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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................................................... 5

1. Teoria geral das provas. Meios de provas e de obtenção de prova em espécie. ................ 7

1.1. Terminologia da prova ....................................................................................................................................... 7

1.1.1. Distinção entre prova e elementos informativos .................................................................................... 7

1.1.2. Provas cautelares, não repetíveis e antecipadas ..................................................................................... 8

1.1.3. Destinatários da prova ..................................................................................................................................... 10

1.1.4. Elemento de prova e resultado da prova ............................................................................................... 10

1.1.5. Finalidade da prova........................................................................................................................................... 10

1.1.6. Forma da prova .................................................................................................................................................. 11

1.1.7. Fonte de prova, meios de prova e meios de obtenção de prova ............................................... 11

1.1.8. Prova direta e prova indireta ........................................................................................................................ 12

1.1.9. Indício: prova indireta ou prova semiplena ............................................................................................ 12

1.1.10 Suspeita ................................................................................................................................................................. 13

1.1.11. Objeto da prova ............................................................................................................................................... 13

1.1.12. Prova emprestada ............................................................................................................................................ 14

1.2. Ônus da prova ..................................................................................................................................................... 16

1.2.1. Conceito ................................................................................................................................................................. 16

1.2.2. Distribuição do ônus da prova no processo penal. ............................................................................ 16

1.2.3. Inversão do ônus da prova ............................................................................................................................ 17

1.3. Iniciativa probatória do juiz: a gestão da prova pelo magistrado ............................................... 18

1.3.1. Vedação da iniciativa acusatória do juiz das garantias na fase investigatória ....................... 18

1.3.2. Vedação da iniciativa probatória do juiz da instrução e julgamento no curso do processo


penal .....................................................................................................................................................................................19

1.4. Sistemas de avaliação da prova .................................................................................................................. 20

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1.4.1. Sistema da íntima convicção do magistrado ......................................................................................... 20

1.4.2. Sistema da prova tarifada .............................................................................................................................. 20

1.4.3. Sistema do convencimento motivado (persuasão racional do juiz) ............................................ 21

1.5. Da prova ilegal .................................................................................................................................................... 22

1.5.1. Limitações ao direito à prova ....................................................................................................................... 22

1.5.2. Prova ilícita por derivação (teoria dos frutos da árvore envenenada) ....................................... 24

1.5.3. Limitações à prova ilícita por derivação .................................................................................................. 24

1.5.4. Inutilização da prova ilícita ............................................................................................................................ 27

1.6. Meios de prova e meios de obtenção de prova em espécie......................................................... 29

1.6.1. Cadeia de custódia ............................................................................................................................................ 29

1.6.2. Do exame de corpo de delito e das perícias em geral .................................................................... 36

1.6.3. Interrogatório judicial ....................................................................................................................................... 43

1.6.4. Confissão................................................................................................................................................................ 50

1.6.5. Declarações do ofendido................................................................................................................................ 52

1.6.6. Prova testemunhal ............................................................................................................................................. 54

1.6.7. Reconhecimento de pessoas e coisas....................................................................................................... 59

1.6.8. Acareação .............................................................................................................................................................. 61

1.6.9. Prova documental .............................................................................................................................................. 62

1.6.10. Busca e apreensão ........................................................................................................................................... 64

QUADRO SINÓTICO ....................................................................................................................................................... 70

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 77

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................... 79

QUESTÕES COMENTADAS .......................................................................................................................................... 90

GABARITO ........................................................................................................................................................................ 100

QUESTÃO DESAFIO ...................................................................................................................................................... 101

GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO....................................................................................................................... 102


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................................................. 104

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INTRODUÇÃO

Olá, concurseiros e concurseiras!

A preparação para concursos públicos envolve, necessariamente, planejamento e foco.


Diante da extensão dos editais e do tempo, por muitas vezes exíguo, de preparação até a prova,
estudar com base nos assuntos objetivamente mais recorrentes é fundamental para alavancar

os resultados.

Justamente pensando nisso, o Setor de Inteligência do CERS realizou uma análise acurada
de mais de 260 provas dos principais cargos das Carreiras Jurídicas, Policiais e das áreas de
Tribunais e de Cartório, identificando os temas mais recorrentes para os concursos públicos

realizados nos últimos 4 anos (2020, 2019, 2018 e 2017).

Nessa análise, verificamos que a disciplina de Direito Processual Penal é uma das mais
recorrentes nos principais certames, dentro da qual verificou-se elevado percentual de

recorrência do tema “Da prova”.

Trata-se de um assunto que, embora seja bem abordado e distribuído na legislação


pátria (notadamente no Título VII do Código de Processo Penal – CPP), possui considerável

carga doutrinária e jurisprudencial.

Nesse sentido, importa denotar que as subdivisões legais relativas às provas (Disposições
gerais e Provas em espécie) devem ser estudadas não apenas com a leitura e absorção dos
dispositivos legais aplicáveis, mas também com o aprofundamento em torno dos
posicionamentos doutrinários majoritários e das principais súmulas e julgados correlatos

dos Tribunais Superiores – STF e STJ.

A seguir, confira um gráfico ilustrativo da relevância do supracitado tema, no âmbito

das já mencionadas mais de 260 provas analisadas:

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Das Provas

Provas Outros temas

Outros temas

Destaca-se que a relevância do tema em questão foi extraída de um universo de


aproximadamente 50 outros temas, razão pela qual o seu percentual de representatividade é

considerável, se comparado com os demais.

Posto isso, aproveite este material de apoio correlato, seguido da compilação da


legislação e da jurisprudência cabíveis, além de questões comentadas pertinentes (incluindo

uma questão desafio), a fim de sedimentar os seus conhecimentos jurídicos acerca do assunto.

Vamos juntos!

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Teoria geral das provas. Meios de provas e de obtenção


de prova em espécie.

1.1. Terminologia da prova

Conforme refere Guilherme de Souza Nucci, o termo prova deriva do latim probatio, que

significa ensaio, verificação, inspeção, exame, argumento, razão, aprovação ou confirmação.

Provar significa demonstrar a veracidade de um enunciado sobre um fato tido por ocorrido
no mundo real. Prova é o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinados

pelo juiz visando à formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstâncias.

1.1.1. Distinção entre prova e elementos informativos

Prova se refere aos elementos de convicção produzidos, em regra, no curso do processo


judicial, e, por conseguinte, com a necessária participação dialética das partes, sob o manto do

contraditório (ainda que diferido) e da ampla defesa.

Já os elementos de informação são aqueles colhidos na fase investigatória, sem a


necessária participação dialética das partes. Tais elementos, isoladamente considerados, não são
idôneos para fundamentar uma condenação. Todavia, não devem ser completamente
desprezados, podendo se somar à prova produzida em juízo e, assim, servir como mais um

elemento na formação da convicção do órgão julgador.

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1.1.2. Provas cautelares, não repetíveis e antecipadas

De acordo com art. 155 do CPP, o Juiz pode formar sua convicção com base em provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas, ainda que estas tenham sido produzidas na fase

investigatória.

Provas cautelares são aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da


prova em razão do decurso do tempo, em relação às quais o contraditório será diferido. Podem
ser produzidas no curso da fase investigatória ou durante a fase judicial, sendo que, em regra,
dependem de autorização judicial. É o que acontece, por exemplo, com uma interceptação

telefônica.

Prova não repetível é aquela que, uma vez produzida, não tem como ser novamente
coletada ou produzida, em virtude do desaparecimento, destruição ou perecimento da fonte

probatória.

(Banca: CESPE / CEBRASPE - 2019 - MPE-PI - Promotor de Justiça Substituto) No âmbito


do processo penal, considera-se prova não repetível o processo administrativo sancionador

conduzido por autoridade competente e submetido a amplo contraditório.

Como visto, as provas não repetíveis podem ser produzidas na fase investigatória e em
juízo, sendo que, em regra, não dependem de autorização judicial. É o que acontece com o
exame de corpo de delito em infração penal cujos vestígios podem desaparecer. O contraditório

também será diferido.

Provas antecipadas são aquelas produzidas com a observância do contraditório real,


perante a autoridade judicial, em momento processual distinto daquele legalmente previsto, ou

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até mesmo antes do início do processo, em virtude de situação de urgência e relevância. Tais
provas podem ser produzidas na fase investigatória e em juízo, sendo indispensável prévia
autorização judicial. É o caso do denominado depoimento ad perpetuam rei memoriam, previsto

no art. 225 do CPP, isto é, testemunha que corre risco de morte.

Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por


enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução
criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de

qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

Nesse caso, para que se imponha produção antecipada de provas urgentes, deve à
acusação justifica-la de maneira satisfatória. Isso porque, no entendimento dos tribunais
superiores, a inquirição de testemunha, por si só, não pode ser considerada prova urgente, e a
mera referência aos limites da memória humana não é suficiente para determinar a medida

excepcional. Nesses termos, temos a Súmula n.º 455 do STJ:

Súmula n.º 455, STJ. A decisão que determina a produção antecipada de


provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente

fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo.

Para finalizar, trouxemos um quadro resumo para facilitar o entendimento dos leitores:

Provas cautelares Provas não repetível Provas antecipadas


São aquelas em que há um risco de É aquela que uma vez produzida São aquelas produzidas em
desaparecimento do objeto da não tem como ser novamente contraditório real em
prova em razão do decurso do coletada em razão do momento processual distinto
tempo. São de natureza urgente. desaparecimento da fonte daquele legalmente previsto, ou
Exemplo: interceptação telefônica. probatória. Exemplo: Exame de até mesmo antes do início do
corpo de delito em infração processo, em virtude de
penal cujos vestígios podem situação de urgência e
desaparecer. relevância. Exemplo: Art. 225,
CPP. Testemunha que está
correndo risco de morte.

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1.1.3. Destinatários da prova

São todos aqueles que devem forma sua convicção. De modo geral, tem-se como
destinatário o órgão jurisdicional (juiz ou tribunal) sobre o qual recai a competência para o

processo e julgamento do delito.

Uma parte da doutrina sustenta que o Ministério público seria destinatário da prova.
Todavia, na fase investigatória, não se pode usar a expressão “prova”, salvo as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas. O objetivo do inquérito policial é a produção de elementos de

informações. Desse modo, o órgão do MP é destinatário desses elementos, e não da prova.

1.1.4. Elemento de prova e resultado da prova

Elementos de provas são representados por aquilo que, introduzido no processo, pode ser
utilizado pelo juiz como fundamento da sua atividade julgadora. Funciona como exemplos a
declaração de uma testemunha sobre determinado fato, a opinião emitida por perito sobre a

matéria de sua especialidade, o conteúdo de um documento juntado aos autos, etc.

É a partir da análise do conjunto desses elementos de prova que se forma o convencimento


do órgão julgador, ou seja, é sobre os elementos de prova que o juiz natural realiza

procedimentos inferenciais para que possa chegar a uma conclusão sobre os fatos.

1.1.5. Finalidade da prova

No processo penal, a produção da prova objetiva auxiliar na formação do convencimento


do juiz quanto à veracidade das afirmações das partes em juízo. Não se destina, portanto, às
partes que a produzem ou requerem, mas ao magistrado, possibilitando, destarte, o julgamento

de procedência ou improcedência da ação penal.

Na verdade, por meio da atividade probatória desenvolvida ao longo do processo, objetiva-


se a reconstrução dos fatos investigados na fase extraprocessual, buscando a maior coincidência

possível com a realidade histórica.

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1.1.6. Forma da prova

A prova pode ser documental, material ou testemunhal. Documento é o papel escrito que
traz em si a declaração da existência (ou não) de um ato ou de um fato (v.g., escritos públicos
ou particulares, cartas, livros comerciais, fiscais, etc.). A prova material é aquela que resulta da
verificação existencial de determinado fato, que demonstra a sua materialização, tal como ocorre
com o corpo de delito, instrumentos do crime, etc. Por fim, a prova testemunhal consiste na

manifestação pessoal oral.

1.1.7. Fonte de prova, meios de prova e meios de obtenção de


prova

Ao ser cometido o fato delituoso, tudo aquilo que possa servir para esclarecer alguém
acerca da existência desse fato pode ser conceituada como fonte de prova. Dessa forma, fonte
de prova significa as pessoas ou as coisas das quais se consegue a prova, daí resultando a
classificação em fontes pessoais (ofendido, peritos, acusado, testemunhas) e fontes reais

(documentos, em sentido amplo).

Por outro lado, meios de prova são os instrumentos através dos quais as fontes de prova
são introduzidas no processo, a exemplo do conhecimento e a participação das partes, cujo
objetivo precípuo é a fixação de dados probatórios no processo. Esses meios podem ser lícitos
ou ilícitos. Somente os primeiros podem ser admitidos pelo magistrado, dispondo o art. 157 do
CPP que são inadmissíveis as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas

constitucionais ou legais, devendo ser desentranhadas dos autos do processo.

Por fim, os meios de obtenção da prova referem-se a certos procedimentos (em regra,
extraprocessuais) regulados por lei, com o objetivo de conseguir provas materiais, e que podem
ser realizados por outros funcionários que não o juiz (v.g., policiais). Para Renato Brasileiro, no
Código de Processo Penal, apesar de inserida entre os meios de prova, a busca pessoal ou
domiciliar deve ser compreendida como meio de investigação, haja vista que seu objetivo não

é a obtenção de elementos de prova, mas sim de fontes materiais de prova.

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1.1.8. Prova direta e prova indireta

Prova direta são aquelas que por si só demonstram o próprio fato objeto da investigação.
Exemplo: o testemunho prestado por determinada pessoa que presenciou um homicídio.

Por sua vez, a prova é considerada indireta quando não demonstram, diretamente,
determinado ato ou fato, mas que permitem deduzir tais circunstâncias a partir de um raciocínio
lógico e irrefutável. Exemplo: o álibi. Comprovando-se que o suspeito se encontrava em
determinado local no dia e hora do crime, é intuitivo que não poderia estar na cena do crime.

1.1.9. Indício: prova indireta ou prova semiplena

Indício possui dois sentidos no Código de Processo Penal: ora como prova indireta, ora

como prova semiplena.

Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que,


tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência

de outra ou outras circunstâncias.

Quanto prova indireta, indício deve ser compreendida como uma das espécies do gênero
prova, ao lado da prova direta, funcionando como um dado objetivo que serve para confirmar
ou negar uma asserção a respeito de um fato que interessa à decisão judicial. E exatamente
nesse sentido que a palavra indício é utilizada no art. 239 do CPP. Isto não significa dizer que o
indício é um meio de prova, por que não é. Trata-se apenas do resultado probatório de um

meio de prova.

Quanto ao indício como prova semiplena, nos termos do art. 239 do CPP, é um elemento
de prova mais tênue, com menor valor persuasivo. Refere-se a uma cognição vertical (quanto à
profundidade) não exauriente, ou seja, uma cognição sumária, não profunda, em sentido oposto
à necessária completude da cognição, no plano vertical, para a prolação de uma sentença

condenatória.

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1.1.10. Suspeita

O conceito de indício não se confunde com uma simples suspeita. Enquanto o indício é
sempre um dado objetivo, em qualquer de suas acepções, a suspeita ou desconfiança não passa
de um estado anímico, um fenômeno subjetivo, que pode até servir para desencadear as
investigações, mas que de modo algum se apresenta idôneo para fundamentar a convicção da

entidade decidente.

A expressão “fundada suspeita” é encontrada no Código de Processo Penal nos arts. 240,
§2.º, e art. 244. Depreende-se que não basta uma simples convicção subjetiva para que se
proceda à busca pessoal em alguém. Sendo assim, é necessário que haja algum dado objetivo

que possa ampará-lo.

§ 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de


que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas

letras b a f e letra h do parágrafo anterior.

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou


quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma
proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou

quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

1.1.11. Objeto da prova

O objeto da prova refere-se aos os fatos que, influindo na apuração da existência ou


inexistência de responsabilidade penal, são capazes de gerar dúvida no magistrado, exigindo,
por isso mesmo, a devida comprovação. Todavia, existem determinados fatos que se excluem

da necessidade de comprovação, os quais consistem em:

 Fatos axiomáticos: são aqueles considerados evidentes, que decorrem da própria


intuição, gerando grau de certeza irrefutável. Trata-se dos fatos indiscutíveis, induvidosos,
que dispensam questionamentos de qualquer ordem. Por exemplo: a prova da putrefação
do cadáver dispensa a prova da morte, pois a primeira circunstância (putrefação) decorre
da segunda (a morte).

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 Fatos notórios: são aqueles de conhecimento público geral. São os fatos cujo
conhecimento está inserido na cultura normal e própria de determinada esfera social no
tempo em que ocorrer a decisão, como as datas históricas, os fatos políticos ou sociais
de conhecimento público, ou seja, o fato que pertença ao patrimônio estável de
conhecimento do cidadão de cultura média numa sociedade historicamente determinada.
Exemplificando, não é necessário provar que o Aeroporto de Congonhas fica na cidade
de São Paulo, nem tampouco que o dia 15 de novembro é feriado nacional no Brasil.
 Presunções legais: são juízos de certeza que decorrem da lei. Classificam-se em absolutas
(presunções jure et de jure) ou relativas (presunções juris tantum). As primeiras não
aceitam prova em contrário, sendo exemplo à condição de inimputável do indivíduo
menor de dezoito anos. Já as segundas admitem a produção de prova em sentido oposto,
como a presunção de imputabilidade do maior de dezoito anos, que pode ser
descaracterizada a partir de laudo de insanidade mental apontando que o indivíduo não
possui discernimento.
 Fatos inúteis ou irrelevantes: são aqueles que não interessam à decisão da causa, sejam
eles verdadeiros ou falsos.

Por fim, quanto aos fatos incontroversos, devem ser objeto de prova. Consideram-se
incontroversos os fatos incontestes, ou seja, que não foram refutados ou impugnados pelas
partes. Estes, ao contrário do que ocorre no processo civil, não dispensam a prova, podendo o
juiz, inclusive, a teor do art. 156, II, do CPP, determinar, no curso da instrução ou antes de
proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

1.1.12. Prova emprestada

Prova emprestada é a prova de um fato, produzida em um processo, seja por documentos,


testemunhas, confissão, depoimento pessoal ou exame pericial, que é trasladada para outro
processo sob a forma documental. Assim, se a testemunha "A" foi ouvida no processo “X”, cópia
de seu depoimento será extraída e juntada ao processo “Y”. Embora seja trazida ao segundo
processo pela forma documentada, a prova emprestada tem o mesmo valor da prova

originalmente produzida.

A doutrina majoritária, afirma que a utilização da prova emprestada só é possível se aquele


contra quem ela for utilizada tiver participado do processo onde essa prova foi produzida,

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observando-se, assim, os princípios do contraditório e da ampla defesa. Esse é o teor da súmula
n. 591 do STJ:

Súmula n. 591, STJ. É permitida a prova emprestada no processo


administrativo disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo
competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa.

Logo, se a prova foi produzida em processo no qual o acusado não teve participação, não

há falar em prova emprestada, e sim em mera prova documental.

Não se pode falar em prova emprestada de elementos informativos produzidos no curso


do inquérito policial, eis que, tais elementos não são produzidos sob o crivo do contraditório.
Todavia, no caso de provas não repetíveis, como ocorre na grande maioria dos exames periciais,
é perfeitamente possível falar-se em prova emprestada, já que, em relação a elas, o contraditório

será respeitado, porém de maneira diferida.

Por outro lado, muito se discute acerca das consequências em relação ao segundo processo
no caso de o processo em que a prova emprestada foi produzida originariamente ser declarado
nulo. Assim, caso tenha sido declarada a nulidade ou reconhecida à ilicitude da prova, não se
pode admitir sua utilização, pois irremediavelmente contaminada pelo vício originário. Do
contrário, caso o feito tenha sido anulado por questão não atinente à prova, será admissível a

utilização da prova emprestada, desde que não se relacione diretamente com a nulidade.

Por fim, o STF entende que, no que tange a possibilidade de se utilizar elementos
probatórios colhidos em interceptação telefônica em processos administrativos e/ou cíveis, é
perfeitamente possível. Ora, os dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas,
judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução
processual penal, bem como documentos colhidos na mesma investigação, podem ser usados
em procedimento administrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação
às quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado

à colheita dessas provas.

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1.2. Ônus da prova

1.2.1. Conceito

Os ônus representam um imperativo do próprio interesse, estando situados no campo da


liberdade. Ainda que haja seu descumprimento, não haverá qualquer ilicitude, pois o

cumprimento do ônus interessa ao próprio sujeito onerado.

No sentido empregado pelo Código de Processo Penal, ônus difere de obrigação. Isso
porque uma obrigação descumprida representa um ato contrário ao direito, ao qual corresponde
uma penalidade. O indivíduo que não cumpre uma obrigação pratica um ato ilícito, por isso é
possível à imposição de uma sanção para o adimplemento da prestação não cumprida,

sujeitando-o à execução forçada.

1.2.2. Distribuição do ônus da prova no processo penal.

Com base na primeira parte do art. 156 do CPP, a prova da alegação incumbirá a quem a
fizer. Muito se discutiu acerca do ônus da prova da acusação e da defesa no processo penal. A
doutrina majoritária trabalha com uma efetiva distribuição do ônus da prova entre a acusação

e a defesa no processo penal.

Uma primeira corrente entende que incumbe à acusação provar:

 A existência do fato típico;


 A autoria ou participação;
 A relação de causalidade;
 O elemento subjetivo do agente: dolo ou culpa.

De acordo com essa primeira corrente, incumbe à acusação tão somente a prova da

existência do fato típico, não sendo objeto de prova acusatória a ilicitude e a culpabilidade.

Em relação ao elemento subjetivo, vale ressaltar que há doutrinadores que sustentam que
o dolo é presumido, razão pela qual à acusação incumbiria tão somente o ônus probatório
quanto à culpa. Renato Brasileiro discorda de tal posição, tendo em vista que não se pode
admitir que o dolo seja presumido, sob pena de inequívoca violação à regra do in dubio pro

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reo. Deve também recair sobre a acusação o ônus da prova quanto ao dolo, devendo sua
comprovação ser feita a partir dos elementos objetivos do caso concreto.

De outro lado, valendo-se do quanto disposto no Código de Processo Civil, à defesa no


processo penal compete o ônus da prova quanto às excludentes da ilicitude, da culpabilidade,
ou acerca da presença de causa extintiva da punibilidade. Assim, se o réu alegar, por exemplo,

que se encontrava sob coação moral irresistível, caberá a ele o ônus da prova.

Qual o grau de convencimento que acusação e defesa devem produzir na convicção do


magistrado? Ora, ônus da prova da acusação, dúvidas não restam quanto à necessidade de um
juízo de certeza por parte do magistrado. No que toca à defesa, não se exige da defesa uma
prova cabal acerca de teses como causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade, bastando

que produza um estado de dúvida para que o acusado possa ser absolvido.

1.2.3. Inversão do ônus da prova

Conforme a regra de julgamento do in dubio pro reo tem-se que o ônus da prova recai
precipuamente sobre o Ministério Público ou sobre o querelante. A inversão do ônus da prova

significaria, portanto, adotar a regra contrária: in dubio pro societate ou in dubio contra reum.

Essa autorização para a inversão do ônus da prova vem expressamente prevista pela
Convenção de Viena de 1988, que remete a cada parte (país) a sua consideração. No art. 5º, n°
7, prevê: “Cada uma das partes considerará a possibilidade de inverter o ônus da prova com
respeito à origem ilícita do suposto produto ou bens sujeitos a confisco, na medida em que isto
seja compatível com os princípios de seu direito interno e com a natureza dos seus
procedimentos judiciais e outros procedimentos”. Nesse sentido, o Brasil estipulou em sua

legislação a inversão do ônus da prova.

Exemplificando, tem-se no dispositivo do art. 4º, § 2º, da Lei 9.613/98, uma inversão do
ônus da prova somente para as medidas coercitivas patrimoniais relativas a direitos ou valores
apreendidos ou sequestrados e, assim mesmo, não para permiti-las, mas sim para que o acusado
obtenha sua liberação.

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1.3. Iniciativa probatória do juiz: a gestão da prova pelo
magistrado

Para que um sistema seja verdadeiramente acusatório, o juiz não pode ser o gestor da
prova, devendo ser um mero observador, deixando a produção da prova a cargo das partes. É
o sistema adotado pela Constituição Federal (Art. 129, I), atribuindo a pessoa diversa da
autoridade judiciária a titularidade da ação penal pública, e orientando uma atividade judicial

imparcial, seja na fase investigatória, seja na fase processual.

Ora, pensar diferente, traria a tona o modelo inquisitorial, no qual, a iniciativa probatória é
do Juiz (juiz ator/inquisidor). Há aqui, uma atividade claramente incompatível com a
imparcialidade, colocando em segundo plano o contraditório e a ampla defesa, na busca
ilimitada da verdade real.

Sendo assim, com a entrada em vigor da Lei n.º 13.964/2019 (pacote anticrime), a gestão
da prova pelo magistrado ocasionou duas sistemáticas: a vedação da iniciativa acusatória do
juiz das garantias e da iniciativa probatória do juiz da instrução e julgamento.

1.3.1. Vedação da iniciativa acusatória do juiz das garantias na fase


investigatória

O Art. 156 do CPP, com redação dada pela Lei n.º 11.690/2008, prever que ao juiz é
permitido, de ofício, mesmo antes do início da ação penal, determinar a produção de antecipada
de provas consideradas urgentes e relevantes. Com a adoção do sistema acusatório pela
Constituição Federal, houve a separação das funções de acusar, defender e julgar, visando

impedir a concentração do poder.

Isso não significa dizer que Juiz das Garantias não tem qualquer poder na fase investigativa.
É óbvio que o juiz das garantias não está impedido. Contudo, sua atuação só pode ocorrer
mediante prévia provocação das partes, a exemplo da representação da autoridade policial ao

Juiz por necessidade de um mandado de busca domiciliar.

Dessa forma, em um sistema acusatório, cuja característica básica é a separação das funções
de acusar, defender e julgar, não se pode permitir que o magistrado atue de ofício na fase de

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investigação. Isto porque, a partir do momento em que uma mesma pessoa concentra as funções
de investigar e colher provas, estará comprometendo a tese de culpabilidade do acusado.

Nesse sentido, a Lei n.º 13.964/2019 (pacote anticrime) dispõe, de forma pertinente, em
seu Art. 3º-A do CPP que, o processo penal terá estrutura acusatória e está vedada a iniciativa
do juiz das garantias na fase investigativa. Revogou-se tacitamente o Art. 156, I, CPP, conforme

o Art. 2.º, §1.º, da LINDB.

Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas à iniciativa


do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do

órgão de acusação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

1.3.2. Vedação da iniciativa probatória do juiz da instrução e


julgamento no curso do processo penal

No que tange a possibilidade da iniciativa acusatória do magistrado em sede de


investigação preliminar, uma primeira corrente admite que, de modo subsidiário, e
exclusivamente durante a fase processual da persecução penal, possa o juiz determinar a
produção de provas que entender pertinentes e razoáveis, a fim de dirimir dúvida sobre pontos
relevantes, seja por força do princípio da busca da verdade, seja pela adoção do sistema da

persuasão racional do juiz (convencimento motivado).

Na visão dessa primeira corrente, essa atuação subsidiária do juiz na produção de provas
não teria o condão de comprometer sua imparcialidade, isto porque um juiz ativo, não é
sinônimo de juiz parcial, mas apenas um juiz atento aos fins sociais do processo, e que busca

exercer sua função de forma a dar ao jurisdicionado a melhor prestação jurisdicional possível.

Esse entendimento sempre foi criticado pela doutrina nacional. Não há espaço para a
atribuição de poderes instrutórios ao juiz da instrução e julgamento no curso do processo
penal, sem que se esteja colocando em risco a imparcialidade, haja vista esta possível e muito
provável vinculação com as decisões ex officio que ele vier a proferir a respeito da prova.
Absolutamente incompatíveis, portanto, tais poderes instrutórios do julgador à luz do princípio
da imparcialidade.

19
1.4. Sistemas de avaliação da prova

São basicamente três sistemas acerca do assunto, a saber: 1) Sistema da íntima convicção;

2) Sistema da prova tarifada; 3) Sistema da persuasão racional do juiz (convencimento motivado).

Especificamente em relação ao direito brasileiro, o Código de Processo Penal adotou, como


regra, o livre convencimento do juiz fundamentado na prova produzida sob o contraditório
judicial (art. 155, caput, do CPP). Não obstante, como adiante será demonstrado, remanescem,
ainda, algumas exceções que se constituem resquícios dos sistemas da íntima convicção e da
prova tarifada.

1.4.1. Sistema da íntima convicção do magistrado

Trata-se do sistema que confere ao julgador total liberdade na formação de seu


convencimento, dispensando-se qualquer motivação sobre as razões que o levaram a esta ou
àquela decisão, sendo irrelevante a circunstância de encontrar-se ou não a prova nos autos.

O sistema da íntima convicção não foi adotado no ordenamento pátrio, pelo menos em
regra. Todavia, não foi abandonado definitivamente em nosso direito, sendo acolhido nos
julgamentos afetos ao Tribunal do Júri, caso em que o veredicto absolutório ou condenatório

tem origem em um Conselho de Sentença, integrado por pessoas do povo – os jurados.

No âmbito do Júri, até mesmo pela desnecessidade de fundamentação da decisão dos


jurados, o Conselho de Sentença não está necessariamente vinculado às provas constantes dos
autos, podendo formar sua convicção a partir de critérios subjetivos, sendo possível que venha

a decidir em desacordo com os elementos probatórios coligidos.

1.4.2. Sistema da prova tarifada

No sistema da tarifação, a lei estabelece o valor de cada prova, não possuindo o juiz
discricionariedade para decidir contra a previsão legal expressa. Tal como ocorre com o livre
convencimento, também aqui se exige que estejam incorporados ao processo os elementos de
convicção, não sendo lícito ao magistrado decidir com base em provas extra autos.

20
É certo que o Código de Processo Penal não adotou o sistema em questão. No entanto,
não se pode negar a existência de certos resquícios de sua aplicação. Um exemplo de prova
tarifada consta do art. 155, parágrafo único, do CPP, o qual dispõe que “somente quanto ao

estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil”.

1.4.3. Sistema do convencimento motivado (persuasão racional do


juiz)

O sistema do livre convencimento está previsto no art. 155, caput, do CPP1, ao dispor que
o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial,
não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na

investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

De acordo com esse sistema, o magistrado tem ampla liberdade na valoração das provas
constantes dos autos, as quais têm, legal e abstratamente, o mesmo valor, porém se vê obrigado

a fundamentar sua decisão.

A discricionariedade de avaliação do quadro probatório soma-se a obrigatoriedade de


motivação da conclusão do magistrado. Essa garantia não só assegura o exame cuidadoso dos
autos, mas também permite que, em grau de recurso, se faça o eventual reexame em face de

novos argumentos apresentados.

Em regra, é esse o sistema adotado pelo ordenamento pátrio. Com a nova redação dada
ao art. 155 do CPP pela Lei n° 11.690/08, agora também é possível se extrair a adoção do
sistema do convencimento motivado do próprio Código de Processo Penal. O convencimento
do juiz deve ser formado, em regra, a partir da prova produzida em contraditório judicial, sendo

obrigatório que o magistrado fundamente sua conclusão.

Por fim, com a adoção desse sistema, surgem alguns efeitos:

 Não há hierarquia de provas no processo penal, sendo que toda prova tem valor
relativo.

1
Vide questão 3 do material
21
 Deve o magistrado valorar todas as provas produzidas no processo, mesmo que para
refutá-las. As partes possuem, portanto, o direito de verem apreciados seus
argumentos e provas, direito este cuja observância deve ser aferido na motivação.
 Somente serão consideradas válidas as provas constantes do processo: não se pode
emprestar validade aos conhecimentos privados do magistrado, sejam elas provas
nominadas ou inominadas, típicas ou atípicas.

1.5. Da prova ilegal

1.5.1. Limitações ao direito à prova

O direito à prova, como todo e qualquer direito fundamental, não tem natureza absoluta.
Está sujeito a limitações porque coexiste com outros direitos igualmente protegidos pelo
ordenamento jurídico. Não por outro motivo, dispõe a Constituição Federal que “são

inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos” (art. 5º, LVI).

Embora a Carta Magna não tenha conceituado o que seria prova ilícita, a doutrina nacional
sempre se baseou na lição do italiano Pietro Nuvolone para conceituar prova ilegal. Considera-
se prova ilegal sempre que sua obtenção se der por meio de violação de normas legais ou de

princípios gerais do ordenamento, de natureza material ou processual.

A prova será considerada ilícita quando for obtida através da violação de regra de direito
material (penal ou constitucional). Portanto, quando houver a obtenção de prova em detrimento
de direitos que o ordenamento reconhece aos indivíduos, independentemente do processo, a

prova será considerada ilícita.

Outra característica da prova ilícita é a violação no momento da colheita da prova.


Geralmente é colhida em momento anterior ou concomitante ao processo. Apesar de, em regra,
a prova ilícita ser produzida externamente ao processo, nada impede que sua produção ocorra

em juízo.

Por outro lado, a prova será considerada ilegítima quando obtida mediante violação à
norma de direito processual. A prova ilegítima, como se vê, é sempre intra-processual (ou
endoprocessual).

22
Importa dizer que, o art. 157, caput, do CPP, o qual se refere às provas ilícitas, dispõe que
“assim devem ser consideradas aquelas obtidas em violação a normas constitucionais ou legais,
não distinguindo se a norma legal é material ou processual”. Todavia, Renato Brasileiro entende
que quando o art. 157, caput, do CPP, faz menção a normas legais, deve-se interpretar o
dispositivo de maneira restritiva, referindo-se única e exclusivamente às normas de direito

material, mantendo-se, quanto às provas ilegítimas, o regime jurídico da teoria das nulidades.

Por fim, é necessário trazer entendimentos dos Tribunais Superior acerca do acesso às
conversas do Whatsapp pela autoridade policial e (in)validade da prova – tema recorrente em

provas de concursos públicos).

STJ/2016: Sem consentimento do réu ou prévia autorização judicial, é ilícita a prova,


colhida de forma coercitiva pela polícia, de conversa travada pelo investigado com terceira
pessoa em telefone celular, por meio do recurso "viva-voz", que conduziu ao flagrante do

crime de tráfico ilícito de entorpecentes.

STJ/2017: Não há ilegalidade na perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia, sem
prévia autorização judicial, na hipótese em que seu proprietário - a vítima - foi morto,

tendo o referido telefone sido entregue à autoridade policial por sua esposa.

STJ/2017: Não há ilegalidade na perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia, sem
prévia autorização judicial, na hipótese em que seu proprietário - a vítima - foi morto,
tendo o referido telefone sido entregue à autoridade policial por sua esposa.

STJ/2016: Na ocorrência de autuação de crime em flagrante, ainda que seja dispensável


ordem judicial para a apreensão de telefone celular, as mensagens armazenadas no
aparelho estão protegidas pelo sigilo telefônico, que compreende igualmente a
transmissão, recepção ou emissão de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons
ou informações de qualquer natureza, por meio de telefonia fixa ou móvel ou, ainda, por

meio de sistemas de informática e telemática.

STJ/2016: Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por
meio da extração de dados e de conversas registradas no whatsapp presentes no celular

23
do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no
momento da prisão em flagrante.

1.5.2. Prova ilícita por derivação (teoria dos frutos da árvore


envenenada)

Provas ilícitas por derivação são os meios probatórios que, não obstante produzidos,
validamente, em momento posterior, encontram-se afetados pelo vício da ilicitude originária,

que a eles se transmite, contaminando-os, por efeito de repercussão causal.

Suponha-se que alguém tenha sido constrangido, mediante tortura, a confessar a prática
de um crime de homicídio. Necessariamente, essa confissão deverá ser declarada ilícita. Pode
ser que, dessa prova ilícita originária, resulte a obtenção de uma prova aparentemente lícita
(v.g., localização e apreensão de um cadáver). Apesar da apreensão do cadáver ser
aparentemente lícita, percebe-se que há um nexo causal inequívoco entre a confissão mediante
tortura e a localização do cadáver.

Dessa forma, se não fosse à prova ilícita originária, jamais teria sido possível a prova que
dela derivou. Nesse sentido, conclui-se que a ilicitude da prova originária transmite-se, por
repercussão, a todos os dados probatórios que nela se apoiem, ou dela derivem, ou, finalmente,

nela encontre o seu fundamento legal.

Com a entrada em vigor da Lei n° 11.690/08, a teoria dos frutos da árvore envenenada
passou a constar expressamente do Código de Processo Penal. Segundo o art. 157, § 1º, do
CPP, “são também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado
o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por

uma fonte independente das primeiras”.

1.5.3. Limitações à prova ilícita por derivação

Após o desenvolvimento da teoria dos frutos da árvore envenenada, houve uma forte
reação da própria Suprema Corte norte-americana contra a rigidez de tais regras, sendo
desenvolvidas, então, exceções às exclusionary rules. Veremos algumas das teorias (mais

24
recorrentes em provas) que já vem sendo aplicadas no ordenamento jurídico brasileiro, razão
pela qual merecem a nossa atenção.

 Da teoria da fonte independente

Conforme essa teoria se o órgão da persecução penal demonstrar que obteve,


legitimamente, novos elementos de informação a partir de uma fonte autônoma de prova, que
não guarde qualquer relação de dependência, nem decorra da prova originariamente ilícita, não
mantendo vínculo causal, tais dados probatórios são admissíveis, porque não contaminados pela

mácula da ilicitude originária.

Há de se tomar extrema cautela com a aplicação da exceção da fonte independente, tendo


em vista que para que a teoria da fonte independente seja aplicada, impõe-se demonstração
fática inequívoca de que a prova avaliada pelo juiz efetivamente é oriunda de uma fonte
autônoma, ou seja, não se encontra na mesma linha de desdobramento das informações obtidas
com a prova ilícita. Caso não se demonstre, inequivocamente, a ausência de qualquer nexo
causal, fica valendo a teoria da prova ilícita por derivação. Em caso de dúvida, aplica-se o in

dubio pro reo.

A teoria da fonte independente, no Brasil, já vem sendo adotada pelo Supremo Tribunal
Federal há alguns anos. Entretanto, com a reforma processual de 2008, a limitação da fonte
independente passou a constar expressamente do Código de Processo Penal. Isso porque,
segundo o art. 157, § 1º, do CPP, “são também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas,
salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as
derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras”.

O art. 157, § 2º, do CPP, trás o conceito de fonte independente. Considera-se fonte
independente aquela que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da

investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.

Todavia, apesar de o dispositivo fazer menção à fonte independente, Renato Brasileiro


afirma que "parece ter havido um equívoco por parte do legislador, pois, ao empregar o verbo
no condicional, o conceito aí fornecido (seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova) refere-
se ao da limitação da descoberta inevitável, objeto de nosso estudo no próximo tópico".

25
 Teoria da descoberta inevitável

Também conhecida como exceção da fonte hipotética independente, caso se demonstre


que a prova derivada da ilícita seria produzida de qualquer modo, independentemente da prova
ilícita originária, tal prova deve ser considerada válida.

Para aplicação dessa teoria, é indispensável à existência de dados concretos a confirmar


que a descoberta seria inevitável. Em outras palavras, não basta um juízo do possível. É
necessário um juízo do provável, baseado em elementos concretos de prova.

Importa dizer que, na visão de parte da doutrina, tal teoria teria passado a constar
expressamente do Código de Processo Penal, a partir das alterações trazidas pela Lei n°
11.690/08. Ora, embora o legislador não tenha se referido de maneira expressa à teoria da
descoberta inevitável, podemos extraí-la do Art. 157, §2.º, do CPP “considera-se fonte
independente aquela que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da

investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova”.

Como dito no tópico acima, parece ter havido uma confusão por parte do legislador ao se
referir à fonte independente, pois o conceito por ele trazido é o da limitação da descoberta

inevitável.

 Limitação da mancha purgada (vícios sanados ou tinta diluída)

Conhecida como limitação dos vícios sanados, do nexo causal atenuado ou da tinta diluída.
Conforme essa teoria, não se aplica a teoria da prova ilícita por derivação se o nexo causal entre
a prova primária e a secundária for atenuado em virtude do decurso do tempo, de circunstâncias
supervenientes na cadeia probatória, da menor relevância da ilegalidade ou da vontade de um

dos envolvidos em colaborar com a persecução criminal.

Nesse caso, apesar de já ter havido a contaminação de um determinado meio de prova


em face da ilicitude ou ilegalidade da situação que o gerou, um acontecimento futuro expurga,
afasta, elide esse vício, permitindo-se, assim, o aproveitamento da prova inicialmente

contaminada.

Todavia, não se tem conhecimento da adoção da limitação da mancha purgada pelo

Supremo Tribunal Federal, nem tampouco pelo Superior Tribunal de Justiça.

26
1.5.4. Inutilização da prova ilícita

A prova ilícita não pode ingressar nos autos do processo. Deve haver uma decisão
determinando o desentranhamento da prova declarada inadmissível. Ademais, uma vez preclusa
tal decisão, a prova declarada inadmissível será inutilizada, sendo facultado às partes

acompanhar o incidente.

§ 3º Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada


inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes

acompanhar o incidente.

A apreciação da ilicitude da prova deve ocorrer o quanto antes possível, sobretudo de


modo a se evitar que referida prova venha a contaminar outras. Se houver oferecimento da
denúncia pelo Ministério Público e ulterior recebimento da peça acusatória, o reconhecimento
da ilicitude da prova deve ocorrer imediatamente após a apresentação da resposta à acusação
pela defesa. Contudo, caso a prova tenha sido apresentada em audiência, deve o magistrado
se pronunciar quanto à sua ilicitude de imediato, afastando sua valoração de eventual sentença
condenatória. Em ambas as situações, esse desentranhamento imediato há de se limitar a uma
inutilização formal provisória, devendo a prova ilícita ser preservada na secretaria judicial, para

eventual retomo aos autos principais caso a decisão seja anulada ou modificada.

No que tange ao recurso cabível, é certo que, se o magistrado reconhecer a


inadmissibilidade da prova antes da audiência una de instrução e julgamento, o recurso cabível
será o recurso em sentido estrito. Lado outro, caso não seja reconhecida a ilicitude da prova,
será possível a impetração de habeas corpus em favor do acusado, desde que a imputação
constante do processo refira-se à infração penal que preveja, pelo menos em tese, pena privativa

de liberdade.

Se, no entanto, o reconhecimento da ilicitude da prova ocorrer durante a audiência una de


instrução e julgamento, sendo proferida sentença em seguida (CPP, art. 403, caput), o recurso a

ser manejado será o de apelação, ainda que somente se recorra quanto à questão probatória.

 Inutilização da prova ilícita no Tribunal do Júri

27
Caso a prova ilícita tenha sido produzida ainda na primeira fase do procedimento do júri,
deve o juiz sumariante, ao pronunciar o acusado, determinar o desentranhamento da prova

ilícita, deixando de levá-la em consideração na sua decisão.

Se, no entanto, a prova ilícita tiver permanecido no processo ou nele ingressar após a
pronúncia, ocorrendo o julgamento pelos jurados, deverá o Tribunal, em sede de recurso de
apelação ou habeas corpus, reconhecer a ilicitude da prova e, por consequência, determinar a
anulação do julgamento, diante da impossibilidade de se avaliar o grau de influência da prova

ilícita sobre os jurados.

 Descontaminação do julgado

Código de Processo Penal Código de Processo Penal


ANTES da Lei n.º 13.964/2019 DEPOIS da Lei n.º 13.964/2019
Art. 157. (...) Art. 157. (...)
(...) § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova
§4.º VETADO. declarada inadmissível não poderá proferir a
sentença ou acórdão. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019).

O §4.º do Art. 157 do CPP, introduzido pela Lei n.º 11.690/2008, previa que “o juiz que
conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir sentença ou

acórdão”. Entretanto, esse dispositivo foi vetado pelo então Presidente da República.

O Congresso Nacional deliberou por introduzir o referido dispositivo ao nosso Código de


Processo Penal, através da tramitação legislativa do Pacote Anticrime. Repetiu os exatos termos
do vetado §4.º, e inseriu o §5.º no Art. 157 do CPP. É o que a doutrina denomina de
descontaminação do julgado.

O objetivo do Art. 157, §5.º, CPP, é evitar que o juiz que tiver contato com a prova ilícita
venha a julgar o caso, pois não teria isenção de ânimo suficiente para apreciar o caso concreto
com a imparcialidade que dele se espera. É dizer, por mais que o referido magistrado tenha
determinado o desentranhamento e ulterior inutilização das provas ilícitas, sua imparcialidade

ainda estaria prejudicada.


28
Todavia, embora o dispositivo tente minimizar a contaminação subjetiva do magistrado
responsável pelo julgamento, o dispositivo em questão pode ser objeto de críticas. Nesse
sentido, a decisão do Min. Dias. Toffoli no julgamento da ADI 6.298 MC/DF (j. 15.01.2020). Para
o Ministro, a forma como foi redigida o §5.º do art. 157, “pode resultar na criação de situações
em que a produção de provas eventualmente nula sirva como instrumento deletério de
interferência na definição do juiz natural, abrindo brecha para a escolha do magistrado que
examinará o processo crime, vulnerando-se, por via transversa, o postulado constitucional em

questão”.

Nesse sentido, o eminente Ministro concedeu parcialmente a medida cautelar pleiteada,


ad referendum do Plenário, para suspender a eficácia do art. 157, §5.º, do CPP, incluído pela
Lei n.º 13.964/2019. A decisão em questão acabou sendo mantida pelo Min. Luiz Fux (ADI 6.299

MC/DF, j. 22.01.2020).

1.6. Meios de prova e meios de obtenção de prova em espécie

1.6.1. Cadeia de custódia

Consiste em um mecanismo garantidor da autenticidade das evidências coletadas e


examinadas, assegurando que correspondem ao caso investigado, sem que haja lugar para

qualquer tipo de adulteração.

Prevista no Art. 158-A, do CPP:

Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os


procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica
do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua
posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. (Incluído

pela Lei nº 13.964, de 2019).

Funciona, pois, como a documentação formal de um procedimento destinado a manter e


documentar a história cronológica de uma evidência, evitando-se, assim, eventuais interferências
internas e externas capazes de colocar em dúvida o resultado da atividade probatória,

29
assegurando, assim, o rastreamento da evidencia desde o local do crime até o Tribunal. (Renato
Brasileiro, 2020).

Tem fundamento no princípio da “autenticidade da prova”, pelo qual se entende que


determinado vestígio relacionado à infração penal, encontrado, por exemplo, no local do crime,
é o mesmo que o magistrado está usando para formar se convencimento.

É aplicável a todo e qualquer elemento probatório, tendo início com a preservação do local
do crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de
vestígios, e se encerra tão somente com o descarte do vestígio, geralmente ao final do processo

penal.

Conforme o Art. 158-A, §1.º, do CPP, incluído pela Lei n.º 13.964/2019 (pacote anticrime),
o marco inaugural da cadeia de custódia do vestígio pode ocorrer de três formas, em conjunto

ou isoladamente, quais sejam:

1. Preservação do local do crime: consiste na manutenção do estado original das


coisas em locais de crime até a chegada dos profissionais de perícia criminal.

§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de


crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada
a existência de vestígio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

2. Procedimentos policiais: é quando a polícia (militar ou não) por meio de ações


institucionais de patrulhamento e prevenção ao crime (blitz de trânsito) ou por
meio de procedimentos investigatórios (infiltração policial) identifique a existência
de vestígios relacionados à infração penal, hipótese em que deverá proceder à
respectiva coleta, deflagrando-se o início da cadeia de custodia.

§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial


interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua

preservação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

3. Procedimentos periciais: o vestígio é identificado através do trabalho técnico.

30
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado
ou recolhido, que se relaciona à infração penal. (Incluído pela Lei nº 13.964,

de 2019).

Importante ter em mente que a cadeia de custodia não está restrita à perícia criminal. Na
verdade, a depender do caso concreto, pode ter início muito antes, quando o Delegado de
Polícia apreende determinado objeto, ou quando um policial civil (ou militar) receber algum
objeto material que possa guardar relação com determinado delito, oportunidade em que

deverão observar com rigor todas as etapas da cadeia de custódia.

No que tange as consequências decorrentes da quebra da cadeia de custódia, temos alguns


entendimentos. De um lado, há quem entenda que a quebra inviabiliza o efetivo exercício o do
contraditório pela parte que não tem acesso à prova integral. Sob a ótica da teoria dos frutos
da árvore envenenada, os elementos remanescentes serão contaminados, logo, ilícitos.

Por fim, em sentido diverso, com a introdução do regramento da cadeia de custódia pela
Lei n.º 13.964/2019, parte da doutrina prefere afirmar que eventual violação à nova sistemática
adotada pelos arts. 158-A a 158-F do CPP, poderá acarretar a ilegitimidade da prova , haja vista
a violação a regras de direito processual, com a consequente aplicação da teoria das nulidades.

(Posição adotada por Renato Brasileiro).

 Etapas do rastreamento do vestígio na cadeia de custódia

Conforme a Portaria n.º 82/2014 da SENASP, as etapas da cadeia de custódia são divididas

em duas fases:

1. Fase externa: compreende a preservação do local do crime, a busca do vestígio,


seu reconhecimento, isolamento, fixação, coleta, acondicionamento, transporte e
recebimento.
2. Fase interna: compreende todas as etapas entre a entrada do vestígio no órgão
pericial até sua devolução juntamente com o laudo pericial, ao órgão requisitante
da perícia.

A etapa do rastreamento do vestígio compreendida na cadeia de custódia está prevista no


Art. 158-B, e assim dispõe:

31
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas:
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a

produção da prova pericial; Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o
ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime; (Incluído pela Lei

nº 13.964, de 2019).

III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no


corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias,
filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo
perito responsável pelo atendimento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas

características e natureza; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado


de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas,
para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o
acondicionamento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições


adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a
manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse; (Incluído

pela Lei nº 13.964, de 2019).

VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser
documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e
unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o
vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura

e identificação de quem o recebeu; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a


metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter
32
o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019).

IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material


a ser processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado,
com vinculação ao número do laudo correspondente; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente

e, quando pertinente, mediante autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

 Coleta dos vestígios

A Lei n.º 13.964/2019 (pacote anticrime) introduziu o Art. 158-C, caput, do CPP, prevendo
que a coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial que dará o
encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a

realização de exames complementares.

Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente


por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de
custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames

complementares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem


ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia
oficial de natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu
cumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

A utilização da palavra “preferencialmente” denota que se acaso não for possível o


recolhimento dos vestígios por um perito oficial, um perito não oficial poderá fazê-lo, nos termos
do Art. 159 e §§ do CPP, sob pena de contaminação da cadeia de custódia.

De acordo com o art. 158-C, §2.º do CPP, é proibida a entrada em locais isolados bem
como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do
perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização.

33
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de
quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do
perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua

realização. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

Importa dizer que, embora o dispositivo determine que a prática dessas duas condutas
(entrada em locais isolados e remoção dos vestígios) deverá ser tipificada como fraude

processual, é crucial entender que não se trata de um tipo penal autônomo.

Portanto, a tipificação desse crime de fraude processual a que se refere, estará


condicionada, rigorosamente, à presença das respectivas elementares do delito em questão, que
encontra previsão no art. 347 do CP, no art. 312 do CTB, e nos arts. 23 e 24 da nova lei de

abuso de autoridade.

 Recipientes para acondicionamento de vestígios

O art. 158-D trás as regras para o acondicionamento de vestígios:

Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será


determinado pela natureza do material. (Incluído pela Lei nº 13.964, de

2019).

§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração


individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do

vestígio durante o transporte. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas


características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência
adequado e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à


análise e, motivadamente, por pessoa autorizada. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019).

34
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de
acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data,
o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre

utilizado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo

recipiente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

 Centrais de custódia

Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à


guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central

de perícia oficial de natureza criminal.

Essa central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência,
recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a
distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais
que não interfiram nas características do vestígio.

Importante dizer que, na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser
protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se
relacionam. Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser

identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso.

Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas,
consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário

da ação.

 Destinação do material após a realização da perícia

Uma vez realizado o exame pericial deverá ser devolvido à central de custódia, devendo

nela permanecer. Essa sistemática está prevista no art. 158-F, do CPP:

Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à


central de custódia, devendo nela permanecer. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019).

35
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou
condições de armazenar determinado material, deverá a autoridade policial
ou judiciária determinar as condições de depósito do referido material em
local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia

oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

1.6.2. Do exame de corpo de delito e das perícias em geral

 Do Corpo de delito

Corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais ou sensíveis deixados pela infração


penal.

 Exame de corpo de delito e outras perícias

O exame de corpo de delito é uma análise feita por pessoas com conhecimentos técnicos
ou científicos sobre os vestígios materiais deixados pela infração penal para comprovação da
materialidade e autoria do delito. A depender do caso concreto, um mesmo corpo de delito
pode ser submetido a vários exames periciais.

O exame de corpo de delito não é única espécie de exame pericial, embora grande parte
da doutrina assim ensine. Na verdade, o exame de corpo de delito é uma espécie de perícia.
Logo, apesar de o exame de corpo de delito ser o mais importante exame pericial, pois ligado
aos vestígios deixados pela infração penal, há outros exames periciais com igual relevância, tais
como os de verificação da sanidade mental do acusado, os de constatação da idade do acusado,

etc.

Não é prova hierarquicamente superior às demais. Em regra, o exame pericial pode ser
determinado tanto pela autoridade policial quanto pelas autoridades judiciária e ministerial.
Entretanto, a determinação para o exame de sanidade mental, apenas pode ser feita pela
autoridade judiciária. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz
ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do
ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-
legal (CPP, art. 149, caput).

36
A conclusão do exame pericial cabe aos os peritos, jamais as autoridades policial, judiciária
e ministerial poderão interferir, tendo em vista a garantia da autonomia técnica, científica e

funcional, dos peritos.

Além disso, segundo o art. 161 do CPP, o exame de corpo de delito poderá ser feito em
qualquer dia e a qualquer hora.

 Laudo pericial

É a peça técnica elaborada pelos peritos quando da realização do exame pericial.


Subdivide-se em 4 (quatro) partes: a) preâmbulo: qualificação do perito oficial ou dos peritos
não-oficiais e do objeto da perícia; b) exposição: narrativa de tudo que é observado pelos
experts; c) fundamentação: motivos que levaram os experts à conclusão final; d) conclusão
técnica: resposta aos quesitos.

 Obrigatoriedade do exame de corpo de delito: infrações transeuntes e não


transeuntes

É importante diferenciarmos as infrações penais transeuntes das não transeuntes:

 Infrações penais transeuntes: são as infrações penais que não deixam vestígios.
Ex: crimes contra a honra praticados verbalmente;
 Infrações penais não transeuntes: são as infrações penais que deixam vestígios
materiais. Ex: crime de homicídio cujo cadáver foi encontrado.

A relevância da realização do exame de corpo de delito recai sobre as infrações não

transeuntes, pois tais delitos costumam deixar vestígios.

 Exame de corpo de delito direto e indireto

O exame de corpo de delito direto é aquele feito por perito oficial (ou dois peritos não

oficiais) sobre o próprio corpo de delito.

Há dúvidas na busca da doutrina pelo conceito de exame de corpo de delito indireto. Para
uma primeira corrente, não há qualquer formalidade para a constituição do corpo de delito
indireto, constituindo-se pela colheita de prova testemunhai, a qual, afirmando ter presenciado
o crime ou visto os vestígios, será suficiente para suprir o exame direto, ou, ainda, pela análise

37
de documentos que comprovem a materialidade, tais como fotografias dos vestígios sensíveis
ou o prontuário médico do atendimento da vítima no posto de saúde.

Para uma segunda corrente, o exame de corpo de delito indireto é um exame pericial e
não se confunde com o mero depoimento de testemunhas (CPP, art. 167). Para essa corrente,
após colherem os depoimentos das testemunhas acerca dos vestígios deixados pela infração
penal, ou analisar documentos pertinentes à materialidade da infração penal, os peritos irão
extrair suas conclusões, firmando um laudo pericial. Esse exame é tido como indireto pelo fato

de não ser feito diretamente sobre os vestígios deixados pela infração.

Conclui-se, portanto, que o exame de corpo de delito direto é, sim, um exame pericial. De
outro lado, a depender da corrente adotada, o exame de corpo de delito indireto pode ser
considerado um exame pericial ou um exame judicial, ou seja, uma análise do juiz acerca da
materialidade do delito, porém a ser feita a partir da prova testemunhai ou documental.

 Ausência do exame de corpo de delito

A lei que estabelece que, quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame
de corpo de delito. Então, se era possível à realização do exame direto, ou, ainda, se a ausência
do exame direto não foi suprida pelo exame de corpo de delito indireto, deverá o processo ser

anulado, a partir do momento em que o laudo deveria ter sido juntado ao processo.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

 Prioridade à realização do exame de corpo de delito

A lei que estabelece que, alguns crimes, terão prioridade na realização do exame de corpo
de delito.

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de

delito quando se tratar de crime que envolva:

I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº

13.721, de 2018).2

2
Vide questão 6 do material
38
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.
(Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018).3

 Peritos: oficiais e não oficiais

Os peritos podem ser de duas espécies: peritos oficiais ou não oficiais. Em ambas as
hipóteses, o perito deve ser portador de diploma de curso superior. No entanto, há precedente
da 2ª Turma do Supremo reconhecendo a possibilidade de exame ser feito por dois peritos não

oficiais não portadores de diploma de curso superior.

Perito oficial é o funcionário público de carreira cuja função é a de realizar perícias


determinadas pela autoridade policial ou judiciária. Já o perito não oficial ou inoficial é a pessoa

nomeada pelo juiz ou pela autoridade policial para realizar determinado exame pericial.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados

por perito oficial, portador de diploma de curso superior.

§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas


idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na
área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com

a natureza do exame.

Dispõe o art. 159, § 2º, do CPP, que os peritos não oficiais prestarão o compromisso de
bem e fielmente desempenhar o encargo. Para a doutrina e para a jurisprudência, a ausência

desse compromisso configura mera irregularidade.

§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente

desempenhar o encargo.

Por fim, tanto o perito oficial quanto o perito não oficial são considerados funcionários
públicos para os fins do art. 327 do Código Penal. O primeiro, por ser titular de cargo público.

O segundo, por exercer, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, função pública.

 Assistente técnico

3
Vide questão 5 do material
39
O assistente técnico, introduzido no processo penal pela Lei n° 11.690/08, é um auxiliar
das partes, dotado de conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos, responsável por trazer

ao processo informações especializadas pertinentes ao objeto da perícia.

§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao


ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação

de assistente técnico.

O momento de admissibilidade do assistente técnico é muito discutido na doutrina. Renato


Brasileiro entende que sua atuação somente pode ocorrer na fase judicial. Isso porque, segundo
o art. 159, § 4º, do CPP, o assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a
conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas

desta decisão.

§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após


a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo

as partes intimadas desta decisão.4

Na mesma linha, dispõe o Código que, durante o curso do processo judicial, é permitido
às partes, quanto à perícia, indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em

prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência (CPP, art. 159, § 5º, II).

Por fim, e ainda segundo as alterações introduzidas no CPP pela Lei n° 11.690/08, havendo
requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado
no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial,
para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação (CPP, art. 159, § 6º).
Não se admite, portanto, a intervenção do assistente na fase investigatória.

 Autópsia e exumação para exame cadavérico

Nos termos do art. 162, caput, do CPP, a autópsia será feita pelo menos 6 (seis) horas
depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser
feita antes daquele prazo, o que declararão no auto. Não obstante, nos casos de morte violenta,
bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou

4
Vide questão 9 do material
40
quando as lesões externas permitam precisar a causa da morte e não haja necessidade de exame
interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo
se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser
feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.

Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame


externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou
quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não
houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma

circunstância relevante.

 Laudo pericial complementar no crime de lesões corporais

Nos casos de lesão corporal grave que resulta incapacidade para as ocupações habituais
por mais de 30 (trinta) dias, além do primeiro exame pericial, comprovando a ofensa à
integridade corporal, é necessária a realização de um exame complementar, a fim de se aferir

se a vítima ficara incapacitada para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias.

Importante ressaltar, todavia, que a falta desse exame complementar poderá ser suprida
pela prova testemunhal (CPP, art. 167, c/c art. 168, § 3º).

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver


sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação
da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do

Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.

§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova


testemunhal.

 Exame pericial de local de crime

Dispõe o art. 169 do CPP que, para o efeito de exame do local onde houver sido praticada
a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas

41
até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou
esquemas elucidativos.

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a
infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere
o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus

laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado


das coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na

dinâmica dos fatos.

 Exame pericial nos casos de incêndio

Segundo o art. 173 do CPP, no caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar
em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio
alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à
elucidação do fato.

 Exame pericial para reconhecimento de escritos

No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á o

seguinte:

I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato,

se for encontrada;

II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa


reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou

sobre cuja autenticidade não houver dúvida;

III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que


existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência,

se daí não puderem ser retirados;


42
IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os
exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado. Se estiver
ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por

precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.

 Exame pericial dos instrumentos do crime

Segundo o art. 175 do CPP, serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a
prática da infração, a fim de se lhes verificar a natureza e a eficiência.

 Exame pericial por meio de carta precatória

No exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juízo deprecado. Havendo,
porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo juiz

deprecante. Os quesitos do juiz e das partes serão transcritos na precatória.

1.6.3. Interrogatório judicial

 Conceito

É o ato processual por meio do qual o juiz ouve o acusado sobre sua pessoa e sobre a
imputação que lhe é feita. É a oportunidade que o acusado tem de se dirigir diretamente ao
magistrado, quer para apresentar a versão da defesa acerca da imputação que recai sobre a sua
pessoa, podendo, inclusive, indicar meios de prova, quer para confessar, ou até mesmo para

permanecer em silêncio, fornecendo apenas elementos relativos à sua qualificação.

Deve ser conduzido pelo magistrado de maneira neutra, imparcial, equilibrada e serena.
Por consequência, por mais pueril que possa parecer a versão apresentada pelo acusado, o
magistrado não pode confrontá-lo com veemência, sugerindo que sua versão seria inverossímil
e falsa. Não é este o momento para a avaliação da prova produzida no curso da audiência una
de instrução e julgamento. Na verdade, o interrogatório é o momento oportuno tão somente
para que o acusado exerça o seu direito de autodefesa.

43
 Natureza jurídica

Quanto à natureza jurídica do interrogatório, temos quatro correntes:

 Meio de prova: num sistema inquisitorial, em que o acusado é objeto de prova, a


tendência é considerar o interrogatório como meio de prova.
 Natureza mista: é meio de prova e de defesa.
 Meio de defesa: o interrogatório qualifica-se como meio de defesa. O
interrogatório está relacionado, assim, ao direito de audiência, desdobramento da
autodefesa. Através dele, o acusado tem a oportunidade de apresentar ao juiz sua
versão sobre os fatos. Daí por que tem natureza jurídica de meio de defesa.
 Meio de defesa e, eventualmente, fonte de prova: quando o acusado opta por
responder às perguntas formuladas, dando sua versão sobre os fatos, caberá ao
juiz diligenciar sobre as fontes de prova por ele reveladas.

 Momento para a realização do interrogatório

Com as modificações trazidas pela reforma processual penal de 2008, e na esteira do que
já previa a Lei dos Juizados Especiais Criminais, o interrogatório passou a ser realizado ao final
da instrução processual.

 Condução coercitiva

Consoante disposto no art. 260 do CPP, se o acusado não atender à intimação para o
interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a
autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.

Conquanto não listada no rol das medidas cautelares diversas da prisão dos arts. 319 e

320 do CPP, a condução coercitiva também funciona como medida cautelar de coação pessoal.

 Foro competente para a realização do interrogatório

44
O acusado deve ser ouvido pelo juiz da causa no curso da audiência una de instrução e
julgamento. No entanto, caso o acusado resida em localidade distinta, nada impede que o

magistrado determine a expedição de carta precatória para a realização de seu interrogatório.

 Ausência do interrogatório

Renato Brasileiro indaga quanto à possibilidade de o acusado abrir mão do seu direito de
tentar formar a convicção do magistrado, eis que interrogatório é desdobramento da autodefesa,
que é plenamente renunciável.

 Características do interrogatório

 Ato personalíssimo: é um ato pessoal, significando, portanto, que deve ser


exercido pessoalmente pelo acusado.
 Ato contraditório: com a entrada em vigor da Lei n° 10.792/03, e a consequente
alteração do art. 188 do CPP, o interrogatório passou a se submeter ao princípio
do contraditório, possibilitando a interferência das partes.

Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se


restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas
correspondentes se o entender pertinente e relevante.

 Ato assistido tecnicamente: com as modificações produzidas pela Lei n°


10.792/03, o interrogatório judicial passou a ser um ato assistido tecnicamente,
significando, por conseguinte, que a presença de advogado é indispensável à
validade do ato. Nessa linha, dispõe o art. 185 do CPP que o acusado que
comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, será
qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.

 Ato oral: em regra, deve o acusado responder às perguntas oralmente. No caso


do surdo, as perguntas serão apresentadas por escrito, devendo prestar as
respostas oralmente. No caso do mudo, as perguntas serão feitas oralmente,
respondendo-as por escrito. Em se tratando de surdo-mudo, as perguntas serão

45
formuladas por escrito e do mesmo modo dará as respostas. Nessas hipóteses,
caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como intérprete e
sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-lo (CPP, art. 192).

Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo será feito


pela forma seguinte:
I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que ele
responderá oralmente;
II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por
escrito;
III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo
modo dará as respostas.
Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá
no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa habilitada a entendê-
lo.
Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o
interrogatório será feito por meio de intérprete.
Art. 195. Se o interrogado não souber escrever, não puder ou não quiser
assinar, tal fato será consignado no termo.

 Ato individual: de acordo com o art. 191 do CPP, havendo mais de um acusado,
serão interrogados separadamente.

Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados separadamente.

 Ato bifásico: obrigatoriedade de o interrogatório ser subdivido em duas partes:


sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos.5

Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa

do acusado e sobre os fatos.

§ 1º Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência,


meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua

5
Vide questão 8 do material
46
atividade, vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma
vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do processo, se houve suspensão
condicional ou condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros

dados familiares e sociais.

§ 2º Na segunda parte será perguntado sobre:

I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita;

II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que


atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a
prática do crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da

infração ou depois dela;

III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia

IV - as provas já apuradas;

V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e

desde quando, e se tem o que alegar contra elas;

VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer

objeto que com esta se relacione e tenha sido apreendido;

VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos

antecedentes e circunstâncias da infração;

VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa.

 Ato protegido pelo direito ao silêncio: depois de devidamente qualificado e


cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes
de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder
perguntas que lhe forem formuladas. Ademais, segundo o parágrafo único do art.
186 do CPP, o silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa.

Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá

ser interpretado em prejuízo da defesa.

47
 Liberdade de autodeterminação: não se admite o emprego no interrogatório de
nenhum método tendente a extrair uma confissão, ou capaz de exercer uma
influência indevida sobre a liberdade de autodeterminação do acusado. As
perguntas que lhe são formuladas, portanto, devem ser claras, precisas, unívocas e
não complexas.

 Ato público: em regra, deve ser observada a publicidade do interrogatório judicial,


em obediência ao disposto no art. 5º, inciso LX, c/c art. 93, inciso IX, ambos da
Constituição Federal. No entanto, apesar de a regra ser a publicidade do
interrogatório judicial, a própria Constituição Federal e o Código de Processo Penal
ressalvam as hipóteses em que se justifica uma restrição dessa publicidade: defesa
da intimidade, interesse social no sigilo e imprescindibilidade à segurança da
sociedade e do Estado (CF, art. 5º, incisos XXXIII e LX, c/c art. 93, IX); escândalo,
inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem (CPP, art. 792, § 1º).

 Ato realizável a qualquer momento, antes do trânsito em julgado: é possível


sua realização a qualquer momento, antes do trânsito em julgado da sentença.

Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório de

ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes.6

 Local da realização do interrogatório

Em regra, se o acusado estiver solto, seu interrogatório deve ser realizado na sala de

audiências no Fórum.

Quanto ao acusado preso, há três formas de se realizar seu interrogatório:

1) Pessoalmente, dentro do presídio em que se encontra, mas desde que haja


segurança para todas as pessoas envolvidas no ato;
2) Por videoconferência;

6
Vide questão 10 do material
48
3) Pessoalmente, no fórum: de acordo com o art. 185, § 7o, do CPP, será requisitada
a apresentação do réu preso em juízo nas hipóteses em que o interrogatório não
possa ser realizado no interior do presídio ou por videoconferência.

 Interrogatório por videoconferência

A Lei n° 11.900/09 inseriu no bojo do Código de Processo Penal a possibilidade de


realização do interrogatório e demais atos processuais por videoconferência, desde que se trate
de acusado preso. Mesmo antes da entrada em vigor da Lei n° 11.900/09, aliás, a Lei n° 11.690/08

já havia determinado a alteração do art. 217 do CPP, que passou a dispor:

Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar


humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao
ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a
inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença

do seu defensor.

Com a vigência da Lei n° 11.900/09 em 09 de janeiro de 2009, a realização do interrogatório

por videoconferência do acusado preso passou a ser regulamentada pelo art. 185, § 2º, do CPP.

Constam do art. 185, § 2º, do CPP, as possíveis finalidades do uso da videoconferência:

§ 2º Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a


requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por
sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão
de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária

para atender a uma das seguintes finalidades:

I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de


que o preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão,

possa fugir durante o deslocamento;

49
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja
relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade

ou outra circunstância pessoal;

III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima,


desde que não seja possível colher o depoimento destas por

videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código;

IV - responder à gravíssima questão de ordem pública

Da decisão que determinar a realização de interrogatório por videoconferência as partes

serão intimadas com 10 (dez) dias de antecedência (CPP, art. 185, § 3º).

1.6.4. Confissão

 Conceito

Confissão é a admissão feita por aquele a quem é atribuída à prática da infração penal da
veracidade da imputação. Também é conhecida como testemunho duplamente qualificado: do
ponto de vista objetivo, porque recai sobre fatos contrários ao interesse de quem confessa; e

do ponto de vista subjetivo, porque provém do próprio acusado, e não de terceiro.

 Classificação da confissão

A confissão pode ser classificada da seguinte forma:

 Confissão extrajudicial: é aquela feita fora do processo penal, geralmente perante


a autoridade policial, sem a observância do contraditório e da ampla defesa.
Produzida que é na fase investigatória, sem a presença dialética das partes, conclui-
se que uma confissão extrajudicial não pode, de per si, fundamentar um decreto
condenatório, sob pena, aliás, de violação ao preceito do art. 155, caput, do CPP.

50
 Confissão judicial: é aquela feita perante a autoridade judiciária, na presença do
defensor do acusado. Se produzida diante de autoridade judicial competente será
a confissão judicial própria; se produzida perante autoridade incompetente, será
judicial imprópria;
 Confissão explícita: feita de maneira evidente, ou seja, quando o acusado
confessar a prática do fato delituoso sem dubiedades.
 Confissão implícita: ocorre quando o acusado paga a indenização. No âmbito do
processo penal, essa confissão não tem qualquer valor.
 Confissão simples: ocorre quando o acusado confessa a prática do fato delituoso,
porém não invoca qualquer excludente da ilicitude ou da culpabilidade em seu
beneficio.
 Confissão qualificada: ocorre quando o acusado confessar a prática do fato
delituoso, mas alega que o praticou acobertado por uma excludente da ilicitude
ou da culpabilidade.7
 Confissão ficta: ocorre quando o acusado não contesta os fatos que lhe são
imputados. No âmbito do processo penal, em virtude da regra probatória que
deriva do princípio da presunção de inocência, não há falar em confissão ficta.
 Confissão delatória: também conhecida como chamamento de corréu ou delação
premiada, ocorre quando o acusado confessar a prática do fato delituoso e delata
coautores e partícipes.

 Características da confissão

Dentre as características da confissão, destacam-se:

 Ato personalíssimo: somente o acusado pode confessar a prática do fato


delituoso.
 Ato livre e espontâneo: não pode haver qualquer forma de constrangimento físico
e/ ou moral para que o acusado confesse a prática do fato delituoso.
 Ato retratável: é perfeitamente possível que o acusado, após confessar o fato
delituoso, resolva se retratar.

7
Vide questão 1 do material
51
 Ato divisível: o acusado pode confessar a prática de um fato delituoso e negar o
cometimento de outro, como também pode confessar todos os fatos delituosos
que lhe são atribuídos, razão pela qual se diz que a confissão é um ato divisível.

 Valor probatório da confissão

No sistema da persuasão racional (convencimento motivado) adotado pela Constituição


Federal (art. 93, IX) e pelo Código de Processo Penal (art. 155, caput), do ponto de vista legal, a
confissão tem o mesmo valor probatório dos demais meios de prova.

Ressalva especial quanto ao valor probatório da confissão deve ser feita nas hipóteses em
que não for possível a realização de exame de corpo de delito. Isso porque, de acordo com o
art. 158 do CPP, quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Na visão da 5a Turma
do STJ:

“no processo penal moderno, é possível a supressão do exame de corpo


de delito pela confissão do acusado e por outras provas para a
configuração da qualificadora no furto, uma vez que não há hierarquia entre

as provas, e tudo que for lícito será usado na busca da verdade real”.

 Circunstância atenuante da confissão

De acordo com o art. 65, inciso III, alínea “d”, do Código Penal, a confissão espontânea,
perante a autoridade, da autoria do crime, funciona como circunstância atenuante. A
circunstância atenuante da confissão espontânea é de caráter subjetivo, pessoal, uma vez que o
ato de reconhecimento e declaração do ocorrido é prestado pela própria parte à qual a benesse

se destina.

1.6.5. Declarações do ofendido

Está previsto no art. 201 do Código de processo penal, que assim dispõe:

Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado


sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor,

as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações.

52
§ 1º Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o
ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.

§ 2º O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso


e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à
sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem.

§ 3º As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele

indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico.

§ 4º Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado

espaço separado para o ofendido.

§ 5º Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para


atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de

assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado.

§ 6º O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade,


vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar
o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras
informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição
aos meios de comunicação.

O ofendido não deve ser confundido com as testemunhas, razão pela qual não presta
compromisso legal de dizer a verdade, não sendo computado para efeito do número máximo

de testemunhas, e nem tampouco respondendo pelo crime de falso testemunho.

Apesar de não ser possível responsabilizar o ofendido criminalmente pelo delito de falso
testemunho, já que não é testemunha, nada impede que responda pelo delito de denunciação
caluniosa (CP, art. 339), caso reste comprovado que deu causa à instauração de investigação
policial, processo judicial, investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabia inocente.

53
Caso o ofendido tenha sido intimado para prestar suas declarações e não compareça, é
possível que a autoridade policial ou judiciária determine sua condução coercitiva (CPP, art. 201,

§ 1º).

Por fim, a oitiva do ofendido deve se dar sob o crivo do contraditório, sob pena de violação
ao preceito do art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal. Em virtude do sistema da livre
persuasão racional do juiz, tem-se que o valor probatório das declarações do ofendido é

relativo.

1.6.6. Prova testemunhal

 Conceito de testemunha e sua natureza jurídica

Considera-se testemunha toda pessoa desinteressada e capaz de depor que, perante a


autoridade judiciária, declara o que sabe acerca de fatos percebidos por seus sentidos que

interessam à decisão da causa.

No âmbito processual penal, qualquer pessoa pode ser testemunha (CPP, art. 202), desde
que seja dotada de capacidade física para depor. A incapacidade jurídica é irrelevante, pois
podem depor no processo penal menores de 18 (dezoito) anos, doentes e deficientes mentais.
Logicamente, somente a pessoa física pode ser testemunha, na medida em que o depoimento

pressupõe memória.

No que tange à natureza jurídica, cuida-se de meio de prova.

 Características da prova testemunhal

São várias as características da prova testemunhal:

 Judicialidade: testemunha é aquela pessoa ouvida em juízo sobre os fatos delituosos


em discussão no processo.
 Oralidade: o depoimento deve ser prestado oralmente, não sendo permitido à
testemunha trazê-lo por escrito. Isso, no entanto, não significa dizer que a
testemunha não possa fazer breve consulta a apontamentos (CPP, art. 204).
54
Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não sendo permitido à
testemunha trazê-lo por escrito.

Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, entretanto, breve consulta

a apontamentos.

Apesar de a regra ser a oralidade, o próprio CPP prevê algumas exceções: 1) De acordo
com o art. 221, § 1º, do CPP, certas autoridades poderão optar pela prestação de depoimento
por escrito: nesse caso, para que seja preservado o contraditório e a ampla defesa, as perguntas,
formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes serão transmitidas por ofício; 2) Em se tratando
de depoente mudo, surdo ou surdo-mudo, sua oitiva será realizada da seguinte forma (CPP, art.
223, parágrafo único, c/c art. 192): ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que
ele responderá oralmente; ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por
escrito; ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo dará as

respostas.

 Objetividade: como a testemunha depõe sobre fatos, deve se abster de emitir


qualquer juízo de valor, salvo quando sua opinião for inerente à própria narrativa
do fato delituoso (CPP, art. 213).

Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações

pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa do fato.

 Retrospectividade: a testemunha é chamada a depor no processo sobre fatos


passados, jamais sobre fatos futuros.
 Individualidade: as testemunhas são inquiridas separadamente, devendo o
magistrado evitar que aquelas que ainda não foram ouvidas possam ter contato
com o depoimento prestado pelas outras.

Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de modo
que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das outras, devendo o

juiz adverti-las das penas cominadas ao falso testemunho.

 Deveres das testemunhas

 Dever de depor

55
Consoante dispõe o art. 202 do CPP, toda pessoa poderá ser testemunha. A pessoa tem,
portanto, o dever de depor, contribuindo para o acertamento do fato delituoso.

Segundo o art. 206 do CPP, a testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor.
Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o
cônjuge, ainda que desquitado (leia-se: separado ou divorciado), o irmão e o pai, a mãe, ou o
filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-
se a prova do fato e de suas circunstâncias. Por força constitucional (CF, art. 226, § 3o), também
deve ser incluído nesse rol de pessoas que podem recusar-se a depor o companheiro ou a

companheira.

O conhecimento do art. 206 do CPP foi cobrado na prova do MPE-GO, em 2019. Perceba
que exigiu do candidato apenas a letra de lei. Vejamos.

(Banca: MPE-GO - 2019 - Promotor de Justiça Substituto - Prova Anulada) A testemunha


não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o
ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, mesmo que separado judicialmente
ou divorciado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for

possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão,
devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
testemunho. Veja-se que tais pessoas, ainda que queiram dar seu depoimento, não poderão
fazê-lo, a não ser que sejam desobrigadas pela parte interessada. Portanto, se a parte interessada
a desobrigar, ela passa a ter o direito de depor, mas não a obrigação. Se várias forem as pessoas

interessadas, é necessária a autorização de todas.

56
 Dever de comparecimento

Se a testemunha foi regularmente intimada, tem o dever de comparecer em juízo para


prestar seu depoimento no local, dia e hora designados. Se, regularmente intimada, a
testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade
policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá

solicitar o auxílio da força pública.

Quanto a esse dever de comparecimento, importante esclarecer que pessoas


impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas

onde estiverem (CPP, art. 220).

Tratando-se de testemunha que reside em outra comarca, deve ser expedida carta
precatória, com prazo razoável para seu cumprimento. É indispensável que o juízo deprecante
intime as partes quanto à expedição da carta precatória, sob pena de nulidade relativa. A

propósito, de acordo com a súmula n° 155 do STF:

Súmula n° 155, STF. É relativa à nulidade do processo criminal por falta de

intimação da expedição de precatória para inquirição de testemunha.

Uma vez intimada acerca da expedição da carta precatória, é ônus da parte verificar junto
ao juízo deprecado a data da realização da audiência designada para a oitiva da testemunha.

Nessa linha, dispõe a súmula n° 273 do STJ:

Súmula n° 273, STJ. Intimada à defesa da expedição da carta precatória,


toma-se desnecessária a intimação da data da audiência no juízo

deprecado.

De acordo com o art. 222, § 1º, do CPP, a expedição da precatória não suspenderá a
instrução criminal. Assim, findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo

tempo, a precatória, uma vez devolvida, será juntada aos autos, ex vi do art. 222, § 2º:

Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida
pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta
precatória, com prazo razoável, intimadas as partes.

57
§ 1º A expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal.8

§ 2º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo

tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos.

Importante novidade relativa à oitiva de testemunhas que moram em outra comarca foi
introduzida pela Lei n° 11.900/09. Com a nova redação do art. 222, § 3º, do CPP, na hipótese
em que a testemunha morar fora da jurisdição do juiz, sua oitiva também poderá ser realizada
por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens
em tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a

realização da audiência de instrução e julgamento.

Por fim, no caso de testemunha que está no estrangeiro, deve ser expedida carta rogatória.
Nesse sentido:

Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada


previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os
custos de envio.

 Dever de prestar o compromisso de dizer a verdade

Em regra, a testemunha assume o compromisso de dizer a verdade, nos termos do art. 203
do CPP. Significa dizer, portanto, que a testemunha deve dizer o que sabe, não pode se calar

sobre o que sabe, nem pode negar a verdade ou declarar fato inverídico.

Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a


verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu nome,
sua idade, seu estado e sua residência, sua profissão, lugar onde exerce sua
atividade, se é parente, e em que grau, de alguma das partes, ou quais suas
relações com qualquer delas, e relatar o que souber, explicando sempre as
razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de

sua credibilidade.

8
Vide questão 2 do material
58
Apesar do disposto no art. 203 do CPP, nem todas as pessoas prestam compromisso de
dizer a verdade. É o que acontece com aquelas enumeradas no art. 206 do CPP. Como já foi
dito, tais pessoas não têm a obrigação de depor, a não ser que não seja possível, por outro
modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias. De modo semelhante,
os menores de 14 (quatorze) anos, doentes e deficientes mentais também não são

compromissados.

Não há consenso na doutrina quanto à possibilidade de a testemunha não compromissada


(CPP, arts. 206 e 208) poder responder pelo crime de falso testemunho. Acerca do assunto, há
precedente antigo do Supremo Tribunal Federal no sentido de que, como a formalidade do
compromisso não integra o tipo do crime de falso testemunho, é possível que aquele que não
seja obrigado pela lei a depor como testemunha, mas que se disponha a fazê-lo e seja advertido

pelo Juiz, possa responder pelo crime do art. 342 do CP.

 Dever de comunicar mudança de residência

As testemunhas também têm o dever de comunicar ao juiz, dentro de 1 (um) ano, contado
do seu depoimento, qualquer mudança de residência (CPP, art. 224). Caso não o façam, e seja
necessário ouvi-las novamente, não se logrando êxito em sua localização, estarão sujeitas às
penas do não comparecimento (multa de 1 a 10 salários mínimos, condução coercitiva,

pagamento da diligência e responsabilização criminal pelo delito de desobediência).

Art. 224. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um ano, qualquer


mudança de residência, sujeitando-se, pela simples omissão, às penas do

não-comparecimento.

1.6.7. Reconhecimento de pessoas e coisas

 Conceito e natureza jurídica

Trata-se de meio de prova por meio do qual alguém identifica uma pessoa ou coisa que
lhe é mostrada com pessoa ou coisa que já havia visto, ou que já conhecia, em ato processual
praticado perante a autoridade policial ou judiciária, segundo o procedimento previsto em lei.

59
O reconhecimento de pessoas e coisas não se confunde com o retrato falado, tendo em
vista que esse é formado a partir de informações prestadas ao perito por pessoa que tenha
visto o autor do delito, sendo considerado não um meio de prova, mas sim um meio de

investigação.

 Procedimento

Quando houver necessidade de se fazer o reconhecimento de pessoa, há de se observar o


procedimento previsto no art. 226 do CPP.

Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de

pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:

I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever

a pessoa que deva ser reconhecida;

ll - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível,


ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-

se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;

III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o


reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a
verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade

providenciará para que esta não veja aquela;

IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito


pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e

por duas testemunhas presenciais.

Parágrafo único. O disposto no III deste artigo não terá aplicação na fase

da instrução criminal ou em plenário de julgamento.9

Prevalece, todavia, o entendimento jurisprudencial no sentido de que eventuais


irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejam nulidade, uma vez

que as formalidades previstas no art. 226 do CPP funcionam como meras recomendações legais.

9
Vide questão 7 do material
60
 Reconhecimento fotográfico e fonográfico

Não encontra previsão legal. Contudo, tem sido admitido pela doutrina e pela
jurisprudência, sendo considerado espécie de prova inominada. De acordo com o Supremo
Tribunal Federal, é possível sua utilização, desde que corroborado por outros elementos de
prova, sendo que o procedimento a ser observado é o mesmo do reconhecimento de pessoas

(CPP, art. 226).

1.6.8. Acareação

 Conceito e natureza jurídica

A acareação é o ato processual consistente na confrontação das declarações de dois ou


mais acusados, testemunhas ou ofendidos, já ouvidos, e destinado a obter o convencimento do
juiz sobre a verdade de algum fato em que as declarações dessas pessoas forem divergentes.

Sua natureza jurídica é de meio de prova. De acordo com o art. 229 do CPP, a acareação
será admitida entre acusados, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado
ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em

suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes.

Art. 229. A acareação será admitida entre acusados, entre acusado e


testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa
ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas

declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes.

Pode ser realizada tanto na fase investigatória (CPP, art. 6o, inciso VI) como no curso da
instrução criminal, nada impedindo que as partes requeiram a prática do ato.

 Procedimento probatório

Os acareados serão reperguntados, para que expliquem os pontos de divergências,


reduzindo-se a termo o ato de acareação, conforme previsão do art. 229, parágrafo único, do

CPP.

61
Assim, ao serem perguntados sobre os pontos de divergências, os acareados poderão
confirmar as declarações anteriormente prestadas, o que geralmente acontece, ou modificá-las.
Então, o ato de acareação é reproduzido em um termo onde ficam consignadas as perguntas
feitas a cada um dos acareados e suas respectivas respostas, auto este a ser subscrito pelo

escrevente e assinado por todos.

É possível que um dos acareados se encontre fora da comarca do juízo perante o qual

tramita o processo. Nesse caso, prevê o art. 230 do CPP:

Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das de


outra, que esteja presente, a esta se darão a conhecer os pontos da
divergência, consignando-se no auto o que explicar ou observar. Se
subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à autoridade do lugar onde
resida a testemunha ausente, transcrevendo-se as declarações desta e as
da testemunha presente, nos pontos em que divergirem, bem como o texto
do referido auto, a fim de que se complete a diligência, ouvindo-se a
testemunha ausente, pela mesma forma estabelecida para a testemunha
presente. Esta diligência só se realizará quando não importe demora
prejudicial ao processo e o juiz a entenda conveniente.

1.6.9. Prova documental

 Conceito e espécies

Numa concepção mais ampla, e com base em uma interpretação progressiva, tem-se como
documento qualquer objeto representativo de um fato ou ato relevante, conceito no qual
podemos incluir fotografias, filmes, desenhos, esquemas, e-mails, figuras digitalizadas, planilhas,

croquis, etc.

De acordo com a 1ª Turma do Supremo, pareceres opinativos não se equiparam a


documentos, sendo que a sua eventual juntada aos autos sequer induz à abertura de vista à

parte contrária.

São diversas as espécies de documentos:

62
 Original: é aquele escrito na fonte originariamente produtora.
 Cópia: é a reprodução do documento original. Se a fotocópia estiver autenticada, possui
o mesmo valor que o original (CPP, art. 232, parágrafo único).
 Público: é aquele expedido por funcionário público no exercício de suas funções e de
acordo com as formalidades legais.
 Particular: por um critério de exclusão, documento particular é todo aquele que não
esteja compreendido como documento público, ainda que por equiparação.

A valoração de todo e qualquer documento passa pela análise de sua autenticidade e pela
verificação da veracidade dos fatos nele representados. A verdade é a existência real do que
no instrumento se contém, se relata ou se expõe. A autenticidade é a certeza legal de ser o

escrito emanado da pessoa a quem o documento é atribuído.

Os documentos públicos têm a seu favor a presunção juris tantum de autenticidade. Não
se pode, assim, negar-se valor a tal prova para concluir-se coisa diversa do que contém o
documento público. O documento particular é autêntico quando reconhecido por oficial público,
quando aceito ou reconhecido por quem possa prejudicar e quando provado por exame pericial

(CPP, art. 235).

 Produção da prova documental

De acordo com o art. 231 do CPP:

Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar

documentos em qualquer fase do processo.

A regra, no tocante à produção da prova documental, é que as partes podem juntar


documentos em qualquer fase do processo, só podendo haver o indeferimento do órgão
julgador quando os documentos apresentados tiverem caráter meramente protelatório ou
tumultuário. Todavia, há restrições à possibilidade de juntada de documentos em qualquer fase

processual.

Com a vigência da Lei n° 11.689/08, excepcionou-se os casos em “durante o julgamento


no plenário do júri, não era permitida a produção ou leitura de documento que não tivesse sido
comunicado à parte contrária, com antecedência, pelo menos, de três dias, compreendida nessa

63
proibição a leitura de jornais ou qualquer escrito, cujo conteúdo versasse sobre matéria de fato
constante do processo”.

 Tradução de documentos em língua estrangeira

O documento em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, será, se


necessário, traduzido por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela

autoridade.

Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua


juntada imediata, serão, se necessário, traduzidos por tradutor público, ou,

na falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade.10

 Restituição de documentos

Os documentos originais, juntados a processo findo, quando não exista motivo relevante
que justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o
Ministério Público, ser entregues à parte que os produziu, ficando traslado nos autos (CPP, art.

238). Esse dispositivo aplica-se aos documentos produzidos pelas partes.

Quanto aos documentos apreendidos, caso a restituição seja pretendida antes do trânsito
em julgado da sentença final, e desde que não haja necessidade de sua manutenção nos autos
do processo, nem tampouco dúvida quanto à sua propriedade, o procedimento a ser observado

é o de restituição de coisas apreendidas, previsto entre os arts. 118 e 124 do CPP.

1.6.10. Busca e apreensão

 Conceito e natureza jurídica

10
Vide questão 4 do material
64
A busca não se confunde com a apreensão. A busca consiste na diligência cujo objetivo é
o de encontrar objetos ou pessoas. A apreensão deve ser tida como medida de constrição,

colocando sob custódia determinado objeto ou pessoa.

Embora a busca e apreensão esteja inserida no Código de Processo Penal como meio de
prova, sua verdadeira natureza jurídica é de meio de obtenção de prova (ou de investigação da
prova). Isso porque consiste em um procedimento (em regra, extraprocessual) regulado por lei,
com o objetivo de conseguir provas materiais, e que pode ser realizado por outros funcionários
que não o juiz (v.g., policiais). Sua finalidade precípua não é a obtenção de elementos de prova,

mas sim de fontes materiais de prova.

 Iniciativa e decretação

De acordo com o art. 242 do CPP, a busca poderá ser determinada de ofício ou a
requerimento de qualquer das partes. Nesse ponto, há de se distinguir a busca pessoal daquela

de natureza domiciliar.

Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de

qualquer das partes.

A busca de natureza pessoal pode ser determinada pela autoridade policial ou pela
autoridade judiciária. Com relação à busca domiciliar, somente a autoridade judiciária
competente poderá expedir o respectivo mandado. Por estrita observância do princípio do juiz
natural (CF, art. 5º, LIII), somente o juiz constitucionalmente competente pode validamente

ordenar uma medida de busca domiciliar.

A possibilidade de invasão domiciliar, durante o dia, está limitada à cláusula de reserva de


jurisdição, segundo a qual, por expressa previsão constitucional, compete exclusivamente aos
órgãos do Poder Judiciário, com total exclusão de qualquer outro órgão estatal, a prática de
determinadas restrições a direitos e garantias individuais, a saber: a) violação ao domicílio
durante o dia; b) prisão, salvo o flagrante delito; c) interceptação telefônica; d) afastamento de

sigilo de processos jurisdicionais.

 Objeto

65
As pessoas e coisas sujeitas à busca constam do rol exemplificativo do art. 240 do CPP.
Nos exatos termos do art. 240, § 1º, do CPP, proceder-se-á à busca domiciliar quando fundadas

razões a autorizarem para:

 Prender criminosos;
 Apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos: coisas achadas são
aquelas eventualmente encontradas e que são importantes para o desvendamento
do fato. Já as coisas obtidas por meios criminosos devem ser arrecadadas para
evitar o locupletamento ilícito, viabilizando também a indenização das possíveis
vítimas.
 Apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou
contrafeitos;
 Apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou
destinados a fim delituoso;
 Descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
 Apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando
haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação
do fato;
 Apreender pessoas vítimas de crimes;
 Colher qualquer elemento de convicção.

 Espécies de busca

1. Busca domiciliar
1.1. Conceito de dia.

Durante o dia, é possível o ingresso em domicílio nas seguintes hipóteses: com o


consentimento do morador, em caso de flagrante delito, desastre, para prestar socorro, ou
mediante determinação judicial. Durante a noite, o ingresso em domicílio alheio só pode ocorrer
nos seguintes casos: com o consentimento do morador, flagrante delito, desastre, ou para

prestar socorro.

66
Importante mencionar que, iniciado o cumprimento de uma busca domiciliar no interior
da casa durante o dia, é possível que a diligência se prolongue durante o período da noite,

quando o adiamento prejudicar o ato ou causar grave dano à diligência.

1.2. Conceito de casa.

O conceito de domicílio, para fins penais e processuais penais, é mais amplo que aquele
do Código Civil, segundo o qual domicílio seria o lugar onde a pessoa natural estabelece sua
residência com ânimo definitivo (CC, art. 70, caput).

A expressão casa compreende: a) qualquer compartimento habitado; b) aposento ocupado


de habitação coletiva, ainda que se destine à permanência por poucas horas; c) compartimento
não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. Insere-se no conceito de
casa, portanto, não só a casa ou habitação, mas também o escritório de advocacia, o consultório
médico, o quarto ocupado de hotel ou motel, o quarto de hospital, empresas e lojas (do balcão

para dentro), pátios, jardins, quintal, garagens, depósitos, etc.

Não se exige, para a definição de “casa”, que ela esteja fixada ao solo, pois o conceito
constitucional abrange as residências sobre rodas (trailers residenciais), barcos-residência, a parte
traseira do interior da boleia do caminhão, etc. Pouco importa que a casa esteja (ou não)
ocupada. Mesmo estando a casa vazia, cuida-se de expressão de intimidade da pessoa, sendo

vedado o ingresso de estranhos.

No que tange à busca e apreensão em escritório de advocacia, além prever a necessidade


de prévia autorização judicial decretada com base em indícios e materialidade da prática de
crime por parte de advogado, exige a presença de representante da Ordem dos Advogados do
Brasil. O mandado judicial de busca e apreensão em escritório de advocacia não pode ser
expedido de modo genérico, em aberto, sem objeto definido, mas sim de forma delimitada,

restrita ou fechada, mesmo sendo o advogado investigado.

1.3. Mandado de busca e apreensão

Mandados de busca domiciliar não podem se revestir de conteúdo genérico, nem podem
se mostrar omissos quanto à indicação, o mais precisamente possível, do local objeto dessa
medida extraordinária, tal qual dispõe o art. 243 do CPP. Nesse sentido:

67
Art. 243. O mandado de busca deverá:

I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a


diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de
busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a
identifiquem;

II - mencionar o motivo e os fins da diligência;

III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer

expedir.

2. Busca pessoal

Há duas subespécies de buscas pessoais:

 Busca pessoal por razões de segurança: realizada em festas, boates, aeroportos,


rodoviárias, etc. Essa espécie de busca pessoal não está regulamentada pelo Código
de Processo Penal, devendo ser executada de maneira razoável e sem expor as
pessoas a constrangimento ou à humilhação.
 Busca pessoal de natureza processual penal: determinada quando houver
fundada suspeita de que alguém oculte consigo coisas achadas ou obtidas por
meios criminosos, instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos
falsificados ou contrafeitos, armas e munições, instrumentos utilizados na prática
de crime ou destinados a fim delituoso, objetos necessários à prova de infração ou
à defesa do réu, apreender cartas abertas destinadas ao acusado ou em seu poder,
quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato, assim como qualquer outro elemento de convicção.

A busca pessoal, conforme o Art. 244 do CPP, independe de mandado, no caso de prisão
ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no

curso de busca domiciliar.

No caso de busca pessoal em mulher, dispõe o art. 249 do CPP que a diligência deve ser
feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência.

68
Por fim, no tocante à busca pessoal em advogado, tem-se que, em regra, documentos em
poder de advogado não poderão ser apreendidos (Lei n° 8.906/94, art. 7º, II), salvo em duas
situações: a) quando o documento é o corpo de delito de crime (CPP, art. 243, § 2º); b) quando
o advogado for partícipe ou coautor do crime, ele deixa de gozar das prerrogativas do

profissional da advocacia, podendo ter documentos vinculados a tal delito apreendidos.

A apostila de número 06 do nosso curso de Direito Processual Penal tratou sobre “Das provas”.

Agora, vamos as nossas considerações:

“Das provas” apareceu 34 VEZES nos últimos 4 anos, sendo considerado um assunto de ALTA
recorrência. Nem preciso falar que o estudo deste assunto é essencial, não é mesmo? Então,
mãos à obra!

A banca costuma seguir o padrão já conhecido, trazendo um caso hipotético, no qual será
cobrado do aluno o conhecimento sobre a letra seca da lei e súmulas.

Vamos juntos!

69
QUADRO SINÓTICO

DAS PROVAS
Provar significa demonstrar a veracidade de um
enunciado sobre um fato tido por ocorrido no mundo
real. Prova é o conjunto de elementos produzidos
Terminologia da prova
pelas partes ou determinados pelo juiz visando à
formação do convencimento quanto a atos, fatos e
circunstâncias.
Prova se refere aos elementos de convicção
produzidos, em regra, no curso do processo judicial,
e, por conseguinte, com a necessária participação
Distinção entre prova e elementos dialética das partes, sob o manto do contraditório
informativos (ainda que diferido) e da ampla defesa. Já os
elementos de informação são aqueles colhidos na
fase investigatória, sem a necessária participação
dialética das partes.
Provas cautelares são aquelas em que há um risco de
desaparecimento do objeto da prova em razão do
decurso do tempo, em relação às quais o
contraditório será diferido. Prova não repetível é
aquela que, uma vez produzida, não tem como ser
novamente coletada ou produzida, em virtude do
Provas cautelares, não repetíveis e
desaparecimento, destruição ou perecimento da fonte
antecipadas
probatória. Provas antecipadas são aquelas
produzidas com a observância do contraditório real,
perante a autoridade judicial, em momento
processual distinto daquele legalmente previsto, ou
até mesmo antes do início do processo, em virtude
de situação de urgência e relevância.
No processo penal, a produção da prova objetiva
Finalidade da prova
auxiliar na formação do convencimento do juiz
70
quanto à veracidade das afirmações das partes em
juízo.
Prova direta são aquelas que por si só demonstram o
próprio fato objeto da investigação. Por sua vez, a
prova é considerada indireta quando não
Prova direta e prova indireta
demonstram, diretamente, determinado ato ou fato,
mas que permitem deduzir tais circunstâncias a partir
de um raciocínio lógico e irrefutável.
Quanto prova indireta, indício deve ser compreendida
como uma das espécies do gênero prova, ao lado da
prova direta, funcionando como um dado objetivo
que serve para confirmar ou negar uma asserção a
respeito de um fato que interessa à decisão judicial.
Indício: prova indireta ou prova
Quanto ao indício como prova semiplena, nos termos
semiplena
do art. 239 do CPP, refere-se a uma cognição vertical
(quanto à profundidade) não exauriente, ou seja, uma
cognição sumária, não profunda, em sentido oposto à
necessária completude da cognição, no plano vertical,
para a prolação de uma sentença condenatória.
O objeto da prova refere-se aos os fatos que,
influindo na apuração da existência ou inexistência de
responsabilidade penal, são capazes de gerar dúvida
no magistrado, exigindo, por isso mesmo, a devida
Objeto da prova
comprovação. Todavia, existem determinados fatos
que se excluem da necessidade de comprovação, os
quais consistem em: fatos axiomáticos, fatos notórios,
presunções legais e os fatos inúteis ou irrelevantes.
Prova emprestada é a prova de um fato, produzida
em um processo, seja por documentos, testemunhas,
confissão, depoimento pessoal ou exame pericial, que
é trasladada para outro processo sob a forma
Prova emprestada documental.
Súmula n. 591, STJ. É permitida a prova emprestada
no processo administrativo disciplinar, desde que
devidamente autorizada pelo juízo competente e
respeitados o contraditório e a ampla defesa.
Os ônus representam um imperativo do próprio
Ônus da prova
interesse, estando situados no campo da liberdade.

71
Ainda que haja seu descumprimento, não haverá
qualquer ilicitude, pois o cumprimento do ônus
interessa ao próprio sujeito onerado.
Com base na primeira parte do art. 156 do CPP, a
prova da alegação incumbirá a quem a fizer. Muito se
Distribuição do ônus da prova no discutiu acerca do ônus da prova da acusação e da
processo penal defesa no processo penal. A doutrina majoritária
trabalha com uma efetiva distribuição do ônus da
prova entre a acusação e a defesa no processo penal.
Com a entrada em vigor da Lei n.º 13.964/2019, a
gestão da prova pelo magistrado ocasionou duas
sistemáticas: a vedação da iniciativa acusatória do juiz
das garantias e da iniciativa probatória do juiz da
instrução e julgamento.
Nesse sentido, a Lei n.º 13.964/2019 (pacote
anticrime) dispõe, de forma pertinente, em seu Art.
3º-A do CPP que, o processo penal terá estrutura
acusatória e está vedada a iniciativa do juiz das
Iniciativa probatória do juiz: a garantias na fase investigativa. Revogou-se
gestão da prova pelo magistrado tacitamente o Art. 156, I, CPP, conforme o Art. 2.º,
§1.º, da LINDB.
No que tange a possibilidade da iniciativa acusatória
do magistrado em sede de investigação preliminar,
Não há espaço para a atribuição de poderes
instrutórios ao juiz da instrução e julgamento no
curso do processo penal, sem que se esteja
colocando em risco a imparcialidade, haja vista esta
possível e muito provável vinculação com as decisões
ex officio que ele vier a proferir a respeito da prova.
Sistema da íntima convicção do magistrado: Trata-se
do sistema que confere ao julgador total liberdade na
formação de seu convencimento, dispensando-se
qualquer motivação sobre as razões que o levaram a
Sistemas de avaliação da prova esta ou àquela decisão, sendo irrelevante a
circunstância de encontrar-se ou não a prova nos
autos.
O sistema da íntima convicção não foi adotado no
ordenamento pátrio, pelo menos em regra. Todavia,

72
não foi abandonado definitivamente em nosso direito,
sendo acolhido nos julgamentos afetos ao Tribunal
do Júri, caso em que o veredicto absolutório ou
condenatório tem origem em um Conselho de
Sentença, integrado por pessoas do povo – os
jurados.
Sistema da prova tarifada: No sistema da tarifação, a
lei estabelece o valor de cada prova, não possuindo o
juiz discricionariedade para decidir contra a previsão
legal expressa. No sistema da tarifação, a lei
estabelece o valor de cada prova, não possuindo o
juiz discricionariedade para decidir contra a previsão
legal expressa, a exemplo do art. 155, parágrafo
único, do CPP, o qual dispõe que “somente quanto
ao estado das pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil”.
Sistema do convencimento motivado (persuasão
racional do juiz): De acordo com esse sistema, o
magistrado tem ampla liberdade na valoração das
provas constantes dos autos, as quais têm, legal e
abstratamente, o mesmo valor, porém se vê obrigado
a fundamentar sua decisão. Em regra, é esse o
sistema adotado pelo ordenamento pátrio.
Provas ilícitas por derivação são os meios probatórios
que, não obstante produzidos, validamente, em
Prova ilícita por derivação (teoria
momento posterior, encontram-se afetados pelo vício
dos frutos da árvore envenenada)
da ilicitude originária, que a eles se transmite,
contaminando-os, por efeito de repercussão causal.
Da teoria da fonte independente: o órgão da
persecução penal demonstrar que obteve,
legitimamente, novos elementos de informação a
partir de uma fonte autônoma de prova, que não
Limitações à prova ilícita por
guarde qualquer relação de dependência, nem
derivação
decorra da prova originariamente ilícita, com esta não
mantendo vínculo causai, tais dados probatórios são
admissíveis, porque não contaminados pela mácula
da ilicitude originária.

73
A teoria da fonte independente, no Brasil, já vem
sendo adotada pelo Supremo Tribunal Federal há
alguns anos. Entretanto, com a reforma processual de
2008, a limitação da fonte independente passou a
constar expressamente do Código de Processo Penal.
Isso porque, segundo o art. 157, § 1º, do CPP
Teoria da descoberta inevitável: Igualmente conhecida
como exceção da fonte hipotética independente, caso
se demonstre que a prova derivada da ilícita seria
produzida de qualquer modo, independentemente da
prova ilícita originária, tal prova deve ser considerada
válida. Para aplicação dessa teoria, é indispensável à
existência de dados concretos a confirmar que a
descoberta seria inevitável.
Limitação da mancha purgada (vícios sanados ou tinta
diluída): não se aplica a teoria da prova ilícita por
derivação se o nexo causal entre a prova primária e a
secundária for atenuado em virtude do decurso do
tempo, de circunstâncias supervenientes na cadeia
probatória, da menor relevância da ilegalidade ou da
vontade de um dos envolvidos em colaborar com a
persecução criminal.
A prova ilícita não pode ingressar nos autos do
processo. Deve haver uma decisão determinando o
desentranhamento da prova declarada inadmissível.
Ademais, uma vez preclusa tal decisão, a prova
declarada inadmissível será inutilizada, sendo
facultado às partes acompanhar o incidente.
Descontaminação do julgado: A Lei n.º 13.964/2019
Inutilização da prova ilícita inseriu no CPP o art. 157, §5.º. O objetivo do Art. 157,
§5.º, CPP, é evitar que o juiz que tiver contato com a
prova ilícita venha a julgar o caso, pois não teria
isenção de ânimo suficiente para apreciar o caso
concreto com a imparcialidade que dele se espera. É
dizer, por mais que o referido magistrado tenha
determinado o desentranhamento e ulterior
inutilização das provas ilícitas, sua imparcialidade

74
ainda estaria prejudicada. A eficácia desse dispositivo
está suspensa.

MEIOS DE PROVAS
Cadeia de custódia É um mecanismo garantidor da autenticidade das
evidências coletadas e examinadas, assegurando que
correspondem ao caso investigado, sem que haja lugar
para qualquer tipo de adulteração. Incluída pela Lei n.º
13.964/2019 (pacote anticrime).

Do exame de corpo de delito O exame de corpo de delito é uma análise feita por
pessoas com conhecimentos técnicos ou científicos
sobre os vestígios materiais deixados pela infração
penal para comprovação da materialidade e autoria do
delito. A depender do caso concreto, um mesmo corpo
de delito pode ser submetido a vários exames periciais.

Interrogatório judicial É o ato processual por meio do qual o juiz ouve o


acusado sobre sua pessoa e sobre a imputação que lhe
é feita. É a oportunidade que o acusado tem de se
dirigir diretamente ao magistrado, quer para apresentar
a versão da defesa acerca da imputação que recai sobre
a sua pessoa, podendo, inclusive, indicar meios de
prova, quer para confessar, ou até mesmo para
permanecer em silêncio, fornecendo apenas elementos
relativos à sua qualificação.

Confissão Confissão é a admissão feita por aquele a quem é


atribuída à prática da infração penal da veracidade da
imputação. Também é conhecida como testemunho
duplamente qualificado: do ponto de vista objetivo,
porque recai sobre fatos contrários ao interesse de
quem confessa; e do ponto de vista subjetivo, porque
provém do próprio acusado, e não de terceiro.

Declarações do ofendido Sempre que possível, o ofendido será qualificado e


perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem
seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa
indicar, tomando-se por termo as suas declarações.

75
Prova testemunhal Considera-se testemunha toda pessoa desinteressada e
capaz de depor que, perante a autoridade judiciária,
declara o que sabe acerca de fatos percebidos por seus
sentidos que interessam à decisão da causa. No âmbito
processual penal, qualquer pessoa pode ser testemunha
(CPP, art. 202), desde que seja dotada de capacidade
física para depor.

Reconhecimento de pessoas e Trata-se de meio de prova por meio do qual alguém


coisas identifica uma pessoa ou coisa que lhe é mostrada com
pessoa ou coisa que já havia visto, ou que já conhecia,
em ato processual praticado perante a autoridade
policial ou judiciária, segundo o procedimento previsto
em lei.

Acareação A acareação é o ato processual consistente na


confrontação das declarações de dois ou mais
acusados, testemunhas ou ofendidos, já ouvidos, e
destinado a obter o convencimento do juiz sobre a
verdade de algum fato em que as declarações dessas
pessoas forem divergentes.

Prova documental Numa concepção mais ampla, e com base em uma


interpretação progressiva, tem-se como documento
qualquer objeto representativo de um fato ou ato
relevante, conceito no qual podemos incluir fotografias,
filmes, desenhos, esquemas, e-mails, figuras
digitalizadas, planilhas, croquis, etc.

Busca e apreensão A busca não se confunde com a apreensão. A busca


consiste na diligência cujo objetivo é o de encontrar
objetos ou pessoas. A apreensão deve ser tida como
medida de constrição, colocando sob custódia
determinado objeto ou pessoa.

76
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Da prova

 Código de Processo Penal: Art. 155 ao 157.

 Súmula n.º 74, STJ.

Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil.

 Súmula n.º 545, STJ.

Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à ATENUANTE
prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.

 Súmula n.º 361, STF.

No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver funcionado

anteriormente na diligência da apreensão.

CUIDADO: STJ: A Súmula 361 do STF é aplicada apenas aos peritos não oficiais, já que o art. 159 do CPP exige
apenas 1 perito oficial (Inf. 479 – jun/11).

 Súmula n.º 273, STJ.

Intimada à defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da data da audiência no juízo
deprecado.

STF: Apesar do que dispõe a S. 273 do STJ, se o réu for assistido pela Defensoria Pública e, na sede do juízo
deprecado, a instituição estiver instalada e estruturada, será obrigatória a intimação da Defensoria Pública acerca
do dia da audiência, sob pena de nulidade.

 Súmula n.º 155, STF.

É relativa à nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para inquirição de
testemunha.

Do exame de corpo de delito, da cadeia de Custódia e das perícias em geral

 Código de Processo Penal: Art. 158 ao 184.

77
Do interrogatório do acusado

 Código de Processo Penal: Art. 185 ao 196.

Da confissão

 Código de Processo Penal: Art. 197 ao 200.

Do ofendido

 Código de Processo Penal: Art. 201.

Das testemunhas

 Código de Processo Penal: Art. 202 ao 225.

Do reconhecimento de pessoas e coisas

 Código de Processo Penal: Art. 226 ao 228.

Da acareação

 Código de Processo Penal: Art. 229 ao 230.

Dos documentos

 Código de Processo Penal: Art. 231 ao 238.

Dos indícios

 Código de Processo Penal: Art. 239.

Da busca e da apreensão

 Código de Processo Penal: Art. 240 ao 250.

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JURISPRUDÊNCIA

Advogado que teve seus poderes revogados pela cliente, que pediu
de volta os documentos do caso, não pode depor como testemunha
no processo porque a conduta da parte demonstra que ela não
liberou o causídico do sigilo profissional que ele deve respeitar

 STF. 2ª Turma. Rcl 37235/RR. Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

A vítima contratou um advogado para representar seus interesses no processo criminal. Sucede que, logo no início
do processo, ela e o advogado se desentenderam e a vítima revogou expressamente os poderes que havia conferido
ao advogado, proibindo-o de atuar no caso. Além disso, requereu que ele devolvesse qualquer documento que

estivesse em sua posse e que fosse relacionado com o fato apurado. Ao saber disso, o réu pediu a oitiva do

advogado como testemunha no processo penal. Esse advogado não poderá ser ouvido como testemunha. Para
que o advogado possa prestar seu testemun o é indispensável que haja o consentimento válido do interessado

direto na manutenção do segredo (cliente). Mesmo que a parte interessada faça isso, ou seja, mesmo que ela
autorize que o profissional revele os fatos resguardados pelo sigilo, ainda assim ele é quem irá decidir se irá dar

ou não seu testemunho. No caso concreto, o advogado que foi arrolado como testemunha teve seus poderes
como patrono da interessada expressamente revogados, vedando-se sua atuação no caso. Além disso, requereu-

se que devolvesse qualquer documento relacionado ao fato que a ele tivesse sido entregue. Isso significa que a
cliente não liberou o advogado do dever de manter o segredo profissional sobre as informações e documentos de
que teve conhecimento em razão da atuação como defensor técnico. Portanto, o advogado não pode testemunhar
sobre fatos de que tomou conhecimento em razão de seu ofício, como para o exercício de sua atuação profissional
a partir da narração apresentada pelo ciente e eventuais documentos por ele entregues.

É constitucional lei estadual que transforma o cargo de


datiloscopista da Polícia Civil em perito papiloscopista

 (ADI 5182, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 19/12/2019, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-065 DIVULG 19-03-2020 PUBLIC 20-03-2020)

O art. 3º da LC 156/2010, do Estado de Pernambuco redenominou o cargo de datiloscopista policial para perito
papiloscopista, no âmbito da polícia civil. Para o STF, essa previsão é constitucional. A competência para dispor

79
sobre os peritos oficiais da polícia civil é concorrente, nos termos do art. 24, XVI, da CF/88, que prevê que compete
à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre organização, garantias, direitos e deveres

dos policiais civis. A União, cumprindo o que prevê o art. 24, XVI, da CF/88, editou as normas gerais sobre o tema,
ao aprovar a Lei nº 12.030/2009, que “dispõe sobre as perícias oficiais”. A LC estadual 156/2010 não possui nenhuma

antinomia com a Lei federal nº 12.030/2009. O art. 5º da Lei nº 12.030/2009 não foi exaustivo ao elencar
determinados peritos. Podem existir outros. Além disso, a Lei nº 12.030/2009 não proibiu que se equiparassem os
cargos de datiloscopista ou papiloscopista. A expressão “perito criminal” abrange, portanto, todos os peritos oficiais
que possuem a incumbência estatal de elucidar crimes, sendo possível aventar um rol bem mais amplo de agentes

que atuam como peritos oficiais.

Não viola a SV 14 quando se nega que o investigado tenha acesso a


peças que digam respeito a dados sigilosos de terceiros e que não
estejam relacionados com o seu direito de defesa

 STF. 1ª Turma. Rcl 25872 AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/12/2019 (Info 964).

Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de justiça será possível que o investigado tenha acesso

amplo autos, inclusive a eventual relatório de inteligência financeira do COAF, sendo permitido, contudo, que se

negue o acesso a peças que digam respeito a dados de terceiros protegidos pelo segredo de justiça. Essa restrição
parcial não viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o acesso de um dos investigados a informações,

de caráter privado de diversas pessoas, que não dizem respeito ao direito de defesa dele.

É possível o compartilhamento, sem autorização judicial, dos


relatórios de inteligência financeira da UIF e do procedimento
fiscalizatório da Receita Federal com a Polícia e o Ministério Público

 STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019 (repercussão geral –
Tema 990) (Info 962).

1. É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra do procedimento


fiscalizatório da Receita Federal do Brasil (RFB), que define o lançamento do tributo, com os órgãos de persecução

penal para fins criminais, sem a obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo
das informações em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional. 2. O
compartilhamento pela UIF e pela RFB, referente ao item anterior, deve ser feito unicamente por meio de
comunicações formais, com garantia de sigilo, certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos
efetivos de apuração e correção de eventuais desvios.

80
É ilegal a decisão judicial que autoriza busca e apreensão coletiva
em residências, feita de forma genérica e indiscriminada

 (AgRg no HC 435.934/RJ, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
05/11/2019, DJe 20/11/2019)

Configurada a ausência de individualização das medidas de apreensão a serem cumpridas, o que contraria diversos

dispositivos legais, dentre eles os arts. 240, 242, 244, 245, 248 e 249 do Código de Processo Penal, além do art. 5º,
XI, da Constituição Federal: a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o
dia, por determinação judicial. Caracterizada a possibilidade concreta e iminente de ofensa ao direito fundamental

à inviolabilidade do domicílio. 2. Indispensável que o mandado de busca e apreensão tenha objetivo certo e pessoa

determinada, não se admitindo ordem judicial genérica e indiscriminada de busca e apreensão para a entrada da
polícia em qualquer residência. Constrangimento ilegal evidenciado. 3. Agravo regimental provido. Ordem
concedida para reformar o acórdão impugnado e declarar nula a decisão que decretou a medida de busca e

apreensão coletiva, genérica e indiscriminada contra os cidadãos e cidadãs domiciliados nas comunidades atingidas

pelo ato coator (Processo n. 0208558-76.2017.8.19.0001).

É ilícita a prova obtida por meio de revista íntima realizada com base
unicamente em denúncia anônima

 (REsp 1695349/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 08/10/2019,
DJe 14/10/2019)

1. A acusada foi submetida à realização de revista íntima com base, tão somente, em uma denúncia anônima feita
ao presídio no dia dos fatos informando que ela tentaria entrar no presídio com drogas, sem a realização, ao que
tudo indica, de outras diligências prévias para apurar a veracidade e a plausibilidade dessa informação. 2. No caso,

houve apenas "denúncia anônima" acerca de eventual traficância praticada pela ré, incapaz, portanto, de configurar,
por si só, fundadas suspeitas a autorizar a realização de revista íntima. 3. Se não havia fundadas suspeitas para a
realização de revista na acusada, não há como se admitir que a mera constatação de situação de flagrância -
localização, no interior da vagina, de substância entorpecente (45,2 gramas de maconha) -, posterior à revista,
justifique a medida, sob pena de esvaziar-se o direito constitucional à intimidade, à honra e à imagem do indivíduo.

4. Em que pese eventual boa-fé dos agentes penitenciários, não havia elementos objetivos e racionais que
justificassem a realização de revista íntima. Eis a razão pela qual são ilícitas as provas obtidas por meio da medida

invasiva, bem como todas as que delas decorreram (por força da Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada), o que
impõe a absolvição dos acusados, por ausência de provas acerca da materialidade do delito. 5. Recurso especial

não provido.

81
A realização de perícia antropológica constitui-se em importante
instrumento no caso de indígena acusado de crime de homicídio a
fim de assistir as partes nos debates em plenário

 (RHC 86.305/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 01/10/2019,
DJe 18/10/2019)
1. Os recorrentes, que pertencem à etnia Kaingang, durante a instrução relativa à primeira fase do
procedimento do Tribunal do Júri, tiveram permanente assistência de defesa técnica por eles constituída,
que os acompanhou em todos os atos processuais, sem que, em nenhum momento até o encerramento
da instrução criminal, tenham arguido algum prejuízo e solicitado o acompanhamento de intérprete ou a
tradução de documentos do processo. 2. Tanto o juiz de primeiro grau quanto o tribunal assinalaram que
os acusados, ao longo dos atos processuais, se comunicaram livremente em língua portuguesa e
demonstraram plena capacidade de compreensão quanto aos termos da acusação, e salientaram que, dos
elementos trazidos aos autos, "os indígenas possuem pleno entendimento dos fatos delituosos a eles
imputados, não havendo a necessidade de tradução da peça acusatória, até porque, a defesa dos pacientes
está sendo realizada por procuradores constituídos pelos próprios acusados". Concluir em sentido contrário,
como pretendem os recorrentes, esbarra na impossibilidade de, em habeas corpus, realizar-se incursão
vertical sobre as provas constantes dos autos da ação penal em curso. 3. Outrossim, o processo encontra-
se ainda na primeira fase do procedimento inerente aos crimes dolosos contra a vida, destinada a tão
somente avaliar a existência ou não de prova da materialidade do crime e de indícios suficientes de autoria,
nada impedindo que se renove a prova perante o juízo natural da causa - o Tribunal do Júri - se, por
hipótese, vierem os recorrentes a ser pronunciados. 4. Por sua vez, a realização do estudo antropológico
se apresenta como relevante instrumento de melhor compreensão dos contornos socioculturais dos fatos
analisados, bem como dos próprios indíviduos a quem são imputadas as condutas delitivas, de modo a
auxiliar o Juízo de primeiro grau na imposição de eventual reprimenda, mormente diante do que prescreve
o art. 56 do Estatuto do Índio, segundo o qual, "[n]o caso de condenação de índio por infração penal, a
pena deverá ser atenuada e na sua aplicação o Juiz atenderá também ao grau de integração do silvícola".
5. Recurso parcialmente provido apenas para determinar que, na hipótese eventual de serem os réus
pronunciados, se realize estudo antropológico antes da data designada para a sessão do Tribunal do Júri,
cassada a liminar deferida, de modo a restabelecer o regular trâmite da Ação Penal n. 5004459-
38.2016.404.7117.

A perícia realizada por perito papiloscopista não pode ser


considerada prova ilícita nem deve ser excluída do processo

82
 STF. 1ª Turma. HC 174400 AgR/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 24/9/2019 (Info 953).

O exame de corpo de delito deve ser realizado por perito oficial (art. 159 do CPP). Do ponto de vista estritamente
formal, o perito papiloscopista não se encontra previsto no art. 5º da Lei nº 12.030/2009, que lista os peritos oficiais

de natureza criminal. Apesar disso, a perícia realizada por perito papiloscopista não pode ser considerada prova
ilícita nem deve ser excluída do processo. Os peritos papiloscopistas são integrantes de órgão público oficial do
Estado com diversas atribuições legais, sendo considerados órgão auxiliar da Justiça. Não deve ser mantida decisão
que determinava que, quando o réu fosse levado ao Plenário do Júri, o juiz-presidente deveria esclarecer aos

jurados que os papiloscopistas – que realizaram o laudo pericial – não são peritos oficiais. Esse esclarecimento

retiraria a neutralidade do conselho de sentença. Isso porque, para o jurado leigo, a afirmação, pelo juiz, no sentido
de que o laudo não é oficial equivale a tachar de ilícita a prova nele contida. Assim, cabe às partes, respeitado o
contraditório e a ampla defesa, durante o julgamento pelo tribunal do júri, defender a validade do documento ou

impugná-lo.

É ilícita a prova obtida mediante conduta da autoridade policial que


atende, sem autorização, o telefone móvel do acusado e se passa
pela pessoa sob investigação

 (HC 511.484/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 15/08/2019,
DJe 29/08/2019)

Não tendo a autoridade policial permissão, do titular da linha telefônica ou mesmo da Justiça, para ler mensagens

nem para atender ao telefone móvel da pessoa sob investigação e travar conversa por meio do aparelho com
qualquer interlocutor que seja se passando por seu dono, a prova obtida dessa maneira arbitrária é ilícita. 2. Tal
conduta não merece o endosso do Superior Tribunal de Justiça, mesmo que se tenha em mira a persecução penal
de pessoa supostamente envolvida com tráfico de drogas. Cabe ao magistrado abstrair a prova daí originada do

conjunto probatório porque alcançada sem observância das regras de Direito que disciplinam a execução do jus
puniendi. 3. No caso, a condenação do paciente está totalmente respaldada em provas ilícitas, uma vez que, no
momento da abordagem ao veículo em que estavam o paciente, o corréu e sua namorada, o policial atendeu ao
telefone do condutor, sem autorização para tanto, e passou-se por ele para fazer a negociação de drogas e provocar
o flagrante. Esse policial também obteve acesso, sem autorização pessoal nem judicial, aos dados do aparelho de

telefonia móvel em questão, lendo mensagem que não lhe era dirigida. 4. O vício ocorrido na fase investigativa
atinge o desenvolvimento da ação penal, pois não há prova produzida por fonte independente ou cuja descoberta
seria inevitável. Até o testemunho dos policiais em juízo está contaminado, não havendo prova autônoma para dar

base à condenação. Além da apreensão, na hora da abordagem policial, de cocaína (2,8 g), de maconha (1,26 g),
de celulares e de R$ 642,00 (seiscentos e quarenta e dois reais) trocados, nada mais havia no carro, nenhum
petrecho comumente usado na traficância (caderno de anotações, balança de precisão, material para embalar droga,

83
etc.). Somente a partir da leitura da mensagem enviada a um dos telefones e da primeira ligação telefônica atendida
pelo policial é que as coisas se desencadearam e deram ensejo à prisão em flagrante por tráfico de drogas e,

depois, à denúncia e culminaram com a condenação. 5. Ordem concedida para anular toda a ação penal.

A determinação de busca e apreensão nas dependências da Câmara


dos Deputados ou do Senado Federal pode ser decretada por juízo
de 1ª instância se o investigado não for congressista Duplo juízo de
validade de uma mesma prova Mesmo que haja usurpação da
competência do STF, os elementos informativos colhidos e que não
precisavam de autorização judicial são válidos

 STF. Plenário. Rcl 25537/DF e AC 4297/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 26/6/2019 (Info
945).

A determinação de busca e apreensão nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal pode
ser decretada por juízo de 1ª instância se o investigado não for congressista A Constituição, ao disciplinar as

imunidades e prerrogativas dos parlamentares, não conferiu exclusividade ao STF para determinar medidas de

busca e apreensão nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. Assim, a determinação de

busca e apreensão nas dependências do Congresso Nacional, desde que não direcionada a apurar conduta de
congressista, não se relaciona com as imunidades e prerrogativas parlamentares. Isso porque, ao contrário do que
ocorre com as imunidades diplomáticas, as prerrogativas e imunidades parlamentares não se estendem aos locais

onde os parlamentares exercem suas atividades nem ao corpo auxiliar. O fato de o endereço de cumprimento da

medida coincidir com as dependências do Congresso Nacional não atrai, de modo automático e necessário, a
competência do STF. É necessário examinar, no caso concreto, se a investigação tinha congressista como alvo. O
STF não detém competência exclusiva para apreciação de pedido de busca e apreensão a ser cumprida no

Congresso Nacional.

Duplo juízo de validade de uma mesma prova

Eventual nulidade decorrente da inobservância da prerrogativa de foro não se estende aos agentes que não se

enquadrem nessa condição. Ex: Polícia Federal investiga 5 pessoas que não têm foro por prerrogativa de função;
ocorre que havia indícios da participação de 3 Senadores; logo, essa investigação criminal deveria ter a supervisão
do STF, a quem competiria autorizar as medidas cautelares; isso, contudo, não acontece; o juiz de 1ª instância
autoriza a interceptação telefônica das 5 pessoas formalmente investigadas; essa interceptação será considerada
nula em relação aos 3 Senadores (por usurpação da competência do STF), mas será válida para os 2 investigados
sem foro. Assim, a usurpação da competência do STF não contamina os elementos probatórios colhidos no que se

84
refere aos investigados que não possuem foro por prerrogativa de função. Podem ser utilizadas contra eles. Mesmo
que haja usurpação da competência do STF, os elementos informativos colhidos e que não precisavam de

autorização judicial são válidos. Ex: Polícia Federal investiga 5 pessoas que não têm foro por prerrogativa de função;
ocorre que havia indícios da participação de 3 Senadores; logo, essa investigação criminal deveria ter a supervisão

do STF, a quem competiria autorizar as medidas cautelares; isso, contudo, não acontece; a Polícia ouve uma série
de testemunhas sobre o caso; esses depoimentos não serão anulados; isso porque se a prova produzida não
precisava de autorização judicial (como é o caso da mera oitiva de testemunhas), não há motivo para que ela seja
anulada. Em suma: mesmo que tenha sido usurpada a competência do STF para supervisionar o inquérito, não

deverão ser desconstituídos (anulados) os atos de investigação que não precisavam de autorização judicial, como
é o caso da tomada de depoimentos. Por outro lado, as provas que foram colhidas sem autorização do STF (com
decisão apenas do juízo de 1ª instância) deverão ser anuladas, mas essa anulação se aplica somente para os agentes

detentores de foro por prerrogativa (tais provas continuam válidas para os processos envolvendo os investigados
sem foro).

É ilícita a revista pessoal realizada por agente de segurança privada

 (HC 470.937/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 04/06/2019,
DJe 17/06/2019)

1. Diante da hipótese de habeas corpus substitutivo de recurso próprio, a impetração não deve ser conhecida,

segundo orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal - STF e do Superior Tribunal de Justiça - STJ.

Contudo, ante as alegações expostas na inicial, afigura-se razoável a análise do feito para verificar a existência de
eventual constrangimento ilegal. Não é cabível a utilização do habeas corpus como substitutivo do meio processual
adequado. 2. Discute-se nos autos a validade da revista pessoal realizada por agente de segurança privada da

Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM. 3. Segundo a Constituição Federal - CF e o Código de

Processo Penal - CPP somente as autoridades judiciais, policiais ou seus agentes, estão autorizados a realizarem a
busca domiciliar ou pessoal. 4. Habeas corpus não conhecido. Todavia, concedida a ordem, de ofício, para absolver

o paciente, com fulcro no art. 386, inciso II, do CPP.

Lei estadual pode exigir que a perícia feita em vítima do sexo


feminino seja feita por legista mulher, mas desde que isso não
importe retardamento ou prejuízo da diligência

 STF. Plenário. ADI 6039 MC/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/3/2019 (Info 933).

Lei estadual previu que se a vítima do estupro for pessoa do sexo feminino menor de 18 anos, esta vítima deverá
ser examinada, obrigatoriamente, por uma legista mulher, que irá fazer a perícia. O STF concedeu medida cautelar

em ADI para dar interpretação conforme a Constituição a esse dispositivo. Segundo o STF, as crianças e adolescentes

85
do sexo feminino vítimas de violência deverão ser, obrigatoriamente, examinadas por legista mulher, mas desde
que isso não importe retardamento ou prejuízo da diligência. É preciso conciliar a proteção de crianças e

adolescentes mulheres vítimas de violência e o acesso à Justiça. Embora essa norma estadual vise proteger as
vítimas de estupro na realização da perícia, o efeito resultante foi contrário, porque peritos homens estavam se

recusando a fazer o exame nas menores de idade em razão da Lei. Dessa forma, as investigações não tinham
prosseguimento. Vale ressaltar, por fim, que o Estado-membro tinha competência legislativa para editar esta norma
(não há inconstitucionalidade formal). Isso porque esta Lei estadual não trata sobre direito processual penal (art.
22, I, da CF/88), mas sim sobre procedimento em matéria processual, assunto que é de competência concorrente

(art. 24, XI, da CF/88).

São ilegais as provas obtidas por policial militar que, designado para
coletar dados nas ruas como agente de inteligência, passa a atuar,
sem autorização judicial, como agente infiltrado em grupo criminoso

 (HC 147837, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 26/02/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-138 DIVULG 25-06-2019 PUBLIC 26-06-2019)

Habeas corpus. 2. Infiltração de agente policial e distinção com agente de inteligência. 3. Provas colhidas por agente
inicialmente designado para tarefas de inteligência e prevenção genérica. Contudo, no curso da referida atribuição,
houve atuação de investigação concreta e infiltração de agente em grupo determinado, por meio de atos

disfarçados para obtenção da confiança dos investigados. 4. Caraterização de agente infiltrado, que pressupõe

prévia autorização judicial, conforme o art. 10 da Lei 12.850/13. 5. Prejuízo demostrado pela utilização das
declarações do agente infiltrado na sentença condenatória. 6. Viabilidade da cognição em sede de habeas corpus.

7. Ordem parcialmente concedida para declarar a ilicitude dos atos da infiltração e dos depoimentos prestados.

Nulidade da sentença condenatória e desentranhamento de eventuais provas contaminadas por derivação.

É cabível RESE contra decisão que indefere a produção antecipada


de prova prevista no art. 366 do CPP

 (EREsp 1630121/RN, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 28/11/2018, DJe 11/12/2018)

1. Tendo em conta que o art. 3º do Código de Processo Penal admite expressamente tanto a realização de
interpretação extensiva quanto de aplicação analógica na seara processual penal, a jurisprudência tem entendido
possível a utilização de interpretação extensiva para se admitir o manejo do Recurso em Sentido Estrito contra
86
decisões interlocutórias de 1º grau que, apesar de não constarem literalmente no rol taxativo do art. 581 do CPP,
tratam de hipótese concreta que se assemelha àquelas previstas nos incisos do artigo. Exemplos disso se tem no

cabimento de recurso em sentido estrito contra a decisão que não recebe o aditamento à denúncia ou à queixa
(inciso I do art. 581 do CPP) e na decisão que delibera sobre o sursis processual (inciso XI do art. 581 do CPP). 2.

"Cabe a aplicação analógica do inciso XI do artigo 581 do Código de Processo Penal aos casos de suspensão
condicional do processo, viabilizada, aliás, pela subsidiariedade que o artigo 92 da Lei nº 9.099/95 lhe atribui".
(REsp 601.924/PR, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 28/09/2005, DJ
07/11/2005, p. 339 e REsp 263.544/CE, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em

12/03/2002, DJ 19/12/2002, p. 457). 3. Situação em que, não encontrado o réu, o processo penal foi suspenso,
conforme determina a primeira parte do art. 366 do CPP, e o Ministério Público pugnou pela oitiva das testemunhas
da acusação, ao argumento de que o decurso do tempo pode causar relevante prejuízo à lembrança que elas têm

dos fatos, prejudicando o objetivo da persecução penal. 4. Cabível o manejo de recurso em sentido estrito contra
decisão que ordenar a suspensão do processo, as providências de natureza cautelar advindas de tal decisão devem,
como ela, ser impugnáveis pelo mesmo recurso. Por consequência, a decisão interlocutória de primeiro grau que

indefere pedido de produção antecipada de provas, nos casos de sursis processual, também desafia recurso em

sentido estrito.

É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp


para que a Polícia acompanhe as conversas do suspeito pelo
WhatsApp Web

 (RHC 99.735/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 27/11/2018, DJe
12/12/2018)

É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp via Código QR para acesso no WhatsApp Web.

Também são nulas todas as provas e atos que dela diretamente dependam ou sejam consequência, ressalvadas
eventuais fontes independentes. Não é possível aplicar a analogia entre o instituto da interceptação telefônica e o

espelhamento, por meio do WhatsApp Web, das conversas realizadas pelo aplicativo WhatsApp.

Busca e apreensão ordenada contra o marido da Senadora, mas cujo


cumprimento ocorreu no imóvel funcional onde ambos residem:
deve-se observar as regras de foro privativo

 STF. 2ª Turma. Rcl 24473/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/6/2018 (Info 908).

Paulo Bernardo era investigado e o juiz de 1º grau determinou, contra ele, busca e apreensão. Ocorre que Paulo
Bernardo residia com a sua esposa, a Senadora Gleisi Hoffmann, em um imóvel funcional cedido pelo Senado.

87
Desse modo, a busca e apreensão foi realizada neste imóvel funcional. O STF entendeu que esta prova foi ilícita
(art. 5º, LVI, da CF/88) e determinou a sua inutilização e o desentranhamento dos autos de todas as provas obtidas

por meio da referida diligência. O Supremo entendeu que a ordem judicial de busca e apreensão foi ampla e vaga,
sem prévia individualização dos bens que seriam de titularidade da Senadora e daqueles que pertenciam ao seu

marido. Diante disso, o STF entendeu que o juiz, ao dar essa ordem genérica, acabou por também determinar
medida de investigação contra a própria Senadora. Logo, como ela tinha foro por prerrogativa de função no STF
(art. 102, I, “b”, da CF/88), somente o Supremo poderia ter ordenado qualquer medida de investigação contra a
parlamentar federal. Isso significa que o juiz de 1ª instância usurpou uma competência que era do STF. Reconheceu,

por conseguinte, a ilicitude da prova obtida (art. 5º, LVI, da CF/88) e de outras diretamente dela derivadas.

Indeferimento de todas as testemunhas da defesa sob o argumento


de que seriam protelatórias: constrangimento ilegal

 STF. 2ª Turma. HC 155363/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/5/2018 (Info 901).

Na fase de defesa prévia, o réu arrolou uma série de testemunhas, mas o juiz negou a oitiva afirmando que o
requerimento seria protelatório, haja vista que as testemunhas não teriam, em tese, vinculação com os fatos

criminosos imputados. O STF entendeu que houve constrangimento ilegal. O direito à prova é expressão de uma
inderrogável prerrogativa jurídica, que não pode ser, arbitrariamente, negada ao réu. O princípio do livre

convencimento motivado (art. 400, § 1º, do CPP) faculta ao juiz o indeferimento das provas consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. No entanto, no caso concreto houve o indeferimento de todas as
testemunhas de defesa. Dessa forma, houve ofensa ao devido processo legal, visto que frustrou a possibilidade de

o acusado produzir as provas que reputava necessárias à demonstração de suas alegações.

A violação do art. 212 do CPP enseja nulidade de caráter relativo

 (AgRg no REsp 1712039/RO, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
03/05/2018, DJe 09/05/2018)

1. Segundo o entendimento vigente neste Superior Tribunal de Justiça, a modificação de decisão por meio de
agravo regimental requer a apresentação de novos fundamentos capazes de alterar o posicionamento
anteriormente firmado. 2. No caso em exame, o agravante insurge-se contra decisão proferida por esta relatoria,
no julgamento monocrático de recurso especial interposto nesta Corte Superior, que desproveu o apelo nobre por
constatar que o teor do acórdão impugnado encontrava-se em sintonia com a jurisprudência vigente neste

88
Sodalício. 3. Nos termos do posicionamento jurisprudencial firmado neste Superior Tribunal de Justiça, a simples
ausência do órgão acusatório na audiência de oitiva de testemunhas não enseja a nulidade do ato, quando não

restar devidamente demonstrada a ocorrência de prejuízos. Precedentes. 4. A interpretação conferida ao art. 212,
do Código de Processo Penal é aquela que confere às nulidades nele disciplinadas o caráter relativo, necessitando,

portanto, da comprovação dos prejuízos para que seja reconhecida a invalidade do ato judicial. 5. Agravo improvido.

Mesmo sem autorização judicial, polícia pode acessar conversas do


Whatsapp da vítima morta, cujo celular foi entregue pela sua esposa

 (RHC 86.076/MT, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe 12/12/2017)

1. A denúncia não descreve a conduta do recorrente quanto à imputação de porte ilegal de arma de fogo, não
sendo possível identificar como teria ele contribuído para a consecução desse delito. 2. Não há ilegalidade na
perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia na hipótese em que seu proprietário - a vítima - foi morto,

tendo o referido telefone sido entregue à autoridade policial por sua esposa, interessada no esclarecimento dos
fatos que o detinha, pois não havia mais sigilo algum a proteger do titular daquele direito. 3. Recurso parcialmente

provido, apenas para trancar a ação penal em relação ao recorrente, quanto à imputação concernente ao crime

previsto no art. 14 da Lei n. 10.826/2003, por inépcia formal da denúncia, sem prejuízo de que outra seja oferecida.

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QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Banca: VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto) A doutrina denomina “confissão qualificada”
aquela em que o acusado

A) admite a prática criminosa, mas alega, em sua defesa, alguma causa que o beneficia, como
uma excludente de ilicitude.
B) não só confessa os fatos cometidos por si, mas também aponta os demais coautores ou
partícipes da empreitada criminosa.
C) fica em silêncio; contudo, tal modalidade não fora recepcionada pela Constituição de 1988,
que garante nenhum prejuízo ao acusado nesses casos.
D) colabora ativamente com a apuração do crime, inclusive interrompendo ou impedindo que
os fatos se consumem.
E) se retrata da negativa dos fatos ocorrida perante a autoridade policial e admite-os
espontaneamente perante o magistrado.

Comentário:

Tal como assevera a assertiva A, confissão qualificada ocorre quando o réu admite a prática do
fato, no entanto, alega, em sua defesa, teses defensivas descriminantes ou exculpantes, como é

o caso da legítima defesa, excludente de antijuridicidade prevista no artigo 23 do Código Penal.

Importante lembrar do precedente: a confissão qualificada não é suficiente para justificar a


atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal (Precedentes: HC 74.148/GO, Rel. Min.
Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 17/12/1996 e HC 103.172/MT, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira

Turma, DJe de 24/09/2013).


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Gabarito: Letra “A”.

Questão 2

(Banca: MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça Substituto) De acordo com o Código
de Processo Penal, é incorreto afirmar:

A) Se o defensor não puder comparecer à audiência, deverá justificar o motivo até a abertura
do ato. Quedando inerte, o juiz não determinará o adiamento de ato algum do processo,
devendo nomear defensor substituto, ainda que provisoriamente ou só para o efeito do ato.
B) O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para
qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de
residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.
C) Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz
poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida por
oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública.
D) A expedição de carta precatória para a oitiva de testemunha suspenderá a instrução criminal
pelo prazo marcado para o cumprimento. Ainda que escoado o prazo, é vedada a realização do
julgamento, devendo aguardar a devolução da carta cumprida pelo juízo deprecado.

Comentário:

Da leitura das assertivas em tela, percebe-se que a única que não se coaduna com o texto legal
é a alternativa D, pois, nos exatos ditames do art. 222, § 1°, do CPP, “a expedição da precatória

não suspenderá a instrução criminal”.

Gabarito: Letra “D”.

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Questão 3

(Banca: MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça Substituto) Conforme prescreve o


Código de Processo Penal, sobre a prova é incorreto afirmar:

A) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, inclusive as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
B) De acordo com os julgados do Superior Tribunal de Justiça, é legítimo o reconhecimento
pessoal ainda quando realizado de modo diverso do previsto no art. 226 do Código de Processo
Penal, servindo o paradigma legal como mera recomendação.
C) Os documentos originais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante que
justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Ministério
Público, ser entregues à parte que os produziu, ficando traslado nos autos.
D) O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado
da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a
mantenham ou modifiquem. Por opção dele, as comunicações poderão ser feitas por meio
eletrônico.

Comentário:

Está correta a alternativa A, por se amoldar ao teor do art. 155 do CPP, o qual dispõe que “o
juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial,
não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na

investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”.

Gabarito: Letra “A”.

92
Questão 4

(Banca: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) Ao tratar da prova, o Código
de Processo Penal estabelece que serão considerados documentos quaisquer escritos,
instrumentos ou papéis, públicos ou particulares. Em relação aos documentos em língua
estrangeira, eles

A) só poderão ser juntados aos autos, traduzidos ou não, mediante requerimento das partes.
B) sendo originários de órgãos públicos não necessitam de tradução, enquanto que os
particulares deverão sempre ser traduzidos.
C) só poderão ser juntados aos autos após necessariamente traduzidos por tradutor público ou
pessoa idônea nomeada pela autoridade.
D) poderão ser juntados aos autos, mas deverão ser posteriormente traduzidos por tradutor
público ou pessoa idônea nomeada pela autoridade.
E) poderão ser juntados aos autos, mesmo sem tradução, se a crivo do julgador esta se revele
desnecessária e não cause prejuízo às partes.

Comentário:

A alternativa correta é a assertiva “E”, por retratar o inteiro teor do art. 236 do CPP, segundo o
qual “os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela
autoridade”.

Gabarito: Letra “E”.

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Questão 5

(Banca: FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) Seguindo a tendência da


legislação brasileira de estabelecer prioridades de atendimento, o Código de Processo Penal
estabelece que se dará prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar
de crime que envolva violência doméstica e familiar contra mulher, bem como

A) nos crimes praticados contra grupos vulneráveis, mediante requisição da autoridade policial,
judiciária ou do Ministério Público.
B) nos crimes de feminicídio, ainda que não relacionado à violência doméstica ou familiar.
C) em qualquer crime contra a pessoa ou o patrimônio de criança, adolescente, idoso ou pessoa
com deficiência.
D) na violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.
E) nos crimes contra a dignidade sexual.

Comentário:

Está correta a assertiva D, como se vê da leitura do art. 158, parágrafo único, do CPP, segundo
o qual “dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime
que envolva: I - violência doméstica e familiar contra mulher; II - violência contra criança,

adolescente, idoso ou pessoa com deficiência”.

Gabarito: Letra “D”.

94
Questão 6

(Banca: FCC - 2019 - TJ-MA - Oficial de Justiça) O exame de corpo de delito

A) deve ser realizado por perito oficial ou pelo próprio juiz.


B) deve ser realizado quando se mostrar ausente vestígio do crime, assegurado o direito de
apresentação de quesitos pelas partes.
C) será feito de maneira indireta no caso de competência do Tribunal do Júri.
D) poderá ser substituído pela acareação ou pelo reconhecimento em crimes contra a fé pública.
E) será realizado com prioridade em caso de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Comentário:

A justificativa para a assertiva E estar correta é a mesma da questão anterior, pois, nos termos
do art. 158, parágrafo único, do CPP, “”dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de
delito quando se tratar de crime que envolva: I - violência doméstica e familiar contra mulher;

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência”.

Gabarito: Letra “E”.

95
Questão 7

(Banca: MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça) Prescreve o Código de Processo


Penal, quanto ao reconhecimento de pessoa, que não terá aplicação na fase da instrução criminal
ou em plenário de julgamento a disposição de que se houver razão para recear que a pessoa
chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a
verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta
não veja aquela.

( ) Certo
( ) Errado

Comentário:

A assertiva está correta porque decorre da aplicação do art. 226 do CPP, o qual dispõe que,
“quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela
seguinte forma: (...) III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da

pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; (...)

Ademais, estabelece o parágrafo único do supracitado dispositivo legal que “o disposto no n III

deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento”.

Gabarito: Certo.

96
Questão 8

(Banca: MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça) Preceitua o Código de Processo


Penal, na primeira parte do interrogatório, que o interrogando será perguntado sobre a
residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade,
se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, vida pregressa, notadamente
se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do processo, se houve
suspensão condicional ou condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu e outros dados
familiares e sociais.

( ) Certo
( ) Errado

Comentário:

Preceitua o Código de Processo Penal, na primeira parte do interrogatório, que o interrogando


será perguntado sobre a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar
onde exerce a sua atividade, se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir,
vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual
o juízo do processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual a pena imposta, se

a cumpriu e outros dados familiares e sociais.

A esse respeito, dispõe o art. 187 do CPP que “o interrogatório será constituído de duas partes:
sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos. (...)”, estabelecendo, ainda, o § 1° do referido
dispositivo que, “na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a residência, meios
de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, vida pregressa,
notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo do
processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual a pena imposta, se a cumpriu
e outros dados familiares e sociais”, bem como dispõe o § 2° do mesmo artigo que, “na segunda

97
parte será perguntado sobre: (...) V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por
inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas”.

Gabarito: Errado.

Questão 9

(Banca: FADESP - 2019 - Perito Criminal) Acerca da prova pericial, é correto afirmar que

A) o exame, na falta de perito oficial, será realizado por uma pessoa idônea, portadora de
diploma de curso superior preferencialmente na área específica, entre as que tiverem habilitação
técnica relacionada com a natureza do exame.
B) o assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames
e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.
C) as partes podem requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem
a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidos
sejam encaminhados com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, podendo os peritos
apresentarem as respostas em laudo complementar.
D) o laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 5 (cinco) dias, podendo este prazo ser
prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.
E) a nomeação dos peritos far-se-á no juízo deprecante no exame por precatória.

Comentário:

A alternativa B corresponde ao gabarito da questão, uma vez que reflete a inteira disposição do
§ 4° do art. 159 do CPP, segundo o qual “o assistente técnico atuará a partir de sua admissão
pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as

partes intimadas desta decisão”.

Gabarito: Letra “B”.

98
Questão 10

(Banca: IESES - 2019 - TJ-SC - Titular de Serviços de Notas e de Registros) Com relação à
colheita da prova oral em juízo no processo penal, é correto afirmar:

A) As testemunhas prestarão depoimento sob o compromisso de dizerem a verdade, nos termos


dos art. 203 do Código de Processo Penal. Não se deferirá o compromisso, contudo, aos
menores de 16 anos de idade, ao cônjuge, aos ascendentes, descendentes, e demais parentes
consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, do acusado ou da vítima.
B) Antes de iniciar o interrogatório, o juiz observará ao réu que, embora não esteja obrigado a
responder às perguntas, seu silêncio poderá ser interpretado em prejuízo de sua defesa.
C) A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório, de ofício ou a pedido
fundamentado de qualquer das partes.
D) Se o réu for menor de 21 anos proceder-se-á ao interrogatório necessariamente na presença
de curador, salvo se defendido por advogado constituído.

Comentário:

A alternativa C é a única assertiva correta pois retrata, na íntegra, a aplicação do art. 196 do
CPP, o qual dispõe que “a todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório de ofício

ou a pedido fundamentado de qualquer das partes”.

Gabarito: Letra “C”.

99
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - D

Questão 3 - A

Questão 4 - E

Questão 5 - D

Questão 6 - E

Questão 7 - CERTO

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 – B

Questão 10 – C

100
QUESTÃO DESAFIO

É lícita a prova obtida pela autoridade policial quando, sem qualquer tipo de autorização,
ela pega o telefone do acusado, a fim de investigar informações sobre suas

atividades/contatos?

Máximo de 5 linhas

101
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Em nome da preservação do direito à intimidade (art 5º, X, CF) e do princípio da reserva


de jurisdição, a investigação do celular do acusado necessita de prévia autorização do juiz
(ou do próprio acusado, desde que ciente de seu direito a não autoincriminação). Assim,

nos termos do art. 157 do CPP, a prova deve ser considerada ilícita.

 Direito à intimidade e à reserva de jurisdição

Em nome da preservação do direito à intimidade (art 5º, X, da CF) e do princípio da reserva de


jurisdição, a investigação do celular do acusado necessita de prévia autorização do juiz (ou do
próprio acusado, desde que ciente de seu direito a não autoincriminação). Observe o texto legal:
Art 5º, inciso X: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas...”;
Analisando esse dispositivo, percebe-se que a regra é a inviolabilidade, de modo que a sua
violação, para ser legítima, necessita obedecer ao princípio da reserva da jurisdição, isto é, deve
ser autorizada, após detida análise de razoabilidade, por um juiz competente. Seria
extremamente temerário, autoritário e contrário ao preceitos do estado democrático realizar
investigações de outra forma.

Sobre este assunto, a doutrina discorre: “Há, no art. 5.º da Constituição Federal, determinados
direitos e garantias fundamentais, só passíveis de violação por ordem judicial, configurando
atividade típica do Poder Judiciário (reserva de jurisdição). Ocorre que a reserva de jurisdição é,
de fato, um preceito fundamental para o controle das garantias e direitos fundamentais do
indivíduo. Concordamos com a reserva de jurisdição e, por isso, fazemos uma ressalva: o que a
Constituição Federal, expressamente, atribui ao Poder Judiciário deve ser por ele decidido.”
(NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 13 ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2016. P. 370).

No sentido de que a quebra do sigilo das comunicações pressupõe prévia autorização judicial:
STJ, 6ª Turma, HC 315.220/RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 15/09/2015, DJe
09/10/2015. STJ, 6ª Turma, RHC 51.531/RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 19/04/2016, DJe
09/05/2016.

102
 A prova é ilícita (art. 157, do CPP).

Uma vez que a hipótese do enunciado não obedece às normas constitucionais, resta configurada
sua ilegalidade. O CPP prevê a vedação ao uso de provas ilícitas nos seguintes termos: “Art. 157.
São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas

as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.”

Comentando o referido artigo, a doutrina afirma: “As aludidas normas, constitucional e legal,
cumprem uma função ainda mais relevante, particularmente no que diz respeito ao processo
penal, a saber: a vedação das provas ilícitas atua no controle da regularidade da atividade estatal
persecutória, inibindo e desestimulando a adoção de práticas probatórias ilegais por parte de
quem é o grande responsável pela sua produção. Nesse sentido, cumpre função eminentemente
pedagógica, ao mesmo tempo que tutela determinados valores reconhecidos pela ordem
jurídica. A norma assecuratória da inadmissibilidade das provas obtidas com violação de direito,
com efeito, presta-se, a um só tempo, a tutelar direitos e garantias individuais, bem como a
própria qualidade do material probatório a ser introduzido e valorado no processo.” (PACELLI,

Eugênio. Curso de processo penal – 22. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2018. P. 283).

Nesse sentido é a dicção do STJ: “Não tendo a autoridade policial permissão do titular da linha
telefônica, ou mesmo da Justiça, para ler mensagens nem para atender ao telefone móvel da
pessoa sob investigação e travar conversa por meio do aparelho com qualquer interlocutor que
seja se passando por seu dono, a prova obtida dessa maneira arbitrária é ilícita. Em que pese o
vício tenha ocorrido na fase investigativa, atinge a validade da condenação penal, uma vez que
se não fosse atitude do policial nem sequer haveria denúncia. (STJ. 6ª Turma. HC 511484-RS,

Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/08/2019 - Info 655).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Lima, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima - 8. ed. rev., ampl

e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.

Avena, Noberto Cláudio Pâncaro. Processo Penal: esquematizado / Noberto Avena. - – 9.ª ed. rev. e atual. – Rio de

Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

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