Você está na página 1de 1

O Nascimento dos Heróis: Uma

concepção literária do herói


O herói é alguém que provindo do seu meio social, antevê o desenrolar da história no seu meio
social. Ele compreende ou busca compreender em que ponto da história ele está, e em que situação
ela está se mudando, assim o herói sabe para onde esta sociedade está caminhando, em geral isto
ocorre na forma de uma crise velada, subentendida, mas que ignorada ou multifacetada para o povo
em geral, ele ao contrário, percebe e mede a extensão do problema, e quando vê que somente ele
enxerga aquilo que está enxergando, e mesmo sabendo que embora sendo evidente, nada será feito
para impedir o desenrolar final desta crise, o herói então se vê intimado, ou melhor, chamado por
uma voz interior de que algo deve ser feito, ainda que incompreensivelmente, ainda que quase
irremediável. Esta voz interior que toma a forma de chamado, cobre o pensamento e as intenções, e
apreensões do herói, coloca-o numa perspectiva de consciência história sobre si e sobre o seu
próprio alcance, e portanto de sua própria responsabilidade. Este chamado é percebido por uma
inibição interior que o impele a não agir de maneira inferior a sua própria potencialidade, também é
percebido pela ênfase que ele dá aos problemas quando estes são narrados por outros
limitadamente, ele incomoda-se sobretudo porque a sua realidade, o seu meio todo corrobora para
que ele entenda algo e até mesmo queira algo. Uma vez que o herói percebe isto, ou seja, no
momento em que isto toma forma de autoconsciência, a responsabilidade recai sobre ele. Ele se
sente responsável de algum modo a atuar sobre o problema, mesmo que de maneira muito limitada,
mas sempre correspondente aos seus talentos pessoais. Aliás, isto deve ser observado, se o problema
em questão o leva a querer realizar coisas que estejam dentro de suas capacidades, seus talentos. Se
sim, o herói percebe que a sua responsabilidade não é subjetiva, ao contrário, é objetiva e direta, a
realidade exige que ele faça algo precisamente naquilo que ele possui de capacidade natural ou
desenvolvida, a realização disto é a realização do chamado, da vocação. A missão do herói ocorre
quando ele percebe que somente ele pode resolver um problema específico, este problema
específico surge como uma espécie de substrato, quase protéico, diga-se de passagem, que pede por
uma ligação de uma chave, uma protease, isto é, o poder do herói que quebra o substrato
problemático, digerindo-o e tornando-o assimilável à sociedade, ou ao menos reconhecido por esta.
Neste sentido as possibilidades de heróis podem ser realmente numerosas e díspares. Na literatura
brasileira ao que parece falta este tipo de heroísmo, ao contrário, o protagonista quase sempre é um
exatamente o contrário do herói, ele não percebe o seu problema e muito menos o problema ao seu
redor, ele é um sofredor passivo de sua missão não realizada.
Thiarles Soares Silva;

Você também pode gostar