Você está na página 1de 8

LIÇÕES PRELIMINARES DE DIREITO

Aluno: Gabriel Nascimento Moura - mat. N. 20210104285

FICHAMENTO: REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São


Paulo: Saraiva, 2004 - Capítulo I - OBJETO E FINALIDADE DE INTRODUÇÃO
AO ESTUDO DO DIREITO; Capítulo II - O DIREITO E AS CIÊNCIAS AFINS;
Capítulo III - NATUREZA E CULTURA; 32 páginas (págs. de 1 a 32)

CAPÍTULO 01

NOÇÃO ELEMENTAR DE DIREITO

Segundo Reale, antes de se promover um debate sobre o Direito é


necessário que haja uma noção já pressuposta sobre ele. Não se pode estudar um
assunto sem antes ter dele uma noção preliminar, afinal, como diz Heidegger, toda
pergunta já envolve uma intuição do perguntado. A partir disso, o autor prepara um
caminho para dissolver o Direito em um conceito mais primitivo, seguindo em
direção de um suposto consenso que paira o imaginário do homem comum - a lei e
ordem: os conjuntos de regras e tratados que garantem o convívio social e
estabelecem os “freios” da ação humana. Quem segue as regras, está se
comportando direito. Logo, pode-se dizer que o pressuposto buscado é essa
provável intuição histórica que atribui ao Direito a função de direcionar o que é lícito
ou não no comportamento humano.

Por conseguinte, o autor resgata a etimologia mais provável dos termos lei e
jus - laço e coordenar, respectivamente - visando inferir, de forma mais concreta, a
definição do Direito como uma espécie de exigência elementar do convívio ordenado
e solidário, expandindo a concepção mais comum de que o Direito é algo somente
imperativo.

Ademais, o autor qualifica o Direito como um fato social. Conforme ele


aponta, o Direito não existe senão na sociedade e não pode ser concebido fora dela
- ubi societas, ibi jus. Portanto, a “experiência jurídica" é uma expressão das
relações intersubjetivas, atos que envolvem duas ou mais pessoas, e está presente
desde as formas mais rudimentares da vida social, a qual, durante muito tempo, foi
admitida apenas como as regras a serem cumpridas, despreocupada de estabelecer
um significado lógica e moral. É somente em um futuro distante, com uma
sociedade mais madura, que as regras jurídicas começam a manifestar valores e
conceitos próprios, tornando-se um fato teórico ao superar normas e dogmas
religiosos e adquirir, finalmente, um valor autônomo, formalizado como Ciência do
Direito.

MULTIPLICIDADE E UNIDADE NO DIREITO

O Direito é multifacetado, são vários campos de interesse que refletem em


estruturas normativas distintas e renováveis. Entretanto, apesar das contínuas
mudanças, existem elementos comuns a todas as áreas, uma experiência jurídica
que se distingue de outras, como a religiosa e econômica, por exemplo. Alguns fatos
são comuns a todos os fatos jurídicos, e isso permite olhar para o Direito como uma
experiência constante.

Sobre os campos do Direito, às suas disciplinas jurídicas, é preciso destacar


que a divisão, a priori, é dada em duas grandes classes: Direito Privado e Direito
Público. A definição dos dois é bem intuitiva; enquanto o primeiro diz respeito às
relações entre indivíduos em sua esfera particular, o segundo se acomoda em atingir
os interesses existentes entre o coletivo social e a esfera pública. Essas duas
classes, além disso, também se dividem em vários outros ramos, como o Direito Civil
e Direito Comercial no campo do Direito Privado; e o Direito Constitucional e Direito
Administrativo no campo do Direito Público.

Cada ramo do Direito leva o nome de disciplina. Essa definição é dada porque
a disciplina é um sistema de princípios e regras que atém a conduta humana,
formalizando deveres e estabelecendo limites, ou seja, dando razão aos limites
estabelecidos à ação.

Para o autor, ninguém pode exercer uma atividade sem razão de direito.
Segundo ele, cada gesto do comportamento humano está tutelado, direto ou
indiretamente, pela ação do fenômeno jurídico. Desde o médico que receita um
medicamento ao paciente, até o professor que leciona ao aluno (além, claro, de
incontáveis outros cenários), tudo padece sob o véu do Direito.

Por fim, vale destacar que os campos do Direito se relacionam em suas


formas e ações (o Direito Comercial também é Direito Constitucional), surgindo,
então, a necessidade de estabelecer uma visão ampla e unitária sobre as disciplinas
jurídicas.

COMPLEMENTARIDADE DO DIREITO

Além de uma visão ampla, é necessário que haja, também, determinar uma
complementaridade entre as diferentes disciplinas jurídicas. Mas primeiro, é
importante definir qual o tipo de unidade respectiva ao Direito, afinal, existem
diversos. Nesse caso, sendo o Direito uma ciência humana, o seu tipo de unidade é
a unidade de fim, cuja característica é de que o todo se estrutura para perseguir um
objetivo comum, inerente a todas as partes componentes, encontrando, aí, a sua
complementaridade.

LINGUAGEM DO DIREITO

Ao continuar a enveredar pelo estudo da unitariedade do Direito, o autor


expõe a necessidade intransigente de se estabelecer um vocabulário próprio. Ora,
Ciência é a própria linguagem e, portanto, em sua linguagem se expressam os
valores de referida Ciência. Isso não é uma exceção no direito, inclusive, a
linguagem própria do Direito é tão tradicional que pertence a uma tradição
multimilenar. Além disso, é necessário conhecer bem a linguagem para, também,
diferenciar expressões que assumem sentidos diferentes quando comparadas a
“língua normal”, como o termo competência, que na língua jurídica diz respeito a
autoridade de poder examinar e resolver determinados casos, e não a um bom
preparo para exigências específicas. Conhecer a linguagem do Direito é estabelecer
a sua possibilidade de comunicação.

O DIREITO NO MUNDO DA CULTURA

No mundo intelectual, existem os continentes da história e cultura. Por esses


campos, existem conhecimentos próprios que se deslocam em várias áreas do
saber. O Direito é uma delas. E, portanto, devemos, para Reale, colocar a Ciência
do Direito em confronto com esses demais campos de ação, visando estabelecer
seus questionamentos e valores próprios e posicionar corretamente o Direito nesse
continente (ou mundo) da cultura.
O MÉTODO NO DIREITO

O método é o caminho que as determinadas Ciências estabelecem para,


através de procedimentos preestabelecidos, chegar em resultados exatos que
possam ser verificados e, consequentemente, estabelecer uma verdade. O método é
imprescindível a Ciência, portanto, também a Ciência do Direito. Logo, para se
prosseguir na formação jurídica, deve-se estar completamente munido dos métodos
adequados que o cercam.

NATUREZA DA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Finalizando o capítulo, o autor esclarece que a Introdução ao Estudo do


Direito não é uma ciência no sentido rigoroso, pois não possui um campo autônomo
e particular de pesquisa, mas, em contrapartida, é uma ciência no sentido de possuir
um sistema de conhecimento lógico e organizado, tendo um gesto pedagógico bem
estabelecido. Para ele, é uma Ciência Introdutória, com um viés quase artístico, que
visa inferir diversos campos lógicos e da razão - do próprio Direito, inclusive -,
perpassando por esferas históricas, culturais e sociais e culminando na composição
de uma forma unitária e conceitual do Direito.

CAPÍTULO 02

NOÇÃO DE FILOSOFIA DO DIREITO

Ao se conceber a Filosofia, de forma bem redutível, como uma ação


permanente em prol do conhecimento, ou da verdade, pode-se afirmar, então, que a
Filosofia do Direito diz respeito a uma pesquisa permanente das condições morais,
lógicas e históricas da Ciência do Direito.

O Direito em seu desígnio filosófico se ocupa de problematizar o próprio


Direito como conceito, através de exercícios lógicos que irão investigar, dentre
outras coisas, como o Direito surge, em que o Direito se legitima e se fundamenta e
qual o sentido do Direito ante o progresso.

A Filosofia do Direito dialoga com a indagação científica para examinar as


suas condições de possibilidade como Ciência. Apesar de existir nesse contexto
uma natureza lógica, o filósofo do Direito expande seu olhar e retórica para além
desse tema, dialogando também com os valores éticos e sócio-históricos da
juridicidade.

NOÇÃO DE CIÊNCIA DO DIREITO

Segundo o autor, a Ciência do Direito, ou Jurisprudência, possui como objeto


o fenômeno jurídico historicamente realizado. É um Direito Positivo, pois é positivado
no espaço e tempo e alicerçado da experiência social, isto é, podendo abranger a
ação científica para, por exemplo, desde o Direito da Grécia Antiga até a juridicidade
da Grécia atual.

Portanto, diz-se que a Ciência do Direito fundamenta suas normas através da


realidade social e se objetifica pela ação histórica enquanto realiza uma investigação
jurídica de natureza científico-positiva, sendo, por isso, denominada de Direito
Positivo.

NOÇÃO DE TEORIA GERAL DO DIREITO

Existem concepções gerais do Direito que são comuns às investigações


formalizadas em diversas partes do mundo. Nesse sentido, há uma noção de Teoria
Geral do Direito, seguindo a concepção natural do que é uma “Teoria”, que
estabelece conceituações que visam englobar partes isoladas e difusas em um todo
mais genérico. A Teoria Geral do Direito é, além disso, um plano da Ciência Jurídica
atenta ao saber positivo do Direito, capaz de elucidar normativas e regras próprias
em sua estrutura motriz.

Além disso, alguns autores e intelectuais fazem a distinção entre Teoria Geral
do Direito e Enciclopédia Jurídica, à qual atribuem a esta a tarefa de formalizar as
disciplinas do Direito em sistemas de um microcosmo jurídico; algo que estabelece
uma noção geral sobre cada disciplina jurídica.

DIREITO E SOCIOLOGIA

Quando idealizada por Augusto Comte, pai do positivismo, a Sociologia seria


uma espécie de ciência final, a Filosofia que englobava todo o saber social e
culminaria nos valores todos do saber positivo. Hoje em dia, entretanto, e apesar de
ter uma definição ainda difusa, a Sociologia se resguarda a uma pesquisa
sistemática do fato social, atenuando-se mais à expressão da realidade do que sua
forma supostamente pura.

Nesse contexto, a atual Sociologia Jurídica, também uma ciência positiva,


busca compreender, através de dados estatísticos, como as normas jurídicas são
apresentadas efetivamente na sociedade, ou seja, como a experiência humana é
afetada pela ação do Direito.

DIREITO E ECONOMIA

Segundo a concepção marxista, através de seu “materialismo histórico”, o


Direito é uma das muitas expressões de uma forma da sociedade burguesa, a
chamada “superestrutura”, respectiva aos valores expressos da sociedade burguesa
que atuam em vertente de um processo cunhado de “alienação”, mas que é,
entretanto, subjugado por uma forma primordial e mais poderosa - a infraestrutura
econômica. Resumindo, para Marx, as forças econômicas são quem moldam o
Direito, e moldam-no com uma roupagem ideológica.

Entretanto, muitos teóricos do Direito, inclusive marxistas, percebem que essa


não é uma análise exata. O Direito antecede a sociedade liberal, expressando-se em
outros tipos de sociedade, independente, pois, de sua ordenação produtiva.
Contudo, o Direito interage diretamente com a Economia, havendo a reestruturação
de um quando uma nova estrutura do outro emerge - e vice-versa. Errado, logo, é
estabelecer que o Direito, e vice-versa novamente, convém em sua forma apenas
pelo ensejo do outro; o que há, em suma, é uma relação dialética entre o econômico
e o jurídico.

O Direito, em abstrato, é uma forma poderosa de estrutura. Apesar de a


Economia ser fundamental para a sua expressão, o Direito também atua da mesma
forma nessa relação. Aliás, não é obstante dizer que isso não é uma realidade
exclusiva da relação econômica, qualquer coisa que, porventura, se aproximar do
Direito será, logo, judicializada.
CAPÍTULO 03

O DADO E O CONSTRUÍDO

O homem existe em uma relação de coexistência. Essa coexistência se dá


através da própria interação entre indivíduos e/ou em função de coisas. Dessarte,
pode-se inferir a existência de duas ordens correspondentes a duas espécies de
realidade: uma realidade natural e uma realidade humana.

Na natureza, temos as coisas em seu estado natural. Os homens, então,


dotado pela cognição e vontade, atuam para adaptar essas coisas “ofertadas” em
mecanismos que atinjam algum fim. É o complemento de dois mundos, o natural e o
cultural. Ao expressar uma vontade de indicar os elementos, o homem atua para
trabalhar com as coisas em sua forma natural, com aquilo que é “dado”. Em
consonância, “Construído” é o termo designado para expressar aquilo que o homem
devolve para a natureza, através do conhecimento expresso em leis. Diante dessas
esferas, o homem adapta-se visando codificar em nexo esses elementos do mundo
físico e do mundo da cultura.

CONCEITO DE CULTURA

Conceitualmente, para o autor, a cultura é um conjunto de materiais e


estruturas, físicas ou abstratas, que o homem constrói a partir da natureza, ora para
modificá-la, ora para modificar a si mesmo. A cultura também é uma concepção
filosófica que serve para o ser humano como um direcionador de fins. E o fim, nada
mais é para a humanidade, como o guia e alimento incondicional da alma; algo que
não apenas sacia, mas transcende.

Enfim, a cultura é um aprimoramento do espírito. Um valor em si próprio, que


nasce abstrato, mas se expressa paradoxalmente como um novo valor. É quando o
homem, ao alterar aquilo que lhe é “dado”, altera, também, a si próprio.

LEIS FÍSICO-MATEMÁTICOS E LEIS CULTURAIS

Existe uma distinção entre as concepções de leis físico-matemáticas e leis


culturais. Enquanto as leis naturais promovem observações que visam inferir um
fato, sem se atenuar, necessariamente, a uma representação mais ampla de seu
significado, ou seja, olha-se apenas a dureza e concretude dele, sendo uma visão
neutra e unilateral, apenas mutável quando se descobre nova óticas, novamente,
constantes e imutáveis do fenômeno. Já nas leis culturais, existe à adequação aos
meios e fins, a qual não existem o objetivo ou desejo de disciplinar e estabelecer
uma forma de conduta fundamentar, mas sim, ofertar através da experiência óticas
que, imbuídas de contexto, permitem o estabelecimento de um olhar ou de uma
retórica crítica ao fato.

Nesse viés, o legislador constrói a projeção de normas e regras a partir da


concepção cultural, que também é histórica, filosófica, sociológica, econômica etc., a
qual, como dito, envolve uma tomada de posição frente à realidade que, no caso do
Direito, é o reconhecimento da obrigatoriedade de se regular o comportamento
humano e sua relação com as “coisas”, conclusão que surge, por exemplo, a partir
de observações históricas.

BENS CULTURAIS E CIÊNCIAS CULTURAIS

Fundamentalmente, a diferença entre bens culturais e ciências culturais é que


o primeiro são produtos da atividade humana, enquanto o segundo é um olhar sobre
essa atividade e o próprio humano em si. Ainda sobre as ciências culturais, o fato
que distingue ela das demais ciências naturais é que seu objeto de análise são os
bens culturais. No caso do Direito, pode-se estabelece-lo como uma ciência cultural
e social, visto que olha tanto para os bens originários da ação cultural, como olha
para os bens culturais expressos através da sociedade em seus códigos, gestos e
valores.

Você também pode gostar