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Ciência Política

Bruno Farage – Doutorando em Teoria do Estado e


Direito Constitucional (PUC/RJ); Mestre em
Teoria e Filosofia do Direito (UERJ).
As Origens do Estado de Direito
As Origens do Estado de Direito
1) Estado de Direito como resultado de uma evolução
milenar (J. J Gomes Canotilho).
2) Característica Fundamental de todo Estado de Direito:
império das leis, contrapondo-se ao domínio dos
homens.
No Estado Grego
• Aristóteles: domínio
das leis (razão sem
paixões) → contrapõe-se
à soberania dos homens
(impulso animal).

• A racionalidade emerge
do reino das leis.

• Na Democracia: a lei é
soberana
Platão: defendeu ideias próximas ao que se
entende hoje por Estado de Direito.
Para ele, as melhores condições possíveis na vida
de um Estado seriam atingidas quando a lei
(expressão dos ditames da razão) fosse a
soberana absoluta dos governantes e os
governantes escravos da lei.
Observação: a idealização do Estado Ateniense
em Platão contrapõe-se ao modelo Espartano
(de conquista) e vincula-se à paz, existindo
apenas para garantir o pleno desenvolvimento
das faculdades e justos direitos dos indivíduos.
❑ Segundo Karl LOEWENSTEIN, os gregos
❑ Possuem profunda aversão em
relação a todo tipo de poder
Concentrado e arbitrário.

❑ Possuíam uma devoção quase fanática


Pelos princípios do Estado de Direito regulada
Democraticamente, assim como pela igualdade e a
justiça igualitária.
Na Idade Média
❑ Sistema Político fundado numa rede de
vínculos entre suseranos e vassalos.

❑ Jura quaesita (direitos adquiridos). Privilégios


que eram passados entre os nobres senhores
de terras.

❑ A limitação do Príncipe não é de natureza


jurídica (legal) mas sobretudo ético-religiosa
ou social.
Na Idade Média

❑ Não se encontra, na idade média, o


reconhecimento de uma esfera independente
de direitos fundamentais do homem.

❑ Obs: Magna Carta (1215); Cartas de franquia e


os forais ibéricos (convenções ou pactos entre
suseranos e a aristocracia feudal que
implicaram em limitação de poder) → raízes
da concepção moderna dos direitos
fundamentais.
Estado de Polícia como Poder não limitado do Monarca.

O Estado absoluto (final da idade média): anti-modelo do


Estado de Direito.

Estado Patrimonial

Estado Absoluto

Estado de Polícia
Estado de Polícia como Poder não limitado do Monarca.

❑ Estado Patrimonial: o patrimonialismo refere-se à


característica de um Estado que não possui distinções
entre os limites do público e os limites do privado. Foi
comum em praticamente todos os absolutismos. O
Conceito de soberania serve de cobertura para que o
Monarca assuma poderes absolutos.

❑ Estado de Polícia: recorrendo à ideia de Polícia (jus


politiae), o Príncipe pode intervir em todos os domínios no
interesse do bem público e em nome da Raison d’État. Na
esfera da polícia, os direitos dos particulares podem ser
lesados na atividade administrativa em busca do interesse
público.
Estado de Polícia como Poder não limitado do Monarca.

❑ Diferença: enquanto na fase patrimonial do Estado


absoluto o monarca detinha a soberania a título
pessoal, na fase de polícia passa a exercê-la enquanto
órgão do Estado.

❑ Semelhança: o princípio supremo de que a lei não


obriga o poder soberano.
Estado de Polícia como Poder não limitado do Monarca.

❑ No Estado de Polícia, os particulares não dispunham


de quaisquer mecanismos de defesa perante o Estado
contra os abusos da Administração.

❑ Insindicabilidade dos atos Administrativos: significa


que não se poder discutir o ato, não se poder discutir
judicialmente o mérito administrativo do ato.
Estado de Polícia como Poder não limitado do Monarca.

❑ Ressurge a doutrina do FISCO (originária do direito


Romano).

❑ Segundo a doutrina do FISCO, uma vez que o Estado se


situava à margem do direito, fora do controle judicial,
criou-se a ideia segundo a qual o Estado se desdobrava
numa outra pessoa moral de direito privado, sendo
capaz de:
Estado de Polícia como Poder não limitado do Monarca.

“O Estado é capaz de entrar em comércio jurídico com os


particulares, de se obrigar contratual e
extracontratualmente, de ter capacidade judiciária
ativa e passiva- o Fisco” - Guilherme Ehrhardt Soares
Observação! A doutrina do fisco não visava a proteção
de uma esfera autônoma de direitos, mas tão somente
minorar os prejuízos patrimoniais.

O Estado de Polícia confirmava-se como Estado acima do


direito.
A limitação jurídica do Estado como reação da burguesia
contra o Estado de Polícia.

Atividade discricionária do Estado: constrangimento


individual; falta de previsibilidade; insegurança jurídica.

Reação da Burguesia ascendente contra o Estado de


Polícia.
A limitação jurídica do Estado como reação da burguesia
contra o Estado de Polícia.

❑ A Burguesia passa a defender uma esfera em que cada


homem possui um núcleo de direitos naturais
concebidos como direitos subjetivos e insuscetíveis
de invasão por parte do Estado.

❑ Projeto de autonomia e auto-regulação da vida


econômica e exigência de debate público das questões
nacionais.

❑ Cálculo e Segurança inerentes à produção capitalista.


A limitação jurídica do Estado como reação da burguesia
contra o Estado de Polícia.

❑ Revoluções liberais e burguesas do século XVIII

❑ Governo da Razão.

❑ A soberania da vontade geral expressa no Parlamento


através de normas gerais e abstratas.

❑ “government of law, not of men”


A elaboração do Rechtsstaat

❑ Estado limitado: luta da burguesia contra o Estado de


Polícia.
❑ Estado de direito surge como conceito de luta política
característico dos movimentos e das ideias
prevalecentes no Século XIX.
❑ Estado de direito como fórmula e ideia alemã.
❑ Não existe um único conceito de Rechtsstaat, ao
contrário, existem várias propostas de autores
alemães.
A elaboração do Rechtsstaat

❑ Ponto em comum: “a racionalização do Estado com


vista à proteção dos direitos e realização do indivíduo
–nas ideias que, sob fórmulas diferentes, se
generalizam na Europa e na América do século XIX”.
❑ Sinônimos de Rechtsstaat em outras partes do mundo:
❑ Estado Constitucional (EUA e França)
❑ Rule of Law (Inglaterra)
A elaboração do Rechtsstaat

❑ A introdução do conceito na Alemanha:


❑ Robert von Mohl (Die deutsche Polizeiwissenschaft
nach den Grundsätzen des Rechtsstaates)
❑ Foi o primeiro a elaborar o conceito de Estado de
Direito.
❑ Contraditoriamente, a Alemanha era o país da Europa
que, ao longo do século XIX, ainda não havia
conseguido impor as soluções liberais.
A elaboração do Rechtsstaat

❑ Havia, ainda, na Alemanha, uma


Estrutura agrária e Feudal.

Debilidade e falta de homogeneidade


da burguesia.

Atraso econômico.
A elaboração do Rechtsstaat

❑ Na Alemanha: inversamente
Ao que acontece na França: a
Passagem do Estado de Polícia
Para o Estado de Direito se faz
De forma gradual.

Convivência, portanto, com um


Lastro de Estado de Polícia.
A elaboração do Rechtsstaat

A teoria de Von Mohl


tenta harmonizar o Rechtsstaat
Com o Estado de Polícia.

Ainda assim: houve uma teorização


Acerca da importância das
Regras jurídicas e do princípio
da legalidade.
As garantias políticos-constitucionais e o État
Constitutionnel

❑ Enquanto no Rechtsstaat destacou-se a importância


das Regras jurídicas e do princípio da legalidade,

❑ No État Constitutionnel a importância residia nos


mecanismos políticos de limitação do poder, como:
controle parlamentar e garantias institucionais.

❑ État Constitutionnel se consolida com as concepções


de superioridade formal da Constituição e sua
Rigidez.
As garantias políticos-constitucionais e o État
Constitutionnel
❑ Declaração de Direitos (1789) e Constituições iniciais
(1791): proteção dos direitos e liberdades individuais.

❑ A Constituição não é vista apenas como um limite ao


Executivo e ao Judiciário; mas uma imposição global a
todas as funções do Estado.

❑ Vontade geral: expressão do parlamento e vinculada


aos direitos naturais e inerentes aos homens.
As garantias políticos-constitucionais e o État
Constitutionnel
❑ “A soberania só existe de forma
Limitada e relativa. Onde começa
A independência da existência
Individual, detém-se a jurisdição
Dessa soberania” – Benjamin
Constant (1815) -
Princípios de política aplicáveis a todos os governos
As garantias políticos-constitucionais e o État
Constitutionnel
❑ O État Constitutionnel não se reduzia ao formalismo
do Rechtsstaat (legalidade e regras jurídicas), pois
assumia limites supra-positivos (direitos naturais),
contudo, ficava aquém por desvalorizar a forma, uma
parte importante na limitação plena do Estado.
O caso particular da Inglaterra e a Rule of Law
❑ A Magna Carta (1215): apesar de a sua natureza
revelar um acordo entre Príncipe e senhores feudais,
revela um alcance que vai além: fornecia aberturas
para a transformação dos direitos corporativos em
direitos do homem (positivação do acesso à justiça e
do due process of law).

❑ Século XVII: Revolução Gloriosa. Limitação do poder


Real em favor do Parlamento e consagração de
direitos individuais (Bill of Rights). O homem livre
deixa de ser tão somente os barões (proprietários de
terra)
O caso particular da Inglaterra e a Rule of Law
❑ A influência iluminista e
Jusnaturalista foi essencial
Para a concretização da ideia de
Direitos inalienáveis (vide John
Locke).

A construção do Estado de Direito


Na Inglaterra (Rule of Law) é
Resultado de um liberalismo
Vivido.
O caso particular da Inglaterra e a Rule of Law
❑ Enquanto na França e no continente tivemos o Estado
de Direito como ruptura do ancien régime, na
Inglaterra, a rule of law constitui-se segundo o
modelo da constitucionalidade histórica que marca o
desenvolvimento das instituições constitucionais
britânicas.

❑ A Rule of Law passa a ser entendida, a partir do


século XVII como o direito consuetudinário e a
supremacia do Parlamento.
O caso particular da Inglaterra e a Rule of Law
❑ A. V Dicey (introduction to the study of the law of the
constitution)
O caso particular da Inglaterra e a Rule of Law
❑ Características assumidas pela Rule of Law:
❑ 1) supremacia absoluta ou predominante da lei
elaborada segundo o processo ordinário, em
contraposição ao poder arbitrário/discricionário do
Monarca;
❑ 2) igualdade perante a lei ou sujeição de todas as
classes à lei ordinária;
❑ 3) as regras constitucionais britânicas são
consequência dos direitos dos particulares defendidos
e definidos pelos tribunais.

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