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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

ERIC DION GRZESZCZYSZYN DA SILVA


MARCOS PAULO CANDIDO DA ROCHA
MARIA EDUARDA DE MORAIS CARVALHO MONTEIRO
NATÁLIA ELIZA KVET RODRIGUES DOS SANTOS

ESTUDO DE CASO: “TERRORISMO E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


PELO TALIBÔ.

Estudo de caso apresentado à Disciplina


de Pensamento Contemporâneo, do
Curso de Licenciatura em História da
Escola de Educação em Humanidades,
Pontifícia Universidade Católica do
Paraná.
Professor: Cezar Bueno de Lima.

CURITIBA
SETEMBRO / 2021.
SUMÁRIO

1. ESCOLHA E DELIMITAÇÃO DO TEMA..........................................................3


2. INTRODUÇÃO........................................................................................................4
3. JUSTIFICATIVA DO TEMA.................................................................................5
4. A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES PELO TALIBÃ...............6
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................9
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................10
1. ESCOLHA E DELIMITAÇÃO DO TEMA

A presente pesquisa tem por título “Terrorismo e violação dos direitos humanos pelo
Talibã”. A escolha do tema se deu por conta da recente tomada do grupo
fundamentalista Talibã a capital do Afeganistão, Cabul. Por conta disso, inúmeros
Direitos Humanos foram violados, destacando-se, principalmente, o direito das
mulheres, direito ao acesso à educação e o de expressão. Dessa forma, a delimitação e o
objetivo geral do trabalho é analisar o terrorismo e a violação dos direitos humanos
realizados pelo grupo terrorista no tempo presente.

No que se refere aos objetivos específicos, compreende-se a:

a) Analisar e conceituar a palavra “terrorismo” dentro da particularidade


do Afeganistão;
b) Compreender a relação desse grupo com a violação dos Direitos
Humanos;
c) Entender de que forma a política externa norte-americana influenciou
para a formação e imagem desses grupos;
d) Analisar como o terrorismo se tornou um agente potencializador das
desigualdades sociais, interferindo da cultura política do país;

2. INTRODUÇÃO

De forma a compreender a relação entre o Terrorismo e a violação dos Direitos


Humanos pelo Talibã1, recorre-se ás discussões teóricas referentes à globalização
realizadas pelo coordenador e professor do programa de educação continuada e
especialização em Direito da Universidade de São Paulo (USP), José Eduardo Faria em
razão de este autor compreender tal fenômeno como

Um processo multicausal, multidimensional, multitemporal e multicêntrico,


que relativiza as escalas nacionais ao mesmo tempo em que amplia e
intensificam as relações econômicas, sociais e políticas, este trabalho tem por
objetivo mapear e descrever seu impacto sobre as formas e práticas jurídicas
à luz da conjuntura econômica e políticas contemporâneas (FARIA, 2008, p.
4).

1
Talibã também pode ser transliterado como Taleban, Taliban ou Talebã.
Dessa maneira, ao fazermos uso da corrente de análise de Faria (2008) acredita-se
que o terrorismo, posto aqui através da atuação do grupo Talibã no Afeganistão na
contemporaneidade, se torna complexo em decorrência do fato de que o processo de
globalização potencializou as desigualdades em múltiplas esferas, atingindo o campo
político, seja entre as nações ou grupos sociais, sendo estes presentes em um mesmo
espaço territorial. No caso da presença do Talibã no Afeganistão, tais desigualdades
podem ser expressas através da falta de cultura política democrática nas populações,
intensidade de conflitos religiosos, étnicos e tribais.
A relação entre o terrorismo e a globalização também pode ser analisada através da
ação dos agentes terroristas, uma vez que as redes de comunicação, de propagação de
conhecimento e de meios tecnológicos que extrapolam as fronteiras podem ser aliadas
na maximização das redes de contato e comercialização de armamentos. Além disso, de
acordo com Faria (2008, p. 9), o advento da globalização propiciou ideias e práticas em
que a cultura global passou a se sobrepor em relação ás culturas locais, pautando-se no
princípio da homogeneização por parte das potências mundiais como o caso dos Estados
Unidos da América.
Em diálogo com esses fatores Guimarães (2007) compreende que o terrorismo
corresponde um:
(...) ato de indiscriminada violência física, mas também moral ou psicológica,
realizado por uma empresa individual ou coletiva, com o intuito de causar
morte, danos corporais ou materiais generalizados, ou criar firme expectativa
disso, objetivando incrustar terror, pavor, medo contínuo no público em geral
ou em certo grupo de pessoas (...), geralmente com um fim, no mais das
vezes ideológico (...). (GUIMARÃES, 2007, p. 25)

Com base nesses pressupostos, para Héctor Ricardo Reis, professor do Programa de
Pós-graduação interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociologia Política na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a dinâmica do terrorismo é prejudicial
para os pressupostos políticos na medida em que:

Mesmo tendo objetivos políticos, seu agir leva a que os instrumentos da


política saiam do cenário com a mesma velocidade com que entram os
instrumentos da violência. Isso implica que o terrorismo não ameaça apenas à
vida das pessoas, ameaça também às instituições e a cultura que viabilizam a
política numa determinada comunidade ou região, ou mesmo no sistema
internacional. Depois de concluído um longo período de terrorismo, é muito
difícil para as pessoas e atores pensarem e agirem sem recorrer à violência. O
terrorismo introduz o hábito da violência na política (REIS, 2010, p. 153).
Reis ainda considera que “o terrorismo contemporâneo se aproveita da existência de
Estados débeis e incapacitados” (2010, p. 161) e que “o ato terrorista se caracteriza por
um grau ou tipo de violência impossível de ser aceita no convívio civilizado” (2010, p.
162). Através disso, pode-se afirmar que o terrorismo tem por objetivos a destruição dos
direitos humanos, da democracia e do Estado de Direito.
De acordo com Cranston (1973, p. 15), direitos humanos:

São aqueles inerentes á condição humana da pessoa, enquanto um ser dotado


de razão, liberdade e igualdade e dignidade, e englobam os aspectos
indispensáveis e essenciais para uma vida digna. Sua titularidade decorre só
do fato de a pessoa existir, não comportanto qualquer tipo de distinção ou
discriminação, encontrando-se previstos especialmente em documentos
internacionais (CRASTON, 1973, p. 15).

Levando em conta toda essa conceituação propõe-se analisar como o grupo


terrorista Talibã propicia de maneira violenta a não promoção dos direitos humanos
ligados à educação, igualdade de gênero e liberdade de expressão e como isso é
preocupante para o mundo contemporâneo globalizado.

3. JUSTIFICATIVA DO TEMA

Levando em consideração, o fato de que o grupo terrorista fundamentalista,


Talibã tomou o poder recentemente no Afeganistão, mais especificamente a capital
afegã, Cabul, e esse fato história do tempo presente2 estar intimamente ligado a toda
uma trajetória de descumprimento dos direitos humanos, tendo em vista que isso
ocorreu 20 anos após esse mesmo grupo ter sido expulso pela invasão americana,
concebe-se a importância de se analisar tal temática contemporânea.

Além disso, organizações internacionais, como a ONU- Organização das Nações


Unidas têm demonstrado preocupação no que vem sendo interpretado como um possível
retrocesso no que se refere à principalmente aos direitos ligados as mulheres e
consequentemente ao relacionado à educação. Essa preocupação reside na questão de
que quando o Talibã estava no poder, as mulheres foram excluídas do espaço público,
além de terem os direitos a liberdade de movimento, expressão pessoal e emprego
negados. Desse modo, cabe à perspectiva histórica, com uma conceituação vinculada
aos preceitos filosóficos, discutir o impacto das práticas advindas do grupo terrorista no
2
Fato que indica permanências e rupturas do passado no presente.
passado, já que há um temor que elas possam ocorrer novamente de maneira gradativa e
isso tem um impacto global, seja pelo viés financeiro ou mesmo uma maneira de
acentuar a crise política e incapacidade dos governos mundiais em frear as
desigualdades.

Por fim, se é importante abarcar discussões referentes à violação dos direitos


humanos vinculados as experiências sociais, políticas e culturais das mulheres, em
principal o de acesso à educação, atentando para a necessidade de garantir tais direitos e
como atitudes de retrocesso e reacionárias, são prejudicais em larga-escala e acabam por
excluir e impossibilitar as mulheres de conhecer novas formas de interpretar, conviver e
construir um mundo mais igualitário e menos repressor.

4. A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES PELO TALIBÃ

Após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, por volta da década de


1990, o Talibã surgiu. Em resposta a um ataque soviético no ano de 1979, o Paquistão
abriu sua fronteira para receber guerrilheiros afegãos refugiados, esses guerrilheiros se
concentravam em acampamentos, sendo nesses acampamentos que o clero islâmico
criou espécies de escolas que recrutavam jovens combatentes para o movimento de
resistência. Essas instituições foram vistas como as únicas a darem apoio aos
refugiados, elas também educavam os jovens em sua doutrina religiosa conservadora,
havendo, desse modo, uma cultura de instituições autoritárias que prezavam muito pela
obediência e respeito às autoridades.
Essa educação autoritária formou um grupo de estudiosos, fundamentalistas
religiosos, esse grupo foi denominado como Talibã. O Talibã derrotou os mujahideen3
no Afeganistão em 1996, com o apoio do governo e outros países, impondo, assim, sua
ideologia extremista. A promessa do Talibã era restaurar a paz, a segurança do povo e
impor a versão deles da Sharia, lei islâmica. Segundo Khan (2020), o Talibã espalhou
sua influência nas áreas em que o governo paquistanês negligenciou a implementação
de reformas políticas e administrativas, especificamente em áreas tribais, como as
antigas KPK Federally Administered Tribal Areas - FATA (Território Federal das
Áreas Tribais).

3
De acordo, com Khan (2020), eles podem ser denominados como combatentes fundamentalistas que
se empenham em uma luta (jihad) de maneira extrema, aplicando estratégias como morte proposital.
No período de 1996 a 2001 o Talibã se constituiu como uma força militar que
governo o Afeganistão. Quando entrou no poder medidas extremas foram tomadas
como: execuções públicas, amputações de membros, degolação, os homens foram
obrigados a deixar as barbas crescer, e as mulheres, por sua vez, a usar uma burca que
cobria o corpo todo, da cabeça aos pés. Além disso, o Talibã proibiu televisão, música,
cinema, e proibiu que meninas com mais de 10 anos fossem à escola, um exemplo
dessas histórias é a história de Malala que sofreu um atentado do grupo por querer ter
acesso à educação. Dessa forma é possível afirmar que houve a instauração de um
aparato de repressão pautado em tudo que visto como contrário ao islamismo de
maneira radical.

De acordo com Silva (2014) mecanismos do conhecimento e da cultura como


obras literárias, bibliotecas e discos musicais forma destruídos, assim como “qualquer
produto que trazia em sua embalagem a figura humana” (SILVA, 2014, p. 2). A autora
também considera que as mulheres foram as mais atingidas nessas ações repressoras,
uma vez que houve a negação para elas do direito de estudar, assim como o de trabalhar,
sair sozinha, uso obrigatório da burca de forma a submeter e invisibilizá-las, não
levando em conta o livre-arbítrio, uma vez que a burca 4 virou sinônimo da opressão
feminina no Ocidente, embora atualmente feministas muçulmanas interpretem o uso da
burca como um algo que “permite o livre trânsito da mulher muçulmana entre as esferas
públicas e privadas” (FERREIRA, 2013, p.12.), visto que ele passou a ser
compreendido por elas como uma “solução encontrada para que a mulher possa usufruir
das duas esferas da sociedade” (2013, p. 7). Umas das formas violentas adotadas pelo
Talibã eram apedrejamentos públicos em caso de supostos adultérios e execuções
públicas (2017, p. 9).

No que tange a Educação, houve um descumprimento do Artigo 26 da


Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma que

Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo
menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem
como a instrução superior, esta baseada no mérito.  (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 1948, p. 7).

4
A burca é uma “uma vestimenta pré-islâmica, ou seja, não foi uma criação do islã. Conta-se que um rei a
idealizou para que as mulheres de sua família pudessem sair do palácio sem serem reconhecidas e
importunadas pelos plebeus. Por outro lado, as mulheres que se consideravam tão nobres quanto à rainha
e a princesa também passaram a usá-las e assim a burca se popularizou” (SILVA, 2014, p. 5).
Da mesma maneira que ocorreu a inadimplência do Artigo 23 que corresponde à
afirmação de que: “Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de
emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
desemprego”. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948, p. 6).
Silva (2014) ao analisar a organização social afegã do primeiro domínio do
Talibã, que corresponde ao final do século XX e início do XXI, coloca que as mulheres
eram tratadas como “objetos de troca entre as famílias e a principal preocupação dos
pais não era dar condições para que suas filhas fossem autônomas e sim que arranjassem
um bom casamento para elas” (2014, p. 3). Com base nisso é possível compreender que
o papel das mulheres era a maternidade, “o de gerar filhos, de preferência meninos” (DE
OLIVEIRA; ZIENTARSKI, 2019, p. 261), sendo o casamento percebido como um
contrato simbólico, onde as mulheres e suas capacidades de reprodução tem por
finalidade aumentar o poder simbólico dos homens como aponta Bourdieu (2012). Por
conseguinte, a educação familiar nesse período, além de ser voltada para o casamento
possibilitava uma visão de máxima tutela e cuidado com a função de promover a
insegurança e a submissão, de forma a não aceitar diferentes visões e ações relacionadas
para outras maneiras de existência e objetivos de vida, de maneira que as mulheres são
“esposas, filhas, irmãs, ou seja, uma pessoa que necessita ter um homem para dar
significado a sua vida. Enquanto a mulher ocupa um lugar desvalorizado na sociedade,
o homem goza de todo o prestígio e valor que a masculinidade lhe dá”. (SILVA, 2014,
p. 6).
É sobre esse histórico de inferioridade que reside às preocupações da
Organização das Nações Unidas (ONU), mais especificamente as advindas da
UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, pois
no dia 14 de agosto de 2021, o Talibã, tomou a capital do Afeganistão, Cabul e passou a
exercer seu poder. Conforme, a notícia Talibã diz ás mulheres que fiquem em casa, pois
soldados não são treinados publicada por Zahid Mahmood e Rob Pincheta em 25 de
agosto pela CNN Brasil, a primeira ação tomada pelo movimento fundamentalista foi
solicitar que as mulheres ficassem em casa mesmo que líderes do Talibã tivessem
garantido anteriormente que a nova ordem vigente não iria se recusar a garantir os
direitos das mulheres. Ademais, uma notícia postada no dia 15 de agosto no site do
jornal diário espanhol El País por Ángeles Espinosa, Talibãs querem que as afegãs se
cubram demostra que os direitos das mulheres em todos os sentidos, sociais,
profissionais e econômicos não estão sendo garantidos em sua totalidade. Outras
violações de direitos humanos pelo Talibã constatadas pela mídia incluem a agressão
física, trabalho infantil, pedofilia, casamento infantil, prostituição infantil, mutilação
genital feminina, agressão verbal e a obstrução ao acesso à educação. São várias as
formas de violência cometidas contra as mulheres, podendo-se dizer que, “o que
diferencia este tipo de violência de outras formas de agressão ou coerção é que o fator
de risco, que neste caso, é o simples fato de serem mulheres ou meninas” (SILVA;
GEQUELIN; CAMPOS, 2017 p. 8). Existem milhares de casos de violência sexual não
relatados durante o período de guerra do Talibã, seja por medo em denunciar ou porque
sabem que a investigação não será levada a diante e nem haverá a punição de seus
algozes. Esses crimes não são somente atentados contra a individualidade, mas também
são crimes de guerra e meios de controlar o corpo e a mente das mulheres.

Além desses fatores a obrigatoriedade da companhia de um mahram (familiar


masculino) sempre que saírem de casa, medida que os talibãs tomaram entre 1996 e
2001 quanto estiveram no poder, é uma das preocupações de ativistas como Malala
Yousafzai, tendo em vista que a consequência dessa exigência pode acarretar o
afastamento da participação das mulheres da vida pública, isolando-as completamente
do acesso à educação, do emprego, da saúde e da vida social, tornando-as inteiramente
dependente do sexo masculino. Dessa maneira, compreende-se que o temor
internacional é motivado por uma trajetória de violências e negações, aliadas aos
debates contemporâneos em torno dos direitos das mulheres nas sociedades e os limites
entre preceitos religiosos e o âmbito jurídico, em especial no Afeganistão que antes da
tomada de Cabul era organizado sob o viés da democracia, mesmo que houvesse uma
estrutura débil e incapacitada como ratifica Reis (2010) tinha como propósito garantir as
liberdades e direitos fundamentais que na atual conjuntura são colocados em risco em
razão do fundamentalismo religioso, podendo não só gerar um retrocesso histórico de
lutas e conquistas, tal como contribuir para que novas gerações de mulheres não possam
construir formas igualitárias através da garantia de seus direitos e de suas permanências
em espaços públicos como as instituições escolares e poder sobre as decisões sobre seus
corpos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os pressupostos que norteiam a violação dos Direitos Humanos pelo Talibã, mais
precisamente aos que competem as mulheres afegãs auxiliam na compreensão de como
uma crise política que possibilitou a ascensão e consequentemente a tomada de poder
por um grupo terrorista promoveu práticas contrárias aos instrumentos legais de
organização e efetuação da igualdade, uma vez que as mulheres tiveram seus direitos
relacionados à escolaridade, de frequentar espaços públicos e exercer o livre arbítrio em
suas escolhas pessoas que perpassam desde usar ou não a burca e decidir com quem
querer se casar. Vale salientar, que a estrutura social afegã no que se refere aos papéis
das mulheres tem uma vinculação cultural a maternidade com um simbolismo aos meios
de reprodução, porém as ações tomadas pelo grupo terrorista no contexto além de
perpetuar essa visão de uma forma radical e coercitiva, contribuindo ainda mais para
uma inferiorização associada à submissão feminina.
Levando isso em conta, entende-se que na atual conjuntura de uma recente
tomada de poder que culminou em uma preocupação global dado ao histórico de
violação de direitos fundamentais e um possível retrocesso nas políticas públicas, no
que tange a visibilidade das mulheres, adotadas no governo democrático anterior, que se
mostrou ineficaz em lidar com dissidências e conflitos presentes no território afegão.
Dessa maneira, compreende-se que reflexões acerca da trajetória de poder do Talibã,
são importantes no âmbito acadêmico, uma vez que o ativismo de personalidades
históricas contemporâneas como Malala Yousafzai, propiciam reflexões para além de
realidades constantemente abarcadas em pesquisa que ainda se centram em debates
dentro de contextos europeus e estadunidenses. Além disso, é algo fundamental na área
de Humanidades em especial as que se centram na contemporaneidade promover
análises que se objetivem observar situações políticas de rupturas e mudanças e suas
consequências que atingem grupos sociais que historicamente vem sendo inferiorizadas
e submetidas a violências, neste caso as mulheres afegãs.

Em suma, conclui-se que ao levar em conta os problemas sociais e políticos que


fomentam a formação de grupos terroristas enraiados em uma proposta de
fundamentalismo e nacionalismo religioso, também se relacionam em interesses de uma
interpretação radical do Alcorão, o que ocasiona em ações violentas, e, portanto não
democráticas que vitimam as mulheres que passam a serem vistas como propicias a
procriação e não portadoras de expectativas para além do matrimônio, como a educação.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 10ª


Ed., 2011, p. 55.

DE OLIVEIRA, Kalina Gondim; ZIENTARSKI, Clarice. A luta das mulheres pela


educação diante de questões que envolvem o mundo do trabalho, classe, etnia e
gênero. Caderno Espaço Feminino, v. 32, n. 1, p. 258-276, 2019.

FERREIRA, Francirosy Campos Barbosa. Diálogos sobre o uso do véu (hijab) e da


burca: empoderamento, identidade e religiosidade. Perspectivas: Revista de Ciências
Sociais, v. 43, 2013.

GIELOW. Igor. Talibãs querem que as afegãs se cubram. EL PAÍS, Madrid, 15. Ago.
2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/08/taleban-toma-
cabul-e-volta-ao-poder-no-afeganistao-apos-20-anos.shtml. Acesso em 09. Out. de
2021.

KHAN, Sabir. Sistema de Educação Feminino no Paquistão antes e pós Regime do


Talibã. 2020. Tese (Doutorado em Educação Escolar) – Universidade Estadual Paulista,
Araraquara, 2020.

MAHMOOD, Zahid; PINCHETA, Rob. Talibã diz ás mulheres que fiquem em casa,
pois soldados não são treinados. CNN Brasil, São Paulo, 25. Ago de 2021. Disponível
em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/taliba-diz-as-mulheres-que-fiquem-em-
casa-pois-soldados-nao-sao-treinados/. Acesso em 09. Out. 2021.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos


Humanos, 1948. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-
dos-direitos-humanos>. Acesso em: 09. Out. de 2021.

SILVA, Marusa Bocafoli. O LIVREIRO DE CABUL À LUZ DA TEORIA DE


GÊNERO. Perspectivas Online: Humanas & Sociais Aplicadas, v. 4, n. 10, 2014.

SILVA, Nazaré; GEQUELIN, Rosângela; CAMPOS, Elza. Malala Yousafzai –


inspiração para a defesa dos direitos humanos e da igualdade de gênero. Anais do
EVINCI – UniBrasil, Curitiba, v.3, n.2, p. 1061-1073, out. 2017.

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