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CURITIBA
SETEMBRO / 2021.
SUMÁRIO
A presente pesquisa tem por título “Terrorismo e violação dos direitos humanos pelo
Talibã”. A escolha do tema se deu por conta da recente tomada do grupo
fundamentalista Talibã a capital do Afeganistão, Cabul. Por conta disso, inúmeros
Direitos Humanos foram violados, destacando-se, principalmente, o direito das
mulheres, direito ao acesso à educação e o de expressão. Dessa forma, a delimitação e o
objetivo geral do trabalho é analisar o terrorismo e a violação dos direitos humanos
realizados pelo grupo terrorista no tempo presente.
2. INTRODUÇÃO
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Talibã também pode ser transliterado como Taleban, Taliban ou Talebã.
Dessa maneira, ao fazermos uso da corrente de análise de Faria (2008) acredita-se
que o terrorismo, posto aqui através da atuação do grupo Talibã no Afeganistão na
contemporaneidade, se torna complexo em decorrência do fato de que o processo de
globalização potencializou as desigualdades em múltiplas esferas, atingindo o campo
político, seja entre as nações ou grupos sociais, sendo estes presentes em um mesmo
espaço territorial. No caso da presença do Talibã no Afeganistão, tais desigualdades
podem ser expressas através da falta de cultura política democrática nas populações,
intensidade de conflitos religiosos, étnicos e tribais.
A relação entre o terrorismo e a globalização também pode ser analisada através da
ação dos agentes terroristas, uma vez que as redes de comunicação, de propagação de
conhecimento e de meios tecnológicos que extrapolam as fronteiras podem ser aliadas
na maximização das redes de contato e comercialização de armamentos. Além disso, de
acordo com Faria (2008, p. 9), o advento da globalização propiciou ideias e práticas em
que a cultura global passou a se sobrepor em relação ás culturas locais, pautando-se no
princípio da homogeneização por parte das potências mundiais como o caso dos Estados
Unidos da América.
Em diálogo com esses fatores Guimarães (2007) compreende que o terrorismo
corresponde um:
(...) ato de indiscriminada violência física, mas também moral ou psicológica,
realizado por uma empresa individual ou coletiva, com o intuito de causar
morte, danos corporais ou materiais generalizados, ou criar firme expectativa
disso, objetivando incrustar terror, pavor, medo contínuo no público em geral
ou em certo grupo de pessoas (...), geralmente com um fim, no mais das
vezes ideológico (...). (GUIMARÃES, 2007, p. 25)
Com base nesses pressupostos, para Héctor Ricardo Reis, professor do Programa de
Pós-graduação interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociologia Política na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a dinâmica do terrorismo é prejudicial
para os pressupostos políticos na medida em que:
3. JUSTIFICATIVA DO TEMA
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De acordo, com Khan (2020), eles podem ser denominados como combatentes fundamentalistas que
se empenham em uma luta (jihad) de maneira extrema, aplicando estratégias como morte proposital.
No período de 1996 a 2001 o Talibã se constituiu como uma força militar que
governo o Afeganistão. Quando entrou no poder medidas extremas foram tomadas
como: execuções públicas, amputações de membros, degolação, os homens foram
obrigados a deixar as barbas crescer, e as mulheres, por sua vez, a usar uma burca que
cobria o corpo todo, da cabeça aos pés. Além disso, o Talibã proibiu televisão, música,
cinema, e proibiu que meninas com mais de 10 anos fossem à escola, um exemplo
dessas histórias é a história de Malala que sofreu um atentado do grupo por querer ter
acesso à educação. Dessa forma é possível afirmar que houve a instauração de um
aparato de repressão pautado em tudo que visto como contrário ao islamismo de
maneira radical.
Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo
menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem
como a instrução superior, esta baseada no mérito. (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 1948, p. 7).
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A burca é uma “uma vestimenta pré-islâmica, ou seja, não foi uma criação do islã. Conta-se que um rei a
idealizou para que as mulheres de sua família pudessem sair do palácio sem serem reconhecidas e
importunadas pelos plebeus. Por outro lado, as mulheres que se consideravam tão nobres quanto à rainha
e a princesa também passaram a usá-las e assim a burca se popularizou” (SILVA, 2014, p. 5).
Da mesma maneira que ocorreu a inadimplência do Artigo 23 que corresponde à
afirmação de que: “Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de
emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o
desemprego”. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948, p. 6).
Silva (2014) ao analisar a organização social afegã do primeiro domínio do
Talibã, que corresponde ao final do século XX e início do XXI, coloca que as mulheres
eram tratadas como “objetos de troca entre as famílias e a principal preocupação dos
pais não era dar condições para que suas filhas fossem autônomas e sim que arranjassem
um bom casamento para elas” (2014, p. 3). Com base nisso é possível compreender que
o papel das mulheres era a maternidade, “o de gerar filhos, de preferência meninos” (DE
OLIVEIRA; ZIENTARSKI, 2019, p. 261), sendo o casamento percebido como um
contrato simbólico, onde as mulheres e suas capacidades de reprodução tem por
finalidade aumentar o poder simbólico dos homens como aponta Bourdieu (2012). Por
conseguinte, a educação familiar nesse período, além de ser voltada para o casamento
possibilitava uma visão de máxima tutela e cuidado com a função de promover a
insegurança e a submissão, de forma a não aceitar diferentes visões e ações relacionadas
para outras maneiras de existência e objetivos de vida, de maneira que as mulheres são
“esposas, filhas, irmãs, ou seja, uma pessoa que necessita ter um homem para dar
significado a sua vida. Enquanto a mulher ocupa um lugar desvalorizado na sociedade,
o homem goza de todo o prestígio e valor que a masculinidade lhe dá”. (SILVA, 2014,
p. 6).
É sobre esse histórico de inferioridade que reside às preocupações da
Organização das Nações Unidas (ONU), mais especificamente as advindas da
UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, pois
no dia 14 de agosto de 2021, o Talibã, tomou a capital do Afeganistão, Cabul e passou a
exercer seu poder. Conforme, a notícia Talibã diz ás mulheres que fiquem em casa, pois
soldados não são treinados publicada por Zahid Mahmood e Rob Pincheta em 25 de
agosto pela CNN Brasil, a primeira ação tomada pelo movimento fundamentalista foi
solicitar que as mulheres ficassem em casa mesmo que líderes do Talibã tivessem
garantido anteriormente que a nova ordem vigente não iria se recusar a garantir os
direitos das mulheres. Ademais, uma notícia postada no dia 15 de agosto no site do
jornal diário espanhol El País por Ángeles Espinosa, Talibãs querem que as afegãs se
cubram demostra que os direitos das mulheres em todos os sentidos, sociais,
profissionais e econômicos não estão sendo garantidos em sua totalidade. Outras
violações de direitos humanos pelo Talibã constatadas pela mídia incluem a agressão
física, trabalho infantil, pedofilia, casamento infantil, prostituição infantil, mutilação
genital feminina, agressão verbal e a obstrução ao acesso à educação. São várias as
formas de violência cometidas contra as mulheres, podendo-se dizer que, “o que
diferencia este tipo de violência de outras formas de agressão ou coerção é que o fator
de risco, que neste caso, é o simples fato de serem mulheres ou meninas” (SILVA;
GEQUELIN; CAMPOS, 2017 p. 8). Existem milhares de casos de violência sexual não
relatados durante o período de guerra do Talibã, seja por medo em denunciar ou porque
sabem que a investigação não será levada a diante e nem haverá a punição de seus
algozes. Esses crimes não são somente atentados contra a individualidade, mas também
são crimes de guerra e meios de controlar o corpo e a mente das mulheres.
Os pressupostos que norteiam a violação dos Direitos Humanos pelo Talibã, mais
precisamente aos que competem as mulheres afegãs auxiliam na compreensão de como
uma crise política que possibilitou a ascensão e consequentemente a tomada de poder
por um grupo terrorista promoveu práticas contrárias aos instrumentos legais de
organização e efetuação da igualdade, uma vez que as mulheres tiveram seus direitos
relacionados à escolaridade, de frequentar espaços públicos e exercer o livre arbítrio em
suas escolhas pessoas que perpassam desde usar ou não a burca e decidir com quem
querer se casar. Vale salientar, que a estrutura social afegã no que se refere aos papéis
das mulheres tem uma vinculação cultural a maternidade com um simbolismo aos meios
de reprodução, porém as ações tomadas pelo grupo terrorista no contexto além de
perpetuar essa visão de uma forma radical e coercitiva, contribuindo ainda mais para
uma inferiorização associada à submissão feminina.
Levando isso em conta, entende-se que na atual conjuntura de uma recente
tomada de poder que culminou em uma preocupação global dado ao histórico de
violação de direitos fundamentais e um possível retrocesso nas políticas públicas, no
que tange a visibilidade das mulheres, adotadas no governo democrático anterior, que se
mostrou ineficaz em lidar com dissidências e conflitos presentes no território afegão.
Dessa maneira, compreende-se que reflexões acerca da trajetória de poder do Talibã,
são importantes no âmbito acadêmico, uma vez que o ativismo de personalidades
históricas contemporâneas como Malala Yousafzai, propiciam reflexões para além de
realidades constantemente abarcadas em pesquisa que ainda se centram em debates
dentro de contextos europeus e estadunidenses. Além disso, é algo fundamental na área
de Humanidades em especial as que se centram na contemporaneidade promover
análises que se objetivem observar situações políticas de rupturas e mudanças e suas
consequências que atingem grupos sociais que historicamente vem sendo inferiorizadas
e submetidas a violências, neste caso as mulheres afegãs.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GIELOW. Igor. Talibãs querem que as afegãs se cubram. EL PAÍS, Madrid, 15. Ago.
2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/08/taleban-toma-
cabul-e-volta-ao-poder-no-afeganistao-apos-20-anos.shtml. Acesso em 09. Out. de
2021.
MAHMOOD, Zahid; PINCHETA, Rob. Talibã diz ás mulheres que fiquem em casa,
pois soldados não são treinados. CNN Brasil, São Paulo, 25. Ago de 2021. Disponível
em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/taliba-diz-as-mulheres-que-fiquem-em-
casa-pois-soldados-nao-sao-treinados/. Acesso em 09. Out. 2021.