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Material elaborado a partir de um diálogo com José Mauro Garboza Junior.

Intencionalidade da consciência – Husserl – “inventou” uma filosofia, método de


pensamento denominado de fenomenologia – aparece no final do século XIX. De algum
modo tenta ser algo que procura escapar a duas tendências espiritualistas: o positivismo
(forma de pensamento cada vez mais racional) e o psicologismo/subjetivismo (forma de
se fazer filosofia única e exclusivamente operativa).

Fenomenologia – forma de filosofia que se aproxima de uma ideia científica na medida


em que há sempre uma relação entre sujeito e objeto. Até aqui não há muita diferença. O
problema que surge é na delimitação de s/o:

Sujeito – única e exclusivamente a consciência – não é indivíduo, não é subjetiva:


consciência transcendental. Consciência é a forma ativa de se conhecer determinados
objetos.

Objeto – reformulação – não são necessariamente as coisas que estão “fora” da


consciência, mas é aquilo que é construído pela intenção de conhecer da consciência.
Então, todo objeto é um objeto olhado de alguma maneira, visado pela consciência.
Conhecer um objeto é: a consciência conhecer o objeto.

Forma bastante diferente do positivismo e do psicologismo.

Quando a consciência constrói seu objeto e quer saber mais sobre ele, esse ímpeto de
conhecer esse objeto na medida exata em que o cria, é o conceito da categoria chave de
intencionalidade. O conhecimento é sempre o conhecimento DE algo para a consciência
(Intencionalidade).

Maneira aberta – com isso você meio que pode conhecer tudo.

Existencialismo – na filosofia – começa a ganhar uma forma mais identificada que reúne
alguns autores que podemos começar a datar uma “escola” depois do idealismo alemão
(Hegel). Forma de pensamento filosófico que tem a ver com a ideia de moral e ética que
foge um pouco ao esquema da ciência. Forma de filosofia imbricada com o sentimento
de uma forma de sociedade que procura descrever, se preocupar com a existência. Quase
todos concordam que “a vida é uma merda”. “Existir é sofrer”.
Investigar um pouco a questão do que é existir implica investigar o que é viver. Este
último implica um “como viver”. Por isso a relação ética-moral-política ganha destaque
no século XIX. Dostoiévski.

O que acontece é que depois que o Husserl disse que a fenomenologia era “legal”, alguns
autores da fenomenologia deram uma guinada existencialista. É por conta dessa “forma”
(Sartre/Heidegger) que a questão da existência, criação, “aparecência” surge.

A fenomenologia existencial/hermenêutica, Heidegger, procura dar conta disso: existir é


existir em um mundo. E existir em um mundo é se orientar por ele, mas de alguma
maneira ser, também, constrangido por ele. Existimos também dentro do tempo do
mundo. Então as questões envolvendo temporalidade (presente, passado, futuro), são
questões que vão aparecer só no mundo para uma “consciência” tal.

Do lado sartriano temos a frase “a existência precede a essência”. Ou seja, primeiro


existimos e depois saímos “catando cavaco” para meio que vermos o que sai daí. Então
não há nenhuma forma de determinação humana de uma consciência qualquer sem o
reconhecimento de sua própria existência. Disso se segue: já que a existência precede a
essência, não tem nenhuma essência que me constrange. Não tem um papel social que
preciso tomar de antemão: “posso ser qualquer coisa”. Sendo qualquer coisa, posso pensar
sobre mim e me entender sujeito como um projeto.

Então, o existencialismo aparece meio que assim: dando ênfase na existência, mundo,
ética, liberdade.

Humanismo – saímos da fenomenologia/consciência/intencionalidade... para questão da


fenomenologia existencialista – modo de vida/como viver...

Há um certo “grupo de pessoas”, tomando até Sartre, 1960, Merleau-Ponty, que vai dar
um passo a mais e defender uma espécie de humanismo.

A palavra “humanismo” vem de um outro problema/época, século XV/XVI, forma


cultural. Ele corresponde ao que na literatura chama-se também de renascimento. Dante
talvez sendo a figura mais emblemática – espécie de retorno ao padrão greco-romano,
equilíbrio. No século XX o Humanismo é a ideia de que o ser humano compõe a
humanidade, obviamente, e que tanto a humanidade quanto o ser humano deve ser
protegido, evidenciados, “defendidos” de algum modo.

Então, o Humanismo no século XX é a afirmação da humanidade e, consequentemente,


do ser humano.

Reconstituição – se a existência precede a essência e a existência é a condição para


qualquer ação. A condição da liberdade prática de uma consciência. Todos esses
problemas vão recair na ideia de Humano. “A liberdade é a liberdade humana”. Por outro
lado, no Heidegger, é aí que ele diz que estamos no mundo, mas o ser humano, o homem,
é o único que vive no mundo, que vive as temporalidades. “As pedras não têm mundo, os
animais são pobres de mundo e os homens são construtores de mundo”. É só o homem
que tem essa ideia de mundo, que é histórico, que pode ser livre, que existe. E essa ideia
está amarrada com toda a ideia da fenomenologia, de algum modo, na medida em que a
consciência que procura objetos, necessariamente, tem que ser a consciência humana.
Tanto da fenomenologia existencial com Sartre ou Heidegger afirmando a liberdade, a
existência, o ser no mundo. E isso se combina no humanismo. Então o Humanismo é a
defesa do homem, da dignidade humana etc.

“O existencialismo é um humanismo”.

Implicações:

1) Como a psicologia é uma ciência muito recente, ela meio que se trifurca: a)
psicologia positiva/positivista; b) psicologia subjetivista/psicologista; c)
psicologia fenomenológica. Esta última é uma maneira de se fazer ciência
psicológica a maneira do Husserl. Depois da guinada existencial da
fenomenologia, a psicologia também acompanha essa forma de pensamento. É aí
que aparece em 1920/30 a psicologia existencial-fenomenológica. Um último
passo é que essa descrição da psicologia fenomenológica é uma psicologia de
seres humanos, em defesa da humanidade, portanto, são duas psicologias
humanistas.
2) Dedução lógica: se a gente tem o grande nome da filosofia francesa (Sartre –
fenomenologia) que tem um pouco de existencialismo e que é uma doutrina
humanista, para alguém ser importante/famoso/destaque, chocar essa sociedade
francesa, precisaria ter condições de criticar essa escola – Crítica Estruturalista –
Lévi-Strauss: Se a existência prece a essência, isso beleza, o problema é que há
estruturas que constrangem a existência. “A existência precede a essência, mas a
estrutura precede a existência”. A distinção entre humanidade e o que não é, é
uma operação feita pela humanidade. Aqui que entra a crítica ao etnocentrismo,
exclusivismo. A garantia que só o humano tem uma consciência, que faz ciência,
existe, pode ser verdadeira, mas o conjunto da humanidade está meio “viciado”,
segundo Lévi-Strauss. E se o conjunto da humanidade abarcar as araras, por
exemplo (estudo antropológico comunidade brasileira). A humanidade não é
totalizante. Não é pura e simplesmente a soma dos indivíduos humanos na
humanidade, mas é antes, também, a decisão cultural daqueles que são humanos
ou não. Segundo: o humanismo e a defesa da humanidade é um plano retórico
importante quando se considera a parte “boa” da humanidade. Mas e a parte
“ruim” da humanidade? A humanidade pertence tanto as coisas “boas” quanto as
coisas “ruins”. Sendo assim, defender o humanismo também pode ser a defesa de
uma guerra, exclusão social etc. Terceira: Se a existência precede a essência, esse
“por em plano” da existência humana está calcado em algo fora dela. A origem da
humanidade precisa de um ponto que não seja a humanidade. É quase: o ponto
mais importante do ser humano é não ser humano/não é humano. Ex: o vazio da
existência humana não é humano. Aquilo que é mais íntimo/próprio/singular do
ser humano (Lacan – Seminário II) é o instinto de morte (pulsão de morte: forma
de satisfação que está além do cálculo da satisfação). Esse instinto mais íntimo, o
miolo do nosso próprio ser (Freud), ele é um instinto inumano. Então, a
característica mais singular do humano, o instinto de morte, é inumano. Então não
dá para defender o humanismo. São essas três questões que aparecem contra essa
nova vertente que insurgem contra a fenomenologia, existencialismo, humanismo
que é o Estruturalismo e sua vertente primeira, década de 1960, que é o Anti-
Humanismo (Foucault, Althusser, Lévi-Strauss).

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