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O poeta nordestino Patativa do Assaré, na sua escrita que muitas vezes foge
da norma culta da língua portuguesa conversa muito com as reflexões que fizemos
durante o componente curricular Universidade e Contexto Planetário. O poeta teve
seu foi reconhecido nacional e internacionalmente. As lindas obras contam a vida
do povo nordestino, do povo do sertão, das muitas dores e lutas deste povo forte.
Sua poesia é marcada pela linguagem informal, trazendo suas vivências. O em seu
fazer artístico carrega elementos da cultura popular da sua região. O repente e a
literatura de cordel traçam suas obras que ganharam visibilidade nos anos 60,
quando houve a musicalização do poema “Triste Partida”, pelo mestre Luiz
Gonzaga.
A falta de letramento formal não tira dele o seu saber, a sua vivência no
sertão, seu trabalho no roçado, sua experiência de ter nascido e criado no nordeste
brasileiro. Quando a escritora Larrosa Bondía fala da experiência como forma real
de conhecimento, seria loucura não enxergar na poética de Patativa do Assaré os
saberes que o viver lhe ensinou. Para entendermos sua experiência é só ler um de
seus poemas. Na primeira estrofe do poema “Triste Partida”, Patativa trás um
conhecimento sobre as estações, sobre o período de seca no sertão nordestino:
“Setembro passou /Outubro e novembro/ Já tamo em dezembro/ Meu Deus, que é
de nós.” Fazendo referência ao tempo da estiagem, é notável que a escrita não é
completamente dentro na norma culta, mas vemos um sujeito da experiência
narrando sua história. Na sétima estrofe: “Sem chuva na terra/ Descamba janeiro/
Depois fevereiro/ E o mesmo verão/ Meu Deus, meu Deus”. Ele mostra que o
período de estiagem passou do normal e a seca permanece no sertão. Nas estrofes
seguintes ele vai narrando a seca e fala sobre êxodo rural quando diz: “Nós vamo' a
São Paulo/ Que a coisa 'tá feia /Por terras alheias /Nós vamo' vagar/ Meu Deus,
meu Deus”. Logo ele conta a história de muitos retirantes nordestinos que foram
tentar ganhar a vida nas capitais, mas lá fome ainda castigava e o senhor dono das
fazendas eram agora os donos das fábricas e empresas que exploram seus
funcionários, como mostra a seguinte estrofe: “Do mundo afastado/ Ali vive preso/
Sofrendo desprezo/ Devendo ao patrão/ Meu Deus, meu Deus”. Por fim o poeta
encerra seu poema falando: “Faz pena o nortista/ Tão forte, tão bravo/ Viver como
escravo/ No norte e no sul”. Mostrando que no fim muitos que foram com o sonho
de voltar para o sertão, acabam não tendo esse sonho realizado. Esse poema diz
muito sobre ser um sujeito do sertão, sua experiência e a quebra do silêncio que faz
luta contra a opressão.
Assim é necessário entender que conhecimentos como o deste poeta, faz
mudanças e gera transformações com suas críticas sociais. Não consigo ver uma
universidade que não tenha o papel de ser um lugar para leitura de mundo e onde
os sujeitos sejam mais que sujeitos da informação. É um espaço que deve servir
para o povo, respeitando e valorizando os diversos saberes que não estão na
acadêmia. E me vejo na obrigação de ser uma agente de transformação para uma
universidade mais do povo e com o povo.
3. Com base na leitura que você realizou dos textos de Marilena Chauí e de
Milton Santos, sintetize as principais ideias dos(as) autores(as) e discuta
quais são os principais desafios da Universidade e da educação no contexto
contemporâneo (mínimo de 40 linhas).
Após a leitura do texto “A Universidade: da Intencionalidade à
Universalidade” do Prof. Dr. Milton Santos e o texto de Marilena Chauí “A
universidade pública sob nova perspectiva” consegui refletir melhor sobre os
principais desafios da Universidade e da educação na contemporaneidade. Os
autores conversam mostrando uma posição contrária com o processo de
sucateamento que a Universidade vem sofrendo com a investida de setores
financeiro que não pensam na qualidade do ensino e muito mesmo sobre a função
social que essa instituição deveria ter para o país. É visível a influência do mercado
internacional e de organizações que colaboram para transformar a universidade em
um espaço cada dia mais lucrativo a qualquer custo. Mesmo que seja destruindo
essa instituição cada dia menos democrática.
O Prof. Milton Santos, chama a atenção para como a globalização perversa
tem confundido a universalidade com a padronização dos saberes. Fazendo das
Universidades um lugar cada vez mais raso no fazer conhecimento e sua rapidez
para alcançar esse conhecimento que apenas sirva meramente para o benefício do
mercado financeiro. Milton diz, “{...e a grande preocupação não é mais o encontro e
o ensino da verdade, em todas as suas formas, mas uma atividade parcelada,
dominada por um objetivo imediato ou orientada para um aspecto redutor da
realidade." A universidade começa a mudar a sua função e vira um espaço redutor
do conhecimento. Essa é a realidade que a universidade tem vivenciado dentro
deste processo de globalização radical.
É fundamental entender que esse processo de transformação e até mesmo
de sucateamento da universidade é histórico. A Marilena Chauí, bem como o Milton
Santos deixa claro que o capitalismo tem uma grande responsabilidade sobre esse
projeto. A universidade vai cada dia mais acompanhar o “progresso” industrial que a
Chauí elucida falando sobre a mudança do feudalismo para o capitalismo com a
Revolução Industrial. Segundo Chauí: a “sociedade do conhecimento, do ponto de
vista da informação, é regida pela lógica do mercado, de sorte que ela não é
propícia nem favorável à ação política da sociedade civil e ao desenvolvimento
efetivo de informações e conhecimentos necessários à vida social e cultural.” A
autora deixa nítido que a transformação da universidade vai de contramão do seu
papel social, a universidade perde a autonomia em nome de uma universalização
simplesmente para gerar lucro do capital financeiro.
Assim os desafios da universidade enquanto uma instituição que tenha uma
função social perpassa pela luta por autonomia. Lutar para conseguir ir de encontro
com a dominação do capital financeiro e as organizações que reduzem o
conhecimento e as produções científicas que ver a universidade apenas para gerar
lucro. Sobre a desculpa da globalização perversa o Prof, Milton Santos fala que a
tarefa da universidade é: “O trabalho universitário não é propriamente uma tarefa
internacional, mas precipuamente nacional e universal, dependendo, desde a
concepção à realização efetiva, da crença no homem como valor supremo e da
existência de um projeto nacional, livremente aceito e claramente expresso.” Por
fim, devemos entender que os desafios são justamente fazer deste espaço um lugar
de respostas para problemas sociais e a melhoria da sociedade. Para realizar esses
desafios a universidade precisa ser um do povo e desta forma o povo poderá ser
ator da sua própria transformação. Sendo a educação libertadora e não escrava do
projeto de dominação.