboliza, mais do que tudo, a importância para acompanhar e controlar as atividades das pessoas e verificar
do fator humano em plena Era da Informação e do Conhecimento. resultados. Incluem banco de dados e sistemas de informações ge-
Como pudemos perceber, existe um processo evolutivo na for- renciais.
ma como se trata as pessoas dentro da organização, saindo de um
conceito onde pessoas eram consideradas recursos até chegar no Gerir todo o contexto de informações e situações envolvidas
conceito de pessoas como parceiros, sendo nessa transição, as mu- nessa relação requer um mecanismo de controle mais eficiente do
danças práticas são bem claras, conforme vemos a seguir: que aqueles utilizados antigamente que simplesmente registravam
dados necessários para geração de documentação utilizada no de-
Pessoas como Recursos Pessoas como Parceiros partamento pessoal.
Falamos hoje em gerir informações que agreguem valor ao pro-
Horário rigidamente estabe- Colaboradores agrupados cesso decisional da organização, tais como aqueles relacionados à
lecido em equipes competência, resultados, desempenho, produtividade, eficiência e
Preocupação com Metas negociadas e eficácia, entre outros.
normas e regras compartilhadas Quando falamos em políticas e sistemas de informações ge-
Subordinação ao chefe Preocupação com resultados renciais, estamos falando em um tripé que envolve três aspectos
Fidelidade à organização Satisfação do cliente fundamentais para a eficácia do sistema:
Dependência da chefia Vinculação à missão e à visão - Dado: elemento em estado bruto, primário e isolado, sem sig-
Alienação em relação à Interdependência entre colegas nificação capaz de gerar uma ação.
organização Participação e - Informação: é o dado trabalhado e processado dentro das es-
comprometimento pecificidades exigidas pelos usuários, com significado próprio, rele-
Ênfase na especialização vante e utilizado para causar uma ação proveniente do processo de
Executoras de tarefas Ênfase na ética e tomada de decisão.
responsabilidade - sistema: combinação de partes coordenadas para um mesmo
Ênfase nas destrezas Fornecedores de atividade resultado, ou de maneira a formar um conjunto organizado.
manuais Outro fator importante é a forma como essas informações se-
Valorização da mão de obra Ênfase no conhecimento rão usadas, afinal, dados coletados por si só não contribuem para
Inteligência e talento esse processo, portanto, necessário se faz que haja uma análise e
Valorização do intelecto classificação desses dados, relacionando entre si as informações e
suas possíveis aplicabilidades. É necessário que os gestores consi-
A Gestão de Pessoas é caracterizada pela: participação, capaci- gam agregar valor às suas decisões e às ações adotadas através das
tação, envolvimento e desenvolvimento do capital humano da orga- informações que os sistemas fornecem, informações essas que já
nização, que é formado pelas pessoas que a compõem. vem com uma carga analítica dos cenários, tanto interno quanto
Cabe à área de gestão de pessoas a função de humanizar as externo, que a organização está inserida e que vão, diretamente in-
empresas. fluenciar no desempenho de seus projetos e ações e no alcance dos
Atualmente nas relações de trabalho vem ocorrendo mudanças objetivos que possua.
conforme as exigências que o mercado impõe ou na forma de gerir No subsistema gestão de pessoas, para facilitar essa classifica-
pessoas. ção e interação de dados, o sistema deve registrar dados diversos
Podemos dizer que, dentro de um processo atual de gestão de sobre o colaborador e sua relação com a organização, tais como:
pessoas, temos seis aspectos básicos, como veremos agora: - Dados pessoais
- Dados sobre cargos e os encarregados dessas funções
Processos de Agregar Pessoas - são os processos utilizados para - Dados sobre os setores e departamentos existentes na orga-
incluir novas pessoas na empresa. Podem ser denominados proces- nização
sos de provisão ou de suprimento de pessoas. Incluem recrutamen- - Dados sobre remuneração e benefícios
to e seleção de pessoas - Dados sobre processos de treinamento e capacitação desen-
Processos de Aplicar Pessoas - são os processos utilizados para volvidos e/ou necessários
desenhar as atividades que as pessoas irão realizar na empresa, - Dados sobre aspectos relacionados à saúde ocupacional, en-
orientar e acompanhar seu desempenho. Incluem desenho organi- tre outros.
zacional e desenho de cargos, análise e descrição de cargos, orien- Cabe à administração decidir, diante do investimento envolvi-
tação das pessoas e avaliação do desempenho. do, qual o melhor e mais indicado sistema a ser implantado, consi-
Processos de Recompensar Pessoas - são os processos utiliza- derando os processos envolvidos e as expectativas da organização,
dos para incentivar as pessoas e satisfazer suas necessidades indivi- lembrando também que, o sistema só será eficaz se as informações
duais mais elevadas. Incluem recompensas, remuneração e benefí- por ele fornecidas forem constantemente atualizadas e revistas,
cios e serviços sociais conforme o desenvolvimento dos processos em andamento na or-
Processos de Desenvolver Pessoas - são os processos utilizados ganização.
para capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional e pes-
soal. Incluem treinamento e desenvolvimento das pessoas, progra-
mas de mudanças e desenvolvimento de carreiras e programas de
comunicação e consonância.

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ATUALIDADES
A Teoria das Relações Humanas vem com a nova ideia de que LIDERANÇA
para a maioria dos trabalhadores, a preocupação com a parte psi-
cológica e social é mais importante do que a preocupação com o Foi notado também que a liderança informal dentro da orga-
aspecto material e financeiro mudando a velha concepção de que nização tem muita influência sobre o comportamento do trabalha-
a condição física era o principal caminho para os melhores resulta- dor. A liderança é extremamente essencial dentro de todo tipo de
dos produtivos do operário e que a fadiga era ocasionada, também organização e uma característica essencial no administrador, que
e principalmente, pelo fator psicológico. A organização passava, a precisa conhecer a motivação humana e saber conduzir pessoas, ou
partir desse momento, a entender que os trabalhadores são seres seja, precisa ser líder. “Liderança é a influência interpessoal exerci-
humanos com sentimentos, e não máquinas programadas. Que da numa situação e dirigida por meio do processo de comunicação
as pessoas dependem de motivação e que o alcance dos objeti- humana à consecução de um ou de diversos objetivos específicos”
vos depende diretamente dos grupos informais a que pertencem. (Tannenbaum, Weschler e Maparik) Foram delineadas três teorias
Que o modo como os grupos se comportam pode ser modificado de liderança:
dependendo do estilo de liderança e supervisão. E que a maneira Teoria dos traços de personalidade: Certas pessoas possuem na
como são estabelecidas as normas dentro dos grupos, de certa for- própria personalidade traços que podem ser utilizados para definir
ma, regulam o comportamento dos indivíduos. Essa Teoria trouxe a um futuro líder, bem como avaliar a eficácia da liderança.
preocupação de se estudar a influencia da motivação no comporta- Teoria dos estilos de liderança: Estuda os estilos de comporta-
mento do funcionário. E para tal entendimento, é necessário que se mento do líder em relação aos seus subordinados. Refere-se ao que
entenda as necessidades humanas fundamentais. Foi notado que o o líder faz, qual a maneira que ele utiliza para liderar.
comportamento do homem é determinado por certas causas que Teoria situacional de liderança: Procura explicar que não existe
se chamam necessidades ou motivos, que são forças conscientes apenas um estilo ou característica de liderança válida para qualquer
ou inconscientes que o leva a determinado comportamento. Exis- situação. O verdadeiro líder é versátil a ponto de se encaixar dentro
tem três níveis de motivação, que correspondem às necessidades de qualquer grupo sob as mais variadas condições.
fisiológicas, que são ligadas à sobrevivência, sendo inatas e instinti-
vas, como sono, fome, sede, etc.; às necessidades psicológicas, que Relações Interpessoais
são aprendidas no decorrer da vida e que são raramente satisfeitas Conviver é viver com. Consiste em partilhar a vida, as ativida-
por completo. São elas: necessidade de segurança íntima (auto de- des, com os outros. Em todo grupo humano existe a necessidade de
fesa); necessidade de participação (contato humano); necessidade conviver, de estar em relação com outros indivíduos. Além disso, a
de autoconfiança (auto avaliação); a necessidade de afeição (dar e convivência nos ajuda no processo de reflexão, interiorização pes-
receber carinho); e à necessidade de auto-realização, que é estar soal e autorregularão do indivíduo.
realizado por completo em todas as outras necessidades. O relacionamento interpessoal é a interação de duas ou mais
pessoas e está ligado intimamente com a forma com que cada uma
CICLO MOTIVACIONAL percebe, sente e age perante a outra.
O relacionamento entre as pessoas é a mais primitiva forma
O ciclo motivacional parte do princípio de que a motivação, no de convivência e de comunicação, no entanto, apesar dessas duas
sentido psicológico, é a tensão persistente que leva o indivíduo a características terem evoluído ao longo da existência da espécie
algum tipo de comportamento visando a satisfação de uma ou mais humana, o relacionamento interpessoal ainda encontra muitas difi-
necessidades. Essa tensão leva a pessoa a fazer algo para chegar à culdades que tornam a vida do ser humano mais difícil, parecendo
satisfação de tal necessidade, se ela é satisfeita, o organismo entra muitas vezes, estar andando no sentido contrário da evolução.
em equilíbrio, até que outra tensão para suprir outra necessidade Simples aspectos de um tratamento como um bom dia, um
surja. Enfim, a satisfação é simplesmente a liberação de uma ten- obrigado, ou ainda um mero sorriso para muitas pessoas é difícil
são e apenas a saciedade de uma necessidade permite o equilíbrio por em prática. Lembrando que o respeito é conquistado.
psicológico. Porém quando a satisfação de alguma necessidade não A mais simples forma de se exigir respeito, é se dando, eis que
é alcançada, acontece a frustração, que também traz um desequi- ao se tratar bem uma pessoa, sendo gentil, cordial e sincero, dis-
líbrio. Mas se o indivíduo, não conseguindo satisfazer tal necessi- pensando um tratamento além daquele que se está acostumado
dade, tenta satisfazer alguma outra e obtém êxito, acontece uma a receber, certamente, daquele indivíduo do qual está recebendo
compensação. A satisfação de alcançar tal objetivo, compensa a gentileza e cordialidade de forma sincera, certamente não mais será
frustração por não ter conseguido satisfazer alguma outra neces- necessário “exigir” o respeito.
sidade anterior. A Teoria das Relações Humanas trouxe também o Elogiar com sinceridade e economizar as críticas são fatores de-
estudo sobre o moral dos trabalhadores, que é uma decorrência da terminantes, pois é natural do ser humano, gostar de ser reconheci-
motivação recebida, uma atitude provocada pela satisfação ou não do em suas atitudes, no entanto, sabe o que é certo e errado, e não
das necessidades da pessoa. Quando o trabalhador tem o moral gosta de ficar ouvindo sobre seus erros. E não é se fazendo lembrar
elevado dentro da organização, tem atitudes de interesse, entusias- de erros que se terá um bom relacionamento, pelo contrário.
mo e impulso positivo, enquanto se o mesmo trabalhador tem o Saber tratar cada pessoa da forma que ela mais gosta. Cada
moral baixo, demonstra atitudes de descaso, desinteresse, pessi- um tem um estilo, um comportamento, uma forma de ser tratado.
mismo e apatia em relação ao trabalho, podendo até se estender Dessa maneira, já se constata que não é possível se tratar todos da
à vida pessoal. mesma forma, sendo necessário entender a característica de cada
um, para então poder lhe tratar melhor, e o resultado disso é sur-
preendente, pois se obtém um tratamento esplendoroso, mesmo
de quem não sabe tratar bem.
Um fator de elevada importância, igualmente, é o nome das
pessoas, portanto, saber e usar no tratamento é necessário e ade-
quado. De que vale um bom tratamento, sem que se possa chamar
alguém pelo seu próprio nome? Isso faz parte do bom relaciona-
mento, seja ele profissional, amistoso, eventual, ocasional.

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ATUALIDADES
Deve-se ter a sensibilidade para se perceber a hora para de- Assim, Relacionamento Interpessoal é a capacidade para inte-
terminados comportamentos, para não agir equivocadamente com ragir com os outros, usando empatia, atitudes assertivas, ou seja,
intimidade ou com excesso de formalidade, afinal de contas, nin- identificar, analisar e fornecer.
guém gosta de ser tratado de uma forma ou de outra senão o for ‫ ة‬ter um comportamento maduro e não intolerante. ‫ ة‬saber agir
adequadamente. e buscar melhores saídas mesmo sob pressão ou conflitos.
Reconhecendo erros, evita que alguém o faça. Tentando esqui- ‫ ة‬a arte de fazer as pessoas se sentirem bem com você e vice
var-se do erro que cometeu é a forma mais forte de dar-lhes cada versa
vez mais ênfase. Muito mais sincero e adequado lembrar dos erros, ‫ ة‬ter respeito, princípios de boas maneiras. Ou seja, ter com-
antes que alguém o faça, e pedir as desculpas no momento certo, portamentos éticos.
reconhecendo e propondo-se a não mais cometê-los fará com que Também para ter e preservar bons relacionamentos Interpes-
eles passem totalmente despercebidos. soais, é preciso, aprender a ouvir e ter a capacidade de se colocar
Uma das grandes ferramentas de um bom relacionamento, no lugar do outro, aceitar e evitar julgamentos para que o outro não
também, é o sorriso, pois ele, quando usado de forma sincera e reaja de forma ofensiva.
oportuna, pode dizer muito, pois o corpo fala! A expressão corporal Desenvolver seus pontos fortes e melhorar os fracos com a co-
é muito maior que a expressão verbal. Deixar o sorriso fluir é ser municação.
transparente em seus sentimentos, e assim, sem sombra de duvi- O relacionamento interpessoal é, sem sombra de dْvida, um
das se está reconhecendo o esforço do próximo em lhe tratar bem. dos fatores que influenciam no dia-a-dia e no desempenho de um
Antes de criticar ou reclamar de alguém, deve-se fazer uma au- grupo, cujo resultado depende de parcerias internas para obter me-
toanálise, tentando identificar qual a própria atitude que levou esse lhores ganhos.
alguém a agir dessa ou daquela forma. Assim, tentando identificar No ambiente organizacional é importante saber conviver com
qual o próprio erro, irá facilitar a boa atitude de alguém para que as pessoas, até mesmo por ser um local muito dinâmico e que obri-
ele mesmo reconheça o que fez e que faça o que acha certo fazer, ga uma intensa interação com os outros, inclusive com as mudanças
reconhecendo e se desculpando, enquanto que as acusações geram que ocorrem no entorno, seja de processos, cultura ou até mesmo
apenas dissabores, sem que nada se mude. diante de troca de lideranças.
O relacionamento interpessoal, muitas vezes é usado e prati- Inevitavelmente, em qualquer profissão e quase em qualquer
cado apenas no trabalho, no entanto, ele está presente em todos outra atividade, o ser humano necessita estar em relacionamento
os momentos de uma vida, seja com amizade, com cônjuge, com com seus semelhantes.
filhos, pais, enfim, com qualquer pessoa que se estabeleça um con- Quando este relacionamento é harmonioso, contributivo, es-
tato, seja até por meios digitais. pontâneo, gera-se satisfação e progresso.
‫ ة‬importante também se ter a sensibilidade e a capacidade de Ao contrário, quando é conflituoso, surgem obstáculos aos de-
entender aos próprios sentimentos, emoções, autoestima, percep- senvolvimentos das atividades, gerando “emperramento” nos pro-
ções, pois assim poderá de forma mais fácil, se entender os senti- pósitos a alcançar.
mentos do outro, podendo, com isso, dispor de uma melhor forma Verificamos algumas ações de relacionamentos com pessoas,
de tratamento. Pois cada situação exige uma forma de tratar. A arte uns benéficos e outros maléficos:
de bem relacionar-se é a mesma de gerir os sentimentos dos outros Ações Negativas:
e para isso, deve-se ter autocontrole e empatia. Autocontrole para Comodismo: torna tudo “morno” e não muda nenhum cenário
saber encarar cada situação com a necessária ação e empatia para, ou panorama.
se colocando no lugar do outro, oferecer exatamente o que se es- Julgamento: destrói imediatamente qualquer relacionamento.
pera receber. Irritação: transfere a carga de algo errado para outra pessoa.
Há algumas atitudes que auxiliam no Bom Relacionamento: Leviandade: desconsidera que os outros têm sentimentos e
Mostre interesse pelas outras pessoas; preocupações.
Sorria; Mentira: acaba com a confiança.
Lembre-se do nome das pessoas; Críticas: forma uma muralha nos relacionamentos, e pode im-
Seja um bom ouvinte; pedir progressos.
Fale sobre o que interessa a outra pessoa; Ações Positivas:
Faça as pessoas se sentirem importantes; Aceitação: compreende que as pessoas são falhas e precisam
Reconheça seu erro; de ajuda. Auxilia no processo de aproximação no ambiente de tra-
Não imponha opiniões, envolva as pessoas; balho.
Veja as coisas do ponto de vista das outras pessoas; Ouvir: permite entender os sentimentos e acontecimentos dos
Elogie as pessoas; outros. Impede o julgamento.
Não critique os erros, valorize os acertos; Paciência: permite suportar uns aos outros e facilita a convi-
O homem começa a ser pessoa quando é capaz de relacionar- vência.
-se com os outros, quando se torna capaz de dar e receber e dei- Elogiar: auxilia nos laços de simpatia mutua e cria empatia en-
xa o egocentrismo dar lugar ao alterocentrismo. A capacidade de tre as pessoas.
estabelecer numerosas pontes de relacionamento interpessoal é Interesse: mostra a outra pessoa que ela tem em quem confiar
considerada como um dos principais sinais de maturidade psíquica e contar. Essa atitude firma relações.
e comportamental. Pelo fato de vivermos em sociedade, oferece- Sorrir: traz a quem o faz e a quem recebe sensação de bem
mos uma imagem de nós mesmos, assim como formamos conceito estar.
sobre cada uma das pessoas que conhecemos. Ou seja, cada um de
nós tem um conceito das pessoas que conhece e cada uma delas
tem um conceito de nós. Assim como depositamos em cada pessoa
conhecida um capital de estima maior ou menor, temos com ela
também a nossa cota, de acordo com o nosso desempenho pessoal
e social.

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ATUALIDADES

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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LEGISLAÇÃO
1. Sistema Único de Saúde (SUS): princípios, diretrizes, estrutura e organização; políticas de saúde. Estrutura e funcionamento das insti-
tuições e suas relações com os serviços de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Níveis progressivos de assistência à saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
3. Políticas públicas do SUS para gestão de recursos físicos, financeiros, materiais e humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
4. Sistema de planejamento do SUS: estratégico e normativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Direitos dos usuários do SUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
6. Participação e controle social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
7. Ações e programas do SUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
8. Legislação básica do SUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
9. Política Nacional de Humanização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
LEGISLAÇÃO
instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e fi-
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): PRINCÍPIOS, DIRE- nanceiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder
TRIZES, ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO; POLÍTICAS DE legalmente constituído em cada esfera do governo.
SAÚDE. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DAS INS- Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros,
TITUIÇÕES E SUAS RELAÇÕES COM OS SERVIÇOS DE que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movi-
SAÚDE mentos representativos de usuários; 25% de entidades representa-
tivas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação
O que é o Sistema Único de Saúde (SUS)? de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou
O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais com- sem fins lucrativos.
plexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o
simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio Comissão Intergestores Tripartite (CIT)
da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo aces- Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, esta-
so integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com dual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS
a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema
público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e Comissão Intergestores Bipartite (CIB)
não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e mu-
todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco nicipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS
na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção
da saúde. Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass)
A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Fe-
participativa entre os três entes da Federação: a União, os Estados deral na CIT para tratar de matérias referentes à saúde
e os municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tan-
to ações quanto os serviços de saúde. Engloba a atenção primária, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Co-
média e alta complexidades, os serviços urgência e emergência, a nasems)
atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemioló- Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tra-
gica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica. tar de matérias referentes à saúde

AVANÇO: Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF-88), a Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems)
“Saúde é direito de todos e dever do Estado”. No período anterior a São reconhecidos como entidades que representam os entes
CF-88, o sistema público de saúde prestava assistência apenas aos municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes
trabalhadores vinculados à Previdência Social, aproximadamente à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na
30 milhões de pessoas com acesso aos serviços hospitalares, caben- forma que dispuserem seus estatutos.
do o atendimento aos demais cidadãos às entidades filantrópicas.
Responsabilidades dos entes que compõem o SUS
Estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS)
O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da União
Saúde, Estados e Municípios, conforme determina a Constituição A gestão federal da saúde é realizada por meio do Ministério
Federal. Cada ente tem suas co-responsabilidades. da Saúde. O governo federal é o principal financiador da rede públi-
ca de saúde. Historicamente, o Ministério da Saúde aplica metade
Ministério da Saúde de todos os recursos gastos no país em saúde pública em todo o
Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora Brasil, e estados e municípios, em geral, contribuem com a outra
e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacio- metade dos recursos. O Ministério da Saúde formula políticas na-
nal de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite cionais de saúde, mas não realiza as ações. Para a realização dos
(CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estru- projetos, depende de seus parceiros (estados, municípios, ONGs,
tura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hos- fundações, empresas, etc.). Também tem a função de planejar, ela-
pitais federais. birar normas, avaliar e utilizar instrumentos para o controle do SUS.

Secretaria Estadual de Saúde (SES) Estados e Distrito Federal


Participa da formulação das políticas e ações de saúde, pres- Os estados possuem secretarias específicas para a gestão de
ta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e saúde. O gestor estadual deve aplicar recursos próprios, inclusive
participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e nos municípios, e os repassados pela União. Além de ser um dos
implementar o plano estadual de saúde. parceiros para a aplicação de políticas nacionais de saúde, o estado
formula suas próprias políticas de saúde. Ele coordena e planeja o
Secretaria Municipal de Saúde (SMS) SUS em nível estadual, respeitando a normatização federal. Os ges-
Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços tores estaduais são responsáveis pela organização do atendimento
de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera esta- à saúde em seu território.
dual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde.
Municípios
Conselhos de Saúde São responsáveis pela execução das ações e serviços de saúde
O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Esta- no âmbito do seu território. O gestor municipal deve aplicar recur-
dual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão sos próprios e os repassados pela União e pelo estado. O município
colegiado composto por representantes do governo, prestadores formula suas próprias políticas de saúde e também é um dos par-
de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação ceiros para a aplicação de políticas nacionais e estaduais de saúde.
de estratégias e no controle da execução da política de saúde na Ele coordena e planeja o SUS em nível municipal, respeitando a

1
LEGISLAÇÃO
normatização federal. Pode estabelecer parcerias com outros mu- Princípios do SUS
nicípios para garantir o atendimento pleno de sua população, para São conceitos que orientam o SUS, previstos no artigo 198 da
procedimentos de complexidade que estejam acima daqueles que Constituição Federal de 1988 e no artigo 7º do Capítulo II da Lei n.º
pode oferecer. 8.080/1990. Os principais são:
Universalidade: significa que o SUS deve atender a todos, sem
História do sistema único de saúde (SUS) distinções ou restrições, oferecendo toda a atenção necessária,
As duas últimas décadas foram marcadas por intensas transfor- sem qualquer custo;
mações no sistema de saúde brasileiro, intimamente relacionadas Integralidade: o SUS deve oferecer a atenção necessária à
com as mudanças ocorridas no âmbito político-institucional. Simul- saúde da população, promovendo ações contínuas de prevenção e
taneamente ao processo de redemocratização iniciado nos anos tratamento aos indivíduos e às comunidades, em quaisquer níveis
80, o país passou por grave crise na área econômico-financeira. de complexidade;
No início da década de 80, procurou-se consolidar o processo Equidade: o SUS deve disponibilizar recursos e serviços com
de expansão da cobertura assistencial iniciado na segunda metade justiça, de acordo com as necessidades de cada um, canalizando
dos anos 70, em atendimento às proposições formuladas pela OMS maior atenção aos que mais necessitam;
na Conferência de Alma-Ata (1978), que preconizava “Saúde para Participação social: é um direito e um dever da sociedade par-
Todos no Ano 2000”, principalmente por meio da Atenção Primária ticipar das gestões públicas em geral e da saúde pública em par-
à Saúde. ticular; é dever do Poder Público garantir as condições para essa
Nessa mesma época, começa o Movimento da Reforma Sa- participação, assegurando a gestão comunitária do SUS; e
nitária Brasileira, constituído inicialmente por uma parcela da in- Descentralização: é o processo de transferência de responsa-
telectualidade universitária e dos profissionais da área da saúde. bilidades de gestão para os municípios, atendendo às determina-
Posteriormente, incorporaram-se ao movimento outros segmentos ções constitucionais e legais que embasam o SUS, definidor de atri-
da sociedade, como centrais sindicais, movimentos populares de buições comuns e competências específicas à União, aos estados,
saúde e alguns parlamentares. ao Distrito Federal e aos municípios.
As proposições desse movimento, iniciado em pleno regime
autoritário da ditadura militar, eram dirigidas basicamente à cons- Principais leis
trução de uma nova política de saúde efetivamente democráti- Constituição Federal de 1988: Estabelece que “a saúde é direi-
ca, considerando a descentralização, universalização e unificação to de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
como elementos essenciais para a reforma do setor. e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
Várias foram às propostas de implantação de uma rede de serviços agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
voltada para a atenção primária à saúde, com hierarquização, descentra- para sua promoção, proteção e recuperação”. Determina ao Poder
lização e universalização, iniciando-se já a partir do Programa de Interio- Público sua “regulamentação, fiscalização e controle”, que as ações
rização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), em 1976. e os serviços da saúde “integram uma rede regionalizada e hierar-
Em 1980, foi criado o Programa Nacional de Serviços Básicos quizada e constituem um sistema único”; define suas diretrizes,
de Saúde (PREV-SAÚDE) - que, na realidade, nunca saiu do papel -, atribuições, fontes de financiamento e, ainda, como deve se dar a
logo seguida pelo plano do Conselho Nacional de Administração da participação da iniciativa privada.
Saúde Previdenciária (CONASP), em 1982 a partir do qual foi imple-
mentada a política de Ações Integradas de Saúde (AIS), em 1983. Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei n.º 8.080/1990: Regulamen-
Essas constituíram uma estratégia de extrema importância para o ta, em todo o território nacional, as ações do SUS, estabelece as
processo de descentralização da saúde. diretrizes para seu gerenciamento e descentralização e detalha as
A 8ª Conferência Nacional da Saúde, realizada em março de competências de cada esfera governamental. Enfatiza a descentra-
1986, considerada um marco histórico, consagra os princípios pre- lização político-administrativa, por meio da municipalização dos
conizados pelo Movimento da Reforma Sanitária. serviços e das ações de saúde, com redistribuição de poder, com-
Em 1987 é implementado o Sistema Unificado e Descentrali- petências e recursos, em direção aos municípios. Determina como
zado de Saúde (SUDS), como uma consolidação das Ações Integra- competência do SUS a definição de critérios, valores e qualidade
das de Saúde (AIS), que adota como diretrizes a universalização e dos serviços. Trata da gestão financeira; define o Plano Municipal
a equidade no acesso aos serviços, à integralidade dos cuidados, a de Saúde como base das atividades e da programação de cada nível
regionalização dos serviços de saúde e implementação de distritos de direção do SUS e garante a gratuidade das ações e dos serviços
sanitários, a descentralização das ações de saúde, o desenvolvi- nos atendimentos públicos e privados contratados e conveniados.
mento de instituições colegiadas gestoras e o desenvolvimento de
uma política de recursos humanos. Lei n.º 8.142/1990: Dispõe sobre o papel e a participação das
O capítulo dedicado à saúde na nova Constituição Federal, pro- comunidades na gestão do SUS, sobre as transferências de recursos
mulgada em outubro de 1988, retrata o resultado de todo o proces- financeiros entre União, estados, Distrito Federal e municípios na
so desenvolvido ao longo dessas duas décadas, criando o Sistema área da saúde e dá outras providências.
Único de Saúde (SUS) e determinando que “a saúde é direito de Institui as instâncias colegiadas e os instrumentos de participa-
todos e dever do Estado” (art. 196). ção social em cada esfera de governo.
Entre outros, a Constituição prevê o acesso universal e igua-
litário às ações e serviços de saúde, com regionalização e hierar- Responsabilização Sanitária
quização, descentralização com direção única em cada esfera de Desenvolver responsabilização sanitária é estabelecer clara-
governo, participação da comunidade e atendimento integral, com mente as atribuições de cada uma das esferas de gestão da saú-
prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos servi- de pública, assim como dos serviços e das equipes que compõem
ços assistenciais. o SUS, possibilitando melhor planejamento, acompanhamento e
A Lei nº 8.080, promulgada em 1990, operacionaliza as disposi- complementaridade das ações e dos serviços. Os prefeitos, ao as-
ções constitucionais. São atribuições do SUS em seus três níveis de sumir suas responsabilidades, devem estimular a responsabilização
governo, além de outras, “ordenar a formação de recursos huma- junto aos gerentes e equipes, no âmbito municipal, e participar do
nos na área de saúde” (CF, art. 200, inciso III). processo de pactuação, no âmbito regional.

2
LEGISLAÇÃO
Responsabilização Macrossanitária Espaços regionais: A implementação de espaços regionais de
O gestor municipal, para assegurar o direito à saúde de seus pactuação, envolvendo os gestores municipais e estaduais, é uma
munícipes, deve assumir a responsabilidade pelos resultados, bus- necessidade para o aperfeiçoamento do SUS. Os espaços regionais
cando reduzir os riscos, a mortalidade e as doenças evitáveis, a devem-se organizar a partir das necessidades e das afinidades es-
exemplo da mortalidade materna e infantil, da hanseníase e da tu- pecíficas em saúde existentes nas regiões.
berculose. Para isso, tem de se responsabilizar pela oferta de ações
e serviços que promovam e protejam a saúde das pessoas, previ- Descentralização
nam as doenças e os agravos e recuperem os doentes. A atenção O princípio de descentralização que norteia o SUS se dá, es-
básica à saúde, por reunir esses três componentes, coloca-se como pecialmente, pela transferência de responsabilidades e recursos
responsabilidade primeira e intransferível a todos os gestores. O para a esfera municipal, estimulando novas competências e capa-
cumprimento dessas responsabilidades exige que assumam as atri- cidades político-institucionais dos gestores locais, além de meios
buições de gestão, incluindo: adequados à gestão de redes assistenciais de caráter regional e ma-
- execução dos serviços públicos de responsabilidade munici- crorregional, permitindo o acesso, a integralidade da atenção e a
pal; racionalização de recursos. Os estados e a União devem contribuir
- destinação de recursos do orçamento municipal e utilização para a descentralização do SUS, fornecendo cooperação técnica e
do conjunto de recursos da saúde, com base em prioridades defini- financeira para o processo de municipalização.
das no Plano Municipal de Saúde;
- planejamento, organização, coordenação, controle e avalia- Regionalização: consensos e estratégias - As ações e os ser-
ção das ações e dos serviços de saúde sob gestão municipal; e viços de saúde não podem ser estruturados apenas na escala dos
- participação no processo de integração ao SUS, em âmbito municípios. Existem no Brasil milhares de pequenas municipalida-
regional e estadual, para assegurar a seus cidadãos o acesso a ser- des que não possuem em seus territórios condições de oferecer
viços de maior complexidade, não disponíveis no município. serviços de alta e média complexidade; por outro lado, existem
municípios que apresentam serviços de referência, tornando-se
Responsabilização Microssanitária polos regionais que garantem o atendimento da sua população e
É determinante que cada serviço de saúde conheça o território de municípios vizinhos. Em áreas de divisas interestaduais, são fre-
sob sua responsabilidade. Para isso, as unidades da rede básica de- quentes os intercâmbios de serviços entre cidades próximas, mas
vem estabelecer uma relação de compromisso com a população a de estados diferentes. Por isso mesmo, a construção de consensos
ela adstrita e cada equipe de referência deve ter sólidos vínculos te- e estratégias regionais é uma solução fundamental, que permitirá
rapêuticos com os pacientes e seus familiares, proporcionando-lhes ao SUS superar as restrições de acesso, ampliando a capacidade de
abordagem integral e mobilização dos recursos e apoios necessá- atendimento e o processo de descentralização.
rios à recuperação de cada pessoa. A alta só deve ocorrer quando
da transferência do paciente a outra equipe (da rede básica ou de O Sistema Hierarquizado e Descentralizado: As ações e servi-
outra área especializada) e o tempo de espera para essa transfe- ços de saúde de menor grau de complexidade são colocadas à dis-
rência não pode representar uma interrupção do atendimento: a posição do usuário em unidades de saúde localizadas próximas de
equipe de referência deve prosseguir com o projeto terapêutico, seu domicílio. As ações especializadas ou de maior grau de comple-
interferindo, inclusive, nos critérios de acesso. xidade são alcançadas por meio de mecanismos de referência, or-
ganizados pelos gestores nas três esferas de governo. Por exemplo:
Instâncias de Pactuação O usuário é atendido de forma descentralizada, no âmbito do mu-
São espaços intergovernamentais, políticos e técnicos onde nicípio ou bairro em que reside. Na hipótese de precisar ser atendi-
ocorrem o planejamento, a negociação e a implementação das po- do com um problema de saúde mais complexo, ele é referenciado,
líticas de saúde pública. As decisões se dão por consenso (e não isto é, encaminhado para o atendimento em uma instância do SUS
por votação), estimulando o debate e a negociação entre as partes. mais elevada, especializada. Quando o problema é mais simples, o
cidadão pode ser contrarreferenciado, isto é, conduzido para um
Comissão Intergestores Tripartite (CIT): Atua na direção nacio- atendimento em um nível mais primário.
nal do SUS, formada por composição paritária de 15 membros, sen-
do cinco indicados pelo Ministério da Saúde, cinco pelo Conselho Plano de saúde fixa diretriz e metas à saúde municipal
Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e cinco pelo É responsabilidade do gestor municipal desenvolver o proces-
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems). so de planejamento, programação e avaliação da saúde local, de
A representação de estados e municípios nessa Comissão é, por- modo a atender as necessidades da população de seu município
tanto regional: um representante para cada uma das cinco regiões com eficiência e efetividade. O Plano Municipal de Saúde (PMS)
existentes no País. deve orientar as ações na área, incluindo o orçamento para a sua
execução. Um instrumento fundamental para nortear a elaboração
Comissões Intergestores Bipartites (CIB): São constituídas pa- do PMS é o Plano Nacional de Saúde. Cabe ao Conselho Municipal
ritariamente por representantes do governo estadual, indicados de Saúde estabelecer as diretrizes para a formulação do PMS, em
pelo Secretário de Estado da Saúde, e dos secretários municipais função da análise da realidade e dos problemas de saúde locais,
de saúde, indicados pelo órgão de representação do conjunto dos assim como dos recursos disponíveis. No PMS, devem ser descritos
municípios do Estado, em geral denominado Conselho de Secretá- os principais problemas da saúde pública local, suas causas, con-
rios Municipais de Saúde (Cosems). Os secretários municipais de sequências e pontos críticos. Além disso, devem ser definidos os
objetivos e metas a serem atingidos, as atividades a serem execu-
Saúde costumam debater entre si os temas estratégicos antes de
tadas, os cronogramas, as sistemáticas de acompanhamento e de
apresentarem suas posições na CIB. Os Cosems são também ins-
avaliação dos resultados.
tâncias de articulação política entre gestores municipais de saúde,
sendo de extrema importância a participação dos gestores locais
Sistemas de informações ajudam a planejar a saúde: O SUS
nesse espaço
opera e/ou disponibiliza um conjunto de sistemas de informações
estratégicas para que os gestores avaliem e fundamentem o pla-

3
LEGISLAÇÃO
nejamento e a tomada de decisões, abrangendo: indicadores de resultado também das condições sociais, ambientais e econômicas
saúde; informações de assistência à saúde no SUS (internações em que vive. Os profissionais é que devem ir até suas casas, porque
hospitalares, produção ambulatorial, imunização e atenção básica); o objetivo principal da Saúde da Família é justamente aproximar as
rede assistencial (hospitalar e ambulatorial); morbidade por local equipes das comunidades e estabelecer entre elas vínculos sólidos.
de internação e residência dos atendidos pelo SUS; estatísticas
vitais (mortalidade e nascidos vivos); recursos financeiros, infor- A saúde municipal precisa ser integral. O município é respon-
mações demográficas, epidemiológicas e socioeconômicas. Cami- sável pela saúde de sua população integralmente, ou seja, deve
nha-se rumo à integração dos diversos sistemas informatizados de garantir que ela tenha acessos à atenção básica e aos serviços es-
base nacional, que podem ser acessados no site do Datasus. Nesse pecializados (de média e alta complexidade), mesmo quando locali-
processo, a implantação do Cartão Nacional de Saúde tem papel zados fora de seu território, controlando, racionalizando e avalian-
central. Cabe aos prefeitos conhecer e monitorar esse conjunto de do os resultados obtidos.
informações essenciais à gestão da saúde do seu município. Só assim estará promovendo saúde integral, como determina a
legislação. É preciso que isso fique claro, porque muitas vezes o gestor
Níveis de atenção à saúde: O SUS ordena o cuidado com a municipal entende que sua responsabilidade acaba na atenção básica
saúde em níveis de atenção, que são de básica, média e alta com- em saúde e que as ações e os serviços de maior complexidade são res-
plexidade. Essa estruturação visa à melhor programação e planeja- ponsabilidade do Estado ou da União – o que não é verdade.
mento das ações e dos serviços do sistema de saúde. Não se deve, A promoção da saúde é uma estratégia por meio da qual os
porém, desconsiderar algum desses níveis de atenção, porque a desafios colocados para a saúde e as ações sanitárias são pensados
atenção à saúde deve ser integral. em articulação com as demais políticas e práticas sanitárias e com
A atenção básica em saúde constitui o primeiro nível de aten- as políticas e práticas dos outros setores, ampliando as possibilidades
ção à saúde adotada pelo SUS. É um conjunto de ações que engloba de comunicação e intervenção entre os atores sociais envolvidos (su-
promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. De- jeitos, instituições e movimentos sociais). A promoção da saúde deve
senvolve-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democrá- considerar as diferenças culturais e regionais, entendendo os sujeitos
ticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas e as comunidades na singularidade de suas histórias, necessidades,
a populações de territórios delimitados, pelos quais assumem res- desejos, formas de pertencer e se relacionar com o espaço em que vi-
ponsabilidade. vem. Significa comprometer-se com os sujeitos e as coletividades para
Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densida- que possuam, cada vez mais, autonomia e capacidade para manejar
de, objetivando solucionar os problemas de saúde de maior fre- os limites e riscos impostos pela doença, pela constituição genética e
quência e relevância das populações. É o contato preferencial dos por seu contexto social, político, econômico e cultural. A promoção da
usuários com o sistema de saúde. Deve considerar o sujeito em sua saúde coloca, ainda, o desafio da intersetorialidade, com a convoca-
singularidade, complexidade, inteireza e inserção sociocultural, ção de outros setores sociais e governamentais para que considerem
além de buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamen- parâmetros sanitários, ao construir suas políticas públicas específicas,
to de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam possibilitando a realização de ações conjuntas.
comprometer suas possibilidades de viver de modo saudável.
As Unidades Básicas são prioridades porque, quando as Unida- Vigilância em saúde: expande seus objetivos. Em um país com
des Básicas de Saúde funcionam adequadamente, a comunidade as dimensões do Brasil, com realidades regionais bastante diver-
consegue resolver com qualidade a maioria dos seus problemas de sificadas, a vigilância em saúde é um grande desafio. Apesar dos
saúde. É comum que a primeira preocupação de muitos prefeitos avanços obtidos, como a erradicação da poliomielite, desde 1989,
se volte para a reforma ou mesmo a construção de hospitais. Para o e com a interrupção da transmissão de sarampo, desde 2000, con-
SUS, todos os níveis de atenção são igualmente importantes, mas a vivemos com doenças transmissíveis que persistem ou apresentam
prática comprova que a atenção básica deve ser sempre prioritária, incremento na incidência, como a AIDS, as hepatites virais, as me-
porque possibilita melhor organização e funcionamento também ningites, a malária na região amazônica, a dengue, a tuberculose
dos serviços de média e alta complexidade. e a hanseníase. Observamos, ainda, aumento da mortalidade por
causas externas, como acidentes de trânsito, conflitos, homicídios
Estando bem estruturada, ela reduzirá as filas nos prontos so- e suicídios, atingindo, principalmente, jovens e população em idade
corros e hospitais, o consumo abusivo de medicamentos e o uso produtiva. Nesse contexto, o Ministério da Saúde com o objetivo
indiscriminado de equipamentos de alta tecnologia. Isso porque de integração, fortalecimento da capacidade de gestão e redução
os problemas de saúde mais comuns passam a ser resolvidos nas da morbimortalidade, bem como dos fatores de risco associados
Unidades Básicas de Saúde, deixando os ambulatórios de especiali- à saúde, expande o objeto da vigilância em saúde pública, abran-
dades e hospitais cumprirem seus verdadeiros papéis, o que resul- gendo as áreas de vigilância das doenças transmissíveis, agravos e
ta em maior satisfação dos usuários e utilização mais racional dos doenças não transmissíveis e seus fatores de riscos; a vigilância am-
recursos existentes. biental em saúde e a análise de situação de saúde.

Saúde da Família: é a saúde mais perto do cidadão. É parte Competências municipais na vigilância em saúde
da estratégia de estruturação eleita pelo Ministério da Saúde para Compete aos gestores municipais, entre outras atribuições, as
reorganização da atenção básica no País, com recursos financeiros atividades de notificação e busca ativa de doenças compulsórias,
específicos para o seu custeio. Cada equipe é composta por um surtos e agravos inusitados; investigação de casos notificados em
conjunto de profissionais (médico, enfermeiro, auxiliares de enfer- seu território; busca ativa de declaração de óbitos e de nascidos vi-
magem e agentes comunitários de saúde, podendo agora contar vos; garantia a exames laboratoriais para o diagnóstico de doenças
com profissional de saúde bucal) que se responsabiliza pela situa- de notificação compulsória; monitoramento da qualidade da água
ção de saúde de determinada área, cuja população deve ser de no para o consumo humano; coordenação e execução das ações de
mínimo 2.400 e no máximo 4.500 pessoas. Essa população deve vacinação de rotina e especiais (campanhas e vacinações de blo-
ser cadastrada e acompanhada, tornando-se responsabilidade das queio); vigilância epidemiológica; monitoramento da mortalidade
equipes atendê-la, entendendo suas necessidades de saúde como infantil e materna; execução das ações básicas de vigilância sanitá-

4
LEGISLAÇÃO
ria; gestão e/ou gerência dos sistemas de informação epidemioló- Esfera Estadual - Gestor: Secretaria Estadual de Saúde - For-
gica, no âmbito municipal; coordenação, execução e divulgação das mulação da política municipal de saúde e a provisão das ações e
atividades de informação, educação e comunicação de abrangência serviços de saúde, financiados com recursos próprios ou transferi-
municipal; participação no financiamento das ações de vigilância dos pelo gestor federal e/ou estadual do SUS.
em saúde e capacitação de recursos. Esfera Municipal - Gestor: Secretaria Municipal de Saúde - For-
mulação de políticas nacionais de saúde, planejamento, normaliza-
Desafios públicos, responsabilidades compartilhadas: A legis- ção, avaliação e controle do SUS em nível nacional. Financiamento
lação brasileira – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e legislação das ações e serviços de saúde por meio da aplicação/distribuição de
sanitária, incluindo as Leis n.º 8.080/1990 e 8.142/1990 – estabe- recursos públicos arrecadados.
lece prerrogativas, deveres e obrigações a todos os governantes. A
Constituição Federal define os gastos mínimos em saúde, por es- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
fera de governo, e a legislação sanitária, os critérios para as trans- Pela dicção dos arts. 196 e 198 da CF, podemos afirmar que
ferências intergovernamentais e alocação de recursos financeiros. somente da segunda parte do art. 196 se ocupa o Sistema Único de
Essa vinculação das receitas objetiva preservar condições mínimas Saúde, de forma mais concreta e direta, sob pena de a saúde, como
e necessárias ao cumprimento das responsabilidades sanitárias e setor, como uma área da Administração Pública, se ver obrigada a
garantir transparência na utilização dos recursos disponíveis. A res- cuidar de tudo aquilo que possa ser considerado como fatores que
ponsabilização fiscal e sanitária de cada gestor e servidor público condicionam e interferem com a saúde individual e coletiva. Isso
seria um arrematado absurdo e deveríamos ter um super Minis-
deve ser compartilhada por todos os entes e esferas governamen-
tério e super Secretarias da Saúde responsáveis por toda política
tais, resguardando suas características, atribuições e competências.
social e econômica protetivas da saúde.
O desafio primordial dos governos, sobretudo na esfera municipal,
Se a Constituição tratou a saúde sob grande amplitude, isso
é avançar na transformação dos preceitos constitucionais e legais
não significa dizer que tudo o que está ali inserido corresponde a
que constituem o SUS em serviços e ações que assegurem o direito
área de atuação do Sistema Único de Saúde.
à saúde, como uma conquista que se realiza cotidianamente em
Repassando, brevemente, aquela seção do capítulo da Seguri-
cada estabelecimento, equipe e prática sanitária. É preciso inovar
dade Social, temos que: -- o art. 196, de maneira ampla, cuida do
e buscar, coletiva e criativamente, soluções novas para os velhos
direito à saúde; -- o art. 197 trata da relevância pública das ações
problemas do nosso sistema de saúde. A construção de espaços de
e serviços de saúde, públicos e privados, conferindo ao Estado o
gestão que permitam a discussão e a crítica, em ambiente demo-
direito e o dever de regulamentar, fiscalizar e controlar o setor (pú-
crático e plural, é condição essencial para que o SUS seja, cada vez
blico e privado); -- o art. 198 dispõe sobre as ações e os serviços
mais, um projeto que defenda e promova a vida.
públicos de saúde que devem ser garantidos a todos cidadãos para
Muitos municípios operam suas ações e serviços de saúde em
a sua promoção, proteção e recuperação, ou seja, dispõe sobre o
condições desfavoráveis, dispondo de recursos financeiros e equi-
Sistema Único de Saúde; -- o art. 199, trata da liberdade da inicia-
pes insuficientes para atender às demandas dos usuários, seja em
tiva privada, suas restrições (não pode explorar o sangue, por ser
volume, seja em complexidade – resultado de uma conjuntura so-
bem fora do comércio; deve submeter-se à lei quanto à remoção de
cial de extrema desigualdade. Nessas situações, a gestão pública
órgãos e tecidos e partes do corpo humano; não pode contar com
em saúde deve adotar condução técnica e administrativa compa-
a participação do capital estrangeiro na saúde privada; não pode
tível com os recursos existentes e criativa em sua utilização. Deve
receber auxílios e subvenções, se for entidade de fins econômicos
estabelecer critérios para a priorização dos gastos, orientados por
etc.) e a possibilidade de o setor participar, complementarmente,
análises sistemáticas das necessidades em saúde, verificadas junto
do setor público; -- e o art. 200, das atribuições dos órgãos e enti-
à população. É um desafio que exige vontade política, propostas
dades que compõem o sistema público de saúde. O SUS é mencio-
inventivas e capacidade de governo.
nado somente nos arts. 198 e 200.
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios compar-
A leitura do art. 198 deve sempre ser feita em consonância
tilham as responsabilidades de promover a articulação e a intera-
com a segunda parte do art. 196 e com o art. 200. O art. 198 estatui
ção dentro do Sistema Único de Saúde – SUS, assegurando o acesso
que todas as ações e serviços públicos de saúde constituem um úni-
universal e igualitário às ações e serviços de saúde.
co sistema. Aqui temos o SUS. E esse sistema tem como atribuição
O SUS é um sistema de saúde, regionalizado e hierarquizado,
garantir ao cidadão o acesso às ações e serviços públicos de saúde
que integra o conjunto das ações de saúde da União, Estados, Dis-
(segunda parte do art. 196), conforme campo demarcado pelo art.
trito Federal e Municípios, onde cada parte cumpre funções e com-
200 e leis específicas.
petências específicas, porém articuladas entre si, o que caracteriza
O art. 200 define em que campo deve o SUS atuar. As atribui-
os níveis de gestão do SUS nas três esferas governamentais.
ções ali relacionadas não são taxativas ou exaustivas. Outras po-
Criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado
derão existir, na forma da lei. E as atribuições ali elencadas depen-
pela Lei nº 8.080/90, conhecida como a Lei Orgânica da Saúde, e
dem, também, de lei para a sua exequibilidade.
pela Lei nº 8.142/90, que trata da participação da comunidade na
Em 1990, foi editada a Lei n. 8.080/90 que, em seus arts. 5º e
gestão do Sistema e das transferências intergovernamentais de re-
cursos financeiros, o SUS tem normas e regulamentos que discipli- 6º, cuidou dos objetivos e das atribuições do SUS, tentando melhor
nam as políticas e ações em cada Subsistema. explicitar o art. 200 da CF (ainda que, em alguns casos, tenha repe-
A Sociedade, nos termos da Legislação, participa do planeja- tido os incisos daquele artigo, tão somente).
mento e controle da execução das ações e serviços de saúde. Essa São objetivos do SUS:
participação se dá por intermédio dos Conselhos de Saúde, presen- a) a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e de-
tes na União, nos Estados e Municípios. terminantes da saúde;
b) a formulação de políticas de saúde destinadas a promover,
Níveis de Gestão do SUS nos campos econômico e social, a redução de riscos de doenças e
Esfera Federal - Gestor: Ministério da Saúde - Formulação da outros agravos; e
política estadual de saúde, coordenação e planejamento do SUS em c) execução de ações de promoção, proteção e recuperação
nível Estadual. Financiamento das ações e serviços de saúde por da saúde, integrando as ações assistenciais com as preventivas, de
meio da aplicação/distribuição de recursos públicos arrecadados. modo a garantir às pessoas a assistência integral à sua saúde.

5
LEGISLAÇÃO
O art. 6º, estabelece como competência do Sistema a execução O Governo do Estado do Rio de Janeiro, pela Lei n. 4.179/03,
de ações e serviços de saúde descritos em seus 11 incisos. instituiu o Programa Estadual de Acesso à Alimentação – PEAA,
O SUS deve atuar em campo demarcado pela lei, em razão do determinando que suas atividades correrão à conta do orçamento
disposto no art. 200 da CF e porque o enunciado constitucional de do Fundo Estadual da Saúde, vinculado à Secretaria de Estado da
que saúde é direito de todos e dever do Estado, não tem o condão Saúde. O PSDB, entendendo ser a lei inconstitucional por utilizar
de abranger as condicionantes econômico-sociais da saúde, tam- recursos da saúde para uma ação que não é de responsabilidade
pouco compreender, de forma ampla e irrestrita, todas as possíveis da área da saúde, moveu ação direta de inconstitucionalidade, com
e imagináveis ações e serviços de saúde, até mesmo porque haverá pedido de cautelar.
sempre um limite orçamentário e um ilimitado avanço tecnológico O Sr. Procurador da República (Parecer n. 5147/CF), opinou
a criar necessidades infindáveis e até mesmo questionáveis sob o pela improcedência da ação por entender que o acesso à alimenta-
ponto de vista ético, clínico, familiar, terapêutico, psicológico. ção é indissociável do acesso à saúde, assim como os medicamen-
Será a lei que deverá impor as proporções, sem, contudo, é tos o são e que as pessoas de baixa renda devem ter atendidas a
obvio, cercear o direito à promoção, proteção e recuperação da necessidade básica de alimentar-se.
saúde. E aqui o elemento delimitador da lei deverá ser o da digni- Infelizmente, mais uma vez confundiu-se “saúde” com “assis-
dade humana. tência social”, áreas da Seguridade Social, mas distintas entre si.
Lembramos, por oportuno que, o Projeto de Lei Complementar A alimentação é um fator que condiciona a saúde tanto quanto o
n. 01/2003 -- que se encontra no Congresso Nacional para regu- saneamento básico, o meio ambiente degradado, a falta de renda
lamentar os critérios de rateio de transferências dos recursos da e lazer, a falta de moradia, dentre tantos outros fatores condicio-
União para Estados e Municípios – busca disciplinar, de forma mais nantes e determinantes, tal qual mencionado no art. 3º da Lei n.
clara e definitiva, o que são ações e serviços de saúde e estabe- 8.080/90.
lecer o que pode e o que não pode ser financiado com recursos A Lei n. 8.080/90 ao dispor sobre o campo de atuação do SUS
dos fundos de saúde. Esses parâmetros também servirão para cir- incluiu a vigilância nutricional e a orientação alimentar, atividades
cunscrever o que deve ser colocado à disposição da população, no complexas que não tem a ver com o fornecimento, puro e simples,
âmbito do SUS, ainda que o art. 200 da CF e o art. 6º da LOS tenham de bolsa-alimentação, vale-alimentação ou qualquer outra forma
definido o campo de atuação do SUS, fazendo pressupor o que são de garantia de mínimos existenciais e sociais, de atribuição da assis-
ações e serviços públicos de saúde, conforme dissemos acima. (O tência social ou de outras áreas da Administração Pública voltadas
Conselho Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde também dis- para corrigir as desigualdades sociais. A vigilância nutricional deve
ciplinaram o que são ações e serviços de saúde em resoluções e ser realizada pelo SUS em articulação com outros órgãos e setores
portarias). governamentais em razão de sua interface com a saúde. São ativi-
dades que interessam a saúde, mas as quais, a saúde como setor,
O QUE FINANCIAR COM OS RECURSOS DA SAÚDE? não as executa. Por isso a necessidade das comissões intersetoriais
De plano, excetuam-se da área da saúde, para efeito de finan- previstas na Lei n. 8.080/90.
ciamento, (ainda que absolutamente relevantes como indicadores A própria Lei n. 10.683/2003, que organiza a Presidência da
epidemiológicos da saúde) as condicionantes econômico-sociais. República, estatuiu em seu art. 27, XX ser atribuição do Ministério
Os órgãos e entidades do SUS devem conhecer e informar à socie- da Saúde:
dade e ao governo os fatos que interferem na saúde da população a) política nacional de saúde;
com vistas à adoção de políticas públicas, sem, contudo, estarem b) coordenação e fiscalização do Sistema Único de Saúde;
obrigados a utilizar recursos do fundo de saúde para intervir nessas c) saúde ambiental e ações de promoção, proteção e recupe-
causas. ração da saúde individual e coletiva, inclusive a dos trabalhadores
Quem tem o dever de adotar políticas sociais e econômicas e dos índios;
que visem evitar o risco da doença é o Governo como um todo (po- d) informações em saúde;
líticas de governo), e não a saúde, como setor (políticas setoriais). e) insumos críticos para a saúde;
A ela, saúde, compete atuar nos campos demarcados pelos art. 200 f) ação preventiva em geral, vigilância e controle sanitário de
da CF e art. 6º da Lei n. 8.080/90 e em outras leis específicas. fronteiras e de portos marítimos, fluviais e aéreos;
Como exemplo, podemos citar os servidores da saúde que de- g) vigilância em saúde, especialmente quanto às drogas, medi-
vem ser pagos com recursos da saúde, mas o seu inativo, não; não camentos e alimentos;
porque os inativos devem ser pagos com recursos da Previdência h) pesquisa científica e tecnológica na área da saúde.
Social. Idem quanto as ações da assistência social, como bolsa-a-
limentação, bolsa-família, vale-gás, renda mínima, fome zero, que Ao Ministério da Saúde compete a vigilância sobre alimentos
devem ser financiadas com recursos da assistência social, setor ao (registro, fiscalização, controle de qualidade) e não a prestação de
qual incumbe promover e prover as necessidades das pessoas ca- serviços que visem fornecer alimentos às pessoas de baixa renda.
rentes visando diminuir as desigualdades sociais e suprir suas ca- O fornecimento de cesta básica, merenda escolar, alimentação
rências básicas imediatas. Isso tudo interfere com a saúde, mas não a crianças em idade escolar, idosos, trabalhadores rurais temporá-
pode ser administrada nem financiada pelo setor saúde. rios, portadores de moléstias graves, conforme previsto na Lei do
O saneamento básico é outro bom exemplo. A Lei n. 8.080/90, Estado do Rio de Janeiro, são situações de carência que necessitam
em seu art. 6º, II, dispõe que o SUS deve participar na formulação de apoio do Poder Público, sem sombra de dúvida, mas no âmbito
da política e na execução de ações de saneamento básico. Por sua da assistência social ou de outro setor da Administração Pública e
vez, o § 3º do art. 32, reza que as ações de saneamento básico que com recursos que não os do fundo de saúde. Não podemos mais
venham a ser executadas supletivamente pelo SUS serão financia- confundir assistência social com saúde. A alimentação interessa à
das por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados, saúde, mas não está em seu âmbito de atuação.
DF e Municípios e não com os recursos dos fundos de saúde. Tanto isso é fato que a Lei n. 8.080/90, em seu art. 12, estabe-
Nesse ponto gostaríamos de abrir um parêntese para comen- leceu que “serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacio-
tar o Parecer do Sr. Procurador Geral da República, na ADIn n. nal, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos
3087-6/600-RJ, aqui mencionado. Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas

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LEGISLAÇÃO
da sociedade civil”, dispondo seu parágrafo único que “as comis- decisões unilaterais das autoridades dirigentes da saúde, quando
sões intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e progra- a regra que perpassa todo o sistema é a da cooperação e da conju-
mas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não gação de recursos financeiros, tecnológicos, materiais, humanos da
compreendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde”. Já o seu União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em redes
art. 13, destaca, algumas dessas atividades, mencionando em seu regionalizadas de serviços, nos termos dos incisos IX, b e XI do art.
inciso I a “alimentação e nutrição”. 7º e art. 8º da Lei n. 8.080/90.
O parâmetro para o financiamento da saúde deve ser as atri- Por isso, o plano de saúde deve ser o instrumento de fixação
buições que foram dadas ao SUS pela Constituição e por leis espe- de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas quanto
cíficas e não a 1º parte do art. 196 da CF, uma vez que os fatores à integralidade da assistência, uma vez que ela não se esgota, na
que condicionam a saúde são os mais variados e estão inseridos maioria das vezes, na instância de governo-sede do cidadão. Ressal-
nas mais diversas áreas da Administração Pública, não podendo ser te-se, ainda, que o plano de saúde é a expressão viva dos interesses
considerados como competência dos órgãos e entidades que com- da população, uma vez que, elaborado pelos órgãos competentes
põe o Sistema Único de Saúde. governamentais, deve ser submetido ao conselho de saúde, repre-
sentante da comunidade no SUS, a quem compete, discutir, apro-
DA INTEGRALIDADE DA ASSISTÊNCIA var e acompanhar a sua execução, em todos os seus aspectos.
Vencida esta etapa, adentramos em outra, no interior do setor Lembramos, ainda, que o planejamento sendo ascendente, ini-
saúde - SUS, que trata da integralidade da assistência à saúde. O ciando-se da base local até a federal, reforça o sentido de que a in-
art. 198 da CF determina que o Sistema Único de Saúde deve ser or- tegralidade da assistência só se completa com o conjunto articulado
ganizado de acordo com três diretrizes, dentre elas, o atendimento de serviços, de responsabilidade dos diversos entes governamentais.
integral que pressupõe a junção das atividades preventivas, que de- Resumindo, podemos afirmar que, nos termos do art. 198, II,
vem ser priorizadas, com as atividades assistenciais, que também da CF, c/c os arts. 7º, II e VII, 36 e 37, da Lei n. 8.080/90, a integra-
não podem ser prejudicadas. lidade da assistência não é um direito a ser satisfeito de maneira
A Lei n. 8.080/90, em seu art. 7º (que dispõe sobre os princí- aleatória, conforme exigências individuais do cidadão ou de acordo
pios e diretrizes do SUS), define a integralidade da assistência como com a vontade do dirigente da saúde, mas sim o resultado do plano
“o conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos de saúde que, por sua vez, deve ser a consequência de um planeja-
e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em to- mento que leve em conta a epidemiologia e a organização de ser-
dos os níveis de complexidade do sistema”. viços e conjugue as necessidades da saúde com as disponibilidades
de recursos [20], além da necessária observação do que ficou de-
A integralidade da assistência exige que os serviços de saúde cidido nas comissões intergovernamentais trilaterais ou bilaterais,
sejam organizados de forma a garantir ao indivíduo e à coletividade que não contrariem a lei.
Na realidade, cada ente político deve ser eticamente respon-
a proteção, a promoção e a recuperação da saúde, de acordo com
sável pela saúde integral da pessoa que está sob atenção em seus
as necessidades de cada um em todos os níveis de complexidade
serviços, cabendo-lhe responder civil, penal e administrativamente
do sistema.
apenas pela omissão ou má execução dos serviços que estão sob
Vê-se, pois, que a assistência integral não se esgota nem se
seu encargo no seu plano de saúde que, por sua vez, deve guardar
completa num único nível de complexidade técnica do sistema,
consonância com os pactos da regionalização, consubstanciados
necessitando, em grande parte, da combinação ou conjugação de
em instrumentos jurídicos competentes .
serviços diferenciados, que nem sempre estão à disposição do cida-
Nesse ponto, temos ainda a considerar que, dentre as atribui-
dão no seu município de origem. Por isso a lei sabiamente definiu ções do SUS, uma das mais importantes -- objeto de reclamações
a integralidade da assistência como a satisfação de necessidades e ações judiciais -- é a assistência terapêutica integral. Por sua in-
individuais e coletivas que devem ser realizadas nos mais diversos dividualização, imediatismo, apelo emocional e ético, urgência e
patamares de complexidade dos serviços de saúde, articulados pe- emergência, a assistência terapêutica destaca-se dentre todas as
los entes federativos, responsáveis pela saúde da população. demais atividades da saúde como a de maior reivindicação indivi-
dual. Falemos dela no tópico seguinte.
A integralidade da assistência é interdependente; ela não se
completa nos serviços de saúde de um só ente da federação. Ela
só finaliza, muitas vezes, depois de o cidadão percorrer o caminho
traçado pela rede de serviços de saúde, em razão da complexidade NÍVEIS PROGRESSIVOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE
da assistência
E para a delimitação das responsabilidades de cada ente da fe- Para ofertar uma atenção em saúde mais específica e adequa-
deração quanto ao seu comprometimento com a integralidade da da à saúde foi descentralizada para melhor triar os casos e desafo-
assistência, foram criados instrumentos de gestão, como o plano de gar centros especializados de alta complexidade de casos de menor
saúde e as formas de gestão dos serviços de saúde. urgência ou de fácil resolução.
Desse modo, devemos centrar nossas atenções no plano de Dessa forma, a oferta de saúde passou a ser a nível Primário,
saúde, por ser ele a base de todas as atividades e programações da Secundário e Terciário, com alguns hospitais já se enquadrando
saúde, em cada nível de governo do Sistema Único de Saúde, o qual como de nível Quaternário.
deverá ser elaborado de acordo com diretrizes legais estabelecidas Classificam-se como de Nível Primário, as Unidades Básicas de
na Lei n. 8.080/90: epidemiologia e organização de serviços (arts. Saúde, ou Postos de Saúde, onde se configura a porta de entrada
7º VII e 37). O plano de saúde deve ser a referência para a demar- do Sistema Único de Saúde. Nesse nível de atenção são marcados
cação de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas dos exames e consultas além da realização de procedimentos básicos
entes políticos. como troca de curativos.
Sem planos de saúde -- elaborados de acordo com as diretri- Como Nível Secundário, estão as Clínicas e Unidades de Pronto
zes legais, associadas àquelas estabelecidas nas comissões intergo- Atendimento, bem como Hospitais Escolas. Nesses são realizados
vernamentais trilaterais, principalmente no que se refere à divisão procedimentos de intervenção bem como tratamentos a casos crô-
de responsabilidades -- o sistema ficará ao sabor de ideologias e nicos e agudos de doenças.

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LEGISLAÇÃO
Nos níveis Terciários, como os Hospitais de Grande Porte, se- É importante frisar que Município, Estado e Governo Federal
jam mantidos pelo estado seja pela rede privada, são realizadas têm suas respectivas responsabilidades para a gestão da saúde
manobras mais invasivas e de maior risco à vida, bem como são pública brasileira. Os percentuais de investimento financeiro dos
realizadas condutas de manutenção dos sinais vitais, como suporte de cada um são definidos, atualmente, pela Lei Complementar nº
básico à vida. Nesses hospitais, também podem funcionar serviços 141, de 13 de janeiro de 2012, resultante da sanção presidencial da
Quaternários, de transplante de tecidos, como Pulmão, Cora- Emenda Constitucional 29.
ção, Fígado, Rins, dentre outros. Por esta lei, Municípios e Distrito Federal devem aplicar anual-
Dessa maneira seccionada, pelo menos em tese, a garantia ao mente, no mínimo, 15% da arrecadação dos impostos em ações e
acesso em consonância com a gravidade e urgência ficam garanti- serviços públicos de saúde, cabendo aos estados 12%. No caso da
dos ao usuário. União, o montante aplicado deve corresponder ao valor empenha-
do no exercício financeiro anterior, acrescido do percentual relativo
O QUE É ATENÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA à variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano antecedente ao da
A Atenção Primária é constituída pelas Unidades Básicas de Lei Orçamentária Anual.
Saúde (UBS), pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), pela
Equipe de Saúde da Família (ESF) e pelo Núcleo de Apoio à Saúde Participação Social
da Família (NASF) enquanto o nível intermediário de atenção fica a O Controle Social é a participação do cidadão na gestão públi-
encargo do SAMU 192 (Serviço de Atendimento Móvel as Urgência), ca, na fiscalização, no monitoramento e no controle das ações do
das Unidades de Pronto Atendimento (UPA), e o atendimento de Poder Público. Trata-se de um importante mecanismo de fortaleci-
média e alta complexidade feito nos hospitais. mento da cidadania para a consolidação das políticas públicas que
envolvam o Sistema Único de Saúde (SUS). A Constituição Federal
A Atenção Secundária é formada pelos serviços especializados de 1988, por meio da Lei Orgânica da Saúde (Lei Nº 8142/90), criou
em nível ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica in- uma nova institucionalidade marcada por duas importantes inova-
termediária entre a atenção primária e a terciária, historicamente ções: a descentralização que propunha a transferência de decisões
interpretada como procedimentos de média complexidade. Esse ní- para Estados, Municípios e União, além da valorização da participa-
vel compreende serviços médicos especializados, de apoio diagnós- ção social no processo decisório das políticas públicas de saúde por
tico e terapêutico e atendimento de urgência e emergência. meio dos Conselhos. Para saber mais sobre como o cidadão pode
participar dos Conselhos de Saúde.
A Atenção Terciária ou alta complexidade designa o conjunto
de terapias e procedimentos de elevada especialização. Organiza Como se dá o financiamento do SUS?
também procedimentos que envolvem alta tecnologia e/ou alto De acordo com a Constituição Federal, os municípios são obri-
custo, como oncologia, cardiologia, oftalmologia, transplantes, par- gados a destinar 15% do que arrecadam em ações de saúde. Para os
to de alto risco, traumato-ortopedia, neurocirurgia, diálise (para pa- governos estaduais, esse percentual é de 12%. Já o Governo Federal
cientes com doença renal crônica), otologia (para o tratamento de tem um cálculo um pouco mais complexo: tem que contabilizar o
doenças no aparelho auditivo). que foi gasto no ano anterior, mais a variação nominal do Produto
Interno Bruto (PIB). Então essa variação é somada ao que se gastou
Envolve ainda a assistência em cirurgia reparadora (de muti- no ano anterior para se definir qual o valor da aplicação mínima
lações, traumas ou queimaduras graves), cirurgia bariátrica (para naquele ano.
os casos de obesidade mórbida), cirurgia reprodutiva, reprodução
assistida, genética clínica, terapia nutricional, distrofia muscular Quem pode usar o SUS?
progressiva, osteogênese imperfeita (doença genética que provoca Todos os brasileiros podem usar o SUS, porque todos nós con-
a fragilidade dos ossos) e fibrose cística (doença genética que aco- tribuímos com os nossos impostos para que ele funcione. O SUS é
mete vários órgãos do corpo causando deficiências progressivas). integral, igualitário e universal, ou seja, não faz, e nem deve fazer
qualquer distinção entre os usuários. Inclusive, estrangeiros que es-
Entre os procedimentos ambulatoriais de alta complexidade tiverem no Brasil e por algum motivo precisarem de alguma assis-
estão a quimioterapia, a radioterapia, a hemoterapia, a ressonância tência de saúde, podem utilizar de toda rede do SUS gratuitamente.
magnética e a medicina nuclear, além do fornecimento de medi-
camentos excepcionais, tais como próteses ósseas, marca-passos, Se eu pago consulta médica particular ou tenho plano de saú-
stendt cardíaco, etc. de, uso o SUS?
Sim, usa. Todos os brasileiros utilizam o Sistema Único de Saúde
(SUS) de alguma forma, pois o Sistema não se resume a atendimen-
to clínico e/ou hospitalar. No entanto, a Agência Nacional de Saúde
POLÍTICAS PÚBLICAS DO SUS PARA GESTÃO DE RE- Suplementar (ANS), fiscaliza, regulamenta, qualifica e habilita os
CURSOS FÍSICOS, FINANCEIROS, MATERIAIS E HUMA- planos de saúde brasileiros. A ANS é uma autarquia do Ministério
NOS da Saúde. É importante lembrar que o Ministério da Saúde, por sua
vez, realiza a gestão descentralizada e tripartite do SUS ao lado das
O modelo de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é descen- Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Caso queira fazer algu-
tralizado. Ou seja, Governo Federal (União), Estados e Municípios ma manifestação, acesse: www.ans.gov.br/central-de-atendimento
dividem a responsabilidade de forma integrada, garantindo o aten-
dimento de saúde gratuito a qualquer cidadão através da parceria Quais outras ações de saúde pública são de responsabilidade
entre os três poderes. Em locais onde há falta de serviços públicos, do SUS?
o SUS realiza a contratação de serviços de hospitais ou laboratórios As ações do Sistema Único de Saúde (SUS) são diversas e en-
particulares para que não falte assistência às pessoas. Desse modo, globam, por exemplo, o controle de qualidade da água potável que
estes locais também se integram à rede SUS, tendo que seguir seus chega à sua casa, na fiscalização de alimentos pela da Vigilância
princípios e diretrizes. Sanitária nos supermercados, lanchonetes e restaurantes que você

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LEGISLAÇÃO
utiliza diariamente, na assiduidade dos aeroportos e rodoviárias, e mento odontológico, encaminhamentos para outras especialidades
inclusive, nas regras de vendas de medicamentos genéricos ou nas clínicas e fornecimento de medicação básica. As Unidades Básicas
campanhas de vacinação, de doação de sangue ou leite materno de Saúde (UBS) fazem parte da Política Nacional de Urgência e
que acontecem durante todo o ano. Muitos procedimentos mé- Emergência, lançada pelo Ministério da Saúde em 2003, estrutu-
dicos de média e alta complexidade, por exemplo, são feitos pelo rando e organizando a rede de urgência e emergência no país, para
SUS, como doação de sangue, doação de leite humano (por meio de integrar a atenção às urgências.
Bancos de Leite Humano), quimioterapia e transplante de órgãos,
entre outros. O que é uma UPA?
A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) são estruturas de
Quando utilizo os serviços de um hospital filantrópico tam- complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde
bém estou utilizando o SUS? (UBS) e as portas de urgência hospitalares, onde em conjunto com
Sim, está. No que se refere às Santas Casas e hospitais filan- estas compõe uma rede organizada de Atenção às Urgências. Com isso
trópicos, o Ministério da Saúde transfere os recursos para o gestor ajudam a diminuir as filas nos prontos-socorros dos hospitais. A UPA
responsável (Estado ou município) por meio de contrato, para que oferece estrutura simplificada, com raio-X, eletrocardiografia, pedia-
efetue os repasses aos estabelecimentos de saúde ligados ao Siste- tria, laboratório de exames e leitos de observação. Nas localidades que
ma Único de Saúde (SUS). O recurso federal transferido é composto contam com UPA, 97% dos casos são solucionados na própria unidade.
pela produção de serviços, que tem a tabela do SUS como referên-
cia, e por incentivos diversos que aumentam substancialmente o Quando devo procurar uma UPA?
volume de transferências. Atualmente, 50% dos valores transferi- Somente em casos de urgência e emergência traumáticas e não
dos para Estados e municípios já não é mais pela tabela SUS, mas traumáticas. Além disso, é a opção de assistência de saúde nos fe-
por incentivos e outras modalidades que priorizam a qualidade. riados e finais de semana quando a UBS está fechada. Há também
a situação em que o usuário pode ser encaminhado da UBS para
Qual é a porta de entrada do usuário no SUS? a UPA, dependendo da gravidade ou da necessidade de um pron-
A porta de entrada do usuário no SUS é na Unidade Básica de to atendimento ou qualquer situação de emergência. A UPA tem
Saúde (UBS), popularmente conhecida como Posto de Saúde. A UBS consultórios de clínica médica, pediatria e odontologia, serviços de
é de responsabilidade de gerenciamento do município, ou seja, de laboratório e raio-x. Também conta com leitos de observação para
cada Prefeitura brasileira. Para facilitar o acesso do usuário, o mu- adultos e crianças, salas de medicação, nebulização, ortopedia e
nicípio mapeia a área de atuação de cada UBS por bairro ou região. uma “sala de emergência” para estabilizar os pacientes mais graves
Por isso, o cidadão deve procurar a unidade mais próxima da sua que, após o atendimento necessário para a estabilização do quadro
casa, munido de documentos e de comprovante de residência (con- clínico, este paciente possa ser removido para um hospital.
ta de água, luz ou telefone).
Então, qual é o papel dos hospitais na rede do SUS?
Como acontece o acolhimento do usuário do SUS na UBS? O papel dos hospitais é oferecer ao usuário do SUS atendimen-
Ao ir a uma UBS pela primeira vez, o usuário fará um Cartão to de saúde especializado de média e alta complexidade, como ci-
do SUS receberá um número e/ou uma cor que irá identificar de rurgias eletivas (realizada em uma data adequada de acordo com a
qual equipe da Estratégia da Saúde da Família (ESF) ele fará parte. saúde do paciente) tratamentos clínicos de acordo com cada espe-
Regularmente, a ESF acompanha a saúde do usuário, sendo o elo cialidade. Para chegar ao hospital, geralmente o usuário é encami-
de informação da população com os profissionais de saúde da Uni- nhado depois de ser atendido por uma UBS ou UPA, dependendo
dade. É por meio da coleta de informações das equipes de ESF que de cada caso. Tudo isso acontece devido ao processo de troca de
é possível pensar em ações de saúde pública de forma regional e informações entre as redes de atenção à saúde no SUS.
personalizada. De acordo com a Política Nacional de Atenção Hospitalar
(PNHOSP), no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), “os hospi-
O que é o Cartão do SUS? tais são instituição complexas, com densidade tecnológica especifi-
O Cartão do SUS ou Cartão Nacional de Saúde é um documento ca, de caráter multiprofissional e interdisciplinar, responsável pela
gratuito que reúne dados sobre quando e onde o usuário foi aten- assistência aos usuários com condições agudas ou crônicas, que
dido em toda rede de saúde pública. Se você ainda não tem um car- apresentem potencial de instabilização e de complicações de seu
tão, faça já o seu em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS, também estado de saúde (...)”.
conhecida como Posto de Saúde). Por meio do cartão, os profissionais
da equipe de saúde podem ter acesso ao histórico de atendimento do Se na minha cidade não tem unidade de saúde de referência,
usuário no SUS. Ainda, o usuário pode acessar o Portal de Saúde do Ci- como serei atendido?
dadão para ter acesso ao seu histórico de registros das ações e serviços Você será atendido na Unidade de Saúde de Referência da sua
de saúde no SUS. Além disso, o Cartão do SUS é feito de forma gratuita região, graças aos Consórcios Intermunicipais de Saúde.São ações
em hospitais ou locais definidos pela secretaria municipal de saúde, entre municípios próximos para a organização regional de ações e
mediante a apresentação de RG, CPF, certidão de nascimento ou ca- serviços de saúde, previstos na lei orgânica do SUS (Lei 8.080/1990)
samento. O uso do cartão facilita a marcação de consultas e exames e e que garantam atendimento integral à população dos municípios
garante o acesso a medicamentos gratuitos. associados. Desse modo, para atender melhor a população, os mu-
nicípios cooperam entre si para que o atendimento possa ser uni-
Quais são os serviços de saúde que irei encontrar em uma versalizado e igualitário a todos os usuários.
UBS?
Na UBS, o usuário do SUS irá receber atendimentos básicos e Evolução Histórica da Saúde Pública e das políticas de saúde
gratuitos em Pediatria, Ginecologia, Clínica Geral, Enfermagem e no Brasil
Odontologia, de segunda a sexta-feira, de 08h às 17h. Os principais As políticas públicas de saúde no Brasil têm sofrido modifica-
serviços oferecidos pelas UBS são consultas médicas, inalações, ções ao longo dos anos, e tais mudanças historicamente têm sido
injeções, curativos, vacinas, coleta de exames laboratoriais, trata- pelo menos aparentemente para adequarem-se aos contextos polí-

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LEGISLAÇÃO
ticos, econômicos e sociais. Somente com a chegada da família real, rências intergovernamentais de recursos através do Fundo Nacional
em 1808, é que algumas normas sanitárias foram impostas para de Saúde, que faria o repasse de forma regular e automática para
os portos, numa tentativa de impedir a entrada de doenças con- cada esfera.
tagiosas que pudessem colocar em risco a integridade da saúde da As Normas Operacionais Básicas (NOB’s) foram instituídas para
realeza. Em 1822, com a Independência do Brasil, algumas políticas nortear a operacionalização do sistema, sendo a mais importante a
débeis de saúde foram implantadas, tais políticas eram referentes NOB\SUS 01-96, pois a partir dela o município tornou-se o principal
ao controle dos portos e atribuía às províncias quaisquer decisões responsável por atender às necessidades do cidadão com requisitos
sobre tais questões. de Gestão Plena da Atenção Básica e Gestão Plena do Sistema Mu-
Somente com a Proclamação da República, em 1889, é que as nicipal, onde o Município passou a ser responsável, dentre outras,
práticas de saúde em nível nacional tiveram início. Oswaldo Cruz e pela elaboração da programação municipal dos serviços básicos de
Carlos Chagas que estiveram à frente da Diretoria Geral de Saúde saúde bem como pelos serviços de referência ambulatorial especia-
pública (DGSP), implementaram um modelo sanitarista visando er- lizada e hospitalar; executar ações básicas de vigilância sanitária e
radicar epidemias urbanas e a criação de um novo Código de Saúde epidemiológica, de média e alta complexidade; manter os sistemas
Pública, tornando-se responsável pelos serviços sanitários e de pro- de cadastros atualizados e avaliar o impacto das ações do sistema
filaxia no país, respectivamente. sobre as condições de saúde da população e do meio ambiente.
O Estado brasileiro teve sua primeira intervenção em 1923, com A União passou a normalizar e financiar e os Municípios a exe-
a Lei Elói Chaves, através da criação das Caixas de Aposentadoria cutar as ações. Criou a Programação Pactuada e Integrada (PPI),
e Pensão (CAPs), que asseguravam aos trabalhadores e empresas que tinha como objetivo alocar recursos de assistência à saúde nos
assistência médica, medicamentos, aposentadorias e pensões. Fo- estados e municípios, como forma de universalizar o acesso da po-
ram substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) pulação a todo tipo de assistência nos três níveis de complexidade.
passando a abranger uma quantidade maior de trabalhadores(3). Também foi criado o Piso de Atenção Básica (PAB), que alterou o fi-
Conforme refere Figueiredo; Tonini (2007), ao extinguir os IAPs, em nanciamento das ações básicas, tornando necessário uma avaliação
1967, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) foi implan- da aplicação dos recursos e impactos.
tado, atendendo, também, trabalhadores rurais por meio do Fundo A NOAS – SUS 01\2001 transformou o modelo vigente de
de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL) e trabalhadores gestão em Gestão Plena da Atenção Básica – Ampliada (GPAB-A),
com carteira assinada através do Instituto Nacional de Assistência ampliando o debate sobre a municipalização egionalização e insti-
Médica da Previdência Social (INAMPS). Somente no final da déca- tuindo o Plano Diretor de Regionalização (PDR), que estabeleceu as
da de 80 deixou de exigir carteira de trabalho para atendimentos diretrizes para uma assistência regionalizada, organizada, de forma
em hospitais, tornando a saúde menos excludente e mais universal. que o território estadual foi dividido em regiões e microrregiões
Na década de 70 surgiu o Movimento da Reforma Sanitária que de saúde tendo como base critérios sanitários, epidemiológicos,
tinha como objetivo conquistar a democracia para mudar o siste- geográficos, sociais, a oferta de serviços e a acessibilidade que a
ma de saúde. O conceito saúde – doença bem como o processo de população tem aos mesmos, bem como o diagnóstico dos proble-
trabalho e a determinação social da doença foram rediscutidos(4). mas de saúde mais frequentes e das prioridades de intervenção. E
No final da década de 80 o quadro social e político no país era dife- o Plano Diretor de Investimentos (PDI), que define as prioridades
rente, onde o movimento de redemocratização expandia-se pelos e estabelece as estratégias no que se refere a investimentos dos
estados brasileiros e a oposição ganhava força no Congresso Na- recursos de modo que seja prestada assistência em todos os níveis
cional. Dentro desse contexto ocorria, em 1986, a VIII Conferência de complexidade.
Nacional de Saúde (CNS) que tinha como presidente Sérgio Arouca Em 2006 com o Pacto pela Saúde, foram extintas essas formas
e que, pela primeira vez, foi verdadeiramente popular refletindo o de habilitação, através da Portaria Nº 399\2006 passando a vigorar
momento pelo qual o país passava. O grande marco da VIII Confe- o Termo de Compromisso e Gestão (TCG) que contemplava atribui-
rência Nacional de Saúde foi a criação do Sistema Único Descen- ções dos entes federados bem como os indicadores de monitora-
tralizado de Saúde (SUDS), que posteriormente tornou-se Sistema mento e avaliação dos Pactos. Nas suas três dimensões, Pacto pela
Único de Saúde (SUS) além de ter consolidado as ideias da Reforma Vida, em Defesa do SUS e Gestão do SUS, foram estabelecidas no
Sanitária. primeiro seis prioridades representando o compromisso entre os
A saúde ganhou espaço a partir de então com a Constituição gestores do SUS em torno de prioridades que apresentem impacto
Federal de 1988 (CF\88) que criou o SUS rompendo, dessa forma, sobre a situação de saúde da população brasileira, que são: Saúde
do Idoso; Controle do câncer de colo do útero e da mama; Redução
com o antigo modelo de saúde que era dominado pelo sistema
da mortalidade infantil e materna; Fortalecimento da capacidade
previdenciário. A saúde passou a ser direito de todos e dever do
de resposta às doenças emergentes e endêmicas, com ênfase na
Estado. Os princípios e diretrizes estabelecidos foram: descentrali-
dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; Promoção da
zação, integralidade, participação da comunidade, regionalização e
Saúde; Fortalecimento da Atenção Básica.
hierarquização.
Em 2008 a Portaria do MS Nº 325\08 criou mais cinco priori-
O SUS foi regulamentado em 1990, com a Lei Orgânica de Saú-
dades no Pacto pela Vida passando a totalizar onze prioridades. As
de (LOS), a Lei Nº 8.080 e a Lei Nº 8.142 onde se deu destaque
cinco prioridades estabelecidas foram: Saúde do Trabalhador; Saú-
para a construção de um modelo de atenção fundamentado na epi-
de Mental; Fortalecimento da capacidade de resposta do sistema
demiologia, controle social, descentralização e regionalização com de saúde às pessoas com deficiência; Atenção integral às pessoas
base municipal. A primeira LOS regulamenta o SUS em todo o país em situação ou risco de violência; Saúde do Homem. O Pacto em
definindo seus princípios e diretrizes, que contemplam a universa- Defesa do SUS expressa os compromissos entre os gestores com a
lidade, a integralidade da assistência, equidade, descentralização e consolidação do processo da Reforma Sanitária Brasileira e o Pacto
a participação da comunidade. Estabelece condições para o nortea- de Gestão do SUS estabelece as responsabilidades dos entes fede-
mento do gerenciamento e sobre as condições para a promoção, rados para o fortalecimento da gestão em seus eixos de ação.
proteção, recuperação da saúde, organização e funcionamento dos Já em 2011 com o Decreto Nº 7.508\2011 o TCG foi substituído
serviços de saúde. A segunda regulamenta a participação da socie- pelo Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP) tendo
dade na formulação das políticas de saúde, dispõe sobre as transfe- como objetivo a organização e a integração das ações e serviços de

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LEGISLAÇÃO
saúde, sob responsabilidade dos entes federativos com a finalidade Apontamentos sobre a trajetória da política de Atenção Bási-
de garantir a integralidade das ações e serviços de saúde a partir da ca no Brasil
definição de responsabilidades, indicadores e metas de saúde, de- Em 1994, a criação do Programa Saúde da Família (PSF) permi-
sempenho, recursos financeiros. Reconhece a atenção básica como tiu ampliar a cobertura em saúde, em um movimento inicialmente
porta de entrada do sistema e como eixo principal das Redes de voltado apenas para a parte da população brasileira em situação
Atenção a Saúde (RAS) que constitui um conjunto de ações e servi- social mais vulnerável. Configurou-se um modo de compor a equipe
ços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente com e de organizar o processo de trabalho, com base territorial e res-
o intuito de garantir a integralidade tendo como porta de entrada ponsabilidade sanitária, referências sustentadas pelas sucessivas
para tais ações a atenção primária; urgência e emergência; atenção políticas.
psicossocial e serviços especiais de acesso aberto e a partir destes Com a Norma Operacional Básica do SUS de 1996 (NOB/96),
partem as referências para serviços de atenção ambulatorial e hos- o PSF assumiu a condição de estratégia de reorientação da APS,
pitalar especializado. em substituição às modalidades tradicionais. A NOB/96 instituiu os
Por fim, o SUS representa o maior projeto de inclusão social no componentes fixo e variável do Piso da Atenção Básica (PAB) e es-
Brasil, proporcionando aos que antes eram excluídos pelo sistema tabeleceu incentivos financeiros aos municípios que adotassem o
garantia de assistência à saúde. Entretanto a despeito da mesma im- Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs) e o PSF, tornan-
ponência do projeto gigantescas dificuldades são encontradas em do automática e regular a transferência de recursos federais para o
sua implementação relacionadas ao financiamento, regulação inci- financiamento desses programas.
piente, precárias condições de trabalho falhas na descentralização. Essa priorização teve repercussões concretas, e, em 1998, foi
Necessitando de um fortalecimento no que se refere à regulação da estabelecido o primeiro Pacto de Indicadores da Atenção Básica,
assistência a saúde no país que apesar dos avanços obtidos com a processo que se renovou periodicamente por meio da negociação
descentralização explicita problemas como leitos insuficientes para intergestores de metas para a avaliação e o monitoramento da AB
atender a demanda da população que necessita de atendimentos, no SUS. Desdobrou-se, também, em outros dispositivos de forta-
principalmente de média e alta complexidade, que em sua maioria lecimento da AB, como, por exemplo, a criação do Sistema de In-
estão sob o poder do setor privado complementar e filantrópico formação da Atenção Básica (Siab), também em 1998, substituindo
o Sistema de Informação do Programa de Agente Comunitário de
Política Nacional de Atenção Básica Saúde (Sipacs).
Transcorridos 27 anos desde a promulgação das Leis nº 8.080 Ainda visando à reorientação do modelo de atenção, foi criado,
e nº 8.142, de 1990, é possível dizer que, mesmo com dificuldades em 2002, o Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde da Famí-
e lacunas, foram as políticas direcionadas para o fortalecimento da lia (Proesf), voltado para os municípios com mais de 100 mil habi-
Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil que mais favoreceram a tantes, explicitando a compreensão da saúde da família como uma
implantação dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde estratégia viável não apenas nas pequenas cidades e no meio rural,
(SUS). onde se implantou originalmente. No âmbito do Proesf, foi criada, em
Expressas por meio de documentos específicos, as Políticas Na- 2005, a Avaliação para a Melhoria da Qualidade (AMQ), que instituiu
cionais de Atenção Básica (PNAB) tiveram papel fundamental nesse uma metodologia de avaliação em diversos níveis: gestores, coordena-
processo, permitindo inflexões importantes, principalmente no mo- dores, unidades de saúde e Equipes da Saúde da Família (EqSF), com o
delo de atenção e na gestão do trabalho em saúde nos municípios. propósito de qualificação da AB por meio da avaliação.
Isso ocorreu de modo articulado à introdução dos mecanismos de A agenda política de fortalecimento da APS por meio da ESF
financiamento que desempenharam papel indutor na sua adoção consolidou-se gradativamente e, em 2006, tornou-se uma das di-
como eixo estruturante da organização das ações e serviços de saú- mensões prioritárias do Pacto pela Vida. Naquele mesmo ano, foi
de. publicada a PNAB, revisada em 2011, buscando preservar a centra-
Em setembro de 2017, foi publicada uma nova PNAB3, que sus- lidade da ESF para consolidar uma APS forte, ou seja, capaz de es-
citou a crítica de organizações historicamente vinculadas à defesa tender a cobertura, prover cuidados integrais e desenvolver a pro-
do SUS, como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), moção da saúde, configurando-se como porta de entrada principal
o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e a Escola Nacio- do usuário no SUS e eixo de coordenação do cuidado e de ordena-
nal de Saúde Pública (Ensp). Em nota conjunta, as três instituições ção da Rede de Atenção à Saúde (RAS). Esse processo envolveu um
denunciaram, entre outras coisas, a revogação da prioridade dada amplo escopo de ações, mobilizando instituições e sujeitos sociais
à Estratégia Saúde da Família (ESF) na organização do SUS com a para responder aos desafios colocados para a formação de traba-
provável perda de recursos para outras configurações da Atenção lhadores, a organização do processo de trabalho, as interações com
Básica (AB), em um contexto de retração do financiamento da a comunidade, a compreensão do território e as relações entre os
saúde. Demonstraram preocupação com retrocessos em relação à entes federados.
construção de uma APS integral, que vinha direcionando o modelo Segundo Magalhães Júnior e Pinto, há, pelo menos, dois indica-
de AB baseado na ESF dores importantes da centralidade dada à PNAB no âmbito federal
Este artigo teve como objetivo analisar as alterações nas dire- das políticas de saúde. São eles: o aumento superior a 100% dos
trizes da AB promovidas no texto da PNAB 2017, tomando como recursos repassados aos municípios para o financiamento da AB,
parâmetros a PNAB 2011 e os princípios da universalidade e da in- entre 2010 e 2014; e a aplicação de recursos para a qualificação
tegralidade da atenção à saúde, na perspectiva de uma APS forte e e a ampliação da estrutura das unidades, por meio de um projeto
de uma rede integrada de atenção à saúde no SUS. Os temas anali- específico, o Requalifica SUS, lançado em 2011.
sados foram: a cobertura; a posição relativa da ESF; a configuração Também em 2011, foi instituído o Programa Nacional de Me-
das equipes; e a organização dos serviços. lhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), que
Inicialmente, foram identificados alguns marcos instituintes da incorporou elementos da AMQ e ampliou as vertentes de avaliação,
AB no Brasil e suas contribuições para a configuração do SUS. Na tendo como finalidade a certificação das EqSF. Esse Programa per-
sequência, procurou-se situar o contexto de formulação dessa nova mitiu vincular formas de transferência de recursos do PAB variável
política e discutir prováveis riscos e retrocessos das alterações pro- aos resultados provenientes da avaliação, constituindo-se em um
postas para o SUS. mecanismo de indução de novas práticas.

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LEGISLAÇÃO
Em termos de cobertura, dados disponibilizados pelo Ministé- aprovada em 30 de agosto de 2017, pouco mais de um mês após
rio da Saúde (MS) indicam que a ESF alcançava 58% da população, tornar-se oficialmente pública. Uma característica marcante do tex-
em outubro de 2017, e sabe-se que essa cobertura chegou a atin- to da nova PNAB é a explicitação de alternativas para a configuração
gir 100% em alguns municípios. Tudo isso mediante novos serviços, e implementação da AB, traduzindo-se em uma pretensa flexibilida-
modalidades e arranjos de equipes multiprofissionais, com desta- de, sustentada pelo argumento da necessidade de atender especi-
que para as equipes ampliadas pela saúde bucal e pelos Núcleos ficidades locorregionais.
de Apoio à Saúde da Família (Nasf). Mesmo reconhecendo a per- Supostamente, amplia-se a liberdade de escolha dos gestores
sistência de problemas no acesso, na qualidade e na continuida- do SUS, o que poderia ser visto como positivo por responder às de-
de da atenção, diversos estudos sugerem avanços decorrentes das mandas de um processo de descentralização mais efetivo. Entretan-
políticas de APS na redução de internações evitáveis e dos gastos to, esse processo só se completaria com a transferência de recur-
hospitalares, e para a melhoria das condições de vida e saúde da sos necessários à autonomia de gestão pelos municípios, e com os
população brasileira mecanismos de controle social e participação popular. A presente
análise não valida o raciocínio otimista, justamente porque é fruto
Notas sobre a conjuntura e o texto da Política Nacional de de uma leitura informada pela atual conjuntura, que indica limites
Atenção Básica 2017 rigorosos, a partir dos quais essa política e suas possibilidades se
Presenciou-se, recentemente, a reorganização das forças políti- realizarão.
cas conservadoras no Brasil, o que resultou no impedimento de Dil- Pode-se dizer que o discurso da PNAB se constrói de modo am-
ma Rousseff e na condução do seu vice Michel Temer à Presidência. bivalente, incorporando verbos como sugerir e recomendar, que
Ao mesmo tempo, observa-se o rápido fortalecimento de uma pau- retiram o caráter indutor e propositivo da política e expressam a
ta antidemocrática e autoritária, orientada para o aprofundamento desconstrução de um compromisso com a expansão da saúde da fa-
da mercantilização dos direitos sociais brasileiros. mília e do sistema público. Entende-se, ainda, que essa estrutura de
Seguiu-se a aprovação de medidas ditas ‘racionalizantes’, sob a texto tem o propósito de blindá-lo à crítica, tornando suas propo-
justificativa da necessidade de enfrentar o desequilíbrio fiscal, atri- sições de mais fácil assimilação, afinal, a partir do que está escrito,
buído ao descontrole das contas públicas decorrentes de ‘políticas diversas opções seriam possíveis. Esta ambivalência é um recurso
paternalistas’, que teriam agravado a crise econômica. A orientação que permite omitir escolhas prévias (ideológicas), que parecem de-
é modificar a destinação dos recursos do fundo público, limitando terminar o processo de revisão da PNAB no momento político atual.
as políticas sociais, promovendo a redução da dimensão pública Tais escolhas remetem a uma concepção de Estado afinada com a
do Estado e ampliando a participação do setor privado. Do mesmo racionalidade neoliberal, que aponta para o sentido inverso a uma
modo, opera-se uma ofensiva contra a classe trabalhadora, atingin- maior presença do Estado, requerida para a continuidade do SUS
do conquistas fundamentais, como os direitos trabalhistas e previ- como projeto e da AB como estratégia principal para a garantia da
denciários. Trata-se de um conjunto de reformas supressoras de di- saúde como direito universal.
reitos sociais, em uma represália sem proporções ainda calculadas, Feitas essas considerações mais gerais, apresenta-se a discus-
do capital contra o trabalho. são de elementos específicos presentes na nova PNAB, inventarian-
Entre as alterações legislativas que viabilizam esse processo, do os riscos potenciais detectados para o SUS e seus princípios.
destaca-se a promulgação da Emenda Constitucional nº 95/2016,
conhecida como a emenda do ‘Teto dos Gastos’, que congela por 20 Relativização da cobertura
anos a destinação de recursos públicos e produz efeitos nas diver- Como ressaltado, a universalidade é um princípio estruturante
sas políticas, especificamente no financiamento do SUS. da atenção à saúde no âmbito do SUS, que, aliada à integralida-
Essas medidas incidem sobre uma relação frágil entre o SUS e de, tem distinguido a PNAB de conformações simplificadas e foca-
a sociedade brasileira, e caminham em paralelo ao fortalecimen- lizantes de APS. Baseadas nesses princípios, as PNAB 2006 e 2011
to ideológico do setor privado como alternativa de qualidade para vinham projetando a expansão da ESF, nas duas últimas décadas.
o atendimento das necessidades de saúde. Conforma-se, assim, o Considerando este movimento, o tema da cobertura da AB desta-
terreno propício para dar prosseguimento à desconstrução do SUS, ca-se como um importante indicador da intencionalidade da PNAB
cujo financiamento jamais alcançou um patamar de suficiência e es- 2017.
tabilidade, ao passo que as empresas privadas de planos de saúde Retrospectivamente, percebe-se que, entre os itens necessá-
sempre foram objeto de fortalecimento, por meio da destinação de rios à implantação da ESF nas PNAB 2006 e 2011, encontrava-se
incentivos financeiros contínuos. uma única referência à cobertura universal. Ela se construiu de for-
Nessa conjuntura, as tendências que orientavam a revisão da ma mediada, representada pela relação entre o número previsto de
PNAB 2011 já vinham sendo anunciadas, pelo menos, desde outu- Agentes Comunitários de Saúde (ACS) por equipe e a cobertura de
bro de 2016, quando foi realizado o VII Fórum Nacional de Gestão 100% da população cadastrada. Nessas PNAB, constava que, para a
da Atenção Básica, cujos indicativos para tal revisão foram publi- implantação de EqSF, seria necessário um número de ACS suficien-
cados em um documento-síntese. Ali, já se apresentava uma pers- te para cobrir 100% da população cadastrada, com um máximo de
pectiva regressiva, especialmente preocupante, considerando-se a 750 pessoas por ACS e de 12 ACS por EqSF. A PNAB 2011 acrescen-
correlação de forças muito desfavorável aos que defendem a saúde tou o alerta de que não se deveria ultrapassar o limite máximo de
como um direito universal. moradores vinculados a cada equipe, evidenciando a preocupação
Desde então, as notícias sobre a revisão da PNAB foram se in- com as condições que poderiam diretamente afetar a qualidade da
tensificando, mas sua produção foi pouco divulgada oficialmente e atenção.
sua discussão manteve-se em espaços restritos, como a Comissão No texto da PNAB 2017, anterior à consulta pública, não há ne-
Intergestores Tripartite (CIT) e as reuniões entre os técnicos do MS. nhuma referência à cobertura universal. A referência a 100% de co-
Em 27 de julho de 2017, o texto preliminar foi apresentado na CIT bertura é retomada no texto publicado, porém restrita a certas áreas:
e encaminhado para consulta pública por dez dias. Apesar do cur- Em áreas de risco e vulnerabilidade social, incluindo de gran-
to prazo, a consulta recebeu mais de 6 mil contribuições, sem que de dispersão territorial, o número de ACS deve ser suficiente para
tenham gerado, entretanto, mudanças expressivas no texto origi- cobrir 100% da população, com um máximo de 750 pessoas por
nal ou tenham sido divulgados os seus resultados. A nova PNAB foi agente, considerando critérios epidemiológicos e socioeconômicos.

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LEGISLAÇÃO
A flexibilização da cobertura populacional está relacionada Os padrões ampliados correspondem a ações e procedimentos
também aos parâmetros da relação equipe/população apresen- considerados estratégicos para se avançar e alcançar padrões eleva-
tados no item ‘Funcionamento’. Ali se lê que a população adscrita dos de acesso e qualidade na AB, considerando as especificidades
recomendada por equipe de AB e EqSF é de 2 mil a 3,5 mil pessoas. locais e decisão da gestão.
Entretanto, neste mesmo item, de acordo com as especificidades Entretanto, tais padrões são apenas recomendados. A PNAB
do território, prevê-se também a possibilidade de “outros arranjos projeta um compromisso que se limita aos padrões essenciais, que,
de adscrição”3(70), com parâmetros populacionais diferentes, que como já advertido, tendem a se configurar em torno de cuidados
podem ter alcance “maior ou menor do que o parâmetro recomen- mínimos, recuperando a concepção de APS seletiva.
dado” 3(70). A decisão a esse respeito fica a cargo do gestor munici- Não há nenhum conteúdo especificado que possibilite conhe-
pal, em conjunto com a equipe de AB e o Conselho Municipal ou cer e analisar a que corresponderiam tais padrões. Não se sabe
Local de Saúde, com a ressalva de que fica assegurada a qualidade quais procedimentos e ações integram o padrão básico e, portanto,
do cuidado. mantém-se a incerteza sobre a capacidade de esse padrão atender
Na PNAB 2011 havia a seguinte indicação: “quanto maior o as necessidades de saúde que deveriam ser contempladas na APS.
grau de vulnerabilidade, menor deverá ser a quantidade de pes- Em relação ao padrão ampliado, cabe questionar: existem ações e
soas por equipe”2(55). Segundo essa redação, o critério de flexibiliza- cuidados que integram a AB hoje, e que podem ser negligenciados
ção de parâmetros populacionais apontava claramente a intenção de a ponto de constituírem um padrão opcional, ou seja, apenas re-
favorecer aqueles que apresentassem maior necessidade de atenção. comendável? A análise empreendida conclui o inverso. Este é um
O mesmo não pode ser dito em relação à nova PNAB, que, mais uma modo de consentir com o aprofundamento das desigualdades e a
vez, se descompromete a adotar parâmetros que favoreçam um pro- segmentação do acesso e do cuidado que marcam a APS em diver-
cesso de atenção progressivamente mais qualificado. Ao desconsiderar sos países da América Latina, como apontam Giovanella et al.
a relação entre quantidade e qualidade, a afirmação de que deve ser O risco colocado, pela diferenciação entre os serviços ‘essen-
assegurada a qualidade do cuidado torna-se mera retórica. ciais’ e ‘ampliados’, é de que se retome a lógica da seletividade
A cobertura é igualmente relativizada por meio da indefinição com diretrizes que reforcem a segmentação e a fragmentação dos
do número de ACS, uma vez que a PNAB 2017 indica que o número serviços e das ações de saúde no SUS, a partir da APS. Segundo
de ACS por equipe deverá ser definido de acordo com base popu- Conill, Fausto e Giovanella, a segmentação e a fragmentação são
lacional (critérios demográficos, epidemiológicos e socioeconômi- categorias fundamentais para a compreensão dos problemas dos
cos), conforme legislação vigente. sistemas de saúde. Estão relacionadas à garantia dos direitos sociais
Deste modo, pode-se compor equipes com apenas um ACS. e são muito sensíveis aos problemas de financiamento público, com
Quando uma política, simultaneamente, torna indefinido o número efeitos restritivos às possibilidades de acesso aos demais níveis de
de ACS por equipes e flexibiliza os parâmetros de cobertura, refor- atenção e à constituição de redes integradas de atenção à saúde.
ça-se o risco de serem recompostas barreiras ao acesso à saúde de A segmentação propugnada pela PNAB deve ser examinada de
parte da população. Lembre-se, aqui, que o ACS é um trabalhador modo articulado à racionalidade, aos interesses e à perspectiva de
que deveria ser o ‘elo’ entre os serviços de saúde e a população, sistema de saúde enunciada pelo atual ministro da saúde, Ricardo
contribuindo para facilitar o acesso e proporcionar uma relação Barros, segundo a qual seria desejável compreender os setores pú-
estável e contínua entre a população e os serviços de APS. Tal for- blico e privado suplementar como partes de um todo único. Neste
mulação compromete, também, um conjunto de processos já insti- sentido, ampliam-se as condições para que a saúde suplementar
tuídos na ESF, que se estruturam por meio da presença constante passe a integrar o sistema de serviços de saúde, desta vez direta-
de um trabalhador da saúde no território. Entre esses processos, mente impulsionado pelo desenho das políticas públicas.
destacam-se a escuta e a percepção de problemas e necessidades A base argumentativa para a segmentação do cuidado, na nova
que poderiam ser invisíveis aos serviços, bem como a identificação PNAB, deturpa a ideia de especificidades territoriais que antes jus-
e a criação de possibilidades de intervenção, dadas a partir de seus tificavam e davam consistência ao princípio da equidade, este que
conhecimentos sobre a dinâmica da vida no território. remete à obrigação ético-política de se estabelecerem parâmetros
Essas alterações articuladas abrem um precedente inédito na e processos visando à superação de desigualdades historicamen-
história da PNAB, que desestabiliza o compromisso da política com te produzidas na sociedade brasileira, de modo a revelar e inter-
a universalidade da atenção à saúde no SUS. ferir sobre as condições que as produzem. Contrariamente, esta
segmentação do cuidado traz as bases para o desenvolvimento de
A segmentação do cuidado: padrões essenciais e ampliados um SUS seletivo, que universaliza mínimos e estratifica padrões de
de serviços atenção, justificados por situações precárias, cuja superação não
Pode-se dizer que, além da universalidade, outro princípio com está no horizonte de compromissos das políticas públicas projeta-
o qual a PNAB 2017 se descompromete é o da integralidade. Isto se das no atual contexto. São sentidos opostos de utilização de uma
dá, principalmente, por meio da definição de padrões diferenciados noção - o território - que se fortaleceu no processo de consolidação
de ações e cuidados para a AB, novamente, sob o argumento das da saúde da família como estratégia de ordenamento da AB no Bra-
condições ou especificidades locais. Estes padrões distinguem-se sil. Daí, o seu apelo positivo. Mais uma vez, trata-se da apropriação
entre ‘essenciais’ e ‘ampliados’. e ressignificação negativa de uma ideia-chave para os defensores da
Os padrões essenciais são ‘as ações e os procedimentos bá- APS forte, que contribui para confundir o leitor quanto às intenções
sicos’, que deveriam ser garantidos pelas equipes em todo o País. da nova PNAB.
Embora sejam apresentados como condições básicas de acesso à Entretanto, a desconstrução do compromisso com a univer-
atenção à saúde, e de qualidade do cuidado oferecido, a própria salidade e com a integralidade parece fazer parte de um quadro
segmentação os remete à ideia de mínimos. Assim, o termo ‘básico’ mais amplo, que não nos permite ilusões. O horizonte imediato do
se esvazia do sentido que é tão caro a alguns autores da literatura setor da saúde, na perspectiva das forças políticas hegemônicas, re-
sobre APS no Brasil, isto é, como distintivo do compromisso da AB, vela-se em uma fala proferida pelo ministro Barros sobre o tema
de ser o primeiro nível de acesso a um sistema universal, que abran- ‘Gestão transformadora para a saúde pública’, em um encontro com
ge uma rede integral e complementar de atenção à saúde, capaz de líderes empresariais ocorrido em 2016:
resolver 80% dos problemas de saúde da população.

13
LEGISLAÇÃO
Queremos mais recursos para a saúde e, como estamos nessa de promoção da saúde, pautadas pela concepção da determinação
crise fiscal, se tivermos planos acessíveis com modelos de que a social do processo saúde-doença e da clínica ampliada, que confi-
sociedade deseje participar, teremos R$ 20 [bilhões] ou R$ 30 bi- guram bases importantes para a reestruturação do modelo de aten-
lhões a mais de recursos, que serão colocados para atendimento ção à saúde.
de saúde. Isso vai aliviar nosso sistema, que está congestionado20(1). Em relação à carga horária, determina-se o retorno da obriga-
Com o intuito de viabilizar esse propósito, o MS criou um Gru- toriedade de 40 horas para todos os profissionais da ESF, inclusi-
po de Trabalho (GT) para elaborar um projeto que possibilite a ofer- ve os médicos, cuja carga horária havia sido flexibilizada na PNAB
ta de planos de saúde com número de serviços inferior ao definido 2011. Esta alteração retoma condições estabelecidas desde a im-
como cobertura mínima pela Agência Nacional de Saúde Suplemen- plantação do PSF, que são consideradas positivas para favorecer o
tar (ANS). A adesão a esses planos ‘populares’ de saúde - entendi- vínculo entre profissional e usuário, e potencializar a responsabili-
dos aqui como simplificados - seria voluntária. dade sanitária das equipes e a continuidade do cuidado. Entretanto,
Como se gera a ‘adesão voluntária’ ao setor privado? A res- sabe-se que a flexibilização da carga horária dos médicos de 40 para
posta que esta reflexão busca oferecer pode parecer óbvia ou re- 20 horas buscava equacionar a dificuldade de fixação desse profis-
dundante: se produz adesão ao setor privado por exclusão do setor sional nas equipes, um problema que persiste.
público. Entretanto, não é óbvio compreender que a exclusão do Diferentemente do que é previsto para a ESF, a carga horária
setor público deve ser ativamente produzida e se faz por meio da projetada para as equipes de AB (médico, enfermeiro, auxiliar ou
restrição ao acesso, associada à baixa qualidade dos serviços. É esta técnico de enfermagem) deve atender às seguintes orientações: a
combinação que acarreta a evasão de parte das classes populares soma da carga horária, por categoria, deve ser, no mínimo, de 40
ou a não adesão da classe média ao SUS. horas; a carga horária mínima de cada profissional deve ser de 10
Compreende-se que estão em curso três eixos de ação: a) defi- horas; o número máximo de profissionais por categoria deve ser
nir padrões mínimos e ampliados para a AB; b) estabelecer uma “re- três.
gulação que permita menos cobertura e menos custo; e c) colocar Operacionalmente, são inúmeros os arranjos possíveis para a
no mercado planos baseados na oferta de um rol mínimo do míni- composição das equipes de AB. Para fins de ilustração, uma equi-
mo de serviços. Articuladas, estas ações integram um processo que, pe pode ser composta por três médicos, dos quais dois devam ter
pela exclusão do SUS, pode gerar clientela para os planos privados cargas horárias de 20 horas e um de 10 horas; três enfermeiros,
e viabilizar planos incapazes de atender às necessidades de saúde. com 40 horas cada; um auxiliar ou técnico de enfermagem, com 40
Neste cenário, a nova PNAB tende a servir como plataforma para o horas; e nenhum ACS. Isto significa que, pelo menos, três fatores
avanço de políticas que aprofundem tais possibilidades. tornam mais atraente a composição de equipes no modelo de AB
A naturalização da ingerência do setor privado no SUS, expressa tradicional: contam com menos profissionais do que a ESF e, por-
por pensamentos tais como ‘isso já acontece’, contribui para ofus- tanto, podem ter um custo mais baixo; são mais fáceis de organizar,
car o fato de que a AB vinha se constituindo como um contraponto em função da flexibilidade da carga horária; e, agora, são também
a essa realidade. Uma vez sustentado o movimento de expansão financeiramente apoiadas. É importante relembrar que a referência
e qualificação da ESF, a AB tenderia a concretizar, a médio e lon- de população coberta também foi flexibilizada.
go prazo, a experiência do acesso à atenção à saúde, efetivamente Embora essas alterações possam ser lidas como meros instru-
pública. Esta é a aposta que está sendo suspensa ou interrompida. mentos de gestão, visando à redução de custos, cabe questionar,
ainda, os seus possíveis efeitos sobre o modelo de atenção à saúde.
O reposicionamento da Estratégia Saúde da Família e a reto- Tal formatação de equipes tende a fortalecer a presença de profis-
mada da Atenção Básica tradicional sionais cuja formação permanece fortemente orientada pelo mo-
Em relação ao papel da ESF, o texto da PNAB 2017 apresenta delo biomédico, curativo e de controle de riscos individuais. Neste
uma posição, no mínimo, ambígua. Ao mesmo tempo em que man- sentido, antes mesmo que a ESF tenha avançado significativamente
tém a ESF como prioritária no discurso, admite e incentiva outras na transformação do modelo de atenção, a PNAB 2017 representa
estratégias de organização da AB, nos diferentes territórios: uma regressão em relação a esse propósito, criando as condições
Art. 4º - A PNAB tem na saúde da família sua estratégia prioritá- para a expansão da AB tradicional e fortalecendo o binômio quei-
ria para expansão e consolidação da Atenção Básica. Contudo, reco- xa-conduta.
nhece outras estratégias de organização da Atenção Básica nos ter-
ritórios, que devem seguir os princípios, fundamentos e diretrizes Integração das atribuições ou fusão dos Agentes Comunitá-
da Atenção Básica e do SUS descritos nesta portaria, configurando rios de Saúde e dos Agentes de Combate às Endemias?
um processo progressivo e singular que considera e inclui as espe- Desde a realização do já mencionado VII Fórum de Gestão da
cificidades locorregionais, ressaltando a dinamicidade do território. Atenção Básica, em outubro de 2016, pelo MS, com o propósito de
Essa ambiguidade torna-se mais visível quando se analisam, produzir subsídios para a revisão da PNAB, tem circulado a ideia de
em conjunto, certos elementos dessa política. Destacam-se, prin- fundir as atribuições dos ACS e dos Agentes de Combate às Ende-
cipalmente, alterações nas regras de composição profissional e de mias (ACE), tornando-os um único tipo de profissional.
distribuição da carga horária dos trabalhadores nas equipes de AB. A PNAB 2017 desenvolve a materialização dessa ideia e afirma
A presença dos ACS não é requerida na composição mínima das que “as atividades específicas dos agentes de saúde (ACS e ACE)
equipes de AB, diferentemente do que acontece na ESF. Conside- devem ser integradas sob o argumento da necessidade de união
rando as recentes conquistas desses trabalhadores, em relação aos entre a AB e a vigilância em saúde, visando ao sucesso das ações
vínculos empregatícios e à definição do piso salarial da categoria, desenvolvidas nos territórios. Em seguida, define as atribuições que
entende-se que esta é uma possibilidade que desonera financeira- devem ser comuns a ambos os agentes e as atribuições específicas
mente a gestão municipal, tornando-se extremamente atraente no de cada um.
contexto de redução de recursos já vivenciado, e cujo agravamento Nessa distribuição, percebem-se três movimentos. O primeiro
é previsto. é a inclusão, na lista de atribuições comuns aos ACS e aos ACE, das
A presença desse trabalhador e a continuidade, com regulari- atividades historicamente destinadas aos ACS, tais como: o desen-
dade, das ações por ele desempenhadas nunca estiveram tão em volvimento de ações de promoção da saúde e prevenção de agravos
risco. O prejuízo recai principalmente sobre as ações educativas e e riscos; a realização de visitas domiciliares periódicas para o mo-

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nitoramento da situação de saúde das pessoas; a identificação e o de valorização diferenciada da ESF em relação às chamadas equipes
registro de situações de risco à saúde; e a orientação, a informação de AB, para as quais, anteriormente, não eram destinados esses re-
e a mobilização da comunidade. O segundo movimento é a predo- cursos.
minância, na lista das atribuições específicas dos ACS, de atividades O fato é que passa a ser facultada à gestão municipal a possibi-
de produção e registro de uma série de dados e informações pelas lidade de compor equipes de AB, de acordo com as características
quais somente este trabalhador é responsável. O terceiro corres- e as necessidades do município. Mais uma vez, aparece o recur-
ponde à manutenção do trabalho atualmente já desenvolvido pelos so às especificidades locais como justificativa para a flexibilização
ACE na lista das atribuições específicas desse trabalhador. do modelo de AB. No discurso dos gestores, a abertura de ‘novas’
Em síntese, o ACE preserva a responsabilidade sobre práticas possibilidades de financiamento e organização da AB tem sido va-
tradicionalmente associadas ao seu trabalho, mas sofre um acrés- lorizada quase como um reparo às supostas ‘injustiças’ cometidas
cimo em suas tarefas ao incorporar as atividades hoje atribuídas contra as formas tradicionais de configuração da AB. O MS justifica
aos ACS. Estes, por sua vez, sofrem uma descaracterização do seu as mudanças alegando que as regras praticadas nas PNAB anterio-
trabalho, que já vem sendo esvaziado das ações de educação em res acarretaram um desfinanciamento de parte dos serviços de AB
saúde, em virtude da priorização de atividades associadas às ‘linhas existentes no País.
de cuidado’, que têm assumido um foco na prevenção de doenças, Entretanto, esses argumentos mostram-se falaciosos na medi-
assim destinando a esses trabalhadores ações mais pontuais. da em que suprimem do debate as análises que mostram os impac-
É preciso também considerar o quanto a integração entre esses tos positivos da adoção e expansão da ESF nas condições de vida
profissionais estaria mais a serviço do corte de custos, pela diminui- e saúde da população. Também não levam em consideração que
ção de postos de trabalho, do que do aprimoramento do proces- as especificidades locorregionais já eram objeto das PNAB anterio-
so de trabalho e do aumento da eficiência das EqSF. Um resultado res e de incentivos financeiros vigentes, sendo possível observar a
provável para esta relação será uma intensificação ainda maior do adoção de adaptações ao modelo preconizado pela ESF em vários
trabalho dos agentes que restarem nas equipes. municípios do País. Além disto, tais mudanças acabam por favore-
Ainda que se concorde com a necessidade de aproximação e cer as capitais e os centros urbanos metropolitanos, que aderiram
de articulação entre os campos da vigilância e da atenção à saúde, à ESF de modo tardio e apresentam menor cobertura. Isso poderá
isto não se resume à fusão de seus agentes. Enquanto ainda não se acarretar um redirecionamento de recursos para regiões mais de-
efetivaram esforços suficientes para se alcançar a integração dos senvolvidas e com maior capacidade de arrecadação de tributos,
ACE nas EqSF, conforme estabelecido pela PNAB de 20112, projeta- comprometendo os avanços alocativos do setor.
-se um processo de trabalho que desconsidera as especificidades Por fim, mais uma vez, chama a atenção a ausência de uma
dessas áreas técnicas e suas respectivas políticas. Além disto, não análise contextualizada sobre o impacto das mudanças que estão
se desenvolvem pontos de integração no planejamento do trabalho sendo propostas na PNAB 2017, e que serão implementadas nos
e da formação, nem projetos de ação conjunta entre esses trabalha- próximos anos. A liberdade e a maior autonomia requeridas pelos
dores, nos territórios e nas unidades de saúde. gestores locais se inserem em uma conjuntura de ameaças aos di-
reitos sociais, e de forte restrição fiscal e orçamentária, com agra-
Fragilização da coordenação nacional no pacto federativo da vamento da situação de subfinanciamento do SUS. Esse contexto
saúde condicionará as escolhas políticas, ampliando as dificuldades locor-
O SUS possui caráter nacional e universal, e integra um con- regionais para a manutenção de serviços de AB frente aos custos
junto amplo de ações que devem ser organizadas em uma rede elevados da atenção de média e alta complexidade no SUS. A escas-
descentralizada, regionalizada e hierarquizada de serviços. Vários sez de recursos públicos disponíveis para a saúde também tenderá
aspectos influenciam a implantação deste modelo, entre eles, as a aumentar as disputas redistributivas, favorecendo a influência de
características da federação brasileira, que se distingue pelo re- interesses particulares nas decisões alocativas do setor, a implan-
conhecimento dos municípios como entes autônomos a partir da tação de planos privados de cobertura restrita e de modelos alter-
Constituição de 1988. Tais municípios (5.570, no total) são muito nativos à ESF, com resultados duvidosos para a organização da AB.
desiguais entre si e, em sua maioria (cerca de 90%), possuem pe-
queno ou médio porte populacional e limitadas condições político- Desde o início dos anos 1990, para grande parte da população
-institucionais para assumirem as responsabilidades sobre a gestão brasileira, a AB tem sido a face mais notável de um sistema de saú-
das políticas de saúde que lhes são atribuídas. de orientado por princípios de universalidade, integralidade e equi-
Diversos foram os esforços empreendidos na trajetória de im- dade. Confrontada com tendências que priorizam programas foca-
plantação do SUS para lidar com as tensões do federalismo brasi- lizantes e compensatórios, mais afeitos à racionalidade neoliberal
leiro. As políticas direcionadas para o fortalecimento da ESF per- hegemônica, a ESF tem se configurado como meio de expansão do
mitiram a consolidação do papel coordenador da União no pacto acesso e de realização do direito à saúde.
federativo da saúde. Normas e incentivos financeiros federais fa- Alçada à condição de estratégia de reorientação do modelo de
voreceram a implantação das políticas pelos municípios, com des- atenção à saúde, tem ainda um longo caminho a percorrer e obstá-
concentração de serviços no território e consolidação da ESF como culos a ultrapassar, antes que seja alcançado o objetivo de efetivar
referência nacional para organização da AB no SUS. Essas políticas uma clínica ampliada, que articule diferentes saberes, trabalhado-
também possibilitaram uma redistribuição não desprezível de re- res e setores da política pública, de modo a compreender e enfren-
cursos financeiros, com privilegiamento de municípios situados em tar os determinantes sociais do processo saúde-doença.
regiões mais carentes, mesmo em um contexto de dificuldades de Há muito a ser reorganizado e modificado em função dos re-
financiamento da saúde. sultados das pesquisas e das avaliações realizadas sobre a AB. A
A nova PNAB, ao flexibilizar o modelo de atenção e do uso dos qualificação de trabalhadores de todos os níveis de formação que
compõem as EqSF, visando ao trabalho baseado no território; a in-
recursos transferidos por meio do PAB variável, fragiliza o poder de
tegração entre prevenção, atenção e promoção da saúde; a organi-
regulação e indução nacional exercido pelo MS, responsável por
zação de processos de trabalho mais democráticos e participativos,
avanços significativos no processo de descentralização do SUS. No
nos quais os trabalhadores tenham papel importante no planeja-
que tange ao financiamento, ressalta-se a ausência de mecanismos
mento das ações, na definição e discussão das metas e prioridades

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LEGISLAÇÃO
das equipes; a gestão pública do trabalho e dos serviços de AB; e a SUS e seu financiamento será previsto na respectiva proposta or-
regularização dos vínculos contratuais são questões que precisam çamentária” (BRASIL, 1990a). Já o segundo veta a “transferência de
ser priorizadas. recursos para o financiamento de ações não previstas nos planos
Entretanto, as modificações introduzidas na PNAB 2017 apon- de saúde” (BRASIL, 1990a), salvo em situações emergenciais ou de
tam para outra direção. Em um breve inventário, destacam-se al- calamidade pública de saúde. No Art. 37, a Lei atribui ao Conse-
guns mecanismos da nova política que promovem a relativização da lho Nacional de Saúde a responsabilidade pelo estabelecimento de
cobertura universal, a definição de padrões distintos de serviços, a diretrizes para a elaboração dos planos de saúde, “em função das
recomposição das equipes e a reorganização do características epidemiológicas e da organização dos serviços em
cada jurisdição administrativa” (BRASIL, 1990a).
Já a Lei Nº 8.142/90 (BRASIL, 1990b), no seu Art. 4º, entre os
requisitos para o recebimento dos recursos provenientes do Fundo
SISTEMA DE PLANEJAMENTO DO SUS: ESTRATÉGICO E Nacional de Saúde, fixa que os municípios, estados e o Distrito Fe-
NORMATIVO deral devem contar com plano de saúde e relatório de gestão “que
permitam o controle de que trata o §4º do artigo 33 da Lei Nº 8.080,
Os gestores do SUS vêm se empenhando continuamente em de 19 de setembro de 1990” (esse parágrafo refere-se ao acom-
planejar, monitorar e avaliar as ações e serviços de saúde. Tais es- panhamento, pelo Ministério da Saúde, da aplicação de recursos
forços têm contribuído, certamente, para os importantes avanços repassados na conformidade da programação aprovada, a ser reali-
registrados pelo SUS nestes 20 anos de sua criação. É importante zado por meio de seu sistema de auditoria).
reconhecer, contudo, que os desafios atuais e o estágio alcançado É importante destacar igualmente as Portarias Nº 399, de 22
exigem um novo posicionamento do planejamento no âmbito do de fevereiro de 2006, e de Nº 699, de 30 de março subsequente,
SUS, capaz de favorecer a aplicação de toda a sua potencialidade, editadas pelo Ministério da Saúde: a primeira “divulga o Pacto pela
corroborando de forma plena e efetiva para a consolidação deste Saúde 2006 - Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacio-
Sistema. nais do referido pacto” (BRASIL, 2006a) e, a outra, “regulamenta as
Nesse sentido, é necessário elaborar instrumentos que contri- Diretrizes Operacionais dos Pactos pela Vida e de Gestão” (BRASIL,
buam para um melhor aproveitamento das oportunidades e para 2006b). O Pacto pela Saúde envolve três componentes: o Pacto pela
a superação de desafios, entre os quais aqueles que possibilitem o Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão.
desenvolvimento de rotinas de monitoramento e avaliação nas três No Pacto de Gestão, os eixos são a descentralização, a regio-
esferas de governo. Entre os desafios presentes, cabe destacar a nalização, o financiamento, a programação pactuada e integrada,
importância do financiamento pleno do SUS, o que envolve a regu- a regulação, a participação e o controle social, o planejamento, a
lamentação e o cumprimento da Emenda Constitucional 29, assim gestão do trabalho e a educação na saúde.
como a manutenção de processo contínuo de planejamento. O Sistema de Planejamento do SUS é objeto do item 4 do ane-
O Sistema de Planejamento do SUS – PlanejaSUS – busca apro- xo da Portaria Nº 399/2006, estando nele contidos o seu conceito,
priar-se da experiência acumulada pela área nas três esferas de ges- princípios e objetivos principais, na conformidade do presente do-
tão que, no tocante à direção nacional, tem como exemplo impor- cumento. Destaque, também, que o Pacto estabelece cinco pontos
tante a formulação do Plano Nacional de Saúde – PNS 2004- 2007 –, prioritários de pactuação para o planejamento, que são:
cujo processo evidenciou a necessidade de uma ação permanente- i) a adoção das necessidades de saúde da população como cri-
mente articulada, nos moldes de uma atuação sistêmica. tério para o processo de planejamento no âmbito do SUS;
O planejamento – e instrumentos resultantes de seu processo, ii) a integração dos instrumentos de planejamento, tanto no
como planos e relatórios – é objeto de grande parte do arcabouço contexto de cada esfera de gestão, quanto do SUS como um todo;
legal do SUS, quer indicando processos e métodos de formulação, iii) a institucionalização e o fortalecimento do PlanejaSUS, com
quer como requisitos para fins de repasse de recursos e de contro- adoção do processo de planejamento, neste incluído o monitora-
le e auditoria. Em relação ao planejamento e a instrumentos que mento e a avaliação, como instrumento estratégico de gestão do
lhe dão expressão concreta, destacam-se, inicialmente, as Leis Nº SUS;
8.080/1990 e Nº 8.142/1990 (Leis Orgânicas da Saúde). A primeira iv) a revisão e a adoção de um elenco de instrumentos de pla-
– Lei Nº 8.080/90 – atribui à direção nacional do SUS a responsabi- nejamento – tais como planos, relatórios e programações – a serem
lidade de “elaborar o planejamento estratégico nacional no âmbito adotados pelas três esferas de gestão, com adequação dos instru-
do SUS em cooperação com os estados, municípios e o Distrito Fe- mentos legais do SUS no tocante a este processo e instrumentos
deral” (BRASIL, 1990a). dele resultantes; e
A referida Lei dedica o seu Capítulo III ao planejamento e orça- v) a cooperação entre as três esferas de gestão para o fortaleci-
mento. No primeiro artigo desse Capítulo, é estabelecido o proces- mento e a equidade do processo de planejamento no SUS. (BRASIL,
so de planejamento e orçamento do SUS, que “será ascendente, do 2006a).
nível local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compa-
tibilizando-se as necessidades da política de saúde com a disponibi- Em relação ao financiamento, introduz e estabelece blocos
lidade de recursos em planos de saúde dos municípios, dos estados, específicos: atenção básica; atenção de média e alta complexida-
do Distrito Federal e da União” (BRASIL, 1990a). Essa lógica de for- de; vigilância em saúde; assistência farmacêutica e gestão do SUS.
mulação ascendente é um dos mecanismos relevantes na observân- Configuram-se eixos prioritários para a aplicação de recursos (in-
cia do princípio de unicidade do SUS. O seu cumprimento é desafio vestimentos): o estímulo à regionalização e os investimentos para
importante, tendo em conta as peculiaridades e necessidades pró- a atenção básica.
prias de cada município, estado e região do País, o que dificulta a No contexto da regionalização, define que os principais instru-
adoção de um modelo único aplicável a todas as instâncias mentos de planejamento para tanto são o PDR (Plano Diretor de
Nos parágrafos 1º e 2º do Art. 36, são definidos a aplicabilidade Regionalização), o PDI (Plano Diretor de Investimento) e a PPI (Pro-
dos planos de saúde e o financiamento das ações dele resultantes. grama Pactuada e Integrada), a qual “deve estar inserida no pro-
O primeiro parágrafo estabelece que “os planos de saúde serão a cesso de planejamento e deve considerar as prioridades definidas
base das atividades e programações de cada nível de direção do nos planos de saúde em cada esfera de gestão” (BRASIL, 2006a).

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LEGISLAÇÃO
Segundo o Anexo II da Portaria, o planejamento regional expressará terminações legais, o Sistema requer também o acompanhamento,
as responsabilidades dos gestores para com a saúde da população o monitoramento, a atualização e a avaliação das ações. Mesmo re-
do território e o conjunto de objetivos e ações, cujas prioridades – conhecendo os avanços na alocação dos recursos públicos – basea-
estabelecidas regionalmente – deverão estar refletidas no plano de dos em objetivos de médio e longo prazos, com melhor associação
saúde de cada município e do estado. Cria também o Colegiado de às necessidades de saúde –, é importante considerar que deman-
Gestão Regional com a função de “instituir um processo dinâmico das contingenciais de curto prazo ainda prejudicam o processo de
de planejamento regional”. (BRASIL, 2006a). estruturação e consolidação do SUS.
No item 3 do capítulo relativo à responsabilidade sanitária, es- Embora responda às necessidades internas e externas, até en-
tão estabelecidos os compromissos de cada esfera no que concerne tão o sistema de planejamento no MS não dispunha de medidas
ao planejamento e programação. Destacam-se como responsabili- que viabilizem o aperfeiçoamento do trabalho e que possibilitas-
dades comuns aos entes federados: sem a oportuna e efetiva melhoria da gestão do Sistema, da aten-
i) formular, gerenciar, implementar e avaliar o processo perma- ção e da vigilância em saúde, inclusive no tocante à reorientação
nente de planejamento participativo e integrado, de base local e das ações. Tratava-se, na realidade, da insuficiência de um processo
ascendente, orientado por problemas e necessidades em saúde ..., de planejamento do Sistema Único de Saúde, em seu sentido amplo
construindo nesse processo o plano de saúde e submetendo-o à – neste compreendido o monitoramento e a avaliação –, que con-
aprovação do Conselho de Saúde correspondente; tribuísse para a sua consolidação que, conforme assinalado, é uma
ii) formular, no plano de saúde, a política de atenção em saúde, competência legal do gestor federal, em cooperação com as demais
incluindo ações intersetoriais voltadas para a promoção da saúde; instâncias de direção do Sistema.
iii) elaborar relatório de gestão anual, a ser apresentado e sub- O Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais de Saúde re-
metido à aprovação do Conselho de Saúde correspondente. (BRA- cebem frequentemente, da parte de gestores e técnicos do SUS,
SIL, 2006b). solicitação de orientações e cooperação técnica para a elaboração
de instrumentos de planejamento, em especial planos de saúde
Cabe destacar também as portarias que norteiam a organiza- e relatórios de gestão. Observa-se, por outro lado, que estados e
ção e a implementação do Sistema de Planejamento do SUS – pac- municípios têm se esforçado para formulá-los, quer para fins de
tuadas na CIT –, a saber: habilitação em uma condição de gestão – e, após o Pacto pela Saú-
• Portaria Nº 3.085, de 1º de dezembro de 2006, que regu- de, para a formalização do Termo de Compromisso de Gestão –,
lamenta esse Sistema; quer para subsidiar auditorias e controles, a cargo das instâncias
• Portaria Nº 3.332, do dia 28 subsequente, que aprova incumbidas destas atividades. Como um instrumento essencial de
orientações gerais relativas aos instrumentos do PlanejaSUS e re- gestão, cabe ao planejamento contribuir para que o SUS responda,
voga a Portaria N.º 548/2001 (”Orientações Federais para a Ela- com qualidade, às demandas e necessidades de saúde, avançando
boração e Aplicação da Agenda de Saúde, do Plano de Saúde, dos de forma ágil rumo a sua consolidação.
Quadros de Metas e do Relatório de Gestão como Instrumentos de O processo ascendente de planejamento definido pela Lei Or-
Gestão do SUS”); gânica da Saúde configura-se relevante desafio para os responsá-
• Portaria Nº 1.229, de 24 de maio de 2007, que aprova veis por sua condução, em especial aqueles das esferas estadual
orientações gerais para o fluxo do Relatório Anual de Gestão do e nacional, tendo em conta a complexidade do perfil epidemioló-
SUS. gico brasileiro, aliada à quantidade e diversidade dos municípios,
além da grande desigualdade em saúde ainda prevalente, tanto em
Registrem-se ainda as Portarias: Nº 376, de 16 de fevereiro de relação ao acesso, quanto à integralidade e à qualidade da aten-
2007; Nº 1.510, de 25 de junho de 2007; e Nº 1.885, de 9 de setem- ção prestada. Em relação à gestão, é importante levar em conta o
bro de 2008, que institui incentivo financeiro para o PlanejaSUS; fato de que cerca de 90% dos municípios têm menos de 50 mil ha-
que desvincula o seu repasse da adesão ao Pacto pela Saúde; e que bitantes e que 48% menos de 10 mil (INSTITUTO BRASILEIRO DE
estabelece o incentivo de 2008, respectivamente. A íntegra dessas GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004). Particularmente no tocante ao
portarias específicas do Sistema de Planejamento do SUS consta do planejamento, a organização das ações ainda é bastante precária,
item Portarias relativas ao Sistema de Planejamento do SUS, página principalmente nos municípios de médio e pequeno portes, o que
34. dificulta o exercício eficiente e efetivo de seu papel fundamental na
conformação do SUS neste nível.
Planejamento no SUS Cabe ressaltar que, apesar dos esforços empreendidos desde
No âmbito do Ministério da Saúde, até o final de 2005 – quan- a criação do SUS e os avanços logrados, a área de planejamento do
do tomou a iniciativa de propor a construção do PlanejaSUS, como Sistema ainda carece, nas três esferas de gestão, de recursos hu-
mencionado na apresentação –, o planejamento pautava as suas manos em quantidade e qualidade. Observa-se que falta, não raro,
ações principalmente no atendimento às demandas interna e ex- infraestrutura e atualização contínua nas técnicas e métodos do
terna, esta última oriunda da coordenação do correspondente planejamento em si – sobretudo em se tratando de monitoramento
sistema federal, exercida pelo Ministério do Planejamento, Orça- e avaliação, no seu sentido mais amplo –, assim como o domínio ne-
mento e Gestão (MP). Ao MP cabe, assim, conduzir o planejamento cessário das características e peculiaridades que cercam o próprio
estratégico do governo federal. As demandas internas referem-se SUS e do quadro epidemiológico do território em que atuam. Tais
sobretudo a informações para o atendimento de necessidades téc- condições são estratégicas para a coordenação do processo de pla-
nico-políticas. nejamento e, portanto, para o funcionamento harmônico do Plane-
O Sistema Federal de Planejamento tem uma agenda estabe- jaSUS. É oportuno reiterar, nesse particular, os pontos essenciais de
lecida, mediante a qual responde também às exigências constitu- pactuação para o Sistema de Planejamento do SUS – PlanejaSUS –,
cionais e legais, entre as quais figuram a elaboração do Plano Plu- definidos no Pacto pela Saúde 2006, em especial a institucionaliza-
rianual – a cada quatro anos – e as suas revisões, das propostas ção e o fortalecimento deste Sistema, “com adoção do processo de
anuais de diretrizes orçamentárias e do orçamento, que balizam a planejamento, neste incluído o monitoramento e a avaliação, como
aprovação das respectivas leis – LDO e LOA –, do Balanço Geral da instrumento estratégico de gestão do SUS”. (BRASIL, 2006a).
União e da Mensagem do Executivo ao Legislativo. Além dessas de-

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LEGISLAÇÃO
Conceito e caracterização Outra condição importante é a adesão institucional mediante a
Define-se como Sistema de Planejamento do Sistema Único de observância da regulamentação do PlanejaSUS, expressa nas referi-
Saúde – PlanejaSUS – a atuação contínua, articulada, integrada e das Portarias Nº 3.085/2006 e Nº 3.332/2006, e outras decorrentes
solidária das áreas de planejamento das três esferas de gestão do de pactuação tripartite, de que são exemplos processos de moni-
SUS. Tal forma de atuação deve possibilitar a consolidação da cultu- toramento e de avaliação dos instrumentos básicos, consoante às
ra de planejamento de forma transversal às demais ações desenvol- definições contidas nas Leis Orgânicas da Saúde. Constituem igual-
vidas no Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, o PlanejaSUS deve mente condições essenciais para a institucionalização do Planeja-
ser entendido como estratégia relevante à efetivação do SUS. Para o SUS nas três esferas de gestão: a capacitação de recursos humanos
seu funcionamento, são claramente definidos os objetivos e as res- para o processo de planejamento do SUS; a geração de informações
ponsabilidades das áreas de planejamento de cada uma das esferas gerenciais para a tomada de decisão; a adequação do arcabouço
de gestão, de modo a conferir efetiva direcionalidade ao processo legal relativo ao planejamento; a cooperação técnica e financeira
de planejamento que, vale reiterar, compreende o monitoramento para o planejamento no SUS; e o provimento de estrutura e infra-
e a avaliação. -estrutura para o desenvolvimento da atividade de planejamento.
Na condição de sistema, e consoante à diretriz relativa à dire-
ção única do SUS em cada esfera de gestão, o PlanejaSUS não envol- Objetivo geral
ve nenhuma forma de subordinação entre as respectivas áreas de O PlanejaSUS tem por objetivo geral coordenar o processo de
planejamento. Nesse sentido, a sua organização e operacionaliza- planejamento no âmbito do SUS, tendo em conta as diversidades
ção baseiam-se em processos que permitam o seu funcionamento existentes nas três esferas de governo, de modo a contribuir – opor-
harmônico entre todas as esferas do SUS. Para tanto, tais processos tuna e efetivamente – para a sua consolidação e, consequentemen-
deverão ser objeto de pactos objetivamente definidos, com estri- te, para a resolubilidade e qualidade da gestão e da atenção à saú-
ta observância dos papéis específicos de cada um, assim como das de.
respectivas peculiaridades, necessidades e realidades sanitárias. O
desenvolvimento de papéis específicos visa, principalmente, poten- Objetivos específicos
cializar e conferir celeridade e resolubilidade ao PlanejaSUS, tanto São objetivos específicos do Sistema de Planejamento do SUS:
na sua implantação, quanto no seu funcionamento, monitoramento a) formular propostas e pactuar diretrizes gerais para o proces-
e avaliação contínuos. so de planejamento no âmbito do SUS e seu contínuo aperfeiçoa-
Como parte integrante do ciclo de gestão, o PlanejaSUS deve mento;
estar próximo dos níveis de decisão do SUS, buscando permanen- b) propor metodologias e modelos de instrumentos básicos
temente, de forma tripartite, a pactuação de bases funcionais de do processo de planejamento, englobando o monitoramento e a
planejamento, monitoramento e avaliação do SUS, bem como pro- avaliação, que traduzam as diretrizes do SUS, com capacidade de
movendo a participação social e a integração intra e intersetorial, adaptação às particularidades de cada esfera administrativa;
considerando os determinantes e condicionantes de saúde. Essa c) apoiar a implementação de instrumentos permanentes de
integração deve buscar o envolvimento de todos os profissionais. planejamento para as três esferas de gestão do SUS, que sirvam de
Tal entendimento explicita o caráter transversal dessa função e, por parâmetro mínimo para o processo de monitoramento, avaliação e
conseguinte, o papel das áreas de planejamento nas três esferas regulação do SUS;
que, em síntese, é de: d) apoiar a implementação de processo permanente e siste-
• coordenar os processos de formulação, monitoramento e mático de planejamento nas três esferas de gestão do SUS, neste
avaliação dos instrumentos básicos do PlanejaSUS; e compreendido o planejamento propriamente dito, o monitoramen-
• prover as demais áreas técnicas de mecanismos - como to e a avaliação;
métodos e processos - para que possam formular, monitorar e ava- e) promover a institucionalização, fortalecendo e reconhecen-
liar os seus respectivos instrumentos, segundo as suas especificida- do as áreas de planejamento no âmbito do SUS, nas três esferas de
des e necessidades. governo, como instrumento estratégico de gestão do SUS;
f) apoiar e participar da avaliação periódica relativa à situação
Para o alcance do êxito esperado com o PlanejaSUS, estão iden- de saúde da população e ao funcionamento do SUS, provendo os
tificadas algumas condições e medidas importantes. Tais condições gestores de informações que permitam o seu aperfeiçoamento e/
e medidas – ou eixos norteadores – podem gerar duplo benefício. ou redirecionamento;
De um lado, dariam celeridade ao atendimento de necessidades g) implementar e difundir uma cultura de planejamento que in-
importantes da gestão do SUS, de que são exemplos a formulação
tegre e qualifique as ações do SUS nas três esferas de governo, com
ou a revisão de planos, programações e relatórios gerenciais. De
vistas a subsidiar a tomada de decisão por parte de seus gestores;
outro, viabilizariam a conformação ágil do PlanejaSUS, tendo em
h) promover a educação permanente em planejamento para os
vista o caráter concreto de algumas medidas indicadas no presente
profissionais que atuam neste âmbito no SUS;
documento.
i) promover a eficiência dos processos compartilhados de pla-
Entre as condições necessárias, estão o apoio ao PlanejaSUS,
nejamento e a eficácia dos resultados;
sobretudo por parte dos gestores e representantes do controle so-
j) incentivar a participação social como elemento essencial dos
cial, incorporando o planejamento como instrumento estratégico
para a gestão do SUS. Esse apoio deverá ser buscado principalmen- processos de planejamento;
te junto aos Colegiados de Gestão Regionais, às Comissões Inter- k) promover a análise e a formulação de propostas destinadas
gestores (CIB e CIT), aos Conselhos Nacionais de Secretários Esta- a adequar o arcabouço legal no tocante ao planejamento no SUS;
duais e Municipais de Saúde (Conass e Conasems) e aos Conselhos l) implementar uma rede de cooperação entre os três entes fe-
de Secretários Municipais de Saúde (Cosems). Trata-se de tarefa a derados, que permita amplo compartilhamento de informações e
ser assumida, inicialmente, por todos os profissionais que atuam experiências;
em planejamento no SUS, para o que deve também ser buscada a m)identificar, sistematizar e divulgar informações e resultados
contribuição, por exemplo, de organismos internacionais – como as decorrentes das experiências em planejamento, sobretudo no âm-
Organizações Pan-Americana e Mundial da Saúde –, de instituições bito das três esferas de gestão do SUS, assim como da produção
de ensino, de pesquisa e entidades afins. científica;

18
LEGISLAÇÃO
n) fomentar e promover a intersetorialidade no processo de n) assessoria aos estados na definição de estratégias voltadas
planejamento do SUS; ao fortalecimento e à organização do processo de planejamento es-
o) promover a integração do ciclo de planejamento e gestão no tadual.
âmbito do SUS, nas três esferas de governo;
p) monitorar, avaliar e manter atualizado o processo de pla- No âmbito estadual
nejamento e as ações implementadas, divulgando os resultados a) Organização e coordenação do PlanejaSUS no âmbito esta-
alcançados, de modo a fortalecer o PlanejaSUS e a contribuir para a dual e apoio a este processo nos municípios;
transparência do processo de gestão do SUS; b) apoio ao MS na implementação e aperfeiçoamento do Pla-
q) promover a adequação, a integração e a compatibilização nejaSUS em âmbito nacional;
entre os instrumentos de planejamento do SUS e os de governo; c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e
r) promover a discussão visando o estabelecimento de política instrumentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS;
de informação em saúde; e d) assessoria aos municípios na definição de estratégias volta-
s) promover a discussão e a inclusão do planejamento na pro- das ao fortalecimento e organização do processo de planejamento
posta de planos de carreira, cargo e salários do SUS. local e regional;
e) utilização de Planos Regionais/Municipais de Saúde como
Responsabilidades subsídio prioritário na formulação do Plano Estadual de Saúde, ob-
As áreas e profissionais que atuam em planejamento nas três servada a Política de Saúde respectiva;
esferas de gestão do SUS assumirão compromissos e responsabi- f) coordenação do processo de planejamento regional de forma
lidades voltadas à implantação, implementação, aperfeiçoamento articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adaptação –
e consolidação do PlanejaSUS. A seguir, são descritas as responsa- às realidades locais – das metodologias, processos e instrumentos
bilidades nos âmbitos federal, estadual e municipal, identificadas pactuados no âmbito do PlanejaSUS;
pelos profissionais participantes das oficinas macrorregionais e dos g) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de
encontros do Sistema de Planejamento do SUS. Gestão Regionais;
h) estímulo à criação e/ou apoio a câmaras específicas e grupos
No âmbito federal de trabalho dos CGR e CIB em questões relativas ao planejamento
a) Coordenação do processo nacional de planejamento do SUS, no âmbito do SUS;
em cooperação com os estados e municípios; i) fortalecimento das áreas de planejamento do estado e apoio
b) organização, implantação e implementação do PlanejaSUS às referidas áreas municipais;
em âmbito nacional; j) monitoramento e avaliação das ações de planejamento no
c) cooperação técnica e financeira na implantação e implemen- âmbito estadual e apoio aos municípios para o desenvolvimento
tação do Planejasus em cada esfera de governo, bem como para a deste processo;
formulação, monitoramento e avaliação dos instrumentos básicos k) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde
definidos para este Sistema; de forma articulada e intersetorial;
d) implementação de rede, no âmbito do planejamento, volta- l) desenvolvimento da cooperação técnica e financeira aos mu-
da à articulação e integração das três esferas de gestão do SUS e à nicípios no âmbito do PlanejaSUS;
divulgação de informações e experiências de interesse do Planeja- m)promoção e apoio à educação permanente em planejamen-
SUS, bem como à disseminação do conhecimento técnicocientífico to para os profissionais que atuam no contexto do planejamento no
na área; SUS, em parceria com o MS e municípios;
e) promoção da educação permanente em planejamento para n) participação na implementação de rede, no âmbito do pla-
os profissionais que atuam em planejamento no SUS; nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de
f) participação no Grupo de Planejamento da Secretaria Técnica gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in-
da Comissão Intergestores Tripartite (CIT); teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimento
g) formulação e apresentação, para análise e deliberação da técnico-científico na área;
CIT, de propostas relativas ao funcionamento e aperfeiçoamento do o) apresentação, para análise e deliberação da Comissão Inter-
PlanejaSUS e dos seus instrumentos básicos; gestores Bipartite – CIB –, de propostas relativas ao funcionamento
h) mobilização e coordenação do grupo de colaboradores, e aperfeiçoamento do PlanejaSUS no respectivo âmbito;
composto por especialistas e profissionais que atuam nas áreas de p) apoio às câmaras e grupos de trabalho da CIB em questões
planejamento do SUS, no processo de planejamento e orçamento relativas ao planejamento no âmbito do SUS;
na esfera federal e em instituições de ensino e pesquisa, com vistas q) sensibilização dos gestores para incorporação do planeja-
a apoiar o MS no cumprimento de suas responsabilidades junto ao mento como instrumento estratégico de gestão do SUS.
PlanejaSUS;
i) apoio aos grupos de trabalho e demais fóruns da CIT em No âmbito municipal
questões relativas ao planejamento no âmbito do SUS; a) Coordenação, execução e avaliação do processo de planeja-
j) organização de sistema informatizado que agregue informa- mento do SUS no âmbito municipal, consoante aos pactos estabe-
ções gerenciais em saúde de interesse do planejamento, valendo-se lecidos no âmbito do PlanejaSUS;
dos sistemas já existentes; b) apoio ao estado e ao MS na implementação e aperfeiçoa-
k) implantação, monitoramento e avaliação sistemática do pro- mento do PlanejaSUS;
cesso de planejamento do SUS no âmbito federal e apoio a este c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e
processo nos estados e municípios; instrumentos definidos de forma pactuada no âmbito do Planeja-
l) utilização dos Planos Estaduais e Municipais de Saúde como SUS;
subsídio prioritário na formulação do Plano Nacional de Saúde, ob- d) sensibilização dos gestores e gerentes locais para incorpora-
servada a Política Nacional de Saúde; ção do planejamento como instrumento estratégico de gestão do
m)sensibilização dos gestores para incorporação do planeja- SUS;
mento como instrumento estratégico de gestão do SUS;

19
LEGISLAÇÃO
e) elaboração dos instrumentos básicos de planejamento de em saúde. As atividades regulatórias, sejam por meio de auditoria
forma articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adap- de processos ou de resultados, são afetadas por tais definições de
tação – às realidades locais – das metodologias, processos e instru- objetivos e de metas.
mentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS; Este capítulo abordará noções estabelecidas entre especialis-
f) participação na implementação de rede, no âmbito do pla- tas, sem a preocupação de cobrir todo o debate. Mais adiante serão
nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de referenciados alguns autores e textos que podem ser consultados
gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in- para aprofundamento no tema e para conhecer o modo como são
teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimento operadas no cotidiano do planejamento as diferentes técnicas aqui
técnico-científico na área; discutidas.
g) participação e promoção de capacitação em planejamento, Em termos atuais, muito do que se discute sobre planejamen-
monitoramento e avaliação, na perspectiva da política da educação to e técnicas de programação está associado à noção de contrato.
permanente; O estabelecimento de contratos de entes públicos entre si e com
h) promoção de mecanismos de articulação entre as diversas agentes privados tem se tornado uma realidade cada vez mais for-
áreas da SMS e com outros setores do município; te no SUS, seguindo uma tendência internacional. Isto tem trazido
i) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde para as arenas decisórias os interesses de atores, com ou sem fins
de forma articulada e intersetorial; lucrativos.
j) implementação do planejamento local com monitoramento Buscando desconstruir a ideia usual de contrato de mercado
e avaliação das ações propostas, bem como divulgação dos resulta- strictu sensu, tem-se trabalhado esta interação de atores públicos e
dos alcançados; privados, muitas vezes de forma controversa, como um dos aspec-
k) coordenação de ações participativas visando a identificação tos da governança. Antes de tratar do planejamento e da programa-
de necessidades da população, tendo em vista a melhoria das ações ção como parte dos diferentes mecanismos de governança presen-
e serviços de saúde; tes na política de saúde será apresentado o modo como se instituiu
l) operacionalização, monitoramento e avaliação dos instru- no setor saúde o tema do planejamento para o desenvolvimento
mentos de gestão do SUS e retroalimentação de informações ne- social. Em seguida, serão discutidos aspectos da programação em
cessárias às três esferas; saúde e o modo como essa se consolidou no Brasil. Há uma longa
m)promoção da estruturação, institucionalização e fortaleci- história do planejamento em saúde na experiência internacional e,
mento do PlanejaSUS no município, com vistas a legitimá-lo como especialmente, na América Latina. Um grande número de autores
instrumento estratégico de gestão do SUS; tratou deste tema orientado à construção de sistemas públicos de
n) participação no processo de planejamento regional de forma saúde e às reformas sanitárias.
articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adaptação – Assim, foi criada uma sólida tradição em associar o planeja-
às realidades locais – das metodologias, processos e instrumentos mento às políticas de saúde. Em diversos casos, a produção dos au-
pactuados no âmbito do PlanejaSUS; tores principais foi aceita e praticada por agências de cooperação
o) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de internacional na América Latina e, em particular, no Brasil. A seguir,
Gestão Regionais. uma resumida apresentação de algumas das principais abordagens
sobre o assunto, sem a preocupação de abranger todo o tema.
A noção de planejamento é aplicada, fundamentalmente, em
diferentes áreas do conhecimento como Administração, Economia Método CENDES/OPAS
e Política. Um dos pontos essenciais do planejamento é sua natu- Uma das mais antigas estratégias de planejamento em saúde
reza estratégica, muito influenciada pelo uso nas ações militares. na América Latina foi o desenho do método conhecido como CEN-
Na geopolítica, o planejamento estratégico pertence à própria DES/ OPAS, que surge em um ambiente favorável à intervenção do
natureza da diplomacia e das relações internacionais. No senso co- Estado na economia como forma de reduzir ou compensar as crises
mum, a ideia costuma estar associada a organizar atividades, buscar econômicas por meio do planejamento e do estabelecimento de
melhores resultados, reduzir conflitos e incertezas. Neste sentido, incentivos específicos. Fundamentalmente a partir da década de
programação guarda semelhança com o planejamento, embora 1920, a noção do planejamento foi entendida na América Latina
seja uma expressão associada a objetivos delimitados e pontuais. como uma ferramenta do Estado para a promoção do desenvolvi-
Planejar ações políticas, definir estratégias econômicas, esquemas mento social e econômico. Na Comissão Econômica para a América
regulatórios, modelos de administração de empresas e negócios Latina (CEPAL), por exemplo, um setor da Organização das Nações
em geral fazem parte do cotidiano da ordem política e social. Como Unidas (ONU) criado em 1948, o planejamento econômico é vis-
especialidade em seus diferentes ramos, o tema do planejamento to como uma atividade governamental orientada a romper com a
é tratado por especialistas renomados em vasta literatura especiali- dependência dos países latino-americanos frente às economias de-
zada das disciplinas aqui assinaladas. senvolvidas e estimular o crescimento econômico. As relações entre
Pode-se afirmar que planejar é reduzir incertezas. Logo, implica o pensamento cepalino, suas conexões com as técnicas de planeja-
em algum grau de intervenção na economia, associa-se a práticas mento e a emergência do planejamento estratégico no contexto da
regulatórias, orienta investimentos e está diretamente vinculado à América Latina foram tratadas por muitos especialistas. Giovanella
alocação eficiente de recursos. No setor saúde, as práticas de pla- (1991) apresenta uma análise minuciosa de todo o processo e de
nejamento estão presentes em todo o processo que é conhecido suas lacunas, a qual inclui a descrição da formação e dos conteúdos
como Gestão do SUS. do método CENDES/OPAS e a emergência do planejamento estraté-
Para esses objetivos, tratar-se-á planejamento e programação gico sob a influência de formuladores relevantes para a cultura téc-
nica da saúde pública no Brasil, como Mario Testa e Carlos Matus.
como áreas de conhecimento e atividades referidas ao setor saú-
Como analisado por Giovanella (1991), esse método aplica os
de, no qual o tema tem ampla utilização e grande diversidade de
fundamentos do planejamento da CEPAL no setor saúde para otimi-
abordagens entre pesquisadores e dirigentes nas áreas pública e
zar ganhos econômicos e diminuir custos, sendo a escolha de prio-
privada. Definir metas, estabelecer objetivos e planejar ou progra-
ridades feita a partir da relação custo/benefício.
mar ações representam o dia-a-dia dos gestores do setor público

20
LEGISLAÇÃO
O objetivo era orientar investimentos em programas com me- análise de viabilidade das ações e a construção de sua viabilidade
nores custos para mortes evitadas em um modelo de planejamento quando consideradas essenciais. Tático-operacional: implementa-
de caráter normativo. ção do plano.
Esse método foi muito difundido no Brasil e ensinado nas esco- O enfoque estratégico foi adotado, como dito, de modo direto
las de saúde, em cursos acadêmicos e em treinamento de gestores. ou adaptado para a cultura técnica do setor saúde no Brasil. Uma
A estrutura era em forma de planilha, onde informações de recur- grande variedade de livros, artigos e teses foi produzida, assim
sos utilizados, custos por absorção e agravos evitados eram cruza- como relatórios e consultorias a governos municipais, estaduais e
das com o objetivo de orientar as decisões alocativas ou analisar ao Ministério da Saúde, desde o fim da década de 1980 e ao longo
o desempenho de sistemas e programas. A dificuldade estava na da implantação do SUS, nos anos 1990.
obtenção de informações consistentes e, principalmente, em esta- Embora haja uma ênfase em atores políticos, as matrizes fun-
belecer os benefícios esperados. dadoras e as diversas correntes políticas que animaram o debate
Embora seja difícil especificar quando e onde o planejamen- entre correntes de planejamento situacional e estratégico na Amé-
to central tenha começado no setor saúde, certamente o Método rica Latina se fundamentavam na concepção marxista de estruturas
CENDES/OPAS representou o modelo institucional e oficial de busca de classes sociais (GIORDANI, 1979).
de racionalidade burocrática no âmbito de estruturas administrati- A emergência dessa concepção de planejamento converge his-
vas (ministérios, institutos e secretarias de saúde) que operavam de toricamente com a construção do movimento de reforma da saúde
modo predominante por meio de hierarquias, comando e contro- pública nos países latinos e a luta pela redemocratização dos países
le. Ao longo de décadas, estruturas híbridas de cooperação entre que estavam sobre regimes ditatoriais.
Estado e mercado, que hoje podem ser trabalhadas no âmbito da O pensamento marxista era muito presente na construção das
governança, não estiveram presentes na agenda política do sistema políticas de saúde e de seus mecanismos estratégicos de desenvolvi-
público de saúde. mento. Vale assinalar que a importância e relevância destes enfoques
Uma série de soluções de planejamento em saúde se desen- do planejamento, que acabam por ampliar a sua base cognitiva e que
volveu enquanto o método patrocinado pela Organização Pan-A- se tornaram influentes nas instituições de saúde na América Latina e
mericana de Saúde (OPAS) perdia importância. A perda de relevân- Brasil, em particular, ocorrem simultaneamente a enfoques bastante
cia pode ser atribuída a um conjunto de fatores, dentre os quais distintos já em curso em outros países. Na década de 1980, começa a
a dificuldade na obtenção de informações adequadas e o foco na se desenvolver o modelo da Nova Gerência Pública, oriundo da cultura
produtividade e eficiência econômica em uma área especial, como técnica britânica que se dissemina pela Comunidade Europeia. Além
a de saúde, contribuindo para a perda de consenso entre os espe- disso, com tradições fortemente arraigadas nos Estados Unidos, e de
cialistas, dirigentes e lideranças setoriais. desenvolvimento anterior, os modelos de Teoria dos Jogos tratam de
Em seu lugar, duas importantes estratégias se disseminaram problemas semelhantes aos dos conflitos de atores e instituições do
em nosso país no que diz respeito à difusão de ideias de especialis- planejamento estratégico, apesar de orientações políticas bem diferen-
tas em planejamento para os dirigentes setoriais. São elas as abor- tes e de modelos de análise fortemente matematizados.
dagens de planejamento estratégico-situacional e as diferentes prá- Essas orientações chegam com maior força política ao Brasil
ticas de programação em saúde. Tratar-se-á resumidamente destes apenas em meados da década de 1990 e por meio de instituições
dois temas antes de entrar no item hoje dominante em termos de fora do eixo da saúde pública.
planejamento e que se refere aos mecanismos de governança e à O planejamento estratégico no Brasil foi adotado em sua abor-
entrada em cena da Nova Gerência Pública. dagem técnico-política, influenciando o desenho dos distritos sa-
nitários e a organização dos serviços de saúde. Paim (1993) con-
Planejamento estratégico testa a adoção desse planejamento situacional para a organização
dos distritos, devido às limitações do método no que concerne à
O planejamento estratégico é uma concepção geral que implica
compreensão integral da realidade e dos sujeitos. Essa visão mais
em dar à dimensão política o centro da elaboração de modelos. As
abrangente preconizada por Paim, que considera os elementos da
relações entre atores políticos e instituições, tratadas como arenas,
promoção da saúde, da produção social da saúde e da visão de ter-
são analisadas e as orientações e estratégias são definidas a partir
ritório vivo de Milton Santos (1978), ficou hegemônica no que se
de conjunturas e equilíbrios de poder (MATUS, 1993). Muitos auto-
convencionou chamar movimento de Saúde Coletiva.
res e instituições de saúde no Brasil utilizaram, desde a década de
As reformas de saúde nos anos 1970 foram influenciadas por
1980, modelos diretamente definidos por Carlos Matus e por Mario
uma série de movimentos populares e políticos de redemocratiza-
Testa ou fizeram adaptações ou desenvolvimentos a partir de suas ção na América Latina, o que resultou numa outra forma de enten-
ideias (TEIXEIRA, 1993; RIVERA; HARTMANN, 2003; PAIM, TEIXEIRA, der e construir planejamento em saúde e contribuiu com a constru-
2006). Especificamente com relação às concepções de planejamen- ção – na academia –, do campo de Saúde Coletiva no Brasil.
to situacional, Giovanella (1991) afirma que o planejamento estra- Em consonância com a disseminação de abordagens do plane-
tégico situacional é uma evolução do pensamento crítico dos anos jamento em saúde a partir de enfoques estratégicos, outra tradição
sessenta em relação ao planejamento econômico. se formou no setor saúde brasileiro e se relaciona à programação
O Planejamento Estratégico Situacional (PES) se caracteriza em saúde, o que passaremos a tratar na seção seguinte.
por tentar conciliar a ação sobre uma realidade complexa, com um
olhar estratégico e situacional, considerando a visão de múltiplos A Legislação aplicável ao planejamento no SUS
atores e a utilização de ferramentas operacionais para o enfrenta- O planejamento no SUS é de responsabilidade conjunta das
mento de problemas. Pode ser considerado, conforme assinalado três esferas da federação, sendo que a União, os Estados, o Distrito
por Giovanella (1991), como uma vertente do planejamento estra- Federal e os Municípios devem desenvolver suas respectivas ativi-
tégico de saúde, pois o pensamento de Matus, pelo seu frequente dades de maneira funcional para conformar um sistema de Estado
trabalho como assessor da OPAS, tem sofrido adaptações para a que seja nacionalmente integrado. Assim, as atividades de planeja-
saúde. O PES se divide em quatro momentos, a saber: Explicativo: mento desenvolvidas de forma individual, em cada uma das esferas,
seleção e análise dos problemas relevantes para os atores chaves e em seus respectivos territórios, devem levar em conta as atividades
sobre os quais se deseja atuar. Normativo: construção do plano de das demais esferas, buscando gerar complementaridade e funcio-
intervenção, a situação objetivo que se deseja alcançar. Estratégico: nalidade.

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LEGISLAÇÃO
Essa articulação de tarefas entre as três esferas da Federação deve ser organizada a partir de uma distribuição de responsabilidades e
atribuições definidas pelas normas e acordos vigentes. O Ministério da Saúde, o CONASS e o CONASEMS, em consonância com o Conselho
Nacional de Saúde, definem as diretrizes gerais de elaboração do planejamento para todas as esferas de gestão, estabelecem as priorida-
des e os objetivos nacionais.
Os Municípios, a partir das necessidades locais, das diretrizes estabelecidas pelos conselhos municipais de saúde, das prioridades
estaduais e nacionais, elaboram, implementam e avaliam o ciclo do planejamento municipal.
A partir das necessidades de saúde no âmbito estadual, das diretrizes estabelecidas pelos conselhos estaduais de saúde e observadas
as prioridades nacionais, os estados, em parceria com os COSEMS, coordenam o ciclo de elaboração, implementação e avaliação do plane-
jamento em seus territórios, buscando articulação de processos e instrumentos. O Distrito Federal, pelas suas peculiaridades, assume as
responsabilidades típicas das secretarias de estado e de município.
Na busca da equidade regional, o Estado e os Municípios — em conjunto com seus pares nas respectivas regiões de saúde —, definem
as prioridades regionais e estabelecem as responsabilidades sanitárias de cada ente na região. Os planos e metas regionais resultantes das
pactuações intermunicipais constituirão a base para os planos e metas estaduais, que promoverão a equidade inter-regional (§ 2°, art. 30,
LC n° 141, de 2012).
Além disso, o planejamento no SUS deve ter como base territorial as regiões de saúde, uma vez que essas são os espaços geográficos
fundamentais de garantia da integralidade das ações e serviços de saúde para a população no SUS. A Região de Saúde representa a uni-
dade de referência para a análise da dinâmica socioeconômica e da situação de saúde da população, o dimensionamento da capacidade
instalada de produção de serviços, o levantamento dos recursos fiscais, dos profissionais e equipamentos disponíveis e para a projeção de
uma imagem-objetivo da rede de atenção à saúde.
Assim, o planejamento no SUS se fundamenta em uma dinâmica federativa em que cada uma das esferas possui suas atribuições es-
pecíficas, que articuladas produzem um planejamento orientado para impulsionar estratégias de regionalização.
Os princípios gerais para o planejamento no Estado Brasileiro, com foco no setor saúde, estão dispostos ao longo de um conjunto de
normas de diversas naturezas, editadas ao longo de quase três décadas9. A legislação a ser observada no campo da saúde é composta tan-
to por normas gerais aplicáveis ao planejamento governamental, quanto pelas normas específicas editadas no âmbito do SUS, conforme
pode ser visto nos Quadros.

Assim, o planejamento no SUS deve observar ambos os conjuntos de normas de forma a articular o planejamento setorial com o ciclo
geral de planejamento governamental da Federação. As regras gerais de planejamento são orientações que devem ser seguidas por todas
as áreas desenvolvedoras de políticas públicas e estão expressas, em sua maior parte, nos art. 165 a 169 e 195, § 2°, da Constituição de
1988, e na Lei Complementar n° 101, de 2000, além das normas de Direito Financeiro estabelecidas anteriormente pela Lei n° 4.320, de

22
LEGISLAÇÃO
1964. O setor saúde deve se orientar primeiramente por essas regras e, subsidiariamente, pelas disposições constantes das regras setoriais
ou específicas que abrangem um conjunto mais amplo de normas, desde as Leis Orgânicas até as publicações infralegais, como portarias e
resoluções mais recentes, com pode ser visto no Quadro.

Principais normas e disposições específicas sobre o planejamento governamental no SUS

23
LEGISLAÇÃO
Princípios do planejamento governamental no SUS Do mesmo modo, tal conexão institui uma relação intrínseca
As diretrizes estabelecidas por esse conjunto de normas po- entre os planos de curto e médio prazo e as programações anuais de
dem ser elencadas em sete princípios gerais que orientam os gesto- gastos governamentais. Dada esta forma de estruturação orçamen-
res das três esferas da Federação na organização de suas atividades tária, o PPA consiste no ponto de partida que define as diretrizes
de planejamento, com destaque para as disposições estabelecidas gerais de ação do Estado nas três esferas de governo da Federação.
no Decreto n° 7.508, de 2011, na LC n° 141, de 2012, e especial- De acordo com o texto constitucional, cabe ao PPA a definição
mente na Portaria n° 2.135, de 25 de setembro de 2013, que define das diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública relativas
de forma mais explícita as diretrizes atuais para o planejamento no às despesas de capital e aos gastos correntes delas derivados, ou
SUS. Esses princípios estão apresentados nas seções a seguir. seja, o PPA sintetiza as estratégias de médio prazo e as operaciona-
liza por meio dos programas que o constituem.
Princípio 1: o planejamento consiste em uma atividade obri- O PPA se estrutura em duas partes fundamentais que são a
gatória e contínua base estratégica e os programas. A base estratégica consiste no
O processo de planejamento em saúde é de responsabilida- conjunto de análises de cenário e de prospecção estratégica que
de de cada ente federado, a ser desenvolvido de forma contínua, orientará o planejamento governamental. A base estratégica deve
articulada, ascendente, integrada e solidária, entre as três esferas contemplar a análise da situação econômica e social, as diretrizes,
de governo, na medida em que visa dar direcionalidade à gestão objetivos e metas estabelecidas pelo chefe do Poder Executivo, a
pública da saúde. previsão dos recursos orçamentários e sua distribuição entre os
Assim, os entes da Federação devem, obrigatoriamente, reali- setores ou entre os programas e diretrizes, objetivos e metas dos
zar atividades de planejamento. A elaboração dos instrumentos de demais órgãos compatíveis com a orientação estratégica do chefe
planejamento estabelecidos pela legislação são obrigações condi- do Poder Executivo.
cionantes, inclusive, para o recebimento das transferências inter- Os programas consistem na sistematização das ações que se-
governamentais. rão implementadas de acordo com as orientações definidas na base
O planejamento regular permite dotar os gestores de informa- estratégica.
ções que possibilitem uma ação mais efetiva sobre a realidade sani- O detalhamento anual dos gastos relativos a cada etapa das es-
tária e redirecionar as ações com vistas a melhorar as condições de tratégias adotadas é realizado pela LOA, cujo conteúdo deve guar-
saúde da população. dar plena compatibilidade com as diretrizes expressas nos progra-
Entretanto, para que se consiga construir um planejamento mas definidos no PPA. Enquanto o PPA compreende o planejamento
que permita dar suporte ao SUS, a legislação estabelece que cada governamental de médio prazo, para quatro anos, a LOA contém o
um dos entes da Federação desempenhe seu papel específico, ge- detalhamento anual desse planejamento na forma das ações que
rando complementaridade. Assim, o cumprimento das responsabi- deverão ser implementadas e dos recursos orçamentários que esta-
lidades individuais em cada esfera da Federação é que irá permitir rão disponíveis para o financiamento das políticas. Assim sendo, a
que as demais também possam realizar a contento suas atividades, LOA consiste na expressão anual do planejamento governamental,
o que exige que o planejamento seja integrado. Essa integração, quando são previstos com maior detalhamento o volume de recur-
para ser efetiva, pressupõe que haja articulação funcional. sos arrecadados e como esses serão alocados ao longo do conjunto
Assim, por exemplo, a União, a partir de construção tripartite, de programas e projetos que serão executados no exercício fiscal
precisa estabelecer diretrizes, objetivos e metas nacionais e o ca- correspondente.
lendário nacional de elaboração para que os Estados possam defi- A integração entre o PPA e a LOA é função da LDO, consistin-
nir as estratégias de coordenação do processo de planejamento em do no instrumento inovador instituído pela Constituição Federal
seu território e os Municípios iniciem, com seus pares, suas ativida- de 1988 em matéria de organização orçamentária. Segundo esta
des nas respectivas regiões de saúde. última, cabe à LDO estabelecer, para cada exercício fiscal, as me-
tas e as prioridades da Administração Pública e os parâmetros de
Princípio 2: o planejamento no SUS deve ser integrado à elaboração da LOA, além de dispor sobre um amplo conjunto de
Seguridade Social e ao planejamento governamental geral questões adicionais consideradas essenciais para que o planeja-
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que as políticas de mento de médio prazo, expresso no PPA, possa se traduzir em ação
saúde, previdência e assistência devem estar articuladas no âmbito eficiente e eficaz de curto prazo. Esse conjunto abrange disposições
da Seguridade Social, criando sincronia entre os programas e ações relativas a possíveis alterações na legislação tributária e na política
voltados para a inclusão social. Essa articulação, do ponto de vista de pessoal da Administração Pública, a fixação de limites de gastos
operacional, deve ocorrer nos processos de planejamento e orça- para os três poderes, as condições para que o equilíbrio fiscal seja
mento, sendo necessário que os planos e os orçamentos do SUS obtido, o estabelecimento de critérios para limitação de empenho,
estejam integrados com os das áreas de previdência e assistência. a definição de medidas a serem adotadas em caso de redução dos
O orçamento da Seguridade Social é o instrumento de planejamen- montantes de endividamento, definição das condições e exigências
to e orçamentação que articula e integra os programas dessas três específicas para transferências de recursos a entidades públicas e
áreas de política social e junto com o Orçamento Fiscal compõe o privadas, entre outras.
Orçamento Geral de cada ente da Federação.
Além disso, os instrumentos de planejamento da saúde — o Princípio 3: o planejamento deve respeitar os resultados das
Plano de Saúde e suas respectivas Programações Anuais e o Rela- pactuações entre os gestores nas comissões intergestores regio-
tório de Gestão — devem orientar, no que se refere à política de nais, bipartite e tripartite
saúde, a elaboração dos instrumentos de planejamento de governo As instâncias permanentes de negociação e pactuação inter-
— Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e gestores são os espaços federativos de construção de consenso po-
Lei Orçamentária Anual (LOA), definidos a partir do art. 165 da CF. lítico e de desenvolvimento de estratégias intergovernamentais que
A Constituição Federal de 1988 define a integração entre as possibilitam a ação conjunta e articulada do Ministério da Saúde e
funções de planejamento estatal e as de orçamentação como sen- das secretarias estaduais e municipais de saúde.
do o fundamento do modelo orçamentário brasileiro, definido pela Assim, no processo de planejamento no SUS devem ser con-
necessidade do estabelecimento de uma conexão coerente entre os sideradas como essenciais as pactuações realizadas nas comissões
respectivos instrumentos adotados. intergestores — CIR, CIB e CIT —, uma vez que esses espaços de go-

24
LEGISLAÇÃO
vernança têm a competência de discutir e pactuar de forma perma- No âmbito do planejamento no SUS, o monitoramento e a ava-
nente a política de saúde e sua execução na construção da gestão liação devem ser executados de forma individual e conjunta entre
compartilhada do SUS. os entes federados, tendo como referência as respectivas regiões
Portanto, todo o processo de planejamento integrado segue a de saúde.
lógica federativa clássica em que, apesar de cada uma das esferas O monitoramento compreende o acompanhamento regular
ter suas responsabilidades específicas, as principais decisões sobre das metas e indicadores, que expressam as diretrizes e os objetivos
o ciclo de planejamento são tomadas a partir de consensos. Essa da política de saúde em um determinado período e o seu coteja-
dinâmica de trabalho coletivo é típica de ambientes federativos e mento com o planejado; enquanto a avaliação envolve a apreciação
tem como objetivo conferir legitimidade às decisões e estimular o dos resultados obtidos, considerando um conjunto amplo de fato-
trabalho conjunto entre a União, os Estados e os Municípios. res. A escolha desses fatores ou critérios que irão orientar a avalia-
Como resultado, um amplo conjunto de questões relativas ao ção depende do tipo de apreciação que se pretende realizar, uma
processo de planejamento no SUS passa por negociações interges- vez que toda avaliação consiste na emissão de um juízo de valor
tores nos fóruns federativos do SUS. sobre as características, a dinâmica e o resultado de programas e
Assim, as pactuações tripartites abrangem: as diretrizes gerais
políticas.
para a composição do conjunto de ações e serviços de saúde e de
Os tipos mais comuns e empregados na avaliação são os que
medicamentos essenciais a serem ofertados no SUS (Renases e Re-
consideram: os efeitos sobre a saúde da população (avaliação de
name); as etapas e os prazos do processo de planejamento no SUS;
as diretrizes nacionais para a organização das regiões de saúde; os impacto ou de efetividade); a obtenção das prioridades e os objeti-
critérios para o planejamento no SUS nas regiões de saúde; as nor- vos iniciais estabelecidos (avaliação dos objetivos ou da eficácia); a
mas de elaboração e fluxos do COAP; as regras de continuidade do racionalidade no uso dos recursos (avaliação da eficiência); as mu-
acesso para o atendimento da integralidade da assistência nas regiões danças ocorridas no contexto econômico, político e social (avalia-
de saúde; as diretrizes, objetivos, metas e indicadores de abrangência ção de cenário); as disposições constantes da legislação (avaliação
nacional, buscando orientar e integrar o planejamento da União, dos de legalidade ou de conformidade); a qualidade da estratégia de
estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entre outras. implantação das políticas e programas (avaliação da implementa-
No âmbito estadual, as pactuações a serem realizadas nas CIB, ção); a análise e a apreciação de instâncias oficiais (avaliação ofi-
entre os gestores estaduais e municipais, são relativas: às etapas cial ou institucional); o aperfeiçoamento da capacidade de gestão
e aos prazos do planejamento municipal em consonância com os dos quadros e das unidades da administração pública (avaliação de
planejamentos estadual e nacional; às diretrizes estaduais sobre re- aprendizagem), entre outros.
giões de saúde e demais aspectos vinculados à integração das ações A legislação do SUS busca induzir os gestores das três esferas
e serviços de saúde dos entes federados; à conformação e à ava- a privilegiar as atividades de monitoramento e de avaliação de im-
liação do funcionamento das regiões de saúde em cada estado; à pacto ou de efetividade, combinando-as com algumas das outras
continuidade do acesso às ações e aos serviços de saúde da rede de modalidades de avaliação mencionadas acima.
atenção à saúde, mediante referenciamento em regiões de saúde As principais normas relacionadas ao planejamento no SUS res-
intraestaduais; à metodologia de alocação dos recursos estaduais; e saltam que a avaliação deve apreciar em que medida as políticas,
à previsão anual de repasse de recursos aos Municípios (constantes programas, ações e serviços de saúde implementados no período
dos planos estaduais de saúde), entre outras. considerado promoveram a melhoria das condições de saúde da
Finalmente, no âmbito das CIR10, as principais pactuações população.
abrangem: o rol de ações e serviços e o elenco de medicamentos
que serão ofertados na Região de Saúde (tomando como base a Princípio 5: o planejamento deve ser ascendente e integrado
Renases e a Rename); os critérios de acessibilidade e escala para O planejamento ascendente e integrado na saúde, além de re-
a conformação dos serviços; as diretrizes regionais sobre a organi- quisito legal, é um dos mecanismos relevantes para assegurar a uni-
zação das redes de atenção à saúde; a gestão institucional regional cidade e os princípios constitucionais do SUS. O planejamento ex-
e a integração das ações e serviços dos entes federados na Região pressa as responsabilidades dos gestores de cada esfera de governo
de Saúde11; as responsabilidades individuais e solidárias de cada em relação à saúde da população do território quanto à integração
ente federativo na Região de Saúde (a serem incluídas no COAP); e da organização sistêmica do SUS.
a elaboração, a pactuação, o monitoramento e a avaliação de todo Portanto, é essencial que o conjunto de diretrizes, objetivos,
o processo de planejamento regional integrado nas respectivas re- metas e indicadores estabelecidos em âmbito nacional seja em-
giões de saúde, entre outras. pregado pelas três esferas de governo para o desenho de seus ins-
trumentos de planejamento, o que permitirá tanto criar uma ação
Princípio 4: o planejamento deve estar articulado constante- sincronizada da administração pública em torno das grandes prio-
mente com o monitoramento, a avaliação e a gestão do SUS ridades nacionais quanto uniformizar o formato e a linguagem do
O planejamento não consiste apenas em um simples exercício planejamento em todo o País.
de projeção de metas futuras, mas em uma ação estratégica da A integração do planejamento no SUS requer também que as
gestão pública que tem por objetivo reorientar os programas e os três esferas da Federação orientem suas atividades de maneira fun-
projetos governamentais de forma a ampliar a eficiência, a eficácia cional entre si para que haja complementaridade e organicidade,
e a efetividade da ação das políticas de saúde. Portanto, o planeja- evitando a duplicação de ações e projetos em algumas áreas e a
mento está intrinsecamente relacionado à gestão do SUS. ausência em outras.
Para que as ações de planejamento possam contribuir para o Entretanto, o caráter integrado das atividades de planejamen-
aperfeiçoamento da gestão do SUS, os entes federados devem com- to no SUS valoriza a autonomia dos entes federados, uma vez que
prometer-se a realizar o monitoramento e a avaliação, visando ana- todo o processo deve ser conduzido de maneira ascendente desde
lisar os resultados alcançados e as estratégias empregadas para tal. os Municípios até a esfera federal. Assim, os planos municipais de
O monitoramento e a avaliação devem ser processos periódi-
saúde, elaborados a partir das definições estabelecidas nas confe-
cos, orientados pelas diretrizes, objetivos, metas e indicadores as-
rências municipais de saúde, são a base para o planejamento das
sumidos em cada esfera de gestão.
regiões de saúde, que por sua vez, orientam o planejamento em

25
LEGISLAÇÃO
âmbito estadual. Da mesma forma, a esfera federal deve levar em São essas necessidades que orientam a construção das diretri-
consideração o escopo das atividades planejadas pelas unidades da zes, objetivos, metas e indicadores identificados como essenciais
Federação. para a ampliação da qualidade de vida dos cidadãos e para a garan-
O Decreto n° 7.508, de 2011, introduz duas inovações essen- tia plena de seus direitos de cidadania. A compreensão das realida-
ciais para o aperfeiçoamento do planejamento no SUS e estabelece des locais em cada Região de Saúde abrange o levantamento de um
o planejamento regional em saúde como a base para a definição amplo conjunto de indicadores socioeconômicos, demográficos,
das metas e indicadores do planejamento da política de saúde, vi- epidemiológicos, sanitários, de infraestrutura urbana, de educação,
sando conferir maior complementaridade entre as ações a serem culturais, ocupacionais, entre outros. São esses indicadores que
desenvolvidas de forma integrada pelas três esferas de governo. permitem compreender as necessidades de saúde e que, portan-
Essas inovações consistem em estabelecer o conceito de metas to, deverão ser tomados como ponto de partida para a tomada de
regionais, que fazem interface com as metas municipais, estaduais decisões pelos gestores. Assim, a definição de quais serão as inter-
e federais e introduzir a necessidade de formalização dos compro- venções prioritárias que irão orientar a implementação ou o aper-
missos assumidos entre os gestores por meio de um instrumento feiçoamento do conjunto de ações e serviços de saúde no território
jurídico-executivo, o COAP. deve ser fundamentada em seu impacto na ampliação do bem estar
Desta forma, a integração do planejamento no SUS se organiza dos cidadãos. Em essência, a orientação do planejamento a partir
em torno do planejamento realizado nas regiões de saúde, onde das necessidades de saúde busca ampliar a efetividade das políticas
são estabelecidas as metas e as responsabilidades específicas de públicas (OUVERNEY; NORONHA, 2013).
cada uma das três esferas da Federação para que os resultados se-
jam obtidos. Assim, a integração do planejamento no SUS ocorre O Planejamento Normativo (DEVER, 1988) “é destinado a pro-
por meio da ação complementar entre o trabalho dos gestores mu- mover mudanças sociais deliberadas ou pretendidas projetadas
nicipais, estaduais e federal em cada região de saúde. para o futuro. Como é possível perceber, nesse nível de planeja-
mento será necessário lidar com os distintos interesses de diferen-
Princípio 6: o planejamento deve contribuir para a transpa- tes atores sociais e sua postura em relação ao plano, de oposição,
rência e a visibilidade da gestão da saúde indiferença ou adesão”.
Dentre outras normativas, a LC n° 141, de 2012, dá ênfase à Já o Planejamento Estratégico indica os caminhos a percorrer,
transparência e à visibilidade da gestão da saúde, demandando que detalhar as ações (TANCREDI, 1998). O Planejamento Estratégico
os gestores da saúde deem ampla divulgação, inclusive por meios “refere-se ao desenvolvimento de ações (planos) que permitam or-
eletrônicos de acesso público, das prestações de contas periódi- ganizar a execução das estratégias planejadas em outro nível de pla-
cas da saúde, para consulta e acesso da sociedade. Nesse sentido, nejamento. Indica como ´colocar em prática´ as ações previstas. No
sugere que a transparência e a visibilidade sejam asseguradas no setor saúde, utiliza-se esse tipo de planejamento na execução dos
processo de elaboração e discussão do Plano de Saúde, da Progra- programas de assistência à saúde, por exemplo, o programa para
mação Anual de Saúde e do Relatório de Gestão, devendo ser sub- controle da hipertensão”
metidos à apreciação do respectivo Conselho de Saúde e realização
de audiências públicas.
Portanto, o planejamento no SUS adquire também um caráter
de instrumento de ampliação da transparência das ações governa- DIREITOS DOS USUÁRIOS DO SUS
mentais, uma vez que a definição detalhada e clara das metas e
das respectivas responsabilidades de cada um dos entes federados A carta que você tem nas mãos baseia-se em seis princípios
possibilita que a sociedade acompanhe o processo de implantação básicos de cidadania. Juntos, eles asseguram ao cidadão o direito
e gestão das políticas e programas e discuta seus resultados com os básico ao ingresso digno nos sistemas de saúde, sejam eles públicos
gestores. A prerrogativa de conhecer os resultados das políticas e ou privados. A carta é também uma importante ferramenta para
de monitoramento da aplicação dos recursos públicos consiste em que você conheça seus direitos e possa ajudar o Brasil a ter um sis-
direto de cidadania enfatizado pela Lei n° 12.527, de 18 de novem- tema de saúde com muito mais qualidade.
bro de 2011, denominada de Lei de Acesso à Informação. Essa Lei
dispõe, em seu art. 5°, que “É dever do Estado garantir o direito PRINCÍPIOS DESTA CARTA*
de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedi- 1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado
mentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em lingua- aos sistemas de saúde.
gem de fácil compreensão” (BRASIL, 2011b). Como consequência, o 2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo
planejamento governamental torna-se um instrumento ainda mais para seu problema.
importante para que os cidadãos possam assegurar seus direitos. 3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, aco-
lhedor e livre de qualquer discriminação.
Princípio 7: o planejamento deve partir das necessidades de
4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua
saúde da população
pessoa, seus valores e seus direitos.
O planejamento no SUS parte do reconhecimento das dinâmi-
5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu
cas presentes no território que influenciam na saúde, bem como
tratamento aconteça da forma adequada.
das necessidades de saúde da população dos Municípios que
6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores
compõe a Região de Saúde. A análise e o dimensionamento das
da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos.
necessidades de saúde devem privilegiar um conceito mais amplo
de saúde, entendendo essa como uma condição que transcende a
mera ausência de doença e se caracteriza pela garantia de bem es- Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde
tar tanto físico e afetivo quanto social e econômico. Assim, a análi- Considerando o art. 196 da Constituição Federal, que garante
se da situação de saúde envolve primordialmente o conhecimento o acesso universal e igualitário a ações e serviços para promoção,
adequado e detalhado das condições de vida proporcionadas pelos proteção e recuperação da saúde.
diversos Municípios em cada região de saúde e das tendências de
curto, médio e longo prazo (CAMPOS, 2013).

26
LEGISLAÇÃO
Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que I. Atendimento com presteza, tecnologia apropriada e condi-
dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recupera- ções de trabalho adequadas para os profissionais da saúde.
ção da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços cor- II. Informações sobre o seu estado de saúde, extensivas aos
respondentes. seus familiares e/ou acompanhantes, de maneira clara, objetiva,
Considerando a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que respeitosa, compreensível e adaptada à condição cultural, respei-
dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema tados os limites éticos por parte da equipe de saúde sobre, entre
Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamen- outras:
tais de recursos financeiros na área da saúde. a) hipóteses diagnósticas;
Considerando a necessidade de promover mudanças de atitu- b) diagnósticos confirmados;
de em todas as práticas de atenção e gestão que fortaleçam a auto- c) exames solicitados;
nomia e o direito do cidadão. d) objetivos dos procedimentos diagnósticos, cirúrgicos, pre-
O Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Saúde e a Co- ventivos ou terapêuticos;
missão Intergestora Tripartite apresentam a Carta dos Direitos dos e) riscos, benefícios e inconvenientes das medidas diagnósticas
Usuários da Saúde e convidam todos os gestores, profissionais de e terapêuticas propostas;
saúde, organizações civis, instituições e pessoas interessadas para f) duração prevista do tratamento proposto;
que promovam o respeito destes direitos e assegurem seu reconhe- g) no caso de procedimentos diagnósticos e terapêuticos inva-
cimento efetivo e sua aplicação. sivos ou cirúrgicos, a necessidade ou não de anestesia e seu tipo
O PRIMEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o acesso ordena- e duração, partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instru-
do e organizado aos sistemas de saúde, visando a um atendimento mental a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou consequências
mais justo e eficaz. indesejáveis, duração prevista dos procedimentos e tempo de re-
Todos os cidadãos têm direito ao acesso às ações e aos serviços cuperação;
de promoção, proteção e recuperação da saúde promovidos pelo h) finalidade dos materiais coletados para exames;
Sistema Único de Saúde: i) evolução provável do problema de saúde;
I. O acesso se dará prioritariamente pelos Serviços de Saúde da j) informações sobre o custo das intervenções das quais se be-
Atenção Básica próximos ao local de moradia. neficiou o usuário.
II. Nas situações de urgência/emergência, o atendimento se
dará de forma incondicional, em qualquer unidade do sistema. III. Registro em seu prontuário, entre outras, das seguintes in-
III. Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser assegu- formações, de modo legível e atualizado:
rada a remoção do usuário em condições seguras, que não implique a) motivo do atendimento e/ou internação, dados de observa-
maiores danos, para um estabelecimento de saúde com capacidade ção clínica, evolução clínica, prescrição terapêutica, avaliações da
para recebê-lo. equipe multiprofissional, procedimentos e cuidados de enferma-
IV. O encaminhamento à Atenção Especializada e Hospitalar gem e, quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos,
será estabelecido em função da necessidade de saúde e indicação odontológicos, resultados de exames complementares laboratoriais
clínica, levando-se em conta critérios de vulnerabilidade e risco com e radiológicos;
apoio de centrais de regulação ou outros mecanismos que facilitem b) registro da quantidade de sangue recebida e dados que per-
o acesso a serviços de retaguarda. mitam identificar sua origem, sorologias efetuadas e prazo de vali-
V. Quando houver limitação circunstancial na capacidade de dade;
atendimento do serviço de saúde, fica sob responsabilidade do ges- c) identificação do responsável pelas anotações.
tor local a pronta resolução das condições para o acolhimento e
devido encaminhamento do usuário do SUS, devendo ser prestadas IV. O acesso à anestesia em todas as situações em que for indi-
informações claras ao usuário sobre os critérios de priorização do cada, bem como a medicações e procedimentos que possam aliviar
acesso na localidade por ora indisponível. A prioridade deve ser ba- a dor e o sofrimento.
seada em critérios de vulnerabilidade clínica e social, sem qualquer
tipo de discriminação ou privilégio. V. O recebimento das receitas e prescrições terapêuticas, que
VI. As informações sobre os serviços de saúde contendo crité- devem conter:
rios de acesso, endereços, telefones, horários de funcionamento, a) o nome genérico das substâncias prescritas;
nome e horário de trabalho dos profissionais das equipes assisten- b) clara indicação da posologia e dosagem;
ciais devem estar disponíveis aos cidadãos nos locais onde a assis- c) escrita impressa, datilografadas ou digitadas, ou em caligra-
tência é prestada e nos espaços de controle social. fia legível;
VII. O acesso de que trata o caput inclui as ações de proteção e d) textos sem códigos ou abreviaturas;
prevenção relativas a riscos e agravos à saúde e ao meio ambiente, e) o nome legível do profissional e seu número de registro no
as devidas informações relativas às ações de vigilância sanitária e órgão de controle e regulamentação da profissão;
epidemiológica e os determinantes da saúde individual e coletiva. f) a assinatura do profissional e data.
VIII. A garantia à acessibilidade implica o fim das barreiras ar-
quitetônicas e de comunicabilidade, oferecendo condições de aten- VI. O acesso à continuidade da atenção com o apoio domiciliar,
dimento adequadas, especialmente a pessoas que vivem com defi- quando pertinente, treinamento em autocuidado que maximize sua
ciências, idosos e gestantes. autonomia ou acompanhamento em centros de reabilitação psicos-
social ou em serviços de menor ou maior complexidade assistencial.
O SEGUNDO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o tratamento ade- VII. Encaminhamentos para outras unidades de saúde, obser-
quado e efetivo para seu problema, visando à melhoria da qualida- vando:
de dos serviços prestados. a) caligrafia legível ou datilografados/digitados ou por meio
É direito dos cidadãos ter atendimento resolutivo com qualida- eletrônico;
de, em função da natureza do agravo, com garantia de continuidade b) resumo da história clínica, hipóteses diagnósticas, tratamen-
da atenção, sempre que necessário, tendo garantidos: to realizado, evolução e o motivo do encaminhamento;

27
LEGISLAÇÃO
c) a não utilização de códigos ou abreviaturas; II. O sigilo e a confidencialidade de todas as informações pes-
d) nome legível do profissional e seu número de registro no ór- soais, mesmo após a morte, salvo quando houver expressa autori-
gão de controle e regulamentação da profissão, assinado e datado; zação do usuário ou em caso de imposição legal, como situações de
e) identificação da unidade de referência e da unidade refe- risco à saúde pública.
renciada. III. Acesso a qualquer momento, do paciente ou terceiro por
ele autorizado, a seu prontuário e aos dados nele registrados, bem
O TERCEIRO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento como ter garantido o encaminhamento de cópia a outra unidade de
acolhedor e livre de discriminação, visando à igualdade de trata- saúde, em caso de transferência.
mento e a uma relação mais pessoal e saudável. IV. Recebimento de laudo médico, quando solicitar.
É direito dos cidadãos atendimento acolhedor na rede de ser- V. Consentimento ou recusa de forma livre, voluntária e es-
viços de saúde de forma humanizada, livre de qualquer discrimi- clarecida, depois de adequada informação, a quaisquer procedi-
nação, restrição ou negação em função de idade, raça, cor, etnia, mentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo se isso
orientação sexual, identidade de gênero, características genéticas, acarretar risco à saúde pública. O consentimento ou a recusa da-
condições econômicas ou sociais, estado de saúde, ser portador de dos anteriormente poderão ser revogados a qualquer instante, por
patologia ou pessoa vivendo com deficiência, garantindo-lhes: decisão livre e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas sanções
I. A identificação pelo nome e sobrenome, devendo existir em morais, administrativas ou legais.
todo documento de identificação do usuário um campo para se re- VI. Não ser submetido a nenhum exame, sem conhecimento
gistrar o nome pelo qual prefere ser chamado, independentemente e consentimento, nos locais de trabalho (pré-admissionais ou pe-
do registro civil, não podendo ser tratado por número, nome da riódicos), nos estabelecimentos prisionais e de ensino, públicos ou
doença, códigos, de modo genérico, desrespeitoso ou preconcei- privados.
tuoso. VII. A indicação de um representante legal de sua livre escolha,
II. Profissionais que se responsabilizem por sua atenção, iden- a quem confiará a tomada de decisões para a eventualidade de tor-
tificados por meio de crachás visíveis, legíveis ou por outras formas nar-se incapaz de exercer sua autonomia.
de identificação de fácil percepção. VIII. Receber ou recusar assistência religiosa, psicológica e so-
III. Nas consultas, procedimentos diagnósticos, preventivos, ci- cial.
rúrgicos, terapêuticos e internações, o respeito a: IX. Ter liberdade de procurar segunda opinião ou parecer de
a) integridade física; outro profissional ou serviço sobre seu estado de saúde ou sobre
b) privacidade e conforto; procedimentos recomendados, em qualquer fase do tratamento.
c) individualidade; X. Ser prévia e expressamente informado quando o tratamento
d) seus valores éticos, culturais e religiosos; proposto for experimental ou fizer parte de pesquisa, decidindo de
e) confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal forma livre e esclarecida, sobre sua participação.
f) segurança do procedimento; XI. Saber o nome dos profissionais que trabalham nas unidades
g) bem-estar psíquico e emocional. de saúde, bem como dos gerentes e/ou diretores e gestor respon-
sável pelo serviço.
IV. O direito ao acompanhamento por pessoa de sua livre esco- XII. Ter acesso aos mecanismos de escuta para apresentar su-
lha nas consultas, exames e internações, no momento do pré-parto, gestões, reclamações e denúncias aos gestores e às gerências das
parto e pós-parto e em todas as situações previstas em lei (criança, unidades prestadoras de serviços de saúde e às ouvidorias, sendo
adolescente, pessoas vivendo com deficiências ou idoso). Nas de- respeitada a privacidade, o sigilo e a confidencialidade.
mais situações, ter direito a acompanhante e/ou visita diária, não XIII. Participar dos processos de indicação e/ou eleição de seus
inferior a duas horas durante as internações, ressalvadas as situa- representantes nas conferências, nos conselhos nacional, estadual,
ções técnicas não indicadas. do Distrito Federal, municipal e regional ou distrital de saúde e con-
V. Se criança ou adolescente, em casos de internação, conti- selhos gestores de serviços.
nuidade das atividades escolares, bem como desfrutar de alguma
forma de recreação. O QUINTO PRINCÍPIO assegura as responsabilidades que o ci-
VI. A informação a respeito de diferentes possibilidades tera- dadão também deve ter para que seu tratamento aconteça de for-
pêuticas de acordo com sua condição clínica, considerando as evi- ma adequada.
dências científicas e a relação custo-benefício das alternativas de Todo cidadão deve se comprometer a:
tratamento, com direito à recusa, atestado na presença de teste- I. Prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas con-
munha. sultas e nas internações sobre queixas, enfermidades e hospitali-
VII. A opção pelo local de morte. zações anteriores, história de uso de medicamentos e/ou drogas,
VIII. O recebimento, quando internado, de visita de médico de reações alérgicas e demais indicadores de sua situação de saúde.
sua referência, que não pertença àquela unidade hospitalar, sendo II. Manifestar a compreensão sobre as informações e/ou orien-
facultado a esse profissional o acesso ao prontuário. tações recebidas e, caso subsistam dúvidas, solicitar esclarecimen-
tos sobre elas.
O QUARTO PRINCÍPIO assegura ao cidadão o atendimento que III. Seguir o plano de tratamento recomendado pelo profissio-
respeite os valores e direitos do paciente, visando a preservar sua nal e pela equipe de saúde responsável pelo seu cuidado, se com-
cidadania durante o tratamento. preendido e aceito, participando ativamente do projeto terapêuti-
O respeito à cidadania no Sistema de Saúde deve ainda obser- co.
var os seguintes direitos: IV. Informar ao profissional de saúde e/ou à equipe responsável
I. Escolher o tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, de sobre qualquer mudança inesperada de sua condição de saúde.
acordo com as exigências mínimas constantes na legislação, e ter V. Assumir responsabilidades pela recusa a procedimentos ou
sido informado pela operadora da existência e disponibilidade do tratamentos recomendados e pela inobservância das orientações
plano referência. fornecidas pela equipe de saúde.

28
LEGISLAÇÃO
VI. Contribuir para o bem-estar de todos que circulam no am- B. DOS GOVERNOS ESTADUAIS E DO DISTRITO FEDERAL:
biente de saúde, evitando principalmente ruídos, uso de fumo, de- 1 – Acompanhar, controlar e avaliar as redes assistenciais do
rivados do tabaco e bebidas alcoólicas, colaborando com a limpeza SUS.
do ambiente. 2 – Prestar apoio técnico e financeiro aos municípios.
VII. Adotar comportamento respeitoso e cordial com os demais 3 – Executar diretamente ações e serviços de saúde na rede
usuários e trabalhadores da saúde. própria.
VIII. Ter sempre disponíveis para apresentação seus documen- 4 – Gerir sistemas públicos de alta complexidade de referência
tos e resultados de exames que permanecem em seu poder. estadual e regional.
IX. Observar e cumprir o estatuto, o regimento geral ou outros 5 – Acompanhar, avaliar e divulgar os seus indicadores de mor-
regulamentos do espaço de saúde, desde que estejam em conso- bidade e mortalidade.
nância com esta carta. 6 – Participar do financiamento da assistência farmacêutica bá-
X. Atentar para situações da sua vida cotidiana em que sua saú- sica e adquirir e distribuir os medicamentos de alto custo em parce-
de esteja em risco e as possibilidades de redução da vulnerabilidade ria com o governo federal.
ao adoecimento. 7 – Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e
XI. Comunicar aos serviços de saúde ou à vigilância sanitária ir- serviços de vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, alimenta-
regularidades relacionadas ao uso e à oferta de produtos e serviços ção e nutrição e saúde do trabalhador.
que afetem a saúde em ambientes públicos e privados. 8 – Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes
XII. Participar de eventos de promoção de saúde e desenvolver e Derivados juntamente com a União e municípios.
hábitos e atitudes saudáveis que melhorem a qualidade de vida. 9 – Coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública
e hemocentros.
O SEXTO PRINCÍPIO assegura o comprometimento dos gestores
para que os princípios anteriores sejam cumpridos. C. DO GOVERNO FEDERAL:
Os gestores do SUS, das três esferas de governo, para obser- 1 – Prestar cooperação técnica e financeira aos estados, muni-
vância desses princípios, se comprometem a: cípios e Distrito Federal.
I. Promover o respeito e o cumprimento desses direitos e de- 2 – Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substân-
veres com a adoção de medidas progressivas para sua efetivação. cias de interesse para a saúde.
II. Adotar as providências necessárias para subsidiar a divulga- 3 – Formular, avaliar e apoiar políticas nacionais no campo da
ção desta carta, inserindo em suas ações as diretrizes relativas aos saúde.
direitos e deveres dos usuários, ora formalizada. 4 – Definir e coordenar os sistemas de redes integradas de alta
III. Incentivar e implementar formas de participação dos traba- complexidade de rede de laboratórios de saúde pública, de vigilân-
lhadores e usuários nas instâncias e nos órgãos de controle social cia sanitária e epidemiológica.
do SUS. 5 – Estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de por-
IV. Promover atualizações necessárias nos regimentos e estatu- tos, aeroportos e fronteiras em parceria com estados e municípios.
tos dos serviços de saúde, adequando-os a esta carta. 6 – Participar do financiamento da assistência farmacêutica bá-
V. Adotar formas para o cumprimento efetivo da legislação e sica e adquirir e distribuir para os estados os medicamentos de alto
normatizações do sistema de saúde. custo.
7 – Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes
Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde e Derivados juntamente com estados e municípios.
I – RESPONSABILIDADE PELA SAÚDE DO CIDADÃO 8 – Participar na implementação das políticas de controle das
Compete ao município “prestar, com a cooperação técnica e agressões ao meio ambiente, de saneamento básico e relativas às
financeira da União e do estado, serviços de atendimento à saúde condições e aos ambientes de trabalho.
da população” – Constituição da República Federativa do Brasil, art. 9 – Elaborar normas para regular as relações entre o SUS e os
30, item VII. serviços privados contratados de assistência à saúde.
II – RESPONSABILIDADES PELA GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE 10 – Auditar, acompanhar, controlar e avaliar as ações e os
SAÚDE – LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990 serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e muni-
cipais.
A. DOS GOVERNOS MUNICIPAIS E DO DISTRITO FEDERAL:
1 – Gerenciar e executar os serviços públicos de saúde.
2 – Celebrar contratos com entidades prestadoras de serviços PORTARIA Nº 1.820, DE 13 DE AGOSTO DE 2009
privados de saúde, bem como avaliar sua execução.
3 – Participar do planejamento, programação e organização do Dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde.
SUS em articulação com o gestor estadual.
4 – Executar serviços de vigilância epidemiológica, sanitária, O Ministro de Estado da Saúde, no uso das atribuições prevista
de alimentação e nutrição, de saneamento básico e de saúde do no inciso II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e conside-
trabalhador. rando os arts. 6º e 196 da Constituição Federal;
5 – Gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros. Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que
6 – Celebrar contratos e convênios com entidades prestadoras dispõe sobre as condições para a promoção, a proteção e a recu-
de serviços privados de saúde, assim como controlar e avaliar sua peração da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
execução. correspondentes;
7 – Participar do financiamento e garantir o fornecimento de Considerando a Política Nacional de Humanização da Atenção e
medicamentos básicos. da Gestão do SUS, de 2003, do Ministério da Saúde; e
Considerando a Política Nacional de Gestão Estratégica e Parti-
cipativa no SUS, de 2007, do Ministério da Saúde, resolve:

29
LEGISLAÇÃO
Art. 1º Dispor sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde f) quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos,
nos termos da legislação vigente. odontológicos, resultados de exames complementares laboratoriais
Art. 2º Toda pessoa tem direito ao acesso a bens e serviços e radiológicos;
ordenados e organizados para garantia da promoção, prevenção, g) a quantidade de sangue recebida e dados que garantam a
proteção, tratamento e recuperação da saúde. qualidade do sangue, como origem, sorologias efetuadas e prazo
§ 1º O acesso será preferencialmente nos serviços de Atenção de validade;
Básica integrados por centros de saúde, postos de saúde, unidades h) identificação do responsável pelas anotações;
de saúde da família e unidades básicas de saúde ou similares mais i) outras informações que se fizerem necessárias.
próximos de sua casa V – o acesso à anestesia em todas as situações em que for indi-
§ 2º Nas situações de urgência/emergência, qualquer serviço cada, bem como a medicações e procedimentos que possam aliviar
de saúde deve receber e cuidar da pessoa, bem como encaminhá-la a dor e o sofrimento;
para outro serviço em caso de necessidade. VI – o recebimento das receitas e as prescrições terapêuticas
§ 3º Em caso de risco de vida ou lesão grave, deverá ser as- devem conter:
segurada a remoção do usuário, em tempo hábil e em condições a) o nome genérico das substâncias prescritas;
seguras, para um serviço de saúde com capacidade para resolver b) clara indicação da dose e do modo de usar;
seu tipo de problema. c) escrita impressa, datilografada ou digitada, ou em caligrafia
§ 4º O encaminhamento às especialidades e aos hospitais, pela legível;
Atenção Básica, será estabelecido em função da necessidade de d) textos sem códigos ou abreviaturas;
saúde e indicação clínica, levando-se em conta a gravidade do pro- e) o nome legível do profissional e seu número de registro no
blema a ser analisado pelas centrais de regulação. conselho profissional;
§ 5º Quando houver alguma dificuldade temporária para aten- f) a assinatura do profissional e a data.
der às pessoas, é da responsabilidade da direção e da equipe do VII – recebimento, quando prescritos, dos medicamentos que
serviço acolher, dar informações claras e encaminhá-las sem discri- compõem a farmácia básica e, nos casos de necessidade de me-
minação e privilégios. dicamentos de alto custo, deve ser garantido o acesso conforme
Art. 3º Toda pessoa tem direito ao tratamento adequado e no protocolos e normas do Ministério da Saúde;
tempo certo para resolver o seu problema de saúde. VIII – o acesso à continuidade da atenção no domicílio, quando
Parágrafo único. É direito da pessoa ter atendimento adequa- pertinente, com estímulo e orientação ao autocuidado que fortale-
do, com qualidade, no tempo certo e com garantia de continuidade ça sua autonomia, e a garantia de acompanhamento em qualquer
do tratamento, e para isso deve ser assegurado: serviço que for necessário;
I – atendimento ágil, com tecnologia apropriada, por equipe IX – o encaminhamento para outros serviços de saúde deve ser
multiprofissional capacitada e em condições adequadas de atendi- por meio de um documento que contenha:
mento; a) caligrafia legível ou datilografada, ou digitada, ou por meio
II – informações sobre o seu estado de saúde, de maneira clara, eletrônico;
objetiva, respeitosa e compreensível quanto a: b) resumo da história clínica, possíveis diagnósticos, tratamen-
a) possíveis diagnósticos; to realizado, evolução e o motivo do encaminhamento;
b) diagnósticos confirmados; c) linguagem clara, evitando-se códigos ou abreviaturas;
c) tipos, justificativas e riscos dos exames solicitados; d) nome legível do profissional e seu número de registro no
d) resultados dos exames realizados; conselho profissional, assinado e datado;
e) objetivos, riscos e benefícios de procedimentos diagnósti- e) identificação da unidade de saúde que recebeu a pessoa,
cos, cirúrgicos, preventivos ou de tratamento; assim como da unidade para a qual está sendo encaminhada.
f) duração prevista do tratamento proposto; Art. 4º Toda pessoa tem direito ao atendimento humanizado
g) procedimentos diagnósticos e tratamentos invasivos ou ci- e acolhedor, realizado por profissionais qualificados, em ambiente
rúrgicos; limpo, confortável e acessível a todos.
h) necessidade ou não de anestesia e seu tipo e duração; Parágrafo único. É direito da pessoa, na rede de serviços de
i) partes do corpo afetadas pelos procedimentos, instrumental saúde, ter atendimento humanizado, acolhedor, livre de qualquer
a ser utilizado, efeitos colaterais, riscos ou consequências indese- discriminação, restrição ou negação em virtude de idade, raça, cor,
jáveis; etnia, religião, orientação sexual, identidade de gênero, condições
j) duração prevista dos procedimentos e tempo de recupera- econômicas ou sociais, estado de saúde, de anomalia, patologia ou
deficiência, garantindo-lhe:
ção;
I – identificação pelo nome e sobrenome civil, devendo existir,
k) evolução provável do problema de saúde;
em todo documento do usuário e usuária, um campo para se re-
l) informações sobre o custo das intervenções das quais a pes-
gistrar o nome social, independentemente do registro civil, sendo
soa se beneficiou;
assegurado o uso do nome de preferência, não podendo ser iden-
m) outras informações que forem necessárias.
tificado por número, nome ou código da doença, ou outras formas
III – toda pessoa tem o direito de decidir se seus familiares e
desrespeitosas, ou preconceituosas;
acompanhantes deverão ser informados sobre seu estado de saú-
II – a identificação dos profissionais, por crachás visíveis, legí-
de;
veis e/ou por outras formas de identificação de fácil percepção;
IV – registro atualizado e legível no prontuário das seguintes III – nas consultas, nos procedimentos diagnósticos, preventi-
informações: vos, cirúrgicos, terapêuticos e internações, o seguinte:
a) motivo do atendimento e/ou internação; a) à integridade física;
b) dados de observação e da evolução clínica; b) à privacidade e ao conforto;
c) prescrição terapêutica; c) à individualidade;
d) avaliações dos profissionais da equipe; d) aos seus valores éticos, culturais e religiosos;
e) procedimentos e cuidados de enfermagem; e) à confidencialidade de toda e qualquer informação pessoal;

30
LEGISLAÇÃO
f) à segurança do procedimento; VIII – o recebimento ou a recusa à assistência religiosa, psico-
g) ao bem-estar psíquico e emocional. lógica e social;
IV – o atendimento agendado nos serviços de saúde, preferen- IX – a liberdade, em qualquer fase do tratamento, de procurar
cialmente com hora marcada; uma segunda opinião, ou o parecer de outro profissional ou serviço
V – o direito a acompanhante, pessoa de sua livre escolha, nas sobre seu estado de saúde, ou sobre procedimentos recomenda-
consultas e exames; dos;
VI – o direito a acompanhante, nos casos de internação, nos X – a não-participação em pesquisa que envolva, ou não, tra-
casos previstos em lei, assim como naqueles em que a autonomia tamento experimental sem que tenha garantias claras da sua liber-
da pessoa estiver comprometida; dade de escolha e, no caso de recusa em participar ou continuar
VII – o direito à visita diária, não inferior a duas horas, preferen- na pesquisa, não poderá sofrer constrangimentos, punições ou san-
cialmente aberta, em todas as unidades de internação, ressalvadas ções pelos serviços de saúde, sendo necessário, para isso:
as situações técnicas não indicadas; a) que o dirigente do serviço cuide dos aspectos éticos da pes-
VIII – a continuidade das atividades escolares, bem como o es- quisa e estabeleça mecanismos para garantir a decisão livre e escla-
tímulo à recreação, em casos de internação de criança ou adoles- recida da pessoa;
cente; b) que o pesquisador garanta, acompanhe e mantenha a inte-
IX – a informação a respeito de diferentes possibilidades tera- gridade da saúde dos participantes de sua pesquisa, assegurando-
pêuticas, de acordo com sua condição clínica, baseado nas evidên- -lhes os benefícios dos resultados encontrados;
cias científicas, e a relação custo-benefício das alternativas de trata- c) que a pessoa assine o termo de consentimento livre e escla-
mento, com direito à recusa, atestado na presença de testemunha; recido.
X – a escolha do local de morte; XI – o direito de se expressar e de ser ouvido nas suas quei-
XI – o direito à escolha de alternativa de tratamento, quando xas, denúncias, necessidades, sugestões e outras manifestações por
houver, e à consideração da recusa de tratamento proposto; meio das ouvidorias, urnas e qualquer outro mecanismo existente,
XII – o recebimento de visita, quando internado, de outros pro- sendo sempre respeitado na privacidade, no sigilo e na confiden-
fissionais de saúde que não pertençam àquela unidade hospitalar, cialidade;
XII – a participação nos processos de indicação e/ou eleição de
sendo facultado a esse profissional o acesso ao prontuário;
seus representantes nas conferências, nos conselhos de saúde e
XIII – a opção de marcação de atendimento por telefone para
nos conselhos gestores da rede SUS.
pessoas com dificuldade de locomoção;
Art. 6º Toda pessoa tem responsabilidade para que seu trata-
XIV – o recebimento de visita de religiosos de qualquer credo,
mento e recuperação sejam adequados e sem interrupção.
sem que isso acarrete mudança da rotina de tratamento e do es-
Parágrafo único. Para que seja cumprido o disposto no caput
tabelecimento e ameaça à segurança ou perturbações a si ou aos
deste artigo, as pessoas deverão:
outros;
I – prestar informações apropriadas nos atendimentos, nas
XV – a não-limitação de acesso aos serviços de saúde por bar- consultas e nas internações sobre:
reiras físicas, tecnológicas e de comunicação; a) queixas;
XVI – a espera por atendimento em lugares protegidos, limpos b) enfermidades e hospitalizações anteriores;
e ventilados, tendo à sua disposição água potável e sanitários, e c) história de uso de medicamentos, drogas, reações alérgicas;
devendo os serviços de saúde se organizar de tal forma que seja d) demais informações sobre seu estado de saúde.
evitada a demora nas filas. II – expressar se compreendeu as informações e orientações
Art. 5º Toda pessoa deve ter seus valores, cultura e direitos res- recebidas e, caso ainda tenha dúvidas, solicitar esclarecimento so-
peitados na relação com os serviços de saúde, garantindo-lhe: bre elas;
I – a escolha do tipo de plano de saúde que melhor lhe convier, III – seguir o plano de tratamento proposto pelo profissional ou
de acordo com as exigências mínimas constantes na legislação, e a pela equipe de saúde responsável pelo seu cuidado, que deve ser
informação, pela operadora, sobre a cobertura, custos e condições compreendido e aceito pela pessoa que também é responsável pelo
do plano que está adquirindo; seu tratamento;
II – o sigilo e a confidencialidade de todas as informações pes- IV – informar ao profissional de saúde ou à equipe responsável
soais, mesmo após a morte, salvo nos casos de risco à saúde públi- sobre qualquer fato que ocorra em relação a sua condição de saúde;
ca; V – assumir a responsabilidade pela recusa a procedimentos,
III – o acesso da pessoa ao conteúdo do seu prontuário ou de exames ou tratamentos recomendados e pelo descumprimento das
pessoa por ele autorizada e a garantia de envio e fornecimento de orientações do profissional ou da equipe de saúde;
cópia, em caso de encaminhamento a outro serviço ou mudança VI – contribuir para o bem-estar de todos nos serviços de saú-
de domicilio; de, evitando ruídos, uso de fumo e derivados do tabaco e bebidas
IV – a obtenção de laudo, relatório e atestado médico, sempre alcoólicas, colaborando com a segurança e a limpeza do ambiente;
que justificado por sua situação de saúde; VII – adotar comportamento respeitoso e cordial com as demais
V – o consentimento livre, voluntário e esclarecido a quaisquer pessoas que usam ou que trabalham no estabelecimento de saúde;
procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, salvo nos VIII – ter em mão seus documentos e, quando solicitados, os
casos que acarretem risco à saúde pública, considerando que o con- resultados de exames que estejam em seu poder;
sentimento anteriormente dado poderá ser revogado a qualquer IX – cumprir as normas dos serviços de saúde, que devem res-
instante, por decisão livre e esclarecida, sem que sejam imputadas guardar todos os princípios desta Portaria;
à pessoa sanções morais, financeiras ou legais; X – ficar atento às situações de sua vida cotidiana que colo-
VI – a não-submissão a nenhum exame de saúde pré-admissio- quem em risco sua saúde e a da comunidade, e adotar medidas
nal, periódico ou demissional, sem conhecimento e consentimento, preventivas;
exceto nos casos de risco coletivo; XI – comunicar aos serviços de saúde, às ouvidorias ou à Vigi-
VII – a indicação, de sua livre escolha, a quem confiará a toma- lância Sanitária irregularidades relacionadas ao uso e à oferta de
da de decisões para a eventualidade de tornar-se incapaz de exer- produtos e serviços que afetem a saúde em ambientes públicos e
cer sua autonomia; privados;

31
LEGISLAÇÃO
XII – desenvolver hábitos, práticas e atividades que melhorem IV – promover as atualizações necessárias nos regimentos e es-
sua saúde e a qualidade de vida; tatutos dos serviços de saúde, adequando-os a esta Portaria;
XIII – comunicar à autoridade sanitária local a ocorrência de V – adotar estratégias para o cumprimento efetivo da legisla-
caso de doença transmissível, quando a situação requerer isola- ção e das normatizações do SUS;
mento ou quarentena da pessoa ou quando a doença constar da VI – promover melhorias contínuas na rede SUS, como a infor-
relação do Ministério da Saúde; matização, para implantar o Cartão SUS e o Prontuário eletrônico,
XIV – não dificultar a aplicação de medidas sanitárias, bem com os objetivos de:
como as ações de fiscalização sanitária. a) otimizar o financiamento;
Art. 7º Toda pessoa tem direito à informação sobre os serviços b) qualificar o atendimento aos serviços de saúde;
de saúde e aos diversos mecanismos de participação. c) melhorar as condições de trabalho;
§ 1º O direito previsto no caput deste artigo, inclui a informa- d) reduzir filas;
ção, com linguagem e meios de comunicação adequados, sobre: e) ampliar e facilitar o acesso nos diferentes serviços de saúde.
I – o direito à saúde, o funcionamento dos serviços de saúde Art. 9º Os direitos e deveres dispostos nesta Portaria consti-
e o SUS; tuem a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde.
II – os mecanismos de participação da sociedade na formula- Parágrafo único. A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde
ção, acompanhamento e fiscalização das políticas e da gestão do deverá ser disponibilizada a todas as pessoas, por meios físicos e na
SUS; internet, no seguinte endereço eletrônico: www.saude.gov.br.
III – as ações de vigilância à saúde coletiva, compreendendo a Art. 10. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental; Art. 11. Fica revogada a Portaria nº 675, de 30 de março de
IV – a interferência das relações e das condições sociais, eco- 2006, publicada no Diário Oficial da União nº 63, de 31 de março de
nômicas, culturais, e ambientais na situação da saúde das pessoas 2006, Seção 1, página 131..
e da coletividade.
§ 2º Os órgãos de saúde deverão informar às pessoas sobre
a rede SUS pelos diversos meios de comunicação, bem como nos PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL
serviços de saúde que compõem essa rede de participação popular
em relação a:
I – endereços; Participação e Controle Social no SUS
II – telefones; Os movimentos sociais ocorridos durante a década de 80 na
III – horários de funcionamento; busca por um Estado democrático aos serviços de saúde impulsio-
IV – ações e procedimentos disponíveis. naram a modificação do modelo vigente de controle social da época
§ 3º Em cada serviço de saúde deverá constar, em local visível que culminou com a criação do SUS a partir da Constituição Fede-
à população: rativa de 1988.
I – o nome do responsável pelo serviço; O objetivo deste texto é realizar uma análise deste modelo de
participação popular e controle social no SUS, bem como favorecer
II – os nomes dos profissionais;
reflexões aos atores envolvidos neste cenário, através de uma pes-
III – o horário de trabalho de cada membro da equipe, inclusive
quisa narrativa baseada em publicações relevantes produzidas no
do responsável pelo serviço;
Brasil nos últimos 11 anos.
IV – as ações e procedimentos disponíveis.
§ 4º As informações prestadas à população devem ser claras
É insuficiente o controle social estar apenas na lei, é preciso
para propiciar sua compreensão por toda e qualquer pessoa.
que este aconteça na prática. Entretanto, a sociedade civil, ainda
§ 5º Os conselhos de saúde deverão informar à população so-
não ocupa de forma efetiva esses espaços de participação.
bre: O processo de criação do SUS teve início a partir das defini-
I – formas de participação; ções legais estabelecidas pela nova Constituição Federal do Brasil
II – composição do conselho de saúde; de 1988, sendo consolidado e regulamentado com as Leis Orgânicas
III – regimento interno dos conselhos; da Saúde (LOA), n° 8080/90 e n° 8.142/90, sendo estabelecidas nes-
IV – conferências de saúde; tas as diretrizes e normas que direcionam o novo sistema de saúde,
V – data, local e pauta das reuniões; bem como aspectos relacionados a sua organização e funcionamen-
VI – deliberações e ações desencadeadas. to, critérios de repasses para os estados e municípios além de disci-
§ 6º O direito previsto no caput desse artigo inclui a participa- plinar o controle social no SUS em conformidade com as represen-
ção de conselhos e conferências de saúde e o direito de representar tações dos critérios estaduais e municipais de saúde (FINKELMAN,
e ser representado em todos os mecanismos de participação e de 2002; FARIA, 2003; SOUZA, 2003).
controle social do SUS. O SUS nos trouxe a ampliação da assistência à saúde para a
Art. 8º Toda pessoa tem direito a participar dos conselhos e coletividade, possibilitando, com isso, um novo olhar às ações, ser-
conferências de saúde e de exigir que os gestores cumpram os prin- viços e práticas assistenciais. Sendo estas norteadas pelos princí-
cípios anteriores. pios e diretrizes: Universalidade de acesso aos serviços de saúde;
Parágrafo único. Os gestores do SUS, nas três esferas de gover- Integralidade da assistência; Equidade; Descentralização Político-
no e para observância desses princípios, comprometem-se a: -administrativa; Participação da comunidade; regionalização e hie-
I – promover o respeito e o cumprimento desses direitos e de- rarquização (REIS, 2003). A participação popular e o controle social
veres, com a adoção de medidas progressivas para sua efetivação; em saúde, dentre os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS),
II – adotar as providências necessárias para subsidiar a divul- destacam-se como de grande relevância social e política, pois se
gação desta Portaria, inserindo em suas ações as diretrizes relativas constituem na garantia de que a população participará do processo
aos direitos e deveres das pessoas; de formulação e controle das políticas públicas de saúde.
III – incentivar e implementar formas de participação dos tra- No Brasil, o controle social se refere à participação da comu-
balhadores e usuários nas instâncias, e participação de controle so- nidade no processo decisório sobre políticas públicas e ao contro-
cial do SUS; le sobre a ação do Estado (ARANTES et al., 2007). Nesse contex-

32
LEGISLAÇÃO
to, enfatiza-se a institucionalização de espaços de participação da um controle da sociedade civil sobre o Estado, sendo incorporada
comunidade no cotidiano do serviço de saúde, através da garantia pela nova Constituição Federal de 1988 juntamente com a criação
da participação no planejamento do enfrentamento dos problemas do SUS (CONASS, 2003).
priorizados, execução e avaliação das ações, processo no qual a par- A participação popular na gestão da saúde é prevista pela Cons-
ticipação popular deve ser garantida e incentivada (BRASIL, 2006). tituição Federal de 1998, em seu artigo 198, que trata das diretrizes
do SUS: descentralização, integralidade e a participação da comuni-
Sendo o SUS a primeira política pública no Brasil a adotar cons- dade. Essas diretrizes orientam a organização e o funcionamento do
titucionalmente a participação popular como um de seus princí- sistema, com o intuito de torná-lo mais adequado a atender às ne-
pios, esta não somente reitera o exercício do controle social sob as cessidades da população brasileira (BRASIL, 2006; WENDHAUSEN;
práticas de saúde, mas também evidencia a possibilidade de seu BARBOSA; BORBA, 2006; OLIVEIRA, 2003).
exercício através de outros espaços institucionalizados em seu arca- A discussão com ênfase dada ao controle social na nova Cons-
bouço jurídico, além dos reconhecidos pela Lei Orgânica de saúde tituição se expressa em novas diretrizes para a efetivação deste por
de n° 8.142/90, os conselhos e as conferências de saúde. Destaca, meio de instrumentos normativos e da criação legal de espaços ins-
ainda, as audiências públicas e outros mecanismos de audiência da titucionais que garantem a participação da sociedade civil organiza-
sociedade, de usuários e de trabalhadores sociais (CONASS, 2003; da na fiscalização direta do executivo nas três esferas de governo.
BARBOSA, 2009; COSSETIN, 2010). Na atualidade, muitas expressões são utilizadas corriqueiramente
Ademais, a Lei Orgânica da Saúde n.º 8.080/1990 estabelece para caracterizar a participação popular na gestão pública de saú-
em seu art. 12 a criação de comissões intersetoriais subordinadas de, a que consta em nossa Carta Magna e o termo ‘participação da
ao Conselho Nacional de Saúde, com o objetivo de articular as comunidade na saúde’. Porém, iremos utilizar aqui o termo mais
políticas públicas relevantes para a saúde. Entretanto, é a Lei n.° comum em nosso meio: ‘controle social’. Sendo o controle social
8.142/1990 que dispõe sobre a participação social no SUS, definin- uma importante ferramenta de democratização das organizações,
do que a participação popular estará incluída em todas as esferas busca-se adotar uma série de práticas que efetivem a participação
de gestão do SUS. Legitimando assim os interesses da população no da sociedade na gestão (GUIZARDI et al ., 2004).
exercício do controle social (BRASIL, 2009).
Essa perspectiva é considerada uma das formas mais avança- Embora o termo controle social seja o mais utilizado, consi-
das de democracia, pois determina uma nova relação entre o Es- deramos que se trata de um reducionismo, uma vez que este não
tado e a sociedade, de maneira que as decisões sobre as ações na traduz a amplitude do direito assegurado pela nova Constituição
saúde deverão ser negociadas com os representantes da sociedade, Federal de 1988, que permite não só o controle e a fiscalização
uma vez que eles conhecem a realidade da saúde das comunidades. permanente da aplicação de recursos públicos. Este também se
Amiúde, as condições necessárias para que se promova a de- manifesta através da ação, onde cidadãos e políticos têm um papel
mocratização da gestão pública em saúde se debruça com a discus- social a desempenhar através da execução de suas funções, ou ain-
são em torno do controle social em saúde. da através da proposição, onde cidadãos participam da formulação
O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise do de políticas, intervindo em decisões e orientando a Administração
modelo vigente de participação popular e controle social no SUS e Pública quanto às melhores medidas a serem adotadas com objeti-
ainda elucidar questões que permitirão entender melhor a partici- vo de atender aos legítimos interesses públicos (NOGUEIRA, 2004;
pação e o controle social, bem como favorecer algumas reflexões a BRASIL, 2011b; MENEZES, 2010).
todos os atores envolvidos no cenário do SUS.
Fonte: http://cebes.org.br/2013/05/participacao-popular-e-o-controle-
Participação e Controle Social -social-como-diretriz-do-sus-uma-revisao-narrativa/
Após um longo período no qual a população viveu sob um es-
tado ditatorial, com a centralização das decisões, o tecnicismo e Estratégias operacionais e metodológicas para o controle so-
o autoritarismo, durante a década de 1980 ocorreu uma abertura cial
democrática que reconhece a necessidade de revisão do modelo Recomenda-se que o processo de educação permanente para
de saúde vigente na época, com propostas discutidas em ampliar a o controle social no SUS ocorra de forma descentralizada, respei-
participação popular nas decisões e descentralizar a gestão pública tando as especifi cidades e condições locais a fim de que possa ter
em saúde, com vistas a aproximar as decisões do Estado ao cotidia- maior efetividade.
no dos cidadãos brasileiros (DALLARI, 2000; SCHNEIDER et al., 2009; Considerando que os membros do Conselho de Saúde reno-
VANDERLEI; ALMEIDA, 2007). vam-se periodicamente e outros sujeitos sociais alternam-se em
Nessa perspectiva, a dimensão histórica adquire relevância es- suas representações, e o fato de estarem sempre surgindo novas
sencial para a compreensão do controle social, o que pode provocar demandas oriundas das mudanças conjunturais, torna-se necessá-
reações contraditórias. De fato, o controle social foi historicamente rio que o processo de educação permanente para o controle social
exercido pelo Estado sobre a sociedade durante muitos anos, na esteja em constante construção e atualização.
época da ditadura militar. A operacionalização do processo de educação permanente
É oportuno destacar que a ênfase ao controle social que aqui para o controle social no SUS deve considerar a seleção, preparação
será dada refere-se às ações que os cidadãos exercem para moni- do material e a identifi cação de sujeitos sociais que tenham condi-
torar, fiscalizar, avaliar, interferir na gestão estatal e não o inverso. ções de transmitir informações e possam atuar como facilitadores
Pois, como vimos, também denominam-se controle social as ações e incentivadores das discussões sobre os temas a serem tratados.
do Estado para controlar a sociedade, que se dá por meio da legisla- Para isso é importante:
ção, do aparato institucional ou mesmo por meio da força. • identificar as parcerias a serem envolvidas, como: universida-
A organização e mobilização popular realizada na década de 80, des, núcleos de saúde, escolas de saúde pública, técnicos e especia-
do século XX, em prol de um Estado democrático e garantidor do listas autônomos ou ligados a instituições, entidades dos segmentos
acesso universal aos direitos a saúde, coloca em evidência a possibi- sociais representados nos Conselhos, Organização Pan-Americana
lidade de inversão do controle social. Surge, então, a perspectiva de da Saúde (Opas), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Uni-
cef), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e

33
LEGISLAÇÃO
a Cultura (Unesco), Instituto Brasileiro de Administração Municipal • Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho (NOB/ RH
(Ibam), Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – SUS), 2005 (BRASIL, 2005), Diretrizes e Competências da Comis-
(Abrasco) e outras organizações da sociedade que atuem na área são Intergestora Tripartite (CIT), Comissões Intergestoras Bipartites
de saúde. Na identifi cação e articulações das parcerias, deve fi car (CIBs) e das Condições de Gestão dos Estados e Municípios;
clara a atribuição dos conselhos, conselheiros e parceiros; • Constituição do Estado e Leis Orgânicas do Estado, do Distrito
• realizar as atividades de educação permanente para os con- Federal e Município;
selheiros e os demais sujeitos sociais de acordo com a realidade • Seleção de Deliberações do Conselho Estadual de Saúde
local, garantindo uma carga horária que possibilite a participação e (CES), Conselho Municipal de Saúde (CMS) e pactuações das Comis-
a ampla discussão dos temas, democratização das informações e a sões Intergestoras Tripartite e Bipartite;
utilização de técnicas pedagógicas para o controle social que facili- • Resoluções e deliberações do Conselho de Saúde relaciona-
tem a construção dos conteúdos teóricos e, também, a interação do das à Gestão em Saúde: Plano de Saúde, Financiamento, Normas,
grupo. Sugere-se que as atividades de educação permanente para Direção e Execução, Planejamento – que compreende programa-
o controle social no SUS sejam enfocadas em dois níveis: um geral, ção, orçamento, acompanhamento e avaliação;
garantindo a representação de todos os segmentos, e outro específi • Resolução do Conselho Nacional de Saúde n.º 333/2003
co, que poderá ser estruturado e oferecido de acordo com o inte- (BRASIL, 2003c), Resolução n.º 322/2003 (BRASIL, 2003b), Resolu-
resse ou a necessidade dos segmentos que compõem os Conselhos ção n.º 196/96 (BRASIL, 1996) e outras correspondentes com mes-
de Saúde e os demais órgãos da sociedade. mo mérito, e deliberações no campo do controle social – formula-
ção de estratégias e controle da execução pelos Conselhos de Saúde
Para promover o alcance dos objetivos do processo de edu- e pela sociedade.
cação permanente para o controle social no SUS, recomenda-se a
utilização de metodologias que busquem a construção coletiva de A definição dos conteúdos básicos de educação permanente
conhecimentos, baseada na experiência do grupo, levando-se em para o controle social no SUS deve ser objeto de deliberação pelos
consideração o conhecimento como prática concreta e real dos su- plenários dos Conselhos de Saúde nas suas respectivas esferas go-
jeitos a partir de suas vivências e histórias. Metodologias essas que vernamentais.
ultrapassem as velhas formas autoritárias de lidar com a aprendiza- Recomenda-se que, para esse processo, seja prevista a criação
gem e muitas vezes utilizadas como, por exemplo, a da comunica- de instrumentos de acompanhamento e avaliação dos resultados
ção unilateral, que transforma o indivíduo num mero receptor de das atividades
teorias e conteúdos.
Recomenda-se, também, a utilização de dinâmicas que propi- Responsabilidades
ciem um ambiente de troca de experiências, de refl exões pertinen-
tes à atuação dos Conselheiros de Saúde e dos sujeitos sociais e de Esferas governamentais
técnicas que favoreçam a sua participação e integração, como, por Compete ao Estado, nas três esferas do governo:
exemplo, reuniões de grupo, plenárias, estudos dirigidos, seminá- a) Oferecer todas as condições necessárias para que o processo
rios, ofi cinas, todos envolvendo debates. de educação permanente para o controle social ocorra, garantindo
A 12.ª Conferência Nacional de Saúde (CONFERÊNCIA..., 2005) o pleno funcionamento dos Conselhos de Saúde e a realização das
recomendou a realização de ações para educação permanente e ações para a educação permanente e controle social dos demais
propôs que as atividades do Conselheiro de Saúde fossem consi- sujeitos sociais.
deradas de relevância pública. Essa proposição foi contemplada na b) Promover o apoio à produção de materiais didáticos desti-
Resolução n.º 333/2003 (BRASIL, 2003c), aprovada pelo Conselho nados às atividades de educação permanente para o controle social
Nacional de Saúde, que garante ao Conselheiro de Saúde a dis- no SUS, ao desenvolvimento e utilização de métodos, técnicas e fo-
pensa, sem prejuízo, do seu trabalho, para participar das reuniões, mento à pesquisa que contribuam para esse processo.
eventos, capacitações e ações específi cas do Conselho de Saúde.
Assim, o processo proposto, especialmente, no que diz respei- Ministério da Saúde
to aos Conselhos de Saúde deve dar conta da intensa renovação de a) Incentivar e apoiar, inclusive nos aspectos fi nanceiros e téc-
Conselheiros de Saúde, que ocorre em razão do final dos manda- nicos, as instâncias estaduais, municipais e do Distrito Federal para
tos, ou por decisão da instituição ou entidade de substituir o seu o processo de elaboração e execução da política de educação per-
representante. Isto requer, no mínimo, a oferta de material básico manente para o controle social no SUS;
informativo, uma capacitação inicial promovida pelo Conselho de b) Manter disponível e atualizado o acervo de referências sobre
Saúde e a garantia de mecanismos que disponibilizem informações saúde e oferecer material informativo básico e audiovisual que pro-
picie a veiculação de temas de interesse geral em saúde, tais como:
aos novos Conselheiros.
legislação, orçamento, direitos em saúde, modelo assistencial, mo-
delo de gestão e outros.
Sugestões de material de apoio:
• Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU);
• Declaração dos Direitos da Criança e Adolescente (Unicef);
• Declaração de Otawa, Declaração de Bogotá e outras; AÇÕES E PROGRAMAS DO SUS
• Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2003) – Capítulo da
Ordem Social;
Cartão Nacional de Saúde (CNS)
• Leis Federais: 8.080/90 (BRASIL, 1990a), 8.142/90 (BRASIL, O Cartão Nacional de Saúde (CNS) é o documento de identifi-
1990b), 8.689/93 (BRASIL, 1993), 9.656/98 (BRASIL, 1998) e respec- cação do usuário do SUS. Este contém as informações como dados
tivas Medidas Provisórias; pessoais, contatos, além de RG e CPF.
• Relatórios das Conferências Nacionais de Saúde;
• Normas Operacionais do SUS;

34
LEGISLAÇÃO
DigiSUS - Estratégia de Saúde Digital para o Brasil Programa Saúde na Escola
Estratégia de incorporação da saúde digital (e-Saúde) no SUS, O Programa Saúde na Escola (PSE) visa à integração e articula-
visando à melhoria da qualidade dos serviços, dos processos e da ção permanente da educação e da saúde, proporcionando melhoria
atenção à saúde, por meio da disponibilização e uso de informação da qualidade de vida da população brasileira. Como consolidar essa
abrangente, precisa e segura. atitude dentro das escolas? Essa é a questão que nos guiou para
elaboração da metodologia das Agendas de Educação e Saúde, a
Estratégia Saúde da Família (ESF) serem executadas como projetos didáticos nas Escolas.
O projeto propõe a reorganização da atenção básica no País, de O PSE tem como objetivo contribuir para a formação integral
acordo com os preceitos do SUS, a partir da expansão, qualificação dos estudantes por meio de ações de promoção, prevenção e aten-
e consolidação do atendimento prestado. ção à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que
comprometem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens da
HumanizaSUS rede pública de ensino.
A Política Nacional de Humanização (PNH) existe desde 2003 O público beneficiário do PSE são os estudantes da Educação
para efetivar os princípios do SUS nas práticas de atenção e gestão, Básica, gestores e profissionais de educação e saúde, comunidade
qualificando a saúde pública no Brasil. escolar e, de forma mais amplificada, estudantes da Rede Federal
de Educação Profissional e Tecnológica e da Educação de Jovens e
Melhor em Casa - Serviço de Atenção Domiciliar Adultos (EJA).
Serviço presta atenção à saúde na moradia do paciente, ofere- As atividades de educação e saúde do PSE ocorrerão nos Terri-
cendo prevenção e tratamento de doenças e reabilitação, a fim de tórios definidos segundo a área de abrangência da Estratégia Saú-
garantir a continuidade do cuidado pelo SUS. de da Família (Ministério da Saúde), tornando possível o exercício
de criação de núcleos e ligações entre os equipamentos públicos
Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil Sorridente) da saúde e da educação (escolas, centros de saúde, áreas de lazer
Política reúne uma série de medidas para garantir ações de como praças e ginásios esportivos, etc).
promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal dos brasileiros. No PSE a criação dos Territórios locais é elaborada a partir das
estratégias firmadas entre a escola, a partir de seu projeto político-
Programa Farmácia Popular do Brasil -pedagógico e a unidade básica de saúde. O planejamento destas
O Programa foi criado com o objetivo de oferecer o acesso da ações do PSE considera: o contexto escolar e social, o diagnóstico
população aos medicamentos considerados essenciais, como parte local em saúde do escolar e a capacidade operativa em saúde do
da Política Nacional de Assistência Farmacêutica. escolar.
A Escola é a área institucional privilegiada deste encontro da
Programa Nacional de Controle do Tabagismo educação e da saúde: espaço para a convivência social e para o es-
O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de fu- tabelecimento de relações favoráveis à promoção da saúde pelo
mantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consu- viés de uma Educação Integral.
mo de derivados do tabaco. Para o alcance dos objetivos e sucesso do PSE é de fundamental
importância compreender a Educação Integral como um conceito
Programa Mais Médicos que compreende a proteção, a atenção e o pleno desenvolvimento
O projeto propõe a melhoria do atendimento aos usuários do da comunidade escolar. Na esfera da saúde, as práticas das equipes
SUS, levando médicos para regiões onde há escassez ou ausência de Saúde da Família, incluem prevenção, promoção, recuperação e
desses profissionais. manutenção da saúde dos indivíduos e coletivos humanos.
Para alcançar estes propósitos o PSE foi constituído por cinco
Programa Nacional de Segurança do Paciente componentes:
O PNSP objetiva contribuir para a qualificação do cuidado em a) Avaliação das Condições de Saúde das crianças, adolescen-
saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacio- tes e jovens que estão na escola pública;
nal. b) Promoção da Saúde e de atividades de Prevenção;
Rede Cegonha c) Educação Permanente e Capacitação dos Profissionais da
Estratégia reúne um pacote de ações para garantir o atendi- Educação e da Saúde e de Jovens;
mento de qualidade, seguro e humanizado para mulheres, da gravi- d) Monitoramento e Avaliação da Saúde dos Estudantes;
dez até os dois primeiros anos de vida da criança. e) Monitoramento e Avaliação do Programa.

Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) Mais do que uma estratégia de integração das políticas seto-
Modelo propõe um novo modelo de atenção em saúde mental, riais, o PSE se propõe a ser um novo desenho da política de educa-
a partir do acesso e a promoção de direitos das pessoas, baseado na ção e saúde já que:
convivência dentro da sociedade. (1) trata a saúde e educação integrais como parte de uma for-
mação ampla para a cidadania e o usufruto pleno dos direitos hu-
SAMU 192 - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência manos;
Serviço disponibiliza atendimento pré-hospitalar a vítimas em (2) permite a progressiva ampliação das ações executadas pe-
situação de urgência ou emergência, que possam levar a sofrimen- los sistemas de saúde e educação com vistas à atenção integral à
to, a sequelas ou mesmo à morte. saúde de crianças e adolescentes; e
(3) promove a articulação de saberes, a participação de estu-
UPA 24h - Unidade de Pronto Atendimento dantes, pais, comunidade escolar e sociedade em geral na constru-
Serviço concentra atendimentos de saúde de complexidade in- ção e controle social da política pública.
termediária, compondo uma rede organizada em conjunto com a
Atenção Básica e a Atenção Hospitalar.

35
LEGISLAÇÃO
Nos quadros a seguir, estão expostos os tópicos principais do estadual e municipal gestoras do Sistema Único de Saúde, de acor-
Projeto Municipal, elaborado no processo de adesão ao PSE pelo do com as respectivas competências, critérios e demais disposições
Grupo de Trabalho Intersetorial (GTI) e, na seqüência, a proposta da das Leis n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8. 142, de 28 de
Agenda de Educação e Saúde, como estratégia de implementação dezembro de 1990”.
nos territórios da escola. Ao se preservar o INAMPS, preservou-se também a sua lógica
de financiamento e de alocação de recursos financeiros. Dessa for-
ma, o SUS inicia a sua atuação na área da assistência à saúde com
caráter universal, utilizando-se de uma instituição que tinha sido
LEGISLAÇÃO BÁSICA DO SUS criada e organizada para prestar assistência a uma parcela limitada
da população.
Sistema Público Brasileiro Uma das consequências desta “preservação” foi o estabeleci-
Uma primeira e grande conquista do Movimento da Reforma mento de limites físicos e financeiros para as unidades federadas
Sanitária foi, em 1988, a definição na Constituição Federal (CF) re- na lógica do INAMPS, que garantiria a manutenção da situação até
lativa ao setor saúde. então vigente. Ou seja, o SUS não adotou uma lógica própria para
O Art. 196 da CF conceitua que “a saúde é direito de todos e de- financiar a assistência à saúde de toda a população o que signifi-
ver do Estado(...)”. Aqui se define de maneira clara a universalidade caria um grande remanejamento da alocação de recursos entre os
da cobertura do Sistema Único de Saúde. estados. Essa medida, sem dúvidas, geraria uma forte reação políti-
Já o parágrafo único do Art. 198 determina que: “o sistema ca dos estados mais desenvolvidos e que contavam com uma maior
único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com re- proporção de recursos.
cursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, A primeira alocação de recursos feita pelo Ministério da Saúde,
do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes”. Esta na condição de gestor federal do SUS, baseou-se, fundamentalmen-
questão é de extrema importância, pois, em todo debate sobre o te, na situação deixada pelo INAMPS, como resultado da capacida-
financiamento do SUS, a ênfase é na participação da União, como se de instalada dos serviços de saúde, construída ao longo do tempo
esta fosse a única responsável. Um dos fatores determinantes deste para atender à população previdenciária, e carregou consigo uma
entendimento foi, provavelmente, o papel do INAMPS no início do imensa desigualdade na divisão dos recursos entre os estados pois,
SUS, como veremos mais adiante. agora, a assistência passava a ter um caráter universal.
Um passo significativo na direção do cumprimento da deter- Porém, a manutenção do INAMPS e de sua lógica de financia-
minação constitucional de construção do Sistema Único de Saúde mento não evitou que, a partir de maio de 1993 e, portanto, pouco
foi a publicação do decreto n.º 99.060, de 7 de março de 1990, que antes da sua extinção (em 27 de julho de 1993), o Ministério da
transferiu o INAMPS do Ministério da Previdência para o Ministé- Previdência Social deixasse de repassar para o Ministério da Saú-
rio da Saúde. Esse fato, portanto, foi anterior à promulgação da Lei de recursos da previdência social criando uma enorme defasagem
8.080, que só veio a ocorrer em setembro do mesmo ano. entre a nova responsabilidade constitucional e a disponibilidade
A Lei 8.080 instituiu o Sistema Único de Saúde, com comando orçamentária.
único em cada esfera de governo e definiu o Ministério da Saúde Os anos de 1993 e de 1994 foram de grandes dificuldades para
como gestor no âmbito da União. A Lei, no seu Capítulo II – Dos o SUS, pela falta de uma fonte de financiamento que garantisse re-
Princípios e Diretrizes, Art. 7º, estabelece entre os princípios do SUS cursos para honrar os compromissos resultantes das definições da
a “universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os ní- Constituição Federal e da Lei Orgânica da Saúde.
veis de assistência”.
Isso se constituiu numa grande alteração da situação até então Dados Gerais sobre o SUS
vigente. O Brasil passou a contar com um sistema público de saúde O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo,
único e universal. sendo o único a garantir assistência integral e completamente gra-
tuita para a totalidade da população, inclusive aos pacientes porta-
O processo de implantação do SUS dores do HIV, sintomáticos ou não, aos pacientes renais crônicos e
Antes de tudo, é importante destacar que, como descrito an- aos pacientes com câncer. A Rede Ambulatorial do SUS é constituí-
teriormente, o Sistema Único de Saúde começou a ser implantado da por 56.642 unidades, sendo realizados, em média, 350 milhões
por meio de uma estratégia que buscou dar caráter universal à co- de atendimentos ao ano. Esta assistência estende-se da atenção bá-
bertura das ações de saúde, até então proporcionada pelo INAMPS sica até os atendimentos ambulatoriais de alta complexidade.
apenas para os seus beneficiários. No ano de 2001 foram realizadas aproximadamente 250 mi-
lhões de consultas, sendo 165 milhões em atenção básica (consul-
No final da década de 80, o setor público de assistência à saú- tas de pré-natal, puericultura, etc.) e 85 milhões de consultas es-
de mantinha uma estreita relação com o INAMPS, que a partir de pecializadas. Nesse mesmo ano foram realizados 200 milhões de
1990 passou a integrar a estrutura do Ministério da Saúde e que já exames laboratoriais, 6 milhões de exames ultrassonográficos, 79
vinha, nos anos anteriores, participando de modo significativo do milhões de atendimentos de alta complexidade, tais como: tomo-
seu financiamento. grafias, exames hemodinâmicos, ressonância magnética, sessões
Considerando-se essa relação e a continuidade da participação de hemodiálise, de quimioterapia e radioterapia.
do Ministério da Previdência no financiamento do INAMPS, este São 6.493 hospitais, públicos, filantrópicos e privados, com um
foi inicialmente preservado e se constituiu no instrumento para as- total de 487.058 leitos, onde são realizadas em média pouco mais
segurar a continuidade, agora em caráter universal, da assistência de 1 milhão de internações por mês, perfazendo um total de 12,5
médico-hospitalar a ser prestada à população. O INAMPS somente milhões de internações por ano. As internações realizadas vão da
foi extinto pela Lei n° 8.689, de 27 de julho de 1993, portanto quase menor complexidade, tais como internações de crianças com diar-
três anos após a promulgação da lei que instituiu o SUS. reia, até as mais complexas, como a realização de transplantes de
No parágrafo único do seu artigo primeiro, a lei que extinguiu órgãos, cirurgias cardíacas, entre outras que envolvem alta tecno-
o INAMPS estabelecia que: “As funções, competências, atividades logia e custo. Esta área, organizada num Sistema implantado em
e atribuições do INAMPS serão absorvidas pelas instâncias federal, 1990, denominado Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS),

36
LEGISLAÇÃO
constitui-se na maior casuística hospitalar existente no mundo paga Qual a importância da Legislação do SUS?
por um mesmo financiador. Para exemplificar, foram realizadas no A Legislação do SUS é o conjunto de regulamentos e leis que
ano 2000 2,4 milhões de partos, 72 mil cirurgias cardíacas, 420 mil determinam as formas de agir dos três segmentos ligados ao Siste-
internações psiquiátricas, 90 mil atendimentos de politraumatiza- ma Único de Saúde.
dos no sistema de urgência emergência, 7.234 transplantes de ór- Nessa legislação há desde a definição do SUS, suas diretrizes e
gãos, sendo que 2.549 de rim, 385 de fígado e 104 de coração. propósitos, até a estrutura de ação, forma de organização e condu-
São dispendidos, pelo MS recursos da ordem de R$ 10,5 bi- tas do Sistema.
lhões por ano para custeio dos atendimentos ambulatoriais de mé- Considerado como um dos maiores sistemas públicos de saúde
dia e alta complexidade e hospitalares, além de R$ 3 bilhões para a existentes, o SUS é descrito pelo Ministério da Saúde como “um
Atenção Básica. sistema ímpar no mundo, que garante acesso integral, universal e
Em 1995, o SUS realizou 13,2 milhões de internações hospitala- igualitário à população brasileira, do simples atendimento ambula-
res e, em 2001, 12,2 milhões, uma redução de 7,9%. Os gastos, mes- torial aos transplantes de órgãos”.
mo com a redução ocorrida no período, passaram de R$ 3,5 bilhões
em 1995 para R$ 5,1 bilhões em 2001, um crescimento de 43,1%. Constituição Federal - Artigos 196 a 200
No entanto, vale ressaltar que a redução no número de interna- Nos artigos 196, 197, 198, 199 e 200 da Constituição Federal de
ções não ocorreu em todas as Regiões. Enquanto no Sudeste ocor- 1988 encontraremos a obrigação do Estado em prover o acesso às
reu uma redução de 14,8% (mais de 800 mil internações por ano), ações e serviços de saúde, como o sistema deve ser organizado, as
no Centro-Oeste ocorreu um crescimento de 8,2% e no Norte um diretrizes, a participação complementar da rede privada e algumas
crescimento de 7,4%. Este crescimento decorreu, muito provavel- das atribuições do Sistema Único de Saúde. É a partir daqui que a
mente, de ampliação do acesso aos serviços hospitalares, como re- saúde passa a ser includente, ou seja, aqui nasce o SUS.
sultado do aumento significativo de recursos federais alocados nos
estados dessas regiões nos últimos anos. Lei Orgânica da Saúde - Lei 8.080/90
A redução da frequência de internações hospitalares nas Re- Esse é outro tema praticamente obrigatório para estudar pra
giões Nordeste, Sul e Sudeste têm motivos diversos. De um modo concursos! A lei 8080 de 19 de setembro de 1990 também é co-
geral, a evolução da medicina tem levado a que muitos procedi- nhecida como “Lei Orgânica da Saúde” e fala sobre as condições de
mentos que requeriam a internação do paciente passassem a ser promoção, proteção e recuperação da saúde, da organização e do
realizados em regime ambulatorial. No Nordeste, especificamente, funcionamento dos serviços.
a redução se deve, provavelmente, aos avanços obtidos com a Aten- “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o
ção Básica, em particular com a presença de um grande número de Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.”
Agentes Comunitários de Saúde, e dos investimentos realizados em (Lei 8080, Art. 2º)
saneamento básico. A Lei determina que todos têm direito à Saúde, por isso, o SUS
é universal. Para que o Estado garanta essa Saúde, ele precisa de-
LEGISLAÇÃO DO SUS - DIRETRIZES, FUNDAMENTOS E PRINCÍ- senvolver, formular e executar políticas econômicas e sociais que
PIOS DO SUS abranja a todos de modo justo.
A Lei também relaciona fatores Determinantes e Condicionan-
O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma referência mundial en- tes da Saúde, como: educação, lazer, moradia, saneamento, trans-
tre programas de saúde pública no mundo. porte e outros. Assim, a saúde passa a ser entendida não mais como
Criado em 22 de setembro de 1988, o SUS garante que todos ausência de doença, mas como uma série de fatores que, integra-
os brasileiros tenham acesso universal ao sistema público de saúde, dos, promovem o bem-estar.
existindo há mais de 30 anos.
Segundo a Constituição Federal de 88, o SUS é composto pelo: Decreto 7.508 de 2011
1. Ministério da Saúde, O Decreto 7.508 de 28 de Junho de 2011 é a legislação mais
2. Estados (Secretaria Estadual de Saúde – SES); nova do Sistema Único de Saúde que regulamenta a Lei 8.080/90.
3. Municípios (Secretaria Municipal de Saúde – SMS). Ele traz novos termos e resgata outros já existentes que precisam
ser fortalecidos.
Cada segmento desse tem suas próprias responsabilidades O decreto dispõe acerca de: região de saúde, contrato orga-
e são regidos por uma legislação bem definida. Devido a sua alta nizativo de ação pública, portas de entrada, comissões intergesto-
complexidade e importância, a Legislação do SUS é um dos assun- res, mapa da saúde, rede de atenção à saúde, serviços especiais de
tos mais cobrados tanto em provas de concursos e residências, acesso aberto, protocolo clínico e diretriz terapêutica, Relação Na-
quanto no cotidiano no profissional da saúde. cional de Ações e Serviços de Saúde (RENASES), e Relação Nacional
O SUS contrata seus funcionários do quadro efetivo de cada de Medicamentos Essenciais (RENAME).
um dos órgãos através da realização de concursos públicos. Além
disso, para suprir necessidades temporárias são realizados diversos Portarias de consolidação do Ministério da Saúde
processos seletivos. Em 28 de setembro de 2017, o Ministro da Saúde assinou seis
Além da estabilidade garantida, os salários oferecidos pelo SUS Portarias de Consolidação dos Atos Normativos do Ministério, divi-
constituem um dos principais atrativos dos concursos. A remunera- didas em eixos temáticos, que foram publicadas no Diário Oficial da
ção pode ultrapassar R$ 10 mil, para além do acréscimo de vários União nº 190-Suplemento, de 03 de outubro de 2017.
benefícios e gratificações. Segundo o Ministério da Saúde, as Portarias conformam um
Porém, para passar em qualquer concurso na área da Saúde, “código”, que resultou da análise de 17 mil portarias vigentes, onde
você precisará entender profundamente sobre a Legislação do Sis- menos de 5% continham normas ainda válidas. Essas normas foram
tema Único de Saúde. consolidadas no que tem sido denominado como Código do SUS,
lançado pelo Ministro da Saúde.

37
LEGISLAÇÃO
O Código deve facilitar a compreensão de gestores, órgãos de Segundo Benevides e Passos (2005), o conceito de humaniza-
controle e cidadãos; melhorar a gestão das políticas públicas; dar ção expressava, até então, as práticas de saúde fragmentadas li-
maior transparência às regras; e facilitar também a compreensão gadas ao voluntarismo, assistencialismo e paternalismo, com base
do cidadão e dos órgãos de controle na figura ideal do “bom humano”, metro-padrão, que não coincide
com nenhuma existência concreta.
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 01, DE 2017 - Conso-
lidação das normas sobre os direitos e deveres dos usuários da saú- Para os formuladores da PNH, humanização não se restringe
de, a organização e o funcionamento do Sistema Único de Saúde. a “ações humanitárias” e não é realizada por seres humanos im-
Disponível em: buídos de uma “bondade supra-humana” na feitura de “serviços
http://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Legisla- ideais”.
coes/Portaria_Consolidacao_1_28_SETEMBRO_2017.pdf Portanto, a Política assume o desafio de ressignificar o termo
humanização e, ao considerar os usos anteriores, identifica o que
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 02, DE 2017 - Conso- recusar e o que conservar. Segundo Campo (2003):
lidação das normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sistema Todo pensamento comprometido com algum tipo de prática
Único de Saúde. (política, clínica, sanitária, profissional) está obrigado a reconstruir
Disponível em: depois de desconstruir. Criticar, desconstruir, sim; mas, que sejam
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/ explicitadas as sínteses. Sempre há alguma síntese nova, senão se-
prc0002_03_10_2017.html ria a repetição do mesmo.

PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 03, DE 2017 - Con- Daí, a necessidade de ressignificar a humanização em saúde
solidação das normas sobre as redes do Sistema Único de Saúde. através de novas práticas no modo de se fazer o trabalho em saúde
Disponível em: - levando-se em conta que: sujeitos engajados em práticas locais,
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/ quando mobilizados, são capazes de, coletivamente, transformar
prc0003_03_10_2017.html realidades transformando-se a si próprios neste mesmo processo.
Trata-se, então, de investir, a partir desta concepção de humano,
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 04, DE 2017 - Conso- na produção de outras formas de interação entre os sujeitos que
lidação das normas sobre os sistemas e os subsistemas do Sistema constituem os sistemas de saúde, deles usufruem e neles se trans-
Único de Saúde. formam. (BENEVIDES e PASSOS, 2005, p.390)
Avançando na perspectiva da transdisciplinaridade, a PNH pro-
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 05, DE 2017 - Conso- põe uma atuação que leve à “ampliação da garantia de direitos e o
lidação das normas sobre as ações e os serviços de saúde do Siste- aprimoramento da vida em sociedade”. Com isso, já deixa vislum-
ma Único de Saúde. brar a complexidade acerca do que se pode constituir como âmbito
Disponível em: de monitoramento e avaliação da humanização em saúde, desa-
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/ fiando para a necessidade de “inventar” indicadores capazes de
prc0005_03_10_2017.html#TITULOI dimensionar e expressar não somente mudanças nos quadros de
saúde-doença, mas provocar e buscar outros reflexos e repercus-
sões, em outros níveis de representações e realizações dos sujeitos
PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO MS/GM Nº 06, DE 2017 - Con-
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
solidação das normas sobre o financiamento e a transferência dos
recursos federais para as ações e os serviços de saúde do Sistema
A Política de Humanização parte de conceitos e dispositivos
Único de Saúde. 1
que visam à reorganização dos processos de trabalho em saúde,
Disponível em:
propondo centralmente transformações nas relações sociais, que
http://www.saude.sc.gov.br/index.php/documentos/infor-
envolvem trabalhadores e gestores em sua experiência cotidia-
macoes-gerais/atencao-basica/portarias-ab-aps/saude-mental-1/
na de organização e condução de serviços; e transformações nas
14637-portaria-de-consolidacao-n-6/file formas de produzir e prestar serviços à população. Pelo lado da
gestão, busca-se a implementação de instâncias colegiadas e hori-
zontalização das “linhas de mando”, valorizando a participação dos
POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO atores, o trabalho em equipe, a chamada “comunicação lateral”, e
democratizando os processos decisórios, com corresponsabilização
de gestores, trabalhadores e usuários.
A Política Nacional de Humanização (PNH) é outra proposta No campo da atenção, têm-se como diretrizes centrais a aces-
implantada pelo SUS que vem para contribuir para que se consiga sibilidade e integralidade da assistência, permeadas pela garantia
reorganizar o sistema a partir da sua consolidação e visa assegurar de vínculo entre os serviços/trabalhadores e população, e avançan-
a atenção integral à população como estratégia de ampliação do do para o que se tem nomeado como “clínica ampliada”, capaz de
direito e cidadania das pessoas. Formulada e lançada pelo Ministé- melhor lidar com as necessidades dos sujeitos.
rio da Saúde em 2003, apresentada ao Conselho Nacional de Saúde
(CNS) em 2004, protagoniza propostas de mudança dos modelos de Para propiciar essas mudanças, almejam-se também trans-
gestão e de atenção no cotidiano dos serviços de saúde, propondo- formações no campo da formação, com estratégias de educação
-os indissociáveis. permanente e de aumento da capacidade dos trabalhadores para
analisar e intervir em seus processos de trabalho (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004).

Ao considerar que humanização implica produzir sujeitos no


processo de trabalho, a PNH está alicerçada em quatro eixos estru-
1 Fonte: www.bvsms.saude.gov.br/www.editorasanar.com.br/www.ccs.saude.
turantes e intercessores: atenção, gestão, formação e comunica-
gov.br/www.sogi8.sogi.com.br

38
LEGISLAÇÃO
ção, estes eixos concebidos no referencial teórico-político do Hu- Consultores - Tem a função de realizar apoio institucional
maniza SUS, apontam para marcas e objetivos centrais que deverão compreendido em: Divulgação e sensibilização para implantação
permear a atenção e a gestão em saúde. da PNH no SUS, realizando reuniões com Gestores Estaduais, das
Como exemplos dessas marcas desejadas para os serviços, macrorregiões e dos Municípios; Superintendentes/Diretores de
podem-se destacar: a responsabilização e vínculo efetivos dos pro- Hospitais (Federais, Estaduais e Municipais), Conselhos de Saúde,
fissionais para com o usuário; o seu acolhimento em tempo com- Movimentos Sociais e Instituições Formadoras, abertas à partici-
patível com a gravidade de seu quadro, reduzindo filas e tempo de pação dos trabalhadores e usuários do Sistema; Divulgação, sen-
espera para atendimento; a garantia dos direitos do código dos sibilização, formação e capacitação de trabalhadores, extensivas a
usuários do SUS; a garantia de gestão participativa aos trabalhado- gestores e usuários do SUS, para implementação das diretrizes e
res e usuários; estratégias de qualificação e valorização dos traba- dos dispositivos da PNH, com base no Plano de Ação; Participação
lhadores, incluindo educação permanente, entre outros. em Eventos do MS, da PNH ou outros públicos; Produção de Conhe-
cimento: elaboração teórico-metodológica na/da PNH; Construir
Como uma estratégia de qualificação da atenção e gestão do interfaces com outras áreas técnicas do MS; Participar de reuniões
trabalho, a humanização almeja o alcance dos usuários e também a pautando a divulgação da Política (MORI, 2009).
valorização dos trabalhadores; seus indicadores devem, portanto,
refletir as transformações no âmbito da produção dos serviços (mu- Núcleo Técnico - Tem a função de apoiar a implementação da
danças nos processos, organização, resolubilidade e qualidade) e PNH desenvolvendo ações técnico-político-administrativas intrami-
da produção de sujeitos, mobilização, crescimento, autonomia dos nisterial e interministeriais; articular a sociedade civil e assessorar a
trabalhadores e usuários (SANTOS, 2007) coordenação nacional e consultores.
No eixo da gestão buscam-se ações para articular a PNH com Concomitante à reconstrução dos pilares teórico-políticos e
áreas do Ministério da Saúde (MS) e com demais esferas do SUS. abertura de várias frentes de trabalho, a PNH reconhece a necessi-
Neste eixo destaca-se o apoio institucional, focado na gestão do dade de que todos incorporem “olhar avaliativo” nos processos de
processo de produção de saúde, base estruturante da PNH. Para trabalho em desenvolvimento e, portanto, acorda-se o desafio de
Campos (2003), apoiar é: que a avaliação se constitua como um dispositivo da Política (MORI,
Articular os objetivos institucionais aos saberes e interesses 2009).
dos trabalhadores e usuários. Indica uma pressão de fora, implica
trazer algo externo ao grupo que opera os processos de trabalho Além da clínica ampliada e implantação da PNH, o Programa
ou que recebem bens ou serviços. Quem apoia, sustenta e empurra de Saúde da Família (PSF), no contexto da política de saúde brasi-
o outro sendo, em decorrência, também sustentado e empurrado leira, também vem contribuindo para a construção e consolidação
pela equipe “objeto” da intervenção. Tudo misturado e ao mesmo do SUS. Tendo em sua base os pressupostos do SUS, a estratégia
tempo. (CAMPOS, 2003, p.87) do PSF traz no centro de sua proposta a expectativa relativa à reo-
rientação do modelo assistencial a partir da atenção básica (BRASIL,
Quanto à atenção propõe uma Política de Atenção à Saúde “in- 1997).
centivadora de ações integrais, promocionais e intersetoriais, ino-
vando nos processos de trabalho que buscam o compartilhamento Para entendermos o alcance e os limites desta proposta, é es-
dos cuidados, resultando em aumento de autonomia e protagonis- sencial entendermos o que traduz um modelo assistencial e, sobre-
mo dos sujeitos envolvidos” (BRASIL, 2006a, p.22). tudo, o que implica sua reorientação. Segundo Paim (2003, p.568),
o modelo de atenção ou modo assistencial:
A PNH investe em alguns parâmetros para orientar a implanta- ... é uma dada forma de combinar técnicas e tecnologias para
ção de algumas ações de humanização; oferta dispositivos/modos resolver problemas e atender necessidades de saúde individuais e
de fazer um “SUS que dá certo”, com apoio às equipes que atuam coletivas. É uma razão de ser, uma racionalidade, uma espécie de
na atenção básica, especializada, hospitalar, de urgência e emer- lógica que orienta a ação.
gência e alta complexidade.
Esta concepção de modelo assistencial fundamenta a consi-
No eixo da formação, propõe que a PNH passe a compor o con- deração de que o fenômeno isolado de expansão do número de
teúdo profissionalizante na graduação, pós-graduação e extensão equipes de saúde da família implementadas até então não garante
em saúde, vinculando-se aos processos de educação permanente e a construção de um novo modelo assistencial.
às instituições formadoras de trabalhadores de saúde. A expansão do PSF tem favorecido a equidade e universalidade
No eixo da informação/comunicação, prioriza incluir a PNH na da assistência, uma vez que as equipes têm sido implantadas priori-
agenda de debates da saúde, além da articulação de atividades de tariamente, em comunidades antes restritas, quanto ao acesso aos
caráter educativo e formativo com as de caráter informativo, de serviços de saúde.
divulgação e sensibilização para os conceitos e temas da humani- Para a reorganização da atenção básica, a que se propõe a es-
zação. tratégia do PSF, reconhece-se a necessidade de reorientação das
práticas de saúde, bem como de renovação dos vínculos de com-
Coordenação Nacional – Tem a função de promover a articu- promisso e de corresponsabilidade entre os serviços e a população
lação técnico-política da Secretaria Executiva/MS, objetivando a assistida.
transversalização da PNH nas demais políticas e programas do MS;
representar o MS na difusão e sensibilização da PNH nas várias Cordeiro (1996) avalia que o desenvolvimento de um novo
instâncias do SUS, Conselho Nacional de Secretarias Estaduais (CO- modelo assistencial baseado nos princípios do PSF não implica um
NASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais (CONASEMS), retrocesso quanto à incorporação de tecnologias avançadas, con-
CNS, Instituições Formadoras de Saúde e Congresso Nacional; coor- forme a compreensão inicial de que o PSF corresponderia a uma
denar a construção das ações e o processo de implementação nas medicina simplificada destinada para os pobres; antes disso, tal
diversas instâncias do SUS (MORI, 2009). proposta demanda a reorganização dos conteúdos dos saberes e

39
LEGISLAÇÃO
práticas de saúde, de forma que estes reflitam os pressupostos do em sintonia com melhores condições de trabalho e de participa-
SUS no fazer cotidiano dos profissionais. Admite-se, nesta perspec- ção dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de
tiva, que o PSF “requer alta complexidade tecnológica nos campos saúde (princípio da indissociabilidade entre atenção e gestão). Este
do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades e de mu- voltar-se para as experiências concretas se dá por considerar o hu-
danças de atitudes (BRASIL, 1997, p.9). mano em sua capacidade criadora e singular inseparável, entretan-
Pensar no PSF como estratégia de reorganização do modelo to, dos movimentos coletivos que o constituem.
assistencial sinaliza a ruptura com práticas convencionais e hege- Orientada pelos princípios da transversalidade e da indisso-
mônicas de saúde, assim como a adoção de novas tecnologias de ciabilidade entre atenção e gestão, a ‘humanização’ se expressa a
trabalho. Uma compreensão ampliada do processo saúde-doença, partir de 2003 como Política Nacional de Humanização (PNH) (Bra-
assistência integral e continuada a famílias de uma área adscrita sil/Ministério da Saúde, 2004). Como tal, compromete-se com a
são algumas das inovações verificadas no PSF. construção de uma nova relação seja entre as demais políticas e
programas de saúde, seja entre as instâncias de efetuação do Siste-
Ayres (1996) observa que o reconhecimento de sujeitos está ma Único de Saúde (SUS), seja entre os diferentes atores que cons-
no centro de todas as propostas renovadoras identificadas no setor tituem o processo de trabalho em saúde. O aumento do grau de
saúde, dentre as quais se encontram a estratégia do PSF. comunicação em cada grupo e entre os grupos (princípio da trans-
Os objetivos do programa, entre outros, são: a humanização versalidade) e o aumento do grau de democracia institucional por
das práticas em saúde por meio do estabelecimento de vínculo en- meio de processos cogestivos da produção de saúde e do grau de
tre os profissionais e a população, a democratização do conheci- corresponsabilidade no cuidado são decisivos para a mudança que
mento do processo saúde-doença e da produção social da saúde, se pretende.
desenvolvimento da cidadania, levando a população a reconhecer Transformar práticas de saúde exige mudanças no processo de
a saúde como direito, estimulação da organização da comunidade construção dos sujeitos dessas práticas. Somente com trabalhado-
para o efetivo exercício do controle social (BRASIL, 1997). res e usuários protagonistas e co-responsáveis é possível efetivar a
aposta que o SUS faz na universalidade do acesso, na integralidade
Nota-se a partir destes objetivos, a valorização dos sujeitos e do cuidado e na equidade das ofertas em saúde. Por isso, falamos
de sua participação nas atividades desenvolvidas pelas unidades de da ‘humanização’ do SUS (HumanizaSUS) como processo de sub-
saúde da família, bem como na resolutividade dos problemas de jetivação que se efetiva com a alteração dos modelos de atenção
saúde identificados na comunidade. e de gestão em saúde, isto é, novos sujeitos implicados em novas
práticas de saúde. Pensar a saúde como experiência de criação de si
Quanto à reorientação das práticas de saúde, o PSF preten- e de modos de viver é tomar a vida em seu movimento de produção
de oferecer uma atuação centrada nos princípios da vigilância da de normas e não de assujeitamento a elas.
saúde, o que significa que a assistência prestada deve ser integral, Define-se, assim, a ‘humanização’ como a valorização dos pro-
abrangendo todos os momentos e dimensões do processo saúde- cessos de mudança dos sujeitos na produção de saúde.
-doença (MENDES, 1996).
Satisfação do usuário e do trabalhador
Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfer- A satisfação no trabalho é a atitude geral da pessoa face ao
magem/politica-nacional-de-humanizacao/43954 seu trabalho e depende de vários fatores psicossociais. Existem ain-
da outras conceituações que referem-se a satisfação no trabalho
como sinônimo de motivação ou como estado emocional positivo.
Acessibilidade Alguns consideram satisfação e insatisfação como fenômenos dis-
O Sistema Único de Saúde (SUS) é alicerçado em princípios tintos, opostos.
fundamentais para que o direito à saúde aconteça como direito de Influências na satisfação incluem ambiente, higiene, segurança
cidadania e dever do Estado. Há quase uma década, nas discussões no trabalho, o estilo de gestão e da cultura, o envolvimento dos
sobre organização e gestão da política de saúde, é imprescindível trabalhadores, capacitação e trabalho autônomo de grupos, entre
acrescentar às premissas básicas do SUS – universalidade, integrali- muitos outros.
dade, equidade e garantia de acesso -, a acessibilidade.
A acessibilidade deve ser explicitada como exigência e compro- Equidade
misso do SUS a ser respeitado pelos gestores de saúde nas três es- O objetivo da equidade é diminuir desigualdades. Mas isso não
feras de gestão. Isso é fundamental para que pessoas com deficiên- significa que a equidade seja sinônima de igualdade. Apesar de to-
cia não passem por constrangimentos, como ao serem atendidas dos terem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e por isso
nos corredores por não puderem adentrar os consultórios em suas têm necessidades diferentes. Então, equidade é a garantia a todas
cadeiras de rodas. as pessoas, em igualdade de condições, ao acesso às ações e servi-
Mas acessibilidade é mais que a superação de barreiras arqui- ços dos diferentes níveis de complexidade do sistema.
tetônicas. É uma mudança de percepção que exige de nós, Estado e O que determinará as ações será a prioridade epidemiológica
sociedade, um novo olhar sobre as barreiras atitudinais, estas sim, e não o favorecimento, investindo mais onde a carência é maior.
de maior complexidade e mais difícil superação. Sendo assim, todos terão as mesmas condições de acesso, more o
cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras. Todo cidadão
Humanização do cuidado é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades
No campo das políticas públicas de saúde ‘humanização’ diz até o limite do que o sistema pode oferecer para todos.
respeito à transformação dos modelos de atenção e de gestão nos
serviços e sistemas de saúde, indicando a necessária construção de Universalidade
novas relações entre usuários e trabalhadores e destes entre si. Universalidade: É a garantia de atenção à saúde, por parte do
A ‘humanização’ em saúde volta-se para as práticas concretas sistema, a todo e qualquer cidadão (“A saúde é direito de todos e
comprometidas com a produção de saúde e produção de sujeitos dever do Estado” – Art. 196 da Constituição Federal de 1988).
(Campos, 2000) de tal modo que atender melhor o usuário se dá

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LEGISLAÇÃO
Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso Como fazer?
a todos os serviços públicos de saúde, assim como aqueles contra- Com uma escuta qualificada oferecida pelos trabalhadores
tados pelo poder público de saúde, independente de sexo, raça, às necessidades do usuário, é possível garantir o acesso oportu-
renda, ocupação ou outras características sociais ou pessoais. Saú- no desses usuários a tecnologias adequadas às suas necessidades,
de é direito de cidadania e dever do Governo: Municipal, Estadual ampliando a efetividade das práticas de saúde. Isso assegura, por
e Federal. exemplo, que todos sejam atendidos com prioridades a partir da
avaliação de vulnerabilidade, gravidade e risco.
Como valorizar participação de usuário, profissionais e ges-
tores Gestão Participativa e cogestão
As rodas de conversa, o incentivo às redes e movimentos so-
ciais e a gestão dos conflitos gerados pela inclusão das diferenças O que é?
são ferramentas experimentadas nos serviços de saúde a partir das Cogestão expressa tanto a inclusão de novos sujeitos nos pro-
orientações da PNH que já apresentam resultados positivos. cessos de análise e decisão quanto a ampliação das tarefas da ges-
Incluir os trabalhadores na gestão é fundamental para que tão - que se transforma também em espaço de realização de análise
eles, no dia a dia, reinventem seus processos de trabalho e sejam dos contextos, da política em geral e da saúde em particular, em
agentes ativos das mudanças no serviço de saúde. Incluir usuários lugar de formulação e de pactuação de tarefas e de aprendizado
e suas redes sócio-familiares nos processos de cuidado é um pode- coletivo.
roso recurso para a ampliação da corresponsabilização no cuidado
de si. Como fazer?
A organização e experimentação de rodas é uma importante
O Humaniza SUS aposta em inovações em saúde orientação da cogestão. Rodas para colocar as diferenças em conta-
• Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo bra- to de modo a produzir movimentos de desestabilização que favore-
sileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção çam mudanças nas práticas de gestão e de atenção. A PNH destaca
de idade, etnia, origem, gênero e orientação sexual; dois grupos de dispositivos de cogestão: aqueles que dizem respei-
• Estabelecimento de vínculos solidários e de participação co-
to à organização de um espaço coletivo de gestão que permita o
letiva no processo de gestão;
acordo entre necessidades e interesses de usuários, trabalhadores
• Mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas
e gestores; e aqueles que se referem aos mecanismos que garan-
e subjetivas de saúde;
tem a participação ativa de usuários e familiares no cotidiano das
• Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo
unidades de saúde.
de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores;
Colegiados gestores, Mesas de negociação, Contratos Internos
• Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e
de Gestão, Câmara Técnica de Humanização (CTH), Grupo de Tra-
dos coletivos;
balho de Humanização (GTH), Gerência de Porta Aberta, entre ou-
• Aumento do grau de corresponsabilidade na produção de
saúde e de sujeitos; tros, são arranjos de trabalho que permitem a experimentação da
• Mudança nos modelos de atenção e gestão em sua indisso- cogestão no cotidiano da saúde.
ciabilidade, tendo como foco as necessidades dos cidadãos, a pro-
dução de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde, valori- Ambiência
zando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho;
• Proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais O que é?
acolhedor, mais ágil e mais resolutivo; Criar espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis, que res-
• Qualificação do ambiente, melhorando as condições de tra- peitem a privacidade, propiciem mudanças no processo de traba-
balho e de atendimento; lho e sejam lugares de encontro entre as pessoas.
• Articulação dos processos de formação com os serviços e prá-
ticas de saúde; Como fazer?
• Luta por um SUS mais humano, porque construído com a A discussão compartilhada do projeto arquitetônico, das refor-
participação de todos e comprometido com a qualidade dos seus mas e do uso dos espaços de acordo com as necessidades de usuá-
serviços e com a saúde integral para todos e qualquer um. rios e trabalhadores de cada serviço é uma orientação que pode
melhorar o trabalho em saúde.
DIRETRIZES DO HumanizaSUS
Clínica ampliada e compartilhada
Acolhimento
O que é?
O que é? A clínica ampliada é uma ferramenta teórica e prática cuja fi-
Acolher é reconhecer o que o outro traz como legítima e sin- nalidade é contribuir para uma abordagem clínica do adoecimento
gular necessidade de saúde. O acolhimento deve comparecer e e do sofrimento, que considere a singularidade do sujeito e a com-
sustentar a relação entre equipes/serviços e usuários/populações. plexidade do processo saúde/doença. Permite o enfrentamento da
Como valor das práticas de saúde, o acolhimento é construído de fragmentação do conhecimento e das ações de saúde e seus res-
forma coletiva, a partir da análise dos processos de trabalho e tem pectivos danos e ineficácia.
como objetivo a construção de relações de confiança, compromisso
e vínculo entre as equipes/serviços, trabalhador/equipes e usuário Como fazer?
com sua rede sócio-afetiva. Utilizando recursos que permitam enriquecimento dos diag-
nósticos (outras variáveis além do enfoque orgânico, inclusive a
percepção dos afetos produzidos nas relações clínicas) e a qualifica-
ção do diálogo (tanto entre os profissionais de saúde envolvidos no

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LEGISLAÇÃO
tratamento quanto destes com o usuário), de modo a possibilitar danças acontecem com o reconhecimento do papel de cada um.
decisões compartilhadas e compromissadas com a autonomia e a Um SUS humanizado reconhece cada pessoa como legítima cidadã
saúde dos usuários do SUS. de direitos e valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde.

Valorização do Trabalhador Objetivos do HumanizaSUS

O que é? Propósitos da Política Nacional de Humanização da Atenção


É importante dar visibilidade à experiência dos trabalhadores e Gestão do SUS
e incluí-los na tomada de decisão, apostando na sua capacidade de - Contagiar trabalhadores, gestores e usuários do SUS com os
analisar, definir e qualificar os processos de trabalho. princípios e as diretrizes da humanização;
- Fortalecer iniciativas de humanização existentes;
Como fazer? - Desenvolver tecnologias relacionais e de compartilhamento
O Programa de Formação em Saúde e Trabalho e a Comunida- das práticas de gestão e de atenção;
de Ampliada de Pesquisa são possibilidades que tornam possível - Aprimorar, ofertar e divulgar estratégias e metodologias de
o diálogo, intervenção e análise do que gera sofrimento e adoeci- apoio a mudanças sustentáveis dos modelos de atenção e de ges-
mento, do que fortalece o grupo de trabalhadores e do que pro- tão;
picia os acordos de como agir no serviço de saúde. É importante - Implementar processos de acompanhamento e avaliação,
também assegurar a participação dos trabalhadores nos espaços ressaltando saberes gerados no SUS e experiências coletivas bem-
coletivos de gestão. -sucedidas.

Defesa dos Direitos dos Usuários Três macro-objetivos do HumanizaSUS


- Ampliar as ofertas da Política Nacional de Humanização aos
O que é? gestores e aos conselhos de saúde, priorizando a atenção básica/
Os usuários de saúde possuem direitos garantidos por lei e os fundamental e hospitalar, com ênfase nos hospitais de urgência e
serviços de saúde devem incentivar o conhecimento desses direitos universitários;
e assegurar que eles sejam cumpridos em todas as fases do cuida- - Incentivar a inserção da valorização dos trabalhadores do SUS
do, desde a recepção até a alta. na agenda dos gestores, dos conselhos de saúde e das organizações
da sociedade civil;
- Divulgar a Política Nacional de Humanização e ampliar os pro-
Como fazer?
cessos de formação e produção de conhecimento em articulação
Todo cidadão tem direito a uma equipe que cuide dele, de ser
com movimentos sociais e instituições.
informado sobre sua saúde e também de decidir sobre comparti-
lhar ou não sua dor e alegria com sua rede social.
Política Nacional de Humanização busca
- Redução de filas e do tempo de espera, com ampliação do
PRINCÍPIOS DO HumanizaSUS
acesso;
- Atendimento acolhedor e resolutivo baseado em critérios de
Transversalidade risco;
A Política Nacional de Humanização (PNH) deve se fazer pre- - Implantação de modelo de atenção com responsabilização e
sente e estar inserida em todas as políticas e programas do SUS. A vínculo;
PNH busca transformar as relações de trabalho a partir da amplia- - Garantia dos direitos dos usuários;
ção do grau de contato e da comunicação entre as pessoas e gru- - Valorização do trabalho na saúde;
pos, tirando-os do isolamento e das relações de poder hierarquiza- - Gestão participativa nos serviços.
das. Transversalizar é reconhecer que as diferentes especialidades
e práticas de saúde podem conversar com a experiência daquele FORMAÇÃO - INTERVENÇÃO
que é assistido. Juntos, esses saberes podem produzir saúde de for- Por meio de cursos e oficinas de formação/intervenção e a
ma mais corresponsável. partir da discussão dos processos de trabalho, as diretrizes e dis-
positivos da Política Nacional de Humanização (PNH) são vivencia-
Indissociabilidade entre atenção e gestão dos e reinventados no cotidiano dos serviços de saúde. Em todo
As decisões da gestão interferem diretamente na atenção à o Brasil, os trabalhadores são formados técnica e politicamente e
saúde. Por isso, trabalhadores e usuários devem buscar conhecer reconhecidos como multiplicadores e apoiadores da PNH, pois são
como funciona a gestão dos serviços e da rede de saúde, assim os construtores de novas realidades em saúde e poderão se tornar
como participar ativamente do processo de tomada de decisão nas os futuros formadores da PNH em suas localidades.
organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva. Ao mesmo
tempo, o cuidado e a assistência em saúde não se restringem às REDE HumanizaSUS
responsabilidades da equipe de saúde. O usuário e sua rede sócio- A Rede HumanizaSUS é a rede social das pessoas interessa-
-familiar devem também se corresponsabilizar pelo cuidado de si das ou já envolvidas em processos de humanização da gestão e do
nos tratamentos, assumindo posição protagonista com relação a cuidado no SUS. A rede é um local de colaboração, que permite o
sua saúde e a daqueles que lhes são caros. encontro, a troca, a afetação recíproca, o afeto, o conhecimento, o
aprendizado, a expressão livre, a escuta sensível, a polifonia, a arte
Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos da composição, o acolhimento, a multiplicidade de visões, a arte da
e coletivos conversa, a participação de qualquer um.
Qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta se Trata-se de um ambiente virtual aberto para ampliar o diálo-
construída com a ampliação da autonomia e vontade das pessoas go em torno de seus princípios, métodos, diretrizes e dispositivos.
envolvidas, que compartilham responsabilidades. Os usuários não Uma aposta na inteligência coletiva e na constituição de coletivos
são só pacientes, os trabalhadores não só cumprem ordens: as mu- inteligentes.

42
LEGISLAÇÃO
O Coletivo HumanizaSUS se constitui em torno desse imenso Em 18 de janeiro de 2013, foi inaugurado o terceiro hospital
acervo de conhecimento comum, que se produz sem cessar nas público de alta complexidade no interior, construído pelo Governo
interações desta Rede. A grande aposta é que essa experiência do Ceará. O Hospital Regional Norte, em Sobral, atende a população
colaborativa aumente o enfrentamento dos grandes e complexos dos 55 municípios da região. Em 2016, iniciou o funcionamento do
desafios da humanização no SUS. terceiro hospital terciário no interior. Em Quixeramobim, o Hospital
Regional Sertão Central atende a população de 631.037 habitantes
Fonte: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/projeto-lean-nas-e- dos 20 municípios desta região de saúde – rede de assistência.
mergencias/693-acoes-e-programas/40038-humanizasus Além de hospitais, a nova rede de assistência amplia e facilita
o acesso a consultas, exames e cirurgias de média complexidade.
Tudo isso nas policlínicas regionais. São 22 em diferentes regiões de
saúde do Estado. Nelas, a população realiza, com dia e horário mar-
ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE DO ESTADO cados, consultas para especialistas em até 13 áreas da medicina. Na
DO CEARÁ: METAS, PROGRAMAS E AÇÕES EM SAÚDE policlínica, a mulher faz a consulta com o mastologista e tem garan-
tido o exame de mamografia. Ou seja, o atendimento é integral. No
Secretaria caso do homem, é atendido pelo médico urologista e lá mesmo é
A Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) é um órgão encaminhado para exames e diagnóstico da próstata.
da administração direta do Governo Estadual. Gerencia no Estado o A ampliação da rede de assistência veio acompanhada de ino-
Sistema Único de Saúde (SUS). vações tecnológicas. Um dos maiores exemplos de modernidade
tecnológica está no Hospital Regional do Cariri. A população da re-
Propósito gião, incluindo os moradores das regionais de Juazeiro do Norte,
Contribuir para o bem-estar e felicidade das pessoas. Crato, Brejo Santo, Iguatu e Icó, não precisa se deslocar para a capi-
tal para ter acesso à ressonância magnética. A primeira ressonância
Missão magnética na rede pública do interior foi realizada no HRC no dia 6
Promover saúde individual e coletiva para a melhoria da quali- de junho de 2011. Até então, somente o Hospital Geral de Fortaleza,
dade de vida das pessoas. na capital, fazia esse tipo de exame.
Com a rede de assistência ampliada, novos modelos de gestão
Valores foram implantados, com destaque para os consórcios públicos de
a) Resultado centrado no cidadão; saúde. Para fortalecer a regionalização e descentralizar a gestão,
b) Humanização do atendimento; em 2007, a Sesa marcou a história da saúde pública. Os gestores
c) Valorização das pessoas; municipais foram mobilizados para conhecer a inédita estratégia de
d) Transparência; gestão, assumindo, junto com o Governo do Estado, a gestão e o
e) Conhecimento e inovação. custeio das novas unidades de saúde, entre elas as policlínicas e os
Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs regionais). E o que
Visão até 2023 era sonho para democratizar cada vez mais a saúde virou realidade:
Ser referência aos cidadãos como sistema de saúde acessível, a gestão das 20 policlínicas e dos 22 CEOs regionais é através de
sustentável e de equidade, gerador de conhecimento e inovação. consórcios públicos de saúde.

História Conselho Estadual de Saúde


No dia 27 de junho de 1961, o então governador do Ceará, Par- O Conselho Estadual de Saúde – CESAU, criado pelo art. 3º,
inciso VII, da Lei Estadual n º 5.427, de 27 de junho de 1961, con-
sifal Barroso, dividiu a Secretaria de Educação e Saúde em duas:
solidado pela Resolução 07/89 da Comissão Interinstitucional de
Secretaria de Educação e Cultura e Secretaria de Saúde e Assistên-
Saúde, de 1º de março de 1989 e pelo Decreto nº 22.710, de 16 de
cia. A lei que criou a Secretaria de Saúde e Assistência foi a 5.427,
agosto de 1993, redefinido pela Lei nº 12.787, de 29 de dezembro
publicada no Diário Oficial do Estado no dia 28 de junho de 1961.
de 1998, é um órgão colegiado de caráter permanente e delibera-
De lá para cá, a expansão da Sesa, reconhecendo o direito à
tivo, integrante da estrutura organizacional da Secretaria da Saúde
saúde e acompanhando as necessidades da população, é uma rea-
do Estado – SESA, com jurisdição em todo o território do Estado do
lidade. O número de hospitais e unidades que integram a rede es-
Ceará e participação na formulação de estratégias e no controle da
tadual é bem maior. De seis hospitais (Hospital Geral de Fortaleza, execução da política estadual de saúde, inclusive nos aspectos eco-
Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, Hospital nômicos e financeiros, onde lhe compete:
Geral Dr. César Cals, Hospital Infantil Albert Sabin, Hospital São José, I- atuar na formulação e controle da execução da política de
Hospital de Saúde Mental de Messejana), a rede cresceu para treze. saúde, em nível estadual, incluídos seus aspectos econômicos, fi-
A ampliação começou com o Hospital Geral Dr. Waldemar Alcânta- nanceiros, de gerência técnica e administrativa;
ra, que abriu as portas para a população em 2002. II- estabelecer diretrizes para elaboração do Plano Estadual de
No dia 8 de abril de 2011, um marco histórico para a saúde pú- Saúde considerando a realidade epidemiológica do Estado;
blica aconteceu: a inauguração do primeiro hospital público estadual III- estabelecer critérios gerais de controle e avaliação do Sis-
de alta complexidade no interior do Ceará, o Hospital Regional do tema Único de Saúde – SUS – Ceará, com base em parâmetros de
Cariri, em Juazeiro do Norte. Com 294 leitos, foi construído pelo Go- cobertura, cumprimento das metas estabelecidas e outros meca-
verno do Estado para atender 1 milhão e 400 mil habitantes das re- nismos, objetivando o atendimento pleno das atividades de saúde
giões do Cariri e Centro Sul. No mesmo ano, em 1º de junho, a rede da população;
estadual, com gestão direta pela Sesa, ganhou mais um hospital: o IV- propor critérios que definam os padrões de qualidade e de
Hospital Geral da Polícia Militar José Martiniano de Alencar saiu da resolutividade dos serviços de saúde verificando o processo de in-
Secretaria de Segurança e passou a ser da Secretaria da Saúde do Es- corporação dos avanços científicos e tecnológicos na área de saúde;
tado, ganhando estruturas novas com reforma e ampliação dos cen- V- propor critérios às programações e às execuções financeiras
tros de imagem e cirúrgico, além da maternidade. Através de decreto orçamentárias vinculadas aos Fundos de Saúde, acompanhando a
do governador, atualmente o hospital é gerenciado pela Sesa. movimentação e destinação dos recursos;

43
LEGISLAÇÃO
VI- apreciar e acompanhar a proposta orçamentária financeira IV – Intersetorialidade;
da Secretaria da Saúde do Estado do Fundo Estadual de Saúde – V – Promoção do Desenvolvimento Sustentável.
FUNDES e fiscalizar a sua aplicação;
VII- estabelecer diretrizes e critérios quanto à localização, cre- Atenção à Saúde
denciamento e ao tipo de unidade prestadora de serviços de saú- Centro de Educação Permanente em Atenção à Saúde
de, Público, Filantrópico e Privado no âmbito do Sistema Único de Em 2003, foram criadas as Áreas Programáticas de Atenção
Saúde – SUS; Primária à Saúde e Atenção Secundária e Terciária à Saúde, com
VIII- estabelecer critérios para elaboração de convênios, acor- o intuito de promover qualificação, capacitação e aperfeiçoamen-
dos e termos aditivos que se refiram ao SUS; to técnico para os profissionais vinculados à atenção básica e aos
IX- requisitar dados e informações de caráter administrativo, serviços de referência, respectivamente. Face ao novo enfoque em
técnico-financeiro, relativo ao SUS, de órgãos ou entidades públi- Saúde Pública, de reforço à integralidade da atenção à saúde, em
cas, privados e conveniados com o Sistema Único de Saúde; 2007, ocorreu a fusão dessas duas áreas programáticas, através da
X- aprovar critérios e valores complementares à tabela nacional criação da Coordenadoria de Pós-Graduação em Atenção à Saúde.
de remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura assisten- Por ordem do Decreto nº. 30.602, de 15 de julho de 2011, a Coorde-
cial quando necessário; nadoria passou a ser denominada Centro de Educação Permanente
XI- analisar e apurar denúncias, responder consultas sobre as- em Atenção à Saúde.
suntos pertinentes à saúde, bem como examinar recursos a respei-
to das deliberações dos colegiados municipais e outras instâncias Missão
deliberativas na área de saúde do Estado; Promover a melhoria da qualidade da atenção à saúde por
XII- elaborar, alterar e aprovar o Regimento Interno do Conse- meio do desenvolvimento de programas de educação permanente
lho Estadual de Saúde e suas normas de funcionamento; de profissionais de saúde, de projetos de extensão e de investiga-
XIII- aprovar ou homologar planos, projetos e convênios en- ções científicas relevantes.
caminhados pela Comissão Intergestores Bipartite – CIB ou outro
órgão , em assuntos relativos ao SUS e ao processo de descentrali- Foco da área
zação da gestão em saúde; Realização de cursos para capacitação e educação permanen-
XIV- estabelecer diretrizes, apreciar e aprovar trimestralmente te dos profissionais que exercem atividades na rede de atenção à
o plano de aplicação e prestação de contas, bem como supervisio- saúde, por meio de um programa educacional que inclui cursos de
nar e acompanhar a movimentação do Fundo Estadual de Saúde atualização, aperfeiçoamento e especialização para profissionais de
– FUNDES; nível superior, visando a atender demandas específicas e necessida-
XV- acompanhar e homologar a formação, desenvolvimento e des de saúde percebidas. O objetivo é fortalecer a organização do
funcionamento dos Conselhos Regionais e Municipais de Saúde; sistema de saúde, observando normas, leis e decretos oriundos das
XVI- estabelecer critérios para a realização de Conferências de instâncias estadual e federal para a concretização das diretrizes do
Saúde a nível estadual; Sistema Único de Saúde (SUS).
XVII- outras atribuições estabelecidas pelas Leis nº 8.080/90 e
Foco dos cursos
nº 8.142/90, como também atribuições definidas e asseguradas em
Desenvolver e aperfeiçoar competências profissionais para
atos complementares que se refiram à operacionalidade e a gestão
uma atuação efetiva na Atenção Primária, Secundária e Terciária
do Sistema Único de Saúde.
à Saúde, por meio da proposição de estratégias metodológicas
pautadas nos princípios da educação permanente em saúde, que
Membros do Conselho Estadual de Saúde
propiciem uma aprendizagem significativa e uma possibilidade de
Mesa diretora e estrutura organizacional do Cesau
transformação das práticas profissionais.
Comissão Intergestores Bipartite
A Comissão Intergestores Bipartite do Estado do Ceará (CIB-CE)
é um colegiado permanente de gestores da Saúde do Estado e dos
Municípios para discussão e negociação das questões operacionais EXERCÍCIOS
do Sistema Único de Saúde (SUS), instituída pelo Decreto N° 27.574
de 30/09/2004. 1. Segundo o Sistema Único de Saúde SUS, a diretriz da des-
centralização :
Plano Plurianual (PPA) (A) É coerente com a concepção de um Estado federativo obe-
Principal instrumento de planejamento governamental, o Pla- diente a princípios constitucionais que devem ser assegurados
no Plurianual (PPA) estabelece de forma regionalizada, as diretrizes, e exercidos em cada esfera de governo, corresponde à distri-
os objetivos e as metas da administração pública para um período buição de poder político, de responsabilidades e de recursos
de quatro anos. da esfera federal para a estadual e municipal.
A vigência do PPA conecta duas gestões governamentais, bus- (B) Diz respeito a uma organização do sistema que deve focar
cando garantir a continuidade das estratégias previamente dese- a noção de território, onde se determinam perfis populacio-
nhadas e servindo como uma diretiva inicial no primeiro ano de nais, indicadores epidemiológicos, condições de vida e supor-
gestão de um governante. te social, que devem nortear as ações e serviços de saúde de
uma região.
Premissas (C) Uma diretriz da forma de organização e operacionalização
O PPA tem suas bases estabelecidas em premissas essenciais do SUS em todas as suas esferas de gestão.
para a organização da atuação governamental e a implementação (D) Aproxima a gestão municipal dos problemas de saúde, das
das políticas públicas condições de vida e da cultura que estão presentes nos distri-
I – Gestão Pública para Resultados; tos ou regiões que compõem o município, deve ser norteada
II – Participação Cidadã; pela hierarquização dos níveis de complexidade requerida
III – Promoção do Desenvolvimento Territorial; pelas necessidades de saúde das pessoas.

44
LEGISLAÇÃO
2. Segundo o Sistema Único de Saúde SUS, a diretriz da des- 7. Sobre a Política Nacional de Humanização, assinale o item
centralização : verdadeiro que versa sobre o princípio da transversalidade.
(A) É coerente com a concepção de um Estado federativo obe- (A) Deve se fazer presente e estar inserida em todas as po-
diente a princípios constitucionais que devem ser assegurados líticas e programas do SUS de maneira a reconhecer que as
e exercidos em cada esfera de governo, corresponde à distri- diferentes especialidades e práticas de saúde podem interagir
buição de poder político, de responsabilidades e de recursos na perspectiva da corresponsabilidade, ampliando o contato
da esfera federal para a estadual e municipal. e comunicação interpessoal e retirando-as do isolamento e
(B) Diz respeito a uma organização do sistema que deve focar fragmentação
a noção de território, onde se determinam perfis populacio- (B) Deve ser organizada em três níveis de atenção à saúde,
nais, indicadores epidemiológicos, condições de vida e supor- com foco na atenção secundária, sendo esta a ordenadora
te social, que devem nortear as ações e serviços de saúde de do cuidado em rede, partindo-se da criação de Linhas de
uma região. Produção do Cuidado horizontai, e diagonais que supram as
(C) Uma diretriz da forma de organização e operacionalização demandas clínicas dos usuários.
do SUS em todas as suas esferas de gestão. (C) Qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta
(D) Aproxima a gestão municipal dos problemas de saúde, das se construída com a ampliação da autonomia e vontade das
condições de vida e da cultura que estão presentes nos distri- pessoas envolvidas, que compartilham responsabilidades. Os
tos ou regiões que compõem o município, deve ser norteada usuários não são só pacientes, os trabalhadores não só cum-
pela hierarquização dos níveis de complexidade requerida prem ordens: as mudanças acontecem com o reconhecimento
pelas necessidades de saúde das pessoas. do papel de cada um.
(D) trabalhadores e usuários devem buscar conhecer como
3. O processo de transferência de responsabilidades de gestão funciona a gestão dos serviços e da rede de saúde, assim
de saúde para os municípios, atendendo às determinações consti- como participar ativamente do processo de tomada de deci-
tucionais e legais, é o que caracteriza um importante princípio do são nas organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva.
SUS denominado
(A) Equidade. 8. Uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH) no
(B) Universalidade. SUS, que não tem local nem hora certa para acontecer, nem um
(C) Participação Social. profissional específico para fazê-lo e faz parte de todos os encon-
(D) Descentralização. tros do serviço de saúde, chama-se:
(E) Integralidade. (A) Acolhimento
(B) Recepcionamento
4. Assinale a alternativa correta a respeito dos Conselhos de (C) Requerimento
Saúde. (D) Cadastramento
(A) Atuam conjuntamente com os órgãos responsáveis pela
gestão e execução de serviços, compartilhando a prestação
dos serviços de saúde.
(B) Representam a sociedade, e sua composição conta com GABARITO
50% de representantes de usuários do SUS.
(C) Têm caráter permanente, e sua extinção só pode ser reali-
zada por meio de decreto do Executivo. 1 A
(D) São consultivos, e suas decisões são encaminhadas ao 2 A
poder público como recomendação.
3 D
(E) São subordinados ao Poder Executivo, tendo os Secretários
de Saúde como presidentes. 4 B
5 B
5. Todo cidadão, sem qualquer tipo de discriminação, incluindo
os estrangeiros e refugiados, tem acesso ao Sistema Único de Saú- 6 E
de. Trata de um princípio do SUS denominado 7 A
(A) Equidade.
(B) Universalidade. 8 A
(C) Integralidade.
(D) Participação Social.
(E) Solidariedade.

6. Na Política Nacional de Humanização (PNH), a ferramenta


teórica e prática cuja finalidade é contribuir para uma abordagem
clínica do adoecimento e do sofrimento, que considere a singula-
ridade do sujeito e a complexidade do processo saúde/doença é
denominada de:
(A) Autotutela.
(B) Ambiência.
(C) Acolhimento.
(D) Longitudinalidade.
(E) Clínica ampliada.

45
LEGISLAÇÃO

ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

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46
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
1. Modalidades Assistenciais: Hospital-Dia E Assistência Domiciliar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Teorias E Processos De Enfermagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Taxonomias De Diagnósticos De Enfermagem. Atuação Da Enfermagem Em Procedimentos E Métodos Diagnósticos . . . . . . 04
4. Assistência De Enfermagem Ao Adulto Portador De Transtorno Mental; Unidades De Atenção À Saúde Mental: Ambulatório De
Saúde Mental, Centro De Atenção Psicossocial E Hospital Psiquiátrico; Instrumentos De Intervenção De Enfermagem Em Saúde
Mental: Relacionamento Interpessoal, Comunicação Terapêutica, Psicopatologias, Psicofarmacologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Assistência De Enfermagem Em Gerontologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
6. Assistência De Enfermagem Ao Paciente Oncológico Nas Diferentes Fases Da Doença E Tratamentos: Quimioterapia, Radioterapia E
Cirurgias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
7. Procedimentos Técnicos Em Enfermagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
8. Assistência De Enfermagem Perioperatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
9. Assistência De Enfermagem A Pacientes Com Alterações Da Função Cardiovascular E Circulatória; Digestiva E Gastrointestinal; Meta-
bólica E Endócrina; Renal E Do Trato Urinário; Reprodutiva; Tegumentar; Neurológica; Músculoesquelética . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
10. Assistência De Enfermagem Aplicada À Saúde Sexual E Reprodutiva Da Mulher, Com Ênfase Nas Ações De Baixa E Média Complexi-
dade. Assistência De Enfermagem À Gestante, Parturiente E Puérpera. Assistência De Enfermagem Ao Recém-Nascido. Modelos De
Atenção Ao Recém-Nascido, Que Compõem O Programa De Humanização No Pré-Natal E Nascimento. Assistência De Enfermagem À
Mulher No Climatério E Menopausa E Na Prevenção E Tratamento De Ginecopatias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
11. Assistência De Enfermagem À Criança Sadia: Crescimento, Desenvolvimento, Aleitamento Materno, Alimentação; Cuidado Nas Doen-
ças Prevalentes Na Infância (Diarreicas E Respiratórias) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
12. Atendimento A Pacientes Em Situações De Urgência E Emergência: Estrutura Organizacional Do Serviço De Emergência Hospitalar E
Préhospitalar; Suporte Básico De Vida Em Emergências; Emergências Relacionadas A Doenças Do Aparelho Respiratório, Do Apare-
lho Circulatório E Psiquiátricas; Atendimento Inicial Ao Politraumatizado; Atendimento Na Parada Cardiorrespiratória; Assistência De
Enfermagem Ao Paciente Crítico Com Distúrbios Hidroeletrolíticos, Ácidobásicos, Insuficiência Respiratória E Ventilação Mecânica;
Insuficiência Renal E Métodos Dialíticos; Insuficiência Hepática; Avaliação De Consciência No Paciente Em Coma; Doação, Captação E
Transplante De Órgãos; Enfermagem Em Urgências: Violência, Abuso De Drogas, Intoxicações, Emergências Ambientais . . . . . . 124
13. Gerenciamento De Enfermagem Em Serviços De Saúde: Gerenciamento De Recursos Humanos: Dimensionamento, Recrutamento E
Seleção, Educação Permanente, Liderança, Supervisão, Comunicação, Relações De Trabalho E Processo Grupal; Processo De Trabalho
De Gerenciamento Em Enfermagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
14. Gerenciamento Dos Resíduos De Serviços De Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
15. Central De Material E Esterilização; Processamento De Produtos Para Saúde; Processos De Esterilização De Produtos Para Saúde; Con-
trole De Qualidade E Validação Dos Processos De Esterilização De Produtos Para Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
16. Práticas De Biossegurança Aplicadas Ao Processo De Cuidar; Risco Biológico E Medidas De Precauções Básicas Para A Segurança Indi-
vidual E Coletiva No Serviço De Assistência À Saúde; Precaução-Padrão E Precauções Por Forma De
17. Transmissão Das Doenças: Definição, Indicações De Uso E Recursos Materiais; Medidas De Proteção Cabíveis Nas Situações De Risco
Potencial De Exposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
18. Controle De Infecção Hospitalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
19. Vigilância Epidemiológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
20. Vigilância Em Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214
21. Programas De Prevenção E Controle De Doenças Transmissíveis Prevalentes No Cenário Epidemiológico Brasileiro . . . . . . . 209
22. Doenças E Agravos Não-Transmissíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228
23. Programa Nacional De Imunizações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
24. Lei Nº 7.498/1986 (Lei Do Exercício Profissional), Regulamentada Pelo Decreto Nº 94.406/1987 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 240
25. Código De Ética E Deontologia Da Enfermagem – Análise Crítica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248
26. Bioética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Atualmente, o cuidado domiciliar está em pauta frente às
MODALIDADES ASSISTENCIAIS: HOSPITAL-DIA E AS- demandas sociais relacionadas ao perfil demográfico e epide-
SISTÊNCIA DOMICILIAR miológico da população, bem como à organização do sistema de
saúde brasileiro. Enquanto estratégia assistencial, esta vem sen-
O que é um Hospital Dia? do implantada, paulatinamente, em órgãos públicos e privados.
O Hospital Dia é uma modalidade de atendimento médico Algumas iniciativas têm demonstrado resultados promissores à
para pacientes que precisam permanecer sob cuidados por até medida que identificam necessidades sociais e de saúde da po-
12 horas no máximo. De início, o Hospital Dia foi criado para re- pulação e contribuem para a diminuição do número de compli-
duzir os custos de internamento das pequenas cirurgias. cações clínicas, óbitos e reinternações.
Toda a área reservada ao Hospital Dia deve ser funcional e Esta estratégia vai muito além de um atendimento médico
bem sinalizada. É importante que todas as salas e setores se- domiciliar ao paciente, pois é um método que enfatiza a autono-
jam identificados com placas claras e visíveis. Tudo precisa ser mia do paciente, bem como “esforça-se em realçar suas habili-
planejado para que os atendimentos sejam rápidos, eficientes dades funcionais dentro de seu próprio ambiente. Envolve o pla-
e práticos. nejamento, a coordenação e o fornecimento de vários serviços”.
Além disso, o local precisa ser seguro e informativo para os Assim, nos programas de atenção domiciliar, as ações de-
pacientes também. É necessário que o ambiente seja inclusivo vem ser desenvolvidas por uma equipe multiprofissional, a par-
para pessoas com deficiência. Monitores grandes e com áudio, tir do diagnóstico da realidade em que o paciente está inserido.
placas em braile e rampas devem estar presentes para facilitar o Deve-se considerar as limitações e possibilidades do paciente,
acesso e a busca por ajuda. pois a atenção no espaço domiciliar visa à promoção, manuten-
É essencial que exista uma organização e controle sobre to- ção e/ou reabilitação da saúde e o desenvolvimento e adapta-
dos os aspectos. A limpeza, a incineração de lixo e a esterilização ção de suas funções de maneira a favorecer o restabelecimento
de materiais precisam ser realizados em cada turno para que as de sua independência e sua autonomia.
chances de infecções sejam evitadas ao máximo. No contexto da Enfermagem, o cuidado domiciliar, confor-
me a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem - COFEN
Como funciona um Hospital Dia? número 267, consiste “na prestação de serviços de saúde ao
Nenhum paciente gosta de ficar mais tempo do que o neces- cliente, família e grupos sociais em domicílio”.
sário em um hospital, certo? O Hospital Dia é exatamente para O cuidado de enfermagem domiciliar constitui um “serviço
que ele não precise se internar e passar dias no local apenas de acompanhamento, tratamento, recuperação e reabilitação
para tratar ou operar algo mais simples. de pacientes, de diferentes faixas etárias, em respostas a sua
No Hospital Dia, o paciente quase sempre não precisa se necessidade e de seus familiares, providenciando efetivo fun-
afastar da família (a não ser que algum procedimento cirúrgico cionamento do contexto domiciliar”. A atividade de cuidado
se faça necessário), o que promove um sentimento de segurança domiciliar também deve considerar a organização familiar e co-
e conforto. munitária em que o paciente está inserido, bem como “integrar
Além disso, quanto menos tempo a pessoa passar em um o sistema de cuidado profissional de saúde com o sistema de
hospital, menores serão as chances de contrair qualquer infec- cuidado popular exercido pelo grupo familiar ou rede de apoio
ção hospitalar. Você chega, é atendido, examinado, tratado e vai social deste paciente”.
embora. Sem muitas complicações.
Critérios de elegibilidade do paciente para cuidado domi-
Existe Hospital Dia Psiquiátrico? ciliar
Sim. O atendimento psiquiátrico no Hospital Dia é muito im- Os critérios de elegibilidade de pacientes para serem acom-
portante, porque possibilita que os cuidados corretos e a aten- panhados pelo Programa de Cuidado Domiciliar estão relaciona-
ção necessária sejam proporcionadas ao mesmo tempo em que dos com a estabilidade clínica do paciente, dificuldade de loco-
a família não precisa ir embora, o que permite mais apoio, assim moção deste por sofrimento físico ou mental, elevado nível de
como evita a solidão e insegurança do paciente. dependência por ser portador de agravo de longa duração ou
A psiquiatria no Hospital Dia também é importante para os aguda incapacitante. A estes critérios agregam-se: a condição
pacientes que estão passando por uma ressocialização, ou seja, de ser residente no município do prestador deste atendimento,
precisam de tratamento e de contato social. bem como possuir rede de suporte social constituída por fami-
A internação psiquiátrica é algo que assusta muitas famílias liares, amigos, voluntários, vizinhos, ou seja, ter um cuidador
e pacientes. Muitas vezes ela se faz realmente necessária. Por responsável para suprir suas necessidades diárias relativas à hi-
outro lado, algumas pessoas podem ser tratadas e depois volta- giene, à alimentação, entre outras.
rem para casa, sem precisarem se sentir aprisionadas.
Sistematização do Cuidado Domiciliar
Assistência Domiciliar Na sistematização do cuidado domiciliar são abordados os
O cuidado domiciliar é uma estratégia de atenção à saúde princípios norteadores e o processo de enfermagem.
desenvolvida desde os tempos mais remotos. No Brasil, tal es-
tratégia esteve quase sempre relacionada à área de Saúde Cole- Princípios norteadores
tiva, mais especificamente aos programas materno-infantil e ao Foram encontrados alguns aspectos contributivos à meto-
controle das doenças infectocontagiosas. Apenas na última dé- dologia do cuidado de enfermagem domiciliar, entre eles:
cada, o cuidado domiciliar está voltando-se para o atendimento, - A atitude participativa gerada pela aproximação do profis-
principalmente, de pacientes portadores de agravos de longa sional de saúde e da família, possibilitando neste contexto um
duração, incapacitantes ou terminais. planejamento centrado nos cuidados ao paciente. Esta parceria
configura-se numa estratégia atual e menos onerosa com a fina-

1
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
lidade de manter e promover a melhoria da capacidade funcio- O Serviço de Assistência Domiciliária (SAD) do Hospital do
nal dos pacientes no contexto domiciliar. Portanto, a valorização Servidor Público de São Paulo tem um prontuário único, onde
da família é uma atitude fundamental para estabelecer o vínculo são anotados os procedimentos, intercorrências, orientações no
e a confiança. domicílio ou por telefone, empréstimos de material permanen-
- A integralidade das ações de enfermagem, como a entre- te, fornecimento de material de consumo e outras anotações
vista, a observação e a avaliação envolvem o paciente, a família, que forem necessárias. As famílias também recebem após a
as relações e o ambiente. A enfermeira desempenha o papel de orientação domiciliar uma folha de rosto, onde constam todas
mediadora e articuladora, propiciando a integração das ações as informações necessárias para facilitar o atendimento do pa-
multidisciplinares e intersetoriais. ciente em algum episódio de urgência.
Resolução COFEN nº 464/2014 - Normatiza a atuação da
- Na educação em saúde dirigida para a capa citação dos equipe de enfermagem na atenção domiciliar.
cuidadores informais quanto aos procedimentos simples para a Art. 1º Para os efeitos desta norma, entende-se por atenção
realização destes a fim de estabelecer maior conforto e segu- domiciliar de enfermagem as ações desenvolvidas no domicílio
rança ao paciente\ bem como para o. s membros de sua família. da pessoa, que visem à promoção de sua saúde, à prevenção de
Assim, as ações educativas tornam-se essenciais, pois permitem agravos e tratamento de doenças, bem como à sua reabilitação
avaliar as necessidades, sendo que o ambiente familiar é um es- e nos cuidados paliativos.
paço apropriado para realizar as orientações conforme a dispo- §1º A Atenção Domiciliar compreende as seguintes moda-
nibilidade dos recursos materiais e financeiros do paciente e da lidades:
família. I – Atendimento Domiciliar: compreende todas as ações, se-
- A atitude preventiva tem o propósito de detectar enfermi- jam elas educativas ou assistências, desenvolvidas pelos profis-
dades precocemente, permitindo a manutenção e avaliação das sionais de enfermagem no domicilio, direcionadas ao paciente e
capacidades e habilidades funcionais do paciente no ambiente seus familiares.
domiciliar com vistas à prevenção de perda de autonomia e in- II – Internação Domiciliar – é a prestação de cuidados siste-
dependência. Para isso, faz-se necessária a criação de protoco- matizados de forma integral e contínuo e até mesmo ininterrup-
los próprios para situações comuns, bem como a construção de to, no domicilio, com oferta de tecnologia e de recursos huma-
manuais para orientação. nos, equipamentos, materiais e medicamentos, para pacientes
- A equipe multiprofissional, quando inserida no contexto que demandam assistência semelhante à oferecida em ambiente
familiar, torna-se a base da promoção do cuidado. As funções hospitalar.
dos membros devem ser respeitadas, pois a junção de vários III – Visita Domiciliar: considera um contato pontual da equi-
profissionais com conhecimentos específicos tem por objetivo pe de enfermagem para avaliação das demandas exigidas pelo
a complementaridade para fins de tomada de decisões futuras usuário e/ou familiar, bem como o ambiente onde vivem, visan-
sobre as ações assistenciais no âmbito domiciliar. do estabelecer um plano assistencial, programado com objetivo
definido.
Processo de Enfermagem §2º A atenção domiciliar de enfermagem abrange um con-
O cuidado é sistematizado levando em consideração o pro- junto de atividades desenvolvidas por membros da equipe de en-
cesso de enfermagem que compreende: a avaliação do paciente, fermagem, caracterizadas pela atenção no domicílio do usuário
da família e do contexto domiciliar; o levantamento de necessi- do sistema de saúde que necessita de cuidados técnicos.
dades afetadas e estabelecimento de diagnóstico de enferma- § 3º A atenção domiciliar de Enfermagem pode ser executa-
gem; a definição do plano de cuidados junto com o paciente e da no âmbito da Atenção Primaria e Secundária, por Enfermeiros
família; a implementação do cuidado que pode compreender a que atuam de forma autônoma ou em equipe multidisciplinar
execução de procedimentos, orientações, supervisão dos cuida- por instituições públicas, privadas ou filantrópicas que ofereçam
dos assumidos pela família; o acompanhamento da evolução do serviços de atendimento domiciliar.
paciente e adaptação da família à situação vivenciada, que cons- § 4º O Técnico de Enfermagem, em conformidade com o
titui o ato de novamente avaliar e desencadear o ciclo de ações disposto na Lei do Exercício Profissional e no Decreto que a re-
da sistematização do cuidar. gulamenta, participa da execução da atenção domiciliar de en-
O cuidado de enfermagem é dirigido por diagnósticos de fermagem, naquilo que lhe couber, sob supervisão e orientação
enfermagem manifestados pelo paciente/família devido ao do Enfermeiro.
seu problema de saúde e/ou tratamento médico. A avaliação Art. 2º Na atenção domiciliar de enfermagem, compete ao
dos cuidados prestados é realizada através da integração entre Enfermeiro, privativamente:
a promoção da saúde e a abordagem dos fatores ambientais, I – Dimensionar a equipe de enfermagem;
psicossociais, econômicos, culturais e pessoais de saúde que II – Planejar, organizar, coordenar, supervisionar e avaliar a
afetam o bem-estar da pessoa e da família. É imprescindível o prestação da assistência de enfermagem;
registro do atendimento domiciliar no prontuário do paciente. III – Organizar e coordenar as condições ambientais, equipa-
Tanto para fins ético-legais, quanto para fins de contabilidade mentos e materiais necessários à produção de cuidado compe-
ou reembolso da assistência prestada. tente, resolutivo e seguro;
A atenção domiciliar deve ocorrer por meio de um planeja- IV- Atuar de forma contínua na capacitação da equipe de en-
mento durante a intervenção hospitalar através da revisão dos fermagem que atua na realização de cuidados nesse ambiente;
dados do paciente, possibilitando avaliar as necessidades e co- V- Executar os cuidados de enfermagem de maior complexi-
meçar a desenvolver um plano de cuidados, o qual sistematica- dade técnicocientífica e que demandem a necessidade de tomar
mente sofre modificações e adaptações conforme a avaliação da decisões imediatas;
evolução do paciente e da supervisão dos cuidados assumidos
pela família.

2
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Art. 3º A atenção domiciliar de enfermagem deve ser execu- tuía o seu trabalho restringindo e focando seu saber somente na
tada no contexto da Sistematização da Assistência de Enferma- tarefa que lhe cabia. Ainda nesta teoria se propunha o incentivo
gem, sendo pautada por normas, rotinas, protocolos validados e salarial e o prêmio compatível com aprodução.
frequentemente revisados, com a operacionalização do Processo
de Enfermagem, de acordo com as etapas previstas na Resolu- Qual a influência da teoria científica na enfermagem atual?
ção COFEN nº 358/2009, a saber: Sua influência para a enfermagem atual reside na existên-
I – Coleta de dados de (Histórico de Enfermagem); cia de locais que utilizam a divisão de tarefas na realização do
II – Diagnóstico de Enfermagem; cuidado em detrimento ao atendimento integral. Em ambos as
III – Planejamento de Enfermagem; situações o enfermeiro tem papel norteador, ou seja, de direcio-
IV – Implementação; e nar sua equipe o mais complacentemente possível focando em
V – Avaliação de Enfermagem quaisquer uns dos casos de prestação de cuidado (parcial ou in-
Art. 4º Todas as ações concernentes à atenção domiciliar de tegral) para o resultado do trabalho como um todo e não apenas
enfermagem devem ser registradas em prontuário, a ser manti- na atividade desenvolvida naquele momento pelo profissional.
do no domicílio, para orientação da equipe.
§ 1º Deverá ser assegurado, no domicilio do atendimento, Teoria Clássica
instrumento próprio para registro da assistência prestada de for- Corrente iniciada por Fayol (1916) para o tratamento da ad-
ma continua. ministração como ciência na formatação e na estruturação das
§ 2º O registro da atenção domiciliar de enfermagem en- organizações. Ênfase na estrutura. Uma das principais caracte-
volve: rísticas dessa teoria estabelecida por Henry Fayol era a divisão
I – Um resumo dos dados coletados sobre a pessoa e família; do trabalho em órgãos, não havia uma preocupação da divisão
II – Os diagnósticos de enfermagem acerca das respostas da individual, mas sim organizacional. A partir disso que surgiu a
pessoa e família à situação que estão vivenciando; divisão horizontal do trabalho que pressupunha o agrupamento
III – Os resultados esperados; por atividades e a divisão vertical estabelecendo uma hierarquia
IV – As ações ou intervenções realizadas face aos diagnósti- (KURCGANT, 1991). Fayol descrevia a empresa segundo seis fun-
cos de enfermagem identificados; ções: técnicas, comerciais, financeiras, de segurança, contábeis
V – Os resultados alcançados como consequência das ações e administrativas.
ou intervenções de enfermagem realizadas;
VI – As intercorrências. Qual a influência da teoria clássica na enfermagem atual?
§ 3º O registro da atenção domiciliar e as observações efetu- Remetendo aos dias atuais nas empresas onde a enferma-
adas deverão ser registradas no prontuário, enquanto documen- gem atua, observa-se a estruturação de segmentos ou órgãos
to legal de forma clara, legível, concisa, datado e assinada pelo que atuam individual e hierarquicamente de maneira distinta.
autor das ações. Nesta concepção da teoria clássica a divisão por departamentos
Art. 5º Ficam os Conselhos Regionais de Enfermagem res- e consequentemente por autoridades responsáveis deve servir
ponsáveis para implementar ações fiscalizatórias junto aos pro- para organizar o serviço da empresa em sua totalidade e não se-
fissionais de enfermagem que atuam em domicilio.1 pará-lo de seus objetivos. No cotidiano dos hospitais que em sua
maioria trabalham com organogramas onde há a divisão vertical
e horizontal das atividades e gerências, cabe enfocar os tantos
TEORIAS E PROCESSOS DE ENFERMAGEM conflitos vivenciados entre um setor e outro, uma gerência e
outra, ocasionando uma falta de resolutividade e consequente-
O que Administração de empresas e enfermagem têm em mente desmotivação do funcionário ao trabalho.
comum?
A maioria das pessoas pode até pensar que há muito pouco Teoria das Relações Humanas
no que essas áreas do conhecimento interagem entre si, mas Desenvolvida por Chester Barnard (1932), a teoria das re-
nesse super resumo que preparamos, você vai ver que há sim lações humanas possui como característica principal a visão do
muita conexão. homem como social e não apenas um ser econômico como vinha
sendo suposto pelas teorias científica e clássica. Não se opõe
A enfermagem ao longo de sua história, tem sido solicitada totalmente ao modelo da teoria de Taylor, entretanto engloba
a reagir a evolução das forças tecnológicas e sociais. As novas fatores como a motivação humana e o trabalho grupal para se
responsabilidades administrativas, que são parte dos serviços atingir o nível de produção esperada pela empresa. Essa visão foi
de enfermagem requerem enfermeiros administradores com idealizada em 1930 e adveio juntamente com o desenvolvimen-
conhecimentos, habilidades e competências em vários aspectos to de algumas ciências humanas, cita-se psicologia e sociologia.
administrativos.
Qual a influência da teoria das relações humanas na en-
Quais as principais teorias administrativas de enferma- fermagem atual?
gem? A liderança é um aspecto que começa a ser trabalhado por
esta teoria e emprega aos dirigentes a maneira pela qual irá se
Teoria Cientifica relacionar com os empregados. Entretanto, uma das maiores di-
Criada por Taylor (1903), caracteriza-se por considerar a ad- ficuldades encontradas é a manutenção de uma liderança não
ministração uma ciência aplicada na racionalização e no plane- paternalista, que consiga demonstrar os erros, sem, contudo, fe-
jamento das atividades operacionais. Ênfase nas tarefas. Nesta rir a pessoa humana. Na época de sua iniciação essa era uma das
teoria o trabalhador sabia cada vez menos do todo que consti- dificuldades, visualizada até hoje, liderar, sem omitir erros. A te-
1Fonte: www.scielo.br/www.cofen.gov.br oria das relações humanas possui como característica principal

3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
a visão do homem como social e não apenas um ser econômi- ção de uma empresa. Também enfoca a tecnologia como um
co como vinha sendo suposto pelas teorias científica e clássica. alicerce que influencia nos resultados da empresa. A empresa
Essa teoria engloba fatores como a motivação humana e o tra- deve ser ajustada e adaptada ao ambiente e à tecnologia, assim
balho multiprofiossional para se atingir os objetivos esperados. como seus processos regulamentadores, como meio de se man-
ter ativa e eficiente.
Teoria Burocrática
A teoria burocrática, idealizada por Max Weber (1940), Qual a influência da teoria Contingencial na enfermagem
surgiu em clara oposição a suas antecessoras, ou seja, à Teoria atual?
Clássica e Teoria das Relações Humanas. A primeira era criticada Diante do estudo das teorias da administração e reportando
pelo seu excesso de mecanicismos e a segunda pelo seu ingênuo o cotidiano da enfermagem nas organizações é possível identi-
romantismo. A teoria burocrática de Max Weber é uma espécie ficar preceitos de teorias diversas sendo aplicadas por adminis-
de organização humana baseada na racionalidade, ou seja, os tradores e consequentemente ao pessoal de enfermagem que
meios devem ser analisados e estabelecidos de maneira total- integra o grupo de colaboradores. É importante obter conheci-
mente formal e impessoal, a fim de alcançarem os fins preten- mento frente às teorias da administração para que na aplicação
didos. do trabalho diário de enfermagem, se utilize os meios mais ade-
A proposta burocrática visa à eficiência organizacional como quados para o funcionamento.
objetivo básico, e para tanto detalha pormenorizadamente Nesta percepção a educação continuada deve ser vista como
como as coisas deverão ser feitas, ou seja, prevê em detalhes o parte geradora de todo um sistema e focalizada igualmente na
funcionamento organizacional. Desse modo, mantém um cará- motivação profissional. Pois, como já foi citado anteriormente,
ter racional e uma sistemática divisão de trabalho. apenas a especialização não confere a empresa um aumento de
produtividade; então ao inserir um programa de educação con-
Qual a influência da teoria Burocrática na enfermagem tinuada aos profissionais de saúde é imprescindível que os mes-
atual? mos estejam interagindo de maneira motivadora, para obtenção
Caracteriza-se ainda pela impessoalidade nas relações hu- de resultados.
manas, considerando os indivíduos apenas em função dos car-
gos e funções que exercem na organização. Na organização do
serviço de enfermagem nas instituições hospitalares ou mesmo TAXONOMIAS DE DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM.
nos postos de saúde, há a regulamentação dos procedimen- ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM EM PROCEDIMENTOS E
tos de enfermagem por meio da descrição de normas e rotinas MÉTODOS DIAGNÓSTICOS
como forma de programar um serviço de melhor qualidade.
Diagnóstico de Enfermagem com base na Taxonomia da
Teoria Comportamental “Associação Norte-Americana de Diagnóstico em Enfermagem”
Datada de 1947, esta teoria teve como base principal a in- (NANDA), Classificação de Intervenções de Enfermagem (NIC) e
serção de uma preocupação nos processos organizacionais e não Avaliação da Assistência de Enfermagem (NOC), documentação
na estrutura. Enfatizou a motivação humana por meio do conhe- e registro.
cimento da teoria da Motivação de Maslow e a Teoria sobre os
dois fatores de Hertzberg. Associação Norte-Americana de Diagnóstico em Enferma-
Diante do estudo das teorias da administração e reportando gem - NANDA
o cotidiano da enfermagem nas organizações é possível identi- Os cuidados de saúde são realizados por vários tipos de
ficar preceitos de teorias diversas sendo aplicadas por adminis- profissionais da área, incluindo enfermeiros, médicos e fisiote-
tradores e consequentemente ao pessoal de enfermagem que rapeutas, entre outros. Isso se dá em hospitais e outros locais
integra o grupo de colaboradores. É importante obter conheci- na cadeia de cuidados (p. ex., clínicas, atendimento domiciliar,
mento frente às teorias da administração para que na aplicação instituições de atendimento de longo prazo, igrejas, prisões).
do trabalho diário de enfermagem, se utilize os meios mais ade- Cada disciplina de cuidados de saúde traz um conjunto de co-
quados para o funcionamento. nhecimentos único para o atendimento ao paciente. Na verda-
de, um conjunto de conhecimentos único é uma característica
Qual a influência da teoria comportamental na enferma- fundamental para uma profissão.
gem atual? .Ocorre cooperação e, algumas vezes, sobreposição, entre
Baseado na percepção desta teoria, atualmente educação os profissionais de atendimento de saúde. Por exemplo, o mé-
continuada deve ser vista como parte geradora de todo um sis- dico de um hospital pode instruir o paciente a caminhar duas
tema e focalizada igualmente na motivação profissional. Pois, vezes ao dia. O fisioterapeuta concentra-se nos músculos e
como já foi citado anteriormente, apenas a especialização não movimentos principais necessários para caminhar. Pode haver
confere a empresa um aumento de produtividade; então ao in- envolvimento de um terapeuta respiratório se for usada oxi-
serir um programa de educação continuada aos profissionais de genoterapia para tratamento de uma condição respiratória. O
saúde é imprescindível que os mesmos estejam interagindo de enfermeiro tem uma visão holística do paciente, incluindo equi-
maneira motivadora, para obtenção de resultados. líbrio e força muscular associados ao caminhar, bem como con-
Teoria Contingencial fiança e motivação. O assistente social pode se envolver com o
De autoria da Mary Follett (1926), corrente mais recente e plano de saúde para ajudar com a cobertura de algum equipa-
que parte do princípio de que a administração é relativa e situa- mento necessário.
cional, isto é, depende de circunstâncias ambientais e tecnológi-
cas da organização. Nesta teoria se enfatiza o fato do ambiente
externo ocasionar as modificações de estruturação e organiza-

4
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

Figura 1: Exemplo de uma equipe de atendimento de saúde cooperativa.

Cada profissão na área da saúde tem uma maneira de descrever “o que” conhece e “como” age em relação ao que conhece. Este
material concentra-se, basicamente, em “o que” a profissão conhece. Uma profissão pode ter uma linguagem comum empregada
para descrever e codificar seus conhecimentos. Os médicos tratam doenças e usam a taxonomia da Classificação Internacional de
Doenças (CID) para a representação e a codificação dos problemas médicos de que tratam. Psicólogos, psiquiatras e outros profis-
sionais de saúde mental tratam os transtornos mentais e usam o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).
Os enfermeiros tratam as respostas humanas a problemas de saúde e/ou processos da vida e usam a Taxonomia de diagnósticos de
enfermagem da NANDA International, Inc. (NANDA-I). A Taxonomia dos diagnósticos de enfermagem e o processo de como utilizá-la
serão descritos com mais detalhes.
A Taxonomia da NANDA-I oferece uma maneira de classificar e categorizar áreas de preocupação de um enfermeiro (i.e., os
focos dos diagnósticos). Ela possui 244 diagnósticos de enfermagem, agrupados em 13 domínios e 47 classes. De acordo com o Cam-
bridge Dictionary On-Line (2017), um domínio é “uma área de interesse”; exemplos de domínios na Taxonomia da NANDA-I incluem
Atividade/repouso, Enfrentamento/tolerância ao estresse, Eliminação e troca e Nutrição. Os domínios dividem-se em classes, que
são agrupamentos com atributos comuns.
Os enfermeiros lidam com respostas a problemas de saúde/processos da vida entre indivíduos, famílias, grupos e comunidades.
Essas respostas são a preocupação central dos cuidados de enfermagem e ocupam o círculo atribuído à profissão na Figura 1. Um
diagnóstico de enfermagem pode ser focado em um problema, um estado de promoção da saúde ou um risco potencial.

Diagnóstico com foco no problema – um julgamento clínico a respeito de uma resposta humana indesejável a uma condição de
saúde/processo da vida que existe em um indivíduo, família, grupo ou comunidade.

Diagnóstico de risco – um julgamento clínico a respeito da suscetibilidade de um indivíduo, família, grupo ou comunidade para
o desenvolvimento de uma resposta humana indesejável a uma condição de saúde/processo da vida.
Diagnóstico de promoção da saúde – um julgamento clínico a respeito da motivação e do desejo de aumentar o bem-estar e
alcançar o potencial humano de saúde. Essas respostas são expressas por uma disposição para melhorar comportamentos de saúde
específicos, podendo ser usadas em qualquer estado de saúde. Em pessoas incapazes de expressar sua própria disposição para me-
lhorar comportamentos de saúde, o enfermeiro pode determinar a existência de uma condição para promoção da saúde e agir em
benefício do indivíduo. As respostas de promoção da saúde podem manifestar-se em um indivíduo, família, grupo ou comunidade.
Embora em número limitado na Taxonomia da NANDA-I, uma síndrome pode estar presente. Uma síndrome é um julgamento clíni-
co relativo a um determinado agrupamento de diagnósticos de enfermagem que ocorrem juntos, sendo mais bem tratado por meio de
intervenções similares. Um exemplo disso é a síndrome da dor crônica (00255). A dor crônica é uma dor recorrente ou persistente, que
dura no mínimo três meses e afeta significativamente o funcionamento ou bem-estar diário. Essa síndrome se distingue da dor crônica
pelo fato de causar também um impacto importante em outras respostas humanas, incluindo, assim, outros diagnósticos, como distúr-
bio no padrão de sono (00198), fadiga (00093), mobilidade física prejudicada (00085) ou isolamento social (00053).

Diagnóstico de enfermagem- Um diagnóstico de enfermagem é um julgamento clínico sobre uma resposta humana a condições
de saúde/processos da vida, ou uma vulnerabilidade a tal resposta, de um indivíduo, uma família, um grupo ou uma comunidade
(NANDA-I, 2013). O diagnóstico de enfermagem costuma ter duas partes: (1) descritor ou modificador e (2) foco do diagnóstico
ou conceito-chave do diagnóstico (Tab. 1). Existem algumas exceções em que um diagnóstico de enfermagem é tão somente uma
palavra, como em ansiedade (00146), constipação (00011), fadiga (00093) e náusea (00134). Nesses diagnósticos, modificador e
foco são inerentes a um só termo.

5
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

Tabela 1: Partes do título de um diagnóstico de enfermagem

Os enfermeiros diagnosticam problemas de saúde, estados de risco e disposição para a promoção da saúde. Diagnósticos com foco
no problema não devem ser entendidos como mais importantes que os de risco. Por vezes, um diagnóstico de risco pode ser o de maior
prioridade para um paciente. Um exemplo pode ser um paciente com diagnósticos de enfermagem de intolerância à atividade (00092),
memória prejudicada (00131), disposição para controle da saúde melhorado (00162) e risco de quedas (00155), além do fato de ter
sido recentemente admitido em uma instituição de cuidados especiais. Embora intolerância à atividade e memória prejudicada sejam
os diagnósticos com foco no problema, risco de quedas pode ser, para o paciente, o diagnóstico prioritário, em especial quando a pes-
soa precisa se adaptar a um novo ambiente. Tal situação pode ser especialmente verdadeira quando identificados fatores de risco na
avaliação (p. ex., visão prejudicada, dificuldades na marcha, história de quedas e aumento da ansiedade com a mudança de ambiente).
Cada diagnóstico de enfermagem tem um título e uma definição clara. É importante informar que apenas o título ou uma lista
de títulos é insuficiente. O fundamental é que os enfermeiros conheçam as definições dos diagnósticos normalmente utilizados.
Além disso, devem conhecer os “indicadores diagnósticos” – informações usadas para diagnosticar e distinguir um diagnóstico do
outro. Esses indicadores diagnósticos incluem características definidoras e fatores relacionados ou de risco (Tab. 2).
As características definidoras são indicadores/inferências observáveis que se agrupam como manifestações de um diagnóstico
(p. ex., sinais ou sintomas). Uma avaliação que identifique a presença de uma quantidade de características definidoras dá supor-
te à precisão do diagnóstico de enfermagem. Os fatores relacionados são um componente que integra todos os diagnósticos de
enfermagem com foco no problema. Incluem etiologias, circunstâncias, fatos ou influências que têm certo tipo de relação com o
diagnóstico de enfermagem (p. ex., causa, fator contribuinte). Uma análise da história do paciente costuma ser útil à identificação
de fatores relacionados. Sempre que possível, as intervenções de enfermagem devem voltar-se a esses fatores etiológicos para a
remoção da causa subjacente do diagnóstico de enfermagem. Os fatores de risco são influências que aumentam a vulnerabilidade
de indivíduos, famílias, grupos ou comunidades a um evento não saudável (p. ex., ambiental, psicológico, genético).
Nesta nova edição do Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I, as categorias “populações em risco” e “condições associadas”
são novidades nos diagnósticos de enfermagem onde tais categorias se aplicam (Tab. 2). As populações em risco são grupos de
pessoas que compartilham características que levam cada uma delas a ser suscetível a determinada resposta humana. Por exemplo,
pessoas com extremos de idade pertencem a uma população em risco que compartilha maior suscetibilidade a volume de líquidos
deficiente. As condições associadas são diagnósticos médicos, lesões, procedimentos, dispositivos médicos ou agentes farmacêu-
ticos. São condições não passíveis de alteração independente por um enfermeiro. Exemplos de condições associadas incluem in-
farto do miocárdio, agentes farmacêuticos ou procedimento cirúrgico. Os dados das categorias populações em risco e condições
associadas são importantes, sendo geralmente coletados durante a avaliação, e podem auxiliar o enfermeiro a analisar e confirmar
diagnósticos potenciais. Porém, elas não têm o mesmo objetivo que as características definidoras ou os fatores relacionados, uma
vez que os enfermeiros não podem alterar ou impactar essas categorias de forma independente.

Tabela 2: Resumo de termos-chave

6
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Um diagnóstico de enfermagem não precisa conter todos também possibilita aos enfermeiros envolvidos com pesquisa
os tipos de indicadores diagnósticos (i.e., características defi- acadêmica que se comuniquem sobre fenômenos que preocu-
nidoras, fatores relacionados e/ou fatores de risco). Diagnós- pam a área, em textos e conferências, de modo padronizado,
ticos com foco no problema contêm características definidoras levando a ciência da enfermagem a evoluir. Os diagnósticos de
e fatores relacionados. Os diagnósticos de promoção da saúde enfermagem são revisados por pares e enviados para aceitação/
costumam ter apenas as características definidoras, ainda que revisão à NANDA-I por enfermeiros da prática clínica, enfermei-
possam ser usados fatores relacionados, se eles facilitarem a ros educadores e pesquisadores do mundo inteiro. A submissão
compreensão do diagnóstico. Fatores de risco existem apenas de novos diagnósticos e/ou de revisões de diagnósticos existen-
em diagnósticos de risco. tes continuou a crescer em quantidade ao longo de mais de 40
Um formato comumente usado quando se aprende o diag- anos da terminologia dos diagnósticos de enfermagem da NAN-
nóstico de enfermagem inclui__________ [diagnóstico de en- DA-I. A manutenção do processo de submissão (e de revisão)
fermagem] relacionado a ___________ [causa/fatores relacio- à NANDA-I fortalecerá ainda mais o alcance, a amplitude e as
nados] evidenciado por ___________ [sintomas/características evidências de apoio à terminologia.
definidoras]. Por exemplo, tensão do papel de cuidador relacio-
nado a responsabilidades de cuidados 24 horas por dia, comple- Classificação de Intervenções de Enfermagem - NIC
xidade das atividades de cuidado e condição de saúde instável Existe um consenso dentro da profissão de enfermagem so-
do receptor de cuidados evidenciado por dificuldade para re- bre a necessidade das classificações dos diagnósticos, interven-
alizar as atividades necessárias, preocupação com a rotina de ções, e resultados de enfermagem para que os vários elementos
cuidados, fadiga e alteração no padrão de sono. Dependendo da prática de enfermagem sejam documentados e estudados
do prontuário eletrônico de determinada instituição de saúde, (McCLOSKEY; BULECHEK, 1996).
os componentes “relacionado a” e “evidenciado por” podem Com a expansão dos diagnósticos de enfermagem e o desen-
não estar incluídos. Essas informações, todavia, devem ser re- volvimento de sistemas de classificação, surgiu a necessidade de
conhecidas nos dados coletados e registradas no prontuário do resgatar as informações sobre as respostas humanas tratáveis
paciente para que seja oferecido apoio ao diagnóstico de enfer- pela enfermagem, isto é, classificar as intervenções de enferma-
magem. Sem esses dados, é impossível confirmar a precisão do gem. Esta necessidade decorre da exigência moderna da prática,
diagnóstico, o que coloca em dúvida a qualidade do atendimen- de comunicar informações de enfermagem para outros elemen-
to de enfermagem. tos da equipe de saúde ou da equipe de enfermagem. Soma-se a
isso, “vontade da profissão em acompanhar parepassu os avan-
Uso de um diagnóstico de enfermagem ços da área tecnológica sob a pena de ficar a margem da história
Esta descrição dos fundamentos do diagnóstico de enferma- e sem as benesses da informática” (SILVA; NÓBREGA, 1992).
gem, ainda que voltada a alunos de enfermagem e enfermeiros Na opinião de McCLOSKEY; BULECHEK (1996), a padroniza-
no início da carreira que estão aprendendo a usar um diagnós- ção da linguagem dos problemas e tratamentos de enfermagem
tico, pode beneficiar a todos os profissionais, pois destaca eta- tem sido desenvolvida para esclarecer e comunicar regras. Ape-
pas críticas do uso do diagnóstico e oferece exemplos de áreas sar deste esforço, ainda existem muitos problemas e tratamen-
em que pode ocorrer um diagnóstico impreciso. Uma das áreas tos de enfermagem não padronizados, limitando a habilidade
que precisa ser continuamente enfatizada, por exemplo, inclui o das enfermeiras para examinar as tendências de sua prática e
processo de vincular conhecimentos dos conceitos subjacentes avaliar a qualidade de cuidados prestados aos pacientes.
da enfermagem à avaliação e, então, ao diagnóstico de enfer- Haja visto a quantidade de termos que têm sido citados na
magem. O quanto o enfermeiro entende dos conceitos-chave literatura de enfermagem para os tratamentos dos diagnósticos
(ou focos dos diagnósticos) direciona o processo de avaliação do de enfermagem como: ações, atividades, intervenções, terapêu-
paciente e a interpretação dos dados obtidos. Da mesma forma, ticas, ordens, prescrições, condutas, (BARROS, 1998; BULECHEK;
enfermeiros diagnosticam problemas, estados de risco e dispo- McCLOSKEY, 1985, 1992; MARIA, 1989; CASTILHO, 1991; CAM-
sição para a promoção da saúde. Qualquer um desses tipos de PBELL, 1978; FARO, 1995; IYER; TAPTICH; BERNOCCHI-LOSEY,
diagnósticos pode ser o prioritário, e o enfermeiro faz esse jul- 1993; PEREIRA, 1997).
gamento clínico. SILVA; NÓBREGA, (1992); BARROS, (1998) relatam que uma
Representando os conhecimentos da ciência da enferma- taxonomia para as intervenções traria benefícios a todos os ní-
gem, a Taxonomia oferece a estrutura para uma linguagem pa- veis da prática da enfermeira, ou seja assistência, ensino e pes-
dronizada de comunicação dos diagnósticos de enfermagem. quisa. Além disso, facilitaria a comunicação, ao proporcionar
Usando a terminologia da NANDA-I (i.e., os próprios diagnósti- uma terminologia comum para a troca de informações de todas
cos), os enfermeiros conseguem se comunicar uns com os ou- as áreas da enfermagem.
tros e com profissionais de outras disciplinas de atendimento Por sua vez TITLER et al. (1991) afirmam que um sistema
de saúde sobre “o que” torna a enfermagem singular. O uso de de classificação das intervenções de enfermagem é essencial
diagnósticos de enfermagem em nossas interações com o pa- em virtude de: 1) delinear o corpo de conhecimento único para
ciente ou com a família pode ajudá-los a compreender os assun- a enfermagem, 2) determinar o conjunto de serviços de enfer-
tos que são o foco da enfermagem e envolver os indivíduos nos magem, 3) desenvolver um sistema de informação, 4) refinar
próprios cuidados. A terminologia proporciona uma linguagem o sistema de classificação do paciente, 5) ser um elo entre os
compartilhada para os enfermeiros abordarem os problemas de diagnósticos de enfermagem e os resultados esperados, 6) alo-
saúde, os estados de risco e a disposição para a promoção da car recursos para os planos de enfermagem, e 7) articular outros
saúde. profissionais na função específica da enfermagem.
Os diagnósticos de enfermagem da NANDA-I são usados in- Existem nove sistemas de classificação de intervenções de
ternacionalmente, com tradução em cerca de 20 idiomas. Em enfermagem realizados por enfermeiros de vários países a sa-
um mundo cada vez mais globalizado e eletrônico, a NANDA-I ber: AMBULATORY CARE, AUSTRALIAN, BELGIAN, NURSING LE-

7
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
XICONS TAXONOMY, NURSING MINIMUM DATA SET, OMAHA; do paciente. A classificação das intervenções de enfermagem
SABA; SWEDISH; IOWA (ICN 1993). Além da Classificação Inter- padroniza a linguagem usada pelas enfermeiras na descrição
nacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) que está sendo suas condutas específicas, quando prestam o cuidado. As inter-
desenvolvida pelo ICN International Council of Nursing que con- venções devem ser conceitualizadas num nível que inclua um
tém diagnóstico intervenções e resultados (NÓBREGA; GUTIER- agrupamento ou conjunto de condutas ou atividades separadas.
REZ, [org.] 1993). Algumas instituições ilustram a necessidade de determinar a
A Nursing Interventions Classification (NIC) é um projeto efetividade da prática de enfermagem e assim sendo a natureza
que foi iniciado em 1987 por um grupo de pesquisadoras da Col- das intervenções devem ser também determinadas. Esta tarefa
lege of Nursing University of Iowa, e desde então, vem sendo é prejudicada por 4 fatores: 1) múltiplos termos usados para a
desenvolvidos inúmeros estudos relativos às intervenções de intervenção; 2) confusão na intervenção; 3) falta de conceitua-
enfermagem, no sentido de construir uma linguagem padroni- lização; 4) pouca documentação sobre a história das decisões
zada para descrever as atividades que as enfermeiras executam tomadas pelas enfermeiras na seleção das intervenções. No es-
quando prestam tratamentos de enfermagem. tudo realizado pela NIC, os termos “intervenções e tratamentos”
O termo Classificação das Intervenções de Enfermagem são usados inter-relacionadamente. Vários exemplos mostram
compreende “o ordenamento ou arranjo das atividades de en- que as intervenções foram consideradas como ações separadas,
fermagem dentro de um grupo ou dispostas numa base de rela- porém os rótulos de intervenções da NIC são conceitos imple-
ções e a determinação dos níveis de intervenções para estes gru- mentados por meio de um conjunto de atividades de enferma-
pos”, enquanto a Taxonomia das Intervenções de Enfermagem gem (ações) direcionadas à resolução dos problemas reais ou
significa “a organização sistemática dos níveis de intervenção potenciais da saúde do paciente. A enfermeira prescreve o cui-
baseada em semelhanças dentro da qual pode ser considerada dado a qualquer paciente usando apenas alguns rótulos. Como
uma estrutura conceitual” (McCLOSKEY; BULECHEK, 1996). profissão, a Enfermagem não estabeleceu prioridades entre as
Para BULECHEK; McCLOSKEY (1985) intervenção de enfer- informações; as enfermeiras aprendem e acreditam que “devem
magem trata-se de uma ação autônoma da enfermeira, basea- fazer tudo”. As enfermeiras decidem a prioridade, mas suas de-
da em regras cientificas, que são executadas para beneficiar o cisões não foram ainda sistematicamente descritas. A falta de
cliente, seguindo o caminho predito pelo diagnóstico de enfer- pesquisas nesta área contribui para o problema de não saber
magem com o estabelecimento de metas a serem alcançadas. qual o melhor tipo de intervenção para determinado diagnóstico
Para as autoras, intervenções constituem-se em tratamentos ou determinado contexto do paciente.
para os diagnósticos de enfermagem.
Em 1996, a NIC define intervenção de enfermagem como Expansão do Conhecimento de Enfermagem sobre os vín-
qualquer tratamento, que tenha por base o julgamento clínico e culos entre Diagnósticos, Tratamentos e Resultados
o conhecimento, que a enfermeira execute para melhorar os re- Muitos profissionais e serviços usam a lista de diagnósticos
sultados do paciente. As intervenções de enfermagem incluem da NANDA para descrever os fenômenos das condições de saúde
cuidado direto e indireto; os tratamentos podem ser iniciados que as enfermeiras diagnosticam e tratam. O uso difundido da
pela enfermeira, médico, ou outro agente provedor. A Interven- linguagem dos diagnósticos de enfermagem aumentou a neces-
ção de cuidado direto incluem ambas as ações de enfermagem sidade de classificações padronizadas nas áreas de intervenções
fisiológicas e psicológicas. A Intervenção de cuidado indireto e resultados. Diretrizes foram desenvolvidas para determinar as
inclui tratamento realizado longe do paciente, mas favorecen- intervenções que seriam mais eficazes para pacientes com de-
do-o ou ao grupo de pacientes. Incluem ações dirigidas ao ge- terminado diagnóstico ou um conjunto de diagnósticos. A me-
renciamento do ambiente de cuidado do paciente e colaboração dicina tem usado bancos de dados para rotineiramente coletar
multidisciplinar. O tratamento iniciado pela enfermeira consiste grandes quantidades de dados clínicos informatizados, e a partir
em uma intervenção em resposta ao diagnóstico de enferma- destes dados, começou a explorar os resultados como função
gem; uma ação autônoma baseada no raciocínio científico (Mc- das intervenções médicas. Em contraste, o conhecimento da
CLOSKEY; BULECHEK, 1996). enfermeira sobre a efetividade do cuidado de enfermagem é li-
mitado. A enfermeira deve usar terminologias padronizadas nas
Razões para o Desenvolvimento de uma Classificação Pa- áreas dos diagnósticos, intervenções e resultados, para assim
dronizada das Intervenções de Enfermagem construir grandes bancos de dados que auxiliarão na determi-
As classificações sempre existiram e podemos relembrar al- nação das vinculações entre estas variáveis. Quando as enfer-
gumas delas como as escalas musicais, os símbolos dos elemen- meiras usarem uma linguagem padronizada comum para docu-
tos químicos, categorias biológicas. Estas auxiliam no avanço mentar sistematicamente os diagnósticos dos seus pacientes, os
dos conhecimentos e descoberta dos princípios que governam • tratamentos realizados e a evolução do paciente, poderemos,
aquilo que é conhecido; também identificam as lacunas do co- então, determinar quais as intervenções de enfermagem que
nhecimento abordado nas pesquisas, e facilitam a sua compre- melhor funcionam para determinado diagnóstico ou população.
ensão (McCLOSKEY; BULECHEK, 1996).
A NIC lista 8 razões para o desenvolvimento de uma clas- Desenvolvimento da Enfermagem e Sistemas Informatiza-
sificação padronizada para intervenções de enfermagem (Mc- dos no Cuidado à Saúde
CLOSKEY; BULECHEK, 1996). A documentação do cuidado de enfermagem está cada vez
mais sendo informatizada. Somente após o desenvolvimento da
Padronização da Nomenclatura dos Tratamentos de Enfer- NIC o sistema avançou. Serviços individuais desenvolveram seus
magem próprios conjuntos de prescrições de enfermagem ou ações,
O fenômeno de interesse das intervenções de enfermagem usando listas de prescrições que haviam sido geradas a partir
é a conduta de enfermagem ou atividade de enfermagem. Este dos planos de cuidados usados na instituição. Como as inter-
fenômeno difere do diagnóstico de enfermagem ou resultados venções de enfermagem foram tradicionalmente consideradas

8
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
como sendo uma série de ações separadas, uma lista computa- tem sido desenvolvido em fases que visam o seu aperfeiçoamen-
dorizada sem os resultados da NIC em milhares de itens, o plano to e incluem o trabalho piloto e teste da metodologia, constru-
de cuidados de enfermagem do paciente poderia ter até 75 “in- ção dos resultados, da taxonomia e testes clínicos, avaliação das
tervenções”. Em 1983, concluiu-se que embora as enfermeiras escalas de medida, e refinamento e uso clínico da taxonomia.
“gastem muito tempo documentando, esta documentação não Atualmente, está em sua terceira edição traduzida para o portu-
é sistematicamente organizada, a ponto de aumentar o conhe- guês e consta de uma lista com 330 resultados com definições,
cimento de enfermagem, desenvolver a prática de enfermagem, indicadores e escalas de medida. Os resultados estão organiza-
ou melhorar o cuidado ao paciente”. Zielstorff citado por Mc- dos em sete domínios e trinta e duas classes. Esta classificação
Closkey; Bulechek em 1996 afirmaram que “o maior impedimen- está na quarta edição, disponível, no momento, apenas em in-
to ao desenvolvimento de sistemas informatizados de enferma- glês. Sua atualização é possível graças à estrutura estável que
gem é a base deficiente do conhecimento de enfermagem”. A permite a inserção de resultados, ao longo do tempo, conforme
NIC, em conjunto com as classificações dos diagnósticos e re- forem desenvolvidos.
sultados dos pacientes, desenvolveu um registro automatizado Os enfermeiros vêm documentando os resultados de suas
do paciente para assim prover a enfermeira com os dados dos intervenções há décadas, mas a falta de uma linguagem comum
elementos clínicos. e de medidas associadas para os resultados impede a agregação
Avaliação da Assistência de Enfermagem - NOC dos dados, a análise e a síntese de informações sobre os efeitos
A enfermagem é uma profissão que tem ao longo do tempo das intervenções e da prática de enfermagem.
buscado sua consolidação enquanto ciência. Para o alcance des- Neste contexto, tendo em vista a importância da utilização
te objetivo um caminho árduo tem sido percorrido na procura de uma linguagem padronizada e da incorporação de medidas
de estratégias que visam alicerçar esta prática e, dentre elas, en- de resultados referentes ao cuidado de enfermagem como uma
contra-se a necessidade de estabelecer uma linguagem comum maneira de avaliar a assistência de enfermagem prestada, jul-
que seja utilizada universalmente pelos profissionais, adaptada gamos pertinente conhecer como vem ocorrendo a difusão do
às mais variadas culturas e contextos. Uma linguagem comum conhecimento trazido pela NOC e o que tem sido produzido a
auxilia a captar o valor econômico dos serviços prestados e fa- respeito desta classificação.
vorece a comunicação entre os profissionais, clientes e equipe.
Para se atingir a excelência da qualidade assistencial nos Utilização da taxonomia na prática assistencial
serviços de saúde, um dos grandes desafios que o profissional O crescente interesse na utilização da NOC na prática clínica
da área enfrenta é a avaliação dos resultados dos serviços ofere- deve-se à necessidade de avaliar a qualidade do cuidado presta-
cidos à comunidade, sendo que os resultados são indicadores da do aos clientes, além de ser uma exigência do sistema de saúde
qualidade da assistência prestada. em decorrência dos custos cada vez mais elevados envolvidos
O emprego de resultados para avaliar a assistência teve iní- nos cuidados.
cio em meados da década 60. A partir de então, a literatura tem Observou-se que alguns trabalhos (40%) contemplaram a
contribuído com medidas de resultados validadas para avaliar a utilização da NOC na assistência. O primeiro estudo teve como
qualidade dos cuidados de enfermagem, bem como os efeitos objetivo desenvolver um mapeamento para documentar a prá-
das intervenções, evidenciando a importância de seu emprego tica de enfermagem em saúde pública baseada em uma lingua-
na prática de enfermagem. Assim, a ideia de uma classificação gem padronizada. Intervenções de enfermagem foram aplicadas
que pudesse expressar o conhecimento da prática de enferma- a um grupo de famílias incluídas em um programa de saúde pú-
gem surgiu como um desafio para o Conselho Internacional de blica levando-se em consideração 65 diagnósticos da NANDA,
Enfermagem que a partir de 1989 desencadeou um projeto com edição de 1996, considerados apropriados para a área de saúde
esta finalidade, que resultou no desenvolvimento da Classifica- pública. Um ano após, os resultados foram incluídos e a equipe
ção Internacional das Práticas de Enfermagem (CIPE), que en- passou a realizar estudos sobre os componentes das escalas de
globa fenômenos, intervenções ou ações e resultados de enfer- medidas, buscando um consenso quanto ao seu uso, para poste-
magem. rior treinamento e utilização do modelo na prática.
Foram propostas outras classificações de resultados, den- Trabalho desenvolvido por pesquisadores coreanos identifi-
tre elas e mais recentemente a Classificação dos Resultados de cou os diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem
Enfermagem (NOC), que enfatiza o uso de uma linguagem clara utilizados em pacientes submetidos a cirurgia abdominal visan-
e útil, capaz de avaliar os cuidados por meio do emprego dos re- do ao desenvolvimento de um sistema computadorizado para
sultados de enfermagem. A NOC foi desenvolvida com o propó- integração das taxonomias. Foram identificados 48 diagnósti-
sito de conceitualizar, rotular, definir e classificar os resultados cos diferentes na revisão de prontuários de 60 pacientes. Para
e indicadores sensíveis aos cuidados de enfermagem. Esta clas- cada diagnóstico, foi elaborada uma listagem com as interven-
sificação é resultante de um extenso trabalho de pesquisa que ções instituídas e resultados esperados. A maioria das ligações
teve seu início em 1991 sob a condução de uma equipe da Escola NANDA-NIC (Nursing Interventions Classification) e NANDA-NOC
de Enfermagem da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. sugeridas foi encontrada, mas alguns resultados e intervenções
Uma das motivações para seu desenvolvimento foi a existência ainda devem ser considerados para inclusão.Outro trabalho ava-
da classificação de diagnósticos de enfermagem da North Ame- liou a ocorrência do resultado de Comportamento de busca de
rican Nursing Diagnosis Association (NANDA), que resultou na saúde em cinco clínicas dirigidas por enfermeiros. Uma escala de
ideia da criação de outras duas classificações, uma de interven- medida foi aplicada e os escores variaram desde o mínimo até o
ções e outra de resultados de enfermagem, que poderiam ser máximo possível, sendo que alguns indicadores apareceram com
utilizadas de forma interligada. maior frequência. As avaliações mostraram que este resultado
A NOC contém resultados para indivíduos, cuidadores fami- parece estar sendo realizado de maneira moderada em todas
liares, família e comunidade que podem ser usados em diferen- as clínicas.
tes locais e especialidades clínicas. Esse sistema de classificação

9
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Um dos estudos descreveu a sistematização da assistência Estudos têm sido realizados visando estabelecer estratégias
a um portador de cirrose hepática utilizando a NANDA, NIC e para o desenvolvimento de sistemas informatizados. Nesta cate-
NOC. Foram implementadas intervenções propostas pela NIC goria, foram incluídos dois (13,3%) estudos. O primeiro relata a
para 13 diagnósticos identificados, e os resultados avaliados uti- importância do uso de sistemas informatizados e fala sobre a in-
lizando-se a NOC. Concluiu-se que a assistência sistematizada e trodução de um sistema de dados sobre o cuidado do paciente.
individualizada permitiu melhor organização do trabalho e dos Dentre esses dados estão os resultados do paciente, definidos
cuidados dispensados, proporcionando a avaliação dos resulta- como resultado do tratamento médico. Os autores consideram
dos e, quando necessária, a modificação ou finalização das in- que esta categoria deve ser revisada a fim de englobar os resul-
tervenções. tados do trabalho de outros provedores de saúde. Outro tra-
Foram analisados ainda dois trabalhos com pacientes diabé- balho, desenvolvido na Noruega teve como proposta construir
ticos. No primeiro, foram identificados os diagnósticos de enfer- uma estrutura abrangente composta pelas taxonomias NANDA,
magem em um paciente diabético e selecionados os resultados NIC e NOC a fim de disponibilizar uma fonte de conhecimentos
esperados e intervenções. Os resultados foram avaliados quan-
e aumentar a eficiência do uso conjunto destas taxonomias em
to às mudanças sem a utilização de escalas de medida. Embora
um registro eletrônico de dados do paciente. Após análise teó-
não seja realizada discussão mais aprofundada quanto aos re-
rica das terminologias, foi construída uma estrutura preliminar
sultados identificados, os autores concluem que a utilização da
integrando-as e realizada validação clínica. O produto final foi
Teoria de Autocuidado de Orem e de linguagens padronizadas
realça a comunicação entre enfermeiros e melhora a habilidade o desenvolvimento de um sistema eletrônico para registro de
dos pacientes com doenças crônicas em relação ao autocuidado. dados do paciente abrangendo as três taxonomias organizadas
O segundo trabalho avaliou o comportamento de promoção da em oito domínios e 29 classes.
saúde de 84 portadores de diabetes de acordo com os indicado- Terminologias organizadas em sistemas de classificação podem
res da NOC, sendo incluídos resultados relativos ao autocuidado aumentar a qualidade da documentação de enfermagem e realçar a
dos pacientes citados anteriormente. garantia da qualidade e de decisões apoiadas nestes sistemas. Uma
Observa-se que esforços têm sido feitos na tentativa de im- linguagem padronizada armazenada em um programa de computa-
plementar resultados na prática clínica, porém esta utilização dor facilita a análise dos dados em qualidade e efetividade.2
ainda é bastante incipiente. Os estudos são desenvolvidos com
resultados específicos, em populações diversas e com amostras
pequenas. Os dados apresentados, embora importantes, ainda ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO ADULTO POR-
não são suficientes para serem utilizados como modelo, e os TADOR DE TRANSTORNO MENTAL; UNIDADES DE
próprios autores consideram que mais estudos necessitam ser ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL: AMBULATÓRIO DE SAÚ-
desenvolvidos. DE MENTAL, CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO; INSTRUMENTOS DE INTER-
Tradução e validação da taxonomia VENÇÃO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL: RELA-
Esta categoria trata da tradução e validação da NOC em di- CIONAMENTO INTERPESSOAL, COMUNICAÇÃO TERA-
ferentes línguas e contextos. A NOC foi desenvolvida nos Esta- PÊUTICA, PSICOPATOLOGIAS, PSICOFARMACOLOGIA
dos Unidos por enfermeiras que falam a língua inglesa, portan-
to, traduções precisam ser realizadas antes da implementação Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Sa-
em outras línguas e culturas. ber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis,
Uma vez que a NOC vem sendo muito difundida como meio aceitar as exigências da vida, reconhecer seus limites e buscar
de avaliação da qualidade do cuidado de enfermagem e a impor- ajudam quando necessário.
tância de seu uso tem sido cada vez mais crescente, grupos de Vários são os fatores que influenciam nossos comportamen-
pesquisadores têm se empenhado na tradução desta taxonomia
tos, as nossas escolhas, a nossa cultura, entre outros. A desar-
para a língua de seus países de origem a fim de viabilizar a reali-
monia desses fatores pode levar uma pessoa a desenvolver um
zação de estudos e sua utilização na prática clínica.
transtorno mental em um determinado momento de sua vida.
Nesta categoria, foi incluído um estudo. Na Islândia, um gru-
Como exemplo, podemos citar alguém que desenvolve um
po de pesquisadores realizou a tradução dos rótulos e definições
da segunda edição da NOC do inglês para o islandês. A validação medo excessivo da violência, a ponto de recusar-se em sair às
foi realizada especificamente para cuidados agudos, sendo uma ruas, fato que nos leva a concluir de imediato que existem várias
recomendação dos autores que seja realizada a validação em lo- causas colaborando para isso, como a própria história de vida
cais que ofertam cuidados básicos de enfermagem, uma vez que da pessoa.
esta foi realizada somente em hospitais. Os testes demonstra- É por isso que, na consulta de enfermagem, precisamos co-
ram confiabilidade e consistência interna aceitáveis. nhecer mais os nossos clientes, saber do que gostam, a sua et-
Emprego da NOC em sistemas informatizados nia, como vivem, a fim m de tornar mais fácil identificar os fato-
As classificações de diagnósticos de enfermagem da NAN- res que exercem influência no momento atual de seu transtorno
DA, de intervenções e de resultados atualmente são interligadas e, assim, elaborar as intervenções necessárias.
e estruturadas de forma a favorecer seu emprego por enfermei-
ras, em diferentes campos do cuidado e especialidades. Estas Podemos dizer que alguns grupos influenciam o surgimen-
estruturas possibilitam construção de instrumentos de coleta de to da doença mental. São eles:
dados, planejamento e implementação da assistência e estabe- • Biológico - alterações ocorridas no corpo como um todo,
lecimento dos resultados de enfermagem obtidos. Facilitam o em determinado órgão ou no sistema nervoso central (fatores
julgamento clínico pelas enfermeiras conduzindo-as à escolha genéticos ou hereditários, pré-natais e perinatais, neuro-endo-
de diagnósticos, intervenções e resultados num processo con- crinológicos);
tínuo de retroalimentação destas fases, favorecendo a eficácia
2Fonte: www.pixeon.com/www.nascecme.com.br/www.
do cuidado. ee.usp.br/www.seer.ufrgs.br

10
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
• Social - interações que temos com os outros, nossas rela- Não há um modelo pronto de atendimento a ser seguido
ções pessoais, profissionais e ou em grupos (medo na infância); pelo profissional de saúde, cabe ao enfermeiro ser criativo e es-
• Culturais - modificam-se de país para país, ou seja, a no- tar disposto a ajudar o paciente, além de procurar se aprimorar
ção de certo e errado modifica-se conforme o grupo de convívio e se qualificar a respeito nesse âmbito.
(religião, escola, família, país, cultura);
• Econômico - a necessidade e a miséria podem levar ao Psicopatologia na Atualidade
aumento da criminalidade e esta, ao aumento da tensão no nos- Atualmente, reconhece-se como transtornos mentais os
so dia a dia (o consumismo leva a dívidas que ultrapassam os problemas classificados no DSMIV e CID-10, como depressão,
ganhos); ansiedade, autismo e esquizofrenia. Também é reconhecido o
diagnóstico de atraso mental como um déficit de inteligência,
Sabemos que a incidência de transtornos mentais é alta, e que pode ser leve, moderado, grave ou profunda.
também que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) são as mais
procuradas nesses casos, e é por isso que a equipe de enferma- O DSM-IV classifica os diferentes transtornos mentais nos
gem deve estar preparada para esse tipo de atendimento. seguintes grupos:
- Transtornos usualmente diagnosticados na lactância, in-
A maior parte dos profissionais reconhece como ações de fância e adolescência, como os retardos mentais e distúrbios de
saúde mental apenas a administração de medicamentos psi- aprendizagem;
quiátricos e o encaminhamento do paciente para serviços es- - Delirium, Demência, Transtornos Amnésicos e Outros
pecializados. Mas, na realidade o atendimento da enfermagem Transtornos Cognitivos;
para esses casos deve ir muito além, começando por acolher e - Transtornos Mentais devido à Condição Clínica Geral,
escutar o cliente. como transtornos catatônicos e desvios de personalidade;
A priori deve-se entender que os transtornos mentais não - Transtornos Relacionados a Substâncias, como abuso de
aparecem de forma clara e explícita, nós devemos aprender a álcool ou dependência de drogas, ou ainda transtornos induzi-
identificá-los também nos pacientes que não aparentam ter dos por uso de substância como abstinência de nicotina ou de-
transtornos mentais. É preciso identificar os pacientes que so- mência alcoólica;
frem exclusão social e até mesmo observar os familiares. - Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos, como para-
Sinais e sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esque- noia (esquizofrenia do tipo paranoide) ou transtorno delirante;
cimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas são - Transtornos do Humor, como depressão ou transtorno bi-
os mais comuns e podem levar à incapacidade e à procura por polar;
serviços de saúde. - Transtornos de ansiedade, como fobias ou pânico;
As ações de enfermagem em Saúde Mental devem come- - Transtornos somatoformes, como transtornos conversivos
çar já na entrevista, perguntando e ouvindo com atenção não e transtornos dismórficos;
somente a queixa do paciente, mas sua história de vida, sua cul- - Transtornos factícios, como a síndrome de Munchousen;
tura, seu processo de adoecimento, seus problemas emocionais - Transtornos dissociativos, como anmésia dissociativa ou
e sofrimentos. É preciso conversar com o paciente, orientá-lo, fuga dissociativa;
pois muitas vezes essas ações são mais eficazes do que iniciar - Transtornos sexuais e de identidade de gênero, como aver-
outra via terapêutica nesse indivíduo. Além disso, conversar e são sexual ou parafilias (como pedofilia);
orientar a família também são ações relevantes. - Transtornos alimentares, como anorexia nervosa e bulimia
Quanto mais confiança o paciente sentir do profissional nervosa;
mais ele se manifestará de forma sincera e verbalizará as suas - Transtornos do sono, como insônia ou terror noturno;
dúvidas. - Transtornos de controle de impulso, como cleptomania ou
Em longo prazo, deve-se acompanhar o indivíduo, principal- piromania;
mente se este estiver fazendo uso de terapia medicamentosa. - Transtornos de personalidade, como personalidade para-
Deve-se observar também se o mesmo está tendo melhora no noica ou personalidade obsessivo-compulsiva.
seu quadro de saúde mental.
Os profissionais de enfermagem devem entender que o por- O CID-10 classifica os transtornos mentais e de comporta-
tador de distúrbio mental é um sujeito ativo, e que apesar de mento, da seguinte forma:
pensar ou agir de forma diferente da maioria, seus pensamentos - Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos
e desejos devem ser levados em consideração e respeitados na (F00-F09), como Alzheimer, demência vascular ou transtornos
medida do possível. mentais devido a lesão cerebral ou doença física;
Para fazer um acompanhamento de forma eficiente, é pre- - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de
ciso, além de assistir o enfermo, investir em reuniões com a fa- substância psicoativa (F10-F19), como uso de álcool ou múltiplas
mília, visitas domiciliares, contato com a escola e/ou trabalho, e drogas;
também orientá-lo quanto aos centros de cultura e programas - Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos de-
de inclusão social, pois sociabilizá-lo com pessoas novas, pode e lirantes (F20-F29), como esquizofrenia e psicose aguda;
deve fazer muito bem para a sua recuperação. - Transtornos de humor ou afetivos (F30-F39), como depres-
Desde 2003 foram incluídas na Estratégia de Saúde da Famí- são ou transtorno bipolar.
lia (ESF) equipes de Saúde Mental. O principal objetivo é tratar - Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o
do paciente no contexto familiar, pois realizar o tratamento iso- “stress” e transtornos somatoformes (F40-F48), como transtor-
lado da família, das pessoas que o indivíduo tem contato diário, no obsessivo-compulsivo ou transtorno de estresse pós-traumá-
nem sempre apresenta resultados positivos. tico;

11
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Síndromes comportamentais associadas a disfunções fi- De acordo com afetividade e Humor:
siológicas e a fatores físicos (F50-F59), como os transtornos ali- - Tristeza patológica: profundo abatimento, baixa autoesti-
mentares ou disfunções sexuais ou de sono causados por fatores ma, geralmente acompanhados de tendência para o isolamento,
emocionais; choro fácil, inibição psicomotora;
- Transtornos da personalidade e do comportamento do - Alegria patológica: estado eufórico, agitado, com elevada
adulto (F60-F69), como transtornos de hábitos e impulsos. autoestima, grande desinibição.
- Retardo Mental (F70-79), classificados como leve, modera-
do, grave ou profundo; De acordo com a Atenção e Concentração:
- Transtornos do desenvolvimento psicológico (F80-F89), - Inatenção: dificuldade de concentração;
como transtornos relacionados à linguagem ou ao desenvolvi- - Distração: mudança constante de focos de atenção;
mento motor; - Orientação: consciência de dados que nos localizem, prin-
- Transtornos do comportamento e transtornos emocionais cipalmente, no tempo e no espaço;
que aparecem habitualmente durante a infância ou a adolescên- - Desorientação: incapacidade de relacionar os dados a fim
cia (F90-F98), como distúrbios de conduta ou transtornos hiper- de perceber o espaço e o tempo.
cinéticos;
- Transtorno mental não especificado (F99). Transtorno Bipolar de Humor
O transtorno de Humor é uma doença caracterizada pela al-
Referências: ternância de humor: ora ocorrem episódios de euforia (mania),
CID-10 [2008]: http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/we- ora de depressão, com períodos intercalados de normalidade.
bhelp/cid10.htm Com o passar dos anos os episódios repetem-se com intervalos
Psiquiatria Geral: http://www.psiquiatriageral.com.br/ menores, havendo variações e existindo até casos em que a pes-
soa tem apenar um episódio de mania ou depressão durante a
Sinais e Sintomas de Transtornos Mentais vida. Apesar de o Transtorno Bipolar do Humor nem sempre ser
facilmente identificado, existem evidências de que fatores gené-
De acordo com a apresentação do cliente:
ticos possam influenciar o aparecimento da doença.
- Aparência: maneira de se vestir e de cuidar da higiene pes-
Durante o tratamento farmacoterápico, a enfermagem deve
soal;
estar atenta para a avaliação do paciente quanto à adesão ao
- Psicomotricidade: atividade motora, envolvendo a veloci-
tratamento e às respostas fisiológicas aos medicamentos, per-
dade e intensidade; agitação (hiperatividade); retardo (hipoa-
cebendo sua adaptação ou não aos mesmos.
tividade); tremores; maneirismo; tiques; catatonia; obediência
Importante ainda é perceber o grau de orientação do pa-
automática; negativismo;
ciente e da família quanto à terapêutica utilizada, direcionando,
quando necessária, atenção aos mesmos, propiciando conhe-
De acordo com a Linguagem e Pensamento:
cimentos suficientes para que possam identificar eventos ad-
- Característica da fala: observar se a fala é espontânea, se
ocorre logorreia (fala acelerada); mutismo (mantém- se mudo); versos. Também é necessário cuidar do preparo da medicação,
gagueira; ecolalia (repetição das ultimas palavras, como em levando a família a apoiar e o paciente a aderir ao tratamento.
eco);
- Pensamento: inicia com os cinco sentidos (visão, olfato, Transtorno de personalidade
paladar, audição e tato) e conclui se com o raciocínio. Trata-se de distúrbios graves da constituição caracteroló-
- Inibição do pensamento: lentificado, pouco produtivo; gica e das tendências comportamentais do indivíduo, não dire-
- Fuga de ideias: tem um aporte tão grande de ideias que tamente imputáveis a uma doença, lesão ou outra afecção ce-
não consegue concluí-las, emenda um assunto no outro de tal rebral ou a um outro transtorno psiquiátrico. Estes distúrbios
maneira que torna difícil sua compreensão; compreendem habitualmente vários elementos da personalida-
- Desagregação do pensamento: constrói sentenças cor- de, acompanham-se em geral de angústia pessoal e desorgani-
retas, muitas vezes até rebuscadas, mas sem um sentido com- zação social; aparecem habitualmente durante a infância ou a
preensível, fazendo associações estranhas; adolescência e persistem de modo duradouro na idade adulta.
- Ideias supervalorizadas e obsessivas: mantém um discurso
circular voltando sempre para o mesmo assunto; As pessoas com transtorno de personalidade não têm o que
- Ideias delirantes: ideias que não correspondem à realida- se considera um padrão normal de vida – do ponto de vista esta-
de, mas que para o indivíduo são a mais pura verdade. tístico, ou seja, comparado ao modo de viver das outras pessoas.
Ex.: meus olhos possuem sistema de raio laser. Esta perturbação atinge todos os pontos da personalidade de
uma pessoa que causam uma ação nos que a cercam e sobre o
De acordo com Senso-Percepção: contexto em que habita – na forma de demonstrar seus senti-
- Senso-percepção: síntese de todas as sensações e per- mentos, nas atitudes sociais.
cepções (pelos 5 sentidos) que temos e com ela formamos uma O portador deste transtorno provoca danos a si mesmo e
ideia de tudo o que está à nossa volta. aos que com ele convivem. Quando as mutações na personalida-
- Alucinações: são sensações ou percepções em que o ob- de se tornam persistentes, embora não caracterizem nenhuma
jeto não existe, mas que é extremamente real para o paciente mudança patológica, elas compõem então o Transtorno de Per-
e ele não pode controlá-las, pois independem de sua vontade; sonalidade.
podem ser auditivas, visuais, gustativas, olfativas, táteis, sines-
tésicas e outras; Quando certos contextos com os quais as pessoas estão fa-
- Ilusões: sensação referente à percepção de objeto que exi- miliarizadas subitamente se transformam, algumas delas não
se. Ex.: O teto está baixando e poderá esmagá-lo. conseguem adaptar seus traços de personalidade às novas cir-

12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
cunstâncias. É como se elas fossem prisioneiras do seu modo de Tipos de distúrbios de personalidade:
ser e, não sendo capazes de se adaptar ao novo, ao desconheci- - Paranoide;
do, seus traços de personalidade passam a lhes perturbar, bem - Esquizoide;
como aos seus parentes e amigos. - Esquizotípica;
Muitas vezes o comportamento de alguém passa a não cor- - Antissocial;
responder a determinadas expectativas dos padrões culturais - Borderline;
atualmente em vigor, tanto na área da impressão de si mes- - Histriônica;
mo, das outras pessoas ou de alguns acontecimentos, quanto - Narcisista;
no campo afetivo, envolvendo a vantagem ou não das réplicas - Esquiva;
emocionais; no andamento das relações entre as pessoas, bem - Obsessivo- Compulsiva.
como no freio dos impulsos. Outras vezes, suas atitudes tornam-
-se intransigentes, com sérias consequências. Transtornos de Ansiedade
A ansiedade é uma reação normal diante de situações que
Outra característica deste transtorno é a ausência de bem-
podem provocar medo, dúvida ou expectativa. Nesses casos, a
-estar nas interações sociais e profissionais. Este processo tem
ansiedade funciona como um sinal que prepara a pessoa para
início, geralmente, na fase da adolescência ou, no máximo, as-
enfrentar o desafio e, mesmo que ele não seja superado, favore-
sim que o sujeito se torna adulto. É necessário ter certeza, antes
de se valer deste diagnóstico, que não há a ocorrência de nenhu- ce sua adaptação às novas condições de vida.
ma outra patologia, o uso excessivo de determinadas substân- O transtorno da ansiedade generalizada (TAG), segundo o
cias químicas, nem mesmo a incidência de problemas orgânicos manual de classificação de doenças mentais (DSM.IV), é um dis-
ou de lesões cerebrais. Certas perturbações desta natureza não túrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectati-
devem ser analisadas como transtorno de personalidade em me- va apreensiva”, persistente e de difícil controle, que perdura por
nores de 18 anos. seis meses no mínimo e vem acompanhado por três ou mais dos
Deve-se distinguir o transtorno de personalidade, como ca- seguintes sintomas: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificulda-
racterizado acima, dos Transtornos de Alteração da Personalida- de de concentração, tensão muscular, perturbação do sono, pal-
de, que ocorrem a partir de um certo momento, desencadeados pitações, falta de ar, taquicardia, aumento da pressão arterial,
normalmente por um evento traumático ou um estresse grave. sudorese excessiva, dor de cabeça, alteração nos hábitos intesti-
Para se definir melhor este fenômeno, os pesquisadores costu- nais, náuseas, aperto no peito, dores musculares.
mam subdividi-lo em várias categorias.

Classe A – Transtornos excêntricos ou estranhos:


- Transtorno de personalidade esquizoide: embaraços na Transtornos Alimentares
hora de interagir socialmente e de revelar os sentimentos. Pes- São transtornos mentais graves, crônicos, que acometem
soas indiferentes e solitárias. principalmente os adolescentes e adultos jovens, mais do sexo
feminino, levando a danos psicológicos, sociais e clínicos, po-
- Transtorno de personalidade esquizotípica: forma mais dendo, nos casos extremos, acarretar a morte. As característi-
suave de esquizofrenia. Presença de pensamentos nada comuns. cas comportamentais gerais são a preocupação excessiva com o
- Transtorno de personalidade paranoide: desconfiança peso e a aparência do corpo acarretando comportamentos ali-
constante em relação às pessoas. mentares prejudiciais a saúde, dificuldades no relacionamento
social e sofrimento.
Classe B - Transtornos dramáticos, imprevisíveis ou irregu- Classificação dos transtornos alimentares segundo o CID-
lares:
10:
- Transtorno de personalidade antissocial: pessoas insensí-
- anorexia nervosa– há importante conflito na imagem cor-
veis aos sentimentos dos outros. Não desejam se adaptar às leis
poral, com medo excessivo de engordar. Acometem as pessoas
vigentes.
magras e negam a fome.
- Transtorno de personalidade histriônica: seus portadores
estão sempre se desdobrando para ser o centro das atenções. - anorexia nervosa atípica - transtornos que apresentam al-
- Transtorno de personalidade limítrofe: interações afetivas gumas das características da anorexia nervosa mas cujo quadro
intensas, porém caóticas e carentes de organização; instáveis e clínico global não justifica tal diagnóstico. Por exemplo, ausência
impulsivas. do temor acentuado de ser gordo na presença de uma acentua-
- Transtorno de personalidade narcisista: caracteriza os da perda de peso e de um comportamento para emagrecer.
apaixonados por sua própria imagem. -bulimia nervosa – em geral os pacientes apresentam peso
normal ou sobrepeso, não negam a fome.
Classe C – Transtornos ansiosos ou receosos: -transtorno de compulsão alimentar periódica – o paciente
- Transtorno de personalidade dependente: pessoas muito come sem fome até sentir-se repleto e com culpa. Pode ter rela-
dependentes afetiva e fisicamente de outros. ção com a obesidade, as dietas para emagrecer não funcionam.
- Transtorno de personalidade esquiva: aqueles que são por- Apresentam autocrítica negativa com sintomas depressivos e
tadores de uma timidez exagerada. ansiosos.
- Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva: não -transtorno alimentar não especificado. Incluem todos ou-
confundir com o TOC-Transtornos Obsessivos Compulsivos. In- tros transtornos, inclusive a orthorexia, vigorexia, drunkorexia,
divíduos que têm uma tendência para serem perfeccionistas, diaberexia etc.
severos, impertinentes com eles mesmos e com os outros; são
muito frios e submetidos constantemente a uma intensa disci-
plina.

13
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Epidemiologia da anorexia nervosa:Yates, 1989, relatou que a Transtorno Opositor Desafiante
maioria dos estudos estabeleceu uma prevalência de 1 caso entre O transtorno desafiador de oposição (TDO) ou Transtorno
100 garotas adolescentes, sendo as mulheres de classe social mais Opositor Desafiante é um transtorno disruptivo, ou seja, não
alta as que têm o maior risco. Cecil Loeb - Tratado de Medicina In- aceita regras, caracterizado por um padrão global de desobe-
terna, 14ª Edição relatou que a incidência de novos casos atinge uma diência, desafio e comportamento hostil. Os pacientes discutem
faixa de 0,6 a 1,6 por 100.000 habitantes. A idade comum de início é excessivamente com adultos, não aceitam responsabilidade por
entre 14 e 17 anos, mas pode ocorrer mais cedo entre 10 a 13 anos sua má conduta, incomodam deliberadamente os demais, pos-
ou mais tarde até aos 40 anos de idade. A doença é pelo menos 10 suem dificuldade em aceitar regras e perdem facilmente o con-
vezes mais frequente nas moças do que nos rapazes e aflige princi- trole se as coisas não seguem a forma que eles desejam.
palmente as mulheres de nível sócio econômico médio ou superior. Geralmente os pacientes apresentam um padrão contínuo
Há importante conflito na imagem corporal, com medo excessivo de de comportamento não cooperativo, desafiante, desobediente
engordar. Acometem as pessoas magras e negam a fome. e hostil incluindo resistência à figura de autoridade. o padrão de
comportamento pode incluir:
Epidemiologia da bulimia nervosa- BN: Aflige principalmen- -frequentes acessos de raiva;
te as mulheres de nível socioeconômico médio ou superior. Em -discussões excessivas com adultos, muitas vezes, questio-
geral os pacientes apresentam peso normal ou sobrepeso, não nando as regras;
negam a fome. Embora haja um registro considerável de bulimia -desafio e recusa em cumprir com os pedidos de adultos;
na imprensa popular a maioria da atenção tem sido dada aos as- -deliberada tentativa de irritar ou perturbar as pessoas;
pectos relativamente benignos do problema. Segundo Fairburn -culpar os outros por seus erros;
e Beglin (1990) que fizeram uma média dos resultados de vários -muitas vezes, ser suscetível ou facilmente aborrecido pelos
estudos, estimaram uma prevalência de 2,6%. Cooper e Fairburn outros;
(1983), com base em uma amostra da comunidade, estimaram -agressividade;
que 1,9% em mulheres. Pyle et al (1983) relatou que a preva- -dificuldade em manter as amizades;
lência de BN clinicamente significativa e maior em estudantes -problemas acadêmicos
universitárias que a da comunidade, correspondendo a aproxi-
madamente 4%. Outros estudos epidemiológicos tem mostrado
Os sintomas são geralmente vistos em várias configurações,
uma prevalência menor que 2% da verdadeira bulimia nervosa
massão mais perceptíveis em casa ou na escola. Este problema
entre meninas no segundo grau escolar – grupo que se acredita
é bastante comum, ocorrendo entre 2% e 16% das crianças e
ter o maior risco. Outras referências bibliográficas citam a pre-
adolescentes.
valência entre 1,1 à 4,2% na faixa dos 18 anos de idade.
Esquizofrenia
Arthorexia:Não se conhece a prevalência, mas observa-se
Os transtornos esquizofrênicos são distúrbios mentais gra-
que a incidência está aumentando. É a obsessão em comer ex-
ves e persistentes, caracterizados por distorções do pensamen-
tremamente correto com perigo a saúde e as relações sociais.
O orthorético é extremamente concentrado se um determinado to e da percepção, por inadequação e embotamento do afeto
alimento lhe fará bem ou mal, a ponto de inibir o apetite. Tal por ausência de prejuízo no sensório e na capacidade intelectual
preocupação excessiva também prejudica as relações afetivas e (embora ao longo do tempo possam aparecer déficits cogniti-
sociais e até mesmo ocasionar emagrecimento excessivo. vos). Seu curso é variável, com cerca de 30% dos casos apre-
sentando recuperação completa ou quase completa, 30% com
Vigorexia: e caracteriza pelo excesso de preocupação em remissão incompleta e prejuízo parcial de funcionamento e 30%
ter um corpo forte. Os portadores desse transtorno exercitam- com deterioração importante e persistente da capacidade de
-se em excesso e constantemente medindo sua musculatura funcionamento profissional, social e afetivo.
para verificar se já obtiveram resultados. Apesar de fortes ain- A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena, ou
da sim se consideram fracos. Quase sempre usam suplementos seja, originada dentro do organismo, que se caracteriza pela
alimentares anabolizantes e até mesmo esteroides, mesmo que perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada
saibam que isto possa prejudicar a saúde. Esta doença é mais em si mesma, com o olhar perdido, indiferente, ter alucinações
comum nos homens, mas também há casos em mulheres. Não se e delírios. Ela ouve vozes que ninguém mais escuta e imagina
conhece a prevalência, mas observa-se que está cada vez mais estar sendo vítima. Não há argumento nem bom senso que a
comum. Diferente do fisiculturismo. convença do contrário.

Transtorno compulsivo alimentar periódico:O transtorno de Os dois sintomas “produtivos e negativos” da esquizofre-
compulsão alimentar periódico (TCAP) é uma doença caracterizada nia:
por episódios de comer compulsivo, sem o comportamento de pur- -Os produtivos, que são basicamente, os delírios e as aluci-
gação. O principal sintoma do transtorno de compulsão alimentar nações. O delírio se caracteriza por uma visão distorcida da reali-
é o impulso incontrolável para ingestão de grandes quantidades de dade. O mais comum, na esquizofrenia, é o delírio persecutório.
alimentos, sendo que a principal consequência é o ganho de peso O indivíduo acredita que está sendo perseguido e observado por
progressivo, resultando em obesidade, por vezes mórbida. pessoas que tramam alguma coisa contra ele. As alucinações
caracterizam-se por uma percepção que ocorre independente-
Referências: mente de um estímulo externo. Por exemplo: o doente escuta
Manual Merck de Medicina – 16ª Edição vozes, em geral, as vozes dos perseguidores, que dão ordens e
Guideline 2000. comentam o que ele faz. São vozes imperativas que podem le-
http://www.flumignano.com/medicos/biblioteca.htm vá-lo ao suicídio. Delírio e alucinações são sintomas produtivos
Dr. Steven Bratman – www.orthorexia.com que respondem mais rapidamente ao tratamento.

14
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Os sintomas negativos da doença, mais resistentes ao trata- Abuso de Substâncias Psicoativas
mento, e que se caracterizam por diminuição dos impulsos e da Droga psicoativa ou substância psicotrópica é a substância
vontade e por achatamento afetivo. Há a perda da capacidade química que age principalmente no sistema nervoso central,
de entrar em ressonância com o ambiente, de sentir alegria ou onde altera a função cerebral e temporariamente muda a per-
tristeza condizente com a situação externa. cepção, o humor, o comportamento e a consciência.
É uma doença frequente e universal que incide em 1% da Substâncias psicoativas são aquelas que alteram o psiquismo.
população. Ocorre em todos os povos, etnias e culturas. Existem Diversas dessas drogas possuem potencial de abuso, ou seja, são
estudos comparativos indicando que ela se manifesta igualmen- passíveis da autoadministração repetida e consequente ocorrên-
te em todas as classes socioeconômicas e nos países ricos e po- cia de fenômenos, como uso nocivo (padrão de uso de substân-
bres. Isso reforça a ideia de que a esquizofrenia é uma doença cias psicoativas que está causando dano à saúde física ou mental),
própria da condição humana e independe de fatores externos. tolerância (necessidade de doses crescentes da substância para
Em cada 100 mil habitantes, surgem de 30 a 50 casos novos por atingir o efeito desejado), abstinência, compulsão para o consu-
ano. mo e a dependência (síndrome composta de fenômenos fisioló-
Existe um componente genético importante. O risco sobe gicos, comportamentais e cognitivos no qual o uso de uma subs-
para 13%, se um parente de primeiro grau for portador da doen- tância torna-se prioritário para o indivíduo em relação a outros
ça. Quanto mais próximo o grau de parentesco, maior o risco, comportamentos que antes tinham maior importância).
chegando ao máximo em gêmeos monozigóticos. Se um deles
tem esquizofrenia, a possibilidade de o outro desenvolver o qua- As substâncias psicoativas são divididas em três grupos:
dro é de 50%. Mas, em linhas gerais o ambiente pode influenciar - Drogas psicoanalépticas ou estimulantes do SNC (cocaína,
o adoecimento nas etapas mais precoces do desenvolvimento anfetamina, nicotina, cafeína etc.).
cerebral, da gestação à primeira infância, bem como na adoles- -Drogas psicolépticas ou depressoras do SNC (álcoolbenzo-
cência. diazepínicos, barbitúricos, opioides, solventes etc.
-Drogas psicodislépticas ou alucinógenas (cannabis, LSD,
Tipos de Esquizofrenia: fungos alucinógenos, anticolinérgicos etc.).
- esquizofrenia residual: refere-se a uma esquizofrenia que
já tem muitos anos e com muitas consequências. Neste tipo de Os limites são entre o uso recreativo, o abuso e a dependên-
esquizofrenia podem predominar sintomas como o isolamento cia de substâncias psicoativas. Postula-se que sejam fenômenos
social, o comportamento excêntrico, emoções pouco apropria- que ocorram continuamente e que alguns parâmetros orientem
das e pensamentos ilógicos. a transição de um estágio para o outro.
-esquizofrenia simples: normalmente, começa na adoles- O abuso ou uso nocivo seria um momento intermediário
cência com emoções irregulares ou pouco apropriadas, pode ser entre o uso recreativo (de baixo risco, não sendo caracteriza-
seguida de um demorado isolamento social, perda de amigos, do como um problema médico) e a dependência. Já há prejuízo
poucas relações reais com a família e mudança de personalida- decorrente do consumo da substância, mas ainda há algum con-
de, passando de sociável a antissocial e terminando em depres- trole do indivíduo quanto à quantidade consumida e à duração
são. É também pouco frequente. dos efeitos.
-esquizofrenia indiferenciada: apesar desta classificação, é A dependência de substâncias psicoativas é uma síndrome
importante destacar que os doentes esquizofrénicos nem sem- cujo elemento central é um desejo intenso de consumir a subs-
pre se encaixam perfeitamente numa certa categoria. Também tância.
existem doentes que não se podem classificar em nenhum dos
grupos mencionados. A estes doentes pode-se atribuir o diag- Dependência de Substâncias Psicoativas
nóstico de esquizofrenia indeferenciada.
-esquizofrenia paranoide: predominam sintomas positivos Alguns fatores de risco podem contribuir para a Dependên-
como alucinações e enganos, com uma relativa preservação o cia Química, são eles:
funcionamento cognitivo e do afetivo, o inicio tende ser mais
tardio que o dos outros tipos. Fatores Biológicos:
-esquizofrenia catatónica: sintomas motores característi- - predisposição genética
cos são proeminentes, sendo os principais a atividade motora - capacidade do cérebro de tolerar presença constante da
excessiva, extremo negativismo (manutenção de uma postura substância.
rígida contra tentativas de mobilização, ou resistência a toda - capacidade do corpo em metabolizar a substância.
e qualquer instrução), mutismo, cataplexia (paralisia corporal - natureza farmacológica da substância, tais como potencial
momentânea), ecolalia (repetição patológica, tipo papagaio e de toxicidade e dependência, ambas influenciadas pela via de
aparentemente sem sentido de uma palavra ou frase que ou- administração escolhida.
tra pessoa acabou de falar) e ecopraxia (imitação repetitiva dos
movimentos de outra pessoa). Necessita cuidadosa observação, Fatores Psicológicos:
pois existem riscos potenciais de desnutrição, exaustão, hiperpi- - distúrbios do desenvolvimento
rexia ou ferimentos auto infligidos. - morbidades psiquiátricas: ansiedade, depressão, déficit de
-esquizofrenia desorganizada: discurso desorganizado e sin- atenção e hiperatividade, transtornos de personalidade.
tomas negativos como comportamento desorganizado e acha- - problemas / alterações de comportamento.
tamento emocional predominam neste tipo de esquizofrenia. - baixa resiliência e limitado repertório de habilidades so-
Os aspectos associados incluem trejeitos faciais, maneirismos e ciais.
outras estranhezas do comportamento. - expectativa positiva quanto aos efeitos das substâncias de
abuso

15
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Fatores sociais: Retardo mental
- estrutura familiar disfuncional: violência doméstica, aban- Parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incom-
dono, pleto do funcionamento intelectual, caracterizados essencial-
- carências básicas. mente por um comprometimento, durante o período de desen-
- exclusão e violência social. volvimento, das faculdades que determinam o nível global de
- baixa escolaridade. inteligência, isto é, das funções cognitivas (processo de conhe-
- oportunidades e opções de lazer precárias. cimento/cognição), de linguagem, da motricidade e do compor-
- pressão de grupo para o consumo. tamento social. O retardo mental pode acompanhar um outro
- ambiente permissivo ou estimulador do consumo de subs- transtorno mental ou físico, ou ocorrer de modo independen-
tâncias temente.

Intoxicação por uso Abusivo de Substancias Psicoativas Tipos de retardo mental


Em geral, os quadros de intoxicação são atendidos em ser- Quociente de Inteligência-QI é um fator que mede a inteli-
viços de emergência, frequentemente em decorrência de com- gência das pessoas com base nos resultados de testes específi-
plicações clínicas, como rebaixamento do nível de consciência, cos. O QI mede o desempenho cognitivo de um indivíduo com-
convulsões e agitação psicomotora. As condutas devem ser to- parando a pessoas do mesmo grupo etário.
madas de acordo com o quadro clínico à admissão do paciente. - retardo mental leve: amplitude aproximada do QI entre 50
Frequentemente não dispomos de informações como a identifi- e 69 (em adultos, idade mental de 9 a menos de 12 anos). Prova-
cação exata da(s) droga(s) utilizada(s), assim como a quantida- velmente devem ocorrer dificuldades de aprendizado na escola.
de usada e o grau de tolerância prévia. As medidas específicas Muitos adultos serão capazes de trabalhar e de manter relacio-
devem ser de acordo com cada substância ingerida. namento social satisfatório e de contribuir para a sociedade.
- retardo mental moderado: amplitude aproximada do
Síndrome de Abstinência QI entre 35 e 49 (em adultos, idade mental de 6 a menos de 9
No manejo das síndromes de abstinência, devemos priorizar anos). Provavelmente devem ocorrer atrasos acentuados do de-
o alívio dos sintomas e a prevenção de complicações inerentes à senvolvimento na infância, mas a maioria dos pacientes aprende
abstinência da substância. O tratamento da síndrome de depen- a desempenhar algum grau de independência quanto aos cuida-
dência, em geral, pode ser realizado ambulatorialmente ou em dos pessoais e adquirir habilidades adequadas de comunicação
regime de internação hospitalar. Algumas possíveis indicações e acadêmicas. Os adultos necessitarão de assistência em grau
de internação hospitalar, conforme estão presentes na listagem variado para viver e trabalhar na comunidade.
a seguir: - retardo mental grave: amplitude aproximada de QI entre
- rebaixamento do nível de consciência; 20 e 40 (em adultos, idade mental de 3 a menos de 6 anos). Pro-
- crises convulsivas; vavelmente deve ocorrer a necessidade de assistência contínua.
- sintomas depressivos severos ou persistentes, especial- - retardo mental profundo: QI abaixo de 20 (em adultos,
mente com risco de suicídio; idade mental abaixo de 3 anos). Devem ocorrer limitações gra-
- sintomas psicóticos severos ou persistentes; ves quanto aos cuidados pessoais, continência, comunicação e
- comorbidades psiquiátricas (p. ex., esquizofrenia, transtor- mobilidade.
no afetivo bipolar, depressão melancólica, transtornos ansiosos
graves etc.); É comum que a grande maioria dos enfermeiros reconheça
- comorbidades clínicas severas (p. ex., AVC, hepatopatia, como ações dentro de um tratamento de saúde mental apenas
cardiopatias, infecções, doenças respiratórias etc.); a administração de remédios e o encaminhamento do paciente
- antecedente de síndrome de abstinência severa (delirium para serviços especializados. No entanto, o atendimento da en-
tremens,crises convulsivas); fermagem deve ir muito além, acolhendo e escutando o pacien-
- falha de tratamento ambulatorial; te com atenção e cuidado.
- falta de motivação para qualquer forma de tratamento; O enfermeiro que está tendo o primeiro contato com um
- ausência de suporte familiar ou social; paciente que sofre de transtornos mentais deve aprender a di-
- idosos; recionar a sua atenção em primeiro lugar no paciente e nas suas
- risco de vida (comportamento autodestrutivo, dívidas com necessidades. Como esse primeiro contato pode ser estressan-
traficantes etc.). te, uma assistência humanizada e diferenciada será de grande
valia para o sucesso do tratamento.
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – TDAH Escutar o paciente com atenção e interesse e, principalmen-
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade- te, valorizar a comunicação não verbal, devem ser peças-chaves
TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que em todos os atendimentos.
aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo Para o enfermeiro que nunca teve nenhum contato com a
por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desaten- área de saúde mental, a falta de procedimentos invasivos parece
ção, inquietude e impulsividade. Ocorre em 3 a 5% das crianças. incoerente. No entanto, a comunicação é um poderoso instru-
Os sintomas desatenção, hiperatividade e impulsividade po- mento transformador nas relações entre profissionais e pacien-
dem ser explicados da seguinte forma: Em geral as crianças são tes.
tidas como desligadas, avoadas, “vivendo no mundo da lua”, e A construção de um vínculo de confiança entre enfermeiro e
geralmente estabanadas ou ligadas, não param quietas por mui- paciente é a melhor ação terapêutica para esses casos.
to tempo.
Além disso, é preciso que o enfermeiro esteja preparado
para:

16
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Realizar avaliações biopsicossociais da saúde; Além das ações assistenciais, o Ministério da Saúde também
- Criar e implementar planos de cuidados para pacientes e atua ativamente na prevenção de problemas relacionados a saú-
familiares; de mental e dependência química, implementando, por exem-
-Participar de atividades de gerenciamento de caso; plo, iniciativas para prevenção do suicídio, por meio de convênio
- Promover e manter a saúde mental; firmado com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que permi-
- Fornecer cuidados diretos e indiretos; tiu a ligação gratuita em todo o país.
- Controlar e coordenar os sistemas de cuidados;
- Integrar as necessidades do paciente, da família e de toda ATENÇÃO: O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza
equipe médica. apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária
e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam con-
Todos esses pontos, juntamente com uma relação terapêu- versar, sob total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas
tica, trazem muitos benefícios ao tratamento, como a redução todos os dias. A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por
da ansiedade e do estresse, o aumento do bem-estar, a melhora meio do número 188, é gratuita a partir de qualquer linha tele-
da memória, da qualidade de vida e das funções psíquicas e a fônica fixa ou celular. Também é possível acessar www.cvv.org.
reintegração social do paciente. br para chat.
Nestes casos, as ações de enfermagem devem começar com
uma entrevista, com o profissional ouvindo atentamente a quei- Estrutura de atendimento - Rede de Atenção Psicossocial
xa do paciente, mas também a sua história de vida, o seu proces- (RAPS)
so de adoecimento e os seus problemas emocionais. É preciso As diretrizes e estratégias de atuação na área de assistên-
conversar com o paciente e com a família para orientá-los sobre cia à saúde mental no Brasil envolvem o Governo Federal, Esta-
as ações mais eficazes para o tratamento terapêutico. dos e Municípios. Os principais atendimentos em saúde mental
são realizados nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que
Como se proteger das possíveis intercorrências que podem existem no país, onde o usuário recebe atendimento próximo
acontecer? da família com assistência multiprofissional e cuidado terapêuti-
Um enfermeiro deve estar qualificado para desenvolver as co conforme o quadro de saúde de cada paciente. Nesses locais
suas atividades com pacientes com transtornos mentais, pois a também há possibilidade de acolhimento noturno e/ou cuidado
demanda varia de acordo com estado psíquico de cada paciente. contínuo em situações de maior complexidade.
O profissional deve estar preparado para saber lidar com as in- A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é formada pelos se-
tercorrências que podem acontecer, ficando muitas vezes mais guintes pontos de atenção:
vulnerável a efeitos negativos do trabalho.
Diante de uma situação como essa, é possível que apareça Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
a dúvida de como atuar em uma área que pode causar estresse São pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção Psi-
e desgaste emocional, dificultando o desempenho no trabalho e cossocial (RAPS). Unidades que prestam serviços de saúde de
caráter aberto e comunitário, constituído por equipe multipro-
até a vida pessoal do enfermeiro.
fissional que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza priorita-
A necessidade de uma constante capacitação para que os
riamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno
enfermeiros possam desenvolver as habilidades necessárias
mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso
para impedir que o seu trabalho diário com pacientes com trans-
de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em si-
tornos mentais influencie negativamente na sua vida pessoal,
tuações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial.
além da sua saúde física e emocional, se faz fundamental.
São substitutivos ao modelo asilar, ou seja, aqueles em que os
pacientes deveriam morar (manicômios).
A saúde mental
A Política Nacional de Saúde Mental é uma ação do Governo
Modalidades dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)
Federal, coordenada pelo Ministério da Saúde, que compreende CAPS I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtor-
as estratégias e diretrizes adotadas pelo país para organizar a as- nos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substân-
sistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados cias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 15
específicos em saúde mental. Abrange a atenção a pessoas com mil habitantes.
necessidades relacionadas a transtornos mentais como depres- CAPS II: Atendimento a todas as faixas etárias, para trans-
são, ansiedade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, trans- tornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de subs-
torno obsessivo-compulsivo etc, e pessoas com quadro de uso tâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos
nocivo e dependência de substâncias psicoativas, como álcool, 70 mil habitantes.
cocaína, crack e outras drogas. CAPS i: Atendimento a crianças e adolescentes, para trans-
O acolhimento dessas pessoas e seus familiares é uma es- tornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de subs-
tratégia de atenção fundamental para a identificação das ne- tâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos
cessidades assistenciais, alívio do sofrimento e planejamento 70 mil habitantes.
de intervenções medicamentosas e terapêuticas, se e quando CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias,
necessárias, conforme cada caso. Os indivíduos em situações especializado em transtornos pelo uso de álcool e outras drogas,
de crise podem ser atendidos em qualquer serviço da Rede de atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
Atenção Psicossocial, formada por várias unidades com finalida- CAPS III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento no-
des distintas, de forma integral e gratuita, pela rede pública de turno e observação; todas faixas etárias; transtornos mentais
saúde. graves e persistentes inclusive pelo uso de substâncias psicoa-
tivas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil ha-
bitantes.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
CAPS ad III Álcool e Drogas: Atendimento e 8 a 12 vagas de mica e transtornos de ansiedade, atendendo às necessidades de
acolhimento noturno e observação; funcionamento 24h; todas complexidade intermediária entre a atenção básica e os Centros
faixas etárias; transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, de Atenção Psicossocial (CAPS).
atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes.
Comunidades Terapêuticas
São serviços destinados a oferecer cuidados contínuos de
ATENÇÃO: Se o município não possuir nenhum CAPS, o aten- saúde, de caráter residencial transitório para pacientes, com ne-
dimento de saúde mental é feito pela Atenção Básica, principal cessidades clínicas estáveis, decorrentes do uso de crack, álcool
porta de entrada para o SUS, por meio das Unidades Básicas de e outras drogas.
Saúde ou Postos de Saúde.
Enfermarias Especializadas em Hospital Geral
Urgência e emergência: SAMU 192, sala de estabilização, São serviços destinados ao tratamento adequado e mane-
UPA 24h e pronto socorro jo de pacientes com quadros clínicos agudizados, em ambiente
São serviços para o atendimento de urgências e emergên- protegido e com suporte e atendimento 24 horas por dia. Apre-
cias rápidas, responsáveis, cada um em seu âmbito de atuação, sentam indicação para tratamento nesses Serviços pacientes
pela classificação de risco e tratamento das pessoas com trans- com as seguintes características: incapacidade grave de auto-
torno mental e/ou necessidades decorrentes do uso de crack, cuidados; risco de vida ou de prejuízos graves à saúde; risco de
álcool e outras drogas em situações de urgência e emergência, autoagressão ou de heteroagressão; risco de prejuízo moral ou
ou seja, em momentos de crise forte. patrimonial; risco de agresão à ordem pública. Assim, as inter-
nações hospitalares devem ocorrer em casos de pacientes com
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) quadros clínicos agudos, em internações breves, humanizadas e
São moradias ou casas destinadas a cuidar de pacientes com vistas ao seu retorno para serviços de base aberta.
com transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas
de longa permanência e que não possuam suporte social e la- Hospital-Dia
ços familiares. Além disso, os Serviços Residenciais Terapêuti- É a assistência intermediária entre a internação e o atendi-
cos (SRTs) também podem acolher pacientes com transtornos mento ambulatorial, para realização de procedimentos clínicos,
mentais que estejam em situação de vulnerabilidade pessoal e cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, que requeiram a perma-
social, como, por exemplo, moradores de rua. nência do paciente na Unidade por um período máximo de 12
horas.
Unidades de Acolhimento (UA)
Oferece cuidados contínuos de saúde, com funcionamento O que é Reabilitação Psicossocial?
24h/dia, em ambiente residencial, para pessoas com necessida- A reabilitação psicossocial é compreendida como um con-
de decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, de am- junto de ações que buscam o fortalecimento, a inclusão e o exer-
bos os sexos, que apresentem acentuada vulnerabilidade social cício de direitos de cidadania de pacientes e familiares, median-
e/ou familiar e demandem acompanhamento terapêutico e pro- te a criação e o desenvolvimento de iniciativas articuladas com
tetivo de caráter transitório. O tempo de permanência nessas os recursos do território nos campos do trabalho, habitação,
unidades é de até seis meses. educação, cultura, segurança e direitos humanos.

As Unidades de Acolhimento são divididas em:


Unidade de Acolhimento Adulto (UAA): destinada às pes-
soas maiores de 18 (dezoito) anos, de ambos os sexos; e Unida-
de de Acolhimento Infanto-Juvenil (UAI): destinada às crianças e
aos adolescentes, entre 10 (dez) e 18 (dezoito) anos incomple-
tos, de ambos os sexos.
As UA contam com equipe qualificada e funcionam exata-
mente como uma casa, onde o usuário é acolhido e abrigado
enquanto seu tratamento e projeto de vida acontecem nos di-
versos outros pontos da RAPS.

Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde Mental


Os Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde Mental são
serviços compostos por médico psiquiatra, psicólogo, assisten-
te social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, enfermeiro e
outros profissionais que atuam no tratamento de pacientes que
apresentam transtornos mentais. Esses serviços devem prestar
atendimento integrado e multiprofissional, por meio de consul-
tas.
Funcionam em ambulatórios gerais e especializados, policlí-
nicas e/ou em ambulatórios de hospitais, ampliando o acesso
à assistência em saúde mental para pessoas de todas as faixas
etárias com transtornos mentais mais prevalentes, mas de gravi-
dade moderada, como transtornos de humor, dependência quí-

18
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

O que fazer para ter uma boa saúde mental?


- Praticar hábitos saudáveis e adotar um estilo de vida de qualidade, ajudam a manter a saúde mental em dia.
- Jamais se isole
- Consulte o médico regularmente
- Faça o tratamento terapêutico adequado
- Mantenha o físico e o intelectual ativos
- Pratique atividades físicas
- Tenha alimentação saudável
- Reforce os laços familiares e de amizades

19
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Quem pode ser afetado por problema de saúde mental e/ - Alinhamento entre a Política Nacional sobre Drogas e a re-
ou dependência química? cém-publicada Política Nacional de Saúde Mental;
Todas as pessoas, de ambos os sexos e em qualquer faixa - Ações de Prevenção, Promoção à Saúde e Tratamento pas-
etária, pode ser afetado, em algum momento, por problemas de sam a ser baseadas em evidências científicas;
saúde mental ou dependência química, de maior ou menor gra- - Posição contrária à legalização das drogas;
vidade. Algumas fases, no entanto, podem servir como gatilhos - Estratégias de tratamento não devem se basear apenas em
para início do problema. Redução de Danos, mas também em ações de Promoção de Abs-
- Entrada na escola (início dos estudos) tinência, Suporte Social e Promoção da Saúde;
- Adolescência - Fomento à pesquisa deve se dar de forma equânime, ga-
- Separação dos pais rantindo a participação de pesquisadores de diferentes corren-
- Conflitos familiares tes de pensamento e atuação;
- Dificuldades financeiras - Ações Intersetoriais;
- Menopausa
- Apoio aos pacientes e familiares em articulação com Gru-
- Envelhecimento
pos, Associações e Entidades da Sociedade Civil, incluindo as Co-
- Doenças crônicas
munidades Terapêuticas;
- Divórcio
- Modificação dos documentos legais de orientação sobre a
- Perda entes queridos
- Desemprego Política Nacional sobre Drogas, destinados aos parceiros gover-
- Fatores genéticos namentais, profissionais da saúde e população em geral;
- Fatores infecciosos - Atualização da posição do Governo brasileiro nos foros in-
- Traumas ternacionais, seguindo a presente Resolução.
- Falsos conceitos sobre saúde mental
Direitos das pessoas com transtornos mentais
É comum que as pessoas que sofram com transtornos men-
tais ou dependência química seja, muitas vezes, incompreendi- Programa de Volta para Casa
das, julgadas, excluídas e até mesmo marginalizadas, devido a O Programa de Volta para Casa é um dos instrumentos mais
falsos conceitos ou pré-conceitos errados. efetivos para a reintegração social das pessoas com longo his-
Entenda que as doenças mentais: tórico de hospitalização. Trata-se de uma das estratégias mais
- Não são fruto da imaginação; potencializadoras da emancipação de pessoas com transtornos
- A pessoa não escolhe ter; mentais e dos processos de desinstitucionalização e redução de
- Algumas doenças mentais têm cura, outras possuem trata- leitos nos estados e municípios. Criado por lei federal, o Progra-
mentos específicos; ma é a concretização de uma reivindicação histórica do movi-
- Pessoas com problemas mentais são tão inteligentes quan- mento da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
to as que não têm; O objetivo é contribuir efetivamente para o processo de
- Pessoas com problemas mentais não são preguiçosas; inserção social das pessoas com longa história de internações
em hospitais psiquiátricos, por meio do pagamento mensal de
Estes mitos, aliados à discriminalização, aumentam os sin- um auxílio-reabilitação aos beneficiários. Para receber o auxí-
tomas do problema e, em muitas ocasiões, podem levar até ao lio-reabilitação do Programa De Volta para Casa, a pessoa deve
suicídio. Mesmo nos casos mais graves, é possível controlar e ser egressa de Hospital Psiquiátrico ou de Hospital de Custódia
reduzir os sintomas por meio de medidas de reabilitação e trata- e Tratamento Psiquiátrico, e ter indicação para inclusão em pro-
mentos específicos. A recuperação é mais efetiva e rápida quan- grama municipal de reintegração social. O Programa possibilita
to mais precocemente o tratamento for iniciado.
a ampliação da rede de relações dos usuários, assegura o bem
estar global da pessoa e estimula o exercício pleno dos direitos
FAÇA SUA PARTE. NÃO DISSEMINE FALSOS CONCEITOS! Não
civis, políticos e de cidadania, uma vez que prevê o pagamento
questione, não ache que é frescura e que é simplesmente for-
do auxílio-reabilitação diretamente ao beneficiário, por meio de
ça de vontade para superar. Não estigmatize. Apoie. Dê amor,
atenção e compreensão. Ajude a reabilitar, incentivando acom- convênio entre o Ministério da Saúde e a Caixa Econômica Fe-
panhamento profissional adequado. Ajuda a integrar ou reinte- deral.
grar a pessoa.
Benefício de Prestação Continuada (BPC)
Tratamentos para saúde mental e dependência química O benefício de prestação continuada é gerido pelo Minis-
São o conjunto de estratégias adotadas para prestar tra- tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e
tamento em saúde às pessoas com problemas relacionados operacionalizado pelo Instituto Nacional da Seguridade Social
a transtornos mentais, ao abuso e à dependência de substân- (INSS). Os recursos para seu custeio provêm do Fundo Nacional
cias psicoativas, como álcool, tabaco, cocaína, crack, maconha, de Assistência Social (FNAS). É, na verdade, a garantia de um sa-
opioides, alucinógenos, drogas sintéticas, etc. O uso, abuso e lário mínimo mensal ao idoso acima de 65 anos ou à pessoa com
dependência química são problemas complexos, multifatoriais, deficiência de qualquer idade com impedimentos de natureza
que exigem abordagem interdisciplinar, envolvendo múltiplas física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo (aquele
áreas governamentais (Saúde, Assistência Social, Trabalho, Jus- que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 anos), que o impos-
tiça). Recentemente, o Governo alterou as diretrizes de sua Polí- sibilite de participar de forma plena e efetiva na sociedade, em
tica Nacional sobre Drogas, por meio da Resolução no 1 de 2018 igualdade de condições com as demais pessoas.
do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (CONAD). Abai-
xo, seguem as principais mudanças apresentadas na Resolução
do CONAD:

20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Benefício de Prestação Continuada na Escola BRITTO apud MESQUITA (2008:3) nos explica:
O programa Benefício de Prestação Continuada na Escola Com o relevante crescimento da população, a Cidade passou
tem como objetivo monitorar o acesso e permanência na escola a se deparar com alguns problemas e, dentre eles, a presença
dos beneficiários com deficiência, na faixa etária de 0 a 18 anos, dos loucos pelas ruas. O destino deles era a prisão ou a Santa
por meio de ações articuladas, entre as áreas da educação, as- Casa de Misericórdia, que era um local de amparo, de caridade,
sistência social, direitos humanos e saúde. Tem como principal não um local de cura. Lá, os alienados recebiam um “tratamen-
diretriz a identificação das barreiras que impedem ou dificultam to” diferenciado dos outros internos. Os insanos ficavam amon-
o acesso e a permanência de crianças e adolescentes com defi- toados em porões, sofrendo repressões físicas quando agitados,
ciência na escola e o desenvolvimento de ações intersetoriais, sem contar com assistência médica, expostos ao contágio por
envolvendo as Políticas de Educação, de Assistência Social, de doenças infecciosas e subnutridos. Interessante observar que
Saúde e de Direitos Humanos, com vista à superação destas bar- naquele momento, o recolhimento do louco não possuía uma
reiras. atitude de tratamento terapêutico, mas, sim, de salvaguardar
a ordem pública.
A reforma psiquiátrica A psiquiatria nasce, no Brasil com o desígnio de resguardar
A Reforma Psiquiátrica no Brasil deve ser entendida como a população contra os exageros da loucura, ou seja, não havia
um processo político e social complexo. Na década de 70 são finalidade em buscar uma cura para aqueles acometidos de
registradas várias denúncias quanto à política brasileira de saú- transtornos mentais, mais sim, excluí-los do seio da sociedade
de mental em relação à política de privatização da assistência para que esta não se sentisse amofinada. ROCHA (1989, p.13)
psiquiátrica por parte da previdência social, quanto às condições 9. Portanto, a questão principal era o isolamento dos doentes
(públicas e privadas) de atendimento psiquiátrico à população. mentais e não com um tratamento. É o Hospício D. Pedro II que,
É nesse contexto, no fim da década citada, que surge peque- em 1852, passa a internar os doentes mentais e a tirá-los do
nos núcleos estaduais, principalmente nos estados de São Paulo, convívio em sociedade.
Rio de Janeiro e Minas Gerais. Estes constituem o Movimento de (ROCHA 1989:15) 10. Este mesmo autor enfatiza que “é a
Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM). psiquiatria que cria espaço próprio para o enclausuramento do
No Rio de Janeiro, em 1978, eclode o movimento dos tra- louco – capaz de dominá-lo e submete-lo.” Estes lugares de clau-
balhadores da Divisão Nacional de Saúde Mental (DINSAM) e sura eram os hospitais psiquiátricos também denominados asi-
coloca em xeque a política psiquiátrica exercida no país. A ques- los, hospícios e manicômios.
tão psiquiátrica é colocada em pauta, em vista disto, tais mo- Com o fim da Segunda Guerra Mundial, começa a surgir o
vimentos fazem ver à sociedade como os loucos representam modelo manicomial brasileiro, principalmente os manicômios
a radicalidade da opressão e da violência imposta pelo estado privados. Nos anos 60, com a criação do Instituto Nacional de
autoritário. A Reforma busca coletivamente construir uma críti- Previdência Social (INPS), o Estado passa a utilizar os serviços
ca ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico psiquiátricos do setor privado. Dessa forma, cria-se uma “indús-
na assistência às pessoas com transtornos mentais. tria para o enfrentamento da loucura” (Amarante, 1995:13).
A Reforma Psiquiátrica no Brasil deve ser entendida como O modelo asilar ou hospitalocêntrico continua predominan-
um processo político e social complexo, tendo em vista, ser te até o final do primeiro meado do século XX. Até que em 1961,
o mesmo uma combinação de atores, instituições e forças de o médico italiano Franco Baságlia assume a direção do Hospital
diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos Psiquiátrico de Gorizia, na Itália. No campo das relações entre
governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no a coletividade e a insanidade, ele assumia uma atitude crítica
mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas para com a psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar
associações de pessoas com transtornos mentais e de seus fami- no princípio do insulamento do alienado. Ele defendia, ao con-
liares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário trário, que o doente mental voltasse a viver com sua família.
social e da opinião pública. (BRASIL, 2005). O movimento pela Sua atitude inicial foi aperfeiçoar a qualidade de hospedaria e
Reforma Psiquiátrica tem início no Brasil no final dos anos se- o cuidado técnico aos internos no hospital em que dirigia. Es-
tenta. Este movimento tinha como bandeira a luta pelos direitos sas normas e o pensamento de Franco Baságlia influenciam, en-
dos pacientes psiquiátricos em nosso país. O que implicava na tre outros, o Brasil, fazendo ressurgir diversas discussões que
superação do modelo anterior, o qual não mais satisfazia a so- tratavam da desinstitucionalização do portador de sofrimento
ciedade. mental e da humanização do tratamento a essas pessoas, com o
O processo da Reforma Psiquiátrica divide-se em duas fases: objetivo de promover a re-inserção social.
a primeira de 1978 a 1991 compreende uma crítica ao modelo
hospitalocêntrico, enquanto a segunda, de 1992 aos dias atuais A Reforma Psiquiátrica no Brasil
destaca-se pela implantação de uma rede de serviços extrahos- Na década de 70 são registradas várias denúncias quanto
pitalares. à política brasileira de saúde mental em relação à política de
O modelo mais adotado para conter a loucura foi o asilo. privatização da assistência psiquiátrica por parte da previdên-
Britto apud Mesquita (2008:3) informa que no Brasil a institui- cia social, quanto às condições (públicas e privadas) de atendi-
ção da psiquiatria encontra-se relacionado à vinda da Família mento psiquiátrico à população. É nesse contexto, que no fim
Real Portuguesa em 1808. Foi nesta época que foram construi- da década citada, que surge a questão da reforma psiquiátrica
dos os primeiros asilos que funcionavam como depósitos de no Brasil. Pequenos núcleos estaduais, principalmente nos es-
doentes, mendigos, deliquentes e criminosos, removendo-os tados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais constituem o
da sociedade, com o objetivo de colocar ordem na urbanização, Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM). No Rio
disciplinando a sociedade e sendo, dessa forma, compatível ao de Janeiro, em 1978, eclode o movimento dos trabalhadores da
desenvolvimento mercantil e as novas políticas do século XIX. Divisão Nacional de Saúde Mental (DINSAM) e coloca em xeque
a política psiquiátrica exercida no país. A questão psiquiátrica é

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
colocada em pauta: “... tais movimentos fazem ver à sociedade mento asilar não representava a exclusiva perspectiva para esta
como os loucos representam a radicalidade da opressão e da vio- classe da população a qual tinha seus direitos cerceados, impe-
lência imposta pelo estado autoritário”. (Rotelli et al, 1992: 48). dida de ir e vir, em internações infindáveis onde os usuários em
Na década de 80, ocorrem vários encontros, preparatórios diversos casos perdiam suas referencia com familiares e grupos
para a I Conferência Nacional de Saúde Mental (I CNSM), que afetivos. Efetivando-se acima de tudo em perda da autonomia
ocorreu em 1987 os quais recomendam a priorização de inves- destes.
timentos nos serviços extra-hospitalares e multiprofissionais A Reforma destaca-se então enquanto um movimento com
como oposição à tendência hospitalocêntrica. No final de 1987 a finalidade de intervir no então modelo vigente, buscando o
realiza-se o II Congresso Nacional do MTSM em Bauru, SP, no fim da mercantilização da loucura para assim poder “[...] cons-
qual se concretiza o Movimento de Luta Antimanicomial e é truir coletivamente uma critica ao chamado saber psiquiátrico
construído o lema „por uma sociedade sem manicômios‟. Nes- e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com
se congresso amplia-se o sentido político-conceitual acerca do transtornos mentais. [...]” (BRASIL, 2005, P.2). Em 1990, o Brasil
antimanicomial. torna-se signatário da Declaração de Caracas a qual propõe a
reestruturação da assistência psiquiátrica.
AMARANTES (1995:82) explica: A Reforma ficou também conhecida como o Movimento de
Enfim, a nova etapa (...) consolidada no Congresso de Bau- Luta Antimanicomial, tendo como meta a desinstitucionaliza-
ru, repercutiu em muitos âmbitos: no modelo assistencial, na ção do manicômio, compreendida como um conjunto de trans-
ação cultural e na ação jurídicopolítica. No âmbito do modelo formações de prática, saberes, valores culturais e sociais. É no
assistencial, esta trajetória é marcada pelo surgimento de novas cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações
modalidades de atenção, que passaram a representar uma alter- inter-pessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança,
nativa real ao modelo psiquiátrico tradicional.... marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios. A Reforma
No ano de 1989, um ano após a criação do SUS – Sistema destaca-se então enquanto um movimento com a finalidade de
Único de Saúde – dá entrada no Congresso Nacional o Projeto intervir no então modelo vigente, buscando o fim da mercantili-
de Lei do deputado Paulo Delgado (PT/MG). zação da loucura para assim poder construir coletivamente uma
critica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocên-
O qual propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com
trico na assistência às pessoas com transtornos mentais.3
transtornos mentais e a extinção progressiva dos hospícios no
país. Porém, cabe enfatizar que é somente no ano de 2001, após
Saúde mental, no modelo de atenção psicossocial, é con-
12 anos de tramitação no Congresso Nacional, que a Lei Paulo
siderada uma área que se insere na ideia de complexidade, de
Delgado é aprovada no país. A concordância, no entanto, é uma
simultaneidade, de transversalidade de saberes, de “constru-
emenda do Projeto de Lei original, que traz alterações importan-
cionismo” e de “reflexividade”. Assim, a área da saúde mental
tes no texto normativo.
constitui uma complexa rede de saberes que envolve a psiquia-
Assim, a Lei Federal 10.216/2001 redireciona o amparo em
tria, a neurologia e as neurociências, a psicologia, a psicanálise,
saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em
a filosofia, a fisiologia, a antropologia, a sociologia, a história e a
serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os di- geografia (Amarante, 2011).
reitos das pessoas com transtornos mentais, no entanto, não A transição paradigmática na saúde mental acompanha a
estabelece estruturas claras para a progressiva extinção dos ma- transformação na saúde pública, na medida em que supera o
nicômios. Ainda assim, a publicação da lei 10.216 impõe novo modelo asilar biomédico que é centrado na doença e no qual o
impulso e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica médico é a figura de poder, detentor máximo da verdade, neu-
no Brasil, pois mesmo antes de sua aprovação, suas consequên- tralidade e distanciamento de seu “objeto de cuidado”.
cias já eram visíveis por meio de diferentes ações, tais como a de Da mesma maneira, no cenário internacional, Mezzina
criação das SRTs e de programas, tal como “De volta pra casa”. (2005) aponta a mudança paradigmática na saúde mental como
Novas modalidades para o tratamento do usuário de saúde men- uma “ruptura revolucionária”, que vai do modelo médico-bioló-
tal foram postas em prática. gico para um olhar ampliado, que inclui aspectos psicossociais
A Luta Antimanicomial possibilitou o desenvolvimento de do sujeito a ser cuidado. Propõe-se a ruptura com as instituições
pontos extremamente importantes para a desinstitucionaliza- totais e a organização de serviços humanos, inseridos nas comu-
ção da loucura. Podemos destacar aqui o surgimento de rele- nidades, que consideram o paciente como sujeito e não como
vantes serviços de atendimentos Extra-Hospitalares oriundos da objeto.
Reforma Psiquiátrica: Núcleo de Atenção Psico-social (NAPS); Segundo Costa-Rosa (2000), o paradigma psicossocial se
Centro de Atendimento Psico-social (CAPs I, CAPs II, CAPs III, pauta em quatro parâmetros fundamentais:
CAPsi, CAPsad); Centro de Atenção Diária (CADs); Hospitais Dias - implicação subjetiva do usuário, pressupondo a superação
(HDs); Centros de Convivência e Cultura. do modo de relação sujeito-objeto, característico do modelo
A Lei Paulo Delgado foi criticada, sobretudo por proprie- biomédico e das disciplinas especializadas que se pautam pelas
tários de hospitais e clínicas privadas conveniadas ao SUS, nas ciências positivistas;
quais se localizavam a maior parte dos leitos para o atendimento - horizontalização das relações intrainstitucionais, tanto en-
dos doentes mentais. Em 1985, Segundo dados do Ministério da tre as esferas do poder decisório, de origem política, e as esfe-
Saúde. 80% dos leitos psiquiátricos eram contratados enquanto ras do poder de coordenação, de natureza mais operativa, como
somente 20% eram internações na rede pública. (BRASIL, 2005). também das relações especificamente interprofissionais;
TENÓRIO (2002:38) aponta para dois grandes marcos da dé- - integralidade das ações no território que preconiza o po-
cada de 80, no que tange à Reforma Psiquiátrica: a inauguração sicionamento da instituição como espaço de interlocução, como
do primeiro CAPS na Cidade de São Paulo e a Intervenção Públi- instância de “suposto saber” e, ao fazer dela um espaço de in-
ca na Casa de Saúde Anchieta (Santos-SP) a qual funcionava com 3 Fonte: www.abep.nepo.unicamp.br - Por José Ferreira De Mesquita/Maria Sa-
145% de ocupação (290 leitos com 470 internados). O interna- let Ferreira Novellino/Maria Tavares Cavalcanti

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
tensa porosidade em relação ao território, praticamente subver- racionalistas e mecanicistas e pelo vitalismo dos séculos XVIII e
te a própria natureza da instituição como dispositivo. A natureza XIX; pela relação entre os estudos fisiológicos e clínicos e pela
da instituição como organização fica modificada e o local de exe- medicina preventiva do século XIX ( Beauvoir,1990).
cução de suas práticas se desloca do antigo interior da institui- No Brasil, o interesse na Geriatria iniciou-se em 1961, com a
ção para tomar o próprio território como referência; criação da Sociedade Brasileira de Geriatria, que posteriormente
- superação da ética da adaptação, ao propor suas ações na passou a ser designada Sociedade Brasileira de Geriatria e Ger-
perspectiva de uma ética de duplo eixo que considera, por um ontologia (SBGG). Na década de 70, alguns serviços de saúde,
lado, a relação sujeito-desejo e, por outro, a dimensão careci- geralmente ligados às universidades começam a oferecer aten-
mento-ideais, firmando a meta da produção de subjetividade dimentos a idosos doentes. Já, nos anos 80, esses serviços pro-
singularizada, tanto nas relações imediatas com o usuário pro- liferam e iniciam um atendimento mais sistemático ao idoso,
priamente dito quanto nas relações com toda a população do oferecendo também atividades voltadas à promoção da saúde e
território (Costa-Rosa, 2000). à prevenção das doenças.
O fato de a Geriatria ter surgido antes da Gerontologia
Assim, o paradigma psicossocial situa a saúde mental no relaciona, até hoje, os problemas vivenciados pelos idosos às
campo da saúde coletiva, compreendendo o processo saúde- doenças, cujas causas biológicas e/ou psicológicas são consid-
-doença como resultante de processos biopsicossociais comple- eradas individuais, deixando, então, as dimensões social e políti-
xos, que demandam uma abordagem interdisciplinar e interse- ca da questão da velhice subestimada, tornando a velhice homo-
torial, com ações inseridas em uma diversidade de dispositivos geneizada por determinados estereótipos.
comunitários e territorializados de atenção e de cuidado (Yasui Ao meu ver, essa questão vem, aos poucos, sendo trans-
& Costa-Rosa, 2008). formada e direcionada a que os profissionais que cuidam dos
No nível das práticas, isso implica na mudança de concep- idosos passem a ter sobre eles uma visão mais integrada e um
ções sobre o que é tratar/cuidar, partindo da busca de contro- cuidado holístico.
lar sintomas e comportamentos, da fragmentação do paciente Apesar das várias discussões em torno da terminologia Ger-
e da distância entre este e o profissional, chegando à busca de ontologia, foi em Salgado (1989, p.23) que encontrei o conceito
compreensão do sofrimento da pessoa e suas necessidades con- mais amplo, mais global ou seja,
cretas, incluindo as psicológicas e altamente subjetivas, colocan- “Gerontologia é o estudo do processo de envelhecimento,
do a pessoa como centro, sendo vista e considerada em suas com base nos conhecimentos oriundos das ciências biológi-
dimensões biopsicossociais, baseando-se no princípio da sin- cas, psicocomportamentais e sociais [...] vêm se fortalecendo
gularização, ou seja, no reconhecimento e consideração de sua dois ramos igualmente importantes: a Geriatria, que trata das
história, de suas condições de vida e de sua subjetividade úni- doenças no envelhecimento; e a Gerontologia Social, voltada aos
cas no momento assistencial (Costa, 2004).Nessa direção, para processos psicossociais manifestados na velhice. Embora não se
que a transição paradigmática proposta se efetive de fato, faz-se encontrem definitivamente explorados, esses dois setores das
necessária a participação de diversos atores sociais, e um dos pesquisas gerontológicas já apresentaram [...] contribuições
atores fundamentais nesse processo é o profissional de saúde para a elucidação da natureza do processo de envelhecimento,
mental, que está na “linha de frente” do cotidiano assistencial. e provaram estar em condições de levantar questões sobre os
problemas dele decorrentes. Na realidade, desde que não se
considerem setores excludentes, já permitem interpretações e
elucidações, com base científica”.
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM GERONTOLOGIA Penso que as questões geriátricas, voltadas à saúde e à
doença, às alterações surgidas pelo processo de envelhecimento
GERONTOLOGIA: histórico e conceitos e às outras interfaces biológicas, estão por demais exploradas e
Foi no século XIX que cuidar dos idosos tornou-se uma es- claras. Já, as questões referentes às relações sociais dos idosos
pecialidade, iniciando-se como grande ciência, embora não sen- e às dificuldades enfrentadas por eles nas relações com os out-
do ainda designada como Geriatria. No século XX, o america- ros necessitam ser estudadas com mais empenho pelos profis-
no Metchinikoff, apresentou um tratado, no qual correlaciona sionais de enfermagem, principalmente considerando que, na
a velhice a um tipo de auto-intoxicação. Ainda neste século, sociedade industrial moderna, o que importa é produzir, fican-
Nascher, pediatra americano nascido em Viena, criou o termo do os seres humanos idosos esquecidos nas políticas públicas.
Geriatria (Beauvoir,1990), ramo da Medicina que trata dos as- Este fato tem relação com inúmeras questões culturais e sociais,
pectos biológicos, psicológicos e sociais das doenças que podem dentre as quais a exacerbação do valor da força e vitalidade da
acometer aos idosos. Mais tarde, foi criado o termo Gerontolo- juventude, as características demográficas que somente na últi-
gia (Beauvoir,1990), como sendo uma especialidade com caráter ma década inverteu a tendência de mortinatalidade, o desvio do
global e um ramo da ciência que se propõe a estudar o processo mercado de trabalho que tende a não investir socialmente em
de envelhecimento e os múltiplos problemas que possam en- ações que não impliquem na valorização dos meios de produção.
volver o ser humano. Outros conceitos precisam ser expostos, até para com-
Mas, ao adentrar-nos na historicidade dessa ciência, é im- parações, entre eles destaco o de Carvalho, apresentado por Sá
portante destacar que a preocupação com o ser humano idoso (1999, p.225), referindo que a Gerontologia estuda o idoso do
e com o processo de envelhecimento data de épocas bem re- ponto de vista científico, em todos os seus aspectos, físicos, bi-
motas, desde Hipócrates, na antiga Grécia; passa por Galeno, ológicos, psíquicos e sociais, sendo responsável pelo atendimen-
já no final do século II, com sua teoria dos humores e do calor to global do cliente, para essa autora, “a Geriatria, que se ocupa
interno; pelos regimes de saúde e longevidade da Idade Média, do aspecto médico do idoso, pode ser considerada como parte
apresentados pela Escola de Salermo e de Montpelier; pelos de Gerontologia”.
estudos anatômicos, no período da Renascença; pelas teorias

23
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Sá (1999, p.225), citando Donfut, descreve que “a Geron- Também não se pode perceber a interdisciplinaridade en-
tologia é o conjunto das disciplinas que intervêm no mesmo quanto trabalho em equipe ou parceria, ou ainda enquanto
campo, o campo da velhice.” Já, segundo Reboul, referido pela consenso, harmonia, pois ela se constitui dialeticamente, apre-
mesma autora, “a Gerontologia é a ciência que estuda o envel- sentando-se una e diversa e impedindo o reducionismo infétil.
hecimento; a Geriatria é a ciência médica que cuida das pessoas Conforme Jantsch e Bianchetti (1999), a interdisciplinaridade
idosas; a primeira noção é médica e social, a segunda é unica- pode ser conquistada de forma individualizada ou coletiva. Ain-
mente médica e se aplica ao domínio da patologia”. da não se pode perder de vista que “a interdisciplinaridade é um
Estes conceitos evidenciam o parcelamento da Gerontologia princípio dialético da produção do conhecimento e do pensam-
e da Geriatria, quando o segundo surge a partir do primeiro con- ento” (Jantsch,1996, p.39) e não um simples “ajuntamento” de
ceito, tornando difícil o mais importante, que é cuidar do ser hu- profissionais de disciplinas diversas.
mano que envelhece ou já envelhecido, ajudando-o a conquistar Portanto, concordo com Sá (1999, p.227), quando afirma
uma melhor qualidade de vida, na sua última fase do proces- que “a Gerontologia, em sua constituição, incorpora subsídi-
so de viver humano. Ao meu ver, esses conceitos direcionam a os científicos e técnicos de outros ramos que lhe são afins [...]
colocar a Gerontologia como sendo uma ciência ampla, tendo transcendendo-os. Aqui está sua maior contradição, que corre-
em seu bojo a Geriatria e a Gerontologia Social. Parece evidente sponde a sua maior riqueza: ao mesmo tempo que se desloca
que a explicitação e a análise da sua cientificidade trarão con- como ‘especialização,’ ela ultrapassa, de imediato, as carac-
tribuições para tornar mais claros o seu padrão de construção, a terísticas da atomização e da unilateralidade. Não pode frag-
sua configuração e a sua especificidade enquanto ciência. mentar o objeto [...], porque a parte que ela isola ou arranca do
Considere-se que existem determinações históricas, através contexto originário do real, só pode ser explicada efetivamente
das quais se pode alcançar o significado sócio-institucional e na integridade de suas características”.
a legitimidade da Gerontologia enquanto ciência, partindo do Considero a Gerontologia capaz de reconstruir a síntese das
fato de que a Gerontologia procura atender as necessidades hu- várias disciplinas que compõem o seu corpo de conhecimento,
manas e sociais do ser humano idoso e, em última análise, da incorporando-lhes aqueles conhecimentos elaborados em sua
própria sociedade, se pensamos que o envelhecimento da pop- prática específica. Faz isto, não reduzindo as ciências a um de-
ulação e os avanços no campo da prevenção e cura das doenças
nominador comum, mas considerando a cooperação entre os
poderá determinar profundas transformações nas relações soci-
conteúdos, de modo a configurar uma nova totalidade, com
ais, quer no âmbito restrito, quer do trabalho.
atividades claras e com caminhos próprios para chegar ao con-
A justificativa de existência da Gerontologia, portanto está
hecimento de um objeto específico. É importante caracterizar
relacionada a questões sociais por demais expressivas, como o
que na interdisciplinaridade não se estabelece uma “afonia” das
aumento brusco e acelerado da expectativa de vida, acarretan-
disciplinas, o que nos deixa confortáveis para pensar nas carac-
do problemas demográficos, tal como a alta demanda de idosos
terísticas da Enfermagem Gerontológica.
nos serviços de saúde e problemas epidemiológicos, como a alta
incidência e gastos elevados das doenças crônico-degenerativas,
ENFERMAGEM GERONTOLÓGICA: conceito, objetivos, fun-
tais problemas de largo alcance; a questão das desigualdades
sociais, originárias do modelo econômico e das relações sociais damentos teóricos
entre os seres humanos e entre as classes sociais; a necessidade Assim apresento o conceito de Enfermagem Gerontológica;
de exercício pleno da cidadania, não deixando dúvidas, portan- descrevo os fundamentos teóricos que embasam os cuidados
to, sobre o caráter interventivo da Gerontologia. gerontológicos; apresento os objetivos e os requisitos básicos
para atuar nesta área. Dentre os conceitos de Enfermagem Ger-
A GERONTOLOGIA E A INTERDISCIPLINARIDADE ontológica, destaco o de Gunter e Miller, apresentado por Du-
Um elemento extremamente importante para a Gerontolo- arte (1997, p.223), para as quais esta especificidade se estabe-
gia é a interdisciplinaridade, a qual objetiva, segundo Minayo lece como “o estudo científico do cuidado de enfermagem ao
(1994) estabelecer conexões e correspondências entre as disci- idoso, caracterizado como ciência aplicada, com o propósito de
plinas científicas, colocando-se atualmente como uma alternati- utilizar os conhecimentos do processo de envelhecimento, para
va na busca do equilíbrio entre a análise fragmentada e a síntese o planejamento da assistência de enfermagem e dos serviços,
simplificadora, entre a especialização e o saber geral e entre o que melhor atendam à promoção da saúde, à longevidade, à in-
saber especializado e a reflexão filosófica. dependência e ao nível mais alto possível de funcionamento do
Assim, a interdisciplinaridade direciona os profissionais idoso.”
que cuidam dos idosos a “entenderem” a construção histórica Para tanto, a Enfermagem Gerontológica desenvolve sua at-
do objeto da Gerontologia, implicando este “entendimento” na uação em diferentes campos, como na educação, na assistência,
constituição do próprio campo e na construção de instrumentos na assessoria e/ou consultoria, no planejamento e coordenação
adequados para a intervenção sobre este objeto. A interdisci- de serviços e outros, sendo, no momento, um dos campos mais
plinaridade é um conceito fundamental na prática com o idoso. promissores para a ação da Enfermagem, principalmente no to-
Porém a interdisciplinaridade não pode ser vista como cante à promoção da saúde dos idosos, seja atuando em grupos
solução mágica para todos os problemas enfrentados na prática de idosos saudáveis, seja realizando cuidados domiciliários a
profissional, muito menos na Gerontologia, mas, sim, como uma idosos dependentes. A Enfermagem cuida do cliente idoso em
possibilidade de contribuição para a clareza, e talvez, a solução todos os níveis de saúde, por isso, surge uma denominação que
dos problemas, principalmente para uma melhor elucidação de vem sendo muito utilizada nessa área do saber, por enfermeiras
um objeto que é comum a vários profissionais. Nenhuma disci- especialistas, que é a Enfermagem Geronto-geriátrica.
plina, isoladamente, seja Enfermagem, Medicina, Serviço Social Alguns fundamentos teóricos embasam os cuidados de en-
ou outra, consegue explicitar a totalidade do objeto da Geront- fermagem gerontológica, dentre os quais destaco a Filosofia do
ologia, em razão de referir-se a seres humanos e suas relações Envelhecimento, a Filosofia da Enfermagem e o Contexto Sócio-
sociais, com suas características polissêmicas. histórico da Enfermagem (Berger,1995). Ao referir-me à Filoso-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
fia do Envelhecimento, levo em conta que os idosos são seres empatia e a sensibilidade; o amor pelos outros; a objetividade
humanos capazes de adaptar-se, de crescer e de aprender; que e o espírito de crítica; o sentido social e o sentido comunitário;
a velhice é um período importante da vida, situado no contínuo a flexibilidade e a polivalência e principalmente, a criatividade e
nascimento-morte; que os idosos, cada vez mais, percebem a outras. Lembro que a enfermagem é uma disciplina pautada no
velhice como um processo dinâmico e positivo; que, apesar dos tripé: ação de cuidar do outro, através do cuidado individualiza-
problemas metodológicos levantados, devido aos objetivos das do e holístico; o respeito pelo ser humano, em todas as situações
disciplinas implicadas na Gerontologia, todas descrevem o en- e sempre considerando a importância das relações interpessoais
velhecimento como um processo contínuo, que leva ao estado profissional e cliente; o desempenho técnico adequado.
de velhice e que se desenvolve de forma diferente para cada
pessoa. Penso que, essa Filosofia do Envelhecimento, fundada O PROCESSO DE TRABALHO
sobre o potencial contínuo do ser humano, insere-se em uma Considerando-se que toda ação destinada a um fim, tal qual
visão humanista e que este potencial de crescimento rege-se pe- se constitui a assistência de enfermagem gerontológica, se real-
las intenções e pelas relações do ser humano com o outro. iza socialmente como processo de trabalho, senti necessidade
Em relação à Filosofia da Enfermagem, destaco que para o de rever o conceito de trabalho. Para Bueno (1996) trabalho é
profissional de enfermagem, que cuida dos idosos, é importante uma tarefa; uma aplicação da atividade física ou intelectual; um
dar provas de autenticidade nas relações com estes clientes e serviço; um esforço; uma fadiga; uma ocupação; um emprego.
não só assegurar-se de que os direitos deles sejam respeita- Em Luft (1995) encontrei que trabalho é a aplicação das forças
dos, mas informá-los apropriadamente sobre os mesmos. Os mentais ou físicas na execução de uma obra; uma lida; uma fa-
cuidados gerontológicos são definidos e correspondem às reais diga; um esforço; uma ocupação; um emprego; uma obra real-
necessidades identificadas, direcionando o profissional de en- izada; um empreendimento. Marx (1986), descreve o trabalho
fermagem a elaborar a sua própria filosofia, partindo de suas humano enquanto uma atividade prática material, pela qual o
crenças e dos seus valores pessoais. trabalhador transforma a natureza e faz surgir um mundo de
No Contexto Sócio-histórico da Enfermagem, destaco que produtos, no contexto do mercado. Ramos (1999, p.16), a partir
a ação da Enfermagem Gerontológica e de qualquer outra ativ- do referencial marxista, refere-se a trabalho como “um processo
idade, é sempre um reflexo da época. E, como atualmente o não causal, no qual se despende uma energia e cujo produto
crescimento da população idosa é concreto, não só no Brasil, corresponde à satisfação de uma carência ou necessidade”.
mas mundialmente, há necessidade de se cuidar de pessoas Na prestação de serviços, o conceito de trabalho tem outro
cada vez mais idosas e cuja expectativa de vida é cada vez mais direcionamento, pois neste caso “o trabalho é consumido pelo
longa. Antigamente, o idoso apresentava um “status” negativo, seu valor de uso e não como trabalho que gera valores de troca,
porém, hoje, com essa população quantitativamente maior, há é consumido improdutivamente, porque o capitalista troca o seu
necessidade de que os profissionais de saúde direcionem um dinheiro por este trabalho como rendimento, não como capital”
cuidado específico (até por “exigência” desta clientela), que re- (Pires,1994, p.6). O setor de serviços é um dos que mais vem
jeite atitudes negativas e que, mesmo para aqueles idosos mais crescendo atualmente nas sociedades capitalistas e nele está
fragilizados, o cuidado esteja baseado na manutenção da au- incluído o setor saúde. Pires (1998, p.159), apresenta uma car-
tonomia e na melhor qualidade de vida possível. acterização bem adequada para explicar o trabalho em saúde,
O profissional de enfermagem, utilizando uma abordagem quando coloca que:
holística, ao cuidar do idoso, considera a especificidade e a mul- “É um trabalho da esfera da produção não-material, que se
tidimensionalidade deste cliente. Os termos humanização, quali- completa no ato da sua realização. Não tem como resultado um
dade de vida, individualização do cuidado e auto-cuidado, fazem produto material independente do processo de produção e com-
parte do vocabulário da Enfermagem Gerontológica. O trabalho ercializável no mercado. O produto é indissociável do processo
em Enfermagem Gerontológica orienta-se, portanto, para os que o produz, é a própria realização da atividade. A prestação de
cuidados específicos, o que obriga a uma maior utilização dos serviço em saúde – assistência de saúde – pode assumir formas
conhecimentos adquiridos, da criatividade e da capacidade de diversas, como a realização de uma consulta, uma cirurgia, um
compreender as relações existentes entre o cliente idoso, a sua examediagnóstico, a aplicação de uma medicação, uma orien-
família e a sua comunidade. tação nutricional etc.
Os objetivos da Enfermagem Gerontológica destacados Envolve, basicamente, a realização de uma avaliação clíni-
abaixo partiram dos escritos de Viteck (1994), Berger (1995), Du- ca seguida da indicação e / ou realização de uma conduta ter-
arte (1996), tendo em vista a integralidade e autonomia do ser apêutica”.
humano. São eles: cuidar do ser humano idoso, considerando No entanto, o trabalho não é algo que ocorre separado
sua totalidade biopsicossocial e estimulando o auto-cuidado, a de outras atividades que acontecem no mundo real, ao con-
autodeterminação, a independência; ajudar o ser humano ido- trário, é algo que nasce e se desenvolve em uma grande rede de
so, sua família e sua comunidade na compreensão do envelhec- relações. A primeira delas é a que se estabelece como modo de
imento como integrante do ciclo da vida; minimizar os danos e ligar o ser humano à natureza, no momento em que, através de
seqüelas, impedindo o envelhecimento patológico e utilizando uma ação, ele (o ser humano) tende a tocá-la, a modificá-la, a
ações que visem a promoção da saúde, a conservação da ener- desenvolvê-la e, principalmente, a transformá-la.
gia e a qualidade de vida; desenvolver ações educativas, não só Todavia, o surgimento do trabalho para o ser humano en-
direcionadas à equipe de enfermagem, mas principalmente ao quanto expressão do seu poder, como sua relação ativa com a
próprio ser humano idoso, à família e à comunidade / sociedade. natureza e através do qual, mundo e ser humano são criados,
Além de uma formação específica em Gerontologia, o profis- perde o “romantismo”, ao se avaliar a forma de trabalho assal-
sional que deseja atuar nessa área do saber deve desenvolver ariado a que é submetido o ser humano nas sociedades capi-
algumas aptidões ou qualidades singulares. Berger (1995) dest- talistas. Fica bem claro que, quando se expande a propriedade
aca, entre essas : a maturidade e a capacidade de adaptação; a privada com o parcelamento do trabalho, este deixa de ser ex-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
pressão subjetiva do trabalhador, passando o produto do tra- al.(1995), o conceito de ser humano idoso é diferenciado para
balho a ter uma existência separada do ser humano e da sua países em desenvolvimento e para países desenvolvidos. Nos
vontade, surgindo daí a alienação do trabalho e com ela as primeiros são consideradas idosas aquelas pessoas com 60 anos
doenças, os desconfortos, os desencantamentos. e mais; nos segundos são idosas as pessoas com 65 anos e mais.
Marx (1982, p.202-205) aponta que “os elementos com- No Brasil é considerado idoso quem tem mais de 60 anos e mais,
ponentes do processo de trabalho são: [...] o próprio trabalho, ou, ainda, para determinadas ações governamentais, aquelas
processo em que participam o homem e a natureza, [...] em pessoas que, mesmo tendo menos de 60 anos, apresentam um
que o ser humano com a sua própria ação, impulsiona, regula acelerado processo de envelhecimento (Brasil,1997). Isto, con-
e controla seu intercâmbio material com a natureza; o objeto siderando-se as diferenças regionais e, portanto, sócio-econômi-
de trabalho, todas as coisas que o trabalho apenas separa de cas dentro do país.
sua conexão imediata com seu meio natural; [...] o instrumental O critério cronológico, apesar de ser um dos menos preciso,
de trabalho que é uma coisa ou complexo de coisas que o tra- é um dos mais utilizados, até porque existe a necessidade de de-
balhador insere entre si mesmo e o objeto e o produto de tra- limitar a população de estudo, ou para análise epidemiológica,
balho que é um valor-de-uso, um material da natureza adaptado ou com propósitos administrativos, de planejamento ou de ofer-
às necessidades humanas através da mudança de forma”. ta de serviços. Porém, o envelhecimento não pode ser definido
Entendo, portanto, que o trabalho em si, a sua finalidade só pelo plano cronológico, visto que outras condições, tais como
e o motivo pelo qual se executa um projeto é uma ação guiada as físicas, as funcionais, as mentais e as de saúde, podem in-
pela consciência e, portanto, é a objetivação do sujeito. O objeto fluenciar diretamente no envelhecimento de um ser humano,
de trabalho é algo que será transformado, para melhor satis- indicando, ao mesmo tempo que, o processo de envelhecimento
fazer uma necessidade. O instrumental de trabalho mostra-se é individual.
através dos meios usados para transformar o objeto de trabalho Quanto ao processo de envelhecimento, na minha per-
e segundo Leopardi (1989, p.116) “eles são componentes do tra- cepção, significa um estágio que é definido de maneiras dif-
balho e dos valores efetivamente empregados na produção [...], erentes, dependendo do campo da pesquisa e do objeto de
ficando à disposição dos trabalhadores, quando estes precisam interesse, ou seja, um biólogo define este processo como um
daqueles para a execução de sua atividade”. O produto é o que conjunto de alterações experimentadas por um organismo vivo,
se origina do processo de trabalho, é a própria objetivação do do nascimentos à morte. Já os sociólogos e psicólogos chamam
trabalho e a necessidade atendida. a atenção para o fato de que, além das alterações biológicas,
Em relação ao processo de trabalho dos profissionais de outras alterações sociais e psicológicas são observados, e estas
saúde, Pires (1998, p.161) o descreve contendo elementos es- são tão importantes quanto as alterações biológicas. Portanto,
pecíficos, sendo a “finalidade a ação terapêutica de saúde; o processo de envelhecimento abrange aspectos biológicos, psi-
como objeto o indivíduo ou grupos doentes, sadios ou expostos cológicos, sociais e outros.
a risco, necessitando medidas curativas, preservar a saúde ou O envelhecimento biológico é um processo contínuo du-
prevenir doenças; como instrumental [...] os instrumentos e as rante toda a vida, que apresenta diferenciações de um ser hu-
condutas que representam o nível técnico do conhecimento que mano para outro e até diferenciações no mesmo ser humano,
é o saber de saúde e o produto final é a própria prestação da quando alguns órgãos envelhecem mais rápido que outros. Já o
assistência da saúde [...].” envelhecimento social ocorre de formas diferenciadas em cul-
Interessante perceber que o processo de trabalho dos turas diversas e está condicionado à capacidade de produção,
profissionais de saúde, os quais formam uma equipe tendo, ger- tendo a aposentadoria como seu referencial mais marcante. O
almente, o médico como elemento central, e muitas vezes é de- envelhecimento intelectual começa a acontecer quando o idoso
nominada equipe interdisciplinar, não passa, freqüentemente, apresenta falhas na memória, dificuldades na atenção, na orien-
de um grupo de profissionais que desenvolvem ações desarticu- tação e na concentração, enfim apresenta modificações desfa-
ladas e inconsistentes, tornando a especialização do conheci- voráveis em seu sistema cognitivo. O envelhecimento funcional
mento um ato comum, aceitável e até exigido. acontece, quando o idoso começa a depender de outros para o
cumprimento de suas necessidades básicas ou de suas tarefas
PROCESSO DE TRABALHO NA ENFERMAGEM GERON- habituais.
TOLÓGICA O instrumental ou instrumentos de trabalho de Enfermagem
Quanto ao processo de trabalho da Enfermagem Geron- Gerontológica percebo como sendo o conhecimento específico
tológica aponto como sendo a sua finalidade ou intencionali- acerca do ser humano idoso e do processo de envelhecimento,
dade, a manutenção e melhoria ao máximo, da funcionalidade incluído os referenciais que direcionam à prática e toda questão
do ser humano idoso; a promoção da sua saúde; a prevenção sóciopolítica envolvida nessa prática, além dos instrumentos,
das doenças crônico-degenerativas; a recuperação da saúde dos propriamente ditos e das condutas direcionadas ao cuidado
que adoeceram e a reabilitação daqueles idosos que venham a ao cliente idoso. Para que um profissional de enfermagem ad-
comprometer a sua capacidade funcional; o acompanhamento quira esse conhecimento e saiba utilizar adequadamente esses
na morte e no morrer, não só ao próprio idoso, como a seus instrumentos e condutas é necessário que ele aprofunde con-
familiares, no período do luto. hecimentos através de cursos específicos nessa área, visto que
Importante destacar que o melhor local para desenvolver o conteúdos relativos ao envelhecimento / ser humano idoso não
cuidado a um ser humano idoso é a sua casa, junto a sua família estão incluídos na maioria dos currículos da graduação, nem do
e na sua comunidade. A institucionalização do idoso deve ser nível médio.
evitada, o máximo possível. Ao meu ver, é importante que os cursos de formação dos
O objeto de trabalho da Enfermagem Gerontológica pen- profissionais de enfermagem tenham a preocupação de minis-
so ser o idoso e o próprio processo de envelhecimento. Para a trar conteúdos de Gerontologia, mesmo que oferecida de forma
Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo Kawamoto et optativa. Duarte, Diogo e Rodrigues (1996) sugerem, a partir de

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
49 tópicos considerados fundamentais para que as enfermeiras de 60 anos de idade é a que mais cresce. No período de 1950 a
tornem-se habilitadas a cuidar de idosos, segundo a Association 2025, segundo as projeções estatísticas da 2 Organização Mun-
for Gerontology in High Educacion, órgão canadense, as seguin- dial de Saúde – OMS –, o grupo de idosos no Brasil deverá ter
tes temáticas a serem abordadas no ensino de Enfermagem Ger- aumentado em 15 vezes, enquanto a população total em cinco.
onto-geriátrica: teorias do envelhecimento; alterações normais O País ocupará, assim, o sexto lugar quanto ao contingente de
do envelhecimento; problemas mais comuns no envelhecimen- idosos, alcançando, em 2025, cerca de 32 milhões de pessoas
to; habilidades funcionais no idoso; políticas públicas relativas com 60 anos ou mais de idade.
à velhice; promoção e manutenção da saúde do idoso; cuida- O processo de transição demográfica no Brasil caracteriza-
dos prolongados (institucionalização); atitudes e aspectos éticos -se pela rapidez com que o aumento absoluto e relativo das po-
relativos a assistência ao idoso; variações culturais; desenvolvi- pulações adulta e idosa modificaram a pirâmide populacional.
mento profissional. Outras temáticas, mais voltadas à regional- Até os anos 60, todos os grupos etários registravam um cres-
ização, podem ser acrescidas e podem, ainda ser adaptadas à cimento quase igual; a partir daí, o grupo de idosos passou a
formação do nível médio. liderar esse crescimento.
Como produto final do trabalho ou necessidades da Enfer- Nos países desenvolvidos, essa transição ocorreu lentamen-
magem Gerontológica apresento o ser humano idoso, que foi te, realizando-se ao longo de mais de cem anos. Alguns desses
cuidado por um profissional de enfermagem competente, com países, hoje, apresentam um crescimento negativo da sua popu-
qualificação, para isso, temos a enfermeira que direcionou a lação, com a taxa de nascimentos mais baixa que a de mortali-
assistência ao auto-cuidado; o qual possui níveis crescentes de dade. A transição acompanhou a elevação da qualidade de vida
complexidade e desafios. Assim, o desejável para a Enfermagem das populações urbanas e rurais, graças à adequada inserção das
Gerontológica é atingir junto aos clientes idosos o desenvolvi- pessoas no mercado de trabalho e de oportunidades educacio-
mento máximo de seu poder pessoal e político, que propicie o ex- nais mais favoráveis, além de melhores condições sanitárias, ali-
ercício de sua autonomia e que tenha como meta um envelhecer mentares, ambientais e de moradia.
com qualidade, ou seja, bem sucedido (Stevenson, Gonçalves e À semelhança de outros países latino-americanos, o enve-
Alvarez, 1997). Caso essa pessoa idosa não tenha condições de lhecimento no Brasil é um fenômeno predominantemente ur-
auto-cuidar-se, como os idosos fragilizados ou os idosos acome- bano, resultando, sobretudo do intenso movimento migratório
tidos por demências, por exemplo o portador de Alzheimer, que iniciado na década de 60, motivado pela industrialização desen-
a família tenha sido capacitada a cuidá-lo adequadamente. Se cadeada pelas políticas desenvolvimentistas.
esse idoso não consegue sobreviver, que lhe seja dispensado um Esse processo de urbanização propiciou um maior acesso da
cuidado humanístico, que mantenha sua dignidade até a hora da população a serviços de saúde e saneamento, o que colaborou
sua morte e que se acompanhe o luto da família. para a queda verificada na mortalidade. Possibilitou, também,
um maior acesso a programas de planejamento familiar e a mé-
SAÚDE DO IDOSO todos anticoncepcionais, levando a uma significativa redução da
Parte essencial da Política Nacional de Saúde, a presente fecundidade.
Política fundamenta a ação do setor saúde na atenção integral A persistir a tendência de o envelhecimento como fenôme-
à população idosa e àquela em processo de envelhecimento, na no urbano, as projeções para o início do século XXI indicam que
conformidade do que determinam a Lei Orgânica da Saúde – N.º 82% dos idosos brasileiros estarão morando nas cidades. As re-
8.080/90 – e a Lei 8.842/94, que assegura os direitos deste seg- giões mais urbanizadas, como a Sudeste e o Sul, ainda oferecem
mento populacional. melhores possibilidades de emprego, disponibilidade de servi-
No conjunto dos princípios definidos pela Lei Orgânica, des- ços públicos e oportunidades de melhor alimentação, moradia e
taca-se o relativo à “preservação da autonomia das pessoas na assistência médica e social.
defesa de sua integridade física e moral”, que constitui uma das Embora grande parte das populações ainda viva na pobreza,
questões essenciais enfocadas nesta Política, ao lado daqueles nos países menos desenvolvidos, certas conquistas tecnológicas
inerentes à integralidade da assistência e ao uso da epidemio- da medicina moderna, verificadas nos últimos 60 anos – assep-
logia para a fixação de prioridades (Art. 7º, incisos III, II e VII, sia, vacinas, antibióticos, quimioterápicos e exames comple-
respectivamente). mentares de diagnóstico, entre outros –, favoreceram a adoção
Por sua vez, a Lei N.º 8.842 – regulamentada pelo Decre- de meios capazes de prevenir ou curar muitas doenças que eram
to N.º 1.948, de 3 de julho de 1996 –, ao definir a atuação do fatais até então. O conjunto dessas medidas provocou uma que-
Governo, indicando as ações específicas das áreas envolvidas, da da mortalidade infantil e, consequentemente, um aumento
busca criar condições para que sejam promovidas a autonomia, da expectativa de vida ao nascer.
a integração e a participação dos idosos na sociedade, assim No Brasil, em 1900, a expectativa de vida ao nascer era de
consideradas as pessoas com 60 anos de idade ou mais. 33,7 anos; nos anos 40, de 39 anos; em 50, aumentou para 43,2
Segundo essa Lei, cabe ao setor saúde, em síntese, prover o anos e, em 60, era de 55,9 anos. De 1960 para 1980, essa expec-
acesso dos idosos aos serviços e às ações voltadas à promoção, tativa ampliou-se para 63,4 anos, isto é, foram acrescidos vinte
proteção e recuperação da saúde, mediante o estabelecimento anos em três décadas, segundo revela o Anuário Estatístico do
de normas específicas para tal; o desenvolvimento da coopera- Brasil de 1982 (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
ção entre as esferas de governo e entre centros de referência tatística/Fundação IBGE).
em geriatria e gerontologia; e a inclusão da geriatria como es- De 1980 para 2000, o aumento deverá ser em torno de cinco
pecialidade clínica para efeito de concursos públicos, além da anos, ocasião em que cada brasileiro, ao nascer, esperará viver
realização de estudos e pesquisas na área (inciso II do Art. 10). 68 anos e meio. As projeções para o período de 2000 a 2025
Ao lado das determinações legais, há que se considerar, por permitem supor que a expectativa média de vida do brasileiro
outro lado, que a população idosa brasileira tem se ampliado estará próxima de 80 anos, para ambos os sexos (Kalache et al.,
rapidamente. Em termos proporcionais, a faixa etária a partir 1987).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Paralelamente a esse aumento na expectativa de vida, tem As doenças infectocontagiosas que, em 1950, representavam
sido observado, a partir da década de 60, um declínio acentuado 40% das mortes registradas no País, hoje são responsáveis por
da fecundidade, levando a um aumento importante da propor- menos de 10% (RADIS: “Mortalidade nas Capitais Brasileiras,
ção de idosos na população brasileira. De 1980 a 2000, o grupo 1930-1980”). O oposto ocorreu em relação às doenças cardio-
etário com 60 anos e mais de idade deverá crescer 105%; as pro- vasculares: em 1950, eram responsáveis por 12% das mortes e,
jeções apontam para um crescimento de 130% no período de atualmente, representam mais de 40%. Em menos de 40 anos,
2000 a 2025. o Brasil passou de um perfil de morbimortalidade típico de uma
Mesmo que se leve em conta que uma parcela do contin- população jovem, para um caracterizado por enfermidades crô-
gente de idosos participe da atividade econômica, o crescimento nicas, próprias das faixas etárias mais avançadas, com custos di-
deste grupo populacional afeta diretamente a razão de depen- retos e indiretos mais elevados.
dência, usualmente definida como a soma das populações jo- Essa mudança no perfil epidemiológico acarreta grandes
vem e idosa em relação à população economicamente ativa to- despesas com tratamentos médicos e hospitalares, ao mesmo
tal. Esse coeficiente é calculado tomando por base a população tempo em que se configura num desafio para as autoridades sa-
de menos de 15 anos e a de 60 e mais anos de idade em relação nitárias, em especial no que tange à implantação de novos mo-
àquela considerada em idade produtiva (situada na faixa etária delos e métodos para o enfrentamento do problema. O idoso
dos 15 aos 59 anos de idade). consome mais serviços de saúde, as internações hospitalares
O processo de urbanização e a consequente modificação são mais frequentes e o tempo de ocupação do leito é maior
do mercado de trabalho aceleraram a redistribuição da popu- do que o de outras faixas etárias. Em geral, as doenças dos ido-
lação entre as zonas rural e urbana do País. Em 1930, dois ter- sos são crônicas e múltiplas, perduram por vários anos e exigem
ços da população brasileira viviam na zona rural; hoje, mais de acompanhamento médico e de equipes multidisciplinares per-
três quartos estão em zona urbana. O emprego nas fábricas e as manentes e intervenções contínuas.
mais diferenciadas possibilidades de trabalho nas cidades modi- Tomando-se por base os dados relativos à internação hospi-
ficaram a estrutura familiar brasileira, transformando a família talar pelo Sistema Único de Saúde – SUS –, em 1997, e a popula-
extensa do campo na família nuclear urbana. Com o aumento da ção estimada pelo IBGE para este mesmo ano, pode-se concluir
expectativa de vida, as famílias passaram a ser constituídas por que o idoso, em relação às outras faixas etárias, consome muito
várias gerações, exigindo os necessários mecanismos de apoio mais recursos de saúde. Naquele ano, o Sistema arcou com um
mútuo entre as que compartilham o mesmo domicílio. total de 12.715.568 de AIHs (autorizações de internações hospi-
A família, tradicionalmente considerada o mais efetivo talares), assim distribuídas:
sistema de apoio aos idosos, está passando por alterações de- • 2.471.984 AIHs (19,4%) foram de atendimentos na faixa
correntes dessas mudanças conjunturais e culturais. O número etária de 0-14 anos de idade, que representava 33,9% da po-
crescente de divórcios e segundo ou terceiro casamento, a con- pulação total (aqui também estão incluídas as AIHs dos recém-
tínua migração dos mais jovens em busca de mercados mais pro- -nascidos em ambiente hospitalar, bem como as devidas a parto
missores e o aumento no número de famílias em que a mulher normal);
exerce o papel de chefe são situações que precisam ser levadas • 7.325.525 AIHs (57,6%) foram na faixa etária de 15-59
em conta na avaliação do suporte informal aos idosos na socie- anos de idade (58,2% da população total);
dade brasileira. Essas situações geram o que se convencionou • 2.073.915 AIHs (16,3%) foram na faixa etária de 60 anos
chamar de intimidade à distância, em que diferentes gerações ou mais de idade (7,9% da população total);
ou mesmo pessoas de uma mesma família ocupam residências • 480.040 AIHs (3,8%) foram destinadas ao atendimento
separadas. de indivíduos de idade ignorada; essas hospitalizações, em sua
Tem sido observada uma feminilização do envelhecimento grande maioria, corresponderam a tratamento de enfermidades
no Brasil. O número de mulheres idosas, confrontado com o de mentais de longa permanência, geralmente em pessoas acima
homens de mais de 60 anos de idade, já é superior há muito de 50 anos de idade (essa parcela de AIHs foi excluída dos es-
tempo. tudos em que se diferencia o impacto de cada faixa etária no
Da mesma forma, a proporção de idosas em relação à po- sistema hospitalar);
pulação total de mulheres supera aquela correspondente aos • a taxa de hospitalização, em um ano, alcançou um total de
homens idosos. No Brasil, desde 1950, as mulheres têm maior 46 por 1.000 indivíduos na faixa etária de 0 a 14 anos de idade,
esperança de vida ao nascer, sendo que a diferença está ao re- 79 no segmento de 15 a 59 anos de idade e 165 no grupo de 60
dor de sete anos e meio. anos ou mais de idade;
De outra parte, o apoio aos idosos praticado no Brasil ainda • o tempo médio de permanência hospitalar foi de 5,1 dias
é bastante precário. Por se tratar de uma atividade predominan- para o grupo de 0-14 anos de idade, 5,1 dias no de 15-59 e 6,8
temente restrita ao âmbito familiar, o cuidado ao idoso tem sido dias no grupo mais idoso;
ocultado da opinião pública, carecendo de visibilidade maior. • o índice de hospitalização (número de dias de hospitaliza-
O apoio informal e familiar constitui um dos aspectos fun- ção consumidos, por habitante, a cada ano) correspondeu a 0,23
damentais na atenção à saúde desse grupo populacional Isso dias na faixa de 0-14 anos de idade; a 0,40 dias na faixa de 15-59;
não significa, no entanto, que o Estado deixa de ter um papel e a 1,12 dias na faixa de 60 anos ou mais de idade;
preponderante na promoção, proteção e recuperação da saúde • do custo total de R$ 2.997.402.581,29 com despesas de
do idoso nos três níveis de gestão do SUS, capaz de otimizar o internações hospitalares, 19,7% foram com pacientes da faixa
suporte familiar sem transferir para a família a responsabilidade etária de 0-14 anos de idade, 57,1% da faixa de 15-59 anos de
em relação a este grupo populacional. idade e 23,9% foram de idosos;
Além das transformações demográficas descritas anterior- • o custo médio, por hospitalização, foi de R$ 238,67 em re-
mente, o Brasil tem experimentado uma transição epidemiológi- lação à faixa etária de 0-14 anos de idade, R$ 233,87 à de 15-59
ca, com alterações relevantes no quadro de morbimortalidade. anos e R$ 334,73 ao grupo de mais de 60 anos de idade;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
• o índice de custo (custo de hospitalização por habitante/ pervisão para realizar-se no seu cotidiano deve ser considerado
ano) foi de R$ 10,93 no segmento de 0-14 anos de idade, de R$ um idoso saudável, ainda que seja portador de uma ou mais de
18,48 no de 15-59 anos de idade e de R$ 55,25 no de mais de 60 uma doença crônica.
anos de idade. Decorre daí o conceito de capacidade funcional, ou seja, a
Estudos têm demonstrado que o idoso, em relação às outras capacidade de manter as habilidades físicas e mentais neces-
faixas etárias, consome muito mais recursos do sistema de saú- sárias para uma vida independente e autônoma. Do ponto de
de e que este maior custo não reverte em seu benefício. O idoso vista da saúde pública, a capacidade funcional surge como um
não recebe uma abordagem médica ou psicossocial adequada novo conceito de saúde, mais adequado para instrumentalizar e
nos hospitais, não sendo submetido também a uma triagem ro- operacionalizar a atenção à saúde do idoso. Ações preventivas,
tineira para fins de reabilitação. assistenciais e de reabilitação devem objetivar a melhoria da ca-
A abordagem médica tradicional do adulto hospitalizado pacidade funcional ou, no mínimo, a sua manutenção e, sempre
– focada em uma queixa principal e o hábito médico de tentar que possível, a recuperação desta capacidade que foi perdida
explicar todas as queixas e os sinais por um único diagnóstico, pelo idoso. Trata-se, portanto, de um enfoque que transcende o
que é adequada no adulto jovem – não se aplica em relação ao simples diagnóstico e tratamento de doenças específicas.
idoso. Estudos populacionais demonstram que a maioria dos A promoção do envelhecimento saudável e a manutenção
idosos – 85% – apresenta pelo menos uma doença crônica e que da máxima capacidade funcional do indivíduo que envelhece
uma significativa minoria – 10% – possui, no mínimo, cinco des- pelo maior tempo possível – foco central desta Política –, signi-
tas patologias (Ramos, LR e cols, 1993). A falta de difusão do fica a valorização da autonomia ou autodeterminação e a pre-
conhecimento geriátrico junto aos profissionais de saúde tem servação da independência física e mental do idoso. Tanto as
contribuído decisivamente para as dificuldades na abordagem doenças físicas quanto as mentais podem levar à dependência e,
médica do paciente idoso. consequentemente, à perda da capacidade funcional.
A maioria das instituições de ensino superior brasileiras ain- Na análise da questão relativa à reabilitação da capacidade
da não está sintonizada com o atual processo de transição de- funcional, é importante reiterar que a grande maioria dos idosos
mográfica e suas consequências médico-sociais. Há uma escas- desenvolve, ao longo da vida, algum tipo de doença crônica de-
sez de recursos técnicos e humanos para enfrentar a explosão corrente da perda continuada da função de órgãos e aparelhos
desse grupo populacional no terceiro milênio. biológicos. Essa perda de função pode ou não levar a limitações
O crescimento demográfico brasileiro tem características funcionais que, por sua vez, podem gerar incapacidades, condu-
particulares, que precisam ser apreendidas mediante estudos e zindo, em última instância, à dependência da ajuda de outrem
desenhos de investigação que deem conta dessa especificidade. ou de equipamentos específicos para a realização de tarefas es-
O cuidado de saúde destinado ao idoso é bastante caro, e a pes- senciais à sobrevivência no dia a dia.
quisa corretamente orientada pode propiciar os instrumentos Estudos populacionais revelam que cerca de 40% dos indiví-
mais adequados para uma maior eficiência na adoção de priori- duos com 65 anos ou mais de idade precisam de algum tipo de
dades e na alocação de recursos, além de subsidiar a implanta- ajuda para realizar pelo menos uma tarefa do tipo fazer com-
ção de medidas apropriadas à realidade brasileira. pras, cuidar das finanças, preparar refeições e limpar a casa.
A transição demográfica no Brasil exige, na verdade, novas Uma parcela menor, mas significativa – 10% –, requer auxílio
estratégias para fazer frente ao aumento exponencial do núme- para realizar tarefas básicas, como tomar banho, vestir-se, ir ao
ro de idosos potencialmente dependentes, com baixo nível so- banheiro, alimentar-se e, até, sentar e levantar de cadeiras e
cioeconômico, capazes de consumir uma parcela desproporcio- camas (Ramos, L. R. e cols., 1993). É imprescindível que, na pres-
nal de recursos da saúde destinada ao financiamento de leitos tação dos cuidados aos idosos, as famílias estejam devidamente
de longa permanência. orientadas e relação às atividades de vida diária (AVDs).
A internação dos idosos em asilos, casas de repouso e si- Tanto a dependência física quanto a mental constituem fa-
milares está sendo questionada até nos países desenvolvidos, tores de risco significativos para mortalidade, mais relevantes
onde estes serviços alcançaram níveis altamente sofisticados em até que as próprias doenças que levaram à dependência, visto
termos de conforto e eficiência. O custo desse modelo e as di- que nem todo doente torna-se dependente, conforme revelam
ficuldades de sua manutenção estão requerendo medidas mais estudos populacionais de segmentos de idosos residentes em
resolutivas e menos onerosas. O retorno ao modelo de cuidados diferentes comunidades (Ramos, L. R. e cols., 1993). No entanto,
domiciliares, já bastante discutido, não pode ter como única fi- nem todo dependente perde sua autonomia e, neste sentido,
nalidade baratear custos ou transferir responsabilidades. A as- a dependência mental deve ser objeto de atenção especial, na
sistência domiciliar aos idosos, cuja capacidade funcional está medida em que leva, com muito mais frequência, à perda de
comprometida, demanda programas de orientação, informação autonomia.
e assessoria de especialistas. Doenças como depressão e demência já estão, em todo
A maioria das doenças crônicas que acometem o indivíduo mundo, entre as principais causas de anos vividos com incapaci-
idoso tem, na própria idade, seu principal fator de risco. Enve- dade, exatamente por conduzirem à perda da independência e,
lhecer sem nenhuma doença crônica é mais exceção do que re- quase que necessariamente, à perda da autonomia.
gra. No entanto, a presença de uma doença crônica não significa Os custos gerados por essa dependência são tão grandes
que o idoso não possa gerir sua própria vida e encaminhar o seu quanto o investimento de dedicar um membro da família ou um
dia-a-dia de forma totalmente independente. cuidador para ajudar continuamente uma pessoa que, muitas
A maior parte dos idosos é, na verdade, absolutamente ca- vezes, irá viver mais 10 ou 20 anos, requerendo uma atenção
paz de decidir sobre seus interesses e organizar-se sem nenhu- que, não raro, envolve leitos hospitalares e institucionais, proce-
ma necessidade de ajuda de quem quer que seja. Consoante aos dimentos diagnósticos caros e sofisticados, bem como o consen-
mais modernos conceitos gerontológicos, esse idoso que man- so frequente de uma equipe multiprofissional e interdisciplinar,
tém sua autodeterminação e prescinde de qualquer ajuda ou su- capaz de fazer frente à problemática multifacetada do idoso.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Dentro desse contexto é que são estabelecidas novas priori- Entre os hábitos saudáveis, deverão ser destacados, por
dades dirigidas a esse grupo populacional, que deverão nortear exemplo, a alimentação adequada e balanceada; a prática re-
as ações em saúde nesta virada de século. gular de exercícios físicos; a convivência social estimulante; e a
busca, em qualquer fase da vida, de uma atividade ocupacional
Propósito prazerosa e de mecanismos de atenuação do estresse. Em re-
Como se pode depreender da análise apresentada no ca- lação aos hábitos nocivos, merecerão destaque o tabagismo, o
pítulo anterior, o crescimento demográfico da população idosa alcoolismo e a automedicação.
brasileira exige a preparação adequada do País para atender às Tais temas serão objeto de processos educativos e informa-
demandas das pessoas na faixa etária de mais de 60 anos de tivos continuados, em todos os níveis de atuação do SUS, com a
idade. Essa preparação envolve diferentes aspectos que dizem utilização dos diversos recursos e meios disponíveis, tais como:
respeito desde a adequação ambiental e o provimento de recur- distribuição de cartilhas e folhetos, bem como o desenvolvimen-
sos materiais e humanos capacitados, até a definição e a imple- to de campanhas em programas populares de rádio; veiculação
mentação de ações de saúde específicas. de filmetes na televisão; treinamento de agentes comunitários
Acresce-se, por outro lado, a necessidade de a sociedade en- de saúde e profissionais integrantes da estratégia de saúde da
tender que o envelhecimento de sua população é uma questão família para, no trabalho domiciliar, estimular os cidadãos na
que extrapola a esfera familiar e, portanto, a responsabilidade adoção de comportamentos saudáveis.
individual, para alcançar o âmbito público, neste compreendido Ênfase especial será dada às orientações dos idosos e seus
o Estado, as organizações não governamentais e os diferentes familiares quanto aos riscos ambientais, que favorecem que-
segmentos sociais. das e que podem comprometer a capacidade funcional destas
Nesse sentido, a presente Política Nacional de Saúde do Ido- pessoas. Deverão ser garantidas aos idosos, assim como aos
so tem como propósito basilar a promoção do envelhecimento portadores de deficiência, condições adequadas de acesso aos
saudável, a manutenção e a melhoria, ao máximo, da capacida- espaços públicos, tais como rampas, corrimões e outros equipa-
de funcional dos idosos, a prevenção de doenças, a recupera- mentos facilitadores.
ção da saúde dos que adoecem e a reabilitação daqueles que
venham a ter a sua capacidade funcional restringida, de modo a Manutenção da Capacidade Funcional
garantir-lhes permanência no meio em que vivem, exercendo de Ao lado das medidas voltadas à promoção de hábitos saudá-
forma independente suas funções na sociedade. veis, serão promovidas ações que visem à prevenção de perdas
Para tanto, nesta Política estão definidas as diretrizes que funcionais, em dois níveis específicos:
devem nortear todas as ações no setor saúde, e indicadas às • prevenção de agravos à saúde;
responsabilidades institucionais para o alcance do propósito • detecção precoce de problemas de saúde potenciais ou já
acima explicitado. Além disso, orienta o processo contínuo de instalados, cujo avanço poderá pôr em risco as habilidades e a
avaliação que deve acompanhar o desenvolvimento da Política autonomia dos idosos.
Nacional de Saúde do Idoso, mediante o qual deverá ser possí-
vel os eventuais redimensionamentos que venham a ser ditados As ações de prevenção envolvidas no primeiro nível estarão
pela prática. centradas na aplicação de vacinas, medida já consolidada para a
A implementação desta Política compreende a definição e infância, mas com prática ainda limitada e recente entre idosos.
ou readequação de planos, programas, projetos e atividades do Deverão ser aplicadas as vacinas contra o tétano, a pneu-
setor saúde, que direta ou indiretamente se relacionem com o monia pneumocócica e a influenza, que representam problemas
seu objeto. sérios entre os idosos no Brasil e que são as preconizadas pela
O esforço conjunto de toda a sociedade, aqui preconizado, Organização Mundial da Saúde – OMS – para este grupo popu-
implica o estabelecimento de uma articulação permanente que, lacional.
no âmbito do SUS, envolve a construção de contínua cooperação A grande maioria das hospitalizações para o tratamento do
entre o Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais e Muni- tétano ocorre em indivíduos acima dos 60 anos de idade. Nesse
cipais de Saúde. sentido, essa população será estimulada a fazer doses de refor-
ço da vacina antitetânica a cada dez anos, tendo em vista a sua
Diretrizes comprovada efetividade, a qual alcança quase os 100%.
Para o alcance do propósito desta Política Nacional de Saú- As pneumonias, em especial a de origem pneumocócica,
de do Idoso, são definidas como diretrizes essenciais: estão entre as patologias infecciosas que mais trazem riscos à
• a promoção do envelhecimento saudável; saúde dos idosos, com altas taxas de internação, além de alta
• a manutenção da capacidade funcional; letalidade nesta faixa etária. São apontadas como fatores de
• a assistência às necessidades de saúde do idoso; descompensação funcional de piora dos quadros de insuficiên-
• a reabilitação da capacidade funcional comprometida; cia cardíaca, desencadeadoras de edema agudo de pulmão e
• a capacitação de recursos humanos especializados; fonte de deterioração nos quadros de doenças pulmonares obs-
• o apoio ao desenvolvimento de cuidados informais; trutivas crônicas. Levando em conta as recomendações técnicas
• o apoio a estudos e pesquisas. atuais, a vacina antipneumocócica deverá ser administrada em
dose única nos indivíduos idosos.
Promoção do Envelhecimento Saudável Embora vista como enfermidade trivial, a influenza – ou gri-
O cumprimento dessa diretriz compreenderá o desenvol- pe –, no grupo dos idosos, pode trazer consequências graves,
vimento de ações que orientem os idosos e os indivíduos em levando a processos pneumônicos ou, ainda, à quebra do equilí-
processo de envelhecimento quanto à importância da melhoria brio, já instável, destes indivíduos, portadores de patologias crô-
constante de suas habilidades funcionais, mediante a adoção nicas não transmissíveis. A vacina antigripal deverá ser aplicada
precoce de hábitos saudáveis de vida e a eliminação de compor- em todos os idosos, pelo menos duas semanas antes do início
tamentos nocivos à saúde. do inverno ou do período das chuvas nas regiões mais tropicais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
No segundo nível da manutenção da capacidade funcional, Essa forma de consulta deverá possibilitar a sensibilização
além do reforço das ações dirigidas à detecção precoce de en- do profissional para questões sociais eventualmente envolvidas
fermidades não transmissíveis – como a hipertensão arterial, a no bem-estar do paciente.
diabetes milito e a osteoporose –, deverão ser introduzidas as Por sua vez, a sensibilidade diagnóstica deverá implicar a
novas medidas, de que são exemplos aquelas dirigidas ao hipo- capacidade de motivar a equipe para a busca de problemas de
tireoidismo subclínico – ainda pouco usuais e carentes de siste- elevada prevalência, que não são comumente diagnosticados,
matização –, mediante o desenvolvimento de atividades especí- como por exemplo: doenças tireoidianas, doença de Parkinson,
ficas, entre as quais destacam se: hipotensão ortostática, incontinência urinária, demências e de-
• antecipação de danos sensoriais, com o rastreio precoce pressões. É importante que informações relacionadas a glauco-
de danos auditivos, visuais e propioceptivos; ma, catarata e hipoacusia sejam coletadas. A possibilidade de
• utilização dos protocolos próprios para situações comuns iatrogenia sempre deverá ser considerada.
entre os idosos, tais como riscos de queda, alterações do humor Finalmente, a orientação terapêutica, incluindo mudanças
e perdas cognitivas; de estilo de vida, deverá possibilitar que a consulta geriátrica
• prevenção de perdas dentárias e de outras afecções da enfrente os problemas identificados, levando a alguma forma
cavidade bucal; de alívio e atenuação do impacto funcional. Ao mesmo tempo, o
• prevenção de deficiências nutricionais; médico deverá evitar excessos na prescrição e uso de fármacos
• avaliação das capacidades e habilidades funcionais no am- com elevado potencial iatrogênico.
biente domiciliar, com vistas à prevenção de perda de indepen- A orientação terapêutica compreenderá, sempre que neces-
dência e autonomia; sário, informações aos pacientes e seus acompanhantes sobre
• prevenção do isolamento social, com a criação ou uso de as medidas de prevenção dos agravos à saúde e acerca das ações
oportunidades sociais, como clubes, grupos de convivência, as- de reabilitação precoce – ou “preventiva” – e corretiva, levando
sociação de aposentados etc. em conta, da melhor maneira possível, o ambiente em que vi-
vem e as condições sociais que dispõem.
A operacionalização da maioria dessas medidas dar-se-á nas Já no âmbito hospitalar, a assistência a esse grupo popula-
próprias unidades de saúde, com suas equipes mínimas tradi- cional deverá considerar que a idade é um indicador precário
cionais, às quais deverão ser incorporados os agentes de saúde na determinação das características especiais do idoso enfermo
ou visitadores, além do estabelecimento de parcerias nas ações hospitalizado.
integrantes da estratégia de saúde da família e outras congêne- Nesse sentido, o estado funcional constituirá o parâmetro
res. Além disso, na implementação dessa diretriz, buscar-se-á o mais fidedigno para o estabelecimento de critérios específicos
engajamento efetivo dos grupos de convivência, com possibili- de atendimento.
dades tanto terapêuticas e preventivas, quanto de lazer. Assim, os pacientes classificados como totalmente depen-
dentes constituirão o grupo mais sujeito a internações prolon-
Assistência às necessidades de saúde do idoso gadas, reinternações sucessivas e de pior prognóstico e que, por
A prestação dessa assistência basear-se-á nas orientações isso, se enquadram no conceito de vulnerabilidade. Os serviços
abaixo descritas, as quais compreendem os âmbitos ambulato- de saúde deverão estar preparados para identificar esses pa-
rial, hospitalar e domiciliar. cientes, provendo-lhes uma assistência diferenciada.
No âmbito ambulatorial, a consulta geriátrica constituirá a Essa assistência será pautada na participação de outros pro-
base dessa assistência. Para tal, deverá ser estabelecido um mo- fissionais, além de médicos e enfermeiros, tais como fisiotera-
delo específico, de modo a alcançar-se um impacto expressivo peutas, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais,
na assistência, em particular na redução das taxas de internação fonoaudiólogos, dentistas e nutricionistas. Dessa forma, a dispo-
hospitalar e em clínicas de repouso – e mesmo asilos –, bem nibilidade de equipe mínima, que deve incluir obrigatoriamente
como a diminuição da demanda aos serviços de emergência e um médico com formação em geriatria, de equipamentos e de
aos ambulatórios de especialidades. A consulta geriátrica de- serviços adequados, será pré-requisito para as instituições pú-
verá ser fundamentada na coleta e no registro de informações blicas estatais ou privadas – conveniadas ou contratadas pelo
que possam orientar o diagnóstico a partir da caracterização de SUS –, que prestarem assistência a idosos dependentes inter-
problemas e o tratamento adequado, com a utilização rotineira nados.
de escalas de rastreamento para depressão, perda cognitiva e Idosos com graves problemas de saúde, sem possibilidade
avaliação da capacidade funcional, assim como o correto enca- de recuperação ou de recuperação prolongada, poderão deman-
minhamento para a equipe multiprofissional e interdisciplinar. dar internação hospitalar de longa permanência; forma esta de-
Considerando que a qualidade da coleta de dados apresenta finida na Portaria N.º 2.413, editada em 23 de março de 1998. No
dificuldades peculiares a esse grupo etário, em decorrência de entanto, esses pacientes deverão ser submetidos à tentativa de
elevado índice de morbidade, apresentações atípicas de doen- reabilitação antes e durante a hospitalização, evitando-se que
ças e pela chance aumentada de iatrogenia, o modelo de consul- as enfermarias sejam transformadas em locais de acomodação
ta a ser estabelecido pautar-se-á pela abrangência, sensibilidade para pacientes idosos com problemas de saúde não resolvidos e,
diagnostica e orientação terapêutica, nesta incluídas ações não por conseguinte, aumentando a carga de sofrimento do próprio
farmacológicas. idoso, bem como o aumento dos custos dos serviços de saúde.
A abrangência do modelo de consulta geriátrica compreen- Entre os serviços alternativos à internação prolongada, de-
derá a incorporação de informações que permitam a identifica- verá estar incluída, obrigatoriamente, a assistência domiciliar.
ção de problemas não apenas relacionados aos sistemas cardior- A adoção de tal medida constituirá estratégia importante para
respiratório, digestivo, hematológico e endócrino-metabólico, diminuir o custo da internação, uma vez que assistência domici-
como, também, aos transtornos neuropsiquiátricos, nos apare- liar é menos onerosa do que a internação hospitalar. O atendi-
lhos locomotor e geniturinário. mento ao idoso enfermo, residente em instituições – como, por

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
exemplo, asilos –, terá as mesmas características da assistência Além da necessidade de prevenir as doenças crônicas que
domiciliar Deverá ser estimulada, por outro lado, a implantação acometem aos que envelhecem, procurar-se-á, acima de tudo,
do hospital-dia geriátrico, uma forma intermediária de atendi- evitar que estas enfermidades alijem o idoso do convívio social,
mento entre a internação hospitalar e a assistência domiciliar. comprometendo sua autonomia.
Esse serviço terá como objetivo viabilizar a assistência técnica No conjunto de ações que devem ser implementadas nes-
adequada para pacientes cuja necessidade terapêutica – hidra- se âmbito, estão aquelas relacionadas à reabilitação mediante
tação, uso de medicação endovenosa, quimioterapia e reabilita- a prescrição adequada e o uso de órteses e próteses como, por
ção – e de orientação para cuidadores não justificarem a perma- exemplo, óculos, aparelhos auditivos, próteses dentárias e tec-
nência em hospital. nologias assistivas (como andador, bengala, etc.).
Tal medida não poderá ser encarada como justificativa para Essas e as outras ações que vierem a ser definidas deverão
o simples aumento do tempo de internação. Contudo, a interna- estar disponíveis em todos os níveis de atenção ao idoso, princi-
ção de idosos em UTI, em especial daqueles com idade igual ou palmente nos postos e centros de saúde, com vistas à detecção
superior a 75 anos, deverá obedecer rigorosamente os critérios precoce e o tratamento de pequenas limitações funcionais capa-
adotados em todas as faixas etárias, de potencial de reversibili- zes de levar a uma grave dependência.
dade do estado clínico e não a sua gravidade, quando reconhe- A detecção precoce e o tratamento de pequenas limitações
cidamente irrecuperável. funcionais, potenciais causas de formas graves de dependência,
A implantação de forma diferenciada de assistência ao idoso integrarão as atribuições dos profissionais e técnicos que atuam
dependente será gradual, priorizando-se hospitais universitários nesses níveis de atenção, e deverão ser alvo de orientação aos
e públicos estatais. cuidadores dos idosos para que possam colaborar com os profis-
Uma questão que deverá ser considerada refere-se ao fato sionais da saúde, sobretudo na condição de agentes facilitado-
de que o idoso tem direito a um atendimento preferencial nos res, tanto na observação de novas limitações, quanto no auxílio
órgãos estatais e privados de saúde (ambulatórios, hospitais, la- ao tratamento prescrito.
boratórios, planos de saúde, entre outros), na conformidade do
que estabelece a Lei N.º 8.842/94, em seu Art. 4º, inciso VIII, e o Capacitação de recursos humanos especializados
Art. 17, do Decreto N.º 1.948/96, que a regulamentou. O idoso
O desenvolvimento e a capacitação de recursos humanos
terá também uma autorização para acompanhante familiar em
constituem diretriz que perpassará todas as demais definidas
hospitais públicos e privados – conveniados ou contratados –
nesta Política, configurando mecanismo privilegiado de articu-
pelo SUS.
lação Inter setorial, de forma que o setor saúde possa dispor
Na relação entre o idoso e os profissionais de saúde, um dos
de pessoal em qualidade e quantidade adequadas, e cujo provi-
aspectos que deverá sempre ser observado diz respeito à pos-
mento é de responsabilidade das três esferas de governo.
sibilidade de maus-tratos, quer por parte da família, quer por
Esse componente deverá merecer atenção especial, sobre-
parte do cuidador ou mesmo destes profissionais. É importante
tudo no tocante ao que define a Lei N.º 8.080/90, em seu Art. 14
que o idoso saiba identificar posturas e comportamentos que
e parágrafo único, nos quais está estabelecido que a formação
significam maus-tratos, bem como os fatores de risco neles en-
volvidos. Esses maus- tratos podem ser por negligência – física, e a educação continuada contemplarão ação Inter setorial arti-
psicológica ou financeira –, por abuso – físico, psicológico ou culada. A lei estabelece, como mecanismo fundamental, a cria-
financeiro – ou por violação dos direitos pessoais. O profissional ção de comissão permanente de integração entre os serviços de
de saúde, o idoso e a família, quando houver indícios de maus- saúde e as instituições de ensino profissional e superior, com a
-tratos, deverá denunciar a sua suspeita às autoridades compe- finalidade de “propor prioridades, métodos e estratégias”.
tentes. O trabalho articulado com o Ministério da Educação e as ins-
Considerando que a vulnerabilidade à perda de capacidade tituições de ensino superior deverão ser viabilizados por inter-
está ligada a aspectos socioeconômicos, atenção especial deve- médio dos Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia
rá ser concedida aos grupos de idosos que estão envelhecendo tendo em vista a capacitação de recursos humanos em saúde de
em condições mais desfavoráveis, de que são exemplos aqueles acordo com as diretrizes aqui fixadas.
residentes na periferia dos grandes centros urbanos e os que Os Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia se-
vivem nas zonas rurais desprovidas de recursos de saúde e as- rão, preferencialmente, localizados em instituições de ensino
sistência social, onde também se observa uma intensa migração superior e terão atribuições específicas, conforme as caracte-
da população jovem. rísticas de cada instituição. A indicação desses Centros deverá
ser estabelecida pelo Ministério da Saúde, de acordo com as ne-
Reabilitação da capacidade funcional comprometida cessidades identificadas no processo de implantação desta Po-
As ações nesse contexto terão como foco especial a reabili- lítica Nacional No âmbito da execução de ações, de forma mais
tação precoce, mediante a qual buscar-se-á prevenir a evolução específica, a capacitação buscará preparar os recursos humanos
e recuperar a perda funcional incipiente, de modo a evitar-se para a operacionalização de um elenco básico de atividades, que
que as limitações da capacidade funcional possam avançar e que incluirá, entre outras, a prevenção de perdas, a manutenção e
aquelas limitações já avançadas possam ser amenizadas. Esse a recuperação da capacidade funcional da população idosa e o
trabalho envolverá as práticas de um trabalho multiprofissional controle dos fatores que interferem no estado de saúde desta
de medicina, enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, nu- população.
trição, fonoaudiologia, psicologia e serviço social. A capacitação de pessoal para o planejamento, coordenação
Na definição e na implementação das ações, será levado em e avaliação de ações deverá constituir as bases para o desenvol-
conta que, na realidade, as causas de dependência são, em sua vimento do processo contínuo de articulação com os demais se-
maioria, evitáveis e, em muitos casos, reversíveis por intermé- tores, cujas ações estão diretamente relacionadas com o idoso
dio de técnicas de reabilitação física e mental, tão mais efetivas no âmbito do setor saúde.
quanto mais precocemente forem instituídas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Essa capacitação será promovida pelos Centros Colaborado- Assim, a parceria entre os profissionais de saúde e as pes-
res de Geriatria e Gerontologia, os quais terão a função espe- soas que cuidam dos idosos deverá possibilitar a sistematização
cífica de capacitar os profissionais para prestar a devida coo- das tarefas a serem realizadas no próprio domicílio, privilegian-
peração técnica demandada pelas demais esferas de gestão, no do-se aquelas relacionadas à promoção da saúde, à prevenção
sentido de uniformizar conceitos e procedimentos que se tor- de incapacidades e à manutenção da capacidade funcional do
narão indispensáveis para a efetivação desta Política Nacional idoso dependente e do seu cuidador, evitando-se, assim, na me-
de Saúde do Idoso, bem como para o seu processo contínuo de dida do possível, hospitalizações, asilamentos e outras formas
avaliação e acompanhamento. de segregação e isolamento.
Dessa parceria, deverão resultar formas mais efetivas e efi-
Apoio ao Desenvolvimento de Cuidados Informais cazes de manutenção e de recuperação da capacidade funcional,
Nesse âmbito, buscar-se-á desenvolver uma parceria entre assim como a participação mais adequada das pessoas envolvi-
os profissionais da saúde e as pessoas próximas aos idosos, res- das com alguém em processo de envelhecimento com depen-
ponsáveis pelos cuidados diretos necessários às suas atividades dência. O estabelecimento dessa ação integrada será realizado
da vida diária e pelo seguimento das orientações emitidas pelos por meio de orientações a serem prestadas pelos profissionais
profissionais. Tal parceria, como mostram estudos e pesquisas de saúde, do intercâmbio de informações claras e precisas sobre
sobre o envelhecimento em dependência, configura a estratégia diagnósticos e tratamentos, bem como relatos de experiências
mais atual e menos onerosa para manter e promover a melhoria entre pessoas que estão exercitando o papel de cuidar de idoso
da capacidade funcional das pessoas que se encontram neste dependente.
processo.
Apoio a Estudos e Pesquisas
Nos países aonde o envelhecimento da população vem Esse apoio deverá ser levado a efeito pelos Centros Cola-
ocorrendo há mais tempo, convencionou-se que há cuidados boradores de Geriatria e Gerontologia, resguardadas, nas áreas
formais e informais na atenção às pessoas que envelheceram e de conhecimento de suas especialidades, as particularidades de
que, de alguma forma, perderam a sua capacidade funcional. Os cada um.
sistemas formais de cuidados são integrados por profissionais Esses Centros deverão se equipar, com o apoio financeiro
e instituições, que realizam este atendimento sob a forma de das agências de ciência e tecnologia regionais e ou federais, para
prestação de serviço. organizar o seu corpo de pesquisadores e atuar em uma ou mais
Dessa forma, os cuidados são prestados por pessoa ou agên- de uma linha de pesquisa. Tais grupos incumbir-se-ão de gerar
cias comunitárias contratadas para tal. Já os sistemas informais informações com o intuito de subsidiar as ações de saúde dirigi-
são constituídos por pessoas da família, amigos próximos e vizi- das à população de mais de 60 anos de idade, em conformidade
nhos, frequentemente mulheres, que exercem tarefas de apoio com esta Política. Caberá ao Ministério da Saúde e ao Ministério
e cuidados voluntários para suprir a incapacidade funcional do Ciência Tecnologia, em especial, o papel de articuladores, com
seu idoso. vistas a garantir a efetividade de ações programadas de estudos
Na cultura brasileira, são essas pessoas que assumem para e pesquisas desta Política Nacional de Saúde do Idoso.
si as funções de provedoras de cuidados diretos e pessoais. O As linhas de pesquisa deverão concentrar-se em quatro
papel de mulher cuidadora na família é normativo, sendo qua- grandes tópicos de produção de conhecimentos sobre o enve-
se sempre esperado que ela assuma tal papel. Os responsáveis lhecimento no Brasil, contemplando as particularidades de gê-
pelos cuidados diretos aos seus idosos doentes ou dependentes nero e extratos sociais nas zonas urbanas e rurais.
geralmente residem na mesma casa e se incumbem de prestar a O primeiro tópico refere-se a estudos de perfil do idoso, nas
ajuda necessária ao exercício das atividades diárias destes ido- diferentes regiões do País, e prevalência de problemas de saúde,
sos, tais como higiene pessoal, medicação de rotina, acompa- incluindo dados sociais, nas formas de assistência e seguridade,
nhamento aos serviços de saúde ou outros serviços requeridos situação financeira e apoios formais e informais. Nesse contex-
no cotidiano, por exemplo ida a bancos ou farmácias. to, será estimulada a sistematização das informações produzi-
O modelo de cuidados domiciliares, antes restrito à esfera das pelos Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia,
privada e à intimidade das famílias, não poderá ter como úni- em articulação com os dados das agências governamentais,
ca finalidade baratear custos ou transferir responsabilidades. A particularmente aquelas que lidam com estudos demográficos
assistência domiciliar aos idosos cuja capacidade funcional está e populacionais.
comprometida demanda orientação, informação e assessoria de No segundo tópico, deverão estar concentrados estudos vi-
especialistas. sando a avaliação da capacidade funcional; prevenção de doen-
Para o desempenho dos cuidados a um idoso dependente, ças, vacinações; estudos de seguimento; e desenvolvimento de
as pessoas envolvidas deverão receber dos profissionais de saú- instrumentos de rastreamento.
de os esclarecimentos e as orientações necessárias, inclusive em O terceiro tópico diz respeito aos estudos de modelos de
relação à doença crônico-degenerativa com a qual está even- cuidado, na assessoria para a implementação e no acompanha-
tualmente lidando, bem como informações sobre como acom- mento e na avaliação das intervenções.
panhar o tratamento prescrito. O quarto tópico concentrar-se-á em estudos sobre a hospi-
Essas pessoas deverão, também, receber atenção médica talização e alternativas de assistência hospitalar, com vistas à
pessoal, considerando que a tarefa de cuidar de um adulto de- maior eficiência e à redução dos custos no ambiente hospitalar.
pendente é desgastante e implica riscos à saúde do cuidador. Para tal, a padronização de protocolos para procedimentos clíni-
Por conseguinte, a função de prevenir perdas e agravos à saúde cos, exames complementares mais sofisticados e medicamentos
abrangerá, igualmente, a pessoa do cuidador. deverão constituir pontos prioritários.

33
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Comporão, ainda, esse último tópico estudos sobre orienta- • a discussão e a readequação de currículos e programas de
ção e cuidados aos idosos, alta hospitalar e diferentes alterna- ensino nas instituições de ensino superior abertas para a tercei-
tivas de assistência – como assistência domiciliar, centro-dia, já ra idade, consoantes às diretrizes fixadas nesta Política.
utilizados em outros países –, bem como investigações acerca
de formas de articulação de informações básicas em geriatria Ministério da Previdência e Assistência Social
e gerontologia para os profissionais de todas as especialidades.
A parceria buscará principalmente:
Responsabilidades Institucionais • a realização de estudos e pesquisas epidemiológicas, junto
Caberá aos gestores do SUS, de forma articulada e na con- aos seus segurados, relativos às doenças e agravos mais preva-
formidade de suas atribuições comuns e específicas, prover os lentes nesta faixa etária, sobretudo quanto aos seus impactos
meios e atuar de modo a viabilizar o alcance do propósito desta no indivíduo, na família, na sociedade, na previdência social e
Política Nacional de Saúde do Idoso, que é a promoção do en- no setor saúde;
velhecimento saudável, a manutenção e a melhoria, ao máximo, • a elaboração de programa de trabalho conjunto direciona-
da capacidade funcional dos idosos, a prevenção de doenças, a do aos idosos segurados, consoante às diretrizes fixadas nesta
recuperação da saúde dos que adoecem e a reabilitação daque- Política.
les que venham a ter a sua capacidade funcional restringida. • Secretaria de Estado da Assistência Social
Considerando, por outro lado, as diretrizes aqui definidas • A parceria com essa Secretaria terá por finalidade princi-
para a consecução do propósito fixado, cuja observância implica palmente:
o desenvolvimento de um amplo conjunto de ações, entre as • a difusão, junto aos seus serviços e àqueles sob a sua su-
quais figurarão aquelas compreendidas no processo de promo- pervisão, de informações relativas à preservação da saúde e à
ção da saúde e que, por isso mesmo, irão requerer o compar- prevenção ou recuperação de incapacidades;
tilhamento de responsabilidades específicas tanto no âmbito • a adequação, na conformidade das diretrizes aqui estabe-
interno do setor saúde, quanto no contexto de outros setores. lecidas, de seus cursos de treinamento ou capacitação de profis-
Nesse sentido, os gestores do SUS deverão estabelecer, em sionais que atuam nas unidades próprias, conveniadas ou sob a
sua supervisão;
suas respectivas áreas de abrangência, processos de articulação
• a promoção da formação e o acompanhamento de grupos
permanente, visando o estabelecimento de parcerias e a inte-
de autoajuda aos idosos, referentes às doenças e agravos mais
gração institucional que viabilizem a consolidação de compro-
comuns nesta faixa etária;
missos multilaterais efetivos. Será buscado, igualmente, a par-
• o apoio à criação de Centros Colaboradores de Geriatria
ticipação de diferentes segmentos da sociedade, que estejam
e Gerontologia nas instituições de ensino superior, que devem
direta ou indiretamente relacionadas com a presente Política.
atuar de forma integrada com o SUS e os órgãos estaduais e
municipal de assistência social, mediante o estabelecimento de
referência e contra referência de ações e serviços para o atendi-
Articulação Intersetorial
mento integral de idosos e o treinamento de equipes multipro-
No âmbito federal, o Ministério da Saúde buscará estabele- fissionais e interdisciplinares, visando a capacitação contínua do
cer, em especial, articulação com as instâncias a seguir apresen- pessoal de saúde nas áreas de gerência, planejamento, pesquisa
tadas, para as quais estão identificadas as medidas essenciais, e assistência ao idoso;
segundo as suas respectivas competências. • o apoio à realização de estudos epidemiológicos para de-
tecção dos agravos à saúde da população idosa, visando o de-
Ministério da Educação senvolvimento de sistema de informação sobre esta população,
destinado a subsidiar o planejamento, a execução e a avaliação
A parceria com esse Ministério buscará, sobretudo: das ações de promoção, proteção, recuperação e reabilitação;
• a difusão, junto às instituições de ensino e seus alunos, de • a promoção da observância das normas relativas à criação
informações relacionadas à promoção da saúde dos idosos e à e ao funcionamento de instituições gerontológicas e similares,
prevenção ou recuperação de suas incapacidades; nas unidades próprias e naquelas sob a sua supervisão.
• a adequação de currículos, metodologias e material didá-
tico de formação de profissionais na área da saúde, visando o Ministério do Trabalho e Emprego
atendimento das diretrizes fixadas nesta Política; • Com esse Ministério, a parceria a ser estabelecida visará,
• o incentivo à criação de Centros Colaboradores de Geria- em especial:
tria e Gerontologia nas instituições de ensino superior, que de- • a elaboração e a implementação de programas de preparo
verão atuar de forma integrada com o SUS e os órgãos estaduais para futuros aposentados nos setores públicos e privados;
e municipais de assistência social, mediante o estabelecimen- • a melhoria das condições de emprego do idoso, compreen-
to de referência e contra referência de ações e serviços para o dendo: a eliminação das discriminações no mercado de trabalho
atendimento integral dos idosos e a capacitação de equipes mul- e a criação de condições que permitam a inserção do idoso na
tiprofissionais e interdisciplinares, visando a qualificação contí- vida socioeconômica das comunidades.
nua do pessoal de saúde nas áreas de gerência, planejamento,
pesquisa e assistência ao idoso; Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano
• o estímulo e apoio à realização de estudos que contem- Será estabelecida a parceria com essa Secretaria visando,
plem as quatro linhas de pesquisa definidas como prioritárias entre outras:
por esta Política, visando o desenvolvimento de um sistema de • a melhoria de condições de habitação e moradia, além da
informação sobre esta população, que subsidie o planejamento, diminuição das barreiras arquitetônicas e urbanas que dificul-
execução e avaliação das ações de promoção, proteção, recupe- tam ou impedem a manutenção e apoio à independência fun-
ração e reabilitação; cional do idoso;

34
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
• a promoção de ações educativas dirigidas aos agentes exe- • Estimular e apoiar a realização de pesquisas consideradas
cutores e beneficiários de programas habitacionais quanto aos estratégicas no contexto desta Política.
riscos ambientais à capacidade funcional dos idosos. • Promover a disseminação de informações técnico-científi-
• o estabelecimento de previsão e a instalação de equipa- cas e de experiências exitosas referentes à saúde do idoso.
mentos comunitários públicos voltados ao atendimento da po- • Promover a capacitação de recursos humanos para a im-
pulação idosa previamente identificada, residentes na área de plementação desta Política.
abrangência dos empreendimentos habitacionais respectivos; • Promover a adoção de práticas, estilos e hábitos de vida
• a promoção de ações na área de transportes urbanos que saudáveis, por parte dos idosos, mediante a mobilização de dife-
permitam e ou facilitem o deslocamento do cidadão idoso, so- rentes segmentos da sociedade e por intermédio de campanhas
bretudo aquele que já apresenta dificuldades de locomoção, tais publicitárias e de processos educativos permanentes.
como elevatórias para acesso aos ônibus na porta de hospitais, • Apoiar estados e municípios, a partir da análise de tendên-
rampas nas calçadas, bancos mais altos nas paradas de ônibus. cias, no desencadeamento de medidas visando a eliminação ou
o controle de fatores de risco detectados.
Ministério da Justiça • Promover o fornecimento de medicamentos, órteses e
Com esse Ministério, a parceria terá por finalidade a pro- próteses necessários à recuperação e à reabilitação do idoso.
moção e a defesa dos direitos da pessoa idosa, no tocante às • Estimular a participação do idoso nas diversas instâncias
questões de saúde, mediante o acompanhamento da aplicação de controle social do SUS.
das disposições contidas na Lei N.º 8.842/94 e seu regulamento • Estimular a formação de grupos de autoajuda e de convi-
(Decreto N.º 1.948/96). vência, de forma integrada com outras instituições que atuam
nesse contexto.
Ministério do Esporte e Turismo • Estimular a criação, na rede de serviços do SUS, de uni-
Essa parceria buscará, em especial, a elaboração, a imple- dades de cuidados diurnos – hospital dia, centro-dia – de aten-
mentação e o acompanhamento de programas esportivos e de dimento domiciliar, bem como de outros serviços alternativos
exercícios físicos destinados às pessoas idosas, bem como de para o idoso.
turismo que propiciem a saúde física e mental deste grupo po-
pulacional. Responsabilidades do Gestor Estadual – Secretaria Esta-
dual de Saúde
Ministério da Ciência e Tecnologia • Elaborar, coordenar e executar a política estadual de saú-
Buscar-se-á, por intermédio do Conselho Nacional de De- de do idoso, consoante a esta Política Nacional.
senvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq –, o fomento à • Promover a elaboração e ou adequação dos planos, pro-
pesquisa na área de geriatria e gerontologia contemplando, pre- gramas, projetos e atividades decorrentes desta Política.
ferencialmente, as linhas de estudo definidas nesta Política. • Promover processo de articulação entre os diferentes se-
tores no Estado, visando a implementação da respectiva política
Responsabilidades do Gestor Federal – Ministério da Saúde de saúde do idoso.
• Implementar, acompanhar e avaliar a operacionalização • Acompanhar o cumprimento de normas de funcionamen-
desta Política Nacional de Saúde do Idoso, bem como os planos, to de instituições geriátricas e similares, bem como de serviços
programas, projetos e atividades dela decorrentes. hospitalares geriátricos.
• Promover a revisão e o aprimoramento das normas de • Estabelecer cooperação com os Centros Colaboradores de
funcionamento de instituições geriátricas e similares (Portaria Geriatria e Gerontologia com vistas ao treinamento de equipes
810/89). multiprofissionais e interdisciplinares, e promover esta coope-
• Elaborar e acompanhar o cumprimento de normas relati- ração com as Secretarias Municipais de Saúde, de modo a ca-
vas aos serviços geriátricos hospitalares. pacitar recursos humanos necessários à consecução da política
• Designar e apoiar os Centros Colaboradores de Geriatria e estadual de saúde do idoso.
Gerontologia, preferencialmente localizados em instituições de • Promover a capacitação de recursos humanos necessários
ensino superior envolvidos na capacitação de recursos humanos à consecução da política estadual de saúde do idoso.
em saúde do idoso e ou na produção de material científico, bem • Adequar os serviços de saúde com a finalidade do atendi-
como em pesquisa nas áreas prioritárias do envelhecimento e da mento às necessidades específicas da população idosa.
atenção a este grupo populacional. • Prestar cooperação técnica aos municípios na implemen-
• Apoiar estudos e pesquisas definidos como prioritários tação das ações decorrentes.
nesta Política visando a ampliar o conhecimento sobre o idoso • Apoiar propostas de estudos e pesquisas estrategicamen-
e a subsidiar o desenvolvimento das ações decorrentes desta te importantes para a implementação, avaliação ou reorienta-
Política. ção das questões relativas à saúde do idoso.
• Promover a cooperação das Secretarias Estaduais e Mu- • Promover a adoção de práticas e hábitos saudáveis, por par-
nicipais de Saúde com os Centros Colaboradores de Geriatria e te dos idosos, mediante a mobilização de diferentes segmentos
Gerontologia com vistas à capacitação de equipes multiprofis- da sociedade e por intermédio de campanhas de comunicação.
sionais e interdisciplinares. • Promover o fornecimento de medicamentos, próteses e
• Promover a inclusão da geriatria como especialidade clíni- órteses necessários à recuperação e à reabilitação de idosos.
ca, para efeito de concursos públicos. • Estimular e viabilizar a participação de idosos nas instân-
• Criar mecanismos que vinculem a transferência de recur- cias de participação social.
sos às instâncias estadual e municipal ao desenvolvimento de • Estimular a formação de grupos de autoajuda e de convi-
um modelo adequado de atenção à saúde do idoso. vência, de forma integrada com outras instituições que atuam
nesse contexto.

35
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
• Criar e estimular a criação, na rede de serviços do SUS, Além da avaliação nos contextos anteriormente identifica-
de unidades de cuidados diurnos – hospital-dia, centro-dia – de dos, voltados principalmente para a verificação do impacto das
atendimento domiciliar, bem como de outros serviços alternati- medidas sobre a saúde dos idosos, buscar-se-á investigar a re-
vos para o idoso. percussão desta Política na qualidade de vida deste segmento
• Prover o Sistema Nacional de Informação em Saúde com populacional.
dados respectivos e análises relacionadas à situação de saúde e Nesse particular, buscar-se-á igualmente conhecer em que
às ações dirigidas aos idosos. medida a Política Nacional de Saúde do Idoso tem contribuído
para a concretização dos princípios e diretrizes do SUS, na con-
Responsabilidades do Gestor Municipal – Secretaria Muni- formidade do Art. 7º, da Lei N.º 8.080/90, entre os quais, des-
cipal de Saúde ou organismos correspondentes. tacam-se aqueles relativos à integralidade da atenção, à preser-
• Coordenar e executar as ações decorrentes das Políticas vação da autonomia das pessoas e ao uso da epidemiologia no
Nacional e Estadual, em seu respectivo âmbito, definindo com- estabelecimento de prioridades (respectivamente incisos II, III e
ponentes específicos que devem ser implementados pelo mu- VII). Paralelamente, deverá ser observado, ainda, se:
nicípio. • potencial dos serviços de saúde e as possibilidades de uti-
• Promover as medidas necessárias para integrar a progra- lização pelo usuário estão sendo devidamente divulgados junto
mação municipal à adotada pelo Estado, submetendo-as à Co- à população de idosos;
missão Inter gestores Biparti-te. • os planos, programas, projetos e atividades que operacio-
• Promover articulação necessária com as demais instâncias nalizam esta Política estão sendo desenvolvidos de forma des-
do SUS visando o treinamento e a capacitação de recursos hu- centralizada, considerando a direção única em cada esfera de
manos para operacionalizar, de forma produtiva e eficaz, o elen- gestão;
co de atividades específicas na área de saúde do idoso. • a participação dos idosos nas diferentes instâncias do SUS
• Manter o provimento do Sistema Nacional de Informação está sendo incentivada e facilitada.
em Saúde com dados e análises relacionadas à situação de saúde
e às ações dirigidas aos idosos. Terminologia
• Promover a difusão de conhecimentos e recomendações Ação terapêutica: processo de tratamento de um agravo à
sobre práticas, hábitos e estilos de vida saudáveis, junto à po- saúde por intermédio de medidas farmacológicas e não farma-
pulação de idosos, valendo-se, inclusive, da mobilização da a cológicas, tais como: mudanças no estilo de vida, abandono de
comunidade. hábitos nocivos, psicoterapia, entre outros.
• Criar e estimular a criação, na rede de serviços do SUS,
AIH (Autorização de Internação Hospitalar): documento de
de unidades de cuidados diurnos – hospital-dia, centro-dia – de
autorização e fatura de serviços hospitalares do SUS, que englo-
atendimento domiciliar.
ba o conjunto de procedimentos realizados em regime de inter-
• Estimular e apoiar a formação de grupos de autoajuda e
nação.
de convivência, de forma integrada com outras instituições que
atuam nesse contexto.
Assistência domiciliar: essa assistência engloba a visitação
• Realizar articulação com outros setores visando a promo-
domiciliar e cuidados domiciliares que vão desde o fornecimen-
ção a qualidade de vida dos idosos.
to de equipamentos, até ações terapêuticas mais complexas.
• Promover o acesso a medicamentos, órteses e próteses
necessários à recuperação e à reabilitação do idoso. Atividades de vida diária (AVDs): termo utilizado para des-
• Aplicar, acompanhar e avaliar o cumprimento de normas crever os cuidados essenciais e elementares à manutenção do
de funcionamento de instituições geriátricas e similares, bem bem-estar do indivíduo, que compreende aspectos pessoais
como de serviços geriátricos da rede local. como: banho, vestimenta, higiene e alimentação, e aspectos
• Estimular e viabilizar a participação social de idosos nas instrumentais como: realização de compras e cuidados com fi-
diversas instâncias. nanças.

Acompanhamento e Avaliação Autodeterminação: capacidade do indivíduo poder exercer


A operacionalização desta Política compreenderá a sistema- sua autonomia.
tização de processo contínuo de acompanhamento e avaliação,
que permita verificar o alcance de seu propósito – e, consequen- Autonomia: é o exercício da autodeterminação; indivíduo
temente, o seu impacto sobre a saúde dos idosos –, bem como autônomo é aquele que mantém o poder decisório e o controle
proceder a eventuais adequações que se fizerem necessárias. sobre sua vida.
Esse processo exigirá a definição de critérios, parâmetros,
indicadores e metodologia específicos, capazes de evidenciar, Capacidade funcional: capacidade de o indivíduo manter as
também, a repercussão das medidas levadas a efeito por outros habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida indepen-
setores, que resultaram da ação articulada preconizada nesta dente e autônoma; a avaliação do grau de capacidade funcional
Política e que estão explicitadas no capítulo anterior deste do- é feita mediante o uso de instrumentos multidimensionais.
cumento, bem como a observância dos compromissos interna- Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia: cen-
cionais assumidos pelo País em relação à atenção aos idosos. tros localizados de preferência em instituições de ensino supe-
É importante considerar que o processo de acompanhamen- rior, que colaboram com o setor saúde, fundamentalmente na
to e avaliação referido será apoiado, sobretudo para a aferição capacitação de recursos humanos em saúde do idoso e ou na
de resultados no âmbito interno do setor, pelas informações produção de material científico para tal finalidade, bem como
produzidas pelos diferentes planos, programas, projetos, ações em pesquisas nas áreas prioritárias do envelhecimento e da
e ou atividades decorrentes desta Política Nacional. atenção a este grupo populacional.

36
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Centro-dia: ambiente destinado ao idoso, que tem como ca- Idoso: a Organização das Nações Unidas, desde 1982 con-
racterística básica o incentivo à socialização e o desenvolvimen- sidera idoso o indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos;
to de ações de promoção e proteção da saúde. o Brasil, na Lei Nº 8.842/94, adota essa mesma faixa etária (Art.
2º do capítulo I).
Cuidador: é a pessoa, membro ou não da família, que, com
ou sem remuneração, cuida do idoso doente ou dependente no Incapacidade: quantificação da deficiência; refere-se à falta
exercício das suas atividades diárias, tais como alimentação, hi- de capacidade para realizar determinada função na extensão,
giene pessoal, medicação de rotina, acompanhamento aos ser- amplitude e intensidade consideradas normais; em gerontolo-
viços de saúde ou outros serviços requeridos no cotidiano – por gia, diz respeito à incapacidade funcional, isto é, à perda da ca-
exemplo, ida a bancos ou farmácias –, excluídas as técnicas ou pacidade de realizar pelo menos um ou mais de um ato de vida
procedimentos identificados com profissões legalmente estabe- diária.
lecidas, particularmente na área da enfermagem.
Incontinência urinária: refere-se à perda involuntária de
Deficiência: expressão de um processo patológico, na forma urina.
de uma alteração de função de sistemas, órgãos e membros do
corpo, que podem ou não gerar uma incapacidade. Iatrogenia: qualquer agravo à saúde, causado por uma in-
tervenção médica Psicoterapia: terapêutica que, por métodos
Demência: conceitua-se demência como uma síndrome pro- psicológicos, busca a restauração do equilíbrio emocional do
gressiva e irreversível, composta de múltiplas perdas cognitivas indivíduo.
adquiridas, que ocorrem na ausência de um estado de confusão
mental aguda (ou seja, de uma desorganização súbita do pen- Reabilitação física: conjunto de procedimentos terapêuti-
samento). As funções cognitivas que podem ser afetadas pela cos físicos que visam adaptar ou compensar deficiências moto-
demência incluem a memória, a orientação, a linguagem, a prá- ras (quando aplicadas a limitações insipientes pode ser conside-
xis, a agnosia, as construções, a prosódia e o controle executivo. rada reabilitação precoce ou “preventiva”).

Envelhecimento: a maioria dos autores o conceituam como Rastreamento: um protocolo de aplicação rápida e sistemá-
“uma etapa da vida em que há um comprometimento da ho- tica para detecção de problemas de saúde em uma determinada
meostase, isto é, o equilíbrio do meio interno, o que fragilizaria população.
o indivíduo, causando uma progressiva vulnerabilidade do indi-
víduo perante a uma sobrecarga fisiológica”. Síndrome: conjunto de sinais e sintomas comuns a diversas
enfermidades.
Envelhecimento saudável: é o processo de envelhecimento
com preservação da capacidade funcional, autonomia e quali-
dade de vida. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE ON-
COLÓGICO NAS DIFERENTES FASES DA DOENÇA E
Geriatria: é o ramo da ciência médica voltado à promoção TRATAMENTOS: QUIMIOTERAPIA, RADIOTERAPIA E
da saúde e o tratamento de doenças e incapacidades na velhice. CIRURGIAS

Gerontologia: área do conhecimento científico voltado para A oncologia é um ramo da ciência médica que lida com tu-
o estudo do envelhecimento em sua perspectiva mais ampla, em mores e com câncer. A palavra Oncologia tem origem em duas
que são levados em conta não somente os aspectos clínicos e acepções, na palavra grega “onkos” (onco) que significa massa,
biológicos, mas também as condições psicológicas, sociais, eco- volume, tumor e no termo “logia” que significa estudo, por tan-
nômicas e históricas. to oncologia é o estudo dos tumores.
A Oncologia está voltada para a forma como o câncer se de-
Dependência: é a condição que requer o auxílio de pessoas senvolve no organismo e qual é o tratamento mais adequado
para a realização de atividades do dia a dia Centros de convivên- para cada tipo de neoplasia. No Brasil a Oncologia é também
cia: locais destinados à permanência do idoso, em um ou dois chamada de Cancerologia.
turnos, onde são desenvolvidas atividades físicas, laborativas,
recreativas, culturais, associativas e de educação para a cida- O que é Câncer?
dania. Câncer é o nome genérico para um grupo de mais de 200 do-
enças. Embora existam muitos tipos de câncer, todos começam
Habilidade física: refere-se à aptidão ou capacidade para devido ao crescimento anormal e fora de controle das células. É
realizar algo que exija uma resposta motora, tal como caminhar, também conhecido como neoplasia.
fazer um trabalho manual, entre outros.
O Oncologista
Hospital-dia geriátrico: refere-se ao ambiente hospitalar, O oncologista é o médico clínico especializado no tratamen-
no qual atua equipe multiprofissional e interdisciplinar, desti- to do câncer, é aquele profissional que se ocupa da abordagem
nado a pacientes que dele necessitam em regime de um ou dois geral, do cuidado do paciente e especificamente da prescrição
turnos, para complementar tratamentos e promover reabilita- de tratamentos sistêmicos como quimioterapia, hormoniotera-
ção. pia e terapia biológica.

37
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Equipe Multiprofissional perdas de autonomia no cotidiano e alterações nos hábitos de
Durante os últimos anos a Oncologia tornou se uma ciência vida, com necessidade de criar novas maneiras de viver e adap-
complexa. Na Oncologia atual é de enorme importância a abor- tar-se à realidade apresentada, uma vez que esse paciente passa
dagem multidisciplinar no tratamento do paciente oncológico, a depender de medicações e a conviver com os efeitos adversos
assim o oncologista trabalha integrado a uma equipe multipro- da terapêutica. Em geral, durante o tratamento, os pacientes e
fissional e conta com a colaboração de outras especialidades familiares, além de passarem pelos efeitos colaterais do trata-
médicas como Patologia, Radiologia, Cirurgia, Pediatria, Psiquia- mento que causam incômodo e interferem negativamente no
tria, Enfermagem, Psicooncologia, Fisioterapia, Nutrição e mui- aspecto físico da qualidade de vida, ainda vivenciam sentimen-
tos outros profissionais. tos de medo, tristeza e incerteza da cura.
Para esse manejo é crucial uma equipe interdisciplinar com
Objetivos do Tratamento Oncológico contínuo aprimoramento dos conhecimentos técnico-científi-
O tratamento oncológico deve ser sempre muito individua- cos, bem como o estreitamento das relações interpessoais, pro-
lizado e é importante observar as necessidades e possibilidades movendo ações de saúde e educação eficazes no decorrer do
terapêuticas de cada paciente com câncer. tratamento, que possibilitem minimizar o sofrimento de todos
Os objetivos do tratamento oncológico basicamente consis- os envolvidos no processo de cuidar. O profissional de enferma-
tem em: gem é o membro da equipe que mais tempo permanece com o
Curativo O primeiro objetivo do tratamento oncológico é paciente e muitas vezes o primeiro a identificar os efeitos inde-
curar os pacientes para devolver lhes um lugar na sociedade. sejáveis. Torna-se evidente a necessidade de que os enfermei-
Para isto deve ser prescrito um bom tratamento com a possi- ros oncológicos conheçam profundamente as características, os
bilidade de usar medicamentos modernos sempre com o foco sinais e sintomas, tipos de tratamentos, efeitos colaterais e os
em uma medicina personalizada, ou seja, orientada para aquele cuidados de enfermagem que podem ser prestados, pois estes,
paciente mesmo em que a chance de cura é pequena. como membros da equipe de saúde, assumem função vital na
Remissão da Doença Caso a cura não seja possível de alcan- recuperação do paciente.
çar, cabe ao oncologista apontar ao paciente um segundo ob- Cuidar, em enfermagem, é planejar e realizar intervenções
jetivo, que visa uma satisfatória remissão da doença, fazendo para melhorar as respostas das pessoas aos problemas de saú-
com que o paciente fique bem consigo mesmo pelo maior tempo de e aos processos da vida. Requer a identificação de respostas
possível, longe de efeitos da doença e de internações. funcionais e disfuncionais, a proposição de intervenções e a ava-
Cuidados Paliativos Quando a chance de remissão é remota, liação de resultados obtidos.
o objetivo passa a ser controlar a doença e seus sintomas, os cui- As ações de enfermagem compreendem todo o cuidado,
dados paliativos consistem na abordagem para melhorar a quali- seja ele preventivo, curativo, reabilitação antes, durante e após
dade de vida dos pacientes e seus familiares, no enfrentamento tratamento ou no controle dos sintomas. De acordo com a reso-
de doenças que oferecem risco de vida, através da prevenção e lução RDC 220/04 que aprova o Regulamento Técnico de funcio-
alívio do sofrimento, tratando sintomas de ordem física, psicos- namento dos Serviços de Terapia Antineoplásica e a resolução
social e espiritual. COFEN 210/1998, que regulamenta a atuação dos profissionais
O maior objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente de Enfermagem em quimioterapia, traz como competências do
e não apenas prolongar uma vida sofrida. O médico deve ajudar enfermeiro :
o paciente a manter a sua dignidade, entender sua fraqueza e - Planejar, organizar, supervisionar, executar e avaliar todas
evitar sentimentos de frustração. É importante que o médico as atividades de enfermagem, em clientes submetidos ao tra-
tenha condições de desenvolver o bom julgamento para o inte- tamento quimioterápico antineoplásico, categorizando-o como
resse do próprio paciente. Com bom senso e sensibilidade esses um serviço de alta complexidade, alicerçados na metodologia
objetivos se tornam atingíveis. assistencial de enfermagem;
- Elaborar protocolos terapêuticos de enfermagem na pre-
Papel do enfermeiro clínico especialista em oncologia venção, tratamento e minimização dos efeitos colaterais em
O número de casos de câncer tem aumentado considera- clientes submetidos ao tratamento;
velmente em todo o mundo, constituindo-se em um dos mais - Realizar consulta baseada no processo de enfermagem
importantes problemas de saúde pública tanto em países de- direcionado a clientes em tratamento quimioterápico antineo-
senvolvidos como naqueles em desenvolvimento. Mais de 12 plásico;
milhões de pessoas no mundo são diagnosticadas todo ano com - Assistir, de maneira integral, aos clientes e suas famílias,
tumor. Cerca de oito milhões morrem. No Brasil, o câncer é a tendo como base o Código de Ética dos profissionais de enfer-
segunda causa de morte não violenta, atrás apenas das doen- magem e a legislação vigente;
ças cardíacas. O INCA (Instituto Nacional de Câncer, órgão do - Ministrar quimioterápico antineoplásico, conforme farma-
Ministério da Saúde) estima em 580 mil casos novos da doen- cocinética da droga e protocolo terapêutico;
ça para 2015. Se medidas efetivas não forem tomadas, haverá - Promover e difundir medidas de prevenção de riscos e
26 milhões de casos novos e 17 milhões de mortes por ano no agravos por meio da educação dos clientes e familiares, objeti-
mundo em 2030, sendo que 2/3 das vítimas vivem nos países em vando melhorar a qualidade de vida do paciente;
desenvolvimento¹. - Participar de programas de garantia da qualidade em servi-
Nos últimos anos aconteceram muitos avanços no diag- ço de quimioterapia antineoplásica de forma setorizada e global;
nóstico e tratamento da doença. O tratamento, na maioria das - Proporcionar condições para o aprimoramento dos profis-
vezes, provoca uma série de consequências físicas, emocionais sionais de enfermagem atuantes na área, por meio de cursos e
e sociais. Essas mudanças requerem atenção e suporte maior estágios em instituições afins;
por parte da família e da equipe multiprofissional. Não raro,
inicia-se um processo no qual os pacientes vivenciam diversas

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Participar da elaboração de programas de estágio, treina- Enfermeiros clínicos especialistas em oncologia agregam va-
mento e desenvolvimento de profissionais de enfermagem nos lor ao atendimento ao paciente, gerando ganhos de eficiência
diferentes níveis de formação, relativos à área de atuação; para as organizações por meio de novas e inovadoras formas
- Participar da definição da política de recursos humanos, da de trabalhar. Os benefícios de custo gerados por enfermeiros
aquisição de material e da disposição da área física, necessários especializados incluem:
à assistência integral aos clientes; - Reduzidos tempos de espera;
- Cumprir e fazer cumprir as normas, regulamentos e legisla- - Gestão de projetos e inovação;
ções pertinentes às áreas de atuação; - Habilidades e diagnóstico clinico avançado;
- Estabelecer relações técnico-científicas com as unidades - Excelentes habilidades decisórias de acordo com o conhe-
afins, desenvolvendo estudos investigacionais e de pesquisa; cimento técnico-científico;
- Promover e participar da integração da equipe multiprofis- - Pacientes referem maior satisfação com o tratamento re-
sional, procurando garantir uma assistência integral ao cliente cebido;
e familiares; - Evita a internação desnecessária / readmissão (por meio
- Registrar informações e dados estatísticos pertinentes à de complicações reduzidas pós-cirurgia e cuidados de suporte);
assistência de enfermagem, ressaltando os indicadores de de- - Atuação nos efeitos mais rapidamente e controle dos sin-
sempenho e de qualidade, interpretando e otimizando a utiliza- tomas;
ção dos mesmos; - Melhora o autocuidado do paciente;
- Formular e implementar manuais técnicos operacionais - Reduz a permanência hospitalar;
para a equipe de enfermagem nos diversos setores de atuação. - Reduz as taxas de abandono de tratamento, maior adesão
- Formular e implementar manuais educativos aos clientes e ao tratamento;
familiares, adequando-os a sua realidade social; - Educação e aconselhamento especializado direto dado aos
- Manter a atualização técnica e científica da biossegurança pacientes, famílias e cuidador;
individual, coletiva e ambiental que permita a atuação profissio- - Redução dos custos do tratamento;
nal com eficácia em situações de rotinas e emergenciais, visando - Inclusão de pacientes com menor custo;
interromper e/ou evitar acidentes ou ocorrências que possam - Proporcionar melhor qualidade do cuidado e melhor qua-
causar algum dano físico e/ou ambiental. lidade de vida.

A demanda crescente e o compromisso com a missão ide- A clínica de oncologia da qual faço parte, e tenho o papel
alizada estimulou os profissionais a buscarem um modelo de de líder e supervisora, possibilita a atuação do enfermeiro clí-
atendimento multiprofissional que correspondesse às necessi- nico especialista em oncologia e tem como requisito mínimo de
dades e atendesse às particularidades dessa população e não contratação ter especialização em enfermagem oncológica re-
apenas a obrigatoriedade da legislação. Quando falamos do en- conhecida. Possibilita a compreensão das necessidades dos pa-
fermeiro oncológico, é necessário ressaltar que ele detém um cientes, concepção e planejamento dos cuidados e obtenção do
conhecimento técnico-científico complexo, específico e essen- feedback do paciente e /ou cuidador.
cial à prática, ligado a uma imprevisibilidade ditada pelos efei- Os enfermeiros são responsáveis pelo planejamento, exe-
tos colaterais comuns à terapêutica. Assim, no início dos anos cução e avaliação do cuidado prestado a um determinado grupo
de 1970, os ensaios clínicos e a equipe multidisciplinar se es- de pacientes, de acordo com o tipo de neoplasia ou protocolo
tenderam da academia para a comunidade, crescendo, então, terapêutico, através da prática baseada em evidências e exe-
a demanda para a enfermagem oncológica, o que estimulou o cução de protocolos descritos e implementados na instituição.
desenvolvimento dessa especialidade, culminando, assim, com É realizado consulta de enfermagem, avaliação de sinais vitais,
o aparecimento das organizações de enfermagem oncológica, graduação de toxicidade de acordo com o protocolo quimioterá-
da educação curricular, dos cursos de especialização, de atuali- pico utilizado antes de cada ciclo do tratamento.
zação e de outros. Um reduzido, mas logo crescente número de A educação ao paciente e cuidador é parte essencial do cui-
enfermeiras, trabalhando inicialmente em centros de pesquisa, dado. Todo paciente é orientado antes de iniciar o tratamento
deu início às discussões, levando à criação da ONS (Oncology juntamente com uma farmacêutica clínica, e recebe uma Pas-
Nursing Society), em 1975, que é a maior organização científica ta denominada Meu tratamento® que contém um manual de
do mundo na especialidade do câncer, promovendo fóruns de orientação geral sobre o tratamento quimioterápico e orienta-
discussões e constituindo um meio pelo qual os enfermeiros po- ções específicas do medicamento quimioterápico utilizado. Essa
dem contribuir para a especialidade. pasta é um convite ao paciente e/ou cuidador para fazer parte
do tratamento inclusive anotando e acompanhando seus resul-
O enfermeiro clínico especialista em oncologia assume um tados de exames laboratoriais durante o tratamento, e tem o
papel de liderança para que os pacientes obtenham os melhores intuito de melhorar a adesão ao tratamento e identificar o reco-
cuidados possíveis movendo a profissão para uma prática clínica nhecimento dos sintomas precocemente.
mais resolutiva e qualificada. Ele fornece assistência direta ao O enfermeiro é referência do paciente para o relato de si-
paciente e pode desempenhar um papel vital na educação dos nais e sintomas. É realizada uma avaliação inicial e manejo des-
mesmos sobre a melhor forma de manejar seus sintomas, bem tes. O profissional colabora com o médico para o diagnóstico de
como oferecendo suporte após o diagnóstico, durante e pós condições médicas, solicita exames segundo discussão, orienta-
tratamento. O enfermeiro com prática e atributos diferencia- ção e protocolo instituído, interpreta resultado de exames, in-
dos requer qualificação para além dos limites do bacharelado. clusive para liberação da terapia antineoplásica, e discute com a
Em muitos casos o envolvimento de um enfermeiro especialista equipe médica para definição de conduta terapêutica, além de
pode impedir que os pacientes sejam re-hospitalizados. participar também de reuniões clínicas semanais de discussão
de casos.

39
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O conhecimento técnico-científico é constantemente atuali- Um tipo de tratamento como mencionado anteriormente é
zado por meio da participação de Congressos, aulas de educação a quimioterapia que é definida por Fontes e Alvim (2007) como
continuada e contato com profissionais renomados. emprego de substancias químicas combinadas para tratar as ne-
Responsável pelo encaminhamento para os demais mem- oplasias malignas. O tipo de droga utilizada relaciona-se com o
bros da equipe multidisciplinar, muitas vezes o profissional tem tempo em que o tratamento será realizado e a sua finalidade.
o papel de mediador do contato médico-paciente-equipe multi- É utilizada principalmente para tratar doenças sistêmicas na
disciplinar. tentativa de matar células tumorais, as doses repetidas são ne-
O enfermeiro clínico especialista em oncologia é responsá- cessárias durante curto período para evitar que haja recidivas e
vel pelo cuidado integral centrado no paciente em todas as fases diminuir o tamanho do tumor; um dos objetivos e matar certas
do diagnóstico, tratamento curativo ou no controle dos sinto- quantidades de células tumorais e deixa o restante a cargo do
mas, após o término, durante acompanhamento e reabilitação. sistema imunológico.
Os cuidados ultrapassam as técnicas, a humanização, empatia, De certa forma Barreto e Amourim (2010) veem a quimiote-
conhecimentos técnico-científicos e prática clínica mais resolu- rapia como um procedimento agressivo, na busca de uma pos-
tiva e qualificada são diferenciais no acompanhamento do pa- sível cura para o sofrimento, mesmo este tratamento afetando
ciente oncológico. a qualidade de vida do paciente. Deste modo observamos que é
de grande importância o acompanhamento do enfermeiro junto
O CÂNCER, SEUS TRATAMENTOS E A ASSISTÊNCIA DE EN- ao paciente que é submetido a tal procedimento.
FERMAGEM A radioterapia de acordo com Barreto e Amourim (2010)
O câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 do- por outro lado é menos agressiva que a quimioterapia devido
enças sendo que o perfil epidemiológico brasileiro aponta este a esta atuar sobre o DNA das células afetadas e impedindo a
como a segunda causa de mortalidade, as projeções da Organi- multiplicação dessas e/ou induzindo a apoptose, sendo que as
zação Mundial da Saúde estimam que em 2030, o numero che- células normais quando expostas aos produtos da radioterapia
gue a 23,4 milhões de mortes ( CALIL; PRADO, 2009 ). conseguem se regenerar devido as mesmas terem uma capaci-
Devido ao aspectos epidemiológicos do câncer vemos de dade de reparo maior que as células afetadas, deste modo este
grande importância entendermos a fisiopatologia da doença, procedimento se torna menos invasivo pois este possui um dire-
de acordo com a American Cancer Society (2011) e a ABRALE cionamento localizado ao contrário da quimioterapia que possui
(2012), surge quando as células em uma parte do corpo come- atuação sistêmica. Sendo assim podemos concluir que a quimio-
çam a se multiplicar fora de controle. O crescimento das células terapia necessita de maior acompanhamento profissional que a
afetadas é diferente do crescimento de células normais. Ao con- radioterapia devido a diferença de danos.
trário de morrer as células cancerosas continuam seu ciclo vital Outra forma de tratar a doença é fazendo uma cirurgia ou
e a formar novas células anormais. De acordo com os mesmos, um transplante de medula dependendo do tipo de câncer de
como consequência ocorre a invasão de órgãos e tecidos adja- que se trata. Segundo Botelho (2010) o avanço da tecnologia
centes envolvidos, podendo se disseminar (metástase) para ou- para se abordar esta doença vemos que a ideia dominante de
tras regiões do corpo dando origem a tumores em outros locais. anos atrás que se tratava de uma cirurgia radical (cirurgia na
( ACS, 2011). qual se retira o tumor com uma margem de segurança, em ou-
A identificação da doença deve ser realizada em etapa an- tras palavras mutilava-se o paciente) vem se abolindo devido ao
terior ao tratamento, tendo em vista a obtenção de parâmetros uso das imagens congeladas (ultrassom, tomografia computado-
de avaliação e a proposição da modalidade de intervenção mais rizada, ressonância magnética, cintilografia) e as dinâmicas em
adequada. Sendo assim o diagnóstico baseia-se na analise das tempo real (endoscopias) fizeram que se ocorresse mudanças
alterações fisiológicas e funcionais e nos resultados de investi- na cirurgia fazendo as incisões ficarem quase invisíveis e menos
gações realizadas, visto que todo o processo diagnostico deve cruéis em vista de se manter o estético do paciente. O acompa-
ser mais individualizado. (STUMM; LEITE; MASCHIO, 2008 ). nhamento ao paciente que passa por tal procedimento deve ser
O avanço da ciência e tecnologia possibilitou a melhoria dos pré-operatório, transoperatório e pós-operatório visando levan-
meios de diagnóstico e tratamento que culminaram na cura de tar e analisar as necessidades individuais do paciente e ajuda-lo
diversas doenças, inclusive a do câncer, aumentando a expecta- a compreender seu problema de saúde.
tiva de vida. De acordo com FONTES e ALVIM (2007) a utilização
deste recursos, aliada ao desenvolvimento sócio econômico, O IMPACTO DO CÂNCER
contribuindo para a diminuição da mortalidade por doença con- O câncer é umas das doenças crônicas degenerativas que
troláveis com câncer, tuberculose, doença mentais dentre ou- causa mais transtornos aos indivíduos e familiares. De acordo
tras, com tudo os métodos de diagnóstico e terapêuticos mesmo com Fontes e Alvim (2008) os doentes se sentem fragilizados,
sofisticado, ao mesmo tempo que prolonga as vida das pessoas revoltados, amedrontados e ameaçados, devido ao diagnóstico
com terapia mais modernas, mantêm seu sofrimento devido seu inicial, levando-os a questionamentos internos além dos trans-
tratamento ser prolongado, ter diversos efeitos colaterais e fre- tornos de ordem física, psicossocial e financeira. Estes fatores
quentes internações. podem diminuir a qualidade de vida de todos os envolvidos,
Segundo INCA (2012), o tratamento do câncer pode ser feito paciente e familiares, o profissional de saúde pode ajudar im-
através de cirurgias, radioterapia, quimioterapia ou transplante pedindo novas complicações durante o tratamento. A relação
de medula óssea. Em muitos casos necessita combinar mais de paciente/enfermeiro segundo os mesmos autores é prejudicada
um tipo de tratamento. pela falta de vínculo, pois a sensações sentidas pelo paciente
“Cuidar de pessoas com câncer é trabalhar com vida, não gera um distanciamento entre eles levando a um diálogo e ações
importando o tempo de que a mesma dispõe e, portanto, consi- técnicas e impessoais.
dera-se que estas pessoas são merecedoras de assistência inte-
gral”(STUMM; LEITE ; MASCHIO, 2008).

40
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Os sentimentos sofrem alterações e reações ambivalentes A DESUMANIZAÇÃO E A HUMANIZAÇÃO
durante a convivência com a doença, do tempo para o diagnós- Devido a todos os fatores mostrados na secção anterior ob-
tico, ao longo do tratamento e no final com o resultado da tera- servamos que é de grande importância refletirmos sobre o cui-
pia. O câncer leva implicações de diversas naturezas envolvendo dado do paciente oncológico no âmbito de sua questão humana
o paciente e família, ou seja, a sociedade como um todo, a dor visando demonstrar nessa secção a desumanização e a humani-
e sofrimento de todos pode influir em outros prejuízos como zação da assistência.
incapacidade e morte De acordo com a pesquisa de Carvalho e Merighi (2008)
( FONTES; ALVIM, 2008 ). mostra que pacientes e os profissionais de enfermagem cons-
O principal medo dos pacientes é se deparar com o desco- tituem verdadeiros elos durante o tratamento, pois são os que
nhecido durante todo o tratamento e suas técnicas. O pacien- mais permanecem juntos aos pacientes e seus familiares. Estes
te passa a conviver com pessoas nunca vistas antes e nelas se profissionais podem buscar recursos que possibilitam a pessoa
apoiar e confiar o seu corpo e mente. A dor é algo único de sen- enferma uma melhor qualidade de vida.
tir e solitária ( FONTES; ALVIM, 2008 ).
Os pacientes com câncer na maioria das vezes se veem sem
O conforto se dá por vezes à força divina, modificando sua a possibilidade de cura, percebem no seus corpos sinais de de-
forma de ser e ver o mundo. Homens e Mulheres para os mes- generação significativa e creem que seu corpo seja um local de
mos autores, possuem formas diferentes de reagir a dor devido doença e de sofrimento, que se perdem na relação com o tem-
a sua fisiologia, por isto, a sociedade cobra de forma distinta po. Deste modo na visão dos mesmos autores, os pacientes se
a superação destes que podem sofrer baixa-autoestima causa- sentem sem a autonomia do cuidar do seu próprio corpo ( CAR-
do também pela alto imagem comprometida, perda financeira VALHO; MERIGHI, 2008 ).
e restrições no âmbito familiar e profissional (FONTES; ALVIM, Segundo Carvalho e Merighi (2008) os profissionais da saú-
2008 ). de na maioria das vezes estão despreparados humanisticamente
A religiosidade para Fontes e Alvim (2008) é um fator de tirando deste modo a autonomia, a dignidade e o respeito pelos
grande importância na vida de todos durante o tratamento, por pacientes com tal doença crônico-degenerativa. Ainda segundo
ser uma rede social que apoia o paciente na superação do medo, os autoresna maioria das instituições, ao terem de conviver com
do desconhecido e principalmente na expectativa da cura. O au- todas as dificuldades relacionadas à ação de cuidar exclusiva-
tor SILVA et al. (2008) já considera a religião como uma busca mente técnica e impessoal, prestada pelo profissional de saúde
de recursos que visa a luta contra a doença para suportar as que as assistem quando internados, tornam os profissionais an-
vicissitudes. Estes podem ser confirmados através da fala dos tipatizados por terem consciência da dependência e da necessi-
familiares, pacientes e enfermeiros ( SILVA et al. 2008). dade do cuidado ao paciente oncológico.
O enfermeiro por sua experiência no trabalho já possui uma Todo ser humano reage com um certo temor diante da inca-
ideia pré-estabelecida de como agir durante a doença e por isto pacidade, da diminuição de potencialidade, da dependência, por
ele tem a capacidade de passar os seus conhecimentos e con- vezes humilhante, da solidão e da incerteza do quando e como
forto a quem nunca teve contato com esta afecção, familiares e se dará a sua própria morte. Para Carvalho e Merighi (2008) a
doentes. As atribuições do profissional vão além da terapêutica, hospitalização tende a intensificar este temor, soma-se a ausên-
pois ele passa instruções de atividades educativas que envol- cia de atendimento voltado a suas reais necessidades, fazendo
vem a todos. A equipe dispõe de empatia o que auxilia na força com que esses temores existenciais emerjam durante seu tra-
e energização do outro sem provocar o desgaste do cuidador tamento.
Os pacientes oncológicos não só temem a morte como tam-
(STUMM; LEITE ; MASCHIO ,2008). Os autores Silva et al. (2008)
bém temem o sofrimento relacionado ao processo de morrer.
mostram as divergências entre os pensamentos do enfermeiro e
De acordo com a pesquisa de Carvalho e Merighi (2008) os pa-
doente, pois enquanto um busca a cura da doença e salvar vidas
cientes ficam sem esperanças de cura e clamam por socorro, im-
o outro, respectivamente, suscita que há proximidade concre-
ploram que se preste mais atenção a todos os seus problemas,
ta da morte. Esta incompatibilidade pode causar transtornos e
pedindo que não sejam classificados como algo sem importância
dificuldade de relacionamento devido a falta de apoio e enten-
e descartável.
dimento.
Acreditamos que os cuidados prestados pelos profissionais
Esta doença é imprevisível com isto, a piora do paciente
de saúde são ainda hoje limitados na medida em que estão cen-
pode vir quando menos se espera e de uma intensidade maior, o
trados em procedimentos técnicos não se envolvendo com os
que pode causar a morte pela fraqueza do organismo. A equipe pacientes como forma de se protegerem das pessoas que estão
de enfermagem não convive somente com um cliente, mas com doentes e internadas, deste modo não sofrem com a perda e o
vários, ela tende a se distanciar nesses momentos com o medo sofrimento destes.
de enfrentar a morte destes, se tornando solitário. Ela não sabe Para mudar esta situação drástica de falta de respeito e de
lidar de forma fria e impessoal, principalmente quando já havia cuidado deve se humanizar a assistência. O profissional de saú-
uma convivência mais próxima. Porém de acordo com os mes- de precisa refletir sobre a importância do cuidado, não somente
mos autores, depois de superado o luto, o enfermeiro, já come- o desenvolvimento de técnicas e seu tratamentos como também
ça a sentir satisfação por conviver e cuidar do falecido (STUMM; considerar a pessoa e sua dignidade. É preciso que o profissional
LEITE; MASCHIO, 2008 ). de saúde se mostre disponível para ouvir o outro, olhar e com-
Contudo concluímos que o câncer além de trazer grande preender os sentimentos do paciente. De acordo com os mes-
angustia para o indivíduo com tal enfermidade, como já mencio- mos, quando colocamos a qualidades no cuidado, os profissional
nado anteriormente, traz danos para sua família e os profissio- não só realizam procedimentos como refletem junto e realiza
nais de enfermagem que não apenas tratam o paciente como o uma ação integrada, no paciente, com envolvimento e responsa-
acompanham durante toda sua permanência. bilidade, o que proporciona melhora para ambos os envolvidos
na relação do cuidado e tratamento ( FONTES; ALVIM, 2008 ).

41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Para Santana e Lopes (2007) ter conhecimento cientifico é Diagnóstico
indispensável para o trabalho dos profissionais, o ato de com- Alguns sintomas específicos costumam ser o prenúncio do
preender o paciente neste momento que sofre com esta doença diagnóstico do câncer, por exemplo, o crescimento anormal de
que degrada e tira a esperança se fazem presentes em seu âmbi- uma parte do corpo e perda de peso ou sangramento inespe-
to e agregar valores importantes para a assistência especializa- rado na urina ou nas fezes. Na busca de um diagnóstico, são
da e integra sendo indispensável para o relacionamento durante utilizados recursos tecnológicos, como tomografias, ultrassono-
todo o tratamento oncológico. grafias e exames laboratoriais. A confirmação do câncer quase
O mais importante na assistência ao paciente oncológico é sempre requer a retirada, por meio de cirurgia, de uma pequena
ajudar o paciente a ajudar-se, e faze-lo agente de sua transfor- amostra de tecido do órgão sob suspeita para análise em micros-
mação. Em outras palavras é deixar o paciente ter controle de cópio (biópsia). Confirmada a malignidade da doença, entra em
seu cuidado e tratamento, dar autonomia a ele e esperança. cena um novo especialista, o Oncologista Clínico, que indicará
Para Gargiulo et al.(2007) a humanização se da através da possíveis tratamentos e participará de todas as decisões rele-
comunicação enfermeiro – paciente – família, estabelecendo vantes do processo.
uma relação entre seres humanos e propõem mudanças no am-
biente de trabalho, familiar e no interior do ser humano atin- Tratamento
gindo o coletivo. Segundo o mesmo, neste proposito a equipe
de enfermagem deve se preocupar com a qualidade de vida do Tratamento convencional
paciente contribuindo para diminuir seu sofrimento, como tam- Nos últimos anos, os avanços tecnológicos determinaram
bém de seus entes queridos. Acreditamos que a enfermagem uma verdadeira revolução no tratamento do câncer. Cirurgia,
também deve demonstrar carinho, calor humano, solidariedade, quimioterapia e radioterapia integram o amplo arsenal na luta
ouvindo-o, ficando ao seu lado, compreendê-lo e sobretudo sem contra a doença. Na maioria dos casos, o uso combinado de tra-
deixá-lo sozinho por enfrentar este momento que lhe parece tão tamentos proporciona excelentes resultados. O desafio atual
difícil. para todos os profissionais da área oncológica consiste em en-
contrar a maneira mais eficaz de tratar a doença com o mínimo
Ao termino desta secção cabe dizer que o cuidado humano de efeitos colaterais para o paciente.
é uma atitude ética e que o ser humano percebe e reconhece Tratamento alternativo
os direitos uns dos outros, pois cuidar é necessário respeitar o Terapias corporais, musicoterapia, arteterapia, acupuntu-
outro e valorizá-lo em suas condições. ra e reflexologia, entre outros, não dispõem de comprovação
científica. Em muitos casos, utilizam-se testemunhos de pessoas
O surgimento do câncer que observaram algum resultado positivo e, em outros, após a
O câncer se desenvolve quando um grupo de células sofre realização de pesquisas clínicas bem conduzidas, conclui-se que
modificações em seu material genético e passa a apresentar determinados tratamentos trouxeram resultados satisfatórios.
crescimento e multiplicação desordenados. Ao deixar de res- Antes de iniciar tratamentos alternativos, porém, é imprescindí-
ponder aos mecanismos de controle do organismo, as células vel conversar com seu médico.
se duplicam continuamente, criando tumores capazes de invadir
estruturas próximas e se espalhar para diversas regiões do orga- Questione seu médico
nismo (metástase) Durante a visita inicial ao médico, absorver a notícia de cân-
cer pode ser tudo que você consegue administrar no momento.
As Causas Em visitas subsequentes, no entanto, é importante entender a
natureza e as características específicas de sua doença, quais
Herança genética são as opções de tratamento e seus possíveis efeitos colaterais,
Da mesma forma que um membro de uma família de cardí- qual o seu prognóstico, o que provavelmente irá mudar em sua
acos tem mais chances de apresentar infarto do miocárdio, uma vida, e assim por diante. Sua participação e seu envolvimento
mulher com mãe, irmãs e tias portadoras do câncer de mama é trarão uma sensação de controle, ajudando a afastar eventuais
forte candidata a apresentar a mesma doença. Algumas vezes, temores.
a participação das características genéticas é tão marcante no
desenvolvimento do câncer que passamos a chamá-la de here- Radioterapia
ditária.
Em geral administrada externamente ao corpo, a radiote-
Fatores ambientais rapia é uma ferramenta importante na luta contra o câncer.
Produtos químicos, como a nicotina, são agentes canceríge- Aplicada localmente, seu princípio é semelhante ao da quimio-
nos, assim como agrotóxicos, amianto (ou asbesto), sílica, ben- terapia: ao interferir nas moléculas de DNA, os raios ionizantes
zeno e tolueno, entre outros. Também podem provocar o câncer bloqueiam a divisão celular ou determinam a destruição do tu-
as radiações, como as ionizantes, infravermelhas e, sobretudo, mor.
solares — cujos raios ultravioleta são responsáveis pela grande Seus efeitos tóxicos são limitados a uma área. Irritações ou
maioria dos cânceres de pele. Sem falar nos micro-organismos, leves queimaduras na pele, inflamações das mucosas, queda de
como os vírus Papiloma (causador da verruga genital) e Epstein- pelos ou cabelos nas áreas irradiadas e diminuição na contagem
-Barr (agente responsável pela mononucleose infecciosa). das células do sangue são alguns dos efeitos colaterais mais fre-
quentes da radioterapia, que variam de acordo com sua intensi-
dade, com as doses utilizadas e as regiões tratadas. Duas formas
de irradiação são utilizadas:

42
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Teleterapia Efeitos Colaterais
Tratamento externo, feito à distância da área tratada. Nesse Por ser um tratamento sistêmico (que abrange o corpo
caso, os efeitos tóxicos aos órgãos saudáveis são evitados pelo todo) e geralmente longo, a quimioterapia pode ocasionar efei-
uso de “escudos”, pelo fracionamento das doses de radiação e tos colaterais. Há, porém, formas adequadas e bem definidas
pela administração dos raios por meio de ângulos diversos. Hoje, de prevenir e/ou minimizar a quase totalidade desses eventos
modernos aparelhos acoplados à tomografia computadorizada adversos, que variam de pessoa para pessoa, de doença para
podem desenhar com precisão a área a ser irradiada, calcular e doença, de tratamento para tratamento.
modificar o campo de acordo com a movimentação respiratória, Conheça, a seguir, os efeitos colaterais mais comuns, além
poupando os tecidos sadios ao redor do tumor e diminuindo os de dicas práticas que ajudarão a diminuir eventuais desconfor-
efeitos colaterais do procedimento. tos gerados durante o tratamento.

Braquiterapia Perda de cabelo


Os materiais radioativos são implantados nas proximidades A perda de cabelo, ou alopecia, como é chamada, varia de
do tumor, o que permite a administração de doses de radiação intensidade segundo a droga usada e de acordo com a pessoa
diretamente nas células malignas. que está em tratamento.
Pode ocorrer em todo o corpo, mas é mais comum na ca-
Importante! beça. Em algumas pessoas não há perda de cabelo, porém, ele
A radiação permanece no seu corpo apenas durante o tem- pode mudar de cor e textura.
po que você ficar no aparelho. Seu médico ou enfermeira poderão fornecer endereços de
Você pode abraçar, beijar ou manter relações sexuais sem serviços onde podem ser confeccionados perucas, turbantes ou
risco de expor outras pessoas à radiação. Também não há ne- lenços para você usar enquanto faz a quimioterapia.
cessidade de se afastar de crianças ou gestantes durante seu
tratamento. A perda de pelos pode variar de algumas semanas a meses,
mas esse efeito colateral normalmente é temporário. Quando
Quimioterapia células saudáveis crescem, os pelos e os cabelos também voltam
A quimioterapia introduz na circulação sanguínea compos- a crescer
tos químicos (quimioterápicos) injetados na veia, no músculo,
no tecido subcutâneo, no liquor ou, com menos frequência, Náuseas e vômitos
administrados por via oral (comprimidos). Pode ser empregada A quimioterapia pode causar náusea e vômito, variando de
isoladamente ou combinada com radioterapia, cirurgia ou outro pessoa para pessoa. Enquanto algumas nunca sentem nada, ou-
procedimento, dependendo do tipo do tumor, localização e es- tras podem senti-los intensamente. Tais efeitos podem aparecer
tágio da doença. Pode ser realizada durante a internação hospi-
alguns minutos após o início da infusão da medicação, horas ou
talar ou em ambulatório.
dias após seu término.
Os quimioterápicos interferem na capacidade de multiplica-
Quando ocorre de forma intensa e frequente, entretanto,
ção das células cancerosas e têm quatro finalidades:
pode causar desidratação (perda de sal e água) e desequilíbrio
• Curativa (destruição total do tumor);
de eletrólitos (sódio, cálcio e potássio), sem falar na perda de
• Adjuvante (prevenção de metástases);
peso. O vômito agudo acontece nas primeiras 24 horas depois
• Prévia ou neoadjuvante (redução do tumor para posterior
do tratamento, enquanto o tardio persiste de dois a três dias
cirurgia ou radioterapia);
após o tratamento quimioterápico.
• Paliativa (melhoria na qualidade de vida e aumento da so-
Para minimizar o desconforto dos pacientes, a medicina dis-
brevida do paciente).
põe de um grupo de drogas usadas de forma isolada ou com-
Os quimioterápicos atingem tanto as células doentes como binada com antieméticos tradicionais (medicamentos para con-
as saudáveis, não raro ocasionando efeitos colaterais indesejá- trole de náusea).
veis, que variam de paciente para paciente e em função do tipo
e da combinação de drogas utilizadas. Ansiedade
Os mais frequentes são: queda de cabelo, ansiedade, náuse- É normal passar pelo sentimento intenso de medo ou re-
as, vômitos, anemia, fadiga, alterações renais e digestivas. Gran- ceio em alguns episódios de nossas vidas. Durante o tratamento
de parte desses efeitos é transitória. A maioria desaparece tão do câncer, algumas preocupações estão mais presentes, como
logo o tratamento chega ao fim. a possibilidade de metástases, dor, dependência dos familiares
e mudanças no corpo. A ansiedade é normal, desde a notícia do
Importante! diagnóstico até o final do tratamento.
• Quando o tratamento é realizado em ambulatório, o pa- Se atrapalhar sua vida por um período prolongado, no en-
ciente volta para casa no mesmo dia. tanto, é recomendável procurar auxílio.
• Avise a enfermeira ou o médico se ocorrer dor ou queima-
ção durante a aplicação. Sintomas:
• A quimioterapia não interfere na atividade sexual. • Ansiedade aguda - palpitações, aumento da pressão san-
• O tratamento não deve ocorrer durante a gravidez. O mé- guínea, dor no peito, falta de ar, calafrios, tontura, tremor.
dico irá orientar sobre o método anticoncepcional mais adequa- • Ansiedade crônica - preocupação excessiva, inquietação,
do. Não use pílulas anticoncepcionais por conta própria. tensão muscular, insônia, irritabilidade, fadiga, dificuldade de
• Não há necessidade de dietas especiais, a não ser que haja concentração e na tomada de decisão
alguma intercorrência, como diarreia, dor de estômago, etc.
• Avise imediatamente seu médico a qualquer sinal de febre.

43
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Febre e infecção problemas estão:
A febre é a elevação de temperatura do corpo e pode ser Extravasamento de quimioterapia: infiltração ou escape de
causada pela presença de diferentes substâncias na circulação drogas da veia para a pele, provocando ferimentos no local.
sanguínea. As infecções, que podem ocorrer em qualquer parte Radiodermite: também denominada radiodermatite, é a le-
do corpo (olhos, ouvidos, cavidade oral, pulmão, etc.), são as são cutânea resultante de excesso de exposição à radiação ioni-
principais responsáveis por seu surgimento. zante, que geralmente se manifesta após uma ou duas semanas
No caso de pacientes com câncer, a febre costuma decorrer de tratamento.
da quimioterapia, que reduz a quantidade de leucócitos (glóbu- Úlceras de pressão: também conhecidas como “feridas de
los brancos, responsáveis pela defesa do organismo). cama”, são ulcerações que se formam onde há pressão constan-
A fase de maior risco de infecção é o período de sete a 14 te em uma área do corpo por tempo prolongado.
dias após a aplicação da quimioterapia. Seu médico precisa ser Prurido: o prurido (comichão) em pacientes com câncer é
comunicado em caso de febre, assim, irá verificar a quantidade mais comum nos casos de leucemia, linfoma e mieloma (câncer
de leucócitos no sangue. de medula). Também é causado por insuficiência hepática ou
O início precoce do tratamento é fundamental para o con- renal, problemas de tireoide, reação a drogas, pele seca e urti-
trole da infecção. Em casos específicos, seu médico pode reco- cária, entre outros fatores.
mendar a aplicação de medicamentos para acelerar a reposição
dos leucócitos, iniciar tratamento com antibióticos ou modificar Sexualidade
a dose e o tempo de intervalo das aplicações de quimioterapia Desordens sexuais são comuns e podem afetar cerca de 40%
das mulheres e 30% dos homens. A incidência é maior nas pes-
Fadiga soas com câncer, em função do resultado do tratamento ou do
A fadiga é uma das complicações mais frequentes e desagra- próprio tumor.
dáveis associadas ao câncer e seu tratamento, particularmente Os problemas sexuais geralmente são causados por trans-
à quimioterapia. A sensação costuma ser descrita pela maioria formações no corpo decorrentes de cirurgia, radiação ou qui-
dos pacientes como um estado constante de letargia e fraqueza, mioterapia, que podem causar alterações hormonais, fadiga,
falta de ânimo e de energia, cansaço, indisposição e sonolên- diminuição do desejo sexual, tensão, depressão e ansiedade,
cia. A anemia (queda dos glóbulos vermelhos ou eritrócitos) é entre outros motivos.
um efeito colateral frequente, que também pode levar à fadiga As mulheres podem notar mudanças em seu ciclo mens-
ou agravá-la, mas que pode ser tratada com medicamentos que trual, incluindo a ausência de menstruação, além da diminuição
estimulam a medula óssea a produzir glóbulos vermelhos em da lubrificação vaginal, que pode provocar incômodo durante as
maior quantidade ou com transfusão sanguínea, recurso usado relações sexuais. Nos homens, por sua vez, o tratamento contra
no tratamento de anemias severas. o câncer pode causar uma queda na produção de esperma. Al-
Sangramento guns tipos de tratamento podem causar esterilidade.
Durante o tratamento, pode ocorrer uma redução no núme-
ro de plaquetas (componentes do sangue fabricados pela medu- Durante o tratamento, e por alguns meses subsequentes a
la óssea, responsáveis pela coagulação) chamada de plaqueto- ele, nenhuma mulher pode engravidar, pois as drogas são te-
penia, ocasionando um risco maior de sangramento. O médico ratogênicas (podem causar danos ao embrião ou feto). Esses
pode prescrever medicamentos que estimulem a produção de efeitos dependem somente do tratamento e da dose recebida.
plaquetas ou repô-las por meio de transfusão, caso necessário. Consulte seu médico para esclarecimento e procure sempre
orientação se estiver em idade fértil.
Constipação intestinal
A prisão de ventre (constipação) refere-se à condição irre- Falta de ar
gular do sistema digestivo e à consistência endurecida e resse- Obstrução de vias aéreas, ansiedade, broncoespasmo, hipo-
cada das fezes. Comum em pacientes submetidos a tratamentos xemia, presença de líquido nas áreas ao redor do coração ou
contra o câncer, a constipação pode provocar dor, inchaço abdo- dos pulmões, pneumonia, pneumonite de radiação, anemia e
minal, perda de apetite, náusea e vômito. ansiedade. Eis algumas das causas mais comuns da falta de ar
Para minimizar e eliminar o desconforto, porém, basta to- (dispneia) nos pacientes oncológicos.
mar algumas medidas simples. Mesmo nas situações em que não há acometimento direto
do aparelho respiratório, é comum os pacientes apresentarem
Mucosite tal sintoma em algum momento durante a evolução da doen-
A mucosite, inflamação que pode levar a pequenas feridas ça. A administração de oxigênio e opioides pode aliviá-lo, assim
na mucosa da boca, pode ocorrer com certa frequência duran- como os ansiolíticos, ministrados a pessoas com altos níveis de
te o tratamento quimioterápico. Uma vez detectadas as lesões ansiedade.
bucais, o cirurgião-dentista realiza o tratamento odontológico Alguns estudos mostraram que a utilização de técnicas de
apropriado para eliminá-las. Uma sensação de queimação na relaxamento, controle da respiração e suporte psicossocial tam-
garganta também pode se desenvolver e culminar na disfagia bém trazem benefícios
(dificuldade para engolir).
Insônia
Problemas de pele A insônia - que se caracteriza pela dificuldade em dormir,
Durante, ou mesmo após o tratamento, as reações na pele manter-se dormindo ou voltar a dormir - não constitui um efeito
do paciente podem variar de secura até vermelhidão, passando direto da medicação quimioterápica nem da radioterapia. Mas é
pela acne. Ao longo desse período, aumentam os riscos de quei- fácil imaginar que os efeitos colaterais dos tratamentos possam
maduras solares e escurecimento cutâneo. Entre os principais interferir na qualidade do sono dos pacientes.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O sintoma pode causar problemas durante o dia, como can- alimentares inadequados. Os principais fatores determinantes
saço, perda de energia, falta de concentração ou irritabilidade. da desnutrição nesses indivíduos são: redução na ingestão total
Isso acaba afetando não apenas a disposição, mas também a de alimentos, alterações metabólicas provocadas pelo tumor e
qualidade de vida e a saúde. aumento da demanda nutricional para crescimento do tumor,
Medicamentos podem ajudar a aliviar a insônia, porém só sendo frequente a ocorrência de desnutrição em indivíduos com
devem ser usados por curtos períodos de tempo e sob orienta- câncer. A terapia nutricional (TN) no paciente oncológico obje-
ção médica tiva a prevenção ou reversão do declínio do estado nutricional,
bem como busca evitar a progressão para quadro de caquexia,
Perda de apetite garantindo assim melhor qualidade de vida para o paciente. A
Nas fases em que o apetite diminui, muito comuns durante indicação da TN deve seguir critérios que visem a individuali-
as aplicações de quimioterapia e menos frequentes nos trata- dade do paciente, o estado nutricional, o estágio da doença, os
mentos radioterápicos, o paciente deve buscar alternativas ali- efeitos do tratamento e a função gastrointestinal.
mentares que permitam manter seu peso e seu nível de energia.
É preciso aceitar as mudanças de apetite e paladar, que podem 1. O câncer influencia o estado nutricional?
ocorrer durante e depois do tratamento, tendo em mente que As alterações metabólicas relacionadas com o câncer, a lo-
são transitórias. calização do tumor e o tratamento oncológico podem levar à
desnutrição. A frequência e a gravidade da desnutrição estão
Diarreia relacionadas com o estadio do tumor.
A quimioterapia e a radioterapia, sobretudo aplicadas na re- A prevalência de desnutrição pode variar entre 30% e 80%,
gião pélvica, podem causar alterações na mucosa do trato diges- dependendo do tipo do tumor, sendo grave (em geral quando
tivo, alterando a absorção de líquidos e a composição da flora há perda de peso habitual maior do que 10% em seis meses) em
intestinal. A diarreia surge a partir daí e acarreta excessiva perda 15% dos doentes. Frequentemente, a perda de peso não inten-
de líquidos e eletrólitos. cional é o primeiro sintoma e precede o diagnóstico.
Também pode ser causada por determinados tumores, como Os efeitos colaterais do tratamento oncológico (radiotera-
o câncer de pâncreas. É importante prevenir a diarreia ou tratá- pia, quimioterapia, cirurgia e imunoterapia) estão associados
-la tão logo se manifeste. Notifique seu médico ao menor sinal com algum grau de disfunção gastrointestinal, com consequente
de dor ou cólica, ou na ocorrência de até quatro evacuações ao redução da ingestão de alimentos e adicional perda de peso.
dia de fezes predominantemente desmanchadas ou líquidas.
Recomendação
Lutar e aprender As alterações metabólicas relacionadas com o câncer, a lo-
O período de tratamento é, sem dúvida, difícil de ser trans- calização do tumor e o tratamento oncológico podem levar à
posto e traz vários efeitos colaterais e incertezas. É comum que desnutrição. A frequência e a gravidade da desnutrição estão
você sinta desânimo, raiva, medo, tristeza ou depressão, senti- relacionadas com o estadio do tumor.
mentos normais nesse período.
Existem várias formas para você lutar e aprender a convi- 2. O estado nutricional influencia o curso e o prognóstico
ver com seu tratamento e sua doença. O ideal é buscar sempre clínicos?
meios para ajudá-lo: O estado nutricional depauperado tem também impacto ne-
Médico e enfermeira gativo sobre a qualidade e o tempo de vida do paciente com cân-
Procure esclarecer suas dúvidas sobre a doença e o trata- cer, diminui a tolerância ao tratamento oncológico, o que pode
mento que está fazendo. A qualquer momento, estaremos pron- refletir na expectativa e na qualidade de vida do paciente.
tos para ajudá-lo. Tenha em mãos o telefone de seu médico e do
local onde realiza seu tratamento. Aproximadamente 20% das mortes de pacientes com câncer
são secundárias à desnutrição. A desnutrição pode contribuir
Apoio religioso para a ocorrência de complicações no período pós-operatório,
Caso seja uma pessoa religiosa, a oração e as práticas de colaborando para o aumento do tempo de internação, compro-
seu culto serão muito importantes nesse momento. Os mem- metendo a qualidade de vida e tornando o tratamento mais one-
bros de sua família e de sua comunidade poderão ajudá-lo de roso. A história de perda de peso nos últimos seis meses é bom
várias formas. indicador do risco de complicações pós-operatórias em indivídu-
os com câncer de cabeça e pescoço.
Grupos de apoio
Hoje existem grupos de apoio dedicados a ajudá-lo(a) a atra- Recomendação
vessar esse período. Especialistas em psico-oncologia podem ser O estado nutricional depauperado tem também impacto ne-
indicados para auxiliá-lo. gativo sobre a qualidade e o tempo de vida do paciente com cân-
cer, diminui a tolerância ao tratamento oncológico, o que pode
Dietoterapia no pacientes de oncologia refletir na expectativa e na qualidade de vida do paciente.
A desnutrição em indivíduos com câncer é muito frequente.
Diversos fatores estão envolvidos no desenvolvimento, 3. O câncer influencia o gasto energético?
particularmente aqueles relacionados com a doença (redução O câncer influencia o gasto energético de maneira hetero-
do apetite, dificuldades mecânicas para mastigar e deglutir ali- gênea.
mentos), os efeitos colaterais do tratamento e o jejum prolon- O gasto energético pode ter componentes de hipo e de hi-
gado para exames pré ou pós-operatórios. Todos estes fatores permetabolismo, dependendo do tipo do tumor, do estadio do
são agravados por condição socioeconômica precária e hábitos câncer e das formas de tratamento. Um dos determinantes da

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
perda de peso e da caquexia do câncer é o aumento do gasto perdido peso recentemente, apenas 18,2% tiveram IMC abaixo
energético. Foram estudados 200 pacientes com câncer e en- de 18,5 kg/ m2. Apesar de haver demonstração da importância
controu-se 33% hipometabólicos, 41% com metabolismo normal da perda peso como fator prognóstico em pacientes cirúrgicos,
e 26% hipermetabólicos. outros estudos não conseguiram demonstrar maior associação
Houve correlação positiva entre o tempo de duração da do- entre perda de peso e hipoalbuminemia pré-operatória com
ença e o hipermetabolismo. Posteriormente, em pacientes com maior morbi-mortalidade pós-operatória.
câncer do aparelho digestivo, os mesmos autores encontraram Os métodos subjetivos, como a avaliação global subjetiva
36% de pacientes hipometabólicos (tumor hepatobiliar e pan- (AGS), também têm sido utilizados nestes pacientes. Em pa-
creático) e 22% hipermetabólicos (câncer gástrico). cientes com câncer de cabeça e pescoço, este método foi capaz
Tumores hepatocelulares parecem ser hipermetabólicos de melhor identificar diferenças no estado nutricional entre os
quando muito grandes. Tumores sólidos também estão associa- diferentes estadiamentos quando comparado a métodos obje-
dos com maior gasto energético. Os tumores centrais de pulmão tivos, embora resultados divergentes tenham sido encontrados
cursam com aumento do gasto energético, assim como o câncer em pacientes com tumores ginecológicos e de mama.
de ovário. A AGS-PPP tem sido validada e utilizada em vários estudos,
nos últimos anos. Este método foi aceito pelo Oncology Nutri-
Recomendação tion Dietetic Practice Group of the American Dietetic Association
O câncer influencia o gasto energético de maneira hetero- como o método padrão de avaliação nutricional no paciente
gênea. com câncer. Ficou também demonstrado que os pacientes clas-
sificados como desnutridos pela AGS-PPP possuem maiores ní-
4. Quais são os objetivos da TN? veis séricos de TNF-α e IL-1.
Os objetivos da TN no paciente oncológico incluem preven- O uso da AGS-PPP combinada com protocolo que classifica o
ção e tratamento da desnutrição; modulação da resposta orgâ- paciente de acordo com o tipo de tratamento oncológico e tera-
nica ao tratamento oncológico e controle dos efeitos adversos pia antineoplásica empregada pode identificar os pacientes que
do tratamento oncológico. potencialmente se beneficiarão de intervenção específica, per-
mitindo com isto a manutenção ou o ganho de peso em mais de
A preservação e/ou melhoria do estado nutricional tem im-
60% dos pacientes. Para maiores informações sobre a avaliação
portante efeito na qualidade de vida e no bem-estar de pacien-
nutricional referir-se à diretriz específica deste tópico.
tes com câncer submetidos a tratamento oncológico.
O tratamento oncológico está associado a efeitos adversos
Recomendação
que podem comprometer o estado físico, imunológico e nutri-
A AGS-PPP é o método padrão de avaliação nutricional do
cional, sendo que a TN auxilia no manejo dos sintomas, evitando
paciente com câncer, ainda que a avaliação global subjetiva
a caquexia e contribuindo para a melhora da qualidade de vida
também seja bastante utilizada.
do paciente. Indivíduos com câncer em TN apresentam melhora
da qualidade de vida durante o tratamento da doença ou cuida-
6. Quais são as indicações da TN no paciente com câncer?
do paliativo. Isso se deve ao controle dos sintomas relacionados Pacientes em risco nutricional grave, que serão submetidos
à nutrição que podem causar desconforto nesta fase. a grandes operações por câncer do trato gastrointestinal, têm
indicação de TN.
Recomendação A TN está indicada para pacientes recebendo tratamento
Os objetivos da TN no paciente oncológico incluem preven- oncológico ativo (quimio, imuno e radioterapia), com inadequa-
ção e tratamento da desnutrição; modulação da resposta orgâ- da ingestão oral. Dentre estes se encontram aqueles com inges-
nica ao tratamento oncológico e controle dos efeitos adversos tão alimentar < 70% do gasto energético estimado por período
do tratamento oncológico. maior do que 10 dias e aqueles que não poderão alimentar-se
por período maior do que sete dias.
5. Qual(is) é(são) o(s) instrumento(s) de avaliação nutricio- A TN também pode estar indicada em pacientes sem qual-
nal mais adequado(s) para a realização do diagnóstico nutri- quer terapia adjuvante que estejam ingerindo <70% das neces-
cional? sidades nutricionais e nos quais a deterioração do estado nutri-
A avaliação global subjetiva produzida pelo paciente (AGS- cional esteja ligada à piora da qualidade de vida.
-PPP) é o método padrão de avaliação nutricional do paciente Foi realizado estudo clínico randomizado, no qual 150 doen-
com câncer, ainda que a avaliação global subjetiva também seja tes desnutridos (perda de peso maior que 10%) foram alocados
bastante utilizada. em três grupos:
Os métodos de avaliação nutricional devem ser valorizados 1) nutrição enteral pós-operatória, fórmula convencional;
pela capacidade prognóstica, principalmente nos pacientes com 2) nutrição pré-operatória via oral, por sete dias (1L de fór-
câncer. mula imunomoduladora, contendo arginina, ômega-3 e RNA) +
Medidas antropométricas e bioquímicas, comumente utili- nutrição pós-operatória com fórmula convencional, via jejunos-
zadas na avaliação nutricional, podem sofrer influência de fa- tomia;
tores não nutricionais na vigência do câncer, e, portanto, não 3) nutrição pré-operatória via oral por sete dias (1L de fór-
serem de grande utilidade para o diagnóstico nutricional neste mula imunomoduladora, contendo arginina, ômega-3 e RNA) +
tipo de pacientes. nutrição pós-operatória, via jejunostomia, com a mesma fórmu-
Estudos em pacientes cirúrgicos demonstraram que apenas la imunomoduladora.
2,4% dos pacientes com câncer intra-abdominal apresentaram
IMC < 18,5 kg/m2, sendo que nestes pacientes foi encontrado Verificou-se diminuição de complicações e de tempo de in-
risco cinco vezes maior de mortalidade pós-operatória. Outro ternação no grupo que recebeu a fórmula imunomoduladora no
estudo demonstrou que, apesar de 90% dos pacientes terem pré e pós-operatório.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Quando a deficiência nutricional está relacionada somente Estudos clínicos prospectivos têm demonstrado que a rea-
com a ingestão alimentar, a TN, seja enteral ou parenteral, deve lização da gastrostomia endoscópica percutânea nos pacientes
promover a manutenção ou diminuição da deteriorização do es- com câncer de cabeça e pescoço, antes do início do tratamento
tado nutricional. Entretanto, na presença de inflamação, a TN, quimio e/ou radioterápico, está relacionada com ganho ou ma-
por si só, torna-se praticamente incapaz de promover a manu- nutenção do peso corporal e redução da internação hospitalar
tenção e a melhora do estado nutricional. por desidratação.
A indicação de TNP reserva-se às condições clínicas em que
Recomendações a nutrição enteral estiver contra-indicada, como nos casos em
• Pacientes em risco nutricional grave, que serão submeti- que há toxicidade gastrointestinal ou outras complicações que
dos a grandes operações por câncer do trato gastrointestinal, impedem ou impedirão a ingestão adequada por sete a 14 dias.
têm indicação de TN; A nutrição parenteral também poderá ser indicada juntamen-
• A TN está indicada para pacientes recebendo tratamento te com a nutrição enteral, quando esta não for capaz de suprir
oncológico ativo (quimio, imuno e radioterapia), com inadequa- completamente as necessidades nutricionais do paciente.
da ingestão oral. Dentre estes se encontram aqueles com inges-
tão alimentar <70% do gasto energético estimado por período Recomendação
maior do que 10 dias e aqueles que não poderão alimentar-se Para pacientes com trato gastrointestinal íntegro, a via pre-
por período maior do que sete dias; ferencial é sempre a enteral. A indicação TNP reserva-se aos
• A TN também pode estar indicada em pacientes sem qual- casos em que há toxicidade gastrointestinal ou outras complica-
quer terapia adjuvante que estejam ingerindo <70% das neces- ções que impeçam a ingestão adequada por sete a 14 dias.
sidades nutricionais e nos quais a deterioração do estado nutri- A TNP poderá ser indicada simultaneamente com a nutrição
cional esteja ligada à piora da qualidade de vida. enteral, quando esta não for capaz de suprir completamente as
necessidades nutricionais do paciente.
7. Como calcular as necessidades nutricionais do paciente
com câncer? 9. Qual é o papel da TN nos efeitos colaterais do tratamen-
Embora a calorimetria indireta seja considerada o método to?
“padrão ouro” para a determinação do gasto energético, a uti- Está indicado o aconselhamento dietético intensivo e a TN
lização de equações para estimativa das necessidades nutricio- oral para aumentar ingestão dietética e prevenir efeitos cola-
nais tem sido proposta em função do alto custo daquele método. terais da radioterapia, como a perda de peso e a interrupção
As necessidades nutricionais do paciente com câncer podem da terapia. Os efeitos colaterais da radioterapia e a necessidade
variar, dependendo do tipo e da localização do tumor, do grau
de interrupção da radioterapia são significativamente menores
de estresse, da presença de má-absorção e da necessidade de
naqueles em uso de suplemento nutricional oral.
ganho de peso ou anabolismo (Tabela 1).
Pacientes com câncer podem apresentar deficiência de mi-
Recomendação
cronutrientes em função do aumento das necessidades e de per-
Está indicado o aconselhamento dietético intensivo e a TN
das, associado à diminuição de ingestão. Os micronutrientes de-
oral para aumentar ingestão dietética e prevenir efeitos colate-
vem ser ofertados em níveis que contemplem uma a duas vezes
rais da radioterapia, como a perda de peso e a interrupção da
as Ingestões Dietéticas de Referência ou Dietary Recommended
terapia.
Intake (DRI). As necessidades hidroeletrolíticas são similares às
de pacientes em outras condições clínicas.
10. A terapia nutricional enteral (TNE) é capaz de reduzir
Recomendação os efeitos colaterais hematológicos e gastrointestinais do tra-
Embora a calorimetria indireta seja considerada o método tamento oncológico?
“padrão ouro” para a determinação do gasto energético, a uti- A TNE pode minimizar os efeitos colaterais gastrointestinais
lização de equações para estimativa das necessidades nutricio- e hematológicos, especialmente em pacientes desnutridos ou
nais tem sido proposta em função do alto custo daquele método. com dificuldade de deglutição e/ou absorção de nutrientes.
A intervenção nutricional precoce pode melhorar a tolerân-
8. Como escolher a via de administração da TN? cia do tratamento oncológico, uma vez que a frequência de toxi-
Para pacientes com trato gastrointestinal íntegro, a via pre- cidade é maior nos pacientes com piores indicadores de estado
ferencial é sempre a enteral. nutricional.
A indicação da terapia nutricional parenteral (TNP) reserva-se A TNE em pacientes submetidos a tratamento combinado
aos casos em que há toxicidade gastrointestinal ou outras com- de radio-quimioterapia das regiões de cabeça e pescoço e esô-
plicações que impeçam a ingestão adequada por sete a 14 dias. fago pode aumentar a ingestão alimentar e prevenir a perda de
A TNP poderá ser indicada simultaneamente com a nutrição peso causada pelos efeitos da terapia, evitando interrupções no
enteral, quando esta não for capaz de suprir completamente as tratamento oncológico.
necessidades nutricionais do paciente.
A escolha da via de administração da TN dependerá da fun- Recomendação
cionalidade do trato gastrointestinal. A TNE pode minimizar os efeitos colaterais gastrointestinais
A sonda nasoenteral está indicada para a TN de curto prazo, e hematológicos, especialmente em pacientes desnutridos ou
enquanto as ostomias (jejunostomia e gastrostomia) devem ser com dificuldade de deglutição e/ou absorção de nutrientes.
indicadas se houver necessidade de TN por período maior do
que quatro semanas, como nas situações de obstrução do trato
gastrointestinal superior e dos pacientes que evoluem com mu-
cosite importante em decorrência do tratamento.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
11. Há indicação para o uso de ácidos graxos ômega-3 du- A equipe multiprofissional de cuidados paliativos enfrenta
rante a quimio/ radioterapia? situações em que podem ser tomadas decisões que devem ser
O uso de complemento nutricional oral na forma líquida efetuadas versus as que deveriam ter sido realizadas. A decisão
com ácidos graxos ômega-3, na forma de ácido eicosapentanoi- de fornecer ou não TN durante os cuidados paliativos requer
co, previne a perda de peso e a interrupção da terapia radio/ conhecimento e respeito pelos desejos dos pacientes, avaliação
quimioterápica. das expectativas do paciente e família e abertura para comuni-
A intervenção nutricional no paciente oncológico evita a cação efetiva.
morte precoce, diminui as complicações decorrentes do trata- Recomendam-se 3 passos na assistência a pacientes em cui-
mento e melhora a qualidade de vida, devendo fazer parte da dados paliativos, sendo que o primeiro passo é definir os ele-
terapêutica global. Esta deverá ser especializada, individualiza- mentos para a tomada de decisão com questões referentes à
da e adequada às necessidades do paciente, de acordo com a condição clínica e oncológica: sintomas; tempo de sobrevida,
agressividade e a complexidade do tratamento. hidratação e estado nutricional; ingestão oral espontânea vo-
Durante o tratamento de radioterapia ou radioquimiotera- luntária; atitude psicológica; função intestinal e via de adminis-
pia combinada, o uso de TN oral com complemento nutricional tração e, necessidade de serviços especiais.
na forma líquida com nutrientes específicos, como os ácidos De acordo com as respostas e após avaliação das mesmas,
graxos ômega-3, na forma de ácido eicosapentanoico, previne a o segundo passo é a tomada de decisão e, o terceiro passo, a
perda de peso e a interrupção da terapia de radiação. reavaliação periódica do paciente.
Há controvérsias sobre os benefícios da TN em pacientes
Recomendação oncológicos sob cuidados paliativos, no tocante à sobrevida, à
O uso de complemento nutricional oral na forma líquida morbidade e ao tempo de hospitalização. Ademais, há riscos e
com ácidos graxos ômega-3, na forma de ácido eicosapentanoi- incômodos que merecem ser ponderados.
co, previne a perda de peso e a interrupção da terapia radio/
quimioterápica. Recomendações
A maioria dos pacientes deve receber terapia de conforto,
12. Quando está indicado interromper a TN? incluindo alimento e água, de acordo com a tolerância.
A TNE deverá ser suspensa na vigência de complicações que
Pequenas quantidades de líquidos podem ajudar a evitar es-
impeçam a utilização do tubo digestivo.
tados de confusão mental causados pela desidratação.
A TNP deverá ser descontinuada quando progressivamente
houver a possibilidade de utilização do tubo digestivo.
14. A TN alimenta o tumor?
A TN especializada oral deverá ser descontinuada quando a
Não existem estudos clínicos e os resultados de estudos
ingestão total de alimentos suprir as necessidades de nutrientes.
experimentais em animais, particularmente com nutrição pa-
Deve ser considerada a suspensão ou descontinuidade da
renteral, são controversos. Alguns estudos demonstraram que
TN, na seguintes situações:
a restrição calórica ou de proteínas e certos aminoácidos pode
• TNE na presença de peritonite difusa, obstrução intesti-
reduzir o crescimento do tumor.
nal, diarreia e vômitos intratáveis, íleo paralítico e isquemia gas-
trointestinal; Estudos com animais não podem ser extrapolados para hu-
• TNP quando progressivamente houver a possibilidade de manos por razões de velocidade de crescimento tumoral (maior
utilização do tubo digestivo, com a administração de TNE conco- em animais) e de imunogenicidade. Em seres humanos, os traba-
mitante com a TNP; lhos disponíveis foram feitos com número muito pequeno de pa-
• TN especializada oral quando a ingestão total de alimentos cientes, sendo que a avaliação do crescimento tumoral foi pouco
suprir as necessidades de nutrientes. confiável para se detectar com acurácia os efeitos da TNP sobre
o desenvolvimento tumoral.
Recomendações
• A TNE deverá ser suspensa na vigência de complicações Recomendação
que impeçam a utilização do tubo digestivo; Não existem estudos clínicos e os resultados de estudos ex-
• A TNP deverá ser descontinuada quando progressivamen- perimentais, particularmente com TNP, são controversos. Alguns
te houver a possibilidade de utilização do tubo digestivo; estudos demonstraram que a restrição calórica ou de proteínas
• A TN especializada oral deverá ser descontinuada quando e certos aminoácidos pode reduzir o crescimento do tumor.
a ingestão total de alimentos suprir as necessidades de nutrien-
tes. 15. A terapia farmacológica é capaz de levar ao aumento
da ingestão de nutrientes?
13. Há indicação de TN em pacientes com câncer incurável O uso de drogas progestacionais é recomendado na tentati-
em estágio avançado? va de aumentar o apetite e diminuir a perda de peso e melhorar
A maioria dos pacientes deve receber terapia de conforto de a qualidade de vida em pacientes com caquexia. Porém, o risco
acordo com a tolerância, incluindo alimento e água. de trombose venosa durante terapia com agentes progestacio-
Pequenas quantidades de líquidos podem ajudar a evitar es- nais deve ser considerado.
tados de confusão mental causados pela desidratação. O uso de corticosteroides deve ser feito por curtos períodos
A intervenção nutricional em cuidados paliativos tem como de tempo, quando os benefícios do uso forem superiores aos
foco primário o controle dos sintomas, manutenção de adequa- efeitos colaterais.
do estado de hidratação e preservação do peso e composição Existem atualmente algumas maneiras de lidar com a ano-
corporal. Devem ser desenvolvidos pelos membros da equipe rexia relacionada ao câncer, que incluem uso de antieméticos,
multiprofissional, critérios éticos e clínicos para nutrição e hi- para controle de náuseas e vômitos associados à radio/quimio-
dratação de pacientes, com base na expectativa de vida. terapia, e de agente orexígenos, para estimular o apetite. Os

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
agentes orexígenos incluem os canabinoides, agentes progesta- denominado por levantamento, avaliação e investigação que,
cionais (acetato de megestrol e acetato de medroxiprogestero- constitui a primeira fase do processo de enfermagem, pode ser
na) e corticosteroides. descrito como um roteiro sistematizado para coleta e análise de
dados significativos do ser humano, tornando possível a identifi-
O acetato de megestrol é derivado sintético da progestero- cação de seus problemas. Ele deve ser conciso, sem repetições,
na e, em doses de 160 mg/dia (40 mg 4 vezes ao dia) a 1.600 mg/ e conter o mínimo indispensável de informações que permitam
dia, tem sido correlacionado a aumento do apetite. As melhores prestar os cuidados imediatos.
respostas foram obtidas com doses de 800 mg/dia, não se obser-
vando benefícios adicionais com doses superiores a esta. O Exame Físico
Contudo, é importante ressaltar que estes levam a aumento O exame físico envolve um avaliação abrangente das condi-
de peso à base de acúmulo de água e gordura, sem contudo au- ções físicas gerais de um paciente e de cada sistema orgânico.
mentar a massa magra. Informações úteis no planejamento dos cuidados de um pacien-
O uso de androgênios (fluoximesterona) pode induzir ao au- te podem ser obtidas em qualquer fase do exame físico. Uma
mento no peso corporal, sendo menos eficazes que os agentes avaliação física, seja parcial ou completa, é importante para in-
progestacionais e esteroides. Os efeitos colaterais dos androgê- tegrar o ato do exame na rotina de assistência de enfermagem.
nios são comparáveis aos dos agentes progestacionais e menos O exame físico deverá ser executado em local privado, sendo
frequentes do que com uso de esteroides. preferível a utilização de uma sala bem equipada para atender a
Estudos randomizados demonstram que o uso de corticos- todos os procedimentos envolvidos.
teroides leva ao aumento do apetite, mas, com efeito, de curta
duração (menor do que oito semanas) e sem resultar em ganho Métodos de Avaliação Física:
de peso. - Inspeção: Exame visual do paciente para detectar sinais
Em pacientes com câncer muito avançado e sobrevida limi- físicos significativos. Reconhecer as características físicas nor-
tada (< 3 meses), o uso de corticoides pode levar à melhora da mais, para então passar a distinguir aquilo que foge da normali-
qualidade de vida. dade. Iluminação adequada e exposição total da parte do corpo
para exame são fatores essenciais para uma boa inspeção. Cada
Recomendações área deve ser inspecionada quanto ao tamanho, aparência, colo-
• O uso de drogas progestacionais é recomendado na ten- ração, simetria, posição, e anormalidade. Se possível cada área
tativa de aumentar o apetite e diminuir a perda de peso e me- inspecionada deve ser comparada com a mesma área do lado
lhorar a qualidade de vida em pacientes com caquexia. Porém, o oposto do corpo.
risco de trombose venosa durante terapia com agentes proges- - Palpação: Avaliação adicional das partes do corpo realiza-
tacionais deve ser considerado; da pelo sentido do tato. O profissional utiliza diferentes partes
• O uso de corticosteroides deve ser feito por curtos perí- da mão para detectar características como textura, temperatura
odos de tempo, quando os benefícios do uso forem superiores e percepção de movimentos. O examinador coloca sua mão so-
aos efeitos colaterais. bre a área a ser examinada e aprofunda cerca de 1 cm. Qualquer
área sensível localizada deverá ser examinada posteriormente
mais detalhadamente. O profissional avalia posição, consistên-
PROCEDIMENTOS TÉCNICOS EM ENFERMAGEM cia e turgor através de suave compressão com as pontas dos
dedos na região do exame. Após aplicação da palpação suave,
O processo de enfermagem proposto por Horta (1979), é o intensifica-se a pressão para examinar as condições dos órgãos
conjunto de ações sistematizadas e relacionadas entre si, visan- do abdômen, sendo que deve ser pressionado a região aproxi-
do principalmente a assistência ao cliente. Eleva a competência madamente 2,5 cm. A palpação profunda pode ser executada
técnica da equipe e padroniza o atendimento, proporcionando com uma das mãos ou com ambas.
melhoria das condições de avaliação do serviço e identificação - Percussão: Técnica utilizada para detectar a localização,
de problemas, permitindo assim os estabelecimentos de prio- tamanho e densidade de uma estrutura subjacente. O exami-
ridade para intervenção direta do enfermeiro no cuidado. O nador deverá golpear a superfície do corpo com um dos dedos,
processo de enfermagem pode ser denominado como SAE (Sis- produzindo uma vibração e um som. Essa vibração é transmitida
tematização da Assistência de Enfermagem) e deve ser compos- através dos tecidos do corpo e a natureza do som vai depender
to por Histórico de Enfermagem, Exame Físico, Diagnóstico e da densidade do tecido subjacente. Um som anormal sugere a
Prescrição de Enfermagem. Assim, a Evolução de Enfermagem, presença de massa ou substância, tais como líquido dentro de
é efetuada exclusivamente por enfermeiros. O relatório de en- um órgão ou cavidade do corpo. A percussão pode ser feita de
fermagem, que são observações, podem ser realizados por téc- forma direta (envolve um processo de golpeamento da superfí-
nicos de enfermagem. Em unidades críticas como uma Unidade cie do corpo diretamente com os dedos) e indireta (coloca-se o
de Terapia Intensiva (UTI), a evolução de enfermagem deve ser dedo médio da mão não dominante sobre a superfície do corpo
realizada a cada turno do plantão, contudo em unidades semi- examinado sendo a base da articulação distal deste dedo gol-
-críticas, como uma Clínica Médica e Cirúrgica, o número exigido peada pelo dedo médio da mão dominante do examinador). A
de evolução em vinte e quatro horas é de apenas uma, já os percussão produz 5 tipos de som: Timpânico: Semelhante a um
relatórios, devem ser redigidos á cada plantão. tambor - gases intestinais; Ressonância: Som surdo - pulmão
normal; Hiper-ressonância: Semelhante a um estrondo – pulmão
O Histórico de Enfermagem enfisematoso; Surdo: Semelhante a uma pancada surda – fíga-
O Histórico de Enfermagem é um roteiro sistematizado para do; Grave: Som uniforme – músculos.
o levantamento de dados sobre a situação de saúde do ser hu-
mano, que torna possível a identificação de seus problemas. É

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Ausculta: Processo de ouvir os sons gerados nos vários ór- - antes de manipular material esterilizado.
gãos do corpo. As 4 características de um som são a freqüência - após contatos contaminantes (exposição a fluidos orgâni-
ou altura, intensidade ou sonoridade, qualidade e duração. cos); - após contactar com materiais e equipamentos que ro-
deiam o doente;- antes e após realizar técnicas sépticas (médica
Diagnóstico e prescrição de enfermagem - contaminada) e assépticas (cirúrgica – não contaminada);
O Diagnóstico de Enfermagem está baseado na Teoria da - antes e após utilizar luvas de procedimento;
Necessidades Humanas Básicas, preconizadas por Wanda Horta - após manusear roupas sujas e resíduos hospitalares;
(1979) e pela Classificação Diagnóstica da NANDA (North Ame- - depois da utilização das instalações sanitárias.
rican Nursing Diagnosis Association). A fase de diagnóstico está - após assoar o nariz.
presente em todas as propostas de processo de enfermagem.
Porém, freqüentemente, termina por receber outras denomi- c)Técnica:
nações tais como: problemas do cliente, lista de necessidades - devem ser retirados todos os objetos de adorno, incluindo
afetadas. Este fato gera inúmeras interpretações acerca do que pulseiras. Para a realização da técnica, deve-se utilizar sabão li-
se constitui um diagnóstico de enfermagem e contribui para au- quido com pH neutro;
mentar as lacunas de conhecimento sobre as ações de enferma- - abrir a torneira com a mão não dominante;
gem, provoca interpretações dúbias no processo de comunica- - molhar as mãos;
ção inter-profissional, caracterizando a falta de sistematização - aplicar uma quantidade suficiente de sabão cobrindo com
do conhecimento na enfermagem e abalando a autonomia e a espuma toda a superfície das mãos;
responsabilidade profissional. Aparece em três contextos: ra- - esfregar com movimentos circulatórios: palmas, dorso, in-
ciocínio diagnóstico, sistemas de classificação e processo de terdigitais, articulações, polegar, unhas e punhos
enfermagem. O raciocínio diagnóstico envolve três tipos de ati- - enxaguar as mãos em água corrente e secar com papel toa-
vidades: coleta de informações, interpretação e denominação lha
ou rotulação. - se a torneira for de encerramento manual, utilizar o papel
A Prescrição de Enfermagem deve ter as seguintes carac- toalha para fechá-la.
terísticas: data, hora de sua elaboração e assinatura do enfer-
meiro. Deve ser escrita com uso de verbos que indiquem uma Mecânica Corporal
ação e no infinitivo; deve definir quem , o que , onde, quando e a) Conceito: Esforço coordenado dos sistemas músculoes-
com que freqüência ocorrerão as atividades propostas; deve ser quelético e nervoso para manter o equilíbrio adequado, postura
individualizada e direcionada aos diagnósticos de enfermagem e alinhamento corporal, durante a inclinação, movimentação,
específicos do cliente, tornando o cuidado eficiente e eficaz. A levantamento de carga e execução das atividades diárias. Facili-
seqüência das prescrições deve obedecer à seguinte ordem: a ta o movimento para que uma pessoa possa executar atividades
primeira é elaborada logo após o histórico, e as demais sempre
físicas sem usar desnecessariamente sua energia muscular.
após cada evolução diária, tendo assim validade de 24 horas.
Para a primeira prescrição, portanto, toma-se como base o his-
b) Como assistir o paciente utilizando-se os princípios da
tórico de enfermagem, e as demais deverão seguir o plano da
Mecânica Corporal:
evolução diária, fundamentado em novos diagnósticos e análise.
Alinhamento: Condições das articulações, tendões, ligamen-
Entretanto, será acrescentada nova prescrição sempre que a si-
tos e músculos em várias partes do corpo. O alinhamento cor-
tuação do cliente requerer. Existem vários tipos de prescrição
reto reduz a distensão das articulações, tendões, ligamentos e
de enfermagem. As mais comuns são as manuscritas, documen-
músculos.
tadas em formulários específicos dirigidos a cada cliente e indi-
Equilíbrio do corpo: Realçado pela postura. Quanto melhor
vidualmente. Um outro tipo é a prescrição padronizada , elabo-
rada em princípios científicos, direcionada às características da a postura, melhor é o equilíbrio. Aumentar a base de suporte ,
clientela específica, reforçando a qualidade do planejamento e afastando-se os pés a uma certa distância. Quando agachar do-
implementação do cuidado. É deixado espaço em branco desti- brar os joelhos e flexionar os quadris, mantendo a coluna ereta.
nado à elaboração de prescrições mais específicas ao cliente. A Movimento Corporal Coordenado: O profissional usa uma
implementação das ações de enfermagem deve ser guiada pelas variedade de grupos musculares para cada atividade de enfer-
prescrições que por sua vez são planejadas a partir dos diagnós- magem. A forças físicas de peso e atrito podem refletir no mo-
ticos de enfermagem, sendo que a cada diagnóstico correspon- vimento corporal, e quando corretamente usadas, aumentam
de uma prescrição de enfermagem. a eficiência do trabalho do profissional. Caso contrário, pode
prejudicá-lo na tarefa de erguer, transferir e posicionar o pa-
Necessidade de Proteção e Segurança ciente. O atrito é uma força que ocorre no sentido oposto ao
movimento. Quanto maior for a área da superfície do objeto,
Lavagem Simples Das Mãos maior é o atrito. Quando o profissional transfere, posiciona ou
a) Conceito: é o procedimento mais importante na pre- vira o paciente no leito, o atrito deve ser vencido. Um paciente
venção e no controle das infecções hospitalares, devendo este passivo ou imobilizado produz maior atrito na movimentação.
procedimento ser rotina para toda a equipe multiprofissional,
sendo o objetivo desta técnica reduzir a transmissão cruzada de Como utilizar adequadamente o movimento corporal coor-
microorganismos patogênicos entre doentes e profissionais. denado:
- Se o paciente não for capaz de auxiliar na sua movimen-
b) Quando lavar as mãos: tação no leito, seus braços devem ser colocados sobre o peito,
- ao chegar à unidade de trabalho; diminuindo a área de superfície do paciente;
- sempre que as mãos estiverem visivelmente sujas;- antes e
após contactar com os doentes;

50
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Quando possível o profissional deve usar a força e mobili- Mudança de Posição e Transporte do paciente debilitado
dade do paciente ao levantar, transferir ou movê-lo no leito. Isto a) Conceito: A posição correta do paciente é crucial para a
pode ser feito explicando o procedimento e dizendo ao paciente manutenção do alinhamento corporal adequado. Qualquer pa-
quando se mover; ciente cuja mobilidade esteja reduzida, corre o risco de desen-
- O atrito pode ser reduzido se levantar o paciente em vez volvimento de contraturas, anormalidades posturais e locais de
de empurrá-lo. Levantar facilita e diminui a pressão entre o pa- pressão. O profissional tem a responsabilidade de diminuir este
ciente e o leito ou cadeira. O uso de um lençol para puxar o pa- risco, incentivando, auxiliando ou mudando o posicionamento
ciente diminui o atrito porque ele é facilmente movido ao longo do paciente pelo menos à cada 3 horas.
da superfície do leito.
- Mover um objeto sobre uma superfície plana exige menos b) Técnica de Movimentação do paciente dependente no
esforço do que movê-lo sobre uma inclinada; leito (realizada no mínimo por 2 profissionais):
- Trabalhar com materiais que se encontram sobre uma su- - Avaliar o paciente quanto ao nível de força muscular, mo-
perfície em um bom nível para o trabalho exige menos esforço bilidade e tolerância às atividades;
que levantá-los acima desta superfície; - Realizar a lavagem simples das mãos;
- Variações das atividades e posições auxiliam a manter o - Explicar ao paciente o que será feito;
tono muscular e a fadiga; - Propiciar privacidade ao paciente;
- Períodos de atividade e relaxamento ajudam a evitar a fa- - Utilizar os princípios de mecânica corporal;
diga; - Retirar travesseiros e coxins utilizados previamente;
- Planejar a atividade a ser realizada, pode ajudar a evitar a - Posicionar o leito em posição horizontal;
fadiga; - Baixar grades do leito
- O ideal é que todos os profissionais que estejam posicio- -Alinhar o paciente na posição de escolha, utilizando-se os
nando o paciente tenham pesos similares. Se os centros de gra- princípios de mecânica corporal;
vidade dos profissionais estiverem no mesmo plano, estes po- - Manter paciente centralizado no leito;
dem levantar o paciente como uma unidade equilibrada. - Colocar travesseiro sob a cabeça na região dorsal costal
superior (na altura da escápula);
Posicionamento do Paciente: - Colocar coxins e travesseiros sob proeminências ósseas;
a) Conceito: É o alinhamento corporal de um paciente. Pa- - Certificar-se de que o paciente está confortável;
cientes que apresentam alterações dos sistemas nervoso, es- - Manter a unidade em ordem;
quelético ou muscular, assim como, maior fraqueza e fadiga, - Realizar a lavagem simples das mãos
freqüentemente necessitam da assistência do profissional de
enfermagem para atingir o alinhamento corporal adequado en- c) Técnica de Transferência do Paciente do Leito para a Ca-
quanto deitados ou sentados. deira (Técnica realizada no mínimo por 2 profissionais):
b) Posição de Fowler: A cabeceira do leitoé elevada a um - Avaliar o paciente quanto ao nível de força muscular, mo-
ângulo de 45º a 60º e os joelhos do paciente devem estar ligei- bilidade e tolerância às atividades;
ramente elevados, sem apresentar pressão que possa limitar a - Realizar a lavagem simples das mãos;
circulação das pernas. - Explicar ao paciente o que será feito;
c) Posição de Supinação (dorsal): A cabeceira do leito deve - Propiciar privacidade ao paciente;
estar na posição horizontal. Nesta posição, a relação entre as - Utilizar princípios de mecânica corporal;
partes do corpo é essencialmente a mesma que em uma correta - Manter cadeira de rodas próxima do leito, com freios tra-
posição de alinhamento em pé, exceto pelo corpo estar no plano vados e apoios para os pés removidos;
horizontal. - Travar os freios da cama;
- Ajudar o paciente a sentar-se no leito;
d) Posição de Pronação (decúbito ventral): O paciente esta-
- Aguardar recuperação de queda de pressão arterial;
rá posicionado de bruços.
- Auxiliar o paciente a ficar em pé, segurando o paciente fir-
e) Posição Lateral (Direito ou Esquerdo): O paciente está
memente pelos braços e mantendo as mãos do paciente apoia-
deitado sobre o lado, com maior parte do peso do corpo apoiada
da nos ombros do profissional;
nos quadris e ombro. As curvaturas estruturais da coluna devem
- Sentar o paciente na cadeira de rodas;
ser mantidas. A cabeça deve ser apoiada em uma linha mediana
- Certificar-se de que o paciente está seguro e confortável;
do tronco e a rotação da coluna deve ser evitada.
- Manter a unidade em ordem;
e) Posição de Sims: Nesta posição o peso do paciente é colo-
- Realizar a lavagem simples das mãos
cado no ílio anterior, úmero e clavícula.
f) Posição de Trendelemburgue: posição adotada onde as d) Técnica de Transferência do Paciente do Leito para a
pernas e a bacia ficam em um nível mais elevado que o tórax e Maca (Técnica realizada por 3 profissionais):
a cabeça. - Avaliar o paciente quanto ao nível de força muscular, mo-
bilidade e tolerância às atividades;
- Realizar a lavagem simples das mãos;
Em todas as posições que o paciente se encontrar, o pro- - Explicar ao paciente o que será feito;
fissional deve avaliar e corrigir quaisquer pontos potenciais de - Propiciar privacidade ao paciente;
problemas que se apresentem como hiperextensão do pescoço, - Utilizar princípios de mecânica corporal;
hiperextensão da coluna lombar, flexão plantar, assim como, - Posiciona-se ao lado do leito do paciente, cada um res-
pontos de pressão em proeminências ósseas como queixo, coto- ponsabilizando-se por uma determinada parte do corpo, sendo
velos, quadris, região sacra , joelhos e calcâneos. o mais alto pela cabeça e ombros, o mediano pelos quadris e
coxas e o mais baixo pelos tornozelos e pés;

51
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Girar o paciente em direção ao tórax dos levantadores; Necessidades Nutricionais
- Contar até três em sincronia e elevar o paciente junto ao
tórax dos levantadores; Alimentação por via enteral
- Colocar o paciente suavemente sobre o centro da maca; a)Conceito: É a alimentação por sonda a pacientes que são
- Certificar-se de que o paciente está seguro e confortável incapazes de pôr o alimento na boca, mastigar ou engolir, mas
(levantar grades, colocar faixas de segurança) ; que são capazes de digeri-lo e absorvê-lo. As sondas de alimen-
- Manter a unidade em ordem; tação podem ser colocadas no esôfago, estômago ou região alta
- Realizar a lavagem simples das mãos do intestino delgado. A sonda pode ser inserida através do na-
riz, da boca ou cirurgicamente implantada. A alimentação via
Necessidades de Oxigenação sonda pode ser administrada em bolo ou por gotejamento lento
Administração de Oxigênio por Cateter Nasal (tipo óculos), constante, que flui pelo efeito da gravidade, controlada por uma
Cânula Nasal ou Máscara Facial: bomba de infusão. A alimentação lenta e constante aumenta ab-
a) Conceito: É a administração de oxigênio à razão de 3 a sorção e reduz a diarréia. A sondagem nasoenteral está indicada
5 litros por minuto por cateter nasal, cânula nasal ou máscara em pacientes clínicos graves, entubados e sedados;
facial. O cateter nasal é um dispositivo simples introduzido nas
narinas do paciente. A cânula nasal pode ser introduzida pelo Inserção de Sonda Nasogátrica
nariz até a nasofaringe, sendo necessário a alternância à cada - Reunir os materiais e equipamentos necessários: Bandeja
8 horas no mínimo. A máscara facial é um dispositivo que se contendo: Sonda nasogástrica com numeração apropriada; copo
adapta perfeitamente sobre o nariz e boca, sendo mantida em com água; estetoscópio, seringa de 20 ml; cuba rim; esparadra-
posição com auxílio de um fita. Máscara facial simples é usada po ou microporen; lubrificante hidrossolúvel; luvas de procedi-
na oxigenioterapia a curto prazo. Máscara facial de plástico com mento; pacote com folhas de gase;.saco de lixo;
reservatório e máscara de Venturi, são capazes de fornecer con- - Explicar ao paciente o procedimento a ser realizado;
centrações de oxigênio mais elevadas - Colocar o paciente em posição apropriada (Fowler)
- Realizar a lavagem simples das mãos;
b) Técnica: - Calçar luvas de procedimento;
- Avaliar o paciente e verificar se existem sinais e sintomas - Medir a sonda no paciente: a partir do terceiro furo medir
sugestivos de hipóxia ou presença de secreções nas vias aéreas; a sonda na distância da ponta do nariz até o lóbulo da orelha;
- Aspirar paciente, se necessário; medir a distância do lóbulo da orelha até o apêndice xifóide e
- Reunir os materiais e equipamentos necessários: Cânula demarcar esta medida com fita (aproximadamente 45 a 55 cm);
nasal ou cateter nasal ou máscara facial; tubo de oxigênio; umi- - Lubrificar a sonda com lubrificante hidrossolúvel;
dificador; água estéril; fonte de oxigênio com fluxímetro; luvas - Orientar o paciente pedindo para que engula a sonda
de procedimento. quando solicitado;
- Explicar ao paciente o procedimento a ser realizado; - Fletir o pescoço do paciente quando o mesmo não puder
- Realizar a lavagem simples das mãos; ajudar no procedimento;
- Calçar luvas de procedimento; - Introduzir a sonda até a demarcação estabelecida;
- Conectar a cânula nasal (medir no paciente o posiciona- - Testar a sonda para verificação do posicionamento: Aspirar
mento da cânula : lóbulo da orelha a ponta do nariz) ou cateter conteúdo gástrico; administrar 20 ml de ar e auscultar o epigás-
nasal ou máscara facial, ao tubo de oxigênio e a uma fonte de trio buscando o som de entrada de ar; colocar a extremidade
oxigênio umidificada, calibrada na taxa de fluxo desejada; da sonda aberta num copo com água, se a água não borbulhar a
- Introduzir as extremidades do cateter nasal ás narinas do sonda está posicionada adequadamente;
paciente ou posicionar a cânula nasal ou máscara facial; - Fixar e identificar a sonda;
- Ajustar a fita elástica na fronte até que o cateter nasal ou - Manter a sonda fechada; excetuando-se em casos de dre-
máscara facial esteja perfeitamente adaptado e confortável ou nagem gástrica;
fixar a cânula nasal à face ou região frontal do paciente; - Certificar-se de que o paciente está confortável;
- Manter o tubo de oxigênio com folga suficiente e prendê- - Manter a unidade em ordem;
-lo às roupas do paciente; - Retirar luvas de procedimento;
- Manter o recipiente do umidificador com água no nível de- - Realizar a lavagem simples das mãos;
limitado; - Realizar checagem e anotações no prontuário do paciente.
- Manter o fluxo de oxigênio conforme prescrição médica; Necessidade de Eliminação Urinária
- Observar narinas e superfície superior das orelhas à cada 6
horas (verificar se há laceração de pele); Cateterismo Vesical de Demora
- Certificar-se de que o paciente está confortável; a) Conceito: É a inserção de um cateter na bexiga através
- Manter a unidade em ordem; da uretra, indicado para aliviar desconforto por distensão ve-
- Retirar luvas de procedimento; sical quando ocorre obstrução na saída do fluxo de urina por
- Realizar a lavagem simples das mãos; dilatação da próstata, ou por coágulos de sangue; nas retenções
- Realizar checagem e anotações no prontuário do paciente. urinárias grave por episódios recorrentes de infecção do apa-
relho urinário; nos casos em que há incapacidade de esvaziar
a bexiga espontaneamente; para monitorar débito urinário nos
quadros clínicos graves; cirurgias do trato urinário ou de suas
partes; cirurgias que exijam anestesias em doses maiores; con-
trolar incontinência urinária e nos pacientes acometidos por
doença terminal.

52
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
b) Técnica A Enfermagem, reconhecida por seu respectivo conselho
- Reunir os materiais e equipamentos necessários: Bandeja profissional, é uma profissão que possui um corpo de conheci-
contendo: Pacote estéril para cateterização vesical contendo: mentos próprios, voltados para o atendimento do ser humano
cuba redonda; cuba rim; pinça para antissepsia, folhas de gaze, nas áreas de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação
torundas ou bolas de algodão; campo fenestrado; almotolia con- da saúde, composta pelo enfermeiro, técnico e auxiliar de en-
tendo povidine tópico; 2 seringas descartáveis de 10 ml; 1 agu- fermagem.
lha 40X12; 1 ampola de água destilada 10 ml; sonda de follley A Enfermagem realiza seu trabalho em um contexto mais
com numeração apropriada; coletor de urina sistema fechado; amplo e coletivo de saúde, em parceria com outras categorias
esparadrapo ou microporen; xylocaína geléia; luvas de procedi- profissionais representadas por áreas como Medicina, Servi-
mento; 1 par de luvas estéril com numeração apropriada; pacote ço Social, Fisioterapia, Odontologia, Farmácia, Nutrição, etc.
com folhas de gase; saco de lixo; material para higiene íntima, O atendimento integral à saúde pressupõe uma ação conjunta
se necessário. dessas diferentes categorias, pois, apesar do saber específico de
- Promover ambiente reservado ao paciente; cada uma, existe uma relação de interdependência e comple-
- Explicar ao paciente o procedimento a ser realizado; mentaridade.
- Colocar o paciente em posição anatômica (nas mulheres Nos últimos anos, a crença na qualidade de vida tem in-
posição ginecológica); fluenciado, por um lado, o comportamento das pessoas, levando
- Realizar a lavagem simples das mãos; a um maior envolvimento e responsabilidade em suas decisões
- Calçar luvas de procedimento; ou escolhas; e por outro, gerado reflexões em esferas organiza-
- Montar 1 seringa descartável com 10 ml de água destilada das da sociedade - como no setor saúde, cuja tônica da promo-
- Abrir pacote estéril para cateterização vesical; ção da saúde tem direcionado mudanças no modelo assistencial
- Retirar do pacote pinça de antissepsia e cuba redonda; vigente no país. No campo do trabalho, essas repercussões evi-
- Colocar torundas ou bolas de algodão e povidine tópico na denciam-se através das constantes buscas de iniciativas públicas
cuba redonda; e privadas no sentido de melhor atender às expectativas da po-
- Realizar a antissepsia da genitália respeitando os princípios pulação, criando ou transformando os serviços existentes.
de assepsia (do mais distante para o mais próximo, de cima para No tocante à enfermagem, novas frentes de atuação são
baixo), utilizando para cada área os quatro lados da torunda ou
criadas à medida que essas transformações vão ocorrendo, como
bolas de algodão;
sua inserção no Programa Saúde da Família (PSF), do Ministério
- Paciente masculino: Antissepsia na seguinte seqüência:
da Saúde; em programas e serviços de atendimento domiciliar,
púbis; corpo do pênis; retração do prepúcio; limpeza da glande ,
em processo de expansão cada vez maior em nosso meio; e em
por último meato uretral;
programas de atenção a idosos e outros grupos específicos.
- Paciente feminino: Antissepsia na seguinte seqüência : pú-
Quanto às ações e tarefas afins efetivamente desenvolvidas nos
bis; vulva: grandes lábios, pequenos lábios e por último meato
serviços de saúde pelas categorias de Enfermagem no país, es-
uretral;
tudos realizados pela ABEn e pelo INAMPS as agrupam em cinco
- Retirar luvas de procedimento;
classes, com as seguintes características:
- Sobre o pacote estéril que está aberto : abrir sonda de fol-
ley, bolsa coletora sistema fechado e seringa de 10 ml; colocar - Ações de natureza propedêutica e terapêutica comple-
xylocaína geléia sobre folhas de gaze; mentares ao ato médico e de outros profissionais, as ações
- Calçar luvas estéril; propedêuticas complementares referem-se às que apóiam o
- Colocar campo fenestrado sobre a genitália do paciente, diagnóstico e o acompanhamento do agravo à saúde, incluin-
mantendo em evidência a exposição da uretra; do procedimentos como a observação do estado do paciente,
- Introduzir na seringa descartável 10 ml de ar e testar o mensuração de altura e peso, coleta de amostras para exames
balonete da sonda de folley; laboratoriais e controle de sinais vitais e de líquidos. As ações te-
- Conectar sonda de folley a bolsa coletora de urina; rapêuticas complementares asseguram o tratamento prescrito,
- Lubrificar a sonda de folley com xylocaína geléia; como, por exemplo, a administração de medicamentos e dietas
- Segurar a sonda com a mão dominante, colocando a bolsa enterais, aplicação de calor e frio, instalação de cateter de oxi-
coletora sobre as pernas do paciente; gênio e sonda vesical ou nasogástrica;
- Com a mão não dominante, nos homens segurar o pênis - Ações de natureza terapêutica ou propedêutica de en-
perpendicular ao abdomen e nas mulheres abrir a genitália, evi- fermagem, são aquelas cujo foco centra-se na organização da
denciando a uretra; totalidade da atenção de enfermagem prestada à clientela. Por
- Introduzir toda a sonda no meato uretral; exemplo, ações de conforto e segurança, atividades educativas
- Preencher o balonete com 10 ml de água destilada; e de orientação;
- Tracionar a sonda; - Ações de natureza complementar de controle de risco, são
- Fixar a sonda na coxa do paciente; aquelas desenvolvidas em conjunto com outros profissionais de
- Retirar luvas estéreis; saúde, objetivando reduzir riscos de agravos ou complicações
- Calçar luvas de procedimento; de saúde. Incluem as atividades relacionadas à vigilância epide-
- Organizar a unidade; miológica e as de controle da infecção hospitalar e de doenças
- Identificar a bolsa coletora com data e hora da inserção da crônico-degenerativas;
sonda e assinatura; - Ações de natureza administrativa, nessa categoria in-
- Manter a sonda aberta para drenagem; cluem-se as ações de planejamento, gestão, controle, supervi-
- Certificar-se de que o paciente está confortável e a unida- são e avaliação da assistência de enfermagem;
de em ordem; - Ações de natureza pedagógica, relacionam-se à formação
- Realizar a lavagem simples das mãos; e às atividades de desenvolvimento para a equipe de enferma-
- Realizar checagem e anotações no prontuário do paciente gem.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
CUIDADOS COM O PACIENTE crorganismos aderidos à pele. Os movimentos e a fricção exerci-
Assistência de enfermagem ao paciente visando atender as dos durante o banho estimulam as terminações nervosas perifé-
necessidades de: conforto, segurança e bem-estar, higiene e se- ricas e a circulação sanguínea. Após um banho morno, é comum
gurança ambiental a pessoa sentir-se confortável e relaxada.
A higiene corporal pode ser realizada sob aspersão (chuvei-
ro), imersão (banheira) ou ablução (com jarro banho de leito). O
Higienizando a boca autocuidado deve ser sempre incentivado Assim, deve-se ava-
A higiene oral freqüente reduz a colonização local, sendo liar se o paciente tem condições de se lavar sozinho. Caso seja
importante para prevenir e controlar infecções, diminuir a inci- possível, todo o material necessário à higiene oral e banho deve
dência de cáries dentárias, manter a integridade da mucosa bu- ser colocado na mesa-de-cabeceira ou carrinho móvel do lado
cal, evitar ou reduzir a halitose, além de proporcionar conforto da cama, da forma que for mais funcional para o paciente. A
ao paciente. Em nosso meio, a maioria das pessoas está habitua- enfermagem deve dar apoio, auxiliando e orientando no que for
da a escovar os dentes - pela manhã, após as refeições e antes necessário.
de deitar - e quando isso não é feito geralmente experimenta a Para os pacientes acamados, o banho é dado no leito, pelo
sensação de desconforto. n Higienizando a boca Material neces- pessoal de enfermagem. Convém ressaltar que a grande maio-
sário: bandeja escova de dentes ou espátula com gazes creme ria deles considera essa situação bastante constrangedora, pois
dental, solução dentifrícia ou solução bicarbonatada copo com a incapacidade de realizar os próprios cuidados desperta sen-
água (e canudo, se necessário) cuba-rim toalha de rosto lubrifi- timentos de impotência e vergonha, sobretudo porque a inti-
cante para os lábios, se necessário luvas de procedimento. midade é invadida. A compreensão de tal fato pelo profissional
Avaliar a possibilidade de o paciente realizar a própria hi- de enfermagem, demonstrada ao prover os cuidados de higiene,
giene. Se isto for possível, colocar o material ao seu alcance e ajuda a minimizar o problema e atitudes como colocar biombos
auxiliá-lo no que for necessário. Caso contrário, com o material e mantê-lo coberto durante o banho, expondo apenas o seg-
e o ambiente devidamente preparados, auxiliar o paciente a po- mento do corpo que está sendo lavado, são inegavelmente mais
sicionar-se, elevar a cabeceira da cama se não houver contra- valiosas do que muitas palavras proferidas.
-indicação e proteger o tórax do mesmo com a toalha, para que Quando do banho, expor somente um segmento do corpo
não se molhe durante o procedimento de cada vez, lavando-o com luva de banho ensaboada, enxa-
Em pacientes inconscientes ou impossibilitados de realizar a guando-o - tendo o cuidado de remover todo o sabão - e secan-
higiene bucal, compete ao profissional de enfermagem lavar-lhe do-o com a toalha de banho. Esse processo deve ser repetido
os dentes, gengivas, bochechas, língua e lábios com o auxílio de para cada segmento do corpo.
uma espátula envolvida em gaze umedecida em solução denti- A secagem deve ser criteriosa, principalmente nas pregas
frícia ou solução bicarbonatada a qual deve ser trocada sempre cutâneas, espaços interdigitais e genitais, base dos seios e do
que necessário. Após prévia verificação, se necessário, aplicar abdome em obesos - evitando a umidade da pele, que propi-
um lubrificante para prevenir rachaduras e lesões que facilitam cia proliferação de microrganismos e pode provocar assaduras.
a penetração de microrganismos e dificultam a alimentação. Procurando estimular a circulação, os movimentos de fricção da
Para a proteção do profissional, convém evitar contato direto pele devem preferencialmente ser direcionados no sentido do
com as secreções, mediante o uso de luvas de procedimento. retorno venoso.
Após a higiene bucal, colocar o paciente numa posição adequa- Na higiene íntima do sexo feminino, a limpeza deve ser rea-
da e confortável, e manter o ambiente em ordem. lizada no sentido ântero-posterior; no masculino, o prepúcio
Anotar, no prontuário, o procedimento, reações e anorma- deve ser tracionado, favorecendo a limpeza do meato urinário
lidades observadas. para a base da glande, removendo sujidades (pêlos, esmegma,
O paciente que faz uso de prótese dentária (dentadura) urina, suor) e inibindo a proliferação de microrganismos. A se-
também necessita de cuidados de higiene para manter a inte- guir, recobrir a glande com o prepúcio. Durante todo o banho o
gridade da mucosa oral e conservar a prótese limpa. De acordo profissional de enfermagem deve observar as condições da pele,
com seu grau de dependência, a enfermagem deve auxiliá-lo mucosas, cabelos e unhas do paciente, cuidando para mantê-lo
nesses cuidados. A higiene compreende a escovação da próte- saudável. Ao término do banho, abaixar a cabeceira da cama e
se e limpeza das gengivas, bochechas, língua e lábios - com a deixar o paciente na posição em que se sinta mais confortável,
mesma freqüência indicada para as pessoas que possuem den- desde que não haja contra-indicação. Avaliar as possibilidades
tes naturais. Por sua vez, pacientes inconscientes não devem de colocá-lo sentado na poltrona. Providenciar o registro das
permanecer com prótese dentária. Nesses casos, o profissional condições do paciente e de suas reações.
deve acondicioná-la, identificá-la, realizando anotação de enfer-
magem do seu destino e guardá-la em local seguro ou entre- Lavando os cabelos e o couro cabeludo
gá-la ao acompanhante, para evitar a possibilidade de ocorrer A lavagem dos cabelos e do couro cabeludo visa proporcio-
danos ou extravio. A mesma orientação é recomendada para os nar higiene, conforto e estimular a circulação do couro cabelu-
pacientes encaminhados para cirurgias. Ao manipular a denta- do. Quando o paciente não puder ser conduzido até o chuveiro,
dura, a equipe de enfermagem deve sempre utilizar as luvas de esta tarefa deve ser realizada no leito. O procedimento a seguir
procedimento. descrito é apenas uma sugestão, considerando-se que há várias
formas de realizá-lo. Material necessário: dois jarros com água
Realizando o banho morna sabão neutro ou xampu duas bolas de algodão pente toa-
Os hábitos relacionados ao banho, como frequência, horá- lha grande de banho (duas, caso necessário) balde bacia luvas de
rio e temperatura da água, variam de pessoa para pessoa. Sua procedimento impermeável / saco plástico
finalidade precípua, no entanto, é a higiene e limpeza da pele,
momento em que são removidas células mortas, sujidades e mi-

54
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Cuidados com a alimentação e hidratação para fazê-lo sozinho. A posição sentada é a mais conveniente,
Como sabemos, a alimentação é essencial para nossa saúde porém, se isto não for possível, devese estar atento para evitar
e bem-estar. O estado nutricional interfere diretamente nos di- aspiração acidental de líquido.
versos processos orgânicos como, por exemplo, no crescimento
e desenvolvimento, nos mecanismos de defesa imunológica e Nutrição enteral
resposta às infecções, na cicatrização de feridas e na evolução Desde que a função do trato gastrintestinal esteja preser-
das doenças. vada, a nutrição enteral (NE) é indicada nos casos em que o
A subnutrição consequente de alimentação insuficiente, de- paciente está impossibilitado de alimentar-se espontaneamen-
sequilibrada ou resultante de distúrbios associados à sua assimi- te através de refeições normais. A nutrição enteral consiste na
lação - vem cada vez mais atraindo a atenção de profissionais de administração de nutrientes por meio de sondas nasogástrica
saúde que cuidam de pacientes ambulatoriais ou internados em (introduzida pelo nariz, com posicionamento no estômago) ou
hospitais, certos de que apenas a terapêutica medicamentosa transpilórica (introduzida pelo nariz, com posicionamento no
não é suficiente para se obter uma resposta orgânica satisfa- duodeno ou jejuno), ou através de gastrostomia ou jejunosto-
tória. O profissional de enfermagem tem a responsabilidade de mia. A instalação da sonda tem como objetivos retirar os fluidos
acompanhar as pessoas de quem cuida, tanto no nível domiciliar e gases do trato gastrintestinal (descompressão), administrar
como no hospitalar, preparando o ambiente e auxiliando-as du- medicamentos e alimentos (gastróclise) diretamente no trato
rante as refeições. É importante verificar se os pacientes estão gastrintestinal, obter amostra de conteúdo gástrico para estu-
aceitando a dieta e identificar precocemente problemas como a dos laboratoriais e prevenir ou aliviar náuseas e vômitos
bandeja de refeição posta fora do alcance do mesmo e sua pos-
terior retirada sem que ele tenha tido a possibilidade de tocá-la Inserindo a sonda nasogástrica
de fato que se observa com certa frequência. Material necessário:
Os motivos desse tipo de ocorrência são creditados ao insu- - sonda de calibre adequado lubrificante hidrossolúvel (xilo-
ficiente número de pessoal de enfermagem e ou ao envolvimen- caína a 2% sem vasoconstritor)
to dos profissionais com atividades consideradas mais urgentes. -gazes
Além de causas estruturais como a falta de recursos humanos - seringa de 20 ml
e materiais, evidenciam-se valores culturais fortemente arrai- -toalha
gados no comportamento do profissional, como a supervalori- -recipiente com água
zação da tecnologia e dos procedimentos mais especializados, -estetoscópio
o que, na prática, se traduz em dar atenção, por exemplo, ao -luvas de procedimento
preparo de uma bomba de infusão ou material para um curativo, - tiras de fita adesiva (esparadrapo, micropore, etc.)
ao invés de auxiliar o paciente a alimentar-se. -sonda de calibre adequado lubrificante hidrossolúvel (xilo-
Coincidentemente, os horários das refeições se aproximam caína a 2% sem vasoconstritor) gazes
do início e término do plantão, momentos em que há grande
preocupação da equipe em dar continuidade ao turno anterior Ao auxiliar o paciente a alimentar-se, evite atitude de im-
ou encerrar o turno de plantão, aspecto que representa motivo paciência ou pressa o que pode vir a constrangê-lo. Não inter-
adicional para o abandono do paciente. No entanto, os profis- rompa a refeição com condutas terapêuticas, pois isso poderá
sionais não devem eximir-se de tal responsabilidade, que muitas desestimulá-lo a comer.
vezes compromete os resultados do próprio tratamento.
Os pacientes impossibilitados de alimentar-se sozinhos de- Para conhecimento:
vem ser assistidos pela enfermagem, a qual deve providenciar Gastrostomia - abertura cirúrgica do estômago, para intro-
os cuidados necessários de acordo com o grau de dependência dução de uma sonda com a finalidade de alimentar, hidratar e
existente. Por exemplo, visando manter o conforto do pacien- drenar secreções estomacais.
te e incentivá-lo a comer, oferecer-lhe o alimento na boca, na Jejunostomia - abertura cirúrgica do jejuno, proporcionan-
ordem de sua preferência, em porções pequenas e dadas uma do comunicação com o meio externo, com o objetivo de alimen-
de cada vez. Ao término da refeição, servir-lhe água e anotar a tar ou drenar secreções. seringa de 20 ml toalha recipiente com
aceitação da dieta no prontuário. água estetoscópio luvas de procedimento tiras de fita adesiva
Durante o processo, proteger o tórax do paciente com toa- (esparadrapo, micropore, etc.)
lha ou guardanapo, limpando-lhe a boca sempre que necessá-
rio, são formas de manter a limpeza. Ao final, realizar a higiene Fixação da sonda nasogástrica
oral. Visando evitar que o paciente se desidrate, a enfermagem Deve ser segura, sem compressão, para evitar irritação e
deve observar o atendimento de sua necessidade de hidrata- lesão cutânea. O volume e aspecto do conteúdo drenado pela
ção. Desde que não haja impedimento para que receba líquidos sonda aberta deve ser anotado, pois permite avaliar a retirada
por via oral, cabe ao Serviço de Nutrição e Dietética fornecer ou manutenção da mesma e detecta anormalidades.
água potável em recipiente apresentável e de fácil limpeza, com Sempre que possível, orientar o paciente a manter-se pre-
tampa, passível de higienização e reposição diária, para evitar dominantemente em decúbito elevado, para evitar a ocorrência
exposição desnecessária e possível contaminação. Nem sempre de refluxo gastroesofágico durante o período que permanecer
os pacientes atendem adequadamente à necessidade de hidra- com a sonda.
tação, por falta de hábito de ingerir suficiente quantidade de
água fato que, em situações de doença, pode levá-lo facilmente
à desidratação e desequilíbrio hidroeletrolítico. Considerando
tal fato, é importante que a enfermagem o oriente e incentive
a tomar água, ou lhe ofereça auxílio se apresentar dificuldades

55
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
emoções (estresse e ansiedade) e o uso de agasalhos (provocam
menor dissipação do calor), por exemplo, no seu aumento. Há
ainda outros fatores que promovem alterações transitórias da
temperatura corporal, tais como fator hormonal (durante o ciclo
menstrual), banhos muito quentes ou frios e fator alimentar (in-
gestão de alimentos e bebidas muito quentes ou frias).
A alteração patológica da temperatura corporal mais fre-
qüente caracteriza-se por sua elevação e está presente na maio-
ria dos processos infecciosos e/ou inflamatórios. É muito difícil
delimitar a temperatura corporal normal porque, além das va-
riações individuais e condições ambientais, em um mesmo indi-
víduo a temperatura não se distribui uniformemente nas diver-
sas regiões e superfícies do corpo.
Assim, podemos considerar como variações normais de
temperatura29 : n temperatura axilar: 35,8ºC - 37,0ºC; n tem-
peratura oral: 36,3ºC - 37,4ºC; n temperatura retal: 37ºC - 38ºC.
O controle da temperatura corporal é realizado mediante a
utilização do termômetro - o mais utilizado é o de mercúrio, mas
cada vez mais torna-se freqüente o uso de termômetros eletrô-
nicos em nosso meio de trabalho.
A temperatura corporal pode ser verificada pelos seguintes
métodos: oral - o termômetro de uso oral deve ser individual e
possuir bulbo alongado e achatado, o qual deve estar posicio-
Medindo a altura e o peso no adulto nado sob a língua e mantido firme com os lábios fechados, por
Material necessário: balança papel para forrar a plataforma 3 minutos. Esse método é contra-indicado em crianças, idosos,
da balança A balança a ser utilizada deve ser previamente aferi- doentes graves, inconscientes, com distúrbios mentais, porta-
da (nivelada, tarada) para a obtenção de valores mais exatos e dores de lesões orofaríngeas e, transitoriamente, após o ato de
destravada somente quando o paciente encontra-se sobre ela. fumar e ingestão de alimentos quentes ou frios; retal - o termô-
O piso da balança deve estar sempre limpo e protegido com pa- metro retal é de uso individual e possui bulbo arredondado e
pel-toalha, evitando que os pés fiquem diretamente colocados proeminente. Deve ser lubrificado e colocado no paciente em
sobre ele. Para prevenir a ocorrência de quedas, fornecer auxílio decúbito lateral, inserido cerca de 3,5cm, em indivíduo adulto,
ao paciente durante todo o procedimento. permanecendo por 3 minutos.
O paciente deve ser pesado com o mínimo de roupa e sem- A verificação da temperatura retal considerada a mais fide-
pre com peças aproximadas em peso. Para obter um resultado digna - é contra-indicada em pacientes submetidos a interven-
correto, deve ser orientado a retirar o calçado e manter os bra- ções cirúrgicas do reto e períneo, e/ou que apresentem proces-
ços livres. Após terse posicionado adequadamente, o profissio- sos inflamatórios locais; axilar - é a verificação mais freqüente
nal deve deslocar os pesos de quilo e grama até que haja o nive- no nosso meio, embora seja a menos precisa. O termômetro
lamento horizontal da régua graduada; a seguir, travar e fazer a deve permanecer por, no máximo, 7 minutos (cerca de 5 a 7
leitura e a anotação de enfermagem. minutos).
Em pacientes internados, com controle diário, o peso deve As principais alterações da temperatura são: hipotermia -
ser verificado em jejum, sempre no mesmo horário, para avalia- temperatura abaixo do valor normal; hipertermia - temperatura
ção das alterações. acima do valor normal; febrícula - temperatura entre 37,2o C e
Para maior exatidão do resultado na verificação da altura, 37,8o C. 29 Atkinson, 1989. 7 8 Fundamentos de Enfermagem .
orientar o paciente a manter a posição ereta, de costas para a
haste, e os pés unidos e centralizados no piso da balança. Posi- Verificando a temperatura corporal
cionar a barra sobre a superfície superior da cabeça, sem deixar Material necessário: bandeja termômetro clínico bolas de
folga, e travá-la para posterior leitura e anotação. algodão seco álcool a 70% bloco de papel caneta .
Para garantir a precisão do dado, recomenda-se deixar o
Controlando a temperatura corporal termômetro na axila do paciente por 3 a 4 minutos; em seguida,
Vários processos físicos e químicos, sob o controle do hi- proceder à leitura rápida e confirmar o resultado recolocando o
potálamo, promovem a produção ou perda de calor, mantendo termômetro e reavaliando a informação até a obtenção de duas
nosso organismo com temperatura mais ou menos constante, leituras consecutivas idênticas30. Coluna de mercúrio Bulbo
independente das variações do meio externo. Corpo .
A temperatura corporal está intimamente relacionada à O ponto de localização do mercúrio indica a temperatura
atividade metabólica, ou seja, a um processo de liberação de As orientações seguintes referem-se ao controle de tempe-
energia através das reações químicas ocorridas nas células. Di- ratura axilar, considerando-se sua maior utilização. Entretanto,
versos fatores de ordem psicofisiológica poderão influenciar no faz-se necessário avaliar esta possibilidade observando-se os as-
aumento ou diminuição da temperatura, dentro dos limites e pectos que podem interferir na verificação, como estado clínico
padrões considerados normais ou fisiológicos. e psicológico do paciente, existência de lesões, agitação, etc.
Desta forma, podemos citar o sono e repouso, emoções, O bulbo do termômetro deve ser colocado sob a axila seca
desnutrição e outros como elementos que influenciam na dimi- e o profissional deve solicitar ao paciente que posicione o braço
nuição da temperatura; e os exercícios (pelo trabalho muscular), sobre o peito, com a mão em direção ao ombro oposto. Manter

56
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
o termômetro pelo tempo indicado, lembrando que duas leitu- c) da viscosidade do sangue, que significa, em outros ter-
ras consecutivas com o mesmo valor reflete um resultado bas- mos, sua consistência resultante das proteínas e células sangüí-
tante fidedigno. neas.
Para a leitura da temperatura, segurar o termômetro ao O controle compreende a verificação da pressão máxima ou
nível dos olhos, o que facilita a visualização. Após o uso, a de- sistólica e da pressão mínima ou diastólica, registrada em forma
sinfecção do termômetro deve ser realizada no sentido do cor- de fração ou usando-se a letra x entre a máxima e a mínima. Por
po para o bulbo, obedecendo o princípio do mais limpo para o exemplo, pressão sistólica de 120mmHg e diastólica de 70mmHg
mais sujo, mediante lavagem com água e sabão ou limpeza com devem ser assim registradas: 120/70mmHg ou 120x70mmHg.
álcool a 70% - processo que diminui os microrganismos e a pos-
sibilidade de infecção cruzada. Para um resultado preciso, é ideal que, antes da verificação,
o indivíduo esteja em repouso por 10 minutos ou isento de fato-
Controlando o pulso res estimulantes (frio, tensão, uso de álcool, fumo). Hipertensão
Também consideradas como importante parâmetro dos si- arterial é o termo usado para indicar pressão arterial acima da
nais vitais, as oscilações da pulsação, verificadas através do con- normal; e hipotensão arterial para indicar pressão arterial abai-
trole de pulso, podem trazer informações significativas sobre xo da normal.
estado do paciente. Quando a pressão arterial se encontra normal, dizemos que
Esta manobra, denominada controle de pulso, é possível está normotensa. A pressão sangüínea geralmente é mais baixa
porque o sangue impulsionado do ventrículo esquerdo para a durante o sono e ao despertar. A ingestão de alimentos, exercí-
aorta provoca oscilações ritmadas em toda a extensão da pa- cios, dor e emoções mmHg - milímetro de mercúrio,como medo,
rede arterial, que podem ser sentidas quando se comprime ansiedade, raiva e estresse aumentam a pressão arterial.
moderadamente a artéria contra uma estrutura dura. Além da Habitualmente, a verificação é feita nos braços, sobre a ar-
freqüência, é importante observar o ritmo e força que o sangue téria braquial. A pressão arterial varia ao longo do ciclo vital, au-
exerce ao passar pela artéria. mentando conforme a idade. Crianças de 4 anos podem ter pres-
Há fatores que podem provocar alterações passageiras na são em torno de 85/ 60mmHg; aos 10 anos, 100/65mmHg34.
freqüência cardíaca, como as emoções, os exercícios físicos e a
Nos adultos, são considerados normais os parâmetros com
alimentação. Ressalte-se, ainda, que ao longo do ciclo vital seus
pressão sistólica variando de 90 a 140mmHg e pressão diastólica
valores vão se modificando, sendo maiores em crianças e meno-
de 60 a 90mmHg.
res nos adultos. A frequência do pulso no recém-nascido é, em
média, de 120 batimentos por minuto (bpm), podendo chegar
Verificando a pressão arterial
aos limites de 70 a 170 bpm31. Aos 4 anos, a média aproxima-se
Material necessário: estetoscópio esfigmomanômetro algo-
de 100 bpm, variando entre 80 e 120 bpm, assim se mantendo
dão seco álcool a 70% caneta e papel
até os 6 anos; a partir dessa idade e até 31com. os 12 anos a mé-
dia fica em torno de 90 bpm, com variação de 70 a 110 bpm. Aos
Transporte do Paciente
18 anos, atinge 75 bpm nas mulheres e 70 bpm nos homens32.
A partir da adolescência observamos nítida diferenciação Grande parte das agressões à coluna vertebral em traba-
entre o crescimento físico de mulheres e homens, o que influen- lhadores da saúde estão relacionadas a condições ergonômicas
cia a freqüência do pulso: na fase adulta, de 65 a 80 bpm nas inadequadas de mobiliários, posto de trabalho e equipamentos
mulheres e de 60 a 70 bpm, nos homens. utilizados nas atividades cotidianas, sendo as dores nas costas
Habitualmente, faz-se a verificação do pulso sobre a artéria causadas por traumas crônicos repetitivos, que envolvem mui-
radial e, eventualmente, quando o pulso está filiforme, sobre tos outros fatores, além da manipulação de pacientes. Dessa
as artérias mais calibrosas - como a carótida e a femoral. Ou- forma, as recomendações sobre um aspecto relevante do pro-
tras artérias, como a temporal, a facial, a braquial, a poplítea blema das algias vertebrais, que é a prevenção, têm caminhado
e a dorsal do pé também possibilitam a verificação do pulso. O em direção a uma abordagem ergonômica.
pulso normal - denominado normocardia - é regular, ou seja, o A literatura tem sugerido a administração de cursos sobre
período entre os batimentos se mantém constante, com volume movimentação e transporte de pacientes como uma das estraté-
perceptível à pressão moderada dos dedos. gias mais importantes para reduzir a incidência de problemas na
O pulso apresenta as seguintes alterações: bradicardia: fre- coluna vertebral entre os trabalhadores da saúde a utilização de
qüência cardíaca abaixo da normal; taquicardia: freqüência car- equipamentos especiais e auxílios mecânicos também tem sido
díaca acima da normal; taquisfigmia: pulso fino e taquicárdico; indicada para prevenir as dores nas costas. Atualmente sabe-se
bradisfigmia: pulso fino e bradicárdico; filiforme: pulso fino. que para resolver tais problemas é necessário um amplo estudo
do ambiente, dos equipamentos e dos indivíduos, baseando-se
Controlando a pressão arterial num enfoque ergonômico. Assim, as habilidades em movimen-
Outro dado imprescindível na avaliação de saúde de uma tação de pacientes devem ser complementadas com o estabele-
pessoa é o nível de sua pressão arterial, cujo controle é reali- cimento de práticas seguras de trabalho dentro de uma estru-
zado através de aparelhos próprios. A pressão arterial resulta tura ergonômica, usando-se, sempre que possível, materiais e
da tensão que o sangue exerce sobre as paredes das artérias e equipamentos auxiliares. O presente trabalho tem por objetivo
depende: discutir e descrever as técnicas de movimentação e transferên-
a) do débito cardíaco relacionado à capacidade de o cora- cia de pacientes dentro de uma estrutura ergonômica e com a
ção impulsionar sangue para as artérias e do volume de sangue utilização de materiais auxiliares que precisam urgentemente
circulante; ser implementados na realidade brasileira.
b) da resistência vascular periférica, determinada pelo lú-
men (calibre), elasticidade dos vasos e viscosidade sangüínea,
traduzindo uma força oposta ao fluxo sangüíneo;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
2 MOVIMENTAÇÃO E TRANSPORTE DE PACIENTES • Deixar os pés afastados e totalmente apoiados no chão
Os procedimentos que envolvem a movimentação e o trans- • Trabalhar com segurança e com calma
porte de pacientes são considerados os mais penosos e peri- • Manter as costas eretas
gosos para os trabalhadores da saúde. Estudiosos da questão • Usar o peso corporal como um contrapeso ao do paciente
defendem que o ensino desses procedimentos deve ser comple- • Flexionar os joelhos em vez de curvar a coluna
mentado com uma avaliação do local de trabalho e com alterna- • Abaixar a cabeceira da cama ao mover um paciente para
tivas para torná-los menos prejudiciais. Um cuidadoso planeja- cima
mento, antes de se iniciarem esses procedimentos, é essencial e • Utilizar movimentos sincrônicos
imprescindível. Dentro deste contexto, desenvolveram-se orien- • Trabalhar o mais próximo possível do corpo do cliente,
tações básicas e procedimentos que tiveram um suporte teórico que deverá ser erguido ou movido
na literatura internacional. • Usar uniforme que permita liberdade de movimentos e
Considerando-se tais aspectos, dividiu-se esta fase em cinco sapatos apropriados
partes: • Realizar a manipulação de pacientes com a ajuda de, pelo
menos, duas pessoas
2.1 Avaliação das condições e preparo do cliente
Inicialmente, deve-se fazer uma avaliação das condições fí- 2.4 Movimentação de clientes no leito
sicas da pessoa que será movimentada, de sua capacidade de Lembrar que o paciente deve ser estimulado a movimen-
colaborar, bem como a observação da presença de soros, sondas tar-se de uma forma independente, sempre que não existir
e outros equipamentos instalados. Também é importante, para contraindicações nesse sentido. Outro ponto que não pode ser
um planejamento cuidadoso do procedimento, uma explicação, esquecido é procurar ter à disposição camas e colchões apro-
ao paciente, do modo como se pretende movê-lo, como pode priados, dependendo das condições e necessidades do cliente. O
cooperar, para onde será encaminhado e qual o motivo da lo- ideal são camas com altura regulável, que possam ser ajustadas,
comoção. Vale a pena salientar que o cliente deve ser orientado dependendo do procedimento que será realizado.
a ajudar, sempre que for possível, que não deve ser mudado Durante a movimentação, deve-se, sempre que possível,
rapidamente de posição e tem que estar usando chinelos ou sa- utilizar elementos auxiliares, tais como: barra tipo trapézio no
patos com sola antiderrapante. Outro ponto muito importante leito, plástico antiderrapante para os pés, plástico facilitador de
é que a movimentação e o transporte de obesos precisam ser movimentos, entre outros.
minuciosamente avaliados e planejados, usando-se, sempre que Neste tópico serão apresentados separadamente os princi-
possível, auxílios mecânicos. pais motivos que levam os trabalhadores de saúde a movimen-
tar os clientes no leito:
2.2 Preparo do ambiente e dos equipamentos
Considerando-se que determinados aspectos ergonômicos 2.4.1 Colocar ou retirar comadres
do posto de trabalho podem prejudicar atividades ocupacionais, Quando o paciente pode auxiliar, deve-se utilizar o trapézio,
tais como os procedimentos relacionados com movimentação e no leito, e solicitar que eleve o quadril, evitando-se assim, a ne-
transporte abordam-se, nessa parte, os principais cuidados que cessidade de erguê-lo (Figura 1):
necessitam ser observados: Verificar se o espaço físico é ade-
quado para não restringir os movimentos
• Examinar o local e remover os obstáculos
• Observar a disposição do mobiliário
• Obter condições seguras com relação ao piso
• Colocar o suporte de soro ao lado da cama, quando ne-
cessário
• Elevar ou abaixar a altura da cama, para ficar no mesmo
nível da maca
• Travar as rodas da cama, maca e cadeira de rodas ou soli-
citar auxílio adicional
• Adaptar a altura da cama ao trabalhador e ao tipo de pro-
cedimento que será realizado

Devem-se, também, utilizar equipamentos auxiliares e


adaptar as condições do ambiente a cada paciente em particu-
lar. Neste caso, pode ser necessário:
• Colocar barras de apoio em banheiros
• Elevar a altura do vaso sanitário ( compensadores de altu-
ra para vasos convencionais ) 2.4.2 Trazer o cliente para um dos lados da cama
• Utilizar cadeira de rodas própria para banho ou higiene Lembrar que a movimentação no leito deve ser realizada,
preferencialmente, por duas pessoas, seguindo-se os seguintes
2.3 Preparo da equipe passos (Figura 2):
Existem algumas orientações, especificamente relacionadas
com os princípios básicos de mecânica corporal, que devem ser
utilizadas pelo pessoal de enfermagem durante a manipulação
de pacientes.

58
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Uma outra forma de realizar esse procedimento é usando-se
plásticos deslizantes e resistentes, da seguinte forma (Figura 4):

• As duas pessoas devem ficar do mesmo lado da cama, de


frente para o paciente
• Permanecer com uma das pernas em frente da outra,
com os joelhos e quadris fletidos, trazendo os braços ao nível
da cama:
• a primeira pessoa coloca um dos braços sob a cabeça e, o • Virar o paciente e colocar o plástico sob seu corpo. Voltar
outro, na região lombar o paciente e puxar o plástico
• a segunda pessoa coloca um dos braços também sob a • Ficar no lado oposto ao que o paciente será virado
região lombar e, o outro, na região posterior da coxa • Puxar o plástico, movendo o paciente em sua direção e
• Trazer o paciente, de um modo coordenado, para este para a beira da cama. Manter as costas eretas e utilizar o peso
lado da cama do seu corpo
• Elevar o plástico, fazendo o paciente virar cuidadosamen-
Se for necessário mover o paciente sem ajuda, deve-se fazê- te. Manter, no lado oposto da cama, uma grade de proteção
-lo em etapas, utilizando-se o peso do corpo como um contrape-
so e plásticos facilitadores de movimentos. 2.4.4 Movimentar o cliente, em posição supina, para a ca-
beceira da cama
2.4.3 Colocar o cliente em decúbito lateral Se o paciente tem condições físicas, ele pode mover-se so-
Quando o paciente não é obeso, podem-se seguir as seguin- zinho, com a ajuda de um trapézio. O cliente flexiona os joelhos
tes fases (Figura 3): e dá um impulso, tendo como apoio um plástico antiderrapante
sob seus pés (Figura 5b) ou uma pessoa segurando -os (Figura
5a). Pode-se também colocar um plástico deslizante sob as cos-
tas e a cabeça do paciente (Figura 5c).

• Permanecer do lado para o qual você vai virar a pessoa


• Cruzar seu braço e sua perna no sentido em que ele vai
ser virado, flexionando o joelho. Observar o posicionamento do
outro braço
• Fazer o paciente virar a cabeça em sua direção Uma outra maneira de movimentação independente é colo-
• Rolar a pessoa gentilmente, utilizando seu ombro e joelho car um plástico deslizante sob o corpo do paciente e pedir que
como alavancas ele realize o mesmo impulso com os pés (Figura 6).

59
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
2.4.5 Movimentar o cliente em posição sentada para a ca-
beceira da cama
O paciente deve ser encorajado a movimentar-se sozinho,
com a ajuda de um plástico facilitador de movimentos. Neste
caso, o paciente fica sentado sobre o plástico, podendo deslizar
com o auxílio de blocos de mão antiderrapantes (Figura9).

Quando o paciente não pode colaborar, uma alternativa é


seguir os seguintes passos (Figura 7):

Ele pode, também, receber a ajuda de uma pessoa, que se-


gura seus pés, estando suas pernas flexionadas. Neste caso, o
cliente apóia uma mão de cada lado do corpo e ele próprio dá
um impulso, ao endireitar as pernas (Figura 10).

• Deixar a cama em posição horizontal


• Colocar um travesseiro na cabeceira da cama
• Colocar um lençol ou plástico deslizante sob o corpo do
paciente
• Permanecer duas pessoas, uma de cada lado do leito, e
olhando em direção dos pés da cama
• Segurar firmemente no lençol ou plástico e, num movi-
mento ritmado, movimentar o paciente

Se a altura da cama for regulável, pode-se proceder da se-


guinte maneira (Figura 8):

Quando o paciente não pode colaborar, duas pessoas de-


vem realizar o procedimento. Deve-se também usar um plástico
deslizante e procede-se da seguinte maneira (Figuras 11a e 11b):

• Abaixar a altura da cama de tal forma que os trabalhado-


res de enfermagem possam colocar Um joelho na cama e manter
a outra perna firmemente no chão
• Segurar o plástico e, de ma forma coordenada, sentar so-
bre seus calcanhares, movendo ao mesmo tempo o cliente

60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

• As duas pessoas devem ficar uma de cada lado do leito,


olhando na mesma direção
• Abaixar a altura da cama, de uma forma tal que os traba- • A pessoa fica de frente para o paciente, colocando um dos
lhadores de enfermagem possam colocar um joelho na cama, seus joelhos ao nível do quadril do paciente sentando-se sobre
mantendo a outra perna firmemente no chão seu próprio tornozelo
• Segurar a mão do paciente com uma das mãos e agarrar • Segurar no cotovelo do paciente, que também apoia o
no local apropriado do plástico com a outra cotovelo da pessoa. O paciente deve se sente apoiando-os na
• Usando movimento coordenado, sentar sobre os calca- pessoa
nhares, movendo, ao mesmo, tempo cliente. Repetir o procedi-
mento, se for necessário Se o paciente não consegue auxiliar, uma outra alternativa é
realizar o procedimento com duas pessoas, da seguinte maneira
2.4.6 Sentar o paciente no leito (Figura 14):
O cliente deve ser encorajado a sentar-se sozinho, fican-
do de lado e levantando-se com a ajuda dos braços. Podem-se,
também, utilizar materiais simples, como uma corda com nós ou
uma escada de cordas que, fixadas nos pés da cama, permitem
que o cliente sente sem ajuda (Figura 12).

• Permanecer uma pessoa de cada lado da cama, olhando


em direção da cabeceira
• Ficar ajoelhada, mantendo o joelho ao nível do quadril do
Quando o cliente é auxiliado por outra pessoa, pode-se fa- cliente
zer da seguinte forma (Figuras 13a e 13b): • Segurar nos cotovelos e trazer o paciente para frente, en-
quanto senta em seus calcanhares. Pode-se usar, como um au-
xílio nessa manobra, uma toalha resistente, que é colocada nas
costas do paciente

2.4.7 Sentar o paciente na beira da cama


No caso do cliente estar deitado, seguir os seguintes passos
(Figura 15):

61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

• Colocar o paciente em decúbito lateral, sobre um plástico


deslizante, e de frente para o lado em que vai se sentar
• Elevar a cabeceira da cama
• Uma pessoa apoia a região dorsal e o ombro do paciente e
a outra segura os membros inferiores
• De uma forma coordenada, elevar e girar o paciente até
ele ficar sentado paciente e sentando-se sobre seu próprio tor-
nozelo

Uma outra alternativa é levantar o paciente, apoiando no


cotovelo, como descrito anteriormente, estando o cliente sobre
um plástico deslizante. Depois, mover os seus membros inferio-
res para fora do leito (Figura 16).

• Colocar o cliente para a frente da cadeira, puxando-o al-


ternadamente pelo quadril
• Permanecer ao lado da cadeira, olhando do mesmo lado
que o paciente
• O cliente deve colocar uma mão no braço mais distante da
cadeira e a outra é apoiada pela mão do trabalhador de enfer-
magem. Com o outro braço, o trabalhador circunda a cintura do
paciente, segurando no cinto de transferência
• Levantar de uma forma coordenada, com movimentos de
balanço.
Dependendo das condições do cliente, pode ser necessária
2.5 Transporte de pacientes a participação de uma outra pessoa, do outro lado da cadeira
O transporte de pacientes deve ser realizado com a ajuda de
elementos auxiliares, tais como cintos e pranchas de transferên- 2.5.2 Auxiliar o cliente a deambular
cia, discos giratórios e auxílios mecânicos. É importante fazer uma avaliação cuidadosa para verificar
se o cliente tem condições de deambular. A pessoa deve perma-
2.5.1 Auxiliar o cliente a levantar de cadeira ou poltrona necer bem próxima do paciente, do lado em que ele apresenta
Nesse procedimento, é muito importante selecionar cadei- alguma deficiência, colocando um braço em volta da cintura e o
ras ou poltronas de acordo com as necessidades de cada pessoa, outro apoiando a mão. O ideal, nestes casos, é utilizar um cinto
levando em consideração a promoção de conforto e indepen- especial, colocado na cintura do paciente (Figura 18).
dência. Não se deve esquecer também os equipamentos auxilia-
res, como andadores e bengalas.
Quando o paciente necessita de ajuda, deve-se usar um cin-
to de transferência e proceder da seguinte maneira (Figuras 17a
e 17b):

62
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

2.5.3 Transferir o cliente do leito para uma poltrona ou ca-


deira de rodas
O paciente pode executar essa transferência de uma forma
independente ou com uma pequena ajuda, utilizando uma tábua
de transferência, da seguinte maneira (Figuras 19a e 19b):

• Posicionar a cadeira próxima à cama. Elas devem ter a


mesma altura
• Travar a cadeira e o leito, remover o braço da cadeira e
elevar o apoio dos pés
• Posicionar a tábua apoiada seguramente entre a cama e
a cadeira
Um outro modo é usar o cinto de transferência, seguindo-se
os passos(Figuras 20a, 20b, 20c e 20d):

63
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Organizações e autores internacionais têm procurado des-
pertar a atenção sobre a importância das orientações, com um
enfoque ergonômico, sobre os procedimentos de movimenta-
• Colocar a cadeira ao lado da cama, com as costas para o ção e transferência . A implementação de treinamentos e reci-
pé da cama clagem é parte obrigatória de programas de prevenção de lesões
• Travar as rodas e levantar o apoio para os pés musculoesqueléticas entre trabalhadores da saúde. Esses pro-
• Sentar o cliente na beira da cama cedimentos devem ser aprendidos e praticados de uma forma
• Calçar o cliente com sapato ou chinelo antiderrapante planejada e sistemática.
• Segurar o cliente pela cintura, auxiliando-o a levantar, vi- Dentro deste contexto, procurou-se colaborar apresentan-
rar-se e sentar-se na cadeira do-se orientações básicas sobre a mobilização e a transferência
de clientes dentro de uma abordagem ergonômica.
2.5.4 Transferir o paciente do leito para um maca
não existe maneira segura para realizar uma transferência Fonte: http://www.ee.usp.br/reeusp/upload/html/510/body/
manual do leito para uma maca. Existem equipamentos que de- v34n2a06.htm
vem ser utilizados, como as pranchas e os plásticos resistentes
de transferências nesse caso, o paciente deve ser virado para Sinais Vitais
que se acomode o material sob ele. .Volta-se o paciente para
a posição supina, puxando-o para a maca com a ajuda do ma- Pulso
terial ou do lençol (Figuras 21a e 21b). Devem participar desse São sinais de vida: Normalmente, a temperatura, pulso e
procedimento quantas pessoas forem necessárias, dependendo respiração permanecem mais ou menos constantes. São chama-
das condições e do peso do cliente. Nunca esquecer de travar as dos “Sinais Vitais”, porque suas variações podem indicar enfer-
rodas da cama e do leito e de ajustar sua altura. midade. Devido à importância dos mesmos a enfermagem deve
ser bem exata na sua verificação e anotação.

Pulso: É o nome que se dá à dilatação pequena e sensível


das artérias, produzida pela corrente circulatória. Toda vez que
o sangue é lançado do ventrículo esquerdo para a aorta, a pres-
são e o volume provocam oscilações ritmadas em toda a exten-
são da parede arterial, evidenciadas quando se comprime mode-
radamente a artéria contra uma estrutura dura.

Locais onde pode ser verificado: Normalmente, faz-se a ve-


rificação do pulso sobre a artéria radial. Quando o pulso radial
se apresenta muito filiforme, artérias mais calibrosas como a
carótida e femoral poderão facilitar o controle. Outras artérias,
como a braquial, poplítea e a do dorso do pé (artéria pediosa)
podem também ser utilizadas para a verificação.
Frequência Fisiológica:
Homem 60 a 70
Mulher 65 a 80
Crianças 120 a 125
Lactentes 125 a 130
Observação: Existem fatores que alteram a frequência nor-
mal do pulso:

64
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Fatores Fisiológicos: Observações importantes:
Emoções - digestão - banho frio - exercícios físicos (acele- - Evitar verificar o pulso em membros afetados de paciente
ram) com lesões neurológicas ou vasculares;
Certas drogas como a digitalina (diminuem) - Não verificar o pulso em membro com fístula arteriove-
nosa;
Fatores Patológicos: - Nunca usar o dedo polegar na verificação, pois pode con-
Febre - doenças agudas (aceleram) fundir a sua pulsação com a do paciente;
Choque - colapso (diminuem) - Nunca verificar o pulso com as mãos frias;
- Em caso de dúvida, repetir a contagem;
Regularidade: - Não fazer pressão forte sobre a artéria, pois isso pode im-
Rítmico - bate com regularidade pedir de sentir o batimento do pulso.
Arrítmico - bate sem regularidade
O intervalo de tempo entre os batimentos em condições Temperatura
normais é igual e o ritmo nestas condições é denominado nor- A temperatura corporal é proveniente do calor produzido
mal ou sinusal. O pulso irregular é chamado arrítmico. pela atividade metabólica. Vários processos físicos e químicos
promovem a produção ou perda de calor, mantendo o nosso or-
Tipos de Pulso: ganismo com temperatura mais ou menos constante, indepen-
Bradisfigmico – lento dente das variações do meio externo. O equilíbrio entre a pro-
Taquisfígmico – acelerado dução e a perda de calor é controlado pelo hipotálamo: quando
Dicrótico - dá a impressão de dois batimentos há necessidade de perda de calor, impulsos nervosos provocam
vasodilatação periférica com aumento do fluxo sanguíneo na su-
Volume: cheio ou filiforme. perfície corporal e estimulação das glândulas sudoriporas, pro-
movendo a saída de calor. Quando há necessidade de retenção
Observação: o volume de cada batimento cardíaco é igual de calor, estímulos nervosos provocam vaso constrição periféri-
em condições normais. Quando se exerce uma pressão modera- ca com diminuição do sangue circulante local e, portanto, me-
da sobre a artéria e há certa dificuldade de obliterar a artéria, o nor quantidade de calor é transportada e perdida na superfície
pulso é denominado de cheio. Porém se o volume é pequeno e corpórea.
a artéria fácil de ser obliterada tem-se o pulso fino ou filiforme.
Alterações Fisiológicas da Temperatura
Tensão ou compressibilidade das artérias Fatores que reduzem ou aumentam a taxa metabólica levam
Macio – fraco respectivamente a uma diminuição ou aumento da temperatura
Duro – forte corporal:
- sono e repouso
Terminologia: - idade
- Nomocardia: frequência normal - exercícios físicos
- Bradicardia: frequência abaixo do normal - emoções
- Bradisfigmia: pulso fino e bradicárdico - fator hormonal
- Taquicardia: frequência acima do normal - em jovens, observam-se níveis aumentados de hormônios.
- Taquisfigmia: pulso fino e taquicárdico - desnutrição
- banhos a temperaturas muito quentes ou frias podem pro-
Material para verificação do pulso: vocar alterações transitórias da temperatura
- Relógio com ponteiro de segundos. - agasalhos
- fator alimentar
Procedimento:
- Lavar as mãos; Temperatura Corporal Normal: Em média, considera-se a
- Explicar o procedimento ao paciente; temperatura oral como a normal 37ºC, sendo a temperatura axi-
- Colocá-lo em posição confortável, de preferência deitado lar 0,6ºC mais baixa e a temperatura retal 0,6ºC mais alta.
ou sentado com o braço apoiado e a palma da mão voltada pra
baixo. Terminologia:
- Colocar as polpas dos três dedos médios sobre o local es- Hipotermia: temperatura abaixo do valor normal. Caracteri-
colhido pra a verificação; za-se por pele e extremidades frias, cianoses e tremores;
- Pressionar suavemente até localizar os batimentos; Hipertermia: aumento da temperatura corporal. É uma con-
- Procurar sentir bem o pulso, pressionar suavemente a ar- dição em que se verifica: pele quente e seca, sede, secura na
téria e iniciar a contagem dos batimentos; boca, calafrios, dores musculares generalizadas, sensação de
- Contar as pulsações durante um minuto (avaliar frequên- fraqueza, taquicardia, taquipneia, cefaleia, delírios e até convul-
cia, tensão, volume e ritmo); sões.
- Lavar as mãos; Avaliação da Temperatura Corporal: O termômetro deve ser
- Registrar, anotar as anormalidades e assinar. colocado em local onde existam rede vascular intensa ou gran-
Pulso apical: Verifica-se o pulso apical no ápice do coração des vasos sanguíneos, e mantido por tempo suficiente para a
à altura do quinto espaço intercostal. correta leitura da temperatura. Os locais habitualmente utiliza-
dos para a verificação são: cavidade oral, retal e a região axilar.

65
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Tempo de Manutenção do Termômetro no Paciente Mensuração da Altura e do Peso
- oral: 3 minutos A altura e o peso normalmente são verificados quando exis-
- axilar: 03 a 05 minutos te solicitação médica, não sendo incluídos como medidas de
- retal: 3 minutos rotina na maioria das unidades de internação. A verificação da
altura e do peso é muito importante, em pediatria, endocrinolo-
Respiração gia, nefrologia. Em certas condições patológicas, como no ede-
Por meio da respiração é que se efetua a troca de gases dos ma, o controle de peso é fundamental para subsidiar a conduta
alvéolos, transformando o sangue venoso rico em dióxido de terapêutica.
carbono e o sangue arterial rico em oxigênio. O tronco cerebral Terminologia
é a sede do controle da respiração automática, porém recebe in- Obesidade: aumento de tecido adiposo devido ao excessivo
fluencias do córtex cerebral, possibilitando também, em parte, armazenamento de gordura;
um controle voluntário. Certos fatores, como exercícios físicos, - caquexia: estado de extrema magreza, desnutrição.
emoções, choro, variações climáticas, drogas podem provocar Observações
alterações respiratórias. - pesar, de preferência sempre no mesmo horário;
- pesar com mínimo de roupa;
Valores Normais - pesar, se possível, antes do desjejum.
Recém nascido: 30 a 40 por minuto
Adulto: 14 a 20 por minuto Sinais Iminentes de Falecimentos:
- Sistema Circulatório: hipotensão, extremidades frias, pul-
Terminologia so irregular, pele fria e úmida, hipotermia, cianose, sudorese,
- bradpneia: frequência respiratória abaixo do normal; sudorese abundante;
- taquipneia: frequência respiratória acima do normal; - Sistema Respiratório: dificuldade para respirar, a respira-
- dispneia: dificuldade respiratória; ção torna-se ruidosa (estertor da morte), causada pelo acúmulo
- ortopneia: respiração facilitada em posição vertical; de secreção;
- apneia: parada respiratória;
- Sistema Digestório: diminuição das atividades fisiológicas
- respiração de Cheyne Stokes: caracteriza-se por aumen-
e do reflexo de deglutição para o perigo de regurgitação e aspi-
to gradual na profundidade, seguido por decréscimo gradual na
ração, incontinência fecal e constipação.
profundidade das respirações e, após, segue-se um período de
- Sistema Locomotor: ausência total da coordenação dos
apneia.
movimentos;
- respiração estertorosa: respiração ruidosa.
- Sistema Urinário: retenção ou incontinência urinária;
- Sistema Neurológico: diminuição dos reflexos até o desa-
Pressão Arterial
parecimento total, sendo que a audição é o último a desapare-
A pressão arterial reflete a tensão que o sangue exerce nas
cer.
paredes das artérias. A medida da pressão arterial compreende
a verificação da pressão máxima ou sistólica e a pressão mínima - Face: pálida ou cianótica, olhos e olhar fixo, presença de
ou diastólica. lágrima, que significa perda do tônus muscular.
A pressão sistólica é a maior força exercida pelo batimento
cardíaco; e a diastólica, a menor. Sinais Evidentes:
Talvez seja mais sensato caracterizar a morte pelo somató-
A Pressão Arterial depende de: rio de uma série de fenômenos:
- Débito cardíaco: representa a quantidade de sangue ejeta- - Perda da consciência;
do do ventrículo esquerdo para o leito vascular em um minuto. - Ausência total de movimentos;
- Resistência vascular periférica: determinada pelo lúmen - Parada Cardíaca e respiratória sem possibilidades de res-
(calibre), pela elasticidade dos vasos e pela viscosidade sanguí- suscitação;
nea. - Perda da ação reflexiva a estímulos;
- Viscosidade do sangue: decorre das proteínas e elementos - Parada das funções cerebrais;
figurados do sangue. - Pupilas dilatadas (midríase) não reagindo à presença da
A pressão sanguínea varia ao longo do ciclo vital, assim luz.
como ocorre com a respiração, temperatura e pulso.
Como esses fatos podem ocorrer isoladamente é fundamen-
Valores Normais tal a coincidência deles para se confirmar à morte. Como após
Em indivíduo adulto, são considerados normais os seguintes a morte, alguns tecidos podem manter a vitalidade e mesmo
parâmetros: servirem para transplantes, exige-se hoje, como prova clínica
- pressão sistólica: de 90 a 140 mmhg definitiva da morte, a parada definitiva das funções cerebrais,
- pressão diastólica: de 60 a 90 mmhg documentada clinicamente e por eletroencefalograma.

Terminologia A tanatologia é o ramo da patologia que estuda a morte.


- hipertensão arterial: significa pressão arterial elevada; Morte Aparente: O termo morte aparente é a denominação
- hipotensão arterial: pressão arterial abaixo do normal aplicada ao corpo, o qual parece morto, mas tem condições de
ser reanimado.
Locais para verificação da Pressão Arterial Alterações cadavéricas: São alterações que ocorrem após a
- nos membros superiores, através da artéria braquial; constatação da sua morte clínica. Após a morte existe uma série
- nos membros inferiores, através da artéria poplítea. de alterações sequenciais previstas que podem ser modificadas

66
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
nas dependências das condições fisiológicas pré-morte, das con- Quando um paciente adulto está confuso, inconsciente ou
dições ambientais e do tipo morte, se intencional, natural ou não é mentalmente competente, um familiar ou um tutor deve
acidental. assinar o formulário de consentimento. Quando o paciente tem
Algor mortis (frigor mortis, frio da morte): é o resfriamento menos de 18 anos de idade, um dos pais ou um tutor legal deve
do corpo em função da parada dos processos metabólicos e per- assinar o formulário. Pessoas com menos de 18 anos de idade,
da progressiva das fontes energéticas. que vivem longe de casa e sustentam-se por conta própria, são
Livor Mortis (livores ou manchas cadavéricas): é o apare- considerados menores emancipados e assinam o formulário de
cimento de manchas inicialmente rosadas ou violetas pálidas, consentimento. Numa emergência, o cirurgião pode ter que
tornando-se progressivamente arroxeadas. operar sem consentimento. No entanto, a equipe de saúde deve
Putrefação: Estado de grande proliferação bacteriana (pu- se esforçar ao máximo para obter o consentimento por telefone,
trefação). Há liberação de enzimas proteolíticas produzidas pe- telegrama ou fax. Todo enfermeiro deve estar familiarizado com
las bactérias. Os órgãos irão apresentar como uma massa semis- as normas da instituição e com as leis estatais relacionadas aos
sólida, odor muito forte e mudanças de coloração. formulários de consentimento cirúrgico.
Redução esquelética: nela há a completa destruição da pele Os pacientes devem assinar o formulário de consentimento
e musculatura, ficando somente ossos. antes que lhes seja administrado qualquer sedativo pré-opera-
tório. Quando o paciente ou a pessoa designada tiver assinado a
Assistência de enfermagem a pacientes graves e agonizan- permissão, uma testemunha adulta também assina para confir-
tes: A assistência de enfermagem são as mesmas medidas do mar que o paciente ou o indivíduo designado assinou voluntaria-
paciente em estado de coma. mente. Em geral, a testemunha é um membro da equipe de saú-
de ou um empregado do setor de admissão. É responsabilidade
do enfermeiro assegurar que todas as assinaturas necessárias
figurem no formulário de consentimento, e que este se encontre
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PERIOPERATÓRIA no prontuário do paciente antes que ele seja encaminhado ao
centro cirúrgico (CC).
Assistência de Enfermagem perioperatória
O termo Peri operatório é empregado para descrever todo Assistência de enfermagem em centro cirúrgico e centro de
o período da cirurgia, incluindo antes e após a cirurgia em si. material esterilizado
As três fases dos cuidados Peri operatórios são: Pré-operatório, Os cuidados de enfermagem ao paciente cirúrgico variam
Transoperatório e Pós-operatório. de acordo com o tipo de cirurgia e de paciente para paciente,
Pré-Operatório: esse período tem início desde o momento atendendo suas necessidades básicas e suas reações psíquicas
e físicas manifestadas durante este período. Neste capítulo ire-
em que o paciente recebe a indicação da operação e se estende
mos abordar os cuidados gerais indispensáveis a todos os tipos
até a sua entrada no centro cirúrgico. Esse período se divide em
de cirurgia e os cuidados específicos voltados para cirurgias de
duas fases: pré-operatório mediato e pré-operatório imediato.
mão e membro superior e de pé e membro inferior.
Pré-operatório Mediato: começa no momento da indicação
A assistência pré-operatória tem como objetivo proporcio-
da operação e termina 24 horas antes do seu início. Geralmente,
nar uma recuperação pós-operatória mais rápida, reduzir com-
nesse período o paciente ainda não se encontra internado.
plicações, diminuir o custo hospitalar e o período de hospitali-
Neste período mediato, sempre que possível, o cirurgião faz
zação que se inicia na admissão e termina momentos antes da
uma avaliação do estado geral do paciente através de exame
cirurgia, devolvendo o paciente o mais rápido possível ao meio
clínico detalhado e dos resultados de exames de sangue, urina,
familiar.
raios X, eletrocardiograma, entre outros. Essa avaliação tem o
objetivo de identificar e corrigir distúrbios que possam aumen- 1- Assistência de enfermagem pré-cirúrgica geral: abrange
tar o risco cirúrgico. o preparo sócio-psíquico-espiritual e o preparo físico.
Tratando-se de cirurgias eletivas, onde há previsão de trans- Preparo sócio-psíquico-espiritual:
fusão sanguínea, muitas vezes é solicitado ao paciente para pro- − Providenciar a assinatura do termo de responsabilidade,
videnciar doadores saudáveis e compatíveis com seu tipo san- autorizando o hospital a realizar o procedimento
guíneo. Com essa medida pretende-se melhorar a qualidade do − Explicar aos familiares sobre a cirurgia proposta, como o
sangue disponível e aumentar a quantidade de estoque existen- paciente retornará da sala operatória e a importância em apoiá-
te nos hemocentros, evitando sua comercialização. -lo nesse período;
Os cuidados de enfermagem aqui neste período compreen- − Explicar ao paciente sobre a cirurgia, o tipo de anestesia, e
dem os preparos psicoespiritual e o preparo físico. os exames que porventura forem necessários, salientar a impor-
Consentimento cirúrgico: Antes da cirurgia, o paciente deve tância de sua colaboração durante os procedimentos;
assinar um formulário de consentimento cirúrgico ou permissão − Tranquilizá-lo em caso de ansiedade, medo do desconhe-
para realização da cirurgia. Quando assinado, esse formulário cido e de destruição da auto-imagem, ouvir atentamente seu
indica que o paciente permite a realização do procedimento e discurso, dar importância às queixas e seus relatos;
compreende seus riscos e benefícios, explicados pelo cirurgião. - Explicar as condições que irá retornar do centro cirúrgico
Se o paciente não compreender as explicações, o enfermeiro no- (se acordado, com ou sem gesso, etc.) e assegurar que terá sem-
tifica ao cirurgião antes que o paciente assine o formulário de pre um profissional da enfermagem para atendê-lo;
consentimento.  - Promover o entrosamento do paciente com o ambiente
Os pacientes devem assinar um formulário de consentimen- hospitalar, esclarecer sobre normas e rotinas do local, e propor-
to para qualquer procedimento invasivo que exija anestesia e cionar um ambiente calmo e tranquilo e
comporte risco de complicações. - Providenciar ou dar assistência religiosa, caso seja solici-
tada.

67
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Preparo físico: − Promover conforto e segurança através de meio ambien-
− Realizar a consulta de enfermagem, atentando para as te adequado, uso de grades na cansa, imobilização de mãos (se
condições que podem atuar negativamente na cirurgia e refor- agitado);
çando as positivas; − Observar funcionamento e controlar, quando necessário,
- Providenciar e/ou preparar o paciente para exames labo- os líquidos eliminados por sondas, drenos, etc; - Realizar mudan-
ratoriais e outros exames auxiliares no diagnóstico; − Iniciar o ça de decúbito de acordo com a evolução clínica;
jejum após o jantar ou ceia;
- Verificar sinais vitais, notificar ao médico responsável se − Forçar ingesta líquida e sólida assim que a dieta for libe-
ocorreram sinais ou sintomas de anormalidade ou alteração dos rada; − Promover movimentação ativa, passiva e deambulação
sinais vitais; precoces se forem permitidas e houver condições físicas;
- Encaminhar ao banho para promover higiene, trocar de - Trocar curativos;
roupa, cortar as unhas e mantê-las limpas e fazer a barba; - Orientar paciente e a família para a alta, quanto à impor-
− Administrar medicação pré-anestésica, se prescrita; − Rea- tância do retomo médico para controle e cuidados a serem dis-
lizar a tricotomia do membro a ser operado, lavar com água e pensados no domicílio como gesso, repouso, limpeza adequada;
sabão, passar anti-séptico local e enfaixar (se necessário) com - Proporcionar recreação, por exemplo, revistas e TV
bandagens estéreis;
- Remover próteses, jóias, lentes de contato ou óculos, Assistência Pós-cirúrgica específica para o membro supe-
prendedores de cabelo e roupas íntimas; rior:
- Promover esvaziamento vesical, colocar roupa cirúrgi- - Posicionar o membro operado em elevação, entre 60 e
ca apropriada (camisola, toucas),transportá-lo na maca até o 90 graus, apoiados em travesseiros, quando estiver em decúbito
centro cirúrgico com prontuário e exames realizados (inclusive horizontal e, ao deambular, mantê-lo corar tipóia e mão elevada
Raios-X). acima do tórax;
− Observar edema, palidez, cianose ou alteração da tempe-
Assistência pré-cirúrgica específica de mão, membro supe- ratura em extremidades das mãos;
rior e pé: − Realizar limpeza dos artelhos, secando bem os espaços in-
− Exame físico minucioso, atentando para a qualidade e in- terdigitais
tegridade da pele (deverá estar hidratada e lubrificada); - Realizar curativos a cada dois dias em incisão cirúrgica:
− Observar sinais de infecção, inflamação, alergias ou rea- limpeza com solução fisiológica a 0,9%, aplicação tópica de ri-
ções hansênicas; focina spray e oclusão com gaze e atadura. No caso de cirurgia
− Se houver lesões abertas, promover limpeza com solução de enxerto cutâneo, a frequência da troca do curativo da área
fisiológica ou água e sabão e ocluir com gaze e atadura de crepe. doadora será estabelecida conforme a necessidade, isto é, quan-
− Observar perfusão periférica do membro a ser operado; do houver extravasamento de secreção, que varia em torno de
- No caso de cirurgia com enxerto, a pele da região doadora dois a cinco dias. O da área receptora será realizado pelo médico
deverá estar hidratada e lubrificada. Este procedimento inicia-se responsável, geralmente após cinco dias, conforme seu critério,
alguns dias antes, sendo que, horas antes da cirurgia, realizar a utilizando-se algum produto não aderente;
tricotomia e limpeza da pele. Durante o período trans-cirúrgico, − Estando com tala gessada ou somente enfaixado, retirar
o quarto do paciente deverá estar pronto para recebê-lo, equi- a tala ou faixa para curativos, tomando o cuidado de manter o
pado com materiais suficientes como: suporte de soro e bomba mesmo alinhamento do membro superior e mão durante o pro-
de infusão, travesseiros para elevação do membro operado, co- cedimento e recolocar a tala ou a bandagem, obedecendo-se a
bertores, comadre ou papagaio, esfigmo e manômetro, termô- ordem de início da região distal para a proximal;
metro, e demais equipamentos necessários. − Movimentar passivamente e delicadamente as articula-
ções não gessadas;
2 - Assistência pós-cirúrgica geral: − Caso esteja com aparelho gessado, mantê-lo limpo; não
Inicia-se no momento em que o paciente sai do centro cirúr- molhá-lo (durante o banho, protegê-lo coin material plástico, um
gico e retorna à enfermaria. Esta assistência tem como objetivo sanito, por exemplo, e orientá-lo a não deixar entrar água pelo
detectar e prevenir a instalação de complicações pós-operatória bordo superior); observar sinais de garroteamento como edema
e consequentemente obter urna rápida recuperação e palidez ou gesso apertado; ausência ou diminuição da sensibi-
. A assistência pós-cirúrgica consiste em: lidade ou motricidade, sinais de hemorragia como presença de
− Transferir o paciente da maca para a cama, posicioná-lo sangramento no aparelho gessado e odor desagradável;
de acordo com o tipo de cirurgia a que foi submetido e com o − Orientar o paciente a não introduzir objetos em caso de
membro operado elevado; prurido e não retirar algodão do gesso
− Aquecê-lo, se necessário;
− Manter a função respiratória; Assistência Pós-cirúrgica específica para os membros infe-
− Observar nível de consciência, estado geral, quadro de agi- riores:
tação e outros comprometimentos neurológicos; − Realizar cuidados acima citados
− Verificar anormalidades no curativo, como: secreção e − Manter repouso absoluto do membro inferior e posicio-
presença de sangramento; namento elevado, geralmente acima do nível do corpo. Ao en-
− Observar o funcionamento de sondas, drenos, cateteres e caminhá-lo ao banho ou para deambulação, andar com apoio ou
conectá-los às extensões; cadeiras adequadas;
− Controlar e anotar sinais vitais, bem como gotejamento − Se o membro estiver gessado e com salto, aguardar a se-
de soro, sangue ou derivados; - Verificar anotações do centro cagem adequada e a liberação para a deambulação, conforme
cirúrgico) e executar a prescrição médica; orientação médica, alternando a deambulação e o repouso com

68
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
elevação do membro inferior gessado. Caso o aparelho gessado podendo-se, entretanto, aguardar algumas horas para melhor
não contenha salto, isso é indicativo de que a deambulação é avaliação do cliente; as cirurgias programadas ou eletivas, como
proibida; no caso de varizes de membros inferiores, são realizadas com
− Não fletir o membro durante a secagem do gesso; data pré-fixada, enquanto que a maioria das cirurgias plásticas
− Proceder a retirada de pontos cirúrgicos entre sete a dez são optativas por serem de preferência pessoal do cliente.
dias ou depois da retirada do aparelho gessado. A cirurgia também é classificada de acordo com a finalidade:
diagnóstica ou exploratória, quando utilizada para se visualizar
Assistência Pós-cirúrgica especifica em amputação de as partes internas e/ou realizar biópsias (laparotomia explora-
membro inferior: dora); curativa, quando se corrige alterações orgânicas (retira-
- Promover o alívio da dor se houver; da da amígdala inflamada);reparadora, quando da reparação de
− Os amputados experimentam com freqüência dor fantas- múltiplos ferimentos (enxerto de pele); reconstrutora ou cos-
ma ou sensação fantasma. Tais sensações são reais e devem ser mética, quando se processa uma reconstituição (plástica para
aceitas pelo paciente e pelas pessoas que lhe prestam assistên- modelar o nariz, por exemplo); e paliativa, quando se necessita
cia. corrigir algum problema, aliviando os sintomas da enfermidade,
− Apesar da amputação ser uni procedimento de recons- não havendo cura (abertura de orifício artificial para a saída de
trução, a mesma altera a imagem corporal do paciente. O en- fezes sem ressecção do tumor intestinal, por exemplo).
fermeiro deverá estabelecer uma relação de confiança, com a
qual encorajará o paciente a olhar, sentir e a cuidar do membro As cirurgias provocam alterações estruturais e funcionais
residual, tornando-o apto e participante ativo no autocuidado; no organismo do cliente, que precisará de algum tempo para se
− Observar sinais de secreções hemáticas em incisão cirúrgi- adaptar às mesmas.
cas, coloração, temperatura e aspecto da cicatrização; É comum o tratamento cirúrgico trazer benefícios à qua-
− Evitar o edema enfaixando-o sem compressão exagerada lidade de vida da pessoa, mas é importante compreendermos
e não deixar o membro residual pendurado. A pressão excessiva que o tratamento cirúrgico sempre traz um impacto (positivo ou
sobre o membro residual deve ser evitada, pois pode compro- negativo) tanto no aspecto físico como nos aspectos psicoemo-
meter a cicatrização da incisão cirúrgica; cionais e sociais. Com esta compreensão, temos maior chance
− O membro residual não deverá ser apoiado sobre o tra- de realizar uma comunicação interpessoal mais individualizada
vesseiro, o que pode resultarem contratura e flexão do quadril. e prestar ao cliente orientações mais adequadas.
Uma contratura da próxima articulação acima da amputação As reações emocionais guardam relação direta com o “sig-
constitui complicação freqüente. De acordo com a preferência nificado” que o cliente e familiares atribuem à cirurgia, sendo a
do cirurgião, o membro residual poderá ser posicionado em ex- ansiedade pré-operatória a mais frequente.
tensão ou elevação por curto período de tempo após a cirurgia. Por isso, a cirurgia e os procedimentos diagnósticos podem
Deve-se desestimular a posição sentada por períodos prolonga- representar uma invasão física, emocional e psicológica - e em
dos para evitar as contraturas em flexão de quadril e de joelho; algumas cirurgias (amputação da perna) uma invasão social,
− Estimular e ajudar nos exercícios precoces de amplitude. obrigando mudanças no estilo de vida. A aceitação ao tratamen-
O paciente pode utilizar um trapézio acima da cabeça ou um to cirúrgico, apesar do medo da anestesia, da dor, da morte,
lençol amarrado na cabeceira do leito para ajudar a mudá-lo de do desconhecido e da alteração da imagem corporal, está geral-
posição e fortalecer o bíceps. Solicitar orientação ao serviço de mente relacionada à confiança que o cliente deposita na equipe
fisioterapia sobre a adequação dos exercícios ao paciente. profissional e na estrutura hospitalar, daí a importância de es-
tarmos atentos ao tipo de relação interpessoal que especifica-
A sala de cirurgia deve ser equipada com esfigmomanôme- mente temos com este cliente.
tro, monitor de eletrocardiograma, material para entubação tra- O atendimento do cliente cirúrgico é feito por um conjun-
queal, equipamentos para ventilação e oxigenação, aspirador de to de setores interligados, como o pronto-socorro, ambulatório,
secreções, oxímetro de pulso e outros aparelhos especializados. enfermaria clínica ou cirúrgica, centro cirúrgico (CC) e a recupe-
Os equipamentos auxiliares são aqueles que podem ser movi- ração pós-anestésica (RPA).
mentados pela sala, de acordo com a necessidade: suporte de Todos estes setores devem ter um objetivo comum: propor-
hamper e bacia, mesas auxiliares, bisturi elétrico, foco auxiliar, cionar uma experiência menos traumática possível e promover
banco giratório, escada, estrado, balde inoxidável com rodinhas uma recuperação rápida e segura ao cliente. O ambulatório ou
ou rodízios, carros ou prateleiras para materiais estéreis, de pronto-socorro realiza a anamnese, o exame físico, a prescrição
consumo e soluções antissépticas. do tratamento clínico ou cirúrgico e os exames diagnósticos.
Também são necessários diversos pacotes esterilizados con- A decisão pela cirurgia, muitas vezes, é tomada quando o
tendo aventais, “opa” (avental com abertura para a frente), lu- tratamento clínico não surtiu o efeito desejado. O cliente pode
vas de Cirurgia ou operação é o tratamento de doença, lesão ou ser internado um ou dois dias antes da cirurgia, ou no mesmo
deformidade externa e/ou interna com o objetivo de reparar, dia, dependendo do tipo de preparo que a mesma requer.
corrigir ou aliviar um problema físico. O cliente do pronto-socorro é diretamente encaminhado ao
É realizada na sala de cirurgia do hospital e em ambula- centro cirúrgico, devido ao caráter, geralmente, de emergência
tório ou consultório, quando o procedimento for considerado do ato cirúrgico
simples”1 . . O centro cirúrgico é o setor destinado às intervenções ci-
Dependendo do risco de vida, a cirurgia pode ser de emer- rúrgicas e deve possuir a recuperação pós-anestésica para pres-
gência, urgência, programada ou opcional. Por exemplo: nos ca- tar a assistência pós-operatória imediata.
sos de hemorragia interna, a cirurgia é sempre de emergência Após a recuperação anestésica, o cliente é encaminhado à
pois deve ser realizada sem demora; no abdome agudo, o tra- unidade de internação, onde receberá os cuidados pós-operató-
tamento cirúrgico é de urgência, por requerer pronta atenção, rios que visam prevenir a ocorrência de complicação.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Classificação da cirurgia por potencial de contaminação
O número de microrganismos presentes no tecido a ser operado determinará o potencial de contaminação da ferida cirúrgica.
De acordo com a Portaria nº 2.616/98, de 12/5/98, do Ministério da Saúde, as cirurgias são classificadas em:
- limpas: realizadas em tecidos estéreis ou de fácil descontaminação, na ausência de processo infeccioso local, sem penetração
nos tratos digestório, respiratório ou urinário, em condições ideais de sala de cirurgia. Exemplo: cirurgia de ovário;
- potencialmente contaminadas: realizadas em tecidos de difícil descontaminação, na ausência de supuração local, com pene-
tração nos tratos digestório, respiratório ou urinário sem contaminação significativa. Exemplo: redução de fratura exposta;
- contaminadas: realizadas em tecidos recentemente traumatizados e abertos, de difícil descontaminação, com processo infla-
matório mas sem supuração. Exemplo: apendicite supurada;
- infectadas: realizadas em tecido com supuração local, tecido necrótico, feridas traumáticas sujas. Exemplo: cirurgia do reto e
ânus com pus.
Nomenclatura cirúrgica
A nomenclatura ou terminologia cirúrgica é o conjunto de termos usados para indicar o procedimento cirúrgico.
O nome da cirurgia é composto pela raiz que identifica a parte do corpo a ser submetida à cirurgia, somada ao prefixo ou ao
sufixo.
Alguns exemplos de raiz: angio (vasos sangüíneos), flebo (veia), traqueo (traquéia), rino (nariz), oto (ouvido), oftalmo (olhos),
hister(o) (útero), laparo (parede abdominal), orqui (testículo), etc.

Além desses termos, existem as denominações com o nome do cirurgião que introduziu a técnica cirúrgica (Billroth: tipo de
cirurgia gástrica) ou, ainda, o uso de alguns termos específicos (exerese: remoção de um órgão ou tecido)
Estrutura do centro cirúrgico (CC) A unidade de centro cirúrgico destina-se às atividades cirúrgicas e de recuperação anestésica,
sendo considerada área critica no hospital por ser um ambiente onde se realizam procedimentos de risco e que possue clientes com
sistema de defesa deficiente e maior risco de infecção.
A equipe do CC é composta por diversos profissionais: anestesistas, cirurgiões, instrumentador cirúrgico, enfermeiro, técnico
e auxiliar de enfermagem, podendo ou não integrar a equipe o instrumentador cirúrgico e o auxiliar administrativo. Para prevenir
a infecção e propiciar conforto e segurança ao cliente e equipe cirúrgica, a planta física e a dinâmica de funcionamento possuem
características especiais. Assim, o CC deve estar localizado em área livre de trânsito de pessoas e de materiais. Devido ao seu risco,
esta unidade é dividida em áreas:
- Não-restrita - as áreas de circulação livre são consideradas áreas não-restritas e compreendem os vestiários, corredor de
entrada para os clientes e funcionários e sala de espera de acompanhantes. O vestiário, localizado na entrada do CC, é a área onde
todos devem colocar o uniforme privativo: calça comprida, túnica, gorro, máscara e propés.
-Semi-restritas - nestas áreas pode haver circulação tanto do pessoal como de equipamentos, sem contudo provocarem interfe-
rência nas rotinas de controle e manutenção da assepsia. Como exemplos temos as salas de guarda de material, administrativa, de
estar para os funcionários, copa e expurgo. A área de expurgo pode ser a mesma da Central de Material Esterilizado, e destina-se a
receber e lavar os materiais utilizados na cirurgia.
-Restrita - o corredor interno, as áreas de escovação das mãos e a sala de operação (SO) são consideradas áreas restritas dentro
do CC; para evitar infecção operatória, limita-se a circulação de pessoal, equipamentos e materiais.

A sala de cirurgia ou operação deve ter cantos arredondados para facilitar a limpeza; as parede, o piso e as portas devem ser
laváveis e de cor neutra e fosca. O piso, particularmente, deve ser de material condutivo, ou seja, de proteção contra descarga de
eletricidade estática; as tomadas devem possuir sistema de aterramento para prevenir choque elétrico e estar situadas a 1,5m do
piso. As portas devem ter visor e tamanho que permita a passagem de macas, camas e equipamentos cirúrgicos. As janelas devem
ser de vidro fosco, teladas e fechadas quando houver sistema de ar condicionado. A iluminação do campo operatório ocorre através
do foco central ou fixo e, quando necessário, também pelo foco móvel auxiliar. O lavabo localiza-se em uma área ao lado da SO e é
o local onde a equipe cirúrgica faz a degermação das mãos e antebraços com o uso de substâncias degermantes antissépticas, com
a ação mecânica da escovação. As torneiras do lavabo devem abrir e fechar automaticamente ou através do uso de pedais, para
evitar o contato das mãos já degermadas. Acima do lavabo localizam-se os recipientes contendo a solução degermante e um outro,
contendo escova esterilizada.
Após a passagem pelo SO, o cliente é encaminhado à sala de RPA – a qual deve estar localizada de modo a facilitar o transporte
do cliente sob efeito anestésico da SO para a RPA, e desta para a SO, na necessidade de uma reintervenção cirúrgica; deve possibi-
litar, ainda, o fácil acesso dos componentes da equipe que operou o cliente.

70
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Considerando-se a necessidade de se ter materiais em con- A temperatura corporal é obtida e a condição da pele é exa-
dições para pronto uso bem como evitar a circulação desneces- minada, incluindo o pulso periférico, se indicado. O paciente é
sária de pessoal e equipamentos dentro e fora da área do CC, então avaliado quanto ao funcionamento neurológico. O pacien-
recomenda-se a existência de salas específicas para a guarda de te está reativo (despertando da anestesia)? O paciente pode res-
medicamentos, materiais descartáveis, esterilizados, de aneste- ponder aos comandos?
sia e de limpeza, aparelhos e equipamentos e roupa privativa. O paciente está orientado no mínimo quanto a nomes e hos-
Dependendo do tamanho do CC, é também recomendável que pital? O paciente pode movimentar as extremidades? Existem
haja uma sala administrativa, sala de espera para familiares e/ desvios da função neurológica pré-operatória? Alguns procedi-
ou acompanhantes, sala de estar para funcionários e copa. mentos operatórios requerem uma avaliação mais detalhada.
Para avaliar a função renal, a ingesta e a excreta são exami-
ANESTESIA nadas. O líquido total intra-operatório e a estimativa de perda
A fase dos cuidados pós-operatórios imediato começa tão sanguínea são avaliados. Os acessos venosos, infusões e solu-
logo o procedimento cirúrgico seja concluído e o paciente trans- ções de irrigação são anotados. A presença de todos os acessos
ferido para a Unidade de Recuperação Pós-Anestésica (URPA). venosos, drenos e cateteres são anotados; a excreta de urina é
Esta Unidade deve ser adjacente ao centro-cirúrgico, oferecen- anotada quanto à coloração, quantidade e consistência.
do facilidade de acesso. O estado do paciente deve ser avaliado
quanto às necessidades durante a transferência (com oxigênio, Toda informação obtida da avaliação na admissão é anotada
dispositivo manual de pressão negativa, um leito no lugar da no relatório da URPA
maca). A avaliação inicial inclui o registro de:
A permanência do paciente nesta unidade permite rápida 1. Sinais vitais:
convalescença, evita infecções hospitalares, poupa tempo, re- - Pressão arterial;
duz gastos, ameniza a dor e aumenta a sobrevida do mesmo. - Pulso;
Este é o período mais crítico da recuperação do paciente, - Temperatura;
por isso, vários cuidados de enfermagem são dispensados a ele - Respiração
com as seguintes dificuldades: prestar assistência intensivista
até a total recuperação dos reflexos, assistir o paciente inte- 2. Nível de consciência
gralmente, proporcionando segurança e retorno rápido às suas 3. Leitura da pressão venosa central (PVC) se indicado;
atividades normais, prevenir complicações, e em alguns casos, 4. Posição do paciente;
auxiliar na reabilitação e na adaptação do paciente às novas con- 5. Condição e coloração da pele;
dições resultantes da operação, como é o caso, por exemplo, da 6. Necessidade de segurança do paciente;
colostomia, da mastectomia, e da amputação, entre outras. 7. Neurovascular: pulso periférico e sensação nas extremi-
O Enfermeiro assume os cuidados do paciente após uma dades quando possível;
avaliação inicial e um relato da equipe de transferência; deve 8. Condições de curativos ou linhas de sutura;
sistematizar o registro das informações, mantendo vínculo ativo 9. Tipo, perviedade e fixação dos tubos de drenagem, cate-
com os profissionais de saúde, além de oferecer à equipe de en- teres e recipientes;
fermagem condições para atuar com o cliente de maneira efeti- 10. Quantidade e tipo de drenagem;
va, planejada e segura. 11. Resposta muscular e força;
O histórico de enfermagem inicial do paciente pós-opera- 12. Resposta pupilar quando indicado;
tório começa com a determinação da avaliação imediata da via 13. Terapia venosa: localização, condição, fixação e quanti-
aérea e circulatória adequada. A via aérea é avaliada quanto à dade de soluções infundidas em acessos venosos (inclusive san-
perviedade, oxigênio umidificado é aplicado e a frequência res- gue e derivados);
piratória contada. É iniciada a oximetria de pulso em todos os 14. Nível de suporte físico e emocional;
pacientes, e a qualidade dos sons respiratórios é determinada. 15. Escore numérico de escala utilizada na unidade.
O paciente é então conectado ao monitor cardíaco, e a fre-
quência cardíaca e ritmo são avaliados, assim como a verificação A rotina em algumas instituições da frequência da verifica-
da pressão arterial. ção dos sinais vitais bem como seu estado geral dá-se a cada
quinze minutos na primeira hora de chegada do paciente a
Avaliação inicial URPA; a cada trinta minutos na segunda hora e a cada hora nas
Após a avaliação imediata e completados os registros, ini- horas subsequentes até a liberação deste para a unidade de in-
cia-se uma avaliação mais completa pós-anestesia. A avaliação ternação de origem.
é realizada rapidamente e é específica para o tipo de procedi-
mento cirúrgico. Assistência Pré Operatória
Em alguns casos, o enfermeiro da URPA avalia os sinais vitais A cirurgia, seja ela eletiva ou de emergência, é um evento
na admissão e inicia a avaliação pelo sistema respiratório. A ava- estressante e complexo para o paciente. Muitos dos procedi-
liação respiratória consiste em frequência, ritmo, ausculta dos mentos cirúrgicos são realizados na sala de operação do hos-
sons respiratórios e o nível de saturação do oxigênio. A presença pital, embora muitos procedimentos simples que não precisam
de uma via aérea artificial e o tipo de sistema de liberação de de hospitalização sejam feitos em centros cirúrgicos e unidades
oxigênio são anotados. ambulatoriais de cirurgia. Pacientes com problemas de saúde
O sistema cardiovascular é avaliado pela monitorização da que cujo tratamento envolve uma intervenção cirúrgica, geral-
frequência e ritmo cardíacos. A pressão arterial inicial do pacien- mente se submetem a uma cirurgia. Tal procedimento envolve a
te é comparada para uma ou mais leituras do pré-operatório. administração de anestesia local, regional ou geral, aumentando
assim o grau de ansiedade do paciente o que provoca alterações

71
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
emocionais decorrentes do anúncio do diagnóstico cirúrgico. - diérese - utilizados para cortar, tais como o bisturi, tesou-
Isto causa, portanto situações desagradáveis no estado biópsi- ras, trépano;
co sócio espiritual do paciente, acarretando problemas graves - hemostáticos - auxiliam a estancar o sangramento, tais
podendo chegar à suspensão da cirurgia ou até mesmo óbito do como as pinças de Kelly, Kocher, Rochester;
paciente. - síntese cirúrgica - geralmente utilizados para fechamento
Com o aumento considerável de complicações no préopera- de cavidades e incisões, sendo o mais comum a agulha de sutu-
tório é exigido da enfermagem um sólido conhecimento sobre ra presa no porta-agulha; ! apoio ou auxiliares - destinam-se a
todos os aspectos do cuidado do paciente cirúrgico. Não mais o auxiliar o uso de outros grupos de instrumentais, destacando-se
conhecimento sobre a enfermagem préoperatória e pósopera- o afastador Farabeuf para afastar os tecidos e permitir uma me-
tória é suficiente devendose ter uma compreensão plena sobre lhor visualização do campo operatório e a pinça anatômica para
a atividade intraoperatória. Surge a visita préoperatória (VPO) auxiliar na dissecção do tecido; especiais - aqueles específicos
de enfermagem do Centro Cirúrgico, que consiste em acompa- para cada tipo de cirurgia, como, por exemplo, a pinça gêmea
nhar o paciente não só no Centro Cirúrgico, mas durante toda a de Abadie, utilizada nas cirurgias do trato digestivo. Os fios ci-
sua estadia no hospital desde a sua internação à alta após a ci- rúrgicos apresentam-se com ou sem agulhas, e sua numeração
rurgia, devendo a enfermagem ficar atenta a todas as alterações varia de 1 a 5 e de 0-0 a 12-0 (doze-zero). São classificados em
que poderão surgir e atuar na recuperação plena do paciente. absorvíveis e não-absorvíveis.

O CUIDADO DE ENFERMAGEM NO TRANS-OPERATÓRIO Pós operatório


O período trans-operatório compreende o momento de re- O pós-operatório inicia-se a partir da saída do cliente da sala
cepção do cliente no CC e o intra-operatório realizado na SO. de operação e perdura até sua total recuperação. Subdivide-se
em pósoperatório imediato (POI), até às 24 horas posteriores à
Montagem da sala cirúrgica cirurgia; mediato, após as 24 horas e até 7 dias depois; e tardio,
O auxiliar de enfermagem desempenha a função de circu- após 7 dias do recebimento da alta. Nesta fase, os objetivos do
lante da sala cirúrgica, que também pode ser exercida pelo téc- atendimento ao cliente são identificar, prevenir e tratar os pro-
nico em enfermagem, quando necessário. Ao receber a lista de blemas comuns aos procedimentos anestésicos e cirúrgicos, tais
cirurgia, o circulante da sala verifica os materiais, aparelhos ou como dor, laringite pós- entubação traqueal, náuseas, vômitos,
solicitações especiais à mesma. Para prevenir a contaminação e retenção urinária, flebite pós-venóclise e outros, com a finalida-
infecção cirúrgica, é importante manter a sala em boas condi- de de restabelecer o seu equilíbrio
ções de limpeza, observar se o lavabo está equipado para uso Idealmente, todos os clientes em situação de POI devem
e lavar as mãos. Portanto, antes de equipar a sala, o circulante ser encaminhados da SO para a RPA e sua transferência para a
limpa os equipamentos com álcool etílico a 70% ou outro desin- enfermaria ou para a UTI só deve ocorrer quando o anestesista
fetante recomendado, deixando-os prontos para a recepção do considerar sua condição clínica satisfatória.
cliente e equipe cirúrgica. ambiente do CC oferece ao mesmo, já A RPA é a área destinada à permanência preferencial do
submetido a um estresse físico e exposição dos órgãos e tecidos cliente imediatamente após o término do ato cirúrgico e anesté-
ao meio externo; daí a importância do uso de técnicas assépticas sico, onde ficará por um período de uma a seis horas para pre-
rigorosas. venção ou tratamento de possíveis complicações
. Neste local aliviará a dor pós-operatória e será assistido
Tempo cirúrgico até a volta dos seus reflexos, normalização dos sinais vitais e
Abrange, de modo geral, a seqüência dos quatro procedi- recuperação da consciência. Considerando tais circunstâncias,
mentos realizados pelo cirurgião durante o ato operatório. Ini- este setor deve possuir equipamentos, medicamentos e mate-
cia-se pela diérese, que significa dividir, separar ou cortar os te- riais que atendam a qualquer situação de emergência, tais como:
cidos através do bisturi, bisturi elétrico, tesoura, serra ou laser; - equipamentos básicos: cama/maca com grades laterais de
em seguida, se faz a hemostasia, através de compressão direta segurança e encaixes para suporte de solução, suporte de solu-
com os dedos, uso de pinças, bisturi elétrico (termocautério) ção fixo ou móvel, duas saídas de oxigênio, uma de ar compri-
ou sutura para prevenir, deter ou impedir o sangramento. Ao mido, aspirador a vácuo, foco de luz, tomadas elétricas, monitor
se atingir a área comprometida, faz-se a exérese, que é a cirur- cardíaco, oxímetro de pulso, esfigmomanômetro, ventiladores
gia propriamente dita. A etapa final é a síntese cirúrgica, com a mecânicos, carrinho com material e medicamentos de emergên-
aproximação das bordas da ferida operatória através de sutura, cia;
adesivos e/ou ataduras. - Materiais diversos: máscaras e cateteres de oxigênio, son-
das de aspiração, luvas esterilizadas, luvas de procedimentos,
Instrumentais e fios cirúrgicos medicamentos, frascos de solução, equipos de solução e de
Auxiliam a equipe cirúrgica durante a operação, mas para transfusão sangüínea, equipos de PVC (pressão venosa central),
isso é necessário que a equipe de enfermagem ofereça-os em material para sondagem vesical, pacote de curativo, bolsas co-
perfeitas condições de uso e no tamanho correto. O instrumen- letoras, termômetro, material de coleta para exames e outros
tador cirúrgico é o profissional responsável por prever os ma- porventura necessários.
teriais necessários à cirurgia, bem como preparar a mesa com
os instrumentais, fios cirúrgicos e outros materiais necessários, Cuidados de enfermagem no pósoperatório imediato (POI)
ajudar na colocação de campos operatórios, fornecer os instru- Este período é considerado crítico, considerando-se que o
mentais e materiais à equipe cirúrgica e manter a limpeza e pro- cliente estará, inicialmente, sob efeito da anestesia geral, ra-
teção dos instrumentais e materiais contra a contaminação. quianestesia, peridural ou local. Nessa circunstância, apresenta-
Os instrumentais cirúrgicos são classificados de acordo com -se bastante vulnerável às complicações. Assim, é fundamental
sua função: que a equipe de enfermagem atue de forma a restabelecer-lhe

72
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
as funções vitais, aliviar-lhe a dor e os desconfortos pós-opera- Assim, a participação do enfermeiro no Centro Cirúrgico
tório (náuseas, vômitos e distensão abdominal), manter-lhe a tem merecido atenção por envolver especificidades e articula-
integridade da pele e prevenir a ocorrência de infecções. ções indispensáveis à gerência do cuidado a pacientes com ne-
cessidades complexas, que requerem conhecimento científico,
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) para manejo tecnológico e humanização extensiva a familiares, pelo
pacientes com alterações clínicas e cirúrgicas. impacto que o risco cirúrgico propicia (HENRIQUES, COSTA, LA-
A assistência de enfermagem é uma das principais ações no CERDA, 2016).
cuidado da saúde do paciente. Assim, a Sistematização da Assis- O estudo Henrique, Costa e Lacerda (2016) demonstrou que
tência de Enfermagem (SAE) normatizada pelo Conselho Federal ainda há muito a percorrer nos caminhos da segurança efetiva
de Enfermagem (CFE), a Resolução n. 358/2009, preconiza que para o paciente no período perioperatório, uma vez que encon-
deve ser implantada no setor público e privada (BRASÍLIA, 2009, traram muitos entraves que, de certa forma, desfavorecem a se-
p. 317). gurança do paciente. Assim, as reflexões sobre a segurança do
Existem atualmente diferentes maneiras de sistematizar a paciente e os processos do Centro Cirúrgico precisam ser apro-
assistência de enfermagem, entre elas pode-se mencionar os fundadas, necessitando-se de novos estudos acerca do tema
planos de cuidados, os protocolos, a padronização de procedi- para novas discussões e busca de melhores práticas.
mentos e o processo de enfermagem. Visto que a SAE direciona Estudos recentes de revisão integrativa revelam que, com
a atuação do enfermeiro no exercício de suas atividades profis- base nas diversas necessidades específicas das funções do
sionais e facilita o desenvolvimento da assistência ao paciente. profissional, na assistência ao paciente cirúrgico é importante
Neste contexto, a implantação de um método para sistematizar melhorar a qualidade da assistência de enfermagem. É preciso
a assistência de enfermagem deve ter como premissa um pro- lembrar que a evolução cirúrgica e novas descobertas de tec-
cesso individualizado, holístico, planejado, contínuo, documen- nologias auxiliam significativamente a enfermagem avançar na
tado e avaliado (VASCONCELOS, BORGES, BOHRER, et al. 2017). assistência no Centro Cirúrgico (ADAMY; TOSATTI, 2012, p.301).
No Brasil, Wanda de Aguiar Horta foi à primeira teórica a
apresentar estudos sobre o tema. Ela propôs a sistematização Importância da implantação da SAE para a organização do
das ações de Enfermagem, por meio da aplicação do Processo de centro cirúrgico
Enfermagem, o que contribuiu para o registro e documentação Neste sentido os estudos de Adami, Tosati (2012) tiveram
de ocorrências e procedimentos realizados por integrantes da
o objetivo de avaliar implantação da (SAE) no período periope-
equipe de Enfermagem, para a análise e organização do cuidado
ratório de um Hospital do Oeste de Santa Catarina, sob a visão
prestado e, para o reconhecimento social da profissão (BOTE-
da equipe de enfermagem os autores constataram que, a insti-
LHO, VELOSO, FAVERO, 2013).
tuição deve viabilizar estratégias que culminam para uma SAE
efetiva e com resultados mais satisfatórios tendo em vista que
A SAE trata-se de um valioso instrumento para assistência
ela oferece Segurança/ paciente; registros de enfermagem mais
do paciente de forma integralizada, contínua, segura e humani-
precisos; organização das atividades de enfermagem.
zada pela enfermagem, sendo composta por cinco fases: visita
Segundo Santos e Rennó (2013), a SAE surgiu no centro ci-
pré-operatória de enfermagem, planejamento, implementação,
rúrgico com o objetivo de capacitar funcionários para atender
avaliação e reformulação da assistência a ser planejada (RIBEI-
RO, FERRAZ, DURAN, 2017). as necessidades da equipe médica, como no preparo da sala de
Nessa linha de pensamento, a SAE atua no sentido de con- cirurgia, dos materiais e equipamentos hospitalares necessários
duzir e organizar o trabalho da equipe de enfermagem conforme durante o procedimento. A preocupação com a qualidade pres-
os recursos humanos, instrumentos e método, facilitando o tra- tada ao paciente é um marco no mercado competitivo, pois cada
balho do enfermeiro. Ainda, tem sua definição no planejamento vez mais busca-se assistências eficientes prestada ao indivíduo,
e ordenação da execução das atividades com enfoque coletivo e satisfação da clientela e a redução dos custos hospitalares.
individual e de caráter privativo do enfermeiro (PENEDO, SPIRI, A SAE constitui nos dias atuais um importante instrumento
2014). inerente ao processo de trabalho do enfermeiro, que possibi-
Neste sentido, o Processo de Enfermagem se constitui em lita a ampliação de ações que modificam o processo de vida e
ação revestida de significados, possível de ser utilizada pelos de saúde-doença dos pacientes. Deste modo, a sistematização
enfermeiros enquanto metodologia para prestação de cuida- permite a obtenção de resultados pelos quais o enfermeiro é
dos; entretanto, apresenta desafios para sua implementação. responsável, como a organização do serviço, especialmente no
A enfermagem se utiliza da sistematização da assistência de centro cirúrgico (MELO, NUNES, VIANA, 2014).
enfermagem como um modelo de processo de trabalho que Assim, sua implantação, proporciona cuidados individualiza-
possibilita sistematizar a assistência e direcionar o cuidado, dos, assim como norteia o processo decisório do enfermeiro nas
contribuindo para a segurança do usuário e dos profissionais no situações de gerenciamento da equipe de enfermagem, oportu-
sistema de saúde especialmente em Centro Cirúrgico (PENEDO, niza avanços na qualidade da assistência, o que impulsiona sua
SPIRI, 2014). adoção nas instituições que prestam assistência à saúde ((SILVA,
No hospital, o Centro Cirúrgico (CC) é o local onde acontece GARANHANI, PERES, 2015)
grande parte dos eventos adversos à saúde dos pacientes. Sua A implantação da SAE com base em um conhecimento espe-
causa é multifatorial e atribuída à complexidade dos procedi- cífico e de uma reflexão crítica acerca da organização do traba-
mentos, à interação das equipes interdisciplinares e ao trabalho lho de enfermagem juntamente com a coleta de dados, tem-se
sob pressão, pois, apesar de as intervenções cirúrgicas integra- um instrumento de fundamental importância para que o profis-
rem a assistência à saúde, contribuindo para a prevenção de sional possa gerenciar a assistência de enfermagem de forma
agravos à integridade física e à perda de vidas, estão associadas, organizada, segura, dinâmica e competente (SILVA, GARANHA-
consideravelmente, aos riscos de complicações (HENRIQUES, NI, PERES, 2015).
COSTA, LACERDA, 2016).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Fitzsimmon et al., (2007, p. 798) dizem que “como parte
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTES COM da equipe multidisciplinar, a enfermeira desempenha um papel
ALTERAÇÕES DA FUNÇÃO CARDIOVASCULAR E CIRCU- central no cuidado ao paciente durante a doença. Ela participa
LATÓRIA; DIGESTIVA E GASTROINTESTINAL; METABÓ- no diagnóstico, tratamento e cuidado de acompanhamento do
LICA E ENDÓCRINA; RENAL E DO TRATO URINÁRIO; paciente”.
REPRODUTIVA; TEGUMENTAR; NEUROLÓGICA; MÚS- A prevenção do aumento da PIC, ou hipertensão intracrania-
CULOESQUELÉTICA na, é uma função de primordial importância para a enfermagem
ao cuidar de um paciente com lesão neurológica. Em primeiro
Cuidados de enfermagem ao paciente com problemas nos lugar, é essencial que a enfermeira realize uma avaliação neu-
sistemas orgânicos neurológico, respiratório, cardiovascular, rológica basal no paciente, sobre a qual possa ser analisado se
digestório, renal, urológico, ginecológico, endócrino,hemato- houver uma piora adicional. Em termos gerais, o aumento da PIC
lógico, musculoesquelético e dermatológico. manifesta-se por comprometimento geral de todos os aspectos
da função neurológica (HILTON, 2007, p. 775).
Pacientes com Problemas Neurológicos O nível de consciência diminui à medida que a PIC se eleva.
As doenças neurológicas podem ter diferentes origens: he- Inicialmente, o paciente pode evidenciar inquietação, confusão
reditária/genética ou congênita, ou seja, dependente de um e combatividade. Isso descompensa, então, os níveis inferio-
distúrbio do desenvolvimento embrionário ou fetal do sistema res de consciência, variando da letargia até a obnubilação e ao
Nervoso Central ou Periférico; adquirida ao longo dos diferentes coma. As reações pupilares começam a diminuir, com pupilas
períodos da vida, desde a fase neonatal até à velhice. lentamente reativas até chegarem a pupilas fixas e dilatadas. O
Segundo O’Sullivan e Schmitz, (2004 apud ANDRADE et al., exame pupilar deve ser realizado e deve incluir o tamanho e si-
2010, p. 156), o “paciente com sequelas neurológicas apresenta metria (comparação do lado Direito e Esquerdo), fotorreação e
uma série de alterações orgânicas e psíquicas em decorrência da simetria. A agitação, as contraturas musculares, os tremores e
não aceitação da doença e, consequente, não aceitação do seu relacionar a presença de cefaleia com variações de PA.
corpo, visualizado como representante desta condição”. A função motora também declina e o paciente começará a
Os distúrbios neurológicos comumente causam lesões tem- mostrar atividade motora anormal, presença de flexão ou exten-
porárias ou permanentes que prejudicam o individuo em suas são anormal. Os achados tardios são alterações nos sinais vitais.
funções tornando-o um dependente parcial ou total de outras As variações nos padrões respiratórios são evidenciadas, mais
pessoas. Eles podem limitar de modo significativo o desempe- tarde como apneia total. A tríade de Cushing “descreve os três
nho funcional do indivíduo, com consequências negativas nas sinais tardios da herniação: aumento da Pressão Arterial Sistó-
relações pessoais, familiares, sociais e, sobretudo na qualidade lica, redução da frequência cardíaca e um padrão respiratório
de vida. irregular. O alargamento da pressão de pulso também está asso-
Para Oliveira (2004 apud RESENDE et al., 2007 p. 165), as ciado à herniação” (ZINK, 2007, p. 856).
incapacidades funcionais podem “desestruturar as bases do in-
divíduo, interferir no desempenho de regras e papéis sociais, na Outro item a ser avaliado é a presença de convulsões, pois
independência e habilidade para realizar tarefas essenciais à sua estas indicam inicio das alterações agudas no SNC. Elas devem
vida, na capacidade afetiva e capacidade de realizar atividades
ser observadas e acompanhadas quanto à hora de início e tér-
profissionais”.
mino, onde começaram os movimentos ou rigidez, tipo de movi-
Leva-se em consideração que a neurocirurgia também é um
mento da parte comprometida.
dos fatores que colaboram para o agravamento dessas incapa-
As intervenções de Enfermagem para tratar a PIC elevada
cidades. Fitzsimmon et al. (2007, p. 809) afirmam que “durante
incluem a manutenção do alinhamento corporal, evitar mudar a
o curso da doença, muitos pacientes com afecções neurológicas
posição lateral da cabeça de forma brusca e a flexão ostensiva
exigem tratamento em ambiente de cuidados críticos”. Estes
do quadril, para evitar o aumento da pressão intra-abdominal.
procedimentos neurocirúrgicos envolvem uma internação de
A rotação lateral da cabeça também pode causar compressão
duração curta na Unidade de terapia Intensiva (UTI).
da veia jugular diminuindo ou cessando a drenagem do sangue
A cirurgia neurológica é indicada para diversos distúrbios
neurológicos. Ela é parte integrante do tratamento de pacientes venoso.
neurológicos, dentre eles: tumores cerebrais, malformações ar- O enfermeiro ao cuidar do paciente neurológico deve es-
teriovenosas e aneurismas. tar sempre atento, pois o seu quadro pode alterar rapidamente
Para uma assistência de qualidade na Unidade de Terapia e ele deve saber lidar com as intercorrências, não pode estar
Intensiva, o enfermeiro se faz necessário, já que segundo o Con- só atento ao monitor. O enfermeiro deve ter o cuidado com a
selho Federal de Enfermagem (COFEN, 2004), existe a “obrigato- elevação da cabeceira do paciente, com o período de troca dos
riedade de haver Enfermeiros em todas as unidades de serviços cateteres, com as anotações dos parâmetros registrados (PAM,
nos quais são desenvolvidas ações de Enfermagem que envol- PIC, Relação P / F, entre outros) pelos equipamentos, assim
vam procedimentos de alta complexidade, comuns na assistên- como os horários e aprazamentos dos medicamentos adminis-
cia a pacientes críticos/potencialmente críticos”. trados ao paciente, sem esquecer-se das coletas de sangue para
O enfermeiro que possui conhecimento técnico-científico gasometria e principalmente oferecer uma assistência humani-
possui autonomia para lidar com o paciente neurológico e atra- zada, sem medos e receios de complicações, mas com confiança
vés desta pode tomar decisões, realizar intervenções e diagnósti- e conhecimento para enfrenta-las.
cos de enfermagem. Ele se vê diante de situações que requerem Os pacientes com lesões neurológicas podem apresentar os
o mínimo de raciocínio clínico para solucionar problemáticas. distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico por diversos motivos,
Por assim dizer, o enfermeiro necessita sempre buscar aprofun- como administração de diuréticos osmóticos, aumento da perda
dar e ampliar, seus conhecimentos na sua área de atuação, sem hídrica insensível e disfunção pituitária, gerando distúrbios de
esquecer o enfoque interdisciplinar e/ou multidimensional. sódio. A enfermeira de cuidados críticos deve levar em conside-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
ração todas as variáveis quando examina o paciente. Ela deve O instrumento para a realização do cuidado é o processo de
observar e avaliar constante os níveis de oxigenação para que o cuidar2, mediante uma ação interativa entre o enfermeiro e o
paciente aumente os níveis de oxigenação sanguínea e cerebral, paciente. Nele, as atividades do profissional são desenvolvidas
a perfusão para perceber se há isquemia miocárdica, a PIC, a “para” e “com” o paciente, ancoradas no conhecimento cien-
PAM e a PPC para prevenir lesões cerebrais, monitorar os níveis tífico, habilidade, intuição, pensamento crítico e criatividade e
de eletrólitos séricos e registrar rigorosamente a ingesta e o dé- acompanhadas de comportamentos e atitudes de cuidar/cuida-
bito do paciente com intuito de mantê-los dentro do nível de do no sentido de promover, manter e/ou recuperar a totalidade
estabilidade pré-estabelicido (ZINK, 2007, p. 865). e a dignidade humana.
O desenvolvimento do cuidado ocorre nas suas mais dife-
Pacientes com Problemas Respiratórios rentes especialidades e, neste estudo, abordará o processo de
Seja qual for a patologia que leve o paciente à Unidade de cuidar ao paciente crônico cardíaco.
Terapia Intensiva, ele estará sujeito à insuficiência no sistema O paciente adulto crônico cardíaco apresenta comprometi-
respiratório. Isto se comprova pelo alto índice, nas Unidades de mento de seu todo harmônico, seu estado de saúde está altera-
Terapia Intensiva, de pacientes com insuficiência respiratória do, pois começa a sentir que a força física e a força do coração
como causa primária da internação, ou secundária em pacientes estão diminuídas. Surge a aterosclerose nos vasos sanguíneos,
já internados devido a outras afecções. ocorre a perda do tecido ósseo, e há carência na autoestima3.
Insuficiência Respiratória existe quando um paciente não é Nessa fase, o doente pode apresentar limitações emocionais,
capaz de manter as tensões de seus gases sanguíneos dentro financeiras, perdas pessoais e sociais e precisará aprender a ad-
dos limites normais. ministrar o seu tratamento efetivo. Nessas circunstâncias, quan-
O tipo de insuficiência respiratória encontrada em UTI tem do ele se encontra fragilizado, é que o enfermeiro assume um
evolução relativamente rápida, ao contrário da deterioração papel importante e muito expressivo para com ele, no sentido
gradual das doenças respiratórias crônicas. Ela resulta da inca- de ajudá-lo não só a enfrentar as dificuldades em torno da doen-
pacidade progressiva do sistema respiratório remover dióxido ça, mas também de cuidá-lo nas suas necessidades de seguran-
de carbono do sangue venoso e de adicionar oxigênio a ele, por ça, carinho e autoconfiança. Desse modo, é importante que o
um período que varia desde alguns momentos até alguns dias. enfermeiro compreenda que os pacientes portadores de doença
Alguns fatores podem ser considerados como predisponen- crônica requerem, do profissional, um raciocínio clínico e crítico
tes à insuficiência respiratória: obesidade, idade avançada e constante, pois uma simples preocupação que apresentem pode
exacerbação da doença pulmonar crônica (enfisema, bronquite colocar em risco suas vidas.
crônica). Estas causas primárias são agravadas pelo uso de dro- O enfermeiro tem uma função fundamental na equipe de
gas anestésicas, por lesão da caixa torácica ou distensão abdo- saúde, já que, por meio da avaliação clínica diária do paciente,
minal, levando a alterações ventilatórias. Além disso, a dor e a poderá realizar o levantamento dos vários fenômenos, seja na
imobilização contribuem muito para a instalação do processo de aparência externa ou na subjetividade da multidimensionalida-
atelectasia. de do ser humano. Igualmente poderá providenciar para que o
A Abordagem de vias aéreas pela Cânula orofaríngea É um paciente seja atendido nos mais diferentes segmentos da equipe
método rápido e prático de se manter a via aérea aberta, poden- de saúde e/ou de enfermagem.
do ser utilizado temporariamente em conjunto com ventilação A Organização Mundial de Saúde, em seu documento “Cui-
com máscara, enquanto se aguarda um método definitivo, como dados inovadores para as condições crônicas”, enfatiza que o
por exemplo a intubação endotraqueal. paciente portador de doença crônica carece de cuidados plane-
A cânula de Guedel tem forma semicircular, geralmente é jados, capazes de prever suas necessidades básicas e proporcio-
de material plástico e descartável e, quando apropriadamente nar atenção integrada. Essa atenção envolve tempo, cenário da
colocada, desloca a língua da parede posterior da faringe, man- saúde e cuidadores, além de treinamentos para que o paciente
tendo a via respiratória aberta. Pode também ser utilizada no aprenda a cuidar de si mesmo em sua residência. O paciente e
paciente com tubo traqueal, evitando que o reflexo de morder seus familiares precisam de suporte, de apoio para a prevenção
cause dano ao tubo. ou administração eficaz dos eventos crônicos4
O paciente nunca deve ser deixado sozinho e deve estar Diante do exposto, optou-se por investigar como os enfer-
localizado de forma a ser visualizado continuamente, pois al- meiros conduzem a prática de cuidar ao portador de doença crô-
terações súbitas podem ocorrer, levando à necessidade de ser nica cardíaca, a partir da composição de seu método de cuidar.
reavaliada a modalidade respiratória à qual o mesmo está sendo Para atender esse questionamento, os objetivos da pesquisa
submetido. foram: identificar os elementos do processo de cuidar realiza-
O paciente entubado perde suas barreiras naturais de de- do pelo enfermeiro ao portador de doença crônica cardíaca e
fesa das vias aéreas superiores. Além disso, a equipe de saúde, descrever os elementos evidenciados no processo de cuidar em
através das suas mãos e do equipamento respiratório, constitui enfermagem ao portador de doença crônica cardíaca.
a maior fonte de contaminação exógena.
Pacientes com Problemas Digestórios
Pacientes com Problemas Cardiovasculares O trato gastrointestinal é o trajeto (7,5 a 8,5 m de compri-
O cuidado faz parte da vida do ser humano desde os pri- mento total) que se estende da boca através do esôfago, estô-
mórdios da humanidade, como resposta ao atendimento às suas mago, intestino e ânus.
necessidades. Para realizar o cuidado, o enfermeiro, como mem- • Anexos: glândulas salivares (amilase), pâncreas (suco pan-
bro integrante da equipe multidisciplinar, utiliza um conjunto creático) e fígado (bile);
de conhecimentos que possibilita a busca de resolutividade às • Esôfago 25 cm de comprimento;
respostas dos fenômenos de saúde, definidos pelo Internacional • Estômago capacidade aproximadamente 1.500 ml (cárdia,
Council of Nurses1 como aspectos de saúde relevantes à prática fundo, corpo, piloro) - esfíncter esofagiano inferior ou esfíncter
de Enfermagem. cardíaco (entrada) e esfíncter pilórico (saída);

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
• Intestino delgado maior segmento 2/3 do total do compri- tômago por um tempo variado, de meia hora até muitas horas,
mento do trato GI; dependendo do tamanho das partículas alimentares, composi-
• Duodeno parte superior (esvaziamento da bile e secreções ção da refeição e outros fatores.
pancreáticas através do canal biliar comum na ampola de Vater); Ação do intestino delgado - O processo digestivo continua
• Jejuno: parte mediana; no duodeno. As secreções duodenais procedem:
• Íleo: parte inferior; • Do pâncreas (suco pancreático 1 litro/dia): enzimas diges-
• Ceco junção entre o intest. delgado e grosso (porção in- tivas, incluindo a tripsina q/ ajuda na digestão de proteínas, a
ferior direita do abd), onde se encontra a válvula íleocecal q/ amilase q/ ajuda na digestão do amido e a lipase q/ ajuda na di-
funciona no controle da passagem dos conteúdos intestinais no gestão das gorduras. A secreção pancreática tem um pH alcalino
intest. grosso e previne o refluxo de bactérias p/ o intest. delga- devido à sua alta concentração de bicarbonato;
do. É nesta área q/ o apêndice vermiforme está localizado; • Do fígado (500 ml/dia de bile): a bile secretada pelo fígado
• Intestino Grosso Ascendente / Transverso / Descendente e armazenada na vesícula biliar ajuda na emulsificação das gor-
/ cólon sigmóide / reto; duras ingeridas, facilitando a sua digestão e absorção;
• Ânus esfíncter anal interno e externo. • Das glândulas intestinais (3 litros/ dia secreção das glân-
dulas intestinais): as secreções consistem em muco, que recobre
O trato GI recebe o suprimento sanguíneo de muitas arté- as cs e protege a mucosa do ataque do ácido hidroclorídrico,
rias que se originam ao longo de toda a extensão da aorta torá- hormônios, eletrólitos e enzimas. Os hormônios, neurorregula-
cica e abdominal. As principais são a artéria gástrica (estômago) dores e reguladores locais encontrados nessas secreções intes-
e as artérias mesentéricas superior e inferior (intestino). tinais controlam a taxa de secreção intestinal e também influen-
O sangue é drenado desses órgãos pelas veias que se fun- ciam a motilidade GI.
dem com outras no abdômen para formar um grande vaso, cha-
mado veia porta. É um sangue rico em nutrientes que é levado Ação colônica - Cerca de 4 hs após a alimentação, o mate-
ao fígado. O fluxo sanguíneo para todo o trato GI é cerca de 20% rial residual passa pelo íleo terminal e, lentamente, pela por-
de todo o débito cardíaco e aumenta significativamente após a ção terminal do cólon, através da válvula íleocecal. A cada onda
alimentação. peristáltica do intestino delgado, a válvula se abre rapidamente
O TGI é inervado pelo SNA simpático e parassimpático. permitindo q/ um pouco do conteúdo passe para o cólon. A po-
SNA parassimpático - libera acetilcolina que: aumenta ati- pulação bacteriana é o principal componente do conteúdo do
vidade do TGI, aumenta movimentos peristálticos, aumenta tô- intestino grosso. As bactérias ajudam no término da degradação
nus. do material residual e sais biliares.
SNA simpático - libera noradrenalina que: diminui atividade Uma atividade peristáltica fraca impulsiona o conteúdo co-
do TGI, diminui movimentos peristálticos, diminui tônus. lônico lentamente ao longo do trato. Este lento transporte per-
mite uma eficiente absorção de água e eletrólitos. O material
O processo digestivo residual de uma refeição eventualmente atinge e distende o
Todas as células do organismo requerem nutrientes. Esses reto, geralmente em cerca de 12 horas. Cerca de 1/4 do mate-
nutrientes derivam da ingesta alimentar contendo: proteína, rial residual de uma refeição pode permanecer no reto três dias
gordura, carboidratos, vitaminas e minerais, assim como fibras após a refeição ter sido ingerida.
de celulose e outras matérias vegetais sem valor nutricional. As fezes se compõem de resíduos alimentares não digeri-
As principais funções digestivas do trato GI são especifica- dos, materiais inorgânicos, água e bactérias. A matéria fecal tem
mente para fornecer estas necessidades do corpo: cerca de 75% de líquido e 25% de material sólido. A cor marrom
• Reduzir as partículas alimentares à forma molecular para das fezes é devida à degradação da bile pela bactéria intestinal.
a digestão; Substâncias químicas formadas pelas bactérias intestinais
• Absorver na corrente sanguínea as pequenas moléculas; são responsáveis, em grande parte, pelo odor fecal. Os gases
• Eliminar restos alimentares não digeridos e não absorvi- formados contém metano, sulfeto de hidrogênio e amônia, en-
dos e outros produtos tóxicos nocivos ao corpo. tre outros. O trato GI normalmente contém cerca de 150 ml des-
ses gases, q/ são ou absorvidos na circulação porta e detoxifica-
Ação gástrica - O estômago secreta um líquido ácido em dos pelo fígado, ou expelidos pelo reto (flatos). Pacientes c/ dça
resposta à presença de alimento ou à sua ingesta antecipada. hepática frequentemente são tratados c/ antibióticos p/ reduzir
Este líquido deriva sua acidez do ácido hidroclorídrico secretado o nº de bactérias colônicas e, desta forma, inibir a produção de
pelas glândulas do estômago. Esta secreção tem dupla função: gases tóxicos.
reduzir o alimento a componentes mais absorvíveis e ajudar na
destruição de bactérias ingeridas. O estômago pode produzir Respostas fisiológicas às disfunções gastrintestinais
cerca de 2,4 litros/dia dessas secreções gástricas. 1.Halitose: mau hálito, pode indicar um processo periodôn-
As secreções gástricas também contêm a enzima pepsina, tico ou infecção oral;
importante para iniciar a digestão de proteínas. 2. Disfagia: dificuldade de engolir, pode resultar de um pro-
Hormônios, neurorreguladores e reguladores locais encon- blema mecânico (neoplasia, cirurgia) ou ocorrer secundariamen-
trados nas secreções gástricas controlam a taxa das secreções te a um dano neurológico (AVC);
gástricas e influenciam a motilidade gástrica. 3. Odinofagia: deglutição dolorosa (infecção ou doença);
O fator intrínseco também é secretado pela mucosa gástri- 4. Pirose: sensação de queimação na área médio esternal,
ca. Este componente combina-se com a vitamina B12 da dieta de causada pelo refluxo dos conteúdos gástricos para o esôfago;
forma que essa vitamina possa ser absorvida no íleo (na ausên- 5. Dispepsia: sensação de desconforto durante o processo
cia do fator intrínseco a vitamina B12 não pode ser absorvida, digestivo; dys = mal pepsia = digestão
resultando na anemia perniciosa). O alimento permanece no es- 6. Anorexia: perda de apetite;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
7. Náuseas: sensação de desconforto gástrico caracterizada apesar de melhorar a visualização das artérias e de outras es-
por vontade de vomitar; truturas anatômicas durante o exame, pode provocar reações
8. Vômitos: expulsão dos conteúdos gástricos, em geral adversas indesejáveis que se devem, principalmente, à alta os-
após uma sensação de náuseas; molaridade do contraste em relação ao sangue.
9. Câimbras abdominais: contração muscular espasmódica
involuntária que causa desconforto e dor: Pacientes com Problemas urológico
10. Distensão abdominal: expansão do abdome notada por Dor originada nos rins ou ureteres; em geral, é vagamente
observação, percussão ou palpação (aumento da quantidade de localizada nos flancos ou na região lombar baixa e pode irra-
ar ou líquidos ou presença de massa abdominal); diar-se para fossa ilíaca ipsolateral, coxa superior, testículos ou
11. Má absorção: incapacidade de absorver nutrientes se- grandes lábios. Tipicamente, a dor causada por cálculos é em
cundária a um distúrbio GI; cólica e pode ser muito significativa; é mais constante se causa-
12. Dor: sensação de desconforto que varia em gravidade; da por infecção. A retenção urinária aguda distal à bexiga causa
13. Diarreia: expulsão excessiva de fezes aquosas em grande dor suprapúbica agonizante; a retenção urinária crônica causa
vol. ou c/ frequência maior. menos dor e pode ser assintomática. Disúria é um sintoma de
14. Constipação: frequência diminuída de evacuação fecal, irritação vesical ou uretral. A dor prostática manifesta-se como
levando à impactação intestinal; a consistência das fezes é mais desconforto vago ou sensação de peso nas regiões perineal, re-
comumente seca e dura, entretanto ela pode ser mole e forma- tal ou suprapúbica.
da se estiverem presentes distúrbios de motilidade; Os sintomas de obstrução vesical em homens incluem he-
15. Sons intestinais alterados: os sons intestinais ouvidos sitação, força para urinar, diminuição da força e do calibre do
na ausculta indicam a passagem de ar e líquidos no trato GI, a jato urinário e gotejamento terminal. Incontinência tem várias
faixa de frequência normal é de aproximadamente 5 a 25 por formas. A enurese após os 3 ou 4 anos de idade pode ser um
minuto; os sons intestinais podem estar diminuídos ou ausentes sintoma de estenose uretral em meninas, válvulas de uretra pos-
após uma cirurgia abdm., ou ser hiperativos ou de som agudo terior em meninos, alteração psicológica ou, se de início súbito,
(borborigmos) como resultado de hipermotilidade do trato GI; infecção.
16. Melena: fezes escuras indicando a presença de sangue
A pneumatúria (passagem de ar na urina) sugere fístula ve-
(sangramento ou hemorragia);
sicovaginal, vesicoentérica ou ureteroentérica; as duas últimas
17. Perda de peso: sintoma comum geral// indicando inges-
podem ser causadas por diverticulite, doença de Crohn, absces-
tão inadequada ou má absorção.
so ou câncer de cólon. A pneumatúria também pode ser causada
por pielonefrite enfisematosa.
Pacientes com Problemas Renal
A insuficiência renal aguda é uma síndrome caracterizada
Exame físico
pela redução aguda da função renal, em horas ou dias, com con-
O exame físico é dirigido aos ângulos costovertebrais, abdo-
seqüente retenção sérica de produtos nitrogenados, tendo cará-
me, reto, região inguinal e genitais. Em mulheres com sintomas
ter reversível. Refere-se principalmente, à diminuição do ritmo
de filtração glomerular e/ou do volume urinário, mas, ocorrem urinários, geralmente é feito exame pélvico.
também distúrbios no controle do equilíbrio hidro-eletrolítico e
ácido-básico. Ângulo costovertebral
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia(5), na A dor surgida após percussão com o punho na região lom-
literatura existem mais de 30 definições de IRA. A utilização de bar, flancos e no ângulo formado pelo 12º arco costal e espinha
diferentes definições dificulta a comparação de estudos. Recen- lombar (dolorimento costovertebral) pode indicar pielonefrite,
temente, o grupo internacional e multidisciplinar Acute Kidney cálculos ou obstrução do trato urinário.
Injury Network (AKIN) propôs uma nova definição e classificação
da IRA, a fim de uniformizar este conceito para efeitos de estu- Abdome
dos clínicos e, principalmente, prevenir e facilitar o diagnóstico Abaulamento visível do abdome superior é um achado ex-
desta síndrome. A AKIN propõe o diagnóstico e a classificação da tremamente raro e inespecífico de hidronefrose ou massa renal
insuficiência renal aguda baseada na dosagem sérica da creatini- ou abdominal. Som maciço à percussão no abdome inferior in-
na e no volume urinário em um período de 48 horas. dica distensão vesical; normalmente, mesmo uma bexiga cheia
não pode ser percutida acima da sínfise púbica. A palpação da
A IRA induzida por contraste, na maioria das vezes, é assin- bexiga, algumas vezes, é utilizada para confirmar distensão e re-
tomática, não oligúrica e os níveis séricos usualmente aumen- tenção urinária.
tam em 24 a 72 horas após a exposição, alcançando seu valor
máximo em 3 a 5 dias. Reto
A insuficiência renal aguda, apesar de sua característica re- Durante o toque retal, pode-se detectar prostatite através
versível, ainda apresenta um prognóstico com índice de morta- do encontro de uma próstata dolorosa e edemaciada. Nódulos
lidade de aproximadamente 50%. Este prognóstico na IRA tem focais e áreas pouco endurecidas devem ser distinguidas de
sido associado a alguns fatores como oligúria persistente (re- câncer da próstata. A próstata pode estar simetricamente au-
fratária a volume), falência de múltiplos órgãos e septicemia. mentada, fibroelástica e não dolorosa na hipertrofia benigna da
Esta alta mortalidade reforça ainda mais a necessidade da sua próstata.
prevenção e a importância da atuação do enfermeiro na identi-
ficação dos fatores de risco e na detecção precoce da IRA. Região inguinal e genitais
O contraste iodado é substância radiopaca empregada em O exame inguinal e genital deve ser realizado com o pacien-
exames radiológicos, como o cateterismo cardíaco, amplamente te em pé. A presença de hérnia inguinal ou adenopatia pode
utilizado para fins diagnósticos e terapêuticos. Tal substância, explicar dor escrotal ou inguinal. Assimetria grosseira, edema,

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
eritema ou pigmentação dos testículos podem indicar infecção, (BRASIL,2013). As ações de prevenção da saúde são estratégias
torção, tumor ou outras massas. A horizontalização do testículo fundamentais, não só para aumentar a frequência e adesão das
pode indicar risco de torção testicular. A elevação de um testí- mulheres aos exames, como para reforçar sinais e sintomas de
culo (normalmente o esquerdo é mais baixo) pode ser sinal de alerta, que devem ser observados pelas usuárias. É fundamental
torção testicular. O pênis é examinado com e sem retração do que os processos educativos ocorram em todos os contatos da
prepúcio. A inspeção do pênis pode detectar usuária com o serviço, estimulando-a a realizar os exames de
• Hipospádias ou epispádias em meninos ou adultos jovens acordo com a indicação (BRASIL, 2013). Considerando tais dados
• Doença de Peyronie em homens verifica-se a importância de uma atenção voltada para saúde da
• Priapismo, úlceras e corrimento em todos os grupos mulher, oferecendo além dos procedimentos básicos, cuidados
especiais que possam prevenir complicações físicas e emocio-
A palpação pode revelar hérnia inguinal. O reflexo cremas- nais. Entende-se que a consulta de enfermagem é extremamen-
térico pode estar ausente na torção testicular. A localização das te importante, pois propicia o trabalho do enfermeiro no desen-
massas em relação aos testículos e o grau e a localização do do- volvimento de atividades voltadas à saúde da mulher, bem como
lorimento podem auxiliar a diferenciar massas testiculares (p. a atenção ginecológica.
ex., espermatoceles, epididimite, hidroceles, tumores). Em caso
de edema, a área deve ser transiluminada para auxiliar a detec-
tar se o aumento é cístico ou sólido. Placas fibrosas na haste do Pacientes com Problemas endócrino, hematológico
pênis são sinais de doença de Peyronie. O sistema endócrino é composto por um grupo de glândulas
e órgãos que regulam e controlam várias funções do corpo por
Exames meio da produção e secreção de hormônios. Os hormônios são
Exame de urina é fundamental para a avaliação de doenças substâncias químicas que afetam a atividade de outra parte do
urológicas. Os exames de imagem (p. ex., ultrassonografia, to- corpo. Em essência, os hormônios atuam como mensageiros que
mografia computadorizada, ressonância nuclear magnética) são controlam e coordenam as atividades em todo o corpo.
solicitados com frequência. Para análise do sêmen, Alterações As doenças endócrinas dizem respeito a
espermáticas. • Uma secreção hormonal excessiva ou
O teste de antígeno do tumor de bexiga para carcinoma de • Uma secreção hormonal insuficiente
células transicionais do trato urinário é mais sensível que a cito-
logia urinária para detectar cânceres de baixo grau; não é sensí- As doenças podem ser o resultado de um problema na pró-
vel o suficiente para substituir o exame endoscópico. A citologia pria glândula ou porque o eixo hipotálamo-hipófise (a intera-
urinária é o melhor exame para detectar câncer de alto grau. ção dos sinais hormonais entre o hipotálamo e a hipófise) está
O antígeno prostático específico (PSA, prostate-specific an- fornecendo estímulo excessivo ou insuficiente. Dependendo do
tigen) é uma glicoproteína de função desconhecida produzida tipo de célula da qual são originados, os tumores podem produ-
pelas células epiteliais prostáticas. Os níveis podem estar eleva- zir hormônios em excesso ou destruir o tecido glandular normal,
dos em câncer de próstata e em algumas doenças comuns não diminuindo a produção hormonal. Às vezes, o sistema imunoló-
neoplásicas (p. ex., hipertrofia benigna da próstata, infecção, gico do organismo ataca uma glândula endócrina (uma doença
trauma). Mede-se o PSA para detectar recidiva de câncer após autoimune), o que diminui a produção hormonal.
tratamento; seu uso generalizado para a triagem de câncer é
controverso. Exemplos de doenças endócrinas incluem
• Hipertireoidismo
Pacientes com Problemas ginecológico • Hipotireoidismo
O câncer de colo uterino representa um grande problema de • Doença de Cushing
saúde pública no Brasil. Pesquisa recente em um hospital escola • Doença de Addison
do Triângulo Mineiro identificou que os cânceres ginecológicos • Acromegalia
em 321 casos, foram 15 casos (15,63%) dos cânceres de colo de • Baixa estatura em crianças
útero (SOARES; SILVA, 2010).Segundo dados do instituto nacio- • Diabetes
nal de câncer, o câncer de colo do útero é o terceiro tumor mais • Distúrbios da puberdade e da função reprodutiva
frequente na população feminina e a quarta causa de morte de
mulheres por câncer no Brasil (INCA,2014 ).O câncer do colo do Os médicos costumam medir os níveis de hormônios no san-
útero é caracterizado pela replicação desordenada do epitélio gue para dizer como a glândula endócrina está funcionando. Às
de revestimento do órgão, comprometendo o tecido subjacente vezes, os níveis sanguíneos sozinhos não fornecem informações
(estroma) e podendo invadir estruturas e órgãos vizinhos ou à suficientes sobre a função da glândula endócrina; por isso, os
distância. (BRASIL, 2013). Considera-se que a infecção pelo Pa- médicos medem os níveis hormonais depois de dar um estímu-
piloma Vírus Humano (HPV) representa o principal fator de risco lo (tal como uma bebida contendo açúcar, um medicamento ou
para o câncer de colo do útero. Outros fatores foram identifica- um hormônio que possa desencadear a liberação hormonal) ou
dos como de risco, como os socioeconômicos e ambientais e os depois de o paciente ter exercido uma ação (tal como jejum).
hábitos de vida (FRIGATO; HOG, 2003).
Segundo o Ministério da Saúde além da importância de As doenças endócrinas costumam ser tratadas ao repor o
realizar o exame periodicamente, torna-se relevante evidenciar hormônio, cujo nível é insuficiente. Contudo, às vezes, a causa
que, ao longo da vida, a mulher pode estar exposta a fatores da doença é tratada. Por exemplo, se houver um tumor em uma
de risco para o câncer de colo uterino, como: idade precoce da glândula endócrina, é possível que ele seja removido.
primeira relação sexual, multiplicidade de parceiros sexuais,
lesão genital por HPV, tabagismo, multiparidade, entre outros

78
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Pacientes com Problemas musculoesquelético e dermato- Embora a traumatologia ortopédica pareça ser o estudo de
lógico todo tipo de trauma, ela lida apenas com as lesões ósseas e mus-
culares tendinosas dos membros superiores, inferiores, bacia e
Pacientes com Problemas musculoesquelético coluna. O trauma abdominal é avaliado pelo cirurgião geral; o
O sistema osteomuscular compreende principalmente a trauma craniano pelo neurocirurgião; o trauma de tórax é ava-
dois sistemas da fisiologia humana: o sistema ósseo e o sistema liado pelo cirurgião do trauma ou cirurgião torácico. Erro muito
muscular. A função do sistema ósseo é de proteger, sustentar, comum é o encaminhamento de vítimas de trauma torácico e
armazenar e liberar os íons de cálcio e potássio, permitir o des- facial para o ortopedista, o qual trata do esqueleto axial (coluna)
locamento do corpo servindo como alavanca e de produzir cer- e membros.
tas células do sangue. Os ossos trabalham em conjunto com os
músculos que são responsáveis pelo movimento. Sobre as Afecções Osteomusculares/Músculo Esquelético
No sistema muscular existe a divisão dos músculos que são As afecções músculo-esqueléticas representam uns dos
lisos e estriados. O músculo liso não faz parte do aparelho lo-
principais agravos à saúde no Brasil. Trata-se de distúrbios de
comotor, pois eles são responsáveis pela formação de órgãos
importância crescente em vários países do mundo, com dimen-
como o estomago, intestinos, artérias, etc. O músculo estriado
sões epidêmicas em diversas categorias profissionais, principal-
pode ser do tipo músculo esquelético e músculo cardíaco. Os
mente na Traumato-Ortopedia. Na traumatologia, o crescente
músculos estriados esquelético fazem parte do aparelho loco-
motor sendo um tipo de músculo voluntário. problema da violência, das doenças ocupacionais, dos acidentes
de trânsito e causas externas, que perfazem mais de 90% dos
Os músculos esqueléticos ficam ligados aos ossos pelos ten- atos médicos destinados ao tratamento das afecções do siste-
dões que são formados por tecido conjuntivo altamente den- ma músculo-esqueléticos, é de extrema preocupação, tanto do
so rico em colágeno no qual se liga de um lado ao periósteo, ponto de vista epidemiológico quanto da gestão, pelo elevado
camada de tecido conjuntivo presente nos ossos e do outro as número de procedimentos realizados e pelo alto valor de recur-
camadas de tecidos conjuntivos que revestem o ventre muscu- sos financeiros envolvidos.
lar ou músculo propriamente dito, os fascículos e as fibras. E a SUS e as Afecções Osteomusculares/Músculo Esquelético
ligação de um osso a outro ou outros é chamado de juntas ou O Sistema Único de Saúde − SUS oferta diversos tratamen-
articulações. tos clínicos, cirúrgicos e de reabilitação na área de ortopedia. Os
Os ossos se classificam como longo, plano, curto, irregular, procedimentos relacionados a essas especialidades estão incluí-
pneumático e sesanoides. dos em várias ações e políticas do Ministério da Saúde. Todos os
O sistema muscular é composto pelo conjunto de músculos procedimentos podem ser consultados no Sistema de Gerencia-
do corpo humano, são encontrados cerca de 600 músculos no mento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do
corpo humano e eles representam cerca de 40 a 50% do peso Sistema Único de Saúde (SIGTAP/SUS).
total de uma pessoa. Os músculos têm a capacidade de contrair Especificamente sobre a atenção especializada no SUS, a
ou relaxar e proporcionam movimentos que permitem que a área de ortopedia recebeu atenção especial, principalmente no
pessoa ande, corra, salte, etc. que dispensa a utilização de alta tecnologia/alta complexidade,
com a publicação da Portaria GM/MS nº 221, de 15 de fevereiro
Ortopedia de 2005, que instituí a Política de Alta Complexidade em Trau-
A ortopedia é a especialidade médica que cuida das doenças matologia e Ortopedia Instituída no SUS. Tal política é regimen-
e deformidades relacionadas aos elementos do aparelho loco- tada pela Portaria SAS/MS nº 90, publicada em 27 de março de
motor, como ossos, músculos, ligamentos e articulações. A trau- 2009. Esta Portaria conceitua Unidades de Assistência de Alta
matologia é a especialidade médica que lida com o trauma do Complexidade em Traumatologia e Ortopedia e Centro de Re-
aparelho músculo-esquelético.
ferência de Alta Complexidade em Traumatologia e Ortopedia,
No Brasil as especialidades são unificadas, recebendo o
orientando o papel que cada uma dessas habilitações desempe-
nome de “Ortopedia e Traumatologia”.
nha na atenção à saúde e na qualificação técnica exigida para
Dentro dos órgãos/ossos do corpo humanos tratados pela
o atendimento dos usuários, e ainda, orienta o gestor quanto
ortopedia temos: Coluna, Joelho, Quadril, Ombro e Cotovelo,
Mão, Pé e Tornozelo. aos requisitos mínimos, para se habilitar um estabelecimento
As causas das principais lesões ortopédicas são: Artralgia, em alta complexidade em Ortopedia.
Artrose. Artrose Joelho, Lesão do Ligamento Cruzado Anterior Tanto os Centros de Referência de Alta Complexidade em
(LCA), Lesão do Ligamento Cruzado Posterior (LCP), Lesão do Li- Traumatologia e Ortopedia quanto às Unidades de Assistência
gamento Colateral, Lesão Meniscal, Mialgia, Lesões Musculares, em Alta Complexidade em Ortopedia estão aptos a realizar qual-
Lombalgia, Síndrome do Manguito Rotador; Tendinites, Síndro- quer procedimento traumato-ortopédico, independentemente
me Patelo Femoral e Cervicalgia. da complexidade em que este procedimento se insere. A dife-
A traumatologia dedica-se ao estudo e ao tratamento das rença básica entre as duas habilitações está no papel de formar
diferentes lesões que se podem produzir nas extremidades e na e qualificar novos profissionais na área desempenhada pelos
coluna. Na sua órbita de ação entram as fraturas ósseas, as luxa- Centros. (Relatório de Gestão SAS 2016)
ções e diferentes classes de contusões.
Os tratamentos da traumatologia podem ser diversos. Al- Pacientes com problemas dermatológicos
guns são conservadores, como a implementação de ligaduras ou A pele constitui o maior órgão do corpo humano, envolven-
a colocação de um gesso. Outros tratamentos são mais invasi- do-o e protegendo-o por completo. Montagu (1988, p.30) fala
vos, como as intervenções cirúrgicas que são utilizadas para ins- da pele como o espelho do funcionamento do organismo: sua
talar parafusos, placas e outros elementos no interior do corpo. cor, textura, umidade, secura, e cada um de seus demais aspec-
A escolha de um ou outro tratamento é realizada pelo profissio- tos refletem nosso estado de ser, psicológico e também fisio-
nal de acordo com o tipo de lesão. lógico ..., é espelho de nossas paixões e emoções, sendo como

79
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
uma roupagem contínua e flexível, além de ter a mesma origem A literatura, de modo geral, enfoca a influência do stress no
embrionária que o sistema nervoso. Reveste e limita o organis- desenvolvimento das dermatoses (Asadi & Usman, 2001; Picar-
mo, protegendo-o de agentes externos, e é importante na ma- di, Porcelli, Pasquini & Fassoni, 2006; Taborda, Weber & Freitas,
nutenção do equilíbrio do meio interno (Souza et al., 2005). Por 2005), e poucos são os estudos que avaliam o contrário, ou seja,
configurar o órgão de limite entre mundo interno e externo, a o quanto a lesão de pele interfere no grau de stress do indiví-
pele, quando lesionada, pode trazer constrangimento ao indiví- duo. Lipp (1996) refere as doenças relacionadas ao stress e cita
duo. Nesse sentido, Strauss (1989, p.1221) refere que “ao mes- a psoríase entre as mais estudadas, sugerindo que «doenças re-
mo tempo em que nos protege, é a fachada que nos expõe”. lacionadas ao stress sejam classificadas como psicofisiológicas,
Alguns autores sugerem dificuldades quando da exposição termo este que enfatiza a correlação entre aspectos físicos e
das lesões de pele, como Fonseca e Campos (2003), ao mencio- psicológicos que se manifestam de modo quase que inseparável
nar que lesões visíveis causam constrangimento nos pacientes, durante a resposta ao stress”.
e Azulay R. D. e Azulay D. R. (1992), que postulam que “convém Hoffmann, Zogbi, Fleck e Müller (2005) mencionam que o
lembrar que o indivíduo com a pele comprometida, sobretudo vitiligo está associado a fatores psicológicos, visto que, no es-
em áreas descobertas, dificilmente deixa de ficar envergonhado, tudo de Müller (2005), o aparecimento da doença se deu após
ansioso e triste”. Nadelson (1978) complementa esta idéia, refe- situação de stress emocional. O’leary, Creamer, Higgins e Wein-
rindo que a doença de pele, na mente popular, pode muitas ve-
man (2004) estudaram as causas atribuídas pelos pacientes
zes estar ligada à idéia de sujo, feio e contagioso, devendo per-
psoriáticos à sua doença, e encontraram uma grande proporção
manecer afastado. Nesse sentido, está implicada a relação entre
dos pacientes referindo o stress como a causa da sua doença.
doenças de pele e aspectos emocionais, mais especificamente
Esta crença está associada a um baixo bem-estar psicológico e à
o stress, neste estudo. Frente a dados como esses, percebe-se
a importância de pesquisas nesta área, explorando as repercus- percepção de que a psoríase tem um impacto emocional muito
sões dos problemas dermatológicos e buscando sensibilizar a grande. Apesar da prevalência desta crença, os níveis de stress,
população em geral, assim como os profissionais que trabalham mesmo fortemente associados ao humor e à qualidade de vida,
com esses pacientes, para que o atendimento abarque as dife- não foram associados com a severidade da psoríase.
rentes dimensões do ser humano. O stress psicológico e a ansiedade têm sido reconhecidos
Embora a existência de uma relação entre as alterações psi- clinicamente pelos dermatologistas como fatores relacionados
cológicas e as doenças dermatológicas não seja um tema novo, à piora das lesões de pele (Fortune, Main, O’Sullivan & Griffiths,
ainda não é possível definir com clareza que alterações psico- 1997). No estudo de Amorim-Gaudêncio, Roustan e Sirgo (2004),
lógicas são capazes de causar alterações dermatológicas, ou se que avaliou dois grupos, um com e outro sem dermatoses, foram
as enfermidades cutâneas crônicas carregam, necessariamente, encontradas associações entre altos níveis de ansiedade e stress
como qualquer outro transtorno com essas características, al- em pessoas que sofrem de dermatoses inflamatórias crônicas.
terações psicopatológicas significativas (Grimalt, Peri & Torres,
2002). Talvez essa seja uma das razões pelas quais muitas vezes Panconesi e Hautmann (1996), em um artigo sobre a psico-
o atendimento ao paciente aconteça de forma dissociada, ou fisiologia do stress na dermatologia, referem que os fatores ge-
seja, o dermatologista se responsabiliza somente pela dimensão néticos e de percepção podem influenciá-lo, sendo a percepção
orgânica, a pele, e o psicólogo, pelos aspectos emocionais, de do indivíduo sobre o desafio que o estímulo específico implica o
forma isolada. fator mais importante.
Segundo Mingorance, Loureiro, Okino e Foss (2001), muitos Em relação aos problemas dermatológicos, Azambuja (2000)
estudos têm sido realizados associando o funcionamento mental menciona que existem íntimas ligações entre o sistema nervoso
do paciente com psoríase a correlatos psíquicos: o impacto emo- e a pele, o que a torna extremamente sensível a emoções, de
cional da doença, o aumento de preocupações e a ansiedade forma que qualquer problema de pele, independentemente de
estão associados à piora das lesões, o alto nível de depressão, à sua causa, tem impacto emocional. O autor discorre ainda que
presença de distúrbios no ambiente familiar e outros. Os temas o stress, seja físico, psicológico ou ambiental, provoca no indi-
das pesquisas revelam que a dermatose não está relacionada víduo reações como taquicardia, diminuição da temperatura do
somente à pele, às questões orgânicas, mas que influencia e
corpo, entre outras, e que atualmente um número crescente de
é influenciada por outros aspectos da vida do indivíduo, tanto
cientistas tem aceitado o stress como fator precipitante de qual-
questões emocionais quanto o próprio contexto em que vive.
quer doença, não apenas das psicossomáticas.
De acordo com Sampaio e Rivitti (2001), é indiscutível que
Além disso, Azambuja (2000) refere a insustentabilidade da
os fatores emocionais influenciam inúmeras dermatoses que, de
outro lado, atuam no estado mental. A partir da idéia de que concepção cartesiana de mente e corpo, falando do campo da
toda doença humana é psicossomática, pois incide em um ser psiconeuroimunologia, que “cria um novo contexto em que não
provido de soma e psique, inseparáveis anatômica e funcional- existem partes separadas, e tudo influencia tudo, tornando-se
mente (Mello Filho, 2002), o adoecimento (neste caso, da pele), absurdo enfocar a patologia e o tratamento unicamente do cor-
pode repercutir em diversos âmbitos da vida do indivíduo. po e, pior ainda, de uma de suas partes sem considerar o funcio-
Quando se pensa na inseparabilidade da psique e do corpo, namento geral” (p.407).
ou das emoções e da pele, o stress é uma variável importante. No que tange à localização das lesões de pele, a maior par-
Desde os estudos de Selye, em 1936, o stress é um fator que te dos estudos avalia qualidade de vida. Schmid, Jaeger e Lam-
está relacionado ao surgimento e desenvolvimento de doenças. precht (1996) mencionam que os pacientes com lesões na região
Vivas e Serritiello (2002) referem que extensos estudos indicam do baixo ventre e genital relatam sentimentos de estigmatização
que o stressemocional pode exacerbar alguns eventos, como com maior intensidade do que pacientes acometidos em outras
na psoríase, por exemplo. Steiner e Perfeito (2003) corroboram áreas do corpo. Quando se discute local da lesão, está implica-
esta idéia, mencionando que “o stress físico ou emocional tem da a questão da aparência física. No estudo de Mingnorance,
repercussões em inúmeras dermatoses e estas, indiscutivelmen- Loureiro e Okino (2002), os pacientes que relataram insatisfa-
te, também são geradoras de stress” (p.113). ção quanto à aparência física, quando comparados ao grupo

80
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
com percepção satisfatória da aparência, apresentaram prejuízo enfermarias), mas infelizmente, em muitos casos, ainda são di-
significativamente maior nas atividades rotineiras (p<0,05) e na recionados às UTI, fato este que além de aumentar o tempo de
qualidade de vida geral (p<0,01). internação desses pacientes, ainda os colocam em maior risco
No estudo de Ludwig e Oliveira (2007), que avaliou quali- de infecções, pois a unidade de terapia intensiva é um ambiente
dade de vida e localização da lesão dermatológica, não foram de alta complexidade. 
encontradas diferenças significativas na comparação entre dois Outro fato que vale ressaltar é a ocupação de um leito de
grupos (rosto e/ou mãos; outras partes do corpo), sendo o nú- UTI com pacientes não elegíveis para tal, isto acontece muitas
mero de associações entre os instrumentos de qualidade de vida vezes por falta de disponibilidade de leitos comuns. Isso pode
SF-36 (qualidade de vida geral) e DLQI-BRA (qualidade de vida gerar um problema para pacientes dentro dos critérios (ou seja,
específica) muito superior no grupo com lesões em rosto e/ou pacientes agudamente enfermos que tenham chances de sobre-
mãos. Quando se fez a divisão mais detalhada da localização da viver), que acabam às vezes agravando sua situação de saúde ou
lesão, em cinco grupos, houve diferenças significativas, sendo até levandoos a óbito por falta de leito de UTI.
o grupo com a maior mediana aquele com lesões generalizadas
(rosto e mãos e outras). As autoras inferem que, independente- Fonte: https://www.iespe.com.br/blog/oqueeunidadedetera-
mente da localização da lesão no corpo, o sentimento de exposi- piaintensiva/
ção e os prejuízos a que fica submetido o paciente dermatológi-
co são semelhantes, seja a lesão mais exposta ou menos exposta
ao olhar do outro. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM APLICADA À SAÚDE
Kadyk, McCarter e Achen (2003) estudaram qualidade de SEXUAL E REPRODUTIVA DA MULHER, COM ÊNFASE
vida em pacientes com dermatite de contato, encontrando um NAS AÇÕES DE BAIXA E MÉDIA COMPLEXIDADE. AS-
escore significativamente pior no item relacionado à aparência SISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À GESTANTE, PARTU-
da pele, em comparação aos que não têm a face acometida. RIENTE E PUÉRPERA. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
Além disso, pacientes com a face afetada sentem um maior grau AO RECÉM-NASCIDO. MODELOS DE ATENÇÃO AO
de prejuízo, que tende a ser significativo, e apresentam escores RECÉM-NASCIDO, QUE COMPÕEM O PROGRAMA DE
melhores do que aqueles sem acometimento da face em duas HUMANIZAÇÃO NO PRÉ-NATAL E NASCIMENTO. AS-
questões: medo de ser despedido e dificuldade de usar as mãos SISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À MULHER NO CLIMATÉ-
no trabalho. RIO E MENOPAUSA E NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Não houve diferenças significativas, nas escalas de sintomas DE GINECOPATIAS
ou emoções, entre ter ou não as mãos afetadas, no mesmo es-
tudo. Os autores da pesquisa referem diversos relatos de que a SAÚDE DA MULHER
dermatite de contato nas mãos afeta negativamente as habili-
dades para trabalhar e continuar as atividades diárias normais. Diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
Também M.A. Gupta e A.K. Gupta (2003) e Hautman e Pan- da Mulher
conesi (1997) apontam a importância de considerações sobre – O Sistema Único de Saúde deve estar orientado e capacita-
o tema da localização da lesão, referindo que até mesmo uma do para a atenção integral à saúde da mulher, numa perspectiva
doença benigna em partes do corpo “carregadas de emoção” que contemple a promoção da saúde, as necessidades de saúde
(por exemplo, o rosto, a cabeça e o pescoço) pode debilitar par- da população feminina, o controle de patologias mais prevalen-
ticularmente o paciente. tes nesse grupo e a garantia do direito à saúde.
– A Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá atingir
Assistência de Enfermagem em UTI as mulheres em todos os ciclos de vida, resguardadas as espe-
UTI’s podem ser classificadas em Adulto, Pediátrica, Pediá- cificidades das diferentes faixas etárias e dos distintos grupos
trica Mista (Pediátrica e Neonatal), Neonatal e as UTI’s Especia- populacionais (mulheres negras, indígenas, residentes em áreas
lizadas, dentre elas destacamse: Cardiológica ou Coronariana, urbanas e rurais, residentes em locais de difícil acesso, em si-
Cirúrgica, Neurológica, Transplante, dentre outras. tuação de risco, presidiárias, de orientação homossexual, com
Este é o local no hospital destinado à oferta do SAV – Su- deficiência, dentre outras).
porte Avançado de Vida ao paciente agudamente enfermo que – A elaboração, a execução e a avaliação das políticas de
tenha chances de sobreviver; e essa definição nos traz algumas saúde da mulher deverão nortear-se pela perspectiva de gênero,
reflexões e questionamentos, principalmente na falta de crité- de raça e de etnia, e pela ampliação do enfoque, rompendo-se
rios para internar pacientes em UTI.  as
Não muito raro, observamos em nosso cotidiano profissio- fronteiras da saúde sexual e da saúde reprodutiva, para al-
nal e acadêmico, diversos pacientes fora destes critérios que eu cançar todos os aspectos da saúde da mulher.
citei acima hospitalizados nesta área: pacientes crônicos e sem – A gestão da Política de Atenção à Saúde deverá estabe-
qualquer prognóstico, sem mais condições terapêuticas, sem lecer uma dinâmica inclusiva, para atender às demandas emer-
nenhum esforço ou tecnologia disponível que possa reverter o gentes ou demandas antigas, em todos os níveis assistenciais.
quadro terminal de saúde, causando apenas um prolongamento – As políticas de saúde da mulher deverão ser compreendi-
do estado de terminalidade desses indivíduos em especial. das em sua dimensão mais ampla, objetivando a criação e am-
Esse é um exemplo, mas ainda vale destacar uma ocorrência pliação das condições necessárias ao exercício dos direitos da
também muito comum, que é a internação de pacientes subme- mulher, seja no âmbito do SUS, seja na atuação em parceria do
tidos a algum procedimento cirúrgico, que poderiam ser moni- setor Saúde com outros setores governamentais, com destaque
torados no próprio Centro Cirúrgico, nas salas de Recuperação para a segurança, a justiça, trabalho, previdência social e edu-
PósAnestésica e, logo que devidamente despertos e estáveis, cação.
seriam encaminhados para as Unidades de Internação (quartos/

81
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
– A atenção integral à saúde da mulher refere-se ao conjun- Objetivos Gerais da Política Nacional de Atenção Integral à
to de ações de promoção, proteção, assistência e recuperação Saúde da Mulher
da saúde, executadas nos diferentes níveis de atenção à saúde – Promover a melhoria das condições de vida e saúde das
(da básica à alta complexidade). mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente
– O SUS deverá garantir o acesso das mulheres a todos os constituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de pro-
níveis de atenção à saúde, no contexto da descentralização, hie- moção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo
rarquização e integração das ações e serviços. Sendo respon- território brasileiro.
sabilidade dos três níveis gestores, de acordo com as compe- – Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade fe-
tências de cada um, garantir as condições para a execução da minina no Brasil, especialmente por causas evitáveis, em todos
Política de Atenção à Saúde da Mulher. os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais, sem discri-
– A atenção integral à saúde da mulher compreende o aten- minação de qualquer espécie.
dimento à mulher a partir de uma percepção ampliada de seu – Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde
contexto de vida, do momento em que apresenta determinada da mulher no Sistema Único de Saúde.
demanda, assim como de sua singularidade e de suas condições
enquanto sujeito capaz e responsável por suas escolhas. Objetivos Específicos e Estratégias da Política Nacional de
– A atenção integral à saúde da mulher implica, para os Atenção Integral à Saúde da Mulher
prestadores de serviço, no estabelecimento de relações com Ampliar e qualificar a atenção clínico-ginecológica, inclusive
pessoas singulares, seja por razões econômicas, culturais, reli- para as portadoras da infecção pelo HIV e outras DST:
giosas, raciais, de diferentes orientações sexuais, etc. O aten- – fortalecer a atenção básica no cuidado com a mulher;
dimento deverá nortear-se pelo respeito a todas as diferenças, – ampliar o acesso e qualificar a atenção clínico- ginecoló-
sem discriminação de qualquer espécie e sem imposição de va- gica na rede SUS. Estimular a implantação e implementação da
lores e crenças pessoais. Esse enfoque deverá ser incorporado assistência em planejamento familiar, para homens e mulheres,
aos processos de sensibilização e capacitação para humanização adultos e adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde:
das práticas em saúde. – ampliar e qualificar a atenção ao planejamento familiar,
– As práticas em saúde deverão nortear-se pelo princípio incluindo a assistência à infertilidade;
da humanização, aqui compreendido como atitudes e comporta- – garantir a oferta de métodos anticoncepcionais para a
mentos do profissional de saúde que contribuam para reforçar o população em idade reprodutiva;
caráter da atenção à saúde como direito, que melhorem o grau – ampliar o acesso das mulheres às informações sobre as
de informação das mulheres em relação ao seu corpo e suas con- opções de métodos anticoncepcionais;
dições de saúde, ampliando sua capacidade de fazer escolhas – estimular a participação e inclusão de homens e adoles-
adequadas ao seu contexto e momento de vida; que promovam centes nas ações de planejamento familiar. Promover a atenção
o acolhimento das demandas conhecidas ou não pelas equipes obstétrica e neonatal, qualificada e humanizada, incluindo a as-
de saúde; que busquem o uso de tecnologia apropriada a cada sistência ao abortamento em condições inseguras, para mulhe-
caso e que demonstrem o interesse em resolver problemas e res e adolescentes:
diminuir o sofrimento associado ao processo de adoecimento e – construir, em parceria com outros atores, um Pacto Nacio-
morte da clientela e seus familiares. nal pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal; – qualifi-
– No processo de elaboração, execução e avaliação das Po- car a assistência obstétrica e neonatal nos estados e municípios;
lítica de Atenção à Saúde da Mulher deverá ser estimulada e -organizar rede de serviços de atenção obstétrica e neo-
apoiada a participação da sociedade civil organizada, em parti- natal, garantindo atendimento à gestante de alto risco e em
cular do movimento de mulheres, pelo reconhecimento de sua situações de urgência/emergência, incluindo mecanismos de
contribuição técnica e política no campo dos direitos e da saúde referência e contra-referência; – fortalecer o sistema de forma-
da mulher. ção/capacitação de pessoal na área de assistência obstétrica e
– Compreende-se que a participação da sociedade civil na neonatal; – elaborar e/ou revisar, imprimir e distribuir material
implementação das ações de saúde da mulher, no âmbito fede- técnico e educativo
ral, estadual e municipal requer – qualificar e humanizar a atenção à mulher em situação de
– cabendo, portanto, às instâncias gestoras – melhorar e abortamento;
qualificar os mecanismos de repasse de informações sobre as – apoiar a expansão da rede laboratorial; – garantir a oferta
políticas de saúde da mulher e sobre os instrumentos de gestão de ácido fólico e sulfato ferroso para todas as gestantes;
e regulação do SUS. – melhorar a informação sobre a magnitude e tendência da
– No âmbito do setor Saúde, a execução de ações será pac- mortalidade materna
tuada entre todos os níveis hierárquicos, visando a uma atuação -Promover a atenção às mulheres e adolescentes em situa-
mais abrangente e horizontal, além de permitir o ajuste às dife- ção de violência doméstica e sexual:
rentes realidades regionais. – organizar redes integradas de atenção às mulheres em si-
– As ações voltadas à melhoria das condições de vida e saú- tuação de violência sexual e doméstica;
de das mulheres deverão ser executadas de forma articulada – articular a atenção à mulher em situação de violência com
com setores governamentais e não-governamentais; condição ações de prevenção de DST/aids
básica para a configuração de redes integradas de atenção à – promover ações preventivas em relação à violência do-
saúde e para a obtenção dos resultados esperados. méstica e sexual.

Promover, conjuntamente com o PN-DST/AIDS, a prevenção


e o controle das doenças sexualmente transmissíveis e da infec-
ção pelo HIV/aids na população feminina:

82
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
– prevenir as DST e a infecção pelo HIV/aids entre mulheres; Assistência aos Casais Férteis
– ampliar e qualificar a atenção à saúde das mulheres vi- É o acompanhamento dos casais que não apresentam difi-
vendo com HIV e aids. Reduzir a morbimortalidade por câncer culdades para engravidar, mas que não o desejam. Desta forma,
na população feminina: estudaremos os métodos contraceptivos mais conhecidos e os
– organizar em municípios pólos de microrregiões redes de oferecidos pelas instituições.
referência e contra-referência para o diagnóstico e o tratamento Durante muitos anos, a amamentação representou uma al-
de câncer de colo uterino e de mama; ternativa exclusiva e eficaz de espaçar as gestações, pois as mu-
– garantir o cumprimento da Lei Federal que prevê a ci- lheres apresentam sua fertilidade diminuída neste período, con-
rurgia de reconstrução mamária nas mulheres que realizaram siderando que, quanto mais frequentes são as mamadas, mais
mastectomia; altos são os níveis de prolactina e consequentemente menores
– oferecer o teste anti-HIV e de sífilis para as mulheres in- as possibilidades de ovulação.
cluídas no Programa Viva Mulher, especialmente aquelas com Os fatores que determinam o retorno da ovulação não são
precisamente conhecidos, de modo que, mesmo diante dos ca-
diagnóstico de DST, HPV e/ou lesões intra-epiteliais de alto
sos de aleitamento exclusivo, a partir do 3º mês é recomendada
grau/ câncer invasor. Implantar um modelo de atenção à saúde
a utilização de um outro método. Até o 3º mês, se o aleitamento
mental das mulheres sob o enfoque de gênero:
é exclusivo e ainda não ocorreu menstruação, as possibilidades
– melhorar a informação sobre as mulheres portadoras de
de gravidez são mínimas.
transtornos mentais no SUS; Atualmente, com a descoberta e divulgação de novas tecno-
– qualificar a atenção à saúde mental das mulheres; – in- logias contraceptivas e a mudança nos modos de viver das mu-
cluir o enfoque de gênero e de raça na atenção às mulheres por- lheres em relação a sua capacidade de trabalho, o seu desejo de
tadoras de transtornos mentais e promover a integração com maternidade, a forma como percebe seu corpo como fonte de
setores não-governamentais, fomentando sua participação nas prazer e não apenas de reprodução foram fatores que incenti-
definições da política de atenção às mulheres portadoras de varam o abandono e o descrédito do aleitamento como método
transtornos mentais. Implantar e implementar a atenção à saú- capaz de controlar a fertilidade.
de da mulher no climatério: Outro método é o coito interrompido, sendo também uma
– ampliar o acesso e qualificar a atenção às mulheres no maneira muito antiga de evitar a gravidez. Consiste na retirada
climatério na rede SUS. Promover a atenção à saúde da mulher do pênis da vagina e de suas proximidades, no momento em que
na terceira idade: o homem percebe que vai ejacular. Desta forma, evitando o con-
– incluir a abordagem às especificidades da atenção a saúde tato do sêmen com o colo do útero é que se impede a gravidez.
da mulher na Política de Atenção à Saúde do Idoso no SUS; – Seu uso está contraindicado para os homens que têm eja-
incentivar a incorporação do enfoque de gênero na Atenção à culação precoce ou não conseguem ter controle sobre a ejacu-
Saúde do Idoso no SUS. Promover a atenção à saúde da mulher lação.
negra:
Os métodos naturais ou de abstinência periódica são aque-
– melhorar o registro e produção de dados; – capacitar pro- les que utilizam técnicas para evitar a gravidez e se baseiam na
fissionais de saúde; – implantar o Programa de Anemia Falcifor- auto-observação de sinais ou sintomas que ocorrem fisiologica-
me (PAF/MS), dando ênfase às especificidades das mulheres em mente no organismo feminino, ao longo do ciclo menstrual, e
idade fértil e no ciclo gravídico-puerperal; – incluir e consolidar que, portanto, ajudam a identificar o período fértil.
o recorte racial/étnico nas ações de saúde ; Quem quer ter filhos, deve ter relações sexuais nos dias fér-
-estimular e fortalecer a interlocução das áreas de saúde da teis, e quem não os quer, deve abster-se das relações sexuais
mulher das SES e SMS com os movimentos e entidades relacio- ou nestes dias fazer uso de outro método – os de barreira, por
exemplo.
nados à saúde da população negra.
A determinação do período fértil baseia-se em três princí-
pios científicos, a saber:
Promover a atenção à saúde das trabalhadoras do campo
A ovulação costuma acontecer 14 dias antes da próxima
e da cidade:
menstruação (pode haver uma variação de 2 dias, para mais ou
– implementar ações de vigilância e atenção à saúde da tra- para menos);
balhadora da cidade e do campo, do setor formal e informal; O óvulo, após a ovulação, tem uma vida média de 24 horas;
– introduzir nas políticas de saúde e nos movimentos sociais O espermatozoide, após sua deposição no canal vaginal,
a noção de direitos das mulheres trabalhadoras relacionados à tem capacidade para fecundar um óvulo até o período de 48-72
saúde. Promover a atenção à saúde da mulher indígena: horas.
– ampliar e qualificar a atenção integral à saúde da mulher Os métodos naturais, de acordo com o Ministério da Saúde,
indígena. Promover a atenção à saúde das mulheres em situação são:
de prisão, incluindo a promoção das ações de prevenção e con-
trole de doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo a) Método de Ogino-Knaus
HIV/aids nessa população: Esse método é também conhecido como tabela, que ajuda a
– ampliar o acesso e qualificar a atenção à saúde das presi- mulher a descobrir o seu período fértil através do controle dos
diárias. Fortalecer a participação e o controle social na definição dias do seu ciclo menstrual. Logo, cada mulher deverá elaborar
e implementação das políticas de atenção integral à saúde das a sua própria tabela.
mulheres: Sabemos que a tabela foi vulgarizada, produzindo a formu-
– promover a integração com o movimento de mulheres lação de tabelas únicas que supostamente poderiam ser utili-
feministas no aperfeiçoamento da política de atenção integral à zadas por qualquer mulher. Isto levou a um grande número de
saúde da mulher, no âmbito do SUS; falhas e consequente descrédito no método, o que persiste até
os dias de hoje.

83
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Para fazer a tabela deve-se utilizar o calendário do ano, ano- Antes da ovulação, a temperatura do corpo da mulher per-
tando em todos os meses o 1º dia da menstruação. O ciclo mens- manece em nível mais baixo. Após a ovulação, com a formação
trual começa no 1º dia da menstruação e termina na véspera da do corpo lúteo e o consequente aumento da produção de pro-
menstruação seguinte, quando se inicia um novo ciclo. gesterona, que tem efeito hipertérmico, a temperatura do corpo
A primeira coisa a fazer é certificar-se de que a mulher tem se eleva ligeiramente e permanece assim até a próxima mens-
os ciclos regulares. Para tal é preciso que se tenha anotado, pelo truação.
menos, os seis últimos ciclos.
Como construir a Tabela ou Gráfico de Temperatura?
Como identificar se os ciclos são regulares ou não? A partir do 1º dia do ciclo menstrual, deve-se verificar e ano-
Depois de anotados os seis últimos ciclos, deve-se contá-los, tar a temperatura todos os dias, antes de se levantar da cama,
anotando quantos dias durou cada um. Selecionar o maior e o depois de um período de repouso de 3 a 5 horas, usando-se sem-
menor dos ciclos. pre o mesmo termômetro.
Se a diferença entre o ciclo mais longo e o mais curto for A temperatura deve ser verificada sempre no mesmo local:
igual ou superior a 10 dias, os ciclos desta mulher serão consi- na boca, no reto ou na vagina. A temperatura oral deve ser ve-
derados irregulares e, portanto, ela não deverá utilizar este mé- rificada em um tempo mínimo de 5 minutos e as temperaturas
todo. Além do que, devem procurar um serviço de saúde, pois a retal e vaginal, no mínimo 3 minutos, observando-se sempre o
irregularidade menstrual indica um problema ginecológico que mesmo horário para que não haja alteração do gráfico de tem-
precisa ser investigado e tratado. peratura.
Se a diferença entre eles for inferior a 10 dias, os ciclos são Caso a mulher esqueça-se de verificar a temperatura um
considerados regulares e esta mulher poderá fazer uso da ta- dia, deve recomeçar no próximo ciclo.
bela. Registrar a temperatura a cada dia do ciclo em um papel
quadriculado comum, em que as linhas horizontais referem-se
Como fazer o cálculo para identificar o período fértil? às temperaturas, e as verticais, aos dias do ciclo. Após a marca-
Subtrai-se 18 dias do ciclo mais curto e obtém-se o dia do ção, ligar os pontos referentes a cada dia, formando uma linha
que vai do1º ao 2º, do 2º ao 3º, do 3º ao 4ºdia e daí por diante.
início do período fértil.
Em seguida, verificar a ocorrência de um aumento persis-
Subtrai-se 11 dias do ciclo mais longo e obtém-se o último
tente da temperatura basal por 3 dias seguidos, no período es-
dia do período fértil.
perado da ovulação.
Após a determinação do período fértil, a mulher e seu com-
O aumento da temperatura varia entre 0,2ºC a 0,6ºC. A dife-
panheiro que não desejam obter gravidez, devem abster-se de
rença de no mínimo 0,2ºC entre a última temperatura baixa e as
relações sexuais com penetração, neste período, ou fazer uso de
três temperaturas altas indica que a ovulação ocorreu e a tem-
outro método. Caso contrário, devem-se intensificar as relações
peratura se manterá alta até a época da próxima menstruação.
sexuais neste período.
O período fértil termina na manhã do 3º dia em que for ob-
servada a temperatura elevada. Portanto, para evitar gravidez,
Recomendações Importantes: o casal deve abster-se de relações sexuais, com penetração, du-
O parceiro deve sempre ser estimulado a participar, ajudan- rante toda a primeira fase do ciclo até a manhã do 3º dia de
do com os cálculos e anotações. temperatura elevada.
Após a definição do período fértil, a mulher deverá conti- Após 3 meses de realização do gráfico da temperatura, po-
nuar anotando os seus ciclos, pois poderão surgir alterações de-se predizer a data da ovulação e, a partir daí, a abstinência
relativas ao tamanho do maior e menor ciclo, mudando então sexual poderá ficar limitada ao período de 4 a 5 dias antes da
o período fértil, bem como poderá inclusive surgir, inesperada- data prevista da ovulação até a manhã do 3º dia de temperatura
mente, uma irregularidade menstrual que contraindique a con- alta. Os casais que quiserem engravidar devem manter relações
tinuidade do uso do método. sexuais neste período.
Não se pode esquecer que o dia do ciclo menstrual não é Durante estes 3 meses, enquanto estiver aprendendo a usar
igual ao dia do mês. a tabela da temperatura, deverá utilizar outro método contra-
Cada mulher deve fazer sua própria tabela e a tabela de uma ceptivo, com exceção do contraceptivo hormonal.
mulher não serve para outra. A ocorrência de qualquer fator que pode vir a alterar a tem-
No período de 6 meses em que a mulher estiver fazendo peratura deve ser anotada no gráfico. Como exemplo, tem-se:
as anotações dos ciclos, ela deverá utilizar outro método, com mudança no horário de verificação da temperatura; perturba-
exceção da pílula, pois esta interfere na regularização dos ciclos. ções do sono e/ou emocionais; algumas doenças que podem
Os ciclos irregulares e a lactação são contraindicações no elevar a temperatura; mudanças de ambiente e uso de bebidas
uso desse método. alcoólicas.
Os profissionais de saúde deverão construir a tabela junto Esse método é contraindicado em casos de irregularidades
com a mulher e refazer os cálculos todas as vezes que forem menstruais, amenorreia, estresse, mulheres com períodos de
necessárias, até que a mulher se sinta segura para tal, devendo sono irregular ou interrompido (por exemplo, trabalho noturno).
retornar à unidade dentro de 1 mês e, depois, de 6 em 6 meses. Assim como no método do calendário, para a construção do
gráfico ou tabela de temperatura, a mulher e/ou casal deverá
b) Método da Temperatura Basal Corporal contar com a orientação de profissionais de saúde e neste caso
É o método que permite identificar o período fértil por meio em especial, no decorrer dos três primeiros meses de uso, quan-
das oscilações de temperatura que ocorrem durante o ciclo do, a partir daí, já se poderá predizer o período da ovulação. O
menstrual, com o corpo em repouso. retorno da cliente deverá se dar, pelo menos, em seis meses
após o início do uso do método. Em seguida, os retornos podem
ser anuais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
c) Método da ovulação ou do muco cervical ou Billings É recomendável que durante o 1º ciclo, o casal se abstenha
É o método que indica o período fértil por meio das carac- de relações sexuais. Os profissionais de saúde devem acompanhar
terísticas do muco cervical e da sensação de umidade por ele semanalmente o casal no 1º ciclo e os retornos se darão, no mí-
provocada na vulva. nimo, uma vez ao mês do 2º ao 6º ciclo e semestral a partir daí.
O muco cervical é produzido pelo colo do útero, tendo como
função umidificar e lubrificar o canal vaginal. A quantidade de d) Método sinto-térmico
muco produzida pode oscilar ao longo dos ciclos Baseia-se na combinação de múltiplos indicadores de ovu-
Para evitar a gravidez, é preciso conhecer as característi- lação, conforme os anteriormente citados, com a finalidade de
cas do muco. Isto pode ser feito observando-se diariamente a determinar o período fértil com maior precisão e confiabilidade.
presença ou ausência do muco através da sensação de umidade Associa a observação dos sinais e sintomas relativos à tem-
ou secura no canal vaginal ou através da limpeza da vulva com peratura basal corporal e ao muco cervical, levando em conta
papel higiênico, antes e após urinar. Esta observação pode ser parâmetros subjetivos (físicos ou psicológicos) que possam in-
feita visualizando-se a presença de muco na calcinha ou através dicar ovulação, tais como sensação de peso ou dor nas mamas,
do dedo no canal vaginal. dor abdominal, variações de humor e da libido, náuseas, acne,
Logo após o término da menstruação, tem-se, em geral, aumento de apetite, ganho de peso, pequeno sangramento in-
uma fase seca (fase pré-ovulatória). Quando aparece muco nes- termenstrual, dentre outros.
ta fase, geralmente é opaco e pegajoso. Os métodos de barreira são aqueles que não permitem à
Na fase ovulatória, o muco, que inicialmente era esbranqui- entrada de espermatozoides no canal cervical.
çado, turvo e pegajoso, vai-se tornando a cada dia mais elástico
e lubrificante, semelhante à clara de ovo, podendo-se puxá-lo e) Condom Masculino
em fio. Isto ocorre porque neste período os níveis de estrogênio Também conhecido como camisinha, camisa de vênus ou
estão elevados e é nesta fase que o casal deve abster-se de rela- preservativo, é uma capa de látex bem fino, porém resistente,
ções sexuais, com penetração, pois há risco de gravidez. descartável, que recobre o pênis completamente durante o ato
O casal que pretende engravidar deve aproveitar este perío- sexual.
do para ter relações sexuais. Evita a gravidez, impedindo que os espermatozoides pene-
O último dia de muco lubrificante, escorregadio e com elas- trem no canal vaginal, pois retém o sêmen ejaculado. O condom
ticidade máxima, chama-se dia ápice, ou seja, o muco com a má- protege contra as doenças sexualmente transmissíveis e por isso
xima capacidade de facilitar a espermomigração. Portanto, o dia seu uso deve ser estimulado em todas as relações sexuais.
ápice só pode ser identificado a posteriori e significa que em Deve ser colocado antes de qualquer contato do pênis com
mais ou menos 48 horas a ovulação já ocorreu, está ocorrendo os genitais femininos, porque alguns espermatozoides podem
ou vai ocorrer. escapar antes da ejaculação.
Na fase pós-ovulatória, já com o predomínio da progestero- Deve ser colocado com o pênis ereto, deixando um espaço
na, o muco forma uma verdadeira rolha no colo uterino, impe- de aproximadamente 2 cm na ponta, sem ar, para que o sêmen
dindo que os espermatozoides penetrem no canal cervical. É um seja depositado sem que haja rompimento da camisinha.
muco pegajoso, branco ou amarelado, grumoso, que dá sensa- As camisinhas devem ser guardadas em lugar fresco, seco e
ção de secura no canal vaginal. de fácil acesso ao casal. Não deve ser esticada ou inflada, para
No 4º dia após o dia ápice, a mulher entra no período de efeito de teste. Antes de utilizá-la, certifique-se do prazo de va-
infertilidade. lidade. Mesmo que esteja no prazo, não utilizá-la quando perce-
As relações sexuais devem ser evitadas desde o dia em que ber alterações como mudanças na cor, na textura, furo, cheiro
aparece o muco grosso até quatro dias depois do aparecimento diferente, mofo ou outras. A camisinha pode ou não já vir lubri-
do muco elástico. ficada de fábrica.
No início, é bom examinar o muco mais de uma vez ao dia, A colocação pode ser feita pelo homem ou pela mulher. Sua
fazendo o registro à noite, preferencialmente, no mesmo horá- manipulação deve ser cuidadosa, evitando-se unhas longas que
rio. É importante anotar as características do muco e os dias de podem danificá-la. Deve-se observar se o canal vaginal está su-
relações sexuais. ficientemente úmido para permitir uma penetração que provo-
Quando notar, no mesmo dia, mucos com características di- que pouca fricção, evitando- se assim que o condom se rompa.
ferentes, à noite, na hora de registrar, deve considerar o mais Lubrificantes oleosos como a vaselina não podem ser utiliza-
indicativo de fertilidade (mais elástico e translúcido). dos. Caso necessário, utilizar lubrificantes a base de água. Cre-
No período de aprendizagem do método, para identificar os mes, geleias ou óvulos vaginais espermicidas podem ser utiliza-
dias em que pode ou não ter relações sexuais, o casal deve ob- dos em associação com a camisinha. Após a ejaculação, o pênis
servar as seguintes recomendações: deve ser retirado ainda ereto. As bordas da camisinha devem ser
Só deve manter relações sexuais na fase seca posterior à pressionadas com os dedos, ao ser retirado, para evitar que o sê-
menstruação e, no máximo, dia sim, dia não, para que o sêmen men extravase ou que o condom se desprenda e fique na vagina.
não interfira na avaliação. Caso isto ocorra, é só puxar com os dedos e colocar espermatici-
da na vagina, com um aplicador. Caso não consiga retirar a cami-
Evitar relações sexuais nos dias de muco, até três dias após sinha, coloque espermicida e depois procure um posto de saúde
o dia ápice. para que a mesma seja retirada. Nestes casos, não faça lavagem
É importante ressaltar que o muco não deve ser examinado vaginal pois ela empurra ainda mais o espermatozoide em dire-
no dia em que a mulher teve relações sexuais, devido à presença ção ao útero. Após o uso, deve-se dar um nó na extremidade do
de esperma; depois de utilizar produtos vaginais ou duchas e condom para evitar o extravasamento de sêmen e jogá-lo no lixo
lavagens vaginais; durante a excitação sexual; ou na presença e nunca no vaso sanitário. O uso do condom é contraindicado
de leucorreias. em casos de anomalias do pênis e de alergia ao látex.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
f) Condom feminino ou camisinha feminina O diafragma impedirá, então, a gravidez por meio da barrei-
Feita de poliuretano, a camisinha feminina tem forma de ra mecânica e, ainda assim, caso algum espermatozoide consiga
saco, de aproximadamente 25 cm de comprimento, com dois escapar, se deparará com a barreira química, o espermaticida.
anéis flexíveis, um em cada extremidade. O anel menor fica na Para colocar e retirar o diafragma, deve-se escolher uma
parte fechada do saco e é este que, sendo introduzido no canal posição confortável (deitada, de cócoras ou com um pé apoiado
vaginal, irá se encaixar no colo do útero. O anel maior fica ade- sobre uma superfície qualquer), colocar o espermaticida, pegar
rido às bordas do lado aberto do saco e ficará do lado de fora, o diafragma pelas bordas e apertá-lo no meio de modo que ele
na vulva. Deste modo, a camisinha feminina se adapta e recobre assuma o formato de um 8.
internamente toda a vagina. Com a outra mão, abrir os lábios da vulva e introduzi-lo pro-
Assim, impede o contato com o sêmen e consequentemente fundamente na vagina. Após, fazer um toque vaginal para ve-
tem ação preventiva contra as DST. rificar se está bem colocado, ou seja, certificar-se de que está
Já está sendo disponibilizada em nosso meio. Sua divulgação cobrindo todo o colo do útero.
tem sido maior em algumas regiões do país, sendo ainda pouco Se estiver fora do lugar, deverá ser retirado e recolocado até
conhecida em outras. acertar. Para retirá-lo, é só encaixar o dedo na borda do diafrag-
ma e puxá-lo para fora e para baixo.
g) Espermaticida ou Espermicida É importante observar os seguintes cuidados, visando o me-
São produtos colocados no canal vaginal, antes da relação lhor aproveitamento do método: urinar e lavar as mãos antes
sexual. O espermicida atua formando uma película que recobre de colocar o diafragma (a bexiga cheia poderá dificultar a colo-
o canal vaginal e o colo do útero, impedindo a penetração dos cação); antes do uso, observá-lo com cuidado, inclusive contra
espermatozoides no canal cervical e, bioquimicamente, imobili- a luz, para identificar possíveis furos ou outros defeitos; se a
zando ou destruindo os espermatozoides, impedindo desta for- borracha do diafragma ficar enrugada, ele deverá ser trocado
ma a gravidez. imediatamente.
Podem se apresentar sob a forma de cremes, geleias, óvulos O espermaticida só é atuante para uma ejaculação. Caso
e espumas. aconteça mais de uma, deve-se fazer uma nova aplicação do
Cada tipo vem com suas instruções para uso, as quais devem
espermaticida, por meio do aplicador vaginal, sem retirar o dia-
ser seguidas. Em nosso meio, a geleia espermicida é a mais co-
fragma.
nhecida. A geleia espermicida deve ser colocada na vagina com o
O diafragma só deverá ser retirado de 6 a 8 horas após a úl-
auxílio de um aplicador. A mulher deve estar deitada e após a co-
tima relação sexual, evitando-se o uso de duchas vaginais neste
locação do medicamento, não deve levantar-se mais, para evitar
período. O período máximo que o diafragma pode permanecer
que esta escorra. O aplicador, contendo o espermaticida, deve
dentro do canal vaginal é de 24 horas. Mais que isto, poderá
ser inserido o mais profundamente possível no canal vaginal. Da
favorecer infecções.
mesma forma, quando os espermaticidas se apresentarem sob
Após o uso, deve-se lavá-lo com água fria e sabão neutro,
a forma de óvulos, estes devem ser colocados com o dedo ou
enxáguar bem, secar com um pano macio e polvilhar com amido
com aplicador próprio no fundo do canal vaginal. É recomendá-
vel que a aplicação da geleia seja feita até, no máximo, 1 hora ou talco neutro. Não usar água quente. Guardá-lo em sua caixi-
antes de cada relação sexual, sendo ideal o tempo de 30 minutos nha, longe do calor e da luz.
para que o agente espermaticida se espalhe adequadamente na Será necessário reavaliar o tamanho do diafragma depois
vagina e no colo do útero. Deve-se seguir a recomendação do de gravidez, aborto, ganho ou perda de peso (superior a 10 kg) e
fabricante, já que pode haver recomendação de tempos dife- cirurgias de períneo. Deverá ser trocado rotineiramente a cada
rentes de um produto para o outro. Os espermicidas devem ser 2 anos.
colocados de novo, se houver mais de uma ejaculação na mesma As contraindicações para o uso desse método ocorrem no
relação sexual. Se a ejaculação não ocorrer dentro do período caso de mulheres que nunca tiveram relação sexual, configura-
de segurança garantido pelo espermicida, deve ser feita outra ção anormal do canal vaginal, prolapso uterino, cistocele e/ou
aplicação. Deve-se evitar o uso de duchas ou lavagens vaginais retocele acentuada, anteversão ou retroversão uterina acentua-
pelo menos 8 horas após o coito. Caso se observe algum tipo de da, fístulas vaginais, tônus muscular vaginal deficiente, cervici-
leucorréia, prurido e ardência vaginal ou peniana, interromper o tes e outras patologias do colo do útero, leucorreias abundan-
uso do espermaticida. Este é contraindicado para mulheres que tes, alterações psíquicas graves, que impeçam o uso correto do
apresentem alto risco gestacional método.

h) Diafragma i) Os contraceptivos hormonais orais


É uma capa de borracha que tem uma parte côncava e uma Constituem um outro método muito utilizado pela mulher
convexa, com uma borda de metal flexível ou de borracha mais brasileira; são hormônios esteroides sintéticos, similares àque-
espessa que pode ser encontrada em diversos tamanhos, sendo les produzidos pelos ovários da mulher.
necessária avaliação pelo médico e/ou enfermeiro, identifican- Quando a mulher faz opção pela pílula anticoncepcional, ela
do a medida adequada a cada mulher deve ser submetida a uma criteriosa avaliação clínico-ginecoló-
A própria mulher o coloca no canal vaginal, antes da relação gica, durante a qual devem ser realizados e solicitados diversos
sexual, cobrindo assim o colo do útero, pois suas bordas ficam exames, para avaliação da existência de possíveis contraindica-
situadas entre o fundo de saco posterior da vagina e o púbis. ções.
Para ampliar a eficácia do diafragma, recomenda-se o uso O contraceptivo hormonal oral só impedirá a gravidez se to-
associado de um espermaticida que deve ser colocado no dia- mado adequadamente. Cada tipo de pílula tem uma orientação
fragma em quantidade correspondente a uma colherinha de específica a considerar.
café no fundo do mesmo, espalhando-se com os dedos. Depois,
colocar mais um pouco por fora, sobre o anel.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
j) DIU (Dispositivo Intrauterino) mínimo 2 filhos vivos ou ter mais de 25 anos de idade, indepen-
É um artefato feito de polietileno, com ou sem adição de dente do número de filhos; manifestar, por escrito, a vontade
substâncias metálicas ou hormonais, que tem ação contracepti- de realizar a esterilização, no mínimo 60 dias antes da realização
va quando posto dentro da cavidade uterina. da cirurgia; ter tido acesso a serviço multidisciplinar de aconse-
Também podem ser utilizados para fins de tratamento, lhamento sobre anticoncepção e prevenção de DST/AIDS, assim
como é o caso dos DIUs medicados com hormônios. como a todos os métodos anticoncepcionais reversíveis; ter con-
Podem ser classificados em DIUs não medicados aqueles sentimento do cônjuge, no caso da vigência de união conjugal.
que não contêm substâncias ativas e, portanto, são constituídos No caso do homem, a cirurgia é a vasectomia, que interrom-
apenas de polietileno; DIUs medicados que além da matriz de pe a passagem, pelos canais deferentes, dos espermatozoides
polietileno possuem substâncias que podem ser metais, como o produzidos nos testículos, impedindo que estes saiam no sê-
cobre, ou hormônios. men. Na mulher, é a ligadura de trompas ou laqueadura tubária
Os DIUs mais utilizados são os T de cobre (TCu), ou seja, os que impede o encontro do óvulo com o espermatozoide.
DIUs que têm o formato da letra T e são medicados com o metal O serviço que realizar o procedimento deverá oferecer to-
cobre. das as alternativas contraceptivas visando desencorajar a este-
O aparelho vem enrolado em um fio de cobre bem fino. rilização precoce.
A presença do DIU na cavidade uterina provoca uma reação
inflamatória crônica no endométrio, como nas reações a corpo Deverá, ainda, orientar a cliente quanto aos riscos da cirur-
estranho. Esta reação provavelmente determina modificações gia, efeitos colaterais e dificuldades de reversão. A lei impõe res-
bioquímicas no endométrio, o que impossibilita a implantação trições quanto à realização da laqueadura tubária por ocasião
do ovo. Outra ação do DIU é o aumento da contratilidade uteri- do parto cesáreo, visando coibir o abuso de partos cirúrgicos
na, dificultando o encontro do espermatozoide com o óvulo. O realizados exclusivamente com a finalidade de realizar a este-
cobre presente no dispositivo tem ação espermicida. rilização.
A colocação do DIU é simples e rápida. Não é necessário A abordagem desta problemática deve ser sempre conjugal.
anestesia. É realizada em consultório e para a inserção é utiliza- Tanto o homem quanto a mulher podem possuir fatores que
do técnica rigorosamente asséptica. contribuam para este problema, ambos devem ser investigados.
A mulher deve estar menstruada. A menstruação, além de A esterilidade é a incapacidade do casal obter gravidez após
ser uma garantia de que não está grávida, facilita a inserção, pelo menos um ano de relações sexuais frequentes, com ejacu-
pois neste período o canal cervical está mais permeável. Após a lação intravaginal, sem uso de nenhum método contraceptivo.
inserção, a mulher é orientada a verificar a presença dos fios do Pode ser classificada em primária ou secundária. A esterilida-
DIU no canal vaginal. de primária é quando nunca houve gravidez. Já a secundária, é
Na primeira semana de uso do método, a mulher não deve quando o casal já conseguiu obter, pelo menos, uma gravidez e
ter relações sexuais. O Ministério da Saúde recomenda que após a partir daí passou a ter dificuldades para conseguir uma nova
a inserção do DIU a mulher deva retornar ao serviço para revi- gestação.
sões com a seguinte periodicidade: 1 semana, 1 mês, 3 meses, 6 A infertilidade é a dificuldade de o casal chegar ao final da
meses e 12 meses. A partir daí, se tudo estiver bem, o acompa- gravidez com filhos vivos, ou seja, conseguem engravidar, po-
nhamento será anual, com a realização do preventivo. rém as gestações terminam em abortamentos espontâneos ou
O DIU deverá ser retirado quando a mulher quiser, quando em natimortos.
tiver com a validade vencida ou quando estiver provocando al- A infertilidade também pode ser classificada em primária ou
gum problema. secundária. A infertilidade primária é quando o casal não con-
A validade do DIU varia de acordo com o tipo. A validade do seguiu gerar nenhum filho vivo. A secundária é quando as difi-
DIU Tcu, disponibilizado pelo Ministério da Saúde, varia de 3 a culdades em gerar filhos vivos acontecem com casais com filhos
7 anos. gerados anteriormente.
Os problemas que indicam a retirada do DIU são dor seve- De acordo com o Ministério da Saúde, para esta classifica-
ra, sangramento intenso, doença pélvica inflamatória, expul- ção não são consideradas as gestações ou os filhos vivos que
são parcial, gravidez (até a 12ª semana de gravidez, se os fios qualquer dos membros do casal possa ter tido com outro(a) par-
estiverem visíveis ao exame especular, pois indica que o saco ceiro(a).
gestacional está acima do DIU, e se a retirada não apresentar A esterilidade/infertilidade, com frequência, impõe um es-
resistência). tresse e tensão no inter-relacionamento. Os clientes costumam
admitir sentimentos de culpa, ressentimentos, suspeita, frustra-
Assistência aos Casais Portadores de Esterilidade e Infer- ção e outros. Pode haver uma distorção da autoimagem, pois a
tilidade mulher pode considerar-se improdutiva e o homem desmascu-
A esterilização cirúrgica foi maciçamente realizada nas mu- linizado.
lheres brasileiras, a partir das décadas de 60 e 70, por entidades Portanto, na rede básica caberá aos profissionais de saúde
que sob o rótulo de “planejamento familiar” desenvolviam pro- dar orientações ao casal e encaminhamento para consulta no
gramas de controle da natalidade em nosso país. O reconheci- decorrer da qual se iniciará a investigação diagnóstica com pos-
mento da importância e complexidade que envolve as questões terior encaminhamento para os serviços especializados, sempre
relativas à esterilização cirúrgica tem se refletido no âmbito le- que necessário.
gal. A Lei do Planejamento Familiar de 1996 e as Portarias 144/97
e 48/99 do Ministério da Saúde normatizam os procedimentos,
permitindo que o Sistema Único de Saúde (SUS)os realize, em
acesso universal. Os critérios legais para a realização da esteri-
lização cirúrgica pelo SUS são: ter capacidade civil plena; ter no

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Assistência de Enfermagem á Gestante b) Mudança da coloração da região vulvar – tanto a vulva
como o canal vaginal torna-se bastante vascularizados, o que
Diagnosticando á Gravidez altera sua coloração de rosa avermelhado para azul escuro ou
Quanto mais cedo for realizado o diagnóstico de gravidez, vinhosa;
mais fácil será o acompanhamento do desenvolvimento do em- c) Colo amolecido – devido ao aumento do aporte sanguí-
brião/feto e das alterações que ocorrem no organismo e na vida neo na região pélvica, o colo uterino torna-se mais amolecido e
da mulher, possibilitando prevenir, identificar e tratar eventuais embebido, assim como as paredes vaginais tornam-se mais es-
situações de anormalidades que possam comprometer a saúde pessas, enrugadas, amolecidas e embebidas.
da grávida e de sua criança (embrião ou feto), desde o período d) Testes de gravidez - inicialmente, o hormônio gonado-
gestacional até o puerpério. trofina coriônica é produzido durante a implantação do ovo no
Este diagnóstico também pode ser feito tomando-se como endométrio; posteriormente, passa a ser produzido pela placen-
ponto de partida informações trazidas pela mulher. Para tanto, ta. Esse hormônio aparece na urina ou no sangue 10 a 12 dias
faz-se importante sabermos se ela tem vida sexual ativa e se há após a fecundação, podendo ser identificado mediante exame
referência de amenorreia (ausência de menstruação). A partir específico;
desses dados e de um exame clínico são identificados os sinais e e) Sinal de rebote – é o movimento do feto contra os dedos
sintomas físicos e psicológicos característicos, que também po- do examinador, após ser empurrado para cima, quando da reali-
dem ser identificados por exames laboratoriais que comprovem zação de exame ginecológico (toque) ou abdominal;
a presença do hormônio gonadotrofina coriônica e/ou exames f) Contrações de Braxton-Hicks – são contrações uterinas
radiográficos específicos, como a ecografia gestacional ou ul- indolores, que começam no início da gestação, tornando-se mais
trassonografia. notáveis à medida que esta avança, sentidas pela mulher como
Os sinais e sintomas da gestação dividem-se em três cate- um aperto no abdome. Ao final da gestação, tornam-se mais for-
gorias que, quando positivas, confirmam o diagnóstico. É impor- tes, podendo ser confundidas com as contrações do parto.
tante lembrar que muitos sinais e sintomas presentes na gesta-
ção podem também aparecer em outras circunstâncias. Visando Sinais de certeza – são aqueles que efetivamente confir-
seu maior conhecimento, identificaremos a seguir os sinais e sin- mam a gestação:
tomas gestacionais mais comuns e que auxiliam o diagnóstico. a) Batimento cardíaco fetal (BCF) - utilizando-se o estetos-
cópio de Pinard, pode ser ouvido, frequentemente, por volta da
18a semana de gestação; caso seja utilizado um aparelho ampli-
ficador denominado sonar Doppler, a partir da 12ª semana. A
Sinais de presunção – são os que sugerem gestação, decor-
frequência cardíaca fetal é rápida e oscila de 120 a 160 batimen-
rentes, principalmente, do aumento da progesterona:
tos por minuto;
a) Amenorreia - frequentemente é o primeiro sinal que aler-
b) Contornos fetais – ao examinar a região abdominal, fre-
ta para uma possível gestação. É uma indicação valiosa para a
quentemente após a 20ª semana de gestação, identificamos al-
mulher que possui menstruação regular; entretanto, também
gumas partes fetais (polo cefálico, pélvico, dorso fetal);
pode ser resultado de condições como, por exemplo, estresse
c) Movimentos fetais ativos – durante o exame, a atividade
emocional, mudanças ambientais, doenças crônicas, menopau-
fetal pode ser percebida a partir da 18ª/20ª semana de gestação.
sa, uso de métodos contraceptivos e outros;
A utilização da ultrassonografia facilita a detectar mais pre-
b) Náusea com ou sem vômitos - como sua ocorrência é coce desses movimentos;
mais frequente pela manhã, é denominada “enjoo matinal”, mas d) Visualização do embrião ou feto pela ultrassonografia
pode ocorrer durante o restante do dia. Surge no início da gesta- – pode mostrar o produto da concepção (embrião) com quatro
ção e, normalmente, não persiste após 16 semanas; semanas de gestação, além de mostrar a pulsação cardíaca fe-
c) Alterações mamárias – caracterizam-se pelo aumento da tal nessa mesma época. Após a 12ª semana de gestação, a ul-
sensibilidade, sensação de peso, latejamento e aumento da pig- trassonografia apresenta grande precisão diagnóstica. Durante
mentação dos mamilos e aréola; a partir do segundo mês, as a evolução da gestação normal, verificamos grande número de
mamas começam a aumentar de tamanho; sinais e sintomas que indicam alterações fisiológicas e anatômi-
d) Polaciúria – é o aumento da frequência urinária. Na gra- cas da gravidez. Além dos já descritos, frequentemente encon-
videz, especialmente no primeiro e terceiro trimestre, dá-se o trados no primeiro trimestre gestacional, existem outros como
preenchimento e o consequente crescimento do útero que, por o aumento da salivação (sialorreia) e sangramentos gengivais,
sua vez, pressiona a bexiga diminuindo o espaço necessário para decorrentes do edema da mucosa gengival, em vista do aumen-
realizar a função de reservatório. A esta alteração anatômica so- to da vascularização.
ma-se a alteração fisiológica causada pela ação da progesterona,
que provoca um relaxamento da musculatura lisa da bexiga, di- Algumas gestantes apresentam essas alterações de forma
minuindo sua capacidade de armazenamento; mais intensa; outras, de forma mais leve - o que pode estar as-
e) Vibração ou tremor abdominal – são termos usados para sociado às particularidades psicossocioculturais. Dentre estes
descrever o reconhecimento dos primeiros movimentos do feto, casos, podemos observar as perversões alimentares decorren-
pela mãe, os quais geralmente surgem por volta da 20ª semana. tes de carência de minerais no organismo (ferro, vitaminas), tais
Por serem delicados e quase imperceptíveis, podem ser confun- como o desejo de ingerir barro, gelo ou comidas extravagantes.
didos com gases intestinais. Para minimizar tais ocorrências, faz-se necessário acompa-
Sinais de probabilidade – são os que indicam que existe nhar a evolução da gestação por meio do pré-natal, identificando
uma provável gestação: e analisando a sintomatologia apresentada, ouvindo a mulher e
a) Aumento uterino – devido ao crescimento do feto, do lhe repassando informações que podem indicar mudanças pró-
útero e da placenta; prias da gravidez. Nos casos em que esta sintomatologia se in-
tensificar, indica-se a referência a algumas medidas terapêuticas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Assistência Pré-Natal -Cuidados com a criança recém-nascida, acompanhamento
A assistência pré-natal é o primeiro passo para a vivência da do crescimento e desenvolvimento e medidas preventivas e alei-
gestação, parto e nascimento saudável e humanizado. Todas as tamento materno;
mulheres têm o direito constitucional de ter acesso ao pré-na- -Anormalidades durante a gestação, trabalho de parto, par-
tal e informações sobre o que está ocorrendo com o seu corpo, to e na amamentação – novas condutas e encaminhamentos.
como minimizar os desconfortos provenientes das alterações
gravídicas, conhecer os sinais de risco e aprender a lidar com os O processo gravídico-puerperal é dividido em três grandes
mesmos, quando a eles estiver exposta. fases: a gestação, o parto e o puerpério. Cada uma das quais
O conceito de humanização da assistência ao parto pressu- possui peculiaridades em relação às alterações anátomo-fisioló-
põe a relação de respeito que os profissionais de saúde estabe- gicas e psicológicas da mulher.
lecem com as mulheres durante todo o processo gestacional,
de parturição e puerpério, mediante um conjunto de condutas, O Primeiro Trimestre da Gravidez
procedimentos e atitudes que permitem à mulher expressar li- No início, algumas gestantes apresentam dúvidas, medos e
vremente seus sentimentos. anseios em relação às condições sociais. Será que conseguirei
Essa atuação, condutas e atitudes visam tanto promover criar este filho?
um parto e nascimento saudáveis como prevenir qualquer inter- Como esta gestação será vista no meu trabalho? Conse-
corrência clínico-obstétrica que possa levar à morbimortalidade guirei conciliar o trabalho com um futuro filho?) e emocionais
materna e perinatal. (Será que esta gravidez será aceita por meu companheiro e/ou
A equipe de saúde desenvolve ações com o objetivo de pro- minha família?) que decorrem desta situação. Outras, apresen-
mover a saúde no período reprodutivo; prevenir a ocorrência de tam modificação no comportamento sexual, com diminuição ou
fatores de risco; resolver e/ou minimizar os problemas apresen- aumento da libido, ou alteração da autoestima, frente ao corpo
tados pela mulher, garantindo-lhe a aderência ao acompanha- modificado.
mento. Assim, quando de seu contato inicial para um primeiro Essas reações são comuns, mas em alguns casos necessitam
atendimento no serviço de saúde, precisa ter suas necessidades de acompanhamento específico (psicólogo, psiquiatra, assisten-
identificadas e resolvidas, tais como, dentre outras: a certeza de te social).
que está grávida o que pode ser comprovado por exame clíni- Confirmado o diagnóstico, inicia-se o acompanhamento da
co e laboratorial; inscrição/registro no pré-natal; marcação de gestante através da inscrição no pré-natal, com o preenchimen-
nova consulta com a inscrição no pré-natal e encaminhamento to do cartão, onde são registrados seus dados de identificação e
ao serviço de nutrição, odontologia e a outros como psicologia e socioeconômicos, motivo da consulta, medidas antropométricas
assistência social, quando necessários. (peso, altura), sinais vitais e dados da gestação atual.
Durante todo esse período, o auxiliar de enfermagem pode Visando calcular a idade gestacional e data provável do par-
minimizar-lhe a ansiedade e/ou temores fazendo com que a mu- to(DPP), pergunta-se à gestante qual foi à data de sua última
lher, seu companheiro e/ou família participem ativamente do menstruação.(DUM), registrando-se sua certeza ou dúvida.
processo, em todos os momentos, desde o pré-natal até o pós- Existem diversas maneiras para se calcular a idade gestacio-
-nascimento. Visando promover a compreensão do processo de nal, considerando-se ou não o conhecimento da data da última
gestação, informações sobre as diferentes vivências devem ser menstruação.
trocadas entre as mulheres e os profissionais de saúde. Ressalte-
-se, entretanto, que as ações educativas devem ser prioridades Quando a data da Última Menstruação é Conhecida pela
da equipe de saúde. Gestante.
a) Utiliza-se o calendário, contando o número de semanas a
Durante o pré-natal, os conteúdos educativos importantes partir do 1º dia da última menstruação até a data da consulta.
para serem abordados, desde que adequados às necessidades A data provável do parto corresponderá ao final da 40ª semana,
das gestantes, são: contada a partir do 1º dia da última menstruação;
- Pré-natal e Cartão da Gestante – apresentar a importância, b) Uma outra forma de cálculo é somar sete dias ao primeiro
objetivos e etapas, ouvindo as dúvidas e ansiedades das mulhe- dia da última menstruação e adicionar nove meses ao mês em
res; que ela ocorreu.
- Desenvolvimento da gravidez – apresentar as alterações
emocionais, orgânicas e da autoimagem; hábitos saudáveis Quando a data da Última Menstruação é Desconhecida
como alimentação e nutrição, higiene corporal e dentária, ati- pela Gestante
vidades físicas, sono e repouso; vacinação antitetânica; relacio- Nesse caso, uma das formas clínicas para o cálculo da idade
namento afetivo e sexual; direitos da mulher grávida/direitos gestacional é a verificação da altura uterina, ou a realização de
reprodutivos – no Sistema de Saúde, no trabalho e na comunida- ultrassonografia.
de; identificação de mitos e preconceitos relacionados à gesta- Geralmente, essa medida equivale ao número de semanas
ção, parto e maternidade – esclarecimentos respeitosos; vícios gestacionais, mas só deve ser considerada a partir de um exame
e hábitos que devem ser evitados durante a gravidez; preparo obstétrico detalhado.
para a amamentação; Outro dado a ser registrado no cartão é a situação vacinal
Tipos de parto – aspectos facilitadores do preparo da mu- da gestante. Sua imunização com vacina antitetânica é rotinei-
lher; exercícios para fortalecer o corpo na gestação e para o par- ramente feita no pré-natal, considerando-se que os anticorpos
to; preparo psíquico e físico para o parto e maternidade; início produzidos ultrapassam a barreira placentária, vindo a proteger
do trabalho de parto, etapas e cuidados; o concepto contra o tétano neonatal - pois a infecção do bebê
-Participação do pai durante a gestação, parto e maternida- pelo Clostridium tetani pode ocorrer no momento do parto e/
de/ paternidade – importância para o desenvolvimento saudá- ou durante o período de cicatrização do coto umbilical, se não
vel da criança; forem observados os adequados cuidados de assepsia.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Ressalte-se que este procedimento também previne o téta- a transmissão de doenças ao RN, possibilitando, assim, que a
no na mãe, já que a mesma pode vir a infectar-se por ocasião da gestante seja precocemente tratada de qualquer anormalidade
episiotomia ou cesariana. que possa vir a apresentar.
A proteção da gestante e do feto é realizada com a vacina A enfermagem deve informar acerca da importância de uma
dupla tipo adulto (dT) ou, em sua falta, com o toxóide tetânico alimentação balanceada e rica em proteínas, vitaminas e sais
(TT). minerais, presentes em frutas, verduras, legumes, tubérculos,
grãos, castanhas, peixes, carnes e leite - elementos importantes
Gestante Vacinada no suprimento do organismo da gestante e na formação do novo
Esquema básico: na gestante que já recebeu uma ou duas ser.
doses da vacina contra o tétano (DPT, TT, dT, ou DT), deverão ser A higiene corporal e oral deve ser incentivada, pois existe o
aplicadas mais uma ou duas doses da vacina dupla tipo adulto risco de infecção urinária, gengivite e dermatite. Se a gestante
(dT) ou, na falta desta, o toxoide tetânico (TT), para se comple- apresentar reações a odores de pasta de dente, sabonete ou de-
tar o esquema básico de três doses. sodorante, entre outros, deve ser orientada a utilizar produtos
Reforços: de dez em dez anos. A dose de reforço deve ser neutros ou mesmo água e bucha, conforme permitam suas con-
antecipada se, após a aplicação da última dose, ocorrer nova dições financeiras.
gravidez em cinco anos ou mais. É importante, já no primeiro trimestre, iniciar o preparo das
O auxiliar de enfermagem deve atentar e orientar para o mamas para o aleitamento materno, banho de sol nas mamas é
surgimento das reações adversas mais comuns, como dor, calor, uma orientação eficaz.
rubor e endurecimento local e febre. Nos casos de persistência Outras orientações referem-se a algumas das sintomatolo-
e/ou reações adversas significativas, encaminhar para consulta gias mais comuns, a seguir relacionadas, que a gestante pode
médica. apresentar no primeiro trimestre e as condutas terapêuticas que
A única contraindicação é o relato, muito raro, de reação podem ser realizadas.
anafilática à aplicação de dose anterior da vacina. Tal fato mos- Essas orientações são válidas para os casos em que os sin-
tra a importância de se valorizar qualquer intercorrência ante- tomas são manifestações ocasionais e transitórias, não refletin-
rior verbalizada pela cliente. do doenças clínicas mais complexas. Entretanto, a maioria das
Na gestação, a mulher tem garantida a realização de exames queixas diminui ou desaparece sem o uso de medicamentos, que
laboratoriais de rotina, dos quais os mais comuns são: devem ser utilizados apenas com prescrição.
Segundo o Ministério da Saúde, os exames laboratoriais
abaixo devem ser solicitados de rotina no pré-natal de baixo a) Náuseas e vômitos - explicar que esses sintomas são
risco para todas as gestantes, não fazendo distinção em suas muito comuns no início da gestação. Para diminuí-los, orientar
recomendações entre a gestante atendida no setor público ou que a dieta seja fracionada (seis refeições leves ao dia) e que se
privado (1): evite o uso de frituras, gorduras e alimentos com odores fortes
- Tipagem sanguínea: Solicitar na primeira consulta. Quan- ou desagradáveis, bem como a ingestão de líquidos durante as
do o pai é Rh positivo e a mãe é Rh-negativo, deve-se solicitar refeições (os quais devem, preferencialmente, ser ingeridos nos
Coombs indireto na primeira consulta e mensalmente a partir de intervalos). Comer bolachas secas antes de se levantar ou tomar
24 semanas. A positivação do teste de Coombs requer manejo um copo de água gelada com algumas gotas de limão, ou ainda
em serviço de referência. chupar laranja, ameniza os enjoos.
- Hemoglobina e hematócrito (Hb/Ht): na primeira consulta. Nos casos de vômitos frequentes, agendar consulta médica
- VDRL: na primeira consulta (repetir no terceiro trimestre). ou de enfermagem para avaliar a necessidade de usar medica-
- Glicemia de jejum: solicitar na primeira consulta de pré-na- mentos;
tal (se normal, repetir na 20ª semana). b) Sialorreia – é a salivação excessiva, comum no início da
- EQU e urocultura: solicitar na primeira consulta (repetir na gestação.
30ª semana). Orientar que a dieta deve ser semelhante à indicada para
-Anti-HIV: deve ser oferecido na primeira consulta pré-natal náuseas e vômitos; que é importante tomar líquidos (água, su-
(realizar aconselhamento pré e pós-teste). Quando o resultado cos) em abundância (especialmente em épocas de calor) e que a
é negativo e a paciente se enquadra em uma situação de risco saliva deve ser deglutida, pois possui enzimas que auxiliarão na
(portadora de alguma DST, prática de sexo inseguro, usuária ou digestão dos alimentos;
parceira de usuário de drogas injetáveis), o exame deve ser re- c) Fraqueza, vertigens e desmaios - verificar a ingesta e fre-
petido no intervalo de três meses. quência alimentar; orientar quanto à dieta fracionada e o uso
- HBsAg: deve ser realizado na primeira consulta para pos- de chá ou café com açúcar como estimulante, desde que não
sibilitar a identificação das gestantes soropositivas cujos bebês, estejam contraindicados; evitar ambientes mal ventilados, mu-
logo após o nascimento, podem se beneficiar do emprego profi- danças bruscas de posição e inatividade. Explicar que sentar- se
lático de imunoglobulina e vacina específica. com a cabeça abaixada ou deitar-se em decúbito lateral, respi-
- Sorologia para toxoplasmose: na primeira consulta, IgM rando profunda e pausadamente, minimiza o surgimento dessas
para todas as gestantes e IgG, quando houver disponibilidade sensações;
para realização. d) Corrimento vaginal - geralmente, a gestante apresenta-
- Citopatológico de colo uterino: deve ser colhido, quando -se mais úmida em virtude do aumento da vascularização. Na
não foi realizado durante o ano precedente. ocorrência de fluxo de cor amarelada, esverdeada ou com odor
fétido, com prurido ou não, agendar consulta médica ou de en-
Estes exames, que devem ser realizados no 1° e 3° trimestre fermagem. Nessa circunstância, consultar condutas no Manual
de gravidez, objetivam avaliar as condições de saúde da gestan- de Tratamento e Controle de Doenças Sexualmente Transmissí-
te, ajudando a detecção, prevenindo sequelas, complicações e veis/DST – AIDS/MS;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
e) Polaciúria – explicar porque ocorre, reforçando a impor- A partir dessas modificações e alterações anátomo-fisiológi-
tância da higiene íntima; agendar consulta médica ou de enfer- cas, a gestante pode ter seu equilíbrio emocional e físico com-
magem caso exista disúria (dor ao urinar) ou hematúria (sangue prometidos, o que lhe gera certo desconforto. Além das sinto-
na urina), acompanhada ou não de febre; matologias mencionadas no primeiro trimestre, podemos ainda
f) Sangramento nas gengivas - recomendar o uso de escova encontrar queixas frequentes no segundo (abaixo listadas) e até
de dente macia e realizar massagem na gengiva. Agendar aten- mesmo no terceiro trimestre. Assim sendo, o fornecimento das
dimento odontológico, sempre que possível. corretas orientações e condutas terapêuticas são de grande im-
portância no sentido de minimizar essas dificuldades.
Os principais microrganismos que, ao infectarem a gestante, a) Pirose (azia) - orientar para fazer dieta fracionada, evi-
podem transpor a barreira placentária e infectar o concepto são: tando frituras, café, qualquer tipo de chá, refrigerantes, doces,
-vírus: principalmente nos três primeiros meses da gravidez, álcool e fumo. Em alguns casos, a critério médico, a gestante
o vírus da rubéola pode comprometer o embrião, causando má pode fazer uso de medicamentos;
formação, hemorragias, hepatoesplenomegalia, pneumonias, b) Flatulência, constipação intestinal, dor abdominal e có-
hepatite, encefalite e outras. Outros vírus que também podem licas – nos casos de flatulências (gases) e/ou constipação intes-
prejudicar o feto são os da varicela, da varíola, do herpes, da tinal, orientar dieta rica em fibras, evitando alimentos de alta
hepatite, do sarampo e da AIDS; fermentação, e recomendar aumento da ingestão de líquidos
-bactérias: as da sífilis e tuberculose congênita. Caso a in- (água, sucos). Adicionalmente, estimular a gestante a fazer ca-
fecção ocorra a partir do quinto mês de gestação, há o risco de minhadas, movimentar-se e regularizar o hábito intestinal, ade-
óbito fetal, aborto e parto prematuro; quando, para ir ao banheiro, um horário que considere ideal
-protozoários:causadores da toxoplasmose congênita. A di- para sua rotina. Agendar consulta com nutricionista; se a ges-
ferença da toxoplasmose para a rubéola e sífilis é que, indepen- tante apresentar flacidez da parede abdominal, sugerir o uso
dentemente da idade gestacional em que ocorra a infecção do de cinta (com exceção da elástica); em alguns casos, a critério
concepto, os danos podem ser irreparáveis. médico, a gestante pode fazer uso de medicamentos para ga-
Considerando-se esses problemas, ressalta-se a importância ses, constipação intestinal e cólicas. Nas situações em que a dor
dos exames sorológicos pré-nupcial e pré-natal, que permitem o abdominal ou cólica for persistentes e o abdome gravídico apre-
diagnóstico precoce da(s) doença(s) e a consequente assistência sentar-se endurecido e dolorido, encaminhar para consulta com
imediata. o enfermeiro ou médico, o mais breve possível;
c) Hemorroidas – orientar a gestante para fazer dieta rica
O segundo trimestre da gravidez em fibras, visando evitar a constipação intestinal, não usar papel
higiênico colorido e/ou muito áspero, pois podem causar irrita-
No segundo trimestre, ou seja, a partir da 14ª até a 27ª se-
ções, e realizar após defecar, higiene perianal com água e sabão
mana de gestação, a grande maioria dos problemas de aceitação
neutro. Agendar consulta médica caso haja dor ou sangramento
da gravidez foi amenizada ou sanada e a mulher e/ou casal e/
anal persistente; se necessário, agendar consulta de pré-natal e/
ou família entram na fase de “curtir o bebê que está por vir”.
ou com o nutricionista;
Começa então a preparação do enxoval.
d) Alteração do padrão respiratório - muito frequente na
Nesse período, o organismo ultrapassou a fase de estresse e
gestação, em decorrência do aumento do útero que impede a
encontra- se com mais harmonia e equilíbrio. Os questionamen-
expansão diafragmática, intensificada por postura inadequada
tos estão mais voltados para a identificação do sexo (“Menino
e/ou ansiedade da gestante. Nesses casos, recomendar repouso
ou menina?”) e condições de saúde da futura criança (“Meu fi-
em decúbito lateral esquerdo ou direito e o uso de travesseiros
lho será perfeito?”). altos que possibilitem elevação do tórax, melhorando a expan-
A mulher refere percepção dos movimentos fetais, que já são pulmonar. Ouvir a gestante e conversar sobre suas angús-
podem ser confirmados no exame obstétrico realizado pelo en- tias, agendando consulta com o psicólogo, quando necessário.
fermeiro ou médico. Estar atento para associação com outros sintomas (ansiedade,
Com o auxílio do sonar Doppler ou estetoscópio de Pinnard, cianose de extremidades, cianose de mucosas) ou agravamento
pode-se auscultar os batimentos fetais (BCF). Nesse momento, o da dificuldade em respirar, pois, embora não frequente, pode
auxiliar de enfermagem deve colaborar, garantindo a presença tratar-se de doença cardíaca ou respiratória; nessa circunstân-
do futuro papai ou acompanhante. A emoção que ambos sen- cia, agendar consulta médica ou de enfermagem imediata;
tem ao escutar pela primeira vez o coração do bebê é sempre e) Desconforto mamário - recomendar o uso constante de
muito grande, pois confirma-se a geração de uma nova vida. sutiã, com boa sustentação; persistindo a dor, encaminhar para
A placenta encontra-se formada, os órgãos e tecidos estão consulta médica ou de enfermagem;
diferenciados e o feto começa o amadurecimento de seus siste- f) Lombalgia - recomendar a correção de postura ao sentar-
mas. Reagem ativamente aos estímulos externos, como vibra- -se e ao andar, bem como o uso de sapatos com saltos baixos e
ções, luz forte, som e outros. confortáveis.
Tendo em vista as alterações externas no corpo da gestante A aplicação de calor local, por compressas ou banhos mor-
– aumento das mamas, produção de colostro e aumento do ab- nos, é recomendável. Em alguns casos, a critério médico, a ges-
dome - a mulher pode fazer questionamentos tais como: “Meu tante pode fazer uso de medicamentos;
corpo vai voltar ao que era antes? Meu companheiro vai perder g) Cefaleia - conversar com a gestante sobre suas tensões,
o interesse sexual por mim? conflitos e temores, agendando consulta com o psicólogo, se ne-
Como posso viver um bom relacionamento sexual? A pene- cessário.
tração do pênis machucará a criança?”. Nessas circunstâncias, Verificar a pressão arterial, agendando consulta médica ou
a equipe deve proporcionar- lhe o apoio devido, orientando-a, de enfermagem no sentido de afastar suspeita de hipertensão
esclarecendo-a e, principalmente, ajudando-a a manter a au- arterial e pré-eclâmpsia (principalmente se mais de 24 semanas
toestima. de gestação);

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
h) Varizes - recomendar que a gestante não permaneça pelo que foi oferecido por último (o que permitirá melhor es-
muito tempo em pé ou sentada e que repouse por 20 minutos, vaziamento das mamas e maior produção de leite, bem como o
várias vezes ao dia, com as pernas elevadas, e não use roupas fornecimento de quantidade constante de gordura em todas as
muito justas e nem ligas nas pernas - se possível, deve utilizar mamadas).
meia-calça elástica especial para gestante; Ao retirar o bebê do mamilo, nunca puxá-lo, pois isto pode
i) Câimbras – recomendar, à gestante, que realize massa- causar rachadura ou fissura. Como prevenção, deve-se orientar
gens no músculo contraído e dolorido, mediante aplicação de a mãe a introduzir o dedo mínimo na boca do bebê e, quando ele
calor local, e evite excesso de exercícios; suga-lo, soltar o mamilo.
j) Hiperpigmentação da pele - explicar que tal fato é muito Em virtude da proximidade do término da gestação, as
comum na gestação mas costuma diminuir ou desaparecer, em expectativas estão mais voltadas para os momentos do parto
tempo variável, após o parto. Pode apresentar como manchas (“Será que vou sentir e/ou aguentar a dor?”) e de ver o bebê
escuras no rosto (cloasma gravídico), mamilos escurecidos ou, (“Será que é perfeito?”).
ainda, escurecimento da linha alva (linha nigra). Para minimizar Geralmente, este é um dos períodos de maior tensão da
o cloasma gravídico, recomenda-se à gestante, quando for ex- gestante.
por-se ao sol, o uso de protetor solar e chapéu; No terceiro trimestre, o útero volumoso e a sobrecarga dos
l) Estrias - explicar que são resultado da distensão dos teci- sistemas cardiovascular, respiratório e locomotor desencadeiam
dos e que não existe método eficaz de prevenção, sendo comum alterações orgânicas e desconforto, pois o organismo apresenta
no abdome, mamas, flancos, região lombar e sacra. As estrias, menor capacidade de adaptação. Há aumento de estresse, can-
que no início apresentam cor arroxeada, tendem, com o tempo, saço, e surgem as dificuldades para movimentar-se e dormir.
a ficar de cor semelhante à da pele; Frequentemente, a gestante refere plenitude gástrica e
m) Edemas – explicar que são resultado do peso extra (pla- constipação intestinal, decorrentes tanto da diminuição da área
centa, líquido amniótico e feto) e da pressão que o útero aumen- gástrica quanto da diminuição da peristalse devido à pressão
tado exerce sobre os vasos sanguíneos, sendo sua ocorrência uterina sobre os intestinos, levando ao aumento da absorção de
bastante comum nos membros inferiores. Podem ser detecta- água no intestino, o que colabora para o surgimento de hemor-
dos quando, com a gestante em decúbito dorsal ou sentada, sem roidas. É comum observarmos queixas em relação à digestão de
meias, se pressiona a pele na altura do tornozelo (região perima- alimentos mais pesados. Portanto, é importante orientar dieta
leolar) e na perna, no nível do seu terço médio, na face anterior fracionada, rica em verduras e legumes, alimentos mais leves e
(região prétibial). que favoreçam a digestão e evitem constipações. O mais impor-
O edema fica evidenciado mediante presença de uma de- tante é a qualidade dos alimentos, e não sua quantidade.
pressão duradoura (cacifo) no local pressionado. Nesses casos,
recomendar que a gestante mantenha as pernas elevadas pelo Observamos que a frequência urinária aumenta no final da
menos 20 minutos por 3 a 4 vezes ao dia, quando possível, e que gestação, em virtude do encaixamento da cabeça do feto na ca-
use meia elástica apropriada. vidade pélvica; em contrapartida, a dificuldade respiratória se
ameniza. Entretanto, enquanto tal fenômeno de descida da ca-
O terceiro trimestre da gravidez beça não acontece, o desconforto respiratório do final da gra-
Muitas mulheres deixam de amamentar seus filhos preco- videz pode ser amenizado adotando a posição de semi fowler
cemente devido a vários fatores (social, econômico, biológico, durante o descanso.
psicológico), nos quais se destacam estilos de vida (urbano ou Ao final do terceiro trimestre, é comum surgirem mais va-
rural), tipos de ocupação (horário e distância do trabalho), es- rizes e edema de membros inferiores, tanto pela compressão
trutura de apoio ao aleitamento (creches, tempo de licença-alei- do útero sobre as veias ilíacas, dificultando o retorno venoso,
tamento) e mitos ou ausência de informação. quanto por efeitos climáticos, principalmente climas quentes. É
Por isso, é importante o preparo dessa futura nutriz ainda importante observar a evolução do edema, pesando a gestante
no pré-natal, que pode ser desenvolvido individualmente ou em e, procurando evitar complicações vasculares, orientando seu
grupo. As orientações devem abranger as vantagens do aleita- repouso em decúbito lateral esquerdo, conforme as condutas
mento para a mãe (prático, econômico e não exige preparo), terapêuticas anteriormente mencionadas.
relacionadas à involução uterina (retorno e realinhamento das Destacamos que no final desse período o feto diminui seus
fibras musculares da parede do útero) e ao desenvolvimento da movimentos pois possui pouco espaço para mexer-se. Assim, a
inter-relação afetiva entre mãe-filho. Para o bebê, as vantagens mãe deve ser orientada para tal fenômeno, mas deve supervisio-
relacionam-se com a composição do leite, que atende a todas as nar diariamente os movimentos fetais – o feto deve mexer pelo
suas necessidades nutricionais nos primeiros 6 meses de vida, é menos uma vez ao dia. Caso o feto não se movimente durante o
adequada à digestão e propicia a passagem de mecanismos de período de 24 horas, deve ser orientada a procurar um serviço
defesa (anticorpos) da mãe; além disso, o ato de sugar auxilia a hospitalar com urgência.
formação da arcada dentária, o que facilitará, posteriormente, Como saber quando será o trabalho de parto? Quais os si-
a fala. nais de trabalho de parto? O que fazer? Essas são algumas das
No tocante ao ato de amamentar, a mãe deve receber várias perguntas que a mulher/casal e família fazem constantemente,
orientações: este deve ocorrer sempre que a criança tiver fome quando aproxima-se a data provável do parto.
e durante o tempo que quiser (livre demanda). Para sua reali- A gestante e/ou casal devem ser orientados para os sinais
zação, a mãe deve procurar um local confortável e tranquilo, de início do trabalho de parto. O preparo abrange um conjunto
posicionar a criança da forma mais cômoda - de forma que lhe de cuidados e medidas de promoção à saúde que devem garan-
permita a abocanhar o mamilo e toda ou parte da aréola, afas- tir que a mulher vivencie a experiência do parto e nascimento
tando o peito do nariz da criança com o auxílio dos dedos – e como um processo fisiológico e natural.
oferecer-lhe os dois seios em cada mamada, começando sempre

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A gestante, juntamente com seu acompanhante, deve ser No Brasil, as causas de mortalidade materna se caracterizam
orientada para identificar os sinais que indicam o início do tra- por elevadas taxas de toxemias, outras causas diretas, hemorra-
balho de parto. gias (durante a gravidez, descolamento prematuro de placenta),
Para tanto, algumas orientações importantes devem ser complicações puerperais e abortos. Essas causas encontram-se
oferecidas, como: presentes em todas as regiões, com predominância de incidên-
-a bolsa d’água que envolve o feto ainda intra-útero (bolsa cia em diferentes estados.
de líquido amniótico) pode ou não romper-se; A consulta de pré-natal é o espaço adequado para a pre-
-a barriga pode apresentar contrações, ou seja, uma dor venção e controle dessas intercorrências, como a hipertensão
tipo cólica que a fará endurecer e que será intermitente, ini- arterial associada à gravidez (toxemias), que se caracteriza por
ciando com intervalos maiores e diminuindo com a evolução do ser fator de risco para eclampsia e outras complicações.
trabalho de parto; Denomina-se fator de risco aquela característica ou circuns-
-no final do terceiro trimestre, às vezes uma semana antes tância que se associa à probabilidade maior do indivíduo sofrer
do parto, ocorre a saída de um muco branco (parecendo “ca- dano à saúde. Os fatores de risco são de natureza diversa, a sa-
tarro”) o chamado tampão mucoso, o qual pode ter sinais de ber: biológicos (idade – adolescente ou idosa; estatura - baixa
sangue no momento do trabalho de parto; estatura; peso – obesidade ou desnutrição), clínicos (hiperten-
-a respiração deve ser feita de forma tranquila (inspiração são, diabetes), ambientais (abastecimento deficiente de água,
profunda e expiração soprando o ar). falta de rede de esgotos), relacionados à assistência (má quali-
dade da assistência, cobertura insuficiente ao pré-natal), socio-
A gestante e seu acompanhante devem ser orientados a culturais (nível de formação) e econômicos (baixa renda).
procurar um serviço de saúde imediatamente ao perceberem Esses fatores, associados a fatores obstétricos como primei-
qualquer intercorrência durante o período gestacional, como, ra gravidez, multiparidade, gestação em idade reprodutiva pre-
por exemplo, perda transvaginal (líquido, sangue, corrimento, coce ou tardia, abortamentos anteriores e desnutrição, aumen-
outros); presença de dores abdominais, principalmente tipo có- tam a probabilidade de morbimortalidade perinatal.
licas, ou dores localizadas; contração do abdome, abdome duro Devemos considerar que a maioria destas mortes mater-
(hipertônico); parada da movimentação fetal; edema acentuado nas e fetais poderiam ter sido prevenidas com uma assistência
de membros inferiores e superiores (mãos); ganho de peso exa- adequada ao pré-natal, parto e puerpério - “98% destas mortes
gerado; visão turva e presença de fortes dores de cabeça (cefa- seriam evitadas se as mulheres tivessem condições dignas de
leia) ou na nuca. vida e atenção à saúde, especialmente pré-natal realizado com
Enfatizamos que no final do processo gestacional a mulher qualidade, assim como bom serviço de parto e pós-parto”.
pode apresentar um quadro denominado “falso trabalho de par- Entretanto, há uma pequena parcela de gestantes que, por
to”, caracterizando por atividade uterina aumentada (contra- terem algumas características ou sofrerem de alguma patologia,
ções), permanecendo, entretanto, um padrão descoordenado apresentam maiores probabilidades de evolução desfavorável,
de contrações. tanto para elas como para o feto. Essa parcela é a que constitui
Algumas vezes, estas contrações são bem perceptíveis. Con- o grupo chamado de gestantes de risco.
tudo, cessam em seguida, e a cérvice uterina não apresenta al- Dentre as diversas situações obstétricas de risco gestacional,
terações (amolecimento, apagamento e dilatação). Tal situação destacam-se as de maior incidência e maior risco, como abor-
promove alto grau de ansiedade e expectativa da premência tamento, doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG) e
do nascimento, sendo um dos principais motivos que levam as sofrimento fetal.
gestantes a procurar o hospital. O auxiliar de enfermagem deve
orientar a clientela e estar atento para tais acontecimentos, vi- Abortamento
sando evitar uma admissão precoce, intervenções desnecessá- Conceitua-se como abortamento a morte ovular ocorrida
rias e estresse familiar, ocasionando uma experiência negativa antes da 22ª semana de gestação, e o processo de eliminação
de trabalho de parto, parto e nascimento. deste produto da concepção é chamado de aborto. O aborta-
Para amenizar o estresse no momento do parto, devemos mento é dito precoce quando ocorre até a 13ª semana; e tardio,
orientar a parturiente para que realize exercícios respiratórios, quando entre a 13ª e 22ª semanas.
de relaxamento e caminhadas, que diminuirão sua tensão mus- Algumas condições favorecem o aborto, entre elas: fatores
cular e facilitarão maior oxigenação da musculatura uterina. Tais ovulares (óvulos ou espermatozoides defeituosos); diminuição
exercícios proporcionam melhor rendimento no trabalho de par- do hormônio progesterona, resultando em sensibilidade uterina
to, pois propiciam uma economia de energia - sendo aconselhá- e contrações que podem levar ao aborto; infecções como sífilis,
veis entre as metrossístoles. rubéola, toxoplasmose; traumas de diferentes causas; incompe-
Os exercícios respiratórios consistem em realizar uma inspi- tência istmo cervical; mioma uterino; “útero infantil”; intoxica-
ração abdominal lenta e profunda, e uma expiração como se a ções (fumo, álcool, chumbo e outros); hipotireoidismo; diabetes
gestante estivesse soprando o vento (apagando a vela), princi- mellitus; doenças hipertensivas e fatores emocionais.
palmente durante as metrossístoles. Na primeira fase do traba- Os tipos de aborto são inúmeros e suas manifestações clíni-
lho de parto, são muito úteis para evitar os espasmos dolorosos cas estão voltadas para a gravidade de cada caso e dependên-
da musculatura abdominal. cia de uma assistência adequada à mulher. Os tipos de aborto
são11:
Assistência de Enfermagem em Situações Obstétricas de -Ameaça de aborto: situação em que há a probabilidade do
Risco aborto ocorrer. Geralmente, caracteriza-se por sangramento
Na América Latina, o Brasil é o quinto país com maior índice moderado, cólicas discretas e colo uterino com pequena ou ne-
de mortalidade materna, estimada em 134 óbitos para 100.000 nhuma dilatação;
nascidos vivos.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
-Espontâneo: pode ocorrer por um ovo defeituoso e o sub- medicação (antibioticoterapia, soro antitetânico, analgésicos
sequente desenvolvimento de defeitos no feto e placenta. De- ou antiespasmódicos, ocitócicos) conforme prescrição médica;
pendendo da natureza do processo, é considerado: preparar a paciente para qualquer procedimento (curetagem,
a) Evitável: o colo do útero não se dilata, sendo evitado atra- microcesariana, e outros); prestar os cuidados após os procedi-
vés de repouso e tratamento conservador; mentos pós-operatórios; procurar tranquilizar a mulher; comu-
b) Inevitável: quando o aborto não pode ser prevenido, nicar qualquer anormalidade imediatamente à equipe de saúde.
acontecendo a qualquer momento. Apresenta-se com um san- Nosso papel é orientar a mulher sobre os desdobramentos
gramento intenso, dilatação do colo uterino e contrações uteri- do pós-aborto, como reposição hídrica e nutricional, sono e re-
nas regulares. Pode ser subdivido em aborto completo (quando pouso, expressão dos seus conflitos emocionais e, psicologica-
o feto e todos os tecidos a ele relacionados são eliminados) e mente, faze-la acreditar na capacidade de o seu corpo viver ou-
aborto incompleto (quando algum tecido permanece retido no tra experiência reprodutiva com saúde, equilíbrio e bem-estar.
interior do útero); É fundamental a observação do sangramento vaginal, aten-
-Habitual: quando a mulher apresenta abortamentos repeti- tando para os aspectos de quantidade, cor, odor e se está acom-
dos (três ou mais) de causa desconhecida; panhado ou não de dor e alterações de temperatura corporal. As
mamas precisarão de cuidados como: aplicar compressas frias
-Terapêutico: é a intervenção médica aprovada pelo Código e enfaixá-las, a fim de prevenir ingurgitamento mamário; não
Penal Brasileiro (art. 128), praticado com o consentimento da realizar a ordenha nem massagens; administrar medicação para
gestante ou de seu representante legal e realizado nos casos em inibir a lactação de acordo com a prescrição médica.
que há risco de vida ou gravidez decorrente de estupro; No momento da alta, a cliente deve ser encaminhada para
-Infectado: quando ocorre infecção intra-útero por ocasião acompanhamento ginecológico com o objetivo de fazer a revi-
do abortamento. Acontece, na maioria das vezes, durante as são pós-aborto; identificar a dificuldade de se manter a gestação
manobras para interromper uma gravidez. A mulher apresenta se for o caso; e receber orientações acerca da necessidade de
febre em grau variável, dores discretas e contínuas, hemorragia um período de abstinência sexual e, antes de iniciar sua ativida-
com odor fétido e secreção cujo aspecto depende do microrga- de sexual, escolher o método contraceptivo que mais se adeque
nismo, taquicardia, desidratação, diminuição dos movimentos à sua realidade.
intestinais, anemia, peritonite, septicemia e choque séptico.
Podem ocorrer endocardite, miocardite, tromboflebite e Placenta Prévia (PP)
embolia pulmonar; É uma intercorrência obstétrica de risco caracterizada pela
implantação da placenta na parte inferior do útero. Com o de-
Provocado - é a interrupção ilegal da gravidez, com a morte senvolvimento da gravidez, a placenta evolui para o orifício do
do produto da concepção, haja ou não a expulsão, qualquer que canal de parto.
seja o seu estado evolutivo. São praticados na clandestinidade, Pode ser parcial (marginal), quando a placenta cobre parte
em clínicas privadas ou residências, utilizando-se métodos anti- do orifício, ou total (oclusiva), quando cobre totalmente o orifí-
-higiênicos, materiais perfurantes, medicamentos e substâncias cio. Ambas as situações provocam risco de vida materna e fetal,
tóxicas. Pode levar à morte da mulher ou evoluir para um aborto em vista da hemorragia – a qual apresenta sangramento de cor
infectado; vermelho vivo, indolor, constante, sem causa aparente, apare-
Retido – é quando o feto morre e não é expulso, ocorrendo cendo a partir da 22a semana de gravidez.
a maceração. Não há sinais de abortamento, porém pode ocor- Após o diagnóstico de PP, na fase crítica, a internação é a
rer mal-estar geral, cefaleia e anorexia. conduta imediata com a intenção de promover uma gravidez a
O processo de abortamento é complexo e delicado para termo ou o mais próximo disso. A supervisão deve ser constan-
uma mulher, principalmente por não ter podido manter uma te, sendo a gestante orientada a fazer repouso no leito com os
gravidez, sendo muitas vezes julgada e culpabilizada, o que lhe membros discretamente elevados, evitar esforços físicos e ob-
acarreta um estigma social, afetando-lhe tanto do ponto de vista servar os movimentos fetais e características do sangramento
biológico como psicoemocional. (quantidade e frequência). A conduta na evolução do trabalho
de parto dependerá do quadro clínico de cada gestante, avalian-
Independente do tipo de aborto, cada profissional tem pa- do o bem-estar materno e fetal.
pel importante na orientação, diálogo e auxílio a essa mulher,
diante de suas necessidades. Assim, não deve fazer qualquer Prenhez Ectópica ou Extrauterina
tipo de julgamento e a assistência deve ser prestada de forma Consiste numa intercorrência obstétrica de risco, caracteri-
humanizada e com qualidade - caracterizando a essência do tra- zada pela implantação do ovo fecundado fora do útero, como,
balho da enfermagem, que é o cuidar e o acolher, independente por exemplo, nas trompas uterinas, ovários e outros.
dos critérios pessoais e julgamentos acerca do caso clínico. Como sinais e sintomas, tal intercorrência apresenta forte
Devemos estar atentos para os cuidados imediatos e me- dor no baixo ventre, podendo estar seguida de sangramento em
diatos, tais como: controlar os sinais vitais, verificando sinais grande quantidade.
de choque hipovolêmico, mediante avaliação da coloração de O diagnóstico geralmente ocorre no primeiro trimestre ges-
mucosas, hipotensão, pulso fraco e rápido, pele fria e pegajosa, tacional, através de ultrassonografia. A equipe de enfermagem
agitação e apatia; verificar sangramento e presença de partes da deverá estar atenta aos possíveis sinais de choque hipovolêmico
placenta ou embrião nos coágulos durante a troca dos traçados e de infecção.
ou absorventes colocados na região vulvar (avaliar a quantida- A conduta obstétrica é cirúrgica.
de do sangramento pelo volume do sangue e número de vezes
de troca do absorvente); controlar o gotejamento da hidrata-
ção venosa para reposição de líquido ou sangue; administrar

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Doenças Hipertensivas Específicas da Gestação (DHEG) gênio (anoxia) e aumento excessivo das contrações uterinas que
A hipertensão na gravidez é uma complicação comum e po- surgem como uma defesa do útero em cessar o sangramento,
tencialmente perigosa para a gestante, o feto e o próprio recém- agravando o estado do feto. Nesses casos, indica-se a interven-
-nascido, sendo uma das causas de maior incidência de morte ção cirúrgica de emergência – cesariana -, para maior chance de
materna, fetal e neonatal, de baixo peso ao nascer e prematu- sobrevivência materna e fetal.
ridade. Pode apresentar-se de forma leve, moderada ou grave. Os fatores de risco que dificultam a oxigenação dos tecidos
Existem vários fatores de risco associados com o aumento e, principalmente, o tecido uterino, relacionam-se à: superdis-
da DHEG, tais como: adolescência/idade acima de 35 anos, con- tensão uterina (gemelar, polidrâmnia, fetos grandes); aumento
flitos psíquicos e afetivos, desnutrição, primeira gestação, histó- da tensão sobre a parede abdominal, frequentemente observa-
ria familiar de hipertensão, diabetes mellitus, gestação múltipla do na primeira gravidez; doenças vasculares já existentes, como
e polidrâmnia. hipertensão crônica, neuropatia; estresse emocional, levando à
A DHEG aparece após a 20a semana de gestação, como um tensão muscular; alimentação inadequada.
quadro de hipertensão arterial, acompanhada ou não de edema A assistência pré-natal tem como um dos objetivos detectar
e proteinúria (pré-eclâmpsia), podendo evoluir para convulsão e precocemente os sinais da doença hipertensiva, antes que evo-
coma (DHEG grave ou eclampsia). lua. A verificação do peso e pressão arterial a cada consulta ser-
Durante uma gestação sem intercorrências, a pressão per- virá para a avaliação sistemática da gestante, devendo o registro
manece normal e não há proteinúria. É comum a maioria das ser feito no Cartão de Pré-Natal, para acompanhamento durante
gestantes apresentarem edema nos membros inferiores, devido a gestação e parto. O exame de urina deve ser feito no primeiro
à pressão do útero grávido na veia cava inferior e ao relaxamen- e terceiro trimestre, ou sempre que houver queixas urinárias ou
to da musculatura lisa dos vasos sanguíneos, não sendo este um alterações dos níveis da pressão arterial.
sinal diferencial. A equipe de enfermagem deve orientar a gestante sobre a
Já o edema de face e de mãos é um sinal de alerta diferen- importância de diminuir a ingesta calórica (alimentos ricos em
cial, pois não é normal, podendo estar associado à elevação da gordura, massa, refrigerantes e açúcar) e não abusar de comidas
pressão arterial. Um ganho de peso de mais de 500 g por semana salgadas, bem como sobre os perigos do tabagismo, que provoca
deve ser observado e analisado como um sinal a ser investigado. vasoconstrição, diminuindo a irrigação sanguínea para o feto, e
O exame de urina, cujo resultado demonstre presença de do alcoolismo, que provoca o nascimento de fetos de baixo peso
proteína, significa diminuição da função urinária. A elevação da e abortamento espontâneo.
pressão sistólica em mais de 30 mmhg, ou da diastólica em mais O acompanhamento pré-natal deve atentar para o apareci-
de 15 mmhg, representa outro sinal que deve ser observado mento de edema de face e dos dedos, cefaleia frontal e occipital
com atenção. A gestante o companheiro e a família devem estar e outras alterações como irritabilidade, escotomas, hipersen-
convenientemente orientados quanto aos sinais e sintomas da sibilidade a estímulos auditivos e luminosos. A mulher, o com-
DHEG. panheiro e a família devem ser orientados quanto aos sinais e
Todos esses sinais são motivos de preocupação, devendo sintomas da DHEG e suas implicações, observando, inclusive, a
ser pesquisados e avaliados através de marcação de consultas dinâmica da movimentação fetal.
com maior frequência, para evitar exacerbação dessa complica- A gestante deve ser orientada quanto ao repouso no leito
ção em uma gravidez de baixo risco, tornando-a de alto risco em decúbito lateral esquerdo, para facilitar a circulação, tanto
– o que fará necessário o encaminhamento e acompanhamento renal quanto placentária, reduzindo também o edema e a ten-
pelo pré-natal de alto risco. são arterial, bem como ser encorajada a exteriorizar suas dúvi-
A pré-eclâmpsia leve é caracterizada por edema e/ou pro- das e medos, visando minimizar o estresse.
teinúria, e mais hipertensão. À medida que a doença evolui e As condições socioeconômicas desfavoráveis, dificuldade de
o vaso espasmo aumenta, surgem outros sinais e sintomas. O acesso aos serviços de saúde, hábitos alimentares inadequados,
sistema nervoso central (SNC) sofre irritabilidade crescente, entre outros, são fatores que podem vir a interferir no acom-
surgindo cefaleia occipital, tonteiras, distúrbios visuais (moscas panhamento ambulatorial. Sendo específicos à cada gestante,
volantes). As manifestações digestivas - dor epigástrica, náuseas fazem com que a eclampsia leve evolua, tornando a internação
e vômitos - são sintomas que revelam comprometimento de ou- hospitalar o tratamento mais indicado.
tros órgãos.
Com a evolução da doença pode ocorrer a convulsão ou Durante a internação hospitalar a equipe de enfermagem
coma, caracterizando a DHEG grave ou eclampsia, uma das com- deve estar atenta aos agravos dos sinais e sintomas da DHEG.
plicações obstétricas mais graves. Nesta, a proteinúria indica Portanto, deve procurar promover o bem-estar materno e fetal,
alterações renais, podendo ser acompanhada por oligúria ou bem como proporcionar à gestante um ambiente calmo e tran-
mesmo anúria. quilo, manter a supervisão constante e atentar para o seu nível
Com o vaso espasmo generalizado, o miométrio torna-se hi- de consciência, já que os estímulos sonoros e luminosos podem
pertônico, afetando diretamente a placenta que, dependendo desencadear as convulsões, pela irritabilidade do SNC. Faz-se
da intensidade, pode desencadear seu deslocamento prematu- necessário, também, controlar a pressão arterial e os batimen-
ro. Também a hipertensão materna prolongada afeta a circula- tos cardiofetais (a frequência será estabelecida pelas condições
ção placentária, ocorrendo o rompimento de vasos e acúmulo da gestante), bem como pesar a gestante diariamente, manter-
de sangue na parede do útero, representando outra causa do -lhe os membros inferiores discretamente elevados, providen-
deslocamento da placenta. ciar a colheita dos exames laboratoriais solicitados (sangue, uri-
Um sinal expressivo do descolamento da placenta é a dor na), observar e registrar as eliminações fisiológicas, as queixas
abdominal súbita e intensa, seguida por sangramento vaginal de álgicas, as perdas vaginais e administrar medicações prescritas,
coloração vermelha-escuro, levando a uma movimentação fetal observando sua resposta.
aumentada, o que indica sofrimento fetal por diminuição de oxi-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Além disso, deve-se estar atento para possíveis episódios que a ajudará a manter o controle e, consequentemente, coope-
de crises convulsivas, empregando medidas de segurança tais rar. A transmissão de calma e a correta orientação amenizarão o
como manter as grades laterais do leito elevadas (se possível, medo e a ansiedade pela situação.
acolchoadas), colocar a cabeceira elevada a 30° e a gestante em A gestante deve ser mantida em decúbito lateral esquerdo,
decúbito lateral esquerdo (ou lateralizar sua cabeça, para elimi- com o objetivo de reduzir a pressão que o feto realiza sobre a
nação das secreções); manter próximo à gestante uma cânula veia cava inferior ou cordão umbilical, e melhorar a circulação
de borracha (Guedel), para colocar entre os dentes, protegen- materno-fetal. Segundo prescrição, administrar oxigênio (O2
do- lhe a língua de um eventual traumatismo. Ressalte-se que os úmido) para melhorar a oxigenação da gestante e do feto e pre-
equipamentos e medicações de emergência devem estar pron- parar a parturiente para intervenção cirúrgica, de acordo com a
tos para uso imediato, na proximidade da unidade de alto risco. conduta indicada pela equipe responsável pela assistência.
Gestantes que apresentam DHEG moderada ou grave de-
vem ser acompanhadas em serviços de obstetrícia, por profissio- Parto e Nascimento Humanizado
nal médico, durante todo o período de internação. Os cuidados Até o século XVIII, as mulheres tinham seus filhos em casa;
básicos incluem: observação de sinais de petequeias, equimo- o parto era um acontecimento domiciliar e familiar. A partir do
ses e/ou sangramentos espontâneos, que indicam complicação momento em que o parto tornou-se institucionalizado (hospi-
séria causada por rompimento de vasos sanguíneos; verificação talar) a mulher passou a perder autonomia sobre seu próprio
horária de pressão arterial, ou em intervalo menor, e tempera- corpo, deixando de ser ativa no processo de seu parto.
tura, pulso e respiração de duas em duas horas; instalação de Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que
cateterismo vesical, visando o controle do volume urinário (diu- apenas 10% a 20% dos partos têm indicação cirúrgica. Isto sig-
rese horária); monitoramento de balanço hídrico; manutenção nifica que deveriam ser indicados apenas para as mulheres que
de acesso venoso para hidratação e administração de terapia apresentam problemas de saúde, ou naqueles casos em que o
medicamentosa (anti-hipertensivo, anticonvulsivos, antibióti- parto normal traria riscos ao recém-nascido ou a mãe. Entretan-
cos, sedativos) e de urgência; colheita de exames laboratoriais to, o que verificamos é a existência de um sistema de saúde vol-
de urgência; instalação de oxigeno terapia conforme prescrição tado para a atenção ao parto e nascimento pautado em rotinas
médica, caso a gestante apresente cianose. de intervenções, que favorece e conduz ao aumento de cesáreas
Com a estabilização do quadro e as convulsões controladas, e de possíveis iatrogenias que, no pós-parto, geram complica-
deve-se preparar a gestante para a interrupção da gravidez (ce- ções desnecessárias.
sárea), pois a conduta mais eficaz para a cura da DHEG é o tér- Nós, profissionais de saúde, devemos entender que o parto
mino da gestação, o que merece apreciação de todo o quadro não é simplesmente “abrir uma barriga”, “tirar um recém-nasci-
clínico e condição fetal, considerando-se a participação da mu- do de dentro”, afastá-lo da “mãe”para colocá-lo num berço soli-
lher e família nesta decisão. tário, enquanto a mãe dorme sob o efeito da anestesia.
É importante que a puérpera tenha uma avaliação contínua A enfermagem possui importante papel como integrante da
nas 48 horas após o parto, pois ainda pode apresentar risco de equipe, no sentido de proporcionar uma assistência humaniza-
vida. da e qualificada quando do parto, favorecendo e estimulando a
participação efetiva dos principais atores desse fenômeno – a
gestante, seu acompanhante e seu filho recém-nascido.
Sofrimento Fetal Agudo (SFA) Precisamos valorizar esse momento pois, se vivenciado har-
O sofrimento fetal agudo (SFA) indica que a saúde e a vida moniosamente, favorece um contato precoce mãe-recém-nasci-
do feto estão sob-risco, devido à asfixia causada pela diminui- do, estimula o aleitamento materno e promove a interação com
ção da chegada do oxigênio ao mesmo, e à eliminação do gás o acompanhante e a família, permitindo à mulher um momento
carbônico. de conforto e segurança, com pessoas de seu referencial pes-
As trocas metabólicas existentes entre o sangue materno e soal.
o fetal, realizadas pela circulação placentária, são indispensá- Os profissionais devem respeitar os sentimentos, emoções,
veis para manter o bem-estar do feto. Qualquer fator que, por necessidades e valores culturais, ajudando-a a diminuir a ansie-
um período provisório ou permanente de carência de oxigênio, dade e insegurança, o medo do parto, da solidão do ambiente
interfira nessas trocas será causa de SFA. hospitalar e dos possíveis problemas do bebê.
O sofrimento fetal pode ser diagnosticado através de alguns A promoção e manutenção do bem-estar físico e emocional
sinais, como frequência cardíaca fetal acima de 160 batimentos ao longo do processo de parto e nascimento ocorre mediante
ou abaixo de 120 por minuto, e movimentos fetais inicialmente informações e orientações permanentes à parturiente sobre a
aumentados e posteriormente diminuídos. evolução do trabalho de parto, reconhecendo-lhe o papel prin-
Durante essa fase, o auxiliar de enfermagem deve estar cipal nesse processo e até mesmo aceitando sua recusa a condu-
atento aos níveis pressóricos da gestante, bem como aos movi- tas que lhe causem constrangimento ou dor; além disso, deve-se
mentos fetais. Nas condutas medicamentosas, deve atuar junta- oferecer espaço e apoio para a presença do(a) acompanhante
mente com a equipe de saúde. que a parturiente deseja.
Nos casos em que se identifique sofrimento fetal e a ges- Qualquer indivíduo, diante do desconhecido e sozinho,
tante esteja recebendo infusão venosa contendo ocitocina, tal tende a assumir uma postura de defesa, gerando ansiedade e
fato deve ser imediatamente comunicado à equipe e a solução medos. A gestante não preparada desconhece seu corpo e as
imediatamente suspensa e substituída por solução glicosada ou mudanças que o mesmo sofre.
fisiológica pura. O trabalho de parto é um momento no qual a mulher se sen-
A equipe responsável pela assistência deve tranquilizar a te desprotegida e frágil, necessitando apoio constante.
gestante, ouvindo-a e explicando - a ela e à família - as caracte- O trabalho de parto e o nascimento costumam desencadear
rísticas do seu quadro e a conduta terapêutica a ser adotada, o excitação e apreensão nas parturientes, independente do fato

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
de a gestante ser primípara ou multípara. É um momento de O feto tem importante participação na evolução do traba-
grande expectativa para todos, gestante, acompanhante e equi- lho de parto: realiza os mecanismos de flexão, extensão e ro-
pe de saúde. tação, permitindo sua entrada e passagem pelo canal de parto
O início do trabalho de parto é desencadeado por fatores - fenômeno facilitado pelo cavalgamento dos ossos do crânio,
maternos, fetais e placentários, que se interagem. ocasionando a redução do diâmetro da cabeça e facilitando a
Os sinais do desencadeamento de trabalho de parto são: passagem pela pelve materna.
- eliminações vaginais, discreto sangramento, perda de tam-
pão mucoso, eliminação de líquido amniótico, presente quando O Primeiro Período do Trabalho de Parto: a Dilatação
ocorre a ruptura da bolsa amniótica - em condições normais, Nesse período, após o colo atingir 5 cm de dilatação, as con-
apresenta- se claro, translúcido e com pequenos grumos seme- trações uterinas progridem e aos poucos aumentam a intensi-
lhantes a pedaços de leite coalhado (vérnix); dade, o intervalo e a duração, provocando a dilatação do colo
- contrações uterinas inicialmente regulares, de pequena in- uterino. Como resultado, a cabeça do feto vai gradualmente
tensidade, com duração variável de 20 a 40 segundos, podendo descendo no canal pélvico e, nesse processo, rodando lenta-
chegar a duas ou mais em dez minutos; mente. Essa descida, auxiliada pela pressão da bolsa amniótica,
- desconforto lombar; determina uma pressão maior da cabeça sobre o colo uterino,
- alterações da cérvice, amolecimento, apagamento e dila- que vai se apagando. Para possibilitar a passagem do crânio do
tação progressiva; feto - que mede por volta de 9,5 cm - faz-se necessária uma
- diminuição da movimentação fetal. dilatação total de 10 cm. Este é o período em que a parturiente
experimenta desconfortos e sensações dolorosas e pode apre-
A duração de cada trabalho de parto está associada à pa- sentar reações diferenciadas como exaustão, impaciência, irrita-
ridade (o número de partos da mulher), pois as primíparas de- ção ou apatia, entre outras.
mandam maior tempo de trabalho de parto do que as multí- Além das adaptações no corpo materno, visando o desenro-
paras; à flexibilidade do canal de parto, pois as mulheres que lar do trabalho de parto, o feto também se adapta a esse proces-
exercitam a musculatura pélvica apresentam maior flexibilidade so: sua cabeça tem a capacidade de flexionar, estender e girar,
do que as sedentárias; às contrações uterinas, que devem ter in- permitindo entrar dentro do canal do parto e passar pela pelve
tensidade e frequência apropriadas; à boa condição psicológica óssea materna com mais mobilidade.
da parturiente durante o trabalho de parto, caso contrário difi- Durante o trabalho de parto, os ossos do crânio se aproxi-
cultará o nascimento do bebê; ao estado geral da cliente e sua mam uns dos outros e podem acavalar, reduzindo o tamanho do
reserva orgânica para atender ao esforço do trabalho de parto; crânio e, assim, facilitar a passagem pela pelve materna.
e à situação e apresentação fetais (transversa, acromial, pélvica Nesse período, é importante auxiliar a parturiente com al-
e de face). ternativas que possam amenizar-lhe o desconforto. O cuidar en-
volve presença, confiança e atenção, que atenuam a ansiedade
Admitindo a Parturiente da cliente, estimulando- a adotar posições alternativas como
ficar de cócoras, de joelho sobre a cama ou deambular. Essas
O atendimento da parturiente na sala de admissão de uma
posições, desde que escolhidas pela mulher, favorecem o flu-
maternidade deve ter como preocupação principal uma recep-
xo de sangue para o útero, tornam as contrações mais eficazes,
ção acolhedora à mulher e sua família, informando-os da dinâ-
ampliam o canal do parto e facilitam a descida do feto pela ação
mica da assistência na maternidade e os cuidados pertinentes a
da gravidade.
esse momento: acompanhá-la na admissão e encaminhá-la ao
A mulher deve ser encorajada e encaminhada ao banho de
pré-parto; colher os exames laboratoriais solicitados (hemogra-
chuveiro, bem como estimulada a fazer uma respiração profun-
ma, VDRL e outros exames, caso não os tenha realizado durante
da, realizar massagens na região lombar – o que reduz sua ansie-
o pré-natal); promover um ambiente tranquilo e com privaci-
dade e tensão muscular - e urinar, pois a bexiga cheia dificulta a
dade; monitorar a evolução do trabalho de parto, fornecendo
descida do feto na bacia materna.
explicações e orientações. Durante a evolução do trabalho de parto, será realizada,
pelo enfermeiro ou médico, a ausculta dos batimentos cardio-
Assistência Durante o Trabalho de Parto Natural fetais, sempre que houver avaliação da dinâmica uterina (DU)
O trajeto do parto ou canal de parto é a passagem que o feto antes, durante e após a contração uterina. O controle dos sinais
percorre ao nascer, desde o útero à abertura vulvar. É formado vitais maternos é contínuo e importante para a detecção preco-
pelo conjunto dos ossos ilíaco, sacro e cóccix - que compõem a ce de qualquer alteração. A verificação dos sinais vitais pode ser
pequena bacia pélvica, também denominada de trajeto duro - e realizada de quatro em quatro horas, e a tensão arterial de hora
pelos tecidos moles (parte inferior do útero, colo uterino, canal em hora ou mais frequentemente, se indicado.
vaginal e períneo) que revestem essa parte óssea, também de- O toque vaginal deve ser realizado pelo obstetra ou enfer-
nominada de trajeto mole. meira, e tem a finalidade de verificar a dilatação e o apagamento
No trajeto mole, ocorrem as seguintes alterações: aumento do colo uterino, visando avaliar a progressão do trabalho de par-
do útero; amolecimento do colo para a dilatação e apagamen- to. Para a realização do procedimento, o auxiliar de enfermagem
to; hipervascularização e aumento do tecido elástico da vagina, deve preparar o material necessário para o exame, que inclui
facilitando sua distensão; aumento das glândulas cervicais para luvas, gazes com solução anti séptica e comadre.
lubrificar o trajeto do parto. A prévia antissepsia das mãos é condição indispensável para
No trajeto duro, a principal alteração é o aumento da mobi- o exame.
lidade nas articulações (sacroilíaca, sacrococcígea, lombo-sacral, Caso a parturiente esteja desanimada, frustrada ou neces-
sínfise púbica), auxiliado pelo hormônio relaxina. site permanecer no leito durante o trabalho de parto, devido às
complicações obstétricas ou fetais, deve ser aconselhada a ficar
na posição de decúbito lateral esquerdo, tanto quanto possível.

97
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O Segundo Período do Trabalho de Parto: a Expulsão As contrações para a expulsão da placenta ocorrem em me-
O período de expulsão inicia-se com a completa dilatação do nor quantidade e intensidade. A placenta deve ser examinada
colo uterino e termina com o nascimento do bebê. com relação à sua integridade, tipo de vascularização e local de
Ao final do primeiro período do trabalho de parto, o sangra- inserção do cordão, bem como verificação do número de vasos
mento aumenta com a laceração dos capilares no colo uterino. sanguíneos deste (1 artérias e 2 veias), presença de nós e tu-
Náuseas e vômitos podem estar presentes, por ação reflexa. A morações. Examina-se ainda o canal vaginal, o colo uterino e a
parturiente refere pressão no reto e urgência urinária. Ocorre região perineal, com vistas à identificação de rupturas e lacera-
distensão dos músculos perineais e abaulamento do períneo (so- ções; caso tenha sido realizada episiotomia, proceder à sutura
licitação do períneo), e o ânus dilata-se acentuadamente. do corte (episiorrafia) e/ou das lacerações.
Esses sinais iminentes do parto devem ser observados pelo
auxiliar de enfermagem e comunicados à enfermeira obstétrica A dequitação determina o início do puerpério imediato,
e ao obstetra. onde ocorrerão contrações que permitirão reduzir o volume
O exame do toque deve ser realizado e, constatada a dila- uterino, mantendo-o contraído e promovendo a hemostasia nos
tação total, o auxiliar de enfermagem deve encaminhar a par- vasos que irrigavam a placenta.
turiente à sala de parto, em cadeira de rodas ou deambulando. Logo após o delivramento, o auxiliar de enfermagem deve
Enquanto estiver sendo conduzida à sala de parto, a par- verificar a tensão arterial da puérpera, identificando alterações
turiente deve ser orientada para respirar tranquilamente e não ou não dos valores que serão avaliados pelo médico ou enfer-
fazer força. É importante auxiliá-la a se posicionar na mesa de meiro.
parto com segurança e conforto, respeitando a posição de sua Antes de transferir a puérpera para a cadeira ou maca, de-
escolha: vertical, semiverticalizada ou horizontal. Qualquer ve-se, utilizando luvas estéreis, realizar-lhe antissepsia da área
procedimento realizado deve ser explicado à parturiente e seu pubiana, massagear-lhe as panturrilhas, trocar-lhe a roupa e co-
acompanhante. locar-lhe um absorvente sob a região perianal e pubiana. Caso
O profissional (médico e/ou enfermeira obstetra) responsá- o médico ou enfermeiro avalie que a puérpera esteja em boas
vel pela condução do parto deve fazer a escovação das mãos e condições clínicas, será encaminhada, juntamente com o recém-
se paramentar (capote, gorro, máscara e luvas). A seguir, rea- -nascido, para o alojamento conjunto - acompanhados de seus
lizar a antissepsia vulvoperineal e da raiz das coxas e colocar prontuários, prescrições e pertences pessoais.
os campos esterilizados sobre a parturiente. Na necessidade de
episiotomia, indica-se a necessidade de anestesia local. Em todo O Quarto Período do Trabalho de Parto: Greenberg
esse processo, o auxiliar de enfermagem deve prestar ajuda Corresponde às primeiras duas horas após o parto, fase em
ao(s) profissional(is). que ocorre a loquiação e se avalia a involução uterina e recupe-
Para que ocorra a expulsão do feto, geralmente são ne- ração da genitália materna. É considerado um período perigoso,
cessárias cinco contrações num período de 10 minutos e com devido ao risco de hemorragia; por isso, a puérpera deve perma-
intensidade de 60 segundos cada. O auxiliar de enfermagem necer no centro obstétrico, para criterioso acompanhamento.
deve orientar que a parturiente faça respiração torácica (costal)
juntamente com as contrações, repousando nos intervalos para Assistência de Enfermagem Durante o Parto Cesáreo
conservar as energias. O parto cesáreo ou cesariana é um procedimento cirúrgi-
Após o coroamento e exteriorização da cabeça, é importan- co, invasivo, que requer anestesia. Nele, realiza-se uma incisão
te assistir ao desprendimento fetal espontâneo. Caso esse des- no abdome e no útero, com exposição de vísceras e perda de
prendimento não ocorra naturalmente, a cabeça deve ser tracio- sangue, por onde o feto é retirado. Ressalte-se que esse proce-
nada para baixo, visando favorecer a passagem do ombro. Com dimento expõe o organismo às infecções, tanto pela queda de
a saída da cabeça e ombros, o corpo desliza facilmente, acom- imunidade em vista das perdas sanguíneas como pelo acesso de
panhado de um jato de líquido amniótico. Sugere-se acomodar microrganismos através da incisão cirúrgica (porta de entrada),
o recém-nascido, com boa vitalidade, sobre o colo materno, ou além de implicar maior tempo de recuperação.
permitir que a mãe o faça, se a posição do parto favorecer esta A realização do parto cesáreo deve ser baseada nas condi-
prática. Neste momento, o auxiliar de enfermagem deve estar ções clínicas - da gestante e do feto - que contraindiquem o par-
atento para evitar a queda do recém-nascido. to normal, tais como desproporção cefalopélvica, discinesias,
O cordão umbilical só deve ser pinçado e laqueado quando o apresentação anômala, descolamento prematuro da placenta,
recém-nascido estiver respirando. A laqueadura é feita com ma- pós-maturidade, diabete materno, sofrimento fetal agudo ou
terial adequado e estéril, a uns três centímetros da pele. É im- crônico, placenta prévia total ou parcial, toxemia gravídica, pro-
portante manter o recém-nascido aquecido, cobrindo-o com um lapso do cordão umbilical.
lençol/campo – o que previne a ocorrência de hipotermia. A mu- Caso ocorra alguma intercorrência obstétrica (alteração do
lher deve ser incentivada a iniciar a amamentação nas primeiras BCF; a dinâmica uterina, dos sinais vitais maternos; perda trans-
horas após o parto, o que facilita a saída da placenta e estimula vaginal de líquido com presença de mecônio; período de dilata-
a involução do útero, diminuindo o sangramento pós-parto. ção cervical prolongado) que indique necessidade de parto ce-
sáreo, a equipe responsável pela assistência deve comunicar o
O Terceiro Período do Trabalho de Parto: a Dequitação fato à mulher/ família, e esclarecer- lhes sobre o procedimento.
Inicia-se após a expulsão do feto e termina com a saída da Nesta intervenção cirúrgica, as anestesias mais utilizadas
placenta e membranas (amniótica e coriônica). Recebe o nome são a raquidiana e a peridural, ambas aplicadas na coluna ver-
de delivramento ou dequitação e deve ser espontâneo, sem tebral.
compressão uterina. Pode durar de alguns minutos a 30 minu-
tos. Nessa fase é importante atentar para as perdas sanguíneas,
que não devem ser superiores a 500 ml.

98
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A anestesia raquidiana tem efeito imediato à aplicação, le- ajudar? Como dividir a atenção entre ele e o bebê?”) e a família
vando à perda temporária de sensibilidade e movimentos dos (“Como dividir a atenção com os outros filhos? O que fazer, se
membros inferiores, que retornam após passado seu efeito. En- cada um diz uma coisa?”).
tretanto, tem o inconveniente de apresentar como efeito cola- Nesse período, em vista de uma grande labilidade emocio-
teral cefaleia intensa no período pós-anestésico - como preven- nal, somada à exaustão física, pode surgir um quadro de profun-
ção, deve-se manter a puérpera deitada por algumas horas (com da tristeza, sentimento de incapacidade e recusa em cuidar do
a cabeceira a zero grau e sem travesseiro), orientando- a para bebê e de si mesma - que pode caracterizar a depressão puerpe-
que não eleve a cabeça e estimulando-a à ingestão hídrica. ral. Essas manifestações podem acontecer sem causa aparente,
A anestesia peridural é mais empregada, porém demora com duração temporária ou persistente por algum tempo. Esse
mais tempo para fazer efeito e não leva à perda total da sensi- transtorno requer a intervenção de profissionais capazes de sua
bilidade dolorosa, diminuindo apenas o movimento das pernas detecção e tratamento precoce, avaliando o comportamento da
– como vantagem, não produz o incômodo da dor de cabeça. puérpera e proporcionando-lhe um ambiente tranquilo, bem
Na recuperação do pós-parto normal, a criança pode, nas como prestando orientações à família acerca da importância de
primeiras horas, permanecer com a mãe na sala de parto e/ou seu apoio na superação deste quadro.
alojamento conjunto- dependendo da recuperação, a mulher De acordo com as alterações físicas, o puerpério pode ser
pode deambular, tomar banho e até amamentar. Tal situação classificado em quatro fases distintas: imediato (primeiras 2 ho-
não acontecerá nas puérperas que realizaram cesarianas, pois ras pós-parto); mediato (da 2ª hora até o 10º dia pós-parto);
estarão com hidratação venosa, cateter vesical, curativo abdo- tardio (do 11º dia até o 42º dia pós-parto) e remoto (do 42º dia
minal, anestesiadas, sonolentas e com dor – mais uma razão que em diante).
justifica a realização do parto cesáreo apenas quando da impos- O puerpério imediato, também conhecido como quarto pe-
sibilidade do parto normal. ríodo do parto, inicia-se com a involução uterina após a expulsão
A equipe deve esclarecer as dúvidas da parturiente com re- da placenta e é considerado crítico, devido ao risco de hemor-
lação aos procedimentos pré-operatórios, tais como retirada de ragia e infecção.
próteses e de objetos (cordões, anéis, roupa íntima), realização A infecção puerperal está entre as principais e mais constan-
de tricotomia em região pubiana, manutenção de acesso venoso tes complicações.
permeável, realização de cateterismo vesical e colheita de san- O trabalho de parto e o nascimento do bebê reduzem a re-
gue para exames laboratoriais (solicitados e de rotina). sistência à infecção causada por microrganismos encontrados
Após verificação dos sinais vitais, a parturiente deve ser no corpo.
encaminhada à sala de cirurgia, onde será confortavelmente Inúmeros são os fatores de risco para o aparecimento de
posicionada na mesa cirúrgica, para administração da aneste- infecções: o trabalho de parto prolongado com a bolsa amnió-
sia. Durante toda a técnica o auxiliar de enfermagem deve es- tica rompida precocemente, vários toques vaginais, condições
tar atento para a segurança da parturiente e, juntamente com socioeconômicas desfavoráveis, anemia, falta de assistência
o anestesista, ajudá-la a se posicionar para o processo cirúrgico, pré-natal e história de doenças sexualmente transmissível não
controlando também a tensão arterial. No parto, o auxiliar de tratada. O parto cesáreo tem maior incidência de infecção do
enfermagem desenvolve ações de circulante ou instrumentador. que o parto vaginal, pois durante seu procedimento os tecidos
Após o nascimento, presta os primeiros cuidados ao bebê e en- uterinos, vasos sanguíneos, linfáticos e peritônio estão expostos
caminha-o ao berçário. às bactérias existentes na cavidade abdominal e ambiente exter-
A seguir, o auxiliar de enfermagem deve providenciar a no. A perda de sangue e consequente diminuição da resistência
transferência da puérpera para a sala de recuperação pós-anes- favorecem o surgimento de infecções.
tésica, prestando- lhe os cuidados relativos ao processo cirúrgi- Os sinais e sintomas vão depender da localização e do grau
co e ao parto. da infecção, porém a hipertermia é frequente - em torno de 38º
C ou mais. Acompanhando a febre, podem surgir dor, não invo-
Puerpério e suas Complicações lução uterina e alteração das características dos lóquios, com
Durante toda a gravidez, o organismo materno sofre alte- eliminação de secreção purulenta e fétida, e diarreia.
rações gradativas - as mais marcantes envolvem o órgão repro- O exame vaginal, realizado por enfermeiro ou médico, ob-
dutor. O puerpério inicia-se logo após a dequitação e termina jetiva identificar restos ovulares; nos casos necessários, deve-se
quando a fisiologia materna volta ao estado pré-gravídico. Esse proceder à curetagem.
intervalo pode perdurar por 6 semanas ou ter duração variável, Cabe ao auxiliar de enfermagem monitorar os sinais vitais
principalmente nas mulheres que estiverem amamentando. da puérpera, bem como orientá-la sobre a técnica correta de la-
O período puerperal é uma fase de grande estresse fisioló- vagem das mãos e outras que ajudem a evitar a propagação das
gico e psicológico. infecções. Além disso, visando evitar a contaminação da vagina
A fadiga e perda de sangue pelo trabalho de parto e outras pelas bactérias presentes no reto, a puérpera deve ser orientada
condições desencadeadas pelo nascimento podem causar com- a lavar as regiões da vulva e do períneo após cada eliminação
plicações – sua prevenção é o objetivo principal da assistência a fisiológica, no sentido da vulva para o ânus.
ser prestada. Para facilitar a cicatrização da episiorrafia, deve-se ensinar a
Nos primeiros dias do pós-parto, a puérpera vive um pe- puérpera a limpar a região com antisséptico, bem como estimu-
ríodo de transição, ficando vulnerável às pressões emocionais. lar-lhe a ingesta hídrica e administrar-lhe medicação, conforme
Problemas que normalmente enfrentaria com facilidade podem prescrição, visando diminuir seu mal-estar e queixas álgicas. Nos
deixá-la ansiosa em vista das responsabilidades com o novo casos de curetagem, preparar a sala para o procedimento.
membro da família (“Será que vou conseguir amamentá-lo? Por A involução uterina promove a vasoconstrição, controlan-
que o bebê chora tanto?”), a casa (“Como vou conciliar os cuida- do a perda sanguínea. Nesse período, é comum a mulher referir
dos da casa com o bebê?”), o companheiro (“Será que ele vai me cólicas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O útero deve estar mais ou menos 15 cm acima do púbis, No alojamento conjunto, a assistência prestada pelo auxiliar
duro e globoide pela contração, formando o globo de segurança de enfermagem baseia-se em observar e registrar o estado ge-
de Pinard em resposta à contratilidade e retração de sua mus- ral da puérpera, dando continuidade aos cuidados iniciados no
culatura. A total involução uterina demora de 5 a 6 semanas, puerpério imediato, em intervalos mais espaçados. Deve tam-
sendo mais rápida na mulher sadia que teve parto normal e está bém estimular a deambulação precoce e exercícios ativos no
em processo de amamentação. leito, bem como observar o estado das mamas e mamilos, a suc-
Os lóquios devem ser avaliados quanto ao volume (grande ção do recém-nascido (incentivando o aleitamento materno), a
ou pequeno), aspecto (coloração, presença de coágulos, restos aceitação da dieta e as características das funções fisiológicas,
placentários) e odor (fétido ou não). Para remoção efetiva dos em vista da possibilidade de retenção urinária e constipação,
coágulos, deve-se massagear levemente o útero e incentivar a orientando sobre a realização da higiene íntima após cada elimi-
amamentação e deambulação precoces. nação e enfatizando a importância da lavagem das mãos antes
De acordo com sua coloração, os lóquios são classificados de cuidar do bebê, o que previne infecções.
como sanguinolentos (vermelho vivo ou escuro – até quatro O alojamento conjunto é um espaço oportuno para o auxi-
dias); serosanguinolentos (acastanhado – de 5 a 7 dias) e sero- liar de enfermagem desenvolver ações educativas, buscando va-
sos (semelhantes à “salmoura” – uma a três semanas). lorizar as experiências e vivências das mães e, com as mesmas,
A hemorragia puerperal é uma complicação de alta incidên- realizando atividades em grupo de forma a esclarecer dúvidas
cia de mortalidade materna, tendo como causas a atonia uteri- e medos. Essa metodologia propicia a detecção de problemas
na, lacerações do canal vaginal e retenção de restos placentá- diversos (emocionais, sociais, etc.), possibilitando o encaminha-
rios. É importante procurar identificar os sinais de hemorragia mento da puérpera e/ou família para uma tentativa de solução.
– de quinze em quinze minutos – e avaliar rotineiramente a invo- O profissional deve abordar assuntos com relação ao rela-
lução uterina através da palpação, identificando a consistência. cionamento mãe-filho-família; estímulo à amamentação, colo-
Os sinais dessa complicação são útero macio (maleável, grande, cando em prática a técnica de amamentação; higiene corporal
acima do umbigo), lóquios em quantidades excessivas (conten- da mãe e do bebê; curativo da episiorrafia e cicatriz cirúrgica;
do coágulos e escorrendo num fio constante) e aumento das fre- repouso, alimentação e hidratação adequada para a nutriz; uso
quências respiratória e cardíaca, com hipotensão.
de medicamentos nocivos no período da amamentação, bem
como álcool e fumo; importância da deambulação para a invo-
Caso haja suspeita de hemorragia, o auxiliar de enfermagem
lução uterina e eliminação de flatos (gases); e cuidados com re-
deve avisar imediatamente a equipe, auxiliando na assistência
cém-nascido.
para reverter o quadro instalado, atentando, sempre, para a
A mama é o único órgão que após o parto não involui, en-
possibilidade de choque hipovolêmico. Deve, ainda, providen-
chendo- se de colostro até trinta horas após o parto. A apojadu-
ciar um acesso venoso permeável para a administração de infu-
ra, que consiste na descida do leite, ocorre entre o 3º ou 4º dia
são e medicações; bem como aplicar bolsa de gelo sobre o fundo
pós-parto.
do útero, massageando-o suavemente para estimular as contra-
A manutenção da lactação depende do estímulo da sucção
ções, colher sangue para exames laboratoriais e prova cruzada,
certificar-se de que no banco de sangue existe sangue compatí- dos mamilos pelo bebê.
vel (tipo e fator Rh) com o da mulher - em caso de reposição - e As mamas também podem apresentar complicações:
preparar a puérpera para a intervenção cirúrgica, caso isto se -ingurgitamento mamário - em torno do 3º ao 7º dia pós-
faça necessário. -parto, a produção láctea está no auge, ocasionando o ingurgi-
Complementando esta avaliação, também há verificação tamento mamário. O auxiliar de enfermagem deve estar atento
dos sinais vitais, considerando-se que a frequência cardíaca di- para as seguintes condutas: orientar sobre a pega correta da
minui para 50 a 70 bpm (bradicardia) nos primeiros dias após o aréola e a posição adequada do recém-nascido durante a ma-
parto, em vista da redução no volume sanguíneo. Uma taqui- mada; o uso do sutiã firme e bem ajustado; e a realização de
cardia pode indicar perda sanguínea exagerada, infecção, dor e massagens e ordenha sempre que as mamas estiverem cheias;
até ansiedade. A pressão sanguínea permanece estável, mas sua -rachaduras e/ou fissuras - podem aparecer nos primeiros
diminuição pode estar relacionada à perda de sangue excessivo dias de amamentação, levando a nutriz a parar de amamentar.
e seu aumento é sugestivo de hipertensão. É também importan-
te observar o nível de consciência da puérpera e a coloração das Procurando evitar sua ocorrência, o auxiliar de enfermagem
mucosas. deve orientar a mãe a manter a amamentação; incentivá-la a
Outros cuidados adicionais são: observar o períneo, avalian- não usar sabão ou álcool para limpar os mamilos; a expor as
do a integridade, o edema e a episiorrafia; aplicar compressas mamas ao sol por cerca de 20 minutos (antes das 10 horas ou
de gelo nesta região, pois isto propicia a vasoconstrição, dimi- após às 15 horas); e a alternar as mamas em cada mamada, reti-
nuindo o edema e hematoma e evitando o desconforto e a dor; rando cuidadosamente o bebê. Nesse caso, devem ser aplicadas
avaliar os membros inferiores (edema e varizes) e oferecer líqui- as mesmas condutas adotadas para o ingurgitamento mamário.
dos e alimentos sólidos à puérpera, caso esteja passando bem. -mastite - é um processo inflamatório que costuma se de-
Nos casos de cesárea, atentar para todos os cuidados de um senvolver após a alta e no qual os microrganismos penetram
parto normal e mais os cuidados de um pós-operatório, obser- pelas rachaduras dos mamilos ou canais lactíferos. Sua sinto-
vando as características do curativo operatório. Se houver san- matologia é dor, hiperemia e calor localizados, podendo ocorrer
gramento e/ ou queixas de dor, comunicar tal fato à equipe. hipertermia. A puérpera deve ser orientada a realizar os mes-
No puerpério mediato, a puérpera permanecerá no aloja- mos cuidados adotados nos casos de ingurgitamento mamário,
mento conjunto até a alta hospitalar. Neste setor, inicia os cui- rachaduras e fissuras.
dados com o bebê, sob supervisão e orientação da equipe de
enfermagem – o que lhe possibilita uma assistência e orientação
integral.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Por ocasião da alta hospitalar, especial atenção deve ser nuição da oferta de oxigênio e de nutrientes e os bebês nascidos
dada às orientações sobre o retorno à atividade sexual, planeja- após 42 semanas de gestação podem apresentar complicações
mento familiar, licença-maternidade de 120 dias (caso a mulher respiratórias e nutricionais importantes no período neonatal.
possua vínculo empregatício) e importância da consulta de revi-
são de pós-natal e puericultura. Classificação de Acordo com a Relação Peso/IG
A consulta de revisão do puerpério deve ocorrer, preferen- Essa classificação possibilita a avaliação do crescimento in-
cialmente, junto com a primeira avaliação da criança na unidade trauterino, uma vez que de acordo com a relação entre o peso e
de saúde ou, de preferência, na mesma unidade em que efetuou a IG os bebês são classificados como:
a assistência pré-natal, entre o 7º e o 10º dia pós-parto. a) adequados para a idade gestacional (AIG) – são os neo-
Até o momento, foi abordado o atendimento à gestante e natos cujas linhas referentes a peso e a IG se encontram entre
ao feto com base nos conhecimentos acumulados nos campos as duas curvas do gráfico. Em nosso meio, 90 a 95% do total de
da obstetrícia e da perinatologia. Com o nascimento do bebê são nascimentos são de bebês adequados para a IG;
necessários os conhecimentos de um outro ramo do saber – a b) pequenos para a idade gestacional (PIG) - são os neona-
neonatologia. tos cujas linhas referentes a peso e a IG se encontram abaixo da
Surgida a partir da pediatria, a neonatologia é comumente primeira curva do gráfico. Esses bebês sofreram desnutrição in-
definida como um ramo da medicina especializado no diagnós- trauterina importante, em geral como consequência de doenças
tico e tratamento dos recém-nascidos (RNs). No entanto, ela ou desnutrição maternas.
abrange mais do que isso — engloba também o conhecimento c) grandes para a idade gestacional (GIG) - são os neona-
da fisiologia dos neonatos e de suas características. tos cujas linhas referentes ao peso e a IG se encontram acima
da segunda curva do gráfico. Frequentemente os bebês grandes
Classificação dos Recém-Nascidos (RNS) para a IG são filhos de mães diabéticas ou de mães Rh negativo
Os RNs podem ser classificados de acordo com o peso, a ida- sensibilizadas.
de gestacional (IG) ao nascer e com a relação entre um e outro.
A classificação dos RNs é de fundamental importância pois Características Anatomofisiológicas dos RNS
ao permitir a antecipação de problemas relacionados ao peso e/
Os RNs possuem características anatômicas e funcionais
ou à IG quando do nascimento, possibilita o planejamento dos
próprias.
cuidados e tratamentos específicos, o que contribui para a qua-
O conhecimento dessas características possibilita que a
lidade da assistência.
assistência aos neonatos seja planejada, executada e avaliada
de forma a garantir o atendimento de suas reais necessidades.
Classificação de Acordo com o Peso
Também permite a orientação aos pais a fim de capacitá-los
A Organização Mundial de Saúde define como RN de baixo-
para o cuidado após a alta.
-peso todo bebê nascido com peso igual ou inferior a 2.500 gra-
O peso dos bebês é influenciado por diversas condições as-
mas. Como nessa classificação não se considera a IG, estão in-
sociadas à gestação, tais como fumo, uso de drogas, paridade e
cluídos tanto os bebês prematuros quanto os nascidos a termo.
alimentação materna.
Em nosso país, o número elevado de bebês nascidos com
peso igual ou inferior a 2.500 gramas - baixo peso ao nascimento Os RNs apresentam durante os cinco primeiros dias de vida
- constitui- se em importante problema de saúde. Nesse grupo uma diminuição de 5 a 10% do seu peso ao nascimento, chama-
há um elevado percentual de morbimortalidade neonatal, de- da de perda ponderal fisiológica, decorrente da grande elimina-
vido à não disponibilidade de assistência adequada durante o ção de líquidos e reduzida ingesta.. Entre o 8º (RN a termo) e
pré-natal, o parto e o puerpério e/ou pela baixa condição so- o 15º dia (RNs prematuros) de vida pós-natal, os bebês devem
cioeconômica e cultural da família, o que pode acarretar graves recuperar o peso de nascimento.
consequências sociais. Estudos realizados para avaliação do peso e estatura dos
RNs brasileiros, indicam as seguintes médias no caso dos neo-
Classificação de Acordo com a IG natos a termo: 3.500g/ 50cm para os bebês do sexo masculino e
Considera-se como IG ao nascer, o tempo provável de gesta- 3.280g/49,6cm para os do sexo feminino. Tais estudos mostra-
ção até o nascimento, medido pelo número de semanas entre o ram também que a média do perímetro cefálico dos RNs a termo
primeiro dia da última menstruação e a data do parto. é de 34-35 cm. Já o perímetro torácico deve ser sempre 2- 3cm
O tempo de uma gestação desde a data da última mens- menor que o cefálico (Navantino, 1995).
truação até seu término é de 40 semanas. Sendo assim, consi- Os sinais vitais refletem as condições de homeostase dos
dera-se: bebês, ou seja, o bom funcionamento dos seus sistemas respira-
a) RN prematuro - toda criança nascida antes de 37 semanas tório, cardiocirculatório e metabólico; se os valores encontrados
de gestação; estiverem dentro dos parâmetros de normalidade, temos a indi-
b) RN a termo - toda criança nascida entre 37 e 42 semanas cação de que a criança se encontra em boas condições no que se
de gestação; refere a esses sistemas.
c) RN pós-termo - toda criança nascida após 42 semanas de Os RNs são extremamente termolábeis, ou seja, têm dificul-
gestação. dade de manter estável a temperatura corporal, perdendo rapi-
damente calor para o ambiente externo quando exposto ao frio,
Quanto menor a IG ao nascer, maior o risco de complicações molhado ou em contato com superfícies frias. Além disso, a su-
e a necessidade de cuidados neonatais adequados. perfície corporal dos bebês é relativamente grande em relação
Se o nascimento antes do tempo acarreta riscos para a saú- ao seu peso e eles têm uma capacidade limitada para produzir
de dos bebês, o nascimento pós-termo também. Após o período calor.
de gestação considerado como fisiológico, pode ocorrer dimi-

101
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A atitude e a postura dos RNs, nos primeiros dias de vida, Alguns bebês podem também apresentar lanugem, mais fre-
refletem a posição em que se encontravam no útero materno. quentemente observada em bebês prematuros.
Por exemplo, os bebês que estavam em apresentação cefálica As unhas geralmente ultrapassam as pontas dos dedos ou
tendem a manter-se na posição fetal tradicional - cabeça fletida são incompletas e até ausentes nos prematuros.
sobre o tronco, mãos fechadas, braços flexionados, pernas fleti- Ao nascimento os ossos da cabeça não estão ainda comple-
das sobre as coxas e coxas, sobre o abdômen. tamente soldados e são separados por estruturas membrano-
A avaliação da pele do RN fornece importantes informações sas denominadas suturas. Assim, temos a sagital (situada entre
acerca do seu grau de maturidade, nutrição, hidratação e sobre os ossos parietais), a coronariana (separa os ossos parietais do
a presença de condições patológicas. frontal) e a lambdoide (separa os parietais do occipital).
A pele do RN a termo, AIG e que se encontra em bom estado Entre as suturas coronariana e sagital está localizada a gran-
de hidratação e nutrição, tem aspecto sedoso, coloração rosada de fontanela ou fontanela bregmática, que tem tamanho variá-
(nos RNs de raça branca) e/ou avermelhada (nos RNs de raça vel e só se fecha por volta do 18º mês de vida. Existe também
negra), turgor normal e é recoberta por vernix caseoso. outra fontanela, a lambdoide ou pequena fontanela, situada en-
Nos bebês prematuros, a pele é fina e gelatinosa e nos be- tre as suturas lambdoide e sagital. É uma fontanela de pequeno
bês nascidos pós-termo, grossa e apergaminhada, com presença diâmetro, que em geral se apresenta fechada no primeiro ou
de descamação — principalmente nas palmas das mãos, plantas segundo mês de vida.
dos pés — e sulcos profundos. Têm também turgor diminuído. A presença dessas estruturas permite a moldagem da ca-
Das inúmeras características observadas na pele dos RNs beça do feto durante sua passagem no canal do parto. Esta
destacamos as que se apresentam com maior frequência e sua moldagem tem caráter transitório e é também fisiológica. Além
condição ou não de normalidade. dessas, outras alterações podem aparecer na cabeça dos bebês
a) Eritema tóxico - consiste em pequenas lesões avermelha- como consequência de sua passagem pelo canal de parto. Den-
das, emelhantes a picadas de insetos, que aparecem em geral tre elas temos:
após o 2º dia de vida. São decorrentes de reação alérgica aos a) Cefalematoma - derrame sanguíneo que ocorre em fun-
medicamentos usados durante o trabalho de parto ou às roupas ção do
e produtos utilizados para a higienização dos bebês. Rompimento de vasos pela pressão dos ossos cranianos
b) Millium - são glândulas sebáceas obstruídas que podem contra a
estar presentes na face, nariz, testa e queixo sob a forma de Estrutura da bacia materna. Tem consistência cística (amo-
pequenos pontos brancos. lecida com a sensação de presença de líquidos), volume variável
c) Manchas mongólicas - manchas azuladas extensas, que e não atravessa as linhas das suturas, ficando restrito ao osso
aparecem nas regiões glútea e lombossacra. De origem racial atingido. Aparece com mais frequência na região dos parietais,
– aparecem em crianças negras, amarelas e índias - costumam são dolorosos à palpação e podem levar semanas para ser reab-
desaparecer com o decorrer dos anos. sorvidos.
d) Petequeias - pequenas manchas arroxeadas, decorrentes
de fragilidade capilar e rompimento de pequenos vasos. Podem b) Bossa serossanguínea - consiste em um edema do couro
aparecer como consequência do parto, pelo atrito da pele contra cabeludo, com sinal de cacifo positivo cujos limites são indefini-
o canal do parto, ou de circulares de cordão — quando presen- dos, não respeitando as linhas das suturas ósseas. Desaparece
tes na região do pescoço. Estão também associadas a condições nos primeiros dias de vida.
patológicas, como septicemia e doenças hemolíticas graves.
e) Cianose - quando localizada nas extremidades (mãos e Os olhos dos RN podem apresentar alterações sem maior
pés) e/ ou na região perioral e presente nas primeiras horas de significado, tais como hemorragias conjuntivais e assimetrias
vida, é considerada como um achado normal, em função da cir- pupilares.
culação periférica, mais lenta nesse período. Pode também ser As orelhas devem ser observadas quanto à sua implantação
causada por hipotermia, principalmente em bebês prematuros. que deve ser na linha dos olhos. Implantação baixa de orelhas é
Quando generalizada é uma ocorrência grave, que está em geral um achado sugestivo de malformações cromossômicas.
associada a distúrbios respiratórios e/ou cardíacos. No nariz, a principal preocupação é quanto à presença de
f) Icterícia - coloração amarelada da pele, que aparece e atresia de coanas, que acarreta insuficiência respiratória grave.
evolui no sentido craniocaudal, que pode ter significado fisioló- A passagem da sonda na sala de parto, sem dificuldade, afasta
gico ou patológico de acordo com o tempo de aparecimento e as essa possibilidade.
condições associadas. As icterícias ocorridas antes de 36 horas A boca deve ser observada buscando-se avaliar a presença
de vida são em geral patológicas e as surgidas após esse período de dentes precoces, fissura labial e/ou fenda palatina.
são chamadas de fisiológicas ou próprias do RN. O pescoço dos RNs é em geral curto, grosso e tem boa mo-
g) Edema - o de membros inferiores, principalmente, é en- bilidade.
contrado com frequência em bebês prematuros, devido as suas Diminuição da mobilidade e presença de massas indicam pa-
limitações renais e cardíacas decorrentes da imaturidade dos tologia, o que requer uma avaliação mais detalhada.
órgãos. O edema generalizado (anasarca) ocorre associado à in- O tórax, de forma cilíndrica, tem como características prin-
suficiência cardíaca, insuficiência renal e distúrbios metabólicos. cipais um apêndice xifoide muito proeminente e a pequena es-
pessura de sua parede.
Os cabelos do RN a termo são em geral abundantes e sedo- Muitos RNs, de ambos os sexos, podem apresentar hiper-
sos; já nos prematuros são muitas vezes escassos, finos e algo- trofia das glândulas mamárias, como consequência da estimula-
doados. ção hormonal materna recebida pela placenta. Essa hipertrofia
A implantação baixa dos cabelos na testa e na nuca pode é bilateral.
estar associada à presença de malformações cromossômicas.

102
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Quando aparece em apenas uma das glândulas mamárias, mais rigorosa pois a ausência de eliminação de mecônio nos dois
em geral é consequência de uma infecção por estafilococos. primeiros dias de vida pode estar associada a condições anor-
mais (presença de rolha meconial, obstrução do reto).
O abdômen também apresenta forma cilíndrica e seu diâ- Com o início da alimentação, as fezes dos RNs vão assumin-
metro é 2-3 cm menor que o perímetro cefálico. Em geral, é do as características do que se costuma denominar fezes lácteas
globoso e suas paredes finas possibilitam a observação fácil da ou fezes do leite.
presença de hérnias umbilicais e inguinais, principalmente quan- As fezes lácteas têm consistência pastosa e coloração que
do os bebês estão chorando e nos períodos após a alimentação. pode variar do verde, para o amarelo esverdeado, até a colo-
A distensão abdominal é um achado anormal e quando ob- ração amarelada. Evacuam várias vezes ao dia, em geral após a
servada deve ser prontamente comunicada, pois está comumen- alimentação.
te associada a condições graves como septicemia e obstruções
intestinais. Referência:Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão
O coto umbilical, aproximadamente até o 4º dia de vida, do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão
apresenta- se com as mesmas características do nascimento - da Educação na Saúde. Projeto de profissionalização dos Tra-
coloração branca- azulada e aspecto gelatinoso. Após esse pe- balhadores da Área de Enfermagem. Profissionalização de au-
ríodo, inicia-se o processo de mumificação, durante o qual o xiliares de enfermagem: cadernos do aluno: saúde da mulher,
coto resseca e passa a apresentar uma coloração escurecida. A da criança e do adolescente / Ministério da Saúde, Secretaria
queda do coto umbilical ocorre entre o 6° e o 15º dia de vida. de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento
A observação do abdômen do bebê permite também a ava- de Gestão da Educação na Saúde, Projeto de Profissionalização
liação do seu padrão respiratório, uma vez que a respiração do dos Trabalhadores da Área de Enfermagem. - 2. Ed., 1.a reimpr. -
RN é do tipo abdominal. Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.
A cada incursão respiratória pode-se ver a elevação e desci-
da da parede abdominal, com breves períodos em que há ausên-
cia de movimentos. ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA SADIA:
Esses períodos são chamados de pausas e constituem um CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO, ALEITAMENTO
achado normal, pois a respiração dos neonatos tem um ritmo MATERNO, ALIMENTAÇÃO; CUIDADO NAS DOENÇAS
irregular. Essa irregularidade é observada principalmente nos PREVALENTES NA INFÂNCIA (DIARREICAS E RESPIRA-
prematuros. TÓRIAS)
A genitália masculina pode apresentar alterações devido
à passagem de hormônios maternos pela placenta que ocasio- Saúde da Criança e Adolescente
nam, com frequência, edema da bolsa escrotal, que assim pode A população adolescente e jovem vive uma condição social
manter-se até vários meses após o nascimento, sem necessida- que é única: uma mesma geração, num mesmo momento social,
de de qualquer tipo de tratamento. econômico, político e cultural do seu país e do mundo. Ou seja,
A palpação da bolsa escrotal permite verificar a presença a modalidade de ser adolescente e jovem depende da idade, da
dos testículos, pois podem se encontrar nos canais inguinais. A geração, da moratória vital, da classe social e dos marcos ins-
glande está sempre coberta pelo prepúcio, sendo então a fimose titucionais e de gênero presentes em dado contexto histórico
uma condição normal. Deve-se observar a presença de um bom e cultural (MARGULIS; URRESTI, 1996; ABRAMO, 2005). Nesse
jato urinário no momento da micção. sentido, a atenção integral à saúde dos adolescentes e jovens
A transferência de hormônios maternos durante a gestação apresenta-se como um desafio, por tratar-se de um grupo so-
também é responsável por várias alterações na genitália femi- cial em fase de grandes e importantes transformações psicobio-
nina. A que mais chama a atenção é a genitália em couve-flor. lógicas articuladas a um envolvimento social e ao redimensio-
Pela estimulação hormonal o hímen e os pequenos lábios apre- namento da sua identidade e dos novos papéis sociais que vão
sentam-se hipertrofiados ao nascimento não sendo recobertos assumindo (AYRES; FRANÇA JÚNIOR, 1996). Os universos plurais
pelos grandes lábios. Esse aspecto está presente de forma acen- e múltiplos que representam adolescentes e jovens intervêm
tuada nos prematuros. diretamente no modo como eles traçam as suas trajetórias de
É observada com frequência a presença de secreção vaginal, vida. Essas trajetórias bem-sucedidas ou fracassadas são mais
de aspecto mucoide e leitoso. Em algumas crianças pode ocorrer que histórias de vida, são “reflexo das estruturas e dos proces-
também sangramento via vaginal, denominado de menarca neo- sos sociais” que ocorrem de maneira imprevisível, vulnerável e
natal ou pseudomenstruação. incerta e que vão interferindo no cuidado com a vida e com a
Em relação ao ânus, a principal observação a ser feita diz suas demandas de saúde (LEÓN, 2005, p. 17). Tendo essas ques-
respeito à permeabilidade do orifício. Essa avaliação pode ser tões no nosso horizonte, a ênfase dada às discussões produzidas
realizada pela visualização direta do orifício anal e pela elimina- nesse documento focará no grupo populacional denominado
ção de mecônio nas primeiras horas após o nascimento. Outro de Adolescências, que vive o ciclo etário entre os 10 a 19 anos.
ponto importante refere-se às eliminações vesicais e intestinais. Portanto, as diferenças e as multiplicidades existentes nesta po-
O RN elimina urina várias vezes ao dia. A primeira diurese deve pulação devem ser orientação para a acolhida, o cuidado e a
ocorrer antes de completadas as primeiras 24 horas de vida, atenção integral aos adolescentes que acessam a atenção básica
apresentando, como características, grande volume e coloração na política pública de saúde.
amarelo-clara. As primeiras fezes eliminadas pelos RNs consis- O art. 11 do Estatuto da Criança e do Adolescente assegura
tem no mecônio, formado intrauterinamente, que apresenta o atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por
consistência espessa e coloração verde-escura. Sua eliminação intermédio do Sistema Único de Saúde, garantindo o acesso uni-
deve ocorrer até às primeiras 48 horas de vida. Quando a crian- versal e igualitário às ações e aos serviços para promoção, pro-
ça não elimina mecônio nesse período é preciso uma avaliação teção e recuperação da saúde. A partir da atenção integral à saú-

103
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
de pode-se intervir de forma satisfatória na implementação de de grupos de encontro para adolescentes e familiares que cui-
um elenco de direitos, aperfeiçoando as políticas de atenção a dam de adolescentes e jovens é uma boa estratégia que deve ser
essa população. Uma estratégia de sucesso tem sido a utilização estimulada pelos profissionais de saúde e entrar no rol de ações
da Caderneta de Saúde de Adolescente, masculina e feminina, ofertadas no planejamento à atenção a adolescentes e jovens.
que contém informações a respeito do crescimento e desenvol- Além disso, a leitura de vulnerabilidade e resiliência, como pro-
vimento, da alimentação saudável, da prevenção de violências e posto em capítulo específico deste documento, também deve
promoção da cultura de paz, da saúde bucal e da saúde sexual e ser uma prática constante, que propiciaria a identificação das
saúde reprodutiva desse grupo populacional. Traz ainda método situações que merecerão maior atenção e projetos terapêuticos
e espaço para o registro antropométrico e dos estágios de ma- singulares e familiares para complementar a assistência presta-
turação sexual, das intervenções odontológicas e o calendário da.
vacinal. Profissionais de saúde, educadores, familiares e os pró- Promoção de saúde e prevenção de agravos É importante
prios adolescentes encontram nesse instrumento um facilitador dar ao jovem a oportunidade dele fazer por ele mesmo. Desen-
para a abordagem dos temas de interesse das pessoas jovens volver o protagonismo juvenil engajando-o em projetos que ele
e que são, ao mesmo tempo, importantes para a promoção da mesmo crie, assuma e administre. Dar-lhe autonomia, apoio e
saúde e do autocuidado. Os profissionais de saúde devem usar aprovação. Usar seu potencial de energia em atividades comuni-
a Caderneta como instrumento de apoio à consulta, registrando tárias que propiciem autoconhecimento e altruísmo. Devem-se
os dados relevantes para o acompanhamento dos adolescentes criar oportunidades de esporte, lazer e cultura. Usar os espaços
na Atenção Básica. físicos disponíveis, para que eles não sejam apenas expectado-
Entre as forças que podem participar da rede de apoio das res, mas também atores.
famílias, crianças e adolescentes tem fundamental importância Isso pode ser feito dentro do plano de aula escolar ou ape-
a Rede de Atenção Primária em Saúde. nas usando o espaço da escola, do clube e praças em horário
Em situações de conflito no ambiente familiar, escolar e, extracurricular. Para incentivar os adolescentes e jovens a par-
até mesmo, comunitário (outros níveis de atenção à saúde, con- ticipar das atividades de promoção de saúde, é interessante a
selhos tutelares, vara da infância e da adolescência etc.), a rede organização de gincanas, competições e jogos cujos desafios
de atenção básica quase sempre é a primeira porta de entrada principais sejam a ênfase na ecologia, alimentação natural, saú-
para a busca de uma compreensão, seja do comportamento, de de, valores éticos e morais. Outra proposta seria a promoção de
um sintoma ou de uma necessidade de orientação específica eventos festivos de acordo com a cultura local, desenvolvendo
(anticoncepção, uso de substância psicoativa, violência domés- temas sugeridos pelo público-alvo, bem como a criação de ofici-
tica ou sexual etc.). Nem sempre é o(a) adolescente que procura nas terapêuticas, onde o adolescente possa criar vídeos, jornais,
a Unidade Básica de Saúde. Com muita frequência, a família é a arte por intermédio da informática, modelagem, escultura, mú-
primeira a demandar atenção. sica, dança, desenhos, dramatizações, entre outras. Estar aten-
Em outras situações, são as escolas e os órgãos de proteção to ao que eles hoje valorizam e apoiá-los em suas iniciativas.
da criança e do adolescente, ou até mesmo agentes de saúde, Ademais, é importante incentivar a construção de um projeto
que encaminham a demanda. O primeiro desafio para a Aten- de vida próximo de seus ideais; orientar sobre a busca de opor-
ção Básica ir além da demanda referenciada é o trabalho interno tunidades de emprego e promover o resgate da cidadania, onde
com a equipe, conscientizando que o acolhimento de adolescen- o conceito de adolescer não seja entendido como aborrecer,
tes e jovens é tarefa de todos os profissionais: da recepção à dis- mas respeitá-los e fazer que se respeitem. Em suma, trabalhar
pensação de medicamentos, do agente comunitário de saúde ao essas questões na atenção à saúde dos adolescentes e jovens
técnico de Enfermagem, do dentista aos demais profissionais de difere da assistência clínica individual e da simples informação
saúde com formação universitária. À gerência destes serviços, ou repressão. O modelo a ser desenvolvido deve permitir uma
cabe o planejamento com a equipe e o acompanhamento das discussão sobre as razões da adoção de um comportamento
ações ofertadas, da gestão do cuidado ofertado e da articulação preventivo e o desenvolvimento de habilidades que permitam a
da linha de cuidado interna e externa na Rede de Atenção à Saú- resistência às pressões externas, a expressão de sentimentos, as
de e na rede intersetorial de assistência. opiniões, as dúvidas, as inseguranças, os medos e os preconcei-
Destaca-se que a assistência ao adolescente começa na as- tos. A proposta é reforçar as condições internas de cada sujeito
sistência à criança e sua família. É no atendimento desta faixa para o enfrentamento e resolução de problemas e dificuldades
etária que podemos detectar e problematizar questões como: o do dia a dia
estilo parental de cuidado, o monitoramento do desenvolvimen-
to e do cuidado tanto no período escolar como no período com- Vulnerabilidade
plementar, os serviços e órgãos de apoio de outros setores e as O conjunto de forças psicológicas e biológicas exigidas para
situações de estresse e adversidades que podem comprometer que uma pessoa, ou um grupo de pessoas, supere com sucesso
o desenvolvimento etc. seus percalços, situações adversas ou situações estressantes,
Além do atendimento de todas as referidas demandas, o que modificam muito a vida das pessoas, tem sido chamado de
trabalho com as escolas e com a rede de assistência social é resiliência. Esta palavra foi emprestada da Física para a Psicolo-
fundamental para ampliar a procura direta do adolescente pelo gia em meados dos anos 70. Na década de 90, passa a integrar
serviço de Atenção Básica. o discurso da Saúde Coletiva e da Assistência Social. Na Física e
Parcerias em projetos de Educação e Saúde nas escolas, na Engenharia de materiais, significa uma propriedade da ma-
como proposto pelo Programa de Saúde na Escola do Ministé- téria pela qual a energia armazenada em um corpo deformado
rio da Saúde (PSE/MS), qualificação das reuniões intersetoriais por um impacto seja devolvida quando cessa a tensão causa-
para acompanhamento de situações de maior vulnerabilidade dora, possibilitando ao corpo readquirir sua forma inicial sem
e parcerias com projetos de Secretarias de Cultura, Esporte e desestruturar-se. Frederick Flach, psiquiatra norte-americano,
Lazer dos municípios são fundamentais neste sentido. A oferta estudioso dos mecanismos de produção e superação do estres-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
se, passa a empregar o termo resiliência com o significado acima Crescimento e Desenvolvimento
em suas investigações nos anos 70. Suas pesquisas partiram da A adolescência é marcada por um complexo processo de
observação de que as pessoas superam adversidades semelhan- crescimento e desenvolvimento biopsicossocial. Embora já men-
tes de forma muito diferente. Passou então a tentar identificar cionado em outro capítulo deste documento, vale relembrar
quais seriam as forças internas que aqueles que superavam suas que, seguindo a Organização Mundial da Saúde, o Ministério
adversidades, sem prejuízos significativos para sua personalida- da Saúde considera que a adolescência compreende a segunda
de, tinham e que não eram identificadas nas pessoas que não década da vida (10 a 20 anos incompletos) e a juventude esten-
conseguiam superar satisfatoriamente eventos semelhantes. de-se dos 15 aos 24 anos. Já o Estatuto da Criança e do Ado-
Identificou uma série de características na personalidade re- lescente considera adolescência a faixa etária de 12 a 18 anos.
siliente que são significativas: Por outro lado, o Estatuto da Juventude preconiza que os jovens
• Criatividade, reconhecimento e desenvolvimento de seus estão entre 15 a 29 anos. Os grupos etários são explicados pe-
próprios talentos. los diferentes parâmetros usados na sua concepção, como por
• Um forte e flexível sentido de autoestima. exemplo, o crescimento e desenvolvimento, as questões sociais
• Independência de pensamento e ação. e econômicas e aquelas relacionadas à inimputabilidade penal.
• A habilidade de dar e receber nas relações com os outros, O importante é que essas faixas etárias estejam representadas
e um bem estabelecido círculo de amigos pessoais, que inclua nos sistemas de informação para que cada setor possa ter dados
alguns amigos mais íntimos e que podem ser seus confidentes. confiáveis sobre esse grupo populacional.
• Disciplina pessoal e um sentido de responsabilidade.
• Receptividade a novas ideias Desenvolvimento físico
• Disposição para sonhar e grande variedade de interesses. O termo puberdade deriva do latim pubertate e significa
• Senso de humor alegre. idade fértil; a palavra pubis (lat.) é traduzida como pelo, penu-
• Percepção de seus sentimentos e dos sentimentos dos ou- gem. A puberdade expressa o conjunto de transformações so-
tros e capacidade de comunicá-los de forma adequada. máticas da adolescência, que, entre outras, englobam:
• Compromisso com a vida e um contexto filosófico no qual • Aceleração (estirão) e desaceleração do crescimento pon-
as experiências pessoais possam ser interpretadas com signi- deral e estatural, que ocorrem em estreita ligação com as alte-
ficados e esperança, até mesmo nos momentos mais desalen- rações puberais.
tadores da vida. Seria impossível esperar de uma pessoa todas • Modificação da composição e proporção corporal, como
estas características de personalidade. Ninguém é perfeito e resultado do crescimento esquelético, muscular e redistribuição
muito menos invulnerável. No entanto, uma composição dessas
do tecido adiposo.
características é fundamental para se perseverar na existência.
• Desenvolvimento de todos os sistemas do organismo, com
Em alguma intensidade, essas características estão presentes
ênfase no circulatório e respiratório.
em todos, não de forma inata, mas podendo ser desenvolvidas
• Maturação sexual com a emergência de caracteres sexuais
em maior ou menor intensidade na interação das pessoas umas
secundários, em uma sequência invariável, sistematizada por
com as outras. Esta interação inicia-se, na maioria das vezes, no
Tanner (1962). Desenvolvimento C
interior da família, prossegue na escola, depois no trabalho, na
comunidade etc. Ou seja, podem-se identificar, também, ele-
Crescimento
mentos de resiliência nas instituições humanas. E, se estiver-
O crescimento estatural é um processo dinâmico de evolu-
mos atentos na identificação destes elementos, iremos detectar
padrões diferentes de resiliência nas famílias, nas instituições, ção da altura de um indivíduo em função do tempo. Por isto, é
nas organizações e na comunidade. Mangham e colaboradores somente por intermédio de repetidas determinações da estatu-
(1996) identificam como elementos chaves da resiliência fami- ra, realizada em intervalos regulares (em média a cada seis me-
liar, de equipes e de outros arranjos grupais: ses), e inscritas em gráficos padronizados, que se pode avaliar
• Estabilidade: entendida como resistência à ruptura inter- adequadamente o crescimento. A velocidade do crescimento,
na e senso de permanência. assim obtida, constitui um indicador importante de normalida-
• Coesão: senso de afeto mútuo, companheirismo e segu- de, que ajuda o profissional de saúde a esclarecer o diagnóstico
rança. de qualquer transtorno. As velocidades de crescimento da crian-
• Adaptabilidade: habilidade coletiva para adaptar-se às ça e do adolescente normais têm um padrão linear previsível.
mudanças e continuar funcionando a despeito de condições ad- Durante a puberdade, o adolescente cresce um total de 10 a 30
versas. cm (média de 20 cm). A média de velocidade de crescimento
• Repertório de estratégias e atitudes para superar situa- máxima durante a puberdade é cerca de 10 cm/ano para o sexo
ções estressantes. masculino e 9 cm/ano para o sexo feminino. A velocidade máxi-
• Redes de suporte para estender as capacidades da família ma de crescimento em altura ocorre, em média, entre 13 e 14
ou dos grupos por meio de outros familiares, amigos, vizinhos, anos no sexo masculino e 11 e 12 anos no sexo feminino. Atingi-
companheiros de trabalho, outros grupos etc. da a velocidade máxima de crescimento, segue-se uma gradual
desaceleração até a parada de crescimento, com duração em
Durante o processo de atendimento, a equipe pode ir cons- torno de 3 a 4 anos. Após a menarca, as meninas crescem, no
truindo com o(a) adolescente uma leitura de sua resiliência e de máximo, de 5 a 7 cm. As curvas de crescimento individual se-
sua vulnerabilidade, que poderá propiciar estratégias de cuida- guem um determinado percentil desenhado no gráfico de cresci-
do singularizadas. Daí a importância de se conhecer as demais mento. É importante salientar que, tanto na infância quanto na
políticas desenvolvidas para adolescentes e jovens pela Educa- adolescência, podem ocorrer variações no padrão de velocidade
ção, Assistência Social, Cultura, Esportes, Conselho de Direitos de crescimento, ocasionando mudanças de percentil de cresci-
etc. 42 Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na atenção mento, mas nem sempre refletem uma condição patológica. De
básica . um modo geral, o adolescente termina o seu desenvolvimento

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
físico com cerca de 20% da estatura final do adulto em um pe- Maturação sexual
ríodo de 18 a 36 meses. A evolução do peso segue uma curva A eclosão puberal dá-se em tempo individual por mecanis-
semelhante à da altura. Na puberdade, a velocidade de cresci- mos ainda não plenamente compreendidos, envolvendo o eixo
mento ponderal acompanha a do crescimento em altura, com a hipotálamo-hipofisário-gonadal. Em fase inicial da puberdade, o
incorporação final de 50% do peso do adulto. córtex cerebral transmite estímulos para receptores hipotalâmi-
cos, que, por meio de seus fatores liberadores, promovem na
Idade óssea hipófise anterior a secreção de gonadotrofinas para a corrente
A idade óssea ou esquelética corresponde às alterações sanguínea.
evolutivas da maturação óssea, que acompanham a idade cro-
nológica no processo de crescimento, sendo considerada como Sexo masculino
um indicador da idade biológica. Ela é calculada por meio da As gonadotrofinas, ou seja, os hormônios folículo-estimulan-
comparação de radiografias de punho, de mão e de joelho com te e luteinizante (FSH e LH) atuam aumentando os testículos. Os
padrões definidos de tamanhos e forma dos núcleos dessas es- túbulos seminíferos passam a ter luz e promover a proliferação
truturas. A idade óssea pode ser utilizada na predição da estatu- das células intersticiais de Leydig, que liberam a testosterona e
ra final do adolescente, considerando a sua relação com a idade elevam os seus níveis séricos. Esses eventos determinam o au-
cronológica. mento simétrico (simultâneo e semelhante) do volume testicular,
que passa a ter dimensões maiores que 4 cm3 , constituindo-se
Composição e proporção corporal na primeira manifestação da puberdade masculina. Segue-se o
Todos os órgãos do corpo participam do processo de cres- crescimento de pelos pubianos, o desenvolvimento do pênis em
cimento da puberdade, exceção feita ao tecido linfoide e à gor- comprimento e diâmetro, o aparecimento de pelos axilares e fa-
dura subcutânea que apresentam um decréscimo absoluto ou ciais e o estirão pubertário. O tamanho testicular é critério impor-
relativo. Há acúmulo de gordura desde os 8 anos até a puber- tante para a avaliação das gônadas e da espermatogênese, que
dade, sendo que a diminuição deste depósito de tecido adiposo costuma ocorrer, mais frequentemente, no estágio 4 de Tanner.
coincide com o pico de velocidade do crescimento. Avaliase o volume testicular de forma empírica ou utilizando-se o
Desenvolvimento muscular: Na puberdade, chama atenção orquímetro e orquidômetro de Prader. Estes instrumentos con-
têm elipsoides de volumes crescentes de 1 ml a 25 ml. O tamanho
a hipertrofia e a hiperplasia de células musculares, mais eviden-
testicular adulto situa-se entre 12 ml e 25 ml.
tes nos meninos. Este fato justifica a maior força muscular no
sexo masculino. Medula óssea: Durante a puberdade, ocorre
Critérios de Tanner para classificação dos estágios da pu-
uma diminuição da cavidade da medula óssea, mais acentuada
berdade masculina
nas meninas
Este acontecimento explica um volume final maior da ca-
Sexo feminino
vidade medular para os meninos, que somado à estimulação da
Os hormônios folículo-estimulante e luteinizante (FSH e LH)
eritropoetina pela testosterona pode representar, para o sexo
atuam sobre o ovário e iniciam a produção hormonal de estróge-
masculino, um número maior de células vermelhas, maior con-
no e progesterona, responsáveis pelas transformações puberais
centração de hemoglobina e ferro sérico. na menina. A primeira manifestação de puberdade na menina é
o surgimento do broto mamário. É seguido do crescimento dos
Sequência do crescimento pelos pubianos e pelo estirão puberal. A menarca acontece cerca
O crescimento estatural inicia-se pelos pés, seguindo uma de um ano após o máximo de velocidade de crescimento, coin-
ordem invariável que vai das extremidades para o tronco. Os cidindo com a fase de sua desaceleração. A ocorrência da me-
diâmetros biacromial e biilíaco também apresentam variações narca não significa que a adolescente tenha atingido o estágio
de crescimento durante a puberdade, sendo que o biacromial de função reprodutora completa, pois os ciclos iniciais podem
cresce com maior intensidade no sexo masculino. Nas meninas, ser anovulatórios. Por outro lado, é possível acontecer também
observa-se também um alargamento da pelve. Os pelos axilares a gravidez antes da menarca, com um primeiro ciclo ovulatório.
aparecem, em média, dois anos após os pelos pubianos. O pelo Critérios de Tanner para classificação da puberdade femini-
facial, no sexo masculino, aparece ao mesmo tempo em que sur- na Pelos pubianos A evolução da distribuição de pelos pubianos
ge o pelo axilar. O crescimento de pelos pubianos pode corres- é semelhante nos dois sexos, de acordo com as alterações pro-
ponder, em algumas situações, às primeiras manifestações pu- gressivas relativas à forma, espessura e pigmentação.
berais. Durante a puberdade, alterações morfológicas ocorrem
na laringe; as cordas vocais tornam-se espessas e mais longas e http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_
a voz mais grave. A este momento, mais marcante nos meninos adolescentes_atencao_basica.pdf
do que nas meninas, chamamos de muda vocal. Na maioria dos
indivíduos a mudança completa da voz se estabelece em um pra- SAÚDE DA CRIANÇA
zo de aproximadamente seis meses. O crescimento dos pelos da
face indica o final deste processo, quando a muda vocal deve es- Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança
tar completa. Adolescentes com uma alteração na voz, que per- A PNAISC está estruturada em princípios, diretrizes e eixos
sista por mais de 15 dias, a Equipe de Saúde da Família deve pro- estratégicos. Tem como objetivo promover e proteger a saúde
curar o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) que dispõe de da criança e o aleitamento materno, mediante atenção e cuida-
um profissional fonoaudiólogo para realizar uma interconsulta dos integrais e integrados, da gestação aos nove anos de vida,
ou uma avaliação multidisciplinar entre os profissionais visando com especial atenção à primeira infância e às populações de
solucionar o problema em questão. É de suma importância que maior vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade
o profissional de saúde saiba orientar os adolescentes quanto e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de exis-
a comportamentos nocivos a sua saúde, como o uso de tabaco. tência e pleno desenvolvimento.

106
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Os princípios que orientam esta política afirmam a garan- 2) Prioridade absoluta da criança – Princípio constitucional
tia do direito à vida e à saúde, o acesso universal de todas as que compreende a primazia da criança de receber proteção e
crianças à saúde, a equidade, a integralidade do cuidado, a hu- cuidado em quaisquer circunstâncias, ter precedência de aten-
manização da atenção e a gestão participativa. Propõe diretrizes dimento nos serviços de saúde e preferência nas políticas sociais
norteadoras para a elaboração de planos e projetos de saúde e em toda a rede de cuidado e de proteção social existente no
voltados às crianças, como a gestão interfederativa, a organiza- território, assim como a destinação privilegiada de recursos em
ção de ações e os serviços de saúde ofertados pelos diversos ní- todas as políticas públicas (BRASIL, 1988; 1990b).
veis e redes temáticas de atenção à saúde; promoção da saúde, 3) Acesso universal à saúde – Direito de toda criança rece-
qualificação de gestores e trabalhadores; fomento à autonomia ber atenção e cuidado necessários e dever da política de saúde,
do cuidado e corresponsabilização de trabalhadores e familia- por meio dos equipamentos de saúde, de atender às demandas
res; intersetorialidade; pesquisa e produção de conhecimento e da comunidade, propiciando o acolhimento, a escuta qualificada
monitoramento e avaliação das ações implementadas. Os sete dos problemas e a avaliação com classificação de risco e vul-
eixos estratégicos que compõem a política têm a finalidade de nerabilidades sociais, propondo o cuidado singularizado e o en-
orientar gestores e trabalhadores sobre as ações e serviços de caminhamento responsável, quando necessário, para a rede de
saúde da criança no território, a partir dos determinantes so- atenção (BRASIL, 2005a).
ciais e condicionantes para garantir o direito à vida e à saúde, 4) Integralidade do cuidado – Princípio do SUS que trata
visando à efetivação de medidas que permitam a integralidade da atenção global da criança, contemplando todas as ações de
da atenção e o pleno desenvolvimento da criança e a redução
promoção, de prevenção, de tratamento, de reabilitação e de
de vulnerabilidades e riscos. Suas ações se organizam a partir
cuidado, de modo a prover resposta satisfatória na produção do
das Redes de Atenção à Saúde (RAS), com ênfase para as redes
cuidado, não se restringindo apenas às demandas apresentadas.
temáticas, em especial à Rede de Atenção à Saúde Materna e
Compreende, ainda, a garantia de acesso a todos os níveis de
Infantil e tendo a Atenção Básica (AB) como ordenadora e coor-
denadora das ações e do cuidado no território, e servirão de fio atenção, mediante a integração dos serviços, da Rede de Aten-
condutor do cuidado, transversalizando a Rede de Atenção à ção à Saúde, coordenada pela Atenção Básica, com o acompa-
Saúde, com ações e estratégias voltadas à criança, na busca da nhamento de toda a trajetória da criança em uma rede de cui-
integralidade, por meio de linhas de cuidado e metodologias de dados e proteção social, por meio de estratégias como linhas
intervenção, o que pode se constituir em um grande diferencial de cuidado e outras, envolvendo a família e as políticas sociais
a favor da saúde da criança. básicas no território (BRASIL, 2005a).
A normativa busca integrar diversas ações já existentes 5) Equidade em saúde – Igualdade da atenção à saúde, sem
para atendimento a essa população. O objetivo é promover o privilégios ou preconceitos, mediante a definição de priorida-
aleitamento materno e a saúde da criança, a partir da gestação des de ações e serviços de acordo com as demandas de cada
aos nove anos de vida, com especial atenção à primeira infância um, com maior alocação dos recursos onde e para aqueles com
(zero a cinco anos) e às populações de maior vulnerabilidade, maior necessidade. Dá-se por meio de mecanismo de indução de
como crianças com deficiência, indígenas, quilombolas, ribeiri- políticas ou programas para populações vulneráveis, em condi-
nhas, e em situação de rua. ção de iniquidades em saúde, por meio do diálogo entre governo
e sociedade civil, envolvendo integrantes dos diversos órgãos
Eixos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da e setores da Saúde, pesquisadores e lideranças de movimentos
Criança sociais (BRASIL, 2005a; BRASIL; CONSELHO NACIONAL DOS SE-
Os sete eixos estratégicos da Política são: atenção huma- CRETÁRIOS MUNICIPAIS DE SAÚDE, 2009).
nizada e qualificada à gestação, parto, nascimento e recém- 6) Ambiente facilitador à vida – Princípio que se refere ao
-nascido; aleitamento materno e alimentação complementar estabelecimento e à qualidade do vínculo entre criança e sua
saudável; promoção e acompanhamento do crescimento e de- mãe/família/cuidadores e também destes com os profissionais
senvolvimento integral; atenção a crianças com agravos preva- que atuam em diferentes espaços que a criança percorre em
lentes na infância e com doenças crônicas; atenção à criança em seus territórios vivenciais para a conquista do desenvolvimento
situação de violências, prevenção de acidentes e promoção da integral (PENELLO, 2013). Esse ambiente se constitui a partir da
cultura de paz; atenção à saúde de crianças com deficiência ou compreensão da relação entre indivíduo e sociedade, interagin-
em situações específicas e de vulnerabilidade; vigilância e pre-
do por um desenvolvimento permeado pelo cuidado essencial,
venção do óbito infantil, fetal e materno.
abrangendo toda a comunidade em que vive. Este princípio é a
A Política considera como criança a pessoa na faixa etária
nova mentalidade que aporta, sustenta e dá suporte à ação de
de zero a nove anos e a primeira infância, de zero a cinco anos.
todos os implicados na Atenção Integral à Saúde da Criança.
Para atendimento em serviços de pediatria no Sistema Único de
Saúde (SUS), são contempladas crianças e adolescentes meno- 7) Humanização da atenção – Princípio que busca qualifi-
res de 16 anos, sendo que este limite etário pode ser alterado car as práticas do cuidado, mediante soluções concretas para
conforme as normas e rotinas do estabelecimento de saúde res- os problemas reais vividos no processo de produção de saúde,
ponsável pelo atendimento. de forma criativa e inclusiva, com acolhimento, gestão partici-
pativa e cogestão, clínica ampliada, valorização do trabalhador,
Dos princípios: defesa dos direitos dos usuários e ambiência, estabelecimento
1) Direito à vida e à saúde – Princípio fundamental garantido de vínculos solidários entre humanos, valorização dos diferen-
mediante o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços tes sujeitos implicados, desde etapas iniciais da vida, buscando
para a promoção, proteção integral e recuperação da saúde, por a corresponsabilidade entre usuários, trabalhadores e gestores
meio da efetivação de políticas públicas que permitam o nasci- neste processo, a construção de redes de cooperação e a partici-
mento, crescimento e desenvolvimento sadios e harmoniosos, pação coletiva, fomentando a transversalidade e a grupalidade,
em condições dignas de existência, livre de qualquer forma de assumindo a relação indissociável entre atenção e gestão no cui-
violência (BRASIL, 1988; 1990b). dado em saúde (BRASIL, 2006a).

107
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
8) Gestão participativa e controle social – Preceito constitu- 7) Incentivo à pesquisa e à produção de conhecimento – In-
cional e um princípio do SUS, com o papel de fomentar a demo- centivo à pesquisa e à produção de conhecimento para o desen-
cracia representativa e criar as condições para o desenvolvimen- volvimento de conhecimento com apoio à pesquisa, à inovação
to da cidadania ativa. São canais institucionais, de diálogo social, e à tecnologia no campo da Atenção Integral à Saúde da Criança,
as audiências públicas, as conferências e os conselhos de saúde possibilitando a geração de evidências e instrumentos neces-
em todas as esferas de governo que conferem à gestão do SUS sários para a implementação da Pnaisc, sempre respeitando a
realismo, transparência, comprometimento coletivo e efetivida- diversidade étnico-cultural, aplicada ao processo de formulação
de dos resultados. No caso da saúde da criança, o Brasil possui de políticas públicas.
um extenso leque de entidades da sociedade civil que militam 8) Monitoramento e avaliação – Fortalecimento do moni-
pela causa da infância e do aleitamento materno e que podem toramento e avaliação das ações e das estratégias da Pnaisc,
potencializar a implementação deste princípio (BRASIL; CONSE- com aprimoramento permanente dos sistemas de informação e
LHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE SAÚDE, 2009; instrumentos de gestão, que garantam a verificação a qualquer
MARTINS, 2010). tempo, em que medida os objetivos estão sendo alcançados,
a que custo, quais os processos ou efeitos (previstos ou não,
Das Diretrizes: desejáveis ou não), indicando novos rumos, mais efetividade e
1) Gestão interfederativa das ações de saúde da criança – satisfação.
Fomento à gestão para implementação da Pnaisc, por meio da 9) Intersetorialidade – Promoção de ações intersetoriais
viabilização de parcerias e articulação interfederativa, com ins- para a superação da fragmentação das políticas sociais no ter-
trumentos necessários para fortalecer a convergência dela com ritório, mediante a articulação entre agentes, setores e institui-
os planos de saúde e os planos intersetoriais e específicos que ções para ampliar a interação, favorecendo espaços comparti-
dizem respeito à criança. lhados de decisões, que gerem efeitos positivos na produção de
2) Organização das ações e dos serviços em Redes de Aten- saúde e de cidadania.
ção à Saúde – Fomento e apoio à organização de ações e aos Marcos do crescimento e do desenvolvimento
serviços da Rede de Atenção à Saúde, com a articulação de pro- O desenvolvimento da criança é o aumento da capacidade
fissionais e serviços de saúde, mediante estratégias como o es- do indivíduo na realização de funções cada vez mais complexas.
tabelecimento de linhas de cuidado, a troca de informações e Para uma definição mais completa e necessário diferenciar as
saberes, a tomada horizontal de decisões, baseada na solidarie- noções referentes ao crescimento e desenvolvimento:
dade e na colaboração, garantindo a continuidade do cuidado ― crescimento e o aumento do corpo, de ponto de vista
com a criança e a completa resolução dos problemas colocados, físico. Ele pode ser aumento de estatura ou de peso. A unidade
de forma a contribuir para a integralidade da atenção e a prote- de medida dele vai ser o cm ou a grama. Os processos básicos
ção da criança. dele: aumento de tamanho celular (chamado de hipertrofia) ou
3) Promoção da Saúde – Reconhecimento da Promoção da aumento do numero das células (hiperplasia);
Saúde como conjunto de estratégias e forma de produzir saúde ― maturação e uma noção bem diferente – nesse caso,
na busca da equidade, da melhoria da qualidade de vida e saúde, trata-se de organização progressiva das estruturas morfológicas.
com ações intrassetoriais e intersetoriais, voltadas para o desen- Aqui entra: crescimento e diferenciação celular, mielinização,
volvimento da pessoa humana, do ambiente e hábitos de vida especialização dos aparelhos e sistemas;
saudáveis e o enfrentamento da morbimortalidade por doenças ― desenvolvimento: e um ponto de visto holístico, in-
crônicas não transmissíveis, envolvendo o trabalho em rede em tegrante dos processos do crescimento e maturação, mas que
todos os espaços de produção de saberes e práticas do cuidado junta a isto o impacto e o aprendizagem sobre cada evento, e,
nas dimensões individuais, coletivas e sociais (BRASIL, 2014h). também, a integração psíquicos e sociais;
4) Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família ― o desenvolvimento psicossocial – e, de fato a integra-
– Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família, prin- ção do aspecto humano – o ser aprende a interagir e mover,
cípio constitucional, que deve ser estimulado e apoiado pelo po- respeitar as regras da sociedade, a rotina diária –praticamente,
der público, com informações qualificadas sobre os principais a criança vai seguir os passos que vão ter como finalidade a con-
problemas de saúde e orientações sobre o processo de educa- vivência com a sociedade cuja pertence.
ção dos filhos, o estabelecimento de limites educacionais sem
violência e os cuidados com a criança, com especial foco nas eta- O recém-nascido e a criança hospitalizada
pas iniciais da vida, para a efetivação de seus direitos. As crianças tendem a responder à hospitalização com um
5) Qualificação da força de trabalho – Qualificação da força distúrbio emocional, estas respostas geralmente manifestam-se
de trabalho para a prática de cuidado, da cogestão e da partici- através de comportamentos agressivos, como choro, retraimen-
pação nos espaços de controle social, do trabalho em equipe e to, chute, mordida, tapas, resistência física aos procedimen-
da articulação dos diversos saberes e intervenções dos profis- tos, ou ignora as solicitações. As internações são consideradas
sionais, efetivando-se o trabalho solidário e compartilhado para ameaças ao desenvolvimento da criança e a união familiar.
produção de resposta qualificada às necessidades em saúde da Vários são os sinais dos transtornos que a criança possa
família. apresentar dentre eles destacam-se: Ansiedade de Separação;
6) Planejamento no desenvolvimento de ações – Aperfeiçoa- Perda de controle e Medos.
mento das estratégias de planejamento na execução das ações A unidade de internação é um ambiente ocupado e baru-
da Pnaisc, a partir das evidências epidemiológicas, definição de lhento, cheio de eventos imprevistos e geralmente sem prazer
indicadores e metas, com articulação necessária entre as diver- para crianças e seus pais. É responsabilidade de todos os mem-
sas políticas sociais, iniciativas de setores e da comunidade, de bros da equipe de saúde estar atenta e sensível a esses proble-
forma a tornar mais efetivas as intervenções no território, que mas em geral. O profissional bem treinado pode fazer avaliações
extrapolem as questões específicas de saúde. e elaborar intervenções durante a experiência da internação. O

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
uso do brincar terapêutico, atividades de recreação, atividades A motilidade gástrica e intestinal (tempo de transito) esta
escolares, visitas hospitalares e grupos de apoio podem fornecer diminuída nos neonatos e lactentes menores, mas aumenta nos
medidas criativas para guiar a criança e a família para longe da lactentes maiores e crianças.
experiência negativa e em direção à experiência benéfica. (BO- A quantidade de ácido biliar e o funcionamento estão dimi-
WDEN; GREENBERG, 2005) nuídos nos recém-nascidos e atingem a sua capacidade máxima
ao longo dos primeiros meses de vida.
Cuidados com as medicações
Medicamento é toda a substância que, introduzida no orga- - Retal
nismo, previne e trata doenças, alivia e auxilia no diagnóstico. Somente alguns medicamentos são adequados para admi-
As ações de enfermagem relativas aos medicamentos dizem res- nistração retal. Além disso, o tamanho da exposição na mucosa
peito ao preparo, à administração e a observação das reações da retal afeta a absorção.
criança que se submeteu a este procedimento.
Considerar os seis certos tradicionais da administração de - Intramuscular
medicamentos (registro certo, dose certa, via certa, droga certa, Variável no grupo pediátrico secundário a (a) fluxo sanguí-
hora certa e paciente certo) e de checar o procedimento realiza- neo e instabilidades vasomotoras, (b) contração e tônus muscu-
do, em pediatria a equipe de enfermagem tem de levar em con- lar insuficientes e (c) oxigenação muscular diminuída.
sideração certas peculiaridades durante o procedimento, tais
como, a criança sentir-se insegura durante a hospitalização e ter - Percutâneo
medo do que lhe vai acontecer, não aceitando, muitas vezes, Diminuído com espessura aumentada do estrato córneo e
as medicações, principalmente as injetáveis. (COLLET; OLIVEIRA, diretamente relacionado à hidratação da pele.
2002) Os neonatos e os lactentes tem a permeabilidade da pele
Observam-se os seguintes cuidados para administração do aumentada, permitindo maior penetração da medicação e uma
medicamento em pediatria segundo Collet e Oliveira 2002: relação maior de área de superfície – peso corporal com poten-
- ler cuidadosamente os rótulos dos medicamentos; cial para toxicidade.
-questionar a administração de vários comprimidos ou fras-
cos para uma única dose;
- Intraocular
-estar alerta para medicamentos similares;
As mucosas de neonatos e lactentes são particularmente fi-
-verificar a vírgula decimal;
nas; os medicamentos oftalmológicos podem causar efeitos sis-
-questionar aumento abrupto e excessivo nas doses;
têmicos nos recém-nascidos e nas crianças jovens.
-quando um medicamento novo for prescrito, buscar infor-
Fatores que Afetam a Distribuição
mações sobre ele;
- Os neonatos têm uma maior proporção de água corporal
-não administrar medicamentos prescritos por meio de ape-
total que rapidamente de reduz durante o primeiro ano de vida.
lidos ou símbolos;
Valores de adultos são gradualmente alcançados por volta de 12
-não tentar decifrar letras ilegíveis;
-procurar conhecer crianças que tem o mesmo nome ou so- anos de idade. Este fator é uma consideração importante rela-
brenome. cionado à solubilidade do medicamento na água.
- As crianças têm uma proporção mais baixa de gordura cor-
Cuidados prévios para a administração de medicamentos: poral que os adultos.
- orientar a criança e a mãe/acompanhante por meio do - A capacidade de ligação das proteínas depende da idade.
brinquedo terapêutico;
-lavar as mãos; A concentração de proteína total ao nascimento correspon-
-reunir o material; de a somente 80% dos valores de um adulto, o que leva a uma
-lero rótulo da medicação (observar validade, cor, aspecto, maior fração livre ou ativa da droga na circulação com um maior
dosagem) potencial para toxicidade.
-preparar o medicamento na dose certa; - A albumina fetal no período imediato após o parto tem a
-identificar a medicação a ser ministrada – nome da criança, capacidade de ligação a drogas limitada.
nº do leito, nome da medicação, a via de administração, a dose - Uma barreira hemato-encefálica imatura durante o perío-
e o horário e a assinatura de quem prepararam; do logo após o parto pode levar a altas concentrações de medi-
-não deixar ao alcance das crianças os medicamentos; camentos no cérebro do que em outras idades.
-explicar a criança que entende a relação do medicamento
com a doença; Fatores que Afetam o Metabolismo
-restringir a criança quando necessário, para garantir a ad- - O sistema microssomal enzimático do recém-nascido é me-
ministração correta e segura. nos eficaz.
- A maturação varia entre as pessoas; cada enzima hepática
FARMACOCINETICA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL torna-se funcional a uma frequência diferente.

Fatores que Afetam a Absorção dos Medicamentos Fatores que Afetam a Eliminação
- A filtração glomerular e a secreção tubular estão reduzidas
- Gastrintestinal no nascimento.
O pH gástrico é alto em neonatos, atingindo os valores de - Existe um aumento gradual na função renal, com os valores
adulto por volta da idade de 2 anos. Os medicamentos ácidos de adultos sendo alcançados nos(s) primeiro(s) 1-2 anos de vida.
são mais biodisponíveis; os medicamentos-base apresentam
menor biodisponibilidade.

109
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Vias de Administração de Medicação Infantil Via Inalatória: Este método utiliza o trato respiratório para
Via Oral: Formas Farmacêuticas: cápsulas, comprimidos, xa- transportar o medicamento através da inalação ou da adminis-
ropes e drágeas. tração direta para dentro da árvore respiratória através do tubo
A administração de medicamentos por via oral consiste no endotraqueal. O medicamento, depois de inalado ou infundido,
preparo ideal, escolher o material de administração de acordo se move para dentro dos brônquios e, em seguida, atinge os al-
com a idade da criança (colher ou copo de medidas, conta-go- véolos do paciente, sendo difundidos para os capilares pulmo-
tas, seringa, copo descartável, fita crepe ou etiqueta de iden- nares. Os medicamentos fornecidos através da via respiratória
tificação); orientar a criança e o acompanhamento se preciso podem produzir efeitos locais ou sistêmicos.
por intermédio do brinquedo terapêutico, sentar a criança semi-
-sentada no colo do acompanhante ou decúbito dorsal elevado Vantagens
no leito; administra-se o medicamento certificando-se de que a ― Rápido contato com o fármaco.
criança engoliu; oferecer líquidos após o medicamento, registrar ― Utilizada principalmente por pacientes com distúrbios
aceitação e se houver reação comunicar. respiratórios
― Pode ser administrada em pacientes inconscientes.
Vantagens: ― A principal vantagem é administrar pequenas doses
― Autoadministração, econômica e fácil; para ação rápida e minimizar os efeitos adversos sistêmicos
― Confortável, indolor;
― Forma Farmacêutica de fácil conservação Via Tópica: É a via através da qual os medicamentos são
― Possibilidade de remover o medicamento administrados e absorvidos através da pele ou mucosas.

Desvantagens: Vantagens:
― Absorção variável; ― É uma via prática;
― Período de latência médio a longo; ― Não é dolorosa;
― Ação dos sucos digestivos; ― É a única via que pode garantir o efeito apenas no local
― Interação com alimentos; da aplicação (evita efeito sistêmico). Ex.: Uso de pomada ou gel.
― Pacientes não colaboradores (inconscientes), com náu-
seas e vômitos o incapazes de engolir; Desvantagens:
― pH do trato gastrintestinal ― Pode causar irritação na pele ou mucosas;
― Estímulo a automedicação;
Via Retal: A administração consiste na administração de ― Ocorre perda do medicamento para o meio ambiente
medicamentos do tipo supositório ou enema no reto. O volume
de líquido a ser administrado varia conforme a idade da criança: Via Parenteral (injetáveis): Este tipo de procedimento é
em lactentes, de 150 a 250 ml; em pré-escolar, de 250 a 350ml; considerado pela criança como um ato agressivo contra si, pois
em escolar, de 350 a 500ml e em adolescentes, de 500 a 750ml. na maioria das vezes é acompanhado de dor ou medo, o que se
Vantagens: traduz no choro e na ansiedade. Existem quatro meios comuns
― Fármacos não são destruídos ou desativados no Trato para administrar medicamentos por esta via: via endovenosa;
Gastro Intestinal-TGI; via subcutânea; a intradérmica e a intramuscular.
― Preferível quando a VIA ORAL está comprometida
― Pacientes que não cooperam, inconscientes ou incapa- Vantagens:
zes de aceitar medicação por via oral . ― Efeito farmacológico imediato;
― Evitar a inativação por ação enzimática;
Desvantagens: ― Administração a pacientes inconscientes
― Lesão da mucosa ;
― Incômodo Desvantagens:
― Expulsão ― Toxicidade local ou sistêmica (alergias, erros)
― Absorção irregular e incompleta ― Resistência do paciente (Psicológico)
― Adesão ― Pureza e esterilidade dos medicamentos (Custo)

Via oftalmológica: A administração de medicamentos nos Preparo do medicamento em ampola:


olhos se dá na presença de infecções oculares ou para realiza- ― Abrir a embalagem da seringa;
ções de exames de pequenas cirurgias. Deixar a criança em de- ― Adaptar a agulha ao bico da seringa, zelando para não
cúbito dorsal elevado; realizar higiene ocular com gaze estéril contaminar as duas partes;
e soro fisiológico; separar as pálpebras para expor o saco con- ― Certificar-se do funcionamento da seringa, verificando
juntival e instilar as gotas prescritas neste local, mantendo-se o se a agulha está firmemente adaptada;
conta-gotas a 3 cm de distância e soltar as pálpebras, secando- ― Manter a seringa com os dedos polegar e indicador e
-se a medicação excedente no sentido do canto interno para o segurar a ampola entre os dedos médio e indicador da outra
externo e de cima para baixo. mão;
― Introduzir a agulha na ampola e proceder a aspiração
ATENÇÃO: Ao utilizar mais de um tipo de colírio no mesmo do conteúdo, invertendo lentamente a agulha, sem encostá-la
olho é necessário aguardar pelo menos 10 minutos entre as apli- na borda da ampola;
cações. ― Virar a seringa com a agulha para cima, em posição ver-
tical e expelir o ar que tenha penetrado;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
― Desprezar a agulha usada para aspirar o medicamento; plicações tromboembólicas (arco venoso dorsal, mediana mar-
― Escolher, para a aplicação, uma agulha de calibre apro- ginal),tornozelo (safena interna), Pescoço (jugular externa e in-
priado à solubilidade da droga e à espessura do tecido subcutâ- terna).
neo do indivíduo; As Indicações para administração endovenosas:
― Manter a agulha protegida com protetor próprio. - Manter e repor eletrólitos, vitaminas e líquidos;
- Restabelecer o equilíbrio ácido-básico;
Via Intradérmica: Consiste na aplicação de solução na der- - Restabelecer o volume sanguíneo;
me(área localizada entre a epiderme e o tecido subcutâneo) Via - Ministrar medicamentos;
utilizada para realizar testes de sensibilização e vacina BCG é de - Induzir e manter sedações e bloqueios neuromusculares;
fácil acesso, restrita a pequenos volumes - Manter estabilidade hemodinâmica por infusões contínuas
Os efeitos adversos da injeção intradérmica são decorrentes de drogas vasoativas
de: falha na administração como aplicação profunda subcutâ-
nea; da dosagem incorreta com maior volume que o necessárioe As soluções utilizadas:
contaminação. - Isotônicas-concentração semelhante ao plasma(S.G.5% e
S.F.0,9%) fornecem água e calorias utilizadas para repor perdas
Via subcutânea: Consiste na aplicação de solução na tela anormais e corrigir desidratação;
subcutânea, na hipoderme (tecido adiposo abaixo da pele), Via - Hipertônicas-concentração maior que a do plasma (S.G.10
utilizada principalmente para drogas que necessitam ser lenta- % ,25% e 50%) indicado para hipoglicemia, combate ao edema e
mente absorvidas, vacinas como a antirrábica, a insulina têm ao aumento da pressão intracraniana;
indicação específica para esta via. Os locais recomendados para - Hipotônicas-concentração menor que a do plasma(ringer
aplicação são: parede abdominal (hipocôndrio, face anterior e lactato) indicado para tratamento de desidratação, alcalose
externa da coxa, face anterior e externa do braço, a região glú- branda,hipocloremia,correção de desidratação;
tea, e a região dorsal, abaixo da cintura) - Fluidos derivados do sangue: sangue total,plasma,papa de
hemácias,expansoresplasmáticos;
Via intramuscular: Consiste na aplicação de solução no teci- - Nutrição parenteral.
do muscular. Procedimento muito comum 46% dos casos aten-
didos no PS e no ambulatório resultam em administração de As complicações causadas pela administração de medica-
medicamentos por esta via. A escolha do local deve respeitar os mentos por via endovenosa: Infiltrações locais; Reações pirogê-
seguintes critérios: nicas; trombose venosa e flebite (ações irritantes dos medica-
- Quantidade e característica da droga mentos ou formação de coágulos); Hematomas e necrose.
- Condição da massa muscular
- Quantidade de injeções prescritas Fatores Contribuintes para extravasamento ou infiltração
- Locais livres de grandes vasos e nervos em camadas su- Endovenosa:
perficiais ― Má perfusão periférica-propicia o extravasamento da
- Acesso ao local e risco de contaminação solução;
-Inserção, tamanho da agulha e ângulo apropriado para apli- ― Visualização inadequada do local da inserção do cate-
cação. ter;
― Não observação de sinais flogísticos precoce e frequen-
Locais de aplicação ,os mesmos do adulto : Vasto lateral; temente
Ventroglútea; Dorsoglútea; Deltoide.
O risco da aplicação intramusculares em Pediatria: Trauma Sinais de Extravasamento ou Infiltração:
ou compressão aacidental de nervos; Injeção acidental em veia ― Edema local que pode se estender por toda extremida-
ou artéria; Injeção em músculo contraído; Lesão do músculo de afetada;
por soluções irritantes; Pode provocar dano celular, abscessos ― Perfusão local diminuída
e alergias. ― Extremidades afetadas frias
Via endovenosa: Via de ação rápida, pois o medicamento é ― Coloração da pele alterada(escura sugere necrose)
ministrado diretamente no plasma,com ação imediata. ― Bolhas no local.
Tipo de medicamento injetado na veia: Solução solúvel no
sangue; Não oleosos;Não devem conter cristais visíveis.
Cuidados importantes: Antes da infusão, verificar a permea-
A administração da medicação ocorre por meio de um dis- bilidade do acesso; Não infundir medicação associada a hemo-
positivo intravenoso instalado por punção,podendo ser um pro- derivados; Fazer controle de gotejamento, respeitando o tempo
cedimento repetitivo,no qual a criança revive as angústias gera- e o volume prescritos.
das por essa experiência,que pode resultar em traumas.
A equipe deve preparar adequadamente a criança para esse Técnica e procedimento de cateterização venosa periféri-
procedimento para minimizar as consequências e os traumas ge- ca:
radas pela hospitalização. - Realizar a seleção da veia;
- Escolher uma veia visível e que permita a mobilidade da
Locais mais utilizados: Dorso da mão (veias metacarpianas criança
dorsais, arco venoso dorsal) Antebraço (cefálica acessória, cefá- - Selecionar o dispositivo para punção;
lica e basílica), Braço (mediana cubital, mediana antebraqueal, - Preparar todo material (soro, equipo ou bureta, cateter de
basílica e cefálica),Dorso do pé: último recurso devido às com- dupla via) e retirar o ar do equipo;

111
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Utilizar foco de 30cm de distância do local da punção para - Avaliar o nível de dor dentro de 1 hora antes e após as
facilitar a visualização epromover a vasodilatação; intervenções para seu alivio em criança com doença aguda (o
intervalo depende da intervenção especifica) para avaliar a res-
Não golpear o local da punção, pode causar dor e medo posta aos esquemas de tratamento.
- Garrotear o local; - Os profissionais são responsáveis pela avaliação da dor.
- Fazer antissepsia do local com álcool 70%,seguindo a dire- - O médico, a enfermaria, a técnica ou auxiliar de enferma-
ção da corrente sanguínea; gem podem obter relatos subjetivos de dor. Quando a deter-
- Solicitar ajuda para restrição dos movimentos; minação é realizada por técnico ou auxiliar, qualquer variação
- Fazer tricotomia; em relação aos valores de referencia deve ser comunicada ao
- Preparar material para fixação (micropore,esparadrapo e profissional.
tala);
Procedimento
Distender a pele com uma das mãos e com a outra introduzir
a agulha com o bisel voltado pra cima e paralelo à veia; Verificar Passos
refluxo de sangue - Rever a história da dor inicial da criança e o nível anterior
- Retirar o garrote de dor, quando possível.
- Conectar equipo de soro, verificar o fluxo do gotejamento - Observar o diagnóstico médico e a história de eventos con-
- Fixar e imobilizar a extremidade com tal; siderados dolorosos ou causadores de traumatismo tecidual.
- Controlar gotejamento - Determinar se a criança esta tomando quaisquer medica-
-Identificar na fixação a data da punção, o horário e o nome mentos que possam afetar a percepção da dor ou a capacidade
do responsável; de comunicar que esta com dor.
- Encaminhar a criança para o leito, organizar o ambiente; - Lavar as mãos.
- Observar e anotar a normalidade da infusão e o local, es- - Avaliar a presença de indicadores de dor, considerando a
tar atento aos sinais flogísticos, obstrução e presença de ar no idade da criança e o estado de sono:
equipo;
- Trocar o equipo de acordo com as normas da instituição Dor Aguda
24 a 72h; - Subjetiva: declaração de dor; se for incapaz de relatar, per-
- Fazer anotações sobre o procedimento, o local e as ocor- guntar aos pais.
rências. - Fisiológica: aumento da frequência respiratória ou fre-
quência cardíaca, respirações superficiais, diminuição da satura-
ção de oxigênio, diaforese, dilatação da pupila.
Contenção para procedimentos: É necessária para garantir
- Comportamental: choro, gemido, inquietação, ansiedade,
segurança à criança e facilitar o procedimento, podendo ser fei-
raiva, diminuição do nível de atividade, alteração do sono, posi-
ta manualmente ou com dispositivos físicos. Os pais e a criança
ção assumida pela criança (p. ex., deitada imóvel, posição fetal,
devem ser orientados sobre a sua finalidade e objetivo. Pode
membro fletido ou rígido) careta facial, posição antálgica, tocar
ser manual, executada com o auxílio de outra pessoa ou com a
a área dolorosa.
ajuda de lençóis e faixas de contenção.
Dor Crônica
Sinais Vitais
- Sinais vitais estáveis.
- Interrupção do sono.
Sinais Vitais: Avaliação da Dor - Regressão do desenvolvimento.
- Alteração dos padrões alimentares.
Diretrizes Clínicas - Problemas de comportamento ou escolares.
- Avaliar o nível de dor na primeira hora após a internação - Afastamento de atividades em grupo.
na unidade de cuidados agudos ou durante a consulta ambulato- - Depressão.
rial, para obter dados de referencia sobre o conforto da criança. - Agressão.
- No caso de uma criança com dor crônica, a frequência de
avaliações da dor baseia-se na condição da criança, mas é reali- No caso de uma criança submetida a bloqueio neuromus-
zado ao menos uma vez por mês. cular:
- Avaliar o nível da dor a cada 8 a 12 horas em uma criança - Avaliar parâmetros fisiológicos.
com doença aguda e com maior frequência, segundo a indicação - Avaliar o tamanho da pupila.
clinica. A avaliação da dor é um processo continuo; cada cuida- - Interromper agentes paralisantes por um curto período
dor realiza uma avaliação ampla da dor ao assumir os cuidados para avaliar os comportamentos da dor.
com a criança. Após a avaliação inicial, se a condição da criança - Avaliar o nível de dor utilizando um instrumento de ava-
mudar, se a criança apresentar sinais de dor ou for submetida a liação valido, apropriado para o desenvolvimento; usar sempre
um procedimento provavelmente doloroso, ou se houver modi- o mesmo instrumento para comparar a adequação do controle
ficação da velocidade de infusão de medicamentos sedativos, da dor (p. ex., o mesmo instrumento ensinado previamente à
analgésicos ou anestésicos, realizar outra avaliação ampla da criança e à família).
dor. Se a criança estiver confortável, não é necessário realizar - Realizar o exame físico da área dolorosa.
uma avaliação ampla da dor com cada grupo de sinais vitais; en- - Determinar o nível de dor da criança e as intervenções
tretanto, procure conhecer a legislação do seu estado, porque apropriadas; considerar a situação especifica (idade, estilo de
alguns exigem que a avaliação da dor seja registrada toda vez adaptação, ambiente) e o tipo e a intensidade da dor. Imple-
que são registrados os sinais vitais. mentar intervenções de controle da dor.

112
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Realizar ampla reavaliação do nível da dor: Sinais Vitais: Frequência Cardíaca
- Se houver indicadores clínicos de dor.
- Após implementação de intervenções para alivio da dor, Diretrizes clínicas
com modificação da velocidade de infusão de medicamentos - A frequência cardíaca é determinada para avaliar o estado
sedativos, analgésicos ou anestésicos; a avaliação deve ser reali- geral de cada paciente na primeira hora após a internação na
zada em 1 hora após a intervenção, mas pode ser realizada mais unidade de cuidados agudos.
cedo dependendo da intervenção (p. ex., 5 a 20 minutos após - Monitorar a frequência cardíaca a cada 4 a 8 horas duran-
injeção em bolo intravenosa). te a fase aguda da doença se o paciente estiver na unidade de
- Lavar as mãos. internação clínica e a cada 1 a 2 horas na unidade de terapia
intensiva.
Dicas para verificação dos Sinais Vitais na Pediatria - A frequência cardíaca é reavaliada para monitorar a res-
posta aos esquemas de tratamento e conforme indicado pela
Ordem para Verificação dos Sinais Vitais: avaliação de enfermagem ou médica.
Frequência Respiratória – FR: Uma maneira prática para se - O técnico ou auxiliar de enfermagem e/ou a enfermeira
verificar a frequência respiratória é colocando-se a mão leve- podem verificar a frequência cardíaca. Quando a frequência car-
mente sobre o tórax da criança e contando quantas vezes a mão díaca é verificada pelo auxiliar, qualquer variação em relação a
sobe durante um minuto. medidas anteriores deve ser comunicada à enfermeira.
Frequência cardíaca – FC: Procure verificar a FC , quando a
criança estiver dormindo ou em repouso. Quando o paciente for Determinação da Frequência Cardíaca
lactente, dê preferência ao pulso apical. A frequência apical é
verificada colocando-se o estetoscópio próximo ao mamilo es- Passos
querdo por um minuto. - Rever no prontuário do paciente os dados de referencia
Temperatura – T – considera-se febre: acima de 37,8ºC sobre a frequência de pulso conhecer a variação para a idade.
Pressão arterial – PA – a PA deverá estar solicitada na pres- - Determinar o pulso:
crição médica e verificada quando necessário. - Nas crianças com menos de 2 anos de idade, é mais fácil
Variação Normal dos Sinais Vitais em Crianças realizar a ausculta apical.
- Em crianças maiores, pode ser realizada ausculta apical ou
Frequência da Pulsação, Respiração palpado o pulso periférico.
- Acalmar a criança, se necessário. Sempre que possível, fa-
Idade Pulso Respiração zer a medida quando a criança estiver tranquila.
- Lavar as mãos.
Recém-natos 70 -170 30 – 50
11 meses 80 -160 26 – 40 Determinação da Frequência Cardíaca por Ausculta do Pul-
so Apical
2 anos 80 -130 20 – 30
4 anos 80 -120 20 – 30 Passos
6 anos 75 -115 20 – 26 - Limpar o diafragma e as olivas do estetoscópio com um
lenço embebido em álcool antes e depois do exame.
8 anos 70 -110 18 – 24 - Introduzir os olivas nos ouvidos com as extremidades cur-
10 anos 70 -110 18 – 24 vas para a frente em direção à face.
Adolescentes 60 -120 12 – 20 - Identificar o pulso. Palpar a parede torácica para determi-
nar o ponto de impulso máximo (PIM):
Pressão Arterial - Em crianças menores de 7 anos – imediatamente à esquer-
da da linha hemiclavicular no quarto espaço intercostal.
- Em crianças maiores de 7 anos – linha hemiclavicular es-
Idade Pressão Pressão querda no quinto espaço intercostal.
Sistólica Diastólica - Colocar o diafragma do estetoscópio sobre o PIM e contar
6m - 1 ano 90 61 a FC:
- Se o pulso da criança for regular, contar por 30 segundos
2 - 3 anos 95 61
e multiplicar por 2.
4 - 5 anos 99 65 - Se o pulso for irregular, contar por 1 minuto completo.
6 anos 100 65 - Lavar as mãos.
- Registrar a frequência cardíaca, o pulso usado e o nível
8 anos 105 57
de atividade da criança (p. ex., adormecida, calma, chorando,
10 anos 109 58 inquieta) no prontuário.
12 anos 113 59
Determinação da Frequência Cardíaca por Palpação de Pul-
Temperatura (T) sos Periféricos
Oral 35,8º - 37,2º C
Retal 36,2º C – 38º C Passos
Axilar 35,9º C – 36.7º C - Identificar o local; os pulsos radial e branquial são usados
com maior frequência.

113
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Localizar o pulso da criança e palpar com seus dois ou três - A pressão arterial é verificada para avaliar a resposta aos
primeiros dedos; não usar pressão excessiva. Observar o ritmo. esquemas terapêuticos.
- Durante a doença aguda, verifique a pressão arterial a
- Se o pulso da criança for regular, contar por 30 segundos cada 4 ou 8 horas, ou mais frequentemente se houver indicação
e multiplicar por 2. Se for irregular, contar durante 1 minuto clínica.
completo. - Nos neonatos, verifique a pressão arterial se houver sus-
- Lavar as mãos. peita de doença renal ou coarctação da aorta ou se estiverem
- Registrar a frequência cardíaca, a região usada e o nível presentes sinais clínicos de hipotensão. Não é recomendada
de atividade da criança (p. ex., adormecida, calma, chorando, uma triagem universal dos neonatos.
inquieta) no prontuário. - Para a manutenção da saúde, a pressão arterial deveria ser
verificada:
Sinais Vitais: Frequência Respiratória - Uma vez ao ano nas crianças com idade superior a 3 anos.
- Em criança de qualquer idade com sintomas de hiperten-
Diretrizes clínicas são, hipotensão, ou doença renal ou cardíaca.
- Os movimentos respiratórios são medidos inicialmente - Um técnico ou auxiliar de enfermagem ou uma enfermeira
para se obter os dados de referência para avaliar o estado geral podem verificar a pressão arterial. Quando a pressão arterial for
de cada paciente dentro da primeira hora da admissão em um verificada por um auxiliar ou técnico de enfermagem, qualquer
ambiente de cuidado agudo. variação das medidas anteriores é informada ao enfermeiro ou
- As respirações são medidas antes e imediatamente após as médico.
intervenções respiratórias para avaliar a resposta aos esquemas - Use o braço direito sempre que possível para haver consis-
terapêuticos. tência das aferições e comparação com as normas padronizadas.
- A mensuração das respirações é feita a cada 4 ou 8 horas - A ausculta é o método de escolha para a verificação da
em uma criança agudamente doente e mais frequentemente pressão arterial nas crianças, porque é necessária uma frequen-
conforme indicado clinicamente. te calibração dos equipamentos automáticos e existe uma fal-
- Uma auxiliar ou técnica de enfermagem ou enfermeira po- ta de padrões de referencia estabelecidos para as crianças. Os
dem verificar a frequência respiratória. Quando a mensuração é equipamentos automáticos são aceitos quando a ausculta for di-
encaminhada à enfermeira ou ao médico. fícil (p.ex., em crianças pequenas) ou quando forem necessárias
verificações frequentes.
Verificação da Frequência Respiratória
Método de Ausculta
Passos
- Rever a frequência respiratória anterior da criança, quan- Passos
do possível. - Rever as leituras da pressão arterial prévias da criança, se
- Observar o diagnostico médico da criança e a historia de disponíveis.
problemas e dificuldades respiratórias. - Analisar o diagnostico da criança e as medições atuais que
- Determinar se a criança esta tomando alguma medicação provocam efeito sobre a pressão arterial.
que possa afetar a frequência e a profundidade respiratória. - Lavar as mãos. Limpar o diafragma do estetoscópio.
- Lavar as mãos. - Selecionar o local:
- Contar as respirações: - Usar o braço direito quando possível.
- Observar o movimento abdominal quando for lactentes e - Verificar no mesmo local e posição das verificações ante-
crianças pequena. riores, quando possível.
- Observar os movimentos torácicos nas crianças mais ve- - Não usar a extremidade que tiver uma lesão ou equipa-
lhas. mentos estranhos (p. ex., punção venosa, fistula de diálise arte-
- Se as respirações forem regulares, contar o numero de riovenosa ou renal).
respirações em 30 segundos e multiplicar por dois. Se as respi- - Não usar a extremidade com circulação alterada (p. ex.,
rações forem irregulares, contar o numero de respirações em derivação de Blalock-Taussig, coarctação).
um minuto inteiro. Contar as respirações nos lactentes durante - Selecionar manguito de tamanho apropriado:
1 minuto. - A largura da câmara deve ser cerca de 40% da circunferên-
- Observar a profundidade e o padrão das respirações, ocor- cia do braço e estar a meio caminho entre o olecrânio (cotovelo)
rência de ansiedade, irritabilidade e posição de conforto. Obser- e o acrômio (ombro).
var a coloração da criança, incluindo extremidades. - geralmente isto corresponde a um manguito que cobre
- Lavar as mãos. cerca de 80% a 100% da circunferência do braço.
- Registrar os resultados; a frequência respiratória é regis- - Usar a linha do manguito do fabricante como um guia para
trada por respirações por minuto. a seleção do manguito.
- Se não for possível obter o manguito do tamanho apro-
Sinais Vitais: Pressão Arterial priado, escolha um que seja maior, em vez de um muito peque-
no.
Diretrizes clínicas - Centralizar a câmara do manguito na extremidade proxi-
- A pressão arterial é verificada inicialmente para se obter mal do pulso (p, ex., na área branquial, posição cerca de 2,5 a 5
um dado de referencia para avaliar o estado hemodinâmico ge- cm acima da fossa antecubial), e prender o manguito de forma
ral de cada paciente dentro da primeira hora de admissão em bem justa. Não posicionar o manguito sobre a roupa.
um ambiente de cuidado agudo.

114
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Verificar a PA após 3 a 5 minutos de repouso, quando pos- Sinais Vitais: Temperatura
sível. Posicionar o braço (extremidade) da criança ao nível do
coração durante o repouso. Diretrizes clínicas
- Localizar a posição exata do pulso. Coloque o diafragma do - A temperatura é verificada para avaliar o estado de re-
estetoscópio onde o pulso é sentido, abaixo da borda do man- ferencia de cada paciente dentro da primeira hora após a ad-
guito. missão e para detectar a mudança no estado do paciente (p.
- Fechar a válvula do diafragma e inflar o manguito a uma ex., hipotermia, presença de infecção, ou outras mudanças na
pressão de 30mmHg acima do ponto em que a pulsação da arté- condição do paciente).
ria é obstruída. Estabilizar a extremidade durante a verificação. - A temperatura é avaliada de novo 30 minutos a 1 hora
- Desinflar o manguito a uma velocidade de 2 a 3 mmHg por após a intervenção para medir a resposta ao esquema terapêu-
segundo. tico.
- Observe os sons de Korotkoff: - A temperatura deve ser verificada a cada 4 ou 8 horas, ou
- Inicio do som de pancada. mais frequentemente quando instável ou quando a criança esti-
- Abafamento do som, se aplicado. ver agudamente doente ou com problemas de termorregulação.
- Desaparecimento do som. - Quando utilizar um equipamento para regular a tempera-
- Não inflar novamente o manguito durante a desinsuflação. tura (p. ex., incubadora, cobertor para hipotermia, luz de aque-
Dar alguns minutos entre as verificações da PA. cimento suspenso), a temperatura da criança deve ser verificada
- Desinflar o manguito completamente e removê-lo do bra- a cada 1 a 3 horas.
ço. - Os termômetros de mercúrio não devem ser usados (Gold-
- Lavar as mãos. man, Shannon & o Committe on Environmental Health, 2001).
- Registrar os achados no prontuário do paciente. Registrar
também a posição da criança, extremidade e local utilizado, ta- - A via oral deve ser usada em crianças com idade superior
manho do manguito, nível de atividade (p. ex., 90/50 mmHg, a 5 anos a não ser que seja contraindicado pelas condições mé-
supina, braço direito, branquial, manguito infantil, calma). Se a dicas ou de desenvolvimento (convulsões, atraso no desenvolvi-
PA estiver muito alta ou baixa, verificar também a frequência mento, nível de consciência alterado).
cardíaca. - A mensuração timpânica (infravermelha) não é recomen-
dada para ser usada em crianças com idade inferior a 3 meses.
Método com Equipamento Automático Os estudos mostram que as mensurações timpânicas não são
tão exatas quanto outras formas de mensuração de temperatura
Passos e mostram uma grande variedade.
- Seguir os 6 primeiros itens no procedimento anterior (Mé- - Os termômetros descartáveis (p. ex., Tempa – DOT) são
todo de Ausculta) para localização da artéria, seleção do man- mais exatos para as crianças com idade inferior a 5 anos.
guito e colocação. - verificar a temperatura retal dos lactentes após o parto
- Seguir as instruções do fabricante para o uso da maquina. imediato. Após essa verificação de temperatura retal, usar a via
- Estabilizar a extremidade durante a verificação. axilar nos lactentes e nas crianças pequenas. A temperatura re-
- Lavar as mãos. tal está contraindicada nas crianças que se submeteram a cirur-
- Registrar os achados no prontuário do paciente. Registrar gia retal e intestinal, com neutropenia, ou trompocitopenia.
também a posição da criança, extremidade e local utilizado, ta- - O auxiliar ou técnico de enfermagem ou a enfermeira po-
manho do manguito, nível de atividade. dem verificar a temperatura. Quando a temperatura for verifi-
cada pelo auxiliar ou técnico de enfermagem, qualquer variação
Método da Palpação do referencial, ou desvio da mensuração anterior, deve ser rela-
tada ao médico ou enfermeira.
Passos
- Seguir os 7 primeiros itens no procedimento anterior (Mé- Verificação da Temperatura Corporal
todo de Ausculta) para localização da artéria, seleção do man-
guito e colocação. Passos
- Palpar a artéria à medida que infla o manguito. - Rever o prontuário da criança quanto a:
- Inflar o manguito 30mmHg acima do ponto em que você - Sinais vitais das ultimas 24 horas.
percebeu o pulso da ultima vez. - Avaliação dos problemas médicos atuais.
- Lentamente desinflar o manguito e perceber o ponto em - Parâmetros de temperatura desejados
que o pulso volta a ser sentido.
- Desinflar completamente o manguito e removê-lo da ex- Verificação da Temperatura Oral de uma Criança com Ida-
tremidade. de Superior a 5 Anos com Termômetro Eletrônico
- Lavar as mãos.
- Registrar os achados no prontuário do paciente como lei- Passos
tura da sistólica por palpação (p. ex., 100/p). Registrar também - Lavar as mãos
a posição da criança, extremidade e local utilizado, tamanho do - Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no
manguito, nível de atividade. mostrador se o termômetro esta carregado.
- Selecionar o cabo apropriado: azul-oral.
- Colocar o protetor do cabo no cabo.
- Gentilmente inserir o cabo com o protetor no saco sublin-
gual posterior da criança até que a unidade emita um sinal.

115
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Remover o cabo da boca e observar a temperatura do mos- - Colocar o cabo protegido na axila da criança e segurar o
trador; observar se é em Celsius ou Fahrenheit. braço dela firmemente na lateral.
- Jogue fora o protetor do cabo. - Observar a temperatura quando o mostrador digital esta-
- Retornar a unidade para carregar na base. bilizou e a unidade emitiu um som; observar se a mensuração foi
- Lavar as mãos. em Celsius ou Fahrenheit.
- Retornar a unidade para carregar na base.
Verificação da Temperatura Timpânica em Criança com - Lavar as mãos.
Idade Superior a 3 meses
Verificação da Temperatura com Termômetro Descartável
Passos
- Lavar as mãos. Passos
- Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no - Lavar as mãos.
mostrador se a unidade está carregada. - Remover uma única unidade do pacote.
- Garantir que o mostrador indica modo timpânico (as uni- - Retirar a fita protetora do termômetro descartável.
dades podem avaliar temperatura de superfície, retal, central e - Colocar a fita de temperatura segundo as instruções de uso
timpânica). do fabricante:
- Colocar o protetor descartável na ponta do cabo. - Pressionar a fita firmemente na testa ou axila da criança.
- Puxar a orelha – retrair a pina posteriormente (empurrar - Colocar no saco sublingual.
para cima e para trás). - Usar a fita para monitorar a temperatura assim que a cor
- Inserir o cabo no conduto auditivo enquanto pressiona o para de mudar.
botão do scan; cheque para garantir que o conduto auditivo es- - Ler a temperatura de acordo com as instruções do fabri-
teja fechado. cante, por exemplo:
- Liberar o botão do scan. - Ler o bloco indicado pela mudança de cor; verde indica
- Remover o cabo quando o termômetro emitir sinal. Ob- temperatura registrada. Se o verde não aparecer, a temperatura
servar o mostrador de leitura se a leitura é em Celsius ou Fah- está a meio caminho entre o indicado pelo marrom e o azul.
renheit. - O numero de pontos que mudaram de cor.
- Jogar fora o protetor do cabo pressionando o botão de li- - Se for registrada uma temperatura acima de 37°C, confir-
berar. mar com a temperatura oral ou retal.
- Retornar a unidade para carregar na base. - Lavar as mãos.
- Lavar as mãos. Medidas Antropométricas
A antropometria é importante ferramenta para avaliação do
Verificação da Temperatura Retal com Termômetro Ele- crescimento infantil e aceita universalmente. Vantagens como
trônico baixo custo, facilidade de execução e relativa sensibilidade e
especificidade levam à elaboração de índices de crescimento
Passos fáceis de serem avaliados. Esse método pode ser aplicado em
- Lavar as mãos, colocaras luvas de procedimento. todas as fases do ciclo de vida e permite a classificação de indi-
- Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no víduos e grupos segundo seu estado nutricional.
mostrador se o termômetro está carregado. As medidas antropométricas consistem nos dados sobre
- Selecionar o cabo apropriado: vermelho-retal. peso, altura, perímetros cefálico e torácico. Sua verificação ob-
- Colocar o protetor do cabo no cabo. jetiva o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento
- Lubrificar a ponta com gel hidrossolúvel. da criança, vem como a base para a prescrição médica e de en-
- Gentilmente abra as pregas interglúteas da criança e intro- fermagem.
duza o cabo 1,7 cm no lactente e 2,5 cm na criança maior. É importante que o enfermeiro ao participar do processo de
- Manter as pregas interglúteas fechadas com uma das mãos avaliação do crescimento da criança tenha o conhecimento de
e manter o cabo no lugar com a outra. que os principais aspectos que englobam uma avaliação eficien-
- Monitorar a mudança de temperatura no mostrador até te e eficaz ao paciente são:
que a unidade emita um som. Observar a temperatura no mos- -Medição dos valores antropométricos de maneira padro-
trador e se a mensuração é em Celsius ou Fahrenheit. nizada;
- Jogue fora o protetor do cabo apertando o botão de libe- -Relação dos valores encontrados conforme o sexo e a ida-
rar. de, comparando-os com os valores da população de referência;
- Retornar a unidade para carregar na base. -Verificação da normalidade dos valores encontrados.
- Lavar as mãos.
1 – Peso/Idade: as relações entre o peso da criança e sua
Verificação da Temperatura Axilar com Termômetro Ele- idade são de vital importância para uma identificação precoce
trônico de casos de desnutrição ou obesidade, ou riscos para ambos.
Esta relação também poderá alertar o enfermeiro quanto a ou-
Passos tros problemas relacionados que estejam ocasionando tais per-
- Lavar as mãos. das ou ganhos anormais de peso.
- Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no 2 – Estatura/Idade: a mensuração da estatura da criança é
mostrador se o termômetro esta carregado. de suma importância para o acompanhamento do crescimento
- Selecionar o cabo apropriado: azul-oral. considerado dentro dos padrões da normalidade; como foi vis-
- Colocar o protetor do cabo no cabo. to anteriormente nos fatores que influenciam o crescimento é

116
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
possível verificar que o déficit de crescimento pode estar asso- Tipos de Banho:
ciado a problemas como a desnutrição e/ou socioeconômicos, Banho de chuveiro: Normalmente é indicado para crianças
entretanto quando estes déficits tornarem-se muito elevados na faixa etária pré-escolar, escolar e adolescente, que consigam
é importante a investigação de um especialista para detectar a deambular, sem exceder sua capacidade em situação de dor.
real causa. Sempre que possível incentivar a criança a banhar-se sozinha,
3 – Peso/Estatura: a relação entre o peso e a estatura da sob supervisão, em caso de adolescentes permitir que tomem
criança é utilizada e recomendada pela Organização Mundial da banho sozinhos.
Saúde para detectar sobrepeso; também deve ser utilizado para
detectar precocemente perdas de peso que indiquem a desnu- Incentivar a criança a banhar-se sob supervisão ou, em caso
trição aguda, ou o risco desta. de adolescente, que queiram privacidade, permitir que tome ba-
O enfermeiro enquanto integrante da equipe de saúde nho sozinho.
participa do processo de avaliação do crescimento da criança, - Quando for possível, ao término, verificar a limpeza da re-
sendo importante salientar que todas as funções do processo gião atrás do pavilhão auditivo, mãos, pés e genitais.
avaliativo são delegadas a diferentes profissionais, conforme a
especialidade de cada um. Higiene do Coto Umbilical
Desta forma, quando se fala em desnutrição e/ou obesidade Tem como objetivo prevenir infecções e hemorragias, além
e obtenção de valores fidedignos é sempre de grande valia a de acelerar o processo de cicatrização.
inserção do nutricionista, já que o mesmo possui a responsabi- -Manter o coto posicionado para cima, evitando contato
lidade de instruir sobre a alimentação da criança e realizar de- com fezes e urina; efetuar higiene na inserção e em toda exten-
mais testes antropométricos necessários para uma análise mais são do coto umbilical, evitando que o excesso de álcool escorra
detalhada. pelo abdômen.
-Fazer curativo com álcool a 70% até a queda do coto umbi-
Referências: lical ou de acordo coma rotina da unidade.
ORLANDI, O. V.; SABRÁ, A. O Recém-Nascido a Termo. In: FILHO, -Observar e registrar as condições do coto (presença de
J. R. Obstetrícia. 10º ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koo- secreção ou sangramento) e região peri umbilical (hiperemia e
gan,2005 calor .).
FERNANDES, K.; KIMURA, A. F. Práticas assistenciais em rea-
nimação do recém-nascido no contexto de um centro de parto Higiene Nasal
normal. Rev. Esc. Enferm. USP, São É a remoção de excesso de secreção (cerúmen) do conduto
Paulo, v.39.n.º 4, p.383-390, 2005. auditivo externo e a remoção da sujeira do pavilhão auricular.
WONG, D. L. Enfermagem Pediátrica elementos essências à Fazer higiene com cotonete embebido em SF 0,9% ou água
intervenção efetiva. 5ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, destilada, observar e registrar o aspecto da secreção retirada.
1999
BOWDEN, V. R.; GREENBERG, C. S. Procedimentos de enferma- Higiene Ocular
gem pediátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. É a retirada de secreções localizadas na face interna do glo-
COLLET, N.; OLIVEIRA, B.R.G. Manual de Enfermagem em Pedia- bo ocular.
tria.Goiania:AB Editora, 2002. -Fazer higiene ocular com SF 0,9 % ou água destilada, obser-
Higiene var e registrar o aspecto da secreção retirada.
A higiene da criança hospitalizada é um cuidado de necessi- -Proceder à limpeza do ângulo interno do olho ao externo,
dade básica, objetiva-se prevenir doenças, proporcionar confor- utilizando o lado do cotonete somente uma vez.
to e bem estar a criança e ainda provocar a recuperação de sua
enfermidade. Aleitamento Materno
Possibilita a avaliação do exame físico e promove a educa- Para que o aleitamento materno exclusivo seja bem sucedi-
ção em saúde aos acompanhantes. do é importante que a mãe esteja motivada e, além disso, que
Entre os procedimentos de higiene os mais utilizados são: o profissional de saúde saiba orientá-la e apresentar propostas
banho; higiene das unhas; troca de fraldas; higiene oral e nasal para resolver os problemas mais comuns enfrentados por ela
e higiene perineal. durante a amamentação.
Por que as mães oferecem chás, água ou outro alimento?
Banho: È um procedimento de rotina no momento da ad- Porque acham que a criança está com sede, para diminuir as
missão, diariamente e sempre que necessário. O banho diário é cólicas, para acalmá-la a fim de que durma mais, ou porque
indispensável a saúde, proporciona bem-estar, estimula a circu- pensam que seu leite é fraco ou pouco e não está sustentando
lação sanguínea e protege a pele contra diversas doenças. adequadamente a criança. Nesse caso, é necessário admitir que
O momento do banho deve ser aproveitado para estimular as mães não estão tranquilas quanto a sua capacidade para ama-
a criança com (ou através de) estímulos psicoemocionais (aca- mentar. É preciso orientá-las:
riciar), auditivos (conversar e cantar) e psicomotores (inclusive -Que o leite dos primeiros dias pós-parto, chamado de co-
movimentos ativos com os membros). lostro, é produzido em pequena quantidade e é o leite ideal nos
- Banho: neste momento pode-se estimular o sistema senso- primeiros dias de vida, inclusive para bebês prematuros, pelo
rial, afetivo da criança. Nele deve-se conversar, dar-lhe brinque- seu alto teor de proteínas.
dos, estimular o tato e sempre incentivando o acompanhante a - Que o leite materno contém tudo o que o bebê necessita
acompanhar este momento. Existem vários tipos de banhos: o até o 6º mês de vida, inclusive água. Assim, a oferta de chás, su-
de chuveiro, de leito e de banheira. cos e água é desnecessária e pode prejudicar a sucção do bebê,
fazendo com que ele mame menos leite materno, pois o volume

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
desses líquidos irá substituí-lo. Água, chá e suco representam - A boca está bem aberta
um meio de contaminação que pode aumentar o risco de doen- - O corpo da criança está voltado para o corpo da mãe
ças. A oferta desses líquidos em chuquinhas ou mamadeiras faz - A barriga do bebê está encostada na barriga da mãe
com que o bebê engula mais ar (aerofagia) propiciando descon- - Todo o corpo do bebê recebe sustentação
forto abdominal pela formação de gases, e consequentemente, - O bebê e a mãe devem estar confortáveis
cólicas no bebê. Além disso, pode-se instalar a confusão de bi-
cos, dificultando a pega correta da mama e aumentar os riscos Boa pega:
de problemas ortodônticos e fonoaudiólogos. - O queixo toca a mama
-A pega errada vai prejudicar o esvaziamento total da mama, - O lábio inferior está virado para fora
impedindo que o bebê mame o leite posterior (leite do final da - Há mais aréola visível acima da boca do que abaixo
mamada) que é rico em gordura, interferindo na saciedade e - Ao amamentar, a mãe não sente dor no mamilo
encurtando os intervalos entre as mamadas. Assim, a mãe pode
pensar que seu leite é insuficiente e fraco. Produção versus ejeção do leite materno
-Se as mamas não são esvaziadas de modo adequado ficam A produção adequada de leite vai depender, predominante-
ingurgitadas, o que pode diminuir a produção de leite. Isso ocor- mente, da sucção do bebê (pega correta, frequência de mama-
re devido ao aumento da concentração de substâncias inibido- das), que estimula os níveis de prolactina (hormônio responsá-
ras da produção de leite. vel pela produção do leite).
-Em média a produção de leite é de um litro por dia, assim Entretanto, a produção de ocitocina, hormônio responsá-
é necessário que a mãe reponha em seu organismo a água uti- vel pela ejeção do leite, é facilmente influenciada pela condição
lizada no processo de lactação. É importante que a mãe tome emocional da mãe (autoconfiança). A mãe pode referir que está
mais água (filtrada e fervida) e evite a ingestão de líquidos com com pouco leite. Nesses casos, geralmente, o bebê ganha menos
calorias como refrigerantes e refrescos. de 20 g e molha menos de seis fraldas por dia. O profissional de
-As mulheres que precisam se ausentar por determinados saúde pode contribuir para reverter essa situação orientando a
períodos, por exemplo, para o trabalho ou lazer, devem ser in- mãe a colocar a criança mais vezes no peito para amamentar
inclusive durante a noite, observando se a pega do bebê está
centivadas a realizar a ordenha do leite materno e armazená-lo
correta.
em frasco de vidro, com tampa plástica de rosca, lavado e fervi-
do. Na geladeira, pode ser estocado por 12 horas e no congela-
Puericultura
dor ou freezer por no máximo 15 dias. O leite materno deve ser
Puericultura é a arte de promover e proteger a saúde das
descongelado e aquecido em banho Maria e pode ser oferecido
crianças, através de uma atenção integral, compreendendo a
ao bebê em copo ou xícara, pequenos. O leite materno não pode
criança como um ser em desenvolvimento com suas particula-
ser descongelado em micro-ondas e não deve ser fervido.
ridades. É uma especialidade médica contida na Pediatria que
leva em conta a criança, sua família e o entorno, analisando o
É importante que a mãe seja orientada sobre:
conjunto bio-psico-sócio-cultural.
O leite materno contém a quantidade de água suficiente Nas consultas periódicas, o pediatra observa a criança, in-
para as necessidades do bebê, mesmo em climas muito quentes. daga aos pais sobre as atividades do filho, reações frente a es-
A oferta de água, chás ou qualquer outro alimento sólido ou tímulos e realiza o exame clínico. Quanto mais nova a criança,
líquido, aumenta a chance do bebê adoecer, além de substituir mais frágil e vulnerável, daí a necessidade de consultas mais fre-
o volume de leite materno a ser ingerido, que é mais nutritivo. quentes. Em cada consulta o pediatra vai pedir informações de
O tempo para esvaziamento da mama depende de cada como a criança se alimenta, se as vacinas estão em dia, como
bebê; há aquele que consegue fazê-lo em poucos minutos e ela brinca, condições de higiene, seu cotidiano. O acompanha-
aquele que o faz em trinta minutos ou mais. mento do crescimento, através da aferição periódica do peso,
Ao amamentar: da altura e do perímetro cefálico e sua análise em gráficos, são
a) a mãe deve escolher uma posição confortável, podendo indicadores das condições de saúde das crianças. Sempre, a cada
apoiar as costas em uma cadeira confortável, rede ou sofá e o consulta, bebês, pré-escolares, escolares e jovens devem ter seu
bebê deve estar com o corpo bem próximo ao da mãe, todo vol- crescimento e seu desenvolvimento avaliado. Crescimento é o
tado para ela. O uso de almofadas ou travesseiros pode ser útil; ganho de peso e altura, um fenômeno quantitativo, que termina
b) ela não deve sentir dor, se isso estiver ocorrendo, signifi- ao final da adolescência. Por outro lado, o desenvolvimento é
ca que a pega está errada. qualitativo, significa aprender a fazer coisas, evoluir, tornar-se
independente e geralmente é um processo contínuo.
A mãe que amamenta precisa ser orientada a beber no mí-
nimo um litro de água filtrada e fervida, além da sua ingestão DOENÇAS INFECTO CONTAGIOSAS NA INFÂNCIA (ATEN-
habitual diária, considerando que são necessários aproximada- ÇÃO INTEGRADA ÀS DOENÇAS PREVALENTES NA INFÂNCIA
mente 900 ml de água para a produção do leite. É importante - AIDPI)
também estimular o bebê a sugar corretamente e com mais fre- Doenças de etiologia viral que costumam deixar imunidade
quência (inclusive durante a noite) permanente, sendo a maior incidência na primavera e inverno.
Não existe tratamento específico, apenas a administração de
Sinais indicativos de que a criança está mamando de forma medicações para aliviar sintomas, como a febre. porém é im-
adequada portante ficar atento à criança. Se ela apresentar: sonolência in-
comum, recusar beber líquidos, dor de ouvido, taquipnéia, res-
Boa posição: piração ruidosa ou cefaléia intensa faz-se necessário procurar
- O pescoço do bebê está ereto ou um pouco curvado para um médico, pois estes são alguns sinais de alerta para possíveis
trás, semestar distendido complicações dessas doenças.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Sarampo por isso pode-se visualizar em uma mesma área a presença de
Via de Transmissão: aérea, pela mucosa respiratória ou con- todos os estágios de lesão. A intensidade varia de poucas lesões,
juntival surgidas de um único surto, a inúmeras lesões que cubram todo
Período de Incubação: 8 a 12 dias corpo, surgidas em 5 ou 6 surtos, no decurso de 1 semana. A
Manifestações Prodrômicas: febre (geralmente elevada, al- febre costuma ser baixa e sua intensidade acompanha a intensi-
cançando o máximo no aparecimento do exantema), manifesta- dade da erupção cutânea.
ções sistêmicas, coriza, conjuntivite, tosse, exantema caracterís- Período de Transmissibilidade: desde 1 dia antes do apare-
tico, podendo apresentar também: cefaléia, dores abdominais, cimento de exantema até 5 dias após o aparecimento da última
vômitos, diarréia, artralgias e mialgia, associados a prostração e vesícula.
sonolência, quadro que pode dar a impressão de doença grave. Importante: evite que a criança coce as lesões, evitando a
Um sinal patognomônico da doença é o aparecimento das man- contaminação local e cicatrizes residuais. Se a coceira for muita,
chas de Koplick - pontos azulados na mucosa bucal que tendem procure um médico que indicará métodos para aliviar o prurido.
a desaparecer.
Manifestações Clínicas: as lesões cutâneas, aparecem no Caxumba (Parotidite Epidêmica)
14º dia de contágio, são máculo-papulosas avermelhadas, isola- Via de Transmissão: por via respiratória, através de gotícu-
das uma das outras e circundadas por pele não comprometida, las contaminadas e contato oral com utensílios contaminados
podendo confluir. Começam no início da orelha, após 24 horas Período de Incubação: 14 a 21 dias
são encontradas em: face, pescoço, tronco e braços ,e após 2 ou Manifestações Prodrômicas: passa desapercebido, só se no-
3 dias: membros inferiores e desaparecendo no 6º dia. As lesões tando a doença quando aparecem dor e edema da glândula.
evoluem para manchas pardas residuais com descamação leve. Manifestações Clínicas: aumento das parótidas, que é uma
A temperatura tende a se normalizar no quarto dia de exantema. glândula situada no ramo ascendente da mandíbula. Pode afetar
Período de Transmissibilidade: começa 2 a 4 dias antes do um ou ambos os lados do rosto. Irá se apresentar mole, dolo-
período prodrômico e vai até o 6º dia do aparecimento do exan- rosa a palpação, sem sinais inflamatórios e sem limites nítidos.
tema. Com o edema da parótida há uma elevação da febre e dor de
gargganta.
Rubéola Período de Transmissibilidade: 3 dias antes do edema da pa-
rótida, até 7 dias depois do inchaço ter diminuído.
Via de Transmissão: por via respiratória, através de gotícu-
Importante: recomenda-se o repouso, sendo obrigatório
las contaminadas
para adolescentes e adultos, principalmente do sexo masculino.
Período de Incubação: 14 a 21 dias
Doença infecciosa endêmica e epidêmica, de origem bacteria-
Manifestações Prodrômicas: em crianças não existem pró-
na, sendo uma importante causa de morbi-mortalidade em crian-
dromos da doença, mas em adolescentes e adultos, o exantema
ças de baixa idade, principalmente em crianças não-imunizadas.
pode ser precedido por 1 ou 2 dias de mal-estar, febre baixa, dor
Sua imunidade, também, parece ser permanente após a doença e
de garganta e coriza discreta.
não há influência sazonal evidente nos picos de incidência.
Manifestações Clínicas: 7 dias antes da erupção cutânea,
percebe-se um aumento dos gânglios cervicais, retroauriculares
Coqueluche
e occiptais. As lesões cutâneas são máculo-papulosas, de colo- Via de Transmissão: contato direto através da via respira-
ração rósea e às vezes confluentes. Iniciam na face, pescoço, tória.
tronco, membros superiores e inferiores em menos de 24 horas. Período de Incubação: varia entre 6 e 20 dias
Na maioria dos casos, a erupção permanece por 3 dias. Existem Manifestações Clínicas: dura de 6 a 8 semanas, sendo que o
muitos indivíduos que apresentam a infecção inaparente. quadro clínico depende da idade e grau de imunização do indiví-
Período de Transmissibilidade: começa 1 semana antes do duo. É dividida em estadios:
aparecimento de exantema até 5 dias após o início da erupção (1) Estádio catarral - dura de 1 a 2 semanas e é o período de
cutânea. maior contagiosidade. Caracterizado por secreção nasal, lacri-
Importante: por ser uma doença teratogênica, recomen- mejamento, tosse discreta, congestão conjutival e febre baixa.
da-se que os indivíduos acometidos fiquem em casa evitando o (2) Estádio paroxístico - dura de 1 a 4 semanas (ou mais). Há
contágio de mulheres grávidas. uma intensificação da tosse manifestada em crises, frequente-
mente mais numerosas durante a noite.
Catapora (varicela) (3) Estádio de convalescença - acessos são menos intensos
Via de Transmissão: por contato direto, por meio de gotí- e menos frequentes.
culas infectadas, mas em curtas distâncias. Também pode ser
transmitido por via indireta, através de mãos e roupas. Importante: por ser uma patologia bacteriana faz-se neces-
Período de Incubação: 14 a 17 dias sário a introdução de antibioticoterapia e isolamento respira-
Manifestações Prodrômicas: curto (24 horas), constituído tório por 5 dias após o início da administração medicamentosa,
de febre baixa e discreto mal-estar. ou por 3 semanas após o começo do estádio paroxístico, se a
Manifestações Clínicas: exantema é a primeira manifestação antibioticoterapia for contra-indicada.
da doença. As lesões evoluem em menos de 8 horas: máculas > Faz-se necessário a hospitalização de lactentes com proble-
pápulas > vesículas > formação de crosta. As crostas costumam mas importantes na alimentação, crises de apnéia e cianose, e
cair em 7 dias até 3 semanas, se houver contaminação. Neste pacientes com complicações graves.
caso ou se houver remoção prematura da crosta deixa cicatriz Procurar evitar fatores desencadeantes de crises como te-
residual. As lesões acometem predominantemente tronco, pes- mor, decúbito baixo, permanência em recintos fechados e exer-
coço, face, segmentos proximais dos membros, poupando palma cícios físicos. Procurar manter nutrição e hidratação adequada.
das mãos e planta dos pés. Aparecem em surtos de 3 a 5 dias, DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS (DDA)

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O que é são doenças diarreicas agudas? - Cólicas abdominais.
As doenças diarreicas agudas (DDA) correspondem a um - Dor abdominal.
grupo de doenças infecciosas gastrointestinais. São caracteriza- - Febre.
das por uma síndrome em que há ocorrência de no mínimo três - Sangue ou muco nas fezes.
episódios de diarreia aguda em 24 horas, ou seja, diminuição - Náusea.
da consistência das fezes e aumento do número de evacuações, - Vômitos.
quadro que pode ser acompanhado de náusea, vômito, febre
e dor abdominal. Em geral, são doenças autolimitadas com du- Como diagnosticar as doenças diarreicas agudas (diarreia)?
ração de até 14 dias. Em alguns casos, há presença de muco O diagnóstico das causas etiológicas, ou seja, dos micror-
e sangue, quadro conhecido como disenteria. A depender do ganismos causadores da DDA é realizado apenas por exame la-
agente causador da doença e de características individuais dos boratorial por meio de exames parasitológicos de fezes, cultura
pacientes, as DDA podem evoluir clinicamente para quadros de de bactérias (coprocultura) e pesquisa de vírus. O diagnóstico
desidratação que variam de leve a grave. laboratorial é importante para determinar o perfil de agentes
A diarreia pode ser de origem não infecciosa podendo ser etiológicos circulantes em determinado local e, na vigência de
causada por medicamentos, como antibióticos, laxantes e qui- surtos, para orientar as medidas de controle. Em casos de surto,
mioterápicos utilizados para tratamento de câncer, ingestão de solicitar orientação da equipe de vigilância epidemiológica do
grandes quantidades de adoçantes, gorduras não absorvidas, e município para coleta de amostras.
até uso de bebidas alcoólicas, por exemplo. Além disso, algumas IMPORTANTE: As fezes devem ser coletadas antes da admi-
doenças não infecciosas também podem desencadear diarreia, nistração de antibióticos e outros medicamentos ao paciente.
como a doença de Chron, as colites ulcerosas, a doença celía- Recomenda-se a coleta de 2 a 3 amostras de fezes por paciente.
ca, a síndrome do intestino irritável e intolerâncias alimentares O diagnóstico etiológico das Doenças Diarreicas Agudas nem
como à lactose e ao glúten. sempre é possível, uma vez que há uma grande dificuldade para
a realização das coletas de fezes, o que se deve, entre outras
O que causa as doenças diarreicas agudas? questões, à baixa solicitação de coleta de amostras pelos profis-
As doenças diarreicas agudas (DDA) podem ser causadas por sionais de saúde e à reduzida aceitação e coleta pelos pacientes.
diferentes microrganismos infecciosos (bactérias, vírus e outros Desse modo, é importante que o indivíduo doente seja bem
parasitas, como os protozoários) que geram a gastroenterite – esclarecido quanto à relevância da coleta de fezes, especialmen-
inflamação do trato gastrointestinal – que afeta o estômago e o te na ocorrência de surtos, casos com desidratação grave, casos
intestino. A infecção é causada por consumo de água e alimen- que apresentam fezes com sangue e casos suspeitos de cólera a
tos contaminados, contato com objetos contaminados e tam- fim de possibilitar a identificação do microrganismo que causou
bém pode ocorrer pelo contato com outras pessoas, por meio diarreia. Essa informação será útil para prevenir a transmissão
de mãos contaminadas, e contato de pessoas com animais. da doença para outras pessoas.
A coleta de fezes para análise laboratorial é de grande im-
Quais são os fatores de risco para doenças diarreicas agu- portância para a identificação de agentes circulantes e, especial-
das? mente em caso de surtos, para se identificar o agente causador
Qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e gênero, pode do surto, bem como a fonte da contaminação.
manifestar sinais e sintomas das doenças diarreicas agudas após
a contaminação. No entanto, alguns comportamentos podem Como tratar as doenças diarreicas agudas?
colocar as pessoas em risco e facilitar a contaminação como: O tratamento das doenças diarreicas agudas se fundamenta
- Ingestão de água sem tratamento adequado; na prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da
- Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO)
do preparo e armazenamento; ou fluidos endovenosos, dependendo do estado de hidratação e
- Consumo de leite in natura (sem ferver ou pasteurizar) e da gravidade do caso. Por isso, apenas após a avaliação clínica
derivados; do paciente, o tratamento adequado deve ser estabelecido, con-
- Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus forme os planos A, B e C descritos abaixo.
ou malcozidos; Para indicar o tratamento é imprescindível a avaliação clíni-
- Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequa- ca do paciente e do seu estado de hidratação. A abordagem clíni-
da; ca constitui a coleta de dados importantes na anamnese, como:
- Viagem a locais em que as condições de saneamento e de início dos sinais e sintomas, número de evacuações, presença de
higiene sejam precárias; muco ou sangue nas fezes, febre, náuseas e vômitos; presença
- Falta de higiene pessoal. de doenças crônicas; verificação se há parentes ou conhecidos
que também adoeceram com os mesmos sinais/sintomas.
ATENÇÃO ESPECIAL: Crianças e idosos com DDA correm ris- O exame físico, com enfoque na avaliação do estado de hi-
co de desidratação grave. Nestes casos, a procura ao serviço de dratação, é importante para avaliar a presença de desidratação
saúde deve ser realizada em caráter de urgência. e a instituição do tratamento adequado, além disso, o paciente
deve ser pesado, sempre que possível.
Quais são os sinais e sintomas das doenças diarreicas agu- Se não houver dificuldade de deglutição e o paciente estiver
das? consciente, a alimentação habitual deve ser mantida e deve-se
Ocorrência de no mínimo três episódios de diarreia aguda aumentar a ingestão de líquidos, especialmente de água.
no período de 24hrs (diminuição da consistência das fezes – fe-
zes líquidas ou amolecidas – e aumento do número de evacua-
ções) podendo ser acompanhados de:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Plano A Quais são as possíveis complicações das doenças diarreicas
O plano A consiste em cinco etapas direcionadas ao pacien- agudas?
te HIDRATADO para realizar no domicílio: A principal complicação é a desidratação, que se não for
Aumento da ingestão de água e outros líquidos incluindo corrigida rápida e adequadamente, em grande parte dos casos,
solução de SRO principalmente após cada episódio de diarreia, especialmente em crianças e idosos, pode causar complicações
pois dessa forma evita-se a desidratação; mais graves.
Manutenção da alimentação habitual; continuidade do alei- O paciente com diarreia deve estar atento e voltar imedia-
tamento materno; tamente ao serviço de saúde se não melhorar ou se apresentar
qualquer um dos sinais e sintomas:
Retorno do paciente ao serviço, caso não melhore em 2 dias - Piora da diarreia.
ou apresente piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, - Vômitos repetidos.
recusa de alimentos, sangue nas fezes ou diminuição da diurese; - Muita sede.
Orientação do paciente/responsável/acompanhante para - Recusa de alimentos.
reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente - Sangue nas fezes.
e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pes- - Diminuição da urina.
soal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da
água e higienização dos alimentos); Como ocorre a transmissão das doenças diarreicas agudas?
Administração de Zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias.
A transmissão das doenças diarreicas agudas pode ocorrer
pelas vias oral ou fecal-oral.
Plano B
Transmissão indireta -Pelo consumo de água e alimentos
O Plano B consiste em três etapas direcionadas ao paciente
contaminados e contato com objetos contaminados, como por
COM DESIDRATAÇÃO, porém sem gravidade, com capacidade de
exemplo, utensílios de cozinha, acessórios de banheiros, equipa-
ingerir líquidos, que deve ser tratado com SRO na Unidade de
mentos hospitalares.
Saúde, onde deve permanecer até a reidratação completa.
Transmissão direta -Pelo contato com outras pessoas, por
Ingestão de solução de SRO, inicialmente em pequenos vo-
meio de mãos contaminadas e contato de pessoas com animais.
lumes e aumento da oferta e da frequência aos poucos. A quan-
tidade a ser ingerida dependerá da sede do paciente, mas deve Os manipuladores de alimentos e os insetos podem conta-
ser administrada continuamente até que desapareçam os sinais minar, principalmente, os alimentos, utensílios e objetos capa-
da desidratação; zes de absorver, reter e transportar organismos contagiantes e
Reavaliação do paciente constantemente, pois o Plano B infecciosos. Locais de uso coletivo, como escolas, creches, hos-
termina quando desaparecem os sinais de desidratação, a partir pitais e penitenciárias apresentam maior risco de transmissão
de quando se deve adotar ou retornar ao Plano A; das doenças diarreicas agudas.
Orientação do paciente/responsável/acompanhante para O período de incubação, ou seja, tempo para que os sin-
reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente tomas comecem a aparecer a partir do momento da contami-
e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pes- nação/infecção, e o período de transmissibilidade das DDA são
soal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da específicos para cada agente etiológico.
água e higienização dos alimentos);
Como prevenir as doenças diarreicas agudas?
Plano C As intervenções para prevenir a diarreia incluem ações ins-
O Plano C consiste em duas fases de reidratação endove- titucionais de saneamento e de saúde, além de ações individuais
nosa destinada ao paciente COM DESIDRATAÇÃO GRAVE. Nessa que devem ser adotadas pela população:
situação o paciente deverá ser transferido o mais rapidamente Lave sempre as mãos com sabão e água limpa principalmen-
possível. Os primeiros cuidados na unidade de saúde são impor- te antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro,
tantíssimos e já devem ser efetuados à medida que o paciente após utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam
seja encaminhado ao serviço hospitalar de saúde. estar sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua,
Realizar reidratação endovenosa no serviço saúde (fases rá- antes e depois de amamentar e trocar fraldas.
pida e de manutenção); Lave e desinfete as superfícies, os utensílios e equipamen-
O paciente deve ser reavaliado após duas horas, se persis- tos usados na preparação de alimentos.
tirem os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, Proteja os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos,
iniciar balanço hídrico com as mesmas soluções preconizadas; animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em
Administrar por via oral a solução de SRO em doses peque- recipientes fechados).
nas e frequentes, tão logo o paciente aceite. Isso acelera a sua Trate a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar
recuperação e reduz drasticamente o risco de complicações. duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada
Suspender a hidratação endovenosa quando o paciente es- litro de água, aguardar por 30 minutos antes de usar).
tiver hidratado, com boa tolerância à solução de SRO e sem vô- Guarde a água tratada em vasilhas limpas e com tampa, sen-
mitos. do a “boca” estreita para evitar a recontaminação;
Para tratamento detalhado acesse aqui o Manejo do Pa- Não utilize água de riachos, rios, cacimbas ou poços conta-
ciente com Diarreia. minados para banhar ou beber.
Evite o consumo de alimentos crus ou malcozidos (principal-
OBSERVAÇÃO: O Tratamento com antibiótico deve ser re- mente carnes, pescados e mariscos) e alimentos cujas condições
servado apenas para os casos de DDA com sangue ou muco nas higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias.
fezes (disenteria) e comprometimento do estado geral ou em Ensaque e mantenha a tampa do lixo sempre fechada; quan-
caso de cólera com desidratação grave, sempre com acompa- do não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local
nhamento médico. apropriado.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Use sempre o vaso sanitário, mas se isso não for possível, Nesse cenário diversificado das regiões do país, relacionado
enterre as fezes sempre longe dos cursos de água; ao desenvolvimento socioeconômico, às condições de sanea-
Evite o desmame precoce. Manter o aleitamento materno mento, ao clima e às situações adversas, como os desastres,
aumenta a resistência das crianças contra as diarreias. ocorrem anualmente, mais de 4 milhões de casos e mais de 4 mil
Situação epidemiológica das doenças diarreicas agudas óbitos por DDA, registrados por meio da vigilância epidemioló-
(diarreia aguda) gica em unidades sentinelas e pelo Sistema de Informação sobre
Os casos individuais de DDA são de notificação compulsória Mortalidade (SIM).
em unidades sentinelas para monitorização das DDA (MDDA).
O principal objetivo da Vigilância Epidemiológica das Doenças DOENÇAS RESPIRATÓRIA NA INFÂNCIA
Diarreicas Agudas (VE-DDA) é monitorar o perfil epidemiológi- São as doenças mais frequentes durante a infância, acome-
co dos casos, visando detectar precocemente surtos, especial- tendo um número elevado de crianças, de todos os níveis só-
mente os relacionados a: acometimento entre menores de cinco cio-econômicos e por diversas vezes. Nas classes sociais mais
anos; agentes etiológicos virulentos e epidêmicos, como é o caso pobres, as infecções respiratórias agudas ainda se constituem
da cólera; situações de vulnerabilidade social; seca, inundações como importante causa de morte de crianças pequenas, princi-
e desastres. Os casos de DDA são notificados no Sistema de In- palmente menores de 1 ano de idade. Os fatores de risco para
formação de Vigilância Epidemiológica das DDA (SIVEP_DDA) e o morbidade e mortalidade são baixa idade, precárias condições
monitoramento é realizado pelo acompanhamento contínuo dos sócio-econômicas, desnutrição, déficit no nível de escolaridade
níveis endêmicos para verificar alteração do padrão da doença dos pais, poluição ambiental e assistência de saúde de má qua-
em localidades e períodos de tempo determinados. Diante da lidade (SIGAUD, 1996).
identificação de alterações no comportamento da doença, deve A enfermagem precisa estar atenta e orientar a família da
ser realizada investigação e avaliação de risco para subsidiar as criança sobre alguns fatores:
ações necessárias. - preparar os alimentos sob a forma pastosa ou líquida, ofe-
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as doenças diar- recendo em menores quantidades e em intervalos mais curtos,
reicas constituem a segunda principal causa de morte em crian- respeitando a falta de apetite e não forçando a alimentação;
ças menores de cinco anos, embora sejam evitáveis e tratáveis.
- aumentar a oferta de líquidos: água, chás e suco de frutas,
As DDA são as principais causas de morbimortalidade infan-
levando em consideração a preferência da criança;
til (em crianças menores de um ano) e se constituem um dos
- manter a criança em ambiente ventilado, tranquilo e aga-
mais graves problemas de saúde pública global, com aproxima-
salhada se estiver frio;
damente 1,7 bilhão de casos e 525 mil óbitos na infância (em
- fluidificar e remover secreções e muco das vias aéreas su-
crianças menores de 5 anos) por ano. Além disso, as DDA estão
periores frequentemente;
entre as principais causas de desnutrição em crianças menores
- evitar contato com outras crianças;
de cinco anos.
- havendo febre: até 38,4ºC dar banho, de preferência de
Uma proporção significativa das doenças diarreicas é trans-
imersão, morno (por 15 minutos); aplicar compressa com água
mitida pela água e pode ser prevenida através do consumo de
água potável, condições adequadas de saneamento e hábitos de morna e álcool nas regiões inguinal e axilar; retirar excessos de
higiene. No Brasil, segundo estatísticas do IBGE, em 2016, 87,3% roupa. Se ultrapassar este valor oferecer antitérmico recomen-
dos domicílios ligados à rede geral tinham disponibilidade diária dado pelo pediatra.
de água, percentual que era de 66,6% no Nordeste, onde em
16,3% dos domicílios o abastecimento ocorria de uma a três ve- RESFRIADO
zes por semana e em 11,2% dos lares, de quatro a seis vezes. A Inflamação catarral da mucosa rinofaríngea e formações lin-
região Norte apresentava o menor percentual de domicílios em fóides anexas. Possui como causas predisponentes: convívio ou
que a principal forma de abastecimento de água era a rede geral contágio ocasional com pessoas infectadas, desnutrição, clima
de distribuição (59,8%). Por outro lado, a região se destacava frio ou úmido, condições da habitação e dormitório da criança,
quando se tratava de abastecimento através de poço profundo quedas bruscas e acentuadas da temperatura atmosférica, sus-
ou artesiano (20,3%); poço raso, freático ou cacimba (12,7%); e ceptibilidade individual, relacionada à capacidade imunológica
fonte ou nascente (3,1%). (ALCÂNTARA, 1994).
Outra preocupação é a ocorrência de inundações e secas Principais sinais e sintomas: febre de intensidade variável,
induzidas por mudanças climáticas, que podem afetar as con- corrimento nasal mucoso e fluido (coriza), obstrução parcial da
dições de acesso de muitas famílias aos serviços de abasteci- respiração nasal tornando-se ruidosa (trazendo irritação, prin-
mento de água e saneamento, expondo populações a riscos re- cipalmente ao lactente que tem sua alimentação dificultada),
lacionados à saúde. Além disso, as inundações podem dispersar tosse (não obrigatória), falta de apetite, alteração das fezes e
diversos contaminantes fecais, aumentando os riscos de surtos vômitos (quando a criança é forçada a comer).
de doenças transmitidas pela água. No caso da escassez de água Não existindo contra-indicações recomenda-se a realização
devido à seca, a utilização de fontes alternativas de água sem de exercícios rrespiratórios, tapotagem e dembulação. Se o es-
tratamento adequado, incluindo água de caminhão pipa, tam- tado for muito grave, sugerindo risco de vida para a criança se
bém aumenta os riscos de adoecimento por doenças diarreicas. ela continuar em seu domicílio, recomenda-se a hospitalização.
A seca e a estiagem são, entre os tipos de desastre, os que
mais afetam a população brasileira (50,34%), por serem mais re- PNEUMONIA
correntes, atingindo mais fortemente as regiões Nordeste, Sul Inflamação das paredes da árvore respiratória causando
e parte do Sudeste. As inundações são a segunda tipologia de aumento das secreções mucosas, respiração rápida ou difícil,
desastres de maior recorrência no Brasil e atingem todas as re- dificuldade em ingerir alimentos sólidos ou líquidos; piora do
giões do país, causando impactos significativos sobre a saúde estado geral, tosse, aumento da frequência respiratória (maior
das pessoas e a infraestrutura de saúde. ou igual a 60 batimentos por minuto); tiragem (retração subcos-

122
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
tal persistente), estridor, sibilância, gemido, períodos de apnéia BRONQUITE
ou guinchos (tosse da coqueluche), cianose, batimentos de asa Inflamação nos brônquios, caracterizada por tosse e aumen-
de nariz, distensão abdominal, e febre ou hipotermia (podendo to da secreção mucosa dos brônquios, acompanhada ou não de
indicar infecção). febre, predominando em idades menores. Quando apresentam
grande quntidade de secreção pode-se perceber ruído respira-
AMIGDALITES tório (“chiado” ou “ronqueira”) (RIBEIRO, 1994).
Propicia que as crianças portadoras tenham infecções com
Muito frequente na infância, principalmente na faixa etária maior frequência do que outras. Pode se tornar crônica, levan-
de 3 a 6 anos (ALCÂNTARA, 1994). Seu quadro clínico asseme- do a anorexia a uma perda da progressão de peso e estatura
lha-se a um resfriado comum. Principais sinais e sintomas: fe- (RIBEIRO, 1994). Recomenda-se afastar substâncias que possam
bre, mal estar, prostração ou agitação, anorexia em função da causar alergias.
dificuldade de deglutição, presença de gânglios palpáveis, mau
hálito, presença ou não de tosse seca, dor e presença de pus na ASMA
amigdala. Doença crônica do trato respiratório, sendo uma infecção
Às orientações de enfermagem acrescentaria-se estimular a muito frequente na infância. A crise é causada por uma obstru-
família a ofertar à criança uma alimentação mais semi-líquida, a ção, devido a contração da musculatura lisa, edema da parede
base de sopas, papas ... brônquica e infiltração de leucócitos polimorfonucleares, eosi-
nófilos e linfócitos (GRUMACH, 1994).
OTITE Manifesta-se através de crises de broncoespasmo, com
Caracterizada por dor, febre, choro frequente, dificuldade dispnéia, acessos de tosse e sibilos presentes à ausculta pulmo-
para sugar e alimentar-se e irritabilidade, sendo o diagnóstico nar. São episódios auto-limitados podendo ser controlados por
confirmado pelo otoscópio. Possui como fatores predisponen- medicamentos com retorno normal das funções na maioria das
tes: crianças.
Em metade dos casos, os primeiros sintomas da doença sur-
- alimentação em posição horizontal, pois propicia refluxo gem até o terceiro ano de vida e, em muitos pacientes, desapa-
alimentar pela tuba, que é mais curta e horizontal na criança, recem com a puberdade. Porém a persistência na idade adulta
levando à otite média; leva a um agravo da doença.
- crianças que vivem em ambiente úmido ou filhas de pais Fatores desencadeantes: alérgenos (irritantes alimentares),
fumantes; infecções, agentes irritantes, poluentes atmosféricos e mudan-
- diminuição da umidade relativa do ar; ças climáticas, fatores emocionais, exercícios e algumas drogas
- limpeza inadequada, com cotonetes, grampos e outros, (ácido acetil salicílico e similares).
prejudicando a saída permanente da cera pela formação de ro- É importante que haja:
lhas obstrutivas, ou retirando a proteção e facilitando a evolu- - estabelecimento de vínculo entre paciente/ família e equi-
ção de otites micóticas ou bacterianas, além de poder provocar pe de saúde;
acidentes. - controle ambiental, procurando afastar elementos alergê-
nicos;
Orientar sobre a limpeza que deve ser feita apenas com - higiene alimentar;
água, sabonete, toalha e dedo. - suspensão de alimentos só deverá ocorrer quando existir
uma nítida relação com a sintomatologia apresentada;
SINUSITE - fisioterapia respiratória a fim de melhorar a dinâmica res-
“Desencadeada pela obstrução dos óstios de drenagem dos piratória, corrigir deformidades torácicas e vícios posturais, au-
seios da face, favorecendo a retenção de secreção e a infecção mentando a resistência física.
bacteriana secundária” (LEÃO, 1989). Caracteriza-se por tosse
noturna, secreção nasal e com presença ou não de febre, sendo Durante uma crise o paciente precisa de um respaldo me-
que raramente há cefaléia na infância (SAMPAIO, 1994). Casos dicamentoso para interferir na sintomatologia e de uma pessoa
recidivantes são geralmente causados por alergia respiratória. segura e tranquila ao seu lado. Para tanto a família precisa ser
Possui como fatores predisponentes: muito bem esclarecida e em alguns casos faz-se necessário en-
- episódios muito frequentes de resfriado; caminhamento psicológico.
- crianças que vivem em ambiente úmido ou flhas de pais
fumantes;
- diminuição da umidade relativa do ar.

RINITE
Apresenta como manifestações clínicas a obstrução nasal ou
coriza, prurido e espirros em salva; a face apresenta “olheiras”;
dupla prega infra-orbitária; e sulco transversal no nariz, sugerin-
do prurido intenso. Pode ser causada por alergia respiratória,
neste caso faz-se necessário afastar as substâncias que possam
causar alergia.

123
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Estudar, capacitar, praticar são ações essenciais para o de-
ATENDIMENTO A PACIENTES EM SITUAÇÕES DE senvolvimento profissional de enfermeiros, técnicos e auxiliares
URGÊNCIA E EMERGÊNCIA: ESTRUTURA ORGANIZA- de enfermagem, portanto estar preocupado com as ações de-
CIONAL DO SERVIÇO DE EMERGÊNCIA HOSPITALAR senvolvidas no dia a dia de trabalho é fundamental.
E PRÉHOSPITALAR; SUPORTE BÁSICO DE VIDA EM Os serviços de Urgência e Emergência podem ser fixos a
EMERGÊNCIAS; EMERGÊNCIAS RELACIONADAS A DO- exemplo da Unidades de Pronto Atendimento e as emergências
ENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO, DO APARELHO de hospitais ou móveis como o Serviço de Atendimento Móvel
CIRCULATÓRIO E PSIQUIÁTRICAS; ATENDIMENTO de Urgência (SAMU). Ainda, podem ter diferentes complexida-
INICIAL AO POLITRAUMATIZADO; ATENDIMENTO NA
des para atendimento de demandas urgentes e emergentes clí-
PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA; ASSISTÊNCIA DE EN-
nicas e cirúrgicas em geral ou específicas como unidades cardio-
FERMAGEM AO PACIENTE CRÍTICO COM DISTÚRBIOS
lógicas, pediátricas e traumatológicas.
HIDROELETROLÍTICOS, ÁCIDOBÁSICOS, INSUFICIÊN-
CIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA; INSU- O importante é que, independente da complexidade ou da
FICIÊNCIA RENAL E MÉTODOS DIALÍTICOS; INSUFICI- classificação do serviço, existem 5 coisas imprescindíveis que
ÊNCIA HEPÁTICA; AVALIAÇÃO DE CONSCIÊNCIA NO todo Enfermeiro de Urgência e Emergência deve saber.
PACIENTE EM COMA; DOAÇÃO, CAPTAÇÃO E TRANS-
PLANTE DE ÓRGÃOS; ENFERMAGEM EM URGÊNCIAS: 1. Acolhimento e Classificação de Risco
VIOLÊNCIA, ABUSO DE DROGAS, INTOXICAÇÕES, O acolhimento do paciente e família na prática das ações de
EMERGÊNCIAS AMBIENTAIS atenção e gestão nas unidades de saúde tem sido importante
para uma atenção humanizada e resolutiva.
A classificação de risco vem sendo utilizada em diversos
Enfermagem em emergência e cuidados intensivos: países, inclusive no Brasil. Para essa classificação foram desen-
volvidos diversos protocolos, que objetivam, em primeiro lugar,
a. Assistência de enfermagem em situações de urgência e não demorar em prestar atendimento àqueles que necessitam
emergência: de uma conduta imediata. Por isso, todos eles são baseados
A urgência é caracterizada como um evento grave, que deve na avaliação primária do paciente, já bem desenvolvida para
ser resolvido urgentemente, mas que não possui um caráter ime- o atendimento às situações de catástrofes e adaptada para os
diatista, ou seja, deve haver um empenho para ser tratada e pode serviços de urgência¹. O Enfermeiro deve estar além de acolher
ser planejada para que este paciente não corra risco de morte. o paciente e família, estar habilitado a atendê-los utilizando os
protocolos de classificação de risco.
A emergência é uma situação gravíssima que deve ser tra-
tada imediatamente, caso contrário, o paciente vai morrer ou 2. Suporte Básico (SBV) e Avançado de Vida (SAV)
apresentará uma sequela irreversível. A parada cardiorrespiratória é um dos eventos que reque-
Neste contexto, a enfermagem participa de todos os pro- rem atenção imediata por parte da equipe de saúde e o Enfer-
cessos, tanto na urgência quanto na emergência. São diversos meiro tanto dos serviços móveis quanto dos fixos de urgência e
locais onde os profissionais de enfermagem podem atuar como, emergência devem estar aptos.
por exemplo: O protocolo American Heart Association (AHA) é a referên-
• Unidades de atendimento pré-hospitalar; cia de SBV e SAV utilizado no Brasil. A AHA enfatiza nessa nova
• Unidades de saúde 24 horas; diretriz sobre a RCP de alta qualidade e os cuidados Pós-PCR². O
• Pronto socorro; SBV é uma sequência de etapas de atendimento ao paciente em
• Unidades de terapia intensiva; risco iminente de morte sem realização de manobras invasivas e
• Unidades de dor torácica; o SAV requer procedimentos invasivos e de suporte ventilatório
• Unidade de terapia intensiva neo natal e circulatório³.
• E até mesmo em unidades de internação.
3. Atendimento à Vítima de Trauma
Os profissionais de enfermagem devem estar atentos e pre- Os acidentes automobilísticos e a violência são as maiores
parados para atuarem em situações de urgência e emergência, causas de morte de indivíduos entre 15 e 49 anos na população
pois a capacitação profissional, a dedicação e o conhecimento das regiões metropolitanas, superando as doenças cardiovascu-
teórico e prático, irão fazer a diferença no momento crucial do lares e neoplasias4.
atendimento ao paciente. Por isso, o enfermeiro vai se deparar com vítimas de trau-
Muitas vezes estas habilidades não são treinadas e quando ma nas urgências e emergências e deverá estar habilitado a agir
ocorre a situação de emergência, o que vemos são profissionais de acordo com os protocolos de Atendimento Pré-Hospitalar e
correndo de uma lado para outro sem objetividade, com dificul- Hospitalar ao Trauma.
dades para atender o paciente e ainda com medo de aproximar-
-se da situação. 4. Assistência ao Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e ao
Por outro lado, quando temos uma equipe treinada, capaci- Acidente Vascular Encefálico (AVE)
tada e motivada, o atendimento é realizado muito mais rapidez As doenças cardiovasculares representam uma das maiores
e eficiência, podendo na maioria das vezes, salvar muitas vidas. causas de mortalidade em todo o mundo e O IAM é uma das
A enfermagem trabalha diariamente com pacientes em risco principais manifestações clínicas da doença arterial coronária5.
de morte e que dependem deste cuidado para que mantenham O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das maiores
suas vidas. As ações da equipe de enfermagem visam sempre à causas de morte e incapacidade adquirida em todo o mundo.
assistência ao paciente da melhor forma possível, expressando Estatísticas brasileiras indicam que o AVC é a causa mais fre-
assim, a qualidade e a importância da nossa profissão. quente de óbito na população adulta (10% dos óbitos) e consiste

124
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
no diagnóstico de 10% das internações hospitalares públicas. O C- Circulação
Brasil apresenta a quarta taxa de mortalidade por AVC entre os D- Incapacidade neurológica
países da América Latina e Caribe6. E- Exposição e controle da temperatura
Então, o Enfermeiro precisa estar apto a realização da ava-
liação clínica para identificação e atendimento precoce do IAM Letra A: Deve-se aproximar da vitima e verificar se há algu-
e AVE ou AVC e prevenção de complicações. ma obstrução das vias aéreas, “a melhor forma é verbalmente,
quando você conversa e a vitima consegui te responder”. Em
caso contrário deve fazer da seguinte maneira:
5. Assistência às Emergências Obstétricas 1- Elevação do queixo
As principais causas de morte materna no Brasil são por 2- Elevação da mandíbula
hemorragias e hipertensão7. O Enfermeiro precisa saber como 3- Elevação da testa (somente em casos sem trauma)
identificar precocemente a pré-eclâmpsia e eclampsia, bem
como as hemorragias gestacionais e uterinas, pois é uma de- Existe uma forma mais segura e eficaz, que consiste em rea-
manda constante dos serviços de urgência e emergência e até lizar a inspeção com cânulas (Guedell) (nasofaringe ou orofarin-
mesmo os que não são referência em atendimento gestacional. ge).
Deve se atentar quanto o risco de lesão na coluna cervical,
1) suporte de vida em situações de traumatismos em geral; faça a devida imobilização.
Tem por objetivo identificar graves lesões e instituir medi-
das terapêuticas e emergenciais que controlem e restabeleçam Letra B: Manter a oxigenação adequada. Pode ser necessá-
a vida. rio de apoio:
Consiste em: 1- Máscara facial ou tubo endotraqueal e insuflador manual.
- Preparação 2 - Ventilação Mecânica
- Triagem Em caso de dificuldade considerar:
- Avaliação primária . Obstrução de via aérea – considerar cricotireoidotomia se
- Reanimação outras opções falharem.
- Avaliação secundária . Pneumotórax: drenar rapidamente em caso de compromis-
- Monitorização e reavaliação contínua so respiratório.
- Tratamento definitivo . Hemotórax (ver protocolo: trauma torácico)
. Retalho costal: imobilizar rapidamente (ver protocolo:
Triagem trauma torácico)
É utilizado para classificar a gravidade dos problemas. Existe . Lesão diafragmática com herniação.
um método de cores para definir:
-VERMELHO Letra C: Avaliar:
- LARANJA - Pulso: valorizar taquicardia como sinal precoce de hipo-
- AMARELO volemia
- VERDE - Temperatura e coloração da pele: hipotermia, sudorese e
- AZUL palidez.
- Preenchimento capilar: leito ungueal
* Indica-se sempre do paciente/cliente mais grave para o - Pressão arterial: inicialmente estará normotenso
menos grave. - Estado da consciência: agitação como sinal de hipovolémia
Considerar relação entre % de hemorragia e sinais clínicos:
No caso com ônus de muitos acidentados e pouca equipe/
profissional; dar-se a preferência aos graves com maior chan-
ce de vida, dentre estes o que menos utilizará material, tempo,
equipamento e pessoal.

Avaliação Primária
Tem por finalidade verificar o estado da vitima e suas condi-
ções físicas /emocionais/ neurológicas.
Verifica-se:
- Obstrução das vias aéreas
- Insuficiência Respiratória
- Alterações Hemodinâmicas
- Déficit Neurológico

Usam-se os métodos das seguintes formas: A, B, C, D e E


(casos sem comprometimento circulatório).
C, A, B, D e E (casos com comprometimentos circulatórios).

Significados:
A- Vias aéreas e proteção da coluna cervical
B- Respiração e ventilação

125
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

Atuação:
1- RCP, se necessário.
2- Controle de hemorragia com compressão externa.
3- Reposição de volume, sendo necessários adequados acessos venosos, O traumatizado deve ter 2 acessos e com catéteres
G14, «nunca» com menos do que G16. Eventualmente, poderá ser colocado um catéter numa jugular externa ou utilizada a via
intra-¬óssea (a considerar também no adulto).
4- Em caso de trauma torácico ou abdominal grave: um acesso acima e outro abaixo do diafragma.
5- A escolha entre cristalóides e colóides não deve basear-se necessariamente no grau de choque, não estando provada qual-
quer diferença de prognóstico na utilização de um ou outro. O volume a infundir relaciona-se com as perdas e a resposta clínica.
Uma relação de 1:3 e 1:1 no caso de perdas/cristalóides a administrar e perdas/colóides a administrar, respectivamente.
6- Atenção aos TCE, TVM e grávida Politraumatizada sendo à partida, ainda que discutível, de privilegiar colóides.
7- Regra geral, não utilizar soros glicosados no traumatizado, existindo apenas interesse destes no diabético ou na hipoglicemia.
Por norma, os soros administrados na fase pré-hospitalar num adulto politraumatizado não são suficientes para originar um edema
pulmonar, mesmo em doentes cardíacos. Não se deve insistir tanto na recomendação de cuidado com a possibilidade de sobrecarga
numa situação de hipovolémia, mas sim tratar esta última agressivamente.
8- Vigiar estado da consciência e perfusão cutânea, avaliando parâmetros vitais de forma seriada.

Letra D: Normalmente corrido em trauma direto no crânio ou estado de choque.

Avaliar:
- GCS (Escala Coma Glasgow) de uma forma seriada
- Tamanho simetria/assimetria pupilar e reatividade à luz
- Função motora (estímulo à dor)

Atuação:
1- Administrar Oxigênio 10 -12 l/min e atuação de acordo com protocolo específico.
2-Imobilização da coluna vertebral com colar cervical, imobilizadores laterais da cabeça, com plano duro ou maca de vácuo.

Letra E:
1- Despir e avaliar possíveis lesões que possam ter passado despercebidas, mantendo cuidados de imobilização da coluna ver-
tebral. Utilizar técnicas de rolamento.
2- Evitar a hipotermia. Utilizar manta isotérmica.

126
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Manter: Tratamento Definitivo
1- Vigilância parâmetros vitais e imobilização. Caracterizado pela estabilização do paciente/ cliente/ viti-
2- Analgesia de acordo com as necessidades. ma, será procedido se necessário tratamento após diagnóstico
Reanimação = ações para restabelecer as condições vitais médico e controle de todos os sinais vitais.
do paciente.
2) suporte de vida em situações de queimaduras;
Avaliação secundária O queimado necessita boa assistência de enfermagem para
que tenha uma recuperação física, funcional e psico-social, pre-
Exploração detalhada da cabeça aos pés, antecedentes pes- coce
soais se possível. Esta deverá ser completada no hospital com A equipe de enfermagem trabalhando paralelamente à
reavaliação e exames radiológicos pertinentes. equipe médica, deve ter conhecimentos especializados sobre
Muito importante: Pesquisar e presumir lesão associada em cuidados a serem prestados aos queimados.
função do mecanismo da lesão, ex. queda sobre calcâneo com Esses cuidados iniciam-se com atitude correta ao receber os
fratura da coluna vertebral. pacientes que chegam agitados devido à dor ou ao trauma psí-
quico, devendo continuar no decorrer de todo o tratamento até
Tipos de trauma a ocasião da alta, quando os doentes e familiares são orientados
quanto aos cuidados a serem seguidos.
O trauma pode ser classificado de acordo com seu mecanis-
mo, este pode ser contuso ou penetrante, mas a transferência Assistência Imediata
de energia e a lesão produzida são semelhantes em ambos os A assistência inicial deve ser prestada em ambiente que
tipos de trauma. A única diferença é a perfuração da pele. proporcione condições perfeitas de assepsia, tal como uma sala
Alguns exemplos: cirúrgica, tendo sempre presente a importância do problema do
. Trauma crânio encefálico (TCE) . Trauma Abdominal controle da infecção, desde o início e no decorrer do tratamen-
. Trauma Raquimedular (medula) . Pneumotórax to. Para o primeiro atendimento, um mínimo de material e equi-
. Trauma Facial pamento se fazem necessários na sala:
. Trauma Torácico (pneumotórax)
EQUIPAMENTO E MATERIAL PERMANENTE:
Trauma contuso (fechado) - Torpedo de oxigênio, se não contar com o sistema cana-
O trauma contuso ocorre quando há transferência de ener- lizado.
gia em uma superfície corporal extensa, não penetrando a pele. - Aspirador de secreção.
Existem dois tipos de forças envolvidas no trauma contuso: cisa- - Mesa estofada ou com coxim para receber o paciente.
lhamento e compressão. - Mesa auxiliar para colocar material de curativo (tipo
Mayo).
O cisalhamento acontece quando há uma mudança brusca - Suporte de soro.
de velocidade, deslocando uma estrutura ou parte dela, provo- - Caixa com material de pequena cirurgia.
cando sua laceração. É mais encontrado na desaceleração brus- - Caixa com material de traqueostomia.
ca do que na aceleração brusca. - Caixa com material de dissecção de veia.
A compressão é quando o impacto comprime uma estrutura - Material para intubação endotraqueal.
ou parte dela sobre outra região provocando a lesão. É freqüen- - Aparelho ressuscitador “Air-viva”.
temente associada a mecanismos que formam cavidade tempo- - Pacotes de curativo (com tesoura, pinça anatômica, pinça
rária. dente de rato e pinça de Kocher).

Trauma penetrante (aberto) MATERIAL DE CONSUMO


O trauma penetrante tem como característica a transferên- - Compressa de gaze de 7,5 cm x 7,5 cm.
cia de energia em uma área concentrada, com isso há pouca dis- - Atadura de gaze de 90 x 120 cm com 8 dobras longitudi-
persão de energia provocando laceração da pele. nais.
Podemos encontrar objetos fixados no trauma penetrante, - Ataduras de rayon e morim.
as lesões não incluem apenas os tecidos na trajetória do objeto, - Atadura de gaze de malha fina impregnada em vaselina.
deve-se suspeitar de movimentos circulares do objeto penetran- - Algodão hidrófilo.
te. As lesões provocadas por transferência de alta energia, por - Ataduras de crepe.
exemplo, arma de fogo, não se resumem apenas na trajetória - Luvas.
do PAF (projétil de arma de fogo), mas também nas estruturas
adjacentes que sofreram um deslocamento temporário. Pacotes de campos cirúrgicos e aventais.
VERIFICAR ANTES DE TRANSPORTAR - Fita adesiva e esparadrapo.
• Via aérea com imobilização cervical - Máscara e gorro.
• Ventilação (com tubo orotraqueal se GCS <8) e oxigenação - Medicamentos de emergência.
• Acessos venosos e fluidoterapia EV (soro não glicosado) - Antissépticos.
• Avaliação seriada da GCS - Seringas de vários tamanhos.
• Equipamentos necessários na ambulância. - Agulhas e catéteres de vários calibres.
- Tubos para tipagem de sangue e outras análises laborato-
riais.
- Frascos de soro fisiológico.

127
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
PROCEDIMENTO DA ENFERMAGEM Cuidados Especiais Dependentes da Localização da Quei-
madura
Na Sala de Cirurgia
Aplicar imediatamente sedativo sob prescrição médica, com CABEÇA:
a finalidade de diminuir a dor, de preferência por via intra-ve- - Crânio: proceder a tricotomia total do couro cabeludo.
nosa. - Face: proceder a tricotomia do couro cabeludo, nas áreas
Ao aplicar o medicamento por esta via, deve-se aproveitar próximas às lesões. Manter decúbito elevado, para auxiliar a re-
para colher amostra de sangue para tipagem, assim como pro- gressão do edema.
curar manter a veia com perfusão de soro fisiológico para poste- - Olhos: limpar com “cotonetes” umedecidos em água bo-
rior transfusão de sangue ou outros líquidos. ricada a 3% e após proceder a instilação de colírio antibiótico.
Retirar a roupa do paciente e colocá-lo na mesa sobre cam- - Ouvidos: limpar conduto auditivo externo com “cotone-
pos esterilizados e cobrir as lesões também com campos esteri- tes” e soro fisiológico.
lizados. - Orelhas: utilizar travesseiro baixo e não muito macio para
Preparar material para dissecção de veia ou cateterismo não comprimir as cartilagens a fim de prevenir deformidades.
transcutâneo “intra-cat”, e auxiliar o médico nestas operações. - Narinas: limpar com “cotonetes” e soro fisiológico.
Auxiliar ou executar com supervisão médica, tratamento - Boca: limpar com espátula montada com algodão ou gaze
local de remoção de tecidos desvitalizados, limpeza sumária embebida em água bicarbonatada a 2%.
das áreas queimadas, oclusão das lesões, ou ainda, preparo das - Lábios: passar vaselina para remoção de crostas.
mesmas para mantê-las expostas (método de exposição).
- PESCOÇO:
Unidade de Internação Manter em extensão, com auxílio de coxim no dorso. A pre-
- Colocar o paciente no leito preparado com campos e ar- sença de necrose seca ou lesões profundas, poderá provocar
cos de proteção esterilizados, e também sobre coxim preparado compressão e garroteamento, com perturbações respiratórias.
com várias camadas de ataduras de gaze e revestido com rayon, Nestes casos o médico executará a escarotomia.
conforme a localização das queimaduras. Isto quando o método
de tratamento é o de exposição.
- MEMBROS SUPERIORES:
Controle de diurese e outras perdas de líquidos: executar
Os curativos oclusivos dos membros superiores, têm a fina-
cateterismo vesical com sonda de demora (sonda de Foley), ano-
lidade de proporcionar conforto ao paciente e facilitar atuação
tando o volume urinário. Esta sonda é mantida ocluída, sendo
de enfermagem. Os membros devem ser mantidos em abdução
aberta a cada hora para verificar o aspecto, volume e densidade
parcial e em ligeira elevação.
de urina. Além da diurese, controlar as demais perdas líquidas,
tais como: vômito, sudorese, exsudatos e evacuações, observan-
- TRONCO:
do em cada caso o aspecto, a freqüência e o volume.
Visando evitar os fatores mecânicos, que possam reduzir a
Esses dados devem ser anotados em folha especial do pron-
tuário do paciente (Anexo I). expansibilidade do tórax, o método mais indicado é a posição de
- Controle de Sinais Vitais: a temperatura, o pulso, a respi- Fowler e semi-Fowler. Entretanto a escolha de decúbito será fei-
ração, devem ser controlados e anotados cada 4 horas ou mais ta também de acordo com a área menos atingida. Se a lesão for
freqüentemente se o caso exigir. principalmente face posterior, o decúbito será ventral, sobre um
Num grande queimado, dificilmente conseguimos adaptar o coxim, que será trocado todas as vezes que se fizer necessário.
manguito do aparelho de pressão, mas esta, deve ser determi-
nada, sempre que possível. - PERÍNEO:
Além desses sinais vitais, a pressão venosa central, deve ser Para as lesões desta região, o tratamento por exposição é
controlada através do cateter venoso. utilizado sistematicamente, devendo as coxas serem mantidas
- Controle de Administração Parenteral de Líquidos: deve em abdução parcial. A higiene íntima deve ser feita com água
ser exercida vigilância constante da permeabilidade da veia, do morna e sabão neutro, ou com solução oleosa. Em nosso serviço
gotejamento e da quantidade dos líquidos em perfusão. utilizamos a seguinte fórmula de solução oleosa:
O paciente deve receber exatamente as soluções prescritas -Cloroxilenol 0.1%.
dentro dos horários estabelecidos. Este controle, é facilitado -Essência de alfazema 1%.
pelo uso do esquema adotado pelo Serviço de Queimados do H. -Óleo de amendoim q.s.p. 100 ml.
C. da F.M.U.S.P. (Anexo II).
- Alimentação: não havendo contra-indicação, oferecer ao - MEMBROS INFERIORES:
paciente uma dieta fracionada, iniciando com líquido em peque- Manter os membros em posição anatômica, evitar a rotação
na quantidade. Se o paciente não apresentar vômitos, aumentar das pernas, e prevenir o pé eqüino.
gradativamente a quantidade. Os líquidos podem ser oferecidos Também nos membros inferiores o curativo oclusivo é fre-
em forma de suco, caldo de carne e dieta especial de soja (leite, qüentemente utilizado, visando facilitar a movimentação do pa-
ovos, caseinato de cálcio e farinha de soja). Desde que haja tole- ciente e atuação da enfermagem.
rância por parte do paciente, passar a oferecer progressivamen- Um dos cuidados fundamentais de enfermagem é a mobili-
te dietas mais consistentes até chegar à dieta geral. zação do doente no leito, mudança repetida de decúbito, qual-
- Higiene: proceder a limpeza diária das áreas não lesadas, quer que seja a localização das lesões.
com água e sabão neutro. Manter o couro cabeludo limpo e cor-
tar os cabelos, principalmente em caso de queimadura na ca-
beça.Aparar as unhas e mantê-las limpas.A tricotomia pubiana
e axilar deve ser feita semanalmente, como medida de higiene.

128
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Cuidado Relacionado ao Ambiente complexidade e alto custo passaram a ser ocupados também
por pacientes de baixa probabilidade de doença e baixo risco,
- UNIDADE DO PACIENTE E MATERIAIS DE USO PRIVATIVO: resultando não somente em aumento da demanda desses leitos,
Limpar diariamente a unidade do paciente (cama, colchão, com consequente saturação das unidades coronarianas, mas
criado mudo e cadeira) com água, sabão, solução de-sinfetan- também numa utilização sub-ótima dos recursos.
te (hipoclorito de sódio a 3%) e solução aromatizante (álcool, As Unidades de Dor Torácica foram criadas em 1982, e des-
essência de pinho 1%, essência de alfazema a 1% e essência de de então vêm sendo reconhecidas como um aprimoramento da
lavanda 1%). Esterilizar semanalmente todos os materiais de uso assistência emergencial. Essas unidades visam a:
pessoal do paciente, tais como: comadre, bacia, cuba rim, copos, 1) prover acesso fácil e prioritário ao paciente com dor to-
garrafas, e outros. rácica que procura a sala de emergência; e
2) fornecer uma estratégia diagnóstica e terapêutica organi-
- PISO: zada na sala de emergência, objetivando rapidez, alta qualidade
O único tipo de limpeza permitido é a limpeza úmida. Esta de cuidados, eficiência e contenção de custos.
é facilitada quando o piso é de material lavável. Se o piso for de
madeira, deve ser feita a lavagem semanal, após a qual deve-se As Unidades de Dor Torácica podem estar localizadas dentro
proceder a aplicação de vaselina, para a fixação das partículas ou adjacente à Sala de Emergência, com uma verdadeira área fí-
de poeira no chão. sica e leitos demarcados, ou somente como uma estratégia ope-
racional padronizada, utilizando protocolos assistenciais espe-
- JANELAS: cíficos, algoritmos sistematizados ou árvores de decisão clínica
As janelas devem ser amplas para possibilitar iluminação e por parte da equipe dos médicos emergencistas. Entretanto, é
aeração natural, protegidas com telas para prevenir penetração necessário que a equipe de médicos e enfermeiros esteja trei-
de insetos. Devem ser lavadas semanalmente com água, sabão e nada e habituada com o manejo das urgências e emergências
solução desinfetante. cardiovasculares.

- RESÍDUOS E ROUPAS SUJAS: Diagnóstico


Devem ser embalados em sacos e transportados em carros
fechados. Causas de dor torácica e diagnóstico diferencial
A variedade e possível gravidade das condições clínicas que
Medidas Gerais para o Controle de Infecção: se manifestam com dor torácica faz com que seja primordial um
- Pesquisa de germens do ambiente, e uso de desinfetantes diagnóstico rápido e preciso das suas causas. Esta diferenciação
específicos. entre as doenças que oferecem risco de vida (dor torácica com
- Controle de focos de infecção do pessoal da unidade (mé- potencial de fatalidade), ou não, é um ponto crítico na tomada
dicos, enfermeiros e outros). de decisão do médico emergencista para definir sobre a libera-
- Rigoroso controle de circulação do pessoal (parentes e vi- ção ou admissão do paciente ao hospital e de iniciar o tratamen-
sitantes). to, imediatamente.
- Utilização de aventais como meio de proteção ao paciente Como a síndrome coronariana aguda (infarto agudo do mio-
e visitantes. cárdico e angina instável) representa quase 1/5 das causas de
- Supervisão e controle do uso da técnica asséptica. dor torácica nas salas de emergência, e por possuir uma signifi-
cativa morbi-mortalidade, a abordagem inicial desses pacientes
Portanto, o atendimento imediato do paciente queimado, é sempre feita no sentido de confirmar ou afastar este diagnós-
visa primeiramente, salvar a sua vida, e concomitantemente, de- tico.
ve-se trabalhar com o objetivo de evitar infecções, deformida- Vários estudos têm sido realizados para determinar a acurá-
des e minorar os traumas psíquicos. Estes objetivos devem estar cia diagnóstica e a utilidade da história clínica e do ECG em pa-
sempre presentes em todos os momentos. O primeiro consegue- cientes admitidos na sala de emergência com dor torácica para
-se com a presença de espírito, presteza, controle e eficiência. O o diagnóstico de infarto agudo do. A característica anginosa da
segundo, trabalhando sempre com técnica asséptica. O terceiro, dor torácica tem sido identificada como o dado com maior poder
pensando na recuperação dos movimentos normais do paciente, preditivo de doença coronariana aguda.
os quais ele necessitará para a sua futura reintegração à socie- O exame físico no contexto da doença coronariana aguda
dade. E o último, dando-lhe ânimo, carinho e apoio não é expressivo. Entretanto, alguns achados podem aumentar a
sua probabilidade, como a presença de uma 4ª bulha, um sopro
3) suporte de vida em situações de dores torácica-abdo- de artérias carótidas, uma diminuição de pulsos em membros
minais; inferiores, um aneurisma abdominal e os achados de seqüela de
Desde os anos 60 que as unidades coronarianas tornaram- acidente vascular encefálico. Da mesma forma, doenças não-co-
-se o local ideal para investigar e tratar os pacientes com IAM. ronarianas causadoras de dor torácica podem ter o seu diagnós-
Os excelentes resultados observados nestas unidades, em espe- tico suspeitado pelo exame físico, como é o caso do prolapso da
cial através do reconhecimento precoce e do tratamento eficaz válvula mitral, da pericardite, da embolia pulmonar, etc.
das arritmias e da parada cardíaca, fizeram com que os médicos A figura 1 descreve as principais causas de dor torácica e
começassem a internar também os pacientes com suspeita clí- que devem ser consideradas no seu diagnóstico diferencial, na
nica de isquemia miocárdica aguda. O resultado desta atitude dependência das informações da história clínica, do exame físico
mais liberal foi que mais da metade dos pacientes internados e dos dados laboratoriais.
nas unidades coronarianas não tinham, na verdade, síndrome
coronariana aguda. Consequentemente, esses leitos de alta

129
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

A descrição clássica da dor torácica na síndrome coronariana aguda é a de uma dor ou desconforto ou queimação ou sensação
opressiva localizada na região precordial ou retroesternal, que pode ter irradiação para o ombro e/ou braço esquerdo, braço di-
reito, pescoço ou mandíbula, acompanhada frequentemente de diaforese, náuseas, vômitos, ou dispnéia. A dor pode durar alguns
minutos (geralmente entre 10 e 20) e ceder, como nos casos de angina instável, ou mais de 30min, como nos casos de infarto agudo
do miocárdio. O paciente pode também apresentar uma queixa atípica como mal estar, indigestão, fraqueza ou apenas sudorese,
sem dor. Pacientes idosos e mulheres frequentemente manifestam dispnéia como queixa principal no infarto agudo do miocárdio,
podendo não ter dor ou mesmo não valorizá-la o suficiente.
A dissecção aguda da aorta ocorre mais frequentemente em hipertensos, em portadores de síndrome de Marfan ou naqueles
que sofreram um traumatismo torácico recente. Estes pacientes se apresentam com dor súbita, descrita como “rasgada”, geral-
mente iniciando-se no tórax anterior e com irradiação para dorso, pescoço ou mandíbula. No exame físico podemos encontrar um
sopro de regurgitação aórtica. Pode haver um significativo gradiente de amplitude de pulso ou de pressão arterial entre os braços.
A embolia pulmonar apresenta manifestações clínicas muito variáveis e por isso nem sempre típicas da doença. O sintoma mais
comumente encontrado é a dispnéia, vista em 73% dos pacientes, sendo a dor torácica (geralmente súbita) encontrada em 66% dos
casos. Ao exame clínico, o paciente pode apresentar dispnéia, taquipnéia e cianose.
A dor torácica no pneumotórax espontâneo geralmente é localizada no dorso ou ombros e acompanhada de dispnéia. Grande
pneumotórax pode produzir sinais e sintomas de insuficiência respiratória e/ ou colapso cardiovascular (pneumotórax hiperten-
sivo). Ao exame físico podemos encontrar dispnéia, taquipnéia e ausência de ruídos ventilatórios na ausculta do pulmão afetado.
O sintoma clínico mais comum da pericardite é a dor torácica, geralmente de natureza pleurítica, de localização retroesternal
ou no hemitórax esquerdo, mas que, diferentemente da isquemia miocárdica, piora quando o paciente respira, deita ou deglute, e
melhora na posição sentada e inclinada para frente. No exame físico podemos encontrar febre e um atrito pericárdico (que é um
dado patognomônico).
O prolapso da válvula mitral é uma das causas de dor torácica frequentemente encontrada no consultório médico e, também,
na sala de emergência. A dor tem localização variável, ocorrendo geralmente em repouso, sem guardar relação nítida com os es-
forços, e descrita como pontadas, não apresentando irradiações. O diagnóstico é feito através da ausculta cardíaca típica, na qual
encontramos um clique meso ou telessistólico seguido de um sopro regurgitante mitral e/ou tricúspide.

130
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A estenose aórtica também produz dor torácica cujas carac- tério diagnóstico, indicando que perto da metade dos pacientes
terísticas se assemelham à da doença coronariana. A presença com infarto agudo do miocárdio não são diagnosticados com um
de um sopro ejetivo aórtico e hipertrofia ventricular esquerda único ECG realizado à admissão. Esta sensibilidade poderá ser
no ECG indica a presença da estenose aórtica mas não afasta a aumentada para 70%-90% se utilizarmos as alterações de infra-
possibilidade de síndrome coronariana aguda. desnível de ST e/ou alterações isquêmicas de onda T, e para até
Na miocardiopatia hipertrófica a dor torácica ocorre em 75% 95% quando se realizam ECGs seriados com intervalos de 3-4h
dos pacientes sintomáticos, e pode ter características anginosas. nas primeiras 12h pós-chegada ao hospital.
No exame físico podemos encontrar uma 4 bulha e um sopro sis- A especificidade do ECG de admissão para ausência de IAM
tólico ejetivo aórtico. O diagnóstico é feito pelo ecocardiograma varia de 80 a 95% 15,31,47-49. Seu valor preditivo positivo para
transtorácico. O ECG geralmente mostra hipertrofia ventricular IAM está ao redor de 75-85% quando se utiliza o supradesnível
esquerda, com ou sem alterações de ST-T. do segmento de ST como critério diagnóstico, e o valor prediti-
As doenças do esôfago podem mimetizar a doença corona- vo negativo é de cerca de 85-95%. Embora a probabilidade de
riana crônica e aguda. Pacientes com refluxo esofagiano podem infarto agudo do miocárdio em pacientes com ECG normal seja
apresentar desconforto torácico, geralmente em queimação (pi- pequena (5%), o diagnóstico de angina instável é um fato possí-
rose), mas que às vezes é definido como uma sensação opressi- vel (e estes pacientes têm uma taxa de 5 a 20% de evolução para
va, localizada na região retroesternal ou subesternal, podendo infarto agudo do miocárdio ou morte cardíaca ao final de 1 ano).
se irradiar para o pescoço, braços ou dorso, às vezes associada Se o método não tem acurácia diagnóstica suficiente para
à regurgitação alimentar, e que pode melhorar com a posição IAM ou angina instável, ele por si só é capaz de discriminar os
ereta ou com o uso de antiácidos, mas também com nitratos, pacientes de alto risco daqueles de não-alto risco de complica-
bloqueadores dos canais de cálcio ou repouso. ções cardíacas, inclusive em pacientes com síndrome coronaria-
A dor da úlcera péptica geralmente se localiza na região epi- na aguda sem supradesnível de ST. Mesmo em pacientes com
gástrica ou no andar superior do abdômen mas às vezes pode supradesnível do segmento ST na admissão, subgrupos de maior
ser referida na região subesternal ou retroesternal. Estas dores risco podem ser identificados pelo ECG.
geralmente ocorrem após uma refeição, melhorando com o uso Monitorização da tendência do segmento ST - Em virtude da
de antiácidos. Na palpação abdominal geralmente encontramos natureza dinâmica do processo trombótico coronariano, a ob-
dor na região epigástrica. tenção de um único ECG geralmente não é suficiente para ava-
A ruptura do esôfago é uma doença grave e rara na sala de liar um paciente no qual haja forte suspeita clínica de isquemia
emergência. Pode ser causada por vômitos incoersíveis, como
aguda do miocárdio. O recente desenvolvimento e adoção da
na síndrome de Mallory-Weiss. Encontramos dor excruciante em
monitorização contínua da tendência do segmento ST têm sido
83% dos casos, de localização retroesternal ou no andar supe-
demonstrados como de valiosa importância na identificação
rior do abdômen, geralmente acompanhada de um componente
precoce de isquemia de repouso.
pleurítico à esquerda. Apresenta alta morbi-mortalidade e é de
Em pacientes com dor torácica, sua sensibilidade para de-
evolução fatal se não tratada. O diagnóstico é firmado quando
tectar pacientes com IAM foi significativamente maior do que
encontramos à radiografia de tórax um pneumomediastino, ou
a do ECG de admissão (68% vs 55%, p<0,0001), com uma ele-
um derrame pleural à esquerda de aparecimento súbito. Enfise-
vadíssima especificidade (95%), o mesmo se observando para
ma subcutâneo é visto em 27% dos casos.
o diagnóstico de síndrome coronariana aguda (sensibilidade =
Em avaliação prospectiva em pacientes com dor torácica
não relacionada a trauma, febre ou malignidade, 30% tiveram 34%, especificidade = 99,5%).
o seu diagnóstico firmado como decorrente de costo-condrites. A acurácia diagnóstica do monitor de ST também tem se
Geralmente esta dor tem características pleuríticas por ser de- mostrado muito boa para detectar reoclusão coronariana pós-
sencadeada ou exacerbada pelos movimentos dos músculos e/ -terapia de reperfusão, com sensibilidade de 90% e especifici-
ou articulações produzidos pela respiração. Palpação cuidadosa dade de 92%. Além disso, a demonstração de estabilidade do
das articulações ou músculos envolvidos quase sempre reproduz segmento ST mostrou 100% de sensibilidade e especificidade
ou desencadeia a dor. para detecção de obstrução coronariana subtotal em relação à
A dor psicogênica não tem substrato orgânico, sendo gerada obstrução total.
por mecanismos psíquicos, tendendo a ser difusa e imprecisa . O monitor de ST também tem-se mostrado como método de
Geralmente os sinais de ansiedade são detectáveis e com fre- grande utilidade para estratificação de risco em pacientes com
qüência se observa utilização abusiva e inadequada de medica- angina instável ou mesmo com dor torácica de baixo risco e de
ções analgésicas. etiologia a ser esclarecida, constituindo-se num preditor inde-
pendente e altamente significativo de morte, infarto agudo do
O papel do eletrocardiograma e do monitor de tendência miocárdio não-fatal ou isquemia recorrente.
do segmento ST Assim é recomendado:
O eletrocardiograma - O eletrocardiograma (ECG) exerce 1) Todo paciente com dor torácica visto na sala de emergên-
papel fundamental na avaliação de pacientes com dor torácica, cia deve ser submetido imediatamente a um ECG, o qual deverá
tanto pelo seu baixo custo e ampla disponibilidade como pela ser prontamente interpretado (Grau de Recomendação I, Nível
relativa simplicidade de interpretação. de Evidência B e D);
Um ECG absolutamente normal é encontrado na maioria 2) Um novo ECG deve ser obtido no máximo 3h após o 1º em
dos pacientes que se apresenta com dor torácica na sala de pacientes com suspeita clínica de síndrome coronariana aguda
emergência. A incidência de síndrome coronariana aguda nesses ou qualquer outra doença cardiovascular aguda, mesmo que o
pacientes é de cerca de 5%.. ECG inicial tenha sido normal, ou a qualquer momento em caso
Diversos estudos têm demonstrado que a sensibilidade do de recorrência da dor torácica ou surgimento de instabilidade
ECG de admissão para infarto agudo do miocárdio varia de 45% a clínica (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência B e D);
60% quando se utiliza o supradesnível do segmento ST como cri-

131
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
3) Devido à sua baixa sensibilidade para o diagnóstico de apontam para a necessidade de uma avaliação por pelo menos
síndrome coronariana aguda, o ECG nunca deve ser o único exa- 9h para confirmar ou afastar o diagnóstico de IAM nestes pa-
me complementar utilizado para confirmar ou afastar o diag- cientes. A especificidade da CK-MB de 95% decorre de alguns
nóstico da doença, necessitando de outros testes simultâneos, resultados falso-positivos encontrados principalmente quando a
como marcadores de necrose miocárdica, monitor do segmento metodologia é a da atividade da CK-MB e não da massa.
ST, ecocardiograma e testes de estresse (Grau de Recomenda-
ção I, Nível de Evidência B e D); Troponina - As troponinas cardíacas são proteínas do com-
4) Se disponível, o monitor de tendência do segmento ST plexo miofibrilar encontradas somente no músculo cardíaco.
deve ser utilizado, simultaneamente, ao ECG em pacientes com Devido à sua alta sensibilidade, discretas elevações são compa-
dor torácica e suspeita clínica de síndrome coronariana aguda tíveis com pequenos (micro) infartos, mesmo em ausência de
sem supradesnível do segmento ST para fins diagnóstico e prog- elevação da CK-MB. Por este motivo tem-se recomendado que
nóstico (Grau de Recomendação I , Nível de Evidência B); as troponinas sejam atualmente consideradas como o marcador
5) Para pacientes com IAM com supradesnível do segmen- padrão-ouro para o diagnóstico de IAM. Entretanto, é preciso
to ST que tenham recebido terapia de reperfusão coronariana frisar que a troponina miocárdica pode ser também liberada em
o monitor do segmento ST poderá ser utilizado para detectar situações clínicas não-isquêmicas, que causam necrose do mús-
precocemente a ocorrência de recanalização ou o fenômeno de culo cardíaco, como miocardites, cardioversão elétrica e trauma
reoclusão coronariana (Grau de Recomendação IIb, Nível de Evi- cardíaco. Além disso, as troponinas podem se elevar em doenças
dência não-cardíacas, tais como as miosites, a embolia pulmonar e a
insuficiência renal.
Papel diagnóstico e prognóstico dos marcadores de necro- A técnica mais apropriada para a dosagem quantitativa
se miocárdica das troponinas cardíacas é o imunoensaio enzimático (método
Os marcadores de necrose miocárdica têm um papel impor- ELISA) mas técnicas qualitativas rápidas usadas à beira do leito
tante não só no diagnóstico como também no prognóstico da também têm sido utilizadas com boa acurácia diagnóstica.
síndrome coronariana aguda. A sensibilidade global das troponinas para o diagnóstico de
Mioglobina - Esta é uma proteína encontrada tanto no mús- IAM depende do tipo de paciente estudado e da sua probabili-
culo cardíaco como no esquelético, que se eleva precocemente dade pré-teste de doença, da duração do episódio doloroso e
após necrose miocárdica, podendo ser detectada no sangue de do ponto de corte de anormalidade do nível sérico estipulado,
vários pacientes, já na primeira hora pós-oclusão coronariana. variando de 85 a 99%.
A mioglobina tem uma sensibilidade diagnóstica para o IAM Como as troponinas são os marcadores de necrose miocár-
significativamente maior, que a da creatinofosfoquinase-MB dica mais lentos para se elevarem após a oclusão coronariana,
(CK-MB) nos pacientes que procuram a sala de emergência com sua sensibilidade na admissão é muito baixa (20-40%), aumen-
menos de 4h de início dos sintomas. Estudos têm demonstrado tando lenta e progressivamente nas próximas 12h. Sua especifi-
uma sensibilidade para a mioglobina de 60-80% imediatamente cidade global varia de 85 a 95%, e o seu valor preditivo positivo
após a chegada do paciente ao hospital 60-62. Sua relativamente de 75 a 95%. Os resultados falso-positivos encontrados nesses
baixa especificidade (80%), resultante da alta taxa de resultados estudos decorrem da não classificação de angina instável de alto
falso-positivos, encontrados em pacientes com trauma muscu- risco, como IAM, de níveis de corte inapropriadamente baixos e
lar, convulsões, cardioversão elétrica ou insuficiência renal crô- de outras doenças que afetam sua liberação e/ou metabolismo.
nica, limitam o seu uso isoladamente. Entretanto, um resultado Devido à baixa sensibilidade das troponinas nas primeiras horas
positivo obtido 3-4h após a chegada ao hospital sugere forte- do infarto, o seu valor preditivo negativo na chegada ao hospital
mente o diagnóstico de IAM (valor preditivo positivo ³ 95%). Da também é baixo (50-80%), não permitindo que se afaste o diag-
mesma forma, um resultado negativo obtido 3-4h após a che- nóstico na admissão.
gada torna improvável o diagnóstico de infarto (valor preditivo Além da sua importância diagnóstica, as troponinas tem sido
negativo ³ 90%), principalmente em paciente com baixa proba- identificadas como um forte marcador de prognóstico imediato
bilidade pré-teste de doença (valor preditivo negativo ³ 95%). e tardio em pacientes com síndrome coronariana aguda sem su-
pradesnível do segmento ST. Esta estratificação de risco tem im-
Creatinofosfoquinase-MB (CK-MB) - A creatinofosfoquina- portância também para definir estratégias terapêuticas médicas
se é uma enzima que catalisa a formação de moléculas de alta e/ou intervencionistas mais agressivas a serem utilizadas nestes
energia e, por isso, encontrada em tecidos que as consomem pacientes. A baixa sensibilidade diagnóstica da troponina obtida
(músculos cardíaco e esquelético e tecido nervoso). nas primeiras horas também não permite a avaliação do risco
A sensibilidade de uma única CK-MB obtida imediatamente destes pacientes na admissão hospitalar, além do que resulta-
na chegada ao hospital em pacientes com dor torácica para o dos negativos não excluem a ocorrência de eventos imediatos.
diagnóstico de IAM é baixa (30-50%). Já a sua utilização dentro
das primeiras 3h de admissão aumenta esta sensibilidade para Assim sendo, esta diretriz recomenda:
cerca de 80 a 85%, alcançando 100% quando utilizada de forma 1) Marcadores bioquímicos de necrose miocárdica devem
seriada, a cada 3-4h, desde a admissão até a 9ª hora (ou 12h ser mensurados em todos os pacientes com suspeita clínica
após o início da oclusão coronariana) 17,63-66. de síndrome coronariana aguda, obtidos na admissão à sala
Da mesma forma, o valor preditivo negativo da CK-MB obti- de emergência ou à Unidade de Dor Torácica e repetidos, pelo
da até a 3ª hora pós-admissão ainda é sub-ótimo (95%), apesar menos, uma vez nas próximas 6 a 9h (Grau de Recomendação
de subgrupos de pacientes com baixa probabilidade de IAM já Classe I e Nível de Evidência B e D). Pacientes com dor torácica
terem este valor preditivo ³ 97% neste momento 16,17,66. Pa- e baixa probabilidade de doença podem ter o seu período de
cientes com média e alta probabilidade só alcançam 100% de investigação dos marcadores séricos reduzido a 3h (Grau de Re-
valor preditivo negativo ao redor da 9 à 12ª hora. Estes dados comendação IIa, Nível de Evidência B);

132
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
2) CK-MB massa e/ou troponinas são os marcadores bio- Além da sua importância na exclusão de doença corona-
químicos de escolha para o diagnóstico definitivo de necrose riana, o principal papel do teste ergométrico é estabelecer o
miocárdica nesses pacientes (Grau de Recomendação I, Nível de prognóstico dos pacientes onde diagnósticos de IAM e angina
Evidência B e D); instável de alto risco já foram afastados durante a investigação
3) Embora a elevação de apenas um dos marcadores de na Unidade de Dor Torácica. A sensibilidade e a especificidade
necrose citado seja suficiente para o diagnóstico de IAM, pelo do teste positivo ou inconclusivo para eventos cardíacos está
menos dois marcadores devem ser utilizados no processo inves- em torno de 75%, sendo que estes resultados identificam um
tigativo: um marcador precoce (com melhor sensibilidade nas subgrupo de pacientes com maior risco de IAM, necessida-
primeiras 6h após o início da dor torácica, como é o caso da de de revascularização miocárdica e de readmissão hospitalar
mioglobina ou da CK-MB) e um marcador definitivo tardio (com 5,50,88,89. O valor preditivo negativo do teste para eventos
alta sensibilidade e especificidade global, a ser medido após 6h _ também é elevadíssimo (³ 98%).
como é o caso da CK-MB ou das troponinas) (Grau de Recomen-
dação I, Nível de Evidência B e D); Embora o uso do teste ergométrico possa abreviar o tempo
4) Idealmente, a CK-MB deve ser determinada pelo método de hospitalização de pacientes com dor torácica ao identificar
que mede sua massa (e não a atividade) enquanto a troponina aqueles de baixo risco (ausência de isquemia miocárdica) a rela-
deve ser pelo método quantitativo imunoenzimático (e não qua- tivamente alta taxa de resultados falso-positivos nesta popula-
litativo) (Grau de Recomendação IIa, Nível de Evidência B e D); ção pode levar à realização de outros exames para confirmar a
5) As amostras de sangue devem ser referenciadas em re- positividade, encarecendo o processo diagnóstico.
lação ao momento da chegada do paciente ao hospital e, ideal-
mente, ao momento do início da dor torácica (Grau de Reco- Cintilografia miocárdica de repouso - A cintilografia de per-
mendação I, Nível de Evidência D); fusão miocárdica de repouso, realizada imediatamente após a
6) O resultado de cada dosagem dos marcadores de necrose chegada à sala de emergência, também tem se mostrado uma
miocárdica deve estar disponível e ser comunicado ao médico ferramenta importante na avaliação dos pacientes com dor to-
do paciente poucas horas após a colheita do sangue para que rácica e ECG não-diagnóstico, com sensibilidade variando entre
sejam tomadas as medidas clínicas cabíveis (Grau de Recomen- 90 e 100% e especificidade entre 65 e 80% para IAM. Uma cinti-
dação I, Nível de Evidência B e D); lografia de repouso negativa praticamente exclui este diagnós-
7) Em pacientes com dor torácica e supradesnivelamento do tico nestes pacientes com baixa probabilidade de doença (valor
segmento ST na admissão a coleta de marcadores de necrose preditivo negativo ³ 98%).
miocárdica é desnecessária para fins de tomada de decisão tera- Além da excelente acurácia diagnóstica a cintilografia for-
pêutica (p. ex., quando se vai utilizar fibrinolítico ou não) (Grau nece importantes informações prognósticas. Aqueles pacientes
de Recomendação I, Nível de Evidência B). com perfusão miocárdica normal apresentam baixíssima proba-
bilidade de desenvolvimento de eventos cardíacos sérios nos
O papel de outros métodos diagnósticos e prognósticos próximos meses 45,91.
Os métodos diagnósticos acessórios, disponíveis nas salas A larga utilização da cintilografia miocárdica imediata de re-
de emergência para a avaliação de pacientes com dor torácica, pouso é limitada pela indisponibilidade do método nas salas de
são o teste ergométrico, a cintilografia miocárdica e o ecocar- emergência, pela demora na sua realização após um episódio de
diograma. Estes testes são usados com finalidade diagnóstica - dor torácica e pelos seus custos. Entretanto, alguns grupos têm
para identificar os pacientes que ainda não têm seu diagnóstico preconizado a realização do exame para pacientes com média
estabelecido na admissão ou que tiveram investigação negativa ou baixa probabilidade de IAM, já que um exame negativo pra-
para necrose e isquemia miocárdica de repouso, mas que po- ticamente afasta este diagnóstico 45,93, permitindo a liberação
dem ter isquemia sob estresse - e também prognóstica. imediata destes pacientes com conseqüente redução dos custos
Os protocolos ou algoritmos que recomendam o uso de hospitalares 94,95.
métodos de estresse precocemente, antes da alta hospitalar, o
fazem para um subgrupo de pacientes com dor torácica consi- Ecocardiograma - O papel do ecocardiograma de repouso na
derados de baixo a moderado risco. A seleção destes pacientes avaliação de pacientes na sala de emergência com dor torácica
baseia-se na inexistência de dor recorrente, na ausência de alte- se alicerça em poucos estudos publicados. Para o diagnóstico
rações eletrocardiográficas e de elevação de marcadores de ne- de IAM a sensibilidade varia de 70 a 95%, mas a grande taxa de
crose miocárdica à admissão e durante o período de observação. resultados falso-positivos torna o valor preditivo positivo baixo.
Teste ergométrico - No modelo das Unidades de Dor Torá- Já o valor preditivo negativo varia de 85 a 95%.
cica o teste ergométrico tem sido o mais recomendado e utili- Quando se busca também o diagnóstico de angina instável
zado devido a seu baixo custo e sua ampla disponibilidade nos (além de infarto) em pacientes com dor torácica e ECG inconclu-
hospitais, quando comparado aos outros métodos. Além disso, a sivo, a sensibilidade do ecocardiograma passa a variar de 40 a
segurança do exame é muito boa quando realizado em uma po- 90%, sendo que o valor preditivo negativo fica entre 50 e 99%.
pulação de pacientes clinicamente estáveis e de baixo a mode- Nesses pacientes, um ecocardiograma normal não parece agre-
rado risco, apresentando baixíssima taxa de complicações. Um gar informações diagnósticas significativas, além daquelas já
grupo tem inclusive preconizado o seu uso já na primeira hora fornecidas pela história e ECG.
após a chegada ao hospital em pacientes com baixa probabilida- Estudos sobre a utilização do ecocardiograma de estresse
de de doença coronariana, até mesmo sem a avaliação prévia de com dobutamina na avaliação de uma população heterogênea
marcadores bioquímicos de necrose miocárdica 86. Para estes com dor torácica ainda são pequenos e escassos. Sua sensibi-
pacientes a sensibilidade do teste para diagnóstico de doença é lidade para o diagnóstico de doença coronariana ou isquemia
pequena (baixa probabilidade pré-teste) mas o valor preditivo miocárdica detectada por outros métodos é de 90%, com especi-
negativo é elevadíssimo (³ 98%). ficidade variando de 80 a 90% e valor preditivo negativo de 98%.

133
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Para fins prognósticos, a sensibilidade do teste para a ocorrência visualizar o trombo na artéria pulmonar, é capaz de estabelecer
de eventos cardíacos tardios em pacientes com dor torácica va- o diagnóstico. Sua sensibilidade nesta situação é de 80% para
ria de 40 a 90%, mas o valor preditivo negativo é excelente (97%) pacientes com trombo localizado em tronco da artéria pulmo-
101,102, conferindo segurança ao médico emergencista em dis- nar e/ou seu ramo direito, com especificidade de 100% 105. É
pensar a realização de outros testes e liberar imediatamente o considerado o método de escolha para a avaliação inicial dos
paciente para casa. pacientes hemodinamicamente instáveis.
A cintilografia pulmonar de ventilação e perfusão é o mé-
Deste modo, recomenda-se: todo não-invasivo, classicamente utilizado para a estratificação
1) Nos pacientes com dor torácica inicialmente suspeita de da probabilidade de embolia pulmonar ao analisar o número
etiologia isquêmica, que foram avaliados na sala de emergên- de segmentos pulmonares acometidos, permitindo classificar a
cia e nos quais já se excluem as possibilidades de necrose e de probabilidade de doença em ausente (normal), baixa, média ou
isquemia miocárdica de repouso, um teste diagnóstico pré-alta alta 106. Pacientes com alta probabilidade à cintilografia e alta
deverá ser realizado para afastar ou confirmar a existência de suspeita clínica devem ser tratados como tendo embolia pulmo-
isquemia miocárdica esforço-induzida (Grau de Recomendação nar, pois essa associação apresenta uma sensibilidade de 96%. A
I, Nível de Evidência B e D); cintilografia normal praticamente afasta o diagnóstico de embo-
2) Por ser um exame de ampla disponibilidade, fácil execu- lia pulmonar em face de seu valor preditivo negativo ser muito
ção seguro e de baixo custo, o teste ergométrico é o método de alto (pouquíssimos casos falso-negativos). O grupo de pacientes
estresse de escolha para fins diagnóstico e/ou prognóstico em com baixa e intermediária probabilidade necessita da realização
pacientes com dor torácica e com baixa/média probabilidade de de outro método de imagem para definição do diagnóstico.
doença coronária (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência A angiotomografia computadorizada do tórax tem mostrado
B e D); boa acurácia diagnóstica para a embolia pulmonar, com sensibi-
3) O ecocardiograma de estresse ou a cintilografia de es- lidade de 90% e especificidade de 80% 107. Entretanto, o méto-
tresse poderá ser realizado em pacientes nos quais o teste ergo- do não apresenta boa acurácia diagnóstica, quando a embolia
métrico foi inconclusivo ou quando não se pôde realizá-lo (inca- acomete somente vasos pulmonares de menor diâmetro (sub-
pacidade motora, distúrbios da condução no ECG, etc) (Grau de segmentares).
Recomendação I, Nível de Evidência B e D); Apesar dos recentes avanços no diagnóstico da embolia
pulmonar, a arteriografia pulmonar permanece como método
4) A cintilografia miocárdica imediata de repouso poderá padrão-ouro; entretanto, sua indicação deve ser reservada para
ser realizada em pacientes com dor torácica com baixa proba- pacientes cujos testes diagnósticos não-invasivos foram incon-
bilidade de doença coronariana com o objetivo de identificar clusivos 106. O exame permite uma adequada visualização das
ou afastar IAM, sendo que aqueles com teste negativo poderão artérias pulmonares e seus ramos, apresentando baixa taxa de
ser liberados para casa sem necessidade de dosagem seriada de morbimortalidade, e é custo-eficiente quando outras estraté-
marcadores bioquímicos de necrose miocárdica (Grau de Reco- gias diagnósticas não conseguem definir a suspeita clínica.
mendação IIa, Nível de Evidência B). Desta forma, recomendações para a realização de métodos
de imagem para o diagnóstico da embolia pulmonar são:
O papel dos métodos de imagem na dor torácica de origem 1) A radiografia de tórax deve ser solicitada a todos os pa-
não-coronariana cientes com suspeita clínica de embolia pulmonar.
Esta Diretriz somente contemplará a embolia pulmonar e 2) O ecocardiograma transtorácico deve ser solicitado a to-
a dissecção aguda da aorta no diagnóstico da dor torácica de dos os pacientes com suspeita clínica com os objetivos de avalia-
origem não-coronariana devido às suas elevadas mortalidades, ção da função do ventrículo direito e para a possível visualização
apesar da baixíssima incidência em pacientes com dor torácica do trombo.
na sala de emergência. 3) Os pacientes clinicamente estáveis podem ser submeti-
3.5.1 Embolia pulmonar - Em virtude das múltiplas formas dos à cintilografia pulmonar de ventilação/perfusão, tomografia
de apresentação clínica da embolia pulmonar, da variabilidade computadorizada ou ressonância magnética para definição diag-
da acurácia diagnóstica dos vários métodos de imagem (de acor- nóstica, na dependência da sua disponibilidade na instituição.
do com a forma de apresentação) e da complexidade de rea- 4) Nos pacientes clinicamente instáveis, particularmente
lização da arteriografia pulmonar (método padrão-ouro), esta naqueles em suporte ventilatório mecânico, o ecocardiograma
diretriz não classificará os graus de recomendação e seus res- transesofágico deve ser realizado em face de sua alta acurá-
pectivos níveis de evidência para a realização destes métodos. cia diagnóstica, principalmente naqueles cuja possibilidade de
As alterações radiológicas mais frequentemente encontra- trombo central é elevada.
das na embolia pulmonar são as áreas de atelectasia, a elevação 5) A tomografia computadorizada e a ressonância magnéti-
da hemicúpula diafragmática, o derrame pleural e a dilatação ca são utilizados preferencialmente em pacientes estáveis, ha-
do tronco e dos ramos da artéria pulmonar. Áreas de hipofluxo vendo limitação diagnóstica para trombos localizados nos ramos
pulmonar segmentar (sinal de Westmark) e infiltrado pulmonar subsegmentares.
de forma triangular com a base voltada para a pleura (sinal de 6) A indicação de arteriografia pulmonar fica reservada para
Hampton) são os achados mais específicos da embolia pulmonar pacientes com alta suspeita clínica onde os métodos diagnósti-
mas, infelizmente, são pouco sensíveis. cos não-invasivos foram inconclusivos.
A ecocardiografia pode contribuir com importantes infor-
mações na suspeita de embolia pulmonar 105. O ecocardiogra- Estas estratégias, excetuando-se a radiografia de tórax, vi-
ma transtorácico informa o tamanho das cavidades cardíacas, sam exclusivamente à confirmação da existência de trombo na
a função ventricular direita e esquerda, e a presença de hiper- circulação pulmonar, não se contemplando nesta diretriz os mé-
tensão pulmonar. O ecocardiograma transesofágico, ao permitir todos indiretos, como o Doppler venoso de membros inferiores,

134
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
a dosagem do D-dímero e a gasometria arterial. Uma abordagem Assim, recomenda-se para pacientes com suspeita clínica de
diagnóstica mais abrangente de embolia pulmonar poderá ser dissecção aguda da aorta e que estejam estáveis o uso da angio-
encontrada na diretriz da SBC sobre este tema. tomografia computadorizada helicoidal ou da angiorressonância
Dissecção aguda da aorta - Quando há suspeita clínica de magnética como o exame padrão-ouro (Grau de Recomendação
dissecção aguda da aorta a confirmação diagnóstica deve ser rá- I, Nível de Evidência C e D). Para pacientes instáveis recomenda-
pida e precisa já que a doença tem elevada mortalidade imedia- -se o uso do ecocardiograma transesofágico (Grau de Recomen-
ta e o tratamento definitivo é, geralmente, cirúrgico. A decisão dação I, Nível de Evidência C e D).
de utilização de um determinado método de imagem na dissec-
ção aguda da aorta deve ser baseada não só na sua acurácia Árvores neurais e fluxogramas diagnósticos
diagnóstica mas também na sua disponibilidade imediata e na Algoritmos diagnósticos computadorizados, modelos mate-
experiência dos emergencistas e ecocardiografistas/radiologis- máticos probabilísticos usando regressão logística, árvores de
tas com este(s) método(s). decisão clínica e redes neurais são metodologias atualmente
O alargamento do mediastino superior é o achado mais fre- disponíveis aos médicos e que têm aumentado a sensibilidade
qüentemente encontrado na radiografia de tórax (60 a 90% dos e a especificidade diagnóstica na avaliação de pacientes que se
casos). No entanto é importante frisar que a normalidade deste apresentam na sala de emergência com dor torácica. Alguns des-
exame não exclui o diagnóstico de dissecção aórtica (valor pre- ses instrumentos têm sido validados prospectivamente, mos-
ditivo negativo de 88%). trando uma redução nas internações nas unidades coronarianas
A aortografia já foi considerada como método padrão-ouro de até 30%. Por outro lado, trabalhos indicam que programas
para confirmação do diagnóstico da dissecção aguda da aorta. computadorizados validados retrospectivamente se comparam,
Com o aparecimento dos métodos de imagem não-invasivos, quando aplicados prospectivamente, à alta sensibilidade e espe-
como a ecocardiografia transtorácica e transesofágica, a angio- cificidade dos médicos 122.
tomografia e a angiorressonância de tórax, a estratégia diagnós- Além disso, sistematizações das condutas médicas (protoco-
tica desta doença vem mudando. Com eles procuramos confir- los assistenciais), sejam elas diagnósticas ou terapêuticas, quan-
mar o diagnóstico, classificar o tipo da dissecção, diferenciar a do aplicadas de maneira lógica e coerente, em casos previamen-
verdadeira e a falsa luz aórtica, localizar os sítios de entrada e te definidos, resultam num poderoso e eficiente instrumento de
reentrada, distinguir dissecção comunicante e não-comunican- otimização da qualidade e da relação custo-benefício.
te, avaliar o envolvimento dos ramos aórticos, detectar e gra- Esta diretriz apresenta os principais modelos diagnósticos
duar a regurgitação valvar aórtica, e avaliar a existência de ex- preconizados para pacientes com dor torácica na sala de emer-
travasamento sanguíneo para pericárdio, pleura, mediastino e gência e que podem ser utilizados de acordo com a sua adequa-
estruturas peri-aórticas. ção às características assistenciais de cada instituição.
A utilização do ecocardiograma transtorácico para o diag- O modelo Heart ER do Centro Médico da Universidade de
nóstico da dissecção aguda da aorta está limitada pela sua baixa Cincinnati é utilizado para pacientes com dor torácica conside-
sensibilidade (60%) e especificidade (70%). Devido à alta taxa rados de baixa a média probabilidade de síndrome coronariana
de resultados falso-positivos e falso-negativos, este método aguda (dor suspeita e ECG não-diagnóstico). A avaliação diag-
não é utilizado para estabelecer o diagnóstico final, apesar de nóstica consiste na realização de cintilografia miocárdica ime-
informar acuradamente a presença de insuficiência aórtica e a diata de repouso com SESTAMIBI naqueles pacientes em que a
função sistólica do ventrículo esquerdo. O ecocardiograma tran- dor ainda esteja presente e haja condição de se administrar o
sesofágico mostra sensibilidade de 99%, especificidade de 90%, fármaco radionúcleo imediatamente na sala de emergência. Se
valor preditivo positivo de 90% e negativo de 99%, entretanto o mapeamento no laboratório de medicina nuclear for negati-
seu uso é limitado pela dificuldade de visualização de pequenos vo para isquemia miocárdica, o paciente é liberado para casa
segmentos de dissecção na parte distal da aorta ascendente e na sem mesmo realizar dosagens seriadas dos marcadores de ne-
porção anterior do arco aórtico. crose miocárdica. Se o resultado for positivo, o paciente é hos-
A angiotomografia computadorizada helicoidal possui sen- pitalizado e tratado apropriadamente. Se o exame cintilográfico
sibilidade > 90% e especificidade > 85%. Determina a extensão, não puder ser realizado, o paciente é investigado na Unidade
localização e envolvimento dos ramos arteriais na dissecção aór- de Dor Torácica através da determinação de níveis plasmáticos
tica. Tem como limitações a impossibilidade de detectar o en- de CK-MB e de troponina I obtidos na chegada, na 3ª e 6ª ho-
volvimento das artérias coronárias pela dissecção, além de não ras seguintes, enquanto o paciente é mantido sob monitoriza-
poder ser utilizada em pacientes com intolerância ao contraste ção eletrocardiográfica contínua da tendência do segmento ST.
iodado. Teste ergométrico ou cintilografia miocárdica de esforço com
A angiorressonância tem alta acurácia diagnóstica para de- SESTAMIBI são realizados naqueles sem evidência de necrose ou
tecção de todas as formas de dissecção aórtica, com sensibilida- isquemia miocárdica persistente (fig. 2).
de e especificidade em torno de 100%. Seu uso é limitado pela
presença de instabilidade hemodinâmica e agitação psicomoto-
ra devido ao tempo prolongado para aquisição de imagens.
A aortografia, apesar de ter sido considerada classicamente
como o método padrão-ouro para diagnosticar dissecção aór-
tica, com especificidade > 95%, tem sido menos utilizada nos
últimos anos em virtude dos novos métodos não-invasivos apre-
sentarem maior sensibilidade para o diagnóstico definitivo.
Atualmente, com a tendência de utilização das endopróteses
vasculares na fase aguda da dissecção, sua importância diagnós-
tica está sendo reavaliada.

135
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

O modelo sistematizado de atendimento de pacientes com dor torácica da Clínica Mayo 124 classifica inicialmente os pacientes
em subgrupos de probabilidade baixa, moderada e alta para doença coronariana aguda, de acordo com as diretrizes da Agency of
Health Care Policy Research (AHC PR) 125. Os pacientes de risco moderado são avaliados através de dosagens de CK-MB na chegada,
2 e 4h depois, enquanto são submetidos à monitorização contínua do segmento ST e ficam em observação durante 6h na Unidade
de Dor Torácica. Se a avaliação resultar negativa, é realizado teste ergométrico, cintilografia de estresse ou ecocardiograma de
estresse. Pacientes com resultado positivo ou inconclusivo são internados, enquanto os que têm avaliação negativa são liberados
para a residência com acompanhamento em 72h (fig. 3).

136
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

O modelo diagnóstico da Faculdade de Medicina da Virgínia estratifica inicialmente os pacientes com dor torácica na sala de
emergência em cinco níveis distintos de risco. Os pacientes do nível 1 apresentam elevadíssima probabilidade de IAM pelo critério
do ECG, ao passo que os do nível 5 têm desconforto no peito de origem nitidamente não-cardíaca. Os pacientes dos níveis 2, 3 e 4
correspondem aos de probabilidade pré-teste de doença alto, médio e baixo, respectivamente. Pacientes com alta probabilidade
de angina instável ou baixa probabilidade de IAM (nível 3) passam por dosagens seriadas de biomarcadores de necrose miocárdica
ou são submetidos a uma cintilografia miocárdica imediata de repouso com SESTAMIBI. Pacientes com média ou baixa probabili-
dade de angina instável (nível 4) são submetidos somente à cintilografia imediata de repouso que, se negativa, determina a alta do
paciente para casa (fig. 4).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

O modelo diagnóstico do Hospital Pró-Cardíaco usado em sua Unidade de Dor Torácica estratifica a probabilidade pré-teste
de síndrome coronariana aguda de acordo com o tipo de dor torácica e o ECG de admissão. A dor é classificada em 4 tipos: defini-
tivamente e provavelmente anginosa, e provavelmente e definitivamente não-anginosa. Além disso, para pacientes com bloqueio
de ramo esquerdo no ECG, procura-se avaliar se a dor tem ou não características de IAM. A classificação do tipo de dor teve uma
sensibilidade e um valor preditivo negativo para IAM de 94% e 97%, respectivamente, valores estes significativamente melhores
que os do ECG (49% e 86%, respectivamente). A associação do tipo de dor torácica e do ECG de admissão permite a estratificação
da probabilidade pré-teste de síndrome coronariana aguda e a alocação dos pacientes em diferentes rotas diagnósticas (fig. 5). En-
quanto os da rota 1 têm elevadíssima probabilidade de IAM (75%) os da rota 5 têm dor não-cardíaca e são liberados. Os pacientes
das rotas 2 e 3 têm probabilidade de síndrome coronariana aguda de 60% e 10%, respectivamente 15 e são avaliados com dosagens
de CK-MB seriadas e de troponina I: na rota 2, por 9h; na rota 3, por 3h. O teste ergométrico é o método de estresse utilizado para
avaliação de pacientes sem evidência de necrose miocárdica ou isquemia de repouso.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

A árvore neural de Goldman é um algoritmo diagnóstico criado para identificar pacientes com IAM utilizando características da
dor torácica e do ECG, que estratifica os pacientes em probabilidades de doença (variando de 1% a 77%) e apresenta sensibilidade e
especificidade de 90% e 50-95%, respectivamente, com um valor preditivo negativo > 98%, quando se aplica um ponto de corte de
7% na probabilidade do paciente ter ou não IAM. Entretanto, o modelo não faz recomendações quanto às estratégias diagnósticas
a serem utilizadas nos diversos subgrupos probabilísticos de doença.
Todos estes protocolos ou modelos diagnósticos e de sistematização estratégica trazem um grande benefício para a prática mé-
dica emergencial no manejo de pacientes com dor torácica, devendo por isso serem implantados em todas as salas de emergência,
com ou sem Unidades de Dor Torácica (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência
A escolha do modelo a ser utilizado dependerá das características funcionais de cada instituição.

Tratamento

Tratamento inicial da síndrome coronariana aguda


A abordagem do paciente com suspeita de síndrome coronariana aguda (SCA) na sala de emergência inicia-se pela rápida ava-
liação das características da dor torácica e de outros sintomas concomitantes, pelo exame físico e pela imediata realização do ECG
(em 5-10min após a chegada ao hospital).
Se o paciente estiver em vigência de dor e o ECG evidenciar supradesnível do segmento ST deve-se iniciar imediatamente um
dos processos de recanalização coronariana: trombolítico ou angioplastia primária. Se o ECG não evidenciar supradesnível do seg-
mento ST mas apresentar alguma alteração compatível com isquemia miocárdica iniciamos o tratamento anti-isquêmico usual e
estratificamos o risco de complicações, que orientará o tratamento adequado a seguir.
Se o ECG for normal ou inespecífico, mas a dor torácica for sugestiva ou suspeita de isquemia miocárdica, o tratamento anti-
-isquêmico pode ser iniciado ou então protelado (principalmente se a dor não mais estiver presente na admissão), mas o uso de
aspirina está indicado.
O tratamento inicial tem como objetivo agir sobre os processos fisiopatológicos que ocorrem na SCA e suas conseqüências, e
compreende:
1) contenção ou controle da isquemia miocárdica;
2) recanalização coronariana e controle do processo aterotrombótico.

Esta diretriz somente abordará os primeiros passos terapêuticos a serem tomados na sala de emergência. Para condutas se-
guintes, realizadas geralmente na unidade coronariana, o leitor deve se dirigir à diretriz de IAM ou de síndrome coronariana aguda
da SBC.

Contenção ou controle da isquemia miocárdica


Oxigenioterapia - Pacientes com SCA em vigência de dor ou sintomas e sinais de insuficiência respiratória devem receber oxigê-
nio suplementar, principalmente se medidas objetivas da saturação de O2(oximetria de pulso ou gasometria arterial) forem < 90%
129-133. (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência C e D).

139
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Analgesia e sedação - Para o controle da dor (se a mesma já Recanalização coronária e controle do processo aterotrom-
não foi aliviada com o uso de nitrato sublingual ou endovenoso) bótico
e sedação utiliza-se o sulfato de morfina EV na dose de 1 a 5mg, Fibrinolíticos - Pacientes com dor torácica prolongada su-
podendo-se repetir 5-30min após se não houver alívio (Grau de gestiva de isquemia miocárdica aguda e que apresentam supra-
Recomendação I, Nível de Evidência C e D). desnível do segmento ST no ECG (ou um padrão de bloqueio de
Nitratos - O uso dos nitratos baseia-se não só no seu me- ramo esquerdo) são candidatos à terapia de recanalização coro-
canismo de ação e experiência clínica mas também numa me- nariana visto que mais de 75% desses pacientes têm IAM e mais
ta-análise de 22 estudos (incluindo o ISIS-4 e o GISSI-3) que de 85% têm oclusão de uma artéria coronária.
demonstrou uma redução significativa de 5,5% na mortalidade Diversos estudos já demonstraram que quanto mais pre-
hospitalar. Existem poucos e pequenos estudos clínicos compro- cocemente a terapêutica fibrinolítica é iniciada em relação ao
vando seu benefício no alívio dos sintomas. (Grau de Recomen- início da dor (e, conseqüentemente, do fenômeno oclusivo coro-
dação I, Nível de Evidência A e D). nariano) maiores são os benefícios em relação à taxa de recana-
A dose é de 5mg do dinitrato de isossorbida por via SL, po- lização, de preservação do miocárdio agudamente isquêmico, de
dendo ser repetido 5-10min após se não houver alívio da dor, redução de mortalidade hospitalar e tardia, e de complicações
até o máximo de 15mg. Para a nitroglicerina, pode-se utilizar intra-hospitalares. Pacientes tratados dentro da 1ª hora obtêm
o spray nasal, ou a via parenteral na dose de 10 a até 200 mi- uma redução da mortalidade hospitalar ao redor de 50%.
crogramas/min em infusão contínua EV, ajustando-se a mesma Na sala de emergência os pacientes devem ser rapidamen-
a cada 5-10min de acordo com a pressão arterial. Para o mo- te avaliados quanto aos critérios de inclusão e exclusão para o
nonitrato de isossorbida a dose é de 2,5 mg/kg/dia em infusão uso de fibrinolíticos, principalmente os relacionados às compli-
contínua. cações hemorrágicas atribuídas às drogas. Pacientes com mais
de 12h de início da dor ininterrupta geralmente não se benefi-
Betabloqueadores - Existem alguns grandes ensaios clíni- ciam do uso de fibrinolíticos. O tratamento deve ser iniciado na
cos randomizados que demonstraram o benefício da utilização própria sala de emergência (Grau de Recomendação I, Nível de
imediata dos betabloqueadores no IAM com supradesnível do Evidência A e D).
segmento ST (redução de mortalidade imediata e tardia, de rein- A droga de escolha (pela maior rapidez de ação e mais ele-
farto e de isquemia recorrente) 138-140. São utilizados na SCA vada taxa de recanalização) é o rt-PA, usada na dose de 15mg EV
sem supradesnível do segmento ST baseados em pequenos es- em bolus seguida de infusão inicial de 0,75mg/kg (máximo de
tudos e numa meta-análise. (Grau de Recomendação IIa, Nível 50mg) durante 30min, e de outra infusão de 0,50mg/kg (máximo
de Evidência A e D). de 35mg) durante 60min. Heparinização plena concomitante é
Os betabloqueadores não podem ser utilizados em pacien- necessário por 48h. A outra droga disponível é a estreptoquina-
tes com sinais e/ou sintomas de insuficiência ventricular esquer- se, administrada na dose de 1,5 milhão de unidades em infusão
da (mesmo incipiente), com bloqueio AV, com broncoespasmo EV durante 30 a 60min, não requerendo uso concomitante de
ou história de asma brônquica. heparina.
Metoprolol é dado na dose de 5mg EV em 1 a 2min e repeti- Angioplastia coronariana percutânea primária - Com o aper-
do, se necessário, a cada 5min até completar 15mg (objetivando feiçoamento da técnica e dos stents coronarianos, não parece
alcançar uma frequência cardíaca 60), passando-se a seguir para haver maiores dúvidas de que a angioplastia coronariana per-
a dose oral de 25 a 50mg de 12/12h. O atenolol é administrado cutânea é o método de eleição para a recanalização coronariana
na dose de 5mg EV e repetido em 5min (completando 10mg), em pacientes com IAM com supradesnível do segmento ST, des-
seguido da dose oral de 50-100mg/dia. Quando administrado de que o procedimento possa ser realizado dentro dos primeiros
por via EV é imprescindível uma cuidadosa monitorização da 60 a 90min após a chegada do paciente à sala de emergência
freqüência cardíaca, pressão arterial, ausculta pulmonar e ECG. e por uma equipe experiente 129,155. Fator tempo que deve
ser cuidadosamente considerado pelo médico emergencista na
Antagonistas dos canais de cálcio - Os benzotiazepíni- tomada de decisão quanto ao uso de uma estratégia alternativa
cos (diltiazem) parecem ter um efeito benéfico no IAM com e de recanalização coronariana (fibrinolíticos) na eventualidade
sem supradesnível do segmento ST e sem insuficiência cardía- da indisponibilidade ou inexistência do laboratório de cateteris-
ca (redução de mortalidade e reinfarto) e na angina instável, mo cardíaco em seu hospital (Grau de Recomendação I e Nível
o mesmo se observando com as fenilalquilaminas (verapamil) de Evidência A e D).
145,147,151,152. Já os dihidropiridínicos (nifedipina, amlodipi- Para pacientes com SCA sem supradesnível de ST uma con-
na) só podem ser utilizados concomitantemente com os beta- duta invasiva imediata (cinecoronariografia seguida de recana-
bloqueadores, pois isoladamente aumentam o consumo de O2 lização ou desobstrução) ainda permanece como uma questão
miocárdico e causam roubo coronariano. (Grau de recomenda- em aberto devido aos resultados divergentes dos 4 ensaios clíni-
ção IIb, Nível de Evidência A). Podem ser uma alternativa quan- cos e um registro disponíveis 83,157-160 mas parece haver um
do houver contra-indicação ao uso de betabloqueador ou nitra- certo consenso de que pacientes classificados como de alto risco
to (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência B e D). de eventos 161,162 devem ser submetidos à estratégia invasiva
As doses a serem utilizadas são de 60mg via oral 3 a 4 vezes/ imediata enquanto que os de baixo risco devem ser submetidos
dia para o diltiazem e 80mg via oral 3 vezes/dia para o verapa- à estratégia conservadora (tratamento farmacológico seguido
mil. de avaliação funcional de existência de isquemia miocárdica re-
sidual) 130,131,163 (Grau de Recomendação IIa e Nível de Evi-
dência A e D).
Aspirina - Não havendo contra-indicação (alergia, intole-
rância gástrica, sangramento ativo, hemofilia ou úlcera péptica
ativa) a aspirina deve ser sempre utilizada em pacientes com

140
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
suspeita de SCA imediatamente após a chegada na sala de emer- Os inibidores da glicoproteína IIb/IIIa podem ser usados,
gência. Tem comprovação de seu benefício na redução da mor- concomitantemente, com a aspirina, o clopidogrel e a heparina.
talidade imediata e tardia, infarto e reinfarto na SCA através de O tirofiban é administrado na dose de 0,4 microgramas/
vários estudos clínicos randomizados. (Grau de Recomendação kg/min EV por 30min, seguida de 0,1 microgramas/kg/min por
I, Nível de Evidência A e D). 48 a 96h. O abciximab é administrado em bolus EV na dose de
A dose inicial é de 200-300mg por via oral mastigada, segui- 0,25mg/kg, seguida de 0,125 microgramas/kg/min (máximo de
da de uma dose de manutenção de 100 a 200mg/dia. 10 microgramas/min) por 12 a 24h.

Tienopiridínicos (clopidogrel, ticlopidina) - Até recentemen- Tratamento inicial da embolia pulmonar


te a ticlopidina era o antiplaquetário recomendado em caso de Uma vez diagnosticada a embolia pulmonar ou havendo evi-
contra-indicação para o uso da aspirina ou na intervenção coro- dências consistentes de sua provável existência, o tratamento
nária percutânea 168. deve ser iniciado imediatamente devido à sua elevada morta-
Atualmente, o clopidogrel é a droga de primeira escolha na lidade hospitalar - cerca de 1/3 para os não tratados e de 10%
substituição ou no uso concomitante com a aspirina em pacien- para os tratados.
tes com SCA sem supradesnível do segmento ST que irão ou não A terapêutica inicial visa a estabilidade clínica oferecendo,
à intervenção coronariana percutânea, devendo ser iniciada logo se necessário, suporte hemodinâmico e ventilatório. O trata-
após a chegada ao hospital ou quando o diagnóstico de SCA for mento essencial da embolia pulmonar é feito com o uso do an-
estabelecido. (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência A). ticoagulante venoso, heparina. Tem como objetivo prevenir a
Para o clopidogrel, a dose inicial é de 300-600mg VO, segui- formação de novos trombos e diminuir a ação de substâncias
da da dose de manutenção de 75mg/dia. Para a ticlopidina, a vasoativas, como a serotonina e o tromboxane-A2, liberadas pe-
dose inicial é de 500mg VO, seguida de dose de manutenção de las plaquetas ativadas encontradas no trombo original. A dose
250mg de 12/12h. de ataque da heparina não-fracionada é de 80 U/kg em bolus EV
Anticoagulantes (heparina não-fracionada, heparina de bai- seguida por uma infusão contínua de 18 U/kg/h por 5 a 7 dias,
xo peso molecular). incluindo o período de uso combinado com o anticoagulante
Vários ensaios clínicos e metanálises demonstram o indiscu-
oral (Grau de Recomendação I, Nível de Evidência C e D)
tível benefício do uso das heparinas na SCA.
A heparina não-fracionada requer monitorização labora-
A utilização das heparinas de baixo peso molecular na em-
torial constante do tempo de tromboplastina parcial ativado
bolia pulmonar vem se ampliando nos últimos anos, possuindo
(PTTa), devendo ser utilizados regimes terapêuticos ajustados
uma maior ação sobre o fator de coagulação Xa do que sobre o
ao peso do paciente. Já as heparinas de baixo peso molecular
fator IIa quando comparada com a heparina não-fracionada e
não necessitam de controle do PTTa.
possibilitando maior atividade antitrombótica com menor risco
A heparina não-fracionada é administrada como bolus EV
de sangramentos. A enoxaparina deve ser usada por via sub-
de 60-70 U/kg (máximo de 5.000 U) seguido de infusão de 12-15
cutânea na dose de 1 mg/kg a cada 12h ou 1,5 mg/kg, uma vez
U/kg/h (máximo de 1.000 U/h), mantendo-se o PTTa entre 1,5-2
vezes o controle. ao dia; a nadroparina na dose de 85 U/kg a cada 12h ou 170 U/
As heparinas de baixo peso molecular não equivalem entre kg, uma vez ao dia; e a dalteparina na dose de 200 U/kg/dia.
si em relação às doses. Assim, a enoxaparina é administrada na (Grau de Recomendação IIa, Nível de Evidência C).
dose de 1mg/kg SC de 12/12h ou 1,5mg/kg uma vez ao dia; a Nos pacientes clinicamente instáveis, nos quais a probabili-
dalteparina na dose de 200 U/kg/dia SC; e a nadroparina na dose dade de embolia pulmonar maciça é grande, deve-se utilizar as
de 85U/kg SC de 12/12 h ou 170 U/kg uma vez ao dia. drogas trombolíticas que permitam lise mais rápida do trombo,
Tanto a heparina não-fracionada como as heparinas de bai- promovendo uma melhora clínica mais efetiva. Utiliza-se a es-
xo peso molecular têm Grau de Recomendação I e Nível de Evi- treptoquinase por via EV na dose de 250.000 U em bolus seguida
dência A e D para uso na SCA. de uma infusão de 100.000 U/h durante 24 a 72h, ou o rt-PA na
dose de 100 U EV em infusão durante 2h (Grau de Recomenda-
Bloqueadores dos receptores da glicoproteína IIb/IIIa (ab- ção I, Nível de Evidência C). A trombólise na embolia pulmonar,
ciximab, tirofiban) - Diversos ensaios clínicos têm demonstra- como em qualquer outra situação clínica, apresenta uma série
do efeitos benéficos com o uso dos bloqueadores da glicopro- de contra-indicações que devem ser respeitadas. Além dos pa-
teína IIb-IIIa em pacientes com SCA em relação à redução de cientes clinicamente instáveis, um subgrupo de pacientes com
IAM, reinfarto, isquemia miocárdica recorrente e necessidade estabilidade hemodinâmica e ventilatória, porém com disfunção
de revascularização miocárdica, não se observando, entretanto, do ventrículo direito ao ecocardiograma, pode também se bene-
redução da mortalidade 182-188. Firma-se a indicação do tirofi- ficiar do uso de trombolíticos. (Grau de Recomendação IIa, Nível
ban quando não há uma atitude invasiva planejada em pacientes de Evidência C).
com alto ou médio risco, ou seja, com persistência da isquemia,
troponina elevada outras variáveis de risco (Grau de Recomen- Tratamento inicial da dissecção aguda da aorta
dação IIa, Nível de Evidência A). Já o abciximab parece ser me- No caso de suspeita clínica de dissecção aguda da aorta a te-
lhor indicado quando houver uma atitude invasiva imediata pla- rapêutica farmacológica deve ser instituída o mais rápido possí-
nejada, independentemente do risco (Grau de Recomendação I, vel com objetivo de estabilizar a dissecção e evitar complicações
Nível de Evidência A). Os pacientes que inicialmente utilizarem catastróficas, como a ruptura da aorta. Para isso o tratamento
o tirofiban e na evolução optar pela conduta invasiva, deverão padrão é feito através do uso de vasodilatadores, como o nitro-
continuar seu uso durante e após o cateterismo ou intervenção prussiato de sódio, em associação com betabloqueadores (pro-
(Grau de Recomendação IIa, Nível de Evidência A). Os benefícios pranolol, metoprolol, esmolol ou atenolol) (preferencialmente
obtidos com o uso destas drogas devem ser sempre analisados venoso), visando a redução do cronotropismo e do inotropismo,
diante de seu alto custo. ou utilizar o labetalol que possui ambos os efeitos (Grau de Re-

141
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
comendação I e Nível de Evidência C e D). Nos pacientes com A formação de edema nos pulmões ocorre do mesmo modo
contra-indicação ao uso de betabloqueadores podemos utili- que em outras partes do corpo. Qualquer fator que faça com
zar o enalaprilato venoso. O controle da dor deve ser feito com que a pressão do líquido intersticial pulmonar passe de nega-
sulfato de morfina, que também auxilia na redução da pressão tiva para positiva, provoca uma súbita inundação dos espaços
arterial e estabilização da dissecção. Os pacientes deverão ser intersticiais e dos alvéolos, com grande quantidade de líquido
submetidos à monitorização oxi-dinâmica, do débito urinário e livre, tendo como causas mais comuns a insuficiência cardíaca
da pressão arterial, e encaminhados à unidade de terapia inten- esquerda ou doença valvular mitral com consequente aumento
siva e/ou ao centro cirúrgico tão logo indicado e possível. Aque- na pressão capilar pulmonar e inundação dos espaços intersti-
les com instabilidade hemodinâmica deverão ser colocados em ciais e alveolares. Também a lesão da membrana dos capilares
suporte ventilatório e submetidos a monitorização invasiva da pulmonares, causada por infecções como pneumonias ou pela
pressão arterial e das pressões do coração direito para melhor inalação de substâncias nocivas como os gases cloro ou dióxi-
controle das pressões de enchimento e do débito cardíaco, além do de enxofre, acarreta a rápida saída de líquido e de proteínas
das variáveis de oxigenação tissular. plasmáticas de dentro dos capilares. (GUYTON, 2006).
O tratamento cirúrgico imediato é reservado para as dissec-
ções agudas que envolvam a aorta ascendente ou o arco aór- EDEMA AGUDO DE PULMÃO
tico (tipo A de DeBakey) e para dissecções distais complicadas O edema pulmonar uma condição definida pelo acúmulo
(oclusão de um ramo aórtico importante, extensão da dissecção anormal de líquido no tecido pulmonar, no espaço alveolar ou
e evidências de ruptura aórtica) ou não estabilizadas com o tra- em ambos, se apresentando como uma condição grave. Ocorre,
tamento clínico. (Grau de Recomendação I e Nível de Evidência na maioria dos casos, em consequência do aumento da pressão
C e D). Em pacientes com dissecção não complicada que poupem microvascular proveniente da função ventricular esquerda ina-
a aorta ascendente (tipo B) e com dissecção crônica da aorta o dequada, o que leva ao refluxo de sangue para dentro da vascu-
tratamento clínico é o passo inicial. (Grau de Recomendação I e latura pulmonar (BRUNNER &SUDDARTH, 2009).
Nível de Evidência C e D).
PRINCIPAIS SINTOMAS
4) suporte de vida em situações de edema agudo de pul- As principais manifestações clínicas do edema agudo de pul-
mão; mão são: dispnéia intensa, ortopnéia, tosse, escarro cor de rosa
O edema agudo de pulmão (EAP) é um evento que acontece e espumoso. Em geral o paciente apresenta-se ansioso, agitado,-
e forma clínica, e que é caracterizado por um acúmulo súbito e sentado com membros inferiores pendentes e utilizando inten-
anormal de líquido nos espaços extra vasculares do pulmão, que samente a musculatura respiratória acessória. Há dilatação das
representa uma das mais dolorosas e dramáticas síndromes car- asas do nariz, retração intercostal e da fossa supraclavicular. A
diorrespiratórias, e que ocorre de maneira muito frequente nas pele e as mucosas tornam-se frias, acinzentadas, às vezes pálidas
unidades de emergência e de terapia intensiva. Na maioria das e cianóticas, com sudorese fria sistêmica. Pode haver referência
vezes é consequência da insuficiência cardíaca esquerda, onde de dor subesternal irradiada para o pescoço, mandíbula ou face
a elevação da pressão no átrio esquerdo e capilar pulmonar é o medial do braço esquerdo em casos de isquemia miocárdica ou
principal fator responsável pela transpiração de líquido para o IAM. No exame físico, pode-se constatar taquicardia, ritmo de
interstício e interior dos alvéolos, com interferência nas trocas galope, B2hiperfonética, pressão arterial elevada ou baixa (IAM,
gasosas pulmonares e redução da pressão parcial de oxigênio no choque cardiogênico), estertores subcreptantes inicialmente
sangue arterial (TARANTINO, 2007). nas bases, tornando-se difusos com a evolução do quadro. Ron-
O fluxo aumentado de líquidos, que são provenientes dos cos e sibilos difusos indicam quase sempre broncoespasmo se-
capilares pulmonares para o espaço intersticial e alvéolos, que cundário. O quadro clínico agrava-se progressivamente, culmi-
se acumulam nessas regiões ao ultrapassarem a capacidade de nando com insuficiência respiratória, hipoventilação, confusão
drenagem dos vasos linfáticos, promovendo uma troca alvéolo- mental e morte por hipoxemia (PORTO, 2005).
-capilar de forma inadequada (FARIA ET AL, 2010). Deve-se basear no achado das seguintes alterações: pacien-
Com base nestes contextos, analisar a participação da equi- te com queixa de dispnéia, geralmente de início súbito, asso-
pe de enfermagem no sentido de reabilitação do paciente no ciada à tosse e a sinais de liberação adrenérgica (taquicardia,
decorrer deste acontecimento que ocorre de forma frequente, palidez cutânea, sudorese fria, hipertensão e ansiedade). Sinais
embora seja ele um evento que requer cuidados minuciosos é de esforço da musculatura inspiratória, com uso dos músculos
imprescindível. Segundo Marsella (2012), as principais pato- acessórios da respiração, tiragem intercostal e batimento de
logias que determinam o EAP são: Isquemia miocárdica aguda asas de nariz. Taquipnéia e expiração forçada, inclusive com pre-
(com ou sem infarto prévio), hipertensão arterial sistêmica, sença de respiração abdominal. Ausculta pulmonar variada, po-
doença valvar, doença miocárdica primária, cardiopatias con- dendo-se encontrar, mais comumente, estertores inspiratórios
gênitas e arritmias cardíacas, principalmente as de frequência e expiratórios de médias e grossas bolhas. Também é comum
muito elevada. o encontro de murmúrio vesicular mais rude, com roncos e si-
Sallum (2013) salienta que a causa mais comum do EAP é bilos. Outros achados que podem ajudar a definir etiologia do
insuficiência ventricular esquerda, onde há uma incapacidade EAP são: presença de dor torácica compatível com insuficiência
desta cavidade em bombear o sangue para fora do coração. Esta coronariana, galope cardíaco (B3 e/ou B4), sopros cardíacos e
pode ocorrer por diversos motivos, entre eles estão à hiperten- deslocamento da posição do ictus cardíaco (sinal de aumento da
são arterial, doenças das válvulas cardíacas, doenças do músculo área cardíaca) (MASELLA, 2012).
cardíaco, arritmias cardíacas e distúrbios da condução elétrica
do coração, entre outras doenças cardíacas. Sendo que em al-
gumas situações, a infusão excessiva de líquidos, pode acarretar
um quadro de edema agudo de pulmão.

142
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
ACHADOS DIAGNÓSTICOS dos em alguns pacientes com emergências hipertensivas. Uma
Através da ausculta pulmonar revela-se presença de ester- elevação súbita da PA secundária a um aumento da resistência
tores nas bases pulmonares, que progridem para os ápices dos vascular periférica parece estar envolvida nos momentos ini-
pulmões, sendo estes causados pela movimentação de ar atra- ciais; o fumo, possivelmente mediando lesão endotelial, é um
vés do líquido alveolar. Pode ocorrer de o paciente apresentar antigo suspeito de estar envolvido na gênese das emergências
taquicardia, e queda nos valores da oximetria de pulso, e quan- hipertensivas (fumantes têm 5x mais chances de desenvolver hi-
do analisada a gasometria verifica-se o agravamento da hipoxe- pertensão maligna); fatores genéticos e imunológicos também
mia (BRUNNER &SUDDARTH, 2009). podem ter papel importante.
Os pacientes portadores de feocromocitoma ou hipertensão
TRATAMENTO renovascular apresentam uma incidência de elevações abrup-
Consiste de medidas medicamentosas como a oxigeniotera- tas de pressão arterial mais alta do que o esperado para outras
pia para melhora da saturação de oxigênio, de diuréticos (como a causas de hipertensão arterial. Alguns autores acreditam que a
furosemida) que é fundamental na redução da pré-carga, opiói- ativação do sistema renina-angiotensina esteja envolvida no de-
des (sendo o mais utilizado a morfina) sendo de extrema eficácia senvolvimento das emergências hipertensivas, assim a redução
na redução do retorno venoso e na diminuição no consumo de do volume circulante causada, entre outros motivos, pela ação
oxigênio pelo miocárdio, vasodilatador coronariano (dobutami- de diuréticos de alça – como a furosemida – pode estar associa-
na normalmente é a droga de escolha) pelo efeito inotrópico da a elevações abruptas de pressão arterial e à lesão endotelial
positivo, vasodilatador venoso e arterial (como o nitroprussiato dos quadros de emergência hipertensiva.
de sódio) oferece rápida e segura redução da pressão arterial, e Uma vez iniciado o processo lesivo vascular, surge um ciclo
medidas mecânicas como a ventilação mecânica invasiva e não vicioso com secreção de substâncias vasoconstritoras e vasotó-
invasiva e a intubação (SALLUM E PARANHOS, 2013). xicas, como o TNFa, que perpetuam o processo.
Porém Carvalho (2008), demonstra que o tratamento de
EAP busca diminuir a pressão de preenchimento ventricular e Sintomas e sinais de alerta na crise hipertensiva
melhorar o fornecimento de oxigênio, baseando-se na adminis- Neurológicos: Relaxamento da Consciência, Sinais Focais
tração de nitratos, diuréticos e oxigênio. (localizatórios), Cefaleia Súbita Intensa, Presença de Sinais Me-
níngeos e Alterações agudas no fundo do olho;
CUIDADOS DE ENFERMAGEM Cardiológicos: Dor Torácica Isquêmica, Dor Torácica Intensa,
Conforme Sallum e Paranhos (2013) as ações de enferma- Congestão Pulmonar e Presença de 3ª Bulha;
gem incluem organização e provimento de recursos materiais e Renais: Presença de edema recente, diminuição do volume
humanos, mas também descrevem outros cuidados como: urinário, hematúria, proteinúria e elevação dos níveis de crea-
tinina;
Posicionar o paciente sentado, elevando a cabeceira a 60° Na abordagem do paciente hipertenso grave na emergência
ou 90° deixando os membros inferiores pendentes, assim redu- médica é necessária uma história e um exame físico direciona-
zindo retorno venoso e propiciando máxima expansão pulmo- dos, porém acurados na busca da presença de lesão de órgão-
nar; -alvo, particularmente na busca de sintomas e sinais de alerta,
Posicionar em Fowler alto. são cruciais para a segurança do paciente e para a boa prática
Instalar máscara facial de oxigênio com reservatório, sele- clínica; a história deve investigar as características dos sintomas
cionando um fluxo de 10 L/min; do paciente. Muitos pacientes apresentam-se na emergência
Aspirar às secreções se necessário para manter as vias aé- apenas após a constatação da elevação dos níveis pressóricos
reas permeáveis; em uma medida rotineira de pressão arterial.
O exame físico deve incluir a pesquisa da presença de si-
5) suporte de vida em situações de crise hipertensiva; nais de irritação meníngea, fundo de olho para buscar edema
Crise Hipertensiva é uma condição clínica caracterizada por de papila, hemorragias e exsudatos; o exame neurológico deve
elevação aguda ou crônica da PA (Níveis de Pressão Diastólica procurar a presença de rebaixamento de nível de consciência,
superior a 130 mmHg) em associação ou não com manifestações confusão mental ou agitação psicomotora, presença de sinais
de comprometimento de órgãos-alvo (cardiovasculares, neuro- neurológicos focais, particularmente os sinais deficitários; a
lógicas e renais). As manifestações clínicas das crises hiperten- ausculta cardíaca deve buscar a presença de 3ª ou 4ª bulha e
sivas dependem do grau de disfunção dos órgãos-alvo. Os níveis sopro de insuficiência aórtica; a ausculta pulmonar deve procu-
pressóricos absolutos podem não ter importância, mas sim a ve- rar a presença de sinais de congestão pulmonar; o exame físico
locidade de elevação que esta ocorreu. deve incluir, ainda, a palpação da aorta abdominal e a pesquisa
Pacientes com hipertensão de longa data podem tolerar de pulsos periféricos, incluindo o pulso carotídeo.
pressões sistólicas de 200 mm Hg e diastólicas superiores a 150 É importante avaliar a presença de deterioração da função
mm Hg, entretanto crianças ou gestantes podem desenvolver renal, buscando a presença de edema, diminuição de volume
encefalopatia com pressões diastólicas de 100 mm Hg. Cerca de urinário e hematúria; em pacientes com pressão arterial dias-
10 a 20% da população adulta em nosso país apresenta Hiper- tólica superior a 130 mmHg, impõe-se a dosagem de creatinina
tensão Arterial Sistêmica; estudos mostram que emergências sérica e a análise urinária para pesquisar a presença de hematú-
hipertensivas ocorrem em menos de 1% dos pacientes hiper- ria e proteinúria; a estratificação de risco desses pacientes está
tensos, esses pacientes desenvolverão um ou mais episódio de na confirmação ou na exclusão de existência de lesão aguda (em
emergência hipertensiva. curso) de um órgão-alvo. Caso não seja possível excluir a exis-
O mecanismo responsável pela elevação da PA não é clara- tência de lesão, deve-se assumir a presença de lesão aguda e
mente conhecido, no entanto, elevações dos níveis de renina, tratar conforme o órgão lesado.
adrenomodulina e peptídeo atrial natriurético foram encontra-

143
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A Crise Hipertensiva é dividida em urgência hipertensiva e A toxidade aguda do Nitroprussiato é secundária à vasodila-
emergência hipertensiva: tação excessiva e à hipotensão. Podem ocorrer náuseas, vômi-
• Urgência Hipertensiva: não existe o comprometimento tos, sudorese, agitação, cefaleia, palpitação, apressão subester-
instalado dos órgãos-alvo (coração, artérias, cérebro e rins). nal e síncope, devido ao deslocamento da massa sanguínea para
Após a avaliação médica o paciente geralmente recebe medica- as áreas esplênicas e periféricas, com possível hipóxia cerebral.
ções por via oral ou sublingual e é tratado ambulatorialmente
e em domicílio; o controle da Pressão Arterial é feito em até 24 .Os principais cuidados de enfermagem na administração
horas; desta medicação são:
• Emergência Hipertensiva: existe o comprometimento ins- • Preparo e diluição da medicação conforme padronização
talado e iminente dos órgãos-alvo (coração, artérias, cérebro e e/ou prescrição médica (geralmente é diluído em 250 ml de so-
rins); após a avaliação médica é indicado tratamento hospitalar lução fisiológica ou glicose 5%);
em CTI’s e administração de vasodilatadores endovenosos. Essa • Controle rigoroso de gotejamento, instalar preferencial-
crise é acompanhada por sinais que indicam as lesões nos ór- mente em bomba de infusão e verificar continuamente a infusão
gãos-alvo, tais como: encefalopatia hipertensiva, edema agudo correta do medicamento;
de pulmão, acidente vascular encefálico, infarto agudo do mio- • Controle da pressão arterial do paciente (algumas biblio-
cárdio ou dissecção aguda da aorta, nestes casos há o risco imi- grafias indicam controle a cada cinco minutos, outras a cada 15
nente de morte; a 30 minutos. É importante seguir as orientações do enfermeiro
na observação e aferição da pressão arterial, uma vez que nas
Segundo Uenishi (1994), os principais cuidados de enferma- primeiras horas de infusão da medicação será necessária a ve-
gem no tratamento das crises hipertensivas são: rificação em intervalos menores e/ou conforme a apresentação
• Manter o paciente em ambiente calmo e tranquilo; de sinais e sintomas no paciente); o mais indicado é que o pa-
• Puncionar veia periférica; ciente esteja monitorizado com monitor multiparâmetros, que
• Monitorizar adequadamente (PA, ECG e Débito Urinário); verifica constantemente o pulso, pressão arterial e oximetria;
• Instalar medicação prescrita anti-hipertensiva em bombas Observação: todos os sinais e resultados obtidos devem
de infusão; obrigatoriamente ser anotados no prontuário do paciente, bem
• Para pacientes com infusão intravenosa de vasodilatado- como os horários de instalação da medicação e possíveis mu-
res, obter parâmetros de sinais vitais a cada cinco minutos até a danças em gotejamentos, conforme a orientação médica.
redução desejada da pressão arterial.
6) suporte de vida em situações de infarto agudo do mio-
Um dos principais medicamentos vasodilatadores utilizados cárdio;
nas emergências hipertensivas é o nitroprussiato de sódio, que As doenças cardiovasculares (DCV) atualmente estão entre
é um potente vasodilatador. Sua ação é semelhante ao nitrito, as principais causas de morbidade, incapacidade e morte no Bra-
que atua diretamente sobre o músculo liso dos vasos sanguí- sil e no mundo, sendo responsáveis por 39% das mortes registra-
neos, provavelmente por causa da porção nitrosa. O metabolis- das em 2008. Os gastos com estes pacientes totalizaram 1,2 mi-
mo inicial do nitroprussiato envolve a liberação não enzimática lhões em 2009 e, com envelhecimento da população e mudança
de cianogênio, o qual é rapidamente convertido em tiocinato, dos hábitos de vida, a prevalência desta doença tende a aumen-
por meio de uma ação catalisadora por enzima hepática. tar ainda mais futuramente (BRASIL, 2008). A Organização Pan-
Embora essa reação seja irreversível, o tiocinato pode ser de -americana de Saúde (OPAS) reconhece a necessidade de uma
forma lenta convertido em cianeto pela ação de uma tiocinato ação integrada contra as Doenças cardíacas e irá propor aos paí-
oxidase presente nos eritrócitos. (GUERRA et al.,1988). Muitos ses membros que estabeleçam a meta global de reduzir a taxa
dos efeitos tóxicos que se observam durante o uso do nitroprus- de mortalidade por esta em 20% na década de 2011-2020 em
siato são notados em envenenamento por cianeto e tem sido su- relação à década precedente. Entre as causas de morte e hospi-
gerido que esse último composto seria responsável pelos efeitos talização, destacam-se as síndromes coronarianas agudas (SCA),
tóxicos pelo uso prolongado da droga em pacientes. O início da incluindo o infarto agudo do miocárdio (IAM) e a angina instável
ação do nitroprussiato de sódio é imediato e persiste enquanto (AI) (ESCOSTEGUY et al., 2005). Em situações de emergências,
perdura a infusão da droga, atua tanto nos vasos de capacitância ao admitir um paciente grave, o enfermeiro é o profissional que
como nos vasos de resistência. Produz redução muito rápida nas realizará a triagem em serviço de emergência, cabe a ele avaliar
pressões arterial e venosa central e um aumento moderado na o paciente, determinar as necessidades de prioridade e encami-
frequência cardíaca. nhá-lo para a área de tratamento. Sendo assim, o enfermeiro é
Também é potente vasodilatador cerebral, causando au- o profissional da equipe de emergência a ter o primeiro contato
mento da pressão intracraniana responsável pela cefaleia pul- com o paciente, cabendo-lhe o papel de orientador nos procedi-
sátil experimentada por alguns pacientes. Os vasos da retina mentos que serão prestados.
podem relaxar-se e aumentar a pressão intraocular, o que fa-
vorece a crise aguda do glaucoma. O nitroprussiato de sódio é Importância dos atendimentos de emergência
indicado nas crises hipertensivas e também é útil para produzir A emergência é uma propriedade que uma dada situação
hipotensão em alguns procedimentos cirúrgicos, assim como assume quando um conjunto de circunstâncias a modifica. A as-
para diminuir a resistência periférica em pacientes com infarto sistência em situações de emergência e urgência se caracteriza
do miocárdio, ocasionando melhora no desempenho cardíaco, pela necessidade de um paciente ser atendido em um curtíssimo
que é acompanhado pelo aumento do volume urinário e excre- espaço de tempo. A emergência é caracterizada como sendo a
ção de sódio. situação onde não pode haver uma protelação no atendimento,
o mesmo deve ser imediato (CINTRA, 2003). Ressalta este au-
tor, que necessidade da formação do enfermeiro em atuação

144
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
nas unidades emergenciais apresenta a importância dos pro- tamente e também produzindo um déficit parcial ou total de
cedimentos teóricos que aprendemos como enfermeiros que oferecimento de sangue ao músculo cardíaco irrigado pelo vaso
o socorro nos momentos após um acidente, principalmente as contraído (MALVESTIO, 2002).
duas primeiras horas são os mais importantes para se garantir a
recuperação ou a sobrevivência das pessoas feridas. Segundo o autor acima os sinais e sintomas do IAM:
Os casos de urgência se caracterizam pela necessidade de • Dor intensa e prolongada no peito;
tratamento especifico, o paciente será encaminhado para a • Dor que se irradia do peito para os ombros, pescoço ou
especialidade necessária, ortopedia, cirurgia geral, neurologia braços;
e clínica médica. Neste caso o risco de vida é pouco provável. • Dor prolongada na “boca do estômago”;
Quanto à atenção hospitalar às vítimas de acidentes e violências • Desconforto no tórax e sensação de enfraquecimento;
reúne-se de forma complexa a estrutura física, a disponibilidade • Respiração curta mesmo no estado de repouso;
de insumos, o aporte tecnológico e os recursos humanos espe- • Sentir tonteira;
cializados para intervir nas situações de emergência decorrentes • Náusea, vômito e intensa sudorese;
dos acidentes e violências. As emergências são as principais por- • Ataques de dor no peito que não são causados por exer-
tas de entrada desses pacientes no hospital; considerando a gra- cício físico.
vidade das lesões, a assistência demandará ações de diferentes
serviços e poderá exigir um tempo considerável de internação, Contudo, há de ser levado em consideração que existem em
acarretando um custo elevado. muitos indivíduos um componente genético importante na sus-
Os autores Tacsi e Vendruscolo (2004) consideram que o cetibilidade individual para o desenvolvimento da arteriosclero-
enfermeiro no setor de emergência deve adotar estilos de lide- se, embora sua natureza até o momento não seja entendida,
rança participativa e compartilhar e/ou delegar funções. São as essa suscetibilidade genética pode interferir nas características
principais habilidades, para o gerenciamento da assistência: a bioquímicas e fisiológicas, acelerando o processo da doença.
comunicação, o ao paciente, em casos de emergência, seja dire- Esse componente genético é definido como herança genética ou
cionado, planejado e livre de quaisquer danos. características não modificáveis.
O Infarto do Miocárdio Segundo Lima (2007), o termo in- A assistência da equipe de enfermagem no atendimento à
farto designa a necrose do miocárdio que se instala secundaria- vítima de infarto agudo do miocárdio O enfermeiro tem um pa-
pel importante na assistência, tem sido discutido políticas e es-
mente à interrupção aguda do fornecimento de sangue através
tratégias de saúde em relação a doenças cardiovasculares, para
das coronárias. A destruição do músculo do coração é motivada,
que a enfermagem atue na promoção e recuperação da saúde
geralmente, por depósitos de placas de ateroma nas artérias co-
através de intervenções as quais objetiva alcançar os resultados
ronárias.
esperados, estabelecendo protocolos que consiste em passos a
Desse modo, essas placas nada mais são do que o amontoa-
serem dados para a realização de suas ações sistemática na se-
do de células no interior dos vasos sanguíneos. Lesões dos pró-
quência que devem ser executado. O enfermeiro, por meio de
prios vasos, assim como depósitos de gordura que vão desen-
seus cuidados, é um profissional essencial na assistência e recu-
volvendo-se com o tempo, constituem-se verdadeiras “rolhas”
peração da saúde da vítima de IAM (BRANDÃO, 2003).
no interior das artérias do coração. O infarto do miocárdio está
O atendimento de emergência nas Unidades Hospitalares
mais repetidamente unido a uma causa mecânica, ou seja, sus- tem importante papel na recuperação e manutenção da saúde
pensão do fluxo sanguíneo para uma área específica por causa do indivíduo. Recuperar a saúde e mantê-la se estabelece com
da obstrução total parcial da artéria coronária responsável por uma assistência à saúde de qualidade e equipe multidisciplinar
sua irrigação. A dimensão da necrose depende de muitos fatores voltada para o indivíduo como um todo na sua integralidade,
que possam ter ocorrido tais como o tamanho da artéria lesada, atentando para aspectos que envolvem a atuação eficaz, efi-
tempo de desenvolvimento da obstrução e desenvolvimento da ciente, rápida e com bom conhecimento clínico e científico. A
circulação colateral (CHIAVENATO, 2010). atuação do enfermeiro encaixa-se naquela equipe supracitada e
O infarto significa a morte de uma parte do músculo car- é primordial para os serviços de saúde no tocante à promoção à
díaco (miocárdio), por falta de oxigênio e irrigação sanguínea. A saúde dos clientes/pacientes que são assistidos em serviços de
oxigenação necessária ao funcionamento do coração sucede por Urgência e Emergência.
um conjunto de vasos sanguíneos, as chamadas artérias coroná-
rias. Quando uma dessas artérias que irrigam o coração impede 7. suporte de vida em situações de acidente vascular en-
o abastecimento de sangue e oxigênio ao músculo, redundando cefálico;
em um processo de destruição irreversível, podem ocasionar As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) constituem
parada cardíaca (morte súbita), morte tardia ou insuficiência a primeira causa de mortalidade na população mundial (CRUZ,
cardíaca com sérias limitações de atividades físicas (TEIXEIRA, 2015). São responsáveis por um elevado número de mortes pre-
2010). maturas, diminuição da qualidade de vida e impactos socioe¬co-
Os pacientes que passam por um infarto, são comumente nômicos, envolvendo a taxa de mortalidade, os custos do trata-
do sexo masculino, pois são mais facilmente vulneráveis que as mento, déficit motor e redução cognitiva dos pacientes (STONE,
mulheres. Isso porque, acredita-se que as mulheres possuam 2013; MALTA et al., 2015).
uma eficácia protetora que é a produção de hormônios (estróge- As DCNT incluem neoplasias, doenças respiratórias crônicas,
no), tanto que após a menopausa, pela falta de produção desse diabetes mellitus e doenças do aparelho circulatório. O Aciden-
hormônio, a circunstância de infarto na mulher cresce de sobre- te Vascular Encefálico (AVE) é classificado nesta última, sendo
maneira (SILVEIRA, 2006). um distúrbio neurológico no qual ocorre perda da função en-
O infarto do miocárdio pode também ocorrer em pessoas ce¬fálica em decorrência da ruptura do aporte sanguíneo para
que têm as artérias coronárias normais. Isso acontece quando uma região do encéfalo com instalação súbita de causa vascular
as coronárias apresentam um espasmo, contraindose violen- (CARNEIRO et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2016).

145
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O AVE é mais frequente após os 60 anos, sendo responsável As princiais dificuldades para implementação de protocolos
por 847.694 interna¬ções hospitalares no Brasil nos últimos cin- são: falta de adesão pela equipe multiprofissional, conhecimen-
co anos, por 27,6% (234.326) na região Nordeste do país e 0,46% to deficiente, ausência de estrutura física no ambiente de assis-
(3.969) em Sergipe (BRASIL, 2016). Nos anos de 2012, 2013 e tência e falta de investimento em equipamentos e tecnologia
2014 corres¬pondeu a 249.470 óbitos no Brasil, 28,5% (71.279) avançada (FRANGIONE-EDFORT, 2014).
na região Nordeste e 1,02% (2.565) em Sergipe (BRASIL, 2016). Moura e Casulari (2015) defendem que o uso de protocolos
Dos sobreviventes, cerca de 50% necessitam de cuidados espe¬- no atendimento ao paciente com AVE melhora o atendimento
ciais e auxílios para desenvolvimento de suas atividades em lon- significativamente. Corroborando com a afirmativa, Donnellan,
go prazo (CRUZ, 2015). Sweetman e Shelley (2013b) afirmam que a adesão aos proto¬-
O Ministério da Saúde (MS), baseado na linha do cuidado colos é associada a desfechos favoráveis no tratamento ao AVE,
do AVC, instituída pela Portaria MS/GM nº 665 de 12 de abril de aumentando a sobre¬vida e reduzindo os custos hospitalares.
2012, instituiu o Manual de rotinas de atenção ao AVE, o qual
tem como objetivo apresentar protocolos, escalas e orientações Atuação do enfermeiro no manejo do AVE
aos profissionais de saúde no manejo clínico ao paciente aco- Durante o período de permanência em internação hospita-
metido pela doença, garan¬tindo assistência de qualidade nos lar, o paciente acometido por AVE recebe a assistência de uma
serviços de saúde nacionais (BRASIL, 2013). equipe multidisciplinar que desenvolve ações com o objetivo de
A utilização de protocolos institucionais pré-definidos de melhorar o estado de saúde e consequente alta hospitalar. O en-
atendimento a pa¬cientes com AVE requer a participação de fermeiro, du¬rante o seu turno de trabalho, é o profissional que
uma equipe multidisciplinar. Nesta, o en¬fermeiro está inseri- possui maior contato com o paciente, sendo responsável pela
do como responsável direto na assistência prestada, permitindo maior parte dos cuidados e procedimentos (SOUZA et al., 2014).
o reconhecimento precoce de sinais e sintomas sugestivos da No processo de cuidado ao paciente com AVE, o enfermeiro
doença e uma conduta diagnóstica ou terapêutica de forma se- deve atuar com o objetivo de minimizar as sequelas provenien-
gura (MONTEIRO, 2015). tes da doença, além de desenvolver uma assistência com foco
Em estudo realizado por Donnellan, Sweetman e Shelley no estado físico, espiritual e mental. Para isso, esse profissional
(2013a), no qual foi avaliada a implementação de diretrizes na- deve identificar as principais necessidades do paciente, elaborar
cionais de AVE, foi observado que o instru¬mento consiste em um plano de cuida¬dos individualizado e garantir que o mesmo
um conjunto de orientações específicas à conduta terapêutica, seja implementado de maneira eficaz (BARCELOS et al., 2016).
contemplando o que, quem, quando, onde e como a assistência Hinkle (2014) destaca que estes profissionais devem realizar
deve ser realizada, porém ressalta que deverá ser adaptado ao e registrar um exame físico eficiente pactuado na escala de AVE
uso no ambiente clínico. dos Institutos Nacionais de Saúde (NIHSS). Afirma ainda que este
Os resultados encontrados por Oostema e outros autores instrumento deva ser empregado continuamente na fase aguda
(2014) dão suporte às afirmativas da literatura. Os autores ob- do AVEi, em pacientes pós-AVEh ou com suspeita de Ataque Is-
servaram que a eficiência dos cuidados hos¬pitalares aos pa- quêmico Transitório (AIT) a fim de identificar o estado neuroló-
cientes esteve relacionada à utilização das recomendações das gico, avaliar eficácia do trata¬mento e prever um desfecho para
dire¬trizes nacionais, visto que proporcionou chegada em cena conduta clínica.
precoce, avaliação mais rápida, utilização aumentada da terapia A escassez de neurologistas prontamente disponíveis em
trombolítica e a tempos de porta-agulha re¬duzidos para a ad- serviços hospitalares dos Estados Unidos favoreceu o desenvol-
ministração trombolítica. vimento de práticas avançadas de enferma¬ gem. Estas práticas
Ao ser admitido no serviço de emergência, o paciente deve evidenciadas pelo autor contemplam a atuação dos enfermei-
ser avaliado com base em protocolos que definem as principais ros na identificação, tomada de decisão de tratamento e gestão
manifestações clínicas da doença e indicam o melhor trata- contínua de pacientes com AVE (BRETHOUR, 2012).
mento no melhor tempo resposta, reduzindo as complicações Em estudo de Blomberg e colaboradores (2014) foi avaliado
provenientes do AVE e melhorando o prognóstico do paciente o nível de con¬cordância entre enfermeiros e médicos na condu-
(SANDER, 2013). ção clínica do AVE, evidenciando similaridade entre os profissio-
Blomberg e outros autores (2014) constataram que a uti- nais de 78% na decisão de monitorização e intervenção precoce
lização de algoritmo específico no atendimento pré-hospitalar e 74% na realização da Tomografia Computadorizada (TC) de
(APH) permitiu uma alta precisão no diag¬nóstico do AVE e efi- crânio, porém os enfermeiros apresentaram nível de precisão
cácia na corrente de sobrevivência. Destacaram a utilização de em 84%.
intervenções específicas, incluindo suporte de oxigênio, inser- Bergman e outros autores (2012) defendem que os enfer-
ção de cateteres veno¬sos periféricos, exame neurológico e rea- meiros devem ser ca¬pacitados para reconhecer as manifesta-
ção pupilar, transporte imediato com elevada prioridade médica ções clínicas de um AVE, visto que esses pro¬fissionais, na maio-
e comunicação precoce à instituição que receberá o paciente. ria das vezes, são responsáveis pelo acolhimento e avaliação
As diretrizes da Associação Americana de AVE recomendam pri¬mária desses pacientes no serviço de urgência. O reconhe-
que a avaliação e o diagnóstico rápidos dos pacientes devem cimento precoce e escolha da terapêutica adequada são fatores
proporcionar um tempo de porta-agulha não superior a 60 mi- positivos para o prognóstico do paciente.
nutos (BRETHOUR, 2012). Associado a isto, o autor evidenciou Yang e outros autores (2015), ao questionarem 331 enfer-
que a administração do t-PA dentro das primeiras 3 horas do iní- meiros e médicos sobre a capacidade de reconhecimento de
cio do quadro em uma dose de 0,9 mg/kg proporciona melhora um AVE, 48% referiram aptidão para reconhecer e gerenciar a
na perfusão cerebral e reduz significati¬vamente a incapacidade situação. Em seu estudo, Adelman e colaboradores (2014), ao
sem aumento no risco de morte do paciente. entrevis¬tarem 875 enfermeiros sobre os sinais de alerta para
o AVE, evidenciaram que 87% dos entrevistados reconheceram
dois ou mais sinais da doença.

146
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Conforme afirmam Barcelos e outros autores (2016), as li- A abordagem do enfermeiro inclui, pelo menos, sete proce-
mitações físicas e cog¬nitivas impostas pelo AVE são agravantes dimentos:
que podem interferir durante a realização dos cuidados pelo en- - Controlar a glicemia capilar
fermeiro aos pacientes. Por este motivo, o profissional deve ser - Verificar o monitor multiparamêtrico
capacitado para atuar diante das dificuldades que podem surgir - Coletar exames laboratoriais
durante a assistência, utilizando estratégias de cuidado que vi- - Realizar oxigenoterapia
sem proporcionar uma comunicação tera-pêutica efetiva. - Verificar a dor e realizar o controle
Souza e outros autores (2014) evidenciaram em estudo a - Determinar o decúbito, sempre de acordo com o tipo de
importância da comu¬nicação verbal e não verbal entre o en- choque (hipovolêmico, cardiogênico e circulatório)
fermeiro e o paciente afásico, a fim de manter uma relação de - Realizar acesso venoso calibroso
confiança. No estudo, os enfermeiros relataram usar os ges-
tos (100%), comunicação verbal (33,3%), comunicação escrita No choque hipovolêmico, que é o tipo mais frequente, há
(29,6%) e toque (18,5%). Nesta pers¬pectiva, é essencial que uma diminuição no volume intravascular. O problema pode ser
o enfermeiro esteja preparado para realizar uma comunicação ocasionado pela perda de líquido externa ou, ainda, por deslo-
terapêutica efetiva, com o objetivo de prestar assistência ade- camento de líquidos internos. Aqui, os objetivos da enfermagem
quada e de qualidade. no tratamento concentram-se em três etapas:
- Restaurar o volume intravascular
8) suporte de vida em situações de estados de choque; - Redistribuir o volume de líquidos corporais
- Reparar a causa originária da perda de líquido ao lado da
equipe médica tão logo for possível.

Para restaurar a saúde do paciente, a atuação da enferma-


gem consiste em avaliação sistemática do paciente, seja mo-
nitorando os índices glicêmicos ou realizando exames periodi-
camente. O enfermeiro é, ainda, o profissional que executa o
tratamento prescrito, monitora o paciente e o protege de even-
tuais complicações.
Ao longo da rotina, o profissional deve conservar a atuação
humanizada, que considera a questão emocional como parte in-
tegrante do processo de cuidar. Vale ressaltar que a assistência
da enfermagem não se resume à saúde física.
A atuação do enfermeiro no estado de choque deve ser ca-
paz de promover o bem-estar integral do paciente. Além disso, a
aproximação com o enfermo potencializa o próprio tratamento,
propiciando controle e monitorização constantes.

Tipos de choque 9) suporte de vida em situações de parada cardiorrespira-


- Hipovolêmico – depleção do volume intravascular efetivo. tória;
- Cardiogênico – falha primária da função cardíaca. Parada cardiorrespiratória (PCR) consiste na cessação de
- Distributivo – alterações do tônus/permeabilidade vascular. atividades do coração, da circulação e da respiração, reconhe-
- Obstrutivo – obstrução mecânica ao enchimento do cora- cida pela ausência de pulso ou sinais de circulação, estando o
ção. paciente inconsciente (SILVA; ARAÚJO E ALMEIDA, 2017). Para
Nasser e Barbieri (2015), a parada cardiopulmonar ou parada
O paciente em estado de choque exige atenção total da cardiorrespiratória (PCR) é definida como a ausência de ativida-
equipe médica, devido ao risco iminente de morte. Em casos as- de mecânica cardíaca, que é confirmada por ausência de pulso
sim, a intervenção deve ser imediata. Isso porque o tempo de detectável, ausência de responsividade e apneia ou respiração
ação e de resposta exerce influência direta na recuperação do agônica, ofegante.
paciente. Já para Zanini, Nascimento e Barra (2006), a PCR é definida
O procedimento vai na contramão da premissa básica da como o súbito cessar da atividade miocárdica ventricular útil,
enfermagem, que preza sempre a prevenção primária. No aten- associada à ausência de respiração. Como podemos observar
dimento ao estado de choque, entretanto, o profissional é im- diferentes autores se comunicam com a mesma definição para
pelido a agir rapidamente, a fim de evitar danos estruturais ao PCR, utilizam palavras diferentes com mesmos significados. De
enfermo. acordo com Silva (2004) arada cardiorrespiratória (PCR) é a ces-
Caracterizado por uma síndrome que ocasiona a redução da sação súbita e inesperada das funções cardíaca e respiratória.
perfusão tecidual sistêmica, o choque leva o corpo a uma dis- Também pode ser descrita como a inadequação do débito car-
função orgânica. Os órgãos deixam de receber suporte, podendo díaco que resulta em um volume sistólico insuficiente para a
entrar em falência. perfusão tecidual decorrente da interrupção súbita da atividade
Nesse cenário, a atuação da enfermagem tem papel funda- mecânica ventricular .
mental, sendo importante desde a assistência emergencial até a Para Guimarães (2005) a RCP é o conjunto de procedimen-
execução do plano de cuidados. tos destinados a manter a circulação de sangue oxigenado ao
cérebro e a outros órgãos vitais, permitindo a manutenção tran-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
sitória das funções sistêmicas até que o retorno da circulação espontânea possibilite o restabelecimento da homeostase. A PCR
ocorre com maior frequência em UTI, uma vez que essas unidades assistem pacientes gravemente enfermos. Os profissionais de
Enfermagem devem estar aptos para reconhecer quando um paciente está em PCR ou prestes a desenvolver uma.
A avaliação do paciente não deve levar mais de 10 segundos (ZANINI; NASCIMENTO E BARRA, 2006). Vários estudos têm de-
monstrado que quanto menor o tempo entre a parada cardiorrespiratória e o atendimento, maior a chance de sobrevida da vítima
(GOMES et al., 2005 apud MADEIRA E GUEDES, 2010).

Para que o Suporte Básico de Vida (SBV) seja concretizado com eficiência é necessário o reconhecimento rápido e a realização
das manobras de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), utilizando de compressões torácicas de boa qualidade (SILVA; ARAÚJO E
ALMEIDA, 2017).
Com o objetivo de reverter este colapso foi desenvolvido o método de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) que refere-se à
tentativas de recuperar a circulação espontânea, sendo sua aplicação universal (o que independe da causa base da PCR), com atua-
lizações protocolares sistemáticas (SILVA; ARAÚJO E ALMEIDA, 2017).
A reanimação cardiopulmonar (RCP) é definida como o conjunto de manobras realizadas após uma PCR com o objetivo de
manter artificialmente o fluxo arterial ao cérebro e a outros órgãos vitais, até que ocorra o retorno da circulação espontânea (RCE)
(NASSER E BARBIERI, 2015). Para Madeira e Guedes (2010), a reanimação cardiorrespiratória cerebral é definida pelo conjunto de
medidas diagnósticas e terapêuticas que tem o objetivo de reverter a parada cardiorrespiratória. A RCP tem por finalidade fazer
com que o coração e o pulmão voltem a funcionar de acordo com seu padrão de normalidade, e por ser entendida como um conjun-
to de manobras destinadas a garantir a oxigenação para todos os órgãos e tecidos, principalmente ao coração e cérebro.
O enfermeiro é vital nos esforços para reanimar um paciente, sendo ele, frequentemente, quem avalia primeiro o paciente e
inicia as manobras de RCP e aciona a equipe (ARAÚJO et al., 2012). Cabe ao enfermeiro e sua equipe assistir esses pacientes, ofere-
cendo circulação e ventilação até a chegada da assistência médica, para tanto esses profissionais devem adquirir habilidades para
prestar adequadamente a assistência necessária.
A enfermagem tem papel extremamente importante no atendimento à PCR, evento em que são imprescindíveis a organização,
o equilíbrio emocional, o conhecimento teóricoprático da equipe, bem como a correta distribuição das funções por parte destes
profissionais, que representam, muitas vezes, a maior parte da equipe nos atendimentos de RCP (SILVA, 2006). Silva (2006) relata
que na maioria das vezes, o enfermeiro é o membro da equipe de saúde que primeiro se depara com o paciente/cliente em situação
de PCR, devendo, portanto estar preparado para concentrar esforços e atuar nos acontecimentos que precedem o evento da PCR,
e consequentemente, na sua identificação precoce, no seu atendimento e nos cuidados pós-reanimação.
Para Silva (2017), se a manobra não for realizada corretamente, poderá haver uma necrose nos tecidos musculares do coração,
a diminuição ou ausência de oxigenação no cérebro, levando assim o paciente a óbito ou até lesões irreversíveis cerebrais.

Segundo a American Heart Association 2015, o atendimento à PCR em Suporte Básico de Vida (SBV), compreende:
Um conjunto de técnicas sequenciais caracterizadas por compressões torácicas, abertura das vias aéreas, respiração artificial
e desfibrilação ao considerar a PCR como uma emergência clínica, na qual o objetivo do tratamento consiste em preservar a vida,
restabelecer a saúde, aliviar o sofrimento e diminuir incapacidades, o atendimento deve ser realizado por equipe competente,
qualificada e apta para realizar tal tarefa. Neste contexto destaca-se a figura do enfermeiro, profissional muitas vezes responsável
por reconhecer a PCR, iniciar o SBV.
De acordo com as novas recomendações da American Heart Association o correto é que os socorristas aplique uma frequência
mínima de 100 a 120 compressões torácicas por minutos (AHA, 2015). Sendo este um fator determinante do retorno da circulação
espontânea. Desta forma, a pesquisa tem o intuito de identificar a frequência com que os profissionais se atualizam quanto as
novas recomendações da AHA em relação a PCR e aos métodos de RCP, contribuindo para a formulação de estratégias eficazes de
incentivos a capacitação em saúde aos profissionais enfermeiros.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

10) suporte de vida em situações de intoxicações exógenas;


Intoxicação é o prejuízo causado em sistemas orgânicos (nervoso, respiratório, cardiovascular, etc.) devido à absorção de algu-
ma substância nociva. “Todas as coisas são venenosas, é a dose que transforma algo em veneno”. (Paracelso, século XVI)
• A maior parte das intoxicações ocorre na faixa-etária de 1 – 4 anos.
• Adultos – medicamentos e drogas lícitas/ilícitas.

Conduta:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
• Estado geral
• ABCDE
• Sinais Vitais
• Anamnese – 5 Ws (Quem, o que, onde, quando, por que?)
• Antídoto
• Diluição?
• Êmese
• Lavagem Gástrica

Diluição:

Imediatamente
- Álcalis
- Ácidos fracos
- Hidrocarbonetos

Nunca
- Ácidos concentrados
- Substâncias cáusticas
- Inconsciência
- Reflexo da deglutição diminuído
- Depressão respiratória
- Dor abdominal

Lavagem Gástrica:
• Recém-Nascido: 500 ml
• Lactentes: 2 a 3 litros
• Pré-Escolares: 4 a 5 litros
• Escolares: 5 a 6 litros
• Adultos: 6 a 10 litros.

Solução utilizada: Soro Fisiológico a 0,9%.


• Volume por Vez
Crianças: 5ml/Kg •Adultos: 250ml.

Carvão ativado
• Crianças < 12 anos = 1g/kg
• Adultos até 1g/kg
• Dose de ataque = 50 a 60g em 250ml SF
• Manutenção = 0,5g/kg – 4 a 6h

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

Monóxido de Carbono
• Gás inodoro
• Incolor.
• Tem de 200 a 300 vezes mais afinidade pela hemoglobina que o oxigênio.
• Satura a hemoglobina, impede a chegada de oxigênio em nível celular.

Conduta:
• Retirar do ambiente nocivo
• O2 em alta concentração
- O2 a 100% diminui a meia vida da COHb em cerca de 4 vezes em pressão atmosférica normal - Câmara hiperbárica a 3 atm
diminui a meia vida da COHb em cerca de 13 vezes.

Meia vida da COHb = 5 horas

11) suporte de vida em situações de acidente ofídico.


Acidente por animais por animais peçonhentos é considerado um problema de saúde pública em países tropicais. O aumento do
número de notificações tem sido registrado pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Animais peçonhentos
são descritos pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicos (SINTOX) como o segundo maior agente de intoxicação
humana no Brasil, suplantado apenas por medicamentos1 . Animais peçonhentos são caracterizados como aqueles que possuem
glândulas produtoras de veneno ou substância tóxica e um aparelho especializado utilizado na inoculação do veneno. Dessa forma,
no mundo existem cerca de 100.000 espécies peçonhentas. Sendo que no Brasil os animais peçonhentos mais comuns são escor-
piões, aranhas, abelhas, arraias, serpentes e vespas. O atendimento médico pré-hospitalar foi criado devido ao aumento exacerba-
do de enfermidades relacionados a situações de urgência e emergência, com o objetivo de uma intervenção precoce

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A atenção primária às urgências e emergências era conside- gerais da ferida, identificação do tipo de acidente e principal-
rada um problema para o SUS, devido a isso, em 2000 foi insti- mente a administração precoce da soroterapia para uma melhor
tuída a Política Nacional de Atendimento às Urgências (PNAU), sobrevida. Os acidentes por animais ofídicos apresentam maio-
tendo como componente o Serviço Móvel de Urgência (SAMU) res taxas de casos com o intervalo mais longo entre o acidente
que foi instituído pela portaria n. 1.863/03 sendo posterior- e o atendimento, esse tipo de acidente também foi o que mais
mente fonte da portaria 1.864/0. Os pilares da PNAU foram apresentou classificação de gravidade com taxa moderada e gra-
fundamentados na promoção da qualidade de vida, operação ve. Dessa forma, com o tratamento instituído no atendimento
de centrais de regulação, capacitação e educação continuada, préhospitalar móvel pode proporcionar menor taxa do intervalo
humanização da atenção e organização em rede. As intoxicações entre o acidente e o atendimento e, consequentemente, meno-
representam grande volume dos atendimentos da emergência res índice de notificações de classificação de gravidade modera-
tanto de adultos quanto pediátricos. da e grave. Maiores estudos são necessários para avaliar a signi-
Os acidentes por animais peçonhentos também são descri- ficância dessa relação e se zonas rurais e urbanas influenciam no
tos como acidentes domésticos em que crianças constituem a tempo entre o acidente e o atendimento.
parcela da população mais acometida de acordo com Mota e Atuação do Enfermeiro no atendimento pré-hospitalar.
Andrade (2014). Pacientes que sofreram acidentes por animais O atendimento pré-hospitalar (APH) é destinado às vítimas
peçonhentos devem ser atendidos por unidade especializada em de trauma, violência urbana, mal súbito e distúrbios psiquiátri-
urgência clínica devido à necessidade de rapidez para neutrali- cos. Visa estabilizar o paciente de forma eficaz, rápida e com
zação das toxinas inoculadas durante o acidente e introdução equipe preparada para atuar em qualquer ambiente e remover
de medidas de sustentação das condições. O tempo decorrido o paciente para uma unidade hospitalar.
entre o acidente e o atendimento médico é condicionante para a Em 2002, tendo em vista o crescimento da demanda por ser-
recuperação das vítimas e determina a evolução para um quadro viços de urgência e emergência e ao real aumento do número de
mais leve ou mais grave.. Ainda há um déficit em relação à pre- acidentes e da violência urbana, o Ministério da Saúde aprovou
sença de um perfil nacional confiável devido ao grande número a regulamentação técnica dos sistemas estaduais de Urgência
de subnotificações. Dessa forma, a administração da soroterapia e Emergência, por meio da Portaria 2048, ratificando que esta
é necessária ser realizada o mais precoce possível. Para que isso área constitui-se em um importante componente da assistên-
ocorra é imprescindível o conhecimento da forma de identifi- cia à saúde. No ano seguinte, a Portaria1864/GM deu início à
cação do animal peçonhento principalmente pelos profissionais implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
de atendimento préhospitalar móvel, que tem o contato mais (SAMU-192) nas modalidades suporte básico e avançado de
precoce com esse paciente. vida, atuação desenvolvida em todo o território brasileiro pelos
Estados em parceria com o Ministério da Saúde e as Secretarias
Atendimento Pré Hospitalar Municipais de Saúde. A Enfermagem ainda conta com a Resolu-
O intervalo de tempo entre o acidente e o atendimento é ção Cofen 375/2011, que dispõe sobre a presença do enfermeiro
descrito como estar relacionado diretamente com a gravidade no Atendimento Pré-Hospitalar e Inter-Hospitalar, em situações
e prognóstico do acidente . O acidente ofídico apresenta maior de risco conhecido ou desconhecido.
prevalência de complicações entre os tipos de acidentes peço- No Brasil, o APH envolve o Corpo de Bombeiros, o SAMU
nhentos, dependendo do quadro do paciente, pode evoluir com (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e também as em-
complicações como, necrose tecidual, síndrome compartimen- presas particulares. A enfermagem participa em todas essas ver-
tal, insuficiência renal aguda, choque. Estudo realizado por Ri- tentes e como em qualquer outra área do cuidar, deve estar ali-
beiro et al. (1998). Ao analisar os óbitos evidenciou que foram cerçada em conhecimento, capacitação técnica e humanização.
pacientes atendidos mais tardiamente. A soroterapia é o único A enfermeira Adriana Mandelli Garcia tem em seu currículo
tratamento indicado para neutralizar a ação dos venenos dos a experiência em atendimento a vítimas de urgências clínicas e
animais peçonhentos, o soro contém anticorpos específicos traumáticas. Em mais de uma década de atuação no APH, é ela
para cada tipo de acidente. Quando aplicados corretamente e quem nos relata nessa entrevista a atividade prestada pela en-
em tempo hábil pode evitar e até reverter a maioria dos efeitos fermagem, a importância da equipe nas ruas e os avanços neste
dos envenenamentos por esses animais. No atendimento dessa serviço. Hoje, Adriana Mandelli é enfermeira do Corpo de Bom-
urgência clínica tem que ser realizada a manutenção dos dados beiros do Estado de São Paulo e também é gerente de Enfer-
vitais e manobras de suporte básico. Os cuidados gerais do local magem da BEM Emergências Médicas, estando diariamente no
da ferida são recomendados. Sendo a reposição hidroeletrolíti- serviço público e privado do APH.
ca, monitorização e observação da função neurológica impres-
cindível em casos graves. A antibioticoterapia não é usual, mas No que consiste o serviço de atendimento pré-hospitalar
pode ser utilizada em acidentes botrópico ou laquético com (APH)?
presença de necrose extensa, podendo por optar por penicilina O nome pré-hospitalar caracteriza-se pelo atendimento à ví-
G ou Oxacilina. O atendimento deve incluir a avaliação cardior- tima antes da mesma chegar ao hospital, podendo ser em locais
respiratória e identificação de fatores de risco, reconhecendo habitados normalmente (ruas, residências, comércios etc.), lo-
precocemente a gravidade e agir de forma rápida para garantir cais de difícil acesso como buracos, galerias fluviais, escombros
a sobrevida. e outros, além do atendimento aquático; logicamente, para isso,
Concluímos que o intervalo de tempo entre o acidente por a equipe requer treinamento. Nestes locais iniciamos a presta-
animal peçonhento e o atendimento de um acidente é um fator ção do serviço de saúde básico ou avançado. Após estabilização,
relacionado a gravidade e prognóstico. Dessa forma, medidas a vítima é encaminhada para o hospital por meio do melhor re-
como a soroterapia devem ser instituídas o mais precoce possí- curso disponível, entre eles ambulância, helicóptero ou lancha.
vel. No atendimento pré-hospitalar pode ser realizado a moni-
torização dos dados vitais, classificação da gravidade, medidas

154
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Quais as principais atribuições do enfermeiro que atua Existe um protocolo nacional de atendimento?
nesta área? O Brasil segue é o modelo americano, criado em 1990 por
A atribuição do enfermeiro dependerá da unidade em que representantes da American Heart Association (AHA), da Euro-
ele estiver atuando, porém, para que os internautas do Portal pean Resuscitation Council (ERC), da Heart and Stroke Foun-
tenham uma ideia do que o enfermeiro desenvolve na área de dation of Canada (HSFC) e da Australian Resuscitation Council
APH, apresento algumas atribuições da minha vivência. (ARC). Ele nasceu da necessidade de se criar nomenclatura na
- Supervisionar e avaliar as ações de enfermagem da equipe ressuscitação e pela falta de padronização de linguagem nos
no atendimento Pré-Hospitalar Móvel; relatórios relativos à parada cardíaca em adultos em ambiente
- Prestar cuidados de enfermagem de qualquer complexi- extra-hospitalar. Em 1992, durante a conferência internacional
dade técnica a pacientes com ou sem risco de vida, que exijam “Resuscitation 92”, Brighton, na Inglaterra, propôs-se uma coo-
conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar peração internacional contínua por meio de um comitê de liga-
decisões imediatas; ção permanente, multidisciplinar, para diretrizes na área. Assim,
- Ministrar treinamento e/ou participar dos programas de ficou determinado que o “LS” life support seria a maneira de dis-
treinamento e aprimoramento de pessoal de saúde em urgên- seminar e padronizar os atendimentos no APH. Nos dias atuais
cias e emergências; são esses protocolos que vigoram pelas Américas e Europa, claro
- Fazer controle de qualidade do serviço nos aspectos dire-
que cada local com suas peculiaridades. No Brasil, em 1976, o
cionados a pessoas e equipamentos inerentes à profissão, esta-
médico Ari Timerman despertou interesse sobre ressuscitação e
belecendo e controlando indicadores.
teve acesso aos protocolos da AHA. Logo depois, John Cook Lane
Dentro da área de APH, quais os segmentos possíveis de
trouxe ao Brasil os primeiros cursos de ressuscitação e publicou
atuação do profissional de enfermagem?
O mercado de trabalho está cada vez mais diversificado e os primeiros livros na língua portuguesa. Em seguida, os cursos
ele pode atuar em transporte aéreo, terrestre - que são os mais começaram a ser ministrados no Brasil em parceria com o Hospi-
comuns - além de estádio esportivo, shopping center, academia, tal Albert Einstein. Os protocolos estão disponíveis para acesso
resort, parque de diversões, grupo de turismo de aventura com no site da AHA - www.heart.org .
rafting, arvorismo, escaladas, além de comunidades desenvol-
vendo o treinamento da pessoa leiga que gostaria de ser trei- Como é realizado o registro de Enfermagem dos atendi-
nada para iniciar o atendimento de uma vítima, até mesmo em mentos prestados?
companhias aéreas para desenvolvimento da equipes de voo. Ao final do atendimento o registro deve ser feito por to-
Ressalto ainda a importância da presença do APH em eventos dos os profissionais envolvidos no caso. Durante a entrega do
futebolísticos. A Lei 10671/03, conhecida como Estatuto do Tor- paciente, orienta-se colher assinatura do profissional que dará
cedor, determina a presença de dois enfermeiros e um médico continuidade ao atendimento à vítima. Este prontuário deve ser
presentes no local de jogo a cada dez mil torcedores. preenchido em duas vias, no mínimo, permitindo que uma fique
para a instituição de APH e a segunda via siga para o destino do
Como acontece o chamado do APH? paciente.
O fluxo basicamente parte do solicitante, que liga para uma Com relação aos pertences do paciente, vale acrescentar
central (192 ou 193) contando o motivo e descrevendo a locali- que documentos, dinheiro, joias etc. deverão ser relacionados
zação do atendimento a ser prestado. No momento do contato e transferidos a um familiar ou à enfermagem que irá receber o
com a central segue-se um questionário de perguntas necessá- paciente. No momento do socorro o enfermeiro é o responsá-
rias para enviar o recurso mais indicado. Simultaneamente, um vel em cuidar dos pertences do paciente e esse “rol de valores”
médico poderá iniciar uma conversar com o solicitante, em pa- deve ser feito por duas pessoas, o profissional da enfermagem
ralelo ao serviço indicado estar a caminho do atendimento. A e uma testemunha.
primeira equipe a chegar ao local posiciona a central sobre a
atual realidade e as necessidades para o bom andamento (seja Como deve ser composta uma unidade de APH?
para a suspensão de luz no local, por exemplo, ou uma solici- O mínimo que a unidade deve ter é o que está previsto na
tação de policiamento ou mesmo de trânsito). A partir daí, ini-
Portaria 2048/2002 do Ministério da Saúde, e serve para to-
cia-se o atendimento da vítima determinando à central qual o
das as modalidades, o que difere é a tipo de ambulância que
recurso necessário, se hospital primário ou terciário, de acordo
determina o que a mesma deve conter, sendo Ambulância de
com a condição e necessidade da mesma.
Transporte (Tipo A), Ambulância de Suporte Básico (Tipo B), Am-
“A primeira equipe a chegar ao local posiciona a central so-
bre a atual realidade e as necessidades para o bom andamento” bulância de Resgate (Tipo C), Ambulância de Suporte Avançado
(Tipo D), Aeronave de Transporte Médico (Tipo E), Embarcação
Como é dividido o atendimento? de Transporte (Tipo F).
Básico e avançado. O atendimento básico envolve as mano- Porém, existem peculiaridades tanto no perfil de pacientes
bras/técnicas iniciais de atendimento necessárias e fundamen- que atendemos como em inovações da indústria farmacológica,
tais até que se determine a necessidade ou não de acessar o pa- de materiais em saúde e tecnologias que facilitam as técnicas
ciente com maior “invasão”, seja ela intubação, acesso venoso, aplicadas e garantem maior segurança para ambos os lados,
administração de drogas e outras que se fazem necessárias para agregando na eficácia e no sucesso do atendimento.
um bom prognóstico. Todos os estados brasileiros deveriam pro-
porcionar à população as duas opções, porém a realidade atual Como você iniciou a sua atividade profissional e por que
não é esta. Qual serviço será enviado ao local de atendimento partiu para esta especialização?
é determinado no momento da triagem, diante da gravidade da A formação de enfermeira foi praticamente uma escolha
situação e o número de vítimas envolvidas. Assim, feita a tria- dos meus pais. Realizei teste de aptidão e também segui a opi-
gem, determina-se o melhor recurso a ser enviado, se o básico nião deles. Finalizei a graduação ainda muito nova e iniciei na
ou o avançado. área hospitalar. Certa vez, fui com minha mãe em uma consulta

155
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
médica e no meio da consulta, o médico deixou de nos atender e Como é a relação e a atuação da equipe de atendimento
iniciou o socorro a uma paciente de parada cardiorrespiratória. pré-hospitalar e intra-hospitalar?
Como a equipe estava um tanto atrapalhada, eu me ofereci para Infelizmente, não é muito boa. Os motivos são diversos, e
ajudar. Coincidentemente, a paciente voltou a viver. Eu me sen- de ambos os lados. Creio que o maior ‘tendão de Aquiles’ seja
ti extremamente satisfeita e surpresa, pois eu ainda não havia a lotação dos hospitais públicos e falta de mão-de-obra para
passado por esta situação. Decidi, aí, que queria atuar em pron- atender toda a demanda. Acredito que melhor remuneração,
to-socorro. Fui em busca do meu desejo. Após alguns anos nesta redução da jornada e melhores condições de trabalho no servi-
atividade, percebi que eu queria mais do que esperar, eu queria ço público são fatores que podem, e muito, contribuir para um
chegar na pior situação em que um indivíduo possa estar. Con- atendimento público de maior qualidade e melhor entrosamen-
clui mestrado na USP voltado para parada cardiorrespiratória e to entre os serviços.
busquei, incansavelmente, o concurso do GRAU (vinculado ao
Corpo de Bombeiros), cujo trabalho faço há oito anos. Além dis- Os riscos ocupacionais estão muito presentes no cotidiano
so, também atuo junto à BEM Emergências Médicas há 13 anos. intra e extra-hospitalar. Como evitar possíveis riscos no APH?
“percebi que eu queria mais do que esperar, eu queria che- Quanto aos riscos, realmente são muitos. As instituições
gar na pior situação em que um indivíduo possa estar” desenvolvem treinamentos relacionados e orientações formais,
além, é claro, da entrega do equipamento quando o mesmo é
Como está a especialização em Emergência atualmente no individual. As medidas de segurança na saúde estão contempla-
Brasil? Você considera esta uma área promissora? das na NR-32, e em situações específicas, como salvamento na
As universidades estão evoluindo e este tema atualmente água, devemos contar com equipamentos próprios de seguran-
é desenvolvido em sua maioria. Existem já muitos cursos lato ça, como apito, boia, corda etc. Outro exemplo, para salvamen-
sensu de especialização na área. Inclusive os enfermeiros já se to em altura, é necessário contar com mosquetões, cordas, fita,
mobilizaram e criaram uma associação específica que se chama baudrier(cadeirinha), descensor etc.
COBEEM – Colégio Brasileiro de Enfermagem em Emergência, da
qual fui presidente. Noto que aumentou a procura pelo campo Após um resgate, é necessário reposição do material, lim-
de estágio nesta área e há muitos profissionais que se identifi-
peza e higienização do veículo. Como se dá este processo?
cam com a atuação no APH. O Brasil tem se adaptado rotinei-
Esse processo geralmente tem início no hospital de desti-
ramente aos protocolos americanos, temos legislação aplicável,
no do paciente. Ele é executado pela equipe da ambulância. A
relativamente atualizada, e órgãos de fiscalizações atuantes
reposição é necessária e fundamental para que o veículo esteja
neste mercado.
no QRV (linguagem de rádio que caracteriza que a equipe está
pronta para próximo atendimento). A limpeza geralmente é rea-
Quais são os principais cursos que enfermeiros e técnicos
lizada pela enfermagem, porém o motorista e o médico muitas
em Enfermagem devem ter em seus currículos?
vezes colaboram. A técnica utilizada é a mesma praticada em
Os cursos para enfermeiros mais recomendados para APH e
hospitais e os produtos também são os mesmos. Nós seguimos
conhecidos pela sua qualidade são os LS (life support): BLS (basic
life support), ACLS (Advanced life support), PHTLS (pré-hospital o procedimento conforme Portaria 2048 do Ministério da Saúde,
life support) e PALS (pediatric advanced life support). Eles são que diz:
desenvolvidos em vários sítios de treinamento e na sua maioria
em grandes hospitais como o Albert Einstein, Sírio Libanês, HCor, Limpeza e desinfecção da Ambulância
em São Paulo, por exemplo, e em universidades como Anhembi
Morumbi e outras instituições que se vincularam a AHA, pois é Limpeza
ela quem controla a qualidade dos cursos. O Funcor, por exem- a) Remover todos os materiais utilizados no atendimento ao
plo, que é credenciado na AHA, oferece esses cursos. paciente;
b) Desprezar gazes, ataduras úmidas e contaminadas com
Quais são as dificuldades vivenciadas pelo serviço? sangue e/ou outros fluídos corporais em sacos plásticos branco,
Elas se iniciam, em algumas vezes, no próprio endereço da descartando o mesmo no lixo hospitalar;
vítima, devido ao crescimento descontrolado, prejudicando o c) Materiais perfurocortante eventualmente utilizados de-
planejamento viário e, consequentemente, retardando a chega- vem ser desprezados em recipiente adequado;
da do socorro no endereço. Outra dificuldade é o acesso à vítima d) Sangue e demais fluídos devem ser cobertos com uma ca-
em locais inóspitos, onde lançamos mão de equipamentos para mada de organoclorado em pó, removendo-se, após 10 minutos
salvamento em altura ou água, ou mesmo necessitamos ter um de contato, com papel toalha;
condicionamento físico para transpor as barreiras encontradas. e) Lavar as superfícies internas com água e sabão neutro ini-
No destino final do paciente, encontramos dificuldades no trei- ciando sempre pelo teto, indo para as paredes, mobílias e piso,
namento das equipes, disponibilidades de leitos e recebimento da frente do compartimento de transporte de pacientes em di-
adequado do paciente. reção à porta traseira.

O que de novidade e inovação está surgindo direcionado Desinfecção


ao atendimento de emergência? a) Friccionar, por três vezes, álcool etílico 70% nas superfí-
As máscaras laríngeas são dispositivos que agregam no aten- cies não sujeitas à corrosão, exceto superfícies acrílicas ou en-
dimento, o DEA (desfibrilador externo automático) está cada vez vernizadas, ou utilizar outro produto disponível para a completa
mais sedimentado no mercado, e as drogas, como a vasopressi- desinfecção;
na, que têm um efeito espetacular na parada cardiorrespirató- b) Periodicamente a cada sete dias realizar uma limpeza e
ria, além de materiais hemostáticos e dispositivos tecnológicos descontaminação mais ampla;
que facilitam a comunicação.

156
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
c) Quando efetuar o transporte de pacientes com doenças SEÇÃO III
infectocontagiosas (Aids, hepatite, Tuberculose, Meningites etc) DEFINIÇÕES
realizar, obrigatoriamente, a completa desinfecção da ambulân-
cia, materiais e equipamentos utilizados. Art. 4º Para efeito desta Resolução, são adotadas as seguin-
tes definições:
Quais competências devem ter os profissionais que estão I – Alvará de Licenciamento Sanitário: documento expedido
começando a atuar em APH? pelo órgão sanitário competente Estadual, do Distrito Federal
Eles devem ter competências de aspecto cognitivo, técni- ou Municipal, que libera o funcionamento dos estabelecimentos
co, social e afetivo necessários para a execução desta atividade, que exerçam atividades sob regime de Vigilância Sanitária.
além de equilíbrio emocional e autocontrole para atuar frente II – Área crítica: área na qual existe risco aumentado para
aos desafios. O enfermeiro, principalmente, para liderar uma desenvolvimento de infecções relacionadas à assistência à saú-
equipe em APH, em minha opinião, deve ser participativo, pre- de, seja pela execução de processos envolvendo artigos críticos
sente e flexível, mas não perder o foco dos resultados qualitati- ou material biológico, pela realização de procedimentos invasi-
vos e quantitativos, bem como utilizar criatividade para inovar vos ou pela presença de pacientes com susceptibilidade aumen-
e se atualizar. tada aos agentes infecciosos ou portadores de microrganismos
de importância epidemiológica.
III – Centro de Terapia Intensiva (CTI): o agrupamento, numa
c. Assistência de Enfermagem em Unidades de Terapia In- mesma área física, de mais de uma Unidade de Terapia Intensi-
tensiva. va.
IV – Comissão de Controle de Infecção Hospitalar – CCIH: de
RESOLUÇÃO ANVISA Nº 7, DE 24 DE FEVEREIRO DE 2010 acordo com o definido pela Portaria GM/MS nº 2616, de 12 de
DOU 25.02.2010 maio de 1998.
V – Educação continuada em estabelecimento de saúde:
Dispõe sobre os requisitos mínimos para funcionamento de processo de permanente aquisição de informações pelo traba-
Unidades de Terapia Intensiva e dá outras providências. lhador, de todo e qualquer conhecimento obtido formalmente,
A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sa- no âmbito institucional ou fora dele.
nitária, no uso da atribuição que lhe confere o inciso IV do Art.11 VI – Evento adverso: qualquer ocorrência inesperada e inde-
do Regulamento aprovado pelo Decreto nº 3.029, de 16 de abril sejável, associado ao uso de produtos submetidos ao controle e
de 1999, e tendo em vista o disposto no inciso II e nos §§ 1º fiscalização sanitária, sem necessariamente possuir uma relação
e 3º do Art. 54 do Regimento Interno aprovado nos termos do causal com a intervenção.
Anexo I da Portaria nº 354 da ANVISA, de 11 de agosto de 2006, VII – Gerenciamento de risco: é a tomada de decisões rela-
republicada no D.O.U., de 21 de agosto de 2006, em reunião rea- tivas aos riscos ou a ação para a redução das conseqüências ou
lizada em 22 de fevereiro de 2010; adota a seguinte Resolução probabilidade de ocorrência.
da Diretoria Colegiada e eu, Diretor-Presidente, determino sua VIII – Hospital: estabelecimento de saúde dotado de inter-
publicação: nação, meios diagnósticos e terapêuticos, com o objetivo de
Art. 1º Ficam aprovados os requisitos mínimos para funcio- prestar assistência médica curativa e de reabilitação, podendo
namento de Unidades de Terapia Intensiva, nos termos desta dispor de atividades de prevenção, assistência ambulatorial,
Resolução. atendimento de urgência/emergência e de ensino/pesquisa.
IX – Humanização da atenção à saúde: valorização da di-
CAPÍTULO I mensão subjetiva e social, em todas as práticas de atenção e de
DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS gestão da saúde, fortalecendo o compromisso com os direitos
do cidadão, destacando-se o respeito às questões de gênero,
SEÇÃO I etnia, raça, religião, cultura, orientação sexual e às populações
OBJETIVO específicas.
X – Índice de gravidade ou Índice prognóstico: valor que re-
Art. 2º Esta Resolução possui o objetivo de estabelecer pa- flete o grau de disfunção orgânica de um paciente.
drões mínimos para o funcionamento das Unidades de Terapia XI – Médico diarista/rotineiro: profissional médico, legal-
Intensiva, visando à redução de riscos aos pacientes, visitantes, mente habilitado, responsável pela garantia da continuidade do
profissionais e meio ambiente. plano assistencial e pelo acompanhamento diário de cada pa-
ciente.
SEÇÃO II XII – Médico plantonista: profissional médico, legalmente
ABRANGÊNCIA habilitado, com atuação em regime de plantões.
XIII – Microrganismos multirresistentes: microrganismos,
Art. 3º Esta Resolução se aplica a todas as Unidades de Te- predominantemente bactérias, que são resistentes a uma ou
rapia Intensiva gerais do país, sejam públicas, privadas ou filan- mais classes de agentes amtimicrobianos. Apesar das denomi-
trópicas; civis ou militares. nações de alguns microrganismos descreverem resistência a
Parágrafo único. Na ausência de Resolução específica, as apenas algum agente (exemplo MRSA – Staphylococcus aureus
UTI especializadas devem atender os requisitos mínimos dispos- resistente à Oxacilina; VRE – Enterococo Resistente à Vancomici-
tos neste Regulamento, acrescentando recursos humanos e ma- na), esses patógenos frequentemente são resistentes à maioria
teriais que se fizerem necessários para atender, com segurança, dos agentes antimicrobianos disponíveis.
os pacientes que necessitam de cuidados especializados.

157
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
XIV – Microrganismos de importância clínico-epidemiológi- XXVIII – Unidade de Terapia Intensiva Especializada: UTI
ca: outros microrganismos definidos pelas CCIH como prioritá- destinada à assistência a pacientes selecionados por tipo de
rios para monitoramento, prevenção e controle, com base no doença ou intervenção, como cardiopatas, neurológicos, cirúr-
perfil da microbiota nosocomial e na morbi-mortalidade associa- gicos, entre outras.
da a tais microrganismos. Esta definição independe do seu perfil XXIX – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI-N): UTI
de resistência aos antimicrobianos. destinada à assistência a pacientes admitidos com idade entre
XV – Norma: preceito, regra; aquilo que se estabelece como 0 e 28 dias.
base a ser seguida. XXX – Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI-P): UTI
XVI – Paciente grave: paciente com comprometimento de destinada à assistência a pacientes com idade de 29 dias a 14 ou
um ou mais dos principais sistemas fisiológicos, com perda de 18 anos, sendo este limite definido de acordo com as rotinas da
sua autoregulação, necessitando de assistência contínua. instituição.
XVII – Produtos e estabelecimentos submetidos ao controle XXXI – Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica Mista (UTI-
e fiscalização sanitária: bens, produtos e estabelecimentos que Pm): UTI destinada à assistência a pacientes recém-nascidos e
envolvam risco à saúde pública, descritos no Art.8º da Lei nº. pediátricos numa mesma sala, porém havendo separação física
9782, de 26 de janeiro de 1999. entre os ambientes de UTI Pediátrica e UTI Neonatal.
XVIII – Produtos para saúde: são aqueles enquadrados como
produto médico ou produto para diagnóstico de uso “in vitro”. CAPÍTULO II
XIX – Queixa técnica: qualquer notificação de suspeita de DAS DISPOSIÇÕES COMUNS A TODAS AS UNIDADES DE
alteração ou irregularidade de um produto ou empresa relacio- TERAPIA INTENSIVA
nada a aspectos técnicos ou legais, e que poderá ou não causar
dano à saúde individual e coletiva. SEÇÃO I
XX – Regularização junto ao órgão sanitário competente: ORGANIZAÇÃO
comprovação que determinado produto ou serviço submetido
ao controle e fiscalização sanitária obedece à legislação sanitá- Art. 5º A Unidade de Terapia Intensiva deve estar localizada
ria vigente. em um hospital regularizado junto ao órgão de vigilância sanitá-
XXI – Risco: combinação da probabilidade de ocorrência de ria municipal ou estadual.
um dano e a gravidade de tal dano. Parágrafo único. A regularização perante o órgão de vigilân-
XXII – Rotina: compreende a descrição dos passos dados cia sanitária local se dá mediante a emissão e renovação de al-
para a realização de uma atividade ou operação, envolvendo, vará de licenciamento sanitário, salvo exceções previstas em lei,
geralmente, mais de um agente. Favorece o planejamento e ra- e é condicionada ao cumprimento das disposições especificadas
cionalização da atividade, evitam improvisações, na medida em nesta Resolução e outras normas sanitárias vigentes.
que definem com antecedência os agentes que serão envolvi- Art. 6º O hospital no qual a Unidade de Terapia Intensiva
dos, propiciando-lhes treinar suas ações, desta forma eliminan- está localizada deve estar cadastrado e manter atualizadas as
do ou minimizando os erros. Permite a continuidade das ações informações referentes a esta Unidade no Cadastro Nacional de
desenvolvidas, além de fornecer subsídios para a avaliação de Estabelecimentos de Saúde (CNES).
cada uma em particular. As rotinas são peculiares a cada local. Art. 7º A direção do hospital onde a UTI está inserida deve
XXIII – Sistema de Classificação de Necessidades de Cuida- garantir:
dos de Enfermagem: índice de carga de trabalho que auxilia a I – o provimento dos recursos humanos e materiais necessá-
avaliação quantitativa e qualitativa dos recursos humanos de rios ao funcionamento da unidade e à continuidade da atenção,
enfermagem necessários para o cuidado. em conformidade com as disposições desta RDC;
XXIV – Sistema de Classificação de Severidade da Doença: II – a segurança e a proteção de pacientes, profissionais e
sistema que permite auxiliar na identificação de pacientes gra- visitantes, inclusive fornecendo equipamentos de proteção in-
ves por meio de indicadores e índices de gravidade calculados a dividual e coletiva.
partir de dados colhidos dos pacientes. Art. 8º A unidade deve dispor de registro das normas institu-
cionais e das rotinas dos procedimentos assistenciais e adminis-
XXV – Teste Laboratorial Remoto (TRL): Teste realizado por trativos realizados na unidade, as quais devem ser:
meio de um equipamento laboratorial situado fisicamente fora I – elaboradas em conjunto com os setores envolvidos na as-
da área de um laboratório clínico. Também chamado Teste La- sistência ao paciente grave, no que for pertinente, em especial
boratorial Portátil – TLP, do inglês Point-of-care testing – POCT. com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar.
São exemplos de TLR: glicemia capilar, hemogasometria, eletró- II – aprovadas e assinadas pelo Responsável Técnico e pelos
litos sanguíneos, marcadores de injúria miocárdia, testes de coa- coordenadores de enfermagem e de fisioterapia;
gulação automatizados, e outros de natureza similar. III – revisadas anualmente ou sempre que houver a incorpo-
XXVI – Unidade de Terapia Intensiva (UTI): área crítica des- ração de novas tecnologias;
tinada à internação de pacientes graves, que requerem atenção IV – disponibilizadas para todos os profissionais da unidade.
profissional especializada de forma contínua, materiais especí- Art. 9º A unidade deve dispor de registro das normas institu-
ficos e tecnologias necessárias ao diagnóstico, monitorização e cionais e das rotinas relacionadas a biossegurança, contemplan-
terapia. do, no mínimo, os seguintes itens:
XXVII – Unidade de Terapia Intensiva – Adulto (UTI-A): UTI I – condutas de segurança biológica, química, física, ocupa-
destinada à assistência de pacientes com idade igual ou superior cional e ambiental;
a 18 anos, podendo admitir pacientes de 15 a 17 anos, se defini- II – instruções de uso para os equipamentos de proteção
do nas normas da instituição. individual (EPI) e de proteção coletiva (EPC);
III – procedimentos em caso de acidentes;
IV – manuseio e transporte de material e amostra biológica.

158
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
SEÇÃO II VII – Funcionários exclusivos para serviço de limpeza da uni-
INFRAESTRUTURA FÍSICA dade, em cada turno.
Art. 15 Médicos plantonistas, enfermeiros assistenciais,
Art. 10 Devem ser seguidos os requisitos estabelecidos na fisioterapeutas e técnicos de enfermagem devem estar dispo-
RDC/Anvisa n. 50, de 21 de fevereiro de 2002. níveis em tempo integral para assistência aos pacientes inter-
Parágrafo único. A infraestrutura deve contribuir para ma- nados na UTI, durante o horário em que estão escalados para
nutenção da privacidade do paciente, sem, contudo, interferir atuação na UTI.
na sua monitorização. Art. 16 Todos os profissionais da UTI devem estar imuniza-
Art. 11 As Unidades de Terapia Intensiva Adulto, Pediátricas dos contra tétano, difteria, hepatite B e outros imunobiológicos,
e Neonatais devem ocupar salas distintas e exclusivas. de acordo com a NR 32. Segurança e Saúde no Trabalho em Ser-
§ 1º Caso essas unidades sejam contíguas, os ambientes de viços de Saúde estabelecida pela Portaria MTE/GM n.º 485, de
apoio podem ser compartilhados entre si. 11 de novembro de 2005.
§ 2º Nas UTI Pediátricas Mistas deve haver uma separação Art. 17 A equipe da UTI deve participar de um programa de
física entre os ambientes de UTI Pediátrica e UTI Neonatal. educação continuada, contemplando, no mínimo:
I – normas e rotinas técnicas desenvolvidas na unidade;
SEÇÃO III II – incorporação de novas tecnologias;
RECURSOS HUMANOS III – gerenciamento dos riscos inerentes às atividades de-
senvolvidas na unidade e segurança de pacientes e profissionais.
Art. 12 As atribuições e as responsabilidades de todos os IV – prevenção e controle de infecções relacionadas à assis-
profissionais que atuam na unidade devem estar formalmente tência à saúde.
designadas, descritas e divulgadas aos profissionais que atuam § 1º As atividades de educação continuada devem estar re-
na UTI. gistradas, com data, carga horária e lista de participantes.
Art. 13 Deve ser formalmente designado um Responsável § 2º Ao serem admitidos à UTI, os profissionais devem rece-
Técnico médico, um enfermeiro coordenador da equipe de en- ber capacitação para atuar na unidade.
fermagem e um fisioterapeuta coordenador da equipe de fisio-
terapia, assim como seus respectivos substitutos. SEÇÃO IV
§ 1º O Responsável Técnico médico, os coordenadores de ACESSO A RECURSOS ASSISTENCIAIS
enfermagem e de fisioterapia devem ter título de especialista,
conforme estabelecido pelos respectivos conselhos de classe Art. 18 Devem ser garantidos, por meios próprios ou tercei-
e associações reconhecidas por estes para este fim. (Redação rizados, os seguintes serviços à beira do leito:
dada pela Resolução – RDC nº 137, de 8 de fevereiro de 2017) I – assistência nutricional;
§ 2º (Revogado pela Resolução – RDC nº 137, de 8 de feve- II – terapia nutricional (enteral e parenteral);
reiro de 2017) III – assistência farmacêutica;
§ 3º É permitido assumir responsabilidade técnica ou coor- IV – assistência fonoaudiológica;
denação em, no máximo, 02 (duas) UTI. V – assistência psicológica;
Art. 14 Além do disposto no Artigo 13 desta RDC, deve ser VI – assistência odontológica;
designada uma equipe multiprofissional, legalmente habilitada, VII – assistência social;
a qual deve ser dimensionada, quantitativa e qualitativamente, VIII – assistência clínica vascular;
de acordo com o perfil assistencial, a demanda da unidade e le- IX – assistência de terapia ocupacional para UTI Adulto e
gislação vigente, contendo, para atuação exclusiva na unidade, Pediátrica
no mínimo, os seguintes profissionais: X – assistência clínica cardiovascular, com especialidade pe-
I – Médico diarista/rotineiro: 01 (um) para cada 10 (dez) lei- diátrica nas UTI Pediátricas e Neonatais;
tos ou fração, nos turnos matutino e vespertino, com título de XI – assistência clínica neurológica;
especialista em Medicina Intensiva para atuação em UTI Adulto; XII – assistência clínica ortopédica;
habilitação em Medicina Intensiva Pediátrica para atuação em XIII – assistência clínica urológica;
UTI Pediátrica; título de especialista em Pediatria com área de XIV – assistência clínica gastroenterológica;
atuação em Neonatologia para atuação em UTI Neonatal; XV – assistência clínica nefrológica, incluindo hemodiálise;
II – Médicos plantonistas: no mínimo 01 (um) para cada 10 XVI – assistência clínica hematológica;
(dez) leitos ou fração, em cada turno. XVII – assistência hemoterápica;
XVIII – assistência oftalmológica;
III - Enfermeiros assistenciais: no mínimo 01 (um) para cada XIX – assistência de otorrinolaringológica;
10 (dez) leitos ou fração, em cada turno; (Redação dada pela XX – assistência clínica de infectologia;
Resolução - RDC nº 26, de 11 de maio de 2012) XXI – assistência clínica ginecológica;
IV – Fisioterapeutas: no mínimo 01 (um) para cada 10 (dez) XXII – assistência cirúrgica geral em caso de UTI Adulto e
leitos ou fração, nos turnos matutino, vespertino e noturno, per- cirurgia pediátrica, em caso de UTI Neonatal ou UTI Pediátrica;
fazendo um total de 18 horas diárias de atuação; XXIII – serviço de laboratório clínico, incluindo microbiologia
V - Técnicos de enfermagem: no mínimo 01 (um) para cada e hemogasometria;
02 (dois) leitos em cada turno; (Redação dada pela Resolução - XXIV – serviço de radiografia móvel;
RDC nº 26, de 11 de maio de 2012) XXV – serviço de ultrassonografia portátil;
VI – Auxiliares administrativos: no mínimo 01 (um) exclusivo XXVI – serviço de endoscopia digestiva alta e baixa;
da unidade; XXVII – serviço de fibrobroncoscopia;

159
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
XXVIII – serviço de diagnóstico clínico e notificação compul- Art. 27 Os critérios para admissão e alta de pacientes na
sória de morte encefálica. UTI devem ser registrados, assinados pelo Responsável Técnico
Art. 19 O hospital em que a UTI está inserida deve dispor, na e divulgados para toda a instituição, além de seguir legislação e
própria estrutura hospitalar, dos seguintes serviços diagnósticos normas institucionais vigentes.
e terapêuticos: Art. 28 A realização de testes laboratoriais remotos (TLR)
I – centro cirúrgico; nas dependências da UTI está condicionada ao cumprimento das
II – serviço radiológico convencional; disposições da Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa – RDC
III – serviço de ecodopplercardiografia. nº 302, de 13 de outubro de 2005.
Art. 20 Deve ser garantido acesso aos seguintes serviços
diagnósticos e terapêuticos, no hospital onde a UTI está inserida SEÇÃO VI
ou em outro estabelecimento, por meio de acesso formalizado: TRANSPORTE DE PACIENTES
I- cirurgia cardiovascular,
II – cirurgia vascular; Art. 29 Todo paciente grave deve ser transportado com o
III – cirurgia neurológica; acompanhamento contínuo, no mínimo, de um médico e de um
IV – cirurgia ortopédica; enfermeiro, ambos com habilidade comprovada para o atendi-
V – cirurgia urológica; mento de urgência e emergência.
VI – cirurgia buco-maxilo-facial; Art. 30 Em caso de transporte intra-hospitalar para reali-
VII – radiologia intervencionista; zação de algum procedimento diagnóstico ou terapêutico, os
VIII – ressonância magnética; dados do prontuário devem estar disponíveis para consulta dos
IX – tomografia computadorizada; profissionais do setor de destino.
X – anatomia patológica; Art. 31 Em caso de transporte inter-hospitalar de paciente
XI – exame comprobatório de fluxo sanguíneo encefálico. grave, devem ser seguidos os requisitos constantes na Portaria
GM/MS n. 2048, de 05 de novembro de 2002.
SEÇÃO V Art. 32 Em caso de transferência inter-hospitalar por alta
PROCESSOS DE TRABALHO da UTI, o paciente deverá ser acompanhado de um relatório de
transferência, o qual será entregue no local de destino do pa-
Art. 21 Todo paciente internado em UTI deve receber assis- ciente;
tência integral e interdisciplinar. Parágrafo único. O relatório de transferência deve conter,
Art. 22 A evolução do estado clínico, as intercorrências e os no mínimo:
cuidados prestados devem ser registrados pelas equipes médi- I – dados referentes ao motivo de internação na UTI e diag-
ca, de enfermagem e de fisioterapia no prontuário do paciente, nósticos de base;
em cada turno, e atendendo as regulamentações dos respecti- II – dados referentes ao período de internação na UTI, in-
vos conselhos de classe profissional e normas institucionais. cluindo realização de procedimentos invasivos, intercorrências,
Art. 23 As assistências farmacêutica, psicológica, fonoaudio- infecções, transfusões de sangue e hemoderivados, tempo de
lógica, social, odontológica, nutricional, de terapia nutricional permanência em assistência ventilatória mecânica invasiva e
enteral e parenteral e de terapia ocupacional devem estar inte- não-invasiva, realização de diálise e exames diagnósticos;
gradas às demais atividades assistenciais prestadas ao paciente, III – dados referentes à alta e ao preparatório para a trans-
sendo discutidas conjuntamente pela equipe multiprofissional. ferência, incluindo prescrições médica e de enfermagem do dia,
Parágrafo único. A assistência prestada por estes profissio- especificando aprazamento de horários e cuidados administra-
nais deve ser registrada, assinada e datada no prontuário do dos antes da transferência; perfil de monitorização hemodinâ-
paciente, de forma legível e contendo o número de registro no mica, equilíbrio ácido-básico, balanço hídrico e sinais vitais das
respectivo conselho de classe profissional. últimas 24 horas.
Art. 24 Devem ser assegurados, por todos os profissionais
que atuam na UTI, os seguintes itens: SEÇÃO VII
I – preservação da identidade e da privacidade do paciente, GERENCIAMENTO DE RISCOS E
assegurando um ambiente de respeito e dignidade; NOTIFICAÇÃO DE EVENTOS ADVERSOS
II – fornecimento de orientações aos familiares e aos pa-
cientes, quando couber, em linguagem clara, sobre o estado de Art. 33 Deve ser realizado gerenciamento dos riscos ineren-
saúde e a assistência a ser prestada desde a admissão até a alta; tes às atividades realizadas na unidade, bem como aos produtos
III – ações de humanização da atenção à saúde; submetidos ao controle e fiscalização sanitária.
IV – promoção de ambiência acolhedora; Art. 34 O estabelecimento de saúde deve buscar a redução e
V – incentivo à participação da família na atenção ao pacien- minimização da ocorrência dos eventos adversos relacionados a:
te, quando pertinente. I – procedimentos de prevenção, diagnóstico, tratamento
Art. 25 A presença de acompanhantes em UTI deve ser nor- ou reabilitação do paciente;
matizada pela instituição, com base na legislação vigente. II – medicamentos e insumos farmacêuticos;
Art. 26 O paciente consciente deve ser informado quanto III – produtos para saúde, incluindo equipamentos;
aos procedimentos a que será submetido e sobre os cuidados IV – uso de sangue e hemocomponentes;
requeridos para execução dos mesmos. V – saneantes;
Parágrafo único. O responsável legal pelo paciente deve ser VI – outros produtos submetidos ao controle e fiscalização
informado sobre as condutas clínicas e procedimentos a que o sanitária utilizados na unidade.
mesmo será submetido. Art. 35 Na monitorização e no gerenciamento de risco, a
equipe da UTI deve:

160
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
I – definir e monitorar indicadores de avaliação da preven- SEÇÃO IX
ção ou redução dos eventos adversos pertinentes à unidade; AVALIAÇÃO
II – coletar, analisar, estabelecer ações corretivas e notifi-
car eventos adversos e queixas técnicas, conforme determinado Art. 48 Devem ser monitorados e mantidos registros de ava-
pelo órgão sanitário competente. liações do desempenho e do padrão de funcionamento global da
Art. 36 Os eventos adversos relacionados aos itens dispos- UTI, assim como de eventos que possam indicar necessidade de
tos no melhoria da qualidade da assistência, com o objetivo de estabe-
Art. 35 desta RDC devem ser notificados à gerência de risco lecer medidas de controle ou redução dos mesmos.
ou outro setor definido pela instituição, de acordo com as nor- § 1º Deve ser calculado o Índice de Gravidade / Índice Prog-
mas institucionais. nóstico dos pacientes internados na UTI por meio de um Sistema
de Classificação de Severidade de Doença recomendado por lite-
SEÇÃO VIII ratura científica especializada.
PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÕES RELACIONADAS À § 2º O Responsável Técnico da UTI deve correlacionar a
ASSISTÊNCIA À SAÚDE mortalidade geral de sua unidade com a mortalidade geral espe-
rada, de acordo com o Índice de gravidade utilizado.
Art. 37 Devem ser cumpridas as medidas de prevenção e § 3º Devem ser monitorados os indicadores mencionados na
controle de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) Instrução Normativa nº 4, de 24 de fevereiro de 2010, da ANVISA
definidas pelo Programa de Controle de Infecção do hospital. §4º Estes dados devem estar em local de fácil acesso e ser
Art. 38 As equipes da UTI e da Comissão de Controle de In- disponibilizados à Vigilância Sanitária durante a inspeção sanitá-
fecção Hospitalar – CCIH – são responsáveis pelas ações de pre- ria ou quando solicitado.
venção e controle de IRAS. Art. 49 Os pacientes internados na UTI devem ser avaliados
Art. 39 A CCIH deve estruturar uma metodologia de busca por meio de um Sistema de Classificação de Necessidades de
ativa das infecções relacionadas a dispositivos invasivos, dos mi- Cuidados de Enfermagem recomendado por literatura científica
crorganismos multirresistentes e outros microrganismos de im- especializada.
portância clínico-epidemiológica, além de identificação precoce §1º O enfermeiro coordenador da UTI deve correlacionar as
de surtos. necessidades de cuidados de enfermagem com o quantitativo de
Art. 40 A equipe da UTI deve colaborar com a CCIH na vigi- pessoal disponível, de acordo com um instrumento de medida
lância epidemiológica das IRAS e com o monitoramento de mi- utilizado.
crorganismos multirresistentes na unidade. §2º Os registros desses dados devem estar disponíveis men-
Art. 41 A CCIH deve divulgar os resultados da vigilância das salmente, em local de fácil acesso.
infecções e perfil de sensibilidade dos microrganismos à equipe
multiprofissional da UTI, visando a avaliação periódica das me- SEÇÃO X
didas de prevenção e controle das IRAS. RECURSOS MATERIAIS
Art. 42 As ações de prevenção e controle de IRAS devem ser
baseadas na avaliação dos indicadores da unidade. Art. 50 A UTI deve dispor de materiais e equipamentos de
Art. 43 A equipe da UTI deve aderir às medidas de precau- acordo com a complexidade do serviço e necessários ao atendi-
ção padrão, às medidas de precaução baseadas na transmissão mento de sua demanda.
(contato, gotículas e aerossóis) e colaborar no estímulo ao efeti- Art. 51 Os materiais e equipamentos utilizados, nacionais
vo cumprimento das mesmas. ou importados, devem estar regularizados junto à ANVISA, de
Art. 44 A equipe da UTI deve orientar visitantes e acompa- acordo com a legislação vigente.
nhantes quanto às ações que visam a prevenção e o controle de Art. 52 Devem ser mantidas na unidade instruções escritas
infecções, baseadas nas recomendações da CCIH. referentes à utilização dos equipamentos e materiais, que po-
Art. 45 A equipe da UTI deve proceder ao uso racional de dem ser substituídas ou complementadas por manuais do fabri-
antimicrobianos, estabelecendo normas e rotinas de forma in- cante em língua portuguesa.
terdisciplinar e em conjunto com a CCIH, Farmácia Hospitalar e Art. 53 Quando houver terceirização de fornecimento de
Laboratório de Microbiologia. equipamentos médico-hospitalares, deve ser estabelecido con-
Art. 46 Devem ser disponibilizados os insumos, produtos, trato formal entre o hospital e a empresa contratante.
equipamentos e instalações necessários para as práticas de hi- Art. 54 Os materiais e equipamentos devem estar íntegros,
gienização de mãos de profissionais de saúde e visitantes. limpos e prontos para uso.
§ 1º Os lavatórios para higienização das mãos devem estar Art. 55 Devem ser realizadas manutenções preventivas e
disponibilizados na entrada da unidade, no posto de enferma- corretivas nos equipamentos em uso e em reserva operacional,
gem e em outros locais estratégicos definidos pela CCIH e pos- de acordo com periodicidade estabelecida pelo fabricante ou
suir dispensador com sabonete líquido e papel toalha. pelo serviço de engenharia clínica da instituição.
§ 2º As preparações alcoólicas para higienização das mãos Parágrafo único. Devem ser mantidas na unidade cópias do
devem estar disponibilizadas na entrada da unidade, entre os calendário de manutenções preventivas e o registro das manu-
leitos e em outros locais estratégicos definidos pela CCIH. tenções realizadas.
Art. 47 O Responsável Técnico e os coordenadores de enfer-
magem e de fisioterapia devem estimular a adesão às práticas
de higienização das mãos pelos profissionais e visitantes.

161
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
CAPÍTULO III XX – materiais para monitorização de pressão venosa cen-
DOS REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA UNIDADES tral;
DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO XXI – materiais e equipamento para monitorização de pres-
são arterial invasiva: 01 (um) equipamento para cada 05 (cinco)
SEÇÃO I leitos, com reserva operacional de 01 (um) equipamento para
RECURSOS MATERIAIS cada 10 (dez) leitos;
XXII – materiais para punção pericárdica;
Art. 56 Devem estar disponíveis, para uso exclusivo da UTI XXIII – monitor de débito cardíaco;
Adulto, materiais e equipamentos de acordo com a faixa XXIV – eletrocardiógrafo portátil: 01 (um) equipamento
etária e biotipo do paciente. para cada 10 (dez) leitos;
Art. 57 Cada leito de UTI Adulto deve possuir, no mínimo, os XXV – kit (“carrinho”) contendo medicamentos e materiais
seguintes equipamentos e materiais: para atendimento às emergências: 01 (um) para cada 05 (cinco)
I – cama hospitalar com ajuste de posição, grades laterais leitos ou fração;
e rodízios; XXVI – equipamento desfibrilador e cardioversor, com bate-
II – equipamento para ressuscitação manual do tipo balão ria: 01 (um) para cada 05 (cinco) leitos;
auto-inflável, com reservatório e máscara facial: 01(um) por XXVII – marcapasso cardíaco temporário, eletrodos e gera-
leito, com reserva operacional de 01 (um) para cada 02 (dois) dor: 01 (um) equipamento para cada 10 (dez) leitos;
leitos; XXVIII – equipamento para aferição de glicemia capilar, es-
III – estetoscópio; pecífico para uso hospitalar: 01 (um) para cada 05 (cinco) leitos;
IV – conjunto para nebulização; XXIX – materiais para curativos;
V – quatro (04) equipamentos para infusão contínua e con- XXX – materiais para cateterismo vesical de demora em sis-
trolada de fluidos (“bomba de infusão”), com reserva operacio- tema fechado;
nal de 01 (um) equipamento para cada 03 (três) leitos: XXXI – dispositivo para elevar, transpor e pesar o paciente;
VI – fita métrica; XXXII – poltrona com revestimento impermeável, destina-
VII – equipamentos e materiais que permitam monitoriza- da à assistência aos pacientes: 01 (uma) para cada 05 leitos ou
ção contínua de: fração.
a) freqüência respiratória; XXXIII – maca para transporte, com grades laterais, suporte
b) oximetria de pulso; para soluções parenterais e suporte para cilindro de oxigênio: 1
c) freqüência cardíaca; (uma) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
d) cardioscopia; XXXIV – equipamento(s) para monitorização contínua de
e) temperatura; múltiplos parâmetros (oximetria de pulso, pressão arterial não-
f) pressão arterial não-invasiva. -invasiva; cardioscopia; freqüência respiratória) específico(s)
Art. 58 Cada UTI Adulto deve dispor, no mínimo, de: para transporte, com bateria: 1 (um) para cada 10 (dez) leitos
I – materiais para punção lombar; ou fração;
II – materiais para drenagem liquórica em sistema fechado; XXXV – ventilador mecânico específico para transporte, com
III – oftalmoscópio; bateria: 1(um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
IV – otoscópio; XXXVI – kit (“maleta”) para acompanhar o transporte de pa-
V – negatoscópio; cientes graves, contendo medicamentos e materiais para aten-
VI – máscara facial que permite diferentes concentrações de dimento às emergências: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou
Oxigênio: 01 (uma) para cada 02 (dois) leitos; fração;
VII – materiais para aspiração traqueal em sistemas aberto XXXVII – cilindro transportável de oxigênio;
e fechado; XXXVIII – relógios e calendários posicionados de forma a
VIII – aspirador a vácuo portátil; permitir visualização em todos os leitos.
IX – equipamento para mensurar pressão de balonete de XXXIX – refrigerador, com temperatura interna de 2 a 8°C,
tubo/cânula endotraqueal (“cuffômetro”); de uso exclusivo para guarda de medicamentos, com monitori-
X – ventilômetro portátil; zação e registro de temperatura.
XI – capnógrafo: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos; Art. 59 Outros equipamentos ou materiais podem substituir
XII – ventilador pulmonar mecânico microprocessado: 01 os listados neste regulamento técnico, desde que tenham com-
(um) para cada 02 (dois) leitos, com reserva operacional de 01 provada sua eficácia propedêutica e terapêutica e sejam regula-
(um) equipamento para cada 05 (cinco) leitos, devendo dispor, rizados pela Anvisa.
cada equipamento de, no mínimo, 02 (dois) circuitos completos, Art. 60 Os kits para atendimento às emergências, referidos
XIII – equipamento para ventilação pulmonar mecânica não nos incisos XXV e XXXVI do Art 58, devem conter, no mínimo:
invasiva: 01(um) para cada 10 (dez) leitos, quando o ventilador ressuscitador manual com reservatório, cabos e lâminas de la-
pulmonar mecânico microprocessado não possuir recursos para ringoscópio, tubos/cânulas endotraqueais, fixadores de tubo
realizar a modalidade de ventilação não invasiva; endotraqueal, cânulas de Guedel e fio guia estéril.
XIV – materiais de interface facial para ventilação pulmonar §1º Demais materiais e medicamentos a compor estes kits
não invasiva 01 (um) conjunto para cada 05 (cinco) leitos; devem seguir protocolos assistenciais para este fim, padroniza-
XV – materiais para drenagem torácica em sistema fechado; dos pela unidade e baseados em evidências científicas.
XVI – materiais para traqueostomia; §2º A quantidade dos materiais e medicamentos destes kits
XVII – foco cirúrgico portátil; deve ser padronizada pela unidade, de acordo com sua deman-
XVIII – materiais para acesso venoso profundo; da.
XIX – materiais para flebotomia;

162
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
§3º Os materiais utilizados devem estar de acordo com a fai- XV – ventilador pulmonar mecânico microprocessado: 01
xa etária e biotipo do paciente (lâminas de laringoscópio, tubos (um) para cada 02 (dois) leitos, com reserva operacional de 01
endotraqueais de tamanhos adequados, por exemplo); (um) equipamento para cada 05 (cinco) leitos, devendo dispor
§4º A unidade deve fazer uma lista com todos os materiais e cada equipamento de, no mínimo, 02 (dois) circuitos completos.
medicamentos a compor estes kits e garantir que estejam sem- XVI – equipamento para ventilação pulmonar não-invasiva:
pre prontos para uso. 01(um) para cada 10 (dez) leitos, quando o ventilador pulmonar
microprocessado não possuir recursos para realizar a modalida-
CAPÍTULO IV de de ventilação não invasiva;
DOS REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA UNIDADES XVII – materiais de interface facial para ventilação pulmonar
DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICAS não-invasiva: 01 (um) conjunto para cada 05 (cinco) leitos;
XVIII – materiais para drenagem torácica em sistema fecha-
SEÇÃO I do;
RECURSOS MATERIAIS XIX – materiais para traqueostomia;
XX – foco cirúrgico portátil;
Art. 61 Devem estar disponíveis, para uso exclusivo da UTI XXI – materiais para acesso venoso profundo, incluindo ca-
Pediátrica, materiais e equipamentos de acordo com a faixa etá- teterização venosa central de inserção periférica (PICC);
ria e biotipo do paciente. XXII – material para flebotomia;
Art. 62 Cada leito de UTI Pediátrica deve possuir, no míni- XXIII – materiais para monitorização de pressão venosa cen-
mo, os seguintes equipamentos e materiais: tral;
I – berço hospitalar com ajuste de posição, grades laterais XXIV – materiais e equipamento para monitorização de
e rodízios; pressão arterial invasiva: 01 (um) equipamento para cada 05
II – equipamento para ressuscitação manual do tipo balão (cinco) leitos, com reserva operacional de 01 (um) equipamento
auto-inflável, com reservatório e máscara facial: 01(um) por para cada 10 (dez) leitos;
leito, com reserva operacional de 01 (um) para cada 02 (dois) XXV – materiais para punção pericárdica;
leitos; XXVI – eletrocardiógrafo portátil;
III – estetoscópio; XXVII – kit (“carrinho”) contendo medicamentos e materiais
IV – conjunto para nebulização; para atendimento às emergências: 01 (um) para cada 05 (cinco)
V – Quatro (04) equipamentos para infusão contínua e con- leitos ou fração;
trolada de fluidos (“bomba de infusão”), com reserva operacio- XXVIII – equipamento desfibrilador e cardioversor, com ba-
nal de 01 (um) para cada 03 (três) leitos; teria, na unidade;
VI – fita métrica; XXIX – marcapasso cardíaco temporário, eletrodos e gera-
VII – poltrona removível, com revestimento impermeável, dor: 01 (um) equipamento para a unidade;
XXX – equipamento para aferição de glicemia capilar, espe-
destinada ao acompanhante: 01 (uma) por leito;
cífico para uso hospitalar: 01 (um) para cada 05 (cinco) leitos ou
VIII – equipamentos e materiais que permitam monitoriza-
fração;
ção contínua de:
XXXI – materiais para curativos;
a) freqüência respiratória;
b) oximetria de pulso;
XXXII – materiais para cateterismo vesical de demora em
c) freqüência cardíaca;
sistema fechado;
d) cardioscopia;
XXXIII – maca para transporte, com grades laterais, com
e) temperatura;
suporte para equipamento de infusão controlada de fluidos e
f) pressão arterial não-invasiva.
suporte para cilindro de oxigênio: 01 (uma) para cada 10 (dez)
Art. 63 Cada UTI Pediátrica deve dispor, no mínimo, de: leitos ou fração;
I – berço aquecido de terapia intensiva: 1(um) para cada 5 XXXIV – equipamento(s) para monitorização contínua de
(cinco) leitos; múltiplos parâmetros (oximetria de pulso, pressão arterial não-
II – estadiômetro; -invasiva; cardioscopia; freqüência respiratória) específico para
III – balança eletrônica portátil; transporte, com bateria: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou
IV – oftalmoscópio; fração;
V – otoscópio; XXXV – ventilador pulmonar específico para transporte, com
VI – materiais para punção lombar; bateria: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
VII – materiais para drenagem liquórica em sistema fechado; XXXVI – kit (“maleta”) para acompanhar o transporte de pa-
VIII – negatoscópio; cientes graves, contendo medicamentos e materiais para aten-
IX – capacetes ou tendas para oxigenoterapia; dimento às emergências: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou
X – máscara facial que permite diferentes concentrações de fração;
Oxigênio: 01 (um) para cada 02 (dois) leitos; XXXVII – cilindro transportável de oxigênio;
XI – materiais para aspiração traqueal em sistemas aberto XXXVIII – relógio e calendário de parede;
e fechado; XXXIX – refrigerador, com temperatura interna de 2 a 8°C,
XII – aspirador a vácuo portátil; de uso exclusivo para guarda de medicamentos, com monitori-
XIII – equipamento para mensurar pressão de balonete de zação e registro de temperatura.
tubo/cânula endotraqueal (“cuffômetro”); Art. 64 Outros equipamentos ou materiais podem substituir
XIV – capnógrafo: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos; os listados neste regulamento técnico, desde que tenham com-
provada sua eficácia propedêutica e terapêutica e sejam regula-
rizados pela Anvisa.

163
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Art. 65 Os kits para atendimento às emergências, referidos II – equipamento para fototerapia: 01 (um) para cada 03
nos incisos XXVII e XXXVI do Art 63, devem conter, no mínimo: (três) leitos;
ressuscitador manual com reservatório, cabos e lâminas de la- III – estadiômetro;
ringoscópio, tubos/cânulas endotraqueais, fixadores de tubo IV – balança eletrônica portátil: 01 (uma) para cada 10 (dez)
endotraqueal, cânulas de Guedel e fio guia estéril. leitos;
§1º Demais materiais e medicamentos a compor estes kits V – oftalmoscópio;
devem seguir protocolos assistenciais para este fim, padroniza- VI – otoscópio;
dos pela unidade e baseados em evidências científicas. VII – material para punção lombar;
§2º A quantidade dos materiais e medicamentos destes kits VIII – material para drenagem liquórica em sistema fechado;
deve ser padronizada pela unidade, de acordo com sua deman- IX – negatoscópio;
da. X – capacetes e tendas para oxigenoterapia: 1 (um) equipa-
§3º Os materiais utilizados devem estar de acordo com a fai- mento para cada 03 (três) leitos, com reserva operacional de 1
xa etária e biotipo do paciente (lâminas de laringoscópio, tubos (um) para cada 5 (cinco) leitos;
endotraqueais de tamanhos adequados, por exemplo); XI – materiais para aspiração traqueal em sistemas aberto
§4º A unidade deve fazer uma lista com todos os materiais e e fechado;
medicamentos a compor estes kits e garantir que estejam sem- XII – aspirador a vácuo portátil;
pre prontos para uso. XIII – capnógrafo: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos;
XIV – ventilador pulmonar mecânico microprocessado: 01
SEÇÃO II (um) para cada 02 (dois) leitos, com reserva operacional de 01
UTI PEDIÁTRICA MISTA (um) equipamento para cada 05 (cinco) leitos devendo dispor
cada equipamento de, no mínimo, 02 (dois) circuitos completos.
Art. 66 As UTI Pediátricas Mistas, além dos requisitos co- XV – equipamento para ventilação pulmonar não-invasiva:
muns a todas as UTI, também devem atender aos requisitos re- 01(um) para cada 05 (cinco) leitos, quando o ventilador pulmo-
lacionados aos recursos humanos, assistenciais e materiais es- nar microprocessado não possuir recursos para realizar a moda-
tabelecidos para UTI pediátrica e neonatal concomitantemente.
lidade de ventilação não invasiva;
Parágrafo único. A equipe médica deve conter especialistas
XVI – materiais de interface facial para ventilação pulmonar
em Terapia Intensiva Pediátrica e especialistas em Neonatolo-
não invasiva (máscara ou pronga): 1 (um) por leito.
gia.
XVII – materiais para drenagem torácica em sistema fecha-
do;
CAPÍTULO V
XVIII – material para traqueostomia;
DOS REQUISITOS ESPECÍFICOS PARA UNIDADES DE TERA-
XIX – foco cirúrgico portátil;
PIA INTENSIVA NEONATAIS
XX – materiais para acesso venoso profundo, incluindo cate-
terização venosa central de inserção periférica (PICC);
SEÇÃO I
RECURSOS MATERIAIS XXI – material para flebotomia;
XXII – materiais para monitorização de pressão venosa cen-
Art. 67 Devem estar disponíveis, para uso exclusivo da UTI tral;
Neonatal, materiais e equipamentos de acordo com a faixa etá- XXIII – materiais e equipamento para monitorização de
ria e biotipo do paciente. pressão arterial invasiva;
Art. 68 Cada leito de UTI Neonatal deve possuir, no mínimo, XXIV – materiais para cateterismo umbilical e exsanguíneo
os seguintes equipamentos e materiais: transfusão;
I – incubadora com parede dupla; XXV – materiais para punção pericárdica;
II – equipamento para ressuscitação manual do tipo balão XXVI – eletrocardiógrafo portátil disponível no hospital;
auto-inflável com reservatório e máscara facial: 01(um) por lei- XXVII – kit (“carrinho”) contendo medicamentos e materiais
to, com reserva operacional de 01 (um) para cada 02 (dois) lei- para atendimento às emergências: 01 (um) para cada 05 (cinco)
tos; leitos ou fração;
III – estetoscópio; XXVIII – equipamento desfibrilador e cardioversor, com ba-
IV – conjunto para nebulização; teria, na unidade;
V – Dois (02) equipamentos tipo seringa para infusão contí- XXIX – equipamento para aferição de glicemia capilar, espe-
nua e controlada de fluidos (“bomba de infusão”), com reserva cífico para uso hospitalar: 01 (um) para cada 05 (cinco) leitos ou
operacional de 01 (um) para cada 03 (três) leitos; fração, sendo que as tiras de teste devem ser específicas para
VI – fita métrica; neonatos;
VII – equipamentos e materiais que permitam monitoriza- XXX – materiais para curativos;
ção contínua de: XXXI – materiais para cateterismo vesical de demora em sis-
a) freqüência respiratória; tema fechado;
b) oximetria de pulso; XXXII – incubadora para transporte, com suporte para equi-
c) freqüência cardíaca; pamento de infusão controlada de fluidos e suporte para cilin-
d) cardioscopia; dro de oxigênio: 01 (uma) para cada 10 (dez) leitos ou fração;
e) temperatura; XXXIII – equipamento(s) para monitorização contínua de
f) pressão arterial não-invasiva. múltiplos parâmetros (oximetria de pulso, cardioscopia) espe-
Art. 69 Cada UTI Neonatal deve dispor, no mínimo, de: cífico para transporte, com bateria: 01 (um) para cada 10 (dez)
I – berços aquecidos de terapia intensiva para 10% dos lei- leitos ou fração;
tos;

164
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
XXXIV – ventilador pulmonar específico para transporte, d. Condutas de enfermagem para o paciente grave e em
com bateria: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou fração; fase terminal.
XXXV – kit (“maleta”) para acompanhar o transporte de pa- Mesmo sabendo que a morte é algo que faz parte do ciclo
cientes graves, contendo medicamentos e materiais para aten- natural de vida, os mesmo ainda não conseguem lidar com isso no
dimento às emergências: 01 (um) para cada 10 (dez) leitos ou dia-a-dia. Os profissionais de saúde sentem-se responsáveis pela
fração. manutenção da vida de seus pacientes, e acabam por encarar a
XXXVI – cilindro transportável de oxigênio; morte como resultado acidental diante do objetivo da profissão,
XXXVII – relógio e calendário de parede; sendo esta considerada como insucesso de tratamentos, fracasso
XXXVIII – poltronas removíveis, com revestimento imper- da equipe, causando angústia àqueles que a presenciam.A sen-
meável, para acompanhante: 01 (uma) para cada 05 leitos ou sação de fracasso diante da morte não é atribuída apenas ao in-
fração; sucesso dos cuidados empreendidos, mas a uma derrota diante
XXXIX – refrigerador, com temperatura interna de 2 a 8°C, da morte e da missão implícita das profissões de saúde: salvar o
de uso exclusivo para guarda de medicamentos: 01 (um) por uni- indivíduo, diminuir sua dor e sofrimento, manter-lhe a vida.
dade, com conferência e registro de temperatura a intervalos Não podemos falar da morte, da formação de um cadáver,
máximos de 24 horas. sem antes entendermos claramente sobre o que seja a vida.
Art. 70 Outros equipamentos ou materiais podem substituir O conhecimento de vida pressupõe processos químicos
os listados neste regulamento técnico, desde que tenham com- complicados, processos que se desenrolam nos limites de uma
provada sua eficácia propedêutica e terapêutica e sejam regula- cela, perfeitamente organizada. No centro desses processos
rizados pela ANVISA. acham-se as substâncias protéicas; a seguir vêm os elementos
Art. 71 Os kits para atendimento às emergências referidos graxos e os hidratos de carbonos. Toda vida tem por condição
nos incisos XXVII e XXXV do Art 69 devem conter, no mínimo: indispensável que na célula se desenvolvam determinadas alte-
ressuscitador manual com reservatório, cabos e lâminas de la- rações químicas, os verdadeiros fenômenos bioquímicos; essas
ringoscópio, tubos/cânulas endotraqueais, fixadores de tubo alterações, por usa vez se combinam com o consumo de oxigê-
endotraqueal, cânulas de Guedel e fio guia estéril. nio, pois que há dentro da célula um “combustão”. Contudo, a
§1º Demais materiais e medicamentos a compor estes kits célula não morre no decorrer desse processo, porque de fora se
recebem continuamente novas substâncias que se transformam
devem seguir protocolos assistenciais para este fim, padroniza-
em substância celular no pequeno laboratório da própria célula.
dos pela unidade e baseados em evidências científicas.
Desta maneira, há no interior da célula um perene metabolismo:
§2º A quantidade dos materiais e medicamentos destes kits
as substâncias vivas da célula desintegram-se por combustão e
deve ser padronizada pela unidade, de acordo com sua deman-
eliminam-se os produtos metabólicos; do exterior, recebe a cé-
da.
lula, novas substâncias que servem de substituto. Toda vida, mo-
§3º Os materiais utilizados devem estar de acordo com a fai-
vimento, alimentação, propagação, o sentir e o pensar, se ligam
xa etária e biotipo do paciente (lâminas de laringoscópio, tubos
intimamente ao metabolismo; assim. A biologia deve desvendar
endotraqueais de tamanhos adequados, por exemplo);
o problema do metabolismo das células.
§4º A unidade deve fazer uma lista com todos os materiais e
Ora, se toda vida está ligada ao metabolismo da célula viva,
medicamentos a compor estes kits e garantir que estejam sem- a morte da célulaou o aniquilamento de sua vida significa, indu-
pre prontos para uso. bitavelmente, a cessação do metabolismo da célula. Um cadáver
é portanto, uma célula que deixou de revelar o metabolismo ca-
CAPÍTULO VI racterístico. (LIPSCHUTZ 1933).
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS Para caracterizar o cadáver, é oportuno falar de algumas
experiências que nos permitem um olhar mais fundo em tudo
Art. 72 Os estabelecimentos abrangidos por esta Resolução quanto se relaciona com a morte e o cadáver.
têm o prazo de 180 (cento e oitenta) dias contados a partir da Tiramos de um aquário uma gota de água com alguns In-
data de sua publicação para promover as adequações necessá- fusórios, minúsculos microscópios seres de uma única célula.
rias do serviço para cumprimento da mesma. Colocamos essa gota numa placa de cristal dentro de uma câma-
§1º Para cumprimento dos artigos 13, 14 e 15 da Seção III - ra decristal por sob o microscópio. Em seguida, fazemos passar
Recursos Humanos, assim como da Seção I - Recursos Materiais sobre a gota vapores de álcool. Os animálculos unicelulares, que
dos Capítulos III, IV e V, estabelece-se o prazo de 03 anos, res- até então se agitavam em vivíssimo movimento, correndo para
salvados os incisos III e V do art. 14, que terão efeitos imediatos. todos os lados como flechas, ao cabo de poucos minutos detêm-
(Redação dada pela Resolução - RDC nº 26, de 11 de maio de -se. Logo se imobilizam, estão paralisados, entretanto, não se
2012) acham mortos; basta que se deixe penetrar ar fresco na câmara,
§ 2º A partir da publicação desta Resolução, os novos esta- para que de novo voltem os Infusórios á atividade anterior.
belecimentos e aqueles que pretendem reiniciar suas atividades Acontece, pois que envenenamos ou narcotizamos os bichi-
devem atender na íntegra às exigências nela contidas, previa- nhos com álcool. Devemos supor que a intoxicação consiste num
mente ao início de seu funcionamento. transtorno do metabolismo. O sintoma exterior dessa perturba-
Art. 73 O descumprimento das disposições contidas nes- ção do metabolismo é a paralisação da célula, porém se, como
ta Resolução constitui infração sanitária, nos termos da Lei n. vimos, essa paralisação tem em certas condições experimentais,
6.437, de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo das responsabili- um efeito apenas transitório, é de supor que o metabolismo sob
dades civil, administrativa e penal cabíveis. a influência do álcool não se extinguiria; apenas sofrerá uma al-
Art. 74 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publi- teração, talvez um desvio do seu curso normal. Assim justamen-
cação. te é que podemos distinguir a narcose de que acabamos de falar,
da morte: o primeiro caso pode-se reparar o mal, ao passo que
no segundo já não há remédio.

165
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
De maneira ainda mais clara se nos revelam as coisas em este fenómeno com que os enfermeiros se confrontam no quo-
outro exemplo, Lipschutz e Veshnjakoff fizeram estudos sobre tidiano, realizou-se um estudo de investigação relacionado com
o metabolismo do ovário dos mamíferos fora do organismo, a as atitudes do enfermeiro perante a morte e circunstâncias de-
várias temperaturas. terminantes, com vista a uma reflexão acerca do tema e conse-
Ao examinar o consumo de oxigênio do tecido ovariano do quentemente a uma melhor prática profissional.
porquinho das índias á temperatura de 38,5 graus, que é a tem- Para melhor entendimento dos vários fatores que interfe-
peratura normal nessa espécie, é a 1 grau e até abaixo disso, rem no enfrentamento da morte/morrer, tanto pelos profissio-
verificaram que o tecido continuava a consumir oxigênio no frio, nais quanto pacientes e familiares, é preciso que antes saibamos
porém, a tão baixa temperatura, o tecido ovariano consome vin- um pouco mais sobre as fases da morte e suas possíveis reações
te mesmo quarenta vezes menos oxigênio do que a 38,5 graus. A causadas pelo impacto da notícia.
temperaturabaixa, pois o metabolismo é diminuído de um modo Kübler-Ross (1994), em seu livro Sobre a Morte e o Morrer,
assombroso. Não obstante, essa diminuição do metabolismo é realizou um trabalho com pacientes terminais onde analisou os
responsável. Basta trasladar o mesmo tecido para uma câmara sentimentos do paciente e da família no processo e morrer. Ele
com a temperatura do corpo, para constatar-se imediatamente esclarece que passamos por vários estágios quando nos depa-
que o seu consumo de oxigênio cresce de novo. Mas, setraslada ramos com a morte, sendo que a negação é o primeiro estágio.
o tecido por alguns minutos para uma câmara com temperatu- A 1° faseé a negação – é caracterizada como defesa tempo-
ra de alguns graus abaixo de zero para ser examinado depois á rária, onde a maioria das vezes o discurso pronunciado é “isso
temperatura do corpo, então já não se restabelece mais, nunca não está acontecendo comigo” ou “não pode ser verdade”. Ou-
mais, o metabolismo primitivo, o tecido morreu por refrigera- tro comportamento comum nessa fase é o agir como se nada
ção. A uma temperatura de alguns décimos de grau acima de estivesse acontecendo.
zero, o metabolismo alterou-se de maneira reparável; a uma “Evidentemente, se negamos a morte, se nos recusarmos a
temperatura abaixo de zero, o metabolismo alterou-se de ma- entrar em contato com nossos sentimentos, o luto será mal ela-
neira irreparável.Muito interessante é o fato de que, em certos borado e teremos uma chance maior de adoecermos e cairmos
animais, se observa uma vida latente em que permanecem anos em melancolia ou em outros processos substitutivos.” (CASSA-
e anos, como nos tardígrados e outras espécies estudadas já por ROLA 1991).
Leuwenhook e Spallanzani no século XVIII. Outros mecanismos de defesa que utilizamos inconsciente-
Não podemos falar da morte sem antes tentar conceituá- mente ainda citando Kübler-Ross (1994), são:
-la. Para Vieira (2006, p.21) “a pergunta ‘o que é morte’ tem A 2° fase, a ira – nesta fase prevalece a revolta, o ressenti-
múltiplas respostas e nenhuma delas conclusiva, pois a questão mento, e o doente passa a atacar a equipe de saúde e as pessoas
transcende os aspectos naturais ou materialistas e, até biologi- mais próximas a ele. Questionam procedimentos e tratamentos
camente, é difícil uma resposta unânime”. e a pergunta mais comum é “porque eu?” .Podem ainda nesta
Morrer, cientificamente, é deixar de existir; quando o cor- fase, surgir períodos de total descrença.
po acometido por uma patologia ou acidente qualquer tem a A 3° fase é a barganha – o doente faz acordos em troca de
falência de seus órgãos vitais, tendo uma parada progressiva de mais um tempo de vida. Nessa fase são comuns as promessas,
toda atividade do organismo, podendo ser de uma forma súbita Deus se torna presente em sua vida, faz promessas de mudança
(doenças agudas, acidentes) ou lenta (doenças crônico-dege- se for curado.
nerativas), seguida de uma degeneração dos tecidos.MOREIRA A depressão – após a fase da barganha, o doente percebe
(2006), sua doença como incurável e ciente da impossibilidade ou difi-
“A situação de óbito hospitalar, ocorrência na qual se dá a culdade de cura, deprime-se, sente-se vazio e deixa de intervir
materialização do processo de morrer e da morte, é, certamen- no tratamento, relaciona-se pouco com outras pessoas.
te, uma experiência impregnada de significações cientificas, mas A 4° fase é a depressão – após a fase da barganha, o doente
também de significações sociais, culturais e principalmente sub- percebe sua doença como incurável e ciente da impossibilidade
jetivas.” (DOMINGUES DO NASCIMENTO, 2006) ou dificuldade de cura, deprime-se, sente-se vazio e deixa de
Reforça-se ainda que a morte não é somente um fato bioló- intervir no tratamento, relaciona-se pouco com outras pessoas.
gico, mas um processo construído socialmente, que não se dis- A 5° fase é a aceitação – o paciente entende e aceita sua
tingue das outras dimensões do universo das relações sociais. situação e tenta dar um sentido para sua vida.
Assim, a morte está presente em nosso cotidiano e, independen- Segundo Bosco (2008), esses são estágios que sucedem,
te de suas causas ou formas, seu grande palco continua sendo os porém podem não aparecer necessariamente nessa ordem ou
hospitais e instituições de saúde. BRETAS (2006) alguns indivíduos não passam por todos eles. Podem inclusive
A morte propriamente dita é a cessação dos fenômenos voltar a qualquer fase mais de uma vez. É um processo particu-
vitais, por parada das funções cerebral, respiratória e circula- lar, onde muitos sentimentos estão envolvidos e que dependem
tórias, com surgimento dos fenômenos abióticos, lentos e pro- de vários fatores, como religiosidade, estrutura familiar, cultura,
gressivos, que causam lesões irreversíveis nos órgãos e tecidos. por exemplo. As atitudes face à morte diferem de cultura para
É um tema controverso que suscita nos enfermeiros senti- cultura, de país para país, de região para região e, até, de pessoa
mentos e atitudes diversas. Embora faça parte do ciclo natural para pessoa. Tal facto, permite concluir que a forma como reagi-
da vida, a morte é, ainda, nos dias de hoje, um assunto polémi- mos à morte está dependente de uma multiplicidade de factores
co, por vezes evitado e por muitos não compreendido, gerando que se relacionam principalmente com aspectos pessoais, edu-
medo e ansiedade. Uma vez que a enfermagem tem nos seus cacionais, sócio-económicos e espacio-temporais.
ideais o compromisso com a vida, lidar com a morte pode tor- Os profissionais da saúde, nomeadamente os enfermeiros,
na-se um acontecimento difícil e penoso, gerando uma multipli- enfrentam todos os dias a morte e, independentemente da ex-
cidade de atitudes por parte dos profissionais de enfermagem. periência profissional e de vida, quase todos a encaram com um
Neste contexto, devido à necessidade de melhor compreender certo sentimento de incerteza, desespero e angústia. Incerteza

166
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
porque não sabe se está a prestar todos os cuidados possíveis como na diminuição da dor e angústia. O familiar do paciente
para o bem-estar do doente, para lhe prolongar a vida e para crítico ao ter consciência da situação concreta e da possibilidade
lhe evitar a morte; desespero porque se sente impotente para de morte do seu enfermo que está na UTI, expressa o vazio exis-
fazer algo que o conserve vivo; angústia porque não sabe como tencial através de sentimentos como: tristeza, frustração, pes-
comunicar efectivamente com o doente e seus familiares. Todos simismo, desorientação, angústia e falta de sentido para viver.
estes factores oneram severamente o enfermeiro que procura Para entender a tríade, é necessário definir cada familiar do
cuidar aqueles cuja morte está eminente. paciente crítico como uma pessoa constituída de unidade e to-
talidade em três dimensões: corpo, alma e espírito. (LIMA 2008).
“O enfermeiro reage a estes sentimentos desligando-se do Alguns sentimentos como empatia e afeto são necessário
doente e da própria morte e, consciente ou inconscientemente, para que ao entrar em contato comopaciente e sua família, seja
concentra a sua atenção no seu trabalho, no material, no pro- possível abordá-lo e compreendê-lo com a sua doença em toda
cesso da doença, talvez até em conversas superficiais, com o in- sua peculiaridade. Também consideramos ser de fundamental
tuito de afastar expressões de temor e de morte”. Outras vezes, que na interdisciplinaridade haja o psicólogo para estruturar o
o enfermeiro perante o processo de morte decide evitar todo e trabalho de psicoterapia breve, enfatizando-se o momento, na
qualquer contacto com o doente. Nesta perspectiva, o mesmo busca de proporcionar um espaço de reflexão e expressão dos
autor afirma que “afastando-se do doente através de subterfú- sentimentos, angústias, medos, fantasias, a fim de minimizar
gios, o que o enfermeiro faz é escudar-se contra sentimentos o impacto emocional e o estresse vivenciado pelos familiares,
que lhe lembrem a morte e que lhe causem mal-estar”. Rees pacientes e outros profissionais nesse momento da internação.
(1983), Aprendemos que, o momento de hospitalização significa uma
Deste modo, sendo a morte inevitável e frequente nos ser- crise para a família, o que causa uma ruptura daquilo que é es-
viços de saúde, nem todos os enfermeiros a compreendem, a perado na dinâmica familiar. Tanto a família quanto o paciente
acolhem e reagem a ela da mesma maneira.Confrontados com a que entra no hospital para qualquer tipo de intervenção, não se-
doença grave e com a morte, os enfermeiros tentam proteger-se rão mais os mesmo após a sua alta. Eles tomam contato com seu
da angústia que estas situações geram, adoptando estratégias limite, com sua fragilidade, com sua impotência, mas também é
um momento que poderá emergir a sua força e capacidade.Não
de adaptação, conscientes ou inconscientes designadas: meca-
podemos negar que aprendemos muito sobre a vida, doença e
nismos de defesa.
morte com nossos pacientes, pois a cada momento vamos aos
De acordo com Rosado (1991), do confronto com a morte
leito ao encontro de pessoas diferentes, o que acaba por exi-
surgem frequentemente mais problemas psicológicos do que
gir criatividade em nossa prática diária. Cada casa é um casa e
físicos. Entre os últimos, fadiga, enxaqueca, dificuldades respi-
vem revestido de particularidades e, é este o nosso lugar, nosso
ratórias, insónias e anorexia são alguns dos reconhecidos. No
espaço e nossa função na equipe que requer um exercício de
entanto, os mais citados são: pensamentos involuntários dedica-
criatividade contínua e, especialmente, de escuta. Em cada leito
dos ao doente, sentimentos de impotência, choro e sensação de
com cada doente, com as diferentes doenças e com as diversas
abatimento, sentimento de choque e de incredibilidade perante
famílias, podemos dizer que crescemos.
a perda, dificuldades de concentração, cólera, ansiedade e irrita- A diferença do outro, de cada indivíduo, relança uma nova
bilidade. Decorrentes destas atitudes, registam-se: absentismo, postura de percepção do mundo, pela qual o nosso convívio e
desejo de mudança de serviço, isolamento, entre outras práti- aprendizado mútuo são capazes de reconstruir nossas próprias
cas e atitudes reveladoras da situação e de insegurança.Para percepções e, consequentemente nossas representações. (VA-
que o fenômeno da Morte seja encarado com serenidade pelo LENTE 2008)
enfermeiro, este deve prevê-la como inevitável. Assim deve ter
como atitudes, como: comunicar a situação terminal do doente, e. Atendimento de urgência e emergência em desastres na-
conforme a vontade e capacidade de aceitação do doente, ter turais e catástrofes.
respeito pela diferença, cada doente têm o seu modo de estar Vários eventos que ocorreram no Brasil e no mundo, como
na vida, o doente raramente esta isolado, os familiares podem o ataque com armas químicas na Síria, o tornado no interior do
ajudar ou perturbar, compartilhar, deixar a pessoa expressar os estado de São Paulo e o incêndio numa fábrica de fertilizantes
seus temores e desejos, diminuir a dor, o sofrimento e a angus- em Santa Catarina, que produziu uma volumosa fumaça tóxica,
tia, auxiliar corretamente o doente a assumir a morte como ex- surgem questionamentos sobre a atuação dos profissionais de
periência que só ele pode viver, toda a equipa deve ter um com- saúde nestes casos emergenciais e diferenciados, por sua natu-
portamento idêntico, linguagem, em relação à informação dada reza e repercussão.
ao doente para não existir contradições, promover a vivência da Acidentes em massa podem ter variadas causas, por fenô-
fase final de vida no domicilio sempre que possível. menos naturais como, inundações, tornados, terremotos, ava-
O apoio da família também é muito importante Apoio da lanches, erupções vulcânicas, entre outros; por ação humana
família, já que a família sempre está presente. A definição de em forças naturais ou materiais como, acidentes rodoviários,
família tem evoluído ao longo dos tempos, de acordo com vários ferroviários, aeroviários e marítimos, por radiação nuclear, de-
paradigmas, no entanto aqui adaptar-se-á a definição de“ Famí- sabamentos, incêndios e explosões, eletrocussão, entre demais
lia refere-se a dois ou mais indivíduos que dependem um do ou- exemplos; e outras origens como, causas combinadas e pânico
tro para dar apoio emocional, físico e econômico. Os membros generalizado com pisoteamento.
da família são auto-definidos.” (Hanson, 2005). A família é, ou A preocupação com tais situações torna-se emergente, me-
devia de ser, a unidade primária dos cuidados de saúde. diante os fatos ocorridos recentemente e os grandes eventos
Além de proporcionar o acompanhamento adequado ao que estão programados para os próximos meses no Brasil.
doente em fase terminal, deve se insere a família neste pro- Os profissionais e instituições de saúde brasileiros estão
cessode apoio para que assim o doente possa usufruir de uma prontos para agir com eficácia e rapidez em casos com estas na-
melhor qualidade de vida, do ponto emocional e afetivo, assim turezas e magnitudes?

167
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O papel dos Enfermeiros é indispensável e crucial nestes casos, considerando as especificidades que competem a sua profissão.
Nestas situações de desastre, com envolvimento de muitas vítimas, um plano de emergência diferenciado precisa ser imple-
mentado.

O ideal é que as instituições de saúde construam e treinem seus funcionários, para que nestes casos cada profissional saiba
como atuar e gerenciar.
Em situações de desastre com múltiplas vítimas, o cliente com alta prioridade no atendimento é diferente do cliente prioritário
de situações emergenciais. Em acidentes catastróficos os insumos e recursos podem ter disponibilidade limitada, fazendo com que
a triagem e classificação das prioridades mudem. As decisões baseiam-se na probabilidade da sobrevida e no consumo dos recursos
disponíveis. O princípio fundamental que direciona o uso dos recursos é o bem máximo para o máximo de pessoas.
A triagem deve ser rapidamente realizada na cena do desastre, sendo imediatamente identificadas as vítimas prioritárias e
iniciadas as intervenções necessárias, com posterior encaminhamento para as unidades de emergência.

168
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Nos Estados Unidos é utilizado um sistema de triagem com liares, a priorização da atenção no tempo, diminuindo o número
cores para classificação da prioridade de atendimento das pes- de mortes evitáveis, sequelas e internações. A Classificação de
soas acidentadas (Tabela 1). Conforme a classificação, as pes- Risco deve ser um instrumento para melhor organizar o fluxo
soas recebem uma pulseira colorida que identifica seu nível de de pacientes que procuram as portas de entrada de urgência/
atenção e facilita a implementação das medidas de preservação emergência, gerando um atendimento resolutivo e humanizado.
da vida.
MISSÕES DO ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RIS-
O Enfermeiro pode desempenhar diferentes funções em CO
eventos catastróficos, sendo seu papel definido mediante as 1 - Ser instrumento capaz de acolher o cidadão e garantir
necessidades específicas que a instituição de saúde e equipes um melhor acesso aos serviços de urgência/emergência;
de trabalho apresentam, bem como as particularidades que o 2 - Humanizar o atendimento;
desastre gerou. Por exemplo, o Enfermeiro pode atuar na tria- 3 - Garantir um atendimento rápido e efetivo.
gem principal das vítimas, realizar procedimentos avançados,
caso possua capacitação para tal e respaldo da instituição, dar OBJETIVOS
assistência no luto as famílias com a identificação dos entes •Escuta qualificada do cidadão que procura os serviços de
queridos, gerenciar e/ou fornecer as atividades de cuidado em urgência/emergência;
hospitais de campanha (provisórios) ou mesmo coordenar a dis- • Classificar, mediante protocolo, as queixas dos usuários
tribuição dos recursos materiais e humanos entre as equipes de que demandam os serviços de urgência/emergência, visando
atendimento. identificar os que necessitam de atendimento médico mediato
Estes são apenas alguns exemplos das atividades que po- ou imediato;
dem ser realizadas, mas não contemplam todas as atividades de- • Construir os fluxos de atendimento na urgência/emer-
sempenhadas nestes eventos. Há ainda as ações voltadas para gência considerando todos os serviços da rede de assistência à
o controle e divulgação de informações à mídia e às famílias, o saúde;
gerenciamento de possíveis conflitos internos, como o uso dos • Funcionar como um instrumento de ordenação e orienta-
recursos disponíveis; de origem étnica/cultural, referente aos ção da assistência, sendo um sistema de regulação da demanda
hábitos e costumes particulares dos acidentados e familiares; e dos serviços de urgência/emergência
de cunho religioso, relacionado às crenças e costumes específi-
cos das vítimas envolvidas, principalmente nos casos de óbito. EQUIPE
Estes exemplos ilustram algumas situações possíveis em Equipe multiprofissional: enfermeiro, auxiliar de enferma-
casos de acidentes em massa, devendo ser considerados pelos gem, serviço social, equipe médica, profissionais da portaria/
profissionais de saúde das equipes de atendimento. São casos recepção e estagiários.
que podem acontecer em eventos que envolvam um grande nú-
mero de turistas, sendo do próprio país ou estrangeiros. PROCESSO DE CLASSIFICAÇÃO
Concluindo esta primeira parte do artigo, os Enfermeiros É a identificação dos pacientes que necessitam de inter-
devem estar preparados para atuar em novos ambientes e em venção médica e de cuidados de enfermagem, de acordo com o
papéis atípicos em casos de desastre. O princípio que deve nor- potencial de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento, usan-
tear suas ações é o de fazer o bem ao maior número de pessoas do um processo de escuta qualificada e tomada de decisão ba-
que for possível. seada em protocolo e aliada à capacidade de julgamento crítico
e experiência do enfermeiro. A - Usuário procura o serviço de
f. Acolhimento com avaliação e classificação de risco urgência. B - É acolhido pelos funcionários da portaria/recepção
A Portaria 2048 do Ministério da Saúde propõe a implanta- ou estagiários e encaminhado para confecção da ficha de atendi-
ção nas unidades de atendimento de urgências o acolhimento e mento. C - Logo após é encaminhado ao setor de Classificação de
a “triagem classificatória de risco”. De acordo com esta Portaria, Risco, onde é acolhido pelo auxiliar de enfermagem e enfermei-
este processo “deve ser realizado por profissional de saúde, de ro que, utilizando informações da escuta qualificada e da toma-
nível superior, mediante treinamento específico e utilização de da de dados vitais, se baseia no protocolo e classifica o usuário.
protocolos pré-estabelecidos e tem por objetivo avaliar o grau
de urgência das queixas dos pacientes, colocando-os em ordem CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO
de prioridade para o atendimento” (BRASIL, 2002). 1 - Apresentação usual da doença;
O Acolhimento com Classificação de Risco – ACCR - se mos- 2 - Sinais de alerta (choque, palidez cutânea, febre alta, des-
tra como um instrumento reorganizador dos processos de tra- maio ou perda da consciência, desorientação, tipo de dor, etc.);
balho na tentativa de melhorar e consolidar o Sistema Único de 3 - Situação – queixa principal;
Saúde. Vai estabelecer mudanças na forma e no resultado do 4 - Pontos importantes na avaliação inicial: sinais vitais –
atendimento do usuário do SUS. Será um instrumento de huma- Sat. de O2 – escala de dor - escala de Glasgow – doenças pree-
nização. A estratégia de implantação da sistemática do Acolhi- xistentes – idade – dificuldade de comunicação (droga, álcool,
mento com Classificação de Risco possibilita abrir processos de retardo mental, etc.);
reflexão e aprendizado institucional de modo a reestruturar as 5 - Reavaliar constantemente poderá mudar a classificação.
práticas assistenciais e construir novos sentidos e valores, avan-
çando em ações humanizadas e compartilhadas, pois necessa- AVALIAÇÃO DO PACIENTE (Dados coletados em ficha de
riamente é um trabalho coletivo e cooperativo. Possibilita a am- atendimento)
pliação da resolutividade ao incorporar critérios de avaliação de • Queixa principal
riscos, que levam em conta toda a complexidade dos fenômenos • Início – evolução – tempo de doença
saúde/ doença, o grau de sofrimento dos usuários e seus fami- • Estado físico do paciente

169
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
• Escala de dor e de Glasgow O que é morte encefálica?
• Classificação de gravidade A morte encefálica é a perda completa e irreversível das
• Medicações em uso, doenças preexistentes, alergias e ví- funções encefálicas (cerebrais), definida pela cessação das fun-
cios ções corticais e de tronco cerebral, portanto, é a morte de uma
• Dados vitais: pressão arterial, temperatura, saturação de pessoa.
O2 Após a parada cardiorrespiratória, pode ser realizada a doa-
ção de tecidos (córnea, pele, musculoesquelético, por exemplo).
A Lei 9.434 estabelece que doação de órgãos pós morte só pode
ser feita quando for constatada a morte encefálica.
Como é feito o diagnóstico de morte encefálica?
O diagnóstico de morte encefálica é regulamentado pelo
Conselho Federal de Medicina. Em 2017, o CFM retirou a exi-
gência do médico especialista em neurologia para diagnóstico
de morte encefálica, assunto amplamente debatido e acordado
com as entidades médicas.
Deste modo, a constatação da morte encefálica deverá ser
feita por médicos com capacitação específica, observando o pro-
tocolo estabelecido. Para o diagnóstico de morte encefálica, são
utilizados critérios precisos, padronizados e passiveis de serem
realizados em todo o território nacional.

Quero ser doador de órgãos. O que fazer?


Se você quer ser doador de órgãos, primeiramente avise a
sua família. Os principais passos para doar órgãos são:

Para ser um doador, basta conversar com sua família sobre


o seu desejo de ser doador e deixar claro que eles, seus familia-
res, devem autorizar a doação de órgãos.
No Brasil, a doação de órgãos só será feita após a autoriza-
ção familiar.
Pela legislação brasileira, não há como garantir efetivamen-
te a vontade do doador, no entanto, observa-se que, na grande
maioria dos casos, quando a família tem conhecimento do de-
sejo de doar do parente falecido, esse desejo é respeitado. Por
isso a informação e o diálogo são absolutamente fundamentais,
essenciais e necessários. Essa é a modalidade de consentimen-
to que mais se adapta à realidade brasileira. A previsão legal
g. Captação, Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos concede maior segurança aos envolvidos, tanto para o doador
quanto para o receptor e para os serviços de transplantes.
O que é doação de órgãos? A vontade do doador, expressamente registrada, também
pode ser aceita, caso haja decisão judicial nesse sentido. Em ra-
zão disso tudo, orienta-se que a pessoa que deseja ser doador
de órgãos e tecidos comunique sua vontade aos seus familiares.
Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de
um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela
Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e
controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

Existem dois tipos de doador.


1 - O primeiro é o doador vivo. Pode ser qualquer pessoa
Doação de órgãos é um ato nobre que pode salvar vidas. que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua
Muitas vezes, o transplante de órgãos pode ser única esperança própria saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do
de vida ou a oportunidade de um recomeço para pessoas que fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão. Pela lei, pa-
precisam de doação. É preciso que a população se conscientize rentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Não
da importância do ato de doar um órgão. Hoje é com um desco- parentes, só com autorização judicial.
nhecido, mas amanhã pode ser com algum amigo, parente pró- 2 - O segundo tipo é o doador falecido. São pacientes com
ximo ou até mesmo você. Doar órgãos é doar vida. morte encefálica, geralmente vítimas de catástrofes cerebrais,
O transplante de órgãos é um procedimento cirúrgico que como traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral).
consiste na reposição de um órgão (coração, fígado, pâncreas,
pulmão, rim) ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de uma
pessoa doente (receptor) por outro órgão ou tecido normal de
um doador, vivo ou morto.

170
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Qual tempo de isquemia de cada órgão?
O tempo de isquemia é o tempo de retirada de um órgão e transplante deste em outra pessoa. A tabela abaixo demonstra o
tempo de isquemia aceitável para cada órgão a ser considerado para transplante:

Órgão Tempo de isquemia


Coração 04 horas
Pulmão 04 a 06 horas
Rim 48 horas
Fígado 12 horas
Pâncreas 12 horas

Estatísticas
As estatísticas do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) são a consolidação dos dados sobre transplantes, com informações
coletadas das diversas partes que compõem o SNT. O fornecimento dos dados é de responsabilidade das secretarias de saúde dos
estados e do Distrito Federal. Os dados estatísticos são essenciais para que o Ministério da Saúde possa tomar conhecimento, re-
gistrar e divulgar a produção das cirurgias realizadas, bem como sistematizar índices que demonstrem o desempenho do setor nas
unidades federativas, regiões e no país como um todo.

QUAIS SÃO OS PRIMEIROS SOCORROS EM CASO DE AFOGAMENTO?


Em caso de afogamento, a primeira coisa a fazer é tirar a vítima da água.
O ideal é socorrer a pessoa que está se afogando sem entrar na água, utilizando uma boia, tábua, colete salva-vidas, corda,
galho ou qualquer outro objeto que a faça flutuar ou lhe permita agarrar para não afundar.
A seguir, providencie um cabo para rebocar a vítima no objeto flutuante. O cabo deve ter um laço para que a pessoa possa
prendê-lo ao corpo, já que a correnteza pode impedi-la de segurar no cabo.
Após retirá-la da água, mantenha-a aquecida e peça ajuda ligando para o número 193. Se a vítima estiver consciente, deixe-a
sentada enquanto aguarda pela chegada da ambulância. Se estiver inconsciente, siga os seguintes primeiros socorros:
1) Deite a vítima de lado e mantenha-a aquecida;
2) Observe se ela está respirando;
3) Ligue e siga as instruções dadas pelo atendente do 193 (leve a vítima ao hospital ou espere pela chegada do socorro).

Se a pessoa não estiver respirando, é necessário fazer a reanimação cardiopulmonar:


1) Posicione a vítima deitada de barriga para cima sobre uma superfície plana e firme (a cabeça não deve estar mais alta que os
pés para não prejudicar o fluxo sanguíneo cerebral);
2) Ajoelhe-se ao lado da vítima, de maneira que os seus ombros fiquem diretamente sobre o meio do tórax dela;
3) Com os braços esticados, coloque as mãos bem no meio do tórax da pessoa (entre os dois mamilos), apoiando uma mão
sobre a outra;
4) Inicie as compressões torácicas, que devem ser fortes, ritmadas e não podem ser interrompidas;
5) Evite a respiração boca a boca se estiver sozinho, não interrompa as compressões cardíacas;
6) O melhor é revezar nas compressões com outra pessoa, mas a troca não deve demorar mais de 1 segundo;
7) A reanimação cardiorrespiratória só deve ser interrompida com a chegada do socorro especializado ou com a reanimação
da vítima.

171
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL

Não tente fazer a ressuscitação dentro da água. Sempre que possível, retire a vítima da água na posição horizontal.
Nunca tente salvar uma vítima de afogamento se não tiver condições para o fazer, mesmo que saiba nadar. É preciso ser um
bom nadador e estar preparado para salvar indivíduos em pânico.

Principais causas de afogamentos


Os afogamentos são comuns durante o verão, época em que as pessoas mais frequentam áreas de rios e mares. Desconheci-
mento das condições do local e falta de habilidade do nadador estão entre as principais causas de afogamento.
Além disso, podemos citar como causas de afogamento o mergulho em áreas rasas, que pode levar a traumatismo seguido da
aspiração de água, ingestão de bebidas alcoólicas, crises convulsivas, doenças cardiorrespiratórias e câimbras. Em afogamentos em
residências, destacam-se os de crianças que se afogam em banheiras e outros recipientes com água por ficarem sem a supervisão
de um adulto.

Denominamos de afogamento primário aquele em que não se observa nenhum fator que levou ao afogamento. Este ocorre
naturalmente em virtude da falta de habilidade da vítima, por exemplo. Já o secundário está relacionado com alguma patologia que
dificulte que a vítima mantenha-se na superfície.

Como ocorre o afogamento?


Quando uma pessoa entra em contato com a água e percebe que sofrerá o afogamento, ela geralmente se desespera e inicia
uma luta para manter-se na superfície. Quando ocorre a submersão, instantaneamente a pessoa prende a respiração. Essa parada
da respiração depende da capacidade física de cada indivíduo.
Quando a pessoa não consegue mais segurar a respiração, uma aspiração de líquido pode ocorrer. Em algumas pessoas, isso é
um estímulo para que haja um reflexo natural que contrai as vias respiratórias e impede que mais água entre no organismo. Essa
contração pode levar à morte por asfixia, um caso que chamamos de afogamento do tipo seco.
Na maioria das pessoas, no entanto, não ocorre esse reflexo e o que acontece é uma grande aspiração de água por causa de
movimentos respiratórios involuntários. Isso faz com que a água chegue aos pulmões, levando à perda da substância que promove
a abertura dos alvéolos (surfactante), mudanças na permeabilidade dos capilares e surgimento de edema pulmonar. Com o tempo,
o pulmão enche-se completamente de água, o indivíduo perde a consciência, sofre parada respiratória e morre.

Primeiros socorros em caso de afogamento


Em casos de afogamento, é importante ser muito cauteloso ao tentar salvar a vítima. Quando uma pessoa está se afogando,
sua tendência é desesperar-se e segurar na pessoa que está tentando salvá-la, podendo ocasionar outro afogamento. Nesses casos,
portanto, é fundamental jogar algo para que ela se segure, como boias e pneus.
Nesses casos, é fundamental também chamar bombeiros ou uma ambulância, pois a vítima terá atendimento especializado. Em
pessoas desacordadas e sem sinais de respiração, recomenda-se a respiração boca a boca e, quando estiver sem pulso, a massagem
cardíaca. Quando acordada, é importante manter a vítima deitada de lado e aquecida.

O que fazer em caso de choque elétrico?


Em caso de choque elétrico, os primeiros socorros devem ser prestados rapidamente, pois os primeiros 3 minutos após o cho-
que são vitais para socorrer e salvar a vítima.

172
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A primeira coisa a fazer é interromper o contato da pessoa
com a fonte de eletricidade sem encostar diretamente nela. O GERENCIAMENTO DE ENFERMAGEM EM SERVIÇOS DE
ideal é desligar a chave geral de força. Se não for possível, afas- SAÚDE: GERENCIAMENTO DE RECURSOS HUMANOS:
te a vítima utilizando algum material que não conduza corrente DIMENSIONAMENTO, RECRUTAMENTO E SELEÇÃO,
elétrica, como objetos de borracha ou madeira.
EDUCAÇÃO PERMANENTE, LIDERANÇA, SUPERVISÃO,
COMUNICAÇÃO, RELAÇÕES DE TRABALHO E PROCES-
SO GRUPAL; PROCESSO DE TRABALHO DE GERENCIA-
A seguir, chame o resgate através do número 192 e verifi-
MENTO EM ENFERMAGEM
que se a pessoa está respirando, se consegue se mexer ou emitir
algum som. Caso não verifique nenhum desses sinais, é provável
que a vítima tenha sofrido uma parada cardíaca ou cadiorrespi- A enfermagem no gerenciamento do serviço hospitalar
ratória. vem sendo cada vez mais comum e se tornando uma realidade
nas instituições hospitalares.
Nesse caso, inicie imediatamente a reanimação cardíaca, O Gerenciamento da Qualidade, é uma nova abordagem
enquanto espera pela ambulância: gerencial, que permite que as empresas acompanhem as mu-
danças e até mesmo se antecipem a elas, pois enfatiza a melho-
Reanimação cardíaca ria contínua de produtos e serviços, pela utilização do método
Deite a vítima em local seguro, com a barriga para cima; científico e monitorização de dados que embasam a tomada de
Com uma mão sobre a outra, faça 30 compressões fortes decisões. Além disso, tem se mostrado útil em qualquer empre-
e ritmadas no meio do tórax da vítima. Em cada compressão, o sa, seja ela produtora de bens ou serviços, grande ou pequena,
peito da vítima deve afundar cerca de 5 cm. Para isso, recomen- pública ou privada.
da-se usar o peso do próprio corpo para fazer a compressão; A gerencia de enfermagem nos serviços hospitalares tam-
Tentando manter um ritmo de aproximadamente 100 a 120 bém começa a estudar e a adotar o Gerenciamento da Qualida-
de com vistas a alcançar não só um padrão aceitável de assistên-
compressões por minuto
cia, mas também a atender as expectativas dos trabalhadores e
Após as 30 compressões observe se a pessoa está respon-
dos pacientes. Contudo, aqui em nosso meio, as tentativas de
dendo ou se encontra algum pulso, no punho ou pescoço da ví-
implantação ainda são recentes e os estudos sobre o tema só
tima; se não volte às compressões;
agora começam a alcançar a amplitude necessária para que a co-
Se houver mais alguém, o mais adequado é revezar a mas- munidade da enfermagem possa conhecê-lo e utilizá-lo em sua
sagem a cada 2 minutos, para manter uma compressão eficaz e prática administrativa.
melhor resultado; Com base nisto, os autores Arthur Velloso Antunes, Maria
Mantenha as compressões até a pessoa retomar a consciên- Auxiliadora Trevizan, do artigo GERENCIAMENTO DA QUALIDA-
cia ou até à chegada do socorro. DE: UTILIZAÇÃO NO SERVIÇO DE ENFERMAGEM enfatizam sua
Quanto mais rápido for o atendimento à vítima de uma pa- importância para a Enfermagem e analisam sua utilização no
rada cardiorrespiratória, por choque elétrico, menores são os Serviço de Enfermagem de um hospital privado, com o objetivo
danos causados ao organismo. de avaliar a forma de implantação, o envolvimento dos enfer-
meiros e a aplicação dos Princípios de Deming.
Estudos recentes comprovam que a realização de massagem No mundo todo muitas empresas estão descobrindo que
cardíaca nos primeiros socorros, possibilita a manutenção do precisam fazer alguma coisa para se manterem em atividade
fluxo sanguíneo e, portanto, oxigenação dos tecidos, inclusive num mercado onde a concorrência nunca foi tão intensa. Estão
pulmonar e cerebral, mesmo sem mais a indicação de respiração se conscientizando de que não podem ficar fazendo a mesma
boca-a-boca, salvado muitas vidas. coisa o tempo todo e, que a mudança é inevitável para que pos-
sam acompanhar as constantes transformações que acontecem
Se o choque elétrico provocar queimaduras, lave a área afe- nesta virada de século. Estão verificando que algumas delas
tada com água corrente à temperatura ambiente, até esfriar o produzem mais e melhor com recursos semelhantes e por isto
local. Se puder mergulhar a queimadura na água, melhor. vendem alta qualidade a preços competitivos. Além disso, estão
sendo avaliadas pelo cliente cada vez mais exigente, não mais
pelo custo, mas pela qualidade do produto ou serviço.
Neste cenário, são muitas as empresas que têm conseguido
superar essas várias dificuldades adotando um novo modo de
administrar, que inicialmente foi chamado de Qualidade Total
(QT) e que neste estudo será denominado de Gerenciamento
da Qualidade ou simplesmente Qualidade. Nesta forma de Ge-
renciamento os gerentes sabem que as mudanças precisam co-
meçar em si próprios e por isto, estão aprendendo essa nova
maneira de dirigir a empresa, cultivando corporações saudáveis,
com objetivos de sobrevivência a longo prazo e não apenas de
lucros a curto prazo. Os empregados têm sido valorizados e as-
sim, estão aprendendo a contribuir com seus conhecimentos
para melhorar os processos de trabalho. Os clientes estão sendo
ouvidos pelas empresas, para se ter a certeza da utilidade e do
valor dos produtos, pois se elas assim não fizerem, alguém o fará
e conquistará o cliente. Por sua vez os fornecedores procuram
manter uma parceria duradoura atendendo as necessidades das
empresas.

173
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O Gerenciamento da Qualidade, essa nova abordagem ge- ção do trabalho, buscando a redução do desperdício pela utili-
rencial, como é chamado por SCHOLTES (1992), permite que as zação adequada dos recursos e o atendimento das necessidades
empresas acompanhem as mudanças e até mesmo se antecipem do cliente pela melhoria dos processos de trabalho. BROCKA &
a elas, pois enfatiza a melhoria contínua de produtos e serviços, BROCKA (1994) acrescentam que este processo inclui a integra-
pela utilização do método científico e monitorização de dados ção de todos no ambiente da organização: empregados, forne-
que embasam a tomada de decisões. Além disso, tem se mos- cedores e usuários. Diz que ele se baseia em dois princípios: o
trado útil em qualquer empresa, seja ela produtora de bens ou primeiro, é que é um processo controlável e não acidental e o
serviços, grande ou pequena, pública ou privada. segundo, é que ele é uma capacidade inerente aos empregados.
Aqui no Brasil, num momento mais recente, as empresas Princípios estes, não aceitáveis em instituições autoritárias
despertam e começam a adotar esta nova filosofia da Qualida- e hierárquicas comumente encontradas em nosso meio. Esta fi-
de, impulsionadas pelo consumidor mais exigente que faz valer losofia da Qualidade é resultado da integração do pensamento
seus direitos e pela maior competição causada pela importação de diversos autores como ISHIKAWA (1986); DEMING (1990);
de produtos estrangeiros de boa qualidade, que hoje estão ao JURAN (1992, 1995), e outros, bem como do pensamento que
lado dos nacionais nas prateleiras de supermercados. A área de norteia algumas técnicas japonesas como o Misp e o Kaizen. A
saúde, ainda que timidamente, despertou para a Qualidade nos Teoria da Qualidade proposta por Deming é bastante abrangen-
anos 80 devido aos recursos financeiros cada vez menores e aos te e representativa do pensamento da Qualidade, por isto serviu
custos cada vez maiores, além de uma variada gama de pressões de base teórica para o estudo que ora apresentamos. Ela apre-
vindas do governo, da indústria, dos clientes, da rápida evolu- senta dentre outras coisas “Os 14 princípios de Deming”, cada
ção da tecnologia médica. Esta nova situação, tem feito algumas um com algumas recomendações, a partir dos quais elaboramos
instituições da área de saúde reavaliarem sua forma de adminis- uma parte do instrumento de coleta de dados (Anexo 1) que uti-
tração e adotarem o Gerenciamento da Qualidade. Entretanto, lizamos na pesquisa. Tais princípios são os seguintes:
principalmente aqui no Brasil, ainda não são muitas as institui- 1 - Crie constância de propósitos para melhoria doproduto
ções de saúde que se dispuseram a trilhar o caminho da Quali- e do serviço
dade, adotando esta nova filosofia. A enfermagem, a exemplo 2 - Adote a nova filosofia
dos hospitais, também a estudar e a adotar o Gerenciamento da 3 - Cesse a dependência da inspeção em massa
Qualidade com vistas a alcançar não só um padrão aceitável de 4 - Acabe com a prática de aprovar orçamentos apenas com
assistência, mas também a atender as expectativas dos traba- base no preço
lhadores e dos pacientes. Contudo, aqui em nosso meio, as ten- 5 - Melhore constantemente o sistema de produção e de
tativas de implantação ainda são recentes e os estudos sobre o serviços
tema só agora começam a alcançar a amplitude necessária para 6 - Institua treinamento
que a comunidade da enfermagem possa conhecê-lo e utilizá-lo 7 - Adote e institua a liderança
em sua prática administrativa. 8 - Afaste o medo
Entendida como uma nova abordagem da administração, a 9 - Rompa as barreiras entre os diversos setores de pessoal
Qualidade é marcada por princípios, idéias e crenças que bus- 10 - Elimine slogans, exortações e metas para a mão de obra
cam em última instância a satisfação dos clientes, dos trabalha- 11 - Suprima as cotas numéricas para a mão de obra
dores (administração e funcionários), dos fornecedores e dos 12 - Remova as barreiras que privam as pessoas do justo
acionistas (BROCKA & BROCKA, 1994). Alguns destes princípios orgulho pelo trabalho bem executado
não são novos e são adotados em outras abordagens. 13 - Estimule a formação e o auto-aprimoramento de todos
Entretanto, o modo como foram agrupados com aqueles 14 - Tome a iniciativa para realizar a transformação
próprios da Qualidade, forma uma base sólida de sustentação
desta nova filosofia, que tem sido empregada com sucesso em Entendendo que o Gerenciamento da Qualidade, esta nova
todo o mundo. Como comenta BRASSARD (1994), ela considera filosofia de administração, pode ser útil à Enfermagem e ajudá-
as pessoas como o maior patrimônio da organização, por isso -la a superar as dificuldades deste final de século, a incorporar
busca o desenvolvimento dos recursos humanos e confere po- novos métodos e técnicas, a realizar as mudanças necessárias
deres aos empregados, aos gerentes e aos administradores; en- ao seu desenvolvimento e a alcançar a qualidade da assistência,
tende que as pessoas querem se envolver e executar bem suas resolvemos desenvolver um trabalho com a finalidade de ofere-
tarefas, que todas elas querem ser valorizadas, que aquelas que cer uma contribuição aos estudos sobre o assunto, bem como de
executam tarefas com conhecimento têm mais condições de difundi-lo em nosso meio profissional. Traçamos então para este
opinar sobre elas; e que os clientes com suas necessidades são estudo os seguintes objetivos:
a única razão da existência de uma organização, por isto devem 1º- Estudar a forma de implantação da Qualidade adotada
ser identificados e suas necessidades, seus objetivos, suas ex- no Serviço de Enfermagem de uma instituição hospitalar.
pectativas e seus desejos serem atendidos. Para tanto, devem 2º- Verificar se os enfermeiros desta instituição sabem o
ser convidados a participar dando as informações necessárias que é Qualidade Total e seus fundamentos, se acreditam em
sobre suas necessidades e satisfação com o produto/serviço bons resultados com sua implantação, se estão empenhados no
adquirido. O Gerenciamento da Qualidade (Total Quality Ma- processo, e se perceberam melhoria na satisfação do pessoal e
nagement - TQM) é um processo através do qual se busca im- do paciente.
plantar a filosofia da Qualidade Total, cuja principal finalidade 3º- Verificar se os princípios da Qualidade, como propos-
é a melhoria contínua dos produtos ou serviços, pelo aprimo- tos por Deming, e as recomendações neles contidas estão sendo
ramento do trabalho dos diversos membros e de todas as áreas empregados na administração desse Serviço de Enfermagem.
da organização. Ele utiliza conceitos da moderna administração, Este último objetivo, o mais importante deste estudo, foi
envolvimento e comprometimento das pessoas, introdução de incluído por dois motivos principais. Primeiro, por nos permitir
inovações por sugestões e instrumentos de medida e de avalia- uma análise bastante completa sobre o Gerenciamento da Qua-

174
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
lidade. Segundo, porque consideramos que a maioria dos prin- Desde os primórdios das chamadas “teorias da administra-
cípios e idéias que hoje dominam o pensamento acerca desta ção”, entre os princípios de Henri Fayol, há o de pagar a cada um
forma de gerenciar, é derivada ou está contida nos princípios da segundo a tarefa que realiza e o de tratar igual o que é igual e
“Teoria da Qualidade” proposta por Deming. Assim, se o hospi- diferente o que é diferente, ambas estão entre as consideradas
tal escolhido para este estudo trabalha com o Gerenciamento da primeiras leis da administração de recursos humanos. Embora
Qualidade há algum tempo, certamente os referidos princípios antigos, embora façam sentido, embora considerados supera-
estarão presentes e sendo aplicados de forma mais ou menos dos, nenhum destes princípios é aplicado o suficiente nos dias
intensa. de hoje, nem (ou principalmente) no setor da saúde.
A administração de recursos humanos trata com e de pes-
É importante ressaltar que após o início da implantação do soas; nesse campo, nada é fácil e, decididamente, pouco é obje-
Gerenciamento da Qualidade até os dias atuais, o Serviço de En- tivo. A ideia de tratar igual o que é igual para um administrador
fermagem em estudo tem experimentado um desenvolvimento traz como premissa a discriminação adequada entre o bom e o
significativo que pôde ser observado em nossa pesquisa de cam- mau, o certo e o errado. No entanto, não existe qualquer garan-
po e descrito nos trabalhos de CADAH (1992, 1994) e MOHAMED tia de que a percepção (pessoal) desse administrador seja par-
(1994). Entre as mudanças importantes que demonstraram este tilhada por outrem, menos ainda por aqueles que estão sendo
desenvolvimento estão as seguintes:organização e documenta- objeto dessa discriminação.
ção dos diversos setores, sistematização da assistência de en- A administração de recursos humanos tem um componen-
fermagem e registro das atividades, informatização do plano te de “leis e normas” de caráter idealmente objetivo, mas, ao
de cuidados, criação de um Centro de Educação Continuada e mesmo tempo, assenta-se sobre relações interpessoais, que,
de um Grupo de Estudos de Enfermagem, melhoria na qualida- em qualquer caso, baseiam-se em sensações e percepções. É
de dos recursos humanos, introdução de auditorias periódicas, sempre difícil aceitar o componente emocional contido nas rela-
utilização de indicadores de qualidade nas decisões administra- ções e reações humanas. Isso se torna particularmente delicado
tivas, melhoria nos aspectos filosóficos da assistência (cuidado quando se discute gestão, diante do conteúdo de conhecimento
integral) e a realização de diversas publicações sobre as ativi- (mesmo que não científico) atribuído a essa área.
dades desenvolvidas no Serviço de Enfermagem. Tudo isto nos Outro assunto cada vez mais trabalhado é o do assédio, que
permite dizer que a introdução do Gerenciamento da Qualidade começou a ser analisado sob o ponto de vista do “assédio sexu-
vem proporcionando um desenvolvimento significativo no Ser- al”, levando organizações de todo tipo a fazerem manuais sobre
viço onde realizamos o estudo.Na implantação do Gerencia- como evitar problemas nessa área.
mento da Qualidade, vários passos definidos como importantes Nas organizações de saúde, onde se observa grande contin-
pela teoria foram dados, porém outros igualmente importantes gente de mulheres, em geral subordinadas a homens em posi-
não ocorreram, como: a elaboração da “Missão” e “Visão de ções de poder e de minorias de homens em terrenos altamente
Futuro” do Hospital e do Serviço de Enfermagem, a formação femininos, nota-se terreno fértil para a discussão. Além disso,
de “Multiplicadores da Qualidade”, a difusão dos “Princípios da com a posição de fragilidade dos pacientes e eventuais fragiliza-
Liderança para a Qualidade” e a elaboração de um plano de im- ções, tanto dos pacientes quanto, às vezes, de seus cuidadores,
plantação.Os enfermeiros estão envolvidos no Gerenciamento o risco está presente. Essa mesma realidade traz à baila o as-
da Qualidade e quase todos sabem o que é, acreditam em bons sédio moral, ainda mais grave por ser menos explícito e menos
resultados e estão empenhados no processo. Além disso, foram comprovável.
poucos os que não perceberam a melhoria na satisfação do pa- Os objetos da administração de recursos humanos são as
ciente e do pessoal de enfermagem.Todos os Princípios de De- pessoas e suas relações dentro da organização. No entanto, cer-
ming estão sendo utilizados no Serviço de Enfermagem, porém tamente não é esse o seu objetivo. É sempre necessário esclare-
alguns de forma mais adequada que outros. Os Princípios 4, 5, cer o formulador dos objetivos que se quer atingir. Nessas con-
6 e 13 estão sendo melhor utilizados necessitando apenas de dições, pode-se dizer que a administração de recursos humanos
aprimoramento contínuo. Os Princípios 7, 8, 9 e 11 são os que serve para manter a organização produtiva, eficiente, eficaz, a
estão sendo aplicados de forma mais inadequada, necessitando partir da mobilização adequada das pessoas que ali trabalham.
de mudanças significativas. Já os demais Princípios estão muitas As pessoas que trabalham na maioria das organizações re-
vezes sendo empregados de forma adequada, mas necessitando presentam seu recurso crítico, ou seja, aquele sem o qual elas
de algumas modificações.4 não conseguem realizar o seu trabalho. Isso é particularmente
verdadeiro nas organizações de saúde que, além de serem de-
RECURSOS HUMANOS pendentes de tecnologia, não conseguem aplicar essa tecnolo-
Há dois tipos genéricos de reação quando se fala em admi- gia sem contar com recursos humanos adequados. Ou seja, a
nistração de recursos humanos no âmbito de uma organização. avaliação final do desempenho da área de recursos humanos
Ou as pessoas consideram sua atividade um mistério, com pro- será dada em função dos resultados obtidos pela organização.
cesso decisório centralizado e vivenciado sobre critérios desco- A definição dos resultados esperados deve ser dada pelos for-
nhecidos, ou assumem que não se consegue gerenciar qualquer muladores das políticas da organização, ou seja, pelo secretário
tipo de unidade sem gerenciar as pessoas que ali trabalham. municipal (ou até do prefeito). Assim, a gestão de recursos hu-
Também se verificam duas atitudes possíveis perante o co- manos tem importante componente estratégico.
nhecimento dessa área: ele pode ser visto como composto de ri- Gestão de pessoas deve, na organização, ser objeto de inte-
tos e de conhecimentos técnicos (ou mágicos), a menos que seja resse (se não de atuação) de todos os que nela trabalham: ge-
percebido como pura aplicação de senso comum e, quem sabe, rentes de recursos humanos, de outras áreas ou com qualquer
como a tentativa de fornecer alguns conceitos de autoajuda aos outro tipo de atividade. Seja por lidar com suas vidas, seja por
trabalhadores de uma organização. lidar com o funcionamento da organização, o setor tem um com-
4Fonte: www.portaleducacao.com.br ponente universal não desprezível.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A administração de recursos humanos pode ser compre- A metodologia foi pautada pelo método bibliográfico, qua-
endida como um subsistema de uma organização, pois pesso- litativo e parcialmente exploratório. Utilizando-se de pesquisa
as realizam o trabalho das organizações. Mesmo quando existe bibliográfica e documental auferida em livros, artigos e mono-
uma intensa substituição do elemento humano por máquinas, grafias.
as pessoas recolhem o produto transformado pelas máquinas, Desta feita, tem-se que a escolha do tema foi motivada pela
ligam-nas, desligam-nas, decidem quando acioná-las e quando importância que o setor de saúde tem e pelo desmerecimento
consertá-las (e até contratos de manutenção para elas). com o qual vem sendo tratado. O sucateamento da saúde é fato
O termo “recurso humano” torna-se compreensível em fun- notório. Estabelecimentos lotados, sem estrutura e com profis-
ção da utilização do modelo de teoria geral de sistemas. sionais desvalorizados demonstram como o setor vem sendo
O administrador pode ter diversos objetos de interesse. ignorado e como seus profissionais vem sendo explorados por
Entre eles, mas sem esgotá-los, estão os recursos. Entre estes, regimes trabalhistas que não fazem uso das boas práticas de
costuma-se observar grande quantidade de tempo gasto com gestão de pessoas. A busca incessante por qualidade, eficiência
gestão de recursos materiais e financeiros, que podem envolver, e profissionais cada vez mais qualificados e motivados deve ser
por um lado, o orçamento - às vezes, até dinheiro - que será o objetivo traçado por qualquer gestor da área.
usado, talvez, na compra de mesas, cadeiras, aparelhos de ar
condicionado, seringas, agulhas, vacinas, medicamentos, papéis A saúde pública no Brasil
e canetas, e, de outro, recursos tecnológicos. Saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido
Parte importante dos recursos financeiros será empregada mediante políticas sociais e acessórias que visem a redução do
para pagar os salários dessas pessoas como retribuição pelos risco de doenças e de outros agravos e a acesso universal e igua-
serviços prestados. Estas pessoas, que prestam serviços pelos litário às ações e serviços para a sua promoção, prestação e re-
quais serão remuneradas e se servem dos recursos materiais co- cuperação.
locados à sua disposição, adquiridos e pagos por outras pessoas, É o que dispõe a Constituição Federal no seu Artigo 196.
podem ser entendidas como “recursos humanos”. Nesse sentido, Sarlet e Figueiredo (2008, p. 191) ratificam:
Nas condições de trabalho vigentes a partir de 1990 e pelo (…) tem-se como certo que a garantia efetiva de uma exis-
menos até 2001, não necessariamente estes recursos humanos tência digna abrange mais do que a garantia da mera sobrevi-
são “empregados” da organização. Podem ser prestadores de vência física, situando-se, portanto, além do limite da pobreza
serviço sob as mais diversas formas, mas consegue-se entender absoluta. Sustenta-se, nesta perspectiva, que se uma vida sem
como seu trabalho dá suporte à vida organizacional. Sob este alternativas não corresponde às exigências da dignidade hu-
modelo menos tradicional, o papel da área de recursos humanos mana, a vida humana não pode ser reduzida à mera existência.
também se modifica, mas seu objetivo permanece. Registre-se, neste contexto, a lição de Heinrich Scholler, para
Conclui-se, então, que qualquer trabalho envolve pessoas. quem a dignidade da pessoa humana apenas estará assegurada
Pessoas têm percepções, emoções, preferências, suscetibilida- “quando for possível uma existência que permita a plena fruição
des. O conceito de recurso humano assume um modelo que pri- dos direitos fundamentais, de modo especial, quando seja pos-
vilegia a produção, o produto, o resultado e não as relações, sível o pleno desenvolvimento da personalidade”.
as preferências e as percepções. A utilização de outros modelos A definição de saúde possui implicações legais, sociais e eco-
explicativos levaria a outros juízos. nômicas dos estados de saúde e doença; sem dúvida, a definição
mais difundida é a encontrada no preâmbulo da Constituição da
Uma das questões que merecem ser discutida e melhor tra- Organização Mundial da Saúde (OMS), que define a saúde como
balhada é como a jornada de trabalho pode interferir na quali- um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não
dade do serviço de saúde. A maioria dos trabalhadores inseri- apenas a ausência de doenças. Segundo a OMS, diz que
do nesta classe ostenta uma carga de trabalho extremamente O significado atribuído, atualmente, à saúde não é ausência
exaustiva, inclusive com plantões, que o gera stress, depressão de doença, como salientado acima, mas, sim um somatório de
e outras doenças relacionadas ao trabalho ou mesmo adquiri- fatores e condições que levam o ser humano a gozar de melhor
das durante este. Desta forma a reestruturação dos horários de qualidade de vida, interagindo com o meio ambiente de forma a
trabalho é um importante passo para que o profissional possa admitir uma longevidade condizente com os avanços tecnológi-
desenvolver suas competências e habilidades com a máxima in- cos do nosso século.
teração e atenção. O relatório Lalonde sugere que existem quatro determi-
Além de oferecer melhores condições de trabalho é preciso nantes gerais de saúde, incluindo biologia humana, ambiente,
que se busque por um profissional empreendedor, participativo estilo de vida e assistência médica. Assim, a saúde é mantida e
e proativo, o que é indispensável em uma estratégia de gestão. melhorada, não só através da promoção e aplicação da ciência
Apoiar-se na tecnologia de ponta, melhorar os estabelecimentos da saúde, mas também através dos esforços e opções de vida
de ação, motivar os colaboradores, almejar resultados em curto, inteligentes do indivíduo e da sociedade.
médio e longo prazo é responsabilidade do gestor aos desafios Moraes (1996) ensina que,
que a saúde lhe impõe. quando se fala em saúde, não se tem em mente a sua rela-
Para superar as deficiências e minimizar as dificuldades de ção com a doença e, consequentemente, com a morte. Tem-se,
setor tão precário em nossa sociedade é preciso uma mudança uma posição auto reflexiva da saúde relacionada com ela mes-
profunda na estrutura organizacional a fim de que se atendam ma e, assim, à vida e, além disso, não uma vida caracterizada
as necessidades da atual e futura geração. As práticas de gestão como sobrevivência, mas uma vida qualificada pelo acesso aos
de pessoas são capazes de modificar a estrutura organizacional benefícios da cidade.
deficiente, descrever algumas práticas para serem adotados,
apontar as principais falhas existentes, propor métodos de ges-
tão de pessoas etc.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Para Arouca In Tirrel e Carvalho (1993, p.32), As péssimas condições de atendimento à população na
É o reconhecimento do direito universal e inalienável, co- atenção Primária de Saúde, porta de entrada do SUS, também é
mum a todos os homens; a promoção ativa e permanente de retratada pela falta de equipamentos médicos, mobílias, exame
condições que viabilizem a preservação de sua saúde, o reco- laboratoriais e até mesmo de medicamentos básicos.
nhecimento do caráter sócio-econômico global dessas condi-
ções, emprego, salário, nutrição, saneamento, habitação e pre- Neste sentido Madeiro (2014, p.5):
servação de níveis ambientais aceitáveis; o reconhecimento e Na área dos recursos humanos, tome-se como exemplo o
a responsabilidade parcial, porém intransferível, das ações pro- Município de Fortaleza, uma das maiores capitais do Brasil, sede
priamente ditas, individuais e coletivas, na promoção ativa da da copa em 2014, que em recente visita realizada pela Comis-
saúde da população; o reconhecimento, finalmente, do caráter são de Saúde da OAB-CE, acompanhada pelo Ministério Público
social desse direito; e também da responsabilidade que cabe à Estadual, Conselhos Estadual e Municipal de Saúde e os repre-
coletividade e ao Estado em sua representação, pela efetiva im- sentantes de todos os Conselhos Regionais da área de saúde,
plementação. foi constatada que cerca de 60% de todos os profissionais da
Em nosso país um conceito amplo de saúde surgiu após o área da saúde são contratados com vínculo precário de traba-
movimento da Reforma Sanitária, entre as décadas de 70 e 80, lho através de empresas terceirizadas ou cooperativas, em total
servindo como pano de fundo para o estabelecimento de novas afronta à Constituição, que exige a aprovação prévia em concur-
diretrizes no âmbito da saúde, previsto na Constituição Federal sos públicos para a investidura em cargo ou emprego público,
e acima apontado. ressaltando-se que a carência de médicos no SUS, se dá princi-
Este Movimento surge na sociedade civil organizada, sobre- palmente, pela falta de concursos públicos. O Governo Brasilei-
tudo, a partir das organizações sindicais e populares da área da ro deliberadamente vem substituindo os Concursos Públicos por
saúde buscava o reconhecimento da saúde como uma questão contratações via ONG, Organização da Sociedade Civil de Inte-
de relevância pública, como direito do cidadão assumido clara- resse Público (OSCIP), Cooperativas de Serviços ou a EBSERH,
mente pelo setor público, em suas formulações, como abran- empresa pública dotada de personalidade jurídica de direito pri-
gência da integridade, ampliada para além do espectro médico vado, o que certamente constitui-se também em retrocesso po-
assistencial (FIGUEIREDO & TANAKA, 1996, p.38). lítico. O número de equipes de Estratégias de Saúde da Família
Contudo, anos se passaram desde a criação da Lei do Sis- (ESF), antigo PSF, também se revelou insuficientes, atendendo
tema Único de Saúde em 1990, e ao invés de ações práticas ca- apenas a 40% da demanda. Tudo em desacordo com a Portaria
pazes de dar valor positivo às reformas no sistema de saúde, Ministerial Nº 2488/GM de 21/10/2011.
sobram evidências do descaso para com os serviços do setor pú- Com os breves apontes é fácil notar a relevância em se dis-
blico de saúde no Brasil. cutir medidas de gestão de pessoas aplicáveis à saúde. O desca-
Figueiredo e Tanaka (1996, p.19:98-105) em sua obra ensina so observado deve ser substituído por ações imediatas e pauta-
que: das em resolver definitivamente questões que se arrastam por
O Sistema Único de Saúde – SUS que tem como conceito décadas e colocam em risco a população que depende do servi-
básico a universalização do atendimento à saúde surgiu com a ço público para sua sobrevivência.
Constituição atual. A ideia era atingir ampla e irrestritamente a
todos os cidadãos, independente de classe social, com financia- Gestão de pessoas
mento público. Ao sistema privado caberia a ação suplementar. Os primórdios da gestão de pessoas perpassa pelo modelo
Entre os vários princípios e diretrizes assistenciais e organiza- taylorista-fordista, cuja base era a definição do cargo e de suas
cionais do SUS estão: universalidade, integralidade, igualdade, funções associadas, que definiam os critérios para a seleção de
intersetorialidade, direito à informação, autonomia das pessoas, pessoas.
resolutividade, uso da epidemiologia para planejar e alocar re- Segundo Fleury e Fleury (2007, p.89), o lema era “o homem
cursos, descentralização, regionalização, hierarquização, gestor certo para o lugar certo”, visando maior produtividade e com-
único por esfera, complementariedade e suplementariedade do petitividade.
privado, financiamento da União, Estados e Municípios e partici- As organizações têm passado por muitas modificações, des-
pação da comunidade. de então, e com o passar dos anos elas têm procurado adequar-
A saúde pública do Brasil, sob três aspectos básicos, se mos- -se às pessoas. Com estas alterações surge nas organizações um
tra em situação alarmante, são eles a deficiência na estrutura novo departamento e uma nova filosofia de administrar uma
física, a falta de disponibilidade de material-equipamento-medi- empresa, com a valorização das pessoas que são o maior e mais
camentos e a carência de recursos humanos. Os autores Figuei- importante patrimônio a ela incorporados. É preciso agir e pen-
redo e Tanaka (1996, 19:98-105) destacam que: sar diferente, tais condutas se mostram como requisitos indis-
Porém, o que se evidencia ao longo desses anos de implan- pensáveis para acompanhar a competitividade.
tação e implementação do SUS é o descaso para com os serviços O contexto em que se situa a Gestão de Pessoas é represen-
e atividades do setor público de saúde no Brasil. A realidade que tado pelas organizações e pelas pessoas. As organizações consti-
vivenciamos é de precariedade quase que absoluta no atendi- tuem-se de pessoas e dependem delas para atingirem seus obje-
mento à saúde da coletividade. tivos e cumprir sua missão. Ao ver das pessoas, as organizações
As condições das estruturas físicas das Unidades Básicas de constituem o meio pelo qual elas podem alcançar seus objetivos
Saúde e dos hospitais são lastimáveis, uma vez que se encon- pessoais com um mínimo de tempo, esforço e conflito. As orga-
tram sem a manutenção preventiva e corretiva, funcionando nizações surgem então para aproveitar a sinergia dos esforços
muitas vezes em locais improvisados e inadequados, com ins- de várias pessoas que trabalham em conjunto. Sem organiza-
talações elétricas, sanitárias e hidráulicas precárias, colocando, ções e pessoas inexistiria a Gestão de Pessoas. (CHIAVENATO,
inclusive, em risco de morte, aqueles que lá frequentam. 1999).

177
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Entretanto, isso só é possível se as pessoas que fazem parte Dutra (2002, p.216) em sua obra reafirma a importância na
da organização estiverem realmente comprometidas em seguir gestão de profissionais da saúde:
suas normas, sua missão, sua visão, ou seja, é preciso que elas Neste sentido, a ação do setor de gestão de pessoas na or-
estejam realmente engajadas com o cumprimento dos objetivos ganização que atua diretamente com os profissionais de saúde
e das metas organizacionais. se caracteriza pela pouca autonomia em termos de inovação nas
Vislumbra-se, pois, que a Gestão de Pessoas é parte essen- práticas de gestão ou mudanças nos modelos de recursos hu-
cial em uma organização que busca a excelência e tem a quali- manos. Estruturalmente, o setor é vinculado à direção geral ou
dade como premissa. gerência administrativa do órgão em que se situa e, política e
Contudo é importante que a organização desenvolva e va- tecnicamente, à Diretoria de Recursos Humanos (DRH) da Secre-
lorize os talentos existentes como forma de motivá-los para um taria de Estado da Saúde.
bom desempenho, assim como ele se sinta útil no processo ad- Já na esfera privada, a maioria dos setores de gestão de pes-
ministrativo, que venha a conscientizá-lo como colaborador e soas está subordinada à gerência administrativa ou à direção-ge-
como ser humano da sua importância em determinada empresa. ral da organização. Nesse caso, destaca-se que tais organizações
Para Chiavenato (1999, p. 8) “Gestão de Pessoas ou ARH é o apresentam uma estrutura típica de empresas privadas, e a área
conjunto de decisões integradas sobre as relações de emprego de recursos humanos tem um papel estratégico na organização,
que influenciam a eficácia dos funcionários e das organizações”. atuando tanto no nível decisório quanto na implementação das
Ainda, segundo o autor (2002, p.20) ”a Gestão de Pessoas se políticas do setor.
baseia em três aspectos fundamentais: 1. As pessoas como se- De acordo com Cornetta (2001), na atividade organizacional
res humanos; 2. As pessoas são como mero recursos (humanos) moderna, a gestão de pessoas compreende um amplo conjunto
organizacionais; 3. As pessoas como parceiras da organização”. de complexas atividades, todas voltadas para o pleno desenvol-
A Administração estratégica de Recursos Humanos deve, vimento das tarefas que a organização se propõe a realizar e
assim, conhecer, analisar e acompanhar a evolução da cultura as metas que pretende atingir. Ou seja, as instituições devem
organizacional da organização pretendida. se reunir, traçar metas, se organizar e por em prática metas de
Conforme Hobbins (2002, p. 240) “a Cultura organizacional curto, médio e longo prazo.
se refere a um sistema de valores compartilhados pelos mem- Para DUTRA et al. (2001), a Gestão por Competências procu-
bros que difere uma organização da outra”. ra orientar esforços para promover o planejamento, a captação,
Shein em sua obra afirma que (apud Chiavenato, 1997, p. o desenvolvimento e a avaliação nos diferentes níveis organiza-
32) cionais (individual e coletivamente), fundamentais à concretiza-
Cultura organizacional é o modelo de pressuposto básico ção de suas ações.
que um grupo assimilou na medida em que resolveu os seus pro- Neste sentido Cornetta, Vitória K. (2001) aponta:
blemas de adaptação externa e integração interna e que, por ter No atual quadro brasileiro de saúde verifica-se a enorme
sido suficientemente eficaz. Foi considerado válido e repassado desigualdade social que afeta as regiões [...] tendo como alvo
(ensinado) aos demais (novos) membros como a maneira corre- principal, determinados grupos populacionais. Estas desigualda-
ta de perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas. des resultam, na maioria das vezes, do atual modelo de desen-
Chiavenato (1999, p. 172) conceitua Cultura organizacional volvimento globalizado.
como “o conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos através
de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhadas por Para Brand (2008) qualquer que seja a natureza do setor
todos os membros da organização”. Ademais, a cultura espelha abordado, público ou privado, o que se pode concluir é que há
a mentalidade que predomina em uma organização e a dos cola- uma enorme carência de profissionalização no gerenciamento
boradores que ali habitam. Tudo se torna uma coisa só. dos setores de gestão de pessoas das organizações de saúde.
Em prol de ações que dinamizam seus processos, as organi- Para programar essas transformações, os modelos de ges-
zações dependem cada vez mais das pessoas para executar tais tão precisam também ser modificados, destacando-se que a
ações e viabilizar processos de maneira ágil, flexível e eficiente, gestão dos recursos humanos passa a ser orientada por novas
sendo que as pessoas, dotadas de necessidades e desejos, dis- premissas, como referiu Dutra (2002) ao abordar o conceito de
põem de sua capacidade, habilidade e conhecimento aplicados gestão de pessoas.
dentro da organização para atingirem seus objetivos e satisfa- Finamor (2010) relata que:
zerem suas necessidades gerando, portanto, uma contribuição Um novo contrato psicológico centrado cada vez mais no
mútua entre pessoas e organização. desenvolvimento mútuo, ou seja, a relação entre pessoa e orga-
nização se mantém na medida em que a pessoa contribui para o
Gestão de pessoas e saúde desenvolvimento da organização e a organização para o desen-
A eficiência dos serviços de saúde é um dever da gestão pú- volvimento da pessoa. O desenvolvimento organizacional está
blica, a quem deve ser imputada a responsabilidade de proteger cada vez mais atrelado ao desenvolvimento das pessoas e, ao
e prevenir os problemas que possam atingir a sociedade como mesmo tempo, as pessoas valorizam cada vez mais as condições
um todo, mormente, os usuários diretos do sistema e os profis- objetivas oferecidas pela empresa para o seu desenvolvimento.
sionais. De acordo com Bosquetti e Albuquerque (2005) a área Para Pereira (2001, p.20),
de Gestão de Pessoas desempenha uma função estratégica nas o desenvolvimento da gestão de pessoas se faz principal-
organizações. A gestão estratégica de pessoas destaca-se, assim, mente na vivência do cotidiano, acompanhada, supervisionada
como requisito para alinhar as pessoas à estratégia traçada pela e transformada em situações de aprendizagem, cabendo ao ge-
organização. Todavia, às vezes essa importância não é devida- rente descobrir o que seu grupo pensa ou percebe, e que repre-
mente observada pelos profissionais de saúde, seja ele gestor, sentações e aspirações tem a respeito de seu próprio desempe-
seja ele colaborador direto ou indireto. nho e do papel que a organização desempenha nesse contexto.

178
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A autora destaca que o gerente de gestão de pessoas não é rísticas do Serviço de Enfermagem: modelo gerencial, modelo
mais aquele técnico responsável apenas por um setor de pessoal assistencial, métodos de trabalho, jornada de trabalho, carga
cujas obrigações restringem-se ao registro de ocorrências nos horária semanal, taxa de absenteísmo, indicadores de avaliação
prontuários dos trabalhadores. Ele deve aliar à sua capacidade da qualidade da assistência.
administrativa e ao seu conhecimento técnico um alto grau de Fundamental que a Sistematização da Assistência de Enfer-
sensibilidade, que lhe permita enxergar necessidades, expec- magem esteja devidamente implantada bem como o Sistema de
tativas, potencialidades e desejos de seus trabalhadores, bem Classificação de Paciente.
como as necessidades da realidade social na qual estão inseridos
e para qual se destina o produto de seu trabalho. A quem cabe o dimensionamento de pessoal dentro de
Vislumbra-se, pois, que as práticas de gestão de pessoas, uma instituição?
principalmente, organização, planejamento eação são medidas Esta ação é uma atribuição privativa do Profissional Enfer-
indispensáveis, e, neste momento, inadiáveis na saúde brasilei- meiro, conferida pelo artigo 8° do Decreto-Lei n.° 94.406/87. No
ra. Resgatar o sistema único de saúde e o atendimento particu- Código de Ética em seu Art. 12, enquanto responsabilidade e
lar de doentes deve ser uma meta traçada e perquirida pelas deveres: “Assegura à pessoa, família e comunidade assistência
autoridades competentes. de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negli-
Por fim, a par de recursos parcos e descomprometimen- gência ou imprudência”
to, o maior problema da saúde está na omissão dos usuários Trata-se, portanto, de um importante papel gerencial do
do sistema. Não há reação. A sociedade organizada, politizada Enfermeiro, pois sabe-se que o quantitativo está intimamente
e consciente dos seus direitos de cidadania, busca cada vez mais relacionado à qualidade e segurança na saúde. Estudos apontam
os hospitais privados e planos de saúde, enquanto que a faixa que o número reduzido na equipe de enfermagem pode resultar
pobre da população se sente incapaz de reivindicar um atendi- em comprometimento da assistência, pela exposição dos clien-
mento com mais dignidade e respeito nos hospitais e postos de tes a riscos de danos e além de aumento do tempo de interna-
saúde deste país. Não que o serviço privado seja prestado de ção. Verifica-se também que para o profissional de enfermagem
forma excelente, mas, é que ao invés de suplementar como a há um potencial prejuízo à saúde pela sobrecarga de trabalho.
constituição prevê, tornou-se uma forma de sobreviver ao pre- Para prevenir os riscos e prejuízos inerentes à inadequação
cário atendimento oferecido pelas constituições públicas.5 quantitativa de pessoal, o enfermeiro deve estabelecer o qua-
dro quantiqualitativo de profissionais necessários à prestação
Cálculo, distribuição e dimensionamento de pessoal de en- da assistência de enfermagem
fermagem nos diferentes setores de um hospital.
Dimensionamento de pessoal é uma ferramenta definida E do que trata a proposta da Resolução 293/2004.
por Gaidzinski (1991) como um processo sistemático que tem A Resolução 293/2004 preconiza que o dimensionamento
por finalidade a previsão da quantidade e qualidade por cate- e a adequação quantiqualitativa do quadro de profissionais de
goria (enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem) requerida enfermagem devem basear-se em características relativas à ins-
para atender, direta ou indiretamente, às necessidades de assis- tituição/empresa, ao serviço de enfermagem e à clientela.
tência de enfermagem da clientela. Na prática administrativa, a previsão do quantitativo e do
Os aspectos quantitativos de Profissionais de Enfermagem qualitativo de pessoal de enfermagem é um processo que de-
nas instituições de saúde são enfatizados para que haja a ga- pende do conhecimento do Enfermeiro da carga de trabalho
rantia da segurança e da qualidade da assistência ao cliente e a existente nas unidades e por sua vez, essa carga de trabalho
continuidade da vigilância perante a diversidade de atuação nos depende das necessidades de assistência dos pacientes e do
cuidados e na atenção da equipe de enfermagem. padrão de cuidado a ser realizado. Identificar o grau de com-
Para explorar o assunto, a enfermeira Cleide Mazuela Cana- plexidade dos cuidados de enfermagem a ser ministrado aos
vesi, Especialista em Gerenciamento em Enfermagem, Informá- pacientes é fundamental. A média de horas de enfermagem, de-
tica em Saúde e Terapias Alternativas; Coordenadora da Câmara terminado pelo Sistema de Classificação de Pacientes–SCP, mo-
Técnica de Legislação e Normas do COFEN e Vice-presidente do nitora e valida as necessidades de cuidado individualizado. Este
COREN-SP conversou com a reportagem do Portal e, ao final, instrumento gerencial possibilita ainda aos enfermeiros avaliar,
com sua constante simpatia e bom humor, dispôs para os inter- planejar e distribuir o quantitativo necessário de recursos huma-
nautas testes específicos para treinar a habilidade no Dimensio- nos para uma assistência segura.
namento de Pessoal Na prática, as propostas oriundas da Resolução se aplicam
a qualquer segmento da saúde?
O Dimensionamento está respaldado em qual legislação? A Resolução 293/2004 fornece ferramentas básicas ao En-
Na fundamentação legal do exercício profissional: Lei nº fermeiro aplicar a todo e qualquer segmento assistencial. Cabe
7.498/86 e Decreto nº 94.406/87; Resolução COFEN Nº 311/2007 ao profissional adequar à sua realidade como exemplo o Siste-
- Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem; Resolução ma de Classificação de Pacientes, pois o constante no Anexo é
COFEN nº 293/2004. genérico.

Quais são os componentes essenciais para um cálculo de Qual é o impacto legal e ético do não cumprimento da Re-
dimensionamento de pessoal? solução?
Considerar as características da Instituição como, por exem- Tanto a Resolução quanto aos outros métodos existentes,
plo: missão, porte, estrutura organizacional, estrutura física, na literatura viabilizam dimensionar o quantitativo de pessoal
tipos de serviços e programas, tecnologia e complexidade dos de enfermagem, de forma científica e sistematizada.
serviços, política de pessoal, etc. Considerar ainda as caracte-
5Fonte: www.portaleducacao.com.br/www.portaleducacao.com.br

179
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A falta de incorporação pelo Enfermeiro de um SCP, e da previsibilidade e pela constante eminência de fatores de risco.
SAE, torna o dimensionamento inconsistente e intuitivo, portan- Neste sentido, assistimos a incorporação de uma mudança valo-
to, sem argumentação relevante no momento de apresentação rativa na forma de entender os fenômenos hipercomplexos que
ao gestor. permeiam as relações das organizações de trabalho com o meio
Importante ainda ressaltar que para uma assistência de en- circundante.
fermagem segura sem riscos, é necessário responder a quesitos Visando atender às demandas atuais, estas organizações se
básicos como, por exemplo: De quem eu cuido?; Qual tempo viram forçadas a modificar os processos de trabalho, incorpo-
necessário?; A equipe de enfermagem consegue executar os rando tecnologia, reduzindo drasticamente o quadro de pessoal
cuidados? Só assim, o Enfermeiro estará de fato assumindo não qualificado ou excedente, fazendo investimentos na quali-
sua função privativa de “planejamento, organização, execução ficação permanente dos funcionários remanescentes, reduzindo
e avaliação dos serviços da assistência de Enfermagem” grifos o espaço físico de suas instalações, com o objetivo de produzir
nosso. mais e com qualidade, tendo como foco a satisfação do cliente.
No plano individual, certas competências e habilidades téc-
Falta incluir algo na Resolução, em sua opinião? nicas somadas a um conhecimento amplo têm sido cada vez
Sim, algumas situações já foram apontadas em estudos mais desejáveis, englobados sob a ótica da multiespecialização,
como, por exemplo, as horas de enfermagem para pacientes responsável por tornar o profissional apto a superar desafios e
crônicos, a inclusão dos feriados consagrados, etc. Sabemos que romper com uma visão de trabalho linear e previsível, heran-
as horas de enfermagem não são estanques, haja vista a evolu- ça de um processo institucionalizado de organização social de
ção ocorrida nestes últimos 15 anos. produção, originado nas concepções dos modelos taylorista/
fordista, nos quais os profissionais dominavam técnicas parciais,
Quais as principais iniciativas do COFEN em relação ao es- fragmentadas e isoladas. A incorporação deste novo modelo
tudo do Dimensionamento de Pessoal? capacita o profissional a ter uma percepção mais abrangente,
Sem dúvida, alteração e atualização da presente Resolução, dinâmica, complementar e integrada. Juntamente com as habi-
que através de suas Câmaras Técnicas construirão instrumento lidades e competências técnicas, as habilidades relacionais que
de pesquisa para todo Brasil e posteriormente colocado os re- capacitam o indivíduo a estabelecer relações interpessoais com
sultados e Minuta em consulta pública. base na cooperação, também têm sido requeridas. Além disto, é
esperado do funcionário um envolvimento e uma internalização
Existe uma Câmara Técnica formada para discutir esta dos objetivos e missão da organização, de forma a se tornar um
questão? colaborador, um parceiro nos negócios, incorporando a idéia de
O COFEN atualmente conta com as seguintes Câmaras Téc- que se a empresa é bem sucedida, ele também será. A moeda de
nicas: Câmara Técnica de Legislação e Normas, que coordeno; troca passou a ser a formação de um pacto que atenda simulta-
Câmara Técnica Assistencial; Câmara Técnica de Ensino e Pes- neamente aos interesses organizacionais e pessoais. Estes fatos
quisa e Câmara Técnica de Fiscalização. O Objetivo das Câmaras provocaram a necessidade de substituição de uma gestão ba-
Técnicas é fornecer subsídios através de Pareceres e Minuta de seada no desempenho individual para o desempenho coletivo.
Resoluções ao Presidente do COFEN para as dúvidas técnicas Para superar estes desafios, a delegação de responsabilidades
dos Conselhos Regionais e Profissionais, além de proposituras às equipes tem sido a alternativa para alcançar resultados rápi-
de alterações de Resoluções vigentes e incorporação de novas dos, criativos e acima de tudo eficazes. No entanto, temos que
propostas em função de novas tecnologias e técnicas incorpora- considerar que essas mudanças representam um grande desafio
das à Equipe de Enfermagem. Toda produção das Câmaras Téc- à convivência social (no ambiente de trabalho), pois vários obs-
nicas é encaminhada ao Plenário do COFEN, para conhecimento, táculos dificultam a passagem do desempenho individual para
análise e posterior aprovação. o desempenho coletivo. Entre estas, podemos citar a contradi-
ção existente no discurso organizacional, onde por um lado, o
Além dos cálculos que temos hoje preconizados, quais são funcionário é levado a se perceber como um elo importante na
os outros fatores que influenciam um bom dimensionamento rede de produção, sob a forte pressão de atender aos interesses
de pessoal? organizacionais, enquanto por outro lado percebe a sua descar-
Não basta o quantitativo de pessoal. Também é necessário tabilidade e facilidade de substituição, como uma peça de uma
que se tenha implantada uma política de treinamento e desen- engrenagem. Diante desta constatação, o pacto torna-se frágil
volvimento de pessoal, pois a qualidade deve ser aliada à quan- na medida em que o outro (o seu companheiro de equipe) pas-
tidade. sa a ser percebido como uma constante fonte de competição e
ameaça.
Trabalho em equipe O campo dos empreendimentos coletivos na área de saúde,
Atualmente, sob o forte impacto da reestruturação produ- considerado como um setor que enfrenta graves crises no Bra-
tiva, responsável por alterar a organização de processos de tra- sil, também sofreu o impacto destas mudanças, principalmente
balho para atender às exigências de um mercado extremamente com a introdução do conceito de qualidade, que tendo início na
competitivo e volátil, muitas organizações visando garantir a sua década de 70, alcançou seu auge na década de 90, e ainda hoje
permanência/sobrevivência, têm promovido a busca da qualida- se constitui num objeto de discussão e investimento. Esta bus-
de como fator diferencial na manutenção de um espaço cada vez ca pela qualidade deveu-se, em parte, pela introdução da inte-
mais concorrido. Os adventos surgidos com a era da globalização gralidade da assistência, na década de 90, “entendida como um
trouxeram novas formas de se pensar as relações sociais, geran- conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos
do sistemas abstratos de representação, tais como as noções de e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em
tempo/espaço, distância como meio de estabilizar as relações e todos os níveis de complexidade do sistema” (lei 8080/90), sen-
promover adaptações, num cenário ameaçador regido pela im- do um fator responsável por alterar as configurações das intera-

180
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
ções profissionais. Com isso, um grande destaque foi concedido Instrumentos e meios de trabalho
ao trabalho em equipe multidisciplinar, porque os profissionais A história da utilização dos instrumentos gerenciais na saú-
de saúde foram levados a reconhecer a necessidade de diferen- de não possui identidade própria. Assim como em diversos ra-
tes contribuições profissionais no cuidado ao paciente de ma- mos da economia e gestão, as experiências bem-sucedidas da
neira eficiente e eficaz. indústria vêm sendo ajustadas ao dia a dia da rotina gerencial
O trabalho em equipe surge assim como uma estratégia para da área de saúde. Após um longo período onde a saúde foi tra-
redesenhar o trabalho e promover a qualidade dos serviços. En- tada e conduzida exclusivamente por ações filantrópicas e casas
tre estes processos podemos citar o planejamento de serviços, de caridade, com a privatização dos serviços hospitalares, uma
o estabelecimento de prioridades, a redução da duplicação dos nova visão vem sendo desenvolvida para aplicação na gestão da
serviços, a geração de intervenções mais criativas, a redução de saúde que proporcione perenidade as instituições com base em
intervenções desnecessárias pela falta de comunicação entre os resultados obtidos das operações principais.
profissionais, a redução da rotatividade, resultando na redução Neste sentido, a visão do hospital como empresa, que im-
de custos,com a possibilidade de aplicação e investimentos em plica em eficiência em operação, implica na melhor gestão de
outros processos. Entretanto, apesar dos benefícios apontados, diversos componentes diretos e indiretos envolvidos em suas
algumas dificuldades e problemas vêm sendo identificados, tor- operações, com vistas a obtenção de resultados, como recursos
nando-se objeto de estudo. Podemos citar inicialmente a intensa humanos, desempenho e custos. A já complexa estrutura hos-
divisão social e técnica do trabalho na área de saúde, resultado pitalar vem exigindo a adaptação destes modelos de gestão e
de um processo de alta especialização e compartimentalização utilização de instrumentos gerenciais já consolidados e de am-
do saber na formação acadêmica dos profissionais, gerando uma plo sucesso.
visão reducionista e fragmentada do ser humano. Diferentemente destes setores, o de saúde possui especi-
As pesquisas sobre a constituição das equipes na área de ficidades que dificultam a superação da visão do hospital como
saúde apresentam muitas lacunas pelo fato de nem todos os as- instituição caritativa, passando a entendê-la como organização
pectos listados como facilitadores e limitadores a sua formação, com lógica empresarial.
terem sido estudados empiricamente. Antes de adentrar em algumas ferramentas de gestão, foco
A responsabilidade médica é inquestionável por tradição, já desta disciplina, é necessário entender que a cultura japonesa
que o papel da liderança, existe desde antes da existência dos do combate ao desperdício (Lean/Justin Time/JIDOCA) e predo-
serviços de saúde. O trabalho em equipe de saúde ainda baseia- minante na maioria dos cases de sucesso industriais, possui uma
-se numa relação de hierarquia e subordinação. Entretanto, a participação fundamental no novo mundo da gestão da saúde.
delegação de autoridade ou função, poderá ocorrer quando há Criar padrões de organização que permitem conhecer cada de-
trocas de informações que gerem conhecimento e confiança fa- talhe da produção dos serviços, dentro de um contexto mais am-
zendo com que surja um líder emergencial, que sendo um mem- plo de eficiência departamental ou da instituição como um todo,
bro mais qualificado da equipe fique sendo o responsável pelas onde catalogar, medir e agir a tempo de que toda e qualquer
ações de sua área de competência, mas, sobretudo emergindo produção não seja prejudicada, minimizando eventuais prejuí-
de suas bases funcionais, já que pode ser o canal de acesso ao zos, vem tornando-se desafiante aos novos gestores de saúde.
paciente. Insumo fundamental para qualquer método de gestão base-
Spink (2003: 57-60) apresenta fundamentos para a dificul- ado na análise de indicadores e métodos de controle, os dados
dade de estabelecimento das equipes multidisciplinares, des- gerados pelas empresas precisam ser transformados em infor-
tacando a posse diferencial do conhecimento científico sobre mações, pois deles são dependentes a aplicação dos instrumen-
saúde/doença atribuída a medicina e alegando que várias pro- tos. A informação precisa de um conjunto de características para
fissões foram constituídas a partir de um processo de especiali- garantir qualidade. Deve ser precisa, concisa, simples e oportu-
zação tanto decorrente de avanços tecnológicos como também na, contudo, não basta possuir a informação, é preciso torná-la
da ampliação do conceito de saúde, não apresentando, no en- relevantes para tomada de decisão.
tanto, um corpo de conhecimentos, métodos e técnicas bem de- A correta atenção aos registros internos de cada uma das
limitadas para propiciar uma coexistência harmônica. Destaca informações referentes as principais etapas do processo e de
que para a constituição de disciplinas autônomas, deve haver a seus controles é fundamental para a utilização dos instrumentos
delimitação de fronteiras através da definição de procedimentos gerenciais. Sem dados não há informação que subsidie a sabedo-
e adoção de formas de argumentação que possam restringir o ria para tomada de decisões.
uso de certas terminologias, o empréstimo permitido de conhe- Apesar da grande variedade de ferramentas e instrumen-
cimentos de outras disciplinas e os contextos legítimos de justi- tos gerenciais, os mesmos ainda estão subutilizados na área da
ficação e descobertas, fazendo com que controlem inteiramente saúde, possuindo atualmente, baixa adesão das instituições. A
seus departamentos acadêmicos, seus programas de pesquisa e ausência de conhecimento, dificuldades de utilização pelos in-
suas linhagens históricas. divíduos, a falta de registro dos dados, saber quando e como
Spink (2003:.60) segue afirmando que a integração não sig- utilizá-los, são as principais causas dessa baixa utilização.
nifica a equalização dos saberes/fazeres e nem a submissão das
diferenças a uma verdade única e inequívoca. O problema não Ciclo PDCA
está em cada um perder a sua competência, e sim em articular Sigla derivada das palavras inglesas Plan, Do, Check e Ac-
com outras competências. Diz que do ponto de vista afetivo a tion, este sistema de gerenciamento de rotina atua na melhoria
superação está na aceitação e incorporação da alteridade, en- contínua dos processos de trabalho e serviços, e foi aprimorado
tendida como aquilo que é diferente. por Deming na aplicação junto aos conceitos de qualidade oriun-
dos do Japão.

181
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A metodologia não existe sem definição de meta e resume Essa relação é medida pelo coeficiente de correlação, sendo
a natureza repetitiva e cíclica do melhoramento contínuo. Traz representado pela letra “R” e deve variar entre os valores de -1
a ideia de sequência de atividades. Sua aplicação pode se dar a 1, sendo o resultado próximo a -1 indicando uma forte corre-
tanto para planejamento ou execução de trabalhos simples com lação negativa, ou seja inversamente proporcional, e no caso do
complexos, resolução de problemas crônicos ou críticos ou para resultado positivo próximo a 1, a existência de uma forte corre-
metas de melhoria. lação proporcional. Valores afastados das extremidades indicam
fraca correlação ou quase nenhuma. Transportando o levanta-
Suas quatro etapas dividem-se em: mento dos valores das variáveis para um gráfico ou diagrama
1) Planejar (Plan): a fase mais importante e que inicia o ci- de correlação, a concentração de pontos em linha indica a exis-
clo. Toda apuração de dados e sua transformação em informa- tência de correlação entre as variáveis e a reta se posicionando
ções, subsidiam a geração de metas e métodos que se dão nesta crescente indica a proporcionalidade da relação. Do contrário, a
fase. Também nessa fase ocorre a apuração dos recursos que correlação se dá inversamente proporcional.
serão utilizados em todas as demais etapas do ciclo e a criação
do plano de ação para condução das próximas fases. DIAGRAMA DE CAUSA E EFEITO (ESPINHA DE PEIXE)
2) Executar (Do): sequência cíclica dando continuidade ao Também conhecido como espinha de peixe, o diagrama de
planejamento. Põe-se em prática todo o plano de ação deter- causa e efeito é uma técnica originária do Japão para identifica-
minado. ção das principais causas dos problemas mais relevantes identi-
3) Controlar/Verificar (Check): etapa de apuração da eficácia ficados para tratamento em um determinado processo, serviço
do planejamento e execuções. Análises das correções ou ajustes ou produto.
necessários para o cumprimento do planejamento. Pode-se adotar conjuntamente com o diagrama, o método
4) Agir (Action): fase final de cada ciclo do PDCA. Nesta eta- dos porquês quantas vezes forem necessárias até que se chegue
pa são implementadas as conclusões do controle em busca da a causa fundamental do problema. Com base na identificação
padronização ou estabelecimento de um novo padrão. das causas principais e diretamente ligadas ao efeito, há a opor-
tunidade de maior êxito na correção ou ajuste.
FERRAMENTAS GERENCIAIS DA QUALIDADE
São ferramentas muito utilizadas pelas organizações que já PARETO
possuem processos de qualidade consolidados em sua rotina e A lei de pareto (também conhecido como princípio 80-20)
com maturidade de avaliação e controle. Devem ser adotadas afirma que para muitos fenômenos, 80% das consequências ad-
conjuntamente com outros instrumentos de gestão. vém de 20% das causas. Também conhecido como o método ABC
para identificação das causas mais representativas. Adotá-lo
FLUXOGRAMAS juntamente com a espinha de peixe proporciona um tratamento
Representações gráficas de uma sequência de trabalho ou mais objetivo e com menos desgaste, das principais causas re-
processo organizacional. Possibilita, de forma rápida e visual, o lacionadas às dificuldades, defeitos ou insucessos do produto.
andamento de cada etapa do processo do qual faz parte, identi-
ficando os limites de atuação de cada área. Oferece a cada par- HISTOGRAMA
ticipante, o necessário para compreender seu papel, bem como Com as limitações do diagrama de pareto, onde somente é
em conjunto de fluxogramas, inserido em toda a empresa, de possível identificar principais causas dos problemas, o histogra-
forma que tenha condições de identificar de forma mais objetiva ma complementa essa avaliação ao apresentar a visualização da
problemas e melhorias. medição dos dados destes problemas e sua distribuição.
O histograma revela ainda a variação existente em cada pro-
FLUXOGRAMA VERTICAL cesso. A “curva normal” de um processo apresenta a maioria
Lançando mão de símbolos universais, é uma ferramenta das medidas em torno da média central, com igual número de
simples com layout que transmite uma rápida visualização de medidas de cada lado desse ponto. Havendo variações nesta dis-
cada fase de um processo. Por ser mais simples não possui ponto tribuição, torna-se mais difícil “atacar” uma causa ou variável.
de decisão, indicado para processos mais quadrados e não ofe- Quanto menor a dispersão das colunas, mais regular e padroni-
rece feedback de problemas no processo. zado é o controle de processo.

FLUXOGRAMA DE BLOCOS Relações de trabalho


As relações de trabalho são os vínculos que se estabelecem
O mais utilizado sistema de fluxogramas pelas empresas, no âmbito do trabalho. De uma forma geral, fazem referência às
também é caracterizado pela fácil visualização gráfica que pro- relações entre o trabalho/a mão-de-obra (que presta o trabalha-
porciona aos usuários do sistema. Contudo, por ser mais rico dor) e o capital (pago pela entidade empregadora) no âmbito do
em recursos, possibilita o mapeamento de quaisquer processos processo de produção.
através da identificação clara de pontos de decisão com feedba- Nas sociedades modernas, as relações de trabalho são re-
ck. Sua descrição deve seguir a sequência de cada etapa do pro- guladas por meio de um contrato de trabalho, que estipula os
cesso, sempre de cima para baixo, da esquerda para direita. direitos e as obrigações de ambas as partes. Por exemplo, o con-
trato laboral prevê uma cláusula de proteção no emprego, se-
DIAGRAMA DE CORRELAÇÃO gundo a qual o trabalhador (ou assalariado) tem direito a auferir
Ferramenta disponível no MS-Excell ou editores de planilhas uma indenização caso seja despedido sem causa justa.
para determinar se existe ou não relação entre duas variáveis. Por outro lado, deve-se ter em conta que as relações de
Estas variáveis podem ser produtos, atividades, serviços, etc. trabalho podem ser materializadas sob a forma de negociações
individuais ou coletivas. As negociações de trabalho individuais

182
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
são aquelas que são estabelecidas entre um trabalhador isolado É considerado que a aplicabilidade e análise da interpreta-
e a sua entidade patronal ou o seu representante direto. Por sua ção do discurso são falhas, porque há divergências nas interpre-
vez, as negociações de coletivas são as que estabelece um sindi- tações entre linhas de cada indivíduo.
cato em representação dos trabalhadores com uma empresa ou “A comunicação é um processo que mobiliza todas as ações
uma organização patronal. humanas. Fundamenta a organização e funcionamento de todos
As negociações coletivas surgem para minimizar a situação os grupos sociais”.
de dependência e de subordinação entre o trabalhador e a en- A comunicabilidade é de extrema importância para a enfer-
tidade patronal. O sindicato tem mais poder para impor as suas magem tanto entre clientes quanto para chefia, pois facilita o
condições e conseguir uma relação laboral justa e equitativa. relacionamento interpessoal, voltado às habilidades, competên-
As relações entre organizações de empregadores e de tra- cias e desenvoltura do trabalho em equipe. A comunicação ca-
balhadores, entre si ou com o Estado na qualidade de intermedi- racteriza-se por discursos onde há uma mensagem, o emissor e
ário, são conhecidas como diálogo social. Estas relações de tra- o receptor, na qual se busca a compreensão da linguagem verbal
balho baseiam-se no princípio do tripartismo, segundo o qual as ou não verbal.
questões mais importantes relacionadas com o emprego devem “A comunicação aberta é muito importante (....), desde o
ser debatidas e resolvidas entre as três principais partes implica- início as pessoas deverão ser mantidas informadas e inseridas
das: o Estado, a entidade patronal e o trabalhador. no discurso, opinando e participando”.
As relações internacionais de trabalho passaram a ser regu- Nesse cenário, a nosso ver, a comunicação depende de es-
ladas e protegidas desde 1919, data em que foi fundada a Or- tratégias para gerar aspectos positivos e por meios deles pode-
ganização Internacional do Trabalho (OIT), sita em Genebra, na mos expressar nossos sentimentos e emoções, por outro lado,
Suíça. A sua função consiste em canalizar as relações entre o go- quando se gera aspectos negativos o indivíduo fica com baixa
verno, as organizações de trabalhadores e as dos empregadores autoestima e desmotivado e isto acarreta falha no sistema e nas
e promover o diálogo entre eles. relações interpessoais.
O conceito de relações de trabalho surgiu na Alemanha na- Frente ao exposto, entendemos que a comunicação é recur-
zista durante o movimento intitulado de “Contratualismo Inter- so essencial para o enfermeiro, e mostra a efetividade entre o
vencionista”. Tal movimento ajudou na conquista do direito do líder e o liderado. Assim, o presente estudo tem como objetivo
profissional de negociar com o seu empregador as condições de mostrar a importância da comunicação na gestão do pessoal de
trabalho. enfermagem.
Com isso, os profissionais também podiam escolher para Nesse sentido, que “A comunicação adequada é aquela que
quem e quando ofereceriam os seus serviços. Essa foi uma das tenta diminuir conflitos, mal entendidos e atinge objetivos defi-
primeiras e grandes conquistas para a consolidação das relações nidos para a solução de problemas detectados (....)”
de trabalho. Portanto, cabe ao líder conhecer os mecanismos da comu-
Ainda, no que diz respeito as relações de trabalho, temos a nicação para poder por em prática suas competências, que são:
questão de recorrência de atividade e do quanto o profissional fonte, mensagem, transmissor, meio (canal), receptor, decodifi-
permanece na empresa. Aqui confunde-se ela com a relação de cação, feedback.
emprego. Essa última diz respeito a um profissional que possui Logo, torna-se válido as questões a qual se depara o líder
vínculo empregatício com uma empresa, por exemplo, uma rela- a de facilitador da comunicação através de suas competências,
ção de emprego seria a relação entre um operador de máquinas assim diz, “Competências é um conjunto de qualificações que
e uma empresa de construção, onde ele trabalharia 8 horas por a pessoa tem para executar um trabalho com nível superior de
dia durante 5 dias, por exemplo. Estando ele dependente do seu desempenho (....), inclui alguns traços como personalidade, va-
empregador. lores e estilos”.
Já uma relação de trabalho seria, por exemplo, um designer No que se refere à gestão de pessoas de enfermagem, a
que trabalha para uma empresa fazendo todo o conceito visual comunicação é pensada como acessório às ações de saúde, ou
da empresa, porém por meio de um contrato e não possuindo seja, são expostas conforme a imposição da chefia ou necessida-
um vínculo empregatício com essa empresa. des da Instituição de Saúde.
Vale frisar que uma relação de trabalho pode tanto aconte- Por outro lado, para “O líder é o centro do fluxo da informa-
cer entre um profissional e uma empresa, quando também entre ção não rotineira em sua organização, as fontes que ele utiliza
duas empresas, por exemplo. asseguram-lhe a condição de melhor informado sobre as ocor-
Mas ela também diz respeito a relação entre um profissional rências e eventos de seu ambiente organizacional”.
e uma pessoa comum, por exemplo: quando alguém contrata Nesse sentido, o líder da enfermagem necessita da cons-
um eletricista que trabalhe por conta própria para realizar um trução de novo paradigma no que se refere à comunicação e
serviço em sua residência. Ou seja, nesse caso, basta apenas liderança, pois hoje as instituições estão cada vez mais exigindo
existir a contratação de um serviço para que haja uma relação do profissional postura adequada e um envolvimento maior nas
de trabalho. relações interpessoais, por outro lado, a comunicação entre lí-
der e liderados far-se-á através da troca mútua de informações
Comunicação e do feedback entre eles, neste contexto é importante salientar
Comunicação em saúde compreende a promoção, a preven- que há pessoas que são lideres Natos e outras só aprendem tra-
ção nas práticas de saúde voltada a equipe de enfermagem. A balhando.
comunicação na prática de intervenção está inter-relacionada Tendo em vista que a comunicação é o principal instru-
com o discurso gestual, falada ou escrita, porém neste emara- mento para que os povos possam interagir verbalmente ou não
nhado de conceitos nos deparamos com o discurso/comunica- verbal, percebe-se que o enfermeiro como membro da equipe
ção institucional, na qual são imposto pela instituição e seus multidisciplinar a qual exercer cargo líder ou não, é responsável
lideres. pela escuta ativa entre seus liderados, porém nota-se falha na

183
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
comunicação entre os profissionais de saúde, ocasionado pela Sousa; Barroso (2009) afirmam que diante dos princípios de
clareza dos papéis e do discurso propriamente dito, esse tipo formação da enfermeira, é quase inevitável que a mesma desen-
de comunicação fica de forma distorcida e mal interpretada, e volva habilidades de liderança como consequência das funções
assim tem como resultado falha no feedback. que lhe são estabelecidas.
A comunicação não deve ser descendente, de cima para bai- Há de se pensar nos objetivos comuns da enfermagem como
xo, ou seja, de chefia para subordinado, pois isto gera conflitos e englobando questões assistenciais e administrativas. O cuidado
desmotivação entre a equipe, porém é possível usar estratégias ao ser humano em quaisquer áreas de atuação da enfermagem
que podem ser utilizadas no cotidiano da equipe a escuta ativa é, sem dúvida, o alicerce de todos os pressupostos da profissão,
e inovadora onde todos participam dão sugestões, e entende o segundo Sousa; Barroso (2009 p. 183) “A essência da enfermeira
que outro fala entre linhas. está no cuidado, seja com o outro ou com a gerência de quem
Observou - se através do estudo que há várias lacunas liga- cuida do outro, a equipe de enfermagem.” Contudo, é inevitável
das à comunicação e a gestão em enfermagem tais como: forma- que diante da inserção do enfermeiro nas diferentes áreas de
ção do profissional, habilidade comunicativa, empatia e ética. atuação e organizações, o mesmo tenha papel norteador frente
Certamente estes não podem ser decomposto para formação às metas da empresa.
profissional, mas servirá como subsídio para reflexão e valoriza- Santos (2005) ressalta que a enfermagem acorda para dife-
ção ao próximo quando se exerce cargo de chefia. rentes formas de cuidar, sendo assistencial e gerencial. As duas
Ressaltamos a fundamental importância da reflexão dos maneiras de cuidar são compreendidas como mecanismos para
papéis que cada um exerce dentro das instituições, pois desta um único fim que se constitui na promoção do cuidado ao pa-
forma o profissional pode desenvolver suas competências cons- ciente a partir da expressão de liderança.
cientemente através do ponto de vista da outra pessoa, ou seja, Diante disso, além de um cuidado eficiente e eficaz ao clien-
pondo-se no lugar do outro, liderar não é inferiorizar a outra te, o enfermeiro gerencia a continuidade das ações de saúde.
pessoa, mas respeita-la como ser humano. No momento em que gerencia o custo e os gastos com materiais
colabora com a promoção da realização do procedimento em
Liderança outros pacientes. No mundo capitalista e de busca pela sobre-
O papel de líder do enfermeiro em sua atuação diária está vivência, cabe lutar pela sobrevida da própria enfermagem que
incumbido mediante as responsabilidades assumidas sobre sua está, na maioria das vezes, submetida a serviços institucionais.
equipe de trabalho. As questões legais que norteiam o desen- Frente à demanda de metas estipuladas pelas organizações de
volvimento da enfermagem, por si só, delegam ao enfermeiro saúde e consequentemente à enfermagem que agrega o proces-
o papel de gerenciamento das equipes e consequentemente o so, é necessário que o enfermeiro líder busque estratégias como
transportam às questões de liderança como mecanismo para meio de possibilitar a conciliação dos objetivos da organização
atingir os objetivos comuns propostos. e do grupo de enfermagem com olhar a uma melhoria da assis-
Segundo Kurcgant (1991 pag. 165) liderança é entendida: tência ao cliente e ao aperfeiçoamento de pessoal. (GALVÃO;
[...] como um dos processos que concretiza a administração de TREVISAN; SAWADA, 1998).
pessoal nas organizações, trata basicamente da condução ou Neste sentido, ao se desenvolver programas de educação
coordenação de grupos. Nas organizações, os significados atri- continuada, o enfermeiro deve ter a visão do objetivo princi-
buídos à liderança, aos líderes e ao grupo refletem, mais do que pal da enfermagem, ou seja, o cuidado, e não apenas questões
qualquer outro processo da administração de pessoal, a filosofia impostas pela administração da organização. É necessário ter
da instituição, a política de pessoal adotada e as propostas de subsídios eficientes para defender os objetivos da enfermagem,
trabalho desenvolvidas nessas organizações. sem, contudo ferir os da organização.
Segundo Cerqueira (2010) diante do enfoque contemporâ- O exemplo disso, considerando a busca constante das or-
neo sobre liderança há a inclusão de habilidades de orientação, ganizações pela sobrevivência econômica, a educação continu-
integração e inspiração. Sendo considerado o líder eficaz aquele ada deve ser mensurada e relacionada ao custo benefício para
que provê a orientação para sua equipe sem impor caminhos empresa, ou seja, em uma estratégia de treinamento sobre di-
rígidos e estreitos. luição de medicamentos injetáveis, o profissional é capacitado
Pode-se perceber que a figura do líder com o passar dos na melhoria do desenvolvimento de sua atividade, o paciente é
anos foi evoluindo em sua significação, ou seja, atualmente não beneficiado pela maior confiabilidade em seu atendimento e a
é mais tida como um sujeito que está apenas no comando ge- organização é favorecida pela diminuição do número de iatroge-
rencial e hierárquico de um determinado grupo, mas sim com nias, redução de custos em técnicas inadequadas de diluição e
características expressas que desenham sua personalidade e otimização da força de trabalho, bem como satisfação do cliente
suas ações. É necessário compreender a diferença existente en- e fidelização.
tre administrar e liderar. É notório que frente ao envolvimento que a enfermeira pos-
Barreto; Pereira (2007 pag. 12) descrevem as principais dife- sui como líder de equipe, cada vez mais os administradores bus-
renças entre administrar e liderar como: quem pessoas com conhecimento em liderança avançado tor-
Enquanto a administração diz respeito ao enfrentamento nando-se colaboradores no alcance de resultados comuns para
da complexidade, a liderança diz respeito ao enfrentamento da empresa.
mudança. Os líderes estabelecem direções por meio do desen- Além do mais a liderança em enfermagem também pode ser
volvimento de uma visão de futuro; depois, engajam as pessoas vista como uma das causas de abertura de tantas novas áreas na
comunicando-lhes essa visão e inspirando-as a superar os obstá- profissão no decorrer dos anos.
culos. Até o início do século XX, dizia-se que havia cinco funções
gerenciais: planejar, organizar, comandar, coordenar e contro-
lar. Hoje, foram condensadas em quatro: planejar, organizar,
liderar e controlar.

184
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Seleção de pessoal, capacitação e supervisão como proces- processos tendo em mente que na área da saúde evidencia-se a
so de desenvolvimento permanente da equipe subjetividade constante, onde em um erro a ocorrência abrange
O desenvolvimento das pessoas dentro do setor de enfer- consequências maiores inclusive podendo penalizar a saúde dos
magem ocorre a partir de um amplo processo de desempenho pacientes.
das funções entre os profissionais desta equipe, evidenciando Segundo Tanaka; Leite (2001), o comportamento organiza-
as necessidades referentes às questões do referencial teórico cional, desenvolve-se a partir da vontade de melhorar a produti-
e educativo frente às práticas desenvolvidas e o compromisso vidade e também do desejo de alcançar a satisfação das pessoas
com o crescimento de toda a equipe, visando melhorias na qua- no local de trabalho. Isso tudo retrata o homem como um ser
lidade do atendimento prestado. complexo, partindo-se da ideia da existência num mundo de re-
Contudo constata-se que a formação e o desenvolvimento lações e desenvolvimentos que possam ser alcançados.
profissional, podem ser percebidos sob diferentes formas e ân- Desde o momento da institucionalização das atividades da
gulos, por meio da educação continuada e permanente e por equipe de enfermagem dentro de uma unidade especializada, é
meio de uma educação em serviço. A partir desses pontos é papel do enfermeiro, incorporar como propostas de seu traba-
importante ressaltar que a formação dos profissionais que in- lho um conjunto de ações voltadas ao planejamento, supervisão
tegram a equipe de enfermagem tem que dispor de uma base e controle de tarefas, que proporcione critérios avaliativos a fa-
sólida frente a sua formação dentro de uma escola de ensino vor da educação de sua equipe.
técnico e/ou superior e também dentro de um processo evo- Para Paschoal et al (2006), é de fundamental importância
lutivo do ser humano como um todo, frente aos processos de para o profissional pertencente a uma equipe de enfermagem
educação continuada e permanente. refletir sobre o processo de educação dentro de uma unidade
Com o processo de globalização, as empresas estão mais de saúde, pois deverá entender e compreender as práticas, a
competitivas e os produtos por elas ofertados deverão ser de essência do trabalho frente aos usuários, a atuação frente à re-
boa qualidade e de menor custo, para isso, não bastam apenas alização de um exercício e os motivos desta realização; cabe ao
tecnologias modernas, mas também investimentos em seus re- profissional compreender todos estes artifícios para uma reali-
cursos humanos. O processo de globalização atinge todas as es- zação de atividades de forma íntegra e correta, buscando uma
feras de trabalho da sociedade, incluindo a enfermagem, que efetivação plena e com competência profissional.
necessita continuamente de avaliação, revisão e percepção da Observa-se que nas últimas décadas o programa de educa-
forma com que está gerindo o cuidado. ção continuada juntamente com a assistência de enfermagem,
Davim; Torres; Santos (1999 p. 44) sobre o avanço da tec- vem sendo discutido cada vez com mais ênfase, principalmente
nologia e a profissão enfermagem destacam: [...] para que este diante dos métodos evidenciados para a complementação da
relacionamento humano não seja prejudicado por este desen- importância do desenvolvimento da assistência da enfermagem
volvimento tecnológico, torna-se necessário um processo de nas práticas que envolvem a saúde, pois os níveis de atendimen-
educação para os profissionais, tornando-os qualificados e ele- tos vêm exigindo dos profissionais conhecimentos essenciais
vando de certa forma a qualidade da assistência. para uma assistência qualificada.
Neste intuito, o programa de educação continuada faz-se Em relação à educação dos profissionais de enfermagem é
necessário para uma melhor formação seguida de um desenvol- importante que se tenha um macro visão da realidade, propor-
vimento eficaz dentro das instituições e de um amplo planeja- cionando a estes, aperfeiçoamentos contínuos, no intuito de se
mento no setor de recursos humanos, pois é a partir da educa- desenvolverem como profissionais e como cidadãos. A educação
ção, que há a melhoria do funcionamento e a qualificação dos continuada é promotora da cidadania, por proporcionar ao indi-
profissionais fazendo a diferença em prol de uma satisfação do víduo enquanto trabalhador de uma instituição desenvolver-se
cliente centrada nas necessidades de transformação da prática. profissionalmente, como cidadão, consciente e sendo portador
A importância do desenvolvimento do pessoal de enfer- de direitos civis e políticos.
magem nas organizações está inserida no contexto de que esta Para tanto como diz Silva (2000), a educação continuada,
equipe é participante direta e indireta de todas as metas pro- está associada, além do fazer, permitindo o estabelecimento de
postas pela instituição de saúde, uma vez que perfaz em núme- uma relação de cidadania entre os cuidadores (equipe de enfer-
ro, um dos maiores grupos de profissionais. magem) e os cuidados (clientes), mediada pelo respeito onde os
Desta forma, não há como não integrar a enfermagem nos direitos e deveres de ambas as partes, estejam preservados. A
programas de educação (desenvolvimento e treinamento) den- cidadania consciente pode ser fator determinante, para a ado-
tro das instituições de saúde, visto que por esse processo os hos- ção de novas posturas por parte dos profissionais de enferma-
pitais e setores de saúde pública obterão resultados explícitos gem.
em uma assistência de qualidade, otimização de recursos huma- O autor citado anteriormente dirige-se a cidadania como
nos e financeiros e aceitabilidade do cliente. uma importante proposta de desenvolvimento de uma visão
Atualmente, é impossível não relacionar os hospitais e seto- mais crítica e mais competente, idônea e consciente do trabalho
res da rede básica às demais empresas, ou seja, a conceituação e de seu papel de integrado, deixando de ser um mero prestador
de maneiras e métodos de trabalho deve ser embutida aos se- de cuidados.
tores de saúde, uma vez que as organizações de saúde também A área da saúde, também é reconhecida por sua importân-
possuem em sua característica a entrada de uma matéria-prima, cia no desenvolvimento de pessoas, para que uma instituição se
o desenvolvimento do produto e os resultados. apresente de forma eficaz diante de seus clientes e sua equipe
Obviamente há de se acrescentar que em instituições de de profissionais, ela precisa constantemente de novas propostas
saúde o objeto é mais complexo de ser trabalhado, pois envolve de desenvolvimento e atualização em todo o seu âmbito de ge-
questões subjetivas na busca pela saúde dos indivíduos. Contu- renciamento minimizando com isso suas deficiências.
do, iguala-se às demais empresas quando retratada a constan-
te busca pela sobrevivência econômica. Devemos equiparar os

185
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Os serviços de enfermagem segundo Leite; Pereira (1991) é Devido a importância dos desenvolvimentos da equipe de
parte fundamental e indispensável dentro de uma organização enfermagem, o processo de educação vem para somar e cons-
de saúde; são percebidos como uma necessidade de promoção tituir-se como um importante veículo para que os enfermeiros
de ensino aos funcionários que ali atuam em prol de uma melho- respondam não só pelas rápidas mudanças no conhecimento e
ria da prática da enfermagem. Com essa promoção de ensino, o no aperfeiçoamento do cuidado à saúde, mas também na con-
trabalho torna-se complexo e dinâmico, apresentando dimen- tribuição para a elevação dos padrões profissionais de práticas
sões éticas, filosóficas, econômicas, sociais, políticas e técnicas, corriqueiras, perfazendo um constante trabalho de aperfeiçoa-
estando inserido em um contexto institucional de saúde, sendo mento segundo as exigências da instituição e do meio.6
ela pública ou privada, na qual o desenvolvimento da instituição
se ajusta a política organizacional. SUPERVISÃO
Paschoal et. al. (2006), em seus estudos diz que dentro da A supervisão colocada em termos de um processo isolado,
área da saúde as práticas de enfermagem frente aos procedi- não seria mais do que uma simples compilação de componentes
mentos realizados, em sua grande maioria são desenvolvidas técnicos de inexpressivos resultados em qualquer campo a que
pelo técnico de enfermagem, sendo o enfermeiro o responsável se destina. Para ser significativa ela deve ser considerada em
pelo gerenciamento destas atividades, designando projetos e termos de sua integração no conjunto de uma organização devi-
propostas em prol da melhoria das formas com que são desen- damente estruturada..
volvidas as técnicas. Em vista disto, para melhor focalizar a supervisão em en-
A partir destas considerações evidencia-se a complexidade fermagem de saúde pública, abordaremos inicialmente alguns
do trabalho dentro da enfermagem uma vez que as ações ali aspectos do sistema de enfermagem em órgão de saúde pública
desenvolvidas compreendem uma assistência com consequên- estruturados em vários níveis, conforme as modernas tendên-
cias de uma proposta educativa que cabe principalmente ao en- cias metodológicas no campo da saúde.
fermeiro. Portanto, o comprometimento do profissional com o Em termos de sua organização, a enfermagem, como parte
atendimento aumenta a partir da compreensão da importância integrante do serviço de saúde pública, está representada em
de seu trabalho, a dimensão transformadora de suas ações edu- todos os níveis da sua organização, através das unidades de en-
cativas, sociais, culturais e políticas de sua prática profissional. fermagem (como serviços, seções, conforme a nomenclatura
Observa-se com tamanha abrangência que o campo da edu- utilizada) existentes à nível central, intermediário e local; tem
cação proporciona dentro da área da saúde um processo de pen- como propósito prover uma adequada, eficaz e eficiente assis-
samento crítico, com tudo implicando de certa forma na sensibi- tência de enfermagem ao indivíduo, à família e à comunidade
lidade e respeito à vida do ser humano, habilidades de antecipar como um todo, em função da sua participação no programa glo-
e confortar dificuldades e problemas complexos enfrentados no bal de saúde. A enfermagem conforme este sistema, compre-
dia a dia dos pacientes. ende uma unidade dinamicamente relacionada com o sistema
Para Silva; Conceição; Leite (2008), a educação continuada global (serviço de saúde pública) ao qual está integrada. Ela se
está interligada com a educação permanente de saúde, pois é expressa através de vários níveis de atuação, envolvendo uma
por meio dela que ocorre a institucionalização e aceitação da coordenação intra e interdisciplinar em cada nível e entre um
formação e do desenvolvimento de programas, que deverão ser nível e seu imediatamente superior e inferior:
feitos a partir de um modo de descentralização e disciplina pro- - a nível central, a enfermagem, consitue a unidade técnico-
porcionando a democratização dentro de uma empresa, melho- -administrativa, responsável pelo desenvolvimento da enferma-
rando assim a qualidade da assistência prestada pelas equipes gem em todos os níveis. Ela está estruturada com enfermeiras
de profissionais capacitados. com mais qualificação (curso de pós-graduação em saúde públi-
As autoras citadas anteriormente destacam ainda, que o pro- ca) e com mais experiência em direção. Cabe à enfermeira neste
cesso educativo de um indivíduo adulto é adquirido no dia a dia nível, estabelecer e propor as linhas básicas para a enfermagem;
de seu trabalho, contraindo com isso uma enorme carga de ex- - a nível intermediário, mais freqüente o regional, a en-
periência que poderá ser útil na transformação deste profissional fermagem constitue a unidade com atribuição de adaptar, aos
para um aprimoramento de seus conhecimentos adaptando-se diferentes níveis de enfermagem, as diretrizes gerais e normas
aos novos conhecimentos, culturas e rotinas propostas por uma específicas estabelecidas no nível superior, em termos de pla-
instituição. Isso tudo depende única e exclusivamente do profis- nejamento, organização, programação e direção dos trabalhos
sional, que deverá estar preocupado em adquirir novos conheci- de enfermagem; neste nível, ela está estruturada com maior nú-
mentos e reconhecimentos diante da sua equipe de trabalho. mero de enfermeiras com o devido preparo para a realização
Com isso é possível evidenciar que dentro da categoria de en- do trabalho da competência da unidade de enfermagem deste
fermagem fez-se necessário a mobilização em favor de uma edu- nível;
cação continuada, estimulando os trabalhadores a resgatar uma - a nível local, a enfermagem consitue a unidade operacio-
concepção voltada ao desenvolvimento permitindo melhores for- nal, estruturada com pessoal de enfermagem de várias catego-
mas de conhecimentos e compreensão de suas experiências. rias (profissional e auxiliar) variável também em número, con-
A equipe de enfermagem ao preocupar-se com o processo forme o tipo de programa desenvolvido na unidade sanitária.
educativo contínuo e diante de novas exigências das organiza- Cabe a esta unidade., o cumprimento da função de prestação de
ções de saúde enfrenta sucessivas transformações, contribuindo assistência da enfermagem requerida nos programas de saúde.
assim com a assistência prestada, proporcionando um cuidado Esta função, de principal importância em enfermagem, é a que
mais efetivo e qualificado ao paciente e oferecendo maior segu- justifica a existência de todo o sistema, envolvendo um conjunto
rança, o qual implica em conhecimentos e aprendizagens cons- de atividades e tarefas, as quais, de acordo com o grau de com-
tantes. O principal papel do processo educativo na enfermagem plexidade e nível de julgamento requerido, são executadas pela
é o desenvolvimento e a formação dos trabalhadores, para uma 6Fonte: www.portaleducacao.com.br/www.pepsic.bvsalud.org/www.con-
visão mais crítica da realidade, articulando a prática a teoria. ceito.de

186
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
enfermeira ou delegadas ao pessoal que as executa sob a super- como a supervisão, são funções administrativas, consistindo em
visão da primeira. Neste sistema, cada nível é responsável pela verificar em que termos o trabalho executado corresponde ao
supervisão dos trabalhos de enfermagem que são realizados nos esperado.
níveis imediatamente inferiores. Sem realizar uma análise detalhada dos atributos de cada
Pelo exposto, podemos considerar que para dinamizar o sis- uma destas funções, é possível estabelecer diferenças entre elas,
tema de enfermagem assim estruturado, a enfermeira cumpre, quando se considera que, o controle apenas verifica se o que foi
além da função básica ou fim, correspondente à prestação de fixado para o alcance dos objetivos foi cumprido, enquanto que a
assistência de enfermagem, outras funções auxiliares ou meio, supervisão além de verificar a execução das atividades previstas,
indispensáveis à eficiência da primeira, entre as quais figura a preocupa-se com a motivação e orientação para que o trabalho
supervisão que nos interessa neste estudo. seja desenvolvido com o mínimo de esforço de acordo com o pro-
gramado para atingir os objetivos predeterminados; a supervisão
1. SIGNIFICADO E PROPÓSITO DA SUPERVISÃO EM ENFER- envolve um trabalho essencialmente de interrelação humana,
MAGEM DE SAÚDE PÚBLICA enquanto que o controle não requer necessariamente o contato
Das áreas funcionais que dinamizam o sistema de enfer- direto entre as pessoas. Por sua vez, a avaliação, através da ve-
magem de um órgão de saúde pública, a Supervisão se destaca rificação e análise do que foi cumprido, mede o grau em que os
como sendo o termo utilizado para designar a função adminis- objetivos foram alcançados; mede a produtividade dos recursos
trativa cujo trabalho pode ser caracterizado nos seguintes ter- disponíveis para o alcance dos objetivos, mede a qualidade dos
mos: manter o desenvolvimento das ações de enfermagem, de resultados obtidos em termos do efeito produzido.
acordo com determinadas bases como padrões, normas estabe- Podemos entretanto verificar que, devido a característica
lecidas para o alcance dos objetivos da organização, mediante a da função administrativa, é difícil separar cada função quando
motivação, a orientação, a ajuda proporcionada ao pessoal de se considera os respectivos trabalhos em termos da universida-
enfermagem, tendo em vista obter adequado, eficaz e eficiente de do princípio administrativo. Se entendemos como controle,
trabalho. verificar se o trabalho está sendo executado conforme o pre-
Embora sendo a supervisão fundamentalmente uma função visto, a dinâmica da supervisão também envolve um certo grau
administrativa, esta colocação reflete também o seu caráter de controle; envolve também avaliação, porém requerida como
educacional, como exemplo: um mecanismo implícito no desenvolvimento de todo trabalho,
para poder orientar e manter as ações que estão sendo executa-
- as ações de supervisão, dirigidas para conseguir o desen-
das pelo pessoal, dentro dos limites do caminho traçado para se
volvimento do trabalho de enfermagem dentro das linhas bási-
chegar ao fim esperado, e não como meio para modificar deci-
cas fixadas para o alcance de uma prevista produção e de um
sões previamente tomadas e normas estabelecidas para o alcan-
efeito esperado na comunidade, expressa a sua característica
ce do propósito da organização.
administrativa, enquanto que:
O controle e a avaliação praticamente se processam depois
- a sua preocupação em motivar, orientar, ajudar o pessoal a
de algo realizado, pois envolvem uma certa comparação entre
fazer uso dos conhecimentos e habilidades adquiridos, visando a
o que foi cumprido, e o determinado, enquanto que a ação da
melhoria dos serviços prestados, revela seu caráter educacional.
supervisão consiste basicamente em observar o trabalho que
está sendo executado, em motivar e orientar o pessoal para que
Contudo, apesar desta característica e de sua interrelação o execute de acordo com normas determinadas para o alcance
com as demais fbnções que são cumpridas em uma organização, de objetivos estabelecidos. O trabalho de supervisão não visa
a função de supervisão pode ser limitada dentro de uma área mudar decisões tomadas, mas através da motivação e orienta-
claramente definida. ção,, os possíveis desvios podem ser corrigidos, sem que isto
A dificuldade muitas vezes observada em situar a supervisão implique em mudança de normas, ou que se confunda com a
no processo administrativo decorre da falta de uma organização função de treinamento de pessoal, uma vez que este é uma das
devidamente estruturada, portanto, carente de uma definição condições para que a supervisão se processe. Dentre as funções
clara das funções, e conseqüentemente, das respectivas ativi- administrativas, a supervisão, quando devidamente cumprida, é
dades, tarefas, e autoridade que competem a cada categoria de a que mais contribue para manter a coordenação dos recursos
pessoal no exercício de seu trabalho. humano e material da organização, e a que mais subsídios pro-
Conforme referência anterior, a supervisão só pode ser sig- porciona para a avaliação dos resultados obtidos em termos de
nificativa quando integra a unidade funcional que dinamiza os qualidade e quantidade.
sistemas organizacionais. Uma unidade funcional significa um Assim como a entendemos, a supervisão em enfermagem
delimitado agregado de elementos, de certo modo dinamica- de saúde pública (como em qualquer outra área) pressupõe a
mente interdependentes e relacionados que, embora apresen- existência de certas precondições sem as quais o desempenho
tando características próprias, operam harmoniosamente para desta função será inexpressivo. Destacamos as mais importan-
produzir um efeito específico. Embora esta integração torne, às tes para a enfermagem:
vezes, difícil considerar a parcela de contribuição de cada parte 1 - Existência de um órgão estrutural e funcionalmente
da unidade, especialmente em termos do efeito total produzido, organizado de tal modo, que assegure o desenvolvimento da
é todavia possível, isoladamente, distinguir as ações caracte- supervisão como é aqui compreendida. Envolve uma definição
rísticas de cada um dos seus integrantes. Em termos desta co- clara de:
locação, a supervisão em enfermagem de saúde pública, como - funções e respectivas atividades, bem como autoridade
parte da unidade funcional da organização, pode, embora dina- para executá-las;
micamente relacionada com as demais funções, e apresentan- - normas técnico-administrativas para orientar a execução
do alguns pontos comuns, ser identificada e reconhecida como das atividades;
distinta de todas elas, com por exemplo da função de controle - padrão administrativo para os diferentes níveis de servi-
e avaliação, com as quais e mais comumente confundida. Estas, ços;

187
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
2 - Disponibilidade de recursos materiais e humanos com a devida qualificação para assumirem as funções de supervisão;
3 - Pessoal com o devido treinamento para executar as atividades e tarefas requeridas para o alcance dos objetivos e metas
propostas nos programas a serem desenvolvidos;
4 - Reconhecimento e aceitação por parte dos administradores sobre o Significado da supervisão.

A supervisão em termos do significado expresso neste trabalho, pode ser esquematizada dentro do seguinte contexto:

2. QUEM EXECUTA A SUPERVISÃO


A supervisão em enfermagem de saúde pública é uma função de responsabilidade da enfermeira administradora da unidade
de enfermagem.
Dependendo do tipo da estrutura organizacional, a responsabilidade da supervisora pode variar em termos de extensão e com-
plexidade.
Em Serviços de Saúde Pública estruturados em diferentes níveis, a função administrativa da enfermeira pode estar compartilha-
da entre outras enfermeiras de diferentes níveis, sendo a função de supervisão atribuída a algumas.
De acordo com o tipo e nível da unidade de trabalho, esta atribuição pode apresentar variações - exemplo:
- no nível intermediário a função de supervisão é atribuída à enfermeira mais qualificada e sua responsabilidade se extende às
várias categorias de pessoal de enfermagem atuando nos vários níveis hierarquicamente inferiores;
- em algumas unidades de nível local mais complexas, incluindo unidade de enfermagem que requer direção de enfermeira, a
supervisão é realizada pela administradora desta unidade e se limita ao trabalho do pessoal de enfermagem, dentro do âmbito da
área de cobertura da unidade sanitária.

Quando há mais de uma enfermeira, a supervisão também pode ser compartilhada entre elas ou ser atribuída a uma só.
De modo geral em qualquer nível, a supervisão é atribuída ao membro da equipe de enfermagem mais qualificado. Para exercer
a função de supervisão é indispensável que o preparo da enfermeira inclua, além de conhecimentos sólidos sobre sua profissão,
conhecimento técnico-administrativo sobre o campo especializado onde deve atuar e suficiente experiência nesta área.
A Supervisão não pode progredir além da qualificação da supervisora. Tomando como base que a supervisão é dirigida funda-
mentalmente para a melhoria da qualidade do trabalho de enfermagem, temos de considerar que, a competência profissional da
supervisora, envolvendo o devido preparo técnico-administrativo, suficiente experiência na área de atuação e um compreensivo
conhecimento sobre a natureza humana, constitue importante potencial da supervisão, em termos do alcance do seu propósito.

188
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
3. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA SUPERVISÃO supervisão ,pois o eficiente desempenho desta função depen-
Os métodos e técnicas utilizados em supervisão podem ser de também do conhecimento dos objetivos de cada programa,
descritos de várias maneiras. das atividades previstas em termos de categoria, composição
Ao assumir a função de supervisão, a enfermeira terá de se- instrumental requerida para produzi-las, bem como das normas
guir uma série de passos, os quais em uma ordenação seqüencial estabelecidas para orientar o desenvolvimento dos programas;
lógica, se enquadram necessariamente nas principais etapas: c. o treinamento recebido pelo pessoal de enfermagem para
Planejamento - Organização - Execução - Avaliação. executar as atividades que lhes competem;
d. a qualidade dos serviços de enfermagem prestados, se
Estas fases do trabalho se aplicam em qualquer situação tem sido satisfatória; quais os problemas encontrados e que su-
de supervisão, variando apenas em grau de especificação, con- gestões têm sido ou devem ser propostas para solucioná-los.
forme a extensão e complexidade da situação envolvida. Ex.: a
supervisão realizada pela enfermeira de nível intermediário, re- A análise das informações sobre a situação de saúde da po-
querendo uma cobertura mais ampla, sempre envolve um plano pulação onde a supervisão deve ser realizada, proporciona um
e uma organização mais complexos do que a supervisão realiza- quadro geral das necessidades da área de saúde, também im-
da pela enfermeira de nível local cuja área é mais restrita. portante para a supervisão.
Entretanto, estas variações na amplitude do plano e orga- Estas e outras informações significativas focalizadas pela
nização não implicam em mudança da dinâmica da supervisão. enfermeira, são condições básicas para os passos seguintes:
Ela se processa do mesmo modo e com igual propósito em toda 3.1.2 identificar as necessidades da área de enfermagem e
situação. os aspectos que requerem supervisão;
Pressupondo um serviço de saúde pública, onde a supervi- 3.1.3 determinar as prioridades, é outra fase. Todo progra-
são deverá ser implantada em todos os níveis de atuação, apre- ma de saúde da unidade sanitária envolve muitos problemas que
sentaremos a seguir uma sugestão de como a supervisão poderá demandam atenção, e muitos objetivos a serem alcançados. A
ser desenvolvida, abordando aspectos do seu preparo, da reali- supervisora, especialmente aquela que conta com muitas unida-
zação e da fase a que se segue a esta: des de trabalho sob sua responsabilidade, terá que estabelecer
prioridades, a fim de poder atender de modo eficiente a todas.
3.1 Plano de supervisão 3.1.4 elaborar o plano de ação de supervisão, incluindo:
Para que a supervisão seja a mais eficiente possível, é ne- a. definição de objetivos e metas de supervisão, especifican-
cessário que se faça uma previsão das possibilidades reais para do o prazo para que sejam alcançados em termos de atendimen-
seu desenvolvimento. Como base, a enfermeira terá que dar os to imediato e mediato;
seguintes passos: b. as linhas básicas operacionais;
3.1.1 tomar conhecimento da realidade da situação da sua c. a organização requerida incluindo:
área de atuação. Envolve a análise e interpretação de informa- - determinação das atribuições da supervisora, conforme o
ções coletadas sobre a estrutura técnico-administrativa do Ser- escalação hierárquica a que se refere - central - intermediária -
viço de Saúde Pública, sobre a enfermagem nesta estrutura, so- local;
bre a situação de saúde da comunidade envolvida, bem como, - determinação do número de unidades de trabalho sob a
sobre os programas elaborados para atender as necessidades da responsabilidade de cada supervisora;
área de saúde identificadas. - estimativa do número de supervisoras requerido por nível
A análise das informações relativas aos aspectos, institucio- de atuação;
nal e profissional, serve de base para a enfermeira determinar - elaboração de sistema de normas e procedimentos;
se existem as precondições para uma eficiente supervisão. - elaboração de sistema de registro e arquivos;
- outros aspectos significativos como critérios de avaliação
Quando já existe uma organização com sua filosofia, política em supervisão.
de trabalho, propósitos bem definidos, correta estrutura organi-
zacional, as possibilidades para o desenvolvimento da supervi- Este esquema de plano inicial, poderá servir de guia para ser
são são mais reais. aplicado nas subseqüentes situações de trabalho da superviso-
Através da análise destas informações, a enfermeira tomará ra em qualquqer nível, desde que sejam observadas as devidas
conhecimento sobre: adaptações às situações presentes.
a. como o enfermagem está estrural e funcionalmente or-ni- Na continuidade do trabalho da supervisora, como por
zada dentro das várias unidades onde deverá realizar a supervi- exemplo, quando a supervisão é realizada por enfermeira de um
são, especialmente em relação às funções, se estão claramente nível superior:
delimitadas em termos de definição das respectivas atividades e - a análise da situação é um aspecto implícito no trabalho
tarefas, autoridade e responsabilidades. Isto é básico para a su- de supervisão para identificar as necessidades na área de enfer-
pervisão, tanto em relação ao trabalho do pessoal de enferma- magem e sempre precederá o plano de ação, mas a supervisora
gem como da própria supervisora. A falta de uma clara definição poderá limitar-se ao estudo de relatórios ou outra forma de co-
de autoridade e responsabilidade da atribuição da supervisora, municação existente, referente à sua área de atuação.
pode trazer confusão c ser a causa da limitação do trabalho de - as prioridades sobre supervisão, serão estabelecidas com
supervisão; sobre a categoria e número de pessoal de enferma- base nas informações obtidas sobre a situação presente, relativa
gem disponível; a cada uma das unidades de trabalho atribuídas à supervisora,
b. os programas de saúde para atender as necessidades e as visitas a serem realizadas serão precedidas do preparo re-
identificadas em cada área programática e como são eles de- querido, como:
senvolvidos. O estudo destes programas, especialmente aqueles - seleção das unidades requerendo supervisão, de acordo
que demandam a participação da enfermagem, é essencial para com as prioridades estabelecidas;

189
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- determinação de itinerário mais econômico e que ao mes- b. observação através de entrevista com pessoal de cada
mo tempo favoreça o atendimento de prioridade; categoria.
- escolha da época mais oportuna para a supervisão; Através da utilização de técnica adequada de entrevista, a
- estimativa do tempo previsto para as visitas; supervisora poderá encontrar condições para conhecer melhor
- previsão de recursos materiais necessários; o pessoal de enfermagem, em termos de preparo e relaciona-
- comunicação aos interessados sobre a data da supervisão, mento humano;
sempre que possível.
c. observação direta da execução das atividades, incluindo:
Quando a supervisão é realizada pela enfermeira de nível - observação geral do desenvolvimento do trabalho de
local, na própria unidade de trabalho o esquema será adaptado enfermagem na unidade, para obter dados sobre a produção,
às condições deste nível. e coordenação das atividades de enfermagem executadas nos
vários setores, bem como sobre a metodologia de enfermagem
3.2 Execução da Supervisão utilizada;
Sendo o propósito da supervisão em enfermagem de saúde - observação do trabalho individual, para conhecer mais de-
pública, manter sempre elevado o nível da qualidade da enfer- talhadamente a qualidade dos serviços prestados pelos mem-
magem, como saber se ela necessita ser melhorada, e em quais bros da equipe em determinadas situações como: vacinação,
aspectos? Em termos objetivos, verificando e analisando como visitação domiciliaria, trabalho de grupo, atendimento nas clí-
o trabalho de enfermagem está sendo executado por todos os nicas.
membros da equipe de enfermagem.
Mesmo considerando que a supervisão a nível local seja um O valor educativo desta fase da supervisão para o pessoal
trabalho de certo modo permanente na unidade sanitária, e a de enfermagem estará na dependência dos procedimentos que
supervisão realizada pela enfermeira de outro nível seja perió- imediatamente a seguem.
dica, a metodologia utilizada em ambas as situações, envolverá
os seguintes meios: 3.2.3 análise das informações obtidas durante a observação.
3.2.1 estabelecimento de ambiente favorável à supervi- A análise da atuação do pessoal de enfermagem é uma ope-
são, sendo um dos fatores que poderá impulsionar a dinâmica ração que, com o conhecimento dos programas de saúde, das
da supervisão para o desenvolvimento esperado. Um ambiente necessidades a serem atendidas na específica situação de super-
favorável envolve condições físicas adequadas ao trabalho, re- visão, e da enfermagem em geral, pode ser realizada pela super-
lações humanas harmoniosas no grupo. Significa compreensão visora durante e/ou após a observação do trabalho executado.
e aceitação por parte de todas as pessoas envolvidas sobre o 3.2.4 avaliação imediata do trabalho observado.
significado da supervisão. Embora não seja um aspecto que diz As linhas básicas para medir a qualidade dos serviços de en-
respeito somente à supervisão, mas a todo trabalho de grupo, fermagem prestados, são os objetivos e normas estabelecidos
é aqui enfatizado, pela influência que o seu aspecto positivo nos programas as atividades de enfermagem especificadas no
ou negativo poderá exercer respectivamente, no êxito ou fra- plano, a metodologia utilizada, as dificuldades e segurança reve-
casso do trabalho de supervisão. Devemos lembrar entretanto, ladas durante a observação, os recursos disponíveis e o preparo
que esta não é uma responsabilidade que deva ser atribuída so- recebido pelo pessoal para a execução do específico trabalho
mente à supervisora. O aspecto físico do ambiente, por exem- observado.
plo, nem sempre está ao alcance da supervisora proporcionar Discussões entre supervisora e pessoal de enfermagem so-
o melhor, no entanto, estabelecer e manter relações humanas bre os aspectos positivos e negativos observados, contribuem
harmoniosas dentro da sua área de trabalho, depende muito da para a melhoria da prestação de assistência para o desenvolvi-
habilidade da supervisora, sendo um aspecto muito significativo mento profissional e institucional.
que deve ser considerado por ela. 3.2.5 orientação indicada sobre aspectos de enfermagem
3.2.2 coleta de informações sobre os trabalhos que estão pode ser oferecida pela supervisora logo após a avaliação.
sendo desenvolvidos na unidade sanitária para o alcance dos 3.2.6 elaboração de conclusões.
objetivos dos programas de saúde, especialmente àqueles en- A supervisora poderá estabelecer conclusões sobre especí-
volvendo a participação da enfermagem. Através de uma obser- ficas atividades de enfermagem observadas ou sobre o trabalho
vação inicial do trabalho em geral, a enfermeira poderá colher em geral. Em ambos os casos, as conclusões são elaboradas de
dados que servirão para orientá-la sobre o desenvolvimento dos acordo com as situações de trabalho observadas, em termos de
programas, proporcionando uma visão geral da produção e qua- qualidade, rendimento, metologia de enfermagem, e outros fa-
lidade dos serviços prestados e bases para identificar problemas tores significativos envolvidos.
relativos à área de enfermagem, quais os membros da equipe de 3.2.7 reunião com os membros da equipe de saúde, interes-
enfermagem que requerem orientação técnico-administrativa sados, para:
ou ajuda pessoal; com esta base, poderá partir para uma verifi- a) apresentação das conclusões;
cação mais detalhada do trabalho desenvolvido pela equipe de b) discussão dos aspectos importantes;
enfermagem e especificamente da atuação individual de cada c) avaliação geral dos trabalhos observados;
membro, utilizando vários meios, como: d) recomendações.
a. estudo de registros existentes, estatísticos e descritivos.
O estudo de dados registrados sobre atividades de enferma- Com base nos resultados do trabalho de supervisão, poderá
gem, embora nem sempre precisos, possibilita uma comparação ser elaborado um plano de reorientação, de aplicação imediata
entre situações passadas e presentes. Discussões posteriores ou mediata, para atender às necessidades da área de enferma-
com o pessoal de enfermagem, poderão esclarecer pontos im- gem identificadas, o qual será desenvolvido como parte do “pro-
portantes; grama de educação em serviço”.

190
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A supervisora poderá participar como assessora na elabo- - Descrever os programas de capacitação desenvolvidos e
ração do plano ou no desenvolvimento do mesmo, caso seja re- implantados pelo serviço gerador abrangendo todas as unidades
querida. Neste caso não estará mais atuando como supervisora. geradoras de RSS e o setor de limpeza e conservação;
3.2.8 registro das conclusões sobre as atividades observa- - Apresentar documento comprobatório da capacitação e
das, em modelos próprios para a supervisão. Estes dados pode- treinamento dos funcionários envolvidos na prestação de servi-
rão servir como base para uma futura avaliação do trabalho de ço de limpeza e conservação;
enfermagem. - Apresentar cópia do contrato de prestação de serviços e da
3.2.9 Avaliação das atividades de supervisão. licença ambiental das empresas prestadoras de serviços para a
O trabalho do supervisor deverá também ser periodicamen- destinação dos RSS;
te avaliado, quer sob o aspecto de auto-avaliação como também - Apresentar documento comprobatório de operação de
realizada pelos superiores hierárquicos, para verificar se o seus venda ou de doação dos RSS destinados à recuperação, à reci-
desempenho corresponde ao esperado. clagem, à compostagem e à logística reversa;
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi
Objetivos para estudarmos Gerenciamento de Resíduos
- Desenvolver e estimular o profissional a competência téc-
nica na aplicação da legislação vigente pertinente ao setor alian-
GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS do as Boas Práticas de Fabricação para atender as necessidades
DE SERVIÇOS DE SAÚDE das empresas.
- Alertar sobre o nível de responsabilidade do Farmacêutico
A RDC 222/2018 é a nova regulamentação da Anvisa para e os resíduos gerados em sua unidade produtiva.
Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de - Avaliar a relação Custo X Benefício das diversas formas de
Saúde. A presente revisão se fez necessária em virtude da in- tratamento e destinação final para os resíduos gerados.
trodução da Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional - Estimular uma visão prática para a busca constante da re-
de Resíduos Sólidos (PNRS), dos muitos questionamentos apre- dução na geração, otimização das correntes existentes e uma
sentados e da necessidade de introdução de novidades legais e atitude de vigilância permanente e crítica quanto ao assunto.7
tecnológicas surgidas desde a publicação da RDC 306/2004.
Aproveite esse artigo para se atualizar e conhecer as normas
para gerenciar corretamente os resíduos produzidos em estabe- CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO; PROCESSA-
lecimentos de saúde. Acesse também o texto: a importância do MENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE; PROCESSOS DE
gerenciamento de risco na área da saúde. ESTERILIZAÇÃO DE PRODUTOS PARA SAÚDE; CONTRO-
Quais instituições se enquadram como geradoras de Resídu- LE DE QUALIDADE E VALIDAÇÃO DOS PROCESSOS DE
os de Serviços de Saúde? ESTERILIZAÇÃO DE PRODUTOS PARA SAÚDE
A RDC 222/2018 é destinada às instituições públicas ou pri-
vadas, filantrópicas, civis ou militares e que exercem ações de
ensino e pesquisa, relacionadas com a atenção à saúde humana ENFERMAGEM NA UNIDADE DE CENTRAL DE MATERIAL
e animal, geradoras de Resíduos de Serviços de Saúde – RSS, tais E ESTERILIZAÇÃO: Processamento de produtos para a saúde.
como necrotérios, distribuidores de produtos farmacêuticos, la- Atuação do técnico de enfermagem na unidade de Centro de
boratórios analíticos de produtos para saúde, IMLs, drogarias, Material e Esterilização.
farmácias de manipulação, serviços de acupuntura, piercing e Processamento de produtos para a saúde. Atuação do
tatuagem, entre outros. técnico de enfermagem na unidade de Centro de Material e
Esterilização.
Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde A CME é uma unidade de apoio técnico dentro do estabe-
O Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saú- lecimento de saúde destinada a receber material considerado
de deve conter todas as etapas de planejamento dos recursos sujo e contaminado, descontaminá-los, prepará-los e esterilizá-
físicos, materiais e humanos relacionados no serviço. Dessa for- -los, bem como, preparar e esterilizar as roupas limpas oriundas
ma, o gerador deve: da lavanderia e armazenar esses artigos para futura distribuição.
- Estimar a quantidade dos Resíduos de Serviços de Saúde No quadro atual, a CME não atende às normas necessárias para
gerados; um funcionamento eficaz.
- Estabelecer procedimentos quanto à geração, à segrega- Na busca por racionalizar os gastos e otimizar os recursos
ção, ao acondicionamento, à identificação, à coleta, ao arma- dos serviços decorrentes do custo x benefício de equipamentos,
zenamento, ao transporte, ao tratamento e à disposição final pessoal e investimento na estrutura física, a CME do HRFS se
ambientalmente adequada dos Resíduos de Serviços de Saúde; transformará numa Central de Materiais de esterilização da Mi-
- Estar em conformidade com as ações de proteção à saúde crorregião atendendo a um total de 173 leitos, prestando apoio
pública, do trabalhador, do meio ambiente, regulamentação sa- técnico ao centro cirúrgico, obstétrico, ambulatório, semi-inten-
nitária e ambiental, com as normas de coleta e transporte dos sivo e ao atendimento de ência deste estabelecimento de saúde,
serviços locais de limpeza urbana, com as rotinas e processos de além dos serviços solicitados pelo SAMU-192, que na proposta,
higienização e limpeza; terá uma base descentralizada.
- Estabelecer ações a serem adotadas em situações de A partir do processo de estruturação do HRFS, propõe-se
emergência e acidentes decorrentes do gerenciamento dos RSS; um novo espaço para a CME, contendo os fluxos necessários
- Descrever as medidas preventivas e corretivas de controle para um bom funcionamento do setor e, após sua concretização,
integrado de vetores e pragas urbanas, incluindo a tecnologia a ampliação do atendimento a outros serviços de saúde. Para
utilizada e a periodicidade de sua implantação; 7 Fonte: www.blog.ipog.edu.br

191
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
tanto, foram pesquisados livros e manuais, sites, bem como, fo- • Participar de comissões institucionais que interfiram na
ram realizadas visitas e entrevistas ao hospital em questão e ao dinâmica de trabalho do CME.
setor da CME de outros hospitais.
PROCESSOS DESENVOLVIDOS
CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR Limpeza: A limpeza consiste na remoção da sujidade visível
Segundo QUELHAS, “existem regiões onde os serviços de – orgânica e inorgânica – mediante o uso da água, sabão e deter-
saúde são limitados ou inexistentes, onde as infecções são, por gente neutro ou detergente enzimático em artigos e superfícies.
muitas vezes, não tratadas. As taxas de morte e a incidência de Se um artigo não for adequadamente limpo, isto dificultará os
doenças infecciosas estão crescendo. Em países mais pobres, processos de desinfecção e de esterilização. As limpezas auto-
50% de todas as mortes são derivadas das infecções.” É impor- matizadas, realizadas através das “lavadoras termodesifectado-
tante ressaltar: ras” que utilizam jatos de água quente e fria, realizando enxágüe
• A padronização de normas e rotinas técnicas e na valida- e drenagem automatizada, a maioria, com o auxilio dos deter-
ção dos processamentos dos materiais e superfícies é essencial gentes enzimáticos, possui a vantagem de garantir um padrão
no controle de infecção. de limpeza e enxágüe dos artigos processados em série, dimi-
• É de extrema importância a atuação dos órgãos de fisca- nuem a exposição dos profissionais aos riscos ocupacionais de
lizações para o controle e avaliação das normas e processos de origem biológica, que podem ser decorrentes dos acidentes com
trabalho. materiais perfuro- cortantes. As lavadoras ultra-sônicas, que re-
• A capacitação profissional. movem as sujidades das superfícies dos artigos pelo processo
De acordo com a RDC nº. 50 (ANVISA, 2004, pág. 112), as de cavitação, são outro tipo de lavadora para complementar a
condições ambientais necessárias ao auxilio do controle da in- limpeza dos artigos com lumens.
fecção de serviços de saúde dependem de pré-requisitos de di- Descontaminação: É o processo de eliminação total ou par-
ferentes ambientes do EAS, quanto ao risco de transmissão da cial da carga microbiana de artigos e superfícies.
mesma. Nesse sentido, eles podem ser classificados: Desinfecção: A desinfecção é o processo de eliminação e
• Áreas críticas: são os ambientes onde existem riscos au- destruição de microorganismos, patogênicos ou não em sua for-
mentados de transmissão de infecção, onde se realizam proce- ma vegetativa, que estejam presentes nos artigos e objetos ina-
dimentos de risco, com ou sem paciente ou onde se encontram nimados, mediante a aplicação de agentes físicos ou químicos,
pacientes imunodeprimidos chamados de desinfetantes ou germicidas, capazes de destruir
A CME é uma área crítica e o seu planejamento de fluxo dos esses agentes em um intervalo de tempo operacional de 10 a
materiais e roupas é: recebimento de roupa limpa/material - des- 30 min3 . Alguns princípios químicos ativos desinfetantes têm
contaminação de material Æ separação e lavagem de material ação esporicida, porém o tempo de contato preconizado para a
preparo de roupas e material Æ esterilização Æ guarda e distri- desinfecção não garante a eliminação de todo o s esporos. São
buição, a barreira física que delimita a área suja e contaminada da usados os seguintes princípios ativos permitidos como desinfe-
área limpa minimizando a entrada de microorganismos externos. tantes pelo Ministério da Saúde: aldeídos, compostos fenólicos,
ácido paracético.
RECURSOS HUMANOS Preparo: As embalagens utilizadas para o acondicionamen-
A equipe de enfermagem que trabalha nesta unidade presta to dos materiais determinam sua vida útil, mantêm o conteúdo
uma assistência indireta ao paciente, tão importante quanto à estéril após o reprocessamento, garante a integridade do mate-
assistência direta, que é realizada pela equipe de enfermagem rial Esterilização:
que atende ao paciente. O quadro de pessoal de uma CME deve É o processo de destruição de todos os microorganismos,
ser composto por enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxi- a tal ponto que não seja mais possível detectá-los através de
liares de enfermagem e auxiliares administrativos, cujas funções testes microbiológicos padrão. Um artigo é considerado estéril
estão descritas nas práticas recomendadas da SOBECC, cujas quando a probabilidade de sobrevivência dos microorganismos
funções estão descritas abaixo: que o contaminavam é menor do que 1:1.000.000.
Nos estabelecimentos de saúde, os métodos de esteriliza-
Enfermeiro Supervisor ção disponíveis para processamento de artigos no seu dia a dia
• Atua na coordenação do setor; são o calor, sob a forma úmida e seca, e os agentes químicos sob
• Prever os materiais necessários para prover as unidades a forma líquida, gasosa e plasma
consumidoras;
• Elaborar relatórios mensais estatísticos, tanto de custo Processos físicos:
quanto de produtividade; Calor Seco: Este processo realizado pelo calor seco é reali-
• Planejar e fazer anualmente o orçamento do CME com zado em estufas elétricas. De acordo com Moura (1990), “a es-
antecedência de 04 a 6 meses tufa, da forma como é utilizada nas instituições brasileiras, não
• Elaborar e manter atualizado o manual de normas, rotinas se mostra confiável, uma vez que, em seu interior, encontram–
e procedimentos do CME, que deve estar disponível para a con- se temperaturas diferentes das registradas no termômetro. O
sulta dos colaboradores. centro da câmara apresenta “pontos frios”, nos quais a autora
• Desenvolver pesquisas e trabalhos científicos que contri- constatou, por meio de testes biológicos, a presença de formas
buam para o crescimento e as boas práticas de Enfermagem, esporuladas.
participando de tais projetos e colaborando com seu andamen- Dessa maneira, é necessário manter espaço suficiente entre
to. • Manter-se atualizado acerca das tendências técnicas e os artigos e, no caso do processamento de instrumental cirúr-
científicas relacionadas com o controle de infecção hospitalar gico, no máximo, em torno de 30 peças. Contudo, a SOBECC re-
e com o uso de tecnologias avançadas nos procedimentos que comenda abolir o uso da esterilização por calor seco.” (Práticas
englobem artigos processados pelo CME. Recomendadas- SOBECCSociedade Brasileira de Enfermeiros de

192
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material Sendo assim, é imprescindível que o profissional responsá-
e Esterilização. 4ª edição – 2007, pág. 78). Vapor saturado sob vel pelo processamento de artigos seja capacitado e tenha co-
pressão: Este processo está relacionado com o mecanismo de nhecimento profundo sobre crescimento microbiano, curva de
calor latente e o contato direto com o vapor, promovendo a coa- crescimento, morte microbiana, esporos bacterianos, endoto-
gulação das proteínas. Realizando uma troca de calor entre o xinas, carga microbiana (bioburden), biofilmes, resistência mi-
meio e o objeto a ser esterilizado. Existe uma constante busca crobiológica, príons, entre tantos outros itens, além de caracte-
por modelos de autoclaves que permitam a máxima remoção do rísticas como: responsabilidade, iniciativa, equilíbrio emocional,
ar, com câmaras de auto-vácuo, totalmente automatizadas. En- trabalho em equipe, capacidade organização, que são exigidas
tretanto, esses equipamentos sofisticados necessitam de profis- rotineiramente nesta atividade de extrema importância em uma
sionais qualificados, pois estes são, e continuarão sendo, o fator unidade de saúde.
de maior importância na segurança do processo de esterilização.
Autoclave Pré-Vácuo: Por meio da bomba de vácuo contida Limpeza, desinfecção e esterilização:
no equipamento, podendo ter um, três ou cinco ciclos pulsáteis, o Limpeza: remoção de sujidade de um artigo. É de suma im-
ar é removido dos pacotes e da câmara interna, permitindo uma portância na redução da carga microbiana de um artigo, favo-
dispersão e penetração uniforme e mais rápida do vapor em todos recendo a eficácia do processo. É a remoção de sujidade visível
os pacotes que contém a respectiva carga. Após a esterilização, a aderida nas superfícies, nas fendas, nas serrilhas, nas articula-
bomba a vácuo faz a sucção do vapor e da umidade interna da ções e lúmens de instrumentos, dispositivos e equipamentos,
carga, tornando a secagem mais rápida e completando o ciclo. Os por meio de um processo manual, realizando fricção com es-
materiais submetidos à esterilização a vapor são liberados após covas apropriadas e por meio de enxágue utilizando água sob
checklist feito pelo auxiliar de enfermagem da área. pressão. Ou de forma mecânica utilizando detergente e água em
Processos Químicos e Físicos- Químicos: Esterilizantes quí- lavadoras com ou sem ultrassom. Em ambos são utilizados de-
micos cujos princípios ativos são autorizados pela Portaria nº. tergentes ou produtos enzimáticos.
930/92 do Ministério da Saúde são: aldeídos, ácido peracético e Alguns fatores interferem na efetividade da limpeza, como a
outros, desde que atendam a legislação especifica. qualidade da água, tipo e qualidade dos agentes e acessórios de
limpeza, manuseio e preparação dos materiais para a limpeza,
O Peróxido de hidrogênio (na forma gásplasma) e o óxido método manual ou mecânico usado. Além do tempo-temperatu-
de etileno são processos físicoquímicos gasosos automatizados ra dos equipamentos de limpeza mecânica, posicionamento do
em baixa temperatura Validação dos processos de esterilização material e a configuração da carga das máquinas.
de artigos: No final de qualquer processo é recomendado uma obser-
A validação é o procedimento documentado para a obten-
vação criteriosa do processo de limpeza para garantir que o pro-
ção de registro e interpretação de resultados desejados para o
tocolo foi seguido completamente; realizar validação; e aplicar
estabelecimento de um processo, que deve consistentemente
metodologias de verificação que garantam a limpeza.
fornecer produtos, cumprindo especificações predeterminadas.
Importante lembrar: os resíduos orgânicos tais como san-
A validação da esterilização precisa confirmar que a letalidade
gue, soro, lípides, fragmentos de tecido e sais inorgânicos, se
do ciclo seja suficiente para garantir uma probabilidade de so-
não forem retirados adequadamente durante o processo de lim-
brevida microbiana não superior a 10º.
peza, podem impedir a desinfecção e a esterilização, uma vez
que limitarão a difusão dos agentes esterilizantes ou inativarão
Controles do processo de esterilização:
a ação dos desinfetantes.
Testes Químicos: Os testes químicos podem indicar uma fa-
lha em potencial no processo de esterilização por meio da mu-
dança de sua coloração. Desinfecção: é o processo aplicado a um artigo ou superfície
Teste Bowie e Dick são realizados diariamente no primeiro que visa a eliminação de microrganismos, exceto esporos, das
ciclo de esterilização em autoclave fria, auto-vácuo, com câmara superfícies fixas de equipamentos e mobílias utilizadas em as-
fria e vazia. sistência à saúde. A desinfecção é indicada para artigos semicrí-
Testes Biológicos: Os testes biológicos são os únicos que ticos que entram em contato com membranas mucosas ou pele
consideram todos os parâmetros de esterilização. A esteriliza- não íntegra. Sendo os mais comuns: acessórios para assistência
ção monitorada por indicadores biológicos utilizam monitores e respiratória, diversos endoscópios, espéculos, lâminas para la-
parâmetros críticos, tais como temperatura, pressão e tempo de ringoscopia, entre outros.
exposição e, cuja leitura é realizada em incubadora com método
de fluorescência, obtendo resultado para liberação dos testes Os métodos de desinfecção podem ser físicos, por ação tér-
em três horas, trazendo maior segurança na liberação dos ma- mica, ou químicos, pelo uso de desinfetantes. Os físicos são os
teriais. Os produtos são liberados quando os indicadores revela- equipamentos de pasteurização como desinfetadoras e lavado-
rem resultados negativos. ras de descarga. Os desinfetantes mais utilizados são a base de
aldeídos, ácido peracético, soluções cloradas e álcool. Podem,
Sem dúvida alguma, todo processamento de artigos nas uni- também, ser utilizados produtos à base de quaternário de amô-
dades de saúde é um procedimento altamente complexo que nia e peróxido de hidrogênio.
tem como seu principal objetivo evitar eventos adversos oriun- Esterilização: é o processo que utiliza agentes químicos ou
dos de sua utilização. físicos para destruir todas as formas de vida microbiana, sendo
Além disso, há uma crescente preocupação com eventos ad- aplicada especificamente a objetos inanimados. O processo de
versos relacionados aos resíduos de material imunológico de um esterilização de artigos hospitalares que oferece maior seguran-
paciente para outro, por meio destes artigos reprocessados ou ça é o vapor saturado sob pressão, realizado em autoclave. Este
reações decorrentes de resíduos de produtos utilizados durante processo tem como parâmetros: o vapor, a pressão, a tempera-
a limpeza do artigo. tura e o tempo.

193
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Há, porém, no mercado, uma gama de artigos utilizados no cuidado à saúde que são produzidos com materiais complexos e
que não suportam a termo desinfecção ou a umidade do vapor, exigindo uma esterilização com métodos de baixa temperatura
como: óxido de etileno (ETO), plasma, ozônio, radiação gama entre outros. A seguir, o fluxo de processamento de artigos médicos
cirúrgicos:

Lembramos que os métodos de esterilização à baixa temperatura normalmente não estão disponíveis nos serviços de saúde.
Entre os agentes químicos esterilizantes, ressaltamos o glutaraldeído e o ácido peracético:

Glutaraldeído: é um dialdeído saturado que reúne muitas vantagens como desinfetante de alto nível e esterilizante, devido ao
seu amplo espectro de ação, bem como a estabilidade e a compatibilidade com as mais diversas matérias primas dos materiais e
equipamentos médico-hospitalares, pois não é corrosivo a metal e não danifica equipamentos ópticos, borracha ou plástico. Utili-
za-se o glutaraldeído a 2% como agente químico desinfetante de alto nível ou esterilizante.

Sua utilização foi condenada por força de lei pela Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA nº 8 de 2009. Sua toxicidade
também foi questionada em 2004 pela Associação Americana de Enfermeiros de Centro Cirúrgico –AORN, que recomendou três en-
xágues assépticos com revezamento, para cada material por ele processado. A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo publicou
a resolução SS nº 27 em 2007 referente as medidas de controle sobre o uso do glutaraldeído, com foco na segurança ocupacional.

Ácido peracético: tem uma rápida ação microbicida e age pela desnaturação das proteínas, ruptura da parede celular e oxida-
ção de proteínas, enzimas e outros metabólicos. É essencial que o usuário conheça as vantagens e as desvantagens de cada formu-
lação para, junto com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar - CCIH, façam a melhor escolha baseada no custo-efetividade,
uma vez que há no mercado diferentes formulações.

Independentemente do método a ser utilizado, o monitoramento e validação de cada processo é imprescindível para um me-
lhor controle e segurança.

Outra preocupação que deve haver nos estabelecimentos de saúde é sobre a reutilização de artigos de uso único que, embora
venham de fábrica contendo a identificação de “uso único”, ainda são reutilizados. O reuso destes artigos envolve questões legais,
médicas, éticas e econômicas, sendo amplamente discutido. As normas brasileiras que regulam o reuso de artigos são a Resolução
da Diretoria Colegiada nº 156, a Resolução 2605 e a Resolução 2606, publicadas em 2006, que obrigam a instituição de saúde a
realizar, por meio de um instrumento normativo interno do estabelecimento, todo e qualquer processo de reuso dos artigos a ser
realizado e dispõe sobre as diretrizes para elaboração, validação e implantação de protocolos de reprocessamento de produtos
médicos e dá outras providências.

194
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Neste panorama, é instituída a Norma Regulamentadora nú-
PRÁTICAS DE BIOSSEGURANÇA APLICADAS AO PRO- mero 32 (NR 32), do Ministério do Trabalho e Emprego (BR) que
CESSO DE CUIDAR; RISCO BIOLÓGICO E MEDIDAS DE trata da Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde,
PRECAUÇÕES BÁSICAS PARA A SEGURANÇA INDIVIDU- com o objetivo de agrupar o que já existe no país em termos de
AL E COLETIVA NO SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE; legislação e favorecer os trabalhadores da saúde em geral, es-
PRECAUÇÃO-PADRÃO E PRECAUÇÕES POR FORMA DE tabelecendo diretrizes para implementação de medidas de pro-
TRANSMISSÃO DAS DOENÇAS: DEFINIÇÃO, INDICA- teção à saúde e segurança dos mesmos. Esta norma trata dos
ÇÕES DE USO E RECURSOS MATERIAIS; MEDIDAS DE
riscos biológicos; dos riscos químicos; das radiações ionizantes;
PROTEÇÃO CABÍVEIS NAS SITUAÇÕES DE RISCO PO-
dos resíduos; das condições de conforto por ocasião das refei-
TENCIAL DE EXPOSIÇÃO
ções; das lavanderias; da limpeza e conservação; e da manuten-
ção de máquinas e equipamentos em serviços que prestam as-
Por volta dos anos 1970, iniciaram-se as discussões envol- sistência à saúde.
vendo a proteção e segurança dos trabalhadores, principalmente A infecção hospitalar é uma síndrome infecciosa (infecção)
aqueles envolvidos com pesquisa em organismos geneticamente que o indivíduo adquire após sua hospitalização ou realização
modificados. A partir daí a questão da exposição ocupacional e de procedimento ambulatorial. Entre os exemplos de procedi-
o conceito de biossegurança foram sendo desenvolvidos e intro- mentos ambulatoriais mais comuns estão: cateterismo cardíaco,
duzidos pela comunidade científica, com foco, inicialmente, nos exames radiológicos com utilização de contraste, retirada de pe-
trabalhadores dos laboratórios de análise de material biológico, quenas lesões de pele e retirada de nódulos de mama, etc.
considerando-se a incidência, nestes profissionais, de doenças Para ser considerada infecção hospitalar, o paciente precisa
como a tuberculose e hepatite B. estar internado apelo menos 72 horas.
Sabe-se que, em grande parte dos cenários de prestação de A manifestação da infecção hospitalar pode ocorrer após a
cuidados de enfermagem, negligenciam-se normas de biossegu- alta, desde que esteja relacionada com algum procedimento re-
rança; os equipamentos de proteção individual (EPI) são mais alizado durante a internação.
utilizados na assistência ao paciente cujo diagnóstico é conhe-
cido, subestimando-se a vulnerabilidade do organismo huma- Fatores predisponentes
no a infecções. O recomendável é que o trabalhador proteja-se - Pacientes imunodeprimidos;
sempre que tiver contato com material biológico e, também, - Lavagem incorreta das mãos, dos profissionais, acompa-
durante a assistência cotidiana aos pacientes, independente de nhantes e visitantes.
conhecer o diagnóstico ou não, utilizando-se, portanto, das pre- - Esterilização deficiente de instrumental cirúrgico.
cauções universais padrão. Estudos demonstram que as maio- - Técnicas incorretas e procedimentos invasivos.
res causas de acidentes punctórios, entre os trabalhadores da - Limpeza deficiente de ambientes, materiais e roupas.
enfermagem, estão nas práticas de risco como o reencape de - Alimentos trazidos de fora do hospital.
agulhas, o descarte inadequado de objetos perfurocortantes e a - Flores e objetos trazidos de fora do hospital.
falta de adesão aos EPI.
Além disso, em grande parte dos casos de exposição a mate- Baseando-se nesses fatores devem ser elaboradas ações
rial biológico, o status do paciente fonte não é conhecido, o que preventivas, tais como: uso racional de antimicrobiano, controle
potencializa o risco de adquirir doenças como o HIV, hepatite B e de esterilização, desinfecção e limpeza, e bloqueio de transmis-
hepatite C. A exposição ocupacional é uma importante fonte de são pelos profissionais de saúde.
infecção por esses vírus. Um estudo demonstrou que a cobertu-
ra vacinal contra hepatite B dos trabalhadores da saúde envol- Principais medidas de prevenção e controle
vidos com os acidentes estava em torno de aproximadamente
73%, evidenciando o risco de infecção pelo HBV em aproxima- Lavagem das mãos
damente 27% dos trabalhadores que não haviam completado o - Lavagem das mãos é a fricção manual vigorosa de toda a
esquema vacinal. superfície das mãos e punhos, utilizando-se sabão/detergente,
Como se pode perceber, algumas evidências científicas de- seguida de enxágue abundante em água corrente.
monstram que o risco para acidentes com material biológico é - A lavagem das mãos é, isoladamente, a ação mais impor-
uma realidade configurada em muitos cenários. Considerando- tante para a prevenção e controle das infecções hospitalares.
-se essas informações e o fato de que os trabalhadores da área - O uso de luvas não dispensa a lavagem das mãos antes e
da saúde encontram-se em permanente contato com agentes após contatos que envolvam mucosas, sangue ou fluidos corpó-
biológicos (vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao reos, secreções ou excreções.
trabalho em hospitais e laboratórios e, até mesmo na agricultura - A lavagem das mãos deve ser realizada tantas vezes quan-
e pecuária), é fundamental, portanto, a observância dos princí- to necessária, durante a assistência a um único paciente, sem-
pios de biossegurança na assistência aos pacientes e no trata- pre que houver contato com diversos sítios corporais, e frente
mento de seus fluidos, bem como no manuseio de materiais e cada uma das atividades.
objetos contaminados em todas as situações de cuidado e não - A lavagem e antissepsia cirúrgica das mãos é realizada
apenas quando o paciente-fonte é sabidamente portador de al- sempre antes dos procedimentos cirúrgicos.
guma doença transmissível. - A decisão para a lavagem das mãos com uso de antissépti-
É válido salientar que em muitos locais de atuação da en- co deve considerar o tipo de contato, o grau de contaminação,
fermagem, são insatisfatórias as condições de trabalho, eviden- as condições do paciente e o procedimento a ser realizado.
ciadas por problemas de organização, deficiência de recursos - A lavagem das mãos com antisséptico é recomendada em:
humanos e materiais e área física inadequada do ponto de vista realização de procedimentos invasivos, prestação de cuidados a
ergonômico. Acredita-se que esta conformação é fator preditivo pacientes críticos, contato direto com feridas e/ou dispositivos
para a exposição a riscos ocupacionais. invasivos, tais como cateteres e drenos.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Devem ser empregadas medidas e recursos com o objetivo - Usar técnica asséptica, incluindo avental, luvas e campos
de incorporar a prática da lavagem das mãos em todos os níveis estéreis e máscara.
da assistência hospitalar. - Utilizar equipamentos com local próprio para infusão de
- A distribuição e a localização de unidades ou pias para la- medicamentos.
vagem das mãos, de forma a atender à necessidade nas diversas - Manter o sistema fechado durante a infusão.
áreas hospitalares, além da presença dos produtos, é fundamen- - Usar o cateter para nutrição parenteral apenas para este
tal para a obrigatoriedade da prática. fim.
- Trocar os curativos quando estiverem úmidos, sujos ou
Prevenção de infecção de sítio cirúrgico (ISC) fora do local.
- Tempo de internação abreviado. - Trocar o cateter apenas se houver suspeita de infecção re-
- Banho completo antes da cirurgia. lacionada ao cateter.
- Tricotomia restrita ao local de incisão, quando necessário, - Trocar todo o sistema em caso de flebite ou bacteremia.
imediatamente antes da cirurgia
- Fluxo adequado do Bloco Cirúrgico, com circulação míni- E outras medidas gerais como
ma. - Avaliar bem os pacientes internados;
- Equipe cirúrgica restrita. - Treinar a equipe do hospital, orientando sobre os fatores
- Montagem correta das salas de cirurgia. de risco que podem levar à uma infecção;
- Paramentação completa (avental, gorro, luvas, máscara e - Usar antibióticos, quando necessário;
propés) - Comprar material de boa qualidade para a assistência mé-
- Lavagem e antissepsia das mãos e ante braços da equipe dica;
cirurgica. - Esterilizar corretamente todos os materiais;
- Secagem das mãos com toalhas estéreis. - Ter uma boa limpeza em todo hospital;
- Antissepsia do campo operatório. - Uso de equipamento de proteção individual (luvas, óculos
- Instrumental cirúrgico esterilizado. protetor de óculos, protetor de face, avental e outros.) nos pro-
cedimentos.
Prevenção de infecção respiratória - Uso de profilaxia antimicrobiana antes da cirurgia.
- Educação do corpo clínico e vigilância das infecções.
Prevenção de infecções em profissionais da área da saúde
- Esterilização, desinfecção e manutenção de equipamentos
O profissional da área da saúde (PAS) pode adquirir ou
e artigos.
transmitir infecções para os pacientes, para outros profissionais
- Interrupção da transmissão pessoa para pessoa – precau-
no ambiente de trabalho e para comunicantes domiciliares e da
ções de barreira.
comunidade. Deste modo, os programas de controle de infecção
- Lavagem das mãos.
hospitalar devem também contemplar ações de controle de in-
- Vacinação de pacientes de alto risco para complicações de
fecção entre os PAS.
infecções pneumocócicas.
Aa ações do serviço de saúde ocupacional, no que diz res-
peito ao controle de infecção, têm como objetivos:
Prevenção de infecção urinária em pacientes cateterizados 1. Educar o PAS acerca dos princípios do controle de infec-
- Evitar o uso de cateterismo vesical quando desnecessário. ção, ressaltando a importância da participação individual neste
- Lavar as mãos antes e depois de manipular o sistema. Em- controle;
pregar técnica asséptica e equipamento estéril. 2. Colaborar com a CCIH na monitorização e investigação de
- Utilizar cateter de calibre adequado. Fixar a sonda para exposições a agentes infecciosos e surtos;
evitar movimentação. 3. Dar assistência ao PAS em caso de exposições ou doenças
- Usar exclusivamente COLETOR FECHADO. relacionadas ao trabalho;
- Evitar desconexão do sistema fechado. Manter a bolsa co- 4. Identificar riscos e instituir medidas de prevenção;
letora de urina em nível inferior à bexiga. 5. Reduzir custos, através da prevenção de doenças infec-
- Esvaziar a bolsa coletora a intervalos de oito horas, no má- ciosas que resultem em faltas ao trabalho e incapacidade.
ximo, ou quando preenchidos 2/3 da sua capacidade.
- Higienizar a região perineal, com água e sabão, três vezes Ações do serviço de saúde ocupacional
ao dia, ou quando necessário. Para atingir os objetivos descritos anteriormente é necessá-
rio que o serviço de saúde ocupacional atue nas seguintes áreas:
Prevenção de infecção da corrente sanguínea
Cuidados relacionados aos cateteres periféricos Integração com outros serviços:
- Lavagem e antissepsia das mãos antes de colocar as luvas - As ações do serviço de saúde ocupacional devem ser coor-
estéreis. denadas com o serviço de infecção hospitalar e outros departa-
- Preferir veias de membros superiores. mentos que se façam necessários.
- Usar técnica asséptica para fazer a punção.
- Fazer antissepsia do local a ser puncionado. Avaliações médicas:
- Realizar troca de cateteres e mudar o sítio de inserção a - Admissional, com histórico de saúde, estado vacinal, con-
cada 72 horas, ou intervalo menor se indicado. dições que possam predispor o profissional a adquirir ou trans-
mitir infecções no ambiente de trabalho;
Cuidados relacionados aos cateteres centrais - Exames periódicos para avaliação de problemas relaciona-
- Selecionar o Cateter. dos ao trabalho ou seguimento de exposição de risco (p. ex. tria-
- Usar de preferência a subclávia. gem para tuberculose, exposição a fluidos biológicos).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Atividades educativas: A adesão a um programa de con- - Procedimento crítico: É todo procedimento em que existe
trole de infecção é facilitada pelo entendimento de suas bases. a presença de sangue, pus ou matéria contaminada pela perda
Todo pessoal precisa ser treinado acerca da política e procedi- de continuidade.
mentos de controle de infecção da instituição. - Procedimento semicrítico: Todo procedimento em que
A elaboração de manuais para procedimentos garante uni- existe a presença de secreção orgânica (saliva) sem perda de
formidade e eficiência. O material deve ser direcionado em lin- continuidade do tecido.
guagem e conteúdo para o nível educacional de cada categoria - Procedimento não-crítico: Todo procedimento onde não
de profissional. Grande parte dos esforços deve estar dirigida há presença de sangue, pus ou outra secreção orgânica (saliva).
para a conscientização sobre o uso do equipamento de proteção Em Odontologia não existe este tipo de procedimento.
individual (EPI). Equipamentos de proteção individual (EPIs)
Programas de vacinação: Garantir que o PAS esteja protegi- Equipamento de proteção individual é todo dispositivo de
do contra as doenças preveníveis por vacinas é parte essencial uso individual, destinado a proteger a saúde e a integridade físi-
do programa de saúde ocupacional. Os programas de vacinação ca do trabalhador. A seguir, uma relação de alguns dos equipa-
devem incluir tanto os recém-contratados quanto os funcioná- mentos de proteção individual, mais usados em estabelecimen-
rios antigos. Os programas de vacinação obrigatória são mais tos de saúde, como por exemplo:
efetivos que os voluntários.
Manejo de doenças e exposições relacionadas ao trabalho: 1. Proteção à cabeça:
Fornecer profilaxia pós exposição apropriada nos casos aplicá- - Protetores faciais destinados à proteção dos olhos e da
veis (p. ex.: exposição ocupacional ao HIV), além de providenciar face contra lesões ocasionadas por partículas, respingos, vapo-
o diagnóstico e o tratamento adequados das doenças relaciona- res de produtos químicos e radiações luminosas intensas;
das ao trabalho. Estabelecer medidas para evitar a ocorrência - Óculos de segurança para trabalhos que possam causar fe-
da transmissão de infecção para outros profissionais, através do rimentos nos olhos, provenientes de impacto de partículas;
afastamento do profissional doente (p. ex.: pacientes com tu- - Óculos de segurança, contra respingos, para trabalhos que
berculose bacilífera ou varicela). possam causar irritação nos olhos e outras lesões decorrentes
Aconselhamento em saúde: Fornecer informação individu- da ação de líquidos agressivos;
alizada com relação a risco e prevenção de doenças adquiridas - Óculos de segurança para trabalhos que possam causar ir-
no ambiente hospitalar; riscos e benefícios de esquemas de pro- ritação nos olhos, provenientes de poeiras e
filaxia pós-exposição e consequências de doenças e exposições - Óculos de segurança para trabalhos que possam causar ir-
para o profissional, seus familiares e membros da comunidade. ritação nos olhos e outras lesões decorrentes da ação de radia-
Manutenção de registro, controle de dados e sigilo: A manu- ções perigosas.
tenção de registros de avaliações médicas, exames, imunizações
e profilaxias é obrigatória e permite a monitorização do estado 2. Proteção para os membros superiores:
de saúde do PAS. Devem ser mantidos registros individuais, em - Luvas e/ou mangas de proteção e/ou cremes protetores
condições que garantam a confidencialidade das informações, devem ser usados em trabalhos em que haja perigo de lesão
que não podem ser abertas ou divulgadas, exceto se requerido provocada por:
por lei. - Materiais ou objetos escoriantes, abrasivos, cortantes ou
perfurantes;
Infecção cruzada - Produtos químicos corrosivos, cáusticos, tóxicos, alergê-
É a infecção ocasionada pela transmissão de um microrga- nicos, oleosos, graxos, solventes orgânicos e derivados de pe-
nismo de um paciente para outro, geralmente pelo pessoal, am- tróleo;
biente ou um instrumento contaminado. - Materiais ou objetos aquecidos;
- Choque elétrico;
Infecção endógena - Radiações perigosas;
É um processo infeccioso decorrente da ação de microrga- - Frio;
nismos já existentes, naquela região ou tecido, de um paciente. - Agentes biológicos.
Medidas terapêuticas que reduzem a resistência do indivíduo
facilitam a multiplicação de bactéria em seu interior, por isso é 3. Proteção para os membros inferiores:
muito importante, a anti-sepsia pré-cirúrgica. - Calçados impermeáveis para trabalhos realizados em luga-
res úmidos, lamacentos ou encharcados;
Infecção exógena - Calçados impermeáveis e resistentes a agentes químicos
É aquela causada por microrganismos estranhos a paciente. agressivos;
Para impedir essa infecção, que pode ser gravíssima, os instru- - Calçados de proteção contra agentes biológicos agressivos e
mentos e demais elementos que são colocados na boca do pa- - Calçados de proteção contra riscos de origem elétrica.
ciente, devem estar estéreis. È importante, que barreiras sejam
colocadas para impedir que instrumentos estéreis sejam conta- 4. Proteção do tronco:
minados, pois não basta um determinado instrumento ter sido - Aventais, capas e outras vestimentas especiais de proteção
esterilizado, é importante que em seu manuseio até o uso ele para trabalhos em haja perigo de lesões provocadas por:
não se contamine. A infecção exógena significa um rompimen- - Riscos de origem radioativa;
to da cadeia asséptica, o que é muito grave, pois, dependendo - Riscos de origem biológica e
da natureza dos microrganismos envolvidos, a infecção exógena - Riscos de origem química.
pode ser fatal, como é o caso da AIDS, Hepatite B e C.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
5. Proteção da pele: Hospedeiro: Pacientes expostos a um mesmo agente pato-
- Cremes protetores – só poderão ser postos à venda ou uti- gênico podem desenvolver doença clínica ou simplesmente es-
lizados como EPI, mediante o Certificado de Aprovação (CA) do tabelecer uma relação comensal com o microrganismo, tornan-
Ministério do Trabalho e Emprego. do-se pacientes colonizados.
Fatores como idade, doença de base, uso de corticosterói-
6. Proteção respiratória: des, antimicrobianos ou drogas imunossupressoras e procedi-
Para exposição a agentes ambientais em concentrações pre- mentos cirúrgicos ou invasivos podem tornar os pacientes mais
judiciais à saúde do trabalhador, de acordo com os limites esta- susceptíveis às infecções.
belecidos na NR15:
- Respiradores contra poeiras, para trabalhos que impli- Precaução padrão as precauções padrão
quem produção de poeiras; São um conjunto de medidas utilizadas para diminuir os ris-
- Respiradores e máscaras de filtro químico para exposição a cos de transmissão de microrganismos nos hospitais e consti-
agentes químicos prejudiciais à saúde; tuem-se basicamente em:
- Aparelhos de isolamento (autônomo ou de adução de ar),
para locais de trabalho onde o teor de oxigênio seja inferior a Lavagem das mãos:
18% em volume. 1. Após realização de procedimentos que envolvem presen-
ça de sangue, fluidos corpóreos, secreções, excreções e itens
Precaução padrão contaminados.
A partir da epidemia de HIV/AIDS, do aparecimento de cepas 2. Após a retirada das luvas.
de bactérias multirresistentes (como o Staphylococcus aureus 3. Antes e após contato com paciente e entre um e outro
resistente à meticilina, bacilos Gramnegativos não fermentado- procedimento ou em ocasiões onde existe risco de transferência
res, Enterococcus sp. resistente à vancomicina), do ressurgimen- de patógenos para pacientes ou ambiente.
to da tuberculose na população mundial e do risco aumentado 4. Entre procedimentos no mesmo paciente quando houver
para a aquisição de microrganismos de transmissão sanguínea risco de infecção cruzada de diferentes sítios anatômicos.
(hepatite viral B e C, por exemplo) entre os profissionais de saú-
de, as normas de biossegurança e isolamento ganharam atenção OBS: O uso de sabão comum líquido é suficiente para lava-
especial. gem de rotina das mãos, exceto em situações especiais defini-
Para entender os mecanismos de disseminação de um mi- das pelas Comissões de Controle de Infecção Hospitalar - CCIH
crorganismo dentro deum hospital, é necessário que se conheça (como nos surtos ou em infecções hiperendêmicas).
pelo menos três elementos: a fonte, o mecanismo de transmis-
são e o hospedeiro susceptível. Luvas
Fonte: As fontes ou reservatórios de microrganismos, geral- - Usar luvas limpas, não estéreis, quando existir possibilida-
mente, são os profissionais de saúde, pacientes, ocasionalmente de de contato com sangue, fluidos corpóreos, secreções e ex-
visitantes, ou materiais e equipamentos infectados ou coloniza- creções, membranas mucosas, pele não íntegra e qualquer item
dos por microrganismos patogênicos. contaminado.
Transmissão: A transmissão de microrganismos em hospi- - Mudar de luvas entre duas tarefas e entre procedimentos
tais pode se dar por diferentes vias. no mesmo paciente.
Os principais mecanismos de transmissão são: - Retirar e descartar as luvas depois do uso, entre um pa-
- Transmissão aérea por gotículas: Ocorre pela dissemina- ciente e outro e antes de tocar itens não contaminados e super-
ção por gotículas maiores do que 5um. Podem ser geradas du- fícies ambientais. A lavagem das mãos após a retirada das luvas
rante tosse, espirro, conversação ou realização de diversos pro- é obrigatória.
cedimentos (broncoscopia, inalação, etc.). Por serem partículas
pesadas e não permanecerem suspensas no ar, não são neces- Máscara, protetor de olhos, protetor de face
sários sistemas especiais de circulação e purificação do ar. As - É necessário em situações nas quais possam ocorrer res-
precauções devem ser tomadas por aqueles que se aproximam a pingos e espirros de sangue ou secreções nos funcionários.
menos de 1 metro da fonte.
- Transmissão aérea por aerossol: Quando ocorre pela dis- Avental
seminação de partículas, cujo tamanho é de 5um ou menos. Tais - Usar avental limpo, não estéril, para proteger roupas e su-
partículas permanecem suspensas no ar por longos períodos e perfícies corporais sempre que houver possibilidade de ocorrer
podem ser dispersas a longas distâncias. Medidas especiais para contaminação por líquidos corporais e sangue.
se impedir a recirculação do ar contaminado e para se alcançar - Escolher o avental apropriado para atividade e a quantida-
a sua descontaminação são desejáveis. Consistem em exemplos de de fluido ou sangue encontrado.
os agentes de varicela, sarampo e tuberculose. - A retirada do avental deve ser feita o mais breve possível
- Transmissão por contato: É o modo mais comum de trans- com posterior lavagem das mãos.
missão de infecções hospitalares. Envolve o contato direto
(pessoa-pessoa) ou indireto (objetos contaminados, superfícies Equipamentos de cuidados ao paciente
ambientais, itens de uso do paciente, roupas, etc.) promovendo - Devem ser manuseados com proteção se sujos de sangue
a transferência física de microrganismos epidemiologicamente ou fluidos corpóreos, secreções e excreções e sua reutilização
importantes para um hospedeiro susceptível. em outros pacientes deve ser precedida de limpeza e ou desin-
fecção.
- Assegurar-se que os itens de uso único sejam descartados
em local apropriado.

198
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Controle ambiental Artigos não críticos
Estabelecer e garantir procedimentos de rotina adequados Os artigos destinados ao contato com a pele íntegra e tam-
para a limpeza e desinfecção das superfícies ambientais, camas, bém os que não entram em contato direto com o paciente são
equipamentos de cabeceira e outras superfícies tocadas fre- chamados artigos não-críticos e requerem limpeza ou desin-
quentemente. fecção de baixo ou médio nível, dependendo do uso a que se
destinam ou do último uso realizado. Ex. termômetro, materiais
Roupas usados em banho de leito como bacias, cuba rim, estetoscópio,
- Manipular, transportar e processar as roupas usadas, sujas roupas de cama do paciente, etc.
de sangue, fluidos corpóreos, secreções e excreções de forma
a prevenir a exposição da pele e mucosa, e a contaminação de Limpeza
roupas pessoais, evitando a transferência de microrganismos É o procedimento de remoção de sujidade e detritos para
para outros pacientes e para o ambiente. manter em estado de asseio os artigos, reduzindo a população
microbiana. Constitui o núcleo de todas as ações referentes aos
Saúde ocupacional e patógenos veiculados por sangue cuidados de higiene com os artigos hospitalares.
- Atenção com o uso, manipulação, limpeza e descarte de A limpeza deve preceder os procedimentos de desinfecção
agulhas, bisturis e outros materiais pérfuro-cortantes. Não re- ou de esterilização, pois reduz a carga microbiana através re-
tirar agulhas usadas das seringas descartáveis, não dobrá-las e moção da sujidade e da matéria orgânica presentes nos mate-
não reencapá-las. O descarte desses materiais deve ser feito em riais. O excesso de matéria orgânica aumenta não só a duração
caixas apropriadas e de paredes resistentes. do processo de esterilização, como altera os parâmetros para
- Usar dispositivos bucais, conjunto de ressuscitação e ou- este processo. Assim, é correto afirmar que a limpeza rigorosa é
tros dispositivos de ventilação quando houver necessidade de condição básica para qualquer processo de desinfecção ou este-
ressuscitação. rilização. “É possível limpar sem esterilizar, mas não é possível
Local de internação do paciente garantir a esterilização sem limpar”
A alocação do paciente é um componente importante da
precaução de isolamento. Quando possível, pacientes com mi- Esterilização
crorganismos altamente transmissíveis e/ou epidemiologica- A esterilização de materiais é a total eliminação da vida mi-
mente importantes devem ser colocados em quartos privativos crobianadestes materiais. Caracteriza-se por um processo de
com banheiro e pia próprios. destruição por meio de agentes físicos ou químicos de todas as
formas de vidas microscópica. Um objeto esterilizado, no sen-
* OBS: Quando um quarto privativo não estiver disponível, tido microbiológico, está, completamente livre de microrganis-
pacientes infectados devem ser alocados com companheiros de mos viáveis.
quarto infectados com o mesmo microrganismo e com possibili- 1. A flambagem: É a colocação de material sobre o fogo até
dade mínima de infecção. que o metal fique vermelho
Vantagem: fácil execução
Processamento de artigos hospitalares Desvantagem: Não é seguro, pode não esterilizar alguns ti-
pos de bactérias pelo baixo tempo de exposição. Estraga o ma-
Artigos terial.
A variedade de materiais utilizados nos estabelecimentos de
saúde pode ser classificada segundo riscos potenciais de trans- 2. Calor seco: Penetra nas substancias de uma forma mais
missão de infecções para os pacientes, em três categorias: críti- lenta que o calor úmido e por isso exige temperaturas mais ele-
cos, semicríticos e não críticos. vadas e tempos mais longos, para que haja uma eficaz esterili-
zação. São utilizadas as estufas. Conforme o calor gerado reco-
Artigos críticos menda-se um certo tempo: a 170 graus Celsius, são necessários
Os artigos destinados aos procedimentos invasivos em pele 60 minutos. A 120 Graus são necessárias 12 horas.
e mucosas adjacentes, nos tecidos subepiteliais e no sistema Vantagens: Não forma ferrugem, não danifica materiais.
vascular, bem como todos os que estejam diretamente conecta-
dos com este sistema, são classificados em artigos críticos. Estes Desvantagens: O material deve ser resistente a variação da
requerem esterilização. Ex. agulhas, cateteres intravenosos, ma- temperatura. Na esteriliza líquidos.
teriais de implante, etc.
3. Calor úmido
Artigos semicríticos Autoclave: É a exposição do material a vapor de água sob
Os artigos que entram em contato com a pele não íntegra, pressão, a 121ºC durante 15 min. É o processo mais usado e os
porém, restrito às camadas da pele ou com mucosas íntegras materiais devem ser embalados de forma a permitirem o conta-
são chamados de artigos semicríticos e requerem desinfecção to total do material com o vapor para permitir que a temperatu-
de médio ou de alto nível ou esterilização. Ex. cânula endotra- ra não seja inferior à desejada, permitir a penetração do vapor
queal, equipamento respiratório, espéculo vaginal, todos os ti- nos poros dos corpos porosos e impedir a formação de uma ca-
pos de sondas: sonda naso e orogástrica, vesicais, nasoenterica mada inferior mais fria. Podem ser usados autoclaves de parede
etc. simples ou de parede dupla, que permitem melhor extração do
ar e melhor secagem.
É muito usado para o vidro seco e materiais que não oxidem
com a água (os materiais termolábeis não podem ser esteriliza-
do por esta técnica). É utilizada ainda para esterilizar tecidos.

199
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Indicadores químicos: Mudam de cor consoante a tempe- Controle de qualidade
ratura. - Indicador paramétrico: Relatório emitido ao término de
- Indicadores biológicos: Tubo com suspensão de esporos de cada ciclo onde são apresentados parâmetros de controle de
bactérias resistentes que morrem quando exposto por 12 min. esterilização.
Ou mais a uma temperatura de121ºC. Após um repouso de 14h,
faz-se uma sementeira dos esporos, que deve dar negativa. - Indicador biológico: Bacillus stearothermophilus (forma
Vantagens: Fácil uso, custo acessível para grandes hospitais esporuladas mais resistente aos esterilizantes físicos químicos.)
Desvantagens: Não serve para esterilizar pós e líquidos. - Indicador químico: Marcador de concentração ótima do
peróxido no interior da câmara.
Químico - Fita indicadora: Utilizada no interior das embalagens com
- Gás óxido de etileno: O gás óxido de etileno é um produto manta de polipropileno.
altamente tóxico usado para esterilizar materiais - Fita teste: Utilizada no fechamento das embalagens.
Vantagens: Não danifica o material
Desvantagens: Danos ao meio ambiente quando manipula- Desinfecção, antissepsia e assepsia
do erroneamente, alto custo, tóxico para o manipulador, requer - Desinfecção: Processo que consiste na destruição, remo-
aeração de 48 horas. Demorado. ção ou redução dos microrganismos presentes num material ina-
nimado através do uso de agentes químicos.
- Glutaraldeído: Fornecido na forma de líquido a 25 ou 50%, A desinfecção não implica na eliminação de todos os micror-
são pouco voláteis a frio e utilizados para a desinfecção de ins- ganismos viáveis, porém elimina a potencialidade infecciosa do
trumentos médicos. Irritante das mucosas e tóxico, necessita de objeto, superfície ou local tratado.
cuidados especiais O agente empregado na desinfecção é denominado de de-
Vantagens: Facilidade de uso sinfetante.
Desvantagens: Esterilização é tempo dependente. Alérgeno, - Antissepsia: Consiste no mesmo termo usado à desinfec-
tóxico e irritante, Mycobactérias podem ser resistentes ção, só que está relacionada com substâncias aplicadas ao or-
ganismo humano, é a redução do número de microrganismos
Esterilização por plasma de peróxido de hidrogênio
viáveis na pele pelo uso de uma substancia denominada de an-
O plasma é o quarto estado da matéria. É definido como
tisséptico.
uma nuvem de elétrons, partículas neutras, produzidas a partir
- Assepsia: Conjunto de meios usados para impedir a pene-
da interação do peróxido de hidrogênio e um campo magnético.
tração de microrganismo, em local que não os tenha.
A esterilização com gás plasma combina peróxido de hidrogênio
p/gerar uma onda eletromagnética. O plasma de peróxido não
Saúde e segurança do trabalhador
oxida o material, não degrada o corte, pontas, sulcos de instru-
As doenças ocupacionais são decorrentes da exposição do
mentais cirúrgicos. Seu produto final não é tóxico, não polui o
trabalhador aos riscos da atividade que desenvolve. Podem cau-
meio ambiente e nem apresenta toxicidade para o profissional e
nem para o paciente. sar afastamentos temporários, repetitivos e até definitivos. A
maior incidência destas doenças ocorre na faixa dos 30 aos 40
- Agente esterilizante: Ampolas contendo: 1,8ml de H2O2 anos, prejudicando a produtividade do trabalhador e podendo
(água oxigenada) na forma líquida numa concentração de 58%. interromper sua carreira e desestabilizar a sua vida. As doen-
Que durante a fase da injeção passará da forma líquida para ga- ças ocupacionais são causadas ou agravadas por determinadas
sosa. atividades. A prevenção pode evitar que tanto os trabalhadores
como os empresários se prejudiquem com as consequências das
Sterrad doenças ocupacionais. A recuperação pode ser demorada e cara.
Esterilização a baixa temperatura 45ºC, é uma alternativa As possíveis causas do problema
de esterilização para materiais termo sensíveis. - Agentes físicos: ruído, temperatura, vibrações e radiações
Vantagens: rapidez, ciclo de 50’, ausência de resíduos tóxi- - Agentes químicos: utilizados nas indústrias, podem causar
cos, fácil instalação, segurança. danos à saúde.
Desvantagens: alto custo dos insumos, câmara pequena, - Agentes biológicos: microrganismos como bactérias, vírus
100 litros. e fungos.

Fases do processo Como diagnosticar o problema


1. Vácuo: Nesta fase através da bomba de vácuo, é removi- Exame físico, ocupacional e complementares, conforme cri-
do o ar de dentro da câmara de esterilização. térios médicos.
2. Injeção: Neste momento as agulhas perfuram as ampolas,
fazendo com que passem de liquido p/ gás. As doenças ocupacionais mais comuns
3. Difusão: O peróxido na forma gasosa se espalha por todo 1. Doenças das vias aéreas: Alguns exemplos são as pneu-
o material, é importante que todos os materiais estejam total- moconioses causadas pela poeira da sílica (silicose) e do asbesto
mente expostos para que o peróxido entre em contato com toda (as bestose), além da asma ocupacional. Substâncias agressivas
a superfície. inaladas no ambiente de trabalho se depositam nos pulmões,
4. Plasma: esterilização propriamente dita. provocando falta de ar, tosse, chiadeira no peito, espirros e la-
5. Ventilação: Dura 1 minuto, o ar é filtrado p/ dentro da crimejamento.
câmara do equipamento, igualando a pressão interna com a ex-
terna, possibilitando a abertura da porta. E os materiais estão
prontos!

200
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
2. Perda auditiva relacionada ao trabalho (PAIR) 6. Dor nas mãos
Diminuição gradual da audição decorrente da exposição 7. Perda dos movimentos da mão
contínua a níveis elevados de ruídos. Além da perda auditiva,
outra alterações importantes podem prejudicar a qualidade de Cuide de sua qualidade de vida, procurando manter um me-
vida do trabalhador. lhor equilíbrio entre corpo e mente. Faça exercícios físicos pelo
menos quatro vezes por semana, tenha uma dieta balanceada e
3. Intoxicações exógenas podem ser causadas por: saudável e procure formas de lazer alternativas, que amenizem
- Agrotóxicos: Os pesticidas (defensivos agrícolas) provocam o estresse do dia-a-dia.
grandes danos à saúde e ao meio ambiente.
- Chumbo (saturnismo): A exposição contínua ao chumbo, Como prevenir as doenças ocupacionais
presente em fundições e refinarias, provoca, a longo prazo, um -Conforto é essencial para a prevenção.
tipo de intoxicação que varia de intensidade de acordo com as - As operações de trabalho devem estar ao alcance das
condições do ambiente (umidade e ventilação), tempo de expo- mãos.
sição e fatores individuais (idade e condições físicas). - As máquinas devem se posicionar de forma que a pessoa
- Mercúrio (hidragirismo): O contato com a substância se dá não tenha que se curvar ou torcer o tronco para pegar ou utilizar
por meio da inalação, absorção cutânea ou via oral da substân- ferramentas com frequência.
cia; ocorre com trabalhadores que lidam com extração do mine- - A mesa deve estar posicionada de acordo com a altura de
ral ou fabricação de tintas. cada pessoa e ter espaço para a movimentação das pernas.
- Solventes orgânicos (benzenismo): Por serem tóxicos e - As cadeiras devem ter altura para que haja apoio dos pés,
agressivos, podem contaminar trabalhadores de refinarias de formato anatômico para o quadril e encosto ajustável.
petróleo e indústrias de transformação. - Pausas durante a realização das tarefas permite um alívio
para os músculos mais ativos.
4. Ler e Dort – Lesão por esforço repetitivo/distúrbio oste- - Durante estas pausas, se levante e caminhe um pouco.8
omuscular relacionado ao trabalho: Conjunto de doenças que
atingem principalmente os músculos, tendões e nervos. O pro-
blema é decorrente do trabalho com movimentos repetitivos, CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
esforço excessivo, má postura e estresse, entre outros.
Ações de enfermagem na prevenção, controle e combate à
5. Dermatoses ocupacionais: Também conhecidas como infecção hospitalar
dermatites de contato, são alterações da pele e das mucosas Infecção Hospitalar é aquela adquirida no hospital, mesmo
causadas, mantidas ou agravadas, direta ou indiretamente, por quando manifestada após a alta do paciente. Alguns autores são
determinadas atividades profissionais. São provocadas por agen- mais exigentes, incluindo também aquela que não tenha sido
tes químicos e podem ocasionar irritação ou até mesmo alergia. diagnosticada na admissão do paciente, por motivos vários,
como prolongado período de incubação ou ainda por dificulda-
6. Stresse: O estresse e o excesso de trabalho podem variar de diagnostica.
desde mudanças no humor, ansiedade, irritabilidade e descon- O Serviço de Enfermagem representa um papel relevante no
trole emocional até doenças psíquicas. controle de infecções por ser o que mais contatos mantém com
Geralmente, o estresse é causado por sobrecarga de tarefas os pacientes e por representar mais de 50% do pessoal hospita-
e ausência de pausas para descanso e exercícios físicos. Ativar lar. Colaboram também com destaque, na redução de infecções
os músculos com exercícios diários, mesmo os de relaxamento, hospitalares, os Serviços Médicos, de Limpeza, Nutrição e Die-
é um bom começo para se livrar do estresse. tética, Lavandaria e de Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento.
Durante os exercícios, inspire o ar pelo nariz e solte pela O apoio da Administração Superior do Hospital e a colaboração
boca, sentindo o oxigênio descer e o gás carbônico subir. dos demais servidores, em toda a escala hierárquica, desde o
Administrador até o Servente, fazem-se indispensáveis.
A ajuda da ergonomia Afora o esforço permanente e sistematizado de todo o pes-
Ciência que estuda as relações entre o homem, seu tra- soal hospitalar, muito do bom êxito na execução de medidas de
balho, equipamentos e meio ambiente, a Ergonomia previne prevenção e controle de infecções vai depender da planta física,
o surgimento de doenças ocupacionais durante o processo de equipamentos, instalações e da capacidade do pessoal.
produção de atividades. O objetivo é a adaptação do posto de
trabalho, instrumentos, máquinas, horários e meio ambiente Incidênca de Infecções
às exigências da função. Ela facilita o desenvolvimento e o ren- Independente do bom atendimento dos pacientes, a adoção
dimento das atividades de trabalho. Todos devem aprender a de medidas preventivas contra as infecções é dificultada pelas
identificar os sinais do próprio corpo para perceber o início de deficiências encontradas na planta física de nossos hospitais,
qualquer desconforto, procurando, assim, adaptar as técnicas tais como a localização dos ambulatórios, o controle do acesso
da ergonomia ao seu local de trabalho. de pacientes externos ao Centro Obstétrico, Centro Cirúrgico,
Sintomas mais comuns, e que requerem a procura por um Berçário, Lactário, Unidade de Queimados, etc. O número defi-
médico ciente de elevadores obriga a permissão do transporte promís-
1. Cansaço excessivo cuo de pacientes, de carros térmicos de alimentação, de roupa
2. Desconforto após a jornada de trabalho limpa e suja, de visitantes e de pessoal hospitalar. Dependências
3. Inchaço físicas com áreas deficientes dificultam a execução de técnicas
4. Formigamento dos pés e das mãos médicas e de enfermagem, assim como as grandes enfermarias
5. Sensação de choque nas mãos 8Fonte: www.scielo.br/www. pt.slideshare.net

201
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
onde a superlotação concorre para o aumento de infecções cru- Pessoal
zadas. A falta de quartos individuais, com sanitários próprios em Sabe-se que o elemento humano é a principal fonte de infec-
cada unidade de internação, não facilita a montagem de isola- ção no hospital e um “check-up” da saúde individual do pessoal
mento para pacientes portadores de doenças infecto-contagio- hospitalar, na sua admissão, é uma medida adotada pelos nos-
sas e para os suspeitos. A simples, enfatizada e indispensável la- sos hospitais, embora ainda não tenham estabelecido a freqüên-
vagem constante das mãos do pessoal hospitalar, na prevenção cia e os tipos de exames clínicos, laboratoriais, imunizações, se-
de infecções, afigura-se, às vezes, de difícil adoção pelo número gundo uma escala de prioridade e de acordo com as atividades
reduzido de lavatórios e pelo seu tipo inadequado. A localização exercidas pelo pessoal, nos mais diferentes setores do hospital.
inconveniente de certos setores que devem ser próximos entre Assim, para o pessoal que trabalha em áreas críticas como Ber-
si, como o Centro Obstétrico e Berçário à Unidade de Internação çário, Lactário, Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico, Unidade de
Obstétrica, as Salas de Operações à Unidade de Recuperação Tratamento Intensivo, Unidade de Recuperação Pós-Anestésica,
Pós-Anestésica e esta à Unidade de Tratamento Intensivo, como Pediatria, Lavandaria, Serviço de Nutrição e Dietética e Radiolo-
as construções de material de má qualidade, permitindo a infil- gia, os exames devem ser mais minuciosos e os prazos menores.
tração de água e a falta de incineradores de lixo, são critérios Houve unanimidade nos 16 hospitais quanto à exigência do
muitas vezes não observados pelos responsáveis pelas constru- exame clínico, abreugrafia e imunizações anti-variólica e anti-tí-
ções de nossos hospitais. fica, para a admissão de pessoal hospitalar.
Outros fatores contribuem para um maior índice de infec- Cada hospital deve estabelecer as prioridades e a freqüência
ção, seja pela maior exposição dos pacientes aos germes, seja dos exames que julgar necessários ao controle sanitário do seu
pela alteração de suas resistências naturais: longa permanência pessoal hospitalar, levando em consideração também as fontes
no hospital, grandes cirurgias, anestesia prolongada, deambula- de infecção identificadas e as possibilidades dos recursos mate-
ção precoce, o emprego mais freqüente de transfusões de san- riais e humanos do Serviço de Análises Clínicas. Essa medida visa
gue, o emprego de medicamentos que afetam a resposta imuno- à proteção do pessoal e dos pacientes pelo afastamento do tra-
lógica, tratamentos relaxantes musculares e hipotérmicos. balho dos portadores de infecções, aparentes ou não. O contro-
le sanitário de todo o pessoal hospitalar, após a admissão, está
Qual é o índice de infecção de nossos hospitais? por receber de nossos hospitais a atenção que merece. Apenas
Pouquíssimos hospitais estão em condições de informar seu 18,75% dos hospitais se mostram interessados em manter uma
índice de infecção já que não existe obrigatoriedade, por parte vigilância epidemiológica de seu pessoal, o que é de se lamentar.
dos médicos ou de outros profissionais da equipe de saúde, de
notificação, a um órgão central, das infecções diagnosticadas na Pacientes, familiares e visitantes
admissão e durante a permonência dos pacientes no hospital. A prevenção de propagação de infecções decorrentes dos
No nosso caso 93,75 dos hospitais não informaram seu índice pacientes, familiares e visitantes repousa na educação sanitária
de infecção. destes. A supressão do simples aperto de mãos entre pacientes,
O grupo responsável pelo controle de infecções do hospital familiares e visitantes, o sentar na cama dos pacientes, o trân-
deve elaborar os critérios pelos quais os membros da equipe de sito por outras áreas do hospital, as visitas entre os pacientes
saúde concluirão pela necessidade de isolamento do paciente, e a redução do número e a proibição de visitas de crianças me-
já que é um assunto controvertido. A elaboração do relatório nores de 12 anos e de pessoas convalescentes, são algumas das
diário do índice de infecção o que pode ficar sob a responsabi- recomendações que, por certo, concorrerão para a prevenção
lidade do médico ou da enfermeira do paciente. O registro das de infecções no ambiente hospitalar. Os pacientes devem ser
infecções hospitalares é importantíssimo para o estudo das fon- também orientados quanto às medidas de higiene e proteção
tes de infecção. que devem tomar, em relação ao contágio da doença de que é
Compreende-se que a infecção hospitalar seja indesejável portador.
por todos os responsáveis por um bom padrão de atendimento
aos pacientes internados; o que não se compreende é que os Atos cirúrgicos
casos de infecção hospitalar sejam ignorados ou mesmo nega- É comum atribuírem o aparecimento de infecção pós-opera-
dos por temor que estes fatos, dados a conhecer, desprestigiem tória a falhas na esterilização do material cirúrgico que, embora
o hospital. Tais atitudes impedem que se executem medidas de seja um fator crítico, não é o único responsável pelas infecções
isolamento, de limpeza concorrente e desinfecção terminal, de em cirurgias. Há necessidades de se investigar em qual tempo
modo a evitar a propagação de infecção, mesmo dispondo de operatório a infecção se originou, isto é, no trans-operatório, por
instalações adequadas, material necessário e de pessoal capaci- falhas no Centro Cirúrgico ou no pré e pós-operatório, por falhas
tado para o combate à infecção. nas medidas de diagnóstico, de tratameento médico e nos cuida-
dos de enfermagem executados nas unidades de internação.
Uso inadequado de antibióticos
Na literatura consultada encontra-se como uma das causas As infecções no trans-operatório podem decorrer de vários
de aumento de incidência de infecção o uso indiscriminado de fatores: falhas nas técnicas de esterilização de instrumental
antibióticos que fizeram surgir raças resistentes a esses agentes cirúrgico, roupas, outros materiais e utensílios em geral; mau
antimicrobianos entre os germes sensíveis. funcionamento dos aparelhos de esterilização; a manipulação
incorreta do material estéril; a antissepsia deficiente das mãos
Manipulação diagnostica e antebraços da equipe cirúrgica; o desconhecimento ou a dis-
A atuação do pessoal de enfermagem nas medidas diagnos- plicência na conduta e na indumentária preconizada a toda a
ticas tais como cateterismo cardíaco, arteriografias, biópsias por equipe envolvida no ato cirúrgico; dependências do Centro Ci-
punção, aspiração de líquidos (cerebral, pleural, peritonial, sino- rúrgico fora dos padrões recomendáveis e a não observância de
vial), etc quando deixa de atender os princípios de esterilização, outras normas que impeçam a contaminação dos pacientes e do
pode oferecer risco de contaminação e posterior infecção. ambiente.

202
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A avaliação bacteriológica do instrumental cirúrgico, de ou- Por desempenhar um papel importante na disseminação
tros materiais e do ambiente hospitalar deve merecer mais inte- de doenças, U. Zanon) aconselha que «as mãos do pessoal de
resse por parte do pessoal de enfermagem que, com a colabora- unidades de internação sejam testadas uma vez por mês e as
ção do Serviço de Análises Clínicas ou da Comissão de Infecção, mãos dos responsáveis pelo preparo das mamadeiras uma vez
deve fazer-se representar para o estabelecimento dos métodos por semana.
de controle bacteriológico e sua freqüência. No Lactário, as mamadeiras e os bicos devem ser testados
Não é demasiado insistir na necessidade de um maior inte- diariamente, inclusive o conteúdo da mamadeira logo após o
resse científico na avaliação bacteriológica freqüente dos veícu- seu preparo e 24 horas após a estocagem, a fim de detectar pos-
los e fômites no meio hospitalar. síveis contaminações. A água de beber deve ser fervida e exami-
nada uma vez por semana, assim como a água dos umidificado-
Tratamento res de oxigênio e a das incubadoras.
Constituem poderosas armas no combate às infecções de- Em estudo comparativo realizado por M. I. Teixeirasobre as
correntes de falhas nas unidades de internação e demais áreas condições bacteriológicas do Berçário, Centro Cirúrgico e Sala
do hospital, o ensino e a supervisão do pessoal que trabalha no de Parto, durante três meses, num hospital do Rio de Janeiro
hospital, para adoção de medidas preventivas para execução de e constatou 490 colônias no Berçário, 233 no Centro Cirúrgi-
técnicas de combate à infecção hospitalar. co e 191 na Sala de Parto. No que se relaciona com os germes
Através da leitura da anamnese completa, por ocasião da isolados em cada dependência, a situação foi desfavorável ao
admissão e da interpretação dos resultados dos exames comple- Berçário onde foram identificadas 26 amostras de Estafilococos
mentares e baseados nos critérios de infecção estabelecidos, o patogênicos (coagulase positiva), enquanto no Centro Cirúrgico
pessoal de enfermagem pode constantar pacientes infectados, foram encontradas 8 e na Sala de Parto 4.
a fim de se tomarem as medidas de isolamento, estas medidas, Dentre os setores do hospital sobresai-se o Berçário em face
aliadas à higienização completa dos pacientes na admissão, du- da alta mortalidade do recém-nascido, por causa de sua susce-
rante sua hospitalização e principalmente antes de serem le- tibilidade.
vados à cirurgia e a limpeza de sua unidade, se constituem em É insistentemente destacada na literatura a importância da
importantes medidas na redução de infecções decorrentes dos lavagem freqüente das mãos com antissépticos adequados e a
pacientes, nas unidades de internação. necessidade de comprovação científica da eficiência das rotinas
O isolamento do paciente infectado embora não deva ser e procedimentos médicos e de enfermagem sob as nossas con-
negligenciado o que se vê na maioria das vezes, em relação ao dições ambientais, humanas e materiais.
isolamento de pacientes em unidades de internação comuns, Os Serviços de Limpeza e Lavandaria são responsáveis por
são medidas que se resumem na transferência do paciente para atividades importantes na redução de infecções pela remoção
um quarto individual e na colocação do avental sobre a roupa do pó e a correta desinfecção das roupas, atividades que devem
daqueles que vão entrar em contato com o paciente. ser coordenadas por pessoas com suficiente preparo básico.
A orientação do pessoal hospitalar, no desempenho de téc- Não se estaria exigindo demasiado se o Coordenador do Serviço
nicas de limpeza, de desinfecção e de assepsia deve ser contí- de Limpeza possuísse instrução equivalente ao 1.º grau comple-
nua, formal e informal. to; conhecimentos científicos relacionados à higiene, à limpeza
Precisa ser intensificado o desenvolvimento de programas e à desinfecção; interesse em progredir na sua área de trabalho
de atualização no que concerne à prevenção, combate e con- e habilidade para treinar e supervisionar o seu pessoal. As exi-
trole de infecções hospitalares extensivos a todo o pessoal hos- gências para o cargo de Coordenador do Serviço de Lavandaria
pitalar, principalmente àqueles que mantêm contatos com os devem ser também maiores, pela importância de suas ativida-
pacientes e os seus fomites. O Serviço de Enfermagem se pre- des na segurança e bem-estar dos pacientes.
ocupa em 33,33% com a atualização dos conhecimentos de seu
pessoal no desempenho de suas atribuições, porém, necessita Comissão de Infecção
dar continuidade e realce aos conteúdos programáticos relacio- Apenas 37,50% de nossos hospitais possuem uma Comis-
nados com a prevenção de infecções e atenção de enfermagem são de Infecção ou um pessoa com atribuições definidas para
aos pacientes infectados. o controle de infecções que, além de outras responsabilidade
A maioria das infecções hospitalares é transmitida pelo tão bem enumeradas por C. G. Melo, é o órgão responsável pela
contágio direto, através de mãos contaminadas. A lavagem das indicação dos diversos produtos químicos utilizados no hospital.
mãos antes e depois de cuidar de cada paciente e às vezes no Muitos de nossos hospitais (68,75%) deixam a critério do Serviço
decurso de diversos tratamentos prestados ao mesmo paciente de Enfermagem a indicação dos antissépticos e desinfetantes e,
com emulsão detergente bacteriostática e enxutas com ar quen- para esta responsasabilidade complexa, deve preparar-se para
te ou com toalhas de papel se constitui em método eficiente estar em condições de estabelecer os critérios técnicos para a
para evitar a propagação de germes. As bactérias transientes escolha dos mesmos, realizar ou colaborar nos testes bacterio-
das mãos são facilmente eliminadas com o uso de antissépticos lógicos e na avaliação dos produtos químicos que indica para os
adequados o que não acontece com o uso do sabão comum que diversos fins no hospital.
exige uma lavagem de 5 a 10 minutos para eliminar os microor- Segundo U. Zanond os critérios técnicos para a escolha de
ganismos presentes. germicidas hospitalares são: o registro no Serviço Nacional de
Y. Hara, realizou uma pesquisa no hospital de Clínicas da Fiscalização de Medicina e Farmácia, o estudo da composição
FMUSP para comprovar a contaminação das mãos e a presença química e sua adequação às finalidades do produto e a compro-
de germes patogênicos antes e após a arrumação de camas de vação bacteriológica da atividade germicida.
pacientes ambulantes e acamados; além de germes saprófitas O pessoal de enfermagem deve usar os desinfetantes e an-
constatou a presença de Estafilococo Dourado mesmo na arru- tissépticos baseado em resultados de sua própria experiência,
mação de camas de pacientes ambulantes, onde a contaminação tendo em vista os germes responsáveis pelas infecções no hos-
foi menor do que na cama de pacientes acamados. pital onde trabalha.

203
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A criação de Comissão de Infecção é justificada e recomen- - desenvolvam cursos para o seu pessoal dando realce aos
dada, e deve constituir-se em órgão coordenador de atividades conteúdos relacionados com a atenção de enfermagem a pa-
de investigação, prevenção e controle de infecções. cientes infectados e à prevenção de infecções;
A constituição de uma Comissão de Infecção pode variar se- - se façam representar na Comissão de Infecção designan-
gundo o tamanho do hospital, não deixando, porém, de ter um do uma enfermeira, em tempo integral, como coordenadora da
representante do Serviço de Enfermagem, em tempo integral, execução de sua parte no programa de controle de infecções no
para atuar como um dos membros executivos das normas baixa- hospital;
das pela Comissão. - procurem ampliar seus conhecimentos sobre antissépticos
Reduzir infecções no hospital é um trabalho gigantesco que e desinfetantes muito especialmente quando se responsabilizar
exige a colaboração contínua e eficiente de todo o pessoal hos- pela indicação dos mesmos para os diversos fins no hospital.
pitalar
Processamento de artigos médico-hospitalares
Recomendações
Considerando a importância que tem a redução de infec- A utilização correta e mais econômica dos processos de lim-
ções nos hospitais para a diminuição do risco de morbidade e peza, desinfecção e esterilização dos materiais é norteada pela
mortalidade, do custo do tratamento e da média de permanên- classificação dos materiais, segundo o riscopotencial de infecção
cia dos pacientes nos hospitais que resulta numa maior utiliza- para o paciente.
ção de leitos hospitalares, recomenda-se que os: Para definir qual o melhor processo a ser utilizado, esses
materiais, quer sejam, instrumentais cirúrgicos, peças de equi-
I - Administradores de Hospital: pamentos, etc., são classificados em:
- Possibilitem aos Serviços do Hospital condições materiais e • Artigos não críticos: Artigos que entram em contato
humanas para a montagem de isolamento de pacientes infecta- apenas com a pele íntegra do paciente. Estes artigos devem ser
dos e suspeitos e para a adoção das demais medidas preventivas submetidos a desinfecção de baixo nível ou apenas limpeza me-
e de controle de infecções; cânica com água e sabão para remoção da matéria orgânica. Ex.
- se assessorarem de pessoal capacitado nas construções e estetoscópio, termômetro, esfigmomanômetro,etc.
reformas de hospitais a fim de que a planta física não venha a • Artigos semi-críticos: Artigos que entram em conta-
dificultar a adoção das medidas de redução de infecções; to com a pele íntegra ou com mucosas íntegras. Estes artigos
- tornem compulsória, por parte dos profissionais da equipe devem ser submetidos a desinfecção de alto nível. Ex. Equipa-
da saúde, a notificação a um órgão central das infecções hospi- mentos de anestesia gasosa, terapia respiratória, inaloterapia,
talares e não hospitalares; instrumentos de fibra óptica, etc.
- mantenham um serviço de vigilância sanitária para o pes- • Artigos críticos: Artigos que penetram a pele e muco-
soal hospitalar; sa, atingindo os tecidos subepiteliais e o sistema vascular, bem
- ofereçam ao grupo ou à pessoa responsável pelo controle como todos os que estejam diretamente conectados com este
de infecções os Serviços de Análises Clínicas para a identificação sistema. Estes artigos devem ser esterilizados. Ex. instrumental
dos agentes etiológicos; cirúrgico, cateteres cardíacos, laparoscópios, implantes, agu-
- incentivem a realização de cursos de atualização de conhe- lhas, etc.
cimentos no que concerne a prevenção e controle de infecções
para todo o pessoal que mantenha contatos diretos e indiretos Limpeza:
com os pacientes; É o processo de remoção de sujidade e/ou matéria orgânica
- estimulem os serviços Médicos, de Enfermagem, Nutrição presente nos artigos e superfícies.
e Dietética, Lavandaria, Limpeza e Auxiliares de Diagnóstico e Preconiza-se a limpeza com água e sabão, promovendo a
Tratamento a elaborarem normas para o seu pessoal referentes remoção da sujeira e do mau odor, reduzindo assim a carga mi-
à prevenção e controle de infecções; crobiana. A limpeza deve sempre preceder os processos de de-
- estabeleçam critérios mais exigentes para a indicação sinfecção ou esterilização, pois a maioria dos germicidas sofre
dos responsáveis pelos Serviços de Limpeza e de Lavandaria de inativação na presença de matéria orgânica.
modo a se ter pessoal mais qualificado para o desempenho de
atividades que muito concorrem para a redução de infecções; Métodos de limpeza:
- criem a Comissão de Infecção ou designem uma pessoa . Limpeza Manual: Executada através de fricção, com esco-
com atribuições definidas para reduzir ao mínimo as infecções vas e uso de detergente e água.
hospitalares; . Limpeza Mecânica: É realizada através de lavadoras por
- permitam a compra de antissépticos e desinfectantes uti- meio de uma ação física e química (lavadoras ultrassônicas e ter-
lizados para os diversos fins no hospital quando justificada por modesinfectadoras).
critérios técnicos.
Secagem:
II - Serviços de Enfermagem: Parte importante do processamento de artigos hospitalares.
- Valorizem e realizem, sistematicamente, avaliação bacte- Recomenda-se comumente a secagem com ar comprimido, pois
riológicas da desinfecção e esterilização do material hospitalar elimina o ambiente úmido que favorece a proliferação bacte-
assessorados por técnicos no assunto; riana.
- supervisionem o seu pessoal na desinfecção e esteriliza-
ção de material e do ambiente, no tratamento e no processo de Estocagem:
atenção de enfermagem ao paciente infectado; Deve-se evitar a estocagem de artigos já processados em
áreas próximas a pias, água ou tubo de drenagem.

204
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Descontaminação: Recomendações:
É o processo de eliminação parcial da carga microbiana de - Assegurar-se da qualidade do produto;
artigos e superfícies, tornando-os aptos para o manuseio. Após - Friccionar a superfície ou o artigo, deixar secar em ar am-
a descontaminação, deve-se seguir o processamento adequado. biente, repetir três vezes até completar o tempo de ação;
- Pode ser usado na desinfecção concorrente de superfícies
Desinfecção: entre cirurgias, exames, após uso do colchão, etc.;
É processo de destruição dos microrganismos em forma ve- - Contra-indicado em acrílico, borracha, tubos plásticos. Da-
getativa, mediante aplicação de agentes físicos ou químicos. nifica o cimento das lentes dos equipamentos;
- Agente físico:radiação ultra-violeta - Não necessita de enxagüe;
- Agente físico líquido: água em ebulição e sistemas de la- - Não necessita usar EPI.
vagem automáticas que associam calor, ação mecânica e deter-
gência Fenol sintético:
- Agente químico líquido: aldeídos (p/ artigos termo-sensí- - Desinfecção de nível intermediário e baixo. Usado para
veis), álcoois (p/ artigos e superfícies), fenol sintético (p/ artigos descontaminação ambiental incluindo bancadas de laboratórios
e superfícies) e hipoclorito de sódio (p/ artigos e superfícies)
e artigos não críticos. Tempo de exposição para superfícies e ar-
tigos é de 10 minutos.
Níveis de Desinfecção:
. Alto Nível: Destrói todas as bactérias vegetativas(porem
Recomendações:
não todos os esporos bacterianos), as microbactérias, os fungos
e os vírus.É indicada para artigos como lâminas de larigoscópio, - Contra-indicado para artigos que entram em contato com
equipamento de terapia respiratória, anestesia e endoscópio. o trato respiratório, alimentos, objetos de látex, acrílico e bor-
. Médio Nível: destruição de todas as formas bacterianas rachas
não esporuladas e vírus, inclusive o bacilo da tuberculose. Ex: - Friccionar a superfície ou o objeto imerso, com escova, es-
Cloro, álcoois, fenólicos ponja, etc., antes de iniciar o tempo de exposição;
. Baixo Nível: Destruição de bactérias na forma vegetativa - Enxagüe copioso com água potável;
mais não são capazes de destruir esporos e nem micro-bactérias - Necessita do uso de EPI – luva de borracha de cano longo,
e vírus. Ex: Quaternário de Amônia máscara de carvão, avental impermeável e óculos de proteção.

Métodos de Desinfecção Hipoclorito de sódio:


- Desinfetante dos três níveis – alto, intermediário e baixo -,
Desinfecção por meio físico líquido: conforme a concentração e tempo de exposição.
Água em ebulição: indicada na desinfecção de baixo nível ou
descontaminação de artigos termo reistentes. Tempo de expo- Recomendações:
sição 30 minutos - Usar em recipientes opacos – o produto é fotossensível.
Lavadoras automáticas térmicas: indicada para desinfecção Devem ser mantidos em vasilhames tampados devido a volati-
de alto nível de artigos termo resistentes ou para limpeza de zação do cloro.
artigos críticos antes de sofrerem o processo de esterilização. - Assegurar-se da qualidade do produto;
Podem ser associadas ao uso de detergentes enzimáticos ou de- - Descontaminação de superfícies na concentração de 0,1%
sinfetantes. Ex. artigos de inaloterapia, acessórios de respirado- (10.000 ppm) por 10 minutos;
res, material de entubação, etc. - Desinfecção de artigos:
- Alto nível: na concentração de 0,1% (1000 ppm) de20 a 60
Desinfecção por meio químico líquido: minutos
- Médio nível: na concentração de 0,1% (1000 ppm) por 10
Glutaraldeído:
minutos
Desinfecção de alto nível de artigos na concentração de 2%,
- Baixo nível: na concentração de 0,01% (100 ppm) por 10
por20 a30 minutos;
minutos
Esterilização de artigos na concentração de 2%, de8 a10 ho-
ras; - Necessita enxagüe no caso de desinfecção de alto nível.
Usar em artigos termo sensíveis (instrumental, látex e etc.); Quando não for possível o enxagüe com água estéril, deve-se
utilizar água corrente e rinsagem com álcool a 70% após seca-
Recomendações: gem;
- Ativar o produto e verificar o prazo de validade; • Necessita do uso de EPI – avental, luvas de borracha e
- Usar recipiente de vidro ou plástico fosco - produto fotos- máscara.
sensível;
-Manter em recipientes tampados; Esterilização
- Necessita de enxagüe copioso; É o processo de destruição de todas as formas de vida micro-
necessita do uso de EPI -luva de borracha de cano longo, biana (bactérias nas formas vegetativas e esporuladas, fungos e
máscara de carvão e óculos de proteção. vírus), mediante aplicação de agentes físicos e/ou químicos.

Álcoois: Testes de Validação


Desinfecção de nível intermediário de artigos não críticos, Todo processo de esterilização precisa ser validado, empre-
alguns artigos semi-críticos e superfícies, na concentração a gando-se testes físicos, químicos e biológicos, além de monito-
70%. Tempo de exposição de 10 minutos com três aplicações, rização regular durante as operações de rotina. Estes testes são
aguardando a secagem espontânea. realizados para certificar o desempenho ideal do ciclo de este-

205
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
rilização, e para determinar se as condições pré-estabelecidas Tipo de Temperatura Tempo de
foram atingidas dentro da câmara, e nos pontos mais críticos Equipamemto Exposição
da carga.
Gravitacional 132 a135°C 10 a25 min
Indicadores Químicos 121 a123°C 15 a30 min
Utilizados para detecção imediata de potenciais falhas no Pré-Vacuo 132 a135°C 03 a04 min
processo de esterilização.
• Externos: Têm objetivo único de distinguir os pacotes Calor seco: para artigos que não sejam sensíveis ao calor,
que passaram pelo ciclo de esterilização, daqueles que não pas- mas que sejam sensíveis à umidade (estufa).
saram. Apresentação na forma de tiras de papel ou fitas adesi- -Utilizados para esterilizar, pós, óleos e instrumentais;
vas com listras em diagonal, para uso em autoclaves a vapor ou - Validade: 07 dias.
a gás.
• Internos: são colocados dentro dos pacotes que são Monitorização:
posicionados em pontos críticos da câmara, onde o acesso do -. Teste Biológico: Bacillus Subtillis;
vapor é mais difícil. Devem ser usados em conjunto com termos- - Indicadores Químicos: Fitas termossensiveis.
tatos e indicadores biológicos:
• Integradores: indicadores multiparamétricos – provêm Flambagem: para uso em laboratório de microbiologia, du-
uma reação integrada de temperatura, tempo de exposição e rante a manipulação de material biológico ou transferência de
a presença do vapor. Disponíveis para processos a vapor ou a massa bacteriana, através da alça bacteriológica.
óxido de etileno.
Agentes Químicos- gasosos:
Indicadores Biológicos Para uso em materiais sensíveis ao calor e umidade.
Utilizados para monitorar as condições de esterilidade den-
tro dos pacotes-teste. Aldeídos: glutaraldeído;
- Produto de alto teor desinfetante;
Métodos de Esterilização - Utilizado em condições adequadas são esterilizantes(12hs
a 18hs);
Agentes Físicos - Limpar e secar o artigo antes de imergir na solução, para
Vapor saturado sob pressão: para artigos que não sejam evitar a diluição do produto;
sensíveis ao calor e ao vapor. É o processo de maior segurança - Preencher o interior das tubulações com seringa;
(autoclave). - Colocar data de ativação do produto;
Artigos que não sejam sensíveis ao calor e vapor; - Respeitar o prazo de validade;
- Acomodação dos artigos em cestos aramados;- Usar só - Desprezar o produto caso se observe algum tipo de maté-
80% da capacidade; ria orgânica;
- Enxaguar bem o artigo(cancerigêneo);
- Embalagens: Grau cirúrgico (de forma vertical, filme com
filme, papel com papel), papel não tecido(SMS) e campos de al- Monitorização:
godão; . Fitas reagentes ou kit liquido para acompanhar o ph da
- Validade de acordo com a embalagem e acondicionamen- solução.
to; Óxido de etileno: portaria interministerial MS/MT nº 4; D.º
- Manipular o artigo após o resfriamento. 31/07/1991 DF, regulamenta este método de esterilização, esta-
belecendo regras de instalação e manuseio com segurança devi-
Tipos: do à toxicidade do gás.
. Gravitacional: O ar é removido por gravidade; Outros princípios ativos: desde que atendam à legislação
- Processo lento e favorece a permanência de ar residual; específica. Todos os artigos;
- Pouco utilizada. - Respeitar as normas vigentes do ministério da saúde(áreas
. Pré- Vácuo: e instalações próprias devido a alta toxicicidade);
- O ar é removido pela bomba de vácuo; - Somente embalagens de grau cirúrgico;
- O vácuo pode ser obtido por meio de vácuo único e pul- - Observar rigorosamente os tempos de areação;
satil, o mais eficiente, devido a dificuldade de se obter vários - Validade de 02 anos;
níveis de vácuo em um só pulso.
Monitorização:
Monitorização: . Controle Biológico: Bacillus Subtilis hoje mais conhecido
. ControleBiológico: Bacillus Stearotermophillus; como Bacillus Atrophaeus
. Bowie Dick: Avaliação da bomba de vácuo; .Fitas Indicadoras.
. Indicador Químico:classe 1, classe, classe 3, classe 4
. Integrador Químico: classe 5 e 6 Esterilização por plasma de peróxido de hidrogênio – Ster-
Segundo recomendação da AORN (2002) rad.
O processo promove uma nuvem de reações entre íons, elé-
trons e partículas atômicas neutras (plasma). O plasma é bacte-
ricida, tuberculicida, esporicida, fungicida e viruscida.

206
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O processo inclui 5 fases: vácuo, injeção, difusão plasma e
ventilação. Cada fase é controlada e registrada pelo equipamen- VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
to (automonitorado), e em casos de qualquer desvio do espe-
rado, ocorre automática interrupção do ciclo e emissão de um A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocor-
relatório impresso sobre as causas e as ações a serem tomadas. rência de doenças em populações humanas e os fatores deter-
minantes destes padrões (Lilienfeld, 1980). Enquanto a clínica
Vantagens: aborda a doença em nível individual, a epidemiologia aborda o
-Não é tóxico ao meio ambiente. Tem como resíduos finais, processo saúde-doença em grupos de pessoas que podem variar
a água e o oxigênio; de pequenos grupos até populações inteiras. O fato de a epide-
-Ciclo total rápido (75 minutos). Não necessita de período miologia, por muitas vezes, estudar morbidade, mortalidade ou
de aeração; agravos à saúde, deve-se, simplesmente, às limitações metodo-
-Simples de instalar e operar; lógicas da definição de saúde.
-Compatível com plásticos, borrachas, metais, vidros e acrí-
licos; Usos da Epidemiologia
-Promove a esterilização em baixa temperatura – aproxima- Por algum tempo prevaleceu a ideia de que a epidemiolo-
damente 50º C; gia restringia-se ao estudo de epidemias de doenças transmissí-
- Possui indicadores químicos próprios. veis. Hoje, é reconhecido que a epidemiologia trata de qualquer
evento relacionado à saúde (ou doença) da população.
Desvantagens: Suas aplicações variam desde a descrição das condições de
-Alto custo inicial; saúde da população, da investigação dos fatores determinantes
-Necessita de embalagem específica, livre de celulose; de doenças, da avaliação do impacto das ações para alterar a
-Não processa materiais que absorvam líquidos – por exem- situação de saúde até a avaliação da utilização dos serviços de
plo, musselina, nailon, poliester e materiais que contenham fi- saúde, incluindo custos de assistência.
bras vegetais – por exemplo, algodão e papéis. Dessa forma, a epidemiologia contribui para o melhor en-
-É limitado quanto a artigos que possuam lúmen (relação tendimento da saúde da população - partindo do conhecimento
entre o diâmetro e o comprimento); dos fatores que a determinam e provendo, consequentemente,
-Não processa artigos com lúmen de fundo cego; aceita arti- subsídios para a prevenção das doenças.
gos metálicos e plásticos com lúmen de diâmetro interno acima
de0,3 cm. Artigos com diâmetro interno de 0,1 a 0,3cm necessi- Saúde e Doença
tam de adaptador próprio. O comprimento máximo aceito para Saúde e doença como um processo binário, ou seja, presen-
itens metálicos é de50 cm, e para itens plásticos de130 cm. ça/ausência, é uma forma simplista para algo bem mais comple-
- É necessário utilizar EPI – luvas de látex – ao manusear os xo. O que se encontra usualmente, na clínica diária, é um pro-
recipientes com peróxido de hidrogênio concentrado. Se houver cesso evolutivo entre saúde e doença que, dependendo de cada
contado com a pele lavar copiosamente. paciente, poderá seguir cursos diversos, sendo que nem sempre
os limites entre um e outro são precisos.
Dispensação - Regras para um Armazenamento Ideal: 1. Evolução aguda e fatal . Exemplo: estima-se que cerca de
. Limite de tráfegos de pessoas; 10% dos pacientes portadores de trombose venosa profunda
.Temperatura entre18 a 22° e a umidade de35 a 50% acabam apresentando pelo menos um episódio de tromboem-
. Prateleiras abertas; bolismo pulmonar, e que 10% desses vão ao óbito (Moser, 1990).
. O local deve ser longe de água; janelas, portas e tubulações 2. Evolução aguda, clinicamente evidente, com recuperação.
expostas; Exemplo: paciente jovem, hígido, vivendo na comunidade, com
. O material deve ser manipulado o mínimo possível; quadro viral de vias aéreas superiores e que, depois de uma se-
. Efetuar inspeção periódica dos artigos, verificando qual- mana, inicia com febre, tosse produtiva com expectoração puru-
quer anormalidade; lenta, dor ventilatória dependente e consolidação na radiografia
. Os pacotes devem atingir a temperatura ambiente antes de tórax. Após o diagnóstico de pneumonia pneumocócica e tra-
de serem transferidos para as prateleiras; tamento com beta-lactâmicos, o paciente repete a radiografia e
. Estabelecer limpeza diária e periódica; não se observa sequela alguma do processo inflamatório-infec-
. Dispor os itens de forma que facilite a localização; cioso (já que a definição de pneumonia implica recuperação do
. Liberar os lotes mais antigos antes dos mais novos; parênquima pulmonar).
. Efetuar conferências periódicas dos artigos estocados.9 3. Evolução subclínica. Exemplo: primo-infecção tuberculo-
sa: a chegada do bacilo de Koch nos alvéolos é reconhecida pelos
linfócitos T, que identificam a cápsula do bacilo como um antíge-
no e provocam uma reação específica com formação de granu-
loma; assim acontece o chamado complexo primário (lesão do
parênquima pulmonar e adenopatia). Na maioria das pessoas, a
primo-infecção tuberculosa adquire uma forma subclínica sem
que o doente sequer percebe sintomas de doença.
4. Evolução crônica progressiva com óbito em longo ou cur-
9 Fonte:https://souenfermagem.com.br/:http://hansen.bvs.ilsl.br/http://
to prazo. Exemplo: fibrose pulmonar idiopática que geralmente
www.scielo.br/https://www.msdmanuals.com/https://www.portaleducacao.
tem um curso inexorável, evoluindo para o óbito por insuficiên-
com.br/https://www.nucleodoconhecimento.com.br/http://www.bionext.com. cia respiratória e hipoxemia severa. As maiores séries da lite-
br/http://www.scielo.br ratura (Turner-Warwick, 1980) relatam uma sobrevida média,

207
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
após o surgimento dos primeiros sintomas, inferior a cinco anos, ações terciárias procura minimizar os danos já ocorridos com a
sendo que alguns pacientes evoluem para o óbito entre 6 e 12 doença. Exemplo: a bola fúngica que, usualmente é um resíduo
meses (Stack, 1972). Já a DPOC serve como exemplo de uma da tuberculose e pode provocar hemoptises severas, tem na ci-
doença com evolução progressiva e óbito em longo prazo, de- rurgia seu tratamento definitivo (Hetzel, 2001).
pendendo fundamentalmente da continuidade ou não do vício
do tabagismo. Causalidade em Epidemiologia
5. Evolução crônica com períodos assintomáticos e exacer- A teoria da multicausalidade ou multifatorialidade tem hoje
bações. Exemplo: a asma brônquica é um dos exemplos clássi- seu papel definido na gênese das doenças, em substituição à
cos, com períodos de exacerbação e períodos assintomáticos. teoria da unicausalidade que vigorou por muitos anos. A grande
Hoje, sabe-se que, apesar dessa evolução, a função pulmonar maioria das doenças advém de uma combinação de fatores que
de alguns pacientes asmáticos pode não retornar aos níveis de interagem entre si e acabam desempenhando importante papel
normalidade (Pizzichini, 2001). na determinação das mesmas. Como exemplo dessas múltiplas
Essa é a história natural das doenças, que, na ausência da causas chamadas causas contribuintes citaremos o câncer de
interferência médica, pode ser subdividida em quatro fases: pulmão. Nem todo fumante desenvolve câncer de pulmão, o que
a) Fase inicial ou de susceptibilidade. indica que há outras causas contribuindo para o aparecimento
b) Fase patológica pré-clínica. dessa doença. Estudos mostraram que, descendentes de primei-
c) Fase clínica. ro grau de fumantes com câncer de pulmão tiveram 2 a 3 vezes
d) Fase de incapacidade residual. maior chance de terem a doença do que aqueles sem a doen-
ça na família; isso indica que há uma suscetibilidade familiar
Na fase inicial, ainda não há doença, mas, sim, condições aumentada para o câncer de pulmão. Ativação dos oncogenes
que a favoreçam. Dependendo da existência de fatores de risco dominantes e inativação de oncogenes supressores ou recessi-
ou de proteção, alguns indivíduos estarão mais ou menos pro- vos são lesões que têm sido encontradas no DNA de células do
pensos a determinadas doenças do que outros. Exemplo: crian- carcinoma brônquico e que reforçam o papel de determinantes
ças que convivem com mães fumantes estão em maior risco de genéticos nesta doença (Srivastava, 1995).
hospitalizações por IRAS no primeiro ano de vida, do que filhos A determinação da causalidade passa por níveis hierárqui-
de mães não-fumantes (Macedo, 2000). Na fase patológica pré- cos distintos, sendo que alguns desses fatores causais estão
-clínica, a doença não é evidente, mas já há alterações patoló- mais próximos do que outros em relação ao desenvolvimento da
gicas, como acontece no movimento ciliar da árvore brônquica doença. Por exemplo, fatores biológicos, hereditários e socioe-
reduzido pelo fumo e contribuindo, posteriormente, para o apa- conômicos podem ser os determinantes distais da asma infantil
recimento da DPOC. A fase clínica corresponde ao período da são fatores a distância que, através de sua atuação em outros fa-
doença com sintomas. Ainda no exemplo da DPOC, a fase clínica tores, podem contribuir para o aparecimento da doença. Por ou-
varia desde os primeiros sinais da bronquite crônica como au- tro lado, alguns fatores chamados determinantes intermediários
mento de tosse e expectoração até o quadro de cor pulmonale podem sofrer tanto a influência dos determinantes distais como
crônico, na fase final da doença. estar agindo em fatores próximos à doença, como seria o caso
Por último, se a doença não evoluiu para a morte nem foi dos fatores gestacionais, ambientais, alérgicos e nutricionais na
curada, ocorrem as sequelas da mesma; ou seja, aquele paciente determinação da asma; os fatores que estão próximos à doença
que iniciou fumando, posteriormente desenvolveu um quadro os determinantes proximais, por sua vez, também podem sofrer
de DPOC, evoluiu para a insuficiência respiratória devido à hipo- a influência daqueles fatores que estão em nível hierárquico su-
xemia e passará a apresentar severa limitação funcional fase de perior (determinantes distais e intermediários) ou agirem dire-
incapacidade residual. tamente na determinação da doença. No exemplo da asma, o
Conhecendo-se e atuando-se nas diversas fases da história determinante proximal pode ser um evento infeccioso prévio.
natural da doença, poder-se-á modificar o curso da mesma; isso
envolve desde as ações de prevenção consideradas primárias Determinação de causalidade na asma brônquica.
até as terciárias, para combater a fase da incapacidade residual.
Critérios de causalidade de Hill
- Força da associação
Prevenção - Consistência
As ações primárias dirigem-se à prevenção das doenças ou - Especificidade
manutenção da saúde. Exemplo: a interrupção do fumo na gravi- - Sequência cronológica
dez seria uma importante medida de ação primária, já que mães - Efeito dose–resposta
fumantes, no estudo de coorte de Pelotas de 1993, tiveram duas - Plausibilidade biológica
vezes maior risco para terem filhos com retardo de crescimen- - Coerência
to intrauterino e baixo peso ao nascer sendo esse um dos de- - Evidências experimentais
terminantes mais importantes de mortalidade infantil (Horta, - Analogia
1997). Após a instalação do período clínico ou patológico das
doenças, as ações secundárias visam a fazê-lo regredir (cura), ou Somente os estudos experimentais estabelecem definiti-
impedir a progressão para o óbito, ou evitar o surgimento de se- vamente a causalidade, porém a maioria das associações en-
quelas. Exemplo: o tratamento com RHZ para a tuberculose pro- contradas nos estudos epidemiológicos não é causal. O Quadro
porciona cerca de 100% de cura da doença e impede sequelas mostra os nove critérios para estabelecer causalidade segundo
importantes como fibrose pulmonar, ou cronicidade da doença trabalho clássico de Sir Austin Bradford Hill.
sem resposta ao tratamento de primeira linha e a transmissão
da doença para o resto da população. A prevenção através das

208
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Força da associação e magnitude. Quanto mais elevada a o efeito dose-resposta do fumo na mortalidade por câncer de
medida de efeito, maior a plausibilidade de que a relação seja pulmão; os resultados finais desse acompanhamento revelavam
causal. Por exemplo: estudo de Malcon sobre fumo em adoles- que fumantes de 1 a 14 cigarros/dia, de 15 a 24 cigarros/dia e
centes mostrou que a força da associação entre o fumo do ado- de 25 ou mais cigarros/dia morriam 7,5 para 8 vezes mais, 14,9
lescente e a presença do fumo no grupo de amigos foi da magni- para 15 e 25,4 para 25 vezes mais do que os não-fumantes, res-
tude de 17 vezes; ou seja, adolescentes com três ou mais amigos pectivamente.
fumando têm 17 vezes maior risco para serem fumantes do que Plausibilidade biológica. A associação é consistente com ou-
aqueles sem amigos fumantes (Malcon, 2000). tros conhecimentos? É preciso alguma coerência entre o conhe-
Consistência da associação. A associação também é obser- cimento existente e os novos achados. A associação entre fumo
vada em estudos realizados em outras populações ou utilizan- passivo e câncer de pulmão é um dos exemplos da plausibilidade
do diferentes metodologias? É possível que, simplesmente por biológica. Carcinógenos do tabaco têm sido encontrados no san-
chance, tenha sido encontrada determinada associação? Se as gue e na urina de não-fumantes expostos ao fumo passivo.
associações encontradas foram consequência do acaso, estudos A associação entre o risco de câncer de pulmão em não-fu-
posteriores não deverão detectar os mesmos resultados. Exem- mantes e o número de cigarros fumados e anos de exposição
plo: a maioria, senão a totalidade dos estudos sobre câncer de do fumante é diretamente proporcional (efeito dose-resposta)
pulmão, detectou o fumo como um dos principais fatores asso- (Hirayama, 1981).
ciados a esta doença. Especificidade. A exposição está especi-
ficamente associada a um tipo de doença, e não a vários tipos Coerência. Os achados devem ser coerentes com as ten-
(esse é um critério que pode ser questionável). Exemplo: poeira dências temporais, padrões geográficos, distribuição por sexo,
da sílica e formação de múltiplos nódulos fibrosos no pulmão estudos em animais etc. Evidências experimentais. Mudanças
(silicose). na exposição resultam em mudanças na incidência de doença.
Sequência cronológica (ou temporalidade). A causa precede Exemplo: sabe-se que os alergênios inalatórios (como a poeira)
o efeito? A exposição ao fator de risco antecede o aparecimento podem ser promotores, indutores ou desencadeantes da asma;
da doença e é compatível com o respectivo período de incuba- portanto o afastamento do paciente asmático desses alergênios
ção? Nem sempre é fácil estabelecer a seqüência cronológica, é capaz de alterar a hiperresponsividade das vias aéreas (HRVA),
nos estudos realizados quando o período de latência é longo en- a incidência da doença ou a precipitação da crise.
tre a exposição e a doença. Analogia. O observado é análogo ao que se sabe sobre ou-
tra doença ou exposição. Exemplo: é bem reconhecido o fato
Critérios de causalidade de Hill de que a imunossupressão causa várias doenças; portanto ex-
- Força da associação plica-se a forte associação entre AIDS e tuberculose, já que, em
- Consistência ambas, a imunidade está diminuída.
- Especificidade Raramente é possível comprovar os nove critérios para
- Sequência cronológica uma determinada associação. A pergunta-chave nessa questão
- Efeito dose–resposta da causalidade é a seguinte: os achados encontrados indicam
- Plausibilidade biológica causalidade ou apenas associação? O critério de temporalidade,
- Coerência sem dúvida, é indispensável para a causalidade; se a causa não
- Evidências experimentais precede o efeito, a associação não é causal. Os demais critérios
- Analogia podem contribuir para a inferência da causalidade, mas não ne-
cessariamente determinam a causalidade da associação.
Exemplo: nos países desenvolvidos, a prevalência de fumo
aumentou significativamente durante a primeira metade do sé- Indicadores de Saúde
culo, mas houve um lapso de vários anos até detectar-se o au- Para que a saúde seja quantificada e para permitir compa-
mento do número de mortes por câncer de pulmão. Nos EUA, rações na população, utilizam-se os indicadores de saúde. Estes
por exemplo, o consumo médio diário de cigarros, em adultos devem refletir, com fidedignidade, o panorama da saúde popu-
jovens, aumentou de um, em 1910, para quatro, em 1930, e 10 lacional.
em 1950, sendo que o aumento da mortalidade ocorreu após É interessante observar que, apesar desses indicadores se-
várias décadas. rem chamados “Indicadores de Saúde”, muitos deles medem
Padrão semelhante vem ocorrendo na China, particular- doenças, mortes, gravidade de doenças, o que denota ser mais
mente no sexo masculino, só que com um intervalo de tempo de fácil, às vezes, medir doença do que medir saúde, como já foi
40 anos: o consumo médio diário de cigarros, nos homens, era mencionado anteriormente. Esses indicadores podem ser ex-
um em 1952, quatro em 1972, atingindo 10 em 1992. As estima- pressos em termos de frequência absoluta ou como frequência
tivas, portanto, são de que 100 milhões dos homens chineses, relativa, onde se incluem os coeficientes e índices. Os valores
hoje com idade de 0-29 anos, morrerão pelo tabaco, o que im- absolutos são os dados mais prontamente disponíveis e, fre-
plicará a três milhões de mortes, por ano, quando esses homens quentemente, usados na monitoração da ocorrência de doenças
atingirem idades mais avançadas (Liu, 1998). infecciosas; especialmente em situações de epidemia, quando
as populações envolvidas estão restritas ao tempo e a um de-
Efeito dose-resposta. O aumento da exposição causa um terminado local, pode assumir-se que a estrutura populacional
aumento do efeito? Sendo positiva essa relação, há mais um in- é estável e, assim, usar valores absolutos. Entretanto, para com-
dício do fator causal. Exemplo: os estudos prospectivos de Doll parar a frequência de uma doença entre diferentes grupos, de-
e Hill (Doll, 1994) sobre a mortalidade por câncer de pulmão e ve-se ter em conta o tamanho das populações a serem compa-
fumo, nos médicos ingleses, tiveram um seguimento de 40 anos radas com sua estrutura de idade e sexo, expressando os dados
(1951-1991). As primeiras publicações dos autores já mostravam em forma de taxas ou coeficientes.

209
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Indicadores de saúde População em risco: refere-se ao denominador da fração
- Mortalidade/sobrevivência para o cálculo do coeficiente. Nem sempre é fácil saber o núme-
- Morbidade/gravidade/incapacidade funcional ro exato desse denominador e muitas vezes recorre-se a estima-
- Nutrição/crescimento e desenvolvimento tivas no lugar de números exatos.
- Aspectos demográficos
- Condições socioeconômicas
- Saúde ambiental Morbidade
- Serviços de saúde A morbidade é um dos importantes indicadores de saúde,
sendo um dos mais citados coeficientes ao longo desse livro.
Coeficientes (ou taxas ou rates). São as medidas básicas da Muitas doenças causam importante morbidade, mas baixa mor-
ocorrência das doenças em uma determinada população e pe- talidade, como a asma. Morbidade é um termo genérico usado
ríodo. Para o cálculo dos coeficientes ou taxas, considera-se que para designar o conjunto de casos de uma dada afecção ou a
o número de casos está relacionado ao tamanho da população soma de agravos à saúde que atingem um grupo de indivíduos.
que lhes deu origem. O numerador refere-se ao número de ca- Medir morbidade nem sempre é uma tarefa fácil, pois são mui-
sos detectados que se quer estudar (por exemplo: mortes, doen- tas as limitações que contribuem para essa dificuldade.
ças, fatores de risco etc.), e o denominador refere-se a toda po-
pulação capaz de sofrer aquele evento - é a chamada população Medidas da morbidade
em risco. O denominador, portanto, reflete o número de casos Para que se possa acompanhar a morbidade na população
acrescido do número de pessoas que poderiam tornar-se casos e traçar paralelos entre a morbidade de um local em relação a
naquele período de tempo. Às vezes, dependendo do evento es- outros, é preciso que se tenha medidas-padrão de morbidade.
tudado, é preciso excluir algumas pessoas do denominador. Por As medidas de morbidade mais utilizadas são as que se seguem:
exemplo, ao calcular-se o coeficiente de mortalidade por câncer - Medida da prevalência: a prevalência (P) mede o número
de próstata, as mulheres devem ser excluídas do denominador, total de casos, episódios ou eventos existentes em um determi-
pois não estão expostas ao risco de adquirir câncer de próstata. nado ponto no tempo. O coeficiente de prevalência, portanto, é
Para uma melhor utilização desses coeficientes, é preciso o es- a relação entre o número de casos existentes de uma determi-
clarecimento de alguns pontos: nada doença e o número de pessoas na população, em um de-
- Escolha da constante (denominador). terminado período. Esse coeficiente pode ser multiplicado por
- Intervalo de tempo. uma constante, pois, assim, torna-se um número inteiro fácil
- Estabilidade dos coeficientes. de interpretar (essa constante pode ser 100, 1.000 ou 10.000).
- População em risco. O termo prevalência refere-se à prevalência pontual ou instan-
tânea. Isso quer dizer que, naquele particular ponto do tempo
Escolha da constante: a escolha de uma constante serve (dia, semana, mês ou ano da coleta, por exemplo), a frequência
para evitar que o resultado seja expresso por um número de- da doença medida foi de 10%, por exemplo. Na interpretação
cimal de difícil leitura (por exemplo: 0,0003); portanto faz-se a da medida da prevalência, deve ser lembrado que a mesma de-
multiplicação da fração por uma constante (100, 1.000, 10.000, pende do número de pessoas que desenvolveram a doença no
100.000). A decisão sobre qual constante deve ser utilizada é passado e continuam doentes no presente. Assim, como já foi
arbitrária, pois depende da grandeza dos números decimais; descrito no início do capítulo, o denominador é a população em
entretanto, para muitos dos indicadores, essa constante já está risco.
uniformizada. Por exemplo: para os coeficientes de mortalidade
infantil utiliza-se sempre a constante de 1.000 nascidos vivos. Por exemplo, em uma população estudada de 1.053 adultos
da zona urbana de Pelotas, em 1991, detectaram-se 135 casos
Intervalo de tempo: é preciso especificar o tempo a que se de bronquite crônica; portanto, a prevalência de bronquite crô-
referem os coeficientes estudados. Nas estatísticas vitais, esse nica, seguindo a equação abaixo, foi de (Menezes, 1994):
tempo é geralmente de um ano. Para a vigilância epidemiológica
(verificação contínua dos fatores que determinam a ocorrência Medida da incidência: a incidência mede o número de casos
e a distribuição da doença e condições de saúde), pode decidir- novos de uma doença, episódios ou eventos na população den-
-se por um período bem mais curto, dependendo do objetivo do tro de um período definido de tempo (dia, semana, mês, ano); é
estudo. um dos melhores indicadores para avaliar se uma condição está
diminuindo, aumentando ou permanecendo estável, pois indica
Estabilidade dos coeficientes: quando se calcula um coe- o número de pessoas da população que passou de um estado de
ficiente para tempos curtos ou para populações reduzidas, os não-doente para doente. O coeficiente de incidência é a razão
coeficientes podem tornar-se imprecisos e não ser tão fidedig- entre o número de casos novos de uma doença que ocorre em
nos. Gutierrez, no capítulo da epidemiologia da tuberculose, uma comunidade, em um intervalo de tempo determinado, e a
exemplifica de que forma o coeficiente de incidência para tu- população exposta ao risco de adquirir essa doença no mesmo
berculose pode variar, conforme o tamanho da população. Para período. A multiplicação por uma constante tem a mesma fina-
contornar esse problema, é possível aumentar o período de ob- lidade descrita acima para o coeficiente de prevalência. A inci-
servação (por exemplo, ao invés de observar o evento por um dência é útil para medir a frequência de doenças com uma dura-
ano, observá-lo por dois ou três anos), aumentar o tamanho da ção média curta, como, por exemplo, a pneumonia, ou doença
amostra (observar uma população maior) ou utilizar números de duração longa. A incidência pode ser cumulativa (acumulada)
absolutos no lugar de coeficientes. ou densidade de incidência.

210
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Incidência Cumulativa (IC). Refere-se à população fixa, onde Coeficiente de mortalidade específico por doenças respira-
não há entrada de novos casos naquele determinando período. tórias. É possível obterem-se os coeficientes específicos por de-
Por exemplo: em um grupo de trabalhadores expostos ao asbes- terminada causa, como, por exemplo, o coeficiente por causas
to, alguns desenvolveram câncer de pulmão em um período de externas, por doenças infecciosas, por neoplasias, por AIDS, por
tempo especificado. No denominador do cálculo da incidência tuberculose, dentre outros. Da mesma forma, pode-se calcular
cumulativa, estão incluídos aqueles que, no início do período, os coeficientes conforme a idade e o sexo. Estes coeficientes
não tinham a doença. podem fornecer importantes dados sobre a saúde de um país,
e, ao mesmo, tempo fornecer subsídios para políticas de saúde.
Exemplo: 50 pessoas adquiriram câncer de pulmão do gru- Exemplo: o coeficiente de mortalidade por tuberculose no RS foi
po dos 150 trabalhadores expostos ao asbesto durante um ano. de 51,5 por 100.000 habitantes.
Incidência cumulativa = 50/150 = 0,3 = 30 casos novos por 100 O coeficiente de mortalidade infantil refere-se ao óbito de
habitantes em 1 ano. crianças menores de um ano e é um dos mais importantes indi-
A incidência cumulativa é uma proporção, podendo ser ex- cadores de saúde.O coeficiente de mortalidade perinatal com-
pressa como percentual ou por 1.000, 10.000 etc. (o numerador preende os óbitos fetais (a partir de 28 semanas de gestação)
está incluído no denominador). A IC é a melhor medida para fa- mais os neonatais precoces (óbitos de crianças de até seis dias
zer prognósticos em nível individual, pois indica a probabilidade de vida). Outro importante indicador de saúde que vem sendo
de desenvolver uma doença dentro de um determinado período. bastante utilizado, nos últimos anos, é o coeficiente de mortali-
dade materna, que diz respeito aos óbitos por causas gestacio-
Densidade de Incidência (DI). A densidade de incidência é nais (Estatísticas de Saúde).
uma medida de velocidade (ou densidade). Seu denominador é Letalidade
expresso em população-tempo em risco. O denominador dimi- A letalidade refere-se à incidência de mortes entre portado-
nui à medida que as pessoas, inicialmente em risco, morrem ou res de uma determinada doença, em um certo período de tem-
adoecem (o que não acontece com a incidência cumulativa). po, dividida pela população de doentes. É importante lembrar
que, na letalidade, o denominador é o número de doentes.
Relação entre incidência e prevalência
A prevalência de uma doença depende da incidência da Padronização dos coeficientes
mesma (quanto maior for a ocorrência de casos novos, maior Como, na maioria das vezes, a incidência ou prevalência de
será o número de casos existentes), como também da duração uma doença varia com o sexo e o grupo etário, a comparação
da doença. A mudança da prevalência pode ser afetada tanto das taxas brutas de duas ou mais populações só faz sentido se a
pela velocidade da incidência como pela modificação da dura- distribuição por sexo e idade das mesmas for bastante próxima.
ção da doença. Esta, por sua vez, depende do tempo de cura da Sendo essa uma situação absolutamente excepcional, o pesqui-
doença ou da sobrevivência. sador frequentemente vê-se obrigado a recorrer a uma padroni-
A relação entre incidência e prevalência segue a seguinte zação (ou ajustamento), a fim de eliminar os efeitos da estrutura
fórmula (Vaughan, 1992): etária ou do sexo sobre as taxas a serem analisadas.
Para um melhor entendimento, examinemos, por exem-
Prevalência = Incidência X Duração Média da Doença plo, os índices de mortalidade da França e do México. Caso a
análise limite-se à comparação das taxas brutas - 368 e 95 por
Mortalidade 100.000 habitantes/ano, respectivamente, pode parecer que há
O número de óbitos (assim como o número de nascimentos) uma grande diferença entre os padrões de mortalidade dos dois
é uma importante fonte para avaliar as condições de saúde da países. Entretanto, ao considerar-se a grande diferença na distri-
população. buição etária dos mesmos, com o predomínio no México de gru-
pos com menor idade, torna-se imprescindível a padronização.
Medidas de Mortalidade. Os coeficientes de mortalidade Uma vez efetuada a padronização por idade, o contraste entre
são os mais tradicionais indicadores de saúde. os dois países desaparece, resultando taxas de 164 e 163 por
Principais coeficientes de mortalidade: 100.000 habitantes/ano, respectivamente.
- Coeficiente de mortalidade geral Esses índices ajustados são na verdade fictícios, prestando-
- Coeficiente de mortalidade infantil -se somente para fins de comparação. Há duas maneiras de rea-
- Coeficiente de mortalidade neonatal precoce lizar-se a padronização.
- Coeficiente de mortalidade neonatal tardia
- Coeficiente de mortalidade perinatal Método direto: este método exige uma população padrão
- Coeficiente de mortalidade materna que poderá ser a soma de duas populações a serem comparadas
- Coeficiente de mortalidade específico por doença (A e B) ou uma população padrão. É obtido multiplicando-se a
distribuição da população padrão conforme a idade pelos coefi-
Coeficiente de mortalidade geral. Obtido pela divisão do cientes de mortalidade (por exemplo) de cada uma das popula-
número total de óbitos por todas as causas em um ano pelo nú- ções a serem estudadas (A e B).
mero da população naquele ano, multiplicado por 1.000. Exem-
plo: no RS, houve 63.961 óbitos e a população estimada era de Método indireto: utiliza-se o método indireto quando os
9.762.110; portanto o coeficiente de mortalidade geral para o coeficientes específicos por idade da população que se quer
estado, foi de 6,55 (Estatísticas de Saúde). estudar não são conhecidos, embora se saiba o número total
de óbitos. Empregando-se uma segunda população (padrão) -
semelhante à população que se quer estudar - cujos coeficien-
tes sejam conhecidos, multiplica-se o coeficiente por idades da

211
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
população padrão pelo número de óbitos de cada categoria de do estudo transversal é que a prevalência da doença deverá ser
idade, chegando, assim, ao número de mortes que seria espera- maior entre os expostos do que entre os não-expostos, se for
do na população que está sendo estudada. O número total de verdade que aquele fator de risco causa a doença.
mortes esperado dessa população é confrontado com o número As vantagens do estudo transversal são a rapidez, o baixo
de mortes efetivamente ocorridas nessa população, resultando custo, a identificação de casos e a detecção de grupos de risco.
no que se convencionou chamar de razão padronizada de mor- Entretanto algumas limitações existem, como, por exemplo, a da
talidade (RPM). causalidade reversa – exposição e desfecho são coletados simul-
Rpm = Óbitos Observados/Óbitos Esperados taneamente e frequentemente não se sabe qual deles precedeu
o outro. Nesse tipo de estudo, episódios de doença com lon-
A RPM maior ou menor do que um indica que ocorreram ga duração estão sobre-representados e doenças com duração
mais ou menos mortes do que o esperado, respectivamente. Re- curta estão sub-representadas (o chamado viés de sobrevivên-
sumindo, as taxas brutas são facilmente calculadas e rapidamen- cia). Outra desvantagem é que se a prevalência da doença a ser
te disponíveis; entretanto são medidas difíceis de interpretar e avaliada for muito baixa, o número de pessoas a ser estudado
de serem comparadas com outras populações, pois dependem precisará ser grande.
das variações na composição da população. Taxas ajustadas mi- O meio ambiente é o local onde se desenvolve a vida na
nimizam essas limitações, entretanto são fictícias e sua magnitu- terra, ou seja, é a natureza com todos os seres vivos e não vivos
de depende da população selecionada. que nela habitam e interagem.
Em resumo, o meio ambiente engloba todos os elementos
Tipologia dos Estudos Epidemiológicos vivos e não-vivos que estão relacionados com a vida na Terra. É
Os estudos epidemiológicos constituem um ótimo método tudo aquilo que nos cerca, como a água, o solo, a vegetação, o
para colher informações adicionais não-disponíveis a partir dos clima, os animais, os seres humanos, dentre outros.
sistemas rotineiros de informação de saúde ou de vigilância. Os
estudos descritivos são aqueles em que o observador descreve Cadastramento das famílias
as características de uma determinada amostra, não sendo de A etapa inicial de seu trabalho é o cadastramento das famí-
grande utilidade para estudar etiologia de doenças ou eficácia lias de sua micro área – o seu território de atuação – com, no
de um tratamento, porque não há um grupo-controle para per- máximo, 750 pessoas. Para realizar o cadastramento, é necessá-
mitir inferências causais. Como exemplo podem ser citadas as rio o preenchimento de fichas específicas.
séries de casos em que as características de um grupo de pa-
cientes são descritas. Entretanto os estudos descritivos têm a Conhecer o número de pessoas da comunidade por faixa
vantagem de ser rápidos e de baixo custo, sendo muitas vezes etária e sexo é importante, pois há doenças que acometem mais
o ponto de partida para um outro tipo de estudo epidemiológi- crianças do que adultos ou mais mulheres que homens, o que
co. Sua grande limitação é o fato de não haver um grupo-con- influenciará no planejamento da equipe.
trole, o que impossibilita seus achados serem comparados com O cadastro possibilita o conhecimento das reais condições
os de uma outra população. É possível que alguns desses acha- de vida das famílias residentes na área de atuação da equipe,
dos aconteçam simplesmente por chance e, portanto, também tais como a composição familiar, a existência de população indí-
aconteceriam no grupo-controle. gena, quilombola ou assentada, a escolaridade, o acesso ao sa-
Já os estudos analíticos pressupõem a existência de um gru- neamento básico, o número de pessoas por sexo e idade, as con-
po de referência, o que permite estabelecer comparações. Estes, dições da habitação, o desemprego, as doenças referidas etc.
por sua vez, de acordo com o papel do pesquisador, podem ser: É importante identificar os diversos estabelecimentos e
- Experimentais (serão discutidos no capítulo epidemiologia instituições existentes no território, como escolas, creches, co-
clínica). mércio, praças, instituições de longa permanência (ILP), igrejas,
- Observacionais. templos, cemitério, depósitos de lixo/aterros sanitários etc.
Para melhor desenvolver seu trabalho com essa população
Nos estudos observacionais, a alocação de uma determina- indígena, você pode buscar apoio técnico e articulação junto à
da exposição está fora do controle do pesquisador (por exem- sede do Distrito Sanitário Especial Indígena de sua cidade, se
plo, exposição à fumaça do cigarro ou ao asbesto). Eles com- houver. Você também pode verificar se na secretaria de saúde
preendem: existe alguma equipe ou setor que trate das questões de saú-
- Estudo transversal. de dessa população e solicitar mais orientações. Caso trabalhe
- Estudo de coorte. numa área rural ou próximo a aldeias indígenas, você deve bus-
- Estudo de caso-controle. car informação sobre a existência de equipe multidisciplinar de
- Estudo ecológico. saúde indígena, incluído o agente indígena de saúde. Procurar
essas pessoas para uma conversa pode ser muito importante e
A seguir, cada um desses estudos serão abordados nos seus esclarecedor.
principais pontos.
A Portaria GM nº 971/2006 cria a Política Nacional de Prá-
Estudo Transversal (Cross-Sectional) ticas Integrativas e Complementares no SUS, que inclui atendi-
É um tipo de estudo que examina as pessoas em um deter- mento gratuito em serviços de fitoterapia, acupuntura, plantas
minado momento, fornecendo dados de prevalência; aplica-se, medicinais, homeopatia.
particularmente, a doenças comuns e de duração relativamente Dessa forma, é importante saber se existem esses serviços
longa. Envolve um grupo de pessoas expostas e não expostas a na sua região.
determinados fatores de risco, sendo que algumas dessas apre- Acupuntura é uma forma de cuidar das pessoas na Medicina
sentarão o desfecho a ser estudado e outras não. A ideia central Tradicional Chinesa (MTC).

212
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Pode ser usada isoladamente ou integrada com outros re- A equipe identificou os fatores de risco e constatou que os
cursos terapêuticos, como as práticas corporais. casos de diarreia estavam relacionados aos hábitos de vida da-
As práticas corporais são práticas/ações que favorecem a quelas pessoas.
promoção e recuperação da saúde e a prevenção de doenças. Observa-se que um mesmo problema de saúde pode estar
Como exemplos, podemos citar o Tai-chi chuan, o Chi gong e o relacionado a diferentes causas e que o olhar dos diversos mem-
Lian gong. bros da equipe pode contribuir para a resolução do problema.
Homeopatia é um sistema médico de base vitalista* criado O território é a base do trabalho do ACS. Território, segundo
pelo médico alemão Samuel Hahnemann, que consiste em tratar a lógica da saúde, não é apenas um espaço delimitado geografi-
as doenças por meio de substâncias ministradas em doses diluí- camente, mas sim um espaço onde as pessoas vivem, estabele-
das, os medicamentos homeopáticos. cem relações sociais, trabalham, cultivam suas crenças e cultura.
Trabalhar com território implica processo de coleta e sis-
*O vitalismo é a posição filosófica caracterizada por postu- tematização de dados demográficos, socioeconômicos, político
lar a existência de uma força ou impulso vital sem a qual a vida culturais, epidemiológicos e sanitários, identificados por meio
não poderia ser explicada. do cadastramento, que devem ser interpretados e atualizados
periodicamente pela equipe.
Ao identificar a população indígena, o ACS deve levar em
consideração que, mesmo residindo no espaço urbano ou rural, Mapeamento da área de atuação
longe de sua aldeia de origem ou em aldeamento não reconhe- Trabalhar com mapas é uma forma de retratar e aumentar
cido oficialmente, o indígena possui o direito de ser acompanha- conhecimentos sobre a sua comunidade. O mapa é um desenho
do, respeitando-se as diferenças culturais. que representa no papel o que existe naquela localidade: ruas,
É necessário considerar que o indígena nem sempre tem casas, escolas, serviços de saúde, pontes, córregos e outras coi-
domínio da língua portuguesa, podendo entender algumas pa- sas importantes. O mapa deve ser uma ferramenta indispensá-
lavras em português, sem compreender a informação, a explica- vel para seu trabalho. É o desenho de toda sua área/território
ção dada ou mesmo a pergunta realizada. É importante observar de atuação.
e tentar perceber se estão entendendo e o que estão entenden- Você não precisa ser bom desenhista. Você pode represen-
do, cuidando para não constrangê-los. O esforço de comunica- tar o que existe com símbolos bem fáceis de desenhar, utilizan-
ção deve ser mútuo de modo a promover o diálogo. do sua criatividade. É interessante que toda a equipe, de pre-
Ainda como informações importantes para o diagnóstico da ferência, o ajude nesse processo. Isso estimula que a equipe se
comunidade, vale destacar a necessidade de identificar outros conheça melhor e troque informações para o planejamento das
locais onde os moradores costumam ir para resolver seus pro- ações de saúde.
blemas de saúde, como casa de benzedeiras ou rezadores, rai- A comunidade também pode ajudá-lo, contribuindo com
zeiros ou pessoas que são conhecidas por saberem orientar so- sugestões para corrigir e acrescentar, de modo que no final se
bre nomes de remédio para algumas doenças, bem como saber tenha uma boa ideia de como é aquela comunidade. O mapa vai
se procuram serviços (pronto-socorro, hospitais etc.) situados ajudar você a organizar melhor o seu trabalho.
fora de sua área de moradia ou fora do seu município. Também Agora, pense na sua comunidade e faça uma lista de coi-
é importante você saber se as pessoas costumam usar remédios sas que são importantes para a vida comunitária, baseada em
caseiros, chás, plantas medicinais, fitoterapia e/ou se utilizam seu contato com ela. Por exemplo: postos de saúde, centros
práticas complementares como a homeopatia e acupuntura. de saúde, hospitais, escolas, igrejas, centros religiosos, postos
Você deve saber se existe disponível na região algum tipo de policiais, quadras de esporte, campo de futebol, identificando
serviço de saúde que utilize essas práticas. espaços que possibilitam/dificultam o acesso de pessoas com
Ao realizar o cadastramento e identificar os principais pro- deficiências. Escreva também outros lugares com seus respec-
blemas de saúde, seu trabalho contribui para que os serviços tivos nomes: ruas, córregos, rios, cartório, correio, parada de
possam oferecer uma atenção mais voltada para a família, de ônibus, casa da parteira, da benzedeira e outras coisas que você
acordo com a realidade e os problemas de cada comunidade. se lembrar.
Os dados desse cadastramento devem ser de conhecimento O conjunto dos mapas feito pelos ACS formará um grande
de toda a equipe de saúde. mapa da área de atuação da equipe de Saúde da Família (ESF).
Esse mapa mais abrangente, feito com todas as informações
Os profissionais devem atuar de forma integrada, discutindo sobre sua área, pode dar origem a outros mais específicos.
e analisando em conjunto as situações identificadas. Como exemplos:
Tão importante quanto fazer o cadastramento da população Podemos ter mapas de territórios feitos manualmente com
é mantê-lo atualizado. auxílio da comunidade e fotos de territórios utilizando recursos
de informática ou internet.
Dando um exemplo Podem-se destacar as informações das ruas, caminhos e as
Em uma comunidade, muitos casos de diarreia começaram linhas de ônibus de uma comunidade, desenhando um mapa es-
a acontecer. As pessoas procuravam o posto de saúde ou iam pecífico. Em uma região que chove muito, é importante conhe-
direto ao hospital para se tratar. Eram medicadas, mas pouco cer bem os rios, açudes, lagos, lagoas da região e locais propen-
tempo depois estavam doentes de novo. Essa situação alertou a sos à inundação.
equipe de que algo não estava bem. É necessário que você identifique no território de sua equi-
O ACS, por meio das visitas domiciliares, observou a existên- pe quais os riscos de sua micro área.
cia de esgoto a céu aberto próximo a tubulações de água. Como já foi dito anteriormente, o mapa retrata o território
Além disso, as pessoas daquela comunidade costumavam onde acontecem mudanças, portanto, ele é dinâmico e deve ser
não proteger adequadamente suas caixas d’água. constantemente atualizado.

213
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Você deve sempre ter a cópia do seu mapa para facilitar o A Vigilância em Saúde, entendida como uma forma de pensar
acompanhamento das mudanças na sua comunidade. e agir, tem como objetivo a análise permanente da situação de
Com o mapa, você pode: saúde da população e a organização e execução de práticas de
- Conhecer os caminhos mais fáceis para chegar a todos os saúde adequadas ao enfrentamento dos problemas existentes.
locais; É composta pelas ações de vigilância, promoção, prevenção
- Marcar as barreiras geográficas que dificultam o caminho e controle de doenças e agravos à saúde, devendo constituir-se
das pessoas até os serviços de saúde (rios, morros, mata cerrada em um espaço de articulação de conhecimentos e técnicas vin-
etc.); dos da epidemiologia, do planejamento e das ciências sociais, é,
- Conhecer a realidade da comunidade e planejar como re- pois, referencial para mudanças do modelo de atenção. Deve es-
solver os problemas de saúde com mais eficácia; tar inserida cotidianamente na prática das equipes de saúde de
- Planejar as visitas de cada dia sem perder tempo; Atenção Básica. As equipes Saúde da Família, a partir das ferra-
- Marcar as micro áreas de risco; mentas da vigilância, desenvolvem habilidades de programação
- Identificar com símbolos situação de risco; e planejamento, de maneira a organizar ações programadas e de
- Identificar com símbolos os grupos prioritários: gestantes, atenção a demanda espontânea, que garantam o acesso da po-
idosos, hipertensos, diabéticos, pessoas acamadas, crianças me- pulação em diferentes atividades e ações de saúde e, desta ma-
nores de cinco anos, pessoas com deficiência, usuário de drogas, neira, gradativamente impacta sobre os principais indicadores
pessoas com hanseníase, pessoas com tuberculose etc. de saúde, mudando a qualidade de vida daquela comunidade.
O conceito de Vigilância em Saúde inclui: a vigilância e con-
O seu mapa, juntamente com as informações coletadas no trole das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e agra-
cadastramento das famílias, vai ajudar toda a equipe no diag- vos não transmissíveis; a vigilância da situação de saúde, vigilân-
nóstico de saúde da área. cia ambiental em saúde, vigilância da saúde do trabalhador e a
Entende-se por micro áreas de risco aqueles espaços dentro vigilância sanitária.
de um território que apresentam condições mais favoráveis ao Este conceito procura simbolizar, na própria mudança de
aparecimento de doenças e acidentes. Por exemplo: área mais denominação, uma nova abordagem, mais ampla do que a tradi-
propensa à inundação, áreas próximas de barreiras ou encostas, cional prática de vigilância epidemiológica, tal como foi efetiva-
áreas com esgoto a céu aberto e sem água tratada, áreas com mente constituída no país, desde a década de 70. Em um grande
maior incidência de crimes e acidentes. número de doenças transmissíveis, para as quais se dispõe de
instrumentos eficazes de prevenção e controle, o Brasil tem co-
lecionado êxitos importantes.
Esse grupo de doenças encontra-se em franco declínio, com
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
reduções drásticas de incidência. Entretanto, algumas dessas
doenças apresentam quadro de persistência, ou de redução,
1. Vigilância em Saúde ainda recente, configurando uma agenda inconclusa nessa área,
A Atenção Básica (AB), como primeiro nível de atenção do sendo necessário o fortalecimento das novas estratégias, recen-
Sistema Único de Saúde (SUS), caracteriza-se por um conjunto temente adotadas, que obrigatoriamente impõem uma maior
de ações no âmbito individual e coletivo, que abrange a promo- integração entre as áreas de prevenção e controle e à rede assis-
ção e proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, tencial. Um importante foco da ação de controle desses agravos
o tratamento, a reabilitação e visa à manutenção da saúde. Deve está voltado para o diagnóstico e tratamento das pessoas doen-
ser desenvolvida por equipes multiprofissionais, de maneira a tes, visando à interrupção da cadeia de transmissão, onde gran-
desenvolver responsabilidade sanitária sobre as diferentes co- de parte das ações encontra-se no âmbito da Atenção Básica/
munidades adscritas à territórios bem delimitados, deve consi- Saúde da Família. Além da necessidade de promover ações de
derar suas características sócio-culturais e dinamicidade e, de prevenção e controle das doenças transmissíveis, que mantém
maneira programada, organizar atividades voltadas ao cuidado importante magnitude e/ou transcendência em nosso país, é ne-
longitudinal das famílias da comunidade. cessário ampliar a capacidade de atuação para novas situações
A Saúde da Família é a estratégia para organização da Aten- que se colocam sob a forma de surtos ou devido ao surgimento
ção Básica no SUS. de doenças inusitadas. Para o desenvolvimento da prevenção e
Propõe a reorganização das práticas de saúde que leve em do controle, em face dessa complexa situação epidemiológica,
conta a necessidade de adequar as ações e serviços à realidade têm sido fortalecidas estratégias específicas para detecção e
da população em cada unidade territorial, definida em função resposta às emergências epidemiológicas.
das características sociais, epidemiológicas e sanitárias. Busca Outro ponto importante está relacionado às profundas
uma prática de saúde que garanta a promoção à saúde, à conti- mudanças nos perfis epidemiológicos das populações ao longo
nuidade do cuidado, a integralidade da atenção, a prevenção e, das últimas décadas, nos quais se observa declínio das taxas de
em especial, a responsabilização pela saúde da população, com mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e crescente
ações permanentes de vigilância em saúde. aumento das mortes por causas externas e pelas doenças crô-
Na Saúde da Família, os profissionais realizam o cadastra- nico-degenerativas, levando a discussão da incorporação das
mento domiciliar, diagnóstico situacional e ações dirigidas à doenças e agravos não-transmissíveis ao escopo das atividades
solução dos problemas de saúde, de maneira pactuada com a da vigilância epidemiológica.
comunidade, buscando o cuidado dos indivíduos e das famílias. Vigilância Epidemiológica é um “conjunto de ações que pro-
A atuação desses profissionais não está limitada à ação dentro porciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer
da Unidade Básica de Saúde (UBS), ela ocorre também nos domi- mudança nos fatores determinantes e condicionantes da saúde
cílios e nos demais espaços comunitários (escolas, associações, individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar
entre outros). as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”.

214
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O propósito da Vigilância Epidemiológica é fornecer orien- (1) assistência ao trabalhador vítima de acidentes de traba-
tação técnica permanente para os que têm a responsabilidade lho ou portador de doença profissional e do trabalho;
de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e (2) participação em estudos, pesquisas, avaliação e controle
agravos. Sua operacionalização compreende um ciclo completo dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo
de funções específicas e articuladas, que devem ser desenvolvi- de trabalho;
das de modo contínuo, permitindo conhecer, a cada momento, (3) informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade
o comportamento epidemiológico da doença ou agravo escolhi- sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho,
do como alvo das ações, para que as intervenções pertinentes doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de
possam ser desencadeadas com oportunidade e efetividade. fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de ad-
Tem como função coleta e processamento de dados; análise missão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da
e interpretação dos dados processados; investigação epidemio- ética profissional.
lógica de casos e surtos; recomendação e promoção das medi-
das de controle adotadas, impacto obtido, formas de prevenção Outro aspecto fundamental da vigilância em saúde é o cui-
de doenças, dentre outras. dado integral à saúde das pessoas por meio da Promoção da
Corresponde à vigilância das doenças transmissíveis (doen- Saúde. A Promoção da Saúde é compreendida como estratégia
ça clinicamente manifesta, do homem ou dos animais, resultan- de articulação transversal, à qual incorpora outros fatores que
te de uma infecção) e das doenças e agravos não transmissíveis colocam a saúde da população em risco trazendo à tona as di-
(não resultante de infecção). É na Atenção Básica / Saúde da ferenças entre necessidades, territórios e culturas presentes no
Família o local privilegiado para o desenvolvimento da vigilância país. Visa criar mecanismos que reduzam as situações de vulne-
epidemiológica. A Vigilância da Situação de Saúde desenvolve rabilidade, defendam a equidade e incorporem a participação e
ações de monitoramento contínuo do país/estado/região/mu- o controle social na gestão das políticas públicas.
nicípio/equipes, por meio de estudos e análises que revelem Nesse sentido, a Política Nacional de Promoção da Saúde
o comportamento dos principais indicadores de saúde, dando prevê que a organização da atenção e do cuidado deve envolver
prioridade a questões relevantes e contribuindo para um plane- ações e serviços que operem sobre os determinantes do adoe-
jamento de saúde mais abrangente. cer e que vão além dos muros das unidades de saúde e do pró-
As ações de Vigilância em Saúde Ambiental, estruturadas a prio sistema de saúde. O objetivo dessa política é promover a
partir do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental, qualidade de vida e reduzir a vulnerabilidade e riscos à saúde
estão centradas nos fatores não-biológicos do meio ambiente relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos
que possam promover riscos à saúde humana: água para consu- de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educa-
mo humano, ar, solo, desastres naturais, substâncias químicas, ção, lazer, cultura e acesso a bens e serviços essenciais. Tem
acidentes com produtos perigosos, fatores físicos e ambiente de como ações específicas: alimentação saudável, prática corporal/
trabalho. Nesta estrutura destaca-se: atividade física, prevenção e controle do tabagismo, redução
(1) A Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada à Quali- da morbimortalidade em decorrência do uso de álcool e outras
dade da Água para Consumo Humano (VIGIAGUA) consiste no drogas, redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito,
conjunto de ações adotadas continuamente pelas autoridades prevenção da violência e estímulo à cultura da paz, além da pro-
de saúde pública para garantir que a água consumida pela popu- moção do desenvolvimento sustentável.
lação atenda ao padrão e às normas estabelecidas na legislação Pensar em Vigilância em Saúde pressupõe a não dissociação
vigente e para avaliar os riscos que a água consumida representa com a Vigilância Sanitária. A Vigilância Sanitária é entendida como
para a saúde humana. Suas atividades visam, em última instân- um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir
cia, a promoção da saúde e a prevenção das doenças de trans- riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes
missão hídrica; do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da presta-
(2) À Vigilância em Saúde Ambiental de Populações Poten- ção de serviços de interesse da saúde. (BRASIL, 1990)
cialmente Expostas a Solo Contaminado (VIGISOLO) compete
recomendar e adotar medidas de promoção à saúde ambiental, Abrange:
prevenção e controle dos fatores de risco relacionados às doen- (1) o controle de bens de consumo que, direta ou indire-
ças e outros agravos à saúde decorrentes da contaminação por tamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as
substâncias químicas no solo; etapas e processos, da produção ao consumo;
(3) A Vigilância em Saúde Ambiental Relacionada à Qualida- (2) o controle da prestação de serviços que se relacionam
de do Ar (VIGIAR) tem por objetivo promover a saúde da popula- direta ou indiretamente com a saúde.
ção exposta aos fatores ambientais relacionados aos poluentes
atmosféricos - provenientes de fontes fixas, de fontes móveis, Neste primeiro caderno, elegeu-se como prioridade o forta-
de atividades relativas à extração mineral, da queima de bio- lecimento da prevenção e controle de algumas doenças de maior
massa ou de incêndios florestais - contemplando estratégias de prevalência, assim como a concentração de esforços para a elimi-
ações intersetoriais. nação de outras, que embora de menor impacto epidemiológico,
atinge áreas e pessoas submetidas às desigualdades e exclusão.
Outra área que se incorpora nas ações de vigilância em saú- O Caderno de Atenção Básica Vigilância em Saúde Volume1,
de é a saúde do trabalhador que entende-se como sendo um visa contribuir para a compreensão da importância da integra-
conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigi- ção entre as ações de Vigilância em Saúde e demais ações de
lância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e prote- saúde, universo do processo de trabalho das equipes de Atenção
ção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação Básica/Saúde da Família, visando a garantia da integralidade do
e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos cuidado. São enfocadas ações de vigilância em saúde na Atenção
e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo en- Básica, no tocante aos agravos: dengue, esquistossomose, han-
tre outros: seníase, malária, tracoma e tuberculose.

215
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
1.1 Processo De Trabalho Da Atenção Básica E Da Vigilância 1.3 Planejamento E Programação
Em Saúde Planejar e programar em um território específico exige um
Apesar dos inegáveis avanços na organização da Atenção conhecimento das formas de organização e de atuação dos ór-
Básica ocorrida no Brasil na última década e a descentralização gãos governamentais e não-governamentais para se ter clareza
das ações de Vigilância em Saúde, sabe-se que ainda persistem do que é necessário e possível ser feito. É importante o diálogo
vários problemas referentes à gestão e organização dos serviços permanente com os representantes desses órgãos, com os gru-
de saúde que dificultam a efetiva integração da Atenção Bási- pos sociais e moradores, na busca do desenvolvimento de ações
ca e a Vigilância em Saúde, comprometendo a integralidade do intersetoriais oportunizando a participação de todos. Isso é ado-
cuidado. tar a intersetorialidade como estratégia fundamental na busca
Para qualificar a atenção à saúde a partir do princípio da da integralidade da atenção.
integralidade é fundamental que os processos de trabalho se-
jam organizados com vistas ao enfrentamento dos principais Faz-se necessário o fortalecimento das estruturas gerenciais
problemas de saúde-doença da comunidade, onde as ações de dos municípios e estados com vistas não só ao planejamento e
vigilância em saúde devem estar incorporadas no cotidiano das programação, mas também da supervisão, seja esta das equipes,
equipes de Atenção Básica/Saúde da Família. dos municípios ou regionais. Instrumentos de gestão como pro-
Um dos sentidos atribuídos ao princípio da Integralidade cessos de acompanhamento, monitoramento e avaliação devem
na construção do SUS refere ao cuidado de pessoas, grupos e ser institucionalizados no cotidiano como reorientador das prá-
coletividades, percebendo-os como sujeitos históricos, sociais e ticas de saúde.
políticos, articulados aos seus contextos familiares, ao meio-am- Os Sistemas de Informações de Saúde desempenham papel
biente e a sociedade no qual se inserem. (NIETSCHE EA, 2000) relevante para a organização dos serviços, pois os estados e os
Para a qualidade da atenção, é fundamental que as equipes municípios de posse das informações em saúde têm condições
busquem a integralidade nos seus vários sentidos e dimensões, de adotar de forma ágil, medidas de controle de doenças, bem
como: propiciar a integração de ações programáticas e demanda como planejar ações de promoção, proteção e recuperação da
espontânea; articular ações de promoção à saúde, prevenção de saúde, subsidiando a tomada de decisões.
agravos, vigilância à saúde, tratamento, reabilitação e manuten-
É fundamental o uso de protocolos assistenciais que preve-
ção da saúde; trabalhar de forma interdisciplinar e em equipe;
jam ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação,
coordenar o cuidado aos indivíduos-família-comunidade; inte-
que são dirigidos aos problemas mais frequentes da população.
grar uma rede de serviços de maior complexidade e, quando ne-
Tais protocolos devem incluir a indicação da continuidade da
cessário, coordenar o acesso a esta rede.
atenção, sob a lógica da regionalização, flexíveis em função dos
Para a integralidade do cuidado, fazem-se necessárias mu-
contextos estaduais, municipais e locais. Alia-se a importância
danças na organização do processo de trabalho em saúde, pas-
de adotar o processo de Educação Permanente em Saúde na for-
sando a Atenção Básica/Saúde da Família a ser o lócus principal
mação e qualificação das equipes, cuja missão é ter capacidade
de desenvolvimento dessas ações.
para resolver os problemas que lhe são apresentados, ainda que
1.2 O Território a solução extrapole aquele nível de atenção (da resolubilidade,
Os sistemas de saúde devem se organizar sobre uma base da visão das redes de atenção) e a necessidade de criar meca-
territorial, onde a distribuição dos serviços segue uma lógica de nismos de valorização do trabalho na atenção básica seja pelos
delimitação de áreas de abrangência. incentivos formais, seja pela co-gestão (participação no proces-
O território em saúde não é apenas um espaço delimitado so decisório).
geograficamente, mas sim um espaço onde as pessoas vivem, Finalmente, como forma de democratizar a gestão e aten-
estabelecem suas relações sociais, trabalham e cultivam suas der as reais necessidades da população é essencial a constitui-
crenças e cultura. ção de canais e espaços que garantam a efetiva participação da
A territorialização é base do trabalho das Equipes de Saúde população e o controle social.
da Família (ESF) para a prática da Vigilância em Saúde. O funda-
mental propósito deste processo é permitir eleger prioridades 1.4 Sistema De Informação De Agravos De Notificação – Si-
para o enfrentamento dos problemas identificados nos terri- nan
tórios de atuação, o que refletirá na definição das ações mais A informação é instrumento essencial para a tomada de de-
adequadas, contribuindo para o planejamento e programação cisões, ferramenta imprescindível à Vigilância em Saúde, por ser
local. Para tal, é necessário o reconhecimento e mapeamento o fator desencadeador do processo “informação-decisão-ação”.
do território: segundo a lógica das relações e entre condições de O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) foi
vida, saúde e acesso às ações e serviços de saúde. Isso implica desenvolvido no início da década de 90, com objetivo de padronizar
um processo de coleta e sistematização de dados demográficos, a coleta e processamento dos dados sobre agravos de notificação
socioeconômicos, político-culturais, epidemiológicos e sanitá- obrigatória em todo o território nacional. Construído de maneira
rios que, posteriormente, devem ser interpretados e atualizados hierarquizada, mantendo coerência com a organização do SUS, pre-
periodicamente pela equipe de saúde. tende ser suficientemente ágil na viabilização de análises de situa-
Integrar implica discutir ações a partir da realidade local; ções de saúde em curto espaço de tempo. O Sinan fornece dados
aprender a olhar o território e identificar prioridades assumindo para a análise do perfil da morbidade e contribui para a tomada de
o compromisso efetivo com a saúde da população. Para isso, o decisões nos níveis municipal, estadual e federal.
ponto de partida é o processo de planejamento e programação Seu uso foi regulamentado por meio da Portaria GM/MS nº.
conjunto, definindo prioridades, competências e atribuições a 1.882, de 18 de dezembro de 1997, quando se tornou obrigató-
partir de uma situação atual reconhecida como inadequada tan- ria a alimentação regular da base de dados nacional pelos mu-
to pelos técnicos quanto pela população, sob a ótica da qualida- nicípios, estados e Distrito Federal, e o Ministério da Saúde foi
de de vida. designado como gestor nacional do sistema.

216
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
O Sinan é atualmente alimentado, principalmente, pela no- As unidades notificantes enviam semanalmente as fichas de
tificação e investigação de casos de doenças e agravos que cons- notificação/ investigação ou, se for informatizada, o arquivo de
tam da Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória transferência de dados por meio eletrônico para as secretarias
em todo Território Nacional - LDNC, conforme Portaria SVS/MS municipais de saúde, que enviam os arquivos de transferência
nº. 05, de 21/02/2006, podendo os estados e municípios incluir de dados, pelo menos uma vez por semana, à regional de saúde
outros problemas de saúde pública, que considerem importan- ou Secretaria de Estado da Saúde. Os municípios que não têm
tes para a sua região. implantado o processamento eletrônico de dados pelo Sinan
encaminham as fichas de notificação/investigação e seguem o
1.5 Ficha De Notificação Individual mesmo fluxo descrito anteriormente. A SES envia os dados para
É o documento básico de coleta de dados, que inclui dados o Ministério da Saúde, por meio eletrônico, pelo menos uma vez
sobre a identificação e localização do estabelecimento notifican- por semana.
te, identificação, características socioeconômicas, local da resi- Dentre as atribuições de cada nível do sistema cabe a todos
dência do paciente e identificação do agravo notificado. efetuar análise da qualidade dos dados, como verificar a duplici-
Essa ficha é utilizada para notificar um caso a partir da sus- dade de registros, completitude dos campos e consistência dos
peição do agravo, devendo ser encaminhada para digitação após dados, análises epidemiológicas e divulgação das informações.
o seu preenchimento, independentemente da confirmação do No entanto, cabe somente ao primeiro nível informatizado a
diagnóstico, por exemplo: notificar um caso de dengue a partir complementação de dados, correção de inconsistências e vincu-
da suspeita de um caso que atenda os critérios estabelecidos na lação/exclusão de duplicidades e exclusão de registros.
definição de caso. As bases de dados geradas pelo Sinan são armazenadas
A ficha de investigação contém, além dos dados da notifica- pelo gerenciador de banco de dados PostgreSQL ou Interbase.
ção, dados referentes aos antecedentes epidemiológicos, dados Para analisá-las utilizando programas informatizados tais como
clínicos e laboratoriais específicos de cada agravo e dados da o SPSS, o Tabwin e o Epi Info, é necessário exportá-las para o
conclusão da investigação. formato DBF. Esse procedimento é efetuado em todos os níveis,
A impressão, controle da pré-numeração e distribuição das utilizando rotina própria do sistema.
fichas de notificação e de investigação para os municípios são de Com o objetivo de divulgar dados, propiciar a análise da sua
responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde, podendo ser qualidade e o cálculo de indicadores por todos os usuários do
delegada à Secretaria Municipal de Saúde. sistema e outros interessados, a Secretaria de Vigilância em Saú-
Os instrumentos de coleta padronizados pelo Ministério da de – SVS do Ministério da Saúde criou um site do Sinan que pode
Saúde são específicos para cada agravo de notificação compul- ser acessado pelo endereço www.saude.gov.br/svs - sistemas
sória, e devem ser utilizados em todas as unidades federadas. de informações ou www.saude.gov.br/sinanweb. Nessa página
Para os agravos hanseníase e tuberculose são coletados estão disponíveis:
ainda dados de acompanhamento dos casos. As notificações de • Relatórios gerenciais;
malária e esquistossomose registradas no Sinan correspondem • Relatórios epidemiológicos por agravo;
àquelas identificadas fora das respectivas regiões endêmicas. • Documentação do sistema (Dicionários de dados - descri-
Esses agravos quando notificados em local onde são endêmicos ção dos campos das fichas e das características da variável cor-
devem ser registrados em sistemas específicos. respondente nas bases de dados);
Dados dos Inquéritos de Tracoma, embora não seja doen- • Fichas de notificação e de investigação de cada agravo;
ça de notificação compulsória no país devem ser registrados no • Instrucionais para preenchimento das Fichas;
Sinan - versão NET, por ser considerada de interesse nacional. • Manuais de uso do sistema;
A população sob vigilância corresponde a todas as pessoas • Cadernos de análise da qualidade das bases de dados e
residente no país. Cada município deve notificar casos detecta- cálculo de indicadores epidemiológicos e operacionais;
dos em sua área de abrangência, sejam eles residentes ou não • Produção - acompanhamento do recebimento pelo Minis-
nesse município. tério da Saúde dos arquivos de transferência de cada UF;
As unidades notificantes são, geralmente, aquelas que • Base de dados - uso da ferramenta TabNet para tabulação
prestam atendimento ao Sistema Único de Saúde, incluindo as de dados de casos confirmados notificados no Sinan a partir de
Unidades Básicas de Saúde/Unidades de Saúde da Família. Os 2001.
profissionais de saúde no exercício da profissão, bem como os
responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e 1.6 Sinan NET
particulares de saúde e ensino, têm a obrigação de comunicar Novo aplicativo desenvolvido pela SVS/MS em conjunto ao
aos gestores do Sistema Único de Saúde a ocorrência de casos DATASUS, objetiva modificar a lógica de produção de informa-
suspeito/confirmados dos agravos listados na LNDC. ção para a de análise em níveis cada vez mais descentralizados
O Sinan permite a coleta, processamento, armazenamento do sistema de saúde. Subsidia a construção de sistemas de vigi-
e análise dos dados desde a unidade notificante, sendo adequa- lância epidemiológica de base territorial, que esteja atento ao
do à descentralização de ações, serviços e gestão de sistemas que ocorre em toda sua área de atuação. Possibilita ao muni-
de saúde. Se a Secretaria Municipal de Saúde for informatizada, cípio que estiver interligado à internet, a transmissão dos da-
todos os casos notificados pelo município devem ser digitados, dos das fichas de notificação diariamente às demais esferas de
independente do local de residência. Contudo, caso as unidades governo, fazendo com que esses dados estejam disponíveis em
de saúde não disponham de microcomputadores, o sistema in- tempo oportuno, às três esferas de governo.
formatizado pode ser operacionalizado a partir das secretarias Já os dados das fichas de investigação somente serão trans-
municipais, das regionais e da secretaria de estado de saúde. mitidos quando for encerrado o processo de investigação, con-
seguindo dessa forma, separar essas duas etapas.

217
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Outras rotinas, como o fluxo de retorno, serão implementa- mação de Nascidos Vivos (SINASC), Sistema de Informação de
das, permitindo que o município de residência tenha na sua base Agravos de Notificação (Sinan) e outros para planejar, progra-
de dados todos os casos, independentemente do local onde fo- mar e avaliar as ações de vigilância em saúde;
ram notificados. A base de dados foi preparada para georrefe- • Desenvolver ações educativas e de mobilização da comu-
renciar os casos notificados naqueles municípios que desejem nidade relativas ao controle das doenças/agravos em sua área
trabalhar com geoprocessamento de dados. de abrangência;
A utilização efetiva do Sinan possibilita a realização do • Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de pro-
diagnóstico dinâmico da ocorrência de um evento na popula- teção individual e familiar para a prevenção de doenças/agravos;
ção; podendo fornecer subsídios para explicações causais dos • Mobilizar a comunidade para desenvolver medidas sim-
agravos de notificação compulsória, além de vir a indicar riscos ples de manejo ambiental para o controle de vetores;
aos quais as pessoas estão sujeitas, contribuindo assim, para a • Articular e viabilizar as medidas de controle vetorial e ou-
identificação da realidade epidemiológica de determinada área tras ações de proteção coletiva;
geográfica. • Identificar possíveis problemas e surtos relacionados à
O desafio não só para o Sinan, mas para todos os demais qualidade da água, em nível local como a situação das fontes de
sistemas de informação de saúde no Brasil, é criar uma interface abastecimento e de armazenamento da água e a variação na in-
de comunicação entre si descaracterizando-os como um sistema cidência de determinadas doenças que podem estar associadas
cartorial de registro, para se transformar em sistemas ágeis que à qualidade da água;
permitam desencadear ações imediatas e realizar análises em • Identificar a disposição inadequada de resíduos, indus-
tempo oportuno. triais ou domiciliares, em áreas habitadas; a armazenagem ina-
O uso sistemático dos dados gerados pelo Sistema, de for- dequada de produtos químicos tóxicos (inclusive em postos de
ma descentralizada, contribui para a democratização da infor- gasolina) e a variação na incidência de doenças potencialmente
mação, permitindo que todos os profissionais de saúde tenham relacionadas a intoxicação;
acesso à informação e a disponibilize para a comunidade. É, por- • Identificar a poluição do ar derivada de indústrias, auto-
tanto, um instrumento relevante para auxiliar o planejamento móveis, queimadas, inclusive nas situações intra-domiciliares
da saúde, definir prioridades de intervenção, além de possibili- (fumaça e poeira) e as variações na incidência de doenças, prin-
tar que sejam avaliados os impactos das intervenções. cipalmente as morbidades respiratórias e cardiovasculares, que
podem estar associadas à poluição do ar.
1.7 O Trabalho Da Equipe Multiprofissional
Na organização da atenção, o Agente Comunitário de Saú-
Os diferentes profissionais das equipes de saúde da Atenção
de (ACS) e o Agente de Controle de Endemias (ACE) desempe-
Básica/Saúde da Família têm importante papel e contribuição
nham papéis fundamentais, pois se constituem como elos entre
nas ações de Vigilância em Saúde. As atribuições específicas dos
a comunidade e os serviços de saúde. Assim como os demais
profissionais da Atenção Básica, já estão definidas na Política
membros da equipe, tais agentes devem ter co-responsabiliza-
Nacional de Atenção Básica (PNAB).
ção com a saúde da população de sua área de abrangência. Por
Como atribuição comum a todos os profissionais das equi-
isso, devem desenvolver ações de promoção, prevenção e con-
pes, descreve-se:
trole dos agravos, sejam nos domicílios ou nos demais espaços
• Garantir atenção integral e humanizada à população ads-
da comunidade, e embora realizem ações comuns, há um núcleo
crita;
de atividades que é específico a cada um deles.
• Realizar tratamento supervisionado, quando necessário; No processo de trabalho, estes dois atores, ACS e ACE, de-
• Orientar o usuário/família quanto à necessidade de con- vem ser coresponsáveis pelo controle das endemias, integrando
cluir o tratamento; suas atividades de maneira a potencializar o trabalho e evitar a
• Acompanhar os usuários em tratamento; duplicidade das ações que, embora distintas, se complementam.
• Prestar atenção contínua, articulada com os demais níveis Os gestores e as equipes de saúde devem definir claramente
de atenção, visando o cuidado longitudinal (ao longo do tempo); os papéis, competências e responsabilidades de cada um destes
• Realizar o cuidado em saúde da população adscrita, no agentes e, de acordo com a realidade local, definir os fluxos de
âmbito da unidade de saúde, no domicílio e nos demais espa- trabalho. Cada ACE deverá ficar como referência para as ações
ços comunitários (escolas, associações, entre outros), quando de vigilância de um número de ACS. Esta relação entre o número
necessário; de ACE e de ACS será variável, pois, se baseará no perfil epide-
• Construir estratégias de atendimento e priorização de po- miológico e nas demais características locais (como geografia,
pulações mais vulneráveis, como exemplo: população de rua, densidade demográfica e outras).
ciganos, quilombolas e outras; Na divisão do trabalho entre os diferentes agentes, o ACS,
• Realizar visita domiciliar a população adscrita, conforme após as visitas domiciliares e identificação dos problemas que
planejamento assistencial; não poderão ser resolvidos por ele, deverá transmití-las ao ACE,
• Realizar busca ativa de novos casos e convocação dos fal- seu parceiro, que planejará conjuntamente as ações de saúde
tosos; caso a caso como, por exemplo, quando o ACS identificar uma
• Notificar casos suspeitos e confirmados, conforme fichas caixa d’água de difícil acesso ou um criadouro que necessite da
anexas; utilização de larvicida.
• Preencher relatórios/livros/fichas específicos de registro e O ACE deve ser incorporado nas atividades das equipes da
acompanhamento dos agravos/doenças, de acordo com a rotina Atenção Básica/Saúde da Família, tomando como ponto de par-
da UBS; tida sua participação no processo de planejamento e programa-
• Alimentar e analisar dados dos Sistemas de Informação ção. É importante que o ACE esteja vinculado a uma Unidade
em Saúde – Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), Básica de Saúde, pois a efetiva integração das ações de controle
Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), Sistema de Infor- está no processo de trabalho realizado cotidianamente.

218
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Um dos fatores fundamentais para o êxito do trabalho é - Contribuir e participar das atividades de educação perma-
a integração das bases territoriais de atuação dos Agentes Co- nente dos membros da equipe quanto à prevenção, manejo do
munitários de Saúde (ACS) e Agentes de Controle de Endemias tratamento, ações de vigilância epidemiológica e controle das
(ACE). O gestor municipal, junto às equipes de saúde, deve or- doenças;
ganizar seus serviços de saúde, e definir suas bases territoriais, - Enviar mensalmente ao setor competente as informações
de acordo com sua realidade, perfil epidemiológico, aspectos epidemiológicas referentes às doenças/agravo na área de atua-
geográficos, culturais e sociais, entre outros. ção da UBS, analisar os dados para propor possíveis intervenções.

1.8 Atribuições Específicas Dos Profissionais Da Atenção 1.8.4 Enfermeiro


Básica/Saúde Da Família - Realizar consulta de enfermagem, solicitar exames com-
plementares e prescrever medicações, conforme protocolos ou
1.8.1 Agente Comunitário de Saúde – ACS outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor municipal,
- Identificar sinais e sintomas dos agravos/doenças e enca- observadas as disposições legais da profissão;
minhar os casos suspeitos para a Unidade de Saúde; - Planejar, gerenciar, coordenar e avaliar as ações desenvol-
- Acompanhar os usuários em tratamento e orientá-lo quan- vidas pelos ACS;
to à necessidade de sua conclusão; - Realizar assistência domiciliar, quando necessário;
- Desenvolver ações educativas e de mobilização da comu- - Enviar mensalmente ao setor competente as informações
nidade relativas ao controle das doenças/agravos, em sua área epidemiológicas referentes às doenças/agravo na área de atua-
de abrangência; ção da UBS e analisar os dados para possíveis intervenções;
- Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de pro- - Orientar os auxiliares/técnicos de enfermagem, ACS e ACE
teção individual e familiar para a prevenção de doença; para o acompanhamento dos casos em tratamento e/ou trata-
- Mobilizar a comunidade para desenvolver medidas simples mento supervisionado;
de manejo ambiental para o controle de vetores; - Contribuir e participar das atividades de educação perma-
- Planejar/programar as ações de controle das doenças/ nente dos membros da equipe quanto à prevenção, manejo do
agravos em conjunto ao ACE e equipe da Atenção Básica/Saúde tratamento, ações de vigilância epidemiológica e controle das
da Família. doenças.

1.8.2 Agente de Controle de Endemias – ACE 1.8.5 Auxiliar/Técnico de Enfermagem


- Identificar sinais e sintomas dos agravos/doenças e enca- - Participar das atividades de assistência básica, realizando
minhar os casos suspeitos para a Unidade de Saúde; procedimentos regulamentados para o exercício de sua profissão;
- Acompanhar os usuários em tratamento e orientá-los - Realizar assistência domiciliar, quando necessária;
quanto à necessidade de sua conclusão; - Realizar tratamento supervisionado, quando necessário,
- Desenvolver ações educativas e de mobilização da comu- conforme orientação do enfermeiro e/ou médico.
nidade relativas ao controle das doenças/agravos, em sua área
de abrangência; 1.8.6 Cirurgião Dentista, Técnico em Higiene Dental – THD
- Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de pro- e Auxiliar de Consultório Dentário – ACD
teção individual e familiar para a prevenção de doenças; - Identificar sinais e sintomas dos agravos/doenças e enca-
- Mobilizar a comunidade para desenvolver medidas simples minhar os casos suspeitos para consulta;
de manejo ambiental para o controle de vetores; - Desenvolver ações educativas e de mobilização da comu-
- Realizar, quando indicado a aplicação de larvicidas/molus- nidade relativas ao controle das doenças/agravos em sua área
cocidas químicos e biológicos; a borrifação intradomiciliar de de abrangência;
efeito residual; e a aplicação espacial de inseticidas por meio de - Participar da capacitação dos membros da equipe quanto
nebulizações térmicas e ultra-baixo-volume; à prevenção, manejo do tratamento, ações de vigilância epide-
- Realizar atividades de identificação e mapeamento de co- miológica e controle das doenças;
leções hídricas de importância epidemiológica; - Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de pro-
- Planejar/programar as ações de controle das doenças/ teção individual e familiar para a prevenção de doenças.
agravos em conjunto ao ACS e equipe da Atenção Básica/Saúde
da Família.
PROGRAMAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE DOEN-
1.8.3 Médico ÇAS TRANSMISSÍVEIS PREVALENTES NO CENÁRIO EPI-
- Diagnosticar e tratar precocemente os agravos/doenças, DEMIOLÓGICO BRASILEIRO
conforme orientações, contidas neste caderno;
- Solicitar exames complementares, quando necessário; Doenças transmissíveis mais prevalentes no Brasil
- Realizar tratamento imediato e adequado, de acordo com Melhorias nas condições de vida da população, aliadas a ini-
esquema terapêutico definido neste caderno; ciativas de saúde pública, como a imunização e o tratamento
- Encaminhar, quando necessário, os casos graves para a com antibióticos, contribuíram para a redução da morbimortali-
unidade de referência, respeitando os fluxos locais e mantendo- dade por doenças transmissíveis no Brasil e no mundo (Silva Jr.,
-se responsável pelo acompanhamento; 2009; Barreto et al., 2011). Entretanto, apesar da erradicação da
- Realizar assistência domiciliar, quando necessário; varíola, e da eliminação ou controle de várias doenças transmis-
- Orientar os Auxiliares e técnicos de enfermagem, ACS e síveis, não se concretizou a expectativa de que essas doenças
ACE para o acompanhamento dos casos em tratamento e/ou perderiam sua importância na saúde pública (Silva Jr., 2009).
tratamento supervisionado;

219
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Na década de 1980, época da criação do Sistema Único de vigilância em saúde, prioriza o estudo de grupos populacionais
Saúde (SUS) do Brasil, constatava-se, além do surgimento da definidos segundo suas condições de vida (Barcellos, 2002). Es-
epidemia do HIV/aids, a persistência de algumas doenças trans- tudos que envolvem a análise da situação de saúde, incorporan-
missíveis, bem como a emergência ou reemergência de outras, do elementos espaciais, podem contribuir para a identificação,
como a dengue e a cólera (Luna, 2002; Tauil, 2006; Silva Jr., formulação, priorização e explicação de problemas de saúde da
2009). população que vive em um território usado.
Com a atuação do SUS, o acesso universal e gratuito à vaci- Assim, análises que possibilitem a identificação das áreas de
nação foi garantido, a cobertura da atenção primária à saúde foi concentração e sobreposição de doenças transmissíveis, possi-
ampliada, e as estratégias de vigilância e controle das doenças velmente associadas a condições de vida precárias, constituem-
transmissíveis foram reestruturadas. A morbimortalidade por -se ferramentas fundamentais da vigilância em saúde, uma vez
doenças transmissíveis apresentou redução importante. Entre que fornecem subsídios para o planejamento das ações e para
1930 e 2007, a mortalidade proporcional por doenças transmis- a determinação de prioridades de ação das ações de vigilância
síveis declinou de 50% para 5%, contudo, estas ainda constituem em saúde, assistência em saúde, bem como de políticas sociais.
importante problema de saúde pública no Brasil (Barreto et al.,
2011). Raiva
No país, observa-se a persistência de diversas doenças As ações que o Brasil desenvolve para controle da raiva
transmissíveis, especialmente daquelas relacionadas à pobreza, envolvem vacinação de animais de produção (ciclo rural), de
também consideradas negligenciadas, por não apresentarem animais domésticos (ciclo urbano), bem como tratamento an-
atrativos econômicos para o desenvolvimento de fármacos, tirrábico humano pós-exposição. Estas intervenções vêm pro-
quer seja por sua baixa prevalência, ou por atingir populações piciando acentuada redução de casos humanos desta doença,
socialmente desfavorecidas (Anvisa, 2007). Estas doenças não cuja letalidade atinge 100%. Assim, enquanto de 1981 a 1990
apenas ocorrem com maior frequência em regiões empobreci- foram confirmados em média 76,4 casos por ano (máximo de
das, como também são condições promotoras de pobreza (Ho- 139 e mínimo de 39), na década seguinte esta média foi de 36,4
tez et al., 2006a). (redução de 52,4%) e entre 2001 e 2010 foi de 14 casos (redução
As doenças transmissíveis permanecem como agentes im- de 81,7%). Entre 2007 e 2010 o número máximo de casos de
portantes da pobreza debilitante no mundo. A cada ano, essas raiva humana foi 3 e de 2011 a 2017 variou de 0 a 6. Observe-se
doenças matam quase nove milhões de pessoas, muitas delas que enquanto no início desta série a maioria dos casos ocorria
crianças com menos de cinco anos de idade, além de causar em consequência de agressões de cães e gatos domésticos ou
grande carga de incapacidade por toda a vida. Estas podem pre- errantes (ciclo urbano), nos últimos anos tem sido após agressão
judicar o crescimento infantil e o desenvolvimento intelectual, de morcegos, reservatório silvestre do vírus rábico (ciclo aéreo),
bem como a produtividade do trabalho. Esforços de pesquisa difíceis de serem evitadas por ação do setor saúde.
voltados para sua prevenção podem ter um impacto enorme na
redução da pobreza (OMS, 2012). Hanseníase
A pobreza cria condições que favorecem a disseminação de Reconhecendo que o Brasil é o segundo país mais endêmico
doenças transmissíveis e impede que as pessoas afetadas obte- do mundo em hanseníase, grandes investimentos foram feitos
nham acesso adequado à prevenção e à assistência. As doenças no seu controle desde a instalação do SUS. Em 1987, havia cer-
transmissíveis relacionadas à pobreza afetam desproporcional- ca de 450 mil doentes no registro ativo do país, com tendência
mente pessoas que vivem em comunidades pobres ou margina- temporal de endemia em ascensão. Cerca de 166 mil profissio-
lizadas. Fatores econômicos, sociais e biológicos interagem para nais de saúde foram capacitados e uma campanha de divulgação
formar um ciclo vicioso de pobreza e doença do qual, para mui- sobre sinais e sintomas precoces da doença foi realizada em veí-
tas pessoas, não existe escapatória (OMS, 2012). culos de comunicação de massa. Essas ações foram efetivas para
Tendo em vista a relevância das doenças transmissíveis evidenciar a endemia oculta, de modo que a detecção aumentou
relacionadas à pobreza sobre a saúde no mundo e no Brasil, o de 15 mil para 45 mil casos novos, em apenas um ano, possibili-
controle destas pode promover um impacto positivo não ape- tando tratar os doentes que antes não tinham diagnóstico e/ou
nas sobre os indicadores relacionados diretamente à saúde, mas acesso aos serviços de saúde.
também sobre aqueles relacionados à pobreza e à educação O Brasil, entre 1990 e 2016, reduziu em 94,3% a prevalên-
(Hotez et al., 2006b). cia desta doença, passando de 19,5/10 mil habitantes para 1,1
Nesse contexto, estudos sobre desigualdades em saúde são casos/10.000 habitantes. Isso correspondeu a uma redução de
de grande interesse, visando subsidiar políticas públicas neces- 281.605 em tratamento para 22.631 casos. Nesse mesmo pe-
sárias para superar a distribuição desigual da saúde na socie- ríodo, a taxa de detecção geral decresceu 38,7% (de 19,96, em
dade (OMS, 2011). O uso dos determinantes sociais como fato- 1990 para 12,23 p/100.000 habitantes, em 2016). Em relação à
res analíticos privilegiados permite a identificação de padrões taxa de detecção em menores de 15 anos observa-se uma dimi-
de agregação geográfica e sobreposição espacial das doenças nuição de 36,7%, no período de 1994 a 2016, o que corresponde
transmissíveis. A partir desta perspectiva, podem ser vislumbra- a uma taxa de detecção de 5,74 para 3,63/100.000 habitantes.
das estratégias alternativas visando à prevenção e ao controle Certamente, a descentralização das ações de vigilância, contro-
dessas doenças. Além disso, quando as doenças estão agrupadas le e tratamento da hanseníase para a rede de atenção básica
geograficamente, o custo-efetividade das ações pode ser melho- contribuiu para o delineamento deste novo cenário. Em 2016,
rado (OMS, 2011). 71,1% dos casos novos (17.935) foram notificados pelos serviços
O espaço, enquanto território usado, é, simultaneamente, de atenção básica, a atenção secundária 19,9% (5.018) dos casos
produto e produtor de diferenciações sociais e ambientais, com novos e a terciária 9,0% (2.265).
reflexos importantes sobre a saúde dos grupos populacionais
envolvidos. A análise da situação de saúde, como vertente da

220
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
A introdução, em 1990, do esquema de associação de me- Programa Brasileiro de DST/Aids é reconhecido como um dos
dicamentos (multidrogaterapia/MDT), com redução progressiva melhores do mundo sendo premiado pela Fundação Bill & Me-
no tempo de tratamento, foi fator determinante na queda da linda Gates. O MS estimou que em 2015 haviam aproximada-
prevalência. Mas, a MDT, em que pese trazer a cura da han- mente 827 mil pessoas vivendo com HIV no país, destes 82% ti-
seníase, não interrompeu a transmissão da doença, e, conse- nham realizado pelo menos um teste de carga viral ou contagem
quentemente, não houve impacto na taxa de detecção de casos de linfócitos T CD4 ou tinham pelo menos uma receita de antir-
novos. Em parte, isso se deve a quebra do paradigma de que retroviral dispensada e 55% do total (454.850) estão utilizando a
paciente de hanseníase não se reinfectava, pois a decodifica- terapia antirretroviral. Além do tratamento, este programa está
ção do genoma completo do M. leprae isolados de doentes com estruturado para desenvolver ações de vigilância e controle que
recrudescimento da doença revelou que, um mesmo doente englobam notificação universal dos casos de aids, de gestantes
se infecta em momentos distintos, com cepas distintas deste soropositivas e de crianças expostas ao HIV; vigilância sorológica
bacilo. Seguindo o racional do tratamento da tuberculose, um em populações-sentinela (clínicas de DST e parturientes); inqué-
novo esquema terapêutico único (MDT-U) para hanseníase será ritos sorológicos e comportamentais em populações específicas;
adotado em 2018, que inclui três medicamentos, para todos os mantém uma rede de centros de testagem e aconselhamento
pacientes independente da classificação clínica, por um período (CTA), dentre outras.
de apenas seis meses.
Esquistossomose mansônica
Tuberculose Nas últimas três décadas tem havido importante redução
No Brasil, ocorreu redução de 22,7% no número de casos nos indicadores de prevalência de infecção, morbidade e mor-
novos de tuberculose notificados em 2016 (66.796 casos; 32,4 talidade por esquistossomose mansônica, no que pese ainda se
/100.000 habitantes) quando comparado com 1981 (86.411; encontrar municípios endêmicos situados nos bolsões de pobre-
71,3/100.000 habitantes). Contudo, esta queda não foi linear, za do Nordeste e Sudeste. Mesmo considerando as diferenças
em parte devido ao recrudescimento desta doença no curso da metodológicas dos inquéritos coproscópicos realizados no Bra-
epidemia de aids e das dificuldades para detecção e tratamento sil, não se pode ignorar que no final dos anos de 1940 a preva-
de todos os casos, de modo que nos anos 1990 a incidência ainda lência de exames positivos para esquistossomose foi de 9,9%,
se manteve elevada, variando de 58,4 a 49,3/100.000 habitantes na segunda metade da década de 1970 era 6,6% enquanto em
(1995 e 1994, respectivamente). No que se refere à mortalidade, 2011-2015 encontrou-se positividade de 0,99% (população de
enquanto em 1998 ocorreram 6.029 óbitos (3,7/100.000 habi- 7 a 14 anos). O recente inquérito nacional permitiu ainda uma
tantes), em 2015 foram registrados 4.543 óbitos (2,2/100.000 estimativa mais precisa do número de portadores da infecção
habitantes), redução em torno de 40%4. Recentemente, o SUS em todo o país (2 milhões), muito inferior às estimativas ante-
adotou um esquema terapêutico para esta doença que inclui a riores (superior a 7 milhões, em 2006). O declínio desta preva-
formulação de quatro drogas em uma única cápsula que vem lência vem resultando em redução da morbidade hospitalar, de
trazendo enormes avanços ao seu controle na medida em que 2,5/100.000 para 0,08/100.000 habitantes, respectivamente,
aumentou a adesão dos pacientes ao tratamento, e consequen- em 1988 e 2013, especialmente pelas formas digestivas graves.
temente o percentual de cura e a redução das fontes de infec- Da mesma forma, a mortalidade passou de 0,5/100.000 habitan-
ção. tes em 1987 para 0,2 por 100.000 habitantes em 2012
Uma redução mais sustentável na transmissão da esquistos-
HIV/Aids somose depende da melhoria das condições de saneamento das
A emergência da aids no mundo, em 1981, foi um fato que populações expostas ao risco de ser infectado, além das inter-
marcou a história da saúde globalmente, devido à sua eleva- venções estritas ao setor saúde. No âmbito da saúde, vem sendo
da letalidade, rápida disseminação, produção de epidemias de desenvolvida pela Fiocruz uma vacina contra a esquistossomose
magnitude crescente. No Brasil, os primeiros casos foram de- que se encontra em fase II de estudos clínicos. O SUS, por meio
tectados logo após a identificação desta doença e até 1990 já das Secretarias Municipais de Saúde, desenvolve ações de edu-
haviam sido diagnosticados 24.514 casos, a grande maioria em cação comunitária e detecção de casos mediante realização de
indivíduos residentes nos grandes centros urbanos. Nos anos inquéritos coproscópicos e tratamento dos portadores visando
seguintes, a prevalência continuou aumentando e a aids se ex- controlar esta doença. A descentralização dessas atividades de
pandiu para o interior do país, de modo que, entre 1991 e 2000, controle, que até 1999 eram realizadas pela Fundação Nacional
foram registrados 226.456 casos novos. Embora o número de de Saúde, ampliou a abrangência deste programa que passou
casos na década seguinte tenha aumentado, observou-se que a contar com a participação dos agentes de endemias, agen-
a epidemia se estabilizou, sendo confirmados em média 34.807 tes comunitários de saúde e profissionais da Estratégia Saúde
casos novos a cada ano. Entre 2007 e 2016, houve pouca varia- da Família (ESF), permitindo sua sustentabilidade e alcance do
ção no número de casos, em torno de 32.321, de modo que a impacto que vem apresentando sobre os indicadores de morbi-
taxa de detecção de Aids tem sido em média de 20,7/100.000 mortalidade.
habitantes.
O acesso universal e gratuito aos medicamentos antirre- Doença de Chagas
trovirais (TARV) passou a ser garantido pelo SUS em 1996, uma O programa de eliminação da transmissão vetorial da Doen-
das iniciativas que impactou sobremaneira o comportamento da ça de Chagas do Brasil obteve, em 2006, o certificado de elimi-
epidemia de HIV/Aids, principalmente, no que se refere ao au- nação do T. Infestans, principal vetor intradomiciliar desta pro-
mento de sobrevida; redução da transmissão vertical, letalidade tozoose, que resultou em drástica redução de novas infecções
e taxa de mortalidade por esta grave doença. Só entre 1997 e pelo T. cruzi em humanos. De fato, inquérito sorológico nacional
2003, foram evitadas cerca de 6.000 casos de transmissão ver- realizado entre 1975 e 1980, revelou que 4,2% dos brasileiros
tical. Em 2003, já haviam 150 mil pacientes em tratamento e o residentes nas áreas rurais consideradas de transmissão natural

221
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
do T. cruzi encontravam-se infectados por este protozoário. Um tensa circulação do DENV, e a emergência dos vírus chikungunya
segundo inquérito nacional, conduzido de 2001 a 2008, eviden- (CHIKV) e Zika (ZIKV). Apesar dos esforços empreendidos para o
ciou soroprevalência de 0,03% em crianças menores de cinco controle deste vetor, não se tem alcançado êxito, tanto no Bra-
anos, também residentes em área rural, sendo que 0,02% delas sil como em outros países das Américas e de outras regiões do
eram filhos de mães também positivas, indicando que a maioria mundo. Uma vacina tetravalente foi licenciada, contudo ao ser
das infecções havia sido por transmissão congênita. A mortali- utilizada em populações observou-se aumento do risco de hos-
dade pela forma crônica desta protozoose vem declinando ao pitalizações por dengue, nos indivíduos que nunca haviam sido
longo das duas últimas décadas. No Brasil, o T. infestans não é infectados previamente pelo DENV selvagem, razão pela qual a
o único vetor do T. cruzi, e assim em algumas áreas, principal- OMS contraindicou o uso desta vacina para os indivíduos naives.
mente na Amazônia Legal, ainda ocorrem casos de transmissão Assim, até o momento, não se dispõe de drogas antivirais nem
natural por triatomíneos extradomiciliares. A transmissão por vacinas, seguras e eficazes, para nenhuma destas viroses. A vi-
transfusão sanguínea também está interrompida, no entanto gilância e o controle têm efetividade muito limitada, na medida
atualmente tem ocorrido surtos esporádicos de doença de Cha- em que se restringe ao controle vetorial, centrado em produtos
gas aguda, em consequência da transmissão por alimentos con- químicos e eliminação de potenciais criadouros larvários. Embo-
taminados, tais como caldo de cana e açaí. ra promissoras, as novas tecnologias que vêm sendo testadas,
reduzem os níveis de infestação do A. aegypti, contudo, ainda
Malária não há comprovação de que sejam eficazes e efetivas para im-
No Brasil, a malária é causada pelo Plasmodium vivax, o pedir a emergência e/ou o risco de transmissão dos arbovírus
Plasmodium falciparum e o Plasmodium malariae, sendo os dois de interesse.
primeiros de importância epidemiológica. Esta protozoose é A dengue, a chikungunya e a Zika vêm influenciando o per-
endêmica na região da Amazônia, abrangendo 808 municípios, fil de morbidade das DT no Brasil, modificando a trajetória de
onde são detectados aproximadamente 95% dos casos do país. declínio que este grupo de doenças vinha apresentando desde
Os dados disponíveis sobre esta doença, até o final dos anos 1987. A introdução do DENV1, em 1986, no Rio de Janeiro e a se-
de 1990, referiam-se ao número de lâminas positivas para plas- guir sua disseminação para outras áreas metropolitanas do país,
módio, não correspondendo portanto a casos novos, conforme produziu 47.370 casos (35,3/100.000 habitantes) desta doença,
passaram a ser registrados a partir do ano 2000. Assim sendo, contribuindo com 15,1% das notificações de um conjunto de 12
não é possível estabelecer comparações entre estes períodos. importantes DT de notificação compulsória e, no ano seguinte,
Entre 2005 e 2012, o número de casos detectados de malária re- esta proporção alcançou 46,7% (65,4/100.000 habitantes). Os
duziu de 606.069 para 241.806 (queda de 60,1%). Este decrésci- anos de 1990 despontaram com a emergência do DENV2 e, a
mo ocorreu em maior intensidade para a malária pelo P. falcipa- partir de 1994, a circulação deste sorotipo e do DENV1 foi pro-
rum (77,2%), responsável pelas formas mais graves da doença, duzindo epidemias de grande magnitude em inúmeros centros
com consequente diminuição no número de internações (74,6%) urbanos brasileiros, de modo que ao final daquela década quase
e nos óbitos (54,4%) por esta doença21. Este impacto vem sendo 1,5 milhões de casos de dengue foram registrados. Só em 1998,
obtido por meio da detecção e tratamento precoce dos portado- ano da maior epidemia desse período, o número de casos de
res, além de medidas que visam à redução da transmissão pelos dengue foi mais de três vezes superior (352,4/100.000 habitan-
vetores (borrifação, uso de telas impregnadas por inseticidas, tes) à do conjunto de 12 DT (105,0/100.000 habitantes). Esta
educação comunitária, etc). Assim, uma melhor efetividade das situação foi se agravando no decorrer do século XXI, pois além
ações de prevenção e controle da malária vem sendo alcançada das epidemias, passou a ocorrer centenas de casos da Febre
nos municípios que possuem boa cobertura na atenção primá- Hemorrágica do Dengue/FHD de elevada letalidade, logo após
ria, de forma integrada entre as ESF e os agentes de controle de a introdução do DENV3. Por exemplo, em 2002 a incidência de
endemias, permitindo uma detecção e tratamento mais oportu- dengue alcançou 401,6/100.000 habitantes e foram diagnostica-
no, fundamental para interromper a transmissão. O SUS ainda dos 2608 casos de FHD e 121 óbitos. Em 2010, o DENV4 também
precisa enfrentar alguns desafios para alcançar a eliminação da passou a circular intensamente, e assim se estabeleceu a cocir-
malária, conforme estabelecido nas metas para os Objetivos do culação dos quatro sorotipos, e a incidência vem se mantendo
Desenvolvimento Sustentável. em patamares elevados, destacando-se que não tem havido pe-
ríodos com decréscimo de incidência conforme era observado
Arboviroses emergentes e reemergentes nas décadas anteriores
Dentre as doenças emergentes e reemergentes, as arboviro-
ses transmitidas por mosquitos do gênero Aedes (principalmen- Com a emergência de mais dois arbovírus transmitidos pelo
te Aedes aegypti) têm se caracterizado por persistirem como Ae. aegypti, o CHIKV em 2014 e o ZIKV, identificado laborato-
importantes problemas de saúde pública, devido à produção de rialmente em 2015 (embora haja evidências de que já estava
repetidas epidemias de grande magnitude, em várias regiões do circulando anteriormente), houve agravamento do quadro epi-
mundo. Dengue, é um dos exemplos mais emblemáticos neste demiológico do país. A Zika era considerada uma doença bran-
grupo de viroses, pois modificou a tendência de decréscimo da da, autolimitada, sem complicações associadas. Contudo, após
morbidade por DT. Estima-se que a cada ano o vírus do dengue circulação intensa do ZIKV em cidades do Nordeste brasileiro,
(DENV) produz cerca de 390 milhões de infecções em 128 países uma epidemia inesperada de microcefalia, posteriormente iden-
e aproximadamente 96 milhões de indivíduos apresentam mani- tificada como uma síndrome causada pela transmissão vertical
festações clínicas, de maior ou menor gravidade. deste agente, vitimou milhares de crianças. Esta Emergência de
No Brasil, o DENV1 reemergiu na década de 1980 e, desde Saúde Pública de Interesse Nacional e Internacional foi seguida
então, tem sido responsável por sucessivas epidemias produ- de investigação e resposta oportuna, que mobilizou profissio-
zidas pelos seus 4 sorotipos. Atualmente, 90% dos municípios nais e dirigentes das três esferas de gestão do SUS. No que pese
brasileiros estão infestados pelo Ae. aegypti favorecendo a in- as medidas vigilância e controle do vetor terem sido prontamen-

222
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
te desenvolvidas, mais de 3000 casos de Síndrome Congênita do Prevenção de doenças infectocontagiosas
Zika já foram confirmados desde então. Protocolos e serviços de A assistência de enfermagem em doenças transmissíveis
atenção especial à saúde das crianças acometidas foram imple- tem como objetivo atender às necessidades básicas do indiví-
mentadas pelo SUS, desde o início da detecção desta epidemia. duo, da família, e da comunidade, utilizando medidas para inter-
Os primeiros casos de chikungunya foram detectados simulta- ferir nos vários fatores do meio ambiente.
neamente na Bahia e Amapá, e desde então, houve expansão Visa basicamente à prevenção das doenças através da apli-
desta doença para muitos municípios do país, especialmente da cação de um conjunto de medidas de promoção e proteção à
região Nordeste. Embora apresente, nas formas leves, sintomas saúde e de recuperação do indivíduo doente, evitando, assim, a
semelhantes ao da dengue, a maior relevância desta doença se proliferação no meio ambiente de agentes biológicos nocivos ao
dá pelas manifestações clínicas persistentes na fase crônica (que organismo humano.
pode acometer até metade dos pacientes), principalmente com A região Norte, pelas suas peculiaridades geofísica e polí-
comprometimento das articulações que interfere negativamen- tico-financeira, serve de meio fácil à propagação de inúmeros
te na qualidade de vida dos pacientes. Ademais ocorrem formas agentes causadores de doenças transmissíveis que poderão tor-
atípicas e graves com comprometimento do sistema nervoso. As nar-se endêmicas, ou causar epidemias de repercussões dano-
manifestações atípicas e a presença de doenças concorrentes, sas para o meio ambiente e para a comunidade, necessitando,
especialmente em idosos, tem sido relacionada a uma maior le- assim, da intervenção eficaz da enfermagem em vários momen-
talidade da Chikungunya no Brasil. tos da história natural de cada nosologia. Nesse contexto, é fun-
A partir de 2014, os dados epidemiológicos destas três ar- damental não só o conhecimento dos’ instrumentos básicos da
boviroses registrados no Brasil, são de difícil interpretação dado enfermagem, como da epidemiologia e da antropologia para o
que incialmente chikungunya e Zika não foram incluídas no sis- planejamento das ações de enfermagem na aplicação das medi-
tema de notificação universal e, como as mesmas apresentam das de prevenção, visto que, as necessidades do indivíduo ou da
características clínicas na fase aguda muito semelhantes ao den- comunidade nem sempre são percebidas pelos mesmos, caben-
gue, parte dos casos foram notificados como esta enfermida- do ao enfermeiro identificá-las e intervir em tempo hábil a fim
de. Em vista disso, no Gráfico 2 a incidência foi calculada para de evitar agravos à saúde daí decorrentes.
o conjunto das notificações destas três doenças. Observe-se, Para melhor entendimento do assunto, procurou-se, neste
que em 2016, a incidência do conjunto das três arboviroses foi capítulo, enfocar a assistência de enfermagem utilizando os pe-
de 1016,4/100.000 habitantes, representando 24 vezes o valor ríodos da história natural das doenças, obedecendo à sequência
deste indicador para o conjunto das demais 12 DT analisadas. lógica da prevenção primária, secundária e terciária das doenças
Ou seja, fica evidente que a baixa efetividade ou inexistência transmissíveis
de instrumentos de prevenção para estas arboviroses, impede a
manutenção das DT sob controle. Classificação de níveis de prevenção das doenças
O estudo das ações de enfermagem nas medidas de contro-
Febre amarela le das doenças transmissíveis por níveis de prevenção depende
Poucos casos de febre amarela silvestre (FAS)vinham sendo do conhecimento da história natural da doença, das proprieda-
confirmados no Brasil desde a década de 1980. Há cada ciclo de des do agente causador da doença, da resistência do hospedeiro
cinco a sete anos se observava epidemias com transmissão na e dos vários fatores do meio ambiente.
área epizoótica, inclusive em 1999/2000 (76 e 85 casos, respec- Segundo Leavell e Clark, a prevenção classifica-se em: pri-
tivamente) e 2008/2009 (46 e 47 casos, respectivamente) casos mária, secundária e terciária, envolvendo cinco níveis de pre-
humanos foram confirmados em espaços urbanos, muito embo- venção
ra o ciclo de transmissão tenha sido silvestre. Contudo, em 2017, Prevenção primária
ocorreu uma epidemia de grande magnitude, quando foram 1º nível - Promoção à saúde
confirmados 776 casos humanos e observou-se grande expan- 2º nível - Proteção específica
são da área de transmissão desta virose, com ocorrências em Prevenção secundária
várias áreas urbanas. Em 2018, vem sendo confirmados casos de 3º nível -Diagnóstico precoce e tratamento imediato
FAS nas mesmas áreas. As razões para esta expansão ainda são 4º nível - Limitação da invalidez
desconhecidas, porém este evento vem impondo a realização de Prevenção terciária
campanhas em massa de vacinação contra a febre amarela das 5º nível - Reabilitação
populações de grandes centros urbanos a exemplo de São Paulo,
Rio de Janeiro e Salvador, com utilização, pela primeira vez no A prevenção primária desenvolve-se no período de pré-
país, de dose fracionada da vacina. -patogênese da história natural das doenças, período em que
a perfeita interação entre agente, hospedeiro e meio ambiente
DST/AIDS favorece a manutenção da saúde do indivíduo, correspondendo
Aids (sigla para acquired immunodeficiency syndrome - sín- assim à fase em que não ocorre doença no homem.
drome da imunodeficiência adquirida, em português) é uma Nesta fase, as medidas de promoção visam nortear um pa-
doença crônica causada pelo vírus HIV, que danifica o sistema drão de vida compatível para a manutenção da saúde, enquanto
imunológico e interfere na habilidade do organismo lutar contra que as medidas de proteção específica têm como objetivo “que-
outras infecções (tuberculose, pneumocistose, neurotoxoplas- brar um dos elos da cadeia de transmissão das doenças” (Leavell
mose, entre outras). A Aids também facilita a ocorrência de al- & Clarki 1976).
guns tipos de câncer, como sarcoma de Kaposi e linfoma, além A prevenção secundária e terciária faz-se no período de
de provocar perda de peso e diarreia. Apesar de ainda não exis- patogênese da história natural das doenças, quando ocorre o
tir cura para a doença, atualmente há tratamentos retrovirais desequilíbrio entre os três fatores, a partir de um estímulo qual-
capazes de aumentar a expectativa de vida dos soropositivos. quer que irá desencadear o horizonte clínico, o adoecimento, a

223
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
invalidez ou a morte do indivíduo, se não houver a interferência Neste segundo nível as ações de enfermagem estão volta-
das medidas de prevenção que, adequadamente aplicadas, irão das para a aplicação das medidas de vigilância sanitária e epi-
interceptar a evolução do processo mórbido e/ou maximizar as demiológica, vacinação, saneamento básico e limpeza corporal.
capacidades restantes. Para facilitar a compreensão do estudo das ações de enfer-
magem desenvolvidas neste nível, agrupam-se as doenças de
Ações de enfermagem nos níveis de prevenção primária acordo com a medida de maior eficácia para a quebra da cadeia
de transmissão:
Promoção à saúde
Neste nível, as medidas e as ações de enfermagem não são Doenças evitáveis por medidas de educação sexual
dirigidas a uma determinada doença, mas de um modo geral e Neste grupo encontram-se todas as doenças sexualmente
com amplo alcance para a promoção da saúde e bem-estar do transmitidas, inclusive a síndrome da imunodeficiência adquiri-
indivíduo. da (SIDA).
O bom padrão de alimentação e nutrição, os hábitos de lim- As ações da enfermagem compreendem a utilização de
peza corporal, o uso de roupas e calçados adequados, a prática técnicas educativas como palestras à comunidade, orientação
dos exames periódicos de saúde, formam o conjunto de medidas e aconselhamento aos indivíduos para aplicação das medidas
de higiene individual que favorecem a resistência do organismo de proteção, tais como, uso de preservativos, limpeza dos ór-
humano e contribuem para a interação do homem com os agen- gãos genitais antes e após as relações sexuais, cuidados com as
tes biológicos causadores de doenças transmissíveis. roupas íntimas, evitar a promiscuidade sexual, credeização dos
O conhecimento oferecido ao indivíduo, família e comuni- olhos do recém-nascido para prevenção da oftalmia purulenta
dade sobre as medidas de higiene do meio, tais como: limpeza por gonococos.
da casa, destino do lixo e águas servidas, controle dos insetos e Doenças evitáveis por medidas de limpeza corporal
roedores, destino adequado dos dejetos e principalmente o tra- A escabiose, a pediculose e outras doenças ligadas à inte-
tamento adequado da água para beber, desde sua captação até gridade cutânea, seguramente têm sua cadeia de transmissão
o consumo, constitui maior investimento para o homem evitar o interrompida pela adoção dos hábitos higiênicos de limpeza cor-
aparecimento de doenças e promover a saúde. poral, do vestuário e dos objetos de uso pessoal, o que deve ser
A recreação, a vida ao ar livre, a prática de esporte, a vida aconselhado pela enfermagem ao indivíduo, família e comuni-
associativa, o desenvolvimento intelectual e da personalidade, dade.
são medidas de higiene mental e social que, colocadas em práti-
Inclui-se, ainda, neste grupo de doenças, a hanseníase, que
ca, favorecem o desenvolvimento saudável do ser humano.
não tem definida uma medida específica para a quebra da ca-
Para que este conjunto de medidas seja conhecido pela co-
deia de transmissão, mas que as medidas de higiene individual
munidade, a enfermagem utiliza a educação para a saúde como
muito contribuem para evitar sua propagação.
instrumento para a prática, das medidas de prevenção em todos
os níveis, através de técnicas educativas, tais como:
Doenças evitáveis por medidas de saneamento
- Palestra à comunidade sobre aspectos de saúde e doença,
Este grupo de doenças inclui as doenças parasitárias do tra-
nutrição nas diversas fases da vida, aleitamento materno, pla-
to intestinal, cuja porta de entrada do parasito no organismo
nejamento familiar, crescimento e desenvolvimento da criança;
humano é a boca ou a pele, e as doenças parasitárias do sangue,
- Aconselhamento específico relacionado aos cuidados com
a manutenção da saúde: exames periódicos (médico e odontoló- em cuja cadeia de transmissão existe um vetor biológico inter-
gico), exames pré-nupciais; mediário.
- Orientação sobre hábitos primários de limpeza corporal, Nas doenças parasitárias do trato intestinal, cuja porta de
mostrando ao indivíduo que o simples ato de lavar as mãos evita entrada é a boca, as medidas de maior eficácia constituem-se
que uma série de agentes causadores de doenças sejam introdu- no destino dos dejetos, pois os ovos e cistos infectantes são eli-
zidos no organismo do homem; minados pelas fezes, o cuidado com a água de beber e outros
- Demonstração para pequenos grupos de preparo e prote- alimentos.
ção de alimentos, tratamento e acondicionamento da água para Para a aplicação destas medidas, a enfermagem lança mão,
beber, cuidados com as crianças, principalmente os recém-nas- mais uma vez, das técnicas de educação à saúde para desen-
cidos. volver ações orientando a comunidade quanto: uso de sanitário
Além destas, a enfermagem pode utilizar outras técnicas para o destino adequado dos dejetos, lavagem das mãos após o
que se adequem à situação do momento. uso do sanitário e antes de preparar ou ingerir alimentos, pro-
As ações de enfermagem neste nível devem ser desenvolvidas teção e acondicionamento dos alimentos, lavagem das frutas
na comunidade com o objetivo de levá-la a conhecer suas neces- e verduras consumidas cruas, acondicionamento adequado da
sidades básicas e buscar condições de autopromover a sua saúde. água de beber, filtrar ou ferver quando a fonte não oferece se-
gurança e exames periódicos dos manipuladores de alimentos.
Proteção específica Entre as parasitoses intestinais, cujo agente causador pe-
A proteção específica, o segundo nível de prevenção das do- netra no organismo humano através da pele, são de grande
enças, é caracterizada por um conjunto de medidas que, aplica- importância sanitária, a ancilostomíase e esquistossomíase. Os
das ao hospedeiro, ao agente ou ao meio ambiente, vão quebrar indivíduos, famílias e comunidade devem ser orientados do des-
a cadeia de transmissão das doenças transmissíveis. tino adequado aos dejetos a fim de evitar a contaminação do
Para a aplicação das ações de enfermagem neste nível, é ne- solo e de águas dos rios e lagos; evitar tomar banho em igarapés
cessário o conhecimento da epidemiologia das doenças, aborda- ou rios com presença de caramujos, hospedeiros intermediários
da em outros capítulos deste livro, bem como das características da esquistossomose; uso de calçados, principalmente em solos
dos hospedeiros intermediários e da cadeia de transmissão de úmidos e águas paradas; proteção do corpo do trabalhador em
cada agente causador de doença. plantios onde haja água acumulada e o caramujo.

224
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Entre as doenças parasitárias do sangue, transmitidas por Os cuidados na aplicação das vacinas são
vetores biológicos, estão a malária, a filariose, a febre amarela e Cuidados gerais -lavar as mãos é o cuidado primordial a ser
a dengue, transmitidas por mosquitos; a leishmaniose, transmi- tomado antes de se tocar em um frasco de vacina e entre a apli-
tida pela picada do flebótomo altamente incidente na Amazônia; cação de uma e outra vacina; nas vacinas injetáveis não é neces-
e a doença de Chagas, transmitida por um predador (barbeiro) sário fazer antissepsia com álcool; quando a pele estiver muito
que, embora não seja de alta incidência nesta região, constitui suja, lavar com água e sabão.
preocupação dos epidemiologistas, face a crescente migração Cuidados específicos - depende do tipo da vacina a ser ad-
de pessoas de áreas endêmicas. ministrada.
Para a quebra da cadeia de transmissão destas doenças; a BCG -fazer diluição da vacina obedecendo à técnica; evitar
principal medida está no controle do vetor, seguida da proteção exposição do conteúdo vacinal à luz direta; manter a ampola em
do homem e seu ambiente. recipiente próprio; retirar da ampola a dose unitária - 0,1 ml - e
As ações de enfermagem são, mais uma vez, de caráter edu- aplicar por via intradérmica na inserção inferior do deltoide di-
cativo: aconselhar a aceitação da aplicação de inseticida resi- reito, observando a formação de pápula esbranquiçada e rugo-
dual nas paredes internas das casas; orientar sobre a telagem sa, característica nesta técnica; orientar o responsável quanto à
das portas e janelas da casa e uso de mosquiteiros em áreas evolução da reação local da vacina que deve surgir uma semana
endêmicas; orientar sobre o desmatamento ao redor das resi- após a aplicação. Informar que não deve tocar nela nem fazer
dências, e a drenagem de águas paradas para evitar a formação curativo; registrar na carteirinha de vacina e entregar ao respon-
de criadouros de insetos; orientar sobre a troca semanal da água sável; ao término da jornada de trabalho, as sobras de vacina
dos vasos com plantas aquáticas; orientar sobre a aplicação de contidas na ampola devem ser desprezadas;
larvicidas nas plantas que servem de criadouros da larva do mos- Sabin -retirar a tampa do frasco conta-gotas sem contami-
quito; esclarecer a população quanto ao hábitat do barbeiro, ná-la; aplicar duas gotas por via oral, evitando contato do frasco
orientando que as casas devem ter as paredes lisas e rebocadas; com a boca da criança; guardar o frasco conta-gotas na tempe-
aconselhar o extermínio de animais identificados como porta- ratura ideal desde que não tenha sido contaminado, utilizando-o
dores de Leishmania; educar a comunidade quanto à limpeza de até por uma semana; aprazar a carteirinha e entrega-la ao res-
quintais e arredores das residências para evitar o aparecimento ponsável, orientando sobre a importância das doses seguintes;
de vetores. DTP e OT - aspirar o conteúdo vacinal do frasco, não deixan-
do agulha no frasco; aplicar 0,5 ml da vacina DTP por via intra-
Doenças evitáveis por vacinas muscular, no quadrante superior externo da região glútea, ou
Destacam-se, neste grupo, as doenças da quadra infantil e músculo vasto lateral da coxa; aspirar a seringa antes de injetar
outras; nas quais as vacinas são utilizadas na rotina dos serviços para evitar aplicação em vaso sanguíneo; retirar a agulha pres-
básicos de saúde. sionando o local sem massagear; aplicar 0,5 ml da vacina OT,
Na medida de vacinação, que é a mais eficaz neste grupo em situações especiais e crianças até 7 anos, por via intramus-
de doenças, a enfermagem desenvolve todas as ações do setor, cular na região deltoidiana; orientar o responsável sobre possí-
sendo o enfermeiro o responsável pela supervisão das ativida- veis reações gerais e locais da vacina e os cuidados que devem
des desenvolvidas pelo pessoal auxiliar de enfermagem, seleção ser tomados; registrar na carteirinha e aprazar a próxima dose,
e preparo deste pessoal, instalação e manutenção da cadeia de orientando o responsável sobre a importância do cumprimento
frio para conservação da vacina, preparo do ambiente e avalia- do calendário; ao término das aplicações, o restante das vacinas
ção de todas as atividades desenvolvidas. no frasco deverá ser mantido em temperatura adequada, 4 a 8°C
Os aspectos importantes a serem observados pela enferma- em geladeira podendo ser usada durante uma semana;
gem são: Anti-sarampo - diluir a vacina conser 0,5 ml de vacina; re-
Com relação à vacina: verificar o acondicionamento da va- gistrar na carteirinha da criança e orientar o responsável quanto
cina na geladeira à temperatura de4 a 8°C; observar o prazo de às possíveis reações e o aprazamento; ao final do dia o resto do
validade das vacinas; preparar o isopor com dispositivos conge- conteúdo vacinal deve ser desprezado, pois após a diluição a va-
lados para manter a temperatura ideal; retirar da geladeira os cina só pode ser aplicada no prazo máximo de 4 horas;
frascos e ampolas das vacinas a serem utilizadas no dia; prover Toxóide tetânico - aspirar o conteúdo vacinal do frasco; apli-
o material para aplicação: seringas e agulhas descartáveis, algo- car 0,5 ml por via intramuscular em crianças maiores de 7 anos,
dão e serrinhas; gestantes e pessoas expostas a riscos de acidentes (ver capítulo
Com relação à criança: identificar ‘a criança com a carteiri- Imunizações- Aspectos básicos); orientar sobre as possíveis re-
nha de vacina, observando idade, vacina(s) a ser(em) aplicada(s) ações e os cuidados a serem tomados; aprazar a próxima dose,
e respectiva(s) dose(s); informar-se com o responsável (mãe) so- mostrando a sua importância.
bre estado de saúde da criança, observando: criança com febre Para maiores detalhes sobre conteúdo básico das vacinas e
acima de 38°C ou qualquer sinal ou sintoma de infecção, não as que devem ser aplicadas em situações específicas (ver capítu-
aplicar a vacina; orientar para o retorno quando a criança esti- lo Imunizações - Aspectos básicos).
ver bem; criança em tratamento com imunossupressor, adiar a Nas Unidades Básicas de Saúde as vacinas são conservadas
vacina para 40 dias após o término do tratamento; informar ao em geladeira exclusiva para esse fim, observando a temperatura
responsável pela criança sobre a(s) vacina(s} que será(ão) apli- de 4 a 8PC, obedecendo ao sistema denominado cadeia de frio,
cada(s) e doença(s) que protege; orientar sobre as possíveis re- conforme o que preconiza o Manual de Vacinação do Ministério
ações da(s) vacina(s) e os cuidados a tomar; informar e aprazar da Saúde.
na carteirinha a data da próxima dose e a importância das doses
completas.

225
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Ações de enfermagem nos níveis de prevenção secundária É empregado para detectar contato prévio com indivíduos
portadores do bacilo de Koch, ou como medida auxiliar de diag-
Diagnóstico precoce e tratamento imediato nóstico da tuberculose em indivíduos com exames de escarro
Constitui o terceiro nível de prevenção, onde as medidas a negativos e criança que não tenha sido vacinada previamente
serem aplicadas estão voltadas para as pessoas doentes, seus com o BCG ou não apresente cicatriz vacinal.
contatos e ao meio ambiente. A interpretação da prova tuberculínica é um assunto polê-
Para o planejamento das ações de enfermagem neste nível, mico na literatura, devido ao grande número de interferências,
o enfermeiro deve conhecer os sinais e/ou sintomas das doenças, que podem ser de ordem clínica {presença de doenças imunos-
seu quadro clínico, as medidas de diagnóstico e o tratamento in- supressivas}, ou de ordem técnica (má conservação do produto,
dicado a cada doença descritos em outros capítulos deste livro. dose insuficiente, injeção subcutânea), constituindo causas de
Ao enfermeiro compete a consulta de enfermagem, ativida- hiporreatividade ao PPD.
de que envolve medidas auxiliares do diagnóstico precoce, tais Classicamente ainda é considerada válida a interpretação da
como: anamnese, exame físico, solicitação de exames comple- prova tuberculínica conforme tabela 3.
mentares, realização de testes auxiliares ao diagnóstico e enca- Teste de Mitsuda - Tem por objetivo estabelecer o prognós-
minhamento ao laboratório para realização dos exames. tico da forma indeterminada da hanseníase, e estabelecer a clas-
Na consulta de enfermagem, o enfermeiro identifica as ne- sificação adequada ao esquema de tratamento, se paucibacilar
cessidades humanas básicas afetadas, estabelece o diagnóstico ou multibacilar.
de enfermagem e elabora o plano assistencial a ser seguido pela
equipe de enfermagem.

Anamnese
Nesta medida, as ações da enfermagem estão voltadas para
a investigação epidemiológica, a fim de descobrir os contatos e
detectar as prováveis fontes de infecção e os fatores predispo-
nentes, tais como antecedentes familiares e situação socioeco-
nômica da família.

Exame físico
Este procedimento auxilia a verificação de sinais ou sinto-
mas discerníveis de doença, contribuindo para o diagnóstico
precoce e para identificar condições de limpeza corporal e ou-
tros hábitos que constarão da elaboração do plano de assistên-
cia de enfermagem.

Solicitação de exames
É uma ação da enfermagem, na medida de diagnóstico, fei-
ta por qualquer elemento da equipe de enfermagem quando se Tabela 3: Interpretação da prova tuberculínica.
trata de doenças com programas padronizados pelo Ministério
da Saúde, como é o caso da tuberculose, da hanseníase, das ver- Consiste na aplicação, por via intradérmica de 0,1 ml do an-
minoses e outras que não necessitam de decisão médica para tígeno de Mitsuda na face anterior do antebraço direito.
realização do exame. Este teste deve ser interpretado através da leitura com ré-
Encaminhamento ao laboratório informando o exame a ser gua apropriada entre o 21º e 28º dia após a aplicação, quando
realizado, as condições em que deve ser feito o exame e a ma- deve aparecer um ponto endurecido no local da aplicação.
neira como deve colher ou ser colhido o material para exame. Para fins operacionais, devem ser consideradas apenas duas
respostas na leitura:
Realização de testes auxiliares ao diagnóstico - Reação negativa: ausência de qualquer sinal no local ou
Na rede básica de saúde, são utilizados dois testes em que a pequeno nódulo inferior a 5 mm de circunferência;
enfermagem tem responsabilidade na aplicação: teste de Man- - Reação positiva: qualquer resposta nodular igualou supe-
toux, ou prova tuberculínica e teste de Mitsuda. rior a 5 mm, ou ainda presença de ulceração no local da inocu-
Estes testes são aplicados geralmente pelo pessoal de en- lação.
fermagem, que deve ser treinado previamente pelo enfermeiro,
pois a técnica de aplicação demanda segurança e habilidade. Vigilância epidemiológica
Teste tuberculínico ou reação de Mantoux - utiliza-se para Entre as medidas de vigilância epidemiológica desenvolvi-
este teste a substância chamada tuberculina ou PPD-RT23, que é das’ pela enfermagem destacam-se: a notificação de casos e a
um derivado proteico purificado, do bacilo da tuberculose, apli- vigilância dos contatos.
cado por via intradérmica, no terço médio da parte anterior do Notificação dos casos de doenças transmissíveis - é feita
antebraço esquerdo na dose de 0,1 ml, equivalente a 2 UT (Uni- através do simples registro do rol de doenças ocorridas na sema-
dade Tuberculínica). na através do preench1mento de folha de notificação semanal,
A leitura do teste tuberculínico deverá ser realizado 72 a ou através do preenchimento da ficha de notificação específica
96 horas após a aplicação, observando-se no local a presença normatizada pelo Ministério da Saúde, como ocorre nos casos
ou não de endurecimento. Na presença deste, identificar seus novos de tuberculose, hanseníase e de pessoas mordidas por
limites e fazer a mensuração do diâmetro transverso com régua cães, para a vigilância da raiva.
milimetrada própria.

226
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Vigilância dos contatos - considera-se como contato ou co- A educação para saúde, embora seja desenvolvida em to-
municante, a pessoa, parente ou não, que coabita com um por- dos os níveis através das técnicas de orientação, entrevista e
tador de doença transmissível. Constitui um grupo de alto risco aconselhamento, é neste nível aplicada, não só a pacientes mas,
de adoecimento e a vigilância consiste em submetê-los a exames principalmente, às famílias das quais os pacientes irão depender
periódicos de saúde, a fim de detectar sinais ou sintomas preco- para execução de cuidados pessoais.
ces da doença.
Nos contatos de portadores de tuberculose e hanseníase, Ações de enfermagem na prevenção terciária
a enfermagem deve realizar: levantamento do grupo familiar, Reabilitação
visita domiciliar, aprazamento dos exames periódicos de saúde. A reabilitação constitui o quinto nível de prevenção. Carac-
A vigilância dos contatos dos casos de hanseníase consiste teriza-se por conter medidas para o reaproveitamento das capa-
no exame dermatoneurológico dos mesmos obedecendo aos se- cidades restantes e reintegração do indivíduo à sociedade.
guintes critérios: As medidas de reabilitação são aplicadas às pessoas que fo-
- Exame de todos os contatos intradomiciliares dos casos ram afetadas por doença transmissível que deixam sequela físi-
novos de todas às formas clínicas. Após o exame, o contato in- ca ou mental, que o incapacite, parcial ou totalmente.
dene será liberado com a orientação quanto ao período de incu- As ações de enfermagem neste nível são de encaminha-
bação, transmissão, sinais e sintomas da hanseníase, e retorno mento, orientação e aconselhamento, tais como: encaminhar o
ao serviço se necessário. portador de deficiência física ou mental ao fisioterapeuta, tera-
- Utilização de BCG -independente da forma clínica, todos peuta ocupacional ou psicólogo; orientar o autocuidado no do-
os contatos intradomiciliares devem receber duas doses da va- micílio; aconselhar a busca de outro trabalho, adequado às suas
cina BCG intradérmico. O intervalo recomendado para a segun- capacidades restantes.
da dose da vacina é de 6 meses após a primeira dose, consi-
derando-se como primeira dose a presença da cicatriz vacinal, Isolamento
independente de tempo de aplicação. Na dúvida, aplicar as duas Considera-se o conceito de isolamento como a “segregação
doses recomendadas. do indivíduo ou o afastamento do convívio com outros para evi-
tar a transmissão de agentes infecciosos a pessoas susceptíveis/l
Medidas de tratamento (Secretaria de Saúde de São Paulo, 1991).
Nas medidas de tratamento, as ações de enfermagem es- Atualmente, o Ministério da Saúde não recomenda a cons-
tão voltadas para orientar o paciente quanto aos esquemas de trução de hospitais de isolamento mas, sim, unidades específicas
tratamento e a tomada correta da medicação, dose e hora, res- de isolamento, em todo hospital, para onde são encaminhados
ponsabilizando-o por seu tratamento; ensinar ao paciente os os pacientes portadores de doenças transmissíveis e/ou germes
cuidados que deve ter com seu ambiente e objetos de uso pes- multirresistentes, com o objetivo de prevenir a disseminação de
soal; aprazar a próxima consulta, mostrando a importância de doenças causadas por agentes infecciosos transmissíveis entre
seu comparecimento. os hospedeiros susceptíveis, sejam estes componentes da equi-
Existem doenças transmissíveis que necessitam de trata- pe de saúde, trabalhadores de outras áreas do hospital envol-
mento hospitalar, mesmo quando descobertas precocemente, vidos com atendimento de doentes e visitantes de modo geral.
como ocorre com a difteria, tétano, meningite e outras. As ações de enfermagem desenvolvidas nesta medida de-
As ações de enfermagem ‘de nível hospitalar incluem, além vem ter um respaldo científico e epidemiológico, a fim de as-
das medidas de anamnese e exame físico, outras de maior com- segurar a eficácia da mesma e a segurança da equipe de saúde.
plexidade em virtude do grau de dependência de cada paciente As barreiras físicas interpostas entre os indivíduos doentes
para atender às suas necessidades humanas básicas afetadas e os sadios, podem ser de proteção individuar como luvas, aven-
pela doença. tal, máscara e óculos de proteção; ou ainda, de proteção cole-
Assim, o plano assistencial de enfermagem conterá todos os tiva, como a segregação em quarto privativo. Em qualquer situ-
cuidados que devem ser executados pela enfermagem a partir ação, a lavagem das mãos, é indispensável (observar a técnica
de: verificação de sinais vitais; administração de medicação por de lavagem das mãos no capítulo sobre infecções hospitalares).
via oral e parenteral; aplicação de medicação tópica; prestação Alguns autores referem-se a precauções quando são utili-
de cuidados de limpeza corporal quando dependente total da zadas as barreiras de proteção individual, e isolamento quando
enfermagem; outros cuidados peculiares a cada doença trans- houver necessidade de quarto privativo.
missível, tais como teste de sensibilidade para aplicação de soro
antitetânico, antidiftérico, antirrábico e desinfecção concorren- Modalidades de isolamento
te e terminal. No Brasil, o Ministério da Saúde vem recomendando moda-
Ainda a nível hospitalar, para deter minadas doenças trans- lidades de isolamento baseadas nas propostas emanadas pelo
missíveis, a enfermagem é responsável pelas medidas de iso- Centerfor Diseases Control (CDC), que classifica o isolamento
lamento e precauções que, devido ao grau de importância no por sistema -categoria específica, agrupando as doenças com
controle das doenças transmissíveis, constituirá o último tópico medidas de isolamento e precauções semelhantes, sendo iden-
deste capítulo. tificado por cartões de diferentes cores.

Limitação da invalidez Classificação adotada nesta categoria:


Este nível de prevenção inserida na prevenção secundária
é caracter1zado pela descoberta dos casos já avançados ou em Isolamento estrito
fase crônica.. Objetiva limitar a incapacidade e evitar a morte. Indicado para doenças altamente contagiosas através das
As ações de enfermagem são semelhantes às do terceiro nível, vias aéreas e por contato. Ex.: difteria, varicela. Esta modalidade
com ênfase nas medidas de tratamento e cuidados especiais a requer quarto privativo, uso obrigatório de máscara, avental e
portadores de doenças que deixem sequelas. luvas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Isolamento respiratório premissa de que todos os pacientes são fontes potenciais do HIV.
Indicado para doenças transmitidas através de gotículas res- Assim, surgiram as precauções universais.Precauções universais
piratórias. Necessita dos mesmos requisitos: quarto privativo ou são, portanto, “barreiras e ênfase nos cuidados com determi-
comum para a mesma doença, uso de máscara para aqueles que nados tipos de procedimentos, utilizados a todos os pacientes
têm contato próximo com o doente. Ex.: sarampo, meningite durante toda a internação, para impedir que a equipe hospitalar
meningocócica. tenha contato direto com sangue, líquidos corporais, mucosa e
pele não íntegra dos mesmos, ou indiretamente com instrumen-
Precauções entéricas tais contaminados com aquelas substâncias, como aqueles de
Indicado para doenças transmitidas por contato direto ou natureza pérfuro-cortantes (agulhas, lâminas, equipamentos)”
indireto com fezes. Ex.: hepatite A, gastroenterite por Salmo- (Secretaria de Saúde de São Paulo, 1991).Posteriormente, essa
nella, cólera. Necessita de luvas e avental, se a contaminação é recomendação foi ampliada, incluindo outros serviços como
previsível, e quarto privativo ou comum para a mesma doença, ambulatórios e outros, considerando não só a precaução com
se a higiene do paciente é precária. o HIV, mas também o vírus da hepatite B, e outros patógenos
veiculados pelo sangue e ‘líquidos corporais: sêmen, secreção
Precauções com sangue e líquidos corporais vaginal, leite humano, liquor e líquidos sinovial, pleural, perito-
Indicado para doenças transmitidas através do contato dire- neal, pericárdico, amniótico e outros.10
to ou indireto com sangue e líquidos corporais. Ex.: hepatite B,
hepatite não A não B, SIDA. Necessita de luvas e avental duran-
te os procedimentos; quarto privativo ou comum para a mesma DOENÇAS E AGRAVOS NÃO-TRANSMISSÍVEIS
doença, se a higiene do paciente é precária.
As transformações sociais e econômicas ocorridas no Brasil
Precauções com drenagem e secreção durante o século passado provocaram mudanças importantes
Indicado para as doenças transmitidas por contato direto no perfil de ocorrência das doenças de nossa população.
ou indireto com material purulento ou drenagem de secreção Na primeira metade do século 20, as Doenças Infecciosas
de local infectado. Ex.: abscesso drenando, empiema, úlcera de Transmissíveis eram as mais frequentes causas de mortes. A
decúbito infectada. partir dos anos 60, as Doenças e Agravos Não Transmissíveis -
as DANT - tomaram esse papel. Entre os fatores que contribu-
Precauções com pele e feridas íram para essa transição epidemiológica estão: o processo de
Indicadas para as doenças transmitidas por contato direto transição demográfica, com queda nas taxas de fecundidade e
ou indireto com a pele ou ferida infectada. Ex.: impetigo, esca- natalidade e um progressivo aumento na proporção de idosos,
biose. Necessita luva e avental de acordo com o procedimento favorecendo o aumento das Doenças Crônico-degenerativas
previsto. (Doenças Cardiovasculares, Câncer, Diabetes, Doenças Respira-
O isolamento protetor, uma das modalidades de isolamen- tórias); e a transição nutricional, com diminuição expressiva da
to, indicada para pessoas imuno deprimidas, perdeu seu valor, desnutrição e aumento do número de pessoas com excesso de
face a adoção das medidas de precauções universais, que serão peso (Sobrepeso e Obesidade). Somam-se a isso o aumento dos
relatadas posteriormente, e a estudos realizados sobre a sua traumas decorrentes das Causas Externas (Violências, Acidentes
real necessidade, bem como aos efeitos nocivos ao psiquismo e Envenenamentos, etc.).
do paciente, em virtude do tempo de segregação prolongado. Projeções para as próximas décadas apontam para um
Além desta modalidade, o CDC adota ainda a modalidade crescimento epidêmico das DANT na maioria dos países em de-
doença específica, onde cada doença é abordada individualmen- senvolvimento, em particular das Doenças Cardiovasculares,
te para verificação das necessidades dos procedimentos de pre- Neoplasias e Diabetes tipo 2. As Doenças e Agravos Não Trans-
cauções ou isolamento. missíveis respondem pelas maiores taxas de Morbimortalidade
Baseado nas recomendações do CDC, cada hospital, em e por cerca de mais 70% dos gastos assistenciais com a saúde no
cada região ou Estado, procurou adaptar esses conceitos à re- Brasil, com tendência crescente.
alidade local, a fim de atender às suas necessidades específicas. Essa transição do quadro epidemiológico tem impactado a
área de saúde pública no Brasil e o desenvolvimento de estraté-
Precauções universais gias para o controle das DANT se tornou uma prioridade para o
Ao final da década de 80, com o advento da SIDA no país e Sistema Único de Saúde (SUS). A vigilância epidemiológica das
no mundo, as questões relacionadas a isolamento reacenderam- DANT e dos seus Fatores de Risco é de fundamental importância
-se face ao medo dos profissionais de saúde de contrair o vírus para a implementação de políticas públicas voltadas para a pre-
da imunodeficiência no exercício das suas atividades, principal- venção, o controle dessas doenças e a promoção geral da saúde.
mente na área hospitalar. Estudos realizados por grupos ligados A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), por meio da Coor-
ao controle das infecções hospitalares, principalmente em São denaçãoGeral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmis-
Paulo, onde o problema era mais evidente, modificaram subs- síveis - CGDANT -, tem trabalhado para coordenar, fomentar e
tancialmente os conceitos sobre o isolamento tradicional adota- desenvolver estudos e pesquisas para identificação e monitora-
do pelos hospitais dirigidos à doença ou grupo delas. Assim, fo- mento de fatores de risco, análise e avaliação das ações de pro-
ram surgindo outras modalidades, voltadas não para a doença, moção da saúde, prevenção e controle das DANT. Fazem parte
mas para substâncias corpóreas e/ou para materiais infectantes. das suas atribuições:
Também, nesta fase de estudos, levantou-se a necessidade de - Cooperar com programas e ações nas áreas de promoção
instituir barreiras não só para pessoas portadoras de doenças da saúde, prevenção dos fatores de risco e redução de danos
transmissíveis, mas para determinados procedimentos que favo- das DANT;
recessem o contato com sangue e fluidos corporais, baseados na 10Fonte: iah.iec.pa.gov.br

228
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Coordenar, normatizar e supervisionar o Sistema Nacional Contudo, consolidar o sistema de vigilância em doenças e
de Vigilância de DANT; agravos não transmissíveis (DANT) em todas as esferas do Sis-
- Supervisionar a execução das ações relacionadas à vigilân- tema Único de Saúde, em todas as unidades da Federação é de
cia de DANT; grande relevância nacional, considerando que suas ações possi-
- Prestar assessoria técnica a Estados, municípios e ao Distri- bilitaram conhecer a distribuição, magnitude e tendência dessas
to Federal na área de vigilância de DANT; doenças e de seus fatores de risco na população, identificando
- Fomentar a capacitação de recursos humanos para atuar seus condicionantes sociais, econômicos e ambientais, com o
na vigilância de DANT; objetivo de subsidiar o planejamento, execução e avaliação da
- Subsidiar estudos, pesquisas, análises e outras atividades prevenção e controle das mesmas.
técnico-científicas relacionadas às DANT.
A CGDANT, para desenvolver suas atribuições, está estrutu-
rada com as seguintes áreas: PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÕES
» Doenças e Agravos Não Transmissíveis
» Violências e Acidentes
» Promoção da Saúde Conceito e Tipo de Imunidade
As doenças e agravos não transmissíveis - DANT (doenças
cardiovasculares, neoplasias, doenças respiratórias crônicas, Programa de Imunização
diabetes e doenças musculoesqueléticas, entre outras) são do-
enças multifatoriais e têm em comum fatores comportamentais Programa de imunização e rede de frios, conservação de
de risco modificáveis e não modificáveis. Dentre os fatores com- vacinas
portamentais de risco modificáveis destacam-se o tabagismo, o PNI: essas três letras inspiram respeito internacional entre
consumo excessivo de bebidas alcoólicas, a obesidade, as dislipi- especialistas de saúde pública, pois sabem que se trata do Pro-
demias (determinadas principalmente pelo consumo excessivo grama Nacional de Imunizações, do Brasil, um dos países mais
de gorduras saturadas de origem animal), a ingestão insuficiente populosos e de território mais extenso no mundo e onde nos
de frutas e hortaliças e a inatividade física. últimos 30 anos foram eliminadas ou são mantidas sob controle
Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apon- as doenças preveníveis por meio da vacinação.
tam que as DANTs já são responsáveis por 58,5% de todas as Na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da
mortes ocorridas no mundo e por45,9% da carga global de doen- Organização Mundial de Saúde (OMS), o PNI brasileiro é cita-
ça, constituindo um sério problema de saúde pública, tanto nos do como referência mundial. Por sua excelência comprovada,
países ricos quanto nos de média e baixa renda. o nosso PNI organizou duas campanhas de vacinação no Timor
O Brasil seguindo essa tendência mundial tem passado pelos Leste, ajudou nos programas de imunizações na Palestina, na
processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricio- Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Nós, os brasileiros do PNI, fomos
nal desde a década de 60. Destacamos a queda da mortalidade e solicitados a dar cursos no Suriname, recebemos técnicos de An-
da fecundidade aumento do número de idosos, particularmente, gola para serem capacitados aqui. Estabelecemos cooperação
o grupo com mais de 80 anos. De 1980 a 2000, a população de técnica com Estados Unidos, México, Guiana Francesa, Argen-
idosos cresceu 107%, enquanto a população até 14 anos cresceu tina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Bolívia, Colômbia, Peru, Is-
apenas 14%. Nos próximos 20 anos, projeções apontam para a rael, Angola, Filipinas. Fizemos doações para Uruguai, Paraguai,
duplicação da população idosa no Brasil, de 8 para 15%. O enve- República Dominicana, Bolívia e Argentina.
lhecimento está associado ao aumento da incidência e prevalên- A razão desse destaque internacional é o Programa Nacional
cia de DANT. As doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças de Imunizações, nascido em 18 de setembro de 1973, chega aos
respiratórias crônicas, diabetes e doenças musculoesqueléticas, 30 anos em condições de mostrar resultados e avanços notáveis.
entre outras respondem pela maior parcela dos óbitos no país e O que foi alcançado pelo Brasil, em imunizações, está muito
de despesas com assistência hospitalar no SUS, totalizando cer- além do que foi conseguido por qualquer outro país de dimen-
ca de 75% dos gastos com atenção à saúde. sões continentais e de tão grande diversidade socioeconômica.
Estas mudanças configuram novos desafios para a saúde pú- No campo das imunizações, somos vistos com respeito e
blica de encontrar mecanismos para o enfrentamento das DANT admiração até por países dotados de condições mais propícias
marcadas pela complexa relação entre a saúde e seus determi- para esse trabalho, por terem população menor e ou disporem
nantes, considerando que essas doenças têm um forte impac- de espectro social e econômico diferenciado. Desde as primeiras
to na qualidade de vida dos indivíduos afetados, causa morte vacinações, em 1804, o Brasil acumulou quase 200 anos de imu-
prematura e geram grandes e subestimados efeitos econômicos nizações, sendo que nos últimos 30 anos, com a criação do PNI,
adversos para as famílias, comunidades e sociedade em geral. desenvolveu ações planejadas e sistematizadas. Estratégias di-
Portanto, a prevenção e controle das DANT e seus fatores versas, campanhas, varreduras, rotina e bloqueios erradicaram
de risco são fundamentais para evitar o crescimento epidêmico a febre amarela urbana em 1942, a varíola em 1973 e a polio-
dessas doenças e suas consequências nefastas para a qualidade mielite em 1989, controlaram o sarampo, o tétano neonatal, as
de vida e a sistema de saúde no país. formas graves da tuberculose, a difteria, o tétano acidental, a
Diante desse cenário epidemiológico o Ministério da Saúde coqueluche. Mais recentemente, implementaram medidas para
tem desenvolvido ações que visam reduzir o impacto dessas do- o controle das infecções pelo Haemophilus influenzae tipo b, da
enças, por meio do monitoramento da morbimortalidade e seus rubéola e da síndrome da rubéola congênita, da hepatite B, da
fatores de risco, analise de acesso e utilização de serviços de influenza e suas complicações nos idosos, também das infecções
saúde, indução e apoio a ações de promoção à saúde, prevenção pneumocócicas.
e controle, avaliação das ações, programas e políticas.

229
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Hoje, os quase 180 milhões de cidadãos brasileiros convi- Torna-se cada vez mais evidente, no Brasil, que a vacina é
vem num panorama de saúde pública de reduzida ocorrência o único meio para interromper a cadeia de transmissão de algu-
de óbitos por doenças imuno preveníveis. O País investiu recur- mas doenças imuno preveníveis. O controle das doenças só será
sos vultosos na adequação de sua Rede de Frio, na vigilância de obtido se as coberturas alcançarem índices homogêneos para
eventos adversos pós-vacinais, na universalidade de atendimen- todos os subgrupos da população e em níveis considerados sufi-
to, nos seus sistemas de informação, descentralizou as ações e cientes para reduzir a morbimortalidade por essas doenças. Essa
garantiu capacitação e atualização técnico-gerencial para seus é a síntese do Programa Nacional de Imunizações, que na reali-
gestores em todos os âmbitos. As campanhas nacionais de vaci- dade não pertence a nenhum governo, federal, estadual ou mu-
nação, voltadas em cada ocasião para diferentes faixas etárias, nicipal. É da sociedade brasileira. Novos desafios foram sucessi-
proporcionaram o crescimento da conscientização social a res- vamente lançados nestes 30 anos, o maior deles sendo a difícil
peito da cultura em saúde. tarefa de manejar um programa que trabalha articulado com os
Antes, no Brasil, as ações de imunização se voltavam ao con- 26 estados, o Distrito Federal e os 5.560 municípios, numa vas-
trole de doenças específicas. Com o PNI, passou a existir uma ta extensão territorial, cobrindo uma população de 174 milhões
atuação abrangente e de rotina: todo dia é dia de estar atento de habitantes, entre crianças, adolescentes, mulheres, adultos,
à erradicação e ao controle de doenças que sejam possíveis de idosos, indígenas e populações especiais.
Enquanto diversidades culturais, demográficas, sociais e
controlar e erradicar por meio de vacina, e nas campanhas na-
ambientais são suplantadas para a realização de atividades de
cionais de vacinação essa mentalidade é intensificada e dirigida
vacinação de campanha e rotina, novas iniciativas e desafios vão
à doença em foco. O objetivo prioritário do PNI, ao nascer, era
sendo lançados. Desses, vale a pena citar alguns: Programas re-
promover o controle da poliomielite, do sarampo, da tuberculo-
gionais do continente americano – Os programas de erradicação
se, da difteria, do tétano, da coqueluche e manter erradicada a da poliomielite, eliminação do sarampo, controle da rubéola e
varíola. prevenção da síndrome da rubéola congênita e a prevenção do
Hoje, o PNI tem objetivo mais abrangente. Para os próximos tétano neonatal são programas regionais que requerem esfor-
cinco anos, estão fixadas as seguintes metas: ços conjuntos dos países da região, com definição de metas, es-
- ampliação da auto-suficiência nacional dos produtos ad- tratégias e indicadores, envolvendo troca contínua e oportuna
quiridos e utilizados pela população brasileira; de informações e realização periódica de avaliações das ativida-
- produção da vacina contra Haemophilus influenzae b, da des em âmbito regional.
vacina combinada tetravalente (DTP + Hib), da dupla viral (con- O PNI tem desempenhado papel de destaque, sendo pio-
tra sarampo e rubéola) e tríplice viral (contra sarampo, rubéola neiro na implementação de estratégias como a vacinação de
e caxumba), da vacina contra pneumococos e da vacina contra mulheres em idade fértil contra a rubéola e o novo plano de
influenza e da vacina antirrábica em cultivo celular. controle do tétano neonatal. Além disso, em 2003 foi iniciada
a estratégia de multivacinação conjunta por todos os países da
As competências do Programa, estabelecidas no Decreto nº América do Sul, durante a Semana Sul-Americana de Vacinação.
78.231, de 12 de agosto de 1976 (o mesmo que o institucionali- Atividades de busca ativa de casos, vigilância epidemiológica e
zou), são ainda válidas até hoje: vacinação nas fronteiras de todo o Brasil foram executadas com
- implantar e implementar as ações relacionadas com as va- sucesso. Essa iniciativa se repetirá nos próximos anos, contando
cinações de caráter obrigatório; já com a participação de um número ainda maior de países da
- estabelecer critérios e prestar apoio técnico a elaboração, América Central, América do Norte e Espanha.
implantação e implementação dos programas de vacinação a
cargo das secretarias de saúde das unidades federadas; Quantidades de imuno biológicos: A cada ano são incorpo-
- estabelecer normas básicas para a execução das vacina- rados novos imuno biológicos ao calendário do PNI, que são ofe-
ções; recidos gratuitamente à população, durante campanhas ou na
- supervisionar, controlar e avaliar a execução das vacina- rotina do programa, prezando pelos princípios do SUS de univer-
ções no território nacional, principalmente o desempenho dos salidade, equidade e integralidade.
Campanhas de vacinação: São extremamente complexas a
órgãos das secretarias de saúde, encarregados dos programas
coordenação e a logística das campanhas de vacinação. As cam-
de vacinação;
panhas anuais contra a poliomielite conseguem o feito de va-
- centralizar, analisar e divulgar as informações referentes
cinar 15 milhões de crianças em um único dia. A campanha de
ao PNI.
vacinação de mulheres em idade fértil conseguiu vacinar mais
de 29 milhões de mulheres em idade fértil em todo o País, ob-
A institucionalização do Programa se deu sob influência de jetivando o controle da rubéola e a prevenção da síndrome da
vários fatores nacionais e internacionais, entre os quais se des- rubéola congênita.
tacam os seguintes: Rede de Frio: A rede de frio do Brasil interliga os municípios
- fim da Campanha da Erradicação da Varíola (CEV) no Brasil, brasileiros em uma complexa rede de armazenamento, distribui-
com a certificação de desaparecimento da doença por comissão ção e manutenção de vacinas em temperaturas adequadas nos
da OMS; níveis nacional, estadual e municipal e local.
- a atuação da Ceme, criada em 1971, voltada para a orga- Autossuficiência na produção de imuno biológicos: O PNI
nização de um sistema de produção nacional e suprimentos de produz grande parte das vacinas utilizadas no País e ainda for-
medicamentos essenciais à rede de serviços públicos de saúde; nece vacinas com qualidade reconhecida e certificada interna-
- recomendações do Plano Decenal de Saúde para as Améri- cionalmente pela Organização Mundial da Saúde, com grande
cas, aprovado na III Reunião de Ministros da Saúde (Chile, 1972), potencial de exportação de um número maior de vacinas pro-
com ênfase na necessidade de coordenar esforços para contro- duzidas no País. O Brasil tem a meta ousada de ter auto-sufi-
lar, no continente, as doenças evitáveis por imunização. ciência na produção de imuno biológicos para uso na população
brasileira.

230
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Cooperação internacional: O PNI provê assistência técnica Apenas em 1824, o físico e químico Michael Faraday des-
com envio de profissionais para apoiar atividades de imuniza- cobriu a indução eletromagnética – o princípio da refrigeração.
ções e vigilância epidemiológica em outros países das Américas. Esse princípio seria utilizado dez anos depois, nos Estados Uni-
Ainda, por meio da OPAS, são inúmeros os termos de coopera- dos, para fabricar gelo artificialmente e, na Alemanha em 1855.
ção entre países do qual o Brasil participa, firmados com o intui- Mesmo com o sucesso desses modelos experimentais, a
to de transferir experiências e conhecimentos entre os países. possibilidade de produção do gelo para uso doméstico ainda era
Sendo assim, um dos programas de imunizações mais ativos um sonho distante.
na região das Américas, o PNI brasileiro tem exportado iniciati- Enquanto isso não ocorria, a única possibilidade de utili-
vas, histórias de sucesso e experiência para diversos países do zação do frio era tentando ampliar ao máximo a durabilidade
mundo. É, portanto, um exemplo a ser seguido, de ousadia, de do gelo natural. No início do século XIX, surgiram, assim, as pri-
determinação e de sucesso.” meiras “geladeiras” – apenas um recipiente isolado por meio de
placas de cortiça, onde eram colocadas pedras de gelo. Essa ge-
Rede de Frio ladeira ganhou ares domésticos em 1913.
A Rede de Frio ou Cadeia de Frio é o processo de recebi- Em 1918, após a invenção da eletricidade, a Kelvinator Co.
mento, armazenamento, conservação, manipulação, distribui- introduziu no mercado o primeiro refrigerador elétrico com o
ção e transporte dos imuno biológicos do Programa Nacional de nome de Frigidaire. Esses primeiros produtos foram vendidos
Imunizações e devem ser mantidos em condições adequadas de como aparelhos para serem colocados dentro das “caixas de
refrigeração, desde o laboratório produtor até o momento de gelo”.
sua utilização. Uma das vantagens era não precisar tirar o gelo derretido.
O objetivo da Rede de Frio é assegurar que todos os imuno O slogan do refrigerador era “mais frio que o gelo”. Na conser-
biológicos mantenham suas características iniciais, para conferir vação dos alimentos, a utilização da refrigeração destina-se a
imunidade. impedir a multiplicação de microrganismos e sua atividade me-
Imuno biológicos são produtos termolábeis, isto é, se dete- tabólica, reduzindo, consequentemente, à taxa de produção de
rioram depois de determinado tempo quando expostos a tem- toxinas e enzimas que poderiam deteriorar os alimentos, man-
peraturas inadequadas (inativação dos componentes imuno- tendo, assim, à qualidade dos mesmos.
gênicos). O manuseio inadequado, equipamentos com defeito Com a criação do Programa Nacional de Imunizações no Bra-
ou falta de energia elétrica podem interromper o processo de sil surge a necessidade de equipamento de refrigeração para a
refrigeração, comprometendo a potência e eficácia dos imuno conservação dos imuno biológicos e inicia-se o uso do refrigera-
biológicos. dor doméstico para este fim, adotando-se algumas adaptações
São componentes da Rede de Frio: equipe qualificada e
e/ou modificações que serão demonstradas no capítulo referen-
equipamentos adequados.
te aos equipamentos da rede de frio.
Sistema de Refrigeração: é composto por um conjunto de
Para os imuno biológicos, a refrigeração destina-se exclu-
componentes unidos entre si, cuja finalidade é transferir calor
sivamente à conservação do seu poder imunogênico, pois são
de um espaço, ou corpo, para outro. Esse espaço pode ser o in-
produtos termolábeis, isto é, que se deterioram sob a influência
terior de uma câmara frigorífica de um refrigerador, ou qualquer
do calor.
outro espaço fechado onde haja a necessidade de se manter
uma temperatura mais baixa que a do ambiente que o cerca.
Princípios Básicos de Refrigeração
O primeiro povo a utilizar a refrigeração foi o chinês, muitos
Calor: é uma forma de energia que pode ser transmitida
anos antes de Cristo. Os chineses colhiam o gelo nos rios e lagos
durante a estação fria e o conservavam em poços cobertos de de um corpo a outro em virtude da diferença de temperatura
palha durante as estações quentes. existente entre eles. A transmissão da energia se dá a partir do
Este primitivo sistema de refrigeração foi também utilizado corpo com maior temperatura para o de menor temperatura.
de forma semelhante por outros povos da antiguidade. Servia Um corpo, ao receber ou ceder calor, pode sofrer dois efeitos
basicamente para deixar as bebidas mais saborosas. Até pelo diferentes: variação de temperatura ou mudança de estado físi-
menos o fim do século XVII, esta seria a única aplicação do gelo co (fase). A quantidade de calor recebida ou cedida por um cor-
para a humanidade. po que sofre uma variação de temperatura é denominada calor
Em 1683, Anton Van Leeuwenhoek, um comerciante de te- sensível. E, se ocorrer uma mudança de fase, o calor é chamado
cidos e cientista de Delft, nos Países Baixos, que muito contri- latente (palavra derivada do latim que significa escondido).
buiu para o melhoramento do microscópio e para o progresso Diz-se que um corpo é mais frio que o outro quando possui
da biologia celular, detectou microrganismos em cristais de gelo menor quantidade de energia térmica ou, temperatura inferior
e a partir dessa observação constatou-se que, em temperaturas ao outro. Com base nesses princípios são, a seguir, apresentadas
abaixo de +10ºC, estes microrganismos não se multiplicavam, algumas experiências onde os mesmos são aplicados à conserva-
ou o faziam mais vagarosamente, ocorrendo o contrário acima ção de imuno biológicos.
dessa temperatura.
A observação de Leeuwenhoek continuou sendo alvo de pes- Transferência de Calor: É a denominação dada à passagem
quisa no meio científico e no século 18, descobertas científicas da energia térmica (que durante a transferência recebe o nome
relacionaram o frio à inibição do processo dos alimentos. Além de calor) de um corpo com temperatura mais alta para outro ou
da neve e do gelo, os recursos eram a salmoura e o ato de curar de uma parte para outra de um mesmo corpo com temperatura
os alimentos. Também havia as loucas de barro que mantinham mais baixa. Essa transmissão pode se processar de três maneiras
a frescura dos alimentos e da água, fato este já observado pelos diferentes: condução, convecção e radiação.
egípcios antes de Cristo. Mas as dificuldades para obtenção de
gelo na natureza criava a necessidade do desenvolvimento de
técnicas capazes de produzi-lo artificialmente.

231
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Condução: É o processo de transmissão de calor em que a -se o comportamento das moléculas da água nos estados sólido,
energia térmica passa de um local para outro através das partí- líquido e gasoso. À medida que sofrem incremento de tempera-
culas do meio que os separa. Na condução a passagem da ener- tura, essas moléculas movimentam-se com maior intensidade.
gia de uma local para outro se faz da seguinte maneira: no local A liberdade para se movimentarem aumenta conforme se passa
mais quente, as partículas têm mais energia, vibrando com mais do estado sólido para o líquido; e deste, para o gasoso
intensidade; com esta vibração cada partícula transmite energia
para a partícula vizinha, que passa a vibrar mais intensamente; Convecção Natural – Densidade: Uma mesma substância,
esta transmite energia para a seguinte e assim sucessivamente. em diferentes temperaturas, pode ficar mais ou menos densa.
O ar quente é menos denso que o ar frio. Assim, num espaço
Convecção: Consideremos uma sala na qual se liga um aque- determinado e limitado, ocorre sempre uma elevação do ar
cedor elétrico em sua parte inferior. O ar em torno do aque- quente e uma queda (precipitação) do ar frio. Sob tal princípio,
cedor é aquecido, tornando-se menos denso. Com isso, o ar uma caixa térmica horizontal aberta, contendo bobinas de gelo
aquecido sobe e o ar frio que ocupa a parte superior da sala, e reutilizável ou outro produto em baixa temperatura, só estará
portanto, mais distante do aquecedor, desce. A esse movimen- recebendo calor do ambiente através da radiação e não pela saí-
to de massas de fluido chamamos convecção e as correntes de da do ar frio existente, uma vez que este, sendo mais denso,
ar formadas são correntes de convecção. Portanto, convecção permanece no fundo da caixa.
é um movimento de massas de fluido, trocando de posição en- Ao se abrir a porta de uma geladeira vertical ocorrerá a saí-
tre si. Notemos que não tem significado falar em convecção no da de parte do volume de ar frio contido dentro da mesma, com
vácuo ou em um sólido, isto é, convecção só ocorre nos fluidos. sua consequente substituição por parte do ar quente situado
Exemplos ilustrativos: no ambiente mais próximo do refrigerador. O ar frio, por ser
- Os aparelhos condicionadores de ar devem sempre ser ins- mais denso, sai por baixo, permitindo a penetração do ar am-
talados na parte superior do recinto a ser resfriado, para que o biente (com calor e umidade). Os equipamentos utilizados para
ar frio refrigerado, sendo mais denso, desça e force o ar quente, a conservação de sorvetes e similares são predominantemente
menos denso, para cima, tornando o ar de todo o ambiente mais freezers horizontais, com várias aberturas pequenas na parte
frio e mais uniforme. superior, visando a maior eficiência na conservação de baixas
- Os aparelhos condicionadores de ar modernos possuem temperaturas. Um exemplo do princípio da densidade é obser-
refrigeração e aquecimento, mas também devem ser instalados vado quando os evaporadores ou congeladores dos refrigerado-
na parte superior da sala, pois o período de tempo de maior res, os aparelhos de ar-condicionado e centrais de refrigeração
uso será no modo ‘refrigeração’, ou seja, no período de verão. são instalados na parte superior do local a ser refrigerado Assim
Contudo, quando o equipamento for utilizado no modo ‘aqueci- o ar frio desce e refrigera todo o ambiente mais rapidamente.
mento’, durante o inverno, as aletas do equipamento deverão Já os aquecedores devem ser instalados na parte inferior. Desta
estar direcionadas para baixo, forçando o ar quente em direção forma, o ar quente sobe e aquece o local de forma mais rápida.
ao solo. Agindo destas formas, garantimos o desempenho correto dos
- Os aquecedores de ar, por sua vez, deverão ser sempre aparelhos e economizamos energia através da utilização da con-
instalados na parte inferior do recinto a ser aquecido, pois o ar vecção natural
quente, por ser menos denso, subirá e o ar que está mais frio na
parte superior desce e sofre aquecimento por convecção. Temperatura: O calor é uma forma de energia que não pode
Radiação: É o processo de transmissão de calor através de ser medida diretamente. Porém, por meio de termômetro, é
ondas eletromagnéticas ondas de calor). A energia emitida por possível medir sua intensidade. A temperatura de uma subs-
um corpo (energia radiante) se propaga até o outro, através do tância ou de um corpo é a medida de intensidade do calor ou
espaço que os separa. Raios infravermelhos; Sol; Terra; O Sol grau de calor existente em sua massa. Existem diversos tipos e
aquece a Terra através dos raios infravermelhos. Sendo uma marcas de indicadores de temperatura. Para seu funcionamen-
transmissão de calor através de ondas eletromagnéticas, a ra- to, aproveita-se a propriedade que alguns corpos têm para dila-
diação não exige a presença do meio material para ocorrer, isto tar-se ou contrair-se conforme ocorra aumento ou diminuição
é, a radiação ocorre no vácuo e também em meios materiais. da temperatura. Para esse funcionamento utilizam-se, também,
Nem todos os materiais permitem a propagação das ondas as variações de pressão que alguns fluidos apresentam quando
de calor através dele com a mesma velocidade. A caixa térmi- submetidos a variações de temperatura. Os líquidos mais comu-
ca, por exemplo, por ser feita de material isolante, dificulta a mente utilizados são o álcool e o mercúrio, principalmente por
entrada do calor e o frio em seu interior, originário das bobinas não se congelarem a baixas temperaturas.
de gelo reutilizável, é conservado por mais tempo. Toda ener- Existem várias escalas para medição de temperatura, sendo
gia radiante, transportada por onda de rádio, infravermelha, que as mais comuns são a Fahrenheit (ºF), em uso nos países de
ultravioleta, luz visível, raios X, raio gama, etc, pode converter- língua inglesa, e a Celsius (ºC), utilizada no Brasil.
-se em energia térmica por absorção. Porém, só as radiações Nos termômetros em escala Celsius (ºC) ou Centígrados, o
infravermelhas são chamadas de ondas de calor. Um corpo bom ponto de congelamento da água é 0ºC e o seu ponto de ebulição
absorvente de calor é um mal refletor. Um corpo bom refletor é de 100ºC, ambos medidos ao nível do mar e à pressão atmos-
de calor é um mal absorvente. Exemplo: Corpos de cor negra são férica.
bons absorventes e corpos de cores claras são bons refletores Fatores que interferem na manutenção da temperatura no
de calor. interior das caixas térmicas:
- Temperatura ambiente: Quanto maior for a temperatura
Relação entre temperatura e movimento molecular: Inde- ambiente, mais rapidamente a temperatura do interior da caixa
pendentemente do seu estado, as moléculas de um corpo en- térmica se elevará, em virtude da entrada de ar quente pelas
contram-se em movimento contínuo. Na figura a seguir, verifica- paredes da caixa.

232
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- Material isolante: O tipo, a qualidade e a espessura do ma- Componentes e elementos do sistema de refrigeração por
terial isolante utilizado na fabricação da caixa térmica interfe- compressão: Componentes: compressor, condensador e contro-
rem na penetração do calor. Com paredes mais grossas, o calor le do líquido refrigerante. Elementos: evaporador, filtro desi-
terá maior dificuldade para atravessá-las. Com paredes mais fi- dratador, gás refrigerante e termostato. Os componentes acima
nas, o calor passará mais facilmente. Com material de baixa con- descritos estão unidos entre si por meio de tubulações, dentro
dutividade térmica (exemplo: poliuretano ao invés de poliesti- das quais circula um fluido refrigerante ecológico (R-134a - te-
reno expandido), o calor não penetrará na caixa com facilidade. trafluoretano, é o mais comum). A compressão e a expansão
- Bobinas de Gelo Reutilizável – Quantidade e Temperatura: desse fluido refrigerante, dentro de um circuito fechado, o torna
A quantidade de bobinas de gelo reutilizável colocada no inte- capaz de retirar calor de um ambiente. Esse circuito deve estar
rior da caixa é importante para a correta conservação. A trans- hermeticamente selado, não permitindo a fuga do refrigeran-
ferência do calor recebido dos imuno biológicos, do ar dentro da te. Nos refrigeradores e freezers, o compressor e o motor estão
caixa e através das paredes fará com que o gelo derreta (tem- hermeticamente fechados em uma mesma carcaça
peratura próxima de 0ºC, no caso de as bobinas de gelo serem
constituídas de água pura). Otimizar o espaço interno da caixa Compressor: É um conjunto mecânico constituído de um
para a acomodação de maior quantidade de bobinas de gelo fará motor elétrico e pistão no interior de um cilindro. Sua função é
com que a temperatura interna do sistema permaneça baixa por fazer o fluido refrigerante circular dentro do sistema de refrige-
mais tempo. Dispor as bobinas de gelo reutilizável nos espaços ração.. Durante o processo de compressão, a pressão e a tempe-
vazios no interior da caixa, de modo que circundem os imuno ratura do fluido refrigerante se elevam rapidamente
biológicos serve ao propósito mencionado acima. Ao dispor de
certa quantidade de bobinas de gelo reutilizável nas paredes la- Condensador: É o elemento do sistema de refrigeração que
terais da caixa térmica, formamos uma barreira para diminuir a se encontra instalado e conectado imediatamente após o ponto
velocidade de entrada de calor, por um período de tempo. O ca- de descarga do compressor. Sua função é transformar o fluido
lor vai continuar atravessando as paredes, e isso ocorre porque refrigerante em líquido. Devido à redução de sua temperatura,
não existe material perfeitamente isolante. Contudo, o calor que ocorre mudança de estado físico, passando de vapor superaque-
adentra a caixa atinge primeiro as bobinas de gelo reutilizável, cido para líquido saturado. São constituídos por tubos metálicos
aumentando inicialmente sua temperatura, e, somente depois, (cobre, alumínio ou ferro) dispostos sobre chapas ou fixos por
altera a temperatura do interior da caixa. aletas (arame de aço ou lâminas de alumínio), tomando a forma
A temperatura das bobinas de gelo reutilizável também de serpentina.
deve ser rigorosamente observada. Caso sejam utilizadas bobi- A circulação do ar através do condensador pode se dar de
nas de gelo reutilizável, em temperaturas muito baixas (-20ºC) duas maneiras: a) Por circulação natural (sistemas domésticos)
e em grande quantidade, há o risco de, em determinado mo- b) Por circulação forçada (sistemas comerciais de grande capa-
mento, que a temperatura dos imuno biológicos esteja próxima cidade). Como o condensador está exposto ao ambiente, cuja
à dessas bobinas. Por consequência, os imuno biológicos serão temperatura é inferior à temperatura do refrigerante em circu-
congelados, o que para alguns tipos, pode comprometer a quali- lação, o calor vai sendo dissipado para esse mesmo ambiente.
dade, por exemplo: a vacina contra DTP. Assim, na medida em que o fluido refrigerante perde calor ao
Além desses fatores, as experiências citadas permitem lem- circular pelo condensador, ele se converte em líquido.
brar alguns pontos importantes: Nos refrigeradores tipo doméstico e freezers utilizados pelo
- o calor, decorrido algum tempo, passará através das pa- PNI, são predominantemente utilizados os condensadores está-
redes da caixa com maior ou menor facilidade, em função das ticos, nos quais o ar e a temperatura ambiente são os únicos
características do material utilizado e da espessura das mesmas; fatores de interferência. As placas, ranhuras e pequenos tubos
- a temperatura no interior da caixa nem sempre é unifor- incorporados aos condensadores, visam exclusivamente facilitar
me. Num determinado momento podemos encontrar tempera- a dissipação do calor, aumentando a superfície de resfriamento.
turas diferentes em vários pontos (a, b e c). O procedimento de Olhando-se lateralmente um refrigerador tipo doméstico
envolver os imuno biológicos com bobinas de gelo reutilizável verifica-se que o condensador está localizado na parte poste-
é entendido como uma proteção ao avanço do calor, que parte rior, afastado do corpo do refrigerador. O calor é dissipado para
sempre do mais quente para o mais frio, mas que afeta a tempe- o ar circulante que sobe em corrente, dos lados do evaporador.
ratura dos corpos pelos quais se propaga; Para que este ciclo seja completado com maior facilidade e sem
- no acondicionamento de imuno biológicos em caixas tér- interferências desfavoráveis, o equipamento com sistema de re-
micas é possível manter ou reduzir a temperatura das mesmas frigeração por compressão (geladeira, freezers, etc.) deve ficar
durante um tempo determinado utilizando-se, para tal, bobinas afastado da parede, instalado em lugar ventilado, na sombra e
de gelo reutilizável em diferentes temperaturas e quantidade. longe de qualquer fonte de calor, para que o condensador possa
ter um rendimento elevado. Não colocar objetos sobre o con-
Tipos de Sistema densador. Periodicamente, limpar o mesmo para evitar acúmulo
Compressão: São sistemas que utilizam a compressão e a de pó ou outro produto que funcione como isolante.
expansão de uma substância, denominada fluido refrigerante, Alguns equipamentos (geladeiras comerciais, câmaras frigo-
como meio para a retirada de energia térmica de um corpo ou ríficas, etc.) utilizam o conjunto de motor, compressor e conden-
ambiente. Esses sistemas são normalmente alimentados por sador, instalado externamente.
energia elétrica proveniente de centrais hidrelétricas ou tér-
micas. Alternativamente, em regiões remotas, tem-se usado o Filtro desidratador: Está localizado logo após o condensa-
sistema fotovoltaico como fonte geradora de energia elétrica. dor. Consiste em um filtro dotado de uma substância desidrata-
dora que retém as impurezas ou substâncias estranhas e absor-
ve a umidade residual que possa existir no sistema.

233
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Controle de expansão do fluido refrigerante: A seguir está Absorção: Funciona alimentado por uma fonte de calor que
localizado o controlador de expansão do fluido refrigerante. Sua pode ser uma resistência elétrica, gás ou querosene. Em opera-
finalidade é controlar a passagem e promover a expansão (re- ção com gás ou eletricidade, a temperatura interna é controlada
dução da pressão e temperatura) do fluido refrigerante para o automaticamente por um termostato. Nos equipamentos a gás,
evaporador. Este dispositivo, em geral, pode ser um tubo capilar o termostato dispõe de um dispositivo de segurança que fecha
usado em pequenos sistemas de refrigeração ou uma válvula de a passagem deste quando a chama se apaga; com querosene,
expansão, usual em sistemas comerciais e industriais. a temperatura é controlada manualmente através do ajuste da
chama do querosene. O sistema por absorção não é tão eficiente
Evaporador: É a parte do sistema de refrigeração no qual e difere da configuração do sistema por compressão. Seu funcio-
o fluido refrigerante, após expandir-se no tubo capilar ou na namento depende de uma mistura de água e amoníaco, em pre-
válvula de expansão, evapora-se a baixa pressão e temperatu- sença de um gás inerte (hidrogênio). Requer atenção constante
ra, absorvendo calor do meio. Em um sistema de refrigeração, para garantir o desempenho adequado.
a finalidade do evaporador é absorver calor do ar, da água ou
de qualquer outra substância que se deseje baixar a temperatu- Funcionamento do sistema por absorção: A água tem a pro-
ra. Essa retirada de calor ou esfriamento ocorre em virtude de priedade de absorver amônia (NH3) com muita facilidade e atra-
o líquido refrigerante, a baixa pressão, se evaporar, absorven- vés desta, é possível reduzir e manter baixa a temperatura nos
do calor do conteúdo e do ambiente interno do refrigerador. À sistemas de absorção. A aplicação de calor ao sistema faz com
medida que o líquido vai se evaporando, deslocando-se pelas que a solubilidade da amônia na água, libere o gás da solução.
tubulações, este se converte em vapor, que será aspirado pelo Assim, a amônia purificada, em forma gasosa, se desloca do se-
compressor através da linha de baixa pressão (sucção). Poste- parador até o condensador, que é uma serpentina de tubula-
riormente, será comprimido e enviado pelo compressor ao con- ções com um dispositivo de aletas situado na parte superior do
densador fechando o ciclo. circuito. Nesse elemento, a amônia se condensa e, em forma
Alimentação elétrica dos sistemas de refrigeração por com- líquida, desce por gravidade até o evaporador, localizado abaixo
pressão: Pode ser convencional, quando é proveniente de cen- do condensador e dentro do gabinete.
trais hidrelétricas ou térmicas, ou fotovoltaica, quando utiliza O esfriamento interno do equipamento ocorre pela perda
a energia solar. A alimentação elétrica convencional dispensa de calor para a amônia, que sofre uma mudança de fase da amô-
maiores comentários, pois é de uso muito comum e conhecida nia, passando do estado líquido para o gasoso.
por todos. A presença do hidrogênio mantém uma pressão elevada
Atualmente, muitos países em desenvolvimento estão usan- e uniforme no sistema. A mistura amônia-hidrogênio varia de
do o sistema fotovoltaico na rede de frio para conservação de densidade ao passar de uma parte do sistema para outra, o que
imunobiológicos. É, algumas vezes, a única alternativa em áreas resulta em um desequilíbrio que provoca a movimentação da
onde não existe disponibilidade de energia elétrica convencional amônia até o componente absorvente (água). Ao sair do evapo-
confiável. A geração de energia elétrica provém de células fo- rador, a mistura amônia-hidrogênio passa ao absorvedor, onde
toelétricas ou fotovoltaicas, instaladas em painéis que recebem somente a amônia é retida. Nesse ponto, o calor aplicado per-
luz solar direta, armazenando-a em baterias próprias através do mitirá novamente a liberação da amônia até o condensador, fe-
controlador de carga para a manutenção do funcionamento do chando o ciclo continuamente.
sistema, inclusive no período sem sol. Os sistemas de absorção apresentam algumas desvanta-
O sistema utilizado em refrigeradores para conservação de gens:
imuno biológicos é dimensionado para operação contínua do - os equipamentos que utilizam combustível líquido na ali-
equipamento (carregado e incluindo as bobinas de gelo reuti- mentação apresentam irregularidade da chama e acúmulo de
lizável) durante os períodos de menor insolação no ano. Se ou- carvão ou fuligem, necessitando regulagem sistemática e limpe-
tras cargas, como iluminação, forem incluídas no sistema, elas za periódica dos queimadores;
devem operar através de um banco de baterias separado, inde- - a manutenção do equipamento em operação satisfatória
pendente do que fornece energia ao refrigerador. O projeto do apresenta maior grau de complexidade em relação aos sistemas
sistema deve permitir uma autonomia de, no mínimo, sete dias de compressão;
de operação contínua. - a qualidade e o abastecimento constante dos combustíveis
Em ambientes com temperaturas médias entre +32ºC e dificulta o uso de tal equipamento.
+43ºC, a temperatura interna do refrigerador, devidamente car-
regado, quando estabilizada, não deve exceder a faixa de +2ºC Controle de temperatura conforme o tipo de sistema, pro-
a +8ºC. A carga recomendada de bobinas de gelo reutilizável ceder das seguintes maneiras: a) aqueles que funcionam com
contendo água a temperatura ambiente deve ser aquela que o combustíveis líquidos. O controle é efetuado através da diminui-
equipamento é capaz congelar em um período de 24 horas. ção ou aumento da chama utilizada no aquecimento do sistema,
Em virtude de seu alto custo e necessidade de treinamento por meio de um controle que movimenta o pavio do queimador;
especializado dos responsáveis pela manutenção, alguns crité- b) aqueles que funcionam com combustíveis gasosos. Nestes
rios são observados para a escolha das localidades para instala- sistemas, o controle é feito por um elemento termostático que
ção desse tipo de equipamento: permite aumentar ou diminuir a vazão do gás que alimentará a
- remotas e de difícil acesso, isoladas com inexistência de chama do queimador, provocando as alterações de temperatura
fonte de energia convencional; desejadas; c) aqueles que funcionam com eletricidade. O contro-
- que por razões logísticas se necessite dispor de um refrige- le é feito através de um termostato para refrigeração simples,
rador para armazenamento; que conecta ou desconecta a alimentação da resistência elétri-
- que, segundo o Ministério de Minas e Energia, não serão al- ca, do mesmo tipo utilizado nos refrigeradores à compressão.
cançadas pela rede elétrica convencional em, pelo menos, 5 anos;

234
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Temperatura: controle e monitoramento Situações de Emergência
O controle diário de temperatura dos equipamentos da Os equipamentos de refrigeração podem deixar de funcio-
Rede de Frio é imprescindível em todas as instâncias de armaze- nar por vários motivos. Assim, para evitar a perda dos imuno
namento para assegurar a qualidade dos imuno biológicos. Para biológicos, precisamos adotar algumas providencias. Quando
isso, utilizam-se termômetros digitais ou analógicos, de cabo ex- ocorrer interrupção no fornecimento de energia elétrica, man-
tensor ou não. Quando for utilizado o termômetro analógico de ter o equipamento fechado e monitorar, rigorosamente, a tem-
momento, máxima e mínima, a leitura deve ser rápida, a fim de peratura interna com termômetro de cabo extensor. Se não
evitar variação de temperatura no equipamento. O termômetro houver o restabelecimento da energia, no prazo máximo de 2
de cabo extensor é de fácil leitura e não contribui para essa alte- horas ou quando a temperatura estiver próxima a + 8 C proceder
ração porque o visor permanece fora do equipamento. imediatamente a transferência dos imuno biológicos para outro
equipamento com temperatura recomendada (refrigerador ou
Termômetro digital de momento, máxima e mínima: É um caixa térmica).
equipamento eletrônico de precisão constituído de um visor de O mesmo procedimento deve ser adotado em situação de
cristal líquido, com cabo extensor, que mensura as temperatu- falha no equipamento.
ras (do momento, a máxima e a mínima), através de seu bulbo O serviço de saúde deverá dispor de bobinas de gelo reuti-
instalado no interior do equipamento, em um período de tem- lizável congeladas para serem usadas no acondicionamento dos
po. Também existe disponível um modelo deste equipamento imuno biológicos em caixas térmicas.
que permite a leitura das temperaturas de momento, máxima, No quadro de distribuição de energia elétrica da Instituição,
mínima e do ambiente externo, com dispositivo de alarme que é importante identificar a chave especifica do circuito da Rede
é acionado quando a variação de temperatura ultrapassa os limi- de Frio e/ou sala de vacinação e colocar um aviso em destaque
tes configurados, ou seja, +2º e + 8º C (set point) ou sem alarme. - “Não Desligar”. Estabelecer uma parceria com a empresa local
Constituído por dois visores de cristal líquido, um para tempera- de energia elétrica, a fim de ter informação prévia sobre inter-
tura do equipamento e outro para a temperatura do ambiente rupções programadas no fornecimento. Nas situações de emer-
Termômetro analógico de momento, máxima e mínima (Ca- gência é necessário que a unidade comunique a ocorrência à
pela): Este termômetro apresenta duas colunas verticais de mer- instância superior imediata para as devidas providências.
cúrio com escalas inversas e é utilizado para verificar as varia- Observação: Recomenda-se a orientação dos agentes res-
ções de temperatura ocorridas em determinado ambiente, num ponsáveis pela vigilância e segurança das centrais de rede de
período de tempo, fornecendo três tipos de informação: a mais frio na identificação de problemas que possam comprometer a
fria; a mais quente e a do momento. qualidade dos imuno biológicos, comunicando imediatamente o
Termômetro linear: Esse tipo de termômetro só nos dá a técnico responsável, principalmente durante finais de semana e
temperatura do momento, por isso seu uso deve ser restrito às feriados.
caixas térmicas de uso diário.
Colocá-lo no centro da caixa, próximo às vacinas e tampá-la; Equipamentos da Rede de Frio
aguardar meia hora para fazer a leitura da temperatura, verifi- O PNI utiliza equipamentos que garantem a qualidade dos
cando a extremidade superior da coluna. imuno biológicos: câmara frigorífica, freezers ou congeladores,
- Na caixa térmica da sala de vacina ou para o trabalho ex- refrigeradores tipo doméstico ou comercial, caminhão frigo-
tramuro, a temperatura deverá ser controlada com frequência, rífico entre outros. Considerando as atividades executadas no
substituindo-se as bobinas de gelo reutilizável quando a tempe- âmbito da cadeia de frio de imuno biológicos, algumas delas po-
ratura atingir +8ºC. dem apresentar um potencial de risco à saúde do trabalhador.
- O PNI não recomenda a compra deste modelo de termô- Neste sentido, a legislação trabalhista vigente determina o uso
metro, porém onde de Equipamentos de Protecão Individual (EPI), conforme esta-
- O PNI espera cada vez mais que todas as instâncias invis- belece a Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego n. 3.214,
tam na aquisição de termômetros mais precisos e de melhor de 08/06/1978 que aprovou, dentre outras normas, a Norma
qualidade (digital de momento, máxima e mínima). Regulamentadora nº 06 - Equipamento de Proteção Individual -
EPI. Segundo esta norma, considera-se EPI, “todo dispositivo ou
Termômetro analógico de cabo extensor: Este tipo de ter- produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado
mômetro é utilizado para verificar a temperatura do momento, á proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saú-
no transporte, no uso diário da sala de vacina ou no trabalho de no trabalho”.
extramuro.
Câmaras Frigoríficas: Também denominadas câmaras frias.
Termômetro a laser: É um equipamento de alta tecnologia, São ambientes especialmente construídos para armazenar pro-
utilizado principalmente para a verificação de temperatura dos dutos em baixas temperaturas, tanto positivas quanto negativas
imuno biológicos nos volumes (caixas térmicas), recebidos ou e em grandes volumes. Para conservação dos imuno biológicos
expedidos em grandes quantidades. Tem a forma de uma pisto- essas câmaras funcionam em temperaturas entre +2ºC e +8ºC
la, com um gatilho que ao ser pressionado aciona um feixe de e -20°C, de acordo com a especificação dos produtos. Na ela-
raio laser que ao atingir a superfície das bobinas de gelo, registra boração de projetos para construção, ampliação ou reforma, é
no visor digital do aparelho a temperatura real do momento. necessário solicitar assessoria do PNI considerando a complexi-
Para que seja obtido um registro de temperatura confiável é ne- dade, especificidade e custo deste equipamento.
cessário que sejam observados os procedimentos descritos pelo O seu funcionamento de uma maneira geral obedece aos
fabricante quanto à distância e ao tempo de pressão no gatilho princípios básicos de refrigeração, além de princípios específi-
do termômetro cos, tais como:

235
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
- paredes, piso e teto montados com painéis em poliureta- - ao final do dia de trabalho, certificar-se de que a luz inter-
no injetado de alta densidade revestido nas duas faces em aço na foi apagada; de que todas as pessoas saíram e de que a porta
inox/alumínio; da câmara foi fechada corretamente;
- sistema de ventilação no interior da câmara, para facilitar - a limpeza interna das câmaras e prateleiras é feita sem-
a distribuição do ar frio pelo evaporador; pre com pano úmido, e se necessário, utilizar sabão. Adotar o
mesmo procedimento nas paredes e teto e finalmente secá-los.
- compressor e condensador dispostos na área externa à câ- Remover as estruturas desmontáveis do piso para fora da câma-
mara, com boa circulação de ar; ra, lavar com água e sabão, enxaguar, secar e recolocar. Limpar
- antecâmara (para câmaras negativas), com temperatura o piso com pano úmido (pano exclusivo) e sabão, se necessário
de +4°C, objetivando auxiliar o isolamento do ambiente e preve- e secar. Limpar as luminárias com pano seco e usando luvas de
nir a ocorrência de choque térmico aos imuno biológicos; borracha para prevenção de choques elétricos. Recomenda-se a
- alarmes audiovisual de baixa e alta temperaturas para aler- limpeza antes da reposição de estoque.
tar da ocorrência de oscilação na corrente elétrica ou de defeito - recomenda-se, a cada 6 (seis) meses, proceder a desinfec-
no equipamento de refrigeração; ção geral das paredes e teto das câmaras frias;
- alarme audiovisual indicador de abertura de porta; - semanalmente a Coordenação Estadual receberá do res-
- dois sistemas independentes de refrigeração instalados: ponsável pela Rede de Frio o gráfico de temperatura das câma-
um em uso e outro em reserva, para eventual defeito do outro; ras e dará o visto, após análise dos mesmos.
- sistema eletrônico de registro de temperatura (data A manutenção preventiva e corretiva é indispensável para
loggers); a garantia do bom funcionamento da câmara. Manter o contra-
- Lâmpada de cor amarela externamente à câmara, com to atualizado e renovar com antecedência prevenindo períodos
acionamento interligado à iluminação interna, para alerta da sem cobertura. As orientações técnicas e formulários estão des-
presença de pessoal no seu interior e evitar que as luzes internas critos no manual específico de manutenção de equipamentos.
sejam deixadas acesas desnecessariamente. Freezers ou Congeladores: São equipamentos destinados,
preferencialmente, a estocagem de imuno biológicos em tem-
Algumas câmaras, devido ao seu nível de complexidade e peraturas negativas (aproximadamente a -20ºC), mais eficientes
dimensões utilizam sistema de automação para controle de tem- e confiáveis, principalmente aquele dotado de tampas na parte
peratura, umidade e funcionamento. superior. Estes equipamentos devem ser do tipo horizontal, com
Organização Interna: As câmaras são dotadas de prateleiras isolamento de suas paredes em poliuretano, evaporadores nas
vazadas, preferencialmente metálicas, em aço inox, nas quais paredes (contato interno) e condensador/compressor em áreas
os imuno biológicos são acondicionados de forma a permitir a projetadas no corpo, abaixo do gabinete. São também utilizados
circulação de ar entre as mesma e organizados de acordo com a para congelar as bobinas de gelo reutilizável e nesse caso, a sua
especificação do produto laboratório produtor, número do lote, capacidade de armazenamento é de até 80%.
prazo de validade e apresentação. Não utilizar o mesmo equipamento para o armazenamento
As prateleiras metálicas podem ser substituídas por estra- concomitante de imuno biológicos e bobinas de gelo reutilizável.
dos de plástico resistente (paletes), em função do volume a ser Instalar em local bem arejado, sem incidência da luz solar direta
armazenado. Os lotes com menor prazo de validade devem ter e distante, no mínimo, 40cm de outros equipamentos e 20cm
prioridade na distribuição, Cuidados básicos para evitar perda de paredes, uma vez que o condensador necessita dissipar ca-
de imuno biológicos: lor para o ambiente. Colocar o equipamento sobre suporte com
- na ausência de controle automatizado de temperatura, re- rodinhas para evitar a oxidação das chapas da caixa em contato
comenda-se fazer a leitura diariamente, no início da jornada de direto com o piso úmido e facilitar sua limpeza e movimentação.
trabalho, no início da tarde e no final do dia, com equipamento
disponível e anotar em formulário próprio; Calendários de Vacinação
- testar os alarmes antes de sair, ao final da jornada de tra- O Calendário de vacinação brasileiro é aquele definido pelo
balho; Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI/
- usar equipamento de proteção individual; MS) e corresponde ao conjunto de vacinas consideradas de in-
- não deixar a porta aberta por mais de um minuto ao colo- teresse prioritário à saúde pública do país. Atualmente é consti-
car ou retirar imuno biológico e somente abrir a câmara depois tuído por 12 produtos recomendados à população, desde o nas-
de fechada a antecâmara; cimento até a terceira idade e distribuídos gratuitamente nos
- somente entrar na câmara positiva se a temperatura in- postos de vacinação da rede pública.
terna registrada no visor externo estiver ≤+5ºC. Essa conduta Lembramos que estes calendários de vacina são do Minis-
impede que a temperatura interna da câmara ultrapasse +8ºC tério da Saúde e corresponde a todo o Território Nacional. Mas
com a entrada de ar quente durante a abertura da porta; determinados Estados do Brasil, acrescentam outras vacinas e
- verificar, uma vez ao mês, se a vedação da porta da câmara outras doses, devido a necessidade local.
está em boas condições, isto é, se a borracha (gaxeta) não apre-
senta ressecamento, não tem qualquer reentrância, abaulamen-
to em suas bordas e se a trava de segurança está em perfeito
funcionamento. O formulário para registro da revisão mensal
encontra-se em manual específico de manutenção de equipa-
mentos;
- observar para que a luz interna da câmara não permaneça
acesa quando não houver pessoas trabalhando em seu interior.
A luz é grande fonte de calor;

236
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Calendário Nacional de Vacinação 6 meses

Criança Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e in-


fecções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 3ª dose
Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) - (previne po-
liomielite) – 3ª dose

9 meses

Febre Amarela – uma dose (previne a febre amarela)

12 meses

Para vacinar, basta levar a criança a um posto ou Unidade Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 1ª
Básica de Saúde (UBS) com o cartão/caderneta da criança. O dose
ideal é que cada dose seja administrada na idade recomendada. Pneumocócica 10 Valente (conjugada) - (previne pneumo-
Entretanto, se perdeu o prazo para alguma dose é importante nia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumo-
voltar à unidade de saúde para atualizar as vacinas. A maioria coco) – Reforço
das vacinas disponíveis no Calendário Nacional de Vacinação é Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva cau-
destinada a crianças. São 15 vacinas, aplicadas antes dos 10 anos sada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – Reforço
de idade.
Ao nascer 15 meses

BCG (Bacilo Calmette-Guerin) – (previne as formas graves DTP (previne a difteria, tétano e coqueluche) – 1º reforço
de tuberculose, principalmente miliar e meníngea) - dose única Vacina Poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP) - (previne polio-
- dose única mielite) – 1º reforço
Hepatite B–(previne a hepatite B) - dose ao nascer Hepatite A – uma dose
2 meses Tetra viral – (previne sarampo, rubéola, caxumba e varicela/
catapora) - Uma dose
Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e in- 4 anos
fecções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 1ª dose
Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) (previne a po- DTP (Previne a difteria, tétano e coqueluche) – 2º reforço
liomielite) – 1ª dose Vacina Poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP) – (previne polio-
Pneumocócica 10 Valente (conjugada) (previne a pneumo- mielite) - 2º reforço
nia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumo- Varicela atenuada (previne varicela/catapora) – uma dose
coco) – 1ª dose Atenção: Crianças de 6 meses a 5 anos (5 anos 11 meses e
Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus) – 1ª dose 29 dias) de idade deverão tomar uma ou duas doses da vacina
influenza durante a Campanha Anual de Vacinação da Gripe.
3 meses
Adolescente
Meningocócica C (conjugada) - (previne Doença invasiva
causada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – 1ª dose
4 meses

Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e in-


fecções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 2ª dose
Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) (previne a po-
liomielite) – 2ª dose
Pneumocócica 10 Valente (conjugada) (previne pneumonia,
otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) A caderneta de vacinação deve ser frequentemente atua-
– 2ª dose lizada. Algumas vacinas só são administradas na adolescência.
Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus) – 2ª dose Outras precisam de reforço nessa faixa etária. Além disso, doses
atrasadas também podem ser colocadas em dia. Veja as vacinas
5 meses recomendadas a adolescentes:

Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva cau- Meninas 9 a 14 anos


sada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – 2ª dose
HPV (previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres
e verrugas genitais) - 2 doses (seis meses de intervalo entre as
doses)

237
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Meninos 11 a 14 anos Idoso

HPV (previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres


e verrugas genitais) - 2 doses (seis meses de intervalo entre as
doses)

11 a 14 anos

Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva cau-


sada por Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – Dose única ou
reforço (a depender da situação vacinal anterior)
São quatro as vacinas disponíveis para pessoas com 60 anos
10 a 19 anos ou mais, além da vacina anual contra a gripe:

Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal ante- 60 anos ou mais


rior)
Febre Amarela – 1 dose (a depender da situação vacinal an- Hepatite B - 3 doses (verificar situação vacinal anterior)
terior) Febre Amarela – dose única (verificar situação vacinal an-
Dupla Adulto (dT) (previne difteria e tétano) – Reforço a terior)
cada 10 anos Dupla Adulto (dT) - (previne difteria e tétano) – Reforço a
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) - 2 do- cada 10 anos
ses (de acordo com a situação vacinal anterior) Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, me-
Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, me- ningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – reforço
ningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose (a depender da situação vacinal anterior) - A vacina está indi-
(a depender da situação vacinal anterior) - (está indicada para cada para população indígena e grupos-alvo específicos, como
população indígena e grupos-alvo específicos) pessoas com 60 anos e mais não vacinados que vivem acamados
e/ou em instituições fechadas.
Adulto Influenza – Uma dose (anual)

Gestante

É muito importante que os adultos mantenham suas vacinas


em dia. Além de se proteger, a vacina também evita a transmis-
são para outras pessoas que não podem ser vacinadas. Imuniza- A vacina para mulheres grávidas é essencial para prevenir
dos, familiares podem oferecer proteção indireta a bebês que doenças para si e para o bebê. Veja as vacinas indicadas para
ainda não estão na idade indicada para receber algumas vacinas, gestantes.
além de outras pessoas que não estão protegidas. Veja lista de Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal ante-
vacinas disponibilizadas a adultos de 20 a 59 anos: rior)
Dupla Adulto (dT) (previne difteria e tétano) – 3 doses (a
20 a 59 anos depender da situação vacinal anterior)
dTpa (Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto) – (previ-
Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal ante- ne difteria, tétano e coqueluche) – Uma dose a cada gestação a
rior) partir da 20ª semana de gestação ou no puerpério (até 45 dias
Febre Amarela – dose única (a depender da situação vacinal após o parto).
anterior) Influenza – Uma dose (anual)
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – Veri- Calendário Nacional de Vacinação dos Povos Indígenas
ficar a situação vacinal anterior, se nunca vacinado: receber 2
doses (20 a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos);
Dupla adulto (dT) (previne difteria e tétano) – Reforço a
cada 10 anos
Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, me-
ningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose
(Está indicada para população indígena e grupos-alvo específi-
cos)

238
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Criança 12 meses

Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 1ª


dose
Pneumocócica 10 valente (previne pneumonia, otite, me-
ningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – Reforço
Meningocócica C (previne doença meningocócica C) – refor-
ço

15 meses

DTP (Difteria, tétano e coqueluche) – 1º reforço


Ao nascer Vacina Oral Poliomielite (VOP) - (poliomielite ou paralisia
infantil) – 1º reforço
BCG – dose única - (previne as formas graves de tuberculo- Hepatite A – dose única
se, principalmente miliar e meníngea) Tetra viral ou tríplice viral + varicela – (previne sarampo, ru-
Hepatite B – dose única béola, caxumba e varicela/catapora) - Uma dose

2 meses 4 anos

Pentavalente (Previne Difteria, Tétano, Coqueluche, Hepati- DTP (previne difteria, tétano e coqueluche) – 2º reforço
te B e Meningite e infecções por HiB) – 1ª dose Vacina Oral Poliomielite (VOP) – (poliomielite ou paralisia
Vacina Inativada Poliomielite (VIP) (poliomielite ou paralisia infantil) - 2º reforço
infantil) – 1ª dose Varicela atenuada (varicela/catapora) – uma dose
Pneumocócica 10 Valente (previne pneumonia, otite, me-
ningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1ª dose 5 anos
Rotavírus (previne diarreia por rotavírus) – 1ª dose
Pneumocócica 23 v – uma dose – A vacina está indicada para
3 meses grupos-alvo específicos, como a população indígena a partir dos
5 (cinco) anos de idade
Meningocócica C (previne a doença meningocócica C) – 1ª
dose 9 anos

4 meses HPV (Papiloma vírus humano que causa cânceres e verrugas


genitais) – 2 doses (meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a
Pentavalente (previne difteria, Tétano, Coqueluche, Hepa- 14 anos)
tite B e Meningite e infecções por Haemóphilus influenzae tipo
B) – 2ª dose Adolescente
Vacina Inativada Poliomielite (VIP) (Poliomielite ou paralisia
infantil) – 2ª dose
Pneumocócica 10 Valente (previne pneumonia, otite, me-
ningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 2ª dose
Rotavírus (previne diarreia por rotavírus) – 2ª dose
5 meses

Meningocócica C (previne doença meningocócica C) – 2ª


dose
6 meses
10 e 19 anos
Pentavalente (previne Difteria, Tétano, Coqueluche, Hepati-
te B e meningite e infecções por HiB) – 3ª dose Meningocócica C (doença invasiva causada por Neisseria
Vacina Inativada Poliomielite (VIP) (Poliomielite ou paralisia meningitidis do sorogrupo C) – 1 reforço ou dose única de 12 a
infantil) – 3ª dose 13 anos - verificar a situação vacinal
Febre Amarela – dose única (verificar a situação vacinal)
9 meses Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) - 2 do-
ses, a depender da situação vacinal anterior
Febre Amarela – dose única (previne a febre amarela) HPV (Papiloma vírus humano que causa cânceres e verrugas
genitais) – 2 doses (meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a
14 anos)
Pneumocócica 23 valente (previne pneumonia, otite, me-
ningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose a
depender da situação vacinal

239
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Dupla Adulto (previne difteria e tétano) – Reforço a cada
10 anos LEI Nº 7.498/1986 (LEI DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL),
Hepatite B – (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com REGULAMENTADA PELO DECRETO Nº 94.406/1987
a situação vacinal
LEI Nº 7.498, DE 25 DE JUNHO DE 1986
Adulto
Art. 1º É livre o exercício da Enfermagem em todo o territó-
20 a 59 anos rio nacional, observadas as disposições desta lei.
A Constituição Federal em seu art. 5º, ao tratar dos direitos fun-
Hepatite B (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a damentais, insere a liberdade de exercício profissional, assim definida:
situação vacinal XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou pro-
Febre Amarela (previne febre amarela) – dose única, verifi- fissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabe-
car situação vacinal lecer;
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – se A determinação constitucional traz a indicação de que pode
nunca vacinado: 2 doses (20 a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos); ser restringida, permitindo que lei infraconstitucional estabeleça
Pneumocócica 23 valente (previne pneumonia, otite, me- requisitos para o pleno exercício da profissão. Sendo assim, a
ningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose a cada pessoa é permitido escolher a atividade profissional que
depender da situação vacinal pretende exercer, mas a legislação específica faz as imposições
Dupla adulto (DT) (previne difteria e tétano) – Reforço a necessárias para que exerça tal atividade profissional, em todos
cada 10 anos os seus graus de atuação.
Tais restrições podem ser de diversas ordens e estarão dis-
Idoso postas na legislação que regulamenta cada profissão, sendo em
geral exigida a formação e o registro no Conselho profissional.
Art. 2º A Enfermagem e suas atividades auxiliares somente
podem ser exercidas por pessoas legalmente habilitadas e ins-
critas no Conselho Regional de Enfermagem com jurisdição na
área onde ocorre o exercício.
Nesse artigo o legislador inicia a definição das exigências
legais para o exercício da Enfermagem. Como primeiro ponto,
para ser considerado um profissional de Enfermagem é exigida
a habilitação que se dá a partir da conclusão do curso relativo a
cada categoria profissional.
60 anos ou mais
Dessa forma, o Enfermeiro deverá ter concluído Curso de
Graduação de Enfermagem, com a emissão de diploma por Uni-
Hepatite B (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a versidade autorizada pelo Ministério da Educação (MEC), e com
situação vacinal currículo de acordo com o que determina a Resolução do Conse-
Febre Amarela (previne febre amarela) – dose única, verifi- lho Nacional de Educação nº 03, de 7 de novembro de 2001, que
car situação vacinal institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Gradua-
Pneumocócica 23 valente (previne pneumonia, otite, me- ção em Enfermagem.
ningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – refor- No caso do Técnico de Enfermagem, este deverá se habilitar
ço a depender da situação vacinal - A vacina está indicada para com a conclusão de curso técnico específico, em escola com au-
grupos-alvo específicos, como pessoas com 60 anos e mais não torização, sendo exigida a conclusão do ensino médio.
vacinados que vivem acamados e/ou em instituições fechadas. O Auxiliar de Enfermagem é profissional de nível médio ou
Dupla Adulto (previne difteria e tétano) – Reforço a cada fundamental, com certificado expedido por instituição autoriza-
10 anos da, conforme a legislação educacional e registrado pelo órgão
competente.
Gestante Como segundo requisito para o pleno e legal exercício profis-
sional está a inscrição no Conselho Regional de Enfermagem da
região em que irá atuar, isto porque os Conselhos Regionais de
Enfermagem criados pela Lei nº 5.905/1973 foram divididos por
estado ou território, conforme seu art. 4º: Haverá um Conselho
Regional em cada Estado e Território, com sede na respectiva
capital, e no Distrito Federal.
Parágrafo único. A Enfermagem é exercida privativamente
pelo Enfermeiro, pelo Técnico de Enfermagem, pelo Auxiliar de
Enfermagem e pela Parteira, respeitados os respectivos graus
Hepatite B (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a de habilitação.
situação vacinal Não será permitido a outros profissionais que não os enume-
Dupla Adulto (DT) (previne difteria e tétano) – 3 doses, de rados neste parágrafo o exercício da atividade da Enfermagem,
acordo com a situação vacinal sendo privativa. Nesse ponto é importante observar que apesar
dTpa (previne difteria, tétano e coqueluche) – Uma dose a de existir confusão nas atividades, o Cuidador e a doula não são
cada gestação a partir da 20ª semana profissionais de Enfermagem, e, portanto não estão vinculado
ao Conselho Regional de Enfermagem.

240
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Art. 3º O planejamento e a programação das instituições e A revalidação de diploma de graduação expedido por es-
serviços de saúde incluem planejamento e programação de En- tabelecimentos estrangeiros é regulamentada pela Resolução
fermagem. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior
Os serviços de Enfermagem estão presentes nas instituições (CNE/CES) nº 01, de 28 de janeiro de 2002, alterada pela Re-
que prestam serviços de saúde, sendo que a equipe de Enferma- solução CNE/CES nº 8, de 4 de outubro de 2007. Todas as roti-
gem geralmente representa o maior percentual dos profissionais nas e documentos necessários ficam disponíveis no site do MEC:
de saúde dentro de um estabelecimento. http:// portal.mec.gov.br/revalidacao-de-diplomas.
Diante disso, a assistência de Enfermagem deverá estar pre- Para ter validade nacional, o diploma de graduação tem que
vista nos planos e programações feitos dentro das instituições e ser revalidado por universidade brasileira pública que tenha cur-
serviços de saúde. Essa previsão auxilia a equipe multidisciplinar so igual ou similar, reconhecido pelo governo. (Art. 3º Res. CNE/
e orienta os profissionais de Enfermagem na execução de suas CES nº 1, de 29 de janeiro de 2002).
atividades, facilitando a colaboração e inserindo os serviços de IV - aqueles que, não abrangidos pelos incisos anteriores,
Enfermagem no sistema de assistência prestado. obtiverem título de Enfermeiro conforme o disposto na alínea d
Art. 4º A programação de Enfermagem inclui a prescrição da do art. 3º do Decreto nº 50.387, de 28 de março de 1961.
assistência de Enfermagem. O decreto referido no inciso IV regulamenta o exercício da
Enfermagem no território nacional e dispõe no art. 3º a quem
As prescrições de Enfermagem são receitas para determi- será concedido o título de Enfermeiro indicando as normativas
nados comportamentos esperados quanto ao paciente e ações a serem seguidas.
a serem realizadas/facilitadas pelos Enfermeiros. Essas ações/ Art. 7º São Técnicos de Enfermagem:
prescrições são selecionadas para ajudar o paciente a alcançar I - o titular do diploma ou do certificado de Técnico de Enfer-
os resultados desejados estabelecidos para ele e as metas para a magem, expedido de acordo com a legislação e registrado pelo
alta. A expectativa é a de que o comportamento prescrito benefi- órgão competente;
ciará o paciente/família de uma forma previsível, conforme o pro- O profissional Técnico de Enfermagem, no Brasil, é um pro-
blema identificado e os resultados escolhidos. Estas prescrições fissional com formação de nível médio, regulado pela Lei nº
têm a intenção de individualizar o cuidado pelo atendimento da 7.498, de 25 de junho de 1986. O Artigo esclarece que o profis-
necessidade específica do paciente e devem incorporar os poten- sional para ser considerado Técnico de Enfermagem, deverá pos-
ciais identificados do paciente quando possível. As prescrições de suir documentos que comprovem a conclusão de curso técnico
Enfermagem devem ser específicas e claramente estabelecidas, específico, em escola com autorização, sendo exigida a conclu-
iniciando com um verbo de ação. Qualificadores tipo “como”,
são do ensino médio.
“quando”, “onde”, “tempo/freqüência” e “quantidade” proporcio-
II - o titular do diploma ou do certificado legalmente confe-
nam um conteúdo para atividade planejada; por exemplo, “ajudar
rido por escola ou curso estrangeiro, registrado em virtude de
conforme necessário com as atividades de autocuidado a cada
acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como di-
manhã”, “registrar as freqüências respiratórias e cardíacas antes,
ploma de Técnico de Enfermagem.
durante e após atividade”, e “instruir a família quanto ao cuidado
Se este possuir formação fora do território brasileiro, deverá
pós-alta” (DOENGES; MOORHOUSE; GEISSLER, 2007).
revalidar os documentos no Brasil. Brasileiros natos ou natura-
Art. 5º (VETADO).
lizados e estrangeiros que tenham concluído cursos técnicos em
Alguns artigos do projeto de lei foram vetados na sua apro-
outros países podem solicitar a validação de seus diplomas. Em
vação final e por isso foram suprimidos do texto de lei publicado.
O veto é faculdade atribuída ao Presidente da República, pela Santa Catarina a solicitação deve ser feita no Instituto Federal
Constituição Federal (art. 66, §1º). Ao analisar o projeto de lei (IFSC). Para isso, é preciso que haja correspondência entre o cur-
aprovado pelo Congresso Nacional a Presidência da República rículo, a carga horária e as habilitações ou títulos conferidos nas
avalia o texto e decide se vai sancionar (aprovar), vetar parcial- duas instituições. Com o diploma validado, o técnico pode soli-
mente (negar parte do texto), ou vetar totalmente (negar todo o citar registro nos órgãos de classe e atuar profissionalmente no
texto). O veto deverá ser justificado com os motivos que levaram Brasil.
a sua impugnação. O processo é regulamentado no IFSC pela Resolução nº
Art. 6º São Enfermeiros: 002/2012 do Colegiado de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE).
I - o titular do diploma de Enfermeiro conferido por institui- Art. 8º São Auxiliares de Enfermagem:
ção de ensino, nos termos da lei; I - o titular do certificado de Auxiliar de Enfermagem confe-
II - o titular do diploma ou certificado de Obstetriz ou de rido por instituição de ensino, nos termos da Lei e registrado no
Enfermeira Obstétrica, conferido nos termos da lei; órgão competente;
Os dois primeiros incisos fazem referência à necessidade de O profissional Auxiliar de Enfermagem é trabalhador que
diploma de curso superior oferecido por instituições de ensino dispensa cuidados simples de Enfermagem ao paciente, sempre
autorizadas pelo MEC, que cumprem as normas legais estabele- com supervisão do Enfermeiro.
cidas por esse e pelo Conselho Nacional de Educação. O Auxiliar de Enfermagem, no Brasil, é um profissional que tem
Ao receber o diploma estará o cidadão apto a se inscrever como requisito a formação no ensino fundamental completo. A du-
no Conselho Regional de Enfermagem e exercer a sua atividade ração do curso é de cerca de quinze (15) meses. O profissional tem
profissional. competências mais simples e pode atuar em setores ambulatoriais.
III - o titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a Assim como o Técnico, o Auxiliar pode administrar medicamentos,
titular do diploma ou certificado de Enfermeira Obstétrica ou aplicar vacinas, fazer curativos, realizar higiene de pacientes e até
de Obstetriz, ou equivalente, conferido por escola estrangeira trabalhar com esterilização de material. Os Auxiliares de Enferma-
segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de in- gem somente podem realizar ações que demandem cuidados de
tercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de En- baixa complexidade e caráter repetitivo. Este profissional atende as
fermeiro, de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz; necessidades dos doentes portadores de doenças de pouca gravida-

241
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
de, atuando sob supervisão do Enfermeiro, auxiliando no bom atendimento aos pacientes. Controla sinais vitais dos pacientes, ministra
medicamentos e tratamentos aos pacientes internados, observando horários, posologia e outros dados, faz curativo simples, utilizando
suas noções de primeiros socorros, observando prescrições médicas e de Enfermagem, proporciona cuidados post mortem, fazendo tam-
ponamentos e preparando o corpo, para evitar secreções e melhorar a aparência do morto, atende crianças e adultos que dependam de
ajuda, auxiliando na alimentação e higiene dos mesmos, para proporcionar- lhes conforto e recuperação mais rápida, prepara pacientes
para consultas e exames. Registra as tarefas executadas, as observações feitas e as reações ou alterações importantes, anotando-as no
prontuário do paciente, para informar a equipe de saúde e possibilitar a tomada de providências imediatas (OGUISSO, 2013).
II - o titular do diploma a que se refere a Lei nº 2.822, de 14 de junho de 1956;
Este inciso dispõe sobre o registro de diploma do considerado Enfermeiro, expedido até o ano de 1950, por escolas estaduais de
Enfermagem não equiparadas nos termos do Decreto nº 20.109, de 15 de junho de 1931, e da Lei nº 775, de 6 de agosto de 1949. Os
cursos que tinham a duração de mais de um ano letivo, poderiam registrar seus títulos nas repartições competentes como Auxiliares
de Enfermagem, com direito às prerrogativas conferidas a esses profissionais, nos termos da legislação em vigor.
III - o titular do diploma ou certificado a que se refere o inciso III do Art. 2º. da Lei nº. 604, de 17 de setembro de 1955, expedido
até a publicação da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961;
Na qualidade de Auxiliar de Enfermagem, os portadores de certificados de Auxiliar de Enfermagem, conferidos por escola oficial
ou reconhecida, nos termos da Lei nº 775, de 06 de agosto de 1949 e os diplomados pelas escolas e cursos de Enfermagem das forças
armadas nacionais e forças militarizadas que não se acham incluídos na alínea c do item I do art. 2 da presente lei.
IV - o titular de certificado de Enfermeiro Prático ou Prático de Enfermagem, expedido até 1964 pelo Serviço Nacional de Fiscali-
zação da Medicina e Farmácia, do Ministério da Saúde, ou por órgão congênere da Secretaria de Saúde nas Unidades da Federação,
nos termos do Decreto-lei nº 23.774, de 22 de janeiro de 1934, do Decreto-lei nº 8.778, e 22 de janeiro de 1946, e da Lei nº 3.640,
de 10 de outubro de 1959;
A Lei nº 3. 640, de 10 de outubro de 1959, em seu art. lº, revigorou por cinco (5) anos o DecretoLei nº 8.778, de 22 de janeiro de
1946, que regula os exames de habilitação para os Auxiliares de Enfermagem e Parteiras Práticas. Permitiu-se, assim, aos beneficiá-
rios do referido diploma legal, continuarem regularizando suas situações, para que possam exercer licitamente as profissões. Seria
desnecessário demonstrar a oportunidade dessa medida, em face das dificuldades que se depararam por fatores os mais diversos,
sobretudo no interior do país. O Congresso Nacional deferiu essa justa pretensão, por solicitação do Sindicato dos Empregados em
Hospitais e Casas de Saúde do Estado de Alagoas, em que expõe a necessidade de ser concedida mais uma prorrogação do prazo
fixado de uma classe que tão bons serviços têm prestado à coletividade. Enfatizando a oportunidade da medida ora proposta, pelo
seu caráter de evidente interesse público. O Ministério da Saúde notificou as instituições hospitalares que se utilizavam dos serviços
de enfermeiras e parteiras práticas, religiosas ou leigas, para que, se submetam aos exames de habilitação previstos no citado De-
creto-lei que não se adequaram dentro desse período de cinco anos (OGUISSO, 2007).
V - o pessoal enquadrado como Auxiliar de Enfermagem, nos termos do Decreto-lei nº 299, de 28 de fevereiro de 1967;

Este inciso reorganiza o Grupo Ocupacional* P-1700 no seguinte grupo:

242
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Segundo o Art. 2º do Decreto supracitado, serão enquadra- As atividades de Enfermagem são as intervenções autôno-
das na série de classes de Auxiliar de Enfermagem P-1701 as mas ou a serem realizadas pela equipe de Enfermagem no âm-
atuais séries de classes ou classes singulares de Assistente de bito das suas qualificações profissionais. Estas intervenções são
Enfermagem P-1701, Auxiliar de Enfermagem - P-1702, Enfer- realizadas em defesa da liberdade e da dignidade da pessoa hu-
meiro Auxiliar - P-1706, Enfermeiro Militar - P-1.707; na série mana e da profissão.
de classes da Parteira - P-1703 as atuais classes singulares de Entre estas atividades previstas para a equipe de Enferma-
Obstetriz - P-1708 e de parteira prática - P-1711. gem cabe ao profissional Enfermeiro:
VI - o titular do diploma ou certificado conferido por escola I - privativamente:
ou curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em vir- Ato profissional é como se denomina uma atividade, proce-
tude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil dimento ou ação que a legislação regulamentadora da profissão
como certificado de Auxiliar de Enfermagem. atribui aos componentes de uma categoria profissional, ainda
O Artigo descreve que o profissional para ser considerado que não lhes seja exclusiva ou privativa. Deve ser praticado por
Auxiliar de Enfermagem, deverá possuir documentos que com- pessoa devidamente habilitada e que esteja exercendo legal-
provem o término do seu curso em Instituição reconhecida pelo mente sua profissão.
Ministério da Educação. Se este possuir formação fora do terri- Quando um procedimento é exercido por uma categoria seus
tório brasileiro, deverá revalidar os documentos no Brasil. atos profissionais são disputados com intuito de se tornarem ex-
I - a titular de certificado previsto no Art. 1º do Decreto-lei clusivos de uma determinada profissão, reflexo do aumento da
nº 8.778, de 22 de janeiro de 1946, observado o disposto na Lei concorrência pelo mercado de trabalho e para direcionar as prá-
nº 3.640, de 10 de outubro de 1959; ticas clínicas e gerenciais da profissão.
a) direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura
O Artigo esclarece que as Parteiras não são Enfermeiras, são básica da instituição de saúde, pública e privada, e chefia de ser-
trabalhadoras que dispensam cuidados simples sob o controle viço e de unidade de Enfermagem;
de um Enfermeiro. Suas funções consistem em dar assistência a Entende-se que o setor saúde aglutina além das instituições
parturiente durante o parto e o período pós- natal e cuidar do públicas, as instituições privadas da sociedade civil, instituições
recém-nascido. Estes trabalhadores dão assistência pela experi- de educação em saúde e de pesquisa em saúde. As instituições
ência prática, não possuem formação e conhecimentos teóricos. do setor saúde, em conjunto, conformam um sistema nacional
(OGUISSO, 2013). de saúde cuja modalidade organizativa e operativa depende da
II - a titular do diploma ou certificado de Parteira, ou equi- organização política e administrativa de cada país.
valente, conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as b) organização e direção dos serviços de Enfermagem e de
leis do país, registrado em virtude de intercâmbio cultural ou suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras
revalidado no Brasil, até 2 (dois) anos após a publicação desta desses serviços;
Lei, como certificado de Parteira. A organização do Serviço de Enfermagem, função está pri-
A profissional para ser considerada Parteira, deverá atender vativa do profissional Enfermeiro que dispõe sobre a regula-
aos requisitos previstos no Art. 1º do Decreto-lei nº 8.778/ 1946 mentação do exercício da Enfermagem, tem como finalidade a
o qual revela que as parteiras que tenham mais de dois anos de promoção da saúde e a qualidade de vida da pessoa, família e
efetivo exercício de Enfermagem em estabelecimento hospitalar, coletividade e o planejamento, supervisão e execução de todas
poderão submeter-se aos exames de habilitação que lhes facul- as atividades de Enfermagem existentes em instituição de saúde,
tem o certificado de “parteira prática”. conforme a legislação vigente.
O Art. 13 do mesmo Decreto orienta que a “parteira prática” c) planejamento, organização, coordenação, execução e
concede ao seu portador o direito de servir como atendente de avaliação dos serviços da assistência de Enfermagem;
doentes em hospitais, maternidades, enfermarias e ambulató- O Enfermeiro atua como direcionador das ações de sua
rios, no Estado em que for expedido. equipe e influenciador dos processos de trabalho, em sua prática
Art. 10. (VETADO); diária. A função do Enfermeiro, além de coordenar a equipe, é
Art. 11. O Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfer- gerenciar a assistência de Enfermagem mediante um processo
magem, cabendo-lhe: sistematizado de ações dirigidas à promoção e recuperação da
O profissional Enfermeiro desenvolve ações de prevenção, saúde do paciente. Na maior parte das instituições de saúde, os
promoção, proteção e reabilitação da saúde com capacidade de Enfermeiros são coordenadores formais do cuidado, atuando em
tomar decisões. É generalista com competência técnica, ética, muitas áreas diferentes, e seu fio condutor é o processo de En-
política, social, ecológica e educativa. É capaz de conhecer e fermagem, considerado um importante instrumento na prática
intervir sobre problemas ou situações de saúde e doença mais da Enfermagem.
prevalentes identificando as dimensões biopsicossociais de seus d) (VETADO);
determinantes. Em um padrão social, no que se refere à regula- e) (VETADO);
ção do trabalho entre os Enfermeiros e demais componentes da f) (VETADO);
equipe de Enfermagem, o papel ou status de cada um está defi- g) (VETADO);
nido por esta lei e legislação pertinente e cada um deve saber o h) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria
que fazer para por em prática este padrão. Entretanto, é impor- de Enfermagem;
tante enfatizar que é requerido ao Enfermeiro o conhecimento Na equipe de Enfermagem é o Enfermeiro quem possui
das atividades e atitudes que englobam o trabalho da equipe de formação para serviços de Consultoria que normalmente cons-
Enfermagem, já que tem o papel de coordenador e supervisor tituem a atividade profissional de diagnóstico e formulação de
da equipe. soluções acerca de uma matéria ou assunto. É prestada por pes-
soas detentoras de conhecimento relativo à consulta. Tem como
finalidade apoiar intensa e temporariamente as organizações e

243
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
não a execução por si própria, de tal forma que seus gestores e a) participação no planejamento, execução e avaliação da
profissionais adquiram conhecimento e habilidades para assumi- programação de saúde;
rem o papel de agentes de mudanças no processo de trabalho e Programação de saúde é um instrumento para operacionali-
seus resultados. zar as políticas da área de forma sistematizada, as ações, os re-
i) consulta de Enfermagem; cursos financeiros, a execução e avaliação que contribuem para
A articulação teórico - prática advinda da formação profis- o alcance dos objetivos e cumprimento de metas na promoção,
sional do Enfermeiro é importante para a aquisição das compe- prevenção, tratamento (cuidados) e recuperação da saúde da
tências necessárias à realização da consulta de Enfermagem, população.
que possui valor bastante significativo para dar resolubilidade b) participação na elaboração, execução e avaliação dos pla-
às questões apresentadas pelos indivíduos, permitindo atendê- nos assistenciais de saúde;
-los de maneira holística. A Enfermagem é uma profissão que tem compromisso com
A consulta de Enfermagem é o método no qual o profissional a coletividade e a saúde do indivíduo, participando com ética,
Enfermeiro possui completa autonomia para desenvolver estra- competência e responsabilidade dos processos e modelos assis-
tégias de cuidado abrangentes para a promoção, na recupera- tenciais a ela relacionados. O Enfermeiro dentro de suas atribui-
ção da saúde do indivíduo, da família ou da comunidade. ções éticas e legais atua com conhecimento científico e liderança
j) prescrição da assistência de Enfermagem; na gestão, organização, proteção e no processo de recuperação
O planejamento da assistência de Enfermagem, etapa sub- da saúde.
sequente ao diagnóstico na Sistematização da Assistência de c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas
Enfermagem e, traduzido na prescrição de cuidados de Enfer- de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde;
magem, expressa, de forma organizada, os objetivos diários da A Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) por meio da RDC
assistência a cada indivíduo, visando uma melhor qualidade as- nº 20, de 5 de maio de 2011 dispõe sobre o controle de medi-
sistencial. Constitui-se em um instrumento para que as ações de camentos à base de substâncias classificadas como antimicro-
Enfermagem possam ser registradas e contabilizadas, represen- bianos, no seu Capítulo II da Prescrição, artigo 4º define que “a
tando um importante passo para a definição e valorização da prescrição dos medicamentos abrangidos por esta Resolução de-
Enfermagem como profissão. verá ser realizada por profissionais legalmente habilitados.” O
l) cuidados diretos de Enfermagem a pacientes graves com entendimento da autoridade sanitária é se o profissional Enfer-
meiro é habilitado pela Lei nº 7.498/1986, então pode prescrever
risco de vida;
os medicamentos estabelecidos em programas de saúde.
Paciente grave é aquele que apresenta comprometimento
No mesmo sentido, a Portaria nº 2.488/2011, do Ministério
de um ou mais dos principais sistemas fisiológicos, com perda
da Saúde, que está em vigor, e que aprovou a Política Nacional
de sua auto-regulação, necessitando substituição artificial de
de Atenção Básica, prevê, dentre as atribuições específicas: do
funções e assistência contínua; e aqueles que apresentam esta-
Enfermeiro: (...) item II – realizar consulta de Enfermagem (...),
bilidade clínica, com potencial risco de agravamento do quadro
solicitar exames complementares, prescrever medicações e en-
e que necessita de cuidados contínuos. Sendo assim, o paciente
caminhar, quando necessário, usuários a outros serviços; Ainda,
grave com demanda de cuidados, com risco de vida, sujeitos à
cumpre salientar que as atribuições do profissional de Enferma-
instabilidade das funções vitais requer assistência de Enferma-
gem permanecem preservadas e garantidas pelo seu Decreto nº
gem e médica permanente e especializada e recuperável. 94.406/1987, art. 8º, I, “e”; II, “c”. Sendo assim, deve o Enfer-
m) cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica meiro exercer a sua profissão com a liberdade, dignidade e auto-
e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de nomia que lhe assegura a Constituição Federal e Lei do Exercício
tomar decisões imediatas; Profissional, devendo ele assumir firmemente o título e atribui-
O cuidado de maior complexidade deve ser realizado pelo ções de Enfermeiro a que está legalmente habilitado.
Enfermeiro. Estudos recomendam que estes profissionais sejam d) participação em projetos de construção ou reforma de
dotados de conhecimentos, competências e habilidades que ga- unidades de internação;
rantam rigor técnico-científico à assistência de Enfermagem. O Enfermeiro no seu cotidiano deve assegurar que sua prá-
Entre os requerimentos da dinâmica profissional, o Enfer- tica seja realizada de forma integrada e contínua com as demais
meiro deve possuir capacidade de diagnóstico, de solucionar instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar critica-
problemas, de tomar decisões, de intervir no processo de traba- mente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar
lho, de atuar em equipe. Como mencionado, é preciso integrar soluções para os mesmos. Devem realizar seus serviços dentro
conhecimentos gerais e específicos, habilidades teóricas e práti- dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/
cas, atitudes e valores éticos. bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à
II - como integrante da equipe de saúde: saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, em projetos
A equipe de saúde é formada por profissionais de mesma que visam a resolução do problema de saúde, tanto operacio-
ou diferentes profissões e áreas de atuação, responsáveis pela nalmente como estruturalmente em nível individual e coletivo
assistência à saúde de um ou mais indivíduos. De acordo com (JOINT COMMISION RESOURCES, 2008).
as necessidades do indivíduo, a equipe se ajusta para assistir e) prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar e
melhor à sua situação. Por exemplo: para prestar assistência a de doenças transmissíveis em geral;
um indivíduo com câncer, a equipe pode ser formada por Enfer- O Enfermeiro é um profissional qualificado para o exercício
meiro, Técnico de Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem, médico de Enfermagem, com base no rigor científico e intelectual e pau-
oncologista, fisioterapeuta oncofuncional, psicólogo hospitalar, tado em princípios éticos. Possui a capacidade de conhecer e in-
serviço social entre outros. tervir sobre os problemas/situações de saúde-doença mais pre-
valentes no perfil epidemiológico nacional, com ênfase na sua
região de atuação, identificando as dimensões biopsicosociais
dos seus determinantes.

244
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
f) prevenção e controle sistemático de danos que possam a necessidade da parturiente. Além de possibilitar a identifica-
ser causados à clientela durante a assistência de Enfermagem; ção das ações necessárias para a diminuição da mortalidade
Os processos nos serviços de saúde são complexos e têm materna por causas diretas, que resultam de intervenções, omis-
cada vez mais incorporado tecnologias e técnicas elaboradas, sões e iatrogênias.
acompanhados de riscos adicionais na prestação de assistência j) educação visando à melhoria de saúde da população.
aos indivíduos. Entretanto, medidas simples e efetivas podem Os profissionais Enfermeiros devem ser capazes de aprender
prevenir e reduzir riscos e danos nestes serviços. Sendo assim, o continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática.
Enfermeiro tem como desafio o enfrentamento da redução dos Desta forma, estes profissionais devem aprender a aprender e
riscos e dos danos na assistência de Enfermagem investindo no ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o
aperfeiçoamento da equipe de Enfermagem, na utilização de treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, mas
boas práticas e no aprimoramento das tecnologias e melhoria proporcionando condições para que haja benefício mútuo entre
dos ambientes de trabalho ao englobar questões primordiais os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive,
para o alcance dos melhores resultados para os indivíduos, famí- estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profis-
lia e comunidade visando uma assistência segura e de qualidade. sional, a formação e a cooperação por meio de redes nacionais
g) assistência de Enfermagem à gestante, parturiente e e internacionais.
puérpera; Deve – se salientar, que a qualidade na assistência de En-
A gestação é um período em que a mulher vivencia uma série fermagem se concretiza quando o profissional exerce suas ações
de alterações anatômicas, fisiológicas e bioquímicas, que resul- com conhecimento, habilidade, humanidade e competência para
tam em sinais e sintomas próprios que alteram profundamente atender as necessidades de saúde e expectativas do individuo.
o seu psicológico e todo seu esquema corporal. Cabe ao profis- Diante desse cenário, a promoção de educação em saúde está
sional de saúde dar orientações, encaminhamentos, apoiando- cada vez mais se consolidando como uma prática significativa,
-a e tranquilizando-a quando necessário, para que este período pois abrange a prestação de serviço de Enfermagem, além de
transcorra de maneira agradável (WHO, 2009). Neste período a prover informação, por meio da educação permanente, para os
gestante é acompanhada através do pré-natal que é um conjun- profissionais que dela necessitam no desempenho diário de suas
to de ações realizado durante o período gravídico, com vistas a atividades.
um atendimento global da saúde da mulher, de maneira indivi- Parágrafo único. As profissionais referidas no inciso II do art.
dualizada, procurando sempre a qualidade e resolutividade. 6º desta lei incumbe, ainda:
h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto; O artigo 6 da lei descreve em seus incisos quem são os En-
A assistência de Enfermagem durante o parto refere-se ao fermeiros, e especificamente no inciso II: o titular do diploma
período em que a gestante apresenta contrações uterinas em in- ou certificado de obstetriz, com competência legal de realizar
tervalos regulares, que aumentam progressivamente em termos assistência obstétrica, e cuja graduação em Obstetrícia tem ên-
de frequência e intensidade, com o passar do tempo são conco- fase na promoção da saúde da mulher e na assistência da mu-
mitantes a dilatação progressiva do colo uterino. lher durante a gravidez, o parto e o pós parto; ou de enfermeira
No parto normal devem ser considerados o risco da gravi- obstétrica, que tem a competência legal de realizar assistência
dez e a evolução do trabalho de parto. É bom ter em conta que obstétrica, além de todas as atividades de Enfermagem conferi-
uma gestante considerada de baixo risco no início do trabalho dos nos termos da lei.
de parto, pode vir a ter complicações. Por outro lado, muitas Em 1994, o currículo mínimo de Enfermagem foi modifica-
gestantes de alto risco ao final têm uma evolução sem compli- do e a habilitação em Obstetrícia foi extinta. Na atualidade, o
cações. Sendo assim há necessidade de uma avaliação rigorosa curso previsto para formação específica de Enfermeiros na área
das necessidades da parturiente e do prognóstico do parto para obstétrica consiste na especialização em Enfermagem, nível de
uma boa tomada de decisão em relação ao parto e para uma boa pós-graduação latu sensu, surgindo a figura do Enfermeiro com
assistência. Idealmente um parto é considerado normal quando especialização em Obstetrícia e Saúde da Mulher.
inicia espontaneamente entre 37 e 42 semanas de gestação; é de a) assistência à parturiente e ao parto normal;
baixo risco desde o início do trabalho de parto até o nascimento; Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, a assistên-
o bebê nasce espontaneamente, em posição cefálica de vértice e cia obstétrica deve ter como objetivo mãe e criança saudáveis,
após o nascimento, mãe e filho estão em boas condições. com o mínimo de intervenções e compatíveis com a segurança.
i) execução do parto sem distocia; Nessa perspectiva deve haver uma razão válida para se interferir
Distocia é a dificuldade encontrada na evolução de um tra- no parto normal. O Ministério da Saúde vem financiando e esti-
balho de parto, tornando um problema grave para a mãe e para mulando a qualificação da Enfermagem obstétrica, para acolher
o feto. A sintomatologia de um parto distocico inclui: contrações as escolhas da mulher no processo de parto e nascimento, por
fortes e persistentes sem expulsão fetal; contrações fracas, infre- meio de uma cuidadosa avaliação de suas condições clínicas e
quentes e improdutivas por mais de duas ou três horas; gestação obstétricas, como parte da estratégia da Rede Cegonha, para
prolongada, descarga vaginal purulenta e sinais de intoxicação; ampliar e qualificar a assistência prestada às gestantes e aos
apresentação, posição ou atitude do feto anormal; fetos muito bebês no Sistema Único de Saúde (SUS).
grandes; entre outros (GOMES, 2010). b) identificação das distocias obstétricas e tomada de provi-
O Enfermeiro de acordo com a regulamentação legal só dências até a chegada do médico;
pode intervir em parturientes submetidas a partos vaginais sem O Enfermeiro conforme a legislação vigente é habilitado
distócias, ou seja, sem anormalidades durante a avaliação no em conformidade com sua capacitação técnica – cientifica para
pré-parto. Apesar disto, durante o parto algumas anormalidades conduzir um parto quando acontece de forma natural (sem dis-
podem ser constatadas sendo necessária à intervenção do Enfer- tocias), examinar a gestante, verificar contrações, dilatações e
meiro. Logo, compreender as possíveis alterações intervenientes demais alterações no funcionamento do organismo feminino no
do parto natural respalda uma assistência integral coerente com momento do parto, e discernir quaisquer alterações patológicas

245
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
adotando os procedimentos que entendem imprescindíveis, para complementares, e outros, preparando o paciente, o material e
garantir a segurança da mãe e bebe, até a chegada de um mé- o ambiente, para assegurar maior eficiência na realização dos
dico especialista. exames e tratamentos; faz curativos simples e tratamento em
c) realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de situações de emergência, empregando técnicas usuais ou espe-
anestesia local, quando necessária. cificas, para atenuar as consequências dessas situações, adapta
A episiotomia é um corte cirúrgico feito no períneo, que é a o paciente ao ambiente hospitalar e aos métodos terapêuticos
região entre a vagina e o ânus, formada por músculos. Ocorre que lhe são aplicados, e orientando-o, para reduzir sua sensa-
durante o parto normal para facilitar a passagem do bebê, nos ção de insegurança e sofrimento e obter sua colaboração no
casos em que a abertura não está sendo suficiente. cuidado; presta cuidados post mortem, como enfaixamentos e
Antigamente, esse corte era feito como rotina. Hoje, porém, tamponamentos, utilizando algodão, gaze ou outros materiais,
a orientação mudou. Considera-se que, se for feita sem neces- para evitar a eliminação de secreções e melhorar a aparência
sidade, a episiotomia pode ser mais prejudicial que benéfica. do cadáver; registra as observações, tratamentos executados
Mesmo que haja algum tipo de rasgo ou laceração no períneo e ocorrências verificadas em relação ao paciente, anotando-as
no momento do parto, a cicatrização costuma ocorrer sem difi- no prontuário hospitalar, ficha de ambulatório, relatório de En-
culdades. E sempre há a chance de a mulher não precisar levar fermagem da unidade ou relatório geral, para fins de documen-
nenhum ponto. tação e evolução da doença e possibilitar o controle da saúde
O Enfermeiro deve informar a parturiente as alternativas (OGUISSO, 2013).
de assistência ao parto e práticas benéficas recomendadas pela Assim como o atendimento as necessidades humanas bási-
Organização Mundial da Saúde, como forma de respeito a seus cas dos indivíduos (HORTA, 1979). Sendo que, todas as ações de
valores e vontade, primando pela manutenção da integridade Enfermagem devem ser realizadas com orientação e supervisão
da mulher. do profissional Enfermeiro.
Art. 12. O Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível d) participar da equipe de saúde.
médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho Entende-se por equipe de saúde, um grupo formado por pro-
de Enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamen- fissionais de saúde, de mesma ou diferentes profissões e áreas
to da assistência de Enfermagem, cabendo-lhe especialmente: de atuação, responsáveis pela assistência à saúde de um ou mais
Neste Artigo, fica descrito que os trabalhadores desta ca- pacientes.
tegoria profissional prestam serviços técnicos. Suas funções Art. 13. O Auxiliar de Enfermagem exerce atividades de nível
consistem em: dispensar cuidados técnicos de Enfermagem em médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de
hospitais, clínicas e outros estabelecimentos de assistência em Enfermagem sob supervisão, bem como a participação em nível
saúde; dispensar cuidados ou orientar sobre aplicação dos mes- de execução simples, em processos de tratamento, cabendo-lhe
mos em escolas, empresas, centros infantis, creches; orientar especialmente:
sobre questões de cirurgia, terapia, puericultura, pediatria, psi- O Auxiliar de Enfermagem no geral dispensam cuidados sim-
quiatria, obstetrícia e outras (OGUISSO, 2013). Contudo, deve-se ples de Enfermagem aos indivíduos, sob a supervisão de um En-
atentar ao fato que o Técnico deve ser supervisionado pelo En- fermeiro. Suas funções consistem em: atender as necessidades
fermeiro (Art. 15 da Lei). de enfermos portadores de doenças de pouca gravidade; dispen-
a) participar da programação da assistência de Enfermagem; sar cuidados simples de Enfermagem a pacientes hospitalizados;
O Técnico de Enfermagem no geral participa de forma ativa orientar o trabalho educativo desenvolvido com indivíduos e gru-
dos serviços de Enfermagem, empregando processos de rotina pos, para prevenção de doenças; colher material para exames.
e/ou específicos, para possibilitar a proteção e recuperação da Estes trabalhadores não possuem formação e conhecimentos
saúde do paciente. O Técnico deverá fazer pelo próximo aqui- teóricos tão completos como os Técnicos de Enfermagem e os
lo que o outro não pode fazer por si mesmo; ajudar ou auxiliar Enfermeiros (OGUISSO, 2013). Eles podem ministrar medicamen-
quando parcialmente impossibilitado de se autocuidar; orientar tos e prestar tratamentos de rotina aos pacientes internados,
ou encaminhar a outros profissionais (HORTA, 1979). observando horários, posologia e outros dados, atendendo as
b) executar ações assistenciais de Enfermagem, exceto as prescrições de Enfermagem e médica.
privativas do Enfermeiro, observado o disposto no Parágrafo a) observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas;
único do Art. 11 desta Lei; Como mencionado acima, o profissional Auxiliar de Enfer-
Nesta alínea, fica determinado que o profissional Técnico magem atende as necessidades dos indivíduos portadores de do-
de Enfermagem deva executar ações de assistência ao paciente/ enças de pouca gravidade. Este profissional controla sinais vitais
cliente, exceto as ações encontradas no Art. 11 desta Lei, pois dos pacientes, observando a pulsação e utilizando aparelhos de
nestes casos, caberá somente ao profissional Enfermeiro, execu- pressão, para registrar anomalias. (OGUISSO, 2013).
tá-las. Neste sentido deve-se estar atento também as Resoluções b) executar ações de tratamento simples;
Cofen que regulam o exercício da Enfermagem tomando algu- Este profissional poderá fazer curativos simples, utilizando
mas ações no âmbito da equipe privativas do Enfermeiro. suas noções de primeiros socorros ou observando prescrições
c) participar da orientação e supervisão do trabalho de En- para proporcionar alivio ao paciente e facilitar cicatrização de
fermagem em grau auxiliar; ferimentos, suturas e escoriações; auxilia nos cuidados post mor-
O Técnico de Enfermagem executa diversas tarefas de En- tem, fazendo tamponamentos e preparando o corpo, para evitar
fermagem como a administração de sangue, plasma, medica- secreções e melhorar a aparência do morto. Prepara paciente
ção, controle de sinais vitais, prestação de cuidados de conforto, para consultas e exames, vestindo-os adequadamente e colocan-
movimentação ativa e passiva e de higiene pessoal, aplicação do-os na posição indicada para facilitar a realização das opera-
de diálise peritonial e hemodiálise, valendo-se sempre dos seus ções mencionadas; prepara e esteriliza material e instrumental,
conhecimentos técnicos, para proporcionar o maior grau de ambientes e equipamentos, obedecendo a prescrições, para per-
bem estar físico, mental e social aos pacientes; executa tarefas mitir a coleta de material para exames de laboratório e a instru-

246
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
mentação em intervenções cirúrgicas, sempre sob a supervisão Parágrafo único. Os órgãos a que se refere este artigo pro-
do Enfermeiro, registra as tarefas executadas, as observações moverão as medidas necessárias à harmonização das situações
feitas e as reações ou alterações importantes, anotando-as no já existentes com as disposições desta lei, respeitados os direi-
prontuário do paciente, para informar a equipe de saúde e possi- tos adquiridos quanto a vencimentos e salários.
bilitar a tomada de providencias imediata (OGUISSO, 2013). A gestão de pessoas nas organizações públicas tem como di-
c) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente; ferença a submissão a leis específicas e a determinações políticas
O Auxiliar de Enfermagem atende a indivíduos que depen- que as privadas não têm. Ainda, a transparência para a adminis-
dem de ajuda e os que não executam autocuidado, higiene oral, tração pública é outro fator que a difere do ramo privado, uma
banho, massagem e mobilização, auxiliando na alimentação e vez que ela é obrigada a divulgar tudo que faz principalmente
higiene dos mesmos, para proporciona-lhes conforto e recupe- no que tange a prestação de contas dos recursos financeiros de-
ração mais rápida. marcado pelos princípios da impessoalidade, da legalidade, da
d) participar da equipe de saúde. moralidade, da publicidade e da eficiência.
Entende-se por equipe de saúde, um grupo formado por pro- Entre os desafios da gestão pública de pessoal, encontram-
fissionais de saúde, de mesma ou diferentes profissões e áreas -se a adequação do quadro de servidores ao tamanho da máqui-
de atuação, responsáveis pela assistência à saúde de um ou mais na estatal, a conciliação entre gastos com pessoal e o orçamen-
pacientes. to estipulado para cada esfera de governo, a desburocratização
O Auxiliar de Enfermagem possui o dever inerente de assistir das rotinas de trabalho, a administração do crescimento do nú-
o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas, atu- mero de cargos públicos e a adequação necessária as legislações
ando sob supervisão do Enfermeiro, em caráter de apoio, e por profissionais.
isso é apto a participar da equipe de saúde, pois exerce a função Art. 21. (VETADO).
de facilitador no desenvolvimento das tarefas de cada membro Art. 22. (VETADO).
da equipe de saúde, além de gerar informações para possibilitar Art. 23. O pessoal que se encontra executando tarefas de
a tomada de providências (OGUISSO, 2013). Enfermagem, em virtude de carência de recursos humanos de
Art. 14 . (VETADO). nível médio nessa área, sem possuir formação específica regu-
Art. 15. As atividades referidas nos arts. 12 e 13 desta lei, lada em lei, será autorizado, pelo Conselho Federal de Enferma-
quando exercidas em instituições de saúde, pública e privadas, gem, a exercer atividades elementares de Enfermagem, obser-
e em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas vado o disposto no art. 15 desta lei.
sob orientação e supervisão de Enfermeiro. O artigo segundo desta lei afirma que a Enfermagem e suas
Entre as atribuições privativas do Enfermeiro, destacadas atividades auxiliares somente podem ser exercidas por pessoas
no artigo 11, alínea c, está inserida a coordenação da equipe e legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de En-
do serviço de Enfermagem no planejamento, organização, co- fermagem e é exercido privativamente pelo Enfermeiro, Técnico
ordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de de Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem e pela parteira, respei-
Enfermagem Assim, cabe ao Enfermeiro a coordenação de sua tados os respectivos graus de habilitação.
unidade de trabalho, congregando os membros da equipe de En- A partir da promulgação desta lei foram autorizados aos
fermagem e organizando os recursos disponíveis na prestação atendentes de Enfermagem as atividades elementares de Enfer-
de assistência qualificada e satisfatória a pacientes, família e magem que compreendem as ações que não requerem conheci-
equipe. mento científico e se restringem a atividades de repetição por
Art. 16. (VETADO). meio de treinamento e não envolvem cuidados diretos ao indivi-
Art. 17. (VETADO). duo, mas contribuem para a assistência de Enfermagem. Sendo
Art. 18. (VETADO). que, estas atividades somente podem ser exercidas sob a super-
Parágrafo único. (VETADO). visão do Enfermeiro.
Art. 19. (VETADO). Parágrafo único. É assegurado aos atendentes de Enferma-
Art. 20. Os órgãos de pessoal da administração pública dire- gem, admitidos antes da vigência desta lei, o exercício das ati-
ta e indireta, federal, estadual, municipal, do Distrito Federal e vidades elementares da Enfermagem, observado o disposto em
dos Territórios observarão, no provimento de cargos e funções seu artigo 15. (Redação dada pela Lei nº 8.967, de 1986)
e na contratação de pessoal de Enfermagem, de todos os graus, Todos os atendentes de Enfermagem que exerciam suas ati-
os preceitos desta lei. vidades antes da lei e não tiveram formação profissional foram
A Constituição Federal, a partir da Emenda Constitucional autorizados as atividades elementares sob a supervisão do En-
nº 19, de 1998, revisou a área de gestão de recursos humanos fermeiro.
na administração pública, viabilizando a adoção de leis que ad- Art. 24. (VETADO).
mitam a criação de cargos alinhados com as características das Parágrafo único. (VETADO). 11
demandas funcionais a serem atendidas, determinou que o con-
curso público seja feito com metodologia que absorva a natureza
e complexidade do cargo, conectou o estágio probatório ao exer-
cício do cargo, com sistema de avaliação especial que viabilize
a confirmação funcional do servidor, sinalizou a necessidade de
organizar carreira no cargo para valorizar e reconhecer o desen-
volvimento pessoal e profissional do seu titular, considerando o
grau de responsabilidade, as peculiaridades e a complexidade
das suas atribuições e permitiu o acréscimo de parcela remune-
ratória variável, de acordo com o alcance de resultados.
11Fonte: www.corensc.gov.br

247
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
CONSIDERANDO as sugestões apresentadas na Assembleia
CÓDIGO DE ÉTICA E DEONTOLOGIA Extraordinária de Presidentes dos Conselhos Regionais de Enfer-
DA ENFERMAGEM – ANÁLISE CRÍTICA magem, ocorrida na sede do Cofen, em Brasília, Distrito Federal,
no dia 18 de julho de 2017, e
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM CONSIDERANDO a deliberação do Plenário do Conselho Fe-
deral de Enfermagem em sua 491ª Reunião Ordinária,
RESOLUÇÃO COFEN Nº 564/2017 RESOLVE:

Aprova o novo Código de Ética dos Profissionais de Enfer- Art. 1º Aprovar o novo Código de Ética dos Profissionais de
magem Enfermagem, conforme o anexo desta Resolução, para obser-
O Conselho Federal de Enfermagem – Cofen, no uso das atri- vância e respeito dos profissionais de Enfermagem, que poderá
buições que lhe são conferidas pela Lei nº 5.905, de 12 de julho ser consultado através do sítio de internet do Cofen (www.co-
de 1973, e pelo Regimento da Autarquia, aprovado pela Resolu- fen.gov.br).
ção Cofen nº 421, de 15 de fevereiro de 2012, e Art. 2º Este Código aplica-se aos Enfermeiros, Técnicos de
CONSIDERANDO que nos termos do inciso III do artigo 8º da Enfermagem, Auxiliares de Enfermagem, Obstetrizes e Parteiras,
Lei 5.905, de 12 de julho de 1973, compete ao Cofen elaborar o bem como aos atendentes de Enfermagem.
Código de Deontologia de Enfermagem e alterá-lo, quando ne- Art. 3º Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Fe-
cessário, ouvidos os Conselhos Regionais; deral de Enfermagem.
CONSIDERANDO que o Código de Deontologia de Enferma- Art. 4º Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Fe-
gem deve submeter-se aos dispositivos constitucionais vigentes; deral de Enfermagem, por proposta de 2/3 dos Conselheiros
CONSIDERANDO a Declaração Universal dos Direitos Hu- Efetivos do Conselho Federal ou mediante proposta de 2/3 dos
manos, promulgada pela Assembleia Geral das Nações Unidas Conselhos Regionais.
(1948) e adotada pela Convenção de Genebra (1949), cujos pos- Parágrafo Único. A alteração referida deve ser precedida de
tulados estão contidos no Código de Ética do Conselho Interna- ampla discussão com a categoria, coordenada pelos Conselhos
cional de Enfermeiras (1953, revisado em 2012); Regionais, sob a coordenação geral do Conselho Federal de En-
fermagem, em formato de Conferência Nacional, precedida de
CONSIDERANDO a Declaração Universal sobre Bioética e Di-
Conferências Regionais.
reitos Humanos (2005);
Art. 5º A presente Resolução entrará em vigor 120 (cento e
CONSIDERANDO o Código de Deontologia de Enfermagem
vinte) dias a partir da data de sua publicação no Diário Oficial da
do Conselho Federal de Enfermagem (1976), o Código de Ética
União, revogando-se as disposições em contrário, em especial a
dos Profissionais de Enfermagem (1993, reformulado em 2000 e
Resolução Cofen nº 311/2007, de 08 de fevereiro de 2007.
2007), as normas nacionais de pesquisa (Resolução do Conselho
Nacional de Saúde – CNS nº 196/1996), revisadas pela Resolução
Brasília, 6 de novembro de 2017.
nº 466/2012, e as normas internacionais sobre pesquisa envol-
vendo seres humanos;
ANEXO DA RESOLUÇÃO COFEN Nº 564/2017
CONSIDERANDO a proposta de Reformulação do Código de
Ética dos Profissionais de Enfermagem, consolidada na 1ª Con- PREÂMBULO
ferência Nacional de Ética na Enfermagem – 1ª CONEENF, ocor-
rida no período de 07 a 09 de junho de 2017, em Brasília – DF, O Conselho Federal de Enfermagem, ao revisar o Código
realizada pelo Conselho Federal de Enfermagem e Coordenada de Ética dos Profissionais de Enfermagem – CEPE, norteou-se por
pela Comissão Nacional de Reformulação do Código de Ética dos princípios fundamentais, que representam imperativos para a
Profissionais de Enfermagem, instituída pela Portaria Cofen nº conduta profissional e consideram que a Enfermagem é uma ciên-
1.351/2016; cia, arte e uma prática social, indispensável à organização e ao
CONSIDERANDO a Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 funcionamento dos serviços de saúde; tem como responsabilida-
(Lei Maria da Penha) que cria mecanismos para coibir a violência des a promoção e a restauração da saúde, a prevenção de agravos
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do e doenças e o alívio do sofrimento; proporciona cuidados à pes-
art. 226 da Constituição Federal e a Lei nº 10.778, de 24 de no- soa, à família e à coletividade; organiza suas ações e intervenções
vembro de 2003, que estabelece a notificação compulsória, no de modo autônomo, ou em colaboração com outros profissionais
território nacional, nos casos de violência contra a mulher que da área; tem direito a remuneração justa e a condições adequa-
for atendida em serviços de saúde públicos e privados; das de trabalho, que possibilitem um cuidado profissional seguro
CONSIDERANDO a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que e livre de danos. Sobretudo, esses princípios fundamentais reafir-
dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente; mam que o respeito aos direitos humanos é inerente ao exercício
CONSIDERANDO a Lei nº. 10.741, de 01 de outubro de 2003, da profissão, o que inclui os direitos da pessoa à vida, à saúde,
que dispõe sobre o Estatuto do Idoso; à liberdade, à igualdade, à segurança pessoal, à livre escolha, à
CONSIDERANDO a Lei nº. 10.216, de 06 de abril de 2001, dignidade e a ser tratada sem distinção de classe social, geração,
que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portado- etnia, cor, crença religiosa, cultura, incapacidade, deficiência,
ras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial doença, identidade de gênero, orientação sexual, nacionalidade,
em saúde mental; convicção política, raça ou condição social.
CONSIDERANDO a Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, Inspirado nesse conjunto de princípios é que o Conselho Fe-
que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e re- deral de Enfermagem, no uso das atribuições que lhe são conferi-
cuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos ser- das pelo Art. 8º, inciso III, da Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973,
viços correspondentes; aprova e edita esta nova revisão do CEPE, exortando os profissio-
nais de Enfermagem à sua fiel observância e cumprimento.

248
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Art. 11 Formar e participar da Comissão de Ética de Enfer-
magem, bem como de comissões interdisciplinares da institui-
A Enfermagem é comprometida com a produção e gestão ção em que trabalha.
do cuidado prestado nos diferentes contextos socioambientais Art. 12 Abster-se de revelar informações confidenciais de
e culturais em resposta às necessidades da pessoa, família e co- que tenha conhecimento em razão de seu exercício profissional.
letividade. Art. 13 Suspender as atividades, individuais ou coletivas,
O profissional de Enfermagem atua com autonomia e em quando o local de trabalho não oferecer condições seguras para
consonância com os preceitos éticos e legais, técnico-científico e o exercício profissional e/ou desrespeitar a legislação vigente,
teórico-filosófico; exerce suas atividades com competência para ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo for-
promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com malizar imediatamente sua decisão por escrito e/ou por meio
os Princípios da Ética e da Bioética, e participa como integrante de correio eletrônico à instituição e ao Conselho Regional de
da equipe de Enfermagem e de saúde na defesa das Políticas Pú- Enfermagem.
blicas, com ênfase nas políticas de saúde que garantam a univer- Art. 14 Aplicar o processo de Enfermagem como instrumen-
salidade de acesso, integralidade da assistência, resolutividade, to metodológico para planejar, implementar, avaliar e docu-
preservação da autonomia das pessoas, participação da comuni- mentar o cuidado à pessoa, família e coletividade.
dade, hierarquização e descentralização político-administrativa Art. 15 Exercer cargos de direção, gestão e coordenação, no
dos serviços de saúde. âmbito da saúde ou de qualquer área direta ou indiretamente
O cuidado da Enfermagem se fundamenta no conhecimento relacionada ao exercício profissional da Enfermagem.
próprio da profissão e nas ciências humanas, sociais e aplicadas Art. 16 Conhecer as atividades de ensino, pesquisa e exten-
e é executado pelos profissionais na prática social e cotidiana de são que envolvam pessoas e/ou local de trabalho sob sua res-
assistir, gerenciar, ensinar, educar e pesquisar. ponsabilidade profissional.
Art. 17 Realizar e participar de atividades de ensino, pesqui-
CAPÍTULO I sa e extensão, respeitando a legislação vigente.
DOS DIREITOS Art. 18 Ter reconhecida sua autoria ou participação em pes-
quisa, extensão e produção técnico-científica.
Art. 1º Exercer a Enfermagem com liberdade, segurança Art. 19 Utilizar-se de veículos de comunicação, mídias so-
técnica, científica e ambiental, autonomia, e ser tratado sem ciais e meios eletrônicos para conceder entrevistas, ministrar
discriminação de qualquer natureza, segundo os princípios e cursos, palestras, conferências, sobre assuntos de sua compe-
pressupostos legais, éticos e dos direitos humanos. tência e/ou divulgar eventos com finalidade educativa e de in-
Art. 2º Exercer atividades em locais de trabalho livre de ris- teresse social.
Art. 20 Anunciar a prestação de serviços para os quais dete-
cos e danos e violências física e psicológica à saúde do trabalha-
nha habilidades e competências técnico-científicas e legais.
dor, em respeito à dignidade humana e à proteção dos direitos
Art. 21 Negar-se a ser filmado, fotografado e exposto em
dos profissionais de enfermagem.
mídias sociais durante o desempenho de suas atividades profis-
Art. 3º Apoiar e/ou participar de movimentos de defesa
sionais.
da dignidade profissional, do exercício da cidadania e das rei-
Art. 22 Recusar-se a executar atividades que não sejam de
vindicações por melhores condições de assistência, trabalho e
sua competência técnica, científica, ética e legal ou que não ofe-
remuneração, observados os parâmetros e limites da legislação
reçam segurança ao profissional, à pessoa, à família e à coleti-
vigente.
vidade.
Art. 4º Participar da prática multiprofissional, interdiscipli-
Art. 23 Requerer junto ao gestor a quebra de vínculo da re-
nar e transdisciplinar com responsabilidade, autonomia e liber- lação profissional/usuários quando houver risco à sua integrida-
dade, observando os preceitos éticos e legais da profissão. de física e moral, comunicando ao Coren e assegurando a conti-
Art. 5º Associar-se, exercer cargos e participar de Organiza- nuidade da assistência de Enfermagem.
ções da Categoria e Órgãos de Fiscalização do Exercício Profis-
sional, atendidos os requisitos legais. CAPÍTULO II
Art. 6º Aprimorar seus conhecimentos técnico-científicos, DOS DEVERES
ético-políticos, socioeducativos, históricos e culturais que dão
sustentação à prática profissional. Art. 24 Exercer a profissão com justiça, compromisso, equi-
Art. 7º Ter acesso às informações relacionadas à pessoa, dade, resolutividade, dignidade, competência, responsabilida-
família e coletividade, necessárias ao exercício profissional. de, honestidade e lealdade.
Art. 8º Requerer ao Conselho Regional de Enfermagem, de Art. 25 Fundamentar suas relações no direito, na prudência,
forma fundamentada, medidas cabíveis para obtenção de de- no respeito, na solidariedade e na diversidade de opinião e po-
sagravo público em decorrência de ofensa sofrida no exercício sição ideológica.
profissional ou que atinja a profissão. Art. 26 Conhecer, cumprir e fazer cumprir o Código de Ética
Art. 9º Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, de dos Profissionais de Enfermagem e demais normativos do Siste-
forma fundamentada, quando impedido de cumprir o presente ma Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem.
Código, a Legislação do Exercício Profissional e as Resoluções, Art. 27 Incentivar e apoiar a participação dos profissionais
Decisões e Pareceres Normativos emanados pelo Sistema Co- de Enfermagem no desempenho de atividades em organizações
fen/Conselhos Regionais de Enfermagem. da categoria.
Art. 10 Ter acesso, pelos meios de informação disponíveis, Art. 28 Comunicar formalmente ao Conselho Regional de
às diretrizes políticas, normativas e protocolos institucionais, Enfermagem e aos órgãos competentes fatos que infrinjam dis-
bem como participar de sua elaboração. positivos éticos-legais e que possam prejudicar o exercício pro-
fissional e a segurança à saúde da pessoa, família e coletividade.

249
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Art. 29 Comunicar formalmente, ao Conselho Regional de Parágrafo único. Será respeitado o direito de greve e, nos
Enfermagem, fatos que envolvam recusa e/ou demissão de car- casos de movimentos reivindicatórios da categoria, deverão ser
go, função ou emprego, motivado pela necessidade do profis- prestados os cuidados mínimos que garantam uma assistência
sional em cumprir o presente Código e a legislação do exercício segura, conforme a complexidade do paciente.
profissional. Art. 45 Prestar assistência de Enfermagem livre de danos
Art. 30 Cumprir, no prazo estabelecido, determinações, no- decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.
tificações, citações, convocações e intimações do Sistema Co- Art. 46 Recusar-se a executar prescrição de Enfermagem e
fen/Conselhos Regionais de Enfermagem. Médica na qual não constem assinatura e número de registro do
Art. 31 Colaborar com o processo de fiscalização do exercí- profissional prescritor, exceto em situação de urgência e emer-
cio profissional e prestar informações fidedignas, permitindo o gência.
acesso a documentos e a área física institucional. § 1º O profissional de Enfermagem deverá recusar-se a exe-
Art. 32 Manter inscrição no Conselho Regional de Enferma- cutar prescrição de Enfermagem e Médica em caso de identifi-
gem, com jurisdição na área onde ocorrer o exercício profissio- cação de erro e/ou ilegibilidade da mesma, devendo esclarecer
nal. com o prescritor ou outro profissional, registrando no prontuá-
Art. 33 Manter os dados cadastrais atualizados junto ao rio.
Conselho Regional de Enfermagem de sua jurisdição. § 2º É vedado ao profissional de Enfermagem o cumpri-
Art. 34 Manter regularizadas as obrigações financeiras junto mento de prescrição à distância, exceto em casos de urgência e
ao Conselho Regional de Enfermagem de sua jurisdição. emergência e regulação, conforme Resolução vigente.
Art. 35 Apor nome completo e/ou nome social, ambos legí- Art. 47 Posicionar-se contra, e denunciar aos órgãos compe-
veis, número e categoria de inscrição no Conselho Regional de tentes, ações e procedimentos de membros da equipe de saúde,
Enfermagem, assinatura ou rubrica nos documentos, quando no quando houver risco de danos decorrentes de imperícia, negli-
exercício profissional. gência e imprudência ao paciente, visando a proteção da pes-
§ 1º É facultado o uso do carimbo, com nome completo, soa, família e coletividade.
número e categoria de inscrição no Coren, devendo constar a Art. 48 Prestar assistência de Enfermagem promovendo a
assinatura ou rubrica do profissional. qualidade de vida à pessoa e família no processo do nascer, vi-
§ 2º Quando se tratar de prontuário eletrônico, a assinatura ver, morrer e luto.
deverá ser certificada, conforme legislação vigente. Parágrafo único. Nos casos de doenças graves incuráveis e
Art. 36 Registrar no prontuário e em outros documentos as terminais com risco iminente de morte, em consonância com a
informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar equipe multiprofissional, oferecer todos os cuidados paliativos
de forma clara, objetiva, cronológica, legível, completa e sem disponíveis para assegurar o conforto físico, psíquico, social e
rasuras. espiritual, respeitada a vontade da pessoa ou de seu represen-
Art. 37 Documentar formalmente as etapas do processo de tante legal.
Enfermagem, em consonância com sua competência legal. Art. 49 Disponibilizar assistência de Enfermagem à coletivi-
Art. 38 Prestar informações escritas e/ou verbais, completas dade em casos de emergência, epidemia, catástrofe e desastre,
e fidedignas, necessárias à continuidade da assistência e segu- sem pleitear vantagens pessoais, quando convocado.
rança do paciente. Art. 50 Assegurar a prática profissional mediante consenti-
Art. 39 Esclarecer à pessoa, família e coletividade, a respeito mento prévio do paciente, representante ou responsável legal,
dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da assis- ou decisão judicial.
tência de Enfermagem. Parágrafo único. Ficam resguardados os casos em que não
Art. 40 Orientar à pessoa e família sobre preparo, benefí- haja capacidade de decisão por parte da pessoa, ou na ausência
cios, riscos e consequências decorrentes de exames e de outros do representante ou responsável legal.
procedimentos, respeitando o direito de recusa da pessoa ou de Art. 51 Responsabilizar-se por falta cometida em suas ativi-
seu representante legal. dades profissionais, independentemente de ter sido praticada
Art. 41 Prestar assistência de Enfermagem sem discrimina- individual ou em equipe, por imperícia, imprudência ou negli-
ção de qualquer natureza. gência, desde que tenha participação e/ou conhecimento prévio
Art. 42 Respeitar o direito do exercício da autonomia da do fato.
pessoa ou de seu representante legal na tomada de decisão, li- Parágrafo único. Quando a falta for praticada em equipe, a
vre e esclarecida, sobre sua saúde, segurança, tratamento, con- responsabilidade será atribuída na medida do(s) ato(s) pratica-
forto, bem-estar, realizando ações necessárias, de acordo com do(s) individualmente.
os princípios éticos e legais. Art. 52 Manter sigilo sobre fato de que tenha conhecimento
Parágrafo único. Respeitar as diretivas antecipadas da pes- em razão da atividade profissional, exceto nos casos previstos
soa no que concerne às decisões sobre cuidados e tratamentos na legislação ou por determinação judicial, ou com o consenti-
que deseja ou não receber no momento em que estiver incapaci- mento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante ou
tado de expressar, livre e autonomamente, suas vontades. responsável legal.
Art. 43 Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade da § 1º Permanece o dever mesmo quando o fato seja de co-
pessoa, em todo seu ciclo vital e nas situações de morte e pós- nhecimento público e em caso de falecimento da pessoa envol-
-morte. vida.
Art. 44 Prestar assistência de Enfermagem em condições § 2º O fato sigiloso deverá ser revelado em situações de
que ofereçam segurança, mesmo em caso de suspensão das ati- ameaça à vida e à dignidade, na defesa própria ou em atividade
vidades profissionais decorrentes de movimentos reivindicató- multiprofissional, quando necessário à prestação da assistência.
rios da categoria.

250
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
§ 3º O profissional de Enfermagem intimado como testemu- Art. 67 Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa,
nha deverá comparecer perante a autoridade e, se for o caso, família e coletividade, além do que lhe é devido, como forma de
declarar suas razões éticas para manutenção do sigilo profissio- garantir assistência de Enfermagem diferenciada ou benefícios
nal. de qualquer natureza para si ou para outrem.
§ 4º É obrigatória a comunicação externa, para os órgãos de Art. 68 Valer-se, quando no exercício da profissão, de meca-
responsabilização criminal, independentemente de autorização, nismos de coação, omissão ou suborno, com pessoas físicas ou
de casos de violência contra: crianças e adolescentes; idosos; jurídicas, para conseguir qualquer tipo de vantagem.
e pessoas incapacitadas ou sem condições de firmar consenti- Art. 69 Utilizar o poder que lhe confere a posição ou cargo,
mento. para impor ou induzir ordens, opiniões, ideologias políticas ou
§ 5º A comunicação externa para os órgãos de responsabi- qualquer tipo de conceito ou preconceito que atentem contra
lização criminal em casos de violência doméstica e familiar con- a dignidade da pessoa humana, bem como dificultar o exercício
tra mulher adulta e capaz será devida, independentemente de profissional.
autorização, em caso de risco à comunidade ou à vítima, a juízo Art. 70 Utilizar dos conhecimentos de enfermagem para
do profissional e com conhecimento prévio da vítima ou do seu praticar atos tipificados como crime ou contravenção penal,
responsável. tanto em ambientes onde exerça a profissão, quanto naqueles
Art. 53 Resguardar os preceitos éticos e legais da profissão em que não a exerça, ou qualquer ato que infrinja os postulados
quanto ao conteúdo e imagem veiculados nos diferentes meios éticos e legais.
de comunicação e publicidade. Art. 71 Promover ou ser conivente com injúria, calúnia e
Art. 54 Estimular e apoiar a qualificação e o aperfeiçoamen- difamação de pessoa e família, membros das equipes de Enfer-
to técnico-científico, ético-político, socioeducativo e cultural dos magem e de saúde, organizações da Enfermagem, trabalhadores
profissionais de Enfermagem sob sua supervisão e coordenação. de outras áreas e instituições em que exerce sua atividade pro-
Art. 55 Aprimorar os conhecimentos técnico-científicos, éti- fissional.
co-políticos, socioeducativos e culturais, em benefício da pes- Art. 72 Praticar ou ser conivente com crime, contravenção
soa, família e coletividade e do desenvolvimento da profissão. penal ou qualquer outro ato que infrinja postulados éticos e le-
Art. 56 Estimular, apoiar, colaborar e promover o desenvol- gais, no exercício profissional.
vimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, devida- Art. 73 Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada
mente aprovados nas instâncias deliberativas. a interromper a gestação, exceto nos casos permitidos pela le-
Art. 57 Cumprir a legislação vigente para a pesquisa envol- gislação vigente.
vendo seres humanos. Parágrafo único. Nos casos permitidos pela legislação, o
Art. 58 Respeitar os princípios éticos e os direitos autorais profissional deverá decidir de acordo com a sua consciência so-
no processo de pesquisa, em todas as etapas. bre sua participação, desde que seja garantida a continuidade
Art. 59 Somente aceitar encargos ou atribuições quando se da assistência.
julgar técnica, científica e legalmente apto para o desempenho Art. 74 Promover ou participar de prática destinada a ante-
seguro para si e para outrem. cipar a morte da pessoa.
Art. 60 Respeitar, no exercício da profissão, a legislação vi- Art. 75 Praticar ato cirúrgico, exceto nas situações de emer-
gente relativa à preservação do meio ambiente no gerenciamen- gência ou naquelas expressamente autorizadas na legislação,
to de resíduos de serviços de saúde. desde que possua competência técnica-científica necessária.
Art. 76 Negar assistência de enfermagem em situações de
CAPÍTULO III urgência, emergência, epidemia, desastre e catástrofe, desde
DAS PROIBIÇÕES que não ofereça risco a integridade física do profissional.
Art. 77 Executar procedimentos ou participar da assistên-
Art. 61 Executar e/ou determinar atos contrários ao Código cia à saúde sem o consentimento formal da pessoa ou de seu
de Ética e à legislação que disciplina o exercício da Enfermagem. representante ou responsável legal, exceto em iminente risco
Art. 62 Executar atividades que não sejam de sua competên- de morte.
cia técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segu- Art. 78 Administrar medicamentos sem conhecer indicação,
rança ao profissional, à pessoa, à família e à coletividade. ação da droga, via de administração e potenciais riscos, respei-
Art. 63 Colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou tados os graus de formação do profissional.
jurídicas que desrespeitem a legislação e princípios que discipli- Art. 79 Prescrever medicamentos que não estejam estabele-
nam o exercício profissional de Enfermagem. cidos em programas de saúde pública e/ou em rotina aprovada
Art. 64 Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso diante em instituição de saúde, exceto em situações de emergência.
de qualquer forma ou tipo de violência contra a pessoa, família Art. 80 Executar prescrições e procedimentos de qualquer
e coletividade, quando no exercício da profissão. natureza que comprometam a segurança da pessoa.
Art. 65 Aceitar cargo, função ou emprego vago em decor- Art. 81 Prestar serviços que, por sua natureza, competem a
rência de fatos que envolvam recusa ou demissão motivada pela outro profissional, exceto em caso de emergência, ou que esti-
necessidade do profissional em cumprir o presente código e a verem expressamente autorizados na legislação vigente.
legislação do exercício profissional; bem como pleitear cargo, Art. 82 Colaborar, direta ou indiretamente, com outros pro-
função ou emprego ocupado por colega, utilizando-se de con- fissionais de saúde ou áreas vinculadas, no descumprimento da
corrência desleal. legislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esteri-
Art. 66 Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal lização humana, reprodução assistida ou manipulação genética.
de qualquer instituição ou estabelecimento congênere, quando, Art. 83 Praticar, individual ou coletivamente, quando no
nestas, não exercer funções de enfermagem estabelecidas na exercício profissional, assédio moral, sexual ou de qualquer na-
legislação. tureza, contra pessoa, família, coletividade ou qualquer mem-

251
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
bro da equipe de saúde, seja por meio de atos ou expressões Art. 101 Apropriar-se ou utilizar produções técnico-cientí-
que tenham por consequência atingir a dignidade ou criar condi- ficas, das quais tenha ou não participado como autor, sem con-
ções humilhantes e constrangedoras. cordância ou concessão dos demais partícipes.
Art. 84 Anunciar formação profissional, qualificação e título Art. 102 Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer
que não possa comprovar. constar seu nome como autor ou coautor em obra técnico-cien-
Art. 85 Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao tífica.
patrimônio das organizações da categoria.
Art. 86 Produzir, inserir ou divulgar informação inverídica ou CAPÍTULO IV
de conteúdo duvidoso sobre assunto de sua área profissional. DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES
Parágrafo único. Fazer referência a casos, situações ou fatos,
e inserir imagens que possam identificar pessoas ou instituições Art. 103 A caracterização das infrações éticas e disciplina-
sem prévia autorização, em qualquer meio de comunicação. res, bem como a aplicação das respectivas penalidades regem-
Art. 87 Registrar informações incompletas, imprecisas ou in- -se por este Código, sem prejuízo das sanções previstas em ou-
verídicas sobre a assistência de Enfermagem prestada à pessoa, tros dispositivos legais.
família ou coletividade. Art. 104 Considera-se infração ética e disciplinar a ação,
Art. 88 Registrar e assinar as ações de Enfermagem que não omissão ou conivência que implique em desobediência e/ou
executou, bem como permitir que suas ações sejam assinadas inobservância às disposições do Código de Ética dos Profissio-
por outro profissional. nais de Enfermagem, bem como a inobservância das normas do
Art. 89 Disponibilizar o acesso a informações e documentos Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem.
a terceiros que não estão diretamente envolvidos na prestação Art. 105 O(a) Profissional de Enfermagem responde pela
da assistência de saúde ao paciente, exceto quando autorizado infração ética e/ou disciplinar, que cometer ou contribuir para
pelo paciente, representante legal ou responsável legal, por de- sua prática, e, quando cometida(s) por outrem, dela(s) obtiver
terminação judicial. benefício.
Art. 90 Negar, omitir informações ou emitir falsas declara- Art. 106 A gravidade da infração é caracterizada por meio
ções sobre o exercício profissional quando solicitado pelo Con- da análise do(s) fato(s), do(s) ato(s) praticado(s) ou ato(s) omis-
selho Regional de Enfermagem e/ou Comissão de Ética de En- sivo(s), e do(s) resultado(s).
fermagem. Art. 107 A infração é apurada em processo instaurado e
Art. 91 Delegar atividades privativas do(a) Enfermeiro(a) a conduzido nos termos do Código de Processo Ético-Disciplinar
outro membro da equipe de Enfermagem, exceto nos casos de vigente, aprovado pelo Conselho Federal de Enfermagem.
emergência. Art. 108 As penalidades a serem impostas pelo Sistema Co-
Parágrafo único. Fica proibido delegar atividades privativas fen/Conselhos Regionais de Enfermagem, conforme o que de-
a outros membros da equipe de saúde. termina o art. 18, da Lei n° 5.905, de 12 de julho de 1973, são
Art. 92 Delegar atribuições dos(as) profissionais de enfer- as seguintes:
magem, previstas na legislação, para acompanhantes e/ou res- I – Advertência verbal;
ponsáveis pelo paciente. II – Multa;
Parágrafo único. O dispositivo no caput não se aplica nos III – Censura;
casos da atenção domiciliar para o autocuidado apoiado. IV – Suspensão do Exercício Profissional;
Art. 93 Eximir-se da responsabilidade legal da assistência V – Cassação do direito ao Exercício Profissional.
prestada aos pacientes sob seus cuidados realizados por alunos § 1º A advertência verbal consiste na admoestação ao infra-
e/ou estagiários sob sua supervisão e/ou orientação. tor, de forma reservada, que será registrada no prontuário do
Art. 94 Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imó- mesmo, na presença de duas testemunhas.
vel, público ou particular, que esteja sob sua responsabilidade § 2º A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de
em razão do cargo ou do exercício profissional, bem como des- 01 (um) a 10 (dez) vezes o valor da anuidade da categoria profis-
viá-lo em proveito próprio ou de outrem. sional à qual pertence o infrator, em vigor no ato do pagamento.
Art. 95 Realizar ou participar de atividades de ensino, pes- § 3º A censura consiste em repreensão que será divulgada
quisa e extensão, em que os direitos inalienáveis da pessoa, fa- nas publicações oficiais do Sistema Cofen/Conselhos Regionais
mília e coletividade sejam desrespeitados ou ofereçam quais- de Enfermagem e em jornais de grande circulação.
quer tipos de riscos ou danos previsíveis aos envolvidos. § 4º A suspensão consiste na proibição do exercício profis-
Art. 96 Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segu- sional da Enfermagem por um período de até 90 (noventa) dias
rança da pessoa, família e coletividade. e será divulgada nas publicações oficiais do Sistema Cofen/Con-
Art. 97 Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem selhos Regionais de Enfermagem, jornais de grande circulação e
como usá-los para fins diferentes dos objetivos previamente es- comunicada aos órgãos empregadores.
tabelecidos. § 5º A cassação consiste na perda do direito ao exercício da
Art. 98 Publicar resultados de pesquisas que identifiquem o Enfermagem por um período de até 30 anos e será divulgada nas
participante do estudo e/ou instituição envolvida, sem a autori- publicações do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enferma-
zação prévia. gem e em jornais de grande circulação.
Art. 99 Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técni- § 6º As penalidades aplicadas deverão ser registradas no
co-científica ou instrumento de organização formal do qual não prontuário do infrator.
tenha participado ou omitir nomes de coautores e colaborado- § 7º Nas penalidades de suspensão e cassação, o profissional
res. terá sua carteira retida no ato da notificação, em todas as cate-
Art. 100 Utilizar dados, informações, ou opiniões ainda não gorias em que for inscrito, sendo devolvida após o cumprimento
publicadas, sem referência do autor ou sem a sua autorização. da pena e, no caso da cassação, após o processo de reabilitação.

252
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Art. 109 As penalidades, referentes à advertência verbal, CAPÍTULO V
multa, censura e suspensão do exercício profissional, são da res- DA APLICAÇÃO DAS PENALIDADES
ponsabilidade do Conselho Regional de Enfermagem, serão re-
gistradas no prontuário do profissional de Enfermagem; a pena Art. 114 As penalidades previstas neste Código somente po-
de cassação do direito ao exercício profissional é de competên- derão ser aplicadas, cumulativamente, quando houver infração
cia do Conselho Federal de Enfermagem, conforme o disposto a mais de um artigo.
no art. 18, parágrafo primeiro, da Lei n° 5.905/73. Art. 115 A pena de Advertência verbal é aplicável nos casos
Parágrafo único. Na situação em que o processo tiver ori- de infrações ao que está estabelecido nos artigos:, 26, 28, 29,
gem no Conselho Federal de Enfermagem e nos casos de cas- 30, 31, 32, 33, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 46, 48, 47, 49,
sação do exercício profissional, terá como instância superior a 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57,58, 59, 60, 61, 62, 65, 66, 67, 69, 76,
Assembleia de Presidentes dos Conselhos de Enfermagem. 77, 78, 79, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94,
Art. 110 Para a graduação da penalidade e respectiva impo- 95, 98, 99, 100, 101 e 102.
sição consideram-se: Art. 116 A pena de Multa é aplicável nos casos de infrações
I – A gravidade da infração; ao que está estabelecido nos artigos: 28, 29, 30, 31, 32, 35, 36,
II – As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração; 38, 39, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64,
III – O dano causado e o resultado; 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81,
IV – Os antecedentes do infrator. 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98,
Art. 111 As infrações serão consideradas leves, moderadas, 99, 100, 101 e 102.
graves ou gravíssimas, segundo a natureza do ato e a circunstân- Art. 117 A pena de Censura é aplicável nos casos de infra-
cia de cada caso. ções ao que está estabelecido nos artigos: 31, 41, 42, 43, 44, 45,
§ 1º São consideradas infrações leves as que ofendam a in- 50, 51, 52, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67,68, 69, 70, 71, 73,
tegridade física, mental ou moral de qualquer pessoa, sem cau- 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 88, 90, 91, 92,
sar debilidade ou aquelas que venham a difamar organizações 93, 94, 95, 97, 99, 100, 101 e 102.
da categoria ou instituições ou ainda que causem danos patri- Art. 118 A pena de Suspensão do Exercício Profissional é
moniais ou financeiros. aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos
§ 2º São consideradas infrações moderadas as que provo- artigos: 32, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 59, 61, 62, 63, 64, 68,
quem debilidade temporária de membro, sentido ou função na 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78,79, 80, 81, 82, 83, 85, 87, 89,
pessoa ou ainda as que causem danos mentais, morais, patrimo- 90, 91, 92, 93, 94 e 95.
niais ou financeiros. Art. 119 A pena de Cassação do Direito ao Exercício Profis-
§ 3º São consideradas infrações graves as que provoquem sional é aplicável nos casos de infrações ao que está estabele-
perigo de morte, debilidade permanente de membro, sentido cido nos artigos: 45, 64, 70, 72, 73, 74, 80, 82, 83, 94, 96 e 97.
ou função, dano moral irremediável na pessoa ou ainda as que
causem danos mentais, morais, patrimoniais ou financeiros.
§ 4º São consideradas infrações gravíssimas as que provo- BIOÉTICA
quem a morte, debilidade permanente de membro, sentido ou
função, dano moral irremediável na pessoa.
Art. 112 São consideradas circunstâncias atenuantes: Ética e bioética na enfermagem
I – Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua A Enfermagem compreende conhecimentos científicos e
espontânea vontade e com eficiência, evitar ou minorar as con- técnicos, acrescido das práticas sociais, éticas e políticas vivenci-
sequências do seu ato; adas no ensino, pesquisa e assistência. Presta serviços ao ser hu-
II – Ter bons antecedentes profissionais; mano dentro do contexto saúde-doença, atuando na promoção
III – Realizar atos sob coação e/ou intimidação ou grave da saúde em atividades com grupos sociais ou com indivíduos,
ameaça; respeitando a individualidade dentro do contexto social no qual
IV – Realizar atos sob emprego real de força física; está inserido.
V – Ter confessado espontaneamente a autoria da infração; Este texto aborda a dimensão ética presente na especifici-
VI – Ter colaborado espontaneamente com a elucidação dos dade do trabalho de enfermagem e peculiaridades desta área
fatos. profissional que trabalha com o ser humano no processo saúde-
Art. 113 São consideradas circunstâncias agravantes: doença. Pretende, também, explorar os aspectos etimológicos
I – Ser reincidente; e relacionar a ética no cotidiano da Enfermagem como parte da
II – Causar danos irreparáveis; ação em saúde.
III – Cometer infração dolosamente; O tema abordado não pode ser reduzido, apenas, às dis-
IV – Cometer a infração por motivo fútil ou torpe; cussões sobre os atuais dilemas éticos veiculados diariamente
V – Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impuni- na mídia, ou meramente, sobre o código de ética dos profission-
dade ou a vantagem de outra infração; ais de Enfermagem aprovado pela Resolução COFEN 240/2000.1
VI – Aproveitar-se da fragilidade da vítima; Isto porque a ética permeia todas as nossas atitudes e compor-
VII – Cometer a infração com abuso de autoridade ou vio- tamentos e está presente em todas as relações com familiares,
lação do dever inerente ao cargo ou função ou exercício profis- amigos, colegas de trabalho, clientes, etc. Todas estas relações
sional; são moldadas por idéias, princípios, valores e conceitos que ex-
VIII – Ter maus antecedentes profissionais; istem dentro de nós e que definem a maneira como agimos, ou
IX – Alterar ou falsificar prova, ou concorrer para a descons- seja, que “aprovam” ou “desaprovam” nossas ações e condutas .
trução de fato que se relacione com o apurado na denúncia du-
rante a condução do processo ético.

253
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Ética é uma palavra de origem grega “éthos” que significa A Bioética pode ser compreendida como “o estudo sis-
caráter e que foi traduzida para o latim como “mos”, ou seja, cos- temático de caráter multidisciplinar, da conduta humana na
tume, daí a utilização atual da ética como a “ciência da moral” área das ciências da vida e da saúde, na medida em que esta
ou “filosofia da moral” e entendida como conjunto de princípios conduta é examinada à luz dos valores e princípios morais”. O
morais que regem os direitos e deveres de cada um de nós e que comportamento ético em atividades de saúde não se limita ao
são estabelecidos e aceitos numa época por determinada comu- indivíduo, devendo ter também, um enfoque de responsabili-
nidade humana. A ética se ocupa com o ser humano e pretende dade social e ampliação dos direitos da cidadania, uma vez que
a sua perfeição por meio do estudo dos conflitos entre o bem e o sem cidadania não há saúde.
mal, que se refletem sobre o agir humano e suas finalidades. Hans Jonas introduziu o conceito de ética da responsabil-
Para as teorias éticas, o desejável é o “ser”: ser livre e idade. Para ele todos têm responsabilidade pela qualidade de
autônomo (o ser que pondera seus atos no respeito ao outro e vida das futuras gerações. Foi ele também que abordou o con-
no direito comum); ser que age para a benevolência e a bene- ceito de risco e a necessidade de avaliá-lo com responsabili-
ficência (pratica o bem e não o nocivo); o ser que exercita a dade.9 Potter, representante da bioética, também se mostrava
justiça (avalia atos, eventos e circunstâncias com a razão e não preocupado com os riscos que podem ser causados pela ciên-
distorce a verdade); o ser virtuoso no caráter (solidário, genero- cia em nível mundial. Para o autor, o conhecimento pode ser
so, tolerante, que ama a liberdade e o justo). perigoso, entendendo o conhecimento perigoso, como aquele
“Poderá haver direito e leis, mas a justiça só será construí- que se “acumulou muito mais rapidamente do que a sabedo-
da praticando-se atos justos. Somos autores e atores do sentido ria necessária para gerenciá-lo” e sugere que “a melhor forma
ético, que implica os contrapontos direitos-deveres, consub- de lidar com o conhecimento perigoso é a sabedoria, ou seja,
stanciados no compromisso social”. a produção de mais conhecimento e mais especificamente de
Em qualquer discussão que envolva um tema ético não se conhecimento sobre o conhecimento”.
pode abrir mão do ‘princípio universal da responsabilidade’. A ética da responsabilidade e a bioética conduzem a re-
Este princípio deve permear todas as questões éticas e está rel- sponsabilidade para com as questões do cotidiano e das relações
acionado aos aspectos da ética da responsabilidade individual, humanas em todas as dimensões desde que tenhamos uma pos-
assumida por cada um de nós; da ética da responsabilidade pú- tura consciente na arte de cuidar do outro como se fosse a si
blica, referente ao papel e aos deveres dos Estados com a saúde mesmo.
e a vida das pessoas; e com a ética da responsabilidade plan- Portanto, as discussões e reflexões da Bioética não se lim-
etária, nosso compromisso como cidadãos do mundo frente ao itam aos grandes dilemas éticos atuais como o projeto geno-
desafio de preservação do planeta.
ma humano, o aborto, a eutanásia ou os transgênicos, incluem
Esta visão ética ampliada de valorização da vida no planeta
também os campos da experimentação com animais e com seres
exige uma postura consciente, solidária, responsável e virtuosa
humanos, os direitos e deveres dos profissionais da saúde e dos
de todos os seres humanos e principalmente daqueles que se
clientes, as práticas psiquiátricas, pediátricas e com indivíduos
propõem a cuidar de outros seres humanos, em instituições de
inconscientes e, inclusive, as intervenções humanas sobre o
saúde ou em seus domicílios.
ambiente que influem no equilíbrio das espécies vivas, além de
Com esta introdução ao tema, poderíamos pensar em algu-
outros. A Bioética não está restrita às Ciências da Saúde. Ela des-
mas situações do nosso cotidiano que nos levam a refletir sobre
de que surgiu abrange todas as áreas do conhecimento. A sua
a postura ética necessária aos profissionais da saúde, especial-
atuação tem a ver com a vida. Tem enfoque interdisciplinar ou,
mente da Enfermagem, quais sejam: como eu atuo, penso e falo
frente a um cliente descontrolado e agressivo? Frente a um cli- talvez até, transdisciplinar.
ente alcoolizado que havia, recentemente, recebido alta do hos- Em referência à abrangência atual da Bioética destacam-se
pital psiquiátrico? Frente a um cliente usuário de drogas e/ou quatro aspectos considerados relevantes e que estimulam uma
com vírus HIV? Frente à gestante adolescente? Frente ao cliente reflexão teórica mais ampla entre as ciências da vida, ou seja,
que não coopera, não aceita o tratamento e exige alta? Frente uma bioética da vida cotidiana, que se refere aos comportamen-
ao cliente inconsciente, à criança e ao sofredor psíquico? Frente tos e às idéias de cada pessoa e ao uso das descobertas biomédi-
a falta de estrutura das ações e de planejamento de recursos na cas; uma bioética deontológica, com os códigos morais dos de-
organização dos serviços de saúde? veres profissionais; uma bioética legal, com normas reguladoras,
Estas, além de outras, são questões frequentes nos contex- promulgadas e interpretadas pelos Estados, com valor de lei e;
tos dos serviços de saúde e que podem nortear um debate mais uma bioética filosófica, que procura compreender os princípios
aprofundado sob o ponto de vista ético. e valores que estão na base das reflexões e das ações humanas
Assim, pode-se perceber que a preocupação com os aspec- nestes campos.
tos éticos na assistência à saúde, não se restringe à simples nor- Para a abordagem de conflitos morais e dilemas éticos na
matização contida na legislação ou nos códigos de ética profis- saúde, a Bioética se sustenta em quatro princípios. Estes princí-
sional, mas estende-se ao respeito à pessoa como cidadã e como pios devem nortear as discussões, decisões, procedimentos e
ser social, enfatizando que a “essência da bioética é a liberdade, ações na esfera dos cuidados da saúde. São eles: beneficência,
porém com compromisso e responsabilidade”. não-maleficência, autonomia e justiça ou eqüidade.
O termo “Bioética” surgiu nas últimas décadas (meados do O princípio da beneficência relaciona-se ao dever de ajudar
século passado), a partir dos grandes avanços tecnológicos na aos outros, de fazer ou promover o bem a favor de seus interess-
área da Biologia, e aos problemas éticos derivados das desco- es. Reconhece o valor moral do outro, levando-se em conta que
bertas e aplicações das ciências biológicas, que trazem em si maximizando o bem do outro, possivelmente pode-se reduzir o
enorme poder de intervenção sobre a vida e a natureza. Com o mal. Neste princípio, o profissional se compromete em avaliar
advento da AIDS, a partir dos anos 80, a Bioética ganhou impulso os riscos e os benefícios potenciais (individuais e coletivos) e a
definitivo, obrigando à profunda reflexão “bioética” em razão buscar o máximo de benefícios, reduzindo ao mínimo os danos
das conseqüências advindas para os indivíduos e a sociedade. e riscos.

254
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
Isto significa que como profissionais da saúde precisamos plano de vida e ação embasado em crenças, aspirações e valores
fazer o que é benéfico do ponto de vista da saúde e o que é próprios, mesmo quando estejam em divergência com aqueles
benéfico para os seres humanos em geral. Para utilizarmos este dominantes na sociedade, ou quando o cliente é uma criança,
princípio é necessário o desenvolvimento de competências um deficiente mental ou um sofredor psíquico.
profissionais, pois só assim, poderemos decidir quais são os ri- Cabe aos profissionais da saúde oferecer as informações téc-
scos e benefícios aos quais estaremos expondo nossos clientes, nicas necessárias para orientar as decisões do cliente, sem uti-
quando decidirmos por determinadas atitudes, práticas e pro- lização de formas de influência ou manipulação, para que possa
cedimentos. participar das decisões sobre o cuidado/assistência à sua saúde,
É comum que os profissionais da saúde tenham uma atitude isto é, ter respeito pelo ser humano e seus direitos à dignidade,
paternalista para com os clientes, ou seja, decidam o que é mel- à privacidade e à liberdade. Deve-se levar em conta que vivemos
hor para eles, sem levar em conta seus pensamentos ou senti- em sociedade, portanto, possuímos responsabilidades sociais.
mentos e, geralmente, justificam suas atitudes com uma frase Entretanto, no caso da Enfermagem, a autonomia pode
semelhante a esta: “é para o seu próprio bem”, mesmo que o apresentar-se mais como uma intenção codificada do que sua
cliente discorde. Desta forma, mesmo tendo a intenção de fazer efetividade na prática, pois a decisão tomada sofre influência
o bem, estão reduzindo adultos a condição de crianças e inter- conforme a autonomia que se tem na prática. Sem essa autono-
ferindo em sua liberdade de ação. mia necessária para identificarmos os atos que deveriam ou não
Este modo de agir permeia o cotidiano da assistência presta- ser realizados, corremos o risco de reproduzirmos apenas atos
da pela Enfermagem, devido possivelmente, a forte influência autômatos.
de Nightingale que considerava que a enfermeira deveria execu- Aos profissionais de enfermagem cabe buscar essa autono-
tar suas ações baseadas no que seria melhor para o paciente e mia no conhecimento, isto é, construir um corpo de conheci-
que ela deveria saber como ele se sente e o que deseja. mento específico que possibilite uma maior autonomia no pro-
Outra forma possível de análise desta atitude paternal- cesso de cuidar, vinculando o pensar ao ato de fazer.
ista dos profissionais de saúde pode ser nossa origem latino O princípio da justiça relaciona-se à distribuição coerente e
americana. Em países em que existem uma grande diferença adequada de deveres e benefícios sociais.
sócio-econômico-cultural, como no Brasil, as pessoas tendem No Brasil, a Constituição de 1988 refere que a saúde é dire-
a ser mais submissas. Os indivíduos não estando acostumados ito de todos. Dessa forma, todo cidadão tem direito à assistên-
a exercerem a cidadania aceitam, sem questionamentos, a as- cia de saúde, sempre que precisar, independente de possuir ou
sistência ofertada. não um plano de saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem
Para saber o que é bom para cada um dos clientes é preciso como princípios doutrinários a universalidade, a integralidade
que se estabeleça um relacionamento interpessoal de confiança e a equidade na atenção à saúde dos brasileiros. Entretanto,
mútua e que o cuidador esteja atento aos limites de sua atu- mesmo com criação de normas regulamentadoras, o SUS ain-
ação, uma vez que poderá estar ferindo um outro princípio, a da não esta consolidado e o não atendimento de seus princípi-
autonomia do cliente. os doutrinários impõe as profissionais de saúde a convivência
O princípio de não-maleficência implica no dever de se ab- cotidiana com dilemas éticos, quando não oferece serviços de
ster de fazer qualquer mal para os clientes, de não causar danos saúde de qualidade.
ou colocá-los em risco. O profissional se compromete a avaliar e Conhecendo estes quatro princípios podemos utilizá-los
evitar os danos previsíveis. como recursos para análise e compreensão de situações de
Para atender a este princípio, não basta apenas, que o conflito, sempre que estas se apresentarem, comparando com
profissional de saúde tenha boas intenções de não prejudicar o casos semelhantes que já tenham ocorrido e ponderando as
cliente. É preciso evitar qualquer situação que signifique riscos consequências das condutas tomadas anteriormente sobre os
para o mesmo e verificar se o modo de agir não está prejudican- clientes, familiares e a comunidade.
do o cliente individual ou coletivamente, se determinada técnica “A relação do paciente com seus cuidadores pode estar
não oferece riscos e ainda, se existe outro modo de executar permeada pelo conflito, pois distintos critérios morais e éticos
com menos riscos. guiam a atuação de cada um dos envolvidos. Os profissionais de
Autonomia, o terceiro princípio, diz respeito à autodeter- saúde, em geral orientam-se pelo critério da beneficência, os
minação ou autogoverno, ao poder de decidir sobre si mesmo. pacientes pelo da autonomia e a sociedade pelo de justiça”
Preconiza que a liberdade de cada ser humano deve ser resguar- Esta relação terapêutica deve-se fundamentar na parceria
dada. com o cliente, na possibilidade do deste fazer escolhas e, prin-
Esta autodeterminação é limitada em situações em que cipalmente, na possibilidade do profissional compreender a es-
“pensar diferente” ou “agir diferente”, não resulte em danos colha do cliente.
para outras pessoas. A violação da autonomia só é eticamente Concluímos com algumas considerações e questionamen-
aceitável, quando o bem público se sobrepõe ao bem individual. tos:
A autonomia não nega influência externa, mas dá ao ser hu- Entendemos que a ética reconhece o valor de todos os seres
mano a capacidade de refletir sobre as limitações que lhe são vivos e encara os humanos como um dos fios que formam a
impostas, a partir das quais orienta a sua ação frente aos condi- grande teia da vida. Nesta teia, todos os fios são importantes,
cionamentos. inseparáveis e co-produtores uns do outros. Ao nos dedicarmos
O direito moral do ser humano à autonomia gera um de- a agir eticamente, estaremos buscando saúde e vida. Esta busca
ver dos outros em respeitá-lo. Assim, também os profissionais leva o ser humano a um processo contínuo de crescimento.
da saúde precisam estabelecer relações com os clientes em que Como nosso trabalho é realizado em um ambiente complexo
ambas as partes se respeitem. Respeitar a autonomia é recon- (instituição de saúde ou comunidade), nele, todas as nossas
hecer que ao indivíduo cabe possuir certos pontos de vista e que ações (modo de ouvir, olhar, tocar, falar, comunicar e realizar
é ele que deve deliberar e tomar decisões seguindo seu próprio procedimentos), são questionáveis do ponto de vista ético. A

255
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
maneira como nos relacionamos com colegas de trabalho, cli- 3. (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
entes e familiares (dos clientes e nossos) podem influenciar o RO-2018) Programa Nacional de Imunizações (PNI) organiza
resultado do nosso trabalho. Uma relação de reciprocidade não toda a política nacional de vacinação da população brasileira e
permite arrogância, onipotência e autoritarismo, mas permite tem como missão
a liberdade de expressão do pensamento, idéias e experiências (A) vacinar todas as crianças de todo território Nacional até
e passa pelo respeito à compreensão moral e ética dos seres 2020.
envolvidos. (B) o controle, a erradicação e a eliminação de doenças imu-
A ética em saúde é permeada pelo “bem pensar” e pela nopreveníveis.
“introspecção” (auto-exame), não sendo suficiente a “boa in- (C)vacinar crianças e adultos vulneráveis.
tenção”. O auto-exame nos permite descobrir que somos seres (D) o controle de doenças imunossupressoras.
falíveis, frágeis, insuficientes, carentes e que necessitamos de (E) vacinar crianças e idosos combatendo as doenças de ris-
mútua compreensão. co controlável.
A bioética é um instrumento que nos guiará nas reflexões
cotidianas de nosso trabalho, sendo fundamental para que as 4. (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
gerações futuras tenham a vida com mais qualidade. RO-2018) Segundo o Programa Nacional de Imunizações, na sala
de vacinação, é importante que todos os procedimentos desen-
Entretanto, como está o ensino da bioética no mundo? volvidos promovam a máxima segurança. Com relação a esse lo-
Como as escolas estão preparando os profissionais de saúde cal, é correto afirmar que
para os impasses éticos do dia-a dia? As decisões são orienta- (A) deve ser destinado à administração dos imunobiológicos
das para que o mundo se torne mais humano? Como buscar a e demais medicações intramusculares.
equidade na assistência com respostas morais adequadas a real- (B) é importante que todos os procedimentos desenvolvidos
idade que se apresenta no nosso mundo do trabalho? promovam a segurança, propiciando o risco de contamina-
Enfim, o que queremos é que nossas ações sejam pensadas, ção.
refletidas, competentes e que principalmente os profissionais (C) a sala deve ter área mínima de 3 metros quadrados, para
da Enfermagem, se utilizem do conhecimento disponível de for- o adequado fluxo de movimentação em condições ideais
ma responsável. para a realização das atividades.
(D) a sala de vacinação é classificada como área semicrítica.
(E) deve ter piso e paredes lisos, com frestas e laváveis

EXERCÍCIOS 5. (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-


RO-2018) São vias de administração de imunobiológicos, EXCE-
1. (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA – MG- ENFERMEIRO-AO- TO a via
CP-2018) O que é vigilância? (A) oral.
(A) Um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou pre- (B)subcutânea.
venir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários (C)intraóssea.
decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de (D) endovenosa.
bens e da prestação de serviços de interesse da saúde. (E)intramuscular
(B) Um conjunto de atividades que se destina à promoção e
proteção da saúde, assim como visa à recuperação e reabi- 6. (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
litação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e RO-2018) Segundo o código de ética da enfermagem, o enfer-
agravos advindos das condições de trabalho. meiro, nas relações com o ser humano, tem
(C) Um conjunto de ações que proporciona a detecção ou (A) o dever de salvaguardar os direitos da pessoa idosa, pro-
prevenção de qualquer mudança da saúde individual ou co- movendo a sua dependência física e psíquica e com o obje-
letiva, com a finalidade de avaliar o impacto que as tecnolo- tivo de melhorar a sua qualidade de vida.
gias provocam à saúde. (B) o dever de respeitar as opções políticas, culturais, mo-
(D) Um conjunto de atividades que se destina ao controle rais e religiosas da pessoa, sem criar condições para que ela
de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se rela- possa exercer, nessas áreas, os seus direitos.
cionem com a saúde. (C) o direito de abster-se de juízos de valor sobre o compor-
(E) Um conjunto de ações que proporcionam o conhecimen- tamento da pessoa assistida e lhe impor os seus próprios
to, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fato- critérios e valores no âmbito da consciência.
res determinantes e condicionantes de saúde individual ou (D) o dever de cuidar da pessoa com discriminação econô-
coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medi- mica, social, política, étnica, ideológica ou religiosa.
das de prevenção e controle das doenças ou agravo (E) o direito de recusar-se a executar atividades que não
sejam de sua competência técnica, cientifica, ética e legal
2. (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- ou que não ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, à
RO-2018) O controle e o rastreamento das ISTs são de grande im- família e à coletividade.
portância. No caso das gestantes, todas devem ser rastreadas para:
(A) HIV, Hepatite A e difiteria. 7. (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
(B)HIV, Sífilis e Hepatite B. RO-2018) O auxiliar de enfermagem executa as atividades au-
(C) Hepatite B, Gonorreia e Hepatite A. xiliares, de nível médio, atribuídas à equipe de enfermagem,
(D) HIV, Hepatite A e Tularemia. cabendo-lhe
(E) Hepatite A, tricomoníase e HIV.

256
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
(A) prescrição da assistência de enfermagem. (A) limpar sob as unhas de uma das mãos, friccionando o
(B) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com local com auxílio das unhas da mão oposta, evitando-se lim-
risco de vida. pá-las com as cerdas da escova.
(C)participação em bancas examinadoras, em matérias es- (B)respeitar o tempo de duração do procedimento que varia
pecíficas de enfermagem, nos concursos para provimento de 20 a 35 segundos.
de cargo ou contratação de pessoal técnico e auxiliar de En- (C) executar o procedimento com antisséptico degermante
fermagem. durante 30 segundos.
(D) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre maté- (D) utilizar papel toalha para secar as mãos, após a fricção
ria de Enfermagem. antisséptica das mãos com preparações alcoólicas.
(E) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente e ze- (E) higienizar também os punhos utilizando movimento cir-
lar por sua segurança. cular, ao esfregá-los com a palma da mão oposta.

8. CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL - TÉCNICO 12. (PREF DE MACAPÁ- TÉCNICO DE ENFERMAGEM- FCC-
EM ENFERMAGEM- FCC-2018) Ao orientar um paciente adulto 2018) Processo físico ou químico que destrói microrganismos
sobre os cuidados com a dieta a ser administrada pela sonda patogênicos na forma vegetativa, micobactérias, a maioria dos
nasoenteral no domicílio, o profissional de saúde deve orientar vírus e dos fungos, de objetos inanimados e superfícies. Essa é
que a definição de
(A) antes de administrar a dieta, deverá aquecê-la em ba- (A) desinfecção pós limpeza de alto nível.
nho-maria ou em micro-ondas. (B) desinfecção de alto nível.
(B) após o preparo da dieta caseira, deverá guardá-la na ge- (C) esterilização de baixo nível.
ladeira e, 40 minutos antes do horário estabelecido para a (D) barreira técnica.
administração, retirar somente a quantidade que for utili- (E) desinfecção de nível intermediário.
zar.
(C) no caso de ter pulado um horário de administração da 13. (PREFEITURA DE MACAPÁ- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
dieta, o volume do próximo horário deve ser aumentado FCC- 2018) Foi prescrito pelo médico uma solução glicosada a
em, pelo menos, 50%. 10%. Na solução glicosada, disponível na instituição, a concen-
(D) a dieta enteral industrializada deve ser guardada fora da tração é de 5%. Ao iniciar o cálculo para a transformação do
geladeira e, após aberta, tem validade de 72 horas. soro, o técnico de enfermagem deve saber que, em 500 mL de
Soro Glicosado a 5%, o total de glicose, em gramas, é de
9. (CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL- TÉCNICO (A)5.
(B) 2,5.
EM ENFERMAGEM- FCC-2018) Dentre as medidas de controle de
(C) 50.
infecção de corrente sanguínea relacionadas a cateteres intra-
(D) 25.
vasculares encontra-se
(E) 500
(A) o uso de cateteres periféricos para infusão contínua de
produtos vesicantes.
14. (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
(B) a higienização das mãos com preparação alcoólica (70 a
FCC-2018) Com relação à Sistematização da Assistência de En-
90%), quando as mesmas estiverem visivelmente sujas.
fermagem, considerando as atribuições de cada categoria pro-
(C) o uso de novo cateter periférico a cada tentativa de pun-
fissional de enfermagem, compete ao técnico de enfermagem,
ção no mesmo paciente.
realizar
(D) a utilização de agulha de aço acoplada ou não a um co-
(A) a prescrição de enfermagem, na ausência do enfermeiro.
letor, para coleta de amostra sanguínea e administração de
(B) o exame físico.
medicamento em dose contínua.
(C) a anotação de enfermagem.
(E) o uso de luvas de procedimentos para tocar o sítio de
(D) a consulta de enfermagem.
inserção do cateter intravascular após a aplicação do antis-
(E) a evolução de enfermagem dos pacientes de menor com-
séptico.
plexidade.
10. (CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL- TÉCNICO 15. (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
EM ENFERMAGEM- FCC-2018) A equipe de saúde, ao realizar o FCC-2018) O profissional de enfermagem, para executar correta-
acolhimento com escuta qualificada a uma mulher apresentan- mente a técnica de administração de medicamento por via intra-
do queixas de perda urinária, deve atentar-se para, dentre ou- dérmica, deve, dentre outros cuidados, estar atento ao volume
tros sinais de alerta: a ser injetado. O volume máximo indicado a ser introduzido por
(A) amenorreia. esta via é, em mL, de
(B)dismenorreia. (A) 1,0.
(C) mastalgia. (B) 5,0.
(D) prolapso uterino sintomático. (C) 0,1.
(E) ataxia. (D) 1,5.
(E) 0,5.
11. (PREF DE MACAPÁ- TÉCNICO DE ENFERMAGEM- FCC-
2018) As técnicas de higienização das mãos, para profissionais 16. (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
que atuam em serviços de saúde, podem variar dependendo do FCC-2018) Em um ambulatório, o técnico de enfermagem que
objetivo ao qual se destinam. Na técnica de higienização simples auxilia o enfermeiro na gestão de materiais realizou a provisão
das mãos, recomenda-se de materiais de consumo, que corresponde a

257
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
(A) estabelecer a estimativa de material necessário para o 20. (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
funcionamento da unidade. FCC-2018) NO pós-operatório imediato de uma colaboradora
(B) realizar o levantamento das necessidades de recursos, que foi submetida a uma intervenção de colecistectomia, e já
identificando a quantidade e a especificação. se encontra com respiração espontânea e sem sonda vesical, a
(C)repor os materiais necessários para a realização das ati- assistência prestada pelo técnico de enfermagem inclui verificar
vidades da unidade. e comunicar ao enfermeiro sinais e sintomas associados a se-
(D) atualizar a cota de material previsto para as necessida- guinte alteração:
des diárias da unidade. (A) complicações do sistema digestório: náuseas e vômitos
(E) sistematizar o mapeamento de consumo de material. decorrente da administração de antieméticos.
(B) hipertermia: coloração da pele, sudorese, elevação da
17. (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- temperatura, bradipneia e bradicardia.
FCC-2018) Na pessoa idosa com depressão, um dos sintomas/ (C) retenção urinária: dificuldade do paciente para urinar,
sinais indicativo do chamado suicídio passivo é abaulamento em região suprapúbica e diurese profusa.
(A) o distúrbio cognitivo intermitente. (D) complicações respiratórias: acúmulo de secreções, oca-
(B) a recusa alimentar. sionado pela maior expansibilidade pulmonar devido à dor,
(C) o aparecimento de discinesia tardia. exacerbação da tosse e eliminação de secreções.
(D) a adesão a tratamentos alternativos. (E) hipotermia: confusão, apatia, coordenação prejudicada,
(E) a súbita hiperatividade. mudança na coloração da pele e tremores.

18. (TRT Região São Paulo- Técnico em enfermagem- FCC- 21. (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
2018) Após o término de um pequeno procedimento cirúrgico, o FCC-2018) Um adulto de porte médio apresenta uma parada
técnico de enfermagem recolhe os materiais utilizados e separa cardiorrespiratória (PCR) durante o período de trabalho em um
aqueles que podem ser reprocessados daqueles que devem ser Tribunal, onde recebe o suporte básico de vida (SBV), conforme
descartados, observando os princípios de biossegurança. A fim as recomendações da American Heart Association (AHA), 2015.
de destinar corretamente cada um dos referidos materiais, o Nessa situação, ao proceder à ressuscitação cardiopulmonar
técnico de enfermagem deve considerar como materiais a serem (RCP) manual, recomenda-se aplicar compressões torácicas até
reprocessados aqueles destinados à uma profundidade de
(A) diérese, como tesoura de aço inox; e descarta na caixa de (A) 4,5 cm, no máximo, sendo esse limite de profundidade
perfurocortante, materiais como agulhas com fio de sutura.
da compressão necessário, devido à recomendação de que
(B) hemostasia, como pinça de campo tipo Backaus; e des-
se deve comprimir com força para que a mesma seja eficaz.
carta no saco de lixo branco, materiais com sangue, como
(B) 5 cm, no mínimo, atentando para evitar apoiar-se sobre
compressas de gaze.
o tórax da vítima entre as compressões, a fim de permitir o
(C) diérese como porta-agulhas; e descarta no lixo comum
retorno total da parede do tórax a cada compressão.
parte dos fios cirúrgicos absorvíveis utilizados, como o cate-
(C) 6,5 cm, no mínimo, a fim de estabelecer um fluxo san-
gute simples.
guíneo adequado, sem provocar aumento da pressão intra-
(D) síntese, como lâminas de bisturi; e descarta as agulhas
torácica.
na caixa de perfurocortante, após terem sido devidamente
(D) 4 cm, no mínimo, objetivando que haja fluxo sanguíneo
desconectadas das seringas.
(E)diérese, como cânula de uso único; e descarta no saco de suficiente para fornecer oxigênio para o coração e cérebro.
lixo branco luvas de látex utilizadas. (E) 5 cm, ou menos, porque uma profundidade maior lesa a
estrutura torácica e cardíaca.
19. (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
FCC-2018) Na desinfecção da superfície de uma mesa de aço 22. (PREFEITURA DE JUIZA DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
inox, onde será colocado uma bandeja com um pacote de cura- RO-2018) Paciente chega à Unidade Básica de Saúde (UBS) com
tivo estéril, o técnico de enfermagem, de acordo com as reco- história de lesões na pele, com alteração da sensibilidade térmi-
mendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) ca e dolorosa. É provável que esse paciente tenha qual doença?
pode optar pela utilização dos seguintes produtos: (A) Síndrome de Mono like.
(A) álcool a 70% aplicado sem fricção, por ser esporicida, (B) Tuberculose.
desde que aguardado o tempo de evaporação recomenda- (C) Hepatite A.
do, porém tem a desvantagem de ser inflamável. (D) Hanseníase.
(B) ácido peracético a 0,2% por não ser corrosivo para me- (E) Varicela.
tais, tendo como desvantagem não ser efetivo na presença
de matéria orgânica. 23. (PREFEITURA DE JUIZA DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
(C) hipoclorito de sódio a 1,0% por ser de amplo espectro, RO-2018) Paciente chega à UBS e, após a coleta de exames e
ter baixo custo e ação lenta, apresentando a desvantagem anamnese, observa-se uma cervicite mucopurulenta e o agente
de não ter efeito tuberculocida. etiológico encontrado no exame foi a Chlamydia trachomatis. O
(D) álcool a 70% por ser, dentre outros, fungicida e tuber- possível diagnóstico médico para essa paciente é
culocida, porém apresenta a desvantagem de não ser espo- (A) gonorreia.
ricida, além de ser poluente ambiental. (B) sífilis.
(E) hipoclorito de sódio a 0,02% por não ser corrosivo para (C) lúpus.
metais nesta concentração, ser fungicida de primeira esco- (D) difteria.
lha, tendo a desvantagem da instabilidade do produto na (E) tularemia.
presença de luz solar.

258
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
24. (PREF. PAULISTA-PE- ASSISTENTE DE SAÚDE - TÉCNICO Somente está CORRETO o que se afirma em
DE ENFERMAGEM- UPENET/UPE-2018) Sobre as doenças cardio- (A) I e II.
vasculares, analise as afirmativas abaixo: (B) I, II e III
I. A Aterosclerose é uma doença arterial complexa, na qual (C) II, III e IV
deposição de colesterol, inflamação e formação de trombo de- (D) I e IV..
sempenham papéis importantes. (E) I e III
II. A Angina é a expressão clínica mais frequente da isquemia
miocárdica; é desencadeada pela atividade física e aliviada pelo 27. PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO-MA- TÉCNI-
repouso. CO EM ENFERMAGEM- INST. MACHADO DE ASSIS- 2018). Assina-
III. O Infarto Agudo do Miocárdio é avaliado, apenas, por le a alternativa que apresenta apenas artigos médico hospitala-
métodos clínicos e eletrocardiográficos. res classificados como não-críticos:
(A) Espéculo nasal e bisturi.
Está(ão) CORRETA(S) (B) Termômetro e cubas.
(A)I e II, apenas. (C) Ambu e mamadeiras.
(B) I e III, apenas. (D) Inaladores e tecido para procedimento cirúrgico.
(C) II e III, apenas.
(D) I, II e III. 28. São vias parenterais utilizada para a administração de
(E) III, apenas medicamentos e imunobiológicos, EXCETO:
(A)Sublingual.
25. (PREF. PAULISTA/PE- ASSISTENTE DE SAÚDE - TÉCNICO (B) Intramuscular.
DE ENFERMAGEM- UPENET/UPE-2018) O paciente cirúrgico re- (C) Intradérmica.
cebe assistência de enfermagem nos períodos pré, trans e pós- (D) Subcutânea.
-operatório. Sobre o período pré-operatório e pós-operatório,
analise as afirmativas abaixo: 29. (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO-MA- TÉC-
I. O preparo pré-operatório, mediante utilização dos instrumen- NICO EM ENFERMAGEM- INST. MACHADO DE ASSIS- 2018). Ana-
tos de observação e avaliação das necessidades individuais, objetiva lise as afirmativas abaixo sobre o Aleitamento materno
identificar alterações físicas e emocionais do paciente, pois estas po- I. O aleitamento materno deve ser exclusivo até os seis meses
dem interferir nas condições para o ato cirúrgico, comprometendo o de vida. Isso significa que, até completar essa idade, o bebê deve
bom êxito da cirurgia ou, até mesmo, provocar sua suspensão. receber somente o leite materno, não deve ser oferecida qual-
II. São fatores físicos que podem diminuir o risco operatório quer outro tipo de comida ou bebida, nem mesmo água ou chá.
tabagismo, desnutrição, obesidade, faixa etária elevada, hiper- II. O leite materno contém todos os nutrientes essenciais
tensão arterial. para o crescimento e o desenvolvimento ótimos da criança pe-
III. No pós-operatório, os objetivos do atendimento ao pa- quena, além de ser mais bem digerido, quando comparado com
ciente são identificar, prevenir e tratar os problemas comuns leites de outras espécies.
aos procedimentos anestésicos e cirúrgicos, tais como dor, náu- III. O leite do início da mamada é mais rico em energia (calo-
seas, vômitos, retenção urinária, com a finalidade de restabele- rias) e sacia melhor a criança.
cer o seu equilíbrio.
IV. No pós-operatório, aos pacientes submetidos à anestesia O número de afirmativas INCORRETAS corresponde a:
geral recomenda-se o decúbito ventral horizontal sem travessei- (A) Zero.
ro, com a cabeça lateralizada para evitar aspiração de vômito. (B) Uma.
(C) Duas.
Estão CORRETAS (D) Três.
(A)I e II, apenas.
(B) I e III, apenas 30. (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO-MA- TÉCNI-
(C) II e III, apenas CO EM ENFERMAGEM- INST. MACHADO DE ASSIS- 2018) No Bra-
(D) I, II, III e IV. sil, o Programa Nacional de Imunização (PNI) se destaca por ser
(E) I e IV, apenas um dos melhores programas de imunização do mundo, atuando
na prevenção e na erradicação de várias doenças. São doenças
26. (PREF. PAULISTA-PE- ASSISTENTE DE SAÚDE - TÉCNICO DE que podem ser prevenidas através da vacinação, EXCETO:
ENFERMAGEM- UPENET/UPE-2018) Prescrever e administrar um (A) Hanseníase.
medicamento não são um ato simples, pois exigem responsabi- (B) Rubéola.
lidade, conhecimentos em geral e, principalmente, os cuidados (C) Tuberculose.
inerentes à enfermagem. Sobre isso, analise as afirmações abaixo: (D) Coqueluche.
I. Na administração por via sublingual, é importante ofere-
cer água ao paciente, para facilitar a absorção do medicamento.
II. A vantagem da via parenteral consiste na absorção e ação
rápida do medicamento, e o medicamento não sofre ação do
suco gástrico.
III. A via intradérmica é considerada uma via diagnóstica,
pois se presta aos testes diagnósticos e testes alérgicos.
IV. Hipodermóclise é uma infusão de fluidos no tecido sub-
cutâneo para a correção de distúrbio hidroeletrolítico.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ENFERMEIRO ASSISTENCIAL
GABARITO ANOTAÇÕES

______________________________________________________
1 E
______________________________________________________
2 B
______________________________________________________
3 B
4 D ______________________________________________________
5 C ______________________________________________________
6 E
______________________________________________________
7 E
8 B ______________________________________________________

9 C ______________________________________________________
10 D ______________________________________________________
11 E
______________________________________________________
12 E
13 D ______________________________________________________
14 E ______________________________________________________
15 E
______________________________________________________
16 C
______________________________________________________
17 B
18 A ______________________________________________________
19 D ______________________________________________________
20 E
______________________________________________________
21 B
22 C ______________________________________________________
23 A ______________________________________________________
24 A
______________________________________________________
25 B
______________________________________________________
26 C
27 B ______________________________________________________
28 A ______________________________________________________
29 B
_____________________________________________________
30 A
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