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DÉFICE COGNITIVO LIGEIRO

O Défice Cognitivo Ligeiro (DCL) é uma condição que demarca o estadio intermédio
entre o envelhecimento saudável com ligeiras alterações cognitivas e a demência. No entanto,
é de ressalvar que nem todos as pessoas com DCL evoluem para um quadro de demência.

Ao longo dos anos têm ocorrido alterações nos critérios para o diagnóstico de DCL,
sendo os mais atuais, e que constam do DSM-V, os seguintes:

 Queixas de défice cognitivo por parte do indivíduo ou reportadas por um


informante;
 Défice cognitivo objetivo (definido como fraco desempenho em um ou mais
parâmetros cognitivos, sugerindo a presença de défice em uma ou mais áreas,
ou domínios. Geralmente, as áreas avaliadas são: funções executivas, atenção,
linguagem, memória e competências visuo-espaciais);
 Preservação da independência para a realização das atividades de vida diária
 Não apresentar critérios de diagnóstico de demência

“Aproximadamente 12% das pessoas com mais de 70 anos têm DCL, sendo que apresentam 3 a
4 vezes maior probabilidade de desenvolver DA. Segundo alguns estudos longitudinais, entre 10
a 15% dos indivíduos com DCL desenvolvem demência no período de um ano (Petersen et al.,
cit. por Simon e Ribeiro, 2011), enquanto pessoas saudáveis evoluem entre 1 a 2% ao ano. A
maioria dos indivíduos com DCL desenvolve demência em 3 a 6 anos (Troyer et al., 2008).”
(Sousa, 2012: p.29)

No entanto, o DCL não se aplica apenas a défices ao nível da memória, pelo que se
tornou necessário, dada a heterogeneidade deste conceito, a criação de subtipos de DCL e a
sua respetiva definição:

 “DCL amnésico: a principal manifestação é o défice objectivo de memória,


para a idade e nível de escolaridade, mantendo‐se a pessoa sem outras
queixas cognitivas ou funcionais e sem critérios para ser considerado demente.
 DCL multidomínios: aplica‐se a indivíduos com défices em vários domínios
cognitivos e funcionais com défice de memória (DCL multidomínios amnésico)
ou sem défice de memória (DCL multidomínios não amnésico).
 DCL monodomínio não amnésico: o indivíduo apresenta um único défice no
seu desempenho cognitivo ou funcional que não é a memória” (Sousa, 2012:
p.29)
Como referido anteriormente, a presença de DCL é um fator predisponente para o
desenvolvimento de uma demência. Uma vez que existem diferentes demências, estudos
apontam para a correlação entre o subtipo de DCL que o indivíduo apresenta e o tipo de
demência que desenvolve.

Apesar de ser algo difícil de prevenir, existem alguns fatores de risco que contribuem
para uma maior probabilidade de desenvolvimento de DCL, nomeadamente:

 “Historial de traumas cerebrais;


 Idade (a partir dos 75 anos o risco de desenvolver DCL aumenta);
 Baixa escolaridade;
 Alterações no gene da apolipoproteína E Epsilon 4;
 Hipertensão arterial;
 Obesidade;
 Diabetes;
 Níveis baixos de actividade física, mental e social;
 Historial de depressão;
 Comorbilidade, tabagismo, viver sozinho e saúde percebida negativamente
(Oliveira et al., cit. por Rabelo, 2009)” (Sousa, 2012: p.29)

Tratamento Farmacológico

Atualmente, não existem fármacos direcionados para o tratamento de DCL, pelo que o
tratamento farmacológico passa pelo tratamento dos sintomas manifestados com fármacos
específicos.

Tratamento Não Farmacológico

Para além da vertente farmacológica para controlo da sintomatologia associada ao


DCL, a sua combinação com a terapêutica não farmacológica, através do treino da cognição e
da prática de exercício físico, tem-se demonstrado benéfica.

Estudos revelam que o treino da cognição apresenta eficácia em termos de


funcionalidade cognitiva global, memória e meta-memória. Por outro lado, a prática de
exercício, sobretudo exercício aeróbico, pode atenuar o défice cognitivo, uma vez que foram
detetadas melhorias ao nível da atenção, do tempo de reação, das funções executivas e da
memória.
A intervenção cognitiva “envolve aspetos cognitivos, emocionais, comportamentais e
relacionais e engloba um conjunto de estratégias” (Sousa, 2012: p.31). “A utilização destas
técnicas contribui para a orientação do doente e para a melhoria das funções executivas, da
linguagem e da memória. A melhoria destas funções, ou pelo menos a sua manutenção,
aumenta a performance do doente nas suas atividades de vida diária e permite que ele se
mantenha autónomo por mais tempo, diminuindo a sobrecarga dos cuidadores e/ou família e
facilitando a sua interação social” (Sousa, 2012: p.31)

DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÓNICA (DPOC) NO IDOSO

A DPOC é uma doença crónica caracterizada pela limitação do fluxo de ar das vias
aéreas, geralmente devido a um aumento da resistência causada pela presença de uma
obstrução. O enfisema, a asma, a bronquite crónica e a bronquiectasia são exemplos de
patologias obstrutivas (Robbins, 2013). Nestas patologias verifica-se que a capacidade vital
forçada (CVF) pode estar normal, ou ligeiramente diminuída, e a taxa de fluxo expiratório,
medida em termos de volume expiratório máximo no 1º segundo (VEF1), está
significativamente diminuída, pelo que existe uma diminuição do Índice de Tiffeneau
(VEF1/CVF).

Sintomas

A tosse é o sintoma base da doença, sendo que no início pode ser “intermitente,
normalmente matinal, mas progressivamente vai-se tornando presente ao longo do dia”
(Ribeiro, 2012). A tosse crónica é normalmente produtiva e tende a ser desvalorizada por ser
entendida como uma consequência do tabagismo, no entanto, esta “pode causar síncopes, por
um aumento rápido da pressão intratorácica durante ataques de tosse prolongados. Pode
ainda causar fratura de costelas, muitas vezes assintomáticas” (Ribeiro, 2012).

“A expetoração é outro sintoma característico da DPOC. Inicialmente é matinal, mas


com o avançar da doença, aparece ao longo do dia. Normalmente é viscosa e de aspeto
mucóide, em pequenas quantidades” (Ribeiro, 2012). A produção de expetoração nos últimos
três meses ou mais, em, pelo menos, dois anos consecutivos permite o diagnóstico de
Bronquite Crónica (Robbins, 2013). Eventuais mudanças na cor ou volume da expetoração
podem ser sugestivas de exacerbações da DPOC.

“A dispneia, a par com a intolerância ao exercício, é o sintoma que mais incomoda os


pacientes e mais interfere na sua qualidade de vida”. Tende a ser progressiva e a tornar-se
persistente com o avançar da doença. Ao início, ocorre durante a prática de exercício que
envolve maiores esforços, podendo ser contornada com a evicção desses comportamentos.
“No entanto, à medida que a doença segue o seu curso, a dispneia começa a evidenciar-se
para esforços mínimos ou mesmo em repouso” (Ribeiro, 2012).

“Outro sintoma que acompanha frequentemente a DPOC, nomeadamente nos idosos,


é a fadiga”. Fatores como: “a oxidação dos tecidos, a diminuição da força muscular, as
alterações estruturais do músculo, as perturbações de sono, o stress, alguns efeitos colaterais
dos medicamentos e perturbações da alimentação, que são característicos desta faixa etária”
contribuem para um aumento da sensação de cansaço. Assim, os doentes tendem a reduzir a
atividade física, optando por um estilo de vida mais sedentário. Desta forma, a diminuição da
atividade física em conjunto com a as alterações causadas pela DPOC, levam a um aumento
das “alterações morfológicas da estrutura dos músculos e, assim, a capacidade funcional e a
força muscular diminuem”, o que contribui ainda mais para o aumento da fadiga (Ribeiro,
2012).

Apesar de não existir um consenso acerca deste tópico, existem investigações que
apontam para a existência de uma correlação entre a DPOC e a ocorrência de défices
cognitivos. Estudos mostram que têm vindo a ser “documentados múltiplos casos de
depressão, ansiedade e défices neurofisiológicos (velocidade motora, força muscular,
integração perceptivo-motora, atenção, aprendizagem, memória e linguagem)” em doentes
com DPOC.

Desta forma, entende-se que a função cognitiva dos idosos com DPOC pode ser
afetada de três maneiras:

 Diminuição do fluxo sanguíneo (causa: idade);


 Diminuição da saturação de oxigénio arterial (causa: doença);
 Diminuição da atividade física (causa: idade e doença).

A diminuição do oxigénio arterial pode levar a uma diminuição de aporte de oxigénio ao


cérebro e comprometer as funções cognitivas dos pacientes idosos com DPOC.

“A obstrução do fluxo aéreo torna-se mais severa com o avançar da doença e os


sintomas como a dispneia, a tosse, a expetoração, a fadiga e a cianose afetam física,
emocional e socialmente estes pacientes, restringindo-os na execução das suas tarefas
diárias e a incapacidade que é causada por esta doença ocorre assim em diferentes
níveis da vida do doente idoso com DPOC” (Ribeiro, 2012).
Tratamento Farmacológico

“O tratamento da DPOC estável deve ter em conta a gravidade da doença do indivíduo, que
deve ser avaliada segundo os sintomas, a limitação do fluxo aéreo, a frequência e gravidade
das exacerbações, as complicações, a insuficiência respiratória, as comorbilidades e a função
pulmonar”.

De acordo as guidelines, deve-se iniciar a terapêutica com broncodilatadores de curta duração


de ação (salbutamol ou brometo de ipratrópio), e seguir até aos broncodilatadores de longa
duração de ação regulares, individualmente ou em associação. Em casos mais graves, é
ponderada a associação com agonistas β2 ou corticóides inalados, nomeadamente em casos
de exacerbações frequentes (Ribeiro, 2012).

Uma vez que “nenhum dos medicamentos utilizados na DPOC modifica o declínio da função
pulmonar a longo prazo”, os objetivos da terapêutica farmacológica visam, sobretudo, “o alívio
dos sintomas, melhoria do estado geral, atraso no declínio da função pulmonar, aumento da
tolerância ao exercício físico, prevenção de exacerbações e diminuição da mortalidade”
(Ribeiro, 2012).

Dada a faixa etária em que se encontram os idosos, a escolha da terapêutica ideal torna-se
mais complexa. Com o aparecimento de comorbilidades, que requerem medicação, torna-se
fulcral prestar atenção a possíveis interações medicamentosas. Ainda, a diminuição
progressiva da função renal e hepática pode levar à necessidade de “ajustar as doses dos
medicamentos ou, idealmente, escolher um medicamento com baixa biodisponibilidade
sistémica e que tenha uma ação local eficaz, neste caso, nas vias aéreas” (Ribeiro, 2012).

Como referido anteriormente, os broncodilatadores são considerados o tratamento de 1ª linha


na DPOC. Estes fármacos “reduzem a obstrução do fluxo aéreo, por relaxamento do músculo
liso das vias aéreas e considera-se que diminuem a severidade e a frequência das
exacerbações”. Existem três classes de broncodilatadores utilizados na DPOC: os agonistas β2,
os anticolinérgicos e as metilxantinas.

Agonistas β2

Os agonistas β2 promovem a broncodilatação através da interação com os


adrenorrecetores β2, presentes em células do músculo liso das vias aéreas, e resulta no
seu relaxamento. “Apesar da sua eficácia, é necessário ter em conta que 30% dos
adrenorrecetores β cardíacos são do tipo 2, o que leva a que, em altas doses, estes
fármacos possam causar taquicardia ou outros efeitos cardíacos”.
Esta classe de fármacos pode ser classificada segundo a sua duração de ação: os de curta
duração (cerca de seis horas de eficácia) e os de longa duração de ação (eficácia até doze
horas). “O agonista β2 de curta duração mais comum é o salbutamol, enquanto os de
longa duração mais comummente utilizados são o salmeterol e o formoterol”.

No entanto, uma vez que os agonistas β2 são administrados por via inalatória, há um
aumento da concentração de fármaco local nas vias aéreas, mas ocorre redução da
toxicidade sistémica, o que limita os efeitos adversos desta classe de medicamentos no
idoso.

Anticolinérgicos

“Os anticolinérgicos induzem broncodilatação por antagonismo da acetilcolina nos


recetores M3 muscarínicos, levando à diminuição do tónus do músculo liso e redução na
produção de muco” (Ribeiro, 2012).

Os anticolinérgicos podem ser classificados consoante a sua duração de ação: o brometo


de ipratrópio é o agente anticolinérgico inalado de curta duração de ação mais
comummente utilizado (pode ser utilizado até quatro vezes por dia e tem eficácia durante
quinze minutos); o brometo de tiotrópio é o agente anticolinérgico de longa duração de
ação mais utilizado (pode ser utilizado uma vez por dia e tem eficácia até 24h).

“O brometo de tiotrópio apresenta ainda vantagem em relação ao brometo de ipratrópio,


na medida em que melhora os valores do VEF1 e da capacidade vital expiratória forçada.
Além disso, diminui a frequência das exacerbações e das crises de dispneia” (Ribeiro,
2012), no entanto ainda é um fármaco.

Relativamente aos efeitos adversos descritos, estes medicamentos podem causar sensação
de boca seca, tosse e agravamento dos sintomas de glaucoma de ângulo fechado. Existem
alguns relatos de retenção urinária.

“Uma meta-análise que inclui vários estudos mostrou ainda uma certa tendência para o
aumento do risco de morte por doenças cardiovasculares, enfarte do miocárdio e AVC, em
doentes medicados com anticolinérgicos inalados” (Ribeiro, 2012).

Metilxantinas

As metilxantinas atuam de forma promover a broncodilatação. Alguns estudos indicam


que estes fármacos aumentam a contratilidade diafragmática e a função dos músculos
respiratórios.
A teofilina, a metilxantina mais utilizada, é considerada fármaco de terceira linha no
tratamento da DPOC, e é associada à terapêutica do doente se a sua condição “não estiver
a ser satisfatoriamente controlada com o uso de agonistas β2 ou anticolinérgicos”.

A teofilina não está recomendada em idosos devido à sua toxicidade. Esta pode causar
“palpitações, arritmias, enfarte do miocárdio, vómitos e cefaleias” (Ribeiro, 2012).

Tratamento Não Farmacológico

A terapêutica não farmacológica consiste na prática de exercício físico controlado, numa


alimentação equilibrada e a evicção do fumo passivo do tabaco.

MEMÓRIA

A memória é um sistema complexo e um conjunto de múltiplos arranjos de codificações ou


subsistemas que facilitam o armazenamento e recuperação de informações. (Baddeley,
Anderson e Eysenck, 2011, cit. por Sousa e Salgado, 2015).

A memória é definida, segundo o ICN (2019), como o “processo psicológico: atos mentais
através dos quais são armazenadas e recordadas sensações, impressões e ideias; registo
mental, retenção e recordação de experiências passadas, conhecimentos, ideias, sensações e
pensamentos".

O Dicionário de Psicologia da American Psychiatric Association (APA), define memória como:

1) a habilidade de reter informação ou a representação de uma experiência passada, baseada


em processos mentais de aprendizagem ou codificação, retenção num período de tempo, e
recuperação ou reativação da memória;

2) informação específica ou experiência passada específica que é recordada;

3) a parte do cérebro hipotética onde vestígios de informação e experiências passadas são


armazenadas

Tipos de memória

Segundo Lent (2010), citado por Júnior e Faria (2015), as memórias podem ser distinguidas
tendo em consideração duas caraterísticas principais: o tempo de armazenamento – imediata,
curto prazo e longo prazo – e a natureza da memória – explícita, implícita e de trabalho.
A memória sensorial é aquela que nos permite adquirir informações através dos sentidos e dos
estímulos que recebemos. Carateriza-se por ter uma duração muito reduzida, caso o estímulo
não seja readquirido. Apesar deste tipo de memória poder reter um maior número de
informações, esta possui um caráter pré-consciente, isto é, nem toda a informação que é
armazenada é tornada consciente para a pessoa (Mourão e Melo, 2011, citado por Júnior e
Faria, 2015). Todos os tipos de memória sensorial desaparecem em cerca de 30 segundos,
sendo consideradas memórias imediatas (Squire et al., 2013, citado por Júnior e Faria, 2015).

A memória de trabalho é aquela que é utilizada para contextualizar a pessoa e gerir a


informação que circula no cérebro, tem um tempo de duração tão rápido que dura apenas uns
segundos e uma capacidade de armazenamento muito reduzida (Goldberg, 2009, citado por
Júnior e Faria, 2015).

A memória a longo prazo é aquela que nos permite armazenar informação por um longo
período, podendo durar a vida toda. É também conhecida por memória remota (Júnior e Faria,
2015) e em processos de alteração cognitiva é a última a ser perdida (Monteiro, 2013, citado
por Vieira, 2016). Pode ser categorizada como memória explícita – que equivale às memórias
que são facilmente acessíveis através da consciência e podem ser evocadas através de palavras
– e implícita – as memórias que estão no nível do subconsciente, que apenas podem ser
evocadas através de ações (Lent, 2010, citado por Júnior e Faria, 2015).

Alterações de memória

As alterações de memória podem dever-se a diversos acontecimentos, podendo estar


relacionadas com o próprio envelhecimento, em que a pessoa tem maior dificuldade a criar
memórias novas ou adquirir informações novas ou realizar tarefas complexas. Este tipo de
alteração na memória reflete-se através do esquecimento ocasional, no entanto não há um
compromisso na cognição da pessoa, sendo que esta consegue reaver-se da memória
pretendida se lhes for permitido pensar no assunto durante algum tempo (Levin, 2016).

Outra situação que resulta em alterações de memória é o défice cognitivo ligeiro (DCL), este
começa por afetar a memória a curto prazo, porém a memória remota e funcional permanece
intacta. Considera-se défice cognitivo leve quando há compromisso na memória e/ou noutras
funções cognitivas que não é impeditivo de realizar as atividades de vida diária (Levin, 2016).
Segundo Cancela (2007), citado por Vieira (2016), o expectável perante um DCL é a detioração
das capacidades cognitivas serem mais exacerbadas do que o processo normal de
envelhecimento, havendo compromisso a nível da aprendizagem, do raciocínio, e em alguns
casos, da linguagem e das capacidades visuais. O DCL progride para demência a um ritmo de
10-12% por ano, podendo demorar cerca de 8 anos para os doentes apresentarem uma
demência a curto prazo.

EQUILIBRIO

O controlo postural é a capacidade de manter o centro de gravidade do corpo sobre a base de


suporte durante uma atividade, quer seja ela estática ou dinâmica (Hageman, P., Leibowitz,
M., Blanke, D., 1995). Segundo Bankoff (1996), o equilíbrio, a coordenação neuromuscular e a
adaptação a determinado movimento fazem parte do controlo postural. O controlo postural
possui dois objetivos comportamentais: a orientação e o equilíbrio postural.

A orientação postural está relacionada com o posicionamento e o alinhamento dos segmentos


corporais, em relação aos outros e em relação ao ambiente. O equilíbrio postural é o estado
em que todas as forças que atuam sobre o corpo estão determinadas para manter o corpo na
posição e orientação desejada. Para que estes dois objetivos comportamentais sejam
alcançados é necessária perceção (integração das informações sensoriais para analisar a
posição e o movimento do corpo no espaço) e ação (capacidade de produzir forças para
controlar os sistemas de posicionamento do corpo). Dessa forma, o controlo postural exige
uma interação contínua entre o sistema músculo-esquelético e o sistema neurológico
(Meneghetti, C., Blascovi, S., Deloroso, F., Rodrigues, G., 2009).

O equilíbrio corporal é um processo complexo que envolve a receção e integração de


estímulos sensoriais, o planeamento e a execução de movimentos para controlar o centro de
gravidade sobre a base de suporte, sendo realizado pelo sistema de controlo postural, que
integra informações do sistema vestibular, dos recetores visuais e do sistema somatossensorial
(Hobeika, C., 1999). O sistema sensorial fornece o posicionamento dos segmentos corporais
em relação ao ambiente e a outros segmentos, enquanto que o sistema motor ativa de forma
correta e adequada os músculos para a realização do movimento, e o sistema nervoso central
conecta as informações vindas do sistema sensorial para enviar impulsos nervosos aos
músculos (Woollacott, M., Tang, P., 1997).

O desenvolvimento da capacidade de manter o equilíbrio corporal é indispensável para o ser


humano, pois sem ele seria impossível realizar as atividades da vida diária (Teixeira, C., 2010).
Assim, o equilíbrio estático é definido como a capacidade de manter o próprio equilíbrio
enquanto o centro de gravidade permanece estacionário, já o equilíbrio dinâmico é definido
com a capacidade de manter o próprio equilíbrio consoante as deslocações do centro de
gravidade (Nascimento, L., Patrizzi, L., Oliveira, C., 2012).

Os sinais e sintomas de alteração do equilíbrio corporal podem surgir por várias causas,
podendo ser de origem vestibular ou não vestibular. As alterações não vestibulares incluem
patologias do sistema nervoso central, doenças cardiovasculares, metabólicas, infeciosas,
psicogénicas ou provocadas por tóxicos. As alterações vestibulares estão relacionadas com
diversas patologias, como a vertigem posicional paroxística benigna, doença de Ménière,
vertigem postural fóbica, nevrite vestibular, neurolabirinte vestibular, vertigem pós-traumática
e défice multissensorial no idoso. Este último é a causa de alteração de equilíbrio mais comum
pois com a idade começam a surgir degenerações dos grupos musculares, da visão e do
próprio sistema nervoso, aumentando assim a morbilidade e consequentemente o risco de
quedas (Cruz, I., Barreto, D., Fronza, A., Jung, I., Krewer, C., Rocha, M., Silveira, A., 2010;
Araújo, P., 2007).

O envelhecimento é definido como um processo dinâmico e progressivo no qual existem


alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, com redução na capacidade de adaptação
homeostática às situações de sobrecarga funcional, alterando progressivamente o organismo e
tornando-o mais suscetível a fatores de risco, intrínsecos (doenças músculo-esqueléticas,
cardiovasculares, neurológicas, vestibulares e visuais) e extrínsecos (tipo de piso, iluminação
deficiente e uso de sapatos mal ajustados) (Mazo, G., Liposcki, D., Ananda, C & Prevê, D.,
2007).

Os fatores intrínsecos que ocorrem naturalmente durante o processo de envelhecimento,


reduzem o equilíbrio corporal estático e dinâmico, levando à perda de estabilidade postural
durante a marcha, quando estão na posição ortostática parados ou até mesmo quando estão
sentados num banco sem apoio do tronco (Daniel, F., Vale, R., Júnior, R., Giani, T., Bacellar, S.,
Batista, L., Dantas, E., 2015). Cerca de 85% dos idosos com mais de 65 anos de idade queixam-
se de desequilíbrios posturais e apresentam, como consequência, desvios na marcha, quedas e
instabilidades posturais.

As quedas são as principais queixas dos pacientes idosos, sendo esta definida como uma
mudança de posição repentina e involuntária, que resulta de uma aterragem do idoso a um
nível inferior como, por exemplo, o solo ou chão, com a presença ou não de lesão, (Public
Health Agency of Canada, 2005) ocorrendo como resultado de uma interação complexa de
determinados fatores de risco. Todas estas alterações decorrentes do envelhecimento, como
por exemplo, a diminuição da força muscular, alterações na massa óssea, défice no equilíbrio,
aumento do tempo de reação, declínio dos reflexos, redução do controlo postural e alterações
no sistema visual, propriocetivo e vestibular, vão diminuir a capacidade funcional do idoso e
vão permitir que exista uma maior probabilidade da ocorrência do fenómeno de quedas que
constitui um dos principais problemas clínicos e de saúde pública devido à sua alta incidência
na população (Carvalho, A., & Coutinho, E., 2002, 449).

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