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Manual Pedagógico de Apoio

UFCD 10390 – Domínios e estratégias de intervenção em crianças e jovens


Ficha Técnica:

Formador/a – Ana Rita Serrano de Figueiredo Simeão

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Índice
ENQUADRAMENTO................................................................................................................ 3
Benefícios e condições de utilização .................................................................................... 3
Destinatários......................................................................................................................... 3
OBJETIVOS GERAIS ........................................................................................................... 4
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS ...................................................................................... 4
DESENVOLVIMENTO ............................................................................................................. 5
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 11

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ENQUADRAMENTO
Benefícios e condições de utilização
O manual da unidade de formação está organizado por secções:

• Secção I: Enquadramento da unidade de formação.


• Secção II: está organizada por capítulos e contém todos os documentos e materiais de
apoio sobre os conteúdos temáticos abordados ao longo da unidade. No final de cada
capítulo estão reunidas um conjunto de informações dirigidas aqueles que pretendam
complementar o estudo, aprofundando conhecimentos.
• Secção III: é constituída pela bibliografia e documentos eletrónicos

Esta forma de apresentação permite uma consulta rápida e direcionada. Para que possa
consolidar os conhecimentos adquiridos com a leitura deste manual propomos que realize os
exercícios práticos fornecidos pelo formador durante a sessão de formação.
Destinatários
São destinatários deste manual os/as formandos/as que frequentem a unidade de formação
de curta duração (UFCD) bem como outras pessoas que pretendam adquirir competências ou
atualizar/reciclar conhecimentos na área de formação.

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OBJETIVOS GERAIS
A unidade de formação de curta duração tem por objetivo dotar o/a formando/a com as
competências necessárias para:

• Definir os âmbitos e limites da intervenção do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial com


• crianças e adolescentes.
• Identificar as áreas, os domínios e objetivos da intervenção com crianças e
• adolescentes.
• Identificar as vantagens das diferentes estratégias de intervenção em função dos
• objetivos definidos.
• Preparar atividades e materiais ajustados à faixa etária e aos objetivos da
intervenção.

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
Intervenção do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial com crianças e jovens:
• Âmbitos e limites
• Questões éticas
Domínios da intervenção com crianças e jovens:
• Saúde, doença, incapacidade e deficiência
• Promoção da saúde e prevenção da doença
• Contextos institucionais
Formas de intervenção com crianças e jovens:
• Individual
• Grupo
• Família
Estratégias de intervenção com crianças e jovens:
• Expressão plástica
• Ludoterapia
• Técnicas de estimulação cognitiva
• Técnicas de treino de competências

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DESENVOLVIMENTO

A) Intervenção do/a Técnico/a de Apoio Psicossocial com crianças e jovens: (1)


Âmbitos e limites; (2) Questões éticas

O termo “psicossocial” refere-se à relação dinâmica entre aspetos psicológicos


relacionados com a experiência de cada pessoa, ou seja, pensamentos, emoções e
comportamentos, também a sua experiência social mais ampla como relacionamentos,
família e redes comunitárias, valores sociais, e práticas culturais, em que uma influência a
outra (IFRC Reference Centre for Psychosocial Support, 2014; Psychosocial Working
Group, 2005). O uso do termo “apoio psicossocial” (AP) baseia-se no princípio de que há
uma combinação de fatores responsável pelo bem-estar psicossocial das pessoas, e de
que os aspetos biológicos, emocionais, espirituais, culturais, sociais, mentais e materiais
da experiência não podem ser separados.
O Técnico de Apoio Psicossocial é o profissional qualificado apto a promover,
autonomamente ou integrado em equipas multidisciplinares, o desenvolvimento
psicossocial de grupos e comunidades no domínio dos cuidados sociais e de saúde e da
intervenção social e comunitária.
Intervém junto de indivíduos, grupos, comunidades, ou populações com necessidades
específicas, promovendo o seu desenvolvimento pessoal e sociocomunitário. Planeia,
organiza e promove atividades de carácter educativo, cultural, social, lúdico-pedagógico e
sócio terapêutico, em contexto institucional, na comunidade ou no domicílio, tendo em
conta as necessidades do grupo e dos indivíduos, com vista a melhorar a sua qualidade
de vida e a sua inserção e interação sociais. Intervém em comunidades em que não sejam
detetadas necessidades especiais nomeadamente escolas, lares de terceira idade, centros
de ATL. Colabora com a educadora de infância na execução de atividades lúdicas e
pedagógicas e outras atividades que fomentem e promovam os processos de socialização
das crianças em creches, em estabelecimentos de educação pré-escolar e em atividades
de tempos livres. Promovem o acompanhamento e a reinserção de crianças e jovens
institucionalizados. Participam em equipas pluridisciplinares que desenvolvam atividades
no âmbito da Educação para a Saúde. Acolhem e acompanham de forma personalizada o
doente e seus familiares nos circuitos assistenciais das Unidades de saúde apoiando-os e
motivando-os para o tratamento. Desenvolvem atividades lúdico-terapêuticas nas

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Unidades de Saúde, avaliando e registando a conduta e o desempenho global dos
doentes, e acompanhá-los em visitas de estudo relacionadas com a área ocupacional e
saídas de socialização. Desenvolvem ações de prevenção primária, secundária, terciária
e de redução de danos. Participam em equipas de despiste e acompanhamento dos
indivíduos com sida e outras doenças infecto -contagiosas, desenvolvendo atividades
complementares de ação terapêutica que promovam a sua reinserção social. Efetuam o
trabalho de rua junto de cidadãos “sem abrigo”, promovendo a sua reinserção social.

B) Domínios da intervenção com crianças e jovens


Apoio psicossocial (AP) pode descrever-se como “um processo facilitador da resiliência
nos indivíduos, famílias e comunidades, respeitando a sua independência, dignidade e
mecanismos de defesa. O AP promove a restauração da coesão social e de
infraestruturas” (IFRC Reference Centre for Psychosocial Support, 2009ª, p.25. Fonte:
Quadro sobre Apoio Psicossocial do IFRC 2005-2007).
O AP tem como objetivo ajudar na prevenção/recuperação de indivíduos em situação
de risco exposto ou com algum tipo de handicap. O AP deve ser disponibilizado a todas
as pessoas afetadas por uma situação de crise. Diferentes grupos – crianças, jovens,
adultos, homens, mulheres, idosos e pessoas com. AP refere-se às ações que
respondam às necessidades sociais, psicológicas e de saúde de indivíduos, famílias e
comunidades nos mais diversos contextos: escolar, hospitalar, comunidade, familiar.
O termo “Saúde Mental e Apoio Psicossocial” (SMAP) é, frequentemente, utilizado na
literatura para descrever qualquer tipo de apoio local ou externo prestado com o
objetivo proteger ou promover o bem-estar psicossocial e/ou prevenir ou tratar
distúrbios mentais de pessoas em situações de crise (Inter-Agency Standing Committee
[IASC], 2007). “Saúde Mental” e “Apoio Psicossocial” são termos interrelacionados que
refletem abordagens diferentes, mas complementares. Assim, as agências de outros
setores que não o da saúde tendem a falar de "apoio ao bem-estar psicossocial”,
enquanto que as pessoas que trabalham no setor da saúde tendem a falar de "saúde
mental". A definição exata, destes termos pode variar ligeiramente entre e em diferentes
organizações, disciplinas e países (IASC, 2007).
O Apoio Psicossocial é geralmente assegurado por membros da comunidade com
formação especializada, muitas vezes pertencentes à população a quem se destina a

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ação. Idealmente, essas pessoas devem ser de confiança e respeitadas na
comunidade, e devem ser identificadas através de um processo interativo com a
comunidade. Além destes, o apoio psicossocial pode ser assegurado por profissionais
formados em saúde mental nomeadamente: psiquiatras, psicólogos, psicomotricistas e
enfermeiros especializados em saúde mental, professores e assistentes sociais
formados.

C) Formas de intervenção com crianças e jovens


A intervenção psicossocial pode ser feita de forma individual, em grupo ou familiar. Um plano
com intervenção psicossocial para mudança positiva dirigido a crianças e jovens deve
contemplar três domínios centrais: (1) Competências e conhecimento (ex. saber como
comunicar e como tomar decisões; usar mecanismos de defesa, competências culturalmente
adequadas, competências vocacionais, gerir conflitos, de forma culturalmente apropriada;
saber a quem se dirigir para ter informações). Resultados: desenvolvimento cognitivo
relacionado com a aprendizagem e criatividade potenciado; aquisição de competências para
a vida e competências vocacionais; (2) Bem-estar Emocional (ex. sentir-se em segurança,
confiar nos outros, ter autoestima, ter esperança no futuro e objetivos realistas). Resultados:
maior sensação de segurança e confiança; comportamento pró-social e aumento do
autocontrolo (menor frustração, revolta, e agressividade, maior cooperação); maior sentimento
de esperança no futuro; (3) Bem-estar Social (ex. ligação a cuidadores, relacionamento com
pessoas da mesma idade, sentimento de pertença a uma comunidade, retomar atividades
culturais e tradições, participação voluntária e respeitosa em responsabilidades domésticas
adequadas, e meios de subsistência). Resultados: aumento da capacidade de assumir papéis
socialmente adequados; aumento do trabalho em rede e da coesão social; inclusão social
mais sustentada (ARC, 2009; UNICEF, 2011).

D) Estratégias de intervenção com crianças e jovens


O AP envolve diferentes formas de abordagens nomeadamente:
(1) As abordagens holísticas: focam-se no desenvolvimento holístico da criança,
reconhecendo as suas múltiplas necessidades: nutrição, saúde, alimentar relações
humanas, comunicar, brincar e atividades de aprendizagem adequadas. Para
responder a estas necessidades múltiplas, é fundamental reforçar os três domínios

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chave inter-relacionados do desenvolvimento da criança: físico, cognitivo, e social e
emocional.
(2) Os sistemas de apoio: proporcionam um continuum abrangente e completo de serviços
baseados nas necessidades das crianças:
• Serviços básicos de segurança: Atividades lúdicas e de expressão dirigidas a
crianças, realizadas em espaços seguros, Ações comunitárias coletivas, tais
como atividades de limpeza, onde os membros da comunidade, vítimas ou não,
se reúnem para recolher resíduos; ou outras como restaurar instituições
públicas, pintar escolas, clínicas, etc.; ou cerimónias religiosas, cozinhas
comunitárias, onde os membros da comunidade se reúnem para cozinhar
refeições para as vítimas da emergência, Programas de advocacy por serviços
básicos, proteção e implementação dos direitos da criança, Distribuição de
materiais de apoio psicossocial de emergência, como tapetes de oração,
brinquedos e jogos de crianças, Programas de sensibilização sobre os direitos
das crianças;
• Apoio à família e comunidade: Identificação e reunificação familiar, Apoio a
estruturas comunitárias e atividades culturais/tradições, Apoio a rituais
comunitários, incluindo rituais de luto, Grupos de apoio (p.e., viúvos ou viúvas,
adolescentes, crianças, idosos, grupos de mulheres), Programas de trabalho em
rede entre pares para crianças, adolescentes, jovens e cuidadores, Programas
de parentalidade positiva, Programas de formação vocacional para
adolescentes, Educação formal e não-formal, incluindo programas de
aceleração escolar, Programas de Aprendizagem Social e Emocional,
Programas psico-educativos, Encontros entre pais/comunidade para assegurar
o seu bem-estar psicossocial e do das suas crianças, Material informativo de
apoio psicossocial para pais e professores, Programas de tutoria ou de apoio
entre crianças, Atividades de subsistência e clubes juvenis, Programas de
desenvolvimento de competências para a vida, Programas de desenvolvimento
na primeira infância;
• Apoio específico não especializado: Apoio psicológico ao nível dos primeiros
socorros, Apoio e aconselhamento não especializado, Programas de prevenção
da violência e educação para a paz, Programas de apoio a vítimas de violência
de género, Programas de apoio à reintegração social de crianças soldado;

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• Serviços especializados: apoio psicossocial ou psiquiátrico para pessoas com
graves problemas mentais graves.
(3) As abordagens ecológicas: centram a sua abordagem em torno de parcerias entre
família-comunidade/sociedade que proporcionam uma melhor base para a promoção
do desenvolvimento de todas as crianças. As crianças, os pais, os educadores e os
membros da comunidade são considerados parceiros desde o processo de
planeamento, implementação e avaliação desses programas, uma vez que faltando um
ambiente propício, as mudanças individuais, sociais, emocionais e comportamentais
serão difíceis de sustentar.
Programas AP com expressão plástica, ludoterapia, estimulação cognitiva, treino de
competências e psicomotricidade contribuem para construção da resiliência facilitando a uma
adaptação positiva e têm como objetivos:
• Apoiar as crianças na realização de atividades lúdicas e de expressão
• Proporcionar às crianças o acesso a serviços de saúde e educação
• Restaurar o normal processo de crescimento e desenvolvimento das crianças
• Facilitar estratégias para que as crianças desenvolvam ligações significativas com os
seus colegas, bem como relações de amizade e laços sociais
• Facilitar um sentimento de pertença, de confiança nos outros e de controlo do meio
envolvente
• Aumentar a capacidade das famílias para cuidarem das suas crianças (ex., assegurar
que pais ou cuidadores têm as competências necessárias para apoiar uma criança
stressada)
• Capacitar as crianças para que sejam agentes ativos na reconstrução das suas famílias
e comunidades e para que tenham um futuro esperançoso (Emmons, 2006).

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Tabela 1 abaixo ilustra as necessidades psicossociais sentidas pelas crianças e algumas das
possíveis abordagens psicossociais que podem ser implementadas.

Os programas de AP tendem a operar simultaneamente com Programas de aprendizagem


social e emocional que têm um impacto positivo não apenas no desenvolvimento de
competências sociais e emocionais e no desempenho e rendimento escolar, mas também ao
nível de vários problemas de comportamento, tais como a violência, o uso de drogas, o
comportamento sexual de risco e o abandono escolar precoce (Payton et al., 2000).

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BIBLIOGRAFIA

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