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Bons Dias!
Machado de Assis

Prof. Henrique Landim


OBRA: Bons Dias!

AUTOR: Machado de Assis

ANO DE PUBLICAÇÃO: crônicas escritas entre os


anos de 1888 a 1889

GÊNERO LITERÁRIO: o livro é uma produção


do gênero narrativo. Temos 49 crônicas, 48 delas
publicadas no jornal Gazeta de Notícias, entre 5 de
abril de 1888 e 29 de agosto de 1889.

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O QUE É UMA CRÔNICA?
A palavra crônica vem do termo grego “chronos”, que significa tempo, e é
caracterizado como narrativa histórica, por seguir uma sequência cronológica. De
acordo com Coutinho (1988, p. 306), a crônica era relacionada a relatos cronológicos
de fatos sucedidos em algum lugar; no entanto, esse significado modificou-se, e a
palavra crônica é agora utilizada para designar “pequenas produções em prosa, de
natureza livre, em estilo coloquial, provocadas pela observação dos sucessos
cotidianos ou semanais, refletidos através de um temperamento artístico”. A
linguagem utilizada nesse gênero é, normalmente, muito próxima da oralidade, pois
“sendo ligada à vida cotidiana, a crônica tem que se valer da língua falada, coloquial,
adquirindo inclusive certa expressão dramática no contato da realidade da vida diária”
(COUTINHO, 1988, p. 306).
O QUE É UMA CRÔNICA?

Ferreira (2008) prefere conceituar a crônica como um texto avesso às classificações. Isso
se dá pela imprevisibilidade textual e discursiva que se percebe nesse gênero. Além
disso, os próprios cronistas mais renomados apontam essa dificuldade, e até assumem
que não se preocupam mais em fazer classificações. Mas, na literatura, podemos
encontrar aqueles que se esforçaram por conceituar esse gênero tão instável, que acaba
sendo considerado como um gênero de fronteira, meio literário, meio jornalístico.
Ferreira (2008) aponta que a crônica se originou da imprensa inglesa e se adaptou à
nossa imprensa, sendo utilizada para dar leveza aos textos jornalísticos, tão repletos
de notícias ruins. Pela crônica, o jornal proporciona a diversão e o entretenimento
“destinando-se a dar um tratamento mais ameno a certos fatos da semana e do mês,
inclusive para agradar todos os tipos de leitores” (FERREIRA, 2008, p.365). Moisés
(1982, p. 247), de maneira muito simples, explica que a crônica “oscila, pois, entre a
reportagem e a Literatura, entre o relato impessoal, frio e descolorido de um
acontecimento trivial, e a recriação do cotidiano por meio da fantasia”.
O QUE É UMA CRÔNICA?
Cândido (1992) argumenta que a crônica traz assuntos do cotidiano, tratados de forma
leve. Esta é, justamente, uma das grandes qualidades do gênero. Além disso, a crônica,
originalmente, tem um aspecto transitório, já que, diferentemente do livro, ela é
criada para nascer e morrer no mesmo dia, após a sua leitura. Ele aponta que a
crônica não foi feita originalmente para o livro, mas para essa publicação efêmera
que se compra num dia e no dia seguinte é usada para embrulhar um par de sapatos
ou forrar o chão da cozinha. Por se abrigar neste veículo transitório, o seu intuito não é
o dos escritores que pensam em ‘ficar’, isto é, permanecer na lembrança e na
admiração da posteridade; e a sua perspectiva não é a dos que escrevem do alto da
montanha, mas do simples rés-do-chão. Por isso mesmo consegue quase sem querer
transformar a literatura em algo íntimo com relação à vida de cada um, e quando passa
do jornal ao livro, nós verificamos meio espantados que a sua durabilidade pode ser
maior do que ela própria pensava (CÂNDIDO, 1992, p.15).
INTERPRETAÇÃO DO TÍTULO:
A expressão “Bons dias” é um título-saudação do
narrador para com os leitores: “Hão de
reconhecer que sou bem criado. Podia entrar
aqui, chapéu à banda, e ir dizendo o que me
parecesse; depois ia-me embora, para voltar na
outra semana. Mas não, senhor; chego à porta, e
o meu primeiro cuidado é dar-lhe bons dias”. O
título e trecho deixa transparecer polidez e
familiaridade para com o leitor que podem ser
rompidas pelo leitor: “Agora, se o leitor não me
disser a mesma coisa, em resposta, é porque é
um grande malcriado, um grosseirão de bolar e
capelo”
O MOTIVO DO ANONIMATO:
O anonimato pode ser interpretado como
sendo uma estratégia retórica, já que “[...]
no âmbito da retórica, a noção de autor
importa muito menos do que a de público
receptor, o verdadeiro centro de gravidade
da retórica.” (ROCHA, 1998, p.94).
Certamente havia uma razão para o sigilo.
Segundo John Gledson (1986), Machado
tinha algo a dizer sobre a Abolição, algo
nada agradável, preferindo assim a
liberdade extra provocada pelo anonimato.
INTRODUÇÃO:
 Todas começam com a saudação "Bons dias!" e acabam na despedida (que
também funcionam como uma assinatura-pseudônimo), “Boas Noites”.

 Nas crônicas, os acontecimentos políticos e a história são vistos e vividos de


perto e de longe.

 As crônicas foram publicadas no jornal Gazeta, o primeiro de uma nova


classe de jornais vendido avulso na rua por meio de uma tiragem de 24 mil
exemplares. Esse jornal era o menos engajado politicamente da época.
INTRODUÇÃO:
 A complexidade das crônicas se torna mais fascinante ainda pelo fato de
que Machado de Assis era um monarquista que não queria o fim do
regime, embora soubesse que este acabaria; essa tensão entre o coração e
a razão é um dos fatores que constituem o fascínio dessa obra. Machado
pode ser visto com um monarquista liberal.

 Os temas essenciais das crônicas: a República, a Monarquia e a Escravidão.

 O que inicialmente poderia ser uma forma acolhedora, de bem tratar o


leitor, traz em si tudo, menos aquilo a que se propõe. Marcado pelo
desprezo, mesmo que muitas vezes camuflado, o cronista busca a atenção
do leitor por um processo de sedução que envolve o desafio, o
convencimento e até a agressão.
AS 9 PRIMEIRAS DIZEM TUDO
As primeiras nove crônicas do livro são, na verdade, o seu cerne, e expõem os
argumentos centrais do autor. Constituem um processo em que as questões
mais importantes são retratadas, desenvolvidas, e finalmente chegam ao
clímax, embora, claro, nunca sem ironia. Vamos à organização dessas crônicas:

 CRÔNICAS 1 e 2: exposição confusa (hermética) a respeito do paradoxo da


escolha de um governo conservador aspirando ser liberal (abolição da
escravidão).

 CRÔNICA 3: algumas leis acabaram com a instituição da escravidão, mas os


escravos viram fichas de um sistema econômico.

 CRÔNICA 4: o fim inevitável da escravidão sobre à cena.


AS PRIMEIRAS DIZEM TUDO
 CRÔNICA 5: momento oficial para se falar da escravidão no Parlamento.
Machado sugeri não se deixar seduzir pelas audiências, talvez por isso, o
humor do texto.

 CRÔNICA 6, 7 e 8: concentram o ponto de vista do autor sobre o tema da


abolição e da escravidão. Cada uma apresenta os temas sob uma perspectiva:
a sexta fala da fuga em massa das fazendas em MG e RJ. A sétima é uma
alusão ao Pancrácio para expressar a escravidão sob uma perspectiva
individual. Por fim, a oitava é um relato sarcástico do processo político da
abolição.

 CRÔNICA 9: por meio do humor, Machado constrói uma alegoria política a


respeito do Bendegó, meteoro transportado da Bahia para o RJ, em 1888.
CRÔNICA 1 (05 de abril de 1888)

 Apresentação do narrador com educado. Tentativa de se apresentar a boa


educação do narrador, o que também não deixa de ser um mecanismo de
enaltecimento, de se destacar, de desejo de reconhecimento.
 Ironia ao Ministro Ferreira Viana que anuncia, no Beethovem, o fim da
escravidão. O narrador diz ser parecido com o príncipe de Bismak que não
apresenta programa.
 O narrador diz ser um pobre relojoeiro cansado do ofício de saber que os
relógios do mundo não marcam a mesma hora (ideia do cansaço para com o
tempo que não passa).
 Há um desalinho entre o que ocorre no tempo e a marcação dos relógios.
 Machado ironiza os liberais que pouco tem feito para a abolição ocorrer.
 Alusão ao meteoro Bendegó que demorou a chegar ao RJ.
CRÔNICA 2 (12 de abril de 1888)

 Alusão ao delegado do RJ em reunião com os diretores dos bondes (mundo


desajustado).
 O narrador diz que irá entrar no capitólio, isto é, no mundo do poder político.
 Assassinato de Pinto Junior, em Campinas, que acabou morto pelo caso.
Houve uma carta de Corso, bandido perigoso, mas que a polícia percebeu se
tratar de uma manipulação de Pinto Junior.
 Nos países novos as ideias novas não funcionam, pois não se consolidaram,
pois existem poucas ideias. Se alguém, em uma casa, usar uma roupa, outros
ficarão sem.
CRÔNICA 3 (19 de abril de 1888)

 Hermética alusão à eleição de Ferreira Viana, ministro da época. Os liberais


precisavam de candidatos que não fossem contra a abolição.

CRÔNICA 4 (27 de abril de 1888)

 O narrador diz ter andado à rua e ouviu um assunto chamado de abolição.


 Há uma dupla conotação para o termo cretinismo – podemos entendê-lo
enquanto doença (ausência ou insuficiência da glândula tireoide) ou
compreender a palavra cretinismo enquanto qualidade depreciativa
(cretino).Ler trecho p. 98
CRÔNICA 5 (04 de maio de 1888)

 Cria-se um suposto distanciamento dos debates do senado a respeito da


abolição. Há um suposto diálogo com o senador cearense, Castro Carreira. Ler
crônica inteira.

CRÔNICA 6 (11 de maio de 1888)

 Nesta crônica há um diálogo imaginário com um interlocutor culto. Há nela


uma tomada deposição do narrador a respeito da abolição. Por isso,
percebemos uma pergunta retórica dele: “Lá que eu gosto da liberdade, é
certo; mas o princípio da propriedade não é menos legítimo”. Ler crônica
inteira.
CRÔNICA 7 (19 de maio de 1888)

 Crônica bastante irônica a respeito das aparências de liberdade que os


escravos passaram a ter e sobre a vaidade dos liberais. Ler crônica inteira.

CRÔNICA 8 (20-21 de maio de 1888)

 O narrador cria um irônico evangelho a respeito da condição política do Brasil


por meio de inúmeros nomes dos protagonistas históricos da época que
estavam envoltos ao tema da abolição. Vale dizer que essa crônica é uma
ironia à “Missa ao ar livre, celebrada no Campo de São Cristóvão em 17 de
maio, ação de graças pela abolição, na presença da princesa regente”.
CRÔNICA 9 (27 de maio de 1888)

 Nesta crônica, há um jocoso (bem humorado) diálogo alegórico entre José


Carlos de Carvalho e o meteoro Bendegó. José Carlos de Carvalho é o chefe da
expedição que levou da Bahia para o Rio de Janeiro o meteoro nomeado de
Bendegó.

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