O documento discute como o neoliberalismo vem transformando a educação brasileira através da introjeção de valores empresariais, como a ênfase em habilidades socioemocionais e o cultivo de características individuais como resiliência e autonomia. Isso tem levado a uma responsabilização individual pelo sucesso e uma restrição da educação ao viés econômico, em detrimento de sua dimensão universal.
O documento discute como o neoliberalismo vem transformando a educação brasileira através da introjeção de valores empresariais, como a ênfase em habilidades socioemocionais e o cultivo de características individuais como resiliência e autonomia. Isso tem levado a uma responsabilização individual pelo sucesso e uma restrição da educação ao viés econômico, em detrimento de sua dimensão universal.
O documento discute como o neoliberalismo vem transformando a educação brasileira através da introjeção de valores empresariais, como a ênfase em habilidades socioemocionais e o cultivo de características individuais como resiliência e autonomia. Isso tem levado a uma responsabilização individual pelo sucesso e uma restrição da educação ao viés econômico, em detrimento de sua dimensão universal.
Nome: João Pedro Vinícius Lazaro – RA: 11201721548
Curso: Práticas de Ensino de Filosofia: Currículos – Turma: Matutino Profº: Dr. Samon Noyama
Avaliação Parcial – 2021.3Q
A subjetivação neoliberal por meio da introjeção de valores empresariais na
educação brasileira: uma reflexão a partir de Christian Laval João P. V. Lazaro Em sua obra A escola não é uma empresa, Christian Laval nos apresenta as transformações que o capitalismo neoliberal, especialmente a partir da década de 1980, vem operando na instituição escolar. Logo no primeiro capítulo do livro, o autor lança as bases de sua análise por meio da constatação de um apagamento da fronteira entre os interesses da escola e os interesses do capital privado. Nesse sentido, tendo sido gestada desde há muito no interior das críticas utilitaristas ao ensino tradicional, visto como aristocrático e abstrato, o ideal de uma educação voltada para a prática e para a vida material foi pervertido até um ponto em que, no limite, a escola se torna somente mais uma empresa e a educação apenas mais uma mercadoria de alto valor agregado. Se o mercado de trabalho se torna propriamente uma extensão do “mercado educacional”, a escola se torna o ambiente no qual serão desenvolvidas as habilidades necessárias, mas nunca suficientes, para a inserção dos jovens na lógica do mundo profissional através de um modo de subjetivação específico. Um exemplo muito palpável dessas transformações que vêm ocorrendo a todo vapor, no contexto do sistema educacional brasileiro, é a implantação das PEI’s, escolas que adotam o Programa de Ensino Integral, além da concomitante Reforma do Ensino Médio, consolidada na Lei 13.415 de fevereiro de 2017, que dá amparo legal ao projeto do Novo Ensino Médio, já em andamento no ensino público. Estamos diante de um verdadeiro sequestro das políticas educacionais pelo corporativismo neoliberal. Um dos primeiros resultados que podemos perceber dessas implementações é o esvaziamento de significantes em discursos sobre desempenho e habilidades socioemocionais, além de seu estabelecimento como principais objetivos do processo de ensino-aprendizagem. Até mesmo no discurso das habilidades e competências presentes no documento da BNCC, já podemos constatar esse fenômeno. Nas PEI’s, pioneiras na implementação das disciplinas de “Projeto de Vida” e “Eletivas”, além da formação continuada dos professores e das ATPC’s (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo), é recorrente a elaboração de projetos que enfatizam a necessidade de cultivar certas qualidades como “resiliência”, “autonomia”, “protagonismo”, “proatividade” etc., tanto para alunos como para professores. Essas habilidades, que são identificadas como traços de caráter, e que supostamente são características fundamentais para o sucesso na vida, nada mais são que uma reformulação do jargão empresarial. Em seu texto, Laval afirma que o neoliberalismo visa a eliminação de toda “rigidez”, inclusive a psíquica, em nome da adaptação às situações mais variadas com que o indivíduo depara no trabalho e na vida. Mais que nunca a economia ocupa o centro da vida individual e coletiva, os únicos valores sociais legítimos são a eficiência produtiva, a mobilidade intelectual, mental e afetiva, e o sucesso pessoal. Isso não pode deixar incólume o sistema normativo da sociedade e seu sistema de educação (Laval, 2019).
Muito acertadamente, o autor diagnostica a patologia que se instala a partir
dessa mutação dos valores sociais que, no contexto da educação, se transveste de uma preocupação com a preparação dos estudantes para a vida fora da escola, uma vida que parece se resumir à venda de sua força de trabalho aos interesses do capital privado. Michel Foucault, em “Nascimento da Biopolítica” (1979), descreve esse processo como “a possibilidade de reinterpretar em termos econômicos e em termos estritamente econômicos todo um campo que, até então, podia ser considerado, e era de fato considerado, não-econômico”. Seguindo a constatação de um progressivo inculcamento dos valores empresariais no âmbito individual e subjetivo dos estudantes, descortina-se outra consequência: a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso pessoal recai exclusivamente sobre o próprio indivíduo, assim o Estado e as demais instituições e fatores sociais retiram sua parte do negócio. A reflexão sobre os efeitos nocivos que essas mudanças vêm causando nos leva a considerar cada vez mais factível o total anulamento da faixa que separa o ambiente escolar do ambiente empresarial. Esse ensino utilitário, que vem tomando o lugar da educação universal, fecha as portas para um diálogo sobre a educação em suas diversas dimensões, restringindo-a ao viés econômico. Se as novas gerações forem progressivamente condicionadas desde a infância a essa lógica de mercado e, consequentemente, ampliá-las para todos os aspectos de suas vidas, nossa sociedade estará mais perto do que nunca da distopia preconizada pela jaula de ferro weberiana. E o perigo maior é que todas as ferramentas de resistência, que hoje em dia os esforços de uma educação crítica ainda se preocupa em prover, sejam substituídas pelo seu próprio algoz.
Referências Bibliográficas
FOUCAULT, M. Aula de 14 de março de 1979. In: O Nascimento da Biopolítica.
São Paulo: Martins Fontes, 2008, p.297-327.
LAVAL, C. Novo capitalismo e educação. In: A escola não é uma empresa: o
neoliberalismo em ataque ao ensino público. São Paulo: Editora Boitempo, 2019, p. 29-45.