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Dialogismo/ intertextualidade

• O ato humano não pode ser compreendido fora do contexto dialógico de


seu tempo. (Bakhtin).

• De acordo com o dialogismo bakhtiniano “um texto só ganha vida em
contato com outro texto, com o contexto” (1986). Nesse dialogismo é
possível perceber como cada texto é concebido: como um intertexto numa
sucessão de textos já escritos ou que ainda serão escritos. Para
Bakhtin(1997), o acontecimento na vida do texto sempre sucede nas
fronteiras entre a consciência do autor e a do leitor. Porque esse ato de
criação só pode ser compreendido no contexto dialógico de seu tempo. Esse
dialogismo é facilitado quando leitor considera as informações
extralinguísticas do texto.
Dialogismo
• Para que se reconheça essas interfaces entre autor, obra, leitor e
contexto é necessário que haja a contextualização tanto do autor para
a criação literária quanto do leitor para compreensão e análise do
texto.

• Esse diálogo entre textos é o que chamamos de intertextualidade


• Para Koch (2008), ocorre intertextualidade quando um texto está
inserido em outro texto (intertexto), produzido anteriormente ou que
é parte da memória social de uma coletividade ou da memória dos
interlocutores; ou ainda quando um texto remete a outros textos
efetivamente produzidos, com os quais estabelece algum tipo de
relação.
A intertextualidade...

..ocorre quando em um texto está inserido outro texto (intertexto)


anteriormente produzido - parte da memória social.

• É elemento constitutivo do processo de escrita/leitura e compreende


as diversas maneiras pelas quais a produção/recepção de um dado
texto depende de outros textos por parte dos interlocutores

... É um componente decisivo das condições de produção de um texto,


pois há sempre um “já-dito,’ prévio a todo dizer” (Kristeva) .
Como se constitui a intertextualidade
Intertextualidade explícita- quando há citação da fonte do intertexto:

Não há mais Turquia.


• Europa, França e Bahia O impossível dos serralhos esfacela erotismos prestes a
declanchar.
Meus olhos brasileiros sonhando exotismos. Mas a Rússia tem as cores da vida.
Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um A Rússia é vermelha e branca.
caranguejo. Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam o filme
Os cais bolorentos de livros judeus bolchevista
e a água suja do Sena escorrendo sabedoria. e no túmulo de Lenin em Moscou parece que um coração
enorme
• O pulo da Mancha num segundo.
está batendo, batendo mas não bate igual ao da gente...
Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas
docas. • Chega!
Tarifas bancos fábricas trustes craques. Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Milhões de dorsos agachados em colônias Minha boca procura a "Canção do exílio".
longínquas formam um tapete Como era mesmo a "Canção do exílio"?
para Sua Graciosa Majestade Britânica pisar. Eu tão esquecido de minha terra...
E a lua de Londres como um remorso. Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá.

[...] Meus olhos brasileiros se enjoam da Europa. Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
Intertexto: Canto de Regresso à Pátria, Oswald de Andrade
• Minha terra tem palmares • Ouro terra amor e rosas
• Onde gorjeia o mar • Eu quero tudo de lá
• Os passarinhos daqui • Não permita Deus que eu morra
• Não cantam como os de lá • Sem que eu volte para lá
• •
• Minha terra tem mais rosas • Não permita Deus que eu morra
• E quase que mais amores • Sem que eu volte para São Paulo
• Minha terra tem mais ouro • Sem que veja a Rua 15
• Minha terra tem mais terra • E o progresso de São Paulo.

“Já-dito” - Canção do Exílio, Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem primores,
Onde canta o Sabiá; Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar — sozinho, à noite —
Não gorjeiam como lá. Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas, Onde canta o Sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Em cismar, sozinho, à noite, Que não encontro por cá;
Mais prazer encontro eu lá; Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá."
Onde canta o Sabiá.
“o já-dito” antes da canção do exílio, de G.
Dias
• Gonçalves Dias utilizou um fragmento da balada “Mingnon” do poeta alemão Goethe.

• Kennst du das Land, wo die Citronen blühen,


• Im dunkeln die Gold-Orangen glühen,
• Kennst du es wohl? — Dahin, dahin!
• Möcht ich… ziehn. (Goethe)

• Tradução da epígrafe feita pelo poeta Manuel Bandeira:

• [Conheces o país onde florescem as laranjeiras?


• Ardem na escura fronde os frutos de ouro…
• Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir!] Goethe
Canção do Exílio - Murilo Mendes

Minha terra tem macieiras da Califórnia em terra estrangeira.


onde cantam gaturanos de Veneza. Nossas flores são mais bonitas
Os poetas da minha terra nossas frutas mais gostosas
são pretos que vivem em torres de ametista, mas custam cem mil réis a dúzia.
os sargentos do exército são monistas, cubistas, Ai quem me dera chupar uma carambola de
verdade
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir e ouvir um sabiá com certidão de idade!
com os oradores e os pernilongos.
MENDES, Murilo. Poemas. In: -. Poesias (1925-
Os sururus em família têm por testemunha a
Gioconda
Eu morro sufocado -1955). Rio de Janeiro. J. Olympio. 1959.p.5.
Nova Canção do Exílio, Carlos Drummond de Andrade

Um sabiá / na palmeira, longe. Onde é tudo belo /e fantástico,


Estas aves cantam / um outro canto. só, na noite, / seria feliz.
O céu cintila / sobre flores úmidas. (Um sabiá, /na palmeira, longe.)
Vozes na mata, /e o maior amor. Ainda um grito de vida e / voltar
Só, na noite, / seria feliz: para onde é tudo belo /e fantástico:
um sabiá, /na palmeira, longe. a palmeira, o sabiá, / o longe.
• No próximo poema, a referência maior à Canção do Exílio está na
sétima estrofe, quando ele fala que sente saudades de Portugal mesmo
sem estar em exílio, sem "(...) palmeiras onde cante um sabiá.", é uma
saudade de algo queele não conhece, mas que está bem com o lugar
onde vive, onde "caçopapagaios e outras aves tagarelas". É só uma
inquietude de alma, de imaginação.
Ainda irei a Portugal, Cassiano Ricardo
• Nunca fui a Portugal. / Não por falta de • Fui marujo, com certeza, /pois tenho alma
querer, /nem por perder meu lugar /que este azul-marinha. /Vim pro Brasil tão futuro /que
bem guardado está. / Dificuldades de vida... / nunca soube que vinha. /Hoje caço papagaios
Contratempos da memória... /Certas questões /e outras aves tagarelas /mas andei caçando
de prosódia/ e outros pequenos abismos mundos /no bojo das caravelas/ entre o azul e
/postos entre mim e o Atlântico /até que algum o deus-dará.
dia eu vá.
• Com os olhos do meu avô /conheci horizontes
• Não conheci meu avô, /senão de fotografia. novos, / gentes de todas as cores /e os mais
• Não ouvi, senão em sonho, /o canto da variegados povos /que só em sonho revejo /por
cotovia, / No entanto, talvez lirismo /- lirismo nunca ter ido lá.
da hora H - /ah! que saudade que eu sinto /de
tudo o que ficou lá.
No doloroso retrato / que no meu sangue Saudade maior? Não tem. / "Não tem", não
caminha /me vieram essas paisagens /filhas de
audaciosas viagens. /Condição estranha, a senhor; não há.
minha. /Sinto que sou quase autor /de carta de
Vaz Caminha./ Onde estaria eu agora?/Meu avô, (Um dia depois do outro, 1947)
onde estará?

Saudade de Portugal /que o coração me


espezinha. /Sem saber se ele me "quere". /Esta a
saudade que fere /mais do que as outras quiçá.
/Sem exílio, nem palmeira / onde cante um
sabiá...

Saudade assim por herança /de coisas que não


conheço, /chega a ser, quase, esperança.../
Esperança pelo avesso. /Saudade tanto mais
grave/ por nunca ter ido eu lá.
Vou-me embora pra Pasárgada, Manuel
Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada E como farei ginástica / Andarei de bicicleta
Lá sou amigo do rei Montarei em burro brabo/Subirei no pau-de-
Lá tenho a mulher que eu quero sebo /Tomarei banhos de mar!
Na cama que escolherei E quando estiver cansado/Deito na beira do rio
Vou-me embora pra Pasárgada Mando chamar a mãe-d’água /Pra me contar as
histórias / Que no tempo de eu menino
Vou-me embora pra Pasárgada Rosa vinha me contar /Vou-me embora pra
Aqui eu não sou feliz Pasárgada
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente Em Pasárgada tem tudo / É outra civilização
Que Joana a Louca de Espanha Tem um processo seguro /De impedir a
Rainha e falsa e demente concepção /Tem telefone automático
Vem a ser contraparente Tem alcalóide à vontade /Tem prostitutas
Da nora que nunca tive bonitas /Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste O poema aproxima-se de Canção de Exílio de
Mas triste de não ter jeito Gonçalves Dias no sentido de oposição entre o cá e
Quando de noite me der o lá, um cá hostil e um lá acolhedor; no entanto em
Vontade de me matar Gonçalves Dias o poema corresponde a uma
- Lá sou amigo do rei – idealização do Brasil em oposição a Portugal,
Terei a mulher que eu quero devido ao exílio. Bandeira constrói esta oposição
Na cama que escolherei entre cá e lá de modo a projetar um futuro que se
torna real; uma Pasárgada construída em razão da
Vou-me embora pra Pasárgada.
necessidade de um espírito que busca liberdade e
que também prega uma liberdade ao leitor, pois a
Pasárgada apresenta-se desprovida de significado
na língua. O significado vago permite que a
imaginação crie um espaço psicologicamente ideal,
livre de qualquer carga social.
Pátria Minha, Vinícius de Moraes

A minha pátria é como se não fosse, é íntima Vontade de beijar os olhos de minha pátria / De
Doçura e vontade de chorar; uma criança niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
/Vontade de mudar as cores do vestido
dormindo / É minha pátria. Por isso, no exílio
(auriverde!) tão feias /De minha pátria, de minha
Assistindo dormir meu filho/Choro de saudades pátria sem sapatos /E sem meias, pátria minha
de minha pátria. /Tão pobrinha!
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:/
Não sei. De fato, não sei Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não
Como, por que e quando a minha pátria tenho / Pátria, eu semente que nasci do vento
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
água/Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em contato com a dor do tempo, eu elemento
A minha pátria é como se não fosse, é íntima De ligação entre a ação e o pensamento
/ Em longas lágrimas amargas. Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
/ De flor; tenho-te como um amor morrido ; A Amada, idolatrada, salve, salve!
quem se jurou; tenho-te como uma fé / Sem Que mais doce esperança acorrentada
dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto O não poder dizer-te: aguarda...
a jeito / Nesta sala estrangeira com lareira /E
sem pé-direito. Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para


Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Rever-te me esqueci de tudo
Maine, Nova Inglaterra/ Quando tudo passou a Fui cego, estropiado, surdo, mudo
ser infinito e nada terra / E eu vi alfa e beta de Vi minha humilde morte cara a cara
Centauro escalarem o monte até o céu / Muitos Rasguei poemas, mulheres, horizontes
me surpreenderam parado no campo sem luz/ À Fiquei simples, sem fontes.
espera de ver surgir a Cruz do Sul /Que eu sabia,
mas amanheceu...
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem Entre teus doces montes, pátria minha/ Atento
ostenta /Lábaro não; a minha pátria é desolação à fome em tuas entranhas /E ao batuque em
teu coração.
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta/ E
praia branca; a minha pátria é o grande rio
secular / Que bebe nuvem, come terra / E urina Não te direi o nome, pátria minha / Teu nome é
mar. pátria amada, é patriazinha/ Não rima com mãe
gentil /Vives em mim como uma filha, que és
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem Uma ilha de ternura: a Ilha / Brasil, talvez.
Uma quentura, um querer bem, um bem / Um
libertas quae sera tamen / Que um dia traduzi
num exame escrito: /"Liberta que serás Agora chamarei a amiga cotovia
também“/ E repito! E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa / Que
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
brinca em teus cabelos e te alisa /Pátria minha,
Vinicius de Moraes."
e perfuma o teu chão.../Que vontade me vem
de adormecer-me •
Sabiá - Tom Jobim - Chico Buarque/1968

Vou voltar Vou voltar


Sei que ainda vou voltar Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar Não vai ser em vão
Foi lá e é ainda lá Que fiz tantos planos
Que eu hei de ouvir cantar De me enganar
Uma sabiá Como fiz enganos
De me encontrar
Vou voltar / Sei que ainda vou voltar Como fiz estradas
Vou deitar à sombra /De uma palmeira De me perder
Que já não há /Colher a flor Fiz de tudo e nada
Que já não dá /E algum amor Talvez possa De te esquecer
espantar /As noites que eu não queria
E anunciar o dia

Uma canção , Mário Quintana

Minha terra não tem palmeiras... Mas onde a palavra "onde"?


E em vez de um mero sabiá, Terra ingrata, ingrato filho,
Cantam aves invisíveis Sob os céus da minha terra
Nas palmeiras que não há. Eu canto a Canção do Exílio!
Minha terra tem relógios,
Cada qual com sua hora
Nos mais diversos instantes... Mario Quintana - pós-
Mas onde o instante de agora? modernista.
Pós modernismo
• Panorama histórico denunciava as grandes transformações que o Brasil
passava e o mundo de uma forma geral, sobretudo com o fim da Segunda
Guerra Mundial. Não obstante, os autores, frente a toda essa situação
conflitante, atuaram de forma a denunciar as mazelas que acometiam a
realidade circundante, fazendo da poesia um objeto de denúncia social,
sobretudo demarcada pela devastação da natureza, da destruição das
várzeas, dos bosques, tão exaltados mediante as palavras proferidas por
Gonçalves Dias.
Intertextualidade implícita – ocorre quando não há citação expressa da fonte,
cabendo ao interlocutor identificar o intertexto na memória -

• “Sete anos de pastor Jacó servia • Vendo o triste pastor que com enganos
• Labão, pai de Raquel, serrana bela;
• Mas não servia ao pai, servia a ela, • Lhe fora assi(m) negada sua pastora,
• Que a ela só por prêmio pretendia. • Como se a não tivera merecida.

• Os dia, na esperança de um só dia,
• Passava, contentando-se em vê-la;
• Porém o pai, usando de cautela, • Começa de servir outros sete anos,
• Em lugar de Raquel, lhe dava Lia. • Dizendo: _ mais servira, se não fora
• Pêra tão longo amor tão curta a vida!”

• Luis de Camões
Interdiscurso: Gênesis, 29,15 -30
• 1. Jacó encontra-se com Raquel
• “Depois disse Labão a Jacó: Acaso, por seres meu parente, irás servir-me de graça? Dize-
me, qual será teu salário? Ora, Labão tinha duas filhas: Lia, a mais velha, e Raquel a mais
moça. Lia tinha olhos baços, porem Raquel era formosa de porte e de semblante. Jacó
amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei por tua filha mais moça, Raquel. Respondeu
Labão: melhor é que eu ta dê, em vez de dá-la a outro homem; fica, pois, comigo.
• Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhes pareceram como poucos
dias, pelo muito que a amava. Disse Jacó a Labão: Dá-me minha mulher, pois já venceu o
prazo, para que me case com ela. Reuniu, pois, Labão todos os homens do lugar, e deu um
banquete. À noite, conduziu a Lia, sua filha, e a entregou a Jacó. E coabitaram. [. ..] Ao
amanhecer, viu que era Lia, por isso disse Jacó a Labão: Que é isto que me fizeste? Não te
servi por amor a Raquel? Por que, pois, me enganaste? Respondeu Labão: Não sefaz assim
em nossa terra, dar-se a mais nova antes da primogênita. Decorrida semana desta, dar-
te-emos também a outra, pelo trabalho de sete anos que ainda me servirás.
• Concordou Jacó, e se passou a semana desta; então Labão lhe deu por mulher Raquel,
sua filha. [ . . . ] e coabitaram. Mas Jacó amava mais a Raquel do a Lia; e continuou
servindo a Labão por mais sete anos.”
Monte Castelo- Legião Urbana
• Ainda que eu falasse a língua do • Ainda que eu falasse a língua dos
homens homens
E falasse a língua do anjos, sem amor E falasse a língua dos anjos, sem amor
eu nada seria eu nada seria
• É só o amor, é só o amor • É um não querer mais que bem
Que conhece o que é verdade querer
O amor é bom, não quer o mal É solitário andar por entre a gente
Não sente inveja ou se envaidece É um não contentar-se de contente
• O amor é o fogo que arde sem se ver É cuidar que se ganha em se perder
É ferida que dói e não se sente • É um estar-se preso por vontade
É um contentamento descontente É servir a quem vence, o vencedor
É dor que desatina sem doer É um ter com quem nos mata a
lealdade…

Fonte: LyricFind
Fontes: “já-dito”
• I Coríntios 1,13
• 1Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se • 7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o • 8O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão,
prato que retine. as línguas cessarão, o conhecimento passará.
• 9 Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos;
• 2Ainda que eu tenha o dom de profecia, saiba todos os
mistérios e todo o conhecimento e tenha uma fé capaz • 10 quando, porém, vier o que é perfeito, o que é
de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei. imperfeito desaparecerá.
• 11 Quando eu era menino, falava como menino, pensava
• 3Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e como menino e raciocinava como menino. Quando me
entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver tornei homem, deixei para trás as coisas de menino.
amor, nada disso me valerá. • 12 Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como
em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora
• 4O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da
vangloria, não se orgulha. mesma forma com que sou plenamente conhecido.
• 5Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira • 13 Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança
facilmente, não guarda rancor. e o amor. O maior deles, porém, é o amor.

• 6 O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com


a verdade.
Soneto – Camões
• Amor é fogo que arde sem se ver é um •
soneto de Luís Vaz de Camões (1524-
1580). O famoso poema foi publicado na
segunda edição da obra Rimas, lançada
em 1598.
• Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente; • É querer estar preso por vontade;
é um contentamento descontente, é servir a quem vence, o vencedor;
é dor que desatina sem doer. é ter com quem nos mata, lealdade.
É um não querer mais que bem querer; Mas como causar pode seu favor
é um andar solitário entre a gente; nos corações humanos amizade,
é nunca contentar-se de contente; se tão contrário a si é o mesmo Amor
é um cuidar que ganha em se perder.
Intertextualidade implícita
• Ocorre quando não há citação expressa da fonte, cabendo a
interlocutor identificar o intertexto na memória e identificar os
objetivos do escritor, (Koth).
• O autor pressupõe que o leitor compartilha de seu conhecimento em
relação ao interdiscurso implícito e que estabelecerá o diálogo
proposto entre os textos.
• O autor realiza a manipulação do texto alheio com a finalidade de
produzir efeitos de sentido, [...]. Espera que o leitor recupere o texto-
fonte e perceba o efeito de sentido provocado pelo deslocamento.
Intertextualidade implícita
• Além da capacidade de reconhecer a intertextualidade, no processo
de compreensão o leitor deve apresentar outros conhecimentos:
• Conhecimento da língua;
• Conhecimento das coisas do mundo;
• Conhecimento do modo de organização, estilo e propósito
comunicacional do gênero em questão.
• A intertextualidade é ativada n momento da produção de maneira
consciente ou não, dependendo dos conhecimentos de textos
armazenados na memória do autor e ativados na ocasião da
produção do texto.
Outros exemplos de
intertextualidade/dialogismo
• Prosa:
• Iracema, de José de Alencar x Macunaíma, de Mário de Andrade
• O crime do Pe. Amaro, de Eça de Queirós x O Seminarista, de Bernardo
Guimarães x Eurico, o presbítero, Almeida Garret
• O Mandarim, de Eça de Queirós x Quincas Borba, de Machado de Assis
• A dama das Camélias, de Alexandre Dumas x Lucíola, de José de Alencar
• Contos gauchescos, Simões Lopes Neto x Grande Sertão: Veredas, G. Rosa
(narrador – estrutura narrativa) –
• Tema para uma aula.
Obras que tratam do tema da diáspora/êxodo
• Romantismo:
• Úrsula, de Maria Firmina dos Reis (MA)
• Realismo:
• Luzia-Homem, de Domingos Olímpio (CE)
• Dona Guidinha do poço, de Manoel de Oliveira Paiva (CE)
• – (1891- 1951)
Tema – êxodo /diáspora
Modernismo:
• A Bagaceira, de José Américo de Almeida - 1928
• Vidas Secas, de Graciliano Ramos -1938
• O Quinze, de Rachel de Queirós -1930
• Convite a desespero, de Esdras do Nascimento - 1964
• Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto -1955
• João Boa Morte, cabra marcado para morrer, de Ferreira Gullar -1962
Referências
• BAKHTIN, M. Estética da Criação verbal. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
• BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo:
Cultrix, 1999.
• KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. São Paulo: Perspectiva,
1997.
• Koch, Ingedore Villaça; BENTES, Ana Christina. Intertextualidade:
diálogos possíveis.

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