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MARCELO MARCANTE

PRESCRIÇÃO PENAL NA PRÁTICA


© 2020 – Editora Canal Ciências Criminais

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A violação dos direitos do autor (Lei nº 9.610/1998) é crime estabelecido pelo
artigo 184 do Código Penal.

Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Lei nº 10.994, de 14 de dezembro


de 2004.

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Bernardo de Azevedo e Souza

Conselho Editorial
André Peixoto de Souza Bruno Augusto Vigo Milanez
Diógenes V. Hassan Ribeiro Fábio da Silva Bozza
Fauzi Hassan Choukr Felipe Faoro Bertoni
Fernanda Ravazzano Baqueiro Maiquel A. Dezordi Wermuth

Capa e projeto gráfico


Estúdio Xirú

Diagramação
Caroline Joanello

Impressão e acabamento
Gráfica Evangraf

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


M313p Marcante, Marcelo
Prescrição penal na prática: abordagem prática e jurisprudencial
[recurso eletrônico] / Marcelo Marcante. – Porto Alegre : Canal
Ciências Criminais, 2020.
112 p.

ISBN: 978-65-87298-07-8 (e-book)


Modo de acesso: http://editora.canalcienciascriminais.com.br

1. Direito Penal - Brasil. 2. Prescrição da pena. 3. Extinção da


punibilidade. I. Marcante, Marcelo. II. Título.

CDD 341.5461
Bibliotecária Responsável: Eliane Mª. Pereira Kronhardt (CRB 10/1518)
SUMÁRIO

Prefácio 7
Notas do autor 9

Capítulo I A Prescrição Penal no Direito brasileiro 11


1 A prescrição penal no Estado Democrático
de Direito: abordagem jusfilosófica 11
2 Evolução legislativa 12
3 Conceito e Fundamento 18
4 Natureza jurídica 20
5 Espécies de prescrição 21
6 Efeitos da prescrição 23
7 Prazos prescricionais 25

Capítulo II Da prescrição da pretensão punitiva 33


1 Termo inicial da prescrição da pretensão
punitiva 33
2 As causas interruptivas da prescrição 35
3 Causas suspensivas (ou impeditivas) da pres-
crição 44
4 Das formas de contagem 46
5 Concurso de crimes e continuidade delitiva 55
6 Prescrição da pena de multa 56
7 Prescrição da medida de segurança 57

Capítulo III Da prescrição pra pretensão executória 59


1 Termo inicial da prescrição da pretensão
executória 59
2 Prazos prescricionais e efeitos da reincidência 61
3 A unificação das penas e o cálculo da pres-
crição 62

5
4 Das causas suspensivas do prazo prescricional 63
5 Causas interruptivas da prescrição 65
6 Formas de contagem 74

Capítulo IV Discussões atuais sobre a prescrição: abordagem


prática e jurisprudencial 77
1 Os crimes (im)prescritíveis na Constitui-
ção Federal de 1988 77
2 (Im)prescritibilidade da prática do racismo:
abrangência conforme a Lei nº 7.716/89 e
a sua extensão à injúria racial (artigo 140,
§3º do CP) 79
3 Os efeitos da declaração de nulidade do
edital de citação na suspensão do prazo
prescricional determinada pelo artigo 366,
do Código de Processo Penal 82
4 A prescrição nos crimes falimentares 84
5 Estelionato previdenciário e momento con-
sumativo 87
6 A prescrição no delito de descaminho 89
7 Prescrição nos crimes ambientais praticados
por pessoas jurídicas 91
8 Princípio da non reformatio in pejus indi-
reta e a prescrição da pretensão punitiva 92
9 A repercussão das alterações trazidas pela Lei
13.964/19 no tocante à prescrição penal 94

Referências bibliográficas 99
Anexos 105

6
PREFÁCIO

Sempre complexo prefaciar a obra de irmãos de armas.

Marcelo, não obstante coroada carreira acadêmica, é um Ad-


vogado como poucos, entende perfeitamente a distinção entre sala
de aula e sala de audiências, e nos presenteia com um livro que,
embasado na primeira, fornece a todos aqueles que vivem da se-
gunda uma rara aproximação didática com o tema.

Prescrição não é tema fácil, seja pelo viés dogmático, seja pelas
profundas consequências jurídicas e sociais de sua incidência.

Para o Direito Penal, a prescrição fulmina justamente aquilo


que lhe justifica a própria existência, seja aniquilando a imposição,
seja afastando a execução da pena correspondente a eventual delito
praticado pelo sujeito.

Para a sociedade – principalmente como a nossa, que se ajoe-


lha para dogmas de punição extremada como instrumento político
e discursos sobre a segurança pública – o Poder Judiciário não ape-
nas demonstra sua ineficiência como, além, o grau de impunidade
que atinge determinados segmentos sociais.

É, para o público, instituto que jamais deveria existir.

Justamente por sua importância dogmática e prática em uma


sociedade dominada pela cultura do litígio que a presente obra já
nasce como imprescindível.
7
Ao aluno, futuro Advogado, Juiz ou Promotor de Justiça, ne-
cessário o debate acadêmico que a prescrição traduz ao se legitimar
como declaração de que as finalidades da pena (prevenção geral e
especial, positiva e negativa) já não mais subsistem, e que, seja por
humanidade, seja por funcionalidade, o assunto deve ser literal-
mente esquecido.

Ao profissional da área jurídica, ainda mais veemente a per-


cepção de todas as consequências do instituto, seus prazos e marcos
interruptivos, pois gerir a aplicação de Justiça traduzindo-a para a
sociedade como um ideal pelo qual vale a pena se lutar e se limitar
em anseios pessoais é dever tão importante quanto conceitua-la.

Para a sociedade, por fim, importante se propagar o entendi-


mento cultural de que tudo tem prazo, de que vinganças não se
eternizam, e de que regras de convívio devidamente estabelecidas
e aplicadas – ou seja, um caminho denominado devido processo
penal – são tão estruturais em uma República quanto os próprios
ideais de sua formação.

Marcelo, com a presente obra, satisfaz plenamente a todos os


requisitos acima. Mostra o valor do processo, da academia e dos
princípios que norteiam o caminhar do penalista.

Portanto, vida longa à obra e ao autor, querido amigo, pois


conhecimento jamais prescreve.

Porto Alegre, 09 de setembro de 2019.


Daniel Gerber1.

1 Advogado Criminalista, graduado pela PUCRS em 1995. Mestre em Ciências Criminais


pela PUCRS. Professor de Direito Penal e Processual Penal.

8
NOTAS DO AUTOR

É com grande alegria que apresento esta obra ao mundo jurí-


dico, trazendo entendimentos atualizados e questões práticas acer-
ca de tema tão intrincado e relevante que é a prescrição.

O direito é uma ciência social aplicada e, em assim sendo, suas


discussões acadêmicas não podem estar desvinculadas de uma visão
prático-processual, onde os problemas concretos precisam ser re-
solvidos pelos profissionais do direito.

Nosso objetivo, portanto, é estabelecer a aproximação da


academia com a prática, proporcionando uma ferramenta objeti-
va para aqueles que necessitam aprofundar seu conhecimento na
matéria de prescrição, sempre direcionando nossas lentes para a
solução de casos práticos.

Primou-se pela objetividade e pelo aprofundamento da posi-


ção, muitas vezes divergentes, dos Tribunais Superiores em rela-
ção à matéria, sem se perder o espaço crítico inerente ao debate
acadêmico e que movimenta a ciência do direito.

Deixa-se nosso endereço eletrônico (marcelo@marcelomarcante.


com.br) para troca de experiências, críticas, sugestões. Nosso saber
está sempre em construção e depende de permanente diálogo, pois
assim alcançamos maior crescimento pessoal e profissional.

Obrigado.

9
10
CAPÍTULO I
A PRESCRIÇÃO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

1 A PRESCRIÇÃO PENAL NO ESTADO


DEMOCRÁTICO DE DIREITO:
ABORDAGEM JUSFILOSÓFICA

A pena é o centro de gravidade das ciências penais, pois tem


maior impacto na realidade objetiva das pessoas. Daí porque a sua
utilização deve estar submetida à critérios de limitação racional.
Consiste, também, em meio pelo qual o Estado, através do direito
penal, visa se constituir como um instrumento de organização so-
cial e tutela dos bens jurídicos mais relevantes.

A pena mantém viva a memória do delito, reafirmando a im-


portância dos valores sociais que foram infringidos. Desse modo,
causas extintivas de punibilidade nas quais o Estado deixa de exer-
cer o jus puniendi em face do decurso do tempo (como a prescri-
ção, a decadência e a perempção) aparecem como verdadeiras fór-
mulas legais de esquecimento, apresentando situações que podem
ser lidas como superação da vingança pela ausência de necessidade
de memória do crime2.

Assim, a prescrição penal é um limite racional pelo qual o po-


der punitivo do Estado não pode avançar. Significa dizer que não
se justifica a manutenção de uma pretensão punitiva ad eternum,
2 CARVALHO, SALO. Antimanual de criminologia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p.
173-175.

11
pois a necessidade do reforço dos valores morais com a aplicação
de uma pena se enfraquece com o decurso do tempo, chegando a
um ponto que a aplicação da pena deixa de ter finalidade. Em ou-
tras palavras, o tempo esmaece ou, até mesmo, apaga a lembrança
do fato punível fazendo cessar o desequilíbrio social causado pelo
crime.

Apesar da base jusfilosófica que embasa a prescrição como um


fator limitador do poder punitivo estatal, vários ordenamentos
jurídicos declaram certos delitos como imprescritíveis, manten-
do viva e atual a necessidade punitiva de determinadas condutas.
Como regra, nosso sistema adota a regra da prescritibilidade dos
delitos, sendo que o lapso temporal para o seu reconhecimento
depende da gravidade do crime, pois varia de acordo com o máxi-
mo da pena abstratamente prevista na lei ou concretamente fixada
na sentença.

Em termos técnico-jurídicos, o instituto da prescrição penal


consiste na causa de extinção da punibilidade pelo transcurso do
tempo. Trata-se de uma autolimitação do jus puniendi do Esta-
do levado a efeito por razões de política criminal e que decorre
da perda de interesse em punir determinadas condutas, tendo em
conta o lapso temporal transcorrido e a consequente ausência de
finalidade na aplicação e/ou cumprimento da pena.

2 EVOLUÇÃO LEGISLATIVA

A legislação brasileira, desde os tempos do império, sofreu di-


versas mudanças nas regras que norteiam o cálculo da prescrição

12
penal, por vezes trazendo regras mais rígidas e, por vezes, apresen-
tando disposições mais flexíveis.

No Código Criminal do Império (1830) estabelecia-se que as


penas impostas aos réus não prescreveriam em tempo algum (art.
65), referindo-se à prescrição da pena já fixada em sentença, pois
a prescrição da ação estava regulada pela legislação processual da
época.3

Posteriormente, o Código Penal da primeira República (1890)


admitiu a prescrição da condenação, matéria que foi regulada pelos
artigos 78 a 85. O natural aumento do número de leis durante o
período da República desencadeou, em igual sentido, a revisão de
muitos preceitos do Código Penal de 1890. Contudo, foi apenas
com o Código Penal de 1940 que a prescrição da pretensão puni-
tiva e a prescrição da pretensão executória (e suas respectivas causas
interruptivas) foram compiladas em uma codificação estruturada
de maneira similar com a qual vislumbramos hoje.4

Em 1969 (Decreto-Lei nº 1004/69), a Junta Militar que go-


vernava o Brasil revogou expressamente a prescrição retroativa
pela pena em concreto, estabelecendo no §1º do artigo 111 do
Código Penal que “depois da sentença condenatória de que somente o
réu tenha recorrido, regula-se também, daí por diante, pela pena imposta e
verifica-se nos mesmos prazos”.5
3 DOTTI, René Ariel. Variações sobre a prescrição na busca de um tempo perdido. In: FAYET JÚ-
NIOR, Ney. Prescrição Penal: Temas Atuais e Controvertidos. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2018, p. 23-24.
4 DOTTI, René Ariel. Variações sobre a prescrição na busca de um tempo perdido. In: FAYET JÚ-
NIOR, Ney. Prescrição Penal: Temas Atuais e Controvertidos. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2018, p. 24-26.
5 Decreto-Lei nº 1004/69. In: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/de-
creto-lei-1004-21-outubro-1969-351762-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em 03 set
2019.

13
Posteriormente, em 1973, foi encaminhado novo Projeto de
Lei que resultou na promulgação da Lei nº 6.016/1973, a qual res-
tabeleceu a possibilidade da prescrição retroativa, incluindo o §1º
na redação do artigo 110 nos seguintes termos:“A prescrição, depois
da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação, regula-se
também pela pena imposta e verifica-se nos mesmos prazos”.6

A Lei nº 6.416, introduzida em 1977, trouxe várias modifica-


ções no sistema penal brasileiro, seja no quadro da execução das
penas privativas de liberdade e de multa, reincidência, livramento
condicional, seja por ter substituído do parágrafo único do artigo
110 pelas seguintes disposições: “§1º. A prescrição, depois da sentença
condenatória com trânsito em julgado para a acusação, regula-se, também
pela pena aplicada e verifica-se nos mesmos prazos. §2º. A prescrição, de
que trata o parágrafo anterior, importa, tão somente, em renúncia do Es-
tado à pretensão executória da pena principal, não podendo, em qualquer
hipótese, ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia.”7

Veja-se que o efeito do reconhecimento da prescrição era li-


mitado à pretensão executória, sendo que foi vedada a prescrição
retroativa entre a data do recebimento da denúncia e a data do
fato, alterando substancialmente a interpretação dada à súmula 146
do Supremo Tribunal Federal8.9
6 DOTTI, René Ariel. Variações sobre a prescrição na busca de um tempo perdido. In: FAYET JÚ-
NIOR, Ney. Prescrição Penal: Temas Atuais e Controvertidos. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2018, p. 27.
7 DOTTI, René Ariel. Variações sobre a prescrição na busca de um tempo perdido. In: FAYET JÚ-
NIOR, Ney. Prescrição Penal: Temas Atuais e Controvertidos. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2018, p. 27-28.
8 Súmula 146 do STF. “A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na senten-
ça, quando não há recurso da acusação”.
9 DOTTI, René Ariel. Variações sobre a prescrição na busca de um tempo perdido. In: FAYET JÚ-
NIOR, Ney. Prescrição Penal: Temas Atuais e Controvertidos. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2018, p. 27-28.

14
Com a Reforma Penal de 1984 restabeleceu-se o entendi-
mento consolidado na referida súmula da Suprema Corte, man-
tendo a redação original do artigo 110 do Código Penal de 1940,
modificando o termo “pena imposta” para “pena aplicada” e vol-
tou a admitir a possibilidade da prescrição retroativa entre a data
do fato e o recebimento da denúncia.10

Após a reforma de 1984, com advento da Lei nº 12.234/10,


tivemos a última alteração no que tange ao instituto da prescrição,
que restaurou a previsão contida na Lei nº 6.416/1977, para ex-
cluir a hipótese de prescrição retroativa entre a data do recebimen-
to da denúncia ou da queixa e a data do fato. Como consequência,
reabriu-se a possibilidade de um prolongamento exagerado da in-
vestigação, pois a prescrição da pretensão punitiva neste período
somente se regula pelo máximo da pena cominada ao crime.

Nos últimos anos, tem se verificado um número muito grande


de reformas legislativas feitas com o intuito de “combater” a cri-
minalidade. Os discursos do expansionismo penal encontram eco
na sociedade11, de modo a proporcionar um espaço de produção
legislativa para tornar o sistema penal, como um todo, mais duro.

A prescrição é um dos temas mais atacados por aqueles que


defendem a expansão e o recrudescimento do direito penal. Re-
centemente, em 14 de fevereiro de 2019, foi apresentado Projeto
10 DOTTI, René Ariel. Variações sobre a prescrição na busca de um tempo perdido. In: FAYET JÚ-
NIOR, Ney. Prescrição Penal: Temas Atuais e Controvertidos. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2018, p. 28.
11 Para aprofundamento da temática, imprescindível a leitura das obras de Jesus-Maria Silva
Sanchez (La expansión del derecho penal: aspectos de la política criminal em las sociedades postindus-
triales. Madrid: Civitas, 2001) e de David Garland (A cultura do controle: crime e ordem social na
sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Revan, 2008).

15
de Lei nº 837/2019 que visa alterar a redação do §1º do art. 110
do Código Penal, para o fim de extinguir novamente a prescrição
retroativa no curso do processo.

Entretanto, em nossa visão, tal Projeto de Lei é inconstitucio-


nal, tendo em vista que não apenas deve ser assegurada a razoá-
vel duração do processo e os meios que garantam a celeridade de
sua tramitação (artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal), mas
também porque pretende criar, na prática processual, uma hipóte-
se de imprescritibilidade. Ora, a pena somente poderá ser aplicada
na medida em que mantiver sua finalidade, sendo que essa última
se esmaece quando decorrido muito tempo da ocorrência do fato.

A partir de um exemplo prático, podemos melhor visualizar


a mudança que teremos em decorrência do referido Projeto de
Lei. Suponhamos uma acusação de tráfico de entorpecentes, cuja
prescrição pela pena em abstrato é de 20 (vinte) anos. Com o fim
da prescrição retroativa entre a data do fato e o recebimento da
denúncia ou queixa, restabelecida pela Lei nº 12.234/10, o Poder
Judiciário poderá estar iniciando o processo criminal 20 (vinte)
anos após a ocorrência do fato.

Em caso de aprovação do Projeto de Lei nº 837/2019, tam-


bém não haverá mais prescrição pela pena em concreto entre a
data do recebimento da denúncia ou da queixa e a data da senten-
ça. Logo, o após o recebimento da peça acusatória pelo juiz, esta
mesma acusação de tráfico poderá ter sentença também dentro do
prazo de 20 (vinte) anos que, mesmo assim, não haverá prescrição
da pretensão punitiva.

16
Logo, nesse exemplo hipotético, a pena poderá ser aplicada até
40 (quarenta) anos após a ocorrência do crime, somados o lapso
temporal pela prescrição em abstrato entre a consumação do delito
e o recebimento da denúncia, bem como deste marco interrupti-
vo e a publicação da sentença. Significa dizer que resta esvaziado
o critério racional limitador do poder punitivo do Estado, o qual
existe justamente para evitar a aplicação de pena sem que esta se
justifique pelo esquecimento social em relação ao delito.

Na mesma linha é a proposta do Ministro da Justiça Sérgio


Moro, denominada de “Projeto de Lei Anticrime ou Pacote An-
ticrime”. Dentre as diversas alterações propostas, a prescrição tam-
bém está inserida no debate. No capítulo “X” do projeto, sob
o título de “Medidas para Impedir a Prescrição”, a proposta era
alterar o artigo 116 e artigo 117, incisos IV e V, todos do Código
Penal, com o objetivo de introduzir mais causas suspensivas e in-
terruptivas da prescrição.

Dentre essas alterações propostas, foram aprovadas e inseridas


na Lei nº 13.964/19 apenas duas novas hipóteses de suspensão da
prescrição: a pendência de julgamento de embargos de declaração
ou recursos interpostos perante os Tribunais Superiores, quando
inadmissíveis; e a enquanto não for cumprido ou rescindido o
acordo de não persecução penal.

A proposta de inclusão de novos marcos interruptivos da pres-


crição no artigo 117 do Código Penal acabou não sendo incluída
nesta reforma. A proposta era de que, o texto do inciso IV, do Có-
digo Penal, deveria ser suprimida a expressão “condenatórios” do
texto atual. Com isso, a sentença e o acórdão absolutórios também

17
funcionariam como causas de interrupção da prescrição da pre-
tensão punitiva. Ainda, a proposta buscava acrescentar a execução
provisória da pena como marco interruptivo, alterando o texto do
inciso V, do artigo 117 do Código Penal.12

Como se percebe, as propostas de alteração legislativa seguem


uma linha de recrudescimento do poder punitivo, seguindo a ló-
gica expansionista do direito penal que tem dado suporte à política
criminal nos últimos anos. É preciso que tenhamos o cuidado de
observar o fundamento constitucional da prescrição penal para não
criarmos, a partir de regras infraconstitucionais, situações que na
prática configuram a imprescritibilidade dos delitos.

3 CONCEITO E FUNDAMENTO

A prescrição penal, em sua essência, consiste na causa de ex-


tinção da punibilidade da pena a ser aplicada em função do trans-
curso do tempo no artigo 107, inciso IV, do Código Penal. Tra-
ta-se de uma autolimitação do direito de punir estatal, por razões
de ordem político-criminal com justificação na filosofia do direito
e na própria Constituição Federal, pela carência de interesse estatal
na punição, pela diminuição da memória social em relação ao fato
de modo a esmaecer a finalidade de aplicação da pena.

O artigo 107, inciso IV do Código Penal estabelece três hi-


póteses de extinção da punibilidade pelo decurso do tempo: deca-
dência, a perempção e a prescrição.
12 Medidas para evitar a prescrição – Mudanças no Código Penal: “Art. 116 (...) II – enquanto
o agente cumpre pena no estrangeiro; e III – na pendência de embargos de declaração ou de
recursos aos Tribunais Superiores, estes quando inadmissíveis. Art. 117 (...) IV – pela publi-
cação da sentença ou do acordão recorríveis; V – pelo início ou continuação da execução
provisória ou definitiva da pena.”

18
A decadência consiste na perda do direito de ação privada (di-
reito de queixa) ou de representação, ante a inércia do ofendido
ou de seu representante legal, em razão do decurso do prazo de
seis meses, contados do dia em que este veio a saber quem foi o
autor do crime, conforme dispõe o artigo 103 do Código Penal13.
Nessa situação, ocorre a perda do direito de promover a ação penal
privada ou manifestar seu interesse que seja movida a ação penal
pública em face do autor do crime.

Já a perempção é sanção aplicada ao querelante que deixa de


promover o bom andamento processual, por negligência ou desí-
dia. Trata-se de instituto exclusivo da ação penal de iniciativa pri-
vada, previsto no artigo 60 do Código de Processo Penal14, não se
aplicando às situações em que o querelante promove queixa crime
subsidiária da ação penal pública.

A prescrição, por sua vez, é a perda do direto do Estado de


punir o autor de um crime pelo seu ato em face do decurso do
tempo. Surge, pois, como uma garantia do cidadão contra o jus pu-
niendi estatal, obrigando-o a agir em determinado lapso temporal
previamente definido em lei.

13 Art. 103 do Código Penal. Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do
direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses,
contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do §3º do art. 100
deste Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia.
14 Art. 60 do Código Penal.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa, conside-
rar-se-á perempta a ação penal: I – quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o
andamento do processo durante 30 dias seguidos;
II – quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em
juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas
a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III – quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato
do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas
alegações finais;
IV – quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
19
4 NATUREZA JURÍDICA

A matéria relativa à prescrição é considerada de ordem públi-


ca, pode ser conhecida pela autoridade judicial a qualquer tempo
e grau de jurisdição (inclusive por meio de habeas corpus, conforme
preceitua o artigo 648, inciso VII, do Código de Processo Penal15),
sendo independente da vontade das partes. Ou seja, o juiz poderá
reconhece-la de ofício.

Além disso, as regras de prescrição possuem inegável caráter


material, até porque o efeito ex lege que decorre do seu reconhe-
cimento é a extinção da punibilidade, na forma do artigo 107, IV,
do Código Penal. Nas palavras de Faria Costa, “os preceitos legais da
prescrição fazem ainda parte daquele conjunto de normas, porque invasivas
e instrumentalmente constrictivas de direitos fundamentais, que deve pree-
xistir a práctica de infração penal”.16

Assim, eventuais alterações legislativas em relação à matéria


estão regidas pelos princípios da anterioridade da lei penal e da
retroatividade benigna da lei penal, previstos no artigo 5º, incisos
XXXIX17 e XL18, da Constituição Federal e reproduzidos nos ar-
tigos 1º e 2º do Código Penal19. Dessa forma, por consequência,
afasta-se a aplicação da regra do tempus regit actum (artigo 2º do
15 Art. 648 do Código de Processo Penal. A coação considerar-se-á ilegal: VII – Quando ex-
tinta a punibilidade.
16 FARIA COSTA, José Francisco de. O direito penal e o tempo (algumas reflexões dentro do nosso
tempo e em redor da prescrição). In. Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coim-
bra. Coimbra: Coimbra, 2003, o. 1154
17 Artigo 5º, inciso XXXIX da CF. Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal.
18 Artigo 5º, inciso XL da CF. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
19 Anterioridade da Lei – Art. 1º do CP.  Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há
pena sem prévia cominação legal. Lei penal no tempo – Art. 2º – Ninguém pode ser punido
por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e
os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado. 

20
Código de Processo Penal20), segundo a qual a lei processual penal
se aplica desde logo aos atos processuais subsequentes, indepen-
dentemente de quando ocorreu o fato.

Logo, na prática processual, é preciso verificar a data em que


o delito ocorreu, para identificar qual a legislação aplicável ao caso
concreto. Com relação as recentes alterações introduzidas pela Lei
nº 13.964 (que entrou em vigor no dia 24 de janeiro de 2020),
não poderá haver aplicação retroativa pois prejudicam o réu. O
mesmo sucede aos fatos ocorridos anteriormente à Lei nº 12.234,
de 5 de maio de 2010, devendo ser aplicadas as regras de prescrição
vigentes à data do fato.

5 ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO

Quando se trata de prescrição penal, consta-se a existência de


duas modalidades, quais sejam: (1) a prescrição da pretensão puni-
tiva (ou da ação), que ocorre antes do trânsito em julgado a sen-
tença penal condenatória (artigo 109, caput, do Código Penal); e
(2) da pretensão executória, ou seja, da execução da pena aplicada
na sentença (artigo 110, caput, do Código Penal21).

A prescrição da pretensão punitiva poderá ser aferida pelo má-


ximo da pena em abstrato cominada ao crime, ou pela pena em
concreto fixada na sentença, esta última aferida a partir do trânsito
em julgado para a acusação ou após improvido o seu recurso, na
forma do artigo 110, §1º, do Código Penal22. Para além, a prescri-
20 Art. 2o do CPP. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.
21 Art. 110, caput, do Código Penal. A prescrição depois de transitar em julgado a sentença
condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior,
os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente.
22 Art. 110, §1º do CP. A prescrição, depois da sentença condenatória transitada em julgado

21
ção pela pena em concreto, pode ser calculada de duas formas: (1)
retroativa; (2) intercorrente, superveniente ou subsequente.

De outra banda, a prescrição da pretensão executória também


se calcula pela pena em concreto fixada na sentença, podendo ser
aumentada de um terço se o condenado for reincidente, na forma
do artigo 110, caput, do Código Penal. Essa modalidade de pres-
crição possui como termo inicial de contagem: (1) o trânsito em
julgado para a acusação; ou (2) o dia em que restou interrompida
a execução da pena, (artigo 112, incisos I e II, do Código Penal23),
como, por exemplo, nas hipóteses de fuga ou revogação do livra-
mento condicional.

Dessa forma, quando da contagem do prazo prescricional, é


preciso ter muito cuidado com a influência do trânsito em jul-
gado para a acusação, o qual não configura causa interruptiva da
prescrição, porém acarreta dois efeitos de extrema importância:
(1º) possibilita, na prescrição da pretensão punitiva, que este cál-
culo seja feito a partir da pena concretamente fixada na sentença;
e (2º) configura o termo inicial para a contagem da prescrição da
pretensão executória, que somente será interrompida com o início
do cumprimento da pena, nos termos do artigo 117, inciso V, do
Código Penal.

Em relação aos atos infracionais, pelo fato de se amoldarem


aos tipos penais, a forma de contagem do prazo prescricional é a
mesma prevista na legislação penal, em observância ao previsto na
para a acusação ou depois de improvido o seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não
podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.
23 Artigo 112 do CP. No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: I – do
dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a
suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; e II – do dia em que se inter-
rompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena.
22
súmula 338 do Superior Tribunal de Justiça que dispõe: “a prescri-
ção penal é aplicável nas medidas sócio-educativas”.

6 EFEITOS DA PRESCRIÇÃO

Os efeitos decorrentes da declaração da extinção da punibili-


dade pela prescrição irão variar de acordo com a espécie da pre-
tensão estatal que desapareceu pelo decurso do tempo (punitiva ou
executória).

No caso da pretensão punitiva, extingue-se a possibilidade do


Estado obter uma sentença penal condenatória sobre o fato impu-
tado, razão pela qual não gerará efeitos, equivalendo-se, portanto,
ao decreto absolutório. Concretamente, significa dizer que: não
implicará em juízo de culpabilidade; não poderá ser aplicado como
reincidência ou maus antecedentes; não gerará título executivo na
área cível; não obrigará ao pagamento das custas processuais; e,
ainda, autorizará a restituição integral da fiança, se o acusado assim
a houver prestado.

De outro lado, a prescrição da pretensão executória, obstacu-


liza, tão somente, o efeito principal da sentença condenatória, qual
seja, a pena privativa de liberdade fixada na sentença. Todavia, os
efeitos secundários decorrentes da condenação permanecem hígi-
dos, vale dizer, aqueles previstos nos artigos 92 e 93 do Código
Penal.

Além daqueles previstos nos artigos 92 e 93 do Código Penal,


também são efeitos secundários da condenação criminal: (1) a in-
clusão do nome do réu no rol de culpados, que poderá ser utilizada

23
para fins de reincidência ou maus antecedentes; (2) a criação de
um título executivo na área cível; e (3) a perda do valor prestado
como fiança, que ficará vinculando ao pagamento das custas pro-
cessuais e à reparação do dano sofrido pela vítima (artigo 336 do
Código de Processo Penal).

Portanto, pode-se dizer que, no caso da prescrição da pre-


tensão punitiva, não haverá qualquer efeito para o acusado, sendo
equivalente à sentença absolutória. Em contrapartida, em se tratan-
do da hipótese de prescrição da pretensão executória, o condenado
sofrerá todos os efeitos secundários de uma condenação criminal,
entretanto, a pena fixada na sentença não poderá ser executada.

MODALIDADES DE PRESCRIÇÃO

Efeitos equivalentes à absolvição

PELA PENA EM
ABSTRATO
PRETENSÃO (MÁXIMA
COMINADA)
PUNITIVA
RETROATIVA
PELA PENA EM
CONCRETO
(FIXADA NA
SENTENÇA) INTERCORREN-
TE, SUBSEQUENTE
OU SUPERVE-
PELA PENA NIENTE
ESPÉCIES DE PRES- PROJETADA
CRIÇÃO (SÚMULA 438
DO STJ)

PRETENSÃO EXE-
CUTÓRIA Obs.: efeitos secundários da condenação persistem.
Será utilizado para fins de reincidência e configura
título executível no cível.

24
7 PRAZOS PRESCRICIONAIS

Os prazos para o cálculo da prescrição irão depender da pena


em abstrato cominada ao crime ou daquela concretamente fixada
na sentença, devendo o operador do direito se reportar à tabela es-
tabelecida no artigo 109, do Código Penal, bem como verificar se
a pena de multa é única cominada ou aplicada, na forma do artigo
114 do CP24. Veja-se a tabela abaixo:

PRAZO PENA COMINADA OU PREVISÃO


PRESCRI- APLICADA LEGAL
CIONAL
em vinte anos se o máximo da pena é superior a Artigo 109, I, do
doze CP
em dezesseis se o máximo da pena é superior a Artigo 109, II, do
anos oito anos e não excede a doze CP
em doze anos se o máximo da pena é superior a Artigo 109, III,
quatro anos e não excede a oito do CP
em oito anos se o máximo da pena é superior a Artigo 109, IV,
dois anos e não excede a quatro do CP
em quatro anos se o máximo da pena é igual a um Artigo 109, V, do
ano ou, sendo superior, não excede CP
a dois
em três anos se o máximo da pena é inferior a 1 Artigo 109, VI,
ano (com redação dada pela Lei nº do CP
12.234/10)
em dois anos se a pena de multa for a única comi- Artigo 114, I, do
nada ou aplicada CP

Destaca-se que o prazo prescricional de três anos, aplicável


aos crimes com pena máxima cominada ou concretamente fixada
24 Artigo 114 do CP. A prescrição da pena de multa ocorrerá: I – em 2 (dois) anos, quando a
multa for a única cominada ou aplicada; e II – no mesmo prazo estabelecido para prescrição
da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada
ou cumulativamente aplicada.

25
na sentença inferior à um ano, foi introduzido pela Lei nº 12.234,
publicada em 5 de maio de 2010, a qual alterou a redação do artigo
109, inciso V, do Código Penal. Logo, aos fatos praticados ante-
riormente a esta data, aplicar-se-á a legislação anterior que tinha
como previsão o prazo prescricional de dois anos.

Além disso, inclui-se no cômputo do máximo da pena co-


minada ao crime as causas de aumento e de diminuição da pena,
excetuando-se as hipóteses de concurso formal ou continuidade
delitiva. De maneira diversa ocorre com a detração do período de
prisão cautelar (artigo 42 do Código Penal), posto que não possui
o condão de influenciar no prazo prescricional calculado pela pena
em concreto, não se podendo confundir institutos distintos, con-
forme são os entendimentos do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça25.

Por fim, destaca-se que existem circunstâncias de caráter pes-


soal que interferem nos lapsos temporais da prescrição, como a
menoridade relativa na data do fato, a senilidade na data da sen-
tença e a reincidência.

7.1 REDUÇÃO DOS PRAZOS NA MENORIDADE


RELATIVA E SENILIDADE (ARTIGO 115 DO CP)

Para a aferição do prazo prescricional, deve-se levar em conta


que o artigo 115, do Código Penal preceitua que tal lapso tem-
poral será reduzido pela metade quando o agente era, ao tempo
do crime, menor de 21 (vinte e um) anos ou, na data da senten-
25 No âmbito do Supremo Tribunal Federal, destaca-se o HC 69.865/PR (DJ 02.02.93). Já, no
Superior Tribunal de Justiça o mesmo entendimento é consolidado, conforme se verifica no
RHC 44.021/SP (DJ 10.06.15).

26
ça, maior de 70 (setenta) anos de idade. Em qualquer caso, seja
pretensão punitiva ou executória, aplica-se a redução do tempo
de prescrição pela metade. A prova da idade pode ser feita por
qualquer documento hábil, não sendo necessária a certidão de nas-
cimento, conforme dispõe a Súmula 74 do Superior Tribunal de
Justiça.

Após a entrada em vigor do atual Código Civil (Lei nº


10.406/2002), a doutrina discutiu se foram revogadas a circuns-
tância atenuante (artigo 65, inciso I, do CP) e a redução pela me-
tade dos prazos prescricionais, posto que capacidade civil plena
passou a ser considerada a com 18 (dezoito) anos de idade.

Com isso, todos os dispositivos processuais penais que enfoca-


vam o menor de 21 (vinte e um) anos como relativamente capaz
foram afetados pelo novo Código Civil, sendo, portanto, revoga-
dos. Contudo, acerca dos efeitos penais, o Superior Tribunal de
Justiça26entendeu que a alteração do Código Civil não importou
em revogação do artigo 2º, parágrafo único, do Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente27. Nessa lógica, tanto a redução do lapso pres-
cricional pela metade, como a atenuante da menoridade relativa
continuam sendo aplicadas, até porque entendimento em sentido
contrário comprometeria o princípio da legalidade, sendo vedada
interpretação analógica em desfavor do réu.

De outro lado, a doutrina também lançou a discussão no sen-


tido de que o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03) teria alterado
26 Nesse sentido: HC 30.886/RJ (DJ 22/11/04); HC 31.498/RJ (DJ 31/04/04); HC 36.044/
RJ (DJ 17/12/04).
27 Artigo 2º do ECA. Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de
idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito ano de idade. Parágrafo único.
Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito
e vinte e um anos de idade.

27
a idade de 70 anos prevista no artigo 115 do Código Penal, ao
estabelecer em seu artigo 1º que se considera idoso pessoa com
mais de 60 anos. Contudo, o Supremo Tribunal Federal28 decidiu
no sentido de que o critério cronológico adotado pelo Estatuto do
Idoso – 60 (sessenta) anos de idade – não alterou a regra excepcio-
nal da redução dos prazos prescricionais, mantendo os 70 (setenta)
anos de idade.

Já com relação ao momento processual em que o agente com-


pleta 70 (setenta) anos de idade, para fins ensejar a redução pela
metade do tempo de prescrição, a legislação refere que tal idade
deve ser atingida até a data da sentença. No entanto, o Supre-
mo Tribunal Federal, quando do julgamento da Extradição 591-0
(DJ 22/09/95), decidiu que a senilidade, para o efeito de redu-
zir a prescrição pela metade, pode se dar quando os 70 (setenta)
anos estejam completos antes do trânsito em julgado do decreto
condenatório e não necessariamente na data da sentença. Tal en-
tendimento foi reafirmado nos julgados do ARE 778042/DF (DJ
21/10/14, Primeira Turma) e AP 516 ED/DF (DJ 05/12/2013,
Tribunal Pleno).

Todavia, há divergência acerca do assunto inclusive no âmbito


da Suprema Corte, conforme se verifica dos seguintes preceden-
tes: HC 96.968/RS (DJ01/12/09, Primeira Turma), HC 89.969/
RJ (DJ 26/06/07, Primeira Turma) e HC 86.320/SP (17/10/06,
Primeira Turma). Nessas decisões, o entendimento foi no sentido
de que os 70 (setenta) anos deveriam estar completos na data da
sentença – aplicado analogicamente para os acórdãos proferidos
em ações penais originárias ou que reformam sentença absolutória.
28 Nesse sentido: HC 88.083/SP (DJ 03/06/08); HC 89.969/RJ (DJ 26/06/07)

28
A nosso entender, deve-se observar a coerência sistêmica, em
sendo o artigo 1º, do Estatuto do Idoso, mais favorável ao réu,
deveria surtir efeitos na seara penal, de modo a reduzir o prazo de
70 (setenta) para 60 (sessenta) anos para a senilidade, determinando
a redução da prescrição pela metade nesses casos. Entretanto, sob
a ótica do princípio da legalidade, a idade de 60 (sessenta) anos
deve ser completada na data da sentença condenatória ou, ana-
logicamente, do acórdão condenatório (nos casos de ação penal
originária ou de reforma da sentença absolutória em sede recursal).
Não há fundamento legal para entendimento em sentido diverso.

Assim, os prazos prescricionais, em havendo a incidência do


artigo 115, do Código Penal, que implica em redução da pena
pela metade, são aplicáveis tanto para a prescrição punitiva como
executória; restando, dessa maneira, os seguintes períodos:

PRAZO PENA COMINADA OU PREVISÃO


PRESCRICIO- APLICADA LEGAL
NAL
em dez anos se o máximo da pena é superior Artigo 109, I c/c 115
a doze do CP
em oito anos se o máximo da pena é superior Artigo 109, I c/c 115
a oito anos e não excede a doze do CP
em seis anos se o máximo da pena é superior Artigo 109, III c/c
a quatro anos e não excede a oito 115 do CP do CP
em quatro anos se o máximo da pena é superior Artigo 109, IV c/c
a dois anos e não excede a quatro 115 do CP
em dois anos se o máximo da pena é igual a um Artigo 109, V c/c
ano ou, sendo superior, não ex- 115 do CP
cede a dois
em um ano e se o máximo da pena é inferior a Artigo 109, VI c/c
meio 1 ano (com redação dada pela Lei 115 do CP
nº 12.234/10)

29
em um ano se a pena for de multa única co- Artigo 114, I c/c 115
minada ou aplicada do CP

7.2 AUMENTO DOS PRAZOS DA PRESCRIÇÃO DA


PRETENSÃO EXECUTÓRIA PELA REINCIDÊNCIA

Em relação ao prazo de contagem da prescrição da preten-


são executória, também são aplicáveis os prazos estabelecidos pelo
artigo 109 do Código Penal. Todavia, se o condenado for rein-
cidente, os prazos prescricionais serão acrescidos de um terço, na
forma do artigo 110, caput, do Código Penal.

Destaca-se, nesse contexto, o entendimento previsto na sú-


mula 220 do STJ, no sentido de que “a reincidência não influi no
prazo da prescrição da pretensão punitiva”, mas apenas da pretensão
executória.

Vejamos, então, como restaria a tabela no caso de o acusado


ser reincidente:

PRAZO PRAZO PENA A SER PREVISÃO


PRESCRI- PRESCRICIO- CUMPRIDA LEGAL
CIONAL NAL – CON-
– CONDE- DENADO
NADO REIN- PRIMÁRIO
CIDENTE
em vinte e seis em vinte anos se o máximo da Artigo 109, I c/c
anos e oito meses pena é superior 110, caput, do CP
a doze

30
em vinte e um em dezesseis anos se o máximo Artigo 109, II c/c
anos e dois meses da pena é supe- 110, caput, do CP
rior a oito anos
e não excede a
doze
em dezesseis em doze anos se o máximo da Artigo 109, III c/c
anos pena é superior 110, caput, do CP
a quatro anos
e não excede a
oito
em dez anos e em oito anos se o máximo Artigo 109, IV c/c
oito meses da pena é supe- 110, caput, do CP
rior a dois anos
e não excede a
quatro
em cinco anos e em quatro anos se o máximo Artigo 109, V c/c
quatro meses da pena é igual 110, caput, do CP
a um ano ou,
sendo superior,
não excede a
dois
em quatro anos em três anos se o máximo Artigo 109, V c/c
da pena é in- 110, caput, do CP
ferior a 1 ano
(com redação
dada pela Lei nº
12.234/10)
em dois anos e em dois anos se a pena for de Artigo 114, I c/c
oito meses multa única co- 110, caput, do CP
minada ou apli-
cada

31
32
CAPÍTULO II
DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA

1 TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO


DA PRETENSÃO PUNITIVA

O termo inicial para a contagem da prescrição da pretensão


punitiva está previsto no artigo 111 do Código Penal e adota
como regra básica o dia em que o crime se consumou (artigo 111,
inciso I). Logo, a aferição do momento consumativo possui grande
relevância para a definição do início da contagem da prescrição.

A consumação nos crimes materiais ocorre no dia em que


aconteceu o resultado naturalístico. Nos crimes formais e de mera
conduta, quando da ocorrência da ação que configura o delito,
sendo que a ocorrência de resultado naturalístico é apenas exau-
rimento do delito. Nos crimes omissivos próprios ou puros, no
momento em que se concretiza o comportamento negativo. Já nos
crimes omissivos impróprios, impuros ou comissivos por omissão,
se dá quando da concretização do resultado. Também em rela-
ção aos crimes preterdolosos ou qualificados pelo resultado, bem
como nos crimes culposos, a consumação se verifica quando da
ocorrência do resultado qualificador ou do resultado naturalístico,
respectivamente.

Os incisos II à V, do artigo 111, do Código Penal estabele-


cem exceções à regra geral, quais sejam: (1) na hipótese do crime
ser tentado, a prescrição começará a fluir do dia em que cessou a

33
atividade criminosa (artigo 111, inciso II); (2) nos delitos perma-
nentes, a prescrição somente começará a correr a partir do dia em
que cessar a permanência (artigo 111, inciso III); (3) nos crimes de
bigamia e de falsificação ou alteração de assentamento de registro
civil, a prescrição começará a contar desde o dia em que o fato se
tornou conhecido (artigo 111, inciso IV); e (4) nos crimes contra
a dignidade sexual de criança e adolescentes, previstos no Código
Penal ou em legislação complementar, da data em que a vítima
completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido
proposta a ação penal (artigo 111, inciso V).

Por outro lado, o artigo 111 do Código Penal é omisso em


relação aos crimes habituais, ficando inteiramente a cargo da dou-
trina e da jurisprudência a determinação do termo inicial do prazo
prescricional. Os crimes habituais são aqueles que, para sua con-
figuração, dependem da reiteração ou habitualidade da conduta,
sendo que a prática de um ato isolado não configura fato penal-
mente atípico. Nesses casos, pela sua maior similitude com os deli-
tos permanentes, o Supremo Tribunal Federal29 firmou o entendi-
mento de que o termo inicial da prescrição da pretensão punitiva
se dá quando da data da última das ações que constituem o fato
típico.

Na regra específica para bigamia e falsificação ou alteração de


assentamento de registro civil, o artigo 111, inciso IV, do Códi-
go Penal dispõe que a prescrição corre da data em que o fato se
tornou conhecido. Este conhecimento, inclusive, pode se dar de
modo presumido, quando o fato adquire notoriedade (pelo uso do
documento falso, por exemplo).
29 Nesse sentido é o julgamento do HC 87.987/RS (DJ 09.05.09), no qual a Corte Constitu-
cional definiu que os crimes habituais tem seu termo inicial de contagem da prescrição na
prática do último das ações que configuram a habitualidade.
34
Por fim, destaca-se que o inciso V, do artigo 111, do Código
Penal – introduzido pela Lei 12.650/12 (Lei Joanna Maranhão) –
alterou substancialmente o tratamento a ser dado no caso dos cri-
mes contra dignidade sexual envolvendo crianças e adolescentes.
Isso pois, a prescrição começa a correr quando a vítima completa
18 anos de idade, em relação aos fatos praticados após a publicação
desta legislação.

Essa nova disciplina veio para elevar o espectro de proteção da


criança e do adolescente, alcançando tanto os delitos previstos no
Código Penal (artigos 213 a 234-B), como no Estatuto da Criança
e do Adolescente (artigos 240; 241; 241-A a 241-E; 244-A; e 244-
B). Significa dizer, amplia a tutela penal da dignidade sexual de
menores de 18 anos. Assim, como frisado, por se tratar de norma
que amplia o poder punitivo com caráter material, por óbvio, não
poderá ser aplicada aos fatos anteriores à 17 de maio de 2012, data
em que a lei foi publicada.

Estabelecido o termo inicial da prescrição, o prazo (de direito


material) começa a correr, somente se interrompendo diante em
decorrência dos marcos interruptivos estabelecidos pela legislação
penal no artigo 117 do Código Penal.

2 AS CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO

As causas interruptivas da prescrição estão previstas no artigo


117 do Código Penal: (1) recebimento da denúncia ou da queixa
(artigo 117, inciso I); (2) decisão de pronúncia (artigo 117, inciso
II); (3) decisão confirmatória da pronúncia (artigo 117, inciso III);
(4) pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recor-

35
ríveis (artigo 117, inciso IV); (5) pelo início ou continuação do
cumprimento da pena (artigo 117, inciso V); e (6) pela reincidên-
cia (artigo 117, inciso VI).

As causas interruptivas previstas nos incisos I a IV, do artigo


117, do Código Penal, são aplicáveis à prescrição da pretensão
punitiva, enquanto que àquelas previstas nos incisos V e IV (início
ou continuação do cumprimento da pena e reincidência) inter-
rompem a prescrição da pretensão executória.

Com a interrupção da prescrição, o prazo voltar a fluir do


início, devendo ser calculado de acordo com o máximo da pena
em abstrato ou com a pena concretamente fixada na sentença.
Apenas na prescrição da pretensão executória, na hipótese desta
ser interrompida pela continuação do cumprimento de pena, o
prazo prescricional será calculado de acordo com o tempo de pena
remanescente, observado o artigo 113 do Código Penal.

Os efeitos da interrupção da prescrição punitiva atingem a to-


dos os réus do processo, o que não ocorre com as causas interrup-
tivas da pretensão executória (início ou continuação do cumpri-
mento da pena e reincidência). Além disso, nos crimes conexos
que sejam objeto do mesmo processo, a interrupção relativa a
qualquer deles se estende aos demais delitos, conforme §1º do ar-
tigo 117 do Código Penal.

2.1 RECEBIMENTO DA DENÚNCIA OU DA QUEIXA

A decisão de recebimento da denúncia ou queixa é momento


processual em que o magistrado avalia se a denúncia é formalmen-

36
te apta, se estão presentes as condições da ação e os pressupostos
processuais, bem como se há justa causa para o início ação penal.
Assim, preenchidos estes requisitos, o magistrado irá fundamenta-
damente receber a denúncia ou a queixa e determinar a citação dos
réus no processo.

O período iniciado a partir do termo inicial de contagem da


prescrição da pretensão punitiva (artigo 111 do Código Penal), em
regra a data da consumação do delito, será interrompido. A con-
tagem se reinicia a partir da decisão de recebimento da denúncia
ou da queixa.

Existe um debate importante se o momento a ser considerado


como do efetivo recebimento da denúncia é a data da decisão de
recebimento ou a data da publicação dessa decisão em Diário Ofi-
cial. Através do julgamento do RE nº 548.181/PR30 no Supremo
Tribunal Federal, a Relatora Ministra Rosa Weber pontuou que
quando a decisão for monocrática, “há de ser publicada em cartório
para produzir efeitos”.

Por outro lado, a decisão que rejeita a denúncia não con-


figura marco interruptivo da prescrição. Nessa situação, poderá
o Ministério Público ou querelante interpor recurso em sentido
estrito (artigo 581, inciso I, do Código de Processo Penal) ou ape-
lação nos casos de competência do JECRIM (artigo 82 da Lei nº
9.099/95). Assim, caso seja dado provimento ao recurso da acu-
sação, a data do julgamento realizado pela a segunda instância será
levada a efeito como marco interruptivo da prescrição, conforme
súmula 709 do Supremo Tribunal Federal31.
30 RE nº 548.181/PR, DJ 06/08/2013.
31 Súmula 709 do STF – Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o

37
Após o recebimento da denúncia, o acusado é citado para o
oferecimento de resposta à acusação no prazo de 10 (dez) dias.
Apresentada a peça defensiva, deverá o magistrado apreciar os ar-
gumentos e pedidos defensivos, inclusive as hipóteses de absolvi-
ção sumária. Esta decisão que analisa se é o caso, ou não, de ab-
solver sumariamente o acusado não configura marco interruptivo
da prescrição, apesar da previsão contida no artigo 399 do Código
de Processo Penal32 ter trazido algum tipo de dúvida no âmbito da
doutrina.

O Superior Tribunal de Justiça dirimiu a dúvida, firmando


entendimento no sentido de que “o momento do recebimento da de-
núncia se dá, nos termos do artigo 396 do Código de Processo Penal”33,
sendo que o artigo 399 do mesmo diploma legal se refere à análise
das teses defensivas lançadas na resposta à acusação.

Portanto, o primeiro marco interruptivo da prescrição da pre-


tensão punitiva é o recebimento da denúncia ou da queixa, que
deve ser por meio de uma decisão judicial fundamentada e, após
isso, será oferecida a resposta à acusação. Para que produza efeitos,
a decisão deverá ser publicada no Diário Oficial.

2.1.1 HIPÓTESES EM QUE O ADITAMENTO À DENÚNCIA


CONFIGURA MARCO INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO

No aditamento à denúncia ou queixa, poderá a acusação com-


plementar fatos e/ou sujeitos, alterar as circunstâncias fáticas, in-
recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.
32 Art. 399 do CPP.  Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiên-
cia, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o
caso, do querelante e do assistente.
33 HC 153.751/SP, DJ 30/03/2012.

38
cluindo ou excluindo novas imputações, desde que tal aditamento
seja realizado antes da prolação da sentença. Isso porque, não há
que se falar em mutatio libelli em segunda instância, conforme sú-
mula 453 do Supremo Tribunal Federal34.

A decisão quanto ao recebimento do aditamento à denúncia


ou queixa, pode levantar dúvidas com relação a ser hábil (ou não)
a se tornar um marco interruptivo da prescrição. Nessas situações,
conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal e do Supe-
rior Tribunal de Justiça35, tal decisão, em regra, não configura causa
interruptiva da prescrição.

Somente ocorrerá a interrupção da prescrição quando o adi-


tamento importar em modificação substancial do conteúdo da
exordial acusatória. Ou seja, quando houver modificação dos fa-
tos narrados ou inclusão de fatos novos, hipóteses em que a inter-
rupção da prescrição ocorrerá apenas em relação aos fatos objeto
do aditamento.

Além disso, a inclusão de novos réus também configura mo-


dificação substancial, razão pela qual a decisão que recebe o adi-
tamento à denúncia nesses casos será considerada marco interrup-
tivo, mas apenas para os novos acusados inseridos no polo passivo
do processo.

Assim, o recebimento de aditamento para incluir novos crimes


é marco interruptivo para todos os denunciados, na forma do §1º
34 Súmula 453 do STF – Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do
Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em
virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou
queixa.
35 No STF: HC 109.635/ES (DJ 30/10/12); No STJ: RHC nº 72664/PA (DJ 12/09/2017);
HC 273.811/SP (DJ 18/04/16); HC 229.449/PB (DJ 05/10/12).

39
do artigo 117 do Código Penal36, restringindo-se aos fatos novos
imputados. Contudo, se houver a inclusão de um novo acusado, a
interrupção somente se dará em relação à este, não se estendendo
aos demais.

Por fim, se o aditamento atribuir definição jurídica diversa ao


fato narrado na peça inicial, ou apenas suprir eventual omissão ou
corrigir erro material da denúncia, não terá o condão de inter-
romper a prescrição, pois a jurisprudência não considera que tenha
ocorrido modificação substancial nos fatos.

2.2 PRONÚNCIA E DECISÃO


CONFIRMATÓRIA DA PRONÚNCIA

O artigo 117, incisos II e III, do Código Penal, preceitua que


a decisão de pronúncia e aquela confirmatória da pronúncia, con-
figuram marco interruptivo da prescrição, sendo que a data de sua
publicação deve ser levada para tal efeito. A decisão de pronúncia
consiste no juízo de admissibilidade da acusação, na qual o magis-
trado irá aferir se há prova da materialidade e indícios suficientes
de autoria para determinar a realização do julgamento pelo júri
(artigo 413 do Código de Processo Penal37).

Da decisão de pronúncia, pode a defesa do acusado interpor


recurso em sentido estrito. Nessa situação, caso o acórdão do Tri-
bunal seja no sentido de negar provimento ao recurso, haverá nova
interrupção do prazo prescricional, na forma do inciso III do ar-
36  §1º – Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz
efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do
mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles.
37 Art. 413 do Código de Processo Penal. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado,
se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou
de participação. 

40
tigo 117 do Código Penal38, apesar da impropriedade técnica da
legislação que utiliza o termo “decisão” em detrimento de “acór-
dão”. Para tanto, será considerada a data da sessão de julgamento
do recurso pelo Tribunal, ocasião em que a decisão colegiada se
torna pública, e não a data da publicação do acórdão.

De outro lado, se a decisão for de impronúncia (artigo 414


do Código de Processo Penal39), absolvição sumária (artigo 415 do
Código de Processo Penal40) ou desclassificação para crime que
não seja doloso contra a vida (artigo 419 do Código de Processo
Penal), não haverá interrupção do prazo prescricional. Nessas si-
tuações, caso o Ministério Público recorra da decisão e o Tribunal
dê provimento ao apelo para pronunciar o réu, o acórdão servirá
como marco interruptivo da prescrição.

Por fim, caso o Conselho de Sentença desclassifique a conduta


para crime que não seja doloso contra a vida quando da vota-
ção dos quesitos, ainda assim a pronúncia continuará sendo válida
como causa interruptiva da prescrição, conforme súmula 191 do
Superior Tribunal de Justiça41.

2.3 PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA OU ACÓRDÃO


CONDENATÓRIOS RECORRÍVEIS

38 Nesse sentido, são os precedentes do Superior Tribunal de Justiça: AgrResp nº 136.097-4/


SP (DJ 20/11/13) e HC nº 136.420/SP (DJ 21/09/09).
39 Art. 414 do Código de Processo Penal. Não se convencendo da materialidade do fato ou da
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente,
impronunciará o acusado. 
40 Art. 415 Código de Processo Penal. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o
acusado, quando: I – provada a inexistência do fato; II – provado não ser ele autor ou partí-
cipe do fato; III – o fato não constituir infração penal; e IV – demonstrada causa de isenção
de pena ou de exclusão do crime.     
41 Súmula 191 do Superior Tribunal de Justiça. A pronúncia é causa interruptiva da prescrição,
ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime.

41
O artigo 117, IV, do Código Penal estabelece que a prescrição
interrompe-se, também, pela publicação da sentença ou acórdão
condenatórios recorríveis. Assim, a decisão condenatória proferida
em processo originário do tribunal, bem como o acórdão conde-
natório também configuram causa interruptiva da prescrição.

Portanto, a sentença e o acórdão absolutórios não configuram


marcos interruptivos da prescrição. Além disso, a nosso entender, a
interpretação literal do texto de lei estabelece a conjunção alterna-
tiva “ou”, portanto, não poderão a sentença e o acórdão condena-
tórios serem, simultaneamente, considerados marcos interruptivos
da prescrição. Interpretação em sentido diverso, em nosso enten-
dimento, afronta o princípio da legalidade em prejuízo ao réu.

Apesar disso, a jurisprudência é divergente em relação ao fato


do acórdão que confirma a sentença condenatória ou altera a pena
aplicada na sentença (tanto para aumentar ou para reduzir) confi-
gurar marco interruptivo da prescrição.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou en-


tendimento42 de que o acórdão que confirma a sentença condena-
tória, mesmo que majore ou reduza a pena aplicada pela sentença,
não constitui novo marco interruptivo da prescrição da pretensão
punitiva estatal, diferentemente do que ocorre com a pronúncia
onde tanto a sentença quanto a decisão que confirma, que como
visto, ambas são causas interruptivas da prescrição.

O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, não tem entendimen-


to consolidado, havendo posições divergentes entre seus ministros.
42 AgRg no AgRg no AREsp 989.408/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, 5ª TURMA,
DJe 21/3/2018, AgRg no RE nos EDcl no REsp nº 1.301.820/RJ, Corte Especial, Rel.
Min. Humberto Martins, DJ 24/11/2016;

42
Exemplificativamente, no recente julgamento do RE nº
118271843, foi afastada a alegada prescrição intercorrente sob o
argumento de que “a interrupção da prescrição dar-se-á pela simples
condenação em segundo grau, seja confirmando integralmente a decisão mo-
nocrática, seja reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.”.

Em outros julgados, com sentido diverso, o Supremo Tribu-


nal Federal decidiu que “o acórdão que confirma condenação ou diminui
a reprimenda imposta na sentença não interrompe a contagem da prescri-
ção.44” Diante dessa divergência, quando do julgamento do HC
176.473, a Corte Constitucional firmou maioria no sentido de
que o acórdão que confirma a sentença condenatória interrompe a
prescrição, mesmo que altere a pena inicialmente fixada.

Portanto, essa divergência de entendimentos entre os Tribu-


nais Superiores, principalmente no Supremo Tribunal Federal,
gera uma inevitável sensação de insegurança jurídica em se tra-
tando da matéria atinente à prescrição. As regras que definem os
marcos interruptivos da prescrição devem ser claras e objetivas de
modo a garantir um tratamento isonômico em todos os processos.

Na mesma linha, caso o legislador tivesse a pretensão de que


o acórdão confirmatório de condenação fosse, igualmente, consi-
derado marco interruptivo da prescrição, deveria ter acrescentado
um inciso no artigo 117 do Código Penal com essa disposição
43 RE nº 1182718, Relator Ministro Alexandre de Moraes, DJ 04/02/2019. Nesse sentido,
também são os seguintes julgados: ARE nº 1130096 AgR/DF, DJ 07/08/2018: “(...) 2. A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) é firme no sentido de que o acórdão que confirma a
sentença condenatória é marco interruptivo do prazo prescricional. Precedentes (...)”.HC 138.088/RJ,
Relator Ministro Marco Aurélio, DJ 27/11/2017.
44 RHC n. 112.687, Relator o Ministro Roberto Barroso, DJe 26.5.2014; RHC nº 85.847/
SP, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ de 11/11/06. RE n. 751.394, Relator o Ministro
Dias Toffoli, DJe 28.8.2013. HC nº 96.009/RS, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de
15/5/09.

43
expressa (“acórdão confirmatório de condenação”) ou, no mínimo, ter
utilizado a conjunção aditiva “e”.

Por essa razão, ao nosso sentir, não há previsão legal para sus-
tentar o entendimento de que o acórdão confirmatório da senten-
ça condenatória seja considerado marco interruptivo da prescrição.

3 CAUSAS SUSPENSIVAS (OU


IMPEDITIVAS) DA PRESCRIÇÃO

A prescrição é uma causa de extinção da punibilidade susce-


tível de suspensão ou interrupção. As hipóteses de suspensão do
prazo prescricional também são chamadas na doutrina de causas
impeditivas e tem como consequência a paralisação da contagem
do prazo prescricional. Assim, a contagem do lapso temporal da
prescrição nesses casos terá seu curso retomado de onde parou.

O artigo 116 do Código Penal prevê algumas hipóteses em


que há a suspensão da contagem do prazo prescricional, quais se-
jam: (1) enquanto não resolvida, em outro processo, questão de
que dependa o reconhecimento da existência do crime; (2) quan-
do o réu está cumprindo pena no estrangeiro; e (3) depois de
passada em julgado a sentença, a prescrição não corre durante o
tempo em que o condenado estiver preso por outro motivo.

Com advento da Lei nº 13.964/19, foram inseridos duas novas


causas suspensivas ao artigo 116 do Código Penal. Agora, em rela-
ção aos fatos praticados após a vigência da nova legislação, a pres-
crição ficará suspensa na pendência de embargos de declaração ou
de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis, bem

44
como enquanto não for cumprido ou rescindido o acordo de não
persecução penal (o tema será mais profundamente abordado no
título 9 do Capítulo IV).

Para além, a Constituição Federal e as leis penais especiais pos-


suem outras hipóteses de suspensão da prescrição da pretensão pu-
nitiva. São elas:

(1) Enquanto durar o mandato do deputado ou senador, con-


tra quem foi instaurada a ação penal em sua prerrogativa de
função, desde que tenha sido sustada pela Casa Legislativa a
que pertença (artigo 53, §§ 3º a 5º, da Constituição Federal45);

(2) Enquanto estiver suspenso o processo criminal instaurado


na forma do artigo 366 do Código de Processo Penal46, ou
seja, quando procedida a citação por edital e o acusado não
comparece e não constituiu advogado;

(3) Enquanto não for cumprida a carta rogatória de citação do


réu que estiver no estrangeiro, em lugar sabido (artigo 368 do
Código de Processo Penal);

(4) No período de prova da suspensão condicional do proces-


so (artigo 89, §6º, da Lei nº 9.099/95);

(5) No acordo de leniência (artigo 87 da Lei 12.529/11), que


estabelece a suspensão do processo em face dos crimes contra
ordem econômica; e
45 Artigo 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de
suas opiniões, palavras e votos. §3º Recebida a denúncia contra Senador ou Deputado, por
crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respec-
tiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus
membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. §4º O pedido de sustação
será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu
recebimento pela Mesa Diretora. §5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto
durar o mandato.
46 Art. 366 do Código de Processo Penal. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem
constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo
o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso,
decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
45
(6) O artigo 83, §2º, da Lei 9.430/96 (com redação dada pela
Lei 12.382/11), que prevê a suspensão da pretensão punitiva
em caso de parcelamento dos débitos tributários (Lei 8.137/90)
ou previdenciários (artigos 168-A e 337-A do CP).

4 DAS FORMAS DE CONTAGEM

Os prazos prescricionais são de direito material, nos termos do


artigo 10, do Código Penal, sendo que na contagem inclui-se o
dia do começo e exclui o dia do fim, computando os meses e anos
pelo calendário comum. Trata-se de matéria de ordem pública,
podendo ser reconhecida de ofício47 pelo juiz ou, também, por
provocação das partes em qualquer fase do processo.

A prescrição da pretensão punitiva pode ser calculada pela


pena em abstrato (máxima cominada), pela pena concretamente
fixada na sentença ou, ainda, pela pena projetada, virtual ou em
perspectiva. Cada uma delas possui suas peculiaridades e serão es-
tudadas nos tópicos subsequentes deste Livro.

4.1 PRESCRIÇÃO EM ABSTRATO

A prescrição pela pena em abstrato, também chamada de pres-


crição da pretensão punitiva propriamente dita, é regulada pela
pena máxima cominada ao delito, com lapso temporal correspon-
dente previsto nos incisos do artigo 109 do CP.

Para a definição do máximo da pena cominada ao crime, de-


ve-se considerar as qualificadoras do crime (que imporão nova li-
mitação legal abstrata ao tipo penal), bem como as majorantes e
47 Art. 61 do Código de Processo Penal.  Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer
extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.

46
minorantes (causas especiais de aumento ou diminuição de pena,
em seu grau máximo ou mínimo, respectivamente). Em contra-
partida, as circunstâncias judiciais (art. 59 do CP), atenuantes (art.
65 do CP) e agravantes (art. 61 do CP) não tem o condão de ultra-
passar os limites da pena estabelecidos no tipo penal, devendo ser
desprezadas no momento do cálculo do prazo prescricional.

Assim, caso transcorrido entre os marcos interruptivos da pres-


crição (artigo 117 do Código Penal) o lapso temporal correspon-
dente ao máximo da pena em abstrato cominado ao delito, deverá
ser declarada extinta a punibilidade pela prescrição da pretensão
punitiva.

Ressalta-se que, para os delitos praticados anteriormente à vi-


gência da Lei nº 12.234/10, cuja pena máxima seja inferior a um
ano, a prescrição será de dois anos e não três anos, diante da im-
possibilidade da ocorrência da novatio legis in pejus (lexgravior).

Por fim, se a pena cominada for apenas de multa, esta prescre-


verá em 2 anos, de acordo com o artigo 114, inciso I, do Código
Penal, lapso temporal que igualmente deverá ser verificado entre
os marcos interruptivos.

Segue abaixo fluxograma ilustrativo:

47
PRESCRIÇÃO EM ABSTRATO

LAPSO TEMPORAL

RECEBI- DECISÃO PUBLICAÇÃO


TERMO MENTO DA PRONÚN- CONFIRMA- DA SEN-
INICIAL DENÚNCIA CIA TENÇA OU TRÂNSITO
TÓRIA DA
ACÓRDÃO EM
(ART. 111 OU QUEIXA (ART. 117, PRONÚNCIA CONDENA-
DO CP) (ART. 117, I, II, DO CP) (ART. 117, III, TÓRIOS RE-
JULGADO
DO CP) DO CP) CORRÍVEIS

Obs.: em cada marco interruptivo o prazo voltará


a fluir do zero

4.2 PRESCRIÇÃO EM CONCRETO: INÍCIO


DA CONTAGEM COM O TRÂNSITO EM
JULGADO PARA A ACUSAÇÃO

Por sua vez, a prescrição em concreto é calculada com base na


pena já fixada na sentença. O artigo 110, §1º, do Código Penal,
estabelece que “a prescrição será regulada pela pena aplicada na sentença,
depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou
depois de improvido seu recurso”. Significa dizer que, com o trânsito
em julgado para a acusação, não se utiliza mais como parâmetro
para cálculo da prescrição o máximo de pena cominado ao crime,
mas sim a pena concretamente fixada na sentença condenatória.

A prescrição pela pena em concreto será calculada, entre os


marcos interruptivos da prescrição (artigo 117 do Código Penal),
de duas formas: (1) prescrição retroativa; e (2) prescrição intercor-
rente, subsequente ou superveniente. Segue nos títulos abaixo a
análise de cada uma destas modalidades individualizadamente.
48
4.2.1 PRESCRIÇÃO RETROATIVA

A prescrição retroativa – como modalidade da prescrição pela


pena em concreto fixada na sentença – pressupõe em sua análise
o trânsito em julgado para acusação ou o improvimento de seu
recurso. Suprido esse pressuposto, será verificado se transcorreu
o prazo prescricional entre os marcos interruptivos da prescrição
anteriores à publicação da sentença (artigo 117, incisos I, II e III).

Destaca-se que, em 05 de maio de 2010, foi publicada Lei nº


12.234/10, que alterou substancialmente a forma de se calcular a
prescrição retroativa, ao proibir que a esta tenha como termo ini-
cial data anterior à da denúncia ou queixa, conforme prevê a atual
redação do artigo 110, §1º do Código Penal.

Trata-se de alteração legislativa de natureza material, razão


pela qual não poderá ser aplicada aos fatos pretéritos à data de
publicação da referida legislação. Dessa forma, no cálculo da pres-
crição retroativa, antes de tudo, devemos verificar a data em que o
delito se consumou para definir qual a legislação será aplicável.

4.2.1.1 PRESCRIÇÃO RETROATIVA EM RELAÇÃO


AOS FATOS POSTERIORES À LEI Nº 12.234/10

Em relação aos fatos posteriores à Lei nº 12.234/10, o termo


inicial de contagem da prescrição retroativa pela pena em concreto
é o recebimento da denúncia ou queixa.

No procedimento do júri, a prescrição retroativa será com-


putada entre: (1) recebimento da denúncia ou da queixa e a pu-
blicação decisão de pronúncia; (2) entre a decisão de pronúncia

49
e a decisão confirmatória da pronúncia; e (3) entre a data decisão
confirmatória da pronúncia e da publicação da sentença.

Nos demais procedimentos, o cálculo da prescrição retroativa


será operado apenas entre a data da publicação da sentença conde-
natória e o recebimento da denúncia ou da queixa.

Para maior elucidação, segue a ilustração:

PRESCRIÇÃO RETROATRIVA:
FATOS POSTERIORES À LEI 12.234/10

TRÂNSITO
EM JULGADO
PARA ACUSA-
ÇÃO OU IM-
PRIVIMENTO
Vedado o cálculo DO RECURSO
neste período

RECEBI- DECISÃO PUBLICAÇÃO


TERMO MENTO DA PRONÚN- CONFIRMA- DA SEN-
INICIAL DENÚNCIA CIA TÓRIA DA TENÇA OU TRÂNSITO
ACÓRDÃO EM
(ART. 111 OU QUEIXA (ART. 117, PRONÚNCIA CONDENA-
DO CP) (ART. 117, I, II, DO CP) (ART. 117, III, TÓRIOS RE-
JULGADO
DO CP) DO CP) CORRÍVEIS

4.2.1.2 PRESCRIÇÃO RETROATIVA EM RELAÇÃO


AOS FATOS PRETÉRITOS À LEI Nº 12.234/10

Para delitos praticados antes da vigência da Lei nº 12.234/2010


(que alterou o artigo 110, §1º, do Código Penal), é possível a pres-
crição retroativa abranger o período anterior ao recebimento da
denúncia ou da queixa. Ou seja, o cálculo também poderá abran-
ger o período compreendido entre o termo inicial da prescrição

50
(artigo 111 do Código Penal), mais comumente o dia em que o
crime se consumou, e a data do recebimento da denúncia.

Segue a ilustração:

PRESCRIÇÃO RETROATRIVA:
FATOS ANTERIORES À LEI 12.234/10 TRÂNSITO
EM JULGADO
PARA ACUSA-
ÇÃO OU IM-
PRIVIMENTO
DO RECURSO

RECEBI- DECISÃO PUBLICAÇÃO


TERMO MENTO DA PRONÚN- CONFIRMA- DA SENTEN-
INICIAL DENÚNCIA CIA TÓRIA DA ÇA OU ACÓR- TRÂNSITO
DÃO CONDE- EM
(ART. 111 OU QUEIXA (ART. 117, PRONÚNCIA NATÓRIOS
DO CP) (ART. 117, I, II, DO CP) (ART. 117, III, RECORRÍVEIS
JULGADO
DO CP) DO CP)

4.2.2 PRESCRIÇÃO SUPERVENIENTE,


SUBSEQUENTE OU INTERCORRENTE

A prescrição superveniente, subsequente ou intercorrente é a


outra modalidade de cálculo que tem como parâmetro a pena em
concreto fixada na sentença e, como já destacado, pressupõe igual-
mente o transito em julgado para a acusação ou improvimento de
seu o recurso.

Como a própria terminologia já indica, a contagem dessa mo-


dalidade de prescrição se dará posteriormente à publicação da sen-
tença recorrível. Assim, caso seja adotado entendimento no senti-
do de que o acórdão que confirma a sentença condenatória não é
causa interruptiva da prescrição (ao qual nos filiamos, vide subtítulo
51
2.3 deste capítulo), a contagem da prescrição intercorrente será
entre a data da publicação da sentença e o trânsito em julgado.

Segue a ilustração:

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE,
SUPERVENIENTE OU SUBSEQUENTE

TRÂNSITO
EM JULGADO
Obs.: se não considerarmos o acórdão que confirma a sentença con- PARA ACUSA-
denatória, majora ou reduz a pena, como marco interruptivo ÇÃO OU IM-
da prescrição PRIVIMENTO
DO RECURSO

RECEBI- DECISÃO PUBLICAÇÃO


TERMO MENTO DA PRONÚN- CONFIRMA- DA SENTEN-
INICIAL DENÚNCIA CIA ÇA OU ACÓR- TRÂNSITO
TÓRIA DA
(ART. 111 OU QUEIXA (ART. 117, PRONÚNCIA
DÃO CONDE- EM
NATÓRIOS JULGADO
DO CP) (ART. 117, I, II, DO CP) (ART. 117, III, RECORRÍVEIS
DO CP) DO CP)

De outro lado, caso o entendimento seja no sentido de que o


acórdão que confirma a sentença condenatória também interrom-
pe a prescrição, assim poderemos ter a prescrição intercorrente
em dois momentos: (1) entre a data da publicação da sentença e
a data da publicidade do acórdão condenatório; e (2) entre a data
da publicidade do acórdão condenatório recorrível e o trânsito em
julgado do processo.

O cálculo dessa modalidade de prescrição é verificada, nor-


malmente, em casos nos quais a defesa interpõe recursos especial e
extraordinário aos Tribunais Superiores, os quais obstam o trânsito

52
em julgado da sentença penal condenatória. Todavia, para fins de
prescrição, não será todo e qualquer recurso excepcional que irá
interferir na prescrição intercorrente, como veremos a seguir.

4.2.2.1 EFEITOS DA INTERPOSIÇÃO DOS


RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO
NA PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

A análise da ocorrência (ou não) da prescrição intercorrente,


invariavelmente, passa pelo fato do acusado obstar a formação da
coisa julgada com a interposição de recursos, inclusive especial e/
ou extraordinário perante os Tribunais Superiores.

Ocorre que os Tribunais Superiores vêm entendendo que, nos


casos de inadmissibilidade do recurso especial e/ou extraordinário,
a contagem da prescrição retroage ao último dia do prazo de in-
terposição do recurso especial e/ou extraordinário na origem. Em
outras palavras, a prescrição intercorrente somente irá correr se os
recursos excepcionais interpostos forem, no mínimo, conhecidos,
ou seja, estejam presentes os seus requisitos de admissibilidade.

Desse modo, caso o recurso especial ou extraordinário inter-


posto pela defesa tenha juízo de admissibilidade favorável, o perí-
odo em que o processo fica aguardando o julgamento dos respec-
tivos recursos excepcionais será computado para fins de cálculo da
prescrição intercorrente.

Nesse sentido é o entendimento consolidado pela Terceira


Seção do Superior Tribunal de Justiça, por ocasião do AREsp nº
386.266/SP (DJ 02/09/2015): “inadmitido o recurso especial pelo Tri-

53
bunal de origem, em decisão mantida pelo Superior Tribunal de Justiça, há
a formação da coisa julgada que deverá retroagir à data do término do prazo
para interposição do último recurso cabível”.

A Suprema Corte, por sua vez, também possui o mesmo posi-


cionamento. No julgamento do HC 86.125/SP (DJ 16/08/2005)
decidiu-se que: “deve-se ter em conta que o recurso capaz de impedir essa
qualidade da sentença é o recurso admissível, mas se o Supremo Tribunal
Federal e o Superior Tribunal de Justiça reconhecem a inadmissibilidade,
confirmando o que decidido no juízo a quo, os efeitos desse reconhecimento
retroagem”

Como se percebe, nos casos de inadmissibilidade dos recursos


excepcionais, o lapso temporal entre o acórdão de segunda instân-
cia e o efetivo trânsito em julgado (conforme os julgados acima
destacados) não será computado para fins de cálculo da prescrição
intercorrente. Em contrapartida, esse período será computado para
fins de prescrição da pretensão executória, caso já tenha se verifi-
cado seu termo inicial.

A proposta do Ministro Sérgio Moro em seu pacote “anticri-


me”, a qual introduziu o inciso III no artigo 116 do Código Penal
com advento da Lei nº 13.964/19, trouxe ao patamar de legislação
a suspensão da prescrição na pendência de julgamento dos recursos
aos Tribunais Superiores quando inadmissíveis, o que altera tam-
bém o cálculo da prescrição executória que hoje não é afetada pelo
entendimento consolidado para os fatos criminosas praticados após
a vigência da nova legislação.

54
4.3 PRESCRIÇÃO PROJETADA (VIRTUAL,
EM PERSPECTIVA OU ANTECIPADA)

A prescrição projetada, virtual, em perspectiva ou antecipada


consiste numa criação doutrinária e jurisprudencial, sem amparo
legal, que leva em conta a pena que virtualmente será aplicada ao
réu em uma futura sentença. Assim, tomando como referência a
pena provável, verificar-se-á o transcurso do lapso temporal de
prescrição entre os marcos interruptivos e, caso este tenha se im-
plementado, o processo estará fadado à extinção da punibilidade.

Essa modalidade de prescrição não é bem vinda perante os


Tribunais, sob o argumento de que não há amparo legal. Tanto é
que o Superior Tribunal de Justiça sumulou a matéria no sentido
de que “é inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pre-
tensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente
da existência ou sorte do processo penal” (Súmula 438).

5 CONCURSO DE CRIMES E
CONTINUIDADE DELITIVA

No caso de concurso de crimes, na forma do artigo 119 do


Código Penal48, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de
cada um, isoladamente, apesar de se unificarem as penas para efeito
de cumprimento e fixação de regime. Significa dizer que para fins
de calcular a prescrição, nos casos de concurso formal (artigo 70 do

48 Art. 119 do Código Penal. No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade inci-
dirá sobre a pena de cada um, isoladamente.

55
Código Penal49), concurso material (artigo 69 do Código Penal50) e
continuidade delitiva (artigo 71 do Código Penal51).

Destaca-se, inclusive, que em relação ao crime continuado, a


Súmula 497 do Supremo Tribunal Federal preceitua que “quan-
do se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta
na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação.”
Logo, para fins de cálculo da prescrição os delitos deverão ser ana-
lisados individualmente, excluída a fração de aumento de pena
aplicada.

6 PRESCRIÇÃO DA PENA DE MULTA

Na forma do artigo 114 do Código Penal52, a prescrição da


multa ocorrerá em 02 (dois) anos quando a multa for a única co-
minada ou aplicada. Ainda, será no mesmo prazo estabelecido para
a prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for
alternativa, cumulativamente cominada ou cumulativamente apli-
cada.

49  Art. 70 do CP – Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente
uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se,
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resul-
tam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
50 Art. 69 do CP – Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade
em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção,
executa-se primeiro aquela.
51 Art. 71 do CP – Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e
outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, apli-
ca-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada,
em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
52  Art. 114 do CP – A prescrição da pena de multa ocorrerá: I – em 2 (dois) anos, quando a
multa for a única cominada ou aplicada; II – no mesmo prazo estabelecido para prescrição da
pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada
ou cumulativamente aplicada.

56
Nesse contexto, é imprescindível diferenciarmos a pena de
multa da prestação pecuniária aplicada como medida alternativa
à prisão, quando presentes os requisitos do artigo 44 do Código
Penal. A primeira é convertida em dívida de valor e poderá ser
cobrada pela via da execução fiscal (artigo 51 do Código Penal).

A prestação pecuniária, por sua vez, é aplicada como pena


alternativa ao cárcere (artigo 43, inciso I c/c artigo 45, §1º, ambos
do Código Penal), sendo que o seu inadimplemento injustificado
poderá ser revertido em prisão pelo Juízo da execução, confor-
me entendimento dos Tribunais Superiores53. Logo, a prescrição
da prestação pecuniária irá observar o quantum de pena privativa
liberdade fixado na sentença, não se aplicando o artigo 114 do
Código Penal.

7 PRESCRIÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA

A medida de segurança é uma sanção penal de natureza pre-


ventiva e curativa imposta ao indivíduo inimputável (ou semi-im-
putável) que comete um fato típico e antijurídico (injusto penal),
sendo que se aplicam as regras da prescrição da pretensão punitiva
e, também, da pretensão executória. Significa dizer que a medida
de segurança imposta na sentença, seja ela de internação ou de
tratamento, pode ser extinta pela prescrição, conforme preceitua o
parágrafo único do artigo 96 do Código Penal54.

53 Nesse sentido, no Supremo Tribunal Federal: HC 79.865-9 (DJ 14.03.00). No Superior


Tribunal de Justiça: HC 133.942/MG (DJ 28.02.12); AgRg no HC 187.631/MG (DJ
07/02/11); HC 23.980/MG (DJ 07/08/03).
54 Art. 96. As medidas de segurança são: I – Internação em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II – sujeição a tratamento am-
bulatorial. Parágrafo único – Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem
subsiste a que tenha sido imposta.

57
No entanto, como a medida de segurança não possui prazo
determinado, a posição majoritária da jurisprudência é no sentido
de que esta deve ser calculada com base na pena em abstrato fixada
ao crime, tanto na pretensão punitiva, como na pretensão execu-
tória55.

55 A prescrição nos casos de sentença absolutória imprópria é regulada pela pena máxima abs-
tratamente cominada ao delito. Precedentes (AgRg no REsp 1656154/SP, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, Quinta Turma, julgado em 23/5/2017, DJe
31/5/2017). (AgRg no HC 469.698/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FON-
SECA, QUINTA TURMA, julgado em 12/02/2019, DJe 19/02/2019).

58
CAPÍTULO III
DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA

1 TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO


DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA

A prescrição da pretensão executória ocorre após o trânsito


em julgado da sentença condenatória e seu prazo é determinado
pela pena imposta na sentença condenatória. O reconhecimento
da prescrição da pretensão executória impede que o Estado execu-
te a pena ou medida de segurança imposta, subsistindo, entretanto,
os efeitos da condenação, como custas, reincidência, bem como
a constituição do título executivo cível para reparação dos danos
causados pelo ato criminoso.

O termo inicial da prescrição da pretensão executória está re-


gulamentado pelo artigo 112 do Código Penal56 e se dará nas se-
guintes situações: (1) do dia em que transita em julgado a sentença
condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condi-
cional da pena ou o livramento condicional; e (2) do dia em que
se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção
deva computar-se na pena.

56 Art. 112 – No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: 
I – do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que
revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;  
II – do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva
computar-se na pena.

59
Entretanto, está pendente de julgamento no Supremo Tribu-
nal Federal a repercussão geral reconhecida no ARE n. 848.107/
DF (Tema 78857). Nesse recurso está em discussão se o termo ini-
cial para a contagem da prescrição da pretensão executória é efeti-
vamente a partir do trânsito em julgado para a acusação (na forma
do artigo 112, inciso I, do Código Penal), ou a partir do trânsito
em julgado para todas as partes no processo. O argumento utili-
zado é no sentido de que o referido artigo não foi recepcionado
pela Constituição Federal, principalmente em face do princípio da
presunção de inocência.

Apesar dos argumentos lançados para efeito de repercussão ge-


ral, ao nosso entender, a prescrição da pretensão executória deve
começa a correr do dia em que transita em julgado a sentença con-
denatória para a acusação. Ora, sabe-se que a sentença condenató-
ria só se torna imutável após o trânsito em julgado para as partes.
Contudo, veja-se que a palavra “pretensão” significa um desejo,
uma ambição, uma aspiração e não propriamente algo que já pode
ser concretizado, a qual nasce para o Estado quando o mesmo está
satisfeito com a sanção imposta, ou seja, quando deixa de recorrer
da sentença condenatória.

Assim, é adequada e constitucional a previsão legal contida no


artigo 112, inciso I, do Código Penal, pois a prescrição da preten-
são executória começa a correr do dia em que transita em julgado a
sentença condenatória para a acusação. De qualquer sorte, trata-se
de matéria polêmica, a qual pende de apreciação definitiva pelo
Supremo Tribunal Federal.
57 Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 5º, II e LVII, da Constituição Fede-
ral, a recepção, ou não, pela Carta Magna de 1988 do art. 112, I, do Código Penal, segun-
do o qual a prescrição da pretensão executória começa a correr do dia em que transita em
julgado a sentença condenatória para a acusação.

60
2 PRAZOS PRESCRICIONAIS E
EFEITOS DA REINCIDÊNCIA

O artigo 110, caput, do Código Penal regulamenta a prescri-


ção da pretensão executória, cujos prazos devem, assim como na
pretensão punitiva, observar os lapsos temporais fixados no artigo
109 do Código Penal.

Entretanto, tal transcurso temporal poderá ser acrescido de um


terço (1/3) se o condenado for reincidente. Portanto, o aumento
do prazo prescricional é mais um dos efeitos da reincidência no
sistema penal, entre tantos outros espalhados pelo Código Penal,
Lei de Execuções Penais e outras leis esparsas58.

Assim, se a pena definitiva restou fixada em dois anos, a pres-


crição se dará em dará em quatro anos contados a partir do trânsito
em julgado para a acusação, tomando em consideração o termo
inicial previsto no artigo 112, inciso I, do Código Penal. Porém,
se o condenado for reincidente, a prescrição será de cinco anos e
quatro meses, por força do caput do artigo 110 do Código Penal
(vide título 7.2 do Capítulo I). Nesse contexto, vale relembrar que
a reincidência não influi no prazo de prescrição da pretensão pu-
nitiva, consoante a Súmula 220 do Superior Tribunal de Justiça.

Ainda, é inaplicável o aumento de um terço no prazo de pres-


crição da pretensão executória da pena de multa, quando está é

58 Podemos citar como efeitos da reincidência: (1) o regime inicial de cumprimento de pena
que se torna mais gravoso (artigo 33, §2º, alíneas “a”, “b”, e “c”, do CP); (2) circunstância
agravante da pena (artigo 61, inciso I, do CP); (3) alteração do lapso temporal para a pro-
gressão de regime nos crimes hediondos (artigo 2º, §2º da Lei nº 8.072/90); (4) maior lapso
temporal para concessão do livramento condicional (artigo 83 do CP); (5) no caso de rein-
cidência específica, a impossibilidade de substituição da prisão por pena restritiva de direitos
(artigo 44, §3º do CP).

61
a única prevista ou a única aplicada, tendo em vista que o artigo
110 é taxativo ao referir que apenas haverá a elevação dos prazos
previstos no artigo 109 do Código Penal, não fazendo qualquer
referência ao artigo 114, inciso I, do Código Penal.

3 A UNIFICAÇÃO DAS PENAS E O


CÁLCULO DA PRESCRIÇÃO

O princípio da universalidade do juízo da execução penal sig-


nifica que todas as condenações existentes em face de uma deter-
minada pessoa irão se concentrar em um mesmo processo, sendo
que as penas serão unificadas para fins de cálculo dos direitos na
execução penal, como a progressão de regime e o livramento con-
dicional, de forma a assegurar a garantia constitucional da indivi-
dualização da pena.

Dispõe o artigo 111 da Lei de Execução Penal (Lei nº


7.210/84)59, quando houver mais de uma condenação contra a
mesma pessoa, no mesmo processo ou em processos distintos,
deve o juiz somar as penas impostas, observando a possibilidade
de detração e a remição, bem como determinar o regime para
cumprimento.

Assim, nas hipóteses em que o apenado possui mais de uma


condenação, as penas serão somadas e executadas no mesmo pro-
cesso que tramitará na Vara de Execuções Penais, sendo que as
mais graves serão cumpridas em primeiro lugar, na forma prevista
59 Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em
processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da
soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.
Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao res-
tante da que está sendo cumprida, para determinação do regime.

62
no artigo 76 do Código Penal60. Ou seja, se existirem duas con-
denações, sendo um dos crimes hediondos, o cumprimento deste
se dará primeiro eis que mais grave. Ainda, se executa primeiro a
pena de reclusão e, após, a de detenção.

Acontece que, em que pese se proceda a unificação das penas


para o seu cumprimento, de maneira diversa ocorre com a prescri-
ção da pretensão executória, posto que essa deve ser analisada indi-
vidualmente para cada crime, por aplicação analógica do disposto
no artigo 119 do Código Penal61.

Significa dizer que, apesar de se unificarem as penas para efeito


de cumprimento e concessão dos direitos na execução, quando se
tratar de cálculo da prescrição (inclusive da pretensão executória),
deve-se tomar isoladamente a pena fixada para cada um dos deli-
tos. Em outras palavras, a decisão de unificação das penas em caso
de múltiplas condenações tem efeito apenas para o cumprimento
de pena, não podendo ser considerada para fins de prescrição da
pretensão executória.

4 DAS CAUSAS SUSPENSIVAS DO


PRAZO PRESCRICIONAL

Diz-se suspensão quando ocorre a paralisação do curso da


prescrição, sem que ocorra a perda do tempo já computado. Pode-
-se afirmar que o prazo prescricional apenas “congela”, voltando
a fluir do ponto onde parou tão logo a causa que fundamentou a
suspensão termine.

60 Art. 76 – No concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais grave.


61 Art. 119 – No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena
de cada um, isoladamente.

63
Assim, sendo iniciado o cumprimento da pena, não há mais
que se falar em prescrição executória, a qual ficará suspensa du-
rante este período. Apenas voltará a correr o prazo prescricional
nas situações de evasão, revogação do livramento condicional ou,
ainda, revogação da suspensão condicional da pena.

Além disso, nos termos do parágrafo único do artigo 116 do


Código Penal, a prescrição executória não corre durante o tempo
em que o condenado estiver preso por outro motivo. Em outras
palavras, ficará paralisada durante o período em que o condenado
se encontrar preso, seja cumprindo pena em relação à fato diverso,
seja em virtude da decretação de sua prisão preventiva em outro
processo.

Por fim, a prescrição também não correrá durante o período


de prova da suspensão condicional da pena (artigo 77 do Código
Penal62) e do livramento condicional (artigo 83 do Código Pe-

62  Art. 77 – A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá
ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: I – o condenado não seja reinciden-
te em crime doloso; II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade
do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III – Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. §1º – A
condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício. §2o A execução
da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro
a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde
justifiquem a suspensão.

64
nal63), pela interpretação do artigo 112, inciso I, do Código Penal64.

5 CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO

A interrupção da prescrição corresponde ao recomeço, por


inteiro, do prazo prescricional a ser contado a partir da data do
marco interruptivo. Em se tratando de pretensão executória, serão
causas interruptivas o início ou continuação do cumprimento da
pena e a reincidência, nos termos dos incisos V e VI do artigo 117
do Código Penal.65

Destaca-se que, pelo princípio da individualização da pena,


cada apenado possui o seu processo de execução criminal, sendo
que lá serão observadas as suas peculiaridades. Assim, diferente-
mente dos marcos interruptivos da prescrição da pretensão pu-
nitiva – os quais se dão no curso do processo antes de passar em
julgado a sentença condenatória e se comunicam em relação aos
corréus e aos crimes conexos – no âmbito da pretensão executória
a interrupção produzirá efeitos individualmente a cada um dos
63  Art. 83 – O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de
liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I – cumprida mais de um terço da pena
se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; II – cum-
prida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; III – comprovado
comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que
lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; IV
– tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; V –
cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática
de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se
o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. Parágrafo único – Para o
condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a conces-
são do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam
presumir que o liberado não voltará a delinquir. 
64  Art. 112 – No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: I – do dia em
que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspen-
são condicional da pena ou o livramento condicional. 
65 Art. 117 – O curso da prescrição interrompe-se: I – pelo recebimento da denúncia ou da
queixa; II – pela pronúncia; III – pela decisão confirmatória da pronúncia; IV – pela publi-
cação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V – pelo início ou continuação do
cumprimento da pena; VI – pela reincidência.

65
condenados, conforme §1º do Art. 117 do Código Penal66.

A seguir, vamos analisar cada uma das hipóteses de interrupção


da prescrição da pretensão executória.

5.1 INÍCIO OU CONTINUAÇÃO DO


CUMPRIMENTO DA PENA

O inciso V do artigo 117 do Código Penal estabelece duas


hipóteses para a interrupção da prescrição da pretensão punitiva: o
início ou a continuação do cumprimento da pena.

O início do cumprimento da pena se dá com o cumprimento


do mandado de prisão expedido pelo juízo da execução penal ou
com o início do cumprimento da pena restritiva de direitos, nor-
malmente definido em audiência admonitória67 realizada pelo juízo
da execução.

De outro lado, enquanto houve a aplicação do entendimento


do Supremo Tribunal Federal no sentido de admitir o cumpri-
mento antecipado da pena68, levantou-se a discussão se nesse mo-
mento ocorre a interrupção da prescrição da pretensão executória.
Em verdade, existe uma omissão legislativa nesse aspecto que, em
66 Art. 117, §1º. Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição
produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam
objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles.
67 Nos casos de suspensão condicional da pena, o artigo 160 da Lei de Execução Penal preceitua
que “transitada em julgado a sentença condenatória, o Juiz lerá ao condenado, em audiência,
advertindo-o das consequências de nova infração penal e do descumprimento das condições
impostas”. Em muitas situações, a audiência admonitória também define as condições das pe-
nas restritivas de direitos, inclusive o local para eventual prestação de serviços à comunidade.
68 Destaca-se que o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento das ADC 43, 44 e 54
(DJ 07/11/19), atestou por seis votos a cinco que o início do cumprimento da pena somen-
te poderá se dar quando do trânsito em julgado definitivo da sentença pena condenatória,
ressalvadas as hipóteses das prisões cautelares.

66
nosso entendimento, não pode ser suprida por analogia em malam
partem.

Destaca-se que o “pacote anticrime” apresentado por Sérgio


Moro sugere a inclusão da “execução provisória” no inciso V, do
artigo 117, do Código Penal em questão. A nova redação ficaria
“pelo início ou continuação da execução provisória ou definitiva
da pena”, o que mais uma vez segue a lógica de expansão e re-
crudescimento penal em detrimento dos direitos e garantias indi-
viduais.

Em relação às possibilidades de continuação do cumprimento


da pena, verifica-se tal marco interruptivo poderá se dar nas se-
guintes hipóteses: (1) fuga do sistema prisional; (2) revogação do
livramento condicional; e (3) revogação da suspensão condicional
da pena.

5.1.1 FUGA

A fuga do sistema prisional corresponde a uma falta grave que


pode ser praticada no curso da execução penal, a qual está prevista
no artigo 50, inciso II, da Lei de Execuções Penais. No âmbito da
execução penal, a fuga acarretará a instauração de um processo ad-
ministrativo disciplinar (PAD) com as consequentes sanções disci-
plinares previstas em lei. Além disso, acarretará a alteração da data
base para cálculo da progressão de regime, por força do artigo 118,
inciso I, da Lei de Execuções Penais69 e da súmula 534 do Superior
Tribunal de Justiça70.
69 Art. 118 da LEP. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva,
com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado: I – pra-
ticar fato definido como crime doloso ou falta grave.
70 Súmula 534 do STJ. A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a pro-

67
Além dos possíveis efeitos no âmbito dos direitos previstos na
Lei de Execuções Penais, a fuga determina que a prescrição da pre-
tensão executória – o qual estava suspensa durante o cumprimento
da pena – volte a correr. Nessas situações, de acordo com o artigo
113 do Código Penal71, a prescrição deverá ser regulada pelo tem-
po que resta da pena a ser cumprida, aplicando-se, igualmente, os
prazos estabelecidos no artigo 109 do Código Penal.

Nessas situações, a prescrição executória será interrompida


quando houver a recaptura do apenado, com o reinício do cum-
primento da pena.

5.1.2 REVOGAÇÃO DO LIVRAMENTO


CONDICIONAL
Outra hipótese que configura o reinício do cumprimento
da pena se dá a partir da revogação do livramento condicional e
com o consequente recolhimento do apenado ao sistema prisio-
nal. Enquanto perdura o período de prova, a prescrição executória
permanece suspensa. Porém, quando há a sua revogação, o lapso
prescricional volta a correr, sendo que somente será interrompido
com o reinício do cumprimento da pena.

A forma de se calcular a prescrição nessas situações varia de


acordo com o fundamento que ensejou a revogação do livramento
condicional, pois em determinados situações o período de prova
será descontado do total da pena remanescente. Portanto, em pri-
gressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa
infração. Destaca-se, por outro lado, que o cometimento de falta grave no curso da execução
da pena não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional, conforme Súmula
441 do STJ.
71 Artigo 113 do CP – No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento con-
dicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena.

68
meiro lugar, é preciso compreender os fundamentos da revogação
do livramento condicional para, após isso, verificar de que forma
será calculada a prescrição em cada uma das hipóteses.

Veja-se que a revogação do livramento condicional poderá ser


obrigatória (artigo 86 do Código Penal72) ou facultativa (artigo 87
do Código Penal73).

A revogação obrigatória se dá nas seguintes hipóteses legais:


(1) condenação irrecorrível por crime praticado antes do benefí-
cio, cujo a soma das penas acarrete alteração do regime de cum-
primento da pena, tornando incompatível a manutenção do livra-
mento; e (2) condenação irrecorrível a pena privativa de liberdade
por crime praticado durante o benefício.

A revogação facultativa, por sua vez, decorre do critério do


juiz da execução, que irá avaliar a situação no caso concreto, tendo
as seguintes circunstancias fáticas: (1) condenação irrecorrível, por
crime ou contravenção, a pena não privativa de liberdade; e (2)
descumprimento das condições impostas no livramento.

Como frisado, o cálculo da prescrição da pretensão executória


irá variar de acordo com o fundamento que determinou a revoga-
ção do livramento pelo juízo da execução. Os efeitos da revogação
do livramento condicional estão previstos no artigo 88 do Código
Penal, que dispõe “revogado o livramento, não poderá ser novamente
concedido e, salvo quando a revogação resulta de condenação por outro crime
72 Art. 86 do CP. Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena privativa
de liberdade, em sentença irrecorrível: I – por crime cometido durante a vigência do bene-
fício; II – por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código. 
73 Art. 87 do CP. O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cum-
prir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por
crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade.

69
anterior àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve
solto o condenado”.

Dessa forma, caso a revogação tenha se dado em razão de con-


denação irrecorrível por crime praticado durante o livramento ou,
ainda, pelo descumprimento das condições impostas, o período de
prova (tempo de liberdade condicional) não será computado como
pena cumprida.

De outro lado, caso a revogação do livramento tenha se dado


em razão de condenação irrecorrível por crime praticado antes da
concessão do direito, mas que em decorrência da soma das penas
restou incompatível a sua manutenção, o período de prova (tempo
de liberdade condicional) será computado como pena cumprida.

Nessas situações, a prescrição é calculada pelo saldo remanes-


cente da pena (artigo 113 do Código Penal) do qual poderá, ou
não, ser descontado o período de prova a depender do caso. Con-
cluindo, repito que apenas nas hipóteses de revogação em razão
de crime praticado antes do início do livramento condicional é
que o período de prova será computado como pena cumprida e,
portanto, descontado do saldo remanescente de pena para fins de
cálculo da prescrição.

Por fim, a partir do momento em que o juiz determina a re-


vogação do livramento, o lapso temporal volta a correr, somente
sendo interrompido com o reinício do cumprimento da pena.

70
5.1.3 REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO
CONDICIONAL DA PENA (SURSIS DA PENA)

A suspensão condicional da pena (sursis da pena), prevista no


artigo 77 do Código Penal, corresponde à possibilidade de uma
condenação criminal à pena privativa de liberdade, que não ul-
trapasse 02 (dois) anos de reclusão ou detenção, seja suspensa pelo
período de 02 (dois) a 04 (quatro) anos, desde que preenchidos os
seguintes requisitos: (a) o condenado não seja reincidente em cri-
me doloso; (b) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias
autorizem a concessão do benefício; e (c) não seja indicada ou ca-
bível a substituição prevista no artigo 44 do Código Penal.

Excepcionalmente, para pessoas maiores de 70 anos idade (sur-


sis etário) ou por razões de saúde (sursis humanitário), a legislação
possibilita a suspensão da pena privativa de liberdade não superior
à 04 (quatro) anos, ampliando em contrapartida o período de pro-
va que passa a ser de 04 (quatro) a 06 (seis) anos.

Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à


observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo
juiz. Tais condições podem ser definidas na sentença ou na audi-
ência admonitória que será realizada pelo juiz da execução penal,
onde serão esclarecidas as condições que deverão ser por ele obser-
vadas, bem como as consequências pelo descumprimento.

É na audiência admonitória que o apenado inicia o período de


prova para a suspensão condicional da pena, ou seja, é o momento
em que o Estado estará deixando de executar a pena imposta, des-
de que o cidadão cumpra as condições determinadas.
71
De outro lado, fica o condenado advertido que se não cum-
pridas as condições determinadas pelo Juízo, o benefício poderá
ser revogado.

A revogação da suspensão condicional da pena poderá ser


obrigatória (artigo 81 do Código Penal74) ou facultativa (artigo 81,
§1º, do Código Penal75). A revogação obrigatória se dá quando o
beneficiário: (a) é condenado, em sentença irrecorrível, por crime
doloso; (b) frustra, embora solvente, a execução de pena de mul-
ta ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano; e
(c) não presta serviços à comunidade ou deixa de submeter-se à
limitação de fim de semana, conforme prevê o artigo 78, §1º do
Código Penal.

A revogação facultativa ocorre se o condenado descumpre


qualquer outra condição imposta ou é irrecorrivelmente condena-
do, por crime culposo ou por contravenção. Nesses casos, o juiz
deverá analisar se revogará (ou não) o sursis da pena de acordo com
as circunstâncias do caso concreto.

Em qualquer hipótese de revogação do sursis, o sentenciado


deverá cumpri-la integralmente, em regime fechado, semiaberto
ou aberto conforme o caso76. Logo, também volta a correr a pres-
crição executória, sendo que em seu cálculo deverá ser levado em
74 Art. 81 do CP – A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário: I – é con-
denado, em sentença irrecorrível, por crime doloso; II – frustra, embora solvente, a execução
de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano; III – descum-
pre a condição do §1º do art. 78 deste Código.  
75 Art. 81, §1º do CP – A suspensão poderá ser revogada se o condenado descumpre qualquer
outra condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por con-
travenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.  
76 Nesse sentido: “Tratando-se de institutos penais diversos, não cabe ter como tempo de cum-
primento da pena o período de prova exigido para a suspensão condicional da pena” (HC nº
117.855/SP, Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJ de 19/11/13)

72
consideração a integralidade da pena fixada na sentença e observa-
dos os prazos estabelecidos no artigo 109 do Código Penal.

5.3 REINCIDÊNCIA

Em direito penal, a reincidência se verifica, nos termos dos


artigos 63 e 64 do Código Penal, pela prática de novo crime pos-
teriormente ao trânsito em julgado de crime anterior, este último
ocorrido no Brasil ou no estrangeiro. Mais, para efeito de reinci-
dência não se consideram os crimes militares próprios e políticos
(artigo 64, inciso II), bem como aqueles que ocorreram em perío-
do superior a 5 (cinco) anos, contados da data do cumprimento ou
extinção da pena, computado o período de prova da suspensão ou
do livramento condicional, se não ocorrer revogação.

Além disso, o artigo 7º, da Lei de Contravenções Penais, pre-


ceitua que a reincidência também se configura quando o agente
pratica uma contravenção, depois de passar em julgado a sentença
que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer
crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.

Nessas hipóteses legais acima destacadas estará configurada a


reincidência, a qual não pode ser confundida com maus antece-
dentes (definida como qualquer condenação criminal transitada
em julgado anterior ao fato em análise).

A reincidência, portanto, configura causa interruptiva da pres-


crição executória, nos termos do artigo 117, inciso VI, do Código
Penal. Para fins de identificação do exato momento em que se
opera a interrupção da prescrição da pretensão executória, deve-se

73
levar em conta a data da prática do segundo delito, embora fique
o seu reconhecimento pelo juiz condicionado ao trânsito em jul-
gado da sentença penal condenatória.

Em outras palavras, ainda que se dependa da condenação de-


finitiva para se ter certeza do marco interruptivo, este se dá no
dia da prática do novo crime e não a data da respectiva sentença.
Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça77 “a rein-
cidência, como causa de interrupção da prescrição da pretensão executória, é
contada a partir da prática do novo delito, e não do trânsito em julgado de
eventual sentença condenatória”.

Portanto, a reincidência irá interromper a contagem da pres-


crição executória do crime cometido anteriormente, de forma que
zera e reinicia a sua contagem, a partir da data da consumação do
segundo fato delituoso.

6 FORMAS DE CONTAGEM

Na fase da execução penal, deve ser observado o princípio


constitucional da individualização da pena previsto no artigo 5º,
inciso XLII, da Constituição Federal e, consequentemente, a uni-
versalidade do juízo da execução. Assim, todas as condenações re-
lativas à determinado apenado serão reunidas no mesmo juízo da
execução criminal. Contudo, apesar da reunião das condenações e
unificação das penas para fins de cálculo dos direitos da execução
(livramento, progressão, etc.), a prescrição será calculada individu-
almente para cada um dos delitos.

77 HC n º 360.940/SC, 5ª Turma, Relator Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,


DJ 15/09/2016; RHC nº 68.812/RJ, 5ª Turma, Relator Ministro JORGE MUSSI, DJ
05/05/2016.

74
Entretanto, diferentemente da contagem da prescrição da pre-
tensão punitiva, no âmbito da execução o artigo 113 do Código
Penal preceitua que, nos casos de evasão do condenado ou de
revogação do livramento condicional, a prescrição da pretensão
executória deverá ser regulada pelo tempo que resta da pena. Des-
taca-se que do tempo remanescente de pena, também devem ser
descontados os dias remidos por trabalho ou estudo.

Veja-se que em relação ao livramento condicional, se a revo-


gação se deu em razão de crime praticado anteriormente à con-
cessão do direito, o período de prova desconta do total da pena
remanescente, influenciando na contagem do prazo prescricional
(vide item 5.1.2 deste capítulo), em observância ao artigo 88 do
Código Penal. Por outro lado, no tocante à revogação do sursis da
pena, o período de prova em nenhuma hipótese será descontado
do total da pena.

Os prazos utilizados estão previstos no artigo 109 do Código


Penal, devendo-se observar as condições pessoais que os reduzem
pela metade no caso de menor de 21 anos na data do fato e maior
de 70 na data da sentença (artigo 115 do Código Penal), bem
como que a reincidência implica em aumento de um terço se o
condenado for reincidente (artigo 110, caput, do Código Penal).

O lapso temporal da prescrição em relação a cada um dos de-


litos deverá ser verificado entre os marcos interruptivos previstos
nos incisos V (pelo início ou continuação do cumprimento da
pena) e VI (pela reincidência) do artigo 117, os quais produzem
efeitos ao apenado individualmente, não se estendendo aos corréus
do processo, nos termos do §1º do artigo 117 do Código Penal.

75
Nos casos de múltiplas condenações em fase de execução pe-
nal, os marcos interruptivos também deverão ser analisados indi-
vidualmente para cada delito, bem como verificado o saldo rema-
nescente do cumprimento de pena de cada uma. Com base nessas
informações e definido o lapso temporal da prescrição executória
de cada delito, faz-se a análise se este transcorreu efetivamente en-
tre as causas de interrupção.

76
CAPÍTULO IV
DISCUSSÕES ATUAIS SOBRE A PRESCRIÇÃO:
ABORDAGEM PRÁTICA E JURISPRUDENCIAL

1 OS CRIMES (IM)PRESCRITÍVEIS NA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Os crimes imprescritíveis são aqueles que podem ser julgados


a qualquer tempo, independentemente da data em que foram co-
metidos e do tempo em que levou para ser iniciada a pretensão
acusatória pelo Estado. Estão fundamentados em uma opção po-
lítico-constitucional que reconhece especial gravidade a determi-
nados fatos, hipóteses excepcionais em que não haverá qualquer
espécie de prescrição78.

O artigo 5º, incisos XLII79 e XLIV80, da Constituição Federal


de 1988, preceitua que são imprescritíveis os crimes de racismo, e
os crimes de ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
ordem constitucional e o Estado Democrático. Os delitos de racis-
mo estão previstos pela Lei nº 7.716/89. Já os crimes de ação de
grupos armados contra a ordem constitucional estão tipificados na
Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83, Título II).

78 Conforme voto do Ministro Gilson Dipp (STJ, HC 15155/RS, 5ª Turma, DJ 18/03/02),


“O crime de racismo, gizado pelo Constituição, é imprescritível, ou seja, a pena é perene,
possibilitando que o Estado puna o autor do fato a qualquer tempo – imprescritibilidade,
esta, que é aplicada no exercício tanto da pretensão punitiva quanto da pretensão executó-
ria,”
79 XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
80 XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou mi-
litares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

77
Diante da previsão constitucional, discutiu-se na doutrina a
legitimidade da norma infraconstitucional criar novas regras de
imprescritibilidade. Parte da doutrina entende que se trata de ma-
téria de índole exclusivamente constitucional, sendo que haveria
uma vedação implícita na constituição para se criar novos casos de
imprescritibilidade81. Outros sustentam que a lei ordinária poderia
ampliar o rol dos crimes imprescritíveis, defendendo se tratar de
matéria infraconstitucional, pois não há vedação constitucional ex-
pressa nesse sentido82.

Para Daniel Pastor, la imprescritibilidad dado el carácter todavia


finito de la existência humana, supone, culturalmente, una pretensíon de
llevar el poder penal del Estado hasta la eternidade, algo incompatible, por
definicíon, con la idea del Estado constitucional de derecho que se basa en
la ya mentada condición mortal de la espécie humana, condición que es el
limite de todas sus aspiraciones, lo cual incluye a las aspiraciones del arti-
ficio inventado para representar su organización social y assegurar el mejor
desarrollo de todos sus membros. Una pretensión de justicia a ultranza y
más all de los tempos, es contraria a la naturaliza política de la persona. La
idea de perdón y compasión, aun para con el peor de los seres humanos, es
un sentimento respetable de nuestra espécie.83

A pena não pode ser concebida como um fim em si mesmo.


A proibição implícita contida na constituição no sentido de vedar
81 Nesse sentido: GALVÃO, Fernando. Direito Penal: parte geral. Belo Horizonte: D´Plácido,
2017, p. 1069. MACHADO, Fábio Guedes de Paula. Prescrição penal: prescrição funcionalista.
São Paulo: RT, 2000, p. 173; e MARTINELLI, João Paulo Orsini; BEM, Leonardo Schmitt
de. Lições fundamentais de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 985. BARROS,
Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 622.
82 Nesse sentido: QUEIROZ, Paulo. Curso de direito penal: parte geral. Salvador: JusPodium,
2015, p. 567. FAYET JÚNIOR; FERREIRA, Martha da Costa. “Da imprescritibilidade”. In
Prescrição penal: temas atuais e controvertidos. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2011, v.
3.
83 PASTOR, Daniel R. Tensiones: derechos fundamentales o persecución penal sin limites. Buenos
Aires: Editores del Puerto, 2004, p. 118-119.

78
a criação de novas hipóteses de imprescritibilidade deve ser inter-
pretada em consonância com a teoria da pena e com o princípio
da proibição do retrocesso, razão pela qual entendemos que o rol
estabelecido pela Constituição Federal é taxativo, sendo vedado
ao legislador infraconstitucional estabelecer novas hipóteses de im-
prescritibilidade.

2 (IM)PRESCRITIBILIDADE DA PRÁTICA
DO RACISMO: ABRANGÊNCIA CONFORME
A LEI Nº 7.716/89 E A SUA EXTENSÃO À
INJÚRIA RACIAL (ARTIGO 140, §3º DO CP)

A expressão racismo trazida pelo legislador constitucional, em


conjunto com a finalidade de garantir o direito a igualdade entre
os grupos, proteção das minorias e concretização dos direitos fun-
damentais, denota que o significado da prática de racismo engloba
os crimes resultantes de discriminação ou preconceito com base
em todas as características previstas no artigo 1º da Lei 7.716/89,
não se restringindo à definição semântica de “raça”.84

Em outras palavras, a prática de racismo engloba qualquer dis-


criminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou proce-
dência nacional. Reduzir a prática do racismo ao termo “raça”
significa esvaziar o conteúdo jurídico do preceito constitucional
que busca a igualdade entre os grupos e proteção das minorias.

O Supremo Tribunal Federal estendeu a regra da imprescri-


tibilidade aos preconceitos antissemitas quando do julgamento
do “caso Ellwanger”. Entendeu a Suprema Corte que escrever,
84 TRIPPO. Mara Regina. Imprescritibilidade penal. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004, p. 79

79
editar, divulgar e comercializar livros fazendo apologia de ideias
preconceituosas e discriminatórias contra a comunidade judaica
(art. 20 da Lei nº 7.716/89) constitui crime de racismo sujeito às
cláusulas constitucionais de inafiançabilidade e imprescritibilidade
(HC 82.424/RS, DJ 19/03/04).

Por outro lado, ganha força nos discursos criminológicos e


na doutrina a concepção de que a expressão “racismo” não tem
sentido restritivo, dado que englobaria não apenas o preconcei-
to derivado de raça, mas também todas as formas discriminatórias
previstas na Lei 7.716/89, além de outras como a condição de
pessoa idosa, portadora de deficiência ou orientação sexual.

Diante disso, ressalta Fayet Júnior que esta interpretação pode


incorrer em perigosa analogia in malam partem, vedada em direi-
to penal, devendo ser observado o princípio da legalidade e seu
corolário da taxatividade85. Assim, os termos “etnia”, “religião” e
“procedência nacional” ou, ainda, “condição de pessoa idosa” e
“portadora de deficiência”, por se distanciarem dos conceitos de
raça e de cor não poderão estar incluídos na definição constitucio-
nal dos crimes de racismo, afastando-se a regra da imprescritibili-
dade nesses casos.

Outra questão tormentosa na doutrina e jurisprudência, é a


(im)prescritibilidade do delito de injúria qualificada com substrato
racial, previsto no artigo 140, §3º do Código Penal (com reda-
ção dada pela Lei nº 9.459/97). O Superior Tribunal de Justiça,
no julgamento dos EDcl no AgRg686.965/DF (DJ 13/10/15),

85 FAYET JUNIOR, Ney. Injúria racial: um crime imprescritível. In: Prescrição penal: temas atuais
e controvertidos. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2018, p. 75.

80
adotando a orientação defendida por Nucci86, decidiu que a Lei
nº 9.459/97 introduziu mais um delito no cenário do racismo,
portanto, imprescritível e inafiançável.

Tal decisão foi ratificada pelo Supremo Tribunal Fede-


ral, na ocasião do julgamento AgRg no RE nº 983.531/DF (DJ
21/08/17). Também a Suprema Corte considerou que o rol dos
crimes previstos na Lei nº 7.716/89 não é taxativo, reconhecendo
a equiparação dos crimes de injúria racial e racismo e, por conse-
guinte, a imprescritibilidade e inafiançabilidade daqueles. Trata-
-se do episódio em que um jornalista chamou outro jornalista de
“negro de alma branca” e que “não conseguiu revelar nenhum
atributo para fazer tanto sucesso, além de ser negro e de origem
humilde”. As publicações foram feitas na internet no ano de 2009.

Em nosso entendimento, apesar dos entendimentos das cortes


superiores, a extensão da definição de “racismo” prevista no artigo
5º, XLII da Carta Magna para o delito de injúria racial implica em
cristalina violação ao princípio da legalidade e aplicação da analo-
gia in malam partem.

O crime de racismo está definido na Lei nº 7.716/89 e afeta


uma coletividade, um grupo social de determinada raça, cor, etnia

86 Defende Nucci que o art. 5º, XLII, da Constituição Federal preceitua que ‘a prática do racismo cons-
titui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei’. O racismo é uma
forma de pensamento que teoriza a respeito da existência de seres humanos divididos em “raças”, em face
de suas características somáticas, bem como conforme sua ascendência comum. A partir dessa separação,
apregoa a superioridade de uns sobre outros, em atitude autenticamente preconceituosa e discriminatória.
Vários estragos o racismo já causou à humanidade em diversos lugares, muitas vezes impulsionando ao
extermínio de milhares de seres humanos, a pretexto de serem inferiores, motivo pelo qual não mereceriam
viver. Da mesma forma que a Lei 7.716/89 estabelece várias figuras típicas de crimes resultantes de
preconceitos de raça e cor, não quer dizer, em nossa visão, que promova um rol exaustivo. Por isso, com o
advento da lei 9.459/97, introduzindo a denominada injúria racial, criou-se mais um delito no cenário
do racismo, portanto, imprescritível, inafiançável e sujeito à pena de reclusão.” NUCCI, Guilherme de
Souza. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 831-831.

81
e, até mesmo, religião. De outro lado, a injúria racial configura
crime contra a honra de determinada vítima, não tendo a afetação
de um grupo social ou coletividade. Mais, tal regra não guarda
coerência sistêmica com o artigo 145, parágrafo único, do Códi-
go Penal87, o qual estabelece que a injúria qualificada se procede
mediante ação penal pública condicionada à representação, cujo
direito decai no prazo de 06 (seis) meses contados da data em que
o ofendido veio a saber quem foi o autor do fato.

Logo, a nosso sentir, não há qualquer fundamento legal ou


principiológico que justifique a imprescritibilidade do delito de in-
júria qualificada. Pelo contrário, em se tratando de delito contra a
honra que se submete ao prazo decadencial de representação, com
mais razão também devem ser aplicadas as regras de prescrição.

3 OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE NULIDADE


DO EDITAL DE CITAÇÃO NA SUSPENSÃO DO
PRAZO PRESCRICIONAL DETERMINADA PELO
ARTIGO 366, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Um dos temas bastante recorrentes na prática forense é a ci-


tação por edital, que se dá quando o réu está em local incerto ou
não sabido. Nessas situações, o artigo 366 do Código de Processo
Penal88determina a suspensão do processo e do prazo prescricional,

87 Art. 145 do CP. Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa,
salvo quando, no caso do art. 140, §2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo único.
Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art.
141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo
artigo, bem como no caso do §3º do art. 140 deste Código.
88 Art. 366 do CPP. O acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão pre-
ventiva, nos termos do disposto no art. 312.

82
quando o acusado não comparecer e, tampouco, constituir advo-
gado para acompanhar os atos do processo.

Contudo, a suspensão do prazo prescricional nessas situações


não ocorre por tempo indeterminado, prevalecendo o entendi-
mento de que a prescrição fica suspensa pelo prazo máximo da
prescrição em abstrato para o respectivo delito, conforme súmula
415 do Superior Tribunal de Justiça: “o período de suspensão do prazo
prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada”.

A discussão no âmbito jurisprudencial se inicia quando de-


monstrada a nulidade da citação por edital, a qual pressupõe o
esgotamento de todos os meios de localização do agente, sob pena
de nulidade. O esgotamento de todos os meios de localização é
providência indispensável para validar a citação por edital, sendo
que a mera a certidão do oficial de justiça dizendo que o réu está
em local incerto e não sabido é insuficiente para justificar a citação
editalícia.

Nesses casos, a prática processual indica ser imprescindível que


o endereço do réu seja diligenciado em todos os cadastros públicos
possíveis, como, por exemplo, TRE, telefonias, distribuidoras de
água e energia, entre outras. Somente após todas essas tentativas de
localização, pode-se proceder a citação por edital.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça reconhece


a nulidade da citação por edital quando não esgotados todos os
meios de localização do acusado. Nesse sentido: AgRg no AREsp
353.136/MT (DJ 02/04/2019); RHC 54082 (DJ 02/08/18); HC
196503/MG (06/10/2011).

83
Portanto, realizada a citação editalícia sem prévio esgotamento
dos meios para encontrar o agente, está-se diante de nulidade ab-
soluta do ato citatório que pode ser declarada em qualquer fase do
processo, inclusive de ofício pela autoridade judicial, eis que não
será alcançada pela preclusão.

O processo é um encadeamento de atos que observam uma


sequência lógica prevista em lei. O Código de Processo Penal ado-
tou como critério a relação de dependência ou de influência dos
atos processuais entre si, pois normalmente os posteriores decor-
rem dos anteriores. Assim,“a nulidade de um ato, uma vez declarada,
causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência”,
na forma do art. 573, §1º do diploma processual.

Com isso, a declaração de nulidade da citação por edital tam-


bém acarretará a nulidade da decisão que determinou a suspensão
do processo e da prescrição. Isso pois, existe uma relação lógica
entre os mencionados atos processuais, razão pela qual o período
em que o processo e a prescrição ficaram suspensas será igualmente
computado na contagem do lapso temporal da prescrição punitiva,
em caso de declaração da nulidade processual em questão.

4 A PRESCRIÇÃO NOS CRIMES FALIMENTARES

O artigo 132 da antiga Lei de Falências (Decreto-Lei nº


7.661/45) preceituava que a prescrição dos crimes falimentares se
operava em 02 (dois) anos. Além disso, o parágrafo único do mes-
mo artigo estabelecia que o termo inicial de contagem do prazo
prescricional era o trânsito em julgado da sentença que encerrasse
a falência ou que julgasse cumprida a concordata.

84
Em razão do referido dispositivo legal, a nossa Suprema Corte
publicou a Súmula 147, com os seguintes termos: “a prescrição de
crime falimentar começa a correr da data em que deveria estar encerrada a
falência, ou do trânsito em julgado da sentença que a encerrar ou que julgar
cumprida a concordata.”

Portanto, sob a égide da lei anterior, o prazo de 2 anos tor-


nava muito comum a prescrição da pretensão punitiva dos crimes
falimentares, tendo em vista a complexidade e morosidade do pro-
cesso de falência, o qual dificilmente se encerrava no prazo fixado
pelo referido artigo do Decreto-Lei nº 7661/45.

Dessa forma, com o advento da Lei nº 11.101/2005, o termo


inicial de contagem da prescrição passou a ser regulado pelo artigo
182, o qual que dispõe que “a prescrição dos crimes previstos nesta Lei
reger-se-á pelas disposições do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezem-
bro de 1940 - Código Penal, começando a correr do dia da decretação da
falência, da concessão da recuperação judicial ou da homologação do plano
de recuperação extrajudicial.”

Ademais, o parágrafo único do mesmo artigo estabeleceu que


“a decretação da falência do devedor interrompe a prescrição cuja contagem
tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a homologa-
ção do plano de recuperação extrajudicial.”

Com isso, além de serem inseridos novos marcos interrupti-


vos da prescrição nos crimes falimentares, o legislador optou por
inserir a matéria nos prazos e circunstâncias previstas pelo Código
Penal. Por outro lado, destaca-se que o Decreto-Lei nº 7661/45
continuou a ser aplicado aos processos de falência e concordata

85
ajuizados anteriormente à vigência a Lei nº 11.101/0589, inclusive
no tocante à matéria de prescrição, observada a irretroatividade
da Lei Penal. Entretanto, caso as novas disposições signifiquem a
novatio legis in mellius, deverão ser aplicadas aos crimes praticados
anteriormente à sua vigência.

Destaca-se que para a Corte Superior de Justiça, nos crimes


falimentares, não é possível combinar as disposições benéficas da
antiga Lei de Falências com as da Lei n° 11.101/2005 (lex tertia).
Dependendo da data em que o crime falimentar foi praticado, é
necessário acatar, na íntegra, uma das normas legais em questão.
Nesse sentido: AgRg no AREsp 986276/RS (DJ 07/08/2018);
REsp 1617129/RS (DJ 07/11/2017) e RHC 31811/ES (DJ
11/03/2014).

Assim, com base na novel legislação, o termo inicial do pra-


zo prescricional é contado da data do fato e, em não sendo esta
data apurada, começará a fluir do dia da decretação da falência, da
concessão da recuperação judicial ou da homologação do plano
de recuperação extrajudicial, e, posteriormente, quando decretada
sua quebra.

Além disso, nos termos do artigo 182, parágrafo único, da Lei


nº 11.101/05, no caso de já ter se iniciado o prazo prescricional
com a concessão da recuperação judicial ou com a homologação
do plano de recuperação extrajudicial, a sentença que decretar a
falência interromperá o prazo prescricional, que voltará a fluir des-
ta data.

89 Art. 200. Ressalvado o disposto no art. 192 desta Lei, ficam revogados o Decreto-Lei no 7.661,
de 21 de junho de 1945, e os arts. 503 a 512 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de
1941 - Código de Processo Penal.

86
Há, portanto, há três marcos interruptivos da prescrição possí-
veis além daqueles previstos no Código Penal, os quais são aplicá-
veis aos crimes falimentares, inclusive, conforme súmula 59290 do
Supremo Tribunal Federal: (a) a data da concessão da recuperação
judicial; (b) a data da homologação do plano de recuperação extra-
judicial; e (c) a data da sentença que decretar a falência.

5 ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO
E MOMENTO CONSUMATIVO

O delito de estelionato é crime instantâneo e crime material,


ou seja, depende do resultado naturalístico, sendo que sua consu-
mação se dá no momento da obtenção da vantagem ilícita. Toda-
via, em se tratando do estelionato previdenciário – ao qual incide
a causa de aumento do §3º do artigo 171 do Código Penal – existe
divergência jurisprudencial quanto à natureza do delito e o seu
momento consumativo, o que, por consequência, afetará o termo
inicial de contagem da prescrição punitiva.

O Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de


que o estelionato previdenciário é crime instantâneo com efei-
tos permanentes. Nesse sentido HC 80.349/SC (DJ 04/05/2001);
HC 95.379/RS (DJ 25.08.09); e HC 80.349/SC (DJ 04.05.01).
Conforme esse entendimento, a consumação ocorre com a obten-
ção da vantagem indevida que consiste, justamente, no momento
em que a Previdência Social autoriza a percepção do benefício
pleiteado.

90 Súmula 592 do STF: Nos crimes falimentares, aplicam-se as causas interruptivas da prescri-
ção, previstas no Código Penal.

87
Assim, caso o sujeito ativo seja o beneficiário, os saques inde-
vidos e mensais que decorrentes do estelionato praticado, está-se
diante de pós fato impunível (exaurimento), vale dizer, o efeito
permanente da conduta delitiva perpetrada.

Por outro lado, a Terceira Seção do Superior Tribunal Justiça


pacificou o entendimento naquela Corte, quando do julgamen-
to do REsp 1206105/RJ (DJ 22/08/12), de modo a considerar
que se configura um delito permanente em relação ao sujeito que
percebe o benefício previdenciário, sob o argumento de que a
consumação se protrai no tempo. Em contrapartida, por exemplo,
quanto ao despachante que auxilia no encaminhamento do pedido
do benefício, a jurisprudência considera crime instantâneo.

Portanto, para efeito de termo inicial da prescrição punitiva,


se o estelionato previdenciário for considerado crime instantâneo
de efeitos permanentes, o momento consumativo se dá quando da
obtenção do benefício perante a Previdência Social, oportunidade
em que iniciará a correr o lapso prescricional (artigo 111, I, do
Código Penal).

Entretanto, na hipótese de ser considerado crime permanente,


a prescrição punitiva iniciará do momento em que cessa a per-
manência (artigo 111, III, do Código Penal), vale dizer, na data
em que o beneficiário deixar perceber o benefício indevidamente
concedido. Na prática, essa diferenciação é bastante significativa
para fins de cálculo da prescrição, uma vez que, a depender do
benefício previdenciário, a sua percepção poderá perdurar vários
anos.

88
6 A PRESCRIÇÃO NO DELITO DE DESCAMINHO

O momento consumativo do delito descaminho (artigo 334


do Código Penal) – com o simples ingresso ou saída da mercadoria
em território nacional sem o pagamento dos tributos devidos, ou
com o lançamento definitivo do crédito tributário – irá impactar
diretamente no termo inicial de contagem da prescrição punitiva.

Assim, se considerarmos o descaminho como delito formal,


a consumação se dará com a entrada (ou saída) da mercadoria na
alfândega, motivo pelo qual eventual instauração de procedimento
administrativo para a constituição definitiva do crédito tributário
não traria qualquer repercussão na consumação do delito e na con-
tagem da prescrição.

Em entendimentos mais recentes91, a jurisprudência dos Tri-


bunais Superiores tem entendido que o descaminho não possui a
mesma natureza dos crimes contra ordem tributária previstos na
Lei nº 8.137/90, porque o bem jurídico protegido seria a Admi-
nistração Pública. Defendeu-se, nesses casos, que a consumação
do delito de descaminho não depende da constituição definitiva
do crédito fiscal, mas sim do ingresso ou saída da mercadoria do
território nacional sem o pagamento dos tributos devidos, confi-
gurando delito formal.

De outro lado, parcela da doutrina defende que o delito de


descaminho possui natureza jurídica tributária e nada justifica que
sofra um tratamento jurídico distinto dos demais delitos tributá-
91 No Supremo Tribunal Federal, os precedentes são os seguintes: HC 129.302/PR (DJ
23/08/16), RHS 123.844/DF (DJ 04/11/14) HC 122325/MG (DJ 12/06/14). Já no Supe-
rior Tribunal de Justiça vale destacar o HC 270.285/RS, (DJ 02/09/14) e o AgRg no REsp
1521626/PR (DJ 09/06/15).

89
rios92. Assim, deve ser tratado como material, o qual se consuma
com a constituição definitiva do crédito tributário na linha da Sú-
mula Vinculante nº 24 da Suprema Corte.

Os Tribunais Superiores, em julgados mais antigos93, tinha o


posicionamento que a consumação do descaminho dependia da
constituição definitiva do crédito tributário relativo aos tributos
iludidos, equiparando-se o aos demais delitos de natureza tribu-
tária. Nesses julgados, argumentou-se que não se pode negar a
natureza tributária do delito de descaminho, razão pela qual não
se justifica um tratamento jurídico distinto. Em outras palavras, o
descaminho seria uma modalidade de sonegação fiscal especifica-
mente relacionada com as operações aduaneiras.94

Como se percebe, não há um entendimento pacificado nas


Cortes Superiores, eis que houve uma oscilação na forma como
já decidiram a temática. Em nosso entendimento, o descaminho
é um crime contra ordem tributária, até porque pressupõe a “ilu-
são”, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto
devido para a sua configuração.

Inclusive, a reforçar esse posicionamento, são inúmeras as


decisões que reconhecem a atipicidade do delito de descaminho
92 Nesse sentido: FAYET JÚNIOR, Ney & PETEK, João Pedro. Do termo inicial da pres-
crição (da pretensão punitiva) em face do delito de descaminho (caput do artigo 334 do Có-
digo Penal). In: FAYET JUNIOR. Ney. FAYET JUNIOR, Ney. Prescrição Penal: temas
atuais e controvertidos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018. DELMANTO, Celso;
DELMANTO JÚNIOR, Roberto; DELMANTO, Fábio M. de Almeida. Código Penal
comentado. São Paulo: saraiva, 2016. BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes federais.
São Paulo: Saraiva, 2017.
93 No âmbito do Supremo Tribunal Federal destacamos o HC 85942/SP (DJ 24/05/11). Já no
Superior Tribunal de Justiça, frisa-se o HC 48805/SP (DJ 19/11/07).
94 FAYET JÚNIOR, Ney & PETEK, João Pedro. Do termo inicial da prescrição (da preten-
são punitiva) em face do delito de descaminho (caput do artigo 334 do Código Penal). In:
FAYET JUNIOR. Ney. FAYET JUNIOR, Ney. Prescrição Penal: temas atuais e controvertidos.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018, p. 109-110.

90
pela aplicação do princípio da insignificância, em virtude do va-
lor tributário envolvido não ultrapassar o valor de R$ 20.000,00
e, portanto, não conduzir ao ajuizamento da execução fiscal95. A
aplicação do princípio da insignificância nessa hipótese denota a
natureza tributária do bem juridicamente tutelado, apesar de pre-
valecer atualmente nas Cortes Superiores o entendimento de que
se trata de crime formal e dispensa a constituição definitiva do
crédito tributário para sua consumação.

7 PRESCRIÇÃO NOS CRIMES AMBIENTAIS


PRATICADOS POR PESSOAS JURÍDICAS

Outra questão que necessita de debate é a forma de contagem


da prescrição no caso dos crimes praticados pelas pessoas jurídicas.
No ordenamento brasileiro, a responsabilidade penal da pessoa ju-
rídica está prevista apenas na Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº
9.605/98), tendo em vista que as sanções aplicáveis possuem natu-
reza distinta daqueles que incidem sobre as pessoas físicas96.

Os artigos 21 a 24 da Lei nº 9.605/98 estabelecem as penas


que podem ser aplicadas: (a) multa; (b) a suspensão parcial ou total
das atividades; (c) interdição temporária de estabelecimento, obra
ou atividade; (d) a proibição de contratar com o Poder Público,
bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações; (d) pres-
95 Nesse sentido, a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamento do
REsp 1.1112.748/TO, firmou o entendimento de que incide a insignificância ao crimes
tributários federais e ao descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o
limite de R$ 20.000,00, a teor do disposto no artigo 20 da Lei 10.522/2002 (Tema 157).
96 Destaca-se que se discute na jurisprudência a teoria da dupla imputação na responsabilidade
penal da pessoa jurídica. Sobre o tema, sugerimos a leitura do texto “MARCANTE, Mar-
celo. Responsabilidade penal da pessoa jurídica e a tutela do meio ambiente na sociedade do
risco: abordagem crítica sobre os delineamentos da culpabilidade empresarial e o sistema da
dupla imputação. Revista de estudos criminais, Porto Alegre, v. 12, n. 54, p. 211-231, jul./
set. 2014.”

91
tação de serviços à comunidade; e (d) liquidação forçada, quando
a pessoa jurídica for constituída ou utilizada preponderantemente
com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime am-
biental.

Tendo em vista a previsão de aplicação direta de penas res-


tritivas de direitos à pessoa jurídica na lei ambiental, bem como
de multa e liquidação forçada, a prescrição dos crimes ambientais
imputados à pessoas jurídicas se dá no prazo de dois anos, com
fundamento no artigo 114, inciso I, do Código Penal, aplicável
subsidiariamente à lei ambiental por força do artigo 79 da Lei nº
9.605/98.97

Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de


Justiça, quando do julgamento proferido no ED no AgrReg em
REsp nº 1.230.099 (DJ 20/08/13). Assim, não havendo previsão
legal de pena privativa de liberdade para a pessoa jurídica, o cálculo
da prescrição com relação aos crimes ambientais a ela imputados
não poderá ter por base a pena corporal. Logo, passível a aplicação
analógica do artigo 114, inciso I, do Código Penal, tendo em vista
a natureza das sanções previstas na Lei nº 9.605/98 para as pessoas
jurídicas.

8 PRINCÍPIO DA NON REFORMATIO


IN PEJUS INDIRETA E A PRESCRIÇÃO
DA PRETENSÃO PUNITIVA

A vedação à reformatio in pejus corresponde a um corolário da


ampla defesa e tem como consequência lógica impedir que, em
97 QUEIJO, Maria Elizabeth. Prescrição nos delitos ambientais atribuídos à pessoa jurídica. In:
FAYET JUNIOR, Ney. Prescrição Penal: temas atuais e controvertidos. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2018, p. 80-83.
92
recurso exclusivo da defesa, possa haver uma alteração prejudicial
à situação do recorrente. Trata-se do efeito prodômico da senten-
ça, o qual impõe que em recurso exclusivo da defesa não se possa
agravar a situação do acusado.

A non reformatio in pejus pode ser direta se verifica em duas si-


tuações. A primeira está prevista no artigo 617 do Código de Pro-
cesso Penal, o qual dispõe que o Tribunal não poderá aumentar a
pena quando somente o réu tiver apelado da sentença. A segunda
é a previsão contida na Súmula 160 do Supremo Tribunal Federal,
sendo “nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não
arguida em recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício”.

De outro lado, a non reformatio in pejus indireta ocorre quando,


em havendo a anulação da sentença em decorrência de recurso
exclusivo da defesa, a nova sentença a ser prolatada pelo Juízo não
poderá tornar a situação do acusado mais gravosa, sendo que a
pena máxima a ser fixada é a da primeira sentença.

Assim, ainda que anulada, a sentença permanece produzindo


efeitos jurídicos, ao delimitar o limite máximo da pena a ser fixada
ao réu em novo pronunciamento judicial. Exemplificativamente,
caso o réu tenha sido na sentença à pena de 02 (dois) anos de re-
clusão, porém em recurso exclusivo da defesa o Corte Superior
anula esta decisão, quando o magistrado venha proferir nova sen-
tença, estará adstrito a uma condenação máxima de 02 (dois) anos
de reclusão.

Fixada esta premissa, nas situações de anulação da sentença em


recurso exclusivo da defesa, a prescrição da pretensão punitiva será

93
regulada pela pena fixada na primeira sentença, de acordo com os
prazos previstos no artigo 109 do Código Penal, conforme enten-
dimento pacificado no Superior Tribunal de Justiça.

Nesse sentido, vale destacar o julgamento do habeas corpus nº


115.428/RS (DJ 11/06/13), oportunidade em que o Supremo
Tribunal Federal declarou a prescrição da pretensão punitiva apli-
cando a pena máxima do primeiro julgamento como parâmetro
para o cálculo do lapso temporal, eis que houve a anulação de sen-
tença que havia condenado o agente à pena de 08 (oito) anos de
reclusão, pela prática de tentativa de homicídio qualificado.

Ou seja, mesmo nos processos de competência do Tribunal


do Júri, se verificará o efeito prodômico da sentença nos casos de
declaração de nulidade da condenação em recurso exclusivo da
defesa.

9 A REPERCUSSÃO DAS ALTERAÇÕES


TRAZIDAS PELA LEI 13.964/19 NO
TOCANTE À PRESCRIÇÃO PENAL

A Lei nº 13.964 de 24 de dezembro de 2019, com vacatio


legis de 30 dias, trouxe reformas significativas no âmbito da legis-
lação penal e processual penal. A matéria de prescrição penal não
poderia passar desapercebida, eis que sempre muito debatida no
âmbito político criminal, sobretudo em razão dos discursos puniti-
vistas que não a vem como um critério racional de limite do poder
punitivo do estado, mas sim como uma forma de impunidade.

As alterações inicialmente propostas pelo pacote “anticrime”


incluíam novas causas suspensivas e interruptivas da prescrição, o
94
que implicaria em alteração dos artigos 116 e 117 do Código Pe-
nal. Todavia, a reforma acabou sendo desidratada ao passar pelas
Casas Legislativas, o que acarretou apenas a introdução de duas
novas causas suspensivas da prescrição.

Os incisos II, III e IV do artigo 116 do Código Penal passam


a vigorar com as seguintes redações:

Art. 116. Antes de passar em julgado a sentença final, a pres-


crição não corre:

I – enquanto não resolvida, em outro processo, questão de


que dependa o reconhecimento da existência do crime

II – enquanto o agente cumpre pena no exterior;

III – na pendência de embargos de declaração ou de recursos


aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e

IV – enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de


não persecução penal.

O inciso II já possuía previsão correspondente na anterior re-


dação, logo, tão-somente houve um aperfeiçoamento da lingua-
gem utilizada, mas sem qualquer alteração de significado. Já com
relação aos demais incisos a situação é bastante diferente, trazendo
grandes repercussões no cálculo do lapso temporal eis que acresci-
das novas causas impeditivas da prescrição.

A redação do inciso III do artigo 116 do Código Penal esta-


belece que a prescrição ficará suspensa na pendência de embargos
de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando

95
inadmissíveis. Em outras palavras, se o acusado interpor recursos
especial e extraordinário, a prescrição somente irá correr se estes,
no mínimo, superarem o juízo de admissibilidade recursal, caso
contrário não haverá qualquer interferência no cálculo da prescri-
ção penal.

Antes da publicação da Lei nº 13.964/19, os Tribunais Su-


periores já tinham o entendimento de que, nos casos de inadmis-
sibilidade dos recursos excepcionais, a formação da coisa julgada
retroagiria à data do término do prazo para interposição do último
recurso cabível, interferindo diretamente na prescrição da preten-
são punitiva intercorrente (ver título 4.2.2.1 do Capítulo II). Con-
tudo, não se tratava de hipótese suspensiva da prescrição, sendo
que esse lapso temporal poderia ser computado para fins de cálculo
da prescrição executória.

Com a alteração legislativa, criou-se uma nova causa impe-


ditiva da prescrição (tanto punitiva, como executória), que de-
corre da inadmissibilidade dos recursos especial e extraordinário.
Por óbvio, trata-se de novatio legis in pejus, que somente pode ser
aplicado aos fatos delituosos praticados após a entrada em vigor da
Lei 13.964/19.

Por fim, o inciso IV do artigo 116 do Código Penal traz uma


inovação que procura se adequar ao novo cenário do processo
penal brasileiro, que cada vez mais incorpora institutos negociais
com a relativização do princípio da obrigatoriedade da ação penal.
Trata-se da suspensão da prescrição enquanto não for cumprido ou
rescindido o acordo de não persecução penal, instituto que tam-
bém foi trazido pela reforma prevista na Lei 13.964/19 ao incluir
o artigo 28-A no Código de Processo Penal.
96
Com isso, cria-se o poder-dever ao Ministério Público de,
nos crimes praticados sem violência ou grave ameaça e com pena
mínima inferior a 04 (quatro) anos, propor acordo de não perse-
cução penal, desde que necessário e suficiente para a reprovação e
prevenção do crime, mediante condições previamente ajustadas98.
Portanto, durante o período de prova deste acordo a prescrição
ficará suspensa, voltando a correr no momento em que houver a
sua rescisão em razão do descumprimento.

98 Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e cir-
cunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mí-
nima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecu-
ção penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante
as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: I – reparar o dano ou restituir
a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; II – renunciar voluntariamente a bens
e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do cri-
me; III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à
pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo
juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal); IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de
interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como
função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito;
ou V – cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público,
desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.

97
98
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103
104
ANEXOS

105
106
PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 837,
DE 2019
Altera o § 1º do art. 110 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 – Código Penal, para extinguir o
instituto da prescrição retroativa.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1º O art. 110 do Decreto-Lei nº 2.848, de


7 de dezembro de 1940 – Código Penal, passa a
vigorar com a seguinte redação:
“Art. 110. .........................................................
§ 1º A prescrição, a partir da sentença condenatória
com trânsito em julgado para a acusação ou depois
de improvido seu recurso, e antes do trânsito em
julgado definitivo do feito, regula-se pela pena apli-
cada, sendo vedada a retroação de prazo prescricio-
nal fixado com base na pena em concreto.
.........................................................................”
(NR)

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua


publicação.

JUSTIFICAÇÃO

A presente proposição é como que um destaque da sexta das


conhecidas Dez Medidas contra a Corrupção propostas pelo Mi-

107
nistério Público Federal. Os procuradores da República propuse-
ram o que chamaram de reforma no sistema de prescrição penal,
proponho, entretanto, que inicialmente nos restrinjamos à extin-
ção da prescrição retroativa.

Sobre o tema, com propriedade, constou do citado projeto de


lei de iniciativa popular, a seguinte justificação, que nos permiti-
mos reproduzir:

Em primeiro lugar, a alteração no artigo 110 objetiva ex-


tinguir a prescrição retroativa, que é um dos mais maléficos
institutos peculiares ao direito penal pátrio, sendo uma das
principais responsáveis pelo estímulo a táticas protelatórias.

Nesses termos, Fabio Guaragni ensina (2008, p. 126):

Em síntese, a prescrição retroativa pode ser atacada pela via da


inconstitucionalidade, por não respeitar os princípios de certeza e
utilidade dos prazos que, sendo corolários do princípio do devido
processo legal, ex vi do art. 5º, LIV, se aplicam aos prazos pres-
cricionais. [...] Numa palavra: a prescrição retroativa, importando
na negação da existência do processo e da sentença penal conde-
natória, nega a existência de seus próprios pressupostos. É um
contrassenso admitir que a sentença valha para, em última análise,
implicar a sua própria inexistência e a condenação, uma vez quan-
tificada, sirva por critério para estabelecer que no caso concreto não
poderia haver condenação.

Vale observar que a Associação dos Juízes Federais do Bra-


sil e a Associação dos Procuradores da República, ao me-
nos desde 2007, já se manifestam nesse sentido:

Embora se entenda que o tema demandaria uma solução ainda


mais abrangente, que implicaria existir apenas dois tipos de pres-
crição (prescrição da pretensão punitiva calculada pela pena em
abstrato e prescrição da pretensão executória calculada pela pena
108
fixada no caso concreto, cujo prazo somente começaria a fluir a
partir do trânsito em julgado para ambas as partes), não se pode
deixar de reconhecer que a proposta intermediária contida na PL
1.383/2003 configura uma medida de relevo na redução da im-
punidade.

Não por outra razão, a prescrição retroativa não existe vir-


tualmente em nenhum outro país do mundo.

Com essas considerações, contamos com o decisivo apoio de


nossos Nobres Pares para a aprovação do presente Projeto de Lei.

Sala das Sessões,


Deputado JOSÉ MEDEIROS

109
110
X) MEDIDAS PARA EVITAR A
PRESCRIÇÃO:

Mudanças no Código Penal:

“Art.116................................................................................
...................................................................................................

II – enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro; e

III – na pendência de embargos de declaração ou de recursos


aos Tribunais Superiores, estes quando inadmissíveis.

...........................................................................................”
(NR)

“Art.117................................................................................
...................................................................................................

IV – pela publicação da sentença ou do acordão recorríveis;

V – pelo início ou continuação da execução provisória ou


definitiva da pena; e

VI – pela reincidência.

...........................................................................................”
(NR)

111

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