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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM FILOSOFIA
5° PERÍODO - TARDE

Prova I - Descartes - História da filosofia moderna I - Questões ímpares

Docente: Prof. Dr. Marcos Silva - marcossilvarj@gmail.com


Discente: Vivian Daísa Oliveira dos Santos - vivian.daisa@ufpe.br

Recife, 27 de Outubro de 2021


Questões:

1. Explique em que medida Descartes poderia ser tomado como o pai da tradição
moderna representacionalista ao enfatizar elementos internalistas,
individualistas e intelectualistas para se entender a cognição humana.

O filósofo francês René Descartes é, sem dúvidas, um emblemático marco para toda a
filosofia moderna e posterior. Considerado o pai de tal pensamento, ele parece interagir com
o representacionismo, à medida que traz à sua pesquisa o conhecimento enquanto baseado em
“representações mentais” (definição de representacionismo). De forma que a imaginação é
aquela que presentifica algo.Como é tratado, por exemplo,na primeira e na sexta meditação,
quando é falado sobre como há representação nos sonhos. Descartes também impõe em sua
investigação, através da dúvida hiperbólica generalizada e suspensão do juízo, por meio de
um ceticismo metódico, um diálogo consigo mesmo. O “eu” e somente o “eu solitário”,
inicialmente, é o objeto da investigação. Dessa forma, há uma liberdade para ir contra a
tradição e formular novas questões ou certezas indubitáveis, no sentido próprio cartesiano.

3. Qual é a diferença da dúvida da primeira meditação para uma dúvida natural


que se dá quando, por exemplo, ao errar algumas vezes em minhas observações
digo que os sentidos podem ser sempre falhos?

Descartes pretende, ao iniciar sua investigação, chegar a certezas indubitáveis, algo que seria
uma contradição questionar. Para tal empreitada, utiliza a dúvida exacerbada, hiperbólica,
generalizada enquanto método de pesquisa. Ou seja, o filósofo se torna cético,
metodologicamente falando, com o objetivo de encontrar ou não, algo que se pode ter
certeza. Dessa forma, se difere da dúvida comum, aquela que é possível ter e se tem
constantemente, algo sem rigor. É possível duvidar se vai chover, se a pessoa existe, se se é
ser humano. Porém, Descartes utiliza do duvidar enquanto método. Ou seja, como já falado
anteriormente, o “duvidar” possui aqui um caráter investigativo.

5. Qual é a importância do argumento do cogito para o projeto filosófico de


Descartes?

O “Cogito, ergo sum” cartesiano é corriqueiramente citado e consequentemente, bastante


conhecido. Esse argumento é fundamental para toda a filosofia cartesiana. Afinal, ele se
mostra como a primeira verdade certa e indubitável. O “eu” aqui é primordial. Visto que, não
seria necessário um deus para me impor a dúvida, o “eu” pode duvidar sozinho, não precisa
de ninguém. E o pensar é duvidar, sentir, querer, afirmar, negar, imaginar. Só a partir de tais
afirmações, que Descartes pode continuar sua investigação.

7. Por que o conteúdo da primeira e da segunda meditações parecem


comprometer a filosofia cartesiana com o solipsismo?

Apesar do termo “solipsista” ser anacrônico quando usado para Descartes, visto que o termo
só veio surgir no século XVIII, muitos filósofos contemporâneos o intitularam e ainda o
intitulam dessa forma. A crítica do “solipsismo cartesiano” se dá quando, para alguns de seus
críticos, Descartes, traz a problemática da dúvida hiperbólica de todas as coisas,
respondendo-a e justificando-a com a existência de Deus (Após, claro, de inúmeros
questionamentos, investigações e certezas (aqui, o “eu sou, eu existo, por exemplo)). E ao
fazê-lo, o filósofo parece reforçar ainda mais a dúvida no âmbito da existência de tudo, visto
que não expõe nenhuma prova demonstrativa que permitisse pensar o contrário.

9. A prova da existência do Deus Veraz impossibilita a existência de um gênio


enganador?

Sim. Afinal, após a prova da existência de Deus, feita através de argumentos cosmológico e
ontológico, é possível entendê-lo (e não compreendê-lo) enquanto um ente supremo, perfeito,
bom e, consequentemente, não enganador. Dessa forma, Descartes caracteriza como não
possível, metodicamente falando, a existência dos dois entes (gênio maligno e o Deus).
Chegando na certeza indubitável da existência de Deus, excluo a possibilidade do gênio
maligno.

11. Explique a diferença de papéis entre a certeza do cogito e a certeza da


existência de Deus dentro do projeto cartesiano.

O “Cogito, ergo sum” cartesiano é corriqueiramente citado e consequentemente, bastante


conhecido. Esse argumento é fundamental para toda a filosofia cartesiana. Afinal, ele se
mostra como a primeira verdade certa e indubitável. O “eu” aqui é primordial. Visto que, não
seria necessário um deus para me impor a dúvida, o “eu” pode duvidar sozinho, não precisa
de ninguém. E o pensar é duvidar, sentir, querer, afirmar, negar, imaginar. Só a partir de tais
afirmações, que Descartes pode continuar sua investigação. Já em “De Deus, que ele existe"
que corresponde a terceira meditação, Descartes, ao chegar a conclusão da certeza indubitável
da existência de Deus, pode derivar a existência de tudo. Daí o tripé cartesiano: 1) Eu sou, eu
existo, 2) Deus existe, 3) O mundo existe. Por isso a euforia exacerbada na terceira parte.
Finalmente, algo que se pode se assegurar fielmente.

13. Em virtude do que o desespero da primeira meditação se contrasta com a


euforia da terceira?

Na primeira meditação, o “eu” está só. Aprisionado em si mesmo na grande jornada que é
saber se algo existe. Ele duvida de tudo. Por isso, dúvida exacerbada. Ao notar isso,
Descartes entende que pode duvidar de tudo, exceto que duvida e, por duvidar, pensa e por
pensar, existe. Ao chegar em Deus, e comprovar sua existência através de argumentos
cosmológicos e ontológicos, Descartes encontra algo que pode se assegurar. Daí a euforia da
terceira meditação.

15. Qual é a importância da prova da existência de Deus dado o conteúdo da


primeira e da segunda meditações?

Tida como a mais importante meditação, a existência de Deus aparece enquanto bálsamo para
Descartes, a medida que traz sentido, significação e validade para sua filosofia. Afinal, a
existência de Deus abre um leque não trazido na primeira e segunda meditações. Nelas, tenho
certeza apenas que penso e por pensar, existo. Ou seja, há uma certeza apenas do cogito, o
espírito do “eu”. Ao pensar em Deus, penso em um ser infinito, bom e perfeito. Aquele de
onde se derivam todas as coisas.

17. Explique o mecanismo do erro apresentado na quarta meditação.

O erro para Descartes aparece como uma negativa, uma carência, uma privação ou mau uso
do conhecimento. Logicamente, ele não poderia vir de Deus. Então, o “eu” erraria por culpa
de seu entendimento e de sua vontade. Além errar por ser, segundo o filósofo, o meio termo
entre a ideia de Deus e o nada e pelo seu mau uso do livre arbítrio. Para não errar, seria
necessário o método da clareza e da distinção.
19. Reproduza e discuta a prova ontológica da existência de Deus.

Descartes introduz em sua investigação, o conceito de ideia. E essa definida como imagens
das coisas. Apesar de ser finito e imperfeito, o “eu” pode ter a ideia inata de perfeição. O
filósofo se depara então com a única justificativa possível para tal empreitada. O “eu” então,
só poderia ter tal ideia (a de perfeição) se algum ente superior e perfeito o tivesse colocado no
seu espírito. Esse ente é Deus.

21. Apresente duas diferenças conceituais importantes entre as provas da


existência de Deus na terceira e na quinta meditação.

A primeira e principal diferença está nos argumentos utilizados. A terceira meditação utiliza
do argumento ontológico da existência de Deus, como já explicitado na questão anterior. Já a
quinta traz o argumento cosmológico da existência de Deus. Ou seja, aqui Deus se torna um
essencial para investigação. Através dele que todas as coisas seriam geradas. Ou seja, tudo
depende dele. Enquanto segundo argumento, está a diferença metódica utilizada.
Segundamente, na quinta, diferentemente da terceira, Deus é posto junto com as verdades
matemáticas.

23. Reproduza e discuta o argumento para a distinção real entre corpo e alma na
sexta meditação.

Descartes parte do pressuposto que Deus por ser bom, não deixa que o “eu” que tem o
intelecto perfeito, por ter sido dado por Deus, conceba as coisas de forma clara e distinta de
forma errônea. Sendo assim, o “eu” que concebe a alma e o corpo (espírito e extensão) de
forma distinta, estaria correto. Para o filósofo, o “eu” representa em si substâncias extensas e
pensantes, daí o representacionismo. Ou seja, ele aborda o dualismo moderno entre corpo e
mente. E é já na segunda meditação, que o filósofo se questiona se seria corpo, que define
como feito de carne e ossos, e alma que seria um ar, um sopro. O que pode ser concebido
como espírito a partir da terceira e da quarta meditação. Já na terceira, o filósofo utiliza o
argumento da cera. Ao colocá-la no fogo, ela teria suas propriedades alteradas, apesar de
permanecer a mesma cera. Ao observar tal, Descartes chega à conclusão que apesar do “eu”
parecer perceber a cera, o “eu” se conhece mais claramente. Dessa forma, o “eu” conhece
mais o espírito, que lhe é próprio, do que a cera que conheço através do espírito. Nesse
sentido, ele (o espírito) seria mais fácil de conhecer do que as coisas materiais. O imaterial é
mais fácil de conhecer que o material.

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